Analise Real Vol 2 CEDERJ
Analise Real Vol 2 CEDERJ
Analise Real Vol 2 CEDERJ
Volume 2 - Mdulo 2
Apoio:
Hermano Frid
Material Didtico
ELABORAO DE CONTEDO
Hermano Frid
EDITOR
Vernica Paranhos
F898a
Frid, Hermano.
Anlise real. v. 2. / Hermano Frid. Rio de Janeiro: Fundao CECIERJ,
2010.
182p.; 21 x 29,7 cm.
ISBN: 978-85-7648-680-0
2010.2
Governador
Srgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho
Pref
acio
CEDERJ
Bibliograa
[1] Avila,
G.- Analise Matematica para Licenciatura; 2a edicao. Ed. Edgar
Bl
ucher, Sao Paulo, 2005.
[2] Bartle, R.G., Sherbert, D.R.- Introduction to Real Analysis; Third Edition. John Wiley & Sons, New York, 2000.
[3] Lima, E.L.- Analise na Reta; 8a edicao. Colecao Matematica Universitaria, Instituto de Matematica Pura e Aplicada-IMPA, 2006.
[4] Rudin, W.- Principles of Analysis; Third Edition. McGraw-Hill Kogakusha, Ltd., 1976.
Continuidade Uniforme
MODULO
2 - AULA 17
Introdu
c
ao
Nesta aula vamos apresentar o conceito de funcao uniformemente contnua
sobre um conjunto dado. Como veremos, trata-se de uma propriedade que
determinadas funcoes apresentam que e mais forte que a propriedade de
ser contnua sobre o mesmo conjunto. Estabeleceremos tambem dois resultados muito importantes relacionados com esse conceito: o Teorema da
Continuidade Uniforme e o Teorema da Extensao Contnua.
Fun
co
es Uniformemente Contnuas
Iniciaremos apresentando a denicao de funcao uniformemente contnua
que sera discutida subsequentemente.
Deni
c
ao 17.1
Diz-se que uma funcao f : X R R e uniformemente contnua em X se
para cada > 0 existe um = () > 0 tal que se x e x X satisfazem
|x x| < , entao |f (x) f (
x)| < .
Como podemos ver, a denicao anterior se assemelha muito com a
Denicao 14.1 de funcao contnua em x, com x podendo variar em todo
conjunto X. O ponto crucial que distingue a Denicao 17.1 da Denicao 14.1
e que o n
umero > 0 na Denicao 14.1 depende em geral nao apenas de > 0
mas tambem de x X. Ja na Denicao 17.1 o n
umero > 0 deve depender
somente de > 0! Ou seja, para que a funcao seja uniformemente contnua
1
CEDERJ
Continuidade Uniforme
ANALISE
REAL
em X, dado qualquer > 0, devemos ser capazes de encontrar um > 0 tal
que para todo x X se x V (
x), entao f (x) V (f (
x)).
Exemplos 17.1
(a) Se f (x) = 3x + 1, entao |f (x) f (
x)| = 3|x x|. Assim, dado > 0,
se tomarmos = /3, entao para todos x, x R, |x x| < implica
|f (x) f (
x)| < . Portanto, f (x) = 3x + 1 e uniformemente contnua
em R. Da mesma forma, vericamos que toda funcao am, isto e, da
forma f (x) = ax + b, com a, b R, e uniformemente contnua em R.
De fato, o caso a = 0 e trivial ja que a funcao e constante, e se a = 0,
como |f (x) f (
x)| = |a||x x|, dado > 0 podemos tomar = /|a|
para termos que se x, x R e |x x| < , entao |f (x) f (
x)| < .
(b) Consideremos a funcao f (x) = 1/x em X := {x R : x > 0} (veja
Figura 17.1). Como
|f (x) f (
x)| =
1
|x x|,
|x||
x|
2
2
|x x| < 2 < ,
2
x
x
Continuidade Uniforme
MODULO
2 - AULA 17
1
2
V (2)
V ( 12 )
V (2)
V ( 12 )
1
2
Figura 17.1: Dois gracos de f (x) := 1/x para x > 0. Observe que o
maximo e cada vez menor a` medida que x se aproxima de 0.
CEDERJ
Continuidade Uniforme
ANALISE
REAL
e |f (xn ) f (
xn )| 0 para todo n N. Como I e limitado, a sequencia
(xn ) e limitada e, pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass 8.5, existe uma subsequencia (xnk ) de (xn ) que converge a um certo x R. Como a xn b,
segue do Teorema 7.5 que a x b, isto e, x I. Tambem e claro que a
subsequencia correspondente (
xnk ) satisfaz lim xnk = x, ja que
|
xnk x| |
xnk xnk | + |xnk x|.
Agora, como f e contnua em I, f e contnua em x e, portanto, ambas as
sequencias (f (xnk )) e (f (
xnk )) tem que convergir a f (
x). Mas isso e absurdo
ja que |f (xn ) f (
xn )| 0 . Temos entao uma contradicao originada pela
hipotese de que f nao e uniformemente contnua em I. Conclumos da que
f e uniformemente contnua em I.
Fun
co
es Lipschitz
A seguir vamos denir uma classe especial de funcoes cuja propriedade
caracterstica implica imediatamente, como veremos, a continuidade uniforme de seus membros em seus respectivos domnios.
Deni
c
ao 17.2
Seja X R e seja f : X R. Diz-se que f e uma funcao Lipschitz ou que
f satisfaz uma condicao Lipschitz em X se existe uma constante C > 0 tal
que
|f (x) f (
x)| C|x x|
para todos x, x X.
(17.1)
Continuidade Uniforme
MODULO
2 - AULA 17
Teorema 17.3
Se f : X R e uma funcao Lipschitz, entao f e uniformemente contnua em
X.
Prova: Se a condicao (17.1) e satisfeita, entao, dado > 0, podemos tomar
:= /C. Se x, x X satisfazem |x x| < , entao
|f (x) f (
x)| < C
= .
C
Exemplos 17.3
(a) Se f (x) := x2 em X := (0, b), onde b > 0, entao
|f (x) f (
x)| = |x + x||x x| 2b|x x|
para todos x, x (0, b). Assim, f satisfaz (17.1) com C := 2b em X e,
portanto, f e uniformemente contnua em X.
Naturalmente, como f esta denida e e contnua no intervalo limitado fechado [0, b], entao deduzimos do Teorema da Continuidade Uniforme 17.2 que f e uniformemente contnua em [0, b] e, portanto, tambem
em X = (0, b). Aqui usamos o fato de que se X Y R e f e uniformemente contnua em Y , entao f e uniformemente contnua em X
(por que?).
(b) Nem toda funcao uniformemente contnua num conjunto X R e
Lipschitz em X!
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Continuidade Uniforme
ANALISE
REAL
|x x|
1
|x x|.
|f (x) f (
x)| = | x x| =
2
x + x
Logo, f e uma funcao Lipschitz em J com C = 12 e, portanto, segue do
Teorema 17.3 que f e uniformemente contnua em J.
Agora, X = IJ, f e contnua em X e IJ = {1}. Alem disso, se x I
e x J, entao x x. Assim, dado > 0, como f e uniformemente
contnua em I, existe 1 > 0 tal que se x, x I e |x x| < 1 ,
entao |f (x) f (
x)| < . Da mesma forma, como f e uniformemente
contnua em J, existe 2 > 0 tal que se x, x J e |x x| < 2 , entao
|f (x)f (
x)| < . Mais ainda, como f e contnua em 1, existe 3 > 0 tal
que se x, x V3 (1) = {y R : |y 1| < 3 }, entao |f (x) f (
x)| <
(por que?). Entao, tomando
:= min{1 , 2 , 3 },
deduzimos que se x, x X e |x x| < , entao |f (x) f (
x)| < (por
que?). Logo, f e uniformemente contnua em X.
O Teorema da Extens
ao Contnua
Vimos que se f e uma funcao contnua num intervalo limitado fechado
[a, b], entao f e uniformemente contnua em [a, b]. Em particular, se f e uma
funcao contnua em [a, b], entao f e uniformemente contnua no intervalo
limitado aberto (a, b) (por que?). No que segue, vamos provar uma especie de
recproca desse fato, isto e, que se f e uniformemente contnua no intervalo
limitado aberto (a, b), entao f pode ser extendida a uma funcao contnua
sobre o intervalo limitado fechado [a, b]. Antes porem vamos estabelecer um
resultado que e interessante por si so.
Teorema 17.4
Se f : X R e uniformemente contnua num subconjunto X de R e se (xn )
e uma sequencia de Cauchy em X, entao (f (xn )) e uma sequencia de Cauchy
em R.
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Continuidade Uniforme
MODULO
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CEDERJ
Continuidade Uniforme
ANALISE
REAL
formemente contnua em (0, b), qualquer que seja b > 0.
(b) A funcao f (x) := x sen(1/x) em (0, ) satisfaz limx0 f (x) = 0.
Fazendo, f (0) := 0, vemos que f assim estendida e contnua em [0, ).
Portanto, f e uniformemente contnua em (0, b), qualquer que seja
b > 0, ja que e a restricao ao intervalo aberto (0, b) de uma funcao
contnua em [0, b] e esta, por sua vez, e uniformemente contnua, pelo
Teorema da Continuidade Uniforme 17.2.
Exerccios 17.1
1. Mostre que a funcao f (x) := 1/x e uniformemente contnua em X :=
[a, ), para qualquer a > 0.
2. Mostre que a funcao f (x) := sen(1/x) e uniformemente contnua em
X := [a, ) para todo a > 0, mas nao e uniformemente contnua em
Y := (0, ).
3. Use o criterio da negacao da continuidade uniforme 17.2 para mostrar
que as seguintes funcoes nao sao uniformemente contnuas.
(a) f (x) := x2 , em X := [0, ).
(b) f (x) := cos(1/x2 ), em X := (0, ).
4. Mostre que a funcao f (x) := 1/(1 + x2 ) e uniformemente contnua em
R.
5. Mostre que se f e g sao uniformemente contnuas em X R, entao
f + g e uniformemente contnua em X.
6. Mostre que se f e g sao limitadas e uniformemente contnuas em X R,
entao f g e uniformemente contnua em X.
7. Se f (x) := x e g(x) := sen x, mostre que f e g sao ambas uniformemente contnuas em R, mas seu produto f g nao e funcao uniformemente
contnua em R. Por que o tem anterior nao e aplicavel a esse exemplo?
[Dica: Investigue os valores da funcao f g para as sequencias xn = 2n
e yn = 2n + 1/n.]
8. Prove que se f, g : R R sao uniformemente contnuas em R, entao
sua composta f g : R R e uniformemente contnua em R.
9. Prove que se f e uniformemente contnua em X R e |f (x)| k > 0
para todo x X, entao a funcao 1/f e uniformemente contnua em X.
CEDERJ
Continuidade Uniforme
MODULO
2 - AULA 17
CEDERJ
MODULO
2 - AULA 18
Introdu
c
ao
Nesta aula apresentaremos algumas extensoes u
teis do conceito de limite de uma funcao. A primeira dessas extensoes e o conceito de limite lateral
de uma funcao f a` direita e a` esquerda de um ponto de acumulacao x de
seu domnio X R. Essa nocao se reduz a` nocao usual de limite quando,
em lugar de considerarmos a funcao f denida em X, a consideramos como
denida em X (
x, ), no caso do limite a` direita, e X (, x), no caso
do limite a` esquerda.
A segunda extensao sera a introducao de limites + e de uma
funcao num ponto de acumulacao do seu domnio, que, por sua vez, tambem
se estende naturalmente a limites laterais. Apesar de + e nao serem
n
umeros reais e, portanto, essa nocao de limite nao corresponder a uma ideia
de convergencia aproximativa dos valores da funcao para um determinado
valor, no sentido da distancia na reta, trata-se de um conceito que exprime
uma visao bastante intuitiva. Mais especicamente, essa denicao exprime
a ideia natural de tendencia de crescimento (decrescimento) indenitivo dos
valores de uma funcao f (x) de modo regular, embora nao necessariamente
monotono, quando x se aproxima de um ponto de acumulacao x do domnio
de f .
11
CEDERJ
ANALISE
REAL
A terceira extensao sera a nocao de limite de uma funcao f (x) quando
x tende a + ou , no caso em que o domnio de f contem um intervalo
ilimitado do tipo (a, ) ou (, b), respectivamente. Essa nocao exprime
a ideia intuitiva de que os valores f (x) se aproximam mais e mais de um
determinado valor L a` medida que x cresce sem parar ou decresce sem parar.
Finalmente, essa u
ltima extensao do conceito de limite tambem admite, por
seu turno, uma extensao aos valores L = , assim como a nocao original
de limite e aquela de limites laterais.
Todas essas nocoes sao u
teis porque exprimem um comportamente especial de uma funcao quando x se aproxima unilateralmente ou bilateralmente
de um determinado ponto de acumulacao de seu domnio, ou quando x cresce
ou decresce indenitivamente. Em particular, elas sao u
teis quando queremos fazer um esboco do graco de uma dada funcao. Do ponto de vista
matematico elas nao acrescentam nenhuma diculdade particular a` analise
de questoes, em relacao a` nocao de limite de funcao ja estudada. Por isso
mesmo, a discussao que faremos aqui pode parecer um pouco tediosa por ser
em muitos aspectos repetitiva. Por outro lado, temos certeza de que voce
nao tera qualquer diculdade em assimilar rapidamente todas essas novas
nocoes.
Limites Laterais
A seguir damos a denicao de limite de uma funcao a` direita e a` esquerda de um ponto de acumulacao de seu domnio.
Deni
c
ao 18.1
Seja X R e seja f : X R.
(i) Se x R e um ponto de acumulacao do conjunto X (
x, ) = {x
X : x > x}, entao dizemos que L R e limite a` direita de f em x e
escrevemos
lim f = L ou lim f (x) = L
x
x+
x
x+
CEDERJ
12
x
x
MODULO
2 - AULA 18
x
x
(ii) Para toda sequencia (xn ) que converge a x tal que xn X e xn > x
para todo n N, a sequencia (f (xn )) converge a L.
Deixamos para voce como exerccio a formulacao e prova do resultado
analogo ao anterior para limites a` esquerda.
O seguinte resultado relaciona a nocao de limite de uma funcao aos
limites laterais. Sua prova e imediata levando em conta a reducao do conceito
de limites laterais ao de limite das funcoes f |X (
x, ) e f |X (, x).
Deixamos os detalhes da prova para voce como exerccio.
Teorema 18.2
Sejam X R, f : X R, e x R um ponto de acumulacao de ambos os
conjuntos X (
x, ) e X (, x). Entao lim f = L se, e somente se,
x
x
lim f = L = lim f .
x
x+
x
x
Exemplos 18.1
(a) A funcao f (x) := sgn(x) (veja Exemplo 12.3(b)) no ponto x := 0
constitui um dos mais simples exemplos de funcao que possui ambos os
13
CEDERJ
ANALISE
REAL
limites laterais em x, cujos valores, porem, sao distintos. Em particular,
como ja visto no Exemplo 12.3 (b), nao existe o limite de f em x.
Como f |(0, ) 1 e f |(, 0) 1 temos, claramente, lim f = 1
x0+
e lim f = 1.
x0
para t > 0,
(18.1)
que sera provada quando zermos o estudo analtico da funcao exponencial em aula futura. Apenas para saciar a curiosidade, mencionamos
que (18.1) e consequencia da identidade
t
e =
tn
n=0
n!
=1+
t
t2 t3
+ + + ,
1! 2! 3!
que pode ser usada para denir et , como veremos na referida ocasiao.
Segue de (18.1) que se x > 0, entao 0 < 1/x < e1/x . Logo, se tomarmos
xn = 1/n, entao f (xn ) > n para todo n N. Portanto, lim e1/x nao
x0+
existe em R.
x0
1
1
< x,
<
e1/x + 1
e1/x
Por outro lado, vimos em (b) que lim e1/x = 0. Segue entao do analogo
x0
14
MODULO
2 - AULA 18
1
2
15
CEDERJ
ANALISE
REAL
Limites Innitos
A seguir, como mencionamos no incio da aula, vamos denir limites
innitos.
Deni
c
ao 18.2
Sejam X R, f : X R e x R um ponto de acumulacao de X.
(i) Dizemos que f tende a quando x x e denotamos
lim f = ,
x
x
x
x
Com efeito, dado M > 0, seja := 1/ M . Segue que se 0 < |x| < ,
entao x2 < 1/M e assim 1/x2 > M , o que prova a armacao.
(b) Seja f (x) := 1/x para x = 0 (veja Figura 18.3). Entao se f1 :=
f |(0, ) e f2 := f |(, 0), temos limx0 f1 = e limx0 f2 = .
Em particular, f nao tende nem a , nem a , e nem possui limite,
quando x 0.
O fato de que lim f1 = e lim f2 = decorre do seguinte. Dado
x0
x0
M > 0, se := 1/M , entao 0 < x < implica f1 (x) > M e < x < 0
implica f2 (x) < M , o que prova que lim f1 = e lim f2 = ,
x0
x0
respectivamente.
O fato de e nao serem n
umeros reais faz com que a nocao de
limites innitos nao possa ser tratada da mesma forma como a nocao usual
de limite de uma funcao. Em particular, os resultados sobre operacoes com
limites e desigualdades, nao se estendem em geral aos limites innitos. De
modo informal e possvel saber em que situacoes aqueles resultados podem
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16
f (x) =
MODULO
2 - AULA 18
g(x) =
1
x2
1
x
x
x
deixar de ser validos para limites innitos. Nomeadamente, sempre que ocorrerem expressoes indenidas envolvendo os smbolos , como ou
/, os resultados validos para limites usuais podem nao mais valer para
limites innitos.
A seguir estabelecemos um resultado analogo ao Teorema do Sanduche
para limites innitos.
Teorema 18.3
Sejam X R, f, g : X R, e x R um ponto de acumulacao de X.
Suponhamos que f (x) g(x) para todo x X, x = x.
(i) Se lim f = , entao lim g = .
x
x
x
x
x
x
que se 0 < |x x| < e x X, segue que f (x) > M . Mas como f (x) g(x)
para todo x X, x = x, temos que se 0 < |x x| < e x X, entao
g(x) > M . Logo, lim g = .
x
x
Vimos no Exemplo 18.2 (b) que a funcao f (x) := 1/x nao tende nem
a nem a quando x 0, porem as restricoes de f a (0, ) e (, 0)
tendem a e , respectivamente, quando x 0. Isso e exatamente
o analogo da existencia dos limites laterais nitos para o caso de limites
innitos. Formalizamos essa nocao a seguir.
Deni
c
ao 18.3
Sejam X R e f : X R. Se x R e um ponto de acumulacao de
X (
x, ), entao dizemos que f tende a (respectivamente, ) quando
17
CEDERJ
ANALISE
REAL
x x+, e denotamos
lim f = (respectivamente, lim f = ),
x
x+
x
x+
se para todo M > 0 existe = (M ) > 0 tal que para todo x X com
0 < x x < , entao f (x) > M (respectivamente, f (x) < M ).
Analogamente, se x R e um ponto de acumulacao de X (, x),
dizemos que f tende a (respectivamente, ) quando x x, e denotamos
lim f = (respectivamente, lim f = ),
x
x
x
x
se para todo M > 0 existe = (M ) > 0 tal que para todo x X com
0 < x x < , entao f (x) > M (respectivamente, f (x) < M ).
Exemplos 18.3
(a) Seja f (x) := 1/x, para x = 0. Como ja visto no Exemplo 18.2 (b),
f |(0, ) tende a quando x 0 e f |(, 0) tende a quando
x 0. Isso, claramente, e equivalente a
1
= e
x0+ x
lim
1
= .
x0 x
lim
(b) Vimos no Exemplo 18.1 (b) que a funcao f (x) := e1/x para x = 0 nao e
limitada em nenhum intervalo da forma (0, ), > 0. Em particular o
limite a` direita de e1/x quando x 0+, no sentido da Denicao 18.1,
nao existe. Contudo, como
1
< e1/x
x
for x > 0,
Limites no Innito
A seguir denimos a nocao de limite de uma funcao quando x .
Deni
c
ao 18.4
Sejam X R e f : X R. Suponhamos que (a, ) X para algum a R.
Dizemos que L R e limite de f quando x , e denotamos
lim f = L ou
lim f (x) = L,
se dado > 0 existe K = K() > a tal que se x > K, entao |f (x) L| < .
CEDERJ
18
MODULO
2 - AULA 18
lim f (x) = L,
se dado > 0 existe K = K() < b tal que se x < K, entao |f (x) L| < .
O limite de uma funcao quando x (x ) possui todas
as propriedades do limite de uma funcao quando x tende a um ponto de
acumulacao do seu domnio. Assim, valem a unicidade dos limites limx f ,
limx f , os resultados sobre as operacoes com limites, desigualdades, etc.
Em particular, o criterio sequencial possui uma versao para limites no
innito que enunciamos a seguir.
Teorema 18.4
Sejam X R, f : X R, e suponhamos que (a, ) X para algum a R.
Entao as seguintes armacoes sao equivalentes:
(i) L = lim f .
x
(ii) Para toda sequencia (xn ) em (a, ) tal que lim xn = , a sequencia
(f (xn )) converge a L.
Deixamos para voce como exerccio a prova desse teorema (inteiramente
semelhante a`quela para o limite de uma funcao num ponto de acumulacao
do domnio) bem como o enunciado e a prova do resultado analogo para o
limite quando x .
Exemplos 18.4
1
1
(a) lim = 0 = lim .
x x
x x
Com efeito, dado > 0, se x > 1/, entao |1/x| = 1/x < , o que prova
1
que lim = 0. Por outro lado, se x < 1/, entao |1/x| = 1/x < ,
x x
1
o que prova que lim
= 0.
x x
1
1
= 0 = lim 2 .
2
x x
x x
(b) lim
CEDERJ
ANALISE
REAL
Deni
c
ao 18.5
Sejam X R e f : X R. Suponhamos que (a, ) X para algum
a R. Dizemos que f tende a (respectivamente, ) quando x , e
escrevemos
lim f =
(respectivamente, lim f = )
x
se dado M > 0 existe K = K(M ) > a tal que se x > K, entao f (x) > M
(respectivamente, f (x) < M ).
Analogamente, se (, b) X para algum b R, dizemos que f tende
a (respectivamente, ) quando x , e escrevemos
lim f =
(respectivamente, lim f = )
x
se dado M > 0 existe K = K(M ) < b tal que se x < K, entao f (x) > M
(respectivamente, f (x) < M ).
Propomos a voce como exerccio estabelecer o analogo do Teorema 18.4
para o caso em que f tende a ou quando x ou x .
O resultado a seguir e um analogo do Teorema 9.5.
Teorema 18.5
Sejam X R, f, g : X R, e suponhamos que (a, ) X para algum
a R. Suponhamos ainda que g(x) > 0 para todo x > a e que para algum
L R, L = 0, temos
f (x)
lim
= L.
x g(x)
(i) Se L > 0, entao lim f = se, e somente se, lim g = .
x
Prova: (i) Como L > 0, a hipotese implica que existe a > a tal que
f (x)
3
1
< L
0< L
2
g(x)
2
para x > a .
Portanto, temos ( 12 L)g(x) < f (x) < ( 32 L)g(x) para todo x > a , do qual
segue imediatamente a conclusao.
A prova de (ii) e semelhante.
20
MODULO
2 - AULA 18
Exemplos 18.5
(a) lim xn = para todo n N.
x
mpar.
Consideraremos o caso em que n e mpar, no qual podemos escrever n =
2k +1 para algum k N{0}. Dado M > 0, seja K := min{M, 1}.
Se x < K, entao como (x2 )k > 1, temos que xn = (x2 )k x < x < M .
