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INGENIUM

II Série | Número 98 | Março/Abril 2007

II Série | Número 98 | 3
Março / Abril 2007

Director Fernando Santo | Director-Adjunto Victor Gonçalves de Brito a engenharia portuguesa em revista

ESPECIAL

COMUNICAÇÕES
TÉCNICAS

PRIMEIRO PRIMEIRO
PLANO PLANO
Prioridade para a “Experiência
qualificação profissional. portuguesa pode NOTÍCIAS
Resultados Finais ser capitalizada Prémios
INGENIUM

das Eleições. no Panamá” SECIL 2006


Página 6 Página 8 Página 12
INGENIUM
II SÉRIE N.º 98 - MARÇO/ABRIL 2007

Propriedade: Ingenium Edições, Lda.


Director: Fernando Santo

´
Director-Adjunto: Victor Gonçalves de Brito
Conselho Editorial:
João Carlos Chaves Almeida Fernandes, Vasco Fernando Ferreira Lagarto,
Eduardo Maldonado, Pedro Alexandre Marques Bernardo, João Moura Bordado,
Victor Gonçalves de Brito, Manuel Alexandre Pinto de Abreu, Miguel Castro
Neto, Pedro César Ochoa de Carvalho, Maria Manuel Xavier de Basto Oliveira,
SUMARIO
José António dos Santos Alegria, Justina Catarino, Luís Manuel Leite Ramos,
Maria Helena Pego Terêncio M. Antunes, Artur Ravara, Paulo Filipe Freitas
Rodrigues, António da Câmara Homem de Noronha 5 EDITORIAL
Redacção, Produção Gráfica e Publicidade: Ingenium Edições, Lda.
Novo mandato, novos desafios
Sede Av. Sidónio Pais, 4-E - 1050-212 Lisboa
Tel.: 21 313 26 00 - Fax: 21 352 46 32 6 Primeiro Plano
E-mail: [email protected]
Região Norte Rua Rodrigues Sampaio, 123 - 4000-425 Porto 6 Prioridade para a qualificação profissional
Tel.: 22 207 13 00 - Fax: 22 200 28 76
Região Centro Rua Antero de Quental, 107 - 3000 Coimbra 8 “Experiência portuguesa pode ser capitalizada no Panamá”
Tel.: 239 855 190 - Fax: 239 823 267
Região Sul Av. Sidónio Pais, 4-E - 1050-212 Lisboa
Tel.: 21 313 26 00 - Fax: 21 313 26 90 11 Notícias
Região Açores Rua do Mello, 23, 2.º - 9500-091 Ponta Delgada
Tel.: 296 628 018 - Fax: 296 628 019
Região Madeira Rua da Alegria, 23, 2.º - 9000-040 Funchal
14 Colégios
Tel.: 291 742 502 - Fax: 291 743 479
38 Comunicações
Impressão: Heska Portuguesa

Publicação Bimestral Agronómica


Tiragem: 44.000 exemplares
38 Cálculo do Valor expectante na Avaliação dos terrenos periurbanos
Registo no ICS n.º 105659 | NIPC: 504 238 175 42 A Engenharia Genética de plantas através da utilização de genes envolvidos na biosíntese
Depósito Legal n.º 2679/86 | ISSN 0870-5968
de trealose com vista ao aumento da tolerância ao stress abiótico
Ordem dos Engenheiros
46 Ventilação natural de estufas. Princípios físicos
Bastonário: Fernando Santo
Vice-Presidentes: Sebastião Feyo de Azevedo, 53 Eficiência Energética de Utilização do Tractor Agrícola em Trabalhos de Tracção
Victor Manuel Gonçalves de Brito
Conselho Directivo Nacional: Fernando Santo (Bastonário), Sebastião Civil
Feyo de Azevedo (Vice-Presidente Nacional), Victor Manuel Gonçalves de
Brito (Vice-Presidente Nacional), Gerardo José Saraiva Menezes (Presidente 61 Etar de Vale Faro
CDRN), Fernando Manuel de Almeida Santos (Secretário CDRN), Celestino
Flórido Quaresma (Presidente CDRC), Valdemar Ferreira Rosas (Secretário 64 A Gestão da Qualidade das Redes Rodoviárias.
CDRC), António José Coelho dos Santos (Presidente CDRS), Maria Filomena
de Jesus Ferreira (Secretário CDRS). O Estado da Arte e os Desenvolvimentos Futuros
Conselho de Admissão e Qualificação: João Lopes Porto (Civil),
Fernando António Baptista Branco (Civil), Carlos Eduardo da Costa Salema
77 Monitorização Contínua de Obras de Engenharia Civil.
(Electrotécnica), Rui Leuschner Fernandes (Electrotécnica), Pedro Francisco O caso das escoras metálicas da Estação do Terreiro do Paço
Cunha Coimbra (Mecânica), Luís António de Andrade Ferreira (Mecânica),
Fernando Plácido Ferreira Real (Geológica e Minas), Nuno Feodor Grossmann 80 Concepção sísmica de estruturas subterrâneas de grande porte em solos brandos
(Geológica e Minas), Emílio José Pereira Rosa (Química), Fernando Manuel
Ramôa Cardoso Ribeiro (Química), Jorge Manuel Delgado Beirão Reis (Naval), 84 Nova Abordagem no Reforço de Estruturas com Materiais Compósitos
António Balcão Fernandes Reis (Naval), Octávio M. Borges Alexandrino
(Geográfica), João Catalão Fernandes (Geográfica), Pedro Augusto Lynce de
Faria (Agronómica), Luís Alberto Santos Pereira (Agronómica), Ângelo Manuel
Electrotécnica
Carvalho Oliveira (Florestal), Maria Margarida B. B. Tavares Tomé (Florestal), 91 Motores Eléctricos de Rendimento Melhorado. Uma boa aposta!
Luís Filipe Malheiros (Metalúrgica e de Materiais), António José Nogueira
Esteves (Metalúrgica e de Materiais), José Manuel Nunes Salvador Tribolet 94 Sistemas Dinâmicos de Ordem Fraccionária
(Informática), Pedro João Valente Dias Guerreiro (Informática), Tomás Augusto
Barros Ramos (Ambiente), Arménio de Figueiredo (Ambiente).
Presidentes dos Conselhos Nacionais de Colégios: Hipólito José Campos
Geográfica
de Sousa (Civil), Francisco de La Fuente Sanches (Electrotécnica), Manuel 96 Geocodificação de Moradas para Integração dos Dados do Negócio com Dados Geográficos
Carlos Gameiro da Silva (Mecânica), Júlio Henrique Ramos Ferreira e Silva
(Geológica e Minas), António Manuel Rogado Salvador Pinheiro (Química),
José Manuel Antunes Mendes Gordo (Naval), JAna Maria de Barros Duarte Metalúrgica
Fonseca (Geográfica), Miguel de Castro Simões Ferreira Neto (Agronómica),
Pedro César Ochôa de Carvalho (Florestal), Rui Pedro de Carneiro Vieira de 100 Evolução morfológica de compostos de PVC rígido numa extrusora contra-rotativa
Castro (Metalúrgica e Materiais), João Bernardo de Sena Esteves Falcão e e num reómetro de binário
Cunha (Informática), António José Guerreiro de Brito (Ambiente).
Região Norte 104 Estratégia de I&D e de Formação na Área de Tecnologia da Cortiça
Conselho Directivo: Gerardo José Sampaio da Silva Saraiva de Menezes
(Presidente), Maria Teresa Costa Pereira da Silva Ponce de Leão (Vice- 115 A Mecânica da Fractura
Presidente), Fernando Manuel de Almeida Santos (Secretário), Carlos Pedro
de Castro Fernandes Alves (Tesoureiro). 124 Estimativa da Corrosão em Chaminés Metálicas por Ácido Clorídrico
Vogais: António Acácio Matos de Almeida, António Carlos Sepúlveda Machado
e Moura, Joaquim Ferreira Guedes. Química
Região Centro
Conselho Directivo: Celestino Flórido Quaresma (Presidente), Maria Helena 126 Técnicas de Descontaminação de Solos: uma revisão
Pêgo Terêncio M. Antunes (Vice-Presidente), Valdemar Ferreira Rosas
(Secretário), Rosa Isabel Brito de Oliveira Garcia (Tesoureira). 132 Apresentação de um Sistema de Monitorização da Degradação
Vogais: Filipe Jorge Monteiro Bandeira, Altino de Jesus Roque Loureiro,
Cristina Maria dos Santos Gaudêncio Baptista. de Estruturas de Betão Armado – MonIcorr
Região Sul
Conselho Directivo: António José Coelho dos Santos (Presidente), António
138 Optimização da hidrogenação de MAPD no Steam Cracker da Borealis Polímeros, Lda.
José Carrasquinho de Freitas (Vice-Presidente), Maria Filomena de Jesus
Ferreira (Secretária), Maria Helena Kol de Melo Rodrigues (Tesoureira).
141 A Extracção Supercrítica e os Antioxidantes Naturais
Vogais: João Fernando Caetano Gonçalves, Alberto Figueiredo Krohn da Silva, 144 Emissão de Micropoluentes Orgânicos (Dioxinas, Dibenzofuranos, PAHs e PCBs)
Carlos Alberto Machado.
Secção Regional dos Açores no Fabrico de Aço em Forno de Arco Eléctrico
Conselho Directivo: Paulo Alexandre Luís Botelho Moniz (Presidente), Victor
Manuel Patrício Corrêa Mendes (Secretário), Manuel Rui Viveiros Cordeiro 149 Como Melhorar o Desempenho de uma Célula de Combustível
(Tesoureiro).
Vogais: Manuel Hintze Almeida Gil Lobão, José António Silva Brum.
com Alimentação Directa de Metanol
Secção Regional da Madeira 154 Avaliação Expedita da Possibilidade de Ocorrência de Corrosão em Chaminés Metálicas
Conselho Directivo: Armando Alberto Bettencourt Simões Ribeiro (Presidente),
Victor Cunha Gonçalves (Secretário), Rui Jorge Dias Velosa (Tesoureiro). 156 Polímeros Superabsorventes. Potencialidades e aplicações
Vogais: Francisco Miguel Pereira Ferreira, Elizabeth de Olival Pereira.
159 Processo Integrado de Filtração e Secagem de Efluentes Industriais

Março/Abril 2007 | INGENIUM 3


Editorial

Foto: Paulo Neto


Novo mandato, novos desafios

A
s eleições na Ordem dos Engenheiros, que ti- reduzido na razão inversa do valor do acto adminis-
veram lugar no passado dia 27 de Fevereiro, trativo.
encerraram o mandato iniciado em 2004, que No ensino superior, quando pensávamos que tínha-
ficou marcado por uma clara afirmação da Ordem mos “batido no fundo”, surpreendem-nos sempre
Fernando Santo
na defesa da regulamentação da profissão, pela re- novas formas de admissão de alunos em cursos de en-
forma do ensino superior e por uma presença pú- genharia, em número muito elevado, seja sem neces-
blica na discussão de temas de interesse nacional, sidade de terem conhecimentos a matemática ou a
entre muitas outras intervenções. física, ou mesmo sem o 12.º ou o 9.º ano. O sistema Sem uma engenharia
Estes três anos permitiram o reforço interno da de ensino, tal como o dos licenciamentos, não garante
prestigiada
Ordem, em diversas dimensões, com um acréscimo o nível de qualidade, pois está refém das regras que
de 10% no número de membros, que ultrapassaram visam a sua sobrevivência, por falta de alunos mini- e com competências
a barreira dos 40.000, e com um aumento de 75% mamente preparados para os cursos de engenharia. reconhecidas,
do activo líquido existente no final de 2003. Por isso, compreende-se ainda melhor o papel da Portugal não terá
A criação do Portal, que registou 400.000 visitantes Ordem dos Engenheiros na exigência de prestação
meios para enfrentar
em 2006, e a decisão de lançarmos um Fundo de Pen- de provas para a admissão de membros e no reforço
sões, ficarão também como marcas deste período. da acreditação dos cursos que dispensam os licen- os novos desafios
No plano externo, as dificuldades foram maiores, por- ciados de exame de admissão. da globalização,
que num só mandato conhecemos três governos. Sem uma engenharia prestigiada e com competências da competitividade,
Julgo que terminámos a nossa missão com a consci- reconhecidas, Portugal não terá meios para enfrentar
assente numa
ência de termos feito tudo o que esteve ao nosso al- os novos desafios da globalização, da competitividade,
cance para, de novo, introduzirmos a engenharia assente numa estratégia em que o conhecimento é o estratégia em que
como um recurso estratégico nacional. valor essencial da afirmação das sociedades. o conhecimento
Por tudo isto, o mandato que agora iniciámos será é o valor essencial
Não defendemos posições corporativas, porque a um permanente desafio na defesa da engenharia e
da afirmação das
defesa da engenharia e dos engenheiros faz-se atra- da valorização das vertentes técnicas suporte das de-
vés da defesa do interesse público, razão de ser da cisões políticas. sociedades.
Ordem dos Engenheiros. E essa defesa deve passar
pela exigência de profissionais qualificados para o A presente edição da “Ingenium” tem um formato
desempenho de actos que afectem a segurança de diferente da linha editorial que iniciámos em 2004
pessoas e bens, e por um ensino de qualidade, que e que pretendemos continuar. Contudo, pelo facto
promova a obtenção de competências necessárias de termos reduzido, em cada edição, o número de
para o desenvolvimento do país e o reforço da ca- artigos científicos, muitos ficaram a aguardar a opor-
pacidade técnica da administração pública. tunidade para a sua publicação.
São questões óbvias para os engenheiros, mas pouco Porque é do maior interesse divulgar uma impor-
visíveis no modelo de desenvolvimento que temos. tante contribuição científica em vários domínios e
porque gostamos de respeitar os compromissos as-
No mandato que agora iniciámos, iremos continuar sumidos, entendemos dedicar esta edição especial à
com a prioridade da revisão legislativa das áreas téc- publicação desses artigos.
nicas, em especial com a reforma do sistema de li- Aos seus autores, os nossos agradecimentos e, simul-
cenciamento, fonte de ineficiência da economia e taneamente, as desculpas pelo atraso.
sem resultados qualitativos que justifiquem a sua
defesa, tal como está. Na próxima edição abordaremos um tema que está
Perante uma crescente teia de normas, regulamen- a ganhar uma crescente dimensão na sociedade por-
tos, legislação avulsa, pareceres de entidades desa- tuguesa, “A Engenharia da Saúde”, e iremos procurar
gregadas dos processos e de uma crescente ciência que a “Ingenium” continue a consolidar o modelo de
oculta, o valor da qualidade dos projectos foi sendo gestão e a sua linha editorial.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 5


PRIMEIRO PLANO
Após a cerimónia relativa aos Órgãos Nacionais,
PRIORIDADE PARA A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL foi a vez dos membros da Região Sul escolhidos
no último acto eleitoral assumirem oficialmente
Texto Ana Pinto Martinho e Marta Parrado cenciados em engenharia, sem um nível de com- os seus cargos.
Fotos Paulo Neto petências reconhecido. No seu entender, a reforma O Eng.º António Coelho dos Santos, Presidente
de Bolonha “deveria ter começado pelo ensino do Conselho Directivo, sublinhou “a exigência e
básico”. rigor colocados na acreditação das várias cente-
À frente desta Ordem Profissional até 2010, o nas de cursos de engenharia existentes em Por-
Bastonário acrescentou que “quer a nível Euro- tugal” e a “campanha pela melhoria da formação
peu, através da Estratégia de Lisboa, quer ao nível ao nível das disciplinas base no ensino básico e
interno, através das Grandes Opções do Plano e secundário”, como áreas que a Ordem continuará
de outros instrumentos, foram definidos como a encarar como prioritárias.
factores indutores de competitividade, o conhe- O Presidente da Região Sul adiantou ainda a ne-
cimento, a inovação, a investigação e o desen- cessidade de revisão dos Estatutos, à luz das mu-
volvimento de produtos. Em todos eles a presença danças que Portugal atravessa, nomeadamente
da engenharia é inquestionável”. os novos ciclos de formação decorrentes do Pro-
Em relação à intervenção da Ordem em termos cesso de Bolonha.
públicos, sobre temas ou medidas políticas que “Passados 15 anos sobre a sua aprovação, temos
que adaptá-los aos novos tempos e às novas rea-

A
ausência de regulamentação exigindo a qua- poderão afectar a médio e a longo prazo o nosso
lificação profissional de engenheiro para a país, o Bastonário entende que cabe à Ordem lidades, temos de torná-los mais leves e opera-
prática de actos de interesse público; o gra- exercer um direito de intervenção não tutelado, cionais, deixando para os Regulamentos a por-
dual desmantelamento dos serviços públicos de mas responsável, enquanto agente da concreti- menorização das regras de organização e funcio-
engenharia e substituição de engenheiros quali- zação das boas políticas. namento”.
ficados por licenciados não reconhecidos; a perda “Sei que no mundo actual ser-se independente é
de competências do Estado na contratação, con- incómodo, é difícil, mas também é uma forma
trolo e fiscalização de serviços, empreitadas e for- de resistência para quem não se conforma com
necimentos; a gradual desvalorização do conhe- a visão de curto prazo, com o valor do efémero,
cimento e do exercício da profissão; a deslocali- quando afinal fomos preparados para pensar e
zação dos centros de decisão de empresas as- agir de forma racional e planeada”, reforça.
sentes em áreas de engenharia, acentuando o “Perante o quadro da formação académica que
risco da perda de centros de desenvolvimento da referi e os critérios pouco exigentes para a admis-
engenharia portuguesa; e a redução da interven- são na administração pública, compreende-se o
ção da engenharia devido ao desinvestimento nas incómodo produzido pela obrigatória presença de Quanto à Região Norte, a tomada de posse dos
áreas industriais, são, no entender do Eng.º Fer- engenheiros na prática de actos que devem estar Órgãos Regionais aconteceu no dia 4 de Abril,
nando Santo, algumas das debilidades com que regulados”, continuou. na Sede Regional da Ordem, no Porto.
o país se depara. No entanto, acrescenta ser “justo reconhecer que O Eng.º Gerardo Saraiva de Menezes, Presidente
Citados no seu discurso de tomada de posse como o actual Governo tem demonstrado uma maior do Conselho Directivo reeleito, destacou, na sua
Bastonário da Ordem dos Engenheiros, estes pro- determinação em regular o que deve exigir res- intervenção, a organização interna da Ordem na
blemas carecem de correcção “para que possa- ponsabilidade, tendo sido publicados diversos di- Região Norte, o reconhecimento/acreditação da
mos adequar o nosso modelo de desenvolvimento plomas nesse sentido e encontrando-se outros formação, a qualificação profissional dos enge-
aos constrangimentos actuais, assente numa es- em preparação”. nheiros, a regulamentação profissional e as rela-
tratégia que valorize o conhecimento, as compe- O Bastonário realçou o trabalho que irá desen- ções transfronteiriças como os cinco domínios de
tências, que elimine o facilitismo, a falta de rigor volver durante o próximo mandato, continuando, intervenção que merecerão o particular empenho
e a ineficiência, criando condições para tornar entre outros, a aposta em termos de intervenção da direcção do Norte, não obstante estar determi-
mais competitiva a nossa economia”. pública e de defesa do interesse público em ma- nada em “manter o elevado nível de participação
O Bastonário da Ordem dos Engenheiros, que térias relacionadas com a engenharia, bem como da Região Norte nos processos de gestão e de de-
tomou posse no dia 2 de Abril, no auditório da no que respeita à questão das competências para cisão da Ordem dos Engenheiros”, adiantou.
Ordem dos Engenheiros, conta com o Eng.º Se- a prática dos actos de engenharia.
bastião Feyo de Azevedo e o Eng.º Victor Gonçal-
ves de Brito como Vice-presidentes. Na mesma Órgãos Regionais
cerimónia, foram ainda empossados os membros
do Conselho de Admissão e Qualificação (CAQ)
e os representantes dos Colégios eleitos no sufrá-
gio de 27 de Fevereiro.
No seu discurso, o Bastonário falou também dos
problemas na área da educação como alguns dos
mais prementes a resolver, nomeadamente a de- O dia 12 de Abril foi dedicado ao Centro, tendo
ficiente formação escolar assegurada pelo sistema os membros eleitos daquela Região tomado posse
de ensino básico e secundário, que acaba por no Anfiteatro da Faculdade de Ciências e Tecno-
condicionar a escolha dos mais jovens no acesso logia da Universidade de Coimbra.
aos cursos superiores de engenharia e as conse- A continuação do empenho dos responsáveis da
quentes insuficiências na formação de muitos li- Região Centro na defesa da regulamentação pro-

6 INGENIUM | Março/Abril 2007


PRIMEIRO PLANO
fissional, na promoção da formação ao longo da
vida, na intervenção em matérias de interesse
público e na valorização da carreira de engenheiro,
foi confirmada pelo Presidente reeleito na Região,
Eng.º Celestino Quaresma.
Na sua mensagem de início de mandato, o Eng.º res Municipais ou as novas oportunidades pro- câmbio profissional, a divulgação do saber, a par-
Celestino lembrou que a presença da Ordem na fissionais decorrentes da expansão de novas áreas tilha de experiências e o enriquecimento natural
Região Centro completará 50 anos em 2007, pelo de engenharia, no âmbito das quais a Secção e essencial à maturidade das várias áreas da En-
que o Dia Nacional do Engenheiro, a 24 de No- Regional prevê a realização de acções de forma- genharia”, tal como fez notar o Eng.º Paulo Moniz,
vembro, será comemorado no Centro do país, mais ção profissional. O Eng.º Armando Ribeiro referiu Presidente eleito. Ainda assim, a presente direc-
precisamente na cidade da Figueira da Foz. ainda o interesse da Madeira em dar continui- ção decidiu congregar no seu seio membros de
Quanto aos Arquipélagos, os membros eleitos dade à implementação do sistema de gestão da todas as Ilhas dos Açores.
pela Secção Regional da Madeira assumiram as qualidade anteriormente iniciado. Para o mandato agora iniciado a atenção concen-
suas funções no dia 13 de Abril, em cerimónia A cidade de Ponta Delgada fechou o ciclo de as- tra-se, sobretudo, na divulgação e na demonstra-
que decorreu no Hotel Porto Mare, no Funchal. sunção de competências por parte dos membros ção do valor acrescentado da engenharia prati-
Nas palavras que dirigiu à assistência, o Eng.º eleitos. 23 de Abril foi a data escolhida para a cada pelos membros da Ordem; na formação e
Armando Ribeiro, Presidente do Conselho Direc- oficialização da nova equipa à frente da Secção qualificação profissional; e no estabelecimento de
tivo, incluiu temas como a desejável intervenção Regional dos Açores, um Arquipélago que, pela acordos e parcerias com vantagens para os mem-
dos engenheiros na revisão dos Planos Directo- sua dispersão geográfica, vê dificultado “o inter- bros.

ORDEM DOS ENGENHEIROS – ELEIÇÕES de 27 de FEVEREIRO de 2007 – ÓRGÃOS NACIONAIS


Resultados Consolidados
VOTAÇÕES VOTANTES
ÓRGÃOS NACIONAIS LISTA NOME
SUL NORTE CENTRO MADEIRA AÇORES SUB-TOTAL BRANCOS NULOS TOTAL UNIVERSO %
BASTONÁRIO Fernando Ferreira Santo
A Sebastião José Cabral Feyo de Azevedo 1.797 710 655 176 82 3.420 143 11 3.574 34.600 10,3%
E VICE-PRESIDENTES Victor Manuel Gonçalves de Brito
João Lopes Porto 583 328 271 94 33 1.309
CIVIL A 119 7 1.435 14.777 9,7%
Fernando António Baptista Branco 618 267 236 89 33 1.243
Carlos Eduardo do Rego da Costa Salema 303 133 123 23 17 599
ELECTROTÉCNICA A 43 0 642 7.277 8,8%
Rui Georg Borvitz Leschner Fernandes 253 113 115 20 17 518
Pedro Francisco Cunha Coimbra 222 76 67 25 9 399
MECÂNICA A 32 1 432 4.736 9,1%
Luis António de Andrade Ferreira 215 74 64 25 9 387
C A Q - Conselho de Admissão e Qualificação

Fernando Plácido S.Ferreira Real 45 22 26 5 2 100


GEOLÓGICA E MINAS A 4 1 105 721 14,6%
Nuno Feodor Grossmann 46 16 17 5 2 86
Emílio José Pereira Rosa 123 32 22 5 3 185
QUIMICA A 16 0 209 2.523 8,3%
Fernando Manuel Ramôa Ribeiro 129 35 21 5 3 193
Jorge Manuel Delgado Beirão Reis 27 1 0 0 0 28
NAVAL A 1 0 29 112 25,9%
António Balcão Fernandes Reis 23 1 0 0 0 24
Octávio Magalhães B. Alexandrino 30 8 18 1 2 59
GEOGRÁFICA A 6 1 66 297 22,2%
João Carlos da Costa Catalão Fernandes 26 7 12 1 2 48
Pedro Augusto Lynce de Faria 155 33 32 9 12 241
AGRONÓMICA A 17 1 259 2.673 9,7%
Luís Alberto Santos Pereira 133 30 31 7 12 213
Ângelo Manuel Melo de Carvalho Oliveira 29 7 6 1 0 43
FLORESTAL A 9 0 59 435 13,6%
Maria Margarida B. de Brito Tavares Tomé 34 7 8 1 0 50
METALÚRGICA Luis Filipe Malheiros de Freitas Ferreira 16 18 3 1 0 38
A 1 0 39 269 14,5%
E DE MATERIAIS António José Nogueira Esteves 14 15 2 1 0 32
José Manuel Nunes Salvador Tribolet 25 5 5 3 0 38
INFORMÁTICA A 5 0 44 312 14,1%
Pedro João Valente Dias Guerreiro 25 5 6 3 0 39
Tomás Augusto Barros Ramos 39 10 9 6 0 64
AMBIENTE A 8 0 72 578 12,5%
Arménio de Figueiredo 28 9 9 6 0 52
Hipólito José Campos de Sousa
CIVIL A Ema Paula de Montenegro Ferreira Coelho 689 340 295 95 33 1.452 82 3 1.537 14.777 10,4%
Eduardo Nuno Brito Santos Júlio
Francisco de La Fuente Sanchez
ELECTROTÉCNICA A António Manuel Aires Messias 310 139 130 23 17 619 42 2 663 7.277 9,1%
Alberto Joaquim Milheiro Barbosa
Manuel Carlos Gameiro da Silva
MECÂNICA A António Manuel Matias 237 86 74 27 9 433 19 2 454 4.736 9,6%
Aires Barbosa Pereira Ferreira
Júlio Henrique R. Ferreira e Silva
PRESIDENTES E VOGAIS DOS CONSELHOS NACIONAIS DE COLÉGIO

GEOLÓGICA E MINAS A Pedro Alexandre M. Bernardo 51 21 25 5 2 104 6 0 110 721 15,3%


Paulo do Carmo de Sá Caetano
António Manuel R. Salvador Pinheiro
QUIMICA A João Carlos Moura Bordado 147 36 25 5 3 216 12 0 228 2.523 9,0%
Eugénio Manuel F. Campos Ferreira
José Manuel Antunes Mendes Gordo
NAVAL A Dina Maria Correia S. Paz Dimas 27 1 0 0 0 28 1 0 29 112 25,9%
Arnaldo José S. F. Calado de Carvalho
Ana Maria de Barros Duarte Fonseca
GEOGRÁFICA A Maria Manuela Ferreira S. e Vasconcelos 31 8 19 1 2 61 3 0 64 297 21,5%
Armimndo António Pereira das Neves
Miguel de Castro Simões Ferreira Neto
AGRONÓMICA A António Augusto Fontaínhas Fernandes 169 36 33 8 12 258 11 1 270 2.673 10,1%
Isaurindo Manuel Biléu de Oliveira
Pedro César Ochôa de Carvalho
FLORESTAL A António Emídio Moreira dos Santos 33 7 8 1 0 49 6 0 55 435 12,6%
José Carlos Sousa Uva Patrícia Paúl
METALÚRGICA Rui Pedro de Carneiro Vieira de Castro
A António Manuel de Sousa Correia 16 18 3 1 0 38 0 0 38 269 14,1%
E DE MATERIAIS Patricia Maria C. C. Almeida de Carvalho
João Bernardo de Sena E. Falcão e Cunha
INFORMÁTICA A Mário Rui Fonseca dos Santos Gomes 29 6 6 3 0 44 3 0 47 312 15,1%
Luís Alfredo Martins do Amaral
António José Guerreiro de Brito
AMBIENTE A João Pedro Cortez de Moraes Rodrigues 43 12 10 6 0 71 3 0 74 578 12,8%
Maria Justina Simões Catarino Miguel
Mapa elaborado nos termos da alínea d) do n.º 4 do art.º 4.º do Regulamento de Eleições e Referendos A COMISSÃO ELEITORAL NACIONAL
PRIMEIRO PLANO

Experiência portuguesa pode ser capitalizada no Panamá


Texto Marta Parrado

A
expansão do Canal é um bem para toda a humanidade. Desde que os senvolvimento, basta verificar que tem uma taxa de crescimento de 8% ao
Panamenhos começaram a explorar directamente o Canal, que tem ano, que tem uma estratégia muito bem concertada do que pretende para
sido muito bom”. si enquanto país, onde irá precisar de muitas infra-estruturas em que nós,
As palavras são de Celedonio Guardia, um advogado com um pequeno e portugueses, somos bons”, explicou o Bastonário, Eng.º Fernando Santo,
moribundo escritório montado na parte velha da Cidade do Panamá, cha- adiantando que “apesar das empresas portuguesas poderem ser concorren-
mada “ciudad viejo”. tes ao nível do mercado interno, quando vão para o exterior devem ter uma
O seu amigo Miguel, que naquele domingo, 4 de Março, completava 57 lógica diferente de abordagem. Tem que haver uma união para, no exterior,
anos de idade, corroborou as vantagens das obras no Canal para a popu- podermos afirmar as nossas capacidades e os nossos conhecimentos”.
lação. “A expansão é muito boa para todos os Panamenhos porque cria tra- O programa delineado para a viagem obrigou a um ritmo acelerado de reu-
balho”, justificou ao mesmo tempo que tentava aliciar os turistas a aprecia- niões, contactos e troca de impressões.
rem um tesouro por ele guardado: uma abertura por onde, com alguma
generosidade, se poderia vislumbrar muito ao longe uma pontinha do Canal. Oportunidades de Investimento
Este esforço do Miguel é demonstrativo do significado do Canal para a po-
pulação daquele país. No fundo, o Canal e o Panamá são praticamente
uma e a mesma coisa, confundem-se mutuamente, não fossem as tran-
sacções geradas no Canal a principal actividade económica do país.
Estas e outras pessoas votaram em Outubro passado no referendo que o
Governo promoveu no sentido de auscultar a vontade dos seus concidadãos
quanto à expansão do Canal. 80% dos votantes decidiram afirmativamente,
tornando possível a concretização da maior obra dos próximos anos a acon-
tecer na América Latina e a dinamização absoluta da economia daquele
país. O Governo do Panamá delineou uma estratégia de desenvolvimento
nacional, com o epicentro na expansão do Canal, mas com outros projec-
tos periféricos de grande envergadura, que constituem oportunidades de
Figura 1 – Eclusas em funcionamento no Canal do Panamá
investimento e de exploração para todos os países que optem pela incur-
são naquele território. Neste domínio, a abertura do Governo local à parti- A incursão no projecto de expansão do Canal foi liderada por Óscar Bazán,
cipação de países estrangeiros é grande, uma vez que o Panamá não reúne representante da Autoridade do Canal do Panamá. O responsável apresen-
capacidade técnica e humana para a concretização dos projectos que tem tou uma solução que, de todos os trabalhos a executar, o de maior relevo
em cima da mesa. corresponde à construção de um terceiro conjunto de eclusas, composto
por dois novos complexos de eclusas, um no Atlântico e outro no Pací-
A Ordem no Panamá fico.
O projecto de expansão do Canal encontra-se especificado num sítio na In-
Foi este o contexto, a par do entusiasmo com que a Embaixadora do Pa- ternet criado propositadamente para o efeito (www.pancanal.com). Aqui
namá em Portugal, Dra. Minerva Batista, encara a possibilidade de ver a estão registados os procedimentos para a apresentação de propostas, as li-
engenharia portuguesa envolvida neste processo, que motivou a dinamiza- citações concretizadas, os contratos que vão sendo estabelecidos, o crono-
ção de uma viagem exploratória àquele país Latino-americano por parte da grama das adjudicações e evolução do projecto, bem como qualquer outra
Ordem dos Engenheiros. O objectivo foi tentar agilizar contactos entre as informação de relevo.
organizações de ambos os países com vista à descoberta de possibilidades O ambiente de desenvolvimento em que se insere a expansão do Canal é
de entendimento. E foi assim que, a 3 Março deste ano, um grupo de 30 também trampolim para a concretização de outros desafios de âmbito na-
pessoas, a maioria engenheiros e empresários, voou até à cidade do Pa- cional: a construção de um megaporto que trabalhe em sintonia com o
namá para tentar perceber as oportunidades que ali poderiam existir. Canal, infra-estruturas rodoviárias, de saneamento, de hotelaria e projectos
“No fundo, pretendemos conhecer melhor um país que está em franco de- na área das energias renováveis.

