Santos e Leandro - "Grandes Famílias" e Estruturação Do Espaço Do Poder em Sergipe: Reconversões Sociais e Esferas de Atuação

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 18

SCIENTIA PLENA

VOL. 6, NUM. 12

2010

www.scientiaplena.org.br

Grandes Famlias e estruturao do espao do poder em


Sergipe: Reconverses sociais e esferas de atuao
David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro
Laboratrio de Estudos do Poder e da Poltica, Universidade Federal de Sergipe, 49100-000, So Cristovo-SE
[email protected]
(Recebido em 31 de agosto de 2010; aceito em 20 de dezembro de 2010 )

Este artigo se apresenta como recorte da pesquisa Grandes Famlias e estruturao do espao do
poder em Sergipe: Reconverses sociais e esferas de atuao e tem como objetivo analisar a estruturao
do espao do poder em Sergipe a partir da constituio das grandes famlias. Anlise que est inserida
num contexto maior, o da formao de elites e busca apreender os mecanismos de seleo, manuteno
e reproduo dessa elite dentro das engrenagens do poder. Centrando-se no exame de composies das
trajetrias scio-polticas de famlias tradicionais e de seus principais expoentes ao longo da histria de
Sergipe, o presente estudo objetiva apreender as diferentes lgicas de consagrao social acionadas por
essas famlias, que tm como funo assegurar-lhes as posies dominantes que ocupam. Para tanto,
so postos em evidncia os tipos de recursos envolvidos das mais diversas esferas de atuao e as formas
como estes recursos foram e so mobilizados pelos agentes em questo; alm de expor as estratgias de
reproduo familiar, com base em prticas como as alianas matrimoniais entre os membros de grandes
famlias.
Palavras chave: grandes famlias, recursos, esferas de atuao, estratgias de consagrao.

This article consists in a part of the research "Large Families" and structuring from the space of power in
Sergipe: Social conversion and spheres of activity and aims to analyze the structure of space power in
Sergipe from the "large familie's" constitution. Analysis that is embedded in a larger context, the
"formation of elites" and seeks to apprehend the elite's selection, maintenance and reproduction
mechanisms in the gears of power. Focusing on the examination of socio-political trajectories of
traditional familie's compositions and their main exponents along the history of Sergipe, this study aims
to understand the different logics of social consecration triggered by these families, which function are to
assure them the "dominant" positions they occupy. For this, we highlighted the types of resources
involved in many different spheres of action and the ways in which these resources have been and are
mobilized by the actors concerned; in addition to exposing the strategies of family reproduction, based on
practices such as marriage alliances among members of " large families."
Keywords: large families, resources, spheres of action, strategies consecration.

_____________________________________________________________________________
1. INTRODUO
O presente estudo tem como objetivo a anlise da estruturao do espao de poder em
Sergipe, tendo como foco o estudo do processo de formao, composio, reproduo e
consolidao de grandes famlias como representantes da elite poltica local. Conclui-se que
o estudo se insere numa temtica mais ampla, a da formao de elites e de grupos dirigentes,
que tem como direcionamento o estudo dos padres de recrutamento e seleo de elites, no
presente caso, em sociedades perifricas, como o caso brasileiro. (SEIDL, 1999, 2002)
No cabe aqui uma anlise minuciosa dos problemas e distores, que a utilizao das
noes de elite poltica, grupo dirigente ou mesmo classe dominante, trazem as Cincias
Sociais (ver CORADINI, 2008). Com base na anlise das trajetrias de algumas famlias que
sero expostas, encontrar-se-o grupos dominantes de carter conservador, que viso a
manuteno da ordem para a manuteno de seus privilgios, mesmo aqueles grupos familiares
que fazem novos investimentos, se adaptam e de certa forma promovem a modernizao,
buscam com isso manter o poder em suas mos. (SAINT MARTAN, 1995; 2008). Convm
ressaltar que ao contrario do que se possa pensar, no so os agentes sociais componentes dos
grupos dirigentes ou as grandes famlias em si, o foco central do estudo; ainda que as

121602-1

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

composies de suas trajetrias sejam imprescindveis, sendo a base da anlise; mas sim as
modalidades e mecanismos de recrutamento, formao e manuteno desses grupos, as
estratgias de reproduo, os recursos que acionam e as formas como os utilizam e reconvertem
para outras esferas de atuao, visando perpetuao de um nome e assegurar-lhes as
posies dominantes que ocupam, dentro da estrutura scio- econmica e poltica. O que esta
em pauta deixa de ser as elites passando a ser as estruturas de poder e dominao, nas quais,
evidentemente, as posies dominantes so ocupadas por determinadas categorias sociais,
designadas ou no como elites. (CORADINI, 2008, p.13)
Para o estudo das grandes famlias, adotamos como estratgia metodolgica a anlise das
composies de trajetrias sociais, profissionais e principalmente polticas de trs grandes
famlias, centrando-nos ainda mais na composio de itinerrios individuais dos representantes
mais expressivos destas famlias. As trs grandes famlias a serem analisadas tm em comum
a forte contribuio para a estruturao do espao de poder em Sergipe; para as duas primeiras
mais restritas a determinados perodos, especificamente boa parte do perodo de Sergipe
Imprio e na Primeira Repblica, respectivamente. Deter-nos-emos com maior nfase na
terceira grande famlia analisada, a qual seu nome j aparece em documentos sergipanos no
sculo XVIII (ARAJO, 2002), nome este que em dias atuais continua muito comum entre as
elites sergipanas. A famlia Franco de parcos recursos atravessou as intempries do tempo,
sempre em posies dominantes, como agentes protagonistas da histria de Sergipe.
Busca-se a compreenso de como estas famlias se constituram enquanto agrupamentos
relevantes para a estruturao do espao de poder em Sergipe, a partir da apreenso de suas
lgicas de recrutamento, seleo, reproduo e consagrao das mesmas de forma que lhes
garantam a manuteno das posies dominantes. Dentre as principais estratgias de reproduo
familiar esto s alianas matrimoniais endgenas1, com o objetivo de fortalecer os laos
internos ou tambm as exgenas2, entre descendestes de grandes famlias diferentes, alianas
que buscavam a expanso das redes de relaes entre ambas as famlias envolvidas, visando a
multiplicao de seus recursos: bens, prestgio, notoriedade, sobretudo a perpetuao de uma
nome nobre, este trunfo em dias atuais ainda bastante acionado para a consagrao das
grandes famlias. (SEIDL, 2002).
Num estudo como este se faz imprescindvel a anlise dos recursos, possudos e acionados
estrategicamente pelos agentes e as famlias em questo. Estes recursos, ou como outros autores
das Cincias Sociais, com base nos escritos do terico francs Pierre Bourdieu, preferem
chamar, de capitais, so provenientes das mais distintas esferas: social, simblica,
econmica/financeira, poltica, profissional, escolar, entre outras. Um mesmo grupo dominante
pode acumular diferentes espcies de recursos e utiliz-los de forma vantajosa, pra obter outros,
ou fortalecer os que j possuem, objetivando manter-se entre as elites. Convm observar que,
a principal caracterstica destes recursos, so as suas capacidades de serem convertidos e/ou
reconvertidos para outras esferas a depender do interesse e manipulao dos seus proprietrios,
seja ele um indivduo ou uma famlia. (SANIT MARTIN, 1995; CORADINI, 2001; SEIDL,
2002).
A exemplo de recursos obtidos, concentrados e acumulados pelas grandes famlias aqui
analisadas, esto: os recursos econmicos, com base na posse da terra, a propriedade de
engenhos e usinas, a posse e/ou a direo de grandes empresas e novos investimentos, que esto
relacionados tambm com os recursos profissionais e escolares; recursos sociais, nestes contidos
tambm os recursos simblicos de notoriedade, status social, ttulos honorficos, patentes, ou
refletidos na extensa rede de relaes pessoais. Contudo aqui, merecem maior destaque os
recursos para os quais os outros so constantemente reconvertidos, os recursos polticos:
encarnados em posies polticas de referncia. Um nmero considervel de membros das
grandes famlias analisadas participava e/ou participa ativamente da poltica sejam em postos
dirigentes por indicao como o caso de alguns presidentes/governadores de Sergipe
Provincial, ou por meio de eleio no perodo republicano, assumindo cargos de deputados
1

Aliana endgena ou endogmica o casamento entre membros de uma mesma famlia.


Exgenas, pois so alianas entre famlias distintas, mas tambm podem ser endgenas se levado em
considerao que os casamentos so realizados dentro das grandes famlias.
2

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

estaduais, deputados federais, senadores, prefeitos e governadores do Estado. Importante


tambm salientar que periodicamente alguns desses recursos perdem seus prestgios de outrora e
so substitudos por outros, aquelas famlias que enveredam nas mais diversas reas, e buscam
se inovarem tem mais predisposies de continuarem ao longo do tempo ocupando posies
dominantes na estrutura da sociedade (SAINT MARTIN, 1995). Esta pode ser uma das
explicaes plausveis para o entendimento da no sobrevivncia de alguns nomes e famlias
aqui mesmo expostos.

