Geografia e Patrimônio Cultural: Ensino de Urbanização Através Da Ótica Da Educação Patrimonial
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RESUMO
A geografia escolar tem o objetivo de formar cidados conscientes do espao em que esto inseridos. As maneiras do
professor de geografia trabalhar a produo do espao so diversas. Este trabalho parte de uma perspectiva da educao
patrimonial. Ainda pouco difundida entre as metodologias de ensino de geografia, a educao patrimonial permite que o
professor de geografia ao trabalhar com o patrimnio cultural possa fazer uma srie de ligaes interdisciplinares com o seu
contedo. Atravs do desenvolvimento de um plano de aula de educao patrimonial para abordagens dos contedos de
urbanizao, este trabalho espera contribuir com novas ideias, sugestes e reforar a importncia do patrimnio cultural como
um objeto a ser trabalhado pela geografia. Pensando na educao patrimonial para o ensino da urbanizao, foi trabalhada a
metodologia proposta por Grunberg (2007) em duas turmas do segundo ano do ensino mdio no Colgio Estadual
Hildebrando de Arajo em Curitiba PR utilizando a Praa Tiradentes, que est localizada no centro da cidade de Curitiba,
como rea de estudo. A proposta metodolgica se deu em quatro etapas distintas: observao, registro, explorao e
apropriao. Para adequar estas etapas metodolgicas ao ensino de geografia foram feitas as adaptaes necessrias,
realizando aulas expositivas sobre alguns conceitos tericos, uma aula de campo no lugar a ser estudado, registro fotogrfico
da paisagem urbana, avaliao da conservao do patrimnio e elaborao de um mapa temtico. A atividade apresentou
bons resultados com os alunos, tendo um satisfatrio envolvimento da turma, mostrando que a abordagem patrimonial pode
ser uma boa possibilidade de trabalho com alunos do ensino mdio. A insero de um trabalho de campo e do estmulo da
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criatividade e pensamento crtico dos alunos permite um processo educativo muito mais fluido e interessante do que os
mtodos tradicionais de trabalho.
Palavras-chave: Ensino de Geografia. Metodologia de Ensino de Geografia. Educao Patrimonial. Urbanizao. Paisagem
Cultural.
ABSTRACT
School geography has the main purpose of educating citizens conscious of the space they live in. There are many ways in
which geography teachers can approach the subject of spatial development. This project proposes a cultural heritage
education approach. Therefore not very discussed among geography teaching methodologies, cultural heritage education
allows the teacher to work our base of an interdisciplinary approach in other themes and subjects. Through the development
of a lesson plan of cultural heritage education to teach urbanization, this paper hopes to contribute with new ideas,
suggestions and to strengthen the importance of cultural heritage as an object to be studied by geography. Thinking of
cultural heritage education to teach urbanization, the methodology proposed by Grunberg (2007) has been applied in two
high school grade two classes in the Colgio Estadual Hildebrando de Arajo in Curitiba PR using the Tiradentes Square,
located in the Curitiba city center, as area of study. The methodological proposal was applied in four steps: observation,
recording, exploring and appropriation. To use these steps in geography teaching, it was necessary to adapt it by doing
expository theoretical concepts, a field trip to the studied area, photographic recordings of the urban landscape, an evaluation
of the cultural heritage conservation status and mapping the results. The students showed a great interest in the subject, which
can be interpreted as success of teaching urbanization with an unusual approach. The field trip and stimulating creativity and
critical thought allows an educational process much more productive than traditional methods of teaching.
Keywords: Geography Teaching. Methodology of Geography Teaching. Cultural Heritage Education. Urbanization. Cultural
Landscape.
