Calado Revisada
Calado Revisada
Calado Revisada
presenas
Tese apresentada
Escola de Comunicaes e Artes da
Universidade de So Paulo
para obteno do ttulo de
Doutor em Artes
rea de Concentrao
Formao do Artista Teatral
Orientador
Professor Doutor Antnio Januzelli
so paulo
2011
presenas
Aprovado em
Prof Dr
Julgamento
Instituio
Assinatura
Prof Dr
Instituio
Julgamento
Assinatura
Prof Dr
Julgamento
Instituio
Assinatura
Prof Dr
Julgamento
Instituio
Assinatura
Prof Dr
Julgamento
Instituio
Assinatura
agradecimentos
QUADRO
DE REFERNCIA
ESTRATGICO
NACIONAL
PROGRAMA OPERACIONAL
POTENCIAL HUMANO
PORTUGAL 2003.2010
UNIO EUROPEIA
Fundo Social Europeu
resumo
abstract
The subject of the following lines is the theatre, the problem of the
theatre artists education to be more precise. I present a discussion
about the possibility of a certain notion of presence being able to
guide theatre teaching and learning within higher education institutions. To do this I use a composite methodology: I discuss
texts by Josette Fral, Hans-Thies Lehmann, Jacques Rancire,
Anatoli Vassiliev, Tim Etchells and Giorgio Agamben; I analyse
educational situations observed at the Departamento de Teatro of
the Escola Superior de Teatro e Cinema (IPL | Portugal), at the Departamento de Artes Cnicas from the Escola de Comunicaes e
Artes (USP | Brazil), at the Performing Arts Department from the
School of Film, Television & Performing Arts (LMU | England) and
at the Drama Department from the Exeter University (England),
considering with more detail the practice of Alexander Kelly and
Phillip Zarrilli, working in these two last institutions; and, I do an
exegesis of the practice as research project da beleza ou o sistema
nervoso dos peixes developed with the directors pedagogues Antnio
Januzelli (Brazil) and Carlos J. Pessoa (Portugal), presented at the
Teatro Taborda (Lisbon | Portugal) and Espao Viga (So Paulo |
Brazil). This methodology allows me to propose a curricular design
for a practice based module on theatre centred on three main areas
of problematization: psychophysical acting, devising and emancipation of the theatre artist.
sumrio
1 | INTRODUO
Reviso
Referencial
Por dentro
1
2
9
15
2 | NO A PRESENA
Quartett
La chambre dIsabella
Estranhas presenas
Instructions for Forgetting
A Ilada - canto XXIII
Singularidade de uma ausncia
21
22
27
33
40
43
46
3 | FOLHA DE PRESENAS
Estudos de campo
Escolas superiores de teatro
Inferncias
Sobre formar atores
65
67
70
82
95
4 | PRODUO DE PRESENAS
Estudos de cena
da beleza ou o sistema nervoso dos peixes
prlogo para um solo
trs minutos
cabea de medusa
221
222
228
280
282
284
5 | PRESEN 3000
Lisso
Desconhecimento
O ofcio da luz
A circulao da roda
A tripla operao
Exerccios individuais
Glossrio incompleto
291
293
297
299
305
313
327
331
6 | DISCUSSO FINAL
Sntese
Oportunidades
Autoavaliao
347
348
350
352
7 | REFERNCIAS UTILIZADAS
355
ANEXO I
Registos das sesses
Entrevistas
cd 1
ANEXO II
da beleza ou o sistema nervoso dos peixes | Espao Viga
dvd 1
ANEXO III
dvd 2
da beleza ou o sistema nervoso dos peixes | Teatro Taborda
lista de ilustraes
fig 1 | capela
243
fig 2 | poro
247
251
254
281
283
287
301
307
315
lista de tabelas
tab i | curricula atores dt - cac
tab ii | atividades evento performativo
76
80
81
98
99
1 | introduo
1.1 | reviso
A rigor, no a presena mas presenas, presenas mltiplas e
singulares, pequenas presenas em sries, sries de presenas
em arranjos articulados em movimento, a vrias velocidades. O
problema no pequeno porque o termo presena designa a rela
introduo
introduo
introduo
1.2 | referencial
Como atesta o Dicionrio de Teatro, de Patrice Pavis, a expresso
ter presena, no jargo teatral, corresponde capacidade do ator
cativar a ateno do pblico e constitui, segundo opinies correntes, o bem supremo a possuir pelo artista da cena e a experienciar
pelo espectador (pavis 2001: 305). Destaca o semilogo francs
que a noo de presena parece estar associada a uma forma de
comunicao corporal direta e algo misteriosa que se estabeleceria
entre ator e espectador. Procurando contornar o problema de compreender o fenmeno nestes termos, Pavis sugere que a sensao
introduo
1.2.1 | presenas
Centrar o pensamento sobre a presena do ator no teatro no momento do espetculo pernicioso, em particular quanto estamos
perante o problema da formao. Revertendo o ponto de vista para
o ator, a questo da presena sofre uma reconfigurao importante, ainda que num primeiro momento os termos identificados por
Pavis mantenham a sua pertinncia: algum em cena faz certas
aes concretas que atualizam a composio que d forma ao espetculo, espetculo este que recebido pelo espectador que tem,
ento, o seu prprio papel na traduo da experincia. No entanto,
uma importante ressalva se impe se pretendemos entender o que
so essas aes concretas que o ator executa. Tomando como referncia a minha experincia pessoal, na qual a sensao de presena
em cena est associada a um estado em que estou to embrenhado
10
introduo
que haja as condies necessrias a esta aprendizagem estabelecer um desenho curricular to claro quanto possvel, por um lado,
e, por outro, suficientemente flexvel para que o aluno participe
efetivamente na sua implementao.
Consideremos a definio oferecida por Daniel Tanner e Laurel
Tanner no seu livro Curriculum Development: Theory into Practice:
Conjunto de experincias de aprendizagem planeadas bem como
de resultados da aprendizagem previamente definidos, formulando-se umas e outros mediante a reconstruo sistemtica da experincia e conhecimentos humanos, sob os auspcios da escola e
em ordem ao desenvolvimento permanente do educando nas suas
competncias pessoais e sociais. (tanner 1975: 45) Esta concepo
coloca em evidncia os trs elementos que me parecem fundamentais do curriculum, objetivos, atividades e resultados esperados, ao
mesmo tempo que aponta o aspecto dinmico da sua construo.
Contudo, nesta definio o curriculum surge claramente como
uma responsabilidade da instituio, o que desresponsabiliza o
aluno da sua participao no desenho da experincia de ensino e
aprendizagem. Numa situao como esta, largamente dominante
nas instituies de ensino um pouco por todos os graus, importa
distinguir o curriculum formal, tal como estabelecido em documentos oficiais e comunicado a professores e alunos, do curriculum implementado pelo docente nas situaes que dinamiza,
do curriculum percepcionado pelo aluno, na sua reconstruo
das experincias realizadas. Nesta medida, quanto menor for a
participao dos alunos na definio formal do curriculum, menores sero as possibilidades de uma acordo entre o que levado a
cabo pelo docente e aquilo que o aluno deseja aprender. Estas con13
introduo
14
introduo
mostra que a noo de presena aparece explicitamente nos curricula formais das situaes analisadas e que ocupa um lugar ainda
mais relevante nos curricula implementados pelos docentes, em
particular nos discursos pelos quais estes referem as intenes da
sua ao pedaggica. Este trabalho de recolha de curricula formais,
de observao de sesses de ensino-aprendizagem e de realizao
de entrevistas aos docentes lvaro Correia, Carlos J. Pessoa, Bruno
Bravo, Maria Thais Lima, Antnio Januzelli, Juliana Galdino,
Alexander Kelly, Phillip Zarrilli permite corroborar a pertinncia
da valorizao da noo de presena como conceito dinamizador
da formao teatral. Atendendo em particular ao desenho das
experincias educativas, destaco neste captulo aquelas dinamizadas por Kelly e Zarrilli, por se aproximarem mais da viso que
prefiguro. Alm da anlise dos materiais recolhidos, este captulo
oferece uma parcela dos dados editados sob a forma de um pequeno dossier, que permite conhecer um pouco melhor o modo
como a formao de atores configurada formalmente, como ela
pensada por aqueles que a empreendem, como ela levada a
cabo em sala. Os restantes dados recolhidos no trabalho de campo
so apresentados em anexo, revelando-se uma importante fonte
para aqueles que pretendam conhecer melhor como se processa a
atividade no terreno.
O captulo seguinte, Produes de Presena, desenvolve a investigao sobre o lugar da noo de presena nos processos formativos, desta feita segundo uma metodologia de pesquisa-criao.
Tomando como referncia o processo de criao realizado em colaborao com os diretores pedagogos Antnio Januzelli e Carlos J.
Pessoa, cujo objeto final se intitulou da beleza ou o sistema nervoso
16
introduo
18
2 | no a presena
2.1 | quartett
O pano sobe. E desce, vrias vezes durante o espetculo. Parece-se
com um espelho, o pano faz parte do discurso, um vu estendido
uma bruma. Estamos num grande salo de festas elegantes ou
ento num depsito esquecido vazio, e logo numa paisagem ao
amanhecer sombrio, num crepsculo que, suspenso no ciclorama,
se espalha por toda a sala. S se podem ver os vrtices das cadeiras
nas quais ningum se poder sentar, na contra-luz. Trata-se de
teatro no teatro, do impossivel teatro dos sexos, do encantatrio
teatro das palavras, da construo efmera de imagens e sombras,
no bem de teatro que se trata. Ou no drama. que no h
bem ao, acontecem coisas, no h tambm indivduos, so dois
colossos que se enfrentam, no, eles no dialogam, eles contrapem-se monlogos, mostram os dentes, a arte cnica das feras.
um quarteto para cinco atores, eles trocam de personagem entre
22
si, alis, dos trs que nunca falam h um moo bonito pendurado
de cabea para baixo, ela tambm faz poses mas sem afetao, s
tem um sapato calado, um senhor grisalho que dana, pattico
um sorriso, olha-me na plateia quando os assistentes atravessam
diligentes a cena, para recolher o pano, para subir o pano. Isabelle
Huppert (1953 - ) e Ariel Garcia Valds no so atores, so atoressilhuetas, cabelos arquiteturais, vestido roxo, terno vermelho, so
figurinos animados; h uma chaise longue pantera negra que ela,
Madame de Merteuil, cavalga: cavalo-pantera-mulher. O peso para
frente, o brao anguloso de cada gesto recortado com rigor, vozes
cruzam-se, estala uma gargalhada, afinal, O que isso, nossa
alma? Um msculo ou uma mucosa? So Paulo, Setembro de
2009.
Hans Thies Lehmann diz que psdramtrico este teatro, o de Bob
Wilson (1941 - ) e Heiner Mller (1929 - 1995), figuras de proa entre
outras do movimento da cena no ocidente, j tem quatro dcadas
agora i. Suspendeu-se a ao e o conflito no palco, dissolveram-se
as personagens que dialogavam, diz Lehmann, trata-se mais de
une tranche de vie passe et vcue en communaut par des acteurs et spectateurs dans lair de cet espace respir en commun o
se droulent le jeu thtral et lacte rceptif du spectateur. [Onde]
Lmission et la rception des signes et signaux soprent simultanment. (lehmann 2002: 19) A supresso do ilusionismo neste
teatro atira-nos para a circunstancialidade da situao concreta,
esse estar junto atores e espectadores, trabalhando em conjunto a
digesto dos estilhaos da fico. Mais e mais flutuantes as distines entre teatro e outras prticas que tendem experincia do real,
talvez iterao do teatro conceptual dos anos setenta, experincia
23
no a presena
no a presena
no a presena
no a presena
foras entre percepo e representao, ora ausncia, ora experincia que o espectador tm de si mesmo.
Mquina dentro da mquina, dispositivo orgnico o ator parece ser
um dos locais de produo de presena, mesmo que no o nico,
talvez at no o principal no teatro performativo. Mas La Chambre
dIsabella apresenta atores que cantam, danam, por vezes encarnando personagens mas apenas para abandonar em seguida a
representao, assim colocando em primeiro plano o seu corpo e a
sua voz de pessoas e artesos, a singularidade do seu jogo no hic et
nunc daquele encontro particular com o pblico: Os arabescos do
ator, a elasticidade de seu corpo, a sinuosidade das formas que solicitam o olhar do espectador em primeiro plano, esto no domnio
do desempenho (feral 2008b : 202). So enunciados performativos, fazem coisas mais que descrevem estados do mundo, os do
ator performativo, ele trabalha no plano do acontecimento, realiza
aes que inscreve no real, expe-se como mecanismo da representao. Assim, ele amplifica o espao de jogo, o campo ldico para
alm do palco enche a sala, todo instabilidade e fluidez nos signos
criados, teatro das convenes teatrais, investe a si-mesmo na
cena, ora banal, ora dispendendo-se, evidencia a vitalidade da sua
presena singular e concreta na situao (feral 2008a : 30-31):
Dans le thtre performatif, lacteur est appel faire (doing),
tre prsent, prendre des risques et montrer le faire (showing
the doing), autrement dit affirmer la performativit du processus.
Lattention se porte sur lexecution du geste, sur la cration de la forme,
la dissolution des signes et leur reconstruction permanente. (FRAL,
2008a : 33)
Ator performativo, dobro do ator ou a sua dobra, ator ao quadrado,
31
no a presena
no a presena
no a presena
no a presena
no a presena
no a presena
a bit of a backwater. Do you have anything against mass reproduction? Do you work from some quaint notion about immediacy
and real presence? Terry OConner responde: I dont know.
(etchells 2008: 44) Ambiguidade porque h tanto uma explorao das emoes reais dos atores quanto uma implicao destes
no ato de fingimento (etchells 2008: 53), capacidade de jogo s
portas da morte que revela que os homens no se restringem a
fatos ou biologia (etchells 2008: 50): diz a atriz Claire Marshall,
going through a series of emotional states (forced entertainment 1999): indeterminao emocional que os atores constroem,
evoluo entre expresso individual, comunicao entre si e os
espetadores, representao de figuras: algures entre o jogo de distanciamento brechtiano e o exerccio de transformao pessoal e
comunitrio realizado pelo xam (etchells 1999: 119). A presena
em cena joga-se entre os destroos da representao, pois no o
teatro (...) just an endless rearticulation of this proxemics the
play between hereness and thereness the play between presence
and absence? (etchells 2008: 79) Mais ainda quando se trata de
entretenimento forado, a presena do pblico na sala no pode
ser inclume e sem custos.
A discusso vai para alm dos minutos da apresentao, mesmo
quando so algumas horas, a presena do ator no um comparecer para cumprir a funo, ele est l antes, demora mais tempo a
sair, fica sempre um pouco do ator no teatro. Processo e colaborao so centrais na prtica dos Forced Entertainment, no trabalho
de Tim Etchells, Instructions for Forgetting um trabalho realizado
entre vrios, Franko B, Mathew Goulish, parceiros presentes
distncia, entre outros: na atuao, composta pelos atores colabo42
no a presena
no a presena
pour tudier une pice. Ils choisissent une scne, ils la lisent,
lanalysent. (...) Pendant lanalyse, lquipe dfinit les points par
lesquels lacteur doit passer au cours de ltude. (...) Les acteurs
vont sur le plateau et, dans une improvisation totalment libre, en
suivant ltude, ralisent ce quils viennent dtablir ensemble.
(vassiliev 2000: 345-346). Trabalho conjunto, o estudo permite
o acordo dos colaboradores sobre o desenvolvimento do percurso
sugerido pelo texto e descoberto na sua leitura, anlise pela ao,
experimentao, discusso, no palco e pelo palco; e o processo no
cessa necessariamente depois da estreia (dreville; gotti 2006:
52). Alm disso, o estudo cnico um processo de descoberta, de
trabalho pessoal do ator, diz Vassiliev num ensaio (vassiliev apud
poliakov 2006: 99): trabalha a vida mesmo: entende a atriz Valrie
Drville, o trabalho no teatro com Vassiliev est ligado ideia de
transformao: Lart de lacteur est li la transformation. (...) Or
cette transformation implique que lon se transforme soi-mme et
que, par-del, on participe la grande transformation humaine
(dreville; gotti 2006: 51) : o que brilha neste teatro, diz Drville,
so os atores que nont pas seulement acquis la matrise de tout
ce qui fait leur instrument, mais qui font oeuvre deux-mmes
(dreville 2006: 9). Antes e depois do espetculo, o processo;
alm e durante o processo, a presena do ator no mundo.
no a presena
pela prpria produo, ele um texto da cena antes de ser literatura. A presena do ator no palco, tambm, chega a convencer-nos
do seu amadorismo, parecem atores do grupo da escola, por vezes,
simples, na incerteza frgil da autenticidade fingida, da revelao
mascarada, banal vi.
Tentemos o monstro: A Ilada Canto XIII (1996-2004), criao
coletiva dirigida por Anatoli Vassiliev (Russia, 1942 - ), Instructions
for Forgetting (2001), concebido e interpretado por Tim Etchells
(Reino Unido, 1962 - ), dois espetculos que no podem ser pensados procurando o conflito, o dilogo, a personagem, a entrada ou o
centro da cena. H narrativas ou, talvez, o que resta delas, canto extrado do antigo pico transposto para verso russo, mirade de estrias verdicas, parece, mas trabalhadas no palco como um material:
ao de levar cena histrias, em nome prprio, aos espectadores
presentes. Protagonismo dos artesos perante o pblico, tambm
exposio do processo de criao que, alis, no parece poder separar-se do produto, o objeto em curso no momento que se partilha.
Canto XXIII resultado de dez anos de trabalho, possibilidade
entre diferentes estudos, espetculo em reviso, linguagem de
exerccios e experimentos, espetculo ensaio, material de pesquisa
e formao na Escola de Arte Dramtica, fundada em 1987 por
Anatoli Vassiliev, os seus alunos assinam a coautoria. Instructions
procedimento encenado, ttulo e texto atestam-no, edio em
tempo real, ps-produo ao vivo e em direto, fita passada presente, avano e retrocesso; so memrias de mltiplas pessoas na voz
de uma, imagens aprisionadas em bandas magnticas libertadas
uma e outra vez. que estes objetos-processo, estas mquinas de
conexo e ruptura, so dispositivos abertura e buraco: vazios onde
48
no a presena
palco, ator que deixa o texto falar por si, atravessado pela cena,
investindo no teatro, sendo pensado pela sua histria: abrir-se e
lanar-se no corpo-a-corpo, permanecer no umbral. Quanto tempo
esta dana, esta implicao do bloco de carne vibrtil? Para o ator,
h os instantes da cena, com os espetadores e os companheiros,
com a linguagem encarnada dos gestos, das palavras, dos afetos;
mas tambm o tempo da composio, com os materiais, os companheiros, o diretor e os colaboradores do processo de produo,
os horrios de trabalho e de cio, depois do cansao, antes de
acordar completamente, o intervalo; e esse corpo a corpo com os
produtores, o negcio, contratos, percentagens e direitos, tudo isso
conta muito no fim do ms, no acerto de contas; e essoutro com
os crticos e tericos, afinal, detentores dos termos e dos conceitos,
da linguagem com que se fala do trabalho, com que este se inscreve nas histrias, nas compreenses de todos os tipos: presena
dilatada no tempo, corpo presente do ator na atividade. De outro
modo, ele ser vtima destes diversos dispositivos de captura, a sua
presena capitalizada como qualquer outro bem de consumo se
no for essa dimenso de resistncia e ausncia necessria: ventrloquo, autmato, cara, objeto. a presena do ator como autor
ainda um desejo necessrio.
51
no a presena
notas
i Veja-se, por exemplo, a seguinte passagem sobre Robert Wilson: Entre os anos 1970 e 90, poucos artistas teatrais tero modificado tanto o
campo de recursos do teatro e influenciado tanto as possibilidades de
pens-lo quanto Robert Wilson. (...) A influncia subjacente ou patente
de sua esttica se infiltrou aos poucos em toda a parte, e pode-se dizer
que o teatro do final do sculo talvez deva mais a ele que a qualquer
outro realizador teatral. (lehmann 2007: 128-129) O peso destes dois
criadores teatrais na argumentao de Lehmann, alm de reconhecida
por Srgio de Carvalho na sua Apresentao da obra em questo, pode
ser atestada facilmente pela leitura do Index da traduo portuguesa do
Brasil: so eles os dois nomes mais frequentes no texto.
ii Hans-Thies Lehmann aproxima-se nestes termos de uma esttica do
sublime, tal como proposta por Jean-Franois Lyotard, segundo a qual
o terror da falncia da conscincia em apreender a experincia que est
no cerne do momento esttico (lyotard 1997: 95-111). Lehmann, com
efeito, utiliza a expresso teatro energtico logo no incio do livro que
tenho vindo a citar, numa assumida aluso ao texto Le dent, la paume
(1973), de Lyotard. Neste texto, o filsofo francs contrape os tratados de
teatro de Zeami s intenes de Bertold Brecht e de Antonin Artaud, afirmando que a tenso existente no primeiro entre um desaparecimento do
ator enquanto presena e a sua afirmao enquanto espao de fluxos e
de deslocamentos, pode ser considerada como uma via para ultrapassar
o niilismo inerente a toda a representao que ainda subsiste nos dois segundos. Para Lyotard, Sous le nom de fleur, est recherch lintensifiation
nergtique du dispositif thtrale (lyotard 1973: 98), a qual pode orientar uma eliminao das relaes sgnicas e do correlativo vazio, assim
eliminando tambm la domination du dramaturge+metteur en scne
+chorgraphe+dcorateur sur les prtendus signes, et aussi sur les prtendus spectateurs (lyotard 1973: 103). A concluso do argumento de
Lyotard que este movimento em direo a um teatro energtico tende
a uma corrupo do limite entre teatro e exterior, e a trabalhar uma
intensificao daquilo que (lyotard 1973: 104), por esta via realizando
um trabalho poltico tanto no plano da percepo, quanto na constituio de novos objetos estticos. Em primeiro lugar, cumpre questionar
se a fico no poder ser uma das coisas que existem, sem inteno; de
uma resposta necessariamente afirmativa a esta questo se podero tirar
52
no a presena
notas
constitudo e enquanto realidade social; negao da representao, de
uma personagem ou de si mesmo, em favor de uma posio de produo
e de deslocamento, lugar de passagem de fluxos energticos; no implicao no desempenho e sustentao de um direito de olhar; apresentao de si mesmo em cena como sujeito desejante e performante mas
annimo; catalizao e assumpo de um lugar que permite aparecer o
que tem que aparecer.
v Anatoli Vassiliev afirma-se um reconstrutor do sistema de Constantin Stanislavski e diz ter escolhido Jerzy Grotowski como pai espiritual,
este ltimo tambm assumido continuador das investigaes do fundador do Teatro de Arte de Moscovo. Assim sendo, no surpreendente
encontrar elementos similares na obra e pensamento dos trs artistas,
em particular, no que refere ao entendimento partilhado de uma certa
noo da presena em cena do ator. Vejamos, a ttulo de exemplo, a seguinte passagem do texto do diretor polaco Dalla compagnia teatrale a
Larte come veicolo: Il punto non rinunciare a una parte della nostra
natura; tuto deve tenere il suo posto naturale: il corpo, il cuore, la testa,
qualcosa che sta sotto i nostri piedi, e qualcosa che sta sopra la testa.
Tutto come una linea verticale, e questa verticalit deve essere tesa fra
lorganicit e the awareness. Awareness, vuol dire la coscienza che non
legata al linguaggio (alla macchina per pensare), ma alla Presenza
(grotowski 1993: 132). Este tipo de atuao e de relao do ator com as
tarefas que a compem pode ser pensada em termos de atuao complexa [complex acting], como sugere Michael Kirby, referindo-se diretamente a Grotowski (kirby 2002: 40-52). A descrio que Vassiliev faz
do conceito central da sua teoria de atuao ao cnica transversal
confirma a aplicabilidade da noo de Kirby: On appelle tude une lecture du texte qui seffectue en terme de pratique thtrale, qui utilise en
tant quinstrument principal laction scnique transversale. Jai ajout
ladjectif scnique parce que je voudrais que lon tienne compte de la globalit que jattribue au terme action transversale. Il sagit dune action
qui comporte trois aspects (action physique, action psychique et action
verbale) et qui, en mme temps, se ralise toujours et simultanment
sur deux niveaux : extrieur et intrieur, ou bien en surface et en profondeur. (vassiliev 2000 : 345) Grotowski levou a cabo um trabalho
de investigao, experimentao e criao teatral como encenador que
54
passou por diversas fases com alteraes correlativas dos objetivos perseguidos e metodologias utilizadas: Parateatro ou Teatro de Participao
(1969-73), Teatro das Fontes (1976-82), Drama Objetivo (1983-86) e Arte
como veculo (1986- ) (wolford 2001: 117). Entre os textos produzidos neste ltimo perodo encontra-se um pequeno artigo intitulado
Performer (1990), o qual ser utilizado aqui para delinear a noo de
que o homem de teatro polaco ento se servia para pensar o ator. Desde
logo, a afirmao com que o referido texto abre esclarecedora da orientao, bem como da linha de continuidade, que Grotowski prosseguiu
nesta matria: Performer, with a capital letter, is a man of action. He is
not somebody who plays another. He is a doer, a priest, a warrior: he is
outside aesthetic genres (grotowski 2001: 376). Se ressalta imediatamente o aspecto de que o performer no algum que representa uma
personagem, esta afirmao concorre tambm para que se enquadre o
pensamento de Grotowski numa linha antropolgica, pelo que ele transcende os limites da arte e se prolonga para outras esferas da atividade
humana. Os pontos que em seguida se destacam referem-se ao entendimento que o investigador polaco faz do performer enquanto algum
envolvido num processo de busca contnua e de transformao pessoal,
bem como algum que assume uma funo religiosa, num sentido lato,
na sociedade humana. Continua Grotowski no texto aqui em questo:
Performer is a state of being. A man of knowledge, we can speak of him
in reference to Castanedas novels, if we like romanticisms. I prefer to
think of Pierre de Combas. Or even of this Don Juan whom Nietzsche
described: a rebel face to whom knowledge stands as duty; even if others
dont curse him, he feels to be a changeling, an outsider. (grotowski
2001: 376) Grotowski entende, portanto, que o performer algum implicado numa procura pelo conhecimento, um conhecimento que adquire atravs da ao e no por meio de ideias ou teorias(grotowski
2001: 376). No entender do investigador polaco, este conhecimento que
o performer persegue da ordem das essncias, do que relativo ao ser;
est associado descoberta in actu da osmose entre corpo e essncia; e,
num processo de transmutao pessoal, passagem para um corpo de
essncia (grotowski 2001: 377). Como sugerem estes elementos, a
noo de performer por Grotowski perfilada inscreve-se num discurso
de tendncias mistico-religiosas onde confluem elementos de variadas
55
no a presena
notas
provenincias. Segundo Grotowski, a questo fundamental que se coloca
ao performer descobrir qual o processo pessoal que ele encontra para
se aproximar do corpo de essncia (grotowski 2001: 377). O acaso e,
em particular, o perigo so dois aspectos que o pesquisador polaco considera facilitadores desta descoberta, na medida em que eles contribuem
para uma intensificao da pulsao de vida. Segundo Grotowski, nos
momentos de desafio que se d a ritmizao dos impulsos humanos que
promove a osmose entre corpo e essncia; apreendendo o seu processo nestes momentos, o performer poder prosseguir o caminho para o
corpo de essncia. Ele dever ento trabalhar no seu processo, algo que
para Grotowski passa por: The question is to be passive in action and
active in seeing (reversing the habit). Passive: to be receptive. Active:
to be present. (...) Performer must develop not an organism-mass, an
organism of muscles, athletic, but an organism-channel through which
the energies circulate, the energies transform, the subtle is touched.
(grotowski 2001: 378) Segundo Grotowski, a aproximao ao corpo de
essncia, portanto, releva tambm de um trabalho de disponibilizao
corporal que permita o corpo ficar no-resistente, quase transparente
(grotowski 2001: 377). Nestes termos, o performer algum implicado
na busca por um conhecimento sobre si-mesmo, busca esta que, como
se mostrar em seguida, o investigador polaco entende poder identificarse com o prprio trabalho em cena. Grotowski entende que o processo
pessoal de aproximao ao corpo de essncia pode ser compreendido
como a aceitao do destino individual (grotowski 2001: 377). Assim,
depende da qualidade da sujeio do performer ao seu prprio destino,
mantendo-se fiel a si mesmo e com isso evitando fazer coisas que odeie,
conseguir trabalhar o seu processo. Nestes termos, trabalhando com estruturas precisas e rigorosas, a prpria atuao pode tornar-se processo
de aproximao ao corpo de essncia e configurar-se como algo da ordem
do ritual. Ritual is a time of great intensity; provoked intensity; life then
becomes rhythm. Performer knows how to link body impulses to the
song. (The stream of life should be articulated in forms.) The witnesses
then enter into states of intensity because, so to say, they feel presence.
And this thanks to Performer, who is a bridge between the witness and
this something. In this sense, Performer is pontifex, maker of bridges.
(grotowski 2001: 377) O nexo que se tem vindo a estabelecer entre o
56
no a presena
notas
pequena incurso pelo modo como Kirby delineia a atuao no happening, beneficiando de ter ele sido ator, encenador e autor de teatro, tendo
trabalhado com o Wooster Group, por exemplo. Partindo da afirmao
de que the Happening can help to explain much about current developments in acting (kirby 2002: 49), procura-se em seguida caracterizar o
desempenho do performer no Happening, considerando trs aspectos
particulares: a no centralidade do performer nesta forma teatral, o
carter no matricial e comparativamente livre do seu desempenho e a
diferena do seu jogo relativamente a outras formas cnicas. Kirby, na
Introduo ao seu livro Happenings (1965), d a entender que o performer no ocupa no happening o lugar central que o teatro tradicional atribui
ao ator; o que se depreende da constatao de que certas unidades,
nesta forma de arte, contm apenas sons ou elementos fsicos e dispensam a presena humana (kirby 1965: 14); o que se confirma, um pouco mais frente no texto, quando Kirby diz que: Thus in many Happenings the acting tends to exist on the same level as the physical aspects of
the production. While allowing for his unique qualities, the performer
frequently is treated in the same fashion as a prop or a stage effect.