Como M > 0 e arbitrario, segue que lim xn = , quando n N e
x
mpar.
O caso em que n e par e mais simples e ca para voce como exerccio.
(c) Seja p : R R a funcao polinomial
p(x) := an xn + an1 xn1 + + a1 x + a0 .
Entao lim p = se an > 0 e lim p = se an < 0.
x
Exerccios 18.1
1. Prove que se f, g : X R, f e contnua em x e x e ponto de acumulacao
de X (
x, ) e X (, x), entao lim f g e lim f g existem se, e
x
x+
x
x
x
x
x) lim g.
lim f g = f (
x
x
x
x
1
1
2. Prove que se n e par, lim n = , lim n = , e se n e mpar,
x0+ x
x0 x
1
1
lim
= e lim n = .
x0+ xn
x0 x
21
CEDERJ
ANALISE
REAL
3. Prove que lim |x|1/n = para todo n N.
x0
(x > 1).
lim ( x + 1)/x
x0
(x > 1).
lim ( x + 1)/x
x0+
lim x/ x + 2
(x > 2).
x
lim ( x x)/( x + x)
(x > 0).
x
(x < 0).
lim ( |x| x)/( |x| + x)
(a) lim
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
(g)
x2
x2
=
e
lim
= +.
x1 x2 1
x1+ x2 1
CEDERJ
22
Fucoes Mon
otonas e Inversas
MODULO
2 - AULA 19
Aula 19 Fu
co
es Mon
otonas e Inversas
Metas da aula: Estudar as funcoes monotonas e suas propriedades.
Estabelecer a existencia, em todos os pontos do domnio, de limites laterais
de funcoes monotonas denidas em intervalos. Estabelecer o Teorema da
Inversa Contnua.
Introdu
c
ao
Nesta aula estudaremos as funcoes monotonas em geral, denidas em
intervalos de R, e, em particular, as funcoes estritamente monotonas: crescentes e decrescentes. Estas u
ltimas sao injetivas e portanto possuem funcoes
inversas. Vamos mostrar que as funcoes monotonas denidas em intervalos possuem limites laterais em todos os pontos do intervalo de denicao,
embora possam ser descontnuas em alguns pontos desse intervalo. Veremos tambem que o conjunto dos pontos de descontinuidade das funcoes
monotonas denidas em intervalos e um conjunto enumeravel (nito ou innito). Recordaremos o conceito de funcao inversa e estabeleceremos o
Teorema da Inversa Contnua, que arma que toda funcao estritamente
monotona contnua num intervalo possui uma inversa (estritamente monotona)
contnua. Finalmente, analisaremos o exemplo concreto das razes n-esimas
e das potencias racionais.
Fun
co
es Mon
otonas
Comecemos recordando a denicao de funcao monotona.
Deni
c
ao 19.1
Se X R, entao diz-se que f : X R e n
ao decrescente em X se vale a
propriedade de que x1 x2 implica f (x1 ) f (x2 ) para x1 , x2 X. A funcao
23
CEDERJ
Fucoes Mon
otonas e Inversas
ANALISE
REAL
f e dita crescente em X se x1 < x2 implica f (x1 ) < f (x2 ) para x1 , x2 X.
Similarmente, f : X R e n
ao crescente em X se vale a propriedade de
que x1 x2 implica f (x1 ) f (x2 ) para x1 , x2 X. A funcao f e dita
decrescente em X se x1 < x2 implica f (x1 ) > f (x2 ) para x1 , x2 X.
Se f : X R e nao decrescente ou nao crescente dizemos que ela e mon
otona.
Se f e crescente ou decrescente dizemos que ela e estritamente mon
otona.
Notemos que se f : X R e nao decrescente, entao g := f e nao
crescente. Da mesma forma, se f : X R e nao crescente, entao g := f e
nao decrescente. Portanto, em nossa discussao a seguir, para evitar repeticoes
em excesso, enunciaremos os resultados apenas para funcoes nao decrescentes.
Ficara subentendido que todos esses resultados possuem um analogo para
funcoes nao crescentes, cuja prova pode tambem ser obtida diretamente da
observacao que acabamos de fazer, ou usando argumentos semelhantes aos
da prova do resultado correspondente para funcoes nao decrescentes.
Claramente, nem toda funcao monotona e contnua, como mostra o
exemplo da funcao f (x) := sgn(x) em R, que e descontnua em x = 0.
Porem, o seguinte resultado mostra que essas funcoes, quando denidas em
intervalos, sempre possuem ambos os limites laterais (nitos) em todos os
pontos do intervalo de denicao, que nao sejam os extremos do intervalo.
Nestes u
ltimos sempre existem os limites unilaterais correspondentes.
Teorema 19.1
Seja I R um intervalo e seja f : I R nao decrescente em I. Suponhamos
que x I nao e um extremo de I. Entao
(i) lim f = sup{f (x) : x I, x < x},
x
x
24
Fucoes Mon
otonas e Inversas
MODULO
2 - AULA 19
x
x+
x
x
25
CEDERJ
Fucoes Mon
otonas e Inversas
ANALISE
REAL
Se a I e um extremo a` esquerda de I, entao denimos o salto de f em a
por
sf (a) := lim f f (a),
xa+
(19.1)
sf (
x)
Teorema 19.3
Seja I R um intervalo e f : I R uma funcao nao decrescente em I. Se
x I, entao f e contnua em x se, e somente se, sf (
x) = 0.
Prova: Se x nao e um extremo de I, o resultado segue do Teorema 19.2. Se
x I e um extremo a` esquerda de I, entao f e contnua em x se, e somente
se, f (c) = lim f , o que e equivalente a sf (
x) = 0. Argumento semelhante
x
x+
26
Fucoes Mon
otonas e Inversas
MODULO
2 - AULA 19
Teorema 19.4
Seja I R um intervalo e seja f : I R uma funcao monotona em I.
Entao o conjunto de pontos D I nos quais f e descontnua e um conjunto
enumeravel.
Prova: Vamos supor que f e nao decrescente. Segue do Teorema 19.3 que
D = {x I : sf (x) > 0}. Consideraremos o caso em que I = [a, b] e um
intervalo fechado e limitado, deixando como exreccio para voce o caso de
um intervalo arbitrario.
Primeiro, notemos que sendo f nao decrescente, entao sf (x) 0 para
todo x I. Alem disso, se a x1 < < xn b, entao temos (por que?)
f (a) f (a) + sf (x1 ) + + sf (xn ) f (b),
(19.2)
para todos x, y R,
(19.3)
e f e contnua num u
nico ponto x R, entao f e contnua em todo
ponto de R. A demonstracao deste fato nao requer as nocoes aprendidas
nesta aula, mas vamos usa-los no tem seguinte.
Com efeito, dados x, y R, qualquer sequencia (zn ) convergindo a
x + y pode ser escrita na forma zn = xn + y, onde xn := zn y e uma
sequencia convergindo a x. Logo, se f satisfaz (19.3) e f e contnua em
x R, temos
lim f = lim f + f (y) = f (
x) + f (y)
z
x+y
x
x
para todo y R.
CEDERJ
Fucoes Mon
otonas e Inversas
ANALISE
REAL
f (b)
sf (x4 )
sf (x3 )
f (b) f (a)
sf (x2 )
sf (x1 )
f (a)
x1
x2
x3
x4
para todo m Z.
Fun
co
es Inversas
Notemos que se f : X R R e estritamente monotona, entao, em
particular, x = y implica f (x) = f (y) para todo x, y X. Logo, f e injetiva.
CEDERJ
28
Fucoes Mon
otonas e Inversas
MODULO
2 - AULA 19
para todo y Y .
y
y+
y
y+
entao temos que lim g I e lim g I (por que?). Por outro lado, tal ponto
y
y
y
y+
29
CEDERJ
Fucoes Mon
otonas e Inversas
ANALISE
REAL
g
x
sg (
y)
g(
y)
y
J
A Fun
c
ao Raiz n-
esima
Aplicaremos o Teorema da Inversa Contnua 19.5 a` funcao potencia nesima x xn para n N. Precisaremos distinguir dois casos: (i) n par; (ii)
n mpar.
(i) n par. Neste caso, para obter uma funcao estritamente monotona,
temos que restringir a funcao x xn ao intervalo I := [0, ). Assim, seja
f (x) = xn para x I (veja Figura 19.4 a` esquerda).
Sabemos que se 0 x1 < x2 , entao f (x1 ) = xn1 < xn2 = f (x2 ). Portanto, f e crescente em I. Mais ainda, segue do Exemplo 15.1 (a) que f e
contnua em I. Logo, pelo Teorema 16.5 temos que J := f (I) e um intervalo. Mostraremos que J = [0, ). Seja y 0 arbitrario. Pela Propriedade
Arquimediana, existe k N tal que 0 y < k. Como
f (0) = 0 y < k < k n = f (k),
segue do Teorema do Valor Intermediario 16.3 que y J. Como y 0 e
arbitrario, inferimos que J = [0, ).
Conclumos do Teorema da Inversa Contnua 19.5 que a funcao g que
e inversa de f (x) = xn em I = [0, ) e crescente e contnua em J = [0, ).
comum denotar-se
E
30
Fucoes Mon
otonas e Inversas
MODULO
2 - AULA 19
ou g(x) =
x para x R, n mpar,
n
x a raiz n-esima de x R. Tambem nesse caso temos
CEDERJ
Fucoes Mon
otonas e Inversas
ANALISE
REAL
Pot
encias Racionais
Uma vez denida a raiz n-esima para n N, e facil denir potencias
racionais.
Deni
c
ao 19.3
(i) Se m, n N e x 0, denimos xm/n := (x1/n )m .
(ii) Se m, n N e x > 0, denimos xm/n := (x1/n )m .
r>1
r=1
0<r<1
r=0
r<0
32
Fucoes Mon
otonas e Inversas
MODULO
2 - AULA 19
Exerccios 19.1
1. Se I := [a, b] e f : I R e uma funcao nao decrescente, entao o ponto a
(respectivamente, b) e um ponto de mnimo (respectivamente, maximo)
absoluto para f em I. Se f e crescente, entao a (respectivamente, b) e
ou
nico ponto de mnimo (respectivamente, maximo) absoluto.
2. Se f e g sao funcoes nao decrescentes num intervalo I R, mostre que
f + g e uma funcao nao decrescente em I. Se f e g sao crescentes em
I, entao f + g e crescente em I.
3. Verique que ambas as funcoes f (x) := x e g(x) := x 1 sao crescentes
em [0, 1], mas seu produto f g nao e sequer uma funcao monotona em
[0, 1].
4. Mostre que se f e g sao funcoes positivas e nao decrescentes num intervalo I, entao seu produto f g e nao decrescente em I.
5. Mostre que se I := [a, b] e f : I R e uma funcao nao decrescente em I,
entao f e contnua em a se, e somente se, f (a) = inf{f (x) : x (a, b]}.
6. Seja I R um intervalo e f : I R uma funcao nao decrescente em I.
Suponhamos que x I nao e um ponto extremo de I. Mostre que f e
contnua em x se, e somente se, existe uma sequencia (xn ) em I tal que
xn < x se n e mpar, xn > x se n e par, lim xn = x, e f (
x) = lim f (xn ).
7. Seja I R um intervalo e seja f : I R uma funcao nao decrescente
em I. Se x I nao e um extremo de I, mostre que o salto sf (
x) de f
em x e dado por
x) = inf{f (x2 ) f (x1 ) : x1 < x < x2 , x1 , x2 I}.
sf (
8. Sejam f, g funcoes nao decrescentes num intervalo I R e seja f (x) >
g(x) para todo x I. Se y f (I) g(I), mostre que f 1 (y) < g 1 (y).
[Dica: Primeiro faca o esboco de uma representacao graca para essa
situacao.]
9. Seja I := [0, 1] e seja f : I R denida por f (x) := x se x e racional,
e f (x) := 1 x se x e irracional. Mostre que f e injetiva em I e que
33
CEDERJ
Fucoes Mon
otonas e Inversas
ANALISE
REAL
f (f (x)) = x para todo x I. Portanto, f e inversa de si mesma!.
1
Mostre que f e contnua somente em x = .
2
10. Seja x R, x > 0. Mostre que se m, p Z e n, q N, e mq = np,
entao (x1/n )m = (x1/q )p .
11. Se x R, x > 0, e se r, s Q, mostre que xr xs = xr+s = xs xr e
(xr )s = xrs = (xs )r .
CEDERJ
34
A Derivada
MODULO
2 - AULA 20
Aula 20 A Derivada
Metas da aula: Denir a derivada de uma funcao num ponto. Apresentar as propriedades basicas da derivada em relacao a`s operacoes de soma,
multiplicacao e quociente de funcoes, dar exemplos e aplicacoes.
Introdu
c
ao
Nesta aula iniciaremos nosso estudo sobre a derivada de uma funcao.
Ao longo dessa discussao assumiremos que voce ja esta familiarizado com
as interpretacoes geometricas e fsicas da derivada como usualmente descritas em cursos introdutorios de Calculo. Consequentemente, nos concentraremos aqui nos aspectos matematicos da derivada e nao abordaremos suas
aplicacoes em geometria, fsica, economia, etc. Porem, nao sera demais enfatizar a enorme importancia desse conceito, a qual pode ser medida pela
frequencia com que o mesmo, talvez mais que qualquer outro na Matematica,
aparece, nas mais variadas formas, como elemento basico em aplicacoes dessa
ciencia a`s demais areas do conhecimento humano.
Retringiremos nossa discussao ao caso de funcoes denidas em intervalos. No entanto, como veremos a seguir, para que o conceito de derivada de
uma funcao num determinado ponto faca sentido, basta que a mesma esteja
denida nesse ponto e em pontos arbitrariamente proximos dele, diferentes do
mesmo. Sendo assim, a denicao pode ser estabelecida, de modo mais geral,
para pontos de acumulacao pertencentes ao domnio de uma certa funcao,
mesmo quando este e um subconjunto qualquer de R, nao necessariamente
um intervalo.
A deni
c
ao de derivada
Iniciamos nosso estudo sobre a derivada de uma funcao com a denicao
a seguir.
35
CEDERJ
A Derivada
ANALISE
REAL
Deni
c
ao 20.1
Seja I R um intervalo, f : I R, e x I. Dizemos que f tem derivada
em x, se existe o limite
f (x) f (
x)
lim
.
x
x
x x
Neste caso, chamamos tal limite a derivada de f em x e denotamos
f (x) f (
x)
.
x
x
x x
x) := lim
f (
f (
x) := lim
(20.1)
rx (h)
= 0.
h0
h
(20.2)
com
lim
x).
Neste caso, temos L = f (
Prova: Suponhamos que f seja diferenciavel em x. Entao, tomamos L :=
f (
x) e denimos rx : Ix R por meio da equacao (20.1). Da Denicao 20.1
segue imediatamente que vale (20.2).
CEDERJ
36
A Derivada
MODULO
2 - AULA 20
Reciprocamente, suponhamos que existam L R e rx : Ix R satisfazendo (20.1) e (20.2). Neste caso, como (f (
x + h) f (
x))/h = L + rx (h)/h,
existe o limite de (f (
x + h) f (
x))/h quando h 0 e temos
rx (h)
0 = lim
= lim
h0
h0
h
f (
x + h) f (
x)
h
L.
x).
Segue da Denicao 20.1 que f e derivavel em x e L = f (
x
x
h0
h0
rx (h)
h = f (
x),
h0
h
x) 0 + lim
= f (
x) + f (
o que mostra que f e contnua em x.
Exemplos 20.1
(a) Uma funcao constante, f (x) = c para todo x R, com c R, e
evidentemente diferenciavel em todo x R e f (x) 0. A funcao
f (x) = x, x R, tambem e claramente diferenciavel em todo x R e
f (x) 1.
(b) Usando o binomio de Newton vemos que
nxn1 h + h2 p(x, h)
(x + h)n xn
=
= nxn1 + hp(x, h),
h
h
onde p(x, h) e um polinomio em x e h. Logo, temos
(x + h)n xn
= nxn1 ,
h0
h
lim
CEDERJ
A Derivada
ANALISE
REAL
(c) Seja f (x) = x sen(1/x), para x R \ {0}, e f (0) = 0. Mostraremos
que f nao e diferenciavel em x = 0, mas g(x) = xf (x) e diferenciavel
em x = 0 e g (0) = 0.
De fato, f (h)/h = sen(1/h) e sabemos de aulas anteriores que nao existe
limite de sen(1/h) quando h 0. Conclumos pela Denicao 20.1 que
f nao e diferenciavel em x = 0. Por outro lado, g(h)/h = h sen(1/h)
e sabemos de aulas anteriores que lim h sen(1/h) = 0. Logo, g e diferenciavel em x = 0 e g (0) = 0.
h0
1
f (x) :=
cos(3n x)
(20.3)
n
2
n=0
tem essa propriedade. A demonstracao da continuidade de f faz uso de
um resultado bastante conhecido sobre series de funcoes, o Teste-M de
Weierstrass. A prova da nao-diferenciabilidade de f em qualquer ponto
de R segue um argumento semelhante ao esbocado na secao Prossiga
ao nal desta aula, para provar o mesmo fato para um exemplo ligeiramente diferente.
Deni
c
ao 20.2
Dizemos que f : I R possui derivada lateral a` direita em x I se existe o
limite lateral
f (x) f (
x)
lim
.
x
x+
x x
CEDERJ
38
A Derivada
MODULO
2 - AULA 20
x
x+
Teorema 20.3
Se f : I R possui derivadas laterais, a` esquerda e a` direita, em x I,
entao f e contnua em x.
Derivadas e opera
co
es com fun
co
es
A seguir vamos justicar algumas propriedades basicas das derivadas
que sao muito u
teis nos calculos de derivadas de combinacoes de funcoes.
Voce certamente ja tera se familiarizado com essas propriedades ao longo de
cursos anteriores de Calculo.
Teorema 20.4
Seja I R um intervalo, x I, e sejam f : I R e g : I R funcoes
diferenciaveis em x. Entao:
(i) Se c R, a funcao cf e diferenciavel em x, e
(cf ) (
x) = cf (x).
(20.4)
(20.5)
39
CEDERJ
A Derivada
ANALISE
REAL
(iii) (Regra do Produto) A funcao f g e diferenciavel em x, e
(f g) (
x) = f (
x)g(
x) + f (
x)g (
x).
(20.6)
40
A Derivada
MODULO
2 - AULA 20
(20.8)
(20.10)
g (x)
nxn1
=
= nxn1 .
g(x)2
x2n
CEDERJ
A Derivada
ANALISE
REAL
Seja I R um intervalo, x I, f, g : I R diferenciaveis em x, com
g (
x) = 0. Suponhamos que f (
x) = 0 = g(
x). Entao
f (
f (x)
x)
=
.
lim
x
x g(x)
g (
x)
De fato, temos
f (x)
lim
= lim
x
x g(x)
x
x
f (x)
x
x
g(x)
x
x
x
x
f (x)f (
x)
x
x
lim
g(x)g(
x)
x
x
lim
x
x
x)
f (
,
g (
x)
(d) lim
Exerccios 20.1
1. Use a denicao para encontrar a derivada de cada uma das seguintes
funcoes:
(a) f (x) := x3 para x R,
(b) f (x) := 1/x2 para x R, x = 0,
42
A Derivada
MODULO
2 - AULA 20
7. Calcule os limites:
x4 x + 14
x2 x5 12x + 8
x5 + 2x2 1
(b) lim
x1 x6 x 2
(a) lim
Prossiga: Fun
c
ao contnua n
ao-diferenci
avel em todo
ponto
Aqui apresentaremos um exemplo, devido a B.L. van der Waerden, de
funcao contnua em R que nao e diferenciavel em todo ponto de R. Como
no caso de (20.3), esse exemplo tambem e descrito por meio de uma serie de
funcoes
f (x) :=
n (x),
(20.11)
n=0
x k
para k x < k + 12 , k Z
0 (x) := dist(x; Z) =
k + 1 x para k + 1 x < k + 1, k Z,
2
e
n (x) := 10n 0 (10n x).
A continuidade de f denida por (20.11) segue do Teste M de Weierstrass que sera visto em aula futura e garante a convergencia uniforme de
uma serie de funcoes se os valores absolutos dos termos da serie |n (x)| sao
majorados por n
umeros positivos Mn tais que a serie numerica
Mn e convergente. No caso da serie (20.11), Mn = 10n .
43
CEDERJ
A Derivada
ANALISE
REAL
y
1
2
y = 0 (x)
y = 1 (x)
1
2
(20.12)
Pela formula (20.11) esse quociente pode ser expresso por uma serie da forma
0 (10n (x + 10m )) 0 (10n x)
n=0
CEDERJ
44
10nm
A Derivada
ou da forma
n=0
MODULO
2 - AULA 20
45
CEDERJ
A Regra da Cadeia
MODULO
2 - AULA 21
Introdu
c
ao
Nesta aula vamos justicar rigorosamente a importantssima Regra da
Cadeia, a qual voce ja conhece de cursos anteriores de Calculo. Tambem
estabeleceremos a formula para derivacao de funcoes inversas.
O Lema de Carath
eodory
Iniciaremos nossa discussao apresentando um singelo resultado devido
ao importante matematico grego C. Caratheodory (18731950), que sera u
til
na demonstracao da Regra da Cadeia, que veremos a seguir, bem como na
demonstracao da formula para derivacao de funcoes inversas. Trata-se, na
verdade, de uma reformulacao do Teorema 20.1.
Lema 21.1 (Lema de Carath
eodory)
Seja I R um intervalo, x I, e f : I R. Entao f e diferenciavel em x
se, e somente se, existe uma funcao em I que e contnua em x e satisfaz
f (x) f (
x) = (x)(x x)
x I.
(21.1)
CEDERJ
A Regra da Cadeia
ANALISE
REAL
A continuidade de em x segue do fato que lim (x) = f (
x). Se x = x,
x
x
Exemplos 21.1
1. Para ilustrar o Lema de Caratheodory, consideremos a funcao f denida
1
(x x).
x x =
x + x
Logo, para todo x > 0, podemos aplicar o Lema de Caratheodory
f (
x) = 1/(2 x).
2. Por outro lado, f denida no tem anterior nao e diferenciavel em x = 0.
De fato, se f fosse diferenciavel em 0, entao existiria contnua em 0
A Regra da Cadeia
Em seguida aplicamos o Lema de Caratheodory para provar a famosa
Regra da Cadeia para derivacao de funcoes compostas.
Teorema 21.1 (Regra da Cadeia)
Sejam I, J intervalos em R, sejam g : I R e f : J R funcoes tais que
f (J) I, e seja x J. Se f e diferenciavel em x e se g e diferenciavel em
f (
x), entao a funcao composta g f e diferenciavel em x e
(g f ) (
x) = g (f (
x)) f (
x).
(21.2)
Prova: Como f (
x) existe, o Lema de Caratheodory 21.1 implica que existe
uma funcao denida em J tal que e contnua em x e f (x) f (
x) =
(x)(x
x) para x J, e (
x) = f (
x). Por outro lado, como g e diferenciavel
CEDERJ
48
A Regra da Cadeia
MODULO
2 - AULA 21
em f (
x), existe uma funcao denida sobre I tal que e contnua em
y := f (
x) e g(y)g(
y ) = (y)(y y) para y I, e (
y ) = g (
y ). Substituindo
y = f (x) e y = f (
x), obtemos
g(f (x)) g(f (
x)) = (f (x))(f (x) f (
x)) = (( f (x) (x)) (x x)
para todo x J. Como a funcao ( f ) , denida em J, e contnua em x
e seu valor em x e g (f (
x)) f (
x), o Lema de Caratheodory nos da (21.2).