RESUMEM
La geografa escolar tiene el objetivo de formar ciudadanos concientes del espacio en que vivem. Las formas del profesor de
geografia trabajar la produccin del espacio son variadas. Este artculo fue escrito desde una perspectiva de educacin
patrimonial. Todava poco conocida entre las metodologias de enseanza de geografa, la educacon patrimonial permite al
profesor, cuando ensenha sobre el patrimonio cultural, hacer una serie de vnculos interdisciplinarios con la matria de la
asignatura. Al desarrollar el plan de leccin en educacin patrimonial, con enfoques sobre los temas de urbanizacin, el
presente trabajo pretende contribuir con nuevas ideas, sugerencias y fortalecer la importancia del patrimonio cultural como
objeto para trabajar por la geografa. Pensando en la educacin patrimonial para la enseanza de la urbanizacin se estudio el
metodo propuesto por Grunberg (2007) en dos clases de secundario en el Colegio pblico Hildebrando de Arajo, en Curitiba
Paran Brasil, valindose de la Plaza Tiradentes, que se localiza en el centro de Curitiba, como rea de estudio. La
propuesta metodologca se elaboro en cuatro pasos distintos: observacin, registro, exploracin y apropiacin. Para adaptar
estos pasos metodolgicos a la enseanza de geografa se realizaron ajustes necesarios, elaborando: clases sobre conceptos
tericos; una visita al local motivo del estudio; registro fotogrfico del paisaje urbano; analise de la conservacin del
patrimonio y mapa temtico. La actividad demostro buenos resultados con los estudiantes, con una participacin satisfactoria
de la clase, lo que comprova que el enfoque patrimonial puede ser una buena oportunidad de trabajo con estudiantes de
secundaria. La insercin de clases practicas, el fomento de la creatividad y del pensamiento crtico de los estudiantes permite
un proceso educativo ms fluido e interesante que los mtodos tradicionales de estudio.
Palabras clave: Enseanza de la Geografa. Metodologa de Enseanze de Geografa. Educacin Patrimonial. Urbanizacin;
Paisaje Cultural.
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Introduo
Os Parmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 2000) associam as diretrizes ticas com
os princpios do aprender a ser, e, nessa lente adentram uma percepo de uma educao
compromissada constituio de identidades capazes de se relacionar com seu tempo e
espao. As disciplinas escolares de geografia e histria tm, portanto, valor primordial para
atingir estes objetivos.
O patrimnio representa um vnculo da memria dos grupos sociais em diferentes
momentos da produo do espao. A geografia escolar, diferentemente da sociologia e
histria, ainda no se apropria intensamente das questes sobre o patrimnio.
Para Claval (2007), a cultura multifacetada e fruto das relaes sociais ao longo do
tempo em determinados pontos do espao. Este espao pode ser entendido como a paisagem
cultural como um holon, que inclui um universo de valores e smbolos, tal como trabalhada
por Andreotti (2012), O objetivo deste estudo aplicar uma metodologia diferenciada de
trabalho de ensino de urbanizao que possibilite o aluno compreender como se deu o
processo de urbanizao da cidade de Curitiba e como este processo e seus diferentes
perodos esto representados na paisagem cultural da Praa Tiradentes e entorno atravs do
seu material edificado.
O patrimnio material edificado pode ser entendido como a dimenso material da
cultura apresentado por Corra e Rosendahl (2007). O patrimnio edificado necessita ser
estudado de acordo com o contexto em que est inserido e no como ponto isolado, pois a
paisagem cultural urbana o resultado das interaes entre as construes e seu entorno
(CHOAY, 2001).
Da mesma forma que a paisagem urbana construda ao longo do tempo atravs dessa
relao entre espao e sociedade, tambm so construdas as identidades dos indivduos e dos
grupos sociais atravs de relaes entre os lugares, memrias e smbolos (BONNEMAISON,
1997). O patrimnio ento a expresso dos diferentes momentos histricos da produo da
vida social e objeto de articulao da memria social da populao. Patrimnio o lao de
conexo do indivduo com o seu passado coletivo, que reafirma seu pertencimento a
determinado lugar (NR, 2010).
Aliando o patrimnio ao ensino, tem-se a Educao Patrimonial. Cujo conceito
definido pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), como sendo:
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Os processos educativos formais e no formais que tm como foco o
patrimnio cultural apropriado socialmente como recurso para a
compreenso scia histrica das referncias culturais em todas as suas
manifestaes, com o objetivo de colaborar para o seu reconhecimento,
valorizao e preservao (IPHAN, 2013, p.5).
