Prostituição Sagrada - Aguiar Montalvão
Prostituição Sagrada - Aguiar Montalvão
Prostituição Sagrada - Aguiar Montalvão
SO PAULO
2009
UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS ORIENTAIS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LNGUA HEBRAICA,
LITERATURA E CULTURA JUDAICA
SO PAULO
2009
Dissertao
Apresentada
ao
Programa de Ps-Graduao em
Lngua Hebraica, Literatura e
Cultura Judaica do Departamento
de Letras Orientais da Faculdade de
Filosofia, Letras e Cincias
Humanas da Universidade de So
Paulo, para Obteno do Ttulo de
Mestre em Letras.
COMISSO EXAMINADORA
______________________________________
Prof. Dr. Moacir A. Amncio
Universidade de So Paulo
______________________________________
Prof. Dr. Reginaldo Gomes de Arajo
Universidade de So Paulo
______________________________________
Prof. Dr. Pedro Paulo Funari
Universidade de Campinas
AGRADECIMENTOS
RESUMO
O trabalho tem o objetivo de apresentar a homossexualidade na Bblia
Hebraica atravs das passagens de Levtico 18:22, 20:13, Deuteronmio 22:5, 23:18-19,
1 Reis 14:24, 15:12, 22:46 e 2 Reis 23:7; analisar as relaes da prostituio cultual
masculina dos termos encontrados em Deuteronmio 23:18-19 (qadesh e keleb); os
termos da regio do Oriente Prximo com o papel da adorao ritual homossexual
(qaditu e assinu); as deidades rituais com o rito masculino (Asherah de 2 Reis 23:7 e a
Astarte de Ktion do Chipre relacionada ao keleb em Deuteronmio 23:18-19) as quais
esto relacionadas aos ritos de fertilidade; trabalhar o contexto histrico no qual a
homossexualidade ritual se desenvolveu em Israel e Jud (1 Reis 14:24, 15:12, 22:46 e
2 Reis 23:7); e com a questo das abominaes e interditos tanto da homossexualidade
(Levtico 18:22 e 20:13) quanto do travestismo (Deuteronmio 22:5). A pesquisa ser
realizada atravs de diversos estudos de acadmicos que discorreram sobre o tema da
homossexualidade na Bblia Hebraica e sobre as suas questes levantadas e concluses.
ABSTRACT
The work has the objective to present the homosexuality in the Hebrew Bible
through the passages of Levticus 18:22, 20:13; Deuteronomy 22:5, 23:18-19; 1st King
14:24, 15:12, 22:46; and 2nd Kings 23:7; to analyse the relations of prostitution cultual
masculine of terms found in Deuteronomy 23:18-19 (qadesh and keleb); region of the
Near Easts terms made a list to ritual homosexual worships role (qaditu and assinu);
ritual deities with the masculine rite (Asherah of 2 Kings 23:7 and Astarte of Ktion in
Cyprus connected with keleb in Deuteronomy 23:18-19) what they are with the fertility
rites; to work the historical context in which the ritual homosexuality was developed in
Israel and Jud (1st Kings 14:24, 15:12, 22:46 and 2nd Kings 23:7); and the question of
the abominations and injunctions so much of the homosexuality (Levticus 18:22 and
20:13) how much of tranvestism (Deuteronomy 22:5). The research will be carried out
through several academic's studies which wrote about the subject of homosexuality in
the Hebrew Bible and on his lifted questions and conclusions.
10
NDICE
1
Introduo......................................13
2.1
2.1.1
Qudu........................................................................................20
2.1.2
2.2
Prostitutas Cultuais......23
2.2.1
QaDiTu......................23
2.2.2
Naditu........................................27
2.3
3
3.1
Assria Mdia...............35
3.2
Hititas...................42
4.1
4.2
Prostituio Sagrada....................................55
4.3
4.3.1
4.3.2
Zonah.........................................63
4.3.3
Keleb (co)........................................................................66
4.3.4
11
Jud.......................................................................................................................................72
5.1
Reino do Norte.....77
5.1.1
5.1.2
5.2
Reino do Sul........................82
5.2.1
5.2.2
6.1
6.2
6.3
6.3.1
Perspectiva de Olyan.......105
6.3.2
Perspectiva de Walsh..............127
Concluso.....................131
Referncias ..................................................................................................................136
12
Introduo
STEAKLEY, James D.; WOLFF, Charlotte. Love between Women and Love between Men: Interview with
Charlotte Wolff. apud: New German Critique, n 23, (Spring Summer, 1981), p. 73-81.
2
HARRISON, R. K. Levtico, Introduo e Comentrio. Mundo Cristo e Vida Nova. So Paulo s/d, p. 176.
3
GREENBERG, D.F. The Construction of Homosexuality. The University of Chicago Press, Chicago
London, 1988, p. 96.
4
HARRISON, op. cit, p. 177.
5
Podem tambm ser chamados de santos e santas, por serem separados para o servio sagrado, segundo
HARRIS, ARCHER WALTKE. Dicionrio Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 1321-1324,
Edies Vida Nova, 1998. Tanto o substantivo qodesh quanto o adjetivo qadosh transmitem a idia de
santidade ou santo. No caso do adjetivo, qualifica aquilo que est intrinsecamente ligado ao sagrado, ou que
foi admitido no mbito sagrado por meio de um rito divino ou de um ato pblico de culto. Tem a conotao
daquilo que distinto do que comum. Desde que o domnio do sagrado fosse conceitualmente distinto do
mundo com as suas imperfeies, poder-se-ia operar dentro do mundo, desde que se mantivesse estritamente a
integridade do sagrado. O culto pblico tambm operava a santidade daqueles que dele participavam. A
prostituio cultual possui este sentido, em que as mulheres que serviam nos santurios idlatras foram
denominadas qdshot, prostitutas cultuais, ao fazer aluso permissividade feminina canania, e a forma
masculina dos prostitutos cultuais (qdoshim) usada no mesmo sentido para os equivalentes homens
(Deuteronmio 23:18-19).
6
HARRISON, op. cit., p. 177.
13
Prximo antigo, antes mesmo de os israelitas terem ocupado Cana, e tambm corrobora
que existe pouca documentao nos textos da Mesopotmia de uma homossexualidade de
variedade no-religiosa. Para o autor, de modo geral, a legislao mesopotmica prestava
pouca ateno a qualquer tipo de homossexualidade, apesar da referncia de Pritchard no
livro Ancient Near Eastern Texts relating to the Old Testament [(1955), p. 181], na qual ele
afirma que as leis da Assria Mdia preceituam a castrao para um homossexual
comprovado. Existem leis hititas datadas do segundo milnio a.C., segundo Greenberg,7
que apresentam o relacionamento incestuoso entre pai-filho, pai-filha e me-filho como um
crime capital, mas no h meno do incesto entre me-filha, tampouco sobre a
homossexualidade no incestuosa, o que sugere que esta ltima poderia ser permitida.
Harrison,8 ao se referir a M. H. Pope no Interpreter's Dictionary of the Bible:
Supplementary Volume
[dy (yada), que trazido para a conotao sexual. Segundo Olyan, os relatos
14
15
inferncias interpretativas do que uma busca mais prxima dos fatos que ocorreram em tal
perodo relacionados com o tema. Para que haja um estudo um tanto mais prximo do
factual do que da especulao literria, no possvel pegar o texto bblico no vernculo e
interpret-lo atravs das prprias concluses que so obtidas no texto. H uma necessidade
de conhecer a lngua e a escrita originais do texto, com o objetivo de verificar se a traduo
do texto bblico vivel, aliada aos registros e cultura dos povos vizinhos relacionados ao
tema, para analisar quais as influncias que tais povos exerceram sobre os hebreus.
Existem certos aspectos da homossexualidade na Bblia Hebraica que esto
vinculados religio e s prticas rituais cananias, e tambm formao da identidade e
da organizao de um povo. Inclusive a perspectiva da sexualidade e da homossexualidade
vinculadas fertilidade, aos rituais agrcolas e criao de gado era um fator muito
corrente na mentalidade dos cananeus e dos hebreus.
Na Bblia Hebraica, as passagens que so mais pontuais com respeito
homossexualidade para anlise de estudo so Levtico 18:22, Levtico 20:13, Deuteronmio
22:5, Deuteronmio 23:18-19, 1 Reis 14:24, 1 Reis 15:12, 1 Reis 22:46 e 2 Reis 23:7.
Mas, antes de tudo, necessrio nos desdobrarmos na evoluo da religio yahwista e
compreendermos quais influncias a religio recebeu dos povos que estiveram em contato
com os hebreus durante o perodo bblico (aproximadamente entre 1850 e 350 a.C).
Pode-se encontrar na Bblia Hebraica diversos interditos sexuais referentes ao
adultrio, bestialidade, ao incesto e prtica sexual com mulheres menstruantes, que so
irrelevantes para este trabalho. Portanto, buscar-se- restringir exclusivamente ao tema da
homossexualidade.
J existe uma dissertao de mestrado, de Dallmer Palmeira Rodrigues de Assis,14
em que o autor, apesar de ter o conhecimento de diversos pesquisadores que trabalham com
a temtica homossexual, tais como Jerome T. Walsh, Daniel Boyarin, Wanda Deifelt, Saul
M. Olyan e Luiz Mott,15 demonstra-se muito apegado ao autor e telogo gay Theodore W.
Jennings Jr., professor de Bblia no Chicago Theological Seminary,16 que acredita que o
Levtico teve o final de sua composio literria no perodo que se estendeu de 520-170
14
ASSIS. Dallmer Palmeira Rodrigues de. A Homossexualidade Desconstruda em Levtico 18,22 e 20,13;
maio, 2006.
15
ASSIS, op.cit., p. 44.
16
ASSIS, op.cit., p. 44.
16
a.C.,17 alm de apresentar uma maior preocupao do Levtico com o perigo iminente da
influncia imperial Grega,18 porm se esquece que, segundo Bright,19 o material do Cdigo
de Santidade (Levtico 17-26) foi composto provavelmente perto do fim do Reino de Jud,
de material muito mais antigo, e no declara a referncia da Bblia de Jerusalm20 sobre o
versculo de Levtico que evidencia a proibio da prtica homossexual (18:22), que, por
sua vez, se encontra no conjunto de Levtico 18:19-23, o qual se refere a interdies sexuais
de carter mais abrangente, distintas das do conjunto anterior (Levtico 18:6-18), que tratam
de proibies sexuais clnicas. Tambm Assis se aprofunda muito mais em uma
perspectiva helenstica da homossexualidade na Bblia do que em uma perspectiva semtica
ou oriental, ao dar a impresso de que a homossexualidade foi inventada pelos gregos.21 As
fontes fundamentais para o desdobramento da questo da homossexualidade na Bblia, tais
como Deuteronmio 22:5, Deuteronmio 23:18-19 e 1 Reis 14:24, para Assis, servem
apenas como referncias suprfluas22 e, ao se desdobrar sobre os qdoshim, nem menciona
1 Reis 15:12, 1 Reis 22:46 e 2 Reis 23:7.23 Sem estes sete versculos, se torna impossvel
e invivel uma leitura aprofundada sobre a perspectiva hebraica e canania com respeito
homossexualidade.
Bblia
Segundo Greenberg24, a prostituio homossexual masculina tinha um significado
religioso de carter institucionalizado nas antigas civilizaes do Mediterrneo e do
Crescente Frtil. O autor continua a dizer que muitas autoridades acadmicas acreditam que
tal prostituio homossexual masculina era praticada no Templo de Salomo em Jerusalm,
17
17
assim como na adorao dos povos vizinhos,25 apesar de alguns acadmicos terem
comentado tal hiptese com ceticismo.26 Uma anlise prxima das fontes pode ser
encontrada na Bblia Hebraica e em escritos de outros povos do antigo oriente prximo, que
so textos que discutem as prticas religiosas das civilizaes vizinhas.
As passagens relacionadas com a prostituio cultual masculina encontradas na
Bblia Hebraica so:
No haver prostituta [qdshah] dentre as filhas de Israel; nem haver
sodomita [qadesh] dentre os filhos de Israel. No trars salrio de rameira
[zonah] nem preo de co [keleb] casa do SENHOR, teu Deus, por
qualquer voto; porque ambos estes so igualmente abominao [T`b]
ao SENHOR, teu Deus.27
Porque tambm eles edificaram altos, e esttuas, e imagens de Asherah
sobre todo o alto outeiro e debaixo de toda a rvore verde. Havia tambm
sodomitas [qd]28 na terra; fizeram conforme a todas as abominaes
dos povos que o SENHOR tinha expulsado de diante dos filhos de
Israel.29
Porque [Asa] tirou da terra os prostitutos cultuais [qdoshim] e removeu
todos os dolos que seus pais fizeram.30
Tambm [Josaf] exterminou da terra os restantes dos prostitutos cultuais
[qdoshim] que ficaram nos dias de Asa, seu pai.31
Tambm [Josias] derribou as casas dos prostitutos cultuais [qdoshim] que
estavam na Casa do SENHOR, em que as mulheres teciam casinhas para o
dolo do bosque [Asherah].32
25
TAYLOR, G Rattray. Historical and Mythological Aspects of Homosexuality, apud: MARMOR, Judd
(ed.), Sexual Inversion: The Multiple Roots of Homosexuality, New York: Basic, 1965, p. 140-65; Terrien,
Samuel, The Omphalos Mith and The Hebrew Religion. Vetus Testamentum 20, p. 326-7, 1970: Tripp,
C.C. The Homosexual Matrix, p. 5. New York: Signet, 1975; Evans, Arthur, Withcraft and the Gay
Couterculture, p. 24-5, Boston: Fag Rag. 1978.
26
Patai, The Hebrew Goddess, p. 296, New York: Ktav, 1967; Boswell, Christianity, Social Tolerance,
and Homosexuality: Gay People in Western Europe from the Beginning of the Christian Era to the
Fourtheenth Century, p 99, Chicago: University of Chicago Press 1980; Ide, Arthur Frederick, The City of
Sodom and the Homosexuality in western Religious Thought to 630 C.E, p. 76. Dallas: Monument, 1985.
27
Deuteronmio 23:18-19 Almeida Revista e Corrigida.
28
Palavra encontrada no versculo do texto bblico na forma singular qd cuja forma plural qdoshim.
29
1 Reis 14:23-24 Almeida Corrigida, Revisada e Fiel.
30
1 Reis 15:12 Almeida Revista e Atualizada.
31
1 Reis 22:47 Almeida Revista e Atualizada.
32
2 Reis 23:7 Almeida Revista e Corrigida.
18
33
Tradues em portugus, tais como a Almeida Corrigida e Fiel, a Almeida Revista e Corrigida e a Almeida
Corrigida, Revisada e Fiel trazem a traduo de qadesh como sodomita, fato que ocorre no somente no
Brasil como no mundo todo, pois Olyan declara que tradutores tm freqentemente compreendido este termo
para referir ao prostituto masculino que se relaciona com outros homens, ao traduzir como sodomita ou algo
similar. Olyan tambm critica ao dizer que comentadores tm tendido a enfatizar na passagem sobre Sodoma
e Gomorra de Gnesis 19:5 sobre a ameaa de estupro contra os convidados de L, porm ignoram a ameaa
contra o prprio L e o seu status de residente estrangeiro, alguns viam a lei israelita como vulnervel e
precisavam de uma proteo especial contra a opresso. OLYAN, SAUL M. And with a Male You Shall Not
Lie the Lying down of a Woman: On the Meaning and Significance of Leviticus 18:22 and 20:13 Fonte:
Journal of the History of Sexuality, v. 5, n 2, (Oct., 1994), Published by: University of Texas Press, p. 179206.
34
Tradues em portugus, tais como a Almeida Corrigida e Fiel, a Almeida Revista e Corrigida e a Almeida
Corrigida, Revisada e Fiel trazem a traduo de qdshah como prostituta.
35
Greenberg, op. cit., p. 95.
36
Gnesis 38:15,21-22, 24.
37
YAMAUCHI, Edwin M. "Cultic Prostitution: A Case Study in Cultural Diffusion, 213-222, apud: Orient
and Occident: Essays Presented to Cyrus H. Gordon, ed. H. Hoffner. Neukirchen-Vluyn, Germany: Kevelaer,
1973; LEMER, Gerda. "The Origin of Prostitution in Ancient Mesopotamia, SIGNS: Journal of Women in
Culture and Society 11, 1986, p. 236-254; W. CARLETON WOOD. The Religion of Canaan: From the
Earliest Times to the Hebrew Conquest (Concluded), Journal of Biblical Literature, v. 35, n 3/4. (1916), p.
163-279, demonstram a Qudshu como a prpria deusa Asherah, cujo culto fora levado por sedentrios
semticos e escravos. Esta deusa fora nomeada Qudshu, um sinnimo para prostituta do templo; ela era
19
2.1.1 Qudu
No Egito existe uma placa da dcima nona dinastia que mostra uma deusa,
identificada como Qudu, a amada de Ptah, diante de um leo, segurando serpentes em
ambas as mos;39 uma estela similar, que diz Qudu, senhora do cu e senhora de todos os
deuses, mostra a deusa diante de um leo, segurando uma serpente em sua mo esquerda.40
Estes registros sugerem que o leo deitado, a cobra segurada com a deusa pintada em uma
placa da Winchester College collection, publicada por I. E. S. Edwards, apesar de ser
identificada como uma deidade composta Qudu-Atart-Anat, Qudu,41 a nica sagrada
- e bem conhecida das fontes ugarticas como um epteto padro de Asherah. Numerosas
outras representaes, tanto egpcias quanto canaanitas, de uma deusa que sustenta cobras
diante de um leo, enquanto no-escritas, presumivelmente tambm so pintadas como
Qudul/Asherah.42
pintada nua, diante de um leo, em espera, com uma cobra em uma mo e uma ltus florescente na outra,
simbolizando tanto o perigo, quanto o charme do seu culto.
38
BARTON, G. A. The Semitic Ishtar Cult, in Hebraica, X 1893-4; COOKE, G. A. A Text-book of NorthSemitic Inscriptions. Oxford: Clarendon, 1903, p. 65. ASTOUR, Michael C. "Tamar the Hierodule: An Essay
in the Method of Vestigal Motifs. apud: Journal of Biblical Literature 85.2, 1966, p. 185-96.
39
PRITCHARD. J. B. The Ancient Near East in pictures relating to the Old Testament. Princeton: Princeton
University Press, 1959 , n 470.
40
PRITCHARD. J. B. The Ancient Near East in pictures relating to the Old Testament. Princeton: Princeton
University Press, 1959 , n 474 e n 473.
41
I. E. S Edwards. A Relief of Qudshu-Astarte-Anath in the Winchester College Collection. apud: Journal
of Near Eastern Studies 14 (1955) 49-51; a imagem ilustrada tambm em The Ancient Near East.
Supplementary Texts and Pictures Relating to the Old Testament. Ed. J. B. Pritchard. Princeton: Princeton
Univ. Press, 1969, n 830.
42
Egpcia, segundo Ackerman, a qual evidencia que Edwards lista um total de treze, (agora nos museus no
Cairo, Turin, Viena, Moscou, Copenhagen, Paris e Londres) para a placa de Qudu-Astarte-Anat (Relief,
49). Veja tambm PRITCHARD. J. B. The Ancient Near East in pictures relating to the Old Testament.
Princeton: Princeton University Press, 1959, n 47l e n 472. Canaanita: Veja, e.g., a referncia em K. R.
Joines, The Bronze Serpent in the Israelite Cult: Jounal of the Society of the Bblical Literature and
Exegesis 87 (1968) 246-47 e 247, n 12; cf. J. B. Pritchard, Palestinian Figurines in Relation to Certain
Goddesses Known Throughout Literature (New Haven: American Oriental Society, 1943), n 36. Veja
tambm P. Amiet, Art of the Ancient Near East (New York: H. N. Abrams, 1980) pl. 511; MITCHELL,
Stephen. Archaeology in Asia Minor 1985-1989 apud: Archaeological reports for 1989-1990. --(Journal of
20
KlBm, ces no como um termo de desprezo, mas simbolizando o seu servio fiel ao
deus.43 Apesar de Gaster apenas mencionar os KlBm (ces) neste achado,44 Olyan
tambm os explica,45 mas no encontra referncia sua funo.
Thomas tambm explana sobre os Klbm do templo de Astarte de Ktion no
Chipre,46 mas no se esquece da referncia de que com eles foram mencionados como os
garim, clientes, hspedes que foram convidados ao templo e sustentavam os seus lucros.
Thomas diz que tentativas tm sido feitas para tomar os Klbm, aqui caracterizados
literalmente como ces, e garim, lido como gurim, como filhotes.47 No entanto,
segundo Thomas, este contexto consiste em uma lista de pessoas que so recipientes de
pagamentos de uma espcie ou outra, e, isto , contra tal interpretao.48
Para Thomas, o keleb pode ser oficialmente listado em Ktion em companhia de
outras pessoas, com funes honorveis a executar.
Quando Roscoe faz referncia ao keleb, sacerdote da Astarte de Ktion e de outros
lugares,
49
qadesh, o que tambm ocorre no Acdico, Fencio, Ugartico, rabe, Aramaico, Siraco,
Etope e nos escritos de Mari, por volta de 2000 a.C.
Hellenic Studies, Supplement) (1990) (London : Council of the Society for the Promotion of Hellenic Studies
and the Managing Committee of the British School of Athens, 1990) 86, fig. 5.
43
Corpus Incriptionum Semiticarum, I, n 86 =G. A. Cooke, A Text-Book of North Semitic Inscriptions, n 20,
B, linha 10.
44
Corpus Incriptionum Semiticarum, I. 86, B. 10 Gaster sugere que uma discusso completa sobre o assunto
pode ser encontrada em Cooke, North Semitic Inscriptions, p. 67-8.
45
Donner e Rllig, eds., Kanaanische und aramische Inschriften (Wiesbaden 1962-64) inscrio 37B, linha
10.
46
Corpus Incriptionum Semiticarum I, n 86 B 10.
47
Veja G. A. Cooke, A Text-book of North-Semitic Inscriptions, p. 67 ff. W. Robertson Smith revoga que o
homem chamado co e filhote est ligado histria de um relicrio em Ma lul, prximo a Nazar (Rel. of
the Semites, 3rd. ed., p. 541).
48
Cp. LAGRANGE, M.J.: tudes sur les religions smitiques, 2e ed., B, Paris, 1905., p. 220
49
D. W. Thomas, p. 425; Brooks; W. Robertson Smith, The Religion of the Semites: The Fundamental
Institutions (New York: Schocken, 1972), p. 292, n 2; William F. Albright, "Historical and Mythical
Elements in the Story of Joseph: Journal of Biblical Literature 37 [1918]: 116).
21
Brunet faz uma crtica a D. Winton Thomas, o qual relata que determinada
acepo de keleb vem da idia de um co fil de Deus, o seu humilde escravo e devoto,
que uma perspectiva da qual Brunet discorda ele acredita que seja completamente
improvvel que tenha sido desta forma na antigidade semtica. Brunet argumenta a sua
discrdia com Thomas ao exprimir que completamente inexata, sobretudo, que a
denominao keleb inclua as idias de desprezado como um co + fiel como um co =
empregado que humilha a si mesmo. Brunet continua a sua argumentao de que a razo
desta denominao, na sua perspectiva, trata-se de uma evidncia grosseira j que, como
Brunet demonstrou, na aproximao da prostituta e do co (como na inscrio de Ktion a
aproximao das `lmT e dos KlBm), os dois desempenhavam o mesmo papel no ritual
hierogmico. Na perspectiva de Brunet, o qadesh ou keleb no era um templo
homossexual como pensava W. Baumgartner
50
papel receptivo. Brunet acredita que essa a razo pela qual melhor a traduo cadela,
dado que em sua perspectiva filologicamente possvel.
Os Klbm de Deuteronmio 23, segundo Brunet, foram invertidos sexualmente e
desprezados como cadelas por todos que favorecem ao yahwismo e ao deus ciumento
(conotao de termos de desprezo bastante ausente em Ktion, mas presente na Bblia
Hebraica).
Margalith51 justifica que nos tempos bblicos a palavra keleb poderia ser usada em
sua conotao religiosa de um servo do templo, que inclui um hierdulo masculino,52 como
evidente na inscrio encontrada em um templo em Ktion53 e atravs da injuno em
Deuteronmio 23:18-19. Para Margalith, aparentemente o conjunto usa os dois termos
keleb e zonah (ou Klbm e zonot), que, segundo ele, tambm tornou-se uma frase
estereotipada e ainda permanece aberta para a especulao se a Septuaginta est
corretamente de acordo (v. 19b), se a abordagem possui a frase completa, ou se ela foi
posteriormente perdida no Texto Massortico.
50
KOHLER, L. & BAUMGARTNER, W., Lexicon in Veteris Testamenti Libros, F.J. Brill, Leiden, s.v.
Penah, 1953
51
1984, p. 229-30.
52
O. Margalith, keleb-homonym or metaphor? Vetus Testamentum 33 (1983), p. 491-5.
53
Corpus Incriptionum Semiticarum I 6; I 49.
22
Hoffner observa que algumas referncias adicionais podem ser feitas, como por
exemplo, a que Servius observou na adorao da Astarte barbada no Chipre, que seduzia o
povo em rituais considerados profanos pelo autor. Tambm so conhecidos dos textos
acdicos54 que a deusa Ishtar tinha uma barba igual a do deus Ashur e, para Hoffner, fica
claro nas alternaes da divindade Yazilikaya, que sua equivalente Hurro-Hitita, Shaushga,
era bissexual.55
2.2
Prostitutas Cultuais
2.2.1 QaDi
aDi
aDiTu
Smith56 afirma que a qaditu da Babilnia e da Assria possui um equivalente
encontrado no qadesh e na qdshah da Bblia Hebraica.57 Smith observa que a primeira
meno dos qdoshim e das qdshot na Bblia Hebraica foi nos dias de Roboo, ao
demonstrar que a prtica era bastante antiga e que persistiu at o final do reino unido de
Israel.
Para Brooks, conspcuo que a qaditu (NU GIG) no era freqentemente
mencionada nos cdigos acdicos legais. Contudo, afirma que a qaditu mesopotmica era
uma prostituta do templo que se estabeleceu ali h algum tempo atrs; ela freqentemente
mencionada na literatura religiosa, especialmente em conexo com o culto de Ishtar. O
Cdigo de Hammurabi menciona-a em apenas uma lei, pargrafo 181, que legisla para a
ao da propriedade de seu pai, i. e., um tero da poro de um filho, que em sua morte
deveria reverter para os seus irmos.58 Brooks escreve que foi sugerido por Jastrow que a
razo pela qual esta classe de devoto foi mencionada bastante brevemente nos cdigos era
54
Veja Chicago Assyrian Dictionary, Volume 21, Z, Oriental Institute, 1961, p. 126
Goetze, Albrecht Hittite Dress, In Corolla Linguistica: Festschrift Ferdinand Sommer Wiesbaden, 1955,
p. 51.
56
1917, p. 332.
57
Deuteronmio. 23:17, 18; 1 Reis 14:24; 15:12; 22:47; 2 Reis 23:7; Gnesis 38:21 f.; Osias 4:14.
58
Smith Tablet n 260 publicado por Grant em Cuneiform Documents na Smith College Library; uma qaditu
poderia herdar igualmente com os seus irmos. Tambm em Cuneiform Texts from Babylonian Tablets in the
British Museum (London 1896 ff.) VIII 50 e Schorr, Urkunden des altbabylonischen Zinil- und
Prozessrechts, n 183 indicam que ela poderia casar, mas o seu dote vai para os seus irmos.
55
23
porque o seu sustento seria amplamente provido pelo templo.59 O cdigo assrio requiriu,
segundo Brooks, que uma qaditu casada fosse velada quando sasse na rua, e, se solteira,
deveria ter a sua cabea descoberta, (pargrafo 40). Elas no so muito mencionadas
tambm nos documentos de negcios como outras classes de devoo. Brooks menciona
que h a evidncia de que elas adotavam e davam crianas para a adoo.60 A interpretao
de K. 251 (V R 25), publicada por Barton, conforme afirma Brooks,61 indica que uma
qaditu, s vezes casada, poderia deixar a sua vida antiga. Se o seu marido se divorciasse
dela, ela poderia novamente reverter situao, podendo adotar uma criana para criar e os
pais no teriam nenhuma queixa subseqente sobre ela. Segundo Brooks, se ela se
engravidasse, ela no poderia recorrer ao aborto.
Para Brooks, no h como provar que as qdshot da Bblia Hebraica e a qaditu da
Mesopotmia eram anlogas. Se os termos qadesh e qdshot so especficos, no podem ser
designaes gerais e as poucas referncias na Bblia Hebraica fornecem poucos dados
sobre estas devoes, exceto por implicar que elas viviam dentro dos precintos sagrados,
que estavam ocupadas com os sacrifcios, equipadas com os instrumentos sagrados e que
foram classificadas pelos autores hebreus como prostitutas sagradas.
Olyan indica que o nico documento acdico de Ugarit que menciona o estado de
uma prostituta utiliza o termo do assrio-babilnio standard Harimutu.62 Com isto, segundo
Astour, o ato de emancipar uma escrava feminina para o estado de Harimutu dado a ela
em casamento com um homem livre, conforme a prtica legal assrio-babilnica do
perodo.63 As instituies legais de Ugarit, de acordo com a concluso de um estudo
eminente da lei cuneiforme, diretamente relacionada cultura jurdica foi desenvolvida no
Oriente Prximo durante o segundo milnio.64 Assim, Astour conclui que pode ser
59
24
admitido que a posio legal das prostitutas sacrais na rea Oeste Semtica no era
basicamente diferente de seus homlogos na Assria e na Babilnia.
Astour destaca que na Babilnia, especialmente no Perodo da Antiga Babilnia,
havia numerosas categorias de prostitutas, o que se verifica nos inmeros termos que se
referiam a elas, mas que claramente houve a diviso delas em dois grupos principais: as
prostitutas de rua comuns (como HarimTu, amhaTu, KezreTu), e prostitutas do templo. As
leis da Assria Mdia65 reconhecem as duas classes: HarimTu e qaDilTu (forma dialetal de
65
Astour recomenda a nota introdutria para a traduo de Theophile J. Meek em J. B. Pritchard, Ancient
Near Eastern Texts, p. 180.
66
Astour sugere que o texto maudosamente danificado, mas o contexto parece indicar que o artigo trata com
o direito de uma Harimtu (e de suas crianas depois dela) para herdar com seus irmos.
67
Astour diz que uma penalidade imposta para fazer uma prostituta cometer um erro; ela est protegida pela
lei junto com as mes casadas que esperam crianas.
68
Francis R. Steele, The Code of Lipit-Ishtar, American Journal of Archaeology, 52 (1948), p. 442 (k a r.
k i d. d a=Harimtu);tambm traduzido por S. N. Kramer em Ancient Near Eastern Texts, p. 160. Cf. o caso
de Jeft, o filho de uma prostituta (zonah), com quem os filhos da legtima esposa de seu pai se recusaram a
compartilhar a herana (Juzes 11: 13).
69
C. H. W. Johns, Assyrian Deeds and Documents, n 640:8 f., London, 1902 o filho de uma mulher que
deu a luz ina Harimlia (enquanto for uma prostituta) dado como um servo do templo de Ninurta. A
traduo hierdula em J. Kohler, A. Ungnad, Assyrische Rechtsurkunden, pp. 39 f, Pfeiffer, Leipzig, 1913.,
segundo Astour, no est correta..
70
Leis de Lipit-Ishtar, pargrafo 30; casos dos textos legais babilnicos so convenientemente listados em
Chicago Assyrian Dictionary, Volume 6, H, Oriental Institute, 1956, p. 102.
71
W. L. Lambert, Babylonian Wisdom Literature, p. 102, linhas 72-74 Oxford, 1960
25
Astour diz que o status social de uma qaditu era muito alto. A Lei da Assria
Mdia, A, pargrafo 40, prescreve: Uma prostituta sagrada (qaDilTu) que se casar com um
homem deve se velar na rua, mas uma que no se casou com um homem deve andar com a
cabea descoberta pela rua; ela no pode velar a si mesma.72 Astour salienta que diversos
artigos do Cdigo de Hammurabi regulam os direitos matrimoniais e de hereditariedade de
diferentes categorias de sacerdotisas e hierdulas. A terminologia aplicada ao pessoal
feminino do templo no Cdigo e em outros documentos da Babilnia Antiga bastante
elaborada e as diferenas entre as categorias particulares no so facilmente perceptveis.
Astour diz que a sacerdotisa principal tinha, nos perodos mais antigos, o mesmo ttulo de
um sumo sacerdote: enu (sumrio en). A forma feminina deste ttulo, enTu (eneTu), tinha
um equivalente sumrio n i n . d i n g i r, senhora divina.,73 que era, ocasionalmente,
usado pela sacerdotisa chefe, mas na maior parte das vezes designava as sacerdotisas
inferiores, tambm nomeadas gubabtu ou ugbabtu. Assim, longe de ser submetida ao
regime de castidade,74 est listada no texto lexicogrfico de Malku-arru (1:131-135) entre
termos notrios para prostituta.75 As equaes ugbabtum =entum e ugbabtum =assinnatum,
para Astour, indicam que estas sacerdotisas foram sexualmente ativas, apesar de ser na via
72
Traduzido por Th. J. Meek, Ancient Near Eastern Texts, p. 183. Em Chicago Assyrian Dictionary, Volume
6, H, Oriental Institute, 1956, p. 101, as palavras KAR.KID la tuptassan, segundo Astour, esto errneamente
unidas s palavras apresentadas no texto e traduzido: ao ser uma Harimtu, ela [a qadiltu no-casada] no
deve colocar o vu em si mesma. Astour observa que atualmente, este o comeo de uma nova clusula que
prope a Harimtu distinta da qadiltu.
