A Garantia Jurisdicional Da Constituição Hans Kelsen PDF
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Hans Kelsen
Professor de Direito Pblico da Universidade de Viena, ustria.
Traduo: Jean Franois Cleaver Tradutor do Senado Federal.
DOI: 10.11117/22361766.01.01.05
SUMRIO: Introduo; I O problema jurdico da regularidade;
II A noo de constituio; III As garantias de regularidade;
IV As garantias de constitucionalidade; IV.1 A jurisdio
constitucional; IV.2 O objeto do controle jurisdicional de
constitucionalidade; IV.3 O critrio do controle jurisdicional de
constitucionalidade; IV.4 O resultado do controle jurisdicional
de constitucionalidade; IV.5 O processo do controle jurisdicional
de constitucionalidade; V A significao jurdica e poltica da
justia constitucional.
INTRODUO
O presente estudo trata do problema da garantia jurisdicional da
Constituio, geralmente denominada justia constitucional, sob dois
aspectos.
Primeiramente, e sob o aspecto terico, este estudo expe a natureza
jurdica dessa garantia, fundamentando-se, em ltima anlise, no sistema
globalmente descrito pelo autor em sua Teoria geral do Estado (Allgemeine
Staatslehre, Berlim, 1925).2
Em segundo lugar, e sob o aspecto prtico, procura-se identificar os
meios mais aptos efetivao da justia constitucional. Para tanto, apoiouse o autor nas experincias que vem realizando h vrios anos como membro
e relator permanente da Alta Corte Constitucional da ustria. De fato, a
*
Artigo publicado com autorizao do Instituto Hans Kelsen (Hans Kelsen Institut) www.univie.ac.at/
staatsrecht-kelsen.
NdT: KELSEN, H. Teora General del Estado. Trad. de Legas Lacambra. Barcelona: Labor, 1934; idem,
Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1948; idem, Mxico: Edinal, 1959.
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Parlamento, uma vez que foi esse mesmo Parlamento que realizou o processo
legislativo.
A teoria, ainda muito difundida e defendida sob os mais diversos
argumentos, segundo a qual preciso retirar dos rgos de aplicao do
Direito o exame da constitucionalidade das leis, incumbindo os tribunais de
verificar, quando muito, a regularidade da publicao, teoria segundo a qual
o poder de promulgao do chefe do Estado garantia suficiente da
constitucionalidade da feitura das leis, essa teoria e a consagrao dessas
idias polticas pelo Direito positivo, nas prprias constituies das
Repblicas de hoje, no se devem, por fim, doutrina constitucionalista,
cujas idias influenciaram, de forma mais ou menos consciente, a organizao
das democracias modernas.
II A NOO DE CONSTITUIO
4. A questo da garantia e do modo de garantia da Constituio, i.e.,
da regularidade dos escales da ordem jurdica a ela imediatamente
subordinados, s pode ser resolvida por quem tenha uma noo clara do que
uma Constituio. Essa noo s pode ser fornecida pela teoria, que aqui
desenvolvemos, da estrutura hierrquica (Stufenbau) da ordem jurdica. No
h exagero, inclusive, em afirmar que s ela permite entender o sentido
imanente dessa noo fundamental de Constituio, j divisada pela teoria
do Estado da Antigidade, porquanto essa noo implica a idia de hierarquia
das formas jurdicas.
Um ncleo permanente perspassa as mltiplas transformaes sofridas
pela noo de Constituio: a idia de um princpio supremo, que determina
a ordem estatal em sua totalidade e a essncia da comunidade constituda
por essa ordem. Qualquer que seja a definio da Constituio, essa sempre
o alicerce do Estado, a base da ordem jurdica que se pretende abarcar. O
que sempre, e em primeiro lugar, se entende por Constituio nisso
coincidindo essa noo com a de forma do Estado um princpio em que se
expressa juridicamente o equilbrio das foras polticas do momento, uma
norma que regula a elaborao das leis, das normas gerais em execuo das
quais atuam os rgos estatais tribunais e autoridades administrativas.
