FORMAS DE RELEVO: TEXTO BSICO

PROJETO BRASILEIRO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA

PREFCIO: REFAZENDO O CAMINHO DA CINCIA
A despeito da forte humanizao que marca a maior parte das terras emersas, e a despeito mesmo
das inumerveis modificaes introduzidas pelos homens, um pouco por toda a parte, existem
feies fundamentais de relevo de permanncia relativa na superfcie da Terra, pelo menos em
termos da escala de tempo histrica. Pensamos, sobretudo nas massas de terras das reas de
cordilheiras, nos planaltos e compartimentos de planaltos de escala sub-continental ou regional, nas
grandes plancies e conjuntos de terras baixas, situados nas mais diversas latitudes.
Os homens contriburam, gerao aps gerao, para lesar, direta ou indiretamente, muitas reas,
muitos locais e muitas faixas de terras onde desenvolveram suas atividades e expandiram suas
tcnicas. Indiretamente, contriburam para a eroso do solo de extensas reas rurais, ocasionando
desgaste e empobrecimento quase irreversveis, em muitos casos. Diretamente, custa de sua
engenharia e capacidade construtiva, rasgaram estradas, removeram morros e colinas, aterraram
trechos de plancies, retilinizaram rios tortuosos. Nas grandes cidades e em ss reas de expanso
metropolitana, contriburam para tamponar os solos de colinas e plancies, ora impermeabilizandoos, ora poluindo-os. Se s vezes corrigiu-se a Natureza, em muitos outros casos submeteu-se o
equilbrio dos fatos naturais a uma agresso direta e pouco racional. Certamente contribuiu-se para
a poluio, ao mesmo tempo que se tem introduzido perigosas mudanas de equilbrio na ecologia
local e regional do Globo. A poluio intensificou-se nas praias e enseadas de quase todos os
litorais do mundo. E, caso no se atenda a tempo, poder haver poluio dos mares e oceanos, os
ltimos grandes redutos de riquezas para sobrevivncia da humanidade.
Cada pas ou regio tem nas suas formas de relevo fatos marcantes de sua originalidade, exigindo
normas e processos adequados para o melhor aproveitamento dos espaos; o Chile, com sua estreita
e alongada faixa de cordilheiras; o Brasil com seus planaltos intertropicais; os Estados Unidos da
Amrica do Norte, com seu mostrurio intercontinental de massas e compartimentos de relevo; a
Frana, com seu mosaico de formas topogrficas que resume um pouco de tudo o que ocorre na
Europa em termos de relevo; os pases africanos, com suas diferentes amostras de planaltos
intertropicais e suas grandes parcelas de terras ridas e semi-ridas.
Para o entendimento das formas de relevo, nosso aprendizado pode comear muito prximo de
nossa prpria moradia: com as colinas de nosso bairro, as plancies do fundo do vale que corta as
terras de nossas fazendas e stios, as faixas de beira-mar que mais conhecemos, os picos e
irregularidades de relevo que constituem o nosso horizonte visual mais habitual, as escarpas que
separam o litoral dos planaltos, os compartimentos e formas de relevo que se sucederem em nossas
viagens de rotina, ou ao longo dos itinerrios de nossas incurses mais longas, pelo interior do pas
ou fora dele.
A compreenso das formas de relevo e o reconhecimento de suas aptides agrrias, assim como de
suas possibilidades em termos de stios para cidades ou espaos para industrializao, contribuem
para orientar o raciocnio cientifico e podem dos dar indicaes importantes para economia e
planejamento. Observando a organizao que a natureza introduziu na face dos terrenos e
meditando sobre as formas de utilizao e de organizao do espao introduzidas pelos homens,
poderemos tirar lies de importncia definitiva em termos de aplicaes da cincia.
Desde a compreenso das formas elementares de relevo, que pode ser iniciada pelo simples
entendimento do que seja uma colina e uma plancie, at os conhecimentos mais complexos sobre a
origem de alguns pequenos ou grandes conjuntos, estamos recuperando conhecimentos cientficos
que levaram sculos para se acumular. Ao estud-los, ainda que em nvel de iniciao, estamos
refazendo o caminho da cincia.

INTRODUO:
Quem tem o habito de observar a paisagem ao longo de qualquer percurso, v passar diante de seus
olhos uma srie de formas de relevo s vezes muito variadas, s vezes montonas e repetitivas.
Qualquer que seja o nosso itinerrio o relevo varia, pouco ou muito, de espao a espao. Ora
passam diante do observador ocasional terrenos planos e frteis, ora ondulaes sob a forma de
colinas ou de morros baixos. Alm, vem-se terrenos muito mais acidentados e montanhosos,
silhuetas de planaltos e verdadeiras montanhas, um ou outro pico em destaque contra o cu.
Prximo ao mar, terras e guas se alternam atravs das mais variadas combinaes. Ora aparecem
pontas e promontrios, frente dos quais se prolongam ilhas e ilhotas, ora aparecem enseadas e
baas dos mais variados tipos e dimenses, em cujos fundos estendem-se concavidades de praias.
Utilizando-se da paisagem sempre a seu favor, os homens esto um pouco por toda parte. Aqui,
cultivam os setores mais frteis dos terrenos, acol usam o cho dos planaltos ou das colinas, e at
mesmo partes de pntanos enxugados, para stio de suas cidades. Mais alm, no litoral, em seus
perodos de lazer, disputam um pedao de praia e um pouco de sol.
O observador mais prevenido, que se esfora para entender um pouco melhor as formas de relevo
que o envolvem, tem que saber de antemo que est vendo apenas minsculas partes de um todo, ou
mesmo elementos ou componentes quase isolados de alguns conjuntos. Por esta razo, temos que
entender desde o incio, em nosso treinamento, que existem ordens de grandeza diferentes no relevo
terrestre. As marcas das ondas na areia das praias ou as marcas do vento nas dunas arenosas so
minsculas feies de relevo, que se comportam como elementos de decorao das faixas de praias
e dos montes de areia acumulados pelos ventos. Colinas e outeiros constituem-se em elementos um
pouco mais amplos do relevo, quando comparados com marcas de ondas ou marcas de vento.
Conjuntos de colinas, com ou sem outeiros elevados, constituem-se por sua vez em unidades bem
maiores do que as anteriores. Muito maiores, mais elevados ou macios do que as formas anteriores
so os planaltos de escala continental, os grandes macios montanhosos e as alongadas e complexas
faixas de cordilheiras. Por ltimo, os relevos mais extensos apresentados pela superfcie terrestre
so os prprios continentes e as bacias ocenicas.
Perante as formas de relevo que o envolvem, o observador comum porta-se como algum que foi
levado, com os olhos vendados, para o interior de um grande edifcio e que tem como seu mundo
visvel e palpvel apenas um conjunto de paredes, tetos, aberturas e uma srie de mveis e
elementos de decorao ambiente. Para avaliar as dimenses do edifcio ele ter que observ-lo em
seu conjunto e em seus detalhes, desde a sua fachada at a sua organizao interna e funcionalidade,
examinando as plantas e os cortes que serviram ara a execuo da obra. Em face da natureza somos
todos um pouco como o homem que conhecia apenas o interior de um grande edifcio: nascemos e
crescemos em um ponto da superfcie terrestre, envolvidos por paisagens familiares, e depois,
gradualmente, fomos alm das paredes que nos impediam a compreenso da grandiosidade e da
lgica da formao do grande edifcio da natureza terrestre.
Para compreender as formas de relevo de uma regio qualquer, temos que observ-las pelo mais
variados ngulos, recorrendo s experincias acumuladas nas cincias da Terra, e utilizando-nos de
mapas e cartas topogrficas, alm de fotografias areas e terrestres, sem jamais deixar de lado as
investigaes diretas sobre o terreno.
Tudo isso que se disse no passaria de palavras se no se pudesse responder a algumas perguntas
bsicas: Mas porque estudar o relevo? Qual a vantagem prtica de tais estudos? A quem vai
interessar uma iniciao, por mais elementar que seja, ao conhecimento das formas de relevo? Todo
homem comum teria necessidade de conhecer alguma coisa sobre o relevo da Terra ou pelo menos
de sua regio? o que veremos a seguir.
A importncia do conhecimento das formas do relevo terrestre muito maior do que geralmente se
pensa e se dirige iniciao cientifica de um grande nmero de futuros profissionais. A rigor, por
razes diferentes, qualquer pessoa tem necessidade de conhecer alguma coisa sobre o relevo
terrestre, como ser fcil provar.

No simples ato de escolher um lote urbano ou suburbano para compra, o interessado procura saber
alguma coisa da oposio do terreno na topografia. Atravs de conhecimentos prticos avalia-se se
o terreno oferecido est em uma regio alta ou baixa ou, ainda, em encosta suave ou ladeiras
ngremes. D-se referencia aos mais largos espiges divisores de gua. Foge-se dos terrenos
encharcados das vrzeas. No caso de um terrao fluvial, reconhecidamente a escapo das inundaes,
ainda se pode pensar na compra. Terrenos de morros, com grandes blocos de pedras expostos, no
interessam. Terrenos ribeirinhos sujeitos a solapagem pelos rios ou riachos, durante as cheias, no
interessam. E assim por diante.
Evidentemente, existem outras condies, no propriamente topogrficas, para a boa escolha de um
lote: so condies relacionadas quase sempre ao campo social e cultural. O lote estaria em uma
zona residencial ou em zonas fabris? Qual a classe social predominante na rea do loteamento?
Proletria? Classe mdia? Pequena burguesia? E mais, quais as possibilidades de evoluo do bairro
a curto e mdio prazo? Para a indstria? Para a extenso do comrcio de centro ou de subcentros?
Para uma mistura de funes, pouco agradvel tranqilidade dos moradores? Mas, ateno, ainda
que as condies sociais paream ser as melhores, o terreno dever estar bem situado na
topografia... Seno, no haver negcio! Esses so os raciocnios e as principais questes propostas
pelos eventuais compradores.
Na realidade, muitas outras pessoas e outros profissionais precisam conhecer mais detalhadamente
as formas de relevo e a dinmica de paisagem: homens do campo ou da cidade, engenheiros,
urbanistas, planejadores, topgrafos, construtores, militares ou administradores; todos tm uma
parcela de responsabilidade em relao ao conhecimento das formas de relevo.
Quando se escolhe uma rea para abrir uma estrada de ferro ou de rodagem, para construir um
aeroporto, localizar uma vila ou um conjunto residencial, planejar uma manobra ou fazer um
reconhecimento do terreno, o que est em jogo so as formas do relevo e a constituio de seus
solos e de suas rochas, alm de conhecimentos indispensveis sobre suas guas (hidrologia
regional).
Terras elevadas e de topografia suave, planaltos, ao lado de reas de relevo praticamente nulos,
plancies enxutas e terraos, so reas privilegiadas para o uso da terra e o habitat humano. Na
verdade, planaltos e plancies asilam grandes parcelas da humanidade, em funo da fertilidade de
alguns de seus solos e das tcnicas adequadas de trabalho agrcola utilizadas por muitos
agrupamentos humanos. As montanhas so as reas mais elevadas e irregulares da superfcie do
Globo. Devido ao seu relevo e ao seu clima, raramente apresentam condies favorveis para a
implantao e desenvolvimento de cidades. Sua populao em geral muito rarefeita. Tal como no
deserto e nas plancies glidas das reas subrticas, as montanhas apenas asilam ilhotas de
humanidade, para usar uma expresso de Jean Brunhes. No entanto, essas mesmas montanhas
podem ser reas de concentrao de grandes e inmeras jazidas minerais e, em sua maioria, so
reas de muitas cabeceiras de rios, que servem de reserva de gua para a construo de barragens,
para a irrigao das plancies de p de serra e para o fornecimento de gua potvel destinada
populao das cidades. Por outro lado, constituem reas de reservas florestais, sendo ainda
escolhidas, muitas vezes, para veraneio, esportes e recuperao da sade.
A ESCULTURA DA TERRA
Todas as aes naturais capazes de correr e desgastar a superfcie da Terra recebem o nome
genrico de eroso. Por muito tempo, os processos erosivos foram entendidos, por gegrafos e
gelogos, como sendo um tipo de desgaste lento, feito sobretudo pelas guas correntes. Mais tarde,
estendeu-se o nome aos mais diferentes processos de desgaste, associados ao imediato transporte
das partculas erodidas. Passou-se a identificar a eroso fluvial, a eroso elica (feita pelos ventos),
a eroso glacial (relacionada com as geleiras), a eroso qumica (dissoluo de rochas), e assim por
diante. Apenas para o trabalho de desgaste feito pelas ondas reservou-se um nome especial, ou seja,
abraso.

A ao prvia de eroso feita nas reas fontes de fornecimento das partculas recebeu o nome de
intemperismo. Desta forma, o intemperismo seria uma prvia ou um prefcio da eroso. Ele
decompe ou desintegra as rochas, preparando-as para a interveno dos outros processos erosivos,
sejam eles relacionados com as guas correntes, o vento ou as geleiras. Ficou assentado, a partir da,
que os processos ditos elementares de eroso preparam a rocha e os solos para serem transportados
pelos agentes de eroso propriamente ditos. E mais, que os agentes de eroso se encarregam do
transporte das partculas para outras reas, prximas ou distantes.
Baseado em tudo isso foi fcil estabelecer que existem feies predominantemente erosivas e
feies predominantemente deposicionais na superfcie da Terra. Alguns autores, a partir do
comeo do presente sculo, passaram a falar em formas de eroso, formas residuais e formas
deposicionais. Uma escarpa elaborada pela eroso uma feio erosiva. Os pequenos morros
salientes, localizados frente da escarpa, so considerados feies residuais. Por sua vez, os
depsitos situados mais frente, como saldo dos processos erosivos, so feies deposicionais. Isto
est correto at certo ponto, pois os processos erosivos agem sempre atravs de combinaes
complexas, e no de modo isolado e esquemtico, como muitos imaginaram.
Atualmente, todos os especialistas concordam que a superfcie da Terra no foi esculpida apenas
por simples e isolados processos de eroso. Entretanto, numerosos livros didticos continuam a
enumerar os tipos isolados de eroso, responsabilizando este ou aquele processo erosivo por todas
as feies de relevo terrestre. Na realidade temos que corrigir de imediato tal distoro, incluindo
pelo menos algumas idias bsicas:
1. os fatores responsveis pela elaborao das formas de relevo so sempre combinaes
regionais de processos, dependentes das condies climticas (e hidroclimticas) de cada
rea;
2. o relevo atual sempre uma herana de prolongados processos combinados de eroso, que
variam muitas vezes no decorrer do tempo;
3. a explicao das feies erosivas, feies residuais e feies deposicionais muito mais
complexa do que se imaginava at h poucos anos.
Paralelamente introduo do termo eroso, para explicar fatos referentes ao relevo terrestre,
surgiu no sculo XIX um outro termo que merece comentrios especiais. Referimo-nos palavra
desnudao ou denudao. Trata-se de um termo mais significativo do que eroso. Embora dizendo
respeito a longos processos erosivos, o vocbulo desnudao tem um significado prprio. Ele indica
remoo macia de rochas que estiveram recobrimento ou envolvendo qualquer parte da crosta
terrestre.
A palavra desnudao perdurou por muito tempo na terminologia das cincias da Terra porque tinha
fora para dar a idia de remoo generalizada de massas de solos e rochas, de uma poro
determinada da estrutura geolgica de uma regio qualquer. Os exemplos de situaes em que se
pde deduzir a incidncia de longos processos denudacionais so numerosos:
- existem reas em que as rochas intrusivas esto expostas superfcie. Sabendo-se que tais rochas
se originaram em bolses a 5.000 ou 10.000 metros de profundidade (tal como acontece com os
granitos), deduz-se que foi a desnudao prolongada que efetuou a remoo das massas rochosas
ditas encaixantes, expondo as rochas de origem profunda. Deduz-se, tambm, que houve processos
de levantamento regional, por foras internas, que estimularam naturalmente a atuao dos
processos denudacionais. No sabemos muito sobre os processos erosivos especficos que
determinaram a desnudao;
- existem, em numerosas situaes, grandes lentes ou massas de rochas duras que permanecem
envolvidas por rochas tenras e que durante fases de soerguimento regional, sofrem a ao de uma
desnudao, atravs da qual as massas duras permanecem cada vez mais salientes, formando picos
ou macios, e as rochas tenras so rebaixadas. Tal tipo de desnudao, relacionada com o carter
sempre diferencial dos processos erosivos, recebeu nomes especiais como circundesnudao e, s
vezes, circunvalao;
- existe um tipo de circundesnudao muito extenso, que se processa em torno de uma grande bacia
sedimentar soerguida. Nesse sentido, todas as principais bacias sedimentares e baslticas do