8 INGENIUM | Março/Abril 2007


PRIMEIRO PLANO
data, em conversações entre o Departamento de mente porque nos contactos estabelecidos ficou
Engenharia Civil do IST, o LNEC e a Universidade claro que uma empresa estrangeira para funcio-
do Panamá, entidade tutelar dos Laboratórios de nar no Panamá teria que ter sempre um enge-
Estado naquele país. nheiro local como responsável técnico.
“Estamos a aguardar a resposta deles, nomea- Para além dos responsáveis políticos, o grupo foi
damente as condições de realização do trabalho ainda recebido pelo Director da Autoridade Ma-
em relação à nossa intenção de inspeccionar a rítima, Ruben Arosemena, pela Presidente do Co-
ponte Centenário. Foram enviados os elementos légio de Engenheiros Civis local e pelo Presidente
que eles entretanto nos solicitaram”, confirmou da Câmara Panamiana de Construção.
Alguns des- o Eng.º Fernando Branco, Director do DEC do IST Antes do regresso, a 8 de Março, ainda houve
tes desafios e à data Presidente do Colégio de Engenharia Civil oportunidade para conhecer a Zona Franca de
foram dados a da Ordem. Colón, criada em 1948. Trata-se do segundo
conhecer à “comi- Voltando ao Canal, “com esta obra de expansão maior mercado livre de impostos do mundo, logo
tiva” portuguesa pelo Vice-Ministro das Obras Pú- foi a primeira vez que o povo Panamenho se sen- a seguir a Singapura, que gera um volume de
blicas, Luís Manuel Hernandez. tiu dono da obra, a primeira vez que pôde deci- transacções anuais na ordem dos 14.000 mi-

“Neste momento estamos interessados em levar dir sobre o seu futuro (visto ter estado durante lhões de dólares, o que representa mais de 7,5%
por diante a reparação da Ponte das Américas e muitos anos sob administração americana), pelo do PIB Panamiano.
contratar os serviços de fiscalização, manutenção que queremos que todos sintam que o Panamá No final, a sensação que persistiu foi a de que o
e monitorização da Ponte Centenário”, revelou o está aberto a negócios de todo o mundo”, são Panamá atravessa um momento ímpar de desen-
Vice-Ministro. Este tema das pontes, área em que palavras do Vice-Ministro dos Negócios Estran- volvimento e que necessita da presença técnica
Portugal tem história, foi desde logo motivo de geiros, Ricardo Duran, que recomenda, no en- responsável de outros países para concretizar as
interesse por parte de alguns dos engenheiros tanto, o estabelecimento de parcerias entre as suas ambições. Portugal parece ser um candi-
participantes na viagem, tendo resultado, até à empresas exteriores e entidades locais, inclusiva- dato muito bem-vindo.

Oportunidades de Investimento
Descrição, números e datas Transacções no Canal relacionadas com o Canal
O terceiro conjunto de eclusas inclui: 2 com- Pelo Canal passa Expansão e modernização do Canal
plexos de eclusas de 3 escalões, sendo cada do Panamá
complexo dotado de tanques de reutilização de 2 a 4% do comércio mundial Construção de um megaporto na entrada
água; caminhos de acesso às novas eclusas, e 11% do total do comércio dos do Canal pelo Pacífico
alargamento e aprofundamento dos caminhos Estados Unidos Expansão dos portos em ambas
de navegação actuais; elevação do nível má- 69% do tráfego do Canal tem origem ou as costas do istmo
ximo de funcionamento do lago Gatún destina-se aos Estados Unidos Expansão da via Panamá-Colón
Custo estimado do terceiro conjunto de eclusas: 144 rotas marítimas Movimento de contentores a nível nacional
5,250 milhões de dólares Reparação e manutenção de contentores
O novo conjunto de eclusas permitirá a passa- Principais utilizadores do Canal e percentagem Estaleiros para reparação de navios
gem de navios com 49 m de largura, 15 m de do Comércio Mundial que transita pelo Canal Abastecimento de combustível
altura e 366 m de comprimento Serviço de reboque de navios
O projecto terá início em 2007 e ficará com- 1 – Estados Unidos da América: 69% Serviços de segurança e inspecção de navios
pleto, o mais tardar, em 2014. A previsão de 2 – República Popular da China: 18% Serviço de recolha de detritos
abertura ao trânsito é 2015 3 – Japão: 17% Manuseamento de materiais perigosos
Movimento de carga em aeroportos
Instalação de organizações na zona
de Howard para manufactura de produtos
de alta tecnologia
Serviço de logística e armazenamento
Serviços especializados em tecnologia
da informação, comunicações e “call centres”

10 INGENIUM | Março/Abril 2007


Notícias

Assembleia de Representantes
N
a Assembleia de Representantes anual da Ordem dos Engenheiros, Foram igualmente aprovadas as alterações ao Regulamento das Especiali-
realizada no Porto, no dia 31 de Março de 2007, foi aprovado o Re- zações, cuja versão final se encontra divulgada no Portal do Engenheiro
latório de Actividades do Conselho Directivo Nacional referente a 2006, (www.ordemengenheiros.pt).
bem como as Contas do mesmo ano, que fecharam com um saldo positivo Aprovação mereceu ainda o Orçamento e o Plano de Actividades delinea-
de 618.094,00 Euros. dos para 2007.

Eng.º Ramôa Ribeiro


é o novo Reitor da Universidade Técnica

A
Cerimónia de Investidura do novo Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, o Eng.º Fernando
Manuel Ramôa Cardoso Ribeiro, teve lugar no dia 1 de Março de 2007, no Grande Anfiteatro
do Centro de Congressos do IST.
“Atravessamos um período de profundas modificações na Universidade Portuguesa e que se prendem
com a Estratégia de Lisboa, com a adequação ao Processo de Bolonha, com a avaliação das univer-
sidades e com a sua Governação e, ainda, com as novas bases legais onde se irão mover”, identifi-
cou o responsável nas palavras que dirigiu à assistência.
O novo Reitor falou da criação da Agência Nacional para a Avaliação e a Acreditação que o Governo
colocou em discussão pública e do financiamento das Universidades, encarando como “imprescindível que em 2007 haja acesso a financia-
mentos complementares postos a concurso pelo Estado”.
Contudo, referiu-se à investigação como a grande prioridade, uma vez que “quem a faz, como a Finlândia, está colocado à frente em todos
os rankings”. A investigação é uma componente importante na grande maioria das escolas da UTL, sendo, neste domínio, “expectável que o
ISA possa apresentar em breve uma candidatura na área de Engenharia Agronómica e Florestal” à Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Engenheiro Químico, Professor Catedrático no IST e com Doutoramento em Ciências pela Universidade de Poitiers, o Eng.º Ramôa Ribeiro
desempenhou durante vários anos o cargo de Presidente da FCT. Na Ordem dos Engenheiros exerceu, entre 2001 e 2004, as funções de Pre-
sidente do Colégio Nacional de Química, sendo, actualmente, um dos representantes da Ordem na European Federation of Chimical Engine-
ers (EFCE) e membro do Conselho de Admissão e Qualificação (CAQ).

cisco Nunes Correia, que aponta o Primeiro-ministro como o principal


mentor do Programa.
“O Polis teve a intenção de iniciar em Portugal uma política para as ci-
dades”, apresenta o Primeiro-ministro, “ E porquê? Porque o sucesso eco-
nómico do país está hoje muito dependente do sucesso económico das
Programa Polis cidades. E o sucesso económico das cidades está muito dependente da
sua beleza e qualificação: cidades mais bonitas e com maior qualidade
Viver as Cidades de vida atraem mais investimento” explicou o responsável. Por outro lado,
“os principais desafios ambientais e sociais estão nas cidades, uma vez
que é aí que se concentra a maior parte da população”, adiantou.
O Programa Polis, iniciado há sete anos, tem como objectivo melhorar a
qualidade de vida nas cidades, através de intervenções ao nível urbanís-
tico e ambiental, aumentando a atractividade e competitividade de pólos
que têm um papel relevante na estruturação do sistema urbano nacio-

C
om a aproximação da conclusão de parte significativa das interven- nal. Em termos de Requalificação Urbana, a Valorização do Património,
ções Polis, no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio (QCA III), a Requalificação de Espaços Públicos nos centros das cidades e a Re-
as 39 cidades portuguesas requalificadas vieram à capital do país conversão de áreas urbanas degradadas tornaram-se nos grandes refe-
mostrar o resultado das intervenções que sofreram. Fizeram-no através renciais deste desígnio geral do Polis.
de uma exposição intitulada Programa Polis – “Viver as Cidades”, que Paralelamente à exposição, que se estendeu por uma área superior a
esteve patente de 15 de Fevereiro a 18 de Abril no Pavilhão de Portugal, 1000 m2, foi realizado um ciclo de conferências subordinado aos gran-
no Parque das Nações, em Lisboa. des temas que a compõem – Valorização Ambiental, Requalificação Ur-
A iniciativa, do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e bana e Mobilidade –, no qual participaram oradores de referência.
do Desenvolvimento Regional, com a colaboração do Gabinete Coorde- A Iluminação Urbana e a Construção Sustentável foram temas para dois
nador do Programa Polis e da Parque EXPO, e à qual a Ordem dos En- workshops, tendo ainda sido realizados quatro debates: O Modelo Insti-
genheiros se associou, promove “o imenso impacto do Polis nas cidades tucional do Programa Polis, o Programa Polis e os Instrumentos de Or-
portuguesas, um dos maiores programas realizados na Europa para re- denamento do Território, a Comunicação e Sensibilização Ambiental no
qualificação do território”, explica o Ministro do Ambiente, Eng.º Fran- Programa Polis e A Arquitectura no Programa Polis.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 11


Notícias
Prémios Secil 2006

O
Prémio Secil Arquitectura 2006 foi entregue pelo Presidente da interior e outra exterior – e uma área de ginásio e serviços comuns,
República, no passado dia 30, ao Complexo Desportivo Ribera tendo sido edificada entre 2003 e o final de 2005.
Serrallo, em Cornella de Llobregat (Barcelona), da autoria do
Arquitecto Álvaro Siza Vieira. O Prémio Secil, de âmbito nacional e apoiado pela Ordem dos
A obra distinguida, por deliberação unânime do Júri, foi encomendada Engenheiros, distingue alternadamente a Engenharia e a Arquitectura,
pelo Município de Cornella de Llobregat e é constituída por um pavilhão tendo a edição do ano passado premiado o Estádio Municipal de Braga,
multiusos com capacidade para 2500 pessoas, duas piscinas – uma da responsabilidade do Eng.º Rui Furtado.

Prémios Secil Universidades (...) A sudoeste do Portinho da Arrábida, em


Setúbal, encontra-se actualmente o Forte de
No Concurso de Engenharia Civil, o Júri, presi- Santa Maria da Arrábida sobre um rochedo exis-
dido pelo Eng.º João Almeida, decidiu atribuir tente no sopé da encosta sul da Serra. O Forte
o Prémio Secil ao Estudo Prévio de um Passa- foi mandado construir em 1676, durante a re-
diço sobre o Rio Nabão (Tomar), desenvolvido gência do príncipe D. Pedro. Desde então foram
por Luís Santos Conceição, Sílvia d’Assunção efectuadas largas obras de recuperação do imó-
Dias, Sílvio Assis Fernandes e Pedro Campos antigos pilares ainda presentes na margem di- vel e em 1991 foi instalado aí o Museu Ocea-
Leal, da Academia Militar; ao Projecto de Re- reita do Douro, sendo edificados pilares seme- nográfico. (...) Uma vez que o tema do Museu
construção da Ponte Pênsil, levado a cabo por lhantes na margem esquerda. Esta nova versão Oceanográfico está intrinsecamente ligado ao
António Silva Braga, Hugo Ribeiro Pinto e Joana da ponte pênsil deve ser o mais “transparente” meio marítimo e sabendo que o Portinho da Ar-
Pascoal Teixeira, da FEUP; e ao Museu Ocea- possível de modo a não prejudicar a aparência rábida é uma das praias mais abrigadas de toda
nográfico no Portinho da Arrábida, da responsa- da ponte Luiz I. Com este objectivo surge a ideia a península de Setúbal, surgiu a ideia de criar
bilidade de João Marcos Lavos e Romeu Gomes da utilização de materiais compósitos de ele- uma estrutura que estivesse directamente em
Reguengo, da FCT-UNL. vada resistência, permitindo assim uma redu- contacto com o mar. Para tirar maior partido
ção das secções dos cabos da nova ponte sus- desta interacção, a estrutura foi idealizada com
Estudo Prévio de um Passadiço pensa. o formato de uma cúpula revestida a vidro em
sobre o Rio Nabão todo o seu contorno, encontrando-se parcial-
mente submersa. Assim, a sala de exposição
torna-se num espaço directamente integrado
com o meio envolvente. (...)

No âmbito da Arquitectura, o Prémio Secil Uni-


versidades foi entregue ao projecto do Museu
de Escultura de Caxias, elaborado por Francisco
É também fundamental que a ponte apresente Romão, proveniente da Universidade Lusíada
(...) Foi escolhida para a estrutura uma solução um comportamento dinâmico situado clara- de Lisboa; à Escola de Música e Dança – Con-
em arco metálico de tirante inferior constituído mente dentro dos níveis de conforto e sensação vento do Salvador em Alfama, Lisboa, da auto-
por um tabuleiro em Stress Ribbon construído de segurança requeridos pela sua utilização pe- ria de Rafael Verhaeghe Marques, da Universi-
com recurso a elementos pré-fabricados. A es- donal. (...) dade Autónoma de Lisboa; e ao trabalho intitu-
colha deste tipo de estrutura visou a integração lado Hammam, “Casa-pátio” em Évora, uma
paisagística e a simplicidade e facilidade de exe- Museu Oceanográfico obra de Ana Filipa Simões da Silva, da Univer-
cução da mesma. (...) no Portinho da Arrábida sidade de Évora.

Reconstrução da Ponte Pênsil


(...) Depois de pensadas e analisadas diversas
alternativas, afigura-se como mais vantajosa a
construção de uma obra de arte semelhante à
antiga ponte pênsil, situada precisamente no
mesmo local. A nova ponte deve reutilizar os

12 INGENIUM | Março/Abril 2007


Colégios ENGEN
ENG.ª AGRONÓMICA 14 ENG.ª ELECTROTÉCNICA 21
ÍNDICE ENG.ª DO AMBIENTE 16 ENG.ª GEOGRÁFICA 22
ENG.ª CIVIL 18 ENG.ª GEOLÓGICA E DE MINAS 23

ENGENHARIA
AGRONÓMICA Miguel de Castro Neto Tel.: 21 364 96 25 Fax: 21 364 96 25 E-mail: [email protected]

ENG.ª AGRONÓMICA las de seccionamento, etc.); bem como as


condições gerais de instalação das condutas
MELHOR ESTÁGIO 2006 e acessórios. Este percurso materializou-se
Dimensionamento e Optimização de Sistemas Colectivos na elaboração dos projectos de execução das
de Rega Sob Pressão, Sub-blocos de Brinches-Enxoé redes secundárias de rega dos sub-blocos
Serpa-Pias 1 e 3.
do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva
O bloco de Serpa-Pias 1, com uma área total
Autor: Eng.º Adriano Leovigildo Pereira da Silva de 1230 ha, será beneficiado por uma rede
Orientador: Eng.º António Terrão Russo de distribuição em baixa pressão, com cerca
de 13,3 km de condutas, dimensionada para
um caudal máximo na origem de 1,5 m3/s.
Serão instalados 21 hidrantes e 30 bocas de
estágio realizou-se no Departamento de do referido projecto. De entre estas tarefas, rega com caudais variáveis entre 40 m3/h e
O Hidráulica e Desenvolvimento Agrícola
da empresa ProSistemas, Consultores de
pode salientar-se: a recolha de informação
do meio físico (dados meteorológicos, sócio-
300 m3/h, que beneficiarão 30 parcelas com
uma área média de 41,0 ha/parcela.
Engenharia, S.A., no âmbito do “Projecto de -económicos, hidrológicos, culturais, solos, O bloco de Serpa-Pias 3, com cerca de 1349
Execução do Adutor Brinches-Enxoé e res- etc.) e seu tratamento (evapotranspiração, ha, será beneficiado por uma rede de distri-
pectivo Bloco de Rega”, integrado no Sub- balanço hídrico do solo, ocupação cultural, buição em alta pressão, com cerca de 14,0
sistema do Ardila, do Empreendimento de caudais específicos, etc.); a delimitação das km de desenvolvimento e dimensionada pa-
Fins Múltiplos do Alqueva. unidades terciárias de rega; a localização dos ra um caudal máximo na origem de 1,64
O trabalho foi desenvolvido no seio de uma hidrantes e bocas de rega; a definição dos m3/s. Para tal, serão instalados 25 hidrantes
equipa multidisciplinar onde, na qualidade traçados da rede de rega e seu dimensiona- e 35 bocas de rega, com caudais variáveis
de projectista, o estagiário percorreu um só- mento hidráulico; a localização e definição entre 15 m3/h e 280 m3/h, que beneficia-
lido e enriquecedor caminho na elaboração dos órgãos de exploração e segurança (hi- rão 35 parcelas com uma área média de 38,4
das diversas tarefas necessárias à execução drantes, ventosas, descarga de fundo, válvu- ha/parcela.

O vasto conjunto de resultados obtidos, num


Investigação e Planeamento de Sistemas contexto microeconómico, directamente re-
de Produção Agrícola em Portugal lacionados com o planeamento agrícola e
com a avaliação económica dos impactos de-
colectânea “Investigação ou potenciais) de viabilidade correntes da implementação das sucessivas
A e Planeamento de Siste-
mas de Produção Agrícola em
e de competitividade agríco-
las. Nesta publicação, é dado
políticas sectoriais (nacional e comunitária),
reveste-se de particular interesse não só como
Portugal. Estudos de base mi- especial relevo ao enquadra- instrumento de apoio à decisão de agricul-
croeconómica no período de mento e aplicação de diver- tores e técnicos (o que produzir? como fazê-
pós-adesão à União Europeia” sas metodologias e estratégias -lo?), mas também como base de informa-
congrega estudos realizados no âmbito da investigação ção, de reflexão e de argumentação para os
neste período, respeitantes à operacional, nomeadamente centros de decisão política responsáveis pelo
análise técnico-económica, as respeitantes à análise eco- futuro da agricultura em Portugal.
ao planeamento de sistemas nométrica e à programação Coordenada pelo Eng.º Nuno Siqueira Car-
de produção representativos matemática, de indiscutível valho e editada, em 2006, pelas Edições
de sectores importantes da importância em programas Colibri e a Estação Agronómica Nacional, a
agricultura nacional e à ava- de desenvolvimento econó- colectânea conta com prefácio do Prof. Fran-
liação dos seus níveis (reais mico para a agricultura. cisco Avillez.

14 INGENIUM | Março/Abril 2007


NHARIA
ENG.ª INFORMÁTICA 25 ENG.ª NAVAL 33
Colégios
Os autores que pretendam
ENG.ª MECÂNICA 26 ENG.ª QUÍMICA 35 submeter artigos para publicação,
deverão fazê-lo através do e-mail:
ENG.ª METALÚRGICA E DE MATERIAIS 29 Especialização em Manutenção Industrial 37
[email protected]

de defesa e protecção dos recursos hídricos


e sistemas de controlo de erosão, valoriza-
ção de zonas naturais e áreas de conserva-
ção, acompanhamento e enquadramento de
obras, recuperação e recultivação de zonas
de explorações de inertes.
Contextualização da Licenciatura Como as profissões ligadas ao Ambiente se
em Engenharia Biofísica enquadram sempre numa área interdiscipli-
nar, os engenheiros biofísicos trabalham fre-
quentemente com agrónomos, engenheiros
do ambiente, civis e do território, arquitec-
tos paisagistas, biólogos, antropólogos e so-
Isabel Ramos 1, Vasco Rocha 2 compatibilização com alterações do uso, à ciólogos, entre outros.
compensação de impactes e à recuperação A Engenharia Biofísica apresenta-se, assim,
Licenciatura em Engenharia Biofísica de zonas degradadas. como uma engenharia de caracterização e
A (actualmente designada Engenharia Bio-
física – Ordenamento e Gestão Ambiental)
Esta formação permite distingui-la de outras
licenciaturas na área do ambiente, já que
avaliação ecológica aplicada quer à constru-
ção, quer ao planeamento e gestão de um
constitui-se como uma licenciatura única no ocupa um nicho próprio, o da utilização das território sustentável onde o crescimento da
quadro universitário nacional, organizada potencialidades construtivas e biotécnicas qualidade de vida das sociedades humanas
numa estrutura curricular alargada e trans- da vegetação, no planeamento, gestão e cons- se faça no equilíbrio com o crescimento da
versal, privilegiando a interdisciplinaridade trução de espaços tendencialmente susten- funcionalidade e potencialidade dos sistemas
evidenciada pelas disciplinas leccionadas nas táveis, traduzidas em intervenções de baixo e comunidades naturais.
áreas de formação das Ciências de Base, Co- impacte ambiental, que se integrem o mais A Licenciatura em Engenharia Biofísica, é
nhecimento do Território e Caracterização possível na natureza e funcionalidade natu- leccionada na Universidade de Évora, desde
e Gestão do Território. ral do lugar. os finais da década de 70. Encontra-se ligada
Esta formação habilita os Engenheiros Bio- Podem, portanto, ocupar-se essencialmente formalmente ao Departamento de Planea-
físicos com competências nos seguintes do- de três áreas principais de actividade que mento Biofísico e Paisagístico da Universi-
mínios: constituem as especializações do curso: Or- dade de Évora e o seu plano de estudos de-
Caracterização e avaliação biofísica do ter- denamento e Gestão de Sistemas de Uso, senvolve-se ao longo de 5 anos (nove semes-
ritório, no sentido do desenvolvimento de Ordenamento e Gestão de Sistemas Natu- tres lectivos mais um semestre para elabo-
informações e instrumentos de suporte rais e Projecto Construtivo em Engenharia ração de um Trabalho de Fim de Curso).
dos processos de planeamento, projecto e Biofísica.
gestão do território; Concretamente, o campo de acção destes 1 Engenheira Biofísica e Directora do Curso

Engenharia dos sistemas vivos, desenvol- profissionais é bastante vasto e estende-se à de Engenharia Biofísica – Ordenamento e Gestão
vida no sentido quer dos sistemas constru- conceptualização de Sistemas de Ordena- Ambiental da Universidade de Évora
tivos com materiais vivos, quer no sentido mento e Planeamento do Território e Ava- 2 Licenciado em Engenharia Biofísica –

da gestão de ecossistemas com vista ao au- liação do Impacte Ambiental e Sistemas Pe- Ordenamento e Gestão Ambiental (Especialização
mento da sua capacidade de suporte, à riciais, ao projecto e construção de medidas em Projecto Construtivo em Engenharia Biofísica)

nomeadamente controlo de infestantes, pulverizações e monitori-


Field Robot Event 2007 zação de doenças. O evento decorre na Wageningen University, Ho-
Field Robot Event 2007 tem por objectivo oferecer uma ante- landa, de 14 a 16 de Junho de 2007, sob a forma de um concurso
O visão da agricultura de precisão do futuro, partindo do poten-
cial que uma nova geração de robots que actuam no campo de forma
de robots realizado ao ar livre numa parcela de terreno possível de
ser visualizada através de uma Web Cam no sítio do evento.
completamente autónoma encerram. Estes robots que agora se en- Pode encontrar mais informações sobre o evento em:
contram em desenvolvimento, irão realizar as mais diversas tarefas, www.fieldrobot.nl.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 15


Colégios
ENGENHARIA ENGENHARIA DO
AGRONÓMICA AMBIENTE

José Duarte Amaral estágio, enquadrado no programa de estágios internacionais

Eng.º José Duarte Amaral,


O NetworkContacto do ICEP Portugal, realizou-se na empresa
ELECTRA, S.A.R.L., na cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente,
O empenhado membro da Or-
dem dos Engenheiros, faleceu
em Cabo Verde, entre Janeiro e Novembro de 2005. Neste pe-
ríodo, a ELECTRA, empresa de capitais mistos, era gerida pelo
no passado dia 15 de Janeiro, consórcio EDP/AdP (EDP – Electricidade de Portugal, AdP –
com 87 anos. Águas de Portugal), que detinha a maioria accionista (51%), pelo
O Eng.º Duarte Amaral concluiu Estado de Cabo Verde (34%) e pelos municípios (15%). O está-
o curso de Engenharia Agronó- gio foi promovido e orientado pela empresa AdP, na pessoa do
mica, no Instituto Superior de Eng.º Farelo Cruz, a quem agradeço todo o apoio prestado na pre-
Agronomia, em 1943, e era Mem- paração e desenvolvimento do trabalho.
bro Conselheiro da Ordem dos Engenheiros, onde desenvolveu Definiu-se como principal objectivo do estágio a recolha e análise
uma intensa actividade associativa, tendo deixado bem patentes de dados e registos relacionados com o sistema de saneamento da
as suas excelentes qualidades profissionais e humanas. cidade do Mindelo, rede de colectores e Estação de Tratamento
Iniciou as suas funções na Ordem no mandato de 1966 a 1969, de Águas Residuais (ETAR), com vista à definição, por parte da
como Vice-Presidente do Conselho Regional de Lisboa. Foi, mais ELECTRA, das condições contratuais de gestão e exploração do
tarde, Membro da Comissão de Qualificação Profissional (1976/1979), sistema. A metodologia de trabalho privilegiou a pesquisa docu-
à qual regressou nos mandatos de 1988 a 1992 e de 1998/2001. mental, observação in situ, entrevistas a informadores-chave e rea-
Foi um grande dinamizador da área de especialidade de Engenha- lização de uma campanha de amostragem das águas residuais.
ria Agronómica, tendo desempenhado os cargos de Presidente da Com base nas informações recolhidas foram feitas avaliações téc-
Comissão Cultural de Engenharia Agronómica (1978/1979), de nicas de operação e funcionamento do sistema. Uma avaliação das
Coordenador da mesma Comissão na Região Sul (1979/1982), competências das equipas de trabalho, associada a uma análise de
de Coordenador da Comissão Cultural de Engenharia Agronó- recursos humanos; uma análise da cobertura e traçado da rede de
mica (1982/1988) e de Presidente do Conselho Nacional do Co- saneamento. Um balanço hídrico do sistema global (abastecimento
légio de Engenharia Agronómica (1992/1998). de água, drenagem e tratamento de água residual e reutilização da
No contexto da sua intensa actividade em prole da Ordem, desta- água tratada). E foi determinada a eficiência de tratamento da
camos a sua inestimável colaboração na estruturação e implemen- ETAR. Foi, ainda, feita uma análise técnico-económica, com vista
tação da nova Ordem dos Engenheiros, acompanhando, com ou- à produção de água residual tratada, para utilização na irrigação de
tros Grandes Engenheiros, o Presidente Manuel Rocha na notável campos agrícolas abrangidos pelo projecto PARI (Projecto de Apro-
acção cultural que se iniciou com o 1.º Congresso, em 1977. veitamento de Águas Residuais Tratadas para Irrigação), desenvol-
Da sua carreira profissional, destaca-se a sua ligação à Junta Na-
cional das Frutas, na qual iniciou o seu percurso profissional em
1943 e onde veio a desempenhar, entre 1963 e 1974, por requi-
Seminário Geotécnico
sição, as funções de Presidente da Junta Nacional das Frutas, fun- sobre Aterros de Resíduos
ção que acumulou, entre 1973 e 1974, interinamente, com a de
Presidente da Junta Nacional do Vinho. o âmbito das comemorações dos 60 Anos,
Aposentou-se em 1987 com a categoria de Engenheiro Assessor
(Letra C) dos quadros do Ministério da Agricultura e Pescas.
N o Laboratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC) está a organizar, para os dias 24 e 25
Enquanto áreas de interesse, é de destacar o contributo no desen- de Maio, um Seminário Geotécnico sobre Ater-
volvimento da cultura da beterraba sacarina, sendo indicado como ros de Resíduos, intitulado “Desenvolvimentos
um dos principais impulsionadores da introdução da cultura e tra- Recentes: Geomecânica Resíduos, Estabilidade Aterros, Tecno-
tamento industrial em Portugal e tendo realizado na Ordem, em logias Monitorização, Degradibilidade Resíduos e Sistemas de
1978, o 1.º Curso nacional sobre a Cultura da Beterraba Sacarina, Confinamento“. O evento, a decorrer nas instalações do Labora-
que se prolongou por várias semanas. tório, decorre com o apoio das Águas de Portugal, do Instituto
A sua grande cultura técnica e geral traduziu-se em numerosas dos Resíduos, da Ordem dos Engenheiros e da Sociedade Portu-
conferências e trabalhos publicados, de entre os quais destacamos guesa de Geotecnia.
as obras “A Beterraba – A Cultura e a Indústria“, editada pela Passada uma década do início do encerramento de mais de 300
Ordem dos Engenheiros, em 2003; “A Cultura da Beterraba Sa- lixeiras no País e depois da construção, em igual período, de mais
carina”, de 1994; “O Grande Livro do Vinho”, lançado em 2000; de meia centena de aterros para Resíduos Sólidos Urbanos, a
e “O Livro do Chá”, datado de 2001. maior parte em fase de exploração, alguns já encerrados ou em
fase de encerramento, deve a comunidade científica e técnica na-

