Fisica C Aula 10
Fisica C Aula 10
Fisica C Aula 10
10
META
Aplicar conceitos bsicos de interferncia ondulatria, estudados na aula 05, para o caso das ondas
eletromagnticas. Discutir peculiaridades da interferncia de luz e as dificuldades de observ-la.
Analisar detalhadamente a experincia de Young de dupla fenda. Explicar o fenmeno de difrao
das ondas e analisar detalhadamente a difrao da luz por uma nica fenda com finita abertura.
Generalizar os resultados para entender a difrao por diversas fendas e introduzir o conceito de
redes de difrao.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno dever:
Entender por que h dificuldade de se observar interferncia de ondas luminosas.
Entender detalhes da experincia histrica de Young de dupla fenda e reconhecer sua importncia.
Saber o que difrao de ondas, como se manifesta no nosso cotidiano e qual a diferena entre
interferncia e difrao.
Entender detalhes da experincia de difrao por uma nica fenda.
Entender melhor os limites de aplicao da ptica geomtrica e ptica ondulatria.
Entender o conceito de redes de difrao.
PR-REQUISITO
Trigonometria bsica; aulas 05-09
Introduo
Nessa ltima aula estudaremos os fenmenos de interferncia e difrao das ondas
eletromagnticas. Estes so fenmenos tipicamente ondulatrios, e no podem ser
analisados em termos da ptica geomtrica. Em vez dela, temos que empregar ptica
ondulatria baseada no princpio de Huygens, que foi enunciado na aula 09. Primeiro
estudaremos o fenmeno da interferncia, que ocorre quando duas ondas se combinam.
Depois disso, estudaremos o fenmeno de difrao, que ocorre quando muitas ondas se
combinam. Embora o assunto que ser abordado nessa aula se refira todas as ondas
eletromagnticas, ateno especial ser dada s ondas de luz visvel devido sua
indiscutvel importncia.
230
De modo geral, o efeito de sobreposio das ondas num dado ponto do espao
determinado pela diferena entre as fases das duas ondas com que elas chegam a esse
ponto. A diferena de fase usualmente introduzida atravs da diferena de caminhos.
Se as duas ondas harmnicas idnticas e em fase fossem emitidas por duas fontes S1 e
no ponto P a onda resultante ser zero. Estas so situaes extremas. Caso a diferena
dos caminhos tenha algum outro valor, ocorrer uma situao intermediria, i.e., o
campo eltrico resultante no ponto P oscilar com amplitude cujo valor seria entre zero
e amplitude dobrada.
OK, se tudo isso verdade, por que no observamos o padro de interferncia que
consiste de pontos brilhantes (intensidade mxima) e pontos escuros (intensidade zero)
cada vez quando ligamos duas lmpadas num quarto escuro? E por que no vemos o
mesmo padro nas ruas noite, sendo elas iluminadas por muitas fontes? Por causa de
duas razes principais. Primeiro, porque as lmpadas no emitem luz monocromtica
(descrita pela onda harmnica), mas luz que contm uma faixa de comprimentos de
onda. Segundo, porque as lmpadas emitem luz de forma no sincronizada, que no
mantm constante a diferena de fase entre ondas durante o tempo. Digamos, por causa
disso, que essas fontes de luz so incoerentes.
Vamos esclarecer esse assunto com mais detalhes. Vamos supor que duas fontes emitam
luz monocromtica, com mesmo , mas de maneira no sincronizada. Num ponto do
r
espao r , os campos eltricos das ondas so descritos por:
rr
r
(1) r
E1 = Emax
e1 sin(k1 r t + 1 )
rr
r
(2) r
E2 = Emax
e2 sin(k2 r t + 2 )
r
r
onde e1 e e2 so vetores unitrios que definem direes ao longo dos quais oscilam os
r
r
campos eltricos, e k1 e k 2 descrevem as direes de propagao de cada onda
232
sejam coerentes
produzam luz monocromtica
O problema que todas as fontes comuns de luz so incoerentes. Por isso to difcil de
registrar a interferncia das ondas luminosas, e por isso demorou tanto para que o
primeiro padro de tal interferncia fosse observado. A tarefa foi realizada pela primeira
vez pelo cientista ingls, Thomas Young, no ano 1801.
