Cibercultura Artigo Finalizado PDF
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RESUMO
Este trabalho possui como objeto de estudo a linguagem teatral presente no filme Csar
Deve Morrer (Paolo e Vittorio Taviani, 2012), o qual se apropria de elementos intertextuais
na construo da estrutura cenogrfica e representativa. O objetivo geral verificar os
suportes presentes no processo criativo. Os objetivos especficos versam sobre o
aprofundamento das interconexes percebidas, tendo como desdobramento principal a
presena das Artes Cnicas, preferencialmente em espaos no convencionais ao cinema
hegemnico. O estudo inicial analisa o enfoque e a arquitetura visual dos diretores dentro
de perodos cinematogrficos especficos que contriburam com suas obras. O movimento
identificado foi o Neorrealismo. A hiptese de que a apropriao da linguagem teatral
como intertexto proporciona um cinema reflexivo que concebido de maneiras diversas,
como estrutura fsica ou como ao/encenao, no referido filme do corpus. Para o estudo
do primeiro cinema so utilizadas as definies de Flvia Cesarino Costa. A anlise geral
dos elementos neorrealistas se apoia nas definies de Mariarosaria Fabris. O termo cinema
de opacidade segue os preceitos de Ismail Xavier. O conceito de intertextualidade de Julia
Kristeva completa o referencial terico.
Introduo
A primeira imagem em movimento pde ser vista pela primeira vez em 1888, nos Estados
Unidos, atravs do cinescpio aparelho desenvolvido por Thomas Alva Edison. Essa
inveno consistia em uma pequena caixa com uma lente, o espectador inseria uma moeda e
observava, isoladamente, as imagens. O cinematgrafo, patenteado pelos Irmos franceses
Lumire, seguia um processo diferenciado, projetava a imagem em uma tela, muitas vezes
essa tela era um simples lenol ou mesmo uma parede. Devido a essa diferena, em que o
segundo aparelho se assemelha muito a forma de se exibir filmes atualmente, se legitimou
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Trabalho final apresentado disciplina Cibercultura do Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Linguagens da
Universidade Tuiuti do Paran.
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Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paran. Linha de
Estudos do Cinema e Audiovisual. E-mail: [email protected]
Os Primrdios do cinema
O cinema de atrao se desenvolve logo no incio das primeiras imagens em
movimento, com temticas variadas, desde registros caseiros a filmes teatralizados, os quais
eram produzidos por empresas, artistas, pesquisadores ou curiosos. A durao se dava em
mdia de 02 a 03 minutos, com cmeras fixas e pouco desenvolvimento psicolgico dos
personagens, mas j com o comeo da fico e marcao cnica. O termo cinema de
atrao originou-se do teatro. De acordo com Xavier (2005) Serguei Eisenstein define no
seu artigo manifesto, escrito em 1923, o termo teatro de atrao, o qual consistia em uma
encenao marcada com a inteno de criar uma iluso ao espectador, a partir de efeitos
pensados previamente para esse fim:
Uma atrao qualquer aspecto agressivo do teatro; ou seja, qualquer
elemento que submete o espectador a um impacto sensual e psicolgico,
regulado experimentalmente e matematicamente calculado para produzir
nele certos choques emocionais que, quando postos em sequencia
apropriada na totalidade da produo, tornam-se o nico meio que habilita
o espectador a perceber o lado ideolgico daquilo que est sendo
Costa (2005) ainda afirma que, por ser utilizado em um primeiro momento, de modo geral,
para ampliar as atraes o cinema inicialmente molda-se as j existentes formas de
espetculo. Mas percebe-se que com a passagem do tempo, o cinema afasta-se
gradativamente at conquistar sua autonomia enquanto linguagem, alcanada atravs de
sua evoluo tcnica e narrativa.
Teatro e Cinema
Um importante colaborador, no perodo inicial da cinematografia, foi Georges
Mlis, ilusionista que emigra para o cinema e contribui substancialmente com essa nova
linguagem, atravs de seu prvio conhecimento das Artes Cnicas. Segundo Kemp e
Frayling (2011, p. 20) seu filme mais conhecido Viagem Lua (1902), o qual possu
trucagens visuais misturadas tcnica de animao cut-out e cenrios teatrais gigantes.
So diversas as diferenas entre essas duas linguagens, mesmo assim acredito ser
possvel estabelecer um dilogo ou ainda uma intertextualidade entre as mesmas.
Atualmente percebe-se uma retomada, por alguns cineastas, dessa dualidade, em que o
teatro no vem propriamente em uma estrutura rudimentar, e sim com o intuito de
acrescentar narrativa novas propostas estticas. Para descrever esse recente vis
cinematogrfico foi selecionado, para exemplificao, o filme Csar Deve Morrer (Paolo e
Vittorio Taviani, 2012).
percebida, logo no incio do filme do corpus, a escolha do teatro como forma de
propiciar um cinema de opacidade, segundo os preceitos de Ismail Xavier (2005) que se
encontram no apenas presentes nesse dispositivo, mas tambm em outras reas de meios
de comunicao. O cinema das origens se avizinhava de experimentos cientficos, do
burlesco e do espetculo de feira, novas formas de ps-cinema fazem vizinhana s
televendas, aos jogos eletrnicos, aos CD-ROMs ao Imax. (SHOAT, Ella STAM, 2005: p.
