Vibraphone

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Let vibrate:

Um breve panorama sobre o vibrafone na msica do sculo XX


Fernando Chaib (Universidade do Aveiro, Portugal)

Resumo: Este artigo traa um panorama elucidativo sobre a origem e o desenvolvimento do


vibrafone e de seu repertrio na msica erudita durante o sculo XX. Ao citar expoentes da
msica desse sculo, como precursores do repertrio destinado ao vibrafone, procuraremos
explicitar a importncia deste instrumento no desenvolvimento de novas linhas de composio
e pensamento esttico. Este trabalho espera contribuir para o enriquecimento das escassas
informaes existentes em lngua portuguesa sobre o vibrafone.
Palavras-chave: vibrafone; msica do sculo XX; organologia.
Abstract: This article surveys the origins and development of the vibraphone and its
repertory in twentieth century concert music. After tracing briefly the history of the
instrument itself, I will consider how the works of some composers were not only crucial in
broadening the vibraphone's repertoire, but were also helpful in fostering new aesthetic
thoughts in musical composition. The present article also aims at expanding the scarce
bibliography on the vibraphone in Portuguese language.
Keywords: vibraphone; twentieth century music; organology.
.......................................................................................

CHAIB, Fernando. Let vibrate: Um breve panorama sobre o vibrafone na msica do sculo XX.
Opus, Goinia, v. 14, n. 1, p. 50-64, jun. 2008.

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entre os instrumentos musicais emergentes da primeira metade do sculo XX, o


vibrafone recebeu especial ateno de compositores e percussionistas ao
protagonizar estudos ligados ao desenvolvimento de meios originais de extrao
do som e na produo de diversos e inditos tipos de colorido sonoro.1 Todas as
investigaes e, por conseqncia, as obras compostas para este instrumento de percusso
contriburam para que ele recebesse o status de solista, indispensvel nos conjuntos de
msica contempornea e nos programas dedicados msica do sculo XX nas orquestras
sinfnicas. Desta forma, o vibrafone foi construindo o seu espao no cenrio musical
erudito, firmando-se como um dos personagens principais dentre os instrumentos de
percusso, como afirma Zampronha (2007):
O vibrafone realmente um dos instrumentos de percusso de maior destaque na msica
do sculo XX. H um repertrio importante que inclui o instrumento, um repertrio
sofisticado, de grande qualidade e virtuosismo. [] Finalmente, acrescentaria que o
destaque que tem o vibrafone se completa realmente quando se considera o repertrio que
h para o instrumento e a qualidade das interpretaes. a unio entre um instrumento
com as qualidades mencionadas e um timo repertrio tocado por grandes intrpretes que
efetivamente coloca o instrumento inegavelmente em uma posio de grande visibilidade. E,
sem dvida, isto o que ocorre com o vibrafone no sculo XX.

Este artigo buscar explanar algumas questes pertinentes para uma compreenso
melhor a respeito do papel desempenhado pelo vibrafone na msica do sculo XX.
Discorreremos sobre sua origem, exporemos alguns conceitos existentes sobre o
instrumento elaborando um texto que condiga de maneira fiel sua concepo terica.
Introduziremos um breve panorama sobre o desenvolvimento de seu repertrio
enquadrado na msica contempornea de carter erudito, o que certamente motivar uma
reflexo sobre explorao sonora e tmbrica no instrumento e a continuidade das pesquisas
realizadas sobre o mesmo.

1 Alguns compositores como Jorge Antunes, Jos Manuel Lpez Lpez e Karlheinz Stockhausen utilizamse com freqncia desta expresso quando se referem a variaes sonoras de certo timbre bem como
sonoridades especficas deste ou daquele instrumento (ou de um conjunto qualquer de instrumentos).