Segundo Casco (2005, p.5), a educao patrimonial possui uma srie de objetivos e
frentes de atuao, entre eles podem-se citar os seguintes:
1) valorizar a diversidade da base social na qual o patrimnio constitudo e
reconhecido; 2) reconhecer, preservar e difundir as referncias culturais
brasileiras em sua heterogeneidade e complexidade e considerando os
valores singulares, sentidos atribudos e modos de transmisso elaborados
pela sociedade;[...] 7) promover e estimular a transmisso do patrimnio
cultural e da memria social s geraes futuras.
Nogueira e Carneiro (2013) afirmam que estes alunos atravs deste processo dialtico
de formao da conscincia espacial-cidad sero capazes de serem ativos nos seus espaos
de vida lutando para obter os valores de uma sociedade mais justa, pois na formao dessa
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Entendendo-se multidisciplinar como o trabalho que integre mais de uma disciplina escolar.
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conscincia espacial-cidad, o aluno se compromete com as idiossincrasias do espao que o
cerca ao mesmo tempo em que o relaciona com os espaos que esto alm dele. Esta
abordagem de ensino de geografia ento fundamentalmente escalar, pois trabalha na
microescala para atingir o contexto mais amplo da macro escala.
Partir de um ponto conhecido pelos alunos e extrapolar os conhecimentos obtidos para
um contexto maior o que pauta este trabalho. Ao trazer os elementos da Praa Tiradentes e
entorno para o debate em sala de aula, espera-se que os alunos sejam capazes de relacionar as
questes do patrimnio, sua conservao e o desenvolvimento do espao urbano num
contexto muito mais amplo do que este pequeno ponto no centro de Curitiba.
Neste trabalho, a proposta de educao patrimonial atravs da Geografia trabalha com
o espao urbano. O espao urbano possibilita entender a sociedade de uma forma
extremamente ampla (VEIGA et al, 2010) pois ele , um produto social resultado de aes
acumuladas atravs do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espao
(CORRA, 2002, p. 11). Atravs de aulas expositivas, a realizao de um trabalho de campo,
registro fotogrfico e mapeamento do patrimnio da Praa Tiradentes e entorno, espera-se que
os alunos sejam capazes de compreender e se apropriar dos smbolos e significados da
paisagem urbana.
Este trabalho tem como objetivos, portanto, impulsionar as discusses do patrimnio
cultural na geografia escolar e agregar questes e mtodos da geografia para a educao
patrimonial, atravs da elaborao de um plano de atividades que engloba as relaes do
patrimnio material edificado com a urbanizao de Curitiba, e tambm promover o
desenvolvimento da conscincia espacial-cidad nos alunos atravs do exerccio da autonomia
e do pensamento crtico.
Estes objetivos se justificam no fato de que h uma grande necessidade de conservar o
patrimnio cultural do pas, fazendo com que as pessoas consigam apropriar-se e identificarse com estas manifestaes culturais. No s o cidado deve se identificar com o patrimnio,
mas a prpria cincia geogrfica. Ainda h um nmero reduzido de trabalhos de ensino de
geografia que abordem as questes patrimoniais, este artigo visa fazer uma pequena
contribuio a este mbito to vasto de pesquisa que a educao patrimonial.
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Caracterizao do Espao Escolar
O Colgio Estadual Hildebrando de Arajo onde a prtica pedaggica foi aplicada se
localiza no bairro Jardim Botnico, regio central de Curitiba. O Jardim Botnico faz divisa
com os bairros: Centro, Alto da Rua XV, Cristo Rei, Cajuru, Jardim das Amricas, Prado
Velho e Rebouas. O cartograma (Figura 1) indica a localizao da escola na cidade de
Curitiba.
Alm do Parque Jardim Botnico, o bairro apresenta outro grande ponto de referncia,
o campus Botnico da Universidade Federal do Paran. Outro ponto importante do bairro a
Vila Torres. O bairro Jardim Botnico principalmente um bairro residencial, com uma
quantidade mdia de comrcios.
As principais vias de acesso ao Jardim Botnico so as seguintes avenidas: Av.
Comendador Franco, Av. Prefeito Omar Sabbag e Av. Presidente Affonso Camargo. O
Colgio Estadual Hildebrando de Arajo se encontra cravado no meio da Av. Prefeito Omar
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Sabagg, o que lhe confere uma peculiar organizao espacial, pois se percebe que as ruas
cresceram em volta da escola, dado a sua avanada data de construo.
