Transtorno Da Memória Rudimar Dos Santos Riesgo
Transtorno Da Memória Rudimar Dos Santos Riesgo
Transtorno Da Memória Rudimar Dos Santos Riesgo
dos demais mamferos. A principal delas que muitas das nossas memrias so
codificadas em um sistema denominado linguagem.
Linguagem a capacidade da espcie humana em se comunicar atravs de
um cdigo simblico adquirido, que transforma emoes, pensamentos e idias
em eventos passveis de serem transmitidos por meio de signos. Existem trs
tipos de linguagem: a falada, a escrita e a gestual.
Em se tratando de aprendizado, linguagem um assunto dos mais
importantes. A maioria das informaes que os humanos recebem vem em um
cdigo lingstico. As relaes entre a linguagem e o aprendizado sero
aprofundadas no captulo 11.
A linguagem decididamente um divisor de guas, tanto na comparao
entre humanos e os demais mamferos quanto na nossa prpria ontogenia.
Nossas memrias anteriores aos 3 anos de idade no so fceis de descrever em
termos lingsticos. O mximo que podemos lembrar deste perodo so puramente
sensaes que so difceis de expressar em palavras exatas.
O que se constata, portanto, que existe uma ntida ontogenia tambm
para a memria. A primeira das memrias que comea a funcionar, a chamada
memria operacional. Ela inicia sua maturao entre 1 e 2 anos de idade e s
atinge seu apogeu em torno dos 5 anos de idade. uma memria de curtssima
durao, que no deixa rastro bioqumico e se extingue em segundos.
pelo
DSM-IV,
na
definio
dos
Transtornos
Globais
do
problemas
diz
respeito
dificuldades
na
comunicao,
no
de
vista
ontogentico,
ela
completa
seu
ciclo
maturacional
que estereotipado, de tal sorte que no importa tanto o que aconteceu, mas sim
quando foi que aconteceu.
Todo profissional que se dispe a trabalhar com crianas deveria dominar
toda a seqncia dos marcos maturacionais. Esta ao facilitaria muito o
entendimento da abordagem neuropeditrica dos problemas do desenvolvimento
bem como os problemas do aprendizado, dentro da viso ontogentica.
A anlise das bases neurobiolgicas de um transtorno bastante prevalente
nas crianas em idade escolar, atualmente conhecido como Transtorno de Dficit
de Ateno com Hiperatividade (TDAH), pode fornecer algumas pistas sobre a
relao entre a memria e a ateno. No surpreendente a associao entre
este transtorno especfico e dificuldades no aprendizado.
Uma das primeiras teorias neurobiolgicas para explicar o TDAH era
baseada na disfuno dum nico sistema atencional. O sistema atencional anterior
ficaria localizado nos lobos frontais e suas conexes subcorticais com o sistema
lmbico. A viso mais recente admite dois centros atencionais, um anterior,
predominantemente dopaminrgico e outro posterior, com forte influncia dos
neurotransmissores noradrenrgicos.
Uma extrapolao destas teorias poderia nos levar a considerar que as
disfunes no centro atencional anterior podem estar mais associadas ao sintoma
hiperatividade, pois o freio inibitrio - e a modulao do humor e o planejamento
da fala - esto no lobo frontal e suas conexes. Por outro lado, disfunes no
centro atencional posterior podem estar mais associadas desateno e tambm
com
problemas
de
aprendizagem
mltiplas
reprovaes.
imprescindvel que se tenha uma boa noo sobre qual o potencial cognitivo
deste grupo em particular. So crianas que podem ter baixo potencial cognitivo.
Podem ficar deprimidas porque foram reprovadas e/ou porque se do conta das
suas prprias limitaes e dificuldades em acompanhar os colegas.
baixo limiar para frustraes e para seus prprios erros, pode surgir uma presso
por resultados, em especial na poca das provas.
No consultrio neuropeditrico, o usual a chegada destes casos, a
maioria carregada de ansiedade e premncia, na metade do segundo semestre do
ano letivo, com os pais angustiados, querendo uma soluo de curto prazo para
um problema que pode ter suas razes muitos anos antes da sua constatao. No
mais das vezes, a presso vem dos pais e at da prpria escola, e a criana, por
ser imatura, pode no dispor de todos os recursos para lidar com sua ansiedade
de base.
