Capacete de Aço Do Exército 1932-2004 PDF

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CAPACETES DE AO NO EXRCITO BRASILEIRO

1932 2004

Os capacetes de ao passaram a ser adotados nos principais exrcito do mundo ao


longo da primeira guerra mundial (1914 1918), com diversos modelos e processos de
fabricao, desde os estampados a frio at os usinados, foram desenvolvidos para dar mais
proteo ao soldado, protegendo-o de estilhaos, projteis de pequenos calibres e at de
pancadas na cabea.
As estatsticas da primeira guerra mundial revelam que 80% dos ferimentos
aconteciam na cabea, em razo da forma de luta, a guerra de trincheiras, principalmente na
frente ocidental, nos anos iniciais daquele conflito, levando os principais exrcitos a
adotarem o capacete de ao, ampliando assim a proteo individual.
No Brasil eles s iro aparecer no ano de 1932, quando ocorreu a nossa maior
guerra civil, conhecida como Revoluo Constitucionalista, deflagrada por So Paulo em 9
de julho daquele ano.
Os paulistas criaram diversos departamentos para seu esforo de guerra contra as
tropas do governo de Getlio Vargas, e um desses departamentos era para a confeco de
capacetes de ao, pois era necessrio equipar todos os combatentes paulistas, sejam eles
Voluntrios, da Fora Pblica ou do Exrcito.
Dois capacetes foram apresentados a este departamento, um francs Adrian modelo
1915 e um ingls Mk 1 modelo 1916, oriundos de coleo particular.
Eles foram examinados e aprovados para serem produzidos em srie aos milhares,
tendo o modelo francs sofrido pequenas modificaes, principalmente na chamada crista
de galo, uma caracterstica deste modelo. O modelo ingls foi copiado na ntegra. (fotos 1,
2, 3, 4, e 5)

Foto 1 - Capacete modelo Francs fabricado


em 1932. Notar a crista de galo no alto.

Foto 2 Capacete modelo Francs II tipo


fabricado em 1932. Notar detalhe no alto.

Foto 3 Capacete modelo Ingls MK-1


fabricado em 1932.

Foto 4 Vista interna do modelo Ingls de 1932.


Derivado do modelo Ingls MK-1 de 1915.

Foto 5 - Vista interna do modelo Francs de 1932


Derivado do modelo Francs Adrian 1915.

Foto 6 Vista dos trs modelos de capacetes


produzidos em So Paulo em 1932.

(Fotos 1, 3, 4 e 5 Coleo do autor foto 2 e 6 Museu da PMSP)

Coube a Associao Comercial a responsabilidade de angariar fundos para a sua


produo em larga escala, no final de julho de 1932.
As tropas regulares Exrcito e Fora Pblica e a de Voluntrios, utilizavam
bons, qupes, bibicos, chapus e capacetes de cortia ou papelo revestidos de couro ou
pano que s vezes eram impermeveis, mas no davam a necessria proteo ao
combatente.
Diversas empresas foram incumbidas da fabricao dos capacetes de ao, os
primeiros a serem produzidos e utilizados no Brasil. Vale destacar a Cia de Louas e
Esmaltados, as Indstrias Reunidas Martins Ferreira, e a Bernardini Indstria e Comrcio.
(fotos 7 e 8)

Foto 7 Fabricao de capacetes modelo Ingls


Foto 8 Capacetes prontos, faltando pintura e a parte
MK-1 em 1932.
interna e jugular.
(Seo de peridicos Biblioteca do autor)

Estas industrias entregavam o capacete estampado a frio em chapas de ao, pronto, e


a Associao Comercial terminava a fabricao, pintando-os de verde e colocando sua
forrao de couro e a jugular. A pintura inicialmente de dava com tinta verde oliva
brilhante, mas logo foi substituda por verde fosco.(fotos 9 e 10 )

Foto 9 - Mulheres montando a forrao e jugular nos capacetes


Foto 10 Mulher trabalhando em prensa
modelo Ingls MK-1 em 1932.
moldando capacete modelo Ingls MK-1.
(Seo de Peridicos Biblioteca do autor)