2. METODOLOGIA
A metodologia para o presente artigo centrou-se em dois pontos: na anlise da reviso da
literatura sobre a temtica abordada e na pesquisa documental. Os eixos de anlises utilizados e
elaborados so provenientes do aprofundamento analtico sobre referncias conceituais das
Cincias Sociais, que tratam sobre estudo de elites, estratgias de reproduo e consagrao
social, famlia, heranas polticas, recursos, reconverses, etc. Num outro plano constitutivo da
pesquisa, na busca de situar espacial e temporalmente as famlias, ns utilizamos fontes de
cunho histrico que desvendam os aspectos polticos e econmicos da sociedade sergipana. Por
fim, as fontes que proporcionaram a base, sobre a qual a anlise sociolgica foi aplicada, se
restringem a referncias informativas sobre as famlias e agentes que foram tomados, neste
relatrio, enquanto referenciais empricos.
As referencias e fontes de informao de carter documental, que foram coletadas e
exploradas ao longo da pesquisa sobre as famlias analisadas foram coletadas na Biblioteca
Central da Universidade Federal de Sergipe e, sobretudo no Instituto Histrico e Geogrfico de
Sergipe, no qual foram realizadas inmeras visitas. Outra forma de levantamento de dados, que
a princpio teve como objetivo o preenchimento de lacunas, mas que se mostrou imprescindvel
em algumas das fases da composio do relatrio, foi pesquisa em sites.
H certa dificuldade para leitores desavisados, compreenderem as produes das cincias
sociais, pois lhes so apresentados o resultado das pesquisas enquanto os meios pelos quais se
chegou queles resultados so muitas vezes negligenciados. O produto acabado, o opus
operatum esconde o modus operandi (as condies de produo). (BOURDIEU, 2003).
Tomando esta lgica como orientao, faz-se imprescindvel uma anlise das fontes biobibliogrficas utilizadas para a produo deste artigo. imperativo que o pesquisador tenha
plena conscincia de que suas fontes de pesquisa, principalmente aquelas de cunho biogrfico,
no so produzidas ao acaso, elas ao contrrio partem de interesses sociais especficos dos
bigrafos (MICELI, 2001). Todas as fontes biogrficas produzidas por historiadores, jornalistas,
ou mesmo membros das famlias utilizadas neste trabalho tem em comum a funo de
reproduo e consagrao social da famlia e/ou do agente biografado.
Convm ressaltar que o material disponvel sobre as famlias contidas no escopo deste
artigo, se mostrou muitas vezes precrio, e confuso, nem sempre as informaes encontradas
eram consensuais. Todavia, insistimos nos nossos referenciais empricos, pois nestas famlias
encontramos subsdios para comprovar na prtica aquilo que levantamos como hiptese de
pesquisa, que o espao de poder em Sergipe se estruturou em torno de grandes famlias, ou
que estas famlias, dentre outras que no entraram diretamente na pesquisa foram e so
responsveis pela arquitetura do poder do Estado. A pesquisa tem entre seus objetivos, um
bastante audacioso, o de contar a histria de Sergipe atravs da composio e trajetria das
famlias analisadas. Dessa forma buscamos uma famlia que representasse de maneira
satisfatria os trs perodos: Perodo Imprio, o perodo de transio (proclamao da Repblica
e Repblica velha) e a Republica plena, por assim dizer.
As trs famlias que escolhemos tambm obedecem a uma lgica temporal de acionamento
de recursos. Os Botos representam uma estirpe familiar que descende da nobreza portuguesa;
seu principal expoente, Sebastio Gaspar de Almeida Boto foi tambm um representante do
perfil do poltico do perodo imperial figurou aproximadamente meio sculo na poltica
imperial, acionando recursos como a posse da terra e a carreira militar, reconvertendo tais

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

recursos com o objetivo de ascender a postos polticos de destaque. A Famlia do Periquito


que representou o perodo de transio poltica entre Imprio e Repblica, foi responsvel pela
primeira Oligarquia instalada no Estado, conservadores, mantiveram o poder poltico entre o
grupo familiar o quanto puderam; como fase de transio foi entre eles que se observaram os
mais incipientes e relevantes investimentos em recursos escolares e profissionais, produzindo
juristas e mdicos, alm de recursos simblicos, encarnados nos preceitos cristos (Pr. Olmpio
Campos), tambm reconvertendo estes recursos para a esfera poltica. E por fim a Famlia
Franco, que apesar de se mostrar ativa em quase toda a histria de Sergipe, foi no perodo
republicano que teve seu pice, com suas inovaes e investimentos em recursos mais
atualizados, a insero na esfera empresarial, lidando com fbricas, indstrias, meios de
comunicao, banco, entre outros investimentos, lhes rendeu o status de principal representante
das grandes famlias da atualidade.
Outro pondo imprescindvel para a opo por tais famlias como objeto de anlise que para
alm dos diferentes perodos que elas representam e o variado leque de recursos que acionam,
elas tm em comum uma caracterstica que garante maior legitimidade a uma pesquisa das
Cincias Polticas: A forte e restrita relao com a poltica, em cada uma das famlias analisadas
se destacou um chefe/presidente de partido poltico e um representante poltico que chegou ao
posto mximo da poltica estadual, alm de outros familiares que tambm galgaram postos
polticos eletivos. Outro fator homogeneizador das famlias que elas promoveram matrimnios
importantes para a reproduo e consagrao social de cada uma.

3. RESULTADOS E DISCUSSO: AS GRANDES FAMLIAS


Os Botos, da esfera militar poltica: estratgias de reproduo familiar
Um dos aspectos centrais para a compreenso do fenmeno de reproduo das grandes
famlias em Sergipe a prpria histria peculiar de como se constituiu a sociedade sergipana.
A forte concentrao de terras resultou numa diviso social intensa, que refletiu na formao
dos primeiros grupos e famlias poderosas. A lgica colonial de explorao resultara na criao
dos grandes latifndios de monocultura que por sua vez tiveram suas bases na m distribuio
das terras; favorecendo decisivamente a concentrao das terras nas mos de uns poucos
potentados, surgiram assim os primeiros grupos de poder no Brasil e em Sergipe (FREIRE,
1977). Durante todo o perodo colonial e imperial, em terras sergipanas, quem ditava as ordens
da sociedade eram os chefes locais, os donos do poder bem como coloca a historiadora Maria
Thetis Nunes (2006) citando Raimundo Faoro. Estes chefes locais adquirem um status
significativo na sociedade sergipana, detentores de extensas faixas de terra, eram tambm os
motores da economia que se tornavam cada vez mais, influentes na esfera poltica, a exemplo de
Sebastio Gaspar de Almeida Boto, o primeiro dos referenciais empricos" analisados neste
relatrio.
O Tenente-Coronel e comendador Sebastio Gaspar de Almeida Boto, filho legtimo do
coronel Joo de Aguiar Caldeira Boto e D. Ana Jernima da Silveira, nasceu a 17 de setembro
de 1802 no engenho Maruim de Cima, ento pertencente Vila de Santo Amaro, faleceu a 31 de
maio de 1884 no engenho Poxim, municpio da cidade de S. Cristvo. De nobre estirpe
portuguesa, a sua genealogia ascendente procede pela linha materna da ilustre famlia dos
Tvora (GUARAN, 1925; BARATA, [2005?]). O Coronel Joo de Aguiar Caldeira Boto,
descendente de uma nobre famlia, por meio de herana deixada pela famlia e com seu prprio
manejo com os negcios passa a ser detentor de parcos recursos econmicos, dono de engenho,
criador de gado, com uma propriedade bastante extensa, converte tais recursos para a esfera
poltica e se torna deputado provincial da primeira composio da Assembleia Provincial, para o
trinio 1834-1837, alm de desfrutar de uma boa rede de relaes pessoais. Seu filho, Sebastio
o acompanha nos seus itinerrios, primeiro servindo ptria e depois entrado na poltica. Ainda
aos 19 anos de idade, em 1821, Sebastio Gaspar de Almeida Boto, decidiu servir seu pas,
prestando-se voluntariamente a manter sua custa uma companhia de guardas milicianos,
provando com isso que j detinha recursos econmicos considerveis e os convertera para a

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

esfera militar, comandou como tenente, durante a guerra da independncia, recebendo por
essa ocasio os maiores elogios do general Pedro Labatut. Em A Espada como Vocao... de
Ernesto Seidl (2002), este analisa os padres de recrutamento das elites do Exercito no Rio
Grande do Sul, o autor relata o contexto de no-autonomia do domnio militar frente a outras
esferas sociais, e muito em especial da poltica. (SEIDL, 2002, p. 105). V-se no caso se
Sebastio Boto e seu pai algo similar, uma primeira reconverso de recursos econmicos para a
atuao militar, e posteriormente a utilizao desse capital acumulado para a insero na esfera
poltica, no perodo imperial foi comum a ascenso de militares aos altos cargos administrativos
e eletivos de Sergipe.
Sebastio Boto foi nomeado Coronel comandante superior da Guarda Nacional de Sergipe
em 1841, e no dia da sagrao e coroao de D. Pedro II, recebe o ttulo de Comendador da
Ordem da Rosa. (BARATA, [2005?]). Agora que concentrara um capital militar, atravs de
seu pai Coronel, e de suas condecoraes e servios prestados a coroa e a provncia de Sergipe,
Sebastio Boto reconvertera tais recursos para a poltica, figurando salientemente nesta esfera
de atuao cerca de quarenta anos, desempenhando elevados cargos pblicos e polticos. Foi
deputado provincial da primeira composio da Assembleia Provincial de Sergipe (1834-1837),
na Cmara dos Deputados permanece de 1838 a 1844. (GUARAN, 1925). Esteve quatro
vezem na vice-presidncia da provncia assumindo interinamente a presidncia em todos os
mandatos, na quinta vez foi diretamente nomeado Presidente, empossado em 1841,
permanecendo no cargo por um ano.
Suas vice-presidncias foram determinadas por sua extensa rede de relaes com grupos
familiares, polticos e militares. Os Presidentes da Provncia eram coronis, tenentes, capitesmores ou mesmo bacharis que reconheciam o prestgio que Sebastio Boto e sua famlia
atingira. Um desses presidentes em particular, fazia parte de sua famlia, casado com uma tia,
irm de seu pai, Francisca de Aguiar Caldeira Boto, esta, numa estratgia matrimonial, que
promovera a reproduo e expanso de sua famlia e das relaes desta, sobretudo militares,
casa-se com o Coronel Bento de Melo Pereira. Este recebe o ttulo de Baro de Cotinguiba em
1849 (ALBUQUERQUE, 2002). Foi Capito-Mor e comandante das armas de Sergipe (18271829), patente de maior referncia militar da provncia, indicado diretamente pelo Imperador,
seu poder local s se comparava ao presidente da provncia (ABREU, 2006). Presidente de
Sergipe em 1937, vice-presidente em 1834-1837-1939-1842, senador e comandante superior da
Guarda Nacional, alm de comendador da Ordem de Cristo. (GUARAN, 1925); Teve com
Francisca de Aguiar Caldeira Boto, seis filhos, que deram continuidade ao nome da famlia,
quatro levaram o sobrenome Boto, com destaque para Joo de Aguiar Boto (de Melo), que
recebe o nome de seu tio, pai de Sebastio.
Sebastio Boto transitara com facilidade por entre diferentes esferas de atuao, convertendo
e reconvertendo recursos: suas boas relaes polticas, sociais, militares mantidas e
realimentadas com membros do alto escalo da Provncia funcionavam como trunfos passveis
de serem acionados da forma que lhe convinha, inclusive e, sobretudo para garantir a
notoriedade do nome de sua famlia (SAINT MARTIN, 1995; SEIDL, 2002). Nesta perspectiva
encontramos tambm as estratgias de reproduo familiar, a principal e mais eficaz, aquela
baseada nas alianas matrimoniais, instrumento importante de manuteno e ampliao de
recursos sociais, simblicos e econmicos. As alianas matrimoniais unindo descendentes de
grandes famlias ou multiplicando laos de parentesco j existentes so sem dvida alguma
um recurso ou trunfo que foi e continua, sendo bastante mobilizado para a perpetuao destas
grandes famlias (SEIDL, 2002). Sebastio Gaspar de Almeida Boto aciona esta estratgia de
reproduo familiar e se casa com Joana Dias Coelho de Melo, membro de uma das mais
expressivas famlias do perodo Imperial, filha do Baro de Itaporanga, Domingos Dias Coelho
de Melo e irm do Baro de Estncia Antnio Dias Coelho e Melo. Domingos Dias Coelho e
Melo, nascido em 1775, era filho de outro de igual nome3, foi casado com Maria Micaela
Dantas de Melo, filha do combativo Coronel Jos Rodrigues Dantas. Domingos de Melo,
grande fazendeiro e dono de engenho, teve a oportunidade de recepcionar o Imperador D. Pedro
3

A repetio dos nomes entre descentes de uma mesma famlia mais uma das estratgias de reproduo familiar,
que como se ver, perdura at dias atuais.

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

II em uma visita a Sergipe, instalando-o em seu Engenho Escurial, localizado em So Cristvo


(ALBUQUERQUE, 2000-2002; BARATA, [2005?]). Para multiplicar os laos com esta
grande famlia, Sebastio casa suas duas filhas com dois dos filhos de seu cunhado Antonio
Dias Coelho de Melo (Baro de Estancia): Ana Luiza Boto Dias se casou com Pedro Dias de
Melo, e Rita Dias de Almeida Boto, casou com um primo. (BARATA, [2005?]), seu sobrenome
Dias nos leva a crer que tenha sido com mais um dos Dias Coelho e Melo.
Como se pode constatar, foram muitas as modalidades de consagrao familiar que os Boto
acionaram no decorrer se seu histrico familiar. Esta grande famlia se constituiu em um
elemento importante para a estruturao do espao de poder em Sergipe. A insero desta
grande famlia nas mais diversas esferas de atuao: econmico, militar, poltico;
proporcionaram-lhes recursos mobilizveis e reconversveis em recursos simblicos, de
notoriedade. Uma das explicaes que se pode dar para a no sobrevivncia desta grande
famlia at dias atuais, poderia ser o no investimento da famlia em novos recursos que se
tornaram importantes ao longo do tempo, como a escolarizao e ou profissionalizao. (SAINT
MARTIN, 1995)

A famlia do Engenho Periquito

Na segunda metade do sculo XIX, Sergipe entra num perodo de desenvolvimento que
atinge a produo aucareira, em termos de equipamentos e produo possibilitando o
crescimento de ncleos urbanos: Estncia, Laranjeiras, Propri e Aracaju so exemplos de
cidades catalisadoras das transaes econmicas. Nas palavras de Maria Thetis Nunes (2006):
A vida scio-poltica sergipana gravitara, at os fins da Velha Repblica em 1930, em torno
dos senhores da indstria aucareira que detinham o poder econmico.
Na dcada de 1870 a terra perdera seu prestgio de outrora, novas estruturas de poder haviam
de erguerem-se, novos recursos, como o grau de escolaridade, aos poucos substituam ou
somavam-se aos recursos econmicos, os filhos dos potentados rurais iam estudar fora,
acumular capital cultural, que no retorno se somaria aos capitais acumulados por sua famlia e
os reconvertiam em recursos polticos, prova disso era que em fins do perodo imperial a
Assembleia Legislativa Provincial era composta em mais de 50% por bacharis. Segundo Seidl
(2002) desde a origem da sociedade brasileira, esta regida por dois princpios de recrutamento
e seleo de sua elite poltica: o princpio extra-meritocrtico, que tem por base as relaes
sociais e pessoais, o capital de notoriedade acumulado por uma grande famlia, por exemplo,
que eram acionador objetivando a insero destes agentes na poltica; e o princpio
meritocrtico observado em fins do perodo imperial e na Repblica, que tem por base o
mrito conquistado no mais das vezes pela escolarizao e/ou profissionalizao.
A proclamao da repblica em 15 de novembro de 1889 trouxe novos nimos vida
poltica brasileira, a nova ordem exigia uma nova estruturao do poder sem a interferncia do
Imperador. Contudo, Campos Sales, Presidente federativo eleito em 1898, implanta um sistema
administrativo que s beneficiava aos donos do poder e a formao de Oligarquias. A
poltica dos governadores, onde estes passaram a ter autonomia para escolher seus sucessores,
gerou uma estagnao da elite poltica. Com a sonhada democracia posta de lado, as eleies
eram s blefe, ascendia aos postos polticos quem os chefes locais queriam, pois detinham sob
seus comandos a massa do eleitorado. Em Sergipe se instala a Oligarquia Olimpista, que tem
como cabea e primeiro representante eleito para presidir Sergipe, Olimpio Campos (18991902), tambm chefe do partido Republicano conservador. (DANTAS, 2004). Eis a prxima
grande famlia, ainda que mais tmida em termos de expanso, a ser analisada; partiremos da
trajetria de seus membros e em especial do principal expoente, Olimpio de Souza Campos e de

