Os Domingos Cinzentos de António Lobo Antunes

Fazer download em doc, pdf ou txt
Fazer download em doc, pdf ou txt
Você está na página 1de 20

Os domingos cinzentos de Antnio Lobo Antunes

Carlos Reis

os romances de antonio lobo antunes so mais difceis que as crnicas


Resumo. Este trabalho procede a uma anlise do Segundo Livro de Crnicas. Nessa
anlise mostra-se que Lobo Antunes cultiva a crnica no (ao contrrio do que afirma)
como um mero exerccio ldico ou comercial, antes fazendo dela um lugar de inscrio
de grandes temas que a vida do escritor e o ofcio do ficcionista (incluindo-se neste a
construo de um universo prprio sempre em movimento) regularmente exibem. Alguns
desses temas: a questo da escrita, tema que confirma o rigor de uma tica da produo
prpria de Lobo Antunes, a evocao da infncia normalmente em conexo com a
presena da famlia, a guerra colonial, a representao de passados traumticos e ainda o
quotidiano, com os seus pequenos dramas, frustraes e protagonistas annimos.

1. Em 2001, o escritor Antnio Lobo Antunes foi convidado a proferir a


conferncia de abertura de um colquio sobre educao, realizado em Lisboa pela
Fundao Calouste Gulbenkian e subordinado ao sisudo tema que deu ttulo ao volume
entretanto j publicado: Espaos de educao, tempos de formao. Ningum
esperaria (eu no esperava), por certo, que Lobo Antunes subscrevesse um texto com a
formalidade e com a organizao sistemtica de uma interveno propriamente
acadmica; e de facto, algumas pessoas (eu tambm), ao verem o programa do colquio,
chegaram a pensar que havia engano e que o Lobo Antunes era outro: Joo Lobo
Antunes, irmo do romancista, neurocirurgio e acadmico prestigiado no meio.
Mas no havia engano. Era mesmo o romancista, que de resto no nos desiludiu,
bem pelo contrrio, exactamente porque essa sua interveno veio a ser um notvel
testemunho pessoal, num registo que quero aqui mencionar, tambm pelos caminhos de
reflexo temtica e metadiscursiva que esse testemunho abre, em relao directa com os

textos de que vou tratar. Intitula-se o depoimento de Lobo Antunes Facas, garfos e
colheres e nele predomina aquilo que remota e matricialmente determina todos os
processos narrativos: a memria. Lembra o escritor, reportando-se ao tempo da sua
primeira escolaridade:
Para tentarem aperfeioar o embrio que eu era, os meus pais colocaram-me
numa escola onde pontificava um grande educador. Era a escola do senhor
Andr. Isto passava-se num bairro perifrico. O senhor Andr era um grande
educador porque era conhecido pelo facto de os alunos dele nunca
reprovarem. E, de facto, nunca reprovavam. E o senhor Andr educou-me o
essencial, ensinou-me o essencial, que era marcar o livro de leitura com
muita fora para, quando no exame da quarta classe o professor me
mandasse abrir, eu abria o livro, caa naquela pgina que eu j tinha
decorado. Era o Alexandre Herculano, um fragmento das Lendas e
Narrativas.Isto era apimentado com largas distribuies de bofetadas e,
de facto, a educao era espantosa. Era feita com uma rgua e ainda hoje sei.
Por exemplo, ele perguntava: As serras do sistema galaico-duriense? e, se
eu ficava calado, ele pegava na rgua e dizia: Penedo, Suajo, Gers,
Larouco, Falperra. E as serras entraram todas na minha cabea.
(Espaos 16)
O registo memorial a que me referi reforado (e expressou-se no momento
prprio) pelo procedimento de pura rememorao sem suporte escrito, eminentemente
coloquial portanto, conforme se percebe no texto que acabo de citar, texto de sabor
quase infantil, extrado de uma gravao e sem reviso pelo autor. O que aqui bem se
percebe so notaes e dominantes que quero sublinhar: a referncia famlia como
entidade tutelar e marcante; a capacidade para descobrir grandes personagens em