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Origem do Vibrafone
A origem do vibrafone se d nos Estados Unidos no incio do sculo XX. Ainda na
primeira dcada desse sculo a companhia Leedy Manufacturing Company2 desenvolveu um
instrumento chamado Steel Marimbaphone3 com uma extenso de trs oitavas (F2 a F5).
Suas lminas, feitas de ao, eram cncavas com um desenho curvo nas extremidades,
possuindo tubos ressonadores instalados por baixo das mesmas. As notas naturais eram
dispostas horizontalmente (paralelas ao cho) enquanto que as notas acidentais dispunhamse na posio vertical (perpendicular ao cho). Em 1916, Herman Winterhoff4 concebeu a
idia de aplicar o conceito da vox humana baseando-se neste instrumento, iniciando ento
suas primeiras experimentaes com o intuito de criar um efeito de vibrato. Com um
motor acoplado ao instrumento rente ao cho e com placas pulsantes (pulsators) que faziam
um movimento para frente e para trs inseridas no topo dos tubos de ressonncia,
conseguiu-se extrair um efeito inicial de vibrato. Este instrumento acabou por receber o
nome de vibrafone. verdade que este primeiro modelo iria revolucionar o mecanismo de
discos de metal inseridos nos tubos com o intuito de extrair o efeito de vibrato, mas foi logo
abandonado por no se apresentar funcional e causar muitos rudos. A extrao do som
com o vibrato desejado ocorre no ano de 1921 atravs de um mecanismo de placas
circulares inseridas nos tubos de ressonncia do instrumento, movidas por fora motriz
ligada eletricidade (AC DC), permitindo a realizao de um movimento contnuo. A partir
desse novo recurso implementado no instrumento a companhia Leedy Manufacturing
Company, em 1921,5 nomeadamente representada por George Way6 designa-o com o
nome de Vibraphone (aqui, o instrumento j possua todas as lminas na posio horizontal).
No entanto, este instrumento ainda no possua um mecanismo que fosse capaz de abafar o
som extrado das lminas, o que caracterizava uma ressonncia excessiva. Ou seja, tudo o
que se tocava no vibrafone ressoava at o som dissipar-se naturalmente (salvo com a
interveno das prprias baquetas ou das mos sobre as teclas). Este problema foi
solucionado em 1927, quando o percussionista e construtor de instrumentos William
Billy Gladstone desenvolveu o mecanismo de abafamento das lminas atravs de um pedal
2 Empresa com sede em Indianpolis, EUA. Existem na literatura internacional especializada dois nomes
atribudos mesma empresa na poca em questo. O The New Grove Dictionary of Music and Musicians
(2001), por exemplo, cita essa empresa como sendo a Leedy Drum Company, enquanto que a referncia
feita pelo PAS Museum (2006) ou pelo National Music Museum (2006) de Leedy Manufacturing Company.
3 Em lngua portuguesa: Marimba de Ao".
4 poca vice-presidente da Leedy Manufacturing Company.
5 Esta data pode variar entre 1922 e 1921. Segundo Harold Howland, a data mais precisa seria 1921.
(HOWLAND, 1977).
6 poca, Promotor de Vendas da empresa.

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ligado a uma barra feita de um tipo de material abafador que percorria toda a extenso do
vibrafone, encostando-se s pontas das lminas conforme o pedal era acionado. Em Abril de
1927 a companhia J. C. Deagan, que tambm desenvolvia pesquisa no mercado sobre
instrumentos de percusso feitos de metal (a exemplo do seu modelo de Steel
Marimbaphone, Organo Vibrato Harp e Deagan Tower Chimes System), apresenta um tipo de
vibrafone com modificaes pertinentes ao modelo Leddy:
Aparncia escurecida, timbre misterioso [causado pela substituio das lminas de ao para
lminas de alumnio], entonao harmnica refinada e, talvez a mais significativa mudana, um
mecanismo de abafamento por pedal fixo dando o mximo controle para a expresso dos
fraseados, ultrapassando as possibilidades do Vibraphone Leddy (HOWLAND, 1977, p. 84).

