Pachukanis - Teoria Geral Do Direito e o Marxismo
Pachukanis - Teoria Geral Do Direito e o Marxismo
Pachukanis - Teoria Geral Do Direito e o Marxismo
PASUKANIS
1891-1937
RENOVAR
SUMRIO
Produo editorial
Antonio Cordeiro Filho
Reviso tipogrfica
Jos Adriano Monteiro de Moraes e
Cristina Lopes de Oliveira
Capa
Jlio Cesar Gomes
Composio
Linolivro S/C Composies Grficas
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Introduo
AS TAREFAS DA TEORIA GERAL DO DIREITO/
11
Captulo Um
. OS MTODOS DE CONSTRUO DO CONCRETO
NAS CINCIAS ABSTRATAS/ 31
. Captulo Dois
IDEOLOGIA E DIREITO/
Captulo Trs
RELAO E NORMA/
FICHA CATALOGRAFICA
P291
VII
55
Captulo Quatro
MERCADORIA E SUJEITO/
Captulo Cinc.o
DIREITO E ESTADO/
Captulo Seis
DIREITO E MORL/
41
81
109
127
Captulo Sete
DIREITO E VIOLAO DO DIREITO/
143
171
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APRESENTAO
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Dedicada a Edmundo Moni:z, marxista.
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1. Introduo Geral- A Teoria Geral do Direito e o Marxismo uma das primeiras tentativas de compreenso do fenmeno jur~dico utilizando-se o instrumental te6rico fornecido
pelo Materialismo Hist6rico. Pasukanis, juntamente com Stucka e Gojchbarg, buscou elaborar uma teoria cientfica do Di
reito que servisse de ferramenta para a construo do socialismo, levando em conhl o papel que o Direito poderia desempenhar nesta nova ordem. Eugeny Bronislanovich Pasukanis
realiza sua investigao partindo do pressuposto que o Direito
uma forma necessria da sociedade capitalista e que surge
em conseqncia de um determinado nvel de desenvolvimento
das foras produtivas e das relaes sociais da decorrentes.
Vale observar que a formulao te6rica estruturada pelo juristlz
bolchevique foi realizada em perodo de intensa luta poltica
e no qual Pasukanis exercita o elevado cargo . de Vice-Comissrio do Povo 'para a justia (Stucka era o Comissrio do
Povo para a justia) e, portanto, desempenhava relevante funo no organograma do novo Estado Sovitico e na modelagem dos princpios e 'institutos de uma ordem jurdica revolucionria. Assim, A Teoria Geral do Direito e o Marxismo
possui um inequvoco sentido prtico e de polmica politica
contra os juristas burgueses e de discusso fraterna entre os
camaradas do partido que tinham tarefas a serem cumpridas
na rea do Direito. Este duplice conteudo da obra que ora s
apresenta torna-a extremamente viva e fascinante. Vale notar.
em favor do livro, que este era destinado a ser um trabalho
Vlll
E. B. PASUKANIS
um
APRESENTAO
IX
E. B. PASUKANIS
APRESENTAO
burguesa e capitalista O Feudalismo, dispensando os mecanismos -econmicos capitalistas, dispensava o direito; eiJZ conseqncia, o Estado, estrutura responsvel pela sua articulao
social, era, destarte, igualmente .desnecessrio. Em realidade,
assiste plena razo ao autor, uma vez que falar-se em "Direito
Feudal" forar determinado conceito ao extremo. Sabemos
todos que, no Feudalismo, vrios "or-denamentos jurdicos" se
confundiam e que cada Estado social tinha as suas regras prprias, inaplicveis aos outros Estados, alm das diversas jurisdies paralelas (Eclesistica, Comercial, do Rei, dos Nobres,
etc.). Por oposio, verifica-se que mttra caracterstica do
Direito burgu's a existncia de aparelho gerador e aplicador
centralizado: o Estado. Tal questo ressai bastante bvia na
construo dos Estados Nacionais e na prpria incapacidade
do Estado absolutista em contmplar os anseios burgueses {polticos e econmicos) de liberdade e sustentar a continuidade
dos privilgios aristocrticos. A contradio interna do Estado
absolutista foi resolvida com a mar revolucionria dos sculos
XVIII e XIX, e com a implantao do Estado burgus de
Direito, que a forma privilegiada da dominao burguesa.
obras, ditas do "jovem Marx", comeam a elaborar uma proposio terica que ser aprofundada e cristalizada em O Capital. Em sua obra mais fundamental, Marx examina, em especial, o contrato e os s.eus elementos constitutivos como instrumentos bsicos de reproduo do capital. No escapou
observao do autor do 18 Brumrio de Luis Bonaparte a legislao repressiva adotada pela Inglaterra,. visando a compelir
os camponeses expulsos dos campos a se engajarem na produo industrial. Possivelmente neste ponto de suas pesquisas
que Marx mostra com mais crueza e fora o verdadeiro significado do Direito burgus. E na legislao referente ao trabalho e ao operariado que se pode aquilatar o contedo concreto dos slogans burgueses de liberdade e igualdade.
Xl
E. B. PASUKANIS
APRESENTAO
xada prpria sorte, tende a levar desestruturao da prpria atividade econmica. O Estado , portanto, a violncia
organizada de uma classe contra aquelas que lhe so subordinadas.
O autor de A Situao da Classe Trabalhadora na Inglaterra escreveu, tambm, textos dedicados anlise do socialismo dos juristas e outros, que podem ser encontrados no AntiDhring, onde versa sobre Direito e Moral, etc.
Lenin, em prosseguimento ao trabalho desenvolvido por
Karl Marx, tambm lanou suas preocupaes em. direo ao
estudo do Estado (0 Estado e a Revoluo) e da funo a ser
desempenhada pelo Direito em um perodo revolucionrio e
conseqentemente de um elevado nvel na luta de classes. O
Estado e a Revoluo a continuidade lgica do que foi teorizado em As Lutas de Class em Frana e em A Crtica do
Programa de Gotha, acrescido de toda a experincia terica
e prtica acumulada pelo proletariad,o internacional desde aquelas memorveis lutas. Lenin, como dirigente mximo do Estado Sovitico, fazia questo de ressaltar em todas as ocasies
possveis que era fundamental para o xito da construo do
socialismo que os dirigentes partidrios e as massas mantivessem a mais estrita observncia legalidade socialista.
O Marxismo, ao contrrio do que alega a crtica burguesa e liberal, no refratrio ao .direito e sua investigao
cientfica. A Teoria Geral do Direito e o Marxismo , incontestavelmente, um salto de qualidade nesta rea particular do
conhecimento mas, como no poderia deixar de ser, continuador de uma tradio j existente na Filosofia da Prxis. ,
em realidade, a mais completa e original anlise marxista do
Direito at hoje realizada .
XII
.XIII
3. Alguns As.Pectos Fundamentais de A Teoria Geral do DiO sujeito de Direito o ponto ao redor
reito e o Marxismo do qual circulam todas as categorias jurdicas. E mais, no sentido dq garantir um determinado tipo de "liberdade" que o Direito tutela os interesses deste mesmo sujeito de Direito que; em
essncia, so interesses egosticos que se contrapem queles
dos demais membros da sociedade. Em linguagem psicanal-
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XIV
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E. B. P ASUKANIS
presentao das classes dirigentes. Destarte, o proletrio tambm juridicamente construdo como sujeito .e, em um passe
de nigica, burgueses e proletrios transformam-se, ambos, em
suieitos de Direito. A desigualdade concreta que se verifica
no mundo real para o Direito inexistente . Assim, se retomssemos a linguagem psicanaltica, no seria exagero fala1'mos de esquizofrenia do Direito, uma vez. que o seu mundo
no o real, mas especificamente jurdico - burgueses e proletrios, to diferentes, encontram-se no mercado em igualdade de condies jurdicas. A compra e venda que .ocorre entre
burgueses e proletrios sui generis, o Contrato de Trabalho.
A Fora de Trabalho .(mercadoria que o proletrio pe
venda no mercado), como qualquer mercadoria, precisa circular, a fim de que o capital reali~e o seu Ciclo. O proletrio
vende a sua forfa de trabalho em . troca do salrio, mediante
um "acordo de vontades". O capitalista somente tem por inter~sse assegurar .a reproduo desta mesma fora de trabalho,
sem ter qualquer compromisso com o pri'Jletrio que v alm
de garantir a relativa incolumidade de seu parceiro contratual. A liberdade dos estandartes burgueses resume-se,. para o
proletrio, em poder vender a sua fora de trabalho. A igualdad~ burguesa, para o proletrio, a igtialdade, como parte,
no contrato de trabalho .
APRESENTAO
XVII
mera constatao da natureza ideolgica do Direito insuficiente para desvendar os seus mecanismos mais ntimos . As
sim, para o jurista sovitico, fundamental que se estude a
forma jurdica e no apenas o seu contedo .. Em nosso entendimento, esta a principal inov~o trazida pelo importante
autor bolchevique.
.
Pasukanis parte do pressuposto de que o onceito jurdico
uma forma ideolgica mas que, como a mercadoria que
tambm uma forma ideolgica, um "fetiche", foi estudada cientificamente, no h motivos para negar-se ao direito igual tratamento. No o fato de que o Direito seja ; uma ideologia
que deve inibir o seu exame; ao revs, o que no possvel,
e o que metodologicamente incorreto, examinar o Direito
apenas quanto ao seu contedo (dominao de classe) e abandonar a sua manifestao formal. Para o Direito a forma
essencial. Ao correr da leitura de A Teoria Geral do Direito
e o Marxismo constata-se que o seu autor estava perfeitamente
I
atualizado com as mais modernas teorias burguesas de sua
poca.
E usual atribuir-se a Pasukanis uma teoria jurdica .que
propugna pelo imediato desaparecimento da forma jurdica
tout court. Nada mais falso. O Vice-Comissrio do Povo para
a Justia do primeiro Governo Sovitico, coerente com o seu
entendimento de que a forma jurdica da essncia do capitalismo, esposava a tese de que s a partir do desaparecimento
completo do capitalismo que poderia ocorrer a desintegrao
do Direito. Assim, no perodo de transio (ditadura do proletariado) seria extremamente precipitado e errneo postular
um pleno fim do direito. O que Pasukanis no admite - e a
nosso ;uzo o faz com razo - que os institutos jurdicos se
transformem em institutos de Direito socialista. A manuteno das relaes de troca -: mesmo que entre entidades estabelecidas pelo poder sovitico - .demonstra a permanncia das
relaes capitalistas na ditadura do proletariado. A NEP estabelecida por Lenin confirma o acerto das teorias de E .. B.
Pasukanis. Karl Renner, terico fiiiado Segunda Internacional, defendia a tese da permanncia dos institutos jurdicos,
com a modificao de seu contedo. As teses de Renner, com
algumas modificaes, foram utilizadas por Stlin e seu Pro......
XVIII
E. B. PASUKANIS
APRESENTAO
XIX
XXI
E. B. PASUKANIS
APRESENTAO
ciso: a volio. Justifica-se, conseqentemente, a excluso daqueles que no sejam senhores de sua vontade do campo de
incidncia da norma penal, excluso esta que, por igual,
feita de tais indivduos do crculo daqueles que podem contratar validamente.
A confisso do ru, nos sistemas nos quais o carter negociai do Direito Penal mais evidente, assume assim um
aspecto muito mais relevante para o desfecho do processo.
Confesso o ru, dispensa-se toda a "confabulao" que significa a marcha do processo e passa-se diretamente a negociar a
contrapartida, ou seja, a pena a ser aplicada ao delinqente.
No Direito Processual Penal de origem romano-germnica, verifica-se que o procedimento, pelo seu carter de indisponibilidade, prossegue no obstante a confisso e, de fato, como
se os "seus mecanismos extremamentes complexos e eruditos
estivessem postos com o intuito de dificultar ao mximo a aplicao da pena. Sem exagero, poderse-ia afirmar que ao Cdigo Penal contrap~e-se o Cdigo de Processo Penal, como em
um antagonismo dialtico.
XX
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I'"'
5. Breve Biografia de Pasukanis j vai longe esta apresentao e, com efeito, achamos que a sua finalidade nica e
exclusivamente de ser o que, em geral, se espera que ela seja:
uma breve notcia sobre o trabalho e a indicao de alguns
aspectos que parecem relevantes aos olhos do prefaciador.
Julgamos que neste encerramento necessrio que sejam .ditas
algumas palavras sobre a biografia de E. B.. Pasukanis. Eugeny Bronislanovich Pasukanis nasceu em 1O de fevereiro de
1891, em uma famlia de camponeses lituanos, na cidade de
Starica. Foi membro do Partido Operrio Social-Democrata
Russp (bolchevique) desde 1912. Vice-Comissrio do Povo para a Justia na gesto de Stuka como Comissrio. A Teoria
Geral do Direito e o Marxismo, sua principal obra, foi publicada em 1924. Aps a morte de Lenin, no mesmo ano, e a
ascensilo de Stlin ao poder absoluto na Unio Sovitica, iniciou-se uma perseguio poltica e ideolgica a vrios militantes bolcheviques, dentre os quais se encontrava Pasukanis.
Alm das atividades acima relacionadas, Pasukanis foi
diretor do Instituto Jurdico je Moscou e Vice-Presidente da
B, 1. JAIUIANII
XXII
r.,.... ."'"'"' .
Academia ComunlsltJ I
PCIIukCinls a elaborao de um novo C~,. l'fMI IMrt 1 Untao das Repblicas
Socialistas Sovl.t/QGI, talf /ti .,,,,.,, tJOn1ld1rado pela seo
jurdica da Acadtmt.
A partir d1 lllfl IMfllf 1111/trldo por uma matria do
Pravda, em Zil11 ' " ' " ' " ' " " " 111 criticas a E. B. Pasukanis
at que ocorrtll 1 ..., """lfiGrtcimento". Pasukanis foi atacado doutriMriMuNII 1 vitima d1 calnias insidiosas que acusava~
111lhiJ ""'UIIOrt4rlo d1 "inimigo do povo" e outros
eplt1t01 tio 10 10110 do 1tallnlsmo e de Vishinsky (o clebre
acusador dOI ,fOHIIOI d1 Moscou). Aos 8 de agosto de 1956,
foi dlcrtlldl 1 rHblllta~o de Pasukanis, tendo sido reconhecldtll HlfiO /111111 "' acusaes dirigidas contra o jurista bolchtlllflUI. d1 11 1sperar que em plena Perestroika as idias
d1 PtUukanl po11am penetrar livremente nos crculos marxis-
til poli, 11m ddvida, elas tm muito que ensinar queles. que
11 d1dlcam ao estudo do Direito.
c.,.."""
E. B. PASUKANIS
Esta~
Acho convenie11ie revelar, desde j; neste prefcio, algumas. observaes prvias quanto s idias fundamentais' do meu
trabalho. O companheiro P. I. Stucka definiu, muito corretamente, a minha posio com relao teoria geral do direito,
como uma "!entativa de- aproximar a forma do direito da forma
da mercadoria". Na. medida em que o balano final permite
julgar, esta idia foi reconhecida >~em ger~l,
salvo algumas
reservas, como feliz e frutuosa. 1st() se deve, certamente, ao
fato de eu no ter tido neste caso necessklade de "descobrir
a Amrica". Na literatura marxista e, em primeiro 'ugar, no
prprio Marx, pssvel encontrar elementos suficientes para
uma tal aproximao. Basta citar, alm das passagens mencionadas neste livro, o captulo intitulado "A moral e o direito.
A igualdade", do Anti-Dhring. Nele dado por Engels uma
formulao absolutamente precisa do vnculo existente entre
o princpio da igualdade e a lei do valor; numa nota ele afirma
que "esta deduo das. modernas idias de igualdade, a partir
das ondies econmicas da sociedade .burguesa, foi exposta
,,
I
E. B. PASUKANIS
histrica em face do problema do direito, em oposio atitude dos sistemas idealistas, puramente especulativos; atitude
;daquela filosofia do direito que tem por fundamento a repr~
sentao do conceito de sujeito com a sua capacidade de autodeterminao. Era, pois, absolutamente natural pensar que a
crtica marxista do sujeito jurdico, imediatamente derivada da
anlise da forma mercantil, nenhuma relao guardasse com
a teoria geral do direito, j que efetivamente a regulamentao
coativa, externa das relaes recprocas entre proprietrios de
mercadorias, representa apenas uma parte nfima da regulamentao social em geral.