(kirby 1965: 19) O performer encontra-se, portanto, ao mesmo nvel
que os cenrios e os adereos, perdendo o lugar central que a maioria das
formas teatrais confere ao ator. Se, tal como foi referido na seco anterior, o happening no valoriza o texto nem as categorias dramticas tradicionais, tambm o performer no opera a com uma matriz dessa natureza; o seu jogo , correlativamente, descrito como nonmatrixed
performing (kirby 1965: 16). Este tipo de desempenho no matricial,
ainda de acordo com Kirby, pode encontrar-se em diversos contextos
quotidianos distintos do teatro, como numa sala de aula, em eventos
desportivos ou em apresentaes pblicas; em suma, ele est presente
em situaes onde existe uma relao performer pblico fora de um
contexto dominado pelo ficcional. O que faz, ento, o performer no happening? Sem interpretar um tempo, um espao ou uma personagem
externos ao evento concreto que realiza, o performer no happening, de
acordo com Kirby, apenas executa uma tarefa genericamente simples e
pouco exigente. Uma vez que estas tarefas so programadas mas no
marcadas em detalhe como em outras formas de teatro, o performer
goza, aqui, de um grau de liberdade comparativamente maior. Contudo,
58
no a presena
notas
1965: 21); e, em segundo lugar, que imprescindvel considerar que
aquele que cria o evento muitas vezes tambm o realiza, como sucede,
por exemplo, com alguns trabalhos de Allan Kaprow nesta situao,
complicado pensar a morte do ator j que este o criador da obra; finalmente, pode questionar-se o carter absoluto da noo de desempenho
no matricial. Kirby mantm que o performer no Happening nem desaparece na personagem, como pretenderia Stanislavsky, nem aparece ao
lado dela, comentando-a, como pretenderia Brecht; para ele, Now a new
category exists in drama () (kirby 1965: 17) mas necessrio, ainda
assim, pensar a existncia de um continuum entre o desempenho no
matricial e as formas mais tradicionais de jogo do ator, como o prprio
autor reconhece (kirby 1965: 16; kirby 2002: 40). Apenas semelhante
noo espectral permite abordar eventos como o circo e o rodeio, que
fazem alternar desempenhos no matriciais com outros fortemente
marcados por uma matriz de personagem (como o dos palhaos), ou
desempenhos como o de um stand-up comedian, que por alguns instantes
assume uma personagem no curso da sua apresentao. A noo de um
continuum entre non-acting (desempenho no matricial, tal como tem
vindo a ser designado) e acting (associada prtica tradicional do ator e
ideia de representao) desenvolvida por Kirby num artigo vrios anos
posterior edio do livro Happenings. Aqui se torna mais claro que, do
ponto de vista do trabalho do ator/performer, ele no representa quando
do[es] not do anything to reinforce the information or identification
(kirby 2002: 41) e que ele representa quando does something to simulate, represent, impersonate, and so forth (kirby 2002: 43) . Simultaneamente, pelo recurso que Kirby faz neste artigo a categorias intermdias (como Symbolized Matrix e Received Acting), fica evidente que
o impacte dos happenings sobre a atual prtica teatral se deve tanto a
uma alterao no jogo do ator (que no faz nada para reforar a informao ou a identificao), quanto a uma alterao no contexto em que
ele o realiza (que lhe impe, ou no, uma matriz ficcional). Em suma, ao
caracterizar a atuao do performer no happening salientaram-se trs
aspectos: que esta forma de teatro coloca o performer fora do lugar de
primeiro plano que detinha nas apresentaes teatrais tradicionais e o
encara antes como um elemento mais do evento entre outros; que nestas
apresentaes o performer se limita a realizar tarefas de um modo prxi60
mo ao do quotidiano, de uma forma que lhe d um grau comparativamente maior de liberdade em relao s formas tradicionais de jogo; e,
finalmente, que o carter particular do seu desempenho a se deve tanto
ao que ele no faz, como ao contexto dramatrgico onde se inscreve. A
hiptese da morte do ator no um vaticnio mas uma ideia forte capaz
de traduzir o imenso impacto que o happening teve sobre o modo como
hoje se concebe o seu trabalho artstico. A esta noo de performer pode
dar-se a designao de formalista ou conceptual, dadas as caratersticas
acima mencionadas.
vii A noo proposta por Giorgio Agamben de autor a que me refiro
aparece no belssimo texto O autor como gesto (2007: 55-63). O sentido do texto e a sua pertinncia particular no mbito de um estudo artstico empenhado em pensar a formao no contemporneo surge logo nas
primeiras linhas, por via da retomada da citao de Samuel Beckett que
Michel Foucault fez aquando da sua conferncia O que um autor?
perante os membros e convidados da Sociedade Francesa de Filosofia,
em fevereiro de 1969: O que importa quem fala, algum disse, o que
importa quem fala (foucault 2006: 267-268). Sublinha Agamben,
esta breve passagem afirma simultaneamente a irrelevncia e a necessidade da identidade do autor (agamben 2007: 55), o que dar incio a um
movimento da parte do filsofo italiano em direo a uma considerao
positiva da figura do autor que surge apenas implcita na distino proposta por Foucault entre o individuo-autor e a funo-autor e, talvez, um
pouco mais explcita na figura complementar do fundador de discursividade, por ele avanada para referir aqueles que produziram alguma
coisa a mais [que obras e livros]: a possibilidade e a regra de formao de
outros textos (foucault 2006: 280). Com efeito, a posio de Foucault
na referida conferncia parece inserir-se numa das linhas mestras do seu
trabalho que a de investigar as condies e determinao do aparecimento da figura do sujeito na cultura ocidental, investigao esta na qual
a figura do autor parece como um tipo particularmente exemplar das
implicaes politico-econmicas e tambm existenciais que essa figura
carrega. Cerca de um ano antes da conferncia de Foucault, Roland Barthes havia publicado A Morte do Autor (1968), onde afirma que a obra
e o sujeito da sua enunciao se constituem no mesmo momento, no
havendo portanto nenhum ser que preceda ou exceda o texto (barthes
61
no a presena
62
3 | folha de presenas
O estudo da formao de atores no ensino superior tem recebido ateno reduzida, apesar do aumento do nmero de escolas
superiores e universidades a oferecer cursos, apesar da procura
crescente dos pretendentes a ator por uma formao de nvel superior. Teatro e Educao continua a remeter para os no atores,
a criana ou o jovem, populaes especficas, os doentes ou os
reclusos, apenas de forma pontual aparece o ator na formao do
ator no ensino superior: preciso estudar para ensinar atuao
a no-atores mas no para ensinar profissionais. Entre as fontes
bibliogrficas encontramos artigos que apresentam as propostas
formativas de escolas determinadas de forma panormica ou
monografias acadmicas que estudam metodologias especficas,
tendo em vista a formao tcnica; em particular, so pontuais as
publicaes recentes sobre o ensino e a aprendizagem no dt - estc
ou no cac - eca 1. Nada mais necessrio que compreender um
pouco melhor como se estruturam os cursos e as disciplinas, o
1 Entre as primeiras, destaco os artigos sobre a formao institucional oferecida na
Polnia, na Alemanha e na Austrlia (watson 2001); Theatre and the University
at the End of the Twentieth Century (1995), de Bonnie Marranca, para uma
perspetiva sobre a situao norte-americana; Justus Leibig Universitt Giessen
(2003), de Steve Earnest, com um olhar sobre as experincias inovadoras de ensino
na referida escola alem; o ltimo captulo de Teatralidades Contemporneas
(2010), no qual Silvia Fernandes se debrua sobre a proposta pedaggica do
curso de graduao em artes cnicas da unicamp (Brasil); Joo Mota: Uma
Metodologia de Ensino do Teatro (2004), de lvaro Correia, e Duas Geraes
na Formao de Formadores Teatrais na estc: Joo Mota e Carlos Pessoa
(2006), de Antnio Gomes, so duas monografias que se debruam sobre as
prticas docentes na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa. Fora deste
mbito, a investigao relativa ao trabalho de docentes e alunos de interpretao
em situao educativa de difcil acesso e surge na forma de artigos breves.
66
folha de presenas
que havia tido no me davam a almejada clareza, pretendia conhecer um pouco as prticas pedaggicas e artsticas do ator no Brasil
e no Reino Unido, voltar escola onde fizera a minha formao
em Lisboa com outro olhar e maturidade. Portanto, formar-me e
aprender a formar: espionagem e roubo.
Uma espcie de trabalho de campo, ento, investigao no terreno junto daqueles que se ocupam da atividade de formar atores
no ensino superior, a crena na hiptese de que a partilha de um
mesmo ar nos permite conhecer outros hbitos respiratrios.
As tticas de aquisio de informaes envolveram a recolha de
documentos oficiais, a observao de sesses de ensino-aprendizagem e a realizao de entrevistas semidiretivas aos docentes
2 Podemos pensar os elementos formais dos curricula e as entrevistas dos
docentes como sendo, respetivamente, elementos de estrutura e elementos
dinmicos da ao educativa, com base nos quais se poder tentar uma identificao de elementos de organizao. O investigador em educao Albano Estrela
prope um modelo de caracterizao da situao educativa baseado nestes trs
elementos: elementos de estrutura, nomeadamente os dados estticos da situao educativa (caracterizao fsica da instituio, aspectos socio-econmicos da
populao discente, curriculum do formador, etc.); elementos dinmicos, em
particular aqueles relativos s perspectivas e s aces dos sujeitos em situao (actividades desenvolvidas, representaes dos intervenientes, finalidades
observadas, etc.); e, elementos de organizao, os quais so interpretaes do
investigador sobre as aces dos indviduos em situao que procuram identificar princpios de organizao (significao do comportamento, funo, por
exemplo) (estrela 1985: 29 38). A pertinncia de considerar um modelo como
este reside na constatao de que os elementos estruturais so sempre mais resistentes a mudanas mas que os elementos dinmicos podem mais facilmente
consitituir alvo de transformao, para a qual importante a compreenso dos
elementos de organizao que subjazem s aes desenvolvidas em situao.
68
folha de presenas
nestas instituies entre teoria e prtica, entre formao e treinamento (hasan 2009: 6-7). Contudo, o ensino teatral estabeleceu
um lugar no ensino superior pblico na segunda metade do sculo
passado, no cedo demais para procurar ultrapassar as dicotomias prevalentes entre pensamento crtico e habilidade tcnica,
elas constituem um obstculo preparao de artistas para a nossa
sociedade psindustrial, caracterizada pela profuso de tecnologias
digitais e de comunicao, pela relevncia crescente da criatividade
e por desafios ticos singulares.
folha de presenas
(1816),
Escola
Rio de
da for-
folha de presenas
folha de presenas
Oficina Comum
Corpo I
Voz I
Msica Espao Acstico I
Histria do Teatro I
Histria de Arte I
Met. Tec. de Investigao
240
96
96
48
48
48
48
Improvisao I
Histria do Teatro I
Jogos Teatrais I
Teatro de Animacao I
Expresso Vocal I
Corpo e Movimento I
Teatro e Sociedade I
Coro I
Poticas da Voz I
60
180
60
60
30
60
90
60
30
Improvisao II
Histria do Teatro II
Jogos Teatrais II
Teatro de Animacao II
Expresso Vocal II
Corpo e Movimento II
Teatro e Sociedade II
Coro II
Poticas da Voz II
120
180
60
120
30
60
90
60
30
120
30
30
60
60
120
240
60
II
Interpretao I
Corpo II
Voz II
Ms. Espao Acstico II
Literatura Dramtica I
Histria de Arte II
Teorias da Arte Teatral II
216
120
120
48
72
48
96
III
Interpretao II
Corpo III
Voz III
Mus. Espao Acstico III
Literatura Dramtica II
Histria de Arte III
Teorias da Arte Teatral III
216
120
120
48
48
72
96
IV
Interpretao III
Corpo IV
Voz IV
Mus. Espao Acstico IV
Literat. Dramtica III
Histria Teatro II
Teorias Arte Teatral IV
216
120
120
48
72
48
96
Histria do Teatro IV
Canto Para O Ator
Corpo e Movimento IV
Expresso Vocal IV
Teatro Brasileiro II
Interpretao II
Direo Teatral I
Dana Contemp. II
120
60
30
30
120
240
120
60
Mimica I
Teoria do Teatro I
Sonoplastia
Expresso Vocal V
Corpo e Movimento V
Interpretao III
Dana Contemp. III
60
120
60
30
30
240
60
Mimica II
Teoria do Teatro II
Expresso Vocal VI
Maquiagem Caracterizao
Corpo e Movimento VI
Interpretao IV
Dana Contemp. IV
60
120
30
60
30
240
60
V
Interpretao IV
Corpo V
Voz V
Problemas Arte Contemp.
408
96
96
120
VI
Interpretao V
Corpo VI
Voz VI
Escrita Relatrio
Escritas Dram. Contemp.
312
96
96
96
120
folha de presenas
31.03
Jogo Objetos
Desenvolvimento do Jogo Objetos
07.04
Aquecimento
Exerccio de Escrita: autobiogrfico
Desenvolvimento do Exerccio de Escrita
09.04
Aquecimento
Direo de Atuao: persona
14.04
16.04
21.04
23.04
28.04
05.05
06.05
12.05
13.05
14.05
15.05
19.05
06.10
Respirao Bsica
Treino Intensivo: Yoga, Taiji, Kalarippayattu
Exerccio com Imagem
07.10
Treino Intensivo
08.10
Treino Intensivo
Exerccio de Reduo
Improvisao Estruturada
16.10
Seminrio Psicofsico
Treino: Yoga, Taiji, Kalarippayattu
Improvisao Estruturada
28.10
04.11
Treino
Colagem Textos
Ensaio Butoh
05.11
Seminrio Kathakali
Treino Auto-dirigido
Exerccio de Escrita
10.11
Treino
Ensaio Hamletmachine
Ensaio Fewer Emergencies
11.11
Treino
Ensaio Hamletmachine
13.11
Treino
Ensaio Fewer Emergencies
14.11
Treino
Ensaio Hamletmachine
19.11
Treino
Exerccio Ressoadores
Ensaio Butoh
Ensaio Fewer Emergencies
3.3 | INFERNCIAS
O que se verifica do estudo dos elementos de estrutura do dt e do
cac so duas concepes distintas de desenho curricular, tanto no
que concerne s disciplinas oferecidas e possibilidade de opo dos
alunos, bem como no que refere ao perfil de sada. O estudo dos
elementos dinmicos dos curriculos mostra tambm distintas realidades, tanto entre quanto dentro das escolas: ambas apresentam
uma diversidade de vises da atividade do ator e de projetos pedaggicos. Como problema comum temos a dificuldade em articular
teoria e prtica nas disciplinas de Interpretao, uma ciso entre
pensadores reflexivos e fazedores competentes, que se constata em
82
particular tanto na definio dos meios e critrios, quanto nos discursos sobre a avaliao. A situao algo distinta nas disciplinas
estudadas no Reino Unido, onde estes problemas esto melhor
resolvidos.
A noo de presena surge ora explicitamente nos programas, ora
implicitamente nos discursos dos docentes sobre o trabalho do
ator, dizendo respeito em geral a certas qualidades do desempenho cnico. interessante neste momento apenas destacar que a
noo de presena aparece tambm operando no modo como os
docentes se referem qualidade da participao dos discentes nas
aulas, afirmando-se como um termo para referir o empenhamento, a ateno e a disponibilidade.
folha de presenas
folha de presenas
ao pedaggica dos docentes. O estudo dos contedos das entrevistas, centrado na identificao da constelao de referncias de
cada docente permite constatar uma significativa diversidade dos
universos mas parece indicar dois aspectos comuns: por um lado,
uma forte presena de referncias nacionais, sugerindo, como
seria de esperar, o carter decisivo do contexto local e da histria
nacional na formao de referncias dos formadores; aparecem
aqui como denominadores comuns, por um lado, Joo Mota, ator,
diretor e pedagogo, com um decisivo papel na histria do dt, por
outro, Shakespeare, Bertold Brecht e Peter Brook, indicando um
possvel conjunto de valores estticos partilhados. Contudo, estas
pontuais referncias comuns no conduzem a uma viso homognea da atividade do ator, o que tende a representar a ampla
diversidade de prticas teatrais observadas na cena portuguesa.
Considerando estas oportunidades de melhoria das concepes e
prticas curriculares, pertinente indagarmos sobre qual o tipo de
criao que realmente se espera dos atores formados na escola: por
um lado, o trabalho com os textos no parece implicar uma noo
explicitamente elaborada de anlise ou composio da atuao; por
outro, os projetos autnomos de criao no parecem ter como
meta o desenvolvimento de projetos individuais e/ou coletivos
de criao continuados, a ser sustentados e desenvolvidos fora da
situao escolar.
A noo de presena, enquanto qualidade particular do jogo do ator,
aparece explicitamente na ementa da disciplina de Interpretao
I, bem como no discurso dos docentes Carlos J. Pessoa e Bruno
Bravo. No primeiro caso, presena declarada como uma noo
que os alunos devero adquirir pela experincia, associando-a
86
87
folha de presenas
folha de presenas
as atividades propostas buscam que o aluno aprimore a sua presena enquanto indivduo, considerada um patamar elementar
para a criao cnica. Aqui, a noo de presena surge articulada
a uma ideia de entrar dentro de si e de estar no seu corpo,
bem como s ideias de limpeza e quebra das mscaras musculares da personalidade, o que permitiria a criao de um campo
energtico magntico que atrai as energias que transitam por ali.
Presena, portanto, surge como uma qualidade de relao do ator
consigo mesmo e com os outros, promotora de uma capacidade de
ao no aqui e agora da situao, que atrairia a ateno dos espectadores. O trabalho que foi acompanhado nas sesses revela que este
objetivo buscado por diversas estratgias que visam desenvolver
uma relao de no representao do ator com os materiais da sua
composio, relao esta alicerada no jogo, na implicao pessoal
com os materiais e na participao consciente na elaborao da
composio cnica.
folha de presenas
folha de presenas
ser considerado analogamente a um trabalho escrito, o qual, contudo, no dispensado. O curso parece procurar um equilibrio entre
disciplinas focadas em textos e criadores de relevncia histrica,
e disciplinas com uma forte componente de trabalho experiencial
em sala, no qual se procura integrar a reflexo e a aquisio de
conceitos. A disciplina Intercultural Performer Trainning, uma
optativa do segundo ano frequentada tanto por alunos de graduao como por alunos de ps-graduao, inscreve-se dentro deste
segundo grupo.
Apesar da noo de presena no figurar explicitamente na ementa
da disciplina, ela desempenha um papel central no pensamento
do docente Phillip Zarrilli, assim como na ao pedaggica que
implementa. Se considerarmos a proximidade que a noo de
presena manifesta com o termo psicofsico como referindo um
estado timo de disponibilidade corporal e mental do ator na ao,
tal como sugerido na ementa, podemos comear a aferir a centralidade que a noo de presena ocupa no mbito da disciplina.
Ainda segundo o explicitado na ementa, este estado psicofsico
timo considerado com recurso a critrios como claridade,
completude e plenitude que sugerem um campo semntico
prximo daquele que est associado noo de presena cnica.
Por outro lado, Zarrilli estabelece o nexo entre os dois termos na
entrevista, nomeadamente quando esclarece que o tipo de relao
psicofsica que o seu trabalho visa pode ser descrita em termos
energticos e que em qualquer boa atuao vai haver um tipo de
presena energtica. Como foi possvel observar e experimentar
durante a observao participativa das sesses, as atividades propostas estruturam-se segundo este princpio de trabalho com a
94
folha de presenas
folha de presenas
(1.1) Como foi o seu despertar artstico para o teatro? (1.2) Como
tem sido a sua formao artstica no teatro? (1.3) Quais considera
as suas principais influncias artsticas?
(2.1) Como foi o seu despertar para o ensino da interpretao? (2.2)
Como tem sido a sua formao pedaggica em interpretao? (2.3)
Quais considera as suas principais referncias pedaggicas?
(3.1) Qual a sua opinio sobre o curriculum do curso de teatro que
integra? (3.2) Qual entende ser o lugar da disciplina que lecciona
no contexto do curso? (3.3) Qual a sua opinio sobre o curriculum
formal da disciplina que lecciona?
(4.1) Qual o curriculum que implementa (contedos, actividades,
valores, etc.)? (4.2) Como descreveria a sua actividade pedaggica,
em cinco linhas aprox.? (4.3) Que constrangimentos profissionais
identifica na sua actividade pedaggica?
(5.1) Com base em que produo do aluno faz a sua avaliao?
(5.2) Quais os critrios de avaliao a que recorre? (5.3) Qual o peso
relativo de cada um deles?
(6.1) O que entende por teatralidade? (6.2) O que entende por jogo
do actor? (6.3) Qual a relao do actor com a representao? (6.4)
O que entende por um artista de teatro? (6.5) O que entende por
performer? (6.6) Qual a relao entre teatro e performance?
Drama Department
(1.1) De acordo com que objetivos, atividades e valor organiza o
ensino? (1.2) Poderia falar um pouco sobre como realiza a avaliao? (1.3) Considera diferente levar a cabo a ao formativa numa
instituio de ensino superior e numa escola profissional?
(2.1) Poderia falar um pouco sobre a atuao entendida como a
realizao de tarefas? (2.2) Poderia falar-me umpouco sobre como
entende a relao entre ator e performer? (2.3) Poderia falarme um pouco sobre como concebe a noo de si-mesmo?
100 |
departamento de teatro
escola superior de teatro e cinema
instituto politcnico de lisboa
ementa
objetivos Pretende-se com este primeiro mdulo da disciplina
de Interpretao que os alunos utilizem o texto dramtico como
ponto de partida da criao teatral, prtica que constitui a matriz
do trabalho do actor no teatro ocidental. Pretende-se que os alunos,
atravs de textos simbolistas ou de influncia simbolista, conheam
um dos momentos de ruptura que marcou a modernidade europeia e que, deste modo, estabeleam ligaes e pontes com outros
movimentos artsticos da mesma poca (naturalismo, realismos,
etc.) e com as praticas teatrais contemporneas. Pretende-se que os
alunos adquiram, experimentando, as noes de aco - no aco,
cena - contracena, presena - distncia e observao - construo
e reconheam as diferenas entre teatralidade e vida, e imitao e
criao.
programa O confronto dos alunos com os grandes autores uma
estratgia fundamental para o seu desenvolvimento artstico. Os
autores dos textos escolhidos, Dama do Mar (1888) e Salom (1893),
so Henrik Ibsen (1828 -1906) e Oscar Wilde (1854 1900). O
trabalho com os alunos ser desenvolvido atravs de trs linhas de
fora fundamentais:
1 Identificar os aspectos simbolistas nos textos escolhidos e elaborar um enquadramento dramatrgico,
histrico e cnico das obras.
2 - Relacionar os textos a trabalhar com o espao e tempo
como coordenadas cnicas para o trabalho do actor.
3 - Trabalhar o conceito de partitura fsica, vocal e textual.
104 |
interpretao i
materiais de apoio Sero fornecidos aos alunos textos de natureza
literria diversa, filmes, registo udio.
actividades curriculares Apresentao pblica do exerccio no
final do Semestre na Escola
actividades extracurriculares Promover a participao dos
alunos em pequenos trabalhos prticos promovidos pela ESTC em
parceria com outras instituies. Estes trabalhos tm como objectivo aproximar os alunos do mercado de trabalho.
bibliografia
IBSEN, Henrik, A Dama do Mar (a verso escolhida ser editada
em Outubro de 2006 pela Cotovia)
WILDE, scar, Salom, trad. Armindo Rodrigues. Lisboa: Relgio
Dgua, 2001.
CHADWICK, Charles, O Simbolismo, trad. Maria Leonor de castro
H. Telles. Lisboa: Lysia, 1971
CRUZ, Duarte Ivo, O Simbolismo no Teatro Portugus: 1890-1990.
Lisboa: Instituto de Cultura e Lngua Portuguesa, 1991
REBELO, Lus Francisco, O Teatro Simbolista e Modernista. Lisboa:
Instituto de Cultura e Lngua Portuguesa, Lisboa, 1979
DORRA, Henri, Symbolist Art Theories: a critical anthology. Berkeley:
University of Califrnia Press, 1994
BERTHOLD, Margot, Histria Mundial do Teatro, traduo de
Maria Paula Zurawski, J. Guinsburg, Srgio Coelho, Clvis Garcia.
S. Paulo: Editora Perspectiva, 2001
105
folhas de presena
ementa
PAVIS, Patrice, Dicionrio de Teatro, traduo de J. Guinsburg e
Maria Lcia Pereira. S. Paulo:Editora Perspectiva, 1996
VASQUES, Eugnia, O Que Teatro. Lisboa: Quimera, 2003
mtodo de avaliao A avaliao contnua atendendo evoluo
dos alunos e ao trabalho por estes realizado durante a durao do
semestre. No final deste ser atribuda uma classificao numrica
a cada aluno, que ser afixada em pauta.
critrios de avaliao
1. Assiduidade e Participao
2. Aquisio de conhecimentos
3. Evoluo
4. Reflexo escrita
106
interpretao i
As sesses de trabalho sero divididas pelas seguintes fases:
1. O enquadramento do autor e da sua poca e anlise
do texto.
2. Distribuio de tarefas, situaes e personagens pelo
grupo de trabalho.
3. A Improvisao na procura e construo de partituras
fsicas, vocais e textuais
4. Fixao das cenas no espao e no tempo
No final do semestre o aluno far uma breve reflexo
escrita sobre o processo de trabalho.
folhas de presena
entrevista
programa Tem muito a ver com princpios ticos relacionados
com a profisso, no sentido de disciplina, em termos de trabalho,
o medo que eles tm. Este ano, por exemplo, so dezassete alunos;
muito difcil conseguires gerir dezassete alunos mesmo tendo
mais tempo. Eles tm que perceber que tm que aproveitar todo o
tempo com o professor. uma questo de disciplina e de disponibilidade interior que tm que ter, no ? Se calhar, uma coisa em
que eu tenho que insistir mais, no sentido de que estamos a criar
profissionais, podem ser criadores e artistas e no ser s atores,
quer dizer, os atores tambm so criadores, mas em termos profissionais, eles tm que estar preparados para trabalhar com qualquer
encenador: deviam estar preparados tanto para um encenador que
marca tudo e no os deixa fazer nada, como para outro que faz
espectculos a partir das improvisaes e daquilo que eles derem.
Eles tm que estar preparados para as duas coisas, e perceber que
no existem dogmas, tm que estar abertos para para o que lhes
possa aparecer e estar disponveis para isso. Eu sinto muitas vezes
que estou a trabalhar a partir de uma tica da profisso.
dificuldades Neste momento a coisa mais complicada que a escola
artstica enfrenta o facto de o dinheiro ser pouco e de termos
que admitir mais alunos do que deveramos. O ideal seria ter uma
turma de dez pessoas e no de dezassete. O semestre, com dez
pessoas, seria completamente diferente. Porque tambm no h
mercado de trabalho para esta gente toda. um bocadinho cnico
da nossa parte admitir tanta gente. Eu tambm no sou capaz de
dizer: Tu vais ser, tu vais ser, tu no vais ser. Porque um tipo de
108
lvaro correia
profisso onde h pessoas que tm muita qualidade e depois, por
circunstncias da vida, no continuam, e h outras que no tm
tanto, mas que insistiram, trabalharam, tiveram oportunidades,
e de repente so. Eu tenho que os tratar minimamente a todos
da mesma maneira. Posso dizer: Dessa maneira podes no ser,
ou Da maneira como te comportas... Agora muito complicado
virar-me para um aluno e dizer: Tu no vais ser ator.
avaliao Eu elaboro a avaliao essencialmente pela reao
quilo que vou sugerindo e pedindo, pelo modo como aproveita o
vai fazendo e transforma isso em trabalho concreto na criao da
personagem, pelo relacionamento que ele vai estabelecendo com a
cena que eu distribuo e tambm pelo como ele vai evoluindo na relao com o outro com quem vai trabalhando. Por um lado como
ele cresce verticalmente, no sentido em que vai seguindo as coisas
que vai criando e desenvolvendo relativamente personagem que
ele tem, por outro lado, uma espcie de crescimento horizontal,
no sentido da relao dele com os outros numa cena. Depois eu
junto uma coisa que para mim fundamental, que assiduidade
porque uma questo de tica da profisso, porque, no fundo,
temos que os tratar como se fossem futuros atores e, numa profisso to selectiva como o teatro, no basta ser muito engraado
e ser talentoso, tambm tens que ter uma postura tica perante as
coisas, que nem d para trabalhar com uma pessoa que completamente inconstante e desorganizada. Alm destes critrios, tem a
ver com como eles vo adquirindo tecnicamente as coisas, como
que eles vo tendo conscincia daquilo que vo adquirindo, como
109
folhas de presena
110
interpretao iii
objectivos Em Interpretao III - Teatro do Barroco pretende-se que os alunos se confrontem com um conjunto de textos
cujo sedimento cultural patrimnio comum da prtica teatral do
Ocidente.
Pretende-se que os alunos faamum percurso comparativo entre
pocas, gneros teatrais e mtodos de trabalho diversificados, que
lhes permitam ter, por um lado uma percepo mais clara sobre
as diferentes poticas subjacentes, e, por outro o confronto com
as diferentes propostas de trabalho dos professores responsveis
pelos respectivos mdulos.
Pretende-se que os alunos adquiram e consolidem um saber terico-prtico que tenha uma expresso significativa na qualidade da
sua interpretao. Assim, osalunos devero aprofundar um conjunto de tcnicas interpretativas, que lhes permitam enriquecer o
lxico indispensvel ao trabalho do actor.
programa Este mdulo dedicado ao trabalho sobre os Teatros
do Barroco, entendendo o Barroco como um movimento esttico
transversal. O autor proposto Calderon de La Barca (1600-1681)
pela sua representatividade na dramaturgia barroca europeia,
sendo o expoente mximo do Siglo de Oro Espanhol. Os textos
escolhidos so O Prncipe Constante (1628) e O Grande Teatro do
Mundo (1635?).
