A Psicoterapia Pela Fala
A Psicoterapia Pela Fala
A Psicoterapia Pela Fala
A PSICOTERAPIA
PELA FALA
icpi
Fundamentos, princpios
questionamentos
Inlernacicinais de Catalogaro na Publicao (CIP)
(Cmara Brasileira do Livrei, SP, Brasill
Bucher, Richard, 1940-1997
B932n
ISBN 85-12-60440-9
CDD-SIS.89H
-157.9
-616.8917
NLM-WM 420
8-2178
Nota-se ainda que Binswanger, num trabalho posterior, corrigiu sua crtica do homo
untura de Freud, percebendo outros valores
de "veracidade" na obra de Freud. Em:
BINSWANGER, L., Mein Weg zu Freud,
em: Der Memcli in der Psychialrle. Neske,
1951. Este trecho ainda citado por Rollo
MAY, no texto "Psicologia Existencial",
em: Millon, T. Teorias da Psicologia e Per'
sotialidade, pp. 136-37.
11. BINSWANGER, L. Lebensfuttion und
innere Lebensgesehichte, (1927). Em: Ausgewhlte Vorlrge und Aufsatze, vol. I.
Bem, Francke Verlag, 1961(;), pp. 50-73
(traduo nossa).
12. JASPERS, K. Psicopatoiogia geral. Z vol.
Rio de Janeiro, Athencu, 1979P). Ver 2. a
parle: As conexes compreensveis da
vida psquica (Psicologia compreensiva); I,
pp. 361-534. 3. a parte: As conexes causais
da vida psquica (Psicologia explicativa);
II, pp. 551-672.
Nota-se que a noo de "conexo" ("Zusammenhang") influenciou, desde Dilthey,
em alto grau as cincias humanas da poca,
notadamente na Alemanha. Na prpria
obra de Freud ele aparece com frequncia,
sendo traduzida da maneira mais variada
(coerncia, contexto, coeso, correlao,
encadeamento, ligao, trama, elo, processo, aproximao, conjunto, associao, sequncia...), de sorte que seu reconhecimento nas tradues de averiguao difcil (tanto cm ingls ou francs quanto em
portugus). Antes de qualquer estruturalismo, a noo de Zusainmenhang se equipara
quela de estrutura; em Freud, testemunha
a. sua convico do determinismo psquico
e da coerncia de todos os fenmenos da
alma humana, antecipando a concepo estrutural propriamente dita.
Captulo 3
Delineamentos tericos do
campo psicoterpico
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consciente, se efetua de maneira no refletida, mais como um pano de fundo difuso do que respondendo a uma inteno
explcita.
Sem referncia a teorias ou tcnicas, a
dimenso psicolgica participa de tudo
que humano, regulamentada por certas
convenes (as frmulas de polidez, por
exemplo) e codificada (e decodificada)
segundo as necessidades de cada situao
concreta. No caso da relao mdica, ela
intervm pela maneira do paciente apresentar a f-ua queixa, do mdico interrogar,
examinar, discutir, prescrever e, quem
sabe, prometer alivio ou mesmo cura completa do achaque interaes aparentemente simples, mas de fato complexas se
pensarmos nas implicaes mgicas ou inconscientes que contm; complexas tambm no que tange sugesto, persuaso
que o mdico pode ser tentado a usar
(prometendo alvio, por exempio).
Neste caso, situamo-nos na regio limtrofe da relao psicolgica cotidiana,
isto , no psicoterpica, em consequncia do ohjetivo consciente, mas talvez in-
cular permanente: a sua elaborao terica, embora fertilizada pelas reflexes filosficas e antropolgicas milenares da humanidade, procede com uma referncia
imprescindvel experincia clnica. Esta,
sendo no experimental, no controlada
e no repetitiva, no pode submeter-se
aos cnones da cincia "positiva" melhor, no pode nem deve submeter-se a
eles, uma vez que obedece a outros princpios, decorrentes da sua situao especfica com um objeto, no apenas alvo de
investigao e de pesquisa, mas um sujeito, parceiro num processo de interao
que almeja a mudana.
No se pode pensar, pois, como na situao experimental ou de aplicao, no
controle das variveis ou na estabilidade
do seu aetting, se no enfoque psicoterpico, controle e estabilidade no fazem
parte das propriedades desejveis se,
pelo contrrio, devem ser excludos ou
combatidos como "sintomas" de rigidez,
de defesa e de resistncia de um ou de
ambos os protagonistas desta singela relao humana.
Assim entendida, a psicologia clnica (e
com eia a psieoterapia aqui em foco) no
"positiva" segundo o conceito tradicional (e positivista) de cincia. Levando as
coisas ao p da letra uma vez que as
palavras "querem dizer algo" c que a noo de "positivo" faz parte de um contexto histrico que quis extirpar, explicitamente, o "obscurantismo" do no-positivo, isto , do negativo, pelas clebres
"ideias claras c distintas" (leia-se: quantitativas) de Descartes a nossa psicologia clnica logicamente pertencer a
uma "psicologia negativa" (2).
O que caracteriza ento uma tal psicologia negativa, contestada, por no ser
cientfica, cm seu direito de cidadania na
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No obstante, empenham-se muitos autores hoje em dia para chegar a uma avaliao quantitativa daquilo que "se passa"
numa sesso de pscoterapia, ou ainda,
dos efeitos supostos que a inlerao constatada produz. No nos referimos aqui a
estes esforos em detalhe, empreendidos
sobretudo na escola rogeriana(3) e na escola que se baseia na teoria da comunicao(4); em pesquisas sobre a interao
psicoterpica, sem dvida possvel obter
resultados estatsticos interessantes, mas
estes se situaro inevitavelmente a nvel
da conscincia e da racionalidade onde
os elementos e processos qualitativos j
esto bastante complexos o que nos parece insuficiente para levar em conta a
globalidade e a complexidade do psiquismo humano.
Por outro lado, a insuficincia da abordagem cientfica tradicional no deve servir de pretexto para abrir mo, simplesmente, do esforo reflexivo: significaria
abdicar da responsabilidade tica pela
ao psicoterpica, tanto ao nvel individual quanto ao nvel comunitrio, e entregar-se a uma perigosa fantasmatizao
ideolgica.
Conquanto nenhuma reflexo terica
capaz de eliminar a influncia ideolgica presente, no seu sentido mais amplo, em todos os empreendimentos humanos compete, tanto ao cientista quanto
ao prtico, ficarem vigilantes a este respeito, para diminuir ao mximo aquela
presena imponderada. Ela facilmente se
torna distorcedora dos verdadeiros objetivos, minando sub-repticiamente as posies ticas declaradas e abrindo as portas a situaes clnicas falaciosas e irreflctdas, uma vez que a formao mnima
do profissional , em psicologia, muito
lacunria e de difcil controle, apesar das
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rente ou de pertinente sobre estes estados, "antes de ter clareado, aprofundadanente, as c ncepes psicolgicas de
ba;e, em particular sobre a natureza da
conscincia".
Com esta colocao, parece-nos estipulada a necessidade de uma teoria abrangente do psiquismo humano, teoria essa
que Freud se esforava por elaborar durante muitos anos, sem que chegasse,
contudo, a uma formulao definitiva.
Porm, o que nos interessa aqui que
desde o incio, vislumbrava esta necessidade, e isto precisamente no que tange
compreenso dos processos psicoterpicos: sem dispor, como base, de uma teoria geral do psiquismo, no ser possvel
entender o que se passa numa psicoterapia, nem o que fundamenta e estrutura os
processos psquicos normais e/ou paloIgicos do homem.
No existe at hoje nenhuma teoria
abrangente do psiquismo humano, na qual
seria possvel basear-se para atingir o
nosso objetivo: delinear o campo psicoterpico. Nem Freud, nem a psicanlise
ps-freudiana, nem outras abordagens lograram lanar mo de uma teoria geral,
aceitvel como "provisoriamente definitiva" pela comunidade dos cientistas psiclogos. O que existe, entrementes e
com que podemos e devemos contar
so os diversos modelos tericos, surgidos em determinados momentos da histria da psicologia e que hoje coexistem,
embora, de fato, nem sempre pacificamente. . .
Fm particular, estamos em presena de
trs modelos tericos, de concepes muito diferentes e de alguma forma complementares, que respondem a exigncias mnimas de cientificidade, pelos seus procedimentos, premissas, critrios e objetivos.
tes, em propor novas classificaes, esquemas e conceitos que, de fato, alargaram o campo psicanaltico, mas o privaram de foras mais imaginativas e mais
criativas, que poderiam, na esteira de
Freud, ter proporcionado uma renovao
acurada da sua obra. No por acaso
que a obra de Lacan, visando uma tal
renovao, desenvolveu-se margem desia psicanlise "oficial". ..
Dianlc da esterilidade da psicanlise
assim institucionalizada e "adestrada",
anunciada como herdeira de Freud mas
desvirtuada da sua inteno originria e
fundadora, as reaes no se fizeram esperar e so fceis de compreender. Elas
vo da rejeio pura e simples, como no
caso de um Eysenck(9), por eexmplo, a
aceitao parcial ou transformao de
determinados elementos em peas-mestres
de novas doutrinas.
Nestas, o conjunto do arcabouo terico de Freud e o seu relativo equilbrio
so abandonados, em benefcio de elementos que podem ser importantes, mus
que, na psicanlise, eram subordinados
concepo global do funcionamento da
alma; isolados deste contexto que lhes d;i
sentido e coerncia, transformam-se facilmente cm hipertrofias provocando vises
(e atuaes) unilaterais, em detrimento
da reflexo terica rigorosa c do respeito
unidade psicossomtica do homem c
complexidade da sua existncia.
