Cartilha Compostagem

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CARTILHA PARA AGRICULTORES

COMPOSTAGEM
Produo de fertilizantes
a partir de resduos orgnicos

APOIO

Organizadores
Prof. Dr. Valdirene Camatti Sartori - UCS/CCAB/IB
Prof. Dr. Rute T. da Silva Ribeiro - UCS/CCAB/IB
Prof. Dr. Gabriel Fernandes Pauletti - UCS/CCAB/IB
Ms. Mrcia Regina Pansera - UCS/CCAB/IB
Ms. Lus Carlos Diel Rupp - Centro Ecolgico - Ip/RS
Enlogo Leandro Venturin - Centro Ecolgico - Ip/RS

Apoio acadmico dos estudantes do


curso de Agronomia da UCS
Letcia Soso
Cristina Moschen
Arthur Baschera Gonzalez
Maurcio Rigo Panazzolo
Maurcio Argenta Chies
Adriano Martirene
Peblan Pilan
Aureo Alcindo Munz

Contato:
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
Centro de Cincias Agrrias e Biolgicas
Instituto de Biotecnologia
Laboratrio de Controle Biolgico de Doenas de Plantas
Rua Francisco Getlio Vargas, 1130
CEP 95070-560 - Caxias do Sul
Fone/Fax: (54) 3218.2100, ramal 2663

Compostagem
O que ?
A compostagem um processo natural de decomposio da matria
orgnica de origem animal ou vegetal.
Na propriedade rural, a compostagem pode ser um processo de grande importncia econmica, pois resduos como esterco dos animais, palhas, folhas de rvores e outros resduos orgnicos so reciclados, transformando-se em fertilizantes ou hmus.
O processo de compostagem envolve transformaes muito complexas de natureza biolgica e qumica, promovidas por uma grande variedade de microrganismos como fungos e bactrias que vivem no solo.
Esses organismos obtm, a partir da degradao da matria orgnica, o
carbono e os demais nutrientes minerais, necessrios para a sua sobrevivncia.
Alm desses compostos qumicos, os microrganismos tambm necessitam de condies ideais de temperatura, umidade, disponibilidade de
CO2 e O2, que so desenvolvidas naturalmente durante o processo.
Os microrganismos provenientes do solo e dos restos vegetais e animais, presentes durante a compostagem, liberam substncias e compostos com propriedades que melhoram o rendimento das culturas agrcolas,
pelo fornecimento de nutrientes s plantas e, ao mesmo tempo, promovem a melhoria das condies qumicas, fsicas e biolgicas do solo.
O resultado final da compostagem o composto orgnico, que pode
ser aplicado no solo para melhorar suas caractersticas, sem ocasionar
riscos ao meio ambiente.
A tcnica da compostagem desenvolvida com a finalidade de acelerar com qualidade a estabilizao da matria orgnica. Como resultados da compostagem, so gerados dois importantes componentes para o
solo: sais minerais, como nutrientes para as razes das plantas e hmus,
como condicionador e melhorador das propriedades fsicas, fsico-qumicas e biolgicas do solo.

O composto possui nutrientes minerais, tais como nitrognio, fsforo,


potssio, clcio, magnsio e enxofre. Todos esses minerais so assimilados em maior quantidade pelas razes, alm de ferro, zinco, cobre, mangans, boro e outros que so absorvidos em quantidades menores e, por
isso, so denominados de micronutrientes. Em geral, os fertilizantes orgnicos so constitudos por uma diversidade de nutrientes, pois se originam
tambm de uma grande variedade de resduos animais e vegetais. (Fig. 1)
Outra grande vantagem dos compostos de origem orgnica a de que
seus nutrientes, ao contrrio do que ocorre com os adubos sintticos, so
liberados lentamente para o solo. Essa uma caracterstica interessante,
pois as plantas absorvem os nutrientes de que precisam, de acordo com
as suas necessidades, ao longo de um tempo maior. Assim, as plantas
no so bem nutridas quando recebem adubos sintticos, pois estes so
muito solveis Seus nutrientes, em grande parte, so solubilizados rapidamente e arrastados pelas guas da irrigao e, principalmente, das
chuvas. Portanto, nesse caso, as plantas tm pouco tempo para absorver
os nutrientes dos adubos sintticos.

Por que fazer a compostagem?


