Cibertexto
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Cibertexto:
Perspectivas sobre a Literatura Ergdica*
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| INTERSEMIOSE | Rev ista Dig ita l | A NO II, N. 04 | Ju l / Dez 2013 | ISSN 2316 -316X
Resenha
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Assim, ele constata que o fato da obra ter sido publicada em papel no a impede
de ser ergdica. Com base nesse levantamento de dados, ele reafirma a importncia do
leitor para que se estabelea a diferenciao: podemos definir um texto ergdico como
aquele em que est presente, alm da funo interpretativa obrigatria, pelo menos uma
das quatro funes do utilizador. (AARSETH, 2006, p. 86). Ou seja, para um texto ser
ergdico, o leitor precisa no s interpret-lo, como tambm explor-lo, configur-lo e
mesmo produzi-lo. Dada a importncia dessa funo, o terico noruegus acha por bem
usar o termo utilizador para se referir ao leitor de cibertexto.
No entanto, esse processo ergdico de participao do leitor no implica
necessariamente o enfraquecimento da figura do autor. O grau de influncia do leitor
varia de acordo com o tipo de obra. Nos jogos de aventura, que comearam a se popularizar
l nos anos 1970 e inicialmente sua interface era apenas textual, a participao do leitor
(por mais exploratria que seja) limitada, fica restrita ao roteiro desenvolvido pelo
autor, tendo que cumprir uma sequncia de objetivos pr-estabelecidos. No caso de
jogos do tipo Multi-User Dungeon (MUDs), onde cada jogador cria o seu personagem e
at novos cenrios, a autoria compartilhada, coletiva, fruto da interao entre pessoas
reais em tempo real.
J em sua anlise sobre os geradores de textos, Aarseth aponta para simbiose
entre homens e mquinas, tratando o produto desses programas pelo termo literatura
ciborgue, definido como textos literrios produzidos pela combinao de atividades
humanas e mecnicas. (AARSETH, 2006, p. 159). Nesse ponto, o terico elenca trs
modos de colaborao entre o homem e a mquina: o pr-processamento (quando a
mquina programadas pelo homem), o co-processamento (quando o homem produz
junto com a mquina) e o ps-processamento (quando o homem atua sobre a produo
da mquina, selecionando e editando resultados).
Mais do que problematizar na funo do leitor, Aarseth sugere outras revises
de termos imprecisos, mas comumente incorporados aos estudos de obras eletrnicas
(como no-linearidade, interatividade, virtual e hipertexto), revelando o vis ideolgico
que existe por trs deles e a prtica acrtica na transferncia de termos industriais para
o meio acadmico. Ao atacar essa terminologia, ele pe sob suspeita a condio de
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Joyce, Aarseth aponta para a estrutura aporia-epifania (aporia como a dvida e epifania
como o momento de revelao dessa aporia, dando sentido ao todo) que rege a dinmica
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narrativa das obras ergdicas. Em sua anlise sobre a obra Afternoon, a story de Michael
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