O que o Thomas Young basicamente resolveu foi o problema de obter a luz coerente a
partir de fontes distintas. Ele teve uma ideia de dividir a luz proveniente de uma nica
fonte em dois ou mais feixes de ondas secundrias. Como estes feixes originam da
mesma fonte, eles esto sempre em fase, isto , as fontes secundrias se comportam
como fontes coerentes.
A experincia de Young considerada uma das experincias mais importantes na
histria de cincia. Sendo feita na poca quando a luz foi tratada como um fluxo de
pequenas partculas (teoria corpuscular de Newton), ela mostrou claramente sua
natureza ondulatria.
233
234
(10.1)
235
neste caso, a diferena dos caminhos entre raios igual a r2 r1 = d sin .(Halliday,
Resnick Fundamentals of Physics)
(10.3)
Repetindo o mesmo raciocnio, acham-se as posies dos mnimos, i.e., dos lugares
onde ocorre interferncia destrutiva:
1 L
yn ( n + )
2 d
n = 0,1, 2,...
236
(10.4)
(10.5)
237
r
r
Figura 10.7: Representao dos campos eltricos E1 e E2 da frmula 10.5 pelos
r
fasores (acima). Abaixo, o fasor resultante EP .
r
A magnitude do campo eltrico (fasor) resultante E a amplitude procurada EP .
r
r r
Aplicando o teorema do cosseno ao tringulo definido pelos vetores E0 , E0 e E segue:
EP2 = E02 + E02 2 E0 cos( ) = 2 E02 + 2 E02 cos = 2 E02 (1 + cos )
, a expresso acima se
transforma em:
EP2 = 4 E02 cos 2
EP = 2 E0 cos
(10.6)
(10.7)
A intensidade mxima ocorre quando o cosseno igual a 1, i.e., nos pontos para os
quais a diferena de fase igual a zero:
I 0 = 2 0 cE02
238
(10.8)
Ela quatro vezes maior do que a intensidade de cada onda individual dada pela
equao 10.5. Combinando as equaes 10.7 e 10.8, podemos expressar a intensidade
I em qualquer ponto no anteparo em termos da intensidade mxima I 0 :
I = I 0 cos 2
(10.9)
Nota-se da figura 10.8 que as posies de franjas claras e escuras, calculadas pelas
frmulas 10.1 e 10.2, esto em excelente concordncia com as posies determinadas
experimentalmente. A pequena discordncia observada nas intensidades das franjas
brilhantes: enquanto na experincia a intensidade de franja diminui quando sua ordem
aumenta, a teoria prev intensidade igual para todas as franjas. Essa discrepncia ocorre
porque fizemos uma aproximao no nosso modelo terico da experincia de Young:
assumimos que as fendas no possuem largura finita e as considervamos como se
fossem pontos. Para corrigir o erro, temos que levar em conta a interferncia das ondas
emitidas por diferentes partes da abertura da fenda, tarefa que ser abordada quando
estudarmos difrao.
Tomando a mdia da equao 10.9 sobre todas as diferenas de fase possveis, podemos
acessar a informao sobre a intensidade mdia distribuda no anteparo. Como:
cos 2
239
1
2
I = 0 cE0
segue:
(10.10)
que exatamente duas vezes a intensidade de luz que se origina de cada fenda. O
resultado mostra que a energia total emitida pelas duas fendas (fontes) no alterada
pelo efeito da interferncia, ela somente redistribuda sobre a tela (anteparo). Algumas
regies contm menos energia (mnimos), outras regies contm mais energia
(mximos), mas em mdia a energia conservada: nem criada nem aniquilada!
