Ing 98
Ing 98
Ing 98
II Série | Número 98 | 3
Março / Abril 2007
Director Fernando Santo | Director-Adjunto Victor Gonçalves de Brito a engenharia portuguesa em revista
ESPECIAL
COMUNICAÇÕES
TÉCNICAS
PRIMEIRO PRIMEIRO
PLANO PLANO
Prioridade para a “Experiência
qualificação profissional. portuguesa pode NOTÍCIAS
Resultados Finais ser capitalizada Prémios
INGENIUM
´
Director-Adjunto: Victor Gonçalves de Brito
Conselho Editorial:
João Carlos Chaves Almeida Fernandes, Vasco Fernando Ferreira Lagarto,
Eduardo Maldonado, Pedro Alexandre Marques Bernardo, João Moura Bordado,
Victor Gonçalves de Brito, Manuel Alexandre Pinto de Abreu, Miguel Castro
Neto, Pedro César Ochoa de Carvalho, Maria Manuel Xavier de Basto Oliveira,
SUMARIO
José António dos Santos Alegria, Justina Catarino, Luís Manuel Leite Ramos,
Maria Helena Pego Terêncio M. Antunes, Artur Ravara, Paulo Filipe Freitas
Rodrigues, António da Câmara Homem de Noronha 5 EDITORIAL
Redacção, Produção Gráfica e Publicidade: Ingenium Edições, Lda.
Novo mandato, novos desafios
Sede Av. Sidónio Pais, 4-E - 1050-212 Lisboa
Tel.: 21 313 26 00 - Fax: 21 352 46 32 6 Primeiro Plano
E-mail: [email protected]
Região Norte Rua Rodrigues Sampaio, 123 - 4000-425 Porto 6 Prioridade para a qualificação profissional
Tel.: 22 207 13 00 - Fax: 22 200 28 76
Região Centro Rua Antero de Quental, 107 - 3000 Coimbra 8 “Experiência portuguesa pode ser capitalizada no Panamá”
Tel.: 239 855 190 - Fax: 239 823 267
Região Sul Av. Sidónio Pais, 4-E - 1050-212 Lisboa
Tel.: 21 313 26 00 - Fax: 21 313 26 90 11 Notícias
Região Açores Rua do Mello, 23, 2.º - 9500-091 Ponta Delgada
Tel.: 296 628 018 - Fax: 296 628 019
Região Madeira Rua da Alegria, 23, 2.º - 9000-040 Funchal
14 Colégios
Tel.: 291 742 502 - Fax: 291 743 479
38 Comunicações
Impressão: Heska Portuguesa
A
s eleições na Ordem dos Engenheiros, que ti- reduzido na razão inversa do valor do acto adminis-
veram lugar no passado dia 27 de Fevereiro, trativo.
encerraram o mandato iniciado em 2004, que No ensino superior, quando pensávamos que tínha-
ficou marcado por uma clara afirmação da Ordem mos “batido no fundo”, surpreendem-nos sempre
Fernando Santo
na defesa da regulamentação da profissão, pela re- novas formas de admissão de alunos em cursos de en-
forma do ensino superior e por uma presença pú- genharia, em número muito elevado, seja sem neces-
blica na discussão de temas de interesse nacional, sidade de terem conhecimentos a matemática ou a
entre muitas outras intervenções. física, ou mesmo sem o 12.º ou o 9.º ano. O sistema Sem uma engenharia
Estes três anos permitiram o reforço interno da de ensino, tal como o dos licenciamentos, não garante
prestigiada
Ordem, em diversas dimensões, com um acréscimo o nível de qualidade, pois está refém das regras que
de 10% no número de membros, que ultrapassaram visam a sua sobrevivência, por falta de alunos mini- e com competências
a barreira dos 40.000, e com um aumento de 75% mamente preparados para os cursos de engenharia. reconhecidas,
do activo líquido existente no final de 2003. Por isso, compreende-se ainda melhor o papel da Portugal não terá
A criação do Portal, que registou 400.000 visitantes Ordem dos Engenheiros na exigência de prestação
meios para enfrentar
em 2006, e a decisão de lançarmos um Fundo de Pen- de provas para a admissão de membros e no reforço
sões, ficarão também como marcas deste período. da acreditação dos cursos que dispensam os licen- os novos desafios
No plano externo, as dificuldades foram maiores, por- ciados de exame de admissão. da globalização,
que num só mandato conhecemos três governos. Sem uma engenharia prestigiada e com competências da competitividade,
Julgo que terminámos a nossa missão com a consci- reconhecidas, Portugal não terá meios para enfrentar
assente numa
ência de termos feito tudo o que esteve ao nosso al- os novos desafios da globalização, da competitividade,
cance para, de novo, introduzirmos a engenharia assente numa estratégia em que o conhecimento é o estratégia em que
como um recurso estratégico nacional. valor essencial da afirmação das sociedades. o conhecimento
Por tudo isto, o mandato que agora iniciámos será é o valor essencial
Não defendemos posições corporativas, porque a um permanente desafio na defesa da engenharia e
da afirmação das
defesa da engenharia e dos engenheiros faz-se atra- da valorização das vertentes técnicas suporte das de-
vés da defesa do interesse público, razão de ser da cisões políticas. sociedades.
Ordem dos Engenheiros. E essa defesa deve passar
pela exigência de profissionais qualificados para o A presente edição da “Ingenium” tem um formato
desempenho de actos que afectem a segurança de diferente da linha editorial que iniciámos em 2004
pessoas e bens, e por um ensino de qualidade, que e que pretendemos continuar. Contudo, pelo facto
promova a obtenção de competências necessárias de termos reduzido, em cada edição, o número de
para o desenvolvimento do país e o reforço da ca- artigos científicos, muitos ficaram a aguardar a opor-
pacidade técnica da administração pública. tunidade para a sua publicação.
São questões óbvias para os engenheiros, mas pouco Porque é do maior interesse divulgar uma impor-
visíveis no modelo de desenvolvimento que temos. tante contribuição científica em vários domínios e
porque gostamos de respeitar os compromissos as-
No mandato que agora iniciámos, iremos continuar sumidos, entendemos dedicar esta edição especial à
com a prioridade da revisão legislativa das áreas téc- publicação desses artigos.
nicas, em especial com a reforma do sistema de li- Aos seus autores, os nossos agradecimentos e, simul-
cenciamento, fonte de ineficiência da economia e taneamente, as desculpas pelo atraso.
sem resultados qualitativos que justifiquem a sua
defesa, tal como está. Na próxima edição abordaremos um tema que está
Perante uma crescente teia de normas, regulamen- a ganhar uma crescente dimensão na sociedade por-
tos, legislação avulsa, pareceres de entidades desa- tuguesa, “A Engenharia da Saúde”, e iremos procurar
gregadas dos processos e de uma crescente ciência que a “Ingenium” continue a consolidar o modelo de
oculta, o valor da qualidade dos projectos foi sendo gestão e a sua linha editorial.
A
ausência de regulamentação exigindo a qua- poderão afectar a médio e a longo prazo o nosso
lificação profissional de engenheiro para a país, o Bastonário entende que cabe à Ordem lidades, temos de torná-los mais leves e opera-
prática de actos de interesse público; o gra- exercer um direito de intervenção não tutelado, cionais, deixando para os Regulamentos a por-
dual desmantelamento dos serviços públicos de mas responsável, enquanto agente da concreti- menorização das regras de organização e funcio-
engenharia e substituição de engenheiros quali- zação das boas políticas. namento”.
ficados por licenciados não reconhecidos; a perda “Sei que no mundo actual ser-se independente é
de competências do Estado na contratação, con- incómodo, é difícil, mas também é uma forma
trolo e fiscalização de serviços, empreitadas e for- de resistência para quem não se conforma com
necimentos; a gradual desvalorização do conhe- a visão de curto prazo, com o valor do efémero,
cimento e do exercício da profissão; a deslocali- quando afinal fomos preparados para pensar e
zação dos centros de decisão de empresas as- agir de forma racional e planeada”, reforça.
sentes em áreas de engenharia, acentuando o “Perante o quadro da formação académica que
risco da perda de centros de desenvolvimento da referi e os critérios pouco exigentes para a admis-
engenharia portuguesa; e a redução da interven- são na administração pública, compreende-se o
ção da engenharia devido ao desinvestimento nas incómodo produzido pela obrigatória presença de Quanto à Região Norte, a tomada de posse dos
áreas industriais, são, no entender do Eng.º Fer- engenheiros na prática de actos que devem estar Órgãos Regionais aconteceu no dia 4 de Abril,
nando Santo, algumas das debilidades com que regulados”, continuou. na Sede Regional da Ordem, no Porto.
o país se depara. No entanto, acrescenta ser “justo reconhecer que O Eng.º Gerardo Saraiva de Menezes, Presidente
Citados no seu discurso de tomada de posse como o actual Governo tem demonstrado uma maior do Conselho Directivo reeleito, destacou, na sua
Bastonário da Ordem dos Engenheiros, estes pro- determinação em regular o que deve exigir res- intervenção, a organização interna da Ordem na
blemas carecem de correcção “para que possa- ponsabilidade, tendo sido publicados diversos di- Região Norte, o reconhecimento/acreditação da
mos adequar o nosso modelo de desenvolvimento plomas nesse sentido e encontrando-se outros formação, a qualificação profissional dos enge-
aos constrangimentos actuais, assente numa es- em preparação”. nheiros, a regulamentação profissional e as rela-
tratégia que valorize o conhecimento, as compe- O Bastonário realçou o trabalho que irá desen- ções transfronteiriças como os cinco domínios de
tências, que elimine o facilitismo, a falta de rigor volver durante o próximo mandato, continuando, intervenção que merecerão o particular empenho
e a ineficiência, criando condições para tornar entre outros, a aposta em termos de intervenção da direcção do Norte, não obstante estar determi-
mais competitiva a nossa economia”. pública e de defesa do interesse público em ma- nada em “manter o elevado nível de participação
O Bastonário da Ordem dos Engenheiros, que térias relacionadas com a engenharia, bem como da Região Norte nos processos de gestão e de de-
tomou posse no dia 2 de Abril, no auditório da no que respeita à questão das competências para cisão da Ordem dos Engenheiros”, adiantou.
Ordem dos Engenheiros, conta com o Eng.º Se- a prática dos actos de engenharia.
bastião Feyo de Azevedo e o Eng.º Victor Gonçal-
ves de Brito como Vice-presidentes. Na mesma Órgãos Regionais
cerimónia, foram ainda empossados os membros
do Conselho de Admissão e Qualificação (CAQ)
e os representantes dos Colégios eleitos no sufrá-
gio de 27 de Fevereiro.
No seu discurso, o Bastonário falou também dos
problemas na área da educação como alguns dos
mais prementes a resolver, nomeadamente a de- O dia 12 de Abril foi dedicado ao Centro, tendo
ficiente formação escolar assegurada pelo sistema os membros eleitos daquela Região tomado posse
de ensino básico e secundário, que acaba por no Anfiteatro da Faculdade de Ciências e Tecno-
condicionar a escolha dos mais jovens no acesso logia da Universidade de Coimbra.
aos cursos superiores de engenharia e as conse- A continuação do empenho dos responsáveis da
quentes insuficiências na formação de muitos li- Região Centro na defesa da regulamentação pro-
A
expansão do Canal é um bem para toda a humanidade. Desde que os senvolvimento, basta verificar que tem uma taxa de crescimento de 8% ao
Panamenhos começaram a explorar directamente o Canal, que tem ano, que tem uma estratégia muito bem concertada do que pretende para
sido muito bom”. si enquanto país, onde irá precisar de muitas infra-estruturas em que nós,
As palavras são de Celedonio Guardia, um advogado com um pequeno e portugueses, somos bons”, explicou o Bastonário, Eng.º Fernando Santo,
moribundo escritório montado na parte velha da Cidade do Panamá, cha- adiantando que “apesar das empresas portuguesas poderem ser concorren-
mada “ciudad viejo”. tes ao nível do mercado interno, quando vão para o exterior devem ter uma
O seu amigo Miguel, que naquele domingo, 4 de Março, completava 57 lógica diferente de abordagem. Tem que haver uma união para, no exterior,
anos de idade, corroborou as vantagens das obras no Canal para a popu- podermos afirmar as nossas capacidades e os nossos conhecimentos”.
lação. “A expansão é muito boa para todos os Panamenhos porque cria tra- O programa delineado para a viagem obrigou a um ritmo acelerado de reu-
balho”, justificou ao mesmo tempo que tentava aliciar os turistas a aprecia- niões, contactos e troca de impressões.
rem um tesouro por ele guardado: uma abertura por onde, com alguma
generosidade, se poderia vislumbrar muito ao longe uma pontinha do Canal. Oportunidades de Investimento
Este esforço do Miguel é demonstrativo do significado do Canal para a po-
pulação daquele país. No fundo, o Canal e o Panamá são praticamente
uma e a mesma coisa, confundem-se mutuamente, não fossem as tran-
sacções geradas no Canal a principal actividade económica do país.
Estas e outras pessoas votaram em Outubro passado no referendo que o
Governo promoveu no sentido de auscultar a vontade dos seus concidadãos
quanto à expansão do Canal. 80% dos votantes decidiram afirmativamente,
tornando possível a concretização da maior obra dos próximos anos a acon-
tecer na América Latina e a dinamização absoluta da economia daquele
país. O Governo do Panamá delineou uma estratégia de desenvolvimento
nacional, com o epicentro na expansão do Canal, mas com outros projec-
tos periféricos de grande envergadura, que constituem oportunidades de
Figura 1 – Eclusas em funcionamento no Canal do Panamá
investimento e de exploração para todos os países que optem pela incur-
são naquele território. Neste domínio, a abertura do Governo local à parti- A incursão no projecto de expansão do Canal foi liderada por Óscar Bazán,
cipação de países estrangeiros é grande, uma vez que o Panamá não reúne representante da Autoridade do Canal do Panamá. O responsável apresen-
capacidade técnica e humana para a concretização dos projectos que tem tou uma solução que, de todos os trabalhos a executar, o de maior relevo
em cima da mesa. corresponde à construção de um terceiro conjunto de eclusas, composto
por dois novos complexos de eclusas, um no Atlântico e outro no Pací-
A Ordem no Panamá fico.
O projecto de expansão do Canal encontra-se especificado num sítio na In-
Foi este o contexto, a par do entusiasmo com que a Embaixadora do Pa- ternet criado propositadamente para o efeito (www.pancanal.com). Aqui
namá em Portugal, Dra. Minerva Batista, encara a possibilidade de ver a estão registados os procedimentos para a apresentação de propostas, as li-
engenharia portuguesa envolvida neste processo, que motivou a dinamiza- citações concretizadas, os contratos que vão sendo estabelecidos, o crono-
ção de uma viagem exploratória àquele país Latino-americano por parte da grama das adjudicações e evolução do projecto, bem como qualquer outra
Ordem dos Engenheiros. O objectivo foi tentar agilizar contactos entre as informação de relevo.
organizações de ambos os países com vista à descoberta de possibilidades O ambiente de desenvolvimento em que se insere a expansão do Canal é
de entendimento. E foi assim que, a 3 Março deste ano, um grupo de 30 também trampolim para a concretização de outros desafios de âmbito na-
pessoas, a maioria engenheiros e empresários, voou até à cidade do Pa- cional: a construção de um megaporto que trabalhe em sintonia com o
namá para tentar perceber as oportunidades que ali poderiam existir. Canal, infra-estruturas rodoviárias, de saneamento, de hotelaria e projectos
“No fundo, pretendemos conhecer melhor um país que está em franco de- na área das energias renováveis.
“Neste momento estamos interessados em levar dir sobre o seu futuro (visto ter estado durante lhões de dólares, o que representa mais de 7,5%
por diante a reparação da Ponte das Américas e muitos anos sob administração americana), pelo do PIB Panamiano.
contratar os serviços de fiscalização, manutenção que queremos que todos sintam que o Panamá No final, a sensação que persistiu foi a de que o
e monitorização da Ponte Centenário”, revelou o está aberto a negócios de todo o mundo”, são Panamá atravessa um momento ímpar de desen-
Vice-Ministro. Este tema das pontes, área em que palavras do Vice-Ministro dos Negócios Estran- volvimento e que necessita da presença técnica
Portugal tem história, foi desde logo motivo de geiros, Ricardo Duran, que recomenda, no en- responsável de outros países para concretizar as
interesse por parte de alguns dos engenheiros tanto, o estabelecimento de parcerias entre as suas ambições. Portugal parece ser um candi-
participantes na viagem, tendo resultado, até à empresas exteriores e entidades locais, inclusiva- dato muito bem-vindo.
Oportunidades de Investimento
Descrição, números e datas Transacções no Canal relacionadas com o Canal
O terceiro conjunto de eclusas inclui: 2 com- Pelo Canal passa Expansão e modernização do Canal
plexos de eclusas de 3 escalões, sendo cada do Panamá
complexo dotado de tanques de reutilização de 2 a 4% do comércio mundial Construção de um megaporto na entrada
água; caminhos de acesso às novas eclusas, e 11% do total do comércio dos do Canal pelo Pacífico
alargamento e aprofundamento dos caminhos Estados Unidos Expansão dos portos em ambas
de navegação actuais; elevação do nível má- 69% do tráfego do Canal tem origem ou as costas do istmo
ximo de funcionamento do lago Gatún destina-se aos Estados Unidos Expansão da via Panamá-Colón
Custo estimado do terceiro conjunto de eclusas: 144 rotas marítimas Movimento de contentores a nível nacional
5,250 milhões de dólares Reparação e manutenção de contentores
O novo conjunto de eclusas permitirá a passa- Principais utilizadores do Canal e percentagem Estaleiros para reparação de navios
gem de navios com 49 m de largura, 15 m de do Comércio Mundial que transita pelo Canal Abastecimento de combustível
altura e 366 m de comprimento Serviço de reboque de navios
O projecto terá início em 2007 e ficará com- 1 – Estados Unidos da América: 69% Serviços de segurança e inspecção de navios
pleto, o mais tardar, em 2014. A previsão de 2 – República Popular da China: 18% Serviço de recolha de detritos
abertura ao trânsito é 2015 3 – Japão: 17% Manuseamento de materiais perigosos
Movimento de carga em aeroportos
Instalação de organizações na zona
de Howard para manufactura de produtos
de alta tecnologia
Serviço de logística e armazenamento
Serviços especializados em tecnologia
da informação, comunicações e “call centres”
Assembleia de Representantes
N
a Assembleia de Representantes anual da Ordem dos Engenheiros, Foram igualmente aprovadas as alterações ao Regulamento das Especiali-
realizada no Porto, no dia 31 de Março de 2007, foi aprovado o Re- zações, cuja versão final se encontra divulgada no Portal do Engenheiro
latório de Actividades do Conselho Directivo Nacional referente a 2006, (www.ordemengenheiros.pt).
bem como as Contas do mesmo ano, que fecharam com um saldo positivo Aprovação mereceu ainda o Orçamento e o Plano de Actividades delinea-
de 618.094,00 Euros. dos para 2007.
A
Cerimónia de Investidura do novo Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, o Eng.º Fernando
Manuel Ramôa Cardoso Ribeiro, teve lugar no dia 1 de Março de 2007, no Grande Anfiteatro
do Centro de Congressos do IST.
“Atravessamos um período de profundas modificações na Universidade Portuguesa e que se prendem
com a Estratégia de Lisboa, com a adequação ao Processo de Bolonha, com a avaliação das univer-
sidades e com a sua Governação e, ainda, com as novas bases legais onde se irão mover”, identifi-
cou o responsável nas palavras que dirigiu à assistência.
O novo Reitor falou da criação da Agência Nacional para a Avaliação e a Acreditação que o Governo
colocou em discussão pública e do financiamento das Universidades, encarando como “imprescindível que em 2007 haja acesso a financia-
mentos complementares postos a concurso pelo Estado”.
Contudo, referiu-se à investigação como a grande prioridade, uma vez que “quem a faz, como a Finlândia, está colocado à frente em todos
os rankings”. A investigação é uma componente importante na grande maioria das escolas da UTL, sendo, neste domínio, “expectável que o
ISA possa apresentar em breve uma candidatura na área de Engenharia Agronómica e Florestal” à Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Engenheiro Químico, Professor Catedrático no IST e com Doutoramento em Ciências pela Universidade de Poitiers, o Eng.º Ramôa Ribeiro
desempenhou durante vários anos o cargo de Presidente da FCT. Na Ordem dos Engenheiros exerceu, entre 2001 e 2004, as funções de Pre-
sidente do Colégio Nacional de Química, sendo, actualmente, um dos representantes da Ordem na European Federation of Chimical Engine-
ers (EFCE) e membro do Conselho de Admissão e Qualificação (CAQ).
C
om a aproximação da conclusão de parte significativa das interven- nal. Em termos de Requalificação Urbana, a Valorização do Património,
ções Polis, no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio (QCA III), a Requalificação de Espaços Públicos nos centros das cidades e a Re-
as 39 cidades portuguesas requalificadas vieram à capital do país conversão de áreas urbanas degradadas tornaram-se nos grandes refe-
mostrar o resultado das intervenções que sofreram. Fizeram-no através renciais deste desígnio geral do Polis.
de uma exposição intitulada Programa Polis – “Viver as Cidades”, que Paralelamente à exposição, que se estendeu por uma área superior a
esteve patente de 15 de Fevereiro a 18 de Abril no Pavilhão de Portugal, 1000 m2, foi realizado um ciclo de conferências subordinado aos gran-
no Parque das Nações, em Lisboa. des temas que a compõem – Valorização Ambiental, Requalificação Ur-
A iniciativa, do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e bana e Mobilidade –, no qual participaram oradores de referência.
do Desenvolvimento Regional, com a colaboração do Gabinete Coorde- A Iluminação Urbana e a Construção Sustentável foram temas para dois
nador do Programa Polis e da Parque EXPO, e à qual a Ordem dos En- workshops, tendo ainda sido realizados quatro debates: O Modelo Insti-
genheiros se associou, promove “o imenso impacto do Polis nas cidades tucional do Programa Polis, o Programa Polis e os Instrumentos de Or-
portuguesas, um dos maiores programas realizados na Europa para re- denamento do Território, a Comunicação e Sensibilização Ambiental no
qualificação do território”, explica o Ministro do Ambiente, Eng.º Fran- Programa Polis e A Arquitectura no Programa Polis.
O
Prémio Secil Arquitectura 2006 foi entregue pelo Presidente da interior e outra exterior – e uma área de ginásio e serviços comuns,
República, no passado dia 30, ao Complexo Desportivo Ribera tendo sido edificada entre 2003 e o final de 2005.
Serrallo, em Cornella de Llobregat (Barcelona), da autoria do
Arquitecto Álvaro Siza Vieira. O Prémio Secil, de âmbito nacional e apoiado pela Ordem dos
A obra distinguida, por deliberação unânime do Júri, foi encomendada Engenheiros, distingue alternadamente a Engenharia e a Arquitectura,
pelo Município de Cornella de Llobregat e é constituída por um pavilhão tendo a edição do ano passado premiado o Estádio Municipal de Braga,
multiusos com capacidade para 2500 pessoas, duas piscinas – uma da responsabilidade do Eng.º Rui Furtado.
ENGENHARIA
AGRONÓMICA Miguel de Castro Neto Tel.: 21 364 96 25 Fax: 21 364 96 25 E-mail: [email protected]
Engenharia dos sistemas vivos, desenvol- profissionais é bastante vasto e estende-se à de Engenharia Biofísica – Ordenamento e Gestão
vida no sentido quer dos sistemas constru- conceptualização de Sistemas de Ordena- Ambiental da Universidade de Évora
tivos com materiais vivos, quer no sentido mento e Planeamento do Território e Ava- 2 Licenciado em Engenharia Biofísica –
da gestão de ecossistemas com vista ao au- liação do Impacte Ambiental e Sistemas Pe- Ordenamento e Gestão Ambiental (Especialização
mento da sua capacidade de suporte, à riciais, ao projecto e construção de medidas em Projecto Construtivo em Engenharia Biofísica)
cional “reflectir e debater o passado recente com relevante intervenção na área. A sua
e, principalmente, definir as bases de actua- moderação por um especialista em geotec-
ção para resolver os problemas actuais e an- nia de reconhecido mérito, muito contribuirá
tecipar os desafios futuros”. para se tornar num espaço privilegiado para
Ao promover este Seminário, o LNEC pre- o debate, com garantias de grande motiva-
tende divulgar, com a presença de conceitua- ção e interesse para os participantes. Qual-
dos especialistas nacionais e internacionais, quer intervenção nesta mesa redonda é bem-
“experiências adquiridas e desenvolvimentos -vinda e poderá iniciar-se desde já, envian-
e ensinamentos recentes” nas áreas da Geo- nacionais responsáveis pela execução e re- do para o e-mail do evento (aterros-de-resi
mecânica dos Resíduos, da Estabilidade dos gulação do sector irão contribuir para o en- [email protected]) as respectivas contribuições,
Aterros, das Tecnologias de Monitorização, quadramento das conferências técnicas e que podem ser na forma de opinião, de co-
da Degradibilidade dos Resíduos nos Ater- serão a garantia da transmissão de importan- mentário, de questão, entre outras.
ros, e do Desempenho dos Sistemas de Con- tes informações para a discussão, em áreas Para a tarde do segundo dia está programada
finamento. Pretende, também, contribuir como o planeamento estratégico em resí- uma Visita Técnica a um Aterro de Resí-
para dinamizar a discussão destes aspectos, duos e os desafios da política nacional dos duos, que constituirá uma boa oportunidade
dada a sua importância para a garantia da resíduos. No final das 12 intervenções pro- para muitos dos participantes tomarem con-
qualidade dos Aterros de Resíduos ao longo feridas pelos oradores convidados, terá lugar tacto com os aspectos práticos da gestão di-
do seu tempo de vida útil e assegurar a pro- uma mesa redonda para debater as “Pers- ária deste tipo de obra das Engenharias Civil
tecção do ambiente e da saúde pública. pectivas no Sector para o Futuro”, com um e Ambiental. Mais informação em:
As participações das principais autoridades Painel constituído por actores institucionais http://aterros-de-residuos.lnec.pt.
que, desde então, se repetem com uma pe- um deles, sub-temas específicos. Foram con- truturas, e de realização de estruturas (pro-
riodicidade de 8 anos. siderados todos os tipos de estruturas, no- jectos e obras).
À semelhança de edições anteriores, as Jor- meadamente edifícios, pontes, viadutos, tor- Na sequência da iniciativa levada a cabo em
nadas incluíram o Encontro Nacional de Be- res, reservatórios, silos, barragens, túneis, anteriores Encontros Nacionais sobre Betão
tão Estrutural, promovido bienalmente pelo obras hidráulicas, etc.; bem como todos os Estrutural, foi incluída a organização de um
GPBE. tipos de materiais, incluindo estruturas de Concurso dirigido à participação de estudan-
As JPEE 2006 integraram-se nas comemo- betão armado e pré-esforçado, de aço ou tes de Engenharia Civil. O Concurso PSI 2,
rações dos 60 anos do LNEC e dos 40 anos mistas, de madeira, de alvenaria, ou com a que deu continuidade ao Concurso PSI efec-
do GPBE, bem como na celebração dos 70 utilização de compósitos, etc. tuado em 2002, teve como objectivo dimen-
anos da Ordem dos Engenheiros. Os três primeiros dias das Jornadas foram sionar e executar o Pilar constituído por ele-
Com o objectivo de promover o intercâm- dedicados a conferências a cargo de especia- mentos pré-fabricados mais resistente a um
bio de experiências e informação no domí- listas nacionais e estrangeiros e à apresenta- sismo. Concorreram 41 alunos agrupados em
nio alargado da engenharia de estruturas, as ção de comunicações seleccionadas num total 14 equipas, com um total de 23 pilares em
JPEE 2006 contaram com uma adesão de de 115 intervenções orais e 33 posters. No representação de 6 instituições: Universidade
cerca de 500 participantes, oriundos de todo último dia, foram organizadas visitas técni- do Minho, Universidade de Aveiro, Facul-
o país, num universo abrangente de interes- cas às obras em curso para a Travessia do dade de Ciências e Tecnologia da Universi-
sados nas áreas de projecto, construção, ob- Tejo no Carregado e de expansão da linha dade de Coimbra, Escola Superior de Tec-
servação e reabilitação de estruturas. vermelha do Metropolitano de Lisboa. nologia do Instituto Politécnico de Castelo
As Jornadas desenvolveram-se em torno de Durante as Jornadas, decorreu ainda uma Branco, Faculdade de Ciências e Tecnologia
três de três grandes temas, “Verificação da exposição técnica de divulgação de novos da Universidade Nova de Lisboa e Instituto
Segurança de Estruturas”, “Comportamento produtos e serviços nas áreas de materiais e Superior de Engenharia de Lisboa.
e Reabilitação de Estruturas” e “Novas Rea- componentes estruturais, de tecnologias e Mais informações sobre as JPEE 2006 estão
lizações de Estruturas”, englobando, cada equipamento de construção e ensaio de es- disponíveis em: http://jpee2006.lnec.pt.
CIRED 2007
edição de 2007 do CIRED, identificada como a maior conferência e exposição na área
A da distribuição de electricidade, realiza-se no Centro de Congressos de Viena, na Áus-
tria, entre 21 e 24 de Maio.
Durante o CIRED, que tem lugar de dois em dois anos na Europa, são reportados os de-
senvolvimentos e as melhores práticas tecnológicas e de gestão na distribuição de electrici-
dade a nível mundial.
Os seus participantes podem assistir a sessões técnicas, discussões abertas, mesas redondas,
tutorais e um fórum interactivo valioso para engenheiros, fabricantes, consultores, acadé-
micos e gestores.
Para saber mais sobre este evento, pode consultar a sua página web no endereço:
www.cired2007.org.
ENG.ª GEOGRÁFICA
tricos, dado que cada um deles possui atri-
MELHOR ESTÁGIO 2006 butos específicos. Tentou-se detalhar as des-
crições tanto a nível de construção civil, como
SIG para aproveitamentos hidroeléctricos a nível de cadastro predial. Criaram-se enti-
da Zona Centro dades geográficas como: barragens, centrais,
canais, túneis, câmaras de carga, “sítios” (es-
sencialmente áreas consideradas como “zona
Autora: Eng.ª Sandra Isabel Oliveira Alves
de protecção” ao aproveitamento) que pos-
Orientadora: Eng.ª Elisa Manuela Domingues Almeida
suem tanto informação geométrica como in-
formação alfanumérica. A informação pro-
duzida permitiu delimitar os “sítios” dos apro-
empresa EDP Produção – Engenharia e tas de projecto, fichas cadastrais, dados dos veitamentos com identificação dos respecti-
A Manutenção foi a entidade onde se rea-
lizou este estágio, nos Departamentos de
Serviços de Finanças e das Conservatórias do
Registo Predial, fotografias, etc.. Considerou-
vos prédios, incluindo os dados registrais.
Procedeu-se ainda a uma fase de análise,
“Sistemas Informáticos” e de “Topografia e -se também necessária a aquisição de infor- onde foram produzidos modelos digitais do
Geodesia”. mação de base, como cartografia vectorial e terreno, tanto em formato GRID como for-
A actividade desta empresa desenvolve-se ortofotomapas. Após selecção, foram digita- mato TIN, e também mapas de declive e
em três frentes: engenharia de concepção, lizadas peças desenhadas, existentes interna- orientação. De modo a centralizar toda a in-
projecto e exploração; gestão de projectos e mente, sendo em seguida georreferenciadas formação produzida criou-se uma Geodata-
fiscalização da construção; e gestão, super- e parcialmente vectorizadas. Assim, foi inte- base (Base de Dados Geográfica).
visão e execução da grande manutenção de
equipamentos, sistemas e instalações.
O objectivo deste estágio formal prendeu-
-se com a criação de um Sistema de Infor-
mação Geográfica (SIG) que integrasse o
grupo de aproveitamentos hidroeléctricos
pertencentes à EDP, localizados na zona cen-
tro de Portugal e integrados no Sistema Eléc- Barragem de Santa Luzia
trico Não Vinculado (SENV). Este SIG
pauta-se por um carácter cadastral dado que grada no SIG informação geográfica vecto- Durante a duração deste estágio foi-me sem-
incidiu na descrição do património imobili- rial e raster e ainda alguns documentos pre- pre proporcionada e incentivada a presença
ário do Grupo EDP. viamente digitalizados. Este passo constituiu em conferências, bem como a deslocação a
A distribuição dos aproveitamentos em es- o principal obstáculo a ultrapassar, uma vez diversas instalações da empresa espalhadas
tudo é a seguinte: que dispúnhamos de uma grande diversidade pela zona centro, o que permitiu desfazer
Sistema Produtor Hidroeléctrico da Serra de formatos de ficheiros a inserir. algumas dúvidas que de outra forma não po-
da Estrela Escolheu-se um software SIG que se adap- deriam ser corrigidas.
– Principais Barragens – Lagoa Comprida, tasse ao trabalho em causa e definiu-se à par- Por fim, quero partilhar este prémio com a
Vale do Rossim e Lagoacho tida o sistema de coordenadas “Hayford – Eng.ª Elisa Almeida. Devo-lhe muitas horas
– Centrais – Lagoa Comprida, Sabugueiro Gauss, Datum Lisboa”. Nesta fase foi im- de dedicação, transmitindo-me os seus vas-
I e II, Desterro, Ponte de Jugais e Vila prescindível o estudo das características ge- tos conhecimentos de uma forma generosa
Cova rais de todos os aproveitamentos hidroeléc- e construtiva.
Aproveitamento Hidroeléctrico de Santa
Luzia (Barragens de Alto Ceira e Santa Barragem de Vale do Rossim
Luzia; Central de Santa Luzia)
Pequenos Aproveitamentos – Riba Côa,
Pateiro, Ribafeita, Drizes, Pisões, Figuei-
ral, Rei de Moinhos e Ermida.
O passo inicial consistiu em conseguir reunir
o maior número possível de elementos exis-
tentes na empresa – plantas cadastrais, plan-
ENG.ª MECÂNICA
MELHOR ESTÁGIO 2006
Manutenção de uma Fábrica de Cimento
estágio foi realizado no Centro de Pro- contrados os locais onde é necessário intervir Após a adjudicação dos trabalhos, são reali-
O dução de Souselas, que pertence à CIM-
POR – Indústria de Cimentos, S.A., e ar-
e como intervir na reparação anual. No Ga-
binete de Inspecção Preparação são elabora-
zados os programas de execução dos mes-
mos. Estes programas são realizados utili-
rancou com a sua exploração em Novembro das memórias descritivas que contêm toda a zando o programa MS-Project.
de 1974 com a primeira linha de produção. informação e modo de actuação nos diferen-
Consistiu no acompanhamento de todas as tes equipamentos, que se encontram agrupa- Os equipamentos em que se interveio nesta
intervenções de reparação da linha n.º 1 de dos por zonas do processo de fabrico. reparação encontram-se referenciados na ta-
fabrico de cimento, incluindo a reunião se- bela 1.
manal com as equipas subcontratadas de Após terem sido completadas as memórias
forma a obter toda a informação sobre os descritivas, são consultadas empresas para Nesta intervenção anual programada, foi
tempos de execução das mesmas e esclare- fazer um relatório sobre a reparação, refe- dada grande relevância à reparação do forno
cimento de quaisquer dúvidas, na elabora- rindo os pontos que há a melhorar. Estas 1, no qual foram substituídos três troços de
ção do planeamento da Reparação Anual da empresas são seleccionadas com base nos virola com o comprimento total de trinta
linha 1 em MS-Project. E, finalmente, a par- critérios custo e tempo de execução dos tra- metros.
ticipação na elaboração de um relatório sobre balhos.
toda a reparação, referindo os pontos que há Esta é uma reparação muito aparatosa de-
a melhorar. vido às dimensões do equipamento, que não
é realizada com muita frequência. É da maior
A produção de cimento é um processo bas- Tabela 1 – Equipamentos a Intervir na Grande importância planear adequada e antecipada-
Reparação Anual da Linha 1
tante complexo que não se resume somente mente esta operação e recolher a máxima
ao fabrico, pois existem vários factores que Grande Reparação Anual da Linha 1 informação para que esta possa ser utilizada
estão inerentes a este processo. Como por Reparação do Forno 1 posteriormente no planeamento de outra re-
exemplo, o controlo do processo, o impacto Substituição das Virolas de 3 a 15 do Forno 1 paração do mesmo género.
Descarga de Clinquer
ambiental, a envolvente social, a segurança,
Sistema de Ventilação
a manutenção e a qualidade. Neste relatório A interacção dos tipos de manutenção uti-
Forno 1 e Queima do Forno
de estágio, embora haja referência aos vários lizados (preventiva, curativa/correctiva e pre-
Filtros de Mangas da Linha 1
factores inerentes ao processo, a manuten- ditiva) promovem o bom funcionamento
Alimentação ao Moinho do Cru e Transporte
ção foi o tema principal. desta unidade fabril, cada vez mais voltada
de Farinha
para a manutenção preventiva, prevendo as
Alimentação ao Forno 1 e Alimentação à Tremonha
A grande reparação anual da linha 1 consiste de Nível Constante avarias e actuando antes que estas se façam
numa intervenção em todos os equipamen- Filtro de Mangas e Alteração nos Colectores sentir nos equipamentos, diminuindo assim
tos que esta linha contém, reparando, me- Circuito Gases e Poeiras custos a nível do equipamento e da própria
lhorando e corrigindo todas as falhas diag- Arrefecedor, Amostragem de Cozedura 1 produção.
nosticadas nos diversos equipamentos. Transporte de Clinquer
Moinho do Cru 1, Transporte ao Moinho do Cru O estágio, no âmbito da Manutenção Indus-
O processo de planeamento iniciou-se com Elevadores trial, permitiu a consolidação de conheci-
a recolha dos dados existentes sobre os vários Substituição de Juntas no Filtro de Mangas mentos adquiridos, essenciais para um bom
equipamentos. Através desta recolha são en- e Permutador desempenho profissional.
Em jeito de balanço...
o terminar este período de seis anos
A como Presidente do Colégio de Enge-
nharia Mecânica, não queria deixar de diri-
gir umas palavras a todos os colegas para lhes
agradecer a confiança depositada e o apoio
que me manifestaram, bem como para lhes
transmitir a honra e o prazer que ainda sinto
e sempre senti ao longo destes dois manda-
tos no exercício deste cargo.
Durante estes seis anos no Colégio de Mecâ-
nica, pudemos sempre contar com uma equipa
muito unida e dedicada, onde sempre houve
uma impecável articulação mecânica quer
entre os restantes membros do Colégio Nacio-
nal, quer entre os eleitos pelas três Regiões,
pelo que é de toda a justiça endereçar-lhes sino superior, na sua prolífica imaginação, cializações que mais perto possa estar de dar
aqui o meu agradecimento pessoal pela ex- têm vindo a promover, desde os tradicio- origem a um novo Colégio autónomo dentro
celente colaboração e espírito de equipa que nais “banda larga” aos cursos muito dirigi- da Ordem dos Engenheiros, e cuja acredita-
sempre tivemos. Sem o trabalho conjunto de dos de “banda muito estreita” em alguns ção em Mecânica, na base da tal já referida
todos, não teria sido possível fazer sequer uma sectores da profissão, e em que se corre o “cultura geral do Eng.º Mecânico” e dos cri-
fracção do que foi conseguido. risco de perder o que se pode designar pela térios mínimos estabelecidos, tornam por
Estes dois mandatos foram norteados por “cultura geral” do Engenheiro Mecânico. vezes as acreditações difíceis e exigindo muita
três vectores essenciais: Claro que nem todos os objectivos foram al- flexibilidade por parte das Comissões de
Valorizar a Profissão do Engenheiro Mecâ- cançados. Houve muitos progressos, em mui- Acreditação da Ordem. Não foi possível che-
nico, lutando pelo reconhecimento formal tas áreas, que nos deixaram muito satisfei- gar ainda a um acordo consensual e funcio-
de Actos de Engenharia próprios, regula- tos, em cada um dos três domínios acima nal para esta situação.
mentados se necessário e, em diálogo interno indicados, mas nem sempre foi possível fazer São estes, talvez, os dois pontos em que sinto
com outros Colégios, clarificando situações valer todos os nossos argumentos. Continua também a maior frustração pessoal por não
dúbias em que profissionais sem as devidas a haver muitas frentes onde há que conti- ter sido possível levar os objectivos propostos
competências e formação podiam (e ainda nuar a dialogar. Por exemplo, se, entre avan- a bom termo. Mas, certamente, quem nos
podem em muitos casos) assumir a respon- ços e recuos, se conseguiram fazer reconhe- seguirá na liderança do Colégio de Mecânica
sabilidade por algo que devia ser “nosso”, e cer as bases de conhecimento da acústica nos próximos mandatos não deixará de con-
fazendo reconhecer competências para cer- (ondas e vibrações...) ou dos projectos de tinuar a lutar para que, um dia, possa haver
tos Actos para que temos formação e cujo redes hidráulicas, entre outros, nunca se con- sucesso neste e também noutros pontos.
exercício nos era (ou ainda é) vedado; seguiu ultrapassar a barreira do reconheci- Resta-me desejar ao novo Colégio, liderado
Fomentar o reconhecimento profissional mento da capacidade de projecto para es- pelo colega Manuel Gameiro, que connosco
nas áreas mais significativas da actividade truturas mecânicas fixas, já que as móveis, partilhou activamente o trabalho destes úl-
do Engenheiro Mecânico, criando as con- certamente mais exigentes em termos de timos seis anos, na sua qualidade de Coor-
dições para viabilizar novas Especializações solicitações, nos são unanimemente reco- denador do Colégio de Mecânica na Região
que pudessem enquadrar um número sig- nhecidas como nossa competência exclusiva. Centro, e que, portanto, conhece no deta-
nificativo de membros do Colégio, de que Ultrapassar estas situações requer paciência, lhe todos os dossiers e a problemática da
se destacam a Manutenção Industrial, a perseverança e insistência, mas para os co- Ordem e da profissão, os maiores êxitos nos
Automação e a Refrigeração; legas e empresas mais directamente afecta- próximos anos, para maior engrandecimento
Estabelecer critérios claros para a acredi- dos por esta limitação, a paciência não traz da Ordem dos Engenheiros e do Colégio de
tação de cursos que possam dar entrada dividendos no curto prazo e é, sem dúvida, Mecânica, para o que certamente poderá
no Colégio de Mecânica aos respectivos fonte de frustração e descontentamento. contar com o apoio de todos nós para tudo
licenciados, tendo em conta a enorme di- Continuam também por definir critérios cla- o que necessitar.
versidade de formações e de designações ros para acreditação de cursos de Engenharia
de cursos que as nossas instituições de en- de Gestão Industrial, talvez uma das Espe- Eduardo Maldonado
26 milhões de Americanos dormem em em nichos de mercado, fabricando produtos dente que a comunidade científica dos Ma-
lençóis portugueses; de valor acrescentado com incorporação de teriais em Portugal tem alta produtividade,
Portugal é líder europeu em têxteis para conhecimento. faz boa ciência e divulga-a mas tal não se re-
o lar e é o terceiro maior exportador mun- O Eng.º Sousa Correia chamou a atenção flecte nas empresas. No entanto, lamentou-
dial; para a necessidade de reforçar a componente -se o facto de a indústria nacional continuar
As marcas portuguesas impõem-se pela de Engenharia nos cursos, sobretudo ao nível a adiar o investimento em Ciência e Tecno-
inovação: tecidos inteligentes, tecidos re- do cálculo das propriedades para o desem- logia de Materiais, esquecendo que as em-
tardadores do fogo, tecidos antibacteria- penho, e de introduzir o Engineering Design, presas que fabricam produtos de maior valor
nos, tecidos com propriedades terapêuti- um factor considerado indispensável ao de- acrescentado têm Engenheiros de Materiais
cas e hidratantes. senvolvimento do produto. nos seus quadros.
O Eng.º Alcântara Gonçalves, da TEandM, Durante o debate, foi mais uma vez referida Foi referida a Rede de Formação em Enge-
uma empresa de tratamentos de superfície a baixa procura dos cursos de engenharia por nharia de Materiais, formada em 2004 entre
e revestimentos, considerou que os Cursos parte dos estudantes do ensino secundário, 6 Universidades Portuguesas, afirmando-se
actuais são adequados, podendo, no entanto, apesar do esforço de promoção que tem sido como um compromisso entre escolas no de-
ser reforçada a componente económica e de feito pelas Escolas de Engenharia. Foram senvolvimento da formação em Engenharia
gestão. Prevê-se que as empresas comecem também referidas as dificuldades em obter de Materiais face à importância estratégica
a ter maior capacidade de incorporação de estágios de fim de curso nas empresas. dos materiais como suporte às novas tecno-
Engenheiros de Materiais, pois está a verifi- O Presidente da SPM, Prof. Marat Mendes, logias para a inovação e modernização da so-
car-se um “boom” no desenvolvimento de realçou o facto da área dos materiais ter a ciedade.
materiais avançados para várias aplicações, maior produtividade científica em Portugal,
tais como as energias renováveis e a indús- tendo sido também o campo em que a União Informações sobre a Rede estão disponíveis
tria automóvel. As empresas podem apostar Europeia mais investiu. Ficou também evi- em: http://dc.sapo.pt/redemat/
Instituto Portuário
e dos Transportes
Marítimos tem novo
Conselho Directivo
mês de Janeiro foi marcado pela tomada
O de posse do novo Conselho Directivo
do Instituto Portuário e dos Transportes Ma-
rítimos (IPTM), presidido pela Eng.ª Natér-
cia Cabral.
O IPTM é um organismo estatal de grande
relevância na actividade marítima e portuá-
ria, que tem por missão a supervisão, regu-
lamentação e inspecção do sector marítimo
e portuário nacional, a promoção da navega-
bilidade no rio Douro e a administração dos
Prospecção de petróleo
portos do continente que não são dotados
de administração autónoma.
na costa portuguesa
De entre as suas funções, destacam-se as de m princípios de Fevereiro, o Governo português celebrou
assessoria ao Governo, de administração ma-
rítima e portuária.
E um protocolo de prospecção de hidrocarbonetos na costa
alentejana, com um conjunto de empresas, nomeadamente
Actualmente, a actividade marítima e por- a australiana Hardman Resources, a Galp e a Partex.
tuária carece de grande dinamização e es-
pera-se que nesta nova etapa sejam concre- O protocolo celebrado prevê um período de actividade
tizadas alterações há muito reclamadas. de 4 anos e um volume de investimento na ordem dos
A proposta de regulamentação das activida- 26 milhões de euros. A prospecção decorrerá longe da costa,
des de projecto, construção e reparação de em profundidades entre 200 a 3.000 metros.
navios, apresentada em finais de Novembro
de 2006 pela Ordem do Engenheiros à Secre- As actividades off-shore constituem uma das áreas
tária de Estado dos Transportes, foi endossada de interesse da engenharia naval. Para além da prospecção
ao IPTM para apreciação, após uma primeira de hidrocarbonetos, o aproveitamento energético oceânico
reunião com o Presidente cessante do IPTM. constitui igualmente uma oportunidade para
O Colégio de Engenharia Naval solicitará pro- o desenvolvimento de estruturas oceânicas de aplicação
ximamente uma audiência para sensibilizar o específica, bem com a utilização de diversos tipos
novo Conselho Directivo do IPTM para um de embarcações de apoio.
assunto que se reveste da maior importância
para o desenvolvimento da actividade de en-
genharia naval no nosso País.
Defesa Nacional e composta por nove mi- portes e Comunicações ter apresentado pu- recursos. Não será certamente por falta de
nistros e por representantes dos Governos blicamente as “Orientações Estratégicas para orientações estratégicas que os sectores liga-
Regionais. Esta comissão, cuja missão é “in- o Sector Marítimo-Portuário”. Trata-se de dos ao Transporte Marítimo e às restantes
tegrar e coordenar as políticas transversais um extenso documento de 171 páginas que áreas de aproveitamento dos recursos marí-
relacionadas com os assuntos do mar”, será merece ser devidamente apreciado, dada a timos não se desenvolvem. Neste seguimento,
assessorada pela Estrutura de Missão para os sua importância para o sector. espera-se que venham a ser concretizadas as
Assuntos do Mar (EMAM) e passará a ter Estas duas iniciativas, de índole estratégica, políticas e os programas operacionais com
um mandato permanente e mais amplo. juntam-se a muitas outras conduzidas ante- vista ao desejado desenvolvimento econó-
Isto depois de, em meados de Dezembro de riormente em diversos domínios de afini- mico e ao aumento do emprego nos secto-
2006, o Ministério das Obras Públicas, Trans- dade com o mar e com o uso sustentável dos res ligados ao mar.
ENGENHARIA
QUÍMICA João Moura Bordado Tel.: 21 841 91 82 Fax: 21 841 91 98 E-mail: [email protected]
ENG.ª QUÍMICA
O estágio realizado na Technip foi uma ex-
MELHOR ESTÁGIO 2006 periência extremamente gratificante a nível
profissional. Por um lado, permitiu pôr em
Revamping da Produção de Etileno da REPSOL YPF prática tudo aquilo que foi estudado no âm-
(Sines) bito da licenciatura e, sobretudo, da pós-gra-
duação efectuada em Paris. Temáticas como
Autor: Eng.º José Manuel Costa Pinto Salgueiro Rêgo o dimensionamento de bombas, de permu-
Orientador: Eng.º Mário Silva tadores de calor e de colunas de destilação
foram abordadas em algumas disciplinas da
licenciatura e aprofundadas na pós-gradua-
urante o estágio, o vencedor integrou a tivo identificar os potenciais passos de au- ção, sujeita ao tema “Raffinage, Ingénierie
D equipa de processo da Technip Portu-
gal (agora denominada Technoedif Engenha-
mento de produção para além das 415 kton/
ano, com os respectivos de-bottleneckings e
et Gaz”. Estes conhecimentos revelaram-se
de extrema utilidade para o projecto reali-
ria) para participar na engenharia de base do custos de investimento. Este estudo foi rea- zado para a Repsol, onde foi também possí-
projecto “Capacity Creep Expansion” da lizado na sede da Technip France, em Paris. vel aperfeiçoar a técnica de desenho de Pro-
Repsol YPF em Sines. O objectivo deste Em ambas as fases do estágio foram analisa- cess and Flow Diagrams e de Process and
projecto foi remodelar a unidade de etileno dos os seguintes equipamentos, para verifi- Instrumentation Diagrams.
para aumentar a sua produção de 330 para car se teriam a mesma performance com as
415 kton/ano, removendo os actuais bottle- novas condições de produção: Por outro lado, verificou-se igualmente uma
necks, sem alterar a configuração original da bombas e compressores aprendizagem de novos conhecimentos, no-
fábrica, nem modificar os principais equipa- colunas de destilação meadamente a utilização de um novo pro-
mentos da fábrica, nomeadamente o com- balões separadores gás-líquido grama de simulação (HYSYS) e a análise de
pressor de gás e os compressores dos ciclos permutadores de calor casos de sobrepressão de sistemas protegi-
frigoríficos, que são dos equipamentos mais reactores e secadores dos por válvulas de segurança. O estágio pos-
dispendiosos. válvulas de controlo e de segurança sibilitou ainda a observação prática das dife-
linhas rentes fases de um projecto e a interacção
O projecto foi realizado nas instalações da com as outras disciplinas da empresa. A opor-
Technip Portugal no interior da Repsol YPF, Caso não estivessem aptos para as novas con- tunidade de trabalhar na sede da Technip
sendo a equipa constituída por engenheiros dições, existiriam várias hipóteses: ou eram France, em Paris, foi igualmente um benefí-
da Technip Portugal e da Technip France. substituídos por outros de maior capacidade, cio proporcionado por este estágio, pois per-
Numa segunda fase do estágio, esteve envol- ou se instalavam novos em paralelo com os mitiu a observação de projectos de grandes
vido no “Scouting Study”, também para a existentes, ou se aproveitava o exterior do dimensões e o contacto com profissionais de
Repsol YPF em Sines, que teve como objec- equipamento e se mudavam os internos. diferentes áreas e nacionalidades.
António José Nunes Rosado * O valor rústico (A) deverá obter-se nas con-
dições de mercado, tendo em conta as ca-
1. Introdução Esta proposta metodológica tem por base o racterísticas do terreno quanto à sua vocação
cálculo do prémio urbanístico, entendido agro-florestal e pastoril, o que se poderá obter
O autor trata da avaliação dos prédios rús- como o lucro que um investidor virá a obter através de métodos econométricos que se
ticos localizados na periferia urbana que de- devido à operação de conversão do terreno baseiam no valor de venda de prédios análo-
signa por terrenos periurbanos. Estes terre- rústico em urbano, num tempo futuro de gos, no caso de se conseguir obter amostras
nos por estarem “junto à fronteira da área crescimento da “Cidade” ou aglomerado ur- significativas. O valor rústico também é cal-
urbana” têm o seu valor acrescido devido à bano. Este prémio, em geral, não inclui o valor culado com base no rendimento efectivo ou
expectativa criada por, mais tarde ou mais relativo à localização e qualidade ambiental possível de produções agro-florestais através
cedo, virem a ser integrados pelo urbanis- urbana, porque os terrenos localizam-se fora de metodologias designadas, em geral, por
mo. O cálculo do valor deste tipo de terreno da área urbana embora adjacentes à sua “fron- “Método do Rendimento”. Nestas metodo-
tem duas parcelas: o valor rústico e o valor teira”. Mas face à irregularidade dessa “fron- logias, conforme as culturas, assim será a pe-
expectante. teira urbana”, são frequentes terrenos parcial- riodicidade dos rendimentos e, consequen-
O valor expectante é obtido com base no mente envolvidos pelo tecido urbano e que temente, a fórmula de cálculo a utilizar. Neste
prémio urbanístico, entendido como o lucro constituem “ilhas” ou “penínsulas”. Nestes artigo, não se apresentam nem se discutem
que um investidor virá a obter devido à ope- terrenos a envolvente urbana confere um valor as fórmulas de cálculo do valor rústico, re-
ração de conversão do terreno rústico em estratégico, face à irreversibilidade da con- metendo-se o leitor para a literatura da es-
urbano, num tempo futuro de crescimento versão do terreno rústico em urbano, que se pecialidade.
da “Cidade” ou aglomerado urbano. traduz na materialização de um prémio pela O valor expectante (E) obtém-se pela actua-
Neste artigo pretende-se apresentar uma localização e pela qualidade ambiental dessa lização do prémio urbanístico durante o pe-
proposta metodológica que esclareça e quan- envolvente urbana já existente. Assim, o pré- ríodo de tempo (T) necessário para a absor-
tifique este valor expectante, que não pode mio urbanístico, incluindo ou não o valor es- ção desses terrenos pela “Cidade”. Como o
ser negligenciado nas avaliações deste tipo tratégico, deverá ser extraído do valor do ter- prémio urbanístico só será adquirido no fim
de terrenos. reno urbano na “condição de fronteira”. desse intervalo de tempo futuro, não perió-
Estabelecida a metodologia, fundamenta-se dico, terá de ter uma actualização infinitesi-
o cálculo do valor expectante nos termos do Nesta perspectiva, o valor do terreno urbano mal ou contínua, ou seja,
Código das Expropriações vigente em Por- (U) é a soma de três parcelas: o valor rús-
E=P 1 = PrT
tugal, apresenta-se um exemplo de aplica- tico (A), ou seja, o custo inicial do terreno; limm→∞ (1+mr mT (4)
ção e tiram-se conclusões. o capital que é necessário investir para trans-
) e
formar um terreno de rústico em urbano onde, m é o número de intervalos de tempo
2. Metodologia (C) e o prémio urbanístico (P), ou seja, no ano, e r é a taxa de desconto.
U=A+C+P (1) O valor expectante calcula-se, assim, atra-
A característica principal dos terrenos pe- vés da actualização infinitesimal ou continua
riurbanos é estarem localizados “junto à fron- O prémio urbanístico calcula-se, assim, a do prémio urbanístico, desde a data futura,
teira da área urbana” e de neles não estar partir da equação anterior, subtraindo ao em que se prevê que o terreno adquirirá este
autorizada a construção. São terrenos con- valor do terreno urbano o valor do terreno prémio, à data inicial da avaliação, conforme
dicionados, em geral, pelo PDM – Plano Di- enquanto rústico e os custos da transforma- se representa na figura 1.
rector Municipal e outros instrumentos do
plano, para usos agro-florestais ou outros fins. E - valor Pu - prémio
Expectante urbanístico
Mas porque são adjacentes à “fronteira ur-
bana”, serão os primeiros a serem absorvidos
pelo urbanismo na fase seguinte de cresci-
mento, quer seja para habitação, indústria, m m m
Data inicial 1 ano 2 anos T anos
equipamentos públicos ou zonas de verde
urbano. Figura 1 – Representação esquemática da actualização do prémio urbanístico
A duração do período de actualização repre- bano localizado junto de uma estrada nacio- valores para explicar a valorização dos terre-
senta, assim, o afastamento temporal do uso nal, com predominância de crescimento ao nos periurbanos ou, como se sugere, funda-
dos terrenos para fins urbanos. longo da mesma, no sentido da esquerda mentar a avaliação dos terrenos periurbanos
O risco desta operação financeira é variável, para a direita, em vez do alargamento con- com o cálculo do valor expectante nos ter-
dependendo da natureza das condicionantes cêntrico. mos da presente metodologia.
que impedem a utilização urbanística do ter-
reno, sendo contabilizado ao estabelecer a O período de actualização também poderá 3. Fundamentação do cálculo do valor
taxa de desconto de acordo com os critérios ser analisado comparativamente com o valor expectante nos termos do Código
normais da fixação desta taxa. expectante, quando este puder ser “medido” das Expropriações
A determinação do período de actualização directamente no mercado, através da se-
é da competência do avaliador. Quando há guinte expressão deduzida a partir da ex- O cálculo do valor expectante fundamenta-
elementos concretos e credíveis, a determi- pressão (4). se segundo o Código da Expropriações nos
nação deste período faz-se de forma abso- termos do n.º 5 do artigo 23.º, ao referir que
luta, ou seja, a curto prazo. Mas como geral- ln P (5) o valor calculado para os bens a expropriar
T= E
mente não se conhece de forma clara e de- r deve corresponder ao valor real e corrente
finida este intervalo de tempo, o período de A dificuldade da utilização de métodos eco- dos mesmos numa situação normal de mer-
actualização terá de ser fundamentado de nométricos na avaliação dos terrenos periur- cado, podendo na avaliação serem atendidos
forma relativa, a médio, a longo ou a extra banos e, consequentemente, na determinação outros critérios que não os apresentados nos
longo prazo, tendo em conta que o valor ex- da componente expectante está, como seria artigos seguintes para alcançar aquele valor,
pectante se anula, utilizando uma taxa de de prever, na obtenção dos dados de mercado o que justifica o cálculo do valor expectante
10 %, para períodos de actualização da ordem credíveis para calcular com segurança o valor porque o mercado já valoriza estes terrenos
dos 45 anos (ver figura 2). deste terrenos, ou seja, dos valores de oferta rústicos face à expectativa urbanística que
os caracteriza – serem terrenos que, mais
Evolução do Valor Expectante tarde ou mais cedo, serão absorvidos pelo ur-
80
Valor rústico banismo.