Em outras palavras, sob este ponto de vista, tudo o que
poderia concluir-se da concepo marxistas sobre os "guardies
de mercadorias", "cuja vontade habita nas prprias coisas"/
parecia vlido apenas para um campo relativamente restrito,
o do chamado direito comercial da sociedade burguesa, sendo,
porm, totalmente inutilizvel noutros campos do direito (direito pblico, direito penal, etc.) e no caso de outras formaes histricas, como, por exemplo, o escravismo, o feudalismo, etc. Falando de outra maneira, o significado da anlise
marxista se restringia, por um lado, a um campo especial do
direito e seus resultados, e, por outro, funo de desmascarar a ideologia burguesa da liberdade e da igualdade, funo de criticar a democracia formal, mas no funo de explicar particularidades fundamentais e primrias da superestrutura jurdica enquanto fenmeno objetivo. Deste modo duas
coisas foram negligenciadas: uma esqueceu-se que o principio
da subjetividade jurdica .(assim entendemos 'o prlnctplo formal
da liberdade e da igualdade; da autonomia da personalidade,
etc.) no somente um meio dissimulatrio e um produto da
hipocrisia burguesa na medida em que ~ oposto luta proletria pela abolio das classes, contudo. no deixando de ser
tambm um princpio realmente atuante, que se acha. incorporado sociedade burguesa desde que essa nasceu da sociedade
feudal patriarcal e a destruiu. A outra foi que esqueceu-se
2. Karl Marx, O Capital, Liv. I, Cap. II, Ed. Soclales, Paris, 1969,
p. 95. Traduo brasileira: Regis Barbosa e Flvio Kotkhe, Nova Cullu
ral, So Paulo, 3. ed., 1988, p. 79.
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,,
E. B. PASUKANIS
ludo), obrigaro a sociedade socialista a se confinar, por algum tempo, "no horizonte limitado do direito burgus", tal
como o previra Marx. Entre estes dois pontos extremos opera-se o desenvolvimento da forma jurdica que atinge o seu
mais alto grau na sociedade burguesa capitalista. Podemos
tambm caracterizar este processo como uma desagregao das
relaes org&nicas patriarcais que so substitudas por relaes
jurdicas, isto. 4, por relaes entte sujeitos que, formalmente,
possuem os mesmos direitos. A dissoluo da famlia patriarcal
onde o pater familias tem a posse da fora de trabalho da mulher e dos filhos, e a subseqente transformao desta numa famlia contratual onde os cnjuges celebrqm entre si um contrato
que objetiva os bens e onde os filhos (como, por exemplo, na
propriedade norte-americana) recebem do pai um salrio, consti
tui um dos ttpicos exemplos desta evoluo. A qual, alm disso,
se v acelerada pelo desenvolvimento das relaes mercantis
e monetrias. A esfera da circulao, a esfera que se compreende pela frmula Mercadoria-Din/:zeiro-Mercadoria, desempenha um papel predominante. O direito comercial exerce sobre
o direito civil a mesma funo que este exerce sobre todos os
oUtros ramos do direito, isto , indica-lhes o caminho do desenvolvimento. O direito comercial , portanto, por um lado,
um. domtnio especial que s tem significao para as pessoas
. que fizeram da transformao da mercadoria em forma monetria, ou inversamente, a prpria. profisso; e, por outro, ele
() prdprio direito civil nd seu dinamism01. no seu movimento
em direo aos mais puros esquemas, nos quais no se encontra qualquer trao de organicismo e onde o sujeito jur~
dico aparece na. sua forma acabada, como complemento indis-'
pensdvel e inevitvel da mercadoria.
Por este motivo, portanto, o princtplo da subjetividade
jurdica e os esquemas nele contidos, que para a jurisprudncia
b'urguesa surgem cpmo esquemas a priori da vontade humana,
derivam necessatiamente e. absolutamente das condies da
economia mercantil e monetria. O modo estrltam1nt1 emptrico
e tcnico de conceber o vnculo existente 1ntt1 IStls dois momentos encontra a sua expresso nas reflBXIJIS r1lativas ao fato
de a evoluo do comrcio exigir algumas garantias, como seja,
E. B. PASUKANIS
privados. No se pode atingir este objetivo buscando unicamente o auxlio de formas de conscincia, isto , atravs de
momentos puramente subjetivos: necessrio, ento, recorrer
a critrios precisos, a leis e a rigorosas interpretaes de leis,
a uma casustica, a tribunais e execuo coativa das decises
Judiciais. P: por este moivo que no podemos nos restringir,
na anlise da forma jurdica, "pura ideologia", desconsiderando mecanismo objetivamente existente. Todo fato jurdico
por exemplo, a soluo de um litgio por uma sentena o que
chamamos de fato objetivo, situado to fora da conscincia
dos protagonistas como o fenmeno econmico que, em tal
caso, mediatizado pelo direito.
Concordo, com reservas precisas, com uma outra censura
que me dirige o companheiro Stucka, a de reconhecer a exis
tncia do direito somente na sociedade burguesa. Efetivamente
tenho afirmado, e continuo a afirmar, que as relaes dos produtores de . mercadorias entre si engendram a mais desenvolvida, universal e acabada mediao jurdica, e que, por consegz,nte, toda a teoria geral do direito e toda a jurisprudncia
"pura" no so outra coisa seno uma descrio unilateral,
que abstrai de todas as outras condies das relaes dos homens que aparecem no mercado como proprietrios de mercadorias. Mas, uma forma desenvolvida e acabada no exclui
formas embrionrias e rudimentares; pelo contrrio, pressupe-nas.
As coisas apresentam-se, exemplificativamente, da seguinte
maneira no que diz respeito propriedade privada: s o momento da livre alienao revela plenamente a essncia fundamental desta instituio, ainda que, indubi:tavelmente, a propriedade, como apropriao, tenha existido antes como forma, no
s desenvolvida, mas, tambm, muito embrionria da troca.
A propriedade como apropriao a conseqncia natural de
. todo modo d produo; porm, a propriedade s reveste a sua
forma lgica mais simples e mais geral de propriedade privada
quando se visa ao ncleo de uma determinada formao social
onde ela determinada como a condio elementar da contn(J.a
circulao dos valores, que se opera de acordo com a frmula
Mercadoria-Dinheiro-Mercadoria.
10
E. B. PASUKANIS
Pa1ukanls
1926.
Introduo
"
A teoria geral do direito pode ser definida como o desenvolvimento dos conceitos jurdicos fundamentais, isto , os
mais abstratos. A esta categoria pertenem, por exemplo, as
definies de "norma jurdica", de "relao jurdica", de "sujeito de direito'', etc. Estes conceitos so utilizveis em qualquer domnio do direito em decorrncia de sua natureza abstrata; a sua significao lgica e sistemtica permanece a mesma, independentemente do contedo concreto ao qual sejam
aplicados; Ningum contestar que, por exemplo, o conceito
de sujeito no direito civil e no direito internacional esteja
subordinado ao conceito mais geral de sujeito de direito como
tal, e que, em conseqncia, esta. categoria pode ser definida
e desenvolvida independentemente de tal ou qual contedo
concreto. Por- outro lado, tambm podemos constatar, se nos
mantivermos nos limites de uma rea particular do direito,
que as categorias jurdicas fundamentais acima mencionadas
no dependem do cntedo concreto das normas jur.idicas, isto
, que conservam sua significao mesmo que o seu contedo
material concreto se modifique de um maneira ou de .outra.
.E evidente que estes conceitos jurdicos, os mais abstratos e os mais simples, so o resultado de uma elaborao lgica das normas de direito positivo e representam, em comparao .com o carter espontneo das relaes jurdicas e das
normas que os exprimem, o produto tardio e superior de uma
criao consciente.
Isto no impede .que os filsofos da . escola neokantiana
considerem as categori"as jurdicas fundamentais como uma rea-
l_
12
E. B. P ASUKANIS
lidade que se situa acima da experincia e que torna possvel a prpria experincia. Assim, por exemplo, em Saval'skijl
l-se o seguinte: "o sujeito, o objeto, a relao e a regra das
relaes representam o a priori da exper!ncia jurdica, as con
dies lgicas indispensveis desta experincia, aquelas qu~ a.
tomam possvel". E mais adiante: "a relao jurdica a con
dio imprescindvel e nica de toda instituio jurdica e portanto, tambm da cincia do diteito; pois sem relao jurdica
no existe igualmente cincia que a ela se refira, isto , a cin
cia do direito, assim como. sem o princpio da causalidade
no pode existir natureza nem, conseqentemente, cincia da
natureza".2 Saval'skij, em suas reflexes, apenas reproduz as
concluses de um dos neokantianos mais marcantes, .Cohen.3
O mesmo ponto de vista encontrado em Stammler. seja na sua
primeira obra fundamental; Wirtshaft und Reht\ como em
seu ltimo trabalho, Lehrbuh der Rehtsphilosophie, onde se
l: " necessrio distinguir, entre os conceitos jurdicosJ de um
lado, os conceitos jur,dicos puros e, de outro, os conceitos
jurdicos condicionados. Os primeiros representam as formas de
pensamento gerais dos conceitos fundamentais do direito; a
sua interveno nada pressupe alm da prpria idia de
direito. Assim sendo, encontram uma aplicao plena em todas
as questes jurdicas que possam surgir, pois no so mais do
que manifestaes diversas do conceito formal do direito. Em
conseqncia devem ser extrados das determinaes constantes deste ltimo". 5
13
Os neokantianos podem sempre nos assegurar quey segundo sua concepo, ''a idia de direito" no precede a
experincia :geneticamente, isto , cronologieamente, mas. ape-
l. Saval'skij, Osnovy filosofii prava v naucliom idealizme (Prlncfpios da filosofia do direito no idealismo cientifico), Moscou, 1908, p. 216;
2. Id., ib., p. 218.
3. Hermann Cohen, Die Ethik des renen Willens, 2. ed., Berlim,
1907, p. 22.7 e segs.
4. Rudolf' Stammler, Wirtschaft und Recht, 1896.
5. Id., Lehrbuch der Rechtsphilosophie, 3. ed., 1928, p. 250.
"
rl
Podemos, portanto, ter por assente que o pensamento jurdico evoludo, independentemente da matria qual se refira, .no pode pa~sar sem uma certa quantidade de definies
abstratas e gerais . Mesmo nosso direito sovitico no pode
prescindir delas, pelo menos enquanto permanecer como direito, cumprindo as suas tarefas prticas imediatas. Os con
ceitos jurdicos fundamentais, formais, continuam existindo em
nossos cdigos e nos seus comentrios. O mtodo de pensamento jurdico com os seus procedimentos especficos exigem
igualmente sua existncia.
Mas o acima referido demonstra que a teoria cientfica
do direito deve se ocupar da anlise de tais abstraes? Uma
concepo bastante difundida atribui-lhes apenas valor puramente tcnico condicional. A dogmtica jurdica, dizem-nos,
utiliza estas denominaes por meras razes de comodidade.
Assim sendo, estas denominaes, fora da dogmtica jurdica,
no teriam qualquer significao para a teoria e para o conhecimento. O fato, portanto, de que a dogmtica jurdica
uma disciplina prtica, e em certo sentido tcnica, no nos
permite concluir que os conceitos dogmticos no possam evoluir para o corpo de uma dh;ciplina terica correspondente.
Podemos concordar com Karner (isto , Renner), quando afir
ma que a cincia do direito comea onde termina a dogmtica
jurdica.6 Mas da no se conclui que a cincia do direito deva
simplesmente lanar fora as abstraes fundamentais que exprimem a essncia terica da .forma jurdica. A prpria economia poltica comeou efetivamente o seu desenvolvimento
pelas questes prticas, extradas sobretudo da esfera da circulao do dinheiro. Ela tambm fixou, originalmente, a tarefa de mostrar "os meios de enriquecimento dos governos e
6 . Josef Karner, Die soziale Funktion der Rechtsinstitute besonders des Eigertums, cap. I, p. 72, in: 1rlarx-Stu4ien,. tomo I, 1904, traduo russa, 1923, p. 11 (Karner um pseudmino de Karl Renner).
14
15
E. B. PASUKANIS
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"
8.
1910.
7.
E. B. PASUKANIS
16
Para o imperativo puramente jurdico, isto , incondicionalmente heternomo, a finalidade , por si prpria, secundria
e indiferente. "Tu deves a fim de que ... ", esta .formulao,
para Kelsen, no mais o "Tu deves" jurdico.
No plano do Dever-Ser jurdico nada h .mais que a 'Passagem de uma norma outra segundo os graus de uma escala
hierrquica, no cume da qual encontra-se a autoridade sup_rema. que dita as normas e que engloba todo - um conceitolimite do qual a cincia do direito parte cbmo de um dado.
Um crtico de Kelsen apresentou esta atitude relativa s tarefas da cincia do direito, sob a forma de um dilogo caricatura! entre um jurista e um legislador: "Ns no sabemos - e
isto nem nos preocupa - que tipo. de leis os senhores devem
decretar. Isto pftrtence arte da .legislao, que nos estranha. Aprovem leis, como bem vos aprouver; to logo os senhores o tenham feito, ns vos explicaremos, em latim, de que
tipo de lei se trata".9
:e
9.
'
"'
17
E. B. PASUKANIS
Se os juristas burgueses, que tm tentado defender posies prximas ao materialismo, como por exemplo Gumplowicz, se sentiram obrigados a examinar em detalhes, digamos
de ofcio, o arsenal de conceitos jurdicos fundamentais, quando mais no fosse para explicar . que estas so construes
artificiais, meramente convencionais, os marxistas, que no
possuem responsabilidades, particulares em relao cincia
do direito, quedam silentes ante a definio formal da teoria
geral do direito, consagrando toda a sua ateno. ao contedo
concreto das normas jurdicas e evoluo histrica das instituies jurdicas. Em geral, preciso anotar que os autores
marxistas, quando falam de conceitos jurdicos, pensam essencialmente no contedo concreto do ordenamento jurdico caracterstico de uma poca dada, significa dizer, o que os homens
consideram como sendo o direito em uma determinada etapa
da evoluo. B o que se verifica, por exemplo, na seguinte,
formulao: "com base em um estudo determinado de foras
produtivas nascem determinadas relaes de produo que encontram sua expresso ideal nos conceitos jurdicos dos homens e nas regras mais ou menos abstratas, no direito costu~
meiro e nas leis escritas".U
18
'I
..lt,
19
Tal maneira de proceder deve ser reconhecida como justificada at certo ponto. Podemos expor a histria econmica
e negligenciar completamente as sutilezas e detalhes, por exemplo, da teoria. da renda ou da teoria do salrio. Mas o que
diramos de uma histria das formas econmicas .na qual as
categorias fundamentais da teoria da economia poltica, ValorCapital-Lucro-Renda, etc., fundamentam-se no conceito vago e
indiferenciado de Economia? No evoquemos a recepo que
receberia este tipo de tentativa visando a apresentar tal histria
econmica como uma teoria da economia poltica. Entretanto,
no domnio da teoria marxista do direito, as coisas ocorrem
precisamente como descrito e no de maneira diferente. Podemos sempre consolarmo-nos pensando que os juristas ainda
buscam uma definio para o conceito de direito e no conseguem encontr-la. Ainda que a maioria dos cursos sobre teoria geral comecem habitualmente por esta ou aquela forma,
estas, na realidade, no fornecem mais que uma representac
confusa, aproximativa e inarticulada do fenmeno jurdico.
Pode-se afirmar, de maneira axiomtica, que as definies do
direito no nos ensinam grande coisa acerca do que ele
realmente, e que, inversamente, o especialista nos faz conhe-
E. B. PASUKANIS
.I
20
21
22
E. B. PASUKANIS
23
E. B. PASUKANIS
24
17. Karl Marx, O Capital, I, cap. I, op. cit., p. 92 e 93. Bel. braal
leira: So Paulo, Nova Cultural, 1988, 3. ed., p. 71/72.
25
Uma outra objeo nossa concepo de tarefas da teoria geral do direito consiste em considerar que as abstraes
que lhe servem de fundamento so prprias do direito burgus. O direito proletrio, dizem-nos, deve buscar outras concepes gerais, e a pesquisa de tais conceitos deve ser a tarefa
da teoria marxista do direito.
Esta objeo, primeira vista, parece ser muito sria.