Segundo Izquierdo (2004), existem basicamente trs linhas de moduladores
da memria, do ponto de vista dos neurotransmissores. A primeira e mais
abrangente a GABArgica. A segunda usa vrios neurotransmissores, tais como
a dopamina, a noradrenalina, a serotonina e as vias colinrgicas. A terceira e
ltima linha neuromoduladora atua praticamente s sobre a consolidao das
memrias de longo prazo.
A relao entre a performance da memria e os nveis de ansiedades
bem interessante. Este fenmeno ficou bem comprovado na chamada "Curva de
Yenkes-Dodson", conforme pode ser observado na figura 16.1.
Inserir por aqui a figura 16.1 (legenda, referncia e figura em anexo)
16.7 TRANSTORNO DA MEMRIA E APRENDIZAGEM
Este tpico, que tratar da aquisio da memria, ser mais extenso que os
prximos. A razo muito simples: este o evento mnemnico cuja conceituao
est mais prxima do que a neuropediatria considera como aprendizado.
A aquisio das memrias inicia-se pela ativao da memria de trabalho
ou de curta durao. Existem vrias causas que podem redundar em transtornos
da aquisio da memria, tais como problemas na ateno, na motivao, nos
cinco sentidos ou at na cognio, mas ainda assim, antes das experincias se
transformarem em memrias, imprescindvel a ao da memria de trabalho.
Como ela que gerencia as demais memrias, pode toda a consolidao
posterior das memrias ficar prejudicada, se houver problemas no primeiro dos
eventos mnemnicos. Por exemplo, uma leso ou disfuno no crtex pr-frontal
na sua poro ntero-lateral pode prejudicar a memria de trabalho. O paciente
pode ter dificuldades em estabelecer juzo de valores, em avaliar conseqncias
dos seus atos e at em delimitar aqueles que sero dos que no viro a ser
prejudiciais.
A aquisio das memrias segue as vias sensitivas, todas j descritas em
detalhes nos captulos da primeira parte. Podem ser memrias visuais, auditivas,
olfativas, gustativas, tteis e assim por diante. Tambm podem ser memrias
complexas, resultantes da a juno de vrias formas individuais. Um passeio em
um jardim, por exemplo, pode gerar memrias complexas, que at podem
consolidar, num misto de informaes, tais como a cor e o contorno das rvores e
das demais plantas, o som do vento e do canto dos pssaros, o estado de esprito
naquele dado momento e o cheiro das flores.
As consideraes supracitadas valem para as memrias declarativas.
Contudo, no aprendizado inicial do ato de escrever, por exemplo, tambm entram
em jogo as memrias de procedimentos, cujas vias so totalmente diferentes das
anteriores.
Os transtornos na aquisio da memria podem decorrer de vrias causas.
Eles poderiam ser divididos em dois grandes grupos. Os transtornos da aquisio
das memrias declarativas, que tm forte influncia dos eventos sensitivos, e os
da aquisio das memrias de procedimento, estes ltimos com um maior
contingente de eventos motores.
Esta evidentemente uma diviso arbitrria. Um ato motor indissocivel
de uma informao sensitiva. Os eventos psicomotores sempre sero um misto de
informaes sensitivas e motoras. As praxias dependem das gnosias e vice-versa.
Ao analisarmos em detalhes os transtornos da aquisio das memrias
declarativas, do ponto de vista didtico, o mais adequado seria seguir a via
aferente dos cinco sentidos. Se houver, por exemplo, uma hipoacusia ou at uma
surdez, ficam prejudicadas as aquisies das memrias auditivas, quer sejam de
contedo verbal, quer sejam de contedo no verbal.
Por suposto, o mesmo raciocnio fica vlido para qualquer diminuio ou
ausncia na performance dos demais sentidos, tais como viso, olfato, paladar e
tato. Qualquer deficincia em um ou mais dos sentidos por certo trar transtorno
na aquisio das memrias declarativas correspondentes.