70
V Expectante c/ Tx - 10% Por outro lado, segundo o Código das Expro-
60 Valor urbano
Prémio urbanístico
priações, os terrenos periurbanos são classifi-
50
V Expectante c/ Tx - 4% cados, nos termos do artigo 24.º, como “solo
40
para outros fins”, sendo o seu valor calculado
30
Figura 2
nos termos do artigo 27.º. Da aplicação deste
20 Comportamento do valor
expectante em função artigo, verifica-se que atende ao valor de mer-
10
do período e actualização
cado ao basear o cálculo destes terrenos no
0 e taxa de desconto.
Fronteira 10 20 30 40 50 60 100 Anos valor de aquisições efectuadas na envolvente
e que, na falta destes elementos, a avaliação
deverá assentar no rendimento efectivo ou
Assim, analisando o comportamento do valor de venda e/ou de transacções efectuadas de possível do terreno enquanto agro-florestal
expectante relativamente à taxa de desconto prédios semelhantes ao avaliado. Pelo que, ou pastoril e em “outras circunstâncias objec-
e ao período de actualização, conforme se apre- não resta, em geral, outra hipótese ao avalia- tivas susceptíveis de influir no respectivo cál-
senta na figura 2, propõem-se os seguintes in- dor para completar a avaliação senão atribuir culo”. Ora, o valor expectante de um terreno
tervalos para o período de actualização:
– curto prazo – T = 1 a 3 anos Desenvolvimento previsto da "Cidade" à data da avaliação
– médio prazo – T = 3 a 15 anos
– longo prazo – T = 15 a 30 anos
– extra longo prazo – T = + de 30 anos.
Estrada Nacional
Mas em cada “Cidade” ou aglomerado ur-
bano haverá uma determinada tendência para
o crescimento urbanístico em determinado
sentido, ou seja, haverá maior probabilidade
da “Cidade” crescer segundo determinado
eixo, o que deverá ser devidamente caracte-
rizado pelo avaliador.
Médio prazo Longo prazo Extra longo prazo "Cidade"
Na figura 3 apresenta-se esquematicamente Figura 3 – Representação esquemática do período de actualização
uma pequena “Cidade” ou aglomerado ur-
devido à circunstância objectiva dele poder “...deverá corresponder a um máximo de Como já foi dito, não se desenvolvem as me-
vir a ser absorvido pelo urbanismo, não sendo 15% do custo de construção, variando”...”em todologias de cálculo do valor rústico, mas
um rendimento efectivo à data da avaliação, função da localização, qualidade ambien- para a apresentação deste exemplo elegeu-
revela-se como um rendimento possível num tal e dos equipamentos existentes na zona”, se o “Método do Rendimento” e a fórmula
tempo futuro previsível. nos termos do n.º 6 do artigo 26.º, acres- de cálculo relativa a rendimentos anuais (R),
Assim, é legítimo, nos termos dos artigos cida das percentagens relativas às infra-es- constantes e perpétuos, ou seja:
23.º e 27.º, atender aos indicadores de ava- truturas existentes junto à parcela, nos ter- (8)
A= R
liação estabelecidos no artigo 26.º, que são mos do n.º 7 do mesmo artigo, ou seja: r
relativos ao cálculo do valor do “solo apto a) acesso rodoviário pavimentado – 1,5%, Assim, admita-se que o rendimento fundiá-
para construção”, para determinar o valor b) passeios – 1%, rio possível de um terreno de cultura arvense
dos terrenos periurbanos. c) rede de água – 1%, de regadio é de R = 1000 €/ha, e que a taxa
d) rede de saneamento – 1,5%, de desconto adequada para aplicar na ope-
Cálculo do valor do terreno urbano na e) rede de energia eléctrica – 1%, ração de actualização do rendimento à data
condição fronteira e do custo da transfor- f) rede de drenagem de águas pluviais – 0,5%, da avaliação é de r = 0,03. Nesta perspec-
mação do terreno rústico em urbano (C) g) estação depuradora em ligação com a rede tiva, o valor rústico é calculado através da
O cálculo do valor do terreno urbano, segundo de saneamento – 2%, seguinte expressão:
o Código das Expropriações, fundamenta-se, h) rede de gás – 1%,
assim, nos termos do artigo 26.º, tendo por i) rede telefónica – 1%. A = 0,1 = 3,33 €/m2
0,03
base a seguinte fórmula de cálculo:
U = Cc × Ic × If (6) Restantes cálculos Cálculo do prémio urbanístico, segundo
Para calcular o valor expectante, segundo a as expressões (2):
O cálculo do custo da transformação de um metodologia apresentada, é necessário, ainda, P = U – C – A = 75 – 25 – 3.33 =
terreno rústico em urbano, segundo o Có- conhecer o valor do terreno enquanto rús- = 46.67 €/m2
digo das Expropriações, efectua-se através tico (A), que se determina conforme exposto
da comparação entre o valor do terreno in- no artigo 27.º do CE, no sentido de se de- Cálculo do valor expectante, segundo a
fraestruturado da envolvente na “fronteira terminar o prémio urbanístico. expressão (4):
da Cidade”, Ui, e o valor do terreno, em Conhecido o valor rústico e o valor expec- Admita-se que o terreno em avaliação foi
bruto, por infraestruturar e a converter em tante, obtém-se o valor do terreno periur- destinado a RAN – Reserva Agrícola Na-
urbano, Ub, deduzindo-se a seguinte fór- bano. cional – em condições passíveis de revisão
mula: a longo prazo, pelo que, poderá conside-
C = Ui – Ub = Cc × Ic × (Ifi – Ifb) (7) Exemplo de aplicação rar-se que o período de actualização é de
Admita-se para o terreno em avaliação os T = 30 anos. Para a taxa de desconto a
onde, Cc é o custo de construção, Ic é o ín- seguintes dados: aplicar nesta operação de actualização, con-
dice de construção, Ifi – Ifb é a diferença Cc – Custo de construção – 500€/m2 siderando os critérios normais de fixação
entre o índice atribuído ao terreno tendo em Ic – Índice de construção – 1,0 (Definido da taxa e o risco, admita-se que o valor
conta as infra-estruturas da envolvente na pela envolvente nos termos do PDM) adequado é de 0,05.
“fronteira urbana” e o índice atribuído ao Ifb – 0.10 (excluindo a localização e quali- E = PrT = 46,67 = 46,67 = 10,41€/m2
terreno por infraestruturar, em avaliação. dade ambiental) e e 0,05*30 4,48
Ifi – 0,10 + 0,05 = 0,15 (inclui acesso pa-
Assim: vimentado, redes de água, saneamento Cálculo do valor do terreno periurbano,
na determinação do custo da construção e energia eléctrica) segundo a expressão (3):
atende-se, como referencial, aos montan- Pu = A + E = 3,33 + 10,41 =
tes fixados administrativamente, segundo Cálculo do valor urbano, segundo a ex- = 13,74 €/m2 ≈ 14 €/m2
o n.º 5 do artigo 26.º; pressão (6):
o índice de construção deverá reflectir a U = Cc × Ic × Ifi = 500 × 1,0 × Conclusões
volumetria existente ou prevista nos ter- × 0,15 = 75€/m2
mos do respectivo PDM “na condição de O valor rústico de um prédio, calculado com
fronteira”, num aproveitamento economi- Cálculo do custo da transformação do ter- base numa renda agro-florestal e/ou de ou-
camente normal, ou seja, deverá corres- reno rústico em urbano, segundo a expres- tros usos não urbanos eventualmente possí-
ponder a uma ponderação capaz de tradu- são (7): veis, apresenta-se, nos dias de hoje, cada vez
zir as condições da envolvente na fronteira C = Cc × Ic × (Ifi – Ifb) = 500 × 1,0 × mais reduzido e incapaz de justificar por si
entre o espaço urbano e o espaço rústico × (0,15 – 0,10) = 25 €/m2 só o valor dos terrenos adjacentes à perife-
adjacente; ria urbana.
por fim, o índice atribuído ao valor do ter- Cálculo do valor rústico segundo a expres- A utilização de métodos econométricos re-
reno, tendo em conta as infra-estruturas são (8): vela-se pouco eficaz, na prática, face à difi-
culdade em obter dados em número suficiente precisos sob a desculpa de se contabilizar 1996 - 1.º Congresso Nacional de Avaliação
e credíveis, pela inexistência de bases de dados implicitamente e subjectivamente este valor no Imobiliário, APAE – Associação
utilizáveis em tempo útil nas avaliações. expectante. Portuguesa de Avaliações de Enge-
A metodologia agora proposta para cálculo A fundamentação do cálculo do valor expec- nharia, Editores – Prof. Artur A. Be-
do valor dos terrenos periurbanos através das tante nos termos do Código das Expropria- zelga e Eng.º Borges Leitão.
duas componentes aditivas – valor rústico e ções permite validar o modelo, por se tratar 1990 - Capozza, D. R. e Helsley, R. W., The
valor expectante –, separa claramente as ver- de uma avaliação aplicável nos termos da le- Stochastic City, Journal of Urban Eco-
dadeiras origens de valorização deste tipo de gislação vigente, conforme o exemplo de nomics, 187-203.
terrenos. Este modelo permite calcular e aplicação que se apresenta de forma clara e 1984 - Costa, A. Nunes, Construções Urba-
fundamentar o valor expectante através da simples. nas e Industriais, Encontro sobre Ava-
actualização contínua do prémio urbanístico liação de Bens Imobiliários, Porto.
durante o período de tempo necessário para Referências Bibliográficas 1943 - Barros, Henrique de, O Método Ana-
a absorção dos terrenos pela “Cidade” ou 2005 - Pinheiro, António Cipriano Afonso, lítico de Avaliação da Propriedade
aglomerado urbano. Avaliação de Património, Edições Sí- Rural, Ministério da Economia, Direc-
O conceito de valor expectante é mais visí- labo, 1.ª Edição. ção Geral dos Serviços Agrícolas, Es-
vel perto das zonas urbanas de maior cres- 2004 - Figueiredo, Ruy, Manual de Avaliação tudos e Informação Técnica n.º 23.
cimento, mas assume uma importância real, Imobiliária, Vislis Editores.
quer para investidores, quer para os actuais 1999 - Lei n.º 168/99 de 18 de Setembro Palavras-chave: Avaliação de prédios rústi-
proprietários, face às características do ac- que anexa do Código das Expropria- cos, cálculo do valor expectante, terreno pe-
tual urbanismo. Embora o seu cálculo tenha ções. riurbano, expropriações.
sido negligenciado, a valorização que o mer- 1999 - Ross, Westerfield and Jaffe, Corpo-
cado confere a estes terrenos periurbanos, rate Finance, MCGRAW-HILL, fifth
visível à luz dos métodos econométricos, tor- Edition. * Licenciado e Mestre em Agronomia, ISA-UTL,
nou evidente a necessidade em atender a 1996 - Neves, João Carvalho, Análise Finan- Quadro Técnico Superior da ex-Divisão
esta valorização, o que tem originado avalia- ceira Métodos e Técnicas, Texto Edi- de Expropriações da ex-JAE agora
ções fundamentadas com critérios pouco tora, 9.ª Edição Revista. EP – Estradas de Portugal, EPE
DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA
O
H2COPO3-2
O
H H H H
da utilização de genes envolvidos H
OH H
H
H
OH
H2COPO3-2 CH2OH
Para o século XXI, prevê-se um aumento que mais contribui para a diminuição da pro- CH2OH H OH
significativo da população mundial. Estima- dutividade de uma cultura, ultrapassando, O
H H H H
-se em 9,1 mil milhões a população mundial em larga medida, perdas provocadas, por
H OH H
no ano 2050, em especial em países em vias exemplo, por outros organismos, tais como OH H CH2OH
O
de desenvolvimento (USCB, 2005). Para insectos e pragas (stress biótico). A Enge- OH
O OH
poderem complementar funcionalmente a tas de tabaco e de batata com os genes otsA des de tolerar vários stresses abióticos. Há,
síntese de trealose em mutantes de levedura e otsB de E. coli. As plantas de tabaco apre- no entanto, que referir que a clonagem de
(Zentella et al., 1999), parece indicar que a sentavam um conteúdo muito reduzido em cDNAs de genes da trealose-6-fosfato-sin-
síntese de trealose é um facto comum na trealose, enquanto que na batateira não se tase de origem vegetal (Leyman et al., 2001)
maioria das plantas (Wingler, 2002), sendo registaram aumentos de trealose. As plantas possibilitou a obtenção de plantas transgé-
a elevada actividade da trealase a razão mais transgénicas apresentavam diversas aberra- nicas transformadas com genes de origem
plausível pela qual a trealose não se acumula ções fenotípicas, nomeadamente ao nível da vegetal. Essas plantas transgénicas teriam,
em plantas (Penna, 2003). raiz e das folhas, assim como um crescimento possivelmente, uma maior aceitação por parte
Para a generalidade dos seres vivos, várias menor que as plantas controlo. A acumula- do público do que as plantas obtidas por
propriedades funcionais têm sido sugeridas ção de trealose foi aumentada através da transformação com genes de origem micro-
para a trealose: reserva de energia, protec- aplicação de um inibidor de trealase, de- biana.
ção contra a desidratação, calor e frio. Com monstrando, pela primeira vez, que a acu-
excepção das plantas da ressurreição que mulação de trealose está dependente da ac- Engenharia Genética de tabaco
acumulam este açúcar, é pouco provável que tividade da trealase. (Nicotiana tabacum) com um gene
este açúcar desempenhe um papel na pro- Plantas de tabaco foram transformadas com TPS de origem vegetal
tecção aos vários stresses abióticos tal como o gene da Trealose-6-fosfato-sintase de S. As primeiras plantas de tabaco transforma-
sugerido para outros organismos (Goddjin cerevisae (Romero et al., 1997). Contraria- das com um gene trealose-6-fosfato-sintase
& van Dun, 1999). No entanto, vários estu- mente às plantas controle, as transgénicas foram obtidas no Laboratório de Biotecno-
dos de diversos autores parecem indicar que acumulavam trealose, apresentavam aberra- logia de Células Vegetais (BCV) do Insti-
existe um leque bastante alargado de fun- ções fenotípicas e tolerância ao stress hídrico. tuto de Tecnologia Química e Biológica
ções tanto para a trealose, como para o trea- O facto de apenas se ter usado o gene TPS1 (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa em
lose-6-fosfato-sintase: regulação de cresci- demonstra que a enzima Trealose-6-fosfato- colaboração com o Instituto de Biologia Mo-
mento e desenvolvimento, agente de pre- -sintase é o regulador essencial da síntese de lecular de Barcelona (Almeida et al., 2005),
venção de simbiose com microrganismos, trealose, sendo que a trealose-6-fosfato-fos- abaixo sumariamente descrito.
regulação de metabolismo do carbono, re- fatase poderia ser substituída por uma outra
gulação do crescimento do embrião ou de- fosfatase endógena (Romero et al., 1997). a) Plantas e construção utilizadas
senvolvimento da semente e na sinalização O mesmo gene e construção foram utiliza- Utilizaram-se plantas de tabaco (Nicotiana
do próprio stress (Wingler, 2002). dos na transformação de tomate (Cortina & tabacum) da variedade Petit Havane SR1.
Sendo a trealose provavelmente um dos os- Culiañez-Maciá, 2005), tendo sido obtidas A construção usada na transformação con-
moprotectores mais estudados, regista-se plantas de tamanho inferior às controlo e re- tinha o cDNA TPS1 (trealose-6-fosfato-sin-
um interesse crescente no estudo do meta- sistentes ao stress abiótico. O mesmo gene tase) de Arabidopsis thaliana, sob controlo
bolismo da trealose com vista ao aumento foi também usado para transformar batateira do promotor 35S. A construção foi inserida
da resistência ao stress abiótico em plantas (Yeo et al., 2000). As plantas transgénicas no vector de transformação de plantas
(Penna, 2003). Várias experiências têm sido obtidas possuíam fenótipos de resistência à pGreen0229 (www.pgr0een.ac.uk) que con-
realizadas com vista à obtenção de plantas secura, assim como desenvolvimento radi- tém o gene Bialaphos (BAR), que confere
transgénicas que sobre-expressem genes que cular e aéreo inferiores ao normal. resistência à fosfinotricina (PPT) e ao her-
codificam enzimas envolvidas na síntese de Uma fusão dos genes otsA e otsB foi usado bicida Basta®, sendo este o agente selectivo
trealose ou a inibição de enzimas envolvidas em transformação de arroz, tal como des- utilizado. As plantas transgénicas foram ob-
na sua degradação. crito por Garg et al. (2002) e Jang et al. tidas por transformação via Agrobacterium
(2003). Obtiveram-se várias linhas transgé- tumefaciens e que envolve a regeneração por
Engenharia Genética de Plantas nicas com níveis de acumulação de trealose organogénese.
com genes de origem microbiana variáveis entre 3 e 10 vezes o registado nas
envolvidos na síntese de trealose plantas controlo e uma elevada tolerância a b) Linhas transgénicas obtidas e expressão
Holmström e colaboradores (1996) foram vários tipos de stress (salino, hídrico e de do gene
os primeiros a reportar a transformação de temperatura). As plantas transgénicas estu- Foram obtidas três linhas homozigóticas
tabaco utilizando um gene proveniente de S. dadas apresentavam também maiores teores (B5A, B5H e B1F) que foram avaliadas
cerevisae. As plantas transgénicas possuem de açúcares que as plantas controlo e maio- quanto ao nível de expressão do gene TPS1.
maiores quantidades de trealose e percenta- res taxas de fotosíntese, tanto em situações As plantas transgénicas não apresentaram
gens de perda de água inferiores às obtidas de stress hídrico como normais. Nestas ex- nenhum dos fenótipos habitualmente asso-
por plantas controlo. De acordo com os au- periências não se registou nenhuma aberra- ciados à transformação com genes envolvi-
tores, a acumulação de trealose não justifica- ção fenotípica. dos na síntese de trealose, tais como folhas
ria um ajuste osmótico e a maior tolerância As experiências anteriormente referidas de- mais estreitas ou esterilidade. No entanto,
à dissecação dever-se-ia a uma estabilização monstram a validade da utilização destes e tal como ilustrado na figura 3, as plantas
das estruturas celulares e moleculares. genes de origem microbiana na obtenção de transgénicas possuem um tamanho inferior
Goddijn et al. (1997) transformaram plan- plantas transgénicas com maiores capacida- ao das plantas controlo da mesma idade.
cia nos resultados na medida em que ambos transformadas não apresentaram expressão 2 Inst. de Investigação Científica Tropical, Lisboa
os métodos identificaram dois níveis distin- visível. 3 Inst. de Biologia Molecular de Barcelona, Espanha
BIBLIOGRAFIA
Tipo de estufa, com especial incidência na tas. É, no entanto, nos climas quentes que a este conceito não poderá ser utilizado na
sua geometria, dimensões, orientação e lo- eficiência dos sistemas de ventilação natural comparação de caudais de ventilação em es-
calização; é limitada, devido à reduzida diferença de tufas com características diferentes. Assim,
Sistema de ventilação, o que implica o es- temperatura entre o interior e o exterior, a Bot (1983) define a função adimensional
tudo da localização e área das aberturas de não ser que existam brisas que favoreçam a G(α) - que descreve para cada ângulo de
ventilação e do sistema de controlo a uti- ventilação natural (Roberts e Mears, 1984; abertura do ventilador - a relação entre o
lizar. Meneses e Raposo, 1987). caudal de ventilação (V) por unidade de área
Em sistemas de ventilação natural, a forma Em Portugal, a maioria das estufas é de cons- (A) e de velocidade do vento (ν) no nível
da estufa e das áreas de ventilação, bem trução muito simples, com cobertura geral- de referência. Esta função permite compa-
como as respectivas localizações, assumem mente de polietileno e sem sofisticados sis- rar resultados obtidos por diferentes autores
particular importância, uma vez que o con- temas de condicionamento ambiental. O em estufas distintas, testar a dependência
trolo ambiental será conseguido através da controlo ambiental é geralmente conseguido linear do caudal de ventilação da velocidade
abertura ou fecho das áreas de ventilação à exclusivamente através da ventilação natu- do vento e ao mesmo tempo analisar a in-
medida que se alteram as condições climá- ral. É importante que se desenvolvam siste- fluência de outros parâmetros como a direc-
ticas exteriores. mas de controlo ambiental simples e efica- ção do vento e a diferença de temperatura
Hoje em dia, a ventilação natural, apesar de zes que possam facilmente ser adaptados às entre o interior e o exterior:
dependente de factores naturais, pode ser estufas utilizadas nestas zonas, contribuindo (1)
controlada, aliando o maior conhecimento também para a o controlo integrado de pra-
dos princípios físicos com o rápido desen- gas e doenças (Baptista et al. 2001, Coelho Quando uma estufa é ventilada apenas por
volvimento da tecnologia de computadores et al., 2006). acção das forças naturais, a ventilação por
e da matemática aplicada. O controlo am- acção do vento e a impulsão térmica devem
biental é facilitado pela utilização de mate- 2. Princípios da ventilação natural garantir as trocas de ar suficientes para a ob-
rial informático e outros equipamentos, prin- tenção das condições ambientais requeridas.
cipalmente no que diz respeito ao controlo Bot (1983), Hellickson et al. (1983), De Neste caso, a primeira preocupação aquando
da temperatura e humidade, de forma a evi- Jong (1990), Takakura (1991) e Boulard et do dimensionamento é saber qual o fluxo de
tar situações extremas no interior das estu- al. (1996), referem que a ventilação natural ar que ocorre quando a velocidade do vento
fas. Os factores a controlar dependerão da ocorre sempre que exista um diferencial de é nula (Randall, 1991). Na maior parte das
maior ou menor complexidade do sistema pressão. São duas as forças naturais respon- situações com ocorrência de vento, a reno-
de controlo de que se dispõe, podendo ir sáveis por esta diferença de pressão: vação de ar é suficiente desde que as aber-
desde um simples sistema de alarme (Neto Acção das forças do vento, que se mani- turas de ventilação estejam abertas e correc-
e Mello, 2005) até um sofisticado sistema, festam quando o vento, ao encontrar um tamente localizadas. Por outro lado, quando
como o apresentado na figura 1. obstáculo, sofre alterações na sua pressão; não sopra qualquer brisa, a geometria e a lo-
Impulsão térmica ou efeito térmico, de- calização das aberturas devem ser de forma
vido ao diferencial de temperatura que se a favorecer a ventilação por efeito de cha-
Computer calculating
optimum set point estabelece entre o ar no interior e no exte- miné (impulsão térmica).
rior. A este gradiente de temperatura cor- Facilmente se compreende que em sistemas
responde um gradiente de densidade, que de ventilação natural, a configuração das
Environmental
data
Optimum
set point
origina o movimento por convecção natu- aberturas de entrada e de saída de ar deve
Greenhouse
ral (o ar quente, menos denso, sobe). maximizar a ocorrência de gradientes de
controller
Bot (1983) e Boulard et al. (1996) referem pressão no seu redor. A ventilação adequada
Greenhouse data
ainda que a ventilação total resulta da com- de uma construção depende apenas do cor-
Control
Weather
signals binação de dois componentes perfeitamente recto dimensionamento (tamanho e locali-
data
distintos: o efeito estático, resultante da com- zação) das áreas de entrada e saída do ar e
Figura 1
binação da acção directa do vento (caracte- da orientação do edifício (M’ Sadak, 1984),
Sistema de controlo climático (Bailey e Chalabi, 1994) rísticas médias) e do gradiente de tempera- bem como do coeficiente de resistência que
tura, que origina um fluxo de ar devido à as aberturas oferecem à passagem de ar (De
Nas zonas Mediterrânicas, as condições am- existência de campos de pressão estática; e Jong, 1990).
bientais no interior das estufas são muito di- o efeito de turbulência, devido ao carácter Em sistemas de ventilação natural, o dimen-
ferentes das verificadas nas estufas do Norte flutuante da velocidade do vento. sionamento das áreas de entrada e saída de
da Europa. Durante o Verão, a temperatura A ventilação é normalmente caracterizada ar deve ser função do caudal máximo exigido
é muito elevada e a luz não é um factor li- pelo caudal de ventilação, que indica o vo- (normalmente na situação de Verão), uma
mitante. A ventilação nestas zonas assume lume de ar renovado por hora. No entanto, vez que o mínimo será conseguido pela di-
extrema importância, sendo um dos princi- igual número de renovações de ar em estu- minuição da área dessas aberturas. Segundo
pais meios de evitar temperatura excessiva- fas de diferentes dimensões não significa ne- Randall (1991), os caudais de ventilação
mente elevada que possa danificar as plan- cessariamente igual caudal, razão pela qual podem ser alterados pela variação da pressão
exercida em redor das aberturas ou pela mo- tabelecida através da equação de Bernoulli, como é o caso das estufas. Depende dos
dificação das áreas efectivas de ventilação. sendo ρ a densidade do ar: mesmos parâmetros que Cpo, da existência
Apesar da ventilação natural ser um dos (2) ou não de aberturas nas faces das constru-
meios mais importantes no controlo ambien- ções e da sua permeabilidade relativa, con-
tal de estufas, continua a ser difícil prever, A velocidade do vento aumenta com a altura jugada ou não com a ocorrência de ventos
com elevado grau de segurança, os caudais a partir do solo à medida que o efeito de fric- fortes. De uma forma geral, a diferença de
de ventilação. De Jong (1990) e Boulard et ção se torna menor. A taxa a que ocorre esse pressões existente através de uma abertura
al. (1996) sugerem que os mecanismos en- aumento é conhecida como o gradiente de de uma construção devido à acção do vento
volvidos na ventilação natural são comple- velocidade e depende essencialmente da ru- é dada por (Bruce 1974), sendo que (Cpo –
xos e envolvem forças naturais cujos princí- gosidade do terreno. Geralmente, a veloci- – Cpi) corresponde ao coeficiente de acção
pios físicos são diferentes e independentes, dade do vento não é conhecida em todos os do vento (CW).
podendo, por isso, ser estudados em sepa- pontos da estrutura, pelo que é conveniente (4)
rado. expressar a acção do vento recorrendo ao
conceito de coeficiente de pressão exterior Nos casos em que as aberturas de ventilação
2.1. Ventilação por acção do vento ou estático (Cpo). Bruce (1974) define o co- se localizam em zonas de diferentes coefi-
Bruce (1974), Boulard e Baille (1995), Bou- eficiente de pressão como sendo a fracção da cientes de pressão, é o diferencial de pres-
lard et al. (1996), Papadakis et al. (1996) e pressão cinética do vento livre medido à al- sões estáticas a força responsável pela ven-
Baptista et al. (1999), referem que o vento, tura de referência (normalmente 10 metros). tilação natural por acção do vento. Esta ex-
ao encontrar um obstáculo na sua trajectó- Este coeficiente depende da forma e dimen- plicação parece razoável para estufas de pe-
ria, como, por exemplo, uma estufa, produz são do edifício e da direcção e sentido do quenas dimensões, estufas com aberturas
acelerações e desacelerações que originam vento (Meneses e Raposo, 1987). A pressão situadas em ambas as paredes ou simultanea-
campos de diferentes pressões. Na face si- exercida pelo vento na superfície exterior de mente nas paredes e no telhado. Em todas
tuada a barlavento (lado de onde sopra o um edifício pode ser expressa por (Bruce, estas situações existem zonas com distintos
vento), a pressão estática é maior que a pres- 1974; Bot, 1983; De Jong, 1990): coeficientes de pressão. É o caso das estufas
são barométrica (é positiva), enquanto que (3) mais utilizadas nas zonas Mediterrânicas,
no lado oposto (sotavento), é menor (nega- onde as diferentes aberturas se situam em
tiva), gerando neste caso forças de sucção. Deste modo, a distribuição de pressões em locais com distintos coeficientes de pressão
Em volta do obstáculo, as pressões positivas volta de um objecto pode ser representada (Kozai et al., 1980).
e negativas resultam numa distribuição de por uma distribuição dos coeficientes de No entanto, Bot (1983) e De Jong (1990)
pressões que originam o movimento do ar pressão. O fluxo será no sentido da entrada demonstraram que para as estufas normal-
no sentido das pressões positivas para as ne- de ar através de uma abertura (situada nas mente construídas na Holanda, bem isoladas,
gativas (figura 2). paredes ou telhado) se o coeficiente de pres- com aberturas de ventilação apenas no te-
lhado e normalmente abertas a sotavento,
este diferencial de pressão estática é nulo e,
portanto, não explica as trocas de ar que ocor-
rem. Salientam ainda que o mesmo acontece
Vento Figura 2 no caso de existir apenas uma abertura de
Distribuição de
pressões provocadas ventilação, ou várias aberturas localizadas em
pelo vento na
envolvente de edifícios
Plantas
(Meneses e Raposo,
1987)
Vento Corrente de ar
Alçados laterias
Em resumo, quando o vento embate numa são for positivo. Se, pelo contrário, o coefi- (a)
parede, produz-se uma pressão positiva nessa ciente de pressão for negativo, o movimento
face. O vento é então deflectido ao longo do de ar ocorrerá no sentido inverso, saindo da
Vento
topo e dos lados do edifício, formando-se instalação.
áreas de sucção nas restantes faces. As pres- Uma vez conhecido o coeficiente de pres-
sões negativas originam a extracção de ar do são exterior, é preciso considerar o coefi-
(b)
interior, enquanto que pressões positivas for- ciente de pressão interior (Cpi). Segundo
Figura 3 – Efeito estático e de turbulência do vento
çam a entrada de ar para o interior da insta- Bruce (1974) e Meneses e Raposo (1987), (adaptado de Boulard e Baille, 1995)
lação (Hellickson et al., 1983). o coeficiente de pressão interior pode ser (a) Direcção do ar devido à diferença de pressões
estáticas entre a parede situada a barlavento e a
Assumindo que o ar se comporta como um definido da mesma forma que o coeficiente sotavento
gás perfeito, incompressível, a relação entre de pressão exterior, sendo constante para (b) Fluxo de ar originado pela flutuação da velocidade
do vento numa só abertura
a pressão do vento P e a sua velocidade é es- construções sem compartimentos interiores,
locais com idêntico coeficiente de pressão. bais, pelo que não é possível saber qual a o caudal de ventilação devido ao efeito do
Nestes casos, não existe qualquer diferença contribuição de cada um dos efeitos referi- vento pode calcular-se através de:
entre os coeficientes de pressão e logo não dos. Boulard e Baille (1995) salientam que (11)
ocorrerá qualquer movimento de ar devido ambos os coeficientes são linearmente de- sendo Cd o coeficiente de descarga da aber-
1
ao efeito estático. Nesta situação deve ser pendentes de v2, e Boulard et al. (1993) re- tura e Cd = ζ 2
considerado o carácter flutuante da veloci- ferem que C e C são da mesma ordem de Vários autores determinaram o coeficiente
dade do vento e logo a variação da pressão grandeza, sendo C dependente da direcção de descarga (Cd) para diferentes aberturas
instantânea. A figura 3 representa o efeito es- do vento e C relativamente estável e inde- de ventilação, considerando que não existem
tático e de turbulência do vento e esquema- pendente da direcção do vento. Testes efec- obstáculos à circulação do ar.
tiza o tipo de fluxo que ocorre em estufas tuados em túnel de vento com modelos à es- QUADRO 2 – Coeficientes de descarga determinados
com uma ou mais aberturas de ventilação. cala, possibilitam a determinação dos coefi- por diversos autores (adaptado de Roy et al., 2002)
cientes de pressão exterior em vários locais Autores Cd Condições
A força do vento é dinâmica, variando con- da construção para determinadas caracterís- Brown e Solvason 0,6 – 0,8 Edifício, rectangular
De Jong 0,65 – 0,75 Estufa, aberturas no telhado
tinuamente de direcção e velocidade, o que ticas do vento. Segundo Bailey (2000), CW Hellickson e Walker 0,63 Edifício, rectangular vertical
lhe confere um carácter flutuante. Assim, parece ser independente da área da estufa e, Timmons et al. 0,6 – 0,7 Edifício, rectangular vertical
mesmo que a pressão estática média seja na verdade, encontram-se publicados valores Zhang et al. 0,61 Edifício, rectangular vertical
igual no exterior de duas aberturas, a pres- muito aproximados entre si para estufas com Boulard e Baille 0,644 Estufa, aberturas contínuas
Bot 0,65 – 0,7 Estufa, aberturas no telhado
são instantânea pode ser diferente devido à áreas entre 180 e 38.700 m2 (quadro 1). Abreu e Meneses (‘05) 0,45 – ,071 Estufa, abertutas laterais
constante variação da velocidade do vento.
QUADRO 1 – Coeficientes de efeito do vento determinados
Nestes casos, a amplitude do diferencial de por diversos autores (adaptado de Bailey, 2000) 2.2. Ventilação por impulsão térmica
pressão flutuante é a força motriz da venti- Área
Apesar de na maioria das situações a ventila-
lação (Bot, 1983; De Jong, 1990; Boulard et CW da estufa Fonte ção por acção do vento ser dominante, a im-
(m2)
al., 1993; Papadakis et al., 1996). pulsão térmica é muito importante quando
0,10 416 Boulard and Baille (1995)
De uma forma geral, a interacção do vento 0,14 179 Kittas et al. (1995)
o vento está ausente e, portanto, é de todo o
com uma superfície como uma construção, 0,071 900 Kittas et al. (1995) interesse o conhecimento e compreensão dos
resulta num modelo de fluxo complexo. Au- 0,13 416 Papadakis et al. (1996) processos físicos envolvidos. O tamanho, a
tores como Bot (1983), De Jong (1990), 0,09 204 Baptista et al. (1999) localização das aberturas e a diferença de tem-
0,11 38.700 Bailey (2000)
Boulard et al. (1993), Boulard e Baille (1995), 0,099 – 0,271 182 Abreu e Meneses (2005)
peratura entre o interior e o exterior deter-
Boulard et al. (1996) e Papadakis et al. minam a eficácia deste tipo de ventilação.
(1996), consideram que o efeito do vento Por outro lado, a descida da pressão do ar Sempre que no seio de um fluído ocorrem
pode ser separado em dois componentes: devido ao seu movimento através de uma diferenças de densidade devido a diferenças
efeito estático, induzido por uma distri- abertura pode ser descrita pela equação de de temperatura, formam-se correntes de
buição de pressões médias, relacionadas Bernoulli, que a relaciona com a velocida- convecção natural. Durante o dia, no inte-
com a velocidade média do vento medida de do ar nessa abertura (Boulard e Baille, rior de uma estufa, o ar aquece devido à ra-
no nível de referência, através do coefi- 1995): diação solar ou outras fontes de aquecimento.
ciente de pressão C: (8) Supondo uma estufa com duas aberturas si-
(5) tuadas a alturas diferentes, o ar quente menos
sendo ζ o coeficiente de resistência da aber- denso sai pela abertura superior e é substi-
efeito de turbulência, induzido pela flutu- tura, que representa as perdas devido à con- tuído por igual volume de ar frio vindo do
ação da distribuição de pressões, descrito tracção do ar nas aberturas e devido à fric- exterior, mais denso, que entra pelas aber-
pelo coeficiente de flutuação ou de turbu- ção do ar com as paredes ou telhado. turas inferiores. A pressão hidrostática varia
lência C: Igualando as equações 4 e 8 e resolvendo em com a altura e, de um modo geral, assume
(6) ordem a ν, chega-se à seguinte expressão valores diferentes no interior e no exterior
para o cálculo da velocidade do ar à en- a dada altura h. Esta diferença de pressão é
Segundo Boulard e Baille (1995) e Papadakis trada: a força responsável pelas trocas de ar que
et al. (1996), o diferencial de pressão total (9) ocorrem entre o interior e o exterior através
pode ser calculado por: das aberturas de ventilação (Bot, 1983).
(7) Assumindo que a variação da densidade é Bruce (1973) apresenta uma equação para
desprezível, para um determinado edifício calcular a velocidade do ar à saída (νs) de
onde ∆PW representa ∆P e ou ∆P e CW re- com n aberturas e aplicando o princípio da uma abertura por acção da impulsão térmica,
presenta C o efeito e C ou, ou seja, inclui o conservação de massa, ou seja, o volume de considerando um edifício como uma coluna
efeito estático e de turbulência. ar que entra na construção é exactamente vertical com duas aberturas horizontais se-
igual ao volume que sai: paradas por uma altura H:
A investigação destinada a determinar os co- (10) (12)
eficientes de pressão conduz a medições glo-
sendo g a aceleração da gravidade (9,8 m/s2) tica assume que as aberturas laterais funcio- vada. Se, pelo contrário, a velocidade do
e To a temperatura absoluta exterior (Kel- nam sempre como áreas de entrada e a cume- vento é baixa, o efeito da impulsão térmica
vin). eira como área de saída, o que pode não se é dominante. Este é um processo complexo,
verificar dependendo da geometria da cons- não existindo uma clara definição do pon-
Em 1978, Bruce publica a teoria da convec- trução e das aberturas. Para algumas combi- to a partir do qual um dos efeitos deixa de
ção natural, onde faz a análise generalizada nações de geometria e condições climáticas, prevalecer para passar o outro a ser domi-
da convecção natural num volume de ar con- o plano neutro intercepta as aberturas late- nante.
finado. A diferença de temperatura entre o rais, e as áreas situadas acima deste actuarão Vários autores dedicaram-se ao estudo da
ar interior e exterior origina o movimento como áreas de saída e não de entrada. Su- ventilação por impulsão térmica e à sua im-
do ar por convecção natural, através das aber- pondo uma construção com uma abertura portância relativa em todo o processo da
turas existentes. O fluxo de ar será numa infinitesimal na cumeeira, a convecção na- ventilação natural. Meneses e Raposo (1987),
direcção através da zona inferior da abertura tural ocorre com o plano neutro a dividir ao Boulard e Baille (1995) e Kittas et al. (1995)
e na direcção oposta através da zona supe- meio as aberturas laterais. À medida que a consideram que, para velocidades do vento
rior. A uma determinada altura h, a densi- área da cumeeira aumenta, a posição do plano superiores a 1,5 m/s, o efeito do vento é do-
dade do ar no interior e no exterior é igual, neutro vai subindo. minante e a impulsão térmica pode mesmo
não havendo qualquer gradiente de pressão Foster e Down (1987) e Down et al. (1990) ser desprezada. Segundo Papadakis et al.
e, portanto, não ocorrem trocas de ar (Bruce, compararam a teoria generalizada da con- (1996), este limite é um pouco superior, 1,8
1978; Meneses e Raposo, 1987; De Jong, vecção natural (Bruce, 1978) com a análise m/s, dependendo da geometria da estufa e
1990; Down et al., 1990). O lugar geomé- baseada numa coluna vertical de ar e con- das aberturas de ventilação e da diferença
trico definido por todos os pontos onde a cluíram que, quando se trata de aberturas de temperatura entre o interior e o exterior.
pressão interior é igual à pressão exterior de- horizontais, os resultados obtidos são idên- Autores como Christiaens e Debruyckere
signa-se por plano neutro, e é dado pela se- ticos, pelo que se pode utilizar a fórmula de (1977), e Zhang et al. (1989) consideram
guinte equação definida por Bruce (1978): cálculo que não tem em conta a posição do que a acção do vento é dominante para ve-
eixo neutro. O mesmo não se verifica para locidades superiores a 3 m/s.
(13) os casos em que existem aberturas laterais Alguns autores baseiam o dimensionamento
e fresta de cumeeira, sendo a altura do plano das aberturas de ventilação exclusivamente
neutro dada por: em função da acção do vento (Tasker, 1981),
(15) enquanto outros, como Randall (1991), pre-
ferem basear este cálculo apenas no efeito
da impulsão térmica. Outros autores prefe-
Ti>T0 NPL onde d é a altura das aberturas laterais e w rem efectuar o dimensionamento com base
a largura da cumeeira. no efeito combinado de ambas as forças (Me-
Distribuição das pressões
Segundo estes autores, o caudal de ventila- neses, 1985).
devido à impulsão térmica
ção é calculado utilizando diferentes equa- Para os casos em que ambas as forças são sig-
Figura 4 – Localização do plano neutro num edifício ções, dependendo da posição do plano neu- nificativas, existe uma recomendação da
com aberturas laterais e fresta de cumeeira (adaptado tro. Assim, se o plano neutro se situa acima ASHRAE (American Society of Heating, Re-
de Brockett e Albright, 1987)
das aberturas laterais, o caudal é dado por: frigerating and Air-conditining Engineers)
para o cálculo do caudal de ventilação devido
Se as aberturas se situam apenas numa fa- (16) ao efeito combinado (Brockett e Albright,
chada, o eixo neutro divide-as em duas par- 1987; Albright, 1990; De Jong, 1990):
tes iguais, sendo o caudal dado por (Bruce, Se, pelo contrário, o plano neutro intercepta (18)
1978; Meneses e Raposo, 1987), sendo A a as aberturas laterais, o caudal é: (17) Estes autores salientam que, de uma forma
área total de ventilação: geral, os resultados obtidos experimental-
mente e previstos aplicando esta equação são
(14) similares, ocorrendo um erro de 20 a 25 %
sendo l o comprimento da instalação. quando as aberturas actuam simultaneamente
A teoria com base na coluna vertical foi de- como áreas de entrada e de saída de ar ou
senvolvida para explicar o movimento de ar 2.3. Efeito combinado das forças do vento quando a contribuição das duas forças motri-
através de aberturas horizontais mas, na prá- e da impulsão térmica zes é idêntica. Existe, no entanto, alguma con-
tica, aplica-se a edifícios com aberturas ver- Na maioria das situações, a ventilação natu- tradição nos resultados obtidos, pois enquanto
ticais nas paredes e horizontais na cumeeira. ral de uma construção resulta do efeito com- Brockett e Albright encontraram caudais me-
Neste caso, a área de saída corresponde à binado entre a acção das forças do vento e nores que o previsto, De Jong verificou que
cumeeira e as áreas de entrada às aberturas da impulsão térmica. O efeito do gradiente os caudais obtidos por medição eram supe-
laterais, sendo H a distância entre a cume- de temperatura tem fraca influência quando riores aos previstos por cálculo. Assim, parece
eira e o meio das aberturas laterais. Esta prá- a velocidade do vento é relativamente ele- não estarem completamente esclarecidas quais
as situações em que este modelo é seguro. A ventilação é um dos aspectos mais impor- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Resumo em colaboração com o INETI e com a UTAD, celas de rendimento: do próprio motor, da
no âmbito do projecto PAMAF 8.140. transmissão às rodas, da interacção dos pneus
O consumo de combustível por hectare é o com o solo e da interacção dos órgãos acti-
principal indicador técnico de avaliação da 2. Aspectos teóricos de análise vos da alfaia com o solo. Qualquer destas
eficiência energética de utilização do tractor parcelas de rendimento é condicionada pela
agrícola, constituindo uma importante refe- A eficiência de transformação energética do eficiência do operador.
rência do desempenho do conjunto tractor- combustível fornecido ao motor do tractor Na literatura são encontradas algumas refe-
-alfaia. Este parâmetro traduz o envolvimento em trabalho útil realizado pela alfaia encon- rências que relacionam o conjunto de parce-
das diversas variáveis que condicionam o ren- tra-se dependente de um conjunto de par- las de rendimento referidas com o consumo
dimento global da transformação do com-
bustível fornecido ao motor em trabalho útil
realizado pela alfaia em mobilização do solo.
Os resultados de ensaios de campo realiza-
dos em explorações agrícolas do Alentejo
são apresentados neste artigo para compro-
varem a importância relativa dessas variáveis
e para estabelecer equações de referência
que relacionem o consumo de combustível
por hectare com o esforço de tracção solici-
tado pela alfaia. Estas poderão ser utilizadas
para comparar sistemas alternativos de mo-
bilização do solo, com diferentes exigências
de tracção, ou para avaliar o dimensiona-
mento do conjunto tractor-alfaia.
1. Introdução
de combustível por unidade de área tra- fico do motor (Ce) reflecte, fundamental- As considerações anteriores permitem con-
balhada (consumo por hectare, Cha, em L/ mente, o efeito do regime do motor e do cluir que a massa específica do gasóleo, o
ha). grau de utilização da potência disponível. A consumo específico do motor e o rendimento
análise dos resultados de ensaios de tracto- total de tracção são parâmetros previsíveis
A equação 1 é apresentada por Bowers [1,2] res de diferentes fabricantes, com potências em determinadas condições de trabalho.
e por Riethmuller [3]: entre 53 e 110kW (cerca de 70 a 150 CV), Assim, admitindo uma escolha criteriosa do
realizados na estação de testes alemã “DLG” momento adequado para intervir no solo e
(Eq. 1) e publicados na revista “profi International” garantidas correctas regulações ao nível do
(quadro 1), revelou um reduzido intervalo regime do motor, da relação de transmissão
Onde: Cha - consumo por hectare (L/ha); de variação do consumo específico entre di- da caixa de velocidades, da pressão de enchi-
Ce - consumo específico (g/kWh); ℑ - trac- ferentes modelos de tractores, para as mes- mento dos pneus e do lastro do tractor, o con-
ção na barra por unidade de largura de tra- mas condições de utilização. sumo de combustível por hectare de um trac-
balho da alfaia (kN/m); 0,36 - factor de con- A massa específica do gasóleo (ρg), por outro tor agrícola em trabalho de mobilização do
versão de unidades; ρg - massa específica do lado, apresenta apenas uma pequena varia- solo é determinado, fundamentalmente, pelo
gasóleo (g/L); ηm - rendimento mecânico ção com a temperatura. Por exemplo, Billot esforço de tracção solicitado pela alfaia.
da transmissão (decimal); ηt - rendimento [4] determinou valores de massa específica Bowers [2] publicou resultados em que,
de tracção (decimal); ηc - rendimento de do gasóleo de 854 e 840 g/L, respectiva- entre outros parâmetros, apresentou a trac-
campo (decimal). mente a 15 e a 35º C. ção na barra por unidade de largura de tra-
balho (ℑ, em kN/m) e o consumo por hec-
A equação 1 pode tomar a forma da equação QUADRO 1 – Consumo específico (g/kWh) tare (Cha, em L/ha). Estes resultados, obti-
de diferentes modelos de tractores agrícolas em diversas
2, sendo o denominador uma representação condições de trabalho; resultados de ensaios realizados dos em 10 locais, com diferentes caracterís-
do rendimento global da transformação de na estação de teste da “DLG” [5] ticas de solos e com 4 modelos de alfaias de
energia, onde se inclui o rendimento do motor Grau de utilização da potência nominal mobilização (grades de discos “offset” e “tan-
(proporcional ao inverso do consumo espe- 60% 80% dem”, chisel e charrua), podem ser traduzi-
60% 90% 100%
cífico, Ce), o rendimento mecânico da trans- Parâmetros estatísticos do regime do regime do regime dos na forma de uma equação linear (Equa-
missão entre o motor e as rodas (ηm) e o nominal nominal nominla
ção 4), que relaciona as variáveis referidas
Média (g/kWh) 230 250 280
rendimento de tracção ou rendimento dos Coeficiente de variação (%) 3 5 6 com um elevado coeficiente de determina-
pneus em interacção com o solo (ηt). O ren- Intervalo de variação (g/kWh) [223-246] [234-277] [259-309] ção (0,92).
dimento global é o quociente entre a energia
utilizada pela alfaia (trabalho realizado) e a Ainda na Equação 1, o rendimento total de Cha = 2,376 + 1,2369 × ℑ (Eq.4)
energia (combustível) fornecida ao motor, tracção (ηtt, produto do rendimento mecâ-
ou, em termos de potência, é o quociente nico da transmissão, ηm, pelo rendimento Onde: Cha - consumo por hectare (L/ha);
entre a potência na barra (T×vr) e a energia, de tracção, ηt) é, de acordo com a ASAE ℑ - tracção na barra por unidade de largura
sob a forma de combustível (Ch), fornecida Standards [6], máximo em situações de solo de trabalho da alfaia (kN/m).
por unidade de tempo ao motor (equação 3). não mobilizado, podendo atingir os 70%,
Uma vez que as variáveis tracção na barra, com tendência para diminuir em condições Zhengping et al. [7] apresentaram o con-
velocidade real de avanço e consumo horário de solo mobilizado. Este rendimento pode sumo por hectare previsto para as diferen-
foram medidos nos ensaios de campo reali- manter-se próximo do máximo em solos tes operações de mobilização do solo, em
zados (figura 2), é possível estimar a impor- secos, correspondendo a boas situações de função do tipo de solo, baseados nas indica-
tância relativa das diferentes parcelas do ren- tracção dos pneus, com valores de patina- ções dos Standards da ASAE, admitindo os
dimento no consumo por hectare. gem da ordem dos 10-15%. pressupostos de que as alfaias estão bem di-
(Eq. 2) Consumo
horário
Velocidade
de avanço
(Eq. 3) Motor Transmissão
(Regime) (Mudança) Barra de tracção
Alfaia
(Largura,
Onde: 3,6 - factor de conversão de unida- Profundidade)
Pneus (Tracção na barra)
des; T - tracção na barra (kN); υr - veloci- TRACTOR
(Patinagem)
dade real de avanço (km/h); Ch - consumo
horário (L/h).
Solo
De entre os parâmetros que influenciam o (Condição, Textura, Humidade)
consumo de combustível por hectare, apre-
sentados na equação 1, o consumo especí- Figura 2 – Variáveis medidas nos ensaios de campo
mensionadas para os tractores e de que foi rador de um tractor agrícola, ao nível do re- quido nas rodas, a 75% do seu nível má-
seleccionada a velocidade óptima. Para a gime de funcionamento do motor e da rela- ximo; situação típica no Alentejo;
grade de discos indicam as seguintes previ- ção de transmissão da caixa de velocidades, Situação sem lastro líquido nos pneus.
sões de consumo por hectare: 9,0 L/ha em representa um dos aspectos com maior im-
solo argiloso (textura fina); 7,2 L/ha em solo pacto na eficiência de utilização do combus- 3.3. A pressão de enchimento dos pneus
franco-argiloso ou franco-limoso (textura tível. Nos ensaios realizados foram testadas A gestão da pressão de enchimento dos pneus
média) e 4,8 L/ha em solo franco-arenoso as seguintes combinações regime-mudança: é um processo simples, todavia pouco utili-
(textura grosseira). Este acréscimo de 50 % a) Selecção de um regime do motor de cerca zado pelos agricultores, que tendem a optar
no consumo por hectare ao passar de solo de 80% do regime nominal (2200 rpm) por pressões de enchimento relativamente
de textura grosseira para solo de textura e à escolha, por tentativas, da mudança elevadas, independentemente do tipo de uti-
média e o acréscimo de 25 % ao passar de mais alta permitida; lização do tractor, justificadas pela menor
solo de textura média para solo de textura b) Selecção do regime nominal do motor e deflexão como forma de preservação da vida
fina, correspondem exactamente aos acrés- de mudanças abaixo da mais alta que as útil do pneu.
cimos das solicitações de tracção indicados condições de trabalho permitiriam, pro- Os ensaios para avaliação desta variável ti-
pela ASAE Standards [8] entre os mesmos curando manter a velocidade de trabalho, veram lugar em duas condições de solo (la-
grupos de texturas, o que pressupõe a ad- obtida na regulação anterior. vrado ou lavrado e gradado), tendo sido con-
missão de uma estreita correlação entre o No procedimento de selecção da mudança siderados 3 níveis crescentes de pressão de
consumo por hectare e o esforço de tracção mais alta permitida em cada situação de en- enchimento dos pneus:
solicitado pelas alfaias. saio, impuseram-se 3 condições: p1: com base nas tabelas de recomenda-
A combinação regime-mudança não devia ções do fabricante dos pneus;
3. Materiais e métodos conduzir a velocidades de trabalho exces- p2: a partir da recomendação apresentada
sivas tendo em conta a segurança e o con- no “Manual do Operador” do tractor em
Os ensaios de campo tiveram lugar em di- forto do operador; causa;
ferentes tipos (texturas) e condições de solo A velocidade assim obtida não devia co- p3: mais elevado, tendo sido incluído aten-
(não mobilizado, gradado, lavrado). Foram locar em questão os objectivos técnicos e dendo à frequência com que estas pressões
utilizados equipamentos dos agricultores, a qualidade do trabalho pretendido; são encontradas nos tractores agrícolas uti-
que incluíram tractores desde 59 kW a 134 O par mudança-regime assim definido lizados na região.
kW de potência no motor e grades de dis- não devia conduzir a situações de sobre-
cos “offset” desde 2 a 4 m de largura de tra- carga do motor; sempre que se verificas- 3.4. A regulação da abertura dos
balho. Foram testadas várias situações de sem quebras do regime em carga superio- corpos da grade e a adaptação
lastro, de pressão de enchimento dos pneus, res a 200 r.p.m. relativamente ao regime da velocidade de trabalho
de regime de funcionamento do motor, de estabelecido em vazio, o operador selec- As actuais grades de discos “offset”, equipa-
relações de transmissão da caixa de veloci- cionava uma mudança imediatamente das com actuadores hidráulicos, comandados
dades, para além de diversas regulações nas abaixo. a partir do posto de condução do tractor,
grades de discos [6]. permitem uma fácil regulação da abertura
Foi desenvolvido e instalado um sistema de 3.2. A utilização de lastro líquido dos corpos e uma adaptação permanente às
aquisição de dados [6] que permitiu o re- nos pneus condições de trabalho encontradas. Visto que
gisto dos seguintes parâmetros (figura 2): re- A utilização de lastro líquido nos pneus dos esta regulação tem efeito sobre o esforço de
gime do motor, velocidade de avanço, pati- tractores agrícolas é muito habitual nas ex- tracção solicitado pela grade de discos, o ope-
nagem das rodas, consumo horário de com- plorações agrícolas do Alentejo. O argumento rador pode conjugar a abertura da grade com
bustível e tracção na barra. Para além destes, principal de que se servem os agricultores a velocidade de trabalho, por forma a garan-
foram também medidas a largura e a pro- para justificarem esta opção prende-se com tir o efeito desejado no solo, procurando re-
fundidade de trabalho e avaliadas as carac- a redução das oscilações sentidas pelos ope- duzir os custos de produção.
terísticas dos solos (textura, condição e teor radores, especialmente em solos lavrados. Nos ensaios realizados foram consideradas
de humidade). Se, no mínimo, é discutível a utilização de as seguintes possibilidades:
lastro líquido em face da perspectiva de con- a) Abertura máxima dos corpos da grade per-
Na perspectiva de optimização do desempe- forto do operador, já em termos de compac- mitida em cada local e condição de solo;
nho do conjunto tractor-alfaia em mobiliza- tação do solo, é de esperar que esta aumente b) Abertura menor dos corpos da grade, sem
ção do solo, foram testadas diversas variáveis nas situações de pneus lastrados de água, comprometer o efeito mecânico sobre o
com importância na eficiência energética do com as consequências negativas que se co- solo e que, sempre que possível, permi-
conjunto em trabalho: nhecem. tisse a selecção de mudanças mais altas.
