Apostila História Da Arte

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Os Primrdios, o Modernismo

As artes visuais do Brasil comeam a exprimir identidade nativa no sculo dezesseis


com a construo das primeiras igrejas nas poucas vilas que aqui havia no sculo XVI,
onde os mestres de obras portugueses empregaram a mo de obra de colonos, nativos
e negros escravos como pedreiro e artfices para a construo da Colnia. Neste af dos
assentamentos coloniais nasceram os ornatos em pedras de cantarias, os entalhes em
madeira (hoje chamados talhas) e pinturas religiosas e decorativas, onde j eram aplicados
elementos locais como frutos cajus e mangabas e flores da regio, pois os olhares dos
mestres construtores que tambm desenhavam as imagens, e a habilidade dos artfices e
artesos, os levaram a expressar seu ambiente.
Na ocupao holandesa do Recife, a criao e a produo dos ornatos das fachadas e dos
interiores, na estaturia religiosa e na prtica da pintura, do desenho e da gravura como
auxiliar dos negcios do Prncipe Maurcio de Nassau frente da Companhia das ndias
Ocidentais. Nassau trouxe para o Recife os pintores Frans Post, especialista em paisagem,
documentarista preciso de nossa luz e das obras humanas aqui construdas; Albert Eckhout,
pintor de figuras e costumes; o desenhista e ilustrador Marc Grave, que registrou a fauna
e a flora da regio. Estes artistas e seus sucessores retrataram a vida da aristocracia rural
originria da monocultura da cana de acar. A arte da pintura foi exercida por portugueses,
nativos e mestios. Legaram-nos obras como o painel sob o coro da Igreja de Nossa
Senhora da Conceio dos Militares, de autoria atribuda ao pintor Jos de Oliveira Barbosa
representando a primeira batalha dos Montes Guararapes, a coleo de pinturas religiosas
da pinacoteca da Igreja de So Francisco de Igarassu e diversos tetos e painis de pintura
ou azulejaria.
Telles Jnior, exmio pintor de paisagens terrestres e marinhas que, segundo Francisco
Brennand, foi quem melhor traduziu a luz do Recife e arredores, foi o artista que se destacou
na passagem entre os sculos IX e XX com uma pintura cheia da espontaneidade tropical que
identifica nossa terra.
Do ponto de vista do artista, na modernidade, a autonomia do pintor foi conquistada
definitivamente. Fator decisivo para isto foi o desenvolvimento das tcnicas de reproduo
da imagem que a revoluo industrial acarretou. Finalmente o artista se desencarregou
da funo de apndice da histria, da cincia, da sociedade quando na maioria dos casos
apenas cumpria uma funo, a de documentador, de registrador dos fatos, funo que
passou a ser cumprida pelo fotgrafo, nos primeiros momentos, depois pelas outras
mdias desenvolvidas pela indstria cinema, xerox, fax, informtica. Importante lembrar

que os meios modernos de multiplicao da imagem se tornaram na contemporaneidade


meios artsticos tambm, devido s mudanas de conceito da obra de arte, como veremos
no captulo referente arte contempornea.
O artista liberto de suas funes pragmticas pde mergulhar profundamente na expresso
de seus sentimentos, de suas observaes da vida, de suas elucubraes filosficas.
Essa liberdade propagou-se no mundo ocidental gerando tambm os instrumentos da
modernidade, incorporando arte novas tcnicas e linguagens. No sculo XX, eles contaram
com condies propcias para marcharem sincronicamente com seus pares em todo o
mundo, na criao das expresses modernas e ps-modernas que representam o tesouro
artstico que temos hoje.

A Semana de Arte Moderna de 1922 e a arte pernambucana

Recife divide com So Paulo a primazia de nossa modernidade artstica, pois Vicente do Rgo
Monteiro realizara em 1920 uma exposio no Recife, com 43 desenhos, que foi apresentada
em seguida no Rio de Janeiro e em So Paulo, antecipando-se dois anos da Semana de Arte
Moderna que os escritores e artistas realizaram em 1922.
A Semana de 22, como mais conhecido este acontecimento, que formou as bases de nossa
cultura atual, detonou o movimento modernista de So Paulo. Um dos pontos mximos
da biografia de Vicente a sua participao na semana de 22, ao lado de Anita Malfatti, Di
Cavalcanti, John Groz, Victor Brecheret e W. Haelerg. Tarsila do Amaral estava na Europa
e no participou, mas aderiu ao movimento e posteriormente teve definitiva participao no
Movimento Antropofgico lanado por Oswald de Andrade em 1928 que deu sequncia s
ideias modernistas, que teve a participao de Cassiano Ricardo e Flvio de Carvalho.
A exposio foi montada no hall do Teatro Municipal de So Paulo, palco de todas as
manifestaes dessa semana de trs dias na verdade as atividades s ocuparam os dias
15, 16 e 17 de fevereiro. Esta no foi a primeira exposio de arte moderna realizada no
Brasil. Lasar Segall, o grande artista lituano que passara pela Alemanha onde se integrou
arte de Berlim, fez em 1913 a primeira exposio de arte moderna no Brasil. Em 1916 foi a
vez de Anita Malfatti realizar a tal exposio que provocou a ira de Monteiro Lobato. Em 1920,
ento, foi a vez da exposio da escola de Paris trazida por Vicente do Rgo Monteiro. Este
pioneirismo sugere que o pintor Vicente e seus irmos Joaquim e Fdora, o pintor Ccero
Dias, como tambm a cidade do Recife como referncia de arte conectada com o mundo,
so to modernistas quanto So Paulo, to antenados com o mundo quanto Oswald e Mrio
de Andrade e a Paulicia Desvairada. certo que alguns dos modernistas paulistas,

ou tericos ps-modernistas, no concordavam com isto. Mrio de Andrade reivindica o


modernismo para So Paulo, como esttica paulistana, enquanto Aracy Amaral disse que
no se entende modernismo fora das grandes cidades. Menotti Del Picchia, por sua
vez, entendeu o modernismo em sua verdadeira universalidade. Ele a define, em Avenida
Paulista, como uma nova tcnica para expressar a vida.
1922 foi um ano singular para o Brasil, pois marcou o fim do governo progressista de Epitcio
Pessoa e a passagem para o governo de Artur Bernardes; ano da Feira Internacional de Rio
de Janeiro montada para comemorar o Centenrio da Independncia, que foi inaugurado
com a presena do Rei da Blgica; foi tambm o ano da revolta do Forte de Copacabana
e da fundao do Partido Comunista, por Astrogildo Pereira. Certamente So Paulo se
ressentia do acmulo de poder do Rio de Janeiro, pois Mrio de Andrade chegou a dizer que
o modernismo era coisa para So Paulo, no para o Rio de Janeiro rico e aristocrtico.
No se sabe ao certo de quem foi a ideia da Semana de 22. Alguns a creditam a Di Cavalcanti,
outros a Menotti Del Picchia que teria encontrado Oswald de Andrade na escadaria do teatro
Municipal de So Paulo e sugerido um manifesto que marcasse a posio dos intelectuais
paulistanos que se opunham a ditaduras da academia, outros ainda atribuem a Ronald
de Carvalho. Fato que foi, num primeiro momento, um movimento de escritores que teve
a participao de Oswald de Andrade que tido como seu lder, Mrio de Andrade, Menotti
Del Picchia, Ronald de Carvalho, Graa Aranha, entre outros grandes escritores brasileiros.
A Heitor Villa Lobos e Guiomar Novais, a grande pianista brasileira da poca, foi entregue
a rea musical. As artes plsticas se manifestaram na exposio coletiva que comentamos
acima.
Como veculo do texto e da imagem modernista, foi editada por Oswald de Andrade a revista
mensal Klaxon, que Mrio de Andrade define: Klaxon sabe que a humanidade existe, por
isso internacionalista.
O manifesto de autoria de Mrio de Andrade colocava que a arte moderna brasileira deveria
ter como base o seguinte conjunto de princpios:
1 O direito permanente pesquisa esttica;

2 A estabilizao da atualizao esttica brasileira;

3 A estabilizao de uma conscincia criadora nacional.

Basta este manifesto para afirmar o modernismo de 22 como um movimento proposto para
abranger todo o Brasil, pelo menos isto o que sugere a conscincia criadora nacional.
Mas seus desdobramentos levaram a uma ciso no meio intelectual a partir do Manifesto
Regionalista de Gilberto Freyre.

A Semana de 22 e o Manifesto Regionalista


O jornalista Rubens Borba de Morais declara que o Regionalismo simplesmente
precedeu o Modernismo, e nada mais. A Semana de 22, coincidindo com o Centenrio da
Independncia do Brasil, olhava para o futuro proclamando tambm a independncia, mas
dessa vez como desligamento da esttica europeia na literatura, na msica e nas artes
plsticas. No estavam comemorando os 100 anos passados, mas celebrando os anos do
porvir. O jornalista pernambucano Joaquim Inojosa, em passagem por So Paulo, tomou
conhecimento das ideias modernistas da Semana de 22. De volta ao Recife, ainda no fogo das
ideias modernistas, repleto de imagens, documentos e indagaes, entrou logo em contato
com o meio intelectual e artstico local proclamando as boas novas.
Embora Vicente do Rgo Monteiro manifestasse a influncias das correntes modernas
europeias como o cubismo, o surrealismo e o dadasmo, os princpios tericos do movimento
paulista chegaram aqui por intermdio de Joaquim Inojosa, seu maior semeador no Nordeste.
At porque, embora fosse um pernambucano em So Paulo, Vicente morava em Paris e
pouco sabia da geopoltica cultural brasileira.
Enquanto as ideias da Semana de 22 ganhavam corpo entre os artistas locais, Gilberto Freyre,
que j ocupava importante posio na intelectualidade brasileira, insistia em colocar dvidas
em relao ao propsito dos modernistas. Ele liderava a oposio ao movimento e em seu
discurso empregava palavras abolidas pelos jovens modernistas: permanncia, razes, valor
ao passado e regionalismo. Regionalismo foi o termo que deu nome ao movimento que
Gilberto Freyre lanou em 1926, como sucedneo do modernismo. O Manifesto Regionalista
um texto que contou em seu lanamento com o apoio de artistas da poca, inclusive de
Ccero Dias cujo trabalho expressava traos modernistas, porm com temticas regionais.
De qualquer forma, a rixa entre modernistas e regionalistas acabou se transformando
em uma saudvel briga de ideias. Com os anos, a discusso foi sendo amenizada e, no
metafrico campo de combate entre Freyre e Inojosa, sobraram sementes de uma arte que,
inevitavelmente, no seria a mesma sem essas arengas.
Com a convivncia adquirida no meio artstico parisiense e a mobilidade transocenica que
tinha, Vicente trouxe para Recife em 1930, e instalou no Salo Nobre do Teatro Santa Isabel,
uma importantssima exposio que marcou profundamente nossa cultura visual: Artistas
da Escola de Paris, que teve a participao, alm dele prprio e do seu irmo Joaquim do
Rgo Monteiro, de grandes estrelas da arte internacional como Picasso, Lger, Braque,
Gris, Severini, Mir entre outros, seus amigos. Alm do Recife, a exposio esteve no Rio de
Janeiro e So Paulo.
Entre os efeitos decorrentes da exposio surgiram movimentos tericos e se montaram
atelis coletivos e individuais que visavam vitalizar a arte pernambucana de memria colonial-

barroca e acadmica. Reagindo-se a este esprito efervescente, foi criada em 1932 a Escola
de Belas Artes do Recife. Muito curioso o fato de ser criada depois que o modernismo
foi implantado e frutificado aqui. Em outros lugares foi o contrrio, o modernismo que
reagiu ao academismo assim como o impressionismo foi, em Paris, a reao ao salo de
arte parisiense que se norteava pela cole de Baux Arts.

O Grupo dos Independentes

No entanto, em agosto de 1933 alguns artistas de destaque reuniram-se em torno do que


se autodenominara Grupo dos Independentes: os que no aceitavam o padro oficializado
das escolas de belas artes, incluindo a recm-criada Escola de Belas Artes do Recife. Os
Independentes, como passaram a se chamar, eram os que realizavam um trabalho livre
de conceitos e regras. O grupo era formado por Augusto Rodrigues, Bibiano Silva, Carlos
Holanda, Danilo Ramires, Elezier Xavier, Francisco Lauria, Hlio Feij, Luiz Soares, Manoel
Bandeira, Nestor Silva e Percy Lau.
O exemplar ensaio de autoria de Bise de Souza Rodrigues publicado em 2008 O Grupo do
Independentes arte moderna no Recife 1930 esclarece para a atualidade a importncia
dos independentes. Nise relata:
No contexto sociocultural dos anos 1930, os Independentes apreenderam os smbolos de uma
sociedade moderna emergente e praticaram valores estticos renovadores, concretizando uma
escola artstica, visto que a arte moderna no Recife se constituiu abrangente ao panorama
cultural brasileiro.
Constato que a formao do grupo no se deu ao acaso. Precisou seguir os caminhos j
percorridos por pioneiros brasileiros e pernambucanos, notadamente os pintores Vicente do
Rgo Monteiro, Ccero Dias e Lula Cardoso Ayres grandes precursores da arte moderna no
Brasil.
Mas a atuao dos Independentes no se limitou oposio que fizeram Escola de Belas
Artes, a produo dos 1 e 2 Sales dos Independentes, chamados tambm de Salo
de Arte Moderna do Recife. Estes foram os primeiros sales de arte moderna realizados
em Pernambuco; sabe-se, porm, da realizao de um Salo de Arte em 1929 que teve a
participao de Balthazar da Cmara, Fdora Monteiro e Murillo La Greca, entre outros. Como
informa Nise Rodrigues, o 1 Salo Independente foi inaugurado pelo Governador Carlos de
Lima Cavalcanti no dia 12 de agosto de 1933 na Biblioteca Pblica, Rua do Imperador, hoje
Arquivo Pblico Jordo Emerenciano. O 2 Salo dos Independentes integrou o Congresso

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Afro Brasileiro coordenado por Gilberto Freyre em 1936 na Sociedade dos Empregados do
Comrcio, na Rua da Imperatriz, segundo contou Elezier Xavier a Nise Rodrigues.
Os Independentes foram sem dvida o primeiro coletivo de artistas, como chamamos na
contemporaneidade. Para compreendermos corretamente nossa histria recente da poca,
fundamental conhecermos este grupo e sua importncia na arte nacional. Eis, em seguida,
tpicos da carreira destes artistas:
Augusto Rodrigues:
Alm de sua arte, especialmente seu desenho, analisada e comentada por Frederico Morais,
Jacob Klintowitz e Herman Lima, autor de Histria da caricatura no Brasil, entre outros
crticos de arte, se coloca na histria da arte brasileira como um dos fundadores; ao lado da
artista gacha Lcia Alencastro Valentim e a escultora norte-americana Margareth Spencer,
fundou em 1948 a Escolinha de Arte do Brasil, instituio que, por dcadas, proporcionou
infncia e adolescncia a arte na educao.
A Escolinha prope estimular a autoexpresso, desenvolver projetos de interesse da arteeducao, contribuir para o reconhecimento social da arte da criana. Esse ltimo tpico
talvez seja o mais importante, baseado nas ideias do filsofo e crtico de arte ingls Herbert
Read. Entre 1950 e 1970, a Escolinha se desenvolveu e se espalhou por algumas cidades
brasileiras, entre elas Salvador e Recife.
So considerados desdobramentos da Escolinha o Ateli Infantil do Museu de Arte Moderna do
Rio de Janeiro criado pelo artista e professor Ivan Serpa em 1972, e os cursos de licenciatura
em educao artstica, hoje obrigatrios no ensino das artes visuais das universidades
brasileiras.
Augusto Rodrigues atuou como um elo entre a cultura pernambucana e a carioca. Ele foi uma
das primeiras pessoas a despertar no Brasil a importncia da cultura popular nordestina
atravs, por exemplo, da realizao da primeira exposio de Vitalino no Rio de Janeiro.
Augusto Rodrigues faleceu em 1993 quando era um dos artistas de maior prestgio no Rio de
janeiro, onde fez sua carreira de artista e professor.
Elezier Xavier:
Pintor de grande importncia local, principalmente como paisagista que plasmou,
preferencialmente em aquarela, as vrzeas do Capibaribe, os casarios das cidades histricas
e as praias de Pernambuco. Nascido em 1907, teve uma vida intensa, foi muito amigo do
poeta Manuel Bandeira, que lhe apresentou a Portinari. Faleceu em 1998.
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Francisco Lauria:
Pintor e desenhista, nasceu em Macei em 1912 e tornou-se artista no Recife, onde participou
de um ateli coletivo com Percy Lau, Carlos de Holanda e Luiz Soares. O grande crtico de
arte baiano Clarival do Prado Valadares escreveu sobre ele:
Sobre o esquema duma cidade despovoada, sem vivalma nas ruas, nas portas e nas janelas,
Lauria constri misteriosos retratos de moas. Um tipo de criatura por vezes bela, por vezes
grotesca, mas sempre envolta em uma histria. Ningum necessita de legenda para logo saber
de quem se trata.
Hlio Feij:
Nascido em 1913, foi desenhista, pintor, arquiteto e poeta. Estudou no Rio de Janeiro com
o importante pintor de paisagens Carlos Chamberlland em 1929. Foi tambm discpulo de
Portinari e amigo de Vicente do Rgo Monteiro. No convite de sua exposio individual em
setembro de 1973, Joaquim Cardozo comenta:
Nos quadros de sua atual exposio, Hlio Feij exibe seus grandes recursos tonais: os efeitos
de cores esbatidas; os contornos das linhas limites das formas pintadas, executadas com a
pureza que se v tambm em Vicente e Portinari; esbatimentos de verde esmeralda e azul
cobalto, at quase branco, numa passagem que continua; o mesmo esbatimento que se encontra
em Braque e Lger;.
Manoel Bandeira:
O pintor e desenhista, no o poeta, nasceu em Escada, PE, em 1900 e faleceu em 1964.
Sua obra pictrica pequena, mas de grande importncia para a arte pernambucana. Seu
desenho, porm, assim como o desenho do peruano Percy Lau, so exemplos de habilidade
e talento para o registro do patrimnio cultural e natural de nosso povo. O desenho nos d
uma dimenso que a fotografia no tem, a observao do detalhe, do que mais impressiona
o desenhista na cena registrada. Bandeira foi o ilustrador do livro fundamental de Gilberto
Freyre sobre Olinda, desenhou a cidade nos seus mais relevantes ngulos, e desenhou com
aparato tcnico rudimentar da jangada dos pescadores locais, um desenho de importncia
perene pois a maioria daqueles instrumentos e implementos no so mais usados pelos
pescadores.
Percy Lau:
Desenhou para o IBGE os aspectos das regies brasileiras que mais chamavam a ateno
nos idos dos anos 1950. Tudo est editado pelo IBGE e formam um acervo fundamental para
pesquisa iconogrfica, histrica e artstica.

