História Da Morte No Ocidente
História Da Morte No Ocidente
História Da Morte No Ocidente
ries explica que vai abordar a questo das atitudes diante da morte sob a
tica da sincronia e da diacronia, pois enquanto algumas atitudes
permanecem praticamente inalteradas, outras surgem em determinados
momentos e so peculiares a determinado perodo histrico.
O primeiro assunto, a Morte domada, claramente sincrnico: a morte
vista com naturalidade; dentro deste imaginrio a morte precedida de um
aviso dado por signos naturais ou por uma convico ntima. O autor
enumera exemplos que iniciam no sculo X, passando por dom Quixote,
pelos romnticos do sculo XIX, Tolstoi, at 1941, praticamente
contemporneo da produo do livro.
O aviso permite que o moribundo tome tranquilamente suas providncias:
recolhe-se ao leito, deitado de costas, a cabea voltada para o oriente.
O cerimonial da partida envolve diversos passos:
Lamento da vida: evocao nostlgica de seres e coisas amadas
Perdo dos companheiros
Pensar em Deus: admitir culpas e homenagear o divino
Absolvio sacramental
A morte uma cerimnia pblica e organizada; e o mais importante: a
simplicidade com que os ritos da morte eram aceitos e cumpridos, sem
carter dramtico ou emoo excessiva.
Assim morriam as pessoas durante sculos ou milnios; nessa antiga
atitude a morte ao mesmo tempo familiar e prxima, por um lado, e
atenuada e indiferente, por outro.
Arries destaca outro aspecto dessa antiga familiaridade com a morte:
A coexistncia dos vivos com os mortos: na Antiguidade (tal como hoje), os
mortos eram temidos e mantidos distncia, e a prtica de cultos
funerrios visava impedir que estes voltassem para perturbar os vivos. Mas
o culto dos mrtires produziu uma viso diferente: os restos mortais so
trazidos cidade para proteg-la; no local construda uma igreja, e as
pessoas querem ter seus corpos enterrados ao lado dos mrtires; o
cemitrio acaba se tornando uma parte da igreja, rea pblica, ponto de
encontros e reunio, at de comrcio.
A morte de si mesmo
Durante a segunda metade da Idade Mdia, do sculo XII ao sculo XV, deuse uma aproximao entre trs categorias de representaes mentais: as da
morte, as do reconhecimento por parte de cada indivduo de sua prpria
biografia e as do apego apaixonado s coisas e aos seres possudos durante
a vida. A morte tornou-se um lugar em que o homem melhor tomou
conscincia de si mesmo.
A morte do outro
A morte interdita
Comentrios
Rabolu. Em dado momento de sua vida, em pleno ano 2000, ele demonstrou
uma pressa incomum em concluir o projeto de um livro, e revelou a razo: a
advertncia chegara, ele estava prestes a partir; despediu-se dos
estudantes e amigos e morreu de uma parada cardaca.
Ao estudar os fenmenos que vo transformando a viso tradicional, fica
evidente que as mudanas esto atreladas a uma tomada de conscincia do
ser como indivduo; o centro de gravidade das mentalidades vai se
deslocando do coletivo para o indivduo. Ainda que ries no estabelea um
nexo causal com a crise feudal e o surgimento da Idade Moderna, o recorte
temporal estabelecido (sculos XII ao XV) coincidente, e a individualizao
uma caracterstica marcante das expresses culturais do Renascimento.
Ao observarmos o relato do imaginrio medieval sobre a questo da morte
fica evidente a preeminncia da religiosidade naquele perodo, e de como
ela permeava todas as outras relaes e as amarrava.
Ao enfocar os elementos causadores de mudanas, ries d nfase a
explicaes de fundo psicolgico (represso e sublimao) e estabelece
relaes com fenmenos sociais (novas relaes familiares fundadas em
sentimento e afeio, no sculo XVII), artsticos e religiosos. Dinmicas
sociais como a intensa urbanizao so usadas para explicar algumas das
rpidas transformaes que acometem o imaginrio do sculo XX.
O cmputo final parece ser negativo; apesar do desenvolvimento da
conscincia individual, o autor v na moderna percepo da morte um
apego hedonista vida; o homem esquece-se da morte para no sofrer, e
por isso mesmo sofre horrivelmente sempre que a morte ocorre.
O autor finaliza com um questionamento: nossas culturas tecnizadas tero
ficado impossibilitadas de reencontrar a confiana ingnua no Destino?