Isto aconteceu, ao nosso ver, com Binswanger, como j indicamos, e num sentido semelhante com |ung, Boss c outros,
que focalizaram mais o Sado espiritual,
esquecendo-se do pulsional e da sua incidncia no inconsciente. Do lado oposto,
assistimos nfase dada por Reich e outros ao biolgico, por ]anov, Pcrls, Moreno c outros reao catrtica, pelos
rapia em que esteja includa uma considerao crtica de algumas de suas bases
ideolgicas" projeto bem concebido
pelas suas intenes, mas cuja execuo
no faz justia pretenso anunciada.
mo designar ento a pessoa que, no campo clnico acima definido, est procura
de uma psicoterapia? A palavra ' cliente"
muito comum, hoje em dia, sob a influncia da psicologia americana. Ela tem,
sem dvida, uma conotao de consumo
ou de marketlng, aproximando-se de
"fregus", devido nfase implcita ao
intercmbio comercial, obedecendo s leis
da demanda e da oferta; no entanto, implica tambm uma opo, uma ao consciente de busca de alguma mudana: se
chega a consultar e depois a entrar numa
relao psicoterpica qualquer, 6 que o
cliente o quer pessoalmente, uma vez
que poderia dizer "no" a este seu engajamento.
O voluntariado deste engajamento,
pois ou ainda, o seu aspecto "liberal"
se destaca bem pelo termo "cliente".
Mas vejamos nele mais dois inconvenientes. Em primeiro lugar, a referncia a
uma certa passividade. Apesar da procura deliberada, incluindo uma ao, o
"cliente" que "recebe" algo, em maior
ou menor grau de dependncia e passividade, do "outro" que "est dando". Implica portanto uma prestao de servio
que o cliente "compra" do terapeuta,
submetendo-se ao saber e s tcnicas
deste. . .(19).
Em segundo lugar, o recurso a esse termo deve ser considerado, pelo menos implicitamente, como uma tentativa de
contornar os problemas da patologia psquica e os tabus a esta associados. Falando-se de cliente, os seus problemas psicopatolgicos so negados ou, ao menos,
minimizados.
De fato, no h dvida de que,
at hoje, o patolgico assusta e discrimina, tanto mais quanto se trata de "problemas mentais". Sofrer de tais proble61
namento com os outros, algum sofrimento humano deve estar presente (e deve
estar percebido) para que o sujeito, reconhecendo-se "paciente" sofrendo de algum mal, se decida a recorrer a um trabalho psicoterpico. Desta forma, ele ingressar no campo clnico, situar-se-
nele como necessitando de uma ajuda ou
de uma interveno "clnica", isto , psicoterpica e, pelo fato mesmo, distinguil-Be- de pessoas que esto procura
de uma ajuda ou interveno psicolgica
no-clnica.
Com efeito: a psicoterapia, enquanto
terapia situada no campo clnico acima
definido, dislingue-se da ampla gama de
prticas psicolgicas no-clnicas. Insistir
sobre esta diferena no desvalorizar ou
criticar outras prticas psicolgicas, mas
simplesmente delinear a atuao das diversas prticas, uma vez que a confuso
das atribuies, competncias e objetivos
sempre s faz prejudicar o desempenho
srio e responsvel do profissional.
Portanto, h muitas prticas ou tcnicas psicolgicas que no so clnicas e
que no fazem parte do campo psicoterpico. Pensamos nos grupos de sensibilizao ou de encontro, na dinmica de
grupo, nas sesses espritas, sugestivas ou
hipnticas, nas consultas a cartomantes
ou clarividentes, na orientao espiritual,
pastoral ou moral, nos objetivos de treinamento, de aprendizagem, de crescimento pessoal, de iniciao religiosa, esotrica ou mstica todas aes psicolgicas interpessoais, onde um agente quer
transmitir algo que influencie e modifique o outro. Este, procura de mudana,
submete-se aos procedimentos encenados
pelo agente e aceita, pelo menos implicitamente, as premissas de sua atuao, bem
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seus achaques (se no da existncia como um todo). Este aspecto, capital para
a questo da indicao teraputica, ser
tratado mais adiante, num captulo especfico.
Da mesma forma, ser difcil ou mesmo impossvel trabalhar em psicoterapia
com pessoas que percebem a existncia de conflitos, mas os situam jora de
si; ao invs de intrapessoais, elas os vem
como interpessoais, atribuindo as causas
das prprias dificuldades (ou a culpa
por estas) "aos outros". Psicopatas ou
paranicos, como costumamos rotul-los,
no tero nenhum motivo para questionar-se a si mesmos no que consiste
precisamente grande parte do trabalho
psicoterpico e no sentiro a necessidade de elaborar os seus conflitos internos: em sua perspectiva, cabe "aos
outros" resolver as dificuldades, uma vez
que estes que as criaram.
Um caso particular representam aqui
os adolescentes e as crianas. Neles, a
conscincia de um conflito intrapsquico
raramente est presente pelo contrrio, na maioria das vezes ele negado,
de tal forma que o jovem c levado
consulta pela famlia. Esta questo tambm ser tratada mais adiante; limitamo-nos aqui a frisar que as numerosas pessoas que negam ou ignoram a dimenso
psquica interna e os seus possveis conflitos no so passveis de uma abordagem psicoterpiea no sentido estrito da
palavra. Elas podero ser atendidas mediante outras formas de tratamento psicolgico ou scio-teraputico, como terapias de apoio, de relaxamento, tcnicas comportamentais, ocupaeionais ou de
reabilitao, entre outras, mas no conseguiro tirar proveito de um processo
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extremamente raro que uma corrente filosfica, antropolgica ou psicolgica conteste esta viso dualista; ela
se deixa avaliar e interpretar diferentemente, segundo as premissas de cada
eortente; pode ser negligenciada ou, ao
contrrio, valorizada e investigada; pode ser reconhecida implcita ou explicitamente, mas sempre aparecer, seja
to-somente em forma de filigranas. Vises monolticas, como aquela do behaviorismo estrito (Watson) e de outros
sistemas, tributrias de um meeanicismo
extremo, tm vida curta c so rapidamente substitudas por vises mais abrangentes, mais coadunveis com a experincia humana em sua vertente subjetiva.
Como precisamente esta vertente
subjetiva que nos interessa na clnica
psicoterpiea, o dualismo entre consciente e inconsciente (que recobre, em parte, o dualismo entre o objetivo e o subjetivo), experimentado por ns Iodos
(basta pensarmos nos sonhos) e teorizado pela psicanlise, de particular relevo para a compreenso do homem e dos
seus conflitos. a esta concepo, pois,
a esta imagem antropolgica que fazemos referncia, como concepo apta a
fundamentar uma abordagem psicolgica e psicoterpiea do homem, que faa
justia tanto sua complexidade quanto aos seus conflitos e sofrimentos internos.
Resumindo, consideramos que so os
diversos conflitos inconscientes, histrica,
isto , subjelivamente formados, que
constituem o material com que se trabalha em psieoterapia, para que o sujeito
chegue, graas a esta elaborao feita a
dois, a uma libertao interna (v. 3.9.).
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mum, pela abordagem psicolgica, devem aturar esta abordagem e devem incentivar-se mutuamente em prosseguir
nesti: empreendimento: o terapeuta incentivando o pacienle, pelo seu arsenal
de intervenes, a proceder de maneira
adequada aos seus questionamentos e investigaes, mobilizando certos falores
que dizem respeito ao seu desejo de sarar; o paciente incentivando o psicoterapeuta a interessar-se por esta investigao.
Com efeito, no nos parece exagerado
dizer que o psicolcrapeuta (como, alis,
o psicanalista), sendo sempre tambm
pesquisador e investigador, tem que dispor de uma s curiosidade cm trabalhar com o seu paciente, no sentido de
um "desejo de saber" que o instiga e
impele a perquirir e revelar, nesta pessoa que se confia a ele, as concatenaes inconscientes e os segredos que detm.
Obviamene, a curiosidade assim estipulada nada tem a ver com bisbilhotice,
mas deve fazer parte do interesse do terapeuta pela personalidade e pela histria de vida do paciente; se este no consegue interessar o terapeuta, incentivando-o a pesquisarem juntos as origens dos
seus conflitos, a interao psicoterpica
tornar-se- impraticvel. Neste caso
que ocorre talvez com maior frequncia
do que se pensa o terapeuta tem que
ter a honestidade pessoal de reconhecer
isto, de admitir que um determinado pacienle no consegue interess-lo pela sua
pessoa ou pela sua problemtica, e encamnh-lo a colegas que acha passveis,
razoavelmente, de desenvolverem afinidades melhores. A qualidade de sinceridade consigo mesmo e de permanente autocrtica ter que ser, pois, mais uma das
caractersticas do psieoterapeuta, qualidade que no se pode esperar nem, menos ainda, cobrar do paciente de maneira simtrica.
Desenvolveremos em seguida esta questo da assimetria na relao psicoterpica.
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que tentamos esconder ou velar at de ge a relao, esta entrega poderia fazerns mesmos.. .