393).
Essa vizinhana gera um dialogo no sentido de percebermos a opacidade, disponvel
tambm em outros ambientes comunicacionais.
Neorrealismo o semidocumentrio
Essa prtica o que se pretende analisar aqui, com o cruzamento de diferentes textos,
presentes em uma mesma obra. O filme Csar deve morrer feito na priso de segurana
Ptio do presidio, os prisioneiros de Rebbibia, encenam/ensaiam a cena em que Csar ser morto.
das cenas outra meno a esse movimento, o colorido aparece somente fora das celas, ou
na parte final do filme quando os atores esto no palco, e a pea est teoricamente pronta. O
pblico presente so os familiares dos presos.
O Processo de Manipulao
A cena final, que retrata a morte do personagem Brutus, arrependido por ter
contribudo no assassinato de seu amigo Csar, outra cena passvel de vrias
interpretaes: no olhar do ator fica a dvida se estamos vendo somente uma boa
representao ou se o ator expressando o arrependimento de seus atos em vida real que o
levaram a atual situao em que se encontra, ou seja, um prisioneiro.
O real e a fico dialogam constantemente, o encaminhamento selecionado pelos
cineastas possibilitam essa interao. A fotografia impressa na pelcula se mantm
inalterada, sem manipulao. Aqui a manipulao se refere ao termo discorrido por
Santaela, a autora afirma:
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Concluso
O teatro e o cinema possuem limites bastante distintos, por isso a afirmao de uma
intertextualidade, que ao longo do trabalho foram percebidos como possveis dilogos. Essa
dualidade pode acontecer sem tornar o filme, que dela se apropria, rudimentar, no momento
que rompe com certos padres presentes no cinema hegemnico, ao aplicar em sua
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Verbetes
Opacidade e Transparncia: Quando o dispositivo ocultado, em favor de um ganho
maior de ilusionismo, a operao se diz de transparncia. Quando o dispositivo revelado
ao espectador, possibilitando um ganho de distanciamento e crtica, a operao se diz de
opacidade. (XAVIER. Ismail, O Discurso Cinematogrfico A opacidade e a
transparncia. So Paulo. Editora Paz e Terra. 2005. p. 06).
Cinema de atraes: (...) um cinema que se baseia na (...) sua habilidade de mostrar
alguma coisa. Em contraste com o aspecto voyeurista do cinema narrativo(...) este um
cinema exibicionista. (...) que representa esta relao diferente que o cinema de atraes
constri com seu espectador: as frequentes olhadas que os atores do na direo da cmera.
Esta relao, que mais tarde considerada como um entrave iluso realista do cinema,
aqui executada enfaticamente, estabelecendo contato com a audincia. (COSTA, Flvia
Cesarino. O primeiro cinema: Espetculo, narrao, domesticao. Rio de Janeiro. Editora
Azougue, 1995-2005. p. 52)
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REFERNCIAS
BENJAMIN, Walter. Magia e tcnica, Arte e Poltica. Editora Brasiliense, 1985.
BERGAN, Ronald. ...ismos para entender o cinema. 1 edio. So Paulo: Globo, 2011.
BRECHT, Bertolt. Teatro dialtico ensaios. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira,
1972.
COSTA, Flvia Cesarino. O primeiro cinema: Espetculo, narrao, domesticao. Rio
de Janeiro. Editora Azougue, 1995-2005.
FABRIS, Mariarosaria. O Neorrealismo cinematogrfico italiano. So Paulo: Editora da
Paulo. 1996.
GAUDREAULT, Andr; JOST, Franois. A narrativa cinematogrfica. Braslia: Editora
Universidade de Braslia, 2009.
KEMP, Philip; FRAYLING, Sir Christopher. Tudo sobre cinema. Editora: Sextante, 2011.
KRISTEVA,
Julia.
Introduo
semanlise.
So
Paulo:
Perspectiva,
1979.
DOCUMENTO ELETRNICO
ESCOREL, Eduardo. Questes cinematogrficas. So Paulo. 2012. Disponvel em:
http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-cinematograficas/geral/cesar-deve-morrer.
Acesso em: 28/11/13.
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FILMOGRAFIA
CSAR deve morrer. Direo: Paolo Taviane e Vittorio Taviane.. Itlia, 2012. DVD (76
min.) son., color. Elenco: Cosimo Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri, Antonio
Frasca, Juan Dario Bonetti, Vincenzo Gallo, Rosario Majorana, Francesco De Masi
Gennaro Solito, Vittorio Parrella
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