73
Astour recomenda ler Chicago Assyrian Dictionary, Volume 4, E, Oriental Institute, 1958, p. 173,
dicionrio pelo qual razes so dadas para traduzir n i n . d i n g i r como senhora (que ) uma deidade e
no como irm do deus.
74
Astour percebe que, como presumido em Chicago Assyrian Dictionary, Volume 4, E, Oriental Institute,
1958, p. 173. verdico que a penetrao com uma sacerdotisa escolhida pelo prprio deus considerada um
pecado (veja e, g., Erica Reiner, Lipur litanies, Journal of Near Eastern Studies, 15 [1956], p. 136, linha
84: ana NIN.DINGIR iliu lu ilik), mas segue de todas as passagens desta espcie que a proibio dirigida
apenas a sacerdotisas de uma deidade pessoal, e a afirmao explcita de Herto deve ser comparada (I, 199)
em que as prostitutas sagradas na Babilnia esto disposio de estrangeiros, ou seja, visitantes de outras
cidades.
75
Astour considera sobre a edio do tablete, com material at ento no publicado: Anne Draffkorn Kilmer,
The First Tablet of malku=arru together with its Explicit Version, Journal of American Oriental
Society, 83 (1963), pp. 421-46. As linhas relevantes para Astour (p. 427) so: -muk-tum=na-di-tum;
up-pu-u-tum =dit-to; a-mu-uH-tum =qa-di-tum; ug-bab-tum =en-tum: ug-bab-tum =as-sin-na-tum
26
no natural para as mulheres.76 O objetivo para tais prticas era a preveno da concepo,
pois nenhuma mulher consagrada aos deuses poderia ter filhos, mesmo no casamento.77
2.2.2 Naditu
Greenberg enfatiza que apesar de Ishtar ser a deusa do amor e possuir vrios
amantes, ela no tinha filhos. As hierdulas femininas que se autoconsagravam deidade
eram denominadas de naditu, estril,78 devido s suas prticas sexuais que no resultavam
na gravidez (como uma forma de imitao deusa), j que, tanto a naditu quanto suas
parceiras divinas, assim como seus equivalentes masculinos no sacerdcio, submetiam-se
penetrao anal. Os adoradores masculinos que penetravam nos sacerdotes e nas
sacerdotisas acreditavam que se uniam com a prpria deusa. Como o texto cuneiforme
apresentado por Toorn indica, esta unio era propcia: a deusa deveria procurar
favoravelmente por um dom do precioso smen, o que era um bom destino para o
adorador e seu lar.79
Astour discorre que a etiologia da proibio gravidez das naditu no est clara,
mas obviamente estava de alguma forma ligada com o carter sacro das sacerdotisas e das
hierdulas. Astour percebe que isto pode ser encontrado na expresso dos nomes de duas
classes relatadas de prostitutas sacras: naditu (em sumrio l u k u r)80 literalmente
abandonada, o termo usado para um campo fulvo, no semeado, um smbolo de
esterilidade;81 e kulmailu (em sumrio n u . b a r)82 provavelmente aponta para a sua
76
Astour se refere a Assinnatum (no traduzido por Kilmer no ndice da coluna direita de palavras) a forma
feminina de assinu prostituto masculino, (receptivo) sodomita; cf. nota n 253 abaixo.
77
Astour observa que isto claramente demonstrado por B. Landsberger, Zu den Frauenklassen des Kodex
Hammurabi, Zeitschrft fr Assyriologie, 30 (1916-17), pp. 67-73. Veja tambm B. Meissner, Babylonien
und Assyrien, I, pp. 69-71 Heidelberg 1920/25 ; 11, p. 436; E. Dhorme, Les religions de Babylonie et
d'Assyrie, pp. 212 ff Paris, Presses Universitaires de France 1949..; A. L. Oppenheim, Mesopotamian
Mythology II ,Orientalia, Nova Series 17 (1948), p. 34.
78
Astour, op. cit., 1966.
79
Toorn, op. cit. , 1985.
80
Astour observa que a escrita SAL.ME, que pode ser explicada como SAL, mulher (ou no sentido direto
do smbolo: genitlia) +ME =parsu rito, ritual prescrio.
81
Astour compreende que a explicao de Landsberger, Zeitschrft fr Assyriologie, 41 (1933), p. 229 f., foi
aceita por Dhorme, Rel. de Bab. et d'Ass., pp. 212, 218 f. Meissner, Babylonien und Assyrien., I, p. 69,
n 4, encontrado em Keilschrifttexte aus Assur religisen Inhalts (Ebeling) n 321:7: As naditusacerdotisas, que deixam seus ventres vivos em sabedoria. Segundo Astour, mulheres de alta descendncia
que incluam princesas, so encontradas entre as naditu (Babylonien und Assyrien., I, p. 70). Sobre o
estatus econmico e legal das mulheres- naditu enclausuradas, Astour sugere ver Rivkah Harris, The naditu
Laws of the Code of Hammurapi in Prxis, Orientalin, Nova Series 30 (1961), p. 163-69, e The
27
qaditu
Organization and Administration of the Cloister in Ancient Babylonia, Journal of the Economical and
Social History of the Orient, 6 (1963), pp 121-57. Astour relata que sua definio da qualificao
fundamental da naditu, nomeadamente, que ela no era casada e nem tinha filhos (p. 122, nota da obra) est
correto somente em considerao ao ltimo ponto: conhecido do Cdigo de Hammurabi que pelo menos
certas naditu poderiam se casar e realmente se casavam. A sua suposio de que as naditu foram mulheres
determinadas pelas regras de castidade (p. 127) no h suporte documentrio; cada enumerao como
qaditu naditu itaritum kulmaitu (Maqlu III 145, encontrado em Chicago Assyrian Dictionary, Volume 7, IJ, Oriental Institute, 1956., p. 271) ou equao como amuktum (prostituta) =naditum (nota n 74 acima)
testifica o oposto.
82
Or n u . m a (assim R. Labat, Manuel d'gpigraphie akkadienne, n 75, Paris, 1963
ma e bar
serem duas leituras do mesmo smbolo). De acordo com Chicago Assyrian Dictionary, Volume 7, I-J,
Oriental Institute, 1956, p. 271, n u nesta palavra e em n u. g i g is ao serem compreendidos como
rgos sexuais O segundo signo pode ser interpretado como BAR =parau, separar, ou como MA
=ellu, (ritualmente) puro.
83
Astour afirma que o primeiro sinal de KUL-ma-i-tu, ao lado do valor fontico kul, tambm o ideograma
para n u m u n ( n u5 ) =zeru (semente, smen, posteridade) e tem no acdico o valor silbico zir, zer
(como em zir-ma-tu, vermes, zir-qa-tum, lince). O termo usado dessa forma para ser lido como
zermaitu (Meissner, Babylonien und Assyrien (Heidelberg 1920/25), I, p. 71; Deimel, Codex Hammurabi,
Rome, 1930 , p. 40; Dhorme, Rel., pp. 213, 219; Labat, Man., n 75) e explicou como ela que tem
esquecido o smen. Astour observa que esta leitura da palavra tem sua analogia grfica e morfolgica em
Zerbanitu, ela que tem criado o smen (uma variante etimologizante da divindade, n. Sarpanitu) expulso
KUL.D.ti, i. e., Zer-bani-ti (A. Deimel, Pantheon Babylonicum., Rome: Pontifical Biblical Institute, 1914,
p. 132; K. Tallqvist, Akkad. Gotterepitheta, Helsinki, 1938, p. 452; Dhorme, Rel., p. 146). A leitura aceita,
contudo, segundo Astour, kulmaitu baseada em uma nica ocorrncia, maudosamente danificada em um
tablete no publicado da coleo Hilprecht em Jena (Tablet siglum of the Hilprecht Collection in Jena 1879
4), encontrado em W. von Soden, Akkad. Handworterbuch, 1965 p. 504, assim: ku-u[l-ma-?-?]. Sem ter
visto o contexto, Astour declara que ele no pode estar realmente seguro se o smbolo existente e o meio
possa ser restaurado desta forma, mas ao admitir que isto de fato dessa maneira, Astour tenta propor uma
alternativa etimolgica para kulmaitu(m). A passagem lxica Izi E, 243 f. (citado Chicago Assyrian
Dictionary, 21, p. 89): nu-um KUL, ku-ul KUL= ze-[rum], mostra que o sinal KUL poderia ser lido como k u
l (no apenas como n u m u n ) e ainda significa semente, smen. Astour percebe que kulmaitu pode ento
representar a forma acadianizada de um presumvel sumrio * k u l. m a (cf. n u . m a , nota n 81
acima), puro (de) smen.
84
Cf., em um texto bilingue, n u. g i g . g i g =qaditu a libba marsat, mulher-qaditu cujo ventre est
interditado (?), Chicago Assyrian Dictionary, Volume 7, I-J, Oriental Institute, 1956, p. 270. Marsat
(ferido) possui aqui, segundo Astour, uma conotao ritual; ao lado, GIG no apenas marsu,
enfermidade, mas tambm ikkibu, interdio (Labat, Man., n 446; cf. tambm Chicago Assyrian
Dictionary, 7, p. 55).
85
Labat, Man., n 75; Chicago Assyrian Dictionary, Volume 7, I-J, Oriental Institute, 1956, p. 271.
86
Itaritu a ana ili zakrat, entre Harimtu a ari mutua, uma prostituta cujos maridos so uma legio
e kulmaitu a qereba ma'd[a], uma kulmaitu cujo ventre maior (que teve penetrao com muitos
homens), W. Lambert, Bab. Wisdom Lit., p. 102, linhas 72-74; cf. Meissner, Babylonien und Assyrien.,
XI, p. 71; Dhorme, Rel., p. 213; Chicago Assyrian Dictionary, Volume 7, I-J, Oriental Institute, 1956, pp
270 f. Do documento MDP (Mmoires de la dlgation en Perse) 23, 288 2-7, encontrado no Chicago
Assyrian Dictionary, Volume 7, I-J, Oriental Institute, 1956, p. 271, parece seguir que na itaritu, ao
contrrio de outras mulheres de culto, poderia ter filhos; contudo, uma criana de um ms dada a uma me de
leite por uma itaritum estava provavelmente em busca de quem poderia adot-la (cf. Oppenheim,
28
qaditu est, conseqentemente, sob a mesma proibio de ter filhos, apesar de tambm
poderem se casar. Casos como quando um homem pode tomar uma delas como sua esposa por ele t-la amado, apesar dela ser uma hierdula 87 no era nada incomum. Isto to
significativo para elas (as hierdulas) que a grande deusa do amor (Itar) de quem as
hierdulas tomaram o seu nome Itaritu, tambm era chamada d[Itar q]-di-ti ilani rabli
(a hierdula dos grandes deuses),88 cuja ausncia de filhos lhe permitia numerosas
aventuras de amor.
Astour percebe que parece que a maioria das sacerdotisas e hierdulas viviam em
edifcios especiais relacionados aos templos e chamados gag (g. g i 4 . a), mas elas
tambm poderiam viver de maneira privada (Cdigo de Hammurabi, pargrafo 110).89 De
acordo com as leis de Lipit-Itar, pargrafo 22, se o pai estiver vivo, sua filha, se ela for
uma n i n . d i n g i r (=entu), uma lukur (=naditu), ou a n u . g i g ( = qaditu),
viver em sua casa como uma herdeira.90
91
Mesopotamian Mythology II, loc. cit.); Astour corrobora que o pronome possessivo sua na traduo do
Chicago Assyrian Dictionary uma interpretao editorial.
87
V R 25, 10 cd, encontrado em Meissner, Babylonien und Assyrien (Heidelberg 1920/25), 11, p. 69. Cf.
tambm: n a m. n u. g i g. a . n i i n . n e .i n . TUK.TUK: qadussu iHussu ele se casou com ela
(embora) ela seja uma mulher-qaditu, Ana ittiu VII, VIII, IX, encontrado no Chicago Assyrian
Dictionary, 1, I, p. 174. Astour atesta que um documento da Assria antiga estipula: ina maitim DAM(?)
anitam la eHaz ina Alimki qaditam eHaz, ele pode no se casar com outra mulher estrangeira [ou: na
terra], ele pode se casar com uma mulher-qaditu na cidade, F. Hrozny, Inscriptions cuniformes du
Kultp, 3:3, 5 e 7, citado ibid., p. 175.
88
A. Deimel, Panth. Babylonicum, n 1617, III, 8; Meissner, Babylonien und Assyrien (Heidelberg 1920/25),
II, p. 27; cf. a deusa Qdt em Ugarit (Ugaritic Textbook, n 1004, 17). Em um hino bilingue, Itar fala de si
mesma como de uma Harimtum ra'imtum, amante prostituta, colocada na entrada de um atammu
(traduzida como taverna, Chicago Assyrian Dictionary, Volume 6, H, Oriental Institute, 1956, p. 102), G.
Reissner, Sumevisch-Babylonische Hymne, p. 106, 1. 51 f. Astour declara que em um dos textos sumrios
sobre o casamento sagrado publicados por S. N. Kramer (Cuneiform Studies and the History of
Literature, Proceedings of the American Philosophical Society, 107 [1963], p. 485-527, n 1,31,36,37).
Inanna, a Itar sumria, representada como a esposa de Dumuzi, chamada n u . us. g i g, hierdula
(Astour evidncia que Kramer tinha um modelo muito mais para assegur-lo de que n u .us. g i g
simplesmente uma variante grfica de nu.gig).
89
A. Deirnel, Codex Hammurabi, transcriptio et versio latina (Rome 1950). Astour confirma que a traduo
de Meek do Cdigo em Ancient Near Eastern Texts, p. 163-80, substitui entum por sacerdotisa-devota,
naditum por hierdula, qaditum por prostituta sagrada, e kulmaitum por devoto.
90
Steele (veja nota n 68), p. 439-40.
91
Astour demonstra que a terminologia nos vrios artigos no uniforme: pargrafos 178-179 fala sobre
entum, naditum, sinniat zikrum (Astour sugere ver Dhorme, Rel., p. 212, 219, no qual o termo
compreendido ao se referir a uma sacerdotisa que usa ritualmente a roupa de um homem); pargrafo 180, de
nadit gagim e sinniat zikrum; pargrafo 181, de naditum, qaditum, e kulmaitum; mas os princpios juridicos
so os mesmos para todos eles. Pargrafos 40 e 144-146 mencionam apenas a naditum, mas, segundo Astour,
este termo usado compreensivelmente e inclui outras categorias relatadas.
29
termina com a afirmao: a sua herana pertence aos seus irmos. Astour afirma que
apenas com uma autorizao escrita pelo pai (encontrada no pargrafo 179; ao discorrer
sobre a naditu, que era a mulher consagrada ao deus babilnico Marduk em uma situao
na qual ela no possua autorizao escrita, encontrada no pargrafo 182), uma mulher
consagrada poderia dar a sua herana a quem sempre lhe agradou (pessoas que ela goste
ou de sua confiana); porm, os seus herdeiros naturais (seus prprios filhos) no so
mencionados. A nica alternativa para tal mulher prover seu marido com crianas d-lo
a uma mulher escrava para produzir crianas (pargrafos 144, 145, 146) exatamente
como no ato de uma mulher fisicamente estril nas histrias patriarcais de Gnesis; ou o
marido poderia tomar uma concubina adicional (U.GE4-tum).92 Astour conclui que como
a castrao ou esterilizao de mulheres era desconhecida e tecnicamente impossvel na
Antigidade,93 as sacerdotisas ou hierdulas poderiam evitar a impregnao apenas ao
utilizar mtodos no convencionais de penetrao.94
92
U.GE4-
tum (segundo Astour uma leitura incerta), como demonstrado por Landsberger, Zu den
Frauenklassen des Kodex Hammurabi,(cf. nota n 76), p. 68-71, era um membro inferior do pessoal
feminino ligado ao culto, e nomeadamente, era uma serva de uma naditu que poderia casar o mesmo homem
que mais tarde tinha o objetivo de prov-lascom filhos. A U.GE4- tum tambm era a prpria irm da
naditu. As mesmas roupas aplicadas aos casamentos de uma mulher- kulmaitu (tambm, uma naditu,
segundo Astour poderia ser ao mesmo tempo uma kulmaitu, como notado dos documentos da antiga
Babilnia citados por Landsberger). A traduo de Meek de U.GE4- tum sacerdotisa de cama, a de
Deimel concubina sacra.
93
Astour diz que Landsberger, Zu den Frauenklassen des Kodex Hammurabi, p. 71, explicou que a
ausncia de maternidade das naditu-sacerdotisas mesmo no matrimnio atravs de uma suposio na qual
elas foram feitas estreis artificialmente (atravs de cirurgia). Tal suposio, para Astour, incoerente, pois
esta categoria de operao estava alm do alcance da cirurgia antiga (veja tambm G. R. Driver e Sir John C.
Miles, The SAL.ZIKRUM 'Woman-Man' in Old Babylonian Texts, Iraq, 6 [1939], p. 67), e pode-se
perceber que as sacerdotisas babilnicas foram fisicamente aptas a terem filhos.
94
Astour observa que de decisiva importncia a passagem K.8325, Vs. 10 f. (=Cuneiform Texts from
Babylonian Tablets in the British Museum (London 1896 ff.) XXXI 44) = K.4030, 10 (=A. Boissier,
Documents assyriens relatifs aux prsages, p. 220); NIN. DINGIR.RA (=entu) aum la e-ri-a pinna-as-sa u-nak, primeiro interpretado corretamente por Meissner, Babylonien und Assyrien., III, p. 436,
n 4, e corretamente traduzido em Chicago Assyrian Dictionary, 4, p. 325: a sumo sacerdotisa permitir
penetrao per anum com o objetivo de evitar a gravidez. Astour explana que isto pode concordar com a
equao lexical ugbatum=entum=assinnatum, i. e., sodomita feminina, referida na nota n 76 acima.
Contudo, segundo Astour, esta medida extrema de precauo no parece ter sido praticada por outras classes
do pessoal feminino do culto. A expresso kulmaitu a qereba ma'd[a], referida na nota n 86 acima,
demonstra mais uma forma normal de penetrao, e se a interpretao do termo kulmaitu(m) proposta na nota
n 83 acima justificada, e poderia insinuar ao coito interrompido, como em Gnesis 38 9.
30
2.3
95
Joseph Plessis, Etude sur les textes concernant Istar-Astarte: Recherches sur sa nature et son culte dans le
monde semitique et dans la Bible. P. 228-9, Paris ,1921; J. Botter and H. Petschow, Homosexualitt, in
Erich Ebeling and Bruno Meissner, eds., Reallexikon der Assyriologie und vorderasiatischen Archologie, v.
4. Berlin: Walter de Gruyter, 1975.
96
Veja Albright, Journal of American Oriental Society, XXXIX, 1916, 85, para a interpretao do trajeto
alterado sobre o eunuco por Eregkigal no pico; o eunuco era destinado a comer as latas de lixo da cidade,
viver na sombra de um muro e ser esbofeteado por bbados e criminosos.
97
Allegro, John M., The Sacred Mushroom and the Cross, p. 76/222 n 31; Doubleday Books, Garden City,
1970.
98
W. G. Lambert, Jaarbericht van het Voor-Aziatisch-Egyptisch-Gezelschap (from 1945: Genootschap) Ex
Oriente Lux (Leiden 1933 ff.), n 15, p. 195. Cp. B. Meissner, Babylonien u. Assyrien, II, p. 67, 2nd S. A.
Pallis, The Babylonian Akitu Festival, p. 145.
99
Greenberg justifica como uma lembrana inevitvel de 2 Reis 23:7 na qual mulheres que provavelmente
trabalhavam com homens que mudaram de gnero, teciam roupas para Asherah, considerada a Ishtar
canania.
100
Greenberg, op. cit., p. 96.
101
Chicago Assyrian Dictionary, Volume 1, A, part 2. p 341 Oriental Institute, 1968
31
102
32
necessariamente um contexto ritual.113 Greenberg conclui que uma das funes dos assinu
era servir como parceiro sexual receptivo de adoradores homens na penetrao anal,114
possivelmente em particular com aqueles que desejavam abandonar um problema que eles
acreditavam que os perseguia.115
O ritual de penetrao heterossexual era tambm, em certos casos, anal. As
sacerdotisas sumrias foram chamadas assinutum, a forma feminina de assinu, pois apesar
de serem sexualmente ativas como hierdulas, supe-se que elas tambm evitavam a
gravidez por meio do mtodo da penetrao anal.116 Greenberg destaca que textos
cuneiformes babilnios e assrios afirmam que a sumo-sacerdotisa permitir a penetrao
per anum para evitar a gravidez,117 e um selo estampado encontrado no templo de Ishtar
na Babilnia, atualmente no Museu Britnico,118 demonstra a penetrao sexual, em vrias
112
Na obra de Greenberg, est o termo sodomia, o qual faz uma suposta aluso prtica de penetrao anal
em Sodoma encontrada em Gnesis 19:5
113
Chicago Assyrian Dictionary, op. cit. (p. 204/ 341, 1958).
114
Greenberg menciona que no se conhece a identidade dos parceiros do assinu. O pblico em geral no os
adimitia para os servios no templo da Babilnia (Lambert, W. G. "The Babylonians and Chaldaeans. In
Peoples of Old Testament Times, edited by D. J. Wiseman, 179-96. Oxford: Clarendon, 1973), mas poderiam
haver facilidades isoladas do servio sagrado, possvelmente no ptio ou em bosques sagrados mais prximos.
Toorn (K. VAN DER TOORN, Sin and Sanction in Israel and Mesopotamia. A Comparative. Study (Studia
Semitica Neerlandica, 22), p 25, Van Gorcum, Assen-Maastricht. 1985) indica que qualquer homem poderia
ser um cliente do assinu.
115
Greenberg, op.cit., p. 97.
116
Kaler, Anne K. The Picara: From Hera to Fantasy Heroine, p. 122; Ohio: Bowling Green State University
Popular Press, 1991 transcreve o trecho de Greenberg, pois o autor tambm uma das referncias de sua obra,
explicita a penetrao anal nas hierdulas, o que Greenberg no faz porque aparentemente ele acredita que
esteja claro. MICHAEL C. ASTOUR Tamar the Hierodule: An Essay in the Method of Vestigial Motifs
Journal of Biblical Literature, v. 85, n 2. (Jun., 1966), p. 185-196; Lerner, Gerda, Opus Cit. Greenbeg
observa se por um acaso Isaas 8:3 e 57:3-9 se referem prostitiuo ritual, como parece, as prostitutas
israelitas no se restringiam ao mtodo da penetrao anal, e elas poderiam ter filhos. Tal mtodo
mesopotmico pode vir de longa data. De acordo com Maimnides, o perdido Livro das Relaes Nabatias
de Agricultura de Ibn-Washya sugere rituais de enxerto de rvores frutferas no Egito, Prsia e na
Mesopotmia que envolve um homem que tem uma penetrao no natural e vergonhosa com uma donzela;
serve para proteger os judeus de prticas similares a essa, ele dizia, que eles estavam proibidos de comer
frutos de rvores enxertadas. Eliade, Mircea. The Forge and the Crucible p 35; London: Rider & Company,
1962.
117
Chicago Assyrian Dictionary, op. cit., p. 325, 1958.
118
Leemans, W.F. Ishtar of Lagaba and her Dress. p. 22 Leiden. 1952
33
instncias, como anal. Greenberg relata que no h nenhuma referncia reconhecida nas
fontes mesopotmicas que faam aluso ao estimulo sexual oral,119 e para o autor, parece
quase certo que os prostitutos cultuais masculinos se submetiam penetrao anal.
Segundo Brooks, reconhecido que os sacerdotes-eunucos existiram na
Babilnia,120 e que inscries demonstram que os eunucos sagrados foram reconhecidos em
um perodo primitivo como funcionrios distintos. Na Babilnia, as palavras mais comuns
para design-los foram assinu (UR-SAL), kulu121 kurgarru, e GIR-SIG-GA. Brooks
salienta que eles foram mencionados no apenas na literatura religiosa, mas tambm como
testemunhas122 nos documentos de negcios. O assinu da Descida de Ishtar (Rev 1 12) tem
sido interpretado como um eunuco representando Tammuz.123 Albright, conforme Brooks,
discorre sobre o papel desempenhado pelos eunucos nos festivais de Ano Novo e
relaciona o sacerdote-eunuco com a diminuio da lua. 124 Segundo sua leitura, o GIR-SIGGA que mencionado no Cdigo de Hammurabi, (pargrafos 187, 192, 193), trata-se dos
sacerdotes-eunucos e que as zinniti zikri (dos pargrafos 178, 179, 180, 187, 192, 193)
foram as sacerdotisas-eunucos (mulheres que se relacionavam sexualmente sem fins
reprodutivos). Isso foi sugerido por Brooks pouco antes da poca do artigo.125 Esses
119
Robert Biggs, Medicine in Ancient Mesopotamia, History of Science., 1969, 8, p. 94-105; Kinsey,
Alfred C.; Pomeroy, Wardell B.; Martin, Clyde E. Sexual Behavior In the Human Male; Philadelphia: W.B.
Saunders: 1948; afirmam que a penetrao era oro-genital, mas no apresentam evidncias para sustentar as
suas teses. O colaborador de Kinsey, Wardell Pomeroy, informou a Greenberg que Kinsey era bastante
desatento a questes histricas e antropolgicas. C. A. Tripp. The Homosexual Matrix. p. 5, New York:
McGraw-Hill Book Co., 1975 repete a afirmao de Kinsey, ao sugerir que a prtica contempornea do
metitsah bapeh deriva de um antigo ritual. Na sua prtica, o mohel, ou circuncisador, suga o sangue da ferida
de um jovem recentemente circuncidado para prevenir a infeco. A prtica conhecida de fontes talmdicas
e ainda utilizada em algumas comunidades contemporneas atuais, embora muitas tenham a abandonado por
consider-la anti-higinica. improvvel que tal prtica tenha qualquer relao com a prostituio cultual,
principalmente ao considerar que os Babilnios e Assrios, que tinham prostitutos cultuais, no
circuncidavam.
120
Ao menos to primitivo segundo o estudo de Layard escrito em 1849; cf. Nineveh and its Remains, 11,
325, entre diversas passagens.
121
Veja Albright, Journal of American Oriental Society, XXXIX, 1916, 83.
122
C. H. W. Johns, Assyrian Deeds and Documents (Cambridge 1898-1923), 111, 268; 11, 129 e assim por
diante.
123
Orientalistische Literaturzeitung (Berlin 1898 ff.), XV, 438; Journal of American Oriental Society,
XXXIX, 1916, 86. Na cpia de Assur do texto da Descida de Ishtar, a palavra ku-lu-' substituida por assinu.
Frank, Zeitschrft fr Assyriologie, XXIX, 197 identificou kalu e kurgarru.
124
Albright, Journal of the Society of the Bblical Literature and Exegesis (1890-1951), XXXVII, 111 ff.;
Jensen, em Koheler and Baumgartner, 2. ed., ingls e alemo, Lexicon in Veteris Testamenti Libros 1958, VI
(2); Frank: Studien zur Babylonischen Religion, 21, 80; Zimmern Das Babylonische Neujahrsfest, Der
Alte Orient, VII (3), 9, XXV (3) 1926.
125
Brooks; Dissertation, op. cit., 70-78; Barton, Sodomy, Hastings' Encyclopedia of Religion and
Ethics; Ungnad, Zeitschrft fr Assyriologie, v. XXXI, 51; Meissner, Bab. und Ass., 11, 436 ff. equacionam
34
devotos, dedicados ao servio de Tammuz e Ishtar, foram reconhecidos e providos pela lei.
Descries rituais indicam que na Babilnia esses sacerdotes-eunucos trabalhavam em um
frenesi exttico,126 que eles carregavam uma adaga como o smbolo da sua mutilao,127
que poderiam vestir um traje feminino, assim como os eunucos de outras deidades,128 e que
poderiam tocar instrumentos musicais e cantar como parte do ritual.129
3.1
Assria Mdia
assinu e girsequ. (Sal-U) pode tambm designar uma hierdula sem fins reprodutivos, Koschaker,
Fratriarchat Hausgemeinschaft und Mutterrecht in Keilschriftrechten, Zeitschrft fr Assyriologie, 1933,
3, n 2; Barton, Royal Inscriptions of Sumer and Akkad, 203, IV, 9 (SAL-IA-E).
126
Farnell sugeriu que a automutilao necessria para manter o estatus de um sacerdote-eunuco pode ter
surgido da nsia exttica ao se assimilar deusa e a carregar em si mesmo o seu poder: op. cit., III, 300.
127
Veja Frank em Zeitschrft fr Assyriologie, XXIX, 197 ff., ao se referir [collection of cuneiform] tablets
in the British Museum, 67, 1, 10-16, que d a insgnia cultual de vrias pessoas e do kurgarru como Dolch
e Keule; Revue d'Assyriologie et d'Archologie Orientale (Paris 1886 ff.), XII (1) 35 1. 17, Os eunucos da
sua cidade nunca mais carregaro adagas (lamento).LANGDON. Tammuz and Ishtar,pp 78, 79, Oxford,
1914; REISSNER G. Sumerisch babylonische Hymnen nach Thontafeln griechischer Zeit, n 56, obv. 56
(Berlin, 1896); HUSSEY. The American Journal of Semitic Languages and Literatures, XXIII, 146, 1907.
128
Albright, Journal of the Society of the Bblical Literature and Exegesis (1890-1951), XXXVII, 116 sugere
que a verdadeira razo deles usarem roupas femininas era porque eles trabalhavam como mulheres, e no pela
razo dada por Lucian, 27. Attis aps a sua castrao usou uma roupa feminina; Lucian, Dea Syr, 15.
129
Meissner, op. cit., 11, 67. ENGEL, Carl. The Music of the Most Ancient Nations, Wm. Reeves, 1929.,
107, escreveu as representaes da performance musical na qual muitos dos msicos foram eunucos. (...)
Suas vozes de soprano podem ser distintas em um brilhantismo peculiar para as suas performances. Para
Zimmern, Neujahrsfest, 138, o assinu toca flauta. Frank: Studien, 20 and 80; Jensen, em Koheler and
Baumgartner, 2 ed., ingls e alemo, Lexicon in Veteris Testamenti Libros 1958, VI (2) 42 1. 10; Zeitschrft
fr Assyriologie, XXIV, 109, n 1.
130
Sobre a Assria e a Babilnia, Olyan sugere a pesquisa de J. Botter & H. Petschow, Homosexualitat, in
Reallexikon der Assyriologie (Berlin, 1975), 4:460-61, que discutem representaes visuais semelhates s dos
textos. No Egito, veja o breve tratamento de W. Westendorf, Homosexualitat,em Lexikon der Agyptologie
(Wiesbaden, 1977), 2:1272-74, com referncias bibliogrficas; H. Goedicke, Unrecognized Sportings,
Journal of the American Research Center in Egypt 6 (1967): 97-102, que reconstri uma variedade de
atitudes (positivas e negativas) com respeito ao homoeroticismo no Egito; e L. Manniche, Some Aspects of
Ancient Egyptian Sexual Life, Acta Orientalia 38 (1977): 11-23, esp. 14-15, e Sexual Life in Ancient
Egypt (London, 1987).
35
Segundo
Greenberg, nenhum dos mais antigos cdigos legais da Mesopotmia, como as Leis de
Urukagina,131 as Leis de Ur-Nammu,132 as Leis de Eshnunna,133 e as Leis de Hammurabi134
probem atos homossexuais. No h evidncia legal do Egito. Nem as Leis Hititas, nem as
Leis da Assria Mdia probem a penetrao homem em homem sem qualificao. A nica
possvel referncia homossexualidade uma providncia no Cdigo de Hammurabi
relacionada a filhos adotados por eunucos do palcio,135 e no h certeza que estes ltimos
estavam engajados nas prticas homossexuais.
Greenberg observa que As Leis da Assria Mdia, as quais possuem a sua
origem na metade do segundo milnio a.C., contm duas providncias relacionadas
homossexualidade: no pargrafo 18 e no pargrafo 20, que sero apresentadas a seguir.
A providncia do pargrafo 18, tambm conhecida como Lei da Assria Media A
19, considera sobre acusaes caluniosas sem prova: Se um proprietrio comear um
rumor contra seu vizinho em particular ao dizer: pessoas tm deitado com ele
repetidamente ou dizer a esse vizinho em uma briga na presena das (outras) pessoas,
pessoas tm deitado com voc repetidamente; eu te processarei, desde que ele no seja
capaz de process-(lo)(e) no process-(lo), eles chicotearo este proprietrio cinqenta
(vezes) com madeiras (e) ele dever trabalhar para o rei durante um ms inteiro; e eles o
castraro e ele tambm pagar um talento com antecedncia.136
Greenberg enfatiza que o pargrafo anterior demonstra uma penalidade similar (de
quarenta chibatadas ao invs de cinqenta) para um homem que faz uma acusao sem
provas na qual a mulher do vizinho se comporta igual a uma prostituta vulgar por ter vrios
amantes. Em ambos os casos, trata-se de uma ofensa passvel de punio da divulgao de
131
36
137
37
Greenberg considera que tanto Zimri-lin, rei de Mari, quanto Hamurabbi, rei da
Babilnia, possuam amantes homens. A rainha esposa de Zimri-lin se refere tanto aos reis
quanto aos seus amantes em uma carta.142
Na perspectiva de Olyan, a Lei da Assria Media A 19 declara acusaes falsas
de uma atrao masculina repetida, uma penetrao aparentemente voluntria e receptiva143
e no caracterizado nada sobre a penetrao repetida de outros homens. Uma segunda
lei, Middle Assyrian Laws A 20, parece proscrever o estupro que envolve dois homens de
mesmo status (ou alguma espcie de relacionamento de proximidade fsica, apesar disto
parecer ser menos provvel).144 O status igual ao do parceiro sugerido pela palavra
tappa'u, que tambm traduzida como companheiro, colega, ou vizinho.145 Apenas o
parceiro penetrador punido em Middle Assyrian Laws A 20 (com estupro e castrao);
o parceiro receptivo (o tappa'u) aparentemente visto como uma vtima de agresso, para
que nenhuma penalidade seja prescrita para ele.146 O verbo naku/niaku,147 ter penetrao
142
Moran, W. L.. New Evidence From Mari on the History of Prophecy. Biblica 50:15-56. 1969
Olyan aponta que o Gtn (iterativo) de naku/niaku usado: Eles tm penetrao (ilcita) com ele
repetidamente (ittinikus). O verbo naku/niaku, ter penetrao (ilcita) ,ocorre em todas as formulaes de
Middle Assyrian Laws A 19-20. usado em outras espcies de atos sexuais ilcitos (e.g., adultrio, em
Middle Assyrian Laws A 17 68; 18 74). Substantivos derivados e adjetivos incluem niku, adultrio,
fornicao e niku/niktu, violentado, estuprado (veja Middle Assyrian Laws A 23). Alguns destes atos
obviamente implicam em coero, embora isto no esteja claro, pois o verbo necessariamente sugere o uso da
fora quando usado isolado; certamente em Middle Assyrian Laws A 19 isto no ocorre (do mesmo modo em
Middle Assyrian Laws A 17 68 e 18 74). Sobre o verbo naku/niaku, veja tambm naku [niaku], em
Chicago Assyrian Dictionary, Volume 11, n 1, N, Oriental Institute, 1980:197-98. Sobre o sentido de Middle
Assyrian Laws A 19, veja tambm Botter e Petschow, p. 462.
