TARDE, Gabriel - As Leis Sociais
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TARDE, Gabriel - As Leis Sociais
As Leis Sociais
um esboo de sociologia
Traduo e notas de Frantisco Traverso Fuchs
Editora da UFF
I. Ttulo
_______
CDD 301
Tania de Vasconcellos
Sumrio
Nota do tradutor, 7
Prefcio, 17
Introduo, 19
Primeiro Captulo
Repetio dos fenmenos, 23
Segundo Captulo
O posio dos fenmenos, 49
Terceiro Captulo
A daptao dos fenmenos, 83
Concluso, 109
Nota do tradutor
Jean-Gabriel de Tarde nasceu em Sarlat (hoje Sarlat-la-Canda) no ano de 1843. Passou metade da vida servindo como
juiz na regio de Dordogne, mas em 1894 foi nomeado diretor do
servio de estatstica judiciria do Ministrio da Justia, saindo
da provncia para viver em Paris. Dois anos depois, comeou a le
cionar na cole Libre des Sciences Politiques, e posteriormente no
Collge Libre des Sciences Sociales, onde proferiu as conferncias
reunidas neste livro. No incio de 1900 obteve a cadeira de Filosofia
Moderna no Collge de France,1que ocupou at 1904, ano de sua
morte. Celebrado em sua poca como o grande nome da sociologia
francesa, Tarde polemizou com Lombroso e Durkheim e escreveu
obras que ajudaram a fundar a sociologia e a criminologia moder
nas. J nos primeiros anos do sculo XX, no entanto, a situao se
inverteu a favor de Durkheim, que
tornou-se o principal representante da sociologia como
disciplina cientfica, ao passo que Tarde havia sido evacua
do para a prestigiosa (porm irrelevante) posio de mero
precursor - e um precursor no muito bom, j que havia
sido marcado para sempre pelos pecados do psicologismo
e do espiritualismo.2
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Lois de L'Imitation, embora tenha usado a locuo courant im ita tif (corrente im itativa).
Assim, meu prim eiro im pulso foi o de usar a palavra "corrente". Entretanto, ao traduzir-se rayon por corrente quebra-se o vnculo etim olgico (e acima de tu d o o vnculo
igico) entre o rayon (do qual todos os imitadores participam ) e o rayonnement, que
remete fonte de uma novidade, ao seu inventor ou agenciador. Ficaria enfraquecida
a im portante analogia que o autor estabelece entre as"correntes im itativas"e as ondas
fsicas: o leitor tenderia a pensar a "corrente" mais como uma "continuidade de ligao
entre elos" do que como um fluxo que possui uma origem definida e qe pode inter
ferir em o utro fluxo, ou seja, como algo semelhante a uma onda eletromagntica. Por
fim , essa escolha tornaria mais difcil, para o leitor de lngua portuguesa, a distino
entre as ocorrncias de rayon e de courant no texto original. M inha segunda opo foi
o uso do term o onda para traduzir rayon. Nesse caso, somente o vnculo etim olgico
seria perdido; e nas passagens em que Tarde realmente utiliza o term o onde (onda),
ele sempre se refere explicitam ente a ondas fsicas, o que tornaria mais fcil distinguir
os dois usos. No entanto, embora tenha achado essa soluo (onda im itativa), que foi
alis utilizada por Bergson, a mais elegante de todas, acabei optando pela traduo
literal da palavra rayon e de todas as locues de que ela participa; raio, raio imitativo,
raios de exemplos. Se os prprios franceses experim entam um estranhamento diante
da escolha original de Tarde, no h razo para suprim ir essa estranheza na traduo.
Obviamente, essa escolha resolve, em definitivo, todas as dificuldades mencionadas
acima. Por fim, a palavra "irradiao" me pareceu, em todos os casos, bem m elhor do
que "influncia", que um dos significados de rayonnement e que seria uma traduo
aceitvel em determ inados contextos.
