Estudos Conceituais Na Análise Do Comportamento
Estudos Conceituais Na Análise Do Comportamento
Estudos Conceituais Na Análise Do Comportamento
' 3,213222
ISSN141 3389X
Resuma
o artigo apresenta a anlise do componanlento como um campo de saber no interior do qual o conhecimento
produzido envolve contedos conceituais. empiricos e aplicados. A interdependncia e a complementaridade
entre esrudosque se aproximam de modos divCTWs dos diferentes tipos de contedos sAo interpretadas como
prprias do fazer cientifico c da configurao da I'sicologia como cincia e profisso. Tris estudos relacionados temtica dos evemos privados sAo citados para ilustrar as possibilidades de aproximao a temas conceituais. empiricos e aplicados.
Pi!lllr~lchall: anli>t' do comportam'-"Tlto. estudos conceituais. eventos privados
b,
I. Trabalho apresentado no Simpsio Pesquisa hislrico-conccilual e anlise do comportam!l/IO: Necessidade e perspecXXIX Rellniao Anual de Psicologia da Sociedade Brasileil1l de Psicologia, Campinas _ SI', outubro de 1999.
Endereo para correspondncia: Rua Boaventura da Silva, 1251, Apto.1402. Belm _PA. e-mail: [email protected]
Agradecimentos;i Prora. Nilza Micheletto, aos membros do Grupo de E5tudos em Anlise do Comportamento (UFPA) e a
dois pareccristas annimos pdos comentrios e contribuies a uma ,,erso preliminar do texto. Apoio finance iro CNPq
tjwlS.
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r.~lIwin.
lsIlinctlceiluis
Skinner, 196311982, 1974/ 1993). O bchaviorismo
radical corresponderia, assim, ao trabalho de sistematizao conceitu~1 da anlise do comportamento e
reflexo sobre a extenso dc scu projeto cicntifico.
Apesar da di~tino, freqentemente a anlise do
componamento identificada com trabalhos experimentais, scndo refcrida simplesmentt: como Anlise
Experimental do Comportamento (e.g. Skinncr,
1987l
Se bchaviorismo radical e a anlise experimental do comportamento (AEC) rcpresentam tipos
diversos de produo de conhecimento na amilise do
comportamento. eles ainda no constitucm os limites
desse campo; ou melhor, eles no esgotam as possibilidadesde uma disciplina. a Psicologia. que se consti
tuiu historicamcnte como mais do que um e.~pao
para a efetivao de projetos cientficos. O prprio
Skinner (1987) percebe esse carter particular do(s)
lugar(es) da Psicologia na cultura ocidental.
Em um texto do final da dcada de 80, Skinner
(1987). indaga por qu a anlise expcrimental
do comportamento no chegou a uma aceitao
ampla como cincia psicolgica, a despeito de suas
realizaes na interpretao e modificao do comfXJrt3mento. Sua resposta apoma para trs grandes
obstculos: a psicologia humanista, a psicologia
cognitiva e a psicoterapia. A psicologia humanista
corresponderia a explicaes para o comportamento
humano que se apoiam em conceitos como liberdade
e responsabilidade, presentes em conjuntos amplos
de discursos e prticas sociais, e comrariados por
115
uma anlise cicmfica do comportamento. A psicologia cognitiva, que adquiriu ampla popularidade a
partir de suas sistematizaes na dccada de 6, representou a reintroduo do mentalismo na psicologia
cicntifica, mesmo quando se voltou para as ncurocincias (originando a chamada "cincia cognitiva"),
ao promover explicaes interna listas para o
comportamento humano. A referncia de Skinncr
psicoterapia a que interessar de perto para uma
discusso dos lugares da Psicologia. Diz ele que o
fato da Psicologia constituir-sc como profisso de
ajuda impe restriiks ao seu desenvolvimento
f,;omo cincia. Skinner atem-se ao fato da psicotcrapia basear-se no uso dc uma linguagem (mentalista,
internalista) que conflitiva com os modos ciemifios de falar sobre o comportamento humano. "Os
psicoterapt:ulas devem conversar wm seus clientes
e. com raras exeecs, o fazem usando o ingls coloquial,que carregado de referncias a causas intcrnas" (Skinncr, 1987, p.783l O principal a destacar
aqui sua observao de que o dcscnvolvimento da
Psicologiaenvolve suaexistnciacomorcadeinterveno voltada para a soluo dc problemas humanos - e que isso repercute na prpria elaborao de
projetos cientificos
A relao entre construo conceitual e
pesquisa <::mpirica, as~im como a caracterizao do
campo psicolgico como envolvendo uma profi~so
voltada para a soluo de problemas humanos, poderiam ser formuladas com base em diversas outras
referncias (por exemplo, as crticas ao empirismo
2. Neste artigo, Skinncr coloca como reali7..acs da AEC tanto a anlise do comportamento como funllo de variveis
ambienlais, quanlO seu uso na inlcrpretao c modificaliodo comportam cnto(cf.Skinner, 1987. p. 782).