obscuras figuras de reteno infantil, como aquele modesto professor primrio, to


modesto mas tambm to decisivo como os que muitos de ns tivemos; a referncia ao
microcosmo da pacata e burguesa periferia urbana da Lisboa dos anos 40; a evocao
dos pequenos gestos e das pequenas artimanhas que temperam a singularidade das
pessoas e dos comportamentos desse estreito mundo burgus e urbano. Tudo isso e de
novo o primado da memria: no foram apenas as serras de Portugal (e os rios e os
caminhos de ferro e as capitais de distrito, como bem sabemos os que ainda fomos
alunos de professores como o senhor Andr), no foram s elas que entraram na cabea
da criana depois escritor. Foi todo esse universo familiar e social de referncia
fundacional, mais tarde projectado nos mundos ficcionais que o escritor construiu e
tambm naqueles outros mundos que com ele confinam: os das crnicas que
regularmente tem publicado nos ltimos anos. delas que quero de novo tratar.
2. Antes, contudo, de centrar a minha ateno no Segundo Livro de Crnicas de
Antnio Lobo Antunes, notarei que a presente exposio decorre de (e relaciona-se
com) uma interveno que me coube fazer num colquio sobre Lobo Antunes realizado
na Universidade de vora, em Novembro de 2002, colquio em que me ocupei da
cronstica at ento publicada em livro: exactamente os textos do Livro de Crnicas, de
1998. Dessa interveno recupero trs noes que dou (pelo menos para mim) por
adquiridas e a que obviamente no voltarei.
Primeira noo: as crnicas de Lobo Antunes traduzem uma clara tendncia para a
interpenetrao de modos discursivos, tornando difcil ou mesmo irrelevante qualquer
destrina modal rgida, bem como a fixao inamovvel no gnero cronstico. Segunda
noo (e sem prejuzo do que ficou dito): as singulares crnicas de Lobo Antunes so
um lugar de expresso mnima mas tensamente concentrada da narratividade, incluindose em muitos textos desta natureza inscries romanescas que a restante obra do autor

confirma, num quadro de expresso literria em que o romance se define como gnero
em contacto directo com o tempo presente. Terceira noo: a escrita narrativa de Lobo
Antunes procede reiterada articulao de dois impulsos que, por natureza e por
tradio literria, postulamos como polarizados. Por um lado, a tendncia para a
acentuada inscrio do que pessoal, autobiogrfico, at mesmo confessional; por outro
lado, o natural recurso a processos e a categorias que servem uma construo narrativa e
ficcional capaz de modelar um universo de objectos, de eventos e de figuras observados
com relativo distanciamento.
Para alm disso, deve ainda ter-se em conta que, em princpio, as crnicas se
apresentam, no contexto da obra j extensa do autor, como textos de circunstncia,
constituindo uma actividade relativamente recente e por assim dizer paralela escrita
ficcional. Por diversas vezes, de resto, o escritor tratou de desqualificar esta actividade.
Fao-as sempre na manh do primeiro Domingo de cada ms, explica Lobo Antunes,
falando da escrita das crnicas a Maria Lusa Blanco; so duas e fao-as s duas num
par de horas mais ou menos. No creio que tenham importncia. As pessoas querem
uma coisa ligeira que no as faa pensar muito, que as divirta um pouco, esse o
esprito dessas crnicas, para mim no tm nenhuma importncia (Blanco 108).
Olhando, entretanto, de forma mais atenta, distanciada e em termos de conjunto,
podemos observar que a experincia da crnica no apenas recente, mas tambm
relativamente regular: na sequncia de uma dzia de romances e quase vinte anos
depois de ter publicado o primeiro desses romances, Lobo Antunes chega crnica e
rene muitas delas no volume Livro de Crnicas; quatro anos depois, em 2002, reincide,
neste Segundo Livro de Crnicas de que me ocuparei. O que parece significar duas
coisas: que, diferentemente de muitos outros escritores, Lobo Antunes vem do romance
para a crnica (e no o contrrio) e que esse ponto de chegada acabou por se impor com

uma regularidade que tambm a do contacto com um pblico muito mais amplo e
talvez mesmo diferente do dos romances, em publicaes peridicas com um certo
prestgio e ampla circulao.
Talvez seja, ento, caso para dizer que a menoridade das crnicas em relao aos
romances ser efectiva no que toca ao investimento do trabalho do escritor, mas no
tanto no que respeita aos seus modos de articulao com o universo romanesco e em
geral com o imaginrio que domina a obra ficcional de Lobo Antunes. Parafraseando o
escritor, direi que os domingos cinzentos [que] desbotam para dentro de ns (Espaos
73) so tambm aqueles em que, por um par de horas, irrompe uma memria (memria
de gente, de emoes, de coisas, de odores, de sabores) que no se esgota na breve
crnica que o autor debita, pois que nela aflora tambm, fragmentria e
momentaneamente, o mundo bem mais complexo e traumtico que os romances
modelizam e revelam. E em harmonia com tudo isso, uma discreta e cada vez mais
intensa ateno formao (melhor: auto-formao) do sujeito-escritor que nos fala,
instalado num lugar progressivamente dominado pela maturidade de uma voz que diz o
passado com ternura e ironia habilmente caldeadas. No tem outro significado o texto
que inicialmente citei, tambm porque ele est prximo do registo da crnica que aqui
me interessa contemplar: em rigor seria nisso que resultaria a evocao da escola do
senhor Andr e do mais que vem depois, se num dos seus domingos cinzentos o
escritor passasse escrita o que apenas lembrou oralmente. No por acaso, a escola do
senhor Andr que fugazmente aflora num dos primeiros textos do Segundo Livro de
Crnicas, esse que abre com estas palavras: O dedo imenso e estpido do professor
primrio a procurar-me entre as carteiras a pretexto dos afluentes da margem esquerda
do Tejo (Segundo Livro 25).

