Resumos Dcii
Resumos Dcii
Resumos Dcii
DIREITO
CONSTITUCIONAL
II
PARTE
I
CONSTITUIO
E
ORGANIZAO:
ESTRUTURAS
INSTITUCIONAIS
CAPTULO
I
DIREITO
CONSTITUCIONAL
ORGANIZACIONAL
INTRODUO
Sentido
material
das
normas
organizatrias
O
direito
constitucional
organizatrio
define-se
como
o
conjunto
de
regras
e
princpios
constitucionais
que
regulam
a
formao
dos
rgos
constitucionais
sobretudo
os
rgo
constitucionais
de
soberania
-,
as
suas
competncias,
funes
e
actividade.
D-se
o
nome
de
direito
organizatrio
formal
e
materialmente
constitucional
s
regras
e
princpios
organizatrios
expressamente
consagrados
na
CRP;
e
direito
organizatrio
materialmente
constitucional
ao
complexo
normativo
relevante
fora
da
Constituio.
Em
que
sentido
podemos
falar
numa
compreenso
material
do
direito
organizatrio?
Hoje
em
dia,
impe-se
uma
compreenso
material
do
direito
organizatrio
no
mbito
da
organizao
do
poder
poltico,
o
que
significa
(1)
o
abandono
do
positivismo
estadual
e
do
correspondente
modelo
de
Estado;
(2)
a
atribuio
de
um
valor
normativo
especfico
aos
preceitos
constitucionais
referentes
organizao;
e
(3)
a
superao
da
dicotomia
entre
constituio
de
direitos
fundamentais,
materialmente
legitimada,
e
constituio
organizatria,
apenas
formalmente
justificada.
Esta
compreenso
material
implica:
(1)
a
articulao
das
competncias
e
funes
com
o
cumprimento
das
tarefas;
(2)
a
considerao
das
normas
organizatrias
como
normas
de
aco,
e
no
meros
preceitos
de
limites
materialmente
vazios;
(3)
a
articulao
das
normas
de
competncia
com
a
ideia
de
responsabilidade
constitucional;
e
(4)
uma
noo
de
controlo
constitucional
que
se
preocupe
tambm
com
as
sanes
polticas
pelo
no-cumprimento
de
tarefas
constitucionais.
Os
conceitos
operatrios
1.
Competncia
Por
competncia
entende-se
o
poder
de
aco
ou
actuao
atribudo
aos
vrios
rgos
e
agentes
constitucionais
com
o
fim
de
prosseguirem
as
tarefas
de
que
so
constitucional
ou
legalmente
incumbidos.
1.1.
Competncias
legislativa,
executiva
e
judicial
A
classificao
clssica
de
competncias,
associada
ao
princpio
da
separao
dos
poderes,
estabelece-se
entre:
Competncia
legislativa
tarefa
de
legislar
(emanar
actos
gerais
e
abstractos).
Atribuda,
na
CRP,
s
Assembleias,
atravs
de
leis,
decretos-lei
e
decretos
legislativos
regionais.
Competncia
executiva
tarefa
de
governar/administrar.
Tem
a
montante
o
poder
poltico
e
pensa-se
num
plano
mais
concreto.
Atribuda,
na
CRP,
ao
Governo
e
ao
Presidente
da
Repblica.
Competncia
judicial
tarefa
de
julgar,
pressupondo
um
litgio
e
sua
resoluo.
Atribuda
aos
tribunais.
1.2.
Competncias
constitucionais
e
legais
Competncias
constitucionais
so
aquelas
que
so
atribudas
pela
CRP.
So
competncias
constitucionais
as
competncias
do
PR,
do
Conselho
de
Estado,
da
AR,
do
Governo,
dos
tribunais
e,
em
especial,
do
TC,
e
das
Regies
Autnomas.
Um
dos
principais
princpios
que
vigoram
nesta
matria
o
princpio
da
indisponibilidade
de
competncias,
ao
qual
est
associado
o
princpio
da
tipicidade
de
competncias.
De
acordo
com
o
primeiro,
as
competncias
constitucionalmente
fixadas
no
podem
ser
transferidas
para
rgos
diferentes
daqueles
a
quem
a
Constituio
os
atribuiu.
De
acordo
com
o
segundo,
as
competncias
dos
rgos
constitucionais
so
apenas
as
1.3.
Competncias
exclusivas,
competncias
concorrentes
e
competncias-quadro
Competncias
exclusivas
competncias
atribudas
a
um
s
rgo.
Competncias
concorrentes
competncias
atribudas,
a
ttulo
igual,
a
vrios
rgos.
Competncias-quadro
fala-se
em
competncia-quadro
quando
existe
um
regime
de
exclusividade
quanto
aos
princpios,
mas
no
quanto
aos
rgos.
Assim,
esta
competncia
atribuda
quanto
definio
de
base
ou
princpios
a
um
rgo
e
quanto
densificao
particularizante
a
outro.
Uma
nota
relativa
aos
arts.
164.
e
165.
-
o
art.
165.
continua
a
pertencer
competncia
exclusiva
da
AR,
sendo
que
o
Governo
apenas
poder
legislar
mediante
a
concesso
de
uma
autorizao
legislativa
da
AR
sob
a
forma
de
lei
reforada,
e
dentro
de
certos
limites,
sob
pena
de
inconstitucionalidade.
No
confundir
com
a
distino
entre
competncia
exclusiva
absoluta,
art.
164.,
e
competncia
exclusiva
relativa,
art.
165..
1.4.
Competncias
implcitas,
competncias
explcitas
e
competncias
no
escritas
Competncias
constitucionais
explcitas
competncias
expressamente
mencionadas
nos
enunciados
lingusticos
das
normas
constitucionais.
Competncias
constitucionais
implcitas
competncias
no
individualizadas
ou
mencionadas
no
texto
constitucional,
mas
que
se
podem
considerar
como
implicitamente
derivadas
das
normas
constitucionais
escritas.
Competncias
no
escritas
competncias
que
no
tm
qualquer
suporte,
mesmo
implcito,
no
texto
constitucional.
aqui
particularmente
relevante
o
princpio
da
conformidade
funcional,
segundo
o
qual
os
rgos
se
devem
manter
no
quadro
de
competncias
delimitado
pela
Constituio,
no
o
devendo
modificar
por
via
interpretativa.
A
doutrina
debate,
a
este
propsito,
a
admissibilidade
de
competncias
no
escritas,
cuja
existncia
incompatvel
com
a
prpria
ideia
de
fora
normativa
da
constituio
(salvo
nos
casos
nos
quais
a
prpria
constituio
autoriza
o
legislador
a
alargar
o
leque
de
competncias).
Contudo,
admissvel
uma
complementao
de
competncias
constitucionais
fala-se
de
competncias
implcitas
complementares,
que
podem
ter
dois
fins
especficos,
o
de
(1)
aprofundar
competncias
e
o
de
(2)
preencher
lacunas
necessrias.
2.
Poderes
A
Constituio
de
1976,
para
alm
de
falar
em
poder
poltico
(cfr.
art.
108.),
utiliza
a
frmula
poderes
no
para
designar
os
poderes
do
Estado,
mas
sim
para
aludir
a
rgos
de
soberania.
Assim,
os
poderes
sero
sistemas
ou
complexos
de
rgos
aos
quais
a
Constituio
atribui
certas
competncias
para
o
exerccio
de
certas
funes.
3.
Funo
O
conceito
de
funo
mais
abrangente
que
o
de
competncia,
e
o
seu
sentido
mais
corrente
o
de
actividade
ou
poder
do
Estado.
Pode
tambm
sugerir
uma
relao
referencial,
reportando-se
a
uma
relao
de
referncia
entre
uma
norma
de
competncia
e
os
fins
dessa
mesma
norma.
O
ponto
de
partida
ser
o
art.
111./2,
que
consagra
o
princpio
da
separao
e
interdependncia
dos
rgos
de
soberania,
que
ser
organicamente
referenciado
e
funcionalmente
orientado.
Assim,
quando
se
fala
em
repartio
de
poderes,
o
que
se
recorta
a
actividade
do
Estado
e
no
o
poder
do
Estado,
resultando
desta
diviso,
no
a
existncia
de
vrios
poderes,
mas
a
existncia
de
funes
diferenciadas.
O
Estado
portugus
concebe-se,
pois,
como
a
ordenao
de
vrias
funes
constitucionalmente
atribudas
aos
vrios
rgos
constitucionais.
So
3
os
modelos
possveis
numa
teoria
constitucionalmente
adequada
das
funes
do
Estado.
3.1.
Modelo
dos
checks
and
balances
Atravs
de
freios
e
contrapesos
recprocos,
os
vrios
poderes
operam,
eles
mesmos,
um
controlo
do
poder,
correspondendo
tradicional
frmula
le
pouvoir
arrte
le
pouvoir.
A
separao
e
interdepenncia
consagrada
no
art.
111.
da
CRP
pressupe
este
modelo.
3.2.
Modelo
do
ncleo
essencial
Aos
rgos
de
soberania
so
confiadas
funes
materialmente
diferentes,
ou
seja,
as
funes
tero
um
ncleo
essencial
que
ser
melhor
exercido
por
um
dado
rgo.
Assim,
este
ncleo
essencial
remete
para
um
campo
de
tarefas
tpico
que
no
pode
ser
deslocado
para
outro
rgo,
violando
o
prprio
princpio
da
separao
de
poderes.
Este
modelo
explica
o
motivo
pelo
qual
se
fala
em
reserva
de
lei,
reserva
de
juiz.
3.3.
Modelo
da
justeza
funcional
Este
modelo
parte
do
princpio
que
a
separao
e
interdependncia
de
poderes
exige
uma
estrutura
orgnica
funcionalmente
adequada,
ou
seja,
a
cada
rgo
de
soberania
atribuda
a
funo
que
ele
pode
desempenhar
de
uma
forma
mais
adequada
ou
da
nica
forma
adequada.
exemplo
a
proibio
de
exerccio
da
funo
docente
pelo
juiz
com
remunerao,
para
evitar
que
este
seja
sujeito
a
presses
que
influenciem
o
exerccio
da
sua
funo
judicial.
4.
Responsabilidade
Para
se
poder
falar
em
responsabilidade
constitucional,
necessrio
que
(1)
se
reconhea
ao
sujeito
dessa
responsabilidade
uma
margem
de
actuao,
(2)
haja
um
vnculo
funcional
que
exija
a
observncia,
por
parte
desse
sujeito,
de
certos
deveres
jurdicos
ou
a
prossecuo
de
certas
tarefas,
e
(3)
que
esta
responsabilidade
se
articule
com
a
existncia
de
sanes
jurdicas.
Podemos
distinguir
3
tipos
de
responsabilidade,
embora
haja
zonas
isentas
de
responsabilidade,
ou
seja,
actos
ilcitos
que
no
desencadeiam
qualquer
tipo
de
responsabilidade.
4.1.
A
responsabilidade
civil
A
responsabilidade
civil
das
entidades
pblicas
gera
um
dever
de
indemnizao
por
danos
patrimoniais
ou
morais,
e
um
trao
cada
vez
maior
do
direito
pblico,
impondo
ao
Estado
um
dever
de
indemnizao
do
lesado.
Este
dever
cessa,
contudo,
quando
culmina
na
prtica
de
um
crime.
Esta
matria
reserva
relativa
da
AR.
4.2.
A
responsabilidade
poltico-criminal
Esta
responsabilidade
uma
responsabilidade
dos
titulares
do
poder
poltico
pela
prtica
de
actos
criminais,
tendo
em
conta
a
incidncia
destes
comportamentos
no
exerccio
do
poder
pblico.
O
Presidente
da
Repblica
pode
ser
responsabilizado
poltico-criminalmente.
4.3.
A
responsabilidade
poltica
em
sentido
amplo
A
responsabilidade
poltica,
aqui
em
sentido
amplo,
um
mecanismo
jurdico-constitucional
que
incide
sobre
o
desvalor
jurdico
e
constitucional
dos
actos
dos
titulares
do
poder
poltico.
Assim,
responsabiliza
a
actuao
geral
e
,
por
isso,
difcil
de
estatuir.
Insere-se
aqui
o
mecanismo
da
moo
de
censura
e
de
confiana
se
o
Parlamento
aprovar
a
primeira
ou
recusar
a
segunda,
o
Governo
cai.
Quanto
destituio
do
PR,
no
existe,
no
nosso
sistema,
um
mecanismo
de
destituio
(ao
contrrio
de
outros
regimes,
como
exemplo
a
Constituio
de
Weimar).
Assim,
o
PR
no
pode
ser
responsabilizado
politicamente.
5.
Procedimento
Apesar
de
no
existir
uma
definio
acabada,
pode-se
definir
procedimento
como
a
prtica
de
um
conjunto
de
actos
que
culminaro
num
acto
final
de
grande
importncia.
O
poder
s
ser
exercido
de
forma
legtima
se
o
procedimento
for
respeitado,
pois
este
ser
juridicamente
adequado
garantia
dos
direitos
fundamentais
e
defesa
dos
princpios
bsicos
do
Estado
de
direito
democrtico.
6.
Tarefa
A
atribuio
de
poderes
e
competncias
feita
para
que
os
rgos
constitucionais
de
soberania
cumpram
certas
misses
as
tarefas
-,
constitucionalmente
definidas.
7.
Controlo
O
controlo
um
correlato
da
responsabilidade,
partindo
da
ideia
de
competncia
e
dos
mecanismos
de
responsabilidade
e
sano.
Deve
distinguir-se
(1)
controlo
primrio
ou
subjectivo,
feito
sobre
os
prprios
sujeitos
orgnicos,
e
(2)
controlo
secundrio
ou
objectivo,
que
incide
sobre
os
actos
dos
rgos.
8.
rgo
O
sentido,
aqui,
de
rgo
o
de
rgo
constitucional
em
sentido
amplo.
Importa
aqui
distinguir
entre
(1)
rgos
constitucionais
de
soberania,
cujas
competncias
esto
reguladas
na
CRP,
e
(2)
rgos
constitucionais
e
autoridades
administrativas
independentes,
que
so
relativamente
recentes
e
existem
para
a
defesa
dos
direitos
fundamentais
ou
para
dados
sectores
de
actividade,
como
exemplo
o
provedor
de
justia.
Desfrutam
de
independncia
orgnica,
funcional
e
social.
9.
Representao
A
representao
poltica,
sob
o
ponto
de
vista
organizatrio-funcional,
traduz-se
num
esuqema
de
seleco
ancorado
na
eleio
dos
governantes,
atravs
do
qual
(1)
se
institui
o
exerccio
do
poder
poltico
e
(2)
se
institui
o
controlo
exercidos
pelos
representados.
No
se
confunde
com
representatividade,
que
se
define
como
a
correspondncia,
real
ou
efectiva,
entre
a
composio
de
um
colgio
(rgo)
representativo
e
os
indivduos
ou
grupos
sociais
dos
quais
expresso.
O
princpio
da
separao
e
interdependncia
dos
rgos
de
soberania
1.
Histria
1.1.
Montesquieu
e
Locke
O
princpio
clssico
da
separao
de
poderes,
entendido
no
seu
sentido
estritamente
poltico,
teve
como
grandes
mentores
Montesquieu
e
Locke.
Estes
autores
desenvolveram
uma
concepo
de
separao
de
poderes
enquanto
faculdade
de
impedir,
visando
impedir
o
despotismo
e
assegurar,
atravs
de
um
pouvoir
moder,
a
possibilidade
concreta
da
liberdade.
Este
princpio
,
pois,
concebido
no
seu
sentido
negativo,
exprimindo
um
compromisso
pragmtico,
constituindo
uma
directa
expresso
da
regra
de
prudncia
poltica
justificada
por
argumentos
de
responsabilizao
e
eficcia.
Montesquieu,
partindo
do
princpio
que
todo
o
homem
que
tem
poder
tem
inclinao
para
abusar
dele,
indo
at
onde
encontra
limites
cest
une
exprience
ternelle
que
toute
homme
qui
a
du
pouvoir
est
port
en
abuser
afirma
que
necessrio
que,
para
que
no
se
abuse
do
poder,
le
pouvoir
arrte
le
pouvoir.
Contudo,
considera
no
bastar
que
o
poder
fosse
apenas
limitado
por
leis,
pois
estas
podem
ser
abolidas,
e,
assim,
visiona
um
sistema
de
pesos
e
contrapesos,
limitando
o
poder
no
interior
do
prprio
poder.
Assim,
o
poder
executivo
deve
ser
confiado
ao
monarca;
o
poder
legislativo
deve
ser
partilhado
pelos
nobres
e
pelo
povo;
e
o
poder
judicial
deve
ser
indivisvel
e
nulo.
J
Locke,
partindo
da
ideia
do
estado
da
natureza,
na
qual
os
homens
possuam
j
um
conjunto
de
direitos
alienveis,
como
a
propriedade
privada,
a
vida
e
a
segurana
social,
constri
um
modelo
de
Estado
liberal
e
eminentemente
limitado,
que
nasce
de
um
contrato
social
na
qual
os
homens
transferem
para
o
Estado
certos
direitos
para
melhor
garantir
esse
outro
conjunto
de
direitos
naturais.
Assim,
necessrio
que
os
poderes
polticos
do
Estado
no
abusassem
da
sua
funo,
atentando
contra
a
liberdade
dos
homens.
Locke
recorre,
pois,
teoria
clssica
da
separao
de
poderes
os
poderes
deveriam
estar
confiados
a
diferentes
mos.
O
legislativo
deveria
estar
entregue
maioria
dos
representantes
do
povo;
distinguindo-se
do
executivo,
pertencente
ao
rei
e
abrangendo
a
administrao
e
a
justia;
e
do
federativo,
relativo
s
relaes
externas.
1.2.