16 INGENIUM | Março/Abril 2007


Colégios

Justina Catarino Tel.: 21 092 40 00 Fax: 21 715 40 84 E-mail: [email protected]

ENG.ª do AMBIENTE um Mapa de Registos das análises periódicas


da qualidade da água, de acordo com a ca-
lendarização proposta para a amostragem das
MELHOR ESTÁGIO 2006 águas residuais. Numa perspectiva operacio-
Sistema de Saneamento da Cidade nal foram propostas acções de formação es-
do Mindelo – Cabo Verde pecíficas para todos os operadores do sistema
de saneamento e acções de sensibilização e
informação da população em geral.
Autora: Eng.ª Ana Filipa Ferrão Gonçalves Houve, ainda, oportunidade de assistir à im-
Orientador: Eng.º António Elísio Sampaio Farelo Cruz plementação de algumas das propostas avan-
çadas, nomeadamente, início das obras de
recuperação e manutenção das infra-estru-
vido pelo Ministério da Agricultura de Cabo neamento e substituição de equipamento de turas e equipamentos do sistema de sanea-
Verde. Do estudo realizado resultou um con- bombagem. mento; introdução de novas metodologias
junto de sugestões e propostas de interven- Foram também apresentadas algumas suges- de funcionamento e operação da ETAR, com
ção a introduzir, na perspectiva de melhorar tões visando a melhoria dos serviços presta- impactos muito positivos na qualidade da
as condições de serviço e funcionamento do dos pela entidade gestora do sistema de sa- água tratada; arranque do projecto PARI,
sistema de saneamento existente, tanto ao neamento, designadamente o levantamento que desde Outubro de 2005 fornece água
nível da ETAR como ao nível da rede de sa- e cadastro de todos os componentes da rede residual tratada para irrigação de um perí-
neamento. Com vista ao aumento da eficiên- e a elaboração de planos de apoio à operação metro agrícola, beneficiando, directamente,
cia de tratamento da ETAR, foi sugerido um e gestão. Neste âmbito, criaram-se modelos 145 agricultores que diariamente abastecem
novo modo de operação, bem como a sua am- dos Planos de Manutenção da Rede de Co- o mercado central da cidade do Mindelo.
pliação (proposta de 3 esquemas alternativos lectores e das Estações de Bombagem, de O estágio permitiu perceber o funcionamento
de tratamento, em função do caudal de água Manutenção das Viaturas, de Manutenção e a importância do sistema de saneamento
residual previsto). Relativamente à rede de da ETAR e de Inspecção e Manutenção dos no Mindelo e acompanhar o ciclo da água
saneamento da cidade do Mindelo, foram Equipamentos e um guião para a elaboração (bem escasso e vital, principalmente em
propostas intervenções ao nível da rede de de um Manual de Procedimentos do Labo- Cabo Verde) – da produção e abastecimento
colectores e das estações de bombagem, no- ratório. Foi também apresentada uma versão de água potável, da recolha e tratamento das
meadamente, operações de manutenção pre- preliminar do Manual de Operação da ETAR águas residuais à sua utilização na irrigação
ventiva e correctiva, ampliação da rede de sa- para diferentes cenários de caudal afluente e de campos agrícolas.

cional “reflectir e debater o passado recente com relevante intervenção na área. A sua
e, principalmente, definir as bases de actua- moderação por um especialista em geotec-
ção para resolver os problemas actuais e an- nia de reconhecido mérito, muito contribuirá
tecipar os desafios futuros”. para se tornar num espaço privilegiado para
Ao promover este Seminário, o LNEC pre- o debate, com garantias de grande motiva-
tende divulgar, com a presença de conceitua- ção e interesse para os participantes. Qual-
dos especialistas nacionais e internacionais, quer intervenção nesta mesa redonda é bem-
“experiências adquiridas e desenvolvimentos -vinda e poderá iniciar-se desde já, envian-
e ensinamentos recentes” nas áreas da Geo- nacionais responsáveis pela execução e re- do para o e-mail do evento (aterros-de-resi
mecânica dos Resíduos, da Estabilidade dos gulação do sector irão contribuir para o en- [email protected]) as respectivas contribuições,
Aterros, das Tecnologias de Monitorização, quadramento das conferências técnicas e que podem ser na forma de opinião, de co-
da Degradibilidade dos Resíduos nos Ater- serão a garantia da transmissão de importan- mentário, de questão, entre outras.
ros, e do Desempenho dos Sistemas de Con- tes informações para a discussão, em áreas Para a tarde do segundo dia está programada
finamento. Pretende, também, contribuir como o planeamento estratégico em resí- uma Visita Técnica a um Aterro de Resí-
para dinamizar a discussão destes aspectos, duos e os desafios da política nacional dos duos, que constituirá uma boa oportunidade
dada a sua importância para a garantia da resíduos. No final das 12 intervenções pro- para muitos dos participantes tomarem con-
qualidade dos Aterros de Resíduos ao longo feridas pelos oradores convidados, terá lugar tacto com os aspectos práticos da gestão di-
do seu tempo de vida útil e assegurar a pro- uma mesa redonda para debater as “Pers- ária deste tipo de obra das Engenharias Civil
tecção do ambiente e da saúde pública. pectivas no Sector para o Futuro”, com um e Ambiental. Mais informação em:
As participações das principais autoridades Painel constituído por actores institucionais http://aterros-de-residuos.lnec.pt.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 17


Colégios
ENGENHARIA DO ENGENHARIA
AMBIENTE CIVIL

estágio, intitulado “Placas de Betão Armado Submetidas a Es-


O tados Bidimensionais de Tensão”, foi realizado na Universi-
dade de Coimbra e surge enquadrado na linha de investigação se-
guida nos últimos anos no Laboratório de Estruturas do Departa-
mento de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnolo-
gia, visando a temática “Torção em Vigas de Betão Estrutural”.
Resumidamente, o trabalho envolveu o estudo do comportamento
do betão relativamente à compressão em placas de betão armado
quando este é submetido a extensões transversais de tracção ele-
vadas.
É sabido que o comportamento do betão comprimido em ele-
mentos de betão armado é influenciado pelas respectivas exten-
sões transversais de tracção, consequentemente, para avaliar rigo-
rosamente esse comportamento, os modelos de cálculo têm que
considerar o estado de deformação.
Na formulação das relações tensão versus extensão para o betão
fissurado por acção de forças de corte (e.g. almas de vigas solici-
tadas por esforço transverso ou vigas tubulares solicitadas por tor-
ção), deve ter-se em atenção que o estado de deformação a que
o betão está submetido difere significativamente do que ocorre
Sessão sobre em ensaios de compressão uniaxial de cilindros, prismas ou cubos
de betão. É por isso espectável que o betão, em elementos soli-
o 4.º Fórum Mundial da Água citados por corte, apresente uma resistência à compressão signi-
ficativamente diferente da obtida em ensaios de compressão unia-
xial de provetes cilíndricos, prismáticos ou cúbicos.
nserida no Ciclo de Debates para o Biénio 2007/2008, realiza- Estudos recentes acerca do comportamento de vigas solicitadas
I -se a 29 de Maio, às 16h00, no Pequeno Auditório do LNEC,
uma Sessão sobre o 4.º Fórum Mundial da Água – Acções Locais
por torção demonstraram a importância de se considerar este efeito

para um Desafio Global.


O Fórum Mundial da Água é um evento da iniciativa do Conse-
JPEE 2006
lho Mundial da Água, e realiza-se de três em três anos desde 1997. 4.as Jornadas Portuguesas
Trata-se do maior evento internacional sobre a Gestão da Água e
assume-se como um fórum de participação e diálogo internacio- de Engenharia de Estruturas
nal entre os múltiplos intervenientes no sector, que procura in-
fluenciar o processo de tomada de decisão ao nível das políticas
globais para esta área, no sentido de um desenvolvimento susten-
tável do planeta. Os três anteriores eventos realizaram-se em Mar-
rocos (Marraqueche, 1997), na Holanda (Haia, 2000) e no Japão
(Quioto, 2003).
Este ano foi a vez da Cidade do México receber o 4.º Fórum Mun-
dial da Água, realizado entre 16 e 22 de Março, sob o tema geral
“Acções Locais para um Desafio Global”, que acolheu participan-
tes e delegados de cerca de 140 países, envolvendo um total de
quase 20 mil pessoas.
As discussões técnicas realizadas ao longo do Fórum agruparam-
-se em cinco grandes temas: Água para o Crescimento e o Desen- ealizaram-se no Laboratório Nacional de Engenharia Civil
volvimento; Implementação da Gestão Integrada dos Recursos
Hídricos; Abastecimento de Água e Saneamento para Todos; Água
R (LNEC), em Lisboa, nos dias 13 a 16 de Dezembro de 2006,
as 4.as Jornadas Portuguesas de Engenharia de Estruturas.
para a Alimentação e o Ambiente; e Gestão de Riscos. Promovidas conjuntamente pelo LNEC e pelo Grupo Português
de Betão Estrutural (GPBE), estas Jornadas vêm dar continuidade
Outras informações em: www.aprh.pt/texto/290506.html. ao projecto iniciado em 1982 com a organização das primeiras JPEE

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João Almeida Fernandes Tel.: 21 844 33 16 Fax: 21 844 30 25 E-mail: [email protected]

ENG.ª CIVIL mente à resistência à compressão uniaxial.


Concluiu-se que a divergência de opiniões
MELHOR ESTÁGIO 2006 quanto ao facto do softening effect se mani-
festar somente na tensão de compressão do
Placas de Betão Armado Submetidas betão, ou também na correspondente exten-
a Estados Bidimensionais de Tensão são, bem como a boa correlação reportada
por outros autores dos dados experimentais
aos modelos associados a ambas as opções,
Autor: Eng.º Ricardo Costa
pode estar relacionada com a deficiente in-
Orientador: Eng.º Sérgio Lopes
terpretação de ocorrências de extremos nas
curvas experimentais, que são função do
nos modelos de cálculo, para a previsão da fluência da espessura da placa, no compor- quociente entre a extensão média principal
capacidade resistente dos elementos na fase tamento do betão comprimido e na respec- máxima e mínima e não traduzem a tensão
última. No caso das vigas em caixão, em que tiva resistência à compressão, à comparação máxima de compressão que o betão pode
as paredes da secção funcionam como mem- de resultados experimentais obtidos com os suportar, para uma dada extensão transver-
branas sujeitas, principalmente, ao corte, este modelos teóricos existentes na literatura, e sal de tracção.
efeito é bastante pronunciado. à comparação dos factores de redução da re- Relativamente às disposições normativas, ve-
No estudo efectuado procurou-se avaliar o sistência à compressão do betão, por acção rificou-se que os factores de redução da ca-
efeito das extensões transversais de tracção das extensões transversais de tracção, obti- pacidade resistente, patentes na regulamen-
na capacidade resistente verificada no betão, dos experimentalmente com os factores pro- tação europeia, são ligeiramente menos gra-
bem como na relação constitutiva do betão postos em documentos normativos. vosos do que os obtidos experimentalmente.
comprimido. O estudo incorporou a realiza- A análise dos resultados experimentais per- Enquanto que os factores de redução dos
ção de ensaios experimentais, que envolveram mitiu a clara constatação do softening effect documentos normativos norte-americanos
o ensaio de placas de betão armado submeti- associado à tensão de compressão do betão, são claramente mais gravosos que os obtidos
das ao corte e dimensionadas para que a ro- ou seja, a redução da capacidade resistente do experimentalmente (justificável na medida
tura ocorresse por esmagamento do betão. betão solicitado por compressão na presença em que visam garantir um adequado con-
Foi dada particular atenção ao estudo da in- de extensões transversais de tracção, relativa- trolo da fissuração transversal).

que, desde então, se repetem com uma pe- um deles, sub-temas específicos. Foram con- truturas, e de realização de estruturas (pro-
riodicidade de 8 anos. siderados todos os tipos de estruturas, no- jectos e obras).
À semelhança de edições anteriores, as Jor- meadamente edifícios, pontes, viadutos, tor- Na sequência da iniciativa levada a cabo em
nadas incluíram o Encontro Nacional de Be- res, reservatórios, silos, barragens, túneis, anteriores Encontros Nacionais sobre Betão
tão Estrutural, promovido bienalmente pelo obras hidráulicas, etc.; bem como todos os Estrutural, foi incluída a organização de um
GPBE. tipos de materiais, incluindo estruturas de Concurso dirigido à participação de estudan-
As JPEE 2006 integraram-se nas comemo- betão armado e pré-esforçado, de aço ou tes de Engenharia Civil. O Concurso PSI 2,
rações dos 60 anos do LNEC e dos 40 anos mistas, de madeira, de alvenaria, ou com a que deu continuidade ao Concurso PSI efec-
do GPBE, bem como na celebração dos 70 utilização de compósitos, etc. tuado em 2002, teve como objectivo dimen-
anos da Ordem dos Engenheiros. Os três primeiros dias das Jornadas foram sionar e executar o Pilar constituído por ele-
Com o objectivo de promover o intercâm- dedicados a conferências a cargo de especia- mentos pré-fabricados mais resistente a um
bio de experiências e informação no domí- listas nacionais e estrangeiros e à apresenta- sismo. Concorreram 41 alunos agrupados em
nio alargado da engenharia de estruturas, as ção de comunicações seleccionadas num total 14 equipas, com um total de 23 pilares em
JPEE 2006 contaram com uma adesão de de 115 intervenções orais e 33 posters. No representação de 6 instituições: Universidade
cerca de 500 participantes, oriundos de todo último dia, foram organizadas visitas técni- do Minho, Universidade de Aveiro, Facul-
o país, num universo abrangente de interes- cas às obras em curso para a Travessia do dade de Ciências e Tecnologia da Universi-
sados nas áreas de projecto, construção, ob- Tejo no Carregado e de expansão da linha dade de Coimbra, Escola Superior de Tec-
servação e reabilitação de estruturas. vermelha do Metropolitano de Lisboa. nologia do Instituto Politécnico de Castelo
As Jornadas desenvolveram-se em torno de Durante as Jornadas, decorreu ainda uma Branco, Faculdade de Ciências e Tecnologia
três de três grandes temas, “Verificação da exposição técnica de divulgação de novos da Universidade Nova de Lisboa e Instituto
Segurança de Estruturas”, “Comportamento produtos e serviços nas áreas de materiais e Superior de Engenharia de Lisboa.
e Reabilitação de Estruturas” e “Novas Rea- componentes estruturais, de tecnologias e Mais informações sobre as JPEE 2006 estão
lizações de Estruturas”, englobando, cada equipamento de construção e ensaio de es- disponíveis em: http://jpee2006.lnec.pt.

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ENGENHARIA
CIVIL João Almeida Fernandes Tel.: 21 844 33 16 Fax: 21 844 30 25 E-mail: [email protected]

Especialização em Sistema de certificação Seminário


“Segurança no trabalho energética dos edifícios Comportamento
da Construção” com peritos qualificados e Resistência
das Estruturas de Betão
Colégio de Engenharia Civil propôs a o seguimento da reunião da “Comissão Sujeitas à Acção do Fogo
O criação de uma especialização em segu-
rança no trabalho da construção, com uma
N de Acompanhamento”, na qual a Ordem
dos Engenheiros se encontra representada, e Região Norte da Ordem dos Engenhei-
natureza vertical, ficando dependente deste
Colégio.
ao abrigo do Protocolo celebrado com a Di-
recção Geral de Geologia e Energia (DGGE),
A ros e a Associação Técnica da Indústria
de Cimento promovem, no dia 23 de Maio,
Na sua reunião de 16 Fevereiro, o Colégio o Colégio de Engenharia Civil procedeu, com entre as 14h30 e as 18h00 um seminário su-
entendeu dever informar o Conselho Coor- base em análise curricular, à nomeação de bordinado ao tema “Comportamento e Re-
denador dos Colégios (CCC) que os actos sistência das Estruturas de Betão Sujeitas à
associados à especialização e o âmbito da le- Acção do Fogo”.
gislação relativa ao trabalho na construção, O comportamento das estruturas face à acção
nela explicitamente detalhado e traduzin- do fogo constitui uma preocupação crescente
do uma quase exclusividade de actos de en- para engenheiros, donos de obra, responsá-
genharia civil, não são compatíveis com uma veis pela segurança e público em geral, pelos
eventual natureza horizontal da especiali- riscos e restrições em matéria de construção
zação. provocados pela mesma. Os novos desen-
Assim e após atenta ponderação, o Colégio membros com a qualificação de “Perito Acre- volvimentos deste tema têm sido baseados
de Civil reafirmou que a natureza da espe- ditado SCE” para formadores dos programas em técnicas experimentais e modelações di-
cialização é vertical e, nessa condição, na di- de formação, em preparação pela Agência versas, mas também e, infelizmente, na aná-
recta dependência do Colégio de Engenha- para a Energia (ADENE). Os formadores no- lise das consequências de acidentes que têm
ria Civil, sem prejuízo de engenheiros de meados pelo Colégio terão uma qualificação ocorrido nos últimos anos.
outras especialidades poderem dela fazer relativa ao módulo sobre o Regulamento das Privilegiando a prevenção e a correcta avalia-
parte com base em análise curricular. Características de Comportamento Térmico ção de riscos e danos, esta sessão, que decor-
dos Edifícios (RCCTE). rerá no Porto, no Auditório da Região Norte
da Ordem dos Engenheiros, irá dinamizar o
intercâmbio de experiências ao nível inter-
nacional através da participação do Prof. Pal
Chana, Director Técnico da British Cement
Conferência Association, cujo trabalho de investigação
tem decorrido da análise de uma parte sig-
TDeS’07 nificativa dos acidentes dos últimos anos.
Por outro lado, as técnicas de prevenção e
Laboratório Nacional de imperativo do desenvolvi- segurança, bem como a nova regulamenta-
O Engenharia Civil (LNEC)
vai acolher, nos dias 21 e 22 de
mento sustentável coloca ao
sector dos Transportes. Será
ção europeia, justificam o interesse numa
actualização deste tema.
Junho de 2007, a “Conferência efectuada uma abordagem integrada
TDeS’07 – Transportes para um Desenvol- dos problemas, cobrindo questões centrais
vimento Sustentável”, que se integra no pro- nas áreas de Economia de Transportes, Ter-
Exames nacionais
grama das comemorações do 60.º aniversá-
rio desta instituição.
ritório e Ambiente; Mobilidade Urbana e
Qualidade de Vida; Tráfego, Risco e Segu-
de admissão
A Conferência contará com a presença de rança; Infra-estruturas de Transporte, Plata- realização dos exames nacionais para ad-
conceituados especialistas convidados, na-
cionais e estrangeiros, dos Estados Unidos,
formas Logísticas e Interfaces; Energia, Tec-
nologia e Inovação; Políticas e Planeamento
A missão à especialidade de Engenharia
Civil teve lugar no dia 23 de Março, em Coim-
Inglaterra, França e Noruega. Estes aborda- de Transportes. bra. O total de candidatos a nível nacional foi
rão, numa perspectiva multidisciplinar e O primeiro anúncio da TDeS’07 e outras de 409, sendo 79 da Região Norte, 140 da
inter-sectorial, os principais desafios que o informações constam em: www.lnec.pt. Região Centro e 190 da Região Sul.

20 INGENIUM | Março/Abril 2007


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ENGENHARIA
ELECTROTÉCNICA Vasco Lagarto Tel.: 234 377 900 Fax: 234 377 901 E-mail: [email protected]

ENG.ª ELECTROTÉCNICA aéreas de energia e de telecomunicações, das


MELHOR ESTÁGIO 2006 construções, etc..
Concluído o levantamento topográfico e na
posse do Perfil do terreno, inicia-se, no tra-
Projecto de Linhas Eléctricas Aéreas de MT/AT çado escolhido, o cálculo mecânico da linha,
que tem como objectivo:
Determinar a tensão mecânica de monta-
Autor: Eng.º Henrique Ferreira
gem dos condutores à qual estes devem ser
Orientador: Eng.º Nuno Silva
submetidos no acto de montagem da Linha,
conforme as condições climatéricas que se
verificarem nesse momento, para assegurar
trabalho premiado pelo Colégio de En- poder ser convenientemente usado no Pro- que, quaisquer que sejam as condições atmos-
O genharia Electrotécnica da Ordem dos
Engenheiros teve como assunto “Projecto de
jecto de Linhas.
Na segunda fase, foi iniciada a elaboração do
féricas que venham a registar-se, os condu-
tores nunca sejam solicitados por tensões
Linhas Eléctricas Aéreas de MT/AT”, reali- projecto da linha 30 kV PE Fundeiro – SE mecânicas superiores à sua tensão de segu-
zado na empresa PAINHAS, SA. Corgas. rança; este é um limite que é fixado dividin-
A linha projectada no âmbito deste trabalho Inicialmente, procedeu-se ao estudo/selec- do a tensão de ruptura do condutor por um
foi uma linha de Média Tensão a 30 kV, que ção do traçado, tendo como base todos os coeficiente de segurança;
interliga o Parque Eólico do Fundeiro, pro- elementos topográficos das zonas a atraves- Escolher a altura dos apoios da linha e os
priedade da Generventos do Pinhal Energias sar, de forma a obter uma ideia clara das ca- respectivos pontos de implantação para que
Renováveis, localizado na freguesia da Er- racterísticas do terreno e o conhecimento, fique garantido que os condutores nunca se
mida, concelho da Sertã, à subestação das tão exacto quanto possível, de quaisquer ou- aproximam exageradamente do solo ou de
Corgas, localizada na freguesia e Concelho tros elementos que, de algum modo, possam objectos vizinhos da linha, quaisquer que
de Proença-a-Nova. condicionar a realização do projecto. sejam as condições atmosféricas que se ve-
O trabalho realizado dividiu-se em duas fases Estudado e reconhecido o traçado da linha, nham a verificar;
principais. procedeu-se ao seu levantamento topográ- Escolher o tipo de apoios de modo a ga-
A primeira foi a fase de preparação do pro- fico, sinalizando no terreno, por meio de es- rantir a estabilidade dos mesmos.
jecto e teve como tarefas principais as se- tacas ou marcas, os alinhamentos rectos es- De uma forma muito sucinta são estes os
guintes: Pesquisa de Legislação aplicável; colhidos. principais passos para a elaboração do pro-
Contacto com diversos fabricantes de modo Para além do perfil longitudinal, foi efectu- jecto de uma linha aérea.
a criar uma base de dados com informação ada a correspondente planta parcelar, con- Não quero terminar sem deixar de agrade-
técnica dos vários materiais a empregar numa tendo as indicações das divisões das proprie- cer todo o apoio prestado por todos os cola-
linha; Definição e Desenvolvimento das fases dades e os nomes dos seus proprietários, das boradores da PAINHAS SA, em particular
do projecto; Exploração do software adqui- suas culturas, dos cursos de água, das estra- ao Eng.º Nuno Silva, orientador do estágio,
rido pela empresa, PLS-CAD, de forma a das e caminhos, das vias-férreas, das linhas e ainda ao Eng.º Leite da Silva.

CIRED 2007
edição de 2007 do CIRED, identificada como a maior conferência e exposição na área
A da distribuição de electricidade, realiza-se no Centro de Congressos de Viena, na Áus-
tria, entre 21 e 24 de Maio.
Durante o CIRED, que tem lugar de dois em dois anos na Europa, são reportados os de-
senvolvimentos e as melhores práticas tecnológicas e de gestão na distribuição de electrici-
dade a nível mundial.
Os seus participantes podem assistir a sessões técnicas, discussões abertas, mesas redondas,
tutorais e um fórum interactivo valioso para engenheiros, fabricantes, consultores, acadé-
micos e gestores.
Para saber mais sobre este evento, pode consultar a sua página web no endereço:
www.cired2007.org.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 21


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GEOGRÁFICA Manuel Pinto de Abreu Tel.: 21 751 55 00 Fax: 21 757 70 06 E-mail: [email protected]

ENG.ª GEOGRÁFICA
tricos, dado que cada um deles possui atri-
MELHOR ESTÁGIO 2006 butos específicos. Tentou-se detalhar as des-
crições tanto a nível de construção civil, como
SIG para aproveitamentos hidroeléctricos a nível de cadastro predial. Criaram-se enti-
da Zona Centro dades geográficas como: barragens, centrais,
canais, túneis, câmaras de carga, “sítios” (es-
sencialmente áreas consideradas como “zona
Autora: Eng.ª Sandra Isabel Oliveira Alves
de protecção” ao aproveitamento) que pos-
Orientadora: Eng.ª Elisa Manuela Domingues Almeida
suem tanto informação geométrica como in-
formação alfanumérica. A informação pro-
duzida permitiu delimitar os “sítios” dos apro-
empresa EDP Produção – Engenharia e tas de projecto, fichas cadastrais, dados dos veitamentos com identificação dos respecti-
A Manutenção foi a entidade onde se rea-
lizou este estágio, nos Departamentos de
Serviços de Finanças e das Conservatórias do
Registo Predial, fotografias, etc.. Considerou-
vos prédios, incluindo os dados registrais.
Procedeu-se ainda a uma fase de análise,
“Sistemas Informáticos” e de “Topografia e -se também necessária a aquisição de infor- onde foram produzidos modelos digitais do
Geodesia”. mação de base, como cartografia vectorial e terreno, tanto em formato GRID como for-
A actividade desta empresa desenvolve-se ortofotomapas. Após selecção, foram digita- mato TIN, e também mapas de declive e
em três frentes: engenharia de concepção, lizadas peças desenhadas, existentes interna- orientação. De modo a centralizar toda a in-
projecto e exploração; gestão de projectos e mente, sendo em seguida georreferenciadas formação produzida criou-se uma Geodata-
fiscalização da construção; e gestão, super- e parcialmente vectorizadas. Assim, foi inte- base (Base de Dados Geográfica).
visão e execução da grande manutenção de
equipamentos, sistemas e instalações.
O objectivo deste estágio formal prendeu-
-se com a criação de um Sistema de Infor-
mação Geográfica (SIG) que integrasse o
grupo de aproveitamentos hidroeléctricos
pertencentes à EDP, localizados na zona cen-
tro de Portugal e integrados no Sistema Eléc- Barragem de Santa Luzia
trico Não Vinculado (SENV). Este SIG
pauta-se por um carácter cadastral dado que grada no SIG informação geográfica vecto- Durante a duração deste estágio foi-me sem-
incidiu na descrição do património imobili- rial e raster e ainda alguns documentos pre- pre proporcionada e incentivada a presença
ário do Grupo EDP. viamente digitalizados. Este passo constituiu em conferências, bem como a deslocação a
A distribuição dos aproveitamentos em es- o principal obstáculo a ultrapassar, uma vez diversas instalações da empresa espalhadas
tudo é a seguinte: que dispúnhamos de uma grande diversidade pela zona centro, o que permitiu desfazer
Sistema Produtor Hidroeléctrico da Serra de formatos de ficheiros a inserir. algumas dúvidas que de outra forma não po-
da Estrela Escolheu-se um software SIG que se adap- deriam ser corrigidas.
– Principais Barragens – Lagoa Comprida, tasse ao trabalho em causa e definiu-se à par- Por fim, quero partilhar este prémio com a
Vale do Rossim e Lagoacho tida o sistema de coordenadas “Hayford – Eng.ª Elisa Almeida. Devo-lhe muitas horas
– Centrais – Lagoa Comprida, Sabugueiro Gauss, Datum Lisboa”. Nesta fase foi im- de dedicação, transmitindo-me os seus vas-
I e II, Desterro, Ponte de Jugais e Vila prescindível o estudo das características ge- tos conhecimentos de uma forma generosa
Cova rais de todos os aproveitamentos hidroeléc- e construtiva.
Aproveitamento Hidroeléctrico de Santa
Luzia (Barragens de Alto Ceira e Santa Barragem de Vale do Rossim
Luzia; Central de Santa Luzia)
Pequenos Aproveitamentos – Riba Côa,
Pateiro, Ribafeita, Drizes, Pisões, Figuei-
ral, Rei de Moinhos e Ermida.
O passo inicial consistiu em conseguir reunir
o maior número possível de elementos exis-
tentes na empresa – plantas cadastrais, plan-

22 INGENIUM | Março/Abril 2007


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ENGENHARIA
GEOLÓGICA E DE MINAS Pedro Bernardo Tel.: 21 841 74 48 Fax: 21 841 90 35 E-mail: [email protected]

