Tempo de Utilização Do Concreto Fresco
Tempo de Utilização Do Concreto Fresco
Tempo de Utilização Do Concreto Fresco
CONTESTAO DE PARADIGMA
Time of use of concrete in Fresh State: Contestation of Paradigm
Autor: Zanetti, Jos James
Consultor de Tecnologia de Concreto da Max Beton
[email protected]
Resumo
Discutem-se constantemente a necessidade de desenvolvimento sustentvel e reduo
de CO2. A indstria da construo civil consome de 100 a 200 vezes mais massa de
materiais que a indstria automobilstica. Portanto, uma indstria que precisa de muitos
cuidados com os recursos que utiliza e com os desperdcios. Na fabricao do cimento
calculam-se a emisso de uma tonelada de CO2 para cada tonelada de clinquer
produzido. No Brasil, segundo a ABCP, devido o uso de adies em substituio ao
clinquer, a relao seria de 0,6 tonelada de CO2 por tonelada de cimento. Alm da grande
emisso de CO2 por volume de concreto existe ainda grande desperdcio de recursos com
o descarte de concreto fresco justificado apenas pelo paradigma da vida til de 150
minutos contado da mistura da gua ao cimento. A nica referencia desse tempo de
utilizao encontrada na NBR 7212 e esta contradiz a NBR 12655, norma destinada ao
preparo, controle e recebimento do concreto e NBR NM 9 norma com procedimento de
ensaio de pega em concreto.
Atravs de ensaios de laboratrio Dal Molin, D.C.C.; Rohen, A.B.; Vieira, G.L. (2012)
demostram que o uso do concreto depois desse perodo no apresenta efeitos negativos
nas resistncias dos concretos.
Esse artigo complementa o artigo apresentado por aqueles autores e demonstra que, em
condies de campo, os concretos moldados apresentaram o mesmo comportamento de
ganho de resistncia observado no estudo de laboratrio e vai alm. O ensaio de pega do
concreto realizado em campo de acordo com a NM NBR 9 demonstra que o tempo de
utilizao pode ultrapassar em muito os 150 minutos proposto pela NBR 7212 podendo
chegar a 360 minutos antes de acusar inicio de pega mesmo sem o uso de aditivo
retardador de pega.
Portanto, descartar o concreto de forma irracional, apenas por decurso de tempo, no
contribui para a construo civil alcanar desenvolvimento sustentvel.
O presente artigo prope que a definio de concreto fresco colocada na NBR 12.655 a
melhor forma de controle do tempo de utilizao do concreto, segundo o qual concreto
fresco o concreto que est completamente misturado e que ainda se encontra em
estado plstico, capaz de ser adensado por um mtodo escolhido.
ANAIS DO 57 CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 57CBC
Abstract
Are discussed constantly need for sustainable development and reducing CO2. The construction industry
consumes 100-200 times the mass of material that the automotive industry1. So it's an industry that needs a
lot of care with the resources it uses and waste. In cement production calculate the emission of one ton of
CO2 per ton of clinker produced . In Brazil , according to the ABCP , because the use of additions to replace
the clinker , the ratio would be 0.6 ton of CO2 per ton of cement . Besides the large CO2 emissions per
volume of concrete there is still great waste of resources with the fresh concrete disposal justified only by the
life of the paradigm 150 minutes counted from the mixing of water to cement. The only reference that usage
time is found in the NBR 7212 and this contradicts the NBR 12655 , which is addressed to the preparation ,
control and receipt of concrete and NBR NM 9 standard with handle test procedure in concrete.
Through laboratory tests Dal Molin , DCC ; Rohen , A.B .; Vieira, GL demonstrate that the use of concrete
after this period has no negative effects on the resistance of the concrete .
This article complements the article presented by those authors and demonstrates that under field
conditions, the molded concrete showed the same strength gain of behavior observed in the laboratory study
and beyond. The concrete handle field trial according to NBR NM 9 shows that the usage time can exceed
by far the 150 minutes proposed by the NBR 7212 and could reach 360 minutes before you accuse handle
start even without the additive use handle retardant .
Therefore , dispose of the concrete irrationally , just by lapse of time does not contribute to the construction
industry achieve sustainable development.