Essa regra da criao das normas jurdicas essenciais do Estado, da
determinao dos rgos e do processo legislativo forma a Constituio, no
sentido prprio, original e estrito do termo. a base indispensvel das normas
jurdicas que regulam a conduta recproca dos membros da comunidade
estatal e das normas que determinam os rgos encarregados de aplic-las
e imp-las, assim como a forma de atuao desses rgos; em suma, a
Constituio a base fundamental da ordem estatal.
Da que se deseje dar-lhe a maior estabilidade possvel, distinguir as
normas constitucionais das normas legais, sujeitando sua reviso a
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examinar a questo das garantias que podem ser empregadas para proteger
a Constituio.
So elas as garantias gerais desenvolvidas pela tcnica jurdica no
que diz respeito regularidade dos atos estatais em geral. Podem ser
preventivas ou repressivas, pessoais ou objetivas.
a) As garantias preventivas tendem a prevenir a elaborao de atos
irregulares. As garantias repressivas reagem contra o ato irregular
j realizado; tendem a impedir sua reiterao, reparar o dano por
ele causado e, eventualmente, substitu-lo por um ato regular.
Naturalmente, esses dois elementos tambm podem ficar reunidos
em uma medida nica de garantia.
Entre as numerosssimas garantias meramente preventivas que podem
existir, destaca-se e deve ser mencionada em primeiro lugar a organizao
em forma de tribunal da autoridade criadora do Direito, garantindo a
independncia desse rgo, por exemplo, mediante a inamovibilidade de
seus membros. Tal independncia consiste em que o rgo no possa ser
juridicamente constrangido, no exerccio de suas funes, por qualquer
norma individual (ordem) emanada de outro rgo ou, em especial, de um
rgo superior ou pertencente a outro grupo de autoridades. Com isso, o
rgo s tem que submeter-se s normas gerais, principalmente s leis e
regulamentos legais. Outra questo o poder de controlar as leis e os
regulamentos que se outorga ao tribunal. A idia, muito difundida ainda, de
que a regularidade da jurisdio pode ser assegurada desta maneira assenta
na hiptese, errnea, de que do ponto de vista jurdico, ou seja, da teoria e
da tcnica jurdica, haveria uma diferena de natureza entre a justia e a
administrao. Ora, acontece que do ponto de vista de sua relao com as
normas dos escales superiores relao essa que decisiva para o
postulado da regularidade do exerccio da funo , no se distingue tanta
diferena assim entre administrao e jurisdio nem, inclusive, entre
execuo e legiferao. A distino entre jurisdio e administrao reside,
nica e exclusivamente, no modo de organizao dos tribunais. Prova de tal
a existncia da justia administrativa, que consiste em que atos
administrativos, normalmente realizados por autoridades administrativas,
sejam efetuados por tribunais; ou, ainda, em que a regularidade dos atos
realizados pelas autoridades administrativas seja controlada por um tribunal,
sendo esses atos anulados quando considerados irregulares ou,
eventualmente, reformados, i.e., substitudos por um ato regular. A tradicional
oposio entre justia e administrao e o conseqente dualismo da mquina
estatal de execuo s podem ser explicados por motivos histricos e esto
fadados a desaparecer, segundo apontam, salvo engano, indcios de uma
tendncia unificao dessa mquina. Do mesmo modo, s a Histria pode
explicar que se enxergue, na independncia de um rgo em relao s
ordens de outro rgo, uma garantia de exerccio regular de suas funes.
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IV AS GARANTIAS DE CONSTITUCIONALIDADE
Entre as medidas tcnicas aqui referidas, que tm por objeto garantir
a regularidade das funes estatais, a anulao do ato inconstitucional
constitui a principal e mais eficaz garantia da Constituio. Tal no significa,
entretanto, que no se possa imaginar outros meios de assegurar a garantia
dos atos a ela subordinados.