ENG.ª GEOLÓGICA E DE MINAS


Tendo em conta a dimensão da obra e todos
MELHOR ESTÁGIO 2006 os recursos afectos à sua realização, o bom
funcionamento e coordenação dos trabalhos
Implementação de um Sistema de Qualidade dependeu, acima de tudo, de uma gestão
numa Obra Rodoviária adequada, com um acompanhamento con-
tínuo de todos os processos. Esse acompa-
nhamento passa por planear e implementar
Autora: Eng.ª Maria Rita do Rosário Coutinho da Silva
cada um desses processos, monitorizando o
Orientador: Eng.º Rui Luís de Jesus Martins
seu desenvolvimento, adaptando-os à reali-
dade da obra no dia-a-dia da produção.
Concluiu-se que a utilização de um sistema
ealizado no âmbito do estágio formal rentes, razão pela qual se apresentou o con- de gestão da qualidade devidamente adap-
R para a Ordem dos Engenheiros – Colé-
gio de Engenharia Geológica e Minas – e sob
trolo das características dos seus materiais
principais: solos, agregado britado de granu-
tado, é sem dúvida a forma mais simples e
eficaz de concretizar este objectivo.
o tema “Implementação de um Sistema de lometria extensa, misturas betuminosas e No entanto, para que o sistema de gestão da
Qualidade numa Obra Rodoviária”, preten- betão hidráulico. qualidade implementado funcione de forma
deu-se, com o trabalho em questão, abordar O trabalho apresentado abordava aspectos eficaz, o factor mais importante é a existên-
de uma forma geral o controlo de qualidade relacionados com o sistema de gestão da qua- cia de recursos humanos qualificados e mo-
realizado na obra A13 – Auto-estrada Almei- lidade implementado em obra e a verifica- tivados.
rim/Marateca Sublanço Almeirim/Salvaterra ção da sua aplicabilidade bem como a des- A presença de uma equipa técnica válida e
de Magos – Lote A. crição das diversas fases dos trabalhos con- experiente é essencial para uma adequada
A análise e evolução de um sistema de qua- siderados relevantes, realização de trechos preparação, programação e controlo da obra.
lidade numa obra desta natureza, que en- experimentais para verificação da adequação O know-how resultante da experiência ad-
volve trabalhos muito distintos, desenvol- das metodologias de trabalho planeadas e quirida dos elementos dessa equipa permi-
veu-se tendo como base resultados de en- controlo da realização. Finalmente foi efec- tiu a existência de diferentes opiniões sobre
saios laboratoriais e in situ. tuada uma análise comparativa entre os pa- as várias situações ocorrentes em obra, que
Foram considerados como relevantes os tra- râmetros previstos na documentação do pro- em conjunto definiram as soluções conside-
balhos de terraplenagem, pavimentação gra- jecto e os efectivamente obtidos em obra radas mais adequadas para ultrapassar as si-
nular e betuminosa e das obras de arte cor- para os principais materiais utilizados. tuações identificadas.

a decrescer, dando lugar às pedras naturais


Manual da Pedra Natural para a Arquitectura de origem estrangeira; assim como à inexis-
tência de uma “política nacional sustentada
Direcção Geral de a classe dos arquitectos, que atravesse não só a protecção e acesso à
A Energia e Geologia,
em parceria com o Cen-
na qualidade de serem os
principais projectistas e
exploração dos recursos nacionais, até às
questões que se prendem com a necessidade
tro para o Desenvolvimento prescritores, os decisores/ de uma política de formação e incentivos à
e Inovação Tecnológicos responsáveis, públicos ou transformação de blocos hoje considerados
(Cedintec), lançou recen- privados de obras a lançar resíduos e, ainda, por uma deficiente e pas-
temente o “Manual da no país, mas também o siva política de abordagem aos mercados ex-
Pedra Natural para a Ar- mercado externo”, tal como ternos por parte da maioria das empresas
quitectura”, da autoria de explica o Eng.º Carlos Ca- portuguesas, o que poderá certamente vir a
Alberto Cruz Reaes Pin- xaria na Apresentação do comprometer o futuro de um sector de
tos e outros e Coordena- livro. grande tradição, importância social e econó-
ção de António M. Este- A decisão de desenvolvi- mica em Portugal”, afirma o especialista.
ves Henriques e Jorge Ma- mento de um documento O livro vem acompanhado de um CD que
nuel Simões Nunes Tello. Esta obra “pre- com estas características advém da consta- contém informações de relevo para os pres-
tende ser um instrumento de divulgação do tação, por parte da Direcção Geral de Ener- critores e utilizadores, além de uma tradu-
potencial do uso das pedras naturais portu- gia e Geologia, de que a utilização de maté- ção sumária dos aspectos mais importantes
guesas, tendo como principais destinatários rias-primas nacionais neste sector tem vindo da obra.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 23


Colégios
ENGENHARIA
GEOLÓGICA E DE MINAS Pedro Bernardo Tel.: 21 841 74 48 Fax: 21 841 90 35 E-mail: [email protected]

Estes locais devem ser considerados somente


CE divulga “Estratégia Temática de Protecção do Solo” como um problema ambiental ou, também,
como uma oportunidade de re-desenvolvi-
m Setembro do ano passado, a Comis- de um ponto da situação em relação ao pa- mento de terrenos através da sua devolução
E são Europeia (CE) tornou pública a “Es-
tratégia Temática de Protecção do Solo” com
norama nacional, e pela apresentação de me-
todologias de avaliação da contaminação e
ao uso urbano, comercial ou industrial, após
adequada requalificação ambiental?
o objectivo de desencadear um processo con- técnicas de reabilitação de solos. Em representação do Instituto de Resíduos,
ducente ao reforço da protecção do solo em A primeira sessão foi iniciada pelo Prof. Car- o Prof. Luís Arroja (DAO/Universidade de
toda a União Europeia. O solo é, para todos los Costa (CIGA/Universidade Nova de Lis- Aveiro) apresentou os estudos realizados
os efeitos, um recurso não renovável. Por boa) que apresentou as linhas gerais da Es- conducentes à preparação do enquadramento
outro lado, na União, assiste-se a uma ace- tratégia da Comissão Europeia destacando legal em Portugal, com destaque para o in-
lerada degradação de solos, particularmente o conceito mais recente e abrangente de ventário nacional de locais potencialmente
acentuada pela acção do Homem. “solo”, que passa a incluir todo o material contaminados, e deu a conhecer alguns dos
Os processos de degradação de solos incluem, sólido até aos dois metros de profundidade, pormenores da proposta legislativa portu-
entre outros, a erosão, a contaminação, a sa- como sejam os afloramentos rochosos, os guesa que se encontra nas últimas fases de
linização, a compactação e a impermeabili- solos urbanos pavimentados, os solos de áreas preparação.
zação. Presentemente, estima-se que cerca industriais, os solos em cavernas e os solos Ainda na primeira sessão, a Eng.ª Teresa Silva
de 115 milhões de hectares (12% da área subaquáticos. Com particular referência às (Listers Geotechnics) apresentou a perspec-
terrestre da Europa) estão sujeitos a erosão questões relacionadas com a contaminação tiva britânica do problema da contaminação
hídrica, outros 42 milhões de hectares a ero- de solos, nomeadamente no que diz respeito de solos com referência à experiência na ava-
são eólica e que existem aproximadamente aos desenvolvimentos conceptuais na abor- liação e regeneração de locais degradados
3,5 milhões de sítios potencialmente conta- dagem a problemas deste tipo, foi referido (brownfields) no Reino Unido.
minados, só na União Europeia dos 25. Estes que, numa perspectiva abrangente de espaço A segunda sessão do seminário contou com
problemas representam custos anuais signi- tridimensional, se torna mais adequado am- um conjunto de apresentações de carácter
ficativos que podem atingir os 17 mil mi- pliar o conceito de “solo contaminado” para mais técnico, que incluíram referência às me-
lhões de euros, somente no que se refere à o conceito de “terreno contaminado”, in- todologias de avaliação da contaminação de
contaminação. cluindo, em sistema integrado, não só o solo, terrenos (pela Eng.ª Graça Brito, do CIGA/
Na sequência da divulgação deste documento, mas também as construções e as águas sub- UNL), à amostragem de solos para caracte-
o Colégio de Engenharia Geológica e de terrâneas directamente abaixo da superfície rização físico-química (pelo Eng.º Vasco Ri-
Minas promoveu a realização de uma sessão contaminada. beiro, da Geoplano Aherne S. A.), às ferra-
técnica dedicada a esta temática. Assim, no Foram ainda lançadas para debate, em jeito mentas de tratamento de dados e modelos
passado dia 15 de Dezembro, realizou-se o de reflexão, algumas questões relacionadas e análise de risco (pelo Eng.º José Almeida,
Seminário “Estratégias de Avaliação da Con- com a atitude a adoptar face a locais com ter- do CIGA/UNL) e, por último, às técnicas
taminação e Reabilitação de Solos”, cujos renos contaminados, e com a responsabilidade de remediação de solos contaminados (pelo
objectivos passaram pela discussão da estra- dos intervenientes envolvidos (i.e., proprietá- Eng.º Carlos Cardoso, da AUTOVILA). O
tégia proposta pela Comissão e da dimensão rios, compradores, administração central e seminário terminou com um debate alargado
europeia do problema, pelo estabelecimento local, entidades regulamentadoras e cidadãos). a todos os participantes.

entidades relacionadas com a temática dos


2.º Seminário Português Sobre Geossintéticos geossintéticos. Pretende-se, com este evento,
promover o debate sobre os geossintéticos,
divulgar avanços nos conhecimentos cientí-
ficos e técnicos, e incrementar a comunica-
Comissão Portuguesa de Geossintéticos lado “Geosynthetics in hydraulic applica- ção entre projectistas, instaladores, produ-
A (IGS-Portugal), da Sociedade Portuguesa
de Geotecnia (SPG), e o Laboratório Nacio-
tions”, e três sessões temáticas, com apre-
sentações por oradores convidados, nacionais
tores, utilizadores e investigadores por forma
a melhorar a compreensão sobre estes ma-
nal de Engenharia Civil (LNEC) vão organi- e estrangeiros, de reconhecido mérito: Geos- teriais, o seu comportamento e as suas apli-
zar o 2.º Seminário Português sobre Geos- sintéticos em estradas e caminhos-de-ferro; cações em obras de engenharia.
sintéticos, que terá lugar nos dias 19 e 20 de Geossintéticos em aterros de resíduos; e Este é mais um Seminário que se insere nas
Junho de 2007, em Lisboa, no LNEC. Geossintéticos em obras hidráulicas. comemorações dos 60 anos do LNEC.
Este evento incluirá a realização de um curso Durante o Seminário decorrerá uma expo- Pode encontrar mais informações sobre este
pelo professor J. P. Giroud (USA), intitu- sição técnica, aberta a todas a empresas e evento em: www.2semgeossinteticos.org.

24 INGENIUM | Março/Abril 2007


Colégios
ENGENHARIA
INFORMÁTICA José Alegria Tel.: 21 501 20 80 Fax: 21 501 20 26 E-mail: [email protected]

ENG.ª INFORMÁTICA gram System” – executável que contém a


compilação de todo o código do sistema) e
MELHOR ESTÁGIO 2006 de compatibilidade; verificar e actualizar o
software das cartas sempre que um novo soft-
Análise e Desenvolvimento de uma Unidade ware é activado na MCU ou uma nova carta
Funcional no âmbito do Projecto DWDM da Siemens é plugged in; fazer trocas entre o banco de
memória inactivo e activo; e assegurar o down-
Autora: Eng.ª Carla Susana Malheiro da Cunha load/upload da base de dados com as confi-
Orientador: Eng.º Manuel Fernandes gurações do NE, entre outras.
Para a integração do produto OEM com o
Surpass hiT7500 na área de SWM, foi neces-
realização deste estágio formal para o em que está inserido. Algumas funções des- sário tratar este produto como mais um equi-
A Colégio de Engenharia Informática da
Ordem dos Engenheiros da Região Sul foi
tes NE’s são a inserção ou remoção de um
determinado número de comprimentos de
pamento Siemens para que a operação, com
todo o seu portfólio, se realizasse de forma
efectuado na empresa Siemens, S.A. e teve onda, a regeneração do sinal, a amplificação transparente. Para isso, foram definidas inter-
como objectivo o desenvolvimento de uma óptica do sinal juntamente com o ruído, a faces de gestão que vieram possibilitar a co-
nova versão do produto Surpass hiT7500 na inserção ou remoção de todos os compri- municação e integração entre estes dois pro-
unidade funcional SWM (“Software Mana- mentos de onda do sistema através de uni- dutos e que possibilitaram verificar se o soft-
gement”). Este produto tem tido várias ver- dades Multiplexadores/Demultiplexadoras ware deste novo equipamento necessita ser
sões, representando cada uma delas a adição ópticas, entre outras. Os NE’s são compos- actualizado cada vez que uma nova APS é ac-
de novas funcionalidades e implicando a al- tos por várias cartas, cada uma com a sua tivada no NE. Ao participar num projecto
teração das várias unidades funcionais que o funcionalidade (hardware e software dife- com estas dimensões adquire-se um grande
constituem, entre elas o SWM. rentes), e podem ser classificados em vários sentido de responsabilidade e de equipa, apro-
O Surpass hiT7500 é um produto, desenvol- tipos, dependendo das cartas equipadas e da fundam-se e ganham-se novos conhecimen-
vido e comercializado pela Siemens, na área funcionalidade pretendida. A MCU (“Main tos. A nível técnico, realço a consolidação e
de redes ópticas de transporte que imple- Controller Unit”) é a carta controladora do aprofundamento dos conhecimentos adqui-
menta, de uma forma optimizada, uma pla- sistema Surpass hiT7500 e tem que estar ridos ao longo da licenciatura, nomeadamente
taforma de transporte DWDM (“Dense Wa- obrigatoriamente presente em qualquer tipo da linguagem de programação C++, a ela-
velength Division Multiplexing”), tecnologia de NE. A unidade SWM é parte integrante boração de algoritmos para resolução de pro-
óptica de conhecimento geral na área de te- do software desta carta e é a unidade fun- blemas com aplicação real, a participação nas
lecomunicações, que permite que vários com- cional responsável por permitir o download várias fases do ciclo de vida de um produto,
primentos de onda sejam transmitidos a lon- e assegurar a consistência de todo o software nomeadamente, análise, design, implementa-
gas distâncias simultaneamente na mesma pertencente ao Surpass hiT7500. ção, teste e manutenção, bem como a impor-
fibra transformando a fibra óptica em várias A realização deste estágio teve duas verten- tância de vários conceitos adquiridos ao longo
fibras virtuais. As principais características tes, a manutenção de versões e a integração da licenciatura. Destaco também os novos
deste produto são a construção de redes com de um produto OEM (“Original Equipment conhecimentos adquiridos na área de teleco-
capacidade de alcance regional (300-800Km), Manufacturer”). Ou seja, um produto co- municações com a aprendizagem de novas
long-haul e ultra-long-haul (até 3.000 Km mercializado por outra empresa, que vem tecnologias (e.g. DWDM), o manuseamento
sem regeneração eléctrica) com capacidades possibilitar capacidades de transmissão de dos equipamentos deste projecto (e.g. TNMS
de transmissão de 2.5, 10 e 40 Gbps por 40Gbps por canal. A manutenção de versões – sistema de gestão de rede desenvolvido pela
comprimento de onda suportando todo o consistiu em assegurar que a implementação Siemens) e também a utilização de uma fer-
tipo de arquitecturas de rede (ponto-a-ponto, de novas funcionalidades ocorreu com su- ramenta de controlo de versões, necessária à
ring, mesh). Esta plataforma permite tam- cesso e não corrompeu as funcionalidades construção de sistemas de grande dimensão.
bém um espaçamento entre canais que varia que já estavam implementadas em versões Foi, sem dúvida, uma etapa importante de
entre 100GHz ou 50GHz e suporta até 80 anteriores, tendo sido efectuadas correcções crescimento pessoal e profissional e, por isso,
canais, estando a arquitectura preparada para, que contribuíram para a melhoria e robustez não queria deixar de agradecer à Siemens a
no futuro, suportar até 160 canais. do produto. Algumas das funcionalidades de oportunidade e confiança concedidas, bem
O Surpass hiT7500 possibilita a utilização SWM são: assegurar o download e garantir a com ao orientador de estágio Eng.º Manuel
de vários modelos de nós de rede (NEs – consistência do software para todo o tipo de Fernandes e ao Chief Engineer Henrique
“Network Elements”), tendo cada um deles NE’s do Surpass hiT7500; inquirir o sistema Moreira pelo apoio prestado durante a rea-
uma aplicação específica no contexto da rede sobre informação da APS (“Application Pro- lização deste estágio.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 25


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ENGENHARIA
MECÂNICA Eduardo Maldonado Tel.: 22 508 17 08 Fax: 22 508 21 53 E-mail: [email protected]

ENG.ª MECÂNICA
MELHOR ESTÁGIO 2006
Manutenção de uma Fábrica de Cimento

Autora: Eng.ª Carla Isabel da Silva Cardoso


Orientador: Eng.º Luís Menezes

estágio foi realizado no Centro de Pro- contrados os locais onde é necessário intervir Após a adjudicação dos trabalhos, são reali-
O dução de Souselas, que pertence à CIM-
POR – Indústria de Cimentos, S.A., e ar-
e como intervir na reparação anual. No Ga-
binete de Inspecção Preparação são elabora-
zados os programas de execução dos mes-
mos. Estes programas são realizados utili-
rancou com a sua exploração em Novembro das memórias descritivas que contêm toda a zando o programa MS-Project.
de 1974 com a primeira linha de produção. informação e modo de actuação nos diferen-
Consistiu no acompanhamento de todas as tes equipamentos, que se encontram agrupa- Os equipamentos em que se interveio nesta
intervenções de reparação da linha n.º 1 de dos por zonas do processo de fabrico. reparação encontram-se referenciados na ta-
fabrico de cimento, incluindo a reunião se- bela 1.
manal com as equipas subcontratadas de Após terem sido completadas as memórias
forma a obter toda a informação sobre os descritivas, são consultadas empresas para Nesta intervenção anual programada, foi
tempos de execução das mesmas e esclare- fazer um relatório sobre a reparação, refe- dada grande relevância à reparação do forno
cimento de quaisquer dúvidas, na elabora- rindo os pontos que há a melhorar. Estas 1, no qual foram substituídos três troços de
ção do planeamento da Reparação Anual da empresas são seleccionadas com base nos virola com o comprimento total de trinta
linha 1 em MS-Project. E, finalmente, a par- critérios custo e tempo de execução dos tra- metros.
ticipação na elaboração de um relatório sobre balhos.
toda a reparação, referindo os pontos que há Esta é uma reparação muito aparatosa de-
a melhorar. vido às dimensões do equipamento, que não
é realizada com muita frequência. É da maior
A produção de cimento é um processo bas- Tabela 1 – Equipamentos a Intervir na Grande importância planear adequada e antecipada-
Reparação Anual da Linha 1
tante complexo que não se resume somente mente esta operação e recolher a máxima
ao fabrico, pois existem vários factores que Grande Reparação Anual da Linha 1 informação para que esta possa ser utilizada
estão inerentes a este processo. Como por Reparação do Forno 1 posteriormente no planeamento de outra re-
exemplo, o controlo do processo, o impacto Substituição das Virolas de 3 a 15 do Forno 1 paração do mesmo género.
Descarga de Clinquer
ambiental, a envolvente social, a segurança,
Sistema de Ventilação
a manutenção e a qualidade. Neste relatório A interacção dos tipos de manutenção uti-
Forno 1 e Queima do Forno
de estágio, embora haja referência aos vários lizados (preventiva, curativa/correctiva e pre-
Filtros de Mangas da Linha 1
factores inerentes ao processo, a manuten- ditiva) promovem o bom funcionamento
Alimentação ao Moinho do Cru e Transporte
ção foi o tema principal. desta unidade fabril, cada vez mais voltada
de Farinha
para a manutenção preventiva, prevendo as
Alimentação ao Forno 1 e Alimentação à Tremonha
A grande reparação anual da linha 1 consiste de Nível Constante avarias e actuando antes que estas se façam
numa intervenção em todos os equipamen- Filtro de Mangas e Alteração nos Colectores sentir nos equipamentos, diminuindo assim
tos que esta linha contém, reparando, me- Circuito Gases e Poeiras custos a nível do equipamento e da própria
lhorando e corrigindo todas as falhas diag- Arrefecedor, Amostragem de Cozedura 1 produção.
nosticadas nos diversos equipamentos. Transporte de Clinquer
Moinho do Cru 1, Transporte ao Moinho do Cru O estágio, no âmbito da Manutenção Indus-
O processo de planeamento iniciou-se com Elevadores trial, permitiu a consolidação de conheci-
a recolha dos dados existentes sobre os vários Substituição de Juntas no Filtro de Mangas mentos adquiridos, essenciais para um bom
equipamentos. Através desta recolha são en- e Permutador desempenho profissional.

26 INGENIUM | Março/Abril 2007


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ENGENHARIA
MECÂNICA Eduardo Maldonado Tel.: 22 508 17 08 Fax: 22 508 21 53 E-mail: [email protected]

Em jeito de balanço...
o terminar este período de seis anos
A como Presidente do Colégio de Enge-
nharia Mecânica, não queria deixar de diri-
gir umas palavras a todos os colegas para lhes
agradecer a confiança depositada e o apoio
que me manifestaram, bem como para lhes
transmitir a honra e o prazer que ainda sinto
e sempre senti ao longo destes dois manda-
tos no exercício deste cargo.
Durante estes seis anos no Colégio de Mecâ-
nica, pudemos sempre contar com uma equipa
muito unida e dedicada, onde sempre houve
uma impecável articulação mecânica quer
entre os restantes membros do Colégio Nacio-
nal, quer entre os eleitos pelas três Regiões,
pelo que é de toda a justiça endereçar-lhes sino superior, na sua prolífica imaginação, cializações que mais perto possa estar de dar
aqui o meu agradecimento pessoal pela ex- têm vindo a promover, desde os tradicio- origem a um novo Colégio autónomo dentro
celente colaboração e espírito de equipa que nais “banda larga” aos cursos muito dirigi- da Ordem dos Engenheiros, e cuja acredita-
sempre tivemos. Sem o trabalho conjunto de dos de “banda muito estreita” em alguns ção em Mecânica, na base da tal já referida
todos, não teria sido possível fazer sequer uma sectores da profissão, e em que se corre o “cultura geral do Eng.º Mecânico” e dos cri-
fracção do que foi conseguido. risco de perder o que se pode designar pela térios mínimos estabelecidos, tornam por
Estes dois mandatos foram norteados por “cultura geral” do Engenheiro Mecânico. vezes as acreditações difíceis e exigindo muita
três vectores essenciais: Claro que nem todos os objectivos foram al- flexibilidade por parte das Comissões de
Valorizar a Profissão do Engenheiro Mecâ- cançados. Houve muitos progressos, em mui- Acreditação da Ordem. Não foi possível che-
nico, lutando pelo reconhecimento formal tas áreas, que nos deixaram muito satisfei- gar ainda a um acordo consensual e funcio-
de Actos de Engenharia próprios, regula- tos, em cada um dos três domínios acima nal para esta situação.
mentados se necessário e, em diálogo interno indicados, mas nem sempre foi possível fazer São estes, talvez, os dois pontos em que sinto
com outros Colégios, clarificando situações valer todos os nossos argumentos. Continua também a maior frustração pessoal por não
dúbias em que profissionais sem as devidas a haver muitas frentes onde há que conti- ter sido possível levar os objectivos propostos
competências e formação podiam (e ainda nuar a dialogar. Por exemplo, se, entre avan- a bom termo. Mas, certamente, quem nos
podem em muitos casos) assumir a respon- ços e recuos, se conseguiram fazer reconhe- seguirá na liderança do Colégio de Mecânica
sabilidade por algo que devia ser “nosso”, e cer as bases de conhecimento da acústica nos próximos mandatos não deixará de con-
fazendo reconhecer competências para cer- (ondas e vibrações...) ou dos projectos de tinuar a lutar para que, um dia, possa haver
tos Actos para que temos formação e cujo redes hidráulicas, entre outros, nunca se con- sucesso neste e também noutros pontos.
exercício nos era (ou ainda é) vedado; seguiu ultrapassar a barreira do reconheci- Resta-me desejar ao novo Colégio, liderado
Fomentar o reconhecimento profissional mento da capacidade de projecto para es- pelo colega Manuel Gameiro, que connosco
nas áreas mais significativas da actividade truturas mecânicas fixas, já que as móveis, partilhou activamente o trabalho destes úl-
do Engenheiro Mecânico, criando as con- certamente mais exigentes em termos de timos seis anos, na sua qualidade de Coor-
dições para viabilizar novas Especializações solicitações, nos são unanimemente reco- denador do Colégio de Mecânica na Região
que pudessem enquadrar um número sig- nhecidas como nossa competência exclusiva. Centro, e que, portanto, conhece no deta-
nificativo de membros do Colégio, de que Ultrapassar estas situações requer paciência, lhe todos os dossiers e a problemática da
se destacam a Manutenção Industrial, a perseverança e insistência, mas para os co- Ordem e da profissão, os maiores êxitos nos
Automação e a Refrigeração; legas e empresas mais directamente afecta- próximos anos, para maior engrandecimento
Estabelecer critérios claros para a acredi- dos por esta limitação, a paciência não traz da Ordem dos Engenheiros e do Colégio de
tação de cursos que possam dar entrada dividendos no curto prazo e é, sem dúvida, Mecânica, para o que certamente poderá
no Colégio de Mecânica aos respectivos fonte de frustração e descontentamento. contar com o apoio de todos nós para tudo
licenciados, tendo em conta a enorme di- Continuam também por definir critérios cla- o que necessitar.
versidade de formações e de designações ros para acreditação de cursos de Engenharia
de cursos que as nossas instituições de en- de Gestão Industrial, talvez uma das Espe- Eduardo Maldonado

28 INGENIUM | Março/Abril 2007


Colégios
ENGENHARIA
METALÚRGICA E DE MATERIAIS Maria Manuela Oliveira Tel.: 21 092 46 53 Fax: 21 716 65 68 E-mail: [email protected]

rial se degradar muito lentamente, garantindo


ENG.ª METALÚRGICA E DE MATERIAIS a sua função osseocondutora entre o tecido
ósseo e a prótese metálica.
MELHOR ESTÁGIO 2006 Os resultados obtidos conduziram ao agru-
pamento dos pós com base no pH da respec-
Síntese de pós à base de fosfatos de cálcio tiva reacção, por ser este o parâmetro mais
influente na obtenção de pós com diferentes
razões molares. Os pós pertencentes ao de-
Autora: Eng.ª Cláudia Marina Sousa Ranito nominado grupo I foram sintetizados a pH=6,0.
Orientador: Eng.º Fernando Costa Oliveira Após tratamento térmico a elevadas tempe-
raturas (1000 ºC durante 15 h), foram obti-
dos pós bifásicos (BCP). O grupo II é cons-
tituído pelos pós sintetizados a pH=8,0,
aumento do número de fracturas ósseas, em consequência de maioritariamente contendo a fase HAp, que, ao serem sujeitos a tra-
O acidentes e de doenças ósseas degenerativas, é um factor esti- tamento térmico nas condições acima referidas, deram origem à for-
mulante para a realização de actividades de I&D em materiais para mação de uma pequena quantidade (da ordem dos 3%) de β-TCP.
aplicações ortopédicas. O grupo III é constituído pelos pós sintetizados a pH=9,5, nos quais
Foi neste contexto que se realizou o estágio formal intitulado “Sín- se detectou apenas a presença da fase HAp.
tese de pós à base de fosfatos de cálcio”, realizado no Departamento Neste trabalho, demonstrou-se a viabilidade da utilização do método
de Materiais e Tecnologias de Produção, do Instituto Nacional de de síntese, por precipitação química, de pós de HAp e HAp/β-TCP
Engenharia, Tecnologia e Inovação, IP, sob a orientação do Enge- a partir de reagentes com uma razão Ca/P=1,67, de forma contro-
nheiro Fernando Costa Oliveira. lada, à escala laboratorial. Atendendo ao elevado valor acrescentado
Com este trabalho, pretendia-se contribuir para um melhor conhe- destes materiais, justifica-se prosseguir este estudo à escala piloto.
cimento dos processos de obtenção de pós à base de fosfato de cál-
cio, essenciais para o fabrico de substitutos ósseos e para o revesti-
mento de próteses ortopédicas. Nomeadamente, visava-se produzir
pós com uma razão molar de Ca/P variável entre 1,50 (β-fosfato tri-
cálcico, β-TCP, β-Ca3(PO4)2) e 1,67 (hidroxiapatite, HAp,
Ca10(PO4)6(OH)2), cujas características fossem adequadas às refe-
ridas aplicações, a custos significativamente mais baixos do que os de
pós importados para esta finalidade, que rondam os 400-500 €/kg.