O trabalho com os alunos ser desenvolvido atravs de quatro
linhas de fora fundamentais:
111
folhas de presena
ementa
1. Anlise dramatrgica dos textos a trabalhar, tendo em
considerao o seu enquadramento histrico e cnico.
2. Trabalho de elocuo sobre o material proposto, partindo das noes de ritmo e musicalidade inerentes
riqueza da linguagem do autor.
3. Trabalho de improvisao na procura da criao de
um universo dramatrgico e de uma gramtica comum
ao grupo.
4. Trabalho de aprofundamento tcnico e artstico, a partir
das noes de rigor, eficcia cnica e comunicao.
bibliografia
calderon de la barca, Pedro, O Prncipe Constante.
calderon de la barca, Pedro, O Grande Teatro do Mundo, traduo e notas de Jos Bento. Lisboa: Cotovia, 1996.
abel, Lionel, Metateatro: uma viso nova da forma dramtica, traduo de Brbara Heliodora. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1963.
calabrese, Omar, A Idade Neobarroca. Lisboa: Edies 70, 1999.
berthold, Margot, Histria Mundial do Teatro, traduo de Maria
Paula Zurawski, J. Guinsburg, Srgio Coelho, Clvis Garcia. S.
Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
pavis, Patrice, Dicionrio de Teatro, traduo de J. Guinsburg e
Maria Lcia Pereira. S. Paulo: Editora Perspectiva, 1996.
112
interpretao iii
materiais de apoio Ser fornecido aos alunos um conjunto de
materiais de apoio composto por textos de natureza literria diversa, filmes, registo udio, etc..
actividades curriculares Apresentao pblica no Teatro
Nacional D. Maria II.
actividades extracurriculares Participao de alguns alunos,
aps seleco com critrios definidos, em encontros internacionais
de escolas de teatro organizados pelo ITI International Theatre
Institute.
mtodo de avaliao A avaliao contnua atendendo evoluo
dos alunos e ao trabalho por estes realizado durante a durao do
semestre. No final deste ser atribuda uma classificao numrica
a cada aluno, que ser afixada em pauta.
critrios de avaliao
1. Assiduidade e Participao
2. Aquisio de conhecimentos
3. Evoluo
4. Reflexo escrita
113
folhas de presena
carlos j. pessoa
programa Para mim, aquilo que me interessa sobretudo a
questo da tcnica, agora, eu no tenho iluses, a tcnica depende sempre. Eu sempre tive muitas inquietaes como professor:
ser que um tipo est a ser artista, est a fazer as suas encenaes,
ou est realmente a ser professor, est a produzir alguma coisa
de til para os alunos? Sempre tive dilemas de conscincia como
professor, ser que isto til para os alunos? A nica forma de
eu resolver esse dilema empregar-me ao mximo, do ponto de
vista artstico. Ou seja, o contrrio, fazer isto como se isto de
facto fosse um objeto incrvel, de forma a me envolver tambm o
mais possvel no trabalho e ter, portanto, o ensejo de me envolver
tambm com os alunos de forma a que possa chegar at eles, que
possa perceber como que os posso ajudar do ponto de vista tcnico. Essa a minha estratgia. A estratgia podia ser outra, ter uma
atitude o mais fria e fazer um conjunto de exerccios, mas acho
que no, acho que para dar a tcnica tem que haver um grande
envolvimento emocional, artstico, afetivo com aquilo que se est
a fazer, isso que eu procuro. Tendo tambm a noo de que so
midos de vinte anos, que isto no tem uma exigncia profissional
e, portanto, tentar pautar os comentrios e as avaliaes de acordo
com a fase de desenvolvimento em que eles esto. A tcnica tem
que ser vista em funo de um objeto qualquer, em que as pessoas
estejam envolvidas. Nestes ensaios a gente v, sente as debilidades
que os alunos tm e apercebe-se: Aqui eu posso-te ajudar, Aqui
ests a fazer efeitos. Porque o ator quando est a representar no
pode estar a pensar para onde que vo os ps, e no sei qu no
sei que mais, tem que ter um outro objetivo. E depois a tcnica
115
folhas de presena
entrevista
por si, independentemente da conscincia, vai acamando, no ?
Agora, se a gente est sempre a dizer ao aluno: Olha l para a
respirao!... Portanto, tem que haver essa tenso da responsabilidade que o espectculo implica para eles poderem crescer. Se no
h essa responsabilidade, isto est tudo perdido. a minha noo,
agora, um territrio difcil, um territrio no arame. O segundo
ano um ano complicado. talvez o ano que eu mais gosto, o
ano das ruturas, um ano em que as coisas se definem, em que
a questo do discurso fundamental, eles tomarem conscincia
que tm um discurso, que tm um discurso artstico, que tm um
discurso cvico, que tm um discurso cultural. E que isso implica
trabalhar, implica tomar decises, implica recolher informao,
implica criar, implica ouvir, implica um exerccio como artistas e
como cidados. Em trs linhas, esta oficina um trabalho de consolidao tcnica mas tambm de percepo por parte dos alunos
da atividade de ator como artista, como cidado e como agente cultural. Dito assim em trs coisas: artista, cidado, e agente cultural.
As coisas sempre se interagem um bocadinho, mas acho que tem
um bocadinho a ver com estas coisas.
dificuldades Eu este ano senti-me muito bem, alis, recuperei
um prazer de dar aulas que j no tinha h muito tempo.
avaliao data de inscrio, este atelier era Teatros do Barroco,
no integrava aquele Teatro Contemporneo, portanto a avaliao incide sobretudo no teatro do Barroco. Contudo, o Teatro
Contemporneo serviu-me para tirar dvidas. Eu acho que foi
muito positivo tanto que h uma proposta para no prximo ano
116
carlos j. pessoa
esta experincia que tivemos ser introduzida no plano curricular,
todos os responsveis com quem falei acharam muito vantajoso
porque os alunos cresceram muito, tiveram mais rendimento e
maior autonomizao, sobretudo, que aquilo que nos interessa
aqui sobre o ponto de vista pedaggico analisar. Portanto, a j
comeo a responder pergunta, a questo da autonomizao: da
capacidade do aluno em termos tcnicos ou artsticos conseguir
no s responder quilo que lhe pedem, como ter uma capacidade de interveno naquilo que lhe pedido. Pondo isto de outra
maneira, ns distribumos papis, personagens, ao aluno, e no
fim de contas o que que cada aluno faz com o personagem.
Isto so sinais que o professor interpreta, o professor no um
cientista, estas coisas no so mensurveis, a avaliao sempre
subjetiva, tambm um aspecto que fundamental considerar;
agora a avaliao baseia-se nesta soma de observaes que tu vais
fazendo sobre os alunos. importante dizer tambm aos alunos e
ter presente: a avaliao que fazes num determinado momento,
no um julgamento categrico sobre a pessoa e para a vida.
muito tte-a-tte, cada caso um caso... e extremamente delicado.
H critrios tcnicos, quem tem boa dico, boa projeo, quem
se mexe bem no espao, quem tem uma boa relao com os objetos, quem sentido rtmico, a questo da expressividade. Depois
quem consegue criar uma diferena do ponto de vista artstico, ou
seja, com essas competncias - e com isto tem que se distinguir
tcnica e arte, tcnica a sustentao, arte a expresso -, aquilo
que a gente v personalizado, com uma marca estilstica prpria:
artisticamente, quem consegue criar maior novidade, maior
117
folhas de presena
entrevista
impacto comunicacional dentro dessa dinmica artstico-tcnica.
Por outro lado, para mim so igualmente importantes, alm do
aspecto artstico-tcnico, os aspectos da participao e da forma de
estar. No apenas a participao no sentido da assiduidade mas a
forma como cada aluno se integra na dinmica do grupo, contribui
e interveniente nessa dinmica. Acho isso um aspecto crucial do
teatro, aquilo a que os velhos do teatro chamavam uma pessoa
que tem boa energia ou que tem m energia, imagens que tm
um pouco a ver com essa capacidade de interaco dentro de um
colectivo. Critrios artstico-tcnicos, portanto, os critrios ligados
assiduidade, qualidade da participao, basicamente so estes
quatro critrios, anda volta disto. Quer dizer, h outro, o critrio
da consistncia: mais do que a progresso, no teatro progride-se e
regride-se, anda-se para a frente, depois anda-se para trs, mais
a consistncia, mais a forma como a gente lida com as crises
do que propriamente no ter crises; importante ter crises,
mais a essa capacidade de ao longo do tempo ser capaz de gerir
as prprias crises, os momentos bons, os momentos menos bons,
portanto, diria a consistncia. Isto so os itens pessoais, como
que eu pessoalmente giro isto, so estes cinco itens. Agora, eu no
gosto desta avaliao muito pormenorizada de zero a vinte... qual
a diferena entre um treze e um quatorze? Qual a diferena
entre um doze e um treze? Qual a diferena entre um quinze e
um dezasseis? Tudo isto me parece bastante artificial. Eu crio um
intervalo de quatro nmeros, que no fim de contas corresponde
a um nvel. Neste caso uma boa turma, portanto eu penso que
se justifica dar entre quatorze e dezassete, portanto, esses quatro
118
carlos j. pessoa
nmeros constituem quatro patamares de desenvolvimento. So
bons, so todos bons, agora h um patamar mais fraco, outro um
bocadinho superior, o outro um bocadinho ainda superior e o
outro um bocadinho superior. H o patamar de excelente, h
o patamar muito bom, o patamar bom e o patamar suficiente, percebes? So esses os patamares com os quais eu me sinto
vontade, com os quais eu tenho vindo sempre a trabalhar atravs
destes anos e atravs dos quais tambm tento mitigar essa questo
psicolgica que muito complicada de reao s notas. Eu gostava
de diluir esse impacto, porque esse impacto muito enganador,
falacioso, percebes. De fato escamoteia o essencial disto: a prtica artstica no uma prtica concorrencial, no uma prtica
de competio, uma prtica de afirmao de um discurso, que
completamente diferente. No se o meu discurso melhor
do que o teu, a questo aqui a especificidade de cada discurso.
No possvel comparar. Eu costumo dar aqueles exemplos com
queijo: o queijo da serra no comparvel com o queijo flamengo
e no quer dizer que um seja pior do que o outro, concorrem em
mercados completamente diferentes. E no caso da arte cada um
um mercado diferente. Tem que ser entendido assim, por isso
este tipo de avaliao, e os alunos no tm essa noo, por muito
que a gente lhes diga. Por questes sociais, porque esto sempre
a ouvir falar, concorrncia, competitividade, sei o qu, no sei
que mais, eles julgam que esto em conflito uns com os outros.
No verdade, no verdade. Muitas vezes os alunos levam aquilo
a peito, muito a mal, embora normalmente digam ah, no me
interessa nada as notas!, mas interessa-lhes, e portanto ns tenta119
folhas de presena
mos mitigar isto, porque, no fim de contas, seria mais justo e mais
equilibrado, a meu ver, ou passa ou no passa. Depois havia
comentrios qualitativos. um assunto inacabado, um assunto
que para mim um dos assuntos mais problemticos.
ptio interior, maro de 2007
120
interpretao v
objectivos Interpretao V uma Oficina de Criao que marca
o final de um ciclo na formao dos alunos do Departamento de
Teatro da Escola Superior de Teatro e Cinema. Assim, deve constituir-se enquanto espao de desenvolvimento e consolidao das
competncias adquiridas, mas tambm, como momento de experimentao de novos entendimentos da prtica artstica, partindo
sempre de dois conceitos fundamentais: a criao e o espectculo.
A Oficina de Criao deve promover o trabalho em equipa e a interdisciplinaridade entre as opes do Curso de Teatro, bem como
possibilitar aos alunos o contacto com artistas/autores que desenvolvem trabalhos no espao artstico exterior Escola.
A Oficina de Criao, como projecto dos alunos finalistas da
Licenciatura em Teatro, deve promover um contexto prximo da
vida profissional, estabelecendo relaes entre os alunos, o meio
artstico e profissional e a comunidade.
programa Os projectos a realizar durante a Oficina de Criao so
propostos por professores da Escola. De entre os trs projectos a
realizar, os alunos escolhem um. Cada grupo conta com a presena
de um professor, o professor tutor, que acompanha o projecto e
o orienta no sentido do cumprimento dos objectivos pedaggicos
enunciados. O professor tutor deve planificar o trabalho do grupo e
contribuir para a boa relao entre o grupo, os artistas convidados
e a Instituio.
Cada projecto apoiado por professores da Escola que colaboram
121
folhas de presena
ementa
na resoluo de questes tcnicas relacionadas com as especificidades de cada opo (Dramaturgia, Produo, Actores, Design de
Cena).
Cada projecto deve prever a integrao de um tero dos alunos, de
cada opo, inscritos.
bibliografia A definir pelo professor responsvel por cada
projecto
materiais de apoio A definir pelo professor responsvel por cada
projecto.
actividades curriculares Entre 26 de Fevereiro e 9 de Maro
decorrer a fase de preparao dos Projectos. Apresentao dos
espectculos resultantes de cada projecto (num mnimo de trs
apresentaes por projecto em horrio nocturno) entre 2 e 8 de
Julho. Entrega de relatrio final de licenciatura.
actividades extracurriculares A definir pelo professor responsvel por cada projecto.
mtodo de avaliao A avaliao contnua atendendo evoluo
dos alunos e ao trabalho por estes realizado durante a durao do
semestre.
122
interpretao v
critrio de avaliao
1. Assiduidade e Participao
2. Aquisio de conhecimentos
3. Evoluo
4. Reflexo escrita
O professor deve fazer os balanos necessrios junto dos alunos
durante o processo de trabalho para que este decorra de uma forma
esclarecida e construtiva.
Os alunos tero de elaborar um relatrio final de licenciatura a
partir do trabalho realizado na Oficina de Criao, de acordo com
as normas pr estabelecidas.
folhas de presena
entrevista
programa Isto tem vrios degraus: a concentrao que temos que
ter em no procurar coisas que ainda no altura de procurar.
Nesta altura dos ensaios s vezes tenho o impulso de: faz-se isto,
assim, assim e assim, ts a ver? Portanto, tentar no ceder a esse
impulso e o objetivo nesta fase que eu quero passar no haver
ningum por trs daquele texto, ou seja, no pr inflexes a mais,
nem inflexes a menos, no deixar que a frase, pelo que significa,
leve a uma ideia de personagem ou de estados emocionais; no,
est simplesmente a dizer aquilo. E dentro disto procurar arritmias.
interessante quando se apanha isto, a carga que j em si traz c
para fora e, portanto, o objetivo nesta fase uma espcie de cargas
em bruto. S ento comea o que a tenso de cada cena, ainda
no pensando completamente na construo do personagem. Por
exemplo, a cena da mulher no banco do jardim, ainda tento vla no seu conjunto, do pensar no banco de jardim, do pensar no
espao, que tenso que aquela cena pode ter. Mesmo com as
outras mais polifnicas o objetivo um bocado irmos procurando
tenses, arritmias, ligaes, o que que rudo aqui, o que que
imperceptvel, o que no pode estar imperceptvel, no fundo
quase procurar uma clareza. A partir da entramos numa segunda
camada, que procurar dentro da tenso da natureza quem que
est dentro da cena e as pequenas tenses l dentro. E esperar que
na interpretao, o ator construa, naturalmente, um sub-texto, que
a coisa seja viva. Imagina isto no sentido de um msico ao teclado,
perante uma partitura: pode optar por esta msica triste e comear
a ensai-la logo assim, ou primeiro bater nas teclas, ver as arritmias e ver o que isso envolve. No fundo, como que partindo do
124
bruno bravo
artifcio se consegue chegar a qualquer coisa que seja prximo de
quem est a ver, a qualquer coisa que seja viva, as pessoas estarem
vivas ali, estarem ali. Esta coisa que me estimula muito no teatro
a aproximao e o distanciamento, explorar esta coisa de como
que eu, no palco, me distancio, e ento o espectador est a ver-me e
eu estou noutra zona completamente diferente, e de repente volto
a estar aqui, portanto, esta comunicao constante. apanhar uma
coisa que seja imprescindvel, que tem muito a ver com a verdade,
com vida, mesmo se o que se est a ver abstracto, no sei o que
, apanhar! Isso que o grande mistrio do teatro, como se diz:
como que aquilo passa, p? o grande mistrio, por exemplo,
do Beckett: como que uma coisa que partida to artificial, to
de composio, como que aquilo passa, como que aquilo chega.
E tem muito a ver com msica, com o feeling: vs um gajo que est
a tocar a msica, d as notas certas e no sei qu, mas no tem feeling... o que o feeling, no sei, uma vida ali dentro. Eu acho que
isso a eterna busca de qualquer encenador ou qualquer ator.
dificuldades A maior dificuldade que eu tenho no trabalho ,
dentro desta zona com poucos alicerces, transmitir confiana sem
mentir. Porque estamos a experimentar um texto que no uma
pea, ainda por cima lanado por mim, a partir de improvisaes
que existiram, e isto so quatro horas de aulas, preciso parar,
preciso no insistir demasiado. s vezes a dificuldade que eu
sinto como se gere o tempo, sobretudo nesta fase. Depois ao encarrilar, isto entra noutra lgica mas um bocado isso nesta fase.
Estou sempre a mudar coisas, eu j no planeio semanas, planeio
125
folhas de presena
entrevista
o dia, porque j sei que no vale a pena, porque acontecem sempre
coisas diferentes. Dentro desta coisa de tomar decises, preciso a
altura certa; agora no a altura certa para se fechar cenas porque
nem sequer esto l, mas a altura certa para se fechar a msica.
Portanto, esta relao com o tempo s vezes difcil. Agora, viro
as sugestes da cenografia e do que se vai projectar: como que
vamos lidar com isso? essa constante integrao. E h que no
ter medo, h que lanar e ver, porque quando a coisa est l... O
Harold Pinter que diz que quer procurar a verdade; uma verdade
artstica uma verdade muito ligada mentira, no , mas encontrar a verdade. Eu acho que isso perceptvel, percebe-se, ah, est
c! o qu?, no sei, ep, mas est c!
avaliao Tenho em conta alguns parmetros que a escola sugere,
como tambm temas mais subjetivos, que esto interligados. A
assiduidade, que imporantssima, a participao e a qualidade
em termos mais subjetivos, que tem a ver tambm com a evoluo
do aluno; aqui entramos no campo da criatividade. Tambm, cada
exerccio um exerccio especfico, move-se dentro de especidificades prprias, portanto, neste, tem a ver sobretudo com o indivduo
dentro do coletivo; a construo de dramaturgia, pela improvisao
e ele ser um elemento muito ativo nisso, isso seria uma parte da
avaliao. Tendo em conta que um exerccio final que, de alguma
maneira, equiparado a um espectculo, tudo o que se trabalha
nesse sentido; a avaliao mais importante em princpio at chegarmos estreia, porque estas coisas depois claro que esto todas
conjugadas, mas importante tambm a evoluo do prprio es126
bruno bravo
pectculo; penso que em dois casos que a evoluo do espectculo
foi importante para nota. A avaliao num curso artstico uma
coisa extremamente complexa e eu acho que est mal pensada,
impossvel avaliar-se um aluno de zero a vinte. Cada aluno um
aluno, com especificidades diferentes, a avaliao deveria passar
para uma avaliao mais qualitativa e no tanto quantitativa, e,
seria o ideal, que cada aluno tivesse uma nota, a acompanhar essa
avaliao, para ter uma noo mais ou menos do que, portanto, das
suas fragilidades, das suas foras. Este foi um exerccio que tinha
uma base coletiva, assim como uma presena individual muito
forte de cada um, a minha opo para avaliar foi igual, dei dezassete a todos, porque de fato correu muito bem, a nvel de coeso de
grupo, em resposta linguagem que se estava a trabalhar, preencheram parmetros essenciais da assiduidade e participao... mas
sempre um campo que para mim tem muitas dvidas, ts a ver?
Falta uma discusso a fundo sobre isto.
gabinete na biblioteca, maro 2007
127
folhas de presena
ementa
programa
[a.] Bases do treinamento permanente do ator (a.1) Aquecimento 1
(a.2) Jogos (a.3) Improvisao livre (a.4) Exerccios especficos
[b.] Dramaturgizao (b.1 ) Improvisao elaborada - improvisao
de cenas seguidas de reelaborao cnica contnua (b.2) Roteiro
Dramaturgico - treinamento da articulao escrita do material resultante das experincias com a Improvisao Elaborada.
mtodo de avaliao
Jogos , Improvisaes , Exerccios diversos , Ensaios , Roteirizaes
, Trabalhos escritos , Aulas Pblicas.
critrios de avaliao
Presena nas atividades prticas ; Disponibilidade para a atuao
cnica ; Cumprimento das tarefas solicitadas ;
bibliografia
azevedo, Murillo Nunes de. Introduo ao Tantra.So Paulo,D.
Pensamento, 1985.
chacra, Sandra. Natureza e Sentido da Improvisao Teatral.So
Paulo, Ed.Perspectiva, 1983.
henrrigel, Eugen. A Arte Cavalheiresca do Arquivo Zen. So
Paulo, Ed. Pensamento, s/d.
hodgson, J. e richards, E. Improvisacin. Madri, Ed.
Fundamentos, 1982.
130
folhas de presena
entrevista
que tem uma diversidade como leitor, ator, diretores, que o nosso
objeto comum a cena, digamos a experincia de estar em cena
mas tambm aquilo em que a cena resulta, isso o que pode ser
quantificado, tanto para o cengrafo como para o ator. Ento, trabalhar sobre a ideia de composio criar um campo comum para
essas diversidades. Se eu trabalho s sobre a experincia do improvisar, ou seja, sobre modelos improvisacionais que esto mais
ligados ao jogo, sem me preocupar com a estrutura da composio,
eu estou afastando a possibilidade de uma leitura diferenciada.
Eu acho que isso, eu s agregaria de que eu tenho uma viso
com relao ao teatro que tornar o centro do discurso virado alm
coletivo. Ou seja, no o sujeito que vai ser o inventor de uma determinada coisa, mas algo que possa ser compartilhado no coletivo,
principalmente para tentar obter diversidade nas expresses, nas
vozes, quer dizer, e no pensar numa fala igualitria mas numa fala
que possa deixar que se manifestem essas diferentes possibilidades de leitura e de abordagem. Obviamente que tem uma parte a,
que eu no falei antes, que toda a primeira parte do trabalho, que
tambm a da experincia. A sua leitura, ou a realizao, requer
experincia; e a experincia circula em cada sujeito, em cada ser
que est dentro do trabalho. Ento eu fao todo um trabalho de
preparao tcnica, todo um trabalho de construo corporal, de
organizao de um determinado corpo, de uma ideia de que existe
uma diferena entre estar no teatro e estar fora do teatro, entre vida
e teatro. Mesmo para quem faz cenografia, mesmo para quem faz
teoria, essa distino aquele que artista tem que experimentar.
132
folhas de presena
entrevista
sibilidades. H uma dificuldade artstica, porque voc tem uma
formao como artista, voc tem um olhar como artista, isso no
pode estar descolado mas tambm no pode ser a coisa, tem que
haver limite. Ou seja, s h dificuldades, eu no vejo facilidade
nenhuma. Eu no posso adormecer nesta posio talvez seja
por isso que eu gosto tanto dela, porque ela impossvel. Eu vou
dormir s trs da manh, s sete da manh eu estou j estou de
p porque s oito eu entro na sala de aula com vinte e dois, vinte e
quatro jovens, e para mim isso de uma responsabilidade imensa,
no por eles, por mim. Eu no posso adormecer, no uma soluo. Metodolgicas, h uma desfasagem s vezes em relao ao
que o aluno est fazendo, h uma dificuldade de leitura, depende
da pessoa, complicado.
dificuldades como espao, tempo, equipamento Ah, eu no
dou muito valor a esse tipo de coisas, eu acho que na verdade a
est uma relao que basicamente humana. A escola de teatro
h quinze anos atrs no tinha sala, cada dia o professor dava aula
num lugar. Eu tinha que avisar s seis da tarde que eu tinha que
ir para um circo, a biblioteca era uma caixa, e so esses projectos
pedaggicos tanto para quem fez como para quem foi responsvel,
com maior potncia. s vezes, sem dvida, os materiais so definidores mas so definidores inclusive da viso; os recursos que
a gente tem nesta Universidade, para este pas, so muito bons.
A gente reclama e tem que reclamar, porque a gente merece, o
teatro como rea de conhecimento, merece ter as condies que
outras reas de conhecimento tm. Mas eu no choro misria.
134
folhas de presena
entrevista
faltas; mas eu no reprovo um aluno que no veio a uma aula, ou
duas aulas, ou trs aulas, ou quatro aulas, ou cinco aulas, mas que
teve uma participao efectiva dentro do trabalho, a integrao
dos aspectos que permitem que essa experincia possa ser de facto
exercida. Se ele est presente; h aulas em que ele pode no estar,
mas esteve presente. E muita gente est ausente, apesar de ter
ido s aulasest de corpo presente e de alma ausente. O que
norteia o trabalho pedaggico a possibilidade de dar experincia
e principalmente de essa experincia ser uma experincia transformadora que abra algumas janelas para que esse aluno possa se
lanar. O que norteia de facto a minha observao at que ponto
esse sujeito foi de facto atingido... no, a palavra no atingido
[pausa] s vezes, voc v um aluno que entra no primeiro dia de
trabalho e no ltimo dia ele est igual, ele se manifesta da mesma
maneira, o olhar que ele tem sobre o ele faz e sobre os outros continua mais ou menos o mesmo, enfim, a percepo que ele tem do
que a linguagem tambm no mudou, o que ele leu no alterou
o que ele pensa... Tem um espao a de mudana e apropriao,
so dois conceitos bsicos. Tambm uma coisa mais abstrata,
aparentemente mas no que como ele toma para si a responsabilidade. Eu vou mapeando isso, ao final eu olho e integro isso
numa nota. Tambm a nota ela no diz respeito s ao indivduo,
ela tambm diz respeito a um conjunto de valores que o colectivo
formou. s vezes, por exemplo, eu lembro que, no ano passado, eu
dei uma nota muito alta, entre aspas, para uma aluna e que todo o
mundo ficou surpreso. Ela era participativa, no sentido da frequncia mas muito pouco experiente, se manifestava muito pouco. Era
136
137
folha de presenas
ementa
objetivos Iniciar o alno nas tcnicas de interpretao atravs de
exerccios prticos. Desenvolver no aluno uma metodologia bsica
de aproximao da personagem. Estudo do mtodo Stanislavski,
suas variaes e adaptaes.
programa
1 - Noes gerais sobre a Arte de Intepretaco.
(a) A verdade na vida e no palco.
(b) Procedimentos em oficinas de trabalhos: o ator
dentro da equipe e o relacionamento desta com o professor diretor.
2 - Os objetivos da personagem e os objetivos do ator.
(a) Lgica da ao - ao contnua.
(b) Ao exterior- roteiro das aes fsicas.
(c) Ao interior.
(d) A relao entre a ao interior e a exterior.
138
interpretao i
bibliografia
GUINSBURG, Jac. Stanislavski e o Teatro de Arte de Moscou, So
Paulo: Ed. Perspectiva, 1985.
HETHMON, Robert. El Mtodo Del Actors Studio. Caracas:
Ed.Fundamentos, 1972.
KUSNET, Eugnio. Ator e Mtodo.
Rio de Janeiro: Serivio Nacional de Teatro, 1975.
_______________ Introduo ao Mtodo da Ao Inconsciente.
So Paulo: Fundao Armando Alvares Penteado, 1971.
STANISLAVSKI, Constantin (1863/1963). Edio Comemorativa
Moscou: Ed. du Progrs, 1963.
139
folhas de presena
entrevista
programa No gosto de chamar de aulas, mas de encontros: encontros entre eu e os alunos para nos perguntarmos sobre teatro,
ator, arte, vida... Como no existe teatro nem ator sem vida, a primeira questo se perguntar sobre a nossa existncia. Ator, para
mim, uma funo. a funo de alguns dos homens que escolheram esse oficio. Todos somos actores, todos estamos atuando na
vida. Joseph Chaikin, ator e diretor americano, diz que o homem
s aprende atravs de exerccios. A partir dai desenvolvemos um
grfico: H------------A: o caminho que leva o homem a tornar-se
ator. Esse caminho feito de exerccios. Percebemos ao longo do
tempo de nossas experincias que os exerccios a serem propostos no seriam exerccios diretos para o ator, j que atuar uma
funo de transfigurao do homem. Quais os exerccios que este
homem est necessitando vivenciar como sujeito, at aproximarse da capacidade de transfigurar-se? Os exerccios so propostos
ento para o sujeito e para o grupo. Vivenciando-os, eles estaro
facilitando a sua aproximao da funo atoral. O que propomos
numa primeira instncia o indivduo desenvolver a conscincia
de si atravs do contato laboratorial com o outro, confrontando-se
com ele e consigo mesmo: prticas que o ajudam expandir a sua
acuidade de uma capacidade expressiva e de comunicao direta,
sem subterfugios, potencializando as atividades dos cinco sentidos.