-se sem reticncias e resistncias, sem
No , portanto, apenas o mundo ob- triagens e ocultaes; porm, sabemos
jetvo das larefas profissionais, das rela- como c difcil e custosa esta entrega,
es funcionais, que nos impede de ma- no somente no incio, mas ainda duranr.ifestar-nos com maior subjetividade: so- te, ou mesmo perto do final deste promos ns mesmos que temos interesse em cesso que se desenrola entre ambos.
proteger nossa vida psquica ntima; no que no basta "querer" esta entrega,
podemos permitir-nos extravasar livre- "querer fazer psicoterapia" para efetivamente tudo aquilo que reprovamos em mente ingressar nela e aproximar-se dos
ns ou que sabemos reprovado pela so- conflitos mais inconscientes: abrir a nosciedade da qual participamos.
sa subjetividade para outrem fere certos
Vivemos, de fato, com uma necessi- interesses nossos, notadamente no que
dade permanente de camuflar as nossas tange ao amor prprio de no revelar as
intenes secretas, de escamotear os nos- nossas falhas e fraquezas, e acompanhasos impulsos, de velar as nossas veleida- -se de desconfiana c de impulsos autodes que poderiam contrariar os padres mticos de autoproeo, que nunca deestabelecidos. . . Atitudes que fazem par- saparecero por completo.
te dos automatismos adquiridos atravs
Isto, contudo, no quer dizer que nesdos processos de socializao e que ado- ta relao no haja material subjetivo,
tamos, pois, muitas vezes, sem nos dar- que no haja fantasias que sejam veimos conta.
culadas: haver nela muito mais mateEstes automatismos aumentam mais rial oriundo do ntimo, do imaginrio da
quando h aproximao de material con- pessoa, do que nas relaes habituais
flitivo, em particular de conflitos incons- que estabelecemos no decorrer da vida
cientes: ns "entramos na defensiva", com os outros. Se ela no chega a ser
sem saber "por qu", sentindo-nos amea- uma relao subjetiva integralmenlc aberados por algo que escapa ao nosso con- ta, no quer dizer que no seja subjetiva
trole, mas que sentimos "na pele". . .
de todo.
Trata-se a de uma experincia muito
No entanto, a relao psicoterpica
comum, mas que se manifesta em parti- no a nica relao subjetiva que cocular na relao psicoterpica, em con- nhecemos na vida. Relaes subjetivas,
sequncia do seu propsito explcito de relaes de entrega recproca existem, sem
"mexer" com este maerial inconsciente dvida, em todas as situaes onde a busc os seus conflitos,
ca de objetivos funcionais no prioriNeste sentido, podemos pois definir a tria, ou mesmo ausente. Na extensa esrelao psicoterpica como uma "relao fera do amor, da amizade e daquilo que
interpessoal subjetv" (Schneider) (15), Binswanger chamou de "comunicao
na qual o paciente "se entrega" ao flu- existencial", as relaes interpessoais so
xo de sua fantasia, de seu imaginrio, profundamente subjetivas, com um in"entregando" os produtos de sua imagi- tercmbio permanente de materiais subnao ao terapeuta. Segundo o princpio jelivos, incluindo sentimentos, fantasias,
de confiana c de "sinceridade" que re- afetos e todas aquelas emoes que pre76
ra ousar o primeiro passo e tocar porta do terapeuta. Mas e eis uma diferena capital cabe a este no acreditar nesta autoridade que lhe atribuda, nem nos poderes que, magicamente,
o paciente lhe outorga: trata-se de uma
autoridade fictcia, imaginria, a cujo
canlo de sereia no deve sucumbir se
quiser realizar as suas tarefas.
Vimos no primeiro captulo as implicaes mgicas e "primitivas" da relao teraputica. Aqui, vemos agora a importncia que estas tm no desenvolvimento desta relao, reparando como
elas definem as posies de ambos os
protagonistas. O psicoterapeuta no ""
uma autoridade, uma vez que no dispe de meios especiais (e muito menos
mgicos); ele, quando muito, "est" de
autoridade, ocupa uma posio de autoridade relativa que lhe conferida "de
fora", pela sociedade que reconhece a sua
profisso c o seu trabalho.
Nesta posio, ele pode e, socialmente, at deve acreditar, mas tem que saber que ela muito relativa; da outra
autoridade, daquela que, "de denfro",
os pacientes alribuem a ele, ele tem que
desistir; argumentos de autoridade no
tm valor quando se trata de descobrir
as verdades secretas do sujeito, soterradas nos recnditos da sua alma de tal
forma que nenhuma autoridade, a no
ser ele mesmo, possa desvend-las. Se
verdade que so os pacientes que o "fazem" psicoterapeuta, este somente o ser se, com modstia, declina da aurola que lhe oferecida, para desincumbir-se das suas tarefas, auxiliando o primeiro a diminuir de mais em mais a assimetria entre eles. Esla no glorifica o
psieoterapeuta ela lhe imposta tanto quanto ao paciente, mas cabe ao pri79
fato, no faliam exemplos em que o paciente critica a distncia, a frieza, o aparente desinteresse do psicoterapeuta, e
que esta crtica camufle a sua incapacidade de aceitar as "regras do jogo", isto
, essencialmente, a sua assimetria, e de
assumir (ativamente.. .) o papel de paciente, confrontando-se consigo mesmo c
enfrentando os seus conflitos, os seus
contedos psquicos, no que der e vier.
Um outro elemento que contribui para dificultar o intercmbio na relao
subjetiva da psicoterapia, a questo da
dependncia. Ela inevitvel. Ela um
mal necessrio. Mas ela assusta muito,
como prova flagrante no apenas da assimetria da relao, mas sobretudo da
Se o terapeuta que realmente che- injantilizao do paciente que nela se
ga a ocupar uma posio no somente de opera. Se esta faz parte do processo psiautoridade, mas de autoritarismo, atuan- coterpico, ela, no obstante todas as hedo com intervenes autoritrias, cabe- sitaes e defesas, pode c deve ser trar a ele analisar e entender estas falhas balhada, tanto quanto a questo da aude sua atuao; todavia, a experincia toridade. Ademais, deve ser claro, desprova que este autoritarismo em geral de o princpio da terapia, que ela no
mais produto da fantasia do paciente um fim em si mesmo, mas que ela
que no suporta ou rejeita a inevitvel tem que diminuir, mediante o prprio
assimetria operacional do que resul- trabalho que propicia, para que o depentante de intervenes intempestivas do dente transforme-se num independente,
primeiro. Fantasias sobre a sua autorida- ou melhor, num "interdependente", cade e o seu poder de fato sempre ocor- paz ento, no final da terapia, de deslirero. Mas importa que sejam analisa- gar-se do processo teraputico e da dedas, que sejam Irabalhadas naquilo que pendncia que esta criou.
veiculam de submisso passiva, de deseIsto significa, ainda, que a assimetria
jo de castigo, de revolta, de seduo, de
iniciai
deve aos poucos nivelar-se para
desejo de receber ou de ser mimado, bem
dissolver-se,
idealmente, no trmino da
como de inevitveis repeties de situapsicoterapia
ocorre na transmisso comunicativa entre ambos: no h um esquema de estmulo/reao, como no laboratrio, nem
pergunta e resposta, como num interrogatrio ou numa conversa social. Mas h
este deslize, s vezes sutil c quase imperceptvel, depois cortante e quase agressivo, para em seguida suavizar-se de novo, que faz com que se produza sentido,
seja pela retomada do passado no presente, seja pela vinculao operada entre
o imaginrio e o real, entre o subjetivo
e o objetivo ou entre assuntos aparentemente sem nexo. A procura do sentido,
do segredo dos conflitos do paciente e
dos seus sintomas comanda estes deslizes, deslocamentos, alteraes, cortes e
outras intervenes transformadoras do
terapeuta; elas sempre visam algo alm
do manifesto, do banal, do visvel, para tocar queles ncleos latentes onde se
enrazam os conflitos que se trata de resolver.
Como estes deslocamentos se efetuam,
no entanto, no c apenas uma questo
tcnica, mas tambm uma questo de
arte, um segredo do arteso que habita
no pscoterapeuta. Nisto consiste uma
ltima diferena e talvez a mais importante entre as nossas duas relaes subjetivas. Vimos, no segundo captulo, que Binswanger insiste em distinguir, ao lado da comunicao existencial, o aspecto tcnico dos conhecimentos especficos do profissional, pelo qual
a primeira se diferencia de uma relao
subjetiva desinteressada. este aspecto
tcnico que lhe confere sua forma de trabalho, alvejando certas metas. No entramos aqui na discusso deste "servio", cujos detalhes se determinam pelas
diversas tcnicas prprias s linhas tericas que se encontram no "mercado
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mem, participa, como um elemento essencial, de sua "anlropognese", fazendo-o plenamente humano pela insero
na dimenso simblica, na dimenso do
dilogo e da cultura.
T a filosofia grega tem salientado esta
caracterstica, pela sua clebre definio
do homem como antropos logon echon,
"aquele que fica em p e dispe do logos", da linguagem... Cracas aos elementos diferenciais que lhe so propostos pela linguagem, a criana, injans,
no incio, aprende aos poucos a ordenar
o seu mundo vivencial, reconhecer regras, coerncias, regularidades e instituir
(auto-) regulamentaes, pela aquisio
de operaes reflexivas. Graas linguagem, tornar-se- capaz de desenvolver
atos de reflexo e de conscincia sobre
o mundo e sobre as suas impresses sensrias. A linguagem, portanto, serve antes de tudo de rgo de pensamento, de
conscincia c de reflexo, proporcionando ao esprito humano uma certa autonomia sobre as coisas, bem como sobre
as suas vivncias diretas, autorizando,
desse modo, uma tomada de distncia
com respeito a estas vivncias e a insero imediata no mundo.