Morfologia de pós tal qual sintetizados (à esquerda)


e após 15h de calcinação ao ar a 1000ºC (à direita)

Para o efeito, foi utilizado um método de precipitação química, ba-


seado no controlo de determinados parâmetros de síntese. Concre-
tamente, estudou-se a influência de quatro parâmetros de síntese -
nomeadamente o pH, a temperatura de reacção, a concentração de
reagentes e a taxa de adição de um dos reagentes –, a três níveis, na
produção de pós de HAp e de pós bifásicos de HAp/β-TCP. Foram
sintetizados pós utilizando Ca(NO3)2 4H2O e (NH4)2HPO4 como
matérias-primas. A opção pela síntese de compostos bifásicos (BCP),
com diferentes percentagens de fase, decorre do facto destes pós se
degradarem à medida que são substituídos pelo novo tecido ósseo.
Na área dos revestimentos de próteses ortopédicas, porém, os pós
de hidroxiapatite (HAp) são utilizados devido ao facto deste mate-
Colégios
ENGENHARIA
METALÚRGICA E DE MATERIAIS Maria Manuela Oliveira Tel.: 21 092 46 53 Fax: 21 716 65 68 E-mail: [email protected]

adequação dos Cursos de Engenharia de Ma-


Presente e futuro da engenharia dos materiais teriais ao mercado de trabalho. Das respos-
numa relação eficaz com a indústria tas recebidas concluiu-se que a opinião geral
sobre os Cursos era positiva, embora fosse
necessário aprofundar alguns aspectos, como
seja ter mais docentes com prática industrial
e enriquecer o currículo dos Cursos com dis-
ciplinas de ambiente, qualidade e organiza-
ção da produção, o que, entretanto, foi feito.
Actualmente, os curricula dos Cursos estão
em mudança e, tão importante como o co-
nhecimento de base, é a preparação para
poder adquirir rapidamente novos conheci-
mentos aquando da entrada no mercado de
trabalho. Além disso, é necessário reforçar
a componente de desenvolvimento do pro-
duto, dando a maior atenção aos aspectos
Auditório do CTCV – Centro Tecno- trias de materiais, incluindo metalurgia, ce- de selecção de materiais e processos de fa-
O lógico da Cerâmica e do Vidro, em
Coimbra, recebeu, no dia 26 de Outubro, o
râmica, revestimentos avançados, plásticos,
têxteis, compósitos, entre outros, o Painel
brico. A generalidade das empresas em Por-
tugal ignora ainda o que um Engenheiro de
Colóquio “Presente e futuro da engenharia contou com a participação de: Eng.º Pedro Materiais é capaz de fazer, pelo que deve ser
dos materiais numa relação eficaz com a in- Vieira de Castro, Presidente do Colégio de feita uma divulgação adequada.
dústria”, organizado pela SPM e pelo Colé- Engenharia Metalúrgica e dos Materiais da Por sua vez, o Eng.º Hélder Rosendo, do CI-
gio de Engenharia Metalúrgica e de Mate- Ordem dos Engenheiros / Norcam; Eng.º TEVE, mostrou o vasto campo de Investi-
riais da Ordem dos Engenheiros. Hélder Rosendo, do CITEVE – Centro Tec- gação, Desenvolvimento e Inovação que está
Destinado a empresários, quadros de em- nológico das Indústrias Têxteis e do Vestuá- aberto no campo dos Têxteis e Vestuário,
presas, professores, investigadores e estu- rio (têxteis e compósitos); Eng.º António em áreas como as fibras inteligentes, as fi-
dantes, o evento teve por objectivo eviden- Alcântara Gonçalves, da TEandM Tecnolo- bras auto-reparadoras, as fibras com memó-
ciar a necessidade das empresas conhecerem gia e Engenharia de Materiais (revestimen- ria de forma ou as fibras auto-limpantes. Um
a realidade actual e as perspectivas futuras tos avançados); Eng.ª Manuela Oliveira, do exemplo de aplicação da memória de forma
dos Engenheiros de Materiais, determinando INETI – Departamento de Tecnologia de ao vestuário está na possibilidade de o te-
a utilidade deste curso de Engenharia para Materiais / SPM (metalurgia); Eng.º Antó- cido poder ser comprimido, até ao formato
a indústria e para o País. nio Sousa Correia, da CTCV / SPM (cerâ- e dimensão de uma bola de basebol, e recu-
Perante as exigências crescentes colocadas mica industrial, vidro, materiais e processos perar a forma original, sem vincos e rugas,
às empresas industriais de materiais, numa de fabrico avançados, compósitos). mediante um fluxo de ar quente de um se-
economia global, impõe-se inovação perma- Aos membros especializados do Painel, a or- cador de cabelo, por exemplo. Foi precisa-
nente nos produtos e em todas as demais ganização do Colóquio delegou um conjunto mente este conceito que conquistou o Time
dimensões quer do processo, quer da orga- de desafios: um comentário sobre a aplica- Award para melhor inovação em 2001.
nização. A aposta na renovação constante do bilidade dos curricula de Engenharia de Ma- Por tudo isto, concluiu-se, os Engenheiros
conhecimento das empresas pode ser feita teriais à sua área industrial/empresarial; uma de Materiais têm de estar ligados à função
através da contratação de jovens quadros, avaliação face à experiência profissional como “design”, ter criatividade e dominar as me-
desde que estes sejam preparados e acom- Engenheiro de Materiais; uma opinião sobre todologias de desenvolvimento do produto.
panhados por escolas eficazes com cursos a presente situação dos sectores industriais Ficou igualmente evidente que as empresas
permanentemente actualizados, através da que melhor conhece; e a formulação de su- que têm fechado em Portugal encontram-se
formação de base e pós-graduada. gestões com vista a reforçar a formação e o principalmente nos segmentos da confecção
Foi a avaliação deste desafio que a SPM e a papel do Engenheiro de Materiais nas Indús- e do vestuário, sendo a Indústria Têxtil um
Ordem dos Engenheiros colocaram aos mem- trias que conhece. Na sua intervenção, o Pre- caso diferente devido à sua maior capacidade
bros do Painel que animou o Colóquio, mo- sidente do Colégio de Engenharia Metalúr- de inovação e reinvenção. Estes factores têm
derado por representantes da SPM e da gica e de Materiais recordou que, no Encon- contribuído para a subida de Portugal em al-
Ordem dos Engenheiros. tro Nacional de 2000 do Colégio, já haviam guns indicadores internacionais. A título de
Reunindo especialistas dos vários sectores sido divulgados os resultados de um Inqué- exemplo, foram salientados alguns dados de
industriais da maior importância nas indus- rito feito aos membros do Colégio sobre a mercado que o comprovam:

30 INGENIUM | Março/Abril 2007


Colégios

26 milhões de Americanos dormem em em nichos de mercado, fabricando produtos dente que a comunidade científica dos Ma-
lençóis portugueses; de valor acrescentado com incorporação de teriais em Portugal tem alta produtividade,
Portugal é líder europeu em têxteis para conhecimento. faz boa ciência e divulga-a mas tal não se re-
o lar e é o terceiro maior exportador mun- O Eng.º Sousa Correia chamou a atenção flecte nas empresas. No entanto, lamentou-
dial; para a necessidade de reforçar a componente -se o facto de a indústria nacional continuar
As marcas portuguesas impõem-se pela de Engenharia nos cursos, sobretudo ao nível a adiar o investimento em Ciência e Tecno-
inovação: tecidos inteligentes, tecidos re- do cálculo das propriedades para o desem- logia de Materiais, esquecendo que as em-
tardadores do fogo, tecidos antibacteria- penho, e de introduzir o Engineering Design, presas que fabricam produtos de maior valor
nos, tecidos com propriedades terapêuti- um factor considerado indispensável ao de- acrescentado têm Engenheiros de Materiais
cas e hidratantes. senvolvimento do produto. nos seus quadros.
O Eng.º Alcântara Gonçalves, da TEandM, Durante o debate, foi mais uma vez referida Foi referida a Rede de Formação em Enge-
uma empresa de tratamentos de superfície a baixa procura dos cursos de engenharia por nharia de Materiais, formada em 2004 entre
e revestimentos, considerou que os Cursos parte dos estudantes do ensino secundário, 6 Universidades Portuguesas, afirmando-se
actuais são adequados, podendo, no entanto, apesar do esforço de promoção que tem sido como um compromisso entre escolas no de-
ser reforçada a componente económica e de feito pelas Escolas de Engenharia. Foram senvolvimento da formação em Engenharia
gestão. Prevê-se que as empresas comecem também referidas as dificuldades em obter de Materiais face à importância estratégica
a ter maior capacidade de incorporação de estágios de fim de curso nas empresas. dos materiais como suporte às novas tecno-
Engenheiros de Materiais, pois está a verifi- O Presidente da SPM, Prof. Marat Mendes, logias para a inovação e modernização da so-
car-se um “boom” no desenvolvimento de realçou o facto da área dos materiais ter a ciedade.
materiais avançados para várias aplicações, maior produtividade científica em Portugal,
tais como as energias renováveis e a indús- tendo sido também o campo em que a União Informações sobre a Rede estão disponíveis
tria automóvel. As empresas podem apostar Europeia mais investiu. Ficou também evi- em: http://dc.sapo.pt/redemat/

1.º ENEM – Encontro Nacional de Estudantes de Materiais


1.º ENEM – Encontro Nacional de Es- do tema “Como materializar uma ideia”, a
O tudantes de Materiais, realizou-se no
dia 2 de Novembro de 2006, na Universi-
Eng.ª Ana Daniel explicou que a taxa de su-
cesso dependerá da capacidade de se satis-
dade de Aveiro, e congregou alunos de En- fazer uma lacuna de mercado ou de se res-
genharia de Materiais de todas as Escolas de ponder melhor a uma necessidade já preen-
Engenharia do País. chida. Além disso, salientou a ideia de que
A abertura dos trabalhos foi presidida pela um primeiro insucesso não tem necessaria-
Reitora da Universidade de Aveiro, Profes- mente de ser um handicap, já que indica uma
sora Doutora Maria Helena Nazaré. experiência que vai servir para, no futuro,
O Programa, que ocupou o dia das 9h00 às não serem cometidos os mesmos erros.
18H00, iniciou-se com a apresentação dos No tema seguinte, “A Inovação e a engenha-
Núcleos de Estudantes de Engenharia de ria de materiais”, a apresentação ficou en-
Materiais das diferentes Escolas. Após uma positivas. E das experiências partilhadas re- tregue ao Dr. António Teixeira, Director de
apresentação em vídeo, intitulada “O que é sultou uma conclusão: o curso preparou-os IDT no BIOCANT – Centro de Inovação
a engenharia de materiais?”, seguiu-se um bem, dando-lhes as bases para continuarem em Biotecnologia de Cantanhede, que real-
debate animado pelo empresário Eng.º Ma- a aprender. çou a importância da inovação. Segundo este
nuel Valente (Durit), sobre a integração dos Também eles chamaram a atenção para a responsável, apesar da inovação acontecer
Engenheiros de Materiais nas empresas. Na importância das relações humanas. Os de- sobretudo nas empresas, ela está geralmente
sua intervenção, o Eng.º Manuel Valente poimentos foram apresentados pelos En- assente em resultados e IDT.
chamou a atenção para os aspectos das rela- genheiros Catarina Pinto (Foresia), André Finalmente, o Professor Tito Trindade, do
ções humanas, fundamentais no desempe- Ferreira (Foresia Palmela) e, ainda, José Ven- CICECO, fez uma apresentação sobre “Na-
nho e na produtividade. tura, que formou em 2004 a empresa pro- notecnologias: que futuro em Portugal”, des-
A Sessão da tarde, sob o título “E agora?”, dutora de biomateriais e biocerâmicos Ago- tacando vários projectos em curso no CI-
iniciou-se com “depoimentos de Emprega- ramat. CECO e aplicações dos nanomateriais e na-
dores e Empregados”, com destaque para os Seguiu-se a apresentação da Eng.ª Ana Da- nopartículas (pigmentos) na indústria têxtil,
Engenheiros de Materiais a trabalhar em em- niel, Gestora de Transferência de Tecnolo- materiais de construção e técnicas de diag-
presas que partilharam as suas experiências gia do CICECO. Numa intervenção em torno nóstico clínico.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 31


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ENGENHARIA
METALÚRGICA E DE MATERIAIS Maria Manuela Oliveira Tel.: 21 092 46 53 Fax: 21 716 65 68 E-mail: [email protected]

Prémio Gulbenkian para investigador do CICECO


Doutor Sérgio Manuel de Sousa Pereira, um dos jovens inves- O prémio veio reconhecer o trabalho do investigador da Universi-
O tigadores do CICECO (Centro de Investigação em Materiais
Cerâmicos e Compósitos da Universidade de Aveiro), ganhou, em
dade de Aveiro, denominado “Integração e manipulação à nanoes-
cala de nanocristais coloidais em heteroestruturas epitaxiais de baixa
2006, o Prémio Gulbenkian de Estimulo à Investigação. dimensionalidade opticamente activas”.

Dia Mundial dos Materiais 2006


Colégio Nacional de Engenharia Meta- O prémio SPM, no valor de mil euros, des- de desenvolvimento e aplicação do produto.
O lúrgica e de Materiais e a SPM – Socie-
dade Portuguesa de Materiais realizaram uma
tinou-se preferencialmente aos trabalhos
sobre Ciência e Engenharia de Materiais. Já
O segundo e o terceiro melhores trabalhos
obtiveram menções honrosas. Além dos pré-
vez mais em conjunto a comemoração do o prémio Ordem dos Engenheiros, também mios aos alunos finalistas de licenciaturas,
“Dia Mundial dos Materiais 2006” que, em no valor de mil euros, distinguiu a vertente foram atribuídos Certificados de Honra aos
2006, decorreu no dia 3 de Novembro, na respectivos Departamentos.
Premiados “Dia Mundial dos Materiais 2006”
No mesmo dia foi também efectuada a Atri-
Prémio Ordem dos Engenheiros buição das Bolsas de Mérito aos melhores
Eduardo Neves Martins Soares
alunos do 1.º ano das Licenciaturas em En-
Licenciatura em Engenharia Metalúrgica e de Ma-
teriais pela FEUP genharia de Materiais das diferentes Univer-
“Endurecimento superficial de aços inoxidáveis sidades, no quadro da Rede de Formação
austeníticos sem perda de resistência à corrosão”, em Engenharia de Materiais (http://dc.sapo.
estágio final de curso na Bodycote – Direction du
Développement Technologique, França
pt/redemat/).
O programa do “Dia Mundial dos Materiais
Menção Honrosa Ordem dos Engenheiros 2006” incluiu, ainda, uma Conferência pro-
Luís F. Davim ferida pelo Arquitecto Doutor Luis de Gar-
Licenciatura em Engenharia Cerâmica e do Vidro
pela Universidade de Aveiro
rido, especialista em arquitectura bioclimática
“Desenvolvimento de novos vidrados de alta tem- e professor convidado de algumas universida-
peratura para vitrocerâmicos de grês porcelânico” des europeias e americanas, sobre o tema “Ma-
estágio final de curso na quimiCer Portugal, Es-
teriais e Arquitectura Sustentável.
maltes Cerâmicos, SA.

Prémio SPM Bolsas de Mérito *


Cláudia Isabel Fernandes Baptista
Licenciatura em Engenharia de Materiais pela Universidade do Minho
Universidade de Aveiro. A Comissão Orga- Sónia Cláudia Mendes da Costa –
FCT/UNL
nizadora foi presidida pela Professora Maria “Análise de alguns factores que condicionam os – média: 15,2
Helena Fernandes. tratamentos anti-reflexo”, estágio final de curso na Pedro Daniel de Melo e Castro – média: 15,2
Isabel Cristina Marques Ferreira – média: 13,8
À semelhança das comemorações anterio- Essilor Portugal

res, iniciadas em 2003, foi organizado um Faculdade de Engenharia


1.ª Menção Honrosa SPM
concurso dividido por dois prémios, bem Sónia Luísa Santos Simões da Universidade do Porto
como uma sessão de apresentação dos tra- Licenciatura em Engenharia Metalúrgica e de Ma- Manuel Fernandes Barbosa – média: 17
balhos seleccionados. teriais pela FEUP
“Estudo do crescimento de grão no cobre nano- Instituto Superior Técnico
Os dois prémios a concurso, nomeadamente cristalino” Rui Manuel de Azevedo Pedrosa de Brito
o prémio SPM – Sociedade Portuguesa de Colaço – média: 14,6
Materiais e o prémio Ordem dos Engenhei- 2.ª Menção Honrosa SPM João Pedro dos Santos Bastos – média: 14,8
ros, visaram distinguir os melhores trabalhos João Pedro Mire Dores Pulido Valente
Licenciatura em Engenharia de Materiais pela Universidade Nova de Lisboa
referentes ao ano lectivo 2005-2006 nas di- FCT/UNL Inês Lopes Martins – média: 14,6
ferentes vertentes da Ciência e Engenharia “Deposição e caracterização” de películas de óxi-
de Materiais, apresentados por estudantes dos de metais para aplicação em eléctrodos con- * Atribuídas aos melhores alunos do 1.º ano
dutores e transparentes”, estágio final de curso no das Licenciaturas em Engenharia de Materiais
finalistas dos Cursos de Licenciatura das
Centro de Pesquisa Renato Archer – CenPRA, das diferentes Universidades, no quadro da
áreas de Ciências e Engenharia, incluindo os Campinas, Brasil Rede de Formação em Engenharia de Materiais.
Institutos Politécnicos.

32 INGENIUM | Março/Abril 2007


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ENGENHARIA
NAVAL Victor Gonçalves de Brito Tel.: 21 095 08 10 Fax: 21 274 82 40 E-mail: [email protected]

Lisnave continua a ser um dos principais


A estaleiros de reparação naval do mundo,
afirmando-se, em termos nacionais, como
Lisnave consolida desempenho em 2006
empresa exportadora de serviços. Da sua ac-
tividade, cerca de 97% destina-se a clientes
estrangeiros.
Durante o ano 2006, a empresa prestou ser-
viços de reparação a 138 navios, represen-
tando um acréscimo de 15 relativamente ao
ano transacto. Da carteira de clientes da Lis-
nave, dois terços situam-se no espaço euro-
peu e distribuem-se por 29 países.
A maioria dos navios acolhidos no estaleiro Relativamente à infra-estrutura industrial, cabal resposta às futuras encomendas, a Lis-
da Lisnave corresponde a petroleiros, mine- além do sucesso do “hidrolift”, a Lisnave ins- nave encetou em 2006 um plano de forma-
raleiros e porta-contentores. Foi a confirma- talou duas ETAR, uma para resíduos indus- ção para 250 jovens que se estende até 2008.
ção do crescimento do mercado de navios triais e outra para resíduos domésticos. Im- Esta iniciativa, avaliada em cerca de 6 mi-
LNG/LPG que permitiu à empresa estabe- portância máxima teve igualmente a redu- lhões de euros e sob o apoio do programa
lecer uma nova oficina dedicada à reparação ção de desperdícios de matérias-primas e a PRIME, divide-se por 22 acções de forma-
das bombas instaladas dedicadas à trasfega respectiva reciclagem. ção desenhadas à medida das necessidades
desses fluidos. Os principais trunfos da Lis- As expectativas do desenvolvimento do trans- do estaleiro. De referir que a Lisnave é um
nave continuam a ser a localização geográ- porte marítimo na Europa permitem pers- importante empregador de Engenheiros e
fica, a fiabilidade no cumprimento dos pra- pectivar a continuação do crescimento da de outros profissionais de engenharia, man-
zos (a que não são alheias as condições cli- actividade da Lisnave. Antevendo a necessi- tendo uma política activa de colaboração
matéricas) e a capacidade tecnológica. dade de rejuvenescer os efectivos e de dar com o meio universitário.
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ENGENHARIA
NAVAL Victor Gonçalves de Brito Tel.: 21 095 08 10 Fax: 21 274 82 40 E-mail: [email protected]

Governo activo nas estratégias


nacionais para os assuntos marítimos
ão várias as iniciativas recentemente en- Conselho de Ministros n.º 163/2006, de 12
S cetadas pelo Governo no âmbito das es-
tratégias nacionais para os assuntos maríti-
de Dezembro.
Já em 12 de Março de 2007, pela Resolução
mos. Depois do processo de consulta pú- do Conselho de Ministros n.º 40/2007, foi
blica, o Governo aprovou a Estratégia Na- criada a Comissão Interministerial para os
cional para o Mar, através da Resolução do Assuntos do Mar, liderada pelo Ministro da

Instituto Portuário
e dos Transportes
Marítimos tem novo
Conselho Directivo
mês de Janeiro foi marcado pela tomada
O de posse do novo Conselho Directivo
do Instituto Portuário e dos Transportes Ma-
rítimos (IPTM), presidido pela Eng.ª Natér-
cia Cabral.
O IPTM é um organismo estatal de grande
relevância na actividade marítima e portuá-
ria, que tem por missão a supervisão, regu-
lamentação e inspecção do sector marítimo
e portuário nacional, a promoção da navega-
bilidade no rio Douro e a administração dos
Prospecção de petróleo
portos do continente que não são dotados
de administração autónoma.
na costa portuguesa
De entre as suas funções, destacam-se as de m princípios de Fevereiro, o Governo português celebrou
assessoria ao Governo, de administração ma-
rítima e portuária.
E um protocolo de prospecção de hidrocarbonetos na costa
alentejana, com um conjunto de empresas, nomeadamente
Actualmente, a actividade marítima e por- a australiana Hardman Resources, a Galp e a Partex.
tuária carece de grande dinamização e es-
pera-se que nesta nova etapa sejam concre- O protocolo celebrado prevê um período de actividade
tizadas alterações há muito reclamadas. de 4 anos e um volume de investimento na ordem dos
A proposta de regulamentação das activida- 26 milhões de euros. A prospecção decorrerá longe da costa,
des de projecto, construção e reparação de em profundidades entre 200 a 3.000 metros.
navios, apresentada em finais de Novembro
de 2006 pela Ordem do Engenheiros à Secre- As actividades off-shore constituem uma das áreas
tária de Estado dos Transportes, foi endossada de interesse da engenharia naval. Para além da prospecção
ao IPTM para apreciação, após uma primeira de hidrocarbonetos, o aproveitamento energético oceânico
reunião com o Presidente cessante do IPTM. constitui igualmente uma oportunidade para
O Colégio de Engenharia Naval solicitará pro- o desenvolvimento de estruturas oceânicas de aplicação
ximamente uma audiência para sensibilizar o específica, bem com a utilização de diversos tipos
novo Conselho Directivo do IPTM para um de embarcações de apoio.
assunto que se reveste da maior importância
para o desenvolvimento da actividade de en-
genharia naval no nosso País.

34 INGENIUM | Março/Abril 2007


Colégios

Defesa Nacional e composta por nove mi- portes e Comunicações ter apresentado pu- recursos. Não será certamente por falta de
nistros e por representantes dos Governos blicamente as “Orientações Estratégicas para orientações estratégicas que os sectores liga-
Regionais. Esta comissão, cuja missão é “in- o Sector Marítimo-Portuário”. Trata-se de dos ao Transporte Marítimo e às restantes
tegrar e coordenar as políticas transversais um extenso documento de 171 páginas que áreas de aproveitamento dos recursos marí-
relacionadas com os assuntos do mar”, será merece ser devidamente apreciado, dada a timos não se desenvolvem. Neste seguimento,
assessorada pela Estrutura de Missão para os sua importância para o sector. espera-se que venham a ser concretizadas as
Assuntos do Mar (EMAM) e passará a ter Estas duas iniciativas, de índole estratégica, políticas e os programas operacionais com
um mandato permanente e mais amplo. juntam-se a muitas outras conduzidas ante- vista ao desejado desenvolvimento econó-
Isto depois de, em meados de Dezembro de riormente em diversos domínios de afini- mico e ao aumento do emprego nos secto-
2006, o Ministério das Obras Públicas, Trans- dade com o mar e com o uso sustentável dos res ligados ao mar.

ENGENHARIA
QUÍMICA João Moura Bordado Tel.: 21 841 91 82 Fax: 21 841 91 98 E-mail: [email protected]

ENG.ª QUÍMICA
O estágio realizado na Technip foi uma ex-
MELHOR ESTÁGIO 2006 periência extremamente gratificante a nível
profissional. Por um lado, permitiu pôr em
Revamping da Produção de Etileno da REPSOL YPF prática tudo aquilo que foi estudado no âm-
(Sines) bito da licenciatura e, sobretudo, da pós-gra-
duação efectuada em Paris. Temáticas como
Autor: Eng.º José Manuel Costa Pinto Salgueiro Rêgo o dimensionamento de bombas, de permu-
Orientador: Eng.º Mário Silva tadores de calor e de colunas de destilação
foram abordadas em algumas disciplinas da
licenciatura e aprofundadas na pós-gradua-
urante o estágio, o vencedor integrou a tivo identificar os potenciais passos de au- ção, sujeita ao tema “Raffinage, Ingénierie
D equipa de processo da Technip Portu-
gal (agora denominada Technoedif Engenha-
mento de produção para além das 415 kton/
ano, com os respectivos de-bottleneckings e
et Gaz”. Estes conhecimentos revelaram-se
de extrema utilidade para o projecto reali-
ria) para participar na engenharia de base do custos de investimento. Este estudo foi rea- zado para a Repsol, onde foi também possí-
projecto “Capacity Creep Expansion” da lizado na sede da Technip France, em Paris. vel aperfeiçoar a técnica de desenho de Pro-
Repsol YPF em Sines. O objectivo deste Em ambas as fases do estágio foram analisa- cess and Flow Diagrams e de Process and
projecto foi remodelar a unidade de etileno dos os seguintes equipamentos, para verifi- Instrumentation Diagrams.
para aumentar a sua produção de 330 para car se teriam a mesma performance com as
415 kton/ano, removendo os actuais bottle- novas condições de produção: Por outro lado, verificou-se igualmente uma
necks, sem alterar a configuração original da bombas e compressores aprendizagem de novos conhecimentos, no-
fábrica, nem modificar os principais equipa- colunas de destilação meadamente a utilização de um novo pro-
mentos da fábrica, nomeadamente o com- balões separadores gás-líquido grama de simulação (HYSYS) e a análise de
pressor de gás e os compressores dos ciclos permutadores de calor casos de sobrepressão de sistemas protegi-
frigoríficos, que são dos equipamentos mais reactores e secadores dos por válvulas de segurança. O estágio pos-
dispendiosos. válvulas de controlo e de segurança sibilitou ainda a observação prática das dife-
linhas rentes fases de um projecto e a interacção
O projecto foi realizado nas instalações da com as outras disciplinas da empresa. A opor-
Technip Portugal no interior da Repsol YPF, Caso não estivessem aptos para as novas con- tunidade de trabalhar na sede da Technip
sendo a equipa constituída por engenheiros dições, existiriam várias hipóteses: ou eram France, em Paris, foi igualmente um benefí-
da Technip Portugal e da Technip France. substituídos por outros de maior capacidade, cio proporcionado por este estágio, pois per-
Numa segunda fase do estágio, esteve envol- ou se instalavam novos em paralelo com os mitiu a observação de projectos de grandes
vido no “Scouting Study”, também para a existentes, ou se aproveitava o exterior do dimensões e o contacto com profissionais de
Repsol YPF em Sines, que teve como objec- equipamento e se mudavam os internos. diferentes áreas e nacionalidades.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 35


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ENGENHARIA
QUÍMICA João Moura Bordado Tel.: 21 841 91 82 Fax: 21 841 91 98 E-mail: [email protected]

Portugueses desenvolvem novo processo de produção e purificação de ADN


m novo processo de produção e purifi- em Engenharia Bioquímica da Doutora Mar- O processo de produção e purificação com-
U cação de ácido desoxi ribonucleico (ADN),
desenvolvido em parceria por uma equipa
garida Diogo.
A patente refere-se a um processo novo,
preende uma sequência de operações que
incluem:
de engenheiros portugueses, foi objecto de adequado à produção e purificação de um
concessão de patente nos EUA no passado tipo de moléculas de ADN, vulgarmente de- a) a obtenção de células de uma bactéria
dia 30 de Janeiro de 2007. signado por ADN plasmídico. A utilização contendo o ADN plasmídico por cultivo
Submetida em 2001, a patente agora con- destas moléculas como transportadoras de num meio líquido adequado;
cedia, sob o número 7.169.917, resulta da genes terapêuticos é particularmente rele- b) a obtenção de um lisado contendo o ADN
parceria de engenheiros do Centro de En- vante em estratégias de Terapia Génica ou plasmídico por lise química das células;
genharia Biológica e Química do Instituto de Vacinação com ADN. Estas duas técni- c) um passo de concentração por precipita-
Superior Técnico (Miguel Prazeres) e pelo cas de Medicina Molecular permitem inse- ção com isopropanol;
Centro de Investigação em Ciências da Saúde rir genes funcionais em receptores humanos d) um passo de pré-purificação e condicio-
da Universidade da Beira Interior (João Quei- como forma de tratar, curar ou prevenir do- namento por precipitação com sulfato de
roz), no âmbito da tese de doutoramento enças como a SIDA ou o cancro. amónio;
e) um passo de purificação por cromatogra-
fia de interacção hidrofóbica;
f) uma etapa final de concentração e/ou
troca de tampão por cromatografia de ex-
clusão molecular.

O processo é passível de aumento de escala


e permite obter ADN plasmídico de grau
farmacêutico, respeitando as directrizes de
agências reguladoras como a “Food and Drug
Administration (FDA)”.
A colaboração entre as duas instituições na
área de Purificação de Ácidos Nucleicos pros-
segue desde há 10 anos, tendo originado
também uma patente portuguesa (PT 102491)
Processo de produção e purificação de ADN e vários artigos científicos.