Finalmente, qual a relao entre a diferena de fase entre duas ondas em dado ponto
no anteparo, e a diferena dos caminhos r2 r1 ? Esse assunto foi abordado na aula 05,
quando estudamos interferncia das ondas mecnicas. Quando = 2 , a diferena dos
caminhos r2 r1 = . Portanto, podemos formar a regra de trs:
r2 r1
=
, isto :
2
(r2 r1 )
(10.11)
d sin
(10.12)
Denomina-se como difrao o desvio sofrido pelas ondas ao passar por um obstculo,
tal como as bordas de uma fenda em um anteparo. Difrao um efeito exclusivamente
240
ondulatrio, e aplica-se tanto para ondas mecnicas quanto para ondas eletromagnticas.
Porm, muito mais fcil observ-lo no caso das ondas mecnicas.
Vamos comear com um exemplo. Imagine que voc est no corredor, perto da entrada
de uma sala onde duas pessoas se encontram conversando. Voc no consegue v-las,
mas possvel escutar a conversa delas. Portanto, parece que a onda sonora sofreu
desvio (difratou-se) enquanto que a onda luminosa no. Como e por que isso acontece?
A entrada da sala pode ser considerada como uma fenda por onde as ondas iro passar.
Segundo o princpio de Huygens, cada ponto da fenda comporta-se como fonte de ondas
secundrias, que so esfricas. Contudo, ao atravessar a porta, as ondas no iro ficar
restritas rea que est diante dela: elas vo atingir as regies que lhe so adjacentes.
por isso que uma pessoa encostada na parede, no lado de fora, pode escutar a conversa.
Mas, por que no pode ver os falantes, i.e., por que a mesma coisa no ocorre com
ondas luminosas (figura 10.9)?
Figura 10.9: Ilustrao do exemplo comentado no texto. (a) Onda sonora passando
atravs do obstculo do tamanho de uma porta exibe difrao notvel. (b) Onda
luminosa passando pela mesma porta sofre difrao somente na regio minscula ao
redor da sombra geomtrica, e, portanto nem percebida.
A resposta dessa pergunta tem que levar em conta a relao entre o comprimento da
onda e a dimenso (tamanho) do obstculo. Esse assunto ser discutido nos prximos
pargrafos com mais detalhes. O comprimento de uma onda sonora varia em mdia de
1,7 cm (som agudo) at 17 m (som grave). Este comprimento de onda comparvel
com tamanho de uma porta, e a condio de se aplicar ptica ondulatria cumprida. J
o comprimento de uma onda luminosa extremamente pequeno quando comparado ao
tamanho da porta, e por isso, sua difrao minscula e praticamente no notvel.
Nesse caso, haver regies de sombra, ou seja, reas pelas quais a onda luminosa no ir
se propagar.
Preste ateno, no foi dito que a luz no sofre difrao, somente que a ltima
dificilmente notvel. Dois fatos atrapalham sua percepo: (1) ela ocorre somente em
241
uma regio muito estreita em volta da posio da sombra geomtrica, e (2) a luz comum
contm uma mistura de comprimentos de onda, cada um exibindo sua prpria difrao,
e a combinao deles dificulta criao de um padro estvel. Portanto, para se produzir
a difrao observvel da luz necessrio que os obstculos sejam de tamanho
comparvel ao do comprimento de uma onda luminosa e que a luz seja monocromtica.
A figura 10.10 mostra um padro de difrao que se forma quando a luz monocromtica
incide sobre um objeto opaco. Segundo a ptica geomtrica, o que devamos observar
uma regio escura atrs do objeto (sombra geomtrica) embaixo da sua extremidade, e
uma regio clara acima da sua extremidade, iluminada continuamente. Mas, se
olhssemos com uma lupa a regio pequena em torno da borda da sombra geomtrica,
perceberemos uma sucesso de franjas claras e escuras, tanto em cima quanto embaixo
da borda.
242
Figura 10.11: Figura de difrao formada por uma bola de ao com dimetro de 3 mm.
Geralmente, existem dois tipos de difrao. Quando as distncias entre a fonte da luz e o
obstculo e entre o obstculo e tela no so grandes, trata-se de difrao do campo
prximo, ou difrao de Fresnel. Quando as distncias entre a fonte, o obstculo e a
tela so suficiente grandes para que possamos usar a aproximao de raios paralelos,
trata-se de uma difrao de Fraunhofer. O formalismo matemtico neste caso mais
simples, e por causa disso as discusses seguintes sero restritas difrao de
Fraunhofer.