Exemplos 21.2
(a) Se f : I R e diferenciavel em I e g(y) = y n para y R e n N,
entao, como g (y) = ny n1 , segue da Regra da Cadeia 21.1 que
(g f ) (x) = g (f (x)) f (x)
para x I.
1
cos(1/x)) = 2x sen(1/x) cos(1/x).
x2
CEDERJ
A Regra da Cadeia
ANALISE
REAL
(d) Calcular f (x) se f (x) = log(1 + (sen x)2 ), x R.
Usando as formulas para as derivadas de S(x) e L(x) no tem anterior
e aplicando duas vezes a Regra da Cadeia, obtemos
f (x) =
1
sen 2x
2 sen x cos x =
,
2
1 + (sen x)
1 + (sen x)2
Fun
co
es Inversas
A seguir vamos estabelecer a formula da derivada para a funcao inversa
de uma dada funcao estritamente monotona. Se f e uma funcao contnua
estritamente monotona denida num intervalo I, entao sua funcao inversa
g = f 1 esta denida no intervalo J := f (I) e satisfaz a relacao
g(f (x)) = x
para x I.
(21.3)
50
A Regra da Cadeia
MODULO
2 - AULA 21
CEDERJ
A Regra da Cadeia
ANALISE
REAL
Assim deduzimos que
g (y) =
1 (1/n)1
y
n
para y > 0.
D arc sen y =
para todo y (1, 1). A derivada de arc sen nao existe nos pontos 1
e 1.
Exerccios 21.1
1. Calcule a derivada de cada uma das seguintes funcoes:
CEDERJ
52
A Regra da Cadeia
MODULO
2 - AULA 21
(a) f (x) := ex , x R.
(b) f (x) := log sen x, x (0, ).
(c) cos log(1 + x2 ), x R.
2. Prove que se f : R R e uma funcao par, isto e, f (x) = f (x) para
todo x R, e e diferenciavel em todo ponto, entao a derivada f e uma
funcao mpar, ou seja, f (x) = f (x) para todo x R. De modo
semelhante, se f e mpar f e par.
3. Seja f : R R denida por f (x) := x2 sen(1/x2 ) para x = 0 e f (0) :=
0. Mostre que f e diferenciavel em todo x R. Mostre tambem que a
derivada f nao e limitada em nenhum intervalo contendo 0.
4. Se r > 0 e um n
umero racional, seja f : R R denida por f (x) :=
r
|x| . Mostre que se r > 1, entao f (x) existe para todo x R, inclusive
x = 0.
5. Dado que a funcao f (x) := x5 + x + 2 para x R possui uma inversa
g := f 1 denida em R, encontre g (y) nos pontos correspondentes a
x = 0, 1, 1.
6. Dado que a restricao da funcao cosseno a I := [0, ] e estritamente
decrescente e cos 0 = 1, cos = 1, seja J := [1, 1] e arccos : J R a
funcao inversa da restricao de cos a I. Mostre que arccos e diferenciavel
em (1, 1) e
D arccos y =
1
,
(1 y 2 )1/2
53
CEDERJ
MODULO
2 - AULA 22
Introdu
c
ao
O principal resultado que veremos nesta aula e o Teorema do Valor
Medio, que relaciona os valores de uma funcao com os de sua derivada. Esse e
sem d
uvida um dos resultados mais u
teis de toda a Analise Real. Para provar
o Teorema do Valor Medio, precisaremos primeiro estabelecer o Teorema do
Extremo Interior. Este u
ltimo justica a pratica de se examinar os zeros da
derivada para encontrar os extremos locais de uma funcao no interior de seu
intervalo de denicao. O Teorema do Extremo Interior tambem e usado para
demonstrar a propriedade do valor intermediario exibida pelas derivadas de
funcoes diferenciaveis ao longo de intervalos.
CEDERJ
ANALISE
REAL
mnimo local em x I se existe uma vizinhanca V := V (
x) de x tal que
f (x) f (
x) para todo x V I. Recordemos tambem que por denicao
V (
x) = (
x , x + ). Dizemos que f tem um extremo local em x I se ela
tem um maximo local ou um mnimo local em x.
Diz-se que o ponto x e um ponto interior de I se x nao e um extremo
de I ou, equivalentemente, se existe uma vizinhanca V (
x) tal que V (
x) I.
Teorema 22.1 (Teorema do Extremo Interior)
Seja I R um intervalo, x I, e f : I R diferenciavel em x.
(i) Se x nao e o extremo a` direita de I, entao f (
x) > 0 implica que existe
> 0 tal que f (x) > f (
x) para x < x < x + . Por outro lado, f (
x) < 0
implica que existe > 0 tal que f (x) < f (
x) para x < x < x +
(ii) Se x nao e o extremo a` esquerda de I, entao f (
x) < 0 implica que existe
> 0 tal que f (x) > f (
x) para x < x < x. Por outro lado, f (
x) > 0
implica que existe > 0 tal que f (x) < f (
x) para x < x < x.
(iii) Se x e um ponto interior de I e f tem um extremo local em x, entao
f (
x) = 0.
Prova: (i) Suponhamos que x nao e o extremo a` direita de I. Inicialmente,
consideremos o caso em que f (
x) > 0. Neste caso, como
f (x) f (
x)
x) > 0,
= f (
x
x
x x
lim
(22.1)
56
MODULO
2 - AULA 22
57
CEDERJ
ANALISE
REAL
Exemplos 22.1
1. A funcao g : [1, 1] R denida por
1
g(x) :=
para 0 < x 1
0
para x = 0,
1 para 1 x < 0,
g(x)
0.5
0.5
1
1
0.5
0.5
O Teorema do Valor M
edio
A seguir estabeleceremos um resultado famoso conhecido como Teorema
de Rolle, cujo nome faz referencia ao matematico frances Michel Rolle (1652
1719). Trata-se de um caso particular do Teorema do Valor Medio que lhe
e, na verdade, equivalente.
CEDERJ
58
MODULO
2 - AULA 22
a
x
(22.3)
f (b) f (a)
(x a).
ba
59
CEDERJ
ANALISE
REAL
Observe que e simplesmente a diferenca entre f e a funcao cujo graco e o
segmento de reta ligando os pontos (a, f (a)) e (b, f (b)); veja Figura 22.3. As
hipoteses do Teorema de Rolle sao satisfeitas por ja que esta e contnua em
[a, b], diferenciavel em (a, b), e (a) = (b) = 0. Portanto, existe um ponto
x (a, b) tal que
f (b) f (a)
0 = (
x) = f (
x)
.
ba
x)(b a).
Logo, f (b) f (a) = f (
(x)
60
MODULO
2 - AULA 22
Teorema 22.6
Seja f : I R diferenciavel no intervalo I. Entao:
(i) f e nao-decrescente em I se, e somente se, f (x) 0 para todo x I.
(ii) f e nao-crescente em I se, e somente se, f (x) 0 para todo x I.
Prova: (i) Suponhamos que f (x) 0 para todo x I. Se x1 , x2 I
satisfazem x1 < x2 , entao aplicamos o Teorema do Valor Medio a f no
intervalo fechado J := [x1 , x2 ] para obter um ponto x (x1 , x2 ) tal que
x)(x2 x1 ).
f (x2 ) f (x1 ) = f (
x) 0 e x2 x1 > 0, segue que f (x2 ) f (x1 ) 0, ou seja,
Como f (
f (x1 ) f (x2 ), o que prova que f e nao-decrescente.
Para provar a recproca, suponhamos que f e diferenciavel e nao-decrescente
em I. Logo, dado qualquer ponto x I, para todo x I com x = x temos
(f (x) f (
x))/(x x) 0 (por que?). Logo, pelo Teorema 13.3 conclumos
que
f (x) f (
x)
f (
x) = lim
0.
x
x
x x
(ii) A prova da parte (ii) e semelhante e sera deixada para voce como
exerccio.
Observa
c
ao 22.1
Note que um argumento identico ao da prova do Teorema 22.6 mostra que se
f (x) > 0 para todo x I, entao f e crescente em I, isto e, x1 < x2 implica
f (x1 ) < f (x2 ) para x1 , x2 I. No entanto, a recproca dessa armacao nao
e verdadeira, ou seja, e possvel ter f crescente num intervalo I com f se
anulando em alguns pontos de I. Por exemplo, a funcao f : R R denida
por f (x) := x3 e crescente em R, mas f (0) = 0. Claramente, uma observacao
analoga vale para funcoes decrescentes.
Teorema 22.7 (Teste da Primeira Derivada)
Seja f contnua no intervalo I := [a, b] e seja c um ponto interior de I.
Suponhamos que f e diferenciavel nos intervalos abertos (a, c) e (c, b).
(i) Se existe uma vizinhanca (c , c + ) I tal que f (x) 0 para
c < x < c e f (x) 0 para c < x < c + , entao f tem um maximo
local em c.
(ii) Se existe uma vizinhanca (c , c + ) I tal que f (x) 0 para
c < x < c e f (x) 0 para c < x < c + , entao f tem um mnimo
local em c.
61
CEDERJ
ANALISE
REAL
Prova: (i) Se x (c , c), entao segue do Teorema do Valor Medio que
existe x (x, c), dependendo de x, tal que f (c) f (x) = f (
x)(c x). Como
f (
x) 0 conclumos que f (x) f (c) para x (c , c). Similarmente,
segue do Teorema do Valor Medio e da hipotese f (x) 0 para x (c, c + )
que f (x) f (c) para x (c, c + ). Portanto, f (x) f (c) para todo
x (c , c + ), de modo que f tem um maximo local em c.
(ii) A prova de (ii) e inteiramente analoga e cara para voce como
exerccio.
Observa
c
ao 22.2
A recproca do Teste da Primeira Derivada 22.7 n
ao e valida. Por exemplo, a
2
funcao f : R R denida por f (x) := x (sen(1/x) + 2) se x = 0 e f (0) := 0
e diferenciavel em todo R e satisfaz f (x) > 0 se x = 0, ja que | sen(1/x)| 1.
Em particular, 0 e um ponto de mnimo local. A derivada de f e dada por
f (x) := 2x(sen(1/x) + 2) cos(1/x) se x = 0 e f (0) = 0. Assim, se xk :=
1/(2k) para k N, temos xk 0, quando k , e f (xk ) < 0 para todo k
sucientemente grande, ja que cos(1/xk ) = 1 e lim (2xk (sen(1/xk ) + 2)) = 0.
Por outro lado, se zk := 2/((2k + 1)) para k N, temos zk 0 quando
k , e f (zk ) > 0 para todo k N, ja que zk > 0, cos(1/zk ) = 0 e
sen(1/zk ) = 1. Portanto, existem pontos arbitrariamente proximos de 0 para
os quais f e negativa e pontos arbitrariamente proximos de 0 para os quais
f e positiva.
Aplica
co
es do Teorema do Valor M
edio em desigualdades
A seguir estabeleceremos uma aplicacao do Teorema do Valor Medio
relacionada com funcoes Lipschitz. Concluiremos depois dando outros exemplos de aplicacoes desse resultado para a obtencao de desigualdades.
Teorema 22.8
Seja f : I R diferenciavel em todo ponto do intervalo I. Se existe C > 0
tal que |f (x)| C para todo x I, entao |f (x) f (y)| C|x y|, para
todos x, y I.
Prova: Dados x, y I, pelo Teorema do Valor Medio existe x (x, y) tal
que f (x) f (y) = f (
x)(x y). Logo,
|f (x) f (y)| |f (
x)||x y| C|x y|,
CEDERJ
62
MODULO
2 - AULA 22
Exemplos 22.2
1. Como ja foi dito anteriormente, as funcoes trigonometricas sen x e cos x
satisfazem D sen x = cos x e D cos x = sen x. Alem disso vale a
relacao fundamental (sen x)2 + (cos x)2 = 1, donde segue que | sen x|
1 e | cos x| 1. Esses fatos serao provados rigorosamente em aulas
futuras. Do Teorema 22.8 segue que | sen x sen y| |x y| para
todos x, y R. Em particular, tomando x 0 e y = 0 obtemos
x sen x x
para todo x 0.
para x R,
(22.4)
63
CEDERJ
ANALISE
REAL
o que estende a formula que havamos estabelecido anteriormente para
racional. Usando isso provaremos a desigualdade de Bernoulli que
estabelece que para todo > 1 vale
(1 + x) 1 + x
(22.5)
(22.6)
64
(22.7)
MODULO
2 - AULA 22
x
x+
n
(x ai )2 .
i=1
Encontre o u
nico ponto de mnimo local para f .
5. Sejam a > b > 0 e n N satisfazendo n 2. Prove que a1/n b1/n <
(a b)1/n . [Dica: Mostre que f (x) := x1/n (1 x)1/n e decrescente
para x 1, e tome os valores de f em 1 e a/b.]
65
CEDERJ
para todos a, b R.
7. Use o Teorema do Valor Medio para provar que (x1)/x < log x < x1
para x > 1. [Dica: Use o fato de que D log x = 1/x para x > 0.]
8. Seja f : [a, b] R contnua em [a, b] e diferenciavel em (a, b). Mostre
que se lim f (x) = A, entao f (a) existe e e igual a A. [Dica: Use a
xa
O Teorema de Taylor
MODULO
2 - AULA 23
Introdu
c
ao
Se I e um intervalo de R e f : I R e uma funcao diferenciavel
em todos os pontos de I, entao temos denida em I a funcao f : I R,
derivada (primeira) de f . Se a funcao f for diferenciavel em um ponto
x I, entao teremos denida a derivada de f em x, (f ) (
x), que denotamos
simplesmente por f (
x) e chamamos a derivada segunda de f em x. Se f
tambem for diferenciavel em todos os pontos de I, entao teremos denida a
funcao f : I R, derivada segunda de f . Se f e diferenciavel num ponto
x) que denotamos por f (
x) ou f (3) (
x), chamada
x I, entao existe (f ) (
derivada terceira de f em x, e se f e diferenciavel em todo ponto de I entao
teremos denida a funcao f : I R, tambem denotada por f (3) e chamada
derivada terceira de f . Desse modo podemos denir a derivada n-esima da
funcao f em x I, f (n) (
x), desde que tenhamos denida em todo ponto
de I a derivada (n 1)-esima de f , f (n1) , e que esta seja diferenciavel em
x. Observe que admitimos que x seja um ponto extremo do intervalo I.
Observe tambem que para que possamos denir f (n) (
x) basta que tenhamos
(n1)
f
denida em (
x , x + ) I para algum > 0. A derivada n-esima
x), tambem e chamada derivada de ordem n de f em x.
em x, f (n) (
Se a funcao f tem uma derivada n-esima num ponto x0 , nao e difcil
(k)
obter um polinomio Pn de grau n tal que Pn (x0 ) = f (x0 ) e Pn (x0 ) = f (k) (x0 )
para k = 1, 2, . . . , n. De fato, o polinomio
Pn (x) := f (x0 ) + f (x0 )(x x0 ) +
+ +
f (x0 )
(x x0 )2
2!
f (n) (x0 )
(x x0 )n
n!
(23.1)
(23.2)
67
CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANALISE
REAL
tem a propriedade de que ele e suas derivadas ate a ordem n no ponto x0
coincidem com a funcao f e suas derivadas ate a ordem n quando avaliadas
nesse mesmo ponto.
omio de Taylor de grau n para f
Esse polinomio Pn e chamado o polin
em x0 e seu estudo remonta ao matematico ingles Brook Taylor (16831731),
embora a formula para o resto Rn := f Pn so tenha sido obtida muito
mais tarde por Joseph-Louis Lagrange (17361813). A formula ou Teorema
de Taylor (com resto de Lagrange) e suas aplicacoes constituem o tema desta
aula que passamos a estudar em detalhes a seguir.
A f
ormula de Taylor
Seja I := [a, b], x0 I e f : I R contnua em [a, b] e diferenciavel em
(a, b). Fixemos um ponto x0 I. Dado um ponto qualquer x I, o Teorema
do Valor Medio arma que existe um ponto x = x(x) no intervalo entre x0 e
x, i.e. x (min{x0 , x}, max{x0 , x}), para o qual vale a equacao
x)(x x0 ).
f (x) = f (x0 ) + f (
(23.3)
Essa equacao nos diz que o valor f (x) pode ser aproximado pelo valor f (x0 )
e que ao fazermos essa aproximacao estaremos cometendo um erro dado por
R0 (x) := f (x) f (x0 ) = f (
x)(x x0 ).
Para podermos estimar o erro R0 (x) e preciso ter alguma informacao
sobre o comportamento da derivada f (
x) para x num intervalo I := (x0
, x0 + ) I, para algum > 0. Por exemplo, se para algum C > 0 tivermos
|f (
x)| C para x I , entao teremos |R0 (x)| C|x x0 | para x I .
x)| e limitado para
Em particular, se existe f (x0 ), entao temos que |f (
x I , para > 0 sucientemente pequeno, ja que de (23.3) obtemos
lim f (
x(x)) = lim
xx0
xx0
f (x) f (x0 )
= f (x0 ).
x x0
(23.4)
para x I,
(23.5)
xx0
r1 (x)
= 0,
x x0
68
(23.6)
O Teorema de Taylor
MODULO
2 - AULA 23
(23.7)
(23.8)
(ii)
lim
xx0
r(x)
= 0.
(x x0 )n
(23.9)
xx0
r(x)
r(x) r(x0 )
= lim
= r (x0 ) = 0,
x x0 xx0
x x0
xx0
r (x)
(x)
= lim
= 0.
k
xx0 (x x0 )k
(x x0 )
Agora, pelo Teorema do Valor Medio, dado x I, existe x = x(x) no intervalo aberto Ix entre x0 e x tal que r(x) = r (
x)(x x0 ). Observe que
lim x(x) = x0 ja que |
x x0 | |x x0 |. Logo,
xx0
lim
xx0
r(x)
r (
x)(x x0 )
=
lim
k+1
k+1
xx
(x x0 )
0 (x x0 )
r (
x) (
x x0 )k
= lim
= 0,
xx0 (
x x0 )k (x x0 )k
69
CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANALISE
REAL
ja que (
x x0 )k /(x x0 )k 1 e
lim
xx0
r (
x)
=0
(
x x0 )k
(por que?),
xx0
r(x)
= 0.
x x0
xx0
r(x)
(x x0 ) = 0.
x x0
xx0
r(x) r(x0 )
r(x)
= lim
= 0,
xx0 x x0
x x0
xx0
r(x)
r(x)
=
lim
(x x0 ) = 0,
(x x0 )k xx0 (x x0 )k+1
xx0
CEDERJ
70
r(x)
= 0,
(x x0 )k+1
O Teorema de Taylor
MODULO
2 - AULA 23
O Teorema de Taylor que veremos a seguir e um renamento do Teorema do Valor Medio para o caso em que existam derivadas de ordens maiores
do que 1; da se pode perceber sua fundamental importancia. Recordemos a
denicao de Pn (x) em (23.1). Adotamos a convencao de que f (0) := f .
Teorema 23.1 (Teorema de Taylor)
Seja n N, I := [a, b], e f : I R tal que f , f ,. . . , f (n1) sao contnuas em
I e f (n) existe em (a, b). Fixemos x0 I. Entao:
(A) Para todo x I existe x entre x0 e x tal que
f (x) = Pn1 (x) +
f (n) (
x)
(x x0 )n .
n!
(23.10)
(23.11)
xx0
rn (x)
= 0.
(x x0 )n
(23.12)
Em particular,
lim f (n) (
x) = f (n) (x0 ).
xx0
(23.13)
(23.14)
a t b.
(23.15)
a < t < b.
(23.16)
x) = 0 para
Portanto, a prova estara completa se pudermos mostrar que g (n) (
algum x entre x0 e x.
71
CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANALISE
REAL
(k)
(23.17)
1 (n)
x) f (n) (x0 ))(x x0 )n .
(f (
n!
xx0
f (x)
f (n) (x0 )
= (n)
.
g(x)
g (x0 )
(23.18)
e
n
g(x) = (x x0 )
CEDERJ
72
g (n) (x0 )
rng (x)
+
n!
(x x0 )n
O Teorema de Taylor
com
lim
xx0
MODULO
2 - AULA 23
rnf (x)
rng (x)
=
lim
= 0.
(x x0 )n xx0 (x x0 )n
Portanto,
f (n) (x0 )
rnf (x)
+
f (n) (x0 )
f (x)
n!
(x x0 )n
lim
= (n)
= lim (n)
.
xx0 g(x)
xx0 g
g (x0 )
rng (x)
(x0 )
+
n!
(x x0 )n
2
1
2
f (k) (x) = pk ( )e1/x ,
x
onde pk (y) e um polinomio de grau 3k. Portanto, a armacao estara
provada se mostrarmos que para todo m N vale
2
e1/x
= 0.
lim
x0 xm
Claramente, nesse caso particular basta mostrar (por que?)
(23.19)
e1/x
lim
=0
x0+ xm
para todo m N.
lim y m ey = 0
para todo m N.
(23.20)
y m ey < ey
2 +my
= e(ym/2)
2 m2
= em e(ym/2) 0 quando y ,
CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANALISE
REAL
(c) Vamos aproximar o n
umero e com erro menor que 105 .
Consideremos a funcao f (x) := ex e tomemos x0 = 0 e x = 1 na formula
de Taylor (23.10). Precisamos determinar n tal que |Rn (1)| < 105
onde
x)
f (n+1) (
(x x0 )n ,
Rn (x) := f (x) Pn (x) =
(n + 1)!
por (23.10). Para isso usaremos o fato de que f (x) = ex e a limitacao
inicial ex 3 para 0 x 1.
Claramente, de f (x) = f (x) = ex segue que f (k) (x) = ex para todo
k N. Em particular, f (k) (0) = 1 para todo k N. Consequentemente
o n-esimo polinomio de Taylor e dado por
Pn (x) := 1 + x +
x2
xn
+ +
2!
n!
1
1
+ + = 2 71828
2!
8!
74
f (
x) 3 sen x 3
x =
x,
3!
6
O Teorema de Taylor
MODULO
2 - AULA 23
1
1
para algum x entre 0 e x. A desigualdade cos x 1 x2 + |x|3 segue
2
6
imediatamente da formula para R2 (x) e do fato de que | sen y| 1 para
todo y R.
1
Quanto a` desigualdade 1 x2 cos x argumentamos do seguinte
2
modo. Se 0 x , entao 0 x . Como x e x3 sao positivos,
temos R2 (x) 0. Tambem, se x 0, entao x 0. Como
sen x e x3 sao ambos negativos, de novo temos R2 (x) 0. Portanto,
1
1
temos 1 x2 cos x para |x| . Se |x| , entao 1 x2 < 3
2
2
cos x e a desigualdade vale trivialmente.
Da desigualdade demonstrada segue que
1
1 1
1 cos x
|x|.
2
2
x
2 6
Como o limite do u
ltimo membro da desigualdade e igual ao primeiro
1
membro, isto e, , (23.21) segue do Teorema 13.4. O limite em (23.21)
2
tambem pode ser obtido diretamente da Regra de LHopital no Exemplo 23.1(a).
(b) Para todo k N e todo x > 0 temos
1
1
1
1
x x2 + x2k < log(1+x) < x x2 + +
x2k+1 . (23.22)
2
2k
2
2k + 1
Usando o fato de que a derivada de log(1 + x) e 1/(1 + x) para x > 0,
vemos que o n-esimo polinomio de Taylor para log(1 + x) com x0 = 0 e
1
1
Pn (x) = x x2 + + (1)n1 xn
2
n
e o resto e dado por
Rn (x) =
Extremos Locais
Como foi visto, o Teste da Primeira Derivada 22.7 ajuda a determinar se
um ponto onde a derivada de f se anula e um maximo local ou um mnimo
75
CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANALISE
REAL
local, ou simplesmente nao e um extremo local. Se existem derivadas de
ordens mais altas, essas tambem podem ser usadas para essa determinacao.