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O Museu do Estado e os sales de arte

No dia 7 de setembro de 1930, dia da independncia, foi fundado o Museu do Estado de


Pernambuco - MEPE, um espao cuja proposta era guardar e expor colees nacionais e
regionais de importncia social e cientfica. O Museu foi locado numa instalao provisria
na Cpula do Palcio da Justia. Seu funcionamento naquele prdio, no entanto, durou
apenas trs anos. Em 1933, ele foi extinto e suas colees foram anexadas Biblioteca
Pblica do Estado. Durante sete anos, o museu no existiu nem mesmo no papel. Voltou a
funcionar com sede prpria em 40, no casaro da Av. Rui Barbosa, onde est at hoje. Alm
das obras de artes plsticas, encontram-se em seu acervo peas de mobilirio, objetos do
perodo colonial, peas pr-histricas, das culturas indgena e afro-brasileiras.
Em Pernambuco, alguns autores citam o aparecimento do primeiro salo de arte em 1929,
com a participao de artistas como Balthazar da Cmara, Murillo La Greca, Mrio Tlio,
Fdora Monteiro e outros. Em 1933 e 1936 foram realizados os 1 e 2 Sales do Grupo dos
Independentes. Porm, os sales de arte em Pernambuco s foram consolidados a partir de
1942 com a criao do Salo Anual de Pintura, nove anos depois do primeiro salo do Grupo
dos Independentes.
A finalidade do Salo Anual de Pintura era expor os trabalhos de concluso dos alunos da
Escola de Belas Artes do Recife, que apoiou a criao do Salo, outorgando-lhe prmios de
aquisio cujas obras adquiridas formam hoje a parte acadmica do acervo do Departamento
de Extenso Cultural da UFPE, ficando para o MEPE o acervo de arte moderna. Com o tempo,
o Salo foi ganhando nomes diferentes, propostas diversas e novas categorias de arte,
como escultura, desenho, gravura e at mesmo arquitetura. A partir de 1949, so abertas
inscries para artistas de fora do Estado, o que levou mais credibilidade ao evento.
Em 1948, foi criada a Sociedade de Arte moderna do Recife SAMR, que, por sua vez, montou
o 4 Salo de Arte Moderna, dando sequncia aos sales promovidos pelos Independentes,
que divergiam do teor acadmico do Salo de Pintura do MEPE, de influncia belasarteana.
Nos anos seguintes, os sales vo se consolidando no calendrio artstico do Estado e,
assim como todo evento, passam por suas crises, financeiras ou estritamente polticas. Foi
o que aconteceu na dcada de 1970, com a suspenso dos sales at 1976, e nos anos 1990,
quando o salo mofou em suas intenes at 1999, deixando de ser realizado. O evento s
emergiu do naufrgio temporrio em 2000, quando voltou ao cenrio artstico da cidade, com
o ttulo Salo Pernambucano de Artes Plsticas, sua quadragsima quinta verso (houve um
40 Salo de Arte no Estado, fato que confunde quem pesquisa). O Salo Pernambucano de
Artes Plsticas 2000 foi realizado no espao do Observatrio Cultural Malakoff.

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Os Sales de Arte do Estado de Pernambuco foram responsveis pela formao de um


acervo de altssima qualidade reunido atravs dos prmios de aquisio que se acumulam
desde suas primeiras verses e que formam um verdadeiro tesouro cultural. Deste acervo
constam obras de Vicente, Fdora e Joaquim do Rgo Monteiro, Mrio Nunes, Reynaldo
Fonseca, Francisco Brennand, Murillo La Greca, Ladjane Bandeira, Wellington Virgolino,
Lenine de Lima, Joo Cmara, Ado Pinheiro, Oriana Duarte, Ismael Caldas, Gil Vicente,
Luciano Pinheiro, Raul Crdula, Roberto Lcio, Montez Magno, Rodolfo Mesquita, Rinaldo,
Humberto Magno, Flvio Emanuel, Dantas Suassuna, entre outros.
A Escola de Belas Artes do Recife, afinal
Sabe-se que havia uma tenso poltica e social no ar com mobilizaes operrias e greves.
Entre os anos 20 e 30, Pernambuco vivia uma inquietao em todos os sentidos, inclusive no
setor cultural, que recebia ento suas primeiras influncias da Semana de 22. Em meio a
discusses entre o novo e o tradicional, do moderno e o acadmico surgiu a Escola de Belas
Artes do Recife - EBAR, instituio destinada formao acadmica de artistas. O currculo
dos cursos e a forma de acesso escola batiam de frente com os questionamentos dos
Independentes.
Os embates entre o velho, tradicional, e o novo, o moderno, deram vez s articulaes de um
grupo de jovens artistas que propuseram a criao de um salo de arte independente. Para
recordar, eram eles: Augusto Rodrigues, Bibiano Silva, Carlos de Holanda, Danilo Ramires,
Elezier Xavier, Francisco Lauria, Hlio Feij, Luiz Soares, Manoel Bandeira, Nestor Silva e
Percy Lau. Em Tratos da Arte em Pernambuco, Jos Cludio acrescenta ainda os nomes
de J. Pimentel, Jos Norberto e Neves Deltro.
A Escola de Belas Artes seria uma instituio destinada capacitao dos artistas em nvel
universitrio. A formao proposta batia de frente com as tendncias modernas que aqui se
desenvolviam, tendo como pioneiros Vicente, Ccero e Lula.
Conta-se que o pintor paisagista Telles Jnior reivindicava a criao de uma escola de belas
artes no Recife. Sua ideia interessou a muitos artistas ao longo do tempo. importante dizer
que a maioria dos artistas que formaram o grupo que criou a Escola era contrria arte
moderna que j se praticava no Recife. Ocorreu que, estando reunidos no ateli de Mrio
Nunes e lvaro Amorim, no dia 29 de maro de 1932 os artistas Balthazar da Cmara, Bibiano
Silva, Emlio Franzosi, Georges Munier, Jayme Oliveira, Heinrich Moser, Henrique Eliot, Luiz
Matheus, Mrio Nunes e Murillo La Greca, em cerimnia simples que constou da abertura de
um livro de atas, criaram a Escola de Belas Artes do Recife. Eles conseguiram ao endereo
n 150, da Rua Benfica, a manso chamada de Solar dos Amorim. A arquitetura do local
j demonstrava por si a proposta da escola: uma construo neoclssica e pomposa. Dez
anos depois da Semana, em 22 de agosto de 1930, no Solar dos Amorim, se iniciaram os

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cursos de arquitetura, pintura e escultura. A instituio contou com apoio de vrios artistas
e professores, que doaram livros para a biblioteca e quadros para a pinacoteca.
Inicialmente, os currculos dos cursos da EBAR seguiam o modelo da Escola Nacional de Belas
Artes criada no Rio de Janeiro pelo Imperador Dom Pedro II, mecenas da arte brasileira. De
carter acadmico, os cursos, porm, faziam concesses aos estilos neoclssico e ecltico
que norteavam a arquitetura e a arte ornamental de dcadas nos sculos XVII e XIX.
A partir dos anos 1950 foram criados os cursos livres da EBAR oferecendo oficinas de arte com
durao de trs anos. Entre seus professores, estavam artistas renomados que trabalhavam
no Estado tais como os irmos Fdora e Vicente do Rgo Monteiro, Lula Cardoso Ayres,
Murillo La Greca, Laerte Baldini, Aurora Lima, Roberto Correia, Queralt Pratt, entre outros.
Passaram artistas como Ypiranga Filho, Joo Cmara, Jos Tavares e Jairo Arcoverde, entre
outros.
Nos anos da ditadura, o Curso de Belas Artes foi extinto e comeou a funcionar no mesmo
prdio os cursos de Licenciatura em Educao Artstica, Desenho Industrial e Comunicao
Visual. Nos anos de 1970, foram transferidos para o Centro de Artes e Comunicao no
Campus da UFPE.

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A Sociedade de Arte Moderna do Recife e o Atelier Coletivo

Em 1948, 12 anos depois da criao do Grupo dos Independentes, o ambiente artstico no


Recife vibrava de entusiasmo, mas no contava com apoio institucional que correspondesse
sua instigante produo artstica. Naquele ano, o jovem escultor Abelardo da Hora realizou
sua primeira exposio na Associao dos Empregados do Comrcio do Recife que ficava
na Rua da Imperatriz, a mesma instituio que abrigara em 1936 o 2 Salo Independente.
A partir da exposio de Abelardo, surgiram questionamentos motivados pela conjuno de
muitas ideias e projetos grandiosos carregados de queixas constantes sobre a academizao
das artes plsticas. A questo acadmica eivada do formalismo e dos cnones colocados
sobre a prtica artstica provocava um estado de inrcia nos jovens artistas, que sofriam com
a carncia de exposies e com a falta de contatos e, consequentemente, de conhecimento
produo da arte em outras cidades e regies brasileiras.
A exposio de Abelardo no foi importante apenas para ele. Uma consequncia fundamental
para a histria da arte moderna no Recife foi a sua deciso, ao lado de Hlio Feij, de
fundarem uma sociedade que tinha como propsito pensar e discutir a arte moderna de forma
interdisciplinar, conectada com outras categorias de arte, numa perspectiva de atualizao
e crescimento coletivo: a Sociedade de Arte Moderna do Recife SAMR. Hlio Feij era ainda
um jovem artista e arquiteto que trabalhava no Departamento de Documentao e Cultura
DDC, da Secretaria de Educao e Cultura do Estado, dirigido pelo Sr. Csio Regueira. Hlio
Feij redigiu o parecer que autorizou o patrocnio do DDC para a exposio. A aproximao
dos dois gerou uma forte amizade, e a ideia e realizao da SAMR sua melhor consequncia.
Os dois conseguiram arregimentar a participao dos principais nomes da cultura artstica
no Recife da poca.
Em Memria do Atelier Coletivo (Recife 1952 1957), editado pela Galeria Artespao e
Renato Magalhes Gouveia na dcada de 1970, Jos Cludio, memria viva, nos informa o
nome de quase todos os associados da SAMR:
Durante o 4 Salo, e no ir e vir das visitaes e da exposio de Abelardo, foi criada a
Sociedade de Arte Moderna do Recife por Abelardo da Hora e Hlio Feij, tornando-se
este seu primeiro presidente, de onde sairia o Atelier Coletivo. Da Sociedade faziam
parte Augusto Reinaldo, que desenhou o emblema, Lula Cardoso Ayres, Francisco
Brennand, Reynaldo Fonseca, Darel Valena Lins, Maria de Jesus Costa, Ladjane
Bandeira, os fotgrafos Delson Lima e Alexandre Berzin, cabendo a este um ano
depois, quando a presidncia passou a Abelardo, dirigir um curso de fotografia dado
pela Sociedade no qual saram muitos fotgrafos, sendo um deles Clodomir Bezerra,

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o escultor e poeta Waldemar das Chagas, um Moacir amigo de Delson (e que tinha
sido muito amigo de Nestor Silva), Abelardo Rodrigues, Tilde Canto e seu marido, o
escritor Antonio Franca, Aderbal Jurema, o poeta Carlos Moreira, o engenheiro Manuel
Caetano, que desenhava muito e fazia mbiles, o filho de Anbal Bruno, Maurlio
Bruno, da revista Resenha Literria e o seu fundador Permnio Asfora, Edson Rgis,
que dirigia a revista Regio, Waldemar de Oliveira, que editava a revista Contraponto,
todas de literatura e arte, os petas Craveiro Leite, pai de Paulo Fernando Craveiro, Jos
Gonalves de Oliveira e Cezrio Melo, pintores Eliezer Xavier e Mrio Nunes, o escritor
Hermilo Borba Filho, Ziembinski que estava ajudando Hermilo na criao do Teatro
do Estudante de Pernambuco Joel Pontes, Jos Laurnio, Gilvan Samico, Barbosa
Leite, Otvio de Freitas Jnior, Bernardo Ludemir, Geraldo Seabra, Gilberto Freyre,
Jos Teixeira, Otvio Morais.
importante notar que as pessoas citadas, a maioria intelectuais conhecidos at hoje,
aderiram discusso da arte moderna quando ainda era motivo de preconceito na tradicional
sociedade pernambucana. A participao de pessoas como Gilberto Freyre, Pelpidas da
Silveira, Abelardo Rodrigues, Aderbal Jurema e Waldemar de Oliveira, avalizou e prestigiou
a SAMR.
A princpio, o entusiasmo transbordava em forma de reunies frequentadas pelos
interessados em fazer algo novo e diferente, especialmente em oposio disciplina
acadmica tradicional da Escola de Belas Artes. Era o tempo em que se consagraram os
primeiros artistas modernos de Pernambuco e modernistas da Semana de 22, e artistas
como Portinari, Segall, o Grupo Santa Helena de So Paulo, entre outros vigorosos artistas
da era moderna, como Dejanira, Emeric Marcier, Guignard, Iber Camargo, entre outros.
Foi ainda quando os concretistas e neoconcretistas se lanaram em Rio e So Paulo e a
pintura nafe se colocou no mercado atravs da pintura de Dejanira e de Heitor dos Prazeres.
A SAMR colocava essas novas realidades em foco e com isso mexia com a cultura da cidade
incentivando discusses e incrementando teorias ao produzir textos, conferncias, palestras
e encontros.
O Atelier Coletivo do Recife
Havia, porm, no mago dos artistas, a necessidade de se incrementar o ofcio da arte, a
oficina, o ateli. Embora a Sociedade de Arte Moderna fosse a vlvula de escape de muitos
artistas que no se viam encaixados no perfil convencional, ela privilegiava a teoria em
detrimento da prtica. Foi ento que surgiu a ideia do Atelier Coletivo do Recife, criado em
07 de fevereiro de 1952, para dar continuidade ao trabalho j desenvolvido pela SAMR. O
Atelier (assim mesmo, escrito em francs) funcionou at 1957, mudando, nesses seis anos,
trs vezes de lugar, localizando-se primeiro na Rua da Soledade, depois na Rua Velha e por

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fim na Rua da Matriz. As mudanas foram motivadas por problemas de caixa. A proposta era
criar um ambiente artstico, voltado para as tendncias vigentes na poca. Abelardo liderava
um grupo composto inicialmente por Gilvan Samico, Wilton de Souza e seu irmo Wellington
Virgolino. Num segundo momento entraram Jos Cludio, Corbiniano Lins, Celina Lima
Verde, Ivan Carneiro, Marius Lauritzen Bern, Anchises Azevedo, Guita Charifker, Ionaldo
Cavalcanti, Ladjane Bandeira, Bernardo Dimenstein, Genilson Soares e Armando Lacerda,
entre outros.
Com um novo conceito de arte transmitido pelos cursos livres, esses artistas tornaram-se
figuras mpares no circuito da arte pernambucana. Os mais jovens tornaram-se devotos do
Atelier. O aluguel da casa era mantido por uma cota dividida entre alguns participantes e
associados. No se vendia, nem se comprava, mas a vontade de aprender era intensa.
A proposta temtica que Abelardo defendia, e praticada pelos outros participantes, buscava
a expresso cultural do cotidiano do povo: a realidade das ruas e a imagem dos mocambos,
a religiosidade crist e os xangs, as festas populares como o So Joo e o Carnaval, as
vises do Serto com o drama da seca tudo o que representasse o povo pernambucano.

A escultura e suas interaes arte pblica e muralstica

Do Grupo dos Independentes constavam os escultores Bibiano Silva e Carlos de Hollanda.


Infelizmente pouco se conhece sobre suas vidas e obras, assim como quase nada se sabe
dos escultores anteriores a eles. Um dos grandes feitos de Abelardo da Hora, porm, fez
com que o Recife se tornasse prdigo na arte da escultura: seu empenho na aprovao pela
Cmara Municipal da Lei de Obrigatoriedade da incluso de obras de arte nos edifcios com
rea maior de 1000m, conhecida como Lei das Obras de Arte. Esta lei resiste at hoje, a
incluso da arte condio sine qua non para o habite-se. Com isto no s os escultores,
mas tambm os pintores que trabalham com material de alta resistncia, que permita ser
aplicado em fachadas, como cermica de alta queima, beneficiam-se desde ento. Do ponto
de vista do mercado e da profissionalizao do artista, essa Lei um avano, embora, como
acontece na dinmica dos processos artsticos, encontra-se desatualizada tornando-se
necessria uma reviso profunda que vise disciplinar a escala e o material e a habilitao
dos projetos em relao qualidade da obra e a adequao arquitetura do edifcio. Outra
questo referente ao assunto a distino que se deve fazer entre a arte vista no conceito
de arte aplicada e o simples ornato ou objeto de decorao.
Mesmo que este curso refira-se arte moderna e contempornea, em uma abordagem

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ampla, necessrio maior conhecimento dos escultores acadmicos, pois, como professores
da Escola de Belas Artes, eles instruram os modernistas. Infelizmente pouco se conhece
da obra e vida dos escultores de antes da Lei, pois no tiveram o mercado desbravado por
ela. Neste meio estavam Edson Figueiredo, pai do escultor Jobson Figueiredo e orientador
de Abelardo da Hora na Escola de Belas Artes e o portugus tambm professor da Escola
Cassimiro Correia, alm de lvaro Amorim, Rosa Soares e Roberto Correia.
Abelardo da Hora:
Em Memrias do Atelier Coletivo, l-se que, ao se referir sua prpria obra, Abelardo
falava do sofrimento e do drama do povo:
Meus trabalhos eram de uma linguagem nova e de um expressionismo muito forte.
Abelardo e seus pares, principalmente Corbiniano Lins, Armando Lacerda e Wilton de Souza,
na fase em que estavam reunidos no Atelier Coletivo, interpretaram os valores estticos do
povo manifestando-os atravs de admirveis snteses formais, sendo Abelardo, no entanto, o
precursor desse estilo. De sua fase social-expressionista, constam obras como A Fome e
o Brado, Seu Birunga e gua Para o Morro. Abelardo passou a ter influncia da cermica
popular, especialmente de Caruaru, que se pode notar nas esculturas como Cantadores
e Vendedor de Caldo de Cana Parque 13 de Maio, Sertanejo Praa em frente ao Clube
Internacional; Monumento ao Frevo; Monumento ao Maracatu Rua da Aurora; Memorial
aos Retirantes Parque Dona Lind Monumento a Miguel Arraes entorno do Aeroporto.
H tambm o mural cermico Nabuco e a Abolio, realizado em 1950, na fachada do edifcio
Joaquim Nabuco, na Praa Joaquim Nabuco. Abelardo desenhou no ano de 1962 o lbum
Meninos do Recife, potica denncia da misria dos entornos da cidade e a srie Danas
Brasileiras, ambas em bico de pena; Famlia, de 1977, aguadas de nanquim; e em 2004, a
srie Hora de Brincar, em aguada de nanquim colorido.
Francisco Brennand:
Ao lado de Abelardo e Corbiniano Lins, so os mais presentes escultores da cidade. Brennand
o autor do maior acervo pblico do Recife, um conjunto de obras composto de esculturas
e murais cermicos de alta queima cuja matria desenvolvida por ele prprio por meio
das pesquisas da tradio cermica que herdou de sua famlia, tradicionais empresrios
e industriais dessa atividade no Brasil. Ele o autor do magnfico conjunto de esculturas
instalado no molhe de pedras dos arrecifes em frente ao Marco Zero do Recife e do importante
mural cermico realizado em 1952 na Rua das Flores, centro da cidade, sobre a Batalha dos
Guararapes.