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

suas estratgias de consagrao e reproduo social, para expor a contribuio de sua famlia na
estruturao do espao de poder em Sergipe.
Jos Vicente de Sousa (av paterno de Olimpio Campos), foi fruto de um relacionamento
entre Zacarias de Sousa e D. Josefa Seabra. Segundo Edilberto Campos (1955-1958) Zacarias
nasceu em Lagarto parente da notvel famlia Fontes. Aps ter um nico filho foi para a Bahia
atendendo ao chamado do sacerdcio tornar-se padre, de volta a sua terra natal cria o filho
dentro dos preceitos cristos e numa estratgia de reproduo familiar casa este, Jos Vicente de
Souza com Porphria Maria Curvelo DAvila filha de grande fazendeiro o capito-mor Manuel
Jos Campos e neta pela linhagem materna de Joaquim Curvelo DAvila, descendente de Garcia
DAvila, um dos primeiros desbravadores do territrio sergipano. Deste casamento arranjado na
Villa de Itabaianinha entre os canaviais do engenho Periquito nascem cinco filhos entre eles
Olimpio de Sousa Campos (1853). (CARMELO, 1910; DANTAS, 2007)
Um recurso importante que aparece nessa famlia esta a nvel simblico, os preceitos
cristos, dos quais toda a famlia e principalmente Olimpio Campos acionara como trunfo
pertinente para a insero no campo da poltica, por meio da conquista de um capital de
notoriedade e reconhecimento enquanto padre. Este recurso, encarnado na religio catlica
funciona de maneira similar ao recurso militar acionado pela famlia dos Botos j apresentada,
so bases para a conquista de novos. O pai de Olimpio Campos, Jos Vicente de Souza (1815),
que foi nomeado Tenente-Coronel da Guarda Nacional, dedicara-se tambm a esfera poltica,
foi chefe poltico do partido conservador, explorando suas redes de relaes sociais. Teve com
sua esposa, Porphiria de Campos, cinco filhos, classificados por Edilberto Campos (1958) como
filhos do Periquito (engenho da famlia).
So estes os filhos de Jos Vicente de Souza: Guilherme de Souza Campos (1850)
bacharelou-se em cincias jurdicas e sociais em1871; na sua longa carreira pblica e poltica
assumiu inmeros postos: promotor pblico (Lagarto: 1872-1873); juiz municipal (Geremoabo:
1874-1878); juiz de direito (Maranho e em Lagarto); chefe de polcia (Esprito Santo:1889).
Nomeado desembargador (1892), Presidente do Tribunal, chefe de polcia do Estado. Presidente
do Estado (1905-1908) por indicao de seu irmo o Pr. Olmpio Campos. Guiado por seu pai,
foi militante do partido conservador, deputado provincial (1872-73 a 1878-79) e senador federal
(1909 a 1917).
Jos Zacarias de Souza (1855) formou-se em Medicina na Bahia em 1876, passando a
exercer a profisso, foi deputado provincial (1880-1881, 1882-1883). Aproveitou os recursos
simblicos e polticos acumulados por sua famlia, que a muito comandara um partido
monrquico, e os converteu para garantirem-lhe uma carreira rpida e progressiva. Em 1889
retirou-se para o Estado de So Paulo dividindo-se entre a sua carreira mdica e a de fazendeiro.
Como j ressaltado neste trabalho, alguns recursos perdem seu prestgio e outros vo tomando o
seu lugar, o investimento escolar e profissional at ento pouco acionado pelas grandes
famlias de Sergipe, rendeu ainda mais prestgio para os filhos do Periquito. Manuel Candido
(1858), este ficou nos cuidados do Engenho Periquito, engenho este que rendera bons lucros a
famlia, manteve trs de seus filhos estudando nas capitais de maior renome intelectual do
perodo. Candido tambm se inclinara para a esfera poltica, sendo prefeito e vereador de
Itabaianinha. A nica mulher dos filhos de Jos Vicente de Souza chamava-se Maria Florentina
(1851), que numa estratgia de reproduo familiar, para a soma dos capitais econmicos,
casou-se com o proprietrio do Engenho Carnaba. (GUARAN, 1925; CAMPOS 1958)
Olimpio de Souza Campos vai para Recife bacharelar-se em Cincias Jurdicas e Sociais,
mas inclinado ao sacerdcio seguindo a mesma vocao de seu av, interrompe o curso e segue
para a Bahia, metrpole eclesistica, e se matricula no seminrio Archiepiscopal. Em 1877
formado Padre e passa a assumir os encargos paroquiais de sua cidade, chegando assumir a
Catedral metropolitana e ao posto de Monsenhor, segundo o Padre Antnio Carmelo (1910)
foram 23 anos de atividades eclesisticos, e neste meio tempo Olimpio Campos j atuava dentro
da esfera poltica, reconvertendo sua notoriedade que conquistara como proco, em trunfos
pertinentes a conquista de votos. Sua trajetria poltica bastante intensa, alistado num dos
partidos monrquicos que lhe proporcionou a expanso de suas redes de relaes com lideranas

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

polticas como Leandro Maciel e Rodrigues Dria, se elege deputado provincial (1882-1883,
1884), deputado geral (1885 e 1886-1889) e posteriormente deputado constituinte do Estado
em 1891. Seu prestgio poltico fez com que sua opinio fosse decisiva para a aceitao do
regime republicano em Sergipe. Olimpio Campos estava por acumular um considervel volume
de recursos polticos, reconvertidos em recursos simblicos, de notoriedade e num efeito
reverso, o prestgio que arregimentava entre a populao sergipana e principalmente na elite
poltica local, funcionava como um trunfo para ascender na sua carreira poltica. Responsvel
pela organizao do Partido Catlico em Sergipe, Olimpio Campos consolida sua carreira
poltica elegendo-se deputado federal (1893-1899), e no pice de sua consagrao eletiva em
Sergipe, foi eleito presidncia do Estado (1899-1902). (GUARAN, 1925; CAMPOS, 1958;
DANTAS, 2007)
Olimpio Campos gozava de boa rede de relaes, alm de uma notoriedade respeitvel a
ponto de colocar familiares e amigos em postos polticos. Aproveitando-se da poltica dos
governadores implantada pelo Presidente da Repblica Campos Sales, nomeia o Secretrio
Geral dos negcios de seu governo para substitu-lo na presidncia do Estado. Josino Odorico
de Meneses, bacharel e farmacutico, fora deputado e vice-presidente da Assembleia
Constituinte de Sergipe (1893-1894) e por indicao do Monsenhor Olimpio Campos, chega ao
executivo estadual (1902-1905). Olimpio Campos passando seu mandato da presidncia,
assume o cargo de Senador, estratgia comum entre os governantes do perodo, e mesmo a
distancia, como prova de seu prestgio, indica como sucessor de Josino Meneses seu prprio
irmo o Desembargador Guilherme de Souza Campos (1905-1908) presidncia do Estado.
Olimpio Campos foi tragicamente assassinado no Rio de Janeiro pelos filhos de Fausto
Cardoso, em novembro de 1906, acreditavam esta vingando a morte do pai, inimigo poltico
de Olimpio, tambm assassinado, mataram um inocente. (DANTAS, 2007)
So muitos e diversos os recursos mobilizados pela famlia de Olimpio Campos e em
especfico pelo prprio: recursos econmicos, representado pelo frutfero engenho Periquito;
recursos sociais e simblicos, encarnados na extensa rede de relaes que se configuraram
dentro e em torno da famlia e no capital de notoriedade cada vez mais acumulado; novos
recursos tambm foram acionados por esta grande famlia, como os recursos escolares,
valorizao de um curso superior; profissionais, na constituio de carreiras de juristas, mdicos
e at padres, o sacerdcio no deixa de ser uma vocao. Todos estes recursos so
mobilizados pelos agentes da famlia, e quase sempre reconvertidos para a esfera poltica, esfera
onde a famlia estudada foi extremamente ativa.