Teorema 23.2
Seja I um intervalo, x0 um ponto interior de I e seja n 2. Suponhamos
que as derivadas f , f , . . . , f (n) existam e sejam contnuas numa vizinhanca
de x0 e f (x0 ) = = f (n1) (x0 ) = 0, mas f (n) (x0 ) = 0.
(i) Se n e par e f (n) (x0 ) > 0, entao f tem um mnimo local em x0 .
(ii) Se n e par e f (n) (x0 ) < 0, entao f tem um maximo local em x0 .
(iii) Se n e mpar, entao f nao tem um extremo local em x0 .
Prova: Pelo Teorema de Taylor 23.1(A) temos para x I
f (x) = Pn1 (x) + Rn1 (x) = f (x0 ) +
x)
f (n) (
(x x0 )n ,
n!
Fun
co
es Convexas
A nocao de convexidade desempenha um papel fundamental na Matematica
assim como em outras ciencias. Em particular, em problemas de otimizacao
que surgem em areas diversas como nas varias modalidades de engenharia,
economia, etc.
CEDERJ
76
O Teorema de Taylor
MODULO
2 - AULA 23
Deni
c
ao 23.1
Seja I R um intervalo. Diz-se que uma funcao f : I R e convexa em I
se para quaisquer pontos z, w I e todo satisfazendo 0 1, temos
f ((1 )z + w) (1 )f (z) + f (w).
(23.23)
y = (1 )f (z) + f (w)
y = f ((1 )z + w)
z
(1 )z + w
f (w) f (z)
f ((1 )z + w) f (z)
, mAC =
,
wz
(w z)
f ((1 )z + w) f (w)
mCB =
.
(1 )(z w)
(23.24)
77
CEDERJ
O Teorema de Taylor
ANALISE
REAL
Teorema 23.3
Se f : I R e convexa no intervalo I, entao existem as derivadas laterais
f + (x0 ) e f (x0 ) para todo x0 I. Em particular, f e contnua em todo
ponto interior de I.
Prova: Sejam x1 , x2 I satisfazendo: (i) x1 < x2 < x0 ou (ii) x0 < x2 < x1 .
Observemos que a reta contendo o segmento ligando os pontos (x1 , f (x1 )) e
(x0 , f (x0 )) pode ser descrita pela equacao
y = f (x0 ) +
f (x1 ) f (x0 )
(x x0 ).
x1 x 0
(23.25)
Em ambos os casos (i) x1 < x2 < x0 e (ii) x0 < x2 < x1 , o ponto x2 satisfaz
x2 = (1 )x0 + x1 para algum com 0 1. Logo, o ponto (x2 , f (x2 )),
pertencente ao graco de f , ca acima do ponto (x2 , y2 ) pertencente a` reta
ligando (x0 , f (x0 )) a (x1 , f (x1 )). Usando (23.25), isso nos da
f (x2 ) f (x0 ) +
f (x1 ) f (x0 )
(x2 x0 ).
x1 x 0
(23.26)
,
x2 x 0
x1 x 0
(23.27)
.
x2 x 0
x1 x 0
Entao a funcao g(x) = (f (x) f (x0 ))/(x x0 ) para x I com x = x0 e
crescente em ambos os intervalos I := (, x0 ) I e I+ := (x0 , ) I.
Alem disso, usando (23.24) deduzimos que g e limitada superiormente em I
e inferiormente em I+ (por que?). Conclumos entao que existem os limites
laterais lim g(x) e lim g(x) que, por denicao, sao as derivadas laterais
xx0
+
xx0 +
f (x0 ) e f (x0 ).
O fato de que f e contnua em todo ponto interior de I decorre do
Teorema 20.3.
Quando f e duas vezes diferenciavel a convexidade pode ser caracterizada de modo bastante simples como mostra o resultado seguinte.
Teorema 23.4
Seja I um intervalo aberto e suponhamos que f : I R e duas vezes
diferenciavel em todo ponto de I. Entao f e convexa em I se, e somente se,
f (x) 0 para todo x I.
CEDERJ
78
O Teorema de Taylor
MODULO
2 - AULA 23
onde lim
r(h) r(h)
f (a + h) 2f (a) + f (a h)
= f (a) + 2 +
,
2
h
h
h2
donde segue que
f (a + h) 2f (a) + f (a h)
.
h0
h2
f (a) = lim
(23.28)
(23.29)
(23.30)
f (
x1 )(z x0 )2 + f (
x2 )(w x0 )2
2
2
f (x0 ) = f ((1 )z + w),
ja que
(1 )
x1 )(z x0 )2 + f (
x2 )(w x0 )2 0
f (
2
2
pelo fato de que f e nao-negativa. Logo, f e convexa em I.
Exerccios 23.1
1. Seja f (x) := sen ax para x R com a = 0. Encontre f (n) (x) para
n N, x R.
79
CEDERJ
1 + x 1 + 12 x.
A Integral de Riemann
MODULO
2 - AULA 24
Introdu
c
ao
Nesta aula vamos denir a integral de Riemann como limite das somas
de Riemann quando a norma das particoes tende a zero, como e usualmente
feito nos cursos de calculo. Nestes e comum se enfatizar a interpretacao
geometrica da integral como a area sob o graco de uma funcao nao-negativa,
bem como suas diversas aplicacoes em fsica, engenharia, economia, etc. Aqui
vamos focalizar os aspectos puramente matematicos da integral.
Uma vez denida a integral de uma funcao f num intervalo [a, b], apresentaremos exemplos onde calculamos a integral de certas funcoes usando
apenas a denicao dada. Em seguida provaremos o Teorema da Limitacao
que arma que uma funcao integravel a` Riemann num intervalo [a, b] e necessariamente limitada.
Estabeleceremos tambem uma propriedade da integral bastante conhecida desde os cursos de Calculo, que e o fato de que combinacoes lineares
de funcoes integraveis sao tambem funcoes integraveis cujas integrais sao as
combinacoes lineares correspondentes das respectivas funcoes.
Ao nal deniremos somas superiores e inferiores de uma funcao e daremos uma caracterizacao para funcoes integraveis num intervalo [a, b] atraves
dessas somas.
81
CEDERJ
A Integral de Riemann
ANALISE
REAL
Parti
co
es e Parti
co
es Aferidas
Se I := [a, b] e um intervalo limitado em R, entao uma particao de I e
um conjunto nito ordenado P := (x0 , x1 , . . . , xn1 , xn ) de pontos em I tais
que
a = x0 < x1 < < xn1 < xn = b.
Os pontos de P servem para dividir I = [a, b] em subintervalos sucessivos
I1 := [x0 , x1 ],
I2 := [x1 , x2 ], . . . ,
In := [xn1 , xn ].
(24.1)
n
i=1
CEDERJ
82
(24.2)
A Integral de Riemann
MODULO
2 - AULA 24
x0
x1
t1
x2
t2
x3
t3
x4
t4
x5
t5
x6
t6
Deni
c
ao de Integral de Riemann
A seguir denimos a integral de Riemann de uma funcao f sobre um
intervalo [a, b].
Deni
c
ao 24.1
Diz-se que uma funcao f : [a, b] R e integr
avel a` Riemann em [a, b] se
existe um n
umero L R tal que para todo > 0 existe = () > 0 tal que
< , entao
se P e uma particao aferida qualquer de [a, b] com P
L| < .
|S(f ; P)
(24.3)
CEDERJ
A Integral de Riemann
ANALISE
REAL
nao e uma funcao de P,
a palavra limite assim empregada tem
S(f, P)
um signicado distinto daquele que foi estudado anteriormente para funcoes,
embora a anidade entre as situacoes seja bastante visvel.
Para que a denicao de integral que acabamos de dar faca sentido,
precisamos mostrar antes de tudo que o n
umero L esta unicamente denido.
Teorema 24.1
Se f R[a, b], entao o valor da integral esta unicamente determinado.
Prova: Provaremos este fato por contradicao. Suponhamos entao que f
R[a, b] e que existam dois n
umeros distintos L e L satisfazendo a Denicao 24.1.
Seja = |L L | > 0. Tomemos := /3 na Denicao 24.1. Entao existe
= () > 0 tal que se P e uma particao aferida qualquer de [a, b] com
< , entao devemos ter
P
L | < e |S(f ; P)
L | < .
|S(f ; P)
teremos
Assim, xada uma tal particao aferida P,
+ |L S(f ; P)|
< 2 = 2 ,
= |L L | |L S(f ; P)|
3
o que e absurdo e, portanto, conclui a prova por contradicao.
n
i=1
84
A Integral de Riemann
MODULO
2 - AULA 24
b
a
f = C(b a).
i
0 1
i=1
n
C2 (xi xi1 )
i=i0 +1
b
a
f =
De fato, dada uma particao qualquer P := {Ii }ni=1 de [a, b], com Ii =
[xi1 , xi ], escolhemos inicialmente uma afericao especial para P tomando
CEDERJ
A Integral de Riemann
ANALISE
REAL
e, portanto,
S(f ; P) =
n
1
1
(x2i x2i1 ) = (b2 a2 ).
2
2
i=1
ti (xi xi1 )
qi (xi xi1 )
|S(f ; P) S(f ; P)| =
i=1
n
i=1
n
i=1
i=1
(d) Suponhamos que f R[a, b] e seja g : [a, b] R tal que g(x) = f (x)
para x [a, b] \ F , onde F = {1 , 2 , . . . , N } e um subconjunto nito
de pontos em [a, b]. Entao g R[a, b] e
f=
a
g.
a
|S(f ; P)
f| < .
2
a
Seja M := max{|f (1 )g(1 )|, . . . , |f (N )g(N )|}. Dada uma particao
n
86
A Integral de Riemann
MODULO
2 - AULA 24
sim, temos
n
(por que?)
{i : ti F }
M N P.
Seja > 0 dado. Tomemos
= () := min{ (),
}.
2N M
f | |S(f ; P)
S(f ; P)|
f | + |S(g; P)
+ N M .
2
b
b
Segue da que g R[a, b] e a g = a f , como armado.
<
Entao g R[a, b] e
f=
(24.4)
g.
De fato, dado qualquer > 0, por (24.4) sabemos que e possvel obter
N = N () tal que se k > N , entao
|f (k ) g(k )| <
.
3(b a)
Por outro lado, como f R[a, b], podemos obter = () > 0 tal que
< (), entao
se P e uma particao aferida qualquer de [a, b] com P
|S(f ; P)
f| < .
3
87
CEDERJ
A Integral de Riemann
ANALISE
REAL
Dena, como no tem anterior, F := {1 , . . . , N }, M := max{|f (1 )
g(1 )|, . . . , |f (N ) g(N )|} e, dada P = {([xi1 , xi ], ti )}ni=1 , ponhamos
F := {ti : i = 1, . . . , n} F . Temos
S(f ; P)|
=|
|S(g; P)
n
i=1
{i : ti
F }
{i : ti E\F }
(b a)
3(b a)
+ .
= M N P
3
+
M N P
Tomemos
= () := min{ (),
(por que?)
}.
3N M
f | |S(f ; P)
S(f ; P)|
f | + |S(g; P)
+ N M + .
3
3
b
b
Conclumos entao que g R[a, b] e a g = a f , como armado.
<
Em = {1m , 2m , 3m , . . . }.
(24.5)
CEDERJ
88
(24.6)
A Integral de Riemann
Entao g R[a, b] e
b
a
g=
b
a
MODULO
2 - AULA 24
f.
A2 :=
m=m0 +1 Em .
Em particular, temos E = A1 A2 .
Seja g : [a, b] R denida por g(x) := g(x) para x [a, b] \ A2 e
g(x) := f (x) para x A2 . Usando inducao em m0 N e o tem
b
b
anterior provamos facilmente que g R[a, b] e que a g = a f . (Voce
seria capaz de fornecer os detalhes da prova por inducao dessa armacao
sobre g?)
Por outro lado, dado qualquer > 0, por (24.6) podemos escolher
m0 N tal que
sup
m>m0 , kN
.
2(b a)
b
b
Fixado um tal m0 N, como g R[a, b] e a g = a f , podemos
encontrar > 0 tal que se P e uma particao aferida qualquer de [a, b]
< , entao
com P
|S(
g ; P)
f| < .
2
(por que?)
{i : ti A2 }
(b a) =
2(b a)
2
(por que?).
S(
+ |S(
f | |S(g; P)
g ; P)|
g ; P)
f| <
+ = ,
2 2
CEDERJ
A Integral de Riemann
ANALISE
REAL
Tomando, Em = {m/pm,k : k N} onde (pm,k )
e a sucessao preserk=1
vando a ordem dos n
umeros naturais maiores que m que nao possuem
divisores comuns com m exceto 1. Neste caso, tomando f (x) := 0 para
x [0, 1], temos g(x) = f (x) para x [0, 1] \ E, com E =
m=1 Em , e
e facil vericar que sao satisfeitas as condicoes (i) e (ii) da armacao
b
(por que?). Logo, g R[0, 1] e a g = 0.
O Teorema da Limita
c
ao
A seguir vamos mostrar que toda funcao integravel a` Riemann e necessariamente limitada.
Teorema 24.2
Se f R[a, b], entao f e limitada em [a, b].
Prova: Suponhamos por contradicao que f e uma funcao ilimitada em R[a, b]
com integral igual a L. Entao existe > 0 tal que se P e uma particao aferida
< , entao |S(f ; P)
L| < 1, o que implica que
qualquer de [a, b] com P
< |L| + 1.
|S(f ; P)|
(24.7)
Agora, seja Q = {[xi1 , xi ]}ni=1 uma particao de [a, b] com Q < . Como
|f | nao e limitada em [a, b], entao existe ao menos um subitervalo em Q,
digamos [xk1 , xk ], no qual |f | nao e limitada (por que?).
Escolheremos afericoes para Q que nos conduzirao a uma contradicao
com (24.7). Aferimos Q pondo ti := xi para i = k e escolhemos tk [xk1 , xk ]
tal que
|f (tk )(xk xk1 )| > |L| + 1 +
f (ti )(xi xi1 ) .
i=k
90
A Integral de Riemann
MODULO
2 - AULA 24
Teorema 24.3
b
b
(i) Se f, g R[a, b] e f (x) g(x) para todo x [a, b], entao a f a g.
b
b
(ii) Se f R[a, b] e c R, entao cf R[a, b] e a cf = c a f .
b
b
b
(iii) Se f, g R[a, b], entao f + g R[a, b] e a (f + g) = a f + a g.
(iv) Se f1 , . . . , fn estao em R[a, b] e se c1 , . . . , cn R, entao a combinacao
b
b
linear f := ni=1 ci fi pertence a R[a, b] e a f = ni=1 ci a fi .
Prova: Vamos provar o tem (iii). As provas dos tens (i), (ii) e (iv) serao
deixadas para voce como exerccio (veja os exerccios 7, 8 e 9 ao nal desta
aula).
(iii) Suponhamos f, g R[a, b]. Dado > 0 podemos encontrar =
< ,
() > 0 tal que se P e uma particao aferida de [a, b] qualquer, com P
b
b
Temos o seguinte resultado que pode servir tambem para dar uma outra
denicao equivalente de integral de f em [a, b].
91
CEDERJ
A Integral de Riemann
ANALISE
REAL
x0
x1
x2
x3
x4
x5
x6
x0
x1
x2
x3
x4
x5
x6
Teorema 24.4
As duas armacoes seguintes sao equivalentes:
(i) f R[a, b];
(ii) Existe um n
umero L R satisfazendo o seguinte. Qualquer que seja
> 0, existe = () > 0 tal que se P e uma particao qualquer de
[a, b] com P < , entao
|S (f ; P) L| < e |S (f ; P) L| < .
Nesse caso, temos L =
b
a
f.
Prova: ((i)(ii)) Suponhamos que f R[a, b]. Entao, dado > 0, existe
= () > 0 tal que se P e uma particao aferida qualquer de [a, b] com
< , entao |S(f ; P)
L| < /2, onde L = b f . Escolhendo P com
P
a
Mi
< f (ti ) Mi ,
2(b a)
o que e sempre possvel pelas propriedades do supremo, obtemos
+ |S(f ; P)
L|
|S (f ; P) L| |S (f ; P) S(f ; P)|
n
L|
|Mi f (ti )|(xi xi1 ) + |S(f ; P)
i=1
<
(b a) + = .
2(b a)
2
92
,
2(b a)
A Integral de Riemann
MODULO
2 - AULA 24
e |S (f ; P) L| < .
4
+ = .
4 4
2
CEDERJ
A Integral de Riemann
ANALISE
REAL
(b) P1 com afericoes correspondentes aos extremos a` direita dos subintervalos;
(c) P2 com afericoes correspondentes aos extremos a` esquerda dos
subintervalos;
(d) P2 com afericoes correspondentes aos extremos a` direita dos subintervalos;
Calcule as somas superiores S (f ; P3 ), S (f ; P4 ) e inferiores S (f ; P3 ),
S (f ; P4 ).
3. Mostre que f : [a, b] R e integravel a` Riemann em [a, b] se, e somente
se, existe um L R tal que para todo > 0 existe um = () > 0
, entao
tal que se P e uma particao aferida qualquer com P
L| .
|S(f ; P)
4. Seja P uma particao aferida de [0, 3].
(a) Mostre que a uniao U1 de todos os subintervalos em P com afericoes
U1 [0, 1 + P].
94
A Integral de Riemann
MODULO
2 - AULA 24
N
kl Jl ,
l=1
=
a
N
kl (dl cl ).
l=1
14. Seja f : [0, 1] R dada por f (0) := 0 e f (x) = 1/2n se 1/2n+1 < x
1
1/2n , para n N {0}. Prove que f R[0, 1] e calcule 0 f .
95
CEDERJ
MODULO
2 - AULA 25
Aula 25 Fun
co
es Integr
aveis `
a Riemann
Metas da aula: Provar o Criterio de Cauchy para Integrabilidade e dar
algumas de suas aplicacoes na determinacao da integrabilidade de funcoes.
Demonstrar a integrabilidade do resultado de certas operacoes nao-lineares
com funcoes integraveis. Demonstrar a propriedade da aditividade da integral
de uma funcao em relacao a` uniao de intervalos concatenados.
Introdu
c
ao
Nesta aula vamos apresentar o Criterio de Cauchy para Integrabilidade
que sera utilizado na determinacao da integrabilidade de certas funcoes e
na demonstracao de diversas propriedades. A primeira aplicacao do Criterio
de Cauchy que daremos sera a demonstracao do fato de que toda funcao
contnua e integravel a` Riemann.
Entre outras aplicacoes veremos o Teorema do Sanduche para Integrais e a integrabilidade do resultado de certas operacoes nao-lineares com
funcoes integraveis como produto, quociente, valor absoluto e composicao
com funcoes Lipschitz.
Tambem vamos estabelecer a propriedade da aditividade da integral
em relacao a` uniao de intervalos concatenados, isto e, dois intervalos cuja
intersecao se reduz a um ponto, o qual e um extremo de ambos.
Crit
erio de Cauchy para Integrabilidade
Se P = (x0 , x1 , . . . , xn1 , xn ) e uma particao de [a, b], denotemos por
{P} o conjunto {x0 , x1 , . . . , xn1 , xn }.
Dadas duas particoes P1 e P2 de [a, b], dizemos que P2 rena ou e
97
CEDERJ
ANALISE
REAL
um renamento para P1 e denotamos P2 P1 se {P1 } {P2 }. Tambem
usaremos a notacao alternativa P1 P2 como tendo o mesmo signicado que
P2 P1
Um fato imediato a partir das denicoes que acabamos de dar e que
dadas duas particoes quaisquer de [a, b], P1 e P2 , a particao P tal que {P} =
{P1 } {P2 } satisfaz P P1 e P P2 . Denotaremos a particao P assim
denida a partir das particoes P1 e P2 por P1 P2 .
Lema 25.1
Seja f : [a, b] R e sejam P1 , P2 particoes de [a, b] com P2 P1 . Entao
S (f ; P1 ) S (f ; P2 ) S (f ; P2 ) S (f ; P1 ).
1
2
e P2 := {Jk }nk=1
. Sejam
Prova: Seja P1 := {Ii }ni=1
e denamos Mi,1 e Mk,2 de modo semelhante apenas trocando inf por sup,
respectivamente.
Como P2 P1 , entao dado qualquer intervalo Jk em P2 , existe Ii em P1
tal que Jk Ii . Por outro lado, se Jk Ii , entao mi,1 mk,2 e Mk,2 Mi,1
(por que?). Alem disso, se P2 P1 entao, pela denicao da relacao ,
cada intervalo Ii de P1 satisfaz Ii = Jki Jki +1 Jki +i com Jki +l P2 ,
l = 0, 1, . . . , i . Logo,
S (f ; P1 ) =
n1
i=1
i
n1
i=1 l=1
i
n1
(por que?)
i=1 l=1
n2
k=1
Os dois proximos resultados constituem duas versoes para o que chamaremos de Criterio de Cauchy para Integrabilidade. A primeira versao que
damos a seguir se baseia em somas superiores e inferiores.
Teorema 25.1 (Crit
erio de Cauchy para Integrabilidade I)
As duas armacoes seguintes sao equivalentes:
CEDERJ
98
MODULO
2 - AULA 25
(25.1)
Prova: ((i)(ii)) Suponhamos f R[a, b]. Entao, pelo Teorema 24.4, dado
> 0, podemos obter = (/2) tal que se P e uma particao com P <
, entao |S (f ; P) L| < /2 e |S (f ; P) L| < /2. Assim, tomando
= () := (/2), se P < , entao, pela desigualdade triangular,
S (f ; P) S (f ; P) |S (f ; P) L| + |S (f ; P) L| <
+ = ,
2 2
CEDERJ
ANALISE
REAL
e
S (f ; Pk ) S (f ; Qk ) S (f ; Qk ) S (f ; Pk ).
Segue da e da desigualdade triangular que
|S (f ; P) L| |S (f ; P) S (f ; Qk )| + |S (f ; Qk ) L|
|S (f ; P) S (f ; Qk )| + |S (f ; Qk ) S (f ; Pk )| + |S(f ; Pk ) L|
< + + = .
3 3 3
Analogamente, obtemos |S (f ; P) L| < . Entao, pelo Teorema 24.4,
conclumos que f R[a, b].
O criterio que acabamos de estabelecer admite a formulacao alternativa
seguinte, aparentemente distinta porem equivalente.
Teorema 25.2 (Crit
erio de Cauchy para Integrabilidade I)
As duas armacoes seguintes sao equivalentes:
(i) f R[a, b];
(ii) Qualquer que seja > 0, existe = () > 0 tal que se P e Q sao
particoes quaisquer de [a, b] com P < , Q < , entao
S (f ; P) S (f ; Q) < .
(25.2)
Prova: ((i)(ii)) Inteiramente semelhante a` prova da implicacao correspondente no Teorema 25.1. Deixamos os detalhes para voce como exerccio.
((ii)(i)) A condicao (ii) claramente implica a condicao (ii) do Teorema 25.1, que por sua vez implica a condicao (i), pelo mesmo Teorema 25.1.
Como anunciado, daremos a seguir a segunda versao Criterio de Cauchy
para Integrabilidade, a qual e baseada em somas de Riemann.
Teorema 25.3 (Crit
erio de Cauchy para Integrabilidade II)
Seja f : [a, b] R. Entao as seguintes armacoes sao equivalentes:
(i) f R[a, b];
(ii) Dado qualquer > 0 existe = () > 0 tal que dada qualquer particao
P := {[xi1 , xi ]}ni=1 de [a, b] com P < e dois conjuntos quaisquer
CEDERJ
100
MODULO
2 - AULA 25
(25.3)
Prova: ((i)(ii)) Suponhamos que f R[a, b]. Pelo Teorema 25.1, existe
> 0 tal que se P e uma particao de [a, b] com P < , entao 0 S (f ; P)
S (f ; P) < . Agora, dadas duas particoes aferidas P e P com base em P
como na armacao (ii), temos
S (f ; P) e S (f ; P) S(f ; P)
S (f ; P) (por que?)
