Filo de Alexandria e A Tradição Filosófica
Filo de Alexandria e A Tradição Filosófica
Filo de Alexandria e A Tradição Filosófica
Flon de Alexandria
Pouco se sabe sobre a vida pessoal
de Flon de Alexandria (tambm conhecido pela tradio latina como
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Revista Eletrnica Print by UFSJ <http://www.funrei.br/publicaes/ Metavnoia
Metavnoia. So Joo del-Rei, n. 5, p.55-80, jul. 2003
56
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58
particularmente comprometedor no
que respeita obra de Flon:
oso destino.
Ibid., p. 3.
Cf. 1990b, p. 186, 189. V. LEWY, 1969, p.
21-22.
7
59
mesmo daqueles que so inclinados a manter que suas capacidades intelectuais no eram adequadas obteno de seu grande
propsito.11
60
abrigo da alegoria, somente aos iniciados. Ele no por isso menos profundamente judeu sob este aspecto de
seu pensamento, e no renega de
forma alguma a esperana judaica,
para cultivar, fora da perspectiva histrica, como pensava Brhier, uma filosofia e uma moral totalmente desencarnadas.13
14
13
61
17
1950, p. i.
18
1982, I, p. 56.
62
De fato, Flon no esclarece objetivamente a natureza de seus comentrios, que muitas vezes no parecem, primeira vista, ter qualquer
fundamento bblico, mas isso no im-
tter), mas pelo fato de que nossa recenso de origem posterior da que
ele usava.24
19
GUTTMANN, 1964, p. 3.
GOODENOUGH, 1988, p. 9.
21
Cf. ibid., p. 24.
22
Cf. 1976, p. 56-62. A histria, referida
como Os quatro que entraram no Paraso,
contada no Talmud (ghemarah Chaghigah,
14b).
20
23
1982, I, p. 88 et seq.
Cf. FLON, 1959, II, 29-40, p. 463-469,
especialmente 37-40, p. 467/469, onde so
referidas a possesso inspiradora e a identidade das tradues, palavra por palavra,
como se ditadas a cada um [dos ancios] por
um incitador invisvel, sendo ainda enaltecida a fidelidade absoluta ao original hebraico).
27
V. RUNIA, 1990a, p. 13. V. tambm, id.,
1995, p. 152; KAHN, Introduo a De
26
63
64
1991, p. 19-20.
65
33
34
66
prpria religio.
1950, p. 161.
Cf. ibid., p. 253.
67
42
44
68
47
49
69
samento religioso.54
como se a teologia fosse o fim ltimo da filosofia, ou sua plenificao/sublimao, pelo que dito que
Moiss atingira o topo da filosofia, e
que, por orculos, aprendera numerosas verdades dentre as mais complexas da natureza55.
Flon emerge, em primeiro lugar, uma
70
seus sentimentos.56
56
V. A precedncia da Cincia de
Deus em relao s cincias naturais
H algo importante a este respeito
que hoje, de to obscurecido, pode
passar despercebido para muitos,
especialmente helenistas. Antes de
mais nada, devemos ter em conta
que, quando falamos em uma superioridade da teologia em relao filosofia, transportando-nos ao contexto
de Flon, queremos dizer por teologia o desenvolvido e tradicional monotesmo judaico e, por filosofia, o
pensamento grego em toda sua elaborao conceitual. Nesse caso,
tambm devemos lembrar que,
quele tempo, a teologia judaica era
considerada uma autntica e elevada
filosofia. A conhecida mas, s vezes, negligenciada histria que
conta que os judeus eram tidos por
uma raa filosfica oportunamente
referida por Jaeger:
Com efeito, quando os gregos travaram conhecimento com a religio judaica pela primeira vez em Alexandria
no sculo III a.C. [perodo de produo
da Septuaginta, devemos lembrar],
60
71
mologia,
encontrava-se
no
pensa-
61
72
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65
73
na razo (...).71
JAEGER, 1991, p. 67-68. Cf. ARISTTELES, 1990, XII, 8, 1074 a 36-1074 b 14, p.
635-636; III, 4, 1000 a 9-19, p. 129-130.
69
V. RUNIA, 1990a, p. 4-5.
70
JAEGER, op. cit., p. 45. V. n. 5. Sobre Xenfanes de Colofo, v. tambm p. 57, n. 3,
69-70; ARISTTELES, 1990, I, 5, 986 b 2125, p. 40-41.
74
vontade de Deus, mas Flon no podia falar aos judeus como um judeu e
aos gregos como um grego, sendo
obrigado a encontrar razes satisfatrias para ambos a fim de justificar
a lei judaica.72
De um lado, aqueles no afetados pela
filosofia estavam completamente satisfeitos com o mtodo tradicional de
interpretao, e, por esta razo, mostravam-se indiferentes ao novo mtodo
filosfico da alegoria; de outro, alguns
dos que adotaram o mtodo alegrico
de algum modo foram levados a descuidar do mtodo tradicional. Era o
propsito de Flon, por conseguinte,
combinar o mtodo tradicional e o alegrico, impedindo o primeiro de se tornar hostil para com o ltimo e vigiando
este para que no se desligasse daquele. (...)
Referncias
especficas
efetiva
Cf. HEINEMANN, 1962, p. 33. Para a crtica ao projeto desses escritores judeus, v.
passim.
73
WOLFSON, 1982, I, p. 57 sobre essas
tendncias antagnicas, cujos argumentos
Flon parece conhecer e criticar em p de
igualdade, v. passim.
74
Id., ibid., p. 68.
Logo, a influncia de Flon foi importante para o desenvolvimento do pensamento cristo, e estava a uma razo suficiente, do lado rabnico, para
se recusar a autenticidade judaica de
toda a filosofia alexandrina. Mas esta
reprovao oficial no devia impedir os
rabinos de acolher, de maneira mais
ou menos oculta, elementos importantes
da
sabedoria
75
de descontinuidades. Na verdade,
tais dificuldades so parece-nos
ainda mais agravadas e obscurecidas
na medida em que, primeira vista,
qualquer tentativa de contextualizao pode ser considerada verossmil,
desde que se admita (como muitas
vezes se faz) o pressuposto de que a
doutrina de Flon contraditria per
se.
judaico-
78
daica].
76
enfoque, desta precedncia da narrativa bblica sobre a considerao filosfica, da f sobre a intelectualidade,
observada por Kahn em sua introduo ao De confusione linguarum,
onde reconhece, no carter fragmentrio e na aparente desordem
da obra de Flon, que ele no quis
redigir uma dissertao sobre o Logos ou as Potncias, e que as idias
lhe eram sugeridas pela seqncia
dos versculos comentados81.
80
P. 26.
BRHIER, 1950, p. 84.
Brhier, em seu estudo (1950, 84111), distinga os aspectos e interpretaes desse Logos de maneira
bastante similar nossa, no estamos, como ele, em busca da natureza do conceito tal como o emprega
Flon para o autor, a noo fundamentalmente estica, acrescida de
influncias de Herclito e Plato ,
mas sim, da aplicabilidade de cada
uma dessas naturezas, ou acepes, em vista do conjunto do pensamento filoniano. Acreditamos que
Flon, aproveitando-se de noes
bem conhecidas em sua poca, tanto
no meio helenizado quanto no judaico, termina por imprimir uma nova
identidade ao conceito de Logos.
77
1982, I, p. 114.
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Ensaio revisto e ampliado de uma seo de: Establishment violence in Philo and Luke: a study of
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