O Exercício Profissional Das Diversas Profissões Jurídicas

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10. O exerccio profissional das diversas profisses jurdicas.

Direito como forma de controle social, DHF e DigPHum, Estado, Separao de


Poderes, Judicirio, Ubiquidade, processo
RESUMO
Trata-se de estudo acerca das principais regras ticas aplicadas s profisses
jurdicas, demonstrando-se o valor de cada uma delas de acordo com o fim precpuo de
cada operador do direito, e delineando-se ainda o dever de colaborao deontolgica
entre si, e deles em relao sociedade, tendo em vista a consecuo dos plenos
objetivos consentneos com a perpetuao da justia.
Resumo: Este artigo aborda de modo sucinto questes pertinentes atinentes moral,
tica e ao direito mediante uma abordagem que reala o campo de atuao de cada um
destes institutos e destaca as possveis diferenas e semelhanas existentes. A relevncia
do estudo se d pela necessidade de reconhecer uma nova dinmica em torno dos
valores e normas norteadores da conduta humana. De pouco vale o acmulo de normas
em descompasso com a valorizao dos preceitos tico-morais. Desta forma, atravs
deste ensaio abordamos a influncia do direito natural e dos princpios morais sobre a
norma jurdica posta, bem como a interface entre direito e moral, desde uma perspectiva
Kelseniana, por uma cincia jurdica pura destituda de qualquer interferncia advinda
dos princpios morais, at outras vertentes em que a interao entre direito e moral se
mostra absolutamente necessria. A boa compreenso da tica, enquanto moralidade
positivada, bem como da deontologia jurdica se mostram fundamentais formao de
indivduos, profissionais do direito, e instituies realmente comprometidas com a
busca do bem-comum.
1 BREVES NOES ACERCA DA TICA GERAL
Liberdade de Profisso e Expresso
Inicialmente buscaremos estabelecer conceitos, caractersticas, diferenas e
semelhanas entre moral, tica e direito para s aps isto procedermos uma anlise
sobre o exerccio de algumas profisses jurdicas no Brasil.
A vida em sociedade seria insuportvel se destituda de um mnimo de respeito, bom
senso e solidariedade no trato das pessoas umas com as outras, deste modo que se
torna imprescindvel impor ao ser humano um rol de normas morais e jurdicas capazes
de fazer com que ao menos as pessoas se tolerem e se respeitem mutuamente.
A corrupo abominvel e opera em desfavor das virtudes e valores de qualquer
sociedade, deste modo a intolerncia, o desprezo aos valores e o desrespeito s pessoas

e instituies tm uma relao muito prxima com a questo tico-moral e com o


direito.
fundamental que se assegure o respeito a uma estrutura moral bsica, posto que em
sua essncia alm de ser um ser social o Homem tambm um ser moral, e neste
desiderato a tica e o direito assumem grande relevncia.
Neste sentido percebe-se que o prprio direito assimilou o princpio da moralidade,
sobretudo no que se refere regncia dos interesses pblicos, vide Art. 37 da
Constituio da Repblica de 1988, onde a moralidade consta como um dos princpios
da administrao pblica brasileira.
Na ordem privada a boa f nas relaes negociais tambm reflete a relevncia do
emprego da moral para segurana jurdica dos contratos. Desta forma, a moral no
interessa apenas disciplina da ordem pblica, no que tambm fundamental boa
dinmica das relaes privadas.
A enumerao cogente de axiomas e disciplinas sancionatrias por parte dos
conselhos profissionais nunca se fez to necessria quanto em tempos hodiernos,
tamanho o descaso com que alguns profissionais atuam diante de situaes de
incomensurvel importncia sociedade.
Em realidade, direito e moral se relacionam e disto decorre que o direito passa a ter
contedo moral, e a moral passa a revestir-se de roupagem jurdica, todavia tanto a
moral como o direito guardam um espao de independncia.
Na construo de sua teoria pura do direito Hans Kelsen tenciona resguardar o direito
contra qualquer possvel interferncia advinda das demais cincias humanas ou de
qualquer parte do conhecimento.
Nesta perspectiva a to necessria interao entre direito e moral exposta nos
ordenamentos jurdicos modernos estaria de todo comprometida se construda a partir
do pensamento Kelseniano.
Interessante que a proposio de Kelsen no subtrai do direito a possibilidade de
equipar-se com princpios morais, com efeito, o que o referido jurista destacava era que
em essncia a moral no alicera o direito, posto que a cincia jurdica teria seu
fundamento construdo a partir de seus prprios princpios.
Ora, isso significa que a validade de uma ordem jurdica positiva independentemente
da sua concordncia ou discordncia com qualquer sistema moral (KELSEN, 1998)
As regras jurdicas constituem o ncleo das regras morais; poder tambm ocorrer que
as regras morais constituem o ncleo do direito que compreende muitas normas
moralmente indiferentes - moral como mnimo jurdico; noutra perspectiva as regras

jurdicas so aparentadas com as morais, sendo impossvel criar e interpretar o direito


sem levar em considerao a moral; outra possibilidade se d quando entre ambos os
ordenamentos h plena e absoluta separao em dimenso Kelseniana. (DIMOULIS,
2003)
A natureza coercitiva do direito na concepo de Kelsen um elemento diferenciador
que impede a moral de assemelhar-se cincia jurdica. A compreenso do direito a
partir de seus prprios fundamentos remete a moral a uma dimenso cujas
conseqncias nada tm a ver com o direito, como j ficou realado quando tratamos da
questo da coero do ponto de vista moral e sob a tica jurdica.
Deste modo, o comportamento humano estaria limitado ora pelo nus ora pelo bnus,
tanto na rbita jurdica quanto na dimenso moral, o modo de punir a conduta
inadequada o que faz a diferena.
O campo de atuao da moral mais amplo que o do direito; o direito possui
coercibilidade, a moral incoercvel. Enquanto a moral busca a recusa conduta
malvola pela prtica do bem, o direito prope a busca da justia. A moral enfatiza as
questes internas da alma humana, o direito exige a manifestao do fato social. A
moral unilateral, o direito bilateral. (MONTEIRO, 2004)

