César Lombroso - Hipnotismo e Mediunidade
César Lombroso - Hipnotismo e Mediunidade
César Lombroso - Hipnotismo e Mediunidade
Hipnotismo e Mediunidade
Ttulo original em Italiano
Csar Lombroso - Fenomeni Ipnotici e Spiritice
Roma (1909)
Contedo resumido
Csar Lombroso, esse eminente sbio italiano, detentor de
grande acervo de trabalhos na rea da Psiquiatria e da Antropologia Criminal, relata suas pesquisas com fenmenos de natureza
hipntica e esprita, visando a comprovao da comunicao
entre os mundos espiritual e fsico.
Cita experincias com Euspia Paladino, com a qual, sob fiscalizao rigorosa, desenrolaram-se fenmenos de transportes de
objetos, materializaes parciais, tiptologia, etc., e assuntos
como casas mal-assombradas, estigmas e levitao de santos,
premonio, telepatia e outros temas para anlise de estudiosos.
O autor faz uma anlise cientfica e filosfica, afastando
qualquer teoria preconcebida e firmando-se em uma autoridade
cientfica e em concordncia com o consenso geral dos povos.
1
Sumrio
Traos biogrficos do Autor ......................................................... 3
O homem e sua misso ............................................................... 44
Prefcio ....................................................................................... 57
PRIMEIRA PARTE Hipnotismo
Alguns fenmenos hipnticos e histricos ............................... 59
1 Transposio dos sentidos com os histricos
hipnotizados..................................................................... 59
2 Transmisso do pensamento............................................ 65
3 Premonies por histricos e epilpticos......................... 73
4 Lucidez e profecia no sonho. Estudos de Myers .......... 78
5 Fenmenos fsicos e psquicos com os hipnotizados....... 85
6 Polarizao e despolarizao psquica........................... 100
SEGUNDA PARTE Espiritismo
I Fenmenos espirticos com Euspia.............................. 107
II Resumo dos fenmenos medinicos de Euspia ........... 132
III Fisiopatologia de Euspia. Influncia e ao dos
mdiuns ......................................................................... 139
IV Condies e influncias dos mdiuns............................ 147
V Mdiuns e magos entre os selvagens e os povos
antigos ........................................................................... 156
VI Limites influncia do mdium .................................... 226
VII Experincias fisiolgicas com os mdiuns .................... 243
VIII Fantasmas e aparies de mortos................................... 256
IX Fotografias transcendentais ........................................... 268
X Identificao de fantasmas ............................................ 283
XI Duplos ........................................................................... 301
XII Casas assombradas ........................................................ 312
XIII A crena nos Espritos dos mortos entre os selvagens e
os brbaros..................................................................... 346
Eplogo
I Esboo de uma biologia dos Espritos ........................... 365
II Truques inconscientes e telepticos............................... 381
2
Em consequncia da extrema variao na manifestao da pelagra, durante centenas de anos os especialistas no puderam
atinar com a causa desse mal, nem com a sua teraputica. Milhares de casos ocorriam em todo o mundo, e na Itlia, por volta de
1856, cerca de 100.000 casos eram comprovados por F. Lussana
e Frua.
Lombroso comeou a estudar algumas formas especiais da
pelagra, publicando em 1868 vrios artigos sobre esse assunto,
em revistas mdicas. Do estudo destas formas especiais, passou
considerao da enfermidade em geral, e seguindo as pegadas do
Dr. Balardini e do senador Tefilo Roussel, separou o sporisorium maidis e os demais fungos que se desenvolviam no milho
deteriorado, realizando diferentes experimentos com suas culturas, tanto em animais como no homem.
Havendo demonstrado que aqueles fungos no produziam a
pelagra, fez experincias com o extrato do milho estragado, e
ento pde obter os sintomas especficos da enfermidade que
estudava.
O tratamento de um caso grave de pelagra lhe deu a chave do
enigma. Tratava-se de um tifo pelagroso, acompanhado de
uremia aguda e, como todos os sintomas eram os de envenenamento, Lombroso suspeitou que muitos dos fenmenos pelagrosos seriam consequncia de intoxicaes tambm crnicas, isto
, que a pelagra seria devida no a uma infeco, mas sim a uma
12
14
gem, da idade animal e at da infncia, e o delito uma consequncia da organizao fsica e moral do criminoso. Foi ele, ao
que parece, influenciado nessas concepes pelas teorias darwinianas, e entre os diversos tipos de criminosos que admitia, como
os de ocasio, os loucos, os criminaloides ou pseudocriminosos,
incluiu a concepo ousada e original do criminoso nato, ser
humano incorrigvel e irresponsvel, predestinado necessariamente prtica do crime por um impulso epilptico congnito e
profundo, que se traduziria por certos caracteres morfolgicos e
funcionais.
Mais larga repercusso teve a 2 edio de LUomo delinquente, tanto que o sbio russo Metchnikoff escreveu ao seu
autor, dizendo-lhe: Acredito que sua obra marcar uma poca
na histria da evoluo dos conhecimentos humanos, pois as
consequncias sociais da nova doutrina sero considerveis.
Combatendo o que era aceito como dogma intangvel nos
domnios da cincia jurdica, Lombroso levantou contra si violenta reao, com vivssimas discusses, por vezes apaixonadas,
despertando grande bulcio em torno do seu nome. Por ignorncia ou no, at propalavam que ele pretendia, por meio de suas
ideias, acabar com as prises, pensamento que jamais lhe passara
pela mente. Desassombrado, no fugiu luta e, ao lado de Ferri,
Garfalo, Marro e Mrio Carrara, conseguiu sobrepor-se e criar
toda uma escola composta de mdicos, filsofos, socilogos e
juristas.
Com o livro LUomo delinquente, Lombroso veio dar significativo impulso ao antigo Direito, que permanecia estacionrio
com Francisco Carrara e discpulos, numa ruminao cientfica, segundo a expresso pitoresca de Ferri, sem proveitos para a
causa da humanidade, a cujas ambies a esgotada escola j no
podia mais satisfazer.
No dizer do Prof. C. Winkler, da Universidade de Amsterd,
Lombroso fez pelo Direito Penal o que, dois sculos antes, fez
Morgagni pela Medicina, comparao, alis, muito honrosa,
pois se sabe que Morgagni, igualmente italiano, foi um dos mais
notveis anatomistas de todos os tempos, contribuindo com suas
16
Poucos sbios ou filsofos foram to infamados e to atacados como o foi Csar Lombroso escreveu o jornal parisiense
Sicle, em 1909.
este, em verdade, o destino de todos os que ousam traar
novas diretrizes no mundo cientfico, filosfico ou religioso, e
Lombroso exteriorizou, em certas ocasies, todo o seu menosprezo por aqueles eclticos que, semelhantes a esponjas, absorvem tudo e no produzem nada. Chamava-lhes mestrezinhos da
Cincia, que, de ordinrio, acrescentava Lombroso, esperam,
para ter uma opinio cientfica, a ltima palavra da Sorbona ou
da feira de Lpsia.
Quem evoca, em mincias e a cores vivas, a vida de lutas e de
dores do genial e verdadeiro homem de cincia sua prpria
filha Dra. Gina Lombroso-Ferrero, quer no artigo La Vita de
Pap (in Archivio di Antropologia Criminale, 1909, pgs.
607-632), quer no livro de sua autoria Cesare Lombroso, Storia
della vita e delle opere, narrata dalla figlia, Turim, 1915 (2 ed.
1921, fundamental).
Houve, naqueles recuados tempos, um mdico e consagrado
psiclogo, Padre Agostinho Gemelli, mais tarde reitor da Universidade Catlica de Milo e presidente da Academia Pontifcia
das Cincias, que, com todas as suas foras, combateu as doutrinas de Lombroso, afirmando, aps o falecimento deste, serem
elas anticrists e que no passavam de caricatura de cincia,
acabando por consider-las definitivamente sepultadas com seu
autor.
A verdade, todavia, vence o tempo e vence os homens. Em
1951, segundo nos conta o Prof. Leondio Ribeiro, esse mesmo
padre franciscano, ao inaugurar a Escola de Aperfeioamento de
Estudos Criminais da Universidade de Roma, volta atrs e afirma
textualmente: Ningum mais poder hoje negar que a Antropologia Criminal realizou conquistas importantes, no campo da
cincia, para o conhecimento do homem delinquente, imprimindo os discpulos de Lombroso novos rumos ao Direito Penal de
nossos dias.
22
27
provvel que me ocorreu foi a de que esses fenmenos hstero-hipnticos seriam devidos a uma projeo motora e sensorial dos centros psicomotores do crebro, enquanto outros
centros nervosos ficariam debilitados pela neurose e pelo estado de transe. Sucederia o que se observa com a inspirao
criadora do gnio, associada a um decaimento da sensibilidade da conscincia e do sentido moral.
Euspia, que era neurtica em seu estado normal, em consequncia de um ferimento na cabea que havia recebido
quando menina, ficava, durante esses estranhos fenmenos
espiritistas perfeitamente inconsciente e presa tambm de
convulses.
Confirmei-me nessa suposio, refletindo que o pensamento, por sublime que seja, um fenmeno de movimento, e
observando que os mais importantes fenmenos espiritistas
sempre se manifestam nas pessoas e nos objetos situados
prximos do mdium.
Tal era, em sntese, na ocasio, a tese explicativa que ele apresentava. No podendo conceber o pensamento sem crebro,
nem, por conseguinte, a sobrevivncia do eu humano, com suas
faculdades integrais, perfilhava ele, para os fenmenos medinicos, as interpretaes neurofisiolgicas, com excluso da hiptese esprita".
A isso tudo ele ainda acrescentava, aludindo aos que, descrentes por preconceito, sem nunca terem experimentado, nada
querem perceber, seno fraude e iluso:
Desconfiemos dessa pretensa penetrao de esprito que
consiste em divisar farsantes por toda parte e em crer que sbios somos apenas ns, porquanto essa pretenso poderia levar-nos justamente ao erro. Nenhum desses fatos (que tm de
ser aceitos, porque no se podem negar fatos que foram vistos) , entretanto, de natureza a deixar supor, para explic-los,
um mundo diferente daquele que os neuropatologistas admitem.
O tempo passa. As experincias de Lombroso se multiplicam.
29
36
O crnio foi medido e dele extrada a massa cerebral, que pesava 1.290 gramas. Era, para decepo de todos, um crebro de
peso normal, igual a tantos outros, e foi conservado no Museu de
Antropologia Criminal da Universidade de Turim.
Pelo telgrafo transmitiu-se a todos os centros civilizados do
ocidente e do oriente a notcia da desencarnao do famoso
chefe da escola antropolgica italiana, levantando ampla e
dolorosa repercusso mundial.
No s os peridicos cientficos, mas igualmente os jornais
dirios de inmeros pases lamentaram profundamente, em
destacados artigos, a irreparvel perda.
A Itlia em peso, mundo oficial e povo, se uniu nas homenagens pstumas.
O rei Vitor Emanuel III telegrafou famlia do extinto, com
afetuosa simplicidade: Prego voler credere alla viva parte che
prendo al loro dolore, interpretando ainda o sentimento de todos
os italianos.
Nas Universidades, nos Corpos e Sociedades cientficas de
toda a Europa, eminentes professores relembraram, em discursos
e conferncias, a grandiosa obra cientfica de Lombroso, reverenciando ainda o homem privado, com o encanto de suas virtudes e modstia pessoais. Entre esses homenageantes destacamos
os nomes de Ferri, Bianchi, Roncoroni, Antonini, Cappeletti,
Zerboglio, Borri, Tamburini, Ottolenghi, Ferrero, Benedetto de
Luca, Leggiardi-Laura, Guido Ruata, Mazzini, Paolo Arcari,
Morselli, etc.
O Prof. Henrique Ferri, um dos famosos esteios da Escola
Positiva de Criminologia e Direito Penal, assim se pronunciava
sobre o seu mestre:
Csar Lombroso pertence quela admirvel falange de
pensadores e de investigadores da verdade, que, na segunda
metade do sculo XIX, transformaram radicalmente o nosso
modo de conceber o universo vivente e as relaes do homem
com este, revelando-se em cinquenta anos muito mais enigmas da vida que em mais de vinte sculos, apesar do gnio
37
43
dmico que fecha os olhos para no ver; quele mundo impropriamente chamado esprita, e do qual algumas manifestaes, por obra de indivduos singulares, denominados mdiuns, vo-se multiplicando a cada dia, como a levitao, o
voo lento do corpo, sem esforo de quem o executa, ou melhor, de quem o sofre, como o movimento de objetos inanimados, e, o que mais singular, as manifestaes de seres
que tm, por muito bizarra e imprevista que seja, uma vontade, uma motivao, como se se tratasse de seres vivos, e que
de vez em quando demonstram prescincia de fatos futuros.
Depois de hav-los negado, antes de t-los observado, tive
que constat-los, quando, a contragosto, me vieram diante
dos olhos as provas mais palpveis e palpitantes; e no creio
que, por no poder explicar esses fatos, devesse ter por obrigao neg-los; mas, de resto, como as leis relativas s ondas
de Hertz explicam em grande parte a telepatia, assim tambm
as novas descobertas sobre as propriedades radioativas de alguns metais, especialmente o radium demonstrando-nos
que a pode haver, no apenas breves manifestaes, mas um
contnuo, enorme desenvolvimento de energia, de luz e calor,
sem perda aparente de matria , invalidam a maior objeo
que o cientista ope s misteriosas manifestaes espritas.
E aqui me detenho, que a extenso desses horizontes que se
me desdobram aos olhos me atemoriza mais do que me atrai.
E pressinto j o murmrio de homens dignos de todo o respeito, a dizerem que nesse caminho se vai ao absurdo, ao paradoxo e valha-nos Deus ao imoral. Mas eu afirmo que os
fatos cientficos no podem ser nem morais, nem imorais: so
fatos, contra os quais se esboroa a opinio mais venervel que
seja. Acrescento que muitas verdades, justamente por serem
verdades, causam repugnncia e so fortemente combatidas.
Porm, o fenmeno central, que devia vencer definitivamente
no s a desconfiana cientfica mas tambm a conscincia
moral de Csar Lombroso, foi a reiterada manifestao de sua
me. A primeira data de 1902, e ele assim a descreve em um
artigo Sobre os fenmenos espirticos e sua interpretao,
publicado na Lettura de novembro de 1906:
50
... E logo em seguida eu vi estvamos em semiobscuridade, com luz vermelha afastar-se da cortina uma
figura de estatura semelhante de minha me, velada, que
deu a volta mesa at chegar a mim, sussurrando-me palavras ouvidas por muitos, mas no por mim, que sou meio
surdo; tanto que eu, quase fora de mim pela emoo, lhe supliquei as repetisse, e ela o fez, dizendo-me: Cesare, fio mio o que, devo confessar, no era de seu hbito; ela, na verdade, como boa veneziana, tinha o hbito de chamar-me mio
fiol e, retirando por um momento o vu da face, deu-me um
beijo. Euspia, naquele instante, tinha as mos presas por duas pessoas e a sua estatura pelo menos dez centmetros mais
alta que a da minha pobre me.
E em suas apreciaes sobre a obra de Enrico Morselli, Psicologia e Espiritismo, em Luce e Ombra, de junho de 1908,
Lombroso comentava:
Quando revi minha me, senti na alma uma das emoes
mais suaves da minha vida, uma alegria que raiava pelo paroxismo, frente da qual me surgia no um impulso de ressentimento, mas de gratido, por quem ma atirava de novo, depois de tantos anos, entre os braos; e na presena desse
grande acontecimento terei olvidado, no uma, mas mil vezes, a humilde posio social de Euspia, que havia feito por
mim, embora automaticamente, o que nenhum gigante da ao e do pensamento teria podido fazer.
Mas, para que no se creia que Csar Lombroso tenha sido
levado s suas ltimas concluses unicamente pelo sentimento,
reproduzo, do mesmo artigo da Lettura acima referido, as
razes que, em fins de 1906, o fizeram adotar, para certos casos,
a interveno dos Espritos. Como todos sabem, ele havia inicialmente tentado explicar os fenmenos telepticos exclusivamente com a teoria das vibraes e os de escrita medianmica
pela atividade inconsciente de um hemisfrio cerebral normalmente inerte. Eis como ele se retrata:
Mas justamente me foi observado por Ermacora que a energia do movimento vibratrio decresce na razo do quadra51
do da distncia; desse modo, se se pode explicar a transmisso do pensamento a pequena distncia, incompreensveis se
tornam os casos de telepatia de um a outro hemisfrio da Terra e que vai atingir os percipientes sem desviar-se, mantendo
um paralelismo por milhares de quilmetros e partindo de um
instrumento no instalado sobre uma base imvel. Quanto s
explicaes aplicadas aos mdiuns escreventes, elas de nada
serviriam para aqueles que escrevem, ao mesmo tempo, duas
comunicaes, com as duas mos, e conservam inalterada a
sua conscincia. Neste caso, os mdiuns deveriam ter trs ou
quatro hemisfrios.
Eis como a explicao mais simples chega a assemelhar-se
do truque, de se acrescentar que os casos, diremos crnicos, dos lugares assombrados, nos quais por muitos anos se
repetem as aparies de fantasmas e os rudos, acompanhados
da lenda de mortes trgicas e sbitas que antecederam as aparies, e sem a presena de um mdium, falam contra a ao
exclusiva destes e a favor da ao dos mortos.
E como verdadeiro filsofo, para quem a experincia milenar
da humanidade, registrada na Histria e fixada na crena universal, assume consistncia e valor, conclua:
Tem-se por bonito desprezar a opinio do vulgo; mas se
ele, em verdade, no possui, para apreender o verdadeiro, os
meios do cientista, nem a sua cultura, nem o seu engenho,
supre-os com as numerosas e seculares observaes, cuja resultante acaba por ser superior em muitos casos do maior
gnio cientfico. Dessa forma, a influncia da Lua, dos meteoros sobre a mente humana, da hereditariedade morbosa, do
contgio da tsica, tudo isso foi reconhecido primeiro pelo
vulgo desprezvel que pelo cientista, o qual h bem pouco
tempo, e certamente ainda o faz (as Academias existem para
alguma coisa!), ria s escncaras dessas coisas.
***
Ele foi um verdadeiro positivista e no estacou temeroso a
meio caminho: preocupado mais com os fatos do que com adapt-los ao seu modo de pensar ou dobr-los s exigncias do
52
56
Prefcio
Quando ao trmino de uma jornada rica, se no de vitrias,
certamente de veementes pugnas em prol das novas correntes do
pensamento humano, na Psiquiatria e na Antropologia Criminal
iniciei primeiramente a pesquisa e depois a publicao de um
livro sobre fenmenos ditos espirticos, surgiram, hostis, de
todos os setores, os prprios amigos mais diletos a gritarem:
Quereis desfigurar um nome honrado, uma carreira que, depois de tantas lutas, j chegara finalmente meta, e isso por uma
teoria que todo o mundo no s repudia, mas, o que pior,
despreza e afinal acha ridcula.
Pois bem: tudo isso no me fez hesitar um s instante em
prosseguir nesse caminho iniciado; senti-me, ao contrrio, mais
deliberadamente impulsionado, pois me pareceu fatal coroar uma
existncia, que viveu na busca de novos ideais, combatendo em
prol da ideia mais hostilizada e talvez mais escarnecida do
sculo; pareceu-me um dever o encontrar-me at o ltimo dos
meus, j agora, contados dias, exatamente onde surgem mais
speros os obstculos e mais encarniados os adversrios.
Bem sei que tambm estes no fariam agravo, pois tambm
eu, no h muito, estava entre aqueles, e dos mais implacveis,
porque, concebidos como eram, pelos muitos, os fenmenos
espirticos parece quererem abater o grande conceito do Monismo, que um dos frutos mais preciosos da moderna cultura, e
porque, ante a preciso, a continuidade dos fenmenos experimentais, sempre idnticos a si mesmos, no tempo e no espao, e
sempre coerentes entre si a observao e as experincias espirticas, frequentemente variveis segundo os mtodos, conforme
as horas do dia e a disposio de nimo dos assistentes, por
muito repetidos e controlados por instrumentos de preciso,
embora joeirados por experimentadores severssimos (e bastaria
enumerar Morselli, Di Vesme, Crookes, Richet, Lodge, James
Hyslop, Wallace, Bottazzi, de Rochas, Herlitzka, Fo, Arsonval,
etc.) , tm sempre aquele aspecto de incerteza, de impreciso,
das velhas observaes medievais.
57
58
PRIMEIRA PARTE
Hipnotismo
Alguns fenmenos hipnticos e histricos
Se existiu no mundo um homem, por educao cientfica e
quase por instinto, contrrio ao Espiritismo, esse fui eu, que, da
tese ser toda fora uma propriedade da matria e a alma emanao do crebro, havia feito a preocupao mais tenaz da vida,
eu, que havia zombado por muito tempo dos Espritos das mesinhas... e das cadeiras!
Mas se sempre nutri grande paixo pelo meu lbaro cientfico, tive outra ainda mais fervorosa: a adorao da verdade, a
constatao do fato.
Ora, eu que era assim hostil ao Espiritismo, a ponto de no
aquiescer por largo tempo em ao menos assistir a uma experincia, deveria, em 1882, presenciar, na qualidade de neuropatlogo, fenmenos psquicos singulares, que no encontravam nenhuma explicao na Cincia, salvo a de ocorrerem em indivduos histricos ou hipnotizados.
1
Transposio dos sentidos
com os histricos hipnotizados
Certa manh daquele ano, fui chamado para a Srta. C. S., de
14 anos de idade, filha de um dos homens mais ativos e mais
inteligentes da Itlia, que tinha tambm me s, inteligente e
robusta, mas dois irmos crescidos extraordinariamente na
estatura, nas proximidades da puberdade, e com alguma turbao
pulmonar; e a prpria C. S., que era de gentil aspecto, altura de
1,54m, com pupila um pouco midritica, tato normal e normal
sensibilidade dolorfica e s cores, quando na vizinhana da
poca pbere cresceu subitamente 15 centmetros, e teve, nos
59
62
Se os autores mais modernos no levaram em conta estes casos (e Hasse os averbou de iluso), porque, com tendncia
louvvel, mas tambm excessiva, s desejavam admitir os fatos
que cientificamente se pudessem explicar. Por isso, tardaram em
dar crdito ao magnete e a muitos dos resultados que, empiricamente, obtiveram os magnetizadores (catalepsias, hipnoses,
hiperestesias), agora verssimos e at certo ponto explicados
(Heidenhain).
A verdade que uma explicao absolutamente cientfica no
se pode dar destes fatos, os quais entram no vestbulo daquele
mundo que, com justia, se deve chamar ainda oculto, porque
inexplicado.8 E assim a lucidez s em parte se pode explicar por
uma espcie de sugesto, por maior agudeza daquela instintiva
conscincia do prprio estado, que faz ao moribundo recapitular
a sua vida na derradeira hora da existncia. Mais ainda: melhor
se nota o desenvolvimento sucessivo dos fenmenos da prpria
nevrose porque, na excitao extraordinria do xtase sonamblico, adquirimos maior conscincia do nosso organismo, em
cujas condies, semelhana da engrenagem dos relgios, esto
inscritas em potncia, em germe, as vrias sucesses mrbidas.
Cabe aqui conectar a esses fatos um caso primeiramente revelado pelo nosso Salvioli 9 no sonambulismo, isto , que o afluxo
do sangue ao crebro maior do que em viglia, e maior , pois,
a atividade da psique, de igual modo que ocorre aumento na
excitabilidade muscular.
Efetivamente, a nossa enferma, que adquiria, em sonambulismo, uma fora maior de 12 quilos no dinammetro, dizia-me
que, nesse estado, no podia ficar tranquila com o pensamento,
pois necessitava estar sempre ruminando novas ideias.
Mas, esta concluso j no serve, quando a lucidez chega ao
ponto de profetizar o que acontecer, dois anos depois, ao pai e
ao irmo, nem tampouco explicar cientificamente a transposio
dos sentidos.
Emerge aqui, de modo caracterstico, apenas o fato de que os
fenmenos ocorrem em pacientes histricos e nos acessos hipnticos do grande histerismo.
64
2
Transmisso do pensamento
Outro tanto se nota nos casos de transmisso do pensamento,
at h pouco inexplorados.
Dessa natureza o que observei, juntamente com Grimaldi e
Ardu,10 em E. B. de Nocera, de vinte anos de idade, que se
manifestou histrico aos 15, por amores contrariados.
Crnio dolicocfalo, ndice 76, face extraordinariamente assimtrica, aspecto efeminado, acuidade visual e tato normal,
porm maior agudeza esquerda; sensvel a todos os metais,
especialmente ao cobre e ao ouro, que lhe acalmavam as palpitaes do corao e a mialgia; exageradas simpatias e antipatias,
fobia treva, ao extremo de temer uma sombra em ngulo escuro; disposio de nimo mutabilssima, to sugestionvel que se
lhe pde impor o no sentir as dores agudssimas produzidas
com ferro ou ferro quente; transposio dos sentidos e transmisso do pensamento, adivinhando uma palavra ou nmero pensado por outrem, e podendo reproduzir o desenho que se fizesse
por detrs dele, a grande distncia, isso com os olhos vendados.
Traou-se um losango, reproduziu-o grosseiramente, com
grande excitao e inexatido; melhor resultado foi obtido com
um crculo. Manifestou dificuldade na reproduo de um tringulo; depois de hesitao, mais longa do que na primeira prova,
desenhou ntidos dois lados; o terceiro, o da base, era vergado,
com visvel incerteza, e, em vez de uma reta, o trao era quebrado, em zigue-zague, Apenas terminada a experincia, o paciente,
rosto afogueado, queixava-se de grande peso na cabea.
Retiramos-lhe a venda dos olhos e deixamo-lo repousar, recomeando a experincia dez minutos depois.
A figura de um polgono, que podia ser tambm o perfil de
um casebre, foi desenhado sem dificuldade e, para o de um cone
pousado, pediu primeira e segunda reproduo. A essa altura, se
manifestaram esgotamento, vermelhido do rosto e torpor nos
movimentos.
65
Objeto adivinhado
Uma espada.
Um crculo encarnado.
Papel prateado, recortado em
feitio de bule.
encarnado, redondo.
de prata reluzente
cafeteira, um bule.
Um retngulo amarelo.
Um papel
vermelhas.
com duas
cruzes
qual
uma
pontos
7.164.958.643.456
Empregando a sugesto hipntica, os membros da Sociedade
para Investigaes Psquicas, de Londres, tiveram 9 xitos em 14
experincias, na primeira prova, e 5 xitos em 5 experimentos,
na segunda.
Vale dizer que, se na primeira experincia a provvel cifra
seria de 0,25, a verdadeira foi de 9.
Em outras anlogas 118 experincias de Stewart, obtiveramse 45/118.12
Se o acaso estivesse em jogo, o nmero de cartas indicadas
deveria ser 22 e no 45.
Atuando sobre pacientes histricos, porm no hipnotizados,
Ochorowicz conseguiu 13 xitos em 31 casos, tratando-se de
adivinhar uma letra, um nmero, um nome (Maria, por exemplo),
um sabor.
Sugestionando depois os hipnotizados, teve 15 sucessos em
20, enquanto que, pelo clculo das probabilidades, no deveria
atingir mais do que 1 sobre 24.13
Disso, Richet deduziu:
1) O pensamento de um indivduo se transmite a outro,
prximo, sem auxlio de sinais externos.
2) Essa transmisso mental de pensamento resulta diversa
em intensidade, conforme o indivduo (e ns acrescentaremos: mxima nos hipnotizados).
69
Essas transmisses de pensamento se tornam ainda mais extraordinrias quando se verifica ocorrerem a distncias s vezes
enormes, e assim os casos seriam mais frequentes, se o nosso
cepticismo no nos impedisse reconhecer o fato, imparcialmente.
H pouco tempo, em 1887, constou que uma menina, de Novara, pressentiu a enfermidade de sua genitora, Ana Voretto, que
se achava em Sttimo Torinese.