Finalmente, bom enfatizar mais uma vez que no existe nenhuma diferena
fundamental entre fenmenos de interferncia e difrao. Ambos os fenmenos so
baseados em superposio das ondas e explicados pelo princpio de Huygens. A
interferncia trata efeitos de superposio que envolve um nmero pequeno de fontes,
geralmente duas. Na difrao consideramos um nmero muito grande de fontes, ou
uma distribuio contnua de ondas secundrias de Huygens oriundas de uma ou vrias
reas de aberturas.
243
centro da tela ( y na figura 10.12), todos os raios que chegam a determinado ponto na
tela podem ser considerados como paralelos, e o que ocorre a chamada difrao de
Fraunhofer.
Figura 10.12: Ilustrao da difrao por uma fenda com largura a . Se L >> y
aproximao dos raios paralelos valida (difrao de Fraunhofer).
metade (raio 5) e um raio surgindo da borda metade abaixo (raio 3) igual a 2 sin
(pela geometria simples do tringulo destacado na figura). Fazendo uma varredura dos
pontos da abertura de cima para baixo, acharemos para cada ponto do alto da metade da
fenda um ponto na metade da fenda com tal propriedade de que a diferena dos
percursos de raios surgindo desses dois pontos seja igual a a 2 sin . Vamos supor que
a diferena entre os percursos desses raios seja 2 , i.e., os raios chegam tela em
contra fase, produzindo interferncia destrutiva (cancelando-se). Ento, os raios 5 e 3 se
cancelam, o par dos raios surgindo de pontos imediatamente abaixo desses dois pontos
tambm se cancelam, o par dos raios surgindo de pontos imediatamente abaixo do
ltimo par tambm se cancelam etc..., os raios surgindo de pontos 4 e 2 tambm se
cancelam,..., at que chegamos a considerar o cancelamento de raios que surgem do
ltimo par de pontos: raios 3 e 1! Em concluso, o nmero infinito de raios que surgem
da abertura da fenda dividido em pares que se cancelam um ao outro. Portanto, para
aqueles ngulos que satisfazem a condio:
a
sin =
2
2
i.e., sin = 1
sin =
4
2
i.e., sin = 2
( m = 1, 2, 3... )
(mnimos)
(10.13)
m m
245
(10.14)
ym
. Como m
L
ym
. Combinando esse
L
resultado com a frmula 10.14, chegamos a frmula que descreve aproximadamente as
posies de faixas escuras em termos da distncia a partir do centro da tela:
ym m L
tg m sin m m =
( m = 1, 2, 3,... )
(mnimos)
(10.15)
Figura 10.14: Padro de difrao Fraunhofer por uma fenda. As posies de mnimos
so determinadas pelas equaes 10.13 ou 10.15. Os picos apresentados na tela so as
intensidades de faixas. Observe que a faixa que corresponde ao mximo central est
duas vezes mais larga do que outras faixas brilhantes e, ao mesmo tempo, muito mais
intensa.
246
ponto R , cuja magnitude ER . A figura 10.15 mostra duas situaes: (1) quando o
ponto R se encontra no centro da tela, e, portanto, todas as ondas chegam com mesma
fase, e (2) quando o ponto R deslocado do centro e, portanto, as ondas chegam com
uma diferena de fase uma em relao a outra. No primeiro caso, a amplitude tem valor
mximo ER = E0 , e refere-se ao ponto central da tela = 0 , onde a intensidade
mxima.
Bom, analisaremos o segundo caso, pois ele representa um caso geral. Se a abertura da
fenda fosse dividida em faixas infinitesimais, a linha poligonal de fasores na figura
10.15b se transformaria em um arco de circunferncia (figura 10.16), cujo comprimento
igual ao valor E0 . A diferena de fase total entre a onda que sai da faixa no topo da
fenda e a que sai da faixa no inferior da fenda igual a .
247
Figura 10.16: Limite atingido pelo diagrama de fasores quando a fenda subdividida
em um nmero infinito de faixas.