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Brennand recebeu de Abelardo suas primeiras orientaes artsticas, no perodo em que


trabalhou para Ricardo, seu pai, na fbrica da famlia. Brennand foi estudar na Europa com
diversos mestres, inclusive Andr Lothe. Ao retornar de seus estudos na Europa ele montou
o seu ateli-oficina na antiga fbrica de cermica da famia, na Vrzea, onde trabalha at hoje.
Seu ateli uma atrao do turismo cultural por sua beleza arquitetnica e pela importncia
do acervo escultrico l existente - pode-se mesmo cham-lo de templo, graas ao silncio
e ao respeito que o ambiente inspira. Brennand pintor na origem, mas sua convivncia
com a cermica fez com que seu material expressivo transcendesse cor e abarcasse a
terracota (outro nome para cermica terra cosida geralmente chama-se de terracota a
cermica escultrica que passou por uma s queima, geralmente baixa e sem cobertura de
engobe, vidro ou esmalte).
Analisando a linha do tempo em sua obra, verificamos ento que cermica e pintura sempre
travaram intenso dilogo, mas hoje so aspectos diferentes de sua arte: a matria cermica
contaminou, com as possibilidades tridimensionais, a escultura que realiza agora, e a pintura,
em muitas ocasies, foi contaminada pela cor morna da terra queimada e seus esmaltes.
um escultor dos raros que empregam a cermica como material expressivo, gesto
comumente afeito ao arteso ou ao designer. Esta opo influenciou outros artistas de
Pernambuco e da Paraba, como Ferreirinha, Plnio Palhano e os paraibanos Miguel dos
Santos e Chico Ferreira.
Brennand transformou-se neste artista monumental que o Nordeste e o Brasil conhecem
hoje. Monumental no apenas pela dimenso fsica de sua enorme produo, mas pela
dimenso simblica de sua obra.
Corbiniano Lins:
Assim como Abelardo, dedica-se a esculpir as caractersticas populares do Recife
representando aspectos da vida dos trabalhadores, como pescadores, lavadeiras,
jornaleiros, msicos, vendedores, etc. Tambm , como Abelardo e Brennand, admirador do
corpo feminino, grande e constante tema de sua obra. Ele desenvolve seu trabalho em dois
materiais principais, a madeira e o alumnio. Em alumnio, onde est plasmada a maior parte
de sua obra, ele tambm desenvolveu uma tcnica de fundio a partir da cera perdida,
tambm usada para a fundio de joias de ouro e prata, porm com o molde feito em isopor
que, com a cera, volatiliza-se com o calor deixando na areia de fundio o vazio para ser
ocupado pelo alumnio liquefeito, que, ao esfriar, torna-se a escultura.
Ypiranga Filho:
Grande mestre da arte e da tcnica, ex-aluno da escola de Belas Artes, integrante do

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Movimento da Ribeira, em Olinda. Ypiranga pioneiro no Nordeste da assamblage tcnica


escultrica de criao de objetos atravs da colagem de diversos materiais que ele faz a
partir do ferro e de objetos de origem metalrgica. Ele morou na Alemanha nos anos de 1960
e no seu retorno para Recife se integrou no Movimento da Ribeira, ao lado de Ado Pinheiro,
Guita, Jos Tavares, Jos Barbosa e outros. um vanguardista, um dos pioneiro da arte
contempornea no Nordeste.
Tiago Amorim:
Tambm pintor e precursor da talha de Olinda, desenvolveu a terracota como sua matria
escultrica junto aos artesos e artistas de Tracunham, onde por muito tempo manteve
ateli e foi orientador. Ele foi Monge Beneditino e conservou em Tracunham a mesma
atitude sacerdotal que mantm em Olinda, apoiando e transmitindo seus conhecimentos
de mestre a garotos da comunidade do entorno de seu ateli. uma referncia como lder
comunitrio e pensador das questes que envolvem arte e artesanato. Sua esculturas de
maior porte se encontram em jardins residenciais e institucionais.
Jos Cludio:
Outro pintor, este por excelncia, que tambm lana mo da escultura. Jos Cludio
experimentou diversas matrias escultricas optando finalmente pelo granito a partir de
oficina que ministrou aos artesos da cantaria em granito na regio de Nova Jerusalm,
serto pernambucano. Na ocasio ele tambm orientou os artesos na direo da criao
de suas esculturas, tendo como modelo a cultura do povo do lugar. Jos Cludio um artista
ecltico, pintor e desenhista que j foi ligado arte de vanguarda. A escultura representa
uma das mais importantes sequncias de sua obra. Alm de artista plstico, Jos Cludio
escritor e pesquisador da arte pernambucana, autor de ttulos como Tratos da Arte em
Pernambuco e Memria do Atelier Coletivo do Recife. Como ele, tambm escrevem:
Brennand, Joo Cmara, Marcos Cordeiro, Paulo Bruscky, Plnio Palhano, Maria do Carmo
Nino e Sebastio Pedrosa, entre outros, praticantes e interessados na teoria e crtica de arte
- e mesmo literatura. Na 4 aula voltaremos ao assunto.
Armando Lacerda:
Sua obra principal a Esttua do Padre Ccero, no Horto do Juazeiro do Cear, com a
altura de oito andares. Possui no Bairro do Recife a Cabea de Ascenso Ferreira, na Praa
com seu nome. Assim como Corbiniano Lins, autor de obras em vrias cidades nordestinas,
seguiu os caminhos simplificados da escultura popular, sintetizando curvas dinmicas
procura de harmonia e expresso.
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Marianne Peretti:
Escultora e vitralista nascida em Paris que vive em Pernambuco desde 1953, e h dcadas
reside em Olinda. Ela filha de pai brasileiro. patente sua participao em obras de grandes
arquitetos no Recife e em outras cidades brasileiras, mas suas obras mais conhecidas esto
nos edifcios de Oscar Niemeyer desde que o conheceu na Europa quando de seu exlio.
Sua obra mais importante talvez seja o conjunto de vitrais da Catedral de Braslia, mas sua
obra est tambm presente em outros edifcios assinados por Niemeyer na Capital Federal,
como os vitrais do Panteo da Ptria, do Palcio do Jaburu, do Memorial JK e da Cmara
dos Deputados, por exemplo. No Recife, alm das obras particulares em fachadas e halls de
diversos edifcios, ela tem o vitral do Tribunal Regional Federal e a escultura em bronze da
Escola de Contas Pblicas Professor Barreto Guimares. Digno de citao tambm o vitral
do Memorial da Cabanagem, em Belm do Par.
Jobson Figueiredo:
Outro escultor presente na cidade com obras como os monumentos militares que esto
em frente ao Quartel do Derby e outros na pracinha atrs do Cemitrio dos Ingleses. Ele
tambm autor de muitas obras em edifcios produzidas a partir da Lei das Esculturas,
principalmente em prdios de Boa Viagem.
Demtrio:
Tem obras por todo o centro do Recife, pois ele autor das diversas esculturas, geralmente
feitas em concreto moldado, de poetas da cidade, como Manuel Bandeira, Ascenso Ferreira,
Joo Cabral de Mello Neto, Joaquim Cardoso, entre outras que esto distribudas pela
cidade. Alm disso, ele autor do monumento Tortura Nunca Mais.
Helder Ferrer:
Outro escultor que trabalha com diversos materiais. Suas obras mais conhecidas so ligadas
ao movimento Manguebeat e refletem o ambiente vegetal e a fauna dos mangues do entorno
do Recife. Uma de suas obras conhecidas um enorme caranguejo de chapas de ferro
moldadas e soldadas que por muito tempo ficou na Rua da Aurora ao redor do monumento
Tortura Nunca Mais, onde esto tambm outras esculturas de autores diferentes.
Paulo Andrade:
Escultor e designer que utiliza, sobretudo, o metal em suas peas moldadas e dobradas em
alumnio e ferro. Designer de joias, mobilirio e instalaes de supermercados e lojas. Sua
arte reflete sua condio metropolitana, seu gosto pela esttica da organizao e da ordem.

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Ferreira:
Como Brennand, tambm utiliza a cermica como matria, e produz suas esculturas em alta
queima na sua oficina-ateli de Campo Grande. Sua produo envolve esculturas e painis
cermicos, mas tambm produz azulejaria pintada em painis e cria elegantes objetos de
porcelana. Ferreira tambm pintor e desenhista de muita presena nas galerias de arte
da cidade. autor do mural Navio Chegando, da Capitania dos Portos, de uma srie de
painis cermicos no Country Club e na Universidade Catlica de Pernambuco. Ele tambm
experimentou a escultura em ferro soldado e o mosaico.
Outros artistas da escultura: Joo Batista de Queiroz que trabalhou com madeira,
principalmente, e com resina plstica, matria dos marcos da entrada do Porto do Recife
um verde outro vermelho; Cavani Rosas, escultor e desenhista, mestre da moldagem em
concreto, desenvolveu tcnicas de moldagem e desmoldagem formando assim diversos
novos escultores; Alex MontElberto, escultor e designer de mobilirio presente nas fachadas
dos edifcios em vrias regies da cidade; Nicola, mais conhecido como santeiro, utiliza a
madeira para esculpir grandes cabeas de So Francisco que, embora sejam colecionadas
como artesanato de qualidade, so na verdade esculturas sacras; Pedro ndio, escultor de
pedra, Adolfo Srgio, mestre da madeira, Amaro Maciel e Zeferino, ferreiros j falecidos,
formam uma gerao de escultores espontneos de Olinda.
Na arte contempornea, assunto que veremos na 4 aula, citaremos as obras dos artistas
Marcelo Silveira, Marcelo Coutinho, Braz Marinho, Cristina Machado, Jos Paulo, Maurcio
Castro,

A grfica moderna e o desenho no Recife

O Grfico Amador:
Em 1954, muito antes da criao da Oficina Guaianases de Gravura, o escritor e editor
Gasto de Holanda, acompanhado do designer Alosio Magalhes, dos escritores Orlando
da Costa Ferreira e Jos Laurnio Melo, criaram uma oficina experimental de artes grficas
que nomearam de O Grfico Amador. Esta casa de criao, composta escritores e artistas do
livro, colocou o Recife na vanguarda das artes grficas e nos legou uma profcua produo
de textos e imagens. A concepo do livro como objeto de arte fixou-se na concepo
dos escritores e do pblico, e orientou a criao de mdias expressivas que apareceram
posteriormente, como a arte postal (ou mail-art) e o Livro de Artista.

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O Grfico Amador produzia pequenas edies tipogrficas numeradas e assinadas, a exemplo


da praxe existente na produo de gravura. A experimentao foi sua tnica veja-se, por
exemplo, a obra e a vida de Aloisio Magalhes, o precursor do desenho Industrial (design) no
Brasil, mentor da criao da Escola Superior de Desenho Industrial, ESDI, no Rio de Janeiro.
O Grfico Amador contava com a colaborao de 57 scios, entre artistas e intelectuais,
mantinha contatos com o Corbusier Graphique, de Paris, e o Curwen Press, de Londres.
Segundo a pesquisadora Lcia Gaspar, da Biblioteca da Fundao Joaquim Nabuco, esto
catalogadas 27 edies tipogrficas ilustradas por artistas como Ado Pinheiro que
ilustrou, a partir da xilogravura, o livro de poemas Gesta, de Jorge Wanderley. Entre
estas publicaes constam Prego Turstico do Recife e Aniki Bob de Joo Cabral de
Mello Neto; Ode de Ariano Suassuna; Memrias do Boi Sarapio de Carlos Pena Filho;
A Tecel, de Mauro Mota; Ciclo, de Carlos Drummond de Andrade e O Burro de Ouro,
de Gasto de Holanda.
O livro como objeto de arte, caracterstica fundamental na concepo dos que fizeram O
Grfico Amador, um conceito que cinge a relao entre escritor e artista, haja vista a
produo das iluminuras, ilustraes manual dos livros na Idade Mdia, primrdios
da imprensa. A evoluo da imprensa nos levou alta tecnologia que agrega hoje vrias
categorias de arte, principalmente a fotografia. Na contemporaneidade, porm, alm da
adoo do design grfico moderno, como O Grfico Amador, chega-nos tambm a concepo
do Livro de Artista, consequncia do olhar abrangente dos novos tempos da arte que, entre
tantas fronteiras rompidas, se concretiza pela utilizao de novos meios novas mdias
como o correio (mail art, arte postal), a fotocpia (xerografia), o cinema e o vdeo (cinema de
artistas e videoarte).
O desenho como arte
O desenho em papel tornou-se produto artstico das galerias do Recife nas dcadas de 50/60,
ocupando seu lugar nas colees particulares e acervos pblicos. Esta foi uma das conquistas
da modernidade, desde que no perodo acadmico o desenho no existia isoladamente como
categoria de arte, ele tinha apenas a funo de estrutura para a pintura, embora sendo o
elemento bsico para sua prtica.
As artes grficas sempre se destacaram no Recife pelo reflexo da obra de artistas desenhistas
como Manuel Bandeira, Percy Lau, Hlio Feij, Augusto Rodrigues, Aloisio Magalhes; e dos
ilustradores da imprensa literria nos anos 50/60, como Ladjane Bandeira e Zuleno, e ainda
pela arte desenhada por artistas de outras categorias, como a pintura e a escultura, como
Lula Cardoso Ayres, Abelardo da Hora, Francisco Brennand, Ado Pinheiro, Joo Cmara e
Delano, por exemplo.

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Foi tambm nas dcadas de 50 e 70 que surgiram as obras de Maria Carmem e Gita Charifker,
duas das mais importantes artistas brasileiras que se destacaram atravs do desenho e da
aquarela tcnica artstica que muitas vezes, na arte moderna, se coloca na fronteira entre
o desenho e a pintura. Maria Carmem chegou a ser colocada criticamente por Pietro Maria
Bardi, curador do MASP, onde ela realizou uma grande exposio, como a mais importante
artista do desenho brasileiro. Gita tambm se destaca no mesmo af pelo desenho. Em 1972
o crtico de arte carioca Roberto Pontual escreveu:
Desde a vinda para o Rio de Janeiro, em fins de 1970, depois de longa atividade como
desenhista no Recife, Guita tem dado sequncia a um desenho que absorve, acasala,
manipula e organiza o sonho.
Interessante notar que desde Percy Lau se pratica um tipo de desenho minucioso, de
traos finos que se entrelaam como uma malha. Vejam-se as ilustraes de Percy Lau para
o livro Tipos e Aspectos do Brasil, de 1949, obra chave para a geografia fsica e humana
tratada oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, que o editou. Este
desenho como malha, como Bardi referiu a arte de Maria Carmem, se repetiu tambm na
obra ilustrativa de Manuel Bandeira veja-se o livro de Gilberto Freyre.

A gravura em Pernambuco

A necessidade de expandir o conhecimento: a partir desse princpio a gravura surgiu na


histria humana. Na concepo moderna, a gravura originria da China e sua tcnica
primeira foi a gravura em Madeira xilogravura, que atingiu seu auge no Japo no perodo
Ukuio (sculo XIX). A gravura , em essncia, a tcnica de repassar uma imagem gravada
numa matriz para outro meio, geralmente o papel. Me da imprensa, a gravura adquiriu com
o tempo o status de arte. A matriz gravada saiu da madeira para o metal (buril, ponta seca,
gua forte e gua tinta), para a pedra (litogravuras), at s tcnicas modernas de reproduo
de imagens como o estncil e a serigrafia.
A xilogravura foi em determinada poca o principal meio de editar imagens na imprensa.
Trabalhadas em tacos de madeira, a xilo, como popularmente chamada a matriz de
xilogravura, cabe perfeitamente no equipamento de impresso tipogrfica, especialmente
nos prelos ou nas pequenas mquinas, como as Minervas, responsveis pela impresso
dos cordis com as capas em xilo. Este uso no se restringe ao Nordeste do Brasil. Durante
a guerra do Paraguai, existiu um jornal em Assuno editado em Guarani, intitulado Cabchui,
onde as reportagens de guerra eram impressas em xilo, e durante a revoluo mexicana
o grande artista Guadalupe Posada imprimia em xilo, na sua pequena oficina grfica, em

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Guadalajara, um pasquim dirio sobre os combates e os fatos polticos.


Em Pernambuco, a gravura tem uma importncia fundamental a partir da xilogravura popular
e a obra grfica de Gilvan Samico, e da obra litogrfica do pintor e gravador Joo Cmara.
Samico tornou-se um dos mais importantes eruditos do Brasil, foi o mestre da xilogravura
erudita pernambucana. Inspirado nos contos e lendas populares e nos textos dos folhetos de
cordel, como fizeram tambm os xilogravadores que ilustravam as capas, ele aprofundou
este universo simblico e com isto determinou a identidade de sua obra nica. Viveu no
Rio de Janeiro e em So Pulo, conviveu com as obras de Lvio Abramo e Oswaldo Goeldi na
dcada de 50.
Cmara, por sua vez, alm de ser o grande artista que todos conhecem, foi o responsvel pela
criao da Oficina Guaianases de Gravura, fundada em Olinda em 1974. Depois de realizar
o conjunto de 100 litogravuras da antolgica srie Cenas da Vida Brasileira, resolveu
socializar com um grupo de artistas amigos, entre eles o pintor Delano, os equipamentos
adquiridos para tal: pedras e prensas, principalmente. O resultado foi a criao da Oficina
Guaianases, assim nomeada por ter como incio o antigo ateli de Cmara na Rua Guianeses,
em Campo Grande.
A abrangncia da gravura em Pernambuco vai muito mais longe, como veremos a seguir.
Os Clubes de Gravura
Ainda no final da dcada de 1950, em busca da ideologia scio-poltica que procurava para
expandir suas ideias, o artista gacho Carlos Scliar, com um grupo de amigos, criou do Clube
de Gravura de Porto Alegre. Ele assumira a tarefa de divulgar pelo Brasil a importncia da
gravura como expresso artstica ideal para expandir a problemtica social brasileira em
um raio de alcance maior que a obra de arte convencional. Scliar procurou Abelardo da
Hora, dirigente do Atelier Coletivo, em busca da ideologia scio-poltica por ele difundida e
vigente no Atelier atravs das ideias de Abelardo. A inteno do artista gacho era propor
a criao de um clube de gravura no Recife. Com esta inspirao, os artistas do Atelier
Coletivo fundaram, em 1952, o Clube da Gravura do Recife, composto pelos artistas Abelardo
da Hora, Wellington Virgolino, Wilton de Souza, Gilvan Samico e Ionaldo Cavalcanti. O Clube
editou em 57 um lbum pioneiro de xilogravura.
A ideia dos clubes de gravura foi facilitar e democratizar a aquisio de arte por edies
comercializadas entre seus scios, que pagavam uma mensalidade e eram sorteados com
quatro gravuras por ano. Isto inspirou a formao dos chamados consrcios de arte,
nos quais obras de maior valor so vendidas em grupo e a prazo, isto , uma vez o grupo
completo, as prestaes so divididas em nmero igual aos dos consorciados. Outros clubes
de gravura foram criados, sendo o mais ativo o Clube de Gravura da Oficina Guaianases, que

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funcionou por mais de dois anos e editou gravuras de Liliane Dardot, Jos Patrcio, Prside
Omena, Maurcio Silva, entre outros.
Oficina Guaianases de Gravura
A Guaianases serviu a cerca de cem scios artistas que criaram, e ainda criam suas obras,
pois a Oficina ainda existe funcionando no Centro de Artes da UFPE, atravs de seus
equipamentos e da habilidade do impressor Hlio Soares. O impressor Alberto, o outro
grande artfice pernambucano do delicado conhecimento da impresso litogrfica, j
falecido. A Guaianases ainda cumpre um grande papel na formao e na socializao dos
artistas do Recife, pois dela foram scios artistas como Delano, Jos Carlos Viana, Liliane
Dardot, Luciano Pinheiro, Gil Vicente, Tereza Costa Rgo, Petrnio Cunha, Marcos Cordeiro,
Maria Carmem, Mariza Lacerda, Jos de Moura, Jos Patrcio, Alexandre Nbrega, Piedade
Moura, Prside Omena, Maria Tomaselli, Dulce Lobo, Samico, Maurcio Silva, Jos Paulo,
Maurcio Castro, Amlia Couto, entre tantos outros. A Guaianases deu a Olinda a posio
de referncia nacional da produo de gravura e recuperou uma tcnica tradicional de
produo de imagens colocando-a a servio dos artistas, preservando tambm o saber dos
antigos litgrafos.
Exemplos da gravura pernambucana so encontrados em acervos como a coleo de
Giuseppe Baccaro, do Instituto de Documentao da Fundao Joaquim Nabuco acervo
iconogrfico e fotogrfico, com colees de estampas (rtulos de cachaa e cigarro), alguns
de origem popular em lito e xilogravura; no Museu de Arte Contempornea de Pernambuco
principalmente o acervo que pertenceu ao colecionador Abelardo Rodrigues, composto
de gravuras, documentos, fotografias e desenhos procedentes de vrias personalidades
relacionadas sua vida intelectual; na Biblioteca Joaquim Cardoso do Centro de Artes e
Comunicao da UFPE, que abriga o acervo de litogravuras da Oficina Guaianases.
A gravura de Samico
Gilvan Samico , para muitos historiadores, crticos e curadores de arte, um dos mais
importantes artistas da gravura do mundo. Utilizando a xilogravura como seu meio principal,
ele criou um universo fantstico tomando como base o imaginrio popular nordestino. Em
suas entrevistas ele lembra a importncia determinante de Ariano Suassuna na sua arte
quando o procurou em busca de conselhos do amigo, e Ariano lhe disse que procurasse
no mundo mgico da poesia e da grfica de cordel. Da sua arte se alinhou numa vertente de
representaes do mundo ao modo, podemos dizer, binrio que s a xilogravura comporta.
Vemos hoje seu nome ao lado dos mestres da gravura moderna brasileira, como Oswald
Goeldi, Lvio Abramo, ambos seus antigos mestres, e Maria Bonnomi, a grande gravadora
experimentalista de So Paulo, a nica ainda viva dos quatro.