Fundado como Grupo Escolar Coronel Hildebrando de Arajo, o colgio j est
presente no bairro desde 1957. O Colgio Estadual Hildebrando de Arajo atende aos
estudantes moradores de So Jos dos Pinhais e da Vila Torres de Curitiba. Durante o perodo
da manh, cerca de 60% dos alunos so moradores de So Jos dos Pinhais, de bairros
prximos ao aeroporto e divisa com Curitiba, enquanto outros 30% so moradores da Vila
Torres e os 10% restantes so moradores de outros bairros prximos escola. Em sua maioria,
os alunos so provenientes de famlias de baixa escolaridade e de baixa renda. A escola ,
portanto um lugar para mudar a situao destas pessoas.
Um grande problema do colgio Hildebrando de Arajo a evaso. No decorrer dos
anos a escola tem diminudo cada vez mais o seu nmero de turmas, pois os alunos ao longo
do ano letivo acabam desistindo dos estudos. O resultado disso so corredores esvaziados e
espaos pouco aproveitados pela escola, o que uma grande perda, pois o colgio conta com
uma infraestrutura ampla que apresenta traos caractersticos das escolas construdas na
dcada de 1950.
Partindo do pressuposto de que a evaso escolar pode estar relacionada com um
desinteresse dos estudantes com as matrias e as metodologias de ensino, a realizao de
atividades diferenciadas com os alunos pode ser ento uma alternativa de despertar o interesse
nos estudos e mostrar outros olhares para os contedos trabalhados.
Caracterizao da rea de Estudo
A ideia de trabalhar os contedos de urbanizao e de patrimnio com os alunos
demanda a escolha de um ponto no espao onde estejam bem marcados os diferentes
momentos histricos que a cidade passou. Para tanto, foi escolhida a Praa Tiradentes, praa
central da cidade de Curitiba. Essa escolha parte das duas formas distintas de percepo dos
estudantes: primeiramente daqueles estudantes que no tem uma relao com a praa, e a
percebem como um lugar extico, de outro lado, os estudantes que possuem algum vnculo
com a praa e possuem um olhar diferenciado.
A Praa Tiradentes a primeira praa da cidade de Curitiba. Segundo a lenda
da fundao da cidade, defronte a capela da padroeira da cidade partiram as linhas que dariam
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o traado cidade. Seguindo o padro da ocupao das colnias portuguesas, estabeleceu-se
em Curitiba uma igreja e em frente uma praa central, esta praa central a atual Praa
Tiradentes. Berberi e Sutil (1997) destacam os diferentes aspectos da praa ao longo dos
sculos, desde um relato do viajante Auguste de Saint Hilaire em 1820 que descreve a praa
como um grande quadrado coberto por relva. At ento a praa era conhecida como o Largo
da Matriz, anos depois, aps a visita do imperador Curitiba, ela passa a ser conhecida como
Largo D. Pedro II. Com o fim do imprio, a praa ganha um nome republicano: Praa
Tiradentes.
Por ser a praa mais antiga e mais central da cidade, a Praa Tiradentes sempre
foi de grande importncia, ento as alteraes que sofreu durante os ltimos sculos,
demonstram a imensa capacidade de explorar diversos contedos das disciplinas de histria e
geografia partindo de percepes sobre o patrimnio e a organizao espacial da praa. O
mapa (Figura 2) indica alguns pontos de interesse patrimonial para a elaborao do trabalho
com os alunos do ensino mdio.
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Estes pontos j muito conhecidos pelos moradores de Curitiba esto presentes no mapa
para indicar e orientar aos alunos, aspectos importantes a serem percebidos ao longo da aula
de campo.
As esttuas da praa representam um interessante aspecto proveniente do fim do
sculo XIX, durante o momento da transio do governo monrquico para o republicano,
nota-se que todas as esttuas exceto a mais recente do presidente Getlio Vargas, so
smbolos representando grandes cones da Repblica e do pensamento positivista da poca.
Ainda assim, existem cones de pocas pretritas na praa, por exemplo, o monlito de
fundao da cidade de Curitiba, com a Cruz de Cristo e a inscrio Rey, datando dos
primeiros fundadores da cidade.