Foram testadas 2 situações de lastragem do
3.1. O par regime/relação de transmis- tractor: 3.5. Comportamento dos tractores
são da caixa de velocidades Situação com lastro líquido nos pneus, em ensaios à tomada de força
A gestão das opções que se oferecem ao ope- correspondente à utilização de lastro lí- Os tractores foram também submetidos a
ensaios num freio dinamométrico ligado à tência nominal. São exemplo desta conjuga- (p3), relativamente à situação de pressão re-
tomada de força. Os resultados destes en- ção os trabalhos de mobilização do solo. comendada pelas tabelas de carga-pressão
saios foram tratados no programa “Surfer” dos fabricantes de pneus (p1). Pode, assim,
que, através de processos de triangulação e 4. Apresentação e discussão considerar-se que a pressão mais elevada é,
de interpolação linear, permitiu o estabele- dos resultados à partida, excessiva, uma vez que se espera
cimento das curvas de desempenho do motor que promova maior compactação do solo e
(figura 3), as quais relacionam o consumo 4.1.O par regime/relação de transmis- é também aquela que se espera que menos
específico do motor com o regime em per- são da caixa de velocidades amorteça as vibrações resultantes das rugo-
centagem do regime nominal (em abcissas), Os resultados obtidos comprovaram a im- sidades que o pneu encontra no solo. A pres-
com o grau de utilização da potência nomi- portância da correcta gestão do par mudança- são mais baixa apresenta uma melhoria sig-
nal (ordenada à direita) e com o momento -regime, tendo evidenciado que a técnica de nificativa do indicador consumo por hectare,
em percentagem do momento à potência escolher mudanças mais altas e regimes mais no entanto, é também a situação em que se
nominal (ordenada à esquerda). baixos pode conduzir a importantes econo- espera um maior desgaste dos pneus, em
Estas curvas de desempenho representam mias de combustível (redução média do con- particular na ligação do talão do pneu à jante.
uma autêntica radiografia das potenciais pres- sumo por hectare entre 15 e 20%) relativa- Por essa razão, encontra no agricultor as
tações do motor. A partir desta informação mente à utilização comum de regimes perto maiores reservas, exigindo o restabelecimento
é possível aferir das possibilidades de utili- do regime nominal do motor e da selecção de pressão mais elevada sempre que o trac-
zação de um tractor agrícola em diferentes de mudanças baixas. tor se deslocar em pavimento rígido, para
operações culturais, procurando sempre a garantir o cumprimento da vida útil normal
maior eficiência de conversão do combustí- 4.2. A utilização de lastro dos pneus. A indicação do fabricante de trac-
vel em energia mecânica. O interesse reside, líquido nos pneus tores, aconselhando uma pressão intermé-
portanto, em minimizar o consumo especí- No que respeita ao consumo de combustí- dia, estabelece o compromisso entre a con-
fico (expresso em gramas de gasóleo por uni- vel por hectare, verificou-se uma diminuição servação do pneu e a aderência do mesmo,
dade de energia produzida, expressa em sistemática deste parâmetro na situação de sem comprometer o consumo de combus-
kWh), o que se consegue com elevados graus ensaio sem lastro líquido nas rodas, com es- tível por hectare. Esta é a forma de libertar
de utilização da potência máxima e em re- pecial impacto nas condições de solo mobi- o agricultor da preocupação do ajustamento
gimes da ordem dos 70% do regime de po- lizado, onde a redução chegou a atingir 11%. da pressão de enchimento dos pneus, aten-
Pode, por isso, pôr-se dendo às utilizações bastante diversas a que
Consumo específico (g/kWh)
em causa a necessidade o tractor está sujeito, e sabendo também
deste lastro adicional que, na larga maioria das horas de trabalho,
em condições habituais o mesmo se encontrará em situações de
110 de utilização dos trac- transporte em pavimento rígido.
tores agrícolas em mo-
100
bilização do solo para 4.4. A regulação da abertura dos
instalação de culturas corpos da grade e a adaptação
de sequeiro no Alentejo. da velocidade de trabalho
Momento em percentagem do momento no regime nominal
90
O argumento apresen- A questão energética encontra-se reflectida
Potência em percentagem da potência nominal
425
400
se pretenda optimizar a ca- par tractor-alfaia tem implicações importan-
375
350 pacidade de trabalho, com tes na produtividade e na eficiência do tra-
325 menor eficiência em ter- balho.
300
275
mos de consumo de com- Os resultados obtidos conduziram ao esta-
250 bustível (que, no conjunto belecimento de um modelo de previsão da
225
200
de ensaios realizados, foi tracção na barra a partir da massa da grade
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 de cerca de 300 g/kWh). de discos (Equação 6):
Pot% Potência-nominal
4.6. Rendimento total
Figura 4 – Consumo específico de tractores Massey-Ferguson, em função do grau de utilização de tracção T = 7,3965*m + 7541,6 (Eq. 5)
da potência nominal, em dois regimes do motor: regime nominal e 80% do regime nominal [5]
A medição dos parâmetros
tracção na barra (T), velo- Onde: T - tracção na barra (N); m - massa
4.5. Comportamento dos tractores cidade real de avanço (vr) e consumo horá- da grade (kg).
em ensaios à tomada de força: rio (Ch) nos ensaios de campo com tracto-
rendimento do motor res e grades de discos em diferentes condi- Este modelo pode ser utilizado na previsão
Ensaios num freio dinamométrico de vários ções de trabalho, permitiu o cálculo do ren- ao dimensionamento tractor-grade de dis-
modelos de tractores Massey-Ferguson da dimento total de tracção (ηtt) através da cos, para condições normais de instalação de
série 3000, de 59 a 81 kW de potência má- aplicação da equação 5. Os resultados obti- culturas de sequeiro no Alentejo, em solos
xima, comprovaram as indicações resultantes dos em solos de textura média para instala- de textura média. Nestas condições é suge-
dos ensaios realizados na estação de testes ção de culturas de sequeiro no Alentejo, re- rida uma relação potência do tractor/largura
alemã DLG, referidos no quadro 1. Assim, velaram um valor médio de 70% em solo da grade de discos de 37,5 a 50 CV /m de
ficou demonstrado que o consumo específico não mobilizado ou em solo gradado e de 60% largura.
do motor (Ce) é um parâmetro previsível e em solo lavrado ou lavrado e gradado [5]. São ainda indicadores de dimensionamento
relativamente pouco variável em determina- Foram admitidos, para o efeito, os valores a capacidade de trabalho e consumo por hec-
das condições de trabalho, nomeadamente médios de consumo específico já referidos tare, os quais desempenharão um papel im-
para o mesmo regime de funcionamento do consoante o grau de utilização do regime do portante no apoio à tomada de decisão do
motor, dentro de intervalos de utilização da motor (270 g/kWh, a 80% do regime nomi- agricultor, não só como referências na esco-
potência acima de 60% (quadro 2; figura 4), nal e 300g/kWh, ao regime nominal) e uma lha do par largura da alfaia-potência do trac-
como é habitual em trabalhos de tracção. É, massa específica média do gasóleo de 840 tor, mas também na gestão correcta do con-
por isso, possível prever o valor desta variável g/L. junto em trabalho, permitindo ao operador
em dois regimes típicos de utilização em ope- aproveitar as possibilidades que os modernos
rações de mobilização do solo: (Eq. 5) equipamentos oferecem, por forma a opti-
mizarem estes dois parâmetros (figura 5).
QUADRO 2 – Consumo específico (g/kWh)
de diferentes condições de trabalho de tractores Onde: ηtt - rendimento total de tracção, cor- As situações de incorrecto dimensionamento
Massey-Ferguson da série 3000 obtido em ensaios respondente ao produto do rendimento me- resultarão em reduzidas capacidades de tra-
à tomada de força [5]
cânico da transmissão pelo rendimento de balho e consumos de combustível por hec-
Grau de utilização da potência nominal tracção (decimal); Ce - consumo específico tare agravados. O limite, no caso de alfaias
60% 90%
do motor (g/kWh); ρg -massa específica pequenas para o tractor, será imposto pela
Grau de utilização
do regime nominal
80% 100% 80% 100% do gasóleo (g/L); T - tracção na barra (kN); velocidade de trabalho, a qual deve garantir
Consumo específico (g/kWh)
υr - velocidade de trabalho (km/h); Ch - con- a segurança e o conforto do operador e a
[260- [300- [260- [280-
Intervalo de variação sumo horário de combustível (L/h); 3,6 - qualidade do trabalho. No caso de alfaias
-280] -330] -290] -302]
no conjunto dos tractores - factor de conversão de unidades. grandes, em que o limite é imposto pela ca-
pacidade de tracção do tractor, a patinagem
Num regime de cerca de 80% do regime 4.7. Das solicitações de tracção das rodas motoras funciona como um fusí-
nominal, utilizado em operações que não ao dimensionamento do tractor vel indicador. Todas estas informações, ve-
exigem toda a potência do tractor e em que O estabelecimento de um modelo de di- locidade, patinagem, capacidade de trabalho
se procura optimizar o consumo de combus- mensionamento tractor-alfaia, baseado na e consumo de combustível, estão disponí-
tível sem comprometer a capacidade de tra- medição do esforço de tracção solicitado em veis ao operador nos sistemas de informação
balho, com a obtenção de um consumo es- condições reais de trabalho, permite aos fa- que equipam muitos dos modernos tracto-
pecífico mínimo e relativamente estável (que, bricantes uma indicação fiável da potência res agrícolas. É preciso sensibilizar os agri-
Figura 7 – Previsão do consumo útil por hectare a partir da tracção na barra por unidade de largura de trabalho da alfaia:
enquadramento na linha de referência correspondente ao máximo rendimento global [5]
dos pneus em interacção com o solo (ηt). riáveis Cha e ℑ, obtidos para diferentes con- global máximo), relativamente às situações
Relativamente ao primeiro, os ensaios de dições de utilização de tractores agrícolas, de solo não mobilizado, como resultado da
tractores na estação de testes alemã DLG, em mobilização de solos de textura média, previsível quebra do rendimento de tracção
cujos resultados são publicados regularmente em sequeiro. nessas condições.
na revista “profi International”, permitem A figura 7 enquadra, com a linha de referên-
estimar, para um grau de utilização da po- cia correspondente ao rendimento global 1 Universidade de Évora, Departamento
tência máxima do motor de cerca de 80%, máximo, as relações entre Cha e ℑ, estabe- de Engenharia Rural; E-mail: [email protected]
um Ce mínimo de cerca de 230 g/kWh [5]. lecidas a partir dos resultados de ensaios de 2 INETI, Laboratório de Medidas Eléctricas
No que se refere ao rendimento total de campo realizados em solo não mobilizado. 3 UTAD, Departamento de Fitotecnia
tracção (ηtt = ηm × ηt), a ASAE Standards Pode comprovar-se a maior aproximação ao e de Engenharia Rural
[6] indica, para tractores de quatro rodas rendimento global máximo, ou seja, à linha
motoras e em solo não mobilizado, um valor de referência, da situação de ensaio com um REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
máximo de cerca de 72%. O rendimento regime de funcionamento do motor de 80%
[1] BOWERS, C. G. JR. (1985) - Southeastern Tillage Energy
global máximo esperado para operações de do regime nominal, relativamente às situa- Data and Recommended Reporting. Transactions of the
mobilização do solo, resultante destas con- ções de ensaio ao regime nominal. ASAE; Vol. 28(3), 731-737.
[2] BOWERS, C. G. JR (1989) - Tillage Draft and Energy
dições optimizadas, conduz ao valor de re- QUADRO 3 – Coeficientes a e b da equação Measurements for Twelve Southeastern Soil Series. Tran-
ferência de consumo por hectare. Qualquer linear (Cha = a + b . ), obtidos a partir sactions of the ASAE; Vol. 32(5), 1492-1502.
dos resultados dos ensaios de campo realizados [5] [3] RIETHMULLER, G. P. (1989) - Draft Requirements of
conjunto tractor-alfaia em operação condu- Tillage Equipment in the Western Australian Whestbelt.
zirá a valores superiores de Cha e, quanto Grau de utilização da potência Agricultural Engineering Australia, Vol. 18, N.os 1 e 2,
nominal do motor 17-22.
mais se afastar este valor do valor de refe- 100% 80% [4] BILLOT, JEAN-FRANÇOIS (1999) - Masse volumique du
rência, mais inadequado será o par tractor- Coeficientes da equação a b a b
carburant. Ensaios de tractores agrícolas no Cemagref,
documento não publicado.
-alfaia ou mais incorrectas serão as regula- Solo não mobilizado -0,5939 1,4350 -0,2474 1,2097 [5] SERRANO, JOÃO M. (2002) - Contribuição para a opti-
ções efectuadas. mização do sistema dinâmico tractor-alfaia em mobili-
Solo gradado 0,2942 1,3822 -0,0782 1,2446 zação do solo. Tese de Doutoramento, Serviços de Re-
Optimizadas as regulações ao nível do re- prografia e Publicações da Universidade de Évora,
Solo lavrado ou
gime do motor e da relação de transmissão lavrado e gradado
1,8454 1,7871 1,4103 1,1854 234.
[6] ASAE STANDARDS, 47th Edition (2000) - ASAE D497.4
da caixa de velocidades, do lastro e da pres- MAR99 - Agricultural Machinery Management Data. St.
são de enchimento dos pneus e dos ajusta- Idêntico diagrama poderá ser elaborado para Joseph, Mich. ASAE, 350-357.
[7] ZHENGPING, WU; KJELGAARD, W. L.; PERSSON, S. P.
mentos ao nível da alfaia, foi possível esta- as condições de solo mobilizado (gradado ou E. (1986) - Machine Width for Time and Fuel Efficiency.
belecer equações de referência para condi- lavrado), aplicando os respectivos coeficien- Transactions of the ASAE; Vol. 29 (6): November-De-
cember, 1508-1513.
ções de trabalho típicas no Alentejo. tes a e b do quadro 3. Será possível também [8] ASAE STANDARDS, 42th Edition (1995) - ASAE D497.2
O quadro 3 apresenta os coeficientes a e b comprovar nestas situações um maior afas- MAR94 - Agricultural Machinery Management Data. St.
Joseph, Mich. ASAE, 335-341.
da equação linear de regressão entre as va- tamento da linha de referência (rendimento
1. Introdução Para o efeito todos os órgãos constituintes tiches”, sem olhar a modas, apesar de nos
da ETAR foram encerrados numa “caixa” de transportar para uma inevitável referência geo-
A Estação de Tratamento de Águas Residu- betão armado, em cuja cobertura se locali- gráfica pelas cores utilizadas nos alçados.
ais (ETAR) de Vale Faro, localizada no con- zam diversos espaços lúdicos, como campos Estas são o branco dos rebocos pintados e o
celho de Albufeira, integra-se num plano de de ténis, etc.. Por sua vez, os efluentes tra- amarelo, tão típico do sul do País, e da bacia
modernização das instalações de tratamento tados são lançados numa lagoa que constitui Mediterrânea em geral, presente nas faixas
que esta autarquia vem implementando. uma aprazível zona de recreio com uma fauna pintadas que fazem contraste com o branco.
A ETAR em causa, associada à ETAR de em que predominam as aves aquáticas.
Ferreiras e à Estação Elevatória da Balaia, in- Esta fauna serve de controlo indirecto sobre 3. Solução Final
sere-se na modernização da zona Nascente a qualidade do tratamento processado na
de Albufeira. ETAR, pois uma alteração no estado de saúde A solução adoptada de modo a permitir que
No local existia uma ETAR a céu aberto, dos animais será reveladora de insuficiências a nova ETAR cumprisse os objectivos pre-
situação que, progressivamente, foi sendo no funcionamento da ETAR. tendidos atrás descritos, foi considerar que
incompatível com o desenvolvimento urba- A lagoa tem um descarregador de superfície todos os seus órgãos constituintes fossem
nístico da zona, nomeadamente com a cons- que conduz as descargas para uma linha de encerrados numa “caixa” de betão armado,
trução, na sua envolvente e proximidade água localizada na sua proximidade. com cerca de 10.000m2 de área em planta
imediata, de apartamentos turísticos e uni- É, portanto, uma solução com particulares e e 10,0m de altura (Ver Fig. 2).
dades hoteleiras. invulgares preocupações ambientais, como se
Pretendeu-se, então, que a nova ETAR dei- pode verificar analisando as Figuras 1 e 2.
xasse de constituir um impacte altamente
negativo no local e, pelo contrário, servisse 2. Solução Arquitectónica
de área de lazer do aglomerado urbano em
que se iria inserir. Em termos arquitectónicos, foi tida como
preocupação fundamental a dignificação de
um equipamento que, normalmente, é des-
Figura 1 prezado e visto como um mal necessário, Figura 2
Solução Arquitectónica
como um equipamento de carácter indus-
trial, peça disforme no tecido urbano ou rural Só a portaria e o edifício administrativo ficam
e arquitectonicamente desinteressante, como visíveis fora da “caixa” de betão armado que
é vulgar ouvir comentar este tipo de equi- envolve os restantes órgãos da ETAR.
pamentos. A ETAR de Vale Faro tem como principais
Assim sendo, optou-se por uma linguagem órgãos:
arquitectónica longe do estereótipo da ar- O edifício do pré-tratamento; os tanques de
quitectura industrial, sem no entanto esque- arejamento; as câmaras de desfosfatação; o
cer as necessidades funcionais corresponden- edifício dos sopradores e transformação; o
tes a cada um dos compartimentos da ETAR, decantador secundário; o espessador de lamas;
bem como das interligações necessárias entre o edifício de desidratação de lamas; o edifí-
eles. cio de desodorização e reagentes; os filtros
Desta forma, procurou-se jogar com os con- de areia; o depósito de água de lavagem; o
trastes de materiais e dos vãos para criar um depósito de água tratada; o edifício adminis-
certo ritmo. trativo.
Este jogo de cheios e vazios, de avanços e
recuos, confere um dinamismo pró- 4. Solução Estrutural
prio, o que não o impede de
se mostrar bem ancorado 4.1. Fundações
no terreno, transmitindo De acordo com os resultados da prospecção
uma ideia de solidez. geotécnica realizada, no local ocorre a se-
A imagem procura ser aquela que se guinte litologia (Ver Fig. 3):
esperaria de uma arquitectura feita no nos 3,0m superiores, um aterro arenoso
tempo actual, sem maneirismos ou “pas- (SPT de 3 a 5 pancadas);
Figura 3
A cobertura é formada por lajes dispostas
em painéis com as dimensões de 7,5m ×
13,5m e constituídas por elementos de betão
pré-fabricados que servem de cofragem a
uma lâmina de compressão betonada “in
situ”. Essas lajes são suportadas por vigas
pré-fabricadas de betão pré-esforçado.
A cobertura apoia-se, perifericamente, nos
muros de suporte de terras (Ver Fig. 4) e,
interiormente, mediante a interposição de
cachorros, nos pilares incorporados, generi-
camente, nas paredes dos tanques que cons-
tituem a parte mais significativa dos órgãos
da ETAR (Ver Fig. 5).
O dimensionamento desses pilares, com
cerca de 10,0m de altura desde a cota da
laje de fundo dos órgãos até à cobertura, foi
efectuado atendendo a que, na direcção do
nos 3,0m subjacentes, um aterro hetero- suas fundações e superiormente na laje de plano das paredes dos tanques, a sua altura
géneo, silto-argiloso, orgânico, de cor negra cobertura da “caixa”, foram ainda dimensio- útil é menor e, portanto, são mais rígidos se-
(SPT de 2 a 3 pancadas); nados, em fase provisória, como consolas gundo essa direcção do que na direcção or-
inferiormente, com uma pujança mínima verticais enquanto a cobertura não estava togonal em que a sua altura útil é próxima
de 4,0m, ocorrem areias finas silto-argilo- executada e havia necessidade de realizar dos 10,0m.
sas (SPT de 11 a 19 pancadas). um terrapleno no tardoz com altura que per- As vigas pré-fabricadas da cobertura são pré-
Como a maior parte dos órgãos são tanques mitisse materializar uma plataforma de su- -esforçadas por pré-tensão por aderência,
e os pilares que suportam a cobertura estão, porte para as gruas que movimentavam os têm secção transversal em forma de “I” e
maioritariamente, inseridos nas paredes dos elementos pré-fabricados da cobertura. apoiam-se nos cachorros do topo dos pilares
tanques, houve que distinguir, em termos Para atenuar os efeitos da fendilhação nas mediante a interposição de aparelhos de
de fundações, duas situações diferentes: paredes e nas lajes de fundo dos tanques, apoio de neoprene (Ver Fig. 6).
a das paredes dos tanques, com cargas sob a acção dos impulsos dos efluentes, con- As referidas vigas suportam painéis de lajes
transmitidas às fundações de cerca de 250,0 siderou-se a armadura a trabalhar a tensões alveoladas pré-fabricadas por pré-tensão por
kN/m (que incluem as reacções dos pila- baixas, o que, na prática, correspondeu a uti- aderência (Ver Fig. 7). Adoptaram-se pai-
res que suportam a cobertura); lizar o aço A400 a trabalhar às tensões habi- néis de 0,25m de espessura solidarizados,
a das lajes de fundo dos tanques, com uma tuais do A235. superiormente, por uma lâmina suplemen-
carga máxima transmitida ao terreno da A solução estrutural da cobertura da “caixa” tar de betão armado com 0,05m de espes-
ordem de 65,0 kN/m2. que envolve os órgãos foi parcialmente ba- sura (lâmina de compressão), perfazendo,
Face às acções referidas e à litologia encon- seada na pré-fabricação, de modo a reduzir assim, uma espessura total de 0,30m. Sobre
trada, considerou-se como solução mais ade- o seu tempo de execução em obra. o banzo superior das vigas “I” e na sua lar-
quada do ponto de vista técnico-económico,
o recurso ao tratamento do terreno com co-
lunas de brita de diâmetro da ordem de
0,60m/0,70m e com um comprimento de
cerca de 5,0m.
As colunas de brita, sob as lajes de fundo
dos órgãos, foram dispostas segundo uma
malha de cerca de 2,50m × 2,50m e, sob
as paredes dos mesmos órgãos, numa qua-
drícula de cerca de 1,30m × 1,30m.
Tal solução permitiu adoptar uma tensão de
contacto admissível da ordem de 0,20 MPa.
4.2. Superestrutura
Os muros de suporte de terras envolventes
que, em fase definitiva, funcionarão como
lajes verticais apoiadas, inferiormente nas Figura 4
Figura 5
No dimensionamento da cobertura e dos
seus apoios utilizou-se um modelo de cál-
culo tridimensional.
5. Conclusões
Resumo dá especial relevo à gestão das infra-estru- desta política de investimento na rede rodo-
turas rodoviárias. Através da Junta Autó- viária nacional verificam-se duas tendências:
Nesta comunicação é descrito o estado da noma das Estradas (JAE), cuja actividade se as infra-estruturas rodoviárias existentes e a
arte em relação às várias componentes dos encontra actualmente enquadrada pela Es- necessitar de trabalhos de conservação têm
Sistemas de Gestão da Qualidade de Pavi- tradas de Portugal, Entidade Pública Empre- vindo a aumentar; a necessidade de novas
mentos Rodoviários. São também descritos sarial (EP), foi iniciado, em 1990, o desen- infra-estruturas rodoviárias começa a dimi-
os necessários desenvolvimentos futuros volvimento de um Sistema de Gestão de nuir, devido às necessidades mais prementes
nesta área que foram evidenciados nos mais Pavimentos (SGP ou PMS, iniciais de Pa- terem sido já atendidas. Associado a estas
recentes encontros científicos internacionais. vement Management System). Em 2003, a tendências ainda se verifica outro fenómeno:
Por fim, é efectuada uma análise crítica sobre EP decidiu desenvolver um novo SGP para os utentes da rede rodoviária são cada vez
esses desenvolvimentos propostos para o fu- a rede rodoviária sob sua administração. O mais exigentes relativamente à segurança e
turo. sistema tem estado a ser desenvolvido por conforto que as estradas por onde circulam
elementos da administração e também dos proporcionam. Estas tendências e este fenó-
1. Introdução Departamentos de Engenharia Civil da Uni- meno já ocorreram anteriormente em outros
versidade de Coimbra e da Universidade países, tendo resultado numa transferência
A Comissão Europeia publicou, em 2001, o Técnica de Lisboa [2]. A BRISA também de meios financeiros da construção para a
Livro Branco sobre a Política Europeia de tem actualmente em curso o desenvolvi- conservação das infra-estruturas rodoviárias,
Transportes [1] onde refere que os condu- mento e implementação do seu Sistema de algo que começa agora a acontecer em Por-
tores europeus esperam medidas mais ade- Gestão de Pavimentos [3]. tugal. De qualquer forma, mesmo em países
quadas no domínio da segurança rodoviária, Em Agosto de 1999, a Câmara Municipal de que começaram mais cedo, verifica-se que
nomeadamente a melhoria da qualidade das Lisboa e o Departamento de Engenharia Civil os orçamentos disponíveis para a conserva-
estradas. Os transportes, não só são essen- da Universidade de Coimbra assinaram um ção das infra-estruturas rodoviárias quase
ciais à competitividade da nossa economia, protocolo na área da gestão da conservação nunca são suficientes para atender a todas as
como às nossas trocas comerciais, económi- dos pavimentos para o desenvolvimento de necessidades, pelo que os organismos rodo-
cas e culturais. Este sector económico repre- um SGP para o município de Lisboa [4]. viários procuram optimizar a relação capital
senta cerca de 1 milhão de milhões de euros, Este protocolo deu sequência a estudos efec- investido/qualidade do serviço oferecido. Para
ou seja, mais de 10% do produto interno tuados a nível municipal [5], verificando-se tal, como se fez notar, é necessário desenvol-
bruto da União Europeia, e emprega 10 mi- actualmente uma necessidade crescente em ver e implementar eficazes Sistemas de Ges-
lhões de pessoas [1]. Os transportes contri- desenvolver ferramentas de gestão para as tão de Infra-estruturas Rodoviárias. Será tam-
buem igualmente para aproximar os cida- infra-estruturas rodoviárias municipais. bém necessário aumentar os meios financei-
dãos europeus e, enquanto objecto de uma Os incidentes ocorridos durante todo o In- ros para a conservação das infra-estruturas
política comum, constituem um dos funda- verno de 2001 na rede rodoviária portuguesa rodoviárias e dispor de meios humanos es-
mentos do projecto europeu. Esta mobili- em geral, dos quais o mais conhecido é o aci- pecializados no assunto.
dade é assegurada em grande parte pelas dente ocorrido em 4 de Março de 2001 na
infra-estruturas rodoviárias, sendo estas ex- ponte de Entre-os-Rios sobre o rio Douro, 2. Gestão da Qualidade
tremamente importantes para a sustentabi- vieram reforçar a ideia de que é fundamen- de Redes Rodoviárias
lidade social e económica da Europa. Deste tal organizar bem a conservação das infra-
modo, as infra-estruturas rodoviárias reque- -estruturas rodoviárias, nomeadamente im- Os trechos duma rede rodoviária apresentam
rem uma eficiente gestão da sua conserva- plementando Sistemas de Gestão da Con- um ciclo da vida, compreendendo duas fases:
ção com a utilização das tecnologias mais servação eficazes. De facto, Portugal, desde uma primeira fase que termina com a cons-
avançadas do momento. há praticamente duas décadas, tem sido su- trução de um determinado trecho rodoviá-
Também em Portugal, a rede nacional de cessivamente dotado de novas infra-estrutu- rio; uma segunda fase que corresponde à sua
estradas, infra-estrutura de elevado valor pa- ras rodoviárias. O capital investido tem inci- conservação durante um determinado perío-
trimonial, permite a movimentação de pes- dido fundamentalmente na construção de do de vida. A primeira fase compreende um
soas e mercadorias, actividade essencial para novas infra-estruturas rodoviárias, relegando certo número de etapas necessárias à sua re-
o desenvolvimento equilibrado do nosso país. para segundo plano a conservação do patri- alização, nomeadamente o Planeamento, o
A administração rodoviária nacional também mónio rodoviário existente. Em resultado Projecto e a Construção. A segunda fase cor-
CATÁLOGO
estado superficial dos pa- dida em que passaram a fornecer indicações
OBSERVAÇÃO
DOS PAVIMENTOS DE PATOLOGIAS
vimentos, garantindo, concretas sobre as acções de conservação a
SGP deste modo, uma maior aplicar aos pavimentos [6].
BASE DE DADOS RODOVIÁRIA homogeneidade dos dados Actualmente, são numerosas as instituições
observados. O Catálogo com responsabilidades de gestão de redes
SISTEMA DE AVALIAÇÃO ACÇÕES DE serve também como do- rodoviárias, a nível nacional, regional ou local,
DA QUALIDADE CURTO PRAZO
cumento essencial na for- que planeiam as acções de conservação uti-
mação de técnicos para lizando SGP. Um dos SGP mais divulgados
MODELOS DE SISTEMA DE APOIO
executarem a observação internacionalmente é o denominado SGP
MODELOS DE CUSTOS
COMPORTAMENTO À DECISÃO
de Avaliação de Estratégias de Conservação, futuro dos pavimentos (tráfego e condições Não é simples definir a ponderação a atri-
também designado mais genericamente por climáticas). buir a cada parâmetro;
Sistema de Apoio à Decisão. Para poderem A acumulação de informação na BDR, de- Um índice global não fornece informação
funcionar, estas componentes necessitam de vido às sucessivas campanhas de auscultação detalhada sobre as causas do estado dos
ferramentas complementares como os Mo- dos pavimentos, permite o desenvolvimento pavimentos.
delos de Previsão do Comportamento dos de modelos de previsão do comportamento
Pavimentos e o Modelo de Custos, onde são dos pavimentos e o melhoramento destes, A análise paramétrica consiste na definição
definidos os custos das intervenções de con- sempre que existe mais informação relevante de valores ou intervalos de valores para cada
servação, bem como outros que podem afec- para a actualização dos modelos. um dos parâmetros medidos ou observados,
tar a avaliação das estratégias de conservação, em função das consequências previsíveis para
como é o caso dos custos para os utentes de- 2.2.2. Sistema de Avaliação da Qualidade os utentes ou para o pavimento. Este tipo
vido à utilização das infra-estruturas rodo- dos Pavimentos de análise tem como inconveniente o facto
viárias. A avaliação da qualidade estrutural e funcio- de ser muito desagregada, embora permita
nal dos pavimentos é uma componente muito uma definição mais correcta do tipo de in-
2.2.1. Base de Dados Rodoviária importante dos SGP, principalmente para a tervenção a realizar nos pavimentos, através
Uma Base de Dados Rodoviária (BDR) pode definição de prioridades na realização dos da utilização das causas específicas que ori-
ser definida como sendo um conjunto de in- trabalhos de conservação e para o desenvol- ginam cada estado do pavimento.
formação estruturada, integrada e coerente, vimento de modelos de previsão do com- Na análise mista combinam-se os diferentes
satisfazendo requisitos de segurança e de portamento dos pavimentos. Um sistema de valores ou os diferentes intervalos de valo-
confidencialidade, armazenada em meios in- avaliação da qualidade (SAQ) dos pavimen- res dos diversos parâmetros de estado adop-
formáticos que possibilitam o acesso por tos permite, a partir da informação armaze- tados, definindo-se um índice de qualidade
parte de utilizadores com diferentes pers- nada e manipulada pela BDR, avaliar o es- para cada pavimento através da utilização de
pectivas. A BDR é uma das componentes tado dos pavimentos da rede rodoviária. A matrizes de múltiplas entradas. Esta última
mais importantes dos SGP, sendo constituí- avaliação da qualidade dos pavimentos ro- análise pretende eliminar os inconvenientes
da, fundamentalmente, pelos seguintes gru- doviários baseia-se em três tipos diferentes da análise global e manter, tanto quanto pos-
pos de dados: identificação e referenciação; de análise dos parâmetros de estado: análise sível, as vantagens da análise global e da aná-
classificação dos trechos rodoviários; geome- global, análise paramétrica e análise mista. lise paramétrica.
tria da rede; história da vida dos pavimen- Na análise global, os parâmetros de estado Os aspectos mais importantes no processo
tos; avaliação da qualidade dos pavimentos; são agregados de modo a encontrar uma nota de avaliação da qualidade dos pavimentos são
caracterização do tráfego; caracterização das global representativa do estado dos pavimen- a escolha dos parâmetros de estado e a defi-
condições climáticas; acções de conservação tos. As vantagens da análise global podem nição dos correspondentes intervalos de va-
e os correspondentes custos unitários; res- ser sintetizadas nos seguintes pontos: lores. Neste processo é fundamental a exis-
trições orçamentais; e obras de construção Facilita a classificação dos pavimentos atra- tência de informação fiável e o conhecimento
e conservação que se vão realizando na rede vés de uma única nota atribuída a cada tre- e experiência dos técnicos para avaliar a con-
(Figura 4). cho de pavimento; tribuição dos diferentes parâmetros para o
Permite uma represen- estado dos pavimentos. Os parâmetros de
tação gráfica clara e efi- estado utilizados nos SGP mais completos a
ciente do estado dos pa- nível de redes nacionais são os seguintes: o
vimentos da rede rodo- fendilhamento isolado ou ramificado; a pele
viária, muito útil para os de crocodilo; as covas; as peladas; as rodei-
agentes de decisão; ras; a capacidade estrutural dos pavimentos;
Permite facilmente rela- a irregularidade longitudinal; e a aderência.
cionar a qualidade dos pa- A definição de uma metodologia de avalia-
vimentos com a avaliação ção da qualidade dos pavimentos deve ser:
efectuada pelos utentes Objectiva e fiável: deve fornecer informa-
através da sua sensibilidade ção sobre o estado global da rede rodoviá-
Figura 4 – Exemplo de uma BDR ao conforto e segurança; ria, deve utilizar critérios racionais e deve
Simplifica o desenvolvi- permitir a comparação dos vários trechos
A BDR constitui o núcleo base de qualquer mento de modelos de previsão do compor- rodoviários;
SGP, permitindo armazenar, tratar, actua- tamento dos pavimentos. Dinâmica: deve permitir a actualização a
lizar e disponibilizar informação sobre a rede Podem referir-se os seguintes inconvenien- partir de modelos de previsão do compor-
rodoviária. Esta informação permite uma tes: tamento dos pavimentos e deve permitir
correcta caracterização da rede rodoviária A mesma nota global pode representar rea- determinar a vida residual do pavimento;
relativamente à sua actual qualidade e aos lidades diferentes, porque os parâmetros Simples e amigável: deve permitir um diá-
factores que influenciam o comportamento podem compensar-se entre si; logo simples e objectivo com o utilizador;
mática, que pode ser utilizada para a previ- bilidade, coeficientes Conservação
são do comportamento futuro dos pavimen- de Poisson, caracterís-
tos, a partir do estado actual desses pavimen- ticas das misturas, clima,
tos, dos factores de degradação e dos efeitos tráfego, etc.). Reabilitação
resultantes das acções de conservação. A escolha entre o de- TEMPO
Estes modelos são genericamente classifica- senvolvimento e im-
Figura 6 – Representação determinística da aplicação de acções de conservação
dos em modelos probabilísticos e modelos plementação de mode-
determinísticos [12]. Esta classificação é ba- los relativos ou absolu-
seada nos princípios de explicação do fenó- tos depende, principalmente, do objectivo A metodologia Bayesiana permite combinar,
meno da degradação dos pavimentos como que se pretende atingir com a utilização dos por análise estatística, dados objectivos (dados
de carácter probabilístico ou determinístico. modelos e da existência ou não de informa- observados nos pavimentos) e informação
Os modelos determinísticos podem ser sub- ção sobre as variáveis independentes. Nos subjectiva (conhecimento de peritos rodo-
divididos em modelos empíricos, modelos modelos absolutos existe uma maior quan- viários) para o desenvolvimento de modelos
mecanicistas (baseados nos modelos físicos) tidade de variáveis envolvidas, sendo o seu de previsão do comportamento dos pavi-
e modelos empírico-mecanicistas. conhecimento mais problemático para as es- mentos [14]. Inicialmente, é fornecido aos
Estes modelos, em termos do âmbito de apli- tradas já construídas. Nas estradas em que peritos um conjunto de dados com o objec-
cação, podem classificar-se em modelos de houve um acompanhamento do processo tivo de homogeneizar os conhecimentos (fo-
aplicação ao nível da rede e modelos de apli- desde o início, pode ter-se informação sobre tografias que representam a situação corres-
cação ao nível de projecto. Ao nível da rede, estas variáveis, mas como algumas destas ca- pondente a cada valor de cada um dos pa-
Determinístico:
Estudo C-SHRP Regressão +
t=2 Projecto Empírico-mecanicista
t=0 t=1 Canadá Met. Bayesiana
Relativo/Absoluto
P11k
P12k SouthDakotaPMS Determinístico: Regressão +
Rede Estatal
P13k EUA Empírico-mecanicista Relativo Met. Bayesiana
P14k P41k ArizonaPMS Markov
Rede Estatal Probabilístico
P42k EUA homogéneo
P43k
OklahomaPMS Markov
P44k Rede Estatal Probabilístico
EUA homogéneo
KansasPMS Markov
Figura 7 – Representação probabilística da aplicação de acções de conservação Rede Estatal Probabilístico
EUA homogéneo
AlaskaPMS Markov
Rede Estatal Probabilístico
EUA homogéneo
No processo de Markov não homogéneo considera-se que as proba- MicroPAVER
Rede Estatal Probabilístico
Markov
EUA homogéneo
bilidades de transição variam de ano para ano, o que está mais de
HIPS Markov
acordo com a realidade, já que o tráfego (volume, taxa de cresci- Finlândia
Rede Nacional Probabilístico
homogéneo
mento, percentagem de veículos pesados, etc.) e as condições am- GiRR Markov
Rede Nacional Probabilístico
bientais (temperatura, precipitação, etc.) variam ao longo dos anos. França homogéneo
HPMS Markov
Sendo assim, o processo de degradação dos pavimentos é definido Hungria
Rede Nacional Probabilístico
homogéneo
por uma sequência de matrizes de probabilidades de transição. SIGPAV Markov homogéneo
Rede Municipal Probabilístico ou Determinístico
O processo semi-Markoviano é uma variante do processo de Ma- Portugal ou Regressão
rkov homogéneo em que se consideram igualmente as probabilida- Estudo Manitoba
Projecto Probabilístico Semi-Markov
Canadá
des de transição entre os diferentes estados do pavimento, mas no Estudo Ontário Markov
Rede Nacional Probabilístico
qual o tempo não é fixo. Um pavimento que se encontra no estado Canadá não homogéneo
i transita para o estado j num determinado tempo que é variável e Estudo Belgrado
Rede Nacional Probabilístico
Markov
Jugoslávia não homogéneo
segue uma distribuição probabilística.
No Quadro 1 apresentam-se os diferentes tipos de modelos de pre- QUADRO 2
Níveis de aplicação dos modelos
visão do comportamento dos pavimentos que são utilizados na ges-
tão da conservação de pavimentos rodoviários [6]. Os modelos pro- MODELO DE COMPORTAMENTO
NÍVEL DE GESTÃO
babilísticos baseados no processo de Markov homogéneo são utili- REDE NACIONAL REDE MUNICIPAL PROJECTO
Absoluto Muito utilizado
zados em alguns SGP americanos e europeus. A metodologia Baye-
siana é utilizada juntamente com a análise de regressão no SGP do Determinístico Relativo - estrutural Utilizado Utilizado Pouco utilizado
South Dakota e aparece também no estudo C-SHRP. O processo Relativo - funcional Utilizado Utilizado
de Markov não homogéneo apenas foi utilizado no Estudo Ontário Metodologia Bayesiana Utilizado Pouco utilizado
e no Estudo Belgrado. Os restantes SGP utilizam modelos deter- Markov homogéneo Utilizado Utilizado
Probabilístico
minísticos de previsão do comportamento dos pavimentos. Markov não homogéneo Pouco utilizado Pouco utilizado
No Quadro 2 são indicados os níveis de aplicação dos vários tipos de Semi-Markoviano Pouco utilizado Pouco utilizado
modelos de previsão do comportamento dos pavimentos. Os mode-
los determinísticos absolutos, que utilizam variáveis independentes ao longo dos anos em que os pavimentos se encontram em serviço,
relacionadas com as características mecânicas das camadas dos pavi- tais como o estado superficial, a irregularidade, etc., são bastante uti-
mentos, são muito utilizados na gestão de pavimentos ao nível de lizados na gestão de pavimentos ao nível da rede, podendo ser tam-
projecto, sendo menos utilizados na gestão ao nível da rede. Os mo- bém utilizados ao nível de projecto no caso de incluírem parâmetros
delos determinísticos relativos, que utilizam parâmetros observados estruturais, como por exemplo a deflexão.
Relativamente aos modelos probabilístico, ciados por entidades externas, tal como acon- tes que se verificam em todos os anos; os
verifica-se que estes são apenas utilizados na tece em alguns países em vias de desenvol- custos para os utentes já originam que a qua-
gestão de pavimentos ao nível da rede. Des- vimento. lidade dos pavimentos seja elevada no fim
tes, os modelos desenvolvidos com base no Os custos para os utentes decorrem da cir- do período de planeamento.
processo de Markov homogéneo são os mais culação dos veículos nas estradas e são de-
utilizados. A metodologia Bayesiana também pendentes do tráfego e do estado dos pavi- 2.2.5. Sistema de Apoio à Decisão
é bastante utilizada no desenvolvimento de mentos. Estes custos podem ser agrupados O Sistema de Avaliação de Estratégias de
modelos probabilísticos quando associada ao em seis grupos distintos: custos de operação Conservação, também designado mais gene-
processo de Markov homogéneo. dos veículos; custos do tempo de viagem dos ricamente por Sistema de Apoio à Decisão
No relatório final da acção COST 324 [16] veículos motorizados; custos dos acidentes; (SAD), permite definir um programa de
está implícita a recomendação de modelos custos dos impactos ambientais; e outros cus- conservação, um relatório orçamental e um
determinísticos, sendo sugeridas as seguin- tos. Os custos de operação dos veículos in- relatório da evolução do estado dos pavimen-
tes recomendações para o desenvolvimento cluem os custos das seguintes componentes: tos. O programa de conservação deve con-
de modelos de previsão do comportamento combustível; pneus; peças; óleos e lubrifican- ter informação sobre que trechos rodoviá-
dos pavimentos: tes; horas de mão-de-obra; desvalorização do rios devem ser conservados, que tipo de
A informação deve ser recolhida periodi- veículo; juros de empréstimos; e gestão do acção de conservação deve ser aplicada a
camente e detalhada quanto necessária (os veículo. No desenvolvimento do SGP do cada trecho e quando deve ser executada,
modelos devem ser utilizáveis tanto ao DOT do Nevada [11] chegaram à conclusão de modo a garantir que a rede rodoviária fica
nível da rede como ao nível de projecto); que a consideração dos custos para os uten- acima de determinados níveis mínimos de
A informação deve ser medida em secções tes implicava um esforço financeiro muito qualidade em cada ano do período de pla-
representativas de toda a rede rodoviária, elevado, sobretudo devido à enorme quanti- neamento. O relatório orçamental deve con-
tendo em consideração o tipo de rede (rede dade de informação que é necessária para ter informação sobre o orçamento anual ne-
principal, rede secundária, etc.). As sec- obter um modelo que represente bem aque- cessário para executar o programa de con-
ções monitorizadas deverão ser represen- les custos. Por este motivo, numa primeira servação. O relatório da evolução do estado
tativas dos diferentes tipos de pavimentos fase, decidiram não os incluir na análise dos dos pavimentos deve conter informação sobre
e deverão representar os pavimentos com custos no ciclo de vida dos pavimentos. o estado previsível dos pavimentos em cada
diferentes idades; O valor residual dos pavimentos no fim do ano do período de planeamento se for exe-
Deverão ser desenvolvidos modelos dife- período de planeamento pode ser conside- cutado o programa de conservação.
rentes para diferentes tipos de redes ro- rado como o valor financeiro da vida útil es- Esta componente dos SGP utiliza a infor-
doviárias; perada que resta ao pavimento antes de ser mação sobre os pavimentos armazenada na
Os modelos deverão ser desenvolvidos se- necessário aplicar uma nova acção de reabi- BDR, nomeadamente informação sobre a
paradamente para os sete parâmetros re- litação. geometria e qualidade dos pavimentos e in-
presentativos do estado do pavimento (ir- Na publicação Save your country’s roads [17] formação sobre os custos da execução das
regularidade longitudinal, fendilhamento é dada ênfase à importância da conservação acções de conservação, e utiliza também mo-
superficial, fendilhamento estrutural, de- da rede rodoviária através da seguinte frase: delos de previsão do comportamento dos
flexão, estado superficial e aderência) e “for every dollar not invested in road main- pavimentos de modo a definir programas de
para os três diferentes tipos de camadas tenance, road users waste three dollars on conservação, a curto, médio ou longo prazo,
estruturais que um pavimento pode con- extra transport costs, and roads must still be tendo como objectivo a minimização dos
ter (betuminosas, rígidas e granulares); repaired”. Isto significa que são os utentes custos na presença de restrições de quali-
Os modelos deverão ser melhorados à me- que pagam a falta de investimento na qua- dade dos pavimentos. Um outro objectivo
dida que se dispõe de mais informação lidade da rede. pode ser a maximização da qualidade de toda
sobre os pavimentos; A consideração dos custos para os utentes, a rede rodoviária na presença de restrições
Os modelos de previsão do comportamento por terem uma enorme contribuição no valor orçamentais.
dos pavimentos que forem desenvolvidos dos custos totais, origina um maior investi- O SGP desenvolvido para o DOT do Ari-
deverão ser utilizados para melhorar os pro- mento em conservação de modo a manter zona [18] foi o primeiro sistema deste tipo
cedimentos de projecto de pavimentos. os pavimentos num nível elevado de quali- que efectua a programação das actividades
dade, nível, este, diferente de trecho para de conservação através de um sistema de
2.2.4. Modelo de Custos trecho em função dos seus atributos. optimização, denominado NOS (Network
O Modelo de Custos deve considerar os cus- Em relação ao valor residual dos pavimen- Optimization System). Este sistema de op-
tos de conservação, os custos para os uten- tos, verifica-se que tem pouca influência na timização permite analisar a sensibilidade da
tes da rede rodoviária e o valor residual dos determinação das intervenções de conserva- evolução do estado dos pavimentos com a
pavimentos no fim do período de planea- ção. Isto acontece pelas seguintes razões: o adopção de diferentes estratégias de conser-
mento. Pode ainda considerar os custos ini- valor residual dos pavimentos, numa análise vação, através da utilização de modelos de
ciais de construção no caso de se pretender a preços correntes, tem pouco significado previsão do comportamento dos pavimen-
avaliar novos projectos de construção finan- em comparação com os custos para os uten- tos. Permite, também, definir programas de
conservação a médio e longo prazo, consti- então é necessário efectuar a ordenação dos necessitam de intervenção depois do último
tuindo uma ferramenta de apoio à gestão di- projectos. Esta ordenação pode ser efectuada ano do período de planeamento.
nâmica e plurianual da conservação dos pa- por critérios técnicos (por exemplo, em fun- A partir daqui o procedimento é idêntico ao
vimentos da rede rodoviária. Devido ao ca- ção das degradações ou do tráfego), por cri- efectuado para a programação a um ano. Para
rácter inovador deste sistema, Golabi e os térios económicos (por exemplo, através da os trechos rodoviários que necessitam de in-
seus colaboradores ficaram em primeiro lugar relação benefício/custo ou do valor actuali- tervenção no ano 1, o passo seguinte é de-
no Edelman Award Competition of the Ins- zado líquido), por critérios administrativos (a terminar a acção de conservação a aplicar em
titute of Management Sciences, pelo artigo administração, face a determinadas políticas cada um deles. Como normalmente o custo
publicado em 1982. Muitos dos SGP im- de conservação, dá prioridade a alguns pro- de todas as intervenções excede o orçamento
plementados posteriormente nos EUA e na jectos) ou por critérios mistos (Figura 8). disponível, então é necessário efectuar a or-
Europa foram desenvolvidos com denação dos projectos através de
base neste. um determinado critério. Sabendo
Valor de qualidade
Nos SGP, a optimização é utilizada de cada trecho rodoviário as acções de conservação a aplicar a
para seleccionar a melhor estratégia cada um destes trechos rodoviários,
ÍNDICE DE QUALIDADE
de conservação para cada um dos Grupo 2 - trechos que não necessitam de intervenção imediata já se pode saber o ano da próxima
trechos rodoviários, tendo em con- intervenção através da utilização dos
sideração determinados critérios e modelos de previsão do comporta-
tendo como objectivo minimizar cus- Nível tem de ser reabilitado
mento dos pavimentos.
tos ou maximizar benefícios. Se- Grupo 1 - trechos que necessitam de intervenção imediata Na programação plurianual por nível
gundo Golabi [18], durante o pri- ANO 0
de intervenção variável (Figura 10),
meiro ano de utilização do sistema o ano em que as acções de conser-
Figura 8 – Programação a um ano por níveis mínimos de qualidade
NOS no Estado do Arizona foram vação são executadas não é definido
poupados 14 milhões de dólares. com base apenas em níveis mínimos
Em termos de programação das actividades A programação plurianual da conservação de qualidade. Esta metodologia de progra-
de conservação, existem três metodologias dos pavimentos consiste na determinação do mação da conservação define em simultâneo
diferentes [6]: tipo de intervenção e o momento em que o tipo de intervenção para cada trecho rodo-
1. Metodologia de programação a um ano esta deve ser executada para cada um dos viário e o momento da sua execução, tendo
por níveis mínimos de qualidade; trechos rodoviários. Portanto, é necessário em consideração um determinado objectivo
2. Metodologia de programação plurianual determinar quais os trechos rodoviários que e respeitando determinadas restrições de
por níveis mínimos de qualidade; vão ser sujeitos a intervenções no ano se- qualidade. Esse objectivo pode ser, por exem-
3. Metodologia de programação plurianual guinte e nos restantes anos do período de plo, a minimização dos custos ou a maximi-
por nível de intervenção variável. planeamento. Neste tipo de programação da zação do desempenho da rede rodoviária ou,
Na primeira metodologia de programação conservação dos pavimentos já é necessário então, a maximização da relação benefício/
da conservação, os pavimentos, depois de considerar modelos de previsão do compor- custo. Este tipo de metodologia de progra-
avaliados em termos de qualidade estrutu- tamento dos pavimentos. mação da conservação tem em consideração
ral e funcional, são separados em dois gru- Na programação plurianual por níveis míni- que, normalmente, é economicamente des-
pos: os que necessitam de intervenção ime- mos de qualidade (Figura 9), os trechos ro- vantajoso deixar degradar os pavimentos até
diata; e os que só necessitam de intervenção doviários são separados em vários grupos: os ao seu limite mínimo de qualidade para de-
no futuro. A Figura 8 pretende representar que necessitam de intervenção no ano 1; os pois ser reabilitado. Por exemplo, a conser-
a separação do conjunto dos trechos rodo- que necessitam de intervenção no ano 2; os vação corrente permite retardar a degrada-
viários nestes dois grupos através da utiliza- que necessitam de intervenção no ano 3;...; ção dos pavimentos prolongando a sua vida
ção de um nível mínimo de qualidade. Na- os que necessitam de intervenção no último útil antes de ser reabilitado. Outras acções
turalmente, podem ser utilizados vários ní- ano do período de planeamento; e os que de conservação permitem diminuir a taxa de
veis de qualidade tendo em degradação dos pavimentos
consideração as diferentes prolongando o tempo em que
Período de planeamento
acções de conservação. estes se mantêm em estados
Depois de definir quais os tre- aceitáveis de qualidade.
ÍNDICE DE QUALIDADE
Trecho 1
Trecho 1
Figura 10 nientes.