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Porm, Samico no somente o gravador, sobretudo, o desenhista e o pintor. O desenhista tendente


fantasia da perfeio que nos surpreende quando vemos seus desenhos dos ano 50, o pintor quando
conhecemos as duas direes de sua arte: a imagstica, que reproduz o universo de sua xilogravura,
e a virtuosa, representada por suas paisagens e seus retratos.

***

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A Figurao do Recife

Os artistas cujos nomes esto citados acima, com alguns acrscimos, formam o ambiente
artstico de Pernambuco na primeira metade do sculo passado. O surgimento de Olinda
como cidade propcia atividade artstica na dcada de 1950 provocou a descentralizao
no apenas dos artistas plsticos, mas tambm dos artistas do teatro e da msica. A partir
de ento, mesmo com o advento da ditadura, o meio artstico se ampliou e sedimentou-se
com nveis crticos de excelncia. Em meados do sculo passado, Recife se torna um polo de
arte figurativa chamada tambm de Figurao do Recife.
Alguns jornalistas ligados crtica de arte, talvez inspirados pelo movimento filosfico do
sculo XIX intitulado de Escola do Recife, nomearam, assim, nas dcadas de 1960/1970, os
artistas de Recife e Olinda. Tinham em comum algumas caractersticas, como a paisagem,
a temtica popular e a superabundncia formal prpria da arte barroca.
Mas a Escola filosfica do Recife foi um acontecimento muito diferente que vale a pena ser
lembrado:
Nascida na Faculdade de Direito do Recife entre os anos de 1860 e 1880, a Escola do Recife teve
a liderana do filsofo sergipano Tobias Barreto, que foi acompanhado por personalidades
de grande importncia intelectual, como Slvio Romero, Artur Orlando, Clvis Bevilqua,
Capistrano de Abreu, Graa Aranha, Martins Jnior, Faelante da Cmara, Urbano Santos da
Costa Arajo, Abelardo Lobo, Vitoriano Palhares, Jos Higino Duarte Pereira, Araripe Jnior,
Gumercindo Bessa e Joo Carneiro.
A comparao entre estes filsofos e juristas do sculo XIX com o meio artsitico certamente
se deve identidade de propsitos em relao autenticidade do pensamento, em relao
aos filsofos, e do olhar, em relao aos artistas. Pode-se, no entanto, pensar em resqucios
do Regionalismo pernambucano prprio do pensamento de Gilberto Freyre.
Paralamente, porm, em Olinda nascia uma variao da mesma viso de arte, que Ado
Pinheiro apelidou, inteligentemente, de Neobarroco, algo que pronunciava o interesse
pela desordem esttica que caracteriza este estilo que vigorou na Europa advindo da
contrarreforma e, com a colonizao, vigorou na Amrica Ibrica, quando adquiriu cor local.
Ado referia-se ao ornamento das igrejas, tanto pintados como entalhados, e a influncia
disto em artistas locais como Jos Barbosa, Guita Charifker, Jos Tavares, Ladjane Bandeira,
Reynaldo Fonseca, Wellington Virgolino e, inclusive, ele mesmo, entre outros.
No entanto, para o meio artstico do Recife quela poca vingou o termo Figurao do Recife,

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muitssimo utilizado para classificar a quase totalidade da produo da arte local antes da
contemporaneidade, e muito criticado por correntes crticas exteriores ao Nordeste. Figurao
do Recife abrangeu a quase todos. Na crnica artstico-social da poca, relacionamos os
pioneiros Vicente, Ccero e Lula, e ainda o Grupo dos Independentes, alm dos artistas de
Olinda, com destaque para Joo Cmara, Tereza Costa Rgo, Bernardo Dimenstein, Roberto
Amorim, Tiago Amorim e muitos outros.

Olinda

Quem conhece o Stio Histrico de Olinda sabe que ele uma joia urbana, arquitetnica,
paisagstica e comunitria. Um lugar onde todos se conhecem, se respeitam, se gostam e
quase todos que aqui moram, de alguma maneira, so artistas de Olinda, como se proclamou
um Bajado um dia.
Nos primrdios de seus movimentos artsticos modernos, iniciados na dcada de 1950
por Ado Pinheiro e seus companheiros de ateli Anchises Azevedo e Montez Magno, e,
posteriormente, a presena de vrios outros artistas atrados por fatores como a tranquilidade,
a disponibilidade de sobrados com timos espaos para atelis para alugar por preos mais
em conta do que no Recife, e o conforto de sair do foco que era Recife na poca da ditadura,
como Ypiranga Filho, Guita Charifker, Jos Tavares, Jos Amorim, Joo Cmara e Vicente
do Rgo Monteiro, que a convite do Prefeito Eufrsio Barbosa, o incentivador dos artistas na
dcada de 1960, foi Secretrio Municipal de Cultura e Turismo, substituindo Ado . Eles foram
para Olinda e criaram suas famlias e, consequentemente, aqui nasceu uma nova gerao de
artistas que hoje esto adultos, colocando-se com sucesso no meio artstico nacional como
pintores, escultores gravadores, designers, artesos, fotgrafos, performticos alis,
uma tradio da cidade e contemporneos, no sentido da atualidade da arte que no se
limita mais a categorias artsticas.
Eis a Olinda de hoje, a cidade dos artistas com suas diversas faces, miscigenada de novas
e antigas manifestaes artsticas, com seu carnaval impregnado nas ladeiras de som e
movimento, e sua democracia barroca. Cidade impregnada de uma arte que almeja s vises
do paraso, basta percorrer a obra dos seus artistas: Jos Barbosa, Luciano Pinheiro, Guita
Charifker, Gilvan Samico, Tereza Costa Rgo, Maria Carmem, Tiago Amorim, Jos Cludio,
Humberto Magno, Liliane Dardot, Petrnio Cunha, Roberto Peixe, Marisa Varela, Marisa
Lacerda, e os filhos-artistas Man Tatu , de Jos Cludio, Marcelo Peregrino, de Samico,
Catarina Arago e Paulinho do Amparo de Humberto Magno e Iza do Amparo, Marilah Dardot,
de Liliane Dardot, Juliana Notari, de Roberto Peixe e Juliana Calheiros, de Snia e Ivaldevan

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Calheiros, por exemplo.


A pintura a principal arte praticada aqui. Desde os primeiros movimentos artsticos dos
anos sessenta at agora, os pintores dominam a cena, mesmo aqui existindo excelncias
em todas as outras categorias da arte. Mas, no campo das artes visuais, este domnio
apenas quantitativo, pois os desenhistas, gravadores, fotgrafos escultores e artistas de
vrias linguagens modernas e contemporneas, tambm exercem um papel qualitativo.
H dcada se falou em Arte Provincial - a crtica e curadora Aracy Amaral foi quem proclamou
esta, digamos, categoria sociolgica da arte. Nada mais correto, pelo menos se conhecemos
Olinda e seus artistas. No estamos colocando provncia como atraso, mas como um
privilgio urbano, um tesouro vivencial de cultura preservada, patrimnio humano e material.
Os artistas que para aqui vieram nos anos 60 eram, na maioria, alunos da Escola de Belas
Artes da UFPE ou de seu famoso Curso Livre e tiveram formao ou treinamento pelas
mos de artistas como Vicente do Rgo Monteiro, Lula Cardoso Ayres, Reynaldo Fonseca,
para citar somente estes trs integrantes do notvel naipe de artistas-professores da poca.
Eles so, entre outros, Joo Cmara, Jairo Arcoverde, Jos Tavares, Ypiranga Filho que se
iniciou nos atelis livres e depois, atravs de concurso, tornou-se professor do curso regular
de nvel superior. Portanto, os pioneiros da modernidade olindense foram treinados pela
persistncia do olhar sobre as obras de arte nas casas-atelis onde viviam com seus pais;
depois, nas questes pragmticas, pelos prprios pais, quando os filhos apontavam para
a velha mania da arte. Agregaram-se a eles Guita Charifker, Tiago Amorim, Jos Cludio,
Samico e Baccaro, que tambm nasceram para a arte a partir de estudos e orientaes com
os mestres da poca.
Os Nafes
Nos anos de 1950, Bajado, artista nafe por excelncia ou ingnuo j estava aqui e assistiu
a chegada dos novos que interagiram com ele. necessrio distinguir o universo da arte
dita popular, que mais complexo do que a maioria das pessoas pode imaginar, pois
este conceito duvidoso quando se nota que por popular se quer dizer pobre de cultura
ou pertencente a uma classe na qual a cultura no passa de vulgar. Quem pensa dessa
maneira, coloca-se numa posio preconceituosa. No, arte arte em qualquer contexto.
Para comentar e definir este campo de conhecimento gosto de usar os preceitos com os
quais o crtico de arte Oscar DAmbrsio, professor da USP, analisou a pintura da paraibana
Analice Uchoa no prefcio do seu livro. Ele coloca que a arte nafe uma produo simblica
ingnua onde o detalhe tem um papel preponderante. Citando o terico Georges Kasper, ele
coloca a arte nafe como arte primitiva moderna.
Falamos ento de arte primitiva. Esta a arte de povos que vivem defasados no tempo,

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povos tribais, comunidades rurais, oleiras, indgenas ou semelhantes, que se expressam


artisticamente.
Podemos falar tambm em pintores folclricos, aqueles que plasmam em suas cores vivas
as danas e os ritos populares. Isto ocorre em Olinda nos quadros que retratam os caboclos
de lana, maracatus, carnaval, cirandas, etc. Os maneiristas so aqueles que elaboram
cuidadosamente a superfcie da tela em busca de uma suposta perfeio.
Os pintores nsitos, ou inatos, so universais, esto em todas as sociedades sem
necessitarem formao ou incluso em movimentos artsticos eruditos. Os instintivos so
os pintores do corao, da religiosidade mgica ou negra como o Candombl. H ainda os
que fazem arte bruta, classificao vinda de Jean Dubufet, como os psicopatas, malucos,
drogados ou alucinados.
Tudo isto ocorre na cultura do mundo, e Olinda est no mundo, v o mundo, o mundo, como
simbolicamente se considera qualquer cidade.

A Arte Armorial

Ainda na dcada de 1960, Ariano Suassuna codifica sua viso da arte nordestina, tendo lanado
o Movimento Armorial, que repercute em todas as manifestaes artsticas encontradas
aqui no Nordeste: artes visuais, msica, dana, teatro e literatura. Nas artes visuais, sua
prpria obra desenhada, pintada ou realizada em outras tcnicas, define formalmente a Arte
Armorial, por muitos denominada de estilo armorial por conter elementos estilsticos
preponderantes. Nem todos concordam com isto, pois o principal motivo da existncia do
armorial reside no contedo historicamente nordestino, fruto do embasamento ibrico
de nossa cultura e do aspecto medieval da representao grfico-plstica de nosso olhar,
principalmente se vermos a xilogravura das capas dos cordis, que por sua vez so o
receptculo literrio desta herana. Ariano enxerga em todas as manifestaes de nossa
cultura autntica e pura, ainda sem as mculas da civilizao contempornea pelo capital,
pela vulgaridade trazida pelo lucro fcil, os mesmos traos da narrativa medieval poesia de
cordel e menestris , da msica moda de viola e msica medieval, e das manifestaes
das artes plsticas que se alinham com a esttica dos brases, isto , das armas das
famlias, grupos, cls e reinados. Armorial o coletivo de armas, no sentido de brases,
e para Ariano a traduo disso est na linearidade do desenho, na dimensionalidade da
figura e da composio, como foi na tapearia e na pintura medieval.
Ariano, ele mesmo, um grande artista e designer, desenvolveu um alfabeto armorial

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baseado nos ferros de gado, que so o equipamento para marcar com ferro-em-brasa as
reses de um determinado rebanho. Elegendo a cidade de Tapero como sua cidade ele
nasceu em Joo Pessoa, no Palcio do Governo, pois seu pai, Joo Suassuna, era poca
Presidente da Provncia da Paraba , Ariano a transformou em centro das vises histricas
eivadas da magia de sua arte, e construiu um mundo paralelo de imagens fantsticas que, se
vistos por sua mente sem fronteiras formais ou acadmicas, mostrar uma realidade sciopoltica belssima, embora assustadora.
Muitos artistas visuais pernambucanos se ombrearam com Ariano, sendo o mais importante,
como uma baliza deste movimento, o pintor e xilogravador Gilvan Samico. Muitos outros
o seguiram e seguem: seu filho Manuel Dantas Suassuna, sobrinho Romero Andrade
Lima, seu genro Alexandre Nbrega, o escultor em cermica e pintor Miguel dos Santos
pernambucano de Caruaru residente em Joo Pessoa - , Bernardo Dimenstein, Alusio
Braga, entre outros.

***

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A arte contempornea

comum a incompreenso do termo arte contempornea. Normalmente, o pblico geral


entende contemporneo com coetneo, da mesma poca, o que correto do ponto de vista
da lngua, mas no da arte. Arte contempornea no a que feita ao mesmo tempo, pois
assim, uma instalao e uma pintura nafe, ambas realizadas em 2014, seriam exemplos de
arte contempornea.
O que aconteceu com a criao das artes visuais, chamadas de artes plsticas, desde o
Renascimento at meados do sculo XX, foi uma sucesso lgica de causas e efeitos que
acompanhou a evoluo social atrelada aos mesmos valores e conceitos tcnicos e estticos
caucionado por uma academia que inclusive tratou a arte mais como uma forma de habilidade
do que de pensamento. Em meados do sculo XIX, algo importante aconteceu: foram os
primeiros estertores da arte moderna com o aparecimento de artistas como Manet, Monet,
Renoir, Cezanne e outros: o impressionismo.
O impressionismo mudou a expresso da arte, mudando seus modos e tcnicas de pintar,
principalmente, pois a pintura evoluiu antes das outras categorias de artes plsticas, porm
os conceitos bsicos da esttica belasarteana, como equilbrio cromtico, composio area
e harmonia, por exemplo, permaneceram, mesmo que em alguns momentos tenham sido
utilizados como meta linguagem, como uma crtica sobre si mesma.
A razo das mudanas est na histria: revoluo industrial, observao do mundo, evoluo
da cincia e invenes como a fotografia, o cinema e os atuais meios de reproduo de
imagem no nvel que estavam na segunda metade do sculo passado. A cada passo da
humanidade, a criao de arte mostra uma feio nova.
Na tentativa de traar uma linha no tempo, partindo do impressionismo, chegamos ao
seguinte: ps-impressionismo expressionismo cubismo futurismo construtivismo
suprematismo dada surrealismo realismo socialista informalismo expressionismo
abstrato neoconcretismo happening minimalismo land art arte povera arte
conceitual Arte Performtica Arte Tecnolgica body art vdeo arte grafite e outras
manifestaes de arte de rua instalao.
Vemos que, em um sculo e meio, mais de vinte movimentos da arte internacional se
sucederam, enquanto que nos trs sculos e meio anteriores vimos apenas o Renascimento e
seu desdobramento, a Arte Barroca mesmo assim com a funo de arma da Contrarreforma
-, o Romantismo e o Academismo, com as variaes que possibilitaram a arte heroica do
perodo da Revoluo Francesa e o surgimento da Academia de Belas Artes.

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Nesta sequncia, porm, assistimos ao aparecimento de movimentos que, nas dcadas


de 1910/1920, preconizavam o que aconteceria no final do sculo XX. Refiro-me a Marcel
Duchamp e seus seguidores que propuseram as mudanas mais profundas existentes
num sistema de arte. Muitos consideram o ready made, inventado por Marcel Duchamp
em 1917, como o primeiro objeto da arte contempornea. As categorias artsticas foramse transformando em experincias lingusticas e se desmaterializando, no sentido de
abandonar os materiais nobres da arte.
Fato que a arte tradicional, com o olhar no passado, pouco convive com a realidade que
conduz a arte contempornea no sculo XXI. Fala-se mesmo no fim da arte como verdade
marcante do sculo XX. O filsofo e crtico de arte Arthur Danto escreveu sobre isto no
importante livro Aps o Fim da Arte a arte contempornea e os limites da histria, que
esmia a independncia da arte dos ltimos quarenta anos preconizando o seu fim, o que
no significa trmino, mas uma nova relao da arte com o mundo.
comum se dizer hoje que arte atitude. Este conceito defendido por Jerome Stelnitz,
no importante artigo A atitude esttica. Ele definiu o esprito da contemporaneidade da
arte como: Ateno e contemplao desinteressadas e complacentes de qualquer objeto da
conscincia em funo de si mesmo. Isso nos leva a Foucault quando fala em uma esttica
da existncia que no se pode colocar apenas do ponto de vista do objeto, mas tambm,
ou principalmente, do artista que se envolve em atitudes que podem ser pensadas como
estticas da indiferena.
O grande artista contemporneo alemo Joseph Beuys, depois da 2 Guerra, quando retomou
seu caminho na vida, adotou atitudes absolutamente relacionadas esttica, o que podemos
colocar como uma esttica da existncia. Para ele, a arte o nico meio evolucionrio
revolucionrio capaz de combater os efeitos repressores de um sistema social senil que
continua a capengar na direo da morte.
Em Pernambuco, a arte contempornea esboa-se na dcada de 1970 com as obras de
Montez Magno, Anchises Azevedo, Daniel Santiago, Paulo Bruscky e Silvio Hansen. A criao
do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhes MAMAM foi decisiva para sua consolidao,
com as polticas implantadas pelo curador Marcos Lontra, seu diretor na poca, e pelos que
lhe sucederam, como Moacir dos Anjos, Cristiana Tejo e Beth da Matta. A fundao Joaquim
Nabuco, atravs de sua Superintendncia de Cultura, ofereceu na dcada de 1990 uma srie
de cursos ministrados pelo curador Agnaldo Farias, que contriburam fundamentalmente
para a formao deste olhar. Em 1999, com a finalidade de reativar o antigo Salo dos Jovens,
do qual o Museu de Arte Contempornea de Olinda realizara vrias verses, a secretaria de
Cultura do Estado, sob nossa curadoria, produziu o Prmio Pernambuco de Artes Plsticas
Novos Talentos, que revelou a existncia de jovens artistas contemporneos como Bruno

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Monteiro, Carlos Mlo, Renata Pinheiro, Rodrigo Braga, Kilian Glasner, Andr Aquino, Juliana
Calheiros, Marcos Costa, Beth da Matta, Jeims Duarte, Adriana Aranha e Marina Mendona.
Em 2000, a 45 verso do Salo do Estado, intitulado pelo secretrio de cultura Carlos Garcia
de Salo Pernambucano de Artes Plsticas 2000, tambm teve nossa curadoria, e colocamos
no seu programa o seminrio intitulado O Curador Como Coautor da Obra de Arte, que teve
a coordenao da Fundao Joaquim Nabuco sob a responsabilidade de Moacir dos Anjos.
Neste seminrio foram conferencistas curadores como Lisethe Lanhado, Agnaldo Farias,
Rodrigo Naves e o prprio Moacir dos Anjos.