Trs modelos foram fabricados, um do modelo Ingls e dois do modelo francs, cuja
diferena era o formato da crista de galo no topo do mesmo, parecida com a usada pelos
franceses, apenas menor e o outro com uma pequena protuberncia redonda no topo do
capacete, ambas serviam como respiro para evitar muito calor na cabea . (foto 11)

Foto 11 O soldado do meio est com um capacete francs derivado do modelo Adrian. Notar que no lugar
da crista de galo est uma pea arredondada que serve como respiro. Este o terceiro modelo de capacete
produzido pelas indstrias paulistas em 1932.
(Coleo do autor)

Sem dvida foi o cone da revoluo, representado sobre diversas formas, cunhado
em medalhas, desenhado em caricaturas, esculturas, broches e imortalizado nos cartazes de
convocao. Estampado no couro da forrao do modelo ingls a frase: Oferta do Povo
Paulista aos Soldados da Constituio. J no modelo francs: O Povo Paulista aos
Soldados da Constituio. (fotos 12, 13, 14 e 15)

Foto 12 - Medalha Paulista. Notar o capacete francs segundo


modelo, sem a crista de galo. (coleo autor)

Foto 13 Cartaz de convocao. Notar


capacete modelo Francs.

Foto 14 Inscrio interna no capacete modelo


Foto 15 Inscrio interna no capacete modelo
Ingls MK-1 de 1932.
Francs Adrian de 1932.
(Coleo do autor)

Foram fabricados 70.000 capacetes dos trs modelos e a maior parte chegou a ser
distribuda para as tropas paulistas, mas como esta revoluo durou apenas trs meses e os
Constitucionalistas foram derrotados, o governo federal se apoderou dos estoques e das
linhas de montagem.
Eles no foram destrudos mas sim aproveitados e incorporados definitivamente ao
Exrcito Brasileiro, que pela primeira vez, passou usar e possuir capacetes de ao, tendo
inclusive dado prosseguimento sua fabricao na Fbrica de Projeteis de Artilharia do
Andara, no Rio de Janeiro, ento Distrito Federal. (fotos 16, 17 e 18)

Foto 16 Fbrica do Andara RJ, final dos anos


30, incio dos 40. Notar acabamento manual.

Foto 17 Capacetes modelo Ingls MK-1 prontos


faltando parte interna e pintura. Fbrica do Andara.

(Exrcito Brasileiro Arquivo Histrico)

Foto 18 Tropas de Cavalaria do Exrcito Brasileiro em desfile de 7 de setembro de 1940. Notar os


capacetes modelo Ingls MK-1. (Coleo do autor)

Isto ocorreu entre 1933 e 1934, visto que possvel ver soldados do Exrcito
atacando os sublevados na Intentona Comunista em 1935, no Rio de Janeiro, usando
capacetes de ao modelo francs de fabricao nacional.
Na realidade apenas dois dos trs tipos continuaram a ser produzidos, o modelo
francs com crista de galo curta e o modelo ingls MK 1, (ver fotos 1, 2 e 3). comum
vermos fotos do perodo da segunda guerra mundial (1939 1945), no territrio brasileiro,
com soldados do Exrcito usando estes tipos de capacetes. Cuidado para no confundir o
capacete de ao modelo francs com o cortia revestido de couro largamente empregado
pelas tropas, a maioria possui um distintivo na sua parte frontal e um pequeno relevo ao
redor do mesmo em torno da aba. (foto 19 e 20)

Foto 19 Capacetes de cortia revestidos de couro


Foto 20 Tropas do Exrcito Brasileiro em manobras
do Exrcito Brasileiro em 1940. Notar a longa crista com capacetes de cortia e couro, nas manobras do
de galo e emblemas na parte frontal.
ano de 1942 no Rio de Janeiro DF.
(Exrcito Brasileiro Arquivo Histrico)

Com o desenrolar da segunda guerra, o Brasil ao posicionar-se ao lado dos aliados,


criou uma Fora Expedicionria, a nossa FEB, que combateu ao lados dos americanos no
teatro de operaes da Itlia em 1944 e 1945, onde usou o capacete de ao modelo M-1
adotado pelo Exrcito Americano em 1941. (fotos 20, 21 e 22)