planalto brasileiro estiveram sob a atuao prolongada de desnudao marginal (e

circundesnudao) no decorrer de dezenas de milhes de anos, remoo de massas de rochas em
torno das bacias sedimentares brasileiras, mas pouco sabemos sobre os processos erosivos
especficos que se fizeram atuar por to prolongado tempo de desnudao.
Por ltimo queremos dizer que o termo desnudao, ou desnudao subarea, uma expresso
cmoda para indicar longas fases de eroso e remoo de solos e rochas de uma determinada rea,
mas quase totalmente incapaz de indicar os processos erosivos especficos que em combinaes
complexas acarretaram o desgaste e o transporte das rochas removidas. incapaz, tambm, de
mostrar ou mesmo sugerir que as combinaes de processos erosivos variam muito, de tempo em
tempo.
Recentemente foi introduzida a noo mais complexa de sistema de eroso, para explicar os
grandes conjuntos regionais de formas de relevo. Um sistema de eroso se traduz sempre por um
conjunto de processos erosivos interrelacionados que, em funo das condies climticas zonais e
regionais, elaboram feies especificas no relevo das reas em que atuam. So processos
combinados de eroso e deposio que respondem por feies de relevo, de tipo erosivo, de tipo
residual e de tipo deposicional. Cada sistema de eroso um conjunto de foras, responsvel pela
formao de um conjunto solidrio de formas. A atuao de tais sistemas atinge parcelas
expressivas das reas continentais, variando desde centenas de milhares de quilmetros at milhes
de quilmetros quadrados, em rea.
Com base nas relaes entre a vegetao, os solos e as feies de relevo ocorrentes em cada rea de
atuao dos sistemas de eroso, tambm chamados sistemas morfogenticos, foram identificados os
principais domnios morfoclimticos da face da Terra: sistema de eroso e domnio morfoclimtico
das regies frias e glaciais (continentais e de altitude); sistema de eroso e domnio morfoclimtico
periglacial; sistema de eroso e domnio morfoclimtico mediterrneo, com suas nuances
subtropicais; sistema de eroso e domnio morfoclimtico tropical (1. com florestas pluviais; 2. com
savanas ou cerrados); sistema de eroso e domnio morfoclimtico semi-rido (1. frio; 2. quente); e,
finalmente, o sistema de eroso e domnio morfoclimtico desrtico (1. frio; 2. quente).
O termo de mais recente introduo em cincias que dizem respeito ao relevo terrestre o vocbulo
morfoclimtico. Tal palavra pretende associar as formas ao clima (morphos: formas). Aplica-se a
qualquer grupo ou combinao de fatos climticos capazes de participar da elaborao de feies
combinadas de relevo terrestre. As foras erosivas combinadas, incluindo os prprios processos
regionais de formao de solos, so chamadas de processos morfoclimticos. Em escala mundial
podem-se reconhecer faixas morfoclimticas zonais, de grande extenso e similitude, que afetam
terras pertencentes a diversos continentes. As principais reas de atuao dos processos
morfoclimticos, em um mesmo bloco continental, podem ser chamadas de domnios
morfoclimticos.
No caso do Brasil, a expresso domnio est sendo empregada com o sentido de uma grande regio
de paisagens morfolgicas, em um pas de dimenses efetivamente continentais. No , porm, uma
simples preferncia, pois o domnio uma palavra menos rgida do que provncia ou regio;
significa, no caso, uma grande rea de predomnio de certos processos responsveis por
determinados conjuntos de feies geomorfolgicas. Trata-se, apenas, de uma grande rea de
predomnio de certas foras criadoras de formas de relevo. Os atuais domnios morfoclimticos
tiveram outro arranjo e outros aspectos em um passado recente, sobretudo durante o perodo
Quaternrio (de um a trs milhes de anos atrs).
Para se entender toda a importncia dos processos morfoclimticos, conveniente saber que os
processos de origem externa em nosso planeta tm dois tipos gerais de atuao: atuao linear e
atuao areolar. So processos lineares aqueles que relacionados com a atuao dos rios atravs
dos talvegues dos vales. Por sua vez, so processos areolares todos os processos combinados de
atuao em rea, que afetam uma regio em quase toda sua extenso, quer nos interflvios
(divisores de guas), quer nas vertentes (faixas de encostas dos vales).
Os processos erosivos de atuao linear, nas reas dotadas de rios, so sempre de escavao pela
eroso mecnica, efetuada pela gua e seus materiais de transporte, ou de deposio pela

sedimentao dos detritos em transporte, nas margens dos cursos dgua. J os processos areolares
atuam um poo por quase toda parte do relevo, desde os interflvios at os prprios fundos dos
vales. So eles os nicos responsveis pela escultura das terras que esto acima do nvel do rio e a
escapo das inundaes ribeirinhas. Por outro lado, eles so sempre processos combinados de
formao de solos, de desenvolvimento de cobertura vegetal e de elaborao de formas de relevo.
Quando est chovendo, os pingos dgua podem cair em toda parte de uma determinada rea de
relevo: chove nas vertentes, chove nos interflvios, chove nos fundos dos vales e chove at mesmo
em cima das guas correntes dos rios. Esta chuva, que geral para uma rea dada, representa um
tipo de processo areolar. Entretanto, ao mesmo tempo que chove, as razes esto penetrando nos
solos, os microorganismos esto trabalhando em pores superficiais e subsuperficiais desses
mesmos solos, as enxurradas esto escorrendo em diferentes tipos de lenis dgua. Mais calor ou
menos calor afetam solos e rochas, a umidade entranha a terra e decompe um pouco mais certos
minerais suscetveis ao da gua. As guas de infiltrao alimentam os lenis dgua
subsuperficiais. E, por sua vez, os lenis alimentam os cursos dgua regionais. A combinao
regional de tais processos de atuao areolar que recebe o nome de processos morfoclimticos.
Cada rea climtica do Globo tem a sua prpria combinao de processos morfoclimticos.
Mesmo que no possamos conhecer todas essas combinaes de processos de atuao areolar,
temos que saber, pelo menos, qual a combinao de processos mais peculiar regio em que
vivemos e que nos circunda.
No interior de um mesmo domnio morfoclimtico, os processos lineares e os processos areolares
atuam de um modo integrado. Isso valido, sobretudo, para os rios que nascem e correm no interior
do prprio domnio paisagstico principal da regio (igaraps da Amaznia, rios e riachos
intermitentes das caatingas, cursos dgua do domnio do cerrado). Os grandes rios podem nascer
num domnio paisagstico e cruzar um outro totalmente diferente, como o caso do So Francisco,
que nasce nas terras midas de Minas Gerais, cruzando depois importantes setores do domnio
semi-rido da Bahia, de Pernambuco e de Alagoas. Nesse caso, o rio recebe o nome de alctone,
por oposio aos pequenos cursos dgua que nascem e correm num mesmo domnio paisagstico
(autctone).

Existe uma tentativa de sistematizao de nomenclatura, da autoria de Georges Bertrand

(Universidade de Toulouse), para designar os diferentes espaos morfoclimticos do Globo. A um
nvel planetrio, o autor utilizou a expresso zona morfoclimtica (zona tropical mida, zona
subtropical, zona das tundras). Ao nvel continental, continuou reconhecendo domnios ou regies
morfoclimticas (domnio das terras baixas equatoriais brasileiras; domnio das depresses
interplanlticas com caatingas, etc.).
Em relao a unidades espaciais de nvel subregional ou local, entretanto, props novos conceitos
tais como: regio natural, geosistema, geofcies e getopos. Tais expresses dizem respeito s

paisagens vistas sob o prisma global das formas de relevo, cobertura vegetal e comportamento da
rea perante os processos de degradao dos ambientes naturais.
Entende-se por regio natural uma parcela do mosaico paisagstico regional, dotada de limites
relativamente bem definidos topogrfica e paisagisticamente: os altos de um plat com cerrados, a
testada de uma escarpa de topografia homognea, o conjunto de colinas de um compartimento de
planalto, etc.
Por geosistemas endentem-se as faixas de uma regio natural que estejam em equilbrio ou
desequilbrio biomorfoclimtico (biostasia ou resistasia), ou em desequilbrios eventuais
relacionados s aes humanas (processos erosivos provocados por aes antrpicas).
O conceito de geofcies diz respeito a fatos paisagsticos mais especficos e homogneos. Trata-se
da prpria tessitura local da paisagem: o padro global de uma paisagem dotada de certa extenso
espacial, em funo das caractersticas do embasamento geolgico, dos solos e da cobertura vegetal.
Trata-se do padro de paisagem tal como ele visto num certo espao, com seu prprio ar de
famlia topogrfico e fitogeogrfico, em perfeita diferenciao quando comparado com os outros
padres naturais de paisagem que o envolvem. Tais fcies paisagsticos de uma rea (donde a
expresso geofcies) constituem a textura da paisagem observvel nas fotos areas ou em qualquer
outro documento obtido por sensores remotos (radar, satlites artificiais). Os geofcies podem ter
grande, mdia ou pequena extenso dentro de uma regio natural qualquer, reduzindo-se muitas
vezes a um pequeno enclave paisagstico ou constituindo, em outros casos, o prprio pano de fundo
regional das paisagens. Da ser indispensvel ter-se a noo de que pequenas, mdias ou grandes
reas de geofcies podem coexistir da organizao dos espaos geogrficos naturais de qualquer
rea do Globo.

Domnio morfoclimtico
tropical mido

Domnio morfoclimtico
periglacial

Domnio morfoclimtico
semi-rido (quente)

Processos areolares

Processos lineares

Intemperismo qumico profundo.

Pedognese tropical mida (com formao
de oxissolos.)
Pluviao (com lenis difusos e lenis
concentrados).
Cobertura vegetal da floresta pluvial e ao
re razes e microorganismos.
Coluviao.
Mamelonizao / convexizao.

Eroso de talvegue por rios e riachos

perenes de rede densa.
Faixas de sedimentao aluvial com
cintures mendricos.
Aluvies finas.

Intemperismo qumico por gelivao (no

solo e na rocha).
Ao da fuso das neves e do gelo que
revolvem partculas e massas de solos e
rochas.
Eroso elica complementar.
Talus, corridas de lama e de blocos.
Pavimentao nival.

Pequena ao erosiva do escoamento.

Eroso de talvegue pelos rios principais.
Sedimentao aluvial.
Solos poligonais (fendas poligonais).

Intemperismo fsico predominando sobre o

intemperismo qumico.
Pedognese semi-rida, com formao de
vertisslos, solonetz e solos vermelhos de
reas secas.
Manchas de cho pedregoso.

Rios e riachos intermitentes.

Nas reas subdesrticas speras: rios
efmeros, espordicos (tipo flash-flood
rios relmpagos).
Leitos de rios com canais ou canaletas
anastomosados.
Sedimentos fluviais grosseiros (areias
grossas, seixos).

Por ltimo vem o conceito de getopo, envolvendo exclusivamente as excees locais que
pontilham o mosaico dos geofcies de uma rea: um setor de rochedos ou lajedos eventuais, com

vegetao especializada ou aridez rochosa, um morro testemunho ruiniforme, degradado ou em

degradao do ponto de vista da cobertura vegetal habitual da regio, etc.
Nos estudos de fotografias areas e documentos de radar, torna-se imprescindvel, a um
interpretador, a utilizao de tais conceitos para efeito de distino dos diferentes padres de
paisagens ou combinaes regionais de fatos geolgicos, pedolgicos, morfolgicos e
biogeogrficos de uma rea.

TESTEMUNHOS DE APLAINAMENTOS
Prolongadas fases de eroso em determinadas condies, por meio de processos combinados,
podem redundar em aplainamentos regionais de grande extenso. Tais plainos de eroso tm
recebido diferentes nomes, conforme a teoria proposta para sua gnese: peneplanos, paleoplanos,
pediplanos, entre outros.
Uma primeira teoria sobre uma imaginria forma de evoluo do relevo de uma rea, at atingir a
um aplainamento completo, foi estabelecida pelo gegrafo norte-americano William Morris Davis,
em 1889. Trata-se do conjunto de idias conhecido pelo nome de ciclo de eroso fluvial, atravs do
qual se concebia uma srie de etapas evolutivas, correspondentes ao grau de dissecao e reduo
do relevo, resumidas em trs estgios bsicos (juventude, maturidade e velhice).