3. Olho mais de perto esta crnica e leio nela linhas de desenvolvimento do mundo
e do discurso cronstico de Lobo Antunes e mesmo, num outro plano, do seu mundo e
discurso ficcionais. Recordao da infncia e das dolorosas aprendizagens que ela
exige, a crnica Quem me assassinou para que eu seja to doce? a breve histria da
perda da inocncia infantil, da gnese remota de uma amargura adulta e renitente, bem
como da fixao irnica de um olhar que percebe no real a dimenso oculta de rostos e
gestos banais que s esse olhar singular de cronista-ficcionista capaz de atingir. Para
alm disso, a lembrana do jardineiro que matava pardais estrangulando-os atrs das
costas a rir-se para mim; a menina por quem me apaixonei aos dez anos, que ia ser
dentista e morreu antes disso (Segundo Livro 25), juntamente com o farmacutico
republicano que aviava receitas a insultar Deus e com a tia professora de piano que
devia ter amado o farmacutico em jovem (Segundo Livro 26-27), tudo por junto
suscita na crnica de Lobo Antunes a afirmao de procedimentos narrativos e
paraficcionais relativamente depurados, designadamente estes dois: a coexistncia de
estratos temporais diferenciados e autnomos, harmonizados no discurso da crnica, e a
difusa constituio de personagens indissociveis de uma vivncia pessoal, levando a
indagar e a questionar o agente daquele crime de lesa-inocncia sobre o qual parece ter
sido formado o escritor adulto e a obra literria que nele conhecemos.
O autor de Quem me assassinou para que eu seja to doce? no j,
evidentemente, um romancista em formao, testando nas crnicas e mesmo
aprendendo nelas a escrita dos romances que ho-de vir. O cronista em simultneo um
romancista consolidado como tal, que na crnica, voluntria ou involuntariamente,
opera uma espcie de descida aos infernos (traumas e perdas, enganos e desenganos),
descida que, por aquilo que nela vai sendo redescoberto, ilumina tambm um processo
que pode ser assim designado: identificao de um escritor com infncia e com famlia

marcantes. essa identificao que as crnicas oferecem aos leitores de Lobo Antunes,
leitores outros relativamente queles que a fico convoca, porque o so em contexto de
recepo cronstica, com tudo o que isso implica de contrato e de cenrio de leitura e
que agora no analisarei.
Falo aqui de identificao de um escritor, tendo bem presente a noo de que este
escritor concreto vive (e parece mesmo deleitar-se com isso) em tenso latente e s
vezes expressa com aquilo a que chamamos instituio literria, com os seus protocolos,
com as suas rotinas e com os seus procedimentos de canonizao. Para bem e
expressivamente resumir aquela tenso conflitual, cito um passo da crnica em que
Lobo Antunes fala dos prmios literrios: lembrando o espanto com que o amigo Jos
Cardoso Pires o via empilhar os trofus na casa de banho (Segundo Livro 24), Lobo
Antunes explica-se:
A casa de banho, prximo da sanita, o nico lugar digno para as recompensas
literrias que em regra, alis, so fessimas: os meus monstros, em exposio no
mrmore do lavatrio, detm um higinico efeito revulsivo. Para ser inteiramente
sincero no os considero meus, mas apenas uma tentativa de me anular adoptandome, conforme fizeram com o pobre Camilo ao nomearem-no visconde de Correia
Botelho. (Segundo Livro 155)
No entrarei agora na tentadora questo de saber qual o alcance efectivo de um to
negativo juzo vindo de um escritor que, de facto, aceitou receber distines e mesmo,
no caso do texto que citei, comparar-se, por causa das ditas distines, com um confrade
j canonizado. E nem tentarei antecipar o que far o mesmo escritor se um dia lhe
conferirem aquele que o prmio dos prmios ou se s o aceitar desde que (como diz)
no me obriguem a dar entrevistas nem a fazer discursos (Segundo Livro 154) coisa
que, no caso do tal prmio, parece difcil de evitar. Em vez disso, trato de relacionar a

auto-conscincia do escritor com a emergncia do passado familiar e das figuras que o


