Neoconstitucionalismo - Artigo Científico - Revista Perspectiva
Neoconstitucionalismo - Artigo Científico - Revista Perspectiva
Neoconstitucionalismo - Artigo Científico - Revista Perspectiva
- LFG.
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KAMINSKI, M. M.
ROANI, A. R.
ABSTRACT: The way of conceiving and applying legal science throughout history has
changed. With the ascent of the bourguoisie and the revolutionary movements, the activity of
legislating had an impulse, with law being idealized as supreme and absolute, just because
society has spent decades under the free will of the sovereign. They understood that the
positivation of social life would restrain the arbitrary will of the interpreters, since the law
was the authentic text of the State himself. This conception of confusion between legal
science and the law has been rescinded at the Nuremberg Judgement (simbolically), where the
nazi who commited inumerous attrocities tried to defend themselves with the argument that
what they did was legitimous according to the positive law of Germany. The judges, however,
condemned them not by the law, but by legal science, giving birth to the new paradigm of
neocontitutionalism, which is guided by the principle persona human dignidad.
Key-words: Legalism. Legal Positivism. Constitution. Neoconstitutionalism.
Introduo
O tema central do presente artigo cientfico fazer uma anlise histrica e bibliogrfica
acerca dos modelos de pensamento jurdico positivismo-legalista e neoconstitucionalismo,
para desta forma, verificar se efetivamente na atualidade h ruptura do pensamento positivista
legalista e se existe um novo paradigma do neoconstitucionalismo, bem como qual o seu
marco simblico de surgimento e as suas formas de caracterizao.
O trabalho divide-se em dois subttulos, os quais possuem como funo a dissertao dos
modelos de pensamento positivista-legalista e neoconstitucionalista, para compreender cada
forma de pensamento e as mudanas ocorridas no carter do direito, bem como no processo
de quebra de paradigmas jurdicos.
O primeiro subttulo refere-se ao modelo de pensamento jurdico positivismo legalismo,
dissertando-se de forma sistemtica as etapas passadas por tal modelo (surgimento,
fundamentos, movimento codificador, entrada das Constituies, pirmide de kelsen) para
compreender-se os fundamentos, bem como a forma como o direito era interpretado e
aplicado.
O segundo subttulo trata sobre a nova forma de pensar e aplicar o direito atravs do
neoconstitucionalismo, especialmente, as suas caractersticas, seu marco simblico, bem
como o ativismo judicial (Poder Judicirio como sujeito ativo na compreenso e interpretao
das leis).
O presente trabalho acadmico de suma importncia tendo em vista que os temas
abordados traro uma melhor compreenso acerca dos modelos positivista-legalista e
neoconstitucionalista, os quais so as formas de pensar o direito nos ltimos sculos,
consequentemente trar uma viso global do sistema jurdico o que ajudar a pensar
melhorias e articular novas crticas.
Modelo Positivista-Legalista
historicismo,
conceitualismo,
neopositivismo,
etc.)
relacionadas
ao
positivismo jurdico no decorrer dos anos, mas apenas fazer uma abordagem geral acerca
dessa teoria, bem como a sua aplicabilidade.
O Cdigo Civil Francs de 1804 foi o grande marco das estruturas jurdicas relacionadas
sistematizao do direito escrito, e influenciou sem dvida os padres de legalidade para o
surgimento da mentalidade positivista, inerente at hoje no pensamento jurdico.
Anteriormente Revoluo Francesa, ainda no momento do Absolutismo, o Estado j dava
grande importncia para as leis escritas, entretanto no existiam bices as outras fontes do
direito, como os princpios gerais, os julgados, doutrina e costumes, bem como inexistia uma
sistematizao das leis, at porque ao Estado no interessava legislar minuciosamente acerca
das relaes sociais.
No entanto, com a vitria das revolues burguesas, deixou-se de lado este carter de
hegemonia das leis para uma concepo de reductio ad unum, desencadeando no que afirma o
historiador portugus Antnio Hespanha (1993, p. 33) de projeto de reduo do pluralismo,
ou seja, tentativa de reduzir todo o direito social ao direito do Estado e todo o direito estatal
lei.