Contestaes importantes e irrespondveis tm sido feitas a esse velho esquema de interpretao

terica sobre a evoluo do relevo, de tal forma que o ciclo vital do relevo, dentro em breve, deixar
de figurar at mesmo nos livros didticos. Por ora, evita-se de todas as formas falar de termos que
tenham compromissos muito fortes com a teoria de Davis, tais como peneplano, monadnock e
estgios de evoluo cclicos. Em outras palavras, existem numerosos exemplos de aplainaes
antigas e modernas, mas certamente muitos desses aplainamentos regionais no se realizaram
segundo as leis tericas e os estgios evolutivos idealizados e visualizados por Davis. Sabemos
tambm que existem restos de relevo, localmente poupados pela eroso, em meio de vastas
superfcies de aplainamento.
Os testemunhos de aplainamentos encontrados no Brasil ocupam posies muito definidas nas
cimeiras ou nos desvos dos compartimentos de planalto que, em conjunto, formam o grande
planalto brasileiro. Existem quatro tipos principais de indcios ou testemunhos de aplainamentos
antigos e modernos, em nosso territrio: 1. superfcies de cimeira (altos de Borborema, Geraizinhos
e Maracs, planalto Central, altos campos da Mantiqueira, alto Rio Grande, Purun, Vacaria); 2.
superfcies interplanalticas (superfcies sertanejas do Nordeste, superfcies neognicas de So
Paulo, superfcie da Campanha, superfcie de Cuiab, superfcies pr-Serra do Mar em So Paulo,
Rio de Janeiro e Esprito Santo); 3. superfcies em exumao (diversos casos locais em que velhas
superfcies fsseis esto sendo desenterradas nas bordas de bacias soerguidas); e 4. superfcies de
everso (reas em que aps a exumao de velhas superfcies fsseis houve um recorte de novas
superfcies margem de bacias soerguidas: Primeiro Planalto do Paran, Depresso Ocidental do
Cear, Depresso Cuiabana).
A ARQUITETURA DA CROSTA TERRESTRE
No momento em que se conhece um pouco mais o conjunto de feies que caracterizam a superfcie
da Lua e de Marte, pode-se avaliar melhor o quanto a arquitetura da crosta terrestre original e
diferenciada. Desde h dois sculos tem-se procurado demonstrar o papel extraordinrio da gua na
evoluo de muitos fatos da superfcie terrestre. Mais do que isto, porm, a presena da gua,
atravs das massas lquidas retidas nos mares e oceanos, interessa para explicar at mesmo fatos que
dizem respeito prpria formao de grandes parcelas da crosta terrestre.
Os mares invadiram, por muitas vezes, pores expostas dos continentes, penetrando por grandes
depresses interiores, e deixando l os testemunhos de sua presena atravs de espessas camadas de
areias de praias, de lodo e de calcrios. Diz-se que fizeram transgresses, deixando marcas e
registros de sua progresso continente a dentro. Outras vezes, retornaram para o reservatrio
comum, que o oceano, forados pelo levantamento das reas continentais, sob o estmulo de
foras internas de epirognese. Durante tais perodos de regresso, outros registros, atravs dos
depsitos especficos e sinais da ao das ondas, foram deixados na estrutura dos continentes. Por
vezes, ainda, as camadas acumuladas onde os mares penetraram em faixas definidas dos continentes
sofreram dobramentos por movimentos de origem interna, capazes de provocas compresses
laterais (orognese), vindo a se incorporar aos setores preexistentes dos continentes, na categoria de
montanhas de dobramentos. medida que tais dobras soergueram, transformaram-se em
cordilheiras.
No se pode esquecer que nas depresses interiores, algumas vezes ocupadas por mares rasos,
outros fenmenos ligados aos climas regionais e movimentao de massas de ar puderam gerar,
ocasionalmente, grandes desertos arenosos, representados por extensos campos de dunas, do tipo
que conhecemos no Saara atual (ergs). Alm do que, episdios de vulcanismo macio, atravs de
derrames de lavas muito espessos, ligados a complexos fenmenos internos, puderam tamponar
parte das camadas j depositadas pelos mares rasos e pelos ventos dos desertos.
Reconhecem-se na arquitetura dos continentes quatro grandes tipos de massas de rochas:
1. os terrenos de consolidao j muito antiga, denominados pelos gelogos sob o nome
genrico de escudo, que podem se apresentar sob aspectos muito variados no terreno

(macios, montanhas em blocos, plancies de eroso, espinhaos montanhosos, planaltos de

estrutura complexa);
2. as bacias sedimentares pouco deformadas, chamadas intracratnicas pelo fato de estarem
aninhadas nos escudos, representadas topograficamente por planaltos sedimentares e/ou
baslticos, tabuliformes ou ligeiramente cuestiformes;
3. as bacias sedimentares muito deformadas por dobramentos, conhecidas como reas de
geossinclinais, e transformadas em cadeias de cordilheiras ou em arcos insulares;
4. reas de sedimentao moderna ou em processo, sob a forma de terras baixas em geral
(plancies de extenso continental, tabuleiros e baixos plats, depresses interiores).
Os escudos so as mais velhas plataformas das reas continentais de nosso Globo. A palavra escudo
(craton em grego) fixou-se em geologia pela fora da sua prpria significao. Um escudo sempre
uma massa rgida e, no caso, uma massa rgida de rochas muito antigas (gnaisses, granitos). Mais do
que isso, porm, os escudos lembram geometricamente um polgono irregular; pois bem, nos mapas
geolgicos, os terrenos de consolidao antiga, pertencentes aos escudos expostos, tm a forma de
grandes manchas ou polgonos irregulares que lembram a figura de um escudo. Os escudos das
reas continentais, na categoria de massas rochosas mais leves do que as dos fundos dos oceanos,
sempre tiveram tendncia para se soerguer e se expor s foras da eroso. Desta forma,
funcionaram, por longos perodos de tempo, como reas fontes par ao fornecimento de detritos, que
vieram a ser depositados nos mares rasos vizinhos ou ainda em outras depresses interiores ou
marginais dos continentes. Nos mapas geolgicos esquemticos, as reas de escudos so
representadas por uma legenda feita com o sinal + (mais), a fim de indicar o seu carter de massa
rochosa positiva, ou seja, regio suscetvel a sucessivos levantamentos por epirognese e por
falhamentos associados.
Mesmo que tenham tido, encravadas em seu interior, outras massas rochosas pertencentes s razes
de velhas cordilheiras, os escudos j sofreram arrasamentos quase completos por eroso,
transformando-se s vezes em verdadeiras plancies de eroso. Tais superfcies aplainadas antigas
foram, porm, ressalientadas por epirognese, em diversos perodos posteriores, obrigando os
terrenos de escudos a se transformarem em planaltos e montanhas novamente.
No Brasil existiram notveis aplainamentos de escudos, por volta do Devoniano, do Cretceo e do
Tercirio Superior. Muitos terrenos de escudos expostos esto hoje, entre ns, transformados de
novo em planaltos cristalinos (Borborema, planalto do Alto Rio Grande, planalto Centro Sul de
Gois, planalto Uruguaio-sulriograndense) e em diversos tipos de montanhas e escarpas (Espinhao,
Serra do Mar, Serra da Mantiqueira). No h uma feio de relevo especfica para o conjunto dos
escudos, mas sim tantas feies e compartimentos quantos sejam possveis pela ao do
levantamento epirognico, pela interferncia dos falhamentos e pela ao dos processos climticos
regionais.
As bacias sedimentares no deformadas, que se aninham nos escudos (bacias intracratnicas, ou
seja, intra-escudos), constituem reas preferenciais para a formao dos planaltos tpicos. Ao serem
levantadas por movimentos de origem interna, tais bacias transformaram-se em planaltos, que
podem ser tabuliformes no centro das antigas reas de sedimentao e cuestiformes nos bordos da
bacia. Tabuliformes, quando as feies so a grosso modo em forma de mesas, chapadas ou
tabuleiros. Cuestiformes, quando aparecem planaltos empenados, cujos diferentes setores so
separados por escarpas de eroso pronunciadas. Mesmo que existam escarpas separando largos
degraus dos planaltos sedimentares e baslticos, a verdade que predominam por grandes espaos,
no interior dos mesmos, feies topogrficas suaves e via de regra homogneas, em quase todas as
bacias sedimentares levantadas. No detalhe, as feies podem ser muito modificadas se houver
climas regionais e reas de vegetao muito diferenciada em pores diferentes de um mesmo
conjunto de planaltos sedimentares.
As grandes cordilheiras foram criadas onde existiam bacias sedimentares muito espessas,
posteriormente sujeitas a dobramentos e soerguimentos notveis. Na realidade, quase todas as faixas
de cordilheiras pertencem a reas geolgicas de geossinclinais, onde houve uma acumulao
extremamente grande e relativamente rpida de sedimentos. No raro, nas reas de geossinclinais

acumularam-se pilhas de 5.000 a 10.000 metros de sedimentos marinhos, em um ambiente mais ou

menos permanente de mares rasos. Para usar termos populares, diramos que as geossinclinais
seriam como sacos sem fundo para a acumulao de sedimentos. Quanto mais se acumulam os
detritos dos macios antigos ou montanhas preexistentes vizinhas, tanto mais o fundo mvel de
certas geossinclinais se rebaixa e se prepara para receber novas cargas de sedimentos (areias,
argilas, calcrios, cascalhos). Tal comportamento negativo das faixas de geossinclinais facilita o
espessamento de sedimentao em faixas que podem ter milhares de quilmetros de extenso. Disso
resulta que, ao se dobrarem, as camadas acumuladas nas geossinclinais originem estreitas e
alongadas cadeias de montanhas ou alinhamentos de ilhas (arcos insulares).
Quando as camadas sedimentares de uma geossinclinal so dobradas e soerguidas, acontece uma
serie de fenmenos paralelos. Os mares rasos regridem para os oceanos mais prximos ou para as
margens da faixa em processo de dobramento. O espao antigo da faixa de sedimentao
reduzido, pois ao se dobrarem e se levantarem as camadas ocupam uma faixa bem maior de rea
continental do que a faixa anteriormente ocupada pela bacia de sedimentao onde se acumularam
as camadas marinhas. Para se avaliar o espao antigo (paleoespao), teramos que realizar um
esforo de calculo parecido com aquele de acompanhar as dobras de um papelo ondulado, ou
similar imagem de abrir os foles de uma sanfona.

Quem percorre rapidamente com os olhos um mapa fsico do Globo nota imediatamente a
existncia de numerosas faixas de terras baixas, at h pouco tempo chamadas indistintamente de

plancies. Tais reas, marcadas nos mapas por tons verdes, tanto podem estar situadas nas margens
dos continentes como em depresses interiores de grande extenso (terras baixas do norte da
Sibria, Amaznia, Pantanal Matogrossense e Chaco).
Essas reas deprimidas do interior ou das margens dos continentes podem comportar feies que
variam desde as verdadeiras plancies (de qualquer tipo gentico), at os mais variados tipos de
terras baixas (terraos, tabuleiros, pediplanos*, baixos plats). Na maior parte dos casos, tais reas
de terras baixas so regies to complexas como quaisquer outras que estejam em nveis bem mais
elevados. As feies aparentemente simples de sua topografia podem esconder estruturas muito
complexas e s vezes ricas do ponto de vista do subsolo. Abaixo da plancie de Maraj foi
descoberta uma fossa tectnica com mais de 4.000 metros de profundidade. E, mais recentemente,
na Amaznia Brasileira, at h pouco tempo considerada uma montona extenso de plancies,
tm sido descobertas formas de relevo relativamente diversificadas: tabuleiros extensos, baixos
plats, relevos cuestiformes, nveis desdobrados de pediplanos modernos e pequenas porm
elevadas serras e cristas, situadas margem da bacia sedimentar regional. Alguns desses acidentes,
localizados na margem da bacia amaznica, apresentaram importantes e inesperadas concentraes
minerais, como no caso da Serra dos Carajs (Par).
Da se dizer que os grandes conjuntos de terras baixas do Globo so complexos particulares, que
merecem tantos estudos geolgicos e geomorfolgicos como qualquer outra rea da crosta terrestre.
Pode-se afirmar que se as terras esto baixas, no interior dos continentes, apenas porque ainda no
foram soerguidas a nveis mais elevados.
______________
O conceito de pediplano relativamente complexo. So plainos de eroso de extenso regional,
oriundos dos processos de pediplanao. Tais processos, em termos muito gerais, equivalem a um
aplainamento lateral sob condies ridas ou semi-ridas pronunciadas.
OS COMPARTIMENTOS DO RELEVO
Toda paisagem possui uma certa compartimentao de relevo. Isto implica dizer que cara poro da
crosta terrestre pode apresentar altos e baixos, representados p aquilo que se convencionou
designar por plancies, montanhas e planaltos. Na realidade, a topografia de cada rea em estudo
apresenta elementos de relevo mais baixos ladeados ou envolvidos por outros mais elevados: vales
separados por espiges, depresses entre montanhas, conjunto de colinas embutidas em
compartimentos especiais de planaltos. De um modo geral, nas reas de planaltos e de montanhas,
ou mesmo em conjuntos de colinas, existem compartimentos sucessivamente mais baixos, uns
embutidos nos outros.
Entende-se por compartimento de relevo qualquer conjunto topogrfico situado entre reas
topograficamente mais elevadas. Atravs da consulta de cartas topogrficas e da feitura de perfis ao
longo das principais unidades mais baixas e mais altas, ali representadas, pode-se compreender
melhor a compartimentao geral do relevo regional. Para se entender a compartimentao
necessrio considerar tanto as feies localizadas em nvel topogrfico mais baixo como aquelas
massas de relevo que as ladeiam ou as confinam.
As formas de relevo mais baixas (plancies, terraos e colinas) quase sempre esto encaixadas nas
mai altas (espiges divisores, cristas e cadeias de montanhas, planaltos e blocos montanhosos). No
que diz respeito s reas rasas, prximas da costa, ou com relao s grandes depresses interiores,
dotadas de muitos rios e lagos, mais apropriado falar-se em mosaico de terras-guas (caso das
plancies costeiras, arquiplagos costeiros, Pantanal Matogrossense, plancie Amaznica). Mesmo
nessas reas existem compartimentos de pequena amplitude, em escalonamento sucessivo. Desde as
terras planas e alagadias, situadas retaguarda das praias, at a primeira escarpa, podem se suceder
diversas feies particulares: plancies de mars, canais de mars, plancies aluviais, terraos,
colinas e morrotes, espores baixos de serras.

O comeo de qualquer treinamento para obter uma idia sobre a compartimentao da topografia
reside em conhecer bem o significado exato de uma srie de termos muito simples: vales, plancies,
planaltos e montanhas. Igualmente til ser o conhecimento do conceito de depresso perifrica,
depresso monoclinal, depresses tectnicas, planaltos empenados, planaltos em degraus,
montanhas de blocos falhados, patamares de pedimentao, terraos de diferentes tipos, cristas,
alvolos, superfcies interplanlticas, reas de everso, superfcies de everso, superfcies de
cimeira, superfcies desdobradas, etc. De boa e conveniente utilizao dos termos geomorfolgicos
depender a qualidade do produto final do trabalho de descrio e interpretao do relevo terrestre.