povoam, recuperadas em duas crnicas reunidas em sequncia no volume Segundo
Livro de Crnicas: Isto e Assobiar no escuro.
Na primeira a explicao do nascimento do escritor que abre o texto:
Julgo que me tornei escritor porque em criana o meu pai me curava as
gripes com sonetos em lugar de aspirinas: pela parte da boca que o
cachimbo no ocupava saam ao mesmo tempo fumaas e tercetos cujo
efeito medicinal, somado s papas de linhaa da minha me, me
mergulhavam a pouco e pouco numa espcie de coma rimado, do qual me
no libertei totalmente visto que respondo aos polcias das multas em
alexandrinos contados pelo dedos no capot do carro. (Segundo Livro 121)
Bem vistas as coisas (digo eu), dialogar com polcias de trnsito em alexandrinos
bem metrificados quase o mesmo que empilhar trofus literrios na casa de banho,
vista da sanita. H em ambos os comportamentos uma deliberada (quase calculada)
derrogao de cdigos sociais e culturais, que bem se adivinha na crnica seguinte,
Assobiar no escuro de seu ttulo. O que a est em causa a adopo de um rumo de
vida heterodoxo, divergindo da prudente (imprudente, para o escritor) recomendao
dos pais: Deixa-te de fantasias.
O leit motiv deixa-te de fantasias o anverso de uma atitude de vida (vida
literria) em cujo reverso est a negao da comodidade institucionalizada, negao
traduzida na atitude de assobiar no escuro. O que nesse assobio se adivinha a
esconjurao ainda infantil de fantasmas e de medos subsumidos num sentimento
dominante, a inquietao que acompanha quem foge da ambio de poder e adopta
as pequenas fraquezas onde o prazer se esconde. Escreve Lobo Antunes:

Suponho que a inquietao a diferena entre a realidade e os projectos


sonhados: isso impede-me as tentaes de glria dos intelectuais, ou seja,
entrar sem convite onde no me desejam. Em regra fico um momento no
capacho antes de me ir embora, por desgosto do espectculo: a velhice dos
nados-mortos entristece-me. (Segundo Livro 124)
4. O escritor que assim se identifica aquele que, no tendo seguido o conselho
deixa-te de fantasias, optou por uma tica de escrita mencionada na singular e
felliniana crnica Antnio 56

1/2:

tica de consumo dos outros contrapunha uma

tica de produo, no por qualquer espcie de virtudemas por incompetncia de


utilizar os mecanismos prticos da felicidade (Segundo Livro 18).
Aqum dos mecanismos prticos da felicidade, Antnio Lobo Antunes cultiva a
crnica, no a reduzindo (ao contrrio do que afirma) a um mero exerccio ldico ou
comercial, antes fazendo dela um lugar de inscrio de grandes temas que a vida do
escritor e o ofcio do ficcionista (incluindo-se neste, evidentemente, a construo de um
universo prprio sempre em movimento) regularmente exibem. desses temas que
tenho vindo a aproximar-me: a questo da escrita, tema que confirma o rigor daquela
tica da produo que antes citei, a evocao da infncia normalmente em conexo
com a presena da famlia, a guerra colonial e, em geral, a representao de passados
traumticos, tambm e ainda o quotidiano, com os seus pequenos dramas, frustraes e
protagonistas annimos.
Falo da tematizao da escrita numa acepo que recobre um arco muito amplo de
vivncias e de situaes. No seu ponto mais abrangente, a escrita vem ao texto destas
crnicas como acto que, mais que gesto isolado ou circunstancial, resulta de um grande
projecto de vida, sublinhado como tal em momento de auto-anlise mitigada: a crnica,
j aqui citada, Antnio 56 , no por acaso situada logo em segundo lugar na orgnica

do Segundo Livro de Crnicas, acentua a funda dimenso existencial de uma opo de


vida em que ressoa a infncia obsidiantemente revista (Tardes no jardim, bibes,
triciclos; Segundo Livro 19), com tempo decorrido e ponderado, at ao presente em que
ocorre este maduro distanciamento de quem se v outro; no momento quase final de um
balano que confirma a persistente consagrao de um rduo e sofrido caminho
jogara tudo no acto de escrever (Segundo Livro 17) , o que fica a expectativa tnue
de uma certa permanncia, nos termos de uma conscincia quase romntica da
singularidade do escritor. Com um pouco de sorte, escreve Lobo Antunes, talvez
deixasse atrs de si no um rastro, no a sua sombra, no uma memria: somente aquilo
que, de mais profundo, em si escondia: o que tinha a mais que os restantes (Segundo
Livro 19).
Isso que o escritor tem a mais que os restantes tambm uma relao fsica com
a escrita, resolvida numa luta corpo a corpo com o romance que est a escrever: Nunca
estou a gostar do que escrevo, acho que aquele em que trabalho o mais difcil, acho
que as palavras me derrotam. Frases puxadas como pedras de um poo que no vejo
(Segundo Livro 206). No limite do sofrimento que a escrita implica, quando sente o
plano da histria dinamitado pelos caprichos da minha mo , ento, uma outra mo
(um outro corpo, com afecto e com ternura) que o escritor busca: da tua mo que eu
preciso agora. H momentos, sabes, em que me sinto to cansado, todos estes dias
cheios de palavras que me fogem. Ento penso em ti: Joana (Segundo Livro 205). Por
fim, a nica certeza permitida por esta problematizao metaliterria da escrita a do
recomeo incessante: na crnica (A compaixo do fogo) em que procede amarga
condenao de prmios e honrarias, Antnio Lobo Antunes retoma tambm, em termos
porventura mais consequentes, a imagem de um Ssifo regido por aquela tica de
produo de que fala algures e que no , obviamente, uma produo no sentido

