Ttulo: Introduo Energia Elica

Autor: Prof. Danilo Lima

A. Introduo
Recentemente, entre o final do ano de 2011 e o incio do ano de 2012, o planeta Terra atingiu a
marca de 7 bilhes de habitantes e estimativas da Organizaes das Naes Unidas preveem que a
populao mundial ultrapasse a marca de 10 bilhes em 2100 (DESA, 2011). Do ponto de vista
energtico, esses nmeros levam a uma simples concluso: a demanda por energia nunca foi to
grande e continuar a crescer por alguns anos antes de atingir seu pico.
Durante sua histria, o homem sempre se valeu de inmeras fontes energticas. Como exemplo, a
Figura 1 mostra a evoluo das alternativas energticas utilizadas nos Estados Unidos de 1775 a
2009. Em cada momento, diferentes formas de energia desempenharam importante papel na
matriz energtica daquele pas.
45

Energia [1015 Btu]

40
35

Carvo

30
25

Gs Natural

20

Petrleo

15

Hidrulica

10

Madeira

Nuclear

0
1775

1800

1825

1850

1875

1900
Ano

1925

1950

1975

2000

2025

Figura 1 Consumo de energia nos Estados Unidos por fonte. Fonte: (EIA, 2011)

A demanda mundial por energia vem crescendo ano aps ano e os chamados combustveis fsseis
tm representado a maior parte das fontes utilizadas para suprir esta demanda. Somente em
2011, o consumo de energia primaria cresceu 2,5%. Este nmero menor que o crescimento do
ano anterior mas est prximo mdia histrica (BP, 2012). A Figura 2 abaixo mostra o

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crescimento do consumo de energia mundial entre 1985 e 2011 bem como a participao das
diversas fontes primrias de energia utilizadas.

Figura 2 Consumo mundial de energia primria por fonte. Fonte: (BP, 2012)

Entretanto, a utilizao continuada destes combustveis vem causando preocupaes diversas na

sociedade. De um lado, existe um consenso mundial de que a emisso de dixido de carbono
proveniente da queima de combustveis fsseis contribui para a elevao da temperatura global
mdia e, consequentemente, para o aquecimento global. De outro lado, vem aumentando a
percepo de que tais combustveis tm taxa de produo sensivelmente mais lentas que sua taxa
de consumo, o que pode brevemente acarretar em escassez destes recursos.
Por fim, com o passar dos anos, a distribuio geogrfica dos recursos energticos acabou gerando
uma dependncia de algumas regies (ou ainda pases) que apresentam limitaes de tais
recursos em relao a outras, onde so abundantes. Um bom exemplo desse fato foram as crises
do petrleo na dcada de 70.
Nesse contexto, comearam a surgir as formas modernas de aproveitamento das energias
renovveis, como energia elica, solar trmica e fotovoltaica, entre outras.
B. Histria da Energia Elica
Juntamente com a energia hidrulica, o vento a fonte de energia mais antiga empregada pelo ser
humano. Evidncias histricas apontam para seu uso h, pelo menos, mil anos.

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Apesar de no existir nenhuma evidncia concreta quanto ao seu uso mais antigo, acredita-se que
a primeira forma de utilizao da energia elica tenha sido em barcos vela para navegao no rio
Nilo. Evidncias mais concretas mostram que j no sculo VII a.C. na Prsia se utilizavam turbinas
elicas de eixo vertical para a moagem de gros e bombeamento de gua (Ricardo Dutra, 2008). O
modelo desta turbina apresentado na Figura 3.

Figura 3 Modelo de turbina elica usada pelos Persas. Fonte: Wikipedia

J nos sculos XI e XII, as turbinas para aproveitamento da energia elica se difundiram na Europa
no retorno das Cruzadas. Foi a partir do sculo XII que o modelo de eixo horizontal se popularizou
e evolui, sendo empregado em diversas atividades at o sculo XIX, como drenagem de terras (nos
Pases Baixos), produo de leos vegetais, fabricao de papel e processamento de madeiras.
Com o advento da Revoluo Industrial e da mquina a vapor, a tecnologia de turbinas elicas
sofreu um grande declnio. Mesmo assim, o emprego destas turbinas no bombeamento de gua em
reas rurais se mostrou constante, sendo aplicado ainda hoje em diversas partes do mundo.
J no final do sculo XIX, teve incio o uso de turbinas elicas para a gerao de energia eltrica. A
primeira evidncia de uso nesse sentido vem da Esccia, em 1887. A partir de ento, iniciou-se a
escalada para o desenvolvimento de maiores turbinas, com o intuito de se exportar eletricidade
para a rede eltrica.
O desenvolvimento das turbinas elicas continuaram at o fim da Segunda Guerra Mundial. Deste
ponto em diante, o acesso a combustveis fsseis passou a ser confivel o bastante para, mais uma
vez, causar uma queda no emprego de turbinas elicas.