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7 Bergson, Henri. Discours sur Gabriel Tarde (1909), IN Mlangs, op.cit., p. 799-800.
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9 Bergson, Henri. Discours sur Gabriel Tarde (1909), IN Mlanges, op.cit., p. 800-801. Grifo
meu.
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10 Deleuze, Gilles & Guattari, Flix. Mille Plateaux, Paris, De minuit, 1980, p. 267.
" Bergson, Henri. Prface aux "Pages Choisies"de G. Tarde (1909), IN Mlanges, op.cit., p. 812.
Prefcio
Neste pequeno volume, que contm a substncia de vrias confern
cias realizadas no Collge libre des sciences sociales em outubro de
1897, tentei oferecer no somente nem precisamente o resumo ou a
quintessncia de minhas trs obras principais de sociologia geral as Leis da Imitao, a Oposio Social e a Lgica Social - mas ainda,
e acima de tudo, o lao ntimo que as une. Essa conexo, que pode
muito bem ter escapado ao leitor desses livros, aqui iluminada
por consideraes de ordem mais geral. Elas permitem, ao que me
parece, abarcar num mesmo ponto de vista esses trs pedaos, pu
blicados separadamente, de um mesmo pensamento, esses membra
disjecta12de um mesmo corpo de ideias. Talvez me digam que desde
o incio eu poderia ter apresentado num todo sistemtico o que dividi
em trs publicaes. Mas as obras em vrios volumes afugentam,
e com alguma razo, o leitor contemporneo; alm disso, para que
fatigar-nos com essas grandes construes unitrias, com esses
edifcios completos? Se aqueles que nos acompanham tero tanta
pressa em demolir essas edificaes para servir-se de seus materiais
ou apropriar-se de um pavilho destacado, mais vale poupar-lhes o
trabalho da demolio e entregar-lhes o pensamento em fragmen
tos. Todavia, para uso dos espritos singulares que se comprazem
em reconstruir aquilo que se lhes oferece em estado fragmentado,
tal como outros em quebrar aquilo que se lhes apresenta acabado,
talvez no seja intil juntar s partes esparsas da obra um desenho,
um esboo que indique o plano de conjunto que teramos executado
com gosto se para tanto tivssemos sentido a fora e a audcia. Essa
toda a razo de ser desta pequena brochura.
G.T.
Abril de 1898.
Introduo
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Primeiro captulo
Repetio dos fenmenos
oloquemo-nos na presena de um grande objeto: o
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qual ele se dirigiu para obter a chave dos fenmenos sociais era
a psicologia meramente individual, aquela que estuda as relaes
internas entre impresses ou imagens no interior de um mesmo
crebro, e que acredita dar conta de tudo, nesse domnio, pelas
leis de associao desses elementos internos. Assim concebida,
a sociologia se tornava uma espcie de associacionismo ingls
aumentado e exteriorizado, e perdia sua originalidade. No exa
tamente ou unicamente a essa psicologia /nfra-cerebral, antes de
tudo psicologia inter-cerebral, que estuda o estabelecimento de
relaes conscientes entre muitos indivduos, que convm pedir
o fato social elementar, cujos grupamentos ou combinaes mlti
plas constituem os fenmenos ditos simples, objetos das cincias
sociais particulares. O contato de um esprito com outro , com
efeito, na vida de cada um deles, um acontecimento parte, que
se destaca vivamente do conjunto de seus contatos com o resto
do universo e d lugar aos estados de alma mais imprevisveis (e
mais inexplicveis pela psicologia fisiolgica).20
Essa relao de um sujeito com um objeto que tambm
um sujeito no uma percepo que em nada se assemelha
coisa percebida (autorizando por isso o ctico idealista a colocar
20 As experincias realizadas sobre a sugesto hipntica e sobre a sugesto em estado de
viglia forneceram abundantes materiais para a futura construo da Psicologia inter-ce
rebral.Tomarei a liberdade de remeter o leitor s tentativas de aplicao dessa psicologia