O aumento populacional tem feito com que a demanda por alimentos
seja cada vez maior; portanto, o homem tem procurado aumentar a produo de alimentos. A criao de animais (gado e aves) para a produo
de leite, ovos e carnes e todos os seus derivados tem aumentado muito no Brasil. No entanto, essas atividades agropecurias geram grande
quantidade de restos culturais, resduos agroindustriais e dejetos de animais, os quais se no forem reciclados, provocam srios problemas de
poluio ambiental.
A Regio Sul do Brasil caracteriza-se pela criao intensiva de frangos
e outras aves de corte. Durante o perodo de crescimento e engorda, as
aves so mantidas em galpes, cujo assoalho coberto por uma camada
espessa de serragem, chamada cama de avirio, que serve de suporte
para at seis lotes de frangos. Portanto, a cama permanece no galpo por
aproximadamente 300 dias e transforma-se, no final desse perodo, em
um material rico em nutrientes, principalmente nitrognio, alm de outros
provenientes das excretas e dos restos de rao. Comumente esse material, quando retirado dos galpes, levado ao campo e a permanece
armazenado. Como nem sempre isso ocorre de maneira adequada, o
material fica sujeito s intempries, o que pode ocasionar a perda de material, provocada pela solubilizao e lixiviao dos nutrientes solveis.
Alm do manejo inadequado da cama de avirio, observa-se o contnuo aumento da produo desse resduo, o que pode provocar impacto
ambiental, desde que a velocidade de sua gerao seja bem maior que
sua velocidade de degradao. Outro aspecto relevante desse tipo de
esterco o fato da sua aplicao diretamente sobre o solo, sem prvia
compostagem.

Figura 1 - Leira de resduos. Fonte: Valdirene Camatti Sartori

Essa condio favorece o desenvolvimento de populaes de microrganismos, algumas vezes indesejveis, que iro consumir os nutrientes
disponveis na matria orgnica, diminuindo as reservas nutritivas para
as plantas, alm de representar contaminao para as guas, atravs do
carreamento de partculas minerais e orgnicas de solo com altas concentraes de nutrientes.

Esse fato contraria os principais objetivos da compostagem que so:


1) reduzir a quantidade de resduos produzidos nas produes agrcolas;
2) consequentemente diminuir a poluio ambiental. Portanto, o composto tem a vantagem de ser um fertilizante natural.

Figura 3 - Esterco bovino. Fonte: foto de Valdirene C. Sartori.

O aumento de resduos slidos e lquidos, proveniente da produo de


bovinos no rebanho brasileiro, constitui um problema de ordem ambiental.

Condies necessrias para a realizao da compostagem


Figura 2 - Descarregamento de cama de avirio. Fonte: foto de Valdirene C. Sartori.

A cama de avirio no compostada um dos principais resduos utilizados de maneira imprpria na agricultura.

O local escolhido para fazer a compostagem deve:


- ser de fcil acesso,
- estar prximo de onde est armazenado o material palhoso, que ser
usado em grande quantidade;
- estar prximo a uma fonte de gua, uma vez que o material ser molhado medida que as camadas vo sendo colocadas e tambm quando
o material ser revolvido, o que acontecer vrias vezes durante o processo de compostagem;

- estar em local com baixa declividade, at 5%, para facilitar o preparo e


o manejo da pilha de composto, mas que permita drenagem da gua da
chuva.
Ateno: Locais de baixada, suscetveis a encharcamentos, devem ser evitados.
O composto pode ser feito em campo aberto, em cho batido, sendo desnecessrio piso cimentado.

Material adequado para o processo de compostagem


Todos os restos de lavouras e capineiras, estercos de animais, aparas de grama, folhas, galhos, resduos de agroindstrias, como: restos
de abatedouros, cama de avirio, tortas e farinha de ossos podem ser
usados. Quase todo material de origem animal ou vegetal pode entrar na
produo do composto.
Importante: Os materiais que no devem ser usados para fazer compostagem so os seguintes: madeira tratada com pesticidas contra cupins
ou envernizadas, vidro, metal, leo, tinta, couro, plstico.

Vantagens do uso da compostagem

Aumento da sade do solo - a matria orgnica compostada se

liga s partculas do solo (areia, limo e argila), ajudando na reteno da gua e drenagem do solo e melhorando sua aerao;

reduo da eroso do solo - a matria orgnica compostada aumenta a capacidade de infiltrao de gua, reduzindo a eroso;

reduo de doenas de plantas - o composto aumenta a popula-

o de minhocas, insetos e microrganismos desejveis, estabelecendo um equilbrio entre as populaes e a planta hospedeira;

manuteno da temperatura e estabilizao do pH do solo - o


composto favorece a atividade biolgica no solo;

ativao da vida do solo - o composto favorece a reproduo de


microrganismos benficos s culturas agrcolas;

aproveitamento agrcola da matria orgnica - a compostagem diminui a perda econmica ou aumenta o lucro na propriedade rural;

processo ambientalmente seguro - a compostagem dos resduos


orgnicos reduz o impacto e a poluio no ambiente;

degradao de substncias inibidoras do crescimento vegetal

- na palha in natura existem substncias responsveis pela inibio do crescimento vegetal, que so degradadas durante a
compostagem;

economia de tratamento de efluentes - o composto se solubiliza


lentamente e absorvido pelas plantas, no sendo carregado
para o lenol fretico;

reduo do odor - depois de compostados, os dejetos animais


no geram mais odor.