comercial e econmico do termo, porque sobretudo um trabalho de escrita, com a


tcnica que esse labor exige, com a coragem que o escritor convoca e com o
desassombro de uma relao exigente consigo e com os seus leitores:
Olho para as estantes e o que vejo so pequeninos tmulos fechados, com
cadveres l dentro, aos quais me repugna oferecer os jacintos que se
compram no porto a vendedores ambulantes de lgrimas. A minha tarefa
consiste em desfazer livro a livro os tricots que constru, em desmontar os
estados de alma que criei, em jogar para o lixo as esttuas que pretendi que
admirassem, em ser suficientemente corajoso a fim de subverter as leis que
tomei como dogmas, em tomar balano a ps juntos sobre os meus erros,
para chegar mais longe, o que me impede a satisfao da felicidade mas me
reserva a esperana do prazer dos meus leitores. E no existe aqui altrusmo
algum porque no sou um escritor generoso: apenas um homem de orgulho
que julga que ser dotado ir alm do que pode. No estou no mundo para
ajudar os meus admiradores a atravessar a rua. (Segundo Livro 154)
5. Se a escrita modo de vida (e tambm, de um outro ponto de vista, tentativa de
superao da morte), ela tambm, nas crnicas que suscita, instrumento e veculo de
acesso ao grande tema da infncia, que em Lobo Antunes indissocivel das frequentes
menes famlia. J o disse, a propsito do Livro de Crnicas, quando nele notei a
relevncia do universo familiar, do sentido do cl, da casa e do bairro de Benfica, tudo
atravessado pela amargura da nostalgia que o tempo passado e perdido deixa insinuar:
Se calhar sempre noite quando a gente cresce, diz o cronista, quase no final da
crnica em que observa que sempre que vai jantar a casa dos pais sai de l com a
infncia atravessada. E termina: Fico no automvel espera que a minha me me
chame e sabendo que no me chama porque julga que me fui embora. Realmente fui-me

embora. Para sempre (Livro de Crnicas 234). No caso deste Segundo Livro de
Crnicas, a famlia para que remete a infncia sobretudo a imagem dos avs: a av
materna que a dedicatria do volume evoca e o av paterno lembrado em Um silncio
refulgente e em Dia de Santo Antnio. A e tambm noutros momentos, como
recentemente aconteceu no volume Conversaciones con Antnio Lobo Antunes (34 ss.),
famlia e infncia cristalizam tematicamente um mundo de afectos a que o escritor
adulto volta regularmente, conforme acontece tambm no texto (de que j falei) Quem
me assassinou para que eu seja to doce?
Mas importa dizer alguma coisa mais, para alm destas referncias relativamente
objectivas. Importa notar que o passado infantil que nas crnicas emerge vem
superfcie do texto como se resultasse (e resulta efectivamente) de um triplo processo de
evocao-representao, cujos vectores, em meu entender, so os seguintes: o culto da
autognose em jeito de desdobramento do sujeito, o fluxo de uma memria de colorao
proustiana e a fixao interseccionista de estratos autnomos do tempo e do espao
rememorados. Olhe-se de perto a crnica Ol e reconhecer-se- nela, antes de tudo, o
tal impulso para a autognose, provindo de um sujeito em processo de auto-observao
quase pirandelliana: E de manh l ests tu no espelho da casa de banho tua espera,
assim abre o texto. E depois, interrogativamente: Tu esse cabelo, esse nariz, as marcas
sob os olhos? Tu (Segundo Livro 81).
O sujeito que assim se autodescobre aquele que reconhece a perda da infncia
como uma espcie de punio silenciosa para o delito de ter querido crescer depressa; o
consolo possvel para atenuar essa punio a memria dos sabores perdidos que de
repente reaparecem na boca (Aproveita o espelho da barba para te acenares a ti mesmo
e vais ver que o sabor das uvas do senhor vigrio te regressa boca (Segundo Livro
83). E assim, o passado invade o presente, com uma feio de totalidade fragmentada e