De fato, a fala permite evocar uma
coisa, ''um real" qualquer, mediante o
artefato de uma palavra que chega a
substituir-se a esta coisa, sem que a seja;
como por um passo de mgica, evoca
pois a presena da coisa em sua plena
ausncia: a palavra, simultaneamente,
presena e ausncia desta coisa, deste
real que ela designa, referindo-se a este
como a um "em si" que pertence a uma
ordem prpria de realidade. Ao designar
uma coisa por uma palavra, ordenam-se
duas ordens diferentes, se bem que referenciadas uma outra: o real por um
lado, a linguagem por outro.
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86
87
intra e interpsquca flui cora menos entraves, a pessoa dispe mais de si mesma. . .
Eis a simbolizao: no um processo
automtico, intelectual ou racional, mas
um movimento de auto-integrao tornado possvel pela fala e pelo seu potencial de penetrao nos recnditos da alma
humana, transcendendo a clivagem entre
consciente e inconscienle, entre racional
e afetivo e contribuindo para a "cura"
da pessoa, dos seus males ntimos, desde que sejam de origem psquica.
Cabe frisar, todavia, que a linguagem
no mgica: no verdade que basta
falar para que a pessoa seja "naturalmente" curada. Esla fala deve desenvolver-se no interior da relao psicoterpica, deve integrar-se neste trabalho muito
especfico que entre os dois se opera
e nem sempre ele realmente ocorre, sendo a possibilidade da sua ocorrncia condicionada por uma srie de variveis. Estas sero abordadas em outros captulos;
aqui trata-se to-somente de definir o
instrumento da fala, condio sine qtta
non (mas no suficiente) para que alguma elaborao se realize.
A respeito do papel preponderante da
linguagem em psicoterapia, encontramos
cerfas objees que voltam com frequncia. Elas so, muitas vezes, baseadas em
mal-entendidos, ou ento em premissas
ideolgicas representando determinadas
orientaes, no necessariamente de acordo com os objetivos da psicoterapia. Assim o mal-entendido segundo o qual o
trabalho psicoterpico residiria to-somente num "falatrio" ("bater papo"),
onde interviria mais a persuaso ou,
quando muito, reaes de catarse, do que
processos cientificamente fundamentados.
Ou ainda, que o terapeuta que, falando
mais, com insistncia e imposio, che-
ciente seja afetiva, tanto quanto possvel. E ela o ser, se a comunicao entre
ambos se situar realmente ao nvel da
intimidade subjeliva que a relao pscoterpica requer.
Se islo no ocorrer, c que algo est
errado, embora no nos princpios tericos (que j fizeram suas provas, inmeras vezes), mas nas contingncias concretas que presidem o desenrolar deste
ou daquele caso particular. Contingncias ligadas pessoa do terapeuta, ao
paciente, problemtica, ao contexto e,
portanto, questo da indicao teraputica {ver cap. 7), necessitando um
exame aprofundado e certas medidas, como, por exemplo, uma mudana de tcnica ou de terapeuta. Mas no cabe,
por islo, incriminar as caractersticas da
fala humana: nela a expresso emocional
realizvel com facilidade. Ela ocorre
na grande maioria dos casos, onde a relao psicoterpica se instala de modo
a desencadear a comunicao do material subjetivo ntimo. E esta comunicao subjetiva sempre uma comunicao
vivida com muitos afetos, porque toca
os sofrimentos presenles e passados da
pessoa e, com eles, o conjunto de recordaes que perfazem a sua histria
pessoal.
Pois desta que se trata: a histria
do paciente , antes de tudo, a histria
de sua afelivicade; falando de si, dela
que se fala, c quanto mais se aprofunda
o prprio material subjetivo, mais a fala
ser carregada de afetos c emoes e
mais ela ser verdadeira. A verdade da
pessoa, para cuja emergncia o trabalho
pscoterpico se engaja, uma verdade
subjetiva e afeliva, e c pela fala que ela
tocada e se revela nunca totalmente, nunca diretamente, mas em aproxi-
xamo-lo para o final, o que nos possibilita agora rever uma srie de elementos
j discutidos, comparando-os com a pergunta mais fundamental que possamos
(e devemos) nos colocar: por que, para
que fazer psicoerapia?
Reparamos a amplitude da pergunta e
as suas implicaes mltiplas, quando
analisamos as diversas respostas que encontramos na literatura. O tema passvel de iodas as interpretaes, onde se
mesclam facilmente opinies, preconceitos, convices e ideologias, todos eles
imbudos, inevitavelmente, de elementos
subjetivos. No h dvida, alis, que
uma definio objetiva esteja fora de a!cance, porquanto envolve a questo de
valores e, por conseguinte, questes ticas e filosficas. Estas correspondem s
Weltanschauungen, s cosmovises ou
ideologias entre as quais ns todos nos
situamos embora muitas vezes sem
nos darmos conta das nossas escolhas,
das suas razes ou justificaes e das
numerosas influncias, sociais c cullurais, abertas, sutis ou inconscientes que
sofremos e que, de alguma forma, contribuem para nos condicionar.
Sem querer entrar na discusso do livre-arbtrio ou do determinismo temas filosficos interminveis devemos, pelo menos, admitir que as nossas
opes no so totalmente livres nem,
cm seus determinantes, totalmente conscientes; todavia, isto no nos parece ser
um argumento para no ter que assumidas, tentando elucid-las ao mximo e
responsabilizando-nos pelas consequncias que decorrem delas cm suas aplicaes clnicas.
Cabe portanto a cada (futuro) psieoterapeuta optar pela concepo antropolgca que lhe parecer mais pertinente,
escolher uma orientao terica em consonncia com a primeira (bem como com
os seus valores existenciais pessoais), e
definir os objetivos que se pretende (e
que se deixam) atingir pelos mtodos e
tcnicas decorrentes.
92
Em outras palavras, a opo que fazemos tem que ter consistncia interna, e
ao fazc-la temos que saber os riscos que
corremos, a respeito, no caso, do ideal
de uma avaliao "cientfica", isto ,
ohjctiva e generalizvel: se ela no
possvel, cabe desistir do empreendimento ou ento criar critrios que, embora
subjelivos, tenham consistncia interna.
Voltaremos a este problema mais
adiante, discutindo a avaliao dos resultados. Aqui resumimos que, apesar de
todos os empecilhos, o objetivo ideal de
uma transformao ampla da pessoa (ou
de sua "personalidade") deve ser mantido para atingir aquela libertao autntica (embora no mxima) que definimos
acima, e que coincide, em nossa viso,
com a resoluo dos seus conflitos inconscientes, alcanada pelo prprio paciente.
interessante notar que a ideia de
"libertao" da pessoa no prpria
psicoterapia das sociedades ocidentais
modernas. Watts (1974) (25), notadamente, comparando a psicoterapia ocidental
com os procedimentos psicoterpicos
orientais, assinala a proximidade dos objetivos que, em ambos os casos, preconizam uma certa libertao interna.
A definio dessa libertao, no entanto, diverge bastante de um contexto
cultural para outro. As psicoterapias
orientais visam antes de tudo libertar o
esprito dos seus entraves materiais, daqueles que exercem coero sobre o livre
desabrochar espiritual, em consequncia
da ligao limitadora com o prprio corpo e com a realidade material que nos
cerca. Os mtodos e tcnicas utilizados
aqui representam guias para conceder alforria aos acometidos dos males terrestres, mediante a meditao transcendental, a contemplao divina ou xtase
95
mstico. A libertao , portanto, concebida como referente ao peso da existncia material: despertando a orientao espiritual, a pessoa conseguiria livrar-se dos bloqueios decorrentes do seu
condicionamento fsico e atingir esferas
superiores em seu desenvolvimento mental.
O ideal de uma libertao do corpo,
do suporte material da existncia, no
intervm nos objetivos da psicoterapia
ocidental. Nela, pretende-se muito mais
integrar corpo e alma da pessoa, melhorar o ent rosa mento para diminuir (mas
no eliminar) os atritos entre ambos e
chegar assim a solucionar os conflitos
que existem entre estas duas vertentes
da existncia. No mbito ocidental, pois,
a concepo da libertao coaduna-se
com determinados valores, em primeiro
lugar com aqueles ligados pessoa: a
libertao ser aquela de um sujeito cuja
subjetividade e historicidade no so
considerados como obstculos, mas, pelo
contrrio, como valores a serem realados e assumidos para que se aleance uma
integrao mais flexvel e mais livre de
sua personalidade.
A grande maioria dos representantes
ocidentais no considera o prazer do corpo, por exemplo, como um obstculo
para o equilbrio da pessoa ou para o
seu desabrochar espiritual mas, pelo contrrio, como uma condio sitie qua non
para a sua s expanso existencial. Esta
concepo que evidentemente tem
evoludo muito desde a Idade Mdia, e
continua a evoluir determina as diversas orientaes psicoterpicas no Ocidente e faz com que os seus objetivos
gerais acerca da "libertao" tenham um
denominador comum, bastante diferente
daquele vigente no Oriente.
96
ciente, 0 psicoterapeuta e a prpria relao, o processo em que ambos se engajam sejam claramente definidos,
para que o (futuro) psicoterapeuta tenha
plena conscincia das implicaes antropolgicas, psicodinmicas e psicopatolgicas da sua prtica.
No entanto, estas reflexes tericas
devem ser assimiladas pelo aprendiz para, em seguida, serem esquecidas, porquanto a prtica clnica no consiste em
teorizar e nem sequer em aplicaes de
uma teoria preestabelecida; para que a
sua prtica clnica seja autntica e espontnea, sem que seja improvisada, ele
tem que saber o que est fazendo, para
que no se transforme em aprendiz-feiticeiro, criando males maiores do que os
que pretende curar.