Rousseau
e
Kant
Com
Rousseau
e
Kant,
o
princpio
da
separao
de
poderes
torna-se
um
corolrio
institucional,
livre
de
qualquer
considerao
pragmtica,
da
concepo
moderno-iluminista
da
lei.
Enquanto
norma
geral
e
abstracta,
a
lei
distingue-se
logicamente
tanto
da
execuo
concreta
como
da
aplicao
particular,
e
o
poder
legislativo,
que
s
poder
prescrever
normas
gerais
e
abstractas,
postula,
institucionalmente,
diferentes
poderes
de
execuo
e
aplicao
da
sua
lei
um
poder
executivo
pertencente
ao
governo
e
administrao,
segundo
um
princpio
de
legalidade;
e
um
poder
judicial
com
a
funo
exclusiva
de
aplicao
da
lei
aos
casos
particulares
da
sua
previso
abstracta.
Em
Rousseau,
a
diviso
tripartida
de
poderes
um
corolrio
poltico
da
supremacia
do
poder
legislativo
a
lei,
enquanto
expresso
da
vontade
geral
e
instrumento
nico
de
racionalidade
e
justia,
deveria
determinar
o
mbito
de
actuao
dos
demais
poderes
do
Estado,
o
executivo
e
o
judicial.
Em
Kant,
esta
diviso
justifica-
se
em
termos
puramente
racionais-formais,
em
nome
do
imperativo
categrico
e
de
um
Estado
ideal
ou
autnomo.
Define
Estado
como
a
unio
de
um
conjunto
de
pessoas
sob
leis
jurdicas,
que
assume
a
forma
do
Estado
ideal,
segundo
os
puros
princpios
do
Direito.
Qualquer
Estado
contm
em
si
trs
poderes:
o
poder
soberano,
na
pessoa
do
legislador;
o
poder
executivo,
na
pessoa
do
governante,
em
observncia
lei;
e
o
poder
judicial,
na
pessoa
de
um
juiz,
que
concebe
semelhana
de
um
silogismo.
2.
Dimenses
materiais
do
princpio
2.1.
Como
directiva
fundamental
O
princpio
da
separao
constitui
uma
directiva
fundamental
da
organizao
do
poder
poltico,
sendo
possvel
a
individualizao
de
3
momentos
fundamentais,
(1)
a
separao
de
funes
e
atribuio
das
mesmas
a
diferentes
titulares,
(2)
a
interdependncia
de
funes
e
(3)
o
balano
ou
controlo
das
funes,
com
o
objectivo
de
impedir
o
abuso
do
poder.
2.2.
Como
princpio
histrico
Este
princpio
no
corresponde
a
um
esquema
constitucional
rgido,
mas
sim
a
um
princpio
organizatrio
fundamental.
Como
tal,
deve
ser
perspectivado
como
um
princpio
histrico
(K.
Hesse),
em
contacto
com
uma
ordem
constitucional
concreta
e
em
articulao
com
os
princpios
positivos
nela
vigentes.
2.3.
Orgnico-institucionalmente
referenciado
A
CRP
refere-se
separao
e
interdependncia
dos
rgos
de
soberania.
2.4.
Funcionalmente
orientado
O
princpio
da
separao
e
interdependncia
de
poderes
tambm
um
princpio
de
ordenao
de
competncias
funcionalmente
orientado.
Estas
funes
surgem
como
funes
fundamentais,
sem
qualquer
carcter
de
exclusividade
(K.
Hesse),
pois
aos
rgos
de
soberania
podem
tambm
caber
outras
funes
constitucionais.
2.5.
Adequao
entre
rgos
e
funes
Pode-se
afirmar
que
a
CRP
adoptou
um
esquema
organizatrio
funcionalmente
adequado,
pois,
embora
no
se
exija
uma
equivalncia
total
entre
actividade
orgnica
e
funcional,
a
um
rgo
deve
ser
atribuda
principal
ou
prevalentemente
uma
determinada
funo.
Fala-se,
pois,
de
adequao
funcional,
quando
um
rgo
de
soberania
estruturalmente
idneo
e
adequado
para
o
exerccio
de
funes.
Certos
autores
falam
mesmo,
a
este
propsito,
de
estrutura
orgnica
funcionalmente
justa.
2.6.
Separao
no
plano
pessoal
Este
princpio
desenha-se
tambm
no
plano
pessoal,
conformando,
neste
plano,
um
estatuto
jurdico-
constitucional
especfico
tendente
a
evitar
quaisquer
unies
pessoais
dos
rgos
de
soberania.
Aqui
as
figuras
das
incompatibilidades
dos
deputados,
do
PR
e
do
juiz.
2.7.
Freio,
balano
e
controlo
Esta
dimenso
corresponde
formulao
tradicional
do
princpio
de
separao
de
poderes
teorizado
por
Montesquieu.
A
sua
ideia
de
um
governo
moderado
centrado
no
balano
e
controlo
recproco
de
poderes
conhece
refraces
diferentes
em
vrios
ordenamentos
constitucionais,
mas
os
seus
esquemas
principais
so:
Sistema
de
corresponsabilidades
e
interdependncias
o
exemplo,
no
nosso
constitucionalismo,
da
funo
legislativa
a
no
ser
exclusivamente
desempenhada
pela
AR
por
um
lado,
certos
actos
normativos
carecem
de
assinatura
e
promulgao
do
PR,
e
de
referenda
ministerial;
e,
por
outro
lado,
o
Governo
tambm
pode
exercer
a
funo
legislativa
atravs
de
decretos-leis.
Sistema
de
balano
a
escolha,
nomeao
ou
manuteno
do
cargo
de
um
ou
vrios
titulares
de
rgos
depende
da
manifestao
de
vontade
dos
outros
rgos.
O
exemplo
do
Governo,
cuja
nomeao
depende
da
AR
e
do
PR;
e
da
AR,
que
pode
ser
dissolvida
pelo
PR.
2.8.
A
teoria
do
ncleo
essencial
Apesar
de
se
defender
uma
inexistncia
de
uma
separao
absoluta
de
funes,
afirmando-se
apenas
que
a
uma
funo
corresponde
um
titular
principal,
coloca-se
o
problema
de
saber
se
haver
um
ncleo
essencial
caracterizador
de
uma
funo
e
absolutamente
protegido
pela
Constituio.
Com
efeito,
a
Constituio
consagra
uma
estrutura
orgnica
funcionalmente
adequada,
de
que
legtimo
deduzir
que
os
rgos
especialmente
qualificados
para
o
exerccio
de
certas
funes
no
podem
praticar
actos
que
materialmente
se
aproximam
ou
so
mesmo
caractersticos
de
outras
funes
e
da
competncia
de
outros
rgos.
Ora,
a
teoria
do
ncleo
essencial
defende
que
a
nenhum
rgo
podem
ser
atribudas
funes
das
quais
resulte
o
esvaziamento
das
funes
materiais
especialmente
atribudas
a
outro,
ou
seja,
o
princpio
da
separao
exigir
a
correspondncia
entre
rgo
e
funo,
s
admitindo
excepes
quando
no
for
sacrificado
o
seu
ncleo
essencial.
Este
princpio
assume
manifesto
relevo
na
proibio
do
monismo
de
poder,
como
o
que
resultaria,
por
exemplo,
numa
concentrao
de
plenos
poderes
no
PR;
nas
relaes
entre
Parlamento
e
Governo,
e
na
funo
judicial,
ao
exigir
que
esta
seja
confiada
a
rgos
cujos
titulares
so
juzes
independentes,
irresponsveis
e
inamovveis.
3.
Manifestaes
modernas
do
princpio
3.1.
Repartio
vertical
de
funes
A
repartio
vertical
de
funes
conexiona-se
com
os
problemas
do
federalismo,
da
autonomia
geral
e
da
autonomia
local.
Entre
ns,
assumem
importncia
decisiva
as
estruturas
autnomas
locais
e
regionais,
que
passaram
a
desfrutar
de
uma
legitimidade
pblica
e
democrtica
para
exercerem
funes
normativas,
administrativas
e
at
legislativas,
de
forma
autnoma
dos
rgos
centrais
de
soberania.
A
autonomia
local
e
regional
,
pois,
hoje,
uma
expresso
importante
do
princpio
de
separao
dos
poderes.
3.2.
Repartio
social
Ao
lado
da
repartio
horizontal
e
vertical
de
funes,
fala-se,
por
vezes,
em
repartio
social
de
funes,
para
se
aludir
distribuio
de
poderes
entre
o
Estado
e
outros
titulares
de
poderes
pblicos
no-estaduais
como,
por
exemplo,
as
associaes
sindicais
e
as
comisses
de
trabalhadores.
3.3.
Separao
e
estrutura
partidria
Uma
das
maiores
crticas
ao
princpio
clssico
da
separao
de
poderes
a
sua
desadequao
a
novas
realidades
na
medida
em
que
desconhece
o
fenmeno
partidrio
e
o
dualismo
moderno
maioria-oposio.
Com
efeito,
pode-se
afirma
que,
hoje,
a
verdade
poltico-constitucionl
no
o
dualismo
governo-
parlamento,
mas
sim
a
relao
de
maioria-oposio,
entre
os
partidos
e
coligaes
maioritrios
e
os
partidos
e
coligaes
minoritrios.
Assim,
a
categoria
de
oposio
adquire
um
estatuto
jurdico-
constitucional,
com
grande
relevncia
para
o
problema
da
separao
de
poderes
e
o
problema
do
controlo
e
equilbrio
de
poderes.
Do
ponto
de
vista
poltico-constitucional,
este
confronto
governo-oposio
desdobra-
se
numa
diferenciao
tendencial
entre
(1)
deciso
poltica,
a
cargo
do
governo
e
fraco
ou
fraces
parlamentares
de
duporte,
e
(2)
responsabilidade
e
controlo
polticos,
fundamentalmente
dinamizados
pela
oposio.
2.
3.
4.
O
poder
executivo
detm
a
funo
de
aplicao/execuo
das
regras
no
espao
nacional,
e
cabe
ao
Rei.
O
poder
federativo
desenvolve
as
relaes
externas
e
de
direito
internacional
e
tambm
detido
pela
Coroa.
O
poder
prerrogativo,
tambm
pertencente
ao
Rei,
o
ltimo
dos
poderes
e
consiste
na
tomada
de
decises
em
casos
de
excepo
constitucional
como
guerra
e
estados
de
emergncia.
2.2.
Montesquieu
e
a
separao
dos
poderes
Montesquieu
prope
uma
classificao
das
formas
de
governo
baseada
numa
trilogia,
de
inspirao
marcadamente
clssica,
de
despotismo,
monarquia
e
repblica
(democracia
e
aristocracia),
s
quais
faz
associar
um
princpio
ou
valor
prprio.
A
natureza
do
governo
seria
aquilo
que
o
faz
ser
tal,
enquanto
que
o
princpio
aquilo
que
o
faz
agir.
Assim,
o
princpio
do
governo
monrquico
seria
a
honra;
o
da
aristocracia
seria
a
moderao;
o
da
democracia,
a
virtude;
e
o
do
despotismo,
o
medo.
Contudo,
nenhuma
forma
de
governo
assumida
na
sua
radicalidade,
todos
os
tipos
de
governo
albergam,
num
ou
noutro
ponto,
caractersticas
ou
traos
provenientes
dos
restantes
tipos
o
que
permite
dizer
que,
para
Montesquieu,
a
forma
poltica
ideal
a
politeia,
a
constituio
mista.
A
democracia
definida
como
a
forma
republicana
de
governo
em
que
o
povo
em
corpo
detm
o
soberano
poder.
Porm,
em
vez
de
sustentar,
semelhana
de
Rousseau,
um
Estado
democrtico
baseado
na
igualdade
absoluta,
Montesquieu
defende
a
sua
diviso
em
classes,
advogando
que
o
princpio
da
democracia
se
perde
quando
se
adopta
o
esprito
de
igualdade
extrema,
e
cada
um
quer
ser
igual
queles
que
escolheu
para
o
comandarem.
A
aristocracia,
por
sua
vez,
definida
como
a
forma
republicana
de
governo
em
que
somente
uma
parte
do
povo
tem
o
soberano
poder.
A
monarquia
a
forma
de
governo
preferida
por
Montesquieu,
na
sua
forma
mista
ou
moderada.
Nela
um
s
governa,
segundo
leis
fundamentais,
e
a
sua
natureza
reside
nos
poderes
intermdios
subordinados
e
dependentes.
O
despotismo
o
governo
em
que
um
s,
sem
lei
e
sem
regra,
dirige
tudo
pela
sua
vontade
e
pelos
seus
caprichos.
Mesmo
a,
h
um
poder
que
se
pode
opor
vontade
do
prncipe
a
religio.
Na
descrio
de
todas
estas
formas
de
governo,
encontramos
uma
preocupao
com
o
equilbrio
dos
poderes
sociais,
ou
seja,
com
a
moderao
dos
poderes
polticos
da
constituio
pelo
reconhecimento
e
interveno
de
actores
sociais.
Mesmo
nas
formas
mais
igualitrias,
a
democracia
e
a
aristocracia,
existe
diferenciao
social,
que
justificar
a
necessidade
de
se
encontrar
esse
equilbrio.
Contudo,
no
quadro
poltico
da
monarquia
moderada
que
o
ideal
da
constituio
mista
alcana
uma
realizao
mais
conseguida.
Apesar
do
que
no
escassas
vezes
defendido,
Montesquieu
no
concebeu
uma
rigorosa
e
rgida
separao
dos
poderes,
no
sentido
de
uma
quase
total
independncia
recproca
este
advogava,
antes,
uma
necessria
colaborao
dos
poderes,
que
arrumou
numa
trilogia
que
se
tornou
clssica:
1. O
poder
legislativo
consiste
em
fazer
as
leis
e
corrigir
ou
abrogar
aquelas
que
esto
feitas.
Este
pertence
ao
Parlamento,
que
,
tambm
em
Montesquieu,
bicameral
constitudo
pela
Cmara
Baixa,
eleita
do
povo,
e
pela
Cmara
Alta,
nomeada
da
Nobreza
e
do
Clero.
2. O
poder
executivo
engloba
as
funes
de
direco
poltica
do
Estado,
incluindo
a
funo
federativa,
e
a
de
aplicao
da
lei.
Est
entregue
ao
Monarca,
escolhido
por
sucesso
da
Casa
Real,
e
ao
Governo
e
Administrao,
dos
quais
fazem
parte
membros
da
Nobreza
e
do
Clero.
3. O
poder
de
julgar
consiste
na
actividade
de
punio
de
crimes
e
de
julgamento
dos
diferendos
dos
particulares.
autonomizado
em
relao
teoria
lockiana,
e
confiado
a
tribunais
independentes.
Os
poderes
legislativo
e
executivo
foram
arquitectados
em
profunda
interaco.
O
poder
legislativo
foi
devolvido
a
duas
cmaras,
que
dispunham
da
facult
de
statuer
e
da
facult
dempcher,
controlando-se
mutuamente
pela
sua
recproca
(1)
facult
dempcher,
a
faculdade
de
veto
recproco.
Tais
cmaras,
para
alm
de
produzirem
leis,
tinham
o
(2)
poder
de
controlar
a
execuo
das
mesmas
e
o
poder
de
julgar
os
crimes
polticos
dos
membros
do
Executivo.
Este
poder,
principalmente
a
Cmara
dos
Nobres,
detinha
ainda
o
(3)
poder
moderador.
O
poder
executivo,
interferindo
directamente
com
o
legislativo,
dispunha
do
(4)
poder
de
veto
sobre
as
estatuies
legislativas,
a
par
do
qual
se
assinalava
o
(5)
poder
de
convocar
o
parlamento
e
de
determinar
a
durao
das
suas
assembleias.
Mas
mais
do
que
isto,
Montesquieu
procurou
organizar
um
equilbrio
entre
potncias
ou
corpos
sociais
diversos
de
facto,
quando
se
fala
em
separao
de
poderes,
do
que
se
trata
repartir
esse
poder
pelos
co-titulares
de
soberania,
o
rei,
os
aristocratas
e
o
povo,
os
vrios
estratos
sociais
titulares
da
soberania.
Assim,
quando
nos
fala
em
lei
como
vontade
geral
do
Estado,
esta
vontade
no
a
volont
genrale
de
Rousseau,
mas
sim
a
vontade
reunida
das
foras
sociais
que
compem
o
Estado.
Tudo
seria
perdido
se
o
mesmo
homem,
ou
mesmo
corpo
dos
notveis,
ou
dos
nobres,
ou
do
povo,
exercesse
estes
trs
poderes,
ou
seja,
a
ideia
essencial
de
Montesquieu
no
era
a
de
uma
separao
no
plano
orgnico,
funcional
e
jurdico,
mas
sim
no
plano
social,
pois
s
atravs
do
equilbrio
das
foras
sociais
se
garantiria
a
liberdade
poltica.
Contudo,
o
poder
judicial
retirado
desta
lgica
de
equilbrio
das
foras
sociais.
Este
est
cometido
a
dois
complexos
orgnicos
diferentes:
aos
tribunais,
de
extraco
popular;
e
ao
Corpo
dos
Nobres;
pois
os
nobres
devem
ser
julgados
pelos
nobres,
e
o
povo
pelo
povo
(j
o
Rei,
sagrado
e
inviolvel,
no
poder
ser
julgado).
Assim,
os
juzes
tm
de
ser
da
condio
do
acusado
ou
seus
pares.
Pelo
que
se
pode
concluir
que,
na
constituio
inglesa
de
Montesquieu,
coexistem
duas
ordens
de
jurisdio,
um
de
inspirao
radicalmente
democrtica
e
outro
de
feio
aristocrtica
e
corporativa.