Diante de tais situaes, conquistou-se o monoplio da legislao estatal sobre o direito, ou
seja, resume-se o direito lei. Alm do direito estatal, admitia-se discretas referncias ao
direito natural, mas no ao direito romano e cannico, em razo de serem incompatveis com
os ideais iluministas.
Ainda, com a Revoluo Burguesa e os interesses burgueses nas regulamentaes atinentes
a segurana jurdica, especialmente em querer garantir que os contratos devem ser cumpridos
e que o Estado apenas deve-se limitar a regras gerais no que tange aos negcios privados.
Dentro desse raciocnio de unificao e racionalizao, houve uma sistematizao do direito,
mais conhecido como movimento codificador. (COSTA, 2008, p. 175).
Em virtude da importncia dada segurana jurdica, que enseja o desenvolvimento do
positivismo formalista, desencadeando em afirmativas como a de Manuel A. Domingues de
Andrade (1987, p. 54):
Na Frana (e, na verdade, com maior razo, visto ser este pas a ptria maior do
iluminismo) a idia de codificao fruto da cultura racionalista, e se a pde se
tornar realidade, precisamente porque as idias iluministas se encarnaram em
foras histrico-polticas, dando lugar Revoluo Francesa. , de fato,
propriamente durante o desenrolar da Revoluo Francesa (entre 1790 e 1800) que a
idia de codificar o direito adquire consistncia poltica.
Pode-se citar como exemplo, na Prssia, aps longo lapso temporal, entrou em vigor em
1794 o chamado direito territorial geral, um cdigo construdo a partir das idias
jusnaturalistas de Puffendorf e Wolff, que trazia a tona os dois blocos do direito, tanto o
privado como o pblico. Referido cdigo bastou-se a reduzir toda a atividade jurdica
aplicao da lei. Vale salientar que editou-se um decreto em 1798 o qual proibia a
interpretao de precedentes e comentrios de juristas, determinando ainda que se houvessem
dvidas acerca do direito, tais deveriam ser submetidas uma comisso legislativa para que
ela resolvesse a questo atravs de uma interpretao autntica. (WIEAKER, 1967, p. 376377).
Outrossim, a codificao francesa no apenas inaugurou a forma moderna de se constituir
o direito, ou seja, ligado ao Estado pelo poder poltico, como tambm fixou diversos
princpios no que tange as normas relacionados a ideologia liberal, base dos Estados de
Direito. Com a ascenso da burguesia (1800), os seus ideais basicamente voltados para o
liberalismo passaram a nortear a organizao dos Estados Ocidentais, ou seja, a defesa de um
governo de leis e no de homens, os valores da igualdade e liberdade, alm da limitao do
poder do Estado nos direitos naturais do indivduo. (COSTA, 2008, p. 177).
Diante do movimento codificador, nasce o Cdigo de Napoleo, dentre outros cdigos em
vrios pases ocidentais, no decorrer da dcada, criando uma nova realidade jurdica,
adequando-se ao contexto econmico (burgus) e social, alm do racionalismo dos filsofos.
O direito que anteriormente era buscado nos costumes locais ou no direito romano modificouse por meio de normas reguladas em cdigos unificando o direito de cada pas, os quais
regulavam exaustivamente as relaes sociais. Assim, o movimento dos cdigos significou a
concretizao das ideias jusnaturalistas de sistematizao, no entanto tambm marcou o
comeo de sua decadncia, pois a mentalidade positivista j estava implantada. (COSTA,
2008, p. 177-178).