144
Olyan atesta, por exemplo, vizinhos prximos, como em Middle Assyrian Laws B 8 ou 19. Veja a
discusso dos possveis significados de tappa'u.
145
Olyan sugere ver as discusses de G. R. Driver e J. C. Miles, The Assyrian Laws (Oxford, 1935), p. 66-68;
e tambm, G. Cardascia, Les lois assyriennes (Paris, 1969), p. 68; e Botter & Petschow, p. 461-62, sobre
o tappa'u. Veja tambm W. von Soden, Akkadisches Handwirterbuch, 3 vols. (Wiesbaden, 1965-81),
3:1321-22. Driver e Miles argumentam que o tappa'u era a pessoa pertencente ou tomada de uma famlia ou
cl ou aldeia-comunidade com o objetivo de trabalhar em uma sociedade em comum ou na cultivao da terra
(p. 67). Aps isso, como as propriedades individuais aumentaram, os tappa'u vieram a designar os vizinhos.
Segundo Olyan, eles reconhecem que esta formulao o resultado de uma conjectura completa. Mas
conforme Olyan, h exemplos em que as prprias Middle Assyrian Laws nas quais est claro que os tappa'u
esto pelas redondezas (veja B 8 e 41 sobre o assunto); outros usos da palavra nas Middle Assyrian Laws
para Olyan, so ambguos. Parece provvel que o tappa'u foi utilizado mais geralmente para algum de
status igual. Olyan escreve que a palavra utilizada para parceiros de negcios, funcionrios colegas, e at
soldados colegas ou funcionrios em vrios contextos e perodos, alm dos vizinhos (como discutido por
Driver e Miles, p. 66). Nos contextos comerciais da Babilnia Antiga, Olyan afirma que um substantivo
relacionado abstrato denominado tappatu ocorre comumente, com o significado de companheiros de
negcios. Botter e Petschow, p. 461-62, corroboram o tappa'u como algum du meme rang social
ou, qui frequente la meme societ, como foi visto anteriormente.
146
Cardascia, p. 134-35.
147
Veja nota n 142 acima
143
38
Veja as discusses de Botter e Petschow, p. 462; e Greenberg (nota n 138 acima), p. 126 e nota n 130 ,
que segue Botter e Petschow.
149
Cardascia, p. 41; e J. Botter, Antiquites assyro-babyloniennes (Paris, 1967), pp. 87-88.
150
Olyan indica que Driver e Miles, p. 71, o anteciparam neste ponto, assim com fizeram Botter e Petschow
(nota n 130 acima), p. 462. Driver e Miles acreditam que isto era apenas uma ofensa por ter relaes sexuais
com o tappa'u de algum. Botter e Petschow tomaram uma posio mais cheia de nuances, segundo Olyan,
ao indicar que o forar ao tappa'u era a questo, no a penetrao no tappa'u per se.
151
Olyan sugere que para tal argumento, ver Botter e Petschow, p. 462. Para Olyan, eles esto
provavelmente corretos.
39
proximidade fsica e no no status igual, desde que fosse possvel que o tappa'u o
sugerisse, embora isso para Olyan parea menos provvel. Se este for o caso, segundo
Olyan, poderia ter sido lcito penetrar homens que no fizessem parte de alguma aldeia ou
cl (ou aqueles que de fato foram) com o seu consentimento. Se o tappa'u fosse um
membro de uma aldeia ou cl, mas no de um status igual, ento a construo de atos
sexuais lcitos contrastaria com o contexto de Atenas e Roma, j que o membro da
comunidade desempenharia um papel central na criao de limites. Para Olyan tudo aquilo
que significa tappa'u em Middle Assyrian Laws A 20 difere de Levtico 18:22 e 20:13,
que proscrevem relaes homem em homem sem qualificao, tanto no penltimo quanto
no estgio final do desenvolvimento destas leis.
Para Olyan, a proscrio geral de uma penetrao homem em homem em Levtico
18:22 e 20:13 bate luz da evidncia das Leis da Assria Mdia, nas quais status, coero,
e atos repetidos de receptividade parecem desempenhar um papel na construo dos limites
entre o comportamento sancionado e o proibido entre homens.152
Finkelstein demonstra que apenas nas Leis da Assria h regras sobre a
homossexualidade, e elas foram limitadas a situaes em que algum era difamado por uma
acusao pblica de ser o parceiro receptivo em tais atos a punio para tal difamao era
o aoitamento, o trabalho penal e o raspar a cabea e para crimes mais srios de um
homem ser estuprado por outro homem. Finkelstein explica que a punio para o crime
mais srio o acusado sofrer estupro homossexual e ser castrado.153 Finkelstein explica
que, em outras palavras, os atos homossexuais per se no foram punveis, apesar de estar
bem claro que as pessoas que assumiam o papel de parceiro feminino em tais atos eram
tratadas com desprezo. Finkelstein observa que o assunto no amplamente discutido nas
leis de Hammurabi.
Finkelstein explana que na perspectiva mesopotmica, o anormal, seja no domnio
dos atributos fsicos, de comportamento ou das ocorrncias, pode ser aberrante e
ameaador, mas no antinatural. Na perspectiva bblica, para Finkelstein, no poderia
haver nenhuma natureza autnoma.
152
Olyan continua, como mencionado anteriormente, possvel que a membresia da comunidade no tenha o
status como a chave da compreenso desta restrio.
153
Veja Driver e Miles, The Assyrian Laws, p. 391, pargrafo 19-20
40
Greenberg conclui que nenhum desses atos traz uma condenao moral, mas
alguns desses atos so favorveis; outros no. A homossexualidade, por si prpria, no traz
implicaes, nem neste contexto e nem em outro lugar em que o conceito de homossexual
aparea neste perodo. O que importa so os papis e as condies sociais desempenhados
pelas partes. Ao penetrar analmente algum de um status social mais elevado (um igual, um
154
41
prostituto cultual e um corteso) favorvel; estar envolvido com algum dos escravos
desfavorvel. Os babilnios tinham percebido que a conexo sexual pode degradar a
autoridade de um mestre sobre os seus escravos. Preferir o papel receptivo ou passivo como
o nico papel parece ter sido considerado de maneira negativa, com exceo do contexto
cultual. Uma maldio apodtica alerta que cada um far dele um objeto de coitos
repetidos.158
3.2
Hititas
158
42
163
Olyan sugere tambm a discusso da obra de Hoffner ibid., p. 83, 84. Segundo Olyan, Hoffner acredtia que
estas leis datam pelo menos ao meio do dcimo-setimo sculo a.C.
164
Segundo Greenberg, alguns acadmicos afirmam que a lei hitita d condio de realizarem casamentos
homossexuais masculinos (Friedrich, Johannes HETHITISCHE GESETZE AUS DEM STAATSARCHIV VON
BOGHAZKI (UM 1300 V. CHR.). Leipzig, J.C. Hinrichs'sche Buchhandlung, 1922; Albrecht Goetze,
Hittite Dress. apud: Corolla Linguistica: Festschrift Ferdinand Sommer Wiesbaden, 1955, referida por
Greenberg, porm no encontrada na sua obra; Riemenschneider, Margarete. Le monde des Hittites. Paris:
Correa-Buchet- Chastel. 1955), mas a maioria dos hititlogos atualmente rejeita esta afirmao (Friedrich, op.
cit. 1971 ), porm sobrevive amplamente nas publicaes de no especialistas (Boswell, op. cit., p. 21)
165
1967, p. 191
166
Cdigo Pargrafo 195 e Huqq. III 59f.
167
Levtico 18:22; 20:13.
168
E. Neufeld, The Hittite Laws, London, 1951 p. 189
169
encontrado na obra de Goetze, Hittite Dress, em Corolla Linguistice, p. 48-62, o qual, segundo
Hoffner, no discute sobre o TG Kurear, desde que este no ocorra nas listas de vesturio que formam o
esboo da estrutura do estudo. Hoffner enfatiza que J. Friedrich, Hethititsches Wrterbuch (Heidelberg
1952-1954); 1-3 Ergnzungsheft (Heidelberg 1957-1966), p. 117, traz uma bibliografia representativa dos
estudos da palavra, e que isto pode ser observado que na base de duas linhas independentes de evidncia,
43
Kulear,171 que Guterbock, segundo Hoffner, est apto para definir como conduta
feminina.172 O mesmo termo o qual Hoffner declara poder interpretar como feminilidade
ocorre como Kurear para designar o adorno de cabea to caracterstico da feminilidade.
Hoffner observa que a (aparentemente no-condicionada) alternao fontica de 1 e 7 em
cuneforme hitita tem sido reconhecida por algum tempo.173 Hoffner conclui que
aparentemente o tronco de Kurear / Kulear (feminilidade) no possui nenhuma
relao direta com o termo Hitita para mulher, o qual se considera antes do smbolo
SAL/MUNUS quando ele no precedido por NG, pois, para Hoffner, em casos
semelhantes, estes complementos fonticos indicam um nome do tronco n.174 O adorno
de cabea do homem KuPaHi. 175
Hoffner continua a discorrer sobre Deuteronmio 22:5 que um versculo que
probe um homem a se vestir como uma mulher, pois nos rituais hititas o
TG.NG.MUNUS (adorno feminino) inclui no apenas as caractersticas do vesturio
feminino (como o TG Kurear feminino e a cobertura corporal completa), mas tambm a
sua roca e o seu espelho.176 Na Estela de Marash inscrita em hierglifo Luwian , Hoffner
apenas uma pode estabelecer a equao TG.NG.MUNUS = TG Kurear
Bd. 1-22 em Wissenschaftliche Verffentlichungen der deutschen Orientgesellschaft, Leipzig/Berlin 1916
ff.
171
Keilschrifttexte aus Boghazki (Bd. 1-22 em Wissenschaftliche Verffentlichungen der deutschen
Orientgesellschaft, Leipzig/Berlin 1916 ff.) I 11 2 17.
172
Zeitschrft fr Assyriologie Neue Folge, 10, p. 128.
173
cf. Kronasser, Etymologie der hethitischen Sprache, I: Wiesbaden 1962-1966; II [zsgst. von E. Neu]:
Wiesbaden 1987, p. 66, ao qual se adiciona o cuneiforme Luwian adduwalahit e o hieroglfico Luwian
atuwara .
174
Cf. J. Friedrich, Hethititsches Wrterbuch (Heidelberg 1952-1954); 1-3 Ergnzungsheft (Heidelberg
1957-1966), p. 290-91.
175
Goetze, Hittite Dress, p. 59, para Hoffner possvelmente da fonte do hebraico Kob` . Hoffner discorre
para observar o comentrio do escritor no Journal of Near Eastern Studies, 23, p. 67, n 17, no qual o P
um erro de impresso para K. T. H. Gaster, segundo Hoffner, foi o primeiro que props a equao KuPaHi
nos anos 30
176
Keilschrifttexte aus Boghazki (Bd. 1-22 em Wissenschaftliche Verffentlichungen der deutschen
Orientgesellschaft, Leipzig/Berlin 1916 ff.) 4 34 obv 2 42
170
44
percebe que possvel observar duas mulheres que seguram um espelho e uma roca.177 Na
inscrio Karatepe,178 Hoffner percebe que Asitawanda d a impresso de que nos tempos
de segurana domstica a mulher bem vestida poderia ainda ter uma roca na sua mo
quando fosse sair passeio. Mas nos meus dias sempre uma mulher poder passear com
apenas uma roca na mo, por causa da graa de Baal e (outros) deuses.
4
Asherah, tambm conhecida como Astarte e Ashtoret, segundo Bright,179 era uma
das divindades femininas do panteo cananeu, que apesar de ser muito instvel em
personalidade e funo, representava a mulher principal no culto da fertilidade. Bright
compreende que ela era retratada como uma cortes sagrada, uma mulher grvida ou at
mesmo como uma deusa da guerra, sedenta de sangue.
Fohrer180 destaca que Asherah a consorte de El, que participa de sua dignidade e
adorada como a criadora dos deuses e pode interceder efetivamente diante de El a
favor das outras deidades. Fohrer faz referncia a Eissfeldt181, que mostra a deusa mais
parecida com uma matrona que passou da poca da concepo e do parto e, mesmo com a
polaridade freqentemente encontrada na natureza dos deuses cananeus, isto no impedia
que ela fosse pintada ao dar luz e ao amamentar.
Bright182 afirma que a participao da Asherah como mulher principal no culto da
fertilidade correspondia s foras da natureza que foram reativadas e que seria assegurada a
desejada fertilidade do solo, dos animais e dos homens.
O culto cananeu relacionado com a Asherah, segundo Bright, era caracterizado
pela prostituio dos deuses, pelas prticas homossexuais e por vrios ritos orgacos.
Fohrer183 corrobora que a deusa Astarte corresponde deusa babilnica Ishtar e
mencionada freqentemente nos textos culturais e litrgicos de Ugarit. Ela claramente
177
PRITCHARD. J. B. The Ancient Near East in pictures relating to the Old Testament. Princeton: Princeton
University Press, 1959 , n 631
178
Donner and Rollig, Kanaanaische und Arainaische Inschrften, sel. 26, texto A, 2: 6-7 (pp. 5, 37, 41)
179
Bright, op. cit., p. 151-152
180
FOHRER, G. A Histria da Religio de Israel, p. 49. So Paulo, Ed Paulinas, 1982
181
EISSFELDT, O. Kanaanisch-ugaritische Religion. Handbuch der Orientalistik, vol. 8, pt. 1, pp. 76-91
(Leiden, 1964)
182
Bright, op. cit., p 151-152
183
Fohrer, op. cit, p 52
45
uma deusa da fertilidade com um culto sexual, cujos aspectos blico e astral de Ishtar so
atestados em segundo plano.
Fohrer184 declara que nas escavaes da cidade de Ugarit existem numerosas
representaes pictricas de deidades femininas com pronunciados atributos sexuais e que,
pelo menos uma parte delas, provavelmente representa Astarte, o que para o autor
evidencia, a partir de tais descobertas, que era admitida a difuso de muitos cultos das
deusas-mes.
Ackerman185 diz que evidncias inscricionais tambm demonstram a associao da
Asherah com serpentes, tais como os textos proto-Sinaticos nos quais ela chamada de
Senhora da Serpente.
Ackerman argumenta que Eva em Gnesis 2:4b-3:24 a figura desmitologizada de
Asherah,186 em que Eva, como Asherah, representa fertilidade (a me de todos os seres
viventes; Gnesis 3:20). Significativamente, para a tese de Ackerman, esta Asherah
semelhante a Eva est associada com a serpente.
Cooper187 afirma que o culto de Ishtar, cujas origens so encontradas no culto
sumrio deusa Inanna, possui paralelos prximos ao culto canaanita deusa Asherah e ao
culto egpcio a sis. Ele afirma que existem similaridades entre a profecia assria e a
profecia bblica, o que explica devidamente para Cooper os conceitos e as similaridades
doutrinais das religies subjacentes, sem ter que recorrer hiptese implausvel de
emprstimos diretos ou de influncias interculturais.
Meyers188 afirma que independente do que a dinmica social da situao na vida
urbana na Idade do Bronze Tardia possa ter sido, determinados fatos sobre os papis
femininos surgem, talvez fracamente, mas de forma alguma inexistentes. Meyers confirma
que as foras e apelos persistentes de Anat e Asherah189 na prpria Bblia Hebraica so
evidncias da participao das mulheres na vida religiosa e tambm na vida pblica, pois
mulheres serviam divindades femininas e, em troca, divindades femininas serviam
mulheres, ao afirmar seu valor criativo final.
184
46
Wood
190
todo esse perodo e, com respeito ao aumento da sua popularidade, ela parece estar mais
evidente em funo das caractersticas distintivas do seu culto, pertencentes a este perodo e
aos perodos consecutivos. Segundo Wood, a aparncia das imagens e placas desta deusa
em todos os nveis que pertencem a este perodo, se no ao mais antigo, bastante
significante. Mesmo antes do dcimo quarto sculo a.C, esta deusa, sob o nome de Ashirat,
revelou-se no Taanach.191 A julgar pelos traos maternais que caracterizam a imagem da
deusa-me encontrada em todos os nveis por toda a Palestina, pode-se admitir que a sua
natureza permaneceu inalterada desde tempos primitivos. Wood explica que ela era a
doadora da descendncia, e alm do mais, respondia s que oravam que se tornariam
mes como Wood demonstra.192 Ela requeria, pelo rito de circunciso, a consagrao dos
poderes reprodutivos do homem, e ela ordenava o sacrifcio do primeiro homem nascido e
dos animais. A funo que os semitas primitivos atribuam deusa-me era de dar a
fertilidade s plantas e s rvores e se tornou, por meio das causas econmicas, usurpada
pelos baals; enquanto a mesma funo em um homem e animal permanecia na esfera da
autoridade, aqui a conexo prxima que j tem sido mencionada entre a Ashtart e os
baals.
Terrien193 supe que a adorao de Asherah na corte de Jud194, para a maioria
dos reis e rainhas davdicos e, juntamente com a sua forma notvel, um nmero de
elementos clticos superficialmente heterogneos poderia estar relacionada ao Antigo
Oriente Prximo, bem como tais elementos estariam relacionados ao mito de Omphalos:
foras ctonianas, a cobra sagrada, o rito solar, a prostituio masculina, e a bissexualidade.
Ainda Terrien195 explana que as representaes de serpentes aparecem juntas com as da
190
47
197
masculina. Por outro lado, como afirma Wood, a linguagem de Osias e Jeremias, a
meno de para Ashtart na Asherah como um dos postes limitantes de um santurio
semtico tardio,198 a forma feminina de Asherah nela mesma, assim como sua similaridade
na ortografia em um som para Ashtart, a deusa-me, determinam uma concepo feminina.
Mesmo sem a inscrio comparada, de fato Ackerman caracteriza a Asherah
como bastante conhecida por associaes com lees199 (em Ugarit as crianas de Asherah
so chamadas por ela de orgulho dos lees) [Corpus des tablettes en cuniformes
alphabtiques dcouvertes a Ras Shamra-Ugarit de 1929 1939. Editado por A. Herdner.
Mission de Ras Shamra 10. Paris, 1963: 3.5.45; 4.1.9; 4.2.25-261; Ackerman sugere que E
M. Cross tem argumentado que a prpria Asherah chamada de labi'tu, senhora leo;200
a deusa nua no fundo registrado do dcimo sculo a.C, o culto a Ta'anach mostra que
quem aperta os lees com a mo direita e a sua mo suavemente pega a Asherah].201
196
J. Pedersen, Israel, Its Life and Culture, III-IV, London-Copenhagen 1940), pp. 711 f.,
nota na p. 452 da obra; J. Gray, I and II Kings, London, 1964 pp. 608, 9
197
Jeremias 2:27
198
Cooke, p. 48; Kommentar zum Alten Testament, Leipzig, 1928, p. 437n
199
Em adio discusso aqui, Ackerman sugere W.G. Dever, Recent Archaeological Confirmation of the
Cult of Asherah in Ancient Israel, Hebrew Studies 23 (1982), 39-40 e figs. 3-4; idem, Asherah, Consort of
Yahweh? New Evidence from Kuntillet `Ajrud, Bulletin of the American Schools of Oriental Research 255
(1984): 28.
200
J. T. Milik e F, M. Cross, Inscribed Arrowheads from the Period of the Judges, Bulletin of the
American Schools of Oriental Research 134 (1954) 8-9; F. M.Cross, Canaanite Myth and Hebrew Epic:
Essays in the History of the Religion of lsrael (Cambridge, Middle Assyrian: Haward University Press,
1973) 33. Mas cf. idem, The Origin and Early Evolution of the Alphabet: Eretz-Israel 8 (1967) 13* e
n 33; idem, Newly Found Inscriptions in Old Canaanite and Early Phoenician Scripts: Bulletin of the
American Schools of Oriental Research 238 (1980) 7, no qual Cross sugere que labi'tu possa ser
compreendida como um ttulo de Anat ou talvez se refira a uma fuso de Anat e Asherah. Veja tambm em
Dever, 'Asherah; 28.
201
Ackerman justifica que o local possui quatro registros; neste fundo resgistrado pintado o leo que segura
a deusa. Os lees so representados novamente no terceiro registro do fundo, mas neste registro eles
flanqueiam a rvore sagrada. Esses dois cones de lees flanqueados so melhor compreendidos como
representaes variantes do mesmo poder divino. Que o poder divino em questo a Asherah que indicada
pela sua associao com rvores sagradas.
48
4.1
Wood202 diz que a rvore, que era um dos objetos sagrados mais primitivos no
santurio, parece ter uma importante conexo com o lugar alto canaanita. H dificuldade
para determinar se a frase tambm repetida toda a rvore verde era associada com um
santurio, era para ser literalmente interpretada como aplicao a toda a rvore, ou
meramente a rvores sagradas. Consideraes importantes, segundo Wood podem ser
observadas para pontuar a alternativa posterior, desde que altar,203 Asherah, massebah,204 e
possivelmente bamah205 so declaradas estando debaixo de uma rvore verde, enquanto
estes mesmos objetos sagrados so indispensveis para todo o lugar alto. Wood afirma
concordantemente que isto pode ser bem suposto pela clusula sobre todo o vale alto e
sobre toda rvore verde
206
requisito para todo o lugar alto, se estava localizada em um vale, em uma cidade, ou em um
monte. O significado da rvore sagrada com os ritos associados no pode, durante esse
perodo, ser distinguido por concepes primitivas da adorao da rvore.
Wood207 tem observado que de acordo com a evidncia da Bblia Hebraica, apenas
uma massebah se encontrava no santurio tpico canaanita. O autor208 escreve que de
acordo com Osias, Miquias, e repetidas observaes dos escritores deuteronmicos e
sacerdotais, o pilar forma, ao longo do altar a Asherah, e s vezes uma rvore e um dolo,
uma apresentao indispensvel do tpico santurio canaanita.209
Wood no sabe responder se a massebah era o smbolo exclusivo da masculinidade,
ou Baal, a deidade principal, e deixa a questo em aberto. Para Wood h algumas
consideraes que so observadas a favor da perspectiva de que algumas pedras ao menos
202
1916, p. 180.
Jeremias 17:2 (texto duvidoso); Ezequiel 6:3.
204
2 Reis 17:10
205
Deuteronmio 12:2 com 2 Reis 16:4; 2 Crnicas 28:4.
206
Deuteronmio 12:2; Jeremias 3:6,13; Jeremias 17:2; Ezequiel 20:28.
207
1916, pp 182 Cp. nem vos levantareis uma massebah, Levtico 26:l; Deuteronmio 16:22. Masseboth
em 2 Reis 10:26 pode ler Asherah, desde que quando construdo no possa ser queimada, feita de pedra.
208
1916,pp 182-4
209
Deuteronmio 7:5; 12:3 (pilar, altar, Asherah, e imagem); xodo 34:13; 2 Crnicas 14:2 (3) (pilar, altar,
Asherah); Deuteronmio 16:21, 32 (pilar, altar, Asherah, rvore); 1 Reis 14:23; 2 Reis 17:10 (pilar,
Asherah, rvore); 2 Reis 10:26-27 (pilar, Asherah. Texto emendado). Miquias 5:12, 13 (13, 14) (pilar,
Asherah, imagem); Osias 3:4 (pilar, altar (sacrifcio), imagem); Osias 10:1 (pilar, altar); xodo 23:24;
Levtico 26:l (pilar).
203
49
serviam de fetiches de deusas. Para Wood, a palavra massebah aparece no gnero feminino
tanto no singular quanto no plural. A concepo feminina favorecida pela declarao de
Jeremias que os idlatras Que dizem ao pau: Tu s meu pai; e pedra: Tu me
geraste.210 Alm disso, uma pedra cnica amplia a base ao enfileirar-se em um ponto at o
topo e quando Tcito se refere Paphian Vnus como objeto sagrado,211 que um cone
que responde s descries encontrados no Idalium. Segundo Wood, este pilar cnico
observado por Tcito pode ser comparado com certos pilares quando o rei do Egito invadiu
a Sria.
Por outro lado, segundo Wood, o peso da evidncia favorece a viso de que o pilar
est incorporado a uma concepo masculina, que conhecida como massebah de Baal
que existiu na Samaria,212 cidade onde adorao posterior a Baal era fortemente
estabelecida.213 Shechem214 e Ophrah215 foram centros do culto de baal nas quais pedrasfetiches eram amplamente veneradas. Alm disso, como Wood menciona, o significado
masculino observado na palavra assria Bait-ili (casa de deus, em acdico), como o nome
de um deus fencio, que evidentemente tomou o seu nome de betel como o fetiche por
excelncia. Wood indica que, em grego, baitulos significa pedra sagrada que possvel
encontrar nos pilares da entrada do Templo, levando os nomes masculinos de Jachin e
Boaz,216 alm de aproximadamente dois mil tabletes de devoo dedicados a Baal Hammon
de Cartago.217 Pode-se encontrar, na Bblia Hebraica, referncias a Yahweh como A
Rocha
218
210
Jeremias. 2:27.
TACITUS,The Histories - Translated With Introduction And Notes Vol II. Chapter 3 traduzido para o
ingls por FYFE, W. HAMILTON,Clarendon Press (Oxford, 1912)
212
2 Reis 3:2
213
10 :18, &c
214
Juzes 9:5, &c
215
6:21,26
216
1 Reis 7:21
217
Cooke, p. 104
218
cr, rocha,veio a ser deificada provavelmente porque uma rocha era dedicada como a aboda
convencional de uma divindade. Em muitas passagens da Bblia Hebraica, cr a designao para Yahweh
[Deuteronmio 32:4, 15, 18, 31, 37; 1 Samuel 2:2; 2 Samuel 22:32, 47; 23:3; Salmo 31:4 ( 3 ) ; 62:7,8 (6,
7) ,&c.; Isaas 17:10; 44:8; Habacuque 1:12.] , e em outras passagens, de um deus cruel (Deuteronmio 32:31;
1 Samuel 2:2; 2 Samuel. 22:32; Isaas 44:8.); no entanto em muitas outras passagens, o termo utilizado
como um smbolo de proteo e fora de YHWH para o seu povo. Alm da evidncia confirmar a existncia
211
desta divindade como o resultado da ocorrncia do termo cr nos nomes de lugares fencios curru ,[ Nas
cartas de Tell el Amarna ; =Da-ru egpcio, MULLER: Studies in Oriental Archaeology IV 1914, p. 183; = cr
50
As pedras figuradas,
220
que parecem ter algo em comum nos lugares altos, e que foram
(Tiro), 2 Samuel 5 : l l , &c.] e cRY,( cRY, LIDZBARSKI M., Handbuch der Nordsemitischen Epigraphik,
1898., p. 359) nos nomes de lugares da Bblia Hebraica. Beth- cr, casa de cr. (Josu 15:58) e cer (cer,
nome de local, em Josu 19:35); e na Bblia Hebraica,( cr, Nmeros 25:15, &c.; crl, Nmeros 3:35;
craDDy, Nmeros 1:6, &c; lcr, Nmeros 1:5.) no Pnico, (cR, cR-BN, LIDZBARSKI M., Handbuch
der Nordsemitischen Epigraphik, 1898., p. 359.) no Aramaico, (BR-cR, VON LUSCHAN, The Stele of
Zinjirli. Panammu Inscription 1, Ausgrabungen von Sendschirli. Berlin , 1893.) e nos nomes pessoais.
219
Gnesis 49 :24 (texto corrompido).
220
Levtico 26:l (Ph) ; Nmeros 33 :52 (Ps).
221
1916, pp 184-188
222
Deuteronmio. 16:21
223
xodo. 34:13; Deuteronmio. 7:5; 12:3; Juzes 6:26, 28.
224
Deuteronmio. 7:5; 16:21; Juzes 6:35; 2 Reis 17:10; 31:7; Miquias. 5:13 (14).
225
Juzes 6:36.
226
1 Reis.15:13=2 Cronicas 15:l6; 2 Reis. 23:4; Isaas 17:8; cp. 2 Reis 17:16; 21:3
51
Contudo, segundo Wood, a Asherah continuou ao mesmo tempo em sua forma rstica
primitiva ao lado deste desenvolvimento posterior. Algumas espcies de brincos ou de
artigos para vesturio com os quais seria feito o adorno foram manufaturados pelas
mulheres.227 Um poste de mrmore, encontrado em Ras el-ain pela fonte de Habur, com o
seu topo gravado aps a semelhana da deusa velada, segundo Wood, tem sido comparada
com a velha madeira Asherah.228 Wood acredita que possvel inferir, a partir da forte
linguagem de Jeremias, que Asherah usualmente trazia algumas marcas emblemticas da
vida sexual: (Israel) adulterou com a pedra e com a madeira 229, e de Osias:
O meu povo consulta o seu pedao de madeira... porque um esprito de
prostituio os enganou,... ,(fazendo com que eles terminassem)
prostituindo-se 230.
Para Wood, esta inferncia favorecida pelo desprezo que tanto os escritores de
Reis como os de Crnicas
231
apresentam a deusa Asherah, dolo a Asherah, como miphleseth la-'Asherah, termo que
o autor interpreta como uma coisa para tremer para Asherah, bem como ao chamar ao
escrnio a deidade simbolizada pelo nome de um fetiche obsceno.
Wood continua dizendo que a Asherah foi, sem sombra de dvida, considerada
como uma espcie de bethel, ou a permanncia convencional da deidade e, como tal, foi
anloga ao pilar. A respeito da relao que ela tinha com a rvore sagrada, pela qual ou
sobre a qual ela normalmente estava232, ou com respeito a massebah e o altar, perto do qual
ela estava, impossvel dizer algo, exceto que de algum modo tenha sido consultada pelos
orculos. Wood prope que os ritos incidentes para esta consulta poderiam apenas ser
227
2 Reis 23:7. ler patinim brincos ao invs de beitim casas segundo KITTEL, R., ed. Biblia
Hebraica. Stuttgart: Wrtemburgische Bibelanstalt, 1905-1906.
228
Benzinger, Hebriiische Archiologie, Tiibingen, 1907, p. 326, fig. 243
229
Jeremias 3:9 Bblia Almeida Corrigida Revisada e Fiel, Sociedade Bblica do Brasil, 1994. Na verso
escolhida por Wood para a elaborao da publicao, o versculo est traduzido da seguinte forma: Israel
cometeu adultrio com pedras e madeiras
230
Osias 4:12 Bblia Almeida Revista e Atualizada, Sociedade Bblica do Brasil, 1993. A traduo da verso
adotada por Wood encontrada da seguinte forma: Meu povo pediu conselhos s suas madeiras... pois o
esprito de prostituio tem os levado ao erro e eles terem se relacionado com prostitutas
231
1 Reis 15:13=2 Cronicas 15:16. Bblia Almeida Corrigida Revisada e Fiel, Sociedade Bblica do Brasil,
1994. No texto de Wood, 1 Reis 15:13 est traduzido como imagem esculpida de Asherah
232
Jeremias 17:3. Bblia Almeida Corrigida Revisada e Fiel, Sociedade Bblica do Brasil, 1994.
52
234
como se encontra no mito, foi enrolado com uma roupa de linho, embalsamado com mirra
como um cadver e presenteado pela sis aos biblianos. Wood observa que ele sugere que
o rito de cobrir e embalsamar um tronco sagrado pode fornecer a resposta para a
pergunta no solucionada da natureza das prticas rituais ligadas Asherah.235 Se alguma
oferenda lquida estava da mesma forma aplicada Asherah, pode seguramente ser inferida
da meno de vasos feitos para o seu culto.236
Wood considera que havia, na maioria das probabilidades, apenas uma nica
Asherah em cada um dos lugares altos (altares), caso esta nica probabilidade fosse seguida
ao se inferir a sua aplicao em Ophrah,237 Samaria238 e Jerusalm.239 Sempre que o plural
'asherim mencionado, a lngua geral e aplicvel a todos os lugares altos freqentados
pelo povo.240
Wood diz que Mizbeah, a palavra hebraica para altar, significa lugar de matana,
parece ter a sua etimologia primeiramente utilizada em tempos antigos na poca em que a
funo do altar era de meramente fornecer uma permanncia (ou residncia) para a deidade,
a qual acreditava-se ser obtida (a moradia, permanncia ou residncia) atravs do sangue de
vtimas sacrificiais. Wood salienta que oferendas queimadas pertenciam a um estgio
posterior e mais reflexivo no desenvolvimento da idia de sacrifcio, mas nenhum ritual de
oferenda-queimada inventou um expressivo termo distintivo de sua prpria natureza para
suplantar o nome j existente, que ficou obsoleto de mais um tipo de oferta primitiva. Este
uso primitivo do altar, que envolvia dedicao de pedras, pilares e rochas na adorao
natureza, tambm estava incluso nela. Talvez seja suficiente aqui, para Wood, observar que
233
Dado em Stade, Bernhard. Geschichte des Volkes Israel. Berlin, Baumgrtel, 1888-89, Vol I. p 461.