Alm dos smbolos na praa, est presente um grande nmero de construes que
demonstram a importncia comercial da praa, como a Farmcia Stellfeld e o seu famoso
relgio de sol, o Palacete Paulo Hauer, o prdio da antiga Drogaria Minerva e muitos outros
prdios comerciais cada um com um estilo arquitetnico correspondente ao da poca de sua
construo. Esta variedade estilstica importante para se perceber as mudanas de ideias ao
longo do tempo e entender como a temporalidade da produo da paisagem urbana.
Se a cidade comeou com a construo da igreja, importante destacar o papel que ela
tem na praa, passando por uma srie de reconstrues e reformas ao longo de toda a sua
histria. A construo atual foi iniciada em 1877 e concluda em 1886 e destaca-se o estilo
gtico e a semelhana com diversas catedrais europeias. A construo da catedral representa
tambm os ideais de diferentes grupos da sociedade curitibana do sculo XIX, Berberi e Sutil
(1997) destacam que a sociedade mais tradicional teria optado por uma construo ligada ao
estilo barroco, enquanto alguns grupos menos tradicionais se identificavam com o gtico.
Atravs desta breve descrio sobre estes pontos de interesse percebe-se a rica
histria e a grande quantidade de trabalhos que podem ser desenvolvidos a partir da praa e
das noes que ela nos passa de temporalidade e produo do espao urbano.
Metodologia
Para o desenvolvimento do projeto nas turmas de ensino mdio do Colgio Estadual
Hildebrando de Arajo foi utilizado metodologia desenvolvida por Grunberg (2007) no
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Manual de atividades prticas de educao patrimonial publicado pelo IPHAN. A
metodologia de trabalho consiste em quatro etapas que buscam desenvolver nos alunos uma
diferente percepo do patrimnio material e imaterial. Esta metodologia foi escolhida, pois
se adequa s concepes de ensino de Geografia e aula de campo que foram adotadas por este
trabalho.
As quatro etapas metodolgicas descritas so: observao, registro, explorao e
apropriao (Grunberg, 2007, p.6). Nestas etapas, o aluno pode, respectivamente: captar de
diferentes formas os significados transmitidos pelo patrimnio, inicialmente atravs do olhar
atento ao patrimnio em campo seguido da elaborao de um registro (atravs do uso de
textos ou imagens) que possa auxili-lo para as discusses que seguiro. Com as discusses o
aluno passa a compreender a fundo e se apropriar das questes que envolvem o patrimnio.
O patrimnio s pode ser realmente entendido quando se discute e criam-se novos
conhecimentos que partem das interpretaes sobre ele. Esses conhecimentos no so
necessariamente apenas textos escritos, pois podem ser tambm transmitidos atravs de
fotografias, vdeos ou mapas. Essa criao de conhecimento a apropriao do patrimnio, e,
portanto compe a ltima e mais importante etapa metodolgica.
O espao urbano da Praa Tiradentes foi explicado para os alunos utilizando como
base o livro Tiradentes: a praa verde da Igreja, que contm diversas informaes histricas
sobre a praa e foi escrito com uma linguagem acessvel para alunos da educao bsica.
O trabalho foi desenvolvido ao longo de trs momentos distintos. Inicialmente os
alunos de duas turmas do segundo ano2 do ensino mdio tiveram uma aula expositiva onde foi
trabalhado o contedo terico (espao urbano, identidade e patrimnio), este contedo foi
trabalhado com o auxlio de apresentao de slides para ilustrar os temas com o recurso visual
das fotografias histricas (Figura 3) da Praa Tiradentes. Nesta aula expositiva tambm foi
realizado um pr-campo com os alunos, onde eles tiveram algumas informaes sobre a praa
e sobre objetos que eles deveriam se atentar ao realizar o trabalho de campo posteriormente.
O trabalho de campo seria realizado com a participao do professor, todavia
problemas internos na logstica foraram realizao do campo de maneira individualizada.
Os alunos realizaram a atividade de campo com os seus grupos. Na Praa Tiradentes
tiraram no mnimo trs fotos dos prdios ou esttuas que eles consideraram patrimnio,
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O contedo referente urbanizao pertence ao currculo das turmas do segundo ano do Ensino Mdio,
portanto estas foram as turmas escolhidas para aplicar este trabalho.