A postura tica se direciona na busca do melhor, do justo, segue as orientaes do


escolhido e assume os riscos do caminho a ser trilhado. uma escolha independente e
livre, que precisa ser investigada e fundamentada, com a inteno de se optar por aquilo
que melhor se adapte ao cotidiano real.
As mais diversas correntes ticas sempre chegam ao
mesmo ponto: deve ser eleito o que melhor dentro de um senso comum, sendo essa
uma necessidade humana a de encontrar o que o certo, do ponto de vista tico. Mas o
que melhor para algumas doutrinas ticas pode no ser para outras, pois existem
variantes de valorao e tendncias. A tica no pode ser enquadrada numa teoria
homognea, porque na prtica ela depende de muitos fatores e se molda ao indivduo de
acordo com seus valores, conceitos, crena e experincia.
A tica estuda a ao moral e suas transaes dentro do contexto
social, o conjunto de regras definidas como moral dentro de um determinado contexto
no comportamento humano (levando sempre em conta a histria), socialmente aceitvel.
Segundo Bittar, como a tica est diretamente ligada ao
comportamento e s escolhas humanas, pode-se dizer que ela foi profundamente
influenciada e reconstruda ao longo dessas revolues, isso se aplica tanto a
especulao tica, entendida como o estudo dos padres de comportamento, das
formas de comportamento, das modalidades de ao tica, dos possveis valores em
jogo para a escolha tica, quanto prtica tica, definida como a conjuno de
atitudes permanentes de vida, em que se construam, interior e exteriormente, atitudes
gerenciadas pela razo e administradas perante os sentidos e os apetites.

Analisando-se, prima facie, a concepo geral de tica, deparamo-nos com um


conceito que, tal qual a essncia humana, se baseia indubitavelmente com as condutas
sociais escolhidas livremente pelo homem. Em se tratando de tais comportamentos, a
tica se conceitua como sendo a cincia que estuda o comportamento moral dos homens
em sociedade (Jos Renato Nalini).
Seu maior objetivo se concentra no estudo da busca pela essncia de seu ser,
que, atravs de condutas, passa a colaborar com a sociedade, demonstrando ser, assim,
congenitamente gregrio. Alm disso, busca modelos dessas condutas que se encaixem
nos moldes convenientes previamente estabelecidos pela sociedade, que lhes invoca
valores, em virtude da concepo das pessoas do que bom e/ou justo.
Assim como o direito, a tica tambm parte do conhecimento cientfico e deste modo
tambm possui metodologia, objeto de estudo e princpios prprios atuando em
qualquer parte, sem limitao geogrfica, donde exsurge sua validade universal.
A moral no tem preocupao ou compromisso com a norma, a tica e o direito sim. A
tica normativa, utilitria, pragmtica, e objetiva. O direito do mesmo modo se
manifesta em regra atravs de normas escritas ou consuetudinrias em execeo.
Entendemos que a fundao da tica se d pela externalizao da moral, com isto
queremos dizer que o aspecto da moral ligado to somente s questes de foro ntimo
perpetrados pela mente humana, sem repercusso no mundo ftico, no interessam de
todo tica, desta forma entendemos que a moral bem mais ampla e complexa que a
tica.
A teoria tridimensional do direito do saudoso Prof. Miguel Reale expe o direito
mediante trs espectros, a saber: fato, valor e norma, note-se que entre o fato jurdico e a
produo da norma est a valorao, que nada mais que o componente moral da
cincia jurdica.
A tica a cincia dos deveres, e sua matria prima a moral, sendo utilitria,
pragmtica, terica, normativa, objetiva e por certo cientifica tambm, tendo por objeto
de estudo, como j realado, a moral.
A teoria do mnimo tico de Jellinek consiste em dizer que o direito representa apenas
o mnimo de moral declarado obrigatrio para que a sociedade possa sobreviver. Como
nem todos podem ou querem realizar de maneira espontnea as obrigaes morais,
indispensvel armar de fora certos preceitos ticos, para que a sociedade no soobre.
A moral, em regra, dizem os adeptos dessa doutrina, cumprida de maneira espontnea,
mas como as violaes so inevitveis, indispensvel que se impea, com mais vigor e
rigor, a transgresso dos dispositivos que a comunidade considerar indispensvel paz
social. (REALE, 1993)
Diante disto, pode-se afirmar para assegurar a harmonia funcional sociedade e ao
Estado faz-se necessrio que os cidados e as instituies tenham como alvo a prtica de

um comportamento moral mediano, intermedirio entre a virtude e o vcio, portanto no


se busca o homem moralmente perfeito, o que se pretende como ideal o homem
mediano do ponto de vista moral (Emanoel Maciel da Silva).
Ao vislumbrarmos a moral sob uma tica absoluta e outra relativa, temos que a moral
absoluta universal, imutvel, manifesta pelos valores comuns a todos os povos,
enquanto a moral relativa local, caracterstica de cada regio, povo ou sociedade, se
ocupando das questes locais no que se refere cultura, costume, tradio e a religio
de cada sociedade, admitindo nuances de variao de acordo com a vivncia e
experincia de cada povo, constata-se assim que a moral relativa varivel.
Muitas so as teorias sobre as relaes entre o Direito e a Moral, mas possvel limitarnos a alguns pontos de referncia essenciais, inclusive pelo papel que desempenharam
no processo histrico. (REALE, 1993)
A moral mais ampla que o direito, todavia como j asseveramos nem todo contedo
jurdico necessariamente moral.
O direito absorve a perspectiva externa referente ao fenmeno moral e bem verdade
que questes eminentemente internas tambm podero interessar ao direito penal e
mesmo ao direito civil, no que tange, por exemplo, caracterizao do elemento culpa.
Entretanto, no podemos ter em conta a afirmativa de que o direito no se interessa pelo
elemento interno das condutas humanas, como concluso definitiva, visto que o direito
tambm leva em conta, para aplicao de suas normas, o ponto de vista interno do atuar
humano, como, por exemplo, se verifica, facilmente, nos conceitos de dolo, erro,
simulao, fraude etc. (Leoni de Oliveira)
A moral no se restringe s fronteiras e limites do chamado codicismo, quando se
tenciona codificar a moral, esta acabar por assumir carter cientfico dando lugar
tica, entretanto, no se pode olvidar de que tudo que tico essencialmente moral,
sendo a moral anterior ao prprio direito natural, haja vista que ela subsiste a Cruso,
enquanto que a seu turno o direito necessita do fenmeno social para desencadear-se.
Entendemos que o direito positivo um reflexo do direito natural. certo ainda que o
direito positivo a base do chamado codicismo, onde o que interessa o que est posto,
o que est colocado na norma jurdica.
Direito natural e direito positivo compem e habitam um nico corpo apesar de serem
diferentes membros na composio da cincia jurdica (Emanoel Maciel da silva).
Para o positivismo jurdico prevalece o direito enquanto norma jurdica estatal,
enquanto para o direito natural o que prevalece o direito advindo no do Estado, mas,
da sociedade, numa compreenso segundo a qual o direito j existia antes mesmo da
criao do Estado.