A companhia J. C. Deagan atribui-lhe o nome de Vibra-Harp (cuja patente viria


apenas em 1930). A partir de ento, todos os instrumentos de teclas fabricados com
alumnio, sistema de placas circulares e pedal abafador, viriam a ser cpias deste modelo. De
fato, todos os instrumentos desta natureza, fabricados a partir de 1927, deixaram de se
basear no modelo de vibrafone Leddy. Como conseqncia da concorrncia de mercado, a
Leddy Manufacturing Company acabaria por abandonar o seu modelo original, incorporando
as modificaes da companhia J. C. Deagan sem abdicar, contudo, do nome atribudo ao
instrumento em 1916 (Vibraphone) patenteando-o definitivamente no dia primeiro de
Novembro de 1927. O Vibra-Harp pode ser considerado o primeiro modelo de vibrafone
(no seu aspecto fsico) como o conhecemos hoje. A partir de 1932 nota-se, pela literatura
da poca, uma simplificao deste nome para Vibraharp (patente nunca oficializada pelo U. S.
Patent Office). Chegamos por tanto curiosa concluso de que, baseando-se no instrumento
qual o conhecemos hoje, o seu nome correto seria Vibra-Harp (ou Vibraharp) e no
Vibraphone. A questo que o nome que se tornou popular para fazer referncia a este
instrumento foi o de Vibraphone. Hoje em dia o termo Vibra-Harp ou Vibraharp j est
praticamente esquecido sendo utilizado apenas por alguns msicos e entendidos no
assunto, pertencentes s geraes mais velhas, ou encontrado em artigos e partituras
antigos.
Definio de Vibrafone
Uma descrio consagrada desse instrumento na literatura internacional
especializada encontra-se no The New Grove Dictionary of Music and Musicians, que, apesar de
longa, traduzo e transcrevo para efeitos de comparao:
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Metalofone da famlia dos instrumentos de percusso de lminas. Foi desenvolvido nos
Estados Unidos, chamado por vezes de Vibraharp ( classificado com um idiofone, conjunto
dos instrumentos de percusso de lminas). As notas so produzidas pela vibrao das
lminas de metal amplificadas por um tipo especial de ressonador ou eletronicamente,
produzindo um som pulsante. As lminas, arranjadas como um teclado, so suspensas por
cordas em seus pontos nodais. Esto dispostas no mesmo nvel (em contraste com as
notas pretas do xilofone), facilitando a manipulao de trs ou mais baquetas. As baquetas
utilizadas normalmente so de borracha, por vezes revestida com l podendo, em alguns
casos, essas texturas influenciar na colorao do som. O som produzido pelas lminas de
longa durao; o instrumento equipado com um artifcio de sustentao sonora
controlado pelo p, funcionando similarmente como o pedal de sustentao sonora do
piano (a presso sobre o pedal alivia o abafador de feltro; em modelos mais antigos as notas
ressoavam sem interveno, sendo abafadas pela presso realizada pelo pedal). A extenso
usual do vibrafone de concerto compreende 3 oitavas (F F); instrumentos de 4 oitavas
(C C) comearam a estar disponveis a partir do ltimo quarto do sculo XX, e
passaram a ser comuns principalmente no continente europeu. [] A caracterstica
particular do vibrafone o seu vibrato nico. O efeito de ressonncia dos tubos obtido
pelo repetido abrir e fechar da parte de cima dos mesmos por um mecanismo giratrio de
ventoinhas (discos planos de metal). Estes discos esto acoplados a um eixo que gira por
fora motriz. A repetida 'interrupo' do som causada faz emergir uma srie de pulsaes,
que tm a sua velocidade condicionada ao giro do eixo (BLADES; HOLLAND, 2001, p. 521523).

J na literatura especializada em lngua portuguesa, encontramos a seguinte


definio de vibrafone no Dicionrio de Percusso, obra de referncia na rea:
Nome do instrumento criado nos Estados Unidos em 1921. composto por uma srie de
lminas de metal afinadas, colocadas numa estrutura alta que permita ao instrumentista
tocar em p, dispostas como um teclado de piano. A extenso padronizada pela indstria
de trs oitavas entre F3 e F6. Possui mecanismo para abafar a vibrao das lminas por
meio de uma barra coberta com feltro que se encosta a extremidade de todas as teclas ao
mesmo tempo, acionadas por um pedal. Tem tubos ressonadores, em cuja extremidade
superior passa um eixo de metal com placas circulares na entrada de cada tubo. Esse eixo
girado por meio de polias movimentadas por um pequeno motor eltrico colocado debaixo
do teclado. O giro do eixo faz que as placas tambm girem na entrada dos tubos, deixandoos alternadamente fechados e abertos conforme a velocidade dadas pelo motor s polias.
Quando a tecla percutida, estando o abafador desencostado do teclado e o mecanismo do
eixo funcionando, o efeito conseguido de uma nota com vibrato, resultado do rpido abrir
e fechar dos tubos. (FRUNGILLO, 2002, p. 382).