Sem dvida, a garantia preventiva, pessoal a organizao em forma
de tribunal do rgo que realiza o ato est, de sada, fora de cogitao. A
legiferao, que do que se trata aqui em primeiro lugar, no pode ficar a
cargo de um tribunal; nem tanto por causa da diversidade das funes
legislativa e juridiscional mas, antes, porque a organizao do rgo
legislativo essencialmente dominada por outros pontos de vista que o da
constitucionalidade de seu funcionamento. O que aqui decide a grande
anttese entre democracia e autocracia.
Ao contrrio, as garantias repressivas a responsabilidade
constitucional e a responsabilidade civil dos rgos que por ventura faam
atos irregulares so perfeitamente possveis; no que diz respeito
legiferao, no possvel responsabilizar o Parlamento em si ou seus
membros, posto que um colegiado, por diversas razes, no sujeito
apropriado de responsabilidade penal ou cvel. Mas os indivduos associados
legiferao chefe do Estado, ministros podem ser responsabilizados
pela inconstitucionalidade das leis, mormente quando a Constituio dispe
que, com a promulgao ou sua referenda, eles assumem a responsabilidade
pela constitucionalidade do processo legislativo. De fato, o instituto da
responsabilidade ministerial, caracterstico das Constituies modernas,
tambm tem a funo de garantir a constitucionalidade das leis;
desnecessrio dizer que essa responsabilidade pessoal do rgo tambm
pode ser empregada para garantir a legalidade dos regulamentos e, em
particular, a regularidade dos atos individuais imediatamente subordinados
Constituio.
No que concerne a esse ltimo quesito, pode-se, outrossim, aventar a
possibilidade de existir responsabilidade pecuniria pelos danos decorrentes
dos atos irregulares. A histria constitucional, entretanto, demonstra que a
responsabilidade ministerial no um instrumento muito eficaz; at as outras
garantias pessoais so insuficientes, por no afetarem a fora obrigatria do
ato irregular, particularmente, a da lei inconstitucional. Em vista de
semelhante estado de coisas, at difcil afirmar que a Constituio esteja
assegurada: isso s se pode afianar quando possvel a anulao dos atos
inconstitucionais.
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Deixando de atentar para o fato de que a distino aqui apontada no distino de princpio, podendo
perfeitamente o legislador em especial, o Parlamento ditar normas individuais.
NdT: Esta traduo reproduz o uso de maisculas do texto-fonte francs, que traduo intermediria.
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Essa competncia deve ser estendida, primeiramente, aos regulamentos com fora de lei, atos esses imediatamente subordinados Constituio,
cuja regularidade consiste exclusivamente como j vimos em sua
constitucionalidade. Este o caso, em particular, dos regulamentos de
necessidade. O controle de sua constitucionalidade reveste-se de particular
importncia porque qualquer violao da Constituio, neste caso, afeta a
fronteira, to importante politicamente, entre a esfera governamental e a do
Parlamento. Quanto mais estritos forem os requisitos impostos pela
Constituio para sua adoo, maior ser o risco de aplicao inconstitucional
dessas disposies e mais necessrio um controle jurisdicional de sua
regularidade. A experincia revela que, onde quer que a Constituio autorize
esses regulamentos de necessidade, sua constitucionalidade si, com ou
sem razo, ser impugnada com veemncia. de suma importncia existir,
para dirimir tais litgios, uma instncia suprema, cuja autoridade no possa
ser contestada, especialmente se esses litgios devido s circunstncias
ocorrerem em reas importantes.
O controle, pela jurisdio constitucional, da constitucionalidade dos
regulamentos que derrogam s leis, no encerra dificuldades: tais
regulamentos ocupam o mesmo escalo que as leis na hierarquia dos
fenmenos jurdicos, sendo inclusive denominados, s vezes, leis ou
regulamentos com fora de lei. Entretanto, seria conveniente atribuir
tambm jurisdio constitucional o controle da constitucionalidade dos
regulamentos meramente complementares. verdade que esses regulamentos no so mais, como j o dissemos, atos imediatamente subordinados
Constituio; sua irregularidade consiste, imediatamente, em sua
ilegalidade e, de forma apenas mediata, em sua inconstitucionalidade. Se, a
despeito disso, propomos que sejam includos na competncia da jurisdio
constitucional, no tanto em considerao relatividade, acima assinalada,
da oposio entre constitucionalidade direta e constitucionalidade indireta;
, antes, em ateno fronteira natural entre atos jurdicos gerais e atos
jurdicos individuais.