Foto 20 Capacete de ao modelo M-1 americano


adotado inicialmente pela FEB e aps a guerra pelo
Exrcito Brasileiro no territrio nacional.
(Coleo do autor)

Foto 21 General Zenbio da Costa com oficiais


da FEB na Itlia em 1944 45.
(War College USA)

Foto 22 Rara foto colorida da FEB na Campanha da Itlia em 1944, mostrando soldados brasileiros
recebendo instruo sobre manejo de bazuca. Notar uniformes e capacetes de procedncia americana.
(U.S.Army - DANA)

Este capacete na realidade composto de dois, sendo um em fibra que se aloja


dentro do de ao, podendo usar s o de fibra ou os dois simultaneamente, (foto 23 e 24) e foi
o modelo mais fabricado no mundo at hoje, para se ter uma idia em 1943 j tinha atingido
a marca dos 7.500.000 unidades fabricadas.

Foto 23 O capacete de fibra dentro do de ao,


Foto 24 Detalhe do interior do capacete M-1,
modelo M-1 usado pela Exrcito Brasileiro.
ainda em uso em diversas unidade do EB.
(Coleo do autor)

Com a vitria dos aliados as tropas brasileiras retornaram ao Brasil em fins de


1945, trazendo este capacete como novidade e logo em seguida passou a ser adotado, no
Exrcito Brasileiro, at os dias de hoje, muito embora a partir de 1993 ele vem sendo
substitudo pelo modelo feito em Kevlar conhecido pela sigla P.A.S.G.T. (Personal Armor
System for Ground Troops) adotado pelos Estados Unidos a partir de 1980. As tropas
brasileiras em Misso de Paz em Angola e Moambique foram as primeiras a utilizarem
este modelo. No Brasil a empresa Inbrafiltro, de Mau, SP, produz um modelo similar em
fibras de Aramida com alta resistncia balstica.
O capacete M-1, ainda permanecer por mais alguns anos em uso, em diversas
unidades do Exrcito Brasileiro, (fotos 25 e 26) sendo o ltimo remanescente construdo em
ao, pois com a criao de novos materiais foi possvel substitu-lo, tornando os capacetes
modernos mais resistentes e leves, protegendo ainda mais os combatentes.

Foto 25 Entrada em posio de pea de artilharia em rea de selva, com a tropa utilizando o capacete de ao
modelo M-1. Crdito da foto: Centro de Comunicao do Exrcito CComSEx, Banco de Imagens.

Foto 26 - Tiro de artilharia embarcado em rea de selva com tropa usando capacete modelo M-1. Crdito da
foto: CcomSEx Banco de Imagens.

BIBLIOGRAFIA
Donato, Hernni. A Revoluo de 1932.Crculo do Livro S/A So Paulo, 1982;
Musciarelli, Letterio. Dizionario della Armi. Arnoldo Mondadori Editore, Milano, 1971;
Oliveira Filho, Benjamin de. M.M.D.C. Edio Schmidt, 1933.
Oliveira, Clvis de. A Indstria e o Movimento Constitucionalista de 1932. Servio de
Publicaes da FIESP, So Paulo, 1956;
Brussolo, Armando. A Revoluo Constitucionaista Tudo pelo Brasil. 2 Edio, Editorial
Paulista, 1932;
Marzetti, Paolo. Elmetti di tutto il mondo. Ermanno Albertelli Editore, Parma, Itlia, 1984;
Martins. Jos de Barros. lbum de Famlia 1932. Livraria Martins Editora, So Paulo,
1982;
Ramos, Jos de Oliveira. A Epopia dos Apeninos. Grfica Laemmert Limitada, Rio de
Janeiro;
Amiden, Jamil. Eles no Voltaram. Grfica Riachuelo Editora. Rio de Janeiro, 1960;
Jornal A Gazeta, diversos nmeros;
Revista Em Guarda para a Defesa das Amricas, diversos nmeros;
Coleo particular do autor.

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