de certa forma estranhada que, outra vez de modo interrogativo, conduz


questionao da identidade do escritor:
Agora estou em Nelas, quer dizer voltei a Nelas. O meu passado irrompe
de sbito pelo meu presente, no um passado morto, um passado vivo: est
ali a casa que olhamos do lado de fora, metade da vila mudou e metade no
mudou, reconheo tudo e no reconheo nada. Quem sou eu? Este fortuito
arranjo de elementos que se chama Antnio Lobo Antunes? Esta soma de
partculas, de acasos? (Segundo Livro 82)
O que ficou, afinal, dessa infncia perdida, desse tempo remoto que a amarga
saudade do adulto vai reencontrando de forma estilhaada? Ficaram as feies e as
marcas diludas de gentes, de laos de famlia, de objectos e de vivncias que s pelo
labor da memria podem ser retomados; exactamente a memria que se vai
insinuando no apenas como instrumento de acesso ao tempo perdido, mas j mesmo
como valor dotado de densa significao pessoal. E ficou tambm a belssima imagem
dos olhos cheios de infncia que d ttulo a uma das crnicas, remetendo a
directamente para as raparigas da vida que povoam a Rua Gonalves Crespo, imagem
que o escritor absorve e repete: Escreve olhos cheios de infncia, anda. Assim como
assim talvez te ajude a viver (Segundo Livro 231).
So os olhos cheios de infncia que, lembrando o mundo potico de Alberto
Caeiro e a sua inocncia temperada de sabedoria, determinam e modelam a
caracterizao de um Deus mais drasticamente dessacralizado aqui do que no famoso
poema VIII dO Guardador de Rebanhos: se o Deus de Caeiro era um Menino Jesus
trivializado e, por fim, metfora do viver simples do poeta pastor de sensaes, o Deus
de Lobo Antunes provm do tempo infantil do menino de coro assustado pela igreja
grande, solene, cheia de mistrios e correntes de ar, que me faziam aparentar a religio

a um stio ventoso de onde se saa aos espirros (Segundo Livro 89). Desse tempo
infantil conserva Lobo Antunes a imagem de um Deus derrogado e delineado agora com
os traos de uma banalidade suburbana (como diz o escritor) que directamente remete
para o universo da fico e para a subverso de mitos, de valores civilizacionais e de
referncias histricas que nesse universo ficcional em muitos casos se concretiza. Cito e
chamo a ateno para o efeito desmitificador que a radical irriso traz consigo:
O lado suburbano de Deus desagradava-me e o seu retrato, no livrinho do
catecismo, ampliava o desagrado: um senhor hirsuto, empoleirado numa
nuvem e segurando relmpagos na mo como os electricistas, ao qual
ningum, com um bocadinho de senso, abriria a porta se o encontrasse no
capacho. Era impossvel imagin-lo na sala com a minha famlia: as visitas a
entrarem numa revoada de beijos efusivos, a darem com aquele vagabundo
desleixado, o embarao do meu pai

Apresento-lhe Deus, senhora dona ngela


E depois, ainda no mesmo texto, insistindo no movimento de irriso e

aprofundando a caricatura de um Deus violentamente reduzido precariedade de uma


banal condio humana:
As visitas criticavam-lhe a roupa e o desalinho, sugeriam que se falasse ao
senhor prior numa colecta para lhe arranjar pelo Natal um fatinho decente, o
prior, ainda que subserviente aos ricos e poderosos, argumentava

Gosta de gafanhotos e mel silvestre, o que se lhe h-de fazer


e porque quem come gafanhotos no regula bem da caixa dos pirolitos

sugeria-se o internamento num lar, com empregadas vigorosas e pouco


atreitas a gripes, que servissem a Deus uma sopinha com bastantes couves e
alguma carne. (Segundo Livro 90).

6. Parece evidente, mas ainda assim convm dizer: para alm dos efeitos
corrosivos que esta imagstica de Deus suscita, todo o tratamento da figura divina,
submetida a um nova e perturbante figurao, sugere uma deriva da crnica para o
campo da fico, se que possvel (e em Lobo Antunes no o certamente) erigir
fronteiras ntidas entre o discurso do cronista e o discurso do ficcionista. Por outras
palavras e analisando passo a passo o que aqui est em causa: a crnica Sobre Deus
abre com uma boutade atribuda a Voltaire que, indagado sobre como era a sua relao
com Deus, teria respondido: Cumprimentamo-nos mas no nos falamos; logo depois
entra em cena a ponderao judicativa do cronista: Pela minha parte, no ando longe
disso, dado haver coisas que me parecem to injustas; a seguir a crnica fixa-se, como
tantas vezes acontece, no passado infantil do cronista, ou seja, no tempo do menino de
coro assustado pela igreja e pela religio; por fim o discurso da crnica desliza para o
imaginrio de uma figurao de Deus como prosaico e quase grotesco patro
negligente que, a avaliar pelo p que na igreja se acumulava, no era assim muito
asseado ou ento contratara uma mulher-a-dias incompetente (Segundo Livro 89).
De que fico ou (se preferirmos ser cautelosos) de que projecto de fico se trata
aqui? Tanto quanto me parece, a fico que em diversas crnicas de Antnio Lobo
Antunes se vai articulando e j mesmo brotando a que traduz uma viso do mundo
cptica e asperamente crtica, amargurada e sarcstica, profundamente corrosiva mas
no isenta de laivos de ternura, essa viso do mundo que, nos romances, tem permitido
ao escritor erigir, em clave ficcional, o retrato de um Portugal finissecular, post-colonial
e post-moderno que constitui, ressalvadas obviamente as distncias de registo e de
temas, o equivalente representao do Portugal oitocentista que a Gerao de 70 (e
Ea de Queirs, em particular) nos legou. Um Portugal a que na crnica Ol se chama
Paizinho Portugal. Meu pobre paizinho Portugal (Segundo Livro 82), expresso em