A teoria, portanto, dever estar presente de maneira permanente, mas como
um jundo incorporado, assimilado pelo
terapeuta para que possa nutrir-se dele
durante a sua prtica, mas no para que
seja reflctida durante o seu exerccio
profissional. A reflexo terica se processa ento em dois momentos: durante
a formao do futuro psicoterapeuta,
quando toma conhecimento das implicaes amplas da prtica psicoterpica; na
reflexo sobre a sua prtica, quando se
trata de proceder a uma elaborao terica acerca das experincias acumuladas
e dos novos questionamentos que da
surgem.
Os elementos de uma teoria geral da
prtica psicolerpica aqui apresentados
entendem-se pois como um instrumento
til e mesmo indispensvel para esta
prtica c para a pesquisa que dela decorre, sendo que ambas no se deixam
dissociar, se se quer manter um nvel
Bibliografia e notas
. Ver a respeito o livro de FRANK, J. D.
Persuasion and Healing. A comparative
Study of Psychotherapy. (Baltimore & London, John Hopkns Press, 1973), onde O
auior analisa as influncias persuasivas (e
moralizantes) operando em praticamente
todos os processos de cura, opondo-se
"desmoralizao" sofrida pelos pacientes.
2. Desenvolvemos esta ideia num irabatho escrito em. comemorao ao centenrio d;i
"psicologia cientfica: "A Psicologia Cientfica: Realidade ou Mito?", publicado em:
Psicologia, Cincia e Profisso (CFP), 1/1,
pp. 11-37, 1981.
3- Sobre pesquisas em psicoterapia centrada
no cliente, encontra-se amplo material bibliogrfico nas seguintes obras:
HART, J. T. & TOMLINSON. T. M.
(Eds.). New directions in ciient-centered
therapy. Boston, Houghton Mifflin, 1970.
WEXLER, D. A. & RICE, L. N.
(Eds.). Innovationi in clie/it-centered therapy. New York, Wley, 1974.
99
"ao processo atravs do qual se d oportunidade aos clientes de explorarem preocupaes pessoais", com o objetivo de "auxiliar
o indivduo a descobrir os recursos de que
dispe par;i ma vida mais produtiva". Psicoterapia, no entanto, "focaliza processos
inconscientes e preocupa-se com mudanas
na estrutura da personalidade" (pp. 22-23).
Ambas, no entanto, tratam de "crises existenciais particulares", sem referncia psicopatologia nem ao campo clnico. E o
autor acrescenta: "muitas vezes uso estes
termos juntos e s vezes at mesmo tomando um pelo outro".
O aconselhamento, nascido da linha humanista-existencial na psicologia americana,
evita as referncia clnicas e, como aparece
no caso citado, nem as atribui psicoterapa; invocar as crises existenciais como sendo situaes de conflitos onde aparecem as
micro e macropatologias de cada um est
fora de moda, poderia chocar,.. Um outro
trecho da mesma obra deixa islo claro:
"cada vez mais, o aconselhamento e a terapia so encarados como veicuios de aulo-explorao, a fim de assistir pessoas 'normais' na realizao mais plena de suas potencial idades. Minha clientela constituda
sobretudo POT uma populao relativamente sadia..." (p. 19). Tais afirmaes de
um profissional no deixam de chamar a
ateno como se o "anormal", o patplgico no fizesse parte do campo psicolgico e psicoterpico. Podem-se encontrar
exemplos semelhantes em outros trabalhos
sobre aconselhamento.
21. Ver a respeito: ROCHEBLAVE-SPENf.E,
A. M. Psicologia do Conflito. So Paulo,
Livraria Duas Cidades, 1974. A autora
apresenta uma anlise histrica da concepo conflituosa do homem, em linhas
filosficas, psicolgicas e psicanalticas.
22. Ver a respeito: BUCHER, R. O valor
estrutural do "Complexo de dipo". Aller
Jornal de Estudos Psicodintnicos (Braslia) 12/1, pp. 25-44; 1982. Neste trabalho, seguindo as ideias desenvolvidas por
E. ORTIGUF.S no seu "dipo Africano"
(Paris, Plon, 1966), analisamos o complexo de dipo em suas implicaes psicol100
Captulo 4
Captulo 6
O processo psicoterpico
tramos, assim, mais uma vez a importncia da imagem do homem, subjacente ao imenso leque de intervenes realizadas sobre o homem; deixamos para
a reflexo de cada um estimar at que
ponlo estas diversas intervenes respeitam tanto a complexidade quanto a dignidade humanas, provocando aqueles
processos de mudana prelensamentc benficos para e l e . . .
Em seguida, podemos dizer que, no
ser humano, a dinmica dos seus processos psquicos (porque podemos tratar
apenas destes, e no dos processos biolgicos ou sociais, embora interdependentes) pressupe todo o movimento existencial do conjunto histrico de sua vida. Ela est inserida, pois, inevitavelmente, entre os plos ontolgico e nlico de
sua existncia e participa da transitoriedade que o caracteriza como ser finito
e histrico (v. acima, 5.3.). Isto dever
ser levado em conta quanto ao acompanhamento (ou eventualmente direo)
desles processos era psicoterapia. Veremos mais adiante as propriedades desta transitoriedade nas trs fases especficas do seu desenrolar.
Far que haja realmente um processo
na psicoterapia, nos sentidos dinmico,
evolutivo c modificador, esta, sustentamos, tem que se engajar como relao
interpessoal subjeliva. Melhor: esta relao tem que obedecer a certas regras
(mnimas) para que se inicie aquele processo que chamamos (por falta de uma
palavra mais adequada) de "curativo".
Esmiuando, chegamos ento concluso (bvia, mas a ser reafirmada com
fora) de que este processo s ser desencadeado se: 1., se estabelecer uma
relao (psicolgica) entre os participantes que se comunicam; 2, se esta rela-
140
141
pessoa
do
psicoterapeuta, quanto
coterpica.
sua competncia, sua seriedade ou sua
Bem antes de Rogers, a no-dirclivida- reputao. O crescimento desta confiande correspondia pois mudana profun- a no pode ser forado; o terapeuta
da introduzida por Freud, coincidindo tem que merec-la, o que no uma
(ver 3.2.) eom a preocupao por uma questo de seduo, nem de empatia,
aiuao psicoterpica cientfica. At ho- nem de sugesto. Nenhum artefato ser
je, ento, a opo pela abordagem di- capaz de conquistar a confiana de maretiva ou no significa uma opo em neira duradoura; ela ser determinada
termos tericos, antropolgicos e ticos, pela autenticidade da postura do teracom conseqiineias cruciais para a intera- peuta e esta no se deixa adquirir
o entre psicoterapeuta e paciente mediante tcnicas de treinamento, de
consequncias estas que se delineiam j
143
aceitar o outro criadora de uma relao humana autntica, base, como j vislumbramos, de todo processo teraputico verdadeiro. Se h em toda relao
troca de afetos e envolvimento afetivo,
isto se efetua sempre muito mais do paciente para o terapeuta, sendo que este,
para poder dirigir o trabalho dos dois,
tem que controlar a sua prpria afetividade, mesmo que esta esteja tocada profundamente. No se traia pois de "mergulhar fundo" a dois para que haja um
"pleno encontro humano", mas de garantir a assimetria com vistas iniciao de um processo psieoterpico que
confronte o paciente consigo mesmo; ao
invs de querer implementar gratificaes para ambos, a postura do entrevistador-terapeuta responsvel pela implementao de condies de possibilidade
para um futuro trabalho teraputico.
Uma vez assegurada a disposio bsica, faz parte das funes do entrevistador, alem de ouvir atentamente
sem querer faz-lo demonstrativamente,
como para demonstrar que "est disposto" a aceitar tudo - a escuta seletiva,
operando a triagem entre os vrios tipos
de material aos quais j nos referimos.
Assim, a discriminao entre o consciente c o inconsciente, entre o real e a fantasmtico, entre o presente e o passado
indispensvel para discernir a problemtica do paciente, em suas vinculaes
ntimas com sua personalidade c sua histria de vida.
Se esta escuta deve operar ao longo
do processo psieoterpico, ela se reveste
de uma importncia particular nas entrevistas iniciais, pois tem que levar o
entrevistador a um diagnstico, um prognstico e uma indicao teraputica.
A definio da macrotemporalidade
coloca outros problemas, ligados mais
aos objetivos da psicoterapia. Fies dizem
respeito durao global da terapia a
iniciar, questo qual ningum pode
responder com preciso. Com exceo da
terapia breve, o termino da ao teraputica no pode ser previsto, nem pelo
mais experiente psieoterapeuta. Se a pergunta do paciente sobre a durao de
146
147
caro, como entendem alguns. O que determina os preos que o psic o terapeuta
cobra dos seus pacientes, deve ter a ver
com o sen senso de responsabilidade social e com a sua tica, e no com uma
exigncia, construda artificialmente, segundo a qual a terapia "tem que custar
caro". Em nosso entender, pois, o psicolerapeuta deve levar em conta as possibilidades financeiras dos candidatos psicoterapia, isto , deve cobrar honorrios
de maneira flexvel. Dentro de certos limites (uma vez que ele tem que viver
do seu trabalho), necessrio que se
adapte s dificuldades reais dos pacientes sem evidentemente cair no outro
extremo, aquele de oferecer seus servios
gratuitamente ou de se deixar manipular ou chantagear pelos seus pacientes.