Segundo FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda Novo Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa. 3
edio. Curitiba: Editora Positivo, 2004, erica um gnero botnico pertencente famlia Ericaceae.
235
SMITH, W. Robertson. (1846 1894) Ras Shamra. pp. 188n, 191, 192n.
236
2 Reis. 23:4
237
Juzes 6 :25, 25
238
1 Reis 15:13; 16:33; 2 Reis 13:6; 17:16.
239
2 Reis 21:3, 7; 23:4-15.
240
Deuteronmio. 7:5, &c.
234
53
a prtica primitiva de salpicar sangue nos altares de pedra ou nos pilares ainda era feita:
mas por este lado a oferenda pelo fogo aparece em uma condio florecente no perodo
mais primitivo da histria dos hebreus, que, segundo Wood, um fato que prova o ritual
como sendo nativo ao solo. O mandamento nos cdigos legais mais antigos que
proscreviam o uso de altares de pedras vestidas com passos ascendentes241 revela uma
reao conservadora contra o tipo refinado de altares prevalecentes em Cana. De acordo
com a concepo primitiva, segundo Wood, a pedra spera, ou pilar vertical, era o altar e,
ao mesmo tempo, a residncia da deidade. Acreditava-se que tocar a residncia com um
instrumento era profanar o lar da deidade, e subir pelas escadas era considerado como
descobrir a nudez da oferenda deidade. Segundo Wood, pode-se supor que o altar que
Yahweh aprovou foi construdo de pedras no talhadas, ao contrrio do altar canaanita de
pedras cobertas. Para Wood, este tipo de altar canaanita, usado especialmente para
oferendas de fogo, claramente no foi concebido como uma residncia de um baal, mas
meramente como uma mesa de pedra convencional, na qual so oferecidos sacrifcios na
presena da deidade que foi incorporada ao pilar, Asherah, ou rvore sagrada.
Wood diz que quando a considerao tomada a partir do alto estgio da
civilizao mantida pelos canaanitas, como demonstrado tanto pela olaria, quanto por
outras escavaes remanescentes, bem como por sua histria primitiva, razovel esperar
encontrar um sistema mais altamente desenvolvido de oferendas desse perodo, com a
entrada dos hebreus.
No texto, o nome era ou suplantado por bosheth, coisa vergonhosa,242 ou
vocalizada nas duas ltimas slabas com as vogais de bosheth, que formam desta maneira
Ashtoreth,243 ou ainda substituda por Asherah, o poste sagrado que era dedicado deusa
nos santurios. Isto foi provavelmente esculpido em formas revoltantes 244 e por esta razo
se tornou posteriormente um objeto do ridculo.
241
54
4.2
Prostituio Sagrada
55
Uma das liturgias de Ras Shamra desse perodo traz um completo contedo do ritual
do casamento sagrado no qual as qdshot funcionavam como as esposas de El.247 A Bblia
Hebraica indica um pano de fundo mesopotmico ao menos na parte dos Filhos de Israel.
Uma vez que a prostituio sagrada existiu na Babilnia e era to antiga quanto o comeo
do perodo histrico, e uma vez que o simbolismo das deidades da vegetao estavam
todos no Oriente Prximo, juntamente com o Egito, esta era completamente difundida entre
os vrios grupos tnicos. No possvel supor que alguns habiri, ou alguns grupos tribais
nmades ou de outro tipo, poderiam no se familiarizar com estas prticas do culto da
fertilidade. Mesmo se a prevalncia dos figurinos da deusa-me registre apenas do perodo
dos Hicsos, e mesmo se as narrativas bblicas do perodo primitivo patriarcal falhem ao
mencionar a prostituio sagrada, como Graham e May afirmam, pode no ser necessrio
provar, como esses acadmicos reinvindicam, que a prostituio sagrada na Palestina seja
datada somente nesse perodo.248 Pode-se perceber que o culto de fertilidade e tambm o
seu constante acompanhante, a prostituio sagrada, coincidente com o influxo amorrita
na Palestina para Brooks, a adorao da deusa-me na Palestina , portanto,
consideravelmente antiga.
Brooks afirma que estudos precedentes indicam que a prostituio sagrada era
comum na Palestina e certamente no faltava no culto de Yahweh. Como certos indivduos
hebreus surgiram com um discernimento para um refinamento maior nos relacionamentos e
nas interpretaes religiosas, l tambm gradualmente se desenvolveu uma campanha ou
movimento de reforma contra a prostituio sagrada. Em primeiro lugar, foi diretamente
chefiada contra as zonot que eram, de acordo com a opinio do presente escritor, prostitutas
femininas originalmente dos cultos de fertilidade amoritas-canaanitas, mas a quem os
hebreus logo buscavam pelas caladas. Por isto conspcuo que os escritores profticos, ao
denunciar a prostituio sagrada, mencionem apenas a zonah.249 A yesheveth e a almah
247
Barton traduz no Journal of the Society of the Biblical Literature and Exegesis (1890-1951), LIII., 64,
linhas 39-56; e Semitic and Hamitic Origins, Social and Religious. Philadelphia: University of Pennsylvania
Press, 1934, 363.
248
Como Barton concorda em Haverford Symposium on Archaeology and the Bible, 1938, 78, n 97.
249
As nicas excesses, segundo Brooks para este uso de zonot e qdshot como sinnimos em Osias 4:14
em que a palavra qdshot pode ter sido adicionada nos interesses do paralelismo, e a discriminao
deuteronmica contra ambos. O uso dos dois termos na histria de Tamar em Gnesis so menos
satisfatoriamente explicados. Graham e May em Culture and Conscience, 1936 acreditam que os termos
no so diferenciveis no perodo primitivo patriarcal, mas se a narrativa completa da histria Yahwehistica,
como Carpenter e Battersby (The Hexateuch, London, 1900) e outros indicam, e se essa narrativa toma a
56
parecem ter boa durao no culto a Yahweh; tanto uma quanto a outra poderiam ter servido
em funes especiais, principalmente nos festivais de Queda e de Primavera que
celebravam a morte, a ressurreio e a hierogamia da deidade.
4.3
forma final no nono sculo a.C quando a luta proftica contra o baalismo era forte, possvel que os termos
pudessem ter sido usados definidamente. Que o amigo de Jud, o adulamita que foi enviado para entregar a
promessa que o seu mestre tem prometido, ao no encontrar as zonot pelo caminho, perguntou pelas qdshot,
porque elas foram consideradas mais respeitveis no culto de Yahweh.
250
1996, p 217-8
251
1966, pp 185-191
252
Astour explica que Osias 4:14 e Deuteronmio 23:18 ordenam a abolio dos qdoshim e das qdshot; e as
passagens deuteronmicas de 1 Reis 14:24, 15:12, 22:47, 2 Reis 23:7 contam os qdoshim entre as
abominaes" no culto de Israel e de Jud no perodo real.
253
Astour afirma que eles foram chamados de kulu'u ou assinu; para a compreenso deste termo, Astour
sugere B. Meissner, Babylonien und Assyrien (abreviado como: B.u.A.), 11, p. 437; I. Diakonoff, Epos
o Gilgamee, Moscow: Akademija Nauk, 1961 p. 150; Chicago Assyrian Dictionary (abreviao: CAD),
Volume 4, E, Oriental Institute, 1958, p. 204: asinniitu, sodomia.
254
Astour observa que em Deuteronmio 23:19 (Revised Standard Version, 1946: 18) aluguel de uma
prostituta posto junto com o salrio de um co (cadela)?), e a proibio de oferecer tal dinheiro para o
templo imediatamente segue a proibio dos qdoshim e das qdshot
57
Astour
255
Veja C. H. Gordon, Ugaritic Textbook, Roma, Pontifical Biblical Institute, 1965, pargrafos 19.269 e
19.2210, para ocorrncias. Astour justifica que etmologia aceita no texto baseada na palavra rabe 'anasa
se tornar familiar a algum, entrar em familiar e relaes ntimas com algum, de modo que insun,
anisun compania ntima, consorte (homem ou mulher). Tal fato fortemente confirmado pelo paralelismo
entre aHt , irmo, e ant no pico Krt, Ugaritic Textbook, n 127, linhas 50-52. Astour observa que no
h razo para considerar ant e int como duas palavras diferentes que no so variantes fonticas de uma
matriz comum em ugartico.
256
Astour diz que documentos administrativos escritos em ugartico refletem apenas assuntos estatais;
transaes privadas foram compostas em acdico, e no muitos dos que tem sido encontrados por enquanto.
257
1936, p 91
258
pp. 364 f
259
1 Reis 14:24
260
1 Reis 15:12
261
1 Reis 22:47
262
2 Reis 23:7
263
1941,pp 234-239
58
59
Prximo, improvvel que os primitivos habiri existissem sem tais prticas. Conforme
Brooks, com respeito a alguma teoria da origem dos hebreus, ou do comeo do culto a
Yahweh entre os Filhos do Israel, bvio que o repertrio hebraico foi composto e que a
verdadeira informao sobre a religio pr-mosaica est perdida na obscuridade. O produto
de um desenvolvimento religioso prolongado no Oriente Prximo sem sombra de dvida
inclua matrizes comuns, no somente da idia do casamento sagrado (hierogamia), mas
tambm da prostituio sagrada. Desta forma, a idia posterior da aliana baseada na crena
de que Yahweh havia escolhido Israel, no tinha como disputar tal posio (do casamento e
da prostituio sagrada em devoo s divindades). Israel, o Predestinado Escolhido de
Yahweh, e Israel, a Esposa de Yahweh, foram conceitos fundamentais. A mudana da vida
seminmade para a vida sedentria, a influncia do baalismo e, ao norte, as formas srias do
culto da fertilidade, sem dvida ampliaram o montante e modificaram o tipo de prostituio
sagrada que se arrastou at a adorao. Este contato com o baalismo sensual da Sria pode
ter apressado o desenvolvimento de uma revoluo contra ela, ento enquanto os
reformadores religiosos hebreus se opuseram adorao de Baal, eles especialmente
denunciaram a zonah, a prostituta comum do baalismo, cuja religio tinha levado os
israelitas se extraviarem sobre as rvores verdes, e em todos os vales altos.
Para Brooks, os qdoshim foram prostitutos masculinos definitivamente conectados
com o templo e provavelmente residentes nele, mas, para ele, no h indicao de que eram
necessariamente eunucos; de fato h evidncia de que havia casos contrrios.
Roscoe mostra que Qadesh (no plural, qdoshim) aparece, alm das referncias
bblicas j apresentadas, tambm nos textos encontrados em Ugarit.267 Roscoe indica que os
qdoshim aparentemente viviam nos precintos do templo, se ocupavam com sacrifcios,
eram cercados por objetos sagrados, e segundo Roscoe, se a antiga retrica hebraica for
considerada verdica, eles viviam engajados em diversas formas de atos sexuais
religiosos.268
267
Ch. Virolleaud, tat nominatifs et pieces compatables provenant de Ras-Shamra: Syria 18 [1937]:
164-65; William F. Albright, Archaeology and the Religion of Israel, 4th ed. [Baltimore: John
Hopkins University Press, 1956], pp. 158-59; D. Winton Thomas, Kelebh 'Dog: Its Origin and Some
Usages of It in the Old Testament, Vetus Testamenturn 10 [1960]: 410-27; David F. Greenberg, The
Construction of Homosexuality [Chicago: University of Chicago Press, 1988], pp. 94-96
268
Encontrado tambm em Beatrice A. Brooks, Fertility Cult Functionaries in the Old Testament, Journal
of Biblical Literature 60 [1941]: 227-53
60
Roscoe destaca que outro termo semtico ocidental relacionado komer, que
aparece como kumru em um texto egpcio do segundo milnio, como kumrum e kumra nos
textos da Antiga Assria da Capadcia, como kumrum em siraco269 e tambm sugere fazer
a comparao com a palavra kemarim em Sofonias 1:4. 270
Greenberg refora que o Deuteronmio probe a prostituio cultual, porque os
hebreus tinham adotado a prtica de seus vizinhos.271
Segundo Patai,272 indicado por Greenberg,273 isso no significa que os qdoshim
como prostitutos cultuais masculinos se relacionassem apenas com homens, mas tambm
com mulheres, que esperavam conceber atravs da penetrao de um homem sagrado.
Brooks274 sugere que a descendncia sagrada, cuja caracterstica da ideologia do
culto da fertilidade tem sido desenvolvida sobre a crena da propagao da vida humana e,
sobre certas condies, supostamente poderia ser controlada pelos deuses, traria maior
produtividade aos campos e grupos e ainda traria prosperidade ao grupo social. Esta idia,
traduzida na ao pela magia sincronizada, ao menos um dos fatores fundamentais que
ocasionaram a prevalncia da prostituio sagrada. Brooks salienta que os prostitutos foram
pessoas dedicadas aos deuses considerados oficiais de culto. Especialmente nos festivais,
pelo laicado sinceramente acreditar que a penetrao nessas pessoas podia curar a
esterilidade nos seres humanos, de animais e da terra, e que pela atual unio com os
representantes humanos da deidade, eles poderiam receber auxlio dos deuses que trariam
prosperidade para a humanidade.
Brooks prope que uma imensa quantidade de evidncias sobre o assunto tem sido
coletada por diversos estudiosos da sociedade, tais como Westermarck, Sir James Fraser,
Sumner, W. R. Smith, S. A. Cook, Marett e Malinowski. Os filhos dos que estavam unidos
atravs do culto, seja por matrimnio regular, ou por matrimnio temporrio, ou pelos
excessos ocasionais de festivais importantes, eram considerados como as crianas dos
deuses e desta forma, sagradas. Por isso, sua posio no grupo social era considerada nica,
269
William F. Albright, From the Stone Age to Christianity: Monotheism and the Historical Process
[Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1946], pp. 177-78, 325, n 46
270
William F. Albright, Archaeology, p. 159
271
Greenberg, Opus Cit, p 95
272
Patai, Opus Cit, p 296
273
Greenberg, Opus Cit, p 95
274
1941,pp 243-253
61
275
Por exemplo Sargo No conheceu seu pai e tinha uma entu como me: W. R. Smith, Rel. of the
Semites, 515.
276
The Fertility Cult in Hosea. The American Journal of Semitic Languages and Literatures 48 (1932), 90,
n 10. Tambm MEEK, Theophile James. Hebrew Origins. Ed. rev. New York: Harper & Brothers, 1950.,
72. Evidentemente o autor da Epstola Apcrifa de Jeremias no poderia interpretar desta maneira, pois nos
momentos em que os deuses babilnicos no poderiam fazer nada, ele dizia (v. 38): Eles no mostram
misericrdia com a viva, nem bondade com os sem pai.
277
FEIGIN, Samuel Isaac (1893-1950), Journal of the Society of the Biblical Literature and Exegesis (18901951), L., 186 ff. O estudo de Dougherty da shirkutu da Babilnia (Yale Oriental Series, Researches, New
Haven, 1923) 1, 2 mostra que os filhos destes sacerdotes pertenciam ao templo (Keiser, C. E., Letters and
Contracts from Erech, (New. Haven, 1917), n 106), mesmo se a me no fosse uma sacerdotisa. Ela tinha a
permisso de tirar os seus filhos do templo quinze dias com a promessa que eles deveriam retornar neste
prazo.
62
simblicos para crianas nascidas sob os auspcios do culto; como por exemplo, as crianas
de Osias, a descendncia da 'almah em Isaas 7, a criana de Isaas pela profetisa e
provavelmente Samuel.
Olyan afirma que h uma discusso que pe em dvida se o qadesh era um
prostituto cultual, sem compreender que aquele que se relaciona com outros homens.278
Ele afirma que o material acerca do qadesh permanesce obscuro; a palavra, que ocorre em
diversos contextos bblicos, significa simplesmente o consagrado, embora seja
freqentemente traduzido como prostituto cultual masculino.279
O qadesh e as qdshot, para Brooks, foram provavelmente prostitutos sagrados do
culto de Yahweh mesmo nos dias nmades, um elemento nativo para as prticas religiosas
dos habiri ou grupos que de alguma forma se tornaram consolidados no meio do povo
conhecido como hebreu.
4.3.2 Zonah
278
Sobre o qadesh e seu equivalente feminino, a qdshah, veja tambm M. I. Gruber, The qadesh in the Book
of Kings and in other Sources, Tarbiz 52 (1983): 167-76 [Hebraico], que argumenta que o qadesh era um
cantor do templo. J. G. Westenholz, Tamar, qedesa, qadistu, and Sacred Prostitution in Mesopotmia,
Harvard Theological Review 82 (1989): 245-65, quem desafia esta idia de prostituio sagrada na
Mesopotmia e em qualquer lugar do Antigo Oriente Prximo. Ao contrrio desta viso de Westenholz, veja
o artigo de K. Van Der Toorn, Female Prostitution in Payment of Vows in Ancient Israel,Journal of
Biblical Literature 108 (1989): 193-205, que argumenta que a prostituio de mulheres e homens para o
pagamento de votos ocorreu no antigo Israel e que o qadesh e a qdshah no poderiam ser separados deste
fenmeno. Na passagem, conforme Olyan, Van Der Toorn se refere ao qadesh como um decadente, mas
no oferece nenhuma evidncia para sustentar esta interpretao (p. 201).
279
Veja Deuteronmio 23:18 [English Standart Version 17]; 1 Reis 14:24; 15:12; 22:47; 2 Reis 23:7; na
qdshah, a mulher a consagrada, veja Gnesis 38:21,22; Deuteronmio. 23:18 [English Standart Version
17]; Osias. 4:14
63
pagamento (ethnan) dos seus patres, que consistia em comida e roupas.280 Brooks
corrobora que o ethnan era anlogo ao preo de uma noiva e era uma das fontes de soluo
para o sustento do comrcio local e de pessoas que viviam dentro destes precintos.281 Elas
se ornavam deslumbrantemente com vestes escarlates, muitas jias e cosmticos.282 De
acordo com Provrbios 7:10 e com a histria de Tamar,283 elas poderiam ser reconhecidas
pelos seus vestidos.284 Possivelmente o seu cantar atraa ateno,285 e possuam uma marca
especial na testa286 que as diferenciava das outras.287
Elas foram encontradas pelas caladas288 em todos os vales altos e debaixo das
rvores verdes,289 pelos utenslios290 e no cho trilhado.291 Viviam pelos portes da cidade
280
Como encontramos em Gnesis 38:17, 18; Deuteronmio 23:18; Ezequiel 16:10 f.; Osias 2:9.
May, The Fertility Cult in Hosea. The American Journal of Semitic Languages and Literatures 48
(1932). 92-3; S. A. Cook, Religion of Semites, new ed, London, 1927., 612. Cf. Is 23 18, Mic 1 7. Leslie, E.A.
The Prophets Tell Their Own Story. 1939, 131. (Smith, Sidney, Early History of Assyria, Chatto and Windus,
London, 1928, 324 menes levam a canes, encontradas no templo assrio datado do tempo de TukultiEnurta, as quais tm colocado que alguns dos exemplos do ethnan eram s vezes considerados como
obscenos. Brooks acredita que eles foram usados como uma espcie de emprstimo para o pagamento das
mulheres do templo de determinada categoria.)
282
Jeremias 4:30, Ezequiel 23:40
283
Gnesis 38:19
284
Brooks atesta que o vu feito por Tamar tende a provar que a zonah era uma prostituta sagrada, e no
secular. Brooks explana que pelos estudos parece demonstrar que no antigo mundo, o vu significava que a
mulher pertencia a algum homem como esposa ou filha. O Cdigo Assrio estipula severas penalidades
impostas a certas clases de mulheres que no punham o vu em suas cabeas quando estavam nas ruas. A
filha no deve apenas cobrir a face com o vu, mas a cabea inteira escondida com drapejamento. A mulher
casada e possivelmente a sugtim ou concubina deveriam ter suas cabeas cobertas; a mulher cativa, a qaditu
casada e a mulher impura deveriam ser veladas. Brooks declara que o Cdigo especificamente afirma que a
Harimtu, uma prostituta secular, deveria estar sem o vu e ter a cabea descoberta, a qaditu no casada
deveria ter a cabea descoberta e a garota escrava deveria estar sem o vu. Jastrow, M.. Veiling in Ancient
Assyria.Revue Archeologique Srie 5, XIV, 1921, 209 ff., afirmou que o Cdigo Assrio indica que a
inteno original do velar a face erma para significar que a mulher pertencia a um homem. A prostituta
sagrada como uma possesso de uma deidade era sem sombra de dvida comumente velada no Oriente
Prximo.
285
Isaas 23:16
286
Jeremias 3:3
287
Voc tem a testa de uma prostituta e voc no apagar para a sua vergonha O que distingue a
caracterstica, no indicado em nenhum lugar da Bblia Hebraica. As devotas de Ishtar foram s vezes
marcadas na testa ou na mo com o sinal de uma estrela. Sobre a shirkuti babilnica, discutida por
Dougherty, (Yale Oriental Series, Researches, Vol 2) tudo indica que ela tenha recebido esta marca. Elas
foram dedicadas deidade e definitivamente ligadas com o templo, mas no h nada que indica que elas
foram prostitutas sagradas. Uma lembrada de Isaas 44:5 Outra escrever na sua mo, do Senhor. Meek,
The American Journal of Semitic Languages and Literatures, Apr., 1923., XXXIX, 10 diz que o tatuar nas
mos e no corpo do noivo em Cntico 5: 14 faz lembrar o fato de que os sacerdotes de Adonis
semelhantemente tatuavam a si mesmos nas mos.
288
Tamar, Ezequiel 16:25 e Provrbios 7:12
289
Jeremias 2 20
290
Ezequiel 16 23
291
Osias 9:1
281
64
(Rahab) ou nas suas prprias casas.292 Elas s vezes se casavam (Gomer), apesar do marido
da zonah ser condenado em Osias 2: 4, Ezequiel 16:1 ff., e Provrbios 7:19 ff. A histria
de Jeft indica que no era esperado que a descendncia de uma zonah herdasse qualquer
propriedade.
Segundo Brooks, as zonot tm sido amplamente discutidas por May, que as
considera como prostitutas religiosas, funcionrias do culto popular.293 Brooks afirma que
todas as referncias indicam que a zonah era considerada indesejvel, uma vez que a raiz de
seu nome freqentemente usada como um verbo que significa ter relaes com deuses
estrangeiros. As zonot provavelmente foram devotas do culto de Baal, enquanto as qdshot
podem ter sido nativas na religio primitiva dos hebreus.
A zonah (prostituta) tipificada (ou em termos modernos, estereotipada) pelos
profetas, principalmente por Osias e Ezequiel, era o modelo do pior pecado de Israel, ao
renunciar a Yahweh e buscar incessantemente outros deuses. Estas prostitutas sagradas
foram chamadas zonot porque tinham sido ligadas com a adorao de deidades estrangeiras;
a raiz significante do verbo em diversas lnguas semticas (rabe, Siraco e Etope) implica
na idia de penetrao ilcita. Do ponto de vista dos reformadores profticos como os tais,
qualquer comrcio com deuses estrangeiros era considerado ilegtimo, assim como
certamente o aquele praticado com as prostitutas sagradas dedicadas queles deuses.
Brooks confirma que este o motivo pelo qual as zonot, estrangeiras para a tradio
original de Israel, foram to veementemente denunciadas.294
292
Brooks se refere a 1 Reis 3 16, s duas zonot que consultaram Salomo, ambas reclamavam o mesmo
beb; Jeremias 5:7 o povo cometeu adultrio, e se agrupou nas casas das prostitutas.
293
The Fertility Cult in Hosea, The American Journal of Semitic Languages and Literatures, XLVIII, 7398; An Interpretation of the Names of Hosea's Children, Jounal of the Society of the Bblical Literature and
Exegesis, LV (December 1936), 285-291; Graham e May, Culture and Conscience, 94 e passim. Cf. tambm
MEYER, E. Die Israeliten und ihre Nachbarstanzme. 1906, 177 ff.
294
Brooks demonstra porqu Osias (5 7) por exemplo, considerou os filhos da zonah ilegitimados
(American Translation), i. e. eles no foram crianas de Yahweh, o verdadeiro marido de Israel. Cf. May,
The Fertility Cult in Hosea. The American Journal of Semitic Languages and Literatures 48 (1932), 86, n
5. Outro termo utilizado vrias vezes na escrita proftica, mahab (Osias 2 7 ff.; Zacarias 13:6; Ezequiel 16:
37 ff., 23 9; Jeremias 22 20, 22, 30 14) pensado por May ser uma designao tcnica para o prostituto
masculino sagrado. Este termo reconhecido por Gesenius como implicador de algum tipo de amor ilegtimo.
May refora (The American Journal of Semitic Languages and Literatures, XLVIII, 89) que Osias distingue
esses amantes do prprio Yahweh pelo fato de que Yahweh foi o primeiro marido da zonah. Esta possvel
designo aplicada a um funcionrio masculino dos ritos de fertilidade no hebreus.
65
1985, pp 487-488
J. A. Montgomery and H. S. Gehman, The Books of Kings (Edinburgh, 1951), p. 341
297
1976, p 201
296
66
vez que este aplicado aos sacerdotes-eunucos em outros cultos de fertilidade. Brooks diz
kuno.j).
1938,p 349
arDu KalBu, ou apenas kalbu; Winckler, Hugo. The Tell-el-Amarna Letters. Translated by J. Metcalf. New
York: Lemcke & Buechner, 1896., 54. 18 ; 65, 10; 69, 64 entre outras passagens; 210, 16
300
2 Reis 8:13
301
Torczyner, H., et al. Lachish I: The Lachish Letters. London: Oxford University Press, 1938., 5: 3 ; 6: 3
302
Deuteronmio 23, 19 ; 1 Reis 14: 24
303
1960, p 423-24
304
N 60.6ff
305
Waterman, Royal Correspondence of the Assyrian Empire, Ann Arbor, 1930, n 210, Rev. 1. 8. Cp. A.
T. Olmstead, History of Assyria, New York, 1923 p. 458.
306
J. Hehn, Hymnen u. Gebete an Marduk (Beitr. z. Assyriol. V, 1906), p. 359, 1. 11
67
1960, pp 425-6
A palavra keleb aqui tem sido s vezes, segundo Thomas, tomada literalmente.Contra esta perspectiva, o
autor sugere W. Robertson Smith, The Religion of the Semites, 3rd.ed., p. 292, n 2, e W. Nowack,
Lehrbuch der hebraischen Archaologie, 2, 1894 p. 264, n 2. (cp. 1 Reis 15:12, 2 Reis 23: 7)
309
Veja, e.g., Cp. F. J. V. D. Maurer, Commentarius grammaticus criticus in Vetus Testamentum, 1838, 1, p.
83, and The Jewish Encyclopedia (1901-1906), i, 662.
310
Veja Liddell e Scott, A Greek-English lexicon (1883), p. 1015
311
Corpus Incriptionum Semiticarum I. n 49; veja tambm 11. n 702,II. 3f. Cp. V. Zapletal, Der Totemismus
und die Religion Israels, in Jew. Quart. Rev. April. 1902 p. 70, n.1. O nome fencio kalba acreditado por
Lidzbarski ser um hipocorstico de um nome maior (Lidzbarski, Handbuch der nordsemit. Epigraphik.
(Weimar, 1898), p. 296). Para o nome safatico kalbelah (?), veja G. RYCKMANS, Les noms propres sudsimitiques I, Louvain 1934., , p. 233.
312
Cp. W. Robertson Smith, The Rel. of the Semites, 3rd. ed., p. 596
313
Veja K. Tallqvist, Neubabylonisches. Namenbuch. (Helsinki, 1905), p. 87; cp. p. 319 sobre kalbu.
314
G.A. Barton, A Sketch of Semitic Origins, Social and Religious, New York, 1902, p. 188.
315
JEAN,C.F. Le milieu biblique avant Jesus-Christ., III. Les ides religieuses et morales. Paris. 1922-36, p.
556
308
68
honra.316 A concluso de Barton que keleb, quando se refere aos servos do templo,
enquanto possui o significado normal de co, est ligada a idia do co fiel de deus, seu
humilde escravo e devoto. Keleb era um termo para pr algum como servo, e no um
termo para deliberadamente apont-lo com desprezo.317 Thomas conclui que mais uma vez
pode-se observar como um termo no mundo secular, que significa um animal desprezvel,
foi alado a uma esfera na qual Deus e o homem esto em um relacionamento prximo um
com o outro, no culto. Thomas enfatiza que isto respeitvel em outro lugar no mundo
semtico e no passou batido para o redator deuteronomista. O keleb (qadesh) e a qdshah
foram banidos, juntamente com outras caractersticas da adorao idlatra.
Der Toorn explana que os versculos de Deuteronmio 23:18-19 demonstram que
tambm entre os israelitas o costume do pagamento de votos atravs da prostituio era um
fenmeno bastante conhecido. Segundo Der Toorn, duas prticas distintas ainda
relacionadas so postas em paralelismo, que a prostituta (zonah) com respeito a qdshah,
e o co (keleb, que um eufemismo para o homem receptivo) com respeito ao qadesh.
Na viso de Der Toorn, a zonah e o keleb tm em comum o fato de recorrer prostituio
como um meio de produzir lucros para o Templo, porque o destino da sua renda e as suas
atividades podem estar apresentadas sob o nome da religio. Der Toorn conclui que o
templo usava o dinheiro adquirido, entre outras coisas, para pagar pela produo de
imagens divinas.
Olyan prope que relacionado ao qadesh, de acordo com Deuteronmio 23:18-19,
[English Standart Version 17-18] o co (keleb), cujo preo no deve ser trazido ao
templo de Yahweh para o cumprimento de qualquer voto. Olyan observa que tradutores
tm freqentemente compreendido este termo em referncia ao prostituto masculino que se
relaciona com outros homens, ao traduzi-lo como sodomita ou algo similar. Olyan
enfatiza que mesmo se o co fosse um prostituto masculino (o que para Olyan no est
claro), no h nenhuma evidncia de que a sua atividade envolvesse outros homens. Olyan
considera que todo o significado de co e qadesh, e as passagens que os descrevem, no
representam as proscries gerais de alguns ou todos os atos sexuais de homem em homem;
apenas em Levtico 18:22 e 20:13 podem tomar este rumo.
316
69
Brooks enfatiza que alguns tinham admitido que o termo keleb seja aqui um
epteto aplicado aos qdoshim.318
Brooks, ao discorrer sobre o sacerdote eunuco, o qual pode ter uma parte nos
cultos religiosos que estavam baseados na idia do ciclo da vegetao e cujos ritos foram
criados para centralizar em torno da deusa-me e destinados a induzir a fertilidade, parecia,
a princpio, inconsistente. A presena de eunucos em ligao com os cultos do Oriente
Prximo e terras mediterrneas orientais amplamente atestada por antigos
historiadores.319 O deus emasculado era representado por esses equivalentes humanos, que
atravs do sacrifcio de sua virilidade se tornaram, de acordo com a crena, mais
convenientemente preparados para representar a deidade, para a funo da adorao flica,
ou para assegurar a fertilidade dos campos.320 Em algumas partes existiam tanto homens
eunucos, quanto hierdulas sem fins reprodutivos, especialmente quando a deusa era
considerada como uma hermafrodita, como era Ishtar.321
318
Leslie, E.A. Old Testament Religion in the Light of its Canaanite Background. 1936., 39.
Strabo (809-849 A.D), The Geography of Strabo, with an English Translation, Vol. v. (Loeb Classical
Library): New York, G. P. Putnam's Sons (1928), XIV, 23; Lucian of Samosata (125-195 AD). De Syria Dea
(On the Syrian Goddess) Loeb Classical Library, vol. 4, Tr. AH Harmon e MD McCleod. New York: GP
Putnam's Sons 1919, 15,27, 50 f.; Theocritus (primeira metade do terceiro sculo a.C) Theocritus Cambridge:
Cambridge University Press., Vol I, 1950, 15: Servius em Aeneida Loeb Classical Library, Tr. AH Harmon
and MD McCleod. New York: GP Putnam's Sons 1919., Vol II, 632, Eusebius, Vit. Const Loeb Classical
Library edition, with translation by W. R. Paton (Tondop, 1922 -27).,III, 55.
320
Westermarck, The Origin and Development of the Moral Ideas, vol II, Rev Ed London: Macmillan, 1917;
Albright, American Journal of Semitic Languages and Literatures, Volume LIII OCTOBER, 1936 Number 1,
9 f.; Journal of the Society of the Bblical Literature and Exegesis (1890-1951), XXXVII, 119; Journal of
American Oriental Society, XXXIX, 1916, 84 ff.; The American Journal of Semitic Languages and
Literatures, VOLUME XXXVI JULY 1920 262 ff.; Garstang: The Land of the Hittites Captulo VI:The
Story of the Hittites, London, Constable and Company, Ltd., 1910, 360-61; Meissner, Bab. und Ass.,
passim.
321
Pinches, Proceedings of the Society of Biblical Archaeology (London 1878 ff.), XXXI, 31; Barton, Journal
of American Oriental Society, XXI, 1900, 185; Meissner: op. cit., 11, 436.
322
Journal of the Society of the Bblical Literature and Exegesis (1890-1951), XXXVII, 123, From the Stone
Age to Christianity, 178 and passim.
319
70
E se isso for desta forma, para Brooks, pode-se suspeitar que a interpretao da verso
323
Olmstead sugere (History of Palestine and Syria to the Macedonian conquest, 1965, 588) que isto seja
aplicado aos eunucos auto-mutilados no culto, mas evidentemente, no aos eunucos seculares dos quais
presume-se que Neemias fosse um.