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segundo o que foi trabalhado na aula terica e elaboraram uma ficha que continha um breve
histrico e descrio sobre aquilo que tinham registrado nas fotografias e fizeram uma
avaliao do estado de conservao daquele patrimnio. Esta avaliao deveria ser baseada
nas percepes do prprio grupo e ser expressas numa escala de notas de 1 a 5, sendo a nota 1
o pior estado de conservao e 5 o melhor estado de conservao.
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Resultados
Apresentar os resultados de um trabalho educacional uma tarefa complexa, pois
apenas dados quantitativos no so capazes de demonstrar a eficincia da atividade ou se o
aluno realmente aprendeu. Portanto, os resultados sero apresentados principalmente com a
utilizao de dados qualitativos da pesquisa, o que no exclui totalmente o uso de informaes
quantitativas.
A quantificao pode servir para dar um panorama geral da turma, portanto
importante ter em mente o tamanho das turmas em que a atividade foi aplicada. O 2A tem
atualmente 18 alunos, o 2B tem 24. Observando os dados dos grficos 1 e 2, pode-se notar
uma discrepncia na participao dos alunos. A turma A teve 83% de participao dos alunos,
enquanto que a turma B teve apenas metade 50%. Estes nmeros podem significar que talvez
o trabalho com turmas menores possa ser mais proveitoso, afinal a turma A tinha menos
alunos que a B. Contudo, partindo do pressuposto de que no h uma turma igual outra, esta
afirmao pode no ser verdadeira para todos os casos.
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Uma constatao possvel de ser feita de que ainda h um grande esforo a ser feito
para ampliar a participao dos alunos, pois ainda no h uma participao completa da turma
na realizao da atividade, cabendo ento ao professor o dever de estimular os alunos e
conseguir desenvolver o processo educacional com a turma toda.
A realizao do trabalho de campo proporcionou aos alunos a capacidade de relacionar
os prdios que observaram com as imagens histricas apresentadas em sala. Ainda que muitos
alunos j conhecessem a Praa Tiradentes, poucos se atinham a observar as esttuas, os
marcos de referncia e a arquitetura dos prdios no entorno. O direcionamento do olhar
atravs da aula de campo permitiu que os alunos redescobrissem a sua cidade e pudessem
dialogar durante a realizao do mapeamento.
A aula de campo, por no ter tido a participao do professor, teve um carter
diferencial. O aluno ao ir para campo sem ter o olhar orientado pelo professor in loco. A
autonomia transpareceu na hora de julgar o que e o que no patrimnio, por exemplo, ao
classificar como um ponto de interesse o jardim circular em frente Catedral e os prdios no
incio da Rua Cruz Machado. Alguns alunos, demonstrando maior interesse, acabaram indo
muito mais longe, tirando fotos de outras praas e outros monumentos que ficam em outras
localidades no centro histrico de Curitiba. Esse tipo de situao seria improvvel num campo
guiado pelo professor, pois de certa forma a explorao do espao est limitada pelo programa
planejado pelo professor.
Nas figuras 4 e 5 observa-se com detalhes o mapeamento realizado pelos alunos. A
escolha de cores, a avaliao da nota do estado de conservao de cada ponto da praa e a
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forma de representao partiu da escolha dos alunos. Os pontos mapeados pelos alunos foram:
as quatro esttuas, a calada histrica, a catedral, a antiga Farmcia Stellfeld, o Palacete
Hauer, o prdio da Drogaria Minerva, o marco zero, o jardinete em frente Catedral e os
prdios da Rua Cruz Machado.
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As turmas tambm demonstram em seus mapas duas reas importantes, uma rea
considerada mais deteriorada na poro norte da Praa Tiradentes e nos prdios na quadra da
Catedral, e uma rea mais preservada na poro leste e sudeste da praa, na direo da Praa
Generoso Marques. Durante a discusso em sala de aula, as partes prximas da Catedral de
Curitiba, na poro norte da praa eram vistas pelos alunos como as mais perigosas, as mais
feias e as menos conservadas. Enquanto que a outra rea a sul vista pelos alunos como um
lugar muito mais seguro, e com prdios mais bem conservados.