This article proposes that the definition of fresh concrete placed in NBR 12655 is the best way to control the
time of use of the concrete, according to which fresh concrete is the " concrete that is completely mixed and
still in plastic state , capable It is thickened by a method selected "
1. INTRODUO
O tempo decorrido entre o inicio da mistura da gua e o cimento no preparo do concreto e
a sua utilizao tem sido motivo de polemica e possivelmente de rejeio de concreto em
condies de uso. Em tempos de economia de recursos naturais para a preservao da
vida no planeta vale lembrar que uma tonelada de cimento despeja na atmosfera o
equivalente a 600 kg de CO2. Soma se a isso as emisses para produzir e transportar os
agregados e o prprio concreto e os recursos naturais necessrios para a extrao
desses agregados e possivelmente desperdiados.
Os parmetros envolvidos no processo de pega do cimento so muitos e variveis, o que
torna questionvel utilizar o relgio como instrumento tecnolgico para aceitao ou
rejeio do concreto.
Estudos mostram que a moldagem do concreto enquanto possvel o seu adensamento
apresenta aumento de resistncia quando comparado com a moldagem inicial. Somente a
prtica antiga de adicionar gua ao concreto para retomada de consistncia pode
prejudicar a resistncia, no pelo tempo entre a mistura e a sua utilizao, mas pela
alterao do fator a/c.
Portanto, as obra com controle do volume de gua adicionado nas frentes de servio
podem e devem abandonar o relgio como instrumento de aceitao ou rejeio dos
concretos.
2. ASPECTOS FCICO-QUMICO NA HIDRATAO DO CIMENTO
O cimento um aglomerante hidrulico processado a altas temperaturas, caracterizandose pela ausncia de gua quimicamente combinada no gro anidro.
De acordo com a Silva (2010) o mecanismo de hidratao inicia-se com a dissoluo do
gro anidro em meio aquoso, formando espcies qumicas diversas. Quando a dissoluo
atinge o nvel de saturao, ocorre a combinao entre os elementos qumicos do cimento
e a gua, levando a precipitao de slidos hidratados. O mecanismo de dissoluoprecipitao continuar enquanto houver gua suficiente.
De acordo com outro mecanismo proposto, chamado topoqumico ou hidratao no
estado slido do cimento, as reaes ocorrem diretamente na superfcie dos compostos
do cimento anidro sem que os compostos entrem em soluo.
A partir de estudos de microscopia eletrnica da pasta de cimento nota-se que o
mecanismo de dissoluo-precipitao dominante nos estgios iniciais da hidratao.
Em estgios posteriores, quando a mobilidade inica na soluo se torna restrita, a
hidratao na partcula residual de cimento pode ocorrer por reaes no estado slido
(reao topoqumica).
Na Teoria de Le Chatelier sobre a cristalizao (cristaloidal) o endurecimento devido
ao engavetamento de cristais que se formam pela cristalizao de uma soluo
supersaturada de compostos hidratados menos solveis que os anidros.
ANAIS DO 57 CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 57CBC
Consistncia (mm)
100
35 C
80
21 C
60
40
20
0
0
20
40
60
80
100
Tempo Decorrido Final Mistura (minuto)
21
120
140
35
No ensaio conduzido na ABCP a pasta de consistncia normal do cimento - NBR NM 43 necessitou a mesma quantidade de gua para a consistncia normal para pastas
mantidas em temperaturas diferentes. A pega da pasta de cimento - NBR NM 65 apresentou tempo de pega menor para pasta a temperatura maior, refletindo o
comportamento observado no concreto. O uso de aditivo plastificante polifuncional de
pega normal aumentou o tempo de pega da pasta de cimento quando comparado com a
referncia sem aditivo ensaiado mesma temperatura. O uso de aditivo de pega normal
diminuiu a quantidade de gua para se obter a consistncia normal, como se esperava, e
aumentou bastante o tempo de pega. Para a pasta mantida a 25 C o tempo de pega
triplicou passando de 4 h para 13 h com o uso do aditivo. A pasta mantida a 38 C
aumentou em pouco mais de uma hora o tempo de pega em funo da utilizao do
aditivo. De qualquer forma, mesmo quando submetido a alta temperatura o inicio de pega
do concreto com aditivo foi superior a 150 minutos.
Figura 3 - Influncia da temperatura e aditivo na reologia da pasta de cimento
Amostra
gua
Temperatura
Consistncia
o
( C)
(%)
Tempo de Pega
Incio
Fim
Sem Aditivo
25
31,7
Sem Aditivo
38
31,7
Com Aditivo
25
29,6
Com Aditivo
38
29,6
Metha e Monteiro, 2008; Sprouse, J.H. e Peppler, R.B., 1978 apud Metha e Monteiro,
2008 mostram o efeito do tipo de cimento, da temperatura e dos aditivos nos tempos de
pega do concreto em ensaio realizado conforme a ASTM C 403.