Di Vesme, por incumbncia da Societ di Scienze Psichiche
Italiana, verificou, poucos dias decorridos, que, efetivamente, a
17 de fevereiro de 1887, Ana Voretto, residente em Sttimo,
enquanto atendia aos seus interesses, s 12:30, foi de improviso
presa de mal que a vitimou no dia imediato.
Telegrafaram, s 21 horas, irm para que acorresse, com a
filha da agonizante, a menina Stella, e esta, segundo o testemunho de sete pessoas, at 1 hora do dia 17, se mostrou agitadssima, pedindo ir para junto de sua me, porque estava enferma
e no dia seguinte exclamava, no trem: Mame morreu!
O ilustre Prof. De Sanctis me escrevia:
Na segunda metade de setembro ltimo, encontrava-me
em Roma, sem a famlia, que se achava no campo. E porque
ladres no ano anterior haviam assaltado a casa, meu irmo
vinha fazer-me companhia todas as noites.
A 16, 17 ou 18 (no recordo bem) desse setembro, realizando-se espetculo de gala no Teatro Costanzi, em homenagem a jornalistas espanhis que visitavam Roma, disse-me
meu irmo que assistiria a essa festa e, por isso, fui sozinho
para casa.
Comecei a ler um pouco, mas, de sbito, me senti amedrontado. Repeli os maus pensamentos e comecei a despirme, mas interna agitao me perturbava.
Deitei-me, combatendo energicamente a ideia, isto , de
que o Teatro Costanzi se incendiava e meu irmo pudesse
correr algum perigo; apaguei a luz, porm a ideia do incndio
me assediava de tal modo, angustiando-me, que, contra meus
hbitos, religuei a luz, decidido a esperar, desperto, o regres70
3
Premonies por histricos e epilpticos
Como explicar as premonies e as profecias feitas, no por
pessoas eminentes, geniais ou santas, mas por enfermos, s vezes
em sonhos, quando a nossa ideao imprecisa e aberrante, e
quando se desintegra nossa personalidade psquica?
Tambm aqui os casos chegaram de toda parte, sem que eu os
procurasse, e at quando os rejeitava.
Certo Castagneri, em setembro de 1886, escrevia a Di Vesme
que, a 8 daquele ms, uma serva, Bianchi-Cappelli, sonhara que
sua me, vendedora de frutas em Cesena, fora roubada em 300
liras e que seu irmo enfermara.
Ficou profundamente preocupada, e no dia 11 recebeu carta
informando-a de que precisamente no dia subsequente ao do
sonho se verificaram ambos os acontecimentos, o que Di Vesme
pde verificar com muitas testemunhas.
Tive em tratamento o distinto Dr. C., um dos nossos jovens
doutos mais culto e igualmente mais nevrtico, por verdadeiras
formas histricas, epilpticas, coincidentes com a puberdade, no
poucos caractersticos degenerativos, e no ligeira carga hereditria.
Ele prprio se assinalara, havia tempo, faculdades premonitrias, e assim, por exemplo, apesar de um amigo lhe haver telegrafado que iria procur-lo, no se moveu ao encontro, sentindo
que no chegaria; tambm anunciou genitora o recebimento de
uma carta de pessoa que jamais vira, mas descreveu-a minuciosamente.
73
Porm, o fato mais importante, a nosso ver, porque mais documentado, foi ter, a 4 de fevereiro de 1894, predito o incndio
da Exposio de Como, ocorrido a 6 de julho, e com tal segurana que induziu a famlia ( qual j dera prova do acerto de suas
previses) a vender todas as aes da Societ Milanese de seguros contra incndio, que representavam 149.000 liras, realizando
tal venda vantajosamente.
importante assinalar que, aproximando-se a data do incndio, ele no sentia a certeza, em estado consciente, mas, automaticamente (como recordam bem os da famlia), reiterava o prenncio, especialmente na manh do dia do incndio, confirmando-se, pelo menos com relao ao estado consciente, o que
acerca da profecia das sombras recorda Dante, no canto X do
Inferno, a propsito de Farinata, que lhe havia predito o exlio,
enquanto outros Espritos daquele crculo pareciam ignorar
completamente toda a atualidade:
E par che voi veggiate, se beu odo,
Dinanzi quel chel tempo seco adduce,
E nel presente tenete altro modo. 14
Escrevia-me ele prprio:
O pressentimento me veio instantneo, e ignoro como pude adquirir to intensa convico, de vez que no influiu no
meu pressgio nenhuma considerao de carter tcnico. E
eu, ento, no poderia ter visto mais do que os andaimes da
Exposio, cujo edifcio estava pouco adiantado.
No saberei dizer se antes daquela data existia em mim um
vago pressentimento, mas no tive ideia alguma definida e
consciente, antes de divisar a insgnia da Sociedade de Seguros contra incndios.
Recordo perfeitamente que naquele momento no tive alucinao alguma, nem visual, nem trmica ou semelhante; em
mim, o fatalismo daquele sinistro tinha de modo fulminante
adquirido uma evidncia indiscutvel, qual a de uma verdade,
por assim dizer intuitiva.
Precisamente a surpresa desse inexplicvel estado de nimo
me persuadiu a agir de conformidade com o pressgio, tanto
74
76
Jacob aproveitou o azo e fez sombra do pai vrias perguntas, entre as quais a seguinte: Se havia terminado sua obra antes
de haver passado vera vida, e, caso afirmativo, onde encontrar
o que faltava, e no fora possvel achar. A isso lhe pareceu, por
duas vezes, ouvir em resposta: Sim, eu a terminei.
E lhe pareceu tambm que, pegando-lhe na mo, o levava
habitao onde costumava dormir, quando vivo, e que, tocando
em determinado stio, lhe dizia: Aqui est o que tanto haveis
procurado. E, ditas tais palavras, terminou a viso.
Jacob Alighieri, comovido ao mesmo tempo pela alegria e pelo espanto, ergueu-se, a despeito da avanada hora da noite e,
clere, pelas desertas ruas de Ravena, rumou casa de Pier
Giardini, notrio que fora amigo ntimo de Dante, e lhe comunicou a viso.
Por isso, ainda que faltasse muito para amanhecer, seguiram ambos para o local indicado e ali encontraram uma esteira fixada na parede e, ao levant-la, viram uma portinhola,
que ambos desconheciam e nem dela haviam tido notcia, achando ento alguns manuscritos, todos embolorados pela
ao da umidade e prximos da deteriorao que ocorreria.
Cuidadosamente limpos, foram lidos, verificando-se constiturem os 13 cantos to procurados. (Boccaccio).
4
Lucidez e profecia no sonho. Estudos de Myers
Notvel tambm que quando estas premonies no sobrevm no acesso epilptico ou hipno-histrico, se verificam no
sono.
Quem mais aprofundou esses fenmenos misteriosos foi
Myers.
Opina ele que o estado de sono pode considerar-se variedade
evolutiva ou dissolutiva do estado de viglia.
Assim, no surpreenderam os sonos prolongados que se manifestam em determinadas enfermidades, nem a substituio
78
ps e o guinu saltava para fora, enquanto que as libras permaneciam dentro dela. Encaminhou-se rua indicada e achou a bolsa,
tal qual fora vista no sonho.
A Srta. Simons sonhou certa noite haver perdido um alfinete
na cinza. Na manh seguinte procurou-o na cmoda, mas ali no
estava, e sim na cinza da lareira.
O Sr. Herber Leurs recebeu importantssima carta e a perdeu.
Procurou-a durante todo o dia, por todo o aposento onde supunha
hav-la colocado, e noite sonhou divis-la em determinado
recanto do mesmo aposento, onde afinal a descobriu.
So todos casos de criptomnsia, de reavivamento da memria, no estado de sono. E assim se explicam os problemas resolvidos em sonho.
O Sr. Hayes, egrgio artista, dando lio de Geometria a seus
filhos, chegou figura III do problema de traar uma reta sobre
um plano e no pde citar mais do que dois casos; mas, noite
viu lucidamente uma figura geomtrica, com o ttulo de figura
IV, que dava o terceiro caso e a soluo do problema.
Um tesoureiro, o Sr. Davey, cometera um erro nas suas contas e, inquieto, durante algumas semanas no conseguiu encontr-lo. Certa noite sonhou que refazia materialmente no papel
todos os clculos e encontra o engano. Pela manh, o sonho
completamente esquecido.
At aqui fcil a explicao. Como explicar, porm, os casos
seguros de noes de coisas completamente ignoradas, e os de
previses, em sonho, da data da prpria morte?
Amiga da Srta. Corleton, de nome Morris, faleceu. No dia seguinte sonhou Corleton com a defunta amiga, que ento lhe
anunciou viria avis-la 24 horas antes do seu decesso. Quarenta
anos depois a Srta. Corleton, que se encontrava em estado de
perfeita sade, sonhou com a extinta amiga, anunciando-lhe a
morte, que sobreveio, de fato, 24 horas decorridas do sonho.
A Srta. Arabela Barret viu, certa vez, em sonho sua irm, j
falecida, a qual lhe predisse a morte dentro de um lustro. Sem
grande cuidado, tomou nota da data e, cinco anos depois, no dia
exato, morreu.
81
Os agentes policiais ponderaram que o empedrado apresentava indcios de no haver sido movido desde a construo do
galinheiro, mas, dada a insistncia e intensa agitao da jovem,
aquiesceram em proceder escavao.
Sob o empedrado apareceu primeiro um sobretudo e, prosseguindo, a pesquisa terminou por encontrar o cadver de Oscar
Loganson a 1 metro e 50 centmetros de profundidade.
Imediatamente se expediram em todas as direes os sinais de
Bedford, que foi detido em Ellis (Nebraska) e comprovada a sua
culpabilidade.
A Srta. Loganson jamais pde explicar como descobriu o delito: dizia simplesmente que o Esprito de seu irmo exercia,
desde alguns dias, influncia sobre ela.
Rosa Tirone era uma servial, histrica, de 35 anos de idade,
que amava um jovem seu patrcio, com o qual no se animava
casar por motivo da precria sade do moo, que, efetivamente,
morreu aos 25 anos de idade.
Certa noite, em novembro de 1908, Rosa sonhou que o rapaz
lhe dizia:
No quero que continues servindo de criada. Joga nestes 4
nmeros: 4, 53, 25 e 30. E os repetiu, para que se lhe fixassem
na memria, acrescentando: Tenho tanta sede! Tira do poo um
copo de gua e d-me de beber.
Prximo havia com efeito um poo, e a mulher, retirando a
gua, lhe saciou a sede.
No dia seguinte, a serva apostou regular soma nos 4 nmeros,
que foram premiados no sbado imediato.
Esta mulher, que havia sido condenada quatro vezes, por vigarice e furto, tinha de caracterstico o tipo completamente
varonil, e do histerismo a tendncia para a pseudologia fantstica
e necessidade imperiosa de trabalhar, de tratar continuamente de
especulaes incomuns, sem meta e sem dinheiro.
Ainda os furtos e espertezas eram fruto da pseudologia fantstica, pela qual se considerava de posse de dinheiro sem ter um
nquel no bolso.
84
Costumava vangloriar-se de possuir casas, terrenos, e at tratou de os adquirir, como se tivesse posses; ano e meio antes do
sonho proftico, teve uma premonio, desse mesmo amante, em
que lhe foi predito que chegaria a ser rica.
um fenmeno que algumas vezes se nota na epilepsia: um
histerismo completo, sem estigma somtico.
***
Todas estas observaes so suficientes para levar concluso de que h uma srie imensa de fenmenos psquicos que
fogem totalmente s leis da psico-fisiologia, e s tm de comum
o manifestarem-se mais facilmente nos indivduos afetados de
histerismo, neuropatia, em estado hipntico ou em sonhos, que
se assinalam quando a ideao normal mais ou menos completamente inativa, e em seu lugar domina completa a ao do
inconsciente, que foge a toda indagao cientfica, o que demonstra a manifestao exagerada de uma funo quando o
rgo est completamente inativo.
5
Fenmenos fsicos e psquicos com os hipnotizados
De resto, todos ou quase todos os fenmenos que oferecem os
hipnotizados me parecem sair das normas da Fisiologia e da
Patologia, para entrarem nas do ignoto.
Damos os resultados de algumas investigaes especiais a este propsito.
MEMRIA
Os fenmenos da memria so, entre todos, os que mais me
surpreenderam, pela singular variedade individual e ocasional
nos meus hipnotizados.
No obstante seja a inteligncia obscurecida nos estados hipnticos, curioso notar que a memria se torna, algumas vezes,
maravilhosa.
85
Assim, tendo enumerado a Chiarl., jovem estudante, hipnotizado, 12 grupos de cifras, ele me repetiu, depois de meia hora e
pela ordem, os seis primeiros grupos, com 1 erro apenas.
Ele ignorava o alemo, e apesar disso lhe ordenei ler uma linha de autor tedesco e reproduzir, depois de algum tempo (meia
hora), na ardsia, a linha lida, e ele a escreveu, ou melhor, a
reproduziu tal como se achava escrita, em caracteres gticos,
com apenas trs enganos em 60 letras. Fechado o livro, soube,
minha ordem, encontrar a pgina e a linha que havia lido meia
hora antes.
Verifiquei a observao de Delboeuf de que a memria de um
sonho provocado se conserva no indivduo desperto, se tiver na
mo um objeto relacionado com o sonho.
A Chiarl. fiz escrever um trecho de msica, sugestionandolhe a ideia de que era Rossini, e desperto, enquanto escrevia,
lembrou de pronto; e quando lhe fiz crer que fumava um charuto
(era um bastozinho) e que com ele furasse um leno, despertou
enquanto fumava hipoteticamente.
Jamais comprovei que a ordem de conservar a lembrana do
ato executado no sono conseguisse chegar a esse resultado.
Notei, algumas vezes, que, sem ordem e sem interrupo, no
meio do ato, se mantinha uma recordao crepuscular.
Por exemplo: L., a quem se ordenara que fosse boa me de
famlia, que, em carta, dava excelentes conselhos a uma filha
imaginria, quando se lhe menciona a carta, afirmou parecer-lhe
ter sido pai e no me.
Sugerindo-se-lhe que fosse menina que sabe escrever mal,
escreveu pessimamente na ardsia, com mo trmula, de criana
(para faz-lo, esticou-se, ele que era de elevada estatura):
Querida mamezinha
D-me dinheiro, porque hoje fui boa.
Clemen...
Disse, ainda que desperto no preciso momento em que terminava a carta, lembrar-se apenas... de que escrevia. , pois, not86
mister admitir, para explicar, que a civilizao foi formando um centro cortical especial para a medida do tempo, e que
este centro se aguce em tais casos.
H, entretanto, excees.
Chiarl., que oferece muitas, apresenta esta, e igualmente a Sra. Verol: amide, esqueceram o tempo dado, ainda que exguo,
para seguirem a sugesto imposta; mas no faltou em ambos,
quase sempre, no prazo, uma inquietude ( semelhana de algum que sabe ter algo a fazer e no a relembra com preciso)
que se desvanecia medida que se lhe ajudava a memria, ainda
que indiretamente.
Imediatamente ento, seguiam com verdadeiro ardor o ato
sugerido, no s como quem cumpre um dever, mas tambm se
liberta de um desejo irresistvel.
Por exemplo: se se ordena a Chiarl. que, ao trmino de 28
minutos e 2 segundos, leia certa linha de um livro, em alemo,
que estava confundido entre outros muitos objetos, ele, nesse
momento dado, se mostra apreensivo, olha aqui, olha acol, sem
fazer coisa alguma. Depois, quando ante seus olhos folheado o
livro, agarra-o pressurosamente e, com satisfeito sorriso, abre e
l a determinada linha.
Assim, quando se lhe ordena que leia, transcorridos 12 minutos (em pgina de livro de Anatomia), certo canto de Rossini,
que ele, por sugesto, crendo-se Rossini, havia ditado, decorrido
o tempo fixado, permanece turbado, nada executando, at que foi
posto o livro ante seus olhos.
Verifica-se, neste caso de hipnotismo, a marcha normal fisiolgica da associao de ideias, que se vo despertando uma e
outra e determinam, sua vez, os atos volitivos.16
Esta mesma reproduo das leis fisiolgicas normais de associao encontrei em um outro erro da memria de muitos hipnotizados.
Tendo sugerido ao Sr. Col. que fosse o bandido La Gala, ele
aceitou com grande repugnncia, porm, uma vez aceita a sugesto, se tornou cruel, brandiu uma caneta como se fosse punhal e
com este trespassou inimigos imaginrios; escreveu carta de
88
93
H, pois, um limite nas sugestes do carter, porm, a exemplo da vida comum, este limite pode ser transposto com a educao hipntica.
Um dos meus estudantes, um nico, me declarou que, medida que era submetido s prticas hipnticas, se tornava mais
rebelde, o que comprova a grande variao individual.
INTELIGNCIA
A inteligncia parece muitas vezes dominada, ou pelo menos
debilitada; acima de tudo o a palavra, tanto que dificilmente se
resolvem a falar sem uma ordem, e algumas vezes um vivo
estmulo, e no raro estmulo repetido. Certa histrica no responde seno quando se lhe comprimem as ltimas vrtebras
dorsais e ao mesmo tempo se lhe repete energicamente a ordem
de falar.
Mais espontaneamente gesticulam e escrevem. Apesar disso,
a excitao produzida pelo estado de sugesto, a invaso, direi,
da nova personalidade com a qual se identificam, faz que se
exprimam s vezes por gestos e escrita com habilidade que no
lhes prpria no estado de viglia.
Assim, a um, sugestionado de ser fotgrafo, executou todas
as operaes do ofcio que jamais realizara na sua vida de banqueiro.
Veja-se, por exemplo, o jovem Chiarl., quando se tornou Napoleo, com quanta eloquncia escreve, usando tambm idioma
estrangeiro:
La patrie attend par vous des prodiges de la valeur dont
nous sommes merveills lisant les uvres des grecs.
Ordenando-se-lhe que fosse Rossini (note-se bem que ele tem
noes de msica), escreveu todo o trecho musical:
Dal tuo stellato soglio,
Signor, ti volgi a noi, ... etc., e o assinou.
Ordenando-se-lhe que executasse o trecho, responde ser aquele mais belo do que difcil, mas o piano no era suficientemente bom. Solicitado a cantar, acompanhando-se ao piano, o
94
95
Lesc.
20
Desperto
Hipnotizado
Atletismo sugerido
Col.
Em estado de viglia
Hipnotizado
Ted
Desperto
Hipnotizado
Tendo, porm, experimentado medir quantos segundos poderiam ter estirado o brao, sustentando um peso de 7 quilos, em
todos se notou diminuio, malgrado tambm a ordem de mantlo teso por maior tempo.
Lesc.
Desperto
Hipnotizado
Atletismo determinado
PSICMETRO
Resultado similar se obteve com o psicmetro Hipp: para a
equao pessoal, se bem se tratasse de jovens de superior inteligncia, as cifras desta diferiam um tanto, no estado hipntico,
das do estado de viglia.
Chiarl.
Desperto apresenta na vista
Ouvido
Hipnotizado vista
Com ordem aumentar acuidade visual
Mx.
72
22
90
90
Mn.
54
10
61
55
Md.
28
4
26
33
Dif.
44
18
4
57
96
Lesc.
Mx.
100
86
70
22
25
16
Desperto vista
Hipnotizado vista
Com ordem aumentar acuidade visual
Desperto ouvido
Hipnotizado ouvido
Com ordem aumentar acuidade auditiva
Mn.
74
61
59
13,6
19,6
11,9
Md.
60
45
40
6
15
4
Dif.
40
41
30
16
10
12
Vista
40
72
12
60
Ouvido
66,6
104
40
64
Vista
39,8
60
10
50
preciso notar aqui o fato singularssimo: no exame, em estado hipntico, alm de manter-lhe os olhos fechados, ainda os
tapei com a mo, o que no impediu dar a vista resultados pouco
diferentes dos do estado de viglia, com os olhos abertos.
SENSIBILIDADE TTIL
Esta mesma histrica apresentou, em estado de viglia, sensibilidade ttil comum: 1,6 direita; 1,9 esquerda.
Hipnotizada, apresenta na mo 0,5 direita; 1,1 esquerda;
ou seja, maior delicadeza.
Desperta, tem sensibilidade gen. elet. da trena de Dubois
Reymond: 30 direita; 56 mil. esquerda.
97
6
Polarizao e despolarizao psquica
Entre os tantos fenmenos estranhos, ou pelo menos inslitos
na vida fisiolgica, e que no entanto se apresentam frequentemente no estado de hipnose, h aquele que Fr e Binet denominam polarizao psquica, pelo qual o m, aplicado depois da
sugesto, inverte a disposio de nimo sugerida ao paciente
desperto.
Bianchi e Sommer sugeriram Srta. X.:
100
A um G., submetido j a longas prticas hipnticas, a fotografia de um esqueleto se mudou na de uma jovem, o homem em
mulher, e vice-versa, uma ninfa pompeana em horrenda bruxa;
completa, pois, foi a polarizao; mas, ao contrrio, uma gua
aucarada se fez salgada, um avental encarnado se mudou em
branco. Houve mutao, no inverso do gosto despolarizao
nas alucinaes sensoriais, e no nas psquicas.
Em um quarto indivduo, alcolatra, se obtiveram sempre
despolarizaes: l encarnada ou amarela se descoloriram para
brancas; cido actico se tornou amargo e gua doce em cida.
Em um quinto se obtiveram diferentes mutaes (tal como
ocorreu em caso j citado), conforme os polos do m. Por
exemplo: aplicado o m, uma cruz preta se tornou branca; sob a
ao apenas do polo sul, passou cor amarela, e com o polo
norte volta cor preta; um torro de acar, coisa de que muito
gosta, no muda de sabor sob o m.
Em um sexto indivduo, o m, posto perto da nuca, esmaecia
as imagens, mas aplicado diretamente as fazia desaparecer.
Os efeitos mximos foram obtidos com aplicao do m, porm idntico resultado deu, em 5 sobre 9, aplicando um dedo
sobre a nuca do paciente.
Os indivduos inibidos por fortes paixes ou arraigados hbitos no se deixavam influenciar pelo m.
Assim, em um marido dominado pela mulher, a imagem dela
no mudava, nem com o m, nem com a sugesto, e uma velha
criminosa no mudava a simulao, nem confessava as mentiras
postas em prtica, antes da sugesto, para justificar-se do delito.
singularssimo o fato de que em quase todos esses a imagem alucinatria se assimilava como se fosse imagem real. Por
exemplo: com a lente a mais 3, se agrandava, e com a lente a
menos 3 se apequenava; mudando a distncia da lente, trocavase a dimenso da imagem.
Sob a sugesto de ver um moscardo um pouco distante, dilatava-se a pupila de C., e a contraa medida que a pretensa
mosca se aproximava; quando depois lhe era chegada ponta do
nariz, C. fazia o gesto de repeli-la com a mo, e as pupilas,
104
que imprime nas clulas corticais o movimento molecular prprio do m; porm, quando o efeito igual se obtm com um
dedo, como justificar esta explicao? E depois, como explicar
que as imagens sugeridas se comportem como se fossem reais,
que a imagem alucinatria siga as leis da ptica, conforme
obtivemos em 84% das nossas experincias com a lente, e 96%
com o espectroscpio?
As sensaes visuais que se formam em nossos sentidos desfrutariam nos hipnticos das mesmas propriedades das que
partem dos centros corticais.
As imagens corticais alucinatrias estariam sujeitas s modificaes provocadas pelos meios interpostos, como se os centros
sensrios corticais pudessem substituir-se aos rgos dos sentidos e atuar sem estes.
Tudo isso parece um absurdo fisiolgico.
E como se pode explicar a mutao quase instantnea na
conscincia da prpria personalidade, e isto tambm com a
simples aplicao de um m, da personalidade, primeira a surgir
e a ltima a desaparecer no homem?
Tambm aqui, e assim na transmisso do pensamento e ainda
na transposio dos sentidos, e mais nos sonhos premonitrios,
ocorrem fenmenos que se acham em completa oposio s leis
fisiolgicas e que, sobrevindo no estado histrico e hipntico, e
graas a isto, quando, na desagregao da faculdade psquica,
prevalecem o automatismo e a inconscincia, tudo nos conduz a
admitir a existncia de uma srie de fenmenos que, carecendo
de segura explicao, pertencem mais ao mundo oculto do que
ao fisiolgico.
106
SEGUNDA PARTE
Espiritismo
CAPTULO I
Fenmenos espirticos com Euspia
Mesmo depois de estar convencido disto, a principal objeo
que eu havia adotado para no me ocupar com os fenmenos
espiritistas por inexplicveis pelas leis fisiolgicas veio
faltar-me e eu, embora ainda repugnando, terminei, em maro de
1891, por aquiescer em presenciar uma experincia espiritista,
em pleno dia, a ss com Euspia Paladino, em um hotel de
Npoles, e tendo presenciado levitaes de objetos pesadssimos,
sem contato, ento aceitei o ocupar-me com isso.
***
Euspia Paladino, nascida em Murge, em 1854, aos 8 anos de
idade viu o pai assassinado por bandoleiros; acolhida primeiro
pela av, que a maltratava, e depois abandonada na rua, foi
recebida, mui jovem, como que por ato de caridade, na tarefa de
ama-seca, em casa da alta burguesia de Npoles.
Desde a infncia, teve, sem que se pudesse explicar, aparies medinicas ou alucinaes; e assim ouvia pancadas (raps)
nos mveis sobre os quais se apoiava; noite sentia que lhe
arrancavam as roupas e puxavam as cobertas da cama sobre o
dorso; via fantasmas.
Em 1863, Damiani, que j em Londres, em sesso medinica,
ouviu John dizer existir uma grande mdium em Npoles
(John pretendia que fosse sua filha), presenciou, em casa da
famlia onde estava hospedada Euspia, uma sesso espiritista,
na qual, quando ela atuava, se manifestavam fenmenos extraordinrios de rudos (raps) e movimento de objetos.
De ento, Damiani e Chiaia promoveram-lhe verdadeira educao medinica, e a pobre ama-seca, encontrando nisso uma
remunerao que a tornava independente, concordou sempre
107
To logo se intentou impedir esse movimento (o qual certamente no era produzido pelo p da mdium), a levitao no
teve lugar; mas, apenas permitido o contato da fimbria do vestido tocar o pavimento, ocorreram repetidas e manifestas levitaes, que foram assinaladas em belssimas curvas sobre o disco
registrador das variaes do peso.
De outra vez, intentou-se realizar a levitao da mdium, colocando-a sobre larga mesinha de desenho e esta sobre a plataforma da balana. A mesinha impedia o contato do vestido com
o pavimento, e a experincia no logrou xito.
Finalmente, na noite de 13 de outubro, preparou-se outra balana (stadera), com a plataforma bem isolada do pavimento,
distando deste 30 centmetros.
Exercendo-se severa vigilncia, de modo que no permitisse
contato de qualquer maneira entre a plataforma e o solo, nem
mesmo a ponta do vestido de Euspia, a experincia fracassou.
Ao contrrio, em smiles circunstncias, algum ligeiro resultado parece se obtivesse, a 16 de outubro, mas desta vez a experincia no foi certa, havendo dvida sobre se um mantelete,
com o qual Euspia envolvia a cabea e as costas, havia tocado a
ponta da balana (stadera) durante a persistente agitao da
mdium.
Conclumos que nenhuma levitao se conseguiu com a mdium totalmente isolada do pavimento.
e) Aparies de mos sobre fundo ligeiramente luminoso.
Colocamos sobre a mesa um papelo recoberto de substncia
fosforescente (sulfureto de clcio) e espalhamos outros nas
cadeiras e diversos pontos do aposento.
Desse modo vimos perfeitamente o negro perfil de mo que
pousava sobre o papelo da mesa, e ao fundo, constitudo pelos
outros, a mo, projetada em preto, passar e repassar em torno de
ns.
Na noite de 21 de setembro, um dos nossos viu repetidas vezes, no uma, porm duas mos se projetarem simultaneamente
113
115
j) Havendo um dos nossos deposto, no incio da sesso, o sobretudo em cima de uma cadeira, fora do alcance da mdium, no
final da sesso foram vistos, trazidos para cima de um carto
fosforescente, que estava sobre a mesa, diversos objetos que o
dono do sobretudo reconheceu, de imediato, serem os existentes
em um dos bolsos internos do dito sobretudo.
