Farinha de Carne e Ossos
Farinha de Carne e Ossos
Farinha de Carne e Ossos
Artigo Nmero 24
FARINHA DE CARNE E OSSOS
Evandro Campestrini 1
Introduo
A indstria de raes depara com a necessidade de grandes volumes de
ingredientes, havendo com freqncia a escassez de ingredientes alternativos ao milho e
ao farelo de soja. Mesmo no havendo falta de farelo de soja deve-se lembrar que seu
preo regulado no mercado internacional. A formulao dependente da qualidade,
bem como dos preos dos ingredientes, e por isso a competio entre as empresas
comprime a margem de lucro e pe mais presso para reduo de custos de produo
das raes. As boas fontes proticas tm em geral altos custos e os ingredientes
alternativos podem ser usados, mas depende (na dependncia) do conhecimento de sua
qualidade, preo, e do resultado no desempenho dos animais.
Evidentemente que se defende a melhoria da qualidade dos subprodutos de modo
a trat-los como ingredientes e no como commodities, cujo comrcio dispensa maiores
cuidados sobre qualidade nutricional e sanitria. Toda a indstria animal e o governo
deveriam estar atentos para a qualidade e a importncia que as farinhas de origem
animal tm no cenrio nacional, pois h muito a ser feito e com possibilidades de grandes
melhorias no setor (Bellaver, 2001).
A farinha de carne e ossos (FCO) um dos alimentos alternativos que merece
estudos mais detalhados sobre sua composio qumica de modo a se obter o mximo
sucesso na utilizao desta matria-prima. o principal subproduto de abatedouro
utilizado na nutrio animal, sendo uma excelente fonte protica (apresenta teor de
protena bruta entre 35 e 55%) e importante fonte de clcio e fsforo (Vieites et
al.,1999).
Nos ltimos anos, a utilizao de produtos de origem animal em raes, tem sido
muito discutida mundialmente, devido aos vrios problemas decorrentes principalmente
na Unio Europia com doenas como o mal da vaca louca e a febre aftosa.
Segundo Dale (2002), no h motivos para a suspenso do uso de subprodutos de
origem animal para aves, pois no continente americano no se tem notcia da ocorrncia
de enfermidades como o mal da vaca louca, tendo em vista que esta sndrome tambm
nunca foi observada em aves, alm do que, a utilizao de farinhas de origem animal
causa efeito aditivo quando utilizada com protenas de origem vegetal, principalmente em
relao a aditividade observada na utilizao dos aminocidos dietticos pelas aves.
Outro fator de extrema importncia que as farinhas de carne e ossos so fontes de
clcio e fsforo, sendo este o terceiro limitante em relao a custo na formulao de
raes.
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Processamento
Das fontes proticas alternativas, a soja tem qualidade mais varivel e vai da a
importncia de conhecer a origem e o processamento do ingrediente em questo. Isso
far com que se conhea de antemo a formulao, as limitaes do ingrediente, o que
determinar o sucesso ou no sobre a reduo dos custos da rao e o efeito no
desempenho animal com o ingrediente alternativo.
Revista Eletrnica Nutritime
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Resduos do abatedouro
Vsceras/gua
Penas/gua
Sangue
Peneira
gua peneira
Peneira
gua de piso
Gases
Digestor
Depsito
Gases/Trat
Vapor
Tratamento
Pr-aquec
Fossa
Percolador
Digestor
Flotao
Gordura
Coagulador
Lagoa
Depsito
Prensa
Expeller
Percolador
Vapor
Detector
separador
gua/sang
metais
Expedio
Moinho
Fossa de
Vapor
Silos
Secador de
Flocao
anel
Lagoas
Expedio
Silos
Expedio
Figura 1. Fluxogama industrial de subprodutos, segundo Maffi (1994) citado por Bellaver
(2001).
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Citaes De Trabalhos
Santos et al. (2000) avaliando a qualidade de farinha de carne e ossos por meio
da pesquisa de grupos microbianos indicadores de contaminao como contagem de
mesfilos, fungos, coliformes fecais, presena de Salmonella e anlises microscpias
(Tabela 1) e concluram que a contaminao por Salmonella constituiu a principal fonte
de veiculao de patgenos nas raes.
Tabela 1. Anlise de microscopia de ingredientes das raes.