Programação
plurianual por Relativamente à formação e informação em
nível de gestão da conservação de pavimentos, já se
intervenção
Nível tem de ser reabilitado variável está numa fase intermédia. Em Portugal,
existem cursos de Mestrado e Pós-gradua-
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 ção a funcionar há vários anos que abordam
ANOS estes assuntos. A utilização da Internet tam-
bém é bastante importante, não só para pos-
pode não optimizar a utilização dos fundos temas de investigação relativamente à ges- sibilitar uma formação complementar e ac-
públicos em termos globais. Sempre que seja tão da qualidade das redes rodoviárias: tualizada dos técnicos rodoviários como, por
possível, é essencial considerar o conjunto Melhor formação e informação em gestão esta via, fazer com que os decisores enten-
de todos os trechos rodoviários e todos os da conservação de pavimentos; dam a necessidade de apoiarem a conserva-
anos do período de planeamento. Revisão e melhoramento dos actuais ção das redes rodoviárias e, consequente-
A metodologia de programação das activi- SGP; mente, disponibilizarem os respectivos meios
dades de conservação mais eficaz é a progra- Melhorar a confiança na informação reco- financeiros.
mação plurianual por nível de intervenção lhida sobre os pavimentos; Em relação à revisão e melhoramento dos
variável associada a modelos de optimização Maior utilização de contratos de conserva- actuais SGP, em Portugal isto está a ser feito,
determinísticos que considerem como variá- ção baseados em indicadores de desempe- especialmente no que respeita ao SGP da
vel de decisão a aplicação ou não de deter- nho estabelecidos entre as administrações administração rodoviária nacional.
minada acção de conservação a cada trecho rodoviárias e empresas privadas (Parcerias Relativamente à confiança na informação re-
rodoviário. Em Portugal, o SGP da adminis- Público-Privadas); colhida sobre os pavimentos para utilização
tração rodoviária nacional [19] e alguns SGP Desenvolvimento de modelos de custos nos SGP, considera-se que os organismos
municipais [5, 20, 21] estão a ser desenvol- para os utentes; rodoviários devem evoluir para a utilização
vidos com base numa metodologia idêntica Melhoramento dos modelos de previsão de sistemas de aquisição automática de dados.
de programação das actividades de conser- do comportamento dos pavimentos para Sendo assim, será sempre necessário proce-
vação. Na Figura 11 apresenta-se um exem- cada parâmetro de estado, com a separa- der à certificação desses equipamentos e à
plo de intervenções de conservação reco- ção dos efeitos do tráfego, dos factores cli- sua calibração na fase de recolha de dados.
mendadas por um SAD, para serem execu- máticos e da interacção entre tráfego e No que respeita à privatização da conserva-
tadas no primeiro ano do período de plane- factores climáticos; ção de determinados trechos ou partes de
amento em parte da rede rodoviária de Lis- Utilização de modelos de optimização nos redes rodoviárias, verifica-se que teve os seus
boa. Este exemplo serve exclusivamente SGP que permitam definir o momento primeiros desenvolvimentos no Canadá, na
como ilustração, tendo sido preparado com certo de aplicação de cada acção de con- Austrália e na Nova Zelândia. Esta privati-
dados fictícios. servação nos trechos rodoviários; zação da conservação implica a adaptação de
Desenvolvimento de uma me- SGP ao sector privado, tendo em conside-
todologia de análise de custos a ração que este é gerido, fundamentalmente,
muito longo prazo, com períodos pela necessidade de obtenção de lucro, en-
de planeamento superiores a se- quanto que o sector público se rege por prin-
tenta e cinco anos; cípios de prestação de um bom serviço aos
Diminuição da distância entre utentes, que estes pagam directa ou indirec-
os SGP ao nível da rede e os SGP tamente. Nas Parcerias Público-Privadas para
ao nível de projecto, fazendo com efeitos de contratos de conservação basea-
que as soluções provenientes de dos em indicadores de desempenho, uma
um e do outro sejam compatíveis das componentes mais importantes é a de-
e coerentes; finição dos valores dos parâmetros de estado
Figura 11 – Intervenções de conservação para o primeiro ano
Integração de todos os sistemas que os trechos rodoviários terão que respei-
de gestão das várias infra-estrutu- tar ao longo dos anos, reforçando-se assim a
ras rodoviárias, nomeadamente os importância do desenvolvimento deste
3. Desenvolvimentos Futuros pavimentos, as pontes, os túneis, os dispo- tema.
sitivos de drenagem, a sinalização horizontal Relativamente à necessidade do desenvolvi-
Nos congressos mais importantes sobre esta e vertical, etc., de modo a constituir um Sis- mento de modelos de custos para os uten-
temática a nível mundial [22, 23, 24, 25, tema de Gestão Integrada dos Activos Ro- tes, também há muito por fazer. A impor-
26, 27, 28, 29] foram definidos os futuros doviários; tância da inclusão dos custos para os utentes
já foi genericamente reconhecida. No en- de melhor controlo de qualidade da cons- que os pavimentos representam a maioria
tanto, a sua inclusão na análise dos custos no trução, etc.. Um estudo efectuado pela dos custos das infra-estruturas rodoviárias e
ciclo de vida dos pavimentos ainda não tem FHWA [31] concluiu que a utilização da porque o conhecimento sobre este tipo de
o consenso das administrações rodoviárias. tecnologia Superpave, como forma racional sistemas está numa fase mais avançada. Pos-
Algumas argumentam que estes custos não de estabelecer a mistura betuminosa mais teriormente, deverá passar-se para o desen-
são retirados dos seus orçamentos, logo não adequada para uma determinada camada de volvimento dos sistemas de gestão das res-
devem ser incluídos na análise dos custos no um pavimento, pode aumentar a vida útil tantes infra-estruturas e a sua integração num
ciclo de vida dos pavimentos. Outras, pelo de uma camada de betão betuminoso em sistema de gestão mais global.
contrário, argumentam que os contribuintes 25%. O termo “pavimentos perpétuos” tem A experiência tem demonstrado que o pla-
pagam todos os custos inerentes ao trans- sido recentemente utilizado pela Asphalt Pa- neamento dos projectos de desenvolvimento
porte rodoviário, logo todos os custos devem vement Alliance para descrever pavimentos de SGP não é simples, tanto em relação à
ser incluídos. O que se verifica é que os cus- que permanecem ao longo do tempo com tecnologia como às pessoas envolvidas. O
tos para os utentes são enormes para trechos suficiente qualidade estrutural, necessitando planeamento de um projecto deve ter em
rodoviários com elevados volumes de trá- apenas de conservação periódica da camada consideração numerosos factores, nomeada-
fego, contribuindo maioritariamente para o de desgaste [32]. mente os seguintes: o apoio ao mais alto nível
valor dos custos totais no ciclo de vida dos Em relação à necessidade de diminuir a dis- dentro da administração rodoviária; a pro-
pavimentos, o que faz com que tenham muita tância entre os SGP ao nível da rede e os dução de documentação sobre o SGP, das
influência na definição das intervenções de SGP ao nível de projecto, o principal pro- actividades em curso e das lições apreendi-
conservação. Esta é uma das razões pelas blema está relacionado com o detalhe que é das; a periódica revisão e melhoramento do
quais muitas administrações rodoviárias não necessário para a maioria dos métodos de SGP; os investimentos necessários ao longo
consideram os custos para os utentes. dimensionamento de pavimentos. A utiliza- das fases do projecto; o desenvolvimento de
Em relação à necessidade de utilizar mode- ção de um detalhe elevado na gestão ao nível um programa que preveja contingências,
los de optimização, pode dizer-se que a maio- da rede torna-se proibitiva em termos de como por exemplo a saída de elementos fun-
ria dos actuais SGP já os utilizam. Em Fer- custos. Como tentativa de resolução deste damentais para a continuidade do projecto;
reira [6] são propostos vários modelos de problema pode ser referido um novo mé- os planos de formação dos utilizadores do
optimização inovadores, tanto probabilísti- todo de dimensionamento de pavimentos sistema, etc..
cos como determinísticos. que está a ser desenvolvido no âmbito do Os restantes problemas dos actuais SGP
Relativamente à análise dos custos no ciclo programa National Cooperative Highway ainda continuam sem resposta. A nível mun-
de vida dos pavimentos, verifica-se que o Research Program [33], que tanto pode ser dial, existem ainda dificuldades em relação
período de planeamento nunca ultrapassa os utilizado na gestão de pavimentos ao nível ao desenvolvimento de modelos de previsão
trinta e cinco anos [30]. Os argumentos para de projecto como ao nível da rede. O actual do comportamento dos pavimentos para
não se considerarem períodos de planea- método de dimensionamento da AASHTO cada parâmetro de estado, com a separação
mento mais longos são os seguintes: utili- [34] também pode ser utilizado na gestão dos efeitos do tráfego, dos factores climáti-
zando a análise de custos a preços correntes, ao nível da rede, tal como acontece nalguns cos e da interacção entre tráfego e factores
os custos ou benefícios para além deste pe- SGP portugueses [19, 20, 21]. climáticos. Estes modelos são fundamentais
ríodo são insignificantes; os erros de previ- Relativamente ao desenvolvimento de um para a análise dos custos no ciclo de vida dos
são, especialmente do tráfego, são muito sig- Sistema de Gestão Integrada dos Activos pavimentos. A maior dificuldade no desen-
nificativos. Haas [23] argumenta que devem Rodoviários que contemple todos os siste- volvimento destes modelos consiste na cap-
existir duas análises de custos: uma para um mas de gestão das várias infra-estruturas ro- tação das contribuições relativas dos vários
período de planeamento de médio prazo, doviárias, nomeadamente os pavimentos, as factores e suas interacções, mantendo os
sempre inferior a quarenta anos; e outra para pontes, os túneis, os dispositivos de drena- erros de previsão dentro de intervalos acei-
um período de planeamento de longo prazo, gem, as guardas de segurança, a sinalização táveis.
sempre superior a setenta e cinco anos, que horizontal e vertical, o equipamento de vi-
tenha em conta os seguintes aspectos: a dis- gilância, entre outros, ainda quase nada está 4. Considerações Finais
ponibilidade futura de recursos para a con- verdadeiramente implementado. Este será
servação; o número de vezes que os mate- um objectivo difícil de concretizar já que a Uma administração rodoviária, ao optar pela
riais podem ser reciclados; os impactos am- integração dos vários sistemas de gestão im- implementação de um SGP como ferra-
bientais produzidos pelos produtos não re- plica estabelecer a comunicação entre vários menta de apoio à gestão da qualidade da
cicláveis, etc.. Esta segunda análise também intervenientes. No caso das câmaras muni- rede, antes de adquirir um sistema “chave
pretende ter em consideração a exigência cipais, em Portugal, a experiência tem de- na mão” deve estudar a possibilidade de de-
crescente por parte dos utentes e das admi- monstrado grandes dificuldades de coorde- senvolver o seu próprio sistema. A experi-
nistrações rodoviárias para se conseguirem nação entre as várias divisões que efectuam ência mostra que geralmente há insucesso
pavimentos com uma vida útil mais longa. a gestão dos vários tipos de infra-estruturas quando se tenta impor a utilização de um
Isto pode ser conseguido através da utiliza- municipais. Considera-se que o SGP deve determinado SGP que foi desenvolvido para
ção de novas tecnologias, de novos materiais, ser o primeiro sistema a desenvolver, por- outra realidade. Além disso, terá que haver
Estas unidades dispõem de fonte de alimen- a ser lido, à medida que estes vão sendo co- (por exemplo, extensões, tensões normais,
tação, estão ligadas em paralelo e são con- locados, bem como a variação da frequência esforço axial, momento flector, valores
troladas por duas unidades de aquisição de de aquisição de dados. máximos, mínimos e médios, etc.).
dados, uma das quais é redundante, através
de uma rede de comunicações RS-485. O Como características gerais da aplicação de Como indicadores gerais do sistema de mo-
sistema de controlo e de aquisição de dados software desenvolvido referem-se as seguin- nitorização das escoras metálicas indicam-se
encontra-se ligado à Internet possibilitando tes: os seguintes (não estão considerados elemen-
quer a consulta de dados, quer a gestão do Configuração do sistema em função das tos sobresselentes):
sistema por via remota. O acesso à Internet características dos extensómetros eléctri- Extensómetros – 540 unidades activas (3
e a comunicação entre os dois controladores cos e das características geométricas e me- por cada tubo);
são assegurados por um equipamento hub / cânicas dos tubos metálicos; Cablagem entre os extensómetros e as uni-
router. Calibração automática dos extensómetros dades de aquisição de dados – 7000 m de
Em cada tubo existem três extensómetros e determinação do zero com a possibili- cabo;
eléctricos de resistência, cujas leituras per- dade de definir o offset, caso o extensóme- Capacidade de leitura – sistema modular
mitem definir o campo de deformação axial tro em causa já esteja sob deformação; de 18 unidades (uma por cada alinhamento)
na secção instrumentada (Fig. 3). Gestão da frequência de leitura e de re- de amplificação, condicionamento e mul-
Ligação a unidade gisto na base de dados; tiplexagem de sinal com capacidade total
de aquisição de sinal
Visualização geral do estado de funciona- de 576 canais;
mento do sistema de monitorização das Controladores – 2 unidades localizadas na
escoras metálicas, através de um código obra e ligadas em rede, acrescida de uma
de cores pré-definidas e de valores numé- unidade redundante localizada no ICIST.
Escora Escora 1
6 4 3
poente nascente
5 2
ricos associados às variáveis es-
colhidas;
Extensómetro
Detecção de extensómetros
avariados e desactivação auto-
mática depois de um período
definido;
Detecção e transmissão de aler-
tas quando existem variáveis
cujos valores não podem ser de-
terminados devido a avaria dos
extensómetros; Figura 4 – Unidade de amplificação, condicionamento e multiplexagem
de sinal existente para cada alinhamento de escoras
Detecção e transmissão de aler-
tas e de alarmes quando deter-
minados valores predefinidos são ultrapas- Resultados obtidos com
Figura 3 – Extensómetros colocados nos tubos metálicos
sados; o sistema de monitorização
Detecção automática de problemas de co-
Após a determinação do campo de deforma- municação (por exemplo cabo cortado); Os resultados obtidos com o sistema de mo-
ções, e admitindo que o material é homogé- Emissão automática de relatórios com pe- nitorização contínua do escoramento possibi-
neo, isótropo e apresenta comportamento riodicidade definida; litaram constatar, entre outros, a influência
elástico linear, é possível quantificar o campo Visualização gráfica dos dados adquiridos nos esforços e deformações de diversos parâ-
de tensões longitudinais na secção onde estão
localizados os três extensómetros. A deter-
minação do esforço axial e dos momentos
flectores é obtida através da integração do
campo de tensões na secção transversal do
tubo.
O programa de gestão e de aquisição de
dados foi desenvolvido utilizando a lingua-
gem LabVIEW (marca registada da Natio-
nal Instruments) e permite, além da visua-
lização numérica e gráfica de diversas variá- Figura 5
Figura 6
Influência da variação
da profundidade
de escavação no cavação, nível freático, variações de tempe-
esforço axial da escora
ratura, e decidir quais as melhores estratégias
a seguir associadas à exploração, manuten-
ção, reparação e reforço de estruturas. A mo-
nitorização das estruturas contribuirá certa-
mente para a segurança estrutural e para o
aumento da qualidade das estruturas.
Agradecimentos
sível verificar que o sistema de monitorização mas de monitorização contínua possibilitam, Agregado do IST, [email protected]
desenvolvido consegue captar, com suficiente entre outros, avaliar a segurança estrutural 2 Professor Auxiliar do IST,
precisão, as variações do esforço axial das es- através da quantificação das deformações e [email protected]
coras, tendo em atenção as causas exteriores dos esforços, saber a influência de diversos 3 Engenheiro Civil, Director Geral do
que conduzem à alteração do mesmo. parâmetros, tais como profundidade de es- Metropaço A.C.E., [email protected]
esforço axial nos elementos resistentes ver- turas subterrâneas de grande porte em solos de cedência é nula. O mesmo se passa, qua-
ticais, favorecendo assim a sua ductilidade, brandos. Tal deve-se ao facto da resposta litativamente, ao nível de uma estrutura sub-
recomenda-se, por exemplo, a minimização sísmica de estruturas subterrâneas depender terrânea à qual é imposto um campo de des-
da espessura do terreno de recobrimento do efeito de interacção solo-estrutura. Na locamentos horizontais, dado que não ne-
sobre a estrutura. Ressalvam-se situações em realidade, uma estrutura subterrânea tem os cessita de resistir a nenhuma força externa
que a aplicação desta recomendação possa seus deslocamentos horizontais impostos e aplicada, mas apenas às forças que a própria
contribuir para aumentar de forma signifi- simultaneamente limitados pelo solo confi- estrutura gera no seu interior.
cativa as deformações impostas à estrutura nante, pelo que não tem de resistir a forças A metodologia definida na regulamentação
devido à sua inserção em solos de piores ca- horizontais; pelo contrário, os edifícios e pon- aplicável a edifícios e pontes (RSA, 1983 e
racterísticas. tes têm necessariamente de resistir a forças REBAP, 1983) consiste, no essencial, no cál-
Outro aspecto relevante prende-se com a de inércia horizontais acima do solo, despre- culo de esforços em regime elástico gerados
influência dos elementos não estruturais e zando-se, em geral, as restrições externas aos pela aplicação de forças ou deslocamentos,
elementos estruturais secundários, como é seus deslocamentos horizontais (por exem- sendo estes minorados pelo coeficiente de
o caso de escadas ou de pequenos pilares plo edifícios adjacentes). comportamento para ter em conta a ducti-
com influência localizada. No projecto de lidade e a capacidade de dissipação de ener-
edifícios, é prática corrente não considerar 5. Análise e dimensionamento gia. Como em regime elástico estes esforços
explicitamente estes elementos na modela- sísmico de estruturas subterrâneas estão em equilíbrio com forças externas apli-
ção numérica, uma vez que constituem uma em solos brandos cadas e/ou forças de inércia, que na estru-
fonte de resistência adicional. No caso de tura subterrânea não existem ou podem ser
uma estrutura subterrânea sujeita a desloca- Para a generalidade das estruturas subterrâ- transmitidas ao solo envolvente, a metodo-
mentos impostos, esta hipótese não é con- neas accionadas pelo sismo, a inércia do ma- logia regulamentar não deve ser aplicada ao
servativa, porque esses elementos podem ciço envolvente é bastante superior à inércia dimensionamento sísmico de estruturas sub-
restringir as deformações dos elementos es- da estrutura, pelo que a resposta das estru- terrâneas. Aliás, o facto de a estrutura não
truturais principais. Nestas condições, o vão turas subterrâneas, em particular a associada ter de resistir a forças aplicadas exteriores
livre do elemento sofre uma redução mas a deslocamentos horizontais, é dominada ou a forças de inércia, é matematicamente
continua a ter de suportar o mesmo deslo- pela resposta sísmica do maciço e pela sua equivalente a considerar o coeficiente de
camento imposto. Esta situação tem como interacção com a estrutura. comportamento com valor infinito. Analise-
consequência o aumento das curvaturas im- É assim importante caracterizar a rigidez e -se o que se passa numa dada secção de um
postas ao elemento e pode mesmo conduzir a capacidade de dissipação de energia do elemento em duas situações distintas:
ao seu colapso. solo. Como a massa de solo é muito supe- i) se ao elemento forem aplicados momen-
Nas estruturas de edifícios, a necessidade de rior à da estrutura, a contribuição desta para tos flectores, o nível de tensões é tanto
aumentar a rigidez e a capacidade resistente a dissipação de energia é pouco relevante. menor quanto maior for a quantidade de
das estruturas devido ao aumento da altura Assim, a propriedade da estrutura que inte- armadura de flexão; em consequência,
dos edifícios e à evolução da regulamenta- ressa caracterizar com mais rigor é a sua ri- também as extensões e a curvatura serão
ção levou à adopção, cada vez mais genera- gidez, que pode influenciar significativamente menores;
lizada, de estruturas mistas pórtico-parede, o campo de deslocamentos na vizinhança da ii) se ao elemento forem impostas deforma-
em substituição da tradicional estrutura por- estrutura. ções, as curvaturas também são impostas;
ticada. Note-se que a inclusão de paredes É de realçar que a imposição de um campo em consequência, quanto maior a quan-
resistentes e caixas de escada são, em geral, de deslocamentos a uma estrutura, fora do tidade de armadura de flexão, maior será
desnecessárias para assegurar a resistência domínio elástico linear, não é equivalente à o momento instalado, ou seja, o momento
dos edifícios a cargas verticais, mas podem aplicação de forças. Para tornar mais clara actuante; relativamente aos esforços trans-
ser essenciais para controlar os seus deslo- esta ideia, estabeleça-se a analogia com o que versos, como estes correspondem à deri-
camentos horizontais. se passa num ensaio de tracção uniaxial de vada do diagrama de momentos flectores,
Este problema não se coloca nestes termos uma barra de aço macio. Na fase elástica, a o aumento da armadura de flexão tam-
nos alinhamentos flexíveis de estruturas sub- cada aumento de deformação corresponde bém tem como consequência o aumento
terrâneas, uma vez que o deslocamento ho- um aumento directamente proporcional da do nível de esforço transverso actuante
rizontal é essencialmente imposto por via força aplicada. Quando o patamar de cedên- no elemento.
externa (solo). Assim, as paredes e caixas de cia é alcançado, o comprimento da barra Naturalmente, a armadura de flexão deve
escada, que tanto beneficiam o comporta- cresce sem que seja necessário aumentar a ser dimensionada tendo em conta, por exem-
mento sísmico dos edifícios, são nocivos para força de tracção nas extremidades, ou seja, plo, as combinações de acções em que não
o comportamento sísmico de estruturas sub- a força necessária para impor um dado des- entra a acção sísmica e a necessidade de ga-
terrâneas num alinhamento flexível. locamento depende da lei constitutiva do rantir a ductilidade dos elementos.
Face ao exposto, conclui-se que nem todos material. Por exemplo, se o ensaio começar Em síntese, a aplicação da metodologia cor-
os critérios de concepção sísmica utilizados no ponto de cedência, a força a aplicar à es- rente de cálculo a obras subterrâneas deste
em edifícios e pontes são válidos para estru- trutura para a deformar ao longo do patamar tipo pode ter duas consequências:
i) conduzir a uma estrutura provavelmente 6. Conclusões e recomendações reduzir o nível de esforço axial nos ele-
mais onerosa, pois consiste no dimensio- mentos estruturais, por exemplo minimi-
namento para resistir a esforços inexis- A observação de danos devidos a sismos do zando a espessura da camada de recobri-
tentes; passado mostra que as estruturas subterrâ- mento de solo sobre a estrutura.
ii) pode funcionar contra a segurança nos neas são pouco afectadas pelos sismos. No
alinhamentos flexíveis, pois além de au- entanto, as estruturas subterrâneas em solos 1 Professor Auxiliar, IST/UTL,
mentar desnecessariamente os esforços brandos podem ser vulneráveis aos sismos. e-mail: [email protected]
actuantes, a utilização de coeficientes de Concluiu-se que a aplicação da metodologia 2 Equip. Prof. Adjunto, ESTBarreiro/IPS,
comportamento baixos, de acordo com de cálculo de edifícios e pontes preconizada e-mail: [email protected]
o recomendado pelo REBAP (1983) para quer na regulamentação nacional, quer na 3 Equip. Prof. Adjunto, ESTBarreiro/IPS,
estruturas importantes, pode induzir a maioria dos regulamentos estrangeiros, ba- e-mail: [email protected]
ideia de que a exigência de ductilidade é seada no dimensionamento para esforços
reduzida, não sendo necessário dimensio- elásticos minorados pelo coeficiente de com- BIBLIOGRAFIA
nar e pormenorizar a estrutura para lhe portamento ou equivalente, pode colocar
conferir um comportamento dúctil. Na em causa a segurança e a economia de es- • Gomes, R.C., 1999. Comportamento de Estruturas Sub-
terrâneas Submetidas a Acções Sísmicas. Dissertação
realidade, como o deslocamento é im- truturas subterrâneas de grande porte em para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Es-
posto, a exigência de ductilidade é, em solos brandos. truturas, IST, Lisboa.
• Gomes, R.C., Oliveira, C.S., Gomes Correia, A., 2002.
grande parte, uma imposição externa, que Desempenho e concepção de estruturas subterrâneas
não pode ser contrariada dimensionando As principais recomendações para a concep- submetidas a acções sísmicas: uma revisão. Revista
Geotecnia, n.º 94, Março.
a estrutura com valores baixos do coefi- ção sísmica de estruturas subterrâneas de • Hashash, Y.M.A., Hook, J.J., Schmidt, B., 2000. Seismic
ciente de comportamento. grande porte em solos brandos são as seguin- design and analysis of underground structures. A state-
-of-the-art Report Sponsored by the International Tun-
Estes aspectos de comportamento também tes: nelling Association, Working Group Ner 2, Draft Copy.
caracterizam o desempenho sob a acção sís- nos alinhamentos flexíveis, conceber os • Iwatate, T., Kobayashi, Y., Kusu, H., Rin, K., 2000. Inves-
tigation and shaking table tests of subway structures of
mica de outros tipos de estruturas ou ele- elementos estruturais com capacidade de the Hyogoken-Nanbu earthquake. 12th Word Conference
mentos, por exemplo estacas de fundações deformação sem perda significativa de re- Earthquake Engineering, paper 1043, New Zeleand.
• REBAP, 1983. Regulamento de Estruturas de Betão Ar-
de edifícios ou pontes em solos brandos. sistência, ou seja, elementos flexíveis e mado e Pré-Esforçado, Imprensa Nacional – Casa da
Neste caso, a transmissão ao solo das forças dúcteis; Moeda, Lisboa.
• RSA, 1983. Regulamento de Segurança e Acções para
de inércia geradas na superstrutura pode es- utilizar materiais estruturais com elevada Estruturas de Edifícios e Pontes, Imprensa Nacional –
tudar-se pelas metodologias correntes, mas resistência; Casa da Moeda, Lisboa.
• Yoshida, N., Nakamura, S., Suetomi, I., Esaki, J., 1997.
os princípios anteriormente referidos apli- evitar restrições à deformação dos elemen- Validation of analytical procedure on Dakai Subway Sta-
cam-se ao estudo dos efeitos das deforma- tos estruturais principais por parte de ele- tion damaged during 1995 Hyogoken-Nanbu earthquake.
Seismic Behaviour of Ground and Geotechnical Structu-
ções impostas às estacas devido à deforma- mentos estruturais secundários e/ou ele- res, Sêco e Pinto (ed.), Balkema.
ção do próprio solo. mentos não estruturais;
DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL
Varões epoxi A
50 50 50 50
epoxi de aço
Plano de
170-180
200
carga Betão
≅5
Ranhura Armaduras
confinado longitudinais
≅15
15 A
20
Ranhura
200
≅5 50 900 50
Faixas de CFRP Varões de aço
Unidades: mm
laminado de CFRP (≅1.5×10) Laminado longitudinais Laminados de CFRP
≅15 (ranhura)
≅10 (largura
de CFRP na face de inseridos em ranhuras
Faixas de compressão do CFRP)
laminado de CFRP Unidades: mm
e fixos ao betão por epoxi
A
100 Varões de aço Adesivo
longitudinais epoxi
150
B na face de tracção
150
Figura 1 – Técnica de reforço aplicada em: Laminado
Unidades: mm
Secção A-A de CFRP
(a) pilares com rotura por flexão; (b) vigas com rotura por flexão; (c) vigas com rotura por corte
reforço em elementos com rotura por flexão TABELA 3 – Propriedades dos constituintes dos sistemas de CFRP
e em elementos com rotura por corte, en- Sistema de CFRP Principais propriedades
quanto que o terceiro teve como finalidade Tipo
Material Resistência Módulo de Extensão Espessura
à tracção [MPa] Elastecidade [GPa] última (%) (mm)
caracterizar a ligação betão-adesivo-CFRP. Tipo Designação
Primário MBrace Primário 12 0.7 3.0 –
A técnica de reforço que se propõe neste
Manta curada
trabalho baseia-se nos seguintes procedimen- “in situ” (1)
Resina MBrace Saturante 54 3 2.5 –
tos (ver Figura 1): Manta S&P C–Sheet 530 3.000 390 0.8 0.167
Célula de Célula de
Adesivo é aplicado nas faces dos CFRP; tracção uniaxial efectuados em provetes de carga C1 carga C2
Os CFRP são introduzidos nos rasgos re- laminado, segundo a ISO 527-5, estão indi- LVDT1
(200x200)
1000
Actuador Pilar
O período de cura do adesivo foi de, pelo os valores do módulo de Young e da resis- tracção/compressão
Sapata
600
flexão efectuados segundo as recomenda- Substituição do betão de mado indicadas na Tabela 4 foram ensaiadas.
Pilar
Séries
300
Armadura
foram efectuados ensaios de tracção uniaxial ≅3
0 longitudinal SR 1 PR 2 CR 3
segundo a EN 10002-1, sendo cada valor Sap
ata
P10a_SR P10a_PR P10a_CR
Unidades: mm 4φ10
apresentado à média de três ensaios. 800 (Asl = 314 mm2) P10b_SR P10b_PR P10b_CR
De acordo com o fabricante, os constituin- 400
4φ12 P12a_SR P12a_PR P12a_CR
tes do sistema de manta de CFRP utilizados (Asl = 452 mm2) P12b_SR P12b_PR P12b_CR
no reforço ao corte das vigas têm as proprie- Figura 2 – Técnica de reforço aplicada nos pilares
(Secção A-A na Figura 1a) (1) Não reforçado; (2) Reforçado antes de ser ensaiado; (3) Elementos de
dades indicadas na Tabela 3. As faixas de la- pilar da série SR que foram reforçados após terem sido ensaiados.
A série SR é composta por pilares não refor- TABELA 6 – Forças máximas obtidas nos pilares das séries pada não varia significativa-
SR (não forçados) e CR (reforçados após terem sido prevismente ensaiados)
çados, a série PR é constituída por pilares que mente, mas o aumento da
Tipo de força Séries P10a_ P10b_ P12a_ P12b_
foram reforçados antes de serem ensaiados e capacidade de carga é con-
SR [kN] 16.67 (86) 21.78 (85) 26.35 (85) 29.31 (85)
a série CR é composta pelos pilares ensaiados siderável, tal como pode ser
Tracção CR [kN] 37.96 (146) 41.38 (130) 34.11 (150) 45.54 (154)
da série SR, reforçados posteriormente e en- também constatado na Fi-
Aumento[%] 127.70 89.99 29.45 55.37
saiados novamente[5]. gura 6, onde se representa
SR [kN] -19.76 (86) -24.07 (85) -30.52 (85) -32.27 (85)
Na Figura 3 ilustra-se o sistema de ensaio uma envolvente típica do
Compressão CR [kN] -34.11 (146) -43.1 (130) -37.03 (150) -41.58 (154)
utilizado. O provete era constituído pelo carregamento cíclico.
pilar, ligado monoliticamente a uma sapata Aumento[%] 72.62 79.06 21.33 28.85 Na maior parte dos pilares
Nota: Os valores entre parêntesis curvos representam a idade do pilar, em dias, à data do ensaio.
que, por sua vez, era fixada a um bloco de reforçados, valores de ex-
fundação por intermédio de quatro varões (foram necessárias duas betonagens para tensão próximos da extensão última do CFRP
de aço. O pilar era submetido a uma carga moldar cada provete) e a desalinhamentos (≅1.1%) foram registados em vários CFRP,
vertical constante de 150 kN que introdu- das armaduras de aço. Tomando por base
zia no pilar uma tensão de 3.75 MPa. As for- de comparação os resultados obtidos na série
40
ças instaladas eram registadas por células de de pilares não reforçados (série SR), cons- 10434
30
carga, enquanto os deslocamentos eram lidos tata-se que o reforço proporcionou um au-
20
por transdutores de deslocamentos (LVDT’s), mento significativo da capacidade de carga
10
dispostos de acordo com o esquema da Fi- dos pilares. Como a percentagem de CFRP
Força (kN)
Compressão TracÁ„o
0
gura 4. Para avaliar as extensões nos CFRP, foi mantida constante em toda a campanha -12000 -9000 -6000 -3000 0 3000 6000 9000 12000
-10
nestes foram colados extensómetros nos lo- de ensaios, o aumento da capacidade de carga
-20
cais indicados na Figura 4. O carregamento foi maior nos pilares com menor percenta-
-30
era constituído por oito ciclos de desloca- gem de armadura convencional. O aumento
-40
mentos desde ±2.5 mm até ±20.0 mm, em de capacidade de carga nos pilares da série
-50
incrementos de ±2.5 mm, à velocidade de PR e da série CR foi similar. Extensão ( µm/m)
Unidades: mm
30
50 == 50
Lado B
50 == 50 tendo alguns rompido junto à fenda de ro-
20
LVDT1
(±25mm)
tura do pilar. A título de exemplo, na Figura
10
7 apresenta-se a relação entre a força hori-
Força (kN)
LVDT2
140
Actuador (±25mm) 0
horizontal
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 zontal e a extensão no extensómetro Ext6
160
LVDT3 -10
(±25mm)
Ext. 3
Ext. 6
(ver Figura 4), no pilar P10a_CR. Nos res-
80 120 160
LVDT4 -20
Ext. 2
(±12.5mm)
Ext. 5 tantes pilares, foram registadas relações si-
120 120
( ±12.5mm)
(±12.5mm)
LVDT5 -30
LVDT7
P10a_SR
LVDT6
ção obtidas nos ensaios estão indicadas nas 0 ries de vigas ensaiadas. A área da secção
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25
Tabelas 5 e 6. As diferenças registadas nas -10
transversal dos CFRP (Af) aplicados em cada
forças máximas em pilares das mesmas sé- -20
série foi determinada por forma a duplicar
ries devem-se, fundamentalmente, à varia- -30
P10b_SR a carga de rotura das correspondentes vigas
-40
ção na resistência do betão destes pilares P10b_CR de referência[6]. A percentagem de estribos
-50
utilizada foi a necessária para assegurar ro-
TABELA 5 – Forças máximas obtidas nas séries PR Figura 6 – Envolvente força-deslocamento (no LVDT1)
(reforçados antes de serem ensaiados) de todos os carregamentos cíclicos no pilar P10b tura por flexão. Na Figura 8, As é a área da
Série PR secção transversal dos varões de aço dispos-
Tipo
de força P10a_PR P10b_PR P12a_PR P12b_PR Na Figura 5 apresenta-se a relação típica tos na face inferior da viga.
(111) (113) (110) (115)
entre a força horizontal e o deslocamento As deformações das vigas foram medidas por
Tracção [kN] 37.14 40.63 44.13 39.81
no LVDT1 (ver Figura 3). Como a presente LVDT’s e as extensões longitudinais nos
Compressão [kN] -38.54 -37.96 -43.66 -36.64
técnica de reforço não introduz confinamento CFRP foram registadas por três extensóme-
Nota: Os valores entre parêntesis curvos representam a idade do pilar
à data do ensaio. relevante no betão do pilar, a energia dissi- tros colados ao CFRP.
A B C
1600 SÉRIE S1 SÉRIE S2 Laminados de CFRP
500 500 500 V1 V1R1 V2 V2R2
2Ø8 2Ø8 2Ø8 2Ø8
P/2 P/2
178
170
173
177
≅ 12
≅ 12
≅ 12
50 50 35 30 35 25 25 25 25
2Ø8 2Ø6 3Ø6
2Ø6 1CFRP 3Ø6 2 CFRP
100
≅ 1 ≅ 10 ≅ 1
Af /As = 25.2 Af /As = 33.6
SÉRIE S3 SÉRIE S4 CFRP
V3 V3R2 V4 V4R3 adesivo epoxi
50 50 1400 (CFRP) 50 50 2Ø8 2ÿ8 2Ø8 2Ø8
21
7 estribos Ø6 6 estribos Ø3 7 estribos Ø6 1Ø8
≅4
175
175
175
180
1Ø8 unidades: mm
2Ø6 3Ø8
10 100 100 100 100 100 100 80 80 80 100 100 100 100 100 100 10 2Ø6 2 CFRP 3Ø8 3 CFRP
35 35 35 35 unidades: mm Af /As = 26.7 Af /As = 28.3
unidades: mm
Figura 8 – Séries de vigas com rotura por flexão: (a) tipo de carregamento e distribuição das armaduras; (b) secções transversais; (c) pormenor do reforço.
5.2. Resultados de referência foi praticamente alcançado. A As séries de vigas testadas (ver Figura 11)
carga correspondente ao início da cedência eram compostas por uma viga de referência
Os diagramas de carga vs deslocamento a das armaduras de aço, Fsy, aumentou de 32% sem qualquer tipo de reforço ao corte (VB10);
meio vão estão representados na Figura 9, e a 47%. O deslocamento correspondente a Fsy uma viga com estribos em varão de aço φ6
os principais resultados estão incluídos na Ta- também aumentou. O aumento na carga de afastados de 150 mm nos vãos de corte (VBE-
bela 7. Verifica-se que o objectivo de dupli- início da fendilhação, Fcr, foi bastante signifi- -15); uma viga com faixas de duas camadas
car a carga última das correspondentes vigas cativo. A carga de serviço, Fserv (carga para a de manta de CFRP S&P C-Sheet 530 C5-30
100
TABELA 7 – Principais resultados registados nas séries de vigas reforçadas à flexão
90
Início da fendilhação A
Cedência da armadura
80 Deslizamento do CFRP
Fcr Fcr (VR)1 Fserv Fserv (VR) Fsy Fsy (VR) Fmax Fmax (VR) ƒ,max
Séries Viga
70 V1R1 [kN] Fcr (V) [kN] Fserv (V) [kN] Fsy (V) [kN] Fmax (V) [%]
V1
Força (kN)
60
50
V1 8.5 18.6 24.5 28.2 –
S1 1.26 1.22 1.32 1.78
40
V1R1 10.7 22.7 32.31 50.32 1.55
30
20 V2 8.1 21.7 37.5 41.0 –
10 S2 1.52 1.45 1.39 1.91
0 V2R2 12.3 31.4 52.28 78.5 1.28
0 5 10 15 20 25 30
V3 7.9 23.8 40.0 41.3 –
Deslocamento a meio vão (mm) S3 1.51 1.38 1.36 1.98
100 V3R2 11.9 32.8 54.52 81.9 1.28
90
Fendilhação B
80
Cedência da armadura V4 8.1 32.3 46.9 48.5 –
Deslizamento do CFRP
70 V2R2
S4 1.74 1.25 1.47 1.96
V2 V4R3 14.1 40.4 69.11 97.9 1.06
Força (kN)
60
50 (1) VR – Viga Reforçada; V – Viga de referência; (2) O ensaio foi cancelado quando a carga era de 50.3 kN e a flecha era superior a 25 mm.
40
30
20
flecha de L/400=3.75 mm, em que (propriedades na Tabela 1), em forma de U,
10 L é o vão da viga), também aumen- de 25 mm de largura e afastadas 80 mm no
0
0 5 10 15 20 25 30 tou, tendo sido de 45% o máximo vão de corte (VBM-8); uma viga com CFRP
Deslocamento a meio vão (mm)
incremento. inseridos em ranhuras verticais efectuadas no
100
90
Fendilhação
Cedência da armadura
C As relações entre a carga aplicada betão de recobrimento das faces verticais da
e as extensões registadas nos ex- viga, afastados de 100 mm (VBCV-10); e
80 Deslizamento do CFRP
70 V3R2
V3
tensómetros estão representadas uma viga com CFRP inclinados a 45 (VBCI-
Força (kN)
60
50
40 na Figura 10. Os valores máximos -15). A quantidade de reforço ao corte foi de-
30
20 de extensão, incluídos na Tabela terminada segundo o ACI Committee 440[1],
7 (εf,max), variaram de 62% a 91% de forma a que todas as vigas reforçadas (in-
10
0
0 5 10 15 20 25 30
da extensão última do CFRP (εf,u clusive a VBE-15) tivessem idêntica resistên-
Deslocamento a meio vão (mm)
100
= 1.7%). cia e rompessem por corte.
Fendilhação D
90 Cedência da armadura
80 Deslizamento do CFRP
70 V4R3
V4
6. Reforço ao Corte de Vigas 6.2. Resultados
Força (kN)
60
50
40
30
6.1. Série de ensaios Na Figura 12 apresenta-se a relação entre a
20 carga e o deslocamento a meio vão registada
10
0 Três tipos de técnicas de reforço nas vigas ensaiadas. Os principais resultados
0 5 10 15 20 25 30
Carga (kN)
TABELA 8 – Principais resultados obtidos nas séries de vigas reforçadas ao corte
0 20 40 60 80 100 Sistema de reforço Fmax Fmax Fmax p p p
0 Vigas
ao corte [kN] Fmax,VB10 Fmax,VBE-15 [mm] p,VB10 p,VBE-15
2 V1R1
4 VB10 – 74.02 1.00 0.61 1.92 1.00 0.25
Extensões (x10 -3 )
6
8
VBE-15 Estribos em varão de aço 120.64 1.63 1.00 7.57 3.94 1.00
Ext.1 Ext.2 Ext.3
10
Ext. 1 VBM-8 Faixas de manta de CFRP 111.14 1.50 0.92 4.18 2.18 0.55
12 Ext. 3
14 Início da fendilhação VBCV-10 CFRP Verticais 131.22 1.77 1.09 6.37 3.32 0.84
16
Cedência da armadura A
VBCI-15 CFRP inclinados 120.44 1.63 1.00 4.21 2.19 0.56
Carga (kN)
0 20 40 60 80 100
0
2 V2R2
4
carga máxima (Fmax) 50% a 77% comportamento da ligação, com adesivo,
Extensões (x10 -3 )
6
8
Ext.1 Ext .2 Ext.3
Ext.1
mais elevada. O maior e o menor entre CFRP e betão, foram efectuados en-
10
12
Ext.2
Ext.3 aumento foram registados na viga saios de arranque em flexão, tendo-se utili-
Início da fendilhação
14 Cedência da armadura
Deslizamento do CFRP B
reforçada com CFRP dispostos zado três comprimentos de aderência[8].
16
verticalmente (VBCV-10) e na A Figura 13 representa o provete, o carre-
0 20 40
Carga (kN)
60 80 100
viga reforçada com faixas de manta gamento e os instrumentos utilizados na me-
0
2 V3R2
de CFRP (VBM-8), respectiva- dição de deslocamentos, forças e extensões.
4 mente. Quando comparada com No bloco B o laminado era fixo ao betão num
Extensões (x10 -3 )
a viga armada com estribos de aço comprimento total de 325 mm, enquanto
6
Ext .1 Ext .2 Ext.3
8
Ext.1
10 Ext.2
Ext.3
(VBE-15), a viga reforçada com no bloco A o laminado era apenas fixo no
12
14
Início da fendilhação
Cedência da armadura CFRP verticais teve uma carga má- comprimento de aderência (La).
Deslizamento do CFRP C
16
xima 9% superior. Considerando A influência do comprimento de aderência
Carga (kN) como indicador de ductilidade o na relação entre a força de arrancamento e
0 20 40 60 80 100
0 deslocamento registado sob a carga o deslizamento (deslocamento no LVDT2),
2 V4R3
4
máxima (δp), verificou-se que, F-sl, está representada na Figura 14. A influ-
Extensões (x10 -3 )
6
Ext.1 Ext.2 Ext.3
quando comparada com a flecha ência do comprimento de aderência na re-
8
10
Ext. 1
Ext.2 da viga de referência (δp,VB10), a lação entre a tensão média de corte e o des-
Ext.3
12 Início da fendilhação
14 Cedência da armadura
16
Deslizamento do CFRP D F/2 F/2 Adesivo Epoxi LS-CFRP
3.3
15
Vista interior lateral
Séries: (a) V1R1; (b) V2R2; (c) V3R2 e (d) V4R3 Bloco A Bloco B 180
P P
unidades: mm 2∅6
15
LVDT 2
LVDT 1
LC1 LC2
VB10 150 L1 La L1 325 50 50
(Comprimento (Comprimento
4∅10 aderido) aderido)
5 900 5 150 75 300 50 300 75
Secção transversal
P P P P Figura 13 – Provete do ensaio de arranque em flexão
VBE-15 VBM-8
80
VB10
VBM-8
vigas reforçadas. tada pela área sob a curva tensão de corte vs
60
40
deslizamento até um deslizamento de 5 mm.
20 7. Caracterização da Ligação Por sua vez, εf,max é a extensão máxima re-
0 Betão-Adesivo-CFRP gistada no extensómetro colado ao CFRP,
0 2 4 6 8 10 12 14
Deslocamento Central (mm) Sf,u é a sua extensão de rotura (≈1.7%), e
Figura 12 – Relação carga total vs deslocamento Com o objectivo de avaliar a influência do σl,max é o deslizamento correspondente à
central para as vigas com rotura por corte comprimento de aderência do CFRP no força máxima aplicada no ensaio.
30
fcm35_La40
24 fcm35_La60
fcm35_La80
Força no laminado (kN)
18
12
6
A energia de fractura tem uma tendência em boa parte, do controlo de qualidade as-
para diminuir com o comprimento de ade- segurado, quer nos procedimentos de re-
0 rência do laminado, devido, fundamental- forço, quer nos materiais aplicados. É fun-
0 1 2 3 4 5
Deslizamento (mm) mente, à diminuição da tensão máxima de damental que o aplicador tenha conheci-
Figura 14 – Influência do comprimento de aderência (La) corte com este comprimento. Contudo, mento das boas práticas de execução da téc-
na relação força de arrancamento vs deslizamento
esta diminuição parece tender para uma nica e que sejam efectuados ensaios para ga-
assimptota, dado o atrito betão-adesivo- rantir que os valores das propriedades dos
20
CFRP garantir um nível de resistência re- materiais aplicados satisfaçam os requisitos
fcm35_La40
16 fcm35_La60 sidual elevado. considerados no projecto.
Tensã o média de corte (MPa)
fcm35_La80
12 8. Conclusões 9. Agradecimentos
8 No presente trabalho foi utilizada uma nova Os autores agradecem às empresas que gen-
técnica de reforço para aumentar a capaci- tilmente forneceram os materiais usados na
4
dade de carga de elementos de pilar e de campanha experimental: S&P, Bettor MBT
viga com rotura por flexão, e de viga com Portugal, Secil, Nordesfer, Ferseque, Casais,
0
0 1 2 3 4 5 rotura por corte. Esta técnica baseia-se na Solusel, VSL e Unibetão (Braga). Ao CE-
Deslizamento (mm)
inserção de faixas de laminados de CFRP MACON, agradece-se a colaboração pres-
Figura 15 – Influência do comprimento de aderência (La)
na relação tensão média de corte vs deslizamento em ranhuras efectuadas no betão de reco- tada nos ensaios de caracterização dos lami-
brimento dos elementos a reforçar. Os CFRP nados de CFRP e do adesivo. O primeiro
são fixos ao betão por intermédio de adesivo autor agradece à bolsa SPRH/BSAB/291/2002-
epoxi. A ligação betão-adesivo-CFRP foi es- -Pocti da FCT e FSE.
Da análise das Figuras 14 a 15 e dos resultados tudada em termos de avaliar a influência do
incluídos na Tabela 9, constata-se que [8]: comprimento de aderência do CFRP nos * DEC, Universidade do Minho
Aumentando ao comprimento de aderên- principais parâmetros que permitem carac-
cia do CFRP, a força na faixa de laminado terizar esta ligação.
aumenta; Dos resultados obtidos verificou-se que a téc- REFERÊNCIAS
Aumentando ao comprimento de aderên- nica proposta é mais eficaz que as baseadas 1. ACI Committee 440, “Guide for the design and cons-
cia, aumenta o deslizamento na fase pré- na colagem externa de CFRP, dado que a truction of externally bonded FRP systems for streng-
thening concrete structures”, ACI, 2002.
-pico, dado que existe maior volume de precocidade da descolagem do CFRP é re- 2. CEB-FIB, “Externally bonded FRP reinforcement for RC
adesivo, sendo este um material com ele- tardada, sendo mesmo evitada em muitos structures. International Federation for Structural Con-
crete”, 2001.
vada deformabilidade não linear. Assim, casos, resultando níveis de deformação mais 3. De Lorenzis L, Nanni A, La Tegola A, “Flexural and shear
quanto maior La, maior foi o deslizamento elevados nos CFRP e aumentos mais signifi- strengthening of reinforced concrete structures with
near surface mounted FRP rods”, 3th Conference on
no pico; cativos na capacidade de carga dos elemen- Advanced Composite Materials in Bridges and Structu-
O τmax diminui com o aumento do com- tos reforçados. Nos elementos de viga, além res, Canada, 2000, pp. 521-528.
4. RILEM Draft Recommendation 50-FMC, “Determination
primento de aderência do laminado. A ten- do aumento da capacidade de carga, também of the fracture energy of mortar and concrete by means
são máxima de corte é significativamente se registou um aumento significativo da sua of three-point bending tests on notched beams”, Ma-
terials and Structures, 1985.
superior à registada em outras configura- capacidade deformacional no momento da 5. Ferreira DRSM. “Pilares de Betão Armado Reforçados
ções de ensaio de arranque; sua rotura, indicador da eficácia da presente com Laminados de Fibras de Carbono”. Tese de Mes-
trado, Universidade do Minho, 2000.
técnica em termos de ductilidade. 6. Fortes AS, Barros JAO, Padaratz IJ, “Vigas de betão ar-
TABELA 9 – Valores das principais grandezas Os ensaios de arranque em flexão revelaram mado reforçadas com laminados de CFRP inseridos no
betão de recobrimento”, Relatório 02-DEC/E-13, Uni-
avaliadas nos ensaios de arranque em flexão que as tensões médias de corte alcançadas versidade do Minho, 2002.
Grandeza La40 La60 La80 são significativamente superiores às regista- 7. Barros, JAO, Dias, SJE “Shear strengthening of reinfor-
ced concrete beams with laminate strips of CFRP”, In-
Fmax [kN] 15 22.8 22.4 das com técnicas baseadas na colagem exte- ternational Conference Composites in Constructions -
τmax [MPa] 17.5 17.7 13.0 rior. Verificou-se que a força de arranque au- - CCC2003, 2003, Italy, pp. 289-294.
8. Sena-Cruz JM, Barros JAO, “Bond behavior of carbon
Gf [MPaxmm] 48.3 43.9 38.4 mentou com o comprimento de aderência. laminate strips into concrete by pullout-bending tests.
εf,max / εf,u 42.1 64 62.1 O desempenho do sistema de reforço pro- Bond in Concrete - from the research to standards”, In-
ternational Symposium, 2002, Hungry, pp. 614-621.
Sl,max [mm] 0.3 0.5 0.7 posto neste trabalho depende, no entanto,
Resumo
de equipamentos consumi- 20
rendimento melhorado pectativas mais optimistas, como o compro-
dores de energia eléctrica, (MRM) são motores de in- vam (ver Fig. 3) os resultados publicitados
nomeadamente tratando- 10 dução trifásicos surgidos na pelo último Relatório de Acompanhamento
-se de motores. sequência do mencionado disponível: no final de 2002 e para motores
0
Portugal também não foge 1995 1997 1999 2001 acordo CE/CEMEP, esta- de 4 pólos, a penetração de novos motores
1994 1996 1998 2000
a esta regra, já que a sua belecido em 1998 [2]. EFF3 foi reduzida a 12% (era de mais de 2/3
Figura 1 – Evolução (1994-2001) do consumo
dependência energética é de energia eléctrica em Portugal Continental [1] Em traços gerais, tal acordo em 1998!) e a de novos motores EFF1 já as-
grande e o seu consumo em estipula que os menciona- cendia a 4,1% (era de 2,1% em 1998).
termos de energia eléctrica tem vindo a cres- dos motores, para aplicações gerais de baixa
cer de forma continuada (ver Fig. 1), evi- tensão, 50 ou 60Hz, com potências nomi- Análise Comparativa
denciando um peso relativo importante de nais compreendidas entre 1,1 e 90kW, com
sectores que recorrem largamente ao em- 2 e 4 pólos magnéticos, deverão ser classifi- Pese embora o facto de estarmos firmemente
prego de motores eléctricos (ver Fig. 2) que, cados de acordo com os valores declarados convencidos que a transição preconizada é já
de uma forma predominante, são do tipo de para os respectivos rendi- imparável e que, daqui a al-
indução trifásicos. mentos nominais. guns anos, ninguém se lem-
1998
De tudo isto resulta que o recente apareci- Para o efeito, foram cria- EFF 3 2002 brará dos “velhos” motores
mento no mercado dos chamados motores das três classes de rendi- EFF3 – aliás, tal como acon-
1998
de rendimento melhorado – fruto de um mento – EFF1, EFF2 e EFF 2 2002
teceu há 3 décadas atrás
acordo específico, celebrado pela Comissão EFF3, por ordem decres- com os transformadores eléc-
1998
Europeia com o CEMEP (Comité Europeu cente de eficiência e em EFF 1
2002
tricos de “perdas normais”,
de Fabricantes de Máquinas Eléctricas e de que a última classe foi atri- 4 Pólos
de “perdas reduzidas” e de
equipamentos e sistemas de Electrónica de buída aos motores então 25% 50% 75% “perdas extra-reduzidas” –
Potência) – e da sua crescente implantação, predominantes – e estipu- Figura 3 – Evolução de quotas num momento como este,
no mercado europeu (1998-2002)
põem na ordem do dia a necessidade de uma ladas as fronteiras de tran- em que se perfilam decisões
sobre qual o tipo de motores em que vale a económico de um novo investimento. Mas, Claro que, do exposto, se pode concluir que
pena investir, faz todo o sentido comparar as por outro lado, também permitirá verificar outras características há cujo interesse com-
principais características de funcionamento até que ponto já hoje se consegue suplantar, parativo se tornaria interessante para o res-
dos motores oferecidos em cada uma das clas- em termos industriais, os requisitos mínimos pectivo utilizador do motor, mas não se pode
ses de rendimento disponibilizadas. estabelecidos há cinco anos atrás. É, pois, esquecer que se limitou esta análise a mo-
uma característica fundamental na compa- tores standard, vulgarmente escolhidos por
(A) Escolha da Amostra ração realizada. catálogo técnico-comercial, onde, infeliz mas
Pretendendo-se comparar as principais ca- Relativamente ao segundo item – caracte- compreensivelmente, escasseiam informa-
racterísticas de funcionamento de motores rísticas mecânicas – e estando fixados os va- ções técnicas mais detalhadas.
EFF1, EFF2 e EFF3, tornou-se necessário lores nominais para a potência dos motores,
eleger uma amostra significativa de cada um fácil é concluir que a comparação deve inci- (C) Resultados Obtidos
daqueles tipos de motores e, a partir dela, dir sobre: Elegendo os motores de 4 pólos, para 400V
estabelecer valores médios credíveis. a velocidade nominal (ou - 50Hz (dado serem os de
Estando disponível a base de dados EuroDEEM o seu correspondente valor utilização mais vulgar na in-
Figura 4 – (%) / P(kW)
2000 e o correspondente Catálogo de Moto- relativo de deslizamento) 100
dústria portuguesa), a com-
res [3], desenvolvida sob os auspícios da Di- – fixa os limites de varia- paração dos respectivos ren-
recção Geral de Energia da Comissão Euro- ção da velocidade do 90
dimentos nominais, toma-
peia, cedo se verificou a sua desactualização motor na sua zona nor- 80
EFF1
EFF2
dos como valores médios
num período de grande evolução e a não abran- mal de funcionamento, EFF3
dos declarados para cada
gência de dados técnicos necessários a poste- desde o vazio à plena 70
0 20 40 60 80
classe e, dentro destas, para
100
se constituindo uma base de dados parcelar assim indiciando a esta- acréscimos de rendimento
julgada suficientemente relevante. bilidade do seu funcio- são mais sensíveis nas bai-
3
o lote de características de funcionamento minal – para além de Figura 8 – cos / P(kW) 5), verifica-se uma clara di-
escolhidas para comparação deva incluir: condicionar o valor no- 1,0
minuição do respectivo valor
o rendimento nominal; minal da corrente absor- 0,9
à medida que se transita
características mecânicas, nomeadamente vida pelo motor, eviden- entre classes de eficiência
em termos de binário desenvolvido e de cia a maior ou menor ne- 0,8
crescente, diminuição esta
EFF1/2
ao nível da corrente absorvida e correspon- activa requerida pelo Figura 9 – KI / P(kW) tência nominal, em que
dente factor de potência. mesmo; quase se chega a atingir uma
10
Relativamente ao primeiro item – rendimento a corrente de arranque 8 redução para metade – re-
nominal – que, não é demais lembrar, serviu directo – condiciona o alce-se, a este propósito,
de impulso à evolução imposta a este tipo dimensionamento da ins- 6
EFF1
EFF2
que o deslizamento nomi-
de motores, ele estará sempre na base de talação eléctrica de ali- nal dos motores assíncro-
EFF3
4
0 20 40 60 80 100
qualquer análise de viabilidade/benefício mentação do motor. nos mede o desvio relativo
da velocidade do seu rotor para a chamada aquecimentos nominais mais reduzidos, mento deste tipo de motores são dema-
velocidade de sincronismo, sendo esta pra- sem empobrecimento da classe de isola- siado “permissivas”, nem sempre facili-
ticamente verificada em vazio e que, nos mento utilizada, tando a comparação de soluções alterna-
motores considerados, vale 1500rev/min. mais se reforçam as vantagens do empre- tivas. Adicionalmente, certas divergências
Já no respeitante ao binário máximo desen- go dos referidos motores de “alto rendi- entre o estipulado nas normas CEI 60034
volvido pelo motor (ver Fig. 6, em que foi mento”. e 61972 – na actualidade, ambas passíveis
expresso pela razão Kc = TM/Tn), verifica- Claro que, a este propósito e em contrapo- de aplicação a estes motores – e, até, as-
se um crescimento deste valor em motores sição com as afirmações anteriores, é sem- pectos polémicos relacionados com pro-
de potência pequena e média (até 45kW), o pre possível argumentar que um motor EFF1 cedimentos de ensaio prescritos nas mes-
que já não acontece em motores maiores. terá necessariamente um preço de aquisição mas, podem aumentar a dificuldade de
Ainda no respeitante às características mecâ- superior ao seu equivalente EFF2 (actual- quem tem a missão de decidir entre alter-
nicas, a evolução do binário de arranque di- mente +20%, presumindo-se a sua futura nativas colocadas à sua disposição;
recto capaz de ser desenvolvido pelo motor atenuação). utilização racional: em última análise, é
(ver Fig. 7, em que foi expresso pelo factor Sendo verdadeira tal afirmação, não é demais sempre de ter presente que o consumo
KT = Ta/Tn) evidencia e amplifica as tendên- recordar que o custo de aquisição de um energético de qualquer equipamento eléc-
cias já verificadas para o valor do binário má- motor de indução trifásico constitui apenas trico depende, em boa medida, do regime
ximo: para motores pequenos (até 18,5kW), uma pequena parcela do custo total associado de cargas a que o mesmo irá ser sujeito ao
o valor relativo do binário de arranque directo a toda a vida útil do mesmo (incluindo gas- longo da sua vida útil, pelo que de pouco
cresce para motores pertencentes à classe de tos de exploração), sendo as diferenças amor- servirá usar um MRM se as demais carac-
maior eficiência, acontecendo o contrário em tizáveis mais ou menos rapidamente. terísticas técnicas do mesmo não estive-
motores de maior potência nominal. É o que se exemplifica no Quadro 1, em que rem bem adaptadas à função que o mesmo
No capítulo das características eléctricas dos se consideraram dois motores para 400V- irá desempenhar;
motores estudados, e no respeitante ao res- -50Hz, 4 pólos, actualmente comercializa- cuidados de manutenção: tendo o fabri-
pectivo factor de potência nominal (ver Fig. dos em Portugal, tendo-se assumido um cante feito um esforço no sentido da di-
8), é também evidente a evolução favorável custo efectivo de aquisição da energia eléc- minuição das perdas totais verificadas no
sofrida em motores de classe de eficiência mais trica igual a 0,0671€/kWh e, por questões motor, com certeza procurou optimizar o
elevada, mas agora com dois aspectos relevan- de simplicidade, um funcionamento perma- projecto e os procedimentos de fabrico
tes: maior acréscimo em motores de potência nente em regime nominal, ao longo de 8h/ dos seus diversos componentes, incluindo
elevada e prática coincidência entre motores dia, 22dias/mês e 11meses/ano. os mais sujeitos a cuidados de manuten-
pertencentes às classes EFF2 e EFF1. Da análise do Quadro 1, rapidamente se per- ção periódica (rolamentos) e correctiva
Finalmente, e no que respeita à corrente de cebe a actual popularidade da opção por mo- (enrolamento estatórico; ventilador). Daí
arranque directo (ver Fig. 9, em o factor KI tores EFF2 e o relativo atraso na penetração o cuidado a ter para que eventuais inter-
= Ia/In foi utilizado para o efeito), torna-se dos EFF1 (que, como afirmado, se espera venções no motor, ao longo da sua vida
evidente a semelhança de valores (KI = [5 venha a desaparecer num futuro próximo). útil, sejam realizadas por forma a não ori-
– 8]) e de tendências de evolução (crescente ginar uma desnecessária degradação das
QUADRO 1 – Custos (aquisição e exploração)
com a potência nominal do motor) corres- características de rendimento do mesmo.
pondentes a motores das classes EFF2 e EFF3, Classe EFF1 EFF2
4 kW Preço (€) 220,00 186,00
e a prática independência, face à respectiva Agradecimentos
(%) 88,6 87,1
potência nominal, em motores da classe EFF1
Consumo (kW) 4,51 4,59
– para estes, KI = [7,0 – 7,5] torna-se um O autor agradece a todos os fabricantes de
Custo (€/ano) 586,48 596,58
valor empírico de referência. motores eléctricos e aos seus representantes
90 kW Preço (€) 4.021,00 3.296,00
em Portugal, sem cuja disponibilidade teria
(%) 95,3 94,2
Conclusões sido difícil realizar este estudo.
Consumo (kW) 94,4 95,5
Custo (€/ano) 12.268,10 12.411,36
Do exposto nas secções anteriores, tornam- * Eng.º Electrotécnico
-se evidentes as vantagens técnicas dos mo- Para terminar esta análise, convém ainda re- Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
tores de rendimento melhorado, em particu- ferir os seguintes aspectos complementares: Tel.: 22 508 16 64 – Fax: 22 508 14 43
lar dos motores de “alto rendimento” (EFF1). interpretação de valores declarados: no res- E-mail: [email protected]
Se a elas adicionarmos outros dados relevan- peitante a motores standard, os valores
tes, nem sempre explícitos nos catálogos dos declarados pelos fabricantes nos seus ca-
respectivos fabricantes, como sejam: tálogos admitem certas tolerâncias e pre-
curvas de rendimento mais favoráveis, por sumem a observância de Normas de En- REFERÊNCIAS
deslocação do regime de rendimento má- saio. Ora, acontece que, por um lado e em [1] http://www.dge.pt
ximo para menores valores da fracção de nosso entender, as tolerâncias admitidas [2] http://www.cemep.org
[3] http://iamest.jrc.it/projects/eem/eurodeem.htm
carga; na declaração do valor nominal do rendi-
Fluído A
poroso, verificam-se propriedades dinâmicas
Dique
importantes que, na última década, motiva-
poroso ram um interesse na sua aplicação em vários
REFERÊNCIAS
domínios da engenharia.