Costumamos dizer que, ao ativar os cinco sentidos, ele possibilita
a abertura para a manifestao mais ampla do sexto sentido, que
o motor da capacidade intuitiva humana. Potencializando os
cinco sentidos, expandindo os canais de contato ativo com o outro,
reativando sua matriz energtica e criando suportes para a susten140 |
antnio januzelli
tao e modulao desta, aos poucos estar penetrando em niveis
de frequncia mais refinada, que o ajudam na percepo de um
estado sutil, no aqui agora, onde sua energia comea a fluir centrada, sem bloqueios e em movimentos ondulatrios. Nesse quadro
conjugam-se os exerccios da chegada, do aquecer e do desaquecer,
as atividades do brincar, do improvisar e da dramaturgizao, alm
da vivncia de exerccios especficos para aprimorar a sua presena
enquanto individuo no palco, e no mundo. Um indivduo permanentemente presente dentro do seu corpo, passo necessrio para
as transfiguraes e transmutaes do homem ator, roando o
continente das transubstanciaes. Vemos as prticas do ator de
teatro como um recurso para o homem contemporneo revitalizar-se. Desenvolvemos um conceito de ator: ator, o homem que
exercita o deslocar-se de si para tornar-se outro, outros. um exerccio de expor-se publicamente, que vai alm do mero representar.
Concentrar-se = co-centrar-se = penetrar novamente dentro de si,
como estgio para tornar-se um ser de compaixo, aquele que alcana sentir em si, sem reticncias, a paixo do outro, a paixo que
permeia a humanidade. A preparao desse homem-ator, leva-o
consolidar um campo energtico magntico que suga, no sentido
mais generoso possvel, a comunho dessas outras energias que
por ali circundam.
dificuldades A necessidade de um espao adequado: lembro
que quando eu dava aulas no predio antigo, as vezes tinhamos que
trabalhar numa sala retangular, comprida, cujo formato dificultava
a integrao da turma e com isso a fluencia da prpria atividade.
141
folhas de presena
entrevista
A diversidade de habilitaes da graduao: direo, interpretao,
cenografia, teoria, pedagogia (Alexandre, por favor verifique para
mim os termos corretos dessas duas ltimas), cria uma dificuldade, na disciplina Interpretao, de aprofundar a experincia atoral
nos dois primeiros anos do curso.
avaliao Centra-se na assiduidade, na presena ativa e participativa, na execuo de trabalhos solicitados (um deles, o livro
Eu Ator - uma Trajetria, produto final da digitao das anotaes
pessoais de suas das vivncias, observaes e reflexes durante o
curso da disciplina e que entregue no fim do ano) e na criao
de cenas coletivas. Considero, e estimulo durante todo o processo, aspectos como a prontido para desenvolver improvisaes, a
disponibilidade para criar cenas, as capacidades: de interao, de
verbalizao das suas ideias e opinies, de agudizar a observao,
de percepo de si e do outro, de propor sugestes, de escuta, do
cumprimento de prazos...
casa do professor, novembro 2006
142
antnio januzelli
143
folha de presenas
ementa
programa
1 - Treinamento especfico.
a Improvisao com e sem utilizao de objetos.
b Criao de cenas individuais a partir de estmulos.
c Treinamento de trabalho de criao em grupo .
d Exerccios sobre os diversos gneros de teatro .
2 - Relao entre o palco e a platia.
(a) Anlise de pea teatral .
(b) Desenvolvimento dos papis.
(c) Tcnicas de diviso de cenas.
c.1-Ao. 3.2-Motivao . c.3- Objetivos . c.4 - Significaes.
c.5-Composio c.6-Situao no espao cnico.
c.7-nfases.
144
interpretao iv
bibliografia
barba, E. Ms all de las islas flotantes. Mxico, gaceta, 1986.
carvalho, E. Histria e formao do ator. Sp: tica, l989.
chekhov, M. Para o ator. Sp:martins fontes, 1986.
grotowski, J. Em busca de um teatro pobre. Rj : Civ. Bras., 1971.
kusnet, E. Ator e mtodo. Rj: snt, 1975.
roubine, J-J., A arte do ator. Rj: zahar, 1987.
stanislavski, C, A preparao do ator. Rj:civ.Bras., 1964.
__________, A construo da personagem. Rj: Civ.Bras., 1970.
__________, A criao de um papel. Rj : Civ. Bras. 1972.
145
folhas de presena
entrevista
ator Eu trouxe para c a ideia de que voc escreve o seu texto, voc
comea a trabalhar na sua dramaturgia, voc se auto-dirige, voc
escolhe o seu figurino, voc escolhe as reas da cena, voc escolhe
tudo. Eu acho que o actor que no consegue ter isso em mente est
fadado a ser escravo da encenao. Nunca vai ser criador, pode
ser at um bom actor, mas nunca vai ser criador. O actor que no
trabalha com todos os elementos do discurso teatral, que no est
dialogando com a contemporaneidade, com a surrealidade, com
a sua verdade, com a sua essncia, no est buscando nada, no
tem crtica, no tem autocrtica, um cara que est a passeio pelo
teatro. Essa ideia de agregar tudo deixando na mo do ator a direo
e o texto, ajuda a que eles comecem a relacionar tudo o que eles
fizeram. Eu acho que sem isso o ator no existe. A melhor coisa
ter um panorama de tudo.
cpt No tenho formao em artes cnicas mas depois de algum
tempo procurando eu acabei entrando l no Centro de Pesquisa
Teatral, onde eu conheci o Antunes Filho. E acabei ficando l por 7
anos. L se consolidou o que eu vinha suspeitando.
ensino Cada turma a que eu dou aula sempre um mistrio. O
ideal que o aluno requeira de voc o andamento da aula mas
voc no pode esperar isso de um aluno que est completamente
despreparado. Eu acho que a metodologia voc ajudar o cara a
fazer o que ele gostara de fazer. S que o problema de base,
humanstico, que as pessoas elas esto sem referncias, elas esto
sem paradigmas e elas esto sem modelos.
146
juliana galdino
geografia expressiva Como voc faz da sua experincia de vida,
da sua viso de mundo, um objecto artstico? Tem a ver com o
processo de individuao, o cara se ouvir, o seu tempo, uma geografia expressiva.
elaborao As minhas turmas comeam sempre de vinte pessoas, tem uma fila de espera de quinze; e eu termino o curso com
cinco ou seis. Eles desistem. Um aluno estava dizendo que era bem
mais fcil quando ele fazia o que fazia antes, que agora d muito
trabalho. E eu espero que ele fique e que entenda de uma vez por
todas que h uma diferena. O cara um artista e o teatro uma
elaborao, no jeitinho, no espontaneidade, elaborao.
professores de teatro Eu fico impressionada como professores
de teatro passam para os alunos umas frmulas, quando o teatro
justamente o oposto, no tem frmulas, no tem resposta. Ou ele
se vai perguntar, ou ele est frito, ele vai reproduzir para o resto da
vida, no vai acrescentar nada, nem ao teatro nem, principalmente,
a ele mesmo. Porque o que interessa, na verdade, que o teatro
um meio para voc viver melhor, eu creio nisso, mas no para voc
fazer com que os outros incluam as suas verdades particulares.
reflexo Se voc tem a pr-conscincia comum para tratar sobre
qualquer coisa que referente ao palco, voc est equivocado,
um lugar que exige uma reflexo de quem faz, de quem assiste. A
gente devia entrar no teatro como a gente entra numa igreja, com
o esprito preparado para ver outra coisa, inclusiv preparado para
tambm para criticar porque no viu o que esperava ver.
147
folhas de presena
jogo Teatro sempre jogo. Ser no ser. A gente entra no aspecto da complementaridade, que , simultaneamente, voc pode
ser todos, a gente no est fadado a ser uma coisa ou outra, no
tem um decrscimo.
olhos de pssaro Havia um grupo chamado Cobra, que era uma
unio de artistas, de pintores, eles fizeram uma exposio, nos
quadros o titulo era V o mundo atravs dos olhos de um pssaro: voc comea a se desprender de montes de coisas, o quadro
era lindo. Foi um convite.
fragmentos de uma entrevista gravada a 7214 Km,
dezembro 2006
148
treino intercultural
drama department
exeter university
ementa
objetivos
1. desenvolver uma base slida em prticas pr-performativas psicofsicas aplicadas atuao ou direo atravs de artes meditativas e marciais asiticas;
2. desenvolver a capacidade de criar aes fsicas claras;
3. desenvolver uma linguagem aplicada de atuao fsica;
4. demonstrar a capacidade para aplicar esta linguagem de aes
fsicas a problemas de atuao;
5. desenvolver uma compreenso do lugar e papel das artes meditativas e marciais em culturas Asiticas.
152
treino intercultural
resultados especficos de aprendizagem
1. conhecimento incorporado de tcnicas e conceitos pr-performativos especficos (centramento, equilibrio, controle, descoberta
e uso de energia, alinhamento, etc.);
2. familiarizao com o processo pessoal de fisicalizao na
atuao;
3. claridade da ao fsica;
4. habilidade para aplicar processos psicofsicos ao trabalho criativo teatral na atuao ou direo;
5. fundamentao de teoria selecionadas de atuao, com enfse
no trabalho psicofsico.
resultados nucleares de aprendizagem
1. Habilidade para se envolver critica e analiticamente com disciplinas fsicas;
2. Desenvolvimento de um processo criativo consciente;
3. Compreenso das linguagens da fisicalizao em teatro;
4. Compreenso do papel e do lugar das artes marciais e meditativas asiticas nas suas culturas de origem.
153
folhas de presena
ementa
resultados pessoais de aprendizagem
1. Capacidade para compreender o processo pessoal de
incorporao;
2. Capacidade de comunicar ideias e imagens criativas;
3. Capacidade para iniciar e sustentar trabalho criativo, individualmente e em grupo.
programa e contedos
Este mdulo tem a inteno de servir como um meio de comprender
prticas incorporadas do ator por meio de investigao prtica num
regime de treino especfico, complementado por pelo menos uma
experincia adicional. Ele estimula o desenvolvimento prprio de
cada estudante atravs do treino e das oficinas e contribui para uma
compreenso do trabalho de grupo/ensemble. O foco especfico do
mdulo no treino com artes meditativas e marciais permite aos estudantes desenvolver um processo psicofsico, pr-performativo de
treino, cujos princpios e processos so ento aplicados atuao,
incluindo improvisaes estruturadas, um projeto de espetculo
de grupo, e a espectculos individualmente gerados (apesar de no
ser parte deste mdulo per se). O treino uma imerso intensiva
na prtica de disciplinas psicofsicas no sentido de desenvolver a
concentrao, foco, percepo, etc., aplicados performance. O trabalho comea e termina com a respirao, e uma ateno particular
prestada ao desenvolviemento da coordenao da respirao com
154
treino intercultural
o movimento com vista explorao da relao psicofsica de cada
um com a ao. O treino conduz os alunos por trs disciplinas
inter-relacionadas: taiqiquan (estilo Wu), yoga e kalarippayattu.
Seminrios semanais so consagrados leitura e discusso de
aproximaes psicofsicas atuao, relao das artes marciais
com a performance, compreenso de corpo, mente e sua relao,
ao papel da emoo e da percepo [awareness] na atuao, s perspectivas interculturais sobre a sia.
mtodos de avaliao
Avaliao continua do treino psicofsico aplicado atuao: 70%
(processo = 35%, realizao na atuao = 35%). Portfolio escrito
(2,500 palavras) = 30%.
critrios de avaliao
A avaliao continua do trabalho durante as aulas ser baseada (1)
demonstrao de processos/tcnicas de trabalho, sendo apreciado
o progresso individual no desenvolvimento de um processo individual de incorporao na ao fsica; (2) aplicao do processo de
trabalho s improvisaes estruturadas, sendo apreciado o grau de
completude [completness] da implicao no processo de incorporao na ao fsica; (3) aplicao do processo de trabalho ao texto
da performance.
A avaliao na atuao ser baseada em (1) desenvolvimento e
realizao na criao de uma partitura performativa tal como determinada pela dramaturgia do projeto de produo; (2) claridade,
155
folhas de presena
ementa
completude e grau de plenitude [fulness] na realizao da partitura
performativa, i.e., o grau at ao qual aplicou as ferramentas do
treino psicofsico ao projeto performativo, (3) grau de consistncia
na qualidade do trabalho na performance.
A avaliao do trabalho escrito ser baseado (1) grau de desenvolvimento e clareza do argumento, da anlise e da observao; (2)
profundidade da anlise, da argumentao e da descrio/observao; (3) grau de viso [insight] demonstrado; (4) clareza na escrita,
segundo um ponto de vista tcnico (uso da gramtica, pontuao,
referenciao, etc.). Espera-se que o aluno elabore um dirio e que
o trabalho escrito tenha uma significativa elaborao crtica das
experincias prticas, bem como referncias s leituras realizadas,
espectculos assistidos, etc..
bibliografia indicativa
BARBA, Eugenio; SAVARESE, Nicola, 1991, A Dicitonary of Theatre
Antropology, London.
BARBA, Eugenio, 1995, The Paper Canoe, London.
BLAU, Herbert, 1982, Take Up the Bodies, Urbana.
CHAIKIN, Loseph, 1972, The Presence of the Actor, NY:
Atheneum.
CHEKHOV, Michael, 1991, On the Technique of Acting, NY:
Harper.
EMIGH, John, 1996, Masked Performances, Philadelphia: Uni.
Pennsylvania Press.
156
treino intercultural
GROTOWSKI, Jerzy, 1968, Towards a Poor Theatre, NY.
HODGE, Alison, 1999, 20th Century Actor Training, London:
Routledge.
HUSTON, Hollis, 1992, The Actors Instrument: Body, Theory,
Stage, Ann Arbor.
NELSON, Randy (ed), 1989, Martial Arts Reader: Classic Writings
on Philosophy and Technique, Westock: Overlook Press.
RICHARDS, Thomas, 1995, At Work with Grotowski on Physical
Actions, London: Routledge.
SCHECHNER, Richard, 1985, Performer Training Interculturally
in Between Theatre and Anthropology, Philadelphia: Uni. Penn
Press, pp. 213-260.
WATSON, Ian, 2001, Performer Training: Developments Across
Cultures, Amsterdam: Harwood Academic Publishers.
ZARRILLI, Phillip, 2008, Psychophisical Acting: an Intercultural
Approach after Stanislavski, London: Routledge.
_________, 2002, Acting (Re)Considered, London: Routledge.
_________, 2000, When the Body Becomes All Eyes, Oxford: Oxford
University Press.
_________ (ed), 1993, Asian Martial Arts in Actor Training,
Madison.
[acompanha um plano de leituras semanais e uma lista de publicaes
recentes sobre a temtica]
157
folhas de presena
entrevista
programa O primeiro objetivo providenciar tempo suficiente
para conduzir os estudantes por um processo prtico, atravs de
exerccios estruturados, para que eles sejam capazes de comear a
ter a sensao dos princpios por trs do treino. Uma preocupao
paralela articular suficientemente e com clareza estes princpios
subjacentes, atravs de metforas ou imagens, para que os alunos
possam comear a experienciar a relao entre as possibilidades
implcitas nos exerccios e o potencial de aplicao destes prtica
cnica. O terceiro objetivo seria de providenciar experincia suficiente de estruturas performativas, para eles terem ento que aplicar o que est implcito ou explcito no treino atuao cnica. O
melhor dos mundos seria ter ainda mais tempo para que houvesse
a possibilidade de um engajamento ainda maior. O que frequentemente acontece que as pessoas apenas se apercebem depois
quanto efectivamente se trabalhou, talvez no no momento mas
talvez mais tarde, na reflexo, o que est bem: o que importante
para mim que um certo tipo de aprendizagem profunda tenha
lugar. Isto sobre os objetivos, agora os valores e as atitudes so
algo implcito a maior parte do tempo, pois eu no estou interessado em impor as coisas que eu valorizo. H muitas coisas que
esto implcitas neste trabalho e que tm potencial para tremendas
descobertas mas eu penso que melhor deix-las inarticuladas.
No final do meu ltimo livro h uma espcie de posfcio, no
qual menciono que por vezes me perguntam se este trabalho me
transformou. Sabes, eu normalmente no respondo com o clssico: Este trabalho transformou-me porque blablabla. Qualquer
tipo de trabalho profundo que se faa assiduamente ao longo do
158
phillip zarrilli
tempo, qualquer prtica, te transforma ou tem o potencial para
te transformar, algumas vezes para melhor, outras para pior. Eu
espero que este tipo de pedagogia deixe algumas coisas em aberto
para o indivduo descobrir dentro do processo porque essa a sua
prpria aprendizagem. Eu mencionei algumas vezes que h neste
processo uma abertura enquanto processo de investigao pessoal,
cada um aprende coisas ligeiramente diferentes, talvez esta seja
uma diferena para mim enquanto ocidental ou a fazer isto no
ocidente, o que constitui um interesse para mim, na medida em
que valorizo o indivduo e a diferena e no estou interessado em
que todos sejam iguais. Eu enfatiso que no se trata de virtuosismo
mas do que cada um pode aprender no processo. Estes valores so
muito importantes e guiam o modo como eu ensino. [principios
subjacentes] Uma das coisas que no treino ocidental de atuao,
baseado em Stanislavski, geralmente no mencionada, explorada
ou compreendida aquilo que geralmente traduzido por energia ou conexo energtica. Em qualquer boa atuao vai haver
um tipo de presena energtica mas com este tipo de trabalho h
um processo explcito em que esta questo tocada. De novo, isto
no algo que se possa ensinar a algum, estes so princpios que
apenas podem ser aprendidos quando se experienciam, numa relao com um processo de treino qualquer. Este tipo de energia
interna, a circulao de pranavayu, qi, como uma realidade material moldvel e utilizvel aquilo que se utiliza em qualquer ao e
qualquer tipo de ao expressiva em cena; este talvez o princpio
subjacente fundamental. Outro principio a relao com o impulso, a implicao de uma imagem com o impulso e a energia.
159
folhas de presena
phillip zarrilli
[ts1, 06.10]
Amplo espao aberto com talvez 18m X 25m, piso de madeira, paredes brancas com cortinas mveis e uma das paredes inteira de
janelas envidraadas a dar para um jardim exterior. Vinte alunos
regulares, a maioria do curso de graduao mas alguns do programa de psgraduao, assim como alguns antigos alunos que
frequentam as prticas.
apresentao Sentados em crculo, cada aluno se apresenta, PZ
apresenta-se no final: fala um pouco sobre a oficina e as prticas
meditativas e marciais que sero trabalhadas, sobre o seu contacto
com elas, reconhecendo a influncia da leitura de Para Um Teatro
Pobre, de Jerzy Grotowski, que o levou a deslocar-se a Kerala (ndia);
tambm estabelece as regras de funcionamento das sesses: toda
a gente pode trazer gua e pode sair a qualquer momento para ir
ao banheiro; sempre que se entrar ou sair da sala, deve-se tocar o
cho, o peito e a cabea: PZ: Faam uma pausa: esto a entrar ou
a sair de um lugar de trabalho. [13.30, 14.30]:
exerccios bsicos de respirao (comeo e fecho da sesso)
1. respirar visualizando o ar entrando e descendo at ao dan tien,
subindo e saindo pelo nariz ( articular foco exterior do olhar, foco
interior da imaginao);
2. abrir os braos paralelos ao cho com inspirao, fechar com
expirao;
161
folha de presenas
sesso
3. palmas das mos para cima, levantar braos com inspirao,
palmas para baixo, descer com expirao.
exerccios de yoga
Trs alongamentos dinmicos.
exerccios de taiji
Movimentos de abertura da Forma Curta do Estilo Wu.
exerccio com Imagem [brao indobrvel] um aluno estica o brao
e procura mant-lo esticado, enquanto outro tenta dobrar o brao
do colega, ambos utilizando fora muscular; param e constatam os
esforos envolvidos. Recomea o aluno com o brao esticado, imaginando agora que h um mar na regio do dan tien, cuja origem
uma corrente que ascende do centro da terra, pelos ps at essa
regio abaixo do umbigo, mar este que da corre at ao brao esticado e jorra pela ponta dos dedos; o outro aluno volta a tentar dobrar
o brao do colega, enquanto ele sustenta a imagem. Um exerccio
extremamente simples e muito eficaz para explicitar a diferena
qualitativa das duas situaes e o poder fsico da invocao e sustentao de imagens mentais.
exerccios de kalarippayattu posies do elefante, do cavalo e
do leo; correes individuais, os alunos mais avanados ajudam
nas correes.
respirao bsica [18.30]
162
phillip zarrilli
[ts1, 07.10]
treino Exerccios Bsicos de Respirao; prtica com parceiro que
estimula a propriocepo por meio de contacto no dan tien e nos
braos; Alongamentos dinmicos e asanas de equilibrio de Yoga.
[14.00, 15.25]
sequncia de yoga [saudao ao sol] respirao com visualizao
do movimento da respirao na inspirao e na expirao (olhar interior/foco exterior); realizao da sequncia com parceiro colocando as mos no dan tien e nos braos contribui para a experincia da
sensao destes locais do corpo durante a prtica; abrir a percepo
do topo da cabea, do espao ao lado e atrs de ns mesmo quando
se trabalha com o foco exterior frente. H o perigo na repetio de fazer as coisas mecanicamente tal como aquelas pessoas
que esto a correr no ginsio e a olhar para a televiso ao mesmo
tempo, o perigo de deixar que a mente no esteja implicada na
ao. Como mantemos uma relao viva e ativa dentro da forma?
O mais importante neste trabalho a relao que estabelecemos
com as prticas.
treino Movimentos inciais da Forma Curta de Estilo Wu de Taiji,
com correes. Posies elementares de Kalaripayattu (trabalho
a pares com contacto); as posies elementares em movimento
no espao (leo, cavalo, elefante); sequncia de ponta-ps com as
pernas esticadas. [15.30, 18.35]
respirao bsica
163
folha de presenas
sesso
frases soltas de zarrilli
Trabalhando com foco interno e externo e com conscincia especial contri camadas de ateno que ajudam o ator a permanecer
no aqui e agora da tarefa.
H um problema com o modo como o yoga ensinado no
Ocidente: que estes exerccios no so apenas para relaxar, eles
so para vos tornar ativos.
Quando pensarem neste trabalho da relao entre a respirao e o
movimento, eu gostaria que considerassaem que esto a trabalhar
com o infinito, com desconhecer.
[ts1, 08.10]
treino Exerccios Respiratrios Bsicos. Saudao ao Sol. Asanas
dinmicos (sentado: pescoo; posterior com perna direita esticada,
depois esquerda; pernas em borboleta; posio do yogi; deitado
de barriga: gafanhoto; deitado de costas: levanta perna esquerda,
depois direita; invertida; arado; de p: equilibrio num p, depois
no outro). Sequncia de Taiji - reviso, novos movimentos, prtica
a dois. Posies Elementares de Kalaripayattu com Caminhada elefante, cavalo, leo, serpente; treino a dois com contacto. [14.00,
16.30]
exerccio de reduo Fazer o movimento de abertura da sequncia de taiji quan, 100% interiormente e: (a) 100%, (b) 75%, (c) 50%,
(d) 25%, (e) 5%, (f) 100% exteriormente. Comentrio: exerccio
simples, capaz de transformar a nossa relao com um movimento
164
phillip zarrilli
e de objetivar a intensificao associada concentrao da expresso de determinada inteno. [17.00, 17.30]
improvisao estruturada Metade do grupo senta-se em cadeiras na rea de jogo, a restante metade observa fora da rea de jogo;
o grupo faz o movimento de abertura da sequncia de taiji quan
em conjunto, sem que ningum d indicao de incio; cada aluno
assume uma posio sentado sua escolha, mantendo pelo menos
um p no cho e o foco exterior frente; os alunos comeam a
improvisar dirigir o seu foco exterior ou para a mo direita ou para
o rosto de um parceiro, a cada meio ciclo de respirao. Variaes:
Jogar com o foco exterior na mo direita do parceiro, um ponto no
cho, um ponto no teto, etc.; a mesma situao que anteriormente,
mas o foco exterior agora dirigido ou para uma cadeira vazia colocada frente ao grupo ou para o rosto de um parceiro; em seguida,
acrescentar o desejo de ocupar a cadeira; os alunos so instrudos
a dirigir a sua ateno para os ps e para as mos; finalmente, um
dos alunos convidado a levantar-se e a dirigir-se lentamente em
direo cadeira. [17.30, 18.30]
respirao bsica
[ts1, 16.10]
seminrio PZ: Eu no vou fazer uma preleo. Assumo que
tenham feito as leituras recomendadas e vamos apenas levanter
alguns pontos chave. () Eu no penso que o treino que eu proponho seja o nico modo e acho problemtico aqueles que assim
pensam. () Uma das coisas que devemos considerer como
165
folha de presenas
sesso
estas diferentes estratgias focam no trabalho sobre ns-mesmos.
Alguns tpicos levantados pelos estudantes: a existncia de linhagens nas vises psicofsicas da atuao e a associao destas vises
figura de importantes diretores, tal como desta Alison Hodge,
em Actor Training in the XXth Century; uma certa ausncia nos
textos recomendados de meno ao trabalho vocal do actor, assim
como dos problemas da recepo; a relao entre treino e o artesanar de um si: PZ: O Si [self] uma noo cultural e socialmente
construda que, no ocidente, est fortemente associada com uma
noo fechada e acabada de identidade; no Oriente, h um entendimento relacional desta noo de Si-mesmo. (...) De um ponto
de vista prtico, esta diferena evidente nos problemas egicos
que podemos enfrentar quando trabalhamos com alguns atores
ocidentais. (...) Este movimento entre um tipo de treino que no
est imediatamente conectado com a prtica teatral e uma reflexo
sobre o processo pode contribuir para tornar o processo criativo
mais objetivo e menos preso numa experincia estritamente subjetiva centrada no ego; os exerccios ensinam a fazer tarefas reais
e no tarefas realistas: PZ: Nas artes marciais, os estudantes avanados utilizam fora letal real e no nenhuma brincadeira nisso;
os problemas que podem surgir quando um ator acustumado aos
processos psicofsicos necessita trabalhar numa situao profissional mais convencional: PZ: As vossas oportunidades esto relacionadas com as redes de vocs fazem parte. [13.30, 14.40]
treino [14.45, 16.00]
improvisaes estruturadas [16.05, 17.20]
166
phillip zarrilli
[ts1, 28.10]
treino [14.00, 16.00]
discusso da oficina de butoh Discusso da oficina intensiva de
dois dias de butoh, com professora convidada. Foi uma experincia
fundamental neste momento do processo, pois o butoh mantm
uma relao muito prxima e muito livre com o imaginrio e com
o universo da cultura asitica. Debruar-me agora a experincia de
uma forma analitica e crtica foi interessante na medida em que
pude constatar com mais objetividade as coisas que funcionaram
para mim e para os meus colegas, bem como aquilo que achmos mais interessante. Quando um aluno destacou um momento
que achara particularmente interessante, os colegas que haviam
participado desse momento mencionaram que se haviam sentido
muito livres e que haviam fruido intensamente ao mesmo tempo
que estavam profundamente envolvidos no que estavam a fazer.
Outro aluno confessou que a palavra coreografia sempre o havia
orientado para uma prtica da composio que tendia a estabelecer todos os movimentos com rigidez e absoluta prdeterminao
numa partitura fechada; a expresso e o uso do butoh-fu, por outro
lado, fizera-o entender que poderia haver maior indeterminao
nesse trabalho. Uma das foras do trabalho com as artes marciais
e meditativas est na sua abertura a diferentes estticas: muito
importante que se articulem os princpios desse trabalho com
qualquer experincia cnica que tenhamos. Estas prticas apenas
sero realmente teis se cada um encontrar os modos para que tal
acontea, seja a fazer butoh ou realismo. [16.00, 16.50]
167
folha de presenas
sesso
[ts1, 04.11]
treino Sequncia de Yoga: nfase na percepo de grupo, algumas instrues no so verbalizadas. Sequncia de Taiji: trabalho
a dois com contacto para confirmar equilibrio, novo fragmento.
Sequncias de Kalaripayattu: combinao de ponta-ps com pernas
esticadas, saudao kalari com nfase no suporte dinmico da
energia). [14.00, 16.00]
colagem multilnguas PZ distribui folhas de papel com tarefas
e l-as aos estudantes: tarefas de pesquisa relacionadas com o
espectculo; entrevistas, pequenas histrias, msicas, relatrios
econmicos. PZ pede aos alunos estrangeiros que traduzam frases
do texto do Beckett e pede a dois alunos para misturarem Ingls e
Cantons, o segundo como um eco do primeiro, em microfones,
com uma voz calma. PZ: Esta primeira semana vamos s experimentar coisas porque eu estarei basicamente a juntar elementos, a
fazer dramaturgia. Eu fui ensinado a ter tudo planeado mas aprendi a ser flexvel dentro disso. Ento, as coisas estaro um pouco
no ar esta semana mas na prxima ficaro mais precisas. [16.20,
17.00]
ensaio butoh PZ: Vamos trabalhar com a imagem chucky
baby, usando Bobo como uma referncia bsica para desenvolver.
Depois vamos para uma segunda imagem, do Simon, chucky baby
gurgles sharp glass. Eu vou-vos instruir para a segunda imagem e
vocs movem-se para ela em vinte segundos. Vamos ver a imagem
de Bobo e us-la como um modelo [Bobo faz a imagem]: mos
168
phillip zarrilli
olhos bem abertos balanando... Vamos tentar. Entrar [Drop in]!
[os alunos experimentam durante algum tempo, PZ d instrues
como: O sorriso dentro da boca, Soltem os ombros, Os ps
largura dos ombros, entre outras]. Sair [Step out]! Vamos trabalhar em pares: um faz e outro observa; viram o tipo de correes
que eu fiz, ajudem o vosso parceiro a libertar-se de tudo o que
desnecessrio. [os alunos experimentam] Pausa! Congelar [freeze]!