preciso reconhecer que a atuao do Estado tem sido valiosa na produo e validao
da norma que reger a sociedade e o as prprias instituies estatais.
Como gua e leo, o positivismo jurdico desconsidera a importncia do direito natural,
e o jusnaturalismo tambm tenta desqualificar o direito positivo, todavia intil
posicionar-se em favor de uma ou de outra teoria, sem se considerar ambas as teorias
como parte de uma nica engrenagem, e isto ocorre pelo fato do direito natural estar na
base do prprio direito positivo, haja vista que a norma jurdica edificada sobre
fundamento principiolgico.
Sobre o a Escola do Direito Natural Rizato Nunes que era primeiramente, uma escola
racionalista com longa tradio, desde os filsofos gregos, passando pelos escolsticos,
na Idade Mdia, pelos racionalistas dos Sculos XVII e XVIII indo at as concepes
modernas Stammler e Del Vechio ( comeo do Sc. XX). (NUNES, 2007)
O direito natural essencialmente distinto do direito positivo, precisamente porque se
afirma como princpio deontolgico, indicando aquilo que deve ser, mesmo que no
seja. (VECCHIO, 1979)
Deste modo, vislumbramos a influncia do positivismo sobre a tica, posto que a tica
manifesta-se mediante preceitos normativos de cunho moral.
O positivismo incide sobre o direito, codificando-o, facilitando a sistematizao
normativa, tendo ainda incidido sobre a tica, no sentido de tambm positiv-la, cujos
resultados so observados pela existncia de cdigos de postura em diversos segmentos
profissionais.
Como j destacado, a moral mais ampla que o direito porque em algumas
circunstncias certos desvios de conduta que escapam ao direito no fogem moral, e
citamos para ilustrar isto, o clssico exemplo do incesto, que do ponto de vista jurdico,
no ordenamento ptrio, no representa nenhuma ilegalidade, todavia no escapa ao rigor
moral.
Tomando por base a gnese humana quando do surgimento do primeiro humano, nesta
perspectiva ainda no se podia falar da existncia de sociedade, posto ainda inexistir
pluralidade humana, assim sendo, por esta hiptese certo que no se podia falar ainda
em direito natural muito menos em direito positivo, apesar disto a moral j se
encontrava presente antes mesmo da fundao da primeira sociedade humana, posto que
mesmo sozinho o ser humano tinha, tem e ter conscincia dos deveres morais para com
a sua prpria existncia.
Assim sendo, no haver direito natural ou direito positivo diante de uma hiptese em
que o ser humano esteja sozinho destitudo da convivncia de outras pessoas, apesar
disto, mesmo no gnesis ou no apocalipse, o primeiro ou o ltimo homem estar sob
regncia da moral.

Logo, a moral anterior e tambm poder ser posterior ao direito, afirmamos assim
porque em verdade j existia moral antes do surgimento do direito e no impossvel
que ela continue a existir mesmo aps o fim do direito, ainda que por breve tempo, neste
caso o fim da moral coincidiria com a extino do prprio ser humano.
Nesta esteira, o positivismo jurdico influenciou o direito no sentido de normatiz-lo, o
que vale o direito enquanto norma e produzido pelo Estado, desconsiderando-se como
jurdico tudo o que no se amolde a tal mxima.
No que se refere ao positivismo sua ateno se converge apenas para o ser do direito,
para a lei, independentemente de seu contedo. Identificando o direito com a lei, o
positivismo uma porta aberta aos regimes totalitrios, seja na frmula comunista,
fascista ou nazista. (NADER, 2007)
Entendemos que razovel afirmar que a influncia do positivismo sobre a moral faz
nascer a tica, posto que esta nada mais que a exteriorizao da moral atravs de
normas.
Assim como a moral, a tica tambm poder operar mediante interface com o direito,
posto que existe influncia da moral sobre o direito e isto notadamente tambm se
reflete sobre a tica.
Podemos assim nos referir moral como bem prxima ao direito natural, enquanto a
tica estaria bem mais ligada ao direito positivo, assim sendo, fcil concluir que moral
positivada nada mais do que tica.
1.1 DA TICA PROFISSIONAL:
A tica profissional viria a ser, o estudo das normas de conduta aplicadas ao
exerccio da profisso, fazendo com que o homem, atravs de seus preceitos, entenda o
que seja bom ou como fazer o bem nas suas relaes concernentes ao trabalho que vem
desempenhando.
Toda e qualquer profisso deve ser embasada por princpios ticos de atuao que
se estabelecem de acordo com a especificidade de cada atividade. Nas profisses
jurdicas estes princpios ticos possuem uma alta vinculao normativa por envolver
questes de relevante interesse social, devendo o operador do direito atuar em
conformidade com a realidade social que o cerca, preocupando-se no somente com o
aspecto formal e estrutural da norma, mas principalmente com a sua aplicabilidade
prtica, fazendo com que os fins a que se prope o Direito sejam alcanados, qual seja a
justia.
Para reforar a cooperao estabelecida entre moral e direito na construo das ordens
jurdicas nacionais, vamos a partir deste ponto por em destaque a atuao da moral
sobre os diversos ramos do ordenamento jurdico brasileiro, para tambm deixar