PLANCIES, PLANALTOS E MONTANHAS

Uma plancie sempre um trecho de territrio de relevo muito raso, que pode estar situado
margem ou no interior de terras elevadas, pertencentes a planaltos ou montanhas. Pequenas
plancies aluviais, conhecidas no Brasil sob o nome de vrzeas, banhados ou vazantes, aparecem at
mesmo no interior dos planaltos, ou em reas relativamente montanhosas. No entanto, as maiores e
mais extensas plancies do Globo esto em nvel baixo, ou seja, apenas algumas dezenas ou mesmo
poucas centenas de metros acima do nvel geral dos mares.
Por sua vez, os planaltos so massas de relevo no muito acidentadas, que se situam, pelo menos
por um de seus lados, a cavaleiro das faixas de verdadeiras plancies. Trata-se de um conjunto de
relevo de tipo intermedirio entre a montanha e a plancie. Certamente, para ser considerado
planalto, ele ter que ser muito mais macio e saliente do que as plancies, porm muito menos
acidentado do que as verdadeiras montanhas.
Uma rea montanhosa corresponde a uma regio de relevo muito vigoroso, com encostas ngremes,
vales e gargantas profundos e sucessivos, picos e cumeadas elevados. As montanhas s se
distinguem dos planaltos pela energia do seu relevo e pelo grau de acidentamento de suas feies
topogrficas.
As plancies ocupam na superfcie da Terra uma rea quase igual dos planaltos e montanhas. Na
Amrica do Sul, elas comeam na Amaznia e no Orinoco e terminam nos pampas argentinos. Na
Europa e sia existe um verdadeiro cinturo leste-oeste de plancies, das largas e glidas plancies
da Sibria at o norte da Alemanha, Holanda, Blgica e Frana. No sudeste da sia existem
plancies encravadas no interior de zonas muito elevadas e montanhosas. Essas plancies so
importantes sobretudo pela fertilidade de seus solos. Na Amrica do Norte, as plancies estendem-se
desde o sul e centro dos Estados Unidos, indo terminar nas glidas e extensas regies do Canad. A
frica o continente menos dotado de plancies. No entanto, a despeito da predominncia dos
planaltos no territrio africano, nele existem faixas de plancies costeiras e extensas plancies
desrticas (no Saara). Por sua vez, importantes setores do interior da Austrlia so constitudos por
plancies. O Brasil apresenta, alm das grandes plancies da Amaznia e do Pantanal
Matogrossense, uma longa faixa de plancies costeiras e inumerveis outras pequenas que se
estendem ao longo de quase todos os cursos dgua do planalto brasileiro.

A extenso dos planaltos no Globo relativamente desigual. A frica o continente que possui o
maior conjunto de planaltos do mundo, todos eles situados entre os trpicos. O esquema africano
repete-se, em grande parte, no territrio brasileiro. Na Austrlia existem diversos grupos de
planaltos, em vrios pontos do pas: leste, oeste, sul e sudeste. So planaltos situados entre os
trpicos, avanando at o sul do trpico de Capricrnio. Toda a pennsula Arbica comporta-se
como se fosse um planalto nico, extremamente desrtico. Na sia e na America do Norte existem
planaltos situados entre as cristas de elevadas cordilheiras. Os planaltos aparecem tambm nos
Andes, altura dos territrios da Bolvia e do Chile.
As montanhas elevadas, do tipo cordilheira, possuem tambm uma distribuio muito irregular no
conjunto das terras emersas dos diversos continentes. Montanhas de tal tipo aparecem ao longo de
toda a poro oeste das Amricas. Na Europa, as montanhas em cordilheira comeam na Espanha e
continuam pelos Alpes (Sua, Frana, Itlia), pelos Crpatos (Iugoslvia), penetrando depois na
Unio Sovitica e na sia, atravs do Himalaia e seus contrafortes, dispostos nas mais variadas
direes. Enquanto nas Amricas as cordilheiras orientam-se segundo os meridianos, ou seja, de sul
para norte, na Europa e na sia as cordilheiras tem um rumo marcadamente oeste-leste,
acompanhando o rumo dos paralelos, em posio nitidamente subtropical e temperada. As
cordilheiras apresentam climas frios de altitude, possibilitando o aparecimento de geleiras at
mesmo em regies de latitude correspondente, de um modo geral, a climas quentes. Tais geleiras,
situadas a 3.000 ou 4.000 metros de altura, alimentam rios de alta montanha, que descem at os
sops das cordilheiras, transportando uma grande massa de gua capaz de possibilitar a irrigao de
enormes trechos de plancies de sop de montanha.
Seguem-se algumas consideraes que permitiro uma melhor compreenso dos diversos
compartimentos do relevo.
Plancie: rea de relevo praticamente nulo, situada margem de colinas ou planaltos, ou embutida
entre colinas e morros. As maiores plancies do Globo situam-se nas proximidades de reas
costeiras, em baixas latitudes. Pequenas plancies podem ser encontradas em qualquer altura.
Planalto: rea de relevo constituda por conjuntos de terras altas, onde predominam ondulaes
relativamente suaves e amplas, sujeitas eroso. Os bordos dos planaltos podem ser escarpados ou
em rampa suave; pelo menos por um de seus bordos, os planaltos esto a cavaleiro de plancies.
Montanha: rea de relevo acidentado, com vales profundos, divisores serrilhados e encostas
abruptas.
Tipos de plancies sedimentares, segundo a origem:
Plancies aluviais ou plancies de inundao: so aquelas formadas pelo transbordamento das guas
fluviais durante os perodos de cheias ou de inundao dos rios.
Plancies deltaicas: so os prolongamentos das plancies aluviais sobre rea de deltas*.
Plancies costeiras: formadas por depsitos transportados pelos rios e pelo mar.
Plancies glaciais: formadas por depsitos transportados pelo gelo, tais como lama, areia e seixos.
Os depsitos glaciais criam colinas alongadas, constitudas por blocos, alm de depresses
pantanosas e grandes acumulaes arenosas. So plancies de acumulao que, desde o incio, tm
algum relevo, ao contrrio das plancies fluviais.
Plancies elicas: formadas pela acumulao de areia (dunas) devido ao turbilhonar do vento
(ao elica).
Plancies lacustres: reas de lagos recentemente entulhados e no muito sulcados pelos rios que os
sucederam.
Plancies de less: reas de acumulao de depsitos finssimos, transportados pelos ventos,
situadas margem de antigas reas de geleiras ou na periferia de desertos.
Plancies de tundras: reas planas ou ligeiramente onduladas, dotadas de solos congelados, situadas
nas regies subrticas (proximidades dos plos).
______________
Deltas: so reas de sedimentao localizadas na embocadura dos rios, no mar ou em lagos. Os
detritos jogados ao mar ou nos lagos, pelos rios, acumulam-se do fundo para cima e das bocas do
delta para frente, gerando terras ao mar ou aos lagos.

Tipos de planaltos, segundo a origem:

Planaltos sedimentares (ou tpicos): planaltos originados pelo soerguimento de camadas
sedimentares, originalmente depositadas no fundo de lagos ou de mares.
Planaltos baslticos: planaltos originados por correntes ou fluxos de lavas vulcnicas de grande
espessura, extravasadas umas aps as outras, em determinadas reas. Tais corridas de lavas,
algumas das quais muito antigas, podem dar origem a plancies de lava que, ao serem soerguidas
por movimentos geolgicos de conjunto, criam os planaltos de lava. Existem planaltos de lava
formados por camadas de rochas sedimentares entremeadas de antigas corridas de lavas baslticas
(exemplo: planaltos arentico-baslticos da regio sul do Brasil).
Planalto de estrutura complexa: reas de montanhas de dobramento que aps terem sido totalmente
aplainadas por foras erosivas foram novamente soerguidas (exemplo: planaltos do Brasil central,
planalto do Borborema). Nesses casos, a estrutura regional pode ser composta de vrios tipos de
dobras antigas, enquanto o relevo comporta largos interflvios relativamente planos. So antigas
reas aplainadas e soerguidas, sulcadas por vales espaados, porm no transformadas novamente
em montanhas. Existem planaltos desse tipo, entre Braslia e Anpolis, mantidos por crostas duras
de laterita*. Nesse caso particular, os interflvios conseguem ser to planos quanto aqueles
existentes em algumas chapadas sedimentares.

Tipos de montanhas, segundo a origem: as montanhas so classificadas em: 1) montanhas de

dobramento; 2) montanhas dmicas; 3) montanhas de blocos falhados; 4) montanhas vulcnicas; 5)
escarpas de falha; 6) escarpas de eroso; 7) minimontanhas.
Montanhas de dobramento: cordilheiras oriundas do dobramento de camadas originalmente
depositadas no fundo dos mares. Aps os dobramentos, as camadas dobradas so soerguidas a
milhares de metros de alturas, sulcadas pelos rios e, s vezes, por geleiras de altitude (exemplo:
Andes, Alpes, Himalaia).
Montanhas dmicas: so camadas deformadas em forma de abboda. Aps a ao de demorados
processos erosivos, os domos podem dar origem a montanhas semicirculares, com cristas
serrilhadas e abruptas para o interior das depresses dmicas e encostas suaves inclinadas para o
exterior da antiga abboda. Nas pores centrais de alguns domos foram descobertas jazidas de
petrleo em profundidade.
Montanhas de blocos falhados: pores da crosta terrestre soerguidas em blocos, a diferentes
alturas (exemplo: Mantiqueira, Bocaina).
Montanhas vulcnicas: cones vulcnicos, extintos ou ativos, formados pelo acmulo de lavas e
cinzas em torno de crateras de vulces.
Minimontanhas: rea de pequena altitude relativa, porm com forte grau de acidentao.

______________
Laterita: Crosta dura com fortes concentraes de ferro e alumnio. Velhos solos transformados em
nova rocha, sob a forma de crosta ferruginosa resistente.

GLOSSRIO
Os que iniciam na descrio das paisagens naturais, assim como os que pretendem usar uma
terminologia geogrfica adequada, devem conhecer alguns termos chaves, de carter puramente
topogrfico, indispensveis para uma boa e concisa descrio geogrfico-fsica. Seria bom lembrar
que quando um cientista de laboratrio observa um inseto ao microscpio, ou a superfcie de um
minsculo gro de areia, ele necessita permanentemente de uma terminologia correta para bem
descrever o material que coletou e est observando. Os gegrafos, por sua vez, tm o espao
geogrfico inteiro para estudar, descrever e interpretar. Seu campo de estudo tem a superposio de
construes da natureza e de construes humanas. um tecido grandioso de organizao
complexa. Da a necessidade de se obter uma terminologia mnima, suficientemente ampla e
variada para atender s bases territoriais do teatro geogrfico das atividades humanas.
Uma desvantagem dos gegrafos com relao aos termos descritivos reside no fato de que so
vocbulos de tal maneira comuns e conhecidos, que ningum se d ao trabalho de defini-los
adequadamente. Sobretudo, no passa pela cabea de ningum a necessidade de redefini-los com
base em um critrio gentico mais seguro e vlido. Alguns termos topogrficos, felizmente esto em
todos os bons dicionrios e podem ser aproveitados dentro do simples e convencional significado
que a tradicional maneira de transmisso de pai para filho dos dicionrios vem efetuando atravs
dos sculos. Segue-se uma lista mnima de termos puramente topogrficos e descritivos.
Pico: salincia nos altos de uma montanha. Os picos variam muito quanto sua forma e
constituio geolgica (dedos-de-deus, pes-de-aucar, agulhas, pontes rochosos, corcovados).
Cume: ponto mais elevado de um planalto ou de uma montanha.
Colina: pequena elevao suave, acima do nvel de uma plancie.
Outeiro: pequena elevao de encostas abruptas, acima do nvel de uma plancie, nos sops de uma
montanha ou a beira-mar.
Mamelo: morro de encostas arredondadas, monte em forma de meia laranja.
Monte: morro isolado ou semi-isolado, de formas muito variveis.
Escarpa: paredo abrupto de relevo, separando trechos de topografias suave, existentes acima e
abaixo das reas escarpadas.
Abrupto: encosta muito ngreme, s vezes quase vertical.
Declive: termo usado para indicar qualquer superfcie inclinada (encostas de vales, encostas de
morros e escarpas, encostas de colinas ou montanhas).
Vertente: encosta de vale. As vertentes podem ser cncavas, convexas, em degraus, verticais e
pendentes.
Ruptura de declive: faixa em que um terreno inclinado adquire bruscamente uma declividade mais
acentuada.
Esporo: salincia lateral de uma montanha ou de uma escarpa. As salincias dos bordos dos
planaltos sedimentares ou baslticos so denominadas festes.
Cornija: beirada rochosa, em faixa contnua, em um setor de uma escarpa ou de uma vertente.
Vale: depresso alongada, de fundo descendente, sulcada pelas guas correntes. Existem vales
fluviais, vales glaciais, vales secos, vales de origem tectnica (inicialmente originados por falhas).
Os vales possuem trs partes: 1) o talvegue; 2) os fundos do vale; 3) as vertentes.
Talvegue: eixo descendente dos fundos de um vale, por onde passam as guas.
Divisor de guas: linha de separao de duas bacias hidrogrficas vizinhas.
Interflvio: faixa de relevo existente entre dois vales vizinhos. Os interflvios variam muito quanto
sua topografia. No Brasil, o termo mais usual para interflvio espigo.
Colo: rea de rebaixamento no meio de um relevo mais elevado e contnuo. Os colos so uma
espcie de garganta suave e suspensa, constituindo paisagens naturais para estradas e caminhos.
Falsia: paredo abrupto, originado pela eroso marinha (abraso) na frente de pontas ou
promontrios costeiros.
Terrao: patamar em forma de degraus suaves, existente no fundo e nas encostas dos vales.

TERRAOS FLUVIAIS
Um terrao, em linguagem popular, um patamar qualquer, aplicvel a construo ou a um terreno.
Com relao a terraos naturais, a expresso procura indicar uma espcie de aterro natural que eleva
localmente a topografia de uma rea qualquer do relevo.
Em cincias da Terra, a expresso terrao adquiriu uma larga utilizao, atravs de conceitos um
pouco mais definidos e especificados (terraos fluviais, terraos marinhos, terraos glaciais, etc.).
Na realidade, os terraos naturais possuem diferentes tipos de gnese, ocupam diferentes posies
na topografia e esto sujeitos a diferentes graus de intensidade quanto sua dissecao e
modelagem.
Em termos simples, um terrao um ligeiro degrau de relevo, situado em posies tais como: no
fundo ou nos flancos de vales fluviais (terraos fluviais), no meio de uma plancie arenosa do litoral
(terraos marinhos), nos bordos de antigos vales glaciais (terraos glaciais, tambm chamados
terraos de kame).
Os terraos fluviais tm uma significao muito especial do ponto de vista cientfico, devido
particularidades de sua gnese e, mais do que isso, tm uma grande importncia para a utilizao do
espao, j que possuem aptides para inmeras atividades e construes humanas.
Cada terrao fluvial pode ser tomado como o testemunho de um nvel em que o rio j trabalhou,
atravs da construo de uma velha plancie de inundao. Aps ter estado em nvel mais alto,
aluvionando e criando uma certa calha aluvial, o prprio rio dissecou seus depsitos antigos, vindo
a ocupar um novo leito, abaixo do nvel de suas velhas aluvies, que ficaram suspensas e, portanto,
transformadas em um nvel de terraos.
Para serem consideradas terraos, as velhas plancies redissecadas devem estar em nvel suspenso
em relao ao talvegue atual dos rios. Em outras palavras, devem estar acima das novas plancies
que os rios esto formando. A rigor, um nvel de terraos fluviais no mais atingido pelas cheias e
inundaes do rio. A barranca lateral de um terrao fluvial sempre mais alta do que as pequenas
barrancas de escavao da margem de ataque existente no interior das plancies fluviais em
formao.
Os terraos fluviais podem ter os mais variados aspectos quanto sua distribuio e formas de
detalha, ao longo dos vales: terraos pares e terraos mpares; terraos sob a forma de
tabuleiro raso ou sob a forma de lombas e colinas muito suaves; terraos embutidos em degraus
sucessivos, cada um com suas prprias formas e seus prprios tipos de depsitos antigos; terraos
dotados ou no de suas aluvies antigas. Isto para no falar das formas complexas de terraceamento,
ou nos casos hbridos de terraos com patamares de aplainamento lateral restrito (pedimentos).
Os depsitos de terraos fluviais podem variar muito quanto sua constituio e espessura. Por
outro lado, so bons indicadores das condies antigas do regime dos rios, da forma dos canais
fluviais e do arranjo primrio dos sedimentos fluviais e aluviais. Na maior parte dos casos, os
sedimentos antigos dos terraos podem documentar as condies climticas da rea ao tempo em
que os depsitos estavam formando. Junto com os aludidos depsitos tm sido encontrados fosseis
de plantas e animais, que permitem uma idia aproximada das antigas paisagens vigorantes poca
de sua formao. Em reas de longa pr-histria, como o caso dos territrios africano e
euroasitico, junto aos depsitos de terraos j foram encontrados fosseis humanos, de dezenas at
centenas de milhares de anos de antiguidade.
Certamente, do ponto de vista de seu interesse para os homens que os terraos fluviais tm sua
maior significao. Isto porque muitas vezes, como no caso dos baixos terraos, so verdadeiros
trechos enxutos de plancies, no mais suscetveis de serem atingidos pelas cheias e inundaes
atuais. Por essa razo, os stios de terraos, embora estejam prximo da linha dgua no so
afetados pelas inundaes, constituindo-se em locais ideais para a construo de moradias rurais,
sedes de fazendas e diferentes tipos de instalaes vinculadas explorao agrria (celeiros, currais,
granjas, engenhos, terreiros de caf, etc.). Cidades, bairros de grandes cidades, estaes de estrada
de ferro, postos de gasolina, agrupamentos de moradias e pontos de comrcio rural aproveitam-se
tambm das condies favorveis apresentadas pelos baixos terraos.