que combinadamente ressoam a sobranceria de um Fradique Mendes expatriado e a


ironia mordaz de um Alexandre ONeill desmistificador das falcias e das fraquezas do
cinzento Portugal salazarista.
H dois temas que, no Segundo Livro de Crnicas, claramente fazem a ligao
para a fico de Lobo Antunes. So esses temas o da guerra colonial, considerada nos
seus efeitos humanos, sociais e genericamente histricos, mais do que como cruel
realidade expressamente representada, e o do quotidiano vivido (ou melhor: sofrido) em
regime de rotina, de monotonia e de silenciosa aceitao de uma certa ordem natural
das coisas. Reencontram-se esses temas em diversos romances de Lobo Antunes:
naqueles que correspondem ao que o escritor chamou, numa entrevista de 1994, o ciclo
das epopeias, com Explicao dos Pssaros, Fado Alexandrino, Auto dos Danados e
As Naus, em que o pas o personagem principal, e nos de um outro ciclo, ilustrado
por Tratado das Paixes da Alma, A Ordem Natural das Coisas e A Morte de Carlos
Gardel,e a que eu chamaria a Trilogia de Benfica (Silva, 1994); nesses romances,
acrescento, e tambm nos subsequentes, ou seja, em Manual dos Inquisidores e nO
Esplendor de Portugal, mas j no, com a expressiva e quase chocante nitidez nos
ltimos e perturbantes textos do escritor, publicados do ano 2000 em diante e que so,
como se sabe, No entres to depressa nessa noite escura e Que farei quando tudo
arde. O que no impede que no Segundo Livro de Crnicas se recupere um texto a
crnica No entres por enquanto nessa noite escura em que fugazmente assomam o
ttulo e a tonalidade temtica (que no a complexidade discursiva) de um daqueles
textos.
A guerra colonial que nalgumas das crnicas reaparece certamente a da misria e
do horror humanos que o jovem alferes-mdico conheceu em Angola, com os seus
conflitos, as suas mutilaes e os seus gestos de bravura e cobardia; mas essa guerra

colonial (que vem a ser, como se sabe, um tema marcante na fico portuguesa das
ltimas dcadas; cf. Simes e Vecchi, 1995; Melo, 1998; Azevedo, 1998; Ribeiro, 1998)
ressurge agora sob o signo de uma memria que estranhamente parece meio obsessiva,
meio teraputica, s vezes e de novo tocada por um lan proustiano: Se for janela,
mesmo em Lisboa, vinte mil hectares de girassol a perder de vista, as pestanas loiras, os
mandris (Segundo Livro 30). dessa memria que defluem uma certa nostalgia e os
correlatos afectos, que so tambm, na sua evidncia, um efeito da linguagem que
suporta o processo de rememorao, como acontece com a carta simples e vigorosa de
um (outrora) furriel, que vem permitir uma pausa no sofrimento do escritor s voltas
com um romance por acabar. Quando chega a carta do furriel Alves um mundo que se
reconstri: e as mangueiras de Marimba desataram a estremecer-me ao comprido no
sangue, diz o escritor em H surpresas assim. E conclui:
Ainda aqui esto, estiveram sempre aqui. Isso e ns dois na enfermaria
improvisada, emocionados com um primeiro choro vitorioso e urgente. Que
sinistros, tocantes, impiedosos, maravilhosos bichos ns ramos. (Segundo
Livro 281)
7. Efeito de linguagem, disse, porque isso mesmo que acontece, tambm nas
crnicas. Por outras palavras: os textos do Segundo Livro de Crnicas no so (como
no eram os do Livro de Crnicas) o registo neutro de factos e de impresses, antes
devem ser encarados como tempestivos episdios de articulao do complexo aparelho
discursivo que Antnio Lobo Antunes rege, com agilidade ou com penosa dificuldade,
pouco importa agora.
Decorrendo nem antes nem depois da escrita ficcional, antes em paralelo e s
vezes em interpenetrao com ela, a escrita cronstica ensaia procedimentos discursivos
que no analisarei agora, j que apenas tratarei de os aflorar: essa uma indagao que