consignado que a busca da justia passa pela transformao moral do direito, e isto
uma exigncia do ser moral que habita cada um de ns.
Como tantos outros setores da cincia jurdica, o direito constitucional se deixa
influenciar por questes morais referentes, por exemplo, dignidade da pessoa humana,
cidadania, igualdade, erradicao de preconceitos, extino de desigualdades sociais,
promoo da justia social, dentre outros assuntos.
Impende destacar a atuao do fenmeno moral sobre o direito penal, sobretudo no que
tange aos costumes, com a tipificao dos chamados crimes contra os costumes, como o
estupro, o atentado violento ao pudor, rapto, e seduo, etc. Alis, o crime antes de
tudo um equvoco moral. Alm do que toda a discusso que envolve o elemento culpa
tem sua origem no campo moral, mas especificamente na parte da moral que cuida das
questes volitivas.
No direito civil a moral se manifesta pelo principio da boa-f, e tambm pelos deveres
decorrentes do parentesco, donde se depreende que os pais tm o dever de amparar os
filhos, e na velhice os filhos tm o dever de amparar seus pais, pode-se mencionar ainda
o dever de fidelidade conjugal.
No plano do direito adjetivo, tem-se que o processo um instrumento para realizao da
justia, o que representa uma evoluo no sentindo de fazer com que o direito seja
aplicado com razoabilidade, no mais em consagrao retaliao decorrente da
vingana privada, to presente nas primeiras sociedades. O processo uma forma
civilizada de se estabelecer o direito, um modo racional em que as partes tm a chance
de oportunizar suas verses acerca do mesmo fato. Assim sendo, a aplicao do direito
destituda do processo, pautada apenas em critrios subjetivos ao sabor do julgador,
como ocorria em tempos de absolutismo, poderia revelar a assuno de preconceito,
perseguio, inveja, disputas, etc., e acabar por produzir absurdas injustias. Ento, a
influncia da moral sobre o direito processual ocorre no sentido de faz-lo civilizado
sem a necessidade da aplicao da lei do mais forte, sem a manuteno da retaliatio,
agora o direito se estabelece atravs de um processo pacfico, ordeiro, diferentemente do
que ocorria nos primrdios. Nesta perspectiva, a moral se estabelece aqui muito mais
pelos fins do que propriamente pelos meios.
As profisses jurdicas so aquelas desempenhadas por bacharis em direito, dentre os
tais ofcios jurdicos esto a advocacia e a magistratura.
Os desvios de conduta profissional nesta rea, tendem a ser extremamente malficos e
cooperam para o descrdito das instituies e do prprio Estado.
A frouxido moral no exerccio da advocacia tornou-se to corriqueira a ponto desta
carreira ter perdido boa parte do enorme prestgio que ostentava no passado.

Com efeito, at bem pouco tempo o ingresso nos quadros da Ordem dos Advogados do
Brasil se dava sem a necessidade de realizao do exame de ordem, isto evidentemente
cooperou para a desqualificao profissional dos membros desta honrada instituio,
fundamental manuteno do estado democrtico de direito.
Quando se questiona sobre a necessidade da exigncia de tal exame para o exerccio da
milenar profisso jurdica face s possveis incompatibilidades com o texto
constitucional, que se deve trazer superfcie a urgente necessidade de selecionar
adequadamente os novos causdicos, no apenas mediante critrios intelectuais, como
tambm exigindo-lhes reputao ilibada devidamente comprovada, tal rigor se justifica
pelo fato da advocacia ser considerada um mnus publico.
Alis, no que se refere adequao do exame de ordem CF/88 entendemos haver total
compatibilidade entre a determinao contida no Estatuto da Advocacia face ao disposto
na CF/88.
Alis, com base no Art. 5, XIII tem-se que a Lei Maior remete ao legislador infralegal a
atribuio de disciplinar o exerccio de determinados ofcios, como bem faz o Estatuto
da Advocacia.
A propsito em praticamente todas as democracias ocidentais o citado exame de ordem
uma exigncia ao exerccio da advocacia, e seria um desfavor sociedade brasileira o
legislador ptrio eliminar tal requisito.
As profisses tm suas regras, e cada vez mais uma tendncia, que cada profisso
elabore o seu cdigo de tica, diante disto torna-se relevante falar sobre tica
profissional aplicada s profisses jurdicas, ou seja, deontologia jurdica.
Bem, passemos agora a tratar da deontologia profissional que composta por regras e
princpios ticos disciplinadores do comportamento humano no que se refere ao
exerccio de uma determinada profisso.
Com efeito, a deontologia no deve ser confundida com regras de etiqueta ou boa
educao ainda que aplicadas ao ambiente de trabalho.
A deontologia a teoria dos deveres. Deontologia profissional se chama o complexo de
princpios e regras que disciplinam particulares comportamentos do integrante de
determinada profisso. Deontologia forense designa o conjunto de normas ticas e
comportamentais a serem observadas pelo profissional jurdico. (NALINI, 2001)
A tica profissional sinnimo de deontologia profissional, de modo que a atuao
profissional deve ser pautada por valores morais garantidores das boas relaes laborais.

Na adequao da deontologia profissional s profisses jurdicas tem-se a deontologia


jurdica formada por um conjunto de regras ticas que regem o exerccio das atividades
jurdicas.
A deontologia jurdica h de compreender e sistematizar, inspirada em uma tica
profissional, o status dos distintos profissionais e seus deveres especficos que dimanam
das disposies legais e das regulaes deontolgicas, aplicadas luz dos critrios e
valores previamente decantados pela tica profissional. Por isso, h que distinguir os
princpios deontolgicos de carter universal (probidade, desinteresse, decoro) e os que
resultam vinculados a cada profisso jurdica em particular: a independncia e
imparcialidade do juiz, a liberdade no exerccio profissional da advocacia, a promoo
da justia e a legalidade cujo desenvolvimento corresponde ao Ministrio Pblico, etc.
(LPEZ, 1995)
Deste modo, a deontologia jurdica prega o agir com base nos ditames da tica enquanto
cincia e com fundamento nas diretrizes oriundas da prpria conscincia, esse seu o
lema, ao pautada na cincia e na conscincia. Deste modo que o profissional do
direito alm de se preocupar em cumprir as obrigaes profissionais sob o ponto de
vista da melhor tcnica, tambm deve nortear seus atos em conduta eticamente
adequada.
No caso da advocacia a atuao deve pautar-se tanto no Estatuto da Advocacia (Lei
Federal n 8.906/94) quanto no Cdigo de tica que rege a citada atividade jurdica.
A obedincia ao Estatuto da Advocacia faz com que o advogado haja conforme os
ditames da cincia jurdica, enquanto a preocupao moral pautada no cdigo de tica
(manifesta pela adoo do melhor padro de conduta moral na tomada de decises no
dia-a-dia, no trato com os clientes, com os pares e com os demais operadores do direito)
faz com que o advogado, atue em cumprimento da tica profissional.
Com efeito, o advogado no um autmato, assim como os demais operadores do
direito tambm no o so, desta forma, a obedincia aos ditames ticos no deve ser
feita a esmo, sem a devida reflexo acerca da importncia de todos os atos profissionais
praticados. Assim que a obedincia aos princpios que regem as profisses jurdicas
tendero a cooperar na produo do bem comum.
Vamos a partir deste ponto citar alguns valores que cooperam para o ambiente tico que
deve prevalecer no exerccio das profisses jurdicas em nosso pas.
O decoro o comportamento zeloso do ponto de vista moral no mbito da atividade
profissional. O decoro profissional exigido no ambiente de trabalho, durante a
atividade laboral.