No terreno, os terraos fluviais podem se apresentar em duas posies principais: 1. sob a forma de
pores mais altas e mais enxutas do fundo dos vales, considerados no caso baixos terraos; 2.
sob a forma de variados tipos de patamares ou degraus de vertentes dos vales, habitualmente
acompanhando o eixo geral dos prprios vales. Tal fato valido sobretudo para os terraos de nvel
intermedirio, situados acima de plancies suspensas e baixo dos primeiros nveis aplainados mais
gerais da topografia de uma regio.
No primeiro caso, muito comum no Brasil, so verdadeiras plancies suspensas e retalhadas pelo rio
e seus afluentes, atravs de ligeiras fases de retomada de eroso fluvial. Tais retomadas de eroso
fluvial podem estar relacionadas simplesmente com as variaes climticas e hidrolgicas,
ocorridas nas derradeiras pocas do perodo Quaternrio, ou podem representar soerguimentos
gerais ou regionais da topografia, por levantamentos de conjuntos (epirognese). No caso dos
terraos fluviais do baixo curso dos rios, alguns podem ter se formado devido s variaes
quaternrias do nvel geral dos mares (movimentos eustticos).

RELEVOS RESIDUAIS E FORMAS ISOLADAS

Existem formas que so restos complicados de uma longa evoluo de relevo regional. So feies
isoladas (morros, pontes rochosos ou outeiros macios) que se destacam nas paisagens, como
verdadeiras balisas para qualquer observador. Quase sempre tm um nome local, herdado de um
passado histrico muito distante. Pelo seu destaque, merecem um nome, da mesma maneira que os
setores de uma serra ou de uma montanha tm nomes locais prprios.
Conhecem-se os seguintes tipos de formas isoladas: inselberg, po-de-acar, pepino-hill ou hums,
shantung, nunatack e motterhorn. Apenas um desses nomes oriundo do Brasil: po-de-acar.
Trata-se de uma expresso arcaica, mesmo entre ns. Na era colonial brasileira o acar dos
engenhos era apresentado em forma de bolotas ou pes escuros. Pela vaga similitude deu-se o nome
ao morro que fecha a baa do Botafogo, na categoria de promontrio final de uma cadeia de morros
da Serra da Carioca, na cidade do Rio de Janeiro.
Tais formas isoladas tm o seguinte significado:
1. Inselberg (monte ilha): resto de relevo saliente em meio a uma paisagem de plancie semirida, oriunda de uma longa histria erosiva relacionada a processos secos. Os inselbergs podem ser
sedimentares.
2. Po-de-acar (ponto rochoso): monte rochoso e desnudo encravado em uma paisagem de mar
de morros, dotada de rochas decompostas e vegetao florestal. S existem pes-de-acar em reas
de massas rochosas compactas, pouco diaclasadas, tais como bossas de granitos, massas de gnaisses
lenticulares e migmatitos. Na sua histria, um po-de-acar de hoje pode ter sido um inselberg do

tempo em que o clima era seco. De qualquer forma, porm, ele definido pela paisagem e pelo
clima que hoje predominam na rea onde aparece. Um po-de-acar no pode ser chamado de
inselberg, porm, em sua histria fisiogrfica, pode ter passado de inselberg a po-de-acar e viceversa, por vrias vezes.
3. Pepino-hill, mogote ou hums: resto de relevo em fase de destruio final em uma superfcie
aplainada de regies calcrias. So resduos, no totalmente eliminados, de uma longa histria de
desgaste por dissoluo e ao mecnica alternadas, em uma rea de calcrios (relevo krstico).
Chamam-se hums da Iugoslvia, pepino-hill na terminologia geomorfolgica dos Estados Unidos e
mogotes em Cuba.
4. Shantung: morro ou colina isolada em meio de plancies costeiras ou plancies internas. So, s
vezes, velhas ilhas que foram soldadas pela sedimentao marinha ficando envolvidas por plancies.
Na Baixada Santista os morros e pontes isolados no lagomar regional foram chamados pelos tupisguaranis de engs-guas, ou seja, morros em forma de fundo de pilo grande.
5. Nunatack: relevo residual saliente, no meio de uma superfcie rebaixada ou aplainada por
glaciao continental.
6. Matterhorn: alto pico glaciado, com feio de pirmide rochosa suspensa ao nvel da cumeada
principal de uma cordilheira. Pensa-se que os picos do tipo motterhorn tenham-se originado pela
ampliao de uma srie de circos glaciais radiais, que primeiramente teriam surgido na cumeada de
uma rea de montanhas do tipo alpino-humalaio.
TIPOS DE RIOS
Existe uma nomenclatura bastante ampla para classificar os tipos de rios. Nesse setor, porm, como
em muitos outros da geografia fsica, os critrios so variveis. Podemos classificar os rios pelo
carter perene ou no de sua correnteza. Podemos classific-los tambm pela sua posio em
relao s camadas regionais. Podemos ainda classific-los pela sua cor e pelo significado das
diferentes coloraes p eles tomadas.
Existem rios que so perenes, isto , que correm o ano todo, com maior ou menor volume dgua.
Outros so intermitentes ou peridicos, correndo apenas durante uma certa poca do ano. Outros,
ainda, so espordicos ou ocasionais, correndo somente por ocasio da poca de chuvas (escassas),
em reas desrticas ou subdesrticas. No Brasil, com exceo da rea seca do Nordeste, todos os
rios so perenes. Os rios do Nordeste so predominantemente intermitentes estacionais.
Pela sua posio em relao s camadas que compem um determinado setor da crosta terrestre, os
rios podem ser conseqentes, subseqentes, obseqentes e inseqentes. Aqueles que acompanham a
inclinao geral das camadas so chamados conseqentes, pois eles so, desde h muito tempo, uma
conseqncia do mergulho das camadas regionais. Rios subseqentes so sempre normais aos rios
conseqentes, acompanhando a direo das estruturas, ou seja, as linhas superficiais deixadas no
terreno pelo cabeo das camadas que possuem mergulho. Enquanto uns seguem o prprio mergulho
(inclinao), outros seguem as arestas deixadas a superfcie pelas camadas que mergulham. Por
oposio, d-se o nome de obseqentes aos rios que se dirigem em sentido contrrio ao do
mergulho regional das camadas. Trata-se de um rio do contra, pois enquanto as camadas se
inclinam para um lado, ele adquire um curso que se dirige para o sentido oposto ao mergulho das
camadas. Por ultimo, existem rios pertencentes aos ramos menores da drenagem e que nada tema
ver com a estrutura: so rios inseqentes.
Na Amaznia, o prprio homem habitante classificou os rios pela sua cor: rios brancos, rios
negros, rios verdes. Na China ocorrem os rios amarelos. Os cientistas aproveitam a
classificao popular e procuram explicar o significado de cada colorao tomada pelas guas de
diferentes rios. Os rios brancos so rios barrentos, que se opem aos rios negros, cujas guas
possuem elementos hmicos e composio mais cida relacionada aos solos florestais da Amaznia.
Os rios verdes so aqueles que transitam pelos setores rochosos das corredeiras e cachoeiras
amaznicas, apresentando-se como uma variao regional dos escuros rios das florestas. Os rios
amarelos so rios barrentos da China, devido grande carga de partculas finas que transportam em

soluo nas suas guas. Tais partculas so removidas dos terrenos de loess, depsitos de origem
elica, abundantes no interior da China.
Cada um desses tipos de rios, por sua cor, tem um significado regional em termos de fertilidade de
suas aluvies. Os rios brancos da Amaznia foram vrzeas frteis, enquanto os rios negros do
origem a vrzeas pouco frteis, alm de se apresentarem como rios pouco piscosos. Os rios
amarelos da China do origem a algumas das plancies aluviais mais frteis que so conhecidas.
Uma relao dos tipos de rios, segundo os mais diferentes critrios, pode ter utilidade permanente
para eliminar duvidas e enriquecer a terminologia dos que estudam cincias da Terra.
Rio conseqente: curso dgua que acompanha o mergulho geral das camadas regionais, desde h
muito tempo no decorrer da historia fisiogrfica regional.
Rio recente conseqente ou resseqente: curso dgua que acompanha a inclinao ou o mergulho
das camadas regionais em um compartimento de elaborao relativamente recente na historia do
relevo da rea considerada.
Rio conseqente estendido: curso que se estende gradualmente com o recuo do mar ou diminuio
da massa de gua de um lago, acompanhando sempre o mergulho das camadas inclinadas recentes
da rea.
Rio conseqente lateral: pequeno curso dgua situado nos flancos das anticlinais, descendo para os
vales sinclinais.
Rio conseqente longitudinal: curso dgua originado no eixo de uma sinclinal e que se dirige no
sentido do mergulho do aludido eixo.
Rio conseqente mestre: principal rio conseqente de uma bacia sedimentar soerguida (casos do rio
Paran e do rio Amazonas).
Rios conseqentes radiais: serie de rios conseqentes estabelecidos radialmente em uma estrutura
dmica.
Rio subseqente: curso dgua ou setor de curso dgua que acompanha a direo das camadas
regionais, em reas de relevo de cuestas ou em reas de dobramentos.
Rio obseqente: curso dgua cujo traado se faz em sentido oposto ao do mergulho das camadas
regionais. Caso dos numerosos riachos ou torrentes que descem as escarpas de cuestas, entre outros
exemplos.
Rio inseqente: curso dgua no relacionado estrutura regional. Caso de numerosos braos
menores de rios brasileiros que correm sobre rochas decompostas, no orientados por qualquer
injuno da estrutura.
Rio antecedente: curso dgua que j existia em uma determinada rea, antes de certas deformaes
tectnicas pelas quais a regio passou, e continua a correr na mesma direo que possua
anteriormente. Tal fato indica que o rio foi capaz de manter seu curso a despeito das lentas
deformaes em processo (falhas, domos, arqueamentos).
Rio postcedente: curso dgua relativamente novo, que se formou aps os processos de deformao
tectnica regional (aps a formao de falhas, aps a formao de domos).
Rio adaptado a diaclase: curso dgua adaptado a qualquer alinhamento de fraturas tectnicas. Rio
direcional.
Rio adaptado a linhas de falha: curso dgua adaptado a uma linhade falha, dando origem a um
vale de linha de falha.
Rio inadaptado: curso dgua inciso em uma rea de relevo de cuestas, com traado irregular e
anmalo, ora entrando nas escarpas de cuestas, ora regressando s depresses perifricas ou
monoclinais.
Rio subadaptado: tambm chamado de rio misfit. Curso dgua no adaptado ordem de grandeza
de seu vale, como acontece nos casos de rios capturados com vales mortos, ou em casos de vales
suspensos em altos de blocos falhados.
Rift-valley: vale formado em fossas tectnicas. Setores de cursos dgua que seguem o eixo de uma
depresso tectnica alongada, tipo graben. Os rift-valleys podem conter setores de rios ou lagos
tectnicos.