S (f ; P) S(f ; P)
e, portanto,
S(f ; P)|
S (f ; P) S (f ; P) <
|S(f ; P)
(por que?).
2(b a)
e |f (si ) Mi | <
,
2(b a)
0 S (f ; P) S (f ; P) |S(f ; P)
n
(|Mi f (si )| + |mi f (ti )|)(xi xi1 )
+
i=1
<
+2
(b a) =
2
2(b a)
(por que?).
CEDERJ
ANALISE
REAL
(i) f R[a, b];
(ii) Dado qualquer > 0 existe = () > 0 tal que dadas quaisquer
|S(f ; P)S(f
; P)|
n
i=1
Como > 0 e arbitrario, pelo Teorema 25.3 conclumos que f R[a, b].
102
(25.5)
e tais que
MODULO
2 - AULA 25
( ) < .
(25.6)
S( ; P)
<
3
a
b
S( ; P)
< .
3
a
(25.7)
P duas particoes
Seja P uma particao qualquer de [a, b] com P < e P,
aferidas com os mesmos subintervalos de P. Segue das desigualdades em
(25.7) que
+
3
a
<+
< S( ; P)
e S( ; P)
3
e S( ; P).
+
3
a
, +
3
.
Portanto,
S(f ; P)|
< 2 +
|S(f ; P)
3
a
( ) <
2
+ = .
3
3
Exemplos 25.1
(a) Sejam (an )nN e (bn )nN sequencias satisfazendo a0 := 1 > a1 > a2 >
a3 > > 0, lim an = 0 e |bn | < M para um certo M > 0. Seja
f : [0, 1] R denida por f (0) := 0 e f (x) := bn para x (an , an1 ],
1
para n N com a0 = 1. Entao f R[0, 1] e 0 f =
bn (an1 an ).
Observe que a serie
bn (an1 an ) e convergente devido a`s hipoteses
sobre an e bn (por que?).
103
CEDERJ
ANALISE
REAL
De fato, dado > 0, como lim an = 0, existe N0 = N0 () tal que
0 < an < /(2M ) para n N0 . Denimos
b ,
x (an , an1 ], n = 1, . . . , N0
n
=
,
(25.8)
M, x [0, aN ]
0
b , x (a , a ], n = 1, . . . , N
n
n n1
0
.
(25.9)
=
M, x [0, aN ]
0
Como
lim
= lim
segue que
b
a
f=
= lim
N
n=1
bn (an1 an ) =
bn (an1 an ),
n=1
bn (an1 an ).
(b) O Criterio de Cauchy para Integrabilidade 25.3 pode ser usado para
mostrar que uma funcao f : [a, b] R n
ao e integravel a` Riemann.
Para isso basta mostrarmos que: Existe 0 > 0 tal que para qualquer > 0 existem particoes aferidas P e P possuindo os mesmos
subintervalos de uma particao P de [a, b] com P < e tais que
S(f ; P)|
0 .
|S(f ; P)
Aplicaremos essa observacao a` funcao de Dirichlet f : [0, 1] R
denida por f (x) := 1 se x [0, 1] e racional e f (x) := 0 se x [0, 1] e
irracional.
De fato, podemos tomar 0 = 12 . Se P e P sao particoes aferidas
correspondentes a uma mesma particao P qualquer de [a, b], tais que
as afericoes de P sao racionais, enquanto as afericoes de P sao irra = 1, ao passo que S(f ; P)
:= 0 (por
cionais, teremos sempre S(f ; P)
que?). Devido a` densidade dos racionais e dos irracionais em [0, 1],
podemos tomar particoes P com normas arbitrariamente pequenas e
formar particoes aferidas P e P como mencionado. Conclumos entao
que a funcao de Dirichlet nao e integravel a` Riemann.
CEDERJ
104
MODULO
2 - AULA 25
Opera
co
es N
ao-Lineares com Fun
co
es Integr
aveis
No resultado a seguir vamos estabelecer o bom comportamento de
R[a, b] em relacao a`s operacoes de produto, quociente, tomada do modulo
ou valor absoluto e composicao com funcoes Lipschitz.
Teorema 25.7
Seja f, g R[a, b]. Entao:
(ii) Se |g(x)| > > 0 para x [a, b], entao f /g R[a, b];
b
b
(iii) |f | R[a, b] e a f a |f |.
Prova: (i) Como f, g R[a, b], pelo Teorema 24.2 existe M > 0 tal que
|f (x)| M e |g(x)| M para x [a, b]. Alem disso, pelo Teorema 25.1,
dado > 0, existe = () > 0 tal que se P e uma particao de [a, b] com
P < , entao
0 S (f ; P) S (f ; P) <
2M
.
2M
CEDERJ
ANALISE
REAL
e Mig , mgi denidos analogamente com g em lugar de f . Temos
n
S(f g; P)|
= (f (ti )g(ti ) f (si )g(si ))(xi xi1 )
|S(f g; P)
i=1
n
i=1
n
i=1
n
|f (ti )||g(ti ) g(si )| + |g(si )||f (ti ) f (si )| (xi xi1 )
i=1
n
(Mig
mgi )(xi
xi1 ) + M
i=1
n
i=1
+M
= .
<M
2M
2M
Como > 0 e arbitrario, segue do Teorema 25.3 que f g R[a, b].
(ii) Basta provar que 1/g R[a, b] e entao aplicar o tem (i) a f e 1/g.
Provemos entao que 1/g R[a, b]. Dadas duas particoes aferidas de [a, b],
P := {(Ii , ti )}ni=1 e P = {(Ii , si )}ni=1 , possuindo os mesmos subintervalos de
uma particao P := {Ii }ni=1 , Ii := [xi1 , xi ], temos
n
1
1
S(1/g; P)|
= (
)(xi xi1 )
|S(1/g; P)
g(ti ) g(si )
i=1
n
|g(si ) g(ti )|
i=1
|g(ti )||g(si )|
(xi xi1 )
1
(S (g; P) S (g; P)) .
2
(por que?)
106
MODULO
2 - AULA 25
n
S(|f |; P)|
= (|f (ti )| |f (si )|)(xi xi1 )
|S(|f |; P)
i=1
n
|f (ti )| |f (si )|(xi xi1 )
i=1
n
i=1
S (f ; P) S (f ; P).
(por que?)
Como nos tens anteriores, usamos o Teorema 25.1 para obter que existe
> 0 tal que o u
ltimo membro da desigualdade anterior e menor que se
P < e entao usamos o Teorema 25.3 para concluir que |f | R[a, b].
b
b
O fato de que a f a |f | segue de f |f |, f |f | e do Teorema 24.3(i). Deixamos os detalhes da demonstracao para voce como exerccio.
(iv) Por denicao, dizer que H : [c, d] R e Lipschitz signica que
existe C > 0 tal que |H(y)H(z)| C|yz|, para y, z [c, d]. Mais uma vez,
dadas duas particoes aferidas de [a, b], P := {(Ii , ti )}ni=1 e P = {(Ii , si )}ni=1 ,
possuindo os mesmos subintervalos de uma particao P := {Ii }ni=1 , Ii :=
[xi1 , xi ], temos
n
i=1
n
H(f (ti )) H(f (si ))(xi xi1 )
i=1
n
i=1
C S (f ; P) S (f ; P) .
Da mesma forma que no tem anterior, usamos os Teoremas 25.1 e 25.3 para
concluir que H f R[a, b]. Deixamos os detalhes para voce como exerccio.
O Teorema da Aditividade
A seguir estabeleceremos o fato de que a integral e uma funcao aditiva
do intervalo sobre o qual a funcao e integrada. O signicado preciso dessa
propriedade cara claro no enunciado do resultado.
107
CEDERJ
ANALISE
REAL
Teorema 25.8
Seja f : [a, b] R e c (a, b). Entao f R[a, b] se, e somente se, suas
restricoes a [a, c] e [c, b] sao ambas integraveis a` Riemann. Nesse caso vale
b
c
b
f=
f+
f.
(25.10)
a
(25.11)
108
MODULO
2 - AULA 25
(25.12)
f :=
f := 0.
(25.13)
Com a denicao que acabamos de dar, o Teorema da Aditividade facilmente implica o seguinte resultado, cuja demonstracao se resume a` vericacao
de todos os possveis casos dependendo do ordenamento entre , , , e sera
deixada para voce como exerccio (veja o exerccio 12).
Teorema 25.9
Se f R[a, b] e , , sao quaisquer n
umeros em [a, b], entao
f=
f+
f.
(25.14)
Exerccios 25.1
1. Seja f : [a, b] R. Mostre que f
/ R[a, b] se, e somente se, existe
0 > 0 tal que para todo n N existem particoes aferidas P n e Q n com
P n < 1/n e Q n < 1/n tais que |S(f ; P n ) S(f ; Q n )| 0 .
109
CEDERJ
ANALISE
REAL
2. Considere a funcao f denida por f (x) := x+1 para x [0, 1] racional,
e f (x) := 0 para x [0, 1] irracional. Mostre que f nao e integravel a`
Riemann.
e uma soma de Riemann qualquer de f : [a, b] R, mostre
3. Se S(f ; P)
que existe uma funcao degrau (veja exerccio 13) : [a, b] R tal que
b
= S(f ; P).
a
4. Suponha que f e contnua em [a, b], que f (x) 0 para todo x [a, b]
b
e que a f = 0. Prove que f (x) = 0 para todo x [a, b].
5. Mostre que a hipotese de que f e contnua no exerccio anterior nao
pode ser retirada.
b
b
6. Se f e g sao contnuas em [a, b] e se a f = a g, prove que existe
c (a, b) tal que f (c) = g(c).
7. Se f e limitada por M em [a, b] e se a restricao de f a todo intervalo
[c, b] com c (a, b) e integravel a` Riemann, mostre que f R[a, b]
b
b
e que c f a f quando c a+. [Dica: Sejam c (x) := M e
c (x) := M para x [a, c) e c (x) = c (x) := f (x) para x [c, b].
Aplique o Teorema do Sanduche para Integrais 25.6.]
8. Use o exerccio anterior para mostrar que a funcao f : [0, 1] R
denida por f (x) := sen(1/x) para x (0, 1] e f (0) := 0 pertence a
R[0, 1].
b
9. Se f e contnua em [a, b], mostre que existe c [a, b] tal que a f =
f (c)(b a). Esse resultado e a`s vezes chamado de Teorema do Valor
Medio para Integrais.
10. Suponhamos que f : [a, b] R, que a = c0 < c1 < < cm = b e
que a restricao de f a [ci1 , ci ] pertence a R[ci1 , ci ] para i = 1, . . . , m.
Prove que f R[a, b] e
b
m ci
f=
f.
a
i=1
ci1
110
MODULO
2 - AULA 25
111
CEDERJ
MODULO
2 - AULA 26
Introdu
c
ao
Nesta aula vamos estabelecer a conexao entre as nocoes de derivada e
integral, usualmente bastante explorada nos cursos de Calculo para se computar integrais. O Teorema Fundamental do Calculo e o resultado que exprime essa conexao. Ele possui duas formas: a primeira versa sobre a integral
da derivada de uma funcao; a segunda, sobre a derivada de uma integral com
limite superior variavel. Juntas, essas duas formas do Teorema Fundamental
podem ser sintetizadas a grosso modo com a armacao de que a derivada
e a integral sao operacoes inversas uma da outra. Porem, e preciso tomar
cuidado com as sutilezas nas hipoteses para a validade de cada um desses
resultados.
CEDERJ
ANALISE
REAL
(b) F (x) = f (x) para todo x [a, b] \ E;
(c) f R[a, b].
Entao temos
a
f = F (b) F (a).
(26.1)
Prova: Como o conjunto E e nito, podemos supor sem perda de generalidade que E = {a, b}; o caso geral se reduz a esse fazendo-se uma particao do
intervalo [a, b] numa uniao nita de intervalos concatenados.
Seja > 0 dado. Como f R[a, b] pela hipotese (c), existe = () > 0
tal que se P = {[xi1 , xi ]}ni=1 e uma particao qualquer de [a, b] com P < ,
entao
b
f S (f ; P)
f S (f ; P)
f + .
(26.2)
Pelo Teorema do Valor Medio 22.4 aplicado a F sobre [xi1 , xi ] temos que
existe ui (xi1 , xi ) tal que
F (xi ) F (xi1 ) = F (ui )(xi xi1 )
para i = 1, . . . , n.
i=1
segue que
Como F (b) F (a) = S(f ; P),
b
F (b) F (a)
f < .
a
Observa
c
ao 26.1
Se a funcao F e diferenciavel em todo ponto de [a, b], entao a hipotese (a)
e automaticamente satisfeita (por que?). Mesmo que F seja derivavel em
todo ponto de [a, b] a condicao (c) pode nao valer ja que existem funcoes
F satisfazendo essa condicao tais que F nao e integravel a` Riemann (veja
Exemplo 26.1 (e)).
CEDERJ
114
MODULO
2 - AULA 26
Exemplos 26.1
(a) Se f (x) := x4 para x [a, b], entao f (x) = F (x) para todo x [a, b],
onde F (x) := 15 x5 . Alem disso, f e contnua, logo f R[a, b]. Portanto,
o Teorema Fundamental (com E = ) implica
a
1
x4 dx = (b5 a5 ).
5
(b) Se f (x) = 1/(x2 + 1) para x [a, b], entao f e contnua e f (x) = F (x)
para todo x [a, b], onde F (x) := arctan x. Portanto, o Teorema
Fundamental (com E = ) implica que
x2
1
dx = arctan b arctan a.
+1
(c) Se f (x) := sgn(x) para x [5, 5], entao f (x) = F (x) para todo x
[5, 5] \ {0}, onde F (x) := |x|. Como sgn(x) e uma funcao degrau em
[5, 5], temos que f R[5, 5]. Segue entao do Teorema Fundamental
(com E = {0}) que
sgn(x) dx = |5| | 5| = 5 5 = 0.
115
CEDERJ
ANALISE
REAL
f
a
(26.3)
f,
F (z) F (w) =
f.
w
Agora, como M f (x) M para x [a, b], o Teorema 24.3(i) implica que
z
f M (z w),
M (z w)
w
f M |z w|,
116
MODULO
2 - AULA 26
(26.4)
Porem, no intervalo [
x, x + h] a funcao f satisfaz a desigualdade (26.4), de
modo que (pelo Teorema 24.3(i)) temos
x+h
(f (
x) ) h F (
x + h) F (
x) =
f (f (
x) + ) h.
x
F
(
x
)
f (
x) .
h
Como > 0 e arbitrario, conclumos que o limite `a direita quando h 0+
do quociente de Newton e dado por
F (
x + h) F (
x)
= f (
x).
h0+
h
lim
CEDERJ
ANALISE
REAL
(b) Seja g : [0, 1] R a funcao de Thomae, considerada no Exemplo 24.1(f),
denida por g(x) := 0 se x [0, 1] e irracional, g(0) := 0 e por
g(x) := 1/n se x [0, 1] e um n
umero racional, e x = m/n onde
m, n N nao possuem divisores comuns a nao ser 1. Entao sua integral
x
indenida G(x) := 0 g e identicamente 0 em [0, 1], pois g 0 e assim
x
1
temos 0 0 g 0 g = 0, como vimos no Exemplo 24.1(f). Em particular, temos G (x) = 0 para todo x [0, 1]. Portanto, G (x) = g(x)
para x Q [0, 1], de modo que G nao e uma antiderivada de g em
[0, 1].
Mudan
ca de Vari
aveis
O Teorema a seguir justica o metodo da mudanca de variaveis muito
utilizado para computar integrais, ja estudado nos cursos de Calculo.
Teorema 26.4 (Mudan
ca de Vari
aveis)
Seja J := [, ] e suponhamos que : J R possui derivada contnua em
J. Se f : I R e contnua num intervalo I contendo (J), entao
()
f ((t)) (t) dt =
f (x) dx.
(26.5)
()
x
Prova: Denamos F (x) := () f (s) ds para x I; F e uma integral indenida de f com ponto-base em (). Seja G(t) := F ((t)) para t J.
Pela Regra da Cadeia, temos G (t) = F ((t)) (t) = f ((t)) (t), onde na
u
ltima igualdade aplicamos o Teorema Fundamental 26.3. Como G() = 0,
o Teorema Fundamental 26.2 implica
()
()
Exemplos 26.3
/2
(a) 0 (sen t)2 cos t dt = 1/3.
De fato, tomando (t) = sen t, J = [0, /2] e f (x) = x2 , podemos
aplicar o Teorema 26.4 para obter
/2
(sen t) cos t dt =
0
CEDERJ
118
1
x3
1
x dx = = .
3 0 3
2
MODULO
2 - AULA 26
(/2)2 sen t
dt para a (0, /2]. Entao, I(a) = 2 cos a.
(b) Seja I(a) := a2
t
Em particular, I(0+) = 2.
x=a
b
f em termos de F .
x
sen x
(b) Determine H(x) := x
f em termos de F .
7. Seja f : [a, b] R contnua em [a, b] e seja v : [c, d] R diferenciavel
v(x)
em [c, d] com v([c, d]) [a, b]. Se denirmos G(x) := a f , mostre
que G (x) := f (v(x)) v (x) para todo x [c, d].
8. Encontre F quando F e denida em [0, 1] por:
119
CEDERJ
ANALISE
REAL
(a) F (x) :=
(b) F (x) :=
x2
0
x
x2
(1 + t3 )1 dt.
1 + t2 dt.
1
x
9. Se f : [0, 1] R e contnua e 0 f = x f para todo x [0, 1], mostre
que f (x) = 0 para todo x [0, 1].
10. Use o Teorema 26.4 (Mudanca de Variaveis) para calcular as seguintes
integrais.
1
t 1 + t2 dt;
0
2
(b) 0 t2 (1 + t3 )1/2 dt;
4 1+t
(c) 1 t dt;
4
(d) 1 cost t dt.
(a)
CEDERJ
120
Seq
uencias e Series de Funcoes
MODULO
2 - AULA 27
Aula 27 Seq
u
encias e S
eries de Fun
co
es
Metas da aula: Denir convergencia pontual e convergencia uniforme
para sequencias de funcoes. Estabelecer o criterio de Cauchy para convergencia uniforme de funcoes. Enunciar e demonstrar o Teste de Weierstrass
para a convergencia uniforme de series de funcoes. Estabelecer os resultados
basicos sobre series de potencias.
Introdu
c
ao
Dado A R suponhamos que para cada n N tenhamos associada uma
funcao fn : A R. Diremos que (fn ) e uma sequencia de funcoes denidas
em A tomando valores em R. Sequencias de funcoes surgem com muita
frequencia em Analise, por exemplo, quando desejamos encontrar uma funcao
vericando determinadas condicoes e adotamos a estrategia de resolver tal
problema obtendo sucessivamente funcoes que satisfazem aproximadamente
tais condicoes, com aproximacoes cada vez melhores.
Nesta aula vamos estudar dois tipos importantes de convergencia para
uma sequencia de funcoes (fn ). O primeiro tipo de convergencia de funcoes
que deniremos e tambem o mais simples; a convergencia pontual. Signica
simplesmente que a sequencia de n
umeros reais (fn (x)) converge para um
n
umero f (x) para todo x A; nesse caso dizemos que a funcao f : A R,
121
CEDERJ
Seq
uencias e Series de Funcoes
ANALISE
REAL
denida por f (x) := lim fn (x) para x A, e o limite pontual da sequencia
de funcoes fn : A R.
O segundo tipo de convergencia que veremos e a convergencia uniforme
de funcoes fn : A R para uma funcao f : A R. Signica, grosso modo,
que existe uma sequencia de n
umeros positivos (Mn ) satisfazendo lim Mn = 0
e |fn (x) f (x)| Mn para todo x A. A convergencia uniforme e portanto
mais restritiva que a convergencia pontual, no sentido de que a convergencia
uniforme implica a convergencia pontual, sendo a recproca em geral falsa,
como veremos.
Uma questao basica quando lidamos com uma sequencia de funcoes
qualquer, (fn ), e saber se certas propriedades vericadas por todos os membros fn dessa sequencia, tais como continuidade e integrabilidade, tambem
sao vericadas pela funcao limite f , no caso em que a sequencia fn converge
em algum sentido para a funcao f . Veremos na proxima aula que o conceito
de convergencia uniforme de funcoes fornece resposta positiva a essa questao
em diversos casos, como o da continuidade e da integrabilidade, e que o
mesmo nao e verdadeiro em relacao ao conceito de convergencia pontual.
Converg
encia Pontual e Converg
encia Uniforme
Iniciemos a seguir o estudo detalhado desses modos de convergencia.
Comecemos com a denicao da convergencia pontual de uma sequencia de
funcoes.
Deni
c
ao 27.1
Seja A R, (fn ) uma sequencia de funcoes denidas em A com valores em
R e f : A R. Dizemos que a sequencia (fn ) converge pontualmente para
f em A se, para cada x A, a sequencia de n
umeros reais (fn (x)) converge
para f (x).
Usando a denicao de limite de uma sequencia de n
umeros reais podemos reescrever a Denicao 27.1 na forma: (fn ) converge pontualmente para
f em A se para todo x A e todo > 0 existe N0 = N0 (x, ) N tal que se
n N e n > N0 , entao |fn (x) f (x)| < .
O detalhe a ser destacado e que na denicao de convergencia pontual
N0 depende nao apenas de mas, em geral, tambem de x A. Essa e a
diferenca fundamental entre a convergencia pontual e a convergencia uniforme de funcoes que denimos a seguir.
CEDERJ
122
Seq
uencias e Series de Funcoes
MODULO
2 - AULA 27
Deni
c
ao 27.2
Seja A R, (fn ) uma sequencia de funcoes denidas em A com valores em
R e f : A R. Dizemos que a sequencia (fn ) converge uniformemente para
f em A se para todo > 0 existem N0 = N0 () N tal que se n N e
n > N0 , entao |fn (x) f (x)| < para todo x A.
fn
f
CEDERJ
Seq
uencias e Series de Funcoes
ANALISE
REAL
e pelo Lema 27.1 isso implica que (fn ) nao converge uniformemente a
f em R.
Por outro lado, e facil ver que essa mesma sequencia (fn ) converge
uniformemente para a funcao identicamente nula f em todo intervalo
[L, L] para qualquer L > 0. De fato, dado > 0, como L/n 0,
podemos encontrar N0 N tal que L/N0 < . Assim, se n > N0 , temos
x
L
|fn (x) f (x)| = | |
< .
n
N0
Como > 0 e arbitrario, isso que mostra que (fn ) converge uniformemente a f em [L, L].
(b) fn (x) = xn para x [0, 1] e n N.
Para x [0, 1) claramente temos xn 0, ao passo que fn (1) = 1 para
todo n N. Portanto, (fn ) converge pontualmente a f em [0, 1], com
f (x) = 0 para x [0, 1) e f (1) = 1. Observe que o limite pontual
f : [0, 1] R e uma funcao descontnua em x = 1.
1
f1 (x) = x
f2 (x) = x2
f3 (x) = x3
f4 (x) = x4
0
0.2
0.4
0.6
0.8
124
Seq
uencias e Series de Funcoes
MODULO
2 - AULA 27
m
.
m+n
Claramente, (fn ) converge pontualmente a` funcao constante f identicamente igual a 0 em A. Observe que 0 e um ponto de acumulacao de
A e para cada n N xo temos
lim fn (x) = lim
x0
m
= 1.
m+n
x0 n
n x0
xn+1
(n + 1)an+1
1
= lim
=
lim(1
+
)a = a < 1,
xn
nan
n
o que mostra que (fn (x)) converge a 0 tambem para x (0, 1).