Deve-se registrar que a mdium comeou a lamentar-se e a
fazer gestos de desgosto, queixando-se de que algo lhe havia
sido posto em torno da garganta e a apertava.
Ligada a luz, no se encontrou mais o sobretudo no lugar anterior, mas, fixando nossa ateno sobre a mdium, que estava
atordoada e de mau humor, nos apercebemos de que lhe estava
s costas o dito sobretudo, com os braos enfiados em cada uma
das mangas; entretanto, durante a sesso, as mos e os ps da
mdium estiveram sempre controlados pelos dois vizinhos, pelo
modo habitual.
Compreende-se que nesta, mais do que em qualquer outra ocasio, a confiana no xito de um fenmeno to grandioso
repousa plena na segurana e na continuidade do controle das
duas mos; ora, desde que o fenmeno era de todo inesperado, a
ateno dos vizinhos da mdium no podia atuar de maneira
constante sobre a vigilncia; estes dois experimentadores declararam que a eles no lhes parecia haver abandonado a respectiva
mo da mdium; mas, no havendo outros desvios de ateno
produzidos pelos fenmenos advindos, e tendo sempre fixa a
ateno exclusivamente neste ponto, devemos admitir possvel
(no provvel) que a hajam deixado livre momentaneamente,
sem se aperceberem.
Fenmenos at agora observados na escuridade
e obtidos afinal em plena luz, com a mdium vista
Restava, para chegar a pleno convencimento, tentar obter os
fenmenos importantes da escuridade, sem perder, porm, de
vista a mdium.
117
deira natureza; porm, muito frequentemente so lentos, fatigantes e revelando esforo e concentrao intensa.
Durante a sesso, Morselli sentiu que pesada mo lhe agarra o
brao direito, da qual sente perfeitamente a posio dos dedos,
ao mesmo tempo em que a mdium adverte ainda: Atento! e a
lmpada verde acende e apaga. O interruptor da dita lmpada,
unido a amplo cordo pendente do teto, estava no bolso de
Morselli e este no sentiu mo alguma que ali se introduzisse.
Todos observamos que a lmpada acendeu e apagou, sem que se
percebesse o rudo do interruptor, e como para confirmar a nossa
impresso, a lmpada torna a acender e apagar, vrias vezes, de
igual modo silencioso.
No devemos esquecer uma circunstncia: o acender e apagar
da lmpada correspondiam a pequeno movimento que o dedo
indicador de Euspia fazia na palma da minha mo.
Esta sincronia, entre os fenmenos e os gestos da mdium,
havamos encontrado quase sempre, e notvel o fato de que,
nestes casos, o esforo da mdium se verifica da parte oposta
quela em que se verifica o fenmeno; por exemplo: se o punho
de Euspia se contrai, quem est sua esquerda sente provavelmente um toque de mo e pode reconhecer que tal mo a mo
direita.
Isso um singularssimo cruzamento, uma inverso que pode
ser importante constatar.
Forte mesa, pesando dez quilos e trezentos gramas, situada no
vo da janela e sobre a qual estavam postos uma caixa de placas
fotogrficas e um metrnomo de Morselli, se aproximou de ns e
depois se distanciou. O metrnomo comeou a funcionar e deu
incio ao seu tique-taque regular. Aps alguns minutos parou.
Depois recomeou e tornou a parar. No operao difcil nem
longa pr em andamento e deter um metrnomo, mnima;
todavia, no operao que os metrnomos tenham o hbito de
realizar por si mesmo.
Amide, os objetos vindos mesa medianmica so acompanhados com a cortina preta, como se fossem trazidos por pessoas
123
Fantasmas
Houve tambm, muito mais raras vezes, no final das sesses e
nas melhores sesses, fantasmas verdadeiros.
Anoto entre os mais importantes, por haver sido presenciado
por muitos e por se ter repetido, a apario do falecido filho de
Vassallo.30 E tambm a narrada por Morselli a mim, pessoalmente, se bem que posta em dvida depois, qual a de sua me, que o
beijou, lhe enxugou os olhos, lhe disse algumas palavras e depois
de novo lhe apareceu e acariciou, e para demonstrar a prpria
identidade, lhe ala a mo e a leva sobrancelha direita da
mdium.
No ali disse-lhe Morselli, e encaminha a mo esquerda, onde, perto do superclio, havia um pequeno defeito.
Morselli estava sentado direita de Euspia e Porro esquerda.
Outra apario tive a verificar, eu mesmo, com imensa comoo.
Em 1902, em Gnova, a mdium estava em estado de semiembriaguez e, por isso, pensei que coisa alguma poderia realizar.
Pedindo-lhe, antes de iniciar a sesso, fizesse mover, luz
plena, um pesado tinteiro de vidro, respondeu naquela sua vulgar
linguagem:
Por que te mergulhas nestas ninharias? Sou capaz de muito
mais, sou capaz de te fazer ver tua me; nisto deverias ter pensado!
Sugestionado por essa promessa, altura de meia hora de sesso fui presa do vivssimo desejo de v-la concretizada e imediatamente a mesa acedeu, com seus slitos movimentos, acima e
abaixo, ao meu pensamento; logo depois vi (estvamos em semiescuridade com luz vermelha) destacar-se da tenda uma figura
um tanto pequena, qual era a de minha me,31 velada, que fez um
giro completo em redor da mesa, at chegar a mim, sussurrandome palavras que foram ouvidas pelos demais (no por mim,
devido minha surdez), tanto que, quase fora de mim, pela
emoo, supliquei que as repetisse, e ela repetiu:
127
mecnica, porque os 3 quilos de mais provinham dos movimentos descompassados de Euspia, de vez que a mesa pesava 10
quilos.
Euspia aumentava e diminua vontade seu prprio peso e o
das mesinhas. A 45 centmetros de distncia, e no interior da
cmara, pde provocar a ruptura de um tubo de borracha da
balana onde estava sentada, tubo que, antes de ser mutilado,
sofre um estiramento e depois uma presso. Ao mesmo tempo,
rompeu em dois pedaos um lpis, que pedira, e disse: Est
quebrado. Assim tambm, pouco depois, quebrou em trs
pedaos pequena mesinha de madeira que lhe haviam posto
detrs da cadeira, e no se compreende como pde anunciar o
nmero de fragmentos a que foi reduzida, estando s escuras e de
costas.
Sobre a fronte, ao lado direito de Euspia, se observavam luzes azuladas, fosforescentes, e uma espcie de centelha rsea,
porm ampla, aos ps da mesa. Euspia tirou de mquina eltrica, posta a dois metros de distncia, trs fascas que se perceberam depois sobre sua cabea; fez brotar tambm centelhas nos
cabelos e nas mos dos assistentes.
Agia sobre eletroscpios; descarregava-os lentamente, os dedos a dois centmetros de distncia do contato.
Podia produzir fenmenos, luz plena, ao final das sesses e
ainda no incio, quando se apaixonava em mostrar o seu poder
medinico.
Mostra ter sensibilidade a distncia. Dizia, por exemplo: Este barro (a dois metros de distncia) mole ou muito duro, e
assinalava a viscosidade de um objeto distanciado, e assim,
distncia, podia provocar rupturas de objetos, exteriorizao da
sensibilidade e da motricidade.
131
CAPTULO II
Resumo dos fenmenos medinicos de Euspia
Morselli resume nesta sucinta sntese os fenmenos oferecidos por Euspia em transe.33 So eles, de forma catalogada:
Primeira classe Fenmenos mecnicos, com produo de
movimentos nos objetos ainda em contato com a pessoa da
mdium, que Euspia produz facilmente, tanto na obscuridade
quanto luz plena.
1 Oscilaes e movimentos da mesinha, sem significao.
2 Movimentos e golpes da mesinha, tendo significao, so
frequentssimos. Os golpes correspondem linguagem convencional usada por Euspia (2 golpes, no; 3, sim, etc.) e
regulam geralmente o andamento da sesso.
Verdadeiramente, nas sesses de Euspia a tiptologia se reduz
a pouca coisa, em comparao s maravilhosas comunicaes de
carter pessoal ou de ordem filosfico-social, dadas por outros
mdiuns.
Em compensao, a mesinha, com Euspia, tem riqussima
linguagem, que se pode dizer mmica; e se assemelha de um
menino, se bem que parea sorrir e, ao contrrio, escarnea,
quando no canta certas rias.
3 Levitao total da mesinha at 78 segundos.
4 Movimentos de objetos diversos, apenas tocados pelas
mos ou corpo da mdium, que no so explicveis com a debilssima presso por ela exercida.
5 Movimentos, ondulaes, inflao das partes da cmara
medianmica, sem que Euspia possa faz-los com as mos e
com os ps, que esto sob severo controle.
6 Movimentos e inflao da vestimenta da mdium.
Segunda classe Esta classe o aperfeioamento da primeira. Os efeitos mecnicos se produzem sem contato algum com a
pessoa da mdium, a distncias que podem variar de poucos
centmetros a um metro. So os mais discutidos, porque em
132
133
mim. So pirilampos indefinveis, no mais das vezes de contornos esfumados e algumas vezes globinhos lucidssimos, semelhantes s chamadas lgrimas batvicas, mas invertidas; outras
vezes tambm so verdadeiras lnguas de fogo, como se veem
figuradas sobre as cabeas dos apstolos. No foram ainda
fotografadas (que eu saiba), porm so evidentssimas, s vezes
mltiplas e intermitentes, sendo impossvel e at absurdo, para
quem as haja visto uma s vez, compar-las (no digo assimillas) a fosforescncias artificiosas.
35 Surgimento de nuvens ou nebulosidades esbranquiadas. Estas no parecem dotadas de luz prpria, pois que s se
distinguem a uma dbil claridade, aqum da tenda ou no interior
da cabine; alguma vez, circundam a cabea de Euspia ou se
elevam sobre o seu corpo, quando est deitada no gabinete.
Deixo para final as materializaes visveis que aparecem
formadas com uma substncia ou matria sutilssima, emanante
da pessoa da mdium e composta de partculas ou molculas que
interceptam a luz ordinria (teleplastia).
36 Formao de prolongamentos escuros do corpo da mdium. So os membros supranumerrios entrevistos e descritos
por todos aqueles que fizeram experincias com Euspia. Visveis mdia ou debilssima claridade, e quando as mos anatmicas ou verdadeiras de Euspia esto vista e bem controladas,
estes apndices neoplsticos executam muitos dos fenmenos
acima descritos (contatos e apalpaes nos mais prximos,
sacudir de cadeiras, transporte de objetos, etc.).
37 Sada de formas com a semelhana de braos e mos,
do gabinete preto.
38 Apario de mos. Est entre as mais comuns e antigas
manifestaes espiritistas. As mos aparecem de contornos
quase sempre indecisos ou evanescentes, de cor esbranquiada,
prximo de difanas, e com os dedos estirados. Eu as percebi
muito bem, todas as vezes que me foi dado achar-me em situao
favorvel para v-las, e no eram as mos da mdium, as quais
ao mesmo tempo estavam no s controladas, mas tambm
visveis de todos sobre a mesinha.
137
138
CAPTULO III
Fisiopatologia de Euspia.
Influncia e ao dos mdiuns
Euspia Paladino estudada clinicamente 34
Vejamos agora se a explicao de todos esses maravilhosos
fenmenos se pode encontrar no organismo da mdium. Com
este escopo, vamos estudar um: Euspia, por exemplo, clnica e
fisiologicamente.
Nos caractersticos externos, primeira vista, Euspia nada
apresenta de anormal, salvo certa mecha de cabelo branco que
rodeia um afundamento no parietal esquerdo, depresso causada
no se sabe bem, se pelo golpe de uma caarola, dado pela
madrasta, ou pela queda do alto de uma janela, quando contava
um ano de idade.
Pesa 60 quilos, e o peso varia pouco depois das sesses; tem
estenocrotafia (ou seja, dimetro bizigomtico maior do frontal,
127 a 113); dolicocefalia com ndice ceflico 73, que tnica;
circunferncia da cabea normal, 530; assimetria, tanto do crnio
quanto do rosto, por maior desenvolvimento da direita.
O olho esquerdo apresenta o fenmeno de Claude BernardHorner, comum nos epilpticos; as pupilas coretpticas, no alto e
interno, reagem escassamente luz, e bem, ao invs, acomodao.
A presso arterial, medida com o esfigmmetro de RivaRocci, deu o seguinte resultado: 1 prova direita, 200,
esquerda, 230; 2 prova direita, 200, esquerda, 239.
Oferece, pois, uma assimetria na presso, que frequente nos
epilpticos, e, tal qual estes, apresenta notvel canhotismo ttil,
assinalando o estesimetro nas polpas da direita grande obtusidade, 5 milmetros, e menor na esquerda, 2,5. A sensibilidade
geral, estudada com a trena de Ruhmkorff, apresenta, ao contrrio, destrismo, assinalando a distncia de 73 milmetros direita
e 35 esquerda; a dolorfica 60 direita e 30 esquerda, mostrando-se de todo modo muito mais delicada do que nos normais,
139
142
Foi tambm vista por Faifofer, antes da sesso, colhendo flores em um jardim, furtivamente, para simular apports na sesso
da noite, prevalecendo-se da escuridade.
Parece ainda que tivesse aprendido, de algum pelotiqueiro,
truque especial, por exemplo, aquele de simular rostos humanos,
com o movimento das duas mos circundadas de um leno
ajeitado guisa de turbante.
Todavia, sua maior dor, mesmo durante a sesso, quando
acusada de truque (preciso dizer que s vezes injustamente),
porque s agora temos a segurana de que membros medinicos
se sobrepem aos seus naturais e fazem as vezes destes e foram
tidos como sendo dela.
Tem memria visual bastante vivaz, a ponto de recordar 5 em
10 testes mentais apresentados em 3 segundos; e o dom de
lembrar com grande vivacidade, especialmente fechando os
olhos, os contornos das pessoas, com a viso exata de poder
desenhar os traos caractersticos.
Retm perfeitamente srie de 5 nmeros,38 mas comete erros
na srie de 6, e tambm se equivoca em recordar palavras, especialmente as de mais de trs slabas; tem uma faculdade de
associao de ideias de todo elementar, e assim o papel s lhe
evoca a ideia de caneta, e o co a fidelidade; infiel lhe a memria para figuras lineares.
A mdia dos tempos de reao simples auditiva foi nela de
113 milsimos na 2 prova. Tem ndices morbosos, que vo at
loucura histrica; passa rapidamente da alegria tristeza; tem
fobias estranhas: por exemplo, a de sujar as mos, temer a escuridade; fortemente impressionvel e sujeita a sonhos, malgrado
sua idade madura.
Tem, no raras vezes, alucinaes, e com muita frequncia v
sua prpria sombra; na infncia acreditava ver dois olhos que a
fixavam por detrs das rvores e das sebes. Quando se encoleriza, especialmente se a ofendem em sua reputao de mdium,
violenta e impulsiva, a ponto de maltratar seus adversrios.
Estas suas tendncias contrastam com uma singular bondade
de nimo, que a faz empregar seus ganhos para aliviar a misria
143
dos pobres e das crianas; que a faz sentir pelos velhos e pelos
dbeis uma piedade sem fim, que a leva a perder o sono, e a
impulsiona a proteger os animais a ponto de maltratar os seviciadores.
Antes da sesso, e s vezes no correr dela, pode prever o que
se far, se bem que depois no se recorde se se obteve ou no,
quanto prometeu, e nem sempre acerta o que se gabava de fazer.
No princpio do transe (copio Morselli na sua belssima diagnose), sua voz se faz rouca; todas as secrees, suor, lgrimas e
at o mnstruo aumentam.
hiperestesia, especialmente esquerda, se sucede a anestesia; faltam os reflexos pupilares e tendinosos, se ocorrem tremores, miostenia, a que sucede amiostenia, paresia, especialmente
na direita.
Igual aos faquires, quando quer entrar em transe, diminui a
respirao, passando de 28 inspiraes a 15, 12 por minuto,
enquanto que, ao contrrio, o corao aumenta as pulsaes de
70 a 90 e at a 120; as mos so presa de estremecimento e
tremores, as articulaes dos ps e as mos tm movimentos de
flexo e extenso e, outro tanto, se enrijecem.
A transio deste estado ao sonambulismo ativo assinalada
por bocejos, soluos, suores na fronte, transpirao nas mos e
estranhas expresses fisionmicas; ora parece presa de violenta
clera, que se manifesta por ordens imperiosas e por frases
sarcsticas contra seus crticos, ora dir-se-ia vencida por um
xtase voluptuoso-ertico.
No estado de transe, antes de tudo, empalidece, volta as pupilas para cima, o branco do globo ocular vista, agita a cabea
para um lado e outro, e depois fica exttica e tem muitos daqueles gestos frequentes no acesso histrico: bocejos, riso espasmdico, mastigao frequente, viso a distncia e linguagem s
vezes seletssima e tambm cientfica, ideao rapidssima, que
lhe permite apreender os conceitos dos presentes, ainda que eles
no os expressem em voz alta ou os exprimam em misteriosa
forma.
144
Morselli notou em seu transe todos os caractersticos do histerismo, a saber: 1) amnsia; 2) a personificao com a de John
King, em cujo nome fala; 3) gesticulaes passionais, ora
erticas, ora sarcsticas; 4) obsesso, principalmente de no ter
xito nas sesses; 5) alucinaes.39
Nos fins do transe, quando ocorrem os fenmenos mais importantes, experimenta grande sede (fenmeno de polidipsia,
prprio das histricas); agitada de verdadeiras convulses e
grita qual uma parturiente. Por fim, cai em sono profundo, e da
mossa do parietal se evapora um fluido quente, sensvel ao tato.
Depois da sesso, Morselli notou nela canhotismo exagerado:
42 quilos na esquerda e 18 na direita; hiperestesia na esquerda;
reflexos rotulares abolidos; pulso debilitado, 90; peso diminudo
de 2.200 gramas.40
Assim como exercita em transe sua motricidade, fora das suas
vias anatmicas, assim tambm percebe sensaes visuais e
tteis sem a interveno costumeira dos rgos dos sentidos
especficos, e assim d notcias de coisas que ocorrem em nosso
derredor, em posies no acessveis sua vista, nem de nenhum outro, notcias que depois se comprovavam verdadeiras; e
mostra durante o transe conhecimentos que no tinha antes, nem
conserva depois. Durante toda a sesso, permanece em contnua
ligao com os presentes, exprime as prprias opinies e a sua
prpria vontade, seja viva voz, muitas vezes pronunciando mal
as palavras, qual um paraltico progressivo, seja com golpes que
se sentem provir, ora da mesinha, ora de outros objetos, seja em
lngua italiana, seja em idioma estrangeiro.
Depois da sesso medinica, tem a sensibilidade morbosa,
hiperestesia, fotofobia e, amide, alucinaes e delrio, no qual
pede que a vigiem para que no se lhe faa mal, e sofre graves
distrbios de digesto, e vmitos se houver comido antes da
sesso, e, finalmente, tem paresia das pernas, pelo que necessita
que outros a conduzam e dispam.
Jourevitch notou que a hiperestesia em zonas, nas falanges,
no dorso da mo, no omoplata e no lado esquerdo da cabea.
145
146
CAPTULO IV
Condies e influncias dos mdiuns
No so estes fenmenos morbosos s de Euspia, pois que
se verificam em quase todos os mdiuns.
A clebre mdium E. Smith 41 tinha av, me e um dos irmos sujeitos a fenmenos hipnticos e medinicos; tinha obsesses e alucinaes desde criana e, mais tarde, acessos de sonambulismo, dismenorreia e, no transe medinico, completa
anestesia de uma das mos, e aloquiria, pelo que, espetada na
mo direita, sentia a dor na esquerda, e tambm acreditava ver
esquerda objetos que estavam direita.
Na Sra. Piper o transe comea com ligeiras convulses clnicas, seguidas de estupor, respirao estertorosa.42 Tornou-se
mdium depois do susto por um raio, e aps duas operaes em
tumores.
Home declarava produzir os mais maravilhosos fenmenos
quando estava em letargo, o que o impedia de bem recordar-se
depois; teve enorme atraso no seu desenvolvimento, e aos 6 anos
ainda no caminhava; depois de um pleito com a Sra. Lyon,
sofreu congesto cerebral, paralisia, amnsia.
No letargo dizia os Espritos se apoderam de mim,
mudam o meu todo, meus gestos, e at meu corpo pode estender-se de oito polegadas.
No tem influncia sobre os fenmenos, deseja muitas vezes
realiz-los, mas no obtm xito, visto que ocorrem quando ele
est no leito, adormecido.43
Cada em transe escreve, de si, dEsperance , experimento uma sensao de vcuo e perco o sentido do espao;
no saberia dizer, por exemplo, onde que movo o dedo,
como se o movesse na gua.
Nas materializaes lhe sai primeiro do abdmen um vapor
luminoso, que se transforma num ser vivo, transformao essa
to rpida que no se sabe qual se forma antes, se o corpo, se a
vestimenta.
147
153
155
CAPTULO V
Mdiuns e magos entre os
selvagens e os povos antigos
Esta preponderante ao dos mdiuns, nos fenmenos espiritistas, est confirmada pela observao de que todos os povos
primitivos e selvagens, e tambm o nosso vulgo, especialmente o
dos campos, veneram alguns seres, magos, feiticeiros, santarres
e profetas que so verdadeiros mdiuns, os quais, segundo esse
vulgo, se cr hajam transformado as leis comuns do tempo, do
espao e da gravidade: ver distncia, predizer o futuro, elevarse no ar, passar atravs dos corpos opacos, transportar-se num
relmpago a milhares de quilmetros, etc., estar em comunicao
com seres extraterrenos, diabos, santos e, acima de tudo, com as
almas dos mortos.
Comeando pelo nosso vulgo, leio em Pitr 52 que em Siclia
crena popular que os inspirados (homens nos quais entrou um
Esprito, ou diabo, no corpo) falam todas as lnguas, so bons ou
maus, segundo os Espritos que tenham no corpo; e que s
podem ser libertos por outros inspirados mais potentes do que os
outros e chamados caporali dos Espritos, verdadeiros magos
que frequentemente discutem entre os colegas acerca da sua
superioridade; um tinha Espritos benignos e falava ingls; outro
possua malignos, emitia sons inarticulados e, epilptico, caa ao
cho.
Exorcizam-se os inspirados com certas oraes, com atadura
de um leno no brao, com puxo dos cabelos, com a queima de
incenso em braseiro, com sopapos, pauladas, murros no peito.
Em lugar dos caporali, algumas vezes conseguem o mesmo de
certos santos, especialmente com S. Filipe.
As bruxas (stria, magara) tm aspecto ora de gatos, ora de
morcegos e, feias, velhas de mau sangue, no saem de dia;
aparecem meia-noite, tratam de matar ou corromper meninos
no batizados at 49 dias de nascidos. Quando praticam um
malefcio (fattura), vencem a vontade da vtima como que hipnotizando-a, e assim esta no pode exercer sua prpria liberdade;
156
Ungindo com a saliva, neutralizam qualquer mordedura venenosa; com pequeno basto, que batem no solo, encantam qualquer
animal, inclusive as lombrigas nas crianas; adivinham o porvir e
transmitem a todos os seus descendentes estas qualidades, reconhecidas oficialmente nas Pandetas protomedicais de Siclia
(Pitr). Tm uma espcie de Meca ou cidade santa, em Palazzolo-Acreide. l que fazem moradia e os mais famosos domnios;
l que realizam uma procisso, no dia de S. Paulo, conduzindo
serpentes nas mos.
Benevente De Blasio 53 pde estudar, nas circunvizinhanas
de Benevente, 2.000 magos, aproximadamente 1% da populao,
e precisamente 180 janare (bruxos), 1.391 occhiardi provocadores de vento e 89 magos, 47 enganadores, muitos deles
histricos, 242 epilpticos, 333 bbados, 339 muito sanguinrios;
todos usam uma gria e gestos especiais; distinguem-se os que
maleficiam dos que desmaleficiam.
Portugal No h pais da Europa onde os impostores ganhem tanto dinheiro quanto em Portugal. A so velhas que
predizem o porvir, preparam filtros de amor e executam outras
obras de feitiaria. Em Lisboa, o bairro onde predominam
chamado da judiaria ou Mouraria. O Weltspiegel anota que a
Idade Mdia revive naquelas espeluncas. As pitonisas leem o
futuro na gua, no chumbo, no espelho, nas borras de caf, e
preparam as suas drogas segundo todos os preceitos da arte: com
ossos de mortos, crebro de co, peles de gato, cauda de salamandra. A polcia intentou muitas vezes pr termo a essas comdias da superstio, que repetidas vezes degeneram em tragdia, porm sempre em vo.54
Vosges 55 Nos Vosges se cr que os bruxos vos podem extraviar do caminho; fazer tomar folha por ouro; com um sopro,
um olhar, um gesto, secam a medula dos ossos; inoculam mil
ferres na pele; envenenam as estrebarias; destroem as colheitas
com as suas ervas; com as suas oraes podem fazer dos demais
o que quiserem; nos seus espelhos malditos fazem aparecer os
mortos e os vivos, e para isso no mister deixar em suas mos
fragmentos de unhas ou de cabelos. Na sexta-feira noite, e
especialmente no sbado, vo ao bosque e so por isto ento
158
Ide cascata de Umgeni, l encontrareis os cavalos, amarrados, mas os ladres lhes cortaram a cauda e a crina.
Muitos policiais foram mandados ao local por mim indicado e encontraram os animais, conforme eu havia dito. Os ladres, que estavam prontos para os levar, foram aprisionados.
O adivinho se serve, para suas investigaes, de ossos de animais, quando no de bastes, que atira ao solo. Alguns se
servem dos bastes, baseando-se na posio em que caem no
cho: se horizontalmente, a pergunta recebe resposta negativa; se
bate contra o cliente, a resposta positiva.
Se se trata de enfermo do estmago, os bastes devem cairlhe sobre o ventre, mas se batem, ao invs, em outro ponto, quer
dizer que o mal reside ali.
Tylor 64 e o missionrio Rowley narram de um bruxo que se
serve, para descobrir uma ladra, de dois bastes, morada de um
Esprito, o qual, passando pelo esconjuro, aos quatro jovens que
seguram os bastes, os impeliam rumo cabana do ru. Os
quatro jovens, com efeito, excitados pelas contores e gritos do
bruxo, depois de alguns minutos foram presa de nervoso tremor,
que se transmudou em verdadeiras convulses, durante as quais,
em carreira louca pelas moitas, foram cair esfalfados e sujos de
sangue na cabana de uma entre as mulheres de um chefe, que era
a ladra.
Na ndia
Passando ndia, a terra clssica da magia e do ocultismo,
encontramos os faquires, que so brmanes de 2 grau, os quais
j cumpriram um largo perodo de iniciao e so especialmente
destinados a produzir fenmenos espiritistas. Constituem (diremos com linguagem europeia) os mdiuns da ndia.
Luis Jacolliot, cnsul em Benares,65 pde aproximar-se de
mais de um e, ainda que no crendo nas suas teorias espiritistas,
certifica que:
165
lo para o ar. O fio comeou a desenrolar-se e a subir at desaparecer. Ento, ordenou a um menino que subisse por aquele fio. O
menino obedeceu e em breve desaparecia tambm. O homem
mandou depois que descesse, e no foi obedecido.
So fatos to estranhos que provocam cepticismo.
No Extremo Oriente
Mongis Kiernan 68 diz que entre os povos nmades da
Monglia os fenmenos apresentados pelos magos-fetiches,
Shaman so totalmente smiles epilepsia, pelos furores e suas
vises; que ambos os estados se confundem (como ocorre com
os gregos e os latinos) sob o nome nico de doena sagrada. E
sempre se acreditou que fossem devidas a alguma influncia
sobrenatural, benigna ou maligna, conforme o que se procedia
para aplac-la ou expeli-la.