OK, saiam [de situao] quando eu disser pausa ou congelar,
mantenham-se imveis e sustentem a energia, certo? Dem algum
retorno e troquem. Pronto, vamos! [o outro grupo de alunos experimenta, divertido] OK, pausa! E saiam! Vocs vo odiar-me no
final de tudo isto mas eu espero que vocs fiquem exaustos com
isto: se estiverem a fazer isto por quarenta e cinco minutos, ficaro
realmente exaustos. Ento, dentro dos limites da vossa segurana,
eu espero que fiquem exaustos porque vocs esto a implicar o
vosso corpo todo e a vossa ateno e a vossa imaginao. Algumas
vezes eu vou-vos pedir que trabalhem em pares e isso vai ajudar
muito aqueles que esto interessados em dirigir porque, para mim,
dirigir tem muito que ver com preparar [coaching] atores, isto ,
com ajud-los a seguir em frente. [os alunos continuam com a
primeira imagem todos juntos, depois PZ move-se para o meio
deles e atira ao ar pedaos de papel dizendo que dinheiro e que
os bebs podem apanh-lo, um Aleluia toca no sistema de som;
depois, PZ pede aos alunos que passem para a segunda imagem
e muda a msica para um adaggio e pede a um aluno que leia um
fragmento de texto ao microfone] [17.20, 18.00]
169
folha de presenas
sesso
frases soltas de zarrilli
muito importante que tragam o treino para tudo o que fizermos.
Ontem, quando eu estava a tentar ajudar-vos na valsa, principalmente os homens que se aproximam muito racionalmente mas
tambm algumas mulheres, havia demasiado pensar e est bem
mas tentem encontrar o impulso e o ponto de entrada atravs do
impulso.
O treino apenas ser til se o tornarem til. Se apenas fizerem
realismo, talvez apenas precisem de certas ferramentas. Mas com
estas prticas pre-performativas, vocs tm que descobrir como
aplic-las s diversas tarefas que faremos no espectculo.
Para mim, o trabalho da emoo est do lado do pblico. Eu no
estou de todo interessado na sentimentalidade, como algumas
coisas que comearam a acontecer ontem com o texto do Beckett.
Mas algumas que no so interessantes vo acontecer, bem
como coisas nas quais ns poderemos ver algum potencial para
trabalhar.
[ts1, 05.11]
seminrio kathakali PZ: Hoje vamos falar sobre o teatro-dana
kathakali. O objetivo de ler sobre kathakali e noh, na prxima
semana, levar-vos a pensar e discutir sobre atuao sem ser dentro
do realismo Americano do primeiro contacto com Stanislavski e
isso vai ajudar-nos a pensar e falar sobre atuao contempornea.
(...) No treino de kathakali tudo separado e aprendido individual170
phillip zarrilli
mente. Por exemplo, coloquem as vossas coisas de lado, sentemse com as pernas cruzadas e vamos fazer um exerccio de olhos.
[sentamo-nos e fazemos um exerccio de movimento de olhos, em
diferentes diree, com distintos padres e vrios tempos] (...)
H uma citao famosa: Onde a mo est, o olho est; onde o
olho est, a mente est; onde a mente est, bhava est; onde est
bhava, est rasa. (...) O ator um veculo para o que o pblico
vai sentir. (...) Num espectculo duracional como o kathakali, o
pblico poder no estar atento em certos momentos; se h uma
introduo danada por estudantes, os connoiseurs podem no se
interessar: algo como inateno selectiva. Tambm, se um ator est
a atuar uma sequncia na qual ele usa um banquinho para apoiar
o p, ao terminar de us-lo, ele pode sair da personagem para o
colocar de lado e depois voltar de novo. [em seguida vemos um
video sobre o treino e os espectculos de kathakali] [13.30, 14.40]
treino auto-dirigido Sem instrues, Liz dinamiza o treino:
Estejam atentos uns aos outros, fiquem juntos. [14.40, 16.00]
exerccio de escrita PZ: OK, vamos fazer algo completamente
diferente, por favor apanhem os vossos lpis e canetas... Eu vou
fazer-vos uma srie de questes e peo-vos que respondam: (1)
faam uma lista de coisas que gostam, comeando sempre por
Eu gosto de... e repitam Eu gosto de... a cada item. [os alunos
escrevem, um tempo] Acabem a que esto a escrever e, por favor,
aqueles que no so falantes nativos de ingls, escrevam algumas
respostas nas vossas lnguas nativas... OK, escrevam mais uma reposta... (2) qual o sabor da traio? (3) faam uma lista de coisas
171
folha de presenas
sesso
que no gostam, comeando cada resposta por Eu no gosto de...,
todos os que no so ingleses, tenham algumas respostas nas
vossas lnguas... (4) qual o sabor da felicidade? (5) o que que faz
para se sentir melhor? OK, arrangem outra pgina e eu vou-vos dar
quinze minutos para escreverem a vossa autobiografia. Victoria:
Em ingls? PZ: Sim. Eleana: Escrevemos na primeira pessoa?
PZ: convosco. Catherine: Preciso de escrever numa forma
linear? PZ: De modo algum! Pelo contrrio. Ok? Vou dar-vos
quinze minutos [os alunos escrevem] Tomem mais um minuto
ou dois para terminar OK, toda a gente terminou? Terminem
a ltima frase Bom, ser que toda a gente pode arranjar um
parceiro, um parceiro diferente com quem ainda no tenham trabalhado? Juntem-se com os vossos parceiros e partilhem a autobiografia com eles; se houver algo que no querem partilhar, no h
problema. Depois de terem contado a vossa histria, o parceiro vai
fazer-vos trs perguntas ou sugestes; o narrador ento vai roubar
um gesto do parceiro. Est claro? (...) Vou dar-vos alguns minutos
para reverem a vossa biografia enquanto eu vou ao edificio do lado.
[PZ sai e os alunos trabalham por si mesmos com os textos; PZ
regressa, alguns alunos ainda esto a escrever] Mais um minuto
para acabar, apenas uma reviso... algum se pode voluntariar
para partilhar o seu texto conosco? [alguns alunos oferecem-se] OK,
ser que podem utilizar o gesto pelo menos quatro vezes enquanto
fazem? Venham para aqui e sentem-se nesta cadeira, enquanto os
restantes vm para aqui [Eleana conta como um tremor de terra
altera a vida de alguns mas no de outros] [Paula conta a morte do
pai e o seu amor pelo teatro] Obrigado! Mais um. [John relembra
172
phillip zarrilli
memrias da me perdida] Mais um para terminar. [Martha conta
episdios jogando entre eu e ela] OK, bom. Faam um crculo.
Podem apanhar a vossa lista de Eu gosto de? Vamos comear
com Sim Sim e quero que leiam as primeiras quatro respostas.
[os alunos lem] Quatro Eu no gosto de. [os alunos lem] Se
puderem agora ler o sabor da traio ... [os alunos lem] Bom,
vamos parar aqui esta noite. Vamos respirar e, peo-vos, coloquem
as vossas autobiografias e respostas num documento digital, podemos trabalhar com isso em breve. O que quero que troquem as
vossas biografias com algum para que sejam lidas. OK, vamo-nos
levantar e fazer a respirao. [18.45, 20.32]
frases soltas de zarrilli
Temos estado a trabalhar muito com foco visual, eu vou agora
comear a pedir-vos que atentem vossa percepo auditiva.
medida que ficam mais confiante com certas sequncias, permitam-se ser conduzidos por elas: a web without a weaver.
No permitam que a vossa imaginao entre numa pausa para
caf, a menos que seja de propsito.
[ts1, 10.11]
ensaio hamletmachine PZ: Podem tirar os textos do
Hamletmachine? Falta algum? Paula: Liz! PZ: Certo. Vocs
tm uma cpia do texto nas vossas lnguas nativas? [Bobo diz que
sim, Eleana tambm] Poder ser til. Algum fala alemo? Sim
Sim: Eu falo. PZ: Bom. Ser que consegues uma verso em
173
folha de presenas
sesso
alemo do texto? Sim Sim: Acho que h uma na biblioteca. PZ:
Bom. Quando puderes, arranja uma cpia. Ento, vamos ler estas
duas verses para decidirmos qual vamos utilizar. Vamos dar-nos
algum tempo para fazer isto. Posso ter todos os homens sentados aqui, por favor? No vos vou dar muita informao, vamos
ter s o Simon e o Chris a fazer por agora. Simon: As letras
mausculas so para ser gritadas ou ditas de algum modo especial? PZ: Deixo que sejas tu a interpretar como queiras. Simon,
lidera tu, Chris ser um eco. (...) Vamos trocar e voltar ao comeo?
Podes tu ser o eco, John, enquanto tu ls, Tom? (...) OK, tens a
verso em chins, Chris? [Sim Sim entrega alguns papis] Chris:
Agora tenho. PZ: Ento, vamos experimentar Long Long a ler
a verso em ingles e Chris a ler pedaos da verso em chins,
OK? (...) Vamos experimentar com o Thor e o John, agora. (...)
Ok, Chris, podes continuar a partir daqui? (...) Bom. Posso agora
ter algumas mulheres, por favour? Catherine, podes comear com
a Oflia? Catherine: Eu sou Oflia? PZ: Sim, a partir da.
[depois Eleana passa o texto em Grego, elas continuam; o texto
muito bom e as alunas tm uma empatia imediata com ele; PZ
leva um banco de madeira at ao centro da sala] Sim Sim, gostaria
que te colocasses o mais perto possvel da beira do banco para que
fiques em desequilibrio. Tambm gostaria que aquelas que esto a
passar o texto que o fizessem muito mais rpido. (...) Podemos ter
agora as outras mulheres, por favor? [escutamos a verso em cantons, impressionante como soa ritmicamente] Ser que podemos
ter todas as mulheres naquele lado e todos os homens neste? No
vo precisar do texto. [para as mulheres] Ser que podem colocar
174
phillip zarrilli
os braos volta umas das outras? [para os homens] Podem colocar os braos por trs das costas? Quando eu apontar para vocs,
podem dizer Eu era Hamlet todos juntos? E quando apontar
para vocs, vocs diro Eu era Oflia. [PZ aponta para os rapazes] Mais convico. Sim, mais alto. Plano mas com convico.
OK. [ vai para perto das moas] Vocs dizem quando eu vos tocar.
um concurso! Um concurso! [o mesmo junto aos rapazes] Vamos
comear. Ainda no sei se todos vo participar disto mas eu gosto
da ideia de mltiplos. Antes de irem embora hoje, vou-vos dar a
todos uma cpia desta nova verso, dar-vos-ei uma tarefa enquanto eu vou arranjar as cpias. Vamos tentar mais uma coisa. [para
as moas] Faam isto do concurso, tentem s no falar todas ao
mesmo tempo. [elas fazem o jogo, depois os rapazes] Bom, vamos
fazer um crculo com cadeiras, as moas sentam-se, os rapazes
vem para aqui e ficam lado a lado. Simon: Ns vamos correr?
PZ: Andar. Lentamente. Vocs no vm as Oflias e as moas
podem seguir-los enquanto estiverem no vosso campo visual, no
se virem. [moos comeam] Vocs podem conversar utilizando as
falas e separar-se do grupo de forma que alguem pode estar aqui
sozinho a falar com algum que est ali. [eles experimentam] Bom.
Agora as moas. [elas experimentam] Bom. Agora vocs podem
levantar-se, subir para os bancos e andar mas no saiam de dentro
do crculo. [elas experimentam] () Se algum gritar, todos olham
para essa pessoa. Estamos a trabalhar do mesmo modo que com
as improvisaes estruturadas: fixamos uma estrutura e descobrimos quais so as regras. Trabalhar assim muito sobre escutar e
prestar ateno ao que acontece no momento. () Bom! Vamos
175
folha de presenas
sesso
manter isto. Gostaria que agora voltassem aos grupos de quarto,
com os textos que comemos hoje. Eu vou fazer as cpias, vocs
tero trinta minutos e depois vamos ver o que fizeram. Vou pedir
aos alunos do mfa que esto interessados em dirigir para comear
com esse trabalho, peo-vos que sejam precisos no vosso retorno.
Est claro? Volto dentro de alguns minutos. [18.38, 19.48]
ensaio fewer emergencies PZ: OK, vamos parar por aqui.
Podem ajudar-me a arrumar estas cadeiras? (...) Vamos comear
com Long Long, quem o teu parceiro? Long Long: Alice. PZ:
Vamos comear com vocs os dois Sim Sim e o teu parceiro.
Vamos experimentar com vocs ao mesmo tempo mas estejam
atentos ao que o outro est a fazer. Desculpem, vamos fazer de
novo, no culpa vossa. [retomam] Muito bom! Este tipo de texto
funciona quando vocs escutam mesmo e absorvem. Eu no tenho
uma receita, vocs vm que a cena pode ser muito diferente mas
eu acho que ela funciona quando vocs se aproximam do texto
com uma certa inocncia, com simplicidade e estando frescos no
jogo, sem apressar as coisas. (...) Mais uma coisa, eu tenho o filme
They shoot horses, dont they, e seria ptimo v-lo juntos. A minha
sugesto que tragam jantar e que fiquemos um pouco mais tarde
esse dia. OK? Ento, vamo-nos levantar e respirar () Boa noite.
At amanh. [20.14, 20.38]
[ts1, 11.11]
sobre hamletmachine PZ: Eu quero apenas falar um pouco
sobre Hamletmachine. [PZ distribui algumas cpias] Peguem um
176
phillip zarrilli
e passem ao prximo: a introduo do tradutor e dois ensaios do
Heiner Mller. A pea foi escrita nos anos setenta e era bastante
incomum para a poca, talvez menos hoje. pea bastante no
representacional, alegrica, de algum modo. Walter Benjamin
diz que as alegorias tratam do tempo e da totalidade e no de
smbolos; Hamletmachine no trabalha com smbolos, de facto,
ele tenta destruir os smbolos. As coisas acontecem numa sequncia de momentos no necessariamente associados e no h um
climax ou algo parecido. Ele escreveu quando estava a fazer uma
traduo do Hamlet e, quando acabou, disse que era a pea mais
americana que tinha escrito e que poderia ser pensada como um
panfleto sobre a perda de inocncia no mundo contemporneo.
(...) Seria dificil simplesmente montar o texto mas ns teremos
uma tarefa ainda mais dificil porque vamos apresent-la dentro de
um evento real. Uma coisa com a qual nos temos que preocupar
em encontrar o tempo prprio da pea dentro desse evento. (...)
Algum j assistiu a alguma montagem? [dois alunos sim] Uma
das montagens mais famosas uma que o Robert Wilson fez na
Universidade de Nova Iorque com alunos, nos anos oitenta. J tiveram uma oportunidade de reler o Hamlet? muito importante e
ser uma grande ajuda. [18.08, 18.19]
ensaio hamletmachine PZ: OK, vamos comear a trabalhar. Ser
que as moas podem fazer um intervalo e eu trabalhar apenas com
os homens? [as moas saem] Tragam tantas cadeiras quantas precisarem. Vamos criar a estrutura: o vosso ponto de foco ser perto e
ligeiramente em baixo, esquerda ou direita. Comecem direitos,
177
folha de presenas
sesso
faam a abertura do taiji juntos, escolham um ponto de foco em
baixo e assumam qualquer posio [eles comeam]; escutem, antes
de continuar: querem falar mas no podem; sintam os ps; deixem
o vosso desejo de falar crescer; sintam a saliva na boca; sintam o
impulso para falar no dan tian, abram a bca, pausa; fechem a bca
e continuem; algumas vezes, deixem o impulso para falar chegar
at bca e parem-no; podem colocar a vossa mo sobre a bca,
morder o pulso, colocar a camiseta na bca, o que for necessrio;
pausa e sair. [PZ d algum retorno, nomeadamente que no tm
que mudar o foco a cada respirao e que podem reduzir alguns
gestos; repetem a improvisao] Bom. Sugiro que encontrem uma
sala para poderem trabalhar juntos e que o Simon vos dirija no
resto da sequncia do butoh-fu [os rapazes saem, as moas entram]
[18.20, 18.35].
ensaio hamletmachine Coloquem-se atrs das cadeiras. Vamos
fazer um crculo com as costas das cadeiras viradas para dentro e
vocs no meio. Fiquem de p, atrs das cadeiras. Imaginem que
est algum sentado, vocs desejam tocar essa pessoa. Vocs no
querem olhar para a pessoa que est sentada mas tm que o fazer,
de quando em vez. Toquem a cadeira. ferro quente! Sintam a
queimar. Pausa! Mantenham-se ativas. Sintam queimar os vossos
ps. A cadeira est vazia! A figura no est mais l. Segurem a cadeira, no est mais a queimar. Sintam o vazio, abracem a cadeira.
Pausa! Sair. [PZ d algum retorno, passando por notas semelhantes
s dadas aos rapazes, nomeadamente a reduo de movimentos,
a possibilidade de mudar de foco e a progresso das mudanas;
178
phillip zarrilli
repetem a improvisao, PZ instroi-as durante a improvisao]
Bom. Sugiro que trabalhem com a Liz agora no butoh-fu, eu vou
ver o que os rapazes esto a fazer, est bem? [PZ sai, as alunas
trabalham sozinhas; os rapazes e PZ voltam] [18.35, 19.41]
ensaio hamletmachine PZ: Podemos fazer um crculo de cadeiras? [as moas fazem o crculo, os rapazes de fora] Cavalheiros,
por favor, tomem um lugar [os rapazes circulam, escolhem uma
cadeira, as moas sabem o que se vai passar, momento muito teatral, tenso no ar] Bom. Est um pouco amontoado aqui, poderias
ir para outra cadeira? Bom. [para os moos] a mesma coisa, s
que antes estavam em linha. Entrar! [PZ instrui-os em momentos
de pausa, dirige a ateno uns para os outros, indica a introduo
de falas, marca o momento em que uma moa vai ao centro do
crculo, diz uma fala e mergulha o rosto numa bacia com gua]
Pausa. Sair! Bom! Algumas coisas boas, aqui. Boas dinmicas!
() Eu penso que vamos parar por aqui hoje e pegamos a partir
daqui amanh. Bom trabalho! Zosha: Eu estou um pouco confuse com os horrios de amanh. [esclarecem os horrios] PZ:
Penso que todos faremos o Hamletmachine, por isso podem
comear a aprender o texto. Vamos parar por aqui, OK? Vamos
respirar. [19.47, 20.33]
[ts1, 13.11]
treino Sequncia de Yoga sem as instrues; PZ: Abram os ouvidos. Estejam conscientes de todo o grupo. () No faz sentido
fazer as coisas sem ningum dentro. Estas prticas podem ser um
179
folha de presenas
sesso
treino para estarem disponveis todos os dias. Do meu ponto de
vista, o teatro tem muito que ver com estar disponivel para o que
acontece com o parceiro no palco. [13.30, 15.30]
exerccio meisner PZ: OK, vamos fazer um exerccio com os
textos do Martin Crimp. Estes no so textos que solicitem uma
atuao baseada em personagens, apesar de, quando os vemos de
fora, parecerem. Vamos fazer um exerccio de Sanford Meisner,
um dos dissidentes do Theatre Group. H algum voluntrio? OK,
eu vou fazer uma observao e dizer alguma coisa que vejo: Tu
ests a usar uma camiseta preta. E tu vais repetir: Eu estou a
usar uma camiseta preta; depois comeas tu. Nas improvisaes
estruturadas, vocs esto sentados lado a lado e esto a trabalhar
com a percepo perifrica e a sensao dos ps, etc.; tragam tudo
isso para este exerccio. Agora esto frente a frente, a mesma
coisa, no se trata de ser formal, trata-se de levar essas coisas para
o exerccio. Juntem-se com o parceiro com quem esto a trabalhar
e faam isto, simplesmente; trabalhem com contacto visual e sejam
muito precisos no que dizem. No corrijam nada, o que quer que
acontea est certo, aceitem-no como parte do jogo, se sorrirem, o
que quer que seja. Tomem o tempo necessrio. Absorvam! Levem
para dentro. No deixem que v para a vossa cabea, mas deixem
que vos afecte. No estou a mudar nada mas queria chamar-vos a
ateno para isto. Certo, bom! Agora, um elemento do par levanta-se e vai para outra cadeira. Isto como os encontros relmpago: ensaio relmpago! OK, entrar: esto com um novo parceiro,
quando um de vs estiver pronto, comecem. [apesar de estarem
180
phillip zarrilli
vinte alunos a trabalhar em simultneo, eles mantm-se focados
nos parceiros; quando param, muitos riem] Esto a gostar de ser
observados? Isto s para plantar uma semente. Muitos de vocs
j esto a fazer isto quando trabalham com os textos do Crimp mas
s para vos lembrar desta ateno. [15.40, 16.10]
[ts1, 14.11]
treino [13.40, 16.00]
exerccio de repetio PZ: Bom, vou pedir-vos uma tarefa
repetitiva: dem um estalo em vocs mesmos, sem se machucar.
Sabem como dar um estalo em vocs mesmos sem se machucarem? Tm que deixar a cabea rodar. Dem dez estalos, cada vez
mais lentos, at que o dcimo primeiro j no seja audvel, como no
exerccio de reduo. Vamos. [os alunos fazem a proposta] Deixem
que se torne menor e menor. Sintam onde o estalo bate. Reduzam.
Sintam o estalo como uma carcia. Bom! Vamo-nos dividir, uma
pessoa faz e a outra observa, assim ela pode dar um retorno. (...)
Vamos complicar um pouco: vamos seguir o ritmo da Victoria, no
exatamente mas dentro da mesma seco. Bom. Troquem e agora
vamos seguir a Bethany. (...) Pausa. Sair. Bom, apenas um comentrio: quando se acariciam, a vossa mo quase no deve deixar o
rosto. Dem o retorno aos vossos parceiros agora. [16.06, 16.30]
ensaio hamletmachine PZ: [entrando com uma pilha de papis
e uma bacia] Ol! Algum pode colocar gua aqui para ns? Bom.
Algum pode confirmar se estamos todos enquanto eu preparo os
microfones? Thor: Estou a contar dezanove... Zosha: O Tom
181
folha de presenas
sesso
deve ter ido a algum lugar. [Tom chega] PZ: [distribui algumas
cpias] Dem uma olhada nas cpias, vejam se tm alguma
dvida. Eu partiturei as Oflias e os Hamlets em diferentes vozes
[os alunos lem]. Vamos fazer a respirao? [fazemos as trs respiraes bsicas, em dois crculos concntricos] Podemos ter aqui
treze cadeiras? [os alunos preparam o espao, PZ coloca um cd]
Vamos trabalhar no texto alguns minutos, temos a aula de dana
s cinco e quinze. Vamos comear com o texto dos homens, apanhem todos o vosso texto, por favor. H alguma outra mesa l fora?
[dois alunos saem e voltam com uma mesa] Perfeito. Os senhores podem apanhar trs cadeiras? [trs alunos apanham cadeiras
e sentam-se atrs das mesas, PZ entrega-lhes algumas cpias e
d-lhes instrues] Podem os restantes fazer pouco barulho para
eu me conseguir focar no que estou a fazer? Vocs podem ver os
vossos textos enquanto eu digo a todos o que quero que faam
para podermos comear a testar. [PZ senta-se mesa com os trs
alunos e instrui-os nas novas partituras desta seco] Podem todos
os homens chegar aqui mesa? [PZ d-lhes verbos activos para
os ajudar com o texto] Apenas algumas coisas que eu gostaria de
vos dizer para quando voltarmos a trabalhar com isto de novo:
penso que temos que reduzir o movimento porque h demasiadas
coisas a acontecer ao mesmo tempo; da prxima vez, mantenham
os impulsos mas reduzam o que visto em cinquenta por cento.
Organizem-se em grupos de trs para poderem trabalhar com este
novo texto. [os alunos organizam-se e saem, excepto um grupo;
comeam uma passagem da nova seco] Eu gosto desta verso, a
textura muito interessante, ento devemos utilizar isto como uma
182
phillip zarrilli
estrutura bsica para isto. Podemos acrescentar algumas coisas a
isto e acho que vocs devero ser quatro mesa e apenas duas
vozes. Depois vamos fazer algumas vezes mas agora deixem-me
ver se os vossos professores de dana j chegaram. [16.30, 17.23]
aula de dana PZ: Sei que querem danar pela noite adentro, essa
noite chegar. Vamos agradecer aos nossos professores. [palmas]
Vamos fazer uma pausa de um minuto. [17.23, 18.28]
respirao bsica PZ: OK, obrigado! Vamos para por aqui, levantar e respirar. Arrumem tudo. [respiramos] Obrigado pela vossa
ateno esta noite. Bom trabalho. Vemo-nos amanh.
[ts1, 19.11]
exerccio com ressoadores PZ: Vamos fazer um crculo. Este
um exerccio que aprendi com Richard Schechner e ele disse-me
que tinha aprendido com Jerzy Grotowski. Eu suponho que seja
verdade [risos]. O que vamos fazer passar por diferentes ressoadores. Coloquem as mos sobre o dan tien, respirem a partir da
e faam o som HA, vindo de baixo, depois do peito, depois da
garganta, do nariz, do topo da cabea, depois descendo... Bom! No
forcem. E bom terem alguma gua convosco, isto pode secarvos um pouco. Vamos repetir! [repetem duas vezes] Devemos
fazer isto todos os dias, a partir de agora. Vamos fazer um outro.
Comemos isto ontem com as moas, vamos trabalhar a rea do
peito. Normalmente, quando eu falo, eu tenho a minha voz na
garganta mas quando eu no estou na vida quotidiana, quando
estou no palco, eu tento levar a voz a uma ressonncia mais funda.
183
folha de presenas
sesso
Ento, procurem pelo vosso tom que ressoa mais no peito. Bom.
Quando tiverem encontrado, experimentem algumas linhas do
texto nesse tom. Depois troquem. Bom. Os professores de dana
chegaram, voltaremos a isto amanh. [16.00, 16.20]
sobre o espao de apresentao PZ: Muito obrigado. Vamonos sentar alguns minutos para eu vos falar de algumas coisas.
Quantos de vocs ainda no foram ao estdio? Aconselho-vos vivamente a faz-lo. Vou passar-vos um esboo da sala e explicar-vos
[PZ distribui algumas cpias e explica como ser a implantao no
espao] Penso que era tudo o que queria dizer-vos. [17.25, 17.30]
ensaio butoh Algumas notas de ontem: Oflias, quero falar um
pouco da seco de butoh. Alguns dias atrs eu falei sobre fazermos
as coisas mais lentas e no dia seguinte as coisas estavam muito mais
limpas e interessantes. Ontem, eu senti que tudo estava muito mais
confuso e senti que estavam a forar; esto a esforar-se demais
para que o trabalho seja dramtico. muito dificil encontrar este
lugar de simplicidade e sustentar o seu frescor quando precisamos
repeti-lo. impossivel para mim prestar ateno a cada uma de
vocs, por isso, vejam se se aplica a vocs o que estou a dizer. Peovos que trabalhem nisso e talvez se sintam cansadas, se sintam
aborrecidas mas eu vou pedir-vos que trabalhem isso com o vosso
parceiro. o vosso trabalho encontrar o jeito de tornar isso interessante para vocs mesmas. Vamos trabalhar um pouco na vossa
partitura. [as mulheres fazem um crculo com cadeiras] Metade
faz, as outras observam; as que esto a observar tm como tarefa
ser muito especficas: se virem contores exageradas, algum a
184
phillip zarrilli
sobre-dramatizar, coisas que no esto conectadas dentro, apontem isso; tambm podem ser positivas, assinalando alguma coisa
muito boa. [elas comeam] Pausa. Eu sei que dificil, mas qual a
imagem aqui? Liz: Nuvens de algodo puxando para baixo. PZ:
OK. Se precisarem sair porque a imagem no est a funcionar
para vocs, no h problema, desde que a vossa parceira saiba para
vos poder ajudar a encontrar algo. Mas no tentem engarnar-se a
si mesmas fazendo qualquer coisa na esperana de que ningum
note. Bom, bom. Eu sei que isto um trabalho muito duro. Penso
que foi muito mais claro de fora. Tem algo que ver com tomar
aquele tempo. A flor, por exemplo, precisamos sentir que a relao
se est a desenvolver, ento fica interessante. Parceiras, podem dar
retorno agora. [alguns minutos] Vo terminando para podermos
trocar. [trocam] Pausa sair. Juntem-se e deem retorno. () Espero
que isto tenha sido til. Se precisarem tomar notas, faam-no no
final do ensaio desta noite. Muito melhor! [17.25, 18.35]
estmulo flmico PZ: OK, sera que toda a gente pode chegar
aqui um momento... [PZ mostra um fragmento vdeo, o tema
Were in the money, do filme Gold Diggers (1933)] Aqui est um
estmulo. [18.35, 19.10]
ensaio fewer emergencies PZ: Ser que eu podia agora trabalhar com o grupo de quarto em que est o Simon? Vou colocar uma
msica porque haver msica ao mesmo tempo. Quando estiverem prontos... [um par do grupo passa o segundo texto de Martin
CrimpJoe: No comeo, Sim Sim, senti que estavas muito consciente do Simon; Simon, eu senti que estavas um pouco dentro, um
185
folha de presenas
pouco fora, parecia que no sabias para onde ir, o teu foco mudava
por todos os lados. [os companheiros do retorno] PZ: Para mim,
pareceu-me definido. Havia uma espcie de imediaticidade na
resposta, em momentos... como aquele crispy. Penso que tem
muito que ver com ser surpreendido, apesar de terem feito isto
vrias vezes. Recebe o que ela te est a dar, nas entranhas, depois
olha o texto porque ainda no sabes as deixas, depois d a resposta
sem perder a conexo com ela. (...) Uma das coisas a ter cuidado
a tendencia a fazer demasiado, andar s voltas... Isto ajudou-te?