A
primeira
regula
a
actividade
dos
tribunais
populares
e
distingue-se
por
uma
vinculao
estrita
lei,
enquanto
que
a
segunda
confere
ao
Corpo
dos
Nobres
de
proceder,
nas
matrias
jurisdicionais
que
lhe
esto
confiadas,
segundo
critrios
de
equidade,
dispondo
da
autoridade
para
moderar
a
lei
em
favor
da
lei.
Modelos
3.1.
Dualismo
monrquico
A
forma
de
governo
dualista
monrquica-representativa
tem
hoje
valor
histrico,
pois
foi
corresponde
a
uma
fase
transitria,
na
qual
ainda
no
se
tinha
abolido
a
monarquia,
mas
o
poder
executivo
era
j
partilhado
entre
o
monarca
e
os
seus
ministros.
Eram
trs
as
suas
dimenses
fundamentais:
1. Responsabilidade
do
primeiro-ministro
perante
o
rei
e
irresponsabilidade
do
executivo
ou
do
gabinete
em
face
do
parlamento.
2. Controlo
primrio
do
rei
sobre
a
cmara
alta,
nomeadamente
quando
esta
era
fundamentalmente
constituda
por
membros
de
nomeao
rgia.
3. Irresponsabilidade
do
rei,
como
chefe
do
executivo,
perante
o
rgo
representativo-parlamentar.
Esta
forma
de
governo
est
na
origem
da
responsabilidade
dos
ministros
perante
o
parlamento,
pois
estes
comearam
a
revoltar-se
contra
o
facto
de
serem
responsabilizados
por
certos
actos
do
monarca.
Era
este
quem
tinha
o
poder
de
dissolver
o
parlamento
a
dissolution
royale
,
sendo
que
ainda
temos
alguns
vestgios
desta
figura
na
nossa
forma
mista.
3.2.
Parlamentarismo(s)
O
parlamentarismo
tem
origem
no
Reino
Unido
e
nasce
com
a
monarquia
representativa,
que
caracterizada
por
uma
dupla
responsabilidade
dos
ministros,
perante
o
parlamento
e
perante
o
rei,
e
pela
irresponsabilidade
deste
ltimo.
Caracteriza-se
por
uma
relao
flexvel
entre
os
poderes
e
pela
dependncia
do
poder
executivo
do
poder
legislativo,
visto
que
o
parlamento
indispensvel
para
a
subsistncia
do
governo.
A
forma
de
governo
parlamentar
assume
vrias
expresses
concretas,
contudo
podemos
sistematizar
trs
traos
estruturantes:
1. Responsabilidade
do
gabinete
perante
o
parlamento
(e
no
perante
o
chefe
de
estado)
o
gabinete
ou
o
primeiro-ministro
nomeado
pelo
chefe
de
estado,
mas
deve,
antes,
obter
a
confiana
do
parlamento,
havendo
a
obrigao
de
se
demitir
caso
seja
aprovada
uma
moo
de
censura
ou
rejeitada
uma
moo
de
confiana.
2. Dissoluo
do
parlamento
pelo
chefe
de
estado,
sob
proposta
do
gabinete
(primeiro-ministro).
A
dissoluo
feita
por
um
decreto
presidencial
ou
real,
mas
trata-se
de
um
acto
de
iniciativa
do
gabinete,
que
assume
a
responsabilidade
poltica
do
mesmo
atravs
de
referenda.
3. Eleio,
no
caso
de
se
tratar
de
um
regime
republicano,
do
presidente
da
repblica
pelo
parlamento,
um
chefe
de
estado
com
fracos
poderes
mas
com
um
estatuto
de
irresponsabilidade
poltica
perante
o
mesmo.
Este
esquema
aplicvel
aos
regimes
parlamentares
monrquicos
e
republicanos,
com
a
diferena
de
nos
primeiros
no
haver
um
chefe
de
estado
eleito
pelo
parlamento.
Modernamente,
o
regime
parlamentar
passou
a
articular-se
com
a
lgica
maioritria
regime
parlamentar
maioritrio
,
falando-se
de
governo
de
legislatura
quando
um
partido
ou
uma
coligao
consegue
uma
maioria
absoluta.
3.3.
Presidencialismo(s)
Ora,
nos
Estados
Unidos,
tal
regime
era
inconcebvel,
como
tal
os
Founding
Fathers
adoptaram,
aps
a
Declarao
de
Independncia,
uma
forma
de
governo
diferente
do
da
sua
potncia
colonizadora.
Assim,
estes
conceberam
uma
forma
de
governo
presidencial,
cujos
traos
estruturantes
de
podem
sintetizar
nos
seguintes
termos:
-
Separao
de
poderes
O
poder
legislativo,
o
poder
executivo
e
o
poder
judicirio
so
constitucionalmente
consagrados
como
trs
poderes
independentes,
uma
independncia
que
,
desde
logo,
uma
independncia
orgnica
dos
trs
poderes:
Poder
executivo
Presidente
dos
Estados
Unidos,
eleito
por
um
colgio
de
eleitores
para
um
mandato
de
4
anos.
Poder
legislativo
Congresso
dos
Estados
Unidos,
formado
por
um
Senado
e
por
uma
Cmara
dos
Representantes.
Poder
judicirio
Tribunal
Supremo
e
tribunais
inferiores
criados
pelo
Congresso.
-
Legitimao
O
Presidente
da
Repblica
goza
de
uma
legitimidade
quase
directa,
pois
eleito
por
um
colgio
formado
por
grandes
eleitores
em
nmero
igual
ao
de
senadores
e
representantes,
logo,
geralmente,
h
coincidncia
entre
os
votos
dos
populares
e
os
votos
dos
eleitores
(por
este
motivo
se
afirma
que
o
Presidente
tem
legitimidade
directa).
-
Governo
O
Presidente
,
simultaneamente,
o
chefe
do
estado
e
o
chefe
do
governo,
da
a
ausncia
de
gabinete
como
rgo
autnomo
e
a
existncia
de
simples
secretrios
de
Estado.
Assim,
as
funes
desempenhadas
pelo
rei
e
seus
ministros
na
monarquia
representativa
inglesa
so
concentradas
no
Presidente,
falando-se,
assim,
no
monopolismo
do
executivo.
-
Poder
judicirio
Como
Supremo
Tribunal
e
o
instituto
da
judicial
review,
o
poder
judicirio
adquire
grande
importncia,
funcionando
como
um
contra-poder.
-
Controlos
No
existem
controlos
primrios
entre
o
Presidente
e
o
Congresso
o
Presidente
no
tem
poderes
de
dissoluo
das
cmaras
e
estas
no
tm
a
possibilidade
de
aprovar
menes
de
censura
contra
aquele.
O
Governo
irresponsvel
e
o
Parlamento
indissolvel.
Assim,
no
existe
uma
relao
de
confiana
entre
os
poderes
como
no
parlamentarismo,
mas
sim
uma
separao
de
poderes
entre
dois
plos,
o
Presidente
e
o
Congresso.
Contudo,
existem
trs
casos
nos
quais
a
sua
relao
de
interdependncia:
1. A
figura
do
impeachment
uma
figura
mista
de
responsabilidade
poltico-criminal,
que,
se
for
aprovada,
leva
queda
do
Presidente.
Contudo,
uma
figura
controversa
pois
nunca
saiu
do
papel.
2. Direito
de
veto
do
Presidente
de
actos
legislativos
do
Parlamento,
que
pode,
porm,
ser
superado
por
uma
maioria
de
2/3
de
cada
uma
das
cmaras.
3. O
Senado
tem
de
dar
o
seu
assentimento
nomeao
dos
secretrios
de
estado
e
altos
funcionrios
do
executivo.
Alm
destes
esquemas
relacionais,
deve
ter-se
em
conta
o
federalismo,
considerado
um
elemento
central
do
esquema
constitucional
de
separao
de
poderes,
pois
determina
uma
separao
vertical
na
qual
cada
um
dos
estados
dispe
de
um
governo
eleito,
de
um
rgo
poltico-legislativo
e
de
uma
constituio
estadual.
Com
efeito,
na
discusso
entre
os
federalistas
e
os
anti-federalistas,
aquando
da
elaborao
da
Constituio
americana
de
1787,
a
existncia
de
estados
dotados
de
poderes
autnomos
(momento
anti-
federalista)
determinou
a
consagrao
de
um
executivo
forte
(momento
federalista).
3.4.
Directrio
O
directrio
uma
forma
de
governo
muito
especfica
cujo
modelo
paradigmtico
o
modelo
da
Federao
Sua.
Assenta
numa
lgica
de
anulao
do
poder
unipessoal,
atribuindo
as
funes
unipessoais
a
um
rgo
colegial,
o
directrio.
Os
traos
estruturais
deste
modelo
podem
sintetizar-se
da
seguinte
forma:
1. Existncia
de
um
directrio,
ou
seja,
de
um
executivo
colegial
eleito
pelo
parlamento
por
um
perodo
de
quatro
anos.
2. Inexistncia
de
um
chefe
de
estado
autnomo,
pois
as
funes
deste
so
exercidas
pelo
directrio,
limitando-se
o
chamado
Presidente
da
Confederao
a
presidir
s
sesses
daquele
rgo.
3. O
Directrio
irrevogvel,
pois
no
pode
ser
demitido
atravs
de
votos
ou
moes
de
censura
do
parlamento
federal.
Por
sua
vez,
o
Directrio
no
pode
dissolver
o
Parlamento
(bicameral).
3.5.
Regime
misto
parlamentar-presidencial
um
regime
de
base
parlamentar,
que
vai
buscar
algumas
caractersticas
do
regime
presidencial,
e
que
encontramos
em
Portugal.
Eis
os
traos
estruturais
das
formas
de
governo
parlamentares-presidenciais:
1. Existncia
de
dois
rgos
eleitos
por
sufrgio
directo,
o
presidente
da
repblica
e
o
parlamento.
2. Dupla
responsabilidade
do
governo,
perante
o
presidente
da
repblica
e
perante
o
governo.
3. Dissoluo
do
parlamento
por
deciso
e
iniciativa
autnomas
do
presidente
da
repblica.
4. Configurao
do
gabinete
como
rgo
constitucional
autnomo.
5. Presidente
da
repblica
com
poderes
de
direco
poltica
prprios.
A
frmula
semi-presidencialismo,
utilizada
frequentemente
para
designar
o
regime
misto
parlamentar-
presidencial,
,
porm,
na
sua
designao
pura,
um
modelo
francs.
Este
nasceu
com
a
Constituio
francesa
de
1958
e
foi
teorizado
por
Maurisse
Duverger.
Contudo,
a
sua
origem
remonta
Constituio
de
Weimar
e
proclamao
da
forma
republicana
na
Alemanha,
que
veio
consagrar
o
sufrgio
directo
do
Presidente.
Contudo,
como
este
regime
possibilitou
a
ascenso
de
Hitler
ao
poder,
alguns
autores
mostram-se
relutantes
em
afirmar
esta
origem
do
semi-presidencialismo.
CAPTULO
III
O
CASO
PORTUGUS:
REGIME
MISTO
PARLAMENTAR-PRESIDENCIAL
As
razes
do
sistema
1.
Traos
de
memria
interna
A
forma
de
governo
da
CRP
obedece
a
duas
preocupaes
essenciais
da
revoluo
do
25
de
Abril
nesta
matria,
a
de
(1)
restaurar
a
posio
preeminente
da
assembleia
representativa
e
a
dimenso
parlamentar
da
responsabilidade
do
governo
perante
a
assembleia,
sem
todavia
reeditar
a
verso
dogmtica
de
1911,
e
(2)
restabelecer
a
eleio
directa
do
Presidente
da
Repblica,
consagrada
na
Constituio
de
1933
e
eliminada
na
reviso
de
1959,
sem,
porm,
lhe
atribuir
os
poderes
exorbitantes
que
lhe
eram
conferidos
nessa
constituio.
Assim,
a
forma
de
governo
a
definir
haveria,
pois,
de
mover-se
entre
esses
dois
limites:
por
um
lado,
um
governo
politicamente
responsvel
perante
a
assembleia,
sem
todavia
ficar
merc
de
fceis
derrotas
parlamentares;
e,
por
outro,
um
Presidente
da
Repblica
eleito
por
sufrgio
directo,
dotado
de
poderes
prprios,
embora
sem
ser
chefe
do
executivo.
A
principal
alterao
estrutural
introduzida
pela
CRP
foi,
pois,
tornar
o
Governo
dependente
tambm
da
Assembleia,
devolvendo
ao
sistema
a
componente
parlamentar
que
tinha
sido
suprimida
em
1933.
2.
Traos
de
memria
externa
Estas
preocupaes
iam
ao
encontro
de
ideias
e
experincias
de
outros
pases
europeus,
que
se
cristalizaram
em
duas
verses
moderadas
distintas,
(1)
o
parlamentarismo
racionalizado
segundo
o
esquema
alemo
da
Constituio
de
Weimar
de
1919,
e
(2)
o
semipresidencialismo
da
Constituio
francesa
de
1959.
Verifica-se
a
presena
de
elementos
oriundos
do
parlamentarismo
racionalizado
no
esquema
das
relaes
entre
o
Governo
e
a
Assembleia
nomeadamente
quanto
ao
regime
de
responsabilidade
daquele
perante
esta;
e
a
influncia
do
semipresidencialismo,
consubstanciada
na
existncia
de
um
Presidente
da
Repblica
directamente
eleito,
perante
quem
o
Governo
igualmente
responsvel,
e
que
tem
o
poder
de
dissoluo
da
Assembleia.
3.
Racionalizao
da
forma
de
governo
Os
traos
da
memria
converteram-se
em
parmetros
de
racionalizao,
que
incidiram
em
duas
reas
distintas
no
campo
da
relao
de
dependncia
do
Governo
face
Assembleia,
e
na
criao
de
um
segundo
plo
autnomo
de
poder
ao
lado
do
Parlamento,
o
Presidente
da
Repblica,
igualmente
eleito
por
sufrgio
directo
e
por
forma
a
contrabalanar
a
dependncia
parlamentar
do
Governo.
Assim,
podemos
identificar
vrios
momentos
de
racionalizao
do
sistema
de
governo
parlamentar:
1. A
reformulao
da
posio
do
Governo
face
Assembleia,
atravs
de
instrumentos
prticos
que
reforcem
a
posio
daquele,
atravs
(1)
do
regime
de
formao
do
Governo,
(2)
do
seu
processo
de
formao
e
(3)
da
disciplina
do
voto
de
desconfiana.
2. A
autonomizao
do
Presidente
da
Repblica
como
rgo
constitucional
autnomo
de
poder,
eleito
por
sufrgio
directo
e
com
poderes
prprios
(1)
poder
de
dissoluo
da
Assembleia
da
Repblica,
(2)
direito
de
veto,
(3)
poder
de
nomeao
do
Governo
e
do
Primeiro-Ministro
e
(4)
poder
de
exonerao
do
Governo.
Elementos
caracterizadores
1.
Traos
do
regime
parlamentar
1.1.
Autonomia
do
Governo
Tal
como
no
regime
parlamentar,
e
ao
contrrio
do
regime
presidencialista
puro,
em
que
os
secretrios
de
Estado
no
formam
um
corpo
autnomo
e
so
meros
executantes
das
polticas
do
Presidente
da
Repblica,
a
CRP
estabelece
a
existncia
de
um
Governo
dirigido
por
um
Primeiro-Ministro
como
rgo
de
soberania
institucionalmente
autnomo.
1.2.
Responsabilidade
ministerial
A
responsabilidade
poltica
do
governo
perante
o
parlamento
outro
dos
elementos
caracterizadores
do
regime
parlamentar.
No
nosso
sistema,
esta
responsabilidade
no
se
afasta
do
modelo
clssico:
(1)
ou
se
trata
de
uma
iniciativa
da
AR
atravs
de
uma
moo
de
censura,
ou
(2)
se
verifica
uma
iniciativa
do
prprio
Governo
atravs
de
uma
moo
de
confiana.
1.3.
Referenda
ministerial
O
Presidente
da
Repblica
e
o
Governo
partilham
certas
tarefas,
cabendo
a
este
ltimo,
atravs
do
instituto
da
referenda,
comprometer-se
politicamente
quanto
a
certos
actos.
Ao
contrrio,
porm,
do
regime
puro
de
gabinete,
o
Governo
no
possui,
entre
ns,
o
direito
de
iniciativa
de
dissoluo
do
parlamento.
2.
Traos
do
regime
presidencial
2.1.
Instituio
de
um
Presidente
da
Repblica
eleito
por
sufrgio
directo
Tal
como
acontece
nos
sistemas
presidenciais,
o
PR
eleito
atravs
de
sufrgio
directo,
no
se
estabelecendo,
pois,
uma
legitimidade
indirecta
do
PR
derivada
da
sua
eleio
pelas
cmaras
representativas
como
acontece
nos
regimes
parlamentares
republicanos.
2.2.
Direito
de
veto
poltico
e
legislativo
Embora
o
PR
no
disponha
de
iniciativa
legislativa,
pode
opor-se
atravs
do
veto
poltico,
como
acontece
nos
regimes
presidenciais,
s
leis
votadas
pela
AR.
2.3.
Existncia
de
poderes
de
direco
poltica
O
regime
presidencial
caracteriza-se
pela
existncia
de
poderes
de
direco
poltica
por
parte
do
presidente
da
repblica.
Em
Portugal,
os
poderes
mais
relevantes
do
PR
so
os
seguintes:
Deciso
quanto
marcao
das
eleies;
Poder
de
dissoluo
da
AR;
Poder
de
nomeao
do
PM;
Submisso
de
certas
questes
a
referendo;
Submisso
apreciao
do
TC
actos
legislativos.
3.
Traos
de
racionalizao
parlamentar-presidencialista
3.1.