ainda embrionria que realizei em todas as minha obras e particularmente no captulo
intitulado Qu'est ce qu'une socit? (Lois de L'Imitation, 1890), que j havia aparecido em
novembro de 1884 na Revue philosophique; em algumas pginas de minha Philosophie
pnale (1890) sobre a formao de hordas criminosas (captulo sobre o crime, p. 384 e
seguintes, 1a edio); em minha comunicao intitulada Crimes des foules, discutida no
Congresso de Antropologia Criminal de Bruxelas em .outubro de 1892; e no meu artigo
publicado sob o ttulo de Foules et Sectes na Revue des Deux Mondes (dezembro de
1893). Esses dois ltim os estudos foram reimpressos sem modificaes no meu Essais et
mlanges sociologiques, em 1895 (Edies Storch et Masson, Paris-Lyon). Eu gostaria de
observar en passant que o trecho da Philosophie pnale citado acima, seno o captulo de
Lois de Limitation, do qual ele no passa de um corolrio, contm em substncia e muito
explicitamente a explicao dos fenmenos de massa que foram desenvolvidos mais
tarde em outros estudos, e que ele apareceu anteriormente aos interessantes trabalhos
sobre a psicologia das massas editados no estrangeiro ou na Frana. Digo isto no para
dim inuir seu mrito, mas para responder a certas insinuaes, s quais, por sinal, eu fiz
justia em outros lugares.
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24 No podemos esquecer esta observao, que das mais simples: sempre a partir da
mais tenra infncia que entramos na vida social. Ora, a criana, que se volta para outrem
como a flor se volta para o Sol, sofre m uito mais a atrao do que o constrangimento
de seu meio familiar; e durante toda a sua vida, ela ir beber avidamente os exemplos
recebidos.
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plo, uma vez lanado num certo grupo social, a se propagar nele
segundo uma progresso geomtrica se esse grupo permanecer
homogneo. No vejo nada de misterioso, alis, nessa tendncia.
Ela significa algo de muito simples: quando, por exemplo, se faz
sentir num grupo a necessidade de exprimir uma nova ideia por
meio de uma nova palavra, o primeiro a imaginar uma expresso
capaz de satisfazer essa necessidade s ter de pronunci-la para
que, de boca em boca, ela seja repercutida por todos os falantes do
grupo em questo, e para que se espalhe, mais tarde, nos grupos
vizinhos. Isso no quer dizer em absoluto que essa expresso seja
dotada de uma alma que a leva a irradiar-se desse modo, tal como
o fsico, ao dizer que a onda sonora tende a espalhar-se pelo ar, no
atribui a essa forma simples uma fora prpria, vida e ambiciosa.27
No, apenas um modo de falar, que serve para dizer, num caso,
que as foras motoras inerentes s molculas do ar encontraram
nessa repetio ondulatria um caminho de escoamento; e para
dizer, no outro caso, que a necessidade particular inerente aos
indivduos humanos do grupo em questo foi satisfeita com essa
repetio imitativa, que poupa sua preguia (anloga inrcia
material) do esforo que a inveno exige. Seja como for, no h
razo para duvidar dessa tendncia progresso geomtrica; na
prtica, porm, ela entravada por obstculos de vrios tipos, e
raro, embora no seja extremamente raro, que os diagramas esta
tsticos relativos difuso pblica de uma nova inveno industrial
mostrem essa progresso regular. Que obstculos so esses? H
aqueles que provm da diversidade de climas e raas, mas eles
no so os mais fortes; o entrave maior que detm a expanso de
uma inovao social (e sua consolidao em costume tradicional)
alguma outra inovao igualmente expansiva que ela encontra em
27 Tampouco o naturalista, ao dizer que uma espcie tende a se propagar segundo uma
progresso geomtrica, encara essa forma simples como possuindo por ela mesma,
independentemente do Sol, das afinidades qumicas, de todas as energias fsicas que ela
meramente canaliza, uma energia e uma aspirao independentes.