36 INGENIUM | Março/Abril 2007


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ESPECIALIZAÇÃO EM
MANUTENÇÃO INDUSTRIAL Alice Freitas Tel.: 21 313 26 60 Fax: 21 313 26 72 E-mail: [email protected]

Candidaturas Abertas ao Título de Especialista


em Manutenção Industrial
stão abertas as candidaturas ao título de ção; extensão da experiência profissional, re-
E Especialista em Manutenção Industrial,
uma das mais recentes Especializações da
levante para a especialização requerida; ins-
crição em organizações científicas/ou técni-
Ordem, tendo a Comissão Executiva da Es- cas e outras, nacionais ou estrangeiras, no
pecialização sido aprovada pelo Conselho domínio da sua especialização, e participa-
Directivo Nacional (CDN) no dia 20 de ção nas realizações das mesmas.
Julho de 2006. A criação desta Comissão No dia em que foi provada a Comissão Exe-
surge na sequência da aprovação da Especia- cutiva desta nova especialização, o Conselho
lização pelo CDN, que teve lugar a 28 de Directivo Nacional (CDN) aprovou a autor-
Junho de 2005. gação dos primeiros títulos de especialista
Nos termos do Regulamento das Especializa- em Manutenção Industrial aos membros da
ções, estão abertas as candidaturas ao título OE que a constituem.
de “Especialista em Manutenção Industrial”, Desta forma, o Eng.º António José da Costa
pelo que os interessados deverão recorrer às Gonçalves, do Colégio de Engenharia Elec-
facilidades do Portal do Engenheiro (www. trotécnica, foi nomeado Coordenador, tendo
ordemengenheiros.pt), preenchendo o for- como Coordenador Adjunto o Eng.º Luís An-
mulário de candidatura “on-line”. Adicional- tónio de Andrade Ferreira, do Colégio de
mente, os candidatos deverão apresentar o Engenharia Mecânica. Os vogais são o Eng.º
seu currículo escolar; o currículo profissional António João Marques Cardoso, do Colégio
segundo modelo aprovado pelo CDN; e ele- de Engenharia Electrotécnica, o Eng.º Eduar-
mentos para apreciação da candidatura, tais do Alberto Moreira de Carvalho, do Colégio
como trabalhos profissionais realizados ou re- de Engenharia Mecânica, o Eng.º José Antó-
sumo das responsabilidades assumidas. nio Mendonça Dias, do Colégio de Engenha-
A atribuição do título de especialista exige ria Electrotécnica, e o Eng.º Paulo José Pe-
que o candidato tenha mais de dez anos de reira Jordão, do Colégio de Engenharia Me-
exercício profissional na área de Manuten- cânica.
ção Industrial. Esta Especialização funcionará de uma forma
Com a atribuição do título de Especialista, transversal aos diversos colégios que a acti-
a OE atesta a qualidade profissional de um vidade de Manutenção Industrial abrange,
seu membro e fornece-lhe uma ferramenta pelo que o respectivo Coordenador repor-
prestigiada de reconhecimento público. tará ao Presidente do Conselho Coordena-
À Comissão Executiva compete a animação, dor dos Colégios.
condução e gestão da Especialização, in- A criação desta Especialização resulta do re-
cluindo pareceres sobre as candidaturas ao conhecimento, pela Ordem dos Engenhei-
título de Especialista em Manutenção Indus- ros, da crescente relevância técnico-econó-
trial que forem apresentadas à OE. O pare- mica da actividade de Manutenção Industrial.
cer da Comissão Executiva da Especializa- Recorrendo, actualmente, às mais avançadas
ção concluirá de forma explícita pela outorga, tecnologias da informação e aos avanços da
ou não, do título de especialista e incluirá, ciência e da tecnologia em muitas áreas do
pelo menos, os seguintes aspectos: valor pro- saber, a Manutenção Industrial pode definir-
fissional, científico e/ou técnico dos elemen- -se como o Conjunto de actividades e acções
tos curriculares, designadamente tendo em técnicas e de gestão conducentes à optimi-
conta a contribuição para a competitividade zação da fiabilidade, da manutenibilidade e
das organizações portuguesas; conhecimen- da eficiência de funcionamento, com o con-
tos e grau de competência profissional; de- sequente aumento da disponibilidade dos sis-
sempenho no tipo de intervenção realizado temas e equipamentos, da eficiência econó-
pelo requerente, previsto para a Especializa- mica e do risco.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 37


DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

ção do terreno rústico em urbano, ou seja,


Cálculo do Valor P=U–A–C (2)

expectante na Avaliação Por sua vez, o valor dos terrenos periurbanos


(Pu) consiste na soma do valor do terreno
enquanto rústico mais o valor expectante (E),

dos terrenos periurbanos ou seja,


Pu = A + E (3)

António José Nunes Rosado * O valor rústico (A) deverá obter-se nas con-
dições de mercado, tendo em conta as ca-
1. Introdução Esta proposta metodológica tem por base o racterísticas do terreno quanto à sua vocação
cálculo do prémio urbanístico, entendido agro-florestal e pastoril, o que se poderá obter
O autor trata da avaliação dos prédios rús- como o lucro que um investidor virá a obter através de métodos econométricos que se
ticos localizados na periferia urbana que de- devido à operação de conversão do terreno baseiam no valor de venda de prédios análo-
signa por terrenos periurbanos. Estes terre- rústico em urbano, num tempo futuro de gos, no caso de se conseguir obter amostras
nos por estarem “junto à fronteira da área crescimento da “Cidade” ou aglomerado ur- significativas. O valor rústico também é cal-
urbana” têm o seu valor acrescido devido à bano. Este prémio, em geral, não inclui o valor culado com base no rendimento efectivo ou
expectativa criada por, mais tarde ou mais relativo à localização e qualidade ambiental possível de produções agro-florestais através
cedo, virem a ser integrados pelo urbanis- urbana, porque os terrenos localizam-se fora de metodologias designadas, em geral, por
mo. O cálculo do valor deste tipo de terreno da área urbana embora adjacentes à sua “fron- “Método do Rendimento”. Nestas metodo-
tem duas parcelas: o valor rústico e o valor teira”. Mas face à irregularidade dessa “fron- logias, conforme as culturas, assim será a pe-
expectante. teira urbana”, são frequentes terrenos parcial- riodicidade dos rendimentos e, consequen-
O valor expectante é obtido com base no mente envolvidos pelo tecido urbano e que temente, a fórmula de cálculo a utilizar. Neste
prémio urbanístico, entendido como o lucro constituem “ilhas” ou “penínsulas”. Nestes artigo, não se apresentam nem se discutem
que um investidor virá a obter devido à ope- terrenos a envolvente urbana confere um valor as fórmulas de cálculo do valor rústico, re-
ração de conversão do terreno rústico em estratégico, face à irreversibilidade da con- metendo-se o leitor para a literatura da es-
urbano, num tempo futuro de crescimento versão do terreno rústico em urbano, que se pecialidade.
da “Cidade” ou aglomerado urbano. traduz na materialização de um prémio pela O valor expectante (E) obtém-se pela actua-
Neste artigo pretende-se apresentar uma localização e pela qualidade ambiental dessa lização do prémio urbanístico durante o pe-
proposta metodológica que esclareça e quan- envolvente urbana já existente. Assim, o pré- ríodo de tempo (T) necessário para a absor-
tifique este valor expectante, que não pode mio urbanístico, incluindo ou não o valor es- ção desses terrenos pela “Cidade”. Como o
ser negligenciado nas avaliações deste tipo tratégico, deverá ser extraído do valor do ter- prémio urbanístico só será adquirido no fim
de terrenos. reno urbano na “condição de fronteira”. desse intervalo de tempo futuro, não perió-
Estabelecida a metodologia, fundamenta-se dico, terá de ter uma actualização infinitesi-
o cálculo do valor expectante nos termos do Nesta perspectiva, o valor do terreno urbano mal ou contínua, ou seja,
Código das Expropriações vigente em Por- (U) é a soma de três parcelas: o valor rús-
E=P 1 = PrT
tugal, apresenta-se um exemplo de aplica- tico (A), ou seja, o custo inicial do terreno; limm→∞ (1+mr mT (4)
ção e tiram-se conclusões. o capital que é necessário investir para trans-
) e
formar um terreno de rústico em urbano onde, m é o número de intervalos de tempo
2. Metodologia (C) e o prémio urbanístico (P), ou seja, no ano, e r é a taxa de desconto.
U=A+C+P (1) O valor expectante calcula-se, assim, atra-
A característica principal dos terrenos pe- vés da actualização infinitesimal ou continua
riurbanos é estarem localizados “junto à fron- O prémio urbanístico calcula-se, assim, a do prémio urbanístico, desde a data futura,
teira da área urbana” e de neles não estar partir da equação anterior, subtraindo ao em que se prevê que o terreno adquirirá este
autorizada a construção. São terrenos con- valor do terreno urbano o valor do terreno prémio, à data inicial da avaliação, conforme
dicionados, em geral, pelo PDM – Plano Di- enquanto rústico e os custos da transforma- se representa na figura 1.
rector Municipal e outros instrumentos do
plano, para usos agro-florestais ou outros fins. E - valor Pu - prémio
Expectante urbanístico
Mas porque são adjacentes à “fronteira ur-
bana”, serão os primeiros a serem absorvidos
pelo urbanismo na fase seguinte de cresci-
mento, quer seja para habitação, indústria, m m m
Data inicial 1 ano 2 anos T anos
equipamentos públicos ou zonas de verde
urbano. Figura 1 – Representação esquemática da actualização do prémio urbanístico

38 INGENIUM | Março/Abril 2007


AGRONÓMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

A duração do período de actualização repre- bano localizado junto de uma estrada nacio- valores para explicar a valorização dos terre-
senta, assim, o afastamento temporal do uso nal, com predominância de crescimento ao nos periurbanos ou, como se sugere, funda-
dos terrenos para fins urbanos. longo da mesma, no sentido da esquerda mentar a avaliação dos terrenos periurbanos
O risco desta operação financeira é variável, para a direita, em vez do alargamento con- com o cálculo do valor expectante nos ter-
dependendo da natureza das condicionantes cêntrico. mos da presente metodologia.
que impedem a utilização urbanística do ter-
reno, sendo contabilizado ao estabelecer a O período de actualização também poderá 3. Fundamentação do cálculo do valor
taxa de desconto de acordo com os critérios ser analisado comparativamente com o valor expectante nos termos do Código
normais da fixação desta taxa. expectante, quando este puder ser “medido” das Expropriações
A determinação do período de actualização directamente no mercado, através da se-
é da competência do avaliador. Quando há guinte expressão deduzida a partir da ex- O cálculo do valor expectante fundamenta-
elementos concretos e credíveis, a determi- pressão (4). se segundo o Código da Expropriações nos
nação deste período faz-se de forma abso- termos do n.º 5 do artigo 23.º, ao referir que
luta, ou seja, a curto prazo. Mas como geral- ln P (5) o valor calculado para os bens a expropriar
T= E
mente não se conhece de forma clara e de- r deve corresponder ao valor real e corrente
finida este intervalo de tempo, o período de A dificuldade da utilização de métodos eco- dos mesmos numa situação normal de mer-
actualização terá de ser fundamentado de nométricos na avaliação dos terrenos periur- cado, podendo na avaliação serem atendidos
forma relativa, a médio, a longo ou a extra banos e, consequentemente, na determinação outros critérios que não os apresentados nos
longo prazo, tendo em conta que o valor ex- da componente expectante está, como seria artigos seguintes para alcançar aquele valor,
pectante se anula, utilizando uma taxa de de prever, na obtenção dos dados de mercado o que justifica o cálculo do valor expectante
10 %, para períodos de actualização da ordem credíveis para calcular com segurança o valor porque o mercado já valoriza estes terrenos
dos 45 anos (ver figura 2). deste terrenos, ou seja, dos valores de oferta rústicos face à expectativa urbanística que
os caracteriza – serem terrenos que, mais
Evolução do Valor Expectante tarde ou mais cedo, serão absorvidos pelo ur-
80
Valor rústico banismo.
70
V Expectante c/ Tx - 10% Por outro lado, segundo o Código das Expro-
60 Valor urbano
Prémio urbanístico
priações, os terrenos periurbanos são classifi-
50
V Expectante c/ Tx - 4% cados, nos termos do artigo 24.º, como “solo
40
para outros fins”, sendo o seu valor calculado
30
Figura 2
nos termos do artigo 27.º. Da aplicação deste
20 Comportamento do valor
expectante em função artigo, verifica-se que atende ao valor de mer-
10
do período e actualização
cado ao basear o cálculo destes terrenos no
0 e taxa de desconto.
Fronteira 10 20 30 40 50 60 100 Anos valor de aquisições efectuadas na envolvente
e que, na falta destes elementos, a avaliação
deverá assentar no rendimento efectivo ou
Assim, analisando o comportamento do valor de venda e/ou de transacções efectuadas de possível do terreno enquanto agro-florestal
expectante relativamente à taxa de desconto prédios semelhantes ao avaliado. Pelo que, ou pastoril e em “outras circunstâncias objec-
e ao período de actualização, conforme se apre- não resta, em geral, outra hipótese ao avalia- tivas susceptíveis de influir no respectivo cál-
senta na figura 2, propõem-se os seguintes in- dor para completar a avaliação senão atribuir culo”. Ora, o valor expectante de um terreno
tervalos para o período de actualização:
– curto prazo – T = 1 a 3 anos Desenvolvimento previsto da "Cidade" à data da avaliação
– médio prazo – T = 3 a 15 anos
– longo prazo – T = 15 a 30 anos
– extra longo prazo – T = + de 30 anos.
Estrada Nacional
Mas em cada “Cidade” ou aglomerado ur-
bano haverá uma determinada tendência para
o crescimento urbanístico em determinado
sentido, ou seja, haverá maior probabilidade
da “Cidade” crescer segundo determinado
eixo, o que deverá ser devidamente caracte-
rizado pelo avaliador.
Médio prazo Longo prazo Extra longo prazo "Cidade"
Na figura 3 apresenta-se esquematicamente Figura 3 – Representação esquemática do período de actualização
uma pequena “Cidade” ou aglomerado ur-

Março/Abril 2007 | INGENIUM 39


DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

devido à circunstância objectiva dele poder “...deverá corresponder a um máximo de Como já foi dito, não se desenvolvem as me-
vir a ser absorvido pelo urbanismo, não sendo 15% do custo de construção, variando”...”em todologias de cálculo do valor rústico, mas
um rendimento efectivo à data da avaliação, função da localização, qualidade ambien- para a apresentação deste exemplo elegeu-
revela-se como um rendimento possível num tal e dos equipamentos existentes na zona”, se o “Método do Rendimento” e a fórmula
tempo futuro previsível. nos termos do n.º 6 do artigo 26.º, acres- de cálculo relativa a rendimentos anuais (R),
Assim, é legítimo, nos termos dos artigos cida das percentagens relativas às infra-es- constantes e perpétuos, ou seja:
23.º e 27.º, atender aos indicadores de ava- truturas existentes junto à parcela, nos ter- (8)
A= R
liação estabelecidos no artigo 26.º, que são mos do n.º 7 do mesmo artigo, ou seja: r
relativos ao cálculo do valor do “solo apto a) acesso rodoviário pavimentado – 1,5%, Assim, admita-se que o rendimento fundiá-
para construção”, para determinar o valor b) passeios – 1%, rio possível de um terreno de cultura arvense
dos terrenos periurbanos. c) rede de água – 1%, de regadio é de R = 1000 €/ha, e que a taxa
d) rede de saneamento – 1,5%, de desconto adequada para aplicar na ope-
Cálculo do valor do terreno urbano na e) rede de energia eléctrica – 1%, ração de actualização do rendimento à data
condição fronteira e do custo da transfor- f) rede de drenagem de águas pluviais – 0,5%, da avaliação é de r = 0,03. Nesta perspec-
mação do terreno rústico em urbano (C) g) estação depuradora em ligação com a rede tiva, o valor rústico é calculado através da
O cálculo do valor do terreno urbano, segundo de saneamento – 2%, seguinte expressão:
o Código das Expropriações, fundamenta-se, h) rede de gás – 1%,
assim, nos termos do artigo 26.º, tendo por i) rede telefónica – 1%. A = 0,1 = 3,33 €/m2
0,03
base a seguinte fórmula de cálculo:
U = Cc × Ic × If (6) Restantes cálculos Cálculo do prémio urbanístico, segundo
Para calcular o valor expectante, segundo a as expressões (2):
O cálculo do custo da transformação de um metodologia apresentada, é necessário, ainda, P = U – C – A = 75 – 25 – 3.33 =
terreno rústico em urbano, segundo o Có- conhecer o valor do terreno enquanto rús- = 46.67 €/m2
digo das Expropriações, efectua-se através tico (A), que se determina conforme exposto
da comparação entre o valor do terreno in- no artigo 27.º do CE, no sentido de se de- Cálculo do valor expectante, segundo a
fraestruturado da envolvente na “fronteira terminar o prémio urbanístico. expressão (4):
da Cidade”, Ui, e o valor do terreno, em Conhecido o valor rústico e o valor expec- Admita-se que o terreno em avaliação foi
bruto, por infraestruturar e a converter em tante, obtém-se o valor do terreno periur- destinado a RAN – Reserva Agrícola Na-
urbano, Ub, deduzindo-se a seguinte fór- bano. cional – em condições passíveis de revisão
mula: a longo prazo, pelo que, poderá conside-
C = Ui – Ub = Cc × Ic × (Ifi – Ifb) (7) Exemplo de aplicação rar-se que o período de actualização é de
Admita-se para o terreno em avaliação os T = 30 anos. Para a taxa de desconto a
onde, Cc é o custo de construção, Ic é o ín- seguintes dados: aplicar nesta operação de actualização, con-
dice de construção, Ifi – Ifb é a diferença Cc – Custo de construção – 500€/m2 siderando os critérios normais de fixação
entre o índice atribuído ao terreno tendo em Ic – Índice de construção – 1,0 (Definido da taxa e o risco, admita-se que o valor
conta as infra-estruturas da envolvente na pela envolvente nos termos do PDM) adequado é de 0,05.
“fronteira urbana” e o índice atribuído ao Ifb – 0.10 (excluindo a localização e quali- E = PrT = 46,67 = 46,67 = 10,41€/m2
terreno por infraestruturar, em avaliação. dade ambiental) e e 0,05*30 4,48
Ifi – 0,10 + 0,05 = 0,15 (inclui acesso pa-
Assim: vimentado, redes de água, saneamento Cálculo do valor do terreno periurbano,
na determinação do custo da construção e energia eléctrica) segundo a expressão (3):
atende-se, como referencial, aos montan- Pu = A + E = 3,33 + 10,41 =
tes fixados administrativamente, segundo Cálculo do valor urbano, segundo a ex- = 13,74 €/m2 ≈ 14 €/m2
o n.º 5 do artigo 26.º; pressão (6):
o índice de construção deverá reflectir a U = Cc × Ic × Ifi = 500 × 1,0 × Conclusões
volumetria existente ou prevista nos ter- × 0,15 = 75€/m2
mos do respectivo PDM “na condição de O valor rústico de um prédio, calculado com
fronteira”, num aproveitamento economi- Cálculo do custo da transformação do ter- base numa renda agro-florestal e/ou de ou-
camente normal, ou seja, deverá corres- reno rústico em urbano, segundo a expres- tros usos não urbanos eventualmente possí-
ponder a uma ponderação capaz de tradu- são (7): veis, apresenta-se, nos dias de hoje, cada vez
zir as condições da envolvente na fronteira C = Cc × Ic × (Ifi – Ifb) = 500 × 1,0 × mais reduzido e incapaz de justificar por si
entre o espaço urbano e o espaço rústico × (0,15 – 0,10) = 25 €/m2 só o valor dos terrenos adjacentes à perife-
adjacente; ria urbana.
por fim, o índice atribuído ao valor do ter- Cálculo do valor rústico segundo a expres- A utilização de métodos econométricos re-
reno, tendo em conta as infra-estruturas são (8): vela-se pouco eficaz, na prática, face à difi-

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AGRONÓMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

culdade em obter dados em número suficiente precisos sob a desculpa de se contabilizar 1996 - 1.º Congresso Nacional de Avaliação
e credíveis, pela inexistência de bases de dados implicitamente e subjectivamente este valor no Imobiliário, APAE – Associação
utilizáveis em tempo útil nas avaliações. expectante. Portuguesa de Avaliações de Enge-
A metodologia agora proposta para cálculo A fundamentação do cálculo do valor expec- nharia, Editores – Prof. Artur A. Be-
do valor dos terrenos periurbanos através das tante nos termos do Código das Expropria- zelga e Eng.º Borges Leitão.
duas componentes aditivas – valor rústico e ções permite validar o modelo, por se tratar 1990 - Capozza, D. R. e Helsley, R. W., The
valor expectante –, separa claramente as ver- de uma avaliação aplicável nos termos da le- Stochastic City, Journal of Urban Eco-
dadeiras origens de valorização deste tipo de gislação vigente, conforme o exemplo de nomics, 187-203.
terrenos. Este modelo permite calcular e aplicação que se apresenta de forma clara e 1984 - Costa, A. Nunes, Construções Urba-
fundamentar o valor expectante através da simples. nas e Industriais, Encontro sobre Ava-
actualização contínua do prémio urbanístico liação de Bens Imobiliários, Porto.
durante o período de tempo necessário para Referências Bibliográficas 1943 - Barros, Henrique de, O Método Ana-
a absorção dos terrenos pela “Cidade” ou 2005 - Pinheiro, António Cipriano Afonso, lítico de Avaliação da Propriedade
aglomerado urbano. Avaliação de Património, Edições Sí- Rural, Ministério da Economia, Direc-
O conceito de valor expectante é mais visí- labo, 1.ª Edição. ção Geral dos Serviços Agrícolas, Es-
vel perto das zonas urbanas de maior cres- 2004 - Figueiredo, Ruy, Manual de Avaliação tudos e Informação Técnica n.º 23.
cimento, mas assume uma importância real, Imobiliária, Vislis Editores.
quer para investidores, quer para os actuais 1999 - Lei n.º 168/99 de 18 de Setembro Palavras-chave: Avaliação de prédios rústi-
proprietários, face às características do ac- que anexa do Código das Expropria- cos, cálculo do valor expectante, terreno pe-
tual urbanismo. Embora o seu cálculo tenha ções. riurbano, expropriações.
sido negligenciado, a valorização que o mer- 1999 - Ross, Westerfield and Jaffe, Corpo-
cado confere a estes terrenos periurbanos, rate Finance, MCGRAW-HILL, fifth
visível à luz dos métodos econométricos, tor- Edition. * Licenciado e Mestre em Agronomia, ISA-UTL,
nou evidente a necessidade em atender a 1996 - Neves, João Carvalho, Análise Finan- Quadro Técnico Superior da ex-Divisão
esta valorização, o que tem originado avalia- ceira Métodos e Técnicas, Texto Edi- de Expropriações da ex-JAE agora
ções fundamentadas com critérios pouco tora, 9.ª Edição Revista. EP – Estradas de Portugal, EPE
DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

A Engenharia Genética de plantas através CH2OH

O
H2COPO3-2

O
H H H H
da utilização de genes envolvidos H
OH H
H
H
OH

na biosíntese de trealose com vista OH O-PP-Uridine OH OH

ao aumento da tolerância ao stress abiótico H OH


TPS
H OH

H2COPO3-2 CH2OH

André M. Almeida *1, Dulce Santos 1, Susana Araújo 1, H O H H O H

Luís Alfaro Cardoso 2, José M. Torné 3, Pedro S. Fevereiro 1 H H


OH H H OH
O
OH OH
A agricultura no século XXI e a utilização O stress motivado pelas condições ambien-
da Engenharia Genética de Plantas tais (stress abiótico) é reconhecidamente dos H OH
TPP
OH H

Para o século XXI, prevê-se um aumento que mais contribui para a diminuição da pro- CH2OH H OH
significativo da população mundial. Estima- dutividade de uma cultura, ultrapassando, O
H H H H
-se em 9,1 mil milhões a população mundial em larga medida, perdas provocadas, por
H OH H
no ano 2050, em especial em países em vias exemplo, por outros organismos, tais como OH H CH2OH
O
de desenvolvimento (USCB, 2005). Para insectos e pragas (stress biótico). A Enge- OH
O OH

sustentar esse crescimento, um aumento na nharia genética de plantas é considerada uma H OH H


produção de alimentos torna-se uma neces- importante ferramenta na contribuição para
sidade. Ao longo do século XX, o melhora- o melhoramento de culturas no sentido de Figura 2
Diagrama de síntese de trealose. TPS (Trealose-6-
mento clássico foi utilizado para a obtenção se aumentar a tolerância a factores abióticos. -fosfato-sintase); TPP (trealose-6-fosfato fosfatase)
de aumentos de produção na generalidade Das várias estratégias possíveis, o aumento
das plantas agrícolas. No entanto, a partir da síntese de determinados compostos de-
dos anos 80, disponibilizaram-se novas téc- signados por osmoprotectores por meio de glucose-6-fosfato para produzir trealose-6-
nicas de transferência de genes: a Engenha- Engenharia genética é um dos métodos mais -fosfato, e a TPP (trealose-6-fosfato fosfa-
ria Genética. Estas envolvem a inserção de testados, sendo a trealose um dos osmopro- tase) converte a trealose-6-fosfato em trea-
um ou mais genes provenientes de outras tectores mais conhecidos e estudados (Nuc- lose.
espécies em células vegetais, permitindo, cio et al., 1999).
subsequentemente, a obtenção de plantas Os genes que codificam para a síntese das
férteis, com os referidos genes integrados de A trealose duas enzimas têm sido isolados em várias es-
forma estável no genoma (Jauhar, 2001). A trealose é um dissacárido contendo dois pécies, sendo designados diferentemente.
Essas plantas são designadas por transgéni- resíduos de D-glucose, tal como apresentado Em S. cerevisae esses genes estão referen-
cas e o seu desenvolvimento tem resultado na figura 1. ciados como ScTPS (actividade de TPS) e
em numerosas aplicações em várias indús- ScTPP (actividade da TPP), en-
trias. Sendo o melhoramento clássico um quanto que em E. Coli são refe-
CH2OH H OH
processo muito demorado e laborioso, a En- ridas respectivamente como otsA
genharia genética de plantas apresenta duas H O H H H e otsB. Em outras espécies são
claras vantagens: reduz significativamente o H OH H
referidas como TPS e TPP. A
tempo necessário para transferir caracterís- OH H CH2OH trealose é degradada pela enzima
ticas qualitativas e permite ultrapassar a bar- O trealase, presente em elevadas (e
OH OH
reira da espécie.
O detectáveis) quantidades na maio-
A engenharia genética de plantas é conside- H OH H ria das espécies vegetais.
rada uma componente-chave para responder Na generalidade das plantas, a
Figura 1 – Estrutura molecular da trealose
aos desafios da agricultura no século XXI. trealose não é usualmente detec-
Apesar de dificuldades relacionadas com a tável. A única excepção são as
transferência de tecnologia, a segurança ali- A trealose foi identificada pela primeira vez plantas ditas de ressurreição, capazes de so-
mentar e a polémica (frequentemente in- em 1832, por Wiggers, em fungos (Richards breviver à perda da quase totalidade da água
fundada e que urge esclarecer) que envolve et al., 2002), tendo sido desde então isolada dos seus tecidos em situações de desidrata-
estas culturas, em especial nos países da em numerosos organismos (Elbein, 1974). ção extrema, tendo a capacidade de recupe-
União Europeia, os avanços na biotecnologia A síntese de trealose envolve duas enzimas: rar totalmente com subsequente rehidrata-
de plantas têm mostrado claramente os seus a trealose-6-fosfato-sintase e a trealose-6- ção. Além das plantas de ressurreição, tanto
benefícios para agricultores em vários países -fosfato-fosfatase (figura 2). A enzima TPS o gene TPS como o TPP têm sido isolados
em vias de desenvolvimento (Toenniessen (Trealose-6-fosfato-sintase) catalisa a trans- em várias espécies vegetais, como A. tha-
et al., 2003). ferência de glucose de UDP-glucose para liana (Penna, 2003). O facto destes genes

42 INGENIUM | Março/Abril 2007


AGRONÓMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

poderem complementar funcionalmente a tas de tabaco e de batata com os genes otsA des de tolerar vários stresses abióticos. Há,
síntese de trealose em mutantes de levedura e otsB de E. coli. As plantas de tabaco apre- no entanto, que referir que a clonagem de
(Zentella et al., 1999), parece indicar que a sentavam um conteúdo muito reduzido em cDNAs de genes da trealose-6-fosfato-sin-
síntese de trealose é um facto comum na trealose, enquanto que na batateira não se tase de origem vegetal (Leyman et al., 2001)
maioria das plantas (Wingler, 2002), sendo registaram aumentos de trealose. As plantas possibilitou a obtenção de plantas transgé-
a elevada actividade da trealase a razão mais transgénicas apresentavam diversas aberra- nicas transformadas com genes de origem
plausível pela qual a trealose não se acumula ções fenotípicas, nomeadamente ao nível da vegetal. Essas plantas transgénicas teriam,
em plantas (Penna, 2003). raiz e das folhas, assim como um crescimento possivelmente, uma maior aceitação por parte
Para a generalidade dos seres vivos, várias menor que as plantas controlo. A acumula- do público do que as plantas obtidas por
propriedades funcionais têm sido sugeridas ção de trealose foi aumentada através da transformação com genes de origem micro-
para a trealose: reserva de energia, protec- aplicação de um inibidor de trealase, de- biana.
ção contra a desidratação, calor e frio. Com monstrando, pela primeira vez, que a acu-
excepção das plantas da ressurreição que mulação de trealose está dependente da ac- Engenharia Genética de tabaco
acumulam este açúcar, é pouco provável que tividade da trealase. (Nicotiana tabacum) com um gene
este açúcar desempenhe um papel na pro- Plantas de tabaco foram transformadas com TPS de origem vegetal
tecção aos vários stresses abióticos tal como o gene da Trealose-6-fosfato-sintase de S. As primeiras plantas de tabaco transforma-
sugerido para outros organismos (Goddjin cerevisae (Romero et al., 1997). Contraria- das com um gene trealose-6-fosfato-sintase
& van Dun, 1999). No entanto, vários estu- mente às plantas controle, as transgénicas foram obtidas no Laboratório de Biotecno-
dos de diversos autores parecem indicar que acumulavam trealose, apresentavam aberra- logia de Células Vegetais (BCV) do Insti-
existe um leque bastante alargado de fun- ções fenotípicas e tolerância ao stress hídrico. tuto de Tecnologia Química e Biológica
ções tanto para a trealose, como para o trea- O facto de apenas se ter usado o gene TPS1 (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa em
lose-6-fosfato-sintase: regulação de cresci- demonstra que a enzima Trealose-6-fosfato- colaboração com o Instituto de Biologia Mo-
mento e desenvolvimento, agente de pre- -sintase é o regulador essencial da síntese de lecular de Barcelona (Almeida et al., 2005),
venção de simbiose com microrganismos, trealose, sendo que a trealose-6-fosfato-fos- abaixo sumariamente descrito.
regulação de metabolismo do carbono, re- fatase poderia ser substituída por uma outra
gulação do crescimento do embrião ou de- fosfatase endógena (Romero et al., 1997). a) Plantas e construção utilizadas
senvolvimento da semente e na sinalização O mesmo gene e construção foram utiliza- Utilizaram-se plantas de tabaco (Nicotiana
do próprio stress (Wingler, 2002). dos na transformação de tomate (Cortina & tabacum) da variedade Petit Havane SR1.
Sendo a trealose provavelmente um dos os- Culiañez-Maciá, 2005), tendo sido obtidas A construção usada na transformação con-
moprotectores mais estudados, regista-se plantas de tamanho inferior às controlo e re- tinha o cDNA TPS1 (trealose-6-fosfato-sin-
um interesse crescente no estudo do meta- sistentes ao stress abiótico. O mesmo gene tase) de Arabidopsis thaliana, sob controlo
bolismo da trealose com vista ao aumento foi também usado para transformar batateira do promotor 35S. A construção foi inserida
da resistência ao stress abiótico em plantas (Yeo et al., 2000). As plantas transgénicas no vector de transformação de plantas
(Penna, 2003). Várias experiências têm sido obtidas possuíam fenótipos de resistência à pGreen0229 (www.pgr0een.ac.uk) que con-
realizadas com vista à obtenção de plantas secura, assim como desenvolvimento radi- tém o gene Bialaphos (BAR), que confere
transgénicas que sobre-expressem genes que cular e aéreo inferiores ao normal. resistência à fosfinotricina (PPT) e ao her-
codificam enzimas envolvidas na síntese de Uma fusão dos genes otsA e otsB foi usado bicida Basta®, sendo este o agente selectivo
trealose ou a inibição de enzimas envolvidas em transformação de arroz, tal como des- utilizado. As plantas transgénicas foram ob-
na sua degradação. crito por Garg et al. (2002) e Jang et al. tidas por transformação via Agrobacterium
(2003). Obtiveram-se várias linhas transgé- tumefaciens e que envolve a regeneração por
Engenharia Genética de Plantas nicas com níveis de acumulação de trealose organogénese.
com genes de origem microbiana variáveis entre 3 e 10 vezes o registado nas
envolvidos na síntese de trealose plantas controlo e uma elevada tolerância a b) Linhas transgénicas obtidas e expressão
Holmström e colaboradores (1996) foram vários tipos de stress (salino, hídrico e de do gene
os primeiros a reportar a transformação de temperatura). As plantas transgénicas estu- Foram obtidas três linhas homozigóticas
tabaco utilizando um gene proveniente de S. dadas apresentavam também maiores teores (B5A, B5H e B1F) que foram avaliadas
cerevisae. As plantas transgénicas possuem de açúcares que as plantas controlo e maio- quanto ao nível de expressão do gene TPS1.
maiores quantidades de trealose e percenta- res taxas de fotosíntese, tanto em situações As plantas transgénicas não apresentaram
gens de perda de água inferiores às obtidas de stress hídrico como normais. Nestas ex- nenhum dos fenótipos habitualmente asso-
por plantas controlo. De acordo com os au- periências não se registou nenhuma aberra- ciados à transformação com genes envolvi-
tores, a acumulação de trealose não justifica- ção fenotípica. dos na síntese de trealose, tais como folhas
ria um ajuste osmótico e a maior tolerância As experiências anteriormente referidas de- mais estreitas ou esterilidade. No entanto,
à dissecação dever-se-ia a uma estabilização monstram a validade da utilização destes e tal como ilustrado na figura 3, as plantas
das estruturas celulares e moleculares. genes de origem microbiana na obtenção de transgénicas possuem um tamanho inferior
Goddijn et al. (1997) transformaram plan- plantas transgénicas com maiores capacida- ao das plantas controlo da mesma idade.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 43


DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

100 A c) Maior tolerância ao stress osmótico por


parte das linhas transgénicas
90
Sementes T2 das linhas WT (controlo) e
80 transgénicas B5A, B5H e B1F foram germi-
70 nadas em placa de Petri com meio MS stan-

Taxa de Germinação (%)


dard utilizando-se duas concentrações dife-
60
rentes de NaCl: 0M e 0,20M. A germinação
50 foi feita a 24ºC numa câmara com luz e tem-
40 peratura controladas (16h luz, 8h de escuri-
dão). Os resultados estão representados na
30
figura 5 e evidenciam não só as maiores taxas
Figura 3 – Fenótipos de plantas selvagens (WT) 20 de germinação, como também o maior de-
e transgénicas (linha B5H) evidenciando diferenças
de tamanho (retirado de Almeida et al., 2005) 10 senvolvimento das plantas transgénicas em
situações de stress.
0
A B 0 0,2
Concentração de NaCl (M) d) Conclusões
Nesta experiência obtiveram-se plantas trans-
WT B5A B5H B1F
génicas que expressam o gene AtTPS1. As
referidas plantas são capazes de tolerar ní-
B
veis de stress osmótico superiores aos das
plantas controlo e não apresentam as altera-
0.20M NaCl
ções fenotípicas frequentemente associadas
a este tipo de transformação, com a excep-
Figura 4 – Análise por northern e western blot da
expressão do gene TPS1 em plantas transgénicas. ção do facto de apresentarem um tamanho
A – northern blot: RNA total foi extraído e separado por inferior às plantas controlo, o que poderá
electroforese (painel superior) e após transferência para
uma membrana hibridado com uma sonda (painel inferior). traduzir-se num efeito negativo na produti-
B – western blot: a proteína total foi extraída e separada vidade. Estes resultados parecem, no en-
por electroforese em gel de acrilamida (painel inferior),
sendo transferida para uma membrana e incubada com B5H WT tanto, indicar que o gene AtTPS1 poderá
anticorpos primário e secundário (painel superior). ser utilizado na transformação de plantas de
WT - Plantas controlo; B5A, B5H e B1F linhas transgénicas
(retirado de Almeida et al., 2005) importante uso agronómico, como por exem-
Figura 5 – Germinação de plantas transgénicas e controlo
em situações de stress. plo o milho, o trigo ou o arroz, com vista ao
O nível de expressão do gene foi avaliado A – Taxas de Germinação (%), aumento da tolerância ao stress abiótico, no-
B – Fotografia de germinação de plantas controlo e
por dois métodos distintos: northern e wes- transgénicas em meio com uma concentração de NaCl de meadamente salino nestas plantas.
tern blot que detectam respectivamente 0.20M. transgénicas (retirado de Almeida et al., 2005)
RNA e proteína, tal como previamente des-
crito (Almeida et al., 2005). Os resultados tos de expressão nas plantas transgénicas:
obtidos pelos dois métodos estão represen- elevado (linhas B5H e B5A) e baixo (linha * Engenheiro Agrónomo, [email protected]
tados na figura 4. Observou-se uma coerên- B1F). Inversamente, as plantas controlo não 1 Inst. de Tecnologia Química e Biológica, Oeiras

cia nos resultados na medida em que ambos transformadas não apresentaram expressão 2 Inst. de Investigação Científica Tropical, Lisboa

os métodos identificaram dois níveis distin- visível. 3 Inst. de Biologia Molecular de Barcelona, Espanha

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44 INGENIUM | Março/Abril 2007


DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

Ventilação natural de estufas


Princípios físicos
Fátima J. Baptista e Vasco Fitas da Cruz *

Resumo 2. A transmissão da radiação solar (com rar a eficiência do trabalho e da utilização de


comprimento de onda entre 300 e 2500 energia surge como a maneira de compen-
A ventilação natural desempenha um papel nm) diminui devido à intercepção da luz sar este aspecto. Aumentar a produtividade
muito importante no controlo climático das pelos materiais opacos e transparentes da e a qualidade dos produtos em conjugação
estufas, influenciando a temperatura, a humi- estufa. Por outro lado, as perdas por radia- com a redução do consumo de energia re-
dade e a concentração de gases da sua atmos- ção térmica (comprimento de onda > 2500 quer um bom controlo ambiental no interior
fera. Após uma breve introdução onde se re- nm) emitida pelas plantas e pelo solo são da estufa. O conhecimento das característi-
ferem conceitos gerais sobre a produção em influenciadas pelas propriedades ópticas do cas de ventilação de uma estufa é fundamen-
estufa, salienta-se a importância da ventila- material de cobertura. O vidro é o mate- tal para que o produtor e/ou técnico possam
ção. Referem-se os objectivos a atingir com rial de cobertura que mais se aproxima das tomar as decisões correctas de modo a criar
esta técnica de condicionamento ambiental características ideais, sendo parcialmente as melhores condições ambientais.
nas situações de Verão e de Inverno. transparente às radiações de comprimento A ventilação é, sem dúvida, um dos aspec-
A ventilação natural é originada pela acção de onda curto e opaco às de comprimento tos mais importantes no controlo climático
de duas forças naturais: gradiente térmico e de onda longo, o que favorece o aumento das estufas. Durante o Inverno, a ventilação
forças do vento. São apresentadas as teorias da temperatura interior. A este fenómeno deve remover o excesso de humidade e criar
explicativas que possibilitam o cálculo dos dá-se a designação de efeito de estufa. uma boa atmosfera no interior da instalação,
caudais de ventilação e o dimensionamento enquanto que no Verão o objectivo princi-
das respectivas aberturas. No entanto, Wood (1909) e Van Gulik pal da ventilação é a manutenção da tempe-
(1910) cit. in Bot (1983) e Takakura (1991) ratura a níveis razoáveis (não muito superio-
1. Introdução salientam que o verdadeiro efeito de estufa res à temperatura exterior).
é causado pela estagnação do ar no interior A distribuição espacial das características am-
As estufas são utilizadas desde que o homem da estufa e pela pequena renovação que bientais no interior da estufa é muito impor-
tentou criar plantas em locais ou em épocas ocorre. Apesar disso, o efeito da radiação é tante porquanto influencia a uniformidade
onde as condições climáticas exteriores lhes importante na descrição das condições am- do crescimento das culturas. Assim, é essen-
eram adversas. São instalações cuja envol- bientais de uma estufa, uma vez que afecta cial boa distribuição e circulação do ar para
vente é parcialmente transparente à radia- directamente o balanço energético. que a temperatura e humidade sejam razoa-
ção solar e com as quais se pretende melho- Importa também referir que o crescimento velmente uniformes em toda a estufa.
rar as condições ambientais para o desen- e desenvolvimento das plantas, bem como o Do ponto de vista do engenheiro, o controlo
volvimento e produção de plantas. Trata-se aparecimento de pragas e doenças, estão es- ambiental de estufas é complexo devido ao
provavelmente do exemplo mais notável do tritamente relacionados com as respostas bio- tempo de resposta do sistema (Veerwaaijen
modo como o homem actua no ambiente lógicas às condições ambientais. A maior parte et al., 1985 cit. in Tantau, 1991). Os mate-
físico das plantas de forma a assegurar ou das variáveis climáticas, tais como tempera- riais de cobertura são normalmente muito
aumentar a quantidade e qualidade da pro- tura, humidade, velocidade do ar e teor de finos, permitindo elevada transmissão da ra-
dução. dióxido de carbono são influenciadas simul- diação solar, mas apresentam o inconveniente
O microclima de uma estufa está directa- taneamente por alterações exteriores, ope- de possibilitarem que alterações na tempera-
mente dependente das condições climáticas rações de controlo climático e pelas respos- tura exterior e na velocidade do vento rapida-
do meio exterior e das técnicas de condicio- tas biológicas das plantas como a fotossíntese mente influenciem as condições interiores.
namento ambiental utilizadas. Segundo Bot e a transpiração (Kozai et al., 1980). As condições ambientais óptimas são defi-
(1983) e Bailey (1991), a diferença de tem- Um dos principais objectivos da produção nidas como sendo aquelas que originam a
peratura entre o interior e o exterior de uma de plantas em estufa é criar e manter as con- máxima margem entre o valor da cultura e
estufa deve-se essencialmente a dois meca- dições óptimas para o seu desenvolvimento, os custos de criar essas condições (Bailey e
nismos: de forma a possibilitar o aumento do rendi- Chalabi, 1991). O dimensionamento de qual-
1. O ar no interior de uma estufa encon- mento dos produtores. Os custos de inves- quer sistema de ventilação deve ser baseado
tra-se relativamente estagnado devido à timento, do trabalho e energéticos são su- nos seguintes critérios (Nicolaus, 1990):
existência de envolvente, o que faz com periores aos verificados em produção con- Parâmetros climáticos, em particular a ra-
que a velocidade do ar e as trocas com o vencional. Utilizar da melhor forma possível diação solar, a temperatura e as caracte-
exterior sejam bastante reduzidas. o potencial produtivo das plantas e melho- rísticas do vento;

46 INGENIUM | Março/Abril 2007


AGRONÓMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Tipo de estufa, com especial incidência na tas. É, no entanto, nos climas quentes que a este conceito não poderá ser utilizado na
sua geometria, dimensões, orientação e lo- eficiência dos sistemas de ventilação natural comparação de caudais de ventilação em es-
calização; é limitada, devido à reduzida diferença de tufas com características diferentes. Assim,
Sistema de ventilação, o que implica o es- temperatura entre o interior e o exterior, a Bot (1983) define a função adimensional
tudo da localização e área das aberturas de não ser que existam brisas que favoreçam a G(α) - que descreve para cada ângulo de
ventilação e do sistema de controlo a uti- ventilação natural (Roberts e Mears, 1984; abertura do ventilador - a relação entre o
lizar. Meneses e Raposo, 1987). caudal de ventilação (V) por unidade de área
Em sistemas de ventilação natural, a forma Em Portugal, a maioria das estufas é de cons- (A) e de velocidade do vento (ν) no nível
da estufa e das áreas de ventilação, bem trução muito simples, com cobertura geral- de referência. Esta função permite compa-
como as respectivas localizações, assumem mente de polietileno e sem sofisticados sis- rar resultados obtidos por diferentes autores
particular importância, uma vez que o con- temas de condicionamento ambiental. O em estufas distintas, testar a dependência
trolo ambiental será conseguido através da controlo ambiental é geralmente conseguido linear do caudal de ventilação da velocidade
abertura ou fecho das áreas de ventilação à exclusivamente através da ventilação natu- do vento e ao mesmo tempo analisar a in-
medida que se alteram as condições climá- ral. É importante que se desenvolvam siste- fluência de outros parâmetros como a direc-
ticas exteriores. mas de controlo ambiental simples e efica- ção do vento e a diferença de temperatura
Hoje em dia, a ventilação natural, apesar de zes que possam facilmente ser adaptados às entre o interior e o exterior:
dependente de factores naturais, pode ser estufas utilizadas nestas zonas, contribuindo (1)
controlada, aliando o maior conhecimento também para a o controlo integrado de pra-
dos princípios físicos com o rápido desen- gas e doenças (Baptista et al. 2001, Coelho Quando uma estufa é ventilada apenas por
volvimento da tecnologia de computadores et al., 2006). acção das forças naturais, a ventilação por
e da matemática aplicada. O controlo am- acção do vento e a impulsão térmica devem
biental é facilitado pela utilização de mate- 2. Princípios da ventilação natural garantir as trocas de ar suficientes para a ob-
rial informático e outros equipamentos, prin- tenção das condições ambientais requeridas.
cipalmente no que diz respeito ao controlo Bot (1983), Hellickson et al. (1983), De Neste caso, a primeira preocupação aquando
da temperatura e humidade, de forma a evi- Jong (1990), Takakura (1991) e Boulard et do dimensionamento é saber qual o fluxo de
tar situações extremas no interior das estu- al. (1996), referem que a ventilação natural ar que ocorre quando a velocidade do vento
fas. Os factores a controlar dependerão da ocorre sempre que exista um diferencial de é nula (Randall, 1991). Na maior parte das
maior ou menor complexidade do sistema pressão. São duas as forças naturais respon- situações com ocorrência de vento, a reno-
de controlo de que se dispõe, podendo ir sáveis por esta diferença de pressão: vação de ar é suficiente desde que as aber-
desde um simples sistema de alarme (Neto Acção das forças do vento, que se mani- turas de ventilação estejam abertas e correc-
e Mello, 2005) até um sofisticado sistema, festam quando o vento, ao encontrar um tamente localizadas. Por outro lado, quando
como o apresentado na figura 1. obstáculo, sofre alterações na sua pressão; não sopra qualquer brisa, a geometria e a lo-
Impulsão térmica ou efeito térmico, de- calização das aberturas devem ser de forma
vido ao diferencial de temperatura que se a favorecer a ventilação por efeito de cha-
Computer calculating
optimum set point estabelece entre o ar no interior e no exte- miné (impulsão térmica).
rior. A este gradiente de temperatura cor- Facilmente se compreende que em sistemas
responde um gradiente de densidade, que de ventilação natural, a configuração das
Environmental
data
Optimum
set point
origina o movimento por convecção natu- aberturas de entrada e de saída de ar deve
Greenhouse
ral (o ar quente, menos denso, sobe). maximizar a ocorrência de gradientes de
controller
Bot (1983) e Boulard et al. (1996) referem pressão no seu redor. A ventilação adequada
Greenhouse data
ainda que a ventilação total resulta da com- de uma construção depende apenas do cor-
Control

Weather
signals binação de dois componentes perfeitamente recto dimensionamento (tamanho e locali-
data
distintos: o efeito estático, resultante da com- zação) das áreas de entrada e saída do ar e
Figura 1
binação da acção directa do vento (caracte- da orientação do edifício (M’ Sadak, 1984),
Sistema de controlo climático (Bailey e Chalabi, 1994) rísticas médias) e do gradiente de tempera- bem como do coeficiente de resistência que
tura, que origina um fluxo de ar devido à as aberturas oferecem à passagem de ar (De
Nas zonas Mediterrânicas, as condições am- existência de campos de pressão estática; e Jong, 1990).
bientais no interior das estufas são muito di- o efeito de turbulência, devido ao carácter Em sistemas de ventilação natural, o dimen-
ferentes das verificadas nas estufas do Norte flutuante da velocidade do vento. sionamento das áreas de entrada e saída de
da Europa. Durante o Verão, a temperatura A ventilação é normalmente caracterizada ar deve ser função do caudal máximo exigido
é muito elevada e a luz não é um factor li- pelo caudal de ventilação, que indica o vo- (normalmente na situação de Verão), uma
mitante. A ventilação nestas zonas assume lume de ar renovado por hora. No entanto, vez que o mínimo será conseguido pela di-
extrema importância, sendo um dos princi- igual número de renovações de ar em estu- minuição da área dessas aberturas. Segundo
pais meios de evitar temperatura excessiva- fas de diferentes dimensões não significa ne- Randall (1991), os caudais de ventilação
mente elevada que possa danificar as plan- cessariamente igual caudal, razão pela qual podem ser alterados pela variação da pressão

Março/Abril 2007 | INGENIUM 47


DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

exercida em redor das aberturas ou pela mo- tabelecida através da equação de Bernoulli, como é o caso das estufas. Depende dos
dificação das áreas efectivas de ventilação. sendo ρ a densidade do ar: mesmos parâmetros que Cpo, da existência
Apesar da ventilação natural ser um dos (2) ou não de aberturas nas faces das constru-
meios mais importantes no controlo ambien- ções e da sua permeabilidade relativa, con-
tal de estufas, continua a ser difícil prever, A velocidade do vento aumenta com a altura jugada ou não com a ocorrência de ventos
com elevado grau de segurança, os caudais a partir do solo à medida que o efeito de fric- fortes. De uma forma geral, a diferença de
de ventilação. De Jong (1990) e Boulard et ção se torna menor. A taxa a que ocorre esse pressões existente através de uma abertura
al. (1996) sugerem que os mecanismos en- aumento é conhecida como o gradiente de de uma construção devido à acção do vento
volvidos na ventilação natural são comple- velocidade e depende essencialmente da ru- é dada por (Bruce 1974), sendo que (Cpo –
xos e envolvem forças naturais cujos princí- gosidade do terreno. Geralmente, a veloci- – Cpi) corresponde ao coeficiente de acção
pios físicos são diferentes e independentes, dade do vento não é conhecida em todos os do vento (CW).
podendo, por isso, ser estudados em sepa- pontos da estrutura, pelo que é conveniente (4)
rado. expressar a acção do vento recorrendo ao
conceito de coeficiente de pressão exterior Nos casos em que as aberturas de ventilação
2.1. Ventilação por acção do vento ou estático (Cpo). Bruce (1974) define o co- se localizam em zonas de diferentes coefi-
Bruce (1974), Boulard e Baille (1995), Bou- eficiente de pressão como sendo a fracção da cientes de pressão, é o diferencial de pres-
lard et al. (1996), Papadakis et al. (1996) e pressão cinética do vento livre medido à al- sões estáticas a força responsável pela ven-
Baptista et al. (1999), referem que o vento, tura de referência (normalmente 10 metros). tilação natural por acção do vento. Esta ex-
ao encontrar um obstáculo na sua trajectó- Este coeficiente depende da forma e dimen- plicação parece razoável para estufas de pe-
ria, como, por exemplo, uma estufa, produz são do edifício e da direcção e sentido do quenas dimensões, estufas com aberturas
acelerações e desacelerações que originam vento (Meneses e Raposo, 1987). A pressão situadas em ambas as paredes ou simultanea-
campos de diferentes pressões. Na face si- exercida pelo vento na superfície exterior de mente nas paredes e no telhado. Em todas
tuada a barlavento (lado de onde sopra o um edifício pode ser expressa por (Bruce, estas situações existem zonas com distintos
vento), a pressão estática é maior que a pres- 1974; Bot, 1983; De Jong, 1990): coeficientes de pressão. É o caso das estufas
são barométrica (é positiva), enquanto que (3) mais utilizadas nas zonas Mediterrânicas,
no lado oposto (sotavento), é menor (nega- onde as diferentes aberturas se situam em
tiva), gerando neste caso forças de sucção. Deste modo, a distribuição de pressões em locais com distintos coeficientes de pressão
Em volta do obstáculo, as pressões positivas volta de um objecto pode ser representada (Kozai et al., 1980).
e negativas resultam numa distribuição de por uma distribuição dos coeficientes de No entanto, Bot (1983) e De Jong (1990)
pressões que originam o movimento do ar pressão. O fluxo será no sentido da entrada demonstraram que para as estufas normal-
no sentido das pressões positivas para as ne- de ar através de uma abertura (situada nas mente construídas na Holanda, bem isoladas,
gativas (figura 2). paredes ou telhado) se o coeficiente de pres- com aberturas de ventilação apenas no te-
lhado e normalmente abertas a sotavento,
este diferencial de pressão estática é nulo e,
portanto, não explica as trocas de ar que ocor-
rem. Salientam ainda que o mesmo acontece
Vento Figura 2 no caso de existir apenas uma abertura de
Distribuição de
pressões provocadas ventilação, ou várias aberturas localizadas em
pelo vento na
envolvente de edifícios
Plantas
(Meneses e Raposo,
1987)
Vento Corrente de ar
Alçados laterias

Em resumo, quando o vento embate numa são for positivo. Se, pelo contrário, o coefi- (a)

parede, produz-se uma pressão positiva nessa ciente de pressão for negativo, o movimento
face. O vento é então deflectido ao longo do de ar ocorrerá no sentido inverso, saindo da
Vento
topo e dos lados do edifício, formando-se instalação.
áreas de sucção nas restantes faces. As pres- Uma vez conhecido o coeficiente de pres-
sões negativas originam a extracção de ar do são exterior, é preciso considerar o coefi-
(b)
interior, enquanto que pressões positivas for- ciente de pressão interior (Cpi). Segundo
Figura 3 – Efeito estático e de turbulência do vento
çam a entrada de ar para o interior da insta- Bruce (1974) e Meneses e Raposo (1987), (adaptado de Boulard e Baille, 1995)
lação (Hellickson et al., 1983). o coeficiente de pressão interior pode ser (a) Direcção do ar devido à diferença de pressões
estáticas entre a parede situada a barlavento e a
Assumindo que o ar se comporta como um definido da mesma forma que o coeficiente sotavento
gás perfeito, incompressível, a relação entre de pressão exterior, sendo constante para (b) Fluxo de ar originado pela flutuação da velocidade
do vento numa só abertura
a pressão do vento P e a sua velocidade é es- construções sem compartimentos interiores,

48 INGENIUM | Março/Abril 2007


AGRONÓMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

locais com idêntico coeficiente de pressão. bais, pelo que não é possível saber qual a o caudal de ventilação devido ao efeito do
Nestes casos, não existe qualquer diferença contribuição de cada um dos efeitos referi- vento pode calcular-se através de:
entre os coeficientes de pressão e logo não dos. Boulard e Baille (1995) salientam que (11)
ocorrerá qualquer movimento de ar devido ambos os coeficientes são linearmente de- sendo Cd o coeficiente de descarga da aber-
1
ao efeito estático. Nesta situação deve ser pendentes de v2, e Boulard et al. (1993) re- tura e Cd = ζ 2
considerado o carácter flutuante da veloci- ferem que C e C são da mesma ordem de Vários autores determinaram o coeficiente
dade do vento e logo a variação da pressão grandeza, sendo C dependente da direcção de descarga (Cd) para diferentes aberturas
instantânea. A figura 3 representa o efeito es- do vento e C relativamente estável e inde- de ventilação, considerando que não existem
tático e de turbulência do vento e esquema- pendente da direcção do vento. Testes efec- obstáculos à circulação do ar.
tiza o tipo de fluxo que ocorre em estufas tuados em túnel de vento com modelos à es- QUADRO 2 – Coeficientes de descarga determinados
com uma ou mais aberturas de ventilação. cala, possibilitam a determinação dos coefi- por diversos autores (adaptado de Roy et al., 2002)
cientes de pressão exterior em vários locais Autores Cd Condições

A força do vento é dinâmica, variando con- da construção para determinadas caracterís- Brown e Solvason 0,6 – 0,8 Edifício, rectangular
De Jong 0,65 – 0,75 Estufa, aberturas no telhado
tinuamente de direcção e velocidade, o que ticas do vento. Segundo Bailey (2000), CW Hellickson e Walker 0,63 Edifício, rectangular vertical
lhe confere um carácter flutuante. Assim, parece ser independente da área da estufa e, Timmons et al. 0,6 – 0,7 Edifício, rectangular vertical
mesmo que a pressão estática média seja na verdade, encontram-se publicados valores Zhang et al. 0,61 Edifício, rectangular vertical
igual no exterior de duas aberturas, a pres- muito aproximados entre si para estufas com Boulard e Baille 0,644 Estufa, aberturas contínuas
Bot 0,65 – 0,7 Estufa, aberturas no telhado
são instantânea pode ser diferente devido à áreas entre 180 e 38.700 m2 (quadro 1). Abreu e Meneses (‘05) 0,45 – ,071 Estufa, abertutas laterais
constante variação da velocidade do vento.
QUADRO 1 – Coeficientes de efeito do vento determinados
Nestes casos, a amplitude do diferencial de por diversos autores (adaptado de Bailey, 2000) 2.2. Ventilação por impulsão térmica
pressão flutuante é a força motriz da venti- Área
Apesar de na maioria das situações a ventila-
lação (Bot, 1983; De Jong, 1990; Boulard et CW da estufa Fonte ção por acção do vento ser dominante, a im-
(m2)
al., 1993; Papadakis et al., 1996). pulsão térmica é muito importante quando
0,10 416 Boulard and Baille (1995)
De uma forma geral, a interacção do vento 0,14 179 Kittas et al. (1995)
o vento está ausente e, portanto, é de todo o
com uma superfície como uma construção, 0,071 900 Kittas et al. (1995) interesse o conhecimento e compreensão dos
resulta num modelo de fluxo complexo. Au- 0,13 416 Papadakis et al. (1996) processos físicos envolvidos. O tamanho, a
tores como Bot (1983), De Jong (1990), 0,09 204 Baptista et al. (1999) localização das aberturas e a diferença de tem-
0,11 38.700 Bailey (2000)
Boulard et al. (1993), Boulard e Baille (1995), 0,099 – 0,271 182 Abreu e Meneses (2005)
peratura entre o interior e o exterior deter-
Boulard et al. (1996) e Papadakis et al. minam a eficácia deste tipo de ventilação.
(1996), consideram que o efeito do vento Por outro lado, a descida da pressão do ar Sempre que no seio de um fluído ocorrem
pode ser separado em dois componentes: devido ao seu movimento através de uma diferenças de densidade devido a diferenças
efeito estático, induzido por uma distri- abertura pode ser descrita pela equação de de temperatura, formam-se correntes de
buição de pressões médias, relacionadas Bernoulli, que a relaciona com a velocida- convecção natural. Durante o dia, no inte-
com a velocidade média do vento medida de do ar nessa abertura (Boulard e Baille, rior de uma estufa, o ar aquece devido à ra-
no nível de referência, através do coefi- 1995): diação solar ou outras fontes de aquecimento.
ciente de pressão C: (8) Supondo uma estufa com duas aberturas si-
(5) tuadas a alturas diferentes, o ar quente menos
sendo ζ o coeficiente de resistência da aber- denso sai pela abertura superior e é substi-
efeito de turbulência, induzido pela flutu- tura, que representa as perdas devido à con- tuído por igual volume de ar frio vindo do
ação da distribuição de pressões, descrito tracção do ar nas aberturas e devido à fric- exterior, mais denso, que entra pelas aber-
pelo coeficiente de flutuação ou de turbu- ção do ar com as paredes ou telhado. turas inferiores. A pressão hidrostática varia
lência C: Igualando as equações 4 e 8 e resolvendo em com a altura e, de um modo geral, assume
(6) ordem a ν, chega-se à seguinte expressão valores diferentes no interior e no exterior
para o cálculo da velocidade do ar à en- a dada altura h. Esta diferença de pressão é
Segundo Boulard e Baille (1995) e Papadakis trada: a força responsável pelas trocas de ar que
et al. (1996), o diferencial de pressão total (9) ocorrem entre o interior e o exterior através
pode ser calculado por: das aberturas de ventilação (Bot, 1983).
(7) Assumindo que a variação da densidade é Bruce (1973) apresenta uma equação para
desprezível, para um determinado edifício calcular a velocidade do ar à saída (νs) de
onde ∆PW representa ∆P e ou ∆P e CW re- com n aberturas e aplicando o princípio da uma abertura por acção da impulsão térmica,
presenta C o efeito e C ou, ou seja, inclui o conservação de massa, ou seja, o volume de considerando um edifício como uma coluna
efeito estático e de turbulência. ar que entra na construção é exactamente vertical com duas aberturas horizontais se-
igual ao volume que sai: paradas por uma altura H:
A investigação destinada a determinar os co- (10) (12)
eficientes de pressão conduz a medições glo-