Dupla
responsabilidade
do
Governo
Este
trao
reminiscente
do
dualismo
monrquico
pois,
como
as
relaes
entre
o
rei
e
o
parlamento
se
estabeleciam
atravs
do
gabinete
que
partilhava
com
o
rei
o
poder
executivo,
este
era
duplamente
responsvel:
diante
do
parlamento
e
perante
o
chefe
do
Estado.
A
dupla
responsabilidade
caracteriza
tambm
o
nosso
regime
misto
parlamentar-presidencial.
3.2.
Direito
de
dissoluo
da
AR
Outra
das
caractersticas
do
regime
parlamentar
dualista
reside
no
direito
de
dissoluo
pertencente
ao
PR.
Trata-se
de
um
poder
na
linha
da
dissolution
royale
das
monarquias
dualistas
contudo,
diferentemente
do
que
acontecia
nesta
figura,
o
poder
de
dissoluo
presidencial
consagrado
na
AR
no
totalmente
discricionrio
e
comporta
limites
temporais
importantes.
Interdependncia
institucional
1.
Presidente
da
Repblica
e
Primeiro-Ministro
O
PR
detm
um
poder
executivo
inicial,
pois
a
ele
que
compete
nomear
o
PM;
e
um
poder
final,
dado
lhe
ser
reconhecida
a
faculdade
de
demitir
o
Governo.
Isto
implica
a
existncia
de
uma
responsabilidade
poltica
do
Governo
e
do
PM
perante
o
PR.
Contudo,
o
PM,
e
no
o
PR,
o
chefe
do
Governo,
sendo
definidor
de
uma
poltica
governamental
autnoma.
Por
isso
se
fala
numa
interdependncia
institucional
entre
PR
e
PM
com
autonomia
governamental.
2.
Presidente
da
Repblica
e
Assembleia
da
Repblica
A
interdependncia
institucional
entre
o
PR
e
a
AR
manifesta-se
nos
seguintes
termos:
A
dupla
responsabilidade
governamental
implica
que,
embora
pertena
ao
PR
escolher
o
PM,
ele
tem
de
ter
em
conta
os
resultados
eleitorais,
o
que
indica
que
o
PM
deve
ser
escolhido
de
acordo
com
o
partido
ou
partidos
capazes
de
obter
confiana
na
AR.
O
PR
dispe
do
direito
de
veto
que,
em
relao
a
algumas
matrias,
s
pode
ser
superado
pela
maioria
de
2/3
dos
deputados
presentes.
O
PR
tem
o
direito
de
dissoluo
da
AR.
3.
Assembleia
da
Repblica
e
Governo
A
interdependncia
institucional
entre
os
rgos
de
soberania
claramente
visvel
nas
relaes
entre
o
Governo
e
a
AR:
O
desencadeamento
da
responsabilidade
poltica
do
Governo
pode
ter
como
base
(1)
uma
questo
de
confiana,
traduzida
na
iniciativa
do
Governo
em
sujeitar
a
sua
permanncia
em
funes
a
um
voto
da
AR,
ou
(2)
uma
iniciativa
dos
deputados,
atravs
de
moes
de
censura.
Existe
colaborao
legislativa
do
Governo
e
da
AR,
no
obstante
a
manuteno
da
funo
legislativa
como
uma
funo
privilegiada
do
parlamento
para
certos
assuntos
e
o
instituto
do
controlo
dos
decretos-lei.
PARTE
II
CONSTITUIO
E
NORMAO:
FONTES
DE
DIREITO
CAPTULO
I
CONSTITUIO
E
FONTES
DE
DIREITO:
INTRODUO
A
constituio
como
norma
primria
sobre
a
produo
jurdica
A
Constituio,
enquanto
norma
primria
sobre
a
produo
jurdica,
tem
trs
importantes
funes,
a
de
(1)
identificar
as
fontes
de
direito,
(2)
estabelecer
os
critrios
de
validade
e
eficcia,
e
(3)
determinar
as
competncias
das
entidades.
1.
Identificao
das
fontes
Esta
funo
encontra
refraco
em
vrios
momentos
da
CRP:
Art
8.
direito
internacional
e
direito
comunitrio;
Art.
56.
convenes
colectivas
de
trabalho;
Art.
112.
actos
normativos;
Arts.
161.,
164.
e
165.
-
leis
da
AR;
Art.
198.
decretos-leis
do
Governo;
Art.
226.
estatutos
das
regies
autnomas;
Art.
227.
actos
normativos
das
regies
autnomas;
Art.
241.
regulamentos
das
autarquias
locais.
2.
Determinao
dos
critrios
de
validade,
eficcia
e
hierarquia
A
CRP
responde
tambm
aos
problemas
distintos
da
validade,
eficcia
e
hierarquia
das
normas
produzidas
pelas
fontes
de
direito:
Igual
valor
entre
leis
e
decretos-leis;
Valor
reforado
de
certas
leis;
Relaes
entre
o
direito
geral
da
Repblica
e
o
direito
autonmico;
Relaes
entre
actos
normativos
legislativos
e
actos
normativos
da
administrao;
Forma
e
valor
das
directivas
comunitrias
transpostas
para
a
ordem
jurdica
interna.
3.
Individualizao
das
competncias
normativas
Esta
funo
est
associada
ao
importante
princpio
da
tipicidade
das
competncias
normativas.
Do
monismo
ao
pluralismo
de
ordenamentos
1.
A
inadequao
relativa
da
representao
piramidal
Em
geral,
defendia-se
e
ensinava-se
que
a
Constituio
representava
o
vrtice
de
um
sistema
de
normas
que,
na
sua
globalidade,
formava
a
ordem
jurdica.
Num
estrato
imediatamente
inferior
situar-se-iam
as
convenes
internacionais
e,
na
base
da
pirmide,
a
lei.
Ora,
este
modelo
no
tem
hoje
virtualidades
suficientes
para
captar
o
relevo
jurdico
do
direito
internacional
e
do
direito
comunitrio,
devido
existncia
de
um
pluralismo
de
ordenamentos
superiores
o
ordenamento
constitucional,
internacional
e
comunitrio.
Contudo,
esta
inadequao
relativa
porque,
apesar
de
no
reflectir
toda
a
realidade,
no
est
completamente
desadequada
tome-se
o
exemplo
da
superioridade
da
lei
em
relao
ao
regulamento.
Assim,
prope-se
a
alternativa
de
uma
representao
de
uma
rede
inter-normativa,
determinada
por
uma
pluralidade
de
ordenamentos
superiores.
-
Relaes
entre
normas
de
direito
interno
e
de
direito
internacional
As
normas
de
direito
internacional
tm
valor
infraconstitucional
e
supralegal.
Contudo,
este
esquema
dever
ser,
hoje,
temperado
pela
radicao
de
um
jus
cogens
internacional
cuja
observncia
se
impe
como
dever
imperativo
dos
Estados,
adquirindo,
por
isso,
um
valor
supraconstitucional
e
impondo-se
ao
poder
constituinte
originrio.
O
valor
do
direito
comunitrio
perante
o
direito
interno
continua
um
problema
em
aberto.
Contudo,
o
princpio
de
integrao
e
o
princpio
da
capacidade
funcional
da
Comunidade
apontam
para
a
preferncia
da
aplicao
do
direito
europeu
em
relao
ao
direito
interno,
aplicao
esta
que
tem
limites
relacionados
com
o
respeito
do
ncleo
constitucional
dos
princpios
do
Estado
de
direito.
2.
Princpios
da
articulao
entre
fontes
de
direito
-
Princpio
da
hierarquia
O
princpio
da
hierarquia
articula-se
com
a
ideia
de
que
os
actos
normativos
no
tm
todos
a
mesma
hierarquia,
situando-se
num
plano
de
verticalidade,
semelhana
de
uma
pirmide
jurdica.
Este
princpio
desdobra-se
em
vrios
subprincpios:
Princpio
da
superioridade
dos
actos
legislativos
relativamente
aos
actos
regulamentares;
Princpio
da
tendencial
paridade
entre
as
leis
e
os
decretos-leis;
Princpio
da
prevalncia
dos
princpios
fundamentais
das
leis
gerais
da
Repblica
sobre
os
actos
legislativos
regionais;
Princpio
da
superioridade
das
leis
de
autorizao
e
das
leis
de
base;
Princpio
da
aplicao
preferente
das
normas
europeias
em
relao
s
normas
internas;
Princpio
da
inderrogabilidade
de
norma
de
grau
superior
por
norma
hierarquicamente
inferior.
A
norma
hierrquica
superior
rene,
geralmente,
duas
modalidades
de
preferncia,
a
(1)
preferncia
de
validade,
tornando
nulas
as
normas
anteriores
contrrias
e
servindo
de
limite
jurdico
s
normas
posteriores
tambm
em
contradio
com
elas,
e
(2)
preferncia
de
aplicao,
porque
mesmo
no
aniquilando
a
validade
da
norma
contrria,
ela
dever
ser
aplicada
preferentemente
nos
casos
concretos.
-
Princpio
da
competncia
O
princpio
da
competncia
assenta
numa
diviso
de
competncias,
por
vezes
espacial,
pressupondo
uma
limitao
positiva,
incluindo-se
na
competncia
de
certas
entidades
a
regulamentao
de
certas
matrias.
Tambm
este
princpio
que
justifica
a
regulamentao
de
certas
matrias
por
determinados
rgos,
formando-se,
assim,
blocos
de
competncias
reservadas
de
determinadas
matrias.
-
Princpio
bsico
sobre
a
produo
jurdica
O
princpio
bsico
sobre
a
produo
jurdica
est
expressamente
consagrado
na
CRP,
art.
112./5,
e
pode
formular-se
da
seguinte
forma:
(1)
nenhuma
fonte
pode
atribuir
a
outra
um
valor
de
que
ela
prpria
no
dispe,
(2)
nenhuma
fonte
pode
atribuir
a
outra
um
valor
inferior
ao
seu,
(3)
nenhuma
fonte
pode
dispor
do
seu
valor
jurdico,
acrescentando-o
ou
diminuindo-o,
e
(4)
nenhuma
fonte
pode
transferir
para
actos
de
outra
natureza
o
seu
prprio
valor
jurdico.
CAPTULO
II
CATEGORIAS
DE
LEIS
PREVISTAS
NA
CRP
1.
Leis
constitucionais
ou
leis
de
reviso
constitucional
A
CRP
faz
expressa
aluso
a
leis
constitucionais,
prescrevendo
esta
forma
para
as
alteraes
Constituio.
Assim,
o
sentido
de
leis
constitucionais
deve
ser
interpretado
em
sentido
restrito,
como
leis
de
reviso.
A
reserva
de
lei
constitucional
pertence
ao
poder
constituinte
ou
poder
de
reviso.
2.
Leis
orgnicas
2.1.
Sentido
jurdico
e
poltico-constitucional
A
categoria
de
leis
orgnicas
foi
inserida
na
CRP
com
a
1
Reviso,
e
o
seu
sentido
jurdico
deduz-se
a
partir
dos
arts.
112./3
e
166./2,
o
primeiro
a
dotar
estas
leis
de
valor
reforado
e
o
segundo
a
fazer
revestir
forma
de
lei
orgnica
alguns
dos
actos
de
reserva
absoluta
da
AR
e
a
lei
criadora
de
uma
regio
administrativa.
Contudo,
no
claro
o
sentido
jurdico
e
poltico-constitucional
desta
nova
figura.
A
CRP
reservou
para
as
leis
orgnicas
as
seguintes
matrias:
Regime
eleitoral
dos
rgos
de
soberania;
Regime
dos
referendos;
Organizao
do
Tribunal
Constitucional;
Disciplina
de
situaes
de
necessidade
constitucional;
Aquisio,
perda
e
reaquisio
da
cidadania
portuguesa;
Disciplina
das
associaes
e
partidos
polticos;
Regime
das
eleies
dos
deputados
s
assembleias
legislativas
regionais;
Regime
do
sistema
de
informaes
da
Repblica
e
do
segredo
de
Estado;
Regime
de
finanas
das
regies
autnomas;
Criao
das
regies
administrativas.
Assim,
podemos
deduzir
o
sentido
poltico-constitucional
das
leis
orgnicas
a
partir
desta
reserva
de
competncias,
atribuindo
a
esta
categoria
de
leis
as
seguintes
funes:
Subtrair
as
regras
eleitorais
s
maiorias
parlamentares,
protegendo,
simultaneamente,
o
direito
das
minorias;
Exigir
um
consenso
alargado
para
a
disciplina
do
direito
processual;
Impor
uma
maioria
qualificada
na
definio
e
organizao
da
defesa
nacional
e
disciplina
das
Foras
Armadas;
Proteger
a
constituio
e
os
direitos
fundamentais
nos
casos
do
estado
de
stio
e
de
emergncia;
Controlar
o
regime
do
sistema
de
informaes
da
Repblica
e
do
segredo
de
Estado;
Assegurar
o
estatuto
constitucional
dos
partidos
e
associaes
polticas;
Dar
transparncia
e
reforar
a
legalidade
oramental
do
regime
de
finanas
regionais
e
locais;
Garantir
apoio
parlamentar
qualificado
criao
de
regies
administrativas.
2.1.
Caractersticas
jurdico-constitucionais
So
vrios
os
traos
jurdico-constitucionais
caracterizadores
das
leis
orgnicas:
1. So
leis
ordinrias
da
AR:
2. So
leis
dotadas
de
valor
reforado;
3. Esto
vinculadas
ao
princpio
da
tipicidade,
pois
s
so
leis
orgnicas
aquelas
que
a
Constituio
considera
como
tais;
4. Observa-se
tambm
o
princpio
de
exclusividade
ratione
materiae,
consequentemente
sero
inconstitucionais
leis
orgnicas
de
autorizao,
de
bases
ou
limitadas
ao
regime
geral
de
certas
matrias.
Tambm
se
verificam
os
princpios
da
competncia
e
da
reserva
total
ou
absoluta
(com
a
excepo
do
art.
164./d,
lei
orgnica
sobre
as
bases
gerais).
Para
alm
destes
traos,
as
leis
orgnicas
apresentam
dimenses
orgnico-procedimentais
especficas:
1. A
votao
em
especialidade
das
leis
orgnicas
feita,
na
maior
parte
dos
casos,
no
Plenrio
e
no
em
comisses
(no
existe
coincidncia
perfeita
entre
as
matrias
do
art.
168./4
e
166./2);
2.
Exigncia
de
maioria
absoluta
dos
deputados
em
efectividade
de
funes
para
a
sua
aprovao
(168./5);
3. Exigncia
de
uma
maioria
de
dois
teros
dos
deputados
em
efectividade
de
funes
para
superao
do
veto
poltico,
uma
maioria
mais
exigente
do
que
sucede
nas
outras
leis
(136./3);
4. Regime
de
fiscalizao
preventiva
especfico,
visto
que
a
legitimidade
para
requerer
a
fiscalizao
destas
leis
maior,
sendo
alargada,
para
alm
do
PR,
ao
PM
e
a
1/5
dos
deputados
em
efectividade
de
funes
(278./4).
Assim,
o
valor
reforado
destas
leis
resulta
de
uma
especificidade
procedimental,
que
revela
a
grande
importncia
atribuda
a
estas
leis
pelo
legislador
constituinte.
3.
Leis
de
bases
3.1.
Histria
e
noo
As
leis
de
base
so
leis
que,
no
disciplinando
toda
a
matria
jurdica
de
uma
dada
questo,
estabelecem
as
bases
da
mesma,
deixando
a
cargo
do
executivo
o
desenvolvimento
dessas
bases
atravs
de
um
decreto
de
desenvolvimento.
Tm
origem
nas
lois
cadre
francesas,
permitindo
ao
parlamento
manter-se
soberano
ao
traar
a
moldura
dentro
da
qual
se
deve
exercitar
a
actividade
do
governo,
e
indiciavam
j
o
propsito
impulsionador
das
leis
de
plano
da
poca
mais
recente.
3.2.
Leis
de
base
na
Constituio
de
1976
A
categoria
de
leis
de
base
foi
consagrada
na
CRP,
nomeadamente
no
art.
112./3,
no
qual
se
alude
a
decretos-leis
que
desenvolvem
as
bases
gerais
dos
regimes
jurdicos.
O
sentido
da
reserva
das
bases
gerais
dos
regimes
jurdicos
dever
ser,
no
o
de
uma
autolimitao
ou
heterolimitao
da
AR,
mas
sim
o
de,
em
certos
assuntos
que
carecem
de
desenvolvimento,
limitar
a
competncia
legislativa
do
Governo
ao
desenvolvimento
de
um
parmetro
normativo
fixado
por
lei
da
AR.
Assim,
com
o
princpio
da
reserva
legislativa
de
bases
gerais
desejou-se,
por
um
lado,
assegurar
a
interveno
legislativa
primria
da
AR
e,
por
outro,
permitir
ao
Governo,
mesmo
sem
autorizao
legislativa,
legislar
sobre
a
mesma
matria.
Sob
um
ponto
de
vista
material,
as
leis
de
bases
constituem
directivas
e
limites
dos
decretos-lei
de
desenvolvimento.
3.3.
Sentido
da
primariedade
material
das
leis
de
bases
relativamente
aos
decretos-leis
de
desenvolvimento
Embora
as
leis
e
os
decretos-leis
sejam
actos
legislativos
de
igual
dignidade
hierrquica,
as
leis
adquirem,
na
forma
de
leis
de
bases,
uma
primariedade
material
e
hierrquica,
com
a
correspondente
subordinao
dos
decretos-leis
de
desenvolvimento.