No entanto, repousa sobre um equvoco. Esta tendncia, exigindo para o direito proletrio novos conceitos gerais que lhe
sejam prpris, parece ser revolucionria por excelncia. Mas,
em realidade, proclama a imortalidade da forma jurdica, pois
se esfora em extrair esta forma de condies histricas deter
minadas que lhe permitam se expandir completamente, e a
apr~ntar como capaz de se renovar permanentemente. O
desaparecimento de certas categorias (de certas categorias, precisamente, e no de tais ou quais prescries) do direito burgus no significa em hiptese alguma a sua substituio por
E. B. PASUKANIS
26
'
!
18. Karl Marx, Crtica do programa de Gotha (1875), Ed. Sociales,
Paris; 1950, p. 23. (N.. do T.: ed. brasileira, Marx-Engels, Obras escolhidas. Ed. Alfa-n1ega, SP, [s.d.], vol. 2, p. 213.)
19. Id., loc. cit., ed. brasileira (N. do T.).
l.I
I
27
E. B. PASUKANIS
balho no for somente um meio de vida, mas a primeira necessidade vital" ,25 quando com o desenvolvimento universal do
indivduo tambm as foras produtivas tenham aumentado;
quando todos os indivduos trabal.hem 'voluntariamente segundo as suas capacidades ou, como diz. Lenin, quando for ultrapassado "o horizonte estreito do direito burgus" que obriga
a calcular com a insensibilidade de um Shylock: ''se no se
trabalhou mais meia hora do que o outro?"/6 m uma nica
palavra, quando a forma da relao de equivalncia tiver sido
definitivamente ultrapassada.
A transio para o comunismo evoiudo no se mostra,
segundo Marx, como uma passagem a novas formas jurdicas,
mas como o desaparecimento da forma jurdica enquanto tal,
como uma libertao em relao a esta herana da poca burguesa, destinada a sobreviver prpria burguesia.
Marx mostra ao mesmo tempo a condio fundamental,
enraizada na estrutura econmica da prpria sociedade, da
existncia da forma jurdica, isto , da unificao dos diferentes rendimentos do trabalho segundo o. princpio da troca
de equivalentes. Ele descobre, assim, o profundo vnculo interno existente ~ntre a forma jurdica e a forma mercantil.
Uma sociedade que constrangida, pelo estado de suas foras
produtivas, a manter uma relao de equivalncia entre o dispndio de trabalho e a r.emuherao, sob uma forma que lembra, mesmo de longe, a troca de valores-mercadorias, ser
constrangida igualmente a manter a forma jurdica. Somente
partindo deste momento fundamental que se pode compreender por que toda uma srie de outras relaes sociais reveste
a forma jurdica. Mas da a concluir-se que os tribunais e as
leis devero sempre existir, porque mesmo um estado de abundncia econmica no far desaparecer todos os delitos contra .
a .pessoa, significa essencialmente tomar os momentos secundrios e derivados pelos momentos essenciais e fundamentais.
Mesmo a criminologia burguesa progressista chegou teoricamente convico de que a luta contra a criminalidade pode
ser considerada em si mesma como uma tarefa medicinal e
pedaggica, e que os juristas com os seus "corpos de delito",
seus cdigos, seus conceitos de "culpabilidade", de "responsabilidade penal plena e atenuada", suas sutis distines entre cumplicidade, participao, instigao, etc. . . no podem,
absolutamente, fornecer qualquer auxlio para resolver a questo. E se estas concepes tericas ainda no chegaram, at
o presente, supresso dos cdigos penais e dos tribunais, ,
evidentemente. porque a superao da forma jurdica est vinculada no s transgresso dos quadros da sociedade burguesa mas, tambm, a uma emancipao radical em relao
a todas as sobrevivncias.
A crtica da cincia do direito burgus do ponto de vista
do socialismo deve mirar-se no exemplo de crtica da economia
poltica burguesa, tal qual Marx nos legou. Desta forma, tal
crtica deve se colocar, antes de tudo, no terreno do inimigo,
isto , ela no deve descartar as generalizaes e abstraes
que foram elaboradas pelos juristas burgueses, partindo das
necessidades de seu tempo e de sua classe, mas analisar estas
categorias abstratas e pr em evidncia o seu verdadeiro significado, em outros termos, descobrir os condicionamentos his-
28
25. Karl Marx, Crtica. . . op. cit., p. 25. (N. do T. : ed. brasi
leira, p. 214.)
26. Lenin, O Estado e a Revoluo, op. cit., p. 115. (N. do T.:
ed. brasileira, op. t., p. 287.)
29
tri(~QS-~ica.
Toda ideologia perece com as relaes sociais que a engendraram. Mas este desaparecimento definitivo precedido
por uma fase na qual a ideologia perde, sob os golpes desferidos pela crtica, a capacidade de encobrir e velar as relaes
sociais das quais nasceu. O pr a nu as razes de uma ideologia o sinal preciso de que o seu fim se aproxima, pois, como
dizia Lassalle, "o anncio de uma nova poca s se manifesta
atravs da aquisio da conscincia do que at ento era a
realidade em si".27
27.
Captulo Um
:52
E. B. PASUKAN.IS
33
balho, a diviso do trabalho, a neJessiliade, o valor de troca, se elevaram at ao Estado, s trocas internacionais e ao mercado mu11dial. Este
segundo mtodo evidentemente o mtodo cientfico correto. O concret()
concreto por ser a sntese de mltiplas determinaes; logo, unidade da
diversidade" (N. do T.)..
"
34
E. B. PASUKANIS
\.
-f
35
E. B. PASUKANIS
mritos da escola do direito natural na fundao da moderna ordem jurdica burguesa. "Ele (o direito natural) quebrou
os fundamentos da servido feudal e das relaes da sujeio
em geral e abriu as vias para a supresso dos gravames que
recaam sobre a terra; liberou as foras produtivas aprisionadas nos grilhes de um regime corporativo petrificado por restries comerciais absurdas ( ... ) obteve a liberdade de religio
e de confisso, bem como a liberdade da cincia. Ele assegurou a proteo do direito privado de todos os homens, qualquer que fosse a sua crena e a sua nacionalidade. Ele contribuiu para eliminar a tortura para orientar o processo penal
nas vias regulares de um processo confome lei" 4
Sem ter a inteno de, neste ponto, examinar em detalhe
a sucesso das diferentes escolas da teoria do direito, no po
demos deixar de indicar um certo paralelismo en~re a evoluo
do pensamento jurdico e a do pensamento econmico. Assim
a es~ola histrica, nos dois casos, pode ser ~onsiderada como
uma manifestao da reao feudal aristocrtica e, em parte,
pequeno-burguesa corporativa. E mais, qesde que a chama
revolucionria da burguesia extinguiu-se definitivamente na segunda metade do sculo XIX, a pureza e a preciso das doutrinas clssicas deixaram por igual, de exercer sobre ela qualquer atrao. A sociedade burguesa aspira estabilidade e a
um poder forte. l! por isso que no mais a anlise da forma
jurdica que se encontra no centro de interesses da teoria jurdica, mas, sim, o problema dos fundamentos coativos das determinaes jurdicas. Resulta, ento, um amlgama singular
de historicismo e positivismo jurdico, que se reduz negao
de todo direito que no seja o direito oficiaL
O chamado "renascimento do direito natural" no signifi
ca o retorno da filosofia do direito burgus s concepes revolucionrias do S'culo XVIII. N6 tempo de Voltaire e de
Beccaria, todo ju:z ''esclarecido" considerava que era um m
rito conseguir, sob o pretexto de aplicar a lei, realizar os pensamentos dos filsofos, que no eram mais do que a negao
revolucionria da ordem social feudal. Em nossos dias, o profeta do "direito natural" renascido, Rudolf Stammler, sustenta
a tese de que o "direito justo" exige, antes de tudo, submisso
ao direito positivo estabelecido, mesmo que este ltimo seja
"injusto".
A escola psicolgica em economia poltica se encontra paralela escola psicolgica do direito. Todas as duas se esforam por transpor o objeto da su~ anlise para a esfera dos
estados subjetivos da conscincia ("avaliao", "emoo imperativa-atributiva") e no vem que as categorias abstratas correspondentes exprimem, por suas regularidades cientficas, a
estrutura lgica das .relae:; sociais que se ocultam por detrs
dos indivduos e que ultrapassam o quadro da conscincia individual.
Enfim, o forma1isnio extremo da escola normativista (Kelsen) exprime/ sem dvida alguma, a decadncia geral do
_mais recente pensamento cientfico burgus, que se dissipa em
artifcios metodolgicos e lgico-formais estreis, ao glorificar
seu total afastamento da realidade .. Na teoria econmica os
representantes da escola matemtica ocupam uma posio
similar.
A relao jurdica , para utilizar a expresso marxista,
uma relao abstrata, unilateral, mas que no aparece nesta
unilateralidade como o resultado do trabalho conceitual de um
sujeito pensante, mas como o produto da evoluo social. "Em
toda cincia histrica e social, preciso nunca esquecer, .a propsito da evoluo das categorias econmicas, que o objeto,
neste caso a sociedade burguesa moderna, dado tanto na
realidade como no crebro; no esquecer que as categorias
exprimem, portanto, formas de existncia, condies de existncia determinadas, muitas vezes de simples aspectos particulares desta sociedade determh:tada, deste objeto ... "5
O que Marx diz das categorias econmicas , tambm,
totalmente aplicvel s categorias jurdicas. Em sua universalidade aparente elas exprimem um aspecto determinado da exis-
36
5.
37
38
E. B. PASUKANIS
Se quisermos aplicar teoria do direito as reflexes metodolgicas acima citadas, devemos come.ar com a anlise da
fortna jurdica em sua configurao mais abstrata e mais pura,
e, en seguida, ir pela complicao progressiva ao concreto
histrico. No devemos esquecer que a evolulo diall!tica dos
ccmceitos, corresponde evoluo dia}tica do prprio pro
cesso histrico. A evoluo histrica nlo implica apenas uma
mudana no contedo das normas jurdicas e uma modificao das instituies jurdicas, mas tambm um delenvolvimento da forma jurdica enquanto tal. Esta, depois de ter surgido
em um estgio determinado de civilizao, permaneceu longa
nente em estado embrionrio, com uma fraca diferenclailo
6. K. Marx, id., ib., p. 222. A Contribuio Critica da Bconomla
Po.ltica e a Introduo Geral so a mesma obra (N. do T.)
39
--
Captulo Dois
IDEOLOGIA E DIREITO
A questo da natureza ideolgica do direito desempenhou um papel essencial na polmica entre P. I . Stucka e o
professor Rejsner1 O profe&sor Rejsner tentou demonstrar
que Marx e Engels consideravam o direito como uma das
"formas ideolgicas". e que muitos outros tericos marxistas
tinham a mesma opinio. O professor Rejsner apia-se em
um grande nmero de citaes. No h nada a objetar a tais
referncias. Tambm no podemos contestar o fato de que,
para os homens, o direito uma viva experincia psicolgica,
particularmente sob a forma de regras, de princpios ou de
normas gerais. Contudo, o problema no consiste em admitir
ou contestar a existncia da ideologia jurdica (ou da psicologia)' mas em demonstrar que as categorias jurdicas no possuem outra significao for de sua significao ideolgica.
:f: somente a partir desta demonstrad que poderemos admitir como inatacvel a concluso tirada pelo professor Rejsner,
a saber, de "que um marxista no pode estudar o direito seno
como uma espcie particular da Ideologia". Nesta pequena
frmula "no pode. . . seno como'' reside o fundo de toda
questo. ];: o que queremos explicitar a partir de um exemplo
da economia poltica. As categorias mercadoria, valor e valor
de troca so, sem dvida alguma, formaes ideolgicas, representaes deformadas, mistificadas (segundo expresses de
1.
42
E. B. PASUKANIS
Marx), pelas quais a sociedade, baseada sobre a troca mercantiL concebe as. relaes de trabalho dos diferentes produtores. O carter ideolgico destas 'formas provado pelo fato
de que basta passar a outras estruturas econmicas para. que
categorias de mercadoria, valor, etc. percam toda a sua significao. Eis por que, a justo ttulo, podemos falar de uma
ideologia mercantil ou, como Marx a nomeia, de um ''fetichismo da mercadoria", e pr este fenmeno na conta dos
fenmenos psicolgicos. Mas isto, absolutamente, no signifi
ca que as categorias de ,economia poltica possuam exclusivamente uma significao psicolgica, que elas se refiram unicamente a experincias vivenciadas, a representaes e outros
processos subjetivos. Sabemos muito bem que a categoria mercadoria, por exemplo, apesar de seu evidente carter ideolgico,
reflete uma relao social objetiva. Sabemos que a~ diferentes estgios de desenvolvimento desta relao, sua maior ou
menor universalidade, .so real.idades de fatos materais que
devem ser tomados em considerao como tal ~ ' no apenas
enqunto processos ideolgicos e psicolgicos. Da que os
conceitos gerais da economia poltica no so, ento, simples
elementos ideolgicos, mas abstraes graas s quais a realidade econmica objetiva pode ser elaborada cientificamente,
isto , teoricamente. Para retomar a expresso de Marx, "as
categorias da economia burguesa so formas do intelecto que
possuem uma verdade objetiva, uma vez que refletem relaes
sociais reais, mas estas relaes pertenc~m apenas. quela poca histrica determinada, na qual a produo mercantil 0
modo de produo social"2 ,
1
O que te:mos a demonstrar no que os conceitos jurdicos gerais possam entrar, a ttulo de elementos constitutivos, nos processos e sistemas ideolgicos - o que nlo 6 de
forma alguma contestvel - , mas que a realidade social, mascarada, em certa medida, por um vu mstico, no pede ser
descoberta atravs desss conceitos. Em outros termCI, deve
2. K. Marx, O Capital, L. I, cap. IV, op. cit., p. $8. Bel, br1111
leira: So Paulo, Nova Cultural, 3. ed., p. 134.
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43
mos esclarecer a seguinte questo: representaro, efetivamente, as categorias jurd!cas essas categorias conceituais objetivas
(objetivas para sociedade historicamente determinada) e cor
respondentes a relaes sociais objetivas? Em conseqncia,
respondemos a questo da seguinte maneira: poder o direito
ser concebido como uma relao social no mesmo sentido em
44
E. B. PASUKANIS
de "territrio nacional",
no reflete apenas uma
a realidade. objetiva da
de dominao, e, mais,
45
a criao de uma organizao administrativa, financeira e militar real com uma estrutura humana e material correspondente. O Estado no nada sem os meios de comunicao,
sem a possibilidade de transmitir ordens e determinaes e de
mobilizar as foras armadas, etc. Ser que o professor Rejsner
acredita que os caminhos militares romanos ou os modernos
meios de comunicao fazem parte do psiquismo humano? Ou
pensa que tais elementos materiais no devem ser computados
entre os elementos de formao do Estado? Evidentemente,
ento, s nos resta colocar no mesmo plano a realidade estatal
e a realidade da "literatura, da filosofia e de outras produes
espirituais do homem"5 1! pena que a prtica da luta poltica,
da luta pelo poder, contradiga radicalmente esta concepo
psicolgica e oponha a cada etapa elementos materiais e objetivos.