Figura 4 - Monitoramento da Leira de Compostagem.


Fonte: foto de Valdirene C. Sartori.

Como fazer
A montagem das pilhas deve obedecer seguinte sequncia:
- distribuir uma camada de palha e/ou capim no solo com 20 centmetros
de altura e 1,8 a 2,0 metros de largura ou mais, podendo o comprimento
variar de acordo com a quantidade de material a ser compostado, e molhar bem antes de colocar outros materiais em cima;
- misturar e umedecer os materiais a serem compostados: para cada 1m3
de materiais (0,5 m3 de dejetos slidos e 0,5 m3 de palhadas);
- formar a pilha at 1,20 m a 1,50 m de altura, com a mistura umedecida a
60% (ao apertar a massa do composto com a mo no deve escorrer gua);
- cobrir com palhada seca a pilha pronta, para manter a umidade e a
temperatura.

Importante:
- a forma e o tamanho da pilha de compostagem influenciam a velocidade da compostagem, pelo efeito que tm sobre o arejamento
e a dissipao do calor da pilha;
- o tamanho ideal da pilha pode ser varivel. O volume de 1,5 m x 1,5
m x 1,5 m tem sido considerado bom para materiais diversos. Em
locais muito frios, pode ser prefervel pilhas mais altas que 1,5 m.

Figura 5 - Serrapilheira, ou folhedo para incorporao de microrganismos na leira de compostagem. Fonte: foto de Letcia Soso

O uso da serrapilheira acelera a maturao do composto.

Qual o tempo da compostagem?


O tempo para decomposio da matria orgnica depende de vrios
fatores. Quanto maior for o controle das condies da temperatura e umidade mais rpido ser o processo. Se as necessidades nutricionais da
pilha ou leira forem satisfatrias, os materiais adicionados de pequenas
dimenses, mantida a umidade adequada e a pilha revolvida todas as
semanas, o composto ser estabilizado dentro de 30 a 60 dias, e curado
entre 90 a 120 dias. Aps este perodo estar pronto para ser utilizado.
Percebe-se que o composto est pronto quando no ocorre perda de
gua, de cor escura, est solto e com cheiro de terra. Quando esfregar
o composto entre as mos elas no se sujam.

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Principais fatores que influenciam no


processo da compostagem
1. Umidade
No processo de decomposio da matria orgnica, a umidade garante a atividade microbiana. Isso porque, toda a atividade metablica e
de reproduo dos microrganismos e dos outros organismos que atuam
no processo de compostagem dependem da gua. Uma das maneiras
de verificar o teor de umidade apertar o composto com as mos: se o
mesmo tiver uma concentrao de gua adequada, poderemos sentir a
umidade e a agregao do material (Figura 6).

3. Temperatura
Um dos fatores de grande relevncia no processo de transformao da
matria orgnica a temperatura do ambiente onde se realiza o processo.
Na compostagem de resduos orgnicos, em montes, ou em condies
controladas, o calor desenvolvido se acumula, e a temperatura pode chegar cerca de 80C. desejvel que varie de 60oC a 70oC nos primeiros
25 dias de compostagem e depois naturalmente a tempetura diminui.
A temperatura e a umidade podem ser controladas com uma barra de
ferro de construo introduzida na pilha. Esta deve ser retirada diariamente, observando-se ao ser retirada se:
- est quente e molhada, no h necessidade de molhar a pilha do composto;
- caso esteja seca, deve-se molhar bem a pilha, at aparecer gua por baixo.

4. Relao C:N
A compostagem consiste em se criar condies e dispor, em local adequado, as matrias-primas ricas em nutrientes orgnicos e minerais, que
contenham especialmente, relao C:N favorvel. A relao carbono e
nitrognio (C/N) deve ser em torno de 30/1; isso quer dizer que para cada
parte de nitrognio, na forma de esterco, devem estar presentes 30 partes de carbono na forma de palhada, para que a compostagem se realize
com eficincia.