Dentro do conjunto da realidade social, o mundo da psicoterapia constitui
uma parcela muito pequena. No se pode esperar dos seus representantes uma
revoluo desta realidade, mas achamos
que o idea! da acessibilidade da psicoerapia a todos deve ser manfido, apesar
de todas as prticas que se inscrevem
contra este ideal.
Pelo menos o psicoterapeuta deve ter
conscincia dos problemas que o cercam, para no afastar toda c qualquer
problemtica social dos seus pacientes,
como se fossem meros pretextos ou elaboraes fantasmticas: nem tudo mundo interno; o mundo externo existe e
faz sentir a sua presena de maneira virulenta, a ponio de impedir muitos candidatos de realizarem sua vontade de ingressar em psicoterapia.
O processo psicoterpico, dissemos
acima, implica um certo sofrimento, do
qual o pagamento evidentemente faz par-
te. Pelo alo de pagar, quitamos as dvidas contratadas com os outros a comear pelos pais, representados, eles tambm, pela figura do terapeuta. Pagar,
portanto, significa no receber de mos
vazias, mas retribuir as ddivas da vida
inteira e inscrev-las no rol das antecedncias assumidas.
Porm, o sofrimento ultrapassa, claro, o ato cie pagar. Angstias, medos e
pnicos mais profundos assaltam o paciente no decorrer do processo psicoterpico. Isto inevitvel se se quer aprofundar a sua problemtica e tocar nos
seus conflitos ntimos. Mas ele tem que
ser preparado para isto, tem que saber
que no uma sinecura que o espera,
que os sintomas possam, inicialmente,
aumentar em intensidade (como podem
fambm, pelo contrrio, desaparecer),
que o processo ser flutuante, com altos
e baixos imprevisveis, e que no se dispe de uma receita tranquila quanto a
um prosseguimento "normal".
A extenso desta preparao que
faz parte da fase inicial e do contrato
varia de um para outro, mas ela deve
corresponder a certas exigncias mnimas para assegurar a entrada no processo. Faz parte deste preparo a instruo para o trabalho a iniciar, necessria aqui tambm em termos mnimos
para que o paciente saiba como situar-se na terapia, o que fazer seja
to-somente naquele sentido cio "dizer
tudo e fazer nada" a que j nos referimos. Como o contedo destas instrues
determinado pela orientao terica de
cada praticante e pelas tcnicas que esta
condiciona, desistimos de apresent-las
aqui em detalhes.
Em outras palavras, a perlaborao pressupe as inleracs no interior desta relao: ela no se pratica sozinha, embora subentenda funes e papis bem
definidos para ambos os atores.
Assim, o paciente que "trabalha" a
sua prpria problemtica para, com o
tempo, chegar a esvaziar a insistncia
repetitiva das formaes oriundas dos
seus conflitos inconscientes. Se o psicoterapeuta participa deste trabalho, cie o
faz de maneira indircta, utilizando certos recursos para incansavelmente relanar o paciente cm sua tarefa de autu-enfrentamento e desvelamcnto.
Entre estes recursos, cabe citar a interpretao, arma capital tanto em
psicanlise quanto em psicolerapia
para superar as resistncias c para provocar o confronto do paciente consigo
mesmo. Em um sentido estrito, a perlaborao seria ento a tarefa especfica
do paciente, em seguida a uma interpretao pertinente, tenha esta sido aceita
ou recusada: em ambos os casos, ela
suscita resistncias, a serem elaboradas,
para que o efeito da interveno ultrapasse a aceitao intelectual ou a recusa
defensiva.
Voltaremos especificidade da interpretao mais adiante. Queremos discutir
aqui algumas junes do psicoierapeuta
que se relacionam diretamente com o
processo e a perlaborao. Em primeiro
lugar, cabe a ele dirigir este processo.
Isto no quer dizer dirigir o paciente,
mas o trabalho efetuado pelos dois. Para isto, ele tem que controlar a distncia
para que seja adequada ao trabalho; tem
que ficar vigilante para que a dependncia do paciente no atrapalhe demasiadamente o prosseguimento do mesmo;
tem que aumentar o apoio, por uma pre-
trolc no sentido de manipulao de determinadas variveis, segundo os procedimentos das tcnicas comportamentais.
De fato, trata-se mais de uma questo
tica do que tcnica, a saber, aquela da
responsabilidade profissional quanto
conduo do tratamento. Se o psicoterapeuta no onipotente para conduzi-lo de modo perfeito, cie tem que saber,
por outro lado, que pode errar, que
existem erros e falhas graves pelos quais
tem que se responsabilizar e que
preciso prevenir, na medida do possvel,
por um senso agudo de autocrtica e de
permanente avaliao da prpria conduta. A superviso por colegas mais experimentados imprescindvel para diminuir ao mximo tais falhas humanas e,
se ocorreram, para tirar lies delas para
o futuro.
Uma outra funo a ser preenchida
pelo terapeuta na fase u*e trabalho, j
foi chamada de "funo de espelho", A
expresso no nos parece muito feliz,
uma vez que evoca o narcisismo e a relao imaginria enganosa. No disto
que se trafa nesta funo, embora toque
dimenso da identificao. Porm, o
paciente no tem que se identificar com
o psicoterapeuta querer induzir isto
seria uma pesada falha tica, pelo fato
de assim se apresentar ao outro como
modelo. O sentido muito mais de o
paciente conseguir se identificar consigo
mesmo atravs da presena do terapeuta, que funciona ento como um espelho
refletindo a imagem do primeiro.
A presena refletora do profissional
deve permitir que o paciente possa refletir sobre si mesmo, adquirindo assim,
aos poucos, no desenrolar do processo
que sempre tambm um processo
identificatrio , maior consistncia e
152
totalitrio), mas visando um ponto limi- a indagar, perguntar, interpretar, expliIndo, cuja compreenso escapa ao pa- car, cortar. .. Em oulras palavras, em
ciente. Levantado o obstculo que, qualquer momento ele tem. que saber o
de fato, pode referir-se tanto prpria que est fazendo, e tem que se responterapia quanto realidade externa , sabilizar pelo que est fazendo.
cabe novamente deixar espao para ouOs momentos decisrios permeiam,
tras funes, ligadas a atitudes mais re- pois, o processo em permanncia. Mas
servadas, mais de expectativa e menos eles se tornam mais cruciais na medida
de interveno.
em que abordam questes de relevo, coIsto significa que "ordinariamente", o mo o corte da sesso, propostas de muterapeuta no se situa em uma posio de dana de ritmo, de frequncia, de hosaber, no intervm afirmativamente, norrio ou at de tipo de terapia (pasno assertivo em suas colocaes, mas sando, por exemplo, para uma terapia
antes de tudo indagativo: questionando de apoio ou, ao contrrio, para uma
o paciente a respeito do material mais psicoterapia mais descobridora).
diverso que levanta, o primeiro tem que
Quanto a intervenes interpretativas,
operar indagaes sulis que levem o de suma importncia julgar a sua oporoutro a so questionar a si mesmo, a se tunidade, julgamento que somente o
perscrutar, ou, melhor ainda, a se tocar prprio psicoterapeuta poder fazer. Asem seus pontos nevrlgicos, colocando sim sendo, ele est totalmente s nesta
assim em movimento novo material as- sua responsabilidade decisria: ningum
sociativo c aproximando-se mais um pou- pode ajud-lo ou substitu-lo, e a ninco dos seus conflitos pessoais.
gum ele pode recorrer (a no ser a posPercebe-se pois que a interveno ex- teriori, na superviso, para prestar conplicativa deve ser uma exceo; seno, ta de sua deciso).
ela corre o risco de fixar o psicoteraEsta solido no tocante s decises a
peula em uma posio de saber (mais
serem
tomadas pode tornar-se uma torou menos imperativo), que pode ser contura,
em
particular para o iniciante, ou
fortvel para ele (ou para ambos), mas
quando
problemas
pessoais o afligem
que corre o risco de paralisar o pro(por
exemplo,
aps
entrada prematura,
cesso.
despreparada, no exerccio da profisso).
Uma quarta funo geral, presente ao
longo da fase de trabalho, refere-se s Ela toca ao mago da dificuldade de ser
decises a serem tomadas pelo respon- psicoterapeuta, por causa da responsabisvel pela direo to tratamento. Isto, lidade intransfervel que marca suas atuamais uma vez, nada tem a ver com dirc- es, mesmo em seus aspectos mais rotitividade. A funo de deciso participa neiros. A entrada na rotina pode aplacar
de todas as intervenes: cm qualquer o que esta responsabilidade tem de tormomento, a respeito de qualquer tipo de turante mas a rotina no deve transinterveno, o psicoterapeuta tem que formar-se em um refgio defensivo para
decidir, em seu foro ntimo, o que vai suportar inquietaes inerentes profisfazer e como vai faz-lo. Pode decidir- so. Estas nunca se deixam totalmente
-se a ficar calado, a falar isso ou aquilo. eliminar, fazendo parte da dignidade hu153
conflitantes. Ela exige, pois, muita cautela e perspiccia, bem como muita pacincia por parte do terapeuta: precipitada, ela no surfir efeito, mas poder
acirrar as oposies e defesas do paciente, capaz de reagir com indignao
diante de certos deslizamentos insinuantes que achar provocantes ou impertinentes.