Elemento de analise (farinha de carne e ossos)
Amostra
Plos Couro/colg
Fneros
Contaminantes
FCO 1
++
+++
++
Plstico (+)
FCO 2
++
++
+
Ausente
FCO 3
++
++
+
Sangue (+)
FCO 4
+++
+++
+++
Fibras vegetais, semi-digeridas (+)
FCO5
+
++
++
Fibras vegetais, semi-digeridas (+)
FCO 6
+
+++
++
Sangue (+)
FCO 7
++
+++
Fibras
vegetais,
semi-digeridas
(+),
partculas super aquecidas (++)
FCO 8
+
++
Fibra vegetal semi-digerida (+), plstico
(+), partculas metlicas (+)
FCO 9
+
+++
Vsceras (+)
FCO 10
+++
+++
Fibras vegetais, semi-digeridas (+), penas
(+), sangue (+)
(+) = Escasso; (++) = moderado; (+++) = abundante; (++++) = campo repleto.
FCO = Farinha de carne e ossos
Adaptado de Santos et al., 2000.
Faria Filhoet al., (2002) avaliando a utilizao de farinha de carne e ossos sobre o
desempenho e rendimento de carcaa de frangos de corte observaram que com a
incluso de farinha de carne e ossos (3% e 6%), prejudicou o desempenho das aves nos
perodos de 0 a 21 dias e de 21 a 49 dias de idade (Tabela 2), observaram ainda que a
deposio de gordura abdominal mais elevada em frangos alimentados com dietas
contendo farinha de carne e ossos e as demais caractersticas de carcaa no foram
comprometidas (Tabela 3).
Vieites et al. (1999a), determinando valores energticos de seis amostras de
farinha de carne e ossos, concluram que necessria a padronizao fsico-qumico das
farinhas de carne e ossos a fim de usarem valores energticos mais exatos na formulao
de raes para aves.
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Tabela 5. Resultados para consumo de rao (CR), ganho de peso corporal (GP),
converso alimentar (CA), viabilidade criatria (VC) e ndice de eficincia
produtiva (IEP) de 1 a 49 dias de idade.
Caractersticas avaliadas
Fatores
CR (g)
GP (g)
CA (g)
VC (%)
IEP
Nveis de incluso de FCO
3%
5.389a
2.783a
1,94a
89,2a
262a
6%
5.260b
2.718b
1,94a
90,2a
259
Protena Bruta da FCO
41,58%
5.319a
2.746a
1,94a
91,1a
264
37,51%
5.330a
2.756a
1,94a
88,3a
257
Mdias seguidas de mesma letra na mesma coluna no diferem entre si pelo teste de
Turkey (5%).
Adaptado de Junqueira et al. (2000).
Tabela 6. Resultados para rendimento de carcaa (RC), peito (RP), coxa + sobrecoxa
(CS), asa (AS) e dorso (DR) aos 49 dias de idade.
Caractersticas avaliadas
Fatores
RC (%)
RP (%)
CS (%)
AS (%)
DR (%)
GA (%)
Nveis de incluso de FCO
3%
81,8a
27,6a
27,1a
10,3a
22,3a
2,4a
6%
81,9a
28,1a
26,8a
10,3a
21,8a
2,4a
Protena bruta da FCO
41,48%
81,5a
28,1a
27,2a
10,2a
21,8a
2,4a
37,51%
82,2a
27,6a
26,8a
10,4a
22,3a
2,3a
Mdias seguidas de mesma letra na mesma coluna no diferem entre si pelo teste de
Turkey (5%).
Adaptado de Junqueira et al. (2000).
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Consideraes Finais
Os altos custos de produo tm feito com que os nutricionistas busquem
alternativas para atenderem as exigncias dos animais fazendo o uso cada vez maior de
alimentos no convencionais, a FCO um alimento em potencial para o uso,
principalmente em avicultura, como forma de baratear os custos, pois uma excelente
fonte protica e importante fonte de clcio e fsforo.
As variaes encontradas na composio dos diversos subprodutos de origem
dificultam sua utilizao, isso devido falta de padres para o processamento desses
subprodutos, e tambm ao crescente numero de empresrios produtores independentes
de farinhas de origem animal, os quais, muitas vezes, por desconhecimento ou at
mesmo por negligncia, no seguem as normas de fabricao desses subprodutos,
originando farinhas de qualidade inferior e com altas taxas de contaminaes, pondo em
risco a produo animal.
recomendvel que se faa o uso de farinhas de origem animal adquiridas de
fabricas idneas ou de integraes, uma vez que se admite que essas farinhas sejam de
melhor qualidade.
Referncias Bibliogrficas
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