Veremos na aula que vem, como consequencia de um resultado sobre
o limite das integrais de sequencias uniformemente convergentes, que
a sequencia (fn ) nao converge uniformemente em [0, 1]. A vericacao
direta dessa armacao seria um tanto complicada.
125
CEDERJ
Seq
uencias e Series de Funcoes
ANALISE
REAL
0.9
f4 (x) = 4x(1 x2 )4
0.8
0.7
f3 (x) = 3x(1 x2 )3
0.6
0.5
f2 (x) = 2x(1 x2 )2
0.4
0.3
f1 (x) = x(1 x2 )
0.2
0.1
0
0.2
0.4
0.6
0.8
A Norma Uniforme
conviente introduzirmos a nocao de norma uniforme de funcoes limiE
tadas para o estudo da convergencia uniforme de sequencias de funcoes.
Deni
c
ao 27.3
Se A R e g : A R e uma funcao, dizemos que g e limitada em A se a
imagem de g, denotada por g(A), e um subconjunto limitado de R. Se g e
limitada, denimos a norma uniforme de g em A por
g := sup{|g(x)| : x A}.
(27.1)
para todo x A.
(27.2)
Lema 27.2
Uma sequencia (fn ) de funcoes em A R converge uniformemente em A
para f se, e somente se, fn f 0.
Prova: () Se (fn ) converge uniformemente em A para f , entao pela Denicao 27.2,
dado qualquer > 0 existe N0 () tal que se n > N0 () entao
|fn (x) f (x)| < ,
para todo x A.
126
Seq
uencias e Series de Funcoes
MODULO
2 - AULA 27
que |fn (x) f (x)| < para todo n > N0 () e x A. Decorre da que (fn )
converge uniformemente em A para f .
Fazendo uso da norma uniforme, podemos obter uma condicao necessaria
e suciente para a convergencia uniforme, semelhante a` que vimos para
sequencias de n
umeros. No enunciado a seguir, quando nos referirmos a`
norma uniforme de uma funcao estara implcita a armacao de que tal funcao
e limitada.
Teorema 27.1 (Crit
erio de Cauchy para Converg
encia Uniforme)
Seja (fn ) uma sequencia de funcoes de A R para R. Entao (fn ) converge
uniformemente em A para uma funcao f : A R se, e somente se, para
cada > 0 existe um n
umero N0 () N tal que se m > N0 () e n > N0 (),
entao fm fn < .
Prova: () Se fn f uniformemente em A, entao dado > 0 existe
um natural H0 ( 21 ) tal que se n > H0 ( 12 ) entao fn f < 12 . Logo, se
m > H0 ( 12 ) e n > H0 ( 12 ), entao
1
1
|fm (x) fn (x)| |fm (x) f (x) + |fn (x) f (x)| < + =
2
2
para todo x A. Portanto, fm fn < , para m, n > H0 ( 12 ) =: N0 ().
() Reciprocamente, suponhamos que para todo > 0 existe N0 () tal
que se m, n > N0 (), entao fm fn < . Segue entao que para cada x A
temos
|fn (x) fm (x)| fm fn <
(27.3)
Segue que (fn (x)) e uma sequencia de Cauchy em R. Portanto, pelo Criterio
de Cauchy para Sequencias, (fn (x)) e uma sequencia convergente. Denimos
f : A R por
f (x) := lim fn (x)
para x A.
Fazendo n em (27.3), segue que para todo x A temos
|fm (x) f (x)|
S
eries de Funco
es
Assim como no caso das sequencias numericas e sua relacao com as
series numericas, um caso particular de sequencias de funcoes e o das series
127
CEDERJ
Seq
uencias e Series de Funcoes
ANALISE
REAL
de funcoes,
fn , que nada mais sao do que sequencias de funcoes (sN ) que
se escrevem como somas parcias de uma sequencia de funcoes (fn ), isto e,
sN (x) =
N
fn (x).
n=1
Em vez de usar a notacao (sN ), e comum adotar-se a notacao
fn para
N
denotar a serie cujas somas parciais sao sN =
n=1 fn . Frequentemente
iniciamos a serie a partir de n = 0 em vez de n = 1, como no caso das series
de potencias que veremos mais adiante.
Como as series de funcoes sao um caso particular de sequencias de
funcoes, temos automaticamente denidos os conceitos de convergencia pontual e de convergencia uniforme de series de funcoes.
Nomeadamente, se A R e fn : A R, n N, dizemos que a serie
de funcoes
fn converge pontualmente para f : A R em A se para todo
x A a sequencia das somas parciais sN (x) := N
n=1 fn (x) converge (quando
N ) para f (x). Nesse caso escrevemos
f (x) =
fn (x)
ou
f (x) =
fn (x),
x A.
(27.4)
n=1
Similarmente, dizemos que a serie
fn converge uniformemente para f :
N
A R em A se a sequencia das somas parciais sN :=
n=1 fn converge
uniformemente para f em A. Nesse caso escrevemos
f=
fn
ou
f=
fn .
(27.5)
n=1
CEDERJ
128
Mn < .
(por que?)
Seq
uencias e Series de Funcoes
Logo, temos
MODULO
2 - AULA 27
N
N
N
fn (x)
|fn (x)|
Mn < ,
n=M +1
n=M +1
n=M +1
fn converge
S
eries de pot
encias
Entre as series de funcoes ocupam lugar de destaque as series de potencias,
n
isto e, series da forma
coes mais importantes
n=0 an (xx0 ) . De fato, as fun
da Analise, como a exponencial, o logartmo e as funcoes trigonometricas, podem ser expressas como series de potencias. Para simplicar, vamos estudar
series de potencias com x0 = 0; o caso geral se reduz a este atraves da
mudanca de variavel y = x x0 .
n
Com relacao a` convergencia de uma serie de potencias
n=0 an x , a
primeira coisa a observar e que uma tal serie sempre converge para x = 0,
com limite obviamente igual a a0 .
Por outro lado, se a sequencia ( n |an |) nao e limitada, entao a sequencia
(|an xn |) = (( n |an ||x|)n ) tambem nao e limitada para x = 0, o que implica
n
que a serie
ao converge para x = 0, pois seu termo geral xn :=
n=0 an x n
n
an x nao satisfaz |xn | 0. Conclumos assim que series de potencias para
as quais a sequencia ( n |an |) e ilimitada so convergem em x = 0, divergindo
n n
para todo x = 0. Este e o caso da serie
n=0 n x .
Consideremos agora o caso em que a sequencia ( n |an |) e limitada.
Portanto, existe M > 0 tal que n |an | M . Seja 0 < M tal que existe
N0 N para o qual n |an | < para todo n N0 . Entao o termo geral da
n
n
n
n
serie
a
x
,
x
=
a
x
,
satisfaz
|x
|
=
|an ||x| < |x| para todo
n
n
n
n
n=0
n N0 . Portanto, se x e tal que |x| < 1, temos n |xn | < |x| < 1 e
n
pelo Teste da Raiz (Teorema 11.4) podemos concluir que a serie
n=0 an x
converge absolutamente para |x| < 1/. Seja
L := inf{ > 0 : existe N0 N tal que n |an | < para n N0 }. (27.6)
Chamamos o n
umero r = 1/L o raio de convergencia da serie de potencias
n
n=0 an x .
129
CEDERJ
Seq
uencias e Series de Funcoes
ANALISE
REAL
Exemplos 27.2
n
(a) A serie geometrica
encia igual a 1 ja que
n=0 x tem raio de converg
an = 1 para todo n N. Ja sabemos que tal serie converge se |x| < 1
e diverge se |x| 1.
1 n
(b) A serie
encia igual a 1. Ela converge
n=1 n x tem raio de converg
para x [1, 1) e diverge se x
/ [1, 1).
1
| xn | = lim
n
n
1
|x| < 1.
n
(1)n
Sabemos tambem que a serie
e convergente (v. Exemplo 10.3(e))
n=1
n
1
e que a serie harmonica n=1 n diverge (v. Exemplo 10.3(a)). Portanto,
1 n
a serie
n=1 n x converge em 1 e diverge em 1.
Finalmente, pelo Teste da Raiz, temos que se |x| > 1 entao a serie
1 n
a que neste caso, para o termo geral xn = n1 xn ,
n=1 n x diverge, j
n
|x| |x| > 1 e
temos que |xn | e divergente pois |xn+1 |/|xn | =
n+1
pelo Teorema 7.7 isto implica que |xn | e divergente. Em particular, |xn |
nao converge a zero, como deve acontecer para series convergentes.
Resumimos as propriedades do raio de convergencia no seguinte teorema.
Teorema 27.3
n
Se a sequencia ( n |an |) nao e limitada, entao a serie
o converge
n=0 an x s
n
em x = 0. Por outro lado, se a sequencia ( |an |) e limitada e L e dado por
n
(27.6), entao a serie
n=0 an x converge absolutamente para |x| < r, onde
r := 1/L e o raio de convergencia da serie, e diverge para |x| > r. Para x =
r e x = r nada se pode armar em geral sobre a convergencia ou divergencia
da serie. Se a sequencia ( n |an |) e convergente entao L = lim n |an |.
CEDERJ
130
Seq
uencias e Series de Funcoes
MODULO
2 - AULA 27
Como consequencia do Teste M de Weierstrass temos o seguinte importante fato sobre series de potencias.
Teorema 27.4
A serie de potencias
an xn converge uniformemente em todo intervalo
fechado [s, s] se 0 < s < r, onde r e o raio de convergencia da serie.
Prova: A serie
an xn e absolutamente convergente para todo x (r, r).
Em particular, a serie
|an |sn e convergente. Como, para x [s, s] temos
|an xn | |an |sn , segue do Teorema 27.2 que a serie
an xn converge uniformemente em [s, s].
Exerccios 27.1
1. Mostre que lim x/(x + n) = 0 para todo x 0. Mostre que para todo
a > 0 a convergencia e uniforme no intervalo [0, a], mas nao e uniforme
no intervalo [0, ).
2. Mostre que lim nx/(1 + n2 x2 ) = 0 para todo x R. Mostre que para
131
CEDERJ
Seq
uencias e Series de Funcoes
ANALISE
REAL
todo a > 0 a convergencia e uniforme no intervalo [a, ), mas nao e
uniforme no intervalo [0, ).
3. Mostre que a sequencia de funcoes fn (x) := nx/(1 + nx) converge
pontualmente em [0, ). Mostre que para todo a > 0 a convergencia e
uniforme no intervalo [a, ), mas nao e uniforme no intervalo [0, ).
4. Mostre que a sequencia de funcoes fn (x) := xn /(1 + xn ) converge
pontualmente em [0, ). Mostre que para todo 0 < a < 1 e todo
1 < b < a convergencia e uniforme nos intervalos [0, a] e [b, ), mas
a convergencia nao e uniforme em [0, ).
5. Mostre que se (fn ) e (gn ) convergem uniformemente em A R para
f e g, respectivamente, entao (fn + gn ) converge uniformemente em A
para f + g.
6. Mostre que se (fn ) e (gn ) sao sequencias de funcoes limitadas em A R
que convergem uniformemente em A para f e g, respectivamente, entao
(fn gn ) converge uniformemente em A para f g.
7. Seja (fn ) uma sequencia de funcoes convergindo uniformemente para f
em A e que satisfaz |fn (x)| M para todo n N e todo x A. Se g
e uma funcao contnua no intervalo [M, M ], mostre que a sequencia
(g fn ) converge uniformemente para g f em A.
n
n
8. Mostre que a serie de funcoes
n=1 x (1 x ) converge pontualmente
para x (1, 1]. Mostre que para todo 0 < a < 1 a convergencia e
uniforme no intervalo [a, a].
9. Prove que se a serie de funcoes
|fn (x)| converge uniformemente em
A R, entao
fn (x) tambem converge uniformemente em A.
2n
e
10. Se L = lim n |an |, prove que as series de potencias
n=0 an x
2n+1
tem ambas raio de convergencia igual a 1/ L.
n=0 an x
11. Determine o raio de convergencia de cada uma das series de potencias:
(a)
(b)
(c)
CEDERJ
132
n=0
n2 x n ;
n=0
an x n ;
n=0
n n
x .
Cambio de Limites
MODULO
2 - AULA 28
Aula 28 C
ambio de Limites
Metas da aula: Estabelecer os principais resultados sobre troca de
ordem de operacoes de limite, os quais fornecem condicoes para a preservacao
de propriedades como continuidade, integrabilidade e diferenciabilidade na
passagem ao limite de uma seq
uencia de funcoes.
Introdu
c
ao
Como foi dito na aula anterior, a questao central sobre limites de
seq
uencias de funcoes e aquela sobre a preservacao na passagem ao limite
de certas propriedades vericadas pelos membros das seq
uencias. Nesta
aula estabeleceremos resultados que tratam dessa questao em relacao a`s propriedades de continuidade, integrabilidade e diferenciabilidade. Todas essas
propriedades sao denidas a partir de operacoes de passagem ao limite. Assim, a questao da sua preservacao no limite de uma seq
uencia de funcoes
se reduz ao problema de sabermos em que circunstancias podemos trocar a
ordem das operacoes de limites referentes a` seq
uencia de funcoes e a` propriedade particular vericada por cada membro da seq
uencia. Por exemplo,
se (fn ) e uma seq
uencia de funcoes contnuas, num intervalo I, que converge
a uma funcao f em I, a questao de saber se f e contnua em I se reduz ao
problema de saber se
?
n x
x
x
x n
CEDERJ
Cambio de Limites
ANALISE
REAL
Preserva
c
ao da Continuidade
O seguinte resultado estabelece a possibilidade de executarmos um
c
ambio de limites entre o limite no ndice dos membros de uma seq
uencia
de funcoes denidas num conjunto A e o limite de cada um dos membros
quando x tende a um ponto de acumulacao x de A.
Teorema 28.1
Suponhamos que fn f uniformemente num conjunto A R. Seja x um
ponto de acumulacao de A, e suponhamos que
lim fn (x) = Ln
n = 1, 2, 3, . . . .
x
x
(28.1)
x
x
(28.2)
x
x n
n x
x
(28.3)
Prova: Seja > 0 dado. Pelo Criterio de Cauchy 27.1 para convergencia
uniforme aplicado a` seq
uencia (fn ), existe N0 N tal que se n N0 , m N0 ,
entao
|fn (x) fm (x)| <
para todo x A.
(28.4)
Fazendo x x em (28.4), obtemos
|Ln Lm |
para n N0 , m N0 ,
(28.5)
para todo x A,
(28.6)
|Ln L| .
3
(28.7)
134
se x V A, x = x.
(28.8)
Cambio de Limites
MODULO
2 - AULA 28
se x V A, x = x,
Segue imediatamente do Teorema 28.1 o seguinte resultado cuja vericacao deixamos para voce como exerccio.
Teorema 28.2
Se (fn ) e uma sequencia de funcoes contnuas em A R e se fn f
uniformemente em A, entao f e contnua em A.
Preservac
ao da Integrabilidade
No Exemplo 27.1(e) vimos que a sequencia (fn ), com fn (x) := nx(1
x ) , x [0, 1], converge pontualmente para a funcao identicamente nula,
f (x) := 0, x [0, 1]. Se gn (x) := 21 (1 x2 )n+1 , x [0, 1], entao fn (x) =
n
g (x). Assim, pelo Teorema Fundamental do Calculo temos
n+1 n
2 n
0
n
fn (x) dx =
n+1
0
gn (x) dx =
n
n 1
1
(gn (1) gn (0)) =
( ) .
n+1
n+1 2
2
Prova: Segue do Teorema 27.1 que, dado > 0, existe N0 = N0 () tal que
se n N0 , m N0 , entao
fn (x) fm (x)
CEDERJ
Cambio de Limites
ANALISE
REAL
Da, pelo Teorema 24.3, segue que
(b a)
fn
fm (b a).
b
Como > 0 e arbitrario, a sequencia numerica ( a fn ) e uma sequencia de
Cauchy em R e portanto converge para algum n
umero, digamos L R.
b
Mostremos agora que f R[a, b] e a f = L. Com efeito, dado > 0,
seja N0 () tal que se n > N0 (), entao |fn (x) f (x)| < para todo x [a, b].
Se P := {([xi1 , xi ], ti )}N
e uma particao aferida de [a, b] e n > N0 (), entao
i=1
N
S(f ; P)|
= (fn (ti ) f (ti ))(xi xi1 )
|S(fn ; P)
i=1
N
i=1
N
i=1
<
fp S(fp ; P)|
b
a
Entao temos
+ |S(fp ; P)
L| |S(f ; P)
S(fp ; P)|
|S(f ; P)
fp | + |
b
a
fp L|
(b a) + + = (b a + 2).
Como > 0 e arbitrario, segue entao que f R[a, b] e
desejado.
b
a
f = L, como
Preserva
c
ao da Diferenciabilidade
Mencionamos em aula passada que Weierstrass mostrou que a funcao
denida pela serie
2k cos(3k x)
f (x) :=
k=0
136
Cambio de Limites
MODULO
2 - AULA 28
uma sequencia de funcoes (sN ) diferenciaveis em todo ponto, a qual converge uniformemente pelo Teste M de Weierstrass 27.2. Assim, apesar da
sequencia de funcoes diferenciaveis (sN ) convergir uniformemente, a funcao
limite f (x) nao e diferenciavel em nenhum ponto. Isso mostra que a convergencia uniforme de funcoes diferenciaveis nao implica a diferenciabilidade
da funcao limite.
1
Mostramos a seguir que se a sequencia (fn ) converge num intervalo limitado I e a sequencia das derivadas (fn ) e uniformemente convergente em
I entao a funcao limite de (fn ) e diferenciavel em todo ponto de I. Na verdade, como veremos, a convergencia uniforme de (fn ) decorre da convergencia
uniforme de (fn ) e da convergencia de (fn (x0 )) para algum x0 I.
Teorema 28.4
Seja I R um intervalo limitado e seja (fn ) uma sequencia de funcoes diferenciaveis em I com valores em R. Suponhamos que existe x0 I tal que
(fn (x0 )) converge, e que a sequencia (fn ) das derivadas converge uniformemente em I para uma funcao g. Entao a sequencia (fn ) converge uniformemente em I para uma funcao f que possui derivada em todo ponto de I e
f = g.
Prova: Sejam a < b os pontos extremos de I e seja x I um ponto arbitrario.
Se m, n N, aplicamos o Teorema do Valor Medio 22.4 a` diferenca fm fn no
intervalo de extremos x0 e x. Conclumos que existe um ponto y (dependendo
de m, n) tal que
fm (x) fn (x) = fm (x0 ) fn (x0 ) + (x x0 )(fm
(y) fn (y)).
137
CEDERJ
Cambio de Limites
ANALISE
REAL
Portanto temos
fm fn |fm (x0 ) fn (x0 )| + (b a)fm
fn .
(28.10)
Portanto, se x = c, temos
fm (x) fm (c) fn (x) fn (c)
fm
fn .
xc
xc
Como (fn ) converge uniformemente em I, dado > 0 existe N1 = N1 () tal
que se m, n N1 e x = c, entao
fm (x) fm (c) fn (x) fn (c)
.
(28.11)
xc
xc
Tomando o limite quando m em (28.11), obtemos
f (x) f (c) fn (x) fn (c)
,
xc
xc
(28.12)
f
(c)
(28.13)
N
xc
Combinando (28.12) com n = N e (28.13), conclumos que se 0 < |x c| <
N (), entao
f (x) f (c)
< 3.
g(c)
xc
Como > 0 e arbitrario, isso mostra que f (c) existe e e igual a g(c). Como
c I e arbitrario, conclumos que f = g em I.
CEDERJ
138
Cambio de Limites
MODULO
2 - AULA 28
Aplica
c
ao `
as S
eries de Pot
encias
Vimos na aula passada que o estudo das series de funcoes
fn se
reduz ao estudo das sequencias de funcoes considerando-se a sequencia das
N
somas parcias (sN )
em que as series de
N =1 , sN =
n=1 fn . Vimos tamb
potencias n=0 an (xx0 )n ocupam lugar destacado entre as series de funcoes
e que no caso das series de potencias e usual adotarmos como ndice inicial
n = 0, alem de nao haver perda de generalidade em cosiderarmos apenas
o caso x0 = 0. A seguir vamos aplicar a`s series de potencias os resultados
sobre preservacao de continuidade, integrabilidade e diferenciabilidade que
acabamos de estabelecer.
Teorema 28.5
Se r > 0 e o raio de convergencia da serie
an xn , entao a funcao f :
(r, r) R, dada por f (x) := n=0 an xn , e contnua.
Prova: Pelo Teorema 27.4 temos que para todo 0 < s < r a serie
an x n
converge uniformemente em [s, s]. Assim, pelo Teorema 28.2 segue que f e
contnua em [s, s] para todo 0 < s < r e portanto f e contnua em (r, r)
como armado.
Teorema 28.6 (Integra
c
ao termo a termo)
Se r o raio de convergencia da serie de potencias
an xn e [a, b] (r, r),
entao
b
an
(
an xn ) dx =
(28.14)
(bn+1 an+1 ).
n+1
a
Prova: Pelo Teorema 27.4 com s = max{|a|, |b|} < r, temos que a con
vergencia de
an xn e uniforme no intervalo [a, b]. Logo, como a integral da serie e a integral do limite quando N das somas parciais
N
n
sN =
n=0 an x , pelo Teorema 28.3 segue que a mesma coincide com o
b
limite quando N da integral das somas parciais, a sN . Estas u
ltimas
por sua vez coincidem com as somas parciais da serie `a direita em (28.14)
donde conclumos que vale a equacao (28.14).
Teorema 28.7 (Deriva
c
ao termo a termo)
n
Se o raio de convergencia da serie de potencias
e r > 0, entao
n=0 an x
o raio de convergencia da serie de potencias obtida derivando-se termo a
n1
termo,
, tambem e igual a r. Alem disso, se f : (r, r) R
n=1 n an x
n
e denida por f (x) :=
ao f e diferenciavel em (r, r) e a
n=0 an x , ent
n1
derivada f : (r, r) R e dada por f (x) =
.
n=1 n an x
139
CEDERJ
Cambio de Limites
ANALISE
REAL
n1
Prova: Para qualquer x = 0, a serie S1 :=
converge se e
n=1 n an x
n
somente se a serie S2 := n=1 n an x converge, ja que S2 = xS1 . Portanto, o
n1
raio de convergencia de
coincide com o raio de convergencia
n=1 n an x
n
de n=1 n an x , o qual denotaremos por r . Lembremos que dizer que certa
propriedade vale ultimadamente para os membros de uma dada sequencia
(xn ) signica que existe N0 N tal que a propriedade vale para xn com
n N0 . Seja
L := inf{ > 0 : existe N0 N tal que n |an | < para n N0 }
e
L := inf{ > 0 : existe M0 N tal que
n
n n |an | < para n M0 }.
Pelo que foi visto na aula passada temos que r = 1/L e r = 1/L .
Consideremos os conjuntos
A := { > 0 : existe N0 N tal que
n
|an | < para n N0 }
e
n
n n |an | < para n M0 },
Exerccios 28.1
1. Suponhamos que (fn ) e uma sequencia de funcoes contnuas num intervalo I que converge uniformemente em I a uma funcao f . Se (xn ) I
converge a x0 I, mostre que lim fn (xn ) = f (x0 ).
2. Mostre que a sequencia (xn /(1 + xn )) nao converge uniformemente em
[0, 2] usando o fato de que a funcao que e o limite pontual da sequencia
em [0, 2] nao e contnua em [0, 2].
CEDERJ
140
Cambio de Limites
MODULO
2 - AULA 28
(lim gn ) = lim
gn .