324
Journal of the Society of the Bblical Literature and Exegesis (1890-1951), XXXVII, 116, 126. Brooks
percebe que o mesmo termo usado de Tamar, 2 Samuel 13 18. May, The Fertility Cult in Hosea.The
American Journal of Semitic Languages and Literatures 48 (1932), 86, menciona que as mesmas vestes foram
usadas pelos sacerdotes em xodo 28:4 e pela donzela em Cntico 5:3, mas em ambos os exemplos, pode se
perceber que a palavra ktanet usada, como o caso de diversas outras passagens: Gnesis 3:21; xodo
28:4/39; 29:5; 39:27; 40:14; Levtico 8:7/13; 10:5; 16:4; Ezequiel 2:69; Neemias 7:71; 2 Samuel 15:32;
Cntico 5:3, a maioria das quase se refere vestimenta do sacerdcio arnico. Se algum aceitar a posio de
Meek que o culto do touro originrio na tribo de Jos situada no Norte de Israel, e especialmente ligado
figura de Aro, como epnimo do sacerdcio efraimita, pode ser muito significativo. Tem se admitido durante
bastante tempo que os elementos do culto de fertilidade foram praticados excessivamente entre os hebreus do
norte. Albright no Journal of the Society of the Bblical Literature and Exegesis (1890-1951), XXXVII, 111
ff.) interpretou Jos como um deus da fertilidade despotecializado originalmente adorado em Shechem, e um
dos quais se acreditava ter sido uma deidade castrada. W. E. Staples (The American Journal of Semitic
Languages and Literatures, LV, 1938, 47) encontra analogia para o uso da roupa de Jos e Tamar a princesa
como suspeitosamente com o vu usado pela deusa-virgem Ishtar. As Bnos de Jac, Gnesis 39:22-26
e as Bnos de Moiss Deuteronmio 33:17 ligam Jos ao culto do touro (veja tambm Meek, Hebrew
Origins, 137). Estas diferenas parecem indicar que o sacerdcio aronita, e no o uso levtico e os kohenot,.
Josefo, (Antiquities, 111, 7) (Josephus: Complete Works, trans. William Whiston, Philadephia, 1880) ilustrou
a vestimenta como de linho (tambm conhecida pelo significado de raz, veja Gesenius) e considerado
bastante justo, longo, que chega at os tornozelos e tinham mangas apertadas no pulso. Haviam apenas dois
exemplos que devem ocorrer com esta palavra; em referncia capa de Jos e o vestido da princesa Tamar.
Josefo, Antiquities., VII, 8, ao contar a histria de Tamar explica que nos tempos antigos virgens usavam
longas capas apertadas nas mos e at os tornozelos, que o casaco anterior no podia ser visto. A raiz psm
significa aumentar e quando usada com ktnot, evidentemente indica um perdedor, o mais antigo vesturio
fluente. Os ktenot pasim, dessa forma pode ter sido um manto especial usado por virgens e por eunucos do
culto ao notar que este ltimo usa habitualmente uma vestimenta feminina.
71
grega da Bblia dos setenta tradutores (Septuaginta ou LXX), que mudou o significado do
ketinot pasim para casaco de muitas cores, estava consciente da edio, porque tal casaco,
similar ao ketnot pasim hebraico com uma tnica de mangas longas at o tornozelo, sugere
um funcionrio do culto da fertilidade. Aqui h a justificativa da mudana da traduo.
325
72
conquista, os nmades que estavam no meio dos hebreus comearam a se identificar com
eles e com a sua religio.
Parece provvel que os hebreus se tenham juntado aos camponeses cananeus
libertos pela conquista, os quais pagavam impostos elevados para uma sociedade altamente
estratificada.330 Porm, provvel que esses cananeus no tenham abandonado
completamente seus prprios rituais e crenas religiosas.
Aps a conquista, os israelitas se instalaram em Cana e se tornaram agricultores.
Eles se casavam com as mulheres cananias, ofereciam sacrifcios s deidades locais
(Baalim, Asheroth), e celebravam a sua plantao com os festivais de colheita.331 Os
hebreus realmente em nada renunciavam das suas prticas.332 Chamados a retornar f
dos seus pais, centrada em Yahweh, um deus de guerra, tempestades, e trovo (no de
colheitas) que residia no Monte Sinai, sem problema algum retornavam novamente aos
deuses dos seus vizinhos contemporneos. O sincretismo era evidentemente grande.333
Mesmo nos tempos pr-monrquicos, Greenberg acredita que devotos yahwistas
poderiam sentir-se ofendidos pelo uso de tcnicas mgicas dos cultos de fertilidade para
controlar os deuses,334 pois o autor acredita que a viso do Judasmo atual, na qual os
humanos no poderiam forar Deus a nada, parte desta poca.
330
Norman K. Gottwald The Tribes of Yahweh: A Sociology of the Religion of Liberated Israel, 1250-1050
B.C.E., Maryknoll: Orbis, 1979.
331
Noss, John B. Man's Religions. Pp 512-14 New York, The Macmillan Company. 1963
332
Juzes 2:19
333
Wellhausen, Julius Prolegomena to the History of Israel, p 17f. traduzido para o ingles por J. Sutherland
Black and Allan Menzies. Edinburgh: A. & C. Black. 1885. A grandeza e o significado deste sincretismo,
segundo Greenberg, controversa. Irving M. Zeitlin, Ancient Judaism: Biblical Criticism from Max Weber to
the Present. Cambridge: Polity Press and New York: Basil Blackwell, 1984, e outros crticos da Bblia
percebem que partes do texto esto carregadas de marcas de uma autoria posterior, e ao se ler
cuidadosamente, no sugere uma apostasia total. Assim, os israelitas foram descritos por terem se desviado
aos baalim, e feito de Baal-Berith o seu deus (Juzes 8:33). Mas Baal-Berith, Senhor da Aliana, poderia
apenas ter sido um epteto de Yahweh, cuja adorao e dolos locais e bamoth (lugares altos) se tornou um
antema aps a centralizao do culto de Yahweh em Jerusalm no reinado de Josias (aproximadamente 620
a.C). Outras passagens no so facilmente adimitidas como uma revoluo para uma mentalidade
centralizante. Yahweh, por exemplo, ordenou Gideo a derriba o altar de Baal que de teu pai, e corta o
poste-dolo (Asherah) que est junto ao altar. Edifica ao SENHOR, teu Deus, um altar no cimo deste
baluarte,... (Juzes 6:25-26, Almeida Revista e Atualizada). Aqui, o local do altar aceitvel. Greenberg
compreende que descobertas Arqueolgicas de numerosos stios testificam a existncia de um sincretismo
religioso antes e durante a monarquia (P D. Miller, Israelite Religion: em The Hebrew Bible and Its
Modern interpreters (ed.D. A. Knight and G. M. Tucker; Philadelphia: Fortress; Chico, CA: Scholars Press,
1985)). Para Greenberg, novas escavaes podem ser necessrias para se revelar a grandeza completa do
sincretismo
334
Hoffner, Opus Cit, 1966
73
J. Soggin, "The Davidic-Solomonic Kingdom, Israelite and Judaean History (eds. J. Hayes and J. Miller;
Philadelphia: Westminster, 1977)
336
O caso do sincretismo sob os reinados de Saul e Davi resta em parte por Saul ter nomeado um dos seus
filhos como Ishbaal (homem de Baal), e Davi ter nomeado um dos seus filhos de Beeliada (Baal sabe) (1
Crnicas 8:33; 14:7). Mas esses nomes teofricos, segundo Greenberg, so ambguos, pois Zeitlin (Opus Cit,
p 175, 1984) argumenta que Baal poderia ter sido um ttulo de Yahweh, e a sua posio ganha suporte na
referncia de 2 Samuel 5:20, na qual o lugar de uma das vitrias de Davi contra os filisteus foi nomeado
Baal-perazim
337
1 Reis 11:4-8
338
Bright, Opus Cit, p 151-152
339
Segundo Ackerman, a editio princeps foi feita por W. G. Dever, Iron Age Epigraphic Material from the
Area of Khirbet el-Km, Hebrew Union College Annual (Cincinnati 1924 ff.) 40/41 (1969-70) 158-89. A
inscrio foi reestudada por A. Lemaire, Les inscriptions de Khirbet el-Qm et lAsherah de Yhwh,Revue
Bblique 84 (1977) 597-608; idem, Date et origine des inscriptiones hbraques et pheniciennes de Kuntillet
'Ajrud: Studi epigraphici e linguistici 1 (1984) 131-43; idem, Who or What was Yahweh's Asherah?
Biblical Archaeologist Review 10/6 (1984) 42-51. Neste reassessamento, Lemaire props ao ler a segunda e
a terceira linhas do texto que se refere a Asherah, uma leitura Dever aceita; veja Dever, Asherah, Consort of
Yahweh? New Evidence from Kuntillet 'Ajrd, Bulletin of the American Schools of Oriental Research 255
(1985) 22; menos completamente, idem, Recent Archaeological Confinnation of the cult of Asherah in
74
Mesmo que esta inscrio, segundo Ackerman, seja difcil de ser lida,
comentadores aceitam que o texto esteja relacionado a uma provenincia sulista do culto de
Yahweh e faa alguma aluso ao culto de Asherah.340 A tentativa mais satisfatria para a
traduo a de P. D. Miller:
Abenoado Uriyahu por Yahweh;
Sim dos seus adversrios pela sua Asherah ele salvou-o.341
Ancient Israel:Hebrew Studies 23 (1982) 40; idem, Material Remains and the Cult in Ancient Israel: An
Essay in Archaeological Systematics: em The Word of the Lord Shall Go Forth: Essays in Honor of Dacid
Noel Freedman in Celebration of his Sixtieth Birthday (ed. C. L. Meyers and M. O'Connor; Winona Lake,
apud: Eisenbrauns, 1983) 570, 583 n 17. Outros estudos do material de el-Qm incluem J. M. Hadley, "The
Khirbet el-Qm Inscription: Vetus Testamentum 37 (1987) 50-62; K. Jarosh, Zur lnschrift Nr. 3 von
Khirbet el-Qm, Biblische Notizen 19 (1982) 31-40; Maier, Walter A. III. Asherah: Extrabiblical Evidence.
(Harvard Semitic Museum 37; Atlanta: Scholars Press, 1986) 172-73; B. Margalit, Some Observations on the
Inscription and Drawing from Khirbet el-Qm: Vetus Testamentum 39 (1989) 371-78; P D. Miller, Psalms
and Inscriptions, em Congress Volume: Vienna 1980 (Vetus Testamentum Sup 32; Leiden: Brill, 1981)
311-32; S. Mittmann, Die Grabinschrift des Sangers Uriahu: Zeitschrift des Deutschen Palestina-Vereins.
97 (1981) 139-52; J. Naveh, Graffiti and Dedications: Bulletin of the American Schools of Oriental
Research 235 (1979) 27-30; M. O'Connor, The Poetic Inscription from Khirbet el-Qm:Vetus Testamentum
37 (1987) 224-29; Olyan, Asherah, 23-25; M. S. Smith, The Early History of God: Yahweh and the Other
Deities in Ancient Israel (San Francisco: Harper & Rou: 1990) 88; Zevit, Ziony The Khirbet el-Qm
Inscription Mentioning a Goddess: Bulletin of the American Schools of Oriental Research 255 (1984) 39-47.
340
Ackerman corrobora que tem havido quatro propostas principais de como compreender a leitura crucial de
'rt em Khirbet el-Qm e tambm nas inscries proximamente relacionadas de Kuntillet 'Ajrd. Primeiro,
compreender 'rt como relicrio, cognato com o 'rt fencio, o 'trt' aramaico, e o airtu acdico, como
proposto por E. Lipinski,"The Goddess Atirat in Ancient Arabia, in Babylon, and in Ugarit: Orientalia
Lovaniensia Periodica 3 (1972). 101-19, invivel; veja particularmente J. Emerton, New Light on Israelite
Religion: The Implications of the Inscriptions from Kuntillet 'Ajrud: Zeitschrft fr Alttestamentliche
Wissenschaft 94 (1982) 2-20, que percebe que Asherah nunca significou relquia no hebraico bblico e
assim no possui como tal um significado no corpus epigrfico hebraico. Ackerman relata que Emerton e
outros discutem tambm duas opes: (1) ler 'rt como Asherah,que o objeto de culto sagrado para a
deusa Asherah, ou (2) ler 'rt como Asherah: o nome divino. P. D. Miller (The Absence of the Goddess in
Israelite Religion, Hebrew Annual Review 10 [I986] 246) e P. K. McCarter (Aspects of the Religion of the
Israelite Monarchy: Biblical and Epigraphic Data, in Ancient Israelite Religion, 1987, 149) tem tambm
sugerido que 'rt possa ser compreendido como um aspecto hipostatizado do lado feminino de Yahweh.
Escolher entre estas opes, enquanto uma importante taxa dessas referncias com a morfologia das
inscries de el-Qm e 'Ajrd, no de interesse no momento sobre o assunto. Para os historiadores da
religio, a tentativa de diferenciar Asherah como um smbolo sagrado, e Asherah a deusa, ou Asherah uma
hipstase feminina de Yahweh novamente, encarecida de trabalho semntico. Ackerman acredita que na
antiga imaginao israelita o smbolo cultual da deusa ou a hipstase feminina possa ter sido percebida como
a prpria Asherah.
341
Miller, Psalms and Inscriptions: 317.
75
342
Segundo Ackerman, a bibliografia vasta. Registros preliminares podem ser encontrados em Z. Meshel e
C. Meyers, The Name of God in the Wilderness of Zin, Biblical Archaeologist 39 (1976) 6-10; Z. Meshel,
Kuntillet 'Ajrd- An Israelite Site from the Monarchical Period on the Sinai Border, Qadmoniot 9
(1976) 18-24 (Hebrew); idem, Kuntillet 'Ajrd- An Israelite Religious Center in Northern Sinai:
Expedition 20 (1978) 50-54; idem, Kuntillet 'Ajrd: A Religious Center from the Time of the Judean
Monarchy (Israel Museum Catalogue 175; Jerusalem: Israel Museum, 1978); idem, Did Yahweh Have a
Consort? The New Religious Inscriptions from Sinai: Biblical Archaeologist Review 512 (1979) 24-35.
Estudos significantes incluem P. Beck, The Drawings from Horvat Teiman (Kuntillet 'Ajrd), Tel Aviv 9
(1982) 3-86; Dever, Asherah, 21-37; idem, Archaeological Confirmation: 37-43; Emerton, New Light,
2-20; D. N. Freedman, Yahweh of Samaria and his Asherah: Biblical Archaeologist 30 (1987) 241-49; M.
Gilula, To Yahweh Shomron and to his Asherah,Shnaton 3 (1978/79) 129-37 (Hebrew); J. M. Hadley,
Some Drawings and Inscriptions on Two Pithoi from Kuntillet 'Ajrud: Vetus Testamentum 37 (1987) 1802U; Lemaire, Date et origine, 131-43; idem, Yahweh's Asherah: 42-51; Lipinski, Atirat,101-19;
McCarter, Aspects of the Religion,137-49; Maier, Asherah, 168-72; Miller, Absence of the Goddess:
239-49; Olyan, Asherah, 25-37; Smith, Early History, 83-88; J. Tigay, Israelite Religion: The Onomastic
and Epigraphic Evidence: Ancient Israelite Religion, Philadelphia 1987,173-75; idem, You Shall Have No
Other Gods: lsraelite Religion in the Light of Hebrew Inscriptions (Harvard Semitic Series (Cambridge,
Mass. 1912 ff.) 31; Atlanta: Scholars Press, 1986) 26-30; M. Weinfeld, A Sacred Site of the Monarchic
Period: Shnaton 4 (1980) 280-84 (Hebrew); idem, "Further Remarks on the 'Ajrd Inscription:
Shnaton 5-6 (1981-82) 237-39 (Hebrew); idem, "Kuntillet 'Ajrud Inscriptions and their Significance:
Studi gigraphici e linguistici 1(1984) 121-30.
343
Para Ackerman, os anncios originais dos materiais de 'Ajrd (Kuntillet 'Ajrd -An Israelite Site: U824; Kuntillet 'Ajrd -An Israelite Religious Center: 50-54; Kuntillet 'Ajrd), o escavador, Z. Meshel,
compreendeu yhwh mrn como "Yahweh nosso guardio" (omeren). Mas em 1979, a interpretao de M.
Gilula (Yahweh Shomron: 129-37) foi uma leitura proposta ao invs Yahweh de Samaria (omeron), e
tambm todos os comentadores, juntamente com Meshel (Consort: 31), preferem esta traduo. Veja em
particular Emerton, New Light, que percebe que a segunda inscrio de 'Ajrd lida como yhwh tmn, que
pode tambm ser traduzido como Yahweh do Sul d credibilidade para a traduo Yahweh da Samaria:
Emerton tambm atesta outra evidncia sugere que a compreenso tradicional da gramtica hebraica no
possa permitir nomes prprios como Yahweh serve como o nomen regens em uma frase construta,
imperfeita.
344
Ackerman declara que a publicao do material de Kuntillet 'Ajrd ainda no foi publicada na poca que
ela escreveu o artigo, e vrios comentadores fazem diferena de um nmero de inscries relevantes e suas
leituras precisas. Ackerman confia em Tigay; "Israelite Religion, 173-74, e 189 n 85. As fontes de Tigay
so registros de Meshel em Kuntillet 'Ajrd e a informao provida por Meshel para M. Weinfeld e publicada
por Weinfeld em Further Remarks (Hebraico), e em Kuntillet 'Ajrud Inscriptions.
76
5.1
Reino do Norte
Uma resistncia aberta aos cultos de fertilidade apareceu primeiro sob o reinado de
Acabe, do reino do norte de Israel (874-853 a.C). Sob a influncia de Jezabel, sua esposa,
uma princesa fencia e seguidora da Asherah de Tiro, ele patrocinou a adorao pblica a
Baal, construiu para ele um altar, e tambm construiu uma Asherah.345 Segundo Bright,346
Jezabel tinha permisso de continuar a prtica de sua religio nativa no solo israelita
juntamente com os seus sditos e mercadores que a acompanhavam com interesses
comerciais. Este casamento, assim como vrios de Salomo, foi um dispositivo para
cimentar uma aliana com o poder estrangeiro. Greenberg evidencia a argumentao de
Zeitlin que o culto tinha um suporte popular pequeno e que havia surgido como oposio
determinada aos fervorosos Yahwistas.347 No entanto, Elias queixou-se a Yahweh que os
filhos de Israel abandonaram a Tua aliana, derrubaram Teus altares, e mataram Teus
profetas a espada....348 Quando ele pediu aos israelitas reunidos para escolherem entre
Yahweh e Baal, eles permaneceram em silncio.349 Ao considerar que a oposio popular
existiu, ela estava provavelmente centralizada na execuo dos sacerdotes yahwistas e na
destruio dos altares de Yahweh.
Rabe350 afirma que uma busca de elementos extsisticos nas fontes bblicas no
em vo, pois movimentos extticos so encotrados aparentemente entre os profetas de
Baal e da Asherah de Tiro no Monte Carmelo, 351 assim como entre os filhos dos profetas
que organizavam os grupos de profetas sobre lderes como Elias e Eliseu352 e Samuel.353
345
1 Reis 16:31-33
Bright, Opus Cit, p 151-152
347
Zeitlin, Opus Cit, pp 290-5, 1984
348
1 Reis 19:10, 14
349
1 Reis 18:21-22
350
1976, p 125.
351
1 Reis 18:19-20
352
2 Reis 2:3, 5, 15; 2 Reis 2:12; 6:5, 12
353
1 Samuel 19:20
346
77
tambm foram induzidos pela msica e pela dana, e os sacerdotes e s vezes espectadores
curiosos aoitavam a sua prpria carne, ao cortar a si mesmos com facas e outros com
instrumentos agudos at que o sangue jorrasse. Freqentemente eles emasculavam a si
mesmos. Brooks explica que o propsito parece ter sido impressionar as deidades com a
sinceridade do adorador, ao tentar assimilar a si prprio com a deidade, ou facilitar a
adorao flica.355 Brooks demonstra que tambm era comum a prtica de lamentar a
deidade falecida, como Tammuz ou Adonis, ao bater no peito, arrancar os cabelos. Na
Bblia Hebraica, para Brooks, no faltam referncias provveis para a prevalncia da
lacerao ritual e lamento que tinha um lugar no culto a Yahweh, e isso tem sido discutido
em alguma medida por May.356
Brooks explana que o episdio dramtico entre Baal e Yahweh, protagonizado por
Elias no Monte Carmelo, as histrias de ben nabi dos tempos de Samuel, Saul, e Davi,
assim como numerosas afirmaes nos profetas indicam que a mutilao do corpo no era
desconhecida no culto popular hebreu. Zacarias 13:6 indica que um profeta poderia ser
reconhecido por causa das marcas nas suas mos e recebido porque Eu estou marcado na
casa dos meus amantes. provvel que esta mutilao s vezes tomasse a forma de
emasculao, como em outros cultos de fertilidade. Esta pode ser a razo pela qual a
legislao de Deuteronmio 9:1 exclui os homens castrados do casamento dentro da
congregao de Israel. Era parte de uma tentativa para purificar o culto a Yahweh das
prticas que tinham estado associadas especialmente ao baalismo. Com a mudana do
354
1976,p 126
Brooks afirma que ao lado da implicao da adorao flica no simbolismo da massebah, 1 Reis 15:13 e
2 Crnicas 15:16 tem sido discutido (Journal Asiatique, XV, 1910, 100-107) como uma possvel evidncia
da adorao flica. A palavra mipheleshet que a me de Asa tinha feito uma Asherah causou confuso para os
tradutores da LXX e da Vulgata. A palavra mipheleshet,contudo,parece vir da raiz que significa simplesmente
algo que provoca medo ou horrvel de se olhar.
356
The Fertility Cult in Hosea. The American Journal of Semitic Languages and Literatures 48 (1932) 78
ff.
355
78
357
79
366
meio-dia a exclamar: Baal nos oua e eles pulavam sobre o altar, gritavam alto, e
cortavam-se si mesmos com facas e pontas de lanas a ponto do sangue jorrar sobre.
Para Ackerman, se Olyan est correto sobre a evidncia bblica a qual sugere que o
culto Asherah estava ligado ao culto de Yahweh na religio de estado no reino do norte,
ao articular a liberdade de culto Asherah e Yahweh na Samaria de Acabe conforme o
material de Kuntillet 'Ajrd em acrscimo ao texto bblico, pode-se considerar que Jezabel
pode tambm ter participado no culto de Asherah como parte de suas obrigaes do estado
Yawista. Ackerman nota que possvel perceber aqui que as condenaes deuteronmicas
do culto de estado de Acabe como sincrtica ou mesmo no-Yawistica (porque ele foi
incorporado adorao de Jezabel a Baal), porm, a religio do estado monrquico de
Acabe de fato permaneceu Yawista: os filhos de Jezabel e Acabe, Acazias e Jehoro, ambos
possuam nomes Yawisticos ('ahazyahu, Yahweh tem segurado; yehoram, Yahweh
exaltado), como tambm a sua filha367 Athaliah ('atalyah, Yahweh grande)368 O filho
de Athaliah, Acazias, sua filha Jehosheba (jehoseba', Yahweh abundncia),369 e o seu
neto Jos (yo'as, Yahweh tem dado).
Para Ackerman, bem possvel que Jezabel tenha participado de um culto a
Asherah durante sua estabilidade enquanto rainha de Acabe, tanto como parte de suas
responsabilidades maritais como tambm parte de suas obrigaes de estado. Alm disso,
embora Ackerman afirme que se pode especular, ela argumenta que no improvvel que
Jezabel continuasse a participar de um culto a Asherah depois da morte de Acabe, quando
ela assumiu o papel de rainha me. Ackerman indica que apenas a narrativa em Reis, que
destaca a viuvez de Jezabel, a histria de sua morte em 2 Reis 9. Entretanto, para
366
80
Ackerman, pode ser significativo para a sua proposta que Jezabel estivesse alojada durante
esta cena em sua residncia real em Jezreel (1 Reis 18:45-46) e no em Samaria. Ela
(Jezabel) no est prxima ao templo de Baal na Samaria, o qual mais tipicamente
relacionado (ou associado) s suas lealdades religiosas.370 Suas atenes cultuais em Jezreel
podem assim terem sido centralizadas na religio de estado do reino do norte, que ligou o
culto de Yahweh e o culto de Asherah. Para Ackerman, isto ao menos possvel para se
concluir que Jezabel, como gebira, participou da adorao a Asherah.
Mas cf. Y. Yadin, The 'House of Ba'al' of Ahab and Jezabel in Samaria, and that of Athaliah in Judah,
em Archaeology in the Leoant (Kathleen Kenyon Festschrift; Warminster: Aris & Phillips, 1978) 127-29.
371
Olyan, Asherah, passim.
372
Ackerman sugere ver tambm sobre este assunto Ackroyd, Goddesses, 253-36; Ahlstrom, Aspects of
Syncretism, 31; Freedman, Yahweh of Samaria: 248.
373
Acazias em Ams 7:13 chama o templo de Betel de um santurio do rei e um templo da dinastia (para
notas de traduo, veja Albright, Archaeology, 139).
374
Osias 4:13 retrata as filhas de Israel que se tornam prostitutas debaixo do carvalho sempre verde, do
lamo, e do terebinto mas a Asherah no explicitamente mencionada.
81
no fazia objees para um culto a Asherah como parte da religio oficial do norte.
Ackerman enfatiza a argumentao de Olyan que o silncio de Ams em considerao
adorao a Asherah de igual significncia.375 Ackerman discorre sobre a concluso de
Olyan:
Baseado apenas em uma examinao das fontes bblicas, pode-se
argumentar que a Asherah era uma parte legtima do culto de Yahweh . . .
no norte . . . na religio de estado e na religio popular.376
5.2
Reino do Sul
375
82
381
Maacah, a filha do rei Talmai de Geshur e me de Absalo; 2 Samuel 3:3 e 1 Crnicas 3:2.
S. M. Olyan, Asherah and the Cult of Yahweh in lsrael (Society of Biblical Literature Monograph Series
34; Atlanta: Scholars Press, 1988)
383
Greenberg, Opus Cit p 140, 1988.
384
1 Reis 14:24
385
1 Reis 15:22, 2 Crnicas 14-15.
386
1 Reis 15:2
382
83
independncia poltica de Jud).387 Houve a repetio do fato uma terceira vez, sob Jos
(837-800 a.C.),388 depois de um perodo de marcadas tendncias sincretistas em
conseqncia da dependncia de Jud da dinastia israelita nortista de Omri.
Porm, certos reis de Jud seguiram os ventos polticos em seu patrocnio aos cultos
religiosos estrangeiros. Quando o rei Acaz (que morreu aproximadamente em 720 a.C) foi
sitiado pelos exrcitos arameus e israelitas, ele pediu ajuda aos assrios. Por eles terem
respondido favoravelmente, pagou a eles tributos e tambm levantou uma cpia do altar
assrio no templo de Yahweh.389 Posteriormente, quando os Edomitas e Filisteus atacaram,
Acaz fechou o Templo e sacrificou aos deuses arameus, que tinham demonstrado o seu
maior poder ao derrot-los algum tempo atrs.390
Ezequias destruiu os Asherim, purificou o Templo e restaurou a adorao de
Yahweh
391
e fez isso no contexto do seu desafio bem sucedido ao Imprio Assrio. Ele
tentou centralizar a observncia da Pscoa em Jerusalm,392 que pode ser vista como uma
ttica para reforar o poder real e preparar para a recuperao poltica de Israel.
Bright393 busca contextualizar a Reforma Deuteronomista a partir do rei Manasss
(687-642 a.C.). Anais assrios retratam-no como um rei vassalo da Assria394 que sempre
prestava homenagens aos deuses do seu superior, ao erguer altares para as divindades
assrias no prprio templo de Jerusalm, e ao constituir o repdio total reforma feita pelo
seu antecessor Ezequias (716-687 a.C). Para Greenberg, sem sombra de dvida, ele tentou
acomodar as prticas religiosas de seus patrocinadores.
Fohrer395 confirma a referncia de Bright, na qual o rei Manasss tambm levantou
no Templo um smbolo da deusa Ishtar, altares para Baal e Ashtoreth nos ptios do Templo
387
84
85
golpe sangrento de Je.400 Athaliah ento assumiu o trono de Jud por seis anos, at ser
deposta como parte de uma revolta popular liderada pelo sumo sacerdote Jeoiada.401
Ackerman afirma que parte da revolta popular de Jeoiada envolvia a destruio do
templo de Baal que estava em Jerusalm
402
texto no especificar que o fato era Athaliah ter sido a responsvel pela construo do
templo, comentadores unanimamente afirmam que, durante o seu reinado, Athaliah
promoveu o culto a Baal em Jud sob a influncia de Jezabel e de seu patrocnio do culto de
Baal no norte. Ackerman observa que se este for de fato o caso, como se esperava, que
Athaliah se aliou por vontade prpria aos outros cultos favorecidos pela sua me. Se pode
haver certeza na afirmao sobre a qual Jezabel, tanto na posio de rainha, como de rainha
me, tenha participado no culto da Asherah, conforme demonstrado anteriormente,
Ackerman sugere que Athaliah pode ter feito o mesmo. De fato, Ackerman espera dar a sua
primeira concluso de que a devoo a Asherah era um aspecto normativo da religio
Yahwistica no sul. Ackerman percebe, sobre esta considerao, que como no caso de
Jezabel, os nomes Yawisticos dos descendentes de Athaliah provam que ela participou
como requerida no culto de estado.
Ackerman escreve sobre uma ltima rainha me que pode ter sido participante no
culto de Asherah: ela Nehushta, a rainha me de Jeoaquim.403 O primeiro pedao da
evidncia aqui o nome da gebira nehuta deriva provavelmente da raiz naha,
serpente404 (A alternativa para a derivao de nehuta nehoet, bronze para
Ackerman menos provvel,405 pois nomes humanos so tomados do reino animal em
comum no mundo semtico, tanto para homens, quanto para mulheres. Nomes masculinos
baseados nos metais so raros406 e nomes femininos, segundo o conhecimento de
400
2 Reis 9:27-28
2 Reis 11: l-20
402
Ou possvelmente nos seus arrabaldes; veja Yadin, 'House of Ba'al, 130-32.
403
2 Reis 24:8
404
Veja D. Harvey, Nehushta: G. A. BUTTRICK (ed.) The Interpreters Dictionary of the Bible.,4 vols.
(Nashville 1962) 3. 534b.
405
Pace, em Brown, F., S. R. Driver, and C. A. Briggs. A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament.
Oxford, 1907 639a, s.v. nh 111. Pace tambm em L. KOEHLER W. BAUMGARTNER J. J. STAMM,
Hebrisches und aramisches Lexikon zum Alten Testament, fasc. 1-5 (1967-1995) 3. 653b, s.v. nehuta',
que deriva nehuta' de uma raiz acdica outra forma no atestada no hebraico, nh, ser luxuriante.
406
Ackerman percebe que na Bblia Hebraica, existem apenas trs indivduos de nome Barzillai ( <barzel,
ao): o primeiro a se aliar a Davi em 2 Samuel 17:27-29; 19:31-40; e 1 Reis 2:7; o segundo um
sacerdote de acordo com Esdras 2:61 (= Neemias 7:63); e o terceiro o marido de Merab de acordo com 2
401
86
87
culto de elementos que ele percebe como no-Yahwisticos. Dois destes elementos so a Asherah, que ficava
no Templo de Jerusalm, e a Nehushtan, a serpente de bronze que Moiss tinha feito e pela qual os
israelitas faziam oferendas. Esta Nehushtan pode, assim como a Asherah, ter sido posta no Templo, dada
pela sua origem mosaica e seu lugar no culto sacrificial. Ackerman no acredita que esses possam ser os dois
objetos isolados por Ezequias como elementos no-Yawisticos dentro de Templo que no so relatados, pois
tanto a Asherah quanto a Nehushtan, para Ackerman, foram apenas imagens de culto devotadas a Asherah
(veja da mesma forma Olyan, Asherah, 70-71).
414
Veja A. Alt, The Monarchy in the Kingdoms of Israel and Judah, em Essays on Old Testament History
and Religion (Garden City, NY: Doubleday, 1967) 321-26.
88
nomes das dezessete gebirot de Jud, de toda forma, so, segundo Ackerman, preservados
como parte dos arquivos reais de Jud.
Ackerman continua afirmando que se a ideologia de Jud afirma que Yahweh o
pai adotivo do rei, no possvel tambm que o seja da me do rei, que compreendida
como adotada por Asherah, dado que Asherah era vista, tanto no culto de estado, como no
culto popular, como consorte de Yahweh. Para Ackerman, a linguagem da adoo divina
pode implicar no apenas que Yahweh, o deus masculino, como pai representante, mas
tambm Asherah, a consorte feminina, como me representante.
Se isso for assim, segundo Ackerman, as implicaes de uma rainha me em Jud
foram enormes. Como uma me humana de um rei, a rainha me poderia ser percebida
como a equivalente terrestre da Asherah, a me celestial do rei. A rainha me pode sempre
ser considerada um humano representativo, mesmo como representante de Asherah.