ER 2
R
ER = 2 R sin
= 2
E0
sin
sin 2
= E0
2
2
(10.16)
2
a 2 sin
a sin
(10.17)
a sin
sin
I = I0
a sin
(10.18)
248
As franjas escuras da difrao se formam nos pontos para os quais I = 0 . Pela equao
10.18 isso ocorre quando o numerador se torna igual a zero e, ao mesmo tempo,
denominador for diferente de zero. Estas condies so cumpridas quando:
a sin
isto :
( m = 1, 2, 3,... )
=m
sin m = m
( m = 1, 2, 3,... )
Im =
I0
2
1 2
m+
2
(10.20)
(10.21)
249
Com auxlio da equao 10.13 e da figura 10.14 fcil concluir que a largura do
mximo central da difrao de fenda nica determinada pelo ngulo 1 que define os
pontos de primeiros mnimos laterais.
sin 1 =
(10.22)
(10.23)
propagao da luz. Essa situao mais comum em nosso dia-dia, pois os obstculos
tm tamanho bem maior do que o da luz (portas, janelas...). Por isso, no se nota o
efeito de difrao.
(2) a
Quando a abertura do obstculo comparvel com o comprimento de onda de luz,
efeitos de difrao so observveis e importantes. exatamente o caso que analisamos
na seo 10.2.2. Para descrever esses efeitos, a ptica geomtrica tem que ser
substituda pela ptica ondulatria. A equao 10.23 demonstra que a diminuio da
abertura do obstculo causa alargamento do mximo central (imagem). Isso acontece,
porm, at o certo limite, descrito pela prxima situao.
(3) a
Quando a abertura do obstculo igual ou menor do que comprimento de onda de luz, o
mximo central se alarga tanto que no podemos observar mais nenhum outro mnimo
ou mximo. A figura de difrao perdida, e o obstculo se comporta como uma fonte
puntiforme de ondas secundrias. Esta situao foi suposta de ocorrer quando
analisamos a interferncia por fenda dupla de Young.
A difrao ocorre para qualquer tipo de onda e no apenas para a luz. As ondas sonoras
tambm sofrem difrao ao passar por uma abertura. As ondas sonoras da voz humana
possuem comprimentos de onda um pouco maiores do que um metro, enquanto uma
porta comum possui largura inferior a um metro. Neste caso a < e o mximo central
se espalha at 1800 . Isso explica por que o som que passa por uma porta aberta pode ser
ouvido por uma pessoa que est fora do ngulo da viso atrs da porta. Ao contrrio,
no existe nenhuma difrao da luz atravs da porta, porque a sua largura muito maior
do que o da luz. Voc pode ouvir em torno de arestas, mas no pode ver em torno
delas!
251
Figura 10.19: Arranjo experimental para estudo da difrao por fenda dupla. A largura
das fendas a , e a distncia entre os centros das fendas igual a d .
sin 2
I = I 0 cos
2 2
onde:
d sin
a sin
(10.24)
(10.25)
2
sin 2
O fator cos
se chama fator de interferncia, enquanto o fator
2
2
denominado fator de difrao. I 0 a intensidade mxima que ocorre no centro da tela.
A equao 10.24 produz todos os picos (mximos) da interferncia atravs do fator de
interferncia, mas a intensidade dos picos modulada devido ao fator de difrao. O
resultado consiste em um padro de vrias faixas brilhantes cuja intensidade diminui ao
se afastar dos mximos centrais (figura 10.20).
2
252
253
Figura 10.20: Intensidade resultante na figura de difrao por duas fendas de largura
finita (Young and Freedman, Fsica IV tica e Fsica Moderna, Pearson).
a sin
d
=m
a
(10.26)
254
(10.27)
Isso significa que os mximos ocorrem nas mesmas posies como no caso da
experincia de duas fendas, com mesmo espaamento entre as fendas (veja frmula
10.1). Nesse sentido, a figura resultante semelhante que resulta da interferncia da
fenda dupla. A diferena se manifesta nos seguintes detalhes:
(1) com aumento do nmero de fendas os mximos determinados pela equao 10.27,
chamados mximos principais, tornam-se mais estreitos e mais intensos;
(2) entre quaisquer dois mximos principais existe mais de um mnimo, e este nmero
de mnimos cresce com aumento de nmero de fendas.