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Entretanto, a energia elica continuou sendo usada e pesquisada em alguns locais. Foi na
Dinamarca onde as turbinas elicas mais tiveram avanos. No ano de 1978, neste mesmo pas, a
primeira turbina com trs ps na classe de megawatt foi instalada, e continuou em funcionamento
por 34 anos. Comprovado o sucesso, surgiu uma demanda pelo Conceito Dinamarqus de turbinas
elicas.

Dinamarca, 1891

Rssia, 1931

EUA, 1942

Reino Unido, 1956

Frana, 1958

Alemanha, 1982

Figura 4 Turbinas elicas atravs dos anos. (PUCZYLOWSKI, 2010)

C. Energia Elica pelo Mundo

As Figuras seguintes apresentam os nmeros do setor elico no mundo. Os dados apresentados
foram obtidos junto ao Global Wind Energy Council (www.gwec.net).
A Figura 5 e a Figura 6 apresentam os dados de turbinas elicas instaladas no mundo desde 1966,
em nmeros acumulados e anuais, respectivamente. Nota-se um rpido crescimento no nmero
total de instalaes. No entanto, percebe-se que nos ltimos anos as instalaes anuais
mantiveram patamar de leve crescimento.

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Figura 5 Capacidade instalada acumulada mundial entre 1966 e 2012. Fonte: (GWEC, 2013)

Figura 6 Capacidade instalada anual mundial entre 1966 e 2012. Fonte: (GWEC, 2013)

A Figura 7 abaixo apresenta o nmero de instalaes entre 2004 e 2012 divididos entre as
diferentes regies mundiais. Nesse grfico fica evidente a rapidez com que a sia tm crescido
nesse setor, acompanhando tendncia geral de desenvolvimento.

Figura 7 Capacidade instalada anual por regio. Fonte: (GWEC, 2013)

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Para corroborar o exposto na Figura anterior, a Figura 8 abaixo apresenta os pases com maior
nmero de turbinas elicas instaladas, tanto em novas instalaes como em valores acumulados.

Romenia;
923; 2%
Resto do
Mundo;
6.385; 14%

Canad;
935; 2%
Brasil;
1.077;
2%
Espanha;
1.122; 3%

China;
13.200;
30%

Itlia;
1.273;Reino
3%Unido;
1.897;
4% ;
ndia
2.336; 5%

EUA;
13.124;
29%

Alemanha;
2.439; 6%

(a)

Portugal;
4.525; 2%
Canad; 62;
0%
Frana;
7.196; 3%

Resto do
Mundo;
39.853; 14%

Itlia; 8.144;
3%
Reino Unido;
8.445; 3%

China;
75.564; 27%

ndia;
18.421; 7%
Espanh
a;
22.796; Alemanha;
8% 31.332; 11%

EUA;
60.007; 22%

(b)
Figura 8 Instalaes em 2012. Valores em MW e percentuais. (a) Pases com os dez maiores nmeros de novas
instalaes. (b) Pases com os dez maiores nmeros acumulados de instalaes.

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D. Balano Gerao-Demanda e Energia Eltrica

Em grandes sistemas eltricos, como uma regio ou um pas, deve-se ter em mente que toda
unidade de energia consumida deve ter sido produzida naquele mesmo instante. Isto ocorre pois
ainda no h nenhum tipo de armazenamento de energia eltrica em larga escala. Logo, o controle
de tal sistema deve estar sempre atento e pronto para suprir toda a demanda que venha a ocorrer.
Felizmente existe um indicador natural para esse controle: a frequncia da rede eltrica.
A transmisso de energia eltrica em sistemas de potncia acontece em corrente alternada, com
amplitude e frequncia previamente definidas. No Brasil, a amplitude pode mudar dependendo da
regio. Entretanto a frequncia deve sempre ser 60 Hz. Quando a demanda diminui e h mais
energia gerada do que consumida, a frequncia aumenta. Quando a demanda cresce e excede a
gerao, a frequncia do sistema diminui. A Figura 9 apresenta uma representao grfica deste
conceito atravs de uma balana.

Figura 9 Balana representando o equilbrio entre demanda e gerao e efeito na frequncia do sistema.

Desta forma, para equilibrar a demanda e a gerao de energia, deve-se sempre observar a
frequncia do sistema. Quando a frequncia aumenta, deve-se diminuir a gerao (por exemplo
reduzindo a energia produzida pelos geradores ou at mesmo desligando uma usina) restaurando
o equilbrio. Entretanto, quando a demanda cresce, necessrio que haja uma reserva de energia
disponvel para ser acionada naquele mesmo instante. Por isso, as usinas geradoras devem
sempre operar em uma faixa abaixo da potncia nominal, de forma que possam aumentar sua
gerao caso necessrio.
Conclui-se ento que, para restaurar o equilbrio gerao-demanda, a usina geradora dever
sempre ter alguma fonte de energia primria adicional disponvel.