Os Coletivos

Os artistas sempre se organizaram em grupos, talvez herana das guildas de artesos da


Idade Mdia (arteso no necessariamente artista, mas a arte na Idade Mdia no tinha
o mesmo significado da arte atual. Hoje, esta prtica existe como forma de abrir novas
possibilidades e permitir trocas de experincias, ainda que o artista trabalhe a sua linguagem
pessoal).
No Recife, se observa este esprito gregrio desde sempre, quando alguns artistas se juntaram
para organizar a Escola de Belas Artes, e outros formaram o Grupo dos Independentes,
ou quando outros seguiram Abelardo da Hora criando o Atelier Coletivo. Tivemos tambm
em Olinda o Movimento da Ribeira, o Atelier +10, a Oficina, a Oficina Guaianases, o Atelier
Coletivo de Olinda e Artistas de Iputinga.
Na arte contempornea, as organizaes de artistas em torno de atelis coletivos ou grupos
criativos foram denominados Coletivos.
Consideramos o primeiro Coletivo, por estarem desde os anos de 1970 inseridos no
conceito de arte contempornea, a Equipe Bruscky Santiago, responsvel por atitudes de
vanguarda nos anos 70 e 80, inclusive um Festival de Arte Door onde vrios artistas pintaram
em papis e os resultados foram colados nos out door da cidade; nos anos de 1980, foi criada
a Quarta Zona de Artes, os Carasparanabuco e os que seguem: Grupo Camelo, Branco do
Olho, Telefone Colorido, Molusco Lama, A Menor Casa de Olinda, entre outros.
Quarta Zona de Arte
O Quarta Zona de Arte foi um espao cultural dedicado arte contempornea e sua
discusso. Decorreu do envolvimento dos artistas Jos Paulo, Maurcio Castro, Fernando
Augusto, Mrcio Almeida e Flvio Emanuel, do cartunista Humberto Arajo, do comunicador

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visual Aurlio Velho e de interessados nas suas propostas de articulao e desenvolvimento


da arte no Estado. Nos trs andares de um edifcio neoclssico na Av. Marqus de Olinda,
esse espao pioneiro do Bairro do Recife possua galeria de arte, ambiente para cursos,
oficina de gravura e ateli coletivo.
O Quarta Zona existiu de 1988 a 1994 com uma proposta autnoma e independente, lanando
ideias e abordagens que ajudaram a colocar a arte pernambucana no nvel de atualidade em
que se encontra. Por l passaram muitos artistas, tais como: Tereza Costa Rego, Luciano
Pinheiro, Rinaldo, Eduardo Arajo, Jos de Barros, Jos Patrcio, entre outros.
Carasparanabuco
Todos eram caras de Pernambuco, da o nome ao grupo: Carasparanabuco. Os caras em
questo eram, naquela poca, fim dos anos 80, jovens artistas plsticos, a maioria scios
da Oficina Guaianases que tinham em mente montar um ateli prprio onde pudessem
criar e questionar o velho dilema tradio x contemporaneidade, como tambm interagir na
comunidade e divulgar seus trabalhos. Faziam parte do grupo: Maurcio Silva, Joo Chagas,
Marcelo Silveira, Rinaldo, Eduardo Melo, Alexandre Nbrega, Jos Patrcio e Flix Farfan.
Juntos, fizeram exposies coletivas e desenvolveram suas obras at o nvel de importncia
que todos conquistaram.
Grupo Camelo
Em 1996, os artistas Jobalo, Ismael Portela, Marcelo Coutinho, Oriana Duarte, Paulo
Meira e Renata Pinheiro reuniram-se em torno da formao do Grupo Camelo. O nome
Camelo nasceu de uma pitoresca histria: o Imperador Dom Pedro II pretendeu importar
camelos para o serto nordestino, animal supostamente mais resistente que o nosso
jumento. Este fato remete velha discusso sobre a autenticidade e a pureza da cultura
regional. Para os integrantes do Grupo Camelo, parece intil e despropositado um pas
naturalmente mestio pretender qualquer pureza cultural, como defendem os integrantes
do Movimento Armorial, ou ainda a vontade internacionalista que norteou o concretismo
paulista. Apostando na mestiagem e inspirados na metfora do camelo de Dom Pedro, o
grupo adotou, com o nome Camelo, um jumento com duas corcovas como smbolo. A fora
da iconografia popular marca profunda da cultura regional, e a ausncia desses elementos
uma das caractersticas mais fortes do Camelo. Dentro dessa relativa homogeneidade
de pensamento, porm, existem peculiaridades diferentes em cada autor: Jobalo investe
na pintura modulando superfcies em busca da representao do corpo e seus smbolos;
Ismael Portela prope uma arqueologia do acaso, fixando em suas esculturas as surpresas
que o material pode lhe oferecer; Marcelo Coutinho investiga da obra do filsofo austraco
Wittgenstein que tentou limitar a fronteira entre o que possvel e o que impossvel de ser
expresso com palavras, construindo sua obra na fronteira da incomunicabilidade; Oriana

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Duarte afirma seu interesse criativo no encontro entre as coisas que esto no mundo e a
possibilidade do desdobramento significativo dessas coisas nesses encontros; Paulo Meira
utiliza qualquer material que seja vital para a construo de seu rudo plstico; e Renata
Pinheiro trabalha com construes de ambientes marcados pela passagem de personagens
fictcios, um ser exaurido pela condio de encarceramento urbano.
Submarino
O Submarino foi um coletivo fundado em 2001 por Maurcio Castro com a participao de
Juliana Notari, Isabela Stampanoni, Jacar e Fernando Augusto. Uma das realizaes do
grupo foi a exposio Casa Coisa, uma stira Casa Cor, evento realizado em vrias
cidades, promovido por arquitetos e lojas de decorao. Em Casa Coisa, o grupo apresentava
ambientes como o Quarto de Empregada, o Galinheiro, a rea de Servio, o Quarto da
Donzela com a Calcinha Pendurada, etc. Show da Monga foi outra produo do Submarino,
onde foi recriado o show popular no qual uma moa se transforma em macaco atravs de
um jogo de espelho, comentando assim questes da gentica e do preconceito. Show da
Monga foi uma performance de Juliana Calheiros.
Balnerio de gua Fria
Outro coletivo liderado por Mauricio Castro, que funcionou na fbrica de mveis da arquiteta
Janete Costa e teve a participao de Fernando Augusto, Maurcio Silva, Cristina Machado
e a galerista Lcia Santos. O Balnerio produziu uma oficina de serralheria onde artistas
trabalharam com chapas, perfis e vergalhes de ferro. Nesta oficina, Cristina Machado
produziu sua escultura Armadura, uma cpia de si mesmo feita como uma malha de ferro
que ela pode vestir.
Branco do Olho
Entre julho e dezembro de 2004, um grupo de jovens artistas alugou por seis meses a casa
155 da Ladeira da Misericrdia, que hoje o ateli-galeria do artista nafe J. Calazans, com
o objetivo do encontro, da conversa e da tertlia. Dois deles, Bruno Monteiro e Augusto
Japi, participaram do Prmio Pernambuco de Artes Plsticas 1999, almd de Bruno Vieira
e Bruno Vilela. A nasceu o coletivo Branco do Olho, cujo nome foi sugesto de Bruno Vilela.
O Branco do Olho, ou BO, como simplificado, em seus nove anos de vida percorreu um rico
caminho e formou um currculo que referncia na arte contempornea daqui, tendo outras
constituies ao longo deste caminho, como na fase ps-Olinda: Rodrigo Braga e Clarissa
Diniz, Brbara Collier, Joo Manuel, Eduardo Romero, Luciana Padilha, Xanxa, Romo, Zel,
Srgio Vasconcelos, Roy Rgo, Sphora, Maurcio Castro, todos artistas atuantes. O BO se
modificou na sua dinmica e em 2012 estava constitudo pelos artistas Bruno Monteiro,
Daniel Santiago, Luciana Padilha, Eduardo Romero, Charles Martins, Rodrigo Cabral,

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Marcela Camelo e Braz Marinho, que faleceu em fevereiro de 2013.


No semestre que o BO se localizou em Olinda, ele realizou um programa exemplar de
manifestaes de arte contempornea iniciado com exposio Frankenstein 2, que saiu
de Olinda numa itinerncia pelo Rio de Janeiro e So Paulo. Em seguida, o BO realizou
a exposio Fotografias no Jardim, com participantes argentinos, portugueses e norteamericanos, alm dos artistas do coletivo.
O BO participou com todo o grupo do festival Olinda Arte em Toda Parte 2004.
Rdio Frei Damio e Telefone Colorido
Paulinho do Amparo um artista atuante na Olinda de hoje: Sou um artista fora de qualquer
sistema. Com isto ele se afina no apenas com os artistas contemporneos fora do eixo Rio/
So Paulo, mas tambm, paradoxalmente, com os artistas tradicionais, como os pintores de
paisagens e retratos, por exemplo. Ele diz me disse que se orgulha, ao lado de sua irm, de
viver exclusivamente de arte. Ambos so artistas multimditicos, pois empregam diversos
suportes, fsicos ou sonoros, nas suas criaes. Paulinho integra com Ernesto Teodsio,
filho do importante terico comunista Mano Teodsio, o grupo Rdio Frei Damio Ernesto
tambm integra o coletivo Telefone Colorido ao lado do grafiteiro Grilo.
O SPA das Artes
Na dcada de 1980, foi criado no Recife um Salo Municipal de Arte que realizou apenas
uma verso. Em 2002, duas dcadas depois, porm, Maurcio Castro assumiu a Diretoria de
Artes Visuais da Fundao Cultural Cidade do Recife que tinha como um dos seus projetos
a reativao desse Salo. De imediato, ele pensou em reformular o Salo, pois seu modelo
estava defasado e, como havia um tradicional Salo do Estado, este seria uma repetio
em menor escala. Com sua coordenao, foi reunido um grupo de artistas e pensadores
da arte, experientes em gesto cultural, para discutir o destino do Salo. Da equipe de
Maurcio j fazia parte Fernando Augusto, que tambm participara da Quarta Zona de Arte.
Foram convidados Jos Paulo, que na poca era membro do Conselho Municipal de Cultura
e tambm integrara a Quarta Zona; Fernando Duarte, que veio a ser Secretrio Municipal
de Cultura em trs gestes; e Rinaldo Silva, artista e ativista. Contaram tambm com a
participao do artista Goto, artista curitibano que vivenciara experincia do Faxinal das
Artes realizado no Paran, e do curador Moacir dos Anjos.
Todas as ideias apontaram para um festival de artes visuais que envolvesse a cidade do
Recife. Assim, foi criada a Semana de Artes Visuais do Recife SPA, ttulo que com o tempo
foi simplificado para SPA das Artes (segundo Maurcio Castro, autor da marca, SPA uma
sigla aleatria). Trata-se de um festival anual de arte contempornea com edies diferentes
de ano para ano que movimenta os jovens artistas. O SPA produziu dezenas de eventos

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como exposies, performances, instalaes e oficinas, alm de editar a REVISPA (veculo


de crtica e teoria da arte mostrada e produzida no SPA), semanas de fotografia, bolsas
de incentivo a jovens artistas, assim como residncias artsticas, intervenes urbanas,
grafitagens, confeco de um mapa das artes visuais da cidade com indicaes dos atelis,
galerias, institutos de arte, museus de arte e monumentos de arte pblica, e colagens de
cartazes conceituais, como fez Cristina Machado.
O SPA um evento cultural oficial que atende poltica cultural do Recife. Outras iniciativas
e atuaes do poder pblico so, da mesma forma, importantes para a consolidao da
arte, especialmente a arte contempornea que tem pouco apelo comercial. Citamos a
programao da Galeria Vicente do Rego Monteiro da Fundao Joaquim Nabuco, o Museu de
Arte Moderna Aloisio Magalhes, o Museu Murillo La Greca, as ltimas verses dos sales de
artes visuais do Estado, o Instituto de Arte Contempornea da UFPE, e as agncias culturais
da Caixa Econmica, do Banco Santander e dos Correios. Finalmente no se pode esquecer
das galerias particulares das quais citamos Arte Plural Galeria, Amparo 60, Dumaresc e
Mariana Moura.

***

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VARGAS NO PODER

Para boa parte dos historiadores , a Era Vargas pode ser dividida em trs perodos:
1) Governo Provisrio ( 1930 1934 )
2) Governo Constitucional ( 1934 1937 )
3) Estado Novo ( 1937 1945 )
De uma maneira geral, a Era Vargas marcou uma nova e importante etapa na histria do Brasil. Fazia tempo
que nossa sociedade e economia precisavam se ajustar s novas exigncias dos anos 30. Nesse perodo, era
necessrio reformular as relaes de trabalho entre empresas e operariado, repensar o desenvolvimento
do capitalismo brasileiro e reorganizar o papel do Estado, afirmando-o como o grande responsvel pelas
transformaes que viriam a acontecer.

O governo provisrio ( 1930 1934 )


A tarefa principal do governo provisrio foi a de organizar politicamente a nova estrutura de poder. No entanto,
Vargas contava com uma forte oposio, liderada por setores importantes da sociedade paulista. Nesse contexto,
ocorreu em 1932 um levante armado conhecido como Revoluo Constitucionalista. O levante aconteceu em
So Paulo e exigia a normalizao democrtica do pas, a partir da convocao de uma assemblia nacional
constituinte.
Apesar de ter vencido os constitucionalistas, o governo Vargas passou a organizar os preparativos para a nova
constituio do Brasil:
1.

Foi feito um novo cdigo eleitoral

2.

Foi realizada uma Assembleia Nacional Constituinte

Obs. A Assembleia Nacional Constituinte, alm de elaborar a Constituio de 1934, elegeu Vargas para a
presidncia da Repblica, com um mandato de quatro anos. Esse fato provocou o fim do governo provisrio e
o incio do governo constitucional.

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O governo constitucional (1934 1937)


Na histria da humanidade, esse perodo foi marcado pela consolidao de uma situao de radicalizao
poltica e ideolgica, caracterizada pela ascenso de regimes totalitrios, nazifascistas, e pela ameaa de uma
II Guerra Mundial.

Texto para anlise


A Intentona Comunista foi uma espcie de rebelio contra o governo de Getlio Vargas. Na realidade, o movimento
tinha por objetivo derrubar o presidente e tomar o poder. Liderada pela Aliana Nacional Libertadora (ANL), a
Intentona eclodiu em novembro de 1935, mas foi rapidamente combatida pelas Foras de Segurana Nacional.
O movimento ganhou adeptos dentro dos batalhes. Militares de baixa patente inclinados ao comunismo
iniciaram a rebelio na noite do dia 23 de novembro de 1935, em Natal, no Rio Grande do Norte, onde os
revolucionrios chegaram a tomar o poder durante trs dias. Depois se estendeu para Maranho, Recife e por
ltimo para o Rio de Janeiro, no dia 27.
Aliana Nacional Libertadora (ANL)
Influenciados pela estrutura poltica europia ps primeira guerra mundial, na qual duas frentes disputavam
espao Fascismo e Comunismo surgiram dois movimentos polticos no Brasil com estas caractersticas.
Em 1932, sob a liderana do poltico paulista Plnio Salgado foi fundada a Ao Integralista Nacional, de cunho
fascista. De extrema direita, os integralistas combatiam fervorosamente o comunismo.
Paralelamente campanha Integralista, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) incentivou a fundao da Aliana
Nacional Libertadora, um movimento poltico radicalmente oposto Ao Integralista Nacional.
A ANL, criada em 1935, defendia os ideais comunistas e suas propostas iam alm daquelas defendidas pelo
PCB:
- No pagamento da dvida externa;
- Nacionalizao das empresas estrangeiras;
- Combate ao fascismo;
- Reforma agrria;
No dia 5 de julho de 1935, data em que se comemoravam os levantes Tenentistas, Lus Carlos Prestes lanou
um manifesto de apoio ANL, no qual incentivava uma revoluo contra o governo. Este foi o estopim para que
Getlio Vargas decretasse a ilegalidade do movimento, alm de mandar prender seus lderes.
Rebelies
Com o decreto de Vargas, o plano de fazer uma revoluo foi colocado em prtica, inclusive com o apoio da
Rssia (pas comunista poca), que enviou dinheiro e agentes para o Brasil.
A ao foi planejada dentro dos quartis. Militares simpatizantes da ANL deram incio s rebelies. Imaginavase que depois a revolta ganharia o apoio popular, mas isto no ocorreu.
A principal falha dos revolucionrios foi com relao organizao. As revoltas se deram em datas diferentes,
o que facilitou as aes do governo para dominar a situao e frustrar o movimento.
Aps derrot-los, Vargas decretou estado de stio e uma forte represso aos envolvidos na Intentona Comunista.
Lus Carlos Prestes foi preso, bem como vrios lderes sindicais, militares e intelectuais. Mas tudo isto no
passou de estratgias do presidente para preparar um futuro golpe de Estado.
Fonte: http://www.infoescola.com/historia/intentona-comunista/

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O Falso Plano Cohen


Em 1937, o governo Vargas anunciou um suposto plano de ao comunista, o Plano Cohen. Para enfrentar
a ao dos comunistas, Vargas suspendeu as eleies que estavam programadas para o ano de 1938 e
implantou um regime totalitrio, conhecido como Estado Novo.

O ESTADO NOVO
Texto para anlise
Esse regime poltico recebeu o nome de Estado Novo, (nome inspirado na ditadura de Antnio de Oliveira
Salazar em Portugal), e durou at 29 de outubro de 1945, quando Getlio foi deposto pelas Foras Armadas.
Getlio Vargas determinou o fechamento do Congresso Nacional e extino dos partidos polticos. Ele outorgou
uma nova constituio, que lhe conferia o controle total do pode executivo e lhe permitia nomear interventores
nos estados, aos quais, Getlio deu ampla autonomia na tomada de decises, e previa um novo Legislativo,
porm nunca se realizaram eleies no Estado Novo.
Esta constituio de 1937 tinha o apelido de Polaca, (denominao usada para mostrar que a Constituio
Brasileira de 1937 foi amplamente influenciada pela Constituio autoritria da Polnia), e, tinha
depreciativamente, o mesmo apelido de uma zona de baixo meretrcio no Rio de Janeiro). Na prtica a
Constituio de 1937 no vigorou, pois, Getlio governou durante todo o Estado Novo atravs de decreto-lei e
nunca convocou o plebiscito previsto na Polaca.
Na verso de Francisco Campos que redigiu a Polaca, esse foi o erro de Getlio no Estado Novo: no ter
instalado o Poder Legislativo, nem ter se legitimado pelo voto em plebiscito.
Como Francisco Campos afirmou que comeara a redigir a nova constituio em 1936, suspeita-se que a
deciso de dar um golpe de estado foi tomada logo depois da Intentona Comunista em novembro de 1935.
O Estado Novo promovia grandes manifestaes patriticas, cvicas e nacionalistas e eram incentivados, pelo
Departamento de Imprensa e Propaganda, os apelos patriticos na imprensa e nos livros didticos.