A figura 10.22 ilustra a situao quando o anteparo contm duas fendas (experincia de
Young), 8 fendas e 16 fendas.
Atravs de clculos detalhados, mostra-se que a intensidade e a largura dos mximos
principais dependem de nmero de fendas N , como N 2 I 0 e 1 N , respectivamente.
Portanto, quanto maior for o nmero de fendas, mais intensos e melhor resolvidos sero
os picos. As posies destes picos, i.e., os ngulos que as determinam, podem ser
medidos com maior preciso. Isso significa que, atravs da equao 10.27, o
comprimento de onda da luz que incide nas fendas pode ser determinado com excelente
preciso. Essa a idia bsica que est por trs da construo das redes de difrao,
que so conjuntos que contm um nmero grande de fendas paralelas, todas com a
mesma largura a e com a mesma distncia d entre elas. Para uma rede de difrao o
termo fenda pode ser substitudo por ranhura ou linha, que so usualmente feitas com
uma ponta de diamante.
Quando uma rede com centenas ou milhares de fendas iluminada por um feixe de
raios paralelos de luz monocromtica, a figura obtida constituda por uma srie de
linhas estreitas em ngulos determinados pela equao 10.27. As redes destinadas ao
uso de luz visvel costumam ter cerca de 1000 fendas por milmetro. O valor
correspondente a d dado pelo inverso do nmero de fendas, ento 1 1000 mm =
1000 nm.
255
Figura 10.22: Intensidade de padres de interferncia por duas, oito e dezesseis fendas
estreitas (Young and Freedman, Fsica IV tica e Fsica Moderna, Pearson).
256
Bibliografia consultada
Alonso, M. S. e Finn, E. J., Fsica, Ed. Edgard Blucher Editora, So Paulo, 1999.
Questes
257
Resposta
No. A intensidade num determinado ponto depende do quadrado da amplitude do
campo eltrico resultante. Portanto, temos que fazer uma soma vetorial dos campos
eltricos das ondas individuais para achar a amplitude resultante, tomar o quadrado
dessa amplitude e determinar a intensidade. Por outro lado, a soma das intensidades
envolveria a soma dos quadrados das amplitudes das ondas individuais, que daria
resultado errado.
5. Por que podemos observar facilmente os efeitos de difrao em ondas sonoras, mas
no em ondas luminosas?
6. Qual a diferena entre a difrao de Fresnel e a de Fraunhofer? Os processos fsicos
desses dois fenmenos so diferentes? Explique.
7. As ondas sonoras usadas predominantemente na fala humana possuem comprimentos
de onda no intervalo de 1 at 3 metros. Usando os conceitos de difrao, explique como
voc pode ouvir a voz de uma pessoa mesmo quando ela est de costas para voc.
8. Uma luz de comprimento de onda e frequncia f passa por uma nica fenda de
largura a . A figura de difrao observada sobre uma tela a uma distncia x da fenda.
Qual dos seguintes processos diminuir a largura do mximo central? (a) Diminuir a
largura da fenda; (b) diminuir a frequncia da luz; (c) diminuir o comprimento de onda
da luz; (d) diminuir a distncia entre a tela e a fenda. Em cada caso, justifique a sua
resposta.
Dica: Analise a equao 10.23.
Exerccios
L
. Para n = 1
d
2. Em um lugar onde a velocidade do som 354 m/s, uma onda sonora de 2000 Hz
incide sobre duas fendas separadas por 30,0 cm. (a) Em qual ngulo se localiza o
primeiro mximo? (b) Se a onda sonora for substituda por microondas de 3,00 cm, qual
separao entre as fendas fornecer o mesmo ngulo para o primeiro mximo? (c) Se a
258
separao entre as fendas for de 1,00 m , qual frequncia da luz daria o mesmo ngulo
do primeiro mximo?