Os Francos e a estruturao tempo/espao do poder

Aps a Primeira Repblica aos poucos, Sergipe se desenvolvia, com as implantaes das
fbricas txteis. O comrcio tambm se expandia, a vida urbana trazia grandes famlias, que
antes se distribuam nas cidades interioranas, para a capital. Famlias que compunham a classe
dominante e mantinham forte influncia poltica. Em destaque os Francos que durante quase
toda a histria sergipana sempre manteve seus membros envolvido em prticas que
assegurassem a reproduo e consagrao dessa famlia. Pode-se afirmar que a famlia Franco
foi uma das que mais resistiram s intempries do tempo, sempre fazendo parte da elite poltica
e econmica de Sergipe, o exemplo mais fiel de grande famlia constitutiva do espao do
poder em Sergipe. Sendo assim esta merece uma anlise mais prolongada: constituio,
trajetria, manuteno do prestgio e influncia poltica, no decorrer da histria sergipana.
Dada uma nova configurao da sociedade, novos recursos comeavam a ser mobilizados
para legitimao das posies dominantes, o que no quer dizer que os velhos recursos
tenham sido suprimidos. O comrcio, a indstria, os meios de comunicao, os partidos

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

polticos, os servios pblicos, a profissionalizao de modo geral com base quase sempre nos
investimentos escolares. Estes so alguns dos muitos novos recursos que podem e so
acionados por agentes ou famlias visando converses e reconverses para as esferas que lhes
convenham, objetivando a ascenso ou manuteno de seus prestgios e influncia sciopoltica. Todavia, os recursos econmicos, encarnados em propriedades territoriais, engenhos,
usinas ainda hoje so bastante acionados para a obteno de notoriedade e participao poltica.
Saint Martin (1995), ao analisar as lgicas de composio e recomposio de grupos que
assumem uma posio de elite, oferece uma explicao bastante satisfatria, para a
compreenso do porque de alguns grupos das elites, polticas, econmicas, se perpetuaram e
mantiveram suas posies dominantes por muitas geraes. De tempos em tempos h uma
espcie de renovao das elites, essa dinmica seria decorrente de um processo de
desvalorizao e de reavaliao dos diversos recursos, econmicos, culturais, sociais,
simblicos, detidos pelos diferentes agentes que compem as elites. Ento a capacidade que um
grupo tem de assumir tendncias inovadoras, investir em diferentes esferas e na aquisio de
novos recursos, ou em recursos que esto mais em evidncia, de promover reconverses mais
frutferas, ou de acumular recursos; confere a este grupo a sua insero ou manuteno entre as
elites.
Transplantando este eixo de anlise para a anlise da famlia Franco, a qual ter sua trajetria
exposta a seguir, o que se tem a apreender que, a capacidade que os Francos tiveram para
expandir seus investimentos, se dedicarem as inovaes, e se adaptarem as exigncias do tempo
so o que lhes garantiram a reproduo desta grande famlia ao longo de sculos. Enquanto
outras famlias insistiam nas mesmas esferas de atuao e com poucos investimentos acabando
no ostracismo, os Francos expandiram seus investimentos, nas mais diversas esferas na direo
da aquisio/acumulao de novos recursos e recomposio de antigos, o que elevou a
notoriedade e capacidade de reproduo e consagrao desta famlia (SAINT MARTIN, 1995) e
a classificao de famlia exemplar para o presente estudo.
Outra especificidade da famlia Franco, que lhe garantiu destaque especial neste artigo, a
sua eterna ligao com a esfera poltica e eleitoral. Os Fracos quase sempre estiveram
inseridos no ramo da poltica, reconvertendo todos os seus recursos e trunfos para esta esfera de
atuao. Seus familiares assumiram e assumem postos bastante destacados da vida eleitoral do
Estado, deputados estaduais, federais, senadores, prefeitos, governadores, constituindo assim
nas palavras de Igor G. Grill (2008) uma famlia de polticos. Como fonte de legitimao para
a ascenso eleitoral, os Francos buscam recorrer s suas heranas polticas, acionando o
passado poltico consolidado de seus familiares enquanto trunfo para conquista de postos
eletivos. Os membros dessa famlia se apoiam sobre a criao e manuteno de laos de
parentesco e por sobre num capital poltico acumulado pela famlia, que em tempos de eleio
delegado para aqueles membros que pretendem os postos polticos eletivos. Com tamanha
expressiva participao poltica dos Francos no cenrio Sergipano, pode se observar entre os
membros mais destacados, um caminho em direo profissionalizao poltica (GRILL,
2008). A seguir, busco expor a constituio e trajetria da famlia Franco destacando os
itinerrios individuais de membros da famlia mais expressivos, de forma que sejam possveis as
aplicaes dos nveis de anlise, anteriormente apresentados.
Joo Gonalves Franco (I) que provavelmente nasceu em 1690 o membro de sobrenome
Franco mais antigo que se tem conhecimento em terras sergipanas, seu nome aparece em
documentos antigos que tratavam sobre o rendimento do acar em Sergipe Provincial
(ARAJO, 2002). Era proprietrio do Engenho Serra Negra, que foi deixado como herana para
seu filho Manoel Ferreira da Cruz, morador da Vila de Santo Amaro, pai de outro Joo
Gonalves Franco (II). V-se j origem da famlia a ostentao de recursos econmicos
centrados na propriedade de engenhos. Joo Gonalves Franco (II) que deu continuidade ao
ramo do cultivo da cana-de-acar, no Engenho Serra Negra, casou-se duas vezes, a primeira
com Clemncia Feliciana de Meneses, com quem teve uma nica filha, Quitria Feliciana de

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

10

Meneses; do seu segundo casamento com Ana Tereza de Jesus teve seis filhos, dentre eles o
Coronel Antnio Luiz de Arajo Maciel, proprietrio do engenho Paty, pai do senador Leandro
Ribeiro de Siqueira Maciel.
Mas foi o primeiro casamento de Joo Gonalves Franco (II) que deu seguimento a linhagem
Franco, sua filha Quitria Feliciana de Meneses casou-se com Albano do Prado Pimentel (III),
que j era o terceiro deste nome e teve Joo Gonalves Franco (III). Faz-se necessrio discorrer
sobre a famlia Prado Pimentel. Albano do Prado Pimentel (I) (1686) e seu irmo o Sargentomor Antnio Coelho do Prado (1688), so os moradores de Sergipe da famlia Prado Pimentel
mais antigos que se tem conhecimento. Albano do Prado Pimentel (I) senhor do engenho Santa
Rosa localizado em Itabaiana, numa estratgia de reproduo social se casou com Joana Maciel,
filha do Coronel Joo Velho Maciel e Maria de S Barbosa, membro da famlia de S, famlia
que chegou no Brasil Colnia nas primeiras embarcaes e que recebendo as primeiras
sesmarias, ajudaram no seu povoamento. Joana Maciel tambm era irm de Francisca Maciel de
S que casou sua filha com o Baro de Itaporanga, Domingos Dias Coelho de Melo, j
mencionado neste trabalho.
Do matrimnio entre Albano do Prado Pimentel (I) e Joana Maciel nasceram trs filhos,
entre eles destaque para Albano do Prado Pimentel (II), este que se tornou Senhor do Engenho
Dangra (Itabaiana) casa com Joana Maria de Deus e tem com esta, seis filhos. Entre eles,
Albano do Prado Pimentel (III) que como j mencionado casou-se com Quitria Feliciana de
Meneses, filha de Joo Gonalves Franco (II) da juno da famlia Franco, representada por
Quitria Feliciana de Meneses com a famlia Prado Pimentel, representada por Albano do Prado
Pimentel (III), que nasceu uma nova linhagem sendo constitutiva da estruturao do espao de
poder em Sergipe.
Segundo Emmanuel Franco (2002) em O Cl do Engenho Porteira, a origem da famlia
Franco, a qual ele (autor) faz parte, estaria ligada diretamente ao engenho mais importante e
imponente da histria de Sergipe. Muitas so as famlias sergipanas que nasceram a partir
daquele engenho, grandes famlias ligadas ao cultivo da cana-de-acar, principal e mais
rentvel produto de comercializao da Provncia/Estado durante um longo perodo. No sculo
XVIII a Vila de Santo Amaro era o centro de atrao das famlias dos senhores de engenho,
famlias que ao se instalarem na localidade comearam a tecer alianas entre si, promovendo
casamentos entre seus membros, e reproduzindo a estirpe local. Destas estratgias de
reproduo e consagrao social das grandes famlias da aristocracia do acar, com base na
poltica matrimonial, surgiram ramificaes, novas linhagens, uma delas seria a famlia Franco,
prova disso que nas mediaes onde se encontrava o Engenho Porteira, hoje est a Usina
Pinheiros/Laranjeiras, propriedade dos Francos (FRANCO, 2002).
Dando continuidade a exposio da linhagem da grande famlia Franco, do casamento
entre Albano do Prado Pimentel (III) e Quitria Feliciano de Meneses, nasceram sete filhos
dentre eles Joo Gonalves Franco (III) (1807) este ltimo que recebe o nome de seu av
materno, era natural de Laranjeiras, foi Coronel da Guarda Nacional, proprietrio do Engenho
Alagoinhas e de terras num lugar chamado Capoeira, se casa com Ceclia Bibiana de Almeida,
neta do Coronel Francisco de Barros Pimentel, e tm cinco filhos (ARAJO, 2002). Desta
ltima aliana matrimonial merece destaque o nome de Albano do Prado Pimentel Franco
(IV/I), a partir dos filhos deste, pessoas pblicas, que os Francos passam a ser popularmente
(re)conhecidos. Albano do Prado Pimentel Franco (IV/I)4 proprietrio do Engenho So Jos do
Pinheiro-Laranjeiras, foi casado por duas vezes, o primeiro casamento foi com Maria Rosa de
So Jos, tiveram quatro filhos: Jos Paes Franco, Ceclia do Prado Franco, Albano do Prado
(Pimentel) Franco, este cursou medicina, atuando na rea, dedicou-se tambm a poltica, foi
deputado estadual (1912-1913). (GUARAN, 1925; CALMON, 1995). O quarto filho do
4

Os nmeros em algarismos romano junto aos nomes de alguns membros da famlia Franco, indicam a repetio
destes nomes, enquanto estratgia de reproduo familiar, Albano do Prado Pimentel (Franco) seria o IV de mesmo
nome e o I com o sobrenome Franco.