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Ao analisar estes dois textos permitimo-nos acrescentar maiores informaes a


respeito deste instrumento, contribuindo para uma definio terica mais detalhada.
Quando os autores se referem ao material utilizado para a fabricao das lminas, seguimos
no sabendo exatamente do que elas so feitas j que, observando a Tabela Peridica de
Elementos Qumicos, percebemos que existem mais de vinte tipos de metais (sem
considerarmos os de transio, onde o nmero passaria para mais de sessenta). Sabemos
que originalmente o vibrafone possua lminas de ao (tambm um tipo de metal) mas que,
em pouco tempo, este material foi substitudo por alumnio. A informao mais atual indica
que as lminas so fabricadas a partir de uma liga metlica7 onde o alumnio a base da
mistura. Nos dois textos a referncia estrutura fsica do vibrafone vaga, no estando
sequer especificada a altura do instrumento. As lminas do vibrafone so dispostas da nota
mais grave para a mais aguda, de modo diatnico (notas naturais) e pentatnico (notas
acidentes) como um teclado de piano (sem o desnvel da escala pentatnica para a
diatnica), sobre um suporte em forma de trapzio, horizontal e paralelo ao cho, apoiado
por quatro barras (uma em cada extremidade do trapzio) com rodas em sua parte
inferior. A altura deste suporte normalmente compreende o eixo do corpo de um
indivduo de mdia estatura. Hoje em dia existem vibrafones fabricados com altura
regulvel, permitindo que o intrprete disponha-o na altura desejada.
Ao contrrio do que afirma Frungillo, pela terminologia em msica utilizada no
Brasil, o correto seria afirmar que a extenso das trs oitavas do vibrafone compreende do
F2 ao F5. Sabemos por exemplo que at a data de publicao da edio deste Dicionrio de
Percusso j existiam modelos de vibrafone fabricados pela indstria com uma extenso
maior do que a afirmada pelo autor brasileiro (trs oitavas e meia, do D2 ao F5 e de
quatro oitavas, do D2 ao D6); Os tubos ressonadores esto dispostos, cada um, sob
uma lmina e afinados respectivamente conforme a afinao das mesmas. importante
deixar claro que o giro do eixo que trespassa a parte superior dos tubos, onde esto
instaladas as placas circulares, um movimento contnuo; A informao sobre o
posicionamento do motor no menciona exatamente onde ele se encontra instalado. A
posio do motor do vibrafone est padronizada pela indstria, localizando-se por baixo das
lminas mais agudas da escala diatnica (geralmente as duas ltimas), na parte frontal do
instrumento em sua extremidade esquerda (visto de frente pelo intrprete). O mecanismo
de manipulao do motor (regulador de velocidade) quando no se encontra acoplado ao
motor situa-se na mesma extremidade, mas na parte superior do suporte. Existem
diferentes modelos de vibrafone onde o sistema eltrico poder ser analgico ou digital; O
7 Segundo a fbrica brasileira de instrumentos musicais Jog Music, trata-se de um Alumnio em liga especial.