A urbanidade prima pela civilidade nas relaes de cunho profissional exigindo-se que a
cortesia, a polidez sejam constantes no dia a dia dos profissionais em nome do
equilbrio e da paz e da ordem no local de trabalho.
A diligncia exige do profissional forense o devido zelo e esmero no desempenho da
atividade profissional manifestando-se atravs de senso de responsabilidade, eficincia,
assiduidade, pontualidade etc.
A reserva se oportuniza pela discrio no trato de assuntos relevantes na esfera
profissional. (segredos de justia algumas questes de direito de famlia, menores,
estupro). Visa proteger a integridade moral das pessoas. (traio, adultrio). Discrio
no trato do segredo alheio.
A lealdade se manifesta pela boa f, honestidade, solidariedade e o exerccio da verdade,
doa a quem doer, com o nimo de no enganar os inimigos ou mesmo os amigos.
Bem, existem tantos outros princpios que poderiam ser citados, entretanto o que
importa acima de tudo a consulta constante que cada operador do direito deve fazer ao
homem interior que habita em cada um, no sentido de sempre buscar para sua vida
profissional aquela conduta mais adequada produo do bem.
Com efeito, a produo de cdigos de tica para a advocacia e para a magistratura
fundamental, todavia isto no basta, h que haver uma preocupao com a efetiva
punio dos desvios de conduta com a superao do corporativismo diante dos delitos
gravosos que exigem em vez de proteo aos infratores uma atuao rigorosa em nome
de uma satisfao sociedade.
A punio exemplar aplicada aos infratores das normas ticas e jurdicas servir tambm
como desestmulo s mesmas prticas aos demais operadores do direito.
Neste diapaso, o componente tico-moral torna-se imprescindvel para o bom exerccio
da advocacia e das demais profisses jurdicas.
Assim sendo, uma conduta eticamente ajustada o mnimo que se espera de um
advogado. J est mais do que na hora de se operar o resgate do prestgio da advocacia,
faz-se necessrio superar a noo que j se arraigou no seio da sociedade de que todo
advogado um ladro.
Em verdade, a conduta antitica de alguns causdicos tem feito um estrago enorme para
a imagem da classe, com prejuzos a tantos outros profissionais que se esforam para
exercer a profisso com dignidade.
Diante disto, que no se pode mais aceitar uma postura de tolerncia com relao aos
maus advogados, mas do que nunca preciso puni-los adequadamente e quando for o
caso, retirar-lhes o direito de exercer a profisso, evidentemente esgotados o direito de

ampla defesa e contraditrio. Agir com benevolncia nestes casos praticar suicdio
profissional coletivo.
A propsito a pssima imagem que a sociedade nutre dos advogados opera em desfavor
da cidadania e da democracia, visto que uma parcela considervel da sociedade prefere
amargar a injustia, pelo receio de procurar seus direitos e se deparar com um causdico
aproveitador disposto a fazer de tudo para arrancar at o ltimo centavo de seus clientes,
e exemplos assim no faltam.
Coopera tambm para tal descrdito a infindvel espera pela manifestao do Poder
Judicirio cuja fama quanto celeridade processual tambm no l das melhores. A
excluso jurdica uma realidade e uma dentre suas causas a falta de confiana de
parte da sociedade nos advogados e na justia brasleira, e no estamos a falar apenas
dos advogados privados, inclumos ai tambm os defensores pblicos.
2 A TICA E O ADVOGADO
Constituio parte que trata das profisses jurdicas.
Constituio
bvio que em qualquer profisso devem ser respeitados princpios ticos,
mormente aquela atravs da qual a vida emocional e patrimonial de outras pessoas est
em discusso, caso da advocacia, to importante nas civilizaes modernas justamente
em virtude de promover a justia e a democracia, por meio da consecuo da dignidade
da pessoa humana e, pois, do exerccio dos DHF.
A prpria Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), de modo a viabilizar
disposies ticas em um quadro normativo e a padronizar regras deontolgicas
fundamentais, elaborou o Cdigo de tica e Disciplina da OAB, verdadeira sntese
dos deveres ticos de tais profissionais, que, de acordo com o artigo 133 da Constituio
Federal, so essenciais administrao da justia.
Com base no acima exposto evidente a afirmao que o exerccio da
advocacia dotado de inmeras prerrogativas e deveres, exatamente por isso deve ser
desenvolvida de forma responsvel, proba, honesta, enfim condizente com o tico,
mormente por constituir o advogado, quase sempre, a ltima esperana de seu cliente,
que na maioria das vezes j tentou diversos modos para resoluo de seu problema e se
v desamparado, acreditando fielmente que seu procurador poder defender seu direito
e promovendo-lhe a justia. Tal pensamento deveras magnnimo, pois impede que o
advogado se desapegue do patrocnio, colocando-se de modo fictcio no lugar de seu
cliente, impedindo-o de cair no desinteresse.
O artigo 2, pargrafo nico, do Cdigo de tica e Disciplina da OAB preceitua
uma srie de condutas que devem ser observadas pelo advogado quando do exerccio de
sua profisso.

