Princípios Gerais Do Direito
Princípios Gerais Do Direito
Princípios Gerais Do Direito
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preciso antes de tudo deixar claro que no coincidem exatamente os conceitos de princpios gerais de direito e de princpios
constitucionais. Basta ver o seguinte: estabelece o art 126 do CPC
que, diante de uma lacuna da lei, dever o juiz se valer da analogia, no havendo norma que possa ser aplicada analogicamente,
o julgador se valer dos costumes e, por fim, no havendo costume
que se aplique ao caso, ser a deciso baseada nos princpios gerais
do Direito. Ora, a se aceitar a ideia de que esse princpios gerais
so os princpios constitucionais, ter-se-ia de admitir que os princpios constitucionais so aplicados em ltimo lugar, depois da lei
e das demais fontes de integrao das lacunas. Isto, porm, no
corresponde verdade. Os princpios constitucionais devem ser
aplicados em primeiro lugar (e no em ltimo), o que decorre da
supremacia das normas constitucionais sobre as demais normas
jurdicas. Entende-se por princpios gerais de direito aquelas regras que, embora no se encontrem escritas, encontram-se presentes em todo o sistema, informando-o. o caso da velha parmia
segundo a qual o direito no socorrem os que dormem5.
guisa de exemplo, cito como princpios constitucionais de alta
carga valorativa o da dignidade da pessoa humana, da razoabilidade, da
proporcionalidade e o da prioridade absoluta dos direitos da criana e do
adolescente.
Reconhecer a dignidade da pessoa humana implica que se tome o
indivduo como aquilo que h de mais importante e que merece ser amparado com um mnimo existencial em prol de uma vida digna, no podendo
ser coisificado.
A aplicao da razoabilidade e proporcionalidade aduzem ideia de
justia e apresentam compatibilidade com a atual realidade advinda com
o ps-positivismo jurdico, isto , h necessidade de que as decises judi-
5 CMARA, Alexandre Freitas. Lies de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro. Lumen Juris. 16 Edio.
2007. V. I, p. 20 e 33.
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6 Art. 227 da Contituio Federal : dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao,
cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de
toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso.
7 AMIM, Andra Rodrigues e et allii Curso de Direito da Criana e Adolescente Aspectos tericos e prticos. Editora Lumen Juris. 4 Edio; 2010, p. 20.
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modalidade de adoo.
A resposta ao meu ver positiva por inmeros motivos que passo a
expor sucintamente sem a pretenso de esgot-los.
Em primeiro lugar, devem ser considerados os malefcios psicolgicos de se deixar um infante em acolhimento institucional espera da
adoo que pode nunca vir a acontecer, lembrando que o prprio estatuto
atribui preferncia ao acolhimento familiar.
Em segundo lugar, no h que se desprezar o instinto maternal ou
paternal que inclina os genitores a quererem o melhor para os filhos e,
consequentemente, a entregarem a criana a quem confiam.
No se pode ainda olvidar que o ato passar pelo minucioso crivo
judicial, bem como de outros profissionais habilitados que iro aferir se os
interesses do menor estaro preservados.
Vale neste ponto ressaltar que, concatenando as ideias acima produzidas, venho dizer que a deciso de conceder a adoo intuito personae deve
levar em considerao a existncia de uma lacuna na lei, que no prev o
instituto, devendo o magistrado proceder a sua integrao, visitando ainda
todos os princpios constitucionais acima elencados, quais sejam, o da razoabilidade e proporcionalidade, o da dignidade da pessoa humana, bem
como o da absoluta prioridade dos direitos da criana e adolescente.
E para o desfecho, trago colao, por oportuno, acrdo sobre o
assunto que, atravs da hermenutica e aplicando os princpios constitucionais ora abordados, utilizou-se da analogia para o suprimento da lacuna
da lei. O presente julgado de relatoria do Desembargador Nagib Slaibi
Filho, a quem rendo as minhas homenagens.
ADOO DIRIGIDA OU INTUITO PERSONAE
CADASTRO DE ADOCAO
REQUERENTES HABILITADOS
ORDEM CRONOLGICA
INOBSERVNCIA
INEXISTNCIA DE ILEGALIDADE
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CONCLUSO
Assim, podemos concluir que se ampliou a liberdade do magistrado
na realizao da atividade jurisdicional que no mais se encontra acorrentada pela interpretao limitada e positivista da lei. Entretanto, a flexibilidade advinda da implementao dessa nova mentalidade no ampla
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REFERNCIAS
NEGRO, Theotonio. Cdigo de Processo Civil e Legislao Processual em Vigor. 41 Edio. Editora Saraiva 2011.
GOMES, Orlando. Introduo ao Direito Civil. 18 edio. Rio de Janeiro Editora Forense. 2001.
CMARA, Alexandre Freitas. Lies de Direito Processual Civil. Rio de
Janeiro. Lumen Juris. 16 Edio. 2007. V. I.
AMIM, Andra Rodrigues e outros Curso de Direito da Criana e
Adolescente Aspectos tericos e prticos. Editora Lumen Juris. 4 Edio. 2010.
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenutica e aplicao do direito. Editora
Forense. 15 Edio 2008 - RJ.