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som com efeito de vibrato pode ser extrado tambm com o movimento lento das placas
circulares, e no necessariamente apenas com o rpido abrir e fechar dos tubos, como
afirma Frungillo; O autor brasileiro no especfico em relao designao aplicada ao
material que percutido para se extrair o som caracterstico do vibrafone, utilizando
diferentes expresses como lminas e tecla para denotar a mesma coisa.
Ao aproveitar a base textual de Frungillo, acrescentando os pontos expostos no
pargrafo anterior (que pensamos serem pertinentes para uma melhor compreenso do
instrumento enquanto objeto), procuramos dar a nossa contribuio para chegarmos a um
significado terico mais fiel a respeito do vibrafone:
Instrumento da famlia da percusso, composto por lminas com altura definida, desenvolvido em
1921 nos Estados Unidos. Possui uma srie de lminas retangulares feitas de alumnio em liga
especial com afinao temperada. Suas medidas8 compreendem entre 37cm e 16cm de
comprimento, 6cm e 3cm de largura, das mais graves s mais agudas, respectivamente. Essas
lminas so suspensas lado a lado por uma corda que as trespassa em seus pontos nodais, da nota
mais grave mais aguda (proporcionalmente diminuindo de tamanho), de modo diatnico (notas
naturais) e pentatnico (notas acidentes) como um teclado de piano (mas sem o desnvel que h
entre as teclas brancas e pretas). Esto dispostas sobre uma estrutura fsica composta por quatro
barras que as sustentam (duas para as lminas em modo pentatnico e duas para as lminas em
modo diatnico), formando a figura geomtrica de um trapzio horizontal e paralelo ao cho.
Esta estrutura fsica se apia sobre quatro esteios (um em cada extremidade do trapzio) com
rodas em sua parte inferior. A altura da superfcie do instrumento normalmente compreende o eixo
do corpo humano de um indivduo de mdia estatura (j existem no mercado alguns modelos
fabricados com altura regulvel, permitindo que o intrprete nivele-o como desejar). Possui um
mecanismo abafador composto por uma barra retangular coberta com feltro que se estende da
lmina mais grave mais aguda, encostando em suas extremidades ao mesmo tempo. Esse
mecanismo, ao ser acionado por um pedal, desencosta das lminas permitindo que as mesmas
vibrem por mais tempo, prolongando o seu som. O pedal situa-se no centro do instrumento, rente
ao cho, suspenso por uma fina haste de metal que o une at a barra retangular. Cada lmina tem
disposta sob si um tubo ressonador correspondente sua afinao. Na extremidade superior de
cada tubo existe uma placa de metal (alumnio ou ao) em formato circular acoplada a um eixo
cilndrico que trespassa todos os tubos de uma s vez. Esse eixo girado por meio de polias
movimentadas por fora motriz (AC DC) em movimento contnuo, cuja velocidade pode ser
regulada a critrio do intrprete, a posio do motor do vibrafone padronizada pela indstria, e
localiza-se abaixo das lminas mais agudas da escala diatnica (geralmente as duas ltimas), na
parte frontal do instrumento em sua extremidade esquerda (visto de frente pelo intrprete) o giro

8 Esta medida refere-se ao modelo padro com extenso de trs oitavas, utilizado em salas de concerto.
Podero, entretanto, sofrer pequenas alteraes dependendo do fabricante e do modelo do instrumento.

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do eixo faz com que as placas tambm girem na entrada dos tubos, deixando-os alternadamente
fechados e abertos conforme a velocidade dada pelo motor s polias. Este sistema motriz pode ser
realizado atravs da manipulao analgica ou digital, dependendo do modelo do instrumento. O
som das lminas extrado, geralmente, pelo ataque de baquetas com cabeas de borracha
revestidas com l, ainda que existam outros meios de extrao sonora do instrumento. Quando as
lminas so percutidas, estando o abafador desencostado das mesmas e o mecanismo do eixo
cilndrico funcionando, consegue-se extrair o efeito de vibrato. A extenso padronizada pela indstria
de trs oitavas entre F2 e F5. No entanto j existem modelos no mercado, fabricados por
algumas companhias, com uma extenso maior podendo atingir trs oitavas e meia, do D2 ao F5
ou 4 oitavas, do D2 ao D6. Toda a estrutura fsica do vibrafone (barras, esteios, pedal) pode ser
confeccionada com diferentes materiais (madeira, metal, plstico, carbono) dependendo do modelo
do fabricante.

Desenvolvimento do repertrio para o vibrafone no sculo XX


Durante as primeiras dcadas do sculo XX o vibrafone bastante utilizado na
msica popular norte-americana, mais especificamente no jazz. Lionel Hampton (19132002) e Adrian Rollini (1904-1954), vibrafonistas norte-americanos, cumprem o papel de
pioneiros na incluso do instrumento em conjuntos desse estilo musical (desde pequenos
grupos at as chamadas Big Bands). Posteriormente nomes como Milt Jackson (1923-1999),
Victor Feldman, (1934-1987), David Friedman (1945), Dave Samuels (1948) e
principalmente Gary Burton (1943) vo, definitivamente, fazer com que este instrumento se
torne um personagem importante no jazz instrumental norte-americano, popularizando-o e
ajudando a inseri-lo em outros estilos musicais de cunho popular e erudito em diversos
pases do continente americano, europeu e asitico.
A constante busca no vibrafone por uma maior versatilidade tcnica e musical
explorada por instrumentistas, aliada grande possibilidade de explorao tmbrica, chamou
a ateno de diversos compositores da msica erudita ainda na primeira metade do sculo
XX. Estes compositores passaram ento a produzir obras onde este instrumento passaria a
ter um espao significativo num universo musical em que ainda era um objeto totalmente
desconhecido. Todas estas aes fizeram do vibrafone, no decorrer do sculo precedente
at o incio deste sculo, alvo de muita pesquisa e produo por parte de compositores,
intrpretes e construtores de instrumento. Esse trabalho, muitas vezes em conjunto,
possibilitou (e ainda possibilita) desenvolver e apresentar solues para questes tcnicas e
sonoras do instrumento. Essas iniciativas, alm de contribuir para o acabamento final da sua
concepo fsica como o conhecemos hoje, deram origem a composies dos mais variados
estilos. A pera The Tigers do compositor ingls Havergal Brian, orquestrada entre 1918 e
1930 , possivelmente, a primeira obra erudita em que o vibrafone possui uma parte
opus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 7