A interpretao deve ser proposta no
momento oportuno, no momento kairos
a oportunidade sagrada e cheia de
graas da qual falam os gregos mas
para que ocorra, tem que ser preparada
atravs de mil indagaes, questionamenlos e interrogaes. Portanto, ela ser fruto mais do labor contnuo do que
da intuio fulgurante do terapeuta; esta pode ocorrer, mas mais vale no
contar com ela e persistir na tarefa da
perlaborao, at que a interpretao feliz, amadurecida pelo longo trabalho que
precedeu, venha a calhar, apropositada
dentro do contexto evolutivo da conscicnlizao do paciente, sendo para ele
relevante quanto s dificuldades cujas
razes ignora.
No entanto, a interpretao no deve
pretender uma aprovao entusiasta da
parte do paciente: mais importante tocar fundo do que suscitar entusiasmo.
O efeito de uma interveno pertinente
poder surgir "s depois" (12), atravs
de mudanas na conduta da pessoa, atravs de reaes inesperadas, de material
novo que surge, de oposiecs exacerbadas ou, pelo contrrio, de concordncias
livremente consentidas.
A tomada de conscincia, de fato, no
essencial; ela pode ocorrer aos poucos,
muito mais tarde ou nunca. . . Ela no
o critrio decisivo de uma mudana
na estruturao intrapsquica, tendo um
159
As crises durante a psicoterapia podem conhecer outras razes, em particular razes externas. Se no possvel
influenci-las, cabe ficar atenlo sua incidncia na vida intrapsquica e sobre o
Quando falamos aqui em crise, a en"nimo" do paciente; em conformidade tendemos em um sentido diferente dacom as oscilaes dus fatores externos, o quele de Moffat (13) ou de BelJak (14).
terapeuta ter que oscilar na distncia Ns nos referimos a crises durante o traque mantm para com o paciente; ele po- balho psicoerpico, enquanto esles dois
der mesmo ser levado a passar para uma autores se referem a situaes de emerrelao mais de apoio, sabendo que pode gncia, resultantes de crises existenciais
se tratar de uma mudana momentnea internas e/ou externas. Estas exigem
que no implica o abandono dos obje- abordagens especializadas, em cuja distivos inicialmente pautados. De qual- cusso no entramos.
quer forma, ele tem que tentar discriUm quarto e ltimo momento crucial
minar permanentemente os fatores exdurante
o processo psicoterpico diz resternos reais, apresentados pelo paciente
peito
dar quanto ao carter insondvel daquilo que acontece entre ambos os protagonistas, e que no se deixa codificar
satisfatoriamente. Mas ser que preciso codific-lo, explic-lo pormenorizadamente? Em termos de transmisso do
know-how psicoterpico, isto parece desejvel mas nem tudo se deixa transmitir de modo operacionalizado, quando
se trata de seres humanos e de suas
complexidades psquicas e sociais.
Eis mais um dos limites, mas tambm
uma das riquezas do trabalho de psicoterapia, sobre o qual o candidato a este
exerccio profissional deve meditar antes
de fazer as suas opes. Os estudos tericos, as discusses tcnicas e as supervises no incio de sua carreira podero
orient-lo. Mas ele tem que admitir
e tem que correr o risco - de contar, em
primeiro lugar, com a sua prpria pessoa, sem poder recorrer a instrumentos
externos seguros e eficazes em todas as
situaes. E tem que admitir que para
entender o mistrio destes processos, tem
que comear pelo autoquestionamento,
sem nunca poder abrir mo d e l e . . .
Bibliografia e notas
1. Citamos algumas obras sobre entrevistas
psicolgicas em geral:
ASSUMPO, T. M. L. Estruturao da
Entrevista Psicolgica. So Paulo, Ed.
Atlas, 1977.
LODI, J. B. A Entrevhia. Teoria e Prtica. So Paulo, Livraria. Pioneira, 1974.
Rf BEIRO, J. P. Teorias e Tcnicas Psicoterpicas. Pctrpols, Vozes, 1986 (o captulo sexto trata da entrevista).
ZARO, J. & ai. I/itroituiio Prtica Psicoterapuiica. So Paulo, EPU-EDUSP,
1980 {a segunda parte trata da entrevista
clnica).
163
Captulo 7
A questo da indicao
para psicoterapia
164
vida sobre a aceitao plena e incondicional da sua pessoa concreta, o que poder pesar muito no desenrolar futuro da
relao.
Por outro lado, podemos nos questionar se esta "aceitao plena e incondicional" existe, se ela humanamente possvel. Acreditamos que no: ningum
totalmente transparente para si mesmo,
nem totalmente "bom" frente ao outro,
razo pela qual cabe desconfiar tanto da
prpria bonana, no acolhimento aparentemente pleno do paciente, quanto do
prprio egosmo, disfarado sob argumentos mais ou menos astuciosos, quanto
a interesses cientficos ou tcnicos particulares.
Percebe-se que o ideal do procedimento indicatrio consiste em um acordo negociado, levando em conta todos os aspectos acima mencionados. Somente pela
conjugao das consideraes sobre diagnstico, sobre interesse (ou demanda) do
candidato e interesse do psicoterapeuta,
ser possvel promover um processo adequado de indicao e de prognstico e,
por conseguinte, de ingresso {e de prosseguimento) em uma terapia. Sem a interao destes elementos, a indicao ser
enviesada demasiadamente para permitir
um jogo equilibrado entre os diversos enfoques e interesses jogo este que se
prolongar durante toda a psicoterapia e
que deve dispor, desde o incio, de condies timas para desencadear o processo
de elaborao rumo aos objetivos propostos.
Para que esta interao seja efetiva,
claro que elementos essenciais como confiana, simpatia ou at empatia recproca devem estar presentes. Todavia, estes
no se deixam criar artificialmente; se a
tonalidade prevalente de antipatia
cos nunca podem ser discutidos de maneira abstraa, isto , sem referncia
personalidade do paciente, sua motivao e aos fatores secundrios (ver abaixo). Estes elementos juntos fornecem o
relevo concreto de sua problemtica. Se o
diagnstico considera fiel ao modelo
medico unicamente o quadro psicopatolgico, investigado da maneira mais
objetiva possvel, cie insuficiente para
uma indicao adequada; somente o conjunto das variveis que dizem respeito ao
paciente (e no somente sua "doena")
poder nos fornecer uma base mais segura para indicar a psicoterapia que parece
adequar-se mais ao seu caso. Mesmo assim, esta indicao ser sempre conjecturai e nunca objetiva, exata ou precisa.
Erros de indicao, portanto, so sempre
possveis e, de fato, acontecem com frequncia, tambm porque delimitaes ntidas no existem, como j vimos, entre
as diversas formas de psicoterapia.
No obstante, faz sentido discutir as
indicaes prioritrias que decorrem da
considerao da psicopatologia. Iniciamos
pelas neuroses, de longe os quadros mais
frequentes pelos quais se procura psicoterapia. No entanto, cabe distinguir entre
as neuroses atuais (ou traumticas, ou
ainda, as "reaes neurticas") e os conflitos neurticos ("desenvolvimentos neurticos" ou "psiconeuroses").
As primeiras so limitadas no tempo e
obedecem a uma causalidade dircta entre
um evento patogmco ("traumtico"), relativamente circunscrito, e os sintomas
subsequentes, aparecendo logo em seguida quele evento. Tais quadros representam uma boa indicao para breves psicoterapias de apoio, focalizando as reaes
desmedidas quantitativas e/ou qualtati-
ou mais cronificado um quadro neurtico, mais ele requer uma terapia aprofundada e, em geral, prolongada; ao contrrio, formas de terapia que no visam um
aprofundamento da problemtica, ou que
nem sequer se questionam sobre eventuais
conflitos profundos envolvidos, preferindo desenvolver a atuao ao nvel do
"aqui e agora", do corpo, das poteneialidades ignoradas da pessoa, de sua racionalidade inoperante, dos seus sistemas de
interaao deficientes, ou mesmo, smplesmenle, das carncias afetivas apresentadas todas aquelas terapias pois que
trabalham mais a superfcie e os contatos
cotidianos do cliente, podem ser indicadas para o tratamento de problemticas
neurticas no demasiadamente graves,
ou seja, que no hipotecam demasiadamente o funcionamento psquico e a integrao social do portador.
muito comum, hoje em dia, distinguir entre neuroses sintomticas (grandes
histerias, hipocondrias, fobias, neuroses
obsessivas...) e neuroses sem sintomas
caracterizados (neuroses de carter, personalidades neurticas, transtornos de
personalidade. . . ) . As segundas, sem dvida, esto aumentando nas ltimas dcadas, sendo que as mudanas sintomticas exigem tambm mudanas teraputicas, em particular no que diz respeito a
perturbaes narcsicas (5). Contudo, em
nosso entender, as mudanas dos quadros
psicopatolgicos em geral requerem mais
mudanas tcnicas, no interior de formas
psicoterpicas j constitudas, e no tm
repercusses dirctas sobre a questo da
indicao a no ser no sentido, j
mencionado, de eles tenderem cada vez
mais para a cronificao, o que evidentemente afeta tambm a indicao.
169
As jarmacodependncias de todos os
tipos, inclusive de lcool e de fumo, sem
falar dos medicamentos, raramente so
boas indicaes para abordagens "clssicas", isto c, rigidamente estruturadas,
com frequncias e procedimentos ritualizados. Tais pacientes podero chegar a
tais tipos de terapia em uma fase posterior, mas no incio, ser necessrio oferecer-lhes uma assistncia mais envolvente,
mais afetiva do que tcnica sem no entanto perder de vista o objetivo teraputico. Em consequncia das oscilaes da
motivao destes pacientes, as psicoterapias com ou sem perodo de desintoxicao hospitalar raramente lero uma
continuidade drcta, mas sero intermitentes, o que exigir uma grande flexibilidade e disponibilidade da parte do psico(erapeuta().