Rio polgeno: curso dgua cuja formao atual fruto da juno de vrios trechos outrora
separados (caso clssico do Rio Paraba do Sul, em seu conjunto).
Rio mongeno: rio que desde sua formao teve uma nica origem, sem incluir anexaes
importantes de setores de bacias vizinhas.
Rio alctone: curso dgua que ao atravessar uma determinada rea climtica, com deficincia de
chuvas, mantm sua perenidade, devido ao abastecimento liquido que recebe de suas cabeceiras
(onde chove muito mais, ou onde existe fornecimento de gua a partir de outras fontes, tais como
geleiras ou grandes fontes subterrneas). Podem ser considerados alctones tambm os rios
provenientes de outras reas climticas ou de outros domnios morfoclimticos, como o caso dos
rios do Brasil Central que vo ter Amaznia.
Rio autctone: curso dgua que nasce e corre dentro de uma mesma regio climtica, pedolgica e
morfolgica. Caso dos pequenos igaraps da Amaznia, cujas guas refletem de perto as condies
ecolgicas globais da regio.
Gamboas: cursos dgua cujo sentido de correnteza pode varias com o fluxo e o refluxo das mars.
Rios de plancie de mars, via de regra inseridos em paisagens de mangues, nas plancies costeiras
do Brasil. Morigot na terminologia francesa.
Rio yazoo: curso dgua subparalelo correnteza do rio principal, porm descontnuo, razo pela
qual conhecido tambm pela expresso falso rio. Muito comuns nos setores mais internos dos
paran-mirins da Amaznia, nos trechos em que os mesmo ficam encarcerados entre as vertentes
das barreiras fluviais interiorizadas e as margens interiores das plancies amaznicas (vrzeas).
A PADRONAGEM DAS REDES FLUVIAIS
Somente a partir do fim do sculo passado e incio do presente que os primeiros mapas das reas
continentais puderam ser completados e aperfeioados. Destacaram-se, nos novos mapas de
conjunto, os grandes rios e sua rede de afluentes, como linhas principais de referncia. Ao lado da
importncia que todos os rios podem ter para a vida agrcola, para a navegao e para o
fornecimento de energia hidrulica, eles so fundamentais para o arcabouo dos mapas e das cartas
topogrficas.
Os rios tm uma hierarquia prpria. guas de enxurrada em forma de filetes ou lenis superficiais
vo ter aos crregos e regatos. Crregos e regatos vo ter a riachos e ribeires. Estes, por sua vez,
vo ter a rios de porte mdio, a grandes rios ou ao prprio mar, dependendo de sua posio no
terreno. Inumerveis so os pequenos rios que vo engrossar as guas dos rios principais, ou seja,
daqueles cursos que comandam toda a rede hidrogrfica regional.
Todos os rios de um sistema hidrogrfico hierarquizado formam o que se convencionou chamar de
rede da hidrografia, ou mais corretamente de rede hidrogrfica. Por sua vez, reservou-se o nome de
bacia hidrogrfica para o conjunto territorial das terras banhadas ou percorridas por uma rede
hidrogrfica.
A rede hidrogrfica um conjunto de linhas hierarquizadas que representam os rios e seus afluentes
nos mapas. A bacia hidrogrfica o espao territorial que contm o conjunto das redes
hidrogrficas. Quando delimitadas, as bacias hidrogrficas apresentam-se como espaos em forma
de polgonos irregulares, de milhares, dezenas de milhares ou at milhos de quilmetros quadrados
de rea. As bacias esto para as redes exatamente como as folhas dos vegetais esto para as
nervuras nelas inscritas.
Uma rede, como se sabe, um tecido de malhas largas. As redes hidrogrficas so redes especiais
cujos fios de ligao so os rios. Dessas redes participam rios de todos os portes, que se comportam
como tecidos de correntes dgua, comandados por um rio ou coletor principal. Os rios principais j
receberam os mais variados nomes: rio mestre, curso principal, coletor central, coletor mestre, entre
outros.
Nem todas as redes hidrogrficas tm o mesmo aspecto quanto examinadas em mapas. J os antigos
gegrafos caracterizavam as redes pelo seu formato geral visto em mapas: redes em forma de pena,
redes arborescentes, redes assimtricas, etc. O importante, porm, reside no detalhamento dos

padres locais de redes, na escala de cartas topogrficas ou em fotografias areas verticais. Existe
toda uma srie de padres locais diferentes de redes de rios, que os mapas no tm condies de
representar. Tais modalidades regionais de redes, vistas em detalhe, recebem o nome de padres de
drenagem. Um padro de drenagem deve ser entendido como um modelo local de nervura
observado em qualquer lugar ou quadrante de uma rede hidrogrfica.
Existe uma srie de relaes entre os padres de drenagem e as rochas, as estruturas e os processos
climticos de uma rea qualquer. Conhecendo-se a tipologia dos padres, podem-se fazer algumas
interpretaes vlidas sobre a natureza dos terrenos, a disposio das camadas, as linhas de
falhamento e os processos fluviais e climticos predominantes. Alguns padres so de tal maneira
particulares que so capazes de indicar casos especiais de estrutura geolgica e determinados tipos
de evoluo de redes locais de rios. Da o interesse que tais estudos tm para os gegrafos, os
gelogos, os engenheiros e os interpretadores de fotografias areas. Segue-se uma listagem da
nomenclatura dos padres de drenagem, com sua conceituao e algumas relaes.
Drenagem paralela: drenagem em que os rios so paralelos ou subparalelos, muito pouco
ramificados, e guardam um espaamento relativamente regular ente si. Ocorre em plancies
costeiras recentemente soerguidas ou em planaltos sedimentares extremamente porosos. Casos
tpicos de drenagens paralelas ocorrem na zona de cabeceira dos rios do planalto Ocidental Baiano,
em pleno domnio de cerrado, e em alguns setores dos tabuleiros costeiros do Nordeste brasileiro.
Outro caso, menos tpico, porm igualmente significativo, ocorre com a drenagem geral dos grandes
Ocidental Paulista. de se notar que, por expanso de drenagem e por capturas entre si, as
drenagens paralelas transformam-se em drenagens dendrticas, que so muito mais comuns na
superfcie da Terra.

Drenagem dendrtica: drenagem com aspecto arborescente, com numerosas variaes em reas de
ocorrncia onde existem diferenas de rochas ou de climas regionais. Subtipos mais importantes:
drenagens pinadas e drenagens subparalelas dendrticas. Ocorrem em numerosas reas sedimentares
(com camadas horizontais) e em regies cristalinas decompostas do Brasil. Os rios dendritificados
confluem em ngulos relativamente agudos, fato que permite o conhecimento do sentido geral da
drenagem apenas pela observao do prolongamento da forquilha de confluncia. Numa mesma
rea podem ocorrer padres dendrticos diferenciados, devido a variaes de rochas e solos, fato

que obriga a aplicao de critrios quantitativos, designados por textura da drenagem, para melhor
distino dos solos e rochas da regio em estudo.
Drenagem retangular: drenagem em que a rede local dos rios est adaptada a condies estruturais
e tectnicas (de falhas e de fraturas) suficientes para criar um reticulado em que as confluncias se
fazem em ngulo quase reto. Existem numerosos subtipos e combinaes entre drenagens
dendrticas e drenagens retangulares. No Brasil ocorrem drenagens retangulares no Quadriltero
Ferrfero, porm predominam drenagens dendrtico-retangulares nas terras antigas e mamelonizadas
do Brasil de Sudeste, em geral. So subtipos particulares de drenagens retangulares as drenagens em
baioneta e as trelias hidrogrficas. As baionetas dizem respeito a linhas quebradas ao longo do vale
principal de uma determinada rea planltica, enquanto as trelias so sistemas regionais de
drenagens de reas de relevos apalachianos e relevos de custas.

Drenagem em baioneta: caso particular de drenagem retangular em que o rio principal forma uma
linha totalmente quebrada em determinado ponto do eixo central de seu vale. Aps correr por certo
espao seguindo uma direo rgida, executa uma mudana brusca de traado, em ngulo reto, para,
depois, seguir no mesmo rumo antigo, em outra posio do terreno, por mais um trecho
considervel. Diz-se que o rio fez um desvio em forma de baioneta. O Paraba do Sul faz numerosas
e sucessivas baionetas, a partir da cidade de Cachoeira, na direo do Estado do Rio de Janeiro. Tais
esquemas de drenagem dependem do rumo ou direo geral das estruturas dobradas regionais e das
retomadas de eroso executadas pelo rio principal no centro de seu vale.
Drenagem angular: nome genrico para qualquer padro de drenagem em que a rede local se guia
pela prpria padronagem das fraturas tectnicas. Existem drenagens angulares regulares ou
irregulares. Um belo tipo de ocorrncia desse padro no Brasil o caso das drenagens ortogonais
descobertas na Amaznia Brasileira. A drenagem retangular e a drenagem em baioneta so
drenagens angulares.
Drenagem radial: drenagem do tipo centrifuga. Todos os rios que a compem nascem prximos de
um ponto comum e se irradiam para todas as direes, distanciando-se cada vez mais entre si. o
caso do conjunto de torrentes que se irradiam a partir dos altos de um vulco ou de um relevo
oriundo de intruses de conformao homognea (stocks de batolitos granticos, intruses
sienticas). Ocorre tambm em feies isoladas ou semi-isoladas de relevo: morros testemunhos,

pes-de-acar, grandes inselbergs e feies similares. Os domos de origem recente tm

inicialmente frenagens radiais, que evoluem posteriormente para drenagens anulares.

Drenagem anular: as drenagens anulares, tambm designadas anelares, so quase sempre

drenagens radiais evoludas em estruturas particulares, concntricas ou em abbada. As torrentes
de cones vulcnicos estratificados (estrato-vulces), aps sua dissecao, podem dar origem a
drenagem anulares. Igualmente os domos sujeitos a uma prolongada dissecao exibem casos
tpicos de drenagens anulares. Tambm as drenagens encarceradas no interior de diques anelares
(ring dykes) tm uma ligeira conformao anular (como foi verificado no planalto de Poos de
Caldas, MG).

Drenagem desarranjada ou desordenada (ou irregular): padro de drenagem complexo,

particularmente bem expresso no caso das plancies glaciais, onde aps o degelo restaram
combinaes complexas entre as drenagens pr-glaciais e as drenagens ps-glaciais. Em tais
plancies, devido a presena de morainas terminais e numerosos tipos de depsitos oriundos da
progresso da geleira e do degelo, formam-se agrupamentos de lagos de reas pantanosas no
interior da concavidade dos anfiteatros morinicos. Aparecem ainda trechos encachoeirados,
quando os rios transpem a barreira representada pela moraina terminal para atingir depois a faixa
das areias flvio-glaciais e das planuras de loess.
Drenagem mendrica: drenagem tpica das plancies aluviais ou de inundao, onde h
predominncia de sedimentao fina. Comum a quase todos os setores de plancies fluviais de
regies tropicais e subtropicais midas (como acontece no Brasil). Os meandros so as curvas
descritas pelo rio em sua calha ou alvolo aluvial. Palavra derivada do rio Meandere, ndia. As
plancies mendricas possuem todo um sistema hidrogrfico e fisiogrfico em processo de
formao. Os meandros evoluem quase a olhos vistos, possuindo margens cncavas de escavao
(barrancas de escavao) e margens convexas de sedimentao arenosa local (coroas de areia).
retaguarda dos diques marginais aparecem pntanos de reverso de dique, com encharcamentos de
guas e formao de solos fortemente orgnicos. Quando os meandros tm o seu pednculo
adelgaado, podem ser formadas ilhas fluviais temporrias, graas ao rompimento dos aludidos
pednculos. A gua, ao cruzar pelo novo canal estabelecido nos pednculos estrangulados, pouco a
pouco forma restingas fluviais na margem voltada para o antigo meandro, isolando aquele brao do
rio em relao correnteza. O meandro fica abandonado, ou seja, perde relao direta com o leito
estabelecido no pednculo. Por esta razo, toda plancie mendrica pode conter lagos em forma de
ferradura ou de crescente e depresses entulhadas correspondentes a antigos meandros desligados
dos canais atuais. Lateralmente calha aluvial podem ocorrer braos descontnuos, subparalelos ao
rio principal, na categoria de falsos rios, que recebem tambm o nome de rios yazoos. A despeito
de serem curtos e sincopados, tais rios tm um papel importante no sistema hidrolgico da plancie.
So trechos de rios yazoos alguns paran-mirins da plancie amaznica, com importante papel na
circulao do homem na direo das pores mais interiores e laterais das grandes e labirnticas
plancies regionais. No Brasil temos vrios modelos regionais de drenagens mendricas ou submendricas: 1. os casos prottipos representados pelo mdio vale do Paraba do Sul e pelo rio
Perus; 2. o caso pantaneiro; 3. o caso amaznico, representado pela drenagem da grande calha
aluvial central do rio Amazonas. exceo dos casos de drenagens mendricas mais ou menos
tpicos (exemplo 1), os dois outros constituem casos de drenagens verdadeiramente labirnticas.
Igualmente, nas regies costeiras tropicais midas do Brasil existem sistemas mistos de drenagem,
com aspectos marcadamente labirnticos.
Drenagem anastomosada: drenagem em que os largos leitos dos rios principais apresentam canais e
canaletas entrelaados inmeras vezes e variveis devido ao carter intermitente dos cursos dgua
regionais. Os pequenos leitos dos rios dotados de anastomose se unem e desunem, para logo se
partir, bipartir, tripartir e tornar a reunir-se. Trata-se de um leito arenoso, no muito profundo, com
o aspecto geral de uma meada ou srie de meadas paralelas e interligadas ao acaso. Drenagem
peculiar aos rios das regies semi-ridas intermontanas e aos weds de regies secas pronunciadas
(desrticas). No ocorrem exemplos tpicos de drenagem anastomosada no Brasil, ainda que haja
um subtipo de canais semi-anastomosados em rios do Nordeste (mdio So Francisco inferior,
baixo Jaguaribe, baixo Apodi, baixo Au). Alguns rios da Bahia, como o caso do Vaza Barris,
possuem canaletas anastomosadas em suas vrzeas.

BACIAS DE DRENAGEM
As bacias de drenagem so domnios regionais de redes hidrogrficas, observadas sob o critrio do
destino das guas correntes. Existem extensas reas do globo em que as guas dos rios vo ter ao
mar. Tais bacias, cuja drenagem aberta para o mar, recebem o nome de exorreicas. Quando um ou
mais rios se dirigem para o interior do prprio continente, desaguando em depresses fechadas
interiores, diz-se que a bacia de drenagem endorreica. Por sua vez, quando os escassos cursos
dgua de uma certa rea no tem condies de para se organizar em forma de redes, correndo

rapidamente at determinados setores arenosos e a se infiltrando, diz-se que a drenagem arreica,

tal como acontece com os rios relmpagos dos desertos. Por fim, existe um domnio especial de
destino de guas correntes, que o relevo krstico, em que toda a drenagem se torna subterrnea,
sendo chamada de criptorreica.
Drenagem exorreica

Drenagem aberta

Rios perenes e peridicos

Drenagem endorreica

Drenagem fechada

Rios peridicos

Drenagem arreica

Drenagem difusa desrtica

Rios espordicos (flash-floods ou rios

relmpagos)

Drenagem criptorreica

Drenagem Krstica

Rios subterrneos
subterrneos

labirntico-

RELEVOS TABULIFORMES
A topografia de numerosas regies do globo apresenta planaltos mantidos por camadas
sedimentares ou baslticas, mais ou menos horizontais. Qualquer extenso de relevo cujas formas
suaves estejam relacionadas a camadas horizontais ou subhorizontais recebe o nome de relevo
tabuliforme. So formas topogrficas que pela sua silhueta lembram a presena de uma mesa ou
uma extenso de mesas ou tabuleiros.
A maior parte das chapadas, dos chapades e dos tabuleiros existentes no territrio brasileiro
constituda por relevos de tipo tabular ou tabuliforme. Uns so mais elevados, outros de altitude
mdia, enquanto outros esto apenas algumas dezenas de metros acima do nvel do mar. Quanto s
camadas que os mantm, alguns so baslticos, outros so sedimentares. A diferena geografia mais
importante, entretanto, a que diz respeito sua cobertura vegetal e solos: alguns so revestidos por
cerrados com solos relativamente pobres, outros so cobertos por grandes florestas apresentando
grande variedade de solos, outros esto no interior da zona de caatingas, possuindo vegetao de
cerrados e vegetao de caatingas, conforme as condies locais de seus climas e de seus solos. Na
regio sul do Brasil existe planaltos tabuliformes, ora cobertos por pinheirais, ora atapetados por
pradarias, apresentando algumas variedades de solos de diferentes aptides para a vida agrria.
O estudo dos relevos tabuliformes no para apenas no relacionamento das formas suaves de alguns
planaltos com a presena de camadas sedimentares no subsolo. Mais do que isso, necessrio
caracterizar cada regio tabuliforme pelos seus solos e climas, assim como pela sua cobertura
vegetal e condies ecolgicas. Os vales simtricos que recortam a massa suave dos relevos
tabuliformes podem ter condies de solos e de vegetao totalmente diferentes daquelas existentes
nos setores situados entre os rios (interflvios).