Surgem,
deste
modo,
dois
problemas,
o
de
(1)
saber
se
as
leis
de
bases
constituem
sempre
um
parmetro
material
superior
vinculativo
para
os
decretos-leis,
ou
se
a
parametrecidade
das
leis
de
base
se
impe
apenas
nos
casos
de
reserva
de
competncia
legislativa,
e
o
de
(2)
qualificar
o
vcio
resultante
da
desconformidade
dos
decretos-leis
de
desenvolvimento
com
o
parmetro
superior
das
leis
de
base.
Relativamente
ao
primeiro
problema,
so
duas
as
teses
defendidas:
Limitao
do
valor
paramtrico
e
superioridade
hierrquica
das
leis
de
bases
s
matrias
de
reserva
absoluta
ou
relativa
da
AR,
uma
tese
sustentada
por
(1)
o
princpio
da
tipicidade
das
competncias
constitucionais
e
(2)
a
proibio
da
alterao
das
competncias
constitucionais.
Superioridade
geral
das
leis
de
bases
perante
os
decretos-leis,
cujos
argumentos
se
apoiam
na
redaco
do
art.
112./2,
que
no
estabelece
qualquer
distino
entre
leis
de
bases
em
matrias
abertas
interveno
legislativa
do
Governo
e
leis
de
bases
reservadas
AR;
e
entre
leis
de
bases
tipificadamente
indicadas
na
Constituio
e
leis
de
base
fora
dela.
Ora,
se
se
admitisse
a
primeira
teste,
tal
significaria
esvaziar
de
sentido
prprio
o
princpio
da
superioridade
das
leis
de
bases,
pois
esta
resultaria
antes
do
princpio
da
reserva
de
competncia,
no
sendo,
pois,
necessrio
acrescentar
um
princpio
de
hierarquia.
esta
parametrecidade
material
que
confere
s
leis
orgnicas
o
valor
reforado.
Relativamente
ao
problema
da
qualificao
do
vcio,
impe-se
um
maior
controlo
nos
casos
de
decretos-leis
que
versem
matrias
da
competncia
reservada
da
AR.
Se
o
Governo
invadir
o
domnio
de
competncia
da
AR,
legislando
sobre
as
matrias
reservadas,
o
diploma
legislativo
sofrer
de
vcio
de
incompetncia,
dando
origem
inconstitucionalidade
orgnica
e
forma.
Isto
acresce
ilegalidade,
decorrente
da
desconformidade
dos
decretos-leis
de
desenvolvimento
com
o
parmetro
material
fixado
na
lei
de
bases.
4.
Leis
de
autorizao
4.1.
Noo
As
leis
de
autorizao
so
leis
mediante
as
quais
o
rgo
legislativo
autoriza
o
rgo
executivo
a
emanar
actos
normativos
com
fora
de
lei.
Estas
leis
comearam
por
ser
leis
formais
sobre
a
produo
jurdica,
contudo,
encontra-se
ultrapassada
a
velha
doutrina
germnica
segundo
a
qual
estas
leis
tm
uma
natureza
meramente
formal,
visto
considerar-se
que
estas
leis
no
tm
uma
natureza
diversa
das
outras,
possuindo
antes
um
carcter
normativo-material.
A
querela
mais
importante
suscitada
pelas
leis
de
autorizao
reside
na
questo
de
se
saber
qual
a
natureza
jurdica
da
autorizao.
A
doutrina
menos
recente
considerava
a
delegao
legislativa
como
transferncia
temporria
do
poder
legislativo
e,
em
face
de
objeces
colocadas
a
esta
teoria,
tentou-se
caracterizar
a
delegao
como
uma
condio
de
substituio
no
exerccio
de
determinado
poder.
No
entanto,
a
teoria
que
mais
se
coaduna
com
a
nossa
arquitectura
constitucional
a
teoria
da
autorizao.
No
direito
civil,
a
autorizao
a
manifestao
de
vontade
pelo
qual
uma
pessoa
permite
a
outra
a
realizao,
em
nome
prprio,
de
um
acto
material
ou
de
um
negcio,
que,
sem
a
referida
autorizao,
seria
ilcito
por
significar
uma
invaso
na
esfera
jurdica
alheia.
Tambm
na
delegao
legislativa
encontramos
notas
distintas
da
autorizao,
pois
esta
delegao
uma
delegao
de
matrias.
4.2.
Objecto
As
concesso
de
leis
de
autorizao
integra-se
na
competncia
legislativa
da
AR,
e,
como
tal,
estas
leis
s
so
possveis
ao
abrigo
do
art.
165..
Assim,
tambm
as
autorizaes
legislativas
devem,
em
princpio,
coincidir
com
o
objecto
prprio
da
funo
legislativa
do
Parlamente,
estando
dele
excludas:
Funes
de
fiscalizao
ou
controlo
(art.
162.
e
163.);
Matrias
de
competncia
poltica
(art.
161.);
Matrias
no
reservadas;
Leis
de
medida.
4.3.
Destinatrio
O
destinatrio
das
autorizaes
legislativas
(1)
o
Governo.
Neste
sentido,
ser
inconstitucional
qualquer
autorizao
legislativa
a
favor
do
Primeiro-Ministro,
do
Conselho
de
Ministros
ou
de
qualquer
ministro
considerado
isoladamente.
Os
destinatrios
das
autorizaes
legislativas
podem
ser
ainda
as
(2)
assembleias
legislativas
regionais,
em
matrias
de
interesse
especfico
para
as
regies
que
no
estejam
reservadas
competncia
prpria
dos
rgos
de
soberania.
So
constitucionalmente
ilegtimas
subdelegaes
legislativas,
visto
estas
violarem
o
princpio
fundamental
da
indelegabilidade
de
poderes
delegados.
4.4.
Limites
das
autorizaes
legislativas
-
Limites
materiais
Os
limites
materiais
impostos
s
leis
de
autorizao
so
os
seguintes:
Exigncia
de
definio
do
objecto,
pois
estas
leis
devem
indicar
as
matrias
que
iro
ser
objecto
de
decretos-leis
autorizados
(princpio
da
especialidade
das
autorizaes
legislativas);
Exigncia
de
definio
do
sentido,
ou
seja,
dos
princpios
orientadores
do
Governo
na
emanao
de
decretos-leis
autorizados;
Proibio
de
incidncia
sobre
matrias
necessariamente
reguladas
por
lei
formal,
ou
seja,
matrias
enquadradas
na
reserva
de
lei
de
Assembleia
(arts.
161.
e
164.).
-
Limites
temporais
A
extenso
e
durao
da
autorizao
legislativa
deve
estar
determinada
na
lei
de
autorizao.
Contudo,
questionvel
se
os
limites
temporais
indicados
na
lei
de
autorizao
implicam
(1)
a
publicao
do
decreto-
lei
no
Dirio
da
Repblica,
ou
se
basta
(2)
a
promulgao
pelo
PR
ou
at
a
simples
(3)
aprovao
pelo
Conselho
de
Ministros.
A
tese
que
tem
sido
defendida
tem
sido
a
da
no
exigncia
de
publicao
dentro
dos
limites
temporais,
pois
a
publicao
um
acto
sucessivo
estranho
ao
exerccio
da
autorizao
legislativa,
alm
de
a
publicao
ser
hoje
uma
mera
condio
da
eficcia
da
lei
e
no
um
requisito
de
existncia.
O
Tribunal
Constitucional
tem
vindo,
pois,
a
considerar
que,
para
que
se
considere
respeitado
o
prazo
de
autorizao
legislativa
basta
que
ocorra
dentro
desse
prazo
a
aprovao
pelo
Conselho
de
Ministros.
Gomes
Canotilho
invoca,
a
favor
da
publicao
no
DR,
que
sem
ela
no
susceptvel
de
controlo
pblico
a
data
do
diploma,
permitindo
fraudes
de
antedatar
diplomas.
Assim
defende
que
se
deveria
ter
em
conta,
pelo
menos,
o
momento
de
recepo
pelo
PR
para
efeitos
de
promulgao.
So
inadmissveis,
porm,
os
decretos-leis
anteriores
publicao
da
lei
de
autorizao
ou
posteriores
cessao
da
sua
vigncia.
No
(1)
primeiro
caso,
so
inconstitucionais
porque
no
podem
reclamar-se
de
uma
lei
de
autorizao
com
eficcia
externa,
e
no
(2)
segundo
caso,
existe
claramente
falta
de
autorizao,
sendo
este
vcio
insusceptvel
de
sanao,
inclusive
por
lei
posterior.
4.5.
Cessao
da
autorizao
A
lei
de
autorizao
esgota
a
sua
relevncia
jurdica
por:
Decurso
dos
limites
temporais;
Utilizao
pelo
Governo
(165./3);
Revogao
pela
AR;
Caducidade
(165./4).
Relativamente
autorizao,
vigora
o
princpio
da
irrepetibilidade
o
Governo
no
pode
utilizar
a
autorizao
legislativa
mais
do
que
uma
vez,
estando-lhe
igualmente
vedada
a
revogao,
alterao
ou
substituio.
Contudo,
este
princpio
no
impede
(1)
que
o
Governo
edite
outro
decreto-lei
de
autorizao
se
o
primeiro
no
tiver
chegado
a
entrar
em
vigor
(por
motivo
de
veto,
por
exempo),
e
(2)
a
autorizao
parcelar
da
autorizao.
Relativamente
revogao
da
autorizao,
considera-se
que
o
rgo
parlamentar
pode
revogar
a
autorizao
legislativa,
porm
esta
revogao
dever
ser
expressa
e
mediante
um
acto
igual
ao
da
autorizao
(lei).
Assim,
se
a
AR
editar
leis
durante
o
perodo
de
autorizao,
regulando
directamente
as
matrias
objecto
de
autorizao,
fica
o
Governo
impedido
de
fazer
uso
da
autorizao.
Finalmente,
a
caducidade
da
autorizao
deriva
da
verificao
de
qualquer
dos
eventos
enunciados
no
art.
165./4,
o
que
se
justifica
por
estas
leis
de
autorizao
se
basearem
numa
relao
de
confiana
entre
a
AR
e
o
Governo.
4.6.
Relaes
entre
as
leis
de
autorizao
e
os
decretos-leis
autorizados
O
carcter
subordinado
dos
decretos-leis
autorizados
s
leis
de
autorizao
hoje
constitucionalmente
indiscutvel,
estando
consagrado
no
art.
112./2.
Para
alm
desta
subordinao
hierrquica
e
paramtrica,
os
decretos-leis
autorizados
so
ainda
condicionados
noutro
sentido
esto
subtrados
disposio
do
poder
legislativo
do
Governo,
que
no
os
pode
alterar
ou
revogar
sem
uma
nova
autorizao
legislativa.
-
Excesso
de
autorizao
O
excesso
de
autorizao
ocorre
pela
no
observncia
dos
limites
materiais
da
lei
de
autorizao.
Levanta-
se
aqui
a
questo
de
saber
se
o
excesso
de
autorizao
origina
a
ilegalidade
ou
inconstitucionalidade
do
diploma
do
Governo
embora
Gomes
Canotilho
defenda
a
primeira,
alguma
jurisprudncia
recente
tem
apontado
para
o
segundo.
-
Defeito
de
autorizao
O
defeito
de
autorizao
pode
ocorrer
por:
Termo
do
prazo;
Falta
de
autorizao;
Falta
de
meno
expressa
da
respectiva
lei
de
autorizao.
O
defeito
de
autorizao
origina
o
vcio
da
inconstitucionalidade,
visto
de
tratarem
de
situaes
nas
quais
o
Governo
extravasa
as
suas
competncias.
Semelhanas
Diferenas
LEIS DE BASE
LEIS DE AUTORIZAO
5.
Leis
estatutrias
As
leis
estatutrias
so
leis
da
AR
que
aprovam
estatutos
das
Regies
Autnomas,
constituindo
a
dimenso
normativa
de
um
processo
dinmico
ancorado
num
princpio
aberto
o
princpio
da
autonomia
regional.
No
so
leis
meramente
formais
de
aprovao,
pois
a
AR
pode
rejeitar
o
projecto
e
introduzir-lhe
emendas,
exercendo
assim
uma
actividade
substancialmente
legislativa.
Embora
os
estatutos
no
tenham
valor
constitucional,
eles
devem
considerar-se
como
leis
reforadas
com
valor
paramtrico
em
relao
aos
diplomas
legislativos
regionais
e
s
restantes
leis
da
Repblica.
A
funo
estatutria
tem
um
grande
importncia
poltico-constitucional,
pois
aos
estatutos
que
vai
competir
(1)
a
definio
dos
esquemas
organizatrios
fundamentais
das
regies
autnomas
e
(2)
a
regulao
jurdica
do
exerccio
dos
poderes
regionais.
5.1.
Procedimento
estatutrio
O
procedimento
estatutrio
apresenta
algumas
especificidades,
e
pode
dividir-se
em
dois
momentos:
1. Momento
impulsivo
o
impulso
normativo
dos
estatutos
pertence
s
assembleias
legislativas
regionais,
como
dispe
o
art.
226./1.
2. Momento
deliberativo
o
momento
deliberativo
cabe
AR,
pois
pertence
a
este
rgo
de
soberania
discutir
e
aprovar
os
projectos
de
estatutos
elaborados
pelas
assembleias
legislativas
regionais
(226./2
e
3).
Relativamente
ao
problema
dos
limites
ao
poder
estatutrio
da
AR,
surgem
duas
correntes
tericas,
a
da
(1)
liberdade
de
conformao
dos
estatutos
por
parte
da
AR,
e
a
do
(2)
poder
estatutrio
autonmico
das
assembleias
legislativas
regionais.
A
ltima
posio
tem,
desde
logo,
contra
si
a
letra
da
Constituio,
pois
cabe
AR
discutir
e
aprovar
o
projecto,
por
isso
no
se
pode
falar
numa
autonomia
estatutria
das
Regies
Autnomas.
Quanto
primeira
tese,
a
AR
no
pode
ter
uma
completa
liberdade
de
conformao,
por
respeito
ao
princpio
da
autonomia
regional.
5.2.
Reserva
de
estatuto
Os
arts.
227.
e
228.
da
Constituio
contm
um
extenso
leque
de
competncias
cuja
definio
pertence
aos
estatutos
das
regies
autnomas,
Estas
matrias
aproximam-nos,
de
forma
tendencial,
daquilo
a
que
podemos
chamar
reserva
de
estatuto
regional,
que
aponta
para
duas
dimenses:
1. Certas
matrias
devem
ser
exclusivamente
disciplinadas
por
lei
estatutria;
2. Estas
matrias
no
podem
deixar
de
estar
reguladas
no
estatuto
sob
pena
de
se
verificar
aquilo
que
a
doutrina
designa
por
dfice
de
estatuto.
6.
Leis
reforadas
As
leis
reforadas,
ou
leis
com
valor
reforado,
so
uma
categoria
com
carcter
heterogneo,
estando,
no
entanto,
individualizadas
no
art.
112./3.
Neste
preceito,
faz-se
aluso
a
4
categorias
de
leis
reforadas:
1. Leis
orgnicas;
2. Leis
que
carecem
de
aprovao
por
maioria
de
dois
teros;
3. Leis
que
sejam
pressuposto
normativo
necessrio
de
outras
leis;
4. Leis
que
por
outras
devam
ser
respeitadas.
Mediante
a
leitura
deste
artigo,
pode-se
concluir
que
o
legislador
constituinte
articulou
critrios
de
identificao
bastante
heterogneos:
1. Critrio
da
forma
e
do
procedimento;
2. Critrio
da
maioria
reforada
para
a
sua
aprovao;
3. Critrio
da
parametrecidade
especfica;
4. Critrio
da
parametrecidade
geral.
6.1.
Critrio
da
parametrecidade
aferido
por
um
processo
judicial
de
fiscalizao
Este
critrio
um
critrio
extensivo
a
todas
as
leis
reforadas,
visto
que
todas
beneficiam
de
uma
fiscalizao
judicial
tendente
a
assegurar
o
valor
paramtrico
ou
competencial
das
leis
reforadas
e
possibilitar
a
desaplicao
ou
eliminao
de
outras
leis
em
desconformidade
com
elas.
Contudo,
este
critrio
s
demonstra
que
as
leis
reforadas
podem
gerar
relaes
de
desvalor
jurdico-
constitucional,
no
nos
permitindo
determinar
a
individualizao
dessas
leis.
6.2.
Critrio
da
parametrecidade
especfica
Uma
lei
reforada
relativamente
a
outra
quando
apresenta
um
contedo
de
natureza
paramtrica
que
deve
servir
de
pressuposto
material
disciplina
normativa
estabelecida
por
esse
outro
acto
legislativo.
Assim:
1. As
leis
de
base
em
relao
aos
decretos-leis
de
desenvolvimento;
2. As
leis
de
autorizao
em
relao
aos
decretos-leis
ou
decretos
legislativos
regionais
autorizados;
3. A
lei
de
enquadramento
do
oramento
em
relao
lei
anual
dos
oramentos
do
Estado
e
das
Regies
Autnomas.
Do
valor
paramtrico
das
leis
reforadas
conclui-se
o
seu
carcter
derrogatrio,
ou
seja,
uma
lei
reforada
relativamente
a
outra
quando
pode
derrogar
esta
sem
por
ela
ser
susceptvel
de
ser
revogada.
6.3.
Critrio
da
forma
e
especificidade
procedimentais
Este
critrio
traduz
a
ideia
de
que
uma
lei
tem
valor
reforado
porque
possui
uma
forma
e
procedimentos
especiais
constitucionalmente
estabelecidos.
o
caso
de:
1. As
leis
orgnicas,
que
so
leis
de
reserva
absoluta
num
duplo
sentido
constituem
reserva
absoluta
de
lei
formal
da
AR
e
devem
regular
toda
a
disciplina
ou
matria
sobre
que
incidem.
6.4.
Critrio
da
maioria
reforada
Algumas
leis
so
reforadas
porque
a
maioria
requerida
para
a
sua
aprovao
,
tambm
ela,
reforada
(dois
teros).
Em
certo
sentido,
so
tambm
leis
reforadas
pelo
procedimento,
pois
a
maioria
uma
dimenso
procedimental.
o
caso
de
algumas
leis
individualizadas
no
art.
168./6.
6.5.
Critrio
da
parametrecidade
geral
Na
parte
final
do
art.
112./3
so
consideradas
reforadas
as
leis
que
devem
ser
respeitadas
por
outras
leis.
Este
o
critrio
mais
vago
de
todos
e,
possivelmente,
foi
consagrado
como
um
critrio
residual
para
salientar
a
exigncia
de
conformidade
ou
de
compatibilidade
apontada
por
outras
leis
relativamente
a
um
conjunto
indeterminado
de
outros
actos
legislativos.
7.
Leis
de
enquadramento
A
ltima
categoria
de
leis
em
anlise
a
das
leis
de
enquadramento
ou
leis
quadro,
com
preferncia
para
a
primeira
designao,
pois
ser
a
utilizada
para
a
mais
conhecida
lei
nesta
categoria
a
lei
de
enquadramento
do
oramento.
As
leis
de
enquadramento
no
se
confundem
com
as
leis
de
bases,
pois
fixam
mais
ou
menos
pormenorizadamente
um
regime
jurdico
estruturante
os
seus
princpios,
regras
e
procedimentos
que
dever
ser
respeitado
por
actos
legislativos
concretizadores
desse
regime.
CAPTULO
III
-
O
DECRETO-LEI
1.
A
memria
constitucional
1.1
Constitucionalismo
monrquico
Nenhuma
das
constituies
polticas
que
vigoraram
durante
o
perodo
do
constitucionalismo
monrquico
admitiu
a
emanao,
pelo
executivo,
de
actos
normativos
com
forma
de
lei.
Contudo,
nas
frequentes
crises
do
parlamentarismo
monrquico,
o
Governo
legislava
atravs
de
decretos
ditatoriais,
uma
prtica
contra
constitutio
scripta.
1.1.
Constitucionalismo
republicano
Constituio
de
1911
consagrou
a
possibilidade
de
criao
legislativa
do
Governo,
desde
que
obtivesse
autorizao
do
legislativo,
podendo
ser
invocada
a
inconstitucionalidade
formal
ou
orgnica
dos
diplomas
legislativos
emanados
do
Executivo
sem
autorizao
do
Poder
Legislativo.
Constituio
de
1933
continuou
a
prtica
da
constituio
anterior,
contudo
consagrou
a
possibilidade
de
emanar
decretos-leis
sem
autorizao
legislativa,
nos
casos
de
urgncia
e
necessidade.
Assim,
o
Governo
aproveitou
o
expediente
do
decretos-leis
de
urgncia
para
se
transformar
em
legislador
normal,
e
a
lei
de
reviso
de
1945
veio
consagrar
a
sua
competncia
legislativa
normal.
2.
A
figura
do
decreto-lei
na
CRP
O
legislador
constituinte,
no
obstante
a
prtica
abusiva
dos
decretos-leis
verificada
durante
o
regime
da
Constituio
de
1933,
parece
ter
considerado
os
decretos-leis
como
um
instrumento
ineliminvel
do
Estado
democrtico,
consagrando
esta
categoria
com
uma
grande
autonomia
e
amplitude
e
afastando-se
da
maioria
das
constituies
democrticas
ps-guerra.
2.1.
Competncia
legislativa
do
Governo
e
tipos
de
decretos-leis
O
Governo
tem
trs
tipos
de
competncias
legislativas,
originando
figuras
diferentes
de
decretos-leis:
1. Competncia
legislativa
originria
ou
independente
no
caso
de
se
tratar
de
matrias
no
reservadas
AR,
o
Governo
pode
editar
actos
legislativos
primrios
reguladores
dessas
matrias,
decretos-leis
originrios,
em
concorrncia
com
a
AR.
2. Competncia
legislativa
dependente
relativamente
a
(1)
matrias
do
art.
165.
mediante
autorizao
legislativa
ou
(2)
matrias
de
reserva
da
AR
em
que
esta
procedeu
fixao
das
bases
gerais,
o
Governo
pode
editar
decretos-leis
de
desenvolvimento.
3. Competncia
exclusiva
do
Governo
fala-se
em
reserva
de
decreto-lei
em
relao
a
matrias
respeitantes
sua
prpria
organizao
e
funcionamento
(art.
198./2).
3.
O
Governo
como
titular
de
competncia
legislativa
3.1.
Titularidade
Pertence
ao
Governo
a
competncia
para
a
emanao
de
decretos-leis,
por
isso
no
so
admissveis
decretos-leis
emanados
de
um
Primeiro-Ministro
ou
de
um
ministro.
Exige-se,
assim,
que
todos
os
decretos-
leis
sejam
aprovados
em
Conselhos
de
Ministros.
3.2.
mbito
material
Os
decretos-leis
podem
disciplinar
qualquer
matria.
A
delimitao
extensional
deve
fazer-se,
de
forma
heternoma,
a
partir
das
normas
constitucionais
que
estabelecem:
Reserva
poltico-legislativa
do
Parlamento;
Reserva
absoluta
e
relativa
de
competncia
legislativa
da
AR.
Nas
restantes
matrias
existe
uma
concorrncia
legislativa
do
Governo
e
da
AR,
podendo
os
decretos-leis
revogar,
alterar,
suspender
e
interpretar
leis
da
AR
(exceptuando-se
leis
de
valor
reforado)
e
vice-versa.
4.
Apreciao
parlamentar
dos
decretos-leis
4.1.
Objecto
de
apreciao
parlamentar
Todos
os
decretos-leis,
salvo
os
aprovados
na
competncia
legislativa
exclusiva
do
Governo,
podem
ser
submetidos
apreciao
da
AR,
para
efeitos
de
cessao
e
vigncia.
A
apreciao
parlamentar
,
assim,
um
mecanismo
constitucional
de
controlo
da
AR
sobre
os
diplomas
legislativos
do
Governo.
4.2.
Suspenso
dos
decretos-leis
submetidos
a
apreciao
parlamentar
No
art.
169./2,
consagra-se
expressamente
a
possibilidade
de
suspenso
do
decreto-lei
submetido
a
apreciao
parlamentar.
Objecto
s
os
decretos-leis
publicados
no
uso
da
autorizao
legislativa
podem
ser
objecto
de
suspenso.
Caducidade
da
suspenso
a
suspenso
caduca
se,
decorridas
10
reunies
plenrias,
a
Ar
no
se
tiver
pronunciado
sobre
as
propostas
de
alterao
apresentadas.
Forma
o
instrumento
para
a
suspenso
o
de
resoluo
da
AR.
4.3.
Aprovao
da
cessao
da
vigncia
Caso
se
verifique
a
aprovao
da
cessao
da
vigncia
do
decreto-lei,
este
deixar
de
vigorar
desde
o
dia
em
que
a
resoluo
da
aprovao
da
cessao
de
vigncia
for
publicada
no
Dirio
da
Repblica.
Efeitos
da
aprovao:
Efeitos
ex
nunc
devido
necessidade
de
evitar
situaes
de
incerteza
e
sacrifcio
de
direitos,
embora,
nos
casos
de
cessao
por
inconstitucionalidade,
esta
soluo
se
possa
revelar
pouco
eficaz
no
combate
aos
abusos
do
Governo.
Por
isso,
a
AR
pode,
atravs
de
lei
autnoma,
depois
de
publicada
a
resoluo,
neutralizar
retroactivamente
os
efeitos
do
decreto-lei.
Efeitos
repristinatrios
discutvel
se
a
resoluo
tem
efeitos
repristinatrios,
ou
seja,
se
origina
a
reposio
em
vigor
das
leis
revogadas
pelo
decreto-lei.
A
resposta
tendencialmente
positiva,
com
base
na
ideia
da
no
primariedade
normativa
do
Governo
e
da
provisoriedade
dos
decretos-
leis
at
verificao
da
condio
resolutiva
de
aprovao
da
cessao
da
vigncia.
4.4.
Aprovao
parlamentar
de
alteraes
aos
decretos-leis
A
sujeio
de
um
decreto-lei
AR
para
efeitos
de
alterao,
uma
possibilidade
consagrada
no
art.
169./2,
pressupe
um
procedimento
legislativo
especfico,
iniciado
no
com
um
projecto
de
lei
mas
sim
com
as
propostas
de
alterao
do
decreto-lei.
CAPTULO
IV
OS
REGULAMENTOS
1.
Fundamento
constitucional
do
poder
regulamentar
1.1.
Poder
regulamentar
e
princpio
da
legalidade
da
administrao
O
regulamento
uma
norma
emanada
pela
administrao
no
exerccio
da
sua
funo
administrativa
e,
regra
geral,
com
carcter
executivo
e/ou
complementar
da
lei.
um
acto
normativo
e
no
administrativo,
embora
no
legislativo.
Devido
ao
seu
carcter
secundrio,
o
regulamento,
est,
por
um
lado,
submetido
ao
princpio
da
legalidade
da
administrao
e,
por
outro,
deve
ter
um
fundamento
jurdico-constitucional.
O
princpio
da
legalidade
significa
que
o
regulamento
est
vinculado
lei,
no
apenas
num
sentido
negativo,
mas
tambm
num
sentido
positivo,
pois
a
administrao
s
pode
actuar
com
base
na
lei.
1.2.
Fundamento
jurdico
do
poder
regulamentar
O
poder
regulamentar
encontra
o
seu
fundamento
directo
e
imediato
na
prpria
Constituio,
apresentando-se
como
um
poder
constitucionalmente
fundado
e
no
criado
por
lei.
Contudo,
este
fundamento
no
deve
ser
entendido
em
termos
anlogos
ao
fundamento
constitucional
dos
actos
legislativos,
pois
este
apresenta-se
como
um
sistema
fechado,
em
virtude
do
princpio
da
tipicidade.
O
poder
regulamentar
antes
compatvel
com
um
sistema
aberto,
em
que
o
legislador,
nos
quadros
da
Constituio,
tem
a
possibilidade
de
atribuir
e
modelas
os
poderes
regulamentares.
2.
Regime
constitucional
dos
regulamentos
2.1.
Princpio
da
preferncia
ou
preeminncia
da
lei
(art.
112./5)
Um
regulamento
no
pode
contrariar
um
acto
legislativo
ou
equiparado,
proibindo-se
expressamente
os
regulamentos
modificativos,
suspensivos
ou
revogatrios
das
leis.
Pode
questionar-se
se
este
princpio
abrange
tambm
a
preferncia
de
decreto-lei.
Ora,
o
sentido
original
deste
princpio,
o
de
apenas
preferncia
de
lei
do
Parlamento,
continua
a
ter
sentido
na
reserva
de
lei
da
AR
para
determinadas
matrias
porm,
fora
destes
casos,
este
princpio
tambm
se
aplica
quando
existe
um
decreto-lei
que,
em
virtude
da
sua
dignidade
legislativa,
no
pode
deixar
de
se
impor
aos
actos
da
administrao.
2.2.
Princpio
da
precedncia
da
lei
(art.
112./7)
A
preferncia
ou
primazia
da
lei
tornar-se-ia
um
princpio
puramente
formal
se,
em
matrias
importantes
ainda
no
reguladas,
o
regulamento
pudesse
adiantar-se
na
respectiva
disciplina
jurdica.
Este
princpio
est
estabelecido
no
art.
112./7,
onde
se
estabelece:
A
precedncia
da
lei
relativamente
a
toda
a
actividade
regulamentar;
A
exigncia
de
citao
da
lei
habilitante
por
parte
dos
regulamentos.
2.3.
Princpio
da
complementaridade
ou
acessoriedade
dos
regulamentos
O
regulamento
um
acto
normativo
da
administrao
sujeito
lei
e
complementar
desta.
O
sentido
da
complementaridade
dos
regulamentos
no
o
de
a
CRP
legitimar
apenas
os
regulamentos
de
execuo,
abrangendo
tambm
os
regulamentos
complementares,
referidos
genericamente
a
uma
lei
cujos
fins
e
sistema
normativo
vo
desenvolver.
A
lei
constitucional
autoriza
ainda
a
emanao
de
regulamentos
independentes,
nos
quais
a
lei
se
limita
a
indicar
a
autoridade
que
poder
ou
dever
emanar
o
regulamento
e
a
matria
sobre
que
versa.
2.4.
Princpio
do
congelamento
do
grau
hierrquico
CAPTULO
V
O
PROCEDIMENTO
LEGISLATIVO
1.
Conceito
O
procedimento
legislativo
a
sucesso
de
uma
srie
de
actos,
qualitativa
e
funcionalmente
heterogneos
e
autnomos,
praticados
por
sujeitos
diversos
e
necessrios
para
a
produo
um
acto
legislativo,
sendo
a
lei
o
acto
final
do
procedimento.
2.
Fases
e
actos
do
procedimento
legislativo
2.1.
Fase
de
iniciativa
Na
fase
de
iniciativa
englobam-se
os
actos
propulsivos
do
procedimento
legiferante.
O
direito
de
iniciativa
legislativa
manifesta-se
atravs
da
apresentao
AR
de:
Propostas,
quando
a
iniciativa
parte
do
Governo
ou
das
assembleias
legislativas
regionais:
Projectos,
quando
a
iniciativa
parte
da
AR
ou
de
um
grupo
de
cidados.
Assim,
o
sistema
de
iniciativa
legislativa
portugus
configura-se
como
um
sistema
de
iniciativa
pluralstica,
dado
que
o
poder
de
iniciativa
pertence
a
(1)
vrios
rgos
e
(2)
a
grupos
de
cidados,
um
direito
de
participao
poltica
de
exerccio
colectivo.
O
fundamento
para
o
exerccio
deste
direito
,
muitas
vezes
o
dever
concretamente
imposto
pela
Constituio
no
sentido
de
as
entidades
legiferantes
adoptarem
determinadas
medidas
legislativas
concretizadoras
das
normas
constitucionais.
A
iniciativa
legislativa
no
se
restringe
iniciativa
legislativa
primria
ou
originria.
Existe
tambm
a
iniciativa
legislativa
secundria
ou
derivada,
que
consiste
na
apresentao
de
propostas
de
alterao
a
projectos
ou
propostas
de
lei
ou
em
textos
de
substituio.
2.2
Fase
instrutria
A
fase
instrutria
um
fase
facultativa
que,
por
fora
de
uma
maior
complexidade
da
legiferao
de
do
princpio
do
Estado
de
Direito,
se
costuma
realizar.
Tem
por
finalidade
recolher
e
elaborar
os
dados
e
elementos
que
permitam
analisar
a
oportunidade
do
procedimento
legislativo
bem
como
o
respectivo
contedo.
A
aquisio
de
dados
efectua-se
quer
aproveitando
os
materiais
fornecidos
pelas
entidades
que
tiveram
a
iniciativa
de
lei,
quer
atravs
de
recolha
autnoma
efectuada
pela
comisso
da
AR
competente.
Entre
ns,
esta
tarefa
cabe
geralmente
s
comisses
permanentes
especializadas,
competindo
a
elas
darem
o
seu
parecer
devidamente
fundamentado,
podendo
tambm
sugerir
a
substituio
do
texto.
A
elas
compete
a
votao
na
especialidade
e
a
votao
final
global
incide
sobre
o
texto
de
substituio
e
no
sobre
o
texto
original.
2.3.
Fase
constitutiva
A
fase
constitutiva
a
fase
em
que
se
produz
o
acto
principal
e
qual
se
reportam
os
efeitos
jurdicos
essenciais.
Inclui
vrios
subprocedimentos:
1. Discusso
ou
debate
a. Discusso
na
generalidade
incide
sobre
os
princpios
e
o
sistema
de
cada
projecto
ou
proposta
de
lei.
b. Discusso
na
especialidade
versa
sobre
cada
artigo.
2. Votao
a. Votao
na
generalidade
realizada
no
Plenrio,
incide
sobre
a
oportunidade
e
sentido
global
do
projecto.
b. Votao
na
especialidade
realizada
nas
comisses
especializadas,
incide
sobre
solues
concretas
a
aprovar
no
texto
da
norma.
c. Votao
final
global
realizada
novamente
no
Plenrio,
concentra-se
no
texto
apurado
na
especialidade
e
traduz-se
num
juzo
definitivo
e
global.
3. Redaco
geralmente
a
cabo
das
comisses
especializadas.
A
inexistncia
de
qualquer
das
votaes,
nos
termos
constitucionalmente
exigidos,
implicar
um
vcio
de
procedimento
conducente
nulidade
da
lei.
Alm
do
processo
legislativo
normal,
h
ainda
o
processo
de
urgncia
(art.
170.).
2.4.
Fase
de
controlo
A
fase
de
controlo
destina-se
a
permitir
a
avaliao
do
mrito
e
da
conformidade
constitucional
do
acto
legislativo.
Os
projectos
ou
propostas
de
leis,
uma
vez
aprovados,
so
enviados
com
o
nome
de
decretos
da
AR
ao
Presidente
da
Repblica,
que
poder
agir
de
trs
maneiras
distintas:
1. Promulgao;
2. Veto
poltico;
3. Fiscalizao
preventiva
da
constitucionalidade.
A
promulgao
carece,
de
seguida,
de
referenda
ministerial,
um
controlo
certificatrio
exercido
pelo
Governo.
Deve
mencionar-se
ainda
a
assinatura
dos
diplomas
pelo
PR.
2.5.
Fase
de
integrao
de
eficcia
A
fase
de
integrao
de
eficcia
abrange
os
actos
destinados
a
tornarem
eficaz
o
acto
legislativo,
designadamente
atravs
da
sua
publicidade.
No
so
requisitos
de
perfeio
ou
validade,
visando
antes
levar
os
actos
ao
conhecimento
dos
cidados,
atravs
da
publicao
no
Dirio
da
Repblica.
-
Princpio
da
publicidade
O
princpio
da
publicidade
encontra
o
seu
fundamento
no
princpio
do
Estado
de
direito
democrtico
e
exige
o
conhecimento,
por
parte
dos
cidados,
dos
actos
normativos,
proibindo
os
actos
normativos
secretos.
Este
princpio
est
consagrado
no
art.
119..
-
Princpio
da
publicao
Deve
distinguir-se
entre
publicidade
e
publicao
(1)
publicao
a
forma
de
publicidade
dos
actos
normativos
feita
atravs
do
jornal
oficial,
Dirio
da
Repblica,
enquanto
que
(2)
publicidade
qualquer
forma
de
comunicao
dos
actos
dos
poderes
pblicos
dotados
de
eficcia
externa.
-
Caracterizao
da
publicao
A
publicao
o
acto
mediante
o
qual
os
actos
normativos
so
levados
ao
conhecimento
dos
seus
destinatrios,
constituindo
um
requisito
de
eficcia,
e
no
de
validade,
do
acto.
Ao
perodo
que
decorre
entre
a
publicao
e
a
data
da
entrada
em
vigor
chama-se
vacatio
legis.
De
acordo
com
o
art.
119./2,
a
falta
de
publicidade
implica
a
ineficcia
jurdica
do
acto,
apesar
de,
na
verso
originria
do
texto
constituinte,
se
determinar
a
inexistncia
como
consequncia
jurdica
da
falta
de
publicidade.
-
Rectificao
Designa-se
por
rectificao
o
acto
jurdico-pblico
materialmente
administrativo
destinado
a
corrigir
erros
de
execuo
material
ocorridos
no
procedimento
de
publicao
de
uma
norma
jurdica.
Incluem-se
nos
erros
carecidos
de
posterior
rectificao
os
erros
materiais
faltas
ou
lapsos
na
impresso
grfica
do
diploma
legislativo
,
mas
no
os
erros
relacionados
com
o
procedimento
de
formao
do
prprio
acto,
que
s
podem
ser
sanados
atravs
de
outros
actos
com
igual
dignidade
normativa
e
segundo
o
iter
procedimental
prescrito
na
Constituio
ou
na
lei.
Fala-se
em
declarao
de
rectificao
para
actos
do
Governo
e
em
rectificao
para
actos
da
AR.
O
fundamento
constitucional
do
instituto
de
rectificao
no
isento
de
dificuldades,
apontando
alguma
doutrina
para
a
existncia
de
um
costume
constitucional
e
outra
para
um
simples
ttulo
da
legalidade.
Preventivo
realiza-se
sobre
normas
imperfeitas,
ou
seja,
antes
das
normas
entrarem
em
vigor
e
segue
a
tradio
francesa
da
Constituio
de
1958.
Sucessivo
realiza-se
sobre
normas
perfeitas
e
situa-se
na
linha
do
modelo
austraco.
Fiscalizao
da
inconstitucionalidade
por
omisso
ao
lado
da
fiscalizao
da
inconstitucionalidade
por
aco,
consagra-se
tambm
a
fiscalizao
da
inconstitucionalidade
por
omisso,
no
muito
frequente
no
plano
comparativo-constitucional.
Revela-se,
neste
domnio,
uma
influncia
dos
antigos
pases
socialistas.
-
3.
O
parmetro
de
controlo
Uma
norma
diz-se
inconstitucional
quando
viola
o
parmetro
normativo-constitucional,
ou
seja,
o
padro
ou
medida
de
controlo
da
constitucionalidade.
O
que
integra
o
bloco
de
constitucionalidade?
Uma
primeira
questo
passa
por
saber
se
as
normas
de
referncia
do
controlo
so
(1)
apenas
as
normas
e
princpio
constitucionais
escritos
ou
a
ordem
constitucional
global,
isto
,
os
princpios
constitucionais
escritos
ou
(2)
a
ordem
constitucional
global,
isto
,
os
princpios
e
normas
no
escritos
que,
no
tendo
materializao
expressa
no
texto
constitucional,
so
reclamados
pelo
constitucionalismo
global.
Gomes
Canotilho
adopta
uma
posio
intermdia,
integrando
no
padro
de
controlo
princpios
e
valores
no
escritos,
porm
que
ainda
possam
reconduzir-se
a
densificaes,
desenvolvimentos
ou
especificaes
de
princpios
constitucionais
escritos.
Fazem
parte
do
parmetro
constitucional
tambm
as
normas
consagradoras
de
direitos
fundamentais,
bem
como
outras
normas
consagradoras
de
direitos
s
materialmente
fundamentais.
4.
Objecto
de
controlo
4.1.
O
que
se
controla?
No
direito
constitucional
portugus,
o
objecto
de
controlo
no
so
apenas
os
chamados
actos
normativos
primrios,
ou
seja,
as
leis
e
os
tratados
internacionais,
mas
tambm
os
actos
normativos
secundrios
e
tercirios.
Portanto,
o
objecto
de
controlo
so
todas
as
normas.
O
conceito
de
norma
mobilizado
um
conceito
funcional
de
norma
para
efeitos
de
controlo.
Para
recortar
este
conceito,
so
avanados,
num
primeiro
plano,
dois
requisitos:
1. Requisito
material
este
requisito
ou
qualidade
jurdico-material
reconduz-se
ideia
de
norma
como
normao
geral
e
abstracta,
ou
seja,
como
(1)
padro
de
comportamento
e
(2)
acto
criador
de
regras
jurdicas
para
a
deciso
de
conflitos.
2. Requisito
orgnico
a
norma
tem
de
ser
criada
por
um
poder
normativo
legitimado
para
tal,
estando
assim
excluda,
partida,
a
normao
privada.
Num
segundo
plano,
a
doutrina
avana
quatro
critrios
de
densificao:
1. Normatividade
so
actos
normativos
para
efeitos
de
controlo
os
actos
de
criao
normativa,
por
oposio
aos
actos
de
aplicao
normativa.
2. Imediao
-
so
actos
normativos
para
efeitos
de
controlo
os
actos
que
violam
directamente
a
constituio,
estando
excludos
aqueles
que
s
violam
indirectamente
as
normas
constitucionais.
3. Heteronomia
normativa
-
so
actos
normativos
para
efeitos
de
controlo
os
actos
que
estabelecem
um
padro
de
comportamento
no
dependente
da
vontade
dos
destinatrios.
4. Reconhecimento
normativo
jurdico-poltico
-
so
actos
normativos
para
efeitos
de
controlo
os
actos
normativos
privados
com
efeitos
ultra
vires,
ou
seja,
aqueles
que
so
reconhecidos
pelos
poderes
pblicos
como
heteronomamente
vinculantes.
Modelo
da
judicial
review
identifica-se
com
este
modelo
pois
assenta
na
ideia
de
que
todos
os
juzes
devem
examinar
a
constitucionalidade
das
normas
que
aplicam;
afasta-se
porque
a
deciso
que
proferem
no
definitiva,
cabendo
a
ltima
palavra
sobre
esta
matria,
atravs
da
figura
do
recurso
de
constitucionalidade,
ao
TC.
3.
4.
2.2.
Fase
eventual:
o
recurso
de
inconstitucionalidade
Objecto
normativo
do
recurso
O
objecto
do
recurso
de
constitucionalidade
no
a
prpria
deciso
judicial,
mas
apenas
a
parte
dela
em
que
se
considerou
inconstitucional
ou
no
uma
determinada
norma
aplicvel
causa
em
apreciao
no
tribunal.
Daqui
decorre
que
inexiste,
entre
ns,
a
figura
da
aco
de
defesa
da
constitucionalidade
ou
da
queixa
constitucional,
seja
na
verso
espanhola
do
recurso
de
amparo,
seja
na
verso
alem
da
Verfassungsbechwerde.
Contudo,
trata-se
sempre
de
uma
norma
interpretativamente
mediatizada
pela
deciso
recorrida,
porque
a
norma
deve
ser
apreciada
no
recurso
segundo
a
interpretao
que
lhe
foi
dada
nessa
deciso.
Carcter
instrumental
do
recurso
O
recurso
de
constitucionalidade
assume
natureza
instrumental
relativamente
ao
processo-base,
de
tal
forma
que
s
h
interesse
em
apreciar
a
questo
de
constitucionalidade
suscitada
quando
o
eventual
julgamento
de
inconstitucionalidade
for
susceptvel
de
se
poder
projectar
ou
repercutir,
de
forma
til
e
eficaz,
na
deciso
recorrida,
de
modo
a
alterar
ou
modificar
a
soluo
jurdica
que
se
obteve
no
caso
concreto.
Prazo
do
recurso
O
prazo
para
interposio
de
recurso
de
10
dias,
contados
a
partir
da
data
da
notificao
da
deciso
recorrida
ao
interessado.
Tambm
aplicvel
ao
MP
quando
este
recorre
obrigatoriamente.
Tipos
de
recursos
Quanto
ao
objecto:
1. Recursos
de
decises
positivas
de
inconstitucionalidade
ou
de
decises
de
acolhimento
de
inconstitucionalidade.
2. Recursos
de
decises
negativas
de
inconstitucionalidade
ou
decises
de
rejeio
de
inconstitucionalidade.
3. Recursos
de
decises
aplicadoras
de
normas
j
anteriormente
julgadas
inconstitucionais
pelo
TC
4. Recurso
de
decises
judiciais,
restritos
a
questes
de
natureza
jurdico-constitucional
e
jurdico-
internacional,
que
apliquem
normas
constantes
de
acto
legislativo
com
fundamento
na
sua
contrariedade
com
uma
conveno
internacional
ou
a
apliquem
em
desconformidade
com
o
anteriormente
decidido
pelo
TC.
Quanto
qualidade
dos
recorrentes:
1.
2.
Quanto
ao
carcter
obrigatrio
ou
facultativo:
1. Recursos
facultativos
recursos
de
parte
e
recursos
do
Ministrio
Pblico,
sempre
que
seja
parte
no
processo
e
no
esteja
obrigado
a
recorrer
por
dever
de
ofcio.
2. Recursos
obrigatrios
recursos
interpostos
pelo
MP
em
cumprimento
de
expressa
imposio
constitucional:
(1)
recurso
de
decises
positivas
de
inconstitucionalidade,
em
que
se
recusou
a
aplicao
de
normas
constantes
de
actos
legislativos
ou
equiparados;
(2)
recurso
de
decises
negativas
de
inconstitucionalidade,
aplicadoras
de
normas
j
anteriormente
julgadas
inconstitucionais
pelo
TC.
Recurso
de
decises
positivas
de
inconstitucionalidade
ou
decises
de
acolhimento
de
inconstitucionalidade
Uma
deciso
positiva
de
inconstitucionalidade
a
deciso
proferida
pelo
tribunal
a
quo
na
qual
este,
por
considerar
que
existe
desconformidade
entre
o
acto
normativo
a
aplicar
ao
processo
e
a
Constituio
ou
certas
leis
de
valor
reforado,
desaplica
tal
norma.
Pressupostos
processuais
1. Legitimidade
para
recorrer
o
recurso
das
partes
assume
natureza
facultativa
e
destinam-se,
via
de
regra,
defesa
dos
interesses
subjectivos
do
recorrente.
J
para
o
MP,
o
recurso
obrigatrio,
que
se
justifica
em
nome
do
princpio
da
favor
legis,
ou
princpio
da
presuno
da
constitucionalidade
dos
actos
legislativos,
independentemente
da
circunstncia
de
ser
ou
no
parte
na
causa.
Quando
haja
desaplicao
de
outras
normas
que
no
as
integrantes
na
categorias
do
art.
280./3,
o
recurso
do
MP
ser
facultativo.
2. Recurso
directo
para
o
TC
havendo
deciso
positiva
de
inconstitucionalidade,
as
partes
e
o
MP
recorrem
directamente
para
o
TC,
a
contrario
senso
do
art.
70./2
LTC.
Contudo,
quanto
esteja
em
causa
um
recurso
obrigatrio
do
MP,
este
obrigado
a
recorrer
directamente
para
o
TC;
enquanto
que
as
partes,
ou
o
MP
quando
se
trata
de
recurso
facultativo,
podem
optar
por
esgotar
os
recursos
ordinrios.
3.
necessrio
que
a
deciso
jurisdicional
tenha
efectivamente
recusado
a
aplicao
explcita
ou
implcita
a
um
caso
concreto.
4.
necessrio
que
essa
recusa
se
fundamente
na
inconstitucionalidade
do
acto
normativo
desaplicado,
ou
na
sua
ilegalidade.
Recursos
de
decises
negativas
de
inconstitucionalidade
ou
decises
de
rejeio
de
inconstitucionalidade
Numa
deciso
deste
tipo,
o
tribunal
a
quo
aplica
ao
processo
uma
norma
cuja
inconstitucionalidade
foi
suscitada
durante
o
processo.
Este
tipo
de
recurso
indubitavelmente
o
meio
processual
de
maior
relevo
garantstico
dos
direitos
e
interesses
das
pessoas
individuais
e
colectivas.
Pressupostos
processuais
1. Princpio
da
legitimidade
restrita
parte
que
suscitou
o
incidente
tm
legitimidade
para
recorrer
as
pessoas
que
hajam
suscitado
a
questo
de
constitucionalidade
junto
do
tribunal
a
quo.
Aqui,
o
MP
no
tem
legitimidade
especfica
para
recorrer,
s
o
podendo
fazer
quando
seja
parte
e
tenha
sido
ele
a
arguir
a
inconstitucionalidade.
2. Princpio
da
viabilidade
do
recurso
necessrio
que
tenha
havido
a
aplicao
efectiva
da
norma
cuja
inconstitucionalidade
ou
ilegalidade
tenha
sido
suscitada
adequadamente
no
decurso
de
um
processo
e
que
seja
ratio
decidendi
da
sentena
impugnada.
Este
recurso
pretende
impedir
a
interposio
de
recursos
junto
do
TC
manifestamente
infundados.
3.
4.
5.
1.
2.
As
sentenas
intermdias
do
TC
1. Decises
interpretativas
de
acolhimento
o
TC
julga
a
norma
aplicada
pelo
tribunal
a
quo
inconstitucional
por
considerar
manifestamente
insustentvel
a
interpretao
da
norma
no
sentido
da
constitucionalidade
feita
pelo
tribunal,
ou
porque
entende
que
os
sentidos
razoveis
da
norma
so
inconstitucionais.
2. Decises
interpretativas
de
rejeio
o
TC
considera
a
norma
no
inconstitucional,
desde
que
interpretada
em
sentido
conforme
com
a
CRP,
sentido
esse
que
diverso
do
adoptado
pelo
tribunal
a
quo.
O
incidente
de
ilegalidade
e
o
recurso
de
ilegalidade
O
parmetro
de
controlo
em
sede
de
fiscalizao
concreta
tambm
um
controlo
da
legalidade.
Contudo,
fora
dos
casos
previstos
no
artigo
70.,
n.1,
als.
c),
d),
e)
e
f),
a
fiscalizao
da
legalidade
em
geral
da
competncia
dos
demais
tribunais,
sem
que
haja
possibilidade
de
recurso
para
o
TC.
Assim,
cabe
recurso
para
o
TC
das
seguintes
decises:
1. Decises
que
recusem
a
aplicao
da
norma
constante
de
acto
legislativo,
com
fundamento
na
sua
ilegalidade
por
violao
de
lei
com
valor
reforado;
2.
3.
4.
Decises
que
recusem
a
aplicao
de
norma
constante
de
diploma
regional
(decreto
legislativo
regional
ou
regulamentos
administrativos),
com
fundamento
na
sua
ilegalidade
por
violao
o
estatuto
da
regio
autnoma;
Decises
que
recusem
a
aplicao
de
norma
emanada
de
um
rgo
de
soberania,
com
fundamento
na
sua
ilegalidade
por
violao
do
estatuto
de
uma
regio
autnoma;
Decises
que
apliquem
a
norma
cuja
ilegalidade
haja
sido
suscitada
durante
o
processo
com
qualquer
dos
fundamentos
anteriores.
Tramitao
processual
1. O
tribunal
recorrido
aprecia,
a
ttulo
preliminar,
a
admissibilidade
do
recurso
(art.
76./1
LTC),
embora
esta
deciso
no
vincule
o
TC
(art.
76./3).
2. No
caso
do
requerimento
de
interposio
do
recurso
no
indicar
algum
dos
elementos
previstos
no
art.
75.-A,
deve
o
juiz
emitir
um
despacho
de
aperfeioamento
para
suprir
irregularidades
e
deficincias
constantes
do
requerimento,
o
qual
dever
ter
lugar
no
prazo
de
10
dias.
3. Em
caso
de
no
aperfeioamento
da
petio
de
recurso
quando
solicitado
ou
em
caso
de
no
preenchimento
dos
requisitos
processuais,
deve
o
juiz
relator
emitir
uma
deciso
sumria
(art.
78.-A/1
e
2),
decidindo
o
no
conhecimento
do
objecto
do
recurso
com
fundamento
no
art.
76./2.
Da
deciso
sumria
cabe
reclamao
para
a
conferncia
de
juzes
da
Seco
do
Tribunal
Constitucional
(78.-A/3).
4. Quando
se
trate
de
uma
deciso
negativa
de
inconstitucionalidade,
pode
o
recurso
ser
indeferido
no
caso
de
manifestamente
infundado
(art.
76./2).