Ackerman justifica que tal correspondncia pode explicar o porqu de tais rainhas mes,
para quem as lealdades cultuais foram caracterizadas ou insinuadas na Bblia Hebraica, so
ilustradas como as protetoras da deusa Asherah. De fato, de acordo com a lgica
caracterizada, no nada apropriado que essas mulheres dirigissem suas homenagens ao
seu divino alter-ego. Ackerman justifica que admitir tal correspondncia pode explicar por
que tais rainhas mes, cujas lealdades cultuais foram caracterizadas ou insinuadas na Bblia
Hebraica, so ilustradas como as protetoras da deusa Asherah. De fato, de acordo com a
lgica caracterizada, no momento em que se faz isso realmente ser construdo dentro da
ideologia real de Jud como sua obrigao cultual, no nada apropriado que essas
mulheres dirigissem suas homenagens ao seu divino alter-ego
Em acrscimo, Ackerman argumenta que, se a sua hiptese estiver correta,
possvel ver funes de culto exercidas pelas rainhas mes de Jud em nome da deusa
Asherah como mantenedora dos relacionamentos prximos para as responsabilidades
polticas destinadas as gebirot na corte dos seus filhos. Ackerman est de acordo que a
rainha me de Jud possua uma posio oficial no palcio, e pode tambm concordar que a
rainha me tivesse uma posio de senhora conselheira. Ackerman sugere que a rainha
me, ao cumprir o papel oficial de conselheira, pode estimular a crena de que elas
representam a deusa Asherah dentro da monarquia. Uma identificao da rainha me com
Asherah pode dar gebira poder e autoridade que, similar ao rei, so originadas no mundo
89
do divino. Assim como a divina legitimao atua ao permitir rainha a funo da segunda
pessoa mais poderosa na corte real, superada apenas pelo seu filho, o rei. Ao levar isto em
considerao, o papel relacionado rainha me tambm pode exercer sua autoridade na
importncia da sucesso real. Ackerman afirma que era crucial o papel que a gebira exercia
nesta transio de poder, j que estava intimamente ligado funo de culto. Ackerman
conclui que, se a rainha me era considerada uma representante humana de Asherah na
corte real, ela estaria apta a legitimar a reivindicao de seu filho para ser o filho adotado
de Yahweh. De fato, a rainha me, admite que sua palavra tem a mesma autoridade de uma
deusa como Yahweh; a consorte unicamente qualificada para atestar a seu filho a adoo
divina. Dessa forma, o direito que determina a sucesso pode ser admitido mais
naturalmente do que propriamente investido sobre ela.
Ackerman conclui que no era vivel buscar o divrcio no papel poltico da rainha
me de Jud para uma funo cultual. Ackerman tambm sugere que no era vivel
danificar a primazia da rainha me nas responsabilidades de culto.
90
termo especfico. Brooks indica que a designao geral saris tambm usada para um
eunuco no sagrado relacionado ao harm, ou um daqueles que tinha sido tomado como
pilhagem de guerra. Que este termo tambm possa ser usado para um eunuco relacionado
ao templo provavelmente indicado pela afirmao da narrao das reformas de Josias:417
Ele levou embora os cavalos que o rei de Jud tinha dado ao sol, na entrada da casa do
Senhor, pela cmara de Nathan-Melech, o eunuco, que estava entre as casas de vero, e ele
queimou as carruagens com fogo. Como esta, h uma srie de diversas afirmaes sobre as
tentativas de Josias de exterminar o culto da fertilidade, e como o nome pode indicar que
este eunuco era dedicado ao templo, Nathan-Melech pode bem ter sido um oficial regular
do culto, que vivia no precinto do templo.
Smith destaca que os qdoshim e as qdshot tiveram os seus templos centrais
prximos ao Templo de Yahweh nos dias de Josias, e que as suas prticas foram associadas
uma parte de adorao, outra parte de devoo deusa Asherah.
Para Brooks, Josias responsvel por ter destrudo as casas dos devotos
masculinos do culto de fertilidade que estava na casa de Yahweh quando as mulheres
teciam tnicas para a Asherah.
Bright escreve sobre a Reforma Deuteronomista realizada pelo rei Josias (640-609
a.C), que se caracterizou por um expurgo radical de cultos e prticas estrangeiras, na qual o
primeiro alvo foi a religio assria, que era odiada pelas pessoas que desejavam se libertar
da dominao estrangeira.
Por volta de 622 a.C., os reparos do templo talvez significassem a purificao que
se seguiu remoo oficial de vrios cultos solares e astrais, dos quais sem dvida foram
de origem mesopotmica (2 Reis 23:4ss,11ss), assim como tambm eliminao dos
cultos idlatras nativos, dos quais alguns foram introduzidos por Manasss (2 Reis
23:6,10), e vrios outros cultos de longa data (2 Reis 23:13ss); e finalmente os prostitutos
cultuais, que, segundo Bright, foram todos exterminados (2 Reis 23:7).
Para Fohrer, a base para a reforma cultual foi um cdigo de leis apresentado a
Josias, que se tratava de uma forma incipiente do livro do Deuteronmio, chamado
Protodeuteronmio, que levou a denominao da reforma de Josias de Reforma
Deuteronmica.
417
2 Reis 23 11
91
418
2 Reis 23:7
Oded (Opus Cit 1977) salienta que o manuscrito pode ter sido redigido durante um perodo primitivo da
reforma, e mesmo durante os reinados idlatras de Manasss e Amon. Zeitlin (Opus Cit, 1984)
420
Greenberg, Opus Cit p 140, 1988.
421
O prprio Jeremias veio de Anatote, uma cidade nomeada da Anat canaanita, que evidentemente no tinha
sido esquecida alguns sculos aps a conquista hebria, mas Greenberg questiona se tal adorao poderia
permanecer mesmo nos dias de Josias.
422
Jeremias 44:15-18
419
92
Greenberg conclui que no se pode enfatizar isso demais, pois nenhuma das
campanhas contra a prostituio cultual foi dirigida homossexualidade da populao em
geral.423 Os alvos foram os cultos religiosos associados dominao estrangeira.
Comandantes zelosos424 suprimiram esses cultos enquanto se esforavam pela
independncia da dominao rival. Dessa forma, eles tentaram abolir as prticas rituais
associadas a esses cultos, juntamente com a prostituio homossexual.
Para Greenberg, nenhuma das passagens bblicas apresentadas anteriormente
sugere que os hebreus viam a homossexualidade de uma maneira bastante distinta dos
outros povos do antigo Oriente Prximo, pois desde a conquista de Cana at o Exlio, em
aproximadamente 586 a.C, muitos dos hebreus estavam engajados na adorao canania
como parte de suas prticas politesticas religiosas.425
Ackerman observa que os textos de Khirbet el-Qm e Kuntillet 'Ajrd sugerem que
era a norma no reino do sul no nono, no oitavo e no stimo sculos, a adorao tanto a
Yahweh quanto a Asherah no local do templo de Jerusalm. O zelo dos reis reformadoress,
Asa, Ezequias, e Josias, ao remover o culto da Asherah, foi uma excesso.
93
modo usual como o no-usual foram permissivos (KeDarKah, elo KeDarKah); cf. B. Yebamot 34b e
Tosafot s. v. velo
428
Veja Epstein, Sex Laws and Customs in Judaism para detalhes.
429
Epstein. Sex Laws and Customs in Judaism, pp. 135 f
430
Como pode se encontrar no material organizado de E.Westertermark, The Origin and Development of the
moral Ideas (London, 1906-8), captulo 44.
431
1981, p 111
432
Em Food and Drink in history, ed. Robert Forster e Orest Ranum (Baltimore, 1979), pp. 126-38.
94
Beaver faz referncia a uma passagem do livro The Semiotics of Food in the
Bible:433
Esta uma importncia do levantamento da separao entre duas classes ou dois
tipos de relacionamentos. Abolir a distino do significado sexual subverter a
ordem do mundo. Cada um pertence a uma espcie apenas, um povo, um sexo,
uma categoria. E na mesma maneirar, cada um tem apenas um Deus. . . . A pedra
angular desta ordem o princpio de identidade, institudo como a lei de todos os
seres.
pp 137-138
Levtico 11:27 declara impuros os animais que andam nas KaPPt, mos (New Revised Standard
Version patas)
435
Mary Douglas, Purity and Danger (London: Routledge, 1966), especialmente captlo 7, The Abominations
of Leviticus.
434
95
outras classes de T`b, e categoria como um todo.436 Walsh atesta que as proibies
sexuais contra incesto impedem a confuso de dois grupos mutualmente exclusivos: o
grupo dos potenciais parceiros sexuais e o grupo dos parentes. As proibies contra a
adorao idlatra impedem a confuso da criatura com o Criador. Walsh percebe que
juntas, todas as trs classes de T`b protegem os limites entre os israelitas, que vm a
ser o povo santo de Yahweh (i.e., posto parte, separado), e os vrios povos vizinhos,
os quais, na perspectiva de Israel, se deliciavam com todas as prticas proibidas, como a
dietria, sexual e cultual.
6.1
Leviticus (JPS Torah Commentary; Philadelphia: Jewish Publication Society, 1989), 243.
1961, pp 246-247
438
pp. 26-27
439
Ancient Near Eastern Texts, p. 422
440
Ancient Near Eastern Texts, p. 423
441
Conforme Weinfeld mostra P. Humbert, em sua obra Recherches sur les sources gyptiennes de la
littrature sapientiale d'lsrael (Neuchatel, Secretariat de l'Universite, 1929) ( p. 73.)
437
96
a expresso abominao seja originada em Deuteronmio, pois ele admite que tal
expresso proveniente da literatura sapiencial. Para Weinfeld, abominao uma
expresso que encontra o seu lugar em Deuteronmio, e no por acaso que a expresso
uma abominao para o Senhor seja encontrada principalmente em Deuteronmio e em
Provrbios. Para Weinfeld, aparentemente o autor de Deuteronmio assumiu a expresso da
literatura sapiencial, que a explicao do por que do Deuteronmio ter assimilado os
elementos sapienciais antigos.
Weinfeld percebe que o uso integral de T`b originrio da literatura
sapiencial, foi transmitida para o Deuteronmio. Ele no considera mero acaso que a
palavra aparea cento e quatorze vezes na Bblia Hebraica e cento e trs vezes em
Provrbios, Deuteronmio e na literatura ps-deuteronmicas. Os outros onze versculos da
palavra T`b, segundo Weinfeld, aparecem na seguinte forma:
1. Quatro vezes nas fontes Javista e Elosta (JE) (Gnesis 43:32; 46:34; xodo 8:22 bis);
2. Seis vezes no Cdigo de Santidade (Levtico 18:22, 26, 27, 29, 30; 20:13);
3. Uma vez em Isaas 1:13.
Na fonte JE, Weinfeld afirma que T`b um termo que representa a desgraa
referente a uma deidade estrangeira e talvez seja um TiKKun soperim; encontrado
principalmente em xodo 8:22.442
Weinfeld afirma que Isaas, considerado o primeiro profeta a mencionar a palavra
6.2
97
Brooks confirma que Deuteronmio 22:5 probe uma mulher de vestir roupa de
homem, e vice-versa. Acredita-se que esta regulao possa ser dirigida contra a culot
popular, na qual o sacerdote-eunuco usa uma vestimenta feminina.443 Em geral, o
sacerdote-eunuco usa um vestido feminino; assim como os kalbim da Palestina e da Fencia
e os kulu, kurgaru, ou assinu da Mesopotmia.
Para Olyan, em geral, o uso de T`bt sugere a violao de limites socialmente
construdos, a anormalidade ou reverso do que convencional ordem das coisas como os
antigos poderiam v-la como, por exemplo, violao dos protocolos de vestido e a
reverso dos papis de um comportamento esperado.444 Olyan tambm observa que nem
todas as formulaes legais usam direes diretas; muitas leis so dirigidas a homens, ou
tanto a homens quanto a mulheres, indiretamente.445
Wood446 demonstra a ascendncia da religio tica, em que as prticas
consideradas obscenas foram rigorosamente proibidas pelos escritores profticos447 e pelo
Cdigo Deuteronmico,448 e tambm que os eunucos foram excludos por causa da
mutilao fsica.449
Para Davies,450 possvel obter uma explicao completa para o tratamento duro
com respeito homossexualidade e ao travestismo na Bblia Hebraica, pois afirma que
essas so todas formas de comportamento sexual que quebram limites de algumas das
categorias mais fundamentais da experincia humana as categorias homem e mulher. Para
Davies, esse o motivo pelo qual a homossexualidade condenada em Levtico e pelo qual
o travestismo condenado em Deuteronmio 22:5.
443
W. R. Smith, The O.T. in the Jewish Church, ed. 2, 1892, 365: Enquanto Deuteronmio 22:5 probe uma
mulher usar roupa de homem e vice-versa, Brooks corretamente interpreta essas injunes na perspectiva de
Servius que no Chipre, homens vestidos de mulheres e mulheres vestidas de homens foram sacrificadas
Astarte barbada. A. Bertholet, Kulturgeschichte Israels. Gottingen, 1919. (A History of Hebrew Civilization.
Traduzido por A. K. Dallas. London, 1926), p. 99. A prevalncia das roupas dos eunucos-sacerdotes que
vestiam roupas femininas discutido por Fraser, Adonis Attis Osiris. Studies in the History of Oriental
Religions. New Hyde Park, New York University Books 1961, 11, 258 ff.
444
Travestismo de qualquer tipo; Deuteronmio 22:5 e 4QOrda [= 4Q159 2-4 1.7]
445
e.g., Deuteronmio. 22:5, 13-21, 22, 23-27, 28-29
446
1916,220
447
Como Miquias 1:7, por exemplo.
448
Deuteronmio 22:5 e 23:17-18
449
Deuteronmio 22:2-3
450
1982, pp 1035-36
98
451
1982, pp 1035-36.
Bblia Joo Ferreira de Almeida Revista e Atualizada
453
Em que Davies faz referncia a Epstein, Louis M. 1948. Sex Laws and Customs in Judaism.
New York: Ktav, p 135
454
1941, p. 289, no artigo de G. R. Driver e John C. Miles intitulado Sal-Zikrum Woman-Man in OldBabylonian texts IRAQ, Primavera, 1939
452
99
455
1966, pp 332-334
S. R. Driver, Deuteronomy (International Critical Commentary). Edinburgh. 1895 pp. 250-51
457
Hebrdisches und aramdisches Handworterbuch iiher das Alte Testament, 17, p. 318
458
Segundo Hoffner, escrito zi-nu-ut DINGIR-lim em Keilschrifturkunden aus Boghazki (Berlin 1921 ff.)
38 1 rev , 6, 13.
459
Keilschrifturkunden aus Boghazki (Berlin 1921 ff.) 2 2 rev 4 10
460
Keilschrifturkunden aus Boghazki (Berlin 1921 ff.) 9 28 obv 3 11-12, 20
461
Ancient Near Eastern Texts, p. 152
462
Referncia a qual Hoffner faz novamente Levtico 18:22
456
100
(2) Ou ainda, esta passagem pode fazer aluso a uma prtica cultual antiga, pela
qual adoradores se vestiam nos trajes do sexo oposto ao venerar uma deidade considerada
bissexual.
No entanto, Hoffner menciona que esta era a perspectiva de Robertson Smith, que
tem sido apoiada em certos crculos acadmicos at a poca em que seu artigo (de Hoffner)
foi escrito463 no entanto, a dificuldade encontrada por ele nesta perspectiva da evidncia
de Smith para a existncia de cultos semelhantes que foi emprestada literatura do
perodo helenstico; porm, essa viso pode ter maior credibilidade se houver a
possibilidade de dar base aos textos do segundo milnio tardio a.C.
Em outros textos,464 Hoffner observa que demonstrado que Ishtar danava o
rodopio como um homem, e que ela tinha o poder de transformar um homem em uma
mulher, com o objetivo de ensinar ao povo o medo religioso. Hoffner tambm observa que
nas esttuas dedicadas a NINNI+NITA (Ishtar masculina?) em Mari, um smbolo
masculino acompanha o seu ideograma.465 Uma evidncia textual maior para a deusa Anat,
que agia como um homem e vestia trajes tanto masculinos quanto femininos, pode ser
encontrada, segundo Hoffner, na referncia de J. Milson do Papiro de Chester Beatty VII,
versculo 1, 8-9:466 Anat, a deusa, a vitoriosa, a mulher que age [como] um homem, trajada
como um homem e vestida como uma mulher. Entretanto, mesmo assim, para Hoffner,
essa evidncia muito fraca para dar suporte interpretao de Smith sobre Deuteronmio
22:5.
Na opinio de Hoffner, em virtude do defeito de tais evidncias, infelizmente,
pode-se considerar a interpretao como interessante e um tanto plausvel porm
dificilmente demonstrvel. Por outro lado, as evidncias apresentadas por Hoffner
confirmam a existncia, no segundo milnio posterior a.C., de formas rituais proibidas que
utilizam os smbolos externos de masculinidade e de feminilidade para manter, restaurar, ou
463
Encontrada em S. R. Driver, Deuteronomy (International Critical Comentary), pp. 250-51; R. Smith, Old
Testament Pseudepigrapha. Edited by J. H. Charlesworth. 2 vols. New York, 1983, p. 365; Interpretation B,
2, p. 464
464
The Assyrian Dictionary of the Oriental Institute of the University of Chicago (Volume 21, 1961), Z, p.
117, s.v. ziKruTu
465
cf. Parrot A., Mission archologique de Mari, I, Le Temple d'Ishtar, Paris, Institut franais d'archologie
du Proche-Orient, 1956 pp. 68-74
466
apud Ancient Near Eastern Texts, p. 250, n 18
101
erradicar a prpria potncia sexual ou a de seu inimigo. Hoffner destaca que, de acordo
com tais procedimentos, o ritual poderia ser necessrio para o dependente servir como uma
espcie de manequim ou costureira viva, sobre quem o praticante poderia transitar os
smbolos que, acompanhados pelos feitios apropriados, atingiriam o resultado desejado.
Hoffner considera que a proibio bblica caracteristicamente elptica e no faz meno
do motivo, mas simplesmente sugere os sinais externos da prtica. Hoffner salienta que, ao
se envolver com tal comportamento, faz-se um apelo aos poderes da fertilidade (mesmo se
nas mentalidades de alguns, Yahweh seja a fonte desses poderes), tal envolvimento foi
considerado como T`b (abominao) tanto para o pio, como para o ortodoxo. Segundo
Hoffner, certamente h muito para ser dito da perspectiva de von Rad,467 pela qual o
Yahwismo, mesmo em suas formas pr-monrquicas, esteve oposto a todas as espcies de
magia per se, desde que estivessem designadas a influenciar automaticamente a deidade.
Hoffner conclui que o ritual mgico, por se tratar de uma invaso das liberdades pessoais e
das aes superiores de Yahweh, para o conceito Yahwista, era apropriadamente
denominado T`b.
Greenberg prope que h evidncia do travestismo feminino na mitologia
canaanita.468
467
Encontrada em G. von Rad, Old Testament Theology, Vol I, 1962. pp. 34-35.
Hillers, Opus Cit, 1973. Greenberg passa a afirmar pelas suas evidncias que no h culto de prostituio
lsbico anlogo ao da prostituio masculina, porm, o travestismo descrito em Deuteronmio 22:5 trs
determinadas implicaes com respeito a homossexualidade, o que j foi discutido anteriormente no item
6.2 deste trabalho, intitulado Deuteronmio 22:5 e o travestismo. A proibio do travestismo em
Deuteronmio 22:5 freqentemente tomada como relacionada prostituio ritual, mas para Greenberg,
no est claro. Pois a passagem usualmente traduzida dessa forma: A mulher no usar roupa de homem,
nem o homem, veste peculiar mulher; porque qualquer que faz tais coisas abominvel ao SENHOR, teu
Deus. (Almeida Revista e Atualizada), mas o autor tem uma sugesto mais literal como traduo para
leitura: A mulher no usar um implemento de homem (ou arma) e o homem no usara algo que simboliza
uma mulher. A prostituio masculina involve travestismo, mas Greenberg argumenta que no h
conhecimento de mulheres que se vestiam como homens em ligao com o culto ritual ou com a
prostituio, e esse no o nico argumento de Greenberg, pois ele faz referncia Hoffner (Opus Cit,
1966) sugere que a passagem possa estar de acordo com rituais mgicos relacionados com a restaurao da
potncia sexual masculina ou a destruio da de um inimigo. De qualquer forma, para Greenberg, possvel
que a proibio foi meramente compreendida para sustentar as distines de gnero, e no s prticas
relacionadas ao culto. Mas Greenberg no faz argumento do contexto em que a passagem foi escrita, que foi
na poca da revoluo deuteronomstica, na qual as questes religiosas estavam em jogo, que incluiam o
travestismo (BRIGHT, J., Histria de Israel, So Paulo, Paulus, 1978 FOHRER, G. A Histria da Religio
de Israel. So Paulo, Ed Paulinas, 1982.).
468
102
6.3
Davies (1982, p. 1033) observa que os textos bblicos que apresentam mais
claramente os interditos contra a homossexualidade e as suas razes aparecem no Livro de
Levtico:
Com homem no te deitars, como se fosse mulher; abominao.
(...)
Com nenhuma destas coisas vos contaminareis, porque com todas estas coisas se
contaminaram as naes que eu lano de diante de vs.
[Levtico. 18:22/24, Bblia Joo Ferreira de Almeida Revista e Atualizada]
Davies explica que a justificativa para as duras penalidades intimadas nos textos
posteriores est claramente distinta na primeira passagem apresentada. Para Davies, a
proposta dos interditos distinguir os hebreus, o povo escolhido, dos seus vizinhos
idlatras. Davies considera que os interditos ajudam a manter e a reforar os limites do
grupo e permitem-nas manter sua identidade distinta sobre circunstncias adversas.
Ullendorf469 utiliza o argumento das injunes contra a bestialidade apresentadas
em Levtico 18:23 e 20:15-16, que probem distintamente e separadamente a zoofilia para o
homem e para a mulher, ao passo que a interdio da conduta homossexual caracterizada
em Levtico 18:22 e 20:13, nas quais um homem deita com outro homem como se fosse
uma mulher, no seguida por uma proibio similar contra o lesbianismo. O que, para
Ullendorf, pode significar que ou o lesbianismo no era conhecido no mundo bblico, ou
era mais facilmente tolerado do que a homossexualidade masculina.
469
1979, p 433.
103
472
linguagem comum da poca. Para Bigger, a lei paralela de Levtico 20:13 tambm percebe
a ofensa como uma abominao e exigia a pena de morte.
Der Toorn473 compreende que um dos textos bblicos que fazem aluso prtica
de pagamento de votos adquiridos pela prostituio encontrado em Deuteronmio 23:1819, passagem na qual os dois versculos so tambm considerados como pertencentes
coleo pr-Deuteronmica de ditos de T`b, designado para combater as prticas
cultuais canaanitas. Porm, Der Toorn afirma que esta opinio em sua poca tem sido
bastante questionada e desafiada, pois o uso da frmula T`b tambm pode ser
explicado como um emprstimo da literatura sapiencial. Tambm, a tendncia anticanaanita, segundo Der Toorn, no evidente em todos os ditos alegadamente pertencentes
coleo.474 O servio de pessoas consagradas (qdoshim) tiradas do meio dos israelitas e
o costume de pagamento de votos com dinheiro, para Der Toorn, teve como conseqncia a
proibio da prostituio.
470
1979, pp 202-203.
Joo Ferreira de Almeida Revista e Atualizada
472
Que encontrada em Nmeros 31:17-18, 35 e Juzes 21:11-12.
473
1989, pp 200-201.
474
Sobre o assunto, Der Toorn faz refrencia H. D. Preuss, Dartemmumiurn (Darmstadt: Wissenschaftliche
Buchgesellschaft, 1982) 118-19.
471
104
1981,p 71
1994, pp 179-206
477
Olyan afirma em suas notas de rodap que Levitico 17-26 tem sido considerado por muito tempo uma
coleo de materiais legais de provinincia separada da Escola Sacerdotal, atribuda Escola de Santidade,
assim chamada porcausa do seu interesse pela santidade de Yahweh e de toda a terra de Israel, sua proteo, e
a sua exigncia que Israel seja santo tambm. Esta unidade chamada de Cdigo de Santidade ou "Fonte"
por muitos acadmicos (em notao curta, H). No passado, se acreditava que poderia ter sido incorporado
Fonte Sacerdotal (ou P) no grande corpus legal de P que se estendende desde xodo 24 at Nmeros,
possivelmente antes do sexto sculo a.C, possivelmente durante aquele sculo ou logo depois. Os trabalhos
mais recentes na relao de H e P tendem a modificar e at a inverter aspectos destas hipteses: materiais H
ocorrem entre materiais P externamente do ento chamado Cdigo de Santidade (em xodo, Levtico,
Nmeros), ento H no de modo algum restringido a Levtico 17-26; H foi editor de P, e no vice-versa.
Esta concluso foi obtida independentemente tanto por J. Milgrom (Leviticus 1-16 [New York, 1991], pp. 1335); quanto por Y. Knohl (The Priestly Torah versus the Holiness School: Sabbath and the Festivals,
Shnaton 7/8 [1983/ 84]: 109-46 [Hebrew], publicado em ingls no Hebrew Union College Annual 58 [1987]:
65-117).
478
Olyan confirma que muitos comentadores modernos no conhecem a ambiguidade destas formulaes
legais, embora John Boswell perceba que h uma turma considervel para duvidar sobre precisamente o que
proibido (Christianity, Social Tolerance, and Homosexuality [Chicago, 1980], p. 101, n 34).
479
Olyan demonstra que a palavra T`b convencionalmente traduzida como abominao Este o
nico ato a ser rotulado como tal nas prprias leis de Levtico 18; na estrutura redatorial de Levtico 18:26-30
476
105
Olyan explica que comentadores, por mais de dois milnios, tm se esforado para
interpretar essas leis. Alguns compreendem que as leis de Levtico 18:22 e 20:13 servem
para proibir especificamente o papel de penetrador na penetrao anal; outros, os papis
penetradores e receptivos; h ainda outros que probem todos os atos sexuais entre
homens.480 Para Olyan, estas so as nicas leis encontradas na Bblia Hebraica; para ele no
todos os atos precedentes so T`bt (que contraria a estrutura nos versculos 1-5, em que ma'aseh, o feito,
o ato, ocorre ao invs do termo; isto sugere,segundo Olyan, a mo de um redator diferente no prlogo das
leis do captulo 18). O significado de T`b, para Olyan, no completamente claro; pois no pode
significar exatamente a mesma coisa em todos os lugares. O termo ocorre de maneira comum nos textos
sapienciais como Provrbios, em Deuteronmio e materiais deuteronomsticos; em Ezequiel; e na Fonte de
Santidade. Fora de Israel, a palavra ocorrre no sexto sculo a.C. A inscrio Tabnit de Sidon (H. Donner and
W. Rollig, eds., Kanaandische und aramdische Inschriften, 4th ed., 3 vols. [Wiesbaden, 1979], inscrio
n 13, linha 6) em que a abertura de uma sepultura chamade de T`b da deusa Ashtart, animais impuros
(Deuteronmio. 14:3); animais sacrificiais com defeitos corporais (Deuteronmio. 17:1); e.g., ele que justifica
o mal e declara o inocente como culpado em uma apresentao normal (Prov. 17:15). Yahweh invocado ao
se desprezar a T`b (Deuteronmio. 12:31). A traduo convencional abominao sugere apenas aquilo
que horrvel; no atravessa o sentido da violao de um limite socialmente construdo, o inverso ou anormal
daquilo que convencional, mas visto como estabelecido pela deidade. A noo de Boswell (pp. 100-101)
que a T`b usualmente associada no a aquilo que intrinsecamente mal, mas com aquilo que
ritualmente impuro simplesmente infundado; esta polaridade estrangeira tanto para H quanto para o
vasto contexto cultural israelita (veja da mesma forma as crticas de D. E. Greenberg, The Construction of
Homosexuality [Chicago, 1988], p. 196; no tratamento de Boswell em geral, a crtica de Greenberg
utilizada [pp. 195-96]). No sentido de T`b em diversos contextos bblicos, veja tambm Milgrom,
to'eba, Encyclopaedia Biblica (Jerusalem, 1965-88), 8:466-68 (Hebrew); e especialmente P. Humbert,
Le substantif to'eba et le verbe t'b dans l'Ancien Testament, Zeitschriftfiir die alttestamentliche
Wissenschaft 72 (1960): 217-37.
480
Olyan explana que entre as discusses rabnicas clssicas, veja Siphra, Qod. 9.14 e material similar em b.
Sanhedrin 54b. Estes textos admitem que a lei de Levtico 18:22 proscreve o ato penetrador. Eles aumentam a
proibio para cobrir a atividade do parceiro penetrador e a do parceiro receptivo pela referncia penalidade
de Levtico 20:13, quando mencionam ambos os homens; as leis em outro lugar relacionadas com o qadesh,
que tomado para ser um prostituto cultual receptivo pelos rabis (opinio de R. Ishmael de acordo com b.
Sanhedrin 54b que faz referncia a Deuteronmio 23:18; 1 Reis 14:24); ou pelo reapontamento do texto
consonantal de tskb em Levtico 18:22 como uma forma passiva verbal (opinio de R. Aqiba de acordo com
Siphra, Qod. 9:14 e b. Sanhedrin 54b: voc no deitar .. . tornar voc no ser deitado . .). Rashi,
ao comentar em Levtico 20:13, embora a lei seja referida especificamente ao papel penetrador. Veja tambm
a moderna, metodologicamente sofisticada discusso de M. L. Satlow, 'They Abused Him Like a Woman:
Homoeroticism, Gender Blurring, and the Rabbis in Late Antiquity, Journal of the History of Sexuality 5
(1994): 1-25, que trabalha outros textos como os textos rabnicos apresentados anteriormente. Olyan justifica
que a discusso de Satlow trouxe Siphra, Qod. 9.14 sua ateno. Comentadores recentes em Levtico 18:22
e 20:13, como seus equivalentes pr-modernos, tendem a se dividir em dois grupos: aqueles que admitem que
as leis se referem especificamente penetrao anal entre homens, e aqueles que afirmam que as leis se
referem a atos homoerticos em geral (freqentemente rotulados homossexualidade por estes acadmicos).
Olyan escreve que nenhum destes acadmicos prova um argumento sustentvel em defesa da sua posio no
significado das leis. Para uma viso formal, veja entre outros S. Bigger, The Family Laws of Leviticus 18 in
Their Setting, Journal of Biblical Literature 98 (1979): 202; B. Levine, Leviticus (New York, 1989), p.
123; Thomas M. Thurston, Leviticus 18:22 and the Prohibition of Homosexual Acts, in Homophobia and
the Judaeo-Christian Tradition, ed. M. L. Stemmeler and J. M. Clark (Dallas, 1990), p. 16; Satlow, pp. 5, 6
e n 12, pp. 9, 10. Para uma viso posterior, veja entre outros N. H. Snaith, Leviticus and Numbers
(London, 1967), p. 126; G. J. Wenham, The Book of Leviticus (Grand Rapids, MI, 1979), p. 259; S.
Niditch, The Sodomite Theme in Judges 19-20: Family, Community and Social Disintegration,
106
h absolutamente nada anlogo para tais leis nas outras colees legais israelitas
existentes,481 apesar da sua unicidade, segundo Olyan, no ser, de forma geral, reconhecida
por acadmicos.482 Ao contrrio, Olyan diz que no h razo para admitir a associao entre
as proibies de relaes masculinas encontradas em Levtico 18:22 e 20:13 e diversas
outras interdies presentes nos mesmos contextos legais.483 Olyan sugere que, caso haja
uma ligao, ela pode ser resultado da transmisso e/ou de inteno redatorial. Segundo
Olyan, o investigador contemporneo responsvel por procurar as razes pelas quais os
Catholic Biblical Quarterly 44 (1982): 368-69; Greenberg, p. 191; Howard Eilberg-Schwartz, The Savage
in Judaism (Bloomington, IN, 1990), p. 183; e D. Biale, Eros and the Jews (New York, 1992), p. 29. K.
Elliger, Leviticus (Tiibingen, 1966), p. 241, admitia que as leis proscreviam homossexualidade.
481
Olyan afirma que diversas colees legais discretas alm daquelas de H e P esto embutidas no
Pentateuco; elas incluem o Livro da Aliana (xodo 20:22-23:33); os materiais mediados pela fonte J
(javista) de xodo 34; a grande coleo legal deuteronmica (Deuteronmio. 12-26); os discursos
deuteronmicos (Deuteronmio. 27:15-26); e o declogo (em duas formas: xodo 20:2-17 e Deuteronmio
5:6-21).
482
Olyan afirma que Satlow uma excesso, embora ele no mencione todas as outras colees legais nas
quais cada um poderia esperar que leis anlogas ocorressem (p. 5, n 10). Alguns acadmicos e tradutores
alegam que as leis do Pentateuco e outras alm de Levitico 18:22 e 20:13 mencionam homens que esto
engajados em atos sexuais com outros homens, mas segundo Olyan, isto no tem sido demonstrado
convincentemente. Olyan continua a indicar sobre a histria de Sodoma e Gomorra em Gnesis 18-19 que
obviamente literria e no legal; na questo da ameaa do (bando) estuprar os homens convidados por uma
multido teimosa de homens, que tambm ameaou ao anfitrio L, o qual de fato um estrangeiro residente.
Tais ameaas, segundo Olyan, so ilustrativas da maldade geral das cidades da plancie de acordo com a fonte
J (javista), a tradio responsvel pela histria. Olyan mostra um argumento contra a natureza carnal das
ameaas to improvvel quanto audacioso; a resposta de L aos homens da cidade em Gnesis 19:8 foi-Eu
tenho duas filhas que nunca conheceram algum homem.... Faam com elas o que vocs quizerem- e o uso
sexual do verbo conhecer, conforme Olyan, na verso paralela da histria de Juzes 19 indica que a
penetrao sexual coagida destinada quando o mando teimoso exige conhecer o(s) hspede(s). Compare
Boswell, pp. 93-96, que desenvolve a tese de D. S. Bailey, Homosexuality and the Western Christian
Tradition (London, 1955), que os homens de Sodoma no exigiam relaes sexuais. Ao mesmo tempo,
ignora o contexto bastante especfico das ameaas (o grupo estuprador de homens convidados e seu anfitrio
estrangeiro residente) e generalizar sobre atitudes bblicas com respeito homossexualidade igualmente
enganoso. Olyan continua a sugerir que comentadores tm tendido a enfatizar a ameaa de estupro contra os
convidados de L, porm ao ignorar a ameaa contra o prprio L e o seu estatus de residente estrangeiro,
alguns viam a lei israelita como vulnervel e precisavam de uma proteo especial contra a opresso, segundo
a colocao de Olyan (veja, e.g., xodo. 22:20 [English Standart Version 21]; 23:9).
