Oscilações Harmonicas
Oscilações Harmonicas
Oscilações Harmonicas
O Oscilador Harmnico
Osciladores mecnicos
Estamos cercados por osciladores. Almofadas, colches, redes e cadeiras de balanos so exemplos
bvios, j que essas peas so projetadas para embalar ou para suavizar quedas ou pancadas.
Mas h muitos outros: os tampos de mesa, os filamentos de lmpada, os fios de cabelo, as pontas
das orelhas, as cordas vocais, as cordas dos violes, os cordes de sapato, as molas dos brinquedos,
as pernas dos culos, as rguas, as folhas das revistas, os colares, os fios dos telefones, as bolas de
futebol e os elsticos so apenas alguns outros exemplos de objetos ou rgos que se deformam
quando pressionados e que, se abandonados em seguida, oscilam.
Estamos imersos em um mar de osciladores, e fcil entender por qu.
Sistemas que evoluem por sua prpria conta tendem ao equilbrio estvel. Isso acontece
simplesmente porque difcil sair de tal situao. Uma bola macia solta em um terreno irregular
ir girar e avanar at encontrar uma depresso um ponto de equilbrio de onde somente
sair com a ajuda de uma fora externa. Em torno de ns, como consequncia, h inmeros
sistemas em ou quase em equilbrio. E nas vizinhanas de um ponto de equilbrio estvel, todo
sistema tende a oscilar. Vejamos por qu.
A Figura 1a mostra o grfico da energia potencial U de uma partcula, que se move em uma
dimenso em funo de sua posio X. Uma vez que o ponto A um mnimo da energia potencial,
isto , uma vez que a energia potencial nos pontos imediatamente direita e imediatamente
esquerda de A superior a U(XA), a posio X = XA de equilbrio estvel: se a partcula estiver
parada em X = XA, sua energia ser E = U(XA), o que significa que insuficiente para ela se mover
para a direita ou para a esquerda. Assim, depositada em X = XA, a partcula permanecer em
equilbrio estvel.
Por outro lado, como passa por um mnimo em A, nas vizinhanas de X = XA, a energia potencial
pode ser aproximada por:
(1)
onde uma constante escolhida para ajustar a curvatura de U(X) perto do ponto XA, como
indicado pela Figura 1b. Se agora (i) definirmos a posio x = X XA, isto , se medirmos a posio
a partir do ponto de equilbrio; (ii) definirmos a energia potencial (x) = U(X) U(XA), isto , se
k
U ( x) = x 2
2
(2)
que a energia potencial de uma mola de constante k, desde que, como na Figura 2, a posio x
seja medida do comprimento relaxado 0 da mola.
Se a partcula cujo potencial est desenhado na Figura 1 tiver massa m e estiver perto do ponto
de equilbrio A, a sua dinmica ser quase idntica do sistema mostrado na Figura 2 quase,
porque a parbola na Equao (1) ajusta muito bem a curva U(X) nas proximidades de XA, mas a
qualidade do ajuste diminui quando X se afasta de XA. Um sistema qualquer perto de um ponto de
equilbrio estvel pode ser sempre aproximado por um oscilador harmnico, o qual, por isso, o
mais importante elemento mecnico.
Se for deslocada do ponto de equilbrio, a massa da Figura 2 ser puxada de volta pela fora da
mola. Para encontrar a acelerao que essa fora provoca, basta recorrer segunda lei de Newton.
