Diversidade Religiosa e Cultural Do Maranhão
Diversidade Religiosa e Cultural Do Maranhão
Diversidade Religiosa e Cultural Do Maranhão
Sergio F. Ferretti
Antroplogo, Prof. da UFMA
Comunicao apresentada na Mesa Redonda Ensino Religioso e Diversidade Cultural, na I Semana de Ensino
Religioso. Do Instituto de Estudos Superiores do Maranho. So Lus, 16/10/2001.
vrios pais-de-santo de umbanda em So Lus, com instruo de nvel superior. Os umbandistas, em geral, gostam e
costumam ler livros sobre religio. Nos instrumentos, nas vestimentas, nos cnticos e nas entidades cultuadas, h
uma forte presena nos rituais de umbanda, de elementos do tambor de mina como tambm de orixs do candombl
nag (Xang, Oxossi, Yans, Exu e outros). Como disse certa vez o caboclo Ita em dona Nlia, chefe do terreiro
Balano Grande: ao atravessar as guas do Maranho, a umbanda aparece sempre cruzada com a mina.
Muitas vezes difcil distinguir porque uma casa se diz de umbanda ou de mina, embora haja
especificidades em ambos os cultos. Uma delas por exemplo que em terreiros de umbanda nunca vemos a
realizao de festas em louvor ao Divino Esprito Santo, que so comuns nos terreiros de mina de So Lus. Muitos
caboclos da mina baixam tambm nos terreiros de umbanda, como dona Mariana, Baiano Grande, caboclo
Ubirajara, dona Rosalina, seu Tapindar, seu Jos Tupinamb, o Rei da Bandeira, Menina da Ponta dAreia e
muitos outros. Uma das razes da diferena entre uma ou outra destas tradies a origem da preparao do lder
do culto: se ele foi preparado na mina, na cura, ou na umbanda.
A cura ou pajelana, tambm chamada de brinquedo ou toque de marac de origem amerndia,
encontra-se largamente difundida em So Lus e especialmente no Litoral Norte do Estado, na regio em torno do
Municpio de Cururup, onde h muitos curadores. Embora a cura ou pajelana tenha rituais especficos, diversos
terreiros em Cururup, realizam sees de mina mescladas com rituais de cura. comum a a presena, nos toques
de cura e de mina, de tambores de taboca, tocados juntos com outros instrumentos. Nesta regio tambm difcil
para os de fora distinguir porque uma casa ou certos rituais se dizem de mina ou de cura. Em So Lus, muitas
casas de mina realizam uma ou duas vezes ao ano, rituais de cura ou pajelana. Realizam tambm rituais
denominados de tambor de ndio, chamados de canjer e bor. Entre as principais entidades da linha de cura
podemos indicar: Seu Antnio Lus, Caboclo Guerreiro, seu Surrupira, Jurupiranga, Mestre Laurindo, linha das
princesas, linha das guas, dos pssaros, dos peixes, etc. Muitos destes encantados gostam de brincadeiras de
bumba-meu-boi ou de tambor de crioula.
O espiritismo kardecista encontra-se igualmente desenvolvido no Maranho, participado sobretudo por
populaes, mais letradas, de classe mdia. Existe uma corrente do espiritismo Kardecista, mais intelectualizada,
que no se aproxima das religies afro-americanas, a no ser pelo transe. O Espiritismo Kardecista no religio de
origem africana, mas de origem europia, com elementos do indusmo. Muitos terreiros de umbanda e alguns
terreiros de mina, realizam sees chamadas de mesa branca, em que predominam elementos do espiritismo.
Alguns terreiros de mina mandam clientes para os centros espritas quando acham que o problema tem a ver com
encosto de pessoas falecidas. Assim, o tambor de mina, a cura ou pajelana, a umbanda e o kardecismo encontramse mesclados, embora estas tradies sejam distintas, sendo comum indivduos e grupos que se dizem contrrios a
tais mesclas e se afirmem seguidores de grande ortodoxia.
Talvez possamos comparar as distines entre casas de mina, de umbanda ou de cura no Maranho,
com as distines igualmente sutis que, no meio acadmico, existem por exemplo entre a Sociologia e a
Antropologia. Outra distino similar a que existe na Igreja Catlica entre as congregaes ou ordens religiosas
como Beneditinos, Dominicanos, Franciscanos, ou outros grupos mais modernos. Tambm podemos comparar esta
diversidade com as diferentes denominaes existentes na religies evanglicas e mesmo nas Pentecostais e NeoPentecostais, to difundidas hoje em toda parte.
O tambor de mina a forma de religio afro-brasileira mais difundida no Maranho e na Amaznia e
principalmente nas cidades de So Lus e Belm. Uma de suas caractersticas a importncia da presena da nao
jeje (Ew-Fon), tanto nas entidades cultuadas (voduns), quanto na lngua dos cnticos, nos instrumentos, na
mitologia e nos rituais de modo geral. No rito mina-jeje sobressai a Casa das Minas, fundada na primeira metade do
sculo XIX e que continua atuante. Existe igualmente no tambor de mina uma forte presena da nao nag (no de
Ketu, como no candombl, mas de outras procedncias, mas este um tema que ainda no foi devidamente
investigado). Entre os nags, destaca-se a Casa de Nag, fundada por escravos africanos no sculo XIX em So
Lus e tambm atuante at hoje. Os demais terreiros de mina seguem principalmente a influncia destas duas casas
mes e sobretudo os rituais do modelo da Casa de Nag, com dois tambores de flandes sobre cavaletes, chamados
abats. Alem dos voduns e orixs, o tambor de mina marcado pela presena de entidades caboclas de procedncia
diversificada, originrios alguns do imaginrio europeu, mesclado com elementos da mitologia amerndia, como
por exemplo a famlia da Turquia, inspirada no ciclo das lendas de Carlos Magno e dos doze pares de Frana. No
tambor de mina as entidades costumam ser agrupadas em famlias, conforme a organizao dos voduns da Casa das
Minas, que as vezes so denominadas de linhas. como na umbanda.
No tambor de mina so cultuados voduns do Daom como Averequete, Dou, Poliboji, Sob e muitos
outros (mais de 60 so conhecidos s na Casa das Minas). Baixam tambm orixs conhecidos no candombl, como:
Iemanj, Xang, Nana, Xapan e outros. Baixam igualmente caboclos das linhas de cura e pajelana e outros
especficos da mina como entre eles: famlia do rei da Turquia: Ita, Jaguarema, Jarina, Jariodama, Joo da Mata,
Joo de Fama, Mariana, Maresia, Princesa dAlva, Tapindar, Guerreiro de Alexandria, Ferrabrs; Famlia de
Lgua Buji: Antnio de Lgua. Manoelzinho, Coli Maneiro, Xica Baiana; Famlia de Tabajara: Itamaraty. Itaipu,
Guarapiranga, Caiara, e outros.
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