A este respeito imperioso notar . que a conseqncia
inevitvel de tal ponto de vista psicolgico, adotado pelo professor Rejsner, m subjetivismo sem alternativa. "O poder
Estatal como criao. de mltiplas psicologias individuais, o
poder Estatal que se manifesta sob formas to diversas quanto
as necessidades do meio, os grupos e as classes, assumir naturalmente diferentes figuras na conscincia de .um ministro
e de um campons que ainda no chegou idia do Estado,
no psiquismo de um homem de Estado, ou de um anarquista
por princpio, em uma palavra, em pessoas de situaes sociais
diferentes, de profisses e de educaes diferentes"6 Sobressai claramente destas afirmaes, se permanecermos no plano
psicolgico, que no h qualquer razo em falar a respeito do
Estado como unidade objetiva. 1! somente quarido se considera
o Estado como uma organizao real de dominao de classe
(isto , levando-se em considerao todos os momentos, no
apenas os psicolgicos, mas igualmente os materiais, estes em
primeiro lugar) que podemos situar-nos em um terreno slido
e que, efetivamente, se pode estudar o Estado, tal qual ele
--
46
E. B. PASUKANIS
47
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4.&
E. B. PASUKANIS
\1
49
estatais9 ; porm, reconheceu ~penas como integrante da dog. mtico jurdica as normas do primeiro grupo. Com efeito, .
o ncleo mais slido de universo ju;rdico (se assim posso
exprimir-me) situa-se, precisamente, no domnio das relaes
de direito privado. :1! l, precisamente, que. o sujeito de direito, "a pessoa",- encontra uma encarnao totalmente adequada na personalidade concreta do sujeito econmico egosta, do proprietrio, do titular de interesses privados. :1! precisamente no direito privado que o pensamento jurdico mo.
ve~se com mais segurana e liberdade, e que as suas construes assumem formas mais acabadas e mais harmoniosas. A
sombra clssica de Aulus Aegerius e de Numerius Negidius, *
esses protagonistas das questes do processo romano, paira
contitiuamente sobre os juristas que neles se in[;piram. :1! exatamente no d)reito privado que as premissas e os princpios
a priori do pensamento jurdico se incorporam na carne e no
s.angue das duas partes em litgio, que pela vingana privada
reivindicam o seh direito. O papel do jurista, enquanto terico, coincide, ento, com a sua funo social concreta. O
dogma do direito privado no nada alm de uma srie infinita de consideraes a favor e contra reivindicaes imaginrias ou demandas eventuais. Alis, em cada pargrafo deste
sistema esconde-se o cliente abstrato, invisvel, pronto a utilizar as teses em confronto como conselho jurdico. As.
especializadas polmicas doutrinrias dos juristas acerca
da significao do erro ou sobre part!lha do nus da
prova' no se distingut(m das disputas anlogas que ocorrem
ante os tribunais. A diferena no maior do que a ex!stente entre os torneios de cavalaria e as guerras feudais. Os
torneios, como sabemos, por vezes, foram disputados encar
niadamente exigindo tanto dispndio de energia e fazendo
tantas vtimas quanto os combates reais. Somente quando
a economia individualista for substituda por uma produo
9.
1881.
E. B. P ASUKANIS
50
Eis
~'
51
E. B. PASUKANIS
social especfica destas relaes, ele retornou habitual definio formal, ainda que esta esteja circunscrita pelas caractersticas de classe. Na frmula geral de Stucka, o Direito no
mais figura como uma relao social especfica, mas como
o conjunto de relaes em geral, como um sistema de relaes
que correspondem aos interesses das classes dominantes e salvaguarda tais interesses pela violncia organizada. Por conseguinte, no interior deste sistema de classes, o Direito no
pode ser separado, enquanto relao, das relaes sociais em
geral, e Stucka no est habilitado a responder insidiosa
pergunta do professor Rejsner: como as relaes sociais transformam-se em instituies jurdicas, ou, ento, <:orno o direito
tornou-se o que ?13
A definio de Stucka, talvez porque provenha do Comissariado do Povo para a Justia, est adaptada s necess!dades dos juristas prticos. Ela demonstra-nos os limites empricos que a histria traa, a cada momento, lgica jurdica,
mas no pe a nu as razes profundas desta lgica. Esta definio desvenda o contedo de classe das formas jurdicas,
mas no explica-nos por que este contedo assumiu tal forma.
Para a filosofia burguesa do direito, que considera a relao jurdica como uma forma natural e eterna de qualquer
relao humana, tal questo no est colocada. Para a teoria
marxista, que se esfora em penetrar nos mistrios das formas
sociais e de reconduzir todas as relaes humanas ao prprio
homem, esta tarefa deve estar colocada em primeiro plano.
52
(l: \
53
Capftulo Trs
RELAO-E NORMA
Assim como a riqueza da sociedade capitalista tem a forma de uma enorme acumulao de mercadorias, a sociedade, ,
em seu conjunto, apresenta-se ~omo uma cadeia ininterrupta
de relaes jurdicas. A trocarde mercadorias pressupe uma
economia atomizada. Os vnculos entre as diversas unidades
econmicas priv1;1das e isoladas so mantidos a cada vez que
os contratos so firmados. A relao jurdica entre os Sujeitos
o avesso da relao entre os produtos do trabalho tornados
mercadoria. Este fato no impede que certos juristas, como
por exemplo L. Petrazickij; coloquem as coisas de cabea para
baixo. Este acredita que no a forma mercantil q~e engendra
a forma jurdica, mas que, ao contrrio, os fenmenos econmicos estudados pela economia poltic~ "representam o com-
portamento indiv~dual e coletivo de hothens determinados por
modificaes tpicas, que possuem sua fonte no direito civil
(propriedade privada, obrigaes e contratos, direito de famlia e direito das sucesses)".1
A relao jurdica a clula central do tecido jurdico e
somente nela que o direito realiza o seu movimento real. Em\.
contrapartida, o direito enquanto conjunto de .normas apenas
uma abstrao sem vida.
Por isso, muito logicamente, a escola nrmativista, com
Kelsen frente, nega completamente a relao entre os sujei
tos; reluta em co).isiderar o Direito sob o ngulo de sua exis1. L. Petrazickij, Vvedenie v izucenie .prava i nravstvennosti (In.
traduo ao estudo do direito e da moral), t. 1, p . 77.
56
E. B. PASUKANIS
57
58
E. B. PASUKANIS
.reito costumeiro, ele deve, queira ou no,. voltar-se para a realidade .. Mas se a lei estatal para o ju~ista cj supremo princpio normativo, ou, para empregar a expresso tcnica, a
fonte do direito, as consideraes do jurista dogmtico acerca
da existncia do direito vigente nada significam para O historiador. que queira estudar o direito efetivamente existente.
O estudo cientfico, vale dizer, terico, s pode levar em
considerao realidades de fato. Se certas relaes constituram-se em concreto,; isto significa que um direito correspondente nasceu; mas s um iei ou decreto foran1 editados sem
que nenhuma relaO correspondente tenha. aparecido, na prtica, isto significa que. foi feito um ensaio ~ cdao de .di~
rei to, mas sem nenhum sucesso. Este ponto de vsta no equivale negao. da vontade de classe como fator da evoluo
ou renncia da interveno consciente no curso do desenvolvimento social ou, . ainda, ao "economismo' 1; .ao fatalismo
e outras coisas execrveis. A ao poltica. revolucionria pode
superar muitas dificuldades; pode realizar a.mnh aquilo que
no existe hoje;. :filas no pode fazer existir; subitamente,
aquilo que no existiu no passado. Assim, quand0- afirmamos
que o projeto de edificar um prdio e a pr6pria planta deste
prdio no representam o verdadeiro pFqio, isto no . quer
dizer _que a sua construo no necessita de pfOfeto e de planta. Mas, se a deciso no ultrapassou o .plano.; :njo podemos
dizer que o prdio tenha '>ido construdo ..
Podemos modificar a proposio acima,. e :C.plocar em pri
meiro lugar no mais a norma como tal, mas as foras obje
tivas reguladoras e atuantes na sociedade, .. >U segundo a expresso dos juristas, a ordem jurdica pbjetiva.7
7. Aqui necessrio obserirar .que uma atividade social reg1,1ladora
pode igualmente dispensar normas estabelecidas a prlorl.
o que prova
a criao jurisprudencial do direito. Sua p~odulo foi part'icularmente
grande nos perodos que no conheceram a prodlio centralizada das
leis. Assim, por exemplo, O conceito de uma norma acabada, dada
exteriormente, era inteiramente estranho aos tribunais da antiga Germ
nia. Todas as compilaes de regras eram, para os jurados, meios auxiliares que lhes permitiam formar suas prprias opinies e no leis obrigatrias (S. Stinzing, Geschlcht1 der deutschen Rechtswissenschaft, tomo I,
:e
J880, p. 39).
59
-......
60
E. B. PASUK.ANIS
Podem replicar-nos que, se fizermos abstrao da norma objetiva, os cc:>nceitos de relao jurdica e de sujeito de
direito ficam flutuando no ar e no podem ser captados por
nenhuma definio. Nesta objeo exprime-se o sentido emi
nentemente prtico e emprico da dogmtica jurdica moderna,
a qual est 'permanentemente convencida de uma nica verdade:
a saber, a de que o processo estaria perdido se a parte que o
ajuizou no pudesse apoiar-se em um artigo de uma lei.
Teoricamente, contudo, a convico de que o sujeito de direito
e a relao jurdica no existem fora da norma objetiva to
errnea quanto a convico segundo a qual o valor no existe
e no pode ser definido fora da oferta e da procura, por que
ele s se manifesta empiricamente nas ftutuaes do preo.
O pensamento jurdico dominante, que coloca em primeiro plano a norma como regra de conduta estabelecida autoritariamente, no menos emprico, e da mesma forma, como
podemos observar nas teorias econmicas, possui um formalismo extremo, totalmente desligado da vida.
A oferta e a procura podem existir para todas as espcies de objeto, dentre os quais aqueles que no so produtos
do trabalho. Disto conclui-se que o valor pode ser determinado por fora da relao entre o tempo de trabalho socialmente necessrio produo do objeto em questo. A apreciao emprica, individual, serve de fundamento teoria formal-lgica da utilidade marginal. Por igual, as normas emanadas do Estado podem relacionar-se aos campos mais diver
sos e possuir caractersticas as mais variadas. Conclui-se, entlo,
que a essncia do direito esgota-se nas normas de conduta,
ou em ordens provenientes de uma autoridade superior, e
que a prpria matria das relaes sociais no contm os ele
mentos geradores da forma jurdica.
A teoria formal-lgica do positivismo jurdico baseia-se
no fato emprico de que as relaes que se encontram sob a
proteo do Estado so as que esto mais bem garantidas.
A questo que examinamos reduz-se - para usar a terminologia da concepo materialista da histria - ao proble
ma das relaes recprocas entre a superestrutura jurdica e a
superestrutura poltica. Se consideramos a norma, sob qual
61
62
E. B. PASUKANIS
Em outro ensaio, A critica moralizante ou a moral critica, Mat?t retoma ao mesmo problema. Ele polemiza com o
representante do ~socialismo verdadeiro", Karl Heizen, e es
creve: "Alis se a burguesia mantm polit:camente, isto , por
sua fora poltica, 'a injustia nas relaes de propriedade',
no foi ela que a criou. 'A injustia nas reles de propriedade', tal qual condicionada pela moderna diviso do traba
lho, a moderna forma de troca, a concorrncia, a concentrao, etc., de forma alguma possui a sua origem na supremaCia
poUtica da burguesia; ao contrrio, a supremacia poltica da
burguesia que possui sua fonte nestas modernas relaes de
produo, s quais os economistas burgueses proclamam como
leis necessrias, eternas" 10
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63
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,;
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sitndem-nve'is'
E. B. PASUKANIS
Queremos, provisoriamente deixar de lado a escola psicolgica e as tendncias prximas, e ocupar-nos da opinio
daqueles para os quais o. direito deve ser concebido .~xclusi
vamente como uma norma objetiva.
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~
Portanto, a relao jurdica no .. nos mostra apenas o di'reito em seu movimento real,. nias descobre, igualmente, as
propriedades caractersticas do direito enquanto categoria lgitratos firmados sob a gide do nosso C6digo Civil e transformar cada
proprietrio em uma pessoa exercente de uma funo social. Uma tal\
supresso verbal da economia privada e do direito privado s6 pode obs
curecer a perspectiva de sua supresso real.
20. Cf. por exemplo, A. Merkel, Juristische Enzyclopi.idie, Leipzig,
1885, 146, e N. M. Korkunov, Enciklopedija prava (Enciclopdia do
Direito), Moscou, 19i8, p. 114.
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E. B. PASUKANIS
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I
I
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j,
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por sua simplicidade, clareza e perfeio, enquanto que as teorias de direito pblico contemplam diversas construes for
adas, artificiais e unilaterais, ao ponto de tornarem-se at
mesmo grotescas. A forma jurdica com seu aspecto de auto~
rizao subjetiva nasce em uma sociedade composta de titulares de int~resses privados egostas e isolados. Dado que toda
vida econmica edifica-se sobre o princpio da conrdncia
entre vontades independentes, cada funo social assume, de .
forma mais ou menos reflexiva, um carter jurdico, isto ,
~no apenas uma funo. sociai, mas, igualmente, .um direito
pertencente quele. que exerce tais funes sociais. Mas, uma
vez que os interesses priva~os no podem, dada pr6pria, na~
tureza da organizao poltica, alcanar nela um desenvolvimento completo . e uma importncia determinante como na
economia da sociedade burguesa, os direitos pblicos subjetivos surgem, eles tambm, coino uma fotqna efmera, desprovidos de verdadeiras razes e eternamente incertos. Ademais, o
Estado no uma superestrutura jurdica, mas somente pode
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''.?'L,'-
75
24. "Para o conhecimento jurdico, trata-se exclusivame11te de responder a seguinte questo~ como deve conceber-se juridicamente o
Estado?" (G. Jellinek, System der subjektiven offentlichen Rechte, Tbingen, 1905, p. 13).
E. B. PASUKANIS
76
forma jurdica. A condio real da supresso da forma jurdica e da ideologia jurdica um estado social no qual a contrdio entre o interesse individual e o interesse social esteja
superada.
Mas o que caracteriza a sociedade burguesa precisamente o fato de que os interesses gerais destacam-se dos interesses
privados
a eles se opem. E assumem, involuntariamente,
nesta oposio a forma de interesses privados, a fornia~ de
direito. Alm do mais, como era de se esperar, so precisalnente estes momentos que se deixam integrar completamente
no esquema dos interesses privados isolados e postos, que
constituem o momento jurdico da organizao estatal25
A. G. Gojchbarg contesta a prpria necessidade de dis
tinguir os conceitos de qireito pblico e de direito privado.
'
77
L-se em seu trabalho: "a diviso do direito em direito pblico e em direito privado jamais satisfez aos juristas e, presentemente, s reconhecida pelos juristas mais retrgrados,
dentre os quais se encontram alguns de nossos juristas"26
Gojchbarg, ademais, apia esta idia sobre a inutilidade
da diviso do direito em direito pblico e d!reito privado nas
seguintes consideraes: o princpio do livre cambismo, da no
ingerncia do Estado nos assuntos econmicos est superado
no sculo XX, diz, o arbtrio individual ilimitado na vida
econmica prejudica os interesses do conjunto; existem, mesmo nos pases que no passaram por uma revoluo proletria, numerosas instituies nas quais misturam-se os domnios
do direito privado e do direito pblico, e entre ns, finalmente, onde a atividade econmica est concentrada principalmente nas mos dos organismos do Estado, a delimitao
do conceito de direito civil, em relao a outros conceitos, no
tem sentido. Parece-nos que toda esta argumenta~o repousa
sobre toda uma ,srie de equvocos. A escolha desta ou daquela direo poltica prtica no determinante em relao
aos fundamentos .tericos da distino entre os diferentes conceitos. Assim podemos estar convencidos de que a edificao
das relaes econmicas sobre a base de relaes mercantis
possui inmeras conseqncias negativas. Mas no se depreende da que a distino dos conceitos de "valor de uso" e de
''valor de troca" seja teoricamente inconsistente. Em segundo
lugar, a afirmao (que, de resto, no contm nada de novo),
segundo a qual os domnios do direito .pblico e do direito
privado interpenetram-se, no tem nenhuma espcie de significao se no pudermos distinguir estes dois conceitos. Efetivamente, como que coisas que no possuem existncia separada podem interpenetrar-se? As objees de Gojchbarg l)ssentam-se sobre as idias de que as abstraes de "direito p-..
blico" e de "direito privado" no so .frutos do desenvolvimento histrico, mas simplesmente o produto ela imaginao
dos juristas. Contud, precisamente esta oposio que a
26.
p. 5.
79.
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78
27.
28.
da base do desenvolvimento precedente, que eu havia me proposto por tarefa ''construir uma teoria da dogmtica jurdica
pura". Em seguida ao que, Il'inskij conclui que tal finalidade no foi alcanada. Ele escreveu: ''o autor produziu uma
teoria do direito que , em sua essncia, sociolgica, ainda,
que tenha tido a inteno de constru-la como dogmtica jurdica pura".
Quanto a Razumovskij, ainda que ele .no exprima qualquer opinio precisa sobre os meus objetivos, me atribui, contudo, a inteno acima mencionada, e condena muito severamente: ''o seu (isto , o meu, E. P.) receio de velhas pesquisas metodolgicas transformarem a dogmtica jurdica em Sociologia ou em Psicologia revela, apenas, que ele possui uma
representao insuficiente do carter da anlise marxista".
"Isto tanto mais estranho - espante-se o meu crtico que o prprio Pasukanis v uma certa discordncia entre a
verdade sociolgica e a verdade jurdica e sabe que a concepo jurdica uma concepo unilateral". Com efeito,. isto
realmente estranho. Por um lado, eu temo que a dogmtica
jurdica no se transforme em Sociologia; por outro, reconheo que a concepo jurdica uma concepo "unilateral".