Sucintamente, o advogado em suas relaes com o cliente uma relao de


lealdade, devendo ser fiel a defesa do direito dele, desde que nos termos da tica e
justia, tambm aconselhando-o a no ingressar em aventura judiciais, restando claro
ser sua atividade de meio e no resultado.
Quanto ao sigilo profissional, defeso ao advogado exteriorizar, seja por
depoimento testemunhal ou ainda atravs da imprensa, segredos de que sabe em razo
da profisso. E tal vedao revela sabedoria, eis que o advogado conhecer das mais
ntimas e preciosas informaes relacionadas com a honra e imagem de seu cliente. S
no se valer do segredo quando estiver diante de grave ameaa ao seu direito vida ou
honra, ou ainda quando deparado com afronta do prprio cliente.
A violao do segredo profissional constitui crime, com pena que pode chegar
a um ano de deteno, alm de ensejar anulabilidade de atos processuais, fato que
coloca o advogado, sob as penas da lei, ao seu estrito cumprimento.
Por fim, saliente-se que quanto ao exerccio da advocacia desempenha a OAB um
papel crucial, instituindo normas e fiscalizando seu cumprimento, podendo mesmo
punir os infratores com advertncia, suspenso, ou mesmo cassao de registro.
A advocacia a confiana que se entrega a uma conscincia. Confiana que
entregue pelo cliente ao advogado e sem a qual no poder atuar. Tal conscincia deve
estar amparada nas normas ticas a que est interligada. imprescindvel que todo
advogado tenha conscincia da importncia que a tica desempenha em sua profisso.
O advogado, de acordo com sua funo, realiza atos para terceiros, no podendo
exercer tal atividade sem uma funo moral digna, embasada em conceitos
estabelecidos pela sociedade como conduta correta para a harmonia social. Assim, o
advogado tico aquele que observa, no exerccio da sua profisso, respaldado pelo seu
cdigo de tica, uma srie de princpios morais que resulte em uma maneira de ser
ntegra e honrada.
A tica uma das maiores aliadas do advogado, pois o protege e guia no caminho
da moral e da dignidade profissional, indissocivel do exerccio do Direito, no tendo o
simples objetivo de respeitar o cdigo, mas sim como uma posio de sua conscincia
voltada para a humanidade, que faria da advocacia uma profisso digna no mundo todo.
3 A TICA DOS MEMBROS DO MINISTRIO PBLICO
Constituio, discorrer acerca das funes do MP
No seria menos importante estabelecer aos membros do Ministrio Pblico do
Brasil, sejam em mbito da Unio ou nos limites de cada Estado Federado ou Distrito
Federal, condutas condizentes com a tica voltada profisso, haja vista serem dotados
de grande independncia administrativa e funcional, atuando onde seu bom senso de
justia indicar, e a lei lhes conferir suporte para tanto.
A lei 8.625/93 elenca no captulo VII os deveres e vedaes dos membros do
Ministrio Pblico de forma geral, assim sendo incide tanto para os promotores e

procuradores de justia, em mbito estadual, quanto para os procuradores da repblica,


do trabalho e militar, em mbito federal.
Inicialmente surge o dever de manter ilibada sua conduta pblica e particular,
devendo igualmente zelar pelo prestgio da justia, mormente por serem os membros
do Parquet, "promotores" da Justia, encontrando nela o fundamento de sua profisso,
tm que assistir pessoalmente aos atos judiciais, quando obrigatria ou conveniente a
sua presena j que representa a sociedade, por isso dever adotar as providncias
cabveis a fim de sanar quaisquer irregularidades de que tenha conhecimento, o que
demonstra o poder de defensor da sociedade e da justia, bem como obedecer aos
prazos processuais, garantindo, assim, a celeridade do processo, sempre fundamentando
seus pronunciamentos processuais, o que garante o controle de sua atuao por parte de
sua prpria estrutura interna, ou se for o caso, pelo Judicirio no caso de recursos.
Questo importante a um atuar tico por parte do MP diz respeito
obrigatoriedade de seus integrantes se declararem suspeitos ou impedidos de atuar em
processo, com o fito de se evitar atos passionais, ensejando, assim, segurana da
coletividade, representada pelo ente ministerial.
Ora, uma das caractersticas da jurisdio a substituio da vontade das partes
pela vontade do Estado, expressa no provimento jurisdicional, quando as primeiras, por
no conseguirem chegar a um acordo, provocam-na com o escopo de obter soluo para
sua lide; para tanto preciso que toda a sua estrutura seja imparcial, obviamente estes
profissionais tambm so pessoas, e como tal dotadas de interesses, parentescos,
amizades, e, mesmo, inimizades; da para que o processo no sofra ingerncia desses
fatores externos, que aqui ocasionariam uma ntida mcula aplicao da justia da
deciso a ser proferida, que, havendo vcio de ordem subjetiva ou objetiva, devem os
membros do MP alegar, de imediato, sua suspeio ou impedimento, respectivamente,
no sentido de serem substitudos por outros que no sofram a referida ingerncia
externa; e caso no se aleguem suspeitos ou impedidos poder qualquer as partes
oferecer exceo nesse sentido, que se acolhida pelo rgo ad qum ensejar o
afastamento do exceto.
Deve o promotor, assim como o Juiz, residir na comarca onde exerce suas
atividades, pois assim ser encontrado nos casos de relevncia e urgncia, bem como
No pode exercer qualquer outra funo pblica remunerada, salvo a de magistrio.
Tamanha responsabilidade e autonomia no impedem que se estabeleam
regras ticas do promotor em relao a seus superiores. Deve ele acatar as decises de
sua administrao superior, bem como prestar informaes, quando solicitadas pelos
rgos da instituio.
Saindo da seara dos deveres dos membros do MP, impe-se-lhes vedaes, que
so impedimentos de praticarem atos contrrios ao propsito da instituio. No pode o
promotor exercer advocacia ou comrcio, ou ainda participar de sociedade comercial,
salvo como acionista ou cotista. Tambm, e por corolrio a estas duas regras, jamais
receber honorrios, custas ou porcentagens, a qualquer pretexto, na qualidade de
promotor de justia. Tal vedao, alm de proteger o bem senso do titular do cargo,
denota a confiana da sociedade em seu trabalho, pois assim no poder cair em