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Tomemos a Figura 10 abaixo como exemplo. Ela apresenta a curva de carga de uma residncia em
um dia tpico bem como a gerao proveniente de energia elica na Alemanha (EEX, 2013; EWE
Netz, 2013). Nota-se que a carga e a gerao possuem padres bem distintos.
100%
80%
60%
40%
20%
0%
0:00

4:48

9:36
Dia Tpico

14:24

19:12

0:00

Gerao Elica

Figura 10 Curva de carga de um dia tpico e gerao de energia eltrica proveniente de energia elica do dia 5 de
fevereiro de 2013 na Alemanha. Fonte: (EEX, 2013; EWE Netz, 2013)

A partir do grfico acima, podemos concluir sobre a incapacidade das usinas elicas de fornecer
energia de reserva, pois depende de uma fonte que no armazenada.
Contudo, por mais que no possa servir de energia de reserva, a gerao de energia eltrica
atravs da converso da energia elica pode ser um importante complemento da matriz
energtica de um pas.
No caso do Brasil, onde h a predominncia da hidroeletricidade, a gerao elica pode ajudar a
conservar os nveis dos reservatrios das usinas hidreltricas, trazendo mais segurana de oferta
de energia na estao seca.
E. Gerao Distribuda
Devido possibilidade de ser modular e flexvel, sistemas elicos tm sido empregados no mundo
todo.
H alguns anos em alguns pases, j possvel que unidades consumidoras de energia possam
instalar pequenas centrais geradoras de energia eltrica e injet-la na rede de distribuio. Esta
a chamada gerao distribuda.

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Na Alemanha e em outros pases da Europa, foi adotado o sistema de feed-in tariff (tarifas prmio).
Nesse sistema, toda energia gerada na rede de distribuio deve ser comprada pela concessionria
de energia local a preos regulados e previamente ajustados (ABINEE, 2012).
Nos Estados Unidos, foi adotado o sistema de net metering (sistema de compensao de energia).
Nesse sistema, a energia injetada na rede utilizada para compensar a energia consumida. Ao final
de um determinado perodo, computa-se o balano de injeo e consumo e, havendo excedente de
gerao, so gerados crditos para serem abatidos no prximo perodo.
No ano de 2012, o Brasil aprovou legislao que regula a gerao distribuda, a Resoluo
Normativa N 482 de 17/04/2012, onde fica adotado o sistema de compensao de energia. Com
ela, fica institucionalizada no pas a gerao de energia eltrica pelas unidades consumidoras e
posterior injeo nas redes de baixa e mdia tenso (BRASIL, 2012).

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BIBLIOGRAFIA
ABINEE. Proposta para Insero da Energia Solar Fotovoltaica na Matriz Eltrica Brasileira.
[s.l.] Associao Brasileira da Indstria Eltrica e Eletrnica, jun. 2012.
BP. Statistical Review of World Energy 2012. Londres: BP, jun. 2012.
BRASIL. ANEEL. Resoluo Normativa 482. . 17 abr. 2012.
DESA. World Population Prospects The 2010 Revision Highlights and Advance Tables. New
York: Department of Economic and Social Affairs, United Nations, 2011.
DUTRA, R. Energia Elica - Princpios e Tecnologia. Rio de Janeiro: CRESESB, 2008.
EEX. Transparency in Energy Markets - Tatschliche Produktion Solar. Disponvel em:
<http://www.transparency.eex.com/de/daten_uebertragungsnetzbetreiber/stromerzeugung/tats
aechliche-produktion-solar>. Acesso em: 11 fev. 2013.
EIA. History of energy consumption in the United States, 17752009 - Today in Energy - U.S.
Energy
Information
Administration
(EIA).
Disponvel
em:
<http://www.eia.gov/todayinenergy/detail.cfm?id=10>. Acesso em: 9 fev. 2013.
EWE NETZ. Lastprofile (EWE NETZ GmbH).
netz.de/strom/1988.php>. Acesso em: 12 fev. 2013.

Disponvel

em:

<http://www.ewe-

GWEC. Global Wind Statistics 2012. Bruxelas: Global Wind Energy Council, 11 fev. 2013.
Disponvel em: <http://www.gwec.net/>. Acesso em: 15 fev. 2013.
PUCZYLOWSKI, J. Wind Energy Lecture Notes. University of Oldenburg, Germany, 2010.

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