De uma parte eu quero produzir uma teoria da dogmtica jurdica pura, de outra parte sobressai que eu produzi uma teoria sociolgica do direito. Onde est a soluo desta contradio? A soluo muito simples. Enquanto marxista, eu no
me atribu a tarefa de construir uma teoria da dogmtica jurdica pura e eu no poderia, da mesma forma, enquanto marxista, atribuir-me esta tarefa. Desde o incio estava perfeitamente c6nsciente do fim ao qual segundo a opinio de Il'inskij,
teria chegado inconscientemente. Este fim era de fazer uma
interpretao sociolgica da forma jurdica e das categorias
especficas que exprimem esta forma jurdica.
precisamente por isto que subtitulei a meu livro "tentativa de crtica dos -.
conceitos jurdicos fundamentais". Mas a minha tarefa seria,
entenda-se, totalmente absurda se eu no tivesse reconhecido
a existncia desta mesma forma jurdica e se tivesse rejeitado
as categorias que. exprimem esta forma como elucubraes
ociosas.
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E. B. PASUKANIS
Uma vez que eu estigmatizo a precariedade e a inadequao das construes jurdicas no domnio do direito pblico, falando das hesitaes e das incertezas metodolgicas
que ameaam transformar a dogmtica jurdica seja em Socio. logia, seja em Ps!cologia, estranho acreditar que quero precaver-me contra a tentativa de uma crtica sociolgica da dogmtica jurdica feita do ponto de vista marxista:
Captulo Quatro
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MERCADORIA E SUJEITO
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E: B. PSUKANIS
volvido, corresponde precisamen~e s relaes sociais burguesas capitalista. E claro que as fo~mas particulares de rela~
es sociais no suprimem estas prprias relaes e as leis
que lhes servem de fundamento. Assim, a apropriao de um
produto no interior de uma dada formao social e graas
s suas formas um,fato fundamental, du, se qu!sermos, uma
lei fundamental. Mas esta relao s a~sume a forma jurdica da propriedade privada em um determinado estgio de
desenvolvimento das foras. produtivas e da diviso do trabalho que lhe correspondente. Razumovskij cr que, -ao fundamentar a minha anlise no conceito de sujeito, elimino,
desta forma, de meus estudos as relaes de domnio e servido, enquanto que, em realidade, a posse e a propriedade
esto indissoluvelmente ligadas a estas relaes. No pretendo,
de forma alguma, contestar este vnculo. Afirmo, apenas, que
a propriedade somente se torna fundamento da forma jurdica enquanto livre disposio de bens no mercado. A categoria sujeito serve, ento, precisamente, como expresso_ geral
desta liberdad. O que significa, por exemplo, a propriedade
jurdica da terra? ''Simplesmente, diz Marx, que o proprietrio rural pode usar da terra como qualquer possuidor de
mercadoria pode usar de suas mercadorias."4 Por outro lado,
o capitalismo transforma precisamente a propriedade fundiria
feudal em propriedade fundiria moderna, liberando~a inteiramente das relaes de domnio e servido. O escravo
totalmente subordinado ao seu senhor e precisamente por
esta razo que esta relao de explorao no necessita de
nenhuma elaborao jurdica particular. O trabalhador assalariado, ao contrrio, surge no mercado como livre vendedor
de sua fora de trabalho e por isso que a relao e explorao capitalista se mediatiza sob a forma jurdica de contrato.
Eu creio que estes exemplos so suficientes para colocar em
evidnc!a a importncia decisiva da categoria sujeito na anlise
da forma jurdica.
As teorias idealistas do direito desenvolvem o conceito
de sujeito a partir desta ou daquela idia geral, isto , de
4.
V.
i~
t)
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uma maneira puramente especulativa: ''o conceito fundamental do direito a liberdade ( ... ) O conceito abstrato de liberdade a possibilidade de se determinar a qualquer coisa ( ... )
O Homem o sujeito de direito porque possui a possibilidade
de determinar-se, porque possui uma vontade" .5 Igualmente em
Hegel "a personalidade contm principalmente a capacidade
de direito e constitui o fundamento (ele prprio abstrato) d~
direito abstrato, em conseqncia formal. Q imperativo de
direito ento: seja uma pessoa e respeite
outros como
pessoas".6 E mais adiante: "O que imediatamente diferente
do esprito livre, e considerado este como em si, a extrinsidade em geral: uma coisa, qualquer coisa de no livre, sem
personalidade e sem direito" .1
Mais adiante veremos em que sentido ~-- oposio entre
a coisa e o sujeito nos fornece a chave para compreender a
forma jurdica. A dogmtica jurdica, ao contrrio, serve-se
deste conceito sob seu aspecto formal. Para ela o sujeito no
nada mais do que um ''meio de qualificao jurdica dos
fenmenos, do ponto de vista de sua capacidade ou incapacidade em participar das relaes jurdicas".8 A dogmtica jurdica., por conseguinte, no coloca de forma alguma a questo de porque o homem se transformou de indivduo -zoolgico em sujeito de direito. Ela parte da relao jurdica como
uma frma acabada, dada a priori.
A teoria marxista, ao contrrio, considera historicamente
toda forma social. Ela, portanto, se prope por tarefa explicar as ' condies materiais, historicamente determinadas, que
tenham feito desta ou daquela categoria uma realidade. As
premissas materiais d comunidade jurdica ou das relaes entre os sujeitos de direito foram definidas~ pelo prprio Mar:N,
E. B. PASUKANIS
lizao, uma relao particular entre os homens enquanto indivduos que dispem de produtos, enquanto sujeitos cuja
"vontade habita nas prprias coisas". 10 "O fato de que os bens
econmicos contm trabalho uma propriedade que lhes
inerente; o fato de queeles podem ser trocados uma segunda propriedade que s depende de seus proprietrios, com a
nica condio de que estes bens sejam apropriveis e alienveis."11 Eis por que, ao mesmo tempo em que o produto
do trabalho reveste as propriedades da mercadoria e torna-se
portador de valor, o homem torna-se sujeito de direito e portador de direitosY "A pessoa cuja vontade declarada determinante o sujeito de direito."13
A vida social, ao mesmo tempo, se desloca, por um lado,
para uma totalidade de relaes reificadas, nascendo espontaneamente (como o so todas as relaes econmicas: nvel
de preos, taxa de mais-valia, taxa de lucro, etc.), isto ,. relaes nas quais os homens no tm outra significao seno
que a de coisa e; por outro lado, para uma totalidade de relaes nas quais o homem somente determinado na medida
em que se oponha a uma coisa, quer dizer, definido como
sujeito. Esta precisamente a relao jurdica. Tais so as
formas fundamentais que, originariamente, distinguem uma da
outra; mas que, ao mesmo tempo, condicionam-se mutuamente
e esto estreitamente ligadas entre si. O vnculo social enraizado na produo apresenta-se simultaneamente sob duas for-
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..
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Neste estgio de desenvolvimento, a pretensa. teoria volitiva dos direitos subjetivos comea a se revelar inadequada.
realidadeY Prefere-se definir o direito em sentido subjetivo
como "a parte de bens que a vontade geral atribui e garante
a uma pessoa". A capacidade de querer e de agir no requisitada nesta pessoa. A definio de Dernburg, bem entendido, aproxima-se bastante do universo intelectual dos juristas.
modernos que operam com a capacidade jurdica dos deficientes mentais, dos recm-nascidos, das pessoas jurdicas, etc.
A teoria da vontade, em compensao, equivale, em suas ltimas conseqncias, excluso das categorias mencionadas, da
relao dos sujeitos de direito.'? Dernburg est, sem nenhuma
dvida, muito mais perto da verdade, ao conceber o sujeito
de direito como um fenmeno puramente social. Mas, por
outro lado, v-se muito claramente por que o elemento da
vontade joga, na construo do sujeito de direito, um papel
to essencial. E. isto que Dernburg, em parte, tambm v
quando afirma que "os direitos, em sentido subjetivo, existiram historicamente muito antes da formao de um sistema
estatal consciente de si prprio . .Eles estavam fundamentados
ria personalidade dos indivduos e sobre o respeito que eles
souberam ganhar e impor pelas suas pessoas e seus bens . Foi
somente pela abstrao que se pde formar progressivamente,
a partir da concepo de direitos subjetivos existentes, o conceito de ordem jurdica. A concepo segundo a qual os direitos, em seu sentido subjetivo, so apenas a emanao do
direito em seu sentido objetivo, , portanto, no histrica e
falsa". 20 Evidentemente, somente aquele que no possui apenas uma vontade mas que detivesse tambm uma parte importante do poder poderia "ganhar e impor o respeito". Contudo, como a maior parte dos juristas, Dernburg tem igualmente
a tendncia a tratar o sujeito de direito enquanto "personalidade em geral", isto , como uma categoria eterna situada
fora das condies histricas determinadas. Deste ponto de
18.
19.
p. '984.
20.
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vista, o que prprio do homem, como ser animado e provido de vontade racional, ser sujeito de direito. Em realidade a categoria sujeito do direito evidentemente abstrada
do ato e troca que ocorre no mercado. :g~Ql:"~Ci~all1ente neste
ato de troca que o homem realiza praticamente a liberdade
formal de autodeterminao. A relao do mercado transforma esta oposio entre o sujeito e o objeto em J,lm significado
jurdico cparticular. o objeto a mercadoria, o sujeito o
proprietrio de mercadorias .que delas dispe no ato de apropriao e de alienao. g precisamente no ato de troca que
o sujeito manifesta, primeiramente, toda a plenitude de suas
determinaes. O conceito, formalmente mais acabado, de suieito, que doravante abranger apenas a capacidade jurdica;
afasta-nos muito mais do significado histrico real desta categoria jurdica.
por isso que to difcil aos juristas renun. ciar ao elemento voluntrio ativo em suas .construes dos
conceitos de "Sujeito" e de "Direito subjetivo".
A esfera de domnio que .envolve a forma do direito subjetivo um fenmeno social que atribudo ao indivduo da
mesma forma que o valor, outro fenmeno social, atribudo
coisa enquanto produto do trabalho. O fetichismo da mercadoria completado pelo fetichismo jurdico.
As relaes entre os homens no processo de produo
possuem em um determinado estgio de desenvolvimento, uma
forma duplamente enigmtica. Elas parecem, por um lado,
como relaes entre coisas (mercadorias) e, por outro lado,
como relaes de vontade entre unidades independentes umas
das outras, porm iguais: como relaes entre sujeitos de direito. Ao lado da propriedade mstica do valor surge uni
fenmenb no menos enigmtico: o direito. Ao mesmo tempo a relao unitria e total possui dois aspectos abstratos e .
fundamentais: um aspecto econmico e um a~pecto jurdico.
No desenvolvimento das categorias jurdicas a capacidade de
efetuar atos de troca apenas uma das diversas manifestaes
con<;retas da capacidade jurdica e da capacidade .de agir. Historicamente, todavia, o ato de troca faz consolidar a idia do
sujeito como portador de todas as pretenses jurdicas possapenas na economia mercantil que nasce a forma jurveis .
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Assim, apenas o desnvolvimento do mercado cria a necessidaqe e a possibilidade de transformao do homem, que
apropria-se das coisas pelo. trabalho (ou pela espoliao), em
proprietrio jurdico. Entre essas duas fases no existem fron
teiras claras. O "natural" passa imperceptivelmente para o
"jurdico", da mesma maneira que o roubo mo armada
est estreitamente ligado ao comrcio.
Karner tem outra concepo da propriedade. Segundo a
sua definio, "a -propriedade , de jure, o poder que a pessoa
A tem de dispor da coisa N, a relao nua entre um indivduo
e uma coisa natural que no diz respeito a nenhuM outro
indivduo (sublinhado por mim, E. P.) e a nenhuma outra
coisa; a coisa uma coisa privada, o indivduo urn iadivfduo
privado, o direito um direito privado. E assim que igualmente se passam as coisas no perodo da produo mercantil
simples".31
Toda esta passagem demonstra uma falsa compreenso
do problema. Karner reproduz aqui as "robinsonadas" em
vigor. Mas, pergunta-se, por que dois Robinsons, que ignoram
m:utuamente as. suas existncias, concebem suas relaes com
as coisas juridicamente, ao passo que esta relao inteiramente uma relao de fato . Este direito de homem isolado
merece ser colocado .ao lado do famoso valor do ''copo d'gua
no deserto". Tanto o valor quanto o direito de propriedade
so engendrados por um nico e mesll1o fenmeno: pela Circulao dos produtos transformados em mercadoria. A propriedade jurdica nasce, no porque veio idia dos homens
se atriburem reciprocamente tal qualidade jurdica, inas por~
que eles no podem trocar mercadorias sem vestirem a mscara jurdica. "O poder ilimitado de dispor da coisa nada
mais do que o reflexo da circulao ilimitada das merc.a
dorias".
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-~r
32.
33.
II
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Id .. ib .. p. 175.
I d., loc. cit.
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E. B. PASUKANIS
. da, passar troca de servios (direito das obrigaes) e finalmente 's normas que .regulam a situao do homem como
membr-o de uma famlia e o destino de seus. bens aps sua
morte (direito de famlia e direito das sucesses). A relao
do homem com uma coisa que ele prprio produziu, ou furtou, ou que constitui tambm uma parte de sua personalidade
(jias, armas), representa sem nenhuma dvida, historicamente, um elemento do desenvolvimento da propriedade privada.
Representa a forma originria, bruta e limitada dessa propriedade. Mas a propriedade privada somente assume um carter
acabado e universal com a passagem economia mercantil
ou, mais exatamente, economia mercantil capitalista. Ela,
ento, torna..se indiferente ao objeto e rompe todo o vnculo
com as sociedades humanas orgnicas (gens, famlia, comunidade) . Ela surge em sua significao universal como." crculo
exterior de liberdade" (Hegel), quer dizer, como realizao
prtica da capacidade abstrata de ser sujeito de direito.
Sob a forma puramente jurdica a propriedade, logicamente, tem poucas coisas em comum com o princpi9 .orgnico e
natural de apropriao privada como o resultado de um desdobramento da fora pessoal ou como condio de tim consumo e de um uso. pessoal. A relao do proprietrio com a
propriedade - uma vez que toda a realidade econmica
fagmentou-se no mbito do mercado - abstrata formal, condicionada e racionalizada, agora .uma relao do homem com
o produto de seu trabalho, por exemplo, um pedao de terra
cultivada pelo seu trabalho pessoal, representa algo de elementar e compreensvel, mesmo para o pensamento mais primitivo.34
Se estas duas instituies, a apropriao privada como condio do uso pessoal livre, e a apropriao privada como condio da alienao ulterior no ato de troca, se unem uma
outra por um vnculo direto, elas constituem categorias diferentes, e o termo ''propriedade" cria, em rela!o aos dois.
mais confuso do que certeza. A propriedade fundiria capitalista no pressupe qualquer modalidade de vnculo orgnico entre a. terra e seu proprietrio. Alis, ela no concebvel sem a sua transferncia inteiramente livre de uma mo
outra.
O prprio conceito de propriedade fundiria surgiu juntamente com a propriedade fundiria e alienvel. Os fundos
de terra comuns das pastagens comunais no eram, em sua
origem, propriedade de uma pessoa jurdica (tal conceito no
existia) mas eram utilizados pelos membros da Marka enquanto pessoa coletiva.35
A propriedade capitalista , no fundo, a liberdade de
transformao do capital de uma forma outra, .a liberdade
de transferncia do capital de um crculo a outro, tendo em
vista auferir o maior lucro possvel sem trabalhar. Esta liberdade de dispor da propriedade capitalista impensvel sem
a existncia de indivduos despojados de propriedade, isto ,
de proletrios. A forma jurdica da propriedade no est em
contradio com a exprqpriao de um grande nmero de ci"
dados, pois a condio de ser sujeito de direito uma condio puramente formal. Ela define todas as pessoas como
igualmente "dignas" de serem proprietris, no obstante no
as torne proprietrias. Esta dialtica da propriedade capitalista est exposta de maneira grandiosa em O Capital,
de Marx, seja quando ela assume a forma jurdica "imutvel", seja quando ela fragmentada pela violncia (no perodo da acumulao primitiva). As pesquisas de Karner, sob
este ngulo, oferecem pouca novidade, se comparadas ao tomo
I de O Capital. Mas onde Kamer quer ser original, semeia
a confuso. J demonstramos a sua tentativa de abstrair a
propriedade do momento que a constituiu juridicamente, da
troca. Esta concepo, puramente formal, acarreta um outro
erro ao -examinar a .passagem da propriedade pequeno-burguesa
para a propriedade capitalista, Karner declara que "a instituio da propriedade conheceu um rico desenvolvimento em tempo relativamente curto, sofreu uma transforma completa,
100
35.