A guerra na Europa (1939 1945)


Um conflito desta magnitude no comea sem importantes causas ou motivos. Podemos dizer que vrios
fatores influenciaram o incio deste conflito que se iniciou na Europa e rapidamente se espalhou pela frica e
sia.
Um dos mais importantes motivos foi o surgimento, na dcada de 1930, na Europa, de governos totalitrios
com fortes objetivos militaristas e expansionistas. Na Alemanha, surgiu o nazismo, liderado por Hitler, e que
pretendia expandir o territrio alemo, desrespeitando o Tratado de Versalhes, inclusive reconquistando
territrios perdidos na Primeira Guerra. Na Itlia, estava crescendo o Partido Fascista, liderado por Benito
Mussolini, que se tornou o Duce da Itlia, com poderes sem limites.
Tanto a Itlia quanto a Alemanha passavam por uma grave crise econmica no incio da dcada de 1930, com
milhes de cidados sem emprego. Uma das solues tomadas pelos governos fascistas destes pases foi a
industrializao, principalmente na criao de indstrias de armamentos e equipamentos blicos (avies de
guerra, navios, tanques etc).
Na sia, o Japo tambm possua fortes desejos de expandir seus domnios para territrios vizinhos e ilhas da
regio. Estes trs pases, com objetivos expansionistas, uniram-se e formaram o Eixo. Uma aliana com fortes
caractersticas militares e com planos de conquistas elaborados em comum acordo.

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O Incio
O marco inicial ocorreu no ano de 1939, quando o exrcito alemo invadiu a Polnia. De imediato, a Frana
e a Inglaterra declararam guerra Alemanha. De acordo com a poltica de alianas militares existentes na
poca, formaram-se dois grupos: Aliados (liderados por Inglaterra, URSS, Frana e Estados Unidos) e Eixo
(Alemanha, Itlia e Japo).
Desenvolvimento e Fatos Histricos Importantes:
O perodo de 1939 a 1941 foi marcado por vitrias do Eixo, lideradas pelas foras armadas da Alemanha, que
conquistou o Norte da Frana, Iugoslvia, Polnia, Ucrnia, Noruega e territrios no norte da frica. O Japo
anexou a Manchria, enquanto a Itlia conquistava a Albnia e territrios da Lbia.
Em 1941, o Japo atacou a base militar norte-americana de Pearl Harbor no Oceano Pacfico (Hava). Aps
este fato, considerado uma traio pelos norte-americanos, os estados Unidos entraram no conflito ao lado
das foras aliadas.
De 1941 a 1945, ocorreram as derrotas do Eixo, iniciadas com as perdas sofridas pelos alemes no rigoroso
inverno russo. Neste perodo, ocorreu uma regresso das foras do Eixo que sofreram derrotas seguidas. Com
a entrada dos EUA, os aliados ganharam fora nas frentes de batalha.
O Brasil participou diretamente, enviando para a Itlia (regio de Monte Cassino) os pracinhas da FEB, Fora
Expedicionria Brasileira. Os cerca de 25 mil soldados brasileiros conquistaram a regio, somando uma
importante vitria ao lado dos Aliados.
Final e Consequncias
Este importante e triste conflito terminou somente no ano de 1945, com a rendio da Alemanha e da Itlia.
O Japo, ltimo pas a assinar o tratado de rendio, ainda sofreu um forte ataque dos Estados Unidos, que
despejou bombas atmicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagazaki. Uma ao desnecessria que provocou
a morte de milhares de cidados japoneses inocentes, deixando um rastro de destruio nestas cidades.
Bomba Atmica explode na cidade japonesa de Hiroshima
Os prejuzos foram enormes, principalmente para os pases derrotados. Foram milhes de mortos e feridos,
cidades destrudas, indstrias e zonas rurais arrasadas e dvidas incalculveis. O racismo esteve presente
e deixou uma ferida grave, principalmente na Alemanha, onde os nazistas mandaram para campos de
concentrao e mataram aproximadamente seis milhes de judeus.
Com o final do conflito, em 1945, foi criada a ONU (Organizao das Naes Unidas), cujo objetivo principal seria
a manuteno da paz entre as naes. Inicia-se tambm um perodo conhecido como Guerra Fria, colocando
agora, em lados opostos, Estados Unidos e Unio Sovitica. Uma disputa geopoltica entre o capitalismo norteamericano e o socialismo sovitico, onde ambos buscavam ampliar suas reas de influncia sem entrar em
conflitos armados.
Fonte: http://www.suapesquisa.com/segundaguerra/

O Brasil e a II Guerra
Inicialmente, o Brasil assumiu uma posio de neutralidade. Mas o envolvimento dos EUA no conflito e o
ataque a navios brasileiros por parte da marinha alem exigiram uma postura radical de Vargas contra as
naes do eixo.
1944
O Brasil teve uma importante participao no conflito, com destaque para a vitria do nosso exrcito na batalha
de Monte Castelo na Itlia.
Fato Importante: Internamente, os ltimos anos do Estado Novo foram marcados por fortes presses contra Vargas,
exigindo-se a redemocratizao do Brasil.

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(1945-1964) REPBLICA NOVA - poca marcada por importantes mudanas na economia e na sociedade
brasileira.
No mundo, foi estabelecida uma situao de grande tenso poltica entre as principais potncias. Os EUA e a
URSS passaram a liderar uma nova GUERRA, que ficou conhecida como Guerra Fria.

1- GOVERNO DUTRA - PSD - (1945 1950)


Dutra foi o primeiro presidente eleito pelo voto direto aps o Estado Novo.
Durante o seu governo, houve uma grande abertura da nossa economia para os produtos americanos. Era
o american way of life. A sutileza da guerra fria fazia da coca-cola, do hamburguer e da brilhantina grandes
aliados na defesa do estilo de vida capitalista.
O american way of life

A GUERRA FRIA
Texto para anlise
Guerra Fria a designao atribuda ao perodo histrico de disputas estratgicas e conflitos indiretos entre os
Estados Unidos e a Unio Sovitica, compreendendo o perodo entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945)
e a extino da Unio Sovitica (1991).
Uma parte dos historiadores defende que esta foi uma disputa entre o capitalismo, representado pelos EUA e o
socialismo, defendido pela Unio Sovitica (URSS). Entretanto, as disputas durante a Guerra Fria foram muito
mais amplas e conplexas.
chamada fria porque no houve uma guerra direta entre as superpotncias, dada a inviabilidade da vitria
em uma batalha nuclear. A corrida pela construo de um grande arsenal de armas nucleares foi central
durante a primeira metade da Guerra Fria, estabilizando-se na dcada de 1960 at dcada de 1970 e sendo
reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente estadunidense Ronald Reagan Guerra nas Estrelas.
Dada a impossibilidade da resoluo do confronto no plano estratgico, pela via tradicional da guerra aberta e
direta que envolveria um confronto nuclear; as duas superpotncias passaram a disputar poder de influncia
poltica, econmica e ideolgica em todo o mundo. Este processo se caracterizou pelo envolvimento dos
Estados Unidos e Unio Sovitica em diversas guerras regionais, onde cada potncia apoiava um dos lados
em guerra. Estados Unidos e Unio Sovitica no apenas financiavam lados opostos no confronto, disputando
influncia poltico-ideolgica, mas tambm para mostrar o seu poder de fogo e reforar as alianas regionais.
A Guerra da Coreia (1950-1953), a Guerra do Vietn (1962-1975) e a Guerra do Afeganisto(1979-1989) so os
conflitos mais famosos da Guerra Fria. Alm da famosa tenso na Crise dos msseis em Cuba (1962) e, tambm
na Amrica do Sul, a Guerra das Malvinas (1982). Entretanto, durante todo este perodo, a maior parte dos
conflitos locais, guerras civis ou guerras inter-estatais foi intensificado pela polarizao entre EUA e URSS.
Esta polarizao dos conflitos locais entre apenas dois grandes plos de poder mundial, que justifica a
caracterizao da polaridade deste perodo como bipolar. Principalmente porque, mesmo que tenham existido
outras potncias regionais entre 1945 e 1991, apenas EUA e URSS tinham capacidade nuclear de segundo
ataque, ou seja, capacidade de disuaso nuclear.
Norte-americanos e soviticos travaram uma luta ideolgica, poltica e econmica durante esse perodo. Se um
governo socialista fosse implantado em algum pas do Terceiro Mundo, o governo norte-americano entendia
como uma ameaa sua hegemonia; se um movimento popular combatesse um governo aliado aos EUA, logo
poderia ser visto com simpatia pelo sovitico e receber apoio.

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A POLTICA INTERNA DE DUTRA


Internamente, Dutra promoveu um plano econmico, voltado para investimentos em infra-estrutura, batizado
de Plano SALTE:
O objetivo do Plano SALTE era estimular o desenvolvimento de setores estratgicos, como a Sade, a
Alimentao, o Transporte e a Energia. Os recursos para a sua execuo vieram de emprstimos externos
e do prprio governo. O endividamento do pas terminou por provocar uma grande inflao, prejudicando a
economia e fazendo cair a popularidade do presidente Dutra.

A VOLTA DE VARGAS AO PODER - 1950


O segundo Governo Vargas foi marcado por uma poltica desenvolvimentista e nacionalista.
Obs. A poltica nacionalista do Governo Vargas no agradava aos EUA, devido principalmente sua aproximao
com os comunistas do PCB e com o movimento sindical.

O POPULISMO
Historicamente, o populismo se identifica com certos fenmenos polticos tpicos da Amrica Latina,
principalmente a partir dos anos 30, estando associado industrializao, urbanizao e dissoluo das
estruturas polticas oligrquicas, que concentravam firmemente o poder poltico na mo de aristocracias
rurais. Da a gnese do populismo, no Brasil, estar ligada Revoluo de 1930, que derrubou a Repblica Velha
oligrquica, colocando no poder Getulio Vargas, que viria a ser a figura central da poltica brasileira at seu
suicdio em 1954. Sua caracterstica bsica o contato direto entre as massas urbanas e o lder carismtico
(caudilho), supostamente sem a intermediao de partidos ou corporaes.

MAIOR EXEMPLO DE POLTICA NACIONALISTA DO SEGUNDO GOVERNO VARGAS


- A campanha O Petrleo Nosso, que deu origem PETROBRS
O petrleo nosso! Esta frase tornou-se famosa ao ser pronunciada, por ocasio da descoberta do petrleo
baiano, pelo ento presidente da repblica, Getlio Vargas, e mais adiante seria escolhida como o lema da
Campanha do Petrleo, patrocinada pelo Centro de Estudos e Defesa do Petrleo e
Carlos Lacerda Principal opositor de Vargas

O CRIME DA RUA TONELEROS.


Esse crime foi um atentado contra Carlos Lacerda, que provocou a morte do Major Vaz. O efeito imediato do
crime foi um aumento radical da presso contra Vargas. Aliando-se aos demais problemas, como as denncias
que j existiam e a crise poltica e institucional, o crime da rua Toneleros propiciou a diminuio do apoio das
foras armadas em relao ao Governo Vargas. Esse fato permitiu que a ameaa de um golpe se fortalecesse
e o presidente passou a no ter muitas alternativas polticas.
No dia 24 de agosto de 1954, toda essa crise teve um fim trgico. O presidente Vargas se suicidou com um tiro
no peito, deixando uma carta-testamento que tentava justificar sua atitude e acusava a oposio pelo ocorrido.

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CARTA-TESTAMENTO DE VARGAS
Mais uma vez, as foras e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. No
me acusam, insultam; no me combatem, caluniam e no me do o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e
impedir a minha ao, para que eu no continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
(...)
No querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionria que destrua os
valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcanavam at 500% ao ano. Nas declaraes de
valores do que importvamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhes de dlares por ano. Veio
a crise do caf, desvalorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preo e a resposta foi uma
violenta presso sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado ms a ms, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma presso constante, incessante, tudo
suportando em silncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se
queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a no ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue
de algum, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereo em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao
vosso lado. Quando a fome bater vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vs e vossos
filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a fora para a reao. Meu sacrifcio vos manter
unidos e meu nome ser a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue ser uma chama imortal na vossa
conscincia e manter a vibrao sagrada para a resistncia. Ao dio respondo com o perdo.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitria. Era escravo do povo e hoje me liberto
para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo no mais ser escravo de ningum. Meu sacrifcio ficar
para sempre em sua alma e meu sangue ser o preo do seu resgate. Lutei contra a espoliao do Brasil. Lutei
contra a espoliao do povo. Tenho lutado de peito aberto. O dio, as infmias, a calnia no abateram meu
nimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereo a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro
passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na Histria. Getlio Vargas

Texto para anlise APROFUNDAMENTO


Suicdio de Getlio ps fim Era Vargas
Renato Cancian (http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1689u62.jhtm)
Em 1951, Getlio Vargas retornou a presidncia da Repblica, dessa vez por meio do voto popular. Vargas se
candidatou pelo PTB e recebeu apoio do Partido Social Progressista (PSP), vencendo o pleito de 1950 com
48,7% dos votos. O segundo mandato presidencial de Getlio Vargas foi marcado por importantes iniciativas
nas reas social e econmica.
Na fase final do seu governo, porm, as presses de grupos oposicionistas civis e militares desencadearam
uma aguda crise poltica que levou Vargas a interromper seu mandato com um ato que atentou contra sua
prpria vida: o suicdio.

Nacionalismo e intervencionismo
Sem dvida, um dos maiores legados do varguismo foi a implementao de um projeto desenvolvimentista
baseado na forte presena do Estado em reas consideradas cruciais para o desenvolvimento do pas. Atuando
como regulador ou empreendedor de certas atividades econmicas, a interveno estatal tinha por objetivo

estimular a industrializao e modernizao do pas.


Este tipo de poltica desenvolvimentista comeou a ser posta em prtica na dcada de 1930, e praticamente
todos os governos que vieram depois adotaram algum tipo de planejamento econmico, conferindo ao Estado

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papel preponderante e central. Foi com esse objetivo que, em seu segundo mandato, Vargas elaborou uma
poltica desenvolvimentista baseada no fortalecimento da indstria de base: siderurgia, petroqumica, energia
e transportes.
No primeiro ano de seu governo, Vargas estabeleceu o monoplio estatal sobre o petrleo, a partir de uma
campanha de cunho nacionalista que recebeu forte apoio popular. A campanha foi denominada de O petrleo
nosso e conseguiu galvanizar o apoio do povo ao governo federal. A partir dela, criou-se a empresa estatal
Petrobrs, que monopolizou as atividades de explorao e refino do todas as reservas de petrleo encontrado
em territrio brasileiro.

Populismo e dominao de classe


Umas das principais caractersticas polticas do perodo histrico que abrange o segundo governo de Getlio
Vargas at a queda do governo Joo Goulart, em 1964, foi o populismo. O populismo foi um fenmeno que
vigorou em praticamente todos os pases do continente latino-americano.
De forma sinttica, podemos entender o fenmeno do populismo a partir da relao entre o Estado e a sociedade
num contexto de regime democrtico, onde os lderes polticos e governantes buscam o apoio popular para
obterem vitrias eleitorais e implementar seus projetos polticos. A contrapartida dessa poltica concesso
de benefcios econmicos e sociais para as camadas populares mobilizadas.
Em seu aspecto pejorativo ou alienante, o populismo pode ser caracterizado tambm como poltica demaggica
de manipulao das classes sociais subalternas, porque seu xito depende da quase completa desorganizao
das massas populares, que preferem confiar a defesa de seus interesses e aspiraes a lderes polticos
carismticos. As massas populares se prestavam manipulao devido pouca experincia de participao
poltica e familiaridade com o sistema de sufrgio eleitoral.

Modernizao acelerada
O acelerado processo de modernizao do pas provocou vertiginosas ondas migratrias do campo para as
cidades, fazendo surgir um expressivo contingente de trabalhadores urbanos, ou seja, operariado e classe
mdias. Foram essas classes sociais que formaram a base de sustentao do populismo. Enquanto os
governantes e lderes polticos foram capazes de controlar essas camadas sociais, e o Estado foi capaz de
responder plenamente s demandas populares, o populismo funcionou de forma estvel.
O governo Vargas, porm, se deparou com situaes em que a necessidade de implementao de reformas
econmicas e projetos desenvolvimentistas comprometeram a capacidade do Estado de fornecer respostas
adequadas aos anseios e interesses populares, como por exemplo, aumento de salrios, direitos sociais, etc.
Por outro lado, diversos setores das camadas populares, principalmente o operariado, passaram a se organizar
autonomamente, dificultando a manipulao poltica de seus interesses por lderes demaggicos.
Quando assumiu a presidncia da Repblica, Vargas se deparou com um operariado que rapidamente se
reorganizava e buscava definir seus interesses e agir autonomamente. No transcurso de seu governo, inmeras
greves de trabalhadores e movimentos sociais tendo como motivao bsica exigncias de aumento salariais
e denncias do alto custo de vida ocorreram por todo o pas.

A crise poltica
A ascenso e a radicalizao dos movimentos populares, fora do controle estatal, so considerados os

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principais fatores desencadeadores da crise poltica que levaria ao fim o governo Vargas. De acordo com
essa linha interpretativa, as classes dominantes ficaram temerosas com o avano dos movimentos populares
e discordaram do modo como o governo respondeu s exigncias e demandas sociais que irromperam no
cenrio poltico da poca.
A oposio ao governo varguista foi crescendo paulatinamente medida em que o pas era agitado por
manifestaes de protesto e greves trabalhistas. Crticas e presses oposicionistas minaram rapidamente a
estabilidade governamental. Na rea da poltica institucional, os principais grupos oposicionistas ao governo de
Getlio Vargas faziam parte da Unio Democrtica Nacional (UDN), que o acusava constantemente de planejar
um golpe em conluio com lderes sindicais, objetivando criar um regime socialista no pas.
Na rea da imprensa, o antigetulismo ganhou fora com a atuao do jornalista Carlos Lacerda, que em
seus pronunciamentos e artigos denunciava recorrentes casos de corrupo e desmandos administrativos do
governo federal.
O presidente se defendia das crticas, argumentando que grupos subalternos, ligados a interesses internacionais
e nacionais, haviam se unido na tentativa de impedir que o governo avanasse na rea de proteo ao trabalho,
de limitaes de remessa de lucros das empresas multinacionais para o estrangeiro e de fortalecimento das
empresas pblicas, sobretudo aquelas ligadas rea de energia.

Crime da rua Toneleros


Em 1954, a crise poltica desestabilizou o governo Vargas. No incio do ano, o ento ministro do Trabalho, Joo
Goulart, concedeu um aumento salarial de 100% aos que recebiam salrio mnimo. As presses de grupos
oposicionistas contrrias medida foram to violentas que o governo recuou, e o ministro Joo Goulart foi
obrigado a renunciar ao cargo.
O episdio desencadeador da crise final do governo Vargas ocorreu com o atentado fracassado contra a vida
do jornalista Carlos Lacerda. Esse episdio ficou conhecido como o crime da rua Toneleros. Carlos Lacerda
apenas se feriu, mas o major da aeronutica, Rubens Vaz, morreu.
Nunca foi esclarecido quem foi o mentor do atentado. sabido, no entanto, que pessoas ligadas a Getlio
estavam envolvidas. As investigaes revelaram que o responsvel pela tentativa de assassinato foi Gregrio
Fortunato, principal guarda-costas do presidente Getlio Vargas.