CEDERJ
Cambio de Limites
ANALISE
REAL
Alem disso, para quaisquer x (r, r) e k N tem-se
n(n 1) (n k + 1)an xnk .
f (k) (x) =
nk
CEDERJ
142
MODULO
2 - AULA 29
Aula 29 Fun
co
es Exponenciais e Logaritmos
Metas da aula: Denir rigorosamente a funcao exponencial ex e a funcao
logaritmo log x bem como outras funcoes obtidas a partir destas.
Introdu
c
ao
Nesta aula vamos denir rigorosamente a funcao exponencial ex e a
funcao logaritmo log x, e vamos deduzir algumas de suas propriedades mais
importantes. Em aulas anteriores assumimos alguma familiaridade com essas funcoes com o proposito de discutir exemplos. Consideramos que este
e um momento adequado para darmos uma denicao matematica rigorosa
para essas funcoes tao importantes, a m de estabelecer em bases rmes sua
existencia e determinar suas propriedades basicas.
A Fun
c
ao Exponencial
Antes de dar a denicao da funcao exponencial vamos provar o seguinte
lema.
Lema 29.1
n
A serie de potencias
cao 0! := 1, possui
n=0 x /n!, onde adotamos a conven
n
raio de convergencia r = +. Em particular, a serie n=0 x /n! converge
uniformemente em [A, A] para todo A > 0.
Prova: Neste caso temos an := 1/n!. Vamos provar que lim
que implica imediatamente que r = +. De fato, temos
lim
n
|an | = 0, o
|an+1 |
1/(n + 1)!
1
= lim
= lim
= 0.
|an |
1/n!
n+1
143
CEDERJ
ANALISE
REAL
Assim, dado > 0, existe N N tal que |an+1 |/|an | < /2 para todo n N .
Logo, para n > N , temos
|aN +1 |
|an |
|an |
0 < n |an | = n |aN | n
= n |aN | n
|aN |
|an1 |
|aN |
n
|aN |( )(nN )/n < ,
2
o que prova que lim n |an | = 0. Segue da que r = +.
n
O fato de que
n=0 x /n! converge uniformemente em [A, A] para
todo A > 0 segue diretamente do Teorema 27.4.
Com base no Lema 29.1 denimos a funcao E : R R por
E(x) :=
xn
n=0
n!
Teorema 29.1
n
A funcao E : R R, E(x) :=
n=0 x /n!, satisfaz:
(e1) E (x) = E(x) para todo x R.
(e2) E(0) = 1.
144
MODULO
2 - AULA 29
K|x|n
n!
para todo n N.
para x R.
O n
umero e := E(1) e chamado o n
umero de Euler. O nome funcao exponencial e a notacao ex para E(x) se justicam pelo teorema a seguir.
Teorema 29.2
A funcao exponencial satisfaz as seguintes propriedades:
(e3) E(x) = 0 para todo x R;
145
CEDERJ
ANALISE
REAL
(e4) E(x + y) = E(x)E(y) para todos x, y R;
(e5) E(r) = er para todo r Q.
Prova: (e3) Vamos fazer a prova por contradicao. Seja z R tal que E(z) =
0, e seja Iz o intervalo fechado com extremos 0 e z. Pela continuidade de E,
existe K > 0 tal que |E(t)| K para todo t Iz . O Teorema de Taylor
implica que para cada n N existe um ponto cn Iz tal que
E (n) (cn )
E (n1) (z)
E (z)
(n1)
+
(z) + +
(z)
(z)n
1 = E(0) = E(z) +
1!
(n 1)!
n!
(n)
E (cn )
=
(z)n .
n!
Assim temos 0 < 1 (K/n!)|z|n para todo n N, o que nos da uma
contradicao ja que lim(K/n!)|z|n = 0 quando n .
(e4) Fixemos y R. Por (e3) temos que E(y) = 0. Seja F : R R
denida por
E(x + y)
para x R.
F (x) :=
E(y)
Claramente temos F (x) = E (x + y)/E(y) = E(x + y)/E(y) = F (x) para
todo x R. Alem disso, F (0) = E(0 + y)/E(y) = 1. Segue entao da
unicidade da funcao E (v. Teorema 29.1) que F (x) = E(x) para todo x R.
Portanto, E(x + y) = E(x)E(y) para todo x R. Como y R e arbitrario
conclumos que vale (e4).
(e5) Do tem (e4), por Inducao, segue que se m N, x R, entao
E(mx) = E(x)m .
Em particular, fazendo x = 1 obtemos E(m) = E(1)m = em para todo
m N. Por outro lado, 1 = E(0) = E(m + (m)) = E(m)E(m), donde
segue que E(m) = 1/E(m) = 1/em = em para todo m N. Alem disso,
1
1
e = E(1) = E(n ) = (E( ))n ,
n
n
donde obtemos que E(1/n) = e1/n para todo n N. Portanto, se m Z,
n N, temos
E(m/n) = (E(1/n))m = (e1/n )m = em/n ,
o que prova (e5).
Teorema 29.3
A funcao exponencial E e estritamente crescente em R e tem imagem igual
a {y R : y > 0}. Alem disso, temos
CEDERJ
146
MODULO
2 - AULA 29
Segue entao do Teorema do Valor Intermediario 16.3 que todo y > 0 pertence
a imagem de E, o que conclui a prova.
A Fun
c
ao Logaritmo
Vimos que a funcao exponencial E e uma funcao estritamente crescente
diferenciavel com domnio R e imagem {y R : y > 0}. Segue entao que E
possui uma funcao inversa L : (0, ) R. A funcao L : (0, ) R, inversa
de E, e chamada logaritmo (ou logaritmo natural) e e usualmente denotada
por log ou ln (veja Figura 29.1).
(0, 1)
(1, 0)
para todo x R
147
CEDERJ
ANALISE
REAL
e
E(L(y)) = y
elog y = y.
Teorema 29.4
A funcao logaritmo L : (0, ) R e estritamente crescente, possui imagem
igual a R e satisfaz as seguintes propriedades:
(ln1) L (x) = 1/x para x > 0.
(ln2) L(xy) = L(x) + L(y) para x > 0, y > 0.
(ln3) L(1) = 0 e L(e) = 1.
(ln4) L(xr ) = rL(x) para x > 0, r Q.
(ln5) limx0+ L(x) = e limx L(x) = .
Prova: Que L e estritamente crescente em (0, ) com imagem igual a R
segue do fato de que E e estritamente crescente em R com imagem igual a
{y R : y > 0}.
(ln1) Como E (x) = E(x) > 0, segue da Formula da Derivacao da
Funcao Inversa 21.2 que L e diferenciavel em (0, ) e
L (x) =
1
E (L(x))
1
1
=
E(L(x))
x
para x (0, ).
148
MODULO
2 - AULA 29
x0+
Fun
co
es Pot
encias
Ja discutimos em aula passada a funcao potencia x xr , x > 0, onde
r e um n
umero racional. Por meio das funcoes exponencial e logaritmo podemos estender a nocao de funcao potencia para alem dos racionais abarcando
potencias reais arbitrarias.
Deni
c
ao 29.1
Se R e x > 0 denimos
x := e log x = E(L(x)).
A funcao x x para x > 0 e chamada a funcao potencia com expoente .
Observe que a Denicao 29.1 e claramente consistente com a denicao
que havamos dado na Aula 19 no caso em que e racional.
Nos dois teoremas enunciados a seguir estabelecemos diversas propriedades
bem conhecidas das funcoes potencias. Suas demonstracoes seguem imediatamente das propriedades das funcoes exponencial e logaritmo e serao deixadas
para voce como exerccio.
Teorema 29.5
Se R, x > 0 e y > 0, entao:
1. 1 = 1,
2. x > 0,
3. (xy) = x y ,
4. (x/y) = x /y .
Teorema 29.6
Se , R e x (0, ), entao:
1. x+ = x x ,
149
CEDERJ
ANALISE
REAL
2. (x ) = x = (x ) ,
3. x = 1/x ,
4. se < , entao x < x para x > 1.
O proximo resultado trata da diferenciabilidade das funcoes potencias.
Teorema 29.7
Seja R. Entao a funcao () : (0, ) R, x x , e contnua e
diferenciavel em (0, ), e
Dx = x1
para x (0, ).
para x (0, ).
= x = x1
x
A Fun
c
ao loga
Se a > 0, a = 1, algumas vezes e u
til termos denida a funcao log a .
Deni
c
ao 29.2
Seja a > 0, a = 1. Denimos
loga x :=
log x
log a
para x (0, ).
Para x (0, ), o n
umero loga x e chamado logaritmo de x na base a.
Observe que loge = log ja que log e = 1. O caso a = 10 nos da o logaritmo na
base 10 (ou logaritmo comum) que e frequentemente usado em computacoes.
Exerccios 29.1
1. Mostre que se 0 x a e n N, entao
1+
CEDERJ
150
x
x
xn
xn1
ea xn
+ +
ex 1 + + +
+
.
1!
n!
1!
(n 1)!
n!
MODULO
2 - AULA 29
0
(t)n
dt
1+t
e que
2
3
n
x
xn+1
x
x
n1
log(x + 1) x
+
+ (1)
.
2
3
n n+1
4. Use o tem anterior para calcular log 1.1 e log 1.4 com precisao de quatro
casas decimais. Quao grande devemos escolher n na desigualdade do
tem anterior para calcular log 2 com precisao de quatro casas decimais?
5. Mostre que log(e/2) = 1 log 2 e use esta equacao para calcular log 2
com precisao de quatro casas decimais.
6. Seja f : R R tal que f (x) = f (x) para todo x R. Mostre que
existe K R tal que f (x) = Kex para todo x R.
7. Demonstre as armacoes do Teorema 29.5.
8. Demonstre as armacoes do Teorema 29.6.
9. (a) Mostre que se > 0, entao a funcao x x e estritamente
crescente em (0, ) e que limx0+ x = 0 e limx x = .
(b) Mostre que se < 0, entao a funcao x x e estritamente
decrescente em (0, ) e que limx0+ x = e limx x = 0.
10. Prove que se a > 0, a =
1, entao aloga x = x para todo x (0, ) e
loga (ay ) = y para todo y R.
151
CEDERJ
ANALISE
REAL
11. Se a > 0, a = 1, mostre que a funcao x loga x e diferenciavel em
(0, ) e que D loga x = 1/(x log a) para x (0, ).
12. Se a > 0, a = 1, x > 0 e y > 0, prove que loga (xy) = loga x + loga y.
13. Se a > 0, a = 1, b > 0 e b = 1, mostre que
log b
logb x
x (0, ).
loga x =
log a
Em particular, mostre que log10 x = (log e/ log 10) log x = (log10 e) log x
para x (0, ).
CEDERJ
152
Funcoes Trigonometricas
MODULO
2 - AULA 30
Aula 30 Fun
co
es Trigonom
etricas
Metas da aula: Denir rigorosamente as funcoes trigonometricas.
Objetivos: Ao nal desta aula, voce devera ser capaz de:
Conhecer as denicoes formais das funcoes cos x e sen x e a partir delas
provar proposicoes elementares envolvendo esta funcoes.
Introdu
c
ao
Alem das funcoes exponenciais e logartmicas existe uma outra famlia
muito importante de funcoes transcendentais conhecidas como as funcoes
trigonometricas. Essas sao as funcoes seno, cosseno, tangente, cotangente,
secante e cossecante. Em cursos elementares elas sao usualmente introduzidas
em bases geometricas, ora em termos de triangulos, ora em termos de crculos
unitarios. Nesta aula vamos denir essas funcoes de maneira analtica e entao
estabelecer algumas de suas propriedades basicas. Em particular, varias
propriedades das funcoes trigonometricas que foram usadas em exemplos em
aulas anteriores neste curso serao derivadas rigorosamente nesta aula.
Bastara lidarmos com as funcoes seno e cosseno ja que as outras quatro
funcoes trigonometricas sao denidas em termos dessas duas.
As Fun
co
es Seno e Cosseno
Comecamos nosso estudo das funcoes seno e cosseno com o seguinte
resultado.
Lema 30.1
A serie de potencias
(1)n
n=0
(2n)!
x2n = 1
x2 x4
+
2!
4!
tem raio de convergencia r = . Em particular, a serie converge uniformemente em todo intervalo da forma [A, A] com A > 0.
Prova: Segue imediatamente do fato de que
(1)n 2n
|x|k
x
= e|x| ,
(2n)!
k!
n=0
k=0
153
CEDERJ
Funcoes Trigonometricas
ANALISE
REAL
(1)n
n=0
(2n)!
x2n .
(30.1)
, segue do
sua derivada
as derivadas
k N. Em
x3 x5
(1)n1 2n1
S(x) := C (x) =
=x
x
+
.
(2n 1)!
3!
5!
n=1
(30.2)
Teorema 30.1
(i) A funcao C(x) satisfaz C (x) = C(x), para todo x R, C(0) = 1 e
C (0) = 0 e e a u
nica funcao satisfazendo tais propriedades.
(ii) A funcao S(x) satisfaz S (x) = S(x), para todo x R, S(0) = 0 e
S (0) = 1 e e a u
nica funcao satisfazendo essas propriedades.
Prova: (i) O fato de que C(x) satisfaz C (x) = C(x), para todo x R,
C(0) = 1 e C (0) = 0 segue imediatamente da denicao de C(x) por derivacao
da serie termo a termo.
Suponhamos que existam duas funcoes C1 (x) e C2 (x) satisfazendo Cj (x) =
Cj (x), para todo x R, Cj (0) = 1 e Cj (0) = 0, j = 1, 2. Seja D(x) :=
C1 (x)C2 (x). Entao temos que D (x) = D(x), para todo x R, D(0) = 0
e D (0) = 0. Agora, por inducao, deduzimos facilmente que D (k) (0) = 0,
para todo k N (por que?). Temos tambem que D (2k) (x) = (1)k D(x).
Seja x R arbitrario e Ix o intervalo fechado de extremos 0 e x. Como D
e contnua, existe K > 0 tal que |D(t)| K para t Ix . Portanto, temos
|D(2k) (t)| K para todo t Ix e todo k N. Aplicando o Teorema de
Taylor a D(t) em Ix , obtemos que existe cn Ix tal que
D (0)
D2n1 (0) 2n1 D(2n) (cn ) 2n
D(x) = D(0) +
+
x + +
x
x
1!
(2n 1)!
(2n)!
D(2n) (cn ) 2n
=
x .
(2n)!
Segue da que
|D(x)|
CEDERJ
154
K|x|2n
(2n)!
Funcoes Trigonometricas
MODULO
2 - AULA 30
para x R.
para x R,
entao existem n
umeros reais , tais que
f (x) = C(x) + S(x)
para x R.
155
CEDERJ
Funcoes Trigonometricas
ANALISE
REAL
Prova: Seja g(x) := f (0)C(x) + f (0)S(x) para x R. Ve-se facilmente que
g (x) = g(x) e que g(0) = f (0), e como
g (x) = f (0)S(x) + f (0)C(x),
segue que g (0) = f (0). Portanto, a funcao h := f g e tal que h (x) =
h(x) para todo x R e h(0) = 0, h (0) = 0. Assim, segue como na prova
do Teorema 30.1 que h(x) = 0 para todo x R. Portanto, f (x) = g(x) para
todo x R.
A seguir vamos deduzir algumas das propriedades basicas das funcoes
cosseno e seno.
Teorema 30.4
A funcao C e par e S e mpar no sentido que
(v) C(x) = C(x) e S(x) = S(x) para x R.
Se x, y R, entao temos as formulas do cosseno e do seno da soma:
(vi) C(x + y) = C(x)C(y) S(x)S(y), S(x + y) = S(x)C(y) + C(x)S(y).
Prova: (v) Se f (x) := C(x) para x R, entao vemos facilmente que
f (x) = f (x) para x R. Alem disso, f (0) = 1 e f (0) = 0. Portanto, pela
unicidade garantida pelo Teorema 30.1(i), conclumos que C(x) = C(x)
para todo x R. De modo semelhante, denindo-se g(x) := S(x) e
aplicando-se a unicidade de S(x) garantida no Teorema 30.1(ii), mostra-se
que S(x) = S(x).
(vi) Seja y R dado e seja f (x) := C(x + y) para x R. Vericamos
facilmente que f (x) = f (x) para x R. Portanto, pelo Teorema 30.3,
existem n
umeros reais , tais que
f (x) = C(x + y) = C(x) + S(x)
donde obtemos por derivacao
f (x) = S(x + y) = S(x) + C(x)
para x R. Fazendo x = 0, obtemos C(y) = e S(y) = , donde segue
C(x + y) = C(x)C(y) S(x)S(y). A segunda formula e provada de forma
semelhante.
A seguir estabelecemos algumas desigualdades que foram usadas em
aulas passadas.
CEDERJ
156
Funcoes Trigonometricas
MODULO
2 - AULA 30
Teorema 30.5
Se x R, x 0, entao temos
(vii) x S(x) x;
(viii) 1 21 x2 C(x) 1;
(ix) x 16 x3 S(x) x;
(x) 1 21 x2 C(x) 1 12 x2 +
1 4
x.
24
donde segue que > 2. Mais ainda, a partir de (30.3), tambem por duas
integracoes sucessivas, obtemos
1
1
1
1
C(x) 1 x2 + x4 x6 + x8 ,
2
4!
6!
8!
(30.4)
157
CEDERJ
Funcoes Trigonometricas
ANALISE
REAL
donde podemos concluir que <
6 2 3.
158
Funcoes Trigonometricas
MODULO
2 - AULA 30
cos x 1
+ .
2
24
6!
2
24
1
2n
4. Mostre que a serie de potencias
tem raio de convergencia
n=0 (2n)! x
r = . Dena
1 2n
x .
c(x) :=
(2n)!
n=0
1
n=1
1
x2n1 .
(2n 1)!
para todo x, y R.
8. Mostre que c(x) 1 para todo x R, que ambas c e s sao estritamente
crescentes em (0, ), e que limx c(x) = limx s(x) = .
159
CEDERJ
Topologia na Reta
MODULO
2 - AULA 31
Introdu
c
ao
As nocoes de limite e continuidade que foram estudadas em aulas passadas, relacionadas a conjutos de pontos da reta e funcoes neles denidas,
podem ser estendidas para conjuntos abstratos quaisquer. A primeira coisa
a fazer para realizar essa extensao e dotar esses conjuntos de uma topologia. Isso signica distinguir uma famlia de subconjuntos do conjunto dado,
contendo necessariamente o proprio conjunto e o conjunto vazio, a qual sera
tomada como a famlia dos subconjuntos abertos do conjunto dado. Essa
famlia devera ter necessariamente as duas seguintes propriedades: (i) a uniao
de qualquer colecao de subconjuntos da famlia dos abertos deve ser um subconjunto pertencente a essa famlia; (ii) o mesmo deve valer para a intersecao
de um n
umero nito de subconjuntos da famlia dos abertos. A partir da
se pode facilmente denir as nocoes de limite de uma sequencia de pontos,
bem como limite e continuidade de funcoes denidas nesses conjuntos, com
valores em R, por exemplo, o que nao sera feito aqui por estar bem alem dos
objetivos deste curso.
A Topologia Geral e a area da matematica que estuda a topologia dos
conjuntos de pontos. Ela envolve muitas outras nocoes alem do conceito fun uma area que se situa nos fundamentos
damental de conjuntos abertos. E
da matematica avancada, servindo como instrumento basico para diversos
ramos dessa vasta ciencia. As ideias basicas dessa teoria foram todas motivadas pelos conceitos da Analise Real e por questoes surgidas no estudo dos
subconjuntos da reta.
Nesta aula serao estudados os elementos basicos da topologia na reta.
Mais especicamente, vamos denir quem sao os conjuntos abertos da reta
e vericar que os mesmos gozam das propriedades aludidas ha pouco. Vamos tambem estudar algumas propriedades basicas dos complementares dos
conjuntos abertos da reta, chamados conjuntos fechados.
161
CEDERJ
Topologia na Reta
ANALISE
REAL
162
Topologia na Reta
MODULO
2 - AULA 31
CEDERJ
Topologia na Reta
ANALISE
REAL
Agora, uma das duas alternativas seguintes deve necessariamente valer:
(i) u1 := x M
/ E; (ii) u2 := x + M
/ E. De fato, se (i) e (ii)
fossem ambas falsas, como E e aberto, poderamos obter 1 > 0 e 2 > 0
tais que (u1 1 , u1 + 1 ) E e (u2 2 , u2 + 2 ) E. Assim, tomando
0 := min{1 , 2 }, teramos (x M 0 , x + M + 0 ) E e, portanto,
M + 0 M, contrariando o fato de que M e o supremo de M.
/ E. Como E e fechado, entao existe u1 > 0
Suponhamos que u1
tal que (u u1 , u + u1 ) E c := R \ E. Naturalmente, podemos supor
umero
que u1 /2 < M ; caso contrario basta tomar em lugar de u1 um n
positivo qualquer menor que 2M . Em particular, nenhum ponto do intervalo
(u1 , u1 + u1 ) pertence a E. Porem, como u1 + (u1 /2) = x M + (u1 /2) e
0 < M (u1 /2) < M , entao [x M + (u1 /2), x + M (u1 /2)] E e,
em particular, x M + (u1 /2) E, o que esta em contradicao com o fato
de que
x M + (u1 /2) (u1 , u1 + u1 ) E c .
Supondo que vale u2
/ E chegamos a uma contradicao de maneira
semelhante. Logo, se E = R e E = , entao E nao pode ser aberto e fechado
ao mesmo tempo.
O seguinte resultado basico mostra que os conjuntos abertos de R
denidos pela Denicao 31.2 gozam das propriedades relacionadas com as
operacoes de uniao e de intersecao mencionadas no incio desta aula.
Teorema 31.2
(a) A uniao de uma colecao arbitraria de conjuntos abertos em R e um
conjunto aberto.
(b) A intersecao de uma colecao nita qualquer de conjuntos abertos em R
e um conjunto aberto.
Prova: (a) Seja {G : } uma famlia de conjuntos abertos em R, e
seja G a sua uniao. Considere um elemento x G. Pela denicao de uniao,
x deve pertencer a G0 para algum 0 . Como G0 e aberto, existe uma
vizinhanca V de x tal que V G0 . Porem G0 G, de modo que V G.
Como x e um elemento arbitrario de G, conclumos que G e aberto em R.
(b) Suponhamos que G1 e G2 sejam arbertos e seja G := G1 G2 . Para
mostrar que G e aberto, consideremos x G; portanto, x G1 e x G2 .
Como G1 e aberto, existe 1 > 0 tal que (x 1 , x + 1 ) esta contido em G1 .
Similarmente, como G2 e aberto, existe 2 > 0 tal que (x 2 , x + 2 ) esta
CEDERJ
164
Topologia na Reta
MODULO
2 - AULA 31
CEDERJ
Topologia na Reta
ANALISE
REAL
uma colecao innita de conjuntos fechados pode muito bem nao ser um
conjunto fechado.
Caracteriza
c
ao dos Conjuntos Fechados
Estabelecemos a seguir uma caracterizacao dos subconjuntos fechados
de R em termos de sequencias. Como veremos, os conjuntos fechados sao precisamente aqueles conjuntos F que contem os limites de todas as sequencias
convergentes cujos elementos pertencem a F .
Teorema 31.4
Seja F R. Entao as seguintes armacoes sao equivalentes:
(i) F e um subconjunto fechado de R.
(ii) Se (xn ) e uma sequencia convergente qualquer de elementos em F , entao
lim xn pertence a F .
Prova: (i) (ii) Seja (xn ) uma sequencia de elementos em F e x := lim xn .