101
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102
fem que fosse modificada em sua natureza jurdica";36 e conclui, logo em seguida, que "a funo social das instituies
jurdicas muda, sem que se modifique a sua natureza jurdica".
Pergunta-se: a quais instituies se refere Karner? Se se
trata da frmula abstrata do direito romano, nada poderia
mudar nela. Mas esta frmula s regulou a pequena propriedade na poca das relaes burguesas capitalistas. Se, ao revs, considerannos o artesanato corporativo e a economia ru
ral da poca da servido, encontraremos uma srie de norm~s
restringindo o direito da propriedade. Certamente pode-se obj~
tar que estas restries foram todas de natureza jurdico-pblica e que elas no tocaram instituio da propriedade como
tal. Mas, neste caso, a afirmao se reduz acy que se segue:
que uma frmula abstrata determinada igual a ela mesma.
Por outro lado, as formas de propriedade feudal e corporativa, ou seja, formas limitadas de propriedade, j manifestavam a sua funo: a absoro do trabalho no pago. A propriedade da produo mercantil simples que Karner ope
forma capitalista de propriedade uma bstrao to evidente
como a prpria produo mercantil simples. Pois a transfor
mao de uma parte. dos produtos em mercadorias e o surgimento do dinheiro criam as condies para o surgimento do
capital usurrio que, segundo. a expresso de Marx, ''faz parte
com o capital comercial, seu irmo gmeo, das fonnas antediluvianas do capital, que precedem longamente o modo de
produo capitalista e se reencontram nas diversas estruturas
sociais mais diverss, do ponto de vista econ0mico".37 Ns podemos concluir, em conseqU!ncia, contrariamente a Karner,
que as normas modificam-se, mas a funlo social permanece
imodificada .
103
determinada, obtendo uma retirada sem trabalhar. Sua atividade econmica e jurdica enquanto proprietrio quase
inteiramente limitada ao consumo improdutivo. A massa principal do capital torna-se uma fora de classe impessoaL Na
medida em que esta massa de capital participa da circulao
mercantil, o que supe a autonomia de suas diferentes partes,
estas partes autnomas aparecem como propridade de pessoas jurdicas. Em realidade um grupo relativamente restrito
de grandes capitalistas que dispem de grande massa do capital e que, ademais, no operam diretamente, mas por inter
mdio de representantes ou procuradores estipendiados. A for
ma jurdica distinta da propriedade privada no reflete mais
a real situao das coisas, sendo certo que, por mtodos de
participao e controle, etc. , a dominao efetiva se estende
muito alm dos quadros simplesmente jurdicos. Aproximamo-nos, ento, do momento em que a sociedade capitalista se
encontra madura para transformat-se no seu contrrio. A con
dio poltica indispensvel para tal transformao a revoluo de classe do proletariado.
Porm, antes desta transformao, o desenvolvimento do
modo de produo capitalista, edificado sobre o princpio de
livre concorrnci, transforma este princpio em seu contrrio.
O capitalismo monopolista cria . as premissas de um outro
sistema econmico no qual o movimento de produo e
da reproduo social se realiza, no por meio de contratos particulares entre unidades econmicas autnomas, mas
graas a uma organizao centralizada e planificada. Esta
organizao . criada pelos trusts, cartis e outras unies monopolistas. A simbiose, observada durante, a guerra entre as
orgaQ.izaes capitalistas privadas e as organizaes estatais,
em uni podemso sistema de capitalismo de Estado burgus representa uma realizao destas tendncias. Esta transformao
prtica na vida jurdica no poderia passar despercebida na
teoria. Na aurora de seu desenvolvimento, o capitalismo industrial envolveu. o princpio de subjetividade jurdica em uma
certa aurola, exaltando-o como uma qualidade absoluta da
personalidade humana. Presentemente, comea-se a.considerar este princpio como uma simples determinao tcnica que
104
E. B. PASUKANIS
. \'i.JVfW
-M't
105
isto , ele deveria .estar transformado em uma relao elementar da prtica social. Mas, assim, a forma jurdica em geral
estari~;~ condenada morte.40 Enquanto no for resolvida a
tarefa de edificao de uma economia planificada nica, enquanto perdrar o vnculo do mercado entre as diferentes empresas e grupos de empresas~ a forma jurdica igualmente per- .
durar. Tambm no necessrio mencionar que (a forma da
propriedade privada dos meios de produo na pequena economia camponesa e artesanal permanece praticamente intocada no perodo de transio. Mas, igualmente, na grande indstria nacionalizada a aplicao do princpio do ''clculo econmico" significa a formao de unidades autnomas cujo vn
culo, com as outras unidades econmicas, mediatizado pelo
mercado.
Na medida em que as empresas estatais esto submetidas
s condies da circulao, as suas inter-relaes no assumem
a forma de uma coordenao tcniCa, mas a de contratos . E
a regulamentao puramente jurdica das relaes torna-se, portanto, igualmente possvel e necessria. E mais, a direo
imediata, a direo tcniCo"administrativa, que indubitavelmente se refora com o tempo, igualmente subsiste pela subordinao a um plano econmico geral. Assim ns temos, de um lado,
uma vida econmica que se desenvolve em categorias econmicas
naturais e relaes sociais entre unidades de produo que
surgem sob um forma racional, ho mascarada (isto , sem a
forma merzantil). A isto correspondem mtodos de diretivas
imediatas, quer dizer, de determinaes tcnicas sob a forma de
programas, de planos de produo, de distribuio, etc. Tais
diretivas so concretas e mudam continuamente, medida que
se transformam as condies. Por outro lado, temos mercadorias circulando sob a forma de valor. e, por conseguinte, uma
ligao entre as unidades econmicas, que se exprime sob a
forma de contrato. A isto corresponde, ento, a criao de
40. O processo ulterior de superao da forma jurdica limitar-se-ia
passagem progressiva da distribuio do equivalente (para uma certa
soma de trabalho uma certa soma de produtos soCiais) realizao da
frmula do comunismo desenvolvido "a cada um segundo a sua capacidade, a cada um segndo a sua necessidade" .
E. B. PASUKANIS
106
p. 52 (N. do T.).
107
Captulo Cinco
DIREITO E ESTADO .
A relao jurdica no pressupe "naturalment~" um estado de paz; assim como o comrcio no exclui em sua
origem o roubo mo armada, mas, pelo contrrio, caminha
de mos dadas com ele. O direito e o arbtrio, estes dois conceitos aparentemente opostos, em realidade, so estreitamente
vinculados entre si. Tal assertiva correta no s para os
perodos mais antigos do direito romano, mas tambm para
os perodos ulteriores. O direito internacional moderno possui
uma parcela muito importante de arbtrio (retorses, represlias, guerras, etc.). Mesmo no Estado burgus "bem ordenado"
a materializao dos direitos, segundo a opinio de um jurista
to perspicaz como Hauriou, tem lugar para cada ddado,
por sua prpria conta e risco. Marx formula este raCiocnio
de maneira ainda mais clara em sua Introduo geral crtica
da economia poltica: "Faustrecht (o direito do mais forte)
igualmente um direito."1 No um paradoxo,. pois o direito ,
como toda troca, um meio de ligao entre elementos sociais
apartados. O grau da separao pode ser historicamente maior
ou menor, mas no pode desaparecer inteiramente. Assim sendo, as empresas pertencentes ao Estado sovitico cumprem
uma tarefa coletiva; mas como, em seu trabalho, devem ater-se
aos mtodos do mercado, cada uma possui seus interesses particulares. Ope-se entre si como ~mpradoras e vendedoras,
1. K. Marx, Introduo geral . crtica da Economia poltica, 1857,
em Contribuio crtica da Economia poltica, . trad. Maurice Husson
e Gilbert Badia, Ed: Sociales, Paris, 1967, p: 153. Ver nt~ 6 do cap. um.
~.
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agindo por iniciativa prpria e devendo, portanto, manter relaes juridicas. A vitria final d economia planificada far
de sua ligao recproca uma ligao exclusivamente tcnico
racional e liquidar a "personalidade jurdica" delas. Quan
do apresentamos a relao jurdica como uma relao organizada e bem regulada, identificando assim o direito e a ordem
jurdica, esquecemos que, em realidade, a ordem no mais
que uma tendncia e o resultado final (ainda imperfeito), mas
nunca o ponto de partida e a condio da relao jurdica.
O prprio estado de paz que parece ser contnuo e uniforme
no pensamento jurdico abstrato no existia enquanto tal nos
estgios iniciais do desenvolvimento do direito. O antigo direito germnico . conheceu diferentes graus de paz: faz em
casa, paz no seu feudo, paz na vila. O grau deste estado de
paz exprimia-se pelo grau de gravidade da pena que atingia
aquele que a violava.
o estado de paz tornou-se uma necessidade quando a troca tornou-se um fenmeno regular. Dado que as garantias
para a manuteno da paz eram insuficientes, os trocadores
preferiam no se encontrar pessoalmente, mas examinar as
mercadorias na ausncia da outra parte. Contudo, em geral,
o comrcio exige que no apenas as mercadorias se encontrem,
mas que tambm as pessoas o faam. Na poca da ordem
gentlica, tcdo estrangeiro era considerado inimigo; era uma
presa entre os animais selvagens. Somente os costumes de
hospitalidade davam oportunidade a relaes com tribos estrangeiras. Na Europa feudal a Igreja tentou referendar as
guerras privadas ininterruptas ao proclamar a "trgua de
Deus".2
Ao mesmo tempo os mercados e centros comerciais come
aram a gozar privilgios particulares. Os mercadores que se
dirigiam ao mercado obtinham salvo-conduto e a sua proprie
2. interessante observar que a Igreja, pelo simples fato de pro.
clamar por alguns dias a "trgua de Deus", sancionou efetivamente o
guerra privada. No sculo XI foi proposta a supresso total da1 JUDrrn
privadas. Grard, bispo de Cambrai, protestou energ~camente contrA 11
idia, dizendo que a trgua de Deus permanente. contradizia 11 1 natUI'117.H
humana" (cf. S. A. Kotljarevskij, Vlast' i pravo [Autorldldl 1 dlr~ltol,
Moscou, 1925, p. 189).
......__________
,._
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4.
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gus-capitalista no. permite, como j dissemos, nenhuma possibilidade de vincular o poder poltico .ab empresrio individual (como no feudalismo, onde este poder es1ava vinculado
117
grande propriedade fundiria) . "A livre. concorrncia, a liberdade de propriedade 'privada 'a igua!d~de de direitos' ~o
mercado, e a garanti;t da existncia da classe unicamente romo
tal, criavam uma nova forma de poder estat~l, i a democracia,
que faz uma classe aceder coletivamente ao poder". 10
/)
E. B. PASUKANIS
1cantil a subordinao ao arbtrio, pois isto significa a subor1, dinao de um produtor de mercadorias a outro.
Por isso a
coao no pode surgir sob sua forma no mascarada, como
um simples ato de oportunidade . Ela deve aparecer como uma
coao proveniente de uma pessoa coletiva abstrata e que no
exercida no interesse do indivduo do qual provm - pois
cada homem um homem egosta na sociedade de produo
mercantil - , mas no interesse de todos os membros partcipes das relaes jurdicas. O poder de um homem sobre um
outro homem transposto para a realidade como o poder de
uma maneira objetiva, imparcial.
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1dos outros .e todos so proprietrios de mercadorias pela vontade comum. B devido a isto que a doutrina do direito na' tural faz derivar o Estado do contrato social havido entre
diferentes pessoas isoladas. Este o esqueleto de toda doutrina que, segundo a situao histrica ou a simpatia poltica
e a capacidade dialtica de tal ou qual autor, tolera as mais
diversas variaes concretas. Ela permite desvios republicanos ou monarquistas e, em geral, os graus mais diversificados
de democratismo e revolucionarismo.
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';~;
~l7. Lorenz Stein, como se sabe, ops o Estado ideal, situado acima
da s~ciedade, isto , segundo a nossa terminologia, ao Estado de classe.
Corlo tal ele designou o Estado feudal absolutista, que protege os privil
gios 'a grande propriedade fundiria, e o Estado capitalista, que garante
os privilgios da burguesia. Mas, uma vez tenhamos compreendido estas
realid!ldes histricas, no resta mais que o Estado como quimera de um
funciol:).riD prussiano ou o Estado como garantia abstrata das condies das trocas fundadas sobre o valor. Na realidade histrica, contudo,
o "Estado de direito", ou seja, o Estado situado acima da sociedade, s
se realiza de fato como o seu contrrio, como "um comit executivo dos
..
negcios da burguesia".
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realidade objetiva, assim como o sonho mais fantstico repous~ sobre a realidade.
Esta realidade , antes de tudo, o prprio aparelho de
Estado c.om todos os seus elementos materiais e humanos.
Antes de criar teorias. acabadas, a burguesia construiu
seu Estado na prtica. O processo comeou na Europa ocidental pelas comunidades urbanas.19
Ainda que o mundo feudal ignorasse qualquer diferena
entre as fontes pessoais de recursos do senhor feudal e as
fontes de recurso da comunidade poltica, o tesouro municipal comum aparecia, de incio, esporadicamente nas cidades
e posteriormente como instituio permanente.20
O esprito dos "negcios de Estado" adquire, ento; seu
assento material.
A criao de recursos estatais favoreceu o aparecimento
de homens que vivam destes recursos: empregados e funcionrios. Na poca feudal, as funes administrativas e judicirias eram preenchidas pelos vassalos do senhor feudal. Os
servios pblicos, no sentido prprio do termo, s apareceram
nas- comunidades urbanas; o carter pblico da autoridade
encontra ento a sua encarnao material. A formo, no
sentido de direito privado, de um mandato. dado para a realizao de negcios jurdicos, separa-se do servio pblico. A
monarquia absoluta no fez mais do que tomar posse desta
forma de autoridade pblica, que nasceu nas vilas, e aplic-la
a um territrio mais vasto. Todo aperfeioamento posterior
do Estado burgus, que se realizou mais por exploses revolucionrias. do que .por uma .adaptao pacfica dos elementos
monrquicos feudais, pode ser remetido a um princpio nico
19. S. A. Kotljarevskij, Vlast' i pravo, op. cit., p. 193.
20. A antiga comunidade. alem, a Marka, no era uma pessoa jurdica que dispusesse de propriedade. O carter pblico .dos pastos
expiimia-se no fato de que eram utilizados por todos os membros da
Marka. As contribuies destinadas s necessidades pblicas s eram
percebidas esporadicamente e. Sempre na estrita proporo da necessidade. Se houvesse um excedente, este era destinado subsistncia comum. Este uso mostra quanto era estranha a idia de rendas 'pblicas
permanentes.
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Captulo Seis
DIREITO E MORAL
Para que os produtos do trabalho humano possam relacionar-se uns com os outros como valores, os homens devem
comportar-se, uns em relao aos outros, como pessoas independenies e iguais.
Quando um homem se encontra subjugado. acr poder de
um outro, isto , quando escravo, seu trabalho deixa de ser
criador e substncia de valores. A fora de trabalho do escravo s transmite ao produto, assim como a fora de trabalho
dos animais domsticos, uma parte determinada dos custos
de sua prpria produo e reproduo. Tugan-Baranovskij conclui da que s se pode compreender a economia poltica partindo . da idia diretriz tica do valor supremo e, portanto,
da igualdade das pessoas humanas.1 Marx, como se sabe, chega
a concluRo .oposta: ele relaciona a idia tica da igualdade
das pessoas humanas com forma mercantil, ou seja, fa:z derivar
esta idia de equalizao prtica de. todas as variedades do
trabalho humano entre si.
Efetivamente, o homem, enquanto sujeito moral, quer
dizer, enquanto pessoa igual s outras pessoas, nada mais
do que a condio prvia da troca com base na lei <;lo valor.
O homem, enquanto sujeito de direito, enquanto proprietrio,
igualmente. representa tal condio. Finalmente, estas duas determinaes esto estreitamente ligadas a uma terceira, na qual
o .homem figura como sujeito econmico egosta.