Ar [1] Keith B. Oldham and Jerome Spanier, The Fractional
Calculus: Theory and Application of Differentiation and
4. Conclusões Integration to Arbitrary Order, Academic Press,
1974.
[2] Katsuyuki Nishimoto, Fractional Calculus (Volume IV):
A teoria dos CF encontra-se ainda pouco di- Integrations and Differentiations of Arbitrary Order,
Descartes Press, Japan, 1991.
Canal Alvéolo vulgada mas apresenta fortes potencialidades
[3] Stefan G. Samko, Anatoly A. Kilbas, Oleg I. Marichev,
I de aplicação em várias áreas científicas. No Fractional Integrals and Derivatives: Theory and Appli-
cations, Gordon and Breach Science Publishers,
B campo dos sistemas dinâmicos, foi já desen-
I0 I1 In 1993.
volvido algum trabalho e os resultados con- [4] Kenneth S. Miller and Bertram Ross, An Introduction
to the Fractional Calculus and Fractional Differential
seguidos revelam numerosas possibilidades
Equations, John Wiley and Sons, 1993.
V R R/ε R/εn de aplicação. Nesta perspectiva, encontra-se [5] Ronald L. Bagley and Peter J. Torvik, Fractional Cal-
culus-A Different Approach to the Analysis of Visco-
C C/η C/ηn em curso investigação relativa à aplicação do
elastically Damped Structures, AIAA Journal, vol. 21,
CF nas ferramentas de análise, simulação e no. 5, pp. 741-748, May 1983.
[6] A. Oustaloup, La Commande CRONE: Commande Ro-
controlo.
buste d’Ordre Non Entier, Hermes, 1991.
Figura 2 [7] J. A. Tenreiro Machado, Analysis and Design of Frac-
a) Sistema de “interface” fluído-dique poroso 1 Professor Coordenador com Agregação tional-Order Digital Control Systems, Journal Systems
b) Circuito eléctrico análogo com uma Analysis-Modelling-Simulation, vol. 27, pp. 107-122,
associação recursiva de resistências e condensadores E-mail: [email protected] 1997.
2 Professora Coordenadora [8] I. Podlubny, Fractional Diferential Equations, Acade-
mic Press, San Diego, 1999.
E-mail: [email protected] [9] Svante Westerlund, Dead matter has memory! Causal
Consulting, Kalmar, Sweden, 2002.
* Departamento de Engenharia Electrotécnica,
[10] Alain Le Méhauté, Fractal Geometries: Theory and Ap-
O diagrama de Bode de Y(jω) está repre- Instituto Superior de Engenharia do Porto plications, Penton Press, 1991.
sentado na figura 3, onde ωi e ω’i designam, Tel.: 22 834 0500 – Fax: 22 832 11 59
respectivamente, as frequências dos pólos e
zeros. Verificam-se facilmente as relações:
(5)
20 log10 |Y(jω)|
log η log ε
Δdb 20 α db/dec
20 db/dec
1 εη log ω
ω1= ω2=
RC RC
η εη2
ω1 = ω2=
RC RC
(6)
Geocodificação de Moradas
para Integração dos Dados do
Negócio com Dados Geográficos
David Cunha, Ricardo Araújo, Gabriel Pestana e Miguel Mira da Silva
dos dos utilizadores, executa as instruções [Pes03a, Pes03b, Pes03c] para integrar coe- dade podemos analisar a eficácia das inicia-
SQL para obter os dados do negócio, inter- rentemente a componente espacial com as tivas publicitárias para no futuro dirigir me-
preta os campos BLOB que armazenam os ferramentas analíticas de suporte à decisão. lhor novas iniciativas [TIW01].
dados geográficos, realiza o processamento Esta arquitectura é introduzida de seguida.
necessário e envia o resultado ao utilizador. Com as especificações OpenGIS [OGC03] 4. Proposta
Esta segunda solução, apesar de constituir e com o surgimento no mercado de bases
uma evolução em relação à anterior, apre- de dados estendidas ao domínio espacial (sis- Este artigo propõe um processo de extrac-
senta ainda algumas desvantagens: temas de terceira geração), as funções de ção, transformação e carregamento (ETL)
os dados do tipo BLOB são armazenados emulador de dados geográficos executadas dos dados geográficos para a GeoDW. A
como uma sequência de binários usando for- pelos sistemas de segunda geração, que usa- parte mais importante deste processo é a
matos proprietários, ou seja, a base de dados vam um SDE – Spatial Data Engine – para geocodificação em que os dados do negócio
não consegue interpretar estes dados; gestão dos BLOBs, deixam de ser necessá- são referenciados geograficamente de forma
a consistência dos dados geográficos não rias. Os dados geográficos já não são um ele- a serem integrados com o resto da informa-
pode ser garantida pelo SGBD; mento estranho à base de dados, possibili- ção geográfica.
não é eficiente porque mesmo que se pre- tando assim o uso de dimensões geográficas A maioria dos dados do negócio que podem
tenda apenas uma parte do BLOB (mapa), na GeoDW. Desta forma, a componente ser considerados geográficos está na forma
a base de dados retorna o BLOB na sua geográfica passa a estar dentro do esquema de moradas. A geocodificação das moradas
totalidade para ser processado. multidimensional da Data Warehouse, ou é feita recorrendo aos campos que compõem
Resumindo, não existe ainda no mercado seja, os dados do negócio passam a estar in- a morada e está dividida em dois passos: a
nenhuma solução satisfatória para apoio à tegrados com os dados geográficos no mesmo uniformização da morada e a associação com
decisão utilizando simultaneamente dados registo. um elemento geográfico (e.g., ponto, polígono)
do negócio e dados geográficos. Além disso, a dimensão geográfica constitui que a represente num mapa.
um elemento integrador de diferentes tipos A uniformização da morada consiste, por sua
3. GeoDW de informação porque todos usam a mesma vez, em vários passos:
cartografia (sistema de coordenadas, escala dividir a morada em vários campos – por
Esta dificuldade de integração dos dados do e projecção) e podem, por isso, ser sobre- exemplo, tipo do arruamento, nome do
negócio com os dados geográficos dificulta postos em camadas. Por exemplo, a infor- arruamento, localidade;
a integração da componente geográfica com mação sobre as vendas e sobre o marketing normalizar os campos de acordo com
as ferramentas analíticas de suporte à deci- pode ser cruzada num mapa através da di- os dados de referência fornecidos pelos
são. Para solucionar este problema foi pro- mensão geográfica. Cruzando a localização CTT – que incluem todas as moradas de
posta uma nova arquitectura chamada GeoDW dos clientes com as localizações de publici- Portugal;
completar ou corrigir os campos da mo- CTT visto que a partir do nome do arrua- paração de moradas por aproximação (Ap-
rada que estejam incompletos ou errados mento e do código postal facilmente se obtém proximate String Matching) para rectificar
– por exemplo, código postal com apenas o elemento geográfico correspondente. erros ortográficos e fazer a substituição de
quatro dígitos. abreviaturas na morada (por exemplo, R. e
O processo genérico de uniformização de 5. Implementação Av.), que dificultam a uniformização das mo-
uma morada passa por pesquisar o nome do radas. Também devia ser considerado o nú-
arruamento nos dados de referência. Como Para validar esta proposta de geocodificação, mero de porta.
estes dados de referência dizem respeito a foi implementado um protótipo que depois Na GeoDW são registadas não só as altera-
Portugal inteiro é necessário limitar o uni- foi testado com dados reais. A uniformização ções dos valores dos dados do negócio, como
verso de pesquisa. de moradas foi limitada às duas primeiras ite- qualquer alteração dos valores dos dados ge-
Por isso, o processo divide-se em várias ite- rações, ou seja, apenas o código postal foi ográficos. Uma alteração geométrica resul-
rações sequenciais, em que cada iteração uti- usado para limitar o universo de pesquisa. tante, por exemplo, de uma operação de
liza um universo de pesquisa maior que o Dos testes que realizámos, concluímos que junção ou divisão origina um novo registo na
anterior, como passamos a descrever: o sucesso da uniformização depende forte- dimensão respectiva, com indicação dos ele-
1. universo de pesquisa limitado aos dados mente da qualidade das moradas de entrada. mentos filhos no caso da junção ou do ele-
de referência com o mesmo código pos- mento pai no caso da divi-
TABELA 1 – Resultados da uniformização
tal – nesta iteração entram as moradas que são. Assim sendo, os dados
possuam código postal com sete dígitos; Moradas uniformizadas 932 47 % do negócio georeferencia-
2. universo de pesquisa limitado aos dados Moradas com várias possibilidades 550 28 % dos estão também relacio-
de referência com apenas quatro dígitos Moradas para as quais os dados de referência estão incompletos 85 4% nados com a geometria dos
Moradas não uniformizadas 377 19 %
do código postal – nesta iteração entram dados geográficos aquando
Moradas não uniformizadas cujo código postal não existe 36 2%
as moradas que não tenham sido unifor- da sua georeferenciação.
TOTAL 1.980 100 %
mizadas na primeira iteração e as mora- Para além de poderem ser
das com código postal de quatro dígitos; Para testar o protótipo foram utilizadas 1980 analisados no tempo, serão sempre cruzados
3. universo de pesquisa limitado aos dados moradas reais das maiores empresas portu- com os tipos de dados geográficos que exis-
de referência do mesmo concelho/distrito guesas. Destas moradas, 1077 tinham código tiam na altura, o que permite usar esses dados
– nesta iteração entram as moradas que postal completo e todas as outras tinham com diferentes tipos de mapas para moni-
não tenham sido uniformizadas nas itera- apenas os primeiros quatro dígitos. Na Ta- torar a actividade do negócio segundo dife-
ções anteriores e que tenham zona/fre- bela 1 encontram-se os resultados do pro- rentes perspectivas ao longo do espaço e do
guesia/concelho ou distrito. cesso de uniformização para estas moradas tempo.
Para algumas moradas podem ser encontra- de teste.
das várias possibilidades de uniformização. Para 377 das moradas de entrada o processo
Por exemplo, a segunda iteração pode en- de uniformização não encontrou nenhuma
contrar várias possibilidades para a mesma possibilidade. Neste caso, os principais mo-
rua com códigos postais distintos. Essas pos- tivos foram moradas com erros ortográficos,
sibilidades são cruzadas com dados referen- com abreviaturas ou com códigos postais in-
REFERÊNCIAS
tes à freguesia, conselho e distrito e proces- correctos. Para 36 das moradas não foi pos-
sados automaticamente. Os dados que não sível a uniformização pelo facto do código • [ESRI00] ArcView Network Analyst. ESRI White Paper,
2000 - http://www.esri.com
têm informação suficiente são guardados postal não existir nos dados de referência. • [IBM98] Judith R. Davis, IBM’s DB2 Spatial Extender:
para que o utilizador possa seleccionar a lo- Para os testes efectuados apenas foram uti- Managing Geo-Spatial Information within the DBMS, 1998
- http://www.software.ibm.com/data/pubs/papers
calização correcta ou, manualmente, corrigir lizados os dados geográficos de Lisboa. Por • [OGC03] Open GIS Consortium, OpenGIS Specifications,
o endereço, estas moradas não entram nas isso, das 932 moradas uniformizadas, 265 2003. - http://www.opengis.org/ogcSpecs.htm
• [ORA02] racle Spatial 9.2 User’s Guide and Reference.
iterações seguintes do processo, visto que são de Lisboa mas só 236 foram geocodifi- - http://otn.oracle.com/products/spatial/spatial_doc_index.
apenas uma das possibilidades é a correcta. cadas porque os dados geográficos do mapa html
• [Pes03a] Gabriel Pestana. Analytical Tools to Customer
Existem também códigos postais para os de referência não continham todos os arrua- Relationship Management Integrating Geographic Data
quais os dados de referência apenas têm in- mentos de Lisboa. Optimization. ICEIS Doctoral Consortium, 2003.
• [Pes03b] Gabriel Pestana e M. Mira da Silva. A New Ar-
formação sobre o distrito e concelho, ou seja, chitecture for Integrated OLAP/GIS Analysis based on a
não possuem toda a informação sobre o ar- 6. Conclusão Geographical Data Warehouse. Proc. of the IADIS Inter-
national Conference e-Society, 2003.
ruamento. As moradas com estes códigos • [Pes03c] Gabriel Pestana e M. Mira da Silva. Gestão da
postais simplesmente não podem ser unifor- Neste artigo apresentámos uma proposta e Relação com o Cliente utilizando Dados e Funcionalida-
des Geográficas. Publicado na Ingenium (Revista da
mizadas. respectiva implementação para um processo Ordem dos Engenheiros). 2.ª Série, N.º 74. Março
A associação de uma morada uniformizada de geocodificação de moradas que é funda- 2003.
• [SDE02] Understanding ArcSDE - GIS by ESRI, 2002. -
com um elemento geográfico que a repre- mental para a construção da GeoDW. http://www.esri.com
sente num mapa é directa usando, por exem- No futuro seria interessante uniformizar as • [TIW01] Amrit Tiwana. The Essential Guide to Knowledge
Management, Prentice Hall, 2001.
plo, os dados geográficos fornecidos pelos moradas por geocodificar, efectuando a com-
arrefecimento, onde permaneceu até que a bém construído a partir de blocos individu- estudo, os ensaios consistiram em medir a
sua temperatura média baixasse para 30ºC, ais, que podem eventualmente possuir aber- evolução do binário do motor (proporcional
sendo então recolhido em sacos. O procedi- turas laterais adequadas para desvolatilização à viscosidade do fluido [4]) ao longo do tempo
mento seguido tem consequências em termos ou alimentação secundária. A configuração e foram efectuados em condições de opera-
da qualidade de mistura, da distribuição gra- geométrica seleccionada (esquematizada na ção semelhantes às da extrusão, ou seja, man-
nulométrica final e da facilidade de escoa- Figura 3) foi seleccionada após a realização tendo a temperatura da câmara a 200ºC, a
mento do composto em pó. de um conjunto de experiências prelimina- velocidade dos rotores a 30 rpm e utilizando
res, nas quais se procurou promover a fusão uma amostra com 75g por forma a encher o
rápida do material, assegurar boa selagem volume disponível da câmara.
para uma desvolatilização adequada e a pro- A Figura 5 representa os resultados obtidos.
dução de um extrudido com boa qualidade De acordo com trabalhos anteriores [7,8], o
(isto é, sem degradação visual aparente e pro- pico 0, designado de carga, corresponde à
porcionando a obtenção de um perfil com compressão e densificação inicial dos grãos,
boa estabilidade dimensional). A Figura 3 dando origem a um valor elevado do binário.
mostra também a localização de um conjunto A temperatura da amostra vai aumentando
de dispositivos de recolha rápida (tipicamente devido ao aquecimento por condução através
em 1-3 segundos) de amostras do interior da das paredes da câmara de mistura e à contri-
extrusora, desenvolvidos na Universidade do buição da dissipação resultante do atrito entre
Minho [5]. Tornou-se assim possível obter os grãos e entre os grãos e as paredes do equi-
amostras representativas de material (1 a 2 pamento. Verifica-se, então, uma diminuição
gramas, consoante a dimensão do dispositivo) do binário devido à deformação dos grãos a
em localizações específicas ao longo do com- uma temperatura superior à sua temperatura
Figura 2 – Misturador de alta velocidade
Thyssen Henschel KM 120 primento do parafuso, durante a operação da de transição vitrea. Nesta fase, a estrutura
extrusora em regime estacionário. Evitou-se, granular inicial é parcialmente destruída em
2.2 Extrusão deste modo, o procedimento de recolha adop- partículas primárias e seus aglomerados, ofe-
O composto em pó foi processado directa- tado em estudos prévios do mesmo tipo, que recendo uma menor resistência aos rotores
mente (isto é, sem que fosse efectuada uma consiste na interrupção da extrusão e na ex- (ponto a). A partir deste ponto começa a
operação intermédia de granulação, que in- tracção dos parafusos, operação que dura vá- fusão do material, o que provoca um aumento
duziria uma história térmica mais complexa rios minutos e provoca inevitavelmente alte- do binário até ao ponto c; a partir da qual a
ao material) numa extrusora modular de du- rações na morfologia do material [6]. viscosidade do polímero começa a diminuir
plos fusos contra-rotativos Leistritz LSM O composto foi extrudido à taxa de 7 kg/h, devido ao aumento da temperatura e ao maior
36/25D, com fusos de diâmetro 36mm e re- com os parafusos rodando a 25 rpm e usando grau de homogeneização do material.
lação comprimento/diâmetro, L/D de 25. um perfil de temperaturas variando entre Nos pontos d e e a viscosidade e a tempe-
Cada parafuso é constituído por uma vara 180 e 195ºC no cilindro e 205ºC na cabeça ratura aproximam-se dos seus valores de
sextavada sobre a qual são montados suces- de extrusão. A extrusora foi acoplada a uma equilíbrio, sendo possível, na maioria dos
sivamente elementos de fuso com geome- cabeça de extrusão com uma fieira tendo casos, determinar o binário de equilíbrio. A
trias que podem variar entre si no que res- uma secção transversal em forma de T. Re- partir do ponto f, o material começa a de-
peita ao número de entradas, inclinação da colheram-se amostras de polímero em seis gradar-se, verificando-se um aumento da vis-
rosca, espessura do filete, etc., ou ainda ele- válvulas, correspondendo a zonas do parafuso cosidade devido à formação de recticulações,
mentos de mistura, também com geometrias onde o material se encontrava pressurizado, podendo distinguir-se um novo máximo da
diferentes, que determinam a intensidade e que foram imediatamente imersas em azoto curva denominado de pico de degradação
o tipo de acção envolvida. O cilindro é tam- líquido (77K) para arrefecimento rápido. (ponto g). Esta etapa não encontra equiva-
lência na extrusão de PVC em condições
2.3 Reometria de binário normais de operação.
O comportamento do composto em
pó foi estudado num reómetro de bi-
nário Haake Rheometer System 40,
acoplado a uma câmara de mistura
Rheomix 600, representada na Figura
4. Dois rotores giram em direcções
opostas e a velocidades diferentes den-
tro de uma câmara em forma de oito,
que é mantida a temperatura contro-
lada por meio de dispositivos de aque- Figura 4 – Câmara de mistura
Figura 3 – Configuração do parafuso e localização dos dispositivos de recolha
cimento e arrefecimento. No presente do reómetro de binário (Haake)
cia simultânea de ambos os mecanismos em foram identificadas por raio X, como partí-
c
e f
0 b
Tempo (s)
A Figura 6 mostra a morfologia do composto recolhidas do reómetro de binário e referen-
0
0 300 600 900 1.200 1.500 em diversas localizações ao longo da extru- tes às localizações a – g da curva da Figura 5.
Figura 5 – Evolução do binário sora. Em L/D=8.1 (ver também a Figura 3) A seguir ao pico de carga, o material inicia a
ao longo do tempo e indicação dos instantes os grãos encontram-se compactados, mas sua fusão com uma rápida destruição da es-
em que foram recolhidas amostras
com uma morfologia idêntica à do dry-blend trutura granular inicial (figura 8A), resultando
inicial (ver Figura 1). O processo de fusão estruturas granulares significativamente mais
2.4 Caracterização morfológica ocorre rapidamente, como demonstram as pequenas. Uma mesma amostra pode con-
Para efeitos de caracterização morfológica, duas imagens seguintes. Em L/D=8.9 alguns ter grãos inteiros, outros parcialmente des-
as amostras recolhidas da extrusora e do reó- grãos mantêm as suas fronteiras iniciais, en- truídos e agregados de partículas num estado
metro de binário, foram imediatamente imer- quanto que outros parecem estar fundidos. inicial de fusão. No ponto b (figura 8B) ve-
sas em nitrogénio líquido de modo a pode- O maior nível de compactação intergranular rifica-se uma maior compactação devido à
rem ser fracturadas. As superfícies fractura- é evidente. Em L/D=9.8 as fronteiras dos quebra dos grãos de PVC em entidades gra-
das foram pulverizadas com ouro e exami- grãos originais são ainda perceptíveis, mas a nulares mais pequenas (partículas primárias
nadas nos microscópios electrónicos de var- sua porosidade interna foi eliminada e a sua e agregados), em resultado das tensões de
rimento Cambrigde Steroscan 360 e Jeol estrutura interna fundida. A densificação do corte elevadas. No ponto c, a totalidade da
JSM-6301F. material é elevada e alguns grãos têm com- amostra está fundida (figura 8C), não sendo
primentos superiores a 500 m em resultado possível identificar qualquer estrutura granu-
3. Resultados e discussão do seu alongamento. Estas observações são lar. Nas amostras recolhidas nos pontos se-
Discutiu-se amplamente na literatura a evo- L/D = 8.1 L/D = 8.9 L/D = 9.8
lução morfológica dos compostos de PVC,
em pó ou granulares, durante a extrusão, com
o objectivo de identificar os mecanismos e a
evolução do processo de gelificação (ver, por
exemplo, [9]). O estudo da influência das ca-
racterísticas iniciais do polímero nesse pro-
cesso tem merecido muito menos atenção L/D = 17.8 L/D = 19.4 L/D = 21.0
Figura 8 – Variação da estrutura do composto modo, verifica-se que a mesma resina, de- Samouqueiro-Avanca, 3864-752 Estarreja
ao longo do ensaio no reómetro de torsão (100×) pendendo das condições de processamento, 2 Departamento de Engenharia de Polímeros,
poderá ter mecanismos de fusão distintos. Universidade do Minho, 4800 Guimarães
Consequentemente, não é fácil extrapolar
conclusões sobre o comportamento de um
REFERÊNCIAS
composto estudado num reómetro de biná-
[1] P. H. Geil, “Morphology – Characterisation Termino-
rio acerca da processabilidade numa extru- logy” J. Macromol. Sci. - Phys. B14 (1), pp. 171,
sora. Tal conclusão não retira interesse prá- 1977.
[2] M. Gilbert, “Fusion of PVC compounds”, Plastics and
tico à utilização do reómetro, que pode ser Rubber International, vol. 10, No. 3, pp. 16-19, 1985.
usado para efeitos de controlo de qualidade, [3] J. A. Covas, “Qualidade de Produtos em PVC”, Ed.
CIRES, Estarreja, 1990.
no estudo de aditivos, ou na comparação de [4] R. Rao, K. Ramamurthy, “Rheological measurements
compostos. De facto, informações relevan- of rigid PVC by Brabender plasticorder”, Popular Plas-
Figura 9 – Partículas primárias na amostra tics, Part XXII, No. 10, pp.15, 1977.
do ponto b, confirmada por espectro de raio X
tes sobre teores de lubrificação e estabiliza- [5] J. A. Covas, Patente Portuguesa 101941, 1999.
ção podem ser obtidas nestes equipamentos [6] F. R. Kulas and N. P. Thorshaug, “PVC Powder Extru-
sion. Melting Properties and Particle Morphology”,
processos possam conduzir a morfologias si- em estudos comparativos de compostos de Journal of Applied Polymer Science, vol. 23, pp. 1781-
milares para graus de gelificação suficiente- PVC com vista ao desenvolvimento de novas 1794, 1979.
[7] E. B. Rabinovitch, James W. Summers, “Poly (Vinyl
mente elevados (como os produzidos pelas formulações. Chloride) Processing Morphology”, Journal of Vinyl
condições operatórias seleccionadas neste Technology, vol. 2, No. 3, pp. 165, 1980.
[8] G. Schram, “Measuring the fusion rate of rigid PVC
trabalho), para graus de gelificação intermé- 4. Conclusões dry blend”, International Plastic. Engineering., vol. 2,
dios as diferenças poderão ser significativas, 1965.
[9] M. W. Allsopp, “Mechanism of Gelation of Rigid PVC
como Allsopp [9] já havia sublinhado. Neste trabalho, desenvolveram-se metodo- during Processing”, Herts, UK,1982.
Estudos laboratoriais prévios sobre a evolu- logias experimentais que permitiram obser- [10] R. P. Marques, J. A. Covas, Third ESAFORM Confe-
rence on Material Forming, Stuttgart, Esaform, 2000.
ção morfológica e estrutural (caracterizada var que os mecanismos de gelificação de um
Estratégia de I&D
e de Formação na Área
de Tecnologia da Cortiça
Luís Gil *
1. Introdução Mais especificamente, em relação ao sector total do país), sendo o volume de negócios
da cortiça, são em seguida enunciados alguns da cortiça de cerca de 1350 milhões €;
Os produtos florestais representam no nosso dados de referência (Novembro 2002, APCOR Em 2000, a exportação de produtos de
país um negócio com enorme interesse a Associação Portuguesa de Cortiça) que cortiça foi de 915 milhões € (32,8% do
nível da exportação (cerca de 2,8 mil mi- permitirão avaliar a relevância da área re- total dos produtos florestais, representando
lhões € em 2002), nomeadamente a nível ferida: estes cerca de 10-11% do total das expor-
de produtos com bastante valor acrescen- A indústria da cortiça é geralmente dividida tações portuguesas), sendo o balanço co-
tado, com um balanço comercial altamente em 4 ramos de actividade: preparador, trans- mercial do sector da cortiça positivo em
positivo. São um dos clusters de maior inte- formador, granulador e aglomerador; cerca de 785 milhões €;
resse a desenvolver e apoiar futuramente no O número de fábricas existentes a nível Os produtos de cortiça fazem com que
nosso país. Tal como referido por Porter, nacional é de cerca de 1100: 1020 de ro- este sector seja um dos mais importantes
depois de identificados estes clusters, há que lhas e outros produtos de cortiça natural, em termos de quota de exportação mun-
concentrar recursos onde sejam mais neces- 50 de preparadores, 30 de granuladores e dial, com valores superiores a 50%.
sários. A actividade económica associada aos aglomeradores; apenas cerca de 2% tem
produtos florestais tenderá a crescer a nível mais do que 100 trabalhadores; Um dos preceitos base a considerar na rela-
nacional, o que facilmente se conclui da PAC O número de trabalhadores na indústria ção I&D/Apoio Tecnológico-Economia é que
e do desincentivo à produção agrícola no corticeira é de cerca de 15.000 (25% do estas actividades devem ter um “volume”
nosso país em várias áreas, e ainda do facto volume de emprego do sector florestal); relacionado com a sua importância no PIB
da Europa ser deficitária neste domínio. A Ao nível do comércio, o destino da produ- de cada país, havendo, naturalmente, um re-
nível nacional, refira-se que Portugal é o ção é de cerca de 90% para os mercados forço em áreas consideradas estratégicas e
maior produtor (730.000 ha, 32% da área externos, sendo que os principais sectores de futuro. Nada disto se passa em Portugal
mundial a que corresponde mais de 50% da consumidores são o vinícola, a construção na área florestal, nomeadamente na subárea
cortiça produzida mundialmente) e trans- civil, a indústria automóvel, o calçado e a das tecnologias de transformação dos pro-
formador mundial de cortiça, com valores pesca; dutos florestais, e mais ainda na área da cor-
de exportação próximos dos mil milhões de Os principais produtos exportados são: ro- tiça. O próprio relatório Porter aponta como
euros/ano, representando o sector cerca de lhas – 68%, aglomerados e outros – 32%; um dos principais problemas do sector da
3% do PIB e empregando mais de 20.000 O sobreiro representa cerca de 21% da cortiça a reduzida I&D e a urgência da reso-
pessoas directamente. área florestal nacional (e 7% da superfície lução desta desvantagem.
2. Levantamento da situação com as entidades relacionadas com a I&D e Os financiamentos não são, muitas vezes,
o ensino/formação que, de algum modo, re- adequados aos estudos a desenvolver, no-
Nos últimos anos, investiu-se fortemente em alizaram trabalho na área da Tecnologia da meadamente a nível da duração temporal;
infra-estruturas diversas de apoio à indústria, Cortiça. Embora exista bastante trabalho de inves-
tendo-se criado, a nível dos produtos flores- Para esse levantamento, foram usadas, como tigação e mesmo áreas de ensino dedicados
tais, os Centros Tecnológicos da Madeira e base de pesquisa, duas páginas na Internet: ao estudo do sobreiro, pragas, vegetação,
da Cortiça. Investiu-se em edifícios e equi- www.guiadoestudante.pt e www.terravista. reprodução etc., o mesmo não se passa no
pamento, mas o mesmo já não se passou a pt/Nazare/1573. A primeira surge regular- domínio da Tecnologia da Cortiça.
nível humano (gastou-se dinheiro mas, quer mente impressa como anexo de algumas edi-
a nível da contratação de quadros, quer eco- ções do semanário “Expresso”, estando rela- 3. Análise da área de Tecnologia
nómico, os planos não foram cumpridos), o cionada com estabelecimentos de ensino, e da Cortiça
que conduziu aos graves problemas actuais a segunda assenta numa base de dados ela-
desses mesmos Centros Tecnológicos e ao borada por um Técnico da Direcção Geral Os sectores de actividade relacionados com
seu esvaziamento, o que já actualmente se das Florestas, constituindo uma lista de en- a cortiça, desde a produção e a transforma-
sente com grande intensidade. Estes Centros tidades portuguesas que desenvolvem traba- ção até à utilização final dos produtos, têm
têm-se mantido sobretudo devido a sucessi- lhos de investigação sobre o sector da cortiça. um grande interesse no contexto nacional e,
vas injecções de dinheiro, mas continuam Paralelamente, foram também pesquisadas face à sua especificidade e à necessidade e
com uma missão um tanto indefinida, esten- individualmente as páginas electrónicas das quase obrigação de Portugal liderar as ope-
dendo as suas actividades, por necessidade instituições relacionadas cujo contacto foi rações neste campo, é fundamental que a
de sobrevivência, a domínios diferentes dos possível obter. investigação e o desenvolvimento tecnoló-
definidos nos seus estatutos. Para além da pesquisa on-line, foi também gico associados à inovação sejam as forças
Por outro lado, outras entidades que apoia- efectuado um contacto com todas as enti- evolutivas do sector.
vam o sector florestal, nomeadamente rela- dades e respectivos departamentos que pu- A falta de informação escrita não se verifica
cionadas com a transformação industrial e dessem, de algum modo, estar relacionados do mesmo modo em todos os domínios do
do controlo de produtos, também se encon- com o tema (112 contactos), inquirindo sector corticeiro, sendo escassa a informação
tram “estranguladas” a vários níveis. Quanto sobre projectos de I&D e formação diversa, no domínio técnico e tecnológico. A escassez
às universidades que se dedicam a estes as- tendo sido obtidas 24 respostas. observada decorre do facto de alguma da evo-
pectos, continuam a denotar alguma falta de Deste levantamento foi possível concluir o lução ter sido baseada frequentemente em
ligação às realidades do tecido económico, seguinte: factores empíricos, enquanto os novos aper-
aspecto apontado e reconhecido por muitos Não existe nenhum curso superior nem feiçoamentos estão muitas vezes cingidos ao
(por exemplo, pelo próprio Governo, como mestrado específicos na área; segredo industrial. Grande parte da informa-
é referido no seu Programa de Acção para Não existe nenhum ramo de um curso, ção técnica e científica, quer nacional quer
Preservar e Desenvolver o Sector Florestal), cadeira específica ou de opção nesta área, estrangeira, foi sendo centrada e divulgada
quer na área da investigação quer na área da embora algumas áreas da Tecnologia da desde os anos 30 através dos Boletins da Junta
formação. Cortiça sejam abordadas em algumas (pou- Nacional da Cortiça e, posteriormente, do
Para além disso, não há uma boa ligação entre cas) disciplinas; Instituto dos Produtos Florestais, com carác-
todas estas instituições e, muitas vezes, essas Existe um Mestrado em Engenharia dos ter quase exclusivo. Este tratamento e divul-
ligações passam, sobretudo, pelas ligações Materiais Lenho-Celulósicos (ISA) e al- gação de informação específica, do maior in-
pessoais dos técnicos e não por uma ligação guns poucos doutoramentos (ex. IST) que, teresse, terminou em 1988, com a extinção
e coordenação institucional das actividades. de algum modo, estão relacionados com deste último Instituto.
Num país pequeno como o nosso e de re- este tema; No campo científico, a cortiça começou a ser
cursos limitados, será adequado concentrar Existe um Centro de Formação específico estudada no século XVII, relativamente à sua
meios e não dispersá-los. para o sector (CINCORK) mas não mi- estrutura celular, tendo sido iniciada no século
Está assim, deste modo, a criar-se um “vazio” nistra formação superior; seguinte a investigação relativa à sua consti-
que é importante preencher, reforçando a Foram desenvolvidos alguns trabalhos liga- tuição química. Os trabalhos publicados desde
intervenção em sectores da maior importân- dos à Tecnologia da Cortiça em Laborató- então acompanharam, logicamente, os avan-
cia para a economia nacional, “absorvendo” rios do Estado, Universidades e Centros de ços analíticos laboratoriais. Na época da 2.ª
os “esvaziamentos” de várias instituições e Investigação, mas sem uma acção coorde- Guerra Mundial, houve, como é sabido, es-
promovendo outras áreas de apoio de que o nadora e, por vezes, relacionados com inte- cassez de determinadas matérias-primas e a
tecido empresarial neste domínio carece. resses de carreira dos executantes e não com necessidade de novos materiais e novas apli-
Feita esta primeira abordagem genérica, foi as prioridades e necessidades do sector; cações, pelo que se intensificou o estudo de
concretizado um levantamento do estado da Há, por vezes, sobreposição de trabalhos produtos alternativos. Esta actividade tam-
arte relacionado com a I&D e a formação no e continuam a existir lacunas de conheci- bém se reflectiu na cortiça com o surgimento
domínio da Tecnologia da Cortiça. mento devido à falta de coordenação da de um maior volume de informação. A partir
Este levantamento passou por um contacto I&D; de 1950, começaram também a surgir, com
maior relevância, alguns trabalhos de investi- ordenação e a optimização de recursos ne- se dedicam à investigação e desenvolvimento
gadores portugueses, cuja frequência aumen- cessárias, impulsionarem a investigação orien- (I&D) e ao apoio técnico à indústria e à pro-
tou na década de 80. Estes trabalhos de au- tada para novas aplicações, para o melhora- dução. São também indicadas as instituições
tores portugueses são, entre outros, relacio- mento da qualidade das matérias-primas, dos que se encontram relacionadas com as ou-
nados com o comportamento físico e mecâ- produtos e das suas aplicações e, também, tras actividades científicas e tecnológicas
nico da cortiça e dos seus derivados e, ainda, para a promoção de métodos e processos de (OAC&T) no domínio da cortiça, incluindo
relativos ao desenvolvimento de novos aglo- fabrico, no sentido da optimização e da re- divulgação, a normalização, o controlo de
merados e ao aproveitamento de resíduos da dução dos custos e dos impactos ambientais qualidade e a informação técnica e cientí-
indústria corticeira. Surgiram também alguns e da sua relação com o aumento da compe- fica, entre outros, actividades estas relacio-
trabalhos ligados à qualidade e defeitos da titividade. Embora já existam algumas res- náveis com a I&D. Note-se que esta lista,
cortiça e a aspectos ambientais da sua trans- postas para os problemas mais prementes do não sendo exaustiva, dá uma ideia do pano-
formação. Nos últimos anos, verificou-se um sector, tem-se tropeçado continuamente no rama do que se pode chamar o Sistema Cien-
aumento do número de artigos de autores passo da transferência de tecnologia. tífico e Tecnológico Nacional associado à
portugueses em publicações periódicas estran- Depois destas considerações, e analisando cortiça. Assim, as designações das institui-
geiras, nomeadamente nas áreas ligadas aos os trabalhos publicados, pode concluir-se ções mais relacionadas com a I&D e as
materiais e aos produtos florestais. que a investigação realizada em Portugal no OAC&T, no domínio da cortiça, existentes
A Junta Nacional de Investigação Científica domínio da cortiça é efectuada maioritaria- actualmente1 no nosso país são as que cons-
e Tecnológica estudou o “índice de propen- mente em instituições públicas. tam no Quadro 1.
são a inovar” de vários sectores industriais Sintetizando, é em seguida elaborada uma
nacionais, o que permitiu verificar que, para lista das instituições que, de algum modo, 4. Carências em I&D na área
o sector “Madeira e Cortiça”, correspondia de Tecnologia da Cortiça
uma propensão para a inovação das mais bai- QUADRO 1
xas. Estes aspectos estão, aliás, relacionados Entremos agora na detecção das lacunas em
Associação Central da Agricultura Portuguesa
com uma análise global da indústria nacio- I&D e nas previsões das necessidades futu-
Associações dos Industriais e Exportadores de Cortiça
nal, em que se verificou que a maioria das Associação Portuguesa de Cortiça ras do sector no domínio da Tecnologia da
inovações nas empresas portuguesas foram Associação dos Produtores Florestais da Região Cortiça.
introduzidas através da aquisição de equipa- de Ponte de Sôr Relativamente à constituição química da cor-
Associação dos Produtores Florestais da Região
mentos, sendo a estratégia de inovação da de Évora
tiça, há ainda aspectos por estudar, quer no
indústria nacional fundamentalmente pas- Associação para a Valorização da Cortiça que diz respeito ao isolamento e identificação
siva ou adaptativa. Centro de Formação Profissional da Indústria de novos componentes, nomeadamente dos
Nas décadas de 40 e 50, as poucas patentes de Cortiça grupos menos estudados (por exemplo, poli-
Centro Tecnológico da Cortiça
surgidas relacionadas com a cortiça têm a ver, fenóis), quer, posteriormente, no respeitante
Direcção-Geral das Florestas
sobretudo, com a obtenção de produtos quí- a estudos da aplicação destes componentes,
Direcção-Geral da Indústria
micos da cortiça e com a maquinaria ou pro- Direcção-Geral da Qualidade do Ambiente nomeadamente aplicações de maior valor
cessos para a sua transformação. Nos últimos Escola Superior Agrária de Beja acrescentado, em variados domínios. Parale-
anos, além dos novos processos, têm tam- Escola Superior Agrária de Castelo Branco lamente, poderão ainda completar-se os es-
bém surgido patentes no domínio dos novos Estação Agronómica Nacional tudos sobre a reactividade química e a activi-
materiais à base de cortiça, referentes a novas Estação Florestal Nacional dade biológica dos compostos obtidos a partir
Faculdade de Ciências de Lisboa
aplicações. Saliente-se que a grande maioria da cortiça e/ou dos resíduos da sua transfor-
Faculdade de Farmácia
destas patentes são de origem estrangeira. mação (pó de cortiça, condensados do vapor
Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica
Num trabalho de levantamento de patentes Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge de cozimento do aglomerado expandido de
existentes relacionadas com as rolhas de cor- Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia cortiça, águas de cozedura), no seguimento
tiça natural, aglomerados, tecnologias de pro- Industrial de alguns estudos já efectuados. Estes estu-
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas
cessamento e aplicações específicas, até 2001, dos para novas aplicações deverão ter como
Instituto Português da Qualidade
verificou-se que a primeira patente referen- objectivo prioritário, para além do alto valor
Instituto da Qualidade Alimentar
ciada data de 1911 (embora exista conheci- Instituto Superior de Agronomia
acrescentado, o desenvolvimento de um pro-
mento de algumas patentes nesta área da Instituto Superior Técnico cesso integrado que permita a utilização de
segunda metade do século XIX) e que o nú- Instituto da Vinha e do Vinho todas as fracções de constituintes, valorizando
mero total de patentes era de 577. Laboratório Nacional de Engenharia Civil o papel da cortiça como matéria-prima de
Verificou-se também que o esforço da inves- Sociedade de Ciências Florestais base. Ainda relacionado com a constituição
Universidade do Algarve
tigação, nomeadamente a tecnológica, foi ini- química da cortiça, mas derivando já para o
Universidade de Aveiro
cialmente realizado essencialmente nos paí- comportamento físico-mecânico e as carac-
Universidade de Évora
ses importadores da cortiça e dos seus deri- Universidade Nova de Lisboa
terísticas da cortiça, seria interessante relacio-
vados. Cabe agora aos países produtores, e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro nar a sua composição química com a “quali-
de certo modo estão a fazê-lo, mas sem a co- dade” do material, permitindo quantificar este
parâmetro, o que até ao momento tem sido dologias de avaliação precoce da qualidade Por outro lado, deverá proceder-se à imple-
realizado de modo subjectivo, recorrendo-se da cortiça. Alguns estudos foram iniciados e mentação da investigação sobre novos mate-
habitualmente a avaliações comparativas. deverão ser sistematizados no que respeita riais à base de cortiça e sobre novas aplica-
Outros campos ainda não totalmente explo- às relações entre a estrutura do entrecasco, ções para os já existentes e, nomeadamente,
rados são a topoquímica das paredes celula- por análise da costa, com a qualidade da cor- proceder-se à transferência de tecnologias
res (localização dos diversos componentes tiça. Neste caso, serão necessários progra- resultantes de trabalhos já concluídos para o
químicos na parede celular), a constituição mas de financiamento plurianuais alargados meio industrial, concretizando a inovação no
do gás celular e o consequente relaciona- ao tempo de formação e extracção da cor- sector.
mento com o comportamento da cortiça tiça. Os produtos utilizados no fabrico dos aglo-
como material. Está ainda por determinar o Dados os custos e a especialização da mão- merados compostos, colas, ignífugos, coran-
papel desempenhado pelos componentes de-obra para a extracção da cortiça da ár- tes, vernizes etc., deveriam também ser es-
químicos da cortiça nas ligações intergranu- vore, os estudos relativos à automatização tudados de modo a serem obtidas formula-
lares do aglomerado negro de cortiça e ainda deste processo deverão ser aprofundados, ções específicas para os produtos de cortiça,
o tipo e funcionamento dos plasmodesmos quer por optimização de alguns processos já mas que lhes permitissem um comportamento
(poros intercelulares) e a sua relação com as idealizados, quer por introdução de novas competitivo com produtos sucedâneos, estu-
características isolantes e de compressão-re- tecnologias adequadas, ligando nomeada- dos, esses, que envolveriam empresas quími-
cuperação da cortiça. mente as áreas de mecânica, materiais e elec- cas, corticeiras e centros de investigação. Neste
No campo industrial, seria conveniente con- trónica. campo, teriam particular importância produ-
tinuar os estudos tendentes à caracterização Para regulamentação das transacções comer- tos de protecção que evitassem a descolora-
e aproveitamento dos resíduos originados, ciais e diminuição do tempo de imobilização ção da cortiça por acção da luz solar, um as-
incluindo a evolução para processos que di- da cortiça (menores encargos financeiros e pecto em que os derivados de cortiça têm
minuíssem a geração desses produtos. Estes menor probabilidade de infestações), seria dificuldade em competir.
estudos envolveriam a quantificação parce- do maior interesse conhecer os valores mé- Outra área com muita importância no campo
lar dos principais resíduos e dos seus dife- dios dos teores de humidade para os vários da inovação e com uma relação directa com
rentes tipos, o aumento de escala de proces- tipos de cortiça, sob diferentes condições a qualidade dos produtos e com outros as-
sos de aproveitamento já desenvolvidos e a ambientais de temperatura e humidade. O pectos técnicos e económicos da produção,
optimização dos processos industriais exis- traçado das curvas da humidade de equilí- é o da maquinaria. O fornecimento de equi-
tentes, sendo necessário um levantamento brio higroscópico da cortiça (já efectuado pamentos à indústria foi pouco autonomi-
das necessidades e mercado para os diversos teoricamente) e métodos de classificação da zado porque a dimensão, capacidade de in-
produtos que é possível obter. cortiça com base em sistemas optoelectró- vestimento e a semelhança com alguns seg-
Relacionado com os aspectos ecológicos, é nicos de avaliação, permitiriam, assim, uma mentos da transformação da madeira torna-
necessário proceder à caracterização ambien- maior confiança entre o comprador e o ven- ram sempre mais económica a adaptação de
tal da indústria da cortiça, nomeadamente dedor e um melhor conhecimento das con- equipamento de outras indústrias, nomea-
após introdução de novas tecnologias de dições da matéria-prima para adequação dos damente desta última. Por outro lado, as ac-
transformação e tratamento de resíduos que parâmetros da sua posterior transformação. tividades preparadoras e rolheiras possuem
têm vindo a ser introduzidos no sector, atra- Este estudo teria um enorme interesse eco- ainda, em parte, equipamento obsoleto, que
vés da avaliação dos indicadores ambientais nómico e tecnológico. põe em causa a qualidade dos produtos. Uma
e da sua optimização, para avaliar o desem- No campo específico do sector rolheiro, de- vez que no nosso país existem empresas com
penho ambiental dos diversos actores. Estes verão ser continuados os estudos relativos à capacidade para desenvolver e executar esse
aspectos visarão também o enquadramento sua produção industrial e aplicação, respec- equipamento – se não haverá que a encon-
das empresas dentro dos parâmetros am- tivamente os estudos relativos aos tratamen- trar no exterior –, deveria ser fomentado o
bientais recomendados pela legislação vi- tos e lavações e os estudos incluídos no campo desenvolvimento da fabricação de maquina-
gente, através do controlo da poluição ge- dos “gostos”, nomeadamente tratamentos ria com características próprias e especifica-
rada, da prevenção e da redução e/ou elimi- para a sua redução/eliminação. Haverá ainda mente adaptadas à produção corticeira. De-
nação de resíduos e, ainda, da gestão opti- espaço para o estudo e desenvolvimento de verá também ser continuada a criação de
mizada de recursos. Um dos aspectos a es- novos métodos de “cozedura” da cortiça, que dispositivos de ensaios, tendentes a liderar
tudar será, nomeadamente, o tratamento e utilizem menos água (ou a excluam) e se re- um domínio que nos cabe pela inerência da
reciclagem das águas de cozedura e das so- flictam em menos desenvolvimento fúngico, distribuição geográfica da produção e da
luções de lavação das rolhas, através de mé- ou métodos de estabilização após cozimento transformação da cortiça. Neste caso, esta-
todos não onerosos e adaptáveis a pequenas que evitem este desenvolvimento fúngico e/ rão incluídas as adaptações de novas tecno-
produções e descentralizados. ou o encurtamento da estabilização. logias às operações de transformação e, como
Pensa-se que o aprofundamento das corre- Um campo ainda por explorar é o compor- referido, a mecanização das operações de
lações entre as características da morfologia tamento mecânico da cortiça e seus deriva- extracção da cortiça, tendo já sido iniciados
externa dos órgãos da planta com grande an- dos a temperaturas muito diferentes da am- alguns estudos nesse sentido. Estão disponí-
tecedência, permitirá a elaboração de meto- biente. veis no mercado equipamentos de elevado
conteúdo tecnológico que, com algum es- A forma de abordar estes problemas é com- lhor supervisão e distribuição de trabalho.
forço técnico e financeiro, poderão conduzir plexa, pois há uma dispersão dos grupos de Também num estudo (AGRO.GES, 1997)
a uma revolução dos sistemas produtivos do trabalho que existem nas diferentes áreas, encomendado por associações de produtores
sector corticeiro. As palavras-chave nesta muitas vezes sem o conhecimento mútuo, e industriais de cortiça se chegou à conclu-
matéria são os sistemas de produção flexível pelo menos aprofundado, dos respectivos são de que deveria ser criado um instituto
e a produção integrada por computador. trabalhos, o que, por vezes, não permite uma que procedesse à coordenação, regulação e
Estes sistemas permitirão a necessária flexi- fertilização cruzada adequada. Seria, por isso, divulgação dos aspectos de I&D específicos
bilidade produtiva que, associada ao esforço conveniente que existisse uma instituição do sector, para além de outras atribuições.
dos aperfeiçoamentos mecânicos de alta pre- que centralizasse, organizasse e gerisse as di- Actualmente, parece ser também uma estra-
cisão e a uma baixa manutenção, permitirão ferentes actividades, procedendo ao plane- tégia corrente aproveitar instituições já exis-
um avanço produtivo. amento e distribuição do trabalho pelas di- tentes, pelo que deveria ser encontrada uma
Um campo muito importante de investiga- versas entidades, com competência nos di- instituição existente em cujo âmbito este tipo
ção é o estudo comparativo da cortiça com ferentes domínios. de acções se pudesse integrar.
sucedâneos, no sentido de realçar os pontos A investigação cabe aos sectores público e A audição do Conselho Consultivo da SU-
fortes da cortiça e os pontos fracos dos res- privado, e sobretudo a indústria (salvo algu- BERAV (Associação para a Valorização da
tantes produtos e de seleccionar as aplica- mas excepções) não se deve continuar a mar- Cortiça), em Abril de 2002, permitiu defi-
ções mais adequadas para cada caso. ginalizar relativamente a este esforço, de- nir a proposta da Direcção sobre Investiga-
Os aspectos de I&D relativos à interface entre vendo, sim, partilhar a responsabilidade do ção e Desenvolvimento e Formação Profis-
os produtos corticeiros e as indústrias afins desenvolvimento do sector, apostando na sional. Foi defendida pelos conselheiros uma
(p.e. vinícola) são também muito necessários, interiorização da capacidade da ciência e da abordagem do sector não em termos de fi-
podendo ser apontados campos de estudo no tecnologia nas empresas. No entanto, cabe leira, mas de cadeia de valor, bem como a
domínio de novos tipos de rolhas associados ao Estado um papel crítico e fundamental acentuação do carácter multifuncional aos
a novos sistemas de engarrafamento, sistemas neste domínio, através do financiamento do montados.
de embalagem optimizadas e outros. crescimento das actividades de I&D e do es- Assim, tendo em conta estes princípios, deve
Também no domínio das OAC&T há um tímulo ao investimento privado neste campo, haver o especial cuidado de considerar uma
enorme campo de trabalho a desenvolver, nomeadamente através da criação de meca- “nova” área de investigação, cujas priorida-
nomeadamente na área da designada inves- nismos de financiamento adequados. Este des devem ser as seguintes:
tigação pré-normativa, uma vez que muitos deve também incentivar a participação por- fiscalidade;
dos valores de referência, por vezes aponta- tuguesa em projectos comunitários, a exe- concorrência;
dos pelos especialistas, foram baseados em cução de programas específicos e a promo- parcerias internacionais (conhecimento dos
ensaios realizados ao longo dos anos, muitas ção de acções para o aumento da difusão da mercados);
vezes referentes apenas a um tipo de pro- informação, com o objectivo de anular as ca- produtos ambientais;
dução e recorrendo a diferentes métodos e rências estruturais, e alcançar a maturidade produtos tecnológicos;
com critérios de amostragem inadequados, tecnológica, tendo em vista a utilização das inovação de produtos.
havendo, portanto, a necessidade de conhe- tecnologias mais adequadas e a obtenção de No seguimento deste trabalho, realizou-se
cer com maior exactidão o comportamento produtos competitivos. também um Workshop intitulado “Montado
médio dos produtos derivados da cortiça, Tal como já se referiu, o melhor funciona- de sobro e cortiça: Prioridades de investiga-
com base em métodos normalizados de âm- mento dos aspectos relacionados com a I&D ção e desenvolvimento”, em Fevereiro de
bito alargado. e as OAC&T, no domínio da cortiça, seria o 2003, em que foram definidas, por peritos
da centralização das suas funções numa ins- convidados do sector, linhas mestras de in-
5. Escalonamento das acções tituição adequada, já existente ou a criar, o vestigação em várias áreas, entre as quais a
de I&D a desenvolver que permitiria resolver de forma harmoniosa, área de Tecnologia da Cortiça.
mas com uma visão de conjunto, rápida e Nesta perspectiva e tendo em atenção todas
Abordadas que foram as principais carências flexível, os problemas surgidos e as necessi- as considerações anteriores, mais especifica-
de I&D no sector corticeiro na área da tec- dades sentidas. Este trabalho poderia, em mente, merecem destaque alguns dos aspec-
nologia da cortiça, deixando referenciadas parte, ser realizado nesta instituição e, para tos relacionados com a Tecnologia da Cor-
as linhas mestras desta problemática, há que além disso, seriam externamente procuradas tiça, cujos estudos é necessário iniciar:
proceder ao escalonamento do ataque des- as competências mais adequadas para a re- Estudo do tempo de estabilização da cor-
tes problemas. Este terá sobretudo a ver com solução e desenvolvimento das actividades tiça crua e da possibilidade de o reduzir,
o planeamento necessário, relacionado com técnicas a executar. Para além de um quadro com vista à redução dos custos de imobi-
factores temporais devidos à legislação ou a técnico próprio, uma instituição destas de- lização do capital;
directivas ou a outras imposições de mer- veria possuir um grupo (conselho) de cola- Caracterização do ciclo de vida do produto
cado, e não propriamente com o nível de boradores externos e/ou internos, com um “rolha de cortiça natural” – sustentabili-
importância dos assuntos baseado noutros conhecimento conjunto do Sistema Cientí- dade ecológica, com vista não só ao au-
critérios. fico e Tecnológico ligado à cortiça, para me- mento da sua credibilidade como vedante
natural, como à consideração da problemá- Estudos comparativos entre produtos de bém, face às prioridades estabelecidas, desa-
tica das alterações climáticas na sua relação cortiça e outros produtos concorrentes, fiar valências existentes em diferentes enti-
com os sumidouros de carbono. Este es- nomeadamente nos domínios em que pre- dades para a execução de certos projectos.
tudo poderá ser alargado a outros produ- sumivelmente haverá vantagens competi- Outra possibilidade seria a criação de um
tos de cortiça; tivas; programa específico de financiamento para
Influência das matérias subsidiárias nas ro- Estudos relativos à reciclagem/reutilização a I&D na área da cortiça, através de fundos
lhas e no ambiente, para fundamentar as de produtos de cortiça no final do ciclo de gerados por uma taxa sobre as transacções
exigências do Código Internacional das utilização, reforçando o carácter ecológico de cortiça.
Práticas Rolheiras (CIPR); deste material. Por outro lado, tendo em conta a forma como
Estudo da contribuição da rolha de cortiça Devem merecer particular atenção as acções funcionam as entidades decisoras relativa-
na valorização do vinho, com vista à sus- de difusão de resultados dos projectos já mente aos apoios à I&D, é desejável que as
tentação do seu valor em confronto com concluídos ou que venham a ser concluídos, diferentes instituições interessadas em can-
os produtos alternativos; bem como as acções de demonstração e de didatar-se a tais apoios procedam a uma pré-
Caracterização da evolução da humidade sensibilização dos agentes económicos. via concertação entre si, por forma a que as
da cortiça após tiradia; Com vista à formação profissional, foi refe- candidaturas sejam apresentadas para deci-
Concepção de um equipamento de corte rido o interesse da polivalência onde se des- são já devidamente integradas, e organizadas
e extracção de cortiça na árvore como res- taca a formação à distância. em termos de cobrirem as diferentes áreas
posta às carências de mão-de-obra espe- Como forma de potenciar todo o enorme em que é necessário colmatar desconheci-
cializada; trabalho a desenvolver nesta área e a quali- mento e evitar sobreposições temáticas.
Estudo da avaliação precoce da qualidade ficar os principais intervenientes, quer ao Deveria também proceder-se à criação de
da cortiça na árvore, permitindo uma me- nível da I&D quer em termos da formação, uma instalação-piloto (inexistente) com todas
lhor gestão e comercialização da cortiça; deveriam ser despoletadas acções para a cria- as operações unitárias de transformação da
Desenvolvimento de tratamentos preven- ção de uma especialização profissional nesta cortiça, para estudos e aumento de escala
tivos em relação à formação de compostos área restrita ou numa área um pouco mais de resultados laboratoriais.
que dão origem a gostos e odores nocivos alargada, de modo a haver uma descrimina-
e de tratamentos para a redução/elimina- ção positiva dos “especialistas”, indo ao en- 6.2. Relativas ao programa de formação
ção dos que foram formados, com impor- contro de necessidades e anseios do sector. Realização de contactos com o Ministério da
tantíssimas vantagens concorrenciais téc- Os futuros especialistas serão, sem dúvida, Ciência e do Ensino Superior e com vários
nicas e económicas; das pessoas mais qualificadas para liderar e estabelecimentos de ensino superior para o
Desenvolvimento de novos métodos de levar a cabo os programas de investigação e estabelecimento de cursos superiores, e/ou
embalagem e transporte de rolhas com ga- de formação propostos. ramos de cursos superiores, e/ou especiali-
rantia para a sua estabilidade química, bac- zações, e/ou mestrados, tendo em atenção
teriológica e dimensional; 6. Ideias a desenvolver as necessidades dos sectores da transforma-
Desenvolvimento de novos métodos de ção e da produção.
ensaio para produtos de cortiça, nomea- 6.1. Relativas ao programa de investigação Avaliação, junto do tecido empresarial cor-
damente métodos indirectos para maior Dada a especificidade e a relevância nacional, ticeiro, das necessidades de formação senti-
facilidade de controlo fabril e novos mé- os projectos de I&D relativos à cortiça devem das e colaboração com os Centros de Forma-
todos de amostragem específicos; ser alvo de uma majoração (a definir quer a ção específicos na execução dos mesmos.
