Guernica Analise de Obra
Guernica Analise de Obra
Guernica Analise de Obra
2 DE JULHO DE 2013
INTRODUO
Todos os fenmenos estticos so, nalguma medida, fenmenos sociais.
(MAUSS, 1993:93).
Assim, essa maneira de encarar a arte nos permite elaborar uma semitica da arte. Uma
tentativa de explicar o significado por meio de determinados indicadores e smbolos que
desempenham um papel na vida de uma sociedade, ou em algum setor da sociedade, e isso
que lhes permite existir. (GEERTZ, 1994:179). Nesse caso, o significado das obras de arte
surge graas ao uso, e somente analisando os seus usos com o mesmo grau de complexidade
que atribumos as estrutura de parentesco, por exemplo, que descobriremos algo mais
profundo.
Dito isso, como empreender uma anlise de obras de arte, considerando todos os fatores
supracitados? necessrio, portanto retomar uma discusso que diz respeito a como
compreender os signos das obras e a produo artstica inseridas em seus contextos culturais
especficos em relao com os seus elementos fsicos, temticos e simblicos.
A ANLISE DOS OBJETOS DE ARTE
Tomando como base para meu estudo os escritos de Panofsky, retomemos alguns conceitos
que serviro de base para constituir minha anlise.
Segundo Panofsky (1979:45 apud FRANCH, 1982:215) a iconografia o ramo da histria
da arte que se ocupa do assunto, dos significados das obras de arte em contraposio a sua
forma. O contedo da iconografia deve compreender trs diferentes nveis de anlise, o priconogrfico, iconogrfico e iconolgico.
Transpondo para uma abordagem antropolgica temos que o nvel iconogrfico se equivale
em certa medida ao nvel etnogrfico.
Em la secuencia: trabajo de campo (como nivel de observacin)
etnografa (como nivel descriptivo) etnologa (como nivel explicativo),
la secuencia completa en El estudio artstico sera: nivel pr-icongrfico
(observacin) nivel iconogrfico (descriptivo) nivel iconolgico
(explicativo). (ALCINA, 1975:78 apud FRANCH, 1982:219).
e cultural profundamente inserida no contexto cultural da obra. E por fim, uma explicao
mais complexa, que seria a interpretao iconolgica.
Aplicando esse mtodo de anlise, conduzirei a seguir uma tentativa de compreender
Guernica, obra produzida em 1937 pelo pintor espanhol Pablo Picasso. Cabe ressaltar a
precariedade desta anlise, produzida sob um carter introdutrio do autor ao tema e sem
nenhuma pretenso de esgotar o debate. Consiste em um ensaio com o objetivo de reunir as
discusses ao longo do semestre entorno de um objeto de estudo.
A PINTURA E SUAS IMAGENS
A pintura consiste em um mural com o formato de 7,8 X 3,5 metros que ocupa uma rea de 27
metros quadrados, na relao de 1:2,2.
Considerando sua representao grfica, o suporte estabelece uma clara estrutura narrativa
onde as figuras, se apresentam de forma modelizada, isto , so figuras singulares,
esquemticas e no realistas.
A cor se encontra ausente na pintura (nfase no preto e branco e no na cor). Criando uma
representao de tipo ideogrfico e no fotogrfico. Segundo Arnheim (1976) o espao
ideogrfico caracterizado por representar o que se sabe, e no o que se v. um espao para
as idias. Isto traz conseqncias para a obra como signo e tambm para o seu modo de
leitura.
Nesse caso, no sendo uma representao "realista" e sim ideogrfica, o quadro torna-se um
cone, onde predomina o domnio da ambigidade. A configurao iconogrfica de
Guernica, apesar de suas figuras singulares, consiste no dilogo entre as figuras, ou como
essas figuras amarram a cena dinamizando-a e dirigindo sua leitura.
A multiplicidade de pontos de vista corresponde a um carter cubista da obra, assim, as
imagens esto fragmentadas, estilhaadas, quebradas e decompostas em partes ou planos que
por fim, permite reconstituir o todo. (ARNHEIM, 1976).
Retomemos agora, as figuras singulares que constituem a obra, com o objetivos de descrevlas separadamente.
Figura 1. Guernica
ditadura franquista. No dia 26 de Abril de 1937 a pequena aldeia, com pouco mais de sete mil
habitantes, foi bombardeada pelas foras nacionalistas que apoiavam o General Francisco
Franco. O Esse ataque foi considerado um dos mais cruis da histria espanhola.
A pintura Guernica foi encomendada pelo Governo Republicano Espanhol a Picasso, com a
inteno de traduzir em uma imagem o sentido e o drama do povo espanhol durante a Guerra
Civil Espanhola. A pintura foi exposta na Exposio Universal de Paris em 1937. O tema da
pintura aborda a destruio da Cidade de Guernica provocada pelos bombardeios.