Bom. Eu vou para outro grupo. [PZ sai e o grupo continua sozinho;
PZ e os outros regressam] Vamos respirar e terminar. [respiramos]
Obrigado. At amanh. [19.10, 20.35]
186
evento performativo
performing arts department
leeds metropolitan university
ementa
objetivos
1. Oferecer a oportunidade de trabalhar em colaborao com um
artista profissional na criao de um novo evento performativo;
2. Criar um processo intensivo de pesquisa e desenvolvimento
que desenvolva a experincia e a implicao do aluno na praxis
performativa;
3. Providenciar a oportunidade de praticar vocabulrios e discursos crticos avanados no processo de fazer um novo trabalho
performativo;
4. Oferecer a oportunidade de desenvolver e de aumentar as competncias performativas existentes segundo as necessidades do
projeto;
5. Permitir que o aluno participe como um fazedor de performance
reflexivo dentro de um projeto conduzido por um artista.
programa The Performance Event um processo prtico e exploratrio conducente a uma apresentao pblica. Consequentemente,
o aluno ser solicitado a assumir, em intervalos variados, um espectro de papis para garantir o sucesso do projeto, em funo de
como este evolui. O aluno ser solicitado a pesquisar informao,
a desenvolver as suas prprias ideias e as de outros, e a apresentar as suas descobertas ao grupo. O aluno ser solicitado a criar
material performativo sozinho e em grupos, a apresentar este material e a responder constructivamente ao que for apresentado por
outros em discusses de grupo. Do aluno se poder esperar que
improvise ou escreva textos, ensaie aes, contribua com ideias
190
evento performativo
para a encenao e a cenografia, realize exerccios de observao,
encontre msica e som, descubra adereos/objetos, contribua para
a documentao do trabalho e que participe plenamente na criao
conjunta e no processo de ensaio. Ao aluno poder ser pedido que
dirija e que seja dirigido pelos seus colegas. Espera-se que o aluno
assuma responsabilidade pela autoria coletiva do projeto como um
todo. Ao aluno ser pedido que ajude a estabelecer um ambiente
de grupo que encorage a contribuio de ideias por todos os participantes. Cada processo de criao nico e frequentemente
definifo pelos colaboradores tanto quanto pela pessoa que conduz
o projeto. Como fazedores [practitioners] parte do trabalho dos
alunos ser partilhar os seus prprios conhecimentos [expertises]
e desafiar-se a si mesmos e permancer abertos a novas maneiras
de pensar e fazer. As sesses prticas sero uma combinao de
oficinas dirigidas pelo tutor, exerccios de investigao prtica,
tarefas de devising em grupo, ensaios e ensaios tcnicos segundo
as necessidades do projeto. O projeto na sua globalidade envolver
pesquisa, experimentao, apresentao e discusso. As primeiras
quatro semanas sero de investigao e desenvolvimento, as duas
seguintes sero de devising, depois haver uma semana de ensaios
e uma semana com ensaios e apresentaes.
191
folhas de presena
ementa
resultados da aprendizagem
1. Demonstrar a capacidade de trabalhar sob a direo de um lder
de projeto na criao de um evento performativo;
2. Formular estratgias de ensaio para re/produzir material para
uma performance, na sua totalidade ou na sua parcialidade, consoante os critrios de avaliao;
3. Adquirir e refinar as competncias necessrias para funcionar
num elevado nvel de proficincia como um efectivo fazedor de
performance dentro do contexto especfico do projeto;
4. Demonstrar a capacidade de ser auto-reflexivo sobre as tomadas de deciso e o trabalho/ao resultante que culmina dessas
decises;
5. Articular e comunicar ideias efectivamente tanto oralmente
como por escrito.
mtodo de avaliao
Avaliao continua do processo (30%) realizao das sesses dirias
de pesquisa e devising, resposta s tarefas, aes de pesquisa,
ensaios, sesses de trabalho, contribuio para as discusses de
grupo.
Performance (30%) contribuio para o evento final, como performer, diretor, etc., em consonncia com o acorde de aprendizagem.
Viva Voce (10%) discusso reflexiva que examina a qualidade e a
natureza da experincia de aprendizagem.
192
evento performativo
Documentao Escrita (30%) trabalho escrito crtico (3,500
palavras).
critrios de avaliao
Avaliao Continua do Processo frequncia, pontualidade, prontido, compromisso, concentrao, realizao com sucesso das
tarefas e do pensamento do processo, tanto dentro quanto fora das
aulas; a qualidade da implicao individual com as ideias - conceitos - prticas desenvolvidas no mdulo, tal como demonstradas
nas respostas verbais e fsicas; a qualidade do retorno dentro do
processo de devising, a contribuio para as discusses de grupo
e a facilitao da contribuio dos outros; a capacidade de assumir
direes do e de trabalhar efetivamente com o tutor liderando o
projeto; utilidade das contribuies individuais para o grupo e o
projeto como um todo.
Performance capacidade de preencher o papel e as responsabilidades
atribuidas na apresentao do trabalho ao pblico, demonstrada
na construo de uma persona performativa apropriada ou outro
papel de acordo com as necessidades do projeto.
Viva Voce capacidade de demonstrar uma resposta reflexiva sobre
a prpria prtica e a aprendizagem; capacidade de identificar
caractersticas chave no processo com o qual esteve envolvido;
capacidade de resposta a perguntas sobre o contexto do trabalho
produzido.
Documentao Escrita compreenso articulada do processo sobre o
193
folhas de presena
ementa
qual se escreve, testemunho de pesquisa adequada, demonstrao
de pensamento critico, ateno dada estrutura e apresentao.
bibliografia
CHILDS, N.; WALWIN, J. (eds), 2000, A Split Second of Paradise:
Live Art, Performance and Installation, London: Rivers Oram.
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Routledge.
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Routledge.
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Thames & Hudson.
websites
Penkiln Burn / Bill Drummond: www.penkiln-burn.com
Dave Gorman: www.davegorman.com
Stans Caf Blog: stanscafe.blogspot.com
194
alexander kelly
programa Os objetivos do mdulo, suponho, passam por ser
uma transio entre o curso e o mundo exterior ou fazerem o seu
trabalho. Este mdulo decorre sem nenhum outro em simultneo
para que, em teoria, possam comprometer toda a sua ateno e
energia. Eles esto concentrados em fazer um trabalho e isso deveria ser a transio ou para o mestrado ou para fazerem o prprio
trabalho. Suponho que se espera que faam um trabalho grande
porque a probabilidade que, quando saiam da universidade, no
se envolvam logo num espectculo grande. Tem a durao equivalente a quatro, quatro semanas e meia a tempo inteiro, que algo
similar ao mnimo que uma companhia profissional pode esperar
para fazer um trabalho. O projeto dirigido por um tutor-artista,
segundo uma lgica de este um modo de fazer, em vez de
este o modo de fazer. De qualquer modo, um processo do
princpio ao fim, para que tenham uma sensao de completude e
para verem como uma pessoa trabalha. como dizer: Vocs agora
vo fazer desta maneira e se detestarem, pelo menos, esperanosamente, compreendero por que que no gostaram. Tudo
mais ou menos determinado desde no incio: eles so informados
da estrutura do mdulo. Ento, grosso modo, as primeiras duas
semanas de pesquisa e desenvolvimento, as duas seguintes de devising, depois uma semana de montagem e outra de ensaio. Alm
disso, estabeleo as coisas com as quais estamos comprometidos:
fazer o espectculo neste espao, trs noite e um tarde, para um
pblico sentado, tudo isto assumido como parte das regras, como
se se tratasse de uma encomenda. Este ano tambm nos comprometemos com um ttulo porque eu j sabia qual seria o tema,
195
folhas de presena
entrevista
ento j tinha um nome. Mas dentro disto, bastante livre. Para
alguns deles, os exerccios que fazemos nas primeiras semanas
no tm nenhum sentido mas depois vm que aquilo efectivamente produz o espectculo. Depois, durante o processo, h exerccios
em que eu dirijo e outros em que digo: meia hora, uma hora, duas
horas, vo-se embora e faam qualquer coisa que cumpra estas
regras; e, frequentemente, guardamos algumas dessas coisas e
eu digo: partiturem ou escrevam, faam o que precisarem para
serem capazes de fazer isso de novo dentro de duas semanas e,
esperanosamente, eles esto conscientes de que quando fazemos
isso estamos a marcar algumas coisas como possveis. Em seguida,
cerca da quarta semana, ordenamos o que temos e gostamos, talvez
no esteja tudo no mesmo espectculo, tudo o que encontrmos
que foi interessante, que foi bom, que foi til, pelo que estamos
progressivamente com o espectculo final em mente. Este ano o
mdulo passou de tempo parcial para tempo integral, o que deveria
marcar uma transio para eles. Tambm as leituras que lhes so
indicadas neste mdulo so maioritariamente de artistas a falar
das suas prticas, em vez de crticos a falar sobre artistas, ou ento
so entrevistas, para eles estarem a ouvir artistas a falar sobre o seu
trabalho, para que a teoria esteja muito articulada com a prtica.
Este mdulo espera que os alunos pensem criticamente, escrevam
criticamente e falem criticamente e que analisem a prpria prtica.
A prtica dirigida por mim mas esperanosamente aberta o
suficiente, pelo que estaro a escrever sobre o meu processo mas,
dependendo de quanta responsabilidade eles assumem no processo, estaro a escrever sobre os seus prprios processos tambm. As
196
alexander kelly
leituras so exemplos de artistas a falar sobre a prtica criativa mas
no necessariamente utilizando anlises tericas, mantendo uma
espcie de voz de artista ao mesmo tempo que analtica; procurar
entender o que fizeram, depois de terem feito o espectculo.
197
folha de presenas
sesso
[14 queen square, 31.03]
A sala de trabalho tem talvez 15m X 20m, metade das paredes so
pretas e a outra metade brancas; cadeiras dobrveis, equipamento
de som, luz e vdeo. Encontro-me com Alexander Kelly no intervalo do almoo, ele pedira-me para no aparecer na primeira sesso
para poder ter o primeiro encontro com os alunos num ambiente
mais confortvel. Segundo Alexander Kelly, so cerca de vinte e
trs alunos, na maioria oriundos de cursos tcnicos, frequentando
este top-up em prtica performativa contempornea com vista
obteno de um ttulo superior. Combinmos que eu estaria presente nas sesses como observador, eventualmente participando
das discusses e contribuindo com as minhas ideias, num papel
prximo ao do dramaturgo e que, dependendo do evoluir da situao, eu poderia implicar-me numa participao mais prtica: Kelly
citou Tim Etchells: Nada est seguro na sala.
Kelly diz-me que tem uma ideia para o espectculo que ir criar com
os alumos mas que pretende mant-la em segredo para que eles se
sintam mais livres para trazer as suas prprias contribuies.
A minha entrada na sala foi muito natural. No interior, cadeiras
dispostas numa linha; estudantes sentados, conversando animadamente, cerce de vinte, com idades prximas dos vintes, excepo
de uma aluna com cerca de quarenta anos.
jogo com objetos Na rea de jogo, uma linha temporal desenhada
no cho, estendendo-se de 1958 a 2058; AK: Esta manh trabalhmos em grupos; eu tinha-lhes pedido que trouxessem um objeto
198
alexander kelly
pessoal e duas histrias sobre ele, uma verdadeira do passado e
outro sobre o futuro, dentro de cinquenta anos; depois pedi-lhes
que juntassem alguns fatos genricos e simples sobre o objeto e
que encontrassem uma maneira pela qual o grupo pudesse apresentar esses materiais e uma ordem: o passado primeiro, depois
o presente e o futuro em seguida, como eles quisessem. Depois
desenhamos uma linha temporal e cada um tinha que dizer: Eu
nasci em... e ocupar o lugar correspondente na linha.
desenvolver jogo com objetos Kelly distribui cpias de uma
pgina do Scotts Almanac intitulada Objeto do ano: a lmpada
incandescente e uma lmpada incandescente para cada grupo;
AK: Esta tarde vamos trabalhar com os grupos que fizemos de
manh, vamos utilizar o material que encontrmos e vamos acrescentar mais algumas coisas, em resposta a este texto e este objeto.
Cada grupo ir preparar uma apresentao para a turma com cerca
de dez ou vinte minutos; tero uma hora e quinze minutos, uma
hora para preparar e quinze minutos para ensaiar. Podem apresentar aqui, no corredor, l fora, convosco. Encontramo-nos aqui
s trs e meia. (...) AK: Vamos fazer como antes: apresentam
todos e depois falamos sobre todas as apresentaes. [os quatro
grupos apresentam; 16.10, os alunos e o professor formam um
crculo e discutem o que gostaram, o que foi interessante, o que
funciona nas apresentaes, uma por uma, com os observadores
a falar primeiro; o professor facilita a discusso e participa com as
suas opinies mas os alunos so os principais participantes; AK
fala sobre o livro How Are Things e sobre o programa do teatro-gale199
folha de presenas
sesso
ria da universidade, do qual alguns espetculos so obrigatrios].
[14, queen square, 07.04]
aquecimento AK: Fechem os olhos e deem trs passos para a
frente, sem falar, com cuidado; deem mais dois passos numa direo diferente, com cuidade; sem abrir os olhos, sem falar ou gritar,
formem um crculo. Variao: o mesmo que antes mas sem poder
dar as mos ou tocar-se.
jogo de escrita AK: Em pequenos grupos, um de cada vez, respondam questo: como ser quando forem velhos?, comeando
a resposta sempre com: Quando eu for velho.... Cada um escreve
as suas prprias respostas; quinze minutos. (...) AK: Um grupo
comea, os outros assistem. Joguem como antes, no leiam as respostas mas no sintam que tm que ser completamente originais;
no tenham conversas paralelas, se quiserem responder uns aos
outros, faam-no dentro do jogo; quinze minutos. [AK apaga as
luzes do publico] Vamos parar: observadores, o que funcionou?,
o que foi interessante? John: Foi muito pessoal. Betty: A repetio de algumas coisas foi muito interessante. Mo: Foi interessante ver o passer do tempo quando as ideias no apareciam.
AK: Ser que algum me pode dizer por que que deixei que isto
durasse mais de quinze minutos? Sandra: No comeo, o ritmo
foi rpido e depois, pouco a pouco, ficou mais lento. AK: Certo!
Eles comearam muito divertidos e foi muito divertido para ns,
depois ficou apenas divertido para eles e em seguida ficou divertido para ns de novo quando ele sentiram que tinham que produzir
200 |
alexander kelly
ideias. Variao: o grupo seguinte de p; outro grupo levanta o
brao quando algum concorda com o que foi dito; o ltimo grupo,
as pessoas avanam para perto de quem falou quando concordam
com o que foi dito. [10.17, 12.03]
desenvolver o jogo Os mesmos grupos que antes, uma hora para
preparer uma apresentao de dez minutos a partir do que viram
e acham que funciona, adicionando novas regras; algumas coisas
a considerer: o uso do espao, algumas pessoas tinham falado da
possibilidade de usar altura; temas, mais pessoais ou mais gerais;
se quando for velho ou quando for mais velho. Apresentao:
Ficaremos aborrecidos, por vezes, mas como somos um pblico
pesquisando devising no o vamos mostrar e vamos antes pensar
como isso pode ser til para a recolha de material. (...) Concordam
que comemos com um jogo e que depois o transformmos em
outra coisa que podiamos partilhar com outros, at que isso poderia ser material para o espectculo?
[14, queen square, 09.04]
aquecimento AK: Betty anda em direo a mim, eu olho para
outra pessoa e esta ltima pessoa tem que dizer o meu nome para
eu poder andar, e assim sucessivemante [AK participa do jogo,
eles tentam jogar, alguma confuso; 10.26, comea a funcionar]
AK: Bom. Vamos parar por aqui. Havemos de jogar de novo, no
uma promessa, uma ameaa. [10.20, 10.30]
direo de atuao AK: Lembrem-se que isto uma apresentao enquanto vocs mesmos. Isto um exerccio de simplicidade,
201
folha de presenas
sesso
apenas o primeiro passo; tomem notas de ideias mais elaboradas
mas deixem-nas para mais tarde.
[headingly campus library, 14.04]
pesquisa de campo AK: Com as pranchetas e canetas, vamos
fazer uma recolha de estrias entre os utilizadores da biblioteca.
Utilizem as vossas prprias roupas mas tenham em mente aquelas pessoas que fazem inquritos; vamos ter folhas com desenhos
dos objetos pessoais de cada um e com a lmpada incandescente;
talvez seis objetos por folha. Idealmente, eles vo falar mais que
vocs, a vossa componente performativa sera mais ouvir e escrever
as histrias. Vocs diro que est a fazer um projeto de pesquisa,
que esto a recolher estrias e que gostariam que eles olhassem
para os desenhos e que vos disessem se se lembravam de alguma
estria com aqueles objetos. Vocs estaro a recolher estrias e a ter
a experincia de recolher estrias. Ns dissmos biblioteca que
iramos fazer uma performance mas, no que vos diz respeito, esto
a recolher estrias com a vossa prpria presena. No se esqueam
de falar do espectculo: Uma Histria de Objetos, 20, 21 e 22 de
Maio, s 19.30. Faremos uma hora e voltamos para notas, para ver
quem conseguiu muitas e quem no conseguiu nenhuma, para
redefenirmos estratgias, ao meio dia; depois faremos para mais
quarenta e cinco minutos e regressamos s 13.00; tero uma pausa
de almoo e voltamos das 14.00 s 16.00.
tdio [os alunos e o professor encontram-se depois de almoo para
o retorno sobre o segundo perodo da manh] Mo: Podemos parar
202 |
alexander kelly
de recolher estrias? AK: Bom, parte do processo de devising
fazer alguma coisa que parece interessante e depois continuar a
faz-la apesar de estar um pouco aborrecido com isso. Para esta
tarde, eu sugiro que comecem por contar uma estria para que eles
no estejam sob presso para comear. Alguma questo? Ento,
encontramo-nos aqui s 15.50. [os alunos esto tensos, telefonam
a familiars, etc. mas acabam por continuar]
preparar apresentao AK: No prximo dia, vou pedir-vos
que partilhem as estrias, partilhem a experincia de recolher as
estrias; escolham um objeto, contem as estrias desse objeto e
apresentam alguma pesquisa fatual sobre o objeto. [16.00]
[14, queen square, 16.04]
pesquisa de campo AK: OK, na prxima segunda feira, s dez da
manh, a sesso ser na Henry Moore Foundation. Teremos uma
visita guiada de uma hora na exposio de escultura abstrata que
est a ser apresentada l. Pode ou no ser til para o processo mas
eu estou to interessado no modo como o curador fala dos objetos
como nas esculturas mesmo.
exerccio de composio cnica AK: O trabalho de hoje o
seguinte: em grupos de trs ou quarto, vocs vo fazer uma apresentao chamada A History of Objects, na qual vo atuar como
vocs mesmos, sem personagens, sem sotaques. Nesta apresentao vocs vo utilizar: as estrias que recolheram na segunda
feira passada, as estrias do vosso prprio objeto, outros fatos ou
pesquisa sobre os objetos, o material sobre o futuro e o passado,
203
folha de presenas
sesso
e tudo o mais que vos parecer apropriado. Ser devised, escrita,
ensaiada e apresentada s trs, neste espao. E ter uma durao
de cerca de quinze minutos. Pauline: Escrita? AK: O que quer
que isso signifique para ti, o que pretendo dizer que o trabalho
mais elaborado que vos pedi at agora. [os alunos organizam-se
em grupos e comeam a trabalhar, AK pergunta-me se quero apresentar um trabalho tambm e eu digo que sim; 15.00, regressam
os grupos e apresentam os trabalhos]
[14, queen square, 21.04]
direo de atuao AK: Ento, vamos regressar s apresentaes do ultimo dia: o que que gostaram, o que que foi til, o
que foi interessante? Como falariam sobre a vossa atuao, a vossa
persona na apresentao? Porque havia algo que vos unificava a
todas, alm de serem vocs mesmas. Becky: Havia um tipo de
atitude profissional, tipo um call center. AK: Sim, vocs estavam
a falar com o pblico mas vocs estavam numa situao tipo um
call center. Ento, havia algo ficcional, eu gostei! Quando eu vos
peo para serem vocs mesmos eu no pretendo que vocs se comportem como vocs fazem na vossa quotidiana. Por exemplo, eu
agora estou aqui e estou a falar para vinte e trs pessoas, ento h
um nvel de desempenho [performance]. O que eu quero dizer
que no h personagem, apesar de poderem existir personagens
porque os espectadores gostam de personagens e histrias. Eu
estou interessado em ver o esforo do performer para reconstituir
uma personagem e, ao contrrio dos Forced Entertainment que
gostam de o ver falhar, eu gosto que ele o faa bem. John: Eu
204 |
alexander kelly
sinto que cada vez que conto uma estria, eu no consigo evitar
de me sentir uma personagem. AK: Sim, tu atuas [perform] a
estria: muito brechtiano!
exerccio de escrita AK l quarto fragmentos do livro Exercises
in Style, AK: Este livro mostra noventa e uma maneiras de contar
uma mesma estria. Considerando este estmulo e algumas questes que vou colocar em seguida, preparem um solo com apenas
um objeto; considerem as perguntas: para que serve? O que que
faz? Que estrias podem contar desse objeto? Que estrias podem
contar de variaes desse objeto? Que fatos podem contar sobre
esse objeto? Quando iro perder esse objeto? Vocs tero uma
mesa, podero estar sentados distncia que quiserem da mesa
ou podem mover-se em linha na direo da mesa, o objeto estar
sobre a mesa. Trinta minutos para preparar. [15.30] Devo sugerir
uma ordem ou vocs preferem ir medida que vos apetece? [alunos
preferem sem ordem pr-estabelecida] Muito bem, outra coisa:
apresentem apenas para a pessoa que est vossa frente; podem
mover a cadeira e sentar-se perto da mesa e, se quiserem, pedir
ao espectador para fazer o mesmo; mas apresentem apenas para
o espectador que est vossa frente. () No prximo dia, tragam
a lanterna e re-escrevam: podem mudar apenas algumas partes
ou experimentar algo novo; eu gostaria que tivessem algo que vos
satisfizesse apresentar a um pblico. [14.45, 16.45]
[14, queen square, 23.04]
jogo com lanternas AK: Aqueles que tm uma lanterna no palco,
205
folha de presenas
sesso
os outros sentem-se na plateia. OK, apagar as luzes! Acender lanternas. [AK pede aos alunos que apontem as lanternas todos para
um aluno, para o tecto, para objetos, faz perguntas; experimentam,
11.00] Vamos trocar de equipes. Espalhem-se todos e iluminem
apenas os ps; agora, cada um ilumina o rosto de outro de forma
a que apenas uma lanterna ilumine cada pessoa. Vamos arranjar
nove mesas e nove pessoas com os seus objetos e o texto sobre esse
objeto [os alunos preparam o espao]. Deixem o objeto em cima da
mesa, dem um passo para trs, peguem no vosso texto: quando
lerem, iluminem o texto, todos os outros iluminam o objeto.
[10.45, 11.45]
listas AK: Dois voluntrios habilidosos, os outros juntem as cadeiras perto da parede; [para os voluntrios] prendam pedaos grandes de papel na parede; [para os outros] vamos precisar dos vossos
blocos de notas para isto. Momento balano: todo o processo de
devising diferente mas todo o processo de devising tem grandes
listas. Que tipo de coisas gostaram, em que esto interessados? [os
alunos comeam a indicar improvisaes e cenas que apreciaram
no processo] Que tipo de coisa essa, estrutural? temtica? um
dispositivo cnico? [continuam a preencher as listas aceitando
todas as sugestes].
exerccio de composio AK: E se o espectculo fosse amanh?
A diferena entre dizer que faremos o espectculo amanh e dizer
que o faremos esta noite que, se fosse esta noite, teriamos que
o fazer com as coisas que esto na sala, enquanto que deste modo
vocs podero conseguir material que precisem. Organizem-se
206 |
alexander kelly
em pequenos grupos de quarto e escolham algum para falar pelo
grupo; o objetivo que vocs arrumem as vossas ideias num espectculo; meia hora para preparar. Algumas orientaes: cada um
apresenta a sua ideia sobre como o espectculo ser e os outros
elementos do grupo podero fazer perguntas encorajadoras que
ajudem a desenvolver a ideia.
exerccio de escrita AK: Deixem-me ler-vos alguma coisa que
escrevi outro dia: Quando eu tinha a vossa idade eu no tinha
telefone celular, nem mesmo um telefone, havia apenas quatro
canais de televiso. (...) [o texto continua a explorar o olhar pessoal
sobre o tempo a partir de objetos e tecnologias] Quando tiverem a
minha idade, trinta e oito anos, que objetos tero as pessoas com
a vossa idade de agora, vinte e dois anos, que vocs no tiveram?
Isto uma pergunta s para pensarem, agora algumas perguntas
especficas: Quais foram as diversas previses sobre como o ano
de 2008 seria? Quais so as previses para os prximos anos e
para 2058, em particular? Qual a esperana mdia de vida para
pessoas nascidas neste ano? Que objetos sero normais dentro
de vinte anos? Como um dos grupos referiu, h esta ideia de que
a tecnologia chega primeiro s pessoas mais ricas: dem alguns
exemplos.
[14, queen square, 28.04]
direo de encenao AK: O nosso prximo passo descobrir o
que o espectculo , qual a tarefa ou o trabalho da pea, assim
que eu penso nisso, o que que estamos a fazer na pea. Ento, a
207
folha de presenas
sesso
nossa prxima tarefa descobrir o que que o espectculo ; por
exemplo, em Presumption [um espectculo do grupo Third Angel
do qual AK director artstico], a tarefa principal que existem
dois performers e quando eles querem fazer uma cena tm que ir
buscar o mobilirio para isso. Eu tenho uma espcie de ideia que
poderia incluir as vossas sugestes num formato e vamos trabalhar
sobre ela praticamente toda a segunda feira; porque ns s temos
mais oito dias de trabalho.
exerccio de composio cnica [as mesas esto dispostas numa
linha paralela ao comprimento da sala, estabelecendo uma rea de
jogo e outra de espectadores] AK: Como todos fizeram pesquisa
sobre futurologia, envelhecimento, etc., vou pedir-vos para mostrar
e contar esse material, usando este espao, pensando que o pblico
est deste lado e os performers desee lado a. Ento, ser esta uma
tarefa de uma hora? [os alunos dizem que sim] Mo: Ns vamos
apresentar como ns-mesmos? AK: Sim e com isso vocs podem
ver que vos estou a levar numa certa direo enquanto grupo. OK,
partida!
[14 queen square, 05.05]
direo de encenao [o espao est preparado: uma fila de cadeiras para os atores ao fundo da area de jogo, uma fila de mesas,
uma fila de cadeiras do lado do pblico] AK: OK, se o espectculo
fosse amanh, no haveria nenhum objeto pendurado, haveria
esta lanterna desmontada em cima da mesa, talvez algumas de
vocs ainda estejam a recolher histrias, talvez todas, seria inte208 |
alexander kelly
ressante se a cada membro do pblico pedissemos uma histria,
vocs entram, o ltimo espectador entra, o Peter senta-se mesa,
monta a lanterna, a Becky levanta-se e vai at ao interruptor, o Peter
acende a lanterna e aponta-a para a Becky, ela apaga as luzes e o
espectculo comea. Depois eu no sei se tudo vai sando e no final
o espao est cheio de objetos, ou se no final o espao est limpo de
novo, como se tivesse sido a lanterna a fazer tudo. Tenho uma lista
de coisas que acho que deveriam estar no espectculo, talvez vocs
tenham alguma coisa a acrescentar a isto.
desenvolver jogo com lanternas AK: Vamos ter metade
de vocs a jogar Quando for velho e ver como funciona neste
espao, com as lanternas. (...) Bom, olhos exteriores, o que funcionou, o que foi til? Pauline: Iluminar os ps foi interessante.
Mo: Mas eu no gostei que eles se mexessem muito. (...) AK:
Vamos ser um pouco mais rigorosos com as regras: s podem
dar um passo quando se querem aproximar da pessoa com quem
esto de acordo. Betty: E eles, por vezes, s dizem No futuro...
e no Quando for velho.... AK: ... o que lhes d um toque mais
pessoal, no ? Vamos trocar de equipes e prestar mais ateno a
estas regras.
frase solta de kelly
Este o momento em que tornamos tudo confuso e depois voltamos a colocar tudo em ordem. Tambm o momento em que
dizes para ti mesmo: Sempre funcionou antes.
209
folha de presenas
sesso
[14 queen square, 06.05]
exerccio de escrita AK: Respondam pergunta: sobre o que
o espectculo? As respostas devem ser simples, de uma frase, a
vossa resposta pessoa e no h certo ou errado.
listas AK: Precisamos fazer uma lista de Partes Definitivas,
para comearmos a ter uma estrutura, e de Decises Eminentes,
algumas decises sero mais fceis de tomar quando comearmos
a tom-las, h uma espcie de efeito domin. Partes Definitivas:
busca da chave, mltiplas linhas temporais, nmeros de patentes,
moas das pranchetas... Decises Eminentes: onde que os atores
se sentam? Testar os copos de plstico... [os alunos vo indicando
unidades] H ainda coisas que ns deveriamos ter aqui? Acho que
temos cerca de cinquenta minutos de material aqui. [os alunos
concordam, esto cansados] OK, vamos fazer um intervalo.
frases soltas de kelly
Eu no quero ser redundante mas o teatro uma arte visual.
A necessidade a me da inveno: temos que ser fiis a uma
regra que, neste caso, que toda a iluminao tem que ser manuseada mo.
L porque divertido de fazer no quer dizer que seja divertido
de ver.
O espectculo no vai ser todo escrito, gosto da energia quando
no , mas h materiais que vocs devem saber e ser capazes de
210
alexander kelly
repetir; vai ser improvisado mas com certeza vai haver algum
responsvel por acabar.