O diagrama da Figura 3 identifica as trs foras que agem sobre a massa, e vemos que:
F + P + N = ma
(3)
F = ma
Na Figura 3, escolhemos uma posio positiva, x > 0. Com isso, o mdulo da fora F igual a kx,
e a Equao (4) pode ser escrita:
a=
k
x
m
(5)
Essa a equao que descreve o movimento do oscilador harmnico. Uma vez que a acelerao
tem dimenso de [distncia/tempo] e a posio tem dimenso de [distncia], a frao k/m que
multiplica a posio no lado direito tem dimenso [1/tempo], ou seja, de [frequncia]. Por isso,
costume chamar essa razo de 0, com o que a Equao (5) assume a forma:
a = 0 x
(6)
onde
0 =
k
m
(7)
Caractersticas do movimento
O movimento da massa m limitado direita e esquerda pelos pontos de retorno, PD e PE,
respectivamente. Entre um extremo e o outro, a partcula oscila incessantemente. De PD at o ponto
de equilbrio x = 0, ela ganha energia cintica. Entre x = 0 e o ponto de retorno da esquerda, PE, ela
converte em energia potencial toda a energia cintica que ganhou. Depois de parar um instante em
PE, ela comea a retornar e recuperar energia cintica at x = 0. Em seguida, perde energia cintica
at parar em PD. Da por diante, o movimento se repete. Ele cclico, portanto. Cabe perguntar
quanto tempo dura um ciclo e, mais importante, do que depende esse tempo T, conhecido como
perodo do movimento. Sem pensar muito, poderamos responder que ele deve depender de vrias
condies: da massa m, da constante da mola k, da posio inicial e da velocidade inicial. A anlise
matemtica simples da prxima seo mostrar, porm, que o perodo depende somente da razo k/m.
Movimento Harmnico
A energia mecnica do oscilador da Figura 2 a soma de suas energias cintica e potencial:
E=
m 2 k 2
v + x
2
2
(8)
A2
E=k
2
(9)
u=
x
A
(10)
de forma que, ao se mover, a partcula oscile entre u = 1 (ponto PD) e u = 1 (ponto PE).
Da mesma forma, visto que a frequncia 0 tem dimenso de [1/tempo], podemos definir um
tempo adimensional
= 0t
(11)
v
A0
(12)
Da Equao (10) temos x = Au, e da Equao (12), v = k / m A. Substituindo essas duas igualdades na Equao (8), resulta:
E=
k 2 2
A ( + u 2 )
2
(13)
(14)
A Figura 5 interpreta graficamente essa curiosa relao. A energia potencial U(x) dada pela
Equao (2), U(x) = kx/2. Dividida pela energia mecnica E = kA/2, essa igualdade se escreve
U ( x) x 2
= =
u2
2
E
A
(15)
A Equao (14) nos diz que, assim como na Figura 4 a energia cintica a separao entre a
energia potencial e a energia mecnica, na Figura 5 o quadrado da velocidade adimensional w
a separao entre o grfico da energia potencial e a reta horizontal que corta o eixo vertical em
U/E = 1. Esse resultado muito importante, porque mostra que o movimento do oscilador segue
um padro universal.
Na prtica, dado um oscilador como o da Figura 2 e dadas sua posio inicial x(t = 0) = x0
e sua velocidade inicial v(t = 0) = v0, podemos imediatamente calcular sua energia mecnica
E = mv0/2 + kx0/2. Igualando E a kA/2, obtemos ento a amplitude A. De posse de A e de E,
podemos construir um grfico como o da Figura 5, isto , podemos rotular os eixos horizontal
(u = x/A) e vertical (U/E).
Como j discutido na Se. Caractersticas do movimento, podemos acompanhar o movimento
da partcula. Como indicado na Figura 5, comeamos na posio inicial P0. Se a velocidade inicial
for positiva, a partir de P0 a partcula se deslocar at o ponto de retorno PD; ento, parar; recuar
para a esquerda at alcanar o ponto de retorno PE; parar de novo; e avanar at o ponto P0,
momento em que o ciclo se completar.
Uma vez que a parbola na Figura 5 sempre a mesma e, em cada posio u ao longo do
movimento, a Equao (14) especifica a velocidade w, o tempo adimensional = ciclo que a partcula
leva para completar o ciclo sempre o mesmo, independentemente da posio e da velocidade
iniciais. Embora ainda no conheamos ciclo, j sabemos que ele um nmero adimensional e
universal: sejam quais forem a mola, a massa, a velocidade inicial e a posio inicial, a curva na
Figura 5 ser a mesma, e o tempo T necessrio para completar um ciclo ser sempre dado por:
0T = ciclo
(16)
Uma vez que 0 = k / m independe das condies iniciais, podemos concluir que o tempo
necessrio para completar um ciclo o perodo T do movimento s depende da razo k/m.