Diante de conflitos conjugais e familiares, a indicao que se impe, teoricamente, a terapia conjugal ou familiar
se os protagonistas o desejam. Se no h
um consenso a respeito, a psicoterapia recai em geral sobre o membro da famlia
diagnosticado como paciente, em detrimento da interao entre todos os membros ou entre os cnjuges. Cabe ao entrevistador incentivar, quanto possvel, a
aceitao de uma forma de psicoterapia
grupai (de base analtica, sistmica ou
mista), a no ser que os cnjuges
ou outros membros da famlia se pronun-
Se o estado psicopatolgico representa um fator objetivo que pesa na indicao, a motivao se constitu em um
fator subjetivo cuja avaliao decidir
sobre a indicao efetiva. Considerando
somente o primeiro falor, chegaremos a
uma indicao, talvez ideal, mas inevitavelmente abstraa e totalmente insuficiente para engajar uma psicoterapia. Esta,
ningum pode prescrever ou encomendar
para oura pessoa, distncia ou magicamente; o prprio sujeito que tem que
querer faz-la, uma vez que consiste em
um tratamento subjetivo, que o paciente
no recebe, mas faz. A sua motivao ,
portanto, fundamental para uma indicao pertinente e realista.
Em alguns destes casos, porm, possvel suscitar um interesse peli abordagem psicolgica, sensibilizando o paciente para a dimenso intrapsquica e para
eventuais conflitos ali alojados, Como j
frisamos, esta sensibilizao ser facilitada iniciando-se o trabalho com uma abosdagem corporal, na linha do relaxamento;
mesmo assim, no entanto, "Ia ser bem-sucedida somente em uma minoria de casos: a remoo da mera motivao somtica e de sua couraa defensiva uma
tarefa rdua. Como no possvel convencer algum da inadequao de sua
prpria convico, se esla lhe serve para
fins defensivos, faltam instrumentos adequados para mudar a motivao, no senlido de suscitar um interesse ou mesmo
uma demanda por psicoterapia.
prometedor cm psicoterapia. A, o paciente apresenta-se com uma demanda psicolgica muito bem formulada e at superclaborada, mas carece de uma verdadeira
motivao interna, de um "desejo" em
se "submeter" a uma psicoterapia. s vezes, ele quer impressionar o outro com os
seus conhecimentos psicolgicos ou com
proezas de auto-anlise, s vezes quer
francamente competir com o terapeuta,
tentando convenc-lo de dispor de uma
viso adequada ou mesmo perfeita dos
seus prprios conflitos (explicando, por
exemplo, longamente, o complexo de
dipo do qual estaria padecendo. . .).
fi claro, no entanto, que no basta ter
uma viso intelectual ou racionalizada das
prprias dificuldades psicolgicas para
engajar-se em uma terapia, uma \cx que
esta no consiste em uma discusso terica. Em tais casos, aconselhvel fazer
vrias entrevistas para testar a motivao
do sujeito, para descobrir se existe um
desejo pessoal em se questionar e cm desvendar o que a intelectualzao encobre
ou se existe a convico de j dispor
de todas as respostas, tornando qualquer
questionamento suprfluo.
Neste caso, a psicoterapia ser contra-indicada; na primeira eventualidade, a
intelectualizao se deixa contornar ou
neutralizar aos poucos, com um manejo
hbil da relao psicoterpica, mas para
que isto seja possvel, exige-se muita experincia da parte do psicoterapeuta
at para no cair ele mesmo na armadilha
da discusso terica.
Podemos falar de motivao deslocada,
quando a pessoa se apresenta sob presso ou para agradar a uma outra pessoa.
Tais candidatos "querem" fazer psicolerapia, mas nas entrevistas percebe-se que
a motivao superficial, adquirindo al175
guma consistncia apenas em consequncia da ligao afetivu com a pessoa incitadora. Com esta, descobre-se existir
uma dependncia acentuada, problemtica sem dvida a ser trabalhada em terapia, mas que arrisca, por si mesma, impossibilit-la, uma vez que se tem de
colocar em questo o lao de dependncia.
Em tais casos, pois, a demanda no
autntica, mas oriunda da oulra pessoa. Tomando conscincia desta situao
deslocada, o paciente pode chegar a manifestar sua motivao pessoal ou pode
desistir da ideia, at que o parceiro a
inculque novamente. ..
Hm quarto lugar, cabe falar da pseuomotivao, ocorrendo quando a. pessoa
mandada por uma autoridade. Ela aceita,
ento, submeter-se a uma psicoterapia em
obedincia a este mandato, ou simplesmente porque espera obter algumas vantagens com esta sua "docilidade". Porm,
no existe um desejo pessoal em engajar-se em uma terapia ou melhor, aceita-se esta "submisso", mas por interesses que no so passveis de uma elaborao psicoterpica. Esta, tomo j vimos,
no consiste cm uma passividade submissa, razo pela qual, a rigor, ningum "se
submete" a uma psicoterapia, mas a jaz,
aivmente, junto com o psicoterapeuta,
mas tambm, de alguma forma, "diante"'
dele, mas nunca "abaixo1' dele.
No caso de uma pseudomotivao, no
h conflitos psicolgicos reconhecidos,
base indispensvel para uma motivao
pessoa! e uma demanda de terapia. Na
maioria das vezes, tambm no h um sofrimento pessoal; se este existe, ele no
reconhecido, negado ou, ainda, atribudo a outros, seja em suas causas, seja
em seus efeitos. Desta maneira, o ingres174
H duas faixas de idade onde se manifesta uma maior demanda de psicoterapia, a saber, entre 20 e 30 anos, e depois entre 40 e 50 anos. A primeira faixa
corresponde idade onde o jovem adulto
se fixa profissionalmente e afetivamente
Mas, muitas vezes, ao sair de casa e enfrentar o mundo externo, aparecem dificuldades, at a escamoteadas e encobertas pela convivncia familiar. Posto
prova fora da famlia, manifestam-se
ento inseguranas, inibies, desadaptaes e outros sinais de conflitos internos,
oriundos, em particular, de fortes depen-
renciada, para que se inferesse por psieoterapia. Isto diz respeito no riqueza
material, mas riqueza interna, no sentido de dispor daquelas caractersticas cuja
presena indispensvel para possibilitar
uma psicoterapia (v. acima, 3.6.), Esta
diferenciao implica, pois, determinadas
qualidades humanas, pelas quais a pessoa detm capacidade introspectiva e interesse pela dimenso psquica da existncia qualidades estas que independem
da classe social.
De fato, no raro encontrar pessoas
que pertencem populao de baixa renda e que demonstram tais qualidades,
como tambm comum que pessoas
oriundas das classes mdia e alta no as
tenham. A dificuldade maior reside no
acesso dos primeiros s informaes sobre psicoterapia, e em seguida, aos prprios profissionais, para que um desejo
de tratamento possa se concretizar. Percebe-se, desta forma, como importante o
psicoterapeuta no somente trabalhar em
consultrio particular, mas tambm em
instituies (ambulatrio, clnica social,
hospital. . .), para que seus servios sejam acessveis populao menos afortunada. . .(10)
Quanto questo da indicao, o
profissional tem que avaliar o nvel
scio-cultural do paciente com referncia
a esta diferenciao interna, para concluir (ou no) sobre a possibilidade de
uma psicoterapia. Nesta avaliao, inervm aspectos ticos no que tange responsabilidade (social) do terapeuta. Ele
nunca deveria perd-la de vista, embora
no seja possvel regulament-la: cada
um ter que decidir em funo de sua
prpria conscincia, se quiser dar a sua
contribuio melhora da justia social . . .
dificuldade de transformar a compreenso perfeitamente possvel do ma.teria! patognico em aproveitamento pessoal, ao nvel da conduta e de mudanas
mais globais da personalidade.
Se esta dificuldade aumenta com a idade, ela pode estar presente, cm evolues
desfavorveis, j no incio da idade adulta, representando um modo particular de
defesa ("pelo carfer") diante dos prprios conflitos. Da mesma maneira, personalidades egocntricas ou "narcsicas"
encontraro grandes resistncias em aceitar as "regras do jogo", em "entregar" o
seu material mais ntimo, em "entregar-se" no relacionamento psicoterpico
e em se questionar diante do outro, cuja
posio "de superioridade" ressentida
como ofensiva e humilhante...
Estes tipos de personalidade so s
vezes denominados de "egonsntnicos",
no sentido de viver em perfeita sintonia
com o prprio eu. Nestes casos, o conflito defensivo foi de alguma forma assimilado pelo eu, foi-lhe incorporado para
abrandar a oposio entre inconsciente
fonte ou "Sugar" do material conflitante e instncia do eu. Chega-se ento a uma identificao, a uma convivncia ntima com esle material conflituoso,
resultante em uma formao (ou deformao) de carter que dificulta ou mesmo impossibilita a abordagem e a elaborao deste material. Desta maneira, a esfera conflituosa fica bem protegida, c a
procura de uma ajuda teraputica tem,
muitas vezes, mais o sentido de fortalecei'
esta proteo se no para testar, simplesmente, a fora do terapeuta...
*
Bibliografia e notas
1. Para o conjunto desta problemtica, consulta-se tom proveito:
MALAN, D. Psicoterapia Individual e a
Cincia da Psicodinmica. Porto Alegre: