Limites Da Voz I e II - Eduardo Sterzi Entrevista Luiz Costa Lima
Limites Da Voz I e II - Eduardo Sterzi Entrevista Luiz Costa Lima
Limites Da Voz I e II - Eduardo Sterzi Entrevista Luiz Costa Lima
CONSELHO EDITORIAL
DOlJJOOr
Jala17!CI
IGaramondl
Reviso
Ana Maria Bernardes, Bianka Barbosa Penha, Clarissa Pcnna,
Elaine Soares Frederico, Fbio Santana Pessanha,
Juliana Caetano, Jun Shimada, Lucia Santalices,
Patrcia Marouvo, Raquel Tavares
Editorao Eletrnica
Estdio Garamond / Luiz Oliveira
Capa
Estdio Garamond / Anderson Leal
Sumrio
Um livro necessrio
Dau Bastos, 7
Nota do entrevistado
Luiz Costa Lima, 47
I. Por que literatura
Lucia Helena, 49
11. Lira e antilira
Haia Moriconi, 63
111. Estruturalismo
e teoria da literatura
10-2552.
("1)1): 92R.I,99
CDU 929821.134.3(81)
Todos os direitos reservados. A reproduo no-autorizada desta publicao, por qualquer meio, seja total ou parcial, constitui violao da Lei n" 9.610/98.
vrrr.
159
Trilogia do controle
Hans Ulrich Gumbrccht, 167
Um livro necessrio
DauBastos
xv
Intervenes
1\ cpgrafe acima fecha o penltimo captulo da Trilogia do controte c, se pauta a viso que Luiz Costa Lima tem do ser humano
intcrlocuo
configurao
do tempo no o confunde
em seu
seu Tristram
comparar-se
XI
e interpretao,
cuja caracterstica
entrelaa-
seria produzir
um sentido temporalizado?
adeptos da afirma-
Exemplo
acrescentaria
que
A ternporalizao
cia do processo
"efetuada
de cognio
do sentido, ao
um matemtico.
assiste, respectivamente,
sujeito individual
ao processo
enquanto
de sagrao
e dissoluo
centro de conhecimento
do
e ordenao
do mundo.
N os Ensaios, o pensador
bem-humorada,
so algumas caractersticas
a agudeza e o carter
e a filosofia.
O eu capaz de produzir
os fundamentos
neizadora
forma e reflexo
sua elevao
necessrios
dos fenmenos.
em Kant
a instncia
hornoge-
Apto a estabelecer
dotado do discernimento
necessrio
encontra
as leis cientficas,
compreenso
da vontade
conectando
suprassensvel.
Acontece
manteve a ambiguidade
da literatura,
primeiros
com excees
tempos,
esterizao.
quanto abordagem
se realizou
sem criticidade,
E aqui encontramos
Schlcgel
portanto
dos
limitada
a interessar
,11
Ii
I
228
229
vivamente Luiz Costa Lima, que j em seu primeiro livro apontava a necessidade de o analista encarar a fruio como importante,
teorizao.
da criticidade.
A entrevista se faz de uma grande quantidade de questes rela-
possveis da fico.
meses depois de retomar ao Rio, meu grande amigo Wolf-Dieter Stempel me telefonou para comunicar-me que havia ganho
previsvel,
porm inevitvel.
No posfcio
da mmesis, voc diz que Limites da voz foi o livro em que mais se
empenhou. Este empenho certamente tem a ver com o lugar que voc esperava
Que o livro ocupasse e a funo Que desejava Que ele exercesse na arquitetura de sua obra. Que lugar e que funo so estas? Ou, dito de outro modo,
como as reflexes e concluses
registradas
no livro se relacionam,
prvias e posteriores
por um
e, por
desafio ao pensamento?
DOLl
230
231
recordo
comentrios,
relativos
um de texto e outro de
da universidade
do Estado, em uma
autores
que j escolhera
como objetos
boldt-Stiftung.
pela generosidade
Apenas
em relao
desde antes,
da Alexander
von Hum-
da bibliografia.
de
Ao escolher
constitudo,
a quem devemos
da modernidade.
a absoluta
por literatura,
formulao
A escolha de Montaigne
terminaria
comearia
e Kant o
do pensamento
sendo fcil: ao
zao do sujeito como eu; incio to inicial que nem seus contemporneos
escapavam
desconfiavam
que os Ensaios
A compreenso
que apresentava,
do trajeto que
a enormidade
do tempo
c euforia. Ao
e variedades
de
agora em sua
232
e depois viria a fazer, diria que esse foi o tempo de minha lua de
Imaginava
os problemas
lapso temporal,
Quando
sen-
definir a literatura
que
permanece
na reedio
declarao
pargrafo,
temporal
abarcada,
muito leitor
ter pensado ou que sou contra os eruditos ou que este era um livro
ligeiro! A culpa foi apenas minha. Embora explicasse razoavelmente
bem o que a formulao
um tratado descritivo
da histria literrio-filosfica
escrever
do sculo XVII
ao comeo do XX -, o modo como o disse continha uma ambiguidade de que no seria poupado.
Por fim, como hoje vejo o empreendimento?
Recomposto
as dificuldades
mel intelectual.
da seo imediatamente
pginas e pginas.
de estar de volta).
Demoro-me
eu tenha voltado
Muito embora
de Kafka,
233
do
a pensar que, se o
que continua sendo feito. Para que seja mais explcito e no dei-
escreveria um texto que, de to curto, seria cabalstico, ou apenas anunciaria o tema "Kant", tratando do primeiro Kant que me
Schlegel e Kafka, parece ser constante e decisivo no livro o embate com outro
Esta avalia-
o lhe parece correta? Se sim, por que Kant, embora central, foi deixado
uma "ordem do mtodo" que j seria, em alguma medida, moderna (com "a
em segundo plano?
Outra vez, a pergunta bastante aguda, embora no tenha pensado nos autores referidos como estrelas secundrias ou, como voc
diz, mscaras. De fato, o embate decisivo veio a ser com Kant. Mas
isso no fez parte de alguma estratgia proposital. Talvez tivesse
dade da persona"). No entanto, como voc mesmo observa, uma ordem "no
234
235
ou terico-literria.
se pode precisar,
desaparecer
Quanto
em abstrato,
ou o Que anuncia
existncia
do mtodo",
com voc
Dante poderia
Questes a partir
v como ocupando
Concordo
ao lado de Boccaccio?
no se constri
a em vias de emergir".
desse intervalo
dessa concordncia.
esse intervalo,
muito consciente
e o plano divino,
Pergunto-me
a Vida
mesmo se Boccaccio
igualmente
para a prosa do
entre ambos.)
estive-
Rabelais,
Montaigne
italianos entre
de partida e no se encontram
algum momento
se se integram no ponto
No
sem a preparao
Iligar, tomo
como participante
alm de Boccaccio,
tambm Petrarca e
humano-terreno
concepo
vidualizada,
indi-
noutra constelao:
os formadores
paradigma
do pensamento
moderno,
com a substituio
de um
Petrarca,
Rabelais e Montaigne?
A vejo os limites de
ento feita
236
apenas a
4. Outra pergunta
relacionada
anterior:
parece-me
sua concepo da
cronolgica,
um intervalo
em que a subs-
237
Pergunto-lhe
da ordem da mmesis e da
temporal,
em Que
em que a elaborava,
uma transio
temporal
cepo de alguma
alternativa
maneira
teleolgica,
se no detcrminista.
Primeira
fenmeno
questo:
se concordo
no haveria
de Kant e, em consequncia,
como matria-prima
mao de um discurso
rninoritrio,
valorativamente
permanece
moderna,
- em opo-
onde, em padro
de
extrema
seriedade:
da experincia
a afirmao
o prprio
de uma subjetividade,
Beckett. Acrescento:
tenha se dedicado
Virginia
no seria interessante
Woolf, Joyce e
pergunto-me
se
a pergunta
e logo reconhecer
que
expresso
Friedrich
Schle-
concreto - recordo
sua apreciao
da
ao esforo de caracterizar
terminaria
por
- ou
que
fosse, automaticamente,
afirmao
ser relevante
para enfrentarmos
restringirmos
negatividade da Lei. Ele nota ainda que essa tenso "que torna a literatura
no apenas possvel como tambm l. ..] necessria". Duas (ou quatro) per-
239
A segunda
a segunda questo: se
histrico-
de sua existncia
5. Wolfgang Iser leu Limites da voz como uma teoria do "surgimento da lite-
238
uma questo de
enquanto
ao problema;
se bastasse
literatura
renunciar
( evidente
diferenciadoras
de mediadora
subjetiva
traposto
no "imitativos"
socializao,
da esttica
se a literatura
que vejo Trurnan Capote, com In Cold Blood (1966), como o conaos clssicos
sujeito.
um
da concepo
a possibilidade
da modernidade.
de sujeito subjetivamente
modernidade,
parece pertinente
a restrio
meta-histrica,
o Mimesis de Aucrbach.
fundamentou
parece mostrar-se
fundada
isto , a correspondncia
uma sociedade
cujas propriedades
negamos
a validade
da imitatio, teremos
textual e
de dizer que o
como se explicaria
essa
como os discursos
seus correspondentes
romanos
passaram
a qual permaneceu
de Pricles e Slon,
o discurso
poltico,
as crnicas
metade do XVIII
da literatura
do conpassava a
do anacronismo.
para
que, sob a sigla de literatura nacional, estude-se hoje quer a literatura grega, quer a romana, quer as modernas,
nada literrios, primrdios.
a fundada na intocabilidade
considere
suficiente.
to: o critrio
Ajustificada
de Estado-nao,
no to chocante quanto
to importante
especialistas
primeiros
romnticos,
tendo Friedrich
Suponho
ticamente
elaborada.
ficcionalidade
outra ques-
desde a abertura
de provocar
uma meta-historicidade
Mas a compreenso
questo da mmesis
de expanso,
A segunda
Em "As expe-
as formas de discursos
fundamentais
constitutivo
constitudas
passveis
- em
de responder
situava aquela que se define pela procura de suspeno tempo. A nfase na iluso como
mente desgastado
das literaturas
nacionais.
ironizada
e questionada.
de suspender
a beleza; preservao
cria problemas
no
apenas
240
que legitimamente
Conhecemos,
para a literatura,
a necessidades
raramente explicitada,
nas belas-letras
de Portugal?
rincias antropolgicas
-, o resto
do
- o sennonrio,
de fins historiogrficos
quer
uma
bsico
quer as renascentistas,
continente
parecia homolgico
a ser tomados
o instrumento
se justificar,
ao rei portugus,
como
de unidade nacional,
submetidas
conscincia
Homero um anacronismo
os romanos
e Gregrio
do conceito
entre a produo
se amoldam
que
de "imitao",
portanto,
semelhante
Tal resposta
241
o tempo
conscientemente
li
nele: refiro-me voz. Salvo engano, h dois nicos pontos no livro em que
de crena religiosa
contravertente
romntica",
na seo "Novalis: a
de enfrentamento
e desnudamento
orientada,
no que parece
do cerne do que
da voz humana, a
cientfico,
um nico parmetro. Saber, portanto, dos limites da voz significa admitir que
que se volta
Complementarmente,
bastante quando encontrei a oportunidade de explicar a razo de seu ttulo. Da a passagem que voc to
se aprofundar na diferena entre a superposio dos critrios retrico e poltico-nacional e o de ficcionalidade. Em consequncia, o
bastantes.
6. H um termo fundamental
(sobretudo
242
teorizado
243
voz simplesmente o que articulas. Sejas sim a voz enquanto manifestao do que, apoderando-se de ti, declara o que trazes em ti
inscrito: The voice
ofangryfear.
/ The voice
do escrevia o Limites.
Limites da voz,
teoria da subjetividade.
Pode-se
244
245
de
Limites
da voz, conserva seu teor de inesperado, sua capacidade de, tambm pela
surpresa que causa aos leitores, levar reorganizao das grades de pen-
samento com que se vinha tratando o assunto. Como o conceito de lei veio
a adquirir para voc a relevncia que tem nesse livro? V pontos de contato
em algum desastroso
entre sua reflexo sobre a lei e reflexes sobre temas conexos de outros
tericos da literatura?
sei
fosse a recada
detcrminismo.
porm algo
o conceito
histria
de "paradigma"
de Thornas
muito de estabelecer
que
Kuhn, mas no
que veio
a adot-Io em
uma descendncia
controle do imaginrio.
Procuro esbo-Ia.
eoncerne
problemtica
do
Essa regulamentao
diversificados:
assume
para um
(at valer para todo um perodo de uma certa cultura), quando ento
lei. O controle do imaginrio
no se estabelece
importantes
simplesmente
feias ou
eom um princpio
de mxima vigncia,
pelos "primeiros
at o realismo inclusive
romnticos",
vigora no romance
tivesse em si dimenses
tambm
(Bezugssystemj
246
A primeira
Benjamin,
formulao
da contraposio
do malogrado
Obviamente,
foi deformada
tcnica"
presa ao ins-
a politizao
quc
que a metafrica
de Machado. Ape-
a politi-
- sem que isso signifique que ele se integre no extremo oposto. Diria
portanto que criticidade
e estetizao
so as situaes terminais de
mais decisivas para o terico e
C--->
lista a possibilidade
procurar
<---E fornece ao terico e ao anade constituir uma espcie de xadrez mental onde
na nota introdutria,
de forma sinttica,
que, introduzindo
e que gostaria
a responder,
ze anos da primeira
edio:
em estetizao?
agora
retrospectivamente,
que se converta
em estetizao
que voltasse
esttica
sem
sem a converter
depende
Por exemplo,
a uma resposta
kantiano da experincia
razovel
pensando
Pensemos,
trgica se realizava.
no lema
os embaixadores
inclusive
em um quadro
do esttico
se penso pontualmente
poltico-financeira
sem
a no converso
em nvel
suponho,
em objeto de estetizao?
terico.
sociopolticas
em que
se dava no momento
em que a supremacia
submetidas
com o pagamento
prestavam
de seus tributos.
vassalagem,
entenderia
A retificao
por estetizao.
de, mantendo-se
fiel ao pensamento
desinteressado".
a frase de Kant
Todo o contrrio,
portanto,
Ludwig
interessados.
sejam diferentes,
O interesse
motivada
por um
desinteressado
por propriedades
do
participassem
do espetculo
deveriam repercutir
teatral. Para
o louvor da potncia
graas e calamidades
resultantes,
como costumam
seno des-
digamos,
manter
polticas
seus cidados
atenienses
atemorizados
era
at a
para a exibio
de
tamanhas tormentas,
um tanto especioso
no se encerra
de Proust sobre a
experincia
tecnicamente
demonstrao
no se confunde
o interesse
desinteressado
Contudo,
cessa rapidamente
porque
nestes casos,
logo penso
trans-
248
suponho
com a cstetizao
embargado
(o que usualmente
envolvido
- que, tomado
249
-, acrescento
que ela
isto ,
e medo"
se toma pas-
podemos
tra-
restringia
desinteressado".
indispensvel
da experincia
no a condio
esttica. Ao contrrio,
de beleza. Possivelmente,
dos foguetes,
decla-
e "estetizao":
ela
do
a pe em cena e a proble-
de
Para que questes deste n vel pudessem ter uma resposta menos
de grupos permanentes
de perguntas
de pes-
e tentativa
de respond-Ias,
Por exemplo,
semntica
semanticamente
possvel,
guiada? Tenha-se
o "Mattina",
o exemplo
de Ungaretti:
M'illumino
D'imenso
Sua "verdade"
no se confundiria
deixar absolutamente
existncia?
com a sensao
e que, no dependente
ou se estabelece
de
em um relance ou
desinteressado",
de um sen-
de ser formulada;
formulao
estvel.
da linha ideal
se reduzem
(1914-1919)
bramento
semntica
fonnulvel,
mais elementar
uma dimenso
se a composio
11. Numa passagem de Limites da voz, voc define a literatura como um "dis-
provisria
que no possua
um foco particula-
abstrao),
matiza". Pergunto-lhe
de abstrao
a estetizao
do reprter da TV norte-americana
da noite atravessada
pois, da proje-
antes de iniciar-se
efeito semanticamente
bombardeio
muito
possvel,
isto , no
com a verdade
camos
na plena estetizao.
12. Uma pergunta relacionada anterior: a reflexo terica de Limites da voz,
mas tambm da maior parte de sua obra, parece valer sobretudo para a prosa.
Como fica a poesia - especialmente
literatura,
subjetividade
251
da mmesis
de valer apenas
destacando,
Elas se resumem
essa suspeita:
mais de
A lembrana
que tenho
prosa. Ser esse um estigma das teorias de algum modo fim dadas
no princpio
do relacionamento
o caminho crti-
no novidade
dessa maior
esteja no reconhecimento
da presena
da Lei e da posio
sua aceitao
sensvel ao controle?
normas controladoras,
isto , melodioso
trai da pequenez
humana.
mais dificilmente
teorizvel,
de apresentar
insuficincia
pela dificuldade
ao controle,
das
de antemo
que representaria
do que pela
emprica
sensivelmente
menores,
Entre as
da mmesis;
por
teoricamente
- isto
de frases "literrias"
de
de Hugo Friedrich
ele beneficiado
respaldada
por apresentar
um panorama
repercusso.
bastante
Era
abrangente
da lrica que hoje mais circula, seno, como j se alegou, por sua
discreta reserva diante dela.
13. A partir das consideraes sobre Friedrich Schlegel, a teoria da literatu-
necessariamente
Rapidamente,
no
perante a subjetividade.
a lrica da modemidade.
Isso
que a
em uma modalidade
modalidades
maior
possvel
que os engendra
acidentes,
at porque no podem
conjunturas
ra, em Limites da voz, parece revelar-se antes de tudo uma teoria da teoria
da literatura, diante da qual a prpria literatura passa a ocupar uma esfera
252
253
literatura
na noo de romance
realizada).
da literatura
coincidem
historicamente
por exemplo,
a produzir
circunscrito
ou a teoria
objetos espectrais,
que no
existentes?
de que estvamos
tratando
sobre Montaigne
confronto
considerados,
do Limites,
puramente
do
me parece
do romance
Couto; tarnpouco
procurava
construir
mostrar a dificuldade
de consti-
conservadoras
colidiam
que
com aquela
semelhantes.
previamente
constitudo.
254
suposio
quanto as modalidades
do potico. No vou
inovadora
em Limites
h outra conjugao
no segundo
captulo,
na interpretao
especialmente
no seguimento
em O processo,
de Schiller,
concluso
exemplarmente
exposta
ao fim-ou-comeo
mais recentemente,
Como
seja quando,
que
j est presente
desintegrar
da
me estender
e literatura,
dis-
s-lo - um gnero
crucial
os exemplos
polesis, to inventiva
dispensou
a hipocri-
vem se deixando
permear
pelo mercado?
A passagem
circunstancial.
referida
ainda
Parece-me
era naquele
que a sensibilidade
a um grupo rninoritrio,
iidische
- escrevo
momento
o hebraico,
levaria
bastante
dcadas
de ln-
ser prpria
de seu
para renascer;
grupo
que absorvia
e seu imediato
da Europa,
a suceder
eu dispunha
desses
ps-guerra,
logo depois
dados,
ainda
Praga, entre si
pela Primeira
preparava
de sua morte
Guerra
a desagregao
prematura.
no sabia arricul-los
externas
255
na lngua
ou "ambulantes".
Se
com o
No
enganos e os desesperos na conduta dos membros de uma comunidade, como a raiz do controle da fico artstico-verbal. Cha-
como tais.
Suponho que as duas coisas. Em seus trs romances, O desaparecido, O processo, O castelo, o experimentalismo kafkiano se
realiza sob a aparncia do relato linear. Diga-se que essa Iinearidade,
mesmo no suposto romance realista de Balzac, era aparente. Estaria
de acordo, no caso de Balzac, com o ensaio que Michel Butor lhe
dedicou. Mas, sendo na verdade aparente ou no, o relato kafkiano
se mostra como linear. Ao mesmo tempo, dentro dessa linearidade
surge o inesperado: o oficial de polcia que bate porta de K.; a sua
obrigao de comparecer ao tribunal sem que deixe de ir ao escritrio em que trabalha; o agrimensor que atende ao pedido do castelo
e luta em vo para ser nele recebido etc. Reunindo os dois traos,
o cotidiano a residncia do corriqueiro e do espantoso. O corriqueiro apenas uma modalidade do espantoso. Assim pensando,
tanto podemos ver Kafka presente em Borges - apenas o espantoso
agora no tem por local a rua, mas a biblioteca, mais precisamente
no as criaturas que caminham mas os entes que nela se abrigam,
os livros, com seus fantasmas, os personagens - como em Beckett,
257
256
----------
de uma presena
de Joycc, de Faulkner
Mas
quase
de qualidade.
e de Musil.
que desconheo?).
interpretaria,
luz do "poder-imagem",
16. Voc termina o captulo sobre Kafka, e o livro que ele encerra, com a
constatao
brasileiro,
planetria"
de que a "insubstancialidade
da lei"
assim, um "poder-imagem",
explcita".
pela insistncia
da
do espetculo"
mas, no plano
Confesso-lhe
Apenas
entrem na competio
loco, da informao
que autores
contra a imagem
instantnea
a respeito.
como os mencionados
a servio
da verdade-se
e outras modalidades
rasteiras de
me permitirem:
pergunto-lhe como
as metforas, os
topoi
A literatura inevitavelmente
s literria),
pela necessidade
bibliogrfico,
caso no me parea
tele-
etc.) dian-
das imagens,
absorver o
esttica (no
da grandeza
do que considero
bastante
Campos.
cil o trabalho
provvel
no submetido
ao trfego
meramente
banalizao,
o de insubmisso
comercial,
bruta,
comercial
e performtica
rebelar.
ignorante
de
aquilo
ra, porque
aumentaria
coca-colas
e as Marilyn Monroes
comercial.
meus inimigos
porque
to
de pintu-
com que
a TV nos imunda.
est sendo usado neste livro porque aqui prefiro uma linguagem mais
a literatura
259
gozao ou como esperta rendio. A alternativa no apresenta uma soluo melhor ou pior. No caso da literatura, a nica
best-sellers
os "acadmicos"
perguntar que espao resta para os que procuram escapar do eurtocircuito meditico. Sei apenas que, na periferia do mono bloco
brasileiro.
ausncia
Nas referncias
de
biblio-
brasileiros?
Ou h interlocutores
terica
No por escolha que reconheo poucos interlocutores nacionais. No cometo alguma falsa delicadeza ao dizer que muitos deles
esto presentes na maioria dos que fazem as perguntas que aqui
respondo. Seria redundante acrescentar que no identifico meus
interlocutores por estarem de acordo com o que tenha escrito.
Pode mesmo suceder que o indagador tenha maior sintonia com o
livro que comentam do que eu mesmo. H portanto interlocutores
ocultos, "para o bem ou para o mal". S me aborrece que os interlocutores para o mal no costumem usar da palavra para enunciar
suas discordncias. Sei que isso no peculiaridade do Brasil ou
dos pases perifricos: mas no deixa de provocar indignao saber
260
261