Portanto, sem a pretenso de reproduzir o real, Picasso representa por meio das imagens
cubistas o drama humano codificado em 10 personagens: quatro civis, uma criana, um
guerreiro, um touro, um cavalo, um candeeiro e uma lmpada.
Considerando o contexto, o homem de braos abertos, a mulher que parece sair da escurido,
o rosto boquiaberto e a mulher que carrega a criana representam o sofrimento humano
provocado pela destruio e crueldade deixadas pela Guerra Civil. A angustia da me ao
perder o filho enfatiza as atrocidades e o desespero causado pelos horrores do bombardeio.
A lmpada com o formato do sol, em uma posio central capaz de observar todos os
acontecimentos, parece ser aluso ao olho de deus que tudo v. O candeeiro carregado pelo
brao e posicionado logo abaixo da lmpada pode ser entendido como a luz da conscincia
dos espanhis.
No centro do quadro, o cavalo, em agonia, com o olhar direcionado ao touro, que parece
bramir um urro de dor, representa o sofrimento e a resistncia dos espanhis, frente ao touro,
que pode simbolizar a brutalidade do general Franco, enquanto observa os estragos da guerra.
E o guerreiro, que mesmo mutilado, mantm-se agarrado a espada, o que pode significar a
fora e a resistncia do povo espanhol, a flor prxima da mo, completa o sentido
simbolizando a esperana de um novo comeo.
As cores usadas (Preto e Branco) parecem recriar um tom sombrio a pintura, uma tentativa de
produzir em escalas de tons de cinza um sentimento de terror criado pela destruio da guerra.
A luz e a sombra criada a partir do preto e branco colocam a resistncia espanhola no centro
da obra e as destruies causadas pela guerra se ocupam dos locais marginais, o que nos
mostra uma inteno de enfatizar a fora do povo espanhol na luta contra a ditadura frente ao
poder destrutivo da opresso.
Outro smbolo ainda pouco explorado em Guernica a presena do Touro. Alm da aluso
ao General Francisco Franco, o touro ainda uma representao da cultura espanhola
(touradas). Picasso freqentemente usava o touro como tema de seus trabalhos.
Uma das primeiras obras conhecidas de Picasso ficou conhecida como O Toureiro. Tambm
em 1945, iniciou uma srie chamada Touro. Dependendo do contexto, suas representaes
de touros tm sido interpretadas de diferentes formas, ora como aluso ao povo espanhol, ora
como crticas ao fascismo e a brutalidade da ditadura, ora smbolo de virilidade, ora como
uma reflexo de sua prpria imagem.
Portanto, apesar do tema da obra se tratar do bombardeio na cidade de Guernica em 1937,
percebemos elementos que perpassam toda a obra de Picasso, como o touro, e outras relaes
com a histria da arte espanhola, como as intertextualidades com a obra de Goya.
CONCLUSO
Retomando a discusso at aqui temos que:
A capacidade de uma pintura de fazer sentido [...] varia de um povo para
outro, bem assim como de um indivduo para outro, , como todas as
outras capacidades plenamente humanas, um produto da experincia
coletiva que vai bem alm dessa prpria experincia. [...] A participao
no sistema particular que chamamos de arte s se torna possvel atravs
da participao no sistema geral de formas simblicas que chamamos de
cultura, pois o primeiro sistema nada mais que um setor do segundo.
Uma teoria da arte, portanto, , ao mesmo tempo, uma teoria da cultura e
no um empreendimento autnomo. E, sobretudo se nos referirmos a uma
teoria semitica da arte, esta dever descobrir a existncia desses sinais
na prpria sociedade, e no em um mundo fictcio de dualidades,
transformaes, paralelos e equivalncias. (GEERTZ, 1994:165).
Sendo assim, apesar de basear minhas anlises nas propostas metodolgicas de Panofsky, os
estudos de obras de artes acima desenvolvidos, ainda consistem em interpretaes produzidas
a partir de um contexto cultural e temporal diferente do da obra.
Portanto, o meu empreendimento inicial em discutir os fenmenos estticos como fenmenos
universais e constituintes dos sistemas simblicos de cada cultura, bem como as algumas
REFERNCIAS
ARNHEIM, R. (1976). Gnese de uma pintura: El Guernica de Picasso. Barcelona: Gustavo
Gilli.
FRANCH, J. A. (1982). Arte y Antropologa. Madrid: Alianza.
GEERTZ, C. (1994). Conhecimento Local. Buenos Aires: Paids.
MAUSS, M. (1993). Manual de Etnografia. Lisboa: Dom Quixote.