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significante dedicada a ele (onde o compositor exige a presena de dois vibrafones). Outras
obras pioneiras na insero desse instrumento no repertrio erudito foram a pera Lulu,
escrita entre os anos de 1929 e 1935 por Alban Berg, Trois Petites Liturgies (1944) de Olivier
Messiaen e Sinfonia da Primavera (1949) de Benjamin Britten.
O compositor francs Darius Milhaud (1892 1974) aparece, sem dvida, como
um dos principais compositores a dar a devida importncia a este instrumento na
conjuntura musical internacional vigente daquela poca. Alm de escrever para o vibrafone
em sua obra L'annonce faite Marie (1932) compe, em 1947, o primeiro concerto9 em que
o vibrafone aparece como instrumento solista (em conjunto com a marimba),
estabelecendo-o como o mais jovem personagem solista da msica erudita. Lesnik (1997, p.
58) comenta o seguinte a respeito desta composio: Sendo o primeiro deste tipo, este
Concerto para Marimba e Vibrafone representa o estabelecimento do vibrafone como um
srio instrumento de concerto. No h como questionar a importncia desta obra para a
histria do vibrafone dentro do desenvolvimento esttico musical que ocorria no ocidente
no sculo XX. O fato que Lesnik busca comprovar isso partindo de uma linguagem
musical especfica, o que pode colocar em risco a reputao deste instrumento antes de sua
insero na msica erudita. Atravs desta afirmao a autor sugere que o vibrafone apenas
se estabeleceu como um srio instrumento de concerto depois de se enquadrar, como
solista, no estilo musical erudito. De fato, Lesnik no se expressou da maneira mais
adequada visto que o vibrafone j integrava as grandes orquestras de jazz a partir da
segunda metade da dcada de 20. Lionel Hampton, na dcada de 30, j despontava como
exmio intrprete deste instrumento diante de vrias Big Bands nos Estados Unidos
(tocando com importantes personagens do jazz norte-americano como o pianista e
arranjador Duke Ellington) colocando o vibrafone num patamar de instrumento solista da
msica popular norte-americana.
Na dcada de 50, o vibrafone firma-se como um instrumento indispensvel para
composies sinfnicas na msica contempornea. Diversos concertos (inclusive para
outros instrumentos), obras sinfnicas, peas para msica de cmara e solos foram escritos
desde ento. Durante essa dcada obras como o Concerto para Violoncelo (1956) de Wiiliam
Walton, Vibraphon Concerto (1959) de Carlo Fonci, Serenata n. 2 (1954, revisada em 1957)
de Bruno Maderna ou Seven Studies on a Theme of Paul Klee (1959) de Gunther Schuller
protagonizaram a confirmao desse momento histrico de insero do vibrafone no
universo musical erudito. Um dos mais famosos excertos orquestrais para este instrumento
encontra-se na obra de Leonard Bernstein, West Side Story, composta em 1957 (Ex.1).
9 MILHAUD, D. Concerto for Marimba, Vibraphone and Orchestra (1947). Primeira audio em St. Louis a 12
de Fevereiro de 1949, por Jack Conner, a quem a obra foi dedicada.

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Ex. 1: Leonard Bernstein, West Side Story (1957), trecho final do solo de vibrafone.

Entre os anos de 1974 e 1975 Stuart Saunders Smith (n1948), compositor norteamericano, compe uma srie de trs peas para vibrafone solo intituladas Links (Ex.2).