Num quadro negro podem-se desenhar vrios traos horizontais representando as camadas
geolgicas e, depois, com um apagador, demarcar vrios lugares para o desenho da silhueta dos
vales estabelecidos sobre as camadas soerguidas.
No entanto, qualquer desenho desse tipo no passar de um mero esquema, pois incapaz de
mostrar todo um conjunto de outros fenmenos naturais, importantes para diferenciar regies e
condies ecolgicas. Para ter significao, o estuda das reas de relevo tabuliforme precisa ser
acompanhado de um mnimo de informaes sobre os solos, hidrologia e o mosaico regional de
vegetao.
So exemplos de relevos estruturais tabuliformes, no Brasil, as chapadas do Nordeste, os chapades
e algumas chapadas do Brasil central, alguns chapades sedimentares dos planaltos interiores de
So Paulo, Minas Gerais e Bahia. Os altiplanos baslticos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina
apresentam setores tabuliformes. E, por sua vez, quase todas as reas de tabuleiros costeiros do leste
e do nordeste do Brasil, assim como todos os tabuleiros de interior da Amaznia, so casos de
baixos plats de tipo tabuliforme.

RELEVOS DE CUESTAS
Os relevos de cuestas so reas de planaltos sedimentares ou baslticos empenados. Ao contrrio
dos relevos tabuliformes, que se aparentam com grandes mesas simtricas, os relevos de cuestas
tm o perfil geral de mesas inclinadas ou planaltos com marcada assimetria. Devido inclinao
das camadas geolgicas, um dos lados desses planaltos pode apresentar escarpas assimtricas, s
vezes muito salientes. frente dessa poro mais escarpada do relevo de cuesta estende-se um
conjunto rebaixado de relevo, oriundo de prolongadas fases de eroso que se fizeram atuar nas
margens das bacias sedimentares soerguidas. Para que restasse na paisagem um planalto empenado
foi necessrio, obrigatoriamente, que a rea situada frente da escarpa sofresse um rebaixamento
notvel, pela complicada atuao de foras erosivas. Diz-se que os processos responsveis pelo
rebaixamento erosivo das reas situadas frente das escarpas de cuestas foram processos de
denudao marginal. O relevo de cuesta somente pode existir porque algumas camadas inclinadas
resistiram aos processos de denudao marginal.
Nos planaltos interiores do Brasil, existem numerosos e imponentes relevos de cuestas. Desde a
Serra Grande do Ibiapaba, na fronteira do Cear com o Piau, at a Serra Geral e Serra do Caver,
no Rio Grande do Sul, sucedem-se alongados e notveis exemplos de escarpas estruturadas
assimtricas, pertencentes aos chamados relevos de cuestas. Ou so legtimos relevos de cuestas, ou
pelo menos relevos cuestiformes.
Nos mapas fsicos e nas cartas topogrficas do Brasil, as escarpas estruturais assimtricas ou
escarpas de cuestas so reconhecidas pelo mesmo nome genrico que se aplica s montanhas
antigas do pas: serras. Evidentemente no so verdadeiras serras, mas sim bordos escarpados
de eroso, onde sempre houve uma certa dificuldade para a circulao de homens, animais e
veculos. Em So Paulo e no Paran, tais escarpas do interior foram designadas serrinhas, j que
comparadas com a Serra do Mar eram muito menos elevadas e salientes.
As reas preferenciais para a existncia de estruturas ligeiramente inclinadas situam-se na periferia
das bacias sedimentares ou nas margens dos continentes. Camadas inclinadas num s sentido (para

o sul, para o norte, etc.) so chamadas de estruturas homoclinais. Por sua vez, camadas inclinadas
da periferia para o centro de uma bacia sedimentar so chamadas de estruturas periclinais.
Duas noes geolgicas decorrem da existncia de camadas inclinadas: a noo de mergulho
(inclinao) e a noo de direo das camadas. Todas as camadas inclinadas tm um certo grau de
mergulho, comparado com a linha horizontal. Todo conjunto de camadas horizontais tem um
sentido de mergulho, que referido em relao aos pontos cardeais. Por sua vez, a direo das
camadas sempre perpendicular ao mergulho. Se as camadas se inclinam para o sul, sua direo
ser leste-oeste. Se o mergulho for para leste, a direo ser norte-sul. No caso do relevo de cuesta o
mergulho varia desde 1-2 at 1-8, no mximo (Cailleux - Tricart).

As camadas ou estruturas ligeiramente inclinadas e soerguidas por epirognese favorecem a

formao de alongados planaltos, com um bordo mais saliente do que o outro, A margem escarpada,
mantida por camadas que resistiram denudao marginal, recebe o nome de escarpa de cuesta. As
escarpas de cuestas foram originadas por processos erosivos que se fizeram atuar na margem
saliente de um conjunto de camadas inclinadas soerguidas (denudao marginal).

Trs razes principais facilitam a remoo, por eroso, das camadas da periferia de uma bacia
sedimentar: 1. a as camadas esto mais soerguidas e mais sujeitas aos processos de desgaste; 2. a
as estruturas so menos espessas e mais inclinadas do que no centro das bacias, facilitando o
estabelecimento de rios que seguem a direo das camadas, dotado de vales de vertentes
assimtricas; 3. a as camadas esto menos compactadas pelo seu prprio peso, fato que conduz a
um comportamento menos resistente eroso do que o das camadas das pores mais centrais da
bacia. No Brasil, ocorre ainda uma quarta condio, muito freqente, no caso dos planaltos
baslticos, onde os grandes tampes de derrames vulcnicos antigos encontram-se um pouco mais
para o interior da bacia do que na periferia da sedimentao. As camadas mais perifricas
permanecem a descoberto e muito mais expostas aos processos erosivos, capazes de remover
grandes massas de detritos e elaborar verdadeiras depresses perifricas.
Quando foi possvel elaborar mais de uma escarpa estrutural em um conjunto de camadas inclinadas
resistentes, as reas deprimidas escavadas entre as escarpas de cuestas so chamadas de depresses
monoclinais.

Todo relevo de cuesta apresenta alinhamento s sinuosos de escarpas de eroso, frente das quais
parecem os chamados morros testemunhos (morros testemunhos de frente de cuesta). A escarpa de
cuesta quase sempre um paredo estabelecido na poro empenada das camadas resistentes
(cabeo dos estratos). Na contravertente das escarpas de cuestas quase sempre se estende um
planalto em rampa suave, que acompanha o lento mergulho das camadas regionais. O plano
inclinado situado a partir da cumeada da escarpa recebe o nome de reverso da cuesta (ou reverso da
escarpa de cuesta), enquanto a vertente escarpada recebe o nome de front ou frente da cuesta
(frente da escarpa de cuesta).
Existe uma nomenclatura para os rios que formam a drenagem de um relevo de cuesta. Alguns rios
acompanham a inclinao geral das camadas regionais. So chamados rios conseqentes, ou seja,
rios que desde o inicio, na historia da formao do relevo de cuesta, estabeleceram-se ao sabor da
inclinao geral das estruturas, acompanhando seu mergulho.

Os rios acompanham a direo das camadas. So chamados subseqentes. Na maioria dos casos tais
rios aparecem e se fixam a partir da condio de afluentes dos conseqentes. No tempo, eles podem
aparecer subseqentemente aos conseqentes. Da seu nome. A grosso modo, formam ngulo reto
com os conseqentes, devido ao fato de estarem amarrados direo das camadas.
RELEVOS ESCULPIDOS EM DOMOS E INTRUSES EM ANIS
A definio de um domo, em geologia, refere-se a um topo de estrutura em que as camadas formam
uma espcie de intumescncia local no meio de uma bacia sedimentar qualquer. Os domos tm o
aspecto de uma abbada, mais ou menos isolada, formada no meio de camadas predominantemente
horizontais. De qualquer forma, o grau da deformao em abboda de uma estrutura dmica destoa
do estilo das camadas que a envolvem em continuao, que podem ser horizontais, subhorizontais
ou ligeiramente dobradas.
Todos os domos tm o aspecto de uma estrutura originalmente parecida com um capacete, variando
em extenso. Existem tipos de micro-domos, assim como podem acontecer domos gigantes (macrodomos). Existem reas, por outro lado, onde ocorrem verdadeiros ninhos de domos, quebrando a
monotonia ou homogeneidade dos grandes conjuntos de estruturas horizontais ou ligeiramente
dobradas.
No h qualquer movimento de dobramento regional na gnese dos domos. Eles se constituem
apenas por deformaes locais das camadas, independentemente de enrugamentos forados por
movimentos de origem interna. Podem ter, no entanto, vrias origens. So conhecidos trs tipos

principais de domos: domos por intruso lacoltica, domos provocados por modificaes internas
em reas de lentes de salgema (processo designado por eczema do sal) e domos de compactao.
Os domos por intruso de rochas gneas so abbadas diretamente relacionadas com a
interpenetrao e inchao local de bolsas de rochas intrusivas, no meio de rochas sedimentares
horizontais ou subhorizontais e, eventualmente, homoclinais ou at mesmo ligeiramente dobradas.
As intruses aparecem sob forma varivel (capacete macio, bola interior ampliada de rochas
intrusivas do tipo dos diabsios e dos sienitos, etc.) e so suficientes para soerguer localmente as
camadas sedimentares pr-existentes, criando uma estrutura em abboda, ou seja, um domo. A
denudao do topo do domo faz aflorar, muitas vezes, a poro central superior das intruses, o que
cria a impresso de um lago de rochas gneas exposto no meio de um grande conjunto de rochas
sedimentares. Da decorreu, alis, o termo lacolito, aplicado a esse tipo de intruso, que muito
freqente no Estado de Utah, Estados Unidos. Exemplos de domos lacolticos complexos so
conhecidos no interior e bordos da depresso perifrica paulista, sobretudo no Morro do Pau
dAlho, no municpio de So Pedro.
As grandes lentes de salgema existentes de permeio com algumas camadas sedimentares de notvel
espessamento regional podem sofrer, devido ao geotrmica e a certas condies especficas
desse tipo de rocha sedimentar cristalina (salgema), uma modificao local no interior das rochas
que as recobrem. Disso resulta uma espcie de transformao daquilo que era uma simples lente
subterrnea em um verdadeiro bolso que tende a ascender e levantar localmente o teto dos
sedimentos superiores. Com a formao desse grande bolo ou rolha interior da salgema, tem
origem um bombeamento local das camadas sedimentares, suficiente para criar uma estrutura em
abboda na cobertura.
Outro caso, importante pelas suas dimenses, o dos domos formados pela compactao diferencial
das camadas de uma bacia sedimentar qualquer. Havendo muitas irregularidades no embasamento
que recebeu a sedimentao e ocorrendo fortes diferenas regionais na espessura dos sedimentos
depositados, podem ocorrer fenmenos no homogneos de compactao, cujo efeito regional
suficiente para a formao de ligeiras e amplas abbadas. Trata-se do seguinte esquema geolgico:
em certas reas em que a sedimentao recobre depresses de diferentes profundidades, incluindo
por ltimo o sepultamento de verdadeiros macios antigos, existe uma diferena de compactao
conforme as faixas de espessura das camadas sedimentares. Onde os pacotes de sedimentos tm
maior espessura (1000, 2000 metros) haver maior auto-compactao, devido ao peso geral dos
sedimentos acumulados; onde as espessuras so pequenas, medindo-se apenas por dezenas ou
centenas de metros, pode ocorrer compactao muito menor. No caso de um macio antigo
sepultado pela cobertura sedimentar regional, a conseqncia lgica de tudo isso ser uma
compactao menor dos sedimentos em seu topo, em relao s faixas de sedimentao que o
envolvem. Da o carter dmico geral naturalmente adquirido pela estrutura geolgica da regio
considera. Note-se, porm, que em muitos casos, tais domos so ressalientados pela prpria
reativao dos macios antigos sepultados ou semi-ilhados. Efetivamente, em alguns casos, alm da
tendncia para compactao diferencial, pode ocorrer um repronunciamento das principais
salincias do prprio embasamento, fato que acentua o carter dmico da cobertura sedimentar
regional, favorecendo a reexposio do macio outrora sepultado (caso da Borborema, no Nordeste
do Brasil, e caso do ncleo sul-rio-grandense do Escudo Brasileiro, no sudeste do Rio Grande do
Sul e nordeste do Uruguai).

RELEVOS ESCULPIDOS EM DOBRAS: AS MONTANHAS DE DOBRAMENTO

Existem pilhas de camadas geolgicas que sofreram dobramentos devido a esforos de origem
interna. Originalmente as camadas faziam parte de depsitos feitos em mares rasos e/ou lagos, ou
outros ambientes de deposio, situados no interior ou nas margens dos continentes.
As camadas dobradas tm a forma de enrugamentos gigantes da crosta terrestre. Seus sedimentos
podem sofrer algumas modificaes importantes durante o processo de dobramento
(metamorfismo). Durante o dobramento e o soerguimento inicial, as camadas j comeam a ser
afetadas pelos processos erosivos (rios, ventos, geleiras e processos climticos em geral). Quando as
estruturas dobradas alcanam certas altitudes, instalam-se nos altos de suas cumeadas alguns
centros de glaciao de altitude. Existe uma linha irregular de altitudes que marca o limite entre as
reas permanentemente congeladas do alto das montanhas e as reas inferiores sujeitas ao
peridica do gelo e do degelo. Essa linha, que varia conforma a latitude e as condies locais de
insolao de cada montanha ou setor de montanha, recebe o nome genrico de limite das neves
eternas. Ela atinge tanto as montanhas de dobramento quanto os altos macios oriundos de
intruses ou at mesmo o topo e a cratera de vulces muito elevados.
Se no houvesse uma imediata eroso sobre as camadas dobradas, elas seriam parecidas com
setores de relevo em forma de gigantescas telhas tipo Eternit, ou grandiosas placas de papelo
ondulado. Na realidade, porm, o que se v numa paisagem de montanhas de dobramento so os
restos erodidos de grandes dobras que afetaram as camadas de uma bacia sedimentar qualquer.
custa de uma srie de observaes simples sobre a posio dos remanescentes das estruturas

dobradas, pode-se deduzir quais o setores que correspondem s partes cncavas das dobras
(sinclinais) e quais os trechos correspondentes aos setores convexos das mesmas (anticlinais).
As sinclinais, do ponto de vista geomtrico, tm o aspecto de uma grande calha (telha com a
concavidade voltada para cima). Por sua vez, as anticlinais tm a forma de telhas com a
convexidade voltada para o alto, como se fossem dobradias expostas.
Os primeiros setores de um conjunto de camadas dobradas que se expem eroso so as
anticlinais. Por isso mesmo, elas so as mais atingidas pelos processos de eroso desde o inicio do
levantamento da rea dobrada.