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Segundo captulo
Oposio dos fenmenos
m termos tericos, o aspecto-repetio dos fenmenos
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Mas sobretudo pelos seus efeitos (ou melhor, por sua inefi
ccia) que a oposio simplesmente individual difere da oposio
social elementar, que tambm , entretanto, individual. Por vezes a
hesitao do indivduo permanece encerrada nele, e no se propaga
(nem tende a se propagar) imitativamente entre seus vizinhos; nes
se caso, o fenmeno permanece puramente individual. Na maioria
dos casos, porm, a prpria dvida quase to contagiosa quanto
a f, e todo aquele que devm ctico num meio fervoroso logo se
tornar o foco de um ceticismo que ir irradiar-se ao seu redor:
ser possvel, nesse caso, negar o carter social do estado de luta
interna que caracteriza cada um dos indivduos desse grupo?
Mas encaremos a questo de uma forma ainda mais geral.
Quando o indivduo toma conscincia da contradio que existe
entre um de seus julgamentos, propsitos, ideias ou hbitos - dog
ma, fraseado, procedimento industrial, tipo de arma ou ferramenta,
etc. -e um julgamento, propsito, ideia ou hbito de outro homem
ou homens, ele tem trs alternativas. Ou ele se deixa influenciar
completamente pelo outro, abandonando bruscamente sua prpria
maneira de pensar e agir; nesse caso no houve luta interna, e sim
vitria sem combate: apenas mais um entre os contnuos fenme
nos de imitao de que feita a vida social. Ou ento o indivduo
apenas parcialmente influenciado pelo outro, e esse o caso
discutido mais acima; depois do choque advm um amortecimento
de sua fora, mais ou menos entravada e paralisada. Ou ento ele
rege contra a ideia ou o hbito estrangeiro, contra a crena ou
a vontade que o afronta, e passa a afirmar ou querer ainda mais
energicamente o que ele j afirmava e queria. Mas nesse ltimo
caso, em que ele tensiona todas as energias de sua convico ou
de sua paixo para repelir o exemplo de outrem, haver nele uma
luta ntima de outro gnero, to tonificante quanto a anterior era
enervante. Ela tambm perturba, e ainda mais do que a outra, pre
cisamente porque uma sobre-excitao (e no uma paralisia) das
foras individuais, apta a espalhar-se contagiosamente; da a ciso
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Terceiro captulo
Adaptao dos fenmenos
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um planeta um
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37 Linguagem artificial criada em 1880 pelo clrigo alemo Johann Martin Schleyer. (N. doT.)
38 Sendo dada uma viso espiritual ou ideia, pode-se progredir intelectualmente a partir
dessa ideia (que , em geral, uma mistura de verdade e erro) em dois sentidos diferentes:
(I o) Apenas no sentido de uma adaptao de primeiro grau, ou seja, de uma harmoniza
o gradual dessa ideia consigo mesma, de sua diferenciao e coeso interna (esse o
desenvolvimento de muitas teologias e metafsicas); (2) No sentido de uma adaptao
de segundo grau, isto , de uma harmonizao gradual dessa ideia com os dados dos
sentidos, com os aportes exteriores da percepo e da descoberta (desenvolvimento
cientfico). No primeiro caso, o progresso muitas vezes consiste em passar de um erro
m enor a um erro maior.
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39 No original, "les cause-finaliers" (grifo do autor), expresso usada por Voltaire no seu
Dictionnaire Philosophique. (N. doT.)