O ponto essencial para determinar a competncia da justia
constitucional consiste em delimit-la adequadamente em relao da
justia administrativa, que existe na maior parte dos Estados. Desde um
ponto de vista meramente terico, poder-se-ia assentar a separao dessas
duas competncias na noo de garantia da Constituio, incumbindo a
jurisdio constitucional de decidir sobre a regularidade de todos os atos
imediatamente subordinados Constituio. Com isso, incluir-se-ia em sua
competncia, sem sombra de dvida, questes que, hoje, em muitos Estados,
so da competncia dos tribunais administrativos, como, por exemplo, os
litgios relativos regularidade dos atos administrativos individuais
imediatamente subordinados Constituio. Por outro lado, a competncia
da jurisdio constitucional no abrangeria o controle de certos atos jurdicos
que, hoje, no si caber justia administrativa, entre eles, os regulamentos.
Ora, a jurisdio constitucional certamente a instncia mais qualificada
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NdT: O que em 1928 era designado pelo nome de Grande Guerra passou a s-lo pelo nome de Primeira
Guerra Mundial quando ocorreu a Segunda Guerra Mundial.
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expresso da vontade de garantir o respeito do Direito internacional; chegarse-ia ao resultado oposto se, a despeito dessa recepo, qualquer lei ordinria
pudesse desrespeitar o Direito internacional sem que isso fosse considerado
uma irregularidade do ponto de vista da Constituio que a contm.
Mas as coisas mudam de figura, por um lado, quando a Constituio
no contm esse reconhecimento do Direito internacional geral e, de outro
lado, ainda que o contenha, quando se trata de leis constitucionais contrrias
ao Direito internacional geral ou, at, convencional. Para a jurisdio
constitucional, rgo estatal, a validade das normas internacionais a serem
aplicadas por ele ao controlar atos estatais s pode existir na forma da
Constituio que as recebe, i.e., as pe em vigor no domnio interno do
Estado, dessa mesma Constituio que criou o tribunal constitucional e pode,
a qualquer momento, suprimi-lo. Embora fosse altamente desejvel que todas
as Constituies seguissem o exemplo das Constituies alem e austraca,
recebendo as regras do Direito internacional geral de forma a que possam
ser aplicadas por um tribunal constitucional estatal, h que reconhecer que,
na falta de tal reconhecimento, nada autorizaria juridicamente o tribunal
constitucional a declarar uma lei contrria ao Direito internacional; cumpre
reconhecer, outrossim, que a competncia do tribunal constitucional, ainda
quando j exercida, pode esbarrar em uma lei de reviso da Constituio.
Certo que uma jurisdio constitucional pode, de fato, aplicar as regras do
Direito internacional, inclusive nessas duas hipteses. Mas, ao faz-lo,
exerceria uma funo j desprovida de qualquer justificao jurdica interna
ordem estatal. Uma lei constitucional no pode atribuir essa competncia
a um tribunal constitucional; um tribunal constitucional que anulasse uma
lei constitucional ou, at, a despeito da no-recepo das regras do Direito
internacional, uma lei ordinria como contrria a essas regras, no poderia
mais ser considerado, juridicamente, um rgo do Estado cuja Constituio
o criou mas, apenas, um rgo de uma comunidade jurdica superior a esse
Estado. E, ainda, o seria apenas por suas intenes, pois a Constituio da
comunidade jurdica internacional no contm qualquer norma que d a um
rgo estatal a faculdade de aplicar as regras do Direito internacional geral.
17. Embora a aplicao das normas do Direito internacional pelo
tribunal constitucional esteja sujeita s limitaes que acabamos de
assinalar, deve-se descartar liminarmente a possibilidade de aplicao de
outras normas que no as jurdicas, de quaisquer normas superpositivas.