5. Tamanho das partculas


Figura 6 - Material mido (60 %) e agregado na palma da mo
Fonte: foto de Letcia Soso.

2. Aerao
O oxignio de vital importncia para os microrganismos que realizam a decomposio dos resduos orgnicos, pois a decomposio um
processo de oxidao biolgica das molculas ricas em carbono, com
liberao de energia. Essa energia ento consumida pelos organismos,
e os nutrientes liberados so consumidos pelas plantas.

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As partculas dos materiais no devem ser muito pequenas, para evitar


a compactao durante o processo, comprometendo a aerao. Por outro
lado, resduos como colmos inteiros retardam a decomposio por reterem pouca umidade e apresentarem menor superfcie de contato com os
microrganismos (exemplo, colmos de milho). Restos de culturas de soja
e feijo, gramas, folhas, por exemplo, podem ser compostados inteiros.

6. Sementes, patgenos e metais pesados na compostagem


A presena de sementes de plantas invasoras, pragas, patgenos e
metais pesados, que interferem na produo agrcola, so considerados

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agentes indesejveis. Esses agentes podem ser eliminados no incio do


processo de compostagem mediante cuidados especficos a cada um
deles, obtendo-se um produto final com qualidade, ou seja, livre desses agentes indesejveis. Com relao aos patgenos e s sementes
de plantas invasoras, estes podem ser eliminados por meio do processo
completo da compostagem.
Finalizando, quanto maior for a diversidade de materiais para a elaborao do composto, melhor ser a qualidade do produto final em termos
nutricionais. Na foto abaixo, observa-se a presena de fungos decompositores da matria orgnica (cogumelos), o que demonstra que o processo de maturao do composto est correndo dentro do esperado.

Tabela 1 - Principais problemas, causas e soluo na elaborao de uma


leira de compostagem

Problemas

A temperatura
demora a aumentar

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Falta de nitrognio *

Adicionar material rico


em nitrognio (esterco ou
leguminosas)

Umidade baixa

Revolver a leira e molhar a


com um chuveiro fino

Falta de oxignio
(compactao)

Revolver a leira

Falta de oxignio
(encharcamento)

Revolver a leira
Revolver a leira e
adicionar materiais secos
e porosos, como: folhas
secas, palha.

Umidade em excesso

Surtos de moscas
sobre a pilha

Pouca condie de
higiene no local

Revolver a leira e cobrir com


palhada

Gerao de chorume

Revolver a leira

Relao C/N imprpria

Adequar relao de C/N

Cheiro de amnia

Utiliza-se o composto no solo, como corretivo orgnico, principalmente


em solos pobres em matria orgnica como os argilosos e arenosos.
O fertilizante orgnico pode ser usado em pomares, hortas, jardins,
na agricultura em geral. A aplicao do composto deve ser sobre o solo
antes ou depois do plantio das sementes e mudas.

Soluo

Odor desagradvel

Figura 7 - Compostagem em fase de maturao Fonte: foto de Letcia Soso

Onde aplicar o composto?

Causas

Pereira Neto, 1996 - Adaptado

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Mangans

Ferro

Zinco

Molibidnio

Enxofre

Magnsio

Clcio

Potssio

Fsforo

Nitrognio

Elemento

Cu

Mn

Fe

Zn

Mo

Mg

Ca

Smbolo

Formao do plen; participa na resistncia fsica das plantas, deixa as folhas e ramos mais rgidos.

Aumenta a resistncia seca: juntamente com o Ferro e o Magnsio ajuda na formao da clorofila.

Ativador da formao de vitaminas na planta; aumenta a resistncia s pragas e doenas; ativa o aroma
e sabor; ajuda no transporte de nutrientes; aumenta a resistncia da planta variao climtica.

Formao da clorofila.

Formao de brotos, produo de hormnios.

Estimula o desenvolvimento das razes.

Faz parte das protenas; melhora a absoro dos nutrientes nas razes.

Atua na fotossntese; ajuda no transporte de fsforo e outros elementos.

Atua na formao das clulas; est presente em grande quantidade na parede celular das clulas vegetais; participa dos processos regulatrios da planta.

Regula a entrada e a sada de gua na planta e ajuda na absoro de outros nutrientes.

Pouco consumido pelas plantas; se fixa facilmente no solo, precisando de meio cido para reagir. Estimula o crescimento de razes, sementes e frutos.

Formao de protenas e crescimento da planta.

Tabela 2 - Elementos qumicos e sua importncia para um solo saudvel

Cobre
B

Funo

Boro

APOIO

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