Em certas tribos siberianas, a virtude medinica, a fora sciamana, sobrevm de pronto, qual enfermidade nervosa: manifesta-se por debilidade e tenso nos membros, tremores e gritos
inarticulados, febre ou acessos convulsivos, epilpticos, at que
os atingidos caem em insensibilidade, pois pegam e atiram para
cima ferros candentes, sem dano algum; tornam-se delirantes at
quando, de improviso, apanham o tambor mgico e comeam as
manifestaes. Depois se acalmam. Se encontram oposio ao
seu profetar, tornam-se estpidos ou loucos furiosos.69
Entre os chineses Passando China, encontramos, nos conventos dos lamas, monges budistas, as mais maravilhosas prticas espiritistas e, entre outros, os fenmenos de invulnerabilidade. Nos Souvenirs dun voyage dans la Chine et la Tartarie,
escritos pelo padre Huc, antigo missionrio apostlico, e em Di
Vesme (obra citada), se encontra o relato de maravilhoso caso de
invulnerabilidade de um lama, o qual, abrindo o ventre com a
faca sagrada, recolheu na mo direita um pouco de sangue do seu
ferimento, levou-o boca, nele soprou trs vezes e depois o
atirou para o ar, emitindo grande grito; passando em seguida,
rapidamente, a mo sobre a ferida do ventre, tudo voltou ao
173
Em todos esses povos as prticas mgicas eram mais especialmente dirigidas para a adivinhao do porvir.
Hebreus Nos tempos de Saul os profetas eram bem mais
raros, mas Samuel fundou um Seminrio exclusivo, em Rama.
sabido que entre os hebreus, ser louco ou nevrtico era um ttulo
para passar por profeta, e Saul foi reconhecido profeta quando se
despojou de seus vestidos.72 No 1 Livro de Samuel vemos
turmas de falsos profetas correrem desnudos pelos campos,
comerem imundcies e cortarem-se as mos. Sob os Reis, depois
de Jeroboo II, cerca de sete sculos antes da era vulgar, o
profetismo assumiu importncia sempre maior. Pode-se dizer
que os hebreus interrogavam seus profetas tal qual hoje se vai
consultar as sonmbulas, e assim os gregos e romanos aos orculos.
Gregos Em todos os graves assuntos, os governos helenos
expediam a Delfos, para que trouxessem as respostas, plenipotencirios, chamados teori, e tambm os romanos, pois no
tinham orculo nacional, se voltavam, em caso de necessidade,
para l. Junto de alguns orculos era usada a mediunidade do
copo dgua.
Na vizinhana de Telemesso, havia um templo de Apolo onde
os consulentes, fixando o olhar em um poo, viam, em imagem,
a resposta s suas perguntas.73
Segundo Apuleio,74 que se reporta a Varo, o xito da guerra
Mitridtica foi predito aos habitantes de Tralles por um menino
que olhava num copo dgua.
Outros orculos davam as respostas por meio de sonhos (oniromancia). Tais eram os orculos de Amfiarao, perto de Potnia, e
em Oropo, aquele de Pasife, em Talamia, na Lacnia, aquele de
Calcante, na Daunia. Os dedicados a Esculpio, existentes em
Epidauro, em Roma, etc., estavam particularmente consagrados
cura de enfermidades, tal como ocorre agora no santurio de
Lourdes, no de Caravaggio, etc.
Os autores informam que a sacerdotisa de Delfos, no entusiasmo, falava idiomas ignorados por ela, exatamente como sucede
com os nossos mdiuns. Tambm o orculo de Amon falou em
176
rio, no qual se pretendia faz-lo parecer ru de magia e conspirao, desapareceu de improviso da presena do imperador e de
toda a corte. A desapario de Apolnio se deu pouco antes do
meio-dia; antes do pr-do-sol, encontrava-se em Pozzuoli, com
seus dois discpulos, Demtrio e Damide, que para ali havia
antes enviado.
Certo dia, enquanto ensinava Filosofia, sob os prticos de feso, ele baixou o tom da voz, como que tomado de espanto, e
gritou:
Ferido, ferido o tirano!
Alguns dias depois, chegou a feso a notcia do assassnio de
Domiciano, e o dia e a hora da morte estavam perfeitamente
concordes com as indicadas por Apolnio.
Entre o Messias e os apstolos
So conhecidos os dotes taumatrgicos de Jesus.76 No Talmude se diz: Na viglia da Pscoa, Jesus foi crucificado, por ser
dado magia e aos sortilgios.
Bem frequentemente Jesus operava curas, com a imposio
das mos.
Todos os que tinham algum mal se precipitavam para ele,
para toc-lo. (S. Marcos).
Como nota Di Vesme, as curas logradas por Jesus, deste modo, no eram sempre instantneas, mas demandavam, s vezes,
a repetida aplicao da sua virtude curativa, revestindo as formas
de simples fenmeno espiritista. No direi, para abreviar, das
transfiguraes de Jesus, a exemplo daquela notabilssima do
Monte Tabor, presentes os apstolos Pedro, Tiago e Joo, as
quais se assemelham s hodiernas transfiguraes dos mdiuns.
Nas atuais sesses espiritistas, o mdium frequentemente se
transforma e assume a imagem do Esprito que opera ou nele
parece operar.
Apstolos Frequentes eram entre eles os fenmenos espiritistas. Nos Atos dos Apstolos, cap. II, se l:
178
179
bruxas, porque especialmente usada para descobrir os feiticeiros. Atirava-se gua a pessoa, bem atada com uma corda da
qual uma das pontas ficava na mo dos julgadores; o acusado era
tido por inocente, se afundava, e ru se sobrenadasse. Esta
crena no menor peso das bruxas fazia que elas fossem condenadas, quando a balana marcava menos que o seu peso normal.91
Assim, no famoso processo de Seghedino, em 1728, foram
queimadas 13 feiticeiras, que, atiradas gua, no ficaram na
superfcie, como se fossem de cortia, e pesadas depois, no
excederam meia ona de seu peso.92
Os juzos de Deus no eram desconhecidos dos antigos gregos, e Sfocles, na Antgona, fala de um acusado, o qual, para
provar sua inocncia, estava disposto a apertar com a mo um
ferro candente, e atravessar o fogo.93
Os celtas se serviam de trs espcies de provas: o ferro em
brasa, a gua fervente e o duelo.94
Mas, foram os germanos que deixaram nos Ordlios maiores
pegadas do que qualquer outro povo, e difundiram este costume
na Idade Mdia.95 Um juzo de Deus peculiar dos germanos o
duelo, quando o impunham os tribunais ou as leis. Raciocinavase que o Altssimo no poderia deixar sucumbir um inocente,
quando dbil, e no lhe multiplicasse as foras, paralisando as do
adversrio.96 Frequentemente usada era, contudo, a prova do
fogo, a qual, na Germnia e, consequentemente, em toda a
cristandade, consistia em fazer passar entre duas piras o acusado,
no mais das vezes com uma camisa coberta de cera.
Pedro Aldobrandini, em 1063, provou a simonia e a heresia
do Bispo de Florena, atravessando, descalo, um fogaru formado por duas pilhas de lenha, de 10 ps de extenso, 5 de
largura e 4 e meio de altura, entre as quais havia passagem
suficiente apenas para uma pessoa. Corpo e roupa ficaram intactos. E sofreram tambm prova de fogo, com xito igualmente
feliz, Bonifcio, que pregou o Evangelho aos germnicos e aos
russos, Pedro Gonzalez e S. Guilherme.
184
escrfulas e tumores cirrosos e cancerosos. Vi fazer amadurar, no espao de cinco dias, tumores que datavam de muitos
anos. Estas curas no me induziram a crer que se tratasse de
coisa sobrenatural. Ele tambm no o pensava e o seu modo
de curar prova que no eram milagres, nem influncia divina.
Ao que parece, emanava do seu corpo um fluido balsmico e
salutar. um dom de Deus.
Jorge Fox, fundador dos ququeros, converteu talvez menos
gente com as predicaes do que com as curas.
Estigmas dos santos
Depois que S. Francisco de Assis deps o generalato de sua
Ordem e se retirou para um lugar deserto do Apenino toscano,
julgou ouvir a voz do Altssimo que lhe ordenava abrir o Evangelho, a fim de que seus olhos lessem o que devia fazer de mais
grato ao Senhor.
Trs vezes o santo abriu o Evangelho, e trs vezes caiu sob
seu olhar a parte onde narrada a Paixo do Cristo.
Desde esse dia, o serfico se tornou absorto na contemplao
daqueles sofrimentos. E eis que, no dia da Exaltao da Cruz (14
de setembro), enquanto estava imerso nas suas contemplaes,
viu um anjo descer do cu at ele, sustendo um homem crucificado. Quando desapareceu, S. Francisco experimentou, nos ps e
nas mos, sensaes dolorosssimas, seguidas de chagas sanguinolentas, por entre as quais se viam cravos, formados por excrescncias do tecido celular; por um lado apareciam aguados e por
outro tinham a cabea rebatida, de modo que entre eles e a mo
se podia insinuar um dedo; eram mveis em todos os sentidos:
quando se empurrava uma extremidade, sobressaa a outra, mas,
no obstante, no podiam ser arrancados e, ainda aps a morte de
S. Francisco, Santa Clara, em vo, tentou faz-lo. Nas costas,
tinha o santo outro estigma: o do lanao de Longinos, de trs
dedos de extenso, bastante largo e profundo.
A esses estigmas, que duraram at sua morte, jamais se aplicou curativo e, sem embargo, no supuraram.
188
190
195
fogo, que o ajudem no trabalho; por ltimo lhe aparece o fantasma do chefe-morto, que o obriga a danar e a estar inquieto.
Na Sumatra, por um dia inteiro, o candidato deve permanecer
num cesto suspenso na janela de uma casa, com um mnimo de
alimento, e durante esse tempo de quase india, rogando aos
deuses que o tornem invulnervel. Se o cesto se agita, significa
que o Esprito penetrou no candidato; ento o espetam, ferem-no
com lana e espada, e as feridas cessam de manar sangue e se
fecham quando tocadas por ele com a mo.
Ao Thay-Phap, mdico-profeta dos anamitas, se prescreve
uma dieta especial: no pode comer carne de co ou de bfalo,
mas deve alimentar-se sempre de uma certa planta que tem as
folhas em forma de corao.
Os gangas, de Luango, s podem beber em certos stios e horas determinadas do dia; tm igualmente muito limitada a alimentao de carne, com proibio da de alguns quadrpedes,
mas, em troca, podem comer muitos vegetais.
***
Outro mtodo consiste em provocar convulses e delrios,
com movimentos precipitados da cabea ou com substncias
inebriantes.
Os aissau, seita de fanticos, difundida entre os rabes da
Arglia, devem sua origem a Mohamed Ben-Hissa, que, maioral
de uma caravana, rodeado de todos os perigos do deserto; insolao, simun, ladres e fome, recorreu ao expediente extraordinrio do fanatismo religioso, l onde a fora humana pouco valia.
Quando a caravana estava faminta, ele, em nome de Al, mandava comer escorpies e serpentes, e quando estes faltavam, ordenava o djedjeb, os gestos que faziam calar a fome. O djedjeb
um mover violento dado cabea, da esquerda direita, enquanto os braos permanecem pendentes e as pernas acompanham os movimentos da cabea e do tronco. Depois de uma hora
de semelhante exerccio, sobrevm uma espcie de furor e de
embriaguez, que logo se transforma em estado de insensibilidade.122
202
205
Uma vez descoberto como com estas prticas obtinham a ebriedade e as convulses estados to anormais que s podiam
ser interpretados, pelos povos primitivos, como sendo uma
obsesso dos deuses, uma segunda, uma nova personalidade que
lhes parecia sagrada, divina , aplicaram tais prticas para entrar
em comunicao com os deuses, de igual modo que se serviam
dos epilpticos e dos loucos, e mais tarde dos intoxicados e
inebriados.
***
Mais frequentemente, em verdade, recorreram s substncias
embriagantes. Os sacerdotes antigos, que primeiro notaram a
ao estimulante das bebidas fermentadas sobre a mente, reservaram-nas para eles, declarando-as sagradas, como, por igual
motivo, declararam sagrada a epilepsia.
A lenda afirma que a vida nasceu de uma gota de sangue divino cada na Terra, o meth, bebida da feiticeira nrdica de
Quasio, o mais sbio dos deuses. Deuses foram Lieo, Osiride,
Dionsio, inventores da vida e iniciadores da civilizao. Baco
o deus salvador, o deus mago, o deus mdico, e deixa ainda
rastos da sua grande influncia na blasfmia: Sangue, corpo di
Bacco!
Os egpcios s permitiam o vinho aos sacerdotes. O vinho entra no grau de licor sagrado nas liturgias, nas libaes e ablues.123
O sacerdote indiano um bebedor de soma. Ao suco da Asclpias, fermentado, ao soma, atribua a inspirao potica, a
coragem dos heris e a faculdade de imortalizar a vida (Amritam, de onde o abrtono dos gregos, a gua da vida, o lcool).124
No Rig-Veda (VIII, pgina 48) se l: Havamos bebido o
soma, fizemo-nos imortais, entramos na luz. 125
No Yacna, de Zoroastro, o suco do Haoma, que o mesmo
soma, distancia a morte.126
O mesmo soma se torna um deus, a rivalizar com o fogo:
Soma, tu que fazes os Richis, que ds o bem, tu imortalizas
homens e deuses, se l no Rig-Veda.127
206
O soma s era permitido aos brmanes, tal qual no Peru a coca s se concedia aos descendentes dos incas e, entre os Chibcha,
aos sacerdotes que se serviam dele como agente de inspirao
Note-se que o soma se denomina madhu, em snscrito, e
que, em zend, tem significado de vinho, o que liga o Med nrdico, o Madus lituano e o Mad snscrito com o nosso louco, e, com
efeito, Baco, que nasceu deus, derramado em honra aos deuses,
e o delrio bquico uma virtude proftica e a possesso do
deus; Esculpio filho de Baco.128
Parece que os primeiros a observarem os efeitos benficos e
malficos do vinho criaram a lenda da rvore da cincia, ou do
bem e do mal, o que se pretende fosse precisamente da ma, de
cuja putrefao saram os primeiros licores fermentados.
Os assrios tiveram exatamente uma rvore sagrada, a rvore
da vida, que era primeiro a asclpias, depois a palma, de onde se
extrai ainda agora um licor fermentado. Com os egpcios, era o
Ficus religiosus, cujo suco fermentado tornava imortal a
alma.129 Outros recorreram aos eflvios de gases txicos.130
Os orculos de Delfos, de Delo, de Abe, de Tegiro, etc., na
Grcia, estavam em mos dos sacerdotes, que faziam profetizar
uma, duas e por fim trs histricas, depois de as intoxicar com
fumaa de louro e com as emanaes de alguns gases. A pitonisa, essencialmente, se preparava com ablues, fumigaes de
louro e de cevada queimada. Sentava-se numa trpode, com uma
bacia de mo, sobre uma fenda que exalava gases txicos
hidrocarburetos e hidrossulfuretos (segundo me escreve Giacosa)
, que lhe envolviam toda a parte inferior do corpo,131 at que
caa em transe, to enrgico que, s vezes, terminava com a
morte; outras vezes, falava em verso e delirava com verbiagem
descosida, qual os sacerdotes davam sentido apropriado e
tambm forma rtmica, valendo-se para isso de poetas especiais.
Nos labirintos de um penhasco de Delfos escreve Justino
havia pequeno plano e neste um buraco ou fenda na terra, pelo
qual manava um sopro frgido, que saa com a fora igual do
vento, para o alto, e que mudava a mente dos poetas em loucura
(mentes vatum in vecordiam vertit, XXIV);132 ao princpio, era
207
do Liebescaia permanece no local para fazer a toalete do jovem, lavando-o cuidadosamente com sabo, polindo-lhe as
unhas e, depois de nova inspeo do lugar, para certificar-se
de que no h substncias cidas, que tm efeito antagnico
ao da poo da qual diremos, ambos se agacham em um ngulo da casa e dormem at manh seguinte. Ao raiar o dia,
chega o Liebescaia-chefe, acompanhado de um servo, com
bolsa de couro a tiracolo, com todo o necessrio para a atuao; conduz o jovem para fora da casa e o faz sentar-se no
cho; apresenta-lhe um cachimbo amarelo, que afinal uma
cabaa ocada, com gua dentro, e um canudo longo, aderido
de um lado, com boquilha para sorver, e outro tubo aplicado
no extremo da cabaa, com um fornilho para acender o fumo.
A preparao da droga se faz com duas ou trs espcies de
ps, um cor de caf, outro violeta e um terceiro de cor por
mim desconhecida. Dessa mistura se derrama parte em uma
cubeta de madeira, que contm leite, mas, antes de d-la a
beber, fazem-se passes cabalsticos com a cubeta e com o vaso sobre a cabea do jovem. Outra parte da amlgama posta
no fornilho do cachimbo, adicionada de um pouco de fumo
aceso. O jovem, depois de haver bebido do vaso, absorve
com fortes aspiraes o fumo do cachimbo, enquanto o chefe
lhe queima incenso debaixo do nariz. Depois de vrias e profundas fumadas, o jovem comea a respirar mais frequente,
os olhos parecem saltar das rbitas, congestiona-se-lhe o rosto, at que, de um salto, sai correndo, com um basto para abrir caminho, e o ajudante o segue, segurando-o pela borda
da vestimenta ou pela extremidade do lenol que leva enrolado em redor do tronco.
Na vez que presenciei este fato, o rapaz, derrubada uma
cerca do recinto, depois de haver divagado aqui e ali, entrou
em uma cabana indgena, mostrou que o ladro havia sado
dali, reconstituindo seu percurso e reproduzindo as pegadas
que aquele teria deixado; depois, reentrando na cabana, atirou-se ao solo, qual corpo morto, dormindo prazenteiro sono
de cerca de hora e meia. Despertando, deram-lhe a beber qua209
tro ou cinco copos de gua, que vomitou, ficando, embora visivelmente exausto, desperto como antes da hipnose.
O dono da cabana foi, deste modo, acusado de furto. Encontrado o ladro, ou o que se acreditava o fosse, o infeliz
logo atado. Sequestram-lhe a casa, os utenslios e o dinheiro,
at que haja restitudo o roubo ou pago seu valor e mais as
custas judiciais.
s vezes, o desgraado um pobre que no tem nada de
nada, e ento constrangido, para se livrar dos cepos, a angariar a soma imposta entre os piedosos que o queiram ajudar.
Justia estranha, mas qual ainda os que dela descreem esto sujeitos de bom grado, porque expedita, e, com todos os
seus erros, corta cerce as questes e evita um longo processo.
Todos a ela recorrem, at o Negus, que deixa tenham crdito
tais usanas, s quais ele prprio no d muito valor, mas que
tm o salutar efeito de fazer medo aos ladres. Todavia, a
fraude ocorre no meio da fraude mesma, se esta como tal se
devesse considerar, pois se diz acontecido o caso de algum
ladro pagar o Liebescaia para fazer recair a culpa sobre um
inocente.
Foi tambm cmico o caso de um Liebescaia que vimos no
crcere de Adis-Abeba, acusado por um colega, com os
mesmos materiais do ofcio, de falsidade em um furto praticado por aquele.
A profisso de Liebescaia monoplio secreto de certas
famlias privilegiadas, que o transmitem de gerao em gerao. O segredo est, naturalmente, na composio dos ps.
Sendo vedado aproximar-se do Liebescaia, enquanto est em
funo, para impedir qualquer indiscreto exame, s resta o
recurso da induo. Certo, naquele estado, o mago dos ladres corre, como se v frequentemente, por toda parte, superando impunemente os passos mais perigosos, caminhando
presto pela borda de precipcios, saltando espinhosas moitas e
altos muros, sem cair, nem se ferir e detendo-se somente no
local do delito. Cr-se, porm, que, atravessando um curso de
gua, a ao hipntica desaparece. Pareceu-me reconhecer,
no odor da fumaa do cachimbo, o cheiro da cnabis ndica
210
Creio, em troca, que especialmente para os magos se pretendia, com a abstinncia absoluta, provocar aqueles transtornos
sexuais que se refletem com enorme excitamento do sistema
nervoso, que pode conduzir ao histerismo e, assim, mediunidade.134
Mulheres preferidas ao homem
Mas, existe outra prova ainda mais curiosa na preferncia
que, por este aspecto, o da castidade, se dava preferncia
mulher.
Nos povos selvagens, e assim nos povos mais antigos, as mulheres, salvo raras excees que explicaremos, eram tidas em
grande desprezo, e alguma vez em horror. Sobejam as provas.
Nos barca 135 homem e mulher ocupavam rara vez o mesmo leito, porque, diziam, o hlito da mulher debilita o marido.
Em Vitria do Oeste (Western W.), a mulher menstruada no
pode comer, nem beber; ningum toca nos alimentos que ela haja
preparado, porque debilitariam. Entre os dayaks, de Bornu
Noroeste, aos jovens vedado carne de animais selvagens, que
o alimento especial para as mulheres e os velhos, pois que os
tornaria tmidos qual o cervo.
Um zulu recm-casado no ousa entrar em batalha: se vai,
ferido, pois os homens dizem que o regao de sua mulher
impuro, isto no evidente intuito de fazer medo infeco da
timidez feminil.
Na tribo Wivaijuri,136 probe-se aos meninos brincar com as
meninas e com os omahas, os que o fazem so depreciativamente
acoimados de hermafroditas.
Entre os samoiedos, os ostiakis e outras populaes bramnicas, as mulheres so olhadas como que contaminadas, tanto que
o homem evita, inclusive, tocar nos objetos a elas pertencentes e,
por isso, as mulheres tm loua e utenslios especiais, e s podem andar, nas lojas, pelos ngulos que lhes esto assinalados;
no podem passar na mesma rua dos homens; tambm no se
podem aproximar do fogo, porque at este ficaria contaminado.137 Se algum homem obrigado a fazer uso de utenslios
212
213
distinguir os verdadeiros dos falsos santos;144 os mesmos caractersticos davam os hebreus aos profetas.
Ora, estes fenmenos, vistos singularmente, parecem justamente inverossmeis, porm surge a grande verossimilhana, por
no dizer a certeza, do fato de que se repetem em pocas, em
regies e em naes diversas, sem ligaes histricas entre si, e
algumas, ao contrrio, em completo antagonismo religioso e
poltico. E, a exemplo dos nossos mdiuns, trazem nevroses
graves e do lugar aos maiores prodgios, quando em estado de
coma, xtase, catalepsia, e tambm agem como se estivessem em
um espao de quarta dimenso, sob a influncia de seres diferentes dos vivos e que prestam aos mdiuns momentnea superioridade sobre os viventes privados desta associao.
objeo de que as maravilhas medinicas se tornaram rarssimas, fcil responder que, como vimos pouco acima, nos
nveis populares so frequentssimas, e que seriam tambm mais
frequentes nas outras classes, se fossem acolhidas pela opinio
pblica, porm so negadas ou esquecidas, como se no houvessem ocorrido. Isto se depreende, porque a Estatstica, a Histria e
a imprensa suprem a curiosidade do pblico, dando respostas
mais seguras de fatos distantes e ainda sobre as probabilidades
futuras.
Eu, que por muitos anos venho estudando os fenmenos hipnticos, to anlogos aos espirticos, observei que muitos destes
deviam ter sido mais frequentes em tempos anteriores, em que a
magia, a telepatia, a revelao em sonhos e a profecia estavam
to disseminados, e em que havia profissionais para as provocar
e comunicar.
provvel que em tempos antiqussimos, em que a escrita era
embrionria, a transmisso do pensamento dos hipnotizados, a
profecia e a magia medinica fossem mais repetidas e mais
resguardadas. E que, por isso, os povos selvagens, em vista da
sua maior frequncia nas mulheres, nos castos e nos neurticos,
chegassem a escolher entre estes os seus mdiuns e faz-los ou
cri-los artificialmente.
223
225
CAPTULO VI
Limites influncia do mdium
Tudo isto prova e confirma a grande influncia do mdium
nos fenmenos espirticos, que pareceriam devidos projeo e
transformao da sua energia, visto seu enorme esgotamento
depois das sesses, perda de foras e peso ao ocorrerem fenmenos na sua imediata vizinhana, etc.
Seria, porm, enorme exagero acreditar que tudo isto fica explicado, embora primeira vista esta hiptese nos sorria. Assim,
em verdade fcil supor que, quando ocorre a transmisso do
pensamento, a distncia, aquele movimento cortical, no qual
consiste, se transmita pelo ter a grande distncia, de um crebro
predisposto a um outro e que o pensamento, movimento molecular do crebro, se propague em vibraes etreas e que, como
essa fora se transmite, possa tambm transformar-se, e de fora
psquica converter-se em motora e vice-versa, tanto mais porque
temos no crebro centros que presidem oportunamente o movimento e o pensamento, e que, quando irritados, e assim nos
epilpticos, provocam ora movimentos violentos das artes, ora as
grandes inspiraes do gnio ou o delrio do louco.
Mas, justamente Ermacora me fez observar que a energia do
movimento vibratrio est em razo inversa do quadrado da
distncia, e ento, se se pode explicar a transmisso do pensamento a curta distncia, mal se compreende os casos de telepatia
de um a outro hemisfrio terrestre, que se produzem em idnticas
manifestaes espirticas, e mal se compreende como este movimento vibratrio fira o percipiente sem sofrer desgaste, mantendo um paralelismo de milhares de quilmetros e partindo de
um instrumento no fixado sobre base imvel.
Se a exteriorizao da motricidade e da sensibilidade encontrada por Albert de Rochas no mdium explica muitos fenmenos espiritistas, por exemplo, que o mdium veja, em transe, a
distncia, na escuridade, com os olhos fechados; que sinta os
pontaos feitos no fantasma; que se transporte com o pensamento a distncia, e alguma vez com o corpo a um ponto distanciado,
226
Certo dia, disse Euspia ao Sr. R.: Este fantasma vem por
tua causa. E imediatamente caiu em profunda letargia. Apareceu ento mui formosa mulher, com os braos e espdua cobertos com as bordas da cortina, porm deixando adivinhar as
formas. Cobria-lhe a cabea vu finssimo, soprou clido hlito
no dorso da mo de R., levou-lhe a mo aos cabelos e lhe mordeu levemente os dedos. Nesse entretempo, Euspia dava gemidos prolongados que denotavam penoso esforo, que cessou ao
desaparecer o fantasma. Este foi visto por dois outros dos presentes, e voltou mais vezes. Pediu-se-lhe ento que se deixasse
fotografar. A isso assentiram Euspia e John, mas o fantasma,
acenando com a cabea e as mos, se ops e rompeu por duas
vezes a chapa fotogrfica. Pediram que se obtivesse ao menos o
molde de suas mos, mas, desta vez ainda, o fantasma fez repetidos gestos de negativa, com a cabea e as mos, e, conquanto
Euspia e John prometessem interceder pelo nosso desejo,
nada conseguiram.
Na ltima sesso, a promessa de Euspia se tornou mais intensa, e os habituais trs golpes de assentimento se repetiram
vrias vezes, e, com efeito, se ouviu na cmara o rudo de mo
submergindo no lquido; segundos depois, R. teve na mo um
bloco de parafina com o molde completo, porm, uma mo
fludica, sada da cmara, o fez em pedaos. Tratava-se soubemos depois de mulher viva, porm adormecida, outrora
amante de R., residindo na mesma cidade, e que tinha grande
interesse em no deixar prova da sua identidade.
assim evidente, pois, que nos fenmenos espiritistas pode
interferir uma terceira vontade que no a do Esprito, nem a do
mdium, nem dos presentes sesso, mas, ao revs, contrria
de todos juntos.
Os Espritos do com frequncia aos mdiuns instrues acerca do regime de vida que devem seguir e, se estes se opem,
eles os obrigam at fora.