O mapa pode ser visto ento como uma representao material dessas percepes que
os alunos transmitem no dilogo em sala de aula. Isso aproxima o aluno do contedo de
geografia, pois se abre um leque de discusses sobre a conservao do patrimnio e da cidade,
as dinmicas populacionais do centro, a dualidade dos espaos perigosos e seguros.
O que se inicia como um trabalho para discutir a questo patrimonial com os alunos
pode se ampliar em diversos rumos que o professor pode concentrar sua prtica docente.
Existem mltiplas percepes que os alunos tm, tanto da praa como da escola. O fato de
muitos alunos no serem moradores da cidade de Curitiba acaba criando uma relao bem
distinta com a importncia dada histria e os smbolos presentes na Praa Tiradentes do que
os alunos que moram em Curitiba. Contudo, mesmo os alunos que moram na cidade tm
percepes diferentes, pois muitos deles no frequentam as regies mais centrais da cidade.
O debate com os alunos sobre estes espaos da sua realidade e sobre suas percepes,
tambm aproxima o aluno do professor e vice-versa. Ampliando as relaes professor-aluno,
possibilitando trabalhos cada vez mais interessantes com a turma e humanizando o processo
educativo.
Consideraes finais e sugestes
Considerando que o objetivo do trabalho era apresentar uma proposta de ensino para
geografia utilizando o patrimnio, fica evidente que este objetivo foi atingido. O trabalho foi
alm e conseguiu demonstrar como o patrimnio pode ser um grande meio de fazer e ensinar
geografia. Este recorte temtico trouxe novos ares para o ensino da geografia urbana nas
escolas, os alunos tiveram a possibilidade de observar e compreender o espao em que vivem
de uma forma autnoma e crtica, ao perceberem as conexes existentes na paisagem cultural
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que ultrapassam os limites de reas do conhecimento fechadas em si mesmas ao trazer e
relacionar os contedos da histria e geografia.
Contudo, se faz necessrio reconhecer os limites do presente trabalho, a fim de trazer
para o debate novas ideias e possibilidades de se trabalhar com o patrimnio cultural na
geografia escolar. Uma limitao deste trabalho foi sem dvida a ausncia da realizao de
um trabalho de campo com toda a turma e a participao do professor, isso ocorreu, pois
durante o perodo da aplicao da proposta pedaggica, houve problemas com o translado dos
alunos e a falta de tempo hbil para reprogramar uma aula de campo o que seria necessria
uma reestruturao completa do trabalho em um curto perodo de tempo.
A proposta original para este trabalho era a realizao desta aula de campo com toda a
turma, para explicar ponto a ponto e chamar a ateno dos alunos para objetos especficos na
paisagem da praa. Contudo, percebeu-se que a atividade de campo realizada de forma
individual acabou sendo bastante proveitosa, pois estimulou o desenvolvimento da autonomia
e do olhar geogrfico sobre o espao por parte dos alunos.
Uma possvel proposta de trabalho seria tambm a realizao de um mapeamento
digital, onde os alunos utilizando um software livre para mapeamento pudessem elaborar os
seus mapas de conservao do patrimnio. Esse trabalho poderia ento mostrar a insero do
uso de geotecnologias com os alunos, o que seria de grande valor. Sabe-se, porm, que
trabalhar com este tipo de ferramenta demanda muito mais recursos da escola e tambm de
conhecimentos bsicos do software pelo professor.
Em linhas gerais, o trabalho foi muito bem sucedido, pois conseguiu cumprir com os
seus objetivos. O resultado positivo tambm comprovado atravs da reao dos alunos tanto
na sua participao durante as atividades como tambm no dilogo nas aulas seguintes, onde
os alunos expressaram as suas avaliaes pessoais sobre essa atividade diferenciada. H muito
ainda a ser feito em relao abordagem do patrimnio no ensino da geografia, porm assim
como necessrio apropriar-se do patrimnio cultural, a geografia tambm deve se apropriar
deste tema que pode enriquecer muito o conhecimento geogrfico.
Referncias
ANDREOTTI, G. O senso tico e esttico da paisagem. RAE GA, Curitiba, n. 24, p. 5-17,
2012.
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