1. Tugan-Baranovskij, Osnovy politiceskoj eknomii (Princpios de
economia poltica), 1917, p. 60.
l_
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sua universalidade . A tica kantiana a tica tpica da sociedade de produo mercantil, mas, igualmente, a forma mais
pura e acabada da tica em g:ral. Kant conferiu a esta forma
uma figura lgica acabada, que a sociedade burguesa atomizada esforou-se em transportar para a realidade, libertando a
pessoa dos liames orgnicos das pocas patriarcais e feudais. 3
Os conceitos fundamentais da moral perdem sua significao,
se os destacarmos da sociedade de produo mercantil e se
tentarmos aplic-los a uma outra estrutura. O imperativo categrico no , de forma alguma, um instituto social, pois sua
destinao essencial ser ativo onde seja impossvel qualquer
motivao natural, orgnica, supra-individual. Onde exista uma
estreita ligao emocional entre os indivduos, que transborde os limites do Eu individual, o fenmeno da obrigao
moral no pode ter lugar. Se quisermos compreender est
categoria, no devemos partir do vnculo orgnico existente,
por exemplo, entre a mulher e seu filho, ou entre a famlia
e cada um de seus membros, mas do estado de isolamento.
O ser .moral um cmplemento .necessrio do ser jurdico, e
os dois so modos de relaes entre os produtores de mercadorias. Todo o pathos do imperativo categrico kantiano reduz-se a que o homem cumpra "livremente", ou seja, por con
vico interna. aquilo gue ele seria compelido a fazer no mbito do direito. Quanto a isto, os exemplos que Kant cita, para
ilustrar o seu .pensamento, so muito caractersticos. Eles redu
zem-se. a simples manifestaes de convenincia burguesa. O
herosmo e as proezas no encontram lugar nos quadros do
imperativo kantiano. No necessrio sacrificar-se, desde que
no exijamos do outro tal sacrifcio. As aes "irracionais"
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de abnegao tanto quanto o desprezo de seus prprios interesses em nome da construo de uma vocao histrica, de
sua funo social, aes nas quais se manifesta a mais alta
tep.so do instinto social, sitUam-se fora da tica, no sentido
estrito do termo4
O universalismo da forma tica (e, por conseguinte, tambm da forma jurdica) -:- todos os homens so iguais, todos
possuem uma mesma "alma", todos podem ser sujeitos de direito, etc. - foi imposto aos Romanos pela prtica de rela.es comerciais com os estrangeiros, isto , com pessoas de
costumes, de lnguas, de religies diferentes. Talvez tenha sido
por isto que, de incio, ele teve alguma dificuldade em ser considerado como algo positivo, quanto mais no fosse porque
implicava na rejeio dos prprios costumes romanos enraizados: amor a si prptio e desprezo pelo estrangeiro. Maine
informa que o jus gentium era uma conseqncia do desprezo
que os Romanos dedicavam a todo direito estrangeiro. e da sua
hostilidade em conceder aos estrangeiros os privilgios do jus
civile de seu pas. Segundo Maine, a Roma antiga gostava
to pouco do jus gentium quanto dos estrangeiros para os quais
este era feito. A palavra "aequitas" significava igualdade e,
talvez, nenhuma nuance tica fosse, de incio, verdaJeiramente inerente a esta expresso. No existe nenhuma razo em
admitir que o processo designado por esta expresso tenha suscitado, no esprito de um Romano primitivo, outra coisa alm
de Upl sentimento de averso6
Todavia, a tica racionalista de sociedade de produo
mercantil apresentou-se, ulteriormente, como uma grande conquista e um valor culturl muito alto, do qual temos o hbito
de falar unicamente em um tom de entusiasmo. : suficiente
relembrar a clebre frase de Kant: "Duas coisas preenchemme o corao de uma admirao e de uma venerao sempre
novas e sempre crescentes medida que minha reflexo sobre
elas se volta e se aplica: o cu estrelado acima de mim e a lei
moral em mim"7
Contudo, quando o discurso cita um semelhante "livre"
cumprimento do dever moral, so sempre os mesmos exemplos
que entram em cena - esmolas dadas a um pobre ou negativa de mentir quando seria possvel faz-lo impunemente. Por
132
Schopenhauer e, depois dele, V. Solov'ev definiram o direito como um certo mnimo tico. Pela mesma razo pode
se definir a tica como um certo mnimo social. A maior
intensidade do sentimento social se encontra fora da tica, no
sentido estrito deste termo, e uma herana transmitida pelas
pocas orgnicas precedentes, notadamente pela ordem gentlica, humanidade atual. Engels, por exemplo, diz o que se
segue ao comparar o carter dos antigos Germnicos e dos
Romanos civilizados: "seu valor e sua bravura pessoal, seu
esprito de liberdade e seu instinto democrtico, que via em
todos os. assuntos pblicos um assunto pessoal, em resumo,
todas as qualidades que os Romanos perderam, e que s eles
eram capazes de modelar com o barro do mundo romano Estados novos e de fazer crescer as novas nacionalidades; ora,
o que isto seno os traos caractersticos do Brbaro do
estgio superior, fruto da organizao gentlica?"5
O nico aspecto pelo qual a tica racion'alista eleva-se,
efetivamente, acima dos instintos sociais, poderosos e irracionais, o seu universalismo que se estende a todos os homens.
Ela tende a quebrar todas as estruturas orgnicas, necessariamente, estreitas da tribo, da gens, da nao e a tornar~se universal,. Ela, assim reflete as conquistas materiais determinadas da humanidade, notadamente a transfowao do comrcio em comrcio mundial. A frmula "nem ~rego, nem judeu"
reflexo de uma situao histrica real: a unificao dos
povos sob o domnio de Roma.
4. ~ por isto que o professor Magaziner, por exemplo, tem razo
quando qualifica a tica neste sentido de "moderaco e exatido" e
ope-lhe o herosmo que empurra os homens para aes que ultrapassam
os seus deveres (J. M. Maga~iner, Obscee ucenie o gosudarstve [Teoria
geral do Estado], 2., ed., Petrogrado, 1922, p. 50).
5. F. Engels, A origem da famlia ... , op. cit., p. 143.
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tnea do 'fetichismo mercantil e do fetichismo jurdico. Enquanto este estgio de 4lesenvolvimento no for alcanado pela
humanidade, ou seja, .enquanto a herana da poca capitalista
no. for superada, os esforos do pensamento terico apenas
anteciparo esta libertao futura, mas no encarn-l-o praticamente . Lembremo-nos das palavras de Marx sobre o fetichismo mercantil: "a descoberta cientfica, feita mais tarde,
de que os produtos do trabalho, enquanto valores, so a expresso pura e simples do trabalho despendido na sua produo marca uma poca na histria do desenvolvimento da
humanidade, mas no dissipa a fantasmagoria que faz aparecer
o carter social do trabalho como uma qualidade das coisas,
dos prprios produtos"8
Podero retorquir-me que a moral de classe do proleta
riado liberasse, desde o presente, de todos os fetiches. O que
moralmente uma obrigao e o que til classe. Sob tal
perspectiva., a moral no possui nada de absoluto, pois o que
hoje til pode deixar de 's-lo amanh; . e ela tambm no
tem nada de mstico ou de supranatural pois o princpio de
u.tilidade simples e racional. ~ indubitvel que a moral do
proletariado, ou, mais exatamente, a moral de sua vanguarda,
perde seu carter de duplo fetichismo purificando-se, por exemplo, dos elementos religiosos. Mas mesmo uma moral desvencilhada de qualquer impureza, notadamente de elementos
religiosos, permanece- uma moral, uma forma de relaes sociais
nas quais nem tudo direcionado .ao prprio homem. Logo
que o liame vivo que liga o indivduo classe seja efetivamente to forte, que os limites de seu Eu, por assim dizer,
apagam-se, e que o interesse da classe torne-se, de fato, idntico ao interesse pessoal, torna-se absurdo falar do cumpri
mento de um dever moral, e ento o fenmeno da moral ser
inexistente. Mas onde ainda no tenha ocorrido semelhante
fuso de interesses, sur]e inevitavelmente a relao abstrata
do dever moral com todas as formas que da resultam. A
regra: "age de tal forma que a mxima de tua vontade possa
ser erigida em princpio de uma legislao universal".
8.
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10. Isto significa que "no existir mais moral na sociedade futura?" Absolutamente, se concebermos a moral em sentido amplo, como
o .desenvolvimento de formas humanas superiores, como a transformao
do homem em um ser gen~rico. No caso presente, .trata-se, contudo, de
outra coisa; trata-se de formas especficas da conscincia moral e da
conduta humana que, aps terem' concludo o seu papel histrico, devem
dar lugar a outras formas, superiores, de relaes entre 'o indivduo e a
coletividade (nota terceira edio) .
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bem satisfeitas pelo poder Estatal, ainda que a relao jurdica tambm se realize, freqentemente, sem sua interveno,
graas ao direito costumeiro, arbitragem voluntria e justia pessoal.
Onde a funo de coero no est organizada e no
possui um aparelho particular, situado acima das partes, ela
surge sob a forma da, assim chamada, "reciprocidade"; este
princpio de reciprocidade representa, nas condies de equilbrio de foras at os nossos dias existentes, o nico e, por
assim dizer, precrio fundamento do direito internacional.
Por outro lado, a exigncia jurdica, em oposio . exigncia moral, no se reveste da forma de ''voz interior", mas de
exigncia exterior, proveniente de um sujeito concreto, o qual
, em regra geral, o titular de um interesse material correspondente11.
:1! por isto que o cumprimento dos deveres jurdicos estranho todos os elementos subjetivos do lado do obrigado e
assume forma externa, quase objetiva, do cumprimento de
uma exigncia. O prprio conceito de obrigao jurdica tor11. Assim se passa no direito privado, que o prottipo da forma
jurdica em geral. "As exigncias jurdicas" que emanam dos rgos do
poder pblico, e fora das quais no se contempla nenhum interesse privado; no so nada mais do que a configurao jurdica da vida poltica.
A caracterstica desta configurao diferente segundo as circunstncias; eis por que a concepo jurdica do estado cai irremediavelmente
no pluralismo jurdico. Desde que o poder do Estado representado
como a encarnao de uma regra objetiva situada acima dos sujeitos-'
partes, ele se funde com a norma e torna-se o ponto mais elevado, impessoal e abstrato. A exigncia do Estado surge como lei imparcial e
desinteressada. Neste caso praticamente impossvel conceber o Estado
como sujeito, seja porque est destitudo de substancialidade, seja porque
transformou-se em uma garantia abstrata das relaes entre sujeitos
reais, proprietrios de mercadorias. Esta concepo, como a concepo
mais pura do Estado, aquela defendida pela escola normativista austraca, com Kelsen frente. Nas relaes internacionais, ao contrrio, o
Estado no surge como a encarnao de uma norma objetiva, mas como
titular de direito subjetivo, isto , com todos os atributos da substancialidade e do interesse egosta. O Estado desempenha o mesmo papel,
quando atua a ttulo de fisco, como parte em um litgio com pessoas
privadas. Entre estas duas concepes pode haver numerosas formas
intermedirias e hbridas.
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uma contradio resultante da observao pessoal. Mas o significado permanece o mesmo. A obrigao jurdica no pode
ter significado autnomo, e oscila eternamente entre dois limites extremos: a coao exterior e o dever moral "livre".
Como sempre, e aqui igualmente, a contradio no sistema lgico reflete a contradio da vida real, ou seja, do meio
social que produziu a prpria forma da moral e do direito.
A contradio entre o individual e o social, entre o privado
e o pblico, que a filosofia burguesa do direito no pode suprimir, apesar de todos os seus esforos, o fundamento real
da prpria sociedade burguesa, enquanto sociedade de produtores de mercadorias. Esta contradio encarnada nas relaes reais dos homens, que no podem considerar suas ativi
dades privadas (:Orno atividades sociais, seno que sob a forma absurda e mistificada do valor mercantil.
Captulo Sete
A Russkaja Pravda, que o mais antigo monumento jurdico do perodo de Kiev de nossa histria, contm, eril t:\ldo e
por tudo, em seus 43 artigos (da ''lista acadmica") apenas dois
que n se referem a infraes ao direito penal ou ao direito
civil. Todos os outros artigos definem sanes ou regras de
procedimentos que devem ser aplicadas em caso de violao
do direito. Em ambos os casos, conseqentemente, pressupese um violao das normas.1
As chamadas "leis brbaras" das tribos alemes nos -oferecem o mesmo quadro. Assim, por exemplo, nos 408 artigos
da lei Slica, apenas 65 no possuem aspecto repressivo. O
mais antigo monumento do direito romano, a lei das Doze T
buas, comea pela regra sobre a demanda judiciria: "si in jus
vocat, ni it, antestamino igitur in capito"2 O clebre historiador do direito, Maine, diz em seu livro Ancient Law: "Em
regra geral, quanto mais velho um cdigo, mais a sua parte
penal detalhada e completa"3
1 . Basta menr.ionar o fato de que, neste estgio primitivo do desenvolvimento, o assim chamado "delito" criminal e o "delito" civil no
se distinguem. O conceito dominante era o de que o -dano exigia repa
rao: o roubo, a pilhagem, a morte, e o no pagamento de uma dvida
eram, indistintamente, considerados como motivos que permitiam ao
indivduo lesado propor uma ao e obter a reparao sob a forma de
uma multa.
2. XII tablic, ed. Nikol'skij, 1897, p. 1.
3-. Summer Maine, Ancient Law, p. 288.
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nuteno da disciplina igualmente determina o carter das medidas punitivas adotadas pelos chefes militares. Estes exercem
a justia tanto sobre os povos subjugados quanto sobre os seus
prprios soldados, em casos de motins, compls ou simplesmente
de indisciplina. A clebre passagem de Clvis, que com suas
prprias mos partiu em dois pedaos a cabea de um guer
reiro recalcitrante, mostra o carter primitivo da justia penal
poca do nascimento dos imprios brbaros germnicos. Nas
pocas mais remotas, esta tarefa de manuteno da disciplina
militar incumbia assembLia popular; com o fortalecimento
e a estabilizao do poder real, esta funo transferiu-se naturalmente aos reis e identificou-se com a defesa de seus prprios privilgios. No que concerne aos delitos crimin~is comuns, os reis germnicos (bem como os prncipes de Kiev)
s o viram, durante muito tempo, com interesses puramente
fiscaisY
Est situao se modificou com o desenvolvimento e a
estabilizao da diviso da sociedade em classes e em estados .
O nascimento de uma hierarquia eclesistica e de uma hierarquia laica faz da proteo de seus privilgios e da luta
contra as classes inferiores e oprimidas da populao uma
tarefa prioritria. A desagregao da economia natural e a
intensificao consecutiva da explorao dos camponeses, o
desenvolvimento do comrcio e a organizao do Estado baseado sobre a diviso em estados e em classes colocam a
jurisdio penal frente de todas as outras tarefas; Nesta
poca, a justia penal j no mais, para os detentores do
poder, um simples meio de enriquecimento, mas um meio
de represso impiedosa e brutal, sobretudo dos camponeses
que fugissem da intolervel explorao dos senhores e de seu
Estado, assim como dos vagabundos pauperizados, dos mendigos, etc. O aparelho da polcia e da inquisio comea a
desempenhar uma funo proeminente. As penas transformamse em meios de extermnio fsico e de terrorismo . I! a poca
da tortura, das penas corporais, das execues capitais mais
brbaras.
Assim constituiu-se progressivamente o complexo amlgama do direito penal moderno, no qual podemos distinguir sem
dificuldade as razes histricas que lhe deram origem. Fundamentalmente, isto , do ponto de vista puramente sociolgico, a burguesia assegura e mantm sua dominao de classe
atravs do seu sistema de direito penal oprimindo as classes
exploradas, Sob este ngulo os seus tribunais e suas ()rganizaes privadas "livres" e de "fura-greves" perseguem um
mesmo objetivo.
Se considerarmos as coisas deste ponto de vista, a jurisdio penal no nada mais do que um apndice da polcia e da investigao. Se os tribunais de Paris tivessem realmente que fechar suas portas por alguns meses, os nicos
que sofreriam seriam os criminosos presos. Mas se as "famosas" brigadas da polcia de Paris cessassem o seu trabalho,
por apenas um dia, o resultado seria catastrfico.
A jurisdio criminal do Estado burgus o terror de
classe organizado que s se distingue em certo grau das chamadas medidas excepcionais utilizadas durante a guerra civil.