Desenvolvimento de equipamentos para nível de financiamento, quer a nível de ava- Definição e enquadramento de linhas de dou-
a escolha/selecção automática da cortiça, liação) na avaliação no âmbito dos vários pro- toramento na área da Tecnologia da Cortiça,
nomeadamente após cozedura, para uma gramas ou haver uma reserva do financiamento enquadradas nas prioridades de conhecimento
melhor harmonização na comercialização específico para o sector da cortiça. definidas e com orientação adequada.
e posterior processamento da cortiça; A entidade coordenadora para além de defi- Criação/utilização da instalação-piloto ante-
Desenvolvimento de novos equipamentos nir as prioridades de I&D para o sector, re- riormente referida para formação, quer a
específicos para a indústria corticeira, no- ceberia e analisaria (“filtraria”) os projectos nível mais básico quer a nível superior.
meadamente associados a novos produtos de I&D apresentados, verificando a sua con- Criação de cursos de formação especializada,
também a desenvolver (por exemplo, novas sonância com as prioridades estabelecidas e quer para pessoas com total desconhecimento
técnicas de acabamentos de rolhas); dando um parecer, que seria tomado em con- do sector corticeiro (área tecnológica), quer
Desenvolvimento de novos materiais à base sideração (valorizado) na posterior avaliação para técnicos da área, tendo em vista a sua
de cortiça, nomeadamente de alto valor científica e económica de cada programa. actualização e qualificação, nomeadamente
acrescentado, conducentes a aplicações Para isso, esta entidade deveria ser dotada de através de novas técnicas de ensino à distân-
inovadoras; uma estrutura mínima de secretariado e sub- cia, eliminando a deslocação de pessoas da
Estudos interlaboratoriais relativos a mé- contratar um conjunto de peritos para a ava- sua actividade profissional, podendo ser efec-
todos de ensaio e de caracterização de pro- liação dos projectos e restante trabalho de tuados em horários laborais ou pós-laborais,
dutos de cortiça; suporte técnico. Esta entidade poderá tam- com formadores disseminados.
Dado que não existe formação superior neste um maior valor acrescentado e diversifica- QUADRO 2
domínio, será conveniente que o programa ção dos mesmos, para métodos de produção
A – Estudo do ciclo de vida (LCA)
de doutoramento inclua uma parte escolar inovadores e ecológicos e para uma maior e de produtos de cortiça (10%)
de formação, para apoio ao desenvolvimento melhor divulgação do conhecimento e trans- A.1 – LCA das rolhas de cortiça natural
A.2 – LCA das rolhas de aglomerado e técnicas
da tese, à semelhança de alguns programas ferência de tecnologia. A.3 – LCA do aglomerado expandido de cortiça
de doutoramento existentes em Universida- A.4 – LCA dos aglomerados compostos de cortiça
des portuguesas na área da gestão. 7.4. Prioridades B – Aspectos da relação cortiça-vinho (20%)
No sentido de optimizar os meios financei- B.1 – Influência da cortiça na valorização do vinho
engarrafado
7. Plano para Programa de I&D ros, humanos e de equipamento disponível, B.2 – Tratamentos preventivos em relação à formação
relacionado com a Tecnologia da Cortiça foram identificadas prioridades, definidas de compostos que conferem gostos e odores ao
vinho
com base em linhas orientadoras estabeleci- B.3 – Tratamentos para a redução/eliminação de
7.1. Designação das quer na área da produção, quer da trans- compostos que conferem gostos e odores ao
vinho
Programa TECOR – I&D em Tecnologia da formação quer, ainda, da I&D, que são or- B.4 – Estudo das condições de estanqueidade
Cortiça ganizadas e divididas nos seguintes grupos:
C – Análise e melhoria da qualidade
I – Ciclo de vida dos produtos da cortiça (15%)
7.2. Introdução corticeiros C.1 – Estudos relacionados com a cozedura e
estabilização após cozedura
Este Programa está idealizado para uma du- II – Relação cortiça-vinho C.2 – Evolução da humidade da cortiça após tiradia
ração global de quatro anos, à semelhança III – Qualidade da cortiça C.3 – Avaliação precoce da qualidade da cortiça na
árvore
dos Programas de I&D comunitários. IV – Equipamentos específicos C.4 – Relação da composição química com a
A dotação orçamental será estudada e defi- V – Reciclagem de produtos corticeiros qualidade
C.5 – Sistemas de análise qualitativa da cortiça
nida em função das verbas geradas pela taxa VI – Métodos de ensaio
referida atrás e o Programa será regulamen- VII – Novos produtos com base D – Desenvolvimento de novos equipamentos
úteis para o sector corticeiro (15%)
tado por Portaria em D.R., podendo, como em cortiça D.1 – Equipamento de corte e extracção de cortiça na
exemplo, optar-se por uma regulamentação, VIII – Divulgação e transferência árvore
D.2 – Novos métodos de embalagem e transporte de
por exemplo, semelhante à definida para a de tecnologia rolhas
Acção 8.1 do Programa AGRO. IX – Outros aspectos técnicos D.3 – Equipamento para a escolha/selecção de cortiça
D.4 – Novos equipamentos associados a novos
Como avaliadores das candidaturas e avalia- produtos
dores do andamento do Programa serão se- D.5 – Novos equipamentos e métodos para tratamento
de resíduos
leccionados peritos independentes de re-
nome, nas áreas envolvidas, preferencial- E – Reciclagem/reaproveitamento
de produtos/resíduos (10%)
mente com uma Especialização Profissional E.1 – Reciclagem de rolhas usadas
na área. E.2 – Reciclagem de aglomerado expandido
E.3 – Reciclagem de aglomerado composto
Prevê-se que o Programa esteja aberto em E.4 – Estudo de aplicações industriais para os
contínuo relativamente à recepção de can- resíduos corticeiros
didaturas, havendo duas sessões anuais de F – Desenvolvimento de novos métodos
avaliação. de ensaio (5%)
F.1 – Métodos de ensaios indirectos e expeditos
F.2 – Novos métodos de caracterização de produtos de
7.3. Objectivos cortiça
F.3 – Estudos pré e pró-normativos
O Programa de Investigação em Tecnologia
da Cortiça tem como principal objectivo a G – Desenvolvimento de novos produtos
derivados de cortiça (15%)
produção de conhecimento de âmbito téc- G.1 – Aglomerados de cortiça com novos aglutinantes
nico, tecnológico e científico relacionado G.2 – Aglomerados de cortiça com novos produtos de
acabamento
com o conhecimento do material cortiça, G.3 – Compósitos de cortiça com outros materiais
com o seu comportamento, com a sua trans- G.4 – Obtenção de produtos químicos com interesse
G.5 – Novos métodos de fabrico
formação e ainda com a aplicação dos seus
produtos. H – Aspectos relacionados com a divulgação
e a transferência de tecnologia (5%)
Como objectivos secundários, este Programa H.1 – Aumento de escala e demonstração de
de Investigação pretende que o conheci- resultados de I&D anteriores
H.2 – Desenvolvimento de bases de dados com
mento produzido seja útil para o sector cor- interesse
ticeiro e que vá ao encontro das necessida- H.3 – Desenvolvimento de uma subernet
des e lacunas do saber existente na arte. I – Outras actividades técnicas (5%)
Outros objectivos estão relacionados com o I.1 – Ensaios interlaboratoriais
I.2 – Estudos comparativos de produtos de cortiça
facto de se pretender que este Programa de com produtos concorrentes
Investigação contribua para uma melhor qua- I.3 – Estudos relativos à interface produtos de cortiça/
indústrias e/ou aplicações afins
lidade da cortiça e dos seus produtos, para
7.5 Actividades ção da mesma e em produtos de qualidade de financiamento para cada uma destas.
Com base nas prioridades atrás estabeleci- acrescida, que poderão também ser obtidos A meio do período de execução serão colec-
das, são em seguida definidas as actividades com os novos equipamentos desenvolvidos tados dados e será formado um painel de
de investigação específicas cujas áreas de de- que optimizarão os processos de produção, peritos com experiência nas áreas de tecno-
senvolvimento se relacionam com os objec- transformação e comercialização. logia da cortiça, gestão de ciência e tecnolo-
tivos e os resultados esperados da aplicação Podem também prever-se novos produtos, gia, gestão de programas e de projectos e
deste Programa. Os projectos de I&D a de- quer obtidos através de novos equipamen- outras consideradas adequadas, que analisa-
senvolver no âmbito do Programa TECOR tos, quer por utilização de novos métodos e rão a execução do Programa e poderão re-
terão que coincidir a nível de trabalho e ob- produtos auxiliares quer, ainda, novos ma- dimensionar a sua estrutura e/ou a distribui-
jectivos com as actividades definidas, de modo teriais compósitos de interessante valor acres- ção dos meios financeiros, de modo a opti-
a corresponder aos interesses do sector para centado, com novas características e alar- mizar a sua execução e a garantir os objec-
o qual o Programa foi estabelecido. gando o espectro de aplicações. tivos e os resultados previstos.
Deste modo, as actividades e respectivas Como resultados do programa deverão tam-
sub-actividades e a dotação orçamental (em bém estar estabelecidos novos métodos de 8. Programa de formação pós graduada
% do total do Programa) seriam conforme ensaio e haver um maior apoio ao trabalho
se apresenta no Quadro 2. normativo, assim como uma maior transfe- 8.1. Mestrado
rência de tecnologia para o sector produtivo a) Designação: Curso de Mestrado em Tec-
7.6. Resultados previstos e uma maior divulgação devida à criação de nologia da Cortiça
O Programa TECOR visa dotar o sector cor- bases de dados e redes de informação e coo- b) Duração do Curso: A parte escolar do
ticeiro nacional, e por transferência de tec- peração específicas. curso consistiria de três períodos, sendo
nologia também o sector corticeiro interna- A súmula destes resultados contribuirá defi- dois com a duração aproximada de 4 meses
cional, com resultados de I&D que permi- nitivamente para um avanço do sector corti- cada e um terceiro de cerca de 1 mês para
tam resolver a maioria dos problemas tecno- ceiro nacional e para concretizar e fortalecer a execução de uma monografia, seguindo-
lógicos do sector, a antecipação de outros e a liderança deste sector a nível mundial, per- -se um trabalho de investigação com a
uma maior defesa dos seus produtos através mitindo que o sector não só reaja a proble- duração máxima de 1 ano, que conduzirá
de um melhor conhecimento dos mesmos. mas referenciados pelos utilizadores, mas à elaboração de uma dissertação.
No final da aplicação do Programa é espe- também apresente novas soluções inovadoras c) Local de Ensino: A maior parte do ensino
rado que sejam conhecidos os LCA’s (Life e exploradoras de novos conceitos nas indús- referente à parte escolar será ministrada
Cycle Assessment – Análise do Ciclo de trias e aplicações a jusante. numa instituição de I&D ao abrigo de um
Vida) pelo menos dos principais produtos
corticeiros para uma melhor avaliação com- 7.7 Medidas de acompanhamento
QUADRO 3
parativa com produtos concorrentes, aspecto Um Programa desta dimensão tem que ser
em que também serão importantes os resul- acompanhado na sua execução para redefi- Bloco I – Introdução ao sector da cortiça
1. Bibliografia e fontes de informação
tados dos estudos de reciclagem, e que o re- nição de orientações e/ou de volumes de fi- 2. Aspectos históricos
lacionamento cortiça-vinho seja optimizado nanciamento por áreas. 3. Produção florestal
4. Exploração do sobreiral
através da resolução de alguns problemas e Considera-se, assim, que será adequado que 5. Organização da produção industrial
aquisição de conhecimentos que valorizem a unidade de gestão do Programa estabeleça
Bloco II – Transformação industrial da cortiça
essa relação. uma equipa responsável pelo levantamento 1. Preparação de cortiça
Relativamente à qualidade da cortiça, é espe- periódico das candidaturas apresentadas e 2. Produção de rolhas e discos de cortiça natural
3. Produção de rolhas de aglomerado e mistas
rado que os resultados do Programa se reflic- dos projectos aprovados, por actividade e 4. Produção de aglomerado composto de cortiça
tam numa melhor e mais precisa quantifica- subactividade, assim como dos montantes 5. Produção de aglomerado expandido de cortiça
6. Outros produtos de cortiça
7. Resíduos e efluentes da transformação da cortiça
8.2. Doutoramento
Um programa de Doutoramento deve pretender proporcio-
nar aos doutorandos uma compreensão profunda dos pro-
blemas da área de Doutoramento, neste caso Tecnologia da
Cortiça, e uma formação sólida em métodos e técnicas de
investigação aplicados a essa área.
Os estudantes de Doutoramento terão como desafio um
percurso de trabalho intelectual, onde transitarão de um es-
tádio de aquisição de conhecimentos para um estádio em
que vão contribuir para a criação de conhecimento, exigindo-
se um comprometimento pessoal profundo.
Um plano de Doutoramento é um plano de estudos supe-
riores onde os alunos devem revelar capacidades para estu-
dar e realizar trabalho de investigação de forma independente,
com rigor, através de sistematização e integração de conhe-
cimentos e posterior comunicação de forma adequada.
O plano de Doutoramento, que decorrerá com o prazo má-
ximo de conclusão de 5 anos, seria composto por 4 partes,
a saber:
I – Parte escolar
II – Apresentação de seminários
III – Elaboração e defesa do projecto de tese
IV – Redacção e defesa da tese
público convidado, acerca do estado corrente e permitirá um melhor aproveitamento do 7. Normalização no sector corticeiro /
do seu trabalho de investigação. tempo e das disponibilidades de formandos 1 × 2,5 h on-line
O projecto de dissertação é a base do traba- e formadores, podendo alargar o universo 8. Patentes e Sistema Científico e Tec-
lho de investigação dos doutorandos e da sua dos primeiros e facilitar a participação dos nológico relacionados com a cortiça /
definição depende a versão final da tese. Este mais experientes (porventura mais ocupa- 1 × 2,5 h on-line
projecto deverá ser dividido nas seguintes dos) no segundo caso. 9. Qualidade (ISO; CIPR) /
partes: Neste tipo de e-learning, a formação fun- 1 × 2,5 h on-line
1. Descrição clara e pormenorizada do pro- ciona como se fosse numa sala de formação 10. Pesquisa bibliográfica e de patentes /
blema/tema que se vai investigar e da sua virtual, com todas as funcionalidades de uma 5 h presencial
importância; sala real, onde se entra e sai, se pode falar, 11. Seminário sobre tema à escolha / 5 h
2. Revisão da literatura com relevância para trocar opiniões, ver aplicações, projecções,
a análise do problema/tema e desenvol- exemplos, ficando as sessões gravadas, po- 9. Conclusão
vimento do trabalho de investigação; dendo os formandos voltar a assistir poste-
3. Definição dos objectivos e plano de tra- riormente ao que lhes interessar. Foi delineado um plano estratégico relativo
balho e da metodologia a seguir; Como características do programa de for- à investigação e formação na área de Tecno-
4. Antevisão dos resultados esperados e da mação (à distância) especializada teremos: logia da Cortiça que, a ser implementado,
sua aplicação; Formação multimédia on-line com requi- permitiria ir ao encontro de necessidades sen-
Este projecto será apresentado depois do sitos de hardware mínimos para este tipo tidas pelos vários intervenientes no sector e
final da parte escolar e aprovação da mesma. de uso; preencher as lacunas de conhecimento, de
A avaliação do projecto incidirá sobre o texto Sessões on-line com uma carga diária de modo a permitir que a fileira corticeira na-
do mesmo e do desempenho do doutorando 2,5 h, correspondente a módulos comple- cional lute com as mesmas armas que secto-
durante a sua defesa. tos; res concorrentes e dê um passo decisivo na
Todo o trabalho de preparação e de investi- Horário com padrão laboral ou pós-labo- direcção da sua maturidade e afirmação.
gação deve estar consubstanciado na tese. ral;
Esta deve ser redigida segundo normas es- Formandos têm que possuir apenas conhe-
tabelecidas pela Universidade responsável cimentos relacionados com as competên- 1 À data de elaboração do artigo.
por este doutoramento e com base no pro- cias básicas de utilização da Internet;
jecto apresentado, com um aprofundamento Ao longo do curso haverá sessões presen- * INETI
esperado para um trabalho deste teor. ciais para encontro, esclarecimento e tra-
balho conjunto;
BIBLIOGRAFIA
8.3. Formação especializada No final haverá um seminário;
Os programas de formação temáticos, para Avaliação individual com base num teste, • AGRO.GES, 1997, “O montado de sobro e a cortiça (es-
tratégia para a sua defesa e desenvolvimento)”, Relató-
terem sucesso, têm que ter formadores que apreciação de casos de estudo e participa- rio Final, Cascais.
sejam tecnicamente e pedagogicamente ade- ção individual. • Azevedo, R.; Imaginário, L., 1991, “Formação profissio-
nal no quadro das evoluções previsíveis da indústria da
quados e dinamizadores da formação mas, pa- cortiça”, Seminário Internacional sobre a Cortiça,
ralelamente, têm que ser organizados de modo Estrutura do curso Porto.
• Cobra, J.C., 1994, “A indústria da cortiça face aos de-
relacionado com os temas e os destinatários. Como exemplo de um primeiro curso mais safios da competitividade no presente e no futuro”, II
Idealizando a formação à distância sobretudo generalista que posteriormente teria cursos Jornadas Técnicas Hispano-Lusas del Corcho, S. Vicente
de Alcântara.
para formandos que se encontram em labo- sequenciais mais específicos, podemos ter: • Gil, L., 1993, “Química da Cortiça – Ponto da Situação”,
ração, esta, de acordo com a experiência de Designação: Formação para Quadros Médios Química, N.º 50, p. 20-24.
• Gil, L, 1995, “Investigação, desenvolvimento tecnológico
instituições que trabalham há algum tempo e Superiores da Indústria Corticeira e inovação no sector corticeiro”, Ingenium, Ano IX, N.º
neste tipo de formação, deverá ser dividida Programa: 82, p. 45-56.
• Gil, L., 1998, “Cortiça: Produção Tecnologia e Aplica-
em pequenos módulos e deverá ser certifi- 1. Produção industrial: tipos e ção”, Ed. INETI, Lisboa.
cada por uma entidade competente. organização / 1 × 2,5 h on-line • “Inovação-Indústria Portuguesa”, Observatório do M.I.E.,
1992.
A formação à distância on-line permitirá que, 2. Novas tecnologias de transformação • Michael Porter, 1994, “Construir as vantagens competi-
quer os formandos, quer os formadores, es- da cortiça / 2 × 2,5 h on-line tivas de Portugal”, Ed. Fórum para a Competitividade,
Lisboa.
tejam em qualquer lugar desde que com 3. Processos de tratamento de resíduos • P. Cortiço, L. Gil, “Pesquisa de patentes na área da cor-
acesso a um computador e ligação à Inter- e efluentes da indústria corticeira / tiça (Período 1996-1998)”, Rev. Florestal, Vol. XI, n.º 2,
1998, p. 51-53.
net. As novas tecnologias permitem que a 2 × 2,5 h on-line
formação seja ministrada com a voz do for- 4. Morfologia da cortiça / www.efn.com.pt; www.esa.ipcb.pt;
www.guiadoestudante.pt; www.ibet.pt; www.ifea.pt;
mador em tempo real, passando no monitor 2 × 2,5 h on-line www.inia.min-agricultura.pt; www.isa.utl.pt;
o texto/figuras de apoio, podendo os for- 5. Constituição química da cortiça / www.ist.utl.pt; www.ipb.pt; www.itqb.unl.pt;
www.terravista.pt/Nazare/1573;
mandos intervir em qualquer fase e intera- 1 × 2,5 h on-line www.uc.pt; www.uevora.pt; www.utad.pt;
gir quer com o formador, quer com os co- 6. Ensaios físico-químicos de cortiça www.ualg.pt; www.uc.pt; www.ul.pt;
www.unl.pt; www.utl.pt.
legas. Este tipo de tecnologia será muito útil e derivados / 5 h presencial
1 A primeira parte deste artigo foi publicada na edição de Setembro de 2000 desta Revista. Razões diversas, inclusivamente editoriais, impediram uma maior aproximação entre essa parte e a que
agora se apresenta.
2 Como referido anteriormente, foi nesse Laboratório, o Royal Aircraft Establishment, no Reino Unido, que trabalhou Griffith, realizando os seus trabalhos pioneiros sobre a fractura.
3 Adiante será definido o significado do conceito de fadiga.
Entre 1948 e 1966, graças aos esforços de mico, microestrutural ou macroscópico, de- afectam o seu comportamento, favorecendo
Irwin, Orowan e outros investigadores, pu- pendendo da escala da observação. Num ex- a fractura:
deram ser estabelecidos os princípios bási- tremo encontra-se a abordagem atómica onde estado triaxial de tensão, que pode ser
cos da Mecânica da Fractura (M. F.), mas só os fenómenos de interesse tomam lugar no criado por uma fissura ou outra condição
na década de sessenta foi esta importante material dentro de distâncias da ordem de geométrica.
área da ciência aplicada extensivamente à 10–9 m, e o seu estudo baseia-se nos concei- baixa temperatura, inferior à designada
industria aeronáutica, que usa materiais de tos da mecânica quântica. No outro extremo, temperatura de transição dúctil-frágil, e
alto desempenho e grande criticalidade, es- encontra-se a abordagem da mecânica dos cargas de impacto, correspondendo a altas
tendendo-se sucessivamente a outros cam- meios contínuos, considerando o comporta- taxas de deformação.
pos, como construção naval, centrais nuclea- mento do material a distâncias iguais ou su- Um conceito importante da M.F. é a tena-
res, reservatórios de pressão, pipe-lines, es- periores a 10–4 m. cidade ao entalhe, definido como a capaci-
truturas off-shore, etc.. A complexa natureza do fenómeno da frac- dade do material em absorver energia (em
Diversos casos importantes de colapsos de- tura não tem permitido um tratamento uni- geral quando carregado dinamicamente), em
vido a fractura foram, apesar dos aspectos ficado, pelo que diferentes teorias foram for- presença de uma fissura ou entalhe. Essa
trágicos, servindo como decisivas etapas na muladas para cada uma das abordagens. Con- propriedade deve ser medida por ensaios es-
compreensão dos mecanismos da fractura, sequentemente, um dos objectivos básicos tabelecidos pela M.F. (de que adiante se fará
e levando ao desenvolvimento de procedi- da Mecânica da Fractura deverá ser o esta- referência) ou pelo ensaio Charpy com pro-
mentos de projecto, construção e utilização belecimento de relações entre elas. vete entalhado, designado na literatura anglo-
que pudessem minimizar esses riscos. A abordagem da mecânica dos meios contí- -saxónica por Charpy V-notch test (referido
Em l948, George R. Irwin, trabalhando no nuos, que interessa sobretudo à Engenharia na 1.ª parte deste artigo), ou outros ensaios
U. S. Naval Research Laboratory, em Wa- Mecânica, é a que será referida neste artigo. afins. O incremento da tenacidade ao enta-
shington, sugeriu que o critério de fractura Ela considera naturalmente o material con- lhe com a temperatura conduz à abordagem
de Griffith para os materiais idealmente frá- tínuo e homogéneo e assume a existência, do projecto para aços estruturais com base
geis poderia ser modificado e aplicado igual- no seu seio, de defeitos largamente superio- no conceito de temperatura de transição.
mente aos materiais dúcteis, isto é, os que res às dimensões das suas características mi- Nessa abordagem, determinado nível de te-
exibem deformação plástica antes da rotura4. croestruturais. nacidade ao entalhe é seleccionado como
Uma modificação similar foi proposta por Uma grande variedade de defeitos poderá representando o adequado valor de tenaci-
E. Orowan, sensivelmente pela mesma al- ser encontrada num determinado compo- dade para uma estrutura particular. Um dos
tura. Essa alteração reconhecia que a resis- nente ou estrutura. Considerando o conceito níveis frequentemente usados, a partir de
tência de um material à fractura compreen- de defeito em sentido lato, ele abrange im- ensaios Charpy com provete entalhado, é o
dia a soma da energia elástica de superfície perfeições do material, defeitos introduzi- estabelecido aquando das fracturas de navios
e do trabalho de deformação plástica que dos por deficiências de projecto, defeitos “Liberty”, referido na primeira parte deste
acompanha a extensão da fissura. Irwin mos- gerados pela fabricação da peça e pelas con- artigo. De notar que determinados materiais,
trou ainda que o campo de tensões existente dições mecânicas e ambientais de serviço. como por exemplo ligas de alumínio, de ti-
na vizinhança da extremidade de uma fenda Os defeitos inerentes ao material incluem, tânio e muitos aços de elevada resistência,
obedecia a uma determinada distribuição, por sua vez, grande diversidade de casos, não exibem esse comportamento com tem-
função da posição do ponto em questão, ex- desde porosidade e inclusões a fendas origi- peratura de transição5.
presso em coordenadas polares. Uma nova nadas por tratamentos térmicos, incluindo Uma vez a fenda desenvolvida, a relativa se-
filosofia de projecto é então introduzida pela também certos aspectos de morfologia mi- veridade da concentração de tensão pode ser
Mecânica da Fractura, em contraposição aos croestrutural, como bandeamento de orien- reduzida, impedindo ou dificultando o seu
critérios tradicionais, uma vez que na prá- tação desfavorável devido a laminagem, exis- prosseguimento, por travadores de fenda
tica não são admissíveis materiais, compo- tência de uma segunda fase mais frágil, limi- (crack arresters), por exemplo fazendo um
nentes e estruturas sem defeitos. A M. F. é tes de grão, certas microestruturas de reve- furo centrado na extremidade dessa fenda,
baseada na análise de tensões a partir do co- nido, etc.. Esses defeitos são descontinuida- o que corresponde a passar o raio de curva-
nhecimento da tenacidade do material, da des do material que, sob determinadas con- tura natural da sua extremidade para as di-
tensão nominal e da dimensão da fissura para dições, se podem propagar até à rotura do mensões do furo6.
cada caso de um componente estrutural. componente. Para estudar o problema do crescimento de
O fenómeno da fractura pode ser abordado Para um dado material, três importantes si- uma fenda, de uma lacuna ou de outro de-
a partir de diferentes pontos de vista: ató- tuações (não necessariamente simultâneas) feito pré-existente, a análise de tensões é
4 A fractura pode ser classificada sob o ponto de vista macroscópico em fractura frágil e fractura dúctil. A primeira corresponde a baixa energia, produz-se com pouca ou nenhuma deformação plástica
e sob alta velocidade. A fractura dúctil ocorre após uma deformação plástica mais ou menos extensa, estando associada a altas taxas de dissipação de energia e baixa velocidade de propagação.
5 Alguns metais, como o alumínio, o cobre e o níquel, têm uma estrutura cristalina cúbica de faces centradas e são dúcteis a qualquer temperatura. O ferro abaixo de ~700º C tem uma estrutura
cúbica de corpo centrado e apresenta a curva de transição frágil dúctil. Acima daquela temperatura, a estrutura é cfc (austenite). Determinados teores de crómio e níquel podem alargar o domínio
austenítico até baixas temperaturas tornando o aço dúctil.
6 Esse procedimento foi proposto em l9l5 por William Jordan para travar o crescimento da fenda do “Sino da Liberdade”, famoso símbolo da independência dos E. U., existente em Filadélfia, que
apresentava então uma fractura com tendência a propagar-se. Na altura desconheciam-se esses conceitos, e não tendo sido concretizado o procedimento proposto, permitiu-se que a fenda
progredisse e duplicasse de comprimento, atingindo praticamente toda a altura do sino.
complementada pela predição do local onde são diferentes, submetidas a tensões diferen- ou provete, atingindo para determinada es-
a fenda poderá ocorrer. Diversos critérios tes, comportar-se-ão de forma idêntica se a pessura um valor mínimo, correspondente
têm sido formulados, cada um envolvendo elas estiver associado o mesmo valor do K. a um estado plano de deformação, perma-
um parâmetro relacionado com a perda de O valor crítico do factor K é propriedade de necendo constante a partir daí. Esse valor é
continuidade do material, e estabelecendo cada material e denomina-se Tenacidade à que é tomado como Kc (factor de intensi-
um valor crítico que quantifique a resistên- Fractura, Kc, que exprime assim a capaci- dade de tensão crítica) do material em causa.
cia do material à fractura. dade do material em resistir à fractura em Consequentemente é necessário definir para
A Mecânica da Fractura Linear Elástica presença de fendas, ou seja o valor de K a cada caso a espessura limite que origina o
(MFLE), desenvolvida por Irwin, é baseada partir do qual uma fissura presente no ma- estado plano de deformação. As normas
num método analítico que relaciona a dis- terial se propaga de forma instável (fig. 3). ASTM impõem B ≥ 2.5 (KIC/σy)2. Mas re-
tribuição e o valor do campo de tensões na pare-se que, como nessa expressão figura o
vizinhança da ponta da fenda com a tensão próprio factor KIC, a sua determinação ex-
nominal aplicada ao componente estrutural, perimental obriga por vezes a uma sequên-
as características geométricas da fenda e as cia cíclica de ensaios para estabelecer o valor
propriedades do material. mínimo da espessura, B, para que as zonas
O projecto com base na Mecânica da Frac- que sofrem deformação plástica possam ser
tura necessita, portanto, do conhecimento desprezadas, ou seja, para que a rotura se
da dimensão crítica do defeito e do parâme- Figura 3 – Comparação de conceitos processe em condições quase-elásticas.
de Factor de Intensidade de Tensão (K) e
tro que possa caracterizar a capacidade do Tenacidade à Fractura (Kc). O primeiro traduz Verifica-se, porém, casos de materiais apli-
defeito a propagar-se. Esse parâmetro deve, o “esforço da fractura” e o segundo representa cados em grandes estruturas, como pontes,
a “resistência” do material à fractura.
por sua vez, poder relacionar os resultados Esta dá-se conseguinte K > Kc navios, reservatórios de pressão, etc., terem
obtidos em ensaios laboratoriais com o de- espessuras de interesse insuficientes para
sempenho efectivo da estrutura, de modo a Os valores de Kc podem ser determinados manterem um estado plano de extensão sob
que o comportamento de uma estrutura com por ensaios, seguindo normas estabelecidas. cargas e temperaturas impostas pelo serviço.
fendas possa ser prevista por ensaios labora- Para os materiais mais correntes estão devi- Nestes casos, a análise linear-elástica usada
toriais. Esse parâmetro denomina-se Factor damente tabelados em função da tempera- para calcular o parâmetro K é invalidado pelo
de Intensidade da Tensão – K, função da di- tura de ensaio, pois, em princípio, a tenaci- comportamento elasto-plástico e consequente
mensão da fenda (a), das condições de car- dade aumenta com a temperatura. formação de zonas de plastificação relativa-
regamento (σ - tensão remota) e da geome- Considerando então um componente de um mente extensa na ponta da fenda, tornando
tria componente e da fenda e seu posiciona- determinado material, caracterizado pelo seu necessária a utilização de conceitos mais ade-
mento (materializadas num parâmetro adi- valor de tenacidade, Kc, a sua segurança é quados.
mensional Y). Será então K = Y σ (π a)1/2. determinada quantitativamente, em termos Surge, então, uma nova abordagem de aná-
A determinação do parâmetro K pode ser de fractura, a partir de um dos dois crité- lise, constituindo a Mecânica da Fractura
feito por via analítica, numérica ou experi- rios: Elasto-Plástica (MFEP), que definiu para essas
mental7. assumindo-se a existência de uma fenda condições parâmetros apropriados, dos quais
O parâmetro K deve ser afectado de índices de determinada dimensão a, calcula-se a os mais importantes são os seguintes:
I, II ou III, correspondentes aos três modos tensão critica σc que o órgão poderá su- deslocamento da abertura da ponta da
básicos de deformação de um corpo fissu- portar σc =K c / Y (π a)0.5; fenda (mais vulgarizada pela denominação
rado. O modo I – modo de abertura – é ca- considerando o órgão sujeito a determi- anglo-saxónica crack-tip opening displace-
racterizado pelo afastamento das duas su- nada carga e consequente tensão s, deter- ment (CTOD), proposto em l961 por A.
perfícies da fenda por aplicação de um car- mina-se a dimensão crítica, ac que uma A. Wells e desenvolvido na mesma altura
regamento perpendicular à direcção de pro- fenda poderá atingir, vindo ac = K c 2 / por D.S. Dugdale. Trata-se da medida da
pagação da mesma, e é o mais importante e π2(Ys). deformação que antecede imediatamente
mais comum; no modo II – modo de escor- O factor de intensidade de tensão é aplicá- à fractura na ponta de uma fissura sob con-
regamento – e no modo III – modo de rasga- vel nos casos de extensão estável da fissura dição de comportamento inelástico. Adian-
mento – as superfícies da fenda deslizam uma e o desenvolvimento da MFLE tem permi- te se define com maior precisão este con-
sobre a outra mediante forças de corte ac- tido um crescente conhecimento do fenó- ceito;
tuantes no plano da fenda, diferindo porém meno do crescimento sub-crítico da fissura integral J, proposto em l968 por Rice. Con-
os casos por o deslizamento das superfícies e da fractura instável final. siste no integral, independente do per-
ser, respectivamente, na direcção perpendi- Um aspecto importante que se deve frisar é curso, que fornece uma medida média do
cular e paralela à frente da fenda. o efeito da espessura do componente no valor campo de tensão e extensão elasto-plás-
Da definição de factor de intensidade de ten- da tenacidade. Esta grandeza decresce com tico na ponta da fenda. (Na realidade, este
são, K, conclui-se que duas fendas de dimen- o aumento de espessura, B, do componente parâmetro deve ser aplicado a materiais
7 O símbolo K foi estabelecido em homenagem a J. Kies, colaborador de Irwin e activo participante no desenvolvimento deste conceito.
com comportamento elástico não linear, safe life se tornasse mais crítica e que au- cargas; iii) sistemas de travamento de fen-
podendo simular então, com os cuidados mentasse o efeito detrimental dos defei- das (crack stoppers) quando possível; iv) téc-
devidos, situações em que ocorra plastifi- tos, anteriormente considerados como de nicas de previsão de crescimento sub-crítico
cação); importância menor. Este procedimento de fendas e de inspecção periódica.
curva de R, método para a caracterização implica então que uma determinada vida Grande número de projectos é englobado
da resistência à fractura de materiais du- deve ser prevista e que antes do final desse numa conjugação das duas filosofias básicas:
rante um incremento estável da fenda. período a estrutura deva ser reparada ou safe-life e fail-safe.
A descrição mais pormenorizada desses mé- mesmo retirada; Os conceitos actuais da M.F. permitem es-
todos não cabe evidentemente dentro do fail-safe (desenvolvida a partir de 1960)9 tabelecer inequivocamente que os defeitos
contexto deste artigo. O leitor interessado - impõe, em contrapartida, que a estru- mais graves, que podem dar origem ao co-
pode encontrar abundante desenvolvimento tura, embora tendo sofrido determinada lapso de componentes e estruturas, são os
desse tema, e de outros abordados no pre- extensão de dano durante o tempo de ser- defeitos planos pela sua decisiva contribui-
sente artigo na literatura citada no fim8. viço, deva possuir uma resistência residual ção para o decremento da resistência mecâ-
Fazem-se aqui unicamente mais algumas re- que garanta a capacidade de suportar sa- nica. É o caso, por exemplo, de fissuras em
ferências ao parâmetro CTOD, que é o mais tisfatoriamente as cargas previstas no pro- materiais, de um modo geral, ou as falhas
abrangente e de mais simples e económica jecto até que o dano seja detectado e ac- de fusão em soldaduras. Os defeitos volú-
obtenção. ções correctivas apropriadas sejam toma- micos, como porosidades, parecem compor-
Uma tensão aplicada a um componente que das. Prevê, por conseguinte, a inevitabili- tar um risco muito menor. A M. F. põe tam-
contém uma fissura tende a alargar a fenda, dade de ocorrência e presença de fissuras bém em evidência que a dimensão de um
por afastamento das suas faces, de uma ex- e impõe a realização de inspecções a inter- defeito em profundidade é significativamente
tensão δ, numa direcção normal ao seu plano. valos determinados, embora os limites do mais importante que o seu comprimento, e
A partir de determinado valor dessa exten- risco máximo não sejam explicitamente que os defeitos localizados à superfície ou
são, a fenda rompe-se novamente e avança. definidos. É aplicada, por exemplo, em com ela comunicando são mais graves que
Esse é o valor crítico δc, a determinar. O en- toda a estrutura primária dos aviões, de os defeitos embebidos.
saio respectivo é, portanto, baseado na de- modo a que a ruína de um componente A detecção de defeitos deve ser interpretada
terminação da extensão crítica da fractura a não implique a falha catastrófica de toda (e sancionada) em termos da adequação do
partir de um registo carga versus desloca- essa estrutura. componente inspeccionado à sua utilização,
mento, que não requer qualquer análise de damage tolerant design (projecto tolerante ou seja à fiabilidade do componente nas con-
tensões. Com algumas restrições impostas ao dano) – (aprofundamento da anterior, dições de serviço para que foi concebido e
por normas (por exemplo as ASTM), o mé- a partir de 1975) –, assumindo igualmente fabricado. O critério de actuação não pode
todo de ensaio CTOD é o mais aplicado para a inevitabilidade das fendas de fadiga. Aplica perder de vista o fim a que se destinam os
toda a região de temperatura de transição os métodos da Mecânica da Fractura no componentes examinados e os diferentes
que é a de maior interesse para a maioria sentido de prever o número de ciclos ad- graus (níveis) de solicitações em condições
dos aços estruturais. Dentro de determina- missíveis, os intervalos de inspecção im- normais de serviço, introduzindo-se, assim,
das regiões de validade estão estabelecidas postos, a taxa de crescimento do dano e o a noção de adequação à utilização.
correlações entre os parâmetros da MFLE e valor da correspondente resistência resi- A Mecânica da Fractura pode fornecer o “back-
da MFEP. dual. Destes conceitos resulta o estabele- ground” e as ferramentas para tomada de de-
Por outro lado, têm sido propostas e desen- cimento de códigos que devem presidir ao cisão para a correcta escolha de alternativas
volvidas filosofias de projecto e análise, em projecto de novas estruturas, nomeada- nas diferentes actividades de projecto, fabrico,
termos do reconhecimento das reais (em mente aeronaves, e a certificação das que montagem e controle de qualidade.
oposição a ideais), condições de produção e já estão em serviço. Um conceito similar No projecto de engenharia podem-se esco-
serviço dos materiais e estruturas. São elas: é o designado fit for purpose. lher materiais ou optar por detalhes de con-
safe life (vulgarizada entre 1950 e 1960) A resistência residual é determinada a par- cepção que sejam relativamente tolerantes
- geralmente compreendida como havendo tir do máximo dano que a estrutura suporta em relação à presença de fenda, ou mesmo
uma extrema improbabilidade de uma antes que se produza a rotura catastrófica. prever determinadas redundâncias, de modo
falha catastrófica dentro do período de Os princípios que devem ser seguidos para a que a fractura de um componente não im-
vida prevista pelo projecto e garantida por a concepção segundo as duas últimas filoso- plique falha catastrófica da máquina ou da
ensaios de fadiga realizados quer sobre os fias são os seguintes: i) utilização de mate- estrutura.
componentes, quer sobre a própria estru- riais de alta tenacidade (permitindo grandes Inspecções periódicas são sempre necessárias,
tura. Materiais avançados com valores ele- fendas visíveis antes da fractura instável, evitando, assim, que uma fenda existente
vados de resistência convencional deram baixa taxa de crescimento, alta resistência possa propagar até uma dimensão crítica,
origem a que a validação do conceito de residual) ii) redundância nos “percursos” das antes que seja detectada e convenientemente
reparada. Os procedimentos de inspecção e tura tem duas vertentes de actuação signifi- fabrico de componentes em aço, porque há
detecção incluem-se na denominada Inspec- cantes: possibilidade de trajectórias contínuas para
ção Não Destrutiva (IND), que engloba di- a primeira considera a inevitabilidade da a propagação das fissuras, aliada ao facto de
versos métodos: inspecção visual, líquidos presença de defeitos na estrutura e baseia certos defeitos de soldadura serem graves
penetrantes, magnetoscopia, ultra-sons, ra- a determinação da tensão de fractura em pontos de nucleação de fissuras. Em peças
diação, etc.. Cada um desses métodos tem termos das propriedades do material, quan- rebitadas, as eventuais fissuras podem, em
vantagens e limitações, não havendo assim tificada pela tenacidade e o tamanho pre- geral, ser detidas nessas junções. No entanto,
um método universal. A escolha do método visto da fenda; esta vertente está mais li- a soldadura como processo tecnológico de
mais adequado depende da situação especí- gada à engenharia de projecto; construção metálica tem indubitáveis vanta-
fica e dos meios disponíveis. a segunda envolve a melhoria da tenaci- gens técnicas e económicas.
A reparação de uma estrutura atingida por dade do material por manipulação micro- Do que foi relatado verifica-se que é só na
dano requer o conhecimento de determina- estrutural e/ou o desenvolvimento de novos segunda metade do século XX que a Mecâ-
dos parâmetros, como sejam: dimensão e materiais com propriedades acrescidas e, nica da Fractura começa verdadeiramente
morfologia do dano e a sua taxa de cresci- naturalmente, está mais relacionada com a ter expressão, firmando-se como um do-
mento até ao valor crítico, a resistência re- a engenharia de materiais. mínio de conhecimento fundamental, em
sidual e o tempo de vida remanescente. A Normalmente, dentro de determinada classe face do crescente desenvolvimento de es-
reparação envolve a substituição do compo- de materiais, a melhoria da tenacidade está truturas fixas e móveis que, quer pela sua
nente, a sua alteração, o reforço, etc.. associada à maior ductilidade e consequen- dimensão e elevados custos, quer pelas ex-
Uma vez produzida a fractura deve-se evi- temente a uma diminuição da resistência es- tremas condições de trabalho, quer ainda
dentemente estudar as suas causas no sen- tática, e vice-versa, o que constitui um difí- pela gravidade de risco que podem apresen-
tido de se tentar impedir a sua repetição em cil dilema. Há, consequentemente, que es- tar, merecem particular atenção. A fiabili-
circunstâncias idênticas. Este estudo com- tabelecer um compromisso, geralmente tra- dade e a durabilidade passam, naturalmente,
preende determinados procedimentos, que duzido pela escolha do material com maior a ter importância decisiva no projecto dos
começam pelo conhecimento do historial do tenacidade para uma tensão de cedência de- equipamentos e das estruturas e na respec-
componente, sua fabricação e condições de sejada. O custo é geralmente um factor tam- tiva selecção de materiais.
serviço, nomeadamente no momento de bém interveniente no compromisso. Em ter- Paralelamente ao desenvolvimento da Me-
fractura. mos industriais, um refinamento microes- cânica da Fractura, intensificou-se o estudo
Um instrumento de indiscutível importân- trutural conduz geralmente a resultados sa- de outras áreas correlacionadas ou interliga-
cia para o estudo da fractura é a interpreta- tisfatórios. das, como a Fadiga, a Fluência, a Corrosão
ção da morfologia da superfície fracturada, Existem critérios de fractura que são stan- sob Tensão, a Fadiga com Corrosão, a Fa-
o que constitui a Análise Fractografia. Ini- dardizações em relação às quais o compor- diga-Fluência, etc..
ciada com a observação visual e a microsco- tamento à fractura de uma estrutura deve O fenómeno que posteriormente se deno-
pia óptica, a compreensão dos mecanismos ser apreciado. Em termos gerais, esses cri- minou por Fadiga foi detectado em meados
da fractura atingiu grande desenvolvimento térios podem ser correlacionados com três do século XIX, quando o alemão August
com o advento da microscopia electrónica. níveis diferentes de comportamento, nome- Wohler (1819-1914), engenheiro de cami-
Efectivamente, através da observação dessa adamente linear elástico (estado plano de nhos-de-ferro, estudou o comportamento
superfície por microscopia electrónica de var- extensão), elástico-plástico ou totalmente de eixos de carruagens, submetidos a esfor-
rimento, MEV – que permite elevadíssimas plástico. Este último caso seria o teorica- ços alternados. O interesse de Wohler por
ampliações, da ordem de dezenas de milha- mente desejável, mas tornava-se economi- esse estudo foi despertado pelas fracturas
res de vezes, e grande profundidade de campo camente irrealizável. súbitas ocorridas em eixos de equipamento
– poder-se-á inferir quanto ao tipo e meca- Os factores envolvidos na definição de um ferroviário após determinados períodos de
nismos de fractura, a origem da mesma, a critério de fractura compreendem: serviço.
direcção de propagação, etc.. conhecimento das condições de serviço da Entre 1850 e 1875, Wohler realizou exaus-
Complementarmente, com o auxílio da mi- estrutura (carga aplicada, velocidade dessa tivos ensaios, em veios à escala natural e em
croscopia óptica observa-se lateralmente o aplicação, temperatura, etc.); provetes, no sentido de determinar o nú-
perfil da fenda, procurando analisar as mi- o nível desejado de desempenho (estado mero de reversões da carga que o material
croestruturas percorridas pela mesma, de- plano de tensão, regime elasto-plástico); poderia suportar a cada nível de tensão, antes
tectando possíveis zonas frágeis, o que tem as consequências de uma eventual falha de se fracturar. Reproduzindo os resultados
importância crucial em vários casos, nome- (danos pessoais e materiais, e sua gravi- obtidos sob a forma de um gráfico tensão -
adamente nas ZAT (zonas afectadas pela dade). número de ciclos (curvas S-N), verificou que
temperatura) em cordões de soldadura, bem A fractura frágil tornou-se um fenómeno o número de reversões10 aumentava com o
como em zonas de plastificação. particularmente importante com a introdu- abaixamento da tensão aplicada e que, para
O projecto com base na resistência à frac- ção da soldadura como principal técnica de o ferro e o aço, havia um nível de tensão al-
ternada abaixo do qual não ocorria fractura, tensão, tensão máxima, frequência e cons- o artigo em que Paris expunha essa relação
qualquer que fosse o número de ciclos, es- tância ou variabilidade da tensão), os ineren- foi, de início, prontamente rejeitado por três
tabelecendo, assim, o conceito de tensão li- tes às propriedades metalúrgicas e geomé- importantes revistas científicas, cujos refrees
mite de fadiga. (Mais tarde verificou-se que tricas do componente, e os devidos às con- simultaneamente consideraram que seria im-
metais não ferrosos, como o alumínio, não dições ambientais. possível que um parâmetro elástico (K – fac-
apresentavam esse patamar nas suas curvas Nos cem anos que se seguiram aos trabalhos tor de intensidade de tensão, atrás referido)
S-N, ou seja, a tensão é sempre decrescente de Wohler, diversos investigadores deram pudesse intervir nos efeitos das taxas de cres-
para o aumento do número de ciclos Para valiosos contributos para o desenvolvimento cimento de fenda. Mas é certo que, hoje, a
estes casos, define-se então uma tensão li- dessa área: Gerber (l874), Bauschinger (l885), Lei de Paris é de importância fundamental
mite convencional, da ordem de 108 ci- Goodman (l899), Ewing e Humprey (l903), no cálculo de vida de componentes sujeitos
clos). Jenkin (1923), Moore e Kommers, Basquin, a fadiga. A simplicidade dessa expressão per-
A Fadiga é, portanto, o processo de ruína (1901), Soderberg (l930), etc.. Durante as mite a estima da vida útil de um compo-
progressiva de materiais causada por apli- décadas de trinta e quarenta do séc. XX, a nente sujeito à fadiga, integrando a equação
cação de ciclos repetidos de tensão ou defor- investigação no campo da fadiga foi predo- anteriormente apresentada, entre as dimen-
mação do que resulta falha prematura dos minantemente devotada ao estabelecimento sões inicial ai e final af da fissura. Outros in-
mesmos. Um ciclo de fadiga é determinado dos efeitos dos factores, atrás citados, que vestigadores, como Forman, propuseram fór-
fundamentalmente por dois parâmetros de influenciam a vida de fadiga. mulas mais elaboradas, com a mesma fina-
tensão – a amplitude e a tensão média. Até à Segunda Grande Guerra, a maior parte lidade, mas a lei de Paris, precisamente pela
Quase todos os tipos de estruturas estão su- dos resultados experimentais dizia respeito sua simplicidade, continua sendo a mais vul-
jeitas a este modo de ruína. O processo de a fadiga com alto número de ciclos, pouca garizada.
Fadiga inicia-se geralmente (embora não atenção sendo prestada ao estudo da fadiga No caso de aplicação sequencial de vários
sempre) na superfície do metal, num ponto para a gama de baixo número de ciclos. Foi, regimes de amplitudes de tensão, o dano
de concentração de tensão pré-existente. porém, constatado que a certo tipo de equi- total resultante é postulado como sendo a
Uma pequena fenda aparece então e este pamentos (como reservatórios de pressão, soma dos danos incrementais produzidos por
estágio inicial denomina-se nucleação. Se os fuselagens pressionadas, mecanismos de trem cada nível de tensão. Embora este conceito
ciclos de carga alternada continuam, a fenda de aterragem, flaps controladores, mísseis, pareça simples, muitas dificuldades têm sur-
propaga-se com maior ou menor velocidade, equipamento de lançamento de naves espa- gido na sua aplicação. A primeira teoria de
dependendo do material e da carga (não só ciais, etc.), submetidos a esforços muito ele- acumulação de dano foi proposta por Palm-
o valor da carga máxima, como a amplitude vados, somente uma vida relativamente curta gren, em 1924, e mais tarde desenvolvida
da alternância). O número de ciclos até à era exigida. Consequentemente, o interesse por Miner, em 1945. A hipótese de Palm-
fractura compreende, assim, os ciclos reque- por esse tipo de fadiga (fadiga oligocíclica) gren-Miner considera que a fracção de dano
ridos para a iniciação da fissura (Ni) e os re- aumentou visivelmente. Introduziu-se, então, produzido por cada nível de tensão é linear-
queridos para a sua propagação até uma di- uma abordagem da fadiga através da relação mente proporcional à relação entre o número
mensão crítica que origina a fractura instável ε – N (extensão vs. número de ciclos), mais de ciclos verificado ni e o número total de
(Np), ou seja, Nt = Ni + Np. adequada ao estudo desse caso. ciclos possíveis até à rotura nesse regime, Ni,
Em virtude de, na fase inicial, as fendas de Coffin e Manson estabeleceram, nos anos ou seja di = ni / Ni. O dano total devido à
fadiga serem muito pequenas e situarem-se cinquenta, as relações quantitativas entre a aplicação de vários regimes será então D =
por vezes em zonas da estrutura ou do com- extensão plástica e a vida de fadiga, comple- Σ(ni / Ni). A rotura ocorrerá se esse soma-
ponente de difícil acesso, pode haver ex- mentando o que no início do século Basquin tório for D ≥ 1. O facto desta regra negli-
trema dificuldade na sua detecção. Não ha- havia formulado para a extensão elástica. genciar a sequência da aplicação das cargas
vendo uma inspecção cuidada, a fenda pro- Morrow e outros investigadores modifica- cíclicas tem sido um dos seus pontos con-
paga-se e, uma vez atingida a dimensão crí- ram essas expressões entrando em conta com troversos. Mas a sua simplicidade leva-a a
tica, a fractura torna-se instantânea, rom- a tensão média, o que é realmente impor- uma aplicação generalizada.
pendo completamente o componente. tante. Recentemente, o processo de fadiga tem
Uma observação da superfície de fractura Significantes contribuições foram feitas na sido sujeito a profunda investigação, no as-
detecta, então, duas zonas de aspectos dis- década seguinte: Irwin e diversos outros in- pecto microestrutural, à luz da moderna te-
tintos: vestigadores foram os pioneiros na aplicação oria das deslocações.
zona de progressão lenta da fenda por fa- da Mecânica da Fractura à Fadiga. Paris, em A Fluência é outro importante modo de ruína
diga, brilhante, com aspecto peculiar, apre- 1963, quantificou a relação que permite cal- dos materiais quando sujeitos a cargas apli-
sentando em geral estrias de fadiga, e cular a velocidade de propagação das fendas cadas durante longo período de tempo e, so-
zona de fractura final instantânea , que de fadiga em função de K (determinado bretudo, a temperaturas elevadas. Resulta,
apresenta uma textura baça e granulada. pelos valores máximo e mínimo da tensão) portanto, da interacção desses três factores
Diversos parâmetros afectam o comporta- e de duas constantes, C e m, específicas do (ε = f (σ,T,t)). Por conseguinte, a fluência
mento à fadiga de componentes estruturais. material considerado, obtendo a expressão é comum em motores aeronáuticos, tuba-
Os relacionados com a tensão (amplitude da da/dN = C Km (Lei de Paris). Refira-se que gens de caldeiras e permutadores de calor,
centrais térmicas e nucleares e outros órgãos cos, caldeiras e reservatórios de pressão, pipe- custos financeiros astronómicos, dos quais
trabalhando a alta temperatura. Os primei- -lines, pontes de vãos inimagináveis, com- uma certa percentagem poderia ser redu-
ros estudos de fluência devem-se a E. N. boios de alta velocidade, arranha-céus cada zida. Estudos efectuados nos Estados Uni-
Andrade, no início do século passado, que vez mais merecendo esse nome, barragens dos e, posteriormente, na Europa Comuni-
apresentou o comportamento de materiais hidroeléctricas ciclópicas, etc., são exemplos tária levaram à conclusão de que os efeitos
sujeitos a carga constante ao longo do tempo, de estruturas modernas cujo projecto e ser- económicos da fractura (incluindo os meios
definindo a curva ε– t. viço não podem deixar de atender aos prin- de prevenção), num país medianamente in-
Da conjugação de esforços cíclicos com a cípios da M. F. dustrializado, ascendiam anualmente a 4%
alta temperatura resulta a interacção fadiga- As interacções entre os avanços tecnológicos do seu produto nacional bruto! Não obstante
fluência, fundamental em casos como pás no domínio dos materiais e dos métodos de nunca ser possível, obviamente, uma total
de turbina e outros órgãos sujeitos a condi- os ensaiar e caracterizar, e o seu relaciona- anulação desses custos, importantes redu-
ções similares. mento com as causas imediatas e remotas ções serão desejáveis e possíveis, mediante
O desenvolvimento progressivo de sistemas dos desastres que foram ocorrendo, consti- uma actuação sobre o projecto, a selecção
mecânicos trabalhando a altas temperaturas tuem importantes fontes de investigação e de materiais, a fabricação e a utilização dos
tem incentivado o estudo aprofundado desse desenvolvimento a decorrer actualmente e, equipamentos, a introdução de códigos e
tipo de ruína., e a criação de ligas metálicas decerto, continuando também no futuro. standardizações, a qualificação de projectis-
(superligas de níquel e de cobalto, metais Muitos dos trabalhos de investigação desen- tas e operadores, a implementação de meios
refractários) e materiais cerâmicos resisten- volvidos na segunda metade do séc. XX eficazes de inspecção e controle, a rápida
tes a este fenómeno. foram possíveis pela introdução de sofistica- transferência de tecnologia da investigação
Por outro lado, a conjugação da corrosão com dos sistemas e métodos de ensaio, bem como para a indústria, etc..
a tensão aplicada (corrosão sob tensão), ou pela introdução da informática na resolução Não obstante todos os progressos consegui-
com a fadiga (fadiga com corrosão) repre- dos problemas de engenharia. dos, infelizmente ainda se vêm registando,
sentam também formas de ruína que podem A sequência de desastres em diversos tipos nos nossos dias, graves catástrofes devido à
levar a uma dimensão crítica do defeito e, de estruturas demonstrou que a inevitável ocorrência de fractura e de outros modos de
consequentemente, à fractura instável. Ou- presença de fissuras, de várias origens, e a ruína. Citam-se alguns exemplos de catás-
tras formas de degradação dos materiais por sua propagação é responsável pela deterio- trofes ocorridas em diversos tipos de estru-
efeitos químicos são ainda possíveis, não ca- ração e consequente perda de fiabilidade turas, já depois do estabelecimento da
bendo, no entanto, no âmbito forçosamente dessas estruturas. Um enorme esforço tem M.F.:
restrito deste artigo. sido desenvolvido pela Ciência e pela Tec- Em Julho se 1962 ocorreu um desastre
nologia no sentido de minimizar os efeitos em ponte metálica que se tornou fundamen-
Conclusão catastróficos que podem resultar desses fe- tal para o desenvolvimento da Mecânica da
nómenos. Fractura. Tratou-se da Kings Bridge, uma
Referiu-se, ao longo desta 2.ª parte do his- Os custos devidos à ruína dos materiais e es- ponte com 700 metros de comprimento em
torial da Mecânica da Fractura, o estabele- truturas tomam diversos aspectos, de maior Melbourne, Austrália. A temperatura atmos-
cimento desta área fundamental da Enge- ou menor gravidade: férica era de cerca de 4,5º C. Uma secção
nharia, descrevendo os conceitos básicos que perda de vidas humanas e outros danos da ponte fracturou, originando o desnivela-
a presidem. Foram referidas também outras pessoais; mento de cerca de meio metro de um troço
formas correlacionadas de ruína de materiais impacto ecológico; da ponte. O exame das quatro vigas princi-
e estruturas. A Mecânica da Fractura cons- paragem de produção; pais que fracturaram revelou que elas já te-
titui a área da Engenharia que melhor avalia perda de produtos; riam fendas antes da montagem. Deficiên-
quantitativamente os factores que influen- custos de reposição dos equipamentos; cias no projecto, na selecção do aço, nos pro-
ciam o grau de segurança e consequente con- danos em equipamentos vizinhos; cedimentos de soldadura e nas inspecções
fiança de uma estrutura. É, por conseguinte, litígios, problemas jurídicos, indemniza- foram dados como as causas do desastre.
uma disciplina fundamental da Engenharia ções; Em Dezembro de 1967, o colapso da ponte
Mecânica e, aliás, de toda a Engenharia. perda de imagem comercial, de confiança, de Point Pleasant, sobre o Rio Ohio, na Vir-
O estudo e a aplicação da Mecânica da Frac- de contratos futuros. gínia Ocidental, E.U.A., ocorrida subita-
tura tornou-se, portanto, de importância A resolução dos problemas jurídicos levan- mente, causou a perda de 46 vidas. Diver-
crucial, uma vez que a presença de fendas, tados frequentemente após a ocorrência de sos estudos foram iniciados imediatamente
e imperfeições que devam ser tratadas como casos de ruína é, na maioria das vezes, com- pretendendo determinar as causas da tragé-
tal, ocorrem sempre nos materiais. plexa, arrastando-se por longo tempo. A aná- dia, que naturalmente despertou grande an-
Naves espaciais, aviões de capacidade cada lise de falha tem aqui importância decisiva, siedade quanto à segurança de outras estru-
vez maior e voando a velocidades crescen- integrando-se na denominada Engenharia Fo- turas similares construídas na mesma época,
tes, turbinas de altas temperaturas, super- rense. com projectos e aços estruturais idênticos.
petroleiros, gigantescas plataformas off-shore, Todos esses problemas levantados pelos casos A singularidade desse desastre, sob diversos
centrais nucleares, complexos petro-quími- de falha e ruína em equipamentos implicam aspectos, desencadeou numerosas investiga-
ções. O colapso foi atribuído à fractura frá- tunadamente, o avião conseguiu aterrar, em- hoje perduram, nomeadamente sobre a vida
gil, por clivagem, de um dos olhais no ex- bora como um “descapotável” (fig. 4). Os e saúde das populações afectadas pelas ra-
tremo de um tirante. passageiros levavam o cinto apertado, não diações.