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

11

primeiro casamento seria Antnio do Prado Franco, que na dcada de 1920 teve enorme
participao da administrao poltica do Estado, proprietrio do Engenho Central/Riachuelo,
usineiro e empresrio influente se associou ao governo e promoveu obras como o Mercado
Municipal e o Matadouro Modelo, adquirindo ainda mais prestgio para a famlia. (DANTAS,
2004)
O segundo casamento de Albano do Prado Pimentel Franco (IV/I) foi realizado com Adlia
do Prado Franco, neta pela linha materna do Baro de Aracaj (ALBUQUERQUE , 2002).
Deste segundo casamento Albano do Pardo Pimentel Franco (IV/I) teve oito filhos, todos
nasceram nas terras da Usina So Jos, no povoado Pinheiro/Laranjeiras. (CALMON 1995;
ARAJO, 2002). Para o presente trabalho merecem destaque os filhos mais velhos de Albano
do Prado Pimentel Franco (IV/I). Jos do Prado Franco (1905) ou Zez do Pinheiro como
ficou conhecido, primognito, dirigiu por muito tempo a Usina So Jos do Pinheiro e a fbrica
de tecidos, So Gonalo em So Cristvo, ambas as propriedades da famlia Franco. Teve um

Diagrama 1
Genealogia da Famlia Franco Encontro dos Francos com os Prado Pimentel

Joana Pimentel

Sargento-Mor Antnio Coelho


do Prado (1688)

Cor. Joo
Velho Maciel

Albano do Prado
Pimentel (I) (1686
Itabaiana Eng. Santa
Rosa)

Joana Maciel

Maria Francisca de Nazar,


Vicente Jos do Prado C.c. uma
filha do Capito Mor Manuel
Dias Coelho

Joo Gonalves Franco (I)


(1690 - data aproximada)

Manuel Ferreira da Cruz


(Engenho Serra Negra) C.c.
Quitria Francisca de Santa
Rita

Maria de S
Barbosa
(descendente
da Famlia de
S)

Albano Do
Prado Pimentel
(II) (Engenho
Dranga
Itabaina)

Joana Maria
de Deus

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

Joo Gonalves Franco (II)


(1760 - data aproximada)
(Engenho Serra Negra)
1 C.c. Clemncia Feliciana
de Menezes
2 C.c. Ana Tereza de Jesus

Filha do 1 C.
Quitria Feliciana
de Menezes

Albano do Prado
Pimentel (III)

12

Pe. Antonio Coelho do Prado,


Francisco Nunes Barreto,
Genoveva de Santa Quitria,
Jos Trindade Pimentel (Eng. N.
S. da Conceio e Ladeira
Grande), Emerenciana Sofia
Lucena de Meneses C.c. Cap.
Emernegildo Jos Teles de
Meneses (Vice-presidente da
Provncia de Sergipe)

Filhos do 2 C.
Antonia Tereza de Melo
Vitorina de Jesus Maria
Cel. Antonio Luiz de Arajo
Maciel
Braz Bernadino de S Souto
Maior
Maria Tereza de Jesus
Cristina Quitria do Esprito
Santo

Continuidade
da Famlia
Franco no
Diagrama 2

Observao:
C.c. = Casado(a) com
C. = Casamento

filho de nome Fernando Ribeiro Franco, este se formou na Faculdade de Direito de Salvador,
entrou na poltica de Sergipe, sendo eleito Deputado Estadual para duas legislaturas (19621970). Vice-lder da UDN, presidente do tribunal de justia e desembargador, teve dois filhos,
entre eles Carlos Augusto, o Cacau Franco que foi prefeito de Muribeca, municpio interiorano
de Sergipe, tendo um filho Fernando Franco Neto que em 2008 concorreu prefeitura deste
mesmo municpio. (SANTOS, 2002).

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

13

Walter do Prado Franco (1908), comerciante, banqueiro, industrial e pecuarista; assumiu


postos dirigentes em bancos e indstrias, dedicou-se a vida poltica, sendo senador de 1946 a
1955 e deputado federal de 1955 a 1957, ano que vem a falecer. Em sua homenagem o prdio
pblico da Procuradoria de Justia de Sergipe recebe seu nome. Manuel do Prado Franco
(1911), foi prefeito por duas vezes do municpio de Laranjeiras, teve dois filhos, Jos do Prado
Franco Sobrinho, e Clia Franco da Costa Prado, conhecida como Celinha Franco eleita
deputado estadual pelo PFL em 2006.
Antes de tratar do prximo filho de Albano do Prado Pimentel Franco (IV/I), cabe aqui um
apontamento analtico. Observa-se, e mais se ver o quanto os Francos esto adentrados no
campo da poltica, remanejando recursos econmicos e simblicos acumulados pela famlia com
o objetivo, quase sempre alcanado, de assumirem postos eletivos. Uma prtica comum entre os
Francos utilizar o passado poltico de sua famlia como trunfo legitimador para assumirem
novos postos eletivo; as heranas polticas deixadas por familiares que j estiveram ou esto
inseridos na poltica, so acionadas objetivando o aproveitamento do prestgio poltico de seus
parentes na busca da legitimidade em meio a um eleitorado que j aprovou o nome Franco
outrora e que teoricamente continuar apoiando seus sucessores.
Augusto do Prado Franco (1912), para este artigo, o Franco mais importante dessa grande
famlia que sempre esteve relacionada diretamente com a estrutura de poder do Estado de
Sergipe. O quarto filho de Albano do Prado Pimentel Franco (IV/I) e Adlia do Prado Franco,
Augusto do Prado Franco formou-se em Medicina na Bahia em 1937 com uma especializao
no Rio de Janeiro. Voltando a Sergipe no final de 1938 assume parte nos negcios de famlia,
que eram tocados pelos irmos mais velhos, Jos Franco e Walter Franco. (SANTOS, 2002). Os
empreendimentos da famlia cresciam de forma impressionante, alm das usinas de acar, do
Banco e da fbrica de So Cristvo, Augusto Franco adquiriu a fbrica Sergipe Industrial, em
Aracaju e o Engenho Central, em Riachuelo. Apesar da sua formao em medicina Augusto
Franco sempre teve um trato especial com o mundo empresarial, continuou investindo no
Estado, liderando os usineiros na Cooperativa e depois no Sindicato, enquanto participava de
outras pequenas empresas, como a Indstria e Comrcio Franco, e na da gesto de um Banco.
(site: Enciclopdia Nordeste)
Numa estratgia de ampliao e diversificao das atividades empresariais da famlia,
Augusto envereda tambm no ramo da comunicao: a partir de sua iniciativa foram surgindo a
Atalaia AM, a Rdio Cidade em Simo Dias, depois a TV Atalaia e Atalaia FM e, o Jornal da
Cidade, a TV Sergipe e a FM Sergipe. Figura destacada de Sergipe, nas palavras do jornalista
Osmrio Santos (2002): Pea importante na consolidao da economia sergipana, Augusto do
Prado Franco sempre teve uma viso empresarial invejvel e no tinha medo de investir em
diferentes reas, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento do Estado. (p. 150).
A partir do exemplo de Augusto Franco e de alguns outros membros dessa grande famlia,
temos a plena viso daquilo que Saint Martin (1995) denominou de predisposio para a
inovao. Os Francos no se intimidaram com as mudanas ocorridas na estrutura da sociedade
sergipana no decorrer dos tempos, se adaptaram as novas formar de investimento.
Quanto mais diversificadas forem as esferas de atuao de um grupo ou uma famlia,
maior ser a quantidade e diversidade de recursos acumulados por este mesmo grupo, e por sua
vez, maior ser o leque de possibilidades de reconverses proveitosas. A polivalncia dos
investimentos da famlia franco um bom exemplo pra comprovar esta hiptese, a princpio a
famlia Franco acumulara um expressivo capital econmico, e concomitantemente um capital
simblico de notoriedade e status que conferiram a famlia, novos investimentos, em direo
escolarizao e profissionalizao. Muitos dos membros da famlia Franco buscaram completar
o nvel superior, complementando-os com cursos de especializao fora do estado, e/ou se
profissionalizando em reas j consagradas como a jurdica, medica e mesmo a empresarial,