Se a amplitude for grande, a massa ter de percorrer grande distncia durante um ciclo, mas sua
velocidade mdia ser grande; se a amplitude for pequena, a massa se deslocar pouco, mas sua
velocidade ser pequena. O perodo razo entre distncia e velocidade mdia ser sempre o mesmo.
Dizemos que o movimento do sistema massa-mola harmnico, porque ele tem um ritmo
caracterstico, ditado exclusivamente pelo quociente k/m. Deslocado muito ou pouco da posio
de equilbrio, ele oscilar em torno dela em ciclos de durao T = ciclo/0. Nossa prxima tarefa
encontrar essa constante universal ciclo.
(17)
v=
=R
t
t
(18)
v = R
(19)
ou seja,
Para se manter sobre a trajetria circular de raio R, a partcula deve estar sujeita a uma acelerao
v2
a=
R
(20)
a = 2R
(21)
A acelerao a sempre dirigida para o centro da trajetria. Assim, como indicado na Figura 7,
sua componente horizontal
ax = Rcos
(22)
Da Figura 6, por outro lado, vemos que x = Rcos , de forma que a Equao (22) pode ser escrita
ax = x
(23)
Uma vez que ax a segunda derivada da posio x, essa igualdade equivalente Equao (6).
A componente horizontal do movimento circular , portanto, anloga ao oscilador harmnico.
Para explorar essa analogia, precisamos identificar cada grandeza fsica no movimento circular
com um parmetro do oscilador harmnico. J conseguimos identificar a posio horizontal no
movimento circular com a posio do oscilador harmnico, e a comparao da Equao (6) com a
Equao (23) permite identificar a velocidade angular no movimento circular com a frequncia
0 do oscilador harmnico. Falta encontrar no sistema massa-mola da Figura 2 grandezas que
possam ser identificadas com o raio R e com o ngulo inicial 0 do movimento circular.
Para isso, dispomos de dois dados adicionais: a posio e a velocidade do oscilador no instante
inicial, x(t = 0) = x0 e vx(t = 0) = v0. Para aproveitar essa informao, precisamos (i) determinar a
posio horizontal x e a componente horizontal vx da velocidade em funo do tempo no movimento
circular; e (ii) impor sobre ela as condies iniciais.
A primeira parte desse roteiro simples. Da Figura 6, vemos que
x(t) = Rcos
(24)
(25)
ou seja,
vx = 0Rsen
(26)
v = 0Rsen (0 + 0t)
(27)
x0 = Rcos 0
(28)
v0 = R0sen 0
(29)
v0
= Rsen 0
0
(30)
v0
(31)
R = x + 0
A energia potencial da mola U(x) = kx/2 [Equao (2)] e a energia cintica da massa
K = mv/2. Uma vez que 0 = (k/m), podemos escrever:
2
0
K=
k v2
02 2
(32)
E=
k v02
x02
+
k
02 2
2
(33)
direita, k/2 pode ser fatorado. A Equao (31) mostra ento que:
E=
k 2
R
2
(34)
R=A
(35)
10
tan 0 =
v0
0 x0
(36)
A Figura 8 interpreta as Equaes (31) e (32). Dadas a posio inicial x0 e a velocidade inicial v0,
podemos associar a elas o ponto P0 indicado na figura, cujas coordenadas cartesianas so x0 e v0/0.
O Teorema de Pitgoras mostra que a distncia desse ponto origem R, dada pela Equao (31).
Ele se encontra, portanto, sobre a circunferncia de raio R desenhada na figura, que a trajetria do
movimento circular anlogo ao movimento do oscilador harmnico da Figura 2. Da Equao (32),
vemos que 0 o ngulo entre o vetor que vai da origem ao ponto P0 e o eixo x.
O movimento circular tem incio no ponto P0 e prossegue com velocidade angular 0 no sentido
anti-horrio. A projeo horizontal desse movimento descreve a posio x(t) da massa da Figura 2.
x = Acos (0t + 0)
(37)
vx = 0Asen (0 + 0t)
(38)
e a Equao (27),
As Equaes (37) e (38) nos convidam a recapitular a discusso do movimento oscilatrio feita
na Se. Caractersticas do movimento. A posio x e a velocidade v da partcula oscilam entre A e A
e entre A0 e A0, respectivamente. Assim, tanto a razo u = x/A quanto a razo w = v/0A variam
entre 1 e 1. A Figura 10 mostra esses dois quocientes em funo de 0t. A partir do valor inicial
u(0) = x0/A = cos 0, a varivel u cresce at o mximo, no ponto indicado pelo rtulo D no grfico.