devaneios acerca de causas particulares, e exercer, nica e exclusivamente, a sua


funo pblica, que lhe exige tempo e trabalho.
Finalmente, lhes era vedado o exerccio de atividade poltico-partidria,
mas ressalvando-se as excees da lei, segundo o Art. 44, V, da Lei 8.625/93. Porm,
com o advento da emenda constitucional n. 45/04, doravante no ser mais permitida,
em qualquer hiptese, o exerccio de atividade poltico-partidria por parte de membro
do Ministrio Pblico, visto que o art. 128, 5, inciso II, da CF, em sua alnea a),
sofreu alterao, vedando, em qualquer hiptese, tal atividade por parte do promotor.
Os poderes concedidos ao Ministrio Pblico aps o advento da CF de 88
merecem destaques em discusses ticas acerca da atuao de seus membros, visto que
passaram, significativamente, a obter poderes discricionrios, sob o crivo de suas
prprias conscincias ticas, o que, de um lado trouxe seriedade e temor quanto s suas
investigaes, e de outro, exageros e exibicionismos por parte de alguns de seus
membros. Fato que, diante do crescimento do assdio da mdia em relao a tais
profissionais [33], indagaes ticas permanecero nas pautas dos estudiosos, anlises a
serem vistas diversas vezes conforme a entidade ganha destaque na sociedade ao
exercer seu fundamental papel.
4 A TICA PRESENTE NO PODER JUDICIRIO

As principais diretrizes dos deveres, prerrogativas e preceitos ticos da


magistratura so encontrados no art. 93 da CF, alm da LOMAN (Lei Orgnica da
Magistratura Nacional) e do Cdigo de tica da Magistratura Nacional, criado
pelo Conselho Nacional de Justia, entidade surgida com o advento da emenda
constitucional n. 45/04, e destinada precipuamente s apuraes de infraes e
irregularidades dentro do poder judicirio.
Dever interessante, j comentado quando da explanao acerca dos membros
do MP, a fixao de residncia do juiz na respectiva comarca onde atua, salvo
autorizao do Tribunal [38], pois em casos de excepcional urgncia poder o poder
judicirio ser acionado, para que assim garanta a efetiva justia em eventualidades,
passveis de se acontecer.
Ademais, o juiz no poder exercer outra atividade, seno a de magistrio,
consagrando-se, aqui, o dever de dedicao exclusiva profisso. Alm disso, como
obtempera Nalini, dois deveres merecem destaque: o do desinteresse, que faz com que
todas as causas sejam examinadas com imparcialidade e igualdade de ateno, e o
da absteno poltica, que conseqncia da imparcialidade, para que o juiz decida
segundo sua conscincia e no sob influncia poltica. [39] Todos esses so encontrados
no art. 95, pargrafo nico, incisos I a III, da CF, sob a forma de vedaes.
Obrigao importante, que garante estabilidade no exerccio da jurisdio, a
de fundamentao das decises do juiz, objetivando a explicao de o porqu haver o
magistrado seguido por tal entendimento, elucidando melhor a deciso e dando-lhe
maior segurana. [40]

Duas vedaes presentes na CF garantem a imparcialidade do Poder Judicirio,


quais sejam: receber contribuies pecunirias de pessoas fsicas ou jurdicas (em razo
da funo), alm de exercer a advocacia no juzo ou tribunal do qual se afastou, antes de
decorridos trs anos do afastamento. [41]
A Lei Orgnica da Magistratura Nacional (Lei Complementar n. 35 de 1979)
organiza regras deontolgicas para o exerccio da profisso, especificamente em seu
artigo 35, que dispe sobre os deveres dos magistrados, alguns corroborados
posteriormente pelo advento da CF, alm de outros em carter de especialidade.
O juiz deve cumprir e fazer cumprir, com independncia, serenidade e
exatido, as disposies legais e os atos de ofcio, no excedendo injustificadamente os
prazos para sentenciar ou despachar, alm de determinar as providncias
necessrias para que os atos processuais se realizem nos prazos legais, tudo para
garantir a presteza e celeridade de todo o trmite processual. [42]
Dever concorrente de todos os profissionais da rea jurdica o de urbanidade,
eis que o juiz, que exige respeito, tambm o faz para com as partes, membros do MP,
advogados, partes, funcionrios e demais presentes (inciso IV, art. 35, da LOMAN).
Se o juiz deve cumprir com seus deveres, deve fazer tambm com que os
demais cumpram com os seus. Ao passo que deve comparecer pontualmente hora de
iniciar-se o expediente ou a sesso, e no se ausentar injustificadamente antes de seu
trmino, dever exercer assdua fiscalizao sobre os subordinados, especialmente no
que se refere cobrana de custas e emolumentos, mesmo que no haja reclamao das
partes. [43]
A LOMAN impe ainda trs importantes vedaes aos magistrados, em seu
artigo 36, incisos I a III. Os juzes esto proibidos de exercer o comrcio ou participar
de sociedade comercial, exceto como acionista ou quotista, alm do que no podem
exercer cargo de direo ou tcnico de sociedade civil, associao ou fundao, de
qualquer natureza ou finalidade, salvo de associao de classe, em cargo sem
remunerao. Ademais, veda-se-lhes a manifestao, por qualquer meio de
comunicao, de opinio sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou
juzo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenas, de rgos judiciais, ressalvada a
crtica nos autos, em obras tcnicas ou no exerccio do magistrio.
Dentro do processo judicial, o juiz dever coordenar uma
estrutura cooperatria entre o mesmo e as partes, de maneira a viabilizar o exerccio do
contraditrio e da ampla defesa, buscando sempre a verdade real dos fatos, e trazendo
ao final, a deciso mais justa a cada caso concreto, em uma aluso aos brocardos
jurdicos narra mihi factum dabo tibi jus (narre-me o fato que te darei o direito) e juria
novit curia (o juiz conhece o direito). [44]