Ex. 2: Stuart Smith: Links No.2 (1975), incio da segunda pgina.

Estas peas so composies do mais alto nvel tcnico e musical, revolucionando


o repertrio existente para o instrumento, exigindo do vibrafonista o desenvolvimento de
novas solues tcnicas para a sua performance, ampliando os recursos existentes para
extrair maior musicalidade do vibrafone. Welsh (1983, p. 75) faz a seguinte afirmao a
respeito deste conjunto de peas:

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Stuart Smith comps algumas das mais difceis obras para o repertrio do vibrafone solo. A
performance para estas composies requer do instrumentista o mais alto nvel tcnico e
grande sensibilidade musical. Resumindo, a srie Links um conjunto de obras
extremamente virtuossticas [] onde o instrumentista deve entender as formas complexas
escritas [], executar ritmos complexos, resolvendo problemas de performance fsicos e
tcnicos.

Sons invulgares no repertrio destinado ao vibrafone


O vibrafone foi concebido originalmente para ser executado com baquetas
confeccionadas com cabeas de borracha revestidas com l. No entanto, pesquisas
realizadas no sculo XX relacionadas explorao tmbrica resultaram em sons bastante
inusitados, nunca imaginados inicialmente para o instrumento em questo. Em muitos casos
os compositores indicam a utilizao de diversos tipos de materiais e dispositivos em suas
obras, dispostos diretamente no instrumento. Estes artifcios produzem determinados
resultados sonoros bastante especficos e invulgares relacionados ao timbre padro do
instrumento. Christopher Deane faz algo do gnero em sua obra intitulada Mourning Dove
Sonnet (1983), onde o compositor norte-americano indica a partir do compasso 42 com a
expresso place mute on bars que a regio grave do vibrafone (entre o F2 e Si2) deve ser
abafada (Ex.3).10

Ex. 3: Christopher Deane: Mourning Dove Sonnet (1983), compassos 41 a 43.

Neste caso, as lminas devem ser preparadas pelo executante com algum material capaz
de produzir um som abafado. Outras experincias realizadas com o vibrafone resultaram na
utilizao de outros materiais,11 em substituio s baquetas de lminas, manipulados pelo
instrumentista. O incio de Mourning Dove Sonnet exige a manipulao de arcos de
10 Edio manuscrita pelo compositor. 1983.
11 Arcos de instrumentos de cordas, papis e metais, dedais, utenslios no convencionais para percutir,
etc.

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instrumentos de cordas para diferentes coloridos sonoros e baquetas com a cabea feita de
borracha dura (ou em acrlico) para a extrao do efeito de glissando que uma lmina
capaz de produzir.
A insero de outros instrumentos como coadjuvantes executados em conjunto
com o vibrafone tambm tem a sua importncia histrica para o amadurecimento do seu
repertrio, pois vai diretamente de encontro com o desenvolvimento das solues tcnicas
utilizadas para a manipulao de diferentes baquetas (ou artefatos) em diferentes
instrumentos. O compositor japons Toru Takemitsu (1930-1996), ao compor a obra Rain
Tree em 198112, obriga o vibrafonista a encontrar uma soluo tcnica para a execuo, ao
mesmo tempo, do vibrafone e de uma escala de crotales, em funo da impossibilidade de
troca de baquetas entre um instrumento e outro no decorrer da pea (Ex. 4).

Ex. 4: Toru Takemitsu: Rain Tree (1981), incio do solo do vibrafone com crotales.

O executante, para no sacrificar a explorao dos timbres originais dos


instrumentos aos quais a pea se prope, precisa desenvolver uma maneira de sincronizar a
manipulao das baquetas de vibrafone com as baquetas de crotales, sem comprometer o
resultado musical.
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O compositor francs Franois Bernard Mache compe no mesmo ano uma obra para vibrafone e nove
tambores intiulada Phenix.

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Continuidade de pesquisa e produo musical para o vibrafone.