483
Olyan salienta que alguns comentadores admitem necessariamente tal associao; eles tendem a serem
apologistas de uma moralidade conservadora, e seus argumentos exploram na edio final de H das leis de
Levtico 18 e 20, e em todas as violaes sexuais enumeradas so chamadas de T`bt e associadas
alegadamente com a contaminao dos comportamentos canaanitas e egpcios. Comentadores conservadores
tendem a amplificar e a destacar as associaes estabelecidas pelos redatores no final de Levtico 18 e 20 sem
referncia a questes de inteno redacional ou pr-histria legal. Veja, e.g., N. Lamm, Judaism and the
Modern Attitude to Homosexuality, em Contemporary Jewish Ethics, ed. M. M. Kellner (New York,
1978), p. 379, que enfatiza que sodomia, e penetrao anal, esto ligados nestas passagens; Olyan
observa que as implicaes dos seus comentrios so bvias. Olyan sugere para ver da mesma forma o
comentador bastante citado D. Z. Hoffmann, o qual argumenta que os atos sexuais homoerticos
compartilham de um fim em comum: a satisfao do desejo animal (nfase de Olyan) e no a reproduo
(Sepher Wayyiqra [Jerusalem, 1953], 2:23). Olyan prope que esta aproximao tambm encontrada nos
textos clssicos rabnicos, como Satlow demonstra (pp. 21-22 e nn.).
107
escritores e/ou editores de Levtico 18 e 20 possam ter associado as leis que probem
relaes masculinas. Olyan destaca que o material refora a sua prpria proposta.
Para Olyan, difcil determinar o sentido de Levtico 18:22 e 20:13 pela presena
considerada no esclarecida do termo hebraico miKb i em ambas formulaes.484
Para Olyan, a traduo mais comum para miKb i, como com uma mulher,
interpretativa, no-literal: ela demostrada ao adquirir adequadamente o sentido de
proibio.485 Olyan relata que um estudo dos usos de um termo similar e aparentemente
relatado como miKab zkr, o deitar de um homem, fornece alguma anlise dentro do
significado do termo opaco miKb i. Olyan observa que a expresso miKab zkr
ocorre em Nmeros 31:17, 18, e 35, e Juzes 21:11 e 12.486 Em Juzes 21:12, uma moa
virgem (na`r btl) definida como quem no conheceu nenhum homem que tenha
deitado com ela como homem (l|-yd` lmiKab zkr).487 Seu oposto, a no
virgem, mencionada no versculo 11, uma mulher que conheceu o deitar de um homem
(i yda`at miKab zkr). Olyan compreende que o mesmo termo ocorre em Nmeros
31, um texto que procura fazer distino entre mulheres que so virgens e mulheres que no
so virgens. A no virgem aquela mulher que conhece um homem que pretende deitar
com ela como um homem (kol-i yda`at lmiKab zkr; versculo 17); a virgem
aquela mulher que no conheceu o deitar de um homem (l-yd` miKab zkr;
484
Olyan considera que a razo para o plural miKb i permanece inexplicada, embora chamassem a
ateno de comentadores rabnicos no Talmud e em outros lugares, que especularam que o termo se referia a
dois atos sexuais possveis com uma mulher. Veja, e.g., b. Sanhedrin 54a, 55a, e b. Yebamot 54b, em que as
duas miskebot so discutidas.
485
Olyan enfatiza que algumas tradues convencionais em ingls de Levtico 18:22: Voc no deitar com
um homem como com uma mulher; isto uma abominao (Revised Standard Version e New Revised
Standard Version); No deite com um homem como algum deita com uma mulher; isto uma averso
(New Jewish Publication Society Version, 1982); Voc no deve deitar com um homem como com uma
mulher. algo odioso (Jerusalem Bible (JB - 1966)); Voc no deitar com masculinidade como com
feminilidade; isto uma abominao (Authorized Version ou King James Version, 1994). Olyan discorre
que,virtualmente sem exceo, a difcil expresso deitar de uma mulher dada como o deitar de uma
mulher ou algo semelhante.
486
Olyan percebe que Bigger (nota n 480 acima), p. 203, observa a existncia da expresso miKab zkr
quando discute miKb i, e afirma que miKab zkr uma expresso de fonte P (Sacerdotal). Mas
Olyan argumenta que a expresso usada em Juzes 21 ao sugerir que no seja uma expresso restrita apenas
fonte P. Olyan diz que Bigger no usa miKab zkr para determinar o grau do significado de miKb
i.
487
Olyan relata que na preposio l que significa com respeito , veja E. Kautzsch, ed., Gesenius' Hebrew
Grammar, trad. A. E. Cowley, 2d ed. (Oxford, 1910), para. 119u; Paul Joon, Grammaire de I'hebreu
biblique (Rome, 1923), para. 133d.
108
versculos 18, 35). Olyan afirma que o termo miKab zkr literalmente o deitar de um
homem, e pode significar especificamente a penetrao vaginal de um homem nestes
contextos. A experincia de miKab zkr, para Olyan, define a superioridade da novirgem sobre a virgem, para quem falta especificamente tal experincia. Nota-se que a
expresso conhecer o deitar de um homem significa a mesma coisa como mais um lugar
comum da expresso conhecer um homem; textos como Juzes 21:12 e Nmeros 31:17
usam duas expresses equivalentes que partem do mesmo ponto, em que qualquer
expresso isolada j seria suficiente, como Juzes. 21:11 e Nmeros 31:18, 35 indicaram.488
Olyan discute que a expresso miKb i, assim como a expresso miKab
zkr so um par, como ambos parecem ser, e miKab zkr possui um uso restrito, como
ele aparentemente aponta, o grau do significado para a expresso miKb i pode ser
igualmente restrito. No conceito de Olyan, se miKab zkr significa especificamente
penetrao vaginal masculina. Seu anlogo, miKb i, para Olyan, pode significar
algo como o ato ou condio de uma mulher ao ser penetrada, ou, mais simplesmente, a
receptividade vaginal, o oposto de penetrao vaginal.490 Dessa forma, Olyan afirma que a
488
Olyan sugere comparar Gnesis 24:16, em que virgem (btl) est bem definida pelo comentrio:
nenhum homem a conheceu
489
Olyan corrobora que por um lado, ele percebe que entre os Rolos do Mar morto, uma forma plural de
miKb zkr ocorre (1QSa 1.10). O uso desta expresso em Qumran no final do primeiro milnio no est
de acordo com o uso em Nmeros 31 e Juzes 21; Olyan atesta que aqui, o texto no se refere s experincias
de uma mulher em penetrao com um homem, mas a experincias de um homem com uma mulher (welo'
yi[qrab] 'el 'issa leda'tah lemiskebe zakar). Olyan continua a declarar que talvez o uso restrito da expresso
como atestado em Nmeros 31 e Juzes 21 tenha sido perdido pelo final do milnio; possivelmente o
significado da expresso tenha mudado. Olyan evidencia que a soluo elusiva, apesar da explicao antiga
seja mais plausvel do que a mais recente.
490
Olyan demonstra que esta uma especulao, naturalmente, desde que no haja nenhum texto existente
com a expresso miKb i , que atualmente usada em uma relao entre um homem e uma mulher
(isto ocorre apenas em Levtico 18:22 e 20:13). Olyan observa que vrios leitores das pr-publicaes das
verses deste manuscrito levantaram a possibilidade de que miKb i pode se referir a outros atos como
o da receptividade vaginal, mas Olyan acha que isto bastante improvvel; ao admitir isso, Olyan explica que
cada um teria que admitir que miKab zkr tambm se refere a uma variedade de atos sexuais, e para Olyan,
esta posio no pode ser defendida a luz de uma evidncia bblica pelo restrito uso de miKab zkr.
109
penetrao vaginal uma experincia de mulher (tida como expresso idiomtica o termo
conhecer ou deitar) miKab zkr (penetrao masculina), enquanto se supe que ela
oferece ao seu parceiro a miKb i (receptividade vaginal), que ele experimenta
(conhece ou deita).491
Olyan confirma que o uso aqui considerado anmalo se a expresso miKb
miKb i ser considerado limitado, assim como o grau de miKab zkr, quando as
leis sobre as relaes sexuais de homem em homem do Cdigo de Santidade apareceram
para ser circunscritas em seu significado, elas se referiam especificamente penetrao e
sugeriam que a penetrao anal poderia ser percebida como analogia penetrao vaginal
em algum nvel, uma vez que o deitar de uma mulher parece significar receptividade
vaginal.492 Olyan explica que a expresso deitar com significa copular em outros
contextos legais e no-legais. Olyan acredita que tal fato seja muito comum e que o deitar
tenha o mesmo significado em Levtico 18:22 e 20:13, porm, com exceo deste caso, a
penetrao anal tinha tal significado. Olyan acredita que o penetrador em Levtico 18:22
seja melhor do que o homem penetrado. Em outros contextos legais, Olyan afirma que
homens no foram condenados por deitarem com vrias parceiras mulheres receptivas.493
De fato, no amplo contexto da lei bblica, Olyan justifica que a expresso deitar com
usada exclusivamente para parceiros penetradores.494 Olyan suspeita que o mesmo seja
491
Olyan explana que na prosa da expresso bblica, uma mulher pode deitar com um homem apenas
quando um homem puder deitar com uma mulher: veja, e.g., Gnesis 19:33-35 passim, em que as
expresses sakab 'im e sakab 'et so usadas pelas filhas de L ( o que chamou a ateno de Olyan atravs dos
comentrios de ibn Ezra's sobre Levtico 18:22); a permutabilidade de sakab 'im e sakab 'et sugere que no
haja nenhuma diferena de significado entre eles. Olyan sugere para comparar tambm Gnesis 39:7, 12; 2
Samuel 13:11, em que as mulheres exigem que o homem deite com elas. Desde que tanto o homem quanto
a mulher possam conhecer ou deitar sexualmente, segundo Olyan, no h provavelmente nenhuma
diferena no significado entre as duas expresses: ambas significam experimentar a penetrao.
492
Olyan afirma que Bigger (nota n 480 acima), p. 203, ao buscar o uso de miKb i , apresentar um
ato entre homens e usar um diferente vocabulrio, faz um ponto similar: ele afirma que os israelitas viam a
homossexualidade como uma variante no natural da heterossexualidade. Na questo aqui apresentada,
segundo Olyan, h uma coleo legal isolada (como a de H) e sua viso de um ato sexual isolado (como a
penetrao anal de um homem), no nas construes modernas de homossexualidade e
heterossexualidade, e no na questo de atos naturais versus atos anti-naturais. Para Olyan proscrito
teria sido mais conveniente do que anti-natural
493
Por exemplo, Levtico 19:20; 20:11, 12, 18, 20 em H; e Levtico 15:18, 24, 33; Nmeros 5:19 em P.
494
Apesar de em outro lugar, nas colees no-legais (Gnesis 19:33-35 passim; cf. Gnesis 39:7, 12; 2
110
verdade em Levtico 18:22 e 20:13: as leis dirigidas ao parceiro receptivo em uma relao
homem em homem. Alm disso, com um homem voc no deitar o deitar de uma
mulher segundo a traduo de Olyan, implica que voc (masculino singular [m.s.]) deitar
o deitar de uma mulher com uma mulher. Se isso for desta forma, Olyan percebe que a
passagem pode novamente sugerir que a lei era dirigida ao parceiro receptivo. Para Olyan,
isto pode fazer sentido, dadas as experincias da mulher enquanto se engaja na penetrao
com o deitar de um homem, da mesma maneira em que h as supostas experincias de
um homem ao realizar o deitar de uma mulher. Para Olyan, esta interpretao coerente
com as perspectivas de alguns intrpretes tradicionais da lei, que acreditam que estes
versculos estejam referidos ao parceiro penetrador.495 Olyan aponta outra possvel
interpretao: que a lei dirigida ao parceiro potencialmente receptivo, que era percebido
de maneira distinta. Enquanto na lei aparece que o termo miKb i se refere a
experincias masculinas em penetrao vaginal, a lei estipula que voc (m.s. masculino
singular) no ter experincia sexual com um homem.496
Olyan menciona que a lei de Levtico 18:22 est dirigida apenas a um dos
participantes (voc m.s.); ao contrrio, a formulao em 20:13, para Olyan, menciona o
homem que deita (i.e., voc de 18:22), mas muda o nmero do singular para o plural no
meio do versculo. Como isto, compreendido, para Olyan, que a formulao com a
penalidade em Levtico 20:13 enfatiza a culpa de ambas as partes: eles-os dois deles-tem
cometido uma T`b ; eles certamente sero condenados morte; seu sangue cair sobre
eles. A alterao do nmero do comeo da lei para a sua concluso insuficiente; segundo
Olyan, ela sugere que a atividade redatorial conhecida aumentou o alcance da lei e incluiu
ambas as partes. Olyan percebe que a ateno enftica da culpabilidade de ambos os
parceiros tambm o leva a suspeitar da reordenao editorial. Para Olyan, o melhor
exemplo Levtico 20:10, uma lei que narra sobre o adultrio, a qual divide caractersticas
com Levtico 20:13., ao mencionar um homem que comete adultrio com a esposa de seu
Samuel 13:11), uma mulher deita com um homem, como foi observado acima.
495
Veja, e.g., m. Sanhedrin 7:4; m. Kerithoth 1:1; e Rashi em Levtico 20:13. Contrrio as vises atribudas
a R. Aqiba e R. Ishmael em b. Sanhedrin 54b, que afirmam que tanto o parceiro penetrador quanto o parceiro
receptivo so destinados pela lei; tambm veja ibn Ezra em Levtico 18:22.
496
Olyan destaca que Shaye J. D. Cohen e David Konstan (conversation, December 8, 1993) e um leitor
annimo contriburam com as suas sugestes e criticas que ajudaram-no a esclarecer e a reforar a sua
argumentao nesta conjuntura.
111
vizinho e as situaes em que eles sero certamente condenados morte (mt ymt)
(nesses acrscimos considerados insuficientes por Olyan), sero de: o adltero e a
adltera (hannp whannpet). Como em Levtico 20:13, a lei comea centralizada
em um objeto singular (o homem que comete adultrio); ao contrrio de 20:13, a
penalidade prescrita para apenas um homem, e somente mais tarde o adultrio incluiu a
penalidade.497 Olyan indica que em todos esses eventos o efeito o mesmo: leis que
mencionam originalmente uma parte culpada isolada foram organizadas desajeitadamente
com o objetivo de aplicar a pena de morte a ambos os parceiros. Olyan salienta que no caso
de Levtico 20:10, a lei era originalmente aplicada a um adltero isoladamente; no caso de
Levtico 20:13 (como em 18:22), para um parceiro penetrador em uma relao homem em
homem.
Olyan afirma que se a sua sugesto de um novo trabalho editorial estiver correta,
na medida em que apenas os respectivos parceiros penetradores (o adulterador e o parceiro
penetrador da relao homem em homem) eram punidos por ambas destas leis,
caracterizava-se um estgio primitivo de sua formulao. Na forma final das vrias leis de
Levtico 20, todas as suas partes relacionadas s violaes das relaes sexuais tm como
condenao a pena de morte ou outra forma de condenao.498 Mas Olyan prope que isto
no diz nada sobre a forma primitiva dessas leis, vrias das quais parecem ter sido mais
restritas em sua aplicao.499
Dessa forma, Olyan diz que se pode observar pelo menos trs estgios
identificveis no desenvolvimento de Levtico 18:22 e 20:13: (1) um final, verso redatada
de leis, que bem grande no texto bblico, em que o ato do parceiro penetrador o foco de
proibio (tanto em 18:22 como em 20:13); (2) o parceiro receptivo igualmente culpado
497
Olyan sugere para comparar a formulao similar de estatuto sobre o adultrio em Deuteronmio. 22:22.
Olyan sugere que a lei comea por um direcionamento um homem que deita com uma mulher que a esposa
de outro homem mas continua a prescrever a pena de morte para ambas as partes ao usar uma linguagem
bastante enftica.
498
Olyan continua, por exemplo, o homem que casa com uma mulher e com a sua me, ou o homem que deita
com a sua nora, ou a mulher que tem penetrao com um animal.
499
Olyan considera que, apesar de uma modificao desajeitada do sujeito, comum em todos os lugares das
leis de Levtico 20, 20:15 e 17 sejam especialmente perceptveis. Levitico 20:17 comea com um homem
que toma a sua irm . . . e v a sua nudez e continua com uma mulher que v a sua nudez e a punio
dirigida a ambas as partes: eles sero cortados. Dessa forma, o texto troca desajeitadamente o homem
sozinho: "A nudez de sua irm ele descobriu; ele carregar a sua punio." O retrabalhamento da lei bblica,
para Olyan, foi uma trivialidade; sobre este assunto, veja as discusses de D. Daube, Studies in Biblical
Law (Cambridge, 1947), pp. 74-101; e M. Fishbane, Biblical Interpretation in Ancient Israel (New York,
1985), pp. 187-90, que faz referncia Daube.
112
(20:13), e a penetrao homem em homem est associada a outros atos sexuais, todos
caracterizados como degradantes para o indivduo e para a terra, chamado T`bt
associado aos egpcios e/ou os cananitas no esboo dos materiais de fonte H (Levtico 18:15, 24-30; 20:7-8, 22- 24); (3) em uma primeira etapa do desenvolvimento, a qual Olyan
reconstruiu, em que a penetrao anal de outro homem era proscrita, e provavelmente
chamada de T`b ;500 o parceiro penetrador era provavelmente executado, e o parceiro
receptivo no era penalizado ou mesmo mencionado em 20:13, segundo as observaes de
Olyan. A razo para a proscrio da penetrao anal homem em homem neste primeiro ou
penltimo estgio no est clara. Consideraes de pureza, centrais para o esboo dos
materiais da redao final de Levtico 18 e 20, no so evidentes nas prprias leis de 18:22
ou nas de 20:13, mesmo em suas edies finais.
Olyan enfatiza que noes de papis sexuais caracterizados pelo gnero so
aparentemente cruciais na formao das construes divisionais de H que definem os atos
sexuais lcitos e ilcitos, tanto no penltimo quanto no estgio final no desenvolvimento de
Levtico 18:22 e 20:13. A receptividade anal comparada pela implicao receptividade
vaginal, atravs do uso da expresso miKb i. No entanto, segundo Olyan, as leis
deixam claro que a receptividade vaginal no tem anlogo aceitvel entre homens: Levtico
18:22 e 20:13 implicam que o homem pode ter experincia (deitar) o deitar de uma
mulher com mulheres apenas.501 A receptividade est relacionada na base do sexo
biolgico e construda como apropriada exclusivamente s mulheres; o seu gnero
qualificado como feminino. Nem as leis de Levtico 18:22 e 20:13, nem o esboo dos
materiais do as razes pelas quais isto acontece; no h neles nenhuma aluso estrutura
da criao ou expectativa de que muitos homens e mulheres iro copular e procriar como
na histria da criao da fonte Sacerdotal (P) (Gnesis 1:1-2:4a). Olyan discute que se a
escola de Santidade teve editores Sacerdotais, como J. Milgrom, Y. Knohl, e outros
500
Olyan discorre que na redao final das leis de Levtico 18, todos os atos proibidos so chamados T`bt
(Levtico 18:26-27, 29-30); nas prprias leis, a palavra T`b ocorre apenas em Levtico 18:22 e 20:13.
Olyan continua que ao considerar esta anomalia, parece provvel que a associao da penetrao anal homem
em homem e a noo de T`b antedata os estgios final e redacional destes captulos. Em certos casos,
segundo Olyan, os redatores de H responsveis pelo material na estrutura de 18:24-30 provavelmente
elaboraram a idia de T`b de 18:22 e 20:13, ao aplic-la a todas as violaes listadas.
501
Olyan percebe que esta observao aplicada s verses mais antigas destas leis assim como na redao
final, por no haver razo nenhuma para admitir que a expresso miKb i no esteve presente nos
estgios primitivos do desenvolvimento de Levtico 18:22 e 20:13.
113
atualmente acreditados, eles poderiam ter acesso histria da criao da Fonte Sacerdotal
com a ordem de ser frutfero e multiplicar. Para Olyan, no se pode considerar que a
escola de Santidade teve acesso ou no ao material Sacerdotal da histria da Criao ou
para algum documento parecido, pois no h nenhuma aluso direta s suas idias em
Levtico 18 ou 20. Ao contrrio, comentadores rabnicos posteriores (ps-clssicos)
desenvolveram a classificao entre gneros e a estrutura de limites sexuais contidas em
Levtico 18:22 e 20:13, abrangendo-os explicitamente na criao. Em seus comentrios
de Levtico 18:22, Abraham ibn Ezra afirma que o homem foi criado para fazer (la'asot)
e a mulher para ser feita (lehe'asot); o esquema da criao no pode ser derrubado por
nenhuma quebra desses papis.
A relao da receptividade exclusivamente para a mulher, segundo Olyan, pode
explicar por que apenas o parceiro penetrador em uma relao a homem em homem est
referido diretamente (i.e., na segunda pessoa) em Levtico 18:22. Quando h referncia
direta no contexto legal, como em Levtico 18, os proprietrios de terra, geralmente homens
que lideravam suas casas so invocados; tanto mulheres como menores, escravos,
estrangeiros residentes e pobres so geralmente mencionados apenas em terceira pessoa
quando so mencionados.502 Isso porque o penetrador visto como o homem no contexto
legal de Levtico 18:22, ele sozinho assinalado pela legislao; o parceiro receptivo, visto
como o equivalente de uma mulher, no .503 O prprio Olyan tem argumentado que apenas
o parceiro penetrador em uma relao masculina (como o homem que comete adultrio em
Levtico 20:10) era punido no primeiro estgio no desenvolvimento dessas leis. Olyan
afirma que isto pode ser possivelmente explicado pelo fato de cada penetrador ser visto
como um agente que atua no corpo do seu parceiro receptivo (a mulher no caso de
502
Olyan diz que um bom exemplo disto Levtico 18:23: Com qualquer animal voc (m.s.) no ter relao
... nem uma mulher estar diante de um animal... . O homem indivduo que tem relaes com um
quadrpede est dirigido diretamente; a mulher que faz o mesmo mencionada na terceira pessoa. Olyan
acredita que pode ser que as mulheres esto dirigidas implicitamente em determinados contextos legais tais
como Deuteronmio 16:11-12, 13-14 (na celebrao dos festivais das Shevuot e Succot). Aqui, segundo
Olyan, voc (m.s.) e seu filho, sua filha, seu escravo homem, sua escrava mulher, o Levita . . . se alegraro
diante de Yahweh durante estes festivais; a ausncia a esposa, que pode ser dirigida pela implicao
embora a meno do seu marido (em outras palavras, voc m.s. implique tambm a esposa). Em todo caso,
para Olyan, mulheres no so tipicamente dirigidas diretamente na lei bblica. Na liderana masculina so
encontrados o controle exclusivo da sua propriedade, da sua casa e da sua pousada e a maior parte dos
funcionrios de sua casa durante toda a sua vida, veja R. Westbrook, Property and Family in Biblical Law
(Sheffield, 1991), p. 14.
503
Segundo Olyan, nem a parte dirigida diretamente em Levtico 20:13.
114
504
Olyan evidencia que ao contrrio, Boswell (nota n 482 acima), p. 101, n 34, quem especula que as leis
foram possvelmente destinadas a restringir apenas a prostituio cultual. Olyan diz que no h evidncia para
sustentar essa idia.
115
tambm tendem a afirmar a inferioridade das mulheres em relao aos homens.505 Contudo,
uma retrica de inclusividade permeia a maior parte do material de H, particularmente no
discurso das sees que enquadram as leis: h uma lei para tudo, para o nativo assim como
para o estrangeiro residente (Levtico 24:22). O contraste retrico de nativo versus o
estrangeiro residente506 provavelmente serve como uma incluso que delimita no mnimo
todos os homens livres residentes da terra (e suas famlas, em que aplicado).507 Se o status
no tiver um impacto na formulao legal na Fonte de Santidade, se houver realmente uma
lei para tudo como H exige, ento, para Olyan, esta pode ser a razo pela qual a proibio
da penetrao homem em homem em Levtico 18:22 e 20:13 geral e aparentemente no se
relaciona ao status dos parceiros penetradores e receptivos. Se o nascido de ventre livre e o
liberto, o nativo e o estrangeiro residente, todos tm um status igual perante a lei, a
proibio de qualquer tipo pode necessariamente ser dirigida para todos os homens
residentes de Israel, sem exceo. No seria possvel proscrever certas atividades para um
grupo (como, por exemplo, israelitas nativos livres) e sancione as mesmas atividades para
outros (por exemplo, estrangeiros residentes) que viviam sob a mesma lei. A abrangncia
das proscries em Levtico 18:22 e 20:13 evidente na escolha de termos empregados:
Levtico 18:22 se direciona ao proprietrio das terras (voc m.s.),508 e probe a penetrao
505
Olyan afirma que uma mulher era vista como propriedade primeiro do seu pai e depois do seu marido;
exemplos que ilustram seu status legal so encontrados nos textos da Bblia Hebraica (veja, e.g., xodo
20:17 // Deuteronmio. 5:21).
506
O constraste retrico ocorre muitas vezes em todas as partes do Cdigo de Santidade em vrias das formas:
nativo-nascido/estrangeiro residente (encontrado em passagens como Levtico 17:8, 10-12, 13, 15-16; 18:26;
19:3; 24:16); israelita/estrangeiro residente (tambm observado em Levtico 17:8, 10, 12, 13; 20:2; 22:18).
Compare a expresso deuteronomstica inclusiva preso ou livre (Deuteronmio. 32:36; 1 Reis 14:10,
21:21; 2 Reis 9:8, 14:26).
507
Olyan confirma que algum material da Fonte de Santidade sugere que os escravos foram excludos de uma
noo legal; parece para Olyan que haviam leis diferentes aplicadas a eles em determinadas situaes. Em
Levtico 19:20-22, um homem tem penetrao com uma escrava de casamento contratado a outro homem. Ao
contrrio a Deuteronmio. 22:22; 22:23-24; 22:25-27, em que as penalidades para penetrao em uma virgem
de casamento contratato ou a esposa de um outro homem severa (a execuo dirigida para o homem em
todos os casos, para amulher em apenas um caso), tal relao com uma escrava que ainda no liberta resulta
em uma pena relativamente leve para o homem (uma culpa oferecida), e nenhuma penalidade aparente para a
mulher. Levtico 19:20 deixa bem claro que o status de escravo necessita uma multa menos severa do que a
morte para ambas as partes: Eles no sero condenados morte, pois ela no foi (ainda) libertada.Olyan
explica que certamente h uma tenso entre a lei particular em Levtico 19:20-22 e a retrica da inclusividade
encontrada mais freqentemente nos materiais estruturadores de H. Olyan explana que esta lei contradiz a no
uma lei para todos, ou o escravo uma exceo com um status separado.
508
Olyan sugere para vermos a discusso anterior do direcionamento direto nos materiais legais israelitas no
comeo do sculo II. Olyan escreve que as leis tendem a serem direcionadas diretamente aos chefes dos lares
quando feito uso do direcionamento direto (voc m.s.); mulheres, menores, estrangeiros residentes, e
outros so mencionados em terceira pessoa, quando mencionados por completo.
116
de um homem (termo geral) antes de proibir a penetrao com seu vizinho509 (i.e.,
algum de status igual; uma restrio mais particular). A lei evita particularidades e
permanece geral no alcance. Olyan demonstra que a lei do companheiro em Levtico 20:13
tambm enquadrada em termos gerais (um homem ... com um homem).
Novamente, o vizinho no mencionado pelo status social do parceiro receptivo e
no desempenha nenhum papel na formao da interdio. Na forma final de Levtico 18 e
20, assuntos de decadncia moral so claramente dominantes. Mas no estgio primitivo do
desenvolvimento dessas leis, talvez a idia de inclusividade legal, agora evidenciada na
retrica da forma final de H, tenha desempenhado algum papel. Assim, apenas a
especulao possvel; segundo Olyan; acadmicos no sabem nada da pr-histria desta
retrica e da ideologia, bem como nada do contexto social em que as leis de Levtico 18:22
e 20:13 surgiram. Mas Olyan admite que as leis surgiram em algum contexto social proto-H
e que a ideologia e a retrica da inclusividade tambm tiveram uma pr-histria nas
comunidades H. Para Olyan, no h dvidas de que na redao final deste material o
assunto pronunciado para evitar a decadncia moral da terra bem enfatizado nas leis, que
so de carter compreensivo, para qualquer que seja a razo.
Olyan diz que certos comentadores recentes em sua poca tm lutado com as leis
de Levtico 18:22 e 20:13, geralmente como parte de uma tentativa de fazer sentido
constelao de proscries sexuais atestadas em Levtico 18 e 20. Alguns acadmicos tm a
tendncia de explorar como as leis de Levtico 18 e 20 funcionam como um grupo e
sugerem que se alguma coisa os une. Na prtica, Olyan diz que comentadores tenderam a
concentrar-se na forma final do texto, sem atender a questes de desenvolvimento textual
durante algum tempo. Certamente, para Olyan, o acordo das leis em Levtico 18 e 20, de
acordo com a sua estrutura atual, deveria ser uma concentrao de interpretaes: mesmo se
as leis individuais ou grupos de leis tivessem uma pr-histria, a sua funo dentro da
edio final era compreendida de uma maneira particular, e isto deve ser considerado. Mas
as leis de Levtico 18 e 20 podem tambm ser analisadas com referncia maior Fonte de
509
Olyan justifica que o hebraico r`, presumivelmente sugere algum de status igual, um companheiro
proprietrio de terras (cf. o tappa'u das MAL, e veja a lista de possesses potenciais dos vizinhos em xodo
20:17 [// Deuteronmio. 5:21], que inclui casa, esposa, escravos, e animais domsticos). As leis que se
referem especificamente aos atos feitos ao vizinho e/ou a sua propriedade so abundantes nos materiais legais
bblicos (e.g., xodo 20:16, 17 [//Deuteronmio. 5:20, 21]; 21:14; 22 passim), que inclui H (Levtico 19:13,
16, 18; 20:10).
117
Santidade e sua retrica e ideologia distintas, apesar de, na prtica, isto ser feito raramente.
Finalmente, o desenvolvimento das leis individuais e as colees legais em Levtico 18 e 20
sobre o perodo no pode ser ignorado. Para Olyan, parece claro que tanto as leis
individuais como os agrupamentos de leis possuem cada um a sua prpria histria, assim
como as grandes colees de leis.510
Segundo Olyan, vrias aproximaes distintas para compreender o significado de
Levtico 18:22 e 20:13 em sua forma final ainda est para ser encontrado na literatura
interpretativa recente. Uma das maneiras para se compreender estas proibies enfatiza
ligaes explicadas com a assim chamada idolatria.511 Olyan afirma que outra aproximao
utiliza os argumentos de Mary Douglas em As Abominaes de Levtico em
considerao a animais proibidos, ao argumentar que a penetrao anal homem em homem
proibida porque o homem receptivo no age conforme a sua classe (homem).512 Uma
terceira perspectiva, segundo Olyan, percebe o desperdcio da semente masculina em atos
procriativos como o assunto central nas leis sexuais de Levtico 18 e 20, principalmente
18:22 e 20:13.513 Finalmente, para Olyan, tem sido argumentado que as misturas de outras
espcies de emisses destrutivas esto em questo dentre diversas dessas proscries
sexuais.514 Para Olyan, cada uma dessas aproximaes est completamente centralizada no
significado das proibies em sua forma final, independente do nvel de ateno dado ao
maior contexto do captulo; h a possibilidade de que estas leis tivessem uma pr-histria
antes da atividade final dos redatores e editores de H como possivelmente um significado
diferente em um contexto primitivo , onde a questo nunca levantada e a ateno que lhe
dada considerada insuficiente. Olyan pretende considerar cada uma destas aproximaes
e desenvolver sua prpria observao do(s) significado(s) de Levtico 18:22 e 20:13 em seu
captulo final e nas citaes da maior poro de H.
510
118
515
Veja tambm a discusso de Olyan sobre a T`b e os seus usos na nota n 479 acima.
119
dito para introduzir o assunto da classificao por gnero dos atos sexuais. No final das
contas, conforme Olyan, o fato de que o parceiro receptivo no est diretamente referido
em Levtico 18:22 sugere que ele era provavelmente visto como o equivalente legal de uma
mulher, como o prprio Olyan tem argumentado. No entanto, para Olyan, h problemas
com esta aproximao. A lei em Levtico 18:22 refere diretamente apenas o parceiro
penetrador em uma relao sexual entre homens. Em 20:13 o parceiro receptivo
mencionado junto com o parceiro penetrador na seo de punio, mas de maneira to fraca
que Olyan suspeita que o parceiro receptivo tenha sido adicionado no mesmo estgio
durante o
120
penetrao; ele sugere que esta confuso possa ter sido mencionada ao misturar diferentes
tipos de smen no animal receptivo ou na mulher, ou a confuso de espcies e papis
sociais.517 Olyan discorre que a antiga explicao mais coerente com suas observas
sobre as outras proscries: em considerao s leis dos versculos 19-20, Bigger sugere
que a mistura de fluidos impuros estava em questo. A noo de misturas proibidas,
sugerida pela palavra tebel em Levtico 18:23 e 20:12, foi elaborada nos mesmos detalhes
com referncia s leis dietrias de Douglas.518 Olyan percebe que, curiosamente, Bigger
no faz referncia Douglas, embora ele tambm enfatizasse a mistura/confuso como um
tema subjacente em Levtico 18.519 Olyan diz que a idia de Bigger na qual proibido
trazer fludos impuros ao contato pertinente e pode de fato ser a base de cada uma dessas
relaes proscritas, e que esta, na sua opinio, precisa ser levada seriamente em
considerao, especialmente por causa da retrica das misturas proibidas presentes em duas
das leis em Levtico 18 e 20 (18:23; 20:12), como tambm em Levtico 19:19.520
Olyan caracteriza uma discusso sobre o sangue menstrual e outros fludos
impuros de Eilberg-Schwartz, na qual ele considerou que poderia ligar todas as leis de
Levtico 18.521 Eilberg-Scwartz argumentou que os atos listados em Levtico 18 so
interditados, porque eles apresentam uma ameaa integridade da linhagem israelita. E
continua: As prticas homossexuais pervertem e obscurecem as linhas de descendncia.