Resposta
354 m s
= 0,177 m . A condio para ocorrer o
20001 s
mximo da interferncia : d sin = n . O primeiro mximo determinado por:
0,177 m
sin 1 = =
= 0,59 1 = 36,150 .
d
0,3 m
3, 00 cm
(b) d sin 1 = 1 d =
=
= 5, 08 cm .
sin 1
0,59
v
v
354 m s
(c) d sin 1 = 1 =
= 6
= 600 106 Hz = 0, 6 GHz .
f =
f
d sin 1 10 m 0,59
3. Duas antenas de rdio separadas por 300 m, como na Figura abaixo, transmitem
simultaneamente sinais idnticos de mesmo comprimento de onda. Um rdio em um
carro viajando rumo norte recebe os sinais. (a) Se o carro est na posio do segundo
mximo, qual o comprimento de onda dos sinais? (b) Qual distncia adicional o carro
deve percorrer para encontrar o prximo mnimo na recepo? (Nota: no use a
aproximao de ngulo pequeno neste problema.)
Resposta
(a) Precisamos achar as distncias entre o carro e as fontes, e calcular diferena de
percursos de ondas sonoras at o carro. Com ajuda da geometria ilustrada na figura
abaixo, seque:
r22 = R 2 + s22 = (1000 m) 2 + (250 m)2 r2 = 1030, 78 m
r12 = R 2 + s12 = (1000 m) 2 + (550 m)2 r1 = 1141, 27 m
Como o carro se encontra no segundo mximo: r1 r2 = 2 .
259
r1 r2
= 55, 25 m .
2
(b) Agora, o carro se deslocou para o norte percorrendo a distncia x (veja figura
abaixo), encontrando o prximo ponto do mnimo.
r1 r2 = 138,1 m = R 2 + ( s1 + x ) 2 R 2 + ( s2 + x) 2
Resolvendo esta equao para x , chega-se resposta.
260
4. realizada uma experincia de dupla fenda de Young com luz de 589 nm e uma
distncia de 2,00 m entre as fendas e o anteparo. O dcimo mnimo da interferncia
observado a 7,26 mm do mximo central. Determine o espaamento entre as fendas.
Resposta
Distncia entre centro da tela e m-simo mnimo determinada pela frmula:
1
L
ym = (m + ) , onde m = 9 (dcimo mnimo),
2
d
Daqui:
(9 + 1 2)
9,5
d = L
= 589 109 m 2, 0 m
= 1541, 46 106 m 1,54 mm
y9
7, 26 103 m
5. Duas fendas esto separadas por 0,320 mm. Um feixe luminoso de 500 nm atinge as
fendas produzindo um padro de interferncia. Determine o nmero de mximos
observado na faixa angular -30,0 < < 30,0.
Resposta
A condio de ocorrncia dos mximos: d sin = m sin = m
500 109 m
= 1562 106 = 1,562 103 . Portanto: sin 300 = m 1,562 103 e
3
d 0,32 10 m
m 320 . Como os mximos ocorrem tanto para m negativo quanto para m
positivo (simetricamente em torno do centro da tela), o nmero dos mximos o
dobro deste valor, i.e., ocorrem cerca de 640 mximos.
=
6. A experincia da dupla fenda de Young est por trs do sistema de pouso por
instrumentos usados para guiar aeronaves para aterrissagens seguras quando h pouca
visibilidade. Ainda que os sistemas reais sejam mais complicados que o exemplo
descrito aqui, eles operam sob os mesmos princpios. Um piloto est tentando alinhar
seu avio com uma pista de aterrissagem, como sugerido na Figura (a) abaixo. Duas
antenas de rdio A1 e A 2 separadas por 40,0 m, esto posicionadas adjacentes pista.
As antenas transmitem ondas de rdio no moduladas e coerentes com 30,0 MHz.
(a) Encontre o comprimento de onda das ondas. O piloto "trava" no forte sinal irradiado
ao longo de um mximo de interferncia e direciona o avio para manter forte o sinal
recebido. Se ele detectar o mximo central, o avio ter o direcionamento correto para
aterrissar quando ele alcanar a pista.
b) Suponha, em vez disso, que o avio est voando ao longo do primeiro mximo lateral
(Figura (b) abaixo). A que distncia lateral da linha central da pista o avio est quando
ele se encontra a 2,00 km das antenas?