Por fim, o Cdigo de tica da Magistratura Nacional elenca os grandes


elementos a serem seguidos pelos magistrados no exerccio da profisso, quais sejam:
a independncia, a imparcialidade, a transparncia, a integridade pessoal e profissional,
a diligncia e dedicao, a cortesia, a prudncia, o sigilo profissional, o conhecimento e
a capacitao, a dignidade, a honra e odecoro. [45]
So essas as regras gerais sobre a tica dos magistrados. Quaisquer atos
atentatrios s regras ticas podero ser punidos, de acordo com o Captulo II - Das
Penalidades, presentes na LOMAN, que demandam estudo peculiar ao cunho deste.
E concluindo-se sobre as regras deontolgicas da magistratura nacional,
demonstra-se que o juiz, autoridade preponente na aplicao da justia, dever ser
aquele profissional que se orgulha de seu cargo e trabalha com devotamento, que no se
influencia pelas idiossincrasias do cotidiano, mantendo-se imparcial. Sua conduta
dever servir de exemplo, no somente dentro do exerccio de suas atribuies, mas
tambm em sua vida particular [46], visto que aos olhos de todos ele a justia, e o
descrdito em sua pessoa tambm gera o descrdito no Poder Judicirio.
Nos dizeres de Jos Renato Nalini, desembargador com vasta experincia na
judicatura, "a justia abarca tudo. Diz a ltima palavra. Garante ou destri o
Estado de Direito. imprescindvel para que a sociedade no se torne um caos.
Impede a barbrie. E concretizada mediante implementao da cincia mais
prxima moral, de intimidade maior com a tica, a cincia do direito". [47]
O que se espera do futuro da magistratura a excessiva educao e o
treinamento dos juzes, para que ajam e julguem como devem, e no apenas como
queiram. Preserva-se, assim, a tica diante do Poder Judicirio, que instrumento da
justia, necessria em qualquer nao, e que jamais poder ser ignorada perante
estudiosos da rea jurdica.
5 CONCLUSO
Da abordagem desta temtica surge a convico a respeito da atualidade e urgncia
atinentes questo tico-moral.
A vida em sociedade exige posturas moralmente responsveis nos campos pessoal,
familiar e profissional.
Na atualidade h um grande esforo no sentido de pautar a conduta profissional dentro
de um padro tico que satisfaa minimamente s exigncias de decncia e dignidade
nas relaes estabelecidas entre profissionais e destes com seus clientes.
Na seara jurdica, como noutros ofcios, h uma enorme preocupao em diminuir o
desgaste pelo qual passa principalmente a advocacia diante de tantos escndalos
envolvendo advogados.

Os cdigos de conduta profissional tm sido adotados como uma forma de tentar frear
os abusos cometidos, mas enfrentam dificuldades no que se refere aplicao das
punies, em virtude do corporativismo que move os interesses profissionais.
Apesar disto, sobremodo importante a valorizao das condutas profissionais
adequadas pautadas nos princpios morais, na tica e quando for o caso na prpria
norma jurdica.
Quando os cdigos de tica profissional no funcionam em seu escopo de promover a
adequada higienizao dos quadros profissionais, resta Justia suprir tal lacuna, posto
que no raro a leso aos valores tico-morais tambm poder ter conseqncias legais,
entretanto quando a Justia tarda demais ou simplesmente falha na promoo de sua
misso institucional, perdemos todos ns os cidados de bem, e perde tambm o pas,
tem lugar o descrdito nas instituies, o dano portanto coletivo.
A compreenso da deontologia profissional passa pela adequada percepo que se deve
ter das possibilidades advindas da interface entre moral, tica e direito. Neste sentido,
preciso que se estabeleam os espaos de atuao de cada um desses institutos.
Com efeito, a honestidade, boa f, honradez e a solidariedade, dentre outros valores,
devem permear todas as relaes sociais. Diante disto, exige-se dos operadores do
direito um compromisso com a moralidade a fim de resgatar a dignidade de algumas
profisses jurdicas combalidas pelos sucessivos escndalos que constantemente visitam
o noticirio.
Os cdigos de tica profissional representam um avano na misso de melhorar a
qualidade moral dos profissionais do direito, aliado a isto no podemos deixar de repisar
a necessidade de se valorizar o exame de ingresso na Ordem dos Advogados do Brasil
como um critrio favorvel melhoria da qualidade dos causdicos em nosso pas.
A sociedade tem nsia por dignidade, decncia e justia e espera que o Estado dote a
norma jurdica de um mnimo tico fundamental segurana das relaes sociais e
profissionais, a fim de que os indivduos e as instituies sejam impelidos ao exerccio
de uma moral mediana, nem to virtuosa que no possa ser cumprida, tampouco to
viciosa que no consiga evitar a proliferao dos desvios de conduta profissional.
A tica sempre cuida de questes morais aplicadas aos diversos segmentos sociais
(atuao profissional, famlia, igreja, servio publico, etc.). A abordagem referente ao
direito, moral e tica fundamental para o bom entendimento acerca da importncia
de tais institutos ao desempenho adequado das atividades profissionais, sobretudo, no
que se refere s profisses jurdicas imprescindveis boa prestao da atividade
jurisdicional.
A justia, em todos os seus pormenores, jamais conseguir se estabelecer por si
s, atravs de um nico rgo ou ente. Necessita de integrao de todos os profissionais

ligados rea jurdica, entre eles o advogado (pblico e particular), o promotor de


justia (e cargos afins) e, claro, o juiz, que exercer o poder jurisdicional com a
colaborao de todos os supramencionados.
A anlise de regras deontolgicas, nortes ticos das respectivas carreiras, nos
conduz percepo de que a tica sempre exigir do bom profissional afinco e
dedicao, para que se torne como exemplo para os demais indivduos da sociedade e da
prpria rea. Tanto juzes, quanto advogados e promotores so pessoas que servem de
parmetro a ser seguido pela coletividade, eis que representam classes de respeitados
profissionais, nos quais muitos se espelham.
Nota-se tambm que certas regras ticas so comuns a todos eles, como a que
exige do profissional o dever de urbanidade com membros de outra carreira, o que por
demais explicita a educao e respeito aos olhos da sociedade.
Nada se faz e nenhum passo se alcana sem regras e princpios ticos, e, ainda
que muitas vezes no percebamos, tais regras esto presentes em nossa conduta prtica
de tal maneira que a sua desobedincia geraria no somente a punio legal mas
tambm a moral, que, de certa forma, mais ampla e inaceitvel. Assim, com as
anlises e estudos ticos, pode-se chegar ao ideal de cada profisso, para que a luta
incessante por direito e justia jamais deixe de ser praticada, e para que tenhamos
sempre a certeza de que estaremos amparados por um Estado defensor da paz social e
da segurana jurdica.
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