O suicdio de Getlio
Depois do episdio da rua Toneleros, os grupos oposicionistas exigiram o afastamento de Vargas da presidncia
da Repblica. Setores das Foras Armadas e da sociedade civil se uniram aos grupos de oposio e exigiram
que Vargas renunciasse. No dia 24 de agosto, um ultimato dos generais, assinado pelo ministro da Guerra,
Zenbio da Costa, foi entregue a Vargas.
O presidente se encontrava no Palcio do Catete, quando redigiu uma carta-testamento e suicidou-se com um
tiro no peito. O impacto provocado pela notcia do suicdio de Vargas e pela divulgao da carta-testamento foi
intenso e acabou se voltando contra a oposio. Grandes manifestaes populares de apoio ao ex-presidente
estouraram em vrias cidades do pas.
Comcios organizados por lderes sindicais e polticos ligados ao getulismo responsabilizavam a UDN e o
governo norte-americano pelo fim dramtico de Getlio. rgos de imprensa, como o jornal O Globo, entre
outros, e a embaixada dos Estados Unidos foram alvo de ataques populares. Greves de trabalhadores tambm
ocorreram como forma de protesto. Depois de algumas semanas, as manifestaes e agitaes populares
cessaram.
Com a morte de Vargas, assumiu o governo o vice-presidente Caf Filho, que ficou encarregado de completar o
mandato at o fim de 1955. O suicdio de Vargas, porm, acabou sendo muito explorado, tanto por polticos que
o apoiavam como por grupos da oposio, nas disputas eleitorais legislativas e presidencial.

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1956: ELEIO DE JK (PSD)


Juscelino Kubitschek foi eleito Presidente da Repblica, em 3 de outubro de 1955, com 36% dos votos vlidos,
atravs da aliana PSD-PTB. Joa Goulart, conhecido como Jango, foi eleito vice. JK desenvolveu uma poltica
desenvolvimentista. Assim, criou o PLANO DE METAS (baseado no slogan de campanha, 50 anos em 5).
A abertura da nossa economia para a entrada de empresas estrangeiras (norte-americanas, por exemplo) foi
uma das caractersticas do desenvolvimentismo de JK.
OBS:O desenvolvimento do capitalismo brasileiro, segundo JK, estava associado ao desenvolvimento do
capitalismo internacional, principalmente os EUA. Por isso, JK no foi um poltico nacionalista e abriu nossa
economia para a chegada das multinacionais de grande porte. No plano internacional, Juscelino procurou
estreitar as relaes entre o Brasil e os Estados Unidos da Amrica, ciente de que isso ajudaria na implementao
de sua poltica econmica industrial e na preservao da democracia brasileira. Formulou a Operao Panamericana, iniciativa diplomtica em que solicitava apoio dos Estados Unidos ao desenvolvimento da Amrica
do Sul, como forma de evitar que o continente americano fosse assolado pelo fantasma do comunismo.

As metas bsicas do Plano de JK


1. Energia
2. Transportes
3. Alimentao
4.

Indstria de base

5. Educao

Texto para anlise OS ANOS JK

Juscelino foi o ltimo presidente da Repblica a assumir o cargo no Palcio do Catete. Foi empossado em 31
de janeiro de 1956, e, governou por 5 anos, at 31 de janeiro de 1961. Seu vice-presidente, eleito tambm em 3
de outubro de 1955, foi Joo Goulart.
O Plano de Metas
Em seu mandato presidencial, Juscelino lanou o Plano Nacional de Desenvolvimento, tambm chamado de
Plano de Metas, que tinha o clebre lema Cinquenta anos em cinco.
O plano tinha 31 metas distribudas em 5 grandes grupos: Energia, Transportes, Alimentao, Indstria de base,
Educao, e, a meta principal ou meta-sntese: Braslia. O Plano de Metas visava estimular a diversificao
e o crescimento da economia brasileira, baseado na expanso industrial e na integrao dos povos de todas
as regies do Brasil atravs da nova capital localizada no centro do territrio brasileiro, na regio do Brasil
Central.
A estratgia do Plano de Metas era corrigir os pontos de entrangulamento da economia brasileira, em
termos atuais reduzir o custo brasil, que poderiam estancar o crescimento econmico brasileiro (por falta de
estradas e energia eltrica) e reduzir a dependncia das importaes, no processo chamado de substituio
de importaes, j que o Brasil padecia de uma crnica falta de divisas externas (dlares).A convivncia
democrtica
Outro fato importante do governo de JK foi a manuteno do regime democrtico e da estabilidade poltica,
que gerou um clima de confiana e de esperana no futuro entre os brasileiros. Teve grande habilidade poltica

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para conciliar os diversos setores da sociedade brasileira, mostrando-lhes as vantagens de cada setor dentro
da estratgia de desenvolvimento de seu governo.
Seu maior adversrio foi Carlos Lacerda, com o qual se reconciliou posteriormente. Juscelino no permitiu o
acesso de Carlos Lacerda televiso durante todo o seu governo. Juscelino confessou a Lacerda, depois, que
se tivesse deixado Lacerda ter acesso a televiso, este o derrubaria.

A Economia brasileira e as obras realizadas


O governo de Juscelino Kubitschek usou uma plataforma nacional desenvolvimentista, o Plano de Metas,
lanado em 1956, e permitiu a abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro. Isentou de impostos de
importao as mquinas e equipamentos industriais, assim como liberou a entrada de capitais externos em
investimentos de risco, desde que associados ao capital nacional (capital associado). Para ampliar o mercado
interno, o plano ofereceu uma generosa poltica de crdito ao consumidor.
JK promoveu a implantao da indstria automobilstica com a vinda de fbricas de automveis para o Brasil,
promoveu a indstria naval, a expanso da indstria pesada, a construo de usinas siderrgicas e de grande
usinas hidreltricas, como a Furnas localizda em So Joo da Barra e a Trs Marias. A construo de Furnas
foi iniciada em 1957 e concluda em 1963. Furnas formou um dos maiores lagos artificiais do mundo que banha
34 municpios mineiros e que ficou conhecido como o Mar de Minas Gerais.
Abriu as rodovias transregionais que uniram todas as regies do Brasil, antes sem ligao rodoviria entre
elas. Aumentou a produo de petrleo da Petrobrs. Com exceo das empresas de energia hidreltrica,
Juscelino praticamente no criou nenhuma empresa estatal.
Em 15 de dezembro de 1959, JK criou a Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste, Sudene, para
integrar a regio ao mercado nacional. Tambm em 1959, Juscelino rompeu com o FMI por no aceitar a
reforma cambial pedida pelo FMI.
Comprou, em 1956, para a Marinha do Brasil, o seu primeiro porta-avie.
Entre 1959 e 1960, houve uma crise na obra de construo de Braslia. As verbas haviam acabado e JK entendia
que no poderia terminar o governo sem construir Braslia. JK rompeu com o FMI, pois este havia proposto
reformas econmicas que no seguiam o seu modelo de governo, e, sendo assim, precisou agir de outra forma
para conseguir o capital para terminar Braslia. JK emitiu ttulos da dvida pblica e cartas precatrias. Estas
consistem em papis negociados na bolsa de valores para se conseguir capital de curto prazo. JK vendeu
esses papis com desgio, ou seja, com um preo abaixo do valor de mercado que poderia ser recuperado
posteriormente em um prazo de 5 anos. Com isso, JK conseguiu dinheiro para terminar a construo de
Braslia. Isso, no entanto, fez com que JK fosse acusado de inviabilizar os prximos governos do pas, por
aumentar a dvida pblica federal.

1960: Vitria de Jnio Quadros (UDN)


Obs. A consolidao da Revoluo Cubana ameaa os interesses dos EUA, acirrando ainda mais o clima de
disputa da Guerra Fria.

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JANGO (PTB) VICE.


Jango no era aceito pelas elites. Existia o medo da cubanizao do Brasil.

Texto para anlise JNIO QUADROS


Foi eleito presidente em 3 de outubro de 1960, pela coligao PTN-PDC-UDN-PR-PL, para o mandato de 1961
a 1966, com 5,6 milhes de votos - a maior votao at ento obtida no Brasil - vencendo o marechal Henrique
Lott de forma arrasadora, por mais de dois milhes de votos. Porm no conseguiu eleger o candidato a vicepresidente de sua chapa, Milton Campos (naquela poca votava-se separadamente para presidente e vice).
Quem se elegeu para vice-presidente foi Joo Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro. Os eleitos formaram
a chapa conhecida como chapa Jan-Jan.
Qual a razo do sucesso de Jnio Quadros? Castilho Cabral, presidente do antigo Movimento Popular Jnio
Quadros, sempre se perguntava por que esse moo desajeitado conseguiu realizar, em menos de quinze anos,
uma carreira poltica inteira - de vereador a Presidente da Repblica - que no tem paralelo na histria do
Brasil. Jnio no alcanou o poder na crista de uma revoluo armada, como Getlio Vargas. No era rico, no
fazia parte de algum cl, no tinha padrinhos, no era dono de jornal, no tinha dinheiro, no era ligado a grupo
econmico, no servia aos Estados Unidos nem Rssia, no era bonito, nem simptico. O que era, ento,
Jnio Quadros? Um poltico carismtico e populista que conquistou o eleitor com sua campanha em favor da
moralidade pblica, combatendo a corrupo, como demonstra o smbolo da sua campanha:
OBS: A renncia de Jnio continua a ser um tema bastante polmico. Os estudos histricos revelam, porm,
que Jnio tentou uma jogada poltica, buscando mais apoio dos partidos e da sociedade. Ele acreditava que
o fato de muitos no aceitarem Jango iria lhe dar mais poderes, ou seja, nossas elites e grande parte dos
partidos iriam pedir para ele no renunciar. Contudo, isso no aconteceu.

GRANDE APOSTA DE JANGO


Conquistar um grande apoio popular, utilizando um programa de governo baseado em REFORMAS para o povo,
pois assim as elites e militares pensariam duas vezes antes de dar um golpe, j que haveria apoio popular para
Jango. Essas reformas ficaram conhecidas como REFORMAS DE BASE, contidas no PLANO TRIENAL.
Maro de 1964: Grande comcio em defesa de Jango e das reformas de base. Comcio da central do Brasil.

Comcio da central do Brasil


Reao da oposio: Passeata, A MARCHA DA FAMLIA COM DEUS PELA LIBERDADE.

57

MARCHA DA FAMLIA COM DEUS PELA LIBERDADE


.

Texto para anlise


A CRISE DO GOVERNO JANGO
O Golpe Militar de 1964 designa o conjunto de eventos ocorridos em 31 de maro de 1964 no Brasil, e que
culminaram no dia 1 de abril de 1964 em um golpe de estado. Todavia, para a maioria dos militares, chamar
o golpe de Revoluo de 1964 estaria associado ideia de futuro, de esperana e de um tempo melhor, algo
prometido para a populao. Esse golpe encerrou o governo do presidente Joo Belchior Marques Goulart,
tambm conhecido como Jango, que havia sido democraticamente eleito vice-presidente pelo Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) na mesma eleio que conduziu Jnio da Silva Quadros presidncia pela Unio
Democrtica Nacional (UDN).
Jnio renunciou ao mandato no mesmo ano de sua posse (1961) e quem deveria substitu-lo automaticamente e
assumir a Presidncia era Joo Goulart, segundo a Constituio vigente poca, promulgada em 1946. Porm
este se encontrava em uma viagem diplomtica na Repblica Popular da China. Militantes ento acusaram
Jango de ser comunista e o impediram de assumir seu lugar como mandatrio no regime presidencialista.
Depois de muita negociao, lideradas principalmente pelo cunhado de Jango, Leonel de Moura Brizola, na
poca governador do Rio Grande do Sul, os apoiadores de Jango e a oposio acabaram fazendo um acordo
poltico pelo qual se criaria o regime parlamentarista, passando ento Joo Goulart a ser chefe-de-Estado.
Em 1963, porm, houve um plebiscito, e o povo optou pela volta do regime presidencialista. Joo Goulart,
finalmente, assumiu a presidncia da Repblica com amplos poderes, e durante seu governo tornaram-se
aparentes vrios problemas estruturais na politica brasileira, acumulados nas dcadas que precederam o
golpe e disputas de natureza internacional, que desestabilizaram o seu governo.
O Golpe de 1964 submeteu o Brasil a um regime alinhado politicamente os Estados Unidos da Amrica. O
regime militar durou at 1985, quando tivemos a posse de Jose Sarney na presidncia.
31 de maro para 01 de abril: Golpe Militar Incio da Ditadura

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(1964 - 1965) A DITADURA MILITAR NO BRASIL


1. - Junta militar
Ato Institucional N 1 ( AI 1 ) - Ato que modifica a constituio, estabelecendo eleio indireta para presidente.

OS AI`S ATOS INSTITUCIONAIS

Castelo Branco Primeiro Presidente


FOI CRIADO O BIPARTIDARISMO
CARACTERSTICAS GERAIS DA DITADURA:
1

- Polticos cassados

- Grande Represso

* Mortos
* Torturados

Destaque para as aes dos rgos de represso:

DOI-CODI, DOPS, CCC

* Desaparecidos
3

- Censura

- Intensa propaganda oficial do governo.

Governo Costa e Silva A vitria da linha dura


Os militares indicaram Costa e Silva para a presidncia da Repblica. Esse fato representou o estabelecimento
de uma situao de maior represso. Tal atitude dos militares foi motivada, entre outros fatores, pela reao
armada de parte da esquerda brasileira.
OBS.1: Existiu a operao Brother Sam: o apoio dos EUA ao golpe militar, apoio logstico aos militares, caso
estes enfrentassem uma longa resistncia por parte de foras leais a Jango.
OBS.2: Parte da esquerda resolveu pegar em armas, promovendo tcnicas de guerrilha rural e urbana.
Ex: MR-8, PCBR, PC do B, ALN
FATO- Surgiu a Frente Ampla para lutar contra a ditadura. Tal frente era liderada por Jango, JK e Carlos
Lacerda. Esses dois ltimos haviam apoiado o golpe, mas mudaram de opinio quando perceberam que a
ditadura seria longa e extremamente violenta.
Resposta de Costa e Silva - Decretao do AI-5 (1968).
O AI-5 foi uma resposta passeada dos 100mil e ao discurso do deputado Mrcio Moreira Alves, que pediu
populao para no ir ao desfile de 7 de setembro, em protesto s mortes que estavam ocorrendo como a do
estudante Edson Lus. Em seu discurso, o deputado pedia para que ningum fosse ao desfile e estimulava a
realizao de greves, at por parte das mulheres dos militares.

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APROFUNDAMENTO - OS PRINCIPAIS ATOS INSTITUCIONAIS


ATO INSTITUCIONAL N 1 (AI-1)
Redigido por Francisco Campos, foi editado em 9 de abril de 1964 pela junta militar. Passou a ser designado
como Ato Institucional Nmero Um, ou AI-1, somente aps a divulgao do AI-2. Com 11 artigos, o AI-1 dava ao
governo militar o poder de alterar a constituio, cassar mandatos legislativos, suspender direitos polticos por
dez anos e demitir, colocar em disponibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que tivesse
atentado contra a segurana do pas, o regime democrtico e a probidade da administrao pblica. Determinava
eleies indiretas para a presidncia da Repblica no dia 11 de abril, tendo o mandato do presidente trmino
em 31 de janeiro de 1966, quando expiraria a vigncia do ato.
ATO INSTITUCIONAL N 2 (AI-2)
Com 33 artigos, o ato instituiu a eleio indireta para presidente da Repblica, dissolveu todos os partidos
polticos, aumentou o nmero de ministros do Supremo Tribunal Federal de 11 para 16, reabriu o processo de
punio aos adversrios do regime, estabeleceu que o presidente poderia decretar estado de stio por 180 dias
sem consultar o Congresso, intervir nos estados, decretar o recesso no Congresso, demitir funcionrios por
incompatibilidade com o regime e baixar decretos-lei e atos complementares sobre assuntos de segurana
nacional.
O Ato Complementar (AC) n 1 estabeleceu as sanes a serem estabelecidas contra as pessoas com direitos
polticos cassados que se manifestassem politicamente, o que passou a ser qualificado como crime.
O AC 2 estabeleceu, em 1 de novembro, disposies transitrias at serem constitudos os tribunais federais
de primeira instncia, enquanto o AC 3, no mesmo dia, determinava as formalidades para a aplicao da
suspenso de direitos polticos e garantias constitucionais.
O AC 4, em 20 de novembro estabeleceu a nova legislao partidria, fixando os dois partidos polticos que
poderiam existir: Aliana Renovadora Nacional (Arena) e Movimento Democrtico Brasileiro (MDB).
ATO INSTITUCIONAL N 3 (AI-3)
Em 5 de fevereiro de 1966, o presidente Castelo Branco editou o Ato Institucional Nmero Trs, ou AI-3,
que estabelecia eleies indiretas para governador e vice-governador e que os prefeitos das capitais seriam
indicados pelos governadores, com aprovao das assemblias legislativas. Estabeleceu o calendrio eleitoral,
com a eleio presidencial em 3 de outubro e em 15 de novembro para o Congresso.
Com a presso do governo, somada s cassaes de deputados estaduais, a ARENA elegeu 17 governadores.
No dia 3 de outubro, foi eleito para presidente o marechal Artur da Costa e Silva, ministro da Guerra de Castelo
Branco, e para vice, Pedro Aleixo, deputado federal eleito pela UDN, ento na Arena. O MDB se absteve de votar
nas eleies em protesto.
No dia 12 de outubro, foram cassados 6 deputados do MDB, entre os quais Sebastio Pais de Almeida, do antigo
PSD, e Doutel de Andrade, do antigo PTB.
No dia 20 de outubro, foi editado o AC 24, estabelecendo recesso parlamentar at 22 de novembro. Em 15 de
novembro, foram feitas as eleies legislativas, ficando a Arena com 277 cadeiras contra 132 do MDBR.
ATO INSTITUCIONAL N 4 (AI- 4)
Baixado por Castelo Branco em 7 de dezembro de 1966, o Ato Institucional Nmero Quatro, ou AI-4, convocou
o Congresso Nacional para a votao e promulgao da Constituio de 1967.Projeto de Constituio, que
revogaria definitivamente a Constituio de 1946.
ATO INSTITUCIONAL N 5 (AI-5)
Em 1968, reaes mais significativas ao regime militar comearam a surgir.
O Ato Institucional Nmero Cinco, ou AI-5, foi a contra-reao. Representou um significativo endurecimento

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do regime militar. Foi editado no dia 13 de dezembro, uma sexta-feira que ficou marcada para a histria
contempornea brasileira. Este ato inclua a proibio de manifestaes de natureza poltica, alm de vetar o
habeas corpus para crimes contra a segurana nacional (ou seja, crimes polticos). Entrou em vigor em 13
de dezembro de 1968. O Ato Institucional Nmero Cinco (Ai5), concedia ao Presidente da Republica enormes
poderes, tais como: fechar o Congresso Nacional; demitir, remover ou aposentar quaisquer funcionrios;
cassar mandatos parlamentares; suspender por dez anos os direitos polticos de qualquer pessoa; decretar
estado de stio; julgamento de crimes polticos por tribunais militares, etc.