Spencer demonstrou a analogia completa, a prpria identidade existente entre as aes defensivas dirigidas contra os
ataques externos (guerra) e as reaes contra aqueles que
perturbam a ordem interna do Estado (defesa judiciria ou
jurdica).JJ O fato de que as medidas do primeiro tipo, isto
, medidas penai~ sejam utilizadas principalmente contra os
elementos desclassificados da sociedade, e que as medidas do
segundo tipo o sejam principalmente contra os militantes mais
ativos de uma nova classe que deseja assumir o poder, no
muda a natureza fundamental das coisas, mas, apenas, a re-
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cao. O que significam estas distines de graduao na responsabilidade seno que a diferenciao nas condies de um
futuro contrato? A graduao da responsabilidade um dos
fundamentos da escala de penas, um novo momento, ideal
ou psicolgico se quisermos, que se acrescenta ao momento
material do dano e ao momento objetivo do ato para com eles
constituir o fund~mento da determinao proporcional da
pena. O ato premeditado comporta a responsabilidade mais
pesada e assin;t necessita da pena mais severa; o ato praticado
com imprudncia comporta uma responsabilidade menor e,
logo, uma pena mais leve; por fim, no caso de ausncia de
responsabilidade (o autor no-imputvel), a pena no determinad. Se substituirmos as medidas penais pela teraputica,
ou seja, por um conceito mdico e profiltico, chegaremos a
resultados totalmente diferentes. Nesta hiptese no a prpoJcionalidade das penas que nos interessar, mas sim se as
medidas empregadas correspondem ao fim fixado, isto , se
permitem proteger a. sociedade e agir sobre o delinqente, etc.
Deste ponto de vista pode-se chegar finalmente concluso
de que a relao esteja invertida: que exatamente em um caso
de responsabilidade atenuada as medidas mais intensivas e
mais .longas sejam as necessrias.
A idia de responsabilidade indispensvel se a pena
se apresenta como um meio de reparao. O delinqente
responde com sua liberdade por um delito cometido e com
um quantum proporcional. gravidade de seu ato. Esta noo
de responsabilidade suprflua quando a pena no tem carter equivalente. Mas se, efetivamente, no mais existe nenhum trao de equivalncia, a pena, em geral, deixa de ser
pena no sentido jurdico do termo.
O conceito jurdico de culpabilidade no um conceito
cientfico, pois remete-se diretamente s contradies do indeterminismo. Do ponto de vista do encadeamento de causas
que determinam um acontecimento qualquer, no h a me
nor razo em privilegiar o nexo causal em detrimento de outros. As aes de um homem psiquicamente anormal (irresponsvel) so to determindas por uma srie de causas (here
ditariedade, condies de vida, meio, etc.) quanto as aes de
E. B. PASUKANIS
158
A pena proporcional culpa representa fundamentalmente o mesmo que a reparao proporcional ao dano.
Esta expresso aritmtica que caracteriza o rigor da sentena:
tantos dias, meses, etc. de privao da liberdade; multa de
tal ou qual valor; perda de certos direitos. A privao da liberdade, ditada pela sentena do tribunal, por um certo perodo de tempo a forma .especfica pela qual o direito
penal moderno, burgus-capitalista, realiza o princpio da reparao equivalente. Esta forma est inconscientemente, embora profundamente, ligada representao do homem abstra
to e do trabalho humano abstrato avaliados em tempo. No
foi por acaso que esta modalidade de apenamento foi implan18. O clebre psiquiatra Kraepelin afirma "que um trabalho pedaggico com os alienados, tal qual ele realizou com grande sucesso, seria
naturalmente impensvel se todos alienados, que no foram tocdos pela
lei penal, estivessem efetivamente privados de sua liberdade de autodeterminao, no sentido adotado pelo legislador" (E. Kraepelin, Die Abschaffung des Strajmasses, 1880, p. 13). Evidentemente, o autor faz uma
ressalva no sentido de que ele no pretende propor a responsabilizao
penal dos alienados. Entretanto, estas consideraes mostram com bastante clareza que o direito penal no utiliza o conceito de culpabilidade
como condio de .culpabilidade no sentido que a definem a psicologia
cientfica e a pedagogia.
J~~
159
160
E. B. PASUKANIS
161
Aschaffenburg em seu livro Das verbrechen und seine Bekampfung? T~memos alguns exemplos dentre tantos outros:
um delinqente reincidente que fora ccndenado 22 vezes por
estelionato, roubo, chantagem, etc. foi condenado pela 23."
vez a 24 dias de priso por desacato a autoridade. Um outro,
que passou 13 anos em penitencirias e prises, 16 vezes condenado por roubo e chantagem, foi condenado pela 17 . vez
a quatro meses de priso por chantagem. Nestes casos no
se pode falar em funo de defesa ou de reeducao. ~ o princpio formal da equivalncia que, no particular, triunfa:
crueldade igual, pena igul.20 Alis, o que mais o tribunal poderia fazer? Ele no pode esperar recuperar ein 3 semanas
um reincidente contumaz, mas, por outro lado, no pode encarcerar por toda a vida o indivduo em questo por um simples desacato a autoridade. No lhe resta nada, a no ser
pagar, o delinqente, com a mesma moeda (algumas semanas de privao da liberdade). Alis, a justia burguesa zela
cuidadosamente para. que o contrato com o delinqente seja
concludo dentro de todas as regras da arte, de forma que
cada um possa convencer-se de que o pagamento igualmente
determinado (publicidade do processo judicial), e de que o
delinqente pode negociar livremente sua liberdade (processo
contraditrio), e que pode utilizar-se de um profissional tecnicamente preparado (admisso de advogados de defesa), bem
como que cada um possa controlar a aplicao da lei. Em
uma palavra, as relaes entre o Estado e o delinqente situamse nos quadros de um negcio comercial lea1mente estabelecido. ~ nisto que constituem as garantias do processo penal.
O delinqente deve saber por antecipao do que 'est
sendo acusado e em.que implica esta acusao: nullum crimen,
nulla poena sine lege. O que isto significa? ~ necessrio que
cada delinqente saiba exatamente quais os mtodos de correo que lhe so aplicados? No, a coisa muito simples e muito mais brutal. Ele deve saber que quantum de libevdade
....
20. Este absurdo no nada mais do que o triunfo da idia jurdica, pois o direito precisamente a aplicao de uma medida igual, e
nada mais do que isto.
E. B. PASUKANIS
162
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163
E. B. P ASUKANIS
dicirio" quando falamos das medidas de defesa sccial, enquanto persistirem as formas materiais do processo judicial
e do cdigo penal, a modificao da terminologi~ em grande
medida, ser uma reforma puramente formal. Obviamente, tal
fato no poderia escapar das atenes dos juristas que analisaram o nosso cdigo penal. Cito apenas algumas opinies.
N. Poljanskij observa na parte especial do cdigo penal "a
negao do conceito de culpabilidade . puramente exterior"
e que "a questo da culpabilidade e de seus graus sublinhada na prtica cotidiana dos tribunais"~"-.
M. Isaev22 diz que o conceito de culpabilidade "no
ignorado pelo cdigo penal de 1922, e uma vez que ele distingue a premeditao da imprudncia, opondo as duas hipJ.
teses, distingue igualmente a pena da medida de defesa socil
no sentido estrito" 23
Em sendo assim, tanto o cdigo penal em si, quanto o
procedimento judicirio para o qual foi criado, so penetrados
em todo o seu interior pelo princpio jurdico da reparao
equivalente. O que a parte geral de qualquer cdigo penal
(inclusive do nosso), com seus conceitos de cumplicidJ!de, de
co-responsabilidade, de tentativa, de preparao, etc., seno
que um mtodo de avaliao mais precisa da culpabilidade?
O que significaria o conceito de inimputabilidade, se no existisse o conceito de culpabilidade? E finalmente para que ser
viria a .parte especial do cdigo penal, se se tratasse apenas
de medidas sociais (de classe) de defesa?
Uma aplicao conseqerite do princpio de defesa da
sociedade no exigiria a determinao de corpos de delito distintos (aos quais se ligam logicamente as medidas penais fixadas pela lei ou pelo tribunal), mas uma descrio precisa dos
164
165
166
E. B. PASUKANIS
ma coisa expressa pelo termo "purgar suas penas". O delinqente que purgou sua pena retoma ao ponto de partida,
ou seja, existncia indiv1dualista dentre a sociedade, "liberdade" de contratar obrigaes e de cometer delitos.
O direito penal, assim como o direito em geral, uma
forma de relao entre sujeitos egostas isolados, portadores
de interesses privados autnomos ou proprietrios ideais. Os
mais persPicazes criminalistas burgueses perceberam muito
bem este liame entre o direito penal e a forma jurdica em
geral, a saber, as condies fundamentais sem as quais uma
sociedade de produtores mercantis impensvel. : por isso
que os representantes extremados da escola sociolgica e antropolgica, que convidam a pr ad acta os conceitos de delito
e de culpabilidade e terminar em geral com a elaborao jurdica do direito penal, respondem, muito razoavelmente, assim:
neste caso, o que ocorre com o princpio da liberdade civil,
das garantias da legalidade do processo, do princpio "nullum
crimen sine lege", etc.?
Esta precisamente a posio de Cubinskij, em sua polmica contra Ferri, Dorado e outros 25 Aqui vai uma passagem
caracterstica: ''Mesmo apreciando sua (a de Dorado) bela crena na onipotncia da cincia, ainda assim preferimos permanecer em terreno slido, contar com a experincia histrica e
c~m fatos reais; nesta hiptese devemos reconhecer que no
um arbtrio 'ilustrado e racional' (e quem garante que este
arbtrio ser assim?) desejvel, mas uma ordem jurdica slida
cuja manuteno exige que seja realizado o seu estudo jurdico".
Os conceitos de delito e pena so, como ressai do que foi
dito precedentemente, determinaes necessrias da forma jurdica, da qual no poderemos nos desembaraar at que comece o desaparecimento da superestrutura jurdica em geral. E
to logo comece realmente a desaparecer - e no apenas nas
declaraes - , estes conceitos tornar-se-o inteis, ento esta
ser a melhor prova de que o horizonte limitado do direito
burgus enfim se alarga nossa frente.
25. Cf. M. Cubinskij, Kurs ugolovnogo prava (Curso de direito
penal), 1909, p. 20..33.
rNDICE ONOMSTICO
ADORACKIJ, V. V.
52, 120 '(nota)
ALEKESEEV, I.
72 (nota)
ARISTTELES
146
ASCHAFFENBURG, G.
160 (nota)
BECCARIA, C. B.
36, 152
BENTHAN, J.
144
BERBOHM, K.
35, 36 (nota)
BIERLING, E. R.
68 (nota), 69 (nota)
140
BINDER, J.
BOUKHARINE, N.
20 (nota)
BRINZ
89 (nota)
CARLOS MAGNO
148
CLOVIS
150
COHEN. H.
12
CUBINSKIJ, M.
166
DERNBURG, H.
89, 95 (nota)
DORADO
166
DUGUIT, L.
67, 68, 69 (nota), 70 (nota)
22 (nota), 43, 46 (nota), 97 (nota), 114, 132
ENGELS, F.
150 (nota)
ERIK, rei
168
NDICE ONOMSTICO
E. B. PASUKANIS
KOVALEVSKIJ, M~
145 (nota), 156 (nota)
KRAEPELIN, E.
158 (nota)
KROHNE
160
FERNECK, A. H. V.
56 (nota)
FEUERBACH, L. A.
116
FERRI, E.
147 (nota), 166
FICHTE, J. G.
87 (nota)
FRANKLIN, B.
88 (nota)
FOJNICKIJ, I. J.
152 (nota)
LABAND
76 (nota), 120 (nota)
LASSALE.. F.
29
LENIN (VLADIMIR ILICH ULIANOV)
LIST, F. V.
154 (nota)
GIERKE, O.
91 (nota), 92 (nota), 101 (nota), 112 (nota)
GROTIUS (HUGO VAN GROOT)
119, 146
GOJCHBARG, A. G.
69 (nota), 70 (nota), 76, 77
MARX, K.
KANT, I.
129, 130, 131, 133
KELSEN, H.
15, 16, 37, 44, 55, 56, 123, 139
KARNER, J. (pseudnimo de KARL RENNER)
13, 20
98 (nota)
KAUTSKY, K.
153
KAVELIN, K D. 66 (nota)
KORKUNOV, N. M.
71 (nota)
KOTLTAREVSKIJ, S. A. 76 (nota), 110 (nota), 124 (nota),
125 (nota)
. MAGAZINER, J. M. .
132
MAINE, S.
133, 143, 148
MERKEL, A.
71 (nota)
MUROMCEV, M. A.
72 (nota)
JABLOCKOV, T.
50 (nota)
JELINEK, G.
75 (nota), 120 (nota), 121 (nota)
28
(nota), 34, 37, 38, 42, 47, 52 (nota), 61, 62, 67 (nota)
73,.. 81, 82, 83, 84, 86 (riota), 92, 94, 96, 102, 106, 109,
116, 117, 118 (nota), 127, 128 (nota), 129, 13.5, 137
HAMMEL, V.
162
HURIOU, M.
96, 97, 109, 112 (nota)
HARRIMAN, E. A.
104 (nota)
HEGEL, G. W. F.
61, 83, 100
HEYSE, H.
99
HEIZEN, K.
62
HOWARD
152
IHERING, R.
IL'INSKIJ, T.
ISAEV, M. M.
169
NAPOLEO
q!:;-
88 (nota)
PETRAZICKIJ, L.
44, 55, 68, 71, 141
PIONTKOVSKIJ
165 (nota)
POLJANSKIJ, N. N.
164
PROKROVSKIJ, M. N.
19 (nota), 117
PROUDHON, P. J.
97 (nota), 137
PUCHTA, G. F.
83 (nota), 113 (nota)
RAZUMOVSKIJ, I. P.
78, 79, 80, 81, 82, 115
REJSNER, M.
41, 43, 44, 45, 46 (nota}, 53
RENNER, K.
ver KARNER
RICARDO, D.
159
RUSSEAU, J. J.
88 (nota)
ROZHDESTVENSKIJ
83 (nota)
170
E. B. PASUKANIS
SAVAL'SKIJ
12
SCHLOSSMAN
95 (nota)
46 (nota)
SCHMIDT, C.
132
SCHOPENHAUER, A.
SSNECA (LUCIUS ANNAEUS)
129
SERSENEVIC . 56 (nota)
28
SHILOCK (de Shapespeare, A Morte em Veneza)
SIMMEL, G.
14
SPENCER, H.
87 (nota), 151 {nota)
12, 15, 37
STAMMLER, R.
STEIN, L.
122
STEPANOV-SKVORCOV, I. I.
21 (nota)
58 (nota)
.
STINZING, S.
8, 9, 17 (nota), 41, 46 (nota), 52, 53
STUCKA, P. I.
SOLOV'EV, V.
131, 132
TRUBECKOJ, E.
141
TUGAN-BARANOVSKIJ
ARISTTELES (384 - 322 a.C.) - Filsofo grego. Contrapunha-se a Plato pois possua uma concepo tendente
ao materialismo.
BECCARIA, CESARE BONESANA (1738-1794) italiano, panalista. Humanista.
36
WILDA
150 (nota)
95 (nota)
WINDSCHEID: B.
ZIBER, N. I.
Jurista
20 (nota)
'~~
Filsofo alemo,
ENGELS, FRIEDERICH (1820-1895) companheiro de Marx. Poltico da classe operria; dirigente da Primeira Internacional. Escrevetl \ vrias obras
em parceria com Marx.
FEURBACH, LUDWIG ANDREAS (1804-1872) '- Filsofo
materialista alemo, um dos precursores do. materialismo
de Marx.
172
E. B. PASUKANIS
Jurista polons.
173
'
NULLUM CRIMENN, NULLA POENA SINE LEGE- Nenhum crime e nenhuma pena sem lei.
PACTUM - Pacto.
PAX- Paz.
PER GENUS ET PER DIFFERENTIAM SPECIFICAM Por gneros e espcies diferentes .
SI IN JUS VOCAT, NI IT, ANTESTAMINO IGITUR IN
CAPITO - .. Se algum chamar outrem a juzo, v; se
no vai, tome tes,temunhas: elll; _seguida a detenha.
.SUl IURIS - Direito Romaria, pessoa no sujeita ao poder
de outrem.