5. Quando
no
haja
deciso
sumria,
o
processo
segue
para
a
fase
das
alegaes,
uma
pea
processual
onde
o
recorrente
expe,
no
prazo
de
30
dias,
os
motivos
da
sua
impugnao,
explicitando
as
razes
por
que
a
deciso
recorrida
errada
ou
injusta
(art.
78.-A/5).
6. Quando
a
questo
for
simples,
por
j
ter
sido
objecto
de
anterior
deciso
do
TC,
deve
o
juiz
relator
proferir
uma
deciso
sumria
de
julgamento.
Desta
deciso
cabe
recurso
para
a
conferncia
de
juzes
da
seco.
O
pedido
de
fiscalizao
abstracta
no
tem
prazo,
podendo
ser
requerida
a
todo
o
tempo
(art.
62./1
LTC).
3.
Efeitos
das
decises
3.1.
Sentenas
de
rejeio
da
inconstitucionalidade
ou
sentenas
negativas
Quanto
ao
contedo
numa
sentena
de
rejeio
da
inconstitucionalidade,
o
TC
julga
improcedente
o
pedido
do
requerente,
seja
(1)
porque
discorda
da
cauda
de
pedir,
ou
(2)
porque
considera
que
a
norma
pode
ainda
ser
vlida
atravs
de
uma
interpretao
conforme
a
Constituio.
Quanto
aos
efeitos
uma
sentena
de
rejeio
no
beneficia
de
fora
obrigatria
geral
e
do
efeito
do
caso
julgado.
Se
uma
deciso
tivesse
fora
de
caso
julgado,
significaria
que
se
estaria
a
consagrar,
entre
ns,
a
regra
da
vinculao
a
precedentes
judiciais.
O
mesmo
dizer
que
tal
sentena
no
tem
efeito
preclusivo,
no
impedindo
que
o
mesmo
ou
outro
requerente
venha
de
novo
solicitar
ao
TC
a
apreciao
da
norma.
No
entanto,
a
norma
no
declarada
inconstitucional
beneficia
de
uma
presuno
de
no
inconstitucionalidade.
3.2.
Sentenas
declarativas
de
inconstitucionalidade
ou
sentenas
de
provimento
Regime
geral
dos
efeitos
das
sentenas
declarativas
de
inconstitucionalidade
Vinculatividade
das
decises
1. Fora
de
caso
julgado
as
sentenas
do
TC
tm
fora
de
caso
julgado
(1)
formal,
pois
so
decises
finais,
insusceptveis
de
recurso
ordinrio
no
processo,
e
(2)
material,
isto
,
a
deciso
vale
para
todos.
2. Fora
obrigatria
geral
(art.
282./1
CRP
e
art.
66.
LTC)
a
fora
obrigatria
geral
est
ligado,
segundo
Gomes
Canotilho,
a
duas
notas
a
vinculao
geral
e
a
fora
de
lei.
a. Vinculao
geral
traduz-se
na
vinculao
a
todos
os
rgos
constitucionais,
todos
os
tribunais
e
todas
as
autoridades
administrativas.
b. Fora
de
lei
as
sentenas
tm
valor
normativo
para
todas
as
pessoas
fsicas
e
colectivas
juridicamente
afectadas
pela
deciso,
e
no
apenas
para
os
poderes
pblicos.
Porm,
esta
aluso
ao
efeito
de
lei
no
pretende
equiparar
as
sentenas
declarativas
a
actos
formalmente
legislativos,
mas
apenas
realar
a
produo,
por
parte
destas,
de
alguns
efeitos
ligados
aos
actos
legislativos
(por
exemplo,
a
publicao
em
jornal
oficial,
art.
119./1/g
CRP).
Em
termos
prticos,
a
fora
de
lei
tem
vrias
refraces:
1. Vinculao
do
legislador
a
declarao
de
inconstitucionalidade
implica
para
o
legislador:
a. Proibio
de
reproduo,
atravs
de
lei,
da
norma
declarada
inconstitucional.
Este
limite
negativo
justifica-se
pelos
princpios
da
constitucionalidade
e
da
confiana
entre
rgos
constitucionais.
A
proibio
abrange
os
casos
de
recuperao
da
lei
declarada
ilegal
embora
com
uma
nova
reformulao.
Estes
limites
no
devem,
todavia,
ser
considerados
eternos,
devendo
ter
em
conta
alteraes
substanciais
da
conscincia
jurdica
da
comunidade.
b. Proibio
de
convalidao
retroactiva
de
actos
administrativos
praticados
com
base
numa
norma
declara
inconstitucional
sem
limitao
de
efeitos.
2.
3.
Efeitos
das
decises
(regime-regra)
1. Efeito
invalidatrio
ou
retroactivo
(art.
282./1)
uma
norma
declarada
inconstitucional
uma
norma
invlida,
mais
concretamente,
uma
norma
nula,
o
que
significa
que
a
declarao
da
inconstitucionalidade
da
norma
anda
associada
declarao
de
nulidade
ipso
jure.
A
nulidade,
a
nvel
constitucional,
est
associada
a
(1)
eliminao
da
norma
inconstitucional
do
ordenamento
jurdico
e
(2)
eliminao
dos
efeitos
produzidos
por
ela
e
dos
actos
jurdicos
produzidos
ao
seu
abrigo,
ou
efeitos
ex
tunc.
A
retroactividade
da
declarao
de
inconstitucionalidade
justifica-se
por
dois
motivos,
(1)
por
a
Constituio,
como
fundamento
de
validade,
dever
prevalecer
sempre,
e
(2)
por
a
mera
eficcia
futura
da
declarao
poder
acarretar
diferenas
de
tratamento
das
pessoas.
A
sentena
do
TC
tem
carcter
declarativo,
ou
seja,
o
TC
vem
apenas
declarar
uma
realidade
j
existente.
Regime
de
inconstitucionalidade
originria
e
de
inconstitucionalidade
superveniente:
a. Inconstitucionalidade
originria
uma
norma
originariamente
inconstitucional
quando
a
desconformidade
entre
ela
e
o
parmetro
normativo-constitucional
existe
desde
o
momento
da
sua
criao.
Assim,
os
efeitos
retroagem
ao
momento
da
entrada
em
vigor
da
norma,
ou
seja,
so
efeitos
ex
tunc.
b. Inconstitucionalidade
superveniente
uma
norma
sofre
de
inconstitucionalidade
superveniente
quando
a
desconformidade
entre
ela
e
o
parmetro
normativo-
constitucional
posterior
sua
entrada
em
vigor,
ou
seja,
quando
resulta
de
uma
alterao
do
parmetro
constitucional,
quer
por
nova
Constituio,
quer
por
reviso
constitucional.
Para
estas
normas,
o
art.
282./2
estabelece
um
regime
especfico,
um
regime
misto
entre
a
eficcia
ex
tunc
absoluta
e
a
eficcia
ex
nunc,
na
medida
em
que
a
declarao
de
inconstitucionalidade
retroage
apenas
ao
momento
em
que
se
deu
a
entrada
em
vigor
da
norma
que
a
tornou
inconstitucional,
ou
seja,
o
momento
da
alterao
do
parmetro
jurdico-constitucional.
2. Efeito
repristinatrio
(art.
282./1)
a
declarao
de
inconstitucionalidade
produz
automaticamente
a
repristinao,
ou
seja,
a
reentrada
em
vigor
da
norma
ou
normas
revogadas
pela
norma
declarada
inconstitucional.
Este
efeito
decorre
dos
efeitos
ex
tunc
atribudos
sentena
de
declarao
de
inconstitucionalidade
e
tem
como
objectivo
evitar
o
vazio
jurdico
provocado
pela
eliminao
da
norma
inconstitucional.
Hipteses
nas
quais
no
existe
repristinao:
a. Quando
a
norma
declarada
inconstitucional
no
tiver
revogado
qualquer
norma
ou
quando
esta
houver
caducado;
b. Quando
a
norma
anterior
tambm
ela
inconstitucional,
hiptese
que
levanta
o
problema
de
saber
se
o
TC
pode
conhecer
desta
inconstitucionalidade
e
declar-la;
c. Quando
entre
nenhuma
norma
e
a
norma
repristinada,
seja
aquela
a
soluo
mais
razovel:
d. Quando
se
trate
de
inconstitucionalidade
superveniente,
embora
esta
seja
uma
soluo
controversa.
Excepes
ao
regime-regra
1.
2.
Limitao
dos
efeitos
de
declarao
de
inconstitucionalidade
(art.
282./4)
O
art.
282./4
consagra
a
possibilidade
de
o
TC
restringir
os
efeitos
da
declarao
de
inconstitucionalidade.
Os
efeitos
de
alcance
mais
restrito
podem
respeitar
a
trs
domnios,
(1)
aos
efeitos
retroactivos,
(2)
aos
efeitos
repristinatrios
e
(3)
nulidade
parcial
em
vez
de
nulidade
total.
1. Efeitos
retroactivos
a
sentena
declarativa
da
inconstitucionalidade
pode,
por
deciso
do
Tribunal,
(1)
produzir
apenas
efeitos
ex
nunc,
comeando
a
produzir
efeitos
a
partir
da
publicao
da
mesma
no
DR
ou
(2)
produzir
efeitos
apenas
at
certa
data
ou
at
ocorrncia
de
um
dado
evento.
2. Efeitos
repristinatrios
o
TC
pode
determinar
a
no
produo
de
efeitos
repristinatrios,
uma
deciso
que
se
pode
fundamentar
em
vrios
motivos,
(1)
a
norma
a
repristinar
pode
ser
inconstitucional,
(2)
a
norma
declarada
inconstitucional
pode
ter
caducado
ou
esgotado
o
seu
objecto,
ou
(3)
esta
pode
simplesmente
no
se
afigurar
uma
soluo
razovel,
por
impor
sacrifcios
excessivos
aos
destinatrios.
A
doutrina
admite
ainda
a
repristinao
parcial,
situao
que
se
justifica
quando
as
objeces
contra
a
repristinao
respeitarem
apenas
a
uma
parte
das
normas
revogadas.
3. Nulidade
parcial
a
regra
geral
a
de
que
a
declarao
de
inconstitucionalidade
de
uma
das
normas
de
um
diploma
se
comunica
s
demais.
Contudo,
consagra-se
a
hiptese
da
nulidade
parcial,
na
qual
vale
a
incomunicao
da
nulidade.
H
casos
em
que
a
nulidade
parcial
dos
actos
normativos
origina
a
nulidade
total
(1)
quando
as
normas
restantes
deixarem
de
ter
qualquer
significado
autnomo
(critrio
da
dependncia)
e
(2)
quando
o
preceito
fizer
parte
de
uma
regulamentao
global
(critrio
da
interdependncia).
igualmente
possvel
fazer
incidir
a
inconstitucionalidade
somente
sobre
um
segmente
de
uma
norma,
permitindo-nos
distinguir
entre
(1)
inconstitucionalidade
horizontal
ou
quantitativa
e
(2)
inconstitucionalidade
parcial
vertical
ou
qualitativa.
A
restrio
dos
efeitos
deve
ainda
ser
devidamente
fundamentada.
1. A
deciso
do
Tribunal
deve
sempre
ser
fundamentada,
podendo
fundar-se
em
razes
ligadas
segurana
jurdica,
equidade
ou
em
interesse
pblico
de
excepcional
relevo.
a. Segurana
jurdica
o
TC
pode
restringir
os
efeitos
de
declarao
de
inconstitucionalidade
quando
resulte
uma
destabilizao
suficientemente
grave
das
expectativas
jurdicas
dos
b.
c.
2.
3.
Esta
deciso
est
sempre
condicionada
por
um
princpio
de
proporcionalidade,
na
sua
trplice
vertente
de
necessidade,
adequao
e
racionalidade.
Existem,
finalmente,
limites
absolutos
limitao
de
efeitos,
por
virtude
de
princpios
fundamentais,
como
o
princpio
da
igualdade.
4.
A
repetio
do
julgado
(art.
281./3)
O
art.
281./3
prev
um
processo
de
fiscalizao
abstracta
de
carcter
oficioso,
atravs
do
qual
possvel
a
declarao
de
inconstitucionalidade
com
fora
obrigatria
geral
com
base
em,
pelo
menos,
trs
juzos
concretos
de
inconstitucionalidade
pelo
TC.
Este
um
processo:
1. Oficioso
seu
desencadeamento
parte
dos
prprios
juzos
do
TC
e
dos
magistrados
do
MP
(art.
82.
LTC);
2. Poder
facultativo
trata-se
de
uma
faculdade
e
no
de
um
exerccio
obrigatrio;
3. Poder
no
automtico
necessrio
o
desencadeamento
de
um
novo
processo
de
fiscalizao
abstracta
sucessiva.
Este
instituto
no
carece,
para
operar,
de
uma
uniformidade
dos
fundamentos
do
juzo
de
inconstitucionalidade,
valendo
aqui
o
princpio
jura
novit
curia.
Finalmente,
a
repetio
do
julgado
opera
como
uma
ponte
entre
o
controlo
concreto
e
o
controlo
abstracto
sucessivo
e
destina-se
a
garantir
os
princpios
da
unidade
jurisprudencial
e
da
segurana
jurdica.
Propostas
de
referendo
Representantes
da
Repblica
nas
RA
Decretos
legislativos
regionais
Primeiro-Ministro
ou
1/5
dos
deputados
da
AR
Leis
orgnicas
2.3.
Requisitos
temporais
A
apreciao
preventiva
da
constitucionalidade
deve
ser
requerida
no
prazo
de
oito
dias
a
contar
da
recepo
do
diploma
(art.
278./3).
O
TC
deve
pronunciar-se
no
prazo
de
25
dias,
o
qual
pode
ser
encurtado
pelo
PR
por
motivo
de
urgncia
(art.
278./8).
O
encurtamento
do
prazo
obedece
ao
princpio
da
proporcionalidade.
Figura
da
promulgao
vendada
ou
temporariamente
condicionada
(art.
278./7)
o
PR
no
pode
promulgar
os
decretos
sem
que
decorram
8
dias
aps
a
respectiva
recepo
ou
antes
de
o
TC
sobre
eles
se
ter
pronunciado,
quando
a
interveno
deste
tiver
sido
requerida.
A
razo
de
ser
deste
regime
a
de
respeitar
o
acautelamento
pela
deciso
do
TC
sempre
que
o
PM
ou
os
deputados
tenham
exercido
a
faculdade
de
requerer
a
fiscalizao
preventiva.
3.
Efeitos
da
deciso
Deciso
de
no
pronncia
1. Inexistncia
de
efeito
preclusivo
a
deciso
de
no
pronncia
no
faz
caso
julgado
material,
o
que
significa
que
a
pronncia
no
precludem
nem
vinculam
outros
processos
de
fiscalizao
sucessiva
da
inconstitucionalidade
que
no
futuro
possam
ter
por
objecto
a
norma
j
formada.
2. Caso
julgado
formal
porm,
a
deciso
faz
caso
julgado
formal,
o
que
significa
que
a
questo
da
inconstitucionalidade
fica
definitivamente
decidida
no
sentido
da
sentena.
Deciso
de
pronncia
1. Veto
por
inconstitucionalidade
do
diploma
(279./1)
este
veto
aposto
pelo
PR
ou
pelo
RR,
e
trata-se
de
um
veto
expresso,
obrigatrio
e
que
envolve
a
totalidade
do
diploma.
2. Devoluo
ou
reenvio
do
diploma
ao
rgo
que
aprovou
o
acto
(art.
279./1).
3. Expurgao
ou
confirmao
(art.
279./2,
3
e
4)
para
alm
da
hiptese
de
desistncia
do
diploma;
o
veto
do
PR
ou
dos
RR,
sendo
um
veto
suspensivo,
pode
ser
superado
por:
a. Expurgao
da
norma
considerada
constitucional
eliminao
das
normas
que
sofrem
do
vcio
de
inconstitucionalidade.
Neste
caso,
considera-se
que
ainda
se
trata
do
mesmo
diploma,
razo
pela
qual
e
est
precludida
nova
interveno
do
TC.
b. Reformulao
introduo
de
alteraes
substanciais
na
norma
ou
normas
implicadas
na
pronncia,
de
tal
forma
que
possvel
sustentar
a
existncia
de
um
novo
diploma,
distinto
to
vetado.
Assim
sendo,
justifica-se
que
o
PR
possa
requerer
novo
controlo
preventivo.
c. Confirmao
- Leis
da
AR
existe
a
possibilidade
de
confirmao
do
decreto
por
maioria
de
dois
teros
dos
deputados
presentes.
Esta
soluo
aparenta
semelhanas
com
o
art.
136./2,
isto
,
com
a
possibilidade
de
uma
maioria
parlamentar
qualificada
superar
o
veto
poltico
do
PR.
No
entanto,
no
caso
do
veto
poltico,
o
PR
no
poder
recusar
a
promulgao
do
diploma
confirmado,
ao
passo
que,
no
caso
do
veto
por
inconstitucionalidade,
o
PR
conserva
a
faculdade
de
promulgar,
ou
no,
o
diploma,
sendo
que
a
sua
deciso
depender
da
natureza
e
extenso
das
inconstitucionalidade,
da
maioria
da
confirmao,
etc.
- Decretos-leis
no
existe
possibilidade
de
confirmao.
- Decretos
legislativos
regionais
e
decretos
regulamentares
de
leis
gerais
da
Repblica
a
doutrina
maioritria
considera
no
haver
possibilidade
de
Presidente
da
Repblica;
Provedor
de
Justia;
Presidentes
das
Assembleias
Legislativas
Regionais
(com
fundamento
na
violao
de
direitos
das
Regies
Autnomas).
2. Destinatrios:
apenas
o
legislador.
4.2.
Requisitos
objectivos
falta
de
medidas
legislativas.
5.
Efeitos
(art.
282./2
CRP,
art.
68.
LTC)