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35,0
30,0
25,0
150
Adio de
Superplastificante
20,0
15,0
100
Temperatura (oC)
200
10,0
50
5,0
0,0
60
90
120
150
180 210 240 270 300 330 360 390 420 450
Tempo Decorrido Desde a Primeira Adio de gua (min)
Consistncia
Temp Concreto
480
510
540
570
Temp Ambiente
7.3.
Tempo de Pega
5,00
4,00
3,00
2,00
Inicio de
pega
1,00
0,00
0
7.4.
60
120
180
240
300
360
420
TEMPO DECORRIDO DESDE A PRIMEIRA ADIO DE GUA (min)
480
540
Resistncia a Compresso
As moldagens realizadas alm do tempo estabelecido pela NBR 7212 como limite de
responsabilidade da fornecedora de concreto mostram no existir perdas resistncia.
Ensaios realizados em laboratrio (Dal Molin et all - 2012) mostraram aumento de
resistncia dos concretos moldados em at 6 horas aps a adio da gua. No ensaio os
autores utilizaram um cimento de pega rpida, CP V, e um cimento de pega lenta, CP IV
em dosagens diversas. A consistncia para a realizao das moldagens foi mantida pelos
autores mediante a adio de superplastificante. Concluem no haver perda de
resistncia dos concretos moldados aps o tempo limite de 150 minutos.
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10
Figura 8 - Tendncia da resistncia aos 28 dias dos concretos moldados com cimento CP V
Resistncia a compresso do concreto aos 28 dias - CP V - ARI
55
52,4
50
49,7
47,5
45 43,3
43,0
42,1
43,5
44,7
42,2
40
39,3
39,1
40,8
37,8
36,0
35
34,7
34,1
34,0
34,4
30
25
0
2
3
4
5
Tempo decorrido desde a mistura at a moldagem (hora)
CP V 1:2,5
CP V 1:4
CPV 1:5,5
35,3
35
32,0
33,1
32,7
32,9
32,9
30,2
30,7
30
28,6
29,2
29,1
26,5
26,7
25
23,1
30,0
27,9
24,3
20 21,0
15
10
0
2
3
4
5
Tempo decorrido desde a mistura at a moldagem (hora)
CP IV 1:2,5
CP IV 1:4
CP IV 1:5,5
11
decorrer do ensaio. O cimento utilizado na mistura foi o CP III 40 para atender fck 40
MPa. A manuteno da consistncia durante o perodo do ensaio foi conseguida com uso
de aditivo superplastificante de pega normal, base naftaleno, introduzido na obra dentro
das recomendaes do fabricante. As moldagens foram realizadas a cada 30 minutos
aps a chegada da betoneira obra com a consistncia de150 mm 20 mm. Na ltima
moldagem o efeito do aditivo sobre a consistncia era perdido em questo de minutos
denotando inicio da rpida formao de cristais de hidratao. Mesmo assim foi o
concreto foi moldado para verificao da resistncia nessa condio.
Figura 10 - Resistncia das moldagens ao longo do tempo em condies de obra.
Hora
Evento
Tempo
Decorrido
(h:min)
Consistncia Consistncia
Moldagem
Antes Aditivo
(mm)
(mm)
Aditivo
Acumulado
(% do cim.)
Resistncia
3 dias
(MPa)
Resistncia
7 dias
(MPa)
Resistncia
14 dias
(MPa)
Temperatura
Ambiente
( C)
( C)
Temperatura
Concreto
o
10:50
12:46
01:56
45
150
0,14%
31,5
40,7
41,5
32
36
13:15
02:25
110
150
0,16%
31,4
41,1
43,1
33
40
13:45
02:55
125
145
0,18%
31,8
40,2
44,6
31
37
14:15
03:25
105
155
0,25%
31,2
40,5
47,1
29
36
14:45
03:55
105
140
0,31%
29,6
38,9
42,7
30
36
15:15
04:25
85
140
0,39%
29,5
40,8
46,5
29
33
15:45
04:55
50
60
0,47%
28,4
38,8
44,7
30
41
12
Figura 11 - Ganho de resistncia de concretos moldados ao longo do tempo sem uso de aditivo
superplastificante para manter a trabalhabilidade
GANHODERESISTNCIACOMOTEMPODEMOLDAGEM
40
10mm
10mm
180
195
30
30mm
GanhodeResistncia(%)
10mm
60mm
20
70mm
90mm
200mm
50mm
80mm
10
130mm
120mm
90mm
150mm
0
0
15
30
45
60
75
90
105
120
135
150
165
210
Tempo(minuto)
13
Figura 12 - Efeito negativo na resistncia do concreto por adio de gua para manuteno da
consistncia.