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

14

Diagrama 2

Genealogia da Famlia Franco

Albano do Prado
Pimentel (III)

Quitria Feliciana
de Menezes

Filho de Albano do
Prado Pimentel (II) e
Joana Maria de Deus

Jos Incio
do Prado

Joana
Maria de
Deus
(1800)

Francisco
Muniz Barreto
(1806)

Filha do 1 C. entre
Joo Gonalves
Franco e Clemncia
Feliciana de Menezes

Maria Tereza
de Jesus
(1808)

Joo Gonalves Franco (III) (1807)


foi Coronel da Guarda Nacional
(Engenho Alagoinhas)

2 C.c. Adlia do
Prado Franco,
neta materna de
Jos Incio
Aciolli do Prado,
Baro de
Aracaju

Antonio
Coelho do
Prado (1817)

Ceclia Bibiana de Almeida neta do Coronel Francisco de


Barros Pimentel

Isabel Accioli
do Prado C.c.
Jos Batista de
Vasconcelos

Jos Incio do
Prado Franco

Albano do Prado Pimentel


Franco (IV/I) foi Coronel,
Engenho So Jos dos
Pinheiros Laranjeiras

Maria do
Prado
Pimentel
(1812)

Francisco de
Barros Pimentel
Franco (1845
Laranjeiras) C.c.
Maria Lydia dos
Santos

Joana Gonalves
Franco C.c
Manuel Francisco
de Santana

Filhos: Amlia Franco, Helena de


Menezes. Francisco de Barros
Pimentel Franco (II), Jos de
Barros Pimentel Franco, e mais
Achilles, Lafayette, Maria,
Lavnia, Anna, Ceclia, Joo
Gonalves Franco (IV), Isabel do
Prado Franco

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

15

1 C.c Maria
Rosa de So
Jos

Antonio do
Prado Franco
(Eng. Central Riachuelo),
Albano do
Prado Franco
(V), Jos Paes
Franco, Ceclia
do Prado Franco

Jos do
Prado
Franco
(1905)
Usina So
Jos do
Pinheiro

Walter do
Prado
Franco
(1908) Foi
senador e
deputado
federal

Manuel do
Prado Franco
(1911) Foi
prefeito de
Lananjeiras

Flvio do
Prado
Franco
(1916)

Augusto do Prado
Franco (1912)

Albano do
Prado
Pimentel
Franco (VI/II)

Walter do
Prado Franco
Sobrinho

Augusto
Csar
Franco

Antonio
Carlos Franco
(1952)

Marcos
Franco

Joo do
Prado
Franco
(1918)

Maria
Augusta
Franco
(1919)

Francisco
de Paula
do Prado
Franco

Maria Virgnia Leite Franco


filha do mdico Augusto
Csar Leite

Osvaldo
Franco

Ricardo
Leite
Franco

Amlia
Franco
Guimare

(1940)

formado assim uma renovada estirpe detentora de um capital cultural que dantes era sublimado.
Em sua carreira poltica, Augusto Franco foi eleito pela ARENA, partido de situao no
perodo da Ditadura Militar, deputado federal 1967-1971, depois senador 1971-1979, e por fim,
no auge da expresso poltica da famlia Franco tornou-se governador de Sergipe, (eleito
indiretamente) de 1979-1982 e novamente deputado federal, de 1987-1991, j pelo PDS. Por
conta de sua atuao poltica em Braslia e de todo o seu prestgio ele foi eleito presidente do
Partido Democrtico Social (PDS) a nvel nacional. (site: Enciclopdia Nordeste; DANTAS,
2004).
Augusto Franco foi casado com Maria Virgnia Leite Franco, filha do notvel humanista,
mdico, intelectual, professor e poltico, Augusto Cezar Leite. Com ela teve nove filhos, todos
enveredaram no ramo empresarial seguindo seu pai: Amlia Franco Guimares, funcionria

Maria Clara
Franco
Melo

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

16

pblica federal; Maria Clara Franco Melo, empresria; Marcos Franco, empresrio, foi
deputado estadual (2002-2006); Osvaldo Franco, diretor-superintendente da Usina So Jos do
Pinheiro; Ricardo Leite Franco, proprietrio da tradicional fbrica de tecidos Confiana.
Augusto Csar Franco, formado em economia, pela UNB, foi superintendente da TV Atalaia,
filial da Rede Record, diretor do Jornal da Cidade, e scio da TV Sergipe, afiliada da Rede
Globo (Infonet, 2002, jornal online). Walter do Prado Franco, presidente da TV Atalaia, foi
deputado estadual, 1982.
Antnio Carlos Franco, foi eleito deputado federal em 1966 fez um curso Tcnico de
Administrao em So Paulo, passou por todas as Usinas da famlia. Inicia sua vida poltica, no
lugar de seu pai, o ex-governador de Sergipe, sempre em seus pronunciamentos, ele se remetia a
glria poltica de seu pai. o exemplo mais fidedigno do usufruto eficaz da herana poltica
que se pode observar entre os Francos, Antnio Carlos Franco, ao aciona recursos como o
passado poltico de seu pai; o prestgio que este conquistara, a sua rede de relaes pessoais e
polticas; espera obter legitimao em sua candidatura ou mesmo na sua atuao poltica. (Grill,
2008). Antnio Carlos Franco ainda foi prefeito do municpio de Laranjeiras, e numa estratgia
de reproduo poltico-familiar mobilizou seus recursos polticos, para inserir seu filho Marcos
Franco na poltica, este fora eleito aos 21 anos deputado estadual nas eleies de 1998.
Albano do Prado Pimentel Franco (VI/II)5 , o filho de Augusto Franco que tem uma
carreira poltica mais ativa. Nasceu em 1940 em Aracaj, como seus irmos, estudou no Colgio
Salvador, colgio de referncia em Sergipe, concluindo seus estudos primrios em So Paulo.
Bacharelou-se em Cincias Jurdicas e Sociais pela Universidade Federal de Sergipe em 1966,
cedo comeou no ramo empresarial, a mando de seu pai, assumindo a direo da Usina
Pinheiros e da Fabrica txtil Sergipe Industrial, alm de outras posteriormente como a Refresco
Guararapes, FM e TV Sergipe. Em 1966 ingressa na poltica eletiva sergipana junto a seu pai,
este como candidato a deputado federal, o mais votado do Estado, enquanto Albano foi
candidato a deputado estadual, sendo eleito (1967-1971). Seu destaque no setor empresarial lhe
rendeu a presidncia da Federao das Indstrias do Estado de Sergipe (1971-1977), projetandose da para a presidncia da CNI (Confederao Nacional das Indstrias). (SANTOS, 2002)
Albano Franco teve uma vida partidria muito ativa, foi Presidente da Executiva Estadual da
ARENA (1972 -1975); presidente do PDS em Sergipe, depois veio a ser Vice-Presidente de
Honra do PSDB, Sergipe. (SANTOS, 2002). Desta sua militncia partidria teve contatos e
formou alianas com lideranas polticas de peso, expandindo sua rede de relaes polticas, e
reconvertendo estes recursos de volta para a esfera poltica eletiva. Nas eleies de 1982,
Albano Franco se elege para o senado, sendo reeleito e permanecendo no posto de 1983 a 1994.
Detentor de uma viso privilegiada para os processos polticos procurou sempre apoiar a
poltica situacionista, transitou por vrios partidos, ARENA/PDS (at 1979), PFL (1980-1985),
PMDB (1990-1992), PRN. (DANTAS, 2002). Pelo PSDB, partido de FHC, e por meio de uma
coligao confusa com o PFL em 1994, Albano Franco repete o feito de seu pai, e se elege
Governador do estado de Sergipe, consegue a reeleio, disputando com o seu antigo
correligionrio Joo Alves Filho, fica a frente do executivo estadual de Sergipe de 1995 a 2003,
em 2006, como prova de sua expressividade na vida poltica do Estado elegeu-se deputado
federal. Casado com Leonor Barreto Franco, Albano Franco teve dois filhos: Ricardo Franco,
considerado um dos melhores empresrios do pas, crescendo os negcios da famlia, e Adlia
Franco Maranho, formada em Direito.
Sendo os Francos fundamentais na estruturao do espao do poder de Sergipe; como ficou
provado, no s do espao, mas tambm no tempo. Do sculo XVII ao XXI, os membros da
famlia Franco vm se destacando e fazendo a histria de Sergipe. Inseridos nas mais distintas
esferas de atuao, detentores das mais diferenciadas espcies de recursos, promovendo
converses e reconvertendo destes recursos, de forma a perpetuar e consagrar a famlia,
5

o VI Albano do Prado Pimentel, se contado o seu irmo paterno, e o II com o sobrenome Franco.