As pesquisas e os trabalhos feitos sobre o vibrafone relacionados a todo tipo de
questo musical e de performance no estagnaram no sculo precedente, surgindo, j no
incio do sculo XXI, composies e interpretaes originais confirmando seu destaque
como um instrumento de excelncia para diversos tipos de formao e composio
musical. Zampronha (2007) faz um comentrio interessante sobre a razo deste contnuo
trabalho de pesquisa referente a este instrumento, originando composies bastante
singulares para o repertrio contemporneo:
H vrias razes para que o vibrafone continue em destaque. Uma destas razes
certamente est na capacidade de produzir uma grande diversidade de timbres ricos,
inventivos e prprios ao instrumento. [] Um dos seus traos marcantes possuir um
controle de durao e articulao do som impressionantes. A possibilidade do uso do pedal
juntamente com a possibilidade de ir abafando as notas permite todo tipo de legatos, meio
legatos e staccatos. O pedal permite uma grande sustentao do som alm de sua fcil
interrupo. Alm disto, o instrumento possui uma ampla variao de dinmica. [] Ou
seja, este instrumento se destaca em meio ao conjunto dos instrumentos de percusso, j
que so muito poucos os instrumentos desta famlia que possibilitam o controle simultneo
de todos estes aspectos do fazer musical.

Muitos compositores, at a data de publicao deste artigo, tm se destacado no


cenrio musical contemporneo e merecem ateno por suas obras compostas para
vibrafone solo. Podemos citar: Links (1974-1975) de Stuart Smith, Bog Music (1978) de
Michael Udow, Rain Tree (1981) de Toru Takemitsu, Phenix (1981) de Franois Bernard
Mache, Omar (1983) de Franco Donatoni, Le Libre Des Claviers (Vibraphone Solo, 1988) de
Philippe Manoury, Intersection (1988) de Jos Manuel Chavez, Clculo Secreto (1994) de Jos
Manuel Lpez Lpez, Domino V (1995) de George Boivin, Vacilaciones (1991) e Linde (1996)
de Daniel Almada, Coil (1996) de Gerard Brophy, Modelagem X-a (1997) de Edson
Zampronha, Concerto pour Vibraphone et Orchestre Cordes (1999) de Emmanuel Sejourn,
Loops (2000) de Philippe Hurel, Vibra Elufa (2003) de Karlheinz Stockhausen e Loosing Touch
(2005) de Edmund Campion. Estas obras, entre outras aqui no mencionadas, contribuem
para o repertrio dedicado ao vibrafone com o mais alto nvel musical e tcnico que uma
composio destinada a este instrumento pode exigir.

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Consideraes Finais
Este artigo procurou esclarecer algumas questes relativas origem do vibrafone
e de que forma seu repertrio foi se desenvolvendo no decorrer do sculo XX. Foi
possvel observar que importantes nomes da msica, na histria recente, deram sua
contribuio para o desenvolvimento desse instrumento enquanto objeto de fazer musical,
ao passo que o mesmo contribuiu para o surgimento de tcnicas e meios de composio e
interpretao bastante originais. Contudo, informaes a respeito de obras escritas (e suas
execues) para este instrumento so bastante escassas na literatura em lngua portuguesa
especializada em interpretao e performance musical, fazendo-se necessria a elaborao
de novos trabalhos que elucidem de que modo as tcnicas de execuo desenvolvidas
podem ser aplicadas no vibrafone para a realizao de interpretaes de alto nvel, relativas
ao seu repertrio.
Referncias
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ZAMPRONHA, Edson. Entrevista concedida a Fernando Chaib. 20 mar. 2007.

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Fernando Chaib Mestre em Msica/Performance pela Universidade de Aveiro, onde
atualmente cursa o Doutorado, e Bacharel em Instrumento/Percusso pela Universidade
Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho. Participou de vrios grupos musicais, destacando-se
no Brasil os grupos PIAP e Durum Percusso Brasil e em Portugal o Performa Ensemble. Toca
como msico convidado em diversas orquestras sinfnicas no Brasil e Portugal, entre elas
OSESP, OSUSP, OSTNCS e vem ministrado cursos e master classes no Brasil, Portugal e
Venezuela. Foi vencedor de concursos e prmios no Brasil e Itlia, realizando concertos
tambm naquele pas. Suas atividades artsticas incluem ainda a direo musical de espectculos
de teatro na cidade de So Paulo e a realizao de arranjos e composies musicais estreados
e executados pelos grupos de percusso Durum Percusso Brasil e Grupo PIAP, com difuso
pela Rdio Cultura de So Paulo. Sua discografia inclui seis CDs, registrando peas
camersticas e com orquestra.

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