A situao da massa nesse instante indicada pelo painel D na Figura 10. Nesse momento, a
massa converteu toda a sua energia mecnica em energia potencial; como a sua energia cintica
nula, o grfico da velocidade cruza o eixo horizontal.
11
Figura 10: Posio e velocidade do sistema massa-mola da Figura 2 para os instantes assinalados
no eixo horizontal da Figura 9.
Em seguida, a mola puxa a massa para a esquerda e esta ganha velocidade at alcanar o ponto
de equilbrio C, processo em que transforma toda a sua energia potencial em cintica. Nesse ponto,
u = 0 enquanto w = 1. Como indicado no painel C da Figura 10, a velocidade dirigida para a
esquerda. Ainda que nesse ponto a fora elstica seja nula, a inrcia mantm a massa em movimento para a esquerda. Ao entrar na regio x < 0, ela fica sujeita a uma fora elstica dirigida para a
direita, que reduz sua velocidade. A energia cintica aos poucos convertida em energia potencial
at que, na situao do painel E da Figura 10, a massa pare com u = 1.
A fora da mola desloca agora a massa para a direita. Sua velocidade aumenta at ser mxima
(w = 1) no ponto de equilbrio u = 0, como mostra o painel B da Figura 10. Mais uma vez, a inrcia
mantm o movimento, e a energia cintica acumulada entre E e B passa a se transformar em energia
potencial at a massa voltar e parar no ponto D. Antes disso, porm, ela passa pelo ponto de partida
P0, no instante t = T, que marca o incio do segundo ciclo, idntico ao primeiro.
Na Figura 6, esse instante corresponde passagem pelo ponto P0, aps a partcula ter completado uma volta. Uma vez que a partcula gira com velocidade angular 0, ela volta a P0 no instante
t = T quando = 0 + 0T for igual a 0 + 2, isto , para
0T = 2
(39)
12
Identificamos assim a constante adimensional ciclo, que encontramos na Equao (16). Vemos
que ela vale 2. O perodo T da oscilao, o tempo que a partcula leva para voltar ao ponto de
partida e para o movimento se repetir, vale
T=
2
0
(40)
Lembrando que 0 = k / m , vemos que, como sugerido pela discusso na Se. Movimento
Harmnico, o perodo independe das condies da amplitude do movimento ou mesmo das
condies iniciais. Depende somente de 0. Para o sistema massa-mola da Figura 2, essa frequncia
0 = k / m . Para cada um dos inmeros outros sistemas que a Se. Osciladores mecnicos
identificou com a Equao (6), ela estar relacionada com grandezas fsicas do sistema. Para um
pndulo, por exemplo, a frequncia 0 = g / L, onde g a acelerao da gravidade e L, o comprimento do pndulo. Fixadas tais grandezas, em cada caso o perodo ser fixo. Perto de um ponto de
equilbrio estvel, qualquer sistema oscila harmonicamente.
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Botes
Indica pop-ups com mais informaes.
Crditos
Este ebook foi produzido pelo Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada (CEPA), Instituto de Fsica da Universidade de So Paulo (USP).
Autoria: Gil da Costa Marques.
Reviso Tcnica e Exerccios Resolvidos: Paulo Yamamura.
Coordenao de Produo: Beatriz Borges Casaro.
Reviso de Texto: Marina Keiko Tokumaru.
Projeto Grfico e Editorao Eletrnica: Daniella de Romero Pecora, Leandro de Oliveira e Priscila Pesce Lopes de Oliveira.
Ilustrao: Alexandre Rocha, Aline Antunes, Benson Chin, Camila Torrano, Celso RobertoLoureno, Joo Costa, Lidia Yoshino,
Maurcio Rheinlander Klein e Thiago A. M. S.
Animaes: Celso RobertoLoureno e Maurcio Rheinlander Klein.
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