Em Dezembro de I969, um órgão estru- sendo por isso sugados pela descompressão, Em 1994, o ferry “Estónia” naufragou no
tural chave da asa de um caça-bombardeiro o que não sucedeu com uma assistente de Mar do Norte, devido a fractura, matando
F-111 fracturou, causando a perda do apa- bordo que desapareceu. A rotura foi devida cerca de um milhar de passageiros.
relho e dos seus dois tripulantes. O exame à ligação de pequenas fissuras emanadas de Vários exemplos ocorreram nas últimas dé-
da secção fracturada revelou que uma con- uma sucessão de furos de rebites alinhados, cadas em “rocket motor cases” de mísseis
siderável fenda, possivelmente introduzida fenómeno que tem sido um importante me- Polaris, em turbinas a vapor e em rotores de
durante os procedimentos de tratamento tér- canismo de dano em estruturas aeronáuticas geradores, o que tem conduzido a extensivos
mico, não foi detectada nas sucessivas fases (conhecido como multiple site damage). Este estudos da fractura frágil por parte de fabri-
de fabricação e montagem do componente. acidente levantou, igualmente, problemas cantes e utilizadores desses equipamentos.
O aspecto escurecido do defeito de forma quanto à integridade e durabilidade de es- Diversos desastres têm sido assinalados ul-
elíptica presente na superfície de fractura, truturas aeronáuticas. timamente com navios petroleiros, do que
levou à convicção de se estar em presença resulta sempre alarmantes catástrofes eco-
de corrosão. A fenda pré-existente estava, lógicas, com elevados prejuízos materiais e
por sua vez, rodeada de uma estreita faixa graves problemas ambientais devido à polui-
brilhante que, evidentemente, correspondia ção de áreas costeiras e zonas de fauna ma-
à progressão da fenda por fadiga durante as rítima. Exemplos recentes foram os casos
escassas 109 horas de serviço do componente. do “Esso Valdez”, no Alaska, e do navio tan-
Este acidente implementou novas directrizes que de casco simples “Prestige”, nas águas
no design de futuras aeronaves. da Galiza, que ameaçou pôr em risco a costa
Em 27 de Março 1980, a plataforma off- portuguesa.
Figura 4 – Avião 737 após o acidente
-shore norueguesa denominada “Alexander
Kielland”, uma gigantesca estrutura de dez * Instituto Superior Técnico – (IST) – Lisboa
mil toneladas de aço soldado, situada no Mar Em19 de Julho de 1989, um avião DC-10
do Norte, com somente três anos e meio de da United Airlines despenhou-se em Sioux
serviço, ruiu catastroficamente, sob condi- City, U.S.A.. A falha foi devida a uma fenda
ções atmosféricas e marítimas manifesta- de fadiga num dos motores, de que resultou
BIBLIOGRAFIA
mente menos severas do que as que as que a desintegração de um disco de turbina e a
tinham sido consideradas no seu projecto. perda do sistema hidráulico. A aeronave ainda • Barson, J.M. e Rolfe, S.T., Fracture and Fatigue Control
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rombo na parte superior da fuselagem. Afor- passaram os limites daquele país e que ainda U.S., 1989.
REFERÊNCIAS
Resumo este possui uma capacidade de assimilação contrados no solo são: hidrocarbonetos po-
infinita. A contaminação do solo é um grave licíclicos aromáticos (PAHs) [6-13], bifenis
A problemática da descontaminação de solos problema ambiental, pois afecta não só o policlorados (PCBs) [2, 10-12, 14], pestici-
tem vindo a assumir uma importância cres- solo, mas também os lençóis freáticos, a água das e herbicidas [10, 12, 14-15], e metais
cente, sendo um factor essencial para a sus- subterrânea, o ar e todas as formas de vida, pesados. Os agrotóxicos (p.ex., insecticidas
tentabilidade dos recursos naturais e da vida podendo ainda estar na origem de diversos e pesticidas), muito utilizados para comba-
no nosso planeta. Neste trabalho é feita uma problemas de saúde [1]. A degradação do ter certos microrganismos e pragas, em es-
revisão das principais técnicas que têm sido solo pode ter origem em diferentes fontes, pecial na agricultura, levantam um problema
propostas para a descontaminação de solos entre as quais as actividades de produção, especial de contaminação devido à sua lenta
dando ênfase a algumas técnicas emergen- tais como a indústria transformadora e a agri- degradação e tendência à acumulação em
tes, em particular à extracção supercrítica. cultura, com o uso abusivo de fertilizantes, organismos vivos. A acção desta última classe
pesticidas e herbicidas, e a rega com água de contaminantes assume particular impor-
Palavras-chave: Técnicas de Descontamina- contaminada. Não devemos esquecer que, tância devido ao seu tempo de retenção no
ção de Solos, Pesticidas, Águas Subterrâneas, para além de uma elevada dinâmica e com- solo ser por vezes muito elevado [16] e por
Atrazina, Extracção Supercrítica. plexidade, o solo dispõe de vida no seu seio, serem potenciais fontes de poluição dos aquí-
e que embora a sua degradação por erosão feros [17-18], devido a possuírem um ele-
1. Introdução e fenómenos de poluição seja relativamente vado potencial de drenagem, uma degrada-
fácil e rápida, a sua reabilitação é mais com- ção lenta por hidrólise, uma baixa pressão
Em países como a Holanda, França, Suécia plexa e morosa. de vapor, uma baixa a moderada solubili-
e Estados Unidos da América (E.U.A.) tem- A actual legislação portuguesa classifica os dade em água, e uma moderada adsorção
se verificado um grande desenvolvimento, solos em função da actividade para que vão pela matéria orgânica e argila existente no
quer a nível da investigação, quer a nível da ser usados [3], não estabelecendo limites solo [19].
aplicação industrial, das tecnologias de re- para a sua contaminação. Esta variabilidade
mediação de solos. Em Portugal, existe tam- na legislação torna difícil a uniformização de 3. Técnicas de Descontaminação de Solos
bém um caso recente de um processo de critérios e de esforços para a resolução deste
descontaminação de solos em larga escala, grave problema ambiental. Das legislações Se a preocupação com a contaminação do
que ocorreu na área onde se realizou a Ex- existentes, a legislação holandesa é das mais solo é recente, ainda mais recente será a in-
posição Universal de Lisboa de 1998 (Expo’98). rigorosas, baseando-se na perspectiva da vestigação nesta área e o desenvolvimento
Nesta área existia uma refinaria de petróleo, multi-utilização de solos, o que obriga a um de novas tecnologias de remediação. O es-
um parque de armazenamento, uma fábrica controlo mais apertado. A perspectiva das tudo da descontaminação de uma determi-
de ácido sulfúrico, uma unidade de cracking legislações inglesa e canadiana é totalmente nada área requer uma identificação (inven-
térmico e um aterro, tendo-se realizado a distinta de todas as outras, distinguindo zonas tário), bem como um diagnóstico da evolu-
remediação e reconversão do local em 1994, de utilização para urbanização, em que o ção e tratamento da referida área. Os mé-
com vista à realização da Expo’98 (R.E.A, controlo é mais rigoroso, e zonas não resi- todos de descontaminação existentes podem
1999). Este acontecimento mostra que Por- denciais, em que a legislação é mais permis- ser divididos usando diferentes critérios,
tugal já despertou, embora um pouco tar- siva. É cada vez mais urgente que se adopte sendo um destes critérios baseado no local
diamente, para a necessidade da desconta- em Portugal legislação específica para a con- de aplicação do tratamento, o que permite
minação de solos. taminação de solos. a classificação dos processos de descontami-
O solo deve ser considerado um recurso na- nação em:
tural “não renovável”, uma vez que o tempo 2. Principais Fontes de Contaminação Descontaminação “in-situ” (i.e., realizada
estimado para originar 1 cm de solo selva- no local);
gem é entre 200 e 400 anos [1]. Na reali- Um solo diz-se contaminado quando con- Descontaminação “ex-situ” (i.e., realizada
dade, embora o solo seja um suporte impor- tém substâncias em quantidade ou concen- fora do local).
tante para todo o ecossistema [2], o homem, tração que podem produzir efeitos nefastos,
quer por ignorância, quer por razões econó- directa ou indirectamente, no homem ou no O tratamento de solos de forma a recuperar
micas, continua a lançar matéria orgânica e ambiente [4]. a área contaminada, como alternativa aos
inorgânica para o solo com a ideia de que Os contaminantes mais frequentemente en- aterros sanitários, tem vindo a tornar-se cada
vez mais importante, principalmente devido para remover o contaminante. As barreiras técnicas são utilizadas para o tratamento de
aos elevados custos inerentes a esta última reactivas (BR), como se pode ver pela Figura hidrocarbonetos de peso molecular elevado,
solução. 2, usam na sua constituição material que in- que não são facilmente volatilizados.
Todos estes processos requerem a extracção terage com os contaminantes convertendo- Bio-ventilação é uma técnica in-situ recente
do solo contaminado, que pode ser tratado os em compostos não-tóxicos ou espécies e inovadora, baseada no estímulo da degra-
no local (i.e., com uma técnica in-situ) ou com baixa mobilidade [21-22]. dação aeróbia de compostos absorvidos na
numa unidade de tratamento (i.e., com uma Um material bastante usado é o ferro me- zona insaturada (ou zona de infiltração) atra-
técnica ex-situ), sendo só posteriormente tálico (Fe(0)) – que é utilizado para provo- vés do fornecimento de ar, e se necessário
colocado novamente no local original ou car a desalogenação de alguns iões. nutrientes, a microrganismos indígenas [25].
usado para outros fins. A actividade microbiana é incrementada pela
As técnicas de remediação de solos podem incorporação de ar (recorrendo a furos de
também ser divididas tomando em conside- injecção ou extracção) e adição de nutrien-
ração a acção usada na remediação; sendo tes na zona insaturada (ver Figura 3).
então classificadas em: biológicas, físico-quí- Atenuação Natural, também denominada
micas, térmicas e técnicas especiais, que, tais por bio-reabilitação, é uma alternativa pas-
como a técnica de electro-cinética, não se siva à reabilitação, que reside num processo
enquadram nas classes anteriores. Uma so- natural de degradação aeróbica e anaeróbica
lução temporária para o problema de conta- de contaminantes orgânicos que surgem no
minação de um solo será confinar ou isolar solo e nas águas subterrâneas, resultando na
a área através do uso de barreiras passivas redução efectiva da quantidade de contami-
Figura 2 – Esquema de funcionamento
ou reactivas [20]. de uma barreira permeável reactiva [57]. nantes (ver Figura 4). Esta é uma das diver-
sas hipóteses de tratamento in-situ, mas que
nem sempre é permitida, por exemplo nos
3.2. Técnicas Biológicas E.U.A. a legislação vigente não permite a
As técnicas biológicas baseiam-se no princí- aplicação desta técnica. Esta tecnologia é um
pio da bio-remediação [23], em que se re- processo algo controverso, sendo conside-
corre à utilização de microrganismos para a rado por muitos como a solução “de nada
remoção dos contaminantes do solo e para fazer”. Esta técnica, para além de necessitar
o tratamento de lamas e águas subterrâneas. de uma monitorização constante, possui uma
Alguns exemplos das técnicas biológicas mais cinética muito lenta, podendo não se atingir
utilizadas são apresentados em seguida. os valores pretendidos no tempo estimado
A Técnica Agrária, também conhecida como para a degradação [20, 23-24]. Esta moni-
“Land Farming”, é uma técnica aplicada à torização é uma das grandes desvantagens
remediação de solos contaminados com com- desta técnica porque a torna bastante dis-
postos orgânicos, que são eliminados por bio- pendiosa, restringindo a sua aplicação. Esta
degradação. Esta tecnologia envolve normal- tecnologia, tal como todas as de remediação
mente a dispersão do solo de modo a formar de solos, deve ser avaliada quanto ao seu po-
Figura 1 – Esquema de uma barreira de confinação superfícies de pequena espessura onde se tencial baseado nos riscos associados, carac-
e respectivo corte transversal [57].
promove a estimulação da actividade micro- terização do local e potencial para atingir os
biana através da adição de nutrientes, mine- fins desejados.
3.1. Barreiras Reactivas e Passivas rais ou mistura de ambos. Se a profundidade Bio-reabilitação in-situ é uma técnica basea-
As barreiras passivas previnem a migração dos da contaminação for inferior a 90 cm, é pos- da na remoção de água do subsolo a mon-
poluentes para as águas subterrâneas não per- sível estimular a actividade biológica sem es- tante do local contaminado por bombagem
mitindo igualmente a passagem da água limpa cavação de solo, sendo por este motivo uma até à superfície da área contaminada, onde
para a zona contaminada (ver Figura 1). Estas técnica que pode ser usada in- ou ex-situ. lhe é adicionado oxigénio e nutrientes. Esta
barreiras, normalmente verticais, são cons- As Eiras Biológicas (“Biopiles”) são utiliza- corrente é posteriormente reintegrada a ju-
truídas por escavação de uma trincheira que das com o mesmo propósito da técnica agrá- sante do local contaminado [20]. Este pro-
é preenchida com um material adequado, tal ria, diferindo no modo de promover o areja- cesso cria boas condições de crescimento
como uma mistura de solo/bentonite ou ci- mento, que nas eiras biológicas é efectuado dos microrganismos, resultando na degrada-
mento/bentonite, e têm um coeficiente hi- por tubos ligados a um compressor que in- ção rápida dos contaminantes.
dráulico muito baixo, inferior a 10–7 cm, po- jectam ar na parte inferior da eira, enquanto Fito-remediação é uma técnica biológica bas-
dendo ser colocadas a montante, com o ob- que nas técnicas agrárias o arejamento é feito tante promissora, sendo uma técnica in-situ
jectivo de evitar que a água limpa aflua para por um tractor que revolve o solo [20, 24]. limpa que tem por base o uso de algumas
o local contaminado, ou a jusante, com o ob- A espessura da camada de solo espalhado nas espécies de plantas com a capacidade de de-
jectivo de utilizar a própria água subterrânea técnicas agrárias é menor que nas eiras. Estas gradar directamente os poluentes orgânicos,
podendo ser aplicada como método de con- turada do solo, em que se aplica uma fonte mos de cloro, flúor, bromo e iodo) de mo-
tenção, destruição ou extracção de vários de vácuo à matriz a tratar, criando um gra- léculas orgânicas halogenadas, convertendo
tipos de contaminantes [26-29]. O seu custo diente de pressão que originará o movimento compostos tóxicos em substâncias com menor
é 20 a 50% inferior ao dos processos quími- do ar presente nos poços de extracção [20, toxicidade que são por vezes solúveis em
cos, físicos e térmicos in-situ. As principais 30-31], como é mostrado na Figura 5. Da água, facilitando assim a sua separação do
desvantagens desta técnica são a sua carac- aplicação deste processo resulta uma cor- solo [3]. Foram identificados vários agentes
terística sazonal e a possibilidade de provo- rente gasosa que precisa de ser tratada antes que podem ser usados na desalogenação de
car a bio-acumulação em animais. de ser lançada para a atmosfera [32-33]. Esta compostos como os PCBs, dioxinas e fura-
Compostagem é um processo biológico em técnica poderá apresentar algumas seme- nos, entre os quais se encontram os hidró-
que os contaminantes orgânicos são biode- lhanças com a bio-ventilação, mas enquanto xidos de sódio e potássio e o polietilenogli-
gradados e convertidos em subprodutos que esta última promove a remoção por biode- col [20, 40-41]. Os compostos halogenados
são inócuos e estáveis, recorrendo à activi- gradação e a volatilização é minimizada podem ser igualmente tratados num reactor
dade de microrganismos (sob condições ae- (usando correntes na extracção inferiores às aquecido usando bicarbonato de sódio como
róbias e anaeróbicas). O solo é escavado e da ventilação), o que ocorre na ventilação é agente de desalogenação.
misturado com agentes dispersantes e aditi- exactamente o inverso, pelo que esta técnica Extracção por Solventes é um processo em
vos orgânicos, tais como aparas de madeira tem-se demonstrado efectiva na redução da que não ocorre a destruição dos contami-
ou resíduos vegetais. A eficiência máxima de concentração de COVs e COSVs. nantes mas apenas a sua separação do solo,
degradação é obtida mantendo a mistura em Lavagem de Solo (“Soil Flushing”) é uma téc- podendo, por isso, ser considerada como
condições constantes de concentração de nica que pode ser aplicada in-situ [34-35], uma técnica de pré-tratamento, tal como a
oxigénio, pH e temperatura. Este processo e que consiste na extracção de contaminan- técnica de lavagem de solo, que usa água
pode ser aplicado em solos ou sedimentos tes do solo por dissolução, suspensão em so- como solvente [42-43]. O sucesso desta téc-
com compostos orgânicos que sejam biode- luções aquosas ou através da reacção química nica depende da escolha do solvente, a qual
gradáveis. Os custos associados a este trata- com o líquido que passa através das cama- deve ter em consideração o tipo de poluente
mento variam conforme o volume de solo e das de solo contaminadas (ver Figura 6). O que se pretende extrair [3, 20] e a toxici-
tipo de contaminantes a serem tratados. fluído é aplicado por meio de furos de injec- dade do solvente.
ção, galerias para promover a infiltração ou
pulverizadores colocados à superfície, sendo
os contaminantes arrastados pela água, a qual
é posteriormente bombeada até a superfí-
cie, recorrendo-se a poços de extracção, e
sujeita a tratamento [3, 20, 36]. A lavagem
do solo pode também ser realizada ex-situ,
Figura 3 – Esquema geral da técnica de bio-ventilação compreendendo neste caso as seguintes eta-
combinada com sistema de extracção de vapores [57].
pas: escavação, fragmentação, separação gra-
Figura 5 – Esquema da técnica de ventilação
nulométrica, lavagem das diferentes fracções de solos contaminados (SVE) [57].
e decisão sobre o destino a dar aos resíduos
finais. Esta técnica permite a remoção de Solidificação/Estabilização consiste na mis-
compostos orgânicos, inorgânicos, metais e tura de materiais (p.ex.: cimento, argamassa)
substâncias radioactivas, podendo a sua efi- com sólidos, semi-sólidos e lamas para imo-
ciência ser aumentada recorrendo ao uso de bilização dos contaminantes. A solidificação
aditivos (p.ex: Cu(NO3)2, Cd(NO3)2 ou produz blocos com uma grande estabilidade
Pb(NO3)2). A lama resultante deste pro- e integridade física, através da adição de
cesso pode ser disposta num aterro ou, de- agentes estabilizadores (p.ex., cinzas e escó-
pendendo do contaminante, ser submetida rias das fornalhas), de modo a limitarem a
Figura 4 – Esquema geral da técnica
de atenuação natural [57]. a um tratamento específico, como por exem-
plo: extracção por solventes, solidificação ou
vitrificação. Esta técnica é muitas vezes con-
3.3. Técnicas Físico-Químicas siderada como um pré-tratamento [37] para
Ventilação do Solo (“SVE”) é uma das técni- redução da quantidade de material (solo con-
cas físico-químicas mais utilizadas, sendo a taminado) a ser processada por outras tec-
sua principal área de aplicação no tratamento nologias de descontaminação.
de compostos orgânicos voláteis (COVs), A Decloração, também designada por desa-
compostos orgânicos semi-voláteis (COSVs), logenação, é uma técnica química [38-39]
compostos inorgânicos, bifenis policlorados que tem por base, tal como o nome indica, Figura 6 – Esquema simplificado da técnica in-situ
de lavagem de solo [57].
(PCBs) e dioxinas existentes na zona insa- a perda dos átomos de halogéneo (i.e., áto-
mobilidade e solubilidade dos constituintes contaminantes orgânicos a temperatura ele- técnicos envolvidos. À medida que a zona vi-
dos resíduos. Existem algumas variantes desta vada e na presença de oxigénio suficiente trificada vai crescendo, vai incorporando os
técnica, como sejam: solidificação com base para converter os contaminantes em dióxido contaminantes inorgânicos. Os componentes
de cimento (adição directa do cimento ao de carbono (CO2) e água (H2O), promo- orgânicos migram até à zona de vitrificação
solo), solidificação com base de silicato (em vendo assim a sua destruição [48]. No pro- onde são queimados na presença de oxigénio,
que material como cinzas é adicionado ao jecto de incineradores é necessário ter bem o que requer a existência de uma área de tra-
cimento e aos agentes estabilizadores para presentes os três T´s: temperatura, turbu- tamento para os gases antes de estes serem
serem posteriormente misturados com o lência e tempo de residência. A correcta libertados para a atmosfera. A vitrificação ex-
solo), e micro-encapsulamento [3, 20]. Os combinação destes parâmetros poderá sig- -situ baseia-se num tratamento similar, com
processos baseados no uso de cimento e si- nificar um ganho de eficiência até aos 95%. a diferença de que o solo é escavado e intro-
licato têm tido mais sucesso no tratamento A temperatura depende do tipo de conta- duzido num sistema de vitrificação que fun-
de resíduos perigosos que os baseados em minantes, a turbulência influencia o grau de ciona de modo idêntico ao processo descrito
termoplásticos e polímeros orgânicos. No oxigenação da mistura e o tempo de resi- [20], estando esta técnica ainda numa fase
tratamento in-situ, os agentes estabilizado- dência deve permitir a combustão completa de desenvolvimento à escala piloto.
res são inseridos no solo através de máqui- [48]. O processo de incineração produz, con-
nas injectoras. tudo, três tipos de resíduos: os sólidos que 3.5. Técnicas Especiais
resultam da incineração, os gases de com- Electro-cinética é uma técnica in-situ que se
3.4. Técnicas Térmicas bustão e, quando há tratamento de gases áci- baseia no movimento dos contaminantes no
Dessorção Térmica é um método bastante dos, a água do sistema de lavagem. Um dos solo, o qual é induzido por meio de uma cor-
usado para remover compostos orgânicos vo- principais problemas desta técnica é que me- rente eléctrica de baixa voltagem, da ordem
láteis (COVs) e semi-voláteis (COSVs) de tais como o arsénio, mercúrio e cádmio não dos mA/cm2, que é criada por dois eléctro-
sedimentos contaminados [3, 44-46] que são destruídos pela combustão, pelo que os dos colocados no solo (ver Figura 8). Esta
são previamente escavados. O solo é aque- metais mais pesados estarão presentes nas técnica é bastante efectiva na remoção de
cido a temperaturas suficientemente eleva- cinzas e os restantes (p.ex., o arsénio e o cád- metais pesados e compostos orgânicos pola-
das para proceder à dessorção de compostos mio) serão volatilizados e libertados nos gases res de solos de baixa permeabilidade, lamas
orgânicos do solo e à sua respectiva volatili- de combustão dando origem a novos proble- ou sedimentos marinhos [49-50]. Quando
zação. Os hidrocarbonetos volatilizados são mas ambientais. a corrente eléctrica é aplicada, o primeiro
tratados numa segunda câmara, que pode Vitrificação é um processo que converte o fenómeno que ocorre é a electrólise da água,
ser uma câmara de oxidação catalítica, um solo contaminado num produto em estado tornando a solução junto do ânodo ácida.
condensador, ou uma unidade de adsorção, vítreo e, portanto, estável. Esta técnica pode Esta “frente ácida” do ânodo desloca-se até
antes de serem lançados para a atmosfera. ser aplicada in-situ ou ex-situ (ver Figura 7). ao cátodo por migração, levando à dessorção
Após o tratamento térmico o solo é arrefe- A vitrificação in-situ consiste na inserção de dos contaminantes do solo. Os eléctrodos
cido e humidificado para controlo da emis- eléctrodos de grafite no solo a tratar, criando- usados devem ser de material inerte, como
são de poeiras e, se necessário, estabilizado, se uma corrente eléctrica de intensidade ele- sejam a grafite ou a platina. Os contaminan-
para ser posteriormente deposto em aterros vada cujo calor libertado provoca a fusão da tes que chegam ao eléctrodo podem ser re-
ou reutilizado. Embora este método não seja matriz do solo. Esta técnica exige um elevado movidos por precipitação/co-precipitação,
dos mais usados na remoção de compostos grau de treino e conhecimentos por parte dos bombagem próxima do eléctrodo ou com-
inorgânicos, pode, contudo, ser aplicado à plexação com iões de permuta iónica. A pos-
remoção de metais voláteis com sistemas a A sibilidade de precipitação de espécies, como
operar a temperaturas mais elevadas [47]. sejam os metais pesados, próximo do cátodo,
O tratamento consiste em aquecer a matriz tem sido um dos principais impedimentos
do solo a uma temperatura suficientemente à utilização deste processo. Contudo, estu-
elevada (300-550ºC) para provocar a des- dos recentes têm vindo a melhorar este pro-
sorção da água e dos contaminantes do solo cesso, tentando ultrapassar o problema da
e a sua vaporização. precipitação de espécies junto do cátodo.
Incineração é um dos métodos mais efecti- B Técnica do plasma é uma técnica que tem
vos no tratamento de solos, sedimentos, vindo a ser explorada em vários sectores,
compostos orgânicos halogenados, compos- entre os quais a descontaminação de solos.
tos orgânicos não halogenados, pesticidas, Esta tecnologia tem-se revelado mais efi-
PCBs e dioxinas/furanos, existindo várias ciente sob o ponto de vista energético que
unidades a operar à escala industrial. Co- as tecnologias térmicas mais convencionais
mercialmente existem dois tipos principais: [51]. Na técnica de plasma, um gás é aque-
os recuperativos e os regenerativos, conforme cido a temperaturas extremas (da ordem
o tipo de recuperação de energia adoptado. Figura 7 – Técnica de vitrificação: dos 100.000ºC) para criar o plasma. Quando
Este processo consiste na combustão dos a) Aplicada ex-situ; b) Aplicada in-situ [57]. o solo contaminado é colocado próximo do
A
furanos, podem surgir neste passo, levando superficial nula, o que os torna particular-
à necessidade de um segundo tratamento. mente adequados para extracção em matri-
Esta tecnologia pode ser usada para tratar zes sólidas, como é o caso dos solos. O dió-
misturas de resíduos, lamas e sólidos, não xido de carbono (CO2) é dos fluidos mais
sendo recomendada quando os contaminan- utilizados em extracção supercrítica, não só
tes são sais, pois estes dificilmente ficam devido à sua baixa temperatura crítica (304,2
imobilizados no estado vítreo. K) e pressão crítica (7,39 MPa), que são fá-
ceis de obter tecnologicamente, mas também
B 4. Extracção Supercrítica porque o CO2 não é tóxico nem inflamável,
está facilmente disponível e a baixo custo.
Uma das técnicas emergentes para a descon- A extracção com o CO2 tem tido resultados
taminação de solos é a extracção supercrítica promissores quando aplicada à remoção de
(ESC). Nesta técnica usa-se como solvente vários tipos de contaminantes de solos, in-
um fluído supercrítico, que é como se de- cluindo os mais persistentes e difíceis de tra-
signa qualquer substância a uma temperatura tar, tais como: hidrocarbonetos, pesticidas,
Figura 8 – Técnica de electro-cinética:
a) Esquema do movimento dos contaminantes; e pressão acima do seu ponto crítico [52]. fenóis, etc.. A aplicação desta técnica à re-
b) Esquema geral em que são apresentados
Os fluidos supercríticos são solventes parti- mediação de solos não afecta a estrutura des-
os fenómenos que ocorrem neste processo [57].
cularmente bons devido a possuírem uma ca- tes, nem altera, de forma significativa, a sua
plasma, dá-se o seu aquecimento até tem- pacidade de dissolução próxima da dos líqui- composição em nutrientes e outros consti-
peraturas muito elevadas, existindo nestas dos, e terem uma viscosidade e um coefi- tuintes [53, 54, 55]. Este processo tem ainda
condições ausência de moléculas de oxigé- ciente de difusão com valores típicos dos a vantagem de ser menos dispendioso a nível
nio. Nestas condições, os compostos orgâni- gases, o que melhora as suas características energético que alguns dos métodos térmicos
cos são degradados e os compostos inorgâ- de transferência de massa relativamente às alternativos.
nicos (p.ex., metais e radicais reactivos) so- dos solventes comuns, tais como a água e os Como os fluidos supercríticos mais utilizados
frem um processo de vitrificação. Produtos compostos orgânicos. Uma outra caracterís- são gases nas condições normais de pressão e
da combustão incompleta, como dioxinas e tica destes fluidos é possuírem uma tensão temperatura, a corrente com os contaminan-
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revelar as armaduras e possibilitar a observa- -destrutiva, requer uma ligação electrónica cos, também podem acontecer diferentes
ção e a avaliação directa da corrosão, etc.. à armadura, o que, em muitos casos, implica processos anódicos, facto que pode condu-
A mapeação dos potenciais das armaduras, a abertura de um orifício no betão. São vá- zir a avaliações erróneas sobre o estado de
método electroquímico, é exemplo de um rios os eléctrodos de referência que podem activação ou passivação da armadura. Desta
método de inspecção não-destrutivo por ex- ser utilizados neste tipo de medição, sendo forma, torna-se efectivamente necessário
celência. Sendo a corrosão das armaduras mais frequente a utilização dos eléctrodos confrontar tais medições com outras técni-
um fenómeno electroquímico, a utilização de referência de cobre/sulfato de cobre, de cas de inspecção.
de métodos desta natureza é preferível, já manganês/óxido de manganês e de prata/
que permite avaliações mais rigorosas de cloreto de prata. O valor da diferença de po- Condutividade iónica do betão
todas as fases do processo corrosivo, em par- tencial da célula formada pela armadura e o A condutividade iónica pode ser útil para se
ticular da sua fase inicial, para além de pos- eléctrodo de referência utilizado deverão ser avaliar o nível de contaminação iónica de uma
sibilitar a correlação das medidas efectuadas determinados com o auxílio de um voltíme- estrutura de betão, nomeadamente a conta-
com o mecanismo da degradação. Além da tro com uma impedância de entrada muito minação por iões cloreto, se se souber ser esta
mapeação de potenciais, destacam-se o mé- elevada (> 10 M ), para que, durante a me- a causa do fenómeno, como caso de estrutu-
todo da resistência à polarização linear (mais dição, a corrente eléctrica que flúi entre os ras implantadas em ambientes marinhos. Por
conhecida pela sigla LPR na literatura anglo- dois terminais seja mínima e, desse modo, outro lado, as medidas de condutividade per-
-saxónica), que permite obter uma veloci- seja mínima a interferência externa no sis- mitem comparar a porosidade de betões de
dade instantânea de corrosão, o método do tema. O potencial de corrosão de qualquer diferentes composições ou aplicados com o
ruído electroquímico (EN, na nomenclatura material metálico é o resultado da conjuga- recurso a técnicas ou em betonagens diferen-
anglo-saxónica), espectroscopia de impedân- ção das cinéticas (velocidade e mecanismo) tes, uma vez que, evidentemente, a conduti-
cia electroquímica (mais conhecida por EIS), de, pelo menos, dois processos: a oxidação vidade do betão aumenta com o aumento da
a medição de correntes galvânicas (GC), do metal que se está a corroer (nas zonas porosidade do mesmo. A condutividade ió-
etc.. Um outro conjunto de técnicas não- ditas anódicas) e a redução (que se dá à su- nica de um betão poroso depende, em pri-
-destrutivas disponíveis para a inspecção de perfície do metal em regiões catódicas) de meiro lugar, da mobilidade e da concentração
estruturas de betão armado envolvem me- uma espécie química presente no ambiente de iões “livres”, transportadores de corrente,
dições da condutividade iónica do betão, circundante do material, normalmente o oxi- no interior do mesmo. A mobilidade mede a
com recurso às técnicas dos 2 ou dos 4 eléc- génio molecular. Porém, dependente do am- velocidade linear a que os iões se movimen-
trodos, emissões acústicas, radiometria com biente, pode haver mais que uma espécie tam no seio de uma solução aquosa e é uma
ondas RADAR ou micro-ondas que permi- química a reduzir-se à custa da oxidação do característica intrínseca do ião, dependendo
tem a detecção de fissuras e alterações su- metal. O valor do potencial permite avaliar essencialmente do seu tamanho, carga e tam-
perficiais do betão relacionadas com fenó- se o ferro se encontra num estado de corro- bém temperatura, que influencia não só a
menos de corrosão. são activa, passivado ou protegido por acção energia cinética do próprio ião, bem como a
Todavia, as técnicas electroquímicas mais de um outro processo de oxidação (“protec- viscosidade do próprio meio. No que respeita
frequentemente utilizadas na inspecção de ção catódica”). É geralmente aceite que para a concentração iónica “livre”, esta dependente,
estruturas de betão armado, e que em con- valores de potencial de corrosão acima de evidentemente, do teor de humidade no in-
junto fornecem uma imagem mais fiável do 100 m (relativo ao eléctrodo normal de terior dos poros, do grau de contaminação
o grau de degradação da mesma, são: hidrogénio) a armadura está numa situação externa e da solubilidade dos diferentes sais
mapeação do potencial de corrosão da ar- de passividade1, ou seja, o produto da cor- que ali se podem formar. Assim, condutivi-
madura; rosão é um oxohidróxido que confere pro- dades elevadas implicam a existência de con-
mapeação da condutividade iónica do be- priedades de barreira. centrações iónicas elevadas e, como tal, meios
tão; potencialmente mais agressivos
determinação do diâmetro das armaduras; em termos de corrosão.
determinação das velocidades de corrosão A condutividade iónica de um
das armaduras determinadas com auxílio betão é, normalmente, determi-
da técnica da resistência à polarização. nada com base em duas técnicas:
a dos 2 eléctrodos e a dos 4 eléc-
Potencial de corrosão da armadura trodos (ver figura 2). Na técnica
A determinação do potencial da armadura dos 2 eléctrodos, a resistividade
é encontrada medindo a força electromotriz do betão (a condutividade é o in-
da célula galvânica formada entre a arma- verso da resistividade) é determi-
Figura 1 – Esquema da montagem
dura, que funciona como o eléctrodo de tra- para a determinação do potencial de corrosão nada com base na razão entre o
balho e um eléctrodo exterior de referência, valor de uma tensão alternada,
funcionando o próprio betão armado como Todavia, assim como se referiu a possibili- aplicada entre dois eléctrodos iguais, encos-
a solução electrolítica da pilha (ver figura 1). dade de no processo corrosivo acontecerem, tados à superfície do betão, e a respectiva res-
Esta técnica apesar de ser considerada não- simultaneamente, vários processos catódi- posta em termos da intensidade de corrente
alternada. O cálculo entra, também, em linha auxílio de uma “cabeça” de prova que é des- as zonas anódicas e catódicas durante a cor-
de conta com o parâmetro da célula, que é locada ao longo da superfície do betão. A rosão) através de:
função da separação entre os eléctrodos e a magnitude das correntes parasitas depende
área geométrica comum. A técnica dos 4 eléc- da camada de recobrimento do betão, do di- (3)
trodos, ou de Wenner, utiliza 4 eléctrodos âmetro do varão da armadura e da orienta-
igualmente espaçados de uma distância a (ver ção deste em relação à cabeça de prova. Ge-
figura 2)2. A resistência à passagem da cor- ralmente determina-se, em primeiro lugar, onde A é a área local da armadura que está
rente entre os dois eléctrodos centrais é de- a orientação do troço da armadura e, depois, a ser inspeccionada, βa e βc são os chama-
terminada através da medição da queda de com a cabeça de prova numa posição longi- dos parâmetros de Tafel para os processos
tensão (V) entre os mesmos dois eléctrodos tudinal em relação à armadura, determina- anódico e catódico, respectivamente. O co-
quando é aplicado um campo contínuo entre -se a espessura da camada de recobrimento eficiente βaβc/2,3/(βa+βc) varia entre 26 mV,
os dois eléctrodos mais externos, fazendo cir- e o diâmetro do varão3. para armaduras claramente activas, e 52 mV,
cular entre eles uma corrente contínua de in- para armaduras passivas4.
tensidade I. A resistividade do betão (ρ) é Resistência à polarização Na prática, a determinação da Rpol faz-se va-
dada pela seguinte expressão: Do ponto de vista da engenharia de corro- riando o potencial da armadura entre –10 e
são, os aspectos cinéticos são de grande im- +10 mV do potencial de corrosão e regis-
(1) portância, já que só com base na sua consi- tando a intensidade da corrente eléctrica que
deração se pode obter uma velocidade de flúi entre a armadura e um eléctrodo de au-
Diâmetro das armaduras corrosão instantânea do processo. Experi- xiliar colocado à superfície do betão. Para
A evolução das dimensões (diâmetro) das mentalmente, a cinética do processo corro- além deste eléctrodo que serve para impor
armaduras ao longo do tempo é uma infor- sivo só pode ser acedida através de técnicas à armadura o potencial desejado, é necessá-
mação muito útil para a análise da corrosão perturbativas em que o sistema constituído rio possuir um dispositivo que permita impor
de estruturas de betão armado, pois permite pelo metal sob corrosão e o meio corrosivo um potencial muito constante e preciso, o
determinar se está a acontecer um fenómeno é temporariamente deslocado da situação es- potenciostato, um eléctrodo de referência,
de corrosão uniforme causado, por exem- tacionária, caracterizada pelo potencial eléc- robusto e estável, também à superfície do
plo, por um processo de despassivação. Tais trico de corrosão e por um fluxo global de betão, em relação ao qual o potencial da ar-
medições podem ser efectuadas com recurso cargas nulo. Para o efeito, o sistema é “pola- madura (eléctrodo de trabalho) vai ser lido
a aparelhos portáteis do tipo “covermeters”, risado”, impondo externamente, através de (ver figura 3).
baseados em campos magnéticos indutivos, uma fonte de alimentação contínua, um fluxo Como se pode inferir da equação (3), a apli-
ondas radar, etc.. de corrente eléctrica. Das várias técnicas elec- cação deste método implica o conhecimento
troquímicas que permitem o es- rigoroso da área do troço da armadura do
tudo cinético da corrosão, o mé- qual se está a determinar a resistência de po-
todo da Resistência à Polarização larização. Tal conhecimento não é fácil de
Linear (LPR) é dos mais aplica- ser alcançado experimentalmente, já que
dos devido à rapidez e comodi- implicaria o conhecimento da orientação das
dade com que se podem deter- linhas do campo eléctrico aplicado, ou seja,
minar as velocidades de corrosão, da área exacta por elas abrangida. Uma das
à elevada reprodutibilidade, à fa- formas de minimizar os erros da estimativa
cilidade de interpretação dos dados dessa área, que é sempre necessário fazer, é
adquiridos e, sobretudo, à porta- utilizar dois eléctrodos auxiliares concêntri-
Figura 2 – Esquema experimental da determinação
da condutividade do betão pelo método dos 4 eléctrodos bilidade, i.e., à possibilidade de cos, um em forma de anel (“anel de guarda”)
aplicação in situ. e outro central em forma de disco. Quando
A maioria dos dispositivos comerciais utili- A resistência à polarização (Rpol) de um sis- polarizados em simultâneo, este arranjo per-
zados para a detecção de armaduras para de- tema corrosivo é definida como o declive da mite limitar o espalhamento das linhas de
terminação da camada de recobrimento e curva de polarização (Potencial eléctrico da campo, restringindo-as às do campo do eléc-
do diâmetro das armaduras baseiam-se na armadura ou metal (E) em função da inten- trodo central, podendo-se, desse modo, apro-
magnetização instantânea através de um pulso sidade da corrente de polarização (IE)) ao ximar a área da armadura abrangida à da de-
que induz uma “corrente parasita” (eddy potencial de corrosão da armadura (Ecorr), finida por este eléctrodo.
current, na literatura anglo saxónica) no pró- ou seja: Uma outra técnica de medição da resistên-
prio aço. Uma vez interrompido o pulso cia à polarização linear, hoje em dia também
magnético, a corrente eléctrica tende a de- (2) muito utilizada para determinação da velo-
saparecer, desenvolvendo, ela mesma, um cidade de corrosão das armaduras de estru-
outro campo magnético, como que um eco A resistência à polarização está relacionada turas de betão armado, no terreno, é desig-
do pulso inicial. A intensidade desse campo com a velocidade de corrosão, icorr (a den- nada pela técnica do pulso galvânico5. Nesta
magnético induzido pode ser medido com sidade da corrente de corrosão que flúi entre técnica, um breve (inferior a 10 s) pulso de
do betão de forma mais rápida e tão pró- obra tomar, com uma maior antecedência, as nitorizadas quanto aos problemas de corrosão
xima da realidade quanto possível. O sistema medidas correctivas exigidas. A existência de com auxílio de sistemas MonIcorr, apresen-
de monitorização MonIcorr9 (ver figura 4) um contacto eléctrico directo da armadura tados anteriormente. Neste pequeno trabalho
é um desses sistemas que têm por objectivo com o exterior do betão, permite não só co- de apresentação do sistema destacam-se as
avaliar, de uma forma integrada, o grau de nhecer a situação corrosiva efectiva da pró- seguintes: Hidrolyft 2000 (doca de reparação
degradação de uma estrutura de betão ar- pria armadura junto ao local onde se encon- de navios da LISNAVE, S.A., em Mitrena),
mado. Os sistemas são instalados na camada tra o sistema, mas também realizar mapeação a Estação Elevatória dos Alamos (integrante
de recobrimento e ligados electricamente à de potencial (potential survey, na literatura do complexo da Barragem do Alqueva), o
armadura, ainda na fase de construção ou de anglo-saxónica) com auxílio de um eléctrodo Porto Marítimo de Alcântara (Administração
reparação. de referência exterior, obviando o trabalho do Porto de Lisboa e Liscont S.A.), a Ponte
da Arrábida no Porto e o Viaduto Duarte Pa-
checo em Lisboa (sob administração do Ins-
tituto de Estradas de Portugal) e o Estádio
Municipal de Braga (integrado no Campeo-
nato Europeu de Futebol, Euro 2004).
Conclusão
elevadas e se começou a investigar e optimi- Optimização Para o controlador APC dos reactores de
zar este sistema, o principal problema que MAPD a variável manipulada é a razão entre
se encontrou foi sobre-hidrogenação indu- Depois de detectados os problemas na ope- o caudal da corrente C3 e o caudal total de
zida por: ração dos reactores, foi necessário optimizar hidrogénio aos reactores (C3/H2 ratio), en-
Elevado caudal de H2 aos reactores e melhorar as condições operatórias, tendo quanto a temperatura do hidrogénio, ou seja,
Elevado diferencial de temperatura e, por para isso sido desenvolvido e implementado a sua pureza, é uma variável feed-forward
vezes, perfil não adequado um controlador APC (Advanced Process (distúrbio) que não pode ser controlada pelo
Tempo de residência e consequente velo- Control), utilizando como ferramenta o soft- controlador.
cidade espacial inadequados ware da AspenTech DMCPlus. A concentração de propadieno à saída dos
Baixa selectividade do catalisador O DMC (Dynamic Matrix Control) é uma reactores é a variável controlada.
Um elevado caudal de hidrogénio e a hidro- técnica de controlo que é caracterizada pelos Seguidamente, apresentam-se os modelos
genação excessiva de propileno a propano seguintes pontos: dinâmicos lineares (Figura 3), que relacio-
baixa a selectividade do catalisador para a 1. Multivariável nam as duas variáveis independentes, uma
reacção de MAPD, obrigando, assim, a mais 2. Modelo Predictivo manipulada (C3/H2 ratio) e outra feed-forward
elevadas temperaturas de entrada, bem como 3. Limites (temperatura do hidrogénio), com a variável
T elevados para os três reactores. 4. Optimização dependente ou controlada (concentração de
Actualmente, podemos ver que o perfil de 5. Rigor propadieno).
temperaturas é descendente e que ainda A estratégia de controlo APC para os reacto- É possível concluir que, para um aumento
existe conversão de MAPD no último leito, res de MAPD é como consta na Figura 2. de uma unidade na razão C3/H2, a concen-
o que não acontecia no passado, minimi-
zando assim a perda de propileno sendo a
Figura 2
diferença entre o T ideal e o real, nos 3 lei- Esquemático do sistema de hidrogenação de MAPD
tos, inferior a 5ºC (ver Gráfico 1).
O perfil de temperaturas é difícil de opti-
mizar, pois as válvulas de hidrogénio são de
controlo manual. É necessário um perma-
nente trabalho conjunto entre a sala de con-
trolo e a operação no exterior.
A disposição dos leitos catalíticos entre re-
generações é também crucial, pois nem sem-
pre o que está mais activo é o que se encon-
tra em primeiro lugar, obrigando assim a
perfis de temperaturas não adequados no
sistema.
Outro factor importante é a concentração de Os passos para desenvolver e implementar tração de propadieno aumenta 350 vpm e
componentes olefínicos C4 na corrente C3 este controlador APC foram os seguintes: com um atraso de 14 minutos, ou seja, au-
de alimentação aos reactores. Estes influen- mentando o caudal de C3, e mantendo o
ciam de forma significativa a razão C3/H2, 1. Identificação do Modelo caudal de hidrogénio, a conversão de propa-
diminuindo-a, baixando a selectividade e a Utilizou-se o DMCPlus Model, ferramenta dieno em propileno será menor. O atraso na
actividade catalítica do primeiro leito. Ape- de modelação gráfica, para criar os modelos resposta deve-se ao facto do analisador de
sar de em quantidades ínfimas, em contacto dinâmicos lineares entre as variáveis indepen- propadieno não estar situado à saída dos reac-
com o hidrogénio, estes reagem entre si exo- dentes e dependentes. Este software utiliza tores (para evitar contaminação da amostra
termicamente, sendo responsáveis pela for- os dados processuais reais para identificar os com olígomeros). Este encontra-se no topo
mação de green-oil e consequente aumento modelos, sendo para isso necessário efectuar da coluna de lavagem de olígomeros.
da perda de carga nos leitos. testes no processo durante algum período de A pureza do hidrogénio (cerca de 80%) tam-
tempo e colectar todos bém tem um grande impacto na extensão
os dados. O método das reacções de hidrogenação, sendo, por
mais utilizado durante isso, necessário utilizar a temperatura como
estes testes é o FIR (Fi- uma variável feed-forward.
nite Impulse Response),
que permite identificar 2. Configuração do controlador
a resposta das variáveis Neste passo é utilizado o DMCPlus Build que
controladas a variações permite utilizar os modelos dinâmicos valida-
Gráfico 1 – Perfis adiabáticos de temperatura e conversão em degrau nas variáveis dos para configurar o controlador. São utiliza-
de MAPD entre Junho de 2003 e Julho de 2004
manipuladas: dos diferentes parâmetros de configuração.
A Extracção Supercrítica
Nutricêuticos
lido da destilação não apresentam activi- São necessárias três etapas de separação
dade antioxidante, bem como os extrac- dos produtos de extracção, separando-se
tos obtidos nas três recolhas da extracção os ácidos gordos e os seus esteres metí-
supercrítica, para diferentes condições de licos, as ceras e os óleos essenciais.
pressão e temperatura (figura 2). Examinando a figura 4, verifica-se que,
Os extractos obtidos a partir dos resíduos para a menta, a melhor curva, que repre-
da extracção apresentam factores de pro- senta os valores de FP em função da con-
tecção próximos do Herbor, um antioxi- centração de extracto antioxidante, foi
dante comercial obtido a partir do ale- obtida para a condição P=18 MPa, T=323
crim. Verifica-se também um aumento K e t=1 h.
da actividade antioxidante com o tempo Observa-se um aumento do FP com o
de extracção (4). aumento da concentração de antioxidante.
Figura 3 – Percentagem de compostos fenólicos
Nas condições utilizadas, 12MPa e 313K, nos extractos dos resíduos da extracção supercrítica Os extractos da extracção supercrítica,
o dióxido de carbono extrai preferencial- e no extracto obtido a partir da planta. Pressão, para estas condições, apresentam uma
MPa/Temperatura, K/tempo de extracção, H
mente os compostos mais voláteis e as cor escura e uma textura muito consis-
ceras cuticulares, conduzindo assim à con- tente, o que significa que lípidos, ceras e
centração, no resíduo, dos componentes res- peso molecular mais elevado, componentes pigmentos corados foram extraídos, tendo
ponsáveis pela actividade antioxidante. estes que dificultam grandemente a extrac- como resultado um resíduo supercrítico mais
A cidreira, Melissa officinalis L., é uma erva ção dos antioxidantes. limpo e, consequentemente, uma extracção
com uma longa tradição e uma grande va- Os estudos com a erva-cidreira indicam, mais de antioxidantes mais rápida, eficiente e sim-
riedade de usos. Muitos dos seus ples (6).
efeitos terapêuticos estão associados
ao seu óleo essencial, que é rico em Considerações Finais
aldeídos e alcoóis terpénicos.
O preço do óleo essencial da cidreira A extracção supercrítica é uma tec-
é excessivamente alto, devido, es- nologia limpa para a extracção de
sencialmente, ao seu baixo teor nas componentes para as indústrias ali-
folhas da planta (cerca de 0,1%). mentar, cosmética e farmacêutica.
Os compostos na cidreira que mos- Os resíduos sólidos da extracção su-
tram actividade antioxidante, ácido percrítica não são desperdícios mas,
cafeico e rosmarínico, têm uma ac- sim, matéria-prima de valor acres-
tividade antioxidante comparável ao centado para a extracção de antio-
BHA. Figura 4 – FP versus concentração do extracto xidantes naturais.
dos resíduos sólidos da extracção supercrítica para diferentes condições
O trabalho realizado com esta planta de extracção Pressão, MPa/ Temperatura, K/ tempo de extracção,
tem como principal objectivo o apro- h. Condições de recolha: (Pressão, MPa; Temperatura, K). * Centro de Engenharia
veitamento dos resíduos da extrac- Biológica e Química, DEQ, IST
ção supercrítica que vão ser usados como ma- uma vez, que a extracção supercrítica pode 1 [email protected]
rem um vasto leque de aplicações. Por serem durante um processo cíclico. Foram igual- Na figura 2 ilustra-se o princípio do método
praticamente incombustíveis, com baixa pres- mente registadas as composições das sucatas da sonda arrefecida que é parte da norma
são de vapor à temperatura ambiente, baixa e aditivos utilizadas no processo, de forma a técnica da União Europeia, EN 1948 [2].
volatilidade e solubilidade, boa estabilidade estabelecer as respectivas correlações. Uma parte das emissões gasosas (partículas
térmica, estáveis quimicamente e resistentes Um desenvolvimento experimental impor- e gases) é aspirada através de uma sonda de
às bases e ácidos, têm sido utilizados como tante consistiu no desenvolvimento de técni- vidro por uma bomba. Depois, as partículas
fluido dieléctrico em transformadores e con- cas isocinéticas para amostragem e análise de e os gases passam para um recipiente onde
densadores, em adesivos, óleos de corte, lu- PAHs e PCBs, tendo sido utilizados padrões o condensado e as partículas são recolhidos.
brificantes hidráulicos, tintas etc.. marcados em 13C com 1,2,3,7,8-PeCDF, O sistema de recolha é constituído por um
Entre as principais fontes de emissão de mi- 1,2,3,7,8,9-HxCDF, 1,2,3,4,7,8,9-HpCDF. conjunto de frascos colectores (borbulhado-
cropoluentes destacam-se os processos me- As determinações analíticas foram efectuadas res), que recolhe os condensados e as partí-
talúrgicos e siderúrgicos. Desde há vários em equipamento HRGC/HRMS, VG-Au- culas, pela espuma de poliuretano, um adsor-
anos, que os responsáveis da indústria, os toSpec, utilizando colunas capilares DB 5. vente especial com prova de eficiência para
cientistas e as autoridades procuram meios No que diz respeito aos PAHs, foram quan- a separação de substâncias orgânicas, inter-
apropriados para minimizar os impactos am- tificados 16 congéneres definidos de acordo calado com um filtro de partículas.
bientais de dioxinas/furanos. com as indicações da EPA, utilizando extrac- Em seguida, une-se o filtro de alta eficiência
O estudo da composição da sucata na ciné- tos deuterados entre D8 e D14. Em termos e duas placas do adsorvente em espuma de
tica da formação dos PCDF/PCDF foi le- de PCBs, foram determinados os isómeros poliuretano. Conectado a este equipamento
vado a cabo numa unidade de produção de 28, 52, 101, 138, 153, 180 e homólogo total, encontra-se a torre de sílica, a bomba de gás
aço por FAE (forno de arco eléctrico) para sendo utilizados padrões internos marcados e o contador de gás que regista a quantidade
estudar os efeitos do tipo de sucata, em par- igualmente com 13C. de gás aspirado. Adiciona-se ao frasco de
ticular o uso de sucata industrial do ramo Para os volumes de amostragem utilizados condensados os padrões de amostragem antes
automóvel, que contém grandes quantida- obtiveram-se limites de detecção de 5 pg/ da amostragem. O fluxo do gás é ajustado
des de plásticos. Destaca-se ainda o estudo m3 para as dioxinas e dibenzofuranos e 0,01 para condições isocinéticas no bocal da sonda
feito também à influência dos metais, no- g/m3 para os PAHs e PCBs. de amostragem. Com um volume de amos-
meadamente metais pesados na cinética de tragem de cerca de10 m3 pode-se atingir o
formação de PCDD/PCDF. Procedimentos limite de detecção de 1 a 5 pg I-TEQ/m3.
de amostragem e análise Outros métodos de amostragem encontram-
Metodologia utilizada se na norma técnica da União Europeia, EN
a) Dioxinas e Furanos 1948, parte 1 [2] e do US-EPA Reference
Os objectivos em causa têm vindo a ser atin- O princípio da amostragem das emissões at- Modified Method 23, PCDD & PCDF.
gidos pela realização de campanhas de amos- mosféricas (por exemplo nas chaminés) é As amostras são analisadas de acordo com a
tragem e análise de compostos orgânicos nas determinado pelo facto das dioxinas/fura- EN 1948, partes 2 e 3. As determinações
chaminés de despoeiramento dos efluentes nos em geral serem enriquecidas por partí- quantitativas de PCDD/PCDF são feitas de
gasosos de um forno nacional de produção culas finas, exigindo métodos que são qua- acordo com o método de diluição isotópica
de aço por arco eléctrico. Nestas campanhas lificados para a amostragem das partículas recorrendo aos seguintes padrões internos:
são efectuadas, igualmente, medições de ou- (medições representativas, amostragem iso-
tros poluentes com influência no processo, cinética), equipados com um adsorvente adi- 2, 3, 7, 8 Tetra-CDD 2, 3, 4, 7, 8 Penta-CDF
tais como as partículas totais em suspensão, cional para recolher as dioxinas/furanos em 1, 2, 3, 7, 8 Penta-CDD 1, 2, 3, 4, 7, 8 Hexa-CDF
assim como dos respectivos parâmetros de forma de gás. 1, 2, 3, 6, 7, 8 Hexa-CDD 1, 2, 3, 6, 7, 8 Hexa-CDF
escoamento. Como téc- 1, 2, 3, 4, 7, 8 Hexa-CDD 2, 3, 4, 6, 7, 8 Hexa-CDF
nica de amostragem tomou- 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 Hepta-CDD 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 Hepta-CDF
se como base o método 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 Octa-CDD 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 Octa-CDF
descrito na norma euro- 2, 3, 7, 8 Tetra-CDD
peia EN 1948, tendo,
contudo, sido realizadas Os compostos são extraídos dos condensa-
várias adaptações e me- dos, da espuma e do filtro, com solventes
lhoramentos no sentido apropriados. O procedimento de remoção
de tornar este método de interferentes da amostra é conseguido
de amostragem mais con- através de sistemas de multicolunas croma-
sentâneo com o objec- tográficas. As determinações analíticas foram
tivo das medições, ou efectuadas em equipamento HRGC/HRMS,
seja, o esclarecimento do VG-AutoSpec utilizando colunas capilares
mecanismo de geração e DB5. São determinados os seguintes congé-
Figura 2 – Amostragem de Dioxinas/furanos: método da sonda arrefecida
emissão de compostos neres:
riais tem de dominar as dificuldades seguin- lizada recorrendo-se com o espectrómetro 2,2’,5,5’-Tetra-PCB (PCB-52) 13C-UL
tras em quantidades muito baixas, na ordem b) PAHs e PCBs 2,2’,4,4’,5,5’-Hexa-PCB (PCB-153) 13C-UL
13C-UL
dos pg (picogramas = 10–12 g) ou dos fg A metodologia de amostragem para os PAHs 2,2’,3,4,4’,5,5’-Hepta-PCB (PCB-180)
seguindo-se a sucata com óleos de perfura- dos na figura 4, revelam Fluoreno 3 166 116 295 C13H10
ção (aproximadamente 20 vezes inferiores um perfil característico de Acenafteno 3 154 95 279 C12H10
ao da sucata com PVC), sendo os valores emissões de PAHs. Por Antraceno 3 178 217 370 C14H10
Fluoranteno 4 202 110.8 375 C16H10
encontrados para os restantes bastante apro- análise do gráfico da figura
Pireno 4 202 156 404 C16H10
ximados. 4 destacam-se o Naftaleno,
Criseno 4 228 255 448 C18H12
Após este estudo, foram realizadas medições Acenaftaleno, Fenantreno,
Benzo(a)antraceno 4 228 159.8 437.6 C18H12
com a composição de sucata típica nesta in- Fluoreno como compos-
Benzo(a)pireno 5 252 176 495 C20H12
dústria, tendo sido pesquisado os teores de tos maioritários, encon- Dibenzo(a,h)antraceno 5 278 266 524 C22H14
dioxinas/furanos, PAHs e PCBs e metais pe- trando-se outras espécies Benzo[k]fluoranteno 5 252 215.7 480 C20H12
sados. Das medições realizadas efectuou-se como Fluoranteno, Pireno, Benzo[b]fluoranteno 5 252 167 357 C20H12
um gráfico que permite concluir a existên- Acenafteno e Criseno em Indeno(1,2,3)-cd-pireno 6 276 162.5 536 C22H12
cia de dioxinas e furanos, destacando-se o quantidades mais baixas. Benzo(g,h,i)perileno 6 276 278 500 C22H12
2,3,4,7,8 – pentaCDF como o composto Dos compostos pesquisa-
maioritário detectado no conjunto das me- dos não foram detectados o Benzo(a)pireno, mangas (do sistema de despoeiramento).
dições realizadas. A figura 3 revela a presença Indeno(1,2,3)-cd-pireno, Benzo(ghi)perileno, Contudo, existe sempre uma pequeníssima
dos 17 congéneres pesquisados e que se en- Dibenzo(a,h)antraceno. Fazendo um zoom fracção que é emitida e capturada pelos fil-
contram presentes em todas as medições do gráfico, a partir do Antraceno revela-se um tros do trem de amostragem, sendo poste-
efectuadas. perfil característico também para estes com- riormente quantificada aquando das análises,
postos. Novamente, o uma vez que se analisa quer a solução, quer
conjunto das várias me- as partículas capturadas. Os resultados das
dições efectuadas revela medições de PCBs revelam um decréscimo
um perfil coerente e es- na concentração à medida que aumenta o
tável. No entanto, estes n.º de cloros, conforme ilustrado na figura
resultados são idênticos 5. Os compostos maioritários são os que pos-
entre as várias amostra- suem menor n.º de cloros.
gens, independentemente Tendo em conta as propriedades físico-quí-
da concentração obtida, micas dos compostos, estes resultados são
culminando num perfil coerentes. Ponto de ebulição e de fusão au-
típico de emissões de mentam com o n.º de cloros, da mesma forma
PAHs. Analisando a ta- que a massa molecular, a pressão de vapor e
Figura 3 – Perfil característico (fingerprint) dos 17 congéneres de dioxinas/furanos bela 2, confirma-se que a taxa de evaporação a 25ºC diminuem à
taminada com PVC. [1] Bordado, J.C.M., Ferreira, H.M.S., Gomes, J.F.P., “Dio-
Figura 6 – Resultados das medições de metais pesados A síntese De Novo sem pre- xinas e dibenzofuranos no meio Ambiente”, Química,
72, 15/19 (1999).
cursores orgânicos. Formação [2] European Standard: CEN/ EN 1948, September 1996,
através de carbono, oxigénio e - Stationary source emissions - Determination of the
mass concentration of PCDD/PCDFs Part 1: Sam-
Conclusões cloreto de metais a temperaturas de 250ºC. pling.