Uma vez que este ato sexual no pode resultar em uma concepo, ele tambm
considerado uma perverso.522 Olyan afirma que h uma recente contribuio para a
interpretao das leis de Levtico 18 e 20: D. Biale, ao seguir Eilberg- Schwartz, props que
as leis em questo proscrevem atos que ameaam a procriao ou seus resultados (i.e.,
517
Ibid., p. 203.
Douglas (nota n 512 acima), pp. 54-72.
519
Olyan corrobora que Bigger (nota n 480 acima) no foi o primeiro a sugerir que o tema sobre a mistura de
smen pudesse estar por detrs de vrias dessas proibies. Neste comentrio sobre a palavra tebel
(mistura) no versculo 23, Olyan compreende que Rashi disse sobre misturar smen humano e animal; ao
considerar o versculo 20, Olyan atesta que a interpretao da Vulgata sugere um tema para a mistura de
smen. Veja tambm Snaith (nota n 480 acima), pp. 125-26, que mostra estes textos e encontra tal
aproximao plausvel.
520
Olyan declara que em que a interprocriao de quadrpedes, ao semear duas espcies de sementes em um
campo, e ao fazer artigos de vesturio com duas espcies de material proibido. Compare Deuteronmio.
22:9-11, que evidencia em paralelo a lista em Levtico 19:19 mas com suaves diferenas.
521
Eilberg-Schwartz (nota n 480 acima), p. 183.
522
Ibid. Olyan afirma que neste exemplo, como no caso do smen misturado, e interpretes pr-modernos
anteciparam os argumentos dos pr-modernos. O comentador medieval Maimnides sugeriu que tanto as
relaes homem em homem como as humano-animal foram proibidas porque elas no levavam procriao.
518
121
crianas viventes) ou que no leve a isto: O que unifica todos estes atos que eles so
considerados
afrontas
contra
procriao,
tambm
porque
eles
so
estreis
(homossexualidade).523
Bigger e Eilberg-Schwartz respectivamente consideram a lei de Levtico 18:22 no
contexto de amplas discusses das leis do captulo. Bigger afirma que a penetrao homem
em homem, discutida em Levtico 18:22, proibida porque constitui desperdcio de
smen; no entanto, segundo Olyan, ele no entra em detalhes e ainda permanece pouco
claro ao leitor precisamente o que Bigger quis dizer com isto. Eilberg-Schwartz, seguido
por Biale, parece compreender que Levtico 18:22 probe todos os tipos de sexo homem em
homem; ele argumenta que tais atos desperdiam a semente. Bigger centraliza sua
ateno na noo de mistura como um tema subjacente, ao unir um nmero de proibies
de Levtico 18. Eilberg-Schwartz argumenta que as leis compartilham uma idia comum de
defesa da linhagem de vrias ameaas potenciais, que inclui o desperdcio de smen do
homem atravs de atos que no levam procriao. A teoria de Bigger apelativa e est
ancorada no vocabulrio e no universo conceitual do prprio texto, mas seu tratamento de
Levtico 18:22 para Olyan completamente inadequado. Ele no demonstra como o
desperdcio do smen em Levtico 18:22 se relaciona a vrias misturas de emisses
degradantes que ele identifica nas leis de Levtico 18:19, 20, 23, ou qualquer outra espcie
de mistura no que diz respeito ao assunto.
Olyan confirma que a perspectiva de Eilberg-Schwartz mais ousada e eficaz do
que a de Bigger; ele integra sua interpretao de Levtico 18:22 em sua maior discusso
terica muito bem, mas a sua teoria, apesar de ser demonstrada de forma sistemtica, no
est ancorada no universo conceitual do texto. Eilberg-Schwartz no discorda com a noo
de mistura (tebel), mencionada tanto em Levtico 18:23 quanto em 20:12. Ainda
seguramente a mistura deve ter alguma relao com as idias que sustentam Levtico 18 e
20 em sua forma final; ele pode ser de fato uma noo primria de organizao. Alm do
mais, Eilberg-Schwartz admite que todos os atos sexuais de homem em homem so
proscritos por Levtico 18:22, mas obviamente este no o caso: apenas a penetrao
interditada. Outros atos sexuais como a penetrao entre homens e a perda de semente na
penetrao entre homens e mulheres no produzem descendncia, e ainda assim elas no
523
122
so proibidas por essas leis. As leis acerca das relaes sexuais parecem se referir
especificamente penetrao.524 Para Olyan, isto sugere que um assunto de relaes
sexuais produtivas no poderia ser a base, como as leis de Levtico 18 em sua forma final.
Se isto foi feito, cada um poderia esperar outros atos genitais que resultassem em
ejaculao, mas que no levam concepo ao ser proscrito.
Segundo Olyan, Bigger estava correto ao observar que vrios dos atos sexuais
proibidos em Levtico 18:19-23 implicam a possvel mistura de outra forma de emisses
corporais. Olyan demonstra que o problema est em Levtico 18:22, em que dois homens
tm penetrao. Bigger afirmou que o smen aqui desperdiado, mas nunca esclareceu
o que ele pensou, segundo a explicao de Olyan. Como o sangue menstrual e o smen,
para Olyan, o excremento sujo e impuro em certas construes de pureza, principalmente
em Ezequiel, que amplamente visto como um compartilhante do sistema H de pureza (em
outras palavras, Ezequiel pertencia Escola de Santidade).525 Olyan admite, a partir de
Ezequiel 4:9-15 que o excremento contaminante, segundo o que est escrito nos crculos
de H, embora isso no seja evidenciado na prpria Fonte de Santidade. Se o excremento
polui a ideologia de pureza de H, a razo para a proscrio de uma penetrao homem em
homem na forma final do trabalho de H poderia ento prevenir duas outras formas de
agentes impuros (excremento e smen) de misturar no corpo do parceiro receptivo.526
Como Bigger e muitos outros tm observado, os vrios atos sexuais enumerados em
Levtico 18 e 20 levaram contaminao do indivduo no final. A forma altamente redatada
destes captulos 18 e 20 diz que a terra de Israel deveria ser mantida livre de contaminao,
para que o povo de Israel pudesse ali viver e evitar a expulso.527 Olyan escreve que na
524
Segundo Olyan, vrias expresses usadas sugerem a penetrao, tais como: descobrir a nudez de;
tomar; aproximar para descobrir a nudez; deitar com; para pr a sua efuso em; para colocar antes
(de fato) para copular.
525
Veja especficamente Ezequiel. 4:9-15. Zacarias 3:1-5, outro texto no qual o excremento contamina, pode
tambm refletir na construo da pureza. Compare Deuteronmio. 23:13-15; 2 Reis 10:27, e os Rolos do
Templo de Qumran (11QTemp 46:13-16) para tais associaes na outra fonte, a no-H, nos contextos de
pureza. No simbolismo da contaminao excremental, veja tambm a discusso de B. Halpern, 'The
Excremental Vision: The Doomed Priests of Doom in Isaiah 28, Hebrew Annual Review 10 (1986): 109-21.
526
Olyan observa que um possvel problema com esta tese tem sido indicado por David Konstan (December
8, 1993): se a proibio da mistura de dois agentes contaminantes no corpo de um parceiro receptivo for o
motivo, por que no h nenhuma proibio de penetrao anal em uma mulher? Em resposta, Olyan percebe
que a penetrao anal com uma mulher no atestada em qualquer contexto israelita. Possivelemnte, para
Olyan, a penetrao anal com uma mulher no fazia parte do repertrio israelita de atos de estmulo sexual.
Sem dvida alguma, Olyan percebe uma dificuldade em potencial.
527
Veja Levtico 18:24-30; 20:22-26.
123
forma final da Fonte de Santidade, a penetrao anal homem em homem pode ter sido
proscrita com o objetivo de prevenir a mistura entre duas outras formas de substncias
contaminadoras e, por meio disso, prevenir a contaminao da terra de Israel.
Olyan justifica que de acordo com P, qualquer ato ejaculatrio d ao homem e
sua parceira sexual feminina a impureza at o entardecer (Levtico 15:16-18). A
contaminao deve ser posta parte do campo santurio/deserto, local no qual se acredita
que Yahweh esteja presente. Portanto, continua Olyan, uma pessoa pura pode evitar a
esfera do santurio, ainda que ele ou ela estejam limpos ou purificados. Mas Olyan observa
que de acordo com a fonte H, toda a terra de Israel (como o santurio de acordo com as
construes de pureza de P e outras fontes bblicas) deve ser protegida da impureza.528
Olyan afirma que o sistema de pureza de H, ao contrrio a outras ideologias bblicas,
levanta um limite em torno de toda a terra, ao trat-la como sagrada e necessitada de
proteo. Conforme Olyan, seguramente a fonte H no exige um fim de todos os atos
ejaculatrios e outros eventos do ciclo de vida que so contaminantes (e.g., nascimento,
menstruao), com o objetivo de evitar a contaminao da terra de Israel, pois a ameaa da
mistura das duas outras formas de emisses contaminantes poder ligar as leis sexuais
contra o incesto, encontradas nos captulos 18 e 20. Para Olyan, talvez os trabalhadores de
H responsveis pela forma final dos captulos 18 e 20 acreditassem que apenas as misturas
de tais emisses contaminantes fossem ameaadoras para a pureza da terra.529 Talvez a
menstruao, o parto, a ejaculao, e outros eventos, de acordo com P, causavam a
contaminao; de acordo com H, apenas causavam uma contaminao suave, sem ameaar
a continuidade da presena do povo de Israel na terra isso se nenhuma mistura com outras
emisses contaminantes estivesse envolvida. Que H, segundo Olyan, no tem nada a dizer
sobre estas fontes de impureza separadas das misturas est contado provavelmente no
prprio H. Olyan escreve que a Fonte Sacerdotal parece significativamente menos
ameaada pelas misturas: H poderia excluir da comunidade um homem e uma mulher
528
Veja tambm Milgrom, Leviticus (nota n 477 acima), pp. 13-51, nas vises de pureza em H e P.
Olyan destaca que as leis sobre incesto (Levtico 18:7-18) tm seu prprio complexo histrico de
transmisso, como vrios outros comentadores tm argumentado (e.g., Bigger [nota n 480 acima], pp. 196202). A tese da mistura do smen trabalha em algumas delas (e.g., Levtico 18:7, 8, 14, 15, 16), mas no
necessariamente em outras (e.g., Levtico 18:9, 10, 11, 12, 13, 17). Olyan sugere que se pode admitir que
todas as parceiras mulheres potenciais mencionadas nos versculos 9, 10, 11, 12, 13, e 17 so casadas, mas
segundo Olyan, tal fato no afirmado e no parece ser a razo das proscries.
529
124
menstruante que tivesse sofrido penetrao (Levtico 20:18); P simplesmente afirma que
cada um deles estaria impuro durante sete dias (Levtico 15:24).
Olyan conclui sua investigao sobre as leis de Levtico 18:22 e 20:13 com a
opaca expresso miKb i e se refere especificamente ao ato da penetrao entre dois
homens; eles no se referem a outros atos sexuais. Olyan menciona que esta interpretao
tem sido admitida por alguns comentadores do passado e do presente, mas que no foi
nunca antes demonstrada filologicamente, de acordo com seu conhecimento. Para Olyan,
Levtico 18:22 se refere diretamente apenas ao parceiro penetrador, e Levtico 20:13
comea a mencion-lo apenas na terceira pessoa; o parceiro receptivo, muito
provavelmente visto como o equivalente legal de uma mulher, no est controlado
diretamente por estas leis. Alm do mais, para Olyan h uma boa razo para suspeitar que
no estgio primitivo do desenvolvimento de Levtico 18:22 e 20:13, apenas o parceiro
penetrador fosse punido, ao contrrio da forma final dessas leis, em que ambos os parceiros
estavam sujeitos execuo. O penetrador poderia ter sido visto antes do final da edio de
H como o nico agente penetrador e assim o nico culpado, condenado possivelmente por
causar a feminizao de seu parceiro. Ou ele tambm pode ter sido visto como algum
que cometesse um ato interpretado como um assalto (cf. Middle Assyrian Laws A 20),
embora no haja evidncia que sugira isto. Olyan indica que outra possvel aproximao
que o parceiro penetrador possa ser visto como algum que no se conforma com a sua
classe devido sua escolha de um parceiro.530 Em todo o caso, segundo Olyan, o parceiro
penetrador o centro das leis na sua penltima forma e sua ao caracterizada como uma
violao dos limites (T`b). Olyan tambm salienta que as leis em sua penltima forma
viam o parceiro receptivo como um equivalente legal de uma mulher: ele no era referido
diretamente; ele muito parecido com uma vtima, no como um agente; ele visto como
feminilizado na perspectiva de Olyan, no merece punio (cf. Middle Assyrian Laws
A 20).
Olyan tambm prope que Levtico 18:22 e 20:13 probe a penetrao homem em
homem sem classificao, ao contrrio de outras culturas antigas, nas quais o status, a
coero, e outras questes desempenham um papel nos limites do comportamento sexual
530
Olyan enfatiza que modificou a aplicao de Thurston (nota n 480 acima) e de Douglas (nota n 512
acima), discutida anteriormente.
125
lcito ou ilcito entre homens. Pode ser, segundo Olyan, que a ideologia e a retrica da
inclusividade de H tivessem contribudo para a formao destas leis, como as proibies
gerais no seu penltimo estgio, embora, para Olyan isto deva ainda ser uma especulao.
Certamente as nicas consideraes de pureza H so predominantes na edio final de
Levtico 18 e 20, pois elas, em sua formulao final, podem muito bem ser parte de um
esforo maior para prevenir a mistura do smen com outros agentes contaminantes nos
corpos das mulheres, homens e animais receptivos misturas que resultam na
contaminao dos indivduos envolvidos. O assunto primrio dos redatores de H
responsveis pela estruturao dos materiais nos captulos 18 e 20 preserva a pureza da
terra que, em si mesma, est ameaada pelos atos sexuais contaminantes enumerados em
Levtico 18 e 20. A penetrao entre dois homens, como outras abominaes, ameaa
contaminar a terra na forma final de Levtico 18 e 20. Todas as relaes com penetrao
homem em homem so proscritas, porque todas elas poderiam ameaar a pureza da terra, de
acordo com os redatores de H responsveis por estruturar os materiais.
Olyan observa que certamente a evidncia da Bblia Hebraica insuficiente para
sustentar a perspectiva de que os israelitas odiaram as relaes masculinas, como se
acredita at a poca do artigo. Olyan considera que a penetrao entre homens no
mencionada em nenhuma outra coleo legal israelita. Levtico 18:22 e 20:13 parecem
proibir exclusivamente a penetrao, enquanto ignoram outros atos sexuais potenciais entre
homens. Em relao s leis, em sua edio final, segundo Olyan, a melhor explicao pode
ser a distino dos assuntos de pureza que esto articulados na estrutura dos materiais de H:
outros atos sexuais entre homens, ao contrrio da penetrao, no so considerados
ameaadores pureza da terra, porque no envolvem a mistura de duas outras formas de
emisses contaminadoras no corpo de um parceiro receptivo. Olyan percebe que esta
observao tambm ajuda a explicar a falta, freqentemente observada em H, de uma lei
anloga a Levtico 18:22 e 20:13 que considera as mulheres. Em uma relao de duas
mulheres, segundo Olyan, no h ameaa de contaminao atravs da mistura de duas
outras formas de substncias contaminantes no corpo do parceiro receptivo. A razo para o
surgimento de leis como Levtico 18:22 e 20:13 permanece obscura, apesar do ato do
penetrador ser certamente o foco de interesse desde o princpio. Talvez, na observao de
Olyan, o parceiro penetrador fosse originalmente condenado como um violador de limites
126
devido a seu ato de feminilizar seu parceiro, ou porque ele no se conformava com sua
classe (homem) ao escolher outro homem como um parceiro na penetrao.
531
2001, p 202.
e com um homem, 185
533
m. Sanhedrin 7:14;m. Kerithoth 1:l; Rashi em Levtico 20:13
534
p. 186
532
127
Diz Walsh535 que os homens para quem as leis de Levtico 18:22 e 20:13 foram
direcionadas, eram aqueles que deitavam como se fossem uma mulher ou seja, aquele
que age como parceiro receptivo. Walsh compreende que isto confirmado pela
especificao que ele deita et-zkr, com um homem, porm, na viso de Walsh, Olyan
toma homem no contexto como um termo geral;536 no entanto, segundo Walsh, isto
dificilmente provvel, particularmente no contexto em que miKb i, receptividade
sexual, definida pelo seu contraste com miKab zkr, penetrao sexual. O zkr, com
quem um homem proibido de deitar, segundo Walsh, o penetrador e a pessoa cujas leis
so dirigidas o parceiro receptivo.
Walsh afirma que, caso isto esteja correto, diversas concluses de Olyan precisam
ser reavaliadas. O primeiro entre eles a reinvindicao que a atitude israelita para a
penetrao homem em homem era fundamentalmente diferente daquelas de outras culturas
contemporneas. Para Walsh, como Olyan observa, a legislao israelita dirigida aos
homens livres de Israel, e era o seu dever aplicar a lei como apropriada a vrios outros
membros das suas prprias casas, como mulheres, homens, crianas, escravos e
estrangeiros. Segundo Walsh, as outras classes sociais no foram dirigidas diretamente
pelas leis; eles falaram sobre, mas no falaram para. Mesmo a retrica da inclusividade
na fonte de Santidade (H) expressa pela associao explcita melhor do que pela expanso
da segunda pessoa direcionada, ao incluir outras categorias sociais (e.g., o nativo e o
estrangeiro que peregrina entre vs, Levtico. 18:26). Walsh corrobora que leis de Levtico
18:22 e 20:13 so dirigidas para homens israelitas (o homem de 20:13). As leis probemno de submeter-se penetrao sexual por um homem, fosse ele socialmente igual ou
socialmente inferior; 20:13 considera censurvel o ato de ambas as partes da penetrao
homem em homem que pe o homem livre israelita em um papel receptivo. A linguagem
das leis, conseqentemente, segundo Walsh, completamente consoante com a conhecida
de outras sociedades contemporneas do Mediterrneo, em que a dinmica da
honra/vergonha era central para o comportamento social e sexual.
Conforme Walsh questiona, se as leis de Levtico foram primariamente dirigidas ao
parceiro receptivo, ento os argumentos de Olyan sobre a razo para a presena destas leis
535
536
2001, p 205-8.
p. 196
128
no Cdigo de Santidade precisam ser reexaminados. Walsh atesta que existem trs classes
de aes denominadas T`b (convencionalmente traduzida como abominao) em
Levtico: violaes das leis dietrias, violaes das leis sexuais de Levtico 18 e 20, e
participao na adorao idlatra. Violaes das leis sexuais so marcadas como T`b
em termos gerais em Levtico 18:26-30. As leis sobre a penetrao sexual homem em
homem em 18:22 e 20:13, segundo Walsh, so os nicos lugares destes dois captulos nos
quais o termo aplicado a uma ao especfica.
Walsh declara que Olyan faz tais inferncias sobre a identificao da penetrao
homem em homem como T`b e formou parte da formulao posterior desta lei, que
foi extendida a todas as leis de Levtico 18:22 por redatores posteriores que criaram os
materiais moldados em 18:24-30.
Walsh evidencia que Thomas M. Thurston aplicou as categorias de Douglas
especificamente a Levtico 18:22: no ato da penetrao anal homem em homem, a ligao
entre homem e mulher transgredida, uma vez que um homem age no papel
sexualmente receptivo apropriado a uma mulher.537
Walsh afirma o raciocnio de Daniel Boyarin nesta considerao e concorda com o
de Thurston.538 Alm disso, desde a separao das categorias de homem (i.e., penetrador) e
mulher (i.e., penetrado),539 foi estabelecida a criao, e segundo Walsh, Boyarin infere que
os conceitos de vergonha e superioridade de gnero no so relevantes para a proibio da
penetrao anal homem em homem: O conceito no parecia ter sido um status assim como
uma
insistncia
na
inviolabilidade
absoluta
no
dimorfismo
do
gnero.540
Conseqentemente, a proibio era universal. Walsh explica que isto no era considerado
apenas em situaes nas quais um homem israelita livre se sujeitava penetrao por outro
homem. Walsh explana que, dessa forma, Boyarin chegou mesma concluso que Olyan
alcanou ao basear-se na retrica da inclusividade, na fonte de Santidade (H). No entanto,
537
Thomas M. Thurston, "Leviticus 18:22 and the Prohibition of Homosexual Acts, in Homophobia and the
Judaeo-Christian Tradition (ed. Michael L. Stemmeler & J. Michael Clark; Dallas: Monument, 1990), 7-23.
Walsh confirma que Olyan considera a interpretao de Thurston, porm a rejeita por causa das leis que
faltam centralizar no parceiro receptivo (p. 199)
538
BOYARIN, Are There Any Jews in The History of Sexuality?, (1995) 342. Walsh demonstra que
Boyarin estava ciente do reconhecido trabalho de Thurston embora, durante o tempo da escrita da sua
pesquisa, ele no estivesse capacitado para fazer uma auto avaliao do trabalho.
539
Boyarin, segundo Walsh, indica que a palavra hebraica para fmea, nqb, faz referncia mulher como
a portadora do orifcio (Are There Any Jews, 345).
540
Are There Any Jews, 348
129
para Walsh, ambos os acadmicos negligenciaram o fato de que as leis de Levtico estavam
todas direcionadas, em primeira instncia, para os homens livres israelitas e que essas leis
especificamente probem que o israelita aceite o papel receptivo.
Walsh afirma que h, em acrscimo, casos nos quais o status social claramente
abrandava as categorias da ordem criada. O assassino um ser humano, por exemplo, e ele
deve ser punido pelo derramamento de sangue do assassinado.541 Walsh observa que,
contudo, quando a vtima um homem (isto , um israelita), o assassino morto;542
quando a vtima um escravo, o assassino punido;543 e se o escravo sobrevive por um
perodo curto, o assassino no punido completamente: para o escravo o seu
dinheiro.544
Walsh aponta que a questo central nas leis de Levtico 18:22 e 20:13 no era a
confuso de gnero em geral, mas precisamente a confuso de gnero no qual o homem
israelita livre assume o papel feminino. Apesar de a parte ativa ser igualmente
responsvel no ato de confuso de gnero, para Walsh o seu comportamento no julgado
censurvel at a ampliao redacional posterior de Levtico 20:13.
Walsh diz que em sua concepo, esta leitura trouxe alguma luz ao processo
redacional que produziu a forma final do texto na fonte de Santidade (H). Walsh justifica
que para Olyan, desde que a forma primitiva das leis j condene o parceiro penetrador e
demonstre uma retrica de inclusividade que amplia a proibio da penetrao homem
em homem para todos os homens (exceto talvez para os escravos), o nico
desenvolvimento redacional identificvel o da concentrao do Cdigo de Santidade na
proteo da pureza da terra de Israel.
Entretanto, Walsh observa que se for reconhecido que as proibies originais so
dirigidas ao parceiro receptivo, ento a adio redacional em 20:13 amplia a lei ao
condenar tambm o parceiro penetrador. Walsh aponta que tal desenvolvimento uma
ilustrao clara da anlise de Levine da noo Sacerdotal de T`b . Na lei original, um
homem israelita livre que assumia o papel receptivo no ato da penetrao anal homem em
homem poderia ter sido condenado por transgredir a ligao entre homem e mulher, da
541
130
mesma forma como ele poderia ter sido aparentemente condenado na Assria. Dessa forma
uma lei isolada pode no ter feito o israelita praticar a homossexualidade diferentemente
das outras culturas no Mediterrneo, que se basearam no antigo Oriente Prximo. Segundo
Walsh, ao ampliar a condenao e ao incluir a parte ativa, o redator da fonte de Santidade
(H) se empenhou ao fazer diferena entre a prtica israelita e a do Egito e Cana e a
nao que estava antes de vocs,545 e, dessa forma, proteger a santidade de Israel da
T`b de confuso com outras naes.
7 Concluso
O que hoje conhecemos por homossexualidade, ou seja, a relao entre pessoas do
mesmo sexo, ilustrada e proibida na Bblia em Levtico 18:22 e 20:13. Por este motivo,
durante o trabalho, houve a necessidade de caracterizar as prticas homossexuais
encontradas na Bblia em Levtico 18:22 e 20:13, juntamente com Deuteronmio 22:5, que
inclui o travestismo, tanto masculino quanto feminino.
As leis encontradas em Deuteronmio 22:5 e 23:18-19 foram desenvolvidas no
contexto da reforma de Josias, tambm conhecida como Reforma Deuteronmica, referemse s prticas rituais encontradas em 2 Reis, principalmente versculo 23:7, no qual h a
relao ritual dos qdoshim, os quais estavam envolvidos com os rituais sacro-homossexuais
em devoo deusa Asherah.
Porm, a prpria Bblia Hebraica fala muito pouco sobre quem de fato so os
qdoshim e sobre a sua adorao deusa-me. Portanto, para a busca do que vm a ser as
prticas homossexuais, ou homossexualidade na Bblia Hebraica, necessrio destacar
alguns termos encontrados em Levtico 18:22, Levtico 20:13, Deuteronmio 22:5,
Deuteronmio 23:18-19, 1 Reis 14:24, 1 Reis 15:12, 1 Reis 22:46 e 2 Reis 23:7, os quais
apresentam uma relao do que era a homossexualidade e o travestismo, como:
545
131
132
contexto ritual foram provavelmente bem estabelecidas em todo o Oriente Prximo antigo
antes mesmo dos israelitas terem ocupado Cana entretanto, existe pouca documentao
nos textos da Mesopotmia de uma homossexualidade de variedade no-religiosa. Alm
disso, h uma forte relao das prticas sacro-homossexuais com a devoo deusa me,
sendo a Asherah a deusa me adorada pelos cananeus.
Quando percebemos Levtico 18:22 e 20:13 em uma perspectiva no idlatra,
temos os versculos relacionados organizao do universo, a questo de Beaver ao se
referir a Soler sobre o no misturar como o princpio das leis de Deuteronmio e Levtico
com respeito s suas proibies da homossexualidade, em que todos os seres humanos
podem ser apenas homens ou mulheres, nunca as duas coisas ao mesmo tempo,
percebendo que a homossexualidade estigmatizada e declarada como abominao; uma
ofensa capital. Abolir a distino do significado sexual subverter a ordem do mundo, e
subverter a anttese de homem e mulher desafiar Deus. Dessa forma, Beaver conclui que a
homossexualidade impura, pois cruza ambas as categorias, desafia o Cdigo Hebraico;
seria, pois, inadmissvel. Porm, tais questes com respeito homossexualidade ritual,
apesar de estarem relacionadas deusa Asherah e fertilidade, era uma ao que destrua a
organizao do universo e de todas as coisas, as quais eram comuns no somente em Cana
com respeito a Asherah, mas em todo o Oriente Prximo com respeito deusa me.
Autores como Ullendorf utilizam o argumento das injunes contra a bestialidade
apresentadas em Levtico 18:23 e 20:15-16 que probem distintamente e separadamente a
zoofilia para o homem e para a mulher, ao passo que a interdio da conduta homossexual
caracterizada em Levtico 18:22 e 20:13, nas quais um homem deita com outro homem
como se fosse uma mulher, no seguida por uma proibio similar contra o ato entre
duas mulheres. O que para Ullendorf pode significar que ou o lesbianismo no era
conhecido no mundo bblico ou era mais facilmente tolerado do que a homossexualidade
masculina. Porm, autores como Ullendorf tambm se esquecem das questes do
travestismo, que trazem srias implicaes, pois indicam que o desejo de vestir roupas de
indivduos do sexo oposto sugere um comportamento identitrio ao do sexo oposto que
conseqentemente capaz de levar ao desejo sexual por indivduos do mesmo sexo. Como
sugeriu meu orientador, o prof. Moacir Amncio, uma proibio leva suposio de
prtica. O travestismo ritual apresenta-se bastante comum na regio do Oriente Prximo,
133
sendo representado na Astarte de Ktion, que barbada e seduzia o povo aos rituais
considerados pelo autor como profanos, bem como so conhecidos os textos acdicos,
segundo os quais a deusa Ishtar tinha uma barba igual do deus Ashur. Para Hoffner fica
claro, nas alternaes da divindade Yazilikaya, que sua equivalente Hurro-Hitita, Shaushga,
era bissexual; tambm temos o exemplo da referncia aos textos babilnicos e assrios a
respeito dos assinu e dos kurgarru como funcionrios religiosos particularmente associados
com a deusa Ishtar, que danavam, tocavam instrumentos musicais, usavam mscaras e
eram considerados efeminados, (e foram desenhados carregando uma roca para tecer um
smbolo do trabalho feminino).
Percebe-se como algo caracterstico da regio do Oriente Prximo os instrumentos
considerados exclusivamente masculinos, como o arco, e exclusivamente femininos como a
roca para tecer, demonstrando que havia uma identidade delimitada do servio masculino
(relacionado guerra) e feminino (relacionado manufatura de roupas), que eram trabalhos
totalmente delimitados. Homens no poderiam exercer o trabalho de mulheres e vice-versa.
Em Deuteronmio 23:18-19, so caracterizados dois tipos de prostituio cultual
a primeira, do versculo 18, a qual retrata os prostitutos (qdoshim) e prostitutas (qdshot)
cultuais, que se prostituem em devoo deusa Asherah, e a do versculo 19, que retrata as
zonot (prostitutas) e os Klbm (ces ou prostitutos) como aqueles que no se prostituem
nos rituais, porm oferecem o dinheiro da prostituio a YHWH.
Quando Roscoe faz referncia ao keleb como sacerdote da Astarte de Ktion no
Chipre e de outros lugares, lembra que em Deuteronmio 23:18 o termo usado como um
sinmimo para qadesh, que tambm ocorre no Acdico, Fencio, Ugartico, rabe,
Aramaico, Siraco, Etope, e nos escritos de Mari por volta de 2000 a.C. Tal fato, segundo
as pesquisas, pode levar concluso de que o keleb, antes de ser considerado o prostituto
homossexual desvinculado do ritual cananeu, poderia ser compreendido como um qadesh
dentro do templo, o que prevaleceu durante o IV sculo no Chipre, nos rituais a Astarte de
Ktion, e no era mais realidade no perodo da Reforma Deuteronmica por volta de 622
a.C e na regio de Jud.
Ao se referir s zonot, Deuteronmio 23:19 o faz de maneira similar aos Klbm
como prostitutas convencionais que oferecem o dinheiro da prostituio a YHWH. No
entanto, autores como Astour e Greenberg tratam da permutao entre qdshah e zonah em
134
Gnesis 38 (qdshah nos versculos 21 e 22, e zonah nos versculos 15 e 24). Isso demonstra
que os dois termos esto relacionados com a prostituio ritual no contexto de Gnesis 38,
que bastante distinto daquele de Deuteronmio 23:19, que trata da zonah como a
prostituta convencional que oferece o dinheiro de seu servio para YHWH. Percebe-se que
os quatro termos (qadesh e keleb para os prostitutos masculinos; e qdshah e zonah para as
prostitutas) possuem alguma relao com a prostituio ritual na regio do Oriente
Prximo, que se refletiu em Israel e Jud.
Tambm se conclui que no possvel obter uma perspectiva da homossexualidade
na Bblia atravs da viso apresentada na dissertao de Dallmer Palmeira Rodrigues de
Assis, intitulada A Homossexualidade Desconstruda em Levtico 18,22 e 20,13, pois
trata-se de um trabalho com um propsito totalmente oposto daquele aqui apresentado. No
se pretende discutir a homossexualidade em si, mas demonstrar, atravs dos documentos e
estudos de pesquisadores, a existncia de prticas homossexuais como elas se encontram
contextualizadas (no caso de Israel e Jud, na prostituio ritual de fertilidade em devoo
deusa Asherah), e qual a sua relao com a homossexualidade apresentada nos registros dos
povos vizinhos (percebida nos assinu e nos kurgarru nas questes rituais). A dissertao de
Assis no contextualiza a homossexualidade ritual e trata a homossexualidade no como
algo inerente ao ser humano, mas sim como um elemento importado dos gregos. O autor
trata a questo como se no houvesse homossexualidade em Israel ou em Cana antes dos
gregos, sendo que nestes ltimos a homoafetividade e a homossexualidade eram intrnsecas
e, na Bblia, apesar de serem demonstradas histrias homoafetivas como de Davi e Jnatas
e de Rute e Noemi, nenhuma delas implica na homossexualidade ou na prtica
homossexual explcita, como encontrada nos gregos tambm no se pode garantir a
veracidade de tais histrias, pois elas podem se referir at mesmo a fbulas.
As
nicas
possibilidades
aparentes
para
se
trabalhar
questo
da
homossexualidade na Bblia por meio dos versculos de Levtico 18:22, Levtico 20:13,
Deuteronmio 22:5, Deuteronmio 23:18-19, 1 Reis 14:24, 1 Reis 15:12, 1 Reis 22:46 e
2 Reis 23:7, e das suas relaes com as percepes dos povos do Antigo Oriente Prximo
com respeito homossexualidade ou s prticas homossexuais encontradas nos rituais e nos
documentos dos povos da regio que tratam do assunto.
135
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