Aksakof narra, por exemplo, o caso de um mdium muito guloso, ao qual o Esprito proibiu carne, ch, caf e fumo. Quando
o mdium se dispunha a transgredir-lhe as ordens, o Esprito o
advertia por meio de golpes sobre a mesa em que estava comen230
do. E, se acontecia no se desse por entendido, a mesa se colocava em oposio direta com ele, e alguma vez a voz mesma do
Esprito se fazia ouvir para exort-lo a seguir as prescries
dietticas que haviam sido impostas. A sade do mdium terminou assim se restabelecendo completamente. Mas, uma vez em
que, numa travessia martima, se deixou vencer pela tentao de
fumar um charuto, foi amargamente castigado, porque, apenas
desembarcado, durante um transe, foi atirado violentamente ao
cho, e um coto de charuto lhe foi introduzido fora na boca.146
E quando o mdium abusa das faculdades e se entrega a excessos que possam ter funestas consequncias para a sua sade,
os Espritos que dele se servem recorrem nessas ocasies a meios
violentos para reconduzi-lo razo, como se v no seguinte caso
que Aksakof 147 tirou de um artigo de M. Brackett:148
Uma viva, que abusava de suas faculdades medinicas, foi
muitas vezes advertida pelos Espritos para que moderasse sua
ao, mas, porque no os quisesse ouvir, certo dia estes a convidaram a descer adega e a entrar em um tonel. Um seu irmo,
mdico, que j duvidava das faculdades mentais da irm e a
julgava louca, surpreendendo-a naquele lugar, confirmou sua
opinio e a fez encerrar em uma Casa de Sade. E porque ela se
lamentasse com os Espritos pelo mau gracejo que lhe haviam
feito, eles responderam: Fizemos para teu bem, a fim de te
subtrair runa moral e fsica para a qual te encaminhavas. Aqui,
ao menos, te tranquilizars. E assim acontece em muitos casos.
Os fatos precedentes poderiam explicar-se ainda admitindo
que, em parte, fossem desejados das vtimas, porque redundam
em seu proveito, mas veremos que no so raros os casos de
pessoas perseguidas ferozmente pelos Espritos, para que, contra
toda a vontade, se faam mdiuns, e ainda sem razo alguma.
conhecido o caso do Dr. Dexter, cptico dos fatos do Espiritismo
e do qual lhe repugnava ocupar-se, apesar de constrangido por
uma srie de perseguies.
Certo dia, estava sentado em seu gabinete com o pensamento bem distante do Espiritismo , quando, de golpe, sentiu num
brao estranha impresso como se duas mos o tivessem apertado altura do ombro. Tentou ergu-lo, mas no o conseguiu. Em
231
estavam guardados e se cravavam nas portas e janelas. Retornados herdade, os fenmenos se reproduziram com maior violncia. Certo dia, luz plena, pesado canap, onde repousava a me
de Schtchapov, se elevou do solo e comeou a danar, caindo
depois em sua posio normal; os objetos ardiam, e um dia at a
esposa dele se viu de repente rodeada de chamas que lhe destruam os vestidos, porm coisa curiosa no lhe causaram queimadura alguma.
No pode ser o inconsciente do mdium o agente de todos esses malefcios, mas deve tratar-se certamente de fora estranha
sua vontade, porque, inconsciente e instintivamente, trataria de
defender-se de atos to danosos.
E assim se diga dos primeiros involuntrios propagadores
americanos do Espiritismo, da famlia Fox, cujas revelaes
foram provocadas por violentas perseguies, s quais em vo
tentaram esquivar-se.
notvel que no transe espirtico se manifestem energias motrizes e intelectivas muito diferentes e, vez por outras, maiores e
frequentemente desproporcionadas com as do mdium, energias
que fazem supor a interveno de outra energia, de outra inteligncia, ainda que transitrias.
Assim, para a fora muscular, vimos que, h tempos, a fora
dinamomtrica de Euspia, correspondente a 36 quilos, subiu,
por ao do brao fludico, que ela dizia ser de John, e em
pleno dia, a 42 quilos, ou seja, aumentou 6. Nestes ltimos
tempos, em que estava afetada de diabetes e albuminria, e sofria
de esgotamento pelo excesso de sesses, a sua dinamometria
desceu para 15 e 12 quilos. Pois bem: em uma sesso, com
Morselli, em Gnova, a fora no dinammetro chegou a 110
quilos, e em uma sesso, em Turim, projetou tal fora que rompeu durssima mesa, fora que se pode calcular, no mnimo, em
uma centena de quilos. Em 80 quilos se deve presumir a fora
necessria para elevar do cho a mesa com o editor Bocca sobre
ela, e muito mais ainda para arrastar, por segundos, Bottazzi
sentado em uma cadeira cujo peso total era de 93 quilos. O
mdium de Ochorowicz, cuja fora de 120 quilos, chega, em
transe, a 240.151
233
Mas, se j difcil explicar estes fenmenos com a s projeo e transformao das foras psquicas do mdium, que dizer,
pois, daqueles casos em que o mdium se eleva muito lentamente
do solo, com a prpria cadeira, sem pousar os ps, sem nenhum
apoio e, alm disso, contra a vontade dos controladores?
Oportuno recordar aqui que o centro de gravidade de um
corpo no se pode deslocar no espao sem que atue sobre ele
uma fora externa. Sob a ao nica de foras internas se pode
certamente ter deslocamentos particulares em regies do corpo,
mas os deslocamentos dessas partes so sempre de natureza a
manter inalterada a posio do seu centro de gravidade.
Como se pode, pois, explicar a levitao de Home, que gira
em posio horizontal em redor de todas as janelas de um palcio, e que se sente levitar enquanto dorme, e aquela dos dois
Pansini, de Bari, que percorrem 45 quilmetros em 15 minutos?
No se admite a explicao dada por John a Ochorowicz de
que das mos dos assistentes e das do mdium emana um fluido
que se eleva, qual um feixe de fios, e sustm os corpos, que
caem, se quebrada a corrente.
Mas, quem assistia Home e Pansini em seus voos? Alm disso, em uma levitao de Euspia, em Milo, John me disse:
Agora eu levo a mdium para cima da mesa. E, com efeito,
toquei duas mos fludicas, sob as axilas de Euspia, que ajudavam a levant-la.
Uma observao ocorre ainda a acrescentar: nas sesses, o
movimento dos objetos tem uma espcie de orientao, como se
fossem conduzidos por mos (Barzini); algumas vezes, ao contrrio, a mo fludica foi vista, a plena luz, pizicar o bandolim,
soar tambor, pr em andamento o metrnomo, sem chave, e a
mo era maior que a de Euspia.
Verdade que o maior nmero de fenmenos motrizes e os
intelectuais, mais intensos, partem sempre das proximidades do
mdium, especialmente do seu lado esquerdo, onde, sendo
canhoto no transe, mais potente. certo que tais fenmenos
so precedidos de movimentos sincrnicos da mdium; v-se em
volta da sua saia ou do seu dorso, a plena luz, sair um corpo
234
235
242
CAPTULO VII
Experincias fisiolgicas com os mdiuns
No se pode estudar o grande problema medinico seno atravs de instrumentos de preciso, que impedem todos os erros
de interpretao e premunem contra todas as sugestes. A eles
devemos a soluo de grandes problemas cientficos.
Peso
Os estudos fsicos que mais importam so, talvez, aqueles que
se referem ao peso dos mdiuns e dos chamados Espritos.
Crookes j observara, com a mdium Cook, quando ocorria a
apario do fantasma, que ela perdia quase a metade do seu peso
e que o readquiria depois do desaparecimento do fantasma, o que
seria indcio de que os fantasmas se formam a expensas do corpo
do mdium.
O fato se confirmou depois.
Em uma sesso, com a Srta. Fairlamb, a mdium foi, por assim dizer, costurada em uma rede, cujos sustentculos estavam
providos de um aparelho que permitia registrar as oscilaes do
seu peso. Depois de poucos minutos do transe, o peso comeou a
diminuir gradualmente e, quando apareceu um fantasma, os
aparelhos assinalaram a perda de 27 quilos no peso da mdium,
ou seja, a metade do seu peso normal.
Quando o fantasma comeou a desmaterializar-se, o peso da
mdium foi de novo aumentando, e no fim da sesso no assinalaram mais do que uma perda de um a dois quilos.164 Morselli
notou em Euspia, depois do transe, diminuio de dois quilos e
duzentos gramas no peso, e fora do transe e a plena luz, variaes no peso de 60 e 56 quilos, subindo de novo a 60, e assim
procedendo, alternadamente, vrias vezes, sem que fosse possvel descobrir fraude alguma no fenmeno.165
Em Milo, em 1892, Euspia baixava do seu peso normal de
62 quilos para o de 52.
243
DArsonval, em Paris, experimentou-lhe as variaes do peso, medindo, de segundo em segundo, no correr do transe, e
verificou que, quando se produzia a levitao da mesa, o peso do
corpo de Euspia aumentava com o de toda a mesa. Em outra
experincia, em lugar dos mdiuns, foram pesados os corpos dos
fantasmas que apareciam durante a sesso. Isso se fez, por exemplo, com a Srta. Wood, e constatou-se que o peso dos fantasmas, que se materializavam sob a influncia dela, variavam de
15 a 80 quilos, que era o peso normal dela,166 o que coincide com
a desapario de parte ou de todo o corpo de dEsperance, em
transe, apario do fantasma, fato tambm verificado com a
desapario da manga de Marta, quando aparecia Beni Boa
(Richet).
Resultados interessantssimos se obtiveram tambm, estudando a alterao do peso dos corpos submetidos influncia de
Home: de 8 libras subia a 36 e 48, e depois descia a 46, enquanto
que, em outra experincia, ascendeu a 23 e 43 para descer a 27
libras.167 E, para estudarem cientificamente essa variao de peso
dos corpos sob a influncia dos mdiuns, construram, entre
outros, um aparelho simples, que se compunha de uma tabuinha
de madeira, provida de dois ps, apoiada por uma extremidade
na borda de uma mesa e suspensa pela outra a um dinammetro
no mximo, sustentado por slido cavalete.
Ora, enquanto uma presso se exercitava na extremidade da
tabuinha que pousava na mesa em condies normais, no devia
turbar o equilbrio, Home, com a simples imposio das polpas
dos dedos, obtinha o abaixamento da tabuinha, at fazer descer o
ndice do dinammetro de 3 a 6 e tambm a 9 libras.168
Antes de Crookes, o Dr. Hare havia construdo um aparelho
semelhante, com o qual o mdium s podia ter comunicao por
meio da gua e, todavia, o dinammetro assinalou uma tenso de
18 libras.169
Bechterew, da Universidade de Petersburgo, fez Home impor
as mos sobre um aparelho construdo de modo que a presso
delas diminusse, em vez de aumentar, a tenso do dinammetro;
contudo, assinalou a de 150 libras, sendo a normal de 100.170
244
Morselli 171 notou, depois da sesso medinica, nos cinco assistentes a diminuio, no dinammetro, de 6 quilos direita e
14 esquerda, e que Euspia, durante o transe, perdeu o canhotismo e fez Morselli se tornar canhoto transitrio.
H alguns anos vimos que a fora dinamomtrica de Euspia,
correspondente a 36 quilos, subiu, por ao de um brao fludico,
que ela dizia ser de John, a 42 quilos, em pleno dia, ou seja,
um acrscimo de 6 quilos.
Nestes ltimos anos, em que ela est afetada de diabetes e de
albuminria e sofre de exausto, pelo excesso de sesses, a sua
dinamometria desceu a 12 quilos. Pois bem: em uma sesso com
Morselli, em Gnova, a sua fora ao dinammetro chegou a 110
quilos, e em uma sesso, em Turim, John desenvolveu tal
energia que chegou a romper uma mesa, fora que se pode
avaliar, no mnimo, em uma centena de quilos.
Crookes anotou o nmero de pulsaes cardacas de Katie
King, diferentes das da mdium; Richet verificou a emisso de
cido carbnico na respirao do fantasma Beni Boa.
Mas, acima de tudo, notveis so os resultados obtidos nestes
ltimos tempos, aplicando tambm ao estudo dos fenmenos
medinicos os mtodos do registro grfico, que conquistaram
tanta importncia nas cincias modernas experimentais. A 18 de
fevereiro de 1907, colocamos no gabinete medinico um cardigrafo de Marey, comunicando por meio de um tubo que atravessava a parede do dito gabinete, com uma pena sobre cilindro
enfumaado. A pena escrevente estava situada a 51 centmetros
da parte lateral esquerda do gabinete medinico e cerca de 1,50m
da mdium. Tudo preparado, rogamos a John que apertasse o
boto do cardigrafo. Aps minutos, ouvimos o rudo da pena
que deslizava pelo cilindro e que, posto a rodar, nos ofereceu
dois grupos de curvas que rapidamente decrescem; uma parte do
segundo grupo se entrelaa com o primeiro, por no havermos
podido, na escuridade, afastar a tempo o cilindro.
O primeiro grupo corresponde, segundo o sinal Desprez, a
cerca de 23 e o outro a cerca de 18.
245
e A. Aggazzotti, nas quais foram aplicados os mtodos de registro grfico ao estudo dos fenmenos medinicos.
Esses trs experimentadores escrevem:
Para registrar objetivamente os movimentos que o mdium pode projetar, tnhamos preparado um cilindro rotativo
ao redor de um eixo vertical, que realizava giro completo em
seis horas. O cilindro estava envolto em papel claro recoberto
com uma camada de fuligem. Sobre esta capa roava uma
ponta fixa que, pelo movimento do cilindro, riscava na fuligem e marcava no papel uma linha branca horizontal. Se a
ponta se move de cima para baixo, marca no papel uma linha
vertical. A alavanca escrevente podia ser posta em movimento por um pequeno eletrom (assinalador Desprez) e coligada com um acumulador e um manipulador telegrfico. O cilindro rotativo com o assinalador Desprez estava sob uma redoma de vidro e sobre slida prancha de madeira. A redoma,
provida, embaixo, de grosso rebordo, se fixava tbua mediante uma fita que passava atravs de trs orifcios formados
de pequenos nastros selados com lacre ao eixo; o bordo da
redoma servia de detena fita. Atravs de dois orifcios abertos na espessura da tbua, os fios condutores, provindos
do assinalador, saam da redoma para se introduzirem imediatamente em um tubo de vidro que impedia o contato intencionado ou casual dos fios entre si e, portanto, que fechasse o
circuito eltrico. Dos fios, um chegava ao acumulador. Todas
as pores do fio que no se podiam isolar com vidro eram
envoltas em fita isolante coberta com fita selada com o nosso
sinete. A tecla (manipulador), enfim, estava fechada numa
caixinha de papelo pregada na tbua e fechada mediante duas cintas em cruz e seladas. Dois pequenos furos da caixa davam passagem a dois tubos de vidro que continham os fios
condutores. Acumulador e tecla eram fixados na mesma tbua sobre a qual se achava o cilindro. Em tal disposio, devia-se ter um sinal no cilindro s quando o manipulador fosse
abaixado.
247
Na primeira sesso, foi obtido um traado no cilindro, produzido pela repetida descida do manipulador, executado por efeito
medinico:
Eis o relato da segunda sesso:
Para a segunda sesso havamos modificado o nosso aparelho, e para assinalar, no s os movimentos executados,
mas tambm para medir sua intensidade, renunciamos sinalizao eltrica, substituindo-a pela manomtrica. Com esse
intuito, unimos um vaso com gua, provido de um tubo de
vidro com um manmetro, formado de tubo, e que continha
mercrio. A abertura superior do vaso era coberta por uma
espessa membrana de borracha estreitamente atada ao recipiente. Desse modo tnhamos um espao fechado, cheio de lquido, na extremidade do qual estava colocado o manmetro;
uma presso exercida na membrana traduzia-se em uma alta
na coluna de mercrio, na parte livre do manmetro. E porque sobre o mercrio flutuava uma barrinha provida de ponta
escrevente sobre o cilindro, toda presso ficava registrada em
documento objetivo.
O cilindro rotativo e o manmetro foram colocados fora da
cmara medinica, em posio visvel e controlvel durante
toda a sesso; no gabinete pusemos apenas o recipiente de vidro, sobre cuja membrana devia experimentar-se o poder do
mdium. Este recipiente estava em uma caixeta de madeira
em cuja abertura se havia estendido e pregado um vu; a
membrana de borracha tambm estava recoberta de uma camada de fuligem para comprovar a existncia de impresses
digitais.
Em fotografia feita luz de magnsio, em outra sesso, durante uma levitao da mesa, e que fora gentilmente anunciada, viram-se faixas luminosas debaixo dela. Para verificar se
tais faixas de luz so um fenmeno constante e se atravessam
os obstculos opacos, havamos fixado sob a mesa medinica
uma chapa fotogrfica cuidadosamente envolta em papel preto. A chapa foi fixada com quatro cravos recurvos e resistiu a
todos os choques e estremees violentos da mesa na movimentada sesso.
248
De todos os nossos preparativos no se disse palavra a Euspia, para no impression-la. No serviu de muito a precauo de cobrir com um vu o aparelho; em dado momento ouvimos que se rasgava o vu, e Euspia convidou uma senhora, sentada quase defronte dela, que estendesse a mo, e a senhora sentiu que uns dedos, sados de sob a cortina, lhe entregavam alguns pedacinhos do vu; outros pedaos foram
dados prpria mdium, que os apanhou, erguendo a mo
acompanhada pela do controlador por cima da cabea.
A essa altura, sentia-se mover a mesa onde estava o aparelho e avanar para a abertura da cmara, o que pde muito
bem observar quem estava sentado direita da mdium. Euspia chamou ento para seu lado aquele de ns que ficara fora da cadeia (H), e lhe fez pousar a mo sobre a mesa, frente
a ela, e, acariciando-lhe e palpando-lhe lentamente a mo,
disse:
coisa redonda.
Depois lhe premiu a mo com o punho e acrescentou:
Muito dura.
Com efeito, a membrana sobre a qual se desejava fosse exercida presso estava muito esticada e representava uma calota. Repitamos que Euspia ignorava, no s a forma do aparelho, mas at sua presena ali.
Por desejo da mdium, H. substituiu no controle de vigilncia ao Dr. Arullani, que se instalou esquerda, vizinho ao
gabinete medinico, onde, sbito, sentiu um punho e ps que
o pisaram e uma unha se lhe cravou na mo. Entretanto, alguns dos assistentes observaram uma espcie de nvoa branca em torno da cabea da mdium, e poucos segundos depois
foi ouvido, do interior da cmara, reiterado som que nos advertiu estar sendo tocada a membrana do nosso aparelho. E,
sincronicamente com esses rumores, o controlador da direita
sentiu a mo premida pelo punho da mdium. O aparelho estava direita desta e, no momento em que se deram estes fenmenos, se encontrava a poucos decmetros do controlador e
perfeitamente visvel. No havia ningum na cmara medinica.
249
O Dr. Arullani se aproximou de uma mesa, que, movendose para ele, com violncia, o repeliu; o doutor agarra uma slida mesinha de madeira branca, de 80 centmetros de altura,
90 de extenso e 55 de largura, com o peso de 7 quilos e 800
gramas, que lhe vem ao encontro, e pediu cmara um aperto
de mo, e a mdium respondeu, de viva voz:
Primeiro quero quebrar a mesa, depois darei a mo.
A esta declarao seguiram-se trs novas levitaes completas da mesinha, que caa, cada vez, pesadamente no cho.
Inclinou-se a mesa e passou para detrs da cmara, seguida
por um de ns (F), que a viu tombada sobre o ngulo de um
dos seus costados menores, enquanto uma perna se separou
com violncia, como que sob a ao de uma fora de alavanca sobre ela. A mesa, a essa altura, saiu violentamente como
que arrancada da cmara e, vista de todos, continuou quebrando-se, primeiro pelas junturas, e despedaando-se por ltimo cada parte. Suas pernas, ainda unidas por uma banda,
vieram equilibrar-se em ns, indo parar na mesa medinica.
A mesita se deslocou para o centro do aposento e se elevou
depois completamente no ar. Aps certa espera, durante a
qual se mencionou, falando entre ns, haver uma chapa fotogrfica sob a mesa medinica, e enquanto estvamos todos de
p e a certa distncia da mesa, Euspia fez que Aggazzotti lhe
desse a mo, e subitamente a chapa caiu sobre a dita mesa.
Visitamos o campo de batalha: a mesita nmero um, rota,
em vrios pedaos, de diversos tamanhos. Sob a mesa medinica faltavam dois dos pregos que sustinham a chapa fotogrfica. O nosso manmetro havia traado no papel enfumaado
diversos riscos, dos quais o mais elevado correspondia
presso de 56mm de mercrio, o que indica dadas as propores da membrana elstica que contra ela fora exercitada uma presso igual a 10 quilos aproximadamente. Sobre a
membrana de borracha, coberta de fuligem, encontraram-se
s em parte as marcas do vu rasgado.
Das vrias chapas fotogrficas, duas deram resultado incerto, que no pudemos tomar em considerao, mas, em troca,
uma outra, que esteve alguns segundos segura e controlada
250
por mo invisvel, mostrou claramente a imagem negativa negra de quatro dedos grossos que, pela posio e forma, correspondiam ao indicador, mdio, anular e mnimo: a impresso do polegar parecia existir, mas no era evidente.
Os trs experimentadores no insistem mais sobre esses fatos
ocorridos em circunstncias que permitem um controle perfeito,
mesmo depois da sesso, e assim resumiram:
1 Os sinais do aparelho empregado na segunda sesso
foram produzidos enquanto o cilindro rotativo estava fora da
cmara medinica, de modo que ningum dele podia aproximar-se sem ser visto, enquanto que o aparelho transmissor se
achava encerrado numa caixa de madeira mais alta do que a
membrana elstica, perfeitamente visvel e tambm vista por
um de ns (H). Este sentiu, no momento dos golpes da membrana, presso da mo direita da mdium sobre a sua mo esquerda. A outra mo de Euspia estava na do professor Fo.
O aparelho se encontrava esquerda de Herlitzka, cuja mo
esquerda, como se disse, segurava a direita da mdium, enquanto que a sua direita estava com a do vizinho. Outro de
ns (F), sentado detrs de Herlitzka, vigiava-o, e se, inconscientemente, houvesse ele pressionado a membrana, t-lo-ia revelado. Assim se exclui tambm a participao inconsciente,
nossa, no xito do fenmeno. A vigilncia se estendia mdium e aos demais partcipes da sesso e tambm a ns mesmos. No sabemos dizer por que foi necessria a ruptura do
vu que cobria a caixa de madeira. Decerto Euspia no
compreendeu a importncia que teria a experincia, se o vu
houvesse permanecido intacto, porm no diminui, por isso,
seu valor, quando se considere que o aparelho era visvel
quando se exerceu a presso sobre a membrana.
2 A slida mesa sofreu ruptura completa sob o olhar de
todos, sem que ningum a tocasse; os pregos foram arrancados e as junturas e a tbua despedaadas. A ruptura, como se
disse, ocorreu lateralmente mdium e para a frente e esquerda, ante muitos dos assistentes e em boas condies de
visibilidade. Uma interveno fraudulenta da mdium, com
251
as mos ou ps, se exclui, acima de tudo, porque Euspia estava impedida ao lado de dois controladores e, a seu pedido,
um terceiro tinha as mos nas costas dela, isto porque, frente do grande esforo necessrio para quebrar a mesa, mdium seria preciso fazer movimentos amplos, violentos e certamente no mascarveis. Por outra parte, repitamos, enquanto os controladores vigiavam a mdium, todos os demais viram a mesa, por ningum tocada, fazer-se em pedaos.
3 A chapa fotogrfica, cravada sob a mesa, veio com
mpeto para cima da mesma, enquanto todos os presentes estavam de p, em cadeia, em timas condies de luz; todos,
inclusive a mdium, distantes da mesa, que estava livre e bem
visvel em todas as suas pontas. Os documentos objetivos de
tal fenmeno foram estes: terminada a sesso, a chapa estava
em cima e no embaixo da mesa, e dois pregos, dos que prendiam a chapa, no mais estavam encravados no seu lugar; antes que o fenmeno sobreviesse, Euspia fez que lhe desse a
mo tambm aquele de ns (A) que havia colocado a chapa,
de modo que a mo direita da mdium estava segura, ao
mesmo tempo, pela mo de dois de ns.
4 A chapa fotogrfica envolta em papel preto, que um de
ns (F) manteve sobre a cabea da mdium e que por poucos
segundos estivera mantida por aquela a que chamamos mo,
mostrou, depois de revelada, a marca preta negativa de quatro dedos. Evidentemente se trata de um fenmeno de radioatividade e no de luminosidade, porque a impresso da chapa
foi feita atravs de um obstculo opaco.
Radioatividade
evidente que, ao lado da ao do mdium, nestas experincias se manifesta outra mais dbil, porm frequentemente diversa, que presumimos seja a do morto que obtenha, fundindo-se no
mdium, uma energia para si mesmo, maior do que a medinica.
Mas, isto melhor veremos no captulo seguinte.
Recordemos aqui os muitos indcios de um estado radiante
dos mdiuns em presena dos supostos mortos: a descarga do
252
so da mo de Euspia sobre uma chapa fotogrfica), verdadeiramente de valor extraordinrio, porque, excluda a radioatividade do Dr. Fo 175 e a da mdium, que estava distante, e de mos
inteiramente diversas, resta nica a hiptese de que as radiaes
partissem diretamente do corpo encarnado, cuja imagem apareceu primeiro, tal qual de seres smiles obtiveram-se impresses
na parafina, sobre gesso, sobre chapas fotogrficas, sem analogia
com as formas da mdium.
Com esta experincia, salvo equvoco, nos avizinhamos mais
intimamente dos fenmenos, melhor direi, do organismo assim
chamado espirtico, aqueles representantes transitrios, evanescentes, do Alm, dos quais no se quer admitir a existncia, por
pudor cientfico, no obstante a tradio universal renovada por
milhares de fatos que continuamente repululam sob nossos
olhos. E se descobre que estes corpos parecem pertencer quele
outro estado da matria, ao estado radiante, que agora ps seu p
firme na Cincia, oferecendo assim a nica hiptese que pode
conciliar a crena antiga, universal, da persistncia de algum
fenmeno da vida depois da morte, com os postulados da Cincia, segundo os quais sem rgo no h funo, e isso se
concilia, sob nossos olhos, nas experincias espiritistas.
Com efeito, salvo os casos excepcionais de Katie King, em
Londres, e de Leonora, em Barcelona, nos quais estes seres
espirticos perduram em nosso meio por dias e por anos entre os
vivos, destes fantasmas ns raras vezes vemos rosto e corpo
completos, e mais frequentemente vemos alguns membros, a
mo, um brao, etc., que saem de alguma parte do mdium ou da
cortina da cmara medinica, e tm a tendncia instintiva de
regresso tenda, depois do seu voltear.
E, palpando-os, raras vezes e por pouqussimo tempo ns verificamos o estado slido, porm mais frequentemente sentimos
partir da cortina ou da saia da mdium um corpo fludico que se
infla e se desvanece sob a nossa presso, sem que por isso possamos declarar no existentes, e sim, exatamente por isso, que
formado de alguma substncia 176 que foge ao nosso tato, porque
mais fluida, mais sutil do que alguns daqueles gases cuja exis254
255
CAPTULO VIII
Fantasmas e aparies de mortos
Quando se trata de fenmenos fantasmticos, vem sbito
mente o conselho de Dante:
Sempre a quel ver chha faccia di menzogna,
De luomo chiuder le labbra quantei pote,
per che senza colpa la vergogna. 177
E timo conselho para quieto viver, no caso, no mundo acadmico, que propenso a dissimular, a negar os fatos que se
rebelam a qualquer explicao, tais os precisamente to pouco
aceitveis de influncia do alm-tmulo. Assim mesmo, repito,
se bem seja perigoso faz-lo, nenhuma outra explicao dos
fenmenos espiritistas possvel, seno aquela segundo a qual os
mortos conservam ainda suficiente energia para realizar, sob a
influncia dos mdiuns, o que estes e os assistentes s sesses
no poderiam fazer por si mesmos. E aqui recordo oportunamente que os povos primitivos que creem nos magos, e at os criam
artificialmente, atribuem grande potncia a esses seus mdiuns,
um poder que se baseia, em mor parte, no conselho e ajuda dos
Espritos. E no poder dos Espritos dos mortos todos os povos
antigos acreditaram, como veremos mais adiante, e creem,
tambm, quase todos os povos brbaros do mundo (e foi esta
qui a base de todas as religies), com uma tenacidade e uma
uniformidade que deve ser tida, se no por prova, ao menos por
indcio importante da verdade.