Neste caso, os cloretos de metal actuam [3] European Standard: CEN/ EN 1948, September 1996,
- Stationary source emissions - Determination of the
Estudos anteriores referem que a quantidade como catalisadores. OS PCDD/PCDF são mass concentration of PCDD/ PCDFs Part 2: Extrac-
de dioxinas está directamente relacionada líquidos extremamente viscosos a tempera- tion and clean-up.
[4] European Standard: CEN/ EN 1948, September 1996,
com: a velocidade de arrefecimento dos gases turas inferiores a 300ºC e podem facilmente - Stationary source emissions Determination of the
de saída, especialmente à volta de 300ºC; a ser adsorvidos na superfície das partículas. mass concentration of PCDD/ PCDFs Part 3: Identifi-
cation and quantification.
quantidade de poeiras; os metais vestigiais, Os estudos efectuados permitiram, até agora, [5] Gomes, J.F.P., “Poluição Atmosférica – Um Manual
especialmente o cobre que é um bom cata- tirar conclusões importantes sobre a influ- Universitário”, Ed. Publindústria, Porto, 2001.
[6] Gomes, J.F.P., “Qualidade do Ar”, Livro texto, Edições
lizador nas reacções de formação de dioxi- ência das variáveis operacionais sobre as emis- Técnicas ISQ, Lisboa, 1993.
nas; e o carbono e cloro encontrado nas po- sões dos compostos orgânicos atrás mencio- [7] Erickson, Mitchell D. – “Analytical Chemistry of PCBs”,
Lewis Publishers 1997, 2nd edition.
eiras e a presença de oxigénio. nados. Foi ainda possível determinar o per-
1. Introdução
Como Melhorar o Desempenho
Nesta comunicação, as células de combus-
tível com alimentação directa de metanol de uma Célula de Combustível
(“direct methanol fuel cell”, DMFC) são
apresentadas como alternativa às células de
combustível com membrana de permuta
com Alimentação Directa de Metanol
protónica (”polymer electrolyte membrane
Vasco Silva 1, Luis M. Madeira 1, Adélio Mendes 1* e Suzana P. Nunes 2
fuel cell”, PEMFC) convencionais que uti-
lizam hidrogénio como combustível. Para
aquela tecnologia são apresentados os prin- nentes inorgânicos como o óxido de zircó- distribuição de energia (perdas de energia
cípios e características de funcionamento, nio, ZrO2, e o fosfato de zircónio, Zr(HPO4)2. eléctrica, acidentes com radiações electro-
vantagens e desvantagens e aplicações pos- H2O. Resultados recentemente obtidos pelo magnéticas, localização e custos de centrais
síveis. É também realizada uma análise crí- grupo de investigação apontam no sentido eléctricas) são aspectos que a nível global
tica dos requisitos associados às membranas de se virem a obter membranas muito pro- estão a preocupar cada vez mais a humani-
de permuta protónica com vista à sua apli- missoras, porventura em alguns aspectos mais dade [1]. Deste modo, a tecnologia das cé-
cação em sistemas DMFC. Por fim, como eficientes do que as que são actualmente co- lulas de combustível, proposta pela primeira
alternativa às membranas actualmente uti- mercializadas. vez por William Grove em 1839 [2], é mo-
lizadas nos sistemas DMFC disponíveis no tivo de atenção crescente pela sua elevada
mercado (Nafion ), são apresentadas mem- O aumento da poluição (bem como a legis- eficiência e menor emissão de poluentes.
branas modificadas a partir do polímero lação cada vez mais exigente), com níveis Numa célula de combustível, a energia quí-
poli(éter éter cetona) sulfunado. São suge- crescentes de CO2, CO, NOx, etc, as limi- mica de um combustível e de um oxidante
ridos meios para melhorar as propriedades tações das reservas de combustíveis fósseis é convertida directamente em energia eléc-
do polímero por incorporação de compo- e a ausência de regulamentação no sector da trica (não há a dependência do ciclo de Car-
not), através de um processo que envolve
essencialmente um sistema eléctrodos/elec-
trólito [1].
Actualmente, existem já alguns tipos de cé-
lulas de combustível próximos da comercia-
lização [3]. As aplicações possíveis para as
células de combustível vão desde as centrais
industriais e domésticas de produção de elec-
tricidade/calor com potências de MW e kW,
respectivamente, até às aplicações portáteis
com potências de W (telemóveis, computa-
dores portáteis, etc.) [2]. A nível de aplica-
ção nos transportes motorizados, a tecnolo-
gia das células de combustível tem-se reve-
lado como uma possível alternativa aos mo-
tores de combustão interna, não só devido
às suas elevadas eficiências e ausência da
emissão de poluentes gasosos (por exemplo
compostos sulfurados e óxidos de azoto),
como também à sua simplicidade e ausên-
cia de partes móveis na conversão da ener-
gia química em eléctrica [2]. Prevê-se que
durante a presente década se inicie a produ-
ção e comercialização em série dos primei-
ros veículos motorizados propulsados a cé-
lulas de combustível [3].
Apesar do hidrogénio ser o melhor combus-
tível para as células de combustível em ter-
mos de conversão de energia (química em
eléctrica), a sua produção, armazenamento
e distribuição apresenta diversos problemas.
Embora mais difícil de converter, o metanol do ânodo (Pt/Ru), o metanol e a água são um total de 7,5kg. Para efeitos comparati-
surge cada vez mais como um combustível convertidos em dióxido de carbono, protões vos, um sistema de pilhas ácido-cobre con-
alternativo, principalmente para aplicações e electrões, sendo os protões transportados vencional pesaria 100kg para produzir a mesma
portáveis, sendo mais fácil de armazenar e para o cátodo através da membrana de per- quantidade de energia.
de distribuir (pois é líquido à temperatura muta protónica (proton exchange membrane, Entre outras, a empresa Fujitsu encontra-se
ambiente) [4]. Para além disso, o metanol PEM). Por sua vez, os electrões são trans- também a desenvolver um sistema de pro-
pode ser obtido facilmente, é biodegradável portados através de um circuito eléctrico dução de electricidade para computadores
e tem uma elevada densidade de energia externo, no qual podem ser utilizados para portáteis com base na tecnologia DMFC [8].
(3800 kcal/dm3) comparado com o hidro- produzir trabalho. Na camada catalítica do O protótipo do sistema em desenvolvimento
génio a 360atm (658kcal/dm3). O metanol cátodo (Pt), o oxigénio (do ar) é reduzido a é capaz de produzir 15W com 300mL de
tanto pode ser utilizado para produzir hidro- água na presença dos protões e os electrões solução de metanol. A autonomia do sistema
génio indirectamente, usando um reforma- produzido no ânodo. para utilização em computadores portáteis
dor a montante da PEMFC convencional, pode chegar às 10 horas.
como ser directamente utilizado sob a forma
de solução aquosa diluída (tipicamente 2,5% 2. Membrana de permuta
em massa) numa DMFC. A utilização de protónica
uma solução aquosa diluída de metanol di-
minui também consideravelmente os riscos A membrana de permuta
de toxicidade. O uso de reformador aliado protónica é o coração da
ao armazenamento de hidrogénio implica DMFC [5]. A membrana
Figura 1
um projecto e modo de funcionamento do Representação esquemática do funcionamento
deve combinar uma boa con-
dispositivo mais complexo, mais volumoso de uma célula de combustível com alimentação directa de metanol dutividade protónica com
e pesado, bem como maiores custos de in- um bom isolamento aos elec-
vestimento e operação [5]. Assim, estes fac- Ao aplicar a equação de Nernst para calcu- trões e ser impermeável a todos os reagen-
tores levaram muitos investigadores a con- lar o potencial termodinâmico de circuito tes e produtos presentes na DMFC (ex-
cluírem que a DMFC, operando a tempe- aberto da DMFC obtém-se um valor na cluindo o H+). Deve também apresentar
raturas baixas e intermédias (até 130ºC), é ordem dos 1,21V, dependendo da tempe- uma elevada estabilidade química e térmica,
uma tecnologia muito favorável para aplica- ratura, concentração dos reagentes/produtos resistindo a condições altamente oxidantes,
ções portáteis e móveis que requerem bai- e modo de operação (alimentação líquida ou a temperaturas até 150ºC. Actualmente, a
xos níveis energéticos (gama dos W) [4]. gasosa no ânodo) [1]. No entanto, os valo- membrana fluorada da DuPont, Nafion (Fig.
A DMFC é constituída por dois eléctrodos, res experimentais obtidos para a DMFC são 2), tem sido usualmente utilizada nas DMFC.
um positivo e outro negativo, designados por consideravelmente inferiores em relação aos A Nafion tem uma cadeia principal fluo-
cátodo e ânodo, respectivamente [3]. Os ca- teóricos, cerca de 0,7V, devido essencial- rada semelhante ao politetrafluoretileno
talisadores normalmente utilizados no ânodo mente aos seguintes factores limitantes: i) (PTFE, Teflon®), que é resistente e inerte
e cátodo são Platina/Ruténio (~2mg/cm2) cinética de electrocatálise do metanol no em ambientes redutores ou oxidantes [5],
e Platina (~0.1mg/cm2), respectivamente. ânodo e ii) utilização de membranas de per- e cadeias laterais com grupos sulfónicos
Como electrólito, a DMFC utiliza uma mem- muta protónica com elevada permeabilidade (–SO3– H+). A condutividade protónica é
brana de permuta protónica (electrólito po- ao metanol. assegurada pelos grupos sulfónicos e a es-
limérico ácido) que isola electricamente o Mesmo apresentando ainda um baixo nível tabilidade pela cadeia principal fluorada
ânodo do cátodo e permite o transporte dos de desenvolvimento (tecnologia relativamente (–CF2–). Como se pode verificar, este tipo
protões produzidos de um para o outro lado recente), a DMFC tem grande potencial de de membranas combina o carácter hidrófobo
da membrana [5]. As reacções que ocorrem aplicação para dispositivos portáteis, forne- da cadeia fluorada com o carácter hidrófilo
no ânodo e no cátodo, respectivamente, são cendo electricidade durante períodos de dos grupos funcionais sulfónicos [9]. Na pre-
as seguintes: tempo muito mais alargados, comparativa- sença da água, os domínios hidrófilos agre-
(1) mente com as baterias convencionais, a tele- gam-se formando nano-canais (nano-separa-
móveis, computadores portáteis e outros ção) e, devido a este facto, a membrana Na-
equipamentos electrónicos (câmaras de vídeo, fion apresenta uma permeabilidade apre-
(2) agendas electrónicas, televisores portáteis, ciável aos compostos químicos presentes na
leitores de DVD, etc.) [6]. Recentemente, DMFC (CH3OH, H2O, O2, N2 e CO2)
Por sua vez, a reacção global é: a empresa Smart Fuel Cell iniciou a comer- [9]. A permeação de metanol do ânodo para
(3) cialização do equipamento portátil designado o cátodo é prejudicial para o desempenho
por SFC A25, utilizando um sistema de pi- da DMFC, podendo reduzir em cerca de
lhas DMFC [7]. Com pouco mais de 550mL 35% a sua eficiência total [10]. A oxidação
O princípio de funcionamento da DMFC é de solução aquosa de metanol, o sistema é do metanol no cátodo (catalisador de pla-
ilustrado na figura 1. Na camada catalítica capaz de produzir 600Wh por dia, pesando tina) cria um potencial misto e envenena o
catalisador, reduzindo severamente o poten- verso se verifica para a condutividade protó- de maneira a melhorar a compatibilidade
cial da célula. Além disso, a permeação ex- nica. Devido ao carácter menos hidrofóbico entre as fases inorgânica e orgânica e esfoliar
cessiva de água do ânodo para o cátodo alaga da cadeia principal com anéis aromáticos (ver o fosfato, respectivamente. Por intermédio
a estrutura porosa do eléctrodo no cátodo, Fig. 2), no polímero sPEEC não se verifica a do método de raios-x a baixo ângulo (com
diminuindo a área de catalisador disponível formação de domínios hidrófilos (nano-ca- radiação sincrotron), foi possível verificar que
para a reacção e aumentando os efeitos de nais) [9]. Por isso, a permeabilidade desta as partículas inorgânicas de ZrO2 e Zr(HPO4)2.
polarização da concentração. Além do pro- membrana aos compostos presentes na DMFC H2O dispersas na matriz polímerica sPEEC
blema da permeação do metanol, as mem- é consideravelmente menor do que para a apresentam dimensões menores do que 13Å
branas fluoradas apresentam também um Nafion , embora também se verifique uma e entre 6.3–165Å, respectivamente [17]. É
custo elevado (~4–8 €/g), o qual contribui menor estabilidade térmica e condutividade de notar que o fosfato de zircónio é conhe-
significativamente para o preço da célula de protónica. cido pela sua condutividade protónica e,
combustível [5]. De forma a melhorar e optimizar as proprie- sendo assim, a sua utilização na preparação
dades das membranas sPEEC com vista à de membranas compósitas deverá melhorar
sua aplicação numa DMFC, pode proceder- a sua condutividade.
se à modificação do polímero com a incor- As membranas foram depois caracterizadas
poração de compostos inorgânicos como o por espectroscopia de impedância (para es-
óxido de zircónio, ZrO2, e o fosfato de zir- timar a condutividade protónica), sorção lí-
NAFION® cónio, Zr(HPO4)2.H2O [15]. Geralmente, quida (medida da sorção de água na mem-
a incorporação de uma fase cerâmica na ma- brana), pervaporação (estimativa da perme-
triz polimérica permite a preparação de mem- abilidade da membrana ao metanol e água)
branas compósitas estáveis, robustas e com e permeabilidade a gases (estimativa da per-
elevada durabilidade. No caso particular das meabilidade ao O2, CO2 e N2).
sPEEC DMFC, estes factores têm uma elevada re- Igualmente, as membranas em questão foram
levância porque permitem a operação a tem- testadas num sistema DMFC com área igual
Figura 2
Estrutura molecular dos polímeros Nafion e sPEEC
peraturas superiores que, por sua vez, me- a 25cm2, a temperaturas até 130ºC. A ca-
lhora a cinética de oxidação do metanol e racterização dos sistemas eléctrodos/mem-
diminui o envenenamento do catalisador. brana (“membrane electrode assembly”,
De forma a melhorar o desempenho e bai- Da mesma forma, a incorporação de mate- MEA) foi realizada medindo as curvas de
xar o custo associado às DMFC, têm sido rial inorgânico permite também a redução polarização (voltagem em função da densi-
desenvolvidos novos materiais, mais baratos, da permeabilidade dos reagentes/produtos dade de corrente), densidade de corrente
que apresentam boa estabilidade térmica e presentes na DMFC [16]. para voltagem constante (35mV) e voltagem
química, boa condutividade protónica e baixa de circuito aberto. Relativamente aos dois
permeabilidade ao metanol. Actualmente, 3. Investigação & Desenvolvimento últimos parâmetros estudados, também se
estão a ser investigados diversos polímeros mediu a impedância para ângulo de fase nulo
não fluorados (poliimidas, polibenzimidazole, No âmbito de um projecto de investigação (equivalente à resistência óhmica) e a con-
polisulfonas, poliarilcetonas) [11]. Entre estes, desenvolvido no instituto de investigação centração de CO2 no cátodo (estimativa da
as membranas preparadas com base no polí- alemão GKSS, em colaboração com o LEPAE permeação de metanol através da MEA).
mero sulfonado poli(éter éter cetona) (sPEEC) (FEUP-DEQ), o polímero poli(éter éter ce- Resultados obtidos no sistema DMFC per-
têm-se revelado como muito promissoras tona) foi sulfunado com vista à sua aplicação mitiram verificar que a membrana sPEEC,
para aplicações em células de combustível na DMFC. A formação in-situ de partículas para temperaturas inferiores a 90ºC e de-
[12-14], pois apresentam uma boa estabili- cerâmicas de ZrO2 no seio do polímero pendendo do grau de sulfunação, pode apre-
dade mecânica/térmica e condutividade pro- sPEEC foi realizada por intermédio da hi- sentar desempenhos semelhantes ou mesmo
tónica apreciável, dependendo do grau de drólise do tetrapropilato de zircónio, com a superiores aos da Nafion . Membranas com
sulfunação. O polímero PEEC é considera- adição de acetilacetona para prevenir a pre- grau de sulfunação elevado são, porém, par-
velmente mais barato do que o Nafion cipitação do alcóxido. Por sua vez, a incor- cialmente solúveis nas condições de opera-
(~0,05–0,10 €/g) e pode ser funcionalizado poração de fosfato de zircónio foi feita por ção experimentadas.
com ácido sulfúrico, sendo o grau de sulfu- intermédio de uma dispersão preparada pre- Em relação à incorporação in situ de óxido
nação controlado pelo tempo e temperatura viamente, tendo o fosfato sido obtido a par- de zircónio na matriz sPEEC, via hidrólise
de reacção. O grau de sulfunação pode ser tir do tratamento de uma dispersão do res- do tetrapropilato de zircónio, os resultados
utilizado para controlar o balanço entre os pectivo óxido com ácido fosfórico. A disper- obtidos evidenciam que as propriedades das
carácteres hidrofílico/hidrofóbico do polí- são de ZrO2 foi obtida a partir do tratamento membranas híbridas melhoram consideravel-
mero, actuando directamente na condutivi- de uma solução aquosa de ZrClO2 com uma mente em termos de estabilidade térmica/
dade protónica e na estabilidade deste. A es- solução de amónia. Depois de obtida a dis- química e permeabilidade aos compostos
tabilidade tende a diminuir com o aumento persão de fosfato de zircónio, esta foi tra- presentes na DMFC [18,19]. Embora tendo
do grau de sulfunação, enquanto que o in- tada com polibenzimidazole e propilamina o efeito adverso de diminuir a condutividade
protónica do polímero, a diminuição da per- de ser uma tecnologia relativamente recente, consequentemente, o aumento da tempera-
meabilidade ao metanol aumenta a eficiência os sistemas DMFC ainda apresentam um tura de operação da DMFC (logo, maior ve-
da DMFC até um certo nível de incorpora- elevado potencial de desenvolvimento, prin- locidade de reacção).
ção de ZrO2. A modificação das membranas cipalmente a nível da membrana de permuta
sPEEC com óxido de zircónio resultou tam- protónica e cinética de oxidação do metanol 5. Agradecimentos
bém num meio prático de alterar as proprie- (factores limitantes). A membrana usual-
dades do polímero a nível de sorção de água, mente utilizada nos sistemas DMFC é a Na- O trabalho do Vasco Silva é subsidiado pela
condutividade protónica e permeabilidade ao fion , apresentando, esta, um elevado custo Fundação para a Ciência e a Tecnologia (bolsa
metanol. associado e uma elevada permeabilidade ao de doutoramento SFRH/BD/6818/2001).
Por sua vez, a modificação com fosfato de metanol (menor desempenho e eficiência). Vasco Silva agradece à FCT e ao GKSS pelos
zircónio tratado previamente com propila- Em comparação com as membranas conven- apoios financeiros disponibilizados para a sua
mina e polibenzimidazole permitiu a síntese cionais, as membranas preparadas a partir estadia no GKSS Forschungszentrum GmbH.
de membranas compósitas com elevada es- do polímero sPEEC têm um elevado poten- O presente trabalho foi parcialmente supor-
tabilidade e baixa permeabilidade ao meta- cial para aplicação em sistemas DMFC de- tado pelos projectos FCT/FEDER: POCTI/
nol [20]. Devido à condutividade protónica vido ao seu preço reduzido e melhores pro- EQU/38075/2001 e POCTI/EQU/45225/
associada ao fosfato de zircónio, as membra- priedades a nível de permeação dos compos- 2002.
nas compósitas sintetizadas apresentaram tos presentes na célula de combustível. O
melhor relação entre estabilidade/conduti- trabalho de investigação desenvolvido no âm-
vidade. A aplicação destas membranas per- bito da colaboração LEPAE/GKSS mostrou
mitiu a obtenção de bons desempenhos em que a modificação inorgânica do polímero 1 LEPAE, Departamento de Engenharia Química,
sistemas DMFC, principalmente para tem- sPEEC com óxido de zircónio e fosfato de Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;
peraturas entre 100 e 130ºC, evidenciando zircónio diminui a permeabilidade das mem- Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465, Porto, Portugal
as membranas uma boa estabilidade térmica branas ao metanol, permitindo a obtenção
e baixa permeabilidade ao metanol. A ope- de melhores desempenhos e eficiências na 2 GKSS Forchungszentrum,
ração para estas temperaturas melhorou a DMFC. Para além disso, a modificação inor- Max-Planck Str., 21502 Geesthacht, Alemanha
cinética de oxidação do metanol no ânodo, gânica permite também a melhoria da esta- * Tel.: 22 508 16 95, Fax: 22 508 14 49,
sendo este factor um dos limitantes no de- bilidade térmica/química do polímero e, e-mail: [email protected]
sempenho da DMFC.
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de combustível para que, no futuro próximo, [9] K. A. Kreuer, “On the development of proton conduc- deira and S.P Nunes, “Proton electrolyte membrane
o mundo abandone a economia baseada na ting polymer membranes for hydrogen and methanol properties effects on the direct methanol fuel cell per-
fuel cells”, J. Membr. Sci. 185 (2001) 3. formance, I Characterization of hybrid sulfonated
combustão de combustíveis fósseis [1-3]. [10] F. R. Kalhammer, P. R. Prokopius and V. P. Voecks, poly(ether ether ketone)/zirconium oxide membra-
No presente, as células de combustível com “Status and prospects of fuel cells as automobile en- nes”, Journal of Power Sources (submitted),
gines”, State of California Air Resources Board, Ca- (2004).
alimentação directa de metanol surgem cada lifornia, (1998). [19] V. Silva, B. Ruffman, H. Silva, A. Mendes, L.M. Ma-
vez mais como uma alternativa às células de [11] J. Kerres, W. Zhang, L. Jörissen and V. Gogel, “Appli- deira, and S.P. Nunes, “Polymer electrolyte membrane
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[12] T. Kobayashi, M. Rikukawa, K. Sanui, N. Ogata, “Pro- mitted), (2004).
lização de metanol como combustível per- ton-conducting polymers derived from poly(ether- [20] V. Silva, B. Ruffman, R. Reissner, A. Mendes, L.M.
mite a resolução dos problemas associados etherketone) and poly(4-phenoxybenzoyl-1,4-pheni- Madeira, S.P. Nunes, “Characterization and applica-
lene)”, Solid State Ionics 106 (1998) 219. tion of composite membranes in DMFC Catalysis
ao armazenamento, transporte e produção [13] S. M. J. Zaidi, S. D. Mikailenko, G. P. Robertson, M. Today” (to be submitted), (2004).
do hidrogénio. No entanto, devido ao facto D. Guiver, S. Kaliaguine, “Proton conducting compo-
abcissas e une-se este ponto, na vertical à mmH2O irá resultar num erro de 0,4ºC no
razão C/H. Achado este ponto A, une-se ao valor previsto para o ponto de orvalho.
excesso de ar correspondente progredindo c) Considera-se que a composição de com-
na horizontal, obtendo-se o ponto B. Une- bustível era traduzida por uma relação C/H
-se novamente o ponto B à razão C/H na baseada na sua composição elementar. Para
parte superior do gráfico e acha-se assim o os combustíveis gasosos, considera-se a fór-
ponto C. A partir deste, lê-se a temperatura mula para parafinas CnH2n+2. Se estiverem
do ponto de orvalho como 147ºC. presentes olefinas, o valor do ponto de or-
Efectuando a estimativa analiticamente, e valho não será alterado significativamente se
partindo da composição elementar típica do o seu teor molar for inferior a 50%.
fuelóleo, obtém-se a composição molar do Para os fuelóleos, consideram-se a fórmula
efluente gasoso, como se indica na tabela 1, geral CnH2n devido ao seu elevado peso mo-
pelas equações (2), (3) e (4). lecular.
Introduzindo os respectivos valores de con-
centração das pressões parciais das espécies 4. Determinação Expedita com Recurso
H2O e SO3 na equação (7), obtém-se um à Caracterização de Efluentes Gasosos
ponto de orvalho calculado de 145,9ºC.
TABELA 1 – Composição molar de efluente gasoso da A caracterização de efluentes gasosos que é
combustão de fuelóleo com 25% de excesso de ar feita geralmente para verificação da confor-
Composto Função molar midade com a legislação aplicável (Portaria
CO2 0,1053 n.º 286/93) inclui, para os efluentes resul-
H2O 0,1053 tantes da operação de sistemas de combus-
N2 0,7483 tão, a determinação do teor de dióxido de
O2 0,0399 enxofre, partículas totais em suspensão, óxido
SO2 0,0012 de azoto e parâmetros de escoamento dos
SO3 39 × 10–6 gases [8], encontrando-se bem definidos os
métodos de amostragem e doseamento la-
3. Limitações boratorial para estes poluentes [9]. Recen- peratura calculada como o ponto de orvalho
temente, foram conduzidos estudos e vali- dos gases ácidos e a temperatura mínima a
Quando se efectuar a previsão da tempera- dado um método de determinação do trió- que é possível operar o equipamento de com-
tura do ponto de orvalho dos gases ácidos xido de enxofre por via húmida, que se en- bustão para evitar a condensação dos vapo-
por qualquer um destes métodos, devem contra testado e validado [10]. res de ácido sulfúrico.
ter-se em conta as seguintes limitações que Assim, através da caracterização dos efluen-
resultam de simplificações efectuadas para tes gasosos, é possível determinar o teor em * Eng.º Químico (IST),
deduzir as equações atrás referenciadas: trióxido de enxofre, e determina-se por ro- PhD Engenharia Química (IST)
a) Considera-se o equilíbrio dióxido/trióxido tina o teor em humidade do gás, que é um Prof. Auxiliar Universidade Lusófona,
de enxofre como estável a 1000ºC, o que parâmetro que permite calcular a massa mo- Regente da Cadeira de Poluição do Ar;
pode não ser válido em todos os casos. Quando lecular do gás, o que constitui um dos prin- Responsável do Centro de Tecnologias Ambientais
o fuelóleo contém metais, estes podem ori- cipais parâmetros de escoamento, juntamente do ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade,
ginar uma temperatura mais baixa de ponto com a temperatura do gás. Tagus Park, Apartado 119-2781 Oeiras Codex
de equilíbrio, dado que estes podem actuar Com base nestes valores, é agora possível
como catalizadores em relação às reacções calcular a temperatura do ponto de orvalho
BIBLIOGRAFIA
de oxidação. A redução da temperatura de dos gases ácidos pela equação (7). A tempe-
equilíbrio em cerca de 25ºC vai provocar ratura assim obtida por cálculo permite ava- [1] Muller, H., Energietechnick, 33, 415 (1983).
[2] Haase, R., Bargmam, H.W., Konosion,
um aumento do ponto de orvalho em cerca liar da possibilidade de corrosão da tubagem 15, 47 (1981).
de 1,5ºC. metálica tendo-se que: [3] Pierce, R.R., Chemical Engineering, 11 April,
125 (1977).
b) Considera-se que a pressão de operação i) para t > temperatura dos gases, não ha- [4] Verhoff, F.M., Banchero, J.T., Chemical Engineering
do processo de combustão é a atmosférica. verá riscos particulares de corrosão Progress, 70, 71 (1974).
[5] Lisle, E.S., Sensenbauch, J.D., Combustion, 36,
Normalmente, a pressão atmosférica na câ- ii) para t ≤ temperatura dos gases, haverá 16 (1965).
mara de combustão é ligeiramente diferente fortes riscos de corrosão [6] Okkes, A.G., Hydrocarbon Processing, 53, July
(1987).
da atmosférica: esta pressão pode ser infe- [7] Totman, R.S., Chemical Engineering, 63, 24 Dec.
rior no caso de uma fornalha de tiragem na- Naturalmente que devem ser tidas em conta (1984).
[8] Gomes, J.F.P., Ingenium, 71, 39 (1993).
tural, ou mais elevada no caso de uma cal- as limitações do método de cálculo referi- [9] Gomes, J.F.P., Tecnologia e Qualidade, 3, 32 (1991).
deira de recuperação de calor de uma uni- dos em 3 e, assim, recomenda-se que seja [10] Gomes, J.F.P., Tese de Doutoramento,
Instituto Superior Técnico, Lisboa, (1999).
dade de cogeração. Um desvio de 200 mantida uma margem adequada entre a tem-
do polímero deles derivado, sendo então, polimerização [Allcock e col., 1981; Stevens, parte da solução fertilizante aí existente, que
neste contexto, designados simplesmente 1990]. Só daí em diante as aplicações práti- é retida em partículas de consistência gela-
por “meros”. O termo “polímero” é, pois, cas dos polímeros absorventes começaram a tinosa. À volta destas, as raízes podem cres-
utilizado para descrever substâncias de massa ter alguma importância. No início dos anos cer, extraindo, progressivamente, os elemen-
molecular tipicamente elevada. 70, e tendo a água como fluido, o trabalho tos fertilizantes assim retidos na zona super-
Este tipo especial de polímeros, que podem de Fanta e outros investigadores para o Nor- ficial do solo, precisamente onde têm maior
absorver quantidades consideráveis de flui- thern Laboratory (US Department of Agri- eficácia. Esta característica pode revelar-se
dos, tem vindo a ser designado por polímeros culture) revelou as extraordinárias potencia- decisiva (i) na cultura de plantas em vivei-
superabsorventes ou, mais simplesmente, su- lidades absorventes dos mencionados super- ros e nos períodos de pós-transplantação,
perabsorventes. O efeito de absorção resulta absorventes [Yamaguchi e col., 1987]. (ii) em espécies florestais, (iii) em espécies
do alojamento de moléculas relativamente agrícolas e (iv) em jardinagem [Masuda,
pequenas entre as moléculas do polímero, Principais aplicações 1983]. Na Figura 1 [(a) a (d)], apresenta-
que, assim, se afastam umas das outras. -se em forma esquemática o funcionamento
Por depender do contexto e da aplicação, o Nos últimos anos, várias aplicações de polí- do sistema em várias das suas fases.
critério de classificação em polímeros de meros superabsorventes têm-se revelado de Ao absorverem e armazenarem a água, os
baixo e alto peso molecular é mal definido. particular interesse. Uma parte significativa polímeros constituem reservas que permiti-
Concretamente, os polímeros de “muito do actual mercado tem sido relacionada com rão o crescimento sustentado das plantas,
baixo” peso molecular, isto é, com relativa- produtos de cuidados higiénicos, perspecti-
mente poucos meros, são habitualmente de- vando-se a utilização numa gama variada de
signados por oligómeros. outras aplicações, adiante detalhadas, tais A As partículas
de superabsorvente
A caracterização completa dos superabsor- como: agricultura em geral e medicina (cui- são dispersas no solo
ventes no que respeita à sua capacidade e ve- dados médicos). ao nível a que vão
ser incorporadas
locidade de absorção torna-se difícil. Por um as sementes.
lado, para um mesmo superabsorvente, a ca- (i) Aplicações na agricultura
pacidade de retenção de diversos fluidos é Sendo a água indispensável à vida na Terra, B
muito variável. Por outro lado, no que res- um dos mais graves problemas com que a
peita à velocidade de absorção, que depende agricultura se tem confrontado é a sua es- O superabsorvente
retém parte da água
de muitos factores, não existe um método cassez – em vários continentes –, que difi- das chuvas ou da rega.
único estabelecido para a sua determinação. culta o desenvolvimento e a sobrevivência
Uma definição qualitativa dum superabsor- das plantas, com a consequente diminuição
vente classifica-o como: um material que ab- da produção agrícola. Um outro problema
sorve espontaneamente quantidades de flui- que ultimamente tem adquirido crescente C
O superabsorvente
dos significativamente maiores do que podem importância é a contaminação dos solos e cede gradualmente
absorver os feltros de fibras ou outros ma- águas subterrâneas, resultante da lexiviação à planta a água retida,
re-hidratando-se
teriais convencionalmente absorventes [Chen de fertilizantes, fitofármacos e respectivos eventualmente
e col., 1985]. Os superabsorventes hidrofí- produtos de biodegradação (correntemente cada vez que ocorre
pluviosidade ou rega.
licos, quando imersos num excesso de água, designados por metabolitos).
expandem até ao seu volume de equilíbrio, Os polímeros superabsorventes, devido à sua
absorvendo água, mas não se dissolvem. Em grande capacidade de absorção de água, D Esgotada a água
geral, apresentam estabilidade mecânica, po- podem revelar-se muito úteis em casos como disponível, as partículas,
que entretanto
dendo resistir a repetidos ciclos de absorção- os citados, melhorando a capacidade de re- “encolheram”, retomam
-dessorção. tenção da água e nutrientes nos solos, assim a forma original
e deixam cavidades
se conseguindo uma mais adequada gestão que contribuem para
Os primeiros superabsorventes dos recursos hídricos disponíveis. De facto, um melhor arejamento
do solo.
além das perdas devidas à evaporação super-
Uma das propriedades que atraiu a atenção ficial, podem assumir especial relevância as
E
dos investigadores foi a interessante capaci- perdas por infiltração até camadas profun-
dade de alguns dos polímeros para absorve- das, tanto mais graves quanto mais ligeira ou O processo
é reversível perante
rem quantidades razoáveis de líquidos. Assim, arenosa for a textura do solo. Ambos os casos novo fornecimentos
durante o período de 1939-60, sintetizaram- resultam numa maior dificuldade por parte de água; as partículas
voltam a reter parte
-se vários polímeros absorventes, a par do das plantas no acesso à água que lhes é ne- da água infiltrada.
desenvolvimento que já se vinha registando cessária.
na química dos polímeros nos finais da dé- No que respeita à contaminação do solo, no-
cada de 1940, graças ao recurso a novos mo- meadamente por fertilizantes, os superab- Figura 1 – Fases do funcionamento do superabsorvente
nómeros e à descoberta de novas técnicas de sorventes, misturados com a terra, absorvem (representação esquemática)
pois o grau de humidade do solo torna-se cretas, podem citar-se a libertação da pros- indica, no entanto, que as aplicações destes
mais estável e as substâncias nutritivas vão taglandina E2 para indução do parto, forne- polímeros crescerão rapidamente no futuro
ter em geral um melhor aproveitamento. cimento de níveis adequados de morfina em próximo, porquanto não só apontam para a
As soluções dos nutrientes permanecerão analgesia pós-operatória e de insulina a dia- resolução de diversos problemas técnicos,
durante maiores períodos de tempo nas zonas béticos [Anon., 1985]. como também, concretamente, contribuem
do solo onde podem ser absorvidas pelas O poli(metacrilato de 2-hidroxietilo) (Figu- para a protecção do ambiente e uma melhor
plantas, verificando-se, em conclusão, que ra 2), polímero resultante do monómero gestão da água.
as plantas são alimentadas de forma mais CH2=C(CH3)COOCH2CH2OH, é um dos
eficiente. superabsorventes de interesse. Utiliza-se no Agradecimentos
É também de referir que a aplicação de su- revestimento de materiais cirúrgicos, tais como
perabsorventes atenua as variações da tem- cateteres, “by-passes”, cânulas, membranas A investigação subjacente a este estudo efec-
peratura do solo no ciclo diário em regiões de rins artificiais [Bruck, 1976], nomeada- tuou-se no Centro de Processos Químicos do
de clima extremo [Azzam, 1981], efeito que mente na forma de implantes, sendo utilizado Instituto Superior Técnico (Universidade Téc-
é plausível dado o alto calor específico da em quase todos os ramos da cirurgia. nica de Lisboa). Os autores pertencem ao De-
água. partamento de Engenharia Química (IST).
Pode, portanto, dizer-se que o interesse fun-
damental do uso de superabsorventes em
agricultura se centra na melhor gestão da água, * Departamento de Engenharia Química,
com a consequente redução de custos de ir- Instituto Superior Técnico
rigação e aumento de produtividade. Esta Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa – Portugal
acção pode revelar-se mesmo indispensável Tel.: 21 841 70 00 – Fax: 21 849 92 42
ao processo produtivo em situações onde a
escassez de água seja o factor limitante.
Resumo
Processo Integrado de Filtração
Aplicou-se um processo integrado de filtra-
ção e secagem, num filtro prensa com mem-
branas, desenvolvido nos Laboratórios do
e Secagem de Efluentes Industriais
Centro de Processos Químicos da Univer-
sidade Técnica de Lisboa, a dois casos estu- * El Said I. El-Shafey 1, Paulo F.M.M. Correia 2, Jorge M.R. de Carvalho 3
dados.
No caso das suspensões das ETAR’s de cur-
tumes, conseguiu-se, após uma lixiviação siderados os filtros mais eficientes na redu- 2. Descrição do equipamento
ácida, seguida do processo integrado, obter ção da humidade dos bolos de filtração.
bolos de filtração descontaminados com teo- De uma maneira geral, em ETAR’s munici- Os estudos apresentados foram realizados
res de humidade da ordem de 20%, que po- pais ou industriais, os teores de humidade numa unidade piloto constituída por um fil-
derão ser utilizados na agricultura (directa- que se obtêm nas lamas produzidas são de tro prensa com membranas actuadas por
mente ou após compostagem), na produção 50 a 70%, quando se utilizam filtros prensa. água quente e com secagem do bolo através
de energia ou como matéria-prima para o O destino destas lamas em Portugal é o de um sistema de vácuo produzido por uma
fabrico de novos produtos, como é o caso aterro. Contudo, os custos de transporte e bomba de anel líquido (Fig. 1). Esta adap-
dos produtos cerâmicos. Os metais pesados colocação em aterro são proporcionais à to- tação ao filtro prensa convencional converte-
existentes no filtrado e nas águas de lavagem nelagem das lamas brutas, pelo que, se o teor o de um filtro de volume de câmara de fil-
(nomeadamente crómio, ferro e zinco) foram de humidade num bolo de filtração for re- tração fixo num filtro de “volume variável”
precipitados com carbonato de sódio, ob- duzido em 50%, os custos, atrás referidos, pelo uso de uma placa de filtração designada
tendo-se uma corrente líquida descontami- baixam para cerca de metade. por placa de diafragma ou de membrana
nada e um resíduo sólido concentrado em Nesta comunicação demonstra-se que um (Fig. 2). Este tipo de placa tem uma super-
metais pesados com cerca de 20% de humi- processo desenvolvido nos Laboratórios do fície flexível, que, quando selada nas suas
dade e de tonelagem bastante inferior à das Centro de Processos Químicos da Univer- extremidades, forma um diafragma que pode
lamas actualmente depositadas no aterro de sidade Técnica de Lisboa, à escala piloto, ser inchado para comprimir mecanicamente
Alcanena. pode resolver sérios problemas ambientais o bolo de filtração e permitir a remoção de
No caso do resíduo sólido resultante do pro- nas indústrias que produzem efluentes con- líquido adicional nele contido.
cesso de produção da cerveja, nomeadamen- taminados e, simultaneamente, contribuir O filtro é alimentado pelo orifício central
te da malteria, designado na gíria por “dre- para um programa de gestão de resíduos mais (orifício 1 da Fig. 2), que também serve para
che”, o processo desenvolvido permitiu obter eficaz. A tecnologia usa um processo de se- alimentação da água de lavagem e para a
um resíduo sólido estabilizado com cerca de paração sólido-líquido, recorrendo a um fil-
15% de humidade e de valor nutricional ele- tro prensa com membranas, em que se uti-
vado. liza água quente para dilatar as membranas
e em que os bolos de filtração são secos atra-
1. Introdução vés de um sistema de vácuo.
Apresentam-se dois casos estudados da apli-
A filtração é uma operação unitária sólido- cação do processo a efluentes e resíduos in-
-líquido em que se efectua a separação das dustriais: as suspensões das ETAR’s de curtu-
partículas sólidas de uma suspensão, recor- mes e o resíduo sólido resultante do processo
rendo ao escoamento através de uma bar- de produção da cerveja, nomeadamente da
Figura 1 – Vista geral da unidade
reira porosa, designada por meio filtrante. malteria, designado na gíria por “dreche”. integrada de filtração e secagem
Esta barreira é permeável à fase líquida – o
filtrado – e vai retendo a fase sólida, que se
acumula progressivamente sobre o meio fil-
trante e vai constituir o bolo de filtração.
Esta operação unitária é uma operação clás-
sica da Indústria Química, tendo tido tam-
bém larga aplicação a nível do tratamento
de efluentes industriais e domésticos.
Para levar a cabo esta operação unitária, são
utilizados vários tipos de filtros, entre os
quais se destacam os filtros prensa, pela sua
construção e manutenção simples e econó-
Figura 2 – Detalhe de uma placa de membrana
mica e pela sua flexibilidade[1], sendo con-
saída do líquido resultante da sopragem do TABELA 1 – Etapas do processo Na Fig. 4, apresenta-se um diagrama esque-
integrado de filtração e secagem
orifício central (“Core-blow”). O orifício 2 mático do processo de tratamento. Realizou-
Duração
(Fig.2) serve para a entrada do ar de sopra- Etapa
típica (min.) -se uma lixiviação ácida, para libertação do
gem e para as saídas do filtrado e da água de 1. Fecho do filtro prensa com membranas 2 gás sulfídrico e solubilização do crómio e do
lavagem. Os orifícios 3, 4 e 5 (Fig. 2) ser- 2. Contracção das membranas 1 ferro presentes[3], seguida do processo in-
3. Pré-camada de terra de diatomáceas 10
vem apenas para as saídas referidas. Uma tegrado de filtração e secagem, anteriormente
4. Enchimento de filtro prensa 1–2
vez as placas unidas e o filtro fechado, o con- 5. Filtração 40 – 60 referido.
junto de orifícios, na mesma posição, forma 6. Sopragem do orifício central (“Core-blow”) 2 O efluente gasoso, contendo gás sulfídrico,
uma ligação às tubagens de entrada e saída 7. Compressão dos bolos pelas membranas 15 foi enviado para a unidade de dessulfuração,
do filtro prensa com membranas. Os orifí- 8. Sopragem por ar comprimido 5 constituída por três torres sequenciais de la-
9. Secagem sob vácuo e compressão simultânea
cios 1 a 5 (Fig. 2) servem também para a das membranas sobre os bolos aquecidos
15 – 60 vagem de gases, sendo lavado na primeira
saída do vapor de água, proveniente do bolo 10. Paragem do vácuo e obtenção da pressão
1 com solução aquosa de NaOH, na segunda
atmosférica
de filtração, na etapa de secagem sob vácuo. 11. Abertura do filtro 1 com hipoclorito de sódio e na terceira com
A secagem é realizada por circulação de água 12. Descarga dos bolos de filtragem e limpeza 3 solução diluída de ácido sulfúrico. O efluente
quente a 65ºC através das placas de mem- aquoso, rico em sulfatos, será enviado à ali-
brana do filtro (Fig. 3), a uma pressão de até 3. Casos estudados mentação da ETAR.
6 bar e por aplicação simultânea de vácuo
nas câmaras onde se formam os bolos de fil- 3.1. Suspensão de ETAR’s de curtumes
tração, levando a uma redução do ponto de Partiu-se da suspensão proveniente da ETAR
ebulição da água para 45ºC[2]. Podem-se de Alcanena, após os tratamentos primário
atingir diferentes níveis de secagem do bolo, e secundário. Devido à origem das águas re-
variando a duração desta etapa. siduais ser maioritariamente proveniente de
O ciclo do processo integrado consiste nas indústria de curtumes com curtimenta com
etapas de filtração, sopragem dos bolos, lim- crómio, a lama resultante, de elevado teor
peza da tubagem de alimentação da suspen- de humidade (50-60%, após estabilização),
Figura 5 – Resultados das análises químicas à fase
são por ar comprimido, lavagem dos bolos é considerada um resíduo perigoso, devido sólida, nas várias etapas do processo
(para garantir que a totalidade da sua humi- à presença de sulfuretos e metais pesados.
dade é água), actuação das membranas para Na Tabela 2, apresenta-se uma análise típica
comprimir os bolos e seu aquecimento atra- à suspensão resultante do espessamento das Na Fig. 5, apresentam-se os resultados das
vés da água quente que as actua, aplicação lamas dos decantadores primário e secundá- análises à fase sólida da suspensão, relativa-
de vácuo ao sistema (para evaporação da rio da ETAR de Alcanena, após digestão da mente aos principais poluentes presentes,
água), abertura, descarga dos bolos de filtra- amostra. ao longo do processo. Verifica-se que a lixi-
ção e limpeza do sistema. Na Tabela 1, apre- viação dos sólidos da suspensão (onde está
TABELA 2 – Análise à suspensão da ETAR de Alcanena
sentam-se valores típicos de duração de cada concentrada a poluição) a pH=0,7 permitiu
etapa. Parâmetro Valor a transferência da maior parte dos poluen-
Cr (ppm) 600
tes para a fase aquosa, que constitui o fil-
Fe (ppm) 950
Zn (ppm) 20
trado da etapa de filtração subsequente.
Sulfuretos (ppm) 160 Estes resultados são confirmados pelas aná-
pH 6,5 lises às fases aquosas provenientes das várias
%Sólidos 5 – 8% etapas do processo, apresentadas na Fig. 6.
Figura 4
Com as lavagens sequenciais e subsequentes sentam-se resultados típicos obtidos, assim celulose (9%), lípidos (9%) e cinza (4%)[8].
do bolo de filtração com ácido sulfúrico e como os valores limites de emissão (VLE), É vendida como subproduto para a alimen-
água, houve um ligeiro decréscimo adicional de acordo com o anexo XVIII do Decreto- tação animal, devido ao seu elevado conte-
das concentrações dos elementos poluentes -Lei n.º 236/98. údo proteico. Contudo, constitui um resí-
dos bolos de filtração, mas a maior parte da duo orgânico difícil de preservar em condi-
TABELA 3 – Resultados do ensaio de precipitação
transferência para a fase aquosa ocorreu du- do filtrado com carbonato de sódio 1 M
ções ambientes, devido ao seu elevado teor
rante a etapa de filtração. de humidade (75-80%)[9] e à presença de
Fase liquída
Parâmetro Inicial
após pricipitação
VLE 2-4% de mosto residual[10], altamente fer-
Cr (ppm) 589 1,4 2,0 mentável, pela presença de açúcares. Depois
Fe (ppm) 937 0,8 2,0 de algumas horas de exposição ao ar, inicia-
Zn (ppm) 19,2 0,4 0,5
se um processo fermentativo no seio da “dre-
pH 0,7 9,0 6,0 – 9,0
che”, o qual causa perda de matéria seca e
modificações no produto que podem tornar
A lama obtida, com 20% de humidade média, perigoso o seu uso na alimentação animal.
poderá ser colocada em aterro, conseguindo- A preservação e a consequente comerciali-
Figura 6 – Resultados das análises químicas à fase se ganhos substanciais em termos da tone- zação da “dreche” seriam significativamente
líquida, ao longo das várias etapas do processo
lagem de lamas perigosas a depositar. Alter- melhoradas se o material fosse seco. Da sua
nativamente poderá ser sujeita a processos secagem, resultaria também uma redução
Na Fig. 7, apresenta-se a redução do teor de de recuperação selectiva do Cr(III) e do do volume de produto, com consequentes
humidade ao longo do processo. É de notar Fe(III) presentes, com vista à obtenção de economias nos custos de transporte e arma-
a redução de uma fracção significativa da hu- soluções concentradas de Cr(III) para reu- zenamento.
midade, antes da aplicação da etapa de se- tilização na curtimenta e de Fe(III) para uso
cagem por vácuo. como coagulante na ETAR de Alcanena, no-
No final do processo, pode-se considerar os meadamente extracção líquido-líquido[4,5]
bolos de filtração descontaminados, com um ou permuta iónica[6].
teor de humidade de cerca de 20%, como
um resíduo não perigoso, o qual poderá ser
utilizado na agricultura (directamente ou
após compostagem), na produção de ener-
Figura 9 – Humidade média dos bolos de filtração
gia ou como matéria-prima para o fabrico de no final de cada etapa do processo integrado de filtração
novos produtos, como é o caso de produtos e secagem da “dreche”
cerâmicos, evitando, deste modo, a sua iner-
tização e colocação em aterro de resíduos TABELA 4
perigosos, com elevados custos económicos Resultados das análises químicas ao bolo de filtração
sem revestimento por coadjuvante de filtração
e ambientais. Na Fig. 8, apresenta-se o as-
pecto de um bolo de filtração descontami- Parâmetro Valor (%)
Matéria seca (MS) 89,9
nado obtido.
Cinza (na MS) 3,9
Proteína Bruta (na MS) 26,7
Figura 8 – Aspecto de um bolo de filtração
Gordura Bruta (na MS) 8,9
descontaminado, obtido no processo integrado
de filtração e secagem Lenhina em detergente ácido (ADL) (na MS) 5,3
Fibra em detergente ácido (ADF) (na MS) 16,0
Fibra em detergente neutro (NDF) 56,9
Do processo descrito resulta uma redução
do volume de lamas perigosas produzido, a
separação dos poluentes presentes e a ob- Da aplicação do processo integrado de fil-
tenção de um resíduo sólido que poderá tra- tração e secagem, anteriormente exposto,
Figura 7 – Representação gráfica da humidade zer um valor acrescentado para o processo. obtiveram-se bolos de filtração com uma hu-
dos bolos de filtração no final de cada etapa midade da ordem de 15%, para bolos com
do processo integrado de filtração e secagem
3.2. “Dreche” da indústria cervejeira uma espessura média de 7×10–3 m (cf. Fig.
No nosso País, a indústria cervejeira produz 9). A humidade dos bolos de filtração pro-
Conforme apresentado na Fig. 4, os efluen- cerca de 95×106 kg de “dreche” por ano[7]. duzidos é reduzida adicionalmente quando
tes líquidos obtidos das etapas de filtração e A “dreche” é um resíduo sólido granular cas- armazenados em condições ambientes e ex-
sopragem dos bolos são sujeitos a precipita- tanho amarelado que resulta da separação postos ao ar atmosférico com uma humidade
ção com carbonato de sódio, ficando a quase do mosto, durante o processo de fabricação relativa média inferior a 30%, alcançando
totalidade do Cr e Fe presentes concentrada da cerveja, constituído por proteínas (31% um valor de equilíbrio de 10,1% em menos
no precipitado obtido. Na Tabela 3, apre- do peso seco), glícidos (31%), lenhina (16%), de dois dias[7]. Não foi observada qualquer
actividade bacteriana no bolo de filtração, e nas águas de lavagem (nomeadamente cró- 5. Agradecimentos
armazenado nestas condições, durante o pe- mio, ferro e zinco) foram precipitados com
ríodo de 1 ano[11]. carbonato de sódio, obtendo-se uma corrente Os autores desejam expressar os seus agra-
Logo, os níveis de secagem alcançados per- líquida descontaminada e um resíduo sólido decimentos ao Sr. Joaquim Gomes (Lusá-
mitem armazenar os bolos de filtração em concentrado em metais pesados com cerca gua), responsável pela ETAR de Alcanena,
condições ambientes, o que facilita a sua co- de 20% de humidade e de tonelagem bas- pelo fornecimento das amostras da suspen-
mercialização e seu uso na alimentação ani- tante inferior à das lamas actualmente depo- são estudadas; ao CTIC (Centro Tecnoló-
mal, nomeadamente na indústria de rações, sitadas no aterro de Alcanena. gico das Indústrias do Couro), por informa-
sem quaisquer constrangimentos temporais. O recurso ao processo integrado de filtração ções facultadas, ao Eng.º Francisco Ferreira
Na Fig. 10, apresenta-se o aspecto de um e secagem em filtro prensa com membranas do Amaral, director da Sociedade Central
bolo de filtração estabilizado. Os resultados permitiu também estabelecer um processo de Cervejas, pelo fornecimento das amos-
da sua análise são apresentados na Tabela 4. alternativo eficiente para secar a “dreche” tras de “dreche” e pelas informações pres-
Verifica-se que os bolos de filtração obtidos da indústria cervejeira num ciclo de opera- tadas; e à Prof. Luísa Falcão e Cunha, da
podem constituir um suplemento proteico ção, conseguindo-se uma diminuição do vo- Secção de Produção Animal do Instituto Su-
interessante para alimentação animal ou hu- lume de resíduos a tratar. Atingiu-se um perior de Agronomia, pela realização das aná-
mana. nível de secagem suficientemente elevado lises bioquímicas do bolo de filtração da “dre-
O filtrado obtido do tratamento pode ser para minimizar a degradação microbiana em che”. Dois dos autores (E.I. El-Shafey e
recirculado ao processo industrial de produ- condições de armazenamento, o que permite P.F.M.M. Correia) desejam agradecer à FCT
ção de cerveja. a comercialização da “dreche” estabilizada o apoio financeiro para a realização do tra-
para a alimentação animal e/ou para outros balho apresentado.
usos, sem quaisquer constrangimentos tem-
porais.
A tecnologia estudada apresenta vantagens 1 E-mail: [email protected],
4. Conclusões