[14 queen square, 12.05]
direo de encenao AK: Penso que agora vamos comear a
juntar algumas coisas e a construir at termos um esboo geral e
depois vamos trabalhar o detalhe, o que significa que tero que ter
muita concentrao porque no estaro a trabalhar todos ao mesmo
tempo. Vamos fixar uma folha de papel na parede e eu poderei
desenhar-vos o que penso que o espectculo [dois alunos fixam
uma longa folha de papel na parede com fita adesiva, outros cortam
pedaos de papel menores] Ento, o espectculo funciona assim:
temos as moas com as pranchetas l fora, elas trazem os ltimos
membros do pblico, eles sentam-se, est a lanterna desmontada em cima da mesa... a Kate l um texto introdutrio e diz algo
como OK, o Peter monta a lanterna e diz algo como Bacano, a
Becky apaga as luzes e ns comeamos a coreografia das lanternas,
excepto as moas das pranchetas e talvez o John, porque ele fez a
investigao sobre electricidade e lanternas; quando ele est perto
do fim, as moas das pranchetas entram e as lanternas apagam-se
uma a uma e ficam apenas as canetas-lmpada; depois a Tara faz
o seu solo sobre a almofada; depois acho que temos as citaes do
futuro porque o texto da Tara nos leva longe no passado; a partir
deste ponto todos utilizam os respetivos nmeros de srie; [para a
Rachel, que ajuda com os pequeno papis] podes fazer um papel
para o chapu de cowboy da Jena, outro para a garrafa da Cathleen
e outro para o baton da Laura? [Rachel prepara os papis e AK cola211
folha de presenas
sesso
os com fita sobre a folha de papel grande, em sequncia] Penso que
este grupo termina a primeira parte do espectculo e que depois a
Mo vem e tira a garrafa Cathleen e apodera-se da cena, penso que
isto ser sensivelmente metade do espectculo; quando o grupo
final comear, teremos a segunda seo das moas das pranchetas
e a percurso e penso que esta seco termina com a perda do
chapu de cowboy da Jenna; depois, penso que teremos o material
da futurologia. Hoje vamos tentar apanhar a estrutura em trao
grosso porque as coisas podem mudar. [11.12, os alunos comeam
a fazer sugestes sobre a organizao da estrutura] Vamos tentar ter
uma estrutura muito coesa e depois vocs encontraro o momento
para trazer propostas, penso que dever haver um certo grau de
improvisao no espectculo.
diviso de tarefas [AK repassa a estrutura do espectculo com os
alunos fazendo as coisas e ele dando direes, comeando a estabelecer a ordem em que os alunos entram nos momentos colectivos,
comea uma nova Lista de Trabalhos como Produo, Publicidade,
Adereos...; os alunos esto desconcentrados com o ritmo necessariamente lento e o fluxo interrompido da experimentao; AK
forma grupos de alunos para escrever seces de texto] AK: Penso
que hora de almoo, pessoal. [11.15, 13.01]
ensaio parte i AK: O que vamos fazer um coxeado, o que se
ope a um corrido, para ter uma ideia de como tudo est. Ento,
quando no for o vosso momento particular, o vosso trabalho
ficar silencioso e concentrado. [fazem uma passagem] Certo, agora
eu compreendo o espectculo. Betty: Podemos fazer uma roda
212
alexander kelly
de sugestes? AK: Sim, por razes prticas, vamos neste sentido.
[os alunos sugerem que as moas das pranchetas no deveriam
estar todo o tempo em cena, notam que o objeto da Tara no foi
suficientemente iluminado, sugerem cortes de texto, etc., AK concorda com a maioria e diz ter solues] Penso que no podemos
ignorar as mesas: durante a primeira parte do espectculo ns no
viremos para este lado das mesas e levamos o pblico a pensar
que teremos um espectculo que apenas se passa desse lado das
mesas; quando a Mo apanha a garrafa as coisas tornam-se mais
livres e quebramos a regra. (...) Penso que precisamos de passar de
novo e re-marcar e provavelmente vai encolher para vinte minutos. [14.15, 15.15]
[14 queen square, 13.05]
exerccio de escrita AK: Uma srie de questes: que espao crimos? Isto levou-me a pensar que deveramos trazer as mesas para
mais perto do pblico porque estamos a criar um espectculo no
qual apresentamos e mostramos objetos ao pblico. Sobre o que
o espectculo? Ainda no sei. Qual a tarefa do espectculo? Fazer
uma apresentao da nossa investigao luz de lanternas; ver
como podemos impressionar o pblico com diferentes modos de
iluminao seguindo a regra de que tudo tem que ser manuseado;
ainda no est claro para mim. Quem ns somos e quem o pblico? Eu gostei do comentrio da Becky, quando disse que sentia
ter sido convidada para um laboratrio de investigao, penso que
interessante por vezes esquecermos o pblico mas para o fazermos teremos que o reconhecer a dado momento. Hoje eu gostaria
213
folha de presenas
sesso
de trabalhar outro tero: gostaria de ver as citaes sobre o futuro,
o texto da Mo... [10.37, 11.16]
frase solta de kelly
Uma das coisas no trabalho de devising ou de ensinar devising
quando as pessoas comeam a desorganizar tudo e acontece que se
descobrem algumas coisas boas.
[14, queen square, 14.05]
direo da encenao AK: As boas notcias desta manh que
eu sei o que o espectculo: mostrar ao pblico os dezoito objetos mais importantes do mundo. A razo porque so dezoito
porque ns temos seis mesas e deveremos ter trs objetos em cada
mesa: faremos um tipo de tableaux renascentista. Temos ento
que remarcar algumas coisas porque cada objeto ter um lugar
determinado [os alunos festejam]. Porqu os dezoito objetos mais
importantes? Porque o mundo, o nosso mundo, tanto os objetos
nele, os objetos que nos rodeiam como qualquer outra coisa: h
a natureza, h os objetos e entre os dois h as pessoas; objetos,
coisas existem mesmo quando ns no estamos l com elas.
ensaio partes i e ii [os alunos prepararam o espao; AK relembra
os blocos iniciais e fazem uma passagem com AK interrompendo
para rearranjar certas seces, definir a posio de alguns objetos;
os alunos a dado momento esto a andar sobre as mesas, respeitando o principio segundo o qual importante experimentar todas
as ideias e deixar que a cena decida; chegam ao fim da parte II] AK:
214
alexander kelly
OK, meio dia, vamos passar tudo. Becky: Podemos fazer um
intervalo? AK: Cinco minutos de intervalo. Ao meio dia e cinco
comeamos uma passagem.(...) Preparem-se. Lembrem-se do que
eu disse: o espectculo sobre vender estes objetos para ns! Ento
a vossa apresentao deve passar alm da mesa! John: Podemos
experimentar diferentes vozes? AK: Sim, podem experimentar
novas coisas dentro da estrutura: novas falas, novos movimentos,
aprecio isso. (...) Foi at aqui que chegmos? Tem quase cinquenta
minutos. Mas no se preocupem, tudo ficar muito mais rpido.
Parabns! Hora do almoo, agora. [10.43, 13.04]
[14, Queen square, 15.05]
ensaio parte iii AK: Penso que fiz a terceira parte do espectculo
[AK reposiciona alguns papis na folha grande do roteiro] Hoje o
que vamos fazer esta ltima parte do espectculo, depois passamo-la e depois vamos ver os monlogos. Eu no sou coregrafo,
por isso penso que a Molly pode fazer a coreografia dos ps; depois
da cano da Cathleen, quatro pessoas fazem a dana das lanternas
nas pernas e isso leva a Mo a parar. Penso que hoje no vamos
fazer uma passagem de tudo, qualquer benefcio que da adviesse
perder-se-ia com a paragem do fim de semana, faremos um corrido como deve ser na segunda feira. [AK explica a sua ideia para o
resto do espectculo, Cathleen fixa novos pedaos de papel no roteiro] Nesta parte podemos ter mais coisas a acontecer ao mesmo
temo e depois a Tara termina porque o seu objeto aquele com
mais valor pessoal. Vamos experimentar a partir do ponto onde
deixmos ontem? Ser que todos podem fazer aquilo que acham
215
folha de presenas
sesso
que precisam para passarmos a ltima parte? [preparam-se e comeam a montar] () Eu gostaria de delegar a responsabilidade
de dicidir quem faz o qu nesta seco a vocs porque eu gostei
do que aconteceu na quarta feira e porque me interessa alguma
improvisao durante o espectculo. Eu vou repassar as camadas
uma ltima vez. () [uma passagem] Luzes acesas! Toda a gente
sentada. Tal como previsto, isto durou meia hora; quando fizermos
esta tarde, ter quinze minutos. [pausa para almoo] AK: Quando
estiverem prontos, sentem-se nas cadeiras dos atores. Certo! Est
toda a gente pronta? OK, vamos passar esta parte de novo. No se
preocupem demasiado com as camadas, pensem s que o espao
dever estar mais e mais movimentado a partir deste momento
at ao monlogo da Tara; a regra que as velas, os copos de gua
e o andar pelo espao entram a qualquer momento, sintam o momento. (...) Poderemos estar a experimentar diferentes finais at
estreia, estejam preparados. Apagar as luzes! [10.05, 15.09]
lio de casa AK: Algumas tarefas de fim de semana: enviem-me
os vossos textos; tanto quanto possvel, saibam os textos e saibam
as ideias, compreendam-nas; a sequncia do espectculo est determinada, familiarizem-se com ela; ainda h algum espao para
ideias de detalhe; podem fazer o vosso texto para algum como
uma conversa porque eu tenho conscincia de que ns fizemos
muito trabalho sobre o contedo mas no muito sobre proferir
[delivering]. [AK distribui fotocpias] Estas fotocpias so do livro
How Are Things, para terem uma ideia de como o tipo fala sobre
objetos; so para ler durante o fim de semana para que entrem no
216
alexander kelly
crebro.
[14, Queen square, 19.05]
ensaio corrido [os alunos regressam do almoo, preparam tudo
para o segundo corrido do dia] AK: Certo! Sentem-se aqui. Mo:
Precisamos do caderno de notas? AK: A no ser que tenham
memria fotogrfica. Bom, eu apanharia o meu. Ento, o maior
problema tem que ver com ritmo: ns deviamos reduzi-lo em cerca
de quinze minutos, sem cortar nada, apenas acelerando as coisas.
Ento, Jenna, um pouco mais de contacto visual com o pblico. (...)
As regras para o jogo das lanternas: acendam a lanterna com ela a
apontar para baixo sobre a mesa; deixem-se influenciar pelo ritmo
das pessoas que esto ao vosso lado; depois apaguem-na antes de
deixar a mesa. (...) Moas das pranchetas, o tom que tinham na
seco trs o tom que tm que ter desde o comeo: no se trata de
saber as palavras mas aquilo que esto a dizer; devero falar para o
pblico como se contassem estar histrias pela primeira vez, como
se o publico soubesse que estas histrias acabam de ser recolhidas.
(...) No plano da clareza, cada vez que introduzem um novo objeto
vocs deveriam comear forte para que toda a gente saiba que o
centro agora est em vocs. (...)S mais uma coisa, por favor, mantenham-se concentrados. Esta ltima seco foi bem mas penso
que nunca atingiu a quarta marcha. Penso que toda a gente pode
ser mais forte se estiver claro que quem est a atuar est apenas a
atuar para aqueles espectadores que esto sua frente, isso deixar
o pblico confortvel com a situao. Certo, cinco minutos para a
prxima passagem. (...) Muito bem, lembrem-se: rpido, rpido,
217
folha de presenas
sesso
rpido. (...) Muito bem! Cinco minutos e depois notas. Muito
melhor! () Amanh de manh estamos aqui s onze. Precisamos
de mais onze cadeiras. [15.06, 17.20]
218
4 | produo de presenas
produo de presenas
produo de presenas
Acredito que um pensamento anlogo pode ser estabelecido se considerarmos o caso do que tem sido chamado teatro performativo e
psdramtico, sendo talvez possivel conseguir uma compreenso
mais justa do amplo espectro de conceitos, procedimentos e valores
que lhe esto associados por via de uma implicao em processos
que se animem por parmetros semelhantes. Com efeito, parece
necessrio estimular nos alunos o desenvolvimento das suas prprias linguagens discursivas, em articulao com o pensamento de
outros fazedores de teatro mas a partir das suas experincias em
sala de ensaios. Nesta medida, pesquisa em artes e pesquisa em
ensino artstico retroalimentam-se, pois as metodologias de investigao centradas no fazer artstico partilham elementos e valores
com outras metodologias pedaggicas estabelecidas ao longo do
sculo XX e que esto hoje largamente implantadas um pouco por
todo o mundo. Como nota a professora Estelle Barrett,
Philosophies elaborating the relationship between art and knowledge,
and in particular, between research, practice and alternative modes of
logic and knowing also pertain to pedagogical approaches variously
understood as experiential, action or problem-based learning. Moreover,
methods adopted in studio-based research often correspond with the
aforementioned approaches to learning and hence may have specific
application for the refinement and extension of such pedagogies.
(barrett et al 2010: 3)
Este movimento em defesa da elaborao de metodologias de investigao em artes fundadas na prtica criativa tem significativas
consequncias para as concepes pedaggicas nos diversos graus
de ensino, apesar de ter sido considerada privilegiadamente no
nvel de ps-graduao. Como refere ainda Estelle Barrett,
226 |
227
produo de presenas
4.2 | da beleza ou
o sistema nervoso dos
peixes
fez-me experimentar estados corporais fora do estritamente quotidiano, conduziu-me por uma explorao de territrios vocais e
de estratgias enunciativas inabituais. Foi ainda um mapeamento
e uma reescrita desse territrio movedio e de penumbra que o
imaginrio, o qual espreita e apenas se deixa intuir nos gestos e
nas palavras.
Ter uma alma para as pedras, os metais, a gua, as plantas, acolher em
si todos os objetos da natureza, do mesmo modo que as flores absorvem
o ar com o crescer e o minguar da lua, deve ser um sentimento de uma
infinita beatitude. Em todas as coisas h uma harmonia inefvel, um
cntico, um estado de graa. (Georg Bchner, Lenz)
O processo de pesquisa e criao desenvolveu-se em quatro ciclos,
entre o final de outubro de 2006 e a primeira quinzena de fevereiro
de 2009, tendo o objeto final sido apresentado no Espao Viga (So
Paulo, 2008) e no Teatro Taborda (Lisboa, 2009). Considerando o
objetivo de estudar o modo como os diretores pedagogos Antnio
Januzelli e Carlos J. Pessoa articulam os seus processos de ensino
com os processos de criao, o projeto permitiu experimentar e
refletir sobre duas concepes distintas de presena do ator no
fazer teatral: Januzelli revelou-se mais centrado no problema da
presena no momento da atuao num determinado quadro de
determinaes estticas e nas condies que acredita contribuirem
para esse fenmeno, Pessoa mostrou-se mais preocupado com as
questes associadas presena do ator no processo de composio,
sob o signo da autonomia e da autodeterminao das opes artsticas. Comeo por uma contextualizao do trabalho em termos
artsticos, focando em espetculos dos diretores implicados mas
tambm em objetos cnicos que foram significativos para mim du229
4.2.1 | context0
A um porco. Estamos a uns dois, trs metros dele, o porco est
sozinho, encurralado entre ns e as duas paredes do canto. No
estamos num teatro, um pequeno armazm ou algo assim. um
porco homem, terno um pouco usado, cales, est sem camisa. A
resistncia da lmpada entorna uma luz mbar tpida, ns sabemos, ele vai morrer. Quando chegmos, ele j estava aqui, vamos
segui-lo sada pelas escadas, vamos tocar-nos algures nestes
cinquenta minutos. Que teatro este? Homem porco, punhos ligeiramente fechados, sua, roja-se, confessa-me. Quase nada aqui,
um balde, um porta encostada a um canto, um pedao informe de
barro suspenso, por um fio. No sabemos, quando comeou a vida
e terminou o teatro. A meu lado, os espectadores acompanham
atentos o fluxo das palavras, o movimento contnuo e lento, cada
olhar. Neste espetculo centrado no ator, tambm um homem s,
frgil consciente das suas ltimas horas, na ruminao dos aspectos elementares da condio existencial, eu no sabia na poca, ele
230 |
233
4.2.2 | estratgias
Experimentei processos dramaturgicos bastante diferentes com
cada diretor: o progressivo estabelecimento do roteiro ao longo de
improvisaes com Antnio Januzelli e o pragmtico delinear do
guio na mesa com Carlos J. Pessoa levaram-me por percursos
distintos construo do texto. Tambm as opes de economia
da cena foram distintas, com o diretor brasileiro a enfatizar a austeridade de materiais plsticos e o diretor portugus a construir
momentos a partir de imagens e objetos. As diferenas na direo
observaram-se tambm na relao dos encenadores com o trabalho
do ator em cena: enquanto Antnio Januzelli acompanhou intensamente os ensaios e os diferentes momentos do processo, instilando
a sua viso na atuao, Carlos Pessoa foi mais parcimonioso na sua
presena, preferindo dar espao para que o meu trabalho se desenvolvesse com autonomia. Perante a necessidade de estabelecer
vizinhanas, diria que a direo de Antnio Januzelli se aproxima
da via negativa de Jerzy Grotowski e que a de Carlos J. Pessoa algo
prxima da estratgia construtivista imagem-movimento-texto de
Bob Wilson. Coincidentemente, ambos se interessaram pelo acaso
e os materiais encontrados, tanto um como o outro enfatizaram a
relao entre arte e vida, os dois quiseram ver respeitada a minha
singularidade. Com ambos, tive a oportunidade de conversar, de
discutir e de refletir sobre modos e o sentido de fazer teatro nos
nossos dias, aprendi e diverti-me muito; tive a sorte de partilhar
momentos de grande cumplicidade com duas pessoas para quem
fazer teatro uma arte de ser.
Foi no trabalho com Januzelli que a questo da presena do ator
234 |
colocou-se de modo premente, dentro da viso de que a cena teatral uma conveno que s existe quando h algum que atua
e algum que observa essa atuao e o observador s permanece
nessa funo quando existe uma atrao naquilo que o ator executa
em cena, centrada no ator - im que, estabelecendo um campo
magntico, polariza a ateno do homem espectador. (januzelli
2007: entrevista em anexo). Com ele, a investigao sobre a atuao psicofsica foi desenvolvida de forma continua e aprofundada,
com um trabalho minucioso nos diferentes planos das partituras
de ao. A esta nfase na importncia da intensidade da presena
em cena, com Januzelli desenvolvi a dramaturgia utilizando tanto
materiais textuais escolhidos por mim, como materiais pessoais
desenvolvidos a partir de improvisaes. Assume, portanto, uma
postura que procura valorizar a implicao do ator na elaborao
da dramaturgia, fazendo do processo de trabalho uma experincia
existencial. O ator atual, iniciado em laboratrios dramticos, pela
elasticidade que adquire tanto na capacidade expressiva quanto
criativa torna-se investigador da sua linguagem (januzelli 1996:
86). Em certo sentido, Januzelli articula a presena em cena do
ator com a implicao deste no processo de composio e com a
integrao da atuao na prticas existenciais da pessoa, num processo que passa por um sacrificio das mscaras do ator.
As estratgias de produo desenvolvidas com Carlos J. Pessoa
mostram tambm um interesse pela noo de presena, aqui na
responsabilidade do ator pela escrita cnica. Se no processo com
Pessoa ouve trabalho sobre a atuao, talvez sempre tenha pairado
sobre o processo o espectro do fazedor de teatro, aquele que faz
no palco e fora dele, sendo que s vezes fora do palco bem mais
235
236 |
4.2.3 | processos
O processo de criao do monlogo da beleza ou o sistema nervoso
dos peixes envolveu quatro ciclos de criao, governados por um
movimento de vai-e-vem entre Lisboa e So Paulo. O primeiro ciclo
desenvolveu-se em duas fases de trabalho com Antnio Januzelli,
a primeira entre vinte e sete de outubro e trs de dezembro de
dois mil e seis, a segunda entre um de agosto e seis de dezembro
de dois mil e sete, data ltima esta em que realizei uma primeira
apresentao pblica do trabalho no cac / usp, intitulada ou o sistema nervoso dos peixes.
27.10.06, teatro do CAC: selecionar trechos na primeira pessoa, uma cena
de excesso, e, os ncleos dramticos; ver o filme Estamira; identificar as
carncias pessoais, os choques [caligrafia de Antnio Januzelli]. Seguese o resumo de uma improvisao no preparada que incluiu leitura de
diversos trechos do texto Lenz.
duas linhas Explorao de dois caminhos paralelos que, como tal,
no espao curvo, se cruzam nos plos: por um lado, a transposio para uma linguagem cnica da narrativa, por via da seleo
progressiva e experimentao de unidades de ao, de excertos do
texto; por outro, a investigao com materiais pessoais do ator,
associados a desejos e necessidades reconhecidas. Duas linhas
abrindo um campo de tenso, criando uma terra de ningum, uma
zona de indiscernibilidade. Este duplo trabalho teve lugar em sala,
explorando principalmente procedimentos de improvisao, ora
livre, ora estruturada por aes, imagens e passagens da narrativa,
por norma aps uma sesso de massagem inicial que integrava o
protocolo de aquecimento para o trabalho. As improvisaes de237
outros volumes de Mil Plats, assim como a de outros ps-estruturalistas franceses, como Jean-Franois Lyotard, em particular O
Inumano (1997) e Answering the Question: what is postmodernism? (1984), e Michel Foucault, nomeadamente A Hermenutica
do Sujeito (2006), desempenhou um papel de fundo no que diria
ser uma progressiva reelaborao da minha viso da natureza, dos
homens e do fazer artstico.
jejum Dentro ainda da discusso deste primeiro ciclo de trabalho,
gostaria de salientar uma experincia de vinte e quatro horas de
jejum, que decidi levar a cabo na sequncia de ter estado presente
numa conferncia sobre pedagogia da performance, realizada por
Lucio Agra (2007), entre outros. Uma das coisas que se debateu
nesta palestra falou-se da possibilidade de pensar a pedagogia por
uma perspectiva da negociao entre professor e alunos de protocolos de experimentao com o dia-a-dia. sada desta sesso
decidi realizar esta experincia de abstinncia alimentar por vinte
e quatro horas, induzido tambm pelo fato de o texto referir que
Lenz o havia feito. Foi durante esta experincia que, andando pela
USP, me deparei com um co coxo que me fez lembrar simultaneamente do poema de Charles Beaudelaire O Albatroz e de
uma situao em Espera de Godot, de Samuel Beckett (2001),
quando um dos protagonistas enfrenta dificuldades em descalar
a sua bota: Lenz, poeta, anda desajeitadamente porque as asas lhe
dificultam os passos, ele tem uma pedra no sapato. Decidi literalizar este nexo, colocando uma pedra no sapato antes do incio
da apresentao, a qual viria a revelar aps o momento de crise e
catarse de Lenz junto ao padre.
242 |
Figura 1 | capela
primeiros ensaios foi estabelecida a quase totalidade do texto, definimos o espao de apresentao como sendo uma pequena capela
em desuso, sob o Teatro Taborda, e Pessoa delineou a movimentao de base no espao, distribuindo as unidade dramaturgicas
por diferentes zonas do local. Foi tambm logo no segundo encontro que Pessoa sugeriu um conjunto de objetos, mobilirio e
iluminao, estabelecendo os contornos gerais da atmosfera, bem
como uma imagem que desejava ver testada, derivada do desenho
O Homem Vitrviano, de Leonardo Da Vinci. Tratou-se, portanto,
de um gesto onde a interveno do diretor se assumiu com clareza
como aferidor dos contornos dramatrgicos e plsticos da cena, a
partir da minha proposta inicial tanto do texto, quanto do espao.
espao encontrado Em contraponto a esta forte participao na
definio das bases do projeto, Pessoa esteve ausente nos primeiros ensaios que se seguiram e que realizei j no espao, experimentando e reelaborando as propostas iniciais de movimentao
no espao, fazendo a memorizao e apropriao do texto. Este
segundo momento de trabalho autnomo foi muito significativo
na medida em que pude explorar com bastante liberdade o uso
das singularidades do espao, que no conhecia e do qual apenas
conhecia a existncia, bem como dos objetos sugeridos por Pessoa
e daqueles que se encontravam no local, entre os quais trs velhas
vigas de madeira que j estavam na capela. Foi durante este perodo que surgiu a possibilidade de realizar a imagem dO Homem
de Vitrvio com um dos toros de madeira, o movimento global de
arrumar a capela, bem como o uso do espao externo da capela
para realizar tanto o prlogo, quanto o final, aproveitando o caminho que leva para o antigo bar, situado abaixo: Lenz termina indo
245
Figura 2 | poro
248 |
255
[prlogo]
narrador Dia nove de Fevereiro, quando saem do vale em direco a oeste, Lenz est calado e quieto, entregue a uma fria resignao. Pouco lhe importa onde o levavam e nenhuma impresso
lhe causam as perigosas oscilaes da carroa que o mau estado
do caminho ameaa virar diversas vezes; tudo lhe absolutamente
indiferente. Ao anoitecer, atingem o vale do Reno. Afastam-se a
pouco e pouco das montanhas que se erguem agora no poente
como vagas de cristal azul, onde cintilam os raios avermelhados
do crepsculo. Sobre a plancie, no sop dos montes, paira uma
teia azulada, luminosa. Cai a noite medida que se aproximam
de Estrasburgo. No cu, a lua cheia, muito alta, no consegue tirar
as coisas das trevas, e ao longe s a linha ntida da montanha se
desenha. A terra uma taa de ouro, onde o luar entorna as suas
ondas espumosas e douradas. Lenz contempla o mundo exterior
com um olhar calmo, sem perturbao nem violncia, mas quanto
mais os objectos se afundam na escurido, mais cresce dentro de
si um medo surdo. Param numa estalagem, para dormir. Nessa
noite, ainda esboa algumas tentativas de se suicidar, mas esta
bem vigiado. Na manh do dia seguinte, com um tempo escuro
e chuvoso, Lenz entra em Estrasburgo. Parece calmo, senhor de
toda a sua razo. Fala com as pessoas. Procede como toda a gente.
Mas h nele uma ausncia completa de desejo ou de inquietao.
A existncia, agora, pesa-lhe, a existncia, um fardo necessrio. wk
Sesswegen, Cesvaine, Sesswegen na Letnia; Livmo, Livonija,
Liivimaa, Livland, Liwlandia, Liflyandiya. A 23 de Janeiro de 1751,
na vila rural de Sesswegen, nasce Jakob Michael Reinhold Lenz; a
4 de Junho de 1792, numa rua de Moscovo encontrado morto.
Escritor.
[lenz]
narrador 20 de Janeiro. Lenz parte para as montanhas para encontrar o pastor Oberlin. Cumes e planaltos nevados, encostas de
pedra cinzenta descendo sobre os vales, espaos verdes, rochas
e abetos. Faz um frio hmido; a gua jorra das penedias, caindo
sobre os atalhos. Os ramos dos abetos pendem, pesados, no ar chuvoso. No cu passam nuvens cinzentas, tudo opaco! e depois
o nevoeiro ergue-se aos borbotes, arrasta-se, pesado, hmido,
atravs das moitas. Lenz no sente cansao algum; mas, por instantes, -lhe desagradvel no poder andar de cabea para baixo.
No compreende como precisa de tanto tempo para transpor uma
encosta; pensa que devia poder tudo ultrapassar em poucos passos.
Tudo lhe parece simultaneamente pequeno e prximo, e hmido;
quer pr a terra lareira, a secar. Por vezes, quando o vento atira
a bruma para o vale e o seu vapor sube ao longe, bordejando as
florestas; quando as vozes se elevam nos rochedos, semelhantes
ao eco do trovo morrendo na distncia, ou a mugidos poderosos,
de tal intensidade que parecem querer, na sua alegria selvagem,
cantar louvores terra; quando nuvens se aproximam, ofegantes
cavalos em suor, relinchando; quando o sol perfura a neblina e
o banha, lanando o seu dardo faiscante sobre as planuras geladas, um trao de luz fortssima, cortando o espao, transpondo os
cumes e inundando os vales; ou quando o vento rasga as nuvens
formando no cu um lago de um azul transparente, e os bramidos
se calam e, das gargantas profundas ou dos altos abetos, se eleva
um murmrio, uma cano de embalar ou um tocar de sinos que o
vento agitasse; ou quando sobe pelo azul fundo um breve luar vermelho, e pequenas nuvens passam sobre asas de prata, enquanto
todos os cumes cintilam, agudos e firmes, no longe para alm da
paisagem , Lenz sente dilacerar-se-lhe o peito; detem-se, ofegante, o corpo para a frente, a boca aberta, os olhos extasiados.
[natureza]
narrador Ressurgiem nele antigas esperanas... E um dia ao
romper da manh, sai. Sai ao romper da manh. Nevara durante a
noite, mas agora o sol comea a iluminar o vale, apesar do nevoeiro
que, ao longe, mal deixa transparecer a paisagem. Depressa abandona a estrada, subindo uma colina em declive suave. Na floresta
de abetos, no h vestgios de passos. O sol recorta cristais nos
altos ramos, a neve, em flocos, leve; aqui e alm, tnues vestgios
de passagem de animais selvagens em fuga para a montanha. No
ar, nenhum movimento, apenas o rumor quase inaudvel de um
pssaro a sacudir a neve da cauda. Ao longe, as asas brancas das
rvores ondulam no azul profundo. Tudo serenidade, e pouco a
pouco Lenz sente-se livre, desafogado. As superfcies e as linhas
montonas, poderosas, que por vezes julgara ouvir falar-lhe com
acentos velados, ocultam-se. Invade-o um clido sentimento; pensa
por momentos que a me lhe vai aparecer, grande, atrs de uma
rvore, a dizer-lhe que tudo aquilo um presente que preparara
para lhe oferecer. Ao descer uma encosta v o arco-ris a enquadrar-lhe a sombra, uma grinalda de raios de luz; qualquer coisa o
atinge na fronte.