VARIAODERESISTNCIAEMFUNODAADIODEGUAPARA
MANTERCONSISTNCIA
80
70
60mm
60
60mm
VariaodeResistncia(%)
50mm
50
100mm
90mm
40
110mm
90mm
100mm
50mm
30
70mm
80mm
20
110mm
80mm
90mm
90mm
70mm
10
0
0
50
110mm
100
150
200
250
300
Tempo(minutos)
VARIAODOFATORA/C
1,2
1,1
1,13
Fatora/c
1,04
0,9
0,94
0,8
0,83
0,7
0,6
0,64
0,67
0,69
0,69
0,70
0,71
0,74
0,75
0,76
0,96
0,98
0,87
0,77
0,5
0
50
100
150
200
250
300
Tempo(minutos)
8. CONCLUSO
Os ensaios de pega e manuteno de trabalhabilidade executados com concreto de obra
e em condies de temperatura desfavorvel mostraram que o uso de superplastificante
adicionado ao longo do tempo pode manter a consistncia por perodo superior a 6 horas.
Os ensaios tambm mostraram que obras sem o recurso de superplastificante para ser
adicionado nas frentes de servio o tempo para o lanamento com bomba poder ser
menor que o paradigma 150 minutos. Na prtica, o recebimento do concreto nas frentes
de servio utiliza o conceito de concreto fresco da NBR 12655 para a aceitao do
concreto at o tempo de 150 minutos. Depois disso, independente do concreto estar ainda
no estado fresco, costuma ser rejeitado. O contraditrio no se limite a isso. Os ensaios
de tempo de pega com diversos autores em condies de temperatura e tipo de cimentos
diferentes tm mostrado inicio de pega acima do tempo limite de 150 minutos. Os ensaios
de resistncia, tanto em laboratrio como em campo, tem mostrado que no existir perda
da qualidade do produto.
Conclui-se que o tempo mximo arbitrado pela NBR 7212:2012, da forma como tem sido
aplicado tem levado ao desperdcio de concreto em condies de uso e que o tempo de
ANAIS DO 57 CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2015 57CBC
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utilizao deve ser balizado pela definio do concreto fresco da NBR 12655 que coincide
com a definio do tempo de inicio de pega dos concretos:
Concreto Fresco - Concreto que est completamente misturado e que
ainda se encontra em estado plstico, capaz de ser adensado por um
mtodo escolhido
9. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
1 - Souza, U. E. L. Palestra proferida durante o lanamento do livro Canteiro de obras,
no Sinduscon-SP, 2001.
2 - Rohden, A.B.; Dal Molim, D.C.C.; Vierira, G.L. - Tempo de lanamento do concreto: um
novo paradigma. Revista Ibracon de Estruturas e Materiais, V. 5, No. 6, p. 809 a 811Dez/2012
3 - Silva, M. G. - Materiais de Construo Civil, Ibracon, V1, p.792 - 2010.
4 - Metha, P. K., Monteiro, P. J. M. - Concreto - Microestrutura, Propriedades e Materiais.,
p 348, p 375-376 - Ibracon. 2008.
5 - ASTM C403-08 - Standard Test Method for Time of Setting of Concrete Mixtures by
Penetration Resistance
6 - NBR NM 9:2003 - Concreto e argamassa - Determinao dos tempos de pega por
meio de resistncia penetrao.
7 - NBR NM 43:2003 - Cimento portland - Determinao da pasta de consistncia normal
8 - MNR NM 65:2003 - Cimento Portland - Determinao do tempo de pega
9 - NBR 5738:2015 - Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos de prova
10 - NBR 5739:2007 - Concreto - Ensaios de compresso de corpos-de-prova cilndricos
11 - NBR 12655:2015 - Concreto de cimento Portland - Preparo, controle, recebimento e
aceitao - Procedimento.
12 - NBR 7212:2012 - Execuo de concreto dosado em central Procedimento
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