carece de maior e mais sistemtico desenvolvimento. Seja como for, a incurso por
gneros narrativos outros que no a crnica, o recurso a estratgias enunciativas
relativamente elaboradas, a composio textual exigente, a emergncia de categorias
ficcionais ou paraficcionais comparecem nas crnicas a par de uma conscincia
metadiscursiva tambm reiteradamente afirmada. Significa isto que no raro o escritor
tematiza a prpria escrita da crnica, mesmo (ou sobretudo) quando nela se declara um
vazio que h que superar. Por exemplo: H mais de uma hora procura de uma ideia
para esta crnica: no tenho nenhuma (Segundo Livro 93); ou ento: Estou h meia
hora aqui sentado espera que me venham as palavras para esta crnica e nada
(Segundo Livro 105). E contudo, a crnica aparece mesmo, talvez sendo j a outra coisa
que implicitamente se afirma quando, no final de um dos textos que citei o cronista se
interroga: Tornando crnica, o que vou escrever hoje? (Segundo Livro 95).
O nada de onde sai o tudo das crnicas podem ser coisas diferentes, j no textos
cronsticos, mas tambm, as mais das vezes, no ainda textos ficcionais formalmente
acabados. Desse nada que o muito oriundo de uma memria autoral hiperactiva saem
esboos de personagens em movimento, figuras oscilantes entre a factualidade para que
aponta a lembrana ou a observao das pessoas e a ficcionalidade, no raro de
consequncias caricaturais e desrealizantes, por vezes mesmo de colorao surrealista;
desse nada sai tambm recorrentemente a pulso autobiogrfica, no limiar de uma
identificao projectiva entre vida e escrita, que a fico, sua maneira, tambm atesta;
desse nada provm ainda a ironia que atravessa os textos cronsticos e em geral todo o
universo literrio de Antnio Lobo Antunes, uma ironia em que amargura e inocncia
infantil se misturam, conforme pude notar acerca daquela caracterizao de Deus que
no lembraria a Alberto Caeiro; desse nada saem ainda derivaes genolgicas
evidentes, designadamete quando a crnica deixa de o ser para se identificar com o

registo, com a dimenso e at com a ficcionalidade que reconhecemos no conto, coisa


que evidente em textos como Novo ensaio sobre o entendimento humano, Os
Lusadas contados s crianas e Importas-te de me deixar em paz?; desse nada sai,
por fim (mas isto no esgota, evidentemente, outras possibilidades que aqui ficam em
aberto), o anncio temtico e formal do que sero alguns dos romances ou (diz o
escritor) aquilo a que por comodidade chamei romances (Segundo Livro 109), tanto
no plano temtico como no de uma linguagem progressivamente fragmentada e
pluristratificada, em termos temporais e em termos espaciais.
pouco? No . Para textos que se anunciavam e anunciam como obrigaes
cumpridas nas manhs de domingos cinzentos semelhantes aos de algumas das
personagens de Lobo Antunes, no pouco; e no o tambm porque estes textos do
Segundo Livro de Crnicas surgem irreversivelmente tocados pela solitria, persistente
e quase arrogante tica da escrita que Antnio Lobo Antunes proclama e que
enviesadamente reafirma quando se define nestes termos com que termino:
Sou apenas um homem que tenta escrever livros e que sai deles como quem
sai duma doena, admirado por estar vivo, e que de vez em quando se
interroga sobre estas coisas,sem encontrar uma resposta que certamente
tero, muito melhor do que eu. (Espaos 23)

Obras Citadas
Antunes, A. L. Livro de Crnicas. Lisboa: Pub. Dom Quixote, 1998.
---. Facas, garfos e colheres, in A. Prost et alii, Espaos de Educao, Tempos de
Formao. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 2002.
---. Segundo Livro de Crnicas. Lisboa: Pub. Dom Quixote, 2002.
Blanco, M. L. Conversaciones com Antnio Lobo Antunes. Madrid: Ediciones Siruela,
2001.

Melo, J. de (org.). Os anos da guerra. 1961-1975. Os portugueses em frica: crnica,


fico e histria. 2 ed., Lisboa: Pub. Dom Quixote, 1998.
Ribeiro, M. Percursos africanos: a guerra colonial na literatura ps-25 de Abril,
Portuguese Literary and Cultural Studies, 1 (1998): 125-152.
Simes, M. e R. VECCHI (eds.). Delle armi ai garofani. Studi sulla letteratura della
guerra coloniale. Roma: Bulzoni, 1995.
Teixeira, R. de A. A guerra colonial e o romance portugus: agonia e catarse. Lisboa:
Ed. Notcias, 1998.
Carlos Reis (n. em 1950) professor catedrtico da Universidade de Coimbra e especialista em
Literatura Portuguesa dos sculos XIX e XX, sobretudo no domnio dos estudos queirosianos. autor de
cerca de quinze livros, publicados em Portugal, Brasil, Espanha e Alemanha e ensinou em diversas
universidades na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. Coordena a Edio Crtica das Obras de Ea de
Queirs (nove volumes j publicados) e a Histria Crtica da Literatura Portuguesa (seis volumes j
publicados). Entre 1998 e 2002 foi Director da Biblioteca Nacional. Outros cargos: Pr-Reitor para a
Lngua e Cultura Portuguesa da Universidade Aberta (1989-1997); presidente da Associao
Internacional de Lusitanistas (1999-2002); Presidente da Comisso Nacional do Centenrio da Morte de
Ea de Queirs (2000-2001).

Você também pode gostar