Na primeira consulta neuropeditrica de uma criana com dificuldade do
aprendizado, importante obter-se a certeza de que a criana oua e enxergue
adequadamente. Os problemas auditivos podem ser suspeitados na poca da
aquisio da linguagem. Os visuais, por seu turno, podem passar despercebidos.
Por isso, devem ser triados em todas as crianas que esto entrando na primeira
srie do ensino regular, com ou sem queixas de audio ou viso.
No processo formal de aprendizagem, ou seja, aquele que ocorre nas
salas de aula do ensino regular, possivelmente tenha equivalente importncia
tanto as informaes visuais quanto as auditivas, com suas respectivas memrias.
Evidentemente que o tato e os demais sentidos tambm complementam os
aprendizados, notadamente aqueles mais precoces da criana, que transcorrem
na sua primeira infncia e na fase pr-escolar, tais como, conhecer texturas e
cheiros, por exemplo.
No h de se desconsiderar a importncia das memrias de procedimentos,
obtidas atravs do treinamento motor. Os primeiros jogos motores, o manuseio do
lpis e da tesoura, o treinamento da escrita, etc.
Ocorre que quase toda a informao manuseada na escola vem codificada
no que chamamos de linguagem. Portanto, passa a ser imprescindvel o domnio
da arte da leitura e da escrita, caso contrrio, toda a performance acadmica
posterior poder vir a ser prejudicada.
hemisfrio cerebral direito inicia antes seu processo maturacional, fica mais tempo
exposto s eventuais injrias. Por isso as disfunes direitas so mais freqentes
do que as esquerdas.
A torpeza motora um dos trs tipos de disfuno hemisfrica direita,
caracterizada pela dificuldade da criana em mover-se no espao, tanto no
corporal como no espao grfico. Ocorrem dificuldades na integrao entre as
informaes que chegam, que so as gnosias, e as que devem sair aps um
processamento central, que so as praxias.
As crianas ditas torpes usualmente no tiveram nenhum retardo nos
marcos iniciais do desenvolvimento neuropsicomotor, pelo contrrio. Podem, por
exemplo, ter caminhado antes do esperado. Contudo, tropeam com freqncia e
derrubam coisas ao se movimentar. Quando comeam a manusear instrumentos,
o fazem de forma inadequada, tal como talheres, tesouras e lpis. Podem vestir
roupas ao contrrio e ter dificuldades nos jogos de bola e tambm nos de
construo.
Em realidade, fica difcil imaginar movimento sem o aporte sensorial, nem a
percepo sem que ocorra um movimento. Ao perceber, o SNC registra o
movimento ou as diferenas entre cada uma das informaes que vo se
sucedendo. Se no houver diferenas, pode no haver registro. Por isso, as
gnosias poderiam ser chamadas de gnosopraxias e as praxias de practognosias.
16.7.2 Transtornos da consolidao da memria
ROTTA, NT & RIESGO, RS. Autismo Infantil. In: ROTTA, NT; OHLWEILER, L;
RIESGO, RS (editores). Rotinas em Neuropediatria. Artmed: Porto Alegre. 2005.
p.161-72.
ROTTA, NT & RITTER, VF. Transtornos da Aprendizagem. In: ROTTA, NT;
OHLWEILER, L; RIESGO, RS (editores). Rotinas em Neuropediatria. Artmed:
Porto Alegre. 2005. p.141-46.
ROTTA, NT; BIANCHI NA; SILVA, AR. Retardo no desenvolvimento
neuropsicomotor. In: ROTTA NT; OHLWEILER, L; Riesgo, RS. Rotinas em
Neuropediatria. Artmed: Porto Alegre. 2005. p.17-25.
VIEIRA, MV; CERESR, KM; GAUER, GJC. Bases Biolgicas da Regulao do
Humor. In: KAPCZINSKI, F; QUEVEDO, J; IZQUIERDO, I (editores). Bases
Neurobiolgicas dos Transtornos Psiquitricos. Artmed:Porto Alegre. 2004. p.25163.