261
(c) possvel dizer ao piloto que ele est no mximo errado enviando dois sinais de
cada antena e equipando a aeronave com um receptor de dois canais. A razo entre as
duas frequncias no deve ser uma razo de nmeros inteiros pequenos (como, por
exemplo, 3/4). Explique como esse sistema de duas frequncias iria funcionar e por que
ele no necessariamente funciona se as frequncias forem relacionadas por uma razo
de nmeros inteiros.
7. A intensidade no anteparo em um determinado ponto em um padro de interferncia
de dupla fenda 64,0% do valor mximo. (a) Qual a diferena mnima de fase (em
radianos) entre as fontes produz esse resultado? (b) Expresse essa diferena de fase
como uma diferena de percurso para luz de 486,1 nm.
Resposta
= 740 .
I = I max cos 2
(b)
74
= 486,1 nm
= 100 nm .
=
r =
2
2
3600
(a)
8. Duas fendas esto separadas por 0,180 mm. Um padro de interferncia formado
em um anteparo a 80,0 cm de distncia causado por luz de 656,3 nm. Calcule a frao
da intensidade mxima a 0,600 cm acima do mximo central.
Dica
preciso achar a intensidade em um ponto determinado na tela (digamos, ponto P ),
cuja distncia a partir do centro da tela y = 0, 600 cm . O problema pode ser
resolvido em 3 passos.
262
. O resultado :
I = 0, 0086 I max .
9. Luz de laser de hlio-nenio ( = 632,8 nm) enviada atravs de uma fenda nica de
0,300 mm de largura. Qual a largura do mximo central em um anteparo a 1,00 m da
fenda?
Resposta
A largura do mximo central determinada pelo ngulo 1 que corresponde ao
primeiro mnimo da difrao (veja figura 10.14). Como: sin 1 = a
1 = arcsin(
632,8 109 m
) = 0,120 . Portanto, o espalhamento angular do mximo
0,300 103 m
10. Um feixe de luz verde difratado por uma fenda de 0,550 mm de largura. O padro
de difrao se forma em uma parede a 2,06 m alm da fenda. A distncia entre as posies de intensidade nula nos dois lados da franja brilhante central de 4,10 mm.
Calcule o comprimento de onda da luz de laser.
11. Um anteparo est localizado a 50,0 cm de uma fenda nica, que iluminada com luz
de 690 nm. Se a distncia entre o primeiro e o terceiro mnimo no padro de difrao
de 3,00 mm, qual a largura da fenda?
Resposta
As posies dos mnimos num padro de difrao so determinadas pela equao
10.15:
ym m L
( m = 1, 2, 3,... ).
y3 y1 = 3 L
1 L
= 2 L
263
a=
2 L
2 0,5 m 690 109 m
=
= 230 106 m = 0, 23 mm .
3
( y3 y1 )
3, 00 10 m
12. Som, com uma frequncia de 650 Hz e vindo de uma fonte distante, atravessa uma
entrada de porta com 1,10 m de largura localizada em uma parede absorvedora de som.
Encontre o nmero e as direes aproximadas dos feixes de difrao mxima irradiados
no espao alm da entrada.
Resumo da aula
L
d
1
d sin m = (m + )
2
1 L
ym ( m + )
2 d
brilhantes.
Difrao um fenmeno que no fundamentalmente diferente da interferncia.
Ambos os fenmenos so baseados na superposio das ondas e explicados pelo
princpio de Huygens. Enquanto interferncia trata efeitos de superposio que envolve
264
( m = 1, 2, 3... )
(mnimos)
265
Concluso
Esta ltima aula do curso foi dedicada ao estudo dos fenmenos ondulatrios de
interferncia e difrao. O que discutimos nesta aula est longe de cobrir todos os
assuntos desse gnero. Porm, o objetivo era esclarecer os princpios e aplicaes
bsicas de interferncia e difrao, para que voc possa entender, sozinho, os assuntos
no tratados aqui, lendo outros livros de fsica.
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