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lhes servem como base. Uma legislao bem codificada pode apre
sentar tanta ordem no arranjo de suas sees e captulos quanto
em cada uma das leis parciais que ela rene na relao entre suas
diversas disposies; e quando uma religio foi retrabalhada por
uma teologia vigorosa, o encadeamento de seus dogmas pode ser
ou parecer mais lgico do que cada um deles considerado par
te. No entanto, como fcil perceber, esses fatos, aparentemente
contrrios aos que foram expostos acima, na realidade contribuem
para mostrar que o gnio individual a verdadeira fonte de toda
harmonia social. Pois essas belas coordenaes tiveram de ser
concebidas antes de ser executadas; e antes de cobrir um territrio
imenso, elas comearam a existir sob a forma de uma ideia oculta
em algumas clulas cerebrais.
Diremos agora que a adaptao social elementar , no fundo, a
que existe entre dois homens, um dos quais responde, com palavras
ou aes, questo proposta pelo outro, plenamente verbalizada
ou tcita? Pois a satisfao de uma necessidade, assim como a
soluo de um problema, uma resposta a uma questo. Diremos
ento que essa harmonia elementar consiste na relao entre dois
homens, na qual um deles ensina e o outro aprende, um ordena e
o outro obedece, um produz e o outro consome, na qual um ator,
poeta, artista, e o outro espectador, leitor, amador? Ou diremos
que eles se reuniram e fizeram uma obra em colaborao? Sim,
isso que diremos, pois embora nessa relao entre dois homens
esteja implicada uma relao entre modelo e cpia, trata-se de
algo bem diferente.
A meu ver, no entanto, preciso levar a anlise ainda mais
longe e, como j indiquei, buscar a adaptao social elementar no
prprio crebro, no gnio individual do inventor. A inveno que
est destinada a ser imitada - pois aquela que permanece encer
rada no esprito de seu autor no socialmente relevante - uma
harmonia de ideias que a me de todas as harmonias entre os
homens. Para que exista uma troca entre produtor e consumidor, e
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dita, mas que a unio social aumentar; porm essa unio social,
ainda mais desejvel do que a harmonia, no ter sido o efeito
dessas inumerveis e infinitesimais adaptaes cerebrais? Onde
encontrar fatores sociais mais potentes do que esses fatos, que
seriam puramente individuais?
Ns acabamos de ver que a evoluo da sociologia a condu
ziu, tal como aconteceu em outros campos, a descer das alturas
quimricas das causas vagas e grandiosas at as aes infinitesi
mais, reais e precisas. Mostremos agora, ou melhor, assinalemos
- pois falta-nos espao para uma exposio mais detalhada - que
a evoluo da realidade social, exatamente inversa da cincia
social, consistiu na passagem gradual de uma infinidade de har
monias muito pequenas a um menor nmero de harmonias maio
res, e depois a um nmero muito reduzido de harmonias muito
grandes, at chegar, num futuro ainda indefinido, realizao do
progresso social em uma civilizao nica e total, to harmoniosa
quanto possvel. Note-se que essa lei de alargamento progressivo
no deve ser compreendida aqui como a tendncia difuso imitativa de uma inveno ou grupo de invenes; isso seria voltar
lei da imitao, que ns j conhecemos. E nem mesmo se trata
do incessante alargamento que essa irradiao imitativa propor
ciona harmonia social que chamamos de diviso do trabalho
e que deveramos antes chamar de solidariedade dos trabalhos.
Ainda que uma indstria permanea a mesma, sem nenhum novo
progresso, a cooperao social que resulta dela crescer medida
que, por um lado, as necessidades de consumo que ela satisfaz, e
por outro, os atos de produo pelos quais ela supre essa deman
da, se propagarem por imitao para alm da regio, inicialmente
bastante circunscrita, onde ela nasceu. Por mais importante que
seja o fenmeno de crescimento dos mercados, habitual preldio
da federao dos povos, no ele que est em causa aqui. A bem
dizer, muito raro que, sem nenhum progresso intrnseco da in
dstria, esse progresso extrnseco possa realizar-se.
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