Hiptese fludica
E com isto no viria abater-se a Cincia positiva: tratar-se-ia,
no j de puros Espritos privados de matria, que de resto nem a
nossa imaginao pode conceber, mas de corpos nos quais a
matria est de tal modo sutilizada que s pode ser pondervel
ou visvel em especiais circunstncias, tais os corpos radioativos
que podem desenvolver luz e calor, sem aparentemente perderem
o peso.
256
Oportunamente, linhas atrs, vimos quantos indcios de radioatividade apresentam os fluidos dos mdiuns e dos fantasmas.
Lodge compara as materializaes aos fenmenos do molusco que pode extrair da gua a matria da sua concha, ou ao
animal que pode assimilar a matria da sua nutrio e convert-la
em msculos, pele, ossos, penas. E assim esta entidade viva, que
no se manifesta ordinariamente aos nossos sentidos, se bem
esteja em relao constante com o nosso universo psquico,
possuindo uma espcie de corpo etreo (melhor diremos radiante), pode utilizar temporariamente as molculas terrestres que a
circundam, para confeccionar uma espcie de estrutura material
capaz de manifestar-se aos nossos sentidos.
Isto que cremos compreender por incorpreo produto de
uma concepo fictcia: trata-se, em suma, de um grau de consistncia atenuado, sem qualquer efeito sobre os nossos sentidos.
Verglio, para conciliar na mente de Dante o conceito da prpria materialidade que o torna a ele invisvel, com aquela absoluta transparncia, lhe diz:
Ora se innanzi a me nulla s adombra,
No ti meravigliar pi che de cieli,
Che l uno all altro raggio non ingombra. 178
O ter que enche o espao completamente , todavia, uma
substncia, se bem que no seja diretamente perceptvel; o
prprio ar, do qual se conhecem os elementos, o peso, a densidade, no habitualmente notado como sendo uma entidade corprea. que nossos sentidos possuem uma extenso de perceptibilidade muito limitada ante a ao das possveis influncias
externas; as ondas sonoras, por exemplo, so por ns notadas
dentro de um limite mnimo e um mximo numrico; para alm
deles, no existem sons para ns, nem consequentemente corpos
sonoros.
O mesmo ocorre com a luz, cujo indefinito campo nos foge,
desde que esteja para alm do vermelho e do violeta. Mas fazemos depender dos mdiuns todos os fenmenos espiritistas,
porque vemos os mdiuns e no vemos os Espritos dos mortos.
257
Fantasmas
Isso, porm, no de todo verdadeiro, porque os Espritos
concordam fazer-se visveis, no s dos mdiuns, mas aos no
mdiuns, em materializaes, em fantasmas que as mquinas
fotogrficas reproduziram (vide captulo IX), e viveram momentaneamente uma vida terrestre.
O caso de Katie King, verificado durante trs anos, 18821884, sob a observao dos maiores experimentadores ingleses,
parece-me afastar toda suspeita sobre o fenmeno mais controvertido, o da reencarnao.179
Florence Cook, sem nenhuma disposio anterior, sentiu-se
impulsionada ao mediunismo depois de haver assistido em casa
de uma sua amiga a uma sesso espiritista, quando havia atingido 15 anos de idade. Em sua presena, o velador se elevou at ao
teto e deu golpes, e escritas diretas revelaram sua extraordinria
aptido medinica. Depois de algumas sesses, comeou a
aparecer-lhe o fantasma de belssima jovem, que todos os presentes puderam ver e tocar. Na dvida,180 e para evitar toda
forma de truque, foi a mdium atada, sob selo, sinete-chancela, e
imobilizada em nicho murado, como se fosse mmia, cintados os
braos com fios eltricos que assinalavam qualquer movimento,
e submetida ao controle de Crookes, Gully, Wallace e Varley.
Sem embargo, o fantasma continuou a aparecer, por espao
de trs anos, e foi visto trs vezes simultaneamente com a mdium em transe; no terceiro ano, desaparecia, dissolvendo-se no
solo; disse ser filha de John King.
Escrevia, falava, brincava com meninas, aparecia fora da cmara escura, desaparecia, frequentemente se desmaterializava
vista dos assistentes. Era mais alta que a mdium e, com esta, no
rosto, parecia um pouco, mas enquanto a mdium tinha uma
cicatriz no colo, a pele morena e os cabelos longos e escuros, o
fantasma os possua alourados e curtos, o colo sem marcas, pele
branca, os dedos mais compridos e as orelhas no furadas.
O seu corao, auscultado por Crookes, acusava 75 pulsaes, enquanto que o da mdium pulsava 90, e o pulmo se
mostrava mais sadio do que o da mdium, encatarrado.
258
cessou de aparecer materializada, porm continuou comunicando-se com mensagens e com fotografias transcendentais.
Pude verificar uma vez a apario completa de minha me.
Foi em Gnova, certa noite, com Euspia em estado de embriaguez, pelo que pensei nada seria obtido. Solicitada por mim,
antes da abertura da sesso, a que fizesse mover-se, a plena luz,
um pesado tinteiro de vidro, respondeu, com aquela sua habitual
linguagem:
E por que te enredas nestas pequeninices? Sou capaz de
muito mais; sou capaz de te fazer ver tua me. Nisto devias
pensar.
Sugestionado por esta promessa, depois de meia hora de sesso fui tomado pelo vivssimo desejo de v-la transformada em
realidade, e a mesa imediatamente assentiu, com os seus conhecidos movimentos, de cima para baixo, ao meu pensamento. E
sbito, depois, vi (estvamos em semiescuridade, com luz vermelha) destacar-se da tenda uma figura, algo baixa, velada, que
fez o giro completo em torno da mesa at mim, sussurrando-me
palavras ouvidas por muitos (no por mim, meio surdo que sou),
tanto assim que, quase fora de mim, pela emoo, roguei as
repetisse, e o fez, dizendo:
Cesar, fio mio.
Isto, confesso, no estava no seu hbito; natural de Veneto,
tinha o costume de chamar-me Mio fiol (so, porm, notrios
os erros de expresso dos mortos) Afastando depois, por momentos, os vus do rosto, deu-me um beijo. Euspia nesse instante
estava bem segura, mantida por duas pessoas, e tem estatura no
mnimo 10 centmetros mais alta que a da minha me. Depois
daquele dia, a sombra de minha me (Ah! muita sombra!) reapareceu pelo menos vinte vezes nas sesses de Euspia (quando
esta, em transe, mas envolta no vu da tenda, apenas expondo a
cabea e as mos), dizendo-me fiol e tesoro e beijando-me a
fronte e os lbios. Duas vezes estes me pareceram secos e speros.
A Richet 183 apareceu, em vinte sesses, junto do general Noel, na Arglia, um fantasma, Beni Boa, com elmo e turbante.
260
As sesses eram celebradas em um quiosque isolado de qualquer habitao, ante sete pessoas, quase todas da famlia Noel,
entre elas Marta, a mdium, de 19 anos de idade, e esposa do
filho do general, quase sempre acompanhada de uma preta,
chamada Aisha, que se acreditava tambm fosse mdium.
A cmara medinica era constituda por um baldaquino triangular, fechado por tenda espessssima, dentro da qual se viam
Marta esquerda e Aisha direita.
Destas sesses se obtiveram, simultaneamente, cinco fotografias, luz de magnsio e clorato de potssio, com uma Kodac e
um aparelho estereoscpio Richard, o que exclui toda possibilidade de fraude fotogrfica. As chapas foram reveladas em Argel,
por um ptico que ignorava todo o ocorrido precedente. Na
fotografia emerge, na abertura da cmara, uma pessoa corpulenta, envolta em manto branco que esvoaava; sob o manto, muito
sutil, transparece o cbito, o brao e uma das mos do fantasma,
enquanto a outra mo, completamente materializada, termina em
um vapor branco. esquerda se v o encosto da cadeira de
Aisha, com a espdua esquerda bem clara e distintos os desenhos
da sua veste. Em outras sucessivas fotografias no se v toda a
figura, mas apenas o queixo, a barba e algo do nariz; abaixo do
fantasma, sua esquerda, no lugar de Marta h uma espcie de
manga que parece oca. O pano pendente dos braos esquerdo e
direito como que uma nuvem branca que cobre a cabea e o
corpo de Marta. Os dois mdiuns esto unidos por uma larga
mancha luminosa. Decerto so formas incompletas neste fantasma, porm, apesar disso, bem estudado; pois, exatamente por
tratar-se de seres no vivos e completos, a forma incompleta a
regra, e no exceo, e a estereoscopia exclui toda dvida, dando
direita, mais ntidos contornos da espdua de Aisha, e abaixo,
esquerda, fazendo distinguir bem a manga de Marta em plano
posterior.
Na fotografia estereoscpica, tomada em outro dia, se v nitidamente a figura de Aisha, que se volta para Beni Boa, que tem a
cabea coberta com elmo e em cima do elmo um turbante; uma
espcie de banda lhe cobre a bochecha e a orelha direita. Do
262
Afoguei-me no rio de Caen, anteontem, a esta hora aproximadamente (eram cerca de duas e meia da tarde); eu fora tomar
banho com Fulano e Sicrano. Na gua, tive um delquio e afundei.
Desfontaines lhe relatou em seguida quanto lhe havia sucedido, durante esse ltimo passeio ao rio, e o que havia falado aos
companheiros. Todas as particularidades foram verificadas
verdadeiras por Bezuel, que posteriormente teve ainda, por duas
outras vezes, aparies do amigo.
267
CAPTULO IX
Fotografias transcendentais
A confirmao da existncia dos fantasmas, a prova de que
estes no so um fenmeno alucinatrio, subjetivo, estaria fornecida, completa, nas chamadas fotografias espiritistas, se sobre
algumas no houvesse suspeita. Eis qual a histria e a lenda.
Em maro de 1861, Mumler, gravador da casa Bigelow Bros
e Kermand, que dedicava suas horas de cio fotografia, viu
certa vez aparecer em uma das suas provas uma figura estranha
ao grupo que fotografara e concluiu que uma chapa j impressionada se havia, por engano, misturado com as novas. Mas, uma
segunda prova deu igual resultado, com aparncia humana ainda
mais ntida. Esta seria a primeira fotografia espiritista ou transcendental. A notcia se espalhou rapidamente, e bem depressa o
pobre diletante foi assediado com pedidos que chegavam de toda
parte e, para satisfaz-los, houve de consagrar duas horas por dia
a esta nova indstria. Depois, fazendo-se a clientela sempre mais
numerosa, teve de renunciar ao ofcio de gravador.
Importantes personagens desfilaram ante a sua objetiva, conservando o incgnito, e s a algumas pde conhecer posteriormente. Dizem que aceitava todas as condies que exigissem
para o controle. As figuras que apareciam eram as de seres cuja
recordao preocupava a mente da pessoa que posava.
O clebre fotgrafo M. Black, de Boston, inventor do banho
de nitrato, fez um inqurito acerca do mtodo de Mumler. Por
mediao de um amigo, que precisamente havia obtido uma
prova do fantasma, Black ofereceu 50 dlares a Mumler para que
operasse em sua presena. Com completo escrpulo crtico
julgou dever examinar objetivas, chapas, recipientes e banhos;
no mais perdeu de vista a chapa nos seus preparativos preliminares e ele prprio a levou cmara escura. L, ao revel-la, viu
aparecer o fantasma de um chins sobre a espdua do seu amigo.
Mumler foi em seguida encorajado a continuar publicamente
suas provas; com esse fim, abriu um gabinete em Nova Iorque,
depois de ter convencido seus colegas Silver, Gurney, etc., e no
268
270
Tambm Hartmann, de Cincinnati, por ter obtido dessas fotografias, foi acusado de fraude, porm obteve os mesmos resultados quando uma comisso adversa quis presenciar as experincias e nelas tomou parte.
O que entre tantas incertezas mais fala em prol da fotografia
espiritista o ver que, longe de cessar, depois dos processos
clamorosos contra os fotgrafos, continuou e foi difundindo-se
sempre mais, at nossos ltimos dias.
Recentemente, Carreras 186 contava de dois mdiuns, no profissionais, nem remunerados, de honradez inatacvel, os irmos
Randone, que obtiveram curiosssimas fotografias desse gnero.
Em novembro de 1901, o fotgrafo Benedetto, luz do magnsio, fotografou Randone e o Sr. Bettini, e ao revelar a chapa,
alm da imagem, encontrou uma srie de rastos luminosos e
transparentes.
Na manh de 18 de maro de 1901, Filipe Randone sentiu-se
impulsionado 187 como que por irresistvel sugesto a tentar uma
fotografia transcendental, servindo de mdium uma sua irm.
Desembaraou para isso o recinto da mesa que estava no centro,
colocou uma poltrona e uma cadeira ao lado uma da outra, com a
ideia de que na primeira se acomodasse a mdium e na segunda
pudesse tomar lugar um Esprito materializado, conforme acontecera em vez anterior. A senhorita caiu adormecida, subitamente, estando de p, e ento o irmo a ajudou a sentar-se na cadeira,
por estar mais prxima do que a poltrona. Imediatamente viu que
se formaram em torno da irm como que flocos de algodo
branco, que rapidamente se condensaram em nuvem sobre a
poltrona, direita da mdium. A Sra. Mazza tambm distinguiu
perfeitamente uma figura branca, com cabelos pretos, meio
difusa, ao lado da mdium adormecida, gemendo, como o fazem
todos os mdiuns em transe.
Tomou Randone a mquina fotogrfica, abriu a objetiva, fazendo uma exposio de 30 segundos, finda a qual viu apenas a
irm; antes, o fantasma permanecera materializado de 10 a 12
minutos, sem emitir som algum ou mover-se, parecendo apenas
271
que se agitara quando Randone o tocou, e parece que foi perdendo densidade no momento da pose.
Revelada a chapa, em presena de seis pessoas, chapa controlada e que se reconheceu ser uma das contra-senhadas, apareceu
uma figura que, no negativo, no se distinguiu bem, mas depois
deixou aparecer o fantasma de uma jovem, aparentando 17 ou 18
anos de idade, vestida de branco, com bastos cabelos negros,
que, semelhana de dois bandos, lhe encobriam o rosto.
A pressa e a agitao com que foi feita a fotografia foram
causa de que faltasse a parte inferior do fantasma.
Nenhum de ns a conhecia, porm, em muitas comunicaes sucessivas, dadas pela voz da dita mdium Randone, o
vu do mistrio foi em parte levantado. Com efeito, aquela
personalidade disse, no sem uma certa confuso de ideias,
que desejou comparecer no dia anterior; quando viva, era jovem e bela, to bela, que estava noiva; morrera em 1889; do
vu em que a envolveram foi cortado um pedao que seus
pais conservam; que lhe cortaram o cabelo na parte da nuca;
que eram mui formosos seus cabelos; fora rica e habitava um
castelo nas terras de Ar...
Em uma srie de sucessivas comunicaes, deu outras particularidades: chamavam-lhe Bebela; tivera todas as coisas
rubras sua frente; que fora exposta ao povo durante trs dias e que os aldees vinham contempl-la e diziam:
Pecado! Era to bela!
Viu-se levada a enterrar em um alto, no meio do bosque,
em capela que tem uma janela, pela qual se pode ver o lugar
onde est sepultada; que h uma luz acesa na capela, a propsito da qual fala:
Dizei a Camilo que nem sempre acendem a luz, conforme
ele desejaria. Quando faleci, estavam todos assim de vermelho;188 quando viva, ia com as monjas e com elas brincava.
Por todos estes pormenores imaginei qual famlia podia
ter a morta pertencido. Atendo-me s informaes, averiguei
que, efetivamente, do Prncipe M., em Ar..., em 1889, morrera uma filha de 16 anos e meio, vtima de nefrite consecutiva
272
273
Mas, talvez mais do que tudo, pela autoridade do nome, prevaleam as provas de Stead e de Ochorowicz. Stead nota, ele
prprio, quanto fcil o truque fotogrfico; porm ele se serve
de chapas contra-senhadas e reveladas por ele mesmo, e a garantia se estriba em ser o retrato, perfeitamente reconhecvel, de um
morto cuja existncia era ignorada tanto dele quanto do fotgrafo
que o ajudava.
De tais fotografias escreve obtive diversas provas, porm referirei apenas um bem documentado caso. O fotgrafo,
a quem a mediunidade permite fotografar o invisvel, velho
e sem instruo, clarividente e clariaudiente. Na poca da ltima guerra dos boers, pedi-lhe uma sesso.190 Apenas me
havia sentado diante dele, disse-me:
Outro dia tive uma surpresa: um velho boer se apresentou
no meu estdio, armado de fuzil, e seu olhar feroz me sobressaltou.
Vai-te embora disse-lhe , no me agradam armas de
fogo.
E ele desapareceu. Mas, eis que voltou, entrando com V.
Est desarmado e tem o olhar mais tranquilo. Deve-se consentir que fique?
Certamente respondi-lhe , e poder V. fotograf-lo?
Sentei-me frente objetiva e o operador enfocou a mquina. Nada podia discernir, mas, antes de retirar o chassis, solicitei ao fotgrafo que lhe perguntasse o nome. O fotgrafo
mostrou atitude de formular uma pergunta e de aguardar a
resposta. Depois:
Diz que se chama Piet Botha.
Piet Botha? objetei em tom dubitativo. Conheo um
Filipe, um Lus, um Cristiano, e no sei quantos outros Botha, porm nunca ouvi falar deste Piet.
Ele insiste em que esse o seu nome.
Quando foi revelada a chapa, vi, apoiado no meu ombro,
um tipo galhardo e hirsuto, que tanto podia ser um boer quanto um mujique. No disse nada, mas aguardei o trmino da
guerra, e, chegada do general Botha a Londres, lhe remeti a
274
fotografia, por mediao de M. Fischer, agora Primeiro Ministro do Estado de Orange. No dia seguinte, M. Wessels,
Delegado de um outro Estado, veio ver-me e me disse estar
maravilhado de ver aquela fotografia:
Esse homem meu parente, e tenho seu retrato junto comigo. Foi o primeiro comandante boer que sucumbiu no assdio de Kimberley. Petrus Botha acrescentou , a quem
chamvamos Piet para abreviar.
A fotografia eu a conservo e foi igualmente identificada
por outros colegas dos Estados Livres que conheceram Piet
Botha. Foi por simples acaso que pedi ao fotgrafo o nome
do Esprito.
Este fato no se explica com a telepatia. Ningum na Inglaterra, pude assegurar-me, tinha notcia da existncia de Piet
Botha.
***
Mais importante a fotografia do Esprito-guia de um mdium, obtida por Ochorowicz. Eis o que ele escreveu:
Envio-lhe a fotografia da pequena Stasia, tomada em 6 de
abril de 1909, em cmara vazia, completamente escura, contgua em que nos achvamos, eu e a mdium Tomczyk. A
mdium, colocada frente da porta fechada do outro recinto,
viu, por debaixo daquela, um claro. No podendo v-lo do
lugar onde eu estava, desejei que se reproduzisse; no se fez
possvel naquele momento repetir a fotografia completa. Estavam tambm presentes De Vesme e Manuell.
Pudemos constatar 12 clares medinicos em diferentes
pontos do aposento pouco distante da mdium, da qual eu tinha presas as mos. A fotografia da pequena Stasia foi tomada a meio metro de distncia com um Anastagmot Sutar, com
a chapa Lumire, retirada de uma caixa adquirida expressamente poucas horas antes, e intacta. Esta luz ou claro medinico iluminava s o fantasma e uma parte do encosto da cadeira em que ele estava sentado.
275
279
Noto nesta altura que a muitos profanos devem parecer fictcias tais imagens, porque so carecentes de uma parte do tronco
e do rosto, quando no gessiformes ou rgidas, como se fossem
fantoches plantados em bastes ou neles envoltos.
Mas podemos assegurar haver visto os fenmenos em uma
casa particular, em que preparamos o gabinete medinico e onde
ningum era suspeito, nem podia fazer truques.
Pouco antes, vimos que Stasia aparecia com o tronco quase
completo na fotografia, e ainda Ochorowicz pde constatar que
aquele busto e aquele tronco eram formados com papel secante e
com um pano que se encontrava no recinto.
Ns, como humanizamos os instintos dos animais, errando
frequentemente na interpretao, tambm assim damos por
pessoa completa de ser vivente esses fantasmas que so quase
sempre fragmentrios e incompletos, que se ataviam, com diabrura, com os objetos que se acham ao seu redor, alm do vu
medinico para tomar forma que seja mais acessvel aos nossos
olhos, quando no assumem aquele aspecto de luzes errantes que
talvez seja a sua imagem mais sincera.
Nestas, de Imoda, compareceram sob a forma de bustos, quadros e retratos. Creio, a este propsito, que aquela estranhssima
fotografia que Randone e sua irm obtiveram, de uma certa
Baruzzi, serva residente em Roma, e morta na Sardenha, na qual,
alm da prpria imagem, aparecia a de um bastio de Civitavecchia, ante o qual aparece de novo a mesma Baruzzi, com traos
desvanecidos, ou seja, o misto de uma paisagem e do retrato da
morte.
E a este propsito, recordemos que, pelos ltimos estudos de
Taylor e de Rochas,192 as fotografias espiritistas se devem classificar em 6 espcies:
1) retratos de entidades espirticas, invisveis em condies
normais;
2) flores, escritos, coroas, luzes, imagens estranhas ao pensamento do mdium e ao do operador no momento da
impresso da chapa;
280
Com Reimers, em 1876, renovou-se a experincia, encerrando-se o mdium num saco, que lhe tapava a cabea e as mos. Os
dedos que se obtiveram eram de um centmetro mais curtos e
dois menos na circunferncia dos do mdium; porm algumas
das caractersticas das mos do mdium (tais as rugas da idade)
figuravam entre as do fantasma, que era jovem.
282
CAPTULO X
Identificao de fantasmas
quelas das fotografias espirticas se juntam outras provas
para documentar que as aparies e as comunicaes tiptolgicas
no so iluso imaginativa dos mdiuns ou dos presentes s
sesses.
Nomes
Morselli afirma que, dos Espritos revelados at agora, no se
conhece exatamente o nome, porque so criaes da fantasia do
mdium. Seria esta uma forte objeo contra a realidade dos
fantasmas, porm podemos responder que o mais importante de
todos eles, Pelham, viveu com o nome de Pelhev, e que Katie
King era a Srta. Annie Owen Morgan.
E se verdade que muitos desdenharam revelar seus nomes, o
que se deu exatamente com sua me, e se esconderam sob pseudnimos, tambm certo que, na intimidade, depois de numerosas sesses, muitos, assim Imperator e Rector, terminaram
revelando-os a Stainton Moses.
No ltimo livro de Joire, Les Phnomnes Psychiques, encontro larga srie de indivduos que no s deram seus nomes nas
sesses tiptolgicas da Societ de Studi Psichichi, de Nancy,
seno que tambm provas de identidade, confirmadas 19 vezes
em 20 casos.
Tais foram, por exemplo, Garcia Moreno, que comunicou a
nica palavra pronunciada quando estava para morrer, assassinado a golpes de machete pelo irado Rayo; Henrique Carlos
Montagne, morto no Annam; e precisamente Nhatrant, que
declarou ter sido morto por um tigre, quando estava de servio, e
apelou para o testemunho de Daniel Richer, que confirmou todos
os dados que aquele havia mencionado. E assim Maurcio Bauss,
tecelo em Viry, que declarou haver morrido aos 20 anos, em
Gerbipol, por embriaguez e frio, e o prefeito do dito lugar confirmou tal morte, na neve, em 1877.
283
caram na gua. Todos ignoravam o fato e, como se v, o ignorava, em parte, o prprio comunicante, que o desfigurou. Jerry
tambm recordou que seu irmo Franck, muito jovem, subiu
certa vez ao teto de uma cabana e se escondeu; que deu sopapos
em um tal Joo e foi ameaado pelo pai deste, porm pde fugir.
Tudo isso era verdadeiro, mas ningum o sabia.196
Outra prova de identificao psquica proporcionada pelas
comunicaes do pai de Hyslop, Roberto,197 que faleceu em
1896. Levara vida muito retrada, sofrendo de apoplexia, de
ataxia locomotora e de cncer na garganta, do qual morreu, de
modo que, por 35 anos, no se moveu da distante granja onde
nascera. Religioso, parcimonioso, de limitada mente, usava uma
linguagem de provrbios, que, j morto, repetia, por exemplo:
No fiques de mau humor, no se ganha nada com isso. Ainda que no tenhas o que desejas, aprende a contentar-te com o
menos e no fiques mal humorado.
Tudo isso a Sra. Piper teria podido recolher das recordaes
dos presentes; mas ele, um dia, acrescentou:
Como est Tom?
Tratava-se de um cavalo, morto anos antes, do qual o filho
ignorava a existncia, de modo que teve de fazer longa investigao para entender a pergunta. Ainda pediu notcias de um
gorro preto que, afirmou, usava. O filho de nada sabia (era filho
do primeiro matrimnio), porm a sua madrasta confirmou o uso
de tal gorro, durante muitos anos antes, e confirmou tambm a
existncia de uma garrafa redonda e outra quadrada, que teria
tido sobre a sua mesa, garrafas a que continuamente se referia
em suas comunicaes.
Lembras-te dizia ao filho da faquinha preta com que eu
cortava as unhas e guardava depois no bolso da jaqueta?
Embora o filho de nada soubesse, a madrasta informou que,
em verdade, muitos anos antes, ele a usou, mas guardava-a no
bolso da cala e no no da jaqueta. Falou de um filho no muito
bem, mas recomenda, a propsito, o costumeiro: No fiques de
mau humor.
287
pelo genitor, mas que, em verdade, foi por ele saldada, antes
de expirar. O jovem ficou triste, angustiado e admirado de
que o pai no houvesse, no testamento, dito palavra sobre esse dbito. Mas, numa das noites seguintes, eis que o pai lhe
aparece e indica o lugar onde o recibo se conserva. O jovem
se dirige ao local, acompanhado do magistrado, e, assim, no
s confundiu a calnia, como recuperou o recibo que seu pai
se esquecera de levar quando pagou o dbito.
Outro caso referido por Ernesti,201 outro pelo Dr. Kerner 202
e um terceiro por Party.203 O mais curioso narrado por Machish:204
O Sr. R., de Bowland, foi chamado ante o Tribunal para pagar
considervel soma que lhe era reclamada, e que seu pai havia
satisfeito. Buscou o recibo entre os papis testamentrios, sem
resultado. Chegada a vspera do prazo fixado para efetivao do
pagamento, decidiu pagar no dia imediato. Mas, noite, apenas
adormecido, apareceu-lhe o pai, que lhe disse:
Os documentos relativos a esse assunto esto em mos do
procurador M., agora aposentado e residente em Suveresk, perto
de Edimburgo. Recorri a ele naquelas circunstncias, se bem que
no mais o tivesse incumbido dos meus negcios. Se no se
recordar, lembra-lhe que houve entre ns dois pequena discusso
a propsito de uma moeda portuguesa, e que decidimos beber a
diferena num botequim.
O Sr. R. se transportou para Suveresk, antes de ir a Edimburgo, e encontrou o procurador muito envelhecido e que havia tudo
olvidado; mas, o pormenor da moeda de ouro lhe reviveu o caso.
Encontrou-se o documento e foi ganho o pleito.
Aqui ficam excludas a telepatia e a criptomnsia.
A Sra. de Marteville, viva do Ministro da Holanda, em Estocolmo, foi intimada a pagar um dbito do marido, dvida que ela
recordava perfeitamente estar saldada, porm, por mais que
procurasse, no encontrava o recibo. Nesse entretempo, a senhora, sem outro motivo que o de se aproximar de Swedenborg, que
to famoso j se tornara por suas relaes com o mundo invisvel, foi visit-lo. Perguntou-lhe se havia conhecido seu marido, e
290
pelo nome, por trs vezes, e viu a figura de sua me, falecida
havia 16 anos, com duas crianas nos braos, e que lhe disse:
Cuida-as, porque acabam de perder a me.
No dia seguinte, recebeu a notcia de que sua cunhada morrera em consequncia de parto, trs semanas depois de haver dado
luz ao segundo filho.