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

17

reproduzindo esta, de forma to eficaz que hoje em dia continua sendo uma das, se no a famlia
mais notvel de Sergipe. Os Francos enquanto grande famlia de monumentais investimentos
fez e ainda faz parte da elite poltica sergipana.

4. CONCLUSO
Na busca da compreenso do funcionamento das engrenagens scio-polticas do estado de
Sergipe, partindo da anlise da constituio das estruturas de poder durante sua histria,
constata-se que, a construo dos espaos de poder gira em torno de grandes famlias e de
seus principais representantes. Tomando como base as grandes famlias que foram objeto
emprico do presente trabalho, conclui-se que, os grupos familiares para legitimarem suas
posies elitistas, na estrutura de poder em Sergipe, inserem-se em diferentes esferas de
atuao, a exemplo das esferas: econmicas, sociais, simblicas, militar, religiosa, sobretudo
polticas; a partir destas inseres, conquistam e acumulam recursos diversos, como: a posse da
terra, a propriedade de engenho ou Usina, a carreira militar, a vocao religiosa, a titulao
acadmica, a notoriedade, seja do agente ou da famlia, o status de empreendedor de sucesso, a
carreira poltica, entre outros.
A partir na anlise das trajetrias dessas famlias e dos itinerrios de seus membros mais
expressivos, conclui-se tambm que, alguns dos recursos que fornecem poder, prestgio e
levam, por meio das reconverses, consagrao das grandes famlias, perdem ou diminuem
seu grau de importncia e de conversibilidade, no decorrer da histria de Sergipe; enquanto isso
novos recursos se apresentam promissores para este objetivo. Este fato promove de tempos em
tempos a substituio de alguns grupos dominantes, que perdem posio por no promover
novos investimentos, por no se moldarem as exigncias do poder. Todavia h grupos e/ou
famlias que se mantm em posies elitistas ao longo de sculos, como o caso dos Francos,
isso ocorre devido capacidade que esta famlia tem de adaptar-se s inovaes, ao longo de
geraes bem sucedidas e consagradas; os Francos atenderam as exigncias do poder - enquanto
critrio de perpetuao familiar alm de inovarem antigos investimentos, investiram em
recursos escolares, profissionais e no ramo empresarial e nas carreiras polticas.
A famlia de Sebastio Boto, (ao menos pelas informaes coletadas) ao consagrar-se
enquanto grande famlia centrou-se mais nos recursos econmicos, militares, nas redes de
relaes pessoais, e na esfera poltica. Com os filhos do Periquito, aparecem os primeiros
investimentos escolares e profissionais, a vocao religiosa, e a dedicao a poltica eletiva.
Como regra geral para estas grandes famlias que constituram a estrutura do espao de poder
em Sergipe, destacamos duas prticas: as estratgias de reproduo familiar, em especfico as
alianas matrimoniais e as carreiras polticas consolidadas pelas heranas polticas, ambas
lgicas de consagrao familiar.
Esperamos que os leitores compreendam que no estamos tentando dizer que apenas estas
famlias em especfico foram responsveis pela estruturao do espao de poder em Sergipe,
sendo que existiram e ainda existem vrias outras famlias que tambm contriburam na
arquitetura das engrenagens do poder neste estado, a exemplo dos Garcez, Rollemberg,
Teixeira, Maynard, Dias Melo, etc. Convm observar que estas outras famlias tambm esto
sendo analisadas por ns numa pesquisa paralela, para os propsitos deste trabalho as famlias
que foram abordadas se mostraram mais satisfatrias para a exequibilidade da pesquisa.
Esperamos que os eixos de anlise aqui trabalhados sejam passveis de aplicao em outras
realidades, de forma que, seja vivel o descortinamento das estruturas de poder em outros
Estados a partir da anlise das grandes famlias.
_____________________________________________________________________________
1.

2.

ABREU, Ricardo N. Os oficiais do exercito brasileiro e a formao da elite intelectual sergipana no


sculo XIX: 1822-1889. So Cristvo, 2006. 120f. Dissertao (Mestrado em Educao), UFS,
2006.
ALBUQUERQUE, Samuel B. de Medeiros. Aspectos do Baronato Sergipano, In: Revista do
Instituto Histrico e Geogrfico de Sergipe. Aracaj: n.33, 2002.

David W. S. dos Santos & Hlio W. S. Leandro, Scientia Plena 6, 121602(2010)

3.
4.

5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.

17.

18.
19.
20.
21.

22.

23.
24.

25.

18

ARAJO, Ricardo Teles de. Famlias Sergipanas no perodo colonial. In: Revista do Instituto
Histrico e Geogrfico de Sergipe. Aracaj: n.33, 2002.
BARATA, Carlos de A. Sergipe Governadores e Presidentes da Provncia (1821-1889). Rio de
Janeiro:
Colgio
Brasileiro
de
Genealogia,
[2005?].
Disponvel
em:
http://www.cbg.org.br/arquivos_genealogicos_s_04.html. Acesso em: 18 jan. 2010.
BOURDIEU, P. Cultura e Poltica. in: Questes de Sociologia. Lisboa: Fim do Sculo, 2003.
CALMON, Pedro. XVIII. Maciel de S, S e Menezes (Bahia), Prado Pimentel Franco: Albano
Franco. Disponvel em: http://www.buratto.net/doria/Sa_2.pdf.
CAMPOS, Edilberto. Se no me falha a memria. In: Revista do Instituto Histrico e Geogrfico de
Sergipe. Aracaj: n 22, Vol. XVII, 1958.
CARMELO, Padre A. Olimpio Campos Perante a Histria. Rio de Janeiro: Officinas Graphicas,
1910.
CORADINI, Odaci Luiz. Em nome de quem? Recursos sociais no recrutamento de elites polticas.
Rio de Janeiro: Relume Dumar, UFRJ, 2001. p. 7-18.
_______. As elites como objeto de estudo. In: ______ (Org.). Estudos de grupos dirigentes no Rio
Grande do Sul. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. P. 7-18.
DANTAS, Ibar C. Eleies em Sergipe (1985/2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002.
_______. Histria de Sergipe: Repblica (1889-2000). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2004.
_______.A Trajetria Poltica de Olimpio de Souza Campo 1853/1906. In: Revista do Instituto
Histrico e Geogrfico de Sergipe. Aracaj: n. 36, 2007
ENCICLOPDIA
NODERTE.
Augusto
Franco
(1).
Disponvel
em:
http://www.enciclopedianordeste.com.br/022.php
FREIRE, Felisbelo. Histria de Sergipe. 2 Ed. Petrpolis: Vozes; Aracaju: Governo do Estado de
Sergipe, 1977.
GRILL, Igor Gastal. Heranas polticas, bases sociais e especializao poltica no Rio Grande do
Sul. In: CORADINI, Odaci Luiz. (Org.). Estudos de grupos dirigentes no Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2008. P. 129-148.
GUARAN, Manoel A. C. Dicionrio Bio-bibliogrphico Sergipano. Rio de Janeiro: [s.n.], 1925.
Disponvel
em:
<
http://iaracaju.infonet.com.br/serigysite/includes/serigysite/242/Dicionario_Armindo_Guarana_set2
007.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2009.
MICELI, S. Biografia e Cooptao (O estado atual das fontes para a histria social e poltica das
elites no Brasil). In: Intelectuais Brasileira. So Paulo: Companhia das Letras, 2001.
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Colonial I. 2 Ed. So Cristvo: Editora UFS; Aracaju: Fundao
Ovido Teixeira, 2006.
______. Sergipe Provincial II (1840/1889). Rio de janeiro: Tempo Brasileiro; Aracaju: BANESE,
2006.
SAINT MARTIN, M. Reconverses e reestruturaes das elites: O caso da aristocracia em Frana.
In: Revista Anlise Social. Vol. XXX (134), 1995 (5.), 1023-1039. Disponvel em:
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1223389034F9vBA2bc9Cp29OZ5.pdf .
______. Da Reproduo s Recomposies das Elites: As Elites Administrativas, Econmicas, e
Polticas na Frana. In: TOMO, Revista do Ncleo de Ps-Graduao e Pesquisa em cincias
Sociais/Universidade Federal de Sergipe N 1 (1998). So Cristvo- Se, n 13 jul./dez., 2008, p.
43-73..
SANTOS, Osmrio. Memrias de Polticos de Sergipe no sculo XX .Aracaju: Grfica J Andrade,
2002.
SEIDL, Ernesto. A espada como vocao: padres de recrutamento e de seleo das elites do
exercito no Rio Grande d Sul (1850-1930). Porto Alegre, 1999. 203f. Dissertao (Mestrado em
Cincia Poltica). UFRGS. Porto Alegre, 1999.
______. A espada como vocao: as grandes famlias e o exrcito do Rio Grande do Sul (18501930). Teoria & Sociedade, revista da UFMG, Minas Gerais, n 9, p. 104-139, jun. 2002.

Você também pode gostar