Referida pirmide tem seu ponto alto na Constituio, que abre um campo de
deciso ao legislador, isto , dentro dos limites constitucionais ele toma suas
decises polticas no momento da elaborao das leis e, assim, vai construindo o
ordenamento jurdico; o juiz, num momento posterior, partindo do texto legal, tem
tambm um amplo campo de liberdade, sobretudo em sua interpretao, mas uma
liberdade tcnica, no poltica. O esquema kelseniano, desse modo, pode ser assim
resumido: o legislador est (formalmente) limitado pela lei maior, isto , no pode
ultrapassar as fronteiras constitucionais; caso isso ocorra, impe-se o controle
constitucional mediante a legislao negativa (declarao de inconstitucionalidade
da lei); as sentenas, por seu turno, caso ultrapassem o marco legal (dado pelo
legislador), esto sujeitas ao controle do segundo grau mediante recurso. Dentro
desse rgido sistema no cabe pensar em uma confrontao entre a sentena e a
Constituio.
[...] seguidor do mtodo do culto ortodoxo da lgica formal abstrata ditada pelo
legislador, em nada contribui para o Direito novo, prprio do pretor urbano da antiga
Roma, mais prximo a cada tempo da verdadeira justia, aquela coerente com os
direito naturais do povo, que o mais legtimo credor da prestao jurisdicional...
nos regimes autoritrios e corruptos o juiz formalista torna-se apenas um
instrumento de aplicao das leis de exceo.
Neoconstitucionalismo
torturei e matei porque assim ordenava a lei. E a lei a lei. Gesetz is Gesetz: Eis a
filosofia do positivismo jurdico, bradavam, impvidos, os jusnaturalistas. Sem a
considerao de valores superiores que devem guiar o direito, este corre o risco de
se transformar em uma ordem de opresso onde a norma jurdica, por ser jurdica,
possui um valor intrnseco, devendo ser obedecida incondicionalmente. Essa seria
ento a verdadeira herana do positivismo jurdico, que desprezando a evoluo de
valores jusnaturalistas como a igualdade e a liberdade, teria imposto regimes
polticos opressivos ou, pelo menos, justificado e legitimado as experincias
autoritrias da primeira metade do sculo passado.
Diante da crise do Estado de Direito Legal baseada na lei formal (positivismo), surge um
novo modelo de Direito, denominado neoconstitucionalismo, o qual possui como premissa a
dignidade da pessoa humana, no bastando mais ao pensador jurdico saber a lei escrita, mas
verificar que existem novas formas de interpretar, aplicar e pensar o direito.
O pensamento neoconstitucional
complementar
neoconstitucionalismo
(surgido
pelo
movimento
O Estado no mais totalmente absoluto na criao das leis, j que soberana a ele a
Constituio, a qual so submissas todas as normas criadas pelo Estado.
Na atualidade, o juiz funciona no s como legislador negativo, como tambm sujeito
derrogativo e interpretativo. Sendo que a Constituio o higher law (o direito mais alto)
quem comanda toda a produo jurdica legislativa. Portanto, o juiz por fora do controle de
constitucionalidade deve reconhecer a invalidade de qualquer lei que no esteja de acordo
com a Constituio.
De qualquer maneira, cabe ao Tribunal Constitucional o poder de dizer a ltima palavra em
nome do Poder Constituinte. Diante disso, deve este adotar os ensinamentos
neoconstitucionalistas, especialmente amparando a dignidade da pessoa humana como
preceito absoluto (respeitando tambm os tratados internacionais de direitos humanos e as
normas de direito supraconstitucional novos modelos posteriores ao constitucionalismo).
Zagrebelsky (1995, p. 13) reflete acerca da construo do constitucionalismo: o direito
constitucional um conjunto de materiais de construo, mas o edifcio concreto no obra
da Constituio enquanto tal seno de uma poltica constitucional que versa sobre as possveis
combinaes de materiais.
Com isso, a invaso do neoconstitucionalismo, faz nortear mesmo que implicitamente uma
certa poltica constitucional que no contempla apenas decises judiciais, mas adentra em
todas as esferas de poderes, as quais ensejaro um aperfeioamento no direito e
consequentemente para a sociedade, especialmente no mbitos dos direitos de liberdade
individuais.
Consideraes Finais
formas
de
aplicar
direito,
especificamente
neoconstitucionalismo
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