Doze casos quase smiles so citados no Phantasms of the Living. Desses, trs apareceram antes que expirassem, e nos demais provvel que aparecessem depois do decesso. Parece que
nisso possa influir uma promessa feita em vida, ou outro vivo
sentimento, mas, de qualquer modo, provam esquisitamente a
identidade.
Num caso, certo tsico, que havia prometido jovem amante
aparecer-lhe, sem a assustar, caso morresse, apareceu, com
efeito, porm no a ela, e sim a uma sua irm, que se encontrava
numa sege. Apurou-se que ele estava ento agonizante, e morreu
dois dias depois.210
Edwin Roussen devia cantar, baixo que era, em uma sextafeira, na Igreja de S. Lucas, em S. Francisco, quando caiu morto
na rua, vtima de apoplexia. Trs horas depois da morte, Beeves,
maestro da capela, que ignorava o trespasse, viu o fantasma de
Roussen, que tinha uma das mos apoiada na testa e na outra
empunhava um rolo de msica. Decerto seu nico pensamento
foi que no podia cumprir o combinado, e desse modo dava o
aviso.211
Cite-se aqui o caso referido por Owen:212
Sherbroke e Wynyard, capito um e tenente o outro, do 23
Regimento da Guarnio de Sidney, a 15 de outubro de 1895, s
9 horas da manh, quando tomavam caf em casa, viram, na
porta do corredor, a figura de um jovem que passou lentamente
no aposento de dormir. Wynyard exclamou de sbito:
Deus meu! Joo, meu irmo!
Sherbroke, que no o conhecia, pressentindo possvel equvoco, revistou, com o tenente, toda a casa, sem encontrar ningum.
Pouco depois, chegou a mensagem que anunciava a Wynyard a
morte do irmo, ocorrida nesse mesmo dia e hora em que haviam
294
***
Mas a prova maior de identidade dada por aquelas 50 ou
mais mensagens complementares (cross-correspondences dos
ingleses), obtidas graas ao Esprito-guia de Myers (que conserva sua grande posio cientfica no Alm), surgidas, quase no
mesmo momento, com a escrita automtica da mdium Holland,
na ndia; com as mdiuns Farbes e Verrall, em cidades diversas
da Inglaterra; com a Sra. Piper, na Amrica mensagens que
conteriam comunicaes, idnticas no fundo (ainda que um
pouco confusas e fragmentrias), do Esprito de Myers, o qual
teria ditado a mesma ideia a quatro mdiuns, em vrias partes do
mundo e ao mesmo tempo.215
***
Muitos destes fatos, considerados insuladamente, podem inspirar alguma dvida, mas a reunio do todo d a certeza, que
vem, acima de tudo, de se verem reveladas circunstncias da
vida, insignificantes por si e ignoradas por todos, ou em que
havia o supremo interesse de no d-las a conhecer, mas de
ocult-las; e da completa identidade da escrita, da qual o mdium
ignorava absolutamente a forma, tratando-se muitas vezes de
caligrafia de passados sculos e que condiz, no tempo e no
pensamento, com idnticas comunicaes medinicas em regies
muito distantes entre si.
E uma prova, em certas comunicaes tiptolgicas, o carter mesmo fragmentrio e contraditrio do dilogo, que retrata
muito bem o confuso cruzamento de diversas personalidades e as
condies intelectuais do comunicante, como, por exemplo,
quando, interrogado acerca de uma questo de anatomia, Stattford pediu o auxlio de Willis para resolv-la, no sendo ele
anatomista, e quando, na sesso com Thompson, a menina Nelly
disse, a propsito de um objeto contido num estojo, selado, que
lhe apresentaram:
A pessoa que o introduziu no estojo no se sentia bem naquele momento. Inanio. Delicada. Tem necessidade de ser
alimentada. No sei: a Sra. Cartwright quem usou aquela
palavra.
299
300
CAPTULO XI
Duplos
A realidade da existncia dos fantasmas aparece agora menos
paradoxal, admitindo-se o assim chamado duplo do corpo (em
ingls, wraith; em alemo, doppelgnger; em francs, double),
do qual esto cheias as lendas dos antigos. Estes, porm, observaram poucos fatos de aparies e de sonhos, enquanto ns, ao
contrrio, temos, para dar-lhes crdito, uma longa srie de observaes e de provas. Se algumas, tomadas isoladamente, podem
ser postas em dvida, elas adquirem, semelhana das pedras de
uma abbada, a solidez da sua unio recproca.
Exteriorizao motora
O primeiro indcio do duplo se colhe nas observaes de Rochas, que Maxwell pde controlar em Aguillar. Notou, em
alguns pacientes sensitivos, que no s a motricidade, isto , a
faculdade de projetar movimentos, mas a prpria sensibilidade
durante o sono magntico, hipntico ou medinico se prolonga
um tanto fora do corpo. Uma primeira zona de prolongamento de
sensibilidade segue os contornos por uma espessura de trs ou
quatro centmetros. Ao redor destes, separados por intervalos de
seis a sete centmetros, h outros prolongamentos que se sucedem at dois ou trs metros. Levando mais longe a hipnose, estas
extenses sensveis se condensam em dois polos de sensibilidade, um direita e outro esquerda do paciente. Por fim, estes
dois polos se unem e a sensibilidade do paciente se transporta,
qual um traje num manequim, para uma espcie de fantasma que
pode distanciar-se sob as ordens do magnetizador e atravessar
obstculos materiais, conservando a sua sensibilidade.
Tambm Euspia, segundo Rochas e Morselli, apresenta este
fenmeno de exteriorizao da sensibilidade. E Morselli nota
que uma picada de alfinete foi por ela sentida a cerca de trs
centmetros do antebrao e a cinco ou seis do dorso da mo
esquerda.219
301
304
311
CAPTULO XII
Casas assombradas
Importante contribuio para a soluo do problema da atividade ps-morte dos mortos dada pelas casas assombradas.
Os fenmenos das casas assombradas seriam absolutamente
iguais aos medinicos, salvo que se manifestam mais espontaneamente do que estes, amide sem causa, e esto, no geral, ligados a uma casa ou a um grupo de pessoas. Os mais frequentes
so: raps violentos, roagamentos, passos, transporte de objetos,
mesmo atravs de recintos fechados a chave; mais raras so as
aparies. Diferem, nota bem Joire,237 os seus fenmenos motrizes pelo aparente absurdo e falta de objetivo: so campainhas
que soam, luzes acesas que se apagam, caarolas e principalmente sapatos e chapus que se trasladam aos pontos mais estranhos,
at a esconderijos, e trajes que so confinados juntos.
Outra diferena mais frequente est na violncia dos rudos,
na projeo brutal dos objetos, sem considerao s pessoas e s
coisas, enquanto que nas sesses medinicas se evita delicadamente toda ofensa aos assistentes, e com frequncia at aos
mveis.
Algumas vezes dir-se-ia que existe uma inteno maligna,
como quando ardem colches, rasgam roupas, etc.
bem antiga a tradio da existncia dessas casas, tanto que
em todos os idiomas se encontram vocbulos para design-las:
em alemo, spuken; em ingls, haunted; em francs, hante; em
italiano, spiritate ou infestate, alm dos termos de dialetos
locais.
E a realidade delas confirmada por muitas sentenas judicirias.
Nos ltimos dias de dezembro de 1867, em Florena, Rua Gibellina n 14, comearam a anunciar-se retumbos subterrneos e
imprevistos golpes na mesa, em redor da qual estava reunida a
famlia; estalos de objetos dentro dos armrios, chuva de pedras,
apertes, por mos invisveis, nos braos dos moradores, alguns
312
casa, cessaram os rudos, porm, se retornava ao leito, os fenmenos recomeavam e enfraqueciam quando o menino adoecia.
Em uma leiteria, de Turim, smiles rudos e movimentos automticos, etc., eram provocados por um pequeno mdium de 5
ou 6 anos de idade, filho e sobrinho de outros mdiuns; mas no
duraram seno 18 dias.
A proporo das casas assombradas, sob influncia de mdiuns , segundo Pull, de 28%. Os mdiuns que agem sobre estas
casas so, na maioria, mulheres, meninos ou adolescentes: em 20
sobre 28, so de 9, 11, 14, 16 anos de idade, inscientes completamente da sua ao, que est em contradio com a debilidade
muscular infantil e feminina.
2 CASAS ASSOMBRADAS, PSEUDOMEDINICAS
Em outros casos, a influncia dos mdiuns menos certa. Por
exemplo: a 16 de novembro, em Turim, rua Bava n 6, em pequena estalagem de um certo Fumero, comearam a ouvir, de dia
e mais especialmente noite, uma srie de estranhos rumores.
Pesquisando o motivo, verificou-se que na adega se quebravam,
depois de serem lanadas das prateleiras ao cho, intactas, garrafas cheias ou vazias; mais frequentemente desciam ao alto e,
rolando, se amontoavam de encontro porta fechada, de maneira
a obstruir a entrada quando era aberta. No quarto de dormir, no
andar superior, que, mediante escada, comunicava com o tinelo
vizinho saleta da estalagem, amarfanhavam-se vestidos e
alguns desciam pela escada para a saleta de baixo; com a queda,
duas cadeirinhas foram quebradas; os objetos de cobre que
estavam dependurados nas paredes do tinelo caam ao cho,
percorrendo largo trecho do recinto e quebrando-se algumas
vezes. Um espectador ps o chapu sobre a cama da alcova, no
andar superior, e em seguida o chapu desapareceu, sendo depois
encontrado nas imundcies do ptio, no trreo.
Examinando atentamente, para verificar qual seria a causa estranha desses fatos, a fim de elimin-la, em vo se recorreu
polcia e depois ao padre, este com resultado contrrio, pois,
enquanto exorcizava, uma enorme garrafa, cheia de vinho,
estourou a seus ps. Uma floreira, trazida estalagem, desceu,
315
mulher, porque nenhum prato que a patroa pegasse ficava intacto. Era, pois, de suspeitar nela influxo medinico. Todavia,
durante a sua ausncia, os fenmenos se repetiram igualmente, e
precisamente dois borzeguins seus, que estavam na alcova sob o
toucador, em pleno dia, s 8 e meia da manh, desceram pela
escada, percorreram aereamente o tinelo, passaram deste sala
que servia hospedaria e depois caram do alto aos ps de dois
clientes que estavam sentados a uma mesa (29 de novembro).
Reconduzidos os borzeguins e vigiados continuamente, no
se moveram at s 12 horas do dia seguinte, mas nessa hora,
enquanto todos faziam a refeio, desapareceram. Foram encontrados, aps uma semana, sob a cama do mesmo aposento. Dois
outros borzeguins de mulher, colocados na dita alcova, em cima
do toucador, e vigiados atentamente, sumiram e s foram achados depois de vinte dias, amassados, como se tivessem sido
comprimidos em ba, embaixo dos colches de uma cama, na
mesma alcova, que fora revistada inutilmente dois dias depois da
desapario.
Vendo que os fenmenos prosseguiam, regressou de Nole a
mulher e eles se repetiram com igual continuidade. Uma garrafa
de gasosa, por exemplo, que estava na taberna, vista de todos,
em pleno dia, percorreu lentamente, como que conduzida por
uma mo, quatro ou cinco metros, at ao tinelo, cuja porta estava
aberta, e depois caiu, quebrando-se.
Depois disto, ocorreu ao patro a ideia de despedir o mais jovem dos garons. Saiu este (7 de dezembro), e cessaram todos os
fenmenos, o que podia fazer suspeitar uma influncia dele, que
no era histrico, nem provocou em casa dos seus novos patres
nenhum acidente espirtico; mas tambm se pode admitir que,
mesmo de Nole, a patroa, histrica, atuasse sobre os mveis da
sua prpria casa, em Turim, como veremos que acontece em
outra parte.
***
De fato, uma influncia pseudomedinica, a enorme distncia
entre o mdium e a casa influenciada, narrada por Hare, na
Story of my Life.243 Em 1891, a Sra. Butter, que residia na Irlan318
319
320
stio onde faleceu e comea a lavar e, ao cantar o galo, desaparece pelo teto da igreja.
Em Trembley, Bretanha, existe velho castelo que ningum
pode habitar, pelos infernais rudos que se ouvem, provocados,
pretende-se, pelo rei Oton, assassino dos antigos senhores.247
Mais singulares seriam, todavia, os fenmenos desse gnero
que se verificaram em Frana ao tempo das perseguies contra
os Camisards.
Ouviam-se no ar, antes ainda de estalar a revolta escreve o
abade Pluquet 248 , perto dos lugares onde se encontravam as
runas dos templos, vozes similares ao canto dos salmos que os
protestantes entoavam. Tais vozes foram ouvidas em Bearn, em
Cevennes, em Passy, etc. Alguns ministros fugitivos foram
escoltados por esta divina salmodia.
Isabel Charras afirma haver ouvido muitas vezes esses misteriosos cnticos em lugares distantes de casa e onde era impossvel que algum estivesse oculto.
Isto recorda que, a 31 de agosto de 1572, oito dias depois da
matana de S. Bartolomeu, Paris foi aterrorizada por um estrpito de gemidos entremeados de gritos de raiva e furor, que se
ouviam no ar, como lembrado no livro de Juvenal de Ursins,
lugar-tenente do General de Paris, publicado em 1601.249
Na Inglaterra, durante largo tempo se falou dos casos acontecidos no castelo real de Woodstock, quando Cromwell, depois da
execuo de Carlos I, enviou comissrios, presididos por Harrison, para que tomassem posse dele. Por uma quinzena de dias
eram despertados noite por ensurdecedores barulhos; atiravam
em seus aposentos montes de lenha, pedras, vidros, etc.; os leitos
eram levantados do solo; mesas e cadeiras voavam nos ares, sem
que se pudesse descobrir os autores.
Calculam-se em 150, no mnimo, na Inglaterra, as velhas casas, abadias, escolas e hospitais assombrados, quase todas abandonadas por seus habitantes.250
Na Torre de Londres, o guardio, Sr. Swiste, viu, em 1860,
sair da cela onde so guardadas as joias da Coroa, e onde esteve
reclusa Ana Bolena, um urso, que o sentinela no pde ferir, pois
323
Aqui o fantasma parece ligado casa e aos tristes acontecimentos que ali se desenrolaram, mais do que presena de
mdiuns. Os visitantes provocavam as aparies com a sua
presena e especialmente ali dormindo, e no por dotes medinicos que tivessem e que no se manifestaram em outros lugares.
Essa influncia de determinada casa j habitada pelo morto e
qual est indissoluvelmente ligado o seu Esprito ilustra-se com
o caso registrado por Graus, da mdium Piano.254
Indo Euspia Paladino casa da mdium, viu um fantasma
que esta afirmava ver continuamente, que se inculcava por Jos,
e a seguia em todos os seus afazeres. Perguntado, nas sesses,
sobre quem era, respondeu ser um esprito alado da casa e
dava sinais de ira se se insistia no assunto.
Quando a Sra. Piano teve de deixar o prdio, por necessidades domsticas, ficou apavorada com a raiva que o Esprito lhe
demonstrava, quebrando os objetos da casa. Aconselhada por
Graus a pedir ao Esprito que fosse com ela para uma nova
vivenda, ela fez a proposta, que ele aceitou, com a condio de
que ela levasse algum fragmento com o qual se pudesse incorporar. A Sra. Piano pegou um ladrilho do pavimento e o levou para
a nova residncia, apoiando-o verticalmente na parede da sala de
visitas. O ladrilho comeou a mover-se, subindo e descendo ao
longo da parede. Desde esse dia, esteve presente nas sesses da
nova moradia. Esta aderncia, a uma determinada casa e at aos
seus fragmentos, explica por que se encontram tantos Espritos
nas runas inabitadas dos castelos, das casas antigas abandonadas
e, como notara Stainton Moses, nos stios onde muitos mortos
foram sepultados.
4 CASAS PREMONITRIAS
Outra espcie de casas assombradas oferecida por aquelas a
que chamarei premonitrias, de apario rarssima, a largos
intervalos e sempre para a premonio da morte de algum dos
moradores. Assim a Dama Branca 255 do palcio real de Berlim,
a Dama de Isoen, a Morena do Condado de Norfolk, a Parda de
Windsor.
326
Na Irlanda ainda se acredita que certas famlias tm o privilgio de possuir uma Banschie ou fada domstica, que aparece,
vertendo lgrimas, quando um membro da casa deve morrer.
Cardano, no seu livro Della variet delle cose, afirma que cada vez que ia morrer algum da famlia parmense dos Torelli,
aparecia uma velha na lareira de uma sala do visado palcio.
Paris possua o Homem Vermelho das Tulherias, cuja tradio remonta origem do edifcio. Catarina de Mdicis o viu
amiudadamente; mostrou-se antes da morte de Henrique IV;
predisse a Lus XIV os tumultos da Fronde; viram-no certa
manh no leito de Lus XVI; um soldado, que velava os restos de
Marat, o enxergou, e morreu de pavor; apareceu de contnuo a
Napoleo, s vsperas de qualquer acontecimento de importncia, como da campanha do Egito e da Rssia. Sob a Restaurao,
anunciou a morte do duque de Berry e se fez presente na de Lus
XVIII. Tal era o terror que ainda inspirava em poca recente este
misterioso ser, que a Imperatriz Eugnia, mulher de Napoleo
III, proibiu fosse mencionado na Corte, mesmo em tom de
gracejo.256
Pela curiosa analogia que apresentam com as aparies referidas, podem ser recordados os fantasmas que se apresentaram a
Scrates, Bruto, Cssio, Druso, Tcito (imperador), Juliano, etc.,
para lhes anunciar a sua morte iminente.
No ano de 1880, na Esccia, certa senhora alugou um castelo
abandonado havia muitos anos. Certa noite, despertou, vendo aos
ps da cama o fantasma de um homem sem cabea, vestido
moda de dois sculos antes. Despertou o marido, que no viu
coisa alguma. Poucos dias depois morreu um dos habitantes do
castelo.
Ora, segundo uma lenda do pas, cada vez que esse fantasma
aparecia, um dos habitantes do castelo devia faltar. E se explicava sua apario com isto: ao tempo da guerra civil de 1600, um
proscrito, pertencente ao partido dos cavalheiros, tendo pedido
hospitalidade ao castelo, este o havia atraioado, entregando-o
ao partido inimigo, pelo qual foi decapitado.
327
Na Story of my Life,257 Hare narra que o clebre Brewster, indo com a filha visitar a famlia Stirling, em Kilpenrass (Esccia),
noite fugia do aposento aterrorizado com os estranhos rudos e
lamentaes. Tambm a camareira da Srta. Brewster ouviu
tantos rumores e lamentaes, que desejou ir embora em seguida. Ao meio-dia, esta, ao recolher-se ao seu aposento, viu, no
alto da escada, uma mulher alta, apoiada na balaustrada; pediu
que lhe mandasse a camareira, porm aquela no respondeu,
anuindo, por trs vezes, apenas com acenos de cabea, e apontou
para um ponto do corredor, e depois desceu a escada. A Srta.
Brewster falou do caso Sra. Stirling e esta se impressionou
bastante pelo que a apario pressagiava.
No aposento para o qual acenou a apario, dormia o Comandante Svedducburee com a esposa.
Antes de finalizar o ano, ambos foram mortos, na revolta da
ndia Inglesa.
Na casa existia a lenda de que o assinalado pelo fantasma
morreria dentro do ano.
No castelo de Berry-Pomeroy estava enferma a mulher do
mordomo da casa Pomeroy. O Dr. Farquhar a visita e acha que a
enfermidade ligeira, e perguntou ao marido quem era a belssima senhora por ele encontrada na antecmara. O interrogado
empalideceu, porque sabia que aquela viso, desde mais de um
sculo, precedia a morte de algum da famlia. E, com efeito,
nessa noite, a mulher faleceu.
Alis, essas aparies poderiam ser explicadas pela influncia
medinica que muitos homens possuem, na proximidade da
morte, e que lhes permite revelar, a distncia, o prximo fim
deles mesmos, com vozes, golpes ou com a presena do seu
duplo. O moribundo seria nesse caso como que um mdium
transitrio que desperta a energia dos Espritos dos mortos
fixados em certas casas a que esto ligados por antigos hbitos.
5 CASAS ASSOMBRADAS, SEM MDIUNS APARENTES
Em outras casas perturbadas, e so as em maior nmero, no
se encontra sequer vestgios de mdium. Pull 258 enumera, em
328
Quando os patres regressavam, cansados do passeio, invisvel mo prevenia a camareira dessa chegada. Um dia a Sra. V.
ouviu uma voz cham-la pelo nome e, entrando em comunicao
com essa voz, o Esprito lhe disse que passaria a falar por seu
intermdio e no pela camareira, pois esta no mais devia ser
magnetizada. De fato, certa manh, a Sra. V. ouviu ditarem-lhe
esta ordem para seu marido: Deves fazer vender, em Paris, por
telegrama, 6.000 liras do juro de 3%, e comprar 10.000 da italiana. Quero que ganhes este dinheiro para fazeres uma obra de
caridade que te indicarei.
A coisa era bastante estranha, porquanto a Sra. V. ignorava
no s as combinaes, mas tambm a linguagem da Bolsa. O
marido objetou ao Esprito que a sua combinao era a cavaleiro
das liquidaes, sendo a renda italiana para o dia 15 e a de 3%
para o fim do ms.
Sei respondeu , o italiano se liquidar antes, porque o benefcio que resulte deve empregar-se pronto; com o outro se far
um presente tua filha.
Daquele dia em diante, pela manh, o ignoto predizia o valor
dos ttulos que depois, s 4 horas da tarde, eram transmitidos
telegraficamente. Solicitado a predizer de vspera, respondeu
que necessitava da noite para informar-se. Um dia, em que V.
achou a diferena de 2 1/2 cntimos entre o valor profetizado e o
telegrafado, pediu explicao ao Esprito e este respondeu:
Isto resultou de um mau sujeito que influiu na cotao ltima hora, precisamente ao soar da campainha.
Isto demonstra que o Esprito conhecia a gria da Bolsa. Ele
depois revelou o contedo exato da caixa-forte dos haveres e
quanto cada um dos V. tinha na algibeira; fazia as contas exatssimas dos lucros das operaes, includas as despesas dos telegramas e corretagens, e acrescentava:
Teus negcios no te devem preocupar; deles me encarrego
e no tens mais do que me obedecer, para te veres coberto de
riquezas.
Tendo-se quebrado a estatueta da Virgem, o Esprito, depois
de haver pedido prazo de uma noite para informar-se, indicou a
338
inconsciente se pode abrigar um desejo to teimoso e dissimulado de fazer dano a si prprio. Acrescente-se que elas no teriam
podido fazer as previses exatssimas dos aumentos que sucediam no dia seguinte, na bolsa, nem prever as intenes malvadas
do namorado da camareira e sua fuga, nem conhecer aquelas
pessoas que deveriam ser beneficiadas, nem discutir alta filosofia.
Pode-se admitir que os duplos das duas mdiuns vissem, a
distncia, no caso da estatueta, que abrisse a cancela ao leiteiro,
que avisasse a camareira do retorno dos patres, porm no se
compreende como pudessem as mdiuns, nem seus duplos, falar
de coisas filosficas, sendo indoutas; que movessem imensa
cama, como se fossem atletas; que previssem, no s as cotaes
da Bolsa, mas tambm as intenes do namorado e as aventuras
que lhe deviam acontecer.
Extraordinrio em tudo que narramos certamente o cunho
pessoal e intencional do Esprito, superior ao das mdiuns.
Estranho , todavia, o fenmeno vocal. Conquanto maravilhoso,
o fato no isolado.
Uma srie de fenmenos auditivos se encontra nas Memrias
da Srta. Clairon.
Um jovem breto estava to enamorado dela que, pela mgoa
da recusa, enfermou e morreu. O caso ocorria em 1743. No
mesmo dia em que expirou, fizera suplicar inutilmente a Clairon
que fosse v-lo, no que no foi atendido. Ao contrrio, naquela
noite, deu ela uma festa em sua casa. Havia ela apenas terminado
de cantar uma cano, quando, ao soar das 11 horas da noite, se
ouviu agudssimo grito.
A ttrica modulao narra a Srta. Clairon fez empalidecer a todos; eu desmaiei e por um quarto de hora permaneci
desacordada; os amigos, os vizinhos e a prpria polcia ouviram
aquele grito ( mesma hora, enviado, cada dia, sob minha janela)
que parecia vir do vago do ar. Eu fazia refeio raramente fora
de casa e nesses dias nada ocorria, mas, reentrando no meu
aposento, ouvia-se novamente o grito ao nosso derredor. Um
340
345
CAPTULO XIII
A crena nos Espritos dos mortos
entre os selvagens e os brbaros
O fato de que em todos os tempos e em todos os povos esteve
sempre viva a crena em algo invisvel, que sobrevive morte do
corpo e que, sob o influxo de condies especiais, pode manifestar-se aos nossos sentidos, torna-nos propensos a aceitar a hiptese espiritista.
Que nossos mais antigos progenitores acreditavam, se no na
imortalidade da alma, ao menos em sua existncia temporria
depois da morte, opinio comum dos antroplogos, os quais
observam, com Figuier,270 que os vveres, as lmpadas, as armas,
as moedas os objetos de ornamento depositados, at nas pocas
pr-histricas, nas tumbas, ao lado de cadveres, mostram claramente a crena em uma vida futura.
E essa mesma crena ns a encontramos ainda junto de todos
os povos selvagens, mesmo entre aqueles que tm de Deus uma
ideia extremamente vaga, ou no na tm de maneira alguma.
Letourneau, citado por Baudi de Vesme, naquela sua tima
Storia dello Spiritismo,271 da qual me hei valido largamente na
compilao do presente captulo, escreve na sua Sociologie
daprs lEtnographie (livro III, cap. XVII); Entre as raas
inferiores, junto dos habitantes da Terra do fogo, entre os tasmnios, os australianos e os hotentotes no existem templos, nem
padres, nem ritos. Nessa fase primitiva do desenvolvimento
humano, a religiosidade consiste em crer na existncia de Espritos antropomorfos e zoomorfos que habitam as rochas, as grutas,
as rvores, etc., e a ideia de comunicar-se com estes seres no
ocorre a ningum.
Um pouco mais tarde, o homem, tornado mais inteligente,
raciocinador, chega naturalmente a pensar que, com genuflexes,
ddivas, etc., chegar a pesar nas decises desses deuses feitos
sua imagem. Ento se edifica o templo e aparece o sacerdote: a
princpio, o templo extremamente humilde, uma cabana qual
346
348
350
351
Os brbaros
ESCANDINAVOS, GERMANOS E CELTAS
Se agora dos selvagens passamos para os brbaros de todas as
idades, vemos, com pequena diferena, repetirem-se as mesmas
coisas.
Sabemos de quantos diversos gnios, gnomos, silfos, slfides,
Normas, Valqurias, Alfes, etc. est povoada a mitologia germnica e escandinava. Mas, onde mormente se acentuou a crena
no mundo invisvel foi na raa cltica. Para os gauleses, os
Espritos eram a alma dos mortos e com esses se mantinham em
relao, por intermdio de seus sacerdotes, os druidas, e de seus
videntes, que caam em xtase, profetizavam e evocavam os
mortos nos recintos sepulcrais de pedra, chamados dlmen ou
cromlech.
Narram os historiadores que Vercingtorix discorria nas densas selvas com as almas dos valentes mortos pela ptria e dele se
conta que, antes de sublevar a Glia contra Jlio Csar, foi ilha
de Sein, a vetusta morada das druidesas, onde o gnio lhe apareceu e lhe predisse a derrota e o martrio.289
A NDIA
So notveis as relaes mantidas pelos indianos com os Pitri
(Espritos que esperam uma nova vida).290
Entre os documentos que provam a antiguidade das prticas
espiritistas na ndia, citarei a Agruchada ou Livro dos Espritos, em cuja ltima parte so descritos os modos de evocao
que se devem seguir, com o objetivo de obter que os Pitri (os
Espritos dos antepassados) consintam em manifestar-se aos
homens. E j vimos, pouco acima, como os maravilhosos fenmenos dos faquires so por estes atribudos aos Espritos dos
mortos, e dos quais declaram ser apenas um instrumento.291
353
OS ESPRITOS NA INDOCHINA
A crena nos Espritos vivssima entre os anamitas, cuja
verdadeira religio a dos antepassados, dos quais os Manes
velam sobre a famlia e a protegem.
