Distúrbios Alimentares - Enfoque Junguiano
Distúrbios Alimentares - Enfoque Junguiano
Distúrbios Alimentares - Enfoque Junguiano
mito ou conto de fadas pode ser utilizado para demonstrar conflitos e solues
diferentes, dependendo da tica utilizada. Um analista experiente saber fazer uso de
um mesmo mito para queixas diferenciadas. Os mitos, no contexto teraputico,
promovero uma amplificao dos smbolos dos quadros psicolgicos.
Na mitologia grega encontra-se o mito de Dafne para ilustrar o distrbio da
obesidade na populao feminina.
Dafne era uma ninfa que foi objeto de intenso interesse por parte de Apolo.
Quando ele tentou aproximar-se dela, ela continuou caminhando como se nada
estivesse acontecendo, nem ao menos lhe dirigiu um olhar. Ele tenta falar com ela,
mas ela no lhe d ouvidos e decide fugir, correndo sem parar. Quando chega perto do
rio Peneu (que seu pai) lhe implora que retire dela toda beleza. Ento, ele a
transforma num loureiro. Apolo, ento a arranca do cho e a coloca em seu jardim e
transforma suas folhas em sua coroa.
Observa-se nessa transformao uma forma no humana da qual retirada a
sexualidade e, conseqentemente, ela poder evitar a transformao de menina
mulher. A transformao em rvore simboliza a armadura, a defesa que uma jovem
mulher constri para no entrar em contato com a sua feminilidade, sexualidade e
afetividade, ou seja, aspectos profundos de sua psique.
Dafne, portanto, no uma herona, ou seja, no consegue fazer uma escolha
consciente, visto que ela d as costas a Apolo (que representa o animus, a conscincia
solar, a discriminao) e assim se mantm indiferenciada e eternamente cativa daquele
que rejeitou.
Este mito retrata que a ferida no feminino foi causada por uma conturbada
relao me-filha, pois Dafne busca ajuda do pai. Tm-se mitos que falam da ferida
causada pelo pai.
J o mito da Medusa pode ser utilizado nos casos de anorexia nervosa.
Medusa aps um confronto com Atena por questes de beleza perdeu e foi
transformada numa Grgona. Quem olhasse para ela era transformado em pedra.
Perseu, instrudo por Atena, foi quem a matou depois, usando seu escudo como
espelho. Ela se transformou em pedra. Uma forma no humana que no necessita de
alimento. a recusa mxima do viver, do relacionar-se, afugentando a todos que se
aproximam.
Outro mito que se presta aos quadros de anorexia nervosa na populao
feminina o de Demter/Core-Persfone. Nele encontra-se a jovem Core, que
superamada por sua me Demter. Core raptada por Hades com o consentimento de
Zeus (seu pai) e levada ao Hades, vindo a se transformar em Persfone, a rainha dos
Infernos (Hades). Ela no deveria comer nada enquanto estivesse no Hades, pois
seno ficaria presa por l. Ela nada comeu at o dia em que foi permitido seu retorno
ao mundo para encontrar sua me que estava desesperada a sua procura. Neste dia
ela comeu uns gros de rom que lhe dariam o direito a retornar ao Hades.
Neste mito observa-se o intenso e neurtico vnculo entre me e filha. Enquanto
Core, a eterna jovem, vemos a mulher que est entrando para o estgio de transio
para a fase adulta, mas teme fazer a passagem, assumir as responsabilidades por
isso comum a anorexia nervosa apresentar-se na adolescncia do crescer, da
medos. Assim, aceita a realidade como , com suas diferenas, e luta suas prprias
lutas. Seu lema poderia ser: "viva e deixe viver". No precisa provar-se a ningum.
Usando estas fases no caso da obesidade masculina, pode-se dizer que:
o Inocente a fase em que, ainda menino, o homem superprotegido pela me. Me
que o alimenta para tornar-se forte, que na verdade uma palavra para definir
obesidade. Quem no ouviu: Meu filho no gordo, forte !
O rfo a fase em que, bem provavelmente, h uma interveno paterna ou
do meio para quebrar o vnculo me-filho, e o menino sente que perdeu seu paraso.
Inicia-se a adolescncia.
O Mrtir a fase em que o jovem se entope de comida, sacrificando seu
prprio corpo e sua vida psquica para tornar-se mais forte, impenetrvel, mas
mantendo presos seus monstros interiores.
O Nmade quando o rapaz volta-se para seu mundo interno e busca por seus
prprios valores; aqui ele deve identificar seus monstros e viles. O detonador dessa
fase a busca por relacionamentos, a sexualidade e a escolha vocacional e
profissional.
O Guerreiro vai lutar com os monstros e viles; a velha e rdua batalha por
desvincular-se do mundo dos pais.
E por fim, o Mago, estgio em que o jovem torna-se nico; j lutou com seus
monstros e viles e ganhou sua identidade adulta, sua auto-estima foi otimizada, j
possui autoconfiana. Descobriu que o excesso de peso, alm de no torn-lo mais
forte ainda o fazia sentir-se mais frgil e inadequado, tanto fsica como
psicologicamente.
Este um pequeno trabalho, uma semente e, portanto no esgota o assunto e
pode, quem sabe, incitar novas associaes a outros mitos.
Referencias Bibliogrficas:
BRANDO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Vol. I e II. Petrpolis, Vozes, 1997.
PEARSON, Carol S. O Heri Interior. So Paulo: Cultrix, 1994.
LASHERAS, Anyara M. A lenda do Negrinho do Pastoreio