Pereira Schimanski
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Vol. 8 Num.2
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INTRODUO
As novas configuraes familiares esto vinculadas a um debate sobre o
que se entende por famlia hoje. Fazem parte de uma construo histrica e social
recheada de valores e contradies presentes na sociedade de maneira geral. A rejeio
ou aceitao dos novos arranjos coloca-se de diversas maneiras em diferentes contextos
e pode sofrer influncias de modelos de ordem hegemnica.
Com o desenvolvimento da sociedade, a famlia foi se reconfigurando, o
que acarretou no surgimento de diferentes tipos de famlias alm do modelo tradicional
socialmente aceito e tido como modelo ideal. Hoje no existe um nico modelo, mas
vrios tipos de organizao de unidades domsticas que configuram uma famlia.
O conceito de famlia no um conceito dado, natural e imutvel. A
consolidao do pensamento sobre famlia faz parte de influncias de processos
histricos que se modificam de acordo com a necessidade do contexto no qual se
estabelecem. Em base a uma perspectiva interdisciplinar, este texto busca a
compreenso das novas configuraes familiares e a construo das mesmas, no sentido
de verificar se esto em concordncia ao que se entende por famlia ou se esto situadas
na contramo de tais significados. Aqui a categoria gnero torna-se um elemento sine
qua non no processo de entendimento da relao entre famlia e sociedade.
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funo para ela dentro da sociedade, seja como unidade de consumo e reproduo da
fora de trabalho defendida pelos tericos marxistas, seja enquanto exemplo e base da
sociedade como entendem os fundamentalistas religiosos, ou enquanto clula de
transmisso de valores sociais e socializao como defendem os estudiosos
funcionalistas. Bilac (1996, p. 5) afirma que existe,
Embora
diversidade
na
formao
familiar
esteja
clara
na
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centrais em uma relao entre pessoas que constituem uma famlia. O casamento j no
o ponto de partida para a construo de uma famlia.
Sarti (2011) ao estudar as famlias pobres afirma que as famlias esto
fundadas em um receber e retribuir contnuos e ligam-se por um vnculo de obrigaes.
As obrigaes fazem com que as relaes de afeto se desenrolem dentro da dinmica
familiar, sabendo com quem pode ou com quem no pode contar. A relao de
obrigao sobrepe os laos de sangue e, consequentemente, laos tradicionais que
referenciam a famlia ideal. importante ressaltar que conforme Sarti (2011, p.86), a
famlia no se define enquanto instituio, mas sim como um tipo de relao, na qual
as obrigaes morais so a base fundamental tornando-se uma referncia simblica
fundamental atravs da linguagem. Por outro lado, ao analisar o casamento nas famlias
pobres, a mesma autora afirma que o matrimnio para os pobres o projeto inicial no
qual se comea a se constituir uma famlia. Atravs do casamento v-se a possibilidade
de melhorar de vida, em que h uma complementaridade entre o homem e a mulher.
Para a mulher, o casamento a possibilidade de ter alguma coisa na vida, mas para o
homem a possibilidade de se construir como homem de famlia e parar de aproveitar
a vida.
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que prescrito e o que ilcito. Reproduz a trama de relaes e mantm a lei que as
rege. O dispositivo de aliana aparece nos sistemas de matrimnio, de fixao de
parentesco e de transmisso dos nomes e dos bens.
Conforme novas configuraes familiares aparecem, esse dispositivo
acaba perdendo importncia na medida em que processos econmicos e estruturas
polticas, como por exemplo, o dote, passa a no consider-lo como instrumento
adequado ou servir de suporte. A partir do sculo XVIII, as sociedades passam a
experienciar mais o que o autor nomeia de dispositivo de sexualidade, se articulando
com parceiros, porm de maneiras diferentes e com outros objetivos. Assim, a
sexualidade ocupa um espao que antes a ela era restrito.