V-se asseverar, por vezes, que existem, acima da Constituio de qualquer
Estado, certas regras do direito natural que at as autoridades estatais
encarregadas da aplicao do Direito deveriam respeitar. Se essas regras
forem princpios realizados na Constituio ou em qualquer outro escalo
da ordem jurdica, deduzidos do contedo do Direito positivo por via de
abstrao, relativamente incuo formul-los como regras de Direito
independentes. Nesse caso, so aplicados juntamente com as normas
jurdicas em que se encontram realizados, sendo-o apenas assim. Mas, se
forem princpios que no foram traduzidos em normas do Direito positivo e
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somente deveriam s-lo porque tais normas seriam justas muito embora os
protagonistas j os considerem, de forma mais ou menos clara, parte
integrante do direito , trata-se de meros postulados que no so
juridicamente obrigatrios, na realidade s expressam os interesses de certos
grupos e so dirigidos aos rgos encarregados da criao do Direito, no
apenas ao legislador, cujo poder de realiz-los quase ilimitado, como
tambm aos rgos subordinados, que s detm esse poder em medida tanto
mais restrita quanto maior seja, em sua funo, a parte de aplicao do
Direito; esses rgos, entretanto, possuem esse poder na medida em que
dispem de um poder discricionrio, na jurisdio e na administrao, quando
devem optar entre vrias interpretaes igualmente possveis.
justamente nesse fato de que a considerao ou a realizao desses
princpios, aos quais ainda no se pde, a despeito de todos os esforos
nesse sentido, dar uma determinao um tanto unvoca, no tm nem podem
ter no processo de criao do Direito pelos motivos assinalados um carter
de aplicao do Direito no sentido tcnico, nesse fato que encontramos a
resposta questo de saber se podem ser aplicados por uma jurisdio
constitucional. E no passa de aparncia enganosa quando as coisas so
diferentes, como quando, s vezes, a prpria Constituio se refere a esses
princpios ao invocar os ideais de eqidade, justia, liberdade, igualdade,
moralidade etc., sem absolutamente especificar o que se deve entender com
isso. Se essas frmulas no tm outra significao que a ideologia poltica
corrente com que procura adornar-se qualquer ordem jurdica, a delegao
da eqidade, liberdade, justia, moralidade etc. significa apenas, na falta
de esclarecimentos sobre esses valores, que o legislador e os rgos de
aplicao da lei esto autorizados a lidar de forma discricionria com o
domnio a eles confiado pela Constituio e pela lei. Pois essas concepes
de justia, liberdade, igualdade, moralidade etc. apresentam tamanha
divergncia conforme o ponto de vista dos interessados que, se o Direito
positivo no consagrar uma delas, qualquer regra de direito pode chegar a
ser justificada por uma dessas possveis interpretaes. Mas, em todo caso,
a delegao dos valores em questo no significa, nem pode significar, que
a contrariedade do Direito positivo concepo pessoal de liberdade,
igualdade etc. dos rgos de criao do Direito os desobrigue, em qualquer
hiptese, de sua aplicao. Destarte, as frmulas em questo no soem ter
grande significao. Nada acrescentam ao estado real do Direito.
No entanto, justamente no domnio da justia constitucional, essas
frmulas podem desempenhar um papel sobremaneira perigoso. Poder-seia interpretar as disposies da Constituio que convidam o legislador a
pautar-se pela justia, a eqidade, a igualdade, a liberdade, a moralidade
etc. como orientaes relativas ao contedo das leis. Essa interpretao seria
evidentemente errada, pois assim seria, apenas, se a prpria Constituio
estabelecesse uma orientao precisa, se ela mesma indicasse algum critrio
objetivo. Entretanto, desvanecer-se- facilmente o limite entre essas
disposies e as disposies tradicionais sobre o contedo das leis que se
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NdT: No texto original francs, este ttulo no tem a mesma forma no sumrio e no corpo do texto,
divergncia reproduzida nesta traduo.
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NdT: No original, Droit dEmpire brise droit de Province. Esta mxima (Reichsrecht bricht Landrecht)
figura no art. 13 da Constituio alem de 1919 e no art. 31 da atual.