Vamos mostrar que x F . Suponhamos, ao contrario, que x
/ F , isto e,
x F c o complementar de F . Como F c e aberto e x F c , segue que existe
uma -vizinhanca V de x tal que V esta contida em F c . Como x = lim xn ,
segue que existe um n
umero natural N0 = N0 () tal que xn V para
n N0 . Em particular, xN0 V F c e portanto xN0 F c , o que contradiz
a hipotese de que xn F para todo n N. Portanto, conclumos que x F .
(ii) (i) Suponhamos, ao contrario, que F nao e fechado, de modo
que G := F c nao e aberto. Entao existe um ponto y0 G tal que para cada
n N, existe um ponto yn Gc = F tal que |yn y0 | < 1/n. Segue que
y0 = lim yn , e como yn F para todo n N, a hipotese (ii) implica que
y0 F , o que contraria o fato de que y0 F c . Logo, a hipotese de que F nao
e fechado implica que a armacao (ii) nao e verdadeira. Consequentemente,
(ii) implica (i), como armado.
Recordemos que um ponto x e um ponto de acumulacao de um conjunto
F se toda -vizinhanca de x contem um ponto de F diferente de x. Vimos
em aula passada que todo ponto de acumulacao de um conjunto F e o limite
de uma sequencia de pontos em F . Pelo que acabamos de dizer, o resultado
seguinte e uma consequencia imediata do Teorema 31.4. Deixamos para
voce como exerccio dar uma prova direta desse resultado usando apenas as
denicoes envolvidas.
CEDERJ
166
Topologia na Reta
MODULO
2 - AULA 31
Teorema 31.5
Um subconjunto de R e fechado se, e somente se, contem todos os seus pontos
de acumulacao.
Caracteriza
c
ao dos Conjuntos Abertos em R
O resultado seguinte mostra que os conjuntos abertos de R nada mais
sao do que unioes enumeraveis de intervalos abertos.
Teorema 31.6
Um subconjunto nao vazio de R e aberto se, e somente se, ele e a uniao de
uma colecao enumeravel de intervalos abertos em R.
Prova: Como, pelo Exemplo 31.1(c), qualquer intervalo aberto e um conjunto aberto em R, segue do Teorema 31.2 que a uniao de uma colecao qualquer (enumeravel ou nao enumeravel) de intervalos abertos e um conjunto
aberto em R.
Suponhamos que G = e um conjunto aberto em R. Para cada
x G, seja Ax := {a R : (a, x] G} e Bx := {b R : [x, b) G}.
Como G e aberto, segue que Ax e Bx sao conjuntos nao vazios (por que?).
Se o conjunto Ax e limitado inferiormente, denimos ax := inf Ax ; se Ax nao
e limitado inferiormente, pomos ax := . Observe que em qualquer caso
ax
/ G (por que?). Analogamente, se Bx e limitado superiormente, denimos
bx := sup Bx ; se Bx nao e limitado superiormente, pomos bx := . Observe
tambem que em qualquer caso bx
/ Bx (por que?).
Denimos Ix := (ax , bx ); claramente Ix e um intervalo aberto contendo
x. Armamos que Ix G. Para ver isso, seja y Ix e suponhamos que
y < x. Segue da denicao de ax que existe a Ax com a < y, donde
y (a , x] G. De modo semelhante, se y Ix e x < y, existe b Bx com
y < b , donde segue que y [x, b ) G. Como y Ix e arbitrario, temos que
Ix G. Como x G e arbitrario, conclumos que xG Ix G.
Por outro lado, como para cada x G trivialmente temos x Ix , segue
tambem que G xG Ix . Portanto, conclumos que G = xG Ix .
Agora, armamos que se x, y G e x = y, entao ou Ix = Iy ou
Ix Iy = . Para provar essa armacao suponhamos que z Ix Iy , donde
segue que ax < z < by e ay < z < bx (por que?). Mostraremos que ax = ay .
Caso contrario, segue da Propriedade da Tricotomia que ou (i) ax < ay ,
ou (ii) ay < ax . Caso tenhamos (i), entao ay Ix = (ax , bx ) G, o que
167
CEDERJ
Topologia na Reta
ANALISE
REAL
contradiz o fato de que ay
/ G. De modo semelhante, caso ocorra (ii), entao
ax Iy = (ay , by ) G, o que contradiz o fato de que ax
/ G. Portanto
devemos ter ax = ay . De modo inteiramente analogo provamos que bx = by .
Logo, conclumos que se Ix Iy = , entao Ix = Iy .
Resta mostrar que a colecao de intervalos distintos {Ix : x G} e
enumeravel. Agora, E := Q G e enumeravel e para cada r E existe um
u
nico intervalo Ix tal que r Ix , ja que os intervalos Ix distintos sao disjuntos.
Por outro lado, pela densidade de Q em R e pelo fato de que G = xG Ix ,
cada Ix contem pelo menos um r E. Logo a funcao f : E {Ix : x G},
denida por f (r) = Ix se f (r) Ix , e sobrejetiva. Logo, pelo que vimos na
Aula 3, conclumos que a famlia {Ix : x G} e uma colecao enumeravel de
intervalos.
Exerccios 31.1
1. Mostre que os intervalos (a, ) e (, a) sao conjuntos abertos, e que
os intervalos [b, ) e (, b] sao conjuntos fechados.
2. Mostre que o conjunto dos n
umeros naturais N e um conjunto fechado
em R.
3. Mostre que A := {1/n : n N} nao e um conjunto fechado, mas
A {0} e um conjunto fechado.
4. Mostre que o conjunto Q dos n
umeros racionais nao e nem aberto nem
fechado.
5. Mostre que se G e um conjunto aberto e F e um conjunto fechado,
entao G \ F e um conjunto aberto e F \ G e um conjunto fechado.
6. Um ponto x R e dito um ponto interior de A R caso exista uma
vizinhanca V de x tal que V A. Mostre que um conjunto A R e
aberto se, e somente se, todo ponto de A e um ponto interior de A.
7. Um ponto x R e dito um ponto de fronteira de A R caso toda
vizinhanca V de x contenha pontos em A e pontos em seu complementar
Ac . Mostre que um conjunto A e seu complementar Ac tem exatamente
os mesmos pontos de fronteira.
8. Mostre que um conjunto G R e aberto se, e somente se, nao contem
nenhum dos seus pontos de fronteira.
9. Mostre que um conjunto F R e fechado se, e somente se, contem
todos os seus pontos de fronteira.
CEDERJ
168
Topologia na Reta
MODULO
2 - AULA 31
(a) A A;
(b) A = A;
(c) (A B) = A B;
(d) A B (A B)
De um exemplo para mostrar que a inclusao no u
ltimo tem do exerccio
169
CEDERJ
Conjuntos Compactos
MODULO
2 - AULA 32
Introdu
c
ao
Alem dos conjuntos abertos e fechados, uma nocao fundamental em
topologia geral, extremamente importante na analise matematica avancada,
e a de conjunto compacto. Seja X um conjunto arbitrario dotado de uma
topologia, isto e, uma famlia de subconjuntos distinguida como sendo a
famlia dos subconjuntos abertos de X. Dizemos que um subconjunto K de
X e compacto se qualquer colecao de subconjuntos abertos cuja uniao contem
K possui uma subcolecao nita cuja uniao ainda contem K. Nesta aula vamos estudar as propriedades basicas dos subconjuntos compactos da reta. O
teorema de Heine-Borel, que veremos no decorrer desta aula, fornece uma
caracterizacao bastante simples para os conjuntos compactos em R: um conjunto e compacto em R se, e somente se, e fechado e limitado. Este resultado
nao e verdadeiro para espacos topologicos arbitrarios, isto e, conjuntos arbitrarios dotados de topologia. Porem os metodos utilizados na investigacao
das propriedades dos conjuntos compactos em R servem de inspiracao para
a investigacao dessa classe de conjuntos em espacos topologicos gerais, que e
feita em cursos mais avancados.
Veremos ainda nesta aula a denicao e as propriedades basicas do
famoso conjunto de Cantor. Este vem a ser um subconjunto compacto contido no intervalo [0, 1] com muitos aspectos curiosos, que motivaram as modernas teorias dos conjuntos fractais, do caos, etc.
171
CEDERJ
Conjuntos Compactos
ANALISE
REAL
Conjuntos Compactos em R.
Como antecipamos na introducao, a denicao de compacidade envolve
a nocao de cobertura aberta, que agora denimos formalmente.
Deni
c
ao 32.1
Seja A um subconjunto de R. Uma cobertura aberta de A e uma colecao
G = {G } de cojuntos abertos em R cuja uniao contem A, isto e,
A
G .
172
Conjuntos Compactos
MODULO
2 - AULA 32
denicao anterior, devemos mostrar que dada uma colecao arbitraria de conjuntos abertos cuja uniao contem K, sempre e possvel extrair dessa colecao
um n
umero nito de conjuntos cuja uniao ainda contem A. Por outro lado,
para mostrar que um dado subconjunto Y de R nao e compacto, basta exibirmos uma colecao de conjuntos abertos cuja uniao contem Y da qual nao
e possvel extrair uma subcolecao nita que ainda contenha Y . Um exemplo
deste u
ltimo caso e fornecido pela cobertura G5 do conjunto A = (0, 3], que
vimos ha pouco.
Exemplos 32.1
(a) Seja K := {x1 , x2 , . . . , xN } um subconjunto nito de R. Se G = {G }
e uma cobertura aberta de K, entao cada xi esta contido em algum Gi
em G. Entao a uniao dos conjuntos na colecao nita {G1 , G2 , . . . , GN }
contem K, de modo que ela e uma subcobertura nita de G. Como G
e arbitraria, segue que o conjunto nito K e compacto.
(b) Armamos ha pouco que a cobertura G5 = {(1/n, 4) : n N} do
conjunto A = (0, 3] nao possui subcobertura nita. De fato, se G :=
{(1/n1 , 4), (1/n2 , 4), , (1/nr , 4)} e uma subcolecao nita qualquer de
conjuntos em G, com n1 < < nr , entao a uniao dos conjuntos em
G e simplesmente (1/nr , 4) que certamente nao contem (0, 3], ja que,
por exemplo, 1/nr (0, 3], mas 1/nr
/ (1/nr , 4). Logo, (0, 3] nao e um
conjunto compacto.
(c) O conjunto A := [0, ) nao e compacto.
De fato, se Gn := (1, n) para cada n N, entao A
n=1 Gn , de
modo que G = {Gn : n N} e uma cobertura aberta de A. No
entanto, se {Gn1 , Gn2 , . . . , Gnr } e uma subcobertura nita qualquer de
G, com n1 < < nr , entao
Gn1 Gn2 Gnr = Gnr = (1, nr ).
CEDERJ
Conjuntos Compactos
ANALISE
REAL
O Teorema de Heine-Borel
A seguir vamos apresentar uma caracterizacao dos conjuntos compactos
de R. Essa caracterizacao e fornecida pelo Teorema de Heine-Borel. Inicialmente, vamos enunciar e provar a primeira parte da caracterizacao estabelecendo como condicao necessaria para um conjunto ser compacto em R que
ele seja fechado e limitado. Essa implicacao e um fato geral valido para conjuntos compactos em espacos topologicos bem mais gerais que R, chamados
espacos metricos, cuja denicao precisa foge aos objetivos deste curso. Ja
o fato de que essa condicao tambem e suciente no caso de R e o conte
udo do
Teorema de Heine-Borel e nao pode ser estendido a todos os espacos metricos.
Teorema 32.1
Se K e um subconjunto compacto de R, entao K e fechado e limitado.
Prova: Mostraremos primeiramente que K e limitado. Para cada n N,
seja Gn := (n, n). Como cada Gn e aberto e como K
n=1 Gn = R,
vemos que a colecao G := {Gn : n N} e uma cobertura aberta de K.
Como K e compacto, essa cobertura aberta possui uma subcobertura nita
{Gn1 , Gn2 , . . . , Gnr }. Podemos supor sem perda de generalidade que n1 <
n2 < < nr . Entao
K
r
k=1
m
Gn = G m .
n=1
174
Conjuntos Compactos
MODULO
2 - AULA 32
Por hipotese K e limitado e portanto existe r > 0 tal que K [r, r].
Seja I0 := [r, r]. Dividimos I0 em dois subintervalos fechados de igual
comprimento, r, I0 := [r, 0] e I0 := [0, r]. Ao menos um dos dois subconjuntos K I0 e K I0 deve ser nao vazio e herdar a propriedade (P)
satisfeita por K. Do contrario cada um dos conjuntos K I0 e K I0 estaria
contido na uniao de uma subcolecao nita de conjuntos em G e portanto
K = (K I0 ) (K I0 ) tambem estaria contido na uniao de uma subcolecao
nita de G, o que contradiz o fato de que K satisfaz (P). Se (P) for satisfeita
por K I0 , denimos I1 := I0 ; senao, (P) sera necessariamente satisfeita por
K I0 , e entao denimos I1 := I0 .
Agora dividimos I1 em dois subintervalos fechados de igual comprimento, r/2, I1 e I1 . Como K I1 = (K I1 ) (K I1 ), entao ao menos
um dos dois subconjuntos K I1 e K I1 deve ser nao vazio e herdar a
propriedade (P) que e satisfeita por K I1 . Se K I1 satisfaz (P), denimos I2 := I1 ; senao, (P) tem de ser satisfeita por K I1 , e entao denimos
I2 := I1 . Denotando por |I| o comprimento de um intervalo I, observe que
temos I0 I1 I2 e |I0 | = 2r, |I1 | = r e |I2 | = r/2.
Continuando esse processo, obtemos uma sequencia de intervalos encaixados (In ). Pela Propriedade dos Intervalos Encaixados, vista na Aula 5,
existe um ponto x0 pertencente a todos os In , n N. Como cada In contem
uma innidade de pontos em K (por que?), o ponto x0 e um ponto de acumulacao de K. Alem disso, como por hipotese K e fechado, segue do Teorema 31.5 que x0 K. Portanto existe um conjunto G0 em G com x0 G0 .
Como G0 e aberto, existe > 0 tal que
(x0 , x0 + ) G0 .
175
CEDERJ
Conjuntos Compactos
ANALISE
REAL
Por outro lado, como os intervalos In sao obtidos por bissecoes repetidas de
I0 = [r, r], segue que |In | = r/2n1 . Segue que se n for sucientemente
grande de modo que r/2n1 < , entao K In esta contido em G0 que e
um membro de G, o que contradiz o fato de que K In satisfaz (P) por
construcao. Essa contradicao se originou no fato de termos assumido que
K satisfazia a propriedade (P). Assim, deve valer a negacao de (P), e desse
modo conclumos que K e compacto.
Como consequencia imediata do Teorema de Heine-Borel temos o seguinte
resultado cuja demonstracao simples deixaremos para voce como exerccio.
Teorema 32.3
Se {K } e uma famlia qualquer de conjuntos compactos em R, entao
K :=
e um conjunto compacto.
O Teorema de Heine-Borel nos permite dar uma innidade de exemplos
de conjuntos compactos. Por exemplo, segue imediatamente do Teorema de
Heine-Borel que todo intervalo fechado limitado [a, b] e um conjunto compacto em R. Mais ainda, qualquer intervalo da reta que nao seja desse tipo
nao e compacto.
Podemos combinar o Teorema de Heine-Borel com o Teorema de BolzanoWeierstrass para obter a seguinte caracterizacao dos subconjuntos compactos
de R.
Teorema 32.4
Um subconjunto K de R e compacto se, e somente se, toda sequencia de
pontos em K possui uma subsequencia que converge para um ponto em K.
Prova: () Suponhamos que K e compacto e seja (xn ) uma sequencia com
xn K para todo n N. Pelo Teorema 32.1, o conjunto K e limitado de
modo que a sequencia (xn ) e limitada. Pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass,
existe uma subsequencia (xnk ) de (xn ) que converge. Tambem pelo Teorema 32.1 temos que K e fechado e entao x := lim xn pertence a K, como
consequencia do Teorema 31.4. Assim, toda sequencia em K tem uma subsequencia que converge para um ponto de K.
() Para estabelecer a recproca, mostraremos que se K nao e fechado
ou se K nao e limitado, entao existe uma sequencia de pontos em K que nao
CEDERJ
176
Conjuntos Compactos
MODULO
2 - AULA 32
O Conjunto de Cantor
Concluiremos esta aula com uma breve discussao sobre o celebre conjunto de Cantor que denotaremos C. Ele e um exemplo muito interessante de
um conjunto compacto em R que e diferente de todos os subconjuntos de R
que vimos ate o momento. Ele tem inspirado modernas teorias matematicas
como a geometria fratal e a teoria do caos, entre outras. Tambem serve frequentemente como contra-exemplo para as mais variadas e falsas suposicoes
sobre conjuntos da reta, que brotam de nossa intuicao algumas vezes inadequada para nos dar uma ideia precisa desses objetos.
O conjunto de Cantor C e obtido como resultado de um processo recorrente de remocao dos tercos medios abertos de intervalos fechados remanescentes comecando pelo intervalo fechado unitario [0, 1].
Assim, primeiramente removemos o terco medio aberto ( 13 , 23 ) do intervalo [0, 1] para obter o conjunto
1
2
F1 := [0, ] [ , 1].
3
3
A seguir removemos o terco medio aberto de cada um dos intervalos fechados
que compoem F1 para obter o conjunto
1
2 1
2 7
8
F2 := [0, ] [ , ] [ , ] [ , 1].
9
9 3
3 9
9
Vemos que F2 e a uniao de 22 = 4 intervalos fechados, cada um dos quais e
da forma [k/32 , (k + 1)/32 ]. Em seguida removemos os tercos medios abertos
de cada um dos intervalos fechados que compoem F2 para obter o conjunto
F3 := [0,
1
2 1
2 7
8 1
2 19
20 7
8 25
26
] [ , ] [ , ] [ , ] [ , ] [ , ] [ , ] [ , 1],
27
27 9
9 27
27 3
3 27
27 9
9 27
27
CEDERJ
Conjuntos Compactos
ANALISE
REAL
Continuamos desse modo: se Fn tiver sido construdo na n-esima etapa
e consiste da uniao de 2n intervalos da forma [k/3n , (k + 1)/3n ], entao Fn+1
e obtido removendo-se o terco medio aberto de cada um desses intervalos. O
conjunto de Cantor C e entao denido por
C :=
Fn .
n=1
n
1 2
2n
L=
=
.
3n+1
3 n=0 3
n=0
Usando a formula para a soma de uma serie geometrica, obtemos
1
1
= 1.
L=
3 1 (2/3)
Logo, C e um subconjunto do intervalo unitario [0, 1] cujo complemento
tem comprimento total igual a 1.
Note tambem que o comprimento total dos intervalos que compoem Fn
e (2/3)n , que tem limite 0 quando n . Como C Fn para todo
n N, vemos que se a nocao de comprimento total de um conjunto
formado de intervalos puder ser estendida a C, o comprimento total de
C tera necessariamente que ser igual 0. A assim chamada medida de
Lebesgue, criada pelo celebre matematico frances Henri Lebesgue
(1875-1941), cujo estudo esta alem dos objetivos deste curso, fornece
uma extensao da nocao de comprimento total para um conjunto formado de intervalos, que pode ser aplicada a C, e, como esperado, atribui
o valor 0 a C.
CEDERJ
178
Conjuntos Compactos
MODULO
2 - AULA 32
CEDERJ
Conjuntos Compactos
ANALISE
REAL
contidos num mesmo intervalo fechado In dentre os 2n intervalos fechados que compoem Fn , para todo n N. Como o comprimento de In e
1/3n , temos |c1 c2 | 1/3n 0 quando n . Logo, c1 = c2 .
A funcao e sobrejetiva. De fato, se (an )nN {0, 1}N , entao, usando
a notacao anterior, fazemos I1 := [0, 1/3] se a1 = 0, ou I1 := [2/3, 1] se
a1 = 1. Fazemos I2 := I1 se a2 = 0, ou I2 := I1 se a2 = 1. De modo
similar, fazemos I3 := I2 se a3 = 0, ou I3 := I2 se a3 = 1. Prosseguindo
dessa forma, denimos uma sequencia de intervalos fechados encaixados
In para n N, com comprimento de In igual a 3n . Logo, existe um
u
nico c C tal que {c} =
ao claramente que
n=1 In . Vemos ent
(an )nN = (c).
Agora, armamos que o conjunto {0, 1}N e nao enumeravel. Provaremos esta armacao utilizando mais uma vez um argumento do tipo diagonal originalmente devido a Cantor. Suponhamos por contradicao
que {0, 1}N seja enumeravel e seja {xm : m N} uma enumeracao
m
encia
para {0, 1}N , com xm = (am
n )nN , an {0, 1}. Denimos a sequ
N
n
x = (xn ) {0, 1} da seguinte forma. Se an = 0, fazemos xn := 1;
se ann = 1, pomos xn := 0. Dessa forma temos que x = xm para todo
m N, o que nos da uma contradicao. Logo, {0, 1}N e nao enumeravel.
Ja que : C {0, 1}N e uma bijecao e {0, 1}N e nao enumeravel, como
acabamos de mostrar, conclumos que C e nao enumeravel (por que?).
Exerccios 32.1
1. Exiba uma cobertura aberta de (1, 1] que nao possui subcobertura
nita.
2. Exiba uma cobertura aberta de N que nao possui subcobertura nita.
3. Mostre que {1/n : n N} nao e compacto exibindo uma cobertura
aberta que nao possui cobertura nita.
4. Mostre, usando a Denicao 32.2, que C := {0} {1/n : n N} e um
conjunto compacto.
5. Prove, usando a Denicao 32.2, que se F e um subconjunto fechado de
um conjunto compacto K, entao F e compacto.
6. Prove, usando a Denicao 32.2, que a uniao ni=1 Ki de uma colecao
nita de conjuntos compactos {K1 , K2 , . . . , Kn } e um conjunto compacto.
CEDERJ
180
Conjuntos Compactos
MODULO
2 - AULA 32
7. De um exemplo de uma colecao innita enumeravel de conjuntos compactos cuja uniao nao e um conjunto compacto.
8. Prove, usando o Teorema de Heine-Borel, que a intersecao de uma
colecao arbitraria {K : } de conjuntos compactos e um conjunto
compacto.
9. Seja {Kn : n N} uma sequencia de conjuntos compactos nao vazios
em R tal que K1 K2 Kn . Prove que
n=1 Kn = .
10. Seja K = compacto em R e seja x0 R. Mostre que existem a K
e b K satisfazendo
|x0 a| = inf{|x0 x| : x K} e |x0 b| = sup{|x0 x| : x K}.
11. Mostre que 1/3, 1/9 C e 1/2, 1/5, 1/6, 1/7, 1/8
/ C, onde C e o conjunto de Cantor.
12. Mostre que cada ponto do conjunto de Cantor C e um ponto de acumulacao de C e e tambem um ponto de acumulacao do complementar
C c.
13. Mostre que o conjunto dos pontos extremos dos intervalos fechados
que compoem os conjuntos Fn , n N, na construcao de C, formam
um subconjunto enumeravel denso em C. Mais especicamente, todo
ponto c C e limite de uma sequencia (xn ), onde xn e um extremo de
um dos intervalos fechados que compoem Fn .
14. Mostre que cada x [0, 1] pode ser escrito numa expansao ternaria
(base 3) na forma
ak
x=
,
k
3
k=1
com ak {0, 1, 2}, para todo k N.
15. Mostre que a expansao do exerccio anterior e u
nica exceto para os
n
umeros da forma x = m/3n , com m, n N e 1 m 3n , que
admitem uma expansao nita
m ak
=
,
k
3n
3
k=1
n
181
CEDERJ
Conjuntos Compactos
ANALISE
REAL
com an {1, 2}, ou uma expansao innita
m bk
=
,
k
3n
3
k=1
CEDERJ
182