3. Em 1982, numa reedio de texl" publicado em 1%3, Skllner aborda o mesmo probtcma assinalando
"Todas as lnguas modernas - mas talvez mais o ingls - so fortementc mentalislas. quase impossi\'el discutir uma
simples interao cmre duas pessoas sem inn>car mentes. pensamentos, sentimcntos, intenes e assim por dianle. Quase
todas as abordagens eruditas para o componamcnto humano - filosofia, teologia, lgica, cinda poltica, economia e assim
por diante - usam termos que implicam quc uma pessoa um ag.. nte criativo. iniciador. Os tennos funcionam bem paro
cenos propsitos. assim comon05sovocabulriocoloquial de fsica funciona b.-m,emboru no esteja em acordo com a fisica
cOlnocincia.Nosurpreende.portanto,quequandoaprimeiraondarcmlucion:riad~pen.'I3mentobcha\ioriSlaretrocedcu,
nas dcadas de trinta e quarcnta, a Psicologia retomou aos seu, \elbos caminhos. Como resultado. o argumento central
do bclmviorismo eomc\,ou a Sl:r ignorduo e mal entendendido. As explicaes nos manuais tomaram-se mais c mais
simplificadas e passamm a ser ilustradas com relatos esk"reotipados de velhos experimentos, como o de Pa\lov do reflexo
condicionado'(Skinner, I963/1982,p. I33)
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ingnuo de inspirao baconiana, ou a anlise dos fatos histrico-sociais aos quais relaciona-se a emergncia do saber psicolgico). A apresentao de
ambas com o re<:urso a idias skinncrianas cumpre o
objetivo de sugerir que so questes presentes no
prprio sistema analtico-comportarncntaL c no
apenas elaboraes externas com as quais se torna
possvel refletir sobre a proposta de uma cincia do
comportamento. No limite dessas observaes,
pode-se dizer que trs reas de produo de
conhecimento, intcrrclacionados e interdependentes,
representadas na Figura 1, a seguir, constituem
colltcmporancarncnte as possibilidades da anlise do
comportamento:
Irlblostm.ituailJfilos6li!1IS
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4. Essa condio com:sponde parcialmenle ao que Kuhn (1978) definiu corno cincia nOrnJal.
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na especificao de relaes do organismo como
um todo com o mundo a sua volta.
a autonomia do recorte analtico-comportamental
diante dos fatos biolgicos/fisiolgicos: eventos
ou condies antomo-fisiolgica, so interdependentes de eventos comportamentais; nio se
pode falar de Ullla autonomia dos dois conjuntos
de fenmenos. Enquanto nvel de anlise. porm,
fisiologia e anlise do comportamento so independentes e complementares na abordagem do
fenmeno comportamental. Na medida que as
variveis internas ao organismo no definem as
rdaes comportamentais. sua especificno no
indispensvel para a identificao e produo do
comportamento.
os limites do controle do comportamento por
eventos internos/fisiolgicos: os processos atravs dos quais eventos internos podem vir a participar do controle discriminativo de respostas
verbais envolvem componentes pblicos. sendo
apenas parcial e circunstancial o controle por
evento privado
o comportamento privado como comportamento
do organismo como um todo: mesmo no caso de
comportamentos encobertos. a resposta do organismo uma resposta do organislllo como um
todo, c no de sua(s) partc(s). O apelo ao sistema
nervoso celllral, comum a algumas teorias eognitivistas/mentalistas. COlTesponde a transitar para o
domnio da (ncuro)fisiologia, e permanecer sem
uma explicao para o fenmeno comportamental
do organismo como um todo.
a distino entre localizao, acesso, contato e
conhecimento: localizao. acesso. contato e
conhecimento dizem respeito a a~pcctos diferenciados do fenmeno comportamenlal privado. A
localizao interna dc um evento pode envolver
um contato especial parn o sujeito. mas ao qual
estar associada uma restrio no accsso e a
impossibilidade de conhecimento pleno.
a preservao do rccorte analtico-comportamental em situao dc anlisc aplicada do comportamento: o reeorte analitico-<:omportamental
representa no apenas um modelo interpretativo e
de investigao experimental, mas tambm uma
possibilidade consistente de delimitao da inter
veno do psielogo.
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E.l.llIrilll
111
Porquefalardeestudoshistricoconceituais?
Uma vez que se concorde com a relevncia
dos estudos histrico-conceituais (ou histricos. ou
conceituais) para o desenvulvimento da cincia do
comportamento wmo um todo, pode-se indagar: o
qu~ significa discutir essa importncia no momento
atual'? Considerando que falar de significado falar
de conting ncias de reforamento sob controle das
quais a resposta sob anlise ocorre, o que pode estar
controlando a proposio, a aceitao e a promoo
de debates sobre o assunto? Um conjunto amplo de
variveis precisaria ser levado em conta para que
uma resposta razovel pudesse ser 3lcanada. De
todo modo, alguns indicadores importantes relativos
"psioolgic3~",
1l!
E.l.iI.. riaM
0111
REfERNCIAS BIBlIOGRAfICAS
Ca\'alcan(~.
C~valcame.