O mundo dos anamitas l-se na Revue Franaise, de maro de 1894 povoado de fantasmas que so as almas de todos
os seres que viveram anteriormente. Os Espritos das pessoas
mortas sem descendncia, ou que delas os descendentes no
cuidaram, ficam errantes, engrossando o exrcito de maus Espritos que os anamitas temem bastante.
ENTRE OS JAPONESES
Difundidssima esta crena entre os japoneses, cuja religio
popular, o Shintosmo, consistia originariamente na personificao e adorao das foras da Natureza; mais tarde, na venerao
dos Espritos dos antepassados, at que, por ltimo, se transformou no culto a estes, aos quais se oferecem sacrifcios pelo seu
descanso e de quem se invoca ajuda e proteo.292
E J. K. Goodrich, no Ausland (de 18 de fevereiro de 1889),
falando dos Ainu, populao semi-selvagem e autctone japonesa, assegura: Quanto s suas concepes a respeito da vida
futura, no so muito claras; todavia, creem todos que os Espritos dos mortos mantm simptico comrcio com os vivos, os
quais podem confiar naqueles como gnios tutelares que velam
seus povoados, zelando pelo bem-estar dos seus habitantes.
E agora, passando a tratar de outros povos (caldeus, assrios,
babilnicos, persas, egpcios, etc.), entre os quais, com pequenas
diferenas, encontramos as mesmas crenas, vamos ao Extremo
Oriente.
No Extremo Oriente
ENTRE OS CHINESES
Difundida a crena nos Espritos entre o povo menos supersticioso do mundo: o chins. Segundo a seita dos Tao-si
(mestres da cincia), existem no homem duas almas: o ling
354
Os hebreus
Que os hebreus acreditavam na imortalidade da alma e conheciam as prticas espiritistas coisa que resulta, entre outras,
das injunes e das ameaas lanadas por Moiss 298 contra eles.
Em passagens da Bblia ressalta como a classe sacerdotal possua
certas rodas adivinhatrias e outros instrumentos aptos a estabelecer comunicaes com o alm-tmulo.299
Kircher faz a descrio de uma mesa giratria:
Havia em cima quatro globos de tamanhos diversos, e tinham todos, no centro, um eixo sobre o qual podiam facilmente
girar. Deste centro partiam 22 linhas que terminavam em outras
tantas letras do alfabeto hebraico; aqui havia um dedo indicador
chamado tetragrammaton. Os experimentadores rogavam, com
a mxima intensidade possvel, que o aparelho se pusesse em
movimento; depois tomavam-no pelos dois punhos e, elevando
os olhos para o alto, espreitavam cuidadosamente os movimentos
fatdicos. Quando, por fim, o instrumento parava, toda a sua
ateno se voltava para as letras indicadas pelas linhas traadas
ao centro, que deviam dar a resposta, por virtude de uma inteligncia diretriz. 300
No era desconhecida dos hebreus a mediunidade denominada do copo dgua, pois que se diz no Gnesis 301 do copo pelo
qual Jos costumava adivinhar. No Deuteronmio se probe 302
consultar os mortos: Que no se encontre entre vs nem prognosticadores, nem ugures, nem mgicos encantadores, nem
homens que consultem o esprito de Pton, nem profetas de
buena-dicha, nem algum que interrogue os mortos. Levtico:303
Quando um homem ou uma mulher tiver um esprito de Pton e
seja adivinho, faa-se morrer, seja lapidado e seu sangue caia
sobre ele.
No faltam, com efeito, na Bblia, exemplos de aparies de
mortos, e clssica a de Samuel evocado pela pitonisa de Endor,
que predisse a Saul a sua derrota e morte. Nesta passagem se v
ainda que a evocao de mortos por parte de mdiuns ou de
pitonisas era uma profisso proibida, sob pena de morte, pelo
prprio Saul, e que, apesar disso, se conservava tenazmente. A
357
364
Eplogo
CAPTULO I
Esboo de uma biologia dos Espritos
Todos esses fatos, que, examinados insuladamente, parecem
fragmentrios e incertos, adquirem slido encadeamento ao se
somarem numa resultante nica. Vimos fenmenos hipnticos
(transmisso de pensamento, premonies, transposio dos
sentidos) s poderem ocorrer pela desagregao e inibio das
funes dos centros corticais primrios, especialmente direitos
(de onde o automatismo, o mancinismo), que d lugar prevalncia dos outros centros. E outro tanto entreveremos, com maior
constncia, pelos fenmenos medinicos.
A existncia do duplo, de uma atmosfera fludica que circunda, e algumas vezes substitui nosso corpo fsico, ajuda a explicar
alguns fenmenos hipnticos, tal a viso a distncia e a transposio dos sentidos, e mais, alguns fenmenos medinicos, a
viso em estado letrgico e na obscuridade, os movimentos de
corpos a pouca distncia do mdium e, talvez, sua bilocao, etc.
Aqui, a grande ao do mdium, ajudada pela energia dos
presentes s sesses, que se sentem depois debilitados, est
provada, no s por uma srie de experincias precisas, mas
tambm pelas observaes de todos os nossos vulgos e dos
povos antigos e selvagens.
H fenmenos, porm, que esta influncia no basta para explic-los: quando se trata de premonies, de aviso contemporneo da prpria morte ou das prprias condies, a grande distncia e a vrias pessoas; quando se trata de materializaes de
diversos entes operantes simultaneamente e em vrias direes,
quando se trata de extraordinria fora e inteligncia em pessoas
dbeis e incultas, em crianas de poucos meses de idade, por
exemplo; quando se trata de fenmenos de levitao, de voos, de
incombustilibidade, de apario ou desapario atravs de corpos
opacos; quando, em suma, se modificam os corpos em torno do
365
369
Geralmente se expressam com pouca boa vontade, e em forma laconssima e truncada; com frequncia veem-se obrigados a
se interromperem prometendo voltar ao assunto em outro dia.
Mais comumente, exprimem-se por sinais e gestos.
No raro que nas comunicaes adotem forma simblica,
recordando nisso os orculos dos antigos. Assim, a Srta. Walt,
pintora automtica, certo dia, durante o transe, sentiu-se constrangida a pintar trs anjinhos no meio de plantas indianas. Nesse
mesmo dia morriam, quase ao mesmo tempo, trs meninos de
uma sua amiga da ndia.
Assim, em algumas premonies recolhidas por Bozzano,329
certa me v voar, em deserta planura, um passarinho, do qual
caem as asas, e sbito, pouco depois, lhe morre o filho. Outra
pessoa v um esquife na casa de um parente e este, tambm
pouco depois, falece.
Cada Esprito adota seu rap especial e uma forma que lhe
sinalizao prpria simulam por fim um telgrafo Morse com
o qual aprovam ou contradizem as palavras dos consulentes, ou
imitam os golpes dos controladores.
Os raps so ouvidos tambm em plena luz;330 estendem-se s
vezes a dois e ainda a trs metros de distncia do mdium,
determinando neste e nos assistentes certa sensao de fadiga.
So sentidos tambm nas salas dos restaurantes, nas estaes,
nos museus ante os quadros de consagrados pintores, sobre
cobertas das camas, nos tecidos, sobre livros, na ponta do lpis
de um mdium escrevente, etc.
A intensidade dos raps no tem relao com a distncia do
mdium; enquanto est em relao com cada movimento deste e
dos assistentes, no est em proporo com a fora do movimento. Produzem-se ainda quando os assistentes assobiem ou falem
(Maxwell). Com isso, parece que os Espritos desejam vivamente
dar-se a conhecer aos vivos, e os insucessos os incitam a novas
tentativas, enquanto que, obtido o xito, desaparecem.
Adotam para isso os meios que lhes so mais habituais. Algumas vezes impem-se com violncia a um vivo para que lhes
sirva de mdium. J vimos, em outro captulo, o caso do Dr.
371
Dexter, constrangido a prestar-se a sesses medinicas e a converter-se ao Espiritismo, pelas perseguies ferozes dos Espritos.
Os Fox, torturados pelos raps, denunciados como truquistas,
excomungados pela Igreja, intentaram subtrair-se aos Espritos,
mudando de casa e de localidade, mas os golpes se repetiram e
os Espritos declararam que no cessariam de persegui-los at
que fosse propalada a verdade da existncia deles, Espritos.
Certo Spin vinha muitas vezes s sesses de Moses, para ser
identificado; quando o foi finalmente, e verificado ser irmo de
uma certa S. P., ele, que morrera havia 13 anos, no mais compareceu.
Mas, apesar do vivo desejo de entrar em relao conosco e
tambm de mostrar a prpria influncia ou para dar notcias dos
amigos ou falar dos fatos atuais, que ignoram totalmente no
Alm, tm os Espritos estranha averso em dar a conhecer o seu
nome. Nas comunicaes tiptolgicas, do quase sempre nomes
falsos ou recusam dar o verdadeiro; em outras, adotam pseudnimos, alguns estranhssimos, tais Imperator, Rector, com
Moses, e Finoit, Pelham, com a Sra. Piper. Mas, prosseguindo na intimidade, alguns revelaram depois seus nomes reais.
Contrariamente afirmao de Moses, no momento da morte
o Esprito parece que acha menos fcil a manifestao da prpria
existncia. As declaraes de Pelham a Piper falam, de fato, de
um imprevisto aturdimento que se segue morte, coisa natural,
visto ter havido completa mudana das condies de vida do
falecido.
Descrevendo o instante de sua prpria morte, Pelham ditava:
Tudo se obscurecia para mim; depois a conscincia retorna,
porm crepuscular, como quando se desperta, antes do amanhecer. Quando compreendi que no estava morto de todo, tive
alegria.
Tambm Altkin Morton, que se suicidou em momento de desesperao, confessou que depois de morto no reconhecia
ningum e s mais tarde se recordou dos seus.
372
No geral, parece que os atingidos por morte imprevista, especialmente em idade jovem, renovam os gestos e retomam as
aes que lhes eram habituais. Assim, em recente naufrgio de
navio de guerra, o Esprito de um dos componentes daquela
nave, em sesso medinica em Londres, disse que os marinheiros
continuavam as manobras como se estivessem em pleno mar.
Esta assero, que parece fantstica, confirmada, primeiro
pelas lendas de muitos povos (v. cap. XIII), depois pelos fatos
que se notam nos castelos assombrados.
Sei de um criado que se afogou perto da moradia do patro,
que aparece noite e lava as garrafas e os copos da casa, como
se ainda estivesse em servio.
Segundo Stainton Moses, as almas conservam no Alm os
seus bons ou maus desejos e apetites, e procuram satisfaz-los,
mesmo atravs de intermedirios; se malvados, impelindo os
vivos a se enrodilharem sempre no vcio, no obstante o esforo
das almas evolvidas que tentam impedi-los.
Assim se explicaria que muitos, e especialmente os mdiuns,
sejam vtimas dos Espritos, que conseguem contra eles choques
atrozes, atiram-lhes gua cabea, queimam-lhes as vestes e os
mveis da casa.
Em S. Petersburgo, uma chuva de pedras caa sobre a carruagem de Phelps, que anotava esses fatos em um carn, que foi
destrudo. Fechou seus escritos em uma caixa e estes arderam no
interior da mesma, e a fumaa s se fez notar quando estavam
queimados de todo.331
Os Espritos conservam a mentalidade e a tmpera que tinham em vida.
Na quadragsima sesso da Sra. Piper, com os dois Lodge, o
fantasma Finoit apresentou Rich, que pediu que enviassem ao
seu genitor expresses do seu afeto.
Meu pai disse ele, em outra sesso est muito aflito pela
minha morte; digam-lhe que estou vivo. 332
Depois, queria os seus culos, tocou os olhos com as mos e
acrescentou: Meu pai deve t-los e tambm os meus livros.
Nenhum dos presentes sabia coisa alguma de tudo isso. Averi373
guou-se depois que ele usava culos e que repetia, no seu dilogo, como em vida: Merci, mille fois..
O pai de Hyslop continua a dizer: Dai-me o chapu, como
quando penosamente andava em casa ante qualquer visitante.
Quando se trata de Espritos de loucos, as comunicaes
nota Hodgson so fragmentrias e at amalucadas.
Um amigo de Hodgson, o Sr. A., lhe fez comunicaes incoerentes; Pelham insistia em que o deixassem depor, porque durante algum tempo estaria confuso, por haver sofrido doena mental
e neurastenia.
A falecida Ana Wild interrompeu a entrevista com sua irm,
atravs da Sra. Piper, porque era hora da missa e no queria
perd-la. Com efeito, em vida, era mui religiosa e nos dias
festivos jamais faltava missa.
O fantasma de Vicente, no obstante comunicar-se por mdium de temperamento dulcssimo, mostrou-se de estranha
violncia e luxria, interrompendo as sesses com murros,
blasfmias e mofas torpes. Tal fora assim em vida.
Faifofer me falou de Espritos que impediam muitas vezes as
sesses, porque, em sesso anterior, fora consultado um outro
Esprito. Se os Espritos escreve Hyslop que comunicam
conosco no so tomados a srio, ofendem-se, fogem, quando
no respondem com epigramas aos nossos.
As crianas, quando morrem, reproduzem as palavras e os
gestos infantis e pedem seus brinquedos; porm, quando transcorre muito tempo de sua morte, atuam e falam como se fossem
adultos, enquanto que seus parentes s as podem recordar no tipo
de criana. Isto prova tambm que o inconsciente e o consciente
do mdium e dos presentes nem sempre tm influncia nestas
comunicaes, porque, evidentemente, os considerariam ainda
crianas.
Servindo de intermedirio de um destes Espritos, ao qual a
me falava como se se tratasse de uma criana, Pelham informou: Ele j no mais um menino, um homem.
Parece, das palestras de alguns Espritos com dEsperance,
que eles no conhecem de todo o presente, de modo que desejam
374
380
CAPTULO II
Truques inconscientes e telepticos
Chegado a este ponto, receio que o leitor, imitando o famoso
Cardeal dEste, me interrompa com a exclamao:
No vos tereis deixado enganar pela mais vulgar das velhacarias?
A primeira impresso, de fato (e a mim tambm no faltou),
de que se trata de um truque, e a explicao mais adaptada ao
gosto da maioria, pois evita que se perca tempo em pensar e
estudar e deixa ao homem vulgar supor-se um observador mais
consciencioso e mais hbil do que o douto. Realmente devemos
convir que nenhum fenmeno natural, melhor do que os espirticos, se presta dvida e fraude, primeiro porque os fatos mais
importantes, mais raros, ocorrem sempre s escuras e nenhum
experimentador pode aceitar por verdadeiros fatos que, desenvolvendo-se no escuro, no podem ser bem controlados e observados. Depois, os prprios mdiuns, involuntariamente ou no,
muitas vezes se prestam ao truque, no mais das vezes histricos,
propensos que so fraude como todos os histricos, e porque,
quando sentem faltar a energia medinica, querem supri-la com
artifcios, buscando conseguir o escopo com o mnimo dos
esforos, e algumas vezes, sugestionabilssimos como so,
trucam para obedecer ao secreto convite de algum Esprito
maligno, como me declarava certa vez Euspia, a qual, em
Gnova, ouvira ordenar-se-lhe secretamente que trucasse e teve
de obedecer.
No falemos, pois, dos falsos mdiuns, falsrios de profisso,
que pululam nos cenrios e nos pases onde mais difundidas
esto as crenas espiritistas.
Existe uma grande literatura, especialmente americana,333 que
constitui um arsenal tpico de que se serviriam tais mdiuns,
para os seus truques: barbas postias, mscaras, vestidos de
musselina finssima, substncias fosforescentes, cadeiras com
esconderijo onde o mdium oculte as mscaras, quando no
com molas que, funcionando, simulam a levitao.
381
383
385
387
diziam que estava viva, e outros morta. Tratava-se da Sra. C., sua
amiga, de quem, havia tempo, no tinha notcias.
Na manh seguinte, a senhora C. caa na rua, ferindo-se. Como poderia a telepatia fazer ver o que no havia acontecido?
Um vigrio da Nova Zelndia devia fazer uma excurso de
pesca em uma ilha, com alguns amigos, que deviam ir busc-lo
ao alvorecer. Uma voz, primeiro na escada, depois no seu aposento, advertiu: No v!
E quando ele ponderou: E se me vierem chamar?
Respondeu a voz: Fecha-te a chave.
Ele compreendeu que o ameaava um perigo e recusou seguir
os amigos. Pela manh soube que se haviam afogado na excurso.
Aqui no podiam ser eles a dar o aviso, mas outros Espritos a
quem o futuro no era desconhecido.
A telepatia diz Brofferio 339 arma de dois gumes; se os
fantasmas dos vivos tornam desnecessrios os dos mortos,
tambm os tornam possveis. Se um vivo pode aparecer e agir
onde no est seu corpo, isto conduz hiptese de que possa
aparecer e atuar quando o corpo no existe; se a forma do corpo
pode separar-se deste, poder sobreviver-lhe.
Esta no mais do que uma hiptese; poderia dar-se, ao revs, que a apario de um vivo fosse a ao fisiolgica de um
organismo sobre outro; mas tambm no , por obra, mais do que
uma hiptese.
Existe ainda outra razo verdadeiramente peremptria contra
a objeo tirada da telepatia. Quando o fantasma visto e fotografado no se assemelha ao mdium, no pode ser uma apario do
mdium. Quando, pois, se tem simultaneamente mais fantasmas,
diferentes do mdium, a ao do seu duplo deve ser inteiramente
excluda.
sabido que Vassalo e Porro, em sesses com Euspia, viram vrias vezes seus filhos falecidos; ao prprio Morselli
apareceu a sua me, e por vrias vezes, mas com seios exuberantes e com modos menos corretos dos que lhe eram prprios, e o
389
390
Stevenson, no Chapter on dreams, confessa que as mais originais de suas novelas foram compostas em sonho. Tartini teve,
em sonho, uma das suas mais portentosas inspiraes musicais.
Era em abril narra ele , e da janela entreaberta do aposento
penetrava um arzinho acre. De sbito, abaixaram-se-lhe as
plpebras, fecharam-se, e lhe pareceu divisar uma sombra que se
ergueu ante ele. Era Belzebu em pessoa, com um violino nas
mos, e a sonata comea: um adgio divino, tristemente doce,
um lamento e uma sucesso vertiginosa de notas rpidas, intensas. Tartini estremece, ergue-se, pega seu violino e reproduz no
mgico instrumento quanto em sonho havia ouvido tocar. A
sonata recebeu o nome de Sonata do Diabo, uma de suas obras
mais afamadas.
Tambm Jean Dupr, no sonho, concebeu seu belssimo grupo da Piedade. Em um dia estival, clido e sufocante, Dupr
estava estirado em um div e pensava, preocupado, na pose que
poderia dar ao Cristo. Adormeceu e, em sonho, v o grupo
inteiro, ento acabado, com o Cristo naquela exata pose que ele
anelava e que a sua inteligncia no conseguira fixar completamente.
DISTRAES E AMNSIAS DOS GNIOS
Ora, esta grande influncia do sonho no gnio se explica, segundo vimos, com a grande influncia que tem sobre ele o
inconsciente. E precisamente com o exagerado domnio deste
que se explica igualmente como o gnio seja sujeito a distraes
e amnsias, que justamente lembram a epilepsia. Os exemplos
aqui so numerosos.
Um dia escreve o Dr. Veretz Meissonier disse a Dumas:
Se Giraud no morreu, devo t-lo encontrado ontem e, sem
embargo, no o conheci e o saudei friamente; depois recordei
que era o rosto de um amigo, e agora compreendo que deve ser
ele. E correu a pedir-lhe desculpas.
Grossi destruiu, no vaso sanitrio, muitas pginas do seu
Marco Visconti. Torti saiu de uma sala com dois chapus na mo
e foi procurando o seu chapu por toda parte.343 Walter Scott,
394
ouvindo cantar, em um salo, alguns versos, disse: So roubados de Byron, e eram de sua autoria.
Carlyle disse a Fronde que desejava publicar suas Memrias,
que havia esquecido quanto escrevera a tal propsito. Das distraes de Ponchielli e Galuppi fizeram-se monografias. Assim,
segundo Mandelli, de quando em vez Ponchielli saa de uniforme, com chapu alto e de chinelos; chovendo, conservava fechado o guarda-chuva, molhando-se totalmente; tomando caf,
enquanto jogava bilhar, acontecia amide dar giz ao taco com
um tablete de acar, desesperando-se depois por no carambolar.
Mas, inconsciente no equivale a inexistente; o estado de inconscincia pode fazer vir tona e reunir, em fecundo conbio,
ideias e fatos mais ou menos esquecidos e que por isso no
existiam na conscincia viva do indivduo, mas no os fatos que
jamais aprendeu. Assim, se devemos admitir, com Flournoy,344
que a Smith, quando pretende falar o idioma de Marte, se sugestiona por velhas recordaes, suas ou dos presentes; quanto a
lnguas estrangeiras, compreende-se como, na exaltao do
xtase espirtico, as escassas fragmentrias notcias sobre Maria
Antonieta nela tomassem vulto, de igual maneira que, sob excitao do estro genial, nas ideias adormecidas e fragmentrias se
destacam de pronto e do lugar a descobertas. No podemos
admitir, porm, com ele que a teoria do inconsciente e da criptomnsia explique exatamente os 40 vocbulos de snscrito e os
versos em snscrito ditados por ela, s por haver visto, por
brevssimo tempo, a capa de uma gramtica snscrita. Nem
admissvel que tenha podido reproduzir exatamente a firma do
alcaide e do proco de um lugarejo remotssimo, remontando a
poca distante (1839), s por haver estado em um vale prximo,
em passeio esportivo, porm no paleogrfico.
Se se liga um fio ao dedo de certa mulher e a outra extremidade a um anel que penda no centro de um copo vazio, pode-se
frequentemente, ainda que ela no queira diz-lo, saber sua
idade, porque o anel bater tantas vezes quantos anos de idade
tenha ela. Isto verssimo, porm a mulher sabe a idade que tem;
portanto, uma parte do enigma est descoberto e no se trata de
395
0
Notas:
1
Numerosas e variadssimas so as manifestaes medinicas objetivas e subjetivas, e Euspia oferecia aos estudiosos
apenas uma parte dos fenmenos objetivos. (Nota da Editora.)
4
Entre os que Lombroso deu a conhecer ao mundo, citam-se,
por exemplo, Fo, Patrizi, Ferrero, Rossi, Barsilai, Turati, etc.
5
Ferrero, que sempre se negara a assistir s sesses com
Euspia, aqui se refere certamente parte da famlia, visto que
exatamente nesse mesmo ano de 1907 (La Lettura, I vol.,
pgina 389), Paola Lombroso, ilustre escritora e filha do sbio
de Verona, publicava, sob o ttulo Eusapia Paladino (Cenni
biografici), um artigo em que ela, mui simpaticamente, prestava uma espcie de homenagem humilde mdium italiana.
(Nota de Z. W.)
6
Trabalho de autoria do Prof. A. Marzorati, ilustre colaborador de Lombroso nas experincias com Euspia Paladino.
A Editora brasileira incluiu-o nesta obra, traduzindo-o da
famosa revista Archivio di Antropologia Criminale, Psichiatria, Medicina Legale e Scienze affini, 1909, pginas 593 a
603.
7
Eletricit animale, Lyon, 1808.
8
Por agora, a noo do duplo (v. cap. Duplos), onde daremos uma tentativa de explicao.
9
Archivo di Psichiatria e Scienze Penali, vol. 11, pg. 415.
10
Lombroso, Grimaldi ed Ardu Sulla transmissione del
pensiero, Turim, 1881.
11
Csar Lombroso Studi sull Ipnotismo, Turim, 1882.
12
Thougt Reading, 1883.
13
La Suggestion Mentale, 1890.
14
Se bem escuto, parece que antecipadamente vedes o que
consigo o tempo traz, mas o mesmo no sucede com relao ao
presente.
15
O mesmo ocorreu em Messina, sob a emoo do terror, em
dois terremotos.
398
16
399
34
jbilo dos escolsticos, a mesma Pessoa da S. S. Trindade revelava a Santa Catarina que Nossa Senhora havia concebido no
pecado, como afirmavam os Tomistas. Tal qual os Espritos
modernos revelam a Allan Kardec a teoria da reencarnao, e a
Jackson Davis o contrrio. De resto, nas revelaes dos santos
cristos a mesma nebulosidade, vaniloquncia e verbosidade
dos profetas hebreus e dos mdiuns escreventes espiritistas, o
mesmo abuso de alegorias, o mesmo gosto de no concluir, de
no desencravar declaraes explcitas e concretas. Leo Augusto, na Via de S. Joo Crisstomo, Joo Damasceno (De
imaginibus, orat. I) e outros autores eclesisticos, conservaram
um caso de mediunidade escrevente. Certa noite, Proclo, antes
de entrar no recinto onde estava trabalhando S. Joo Crisstomo, olhou pelo orifcio da fechadura e viu, com grande surpresa, um homem de venervel aspecto que ditava ao santo, enquanto este escrevia. Retirando-se, voltou na noite seguinte e
reviu o mesmo espetculo. Fez que outros olhassem, mas estes
viam Crisstomo inteiramente s. Compreendeu ento que se
tratava de um prodgio e interrogou respeitosamente o santo, e
este lhe confessou que todas as noites o apstolo dos Gentios
vinha ditar-lhe os Comentrios s Epstolas de S. Paulo. Proclo
era pessoa bastante autorizada, tanto que sucedeu Crisstomo
na cadeira episcopal de Constantinopla. (Baudi de Vesme
Stria dello Spiritismo, Turim, 1897, vol. II, pgs. 139 e seguintes.)
48
Ipnotismo e Spiritismo, 1906, pg. 110.
49
Tambm se pode formular, a propsito, a hiptese de uma
faculdade que os mdiuns tivessem de desmaterializar e rematerializar a eles prprios e os objetos circunvizinhos com fulminante rapidez. Mas, isto no explicaria a levitao, e incombustibilidade, a profecia e, ainda que parecendo mais simples,
seria igualmente difcil compreender-se tanto quanto o espao
na quarta dimenso.
50
Per lo Spiritismo, pg. 195.
51
Zllner, depois de haver preso em um n as duas extremidades de comprido cordel e ao n aposto um controle, o sub401
meteu imprevistamente aos olhos de Slade, expressando o desejo de que se formassem ns; e tudo, de golpe, vi realizado,
enquanto as mos de Slade permaneciam a um centmetro do
fecho-controle, que ficou intacto.
Em outra tentativa, Zllner ligou dois grossos aros a uma
cordinha, que amarrou e colocou suspensa borda da mesa
sobre a qual Slade descansava as mos. Imprevistamente os
aros se desprenderam do lao e foram achados aos ps de outra
mesa que lhe estava vizinha.
52
Usi e costumi siciliani, vol. IV.
53
Inciurmadori Maghi a Benavento, Npoles, 1900.
54
Weltspiegel, 1907.
55
Souv Folklore dans les Vosges, pg. 169.
56
Sbillot Folklore, 1890.
57
Turim, 1890; Di Vesme Storia dello Spiritismo, vol. II.
1906.
58
Revue des Deux Mondes, 1841.
59
Ida Pfeifer Reise, cap. VIII.
60
Un viaggio nel paese dei Nias, 1890, Milo; Di Vesme
Ob. cit.
61
G. de la Vega Hist. de los Incas.
62
DOrbigny Homme americaine, II, pg. 65.
63
M. Bartolo Die Medizin der Naturvolkers, Leipzig.
64
Di Vesme Ob. cit., t. II, pg. 203.
65
Le Spiritisme dans le monde, Paris, 1875.
66
Adianta notar esta precauo to acurada para aqueles que,
de oitiva, julgam puras mistificaes os fenmenos dos faquires.
67
Loc. citada.
68
Alienist, 1898.
69
Bartels Ob. cit.
402
70
97
123
405
142
161
178
200
227
410
253
282
321
344
345
416