O dispositivo de sexualidade funciona de acordo com tcnicas flexveis e
de acordo com as formas conjunturais de poder. Para esse dispositivo so as sensaes
do corpo, a qualidade dos prazeres, a natureza das impresses, por tnues ou
imperceptveis que sejam que determinam as relaes conjugais entre parceiros.
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mantenha no projeto de construo familiar do ser humano. O fato de ter uma famlia
definida como estruturada significa obter um status social importante, como se o
objetivo de vida de uma pessoa estivesse cumprido. Justifica-se essa afirmao pelos
dados do IBGE (2010) que mostram que, embora o nmero de famlias monoparentais,
recompostas, homoafetivas estejam crescendo, a maioria das famlias na realidade
brasileira so formadas pela configurao nuclear e heterossexual.
Conforme dados do IBGE (2010), a proporo de divorciados quase
dobrou em 10 anos, passando de 1,7% da populao para 3,1%. Os casados caram de
37% para 34,8%. Com as mulheres tendo menos filhos e mais tarde houve um aumento
das famlias formadas por casais sem filhos, que passaram de 14,9% para 20,2%. Mas, o
arranjo familiar mais comum continua a ser o de casais com filhos: 55%, mas que
tambm em nvel estatstico apresentou diminuio, revelando que em 2000 se
constituam em 63,6% das famlias (IBGE, 2010).
Em relao s unies familiares, do total de 27,4 milhes de casais com
filhos, um sexto (16,3%) vive com enteados, alm dos filhos, ou s com enteados. Esses
casais fazem parte das famlias reconstitudas ou recompostas. Do total de pessoas que
declararam ter cnjuges do mesmo sexo (60 mil), 53,8% so formados por mulheres,
sendo que um quarto (25,8%) tem curso superior completo, ndice bem superior mdia
nacional, de apenas 8,3% (IBGE, 2010).
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2.
DE GNERO
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Algumas
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transformaes
esto
visveis
na
trajetria
histrica,
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identificao da paternidade.
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No Censo Demogrfico de 1991, o conceito era o mesmo, porm com a denominao de chefe, sendo
substituda por responsvel pela famlia a partir do Censo de 2000. Para o PNAD Pesquisa Nacional
por Amostra de Domiclios, utilizado o termo pessoa de referncia (IBGE, 2010, p.80).
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consequentemente,
maior
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independncia
dos
maridos,
rompendo
lgica
tradicionalista.
De acordo com levantamento do Ipea em 2013, foi revelada que a proporo de pessoas ricas no Brasil
de 12% e de pobres, em todas as camadas, de 88%. (IPEA, 2013)
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uma famlia com um cnjuge, famlias de pessoas que se divorciaram e podem casar-se
novamente, famlias de vivas e vivos, e famlias compostas por pessoas que viveram
a maior parte de suas vidas sozinhas. (IBGE, 2012).
De acordo com o IBGE (2012) os novos arranjos familiares so
resultados do aumento da expectativa de vida e da diminuio da fecundidade o que faz
com que aumente a convivncia com avs/avs/netos/netas e diminua o tamanho mdio
das famlias. Ainda resultado do crescimento de unies consensuais e divrcios que
proporciona um aumento no nmero de famlias reconstitudas e famlias
monoparentais. Em termos financeiros, muitos casais optam por se estabelecer no
mercado de trabalho antes de pensar em procriao.
Nas famlias unipessoais interessante observar que 52,6% composta
por mulheres com 60 anos ou mais, responsveis pelo domiclio. A maior concentrao
de famlias unipessoais se encontra na faixa de 25 a 59 anos. Nas famlias unipessoais
femininas, 40% so vivas. Em relao aos arranjos familiares encontrados no Brasil,
mais comum a famlia monoparental feminina, casal com filhos e casal sem filhos.
(IBGE, 2012).
As novas configuraes familiares podem ser entendidas como resultados
da revoluo sexual que possibilita a construo de novas concepes em termos de
famlia, amor e casamento, temas que esto em constante transformao e adequao
realidade social.
4.
CONSIDERAES FINAIS
As transformaes no mbito da famlia refletem as mudanas sociais e
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