RELEVOS ORIUNDOS DE FALHAS

Os relevos originados por falhamentos dependem muito diretamente do arranjo e extenso dos
deslocamentos que afetaram a rea onde eles ocorrem. Se um bloco se alterou enquanto outro se
abateu pela ao de falhas, entre eles restar um paredo alongado e via de regra muito retilneo,
que receber o nome de escarpa de falha. Se um bloco regional, na forma de uma verdadeira fatia
da crosta terrestre, abater-se por falhamentos, teremos no local uma fossa tectnica (graben, riftvalley), ladeada por dois paredes frente a frente. Ao contrrio, se um bloco for soerguido por
falhas, permanecendo por quase todos os lados saliente topograficamente em relao s reas
circunvizinhas, ter-se- uma montanha de blocos falhados, que receber o nome de pilar tectnico
ou horst.
Todas as feies topograficamente relacionadas com interveno de falhas recebem o nome de
relevos de falhas, ou ainda, mais adequadamente, relevos de tectnica quebrvel. A expresso
quebrvel foi introduzida para dar uma idia mais objetiva do tipo das deformaes primrias que
afetam uma regio sujeita a esforos capazes de quebra e/ou deslocar os blocos.
De preferncia, porm no exclusivamente, as falhas e fraturas afetam regies de massas rochosas
cristalinas, que sendo muito rgidas para se dobrar sofrem um tipo regional de estilhaamento
tectnico, constitudo por associaes ou famlias regionais de falhas e fraturas. Reservou-se, por
oposio, o nome de tectnica plstica para o outro domnio de deformaes peculiares a
determinadas bacias sedimentares, em que a plasticidade relativa das camadas sedimentares
possibilita a interveno de dobras de diversos tipos. Nesse caso, a expresso tectnica plstica
sinnimo de orognese, ou seja, processo de formao de montanhas por dobramentos.
fcil visualizar-se os dois tipos de processos (tectnica quebrvel e tectnica plstica), atravs de
exemplos simples: um pedao de vidro plano sujeito a um esforo forte se estilhaa, ou seja,
quebra-se; ao contrrio, uma srie de panos ou materiais similares superpostos, sujeita e esforos
laterais (tangenciais), sofre os mais diversos tipos de dobras.
As grandes massas rochosas, constitudas por granitos, gnaisses e xistos de consolidao muito
antiga, podem envergar-se at certo ponto por arqueamentos. Ultrapassada a sua capacidade natural
de arquear-se, sofrero estilhaamento por interveno da tectnica quebrvel, acompanhado ou no
por deslocamentos dos blocos fraturados. Simples redes de rachaduras profundas das rochas, sem

deslocamentos, recebem o nome de fraturas. Nos locais onde se processam deslocamentos ao longo
das fraturas, diz-se que houve falhamentos. A podem ocorrer verdadeiros relevos oriundos da
tectnica quebrvel: escarpas de falha, montanhas de blocos falhados, fossas tectnicas.
Uma falha implica sempre deslocamento de massas rochosas ao longo de um alinhamento de planos
de fratura. Durante o esforo que determinou o deslocamento, os lbios dos planos de fratura
sofrem uma frico to forte, que s vezes se formam faixas de rochas especiais ao longo das linhas
de falhamento (milonitos, por exemplo). Pode-se ter como certo que as falhas jamais se formam de
um modo isolado numa rea qualquer. Pouco antes ou durante o processo de falhamento, a regio
sofre intensa fraturao tectnica (fraturas, tambm chamadas diaclases ou juntas tectnicas). Nos
lugares onde se processam as falhas principais, pode ocorrer apenas um alinhamento de rochas
modificadas pela forte frico dos blocos que se deslocam fora.
Os diversos tipos de falhas formados em uma rea sujeita ao de tectnica quebrvel compem
um sistema regional de falhas ou uma famlia de falhamentos. Tais sistemas ou famlias de falhas
englobam falhas principais (as de maior deslocamento e extenso), falhas secundrias ou
complementares (aquelas que completam o esquema de deslocamento centralizado pela falha
principal) e falhas vicariantes ou em tesoura, que so descontnuas no terreno.
Em seu conjunto, os sistemas regionais de falhas podem ter arranjos muito especiais, comportando
padres paralelos (fossas tectnicas, falhas em escadaria, montanhas de blocos falhados alongados),
padres radiais (falhas de irradiao centrfuga, falhas cruzadas) e padres concntricos (falhas
associadas, parte radiais e parte paralelas). Numerosos so os casos em que os sistemas regionais de
falhas associam-se a complexos fenmenos de vulcanismo regional.
Ao longo do tempo geolgico, os sistemas regionais de falhas podem comportar fases de reativao
tectnica sucessiva. Quando em reas de antigas falhas ocorrem retomadas de falhamentos,
copiando parcialmente o tectonismo anterior, diz-se que esto se processando falhas reativadas, ou
ainda, fenmenos de tectnica residual. Muitas reas sujeitas ao de terremotos intensos no
passam de locais sujeitos atuao de tectnica residual.
Para a geomorfologia interessa conhecer as formas de relevo associadas aos falhamentos e o
desenvolvimento das feies erosivas sobre os blocos falhados. Em outros termos, o essencial, no
caso, so as relaes entre o arranjo geomtrico das falhas e o arranjo efetivo tomado elos blocos
falhados sujeitos ao dos rios e dos outros processos erosivos peculiares a cada rea de
falhamentos.
Quando um bloco se desloca em relao a outro, por intermdio de falhas, um deles, o mais
elevado, deixa exposto um paredo rochoso primrio que receber em seu estado de origem o nome
de espelho de falha. Os fenmenos erosivos fluviais e climticos modelam esse paredo rochoso
exposto, ao longo do tempo, criando uma escarpa modificada pela eroso, que recebe o nome de
escarpa de falha. Os rios posteriores ao falhamento, que cortam de espao a espao a escarpa de
falha, contribuem para seccionar a continuidade do paredo rochoso original, transformando a
escarpa de falha em uma srie de frentes alinhadas com feies trapezoidais ou triangulares.
Eventualmente, aps um longo lapso de tempo geolgico, a velha escarpa de falha pode ser
totalmente aplainada pelos processos erosivos, restando apenas a linha de falha como fato objetivo,
marcando o alinhamento original do falhamento. Se a regio de uma falha assim nivelada por
aplainamento for sujeita a um soerguimento de conjunto, poder haver a fixao de um rio ao longo
da linha de falha (rio de linha de falha) e, eventualmente, uma restaurao da escarpa de falha,
atravs de um novo paredo oriundo do reentalhamento fluvial da linha de falha. Tal escarpamento
oriundo da redissecao recente receber o nome de escarpa de linha de falha ou escarpa
restaurada. Muitas vezes a restaurao de uma velha escarpa de falha j apagada pela eroso pode
ser provocada parcialmente pela tectnica residual. O escarpamento que separa a cidade alta da
cidade baixa em Salvador (Bahia) parece ser um misto entre escarpa de linha de falha e escarpa
restaurada por tectnica residual. Os altos paredes da Serra da Mantiqueira, pelo contrrio, so
escarpas de falha de tipo clssico. O mesmo parece ser o caso de notveis ecarpamentos da Serra do
Mar, na fachada atlntica do Brasil de Sudeste.

O PROBLEMA DAS CLASSIFICAES

O esforo para classificar uma tendncia de toda cincia. Classificar significa identificar classes
ou tipos. Da decorre que toda classificao tende para o estabelecimento de uma certa tipologia.
Mais importante do que isso o fato de que ao identificar alguns tipos, estamos fazendo
automaticamente um esforo de anlise e de diferenciao. Toda classificao, portanto, constitui
um esforo para perceber diferenas entre fatos de qualquer ordem. Em nosso caso, queremos
diferenciar fatos da natureza.
Uma boa classificao depende sempre do uso de bons critrios. Alm disso, para que uma
classificao possa ser til e duradoura ela ter que incluir o maior numero de tipos ou casos
possveis. As classificaes devem ser, ainda, didticas, mas no podem ser simplistas ou
incompletas.
Os conhecimentos disponveis sobre o relevo terrestre permitem numerosas classificaes, algumas
muito simples outras muito complexas. O ideal reside na utilizao conveniente de todo os
esquemas de classificao usuais, desde os mais simples e descritivos, at aqueles mais
especializados e complexos. Resumimos aqui, para uso comum de professores e alunos, alguns
quadros de classificao baseados, sobretudo, em uma identificao de tipos diferenciados de
feies do relevo terrestre. O excesso de nomenclatura e terminologia aparente, pois em matria
de classificao no se podem eliminar tipos ou casos. Os quadros aqui reproduzidos tm o valor,
apenas, de uma terminologia ou de um vocabulrio e constituem uma ferramenta de trabalho para os
que se interessam por cincias da Terra.
Plancies

sedimentares ou de acumulao

- aluviais
- deltaicas
- costeiras
- glaciais
- de loess
- elicas
- de tundra
- lacustres

vulcnicas

- de lava
- com cinzas e outros produtos de vulcanismo

de eroso

- plainos de eroso do tipo pediplano

- plataformas de abraso extensas
- plancies de deflao elica

Nota n. 1: Genericamente falando, uma plancie uma rea de relevo praticamente nulo, ladeada
ou marginada por regies mais elevadas (colinas, espiges, planaltos ou montanhas).
Nota n. 2: Cada tipo genrico de plancie exige uma definio prpria, baseada no mecanismo de
sua formao.

Planaltos
Planaltos tpicos. (sedimentares ou
baslticos)

Planaltos com estrutura dobrada

(superfcies aplainadas soerguidas e
pouco reetalhadas)

- Baixos plats ou tabuleiros e compartimentos de planaltos

- Planaltos de altitude mdia ou chapadas e chapades
- Planaltos baslticos
- Planaltos sedimentares e baslticos
- Planaltos cuestiformes ou em degraus (divididos por escarpas sucessivas ou
em forma de pilha de pratos)
- Altiplanos sedimentares
- Planaltos em reas de estruturas dobradas ou em estruturas complexas
- Altiplanos com estrutura complexa:
a. de cimeira de cordilheiras
b. pr-cordilheiras
c. inter-cordilheiras

Montanhas

Montanhas de dobramento

- tipo jurassiano
- tipo apalachiano
- tipo alpino-himalaio

Montanhas dmicas
Montanhas de blocos falhados
Montanhas vulcnicas
Escarpas de falha

- escarpa de falha
- escarpa de linha de falha

Escarpas de eroso

- escarpas de cuestas
- setores dissecados de planaltos

Minimontanhas

Montes isolados e relevos residuais

- Inselberg
- Po-de-acar
- Hums, mogote ou pepino-hill
- Shantung
- Nunatack
- Matterhorn

Macro-domos e boutonnires
Macro-domos
estudos)

(abbadas

de

- Borborema (Ncleo nordestino do Escudo brasileiro)

- Sudeste do Rio Grande do Sul (Ncleo uruguaio-sul-rio-grandense do Escudo
brasileiro)
- Centro de Gois (Ncleo goiano do Escudo brasileiro)

Macro-domos
esvaziados
(boutonnires complexas)

- Pantanal Matogrossense (Ncleo bolvio-matogrossense do Escudo brasileiro)

- Primeiro Planalto do Paran (Ncleo Curitiba Arco de Ponta Grossa do
Escudo brasileiro)

Macro-domos (desfeitos em
montanhas de blocos falhados)

- rea do planalto do Alto Rio Grande

- Mantiqueira-Bocaina-Serra do Mar (Ncleo sul-oriental do Escudo brasileiro)

Domos
- Domo de Lages (Santa Catarina)
- Domo de Monte Alegre (Par)
- Domo de Itabaiana (Sergipe)
- Domo complexo de Araoiaba (So Paulo)
- Domo de Braslia (Distrito Federal) (ou domnio de domos do centro de Gois)
- Domo de Itacajs (Gois)
- Domo de Castelo do Piau (Piau)

Relevo brasileiro: componentes bsicos

Plancies e terras baixas

- Plancies e terras baixas da Amaznia

- Plancie do Pantanal
- Plancies costeiras
- Plancies deltaicas (raros casos)
- Plancies aluviais de rios planlticos

Planaltos e regies serranas

- Planalto das Guianas

- Planalto Brasileiro (grande conjunto de planaltos)
- Planalto Central
- Planalto do Maranho-Piau
- Planalto Nordestino
- Planalto Meridional
- Serras e planaltos do Leste e Sudeste do Brasil

PLANALTO BRASILEIRO
1. Planalto Central
- Planaltos cristalinos:
- Planalto Goiano
- Planaltos norte-matogrossenses e sul-amaznicos
- Pediplano Cuiabano
- Pediplano do Alto Araguaia
- Planaltos sedimentares e/ou baslticos:
- Planaltos do sudoeste de Gois
- Planaltos do centro-leste de Mato Grosso
- Planaltos dos Parecis
- Planalto do sul de Mato Grosso
- Planaltos ocidentais da Bahia e Minas Gerais

2. Planaltos do Maranho-Piau
- Planaltos do Ibiapaba
- Planaltos do sul do Piau e sul do Maranho
- Planaltos centrais do Piau e Maranho
- Planalto do centro-oeste do Maranho
- Tabuleiros e planaltos rebaixados do norte do Piau e norte do Maranho
3. Planaltos do Nordeste do Brasil
- Planalto do Borborema
- Serras e planaltos do Baturit e norte do Cear
- Planalto do centro-sudoeste do Cear
- Planalto do Araripe
- Planalto costeiro do Apodi
- Cristas e depresses interplanalticas sertanejas (Paraba, Cear, Pernambuco e Rio Grande
do Norte)
- Chapadas e cuestas do Maxot-Apodi
4. Planalto Meridional
- Planalto do Alto Paran (So Paulo-Paran)
- Planalto do Alto Uruguai (Santa Catarina-Rio Grande do Sul)
- Depresses perifricas orientais (So Paulo-Minas Gerais)
- Depresses perifricas e depresses monoclinais orientais (extremo sul do Mato Grosso)
- Depresso central do Alto Paran (So Paulo-Paran)
- Planalto Curitibano
- Depresses perifricas do Rio Grande do Sul
- Planalto uruguaio-sul-rio-grandense
- Serra Geral
- Planalto do Caver
5. Serras e planaltos do Leste e Sudeste do Brasil
- Planalto atlntico do Sudeste (com mares de morro)
- Planalto atlntico da Bahia
- Serras do Mar e da Mantiqueira
- Planalto do Alto Rio Grande
- Serra do Espinhao e chapada Diamantina
- Macios insulares e ilhas continentais
- Tabuleiros e terras baixas costeiras

BIBLIOGRAFIA
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PROJETO BRASILEIRO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA

Coordenao Geral Prof. Dr. Aziz Nacib AbSber Diretor do Instituto de Geografia da USP.
Professores Participantes Adilson Avansi de Abreu, Antonio Christofoletti, Antonio Olvio
Ceron, Augusto Humberto Vairo Titarelli, Carlos Augusto Figueiredo Monteiro, Desna Celoria,
Eliana Ermel de Arajo, Eva Markus, Helena Mirabelli, Jos Alexandre Felizola Diniz, Jos Bueno
Conti, Jos Roberto Tarifa, Lvia de Oliveira, Lucia Helena de Oliveira Gerardi, Mariantonia
Chippari, Ndia Nacib Pontuschka, Raimundo Henrique Barbosa, Regina Marta Barbosa Faria,
Slvia Maria Manfredi, Teluko Yonemoto.