[casebre]
narrador No fim de Janeiro o tempo melhora, o pastor Oberlin
decide visitar o seu amigo, o fisionomista Lavater. Lenz quer acompanhar Oberlin at montanha, e separaram-se na outra vertente,
no stio onde os vales se alargam e se afundam na plancie. Regressa
sozinho, errando na montanha ao acaso pelos caminhos. A mole
gigantesca dos penhascos nus assomba as ravinas; raream as florestas, s se avistam linhas poderosas e, mais ao longe, a extensa
plancie enevoada. Sopra um vento violento naquelas paragens,
virgens de qualquer trao humano, com excepo, aqui e alm, de
uma cabana abandonada no flanco da montanha, onde os pastores
passam o vero. Lenz sente-se calmo, cheio de paz, um sonho o
embala. As coisas confundem-se numa s linha, uma onda que se
alteia e desaba entre o cu e a terra. Lenz tem a impresso de estar
deitado beira de um mar infinito que ondula docemente. (um
tempo.) noite cerrada quando alcana um casebre. Da janela,
filtra-se uma luz mortia. Espreita. joo V-se um grande sinal no
cu - uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos ps e uma
coroa de doze estrelas na cabea que, achando-se grvida, grita
com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar luz. V-se
tambm outro sinal no cu - e eis um drago, grande, vermelho,
com sete cabeas, dez chifres e, nas cabeas, sete diademas. A sua
cauda arrasta a tera parte das estrelas do cu, as quais lanou para
a terra; e o drago detem-se em frente da mulher que est para
dar luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascer. Nasce-lhe,
pois, um filho varo, que h de reger todas as naes, com ceptro
de ferro. E o seu filho arrebatado para Deus at ao seu trono. A
mulher, porm, fuge para o deserto, onde lhe havia Deus preparado
um lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e seis
dias. homem grisalho Ouvi uma voz na montanha e vi nuvens de
calor sobre os vales. narrador Um candeeiro pouco mais ilumina
que o rosto plido de uma rapariga sentada no escuro, de olhos
semicerrados, movendo os lbios de mansinho. Uma velha na
penumbra, de olhar fixo num livro de oraes, entoa um cntico
spero com voz fanhosa. A velha serve alguma comida. Mostra-lhe
um lugar onde dormir, sem parar de cantar. Passa algum tempo.
quarto, guardado vista por dois homens. J na cama, Lenz dizlhes: coutez mois! Nous ne voulons faire aucun bruit. Si vous
avez un couteau, donnez le moi! Sans rien craindre! Depois, como
lhe recusam a faca, pe-se a bater violentamente com a cabea na
parede. Atrado pelo rudo, vou ver o que se passa e tento acalm-lo
sugerindo-lhe que me acompanhe numa orao. Como resposta,
Lenz desafia os homens que o vigiavam. (um tempo) Ao romper
da manh, anuncio-lhe que o vo conduzir a Estrasburgo, onde
ser melhor tratado. Lenz suplica que o deixemos ficar mais oito
dias, mas de sbito resigna-se, arruma as suas coisas, despede-se
de cada um dos presentes com expresses de comovida gratido e
sube para a carroa, onde trs amigos meus o esperam.
[pregao]
bchner O crneo uma abbada artifical destinada a proteger
o seu hspede, o crebro, as bochechas e os lbios um aparelho
respiratrio e mastigatrio, o olho aparece como uma estrutura
complexa, as plpebras e as pestanas so as suas cortinas, enquanto as lgrimas so apenas gua em gotas para manter a humidade
- o homem reduzido a um autmato. payne Vamos l, vou catequizar-vos. No h Deus. Vejamos: ou Deus criou o mundo ou ele no
o criou. Se Ele no o criou, ento o mundo tem a sua causa em si
mesmo e no h Deus, j que Deus apenas se torna Deus na medida
em que contm a causa de toda a existncia. Por seu lado, Deus no
pode ter criado o mundo, pois, ou a Criao eterna como Deus,
ou ela tem um comeo. Se esta ltima opo for verdadeira, ento
Deus deve t-la criado num momento especfico. Portanto, tendo
estado na preguia durante uma eternidade, Deus ter que ter
ficado activo num certo momento; Ele ter que ter experimentado
uma mudana nEle mesmo, o que O sujeita ao conceito de tempo.
280 |
282 |
produo de presenas
4.5.1 | em Processo
Ao longo dos ciclos de criao houve uma agudizao da tenso
entre atuao ao vivo e mediao. Um gesto que aproxima o ator
de um manipulador de efeitos: disc jockey do teatro, hbrido ator
contra-regra e tcnico de cena. A produo de efeitos de presena,
por meio da dinamizao de acontecimentos cnicos que desestabilizam os modos de percepo e as expectativas mais convencionais perante o evento teatral investigada. O trabalho ainda se
encontra numa fase de desenvolvimento, prefigurando-se como
uma oportunidade para investigar questes relativas s cultura
digital contempornea.
videochamada frases de dana, objetos de escritrio, registos de
anteriores trabalhos: combinamos a hora para eu te apresentar o
corpo paisagem ntimo distncia o tempo lento nunca o rosto
arrasto da imagem falhas na transmisso som de m qualidade
cortina importante ter uma costura, cortina branca pano de
fundo encontros jogo de sombras espelhos imagens a promover a
tomada de conscincia de hbitos corporais misso incorporaes
que fazemos nesta vinda ao mundo a convite de outros, demanda
psicossomtica fracasso entrar e sair de campo de captao sonora
porque no foi possvel utilizar um microfone de lapela.
286 |
5 | presen 3000
5.1 | lisso
A primavera demora, Lisboa do outro lado do rio, o Frum Romeu
Correia acolhe a estreia da dcima quinta produo do Novo Ncleo
Teatro, grupo universitrio fundado em 1995. Toca a campainha,
a voz de Maria nas caixas de som recebe a Aluna, a aluna so trs
e h um aluno, ela entra, o uniforme desarranjado, desalinhado o
cabelo para a lio, o Professor recebe-a, so dois e h uma professora, ele recebe-a com perguntas inquisitivas, sentam-se frente a
frente, claro, h vrias frentes, comeam os exerccios. Um espcie de solfejo, de ditado musical, primeiro, dois pequenos coros se
entrelaam e recompem, figuras geomtricas buscam configurarse no palco vazio, verde das gravatas, laranja das cadeiras, olhares
traando linhas de fuga nos cantos da plateia, luzes contra-picadas.
Depois, as provas individuais, um frente a frente com os espetadores, ardilosas exposies, pequenas histrias onde se indistinguem
as aventuras das mais improvveis figuras csmicas e as biografias
destes jovens atores e atrizes, as luzes acendem-se enchendo a
sala. Algo no acontece (black out). Uma tela de cinema entra em
cena e desaparece sob a marcao lmnica, recortes interpostos de
filmes de Alfred Hitchcock, ele olha para trs, ela vira-se perscrutadora, sobressaltados num maravilhoso preto e branco, campo e
contra-campo remontados, eminncia de qu? Coleo de colees
de facas. Msica serena. Depois, entre as penumbras, reentram os
corpos docentes, sem mais trela para levar os afortunados alunos
a um destino soalheiro, ao som da guitarra eltrica que chia acompanhando o rumor do sistema de ventilao, defasados, parecem
nervosos; reentram, pelas coxias, iluminados pela luz fria das suas
pastas, os corpos discentes macaqueando as suas ltimas linhas,
293
presen 3000
presen 3000
5.2 | desconhecimento
J se sabe, os conhecimentos requerem, os artsticos em particular,
atualizao e reconstruo no campo prprio das experincias subjetivas, a aprendizagem artstica pode apenas fazer-se pelo aprendiz, por isso as estratgias ativas, o esprito de projeto, a ofcina de
criao. Na aprendizagem em oficina, o professor tem que estar o
mais implicado possvel para poder com a sua tocar a chama do
297
presen 3000
298 |
presen 3000
5.3.1 | sopro
Haver uma prtica de massagem, yoga, taiji quan, xingyi quan;
haver elementos do treino desenvolvido por Tadashi Suzuki e por
Theodoros Therzopoulos; haver rasaboxes de Richard Schechner.
Pois se h uma inteno de experimentar manobras como o relaxamento ativo, a respirao consciente, a articulao de imagens
mentais, comuns atuao teatral e ao desempenho marcial, meditativo e medicinal, estas prticas constituem um programa de
trabalho sobre si-mesmo: a circulao da luz interior. Januzelli fala
em ativar os trs centros motor, afetivo e racional, Zarrilli procura
a modulao da energia no dinamismo entre corpo, respirao e
imaginao, Vassiliev rebate o jogo do ator no plano da ao trans302 |
presen 3000
presen 3000
ao
recursos
valorao
partitura
presen 3000
5.4.2 | desenvolvimentos
E nessa curva, nesse giro est toda a diferena, est a deciso, a escolha, o desenho, a partitura que indica os pontos por onde passa
a ao, o caminho, as instrues: haver partituras de atuao
compondo as partituras da cena. Se passamos do desejo ao h
reflexo e no artesanato, tambm importante mas no bem um
fazer, mais um ser feito, tem o seu tempo depois da partitura
elaborada em conjunto para levar adiante a ao compartilhada no
tempo, o que no quer dizer que todos tenham o mesmo ponto de
vista: aqui se imbrica a cena e o texto para Pessoa, com Kelly se
passa do jogo ao material cnico, nos colocamos como Etchells em
problemas. Para mim, o que importa fazer um plano, negociar as
rendies, atacar juntos, um processo de produzir processos, ciclos
de produo encadeados: o jogo tornado improvisao, a improvisao tornada sequncia de ao, as aes cenas. Mesmo quando
se trata de um texto dramtico ou do que dele restar, abrir a cena
e ver as suas inflexes, as dinmicas, a pontuao, encontrar as
inflexes. Talvez as partituras se fechem pouco a pouco dentro de
cada ciclo da roda, primeiro em mdulos mais ou menos independentes, depois as partes reunidas num prottipo, para testes: talvez
310
5.4.3 | trilhos
Far-se- ento a anlise, construtiva, rigorosa. Separar outra vez: o
que se gostou, o que foi interessante, o que til: algo como a tripla
operao. Interpelar o material, que espcie de partitura esta, que
lugar este, que corpos so estes, querer saber ao que veio este
material e ouvir com ateno: a composio emerge, evolui, revelase. Kelly faz perguntas inquietantes, Etchells interroga duramente,
Pessoa transpe para imagens iluminadoras: eu procuro ver o que
fica de p. Haver muitas tarefas de escrita, reescritas, talvez se
achem perspectivas e linhas e se comece dilatar todo um plano
conosco dentro, mesmo com contrastes e atritos, justaposies,
adensamentos em torno dos ncleos. E haver o que no deixa
descendncia, sobras, desperdcio, preciso no ter medo dos
resduos, reduzir, reutilizar, fazer uma recolha seletiva: a oficina
enche-se agora de listas das listas, inventrios de esquemas e de
mapas, planos de partituras, os cadernos de esboos passados
a pente fino, tudo levado temperatura de fuso. Haver ento
uma espcie de longa tabela peridica mas no sabemos se de
uma questo de peso atmico que se trata, se de velocidades de
arranjo molecular: haver uma linha de tempo mesmo quando a
durao for indeterminada, quando for uma durao esburacada,
311
presen 3000
presen 3000
comparar
ver
aplicar
presen 3000
que fez, determinando o objeto, atuao, partitura, discurso, cingindo-se a ele mas sem nunca deixar de a ele se referir, professor e
aluno eximem-se do embrutecimento imposto por aquele que sabe
o que o outro no sabe: que a tripla operao sobre as atividades
desenvolvidas estabelece a particularidade da criao em situao
aprendizagem. A proposta de Rancire para um ensino universal
que nos ajuda a imaginar uma zona de trabalho til na formao
artstica: O aluno deve ver tudo por ele mesmo, comparar incessantemente e sempre responder trplice questo: o que vs? o
que pensas disso? o que fazes com isso? E, assim, at ao infinito
(ranciere 2010: 44). Visando uma aprendizagem profunda e
complicadora que, alm de promover o desenvolvimento de uma
linguagem capaz de designar as experincias vividas e de identificar
referncias capazes de situar estas experincias, o aluno seja capaz
de estabelecer os seus problemas, as suas articulaes, de formular hipteses operativas por si mesmo. Por isso haver observao
das atuaes, comparao com o que se conhece, identificao de
oportunidades em discusses de grupo; haver registos pessoais,
associaes livres, reflexes em dirios de trabalho.
presen 3000
320 |
presen 3000
objetivos A Oficina Comum: PRESEN 3000 tem como finalidade
oferecer aos alunos situaes de aprendizagem que contribuam
para desenvolver e adquirir competncias ao nivel da atuao em
cena, da composio de partituras de atuao e da articulao de
discursos crticos sobre a sua atividade artstica. Assim, no final da
disciplina espera-se que o aluno mostre:
1) capacidade de atuar em cena, realizando respostas psicofsicas
complexas, adaptadas e originais;
2) capacidade de compor em colaborao uma partitura de atuao, analisando e avaliando propostas com vista a uma sintese
operativa;
3) capacidade de refletir sobre os processo artsticos de que participa, valorizando, priorizando e integrando comportamentos ticos
e valores pessoais.
programa
1) Prticas psicofsicas codificadas (massagem, yoga, taiji quan e
xingyi quan; treino vocal suzuki e therzopoulos; rasaboxes);
2) Improvisao teatral (livre, estruturada, exploratria);
3) Investigao em atuao (documental, campo, existencial);
4) Observao, anlise e discusso da atuao;
5) Composio de partituras (butoh-fu, happening, rapsdia, cena
trgica);
6) Atuao em cena (exerccios, trabalho final);
ementa
7) Reflexo escrita criativa.
resultados esperados
1) Mostrar conhecimentos incorporados de atuao (percepo;
prontido; adaptao; originalidade; ao fsica, verbal e psquica);
2) Utilizar procedimentos de composio da atuao;
3) Iniciar, sustentar e completar trabalho criativo, individualmente,
em grupo e sob orientao do professor;
4) Revelar conscincia do processo criativo pessoal;
5) Fundamentar as opes com base em teorias de atuao
selecionadas;
6) Articular e comunicar ideias, oralmente e por escrito.
presen 3000
Cenas Na primeira semana, o aluno realizar a apresentao de
um pequeno solo, a qual ser registada em vdeo; este pequeno
solo voltar a ser apresentado na ltima semana da oficina, sendo
esta apresentao e o registo a base para uma avaliao pelos colegas. Durante as oito primeiras semanas ser solicitado ao aluno
a apresentao de trs pequenas cenas, individualmente ou em
grupo (butoh, happening e relatrio de pesquisa). Na penltima
semana da oficina ser apresentado um trabalho cnico final, que
dever incluir materiais relativos literatura e/ou cultura antiga;
esta apresentao ser registada em vdeo e servir de base autoavaliao do aluno.
Escritos O aluno elaborar um breve Relatrio de Pesquisa escrito
(1000 palavras), em estilo livre, que acompanhar o trabalho cnico
com o mesmo nome. Na ltima semana da oficina, o aluno entregar uma Reflexo Final escrita (2000 palavras), no qual dever
considerar criticamente o processo desenvolvido na oficina.
Viva Voce O aluno, em pequeno grupo, participar de uma discusso reflexiva com o docente com vista apreciao da natureza e
qualidade da experincia de aprendizagem.
No final da oficina sero entregues aos alunos questionrios de
avaliao do programa e do docente.
critrios de avaliao
Processo Frequncia, pontualidade, disponibilidade, concentrao,
compromisso, realizao das tarefas solicitadas, implicao nas
ementa
atividades propostas tal com demonstrada nas respostas fsicas e
verbais, qualidade da anlise da atuao tal como demonstrada nas
discusses em grupo, capacidade de trabalho individual, em grupo
e com o docente.
Trabalhos Cnicos Propriocepo, controlo motor, coordenao na
ao, sustentao vocal, clareza na enunciao, dinamismo interior, direo da ateno, adaptao s situaes e aos comparsas,
justeza na ao, movimentao no espao, capacidade de entrar
e sair de estados de fluxo, integrao de acidentes, capacidade de
experimentar hipteses de composio, capacidade de tomar decises de composio, qualidades da composio final em termos de
consistncia, comunicao e eficcia cnica.
Trabalhos Escritos Profundidade da observao e anlise do processo pessoal e coletivo de trabalho, demonstrado na referncia
a situaes significativas; clareza e articulao nos argumentos
defendidos, demonstrado na relao estabelecida com referncias
pertinentes; grau de compreenso das propostas, demonstrado
na capacidade de avaliar e criticar os processos; rigor tcnico da
escrita, em termos de uso da gramtica, pontuao, referncias.
Viva Voce Capacidade para refletir sobre a experincia e as aprendizagens pessoais, capacidade para identificar elementos chave do
processo de trabalho, capacidade para responder a questes especficas sobre o processo de trabalho.
presen 3000
mtodo de ensino e aprendizagem
Contrato de ensino-aprendizagem O aluno ser convidado a estabelecer objetivos pessoais de aprendizagem, a definir algumas atividades individuais de trabalho escolhidas entre os exerccios em
anexo, a desenvolver um projeto de criao em pequeno grupo.
Demonstrao As prticas psicofsicas codificadas sero transmitidas por um processo de demonstrao pelo docente, seguido de
experimentao e retorno.
Ao A oficina estrutura-se em quatro mdulos, constituindo os
trs primeiros um perodo de investigao e desenvolvimento de
materiais cnicos que estaro na base do quarto mdulo. O primeiro
mdulo centra-se numa investigao do corpo, fazendo referncia
ao teatro-dana butoh e s teorias de Antonin Artaud. O segundo
mdulo centra-se numa investigao do espao, fazendo referncia ao happening norte-americano e s teorias de Bertold Brecht. O
terceiro mdulo centra-se numa explorao do texto antigo, fazendo referncia rapsdia e retrica de Aristteles. Procurar-se
articular os mdulos iniciais com elementos da tragdia Filoctetes,
de squilo, cuja cena final ser trabalhada como parte do quarto
mdulo; nesta ltima unidade, os alunos prepararo um trabalho
cnico a ser apresentado publicamente num local a determinar. Os
alunos trabalharo em pequenos grupos (mdulos 1 e 4) e individualmente (mdulos 2 e 3).
ementa
bibliografia
Zarrilli, Phillip, Psychophysical Acting
Govan, Emma et al, Making Performance
Ranciere, Jacques, O Mestre Ignorante
Artaud, Antonin, O Teatro e o seu Duplo: Teatro da Crueldade 1
manifesto, O Teatro do Serafim, Para acabar com o juzo de
Deus (udio);
Hijikata, Tatsumi, From being jealous of a dogs vein, Plucking
the darkness out of the flesh
Grotowski, Jerzy, Para um Teatro Pobre: Para um Teatro Pobre,
A Tcnica do Ator; Performer; O Principe Constante (DVD)
Brecht, Bertold, O Pequeno Organon do Teatro: Short Description
of a New Technique in Acting Which Produces an Alienation
Effect, Kurt Weil, Rise and Fall of the City of Mahagonny (CD)
Kaprow, Allan; Kostelanetz, R., Interview in: Theatre of Mixed
Means
Kaprow, Allan, How to Make a Happening (LP)
Etchells, Tim, Play on: Collaboration and Process, Play for
Ever;
Vassiliev, Anatoli, Sept ou Huit Leons de Thtre: 1 e 2 lies;
Entertainment, Forced, Bloody Mess (DVD)
Vassiliev, Anatoli, Eliada Canto XXIII (DVD)
presen 3000
seco por aquilo que, afinal de contas, me parece a coisa mais cheia
para ti, para mim: o amor. | Fecha as tuas pernas. | Compra um
magnfico ramo de flores. | Compra um pombo morto no mercado, daqueles com penas. Em tua casa despe-te.Corta as asas ao
pombo e prende-as s tuas tmporas. Vai para o banheiro. A luz
deve ser escura. Permanece assim, debruado sobre a banheira,
cheia de gua usada. Tenta olhar de vis para o espelho preso
parede. | De manh, coloca uma pequena pedra no sapato. | Passa
um dia tranquilo. De noite, antes de dormir, coloca as roupas no
frigorfico. | Com aquilo que encontrares, torna-te completamente
cinzento. | Chupa um osso velhssimo. | No teu quarto, desloca
tudo o que a est (algum pode imaginar assim o alm). | Mete-te
em forma de bola e esquece algum com a fora do pensamento. |
Dorme at ao limite do suportvel. | No, no biografia. | Balana
os ombros. | Ator, se tens um filho, f-lo chorar. Se no tens, faz
chorar a tua me. | Faz-te bombardear de luz. | Brinca com uma
bola de plstico velha. Assim no. Coloca quatro nozes na boca.
| Despreza a linguagem. | Com a ponta do dedo, remexe no teu
excremento e desenha um pequeno mais na testa; em seguida,
vai at o espelho. | O erotismo aborrecido. A genitalidade no;
observa a sua operao desarmante. Nos ces, nas alcachofras, nas
mijadelas campestres, nas crianas. | Ator, suja a cena. Como o
cavalo a cocheira. Como o porco a pocilga. Como a criana a cama.
| Rouba, se puderes, todas as flores de um pequeno cemitrio rural.
| Dorme com os sapatos. Apanha um comboio ao acaso. Dorme. |
Se s um homem, enche os bolsos de cabelos de mulheres annimas. Se s uma mulher, faz passar o suti por debaixo do brao.
| Enche as gavetas da cmoda de ureia. | Brinca uma tarde com
328 |
uma criana maravilhosa. Deixa-te cair de costas sobre os arbustos fofos. Mais e mais vezes. | Nascondere, smussare e diminuire
ogni aspetto eclatante di s. Confonder-si. E stare zitti. E subire.
questo il brivido. El brivido della morte? | Acha um cachorro morto
na estrada, leva-o para casa e faz-te amigo dele. | Roda uma colher
ferrugenta na boca. | Torna-te amigo de um velho deficiente. Lavalhe as costas com uma esponja tpida. | Fecha a cabea dentro de
um guarda-chuva. | Repito: total desconfiana na arte e nos artistas.
| Queima uma boa poltrona.
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150). Ante o que sentiu ser a crise deste sistema, o autor foi levado
a desenvolver o seu sistema fundado na tradio, que defende ser
mais antiga, do jogo (vassiliev 1999: 150) e que encontrou em
Plato e Molire (vassiliev 1999: 58). A primeira caracterstica do
sistema ldico que nele tudo determinado pelo acontecimento
principal e no pelo acontecimento original (vassiliev 1999: 2022). Esta caracterstica central concorre para o desaparecimento da
dimenso narrativa e para uma valorizao do aspecto conceptual
(vassiliev 1999: 97), O primeiro aspecto do jogo, portanto, que
ele se estabelece com o acontecimento principal, o que o autor enquadra num procedimento que denomina por ironismo: Cela
semble paradoxal, mais le mouvement suppose toujours une ngation de lvnement principal. Cest cela, le jeu: ce que jappelle
lironisme. (...) Mais! La rencontre avec ce que nous est toujours
inattendue, fortuite cest le moment le plus fort des rgles de jeu.
Quest-ce qui nie? Nom pas notre logique, mais le sentiment mme
du jeu, lironisme. (vassiliev 1999: 71-72) A centralidade do
acontecimento principal desloca os sistemas ldicos para a esfera
das ideias (tal como sugere a eleio de Plato como referncia
esttica neste domnio por Vassiliev (vassiliev 1999: 71) e para a
ordem dos valores, da verdade.
etjud A prtica do estudo parte da metodologia de criao e
pesquisa dos atores e diretor com o texto na escola russa. O procedimento que foi transmitido a Vassiliev pela tradio russa passa
por dois momentos, a diferenciao e a integrao: o primeiro
consagra-se sucesso das aes psquicas e sua dinmica; o segundo, depois dos reflexos localizados, dedica-se s aes no espao,
competindo ao ator estabelecer as ligaes entre os dois momentos
339
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presen 3000
344 |
6 | disusso final
6.1 | sntese
No primeiro captulo mostrei como uma presena estranha a si
mesmo parece impor-se na cena contempornea: drama que no
mais drama ou se diz ps-dramtico, nos termos de Hans-Thies
Lehmann, teatro que j performance ou se diz performativo, nas
palavras de Josette Fral, opacidade e exposio dos signos teatrais,
segundo Jacques Rancire. Este movimento pode ser inserido num
outro maior que aproxima as diferentes artes entre si, questiona os
critrios prprios de cada disciplina e tende para uma identificao
do fazer artstico com uma forma particular da vida, ainda segundo
Rancire. Mostrei tambm como o trabalho de Anatoli Vassiliev e
Tim Etchells convida a uma considerao do plano temporal da
presena do artista cnico, porquanto eles implicam os atores no
apenas na execuo cnica mas tambm no processo de criao e
numa reflexo mais ampla sobre o sentido mesmo do fazer teatral.
Assim, torna-se mais e mais pertinente considerar a noo de autor
como singularidade de uma ausncia que se compromete no corpo
a corpo com os dispositvos, tal como o define Giorgio Agamben.
No segundo captulo apresentei o estudo de situaes educativas
realizado em Lisboa, So Paulo, Leeds e Exeter, que permitiu observar que a noo de presena surge tanto nos curricula formais,
quanto dos discursos dos docentes sobre a sua ao. Os docentes
Carlos J. Pessoa, Maria Thais Lima, Antnio Januzelli e Phillip
Zarrilli so aqueles que abertamente fazem referncia a essa
noo mas possvel sustentar que tambm lvaro Correia, Bruno
Bravo, Juliana Galdino e Alexander Kelly consideram a presena
do ator em palco, a sua participao criativa na concepo cnica
348 |
6.2 | oportunidades
O presente trabalho mostrou que h um enorme interesse e um
significativo volume de estudos em torno da noo de presena,
no apenas no campo das artes cnicas, como tambm naquele
das artes digitais. Alm disso, foi referido que a problemtica da
presena tem sido objeto de amplo debate filosfico, em particular
aquele instaurado entre as escolas devedoras do descontrutivismo
e aquelas continuadoras da fenomenologia. O teatro, no passado
considerado uma das artes mais filosficas, poder seguramente
trazer para uma linguagem e um campo de experincia esta que350 |
6.3 | autoavaliao
dificil ter uma viso da floresta quando se est ainda dentro
dela. Contudo, possvel reconhecer quanto esta investigao foi
transformadora, tanto no plano cognitivo, quanto no plano dos
procedimentos; talvez ainda mais, no plano afetivo. Os trabalhos
empreendidos implicaram um esclarecimento de noes tericas e
352 |
de metodologias que ampliaram a minha viso, tanto da investigao em artes, quanto do prprio fazer artstico. Importa notar que
as transformaes enquanto criador so muito dificeis de apreender, posto que se inscrevem, pela convivncia e a experincia, em
mltiplas regies do ser, ganhando a luz do dia em momentos
os mais inesperados. De qualquer modo, os processos de criao
em que me tenho implicado recentemente, sugerem que distintas
camadas se encontram em fermentao, auspiciando movimentos
at agora inesperados para mim. Alm disso, como investigador
em formao, este trabalho contribuiu para uma clarificao das
minhas reas de interesses, ao mesmo tempo que me abriu caminhos para a possibilidade de articular investigao e criao
em artes. Tambm me levou ao encontro com realidades diversas
daquela que conhecia, cinco anos atrs, ainda a frequentar o curso
superior de teatro em Lisboa. Quando relembro o processo de
Lisso, que dirigi alguns meses antes de iniciar o meu percurso no
Departamento de Artes Cnicas, no apenas encontro uma linha
de continuidade como tambm posso aferir mudanas relevantes.
dificil fazer justia s experincias significativas por que passei
nos ltimos cinco anos mas se me perguntassem o que faria se
pudesse voltar atrs no tempo, diria que repetiria tudo de novo.
353
7 | Referncias utilizadas
7.1 | bibliografia
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360 |
364 |
7.2 | espetculos
Ilada Canto XXIII, 27/11/2004, Teatro Carlos Alberto (Porto/
Portugal), criao coletiva a partir de Homero, direo e cenografia
Anatoli Vassiliev, canes do coro Vladimyr Martinov, com elementos da Escola de Arte Dramtica, estreia 24/02/2004, Escola
de Arte Dramtica (Moscovo/Russia).
Quartett, 15/09/2009, SESC Pinheiros (So Paulo/Brasil), de
Heiner Mller, traduo Jean Jourdheuil e Batrice Perregaux,
367
direo, cenografia e desenho de luz Robert Wilson, msica original Michael Galasso, com Isabelle Huppert, Ariel Gargia Valds,
Rachel Eberhart, Michel Beaujard e Benot Marchal.
La Chambre dIsabella, 05/10/2006, SESC Vila Mariana (So
Paulo/Brasil), com Needcompany, direo, cenografia e texto Jan
Lauwers (exceto Monologue du menteur, Anneke Bonnema),
Musica Hans Petter Dahl e Maarten Seghers, Letras Jan Lauwers
e Anneke Bonnema, Dana Julien Faure, Ludde Hagberg, Tijen
Lawton, Louise Peterhoff, estreia 2004 Festival de Avignon
(Avignon/Frana).
XXX S para Adultos, 03/03/2003, criao La Fura dels Baus, a
partir de A Filosofia na Alcova de Marqus de Sade, Lisboa: Centro
Cultural de Belm, estreia Murcia: Teatro Garcia Lorca, 2002.
Im Dickicht der Stdte, 03/09/2006, de Bertold Brecht, dirigido por
Frank Castorf, So Paulo: SESC Pinheiros, estreia 23/02/2006,
Berlin: Volksbhne.
Super Night Shot, 09/08/2007, conceito Gob Squad, So Paulo:
SESC Consolao, estreia 05/12/2003, Berlin/ Germany :
Volksbhne im Prater.
Flatland I - Para cima e no para norte, concebido, escrito e interpretado por Patricia Portela, 2003, Lisboa: Hospital Miguel
Bombarda.
O Porco, 2006, de Antonio Andres Lapea, dirigido por Antnio
Januzelli com Henrique Schafer, sesc Ipiranga / Brasil.
A Morte de Danton na Garagem, 2007, de Carlos J. Pessoa, a partir
368 |
7.3 | videografia
ENTERTAINMENT, Forced, 2001, Instructions for Forgetting, texto
e atuao Tim Etchells, video Hugo Glendinning, design Richard
Lowdon, registado no Theatre Knstlerhaus (Vienna/Austria),
97.
FIADEIRO, Joo, 2003, I am here, concepo, coreografia e interpretao Joo Fiadeiro, estreia 29/10/2003, Paris / Frana : Centre
George Pompidou.
CASTELLUCCI, Romeo, 2002, B#3 Berlin in Tragedia Endogonidia
[4-Disc Box], 2002, direo Romeo Castellucci, produo Societas
Raffaello Sanzio, Itlia, 4230,
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100.
FORCED ENTERTAINMENT, 1999,
Sheffield: Forced Entertainment, 30.
Making
Performance,
370 |