A CONTRA CULTURA NO MUNDO E NO BRASIL


1968 - A CONTRACULTURA
Movimento liderado por jovens que no queriam pertencer quela cultura conservadora, certinha. VIVA A
SOCIEDADE ALTERNATIVA!. Isso no mundo todo, sobretudo na Frana e nos EUA. Todos os movimentos como
Woodstock prejudicavam os interesses da ditadura, pois pregavam a paz, no violncia. As imagens da
guerra do Vietn prejudicaram os EUA , que apoiavam as ditaduras na Amrica Latina.
No final dos anos 60, o movimento de contracultura revolucionava os costumes e exigia a paz. No Brasil,
esse movimento repercutiu na Tropiclia e em msicos como Raul Seixas. Esse fato foi mais um foco de
resistncia contra a ditadura.
Obs. Logo aps o AI-5, Costa e Silva teve um grande problema de sade e deixou o governo.
O vice de Costa e Silva era Pedro Aleixo, mas no pde assumir porque no apoiou o AI-5. Nesse contexto, foi
feito o Golpe dentro do Golpe e uma nova Junta Militar assumiu o poder.

1969: Junta Militar no poder


*Indicao de Mdici para presidente (1969-1974), os piores anos de represso poltica, os mais duros.

Governo Mdici - Os anos de chumbo da ditadura


A luta armada da esquerda foi um pretexto para os militares agirem com mais tortura e mais violncia. No
somente as letras polticas foram censuradas, mas tambm artistas como Odair Jos, por cantar msicas
consideradas imorais.
O governo reagiu com violentssima represso, promovida contra opositores. O crescimento econmico, que
ficou conhecido como o Milagre Brasileiro, foi uma das marcas do governo.
Uma poca de intensa propaganda poltica:
Obs. Essa propaganda foi valorizada com a vitria do Brasil na Copa de 70, que abriu ainda mais espao para
o nacionalismo ufanista.

1973/1974 - Grave crise internacional


Teve incio em 1973, em protesto pelo apoio prestado pelos Estados Unidos a Israel durante a Guerra do Yom
Kippur (conflito militar ocorrido em 1973, entre uma coalizo de estados rabes liderados por Egipto e Sria
contra Israel. A guerra comeou com um ataque conjunto surpresa pelo Egipto e Sria no feriado judaico de
Yom Kipur.), tendo os pases rabes organizados na OPEP aumentado o preo do petrleo em mais de 300%.

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Governo Geisel (1974-1979)


Poltico de linha moderada (o que no quer dizer que no tenha sido um ditador),iniciou um processo de
abertura (redemocratizao), desde que fosse LENTA, GRADUAL E SEGURA.
Na verdade, Geisel sofreu presso dos dois lados, da linha dura, para no fazer a abertura, e da oposio, como
os movimentos sociais e o MBD, querendo uma abertura mais rpida.
Fato: Fortalecimento da oposio.
Ex: Vitria Eleitoral do MDB.
Essa vitria do MDB punha em risco o projeto de transio lenta e gradual, pois o MDB queria um processo
mais rpido.Geisel, ento, muda a lei, a fim de diminuir a esfera de influncia dos opositores. Essas mudanas
ficaram conhecidas como o Pacote de Abril, um conjunto de medidas modificando a legislao, favorecendo
o governo e a ARENA.

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A MSICA POPULAR BRASILEIRA NA LUTA PELA DEMOCRACIA

O Bbado e A Equilibrista

Composio: Joo Bosco e Aldir blanc


Caa a tarde feito um viaduto
E um bbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...
A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
E nuvens!
L no mata-borro do cu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bbado com chapu-coco
Fazia irreverncias mil
Pr noite do Brasil.
Meu Brasil!...
Que sonha com a volta
Do irmo do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Ptria
Me gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...
Mas sei, que uma dor
Assim pungente
No h de ser inutilmente
A esperana...
Dana na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...
Asas!
A esperana equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...

63

Campanha da Anistia (perdo)


A oposio se mobilizou pela absolvio dos crimes polticos, promovendo a Campanha da Anistia.

Texto para anlise


A CAMPANHA DA ANISTIA
LEI DA ANISTIA FOI PROCESSO DE 4 ANOS
Cludia Trevisan e Patrcia Zorzan
Extrado do site do Jornal Folha de So Paulo em 26/08/99
A anistia formalizada no Brasil em 28 de agosto de 1979 comeou a ser gestada pelo menos quatro anos antes,
com a mistura de quatro ingredientes bsicos: a vitria da oposio nas eleies de 74, o crescimento da
presso popular e a determinao do prprio regime militar de realizar uma abertura lenta e gradual.
O primeiro ato da abertura foi encenado no governo Ernesto Geisel (1974-79), sucessor de Emlio Garrastazu
Mdici (1969-74), o presidente dos anos mais duros do ciclo inaugurado em 1964.
Junto com a faixa que passou a Joo Baptista Figueiredo (1979-85), Geisel entregou duas medidas consideradas
uma espcie de prvia da anistia: a revogao de todos os atos institucionais, inclusive o AI-5, feita pela Emenda
Constitucional n 11, e o abrandamento das penas previstas na Lei de Segurana Nacional.
O pas que Figueiredo recebeu tambm era bem diferente daquele do milagre econmico de Mdici, no qual o
crescimento mdio anual da economia era de 11,2% e a inflao anual no superava o patamar de 19% ao ano.
No primeiro ano da gesto Figueiredo, a inflao j estava em 77% e a taxa de crescimento havia sido reduzida
a 6,8%. A conjuntura econmica j no era a mesma, afirma o ex-ministro Jarbas Passarinho, lder da Arena
no Senado poca da votao da lei.
Alm da deteriorao dos indicadores econmicos, o MDB, legenda de oposio ao regime, continuou ampliando
sua votao nas eleies de 1976 e 1978.
Em 1974, o partido j havia eleito 16 dos 22 senadores e obtido 48% dos votos para a Cmara dos Deputados.
Para alguns dos opositores do regime militar, os atos finais do governo Geisel foram uma tentativa de esvaziar
a campanha popular pela anistia, que havia comeado a ganhar forma em 1975 com a criao do Movimento
Feminino pela Anistia.
A tese contestada por dois colaboradores de Figueiredo, o prprio Passarinho e o ento secretrio de
Comunicao Social, Said Farhat. Quando Figueiredo tomou posse, j havia decidido conceder a anistia. Ele
comeou a falar sobre isso em 78, ainda durante a campanha, diz Farhat.
Segundo Passarinho, Figueiredo deu a senha para a aprovao da anistia logo no incio de seu governo, com a
frase lugar de brasileiro no Brasil.
Na opinio do ex-lder da Arena, o fim da resistncia armada ao regime militar foi outro fator que abriu caminho
para a anistia. Havia acabado a motivao de 64, que era a guerrilha. Farhat acrescenta que Figueiredo via
na medida o nico caminho para a reconciliao do pas com a revoluo.
Do lado da sociedade civil, o primeiro passo foi dado pelo grupo de mulheres reunidas no Movimento Feminino
pela Anistia, organizado em 1975 por iniciativa de Therezinha Zerbini.
ramos oito mulheres e fizemos um manifesto nao pedindo anistia ampla e geral, afirma Therezinha,
casada com o general Euryale Zerbini, cassado e depois reformado por defender o governo Joo Goulart,
deposto pelo movimento de 64.

64

Depois de So Paulo, o movimento se espalhou por outros Estados entre 1975 e 1977.
O manifesto do grupo foi lido por Therezinha na Cidade do Mxico, em 1975, durante conferncia da ONU
(Organizao das Naes Unidas) sobre o Ano Internacional da Mulher.
O movimento logo se expandiu, com a adeso de outros setores, entre eles a Igreja Catlica, o CBA (Comit
Brasileiro pela Anistia), a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a ABI (Associao Brasileira de Imprensa).
Organizado em 1978, o CBA deu carter mais amplo campanha iniciada pelas mulheres em 1975. Em
novembro de 1978, todas essas organizaes se reuniram no Primeiro Congresso Nacional pela Anistia, em
So Paulo.
Luiz Eduardo Greenhalgh, presidente da executiva nacional do CBA, afirma que o projeto inicial do regime
militar para a anistia era restrito e atribui sua ampliao presso popular.
A nica luta que a esquerda ganhou durante o regime militar foi a anistia, conquistada dentro do prprio
regime. ramos radicais, pois queramos a anistia ampla, geral e irrestrita, diz Greenhalgh, que tambm
atuava como advogado de presos polticos.
A anistia no foi uma coisa gratuita, resultado da benevolncia do presidente Figueiredo. A idia cresceu com
a resistncia da sociedade civil, afirma o ministro da Justia, Jos Carlos Dias, advogado de presos polticos
militante do movimento pela anistia.
Aprovada, por 206 a 201, durante a vigncia do regime, a anistia no foi to ampla, geral e irrestrita como
pretendiam seus defensores. De acordo com a lei aprovada, foram excludos os condenados pela prtica de
crimes de terrorismo, assalto, sequestro e atentado pessoal.
Mas, de qualquer forma, ela permitiu a libertao de praticamente todos os presos polticos e a volta ao pas de
pelo menos 5.000 exilados. Entre os que voltaram, estavam lideranas de esquerda, como os ex-governadores
Leonel Brizola e Miguel Arraes e o lder comunista Lus Carlos Prestes. Apesar de ter sido restrita, a anistia
acabou cumprindo seus objetivos, afirma o secretrio da Justia de So Paulo, Belisrio dos Santos Jnior,
outro advogado de presos polticos que participou do movimento.
A campanha pela anistia ganhou um considervel peso institucional com a adeso do senador Teotonio Vilela
ideia. Arenista, o senador presidida a comisso mista responsvel pela anlise do projeto no Congresso.
No dia 15 de abril de 1979, Vilela deixa o partido governista e filia-se ao MDB. No ms seguinte, comearia a
chamada peregrinao pelas cadeias de todo o pas onde havia presos polticos.
Inicialmente defensor da excluso dos chamados crimes de sangue e de terrorismo da anistia, Vilela decidiu
conhecer de perto as pessoas acusadas desses atos.
No encontrei nenhum terrorista, mas jovens idealistas que arriscaram suas vidas pelo bem do Brasil, disse
Vilela ao final de sua primeira visita, em So Paulo. E acrescentou: Convidaria todos para se hospedarem em
minha casa, convite que no fao a muitos ministros do atual governo.

65

Governo Figueiredo (1979 1985)


Manteve o processo de abertura. No seu governo foi aprovada a lei da Anistia e o pluripartidarismo.
Arena PDS Sarney Governo (ainda defendia a ditadura)
MDB PMDB Ulisses Guimares
PTB Ivete Vargas

OPOSIO

PDT Brizola
1984: Eleio para presidente de acordo com a lei Eleio indireta (colgio eleitoral)
Campanha das DIRETAS J
Foi a mais importante campanha de toda a nossa histria, mobilizando milhes de brasileiros.

Texto para anlise


A CAMPAMHA DAS DIRETAS J
Diretas J foi um movimento civil de reivindicao por eleies presidenciais diretas no Brasil ocorrido em
1983-1984. A possibilidade de eleies diretas para a Presidncia da Repblica no Brasil se concretizou com
a votao da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso. Entretanto, a Proposta de
Emenda Constitucional foi rejeitada, frustrando a sociedade brasileira. Ainda assim, os adeptos do movimento
conquistaram uma vitria parcial em janeiro do ano seguinte quando um de seus lderes, Tancredo Neves, foi
eleito presidente pelo Colgio Eleitoral.
O movimento agregou diversos setores da sociedade brasileira. Participaram inmeros partidos polticos de
oposio ao regime ditatorial, alm de lideranas sindicais, civis, artsticas, estudantis e jornalsticas. Dentre
os polticos, destacaram-se Ulysses Guimares, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Jos Richa, Tancredo Neves,
Andr Franco Montoro, Dante de Oliveira, Mrio Covas, Grson Camata, Orestes Qurcia, Teotnio Vilela, Luiz
Incio Lula da Silva, Eduardo Suplicy, Roberto Freire, Fernando Henrique Cardoso e muitos outros.
A cantora paraense Faf de Belm participou ativamente no movimento das Diretas J a partir do comcio
de 16 de Abril de 1984. Faf se apresentou gratuitamente em diversos comcios e passeatas, cantando de
forma magistral e muito original, de entre outros temas, o Hino Nacional Brasileiro, gravado no seu lbum
Aprendizes da Esperana, lanado no ano seguinte. A clebre interpretao, diante das cmeras, para uma
multido que clamava pela redemocratizao do pas, foi muito contestada pela Justia, mas ao mesmo tempo,
foi ovacionada e aclamada pelo pblico. A partir da, a Faf passou a ser conhecida como a musa das Diretas.

66

A Nova Repblica
Governo de Jos Sarney (1985/1990)
O mandato de Jos Sarney foi marcado pelos altos ndices inflacionrios e pela existncia de vrios planos
econmicos: Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987) e Plano Vero (1989). O plano de maior repercusso
foi o Plano Cruzado, que, procurando conter a inflao determinou: congelamento de todos os preos por
um ano; abono salarial de 8%, e reajustados aps um ano, ou quando a inflao atingisse 20%; extino da
correo monetria e o cruzeiro perdia trs zeros e passava ser chamado de cruzado.
Por ser um governo de transio democrtica, importantes avanos polticos ocorreram, como a convocao de
uma Assemblia Constituinte que elaborou e promulgou a Constituio de 1988 Constituio Cidad- que
estabeleceu as eleies diretas em todos os nveis; a legalizao dos partidos polticos de qualquer tendncia;
instituio do voto facultativo aos analfabetos, jovens entre 16 e 18 anos e pessoas acima de 70 anos; fim da
censura; garantido o direito de greve e a liberdade sindical; ampliao dos direitos trabalhistas; interveno
do Estado nos assuntos econmicos e nacionalismo econmico ao reservar algumas atividades s empresas
estatais.

As eleies presidenciais de 1989


Em dezembro de 1989 foram realizadas as primeiras eleies diretas para a Presidncia da Repblica desde
1960. Trs candidatos destacaram-se na disputa: Fernando Collor de Mello, do pequeno Partido da Renovao
Nacional (PRN); Leonel Brizola do Partido Democrtico Brasileiro (PDT) e Lus Incio Lula da Silva, do
Partido dos Trabalhadores (PT). A disputa foi para o segundo turno entre Fernando Collor e Lula, cabendo ao
primeiro a vitria nas eleies graas imagem de caador de marajs, e de uma plataforma de luta contra
a corrupo, na modernizao do Brasil e de representar os pobres e marginalizados os descamisados.
O governo de Fernando Collor de Mello (1990/92)
Aplicou o plano econmico denominado de Plano Brasil Novo, o qual extinguiu o cruzado novo e retornou o
cruzeiro; congelou preos e salrios; bloqueio boa parte do dinheiro de aplicaes financeiras e de poupanas
por 18 meses. Houve grande nmero de demisses no setor pblico, reduo nas tarifas de importao e um
tumultuado processo de privatizaes. No entanto, as denncias de corrupo envolvendo o alto escalo do
governo levou o Congresso a formar uma Comisso Parlamentar de Inqurito. O relatrio final da CPI apontou
ligaes do presidente com Paulo Csar Farias amigo pessoal e tesoureiro da campanha presidencial.
O envolvimento de Collor no chamado esquema PC, que envolvia troca de favores governamentais por
dinheiro, gerou o processo de impeachment ou seja, o afastamento do Presidente da Repblica. Fernando
Collor procurou bloquear o processo, porm a populao foi s ruas exigindo seu afastamento (os caraspintadas). O presidente renunciou em 30 de dezembro de 1992, aps deciso histrica do Congresso Nacional
no dia anterior pelo seu afastamento. O vice-presidente Itamar Franco assumiu o cargo.

O governo de Itamar Franco ( 1992/1995)


Realizao de um plebiscito em 1993 que deveria estabelecer qual o regime poltico (monarquia ou repblica)
e qual a forma de governo (presidencialismo ou parlamentarismo). No dia 21 de abril o resultado do plebiscito
confirmou a manuteno da repblica presidencialista. No aspecto econmico o mais importante foi a aplicao
do Plano Real, que buscava combater a inflao e estabilizar a economia nacional. O Plano pregava a conteno
dos gastos pblicos, a privatizao de empresas estatais, a reduo do consumo mediante o aumento da taxa
de juros e maior abertura do mercado aos produtos estrangeiros.
O Plano contribuiu para a queda da inflao e aumento do poder aquisitivo e da capacidade de consumo
em razo da queda dos preos dos produtos face concorrncia estrangeira. A popularidade do Plano Real
auxiliou o ministro da Fazenda de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, a vencer as eleies em outubro
de 1994.

67

O governo de Fernando Henrique Cardoso (1995/2002)


Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente do Brasil a conseguir uma reeleio
atravs de uma mudana constitucional. Seus dois mandatos so caracterizados pela acelerao do processo
de globalizao: a criao do Mercosul e a eliminao das barreiras alfandegrias entre Brasil, Argentina,
Uruguai e Paraguai ( a formao do bloco obedece vrias etapas). Em termo de organizao social destaque
para a questo fundiria do pas e a atuao do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que,
atravs da ocupao de terras procura agilizar o processo de reforma agrria no pas. Os anos de FHC como
presidente foram marcados pela hegemonia do neoliberalismo.
Os problemas enfrentados durante a crise econmica no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso
reavivou antigas questes polticas que marcaram a recente experincia democrtica no pas. Vivia-se o
impasse de uma democracia plena onde os problemas de ordem social e econmica no pareciam ter uma
clara via de soluo. As esquerdas tentavam, desde o inicio da Nova Republica, postarem-se como uma opo
a populao brasileira.
O Partido dos Trabalhadores, valendo-se da trajetria poltica junto s casses trabalhadoras de Luis Incio
Lula da Silva era um dos maiores partidos de oposio da poca. Conquistando alguns governos em esfera
estadual e municipal tentavam alavancar o antigo desejo de colocar Lula a frente da presidncia. Em 2002,
o sonho de um mandato popular e de uma nova esperana ao povo brasileiro finalmente colocou o antigo
sindicalista no cargo Maximo do Estado brasileiro.

O governo Lula (2003/2009)


Sentimentos de mudana e transformao tomavam conta das expectativas em torno daquele novo presidente.
No entanto, percebemos que o tom da esquerda que chegou ao poder em 2003 era bem mais reformista do
que revolucionrio. No plano econmico, Lula deu continuidade a diversas posturas anteriormente adotadas
no governo FHC. A escolha de um oposicionista frente ao Banco Central foi o mais claro tom dessa poltica
continusta.
As medidas conservadoras na economia tambm dividiram espao com os programas sociais de seu governo.
Diversos programas assistencialistas e a criao de bolsas aos mais necessitados sustentavam o carter
popular do governo Lula. Os mais exaltados chegavam a acus-lo de populismo. Em meio a tantas expectativas,
o governo parecia buscar a rota do desenvolvimento sem que para isso tivesse que adotar medidas de grande
impacto.
Os setores polticos mais a esquerda, j no primeiro mandato, comeavam a manifestar a sua frustrao.
Petistas histricos como Helosa Helena e Joo Batista Bab afastaram-se do governo ao perceber as
negociaes e manobras polticas do governo junto aos setores de oposio. A aparncia dbia do governo
Lula, ainda assim, no provocou nenhum tipo de entrave poltico maior.
Nos eventos entre os grandes lideres de Estado, o presidente Lula destacava-se por sua articulao poltica
e sua defesa pelos pases em desenvolvimento. Alm disso, a diplomacia tentou abrir portas para o pais junto
a grandes organismos internacionais como a ONU. O envio de tropas brasileiras regies de conflito (Haiti
e Timor Leste) e a realizao de competies internacionais (Pan-Americano) so aes que visam dar uma
imagem positiva no cenrio internacional

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