Março/Abril 2007 | INGENIUM 49


DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

sendo g a aceleração da gravidade (9,8 m/s2) tica assume que as aberturas laterais funcio- vada. Se, pelo contrário, a velocidade do
e To a temperatura absoluta exterior (Kel- nam sempre como áreas de entrada e a cume- vento é baixa, o efeito da impulsão térmica
vin). eira como área de saída, o que pode não se é dominante. Este é um processo complexo,
verificar dependendo da geometria da cons- não existindo uma clara definição do pon-
Em 1978, Bruce publica a teoria da convec- trução e das aberturas. Para algumas combi- to a partir do qual um dos efeitos deixa de
ção natural, onde faz a análise generalizada nações de geometria e condições climáticas, prevalecer para passar o outro a ser domi-
da convecção natural num volume de ar con- o plano neutro intercepta as aberturas late- nante.
finado. A diferença de temperatura entre o rais, e as áreas situadas acima deste actuarão Vários autores dedicaram-se ao estudo da
ar interior e exterior origina o movimento como áreas de saída e não de entrada. Su- ventilação por impulsão térmica e à sua im-
do ar por convecção natural, através das aber- pondo uma construção com uma abertura portância relativa em todo o processo da
turas existentes. O fluxo de ar será numa infinitesimal na cumeeira, a convecção na- ventilação natural. Meneses e Raposo (1987),
direcção através da zona inferior da abertura tural ocorre com o plano neutro a dividir ao Boulard e Baille (1995) e Kittas et al. (1995)
e na direcção oposta através da zona supe- meio as aberturas laterais. À medida que a consideram que, para velocidades do vento
rior. A uma determinada altura h, a densi- área da cumeeira aumenta, a posição do plano superiores a 1,5 m/s, o efeito do vento é do-
dade do ar no interior e no exterior é igual, neutro vai subindo. minante e a impulsão térmica pode mesmo
não havendo qualquer gradiente de pressão Foster e Down (1987) e Down et al. (1990) ser desprezada. Segundo Papadakis et al.
e, portanto, não ocorrem trocas de ar (Bruce, compararam a teoria generalizada da con- (1996), este limite é um pouco superior, 1,8
1978; Meneses e Raposo, 1987; De Jong, vecção natural (Bruce, 1978) com a análise m/s, dependendo da geometria da estufa e
1990; Down et al., 1990). O lugar geomé- baseada numa coluna vertical de ar e con- das aberturas de ventilação e da diferença
trico definido por todos os pontos onde a cluíram que, quando se trata de aberturas de temperatura entre o interior e o exterior.
pressão interior é igual à pressão exterior de- horizontais, os resultados obtidos são idên- Autores como Christiaens e Debruyckere
signa-se por plano neutro, e é dado pela se- ticos, pelo que se pode utilizar a fórmula de (1977), e Zhang et al. (1989) consideram
guinte equação definida por Bruce (1978): cálculo que não tem em conta a posição do que a acção do vento é dominante para ve-
eixo neutro. O mesmo não se verifica para locidades superiores a 3 m/s.
(13) os casos em que existem aberturas laterais Alguns autores baseiam o dimensionamento
e fresta de cumeeira, sendo a altura do plano das aberturas de ventilação exclusivamente
neutro dada por: em função da acção do vento (Tasker, 1981),
(15) enquanto outros, como Randall (1991), pre-
ferem basear este cálculo apenas no efeito
da impulsão térmica. Outros autores prefe-
Ti>T0 NPL onde d é a altura das aberturas laterais e w rem efectuar o dimensionamento com base
a largura da cumeeira. no efeito combinado de ambas as forças (Me-
Distribuição das pressões
Segundo estes autores, o caudal de ventila- neses, 1985).
devido à impulsão térmica
ção é calculado utilizando diferentes equa- Para os casos em que ambas as forças são sig-
Figura 4 – Localização do plano neutro num edifício ções, dependendo da posição do plano neu- nificativas, existe uma recomendação da
com aberturas laterais e fresta de cumeeira (adaptado tro. Assim, se o plano neutro se situa acima ASHRAE (American Society of Heating, Re-
de Brockett e Albright, 1987)
das aberturas laterais, o caudal é dado por: frigerating and Air-conditining Engineers)
para o cálculo do caudal de ventilação devido
Se as aberturas se situam apenas numa fa- (16) ao efeito combinado (Brockett e Albright,
chada, o eixo neutro divide-as em duas par- 1987; Albright, 1990; De Jong, 1990):
tes iguais, sendo o caudal dado por (Bruce, Se, pelo contrário, o plano neutro intercepta (18)
1978; Meneses e Raposo, 1987), sendo A a as aberturas laterais, o caudal é: (17) Estes autores salientam que, de uma forma
área total de ventilação: geral, os resultados obtidos experimental-
mente e previstos aplicando esta equação são
(14) similares, ocorrendo um erro de 20 a 25 %
sendo l o comprimento da instalação. quando as aberturas actuam simultaneamente
A teoria com base na coluna vertical foi de- como áreas de entrada e de saída de ar ou
senvolvida para explicar o movimento de ar 2.3. Efeito combinado das forças do vento quando a contribuição das duas forças motri-
através de aberturas horizontais mas, na prá- e da impulsão térmica zes é idêntica. Existe, no entanto, alguma con-
tica, aplica-se a edifícios com aberturas ver- Na maioria das situações, a ventilação natu- tradição nos resultados obtidos, pois enquanto
ticais nas paredes e horizontais na cumeeira. ral de uma construção resulta do efeito com- Brockett e Albright encontraram caudais me-
Neste caso, a área de saída corresponde à binado entre a acção das forças do vento e nores que o previsto, De Jong verificou que
cumeeira e as áreas de entrada às aberturas da impulsão térmica. O efeito do gradiente os caudais obtidos por medição eram supe-
laterais, sendo H a distância entre a cume- de temperatura tem fraca influência quando riores aos previstos por cálculo. Assim, parece
eira e o meio das aberturas laterais. Esta prá- a velocidade do vento é relativamente ele- não estarem completamente esclarecidas quais

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DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

as situações em que este modelo é seguro. A ventilação é um dos aspectos mais impor- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Segundo Boulard e Baille (1995), existem tantes no controlo ambiental de estufas, uma • ABREU, P.E. e MENESES, J.F. 2005. Modelo simplificado para a quanti-
duas hipóteses para determinar o efeito com- vez que influencia a temperatura, a humi- ficação dos caudais de ventilação natural numa estufa hortícola com co-
bertura em polietileno térmico e aberturas laterais. Revista de Ciências
binado das forças do vento e impulsão tér- dade e a concentração do dióxido de car- Agrárias, 28(3/4):359-368. • ALBRIGHT, L. D., 1990. Environmental Con-
mica: bono, parâmetros muito importantes para o trol for Animals and Plants. American Society of Agricultural Engineers. St.
Joseph, Michigan, 453 pp. • BAILEY, B. J., 1991. Climate modelling and
1. A pressão total é o resultado da soma das crescimento e desenvolvimento das plantas. control in greenhouses. In Progress in Agricultural physics and Engineering.
Ed. by J. Matthews, CAB International, 173-201. • BAILEY, B. J., 2000.
pressões devidas à impulsão térmica e à Apesar disso, nas zonas Mediterrânicas não Constraints, limitations and achievements in greenhouse natural ventilation.
acção do vento. Esta relação verifica-se nos existe muita informação sobre as caracterís- Acta Horticulturae, 534:21-30. • BAILEY, B. J. e CHALABI, Z. S., 1991. Op-
timization of controlled plant environments. Proceed. of the Conference “Au-
casos em que a acção do vento é devido ticas de ventilação das estufas. A maior parte tomated Agriculture for the 21st Century”, Chicago. • BAILEY, B. J. e CHA-
ao seu efeito estático. Quando o efeito de dos trabalhos que se encontram publicados LABI, Z.S., 1994. Improving the cost effectiveness of greenhouse climate
control. Computers and Electronics in Agriculture, 10:203-214. • BAP-
turbulência é a força principal, a aplicação são referentes a estufas utilizadas no Norte TISTA, F.J.; BAILEY, B.J.; RANDALL, J.M. e MENESES, J.F. 1999. Greenhouse
ventilation rate: theory and measurement with tracer gas techniques. Jour-
desta expressão é questionável. da Europa, com características construtivas nal of Agricultural Engineering Research, 72:363-374. • BAPTISTA, F. J.;
(19) muito diferentes. Nas zonas Mediterrânicas, ABREU P.E.; MENESES, J.F. e BAILEY, B.J. 2001. Comparison of the clima-
tic conditions and tomato crop productivity in Mediterranean greenhouses
2. O fluxo resultante é a soma dos dois flu- a partir de Maio a temperatura exterior au- under two different natural ventilation management systems. Paper nº 3006,
xos quando actuam individualmente, o menta consideravelmente, afectando as con- Proc. of the Simposium Agribuilding 2001, Campinas, Brasil. • BOT, G. P.
A., 1983. Greenhouse climate: from physical processes to a dynamic model.
efeito estático devido à impulsão térmica dições ambientais no interior das estufas, PhD Thesis, Agricultural University, Wageningen, 239 pp. • BOULARD, T.;
BAILLE, A. e DRAOUI, B., 1993. Greenhouse natural ventilation measure-
e o efeito de turbulência devido à acção chegando a temperatura a atingir valores que ments and modeling. Acta Horticulturae special issue of the International
do vento. dificultam a produção de plantas. Por vezes, Workshop on Cooling Systems for Greenhouse. Tel Aviv, May (in press).
• BOULARD, T. e BAILLE, A., 1995. Modelling of air exchange rate in a
(20) os produtores são obrigados a parar a pro- greenhouse equipped with continuous roof vents. Journal of Agricultural
Engineering Research, 61:37-48. • BOULARD, T.; MENESES, J. F.; MER-
Estes autores estudaram vários modelos e dução com consequências a nível económico. MIER, M. e PAPADAKIS, G., 1996. The mechanisms involved in the natural
concluíram que os melhores resultados se As estufas utilizadas nestas zonas têm carac- ventilation of greenhouses. Agricultural and Forest Meteorology, 79:61-77.
• BROCKETT, B. L. e ALBRIGHT, L. D., 1987. Natural ventilation in single
obtêm para os modelos em que se adicio- terísticas simples e deverão ser estudados airspace buildings. Journal of Agricultural Engineering Research, 37:141-
nam os gradientes de pressão e não os cau- sistemas de condicionamento ambiental efi- -154. • BRUCE, J. M., 1973. Natural ventilation by stack effect. The ele-
ments of the theory and how they combine. Farm Building Progress, 32:23-
dais. Quando se adicionam os fluxos de ar, cazes e de fácil aplicação, que possibilitem 27. • BRUCE, J. M., 1974. Natural ventilation of cattle buildings. Report to
JCO Farm Buildings Commitee at NAC, 1-11. • BRUCE, J. M., 1978. Na-
o coeficiente de correlação diminui cerca de a resolução deste problema. tural convection through openings and its application to cattle building ven-
5 %. Apresentam uma das equações mais A solução mais simples consiste em aumen- tilation. Journal of Agricultural Engineering Research, 23:151-167. • COE-
LHO, M.; BAPTISTA, F.J.; FITAS DA CRUZ, V. e GARCIA, J.L. 2006. Com-
simples para determinar o caudal de venti- tar o efeito da impulsão térmica através da parison of Four Natural Ventilation Strategies in a Mediterranean Greenhouse.
lação devido ao efeito combinado: combinação de aberturas localizadas lateral- International Symposium on Greenhouse Cooling: methods, technologies
and plant response. Almeria, 24-27 Abril. • CHRISTIAENS, J. P. A. e DE-
mente e na cumeeira. No entanto, por vezes BRUYCKERE, M., 1977. La ventilation naturelle des bâtiments d’ élevage.
Revue de l’ Agriculture, 2:256-281. • DE JONG, T., 1990. Natural ventila-
(21) a temperatura é demasiado elevada, sendo tion of large multi-span greenhouses. PhD Thesis, Agricultural University,
necessário recorrer a outras técnicas de con- Wageningen, 116 pp. • DOWN, M. J.; FOSTER, M. P. e MCMAHON, T. A.,
1990. Experimental verification of a theory for ventilation of livestock buil-
Quando o efeito do vento é dominante, o trolo ambiental, como sejam o arrefecimento dings by natural convection. Journal of Agricultural Engineering Research,
primeiro membro entre parêntesis pode ser evaporativo, que baixa a temperatura do ar 45:269-279. • FOSTER, M. P. e DOWN, M. J., 1987. Ventilation of livestock
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considerado nulo, e o caudal é determinado que entra na estufa, e a utilização de redes arch, 37:1-13. • HELLICKSON, M. A.; HINKLE, C. N. e JEDELE, D. G., 1983.
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pela expressão (corresponde à Eq. 11): de sombra, que reduzem os ganhos de calor son and Walker. American Society of Agricultural Engineers. St. Joseph,
(22) devido à radiação solar. Michigan, 372 pp. • KITTAS, C.; DRAOUI, B. e BOULARD, T., 1995. Quan-
tification of the ventilation of a greenhouse with a roof opening. Agricultural
O conhecimento das características de ven- and Forest Meteorology, 77: 95-111. • KOZAI, T.; SASE, S. e NARA, M.,
1980. A modelling approach to greenhouse ventilation control. Acta Horti-
tilação dos diferentes tipos de estufas em culturae, 106:125-136. • MENESES, J. F., 1985. Ventilação Natural Con-
3. Considerações finais condições climáticas de Primavera-Verão trolada Automaticamente em Instalações Para Suínos. Tese de Doutora-
mento. Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa,
quentes possibilitará um melhor controlo 254 pp. • MENESES, J. F. e RAPOSO, J. R., 1987. Ventilação natural de
A ventilação natural de estufas resulta de ambiental e, logo, uma melhor eficácia na instalações agrícolas: teoria e métodos de cálculo. Anais do Instituto Su-
perior de Agronomia, 249-265. • M’SADAK, Y., 1984. Climatization des
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provoca gradientes de pressão em redor das estufa durante um período de tempo mais L.Q. 2005. O potencial das soluções móveis na agricultura – um caso de
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mica que, devido à diferença de densidade térmica é muito importante em situação de -305. • PAPADAKIS, G.; MERMIER, M.; MENESES, J. F. e BOULARD, T.,
entre o ar no interior e no exterior, origina Verão nas zonas onde o vento é bastante 1996. Measurement and analysis of air exchange rates in a greenhouse
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complexos e não estão ainda completamente ção dos ventos dominantes serão também ting and ventilating greenhouses. RUTGERS University, New Jersey, EUA,
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esclarecidos. Normalmente, o efeito do vento factores que importará analisar. and ventilation transfers in greenhouses, Part 1: The greenhouse conside-
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natural resulta do efeito combinado destas Núcleo da Mitra, Apartado 94, Automatically controlled natural ventilation. Proceed. of the CIGR Section II
Seminar, Aberdeen, 185-192. • ZHANG, J. S.; JANNI, K. A. e JACOBSON,
forças. 7002-554 ÉVORA - [email protected] L. D., 1989. Modelling natural ventilation induced by combined thermal
buoyancy and wind. Transactions of the ASAE, 32(6):2165-2174.

52 INGENIUM | Março/Abril 2007


AGRONÓMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Eficiência Energética de Utilização


do Tractor Agrícola em Trabalhos de Tracção
João M.P. R. Serrano 1, José O. Peça 1, Anacleto C. Pinheiro 1, Mário de Carvalho 1,
Mário Nunes 2, Luís Ribeiro 2, Fernando Santos 3

Resumo em colaboração com o INETI e com a UTAD, celas de rendimento: do próprio motor, da
no âmbito do projecto PAMAF 8.140. transmissão às rodas, da interacção dos pneus
O consumo de combustível por hectare é o com o solo e da interacção dos órgãos acti-
principal indicador técnico de avaliação da 2. Aspectos teóricos de análise vos da alfaia com o solo. Qualquer destas
eficiência energética de utilização do tractor parcelas de rendimento é condicionada pela
agrícola, constituindo uma importante refe- A eficiência de transformação energética do eficiência do operador.
rência do desempenho do conjunto tractor- combustível fornecido ao motor do tractor Na literatura são encontradas algumas refe-
-alfaia. Este parâmetro traduz o envolvimento em trabalho útil realizado pela alfaia encon- rências que relacionam o conjunto de parce-
das diversas variáveis que condicionam o ren- tra-se dependente de um conjunto de par- las de rendimento referidas com o consumo
dimento global da transformação do com-
bustível fornecido ao motor em trabalho útil
realizado pela alfaia em mobilização do solo.
Os resultados de ensaios de campo realiza-
dos em explorações agrícolas do Alentejo
são apresentados neste artigo para compro-
varem a importância relativa dessas variáveis
e para estabelecer equações de referência
que relacionem o consumo de combustível
por hectare com o esforço de tracção solici-
tado pela alfaia. Estas poderão ser utilizadas
para comparar sistemas alternativos de mo-
bilização do solo, com diferentes exigências
de tracção, ou para avaliar o dimensiona-
mento do conjunto tractor-alfaia.

1. Introdução

As operações de mobilização do solo repre-


sentam, na utilização do tractor em sistemas
agrícolas tradicionais, uma das actividades
com custos energéticos mais elevados. A sus-
tentabilidade destes sistemas exige uma ges-
tão rigorosa dos recursos, com redução im-
portante dos custos de produção das cultu-
ras, nomeadamente ao nível dos custos as-
sociados com o consumo de combustível.
Neste artigo, e na perspectiva de avaliar a
eficiência energética de utilização do tractor
agrícola, são apresentados os resultados ob-
tidos em ensaios de campo de tracção (fi-
gura 1), desenvolvidos em condições reais
de trabalho no Alentejo, e ensaios de trac-
tores com um freio dinamométrico. Estes
ensaios foram realizados pela equipa de me-
canização agrícola da Universidade de Évora, Figura 1 – Ensaios de campo com tractores e grades de discos dos agricultores, em condições de sequeiro no Alentejo [5]

Março/Abril 2007 | INGENIUM 53


DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

de combustível por unidade de área tra- fico do motor (Ce) reflecte, fundamental- As considerações anteriores permitem con-
balhada (consumo por hectare, Cha, em L/ mente, o efeito do regime do motor e do cluir que a massa específica do gasóleo, o
ha). grau de utilização da potência disponível. A consumo específico do motor e o rendimento
análise dos resultados de ensaios de tracto- total de tracção são parâmetros previsíveis
A equação 1 é apresentada por Bowers [1,2] res de diferentes fabricantes, com potências em determinadas condições de trabalho.
e por Riethmuller [3]: entre 53 e 110kW (cerca de 70 a 150 CV), Assim, admitindo uma escolha criteriosa do
realizados na estação de testes alemã “DLG” momento adequado para intervir no solo e
(Eq. 1) e publicados na revista “profi International” garantidas correctas regulações ao nível do
(quadro 1), revelou um reduzido intervalo regime do motor, da relação de transmissão
Onde: Cha - consumo por hectare (L/ha); de variação do consumo específico entre di- da caixa de velocidades, da pressão de enchi-
Ce - consumo específico (g/kWh); ℑ - trac- ferentes modelos de tractores, para as mes- mento dos pneus e do lastro do tractor, o con-
ção na barra por unidade de largura de tra- mas condições de utilização. sumo de combustível por hectare de um trac-
balho da alfaia (kN/m); 0,36 - factor de con- A massa específica do gasóleo (ρg), por outro tor agrícola em trabalho de mobilização do
versão de unidades; ρg - massa específica do lado, apresenta apenas uma pequena varia- solo é determinado, fundamentalmente, pelo
gasóleo (g/L); ηm - rendimento mecânico ção com a temperatura. Por exemplo, Billot esforço de tracção solicitado pela alfaia.
da transmissão (decimal); ηt - rendimento [4] determinou valores de massa específica Bowers [2] publicou resultados em que,
de tracção (decimal); ηc - rendimento de do gasóleo de 854 e 840 g/L, respectiva- entre outros parâmetros, apresentou a trac-
campo (decimal). mente a 15 e a 35º C. ção na barra por unidade de largura de tra-
balho (ℑ, em kN/m) e o consumo por hec-
A equação 1 pode tomar a forma da equação QUADRO 1 – Consumo específico (g/kWh) tare (Cha, em L/ha). Estes resultados, obti-
de diferentes modelos de tractores agrícolas em diversas
2, sendo o denominador uma representação condições de trabalho; resultados de ensaios realizados dos em 10 locais, com diferentes caracterís-
do rendimento global da transformação de na estação de teste da “DLG” [5] ticas de solos e com 4 modelos de alfaias de
energia, onde se inclui o rendimento do motor Grau de utilização da potência nominal mobilização (grades de discos “offset” e “tan-
(proporcional ao inverso do consumo espe- 60% 80% dem”, chisel e charrua), podem ser traduzi-
60% 90% 100%
cífico, Ce), o rendimento mecânico da trans- Parâmetros estatísticos do regime do regime do regime dos na forma de uma equação linear (Equa-
missão entre o motor e as rodas (ηm) e o nominal nominal nominla
ção 4), que relaciona as variáveis referidas
Média (g/kWh) 230 250 280
rendimento de tracção ou rendimento dos Coeficiente de variação (%) 3 5 6 com um elevado coeficiente de determina-
pneus em interacção com o solo (ηt). O ren- Intervalo de variação (g/kWh) [223-246] [234-277] [259-309] ção (0,92).
dimento global é o quociente entre a energia
utilizada pela alfaia (trabalho realizado) e a Ainda na Equação 1, o rendimento total de Cha = 2,376 + 1,2369 × ℑ (Eq.4)
energia (combustível) fornecida ao motor, tracção (ηtt, produto do rendimento mecâ-
ou, em termos de potência, é o quociente nico da transmissão, ηm, pelo rendimento Onde: Cha - consumo por hectare (L/ha);
entre a potência na barra (T×vr) e a energia, de tracção, ηt) é, de acordo com a ASAE ℑ - tracção na barra por unidade de largura
sob a forma de combustível (Ch), fornecida Standards [6], máximo em situações de solo de trabalho da alfaia (kN/m).
por unidade de tempo ao motor (equação 3). não mobilizado, podendo atingir os 70%,
Uma vez que as variáveis tracção na barra, com tendência para diminuir em condições Zhengping et al. [7] apresentaram o con-
velocidade real de avanço e consumo horário de solo mobilizado. Este rendimento pode sumo por hectare previsto para as diferen-
foram medidos nos ensaios de campo reali- manter-se próximo do máximo em solos tes operações de mobilização do solo, em
zados (figura 2), é possível estimar a impor- secos, correspondendo a boas situações de função do tipo de solo, baseados nas indica-
tância relativa das diferentes parcelas do ren- tracção dos pneus, com valores de patina- ções dos Standards da ASAE, admitindo os
dimento no consumo por hectare. gem da ordem dos 10-15%. pressupostos de que as alfaias estão bem di-

(Eq. 2) Consumo
horário
Velocidade
de avanço
(Eq. 3) Motor Transmissão
(Regime) (Mudança) Barra de tracção
Alfaia
(Largura,
Onde: 3,6 - factor de conversão de unida- Profundidade)
Pneus (Tracção na barra)
des; T - tracção na barra (kN); υr - veloci- TRACTOR
(Patinagem)
dade real de avanço (km/h); Ch - consumo
horário (L/h).
Solo
De entre os parâmetros que influenciam o (Condição, Textura, Humidade)
consumo de combustível por hectare, apre-
sentados na equação 1, o consumo especí- Figura 2 – Variáveis medidas nos ensaios de campo

54 INGENIUM | Março/Abril 2007


AGRONÓMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

mensionadas para os tractores e de que foi rador de um tractor agrícola, ao nível do re- quido nas rodas, a 75% do seu nível má-
seleccionada a velocidade óptima. Para a gime de funcionamento do motor e da rela- ximo; situação típica no Alentejo;
grade de discos indicam as seguintes previ- ção de transmissão da caixa de velocidades, Situação sem lastro líquido nos pneus.
sões de consumo por hectare: 9,0 L/ha em representa um dos aspectos com maior im-
solo argiloso (textura fina); 7,2 L/ha em solo pacto na eficiência de utilização do combus- 3.3. A pressão de enchimento dos pneus
franco-argiloso ou franco-limoso (textura tível. Nos ensaios realizados foram testadas A gestão da pressão de enchimento dos pneus
média) e 4,8 L/ha em solo franco-arenoso as seguintes combinações regime-mudança: é um processo simples, todavia pouco utili-
(textura grosseira). Este acréscimo de 50 % a) Selecção de um regime do motor de cerca zado pelos agricultores, que tendem a optar
no consumo por hectare ao passar de solo de 80% do regime nominal (2200 rpm) por pressões de enchimento relativamente
de textura grosseira para solo de textura e à escolha, por tentativas, da mudança elevadas, independentemente do tipo de uti-
média e o acréscimo de 25 % ao passar de mais alta permitida; lização do tractor, justificadas pela menor
solo de textura média para solo de textura b) Selecção do regime nominal do motor e deflexão como forma de preservação da vida
fina, correspondem exactamente aos acrés- de mudanças abaixo da mais alta que as útil do pneu.
cimos das solicitações de tracção indicados condições de trabalho permitiriam, pro- Os ensaios para avaliação desta variável ti-
pela ASAE Standards [8] entre os mesmos curando manter a velocidade de trabalho, veram lugar em duas condições de solo (la-
grupos de texturas, o que pressupõe a ad- obtida na regulação anterior. vrado ou lavrado e gradado), tendo sido con-
missão de uma estreita correlação entre o No procedimento de selecção da mudança siderados 3 níveis crescentes de pressão de
consumo por hectare e o esforço de tracção mais alta permitida em cada situação de en- enchimento dos pneus:
solicitado pelas alfaias. saio, impuseram-se 3 condições: p1: com base nas tabelas de recomenda-
A combinação regime-mudança não devia ções do fabricante dos pneus;
3. Materiais e métodos conduzir a velocidades de trabalho exces- p2: a partir da recomendação apresentada
sivas tendo em conta a segurança e o con- no “Manual do Operador” do tractor em
Os ensaios de campo tiveram lugar em di- forto do operador; causa;
ferentes tipos (texturas) e condições de solo A velocidade assim obtida não devia co- p3: mais elevado, tendo sido incluído aten-
(não mobilizado, gradado, lavrado). Foram locar em questão os objectivos técnicos e dendo à frequência com que estas pressões
utilizados equipamentos dos agricultores, a qualidade do trabalho pretendido; são encontradas nos tractores agrícolas uti-
que incluíram tractores desde 59 kW a 134 O par mudança-regime assim definido lizados na região.
kW de potência no motor e grades de dis- não devia conduzir a situações de sobre-
cos “offset” desde 2 a 4 m de largura de tra- carga do motor; sempre que se verificas- 3.4. A regulação da abertura dos
balho. Foram testadas várias situações de sem quebras do regime em carga superio- corpos da grade e a adaptação
lastro, de pressão de enchimento dos pneus, res a 200 r.p.m. relativamente ao regime da velocidade de trabalho
de regime de funcionamento do motor, de estabelecido em vazio, o operador selec- As actuais grades de discos “offset”, equipa-
relações de transmissão da caixa de veloci- cionava uma mudança imediatamente das com actuadores hidráulicos, comandados
dades, para além de diversas regulações nas abaixo. a partir do posto de condução do tractor,
grades de discos [6]. permitem uma fácil regulação da abertura
Foi desenvolvido e instalado um sistema de 3.2. A utilização de lastro líquido dos corpos e uma adaptação permanente às
aquisição de dados [6] que permitiu o re- nos pneus condições de trabalho encontradas. Visto que
gisto dos seguintes parâmetros (figura 2): re- A utilização de lastro líquido nos pneus dos esta regulação tem efeito sobre o esforço de
gime do motor, velocidade de avanço, pati- tractores agrícolas é muito habitual nas ex- tracção solicitado pela grade de discos, o ope-
nagem das rodas, consumo horário de com- plorações agrícolas do Alentejo. O argumento rador pode conjugar a abertura da grade com
bustível e tracção na barra. Para além destes, principal de que se servem os agricultores a velocidade de trabalho, por forma a garan-
foram também medidas a largura e a pro- para justificarem esta opção prende-se com tir o efeito desejado no solo, procurando re-
fundidade de trabalho e avaliadas as carac- a redução das oscilações sentidas pelos ope- duzir os custos de produção.
terísticas dos solos (textura, condição e teor radores, especialmente em solos lavrados. Nos ensaios realizados foram consideradas
de humidade). Se, no mínimo, é discutível a utilização de as seguintes possibilidades:
lastro líquido em face da perspectiva de con- a) Abertura máxima dos corpos da grade per-
Na perspectiva de optimização do desempe- forto do operador, já em termos de compac- mitida em cada local e condição de solo;
nho do conjunto tractor-alfaia em mobiliza- tação do solo, é de esperar que esta aumente b) Abertura menor dos corpos da grade, sem
ção do solo, foram testadas diversas variáveis nas situações de pneus lastrados de água, comprometer o efeito mecânico sobre o
com importância na eficiência energética do com as consequências negativas que se co- solo e que, sempre que possível, permi-
conjunto em trabalho: nhecem. tisse a selecção de mudanças mais altas.
Foram testadas 2 situações de lastragem do
3.1. O par regime/relação de transmis- tractor: 3.5. Comportamento dos tractores
são da caixa de velocidades Situação com lastro líquido nos pneus, em ensaios à tomada de força
A gestão das opções que se oferecem ao ope- correspondente à utilização de lastro lí- Os tractores foram também submetidos a

Março/Abril 2007 | INGENIUM 55


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ensaios num freio dinamométrico ligado à tência nominal. São exemplo desta conjuga- (p3), relativamente à situação de pressão re-
tomada de força. Os resultados destes en- ção os trabalhos de mobilização do solo. comendada pelas tabelas de carga-pressão
saios foram tratados no programa “Surfer” dos fabricantes de pneus (p1). Pode, assim,
que, através de processos de triangulação e 4. Apresentação e discussão considerar-se que a pressão mais elevada é,
de interpolação linear, permitiu o estabele- dos resultados à partida, excessiva, uma vez que se espera
cimento das curvas de desempenho do motor que promova maior compactação do solo e
(figura 3), as quais relacionam o consumo 4.1.O par regime/relação de transmis- é também aquela que se espera que menos
específico do motor com o regime em per- são da caixa de velocidades amorteça as vibrações resultantes das rugo-
centagem do regime nominal (em abcissas), Os resultados obtidos comprovaram a im- sidades que o pneu encontra no solo. A pres-
com o grau de utilização da potência nomi- portância da correcta gestão do par mudança- são mais baixa apresenta uma melhoria sig-
nal (ordenada à direita) e com o momento -regime, tendo evidenciado que a técnica de nificativa do indicador consumo por hectare,
em percentagem do momento à potência escolher mudanças mais altas e regimes mais no entanto, é também a situação em que se
nominal (ordenada à esquerda). baixos pode conduzir a importantes econo- espera um maior desgaste dos pneus, em
Estas curvas de desempenho representam mias de combustível (redução média do con- particular na ligação do talão do pneu à jante.
uma autêntica radiografia das potenciais pres- sumo por hectare entre 15 e 20%) relativa- Por essa razão, encontra no agricultor as
tações do motor. A partir desta informação mente à utilização comum de regimes perto maiores reservas, exigindo o restabelecimento
é possível aferir das possibilidades de utili- do regime nominal do motor e da selecção de pressão mais elevada sempre que o trac-
zação de um tractor agrícola em diferentes de mudanças baixas. tor se deslocar em pavimento rígido, para
operações culturais, procurando sempre a garantir o cumprimento da vida útil normal
maior eficiência de conversão do combustí- 4.2. A utilização de lastro dos pneus. A indicação do fabricante de trac-
vel em energia mecânica. O interesse reside, líquido nos pneus tores, aconselhando uma pressão intermé-
portanto, em minimizar o consumo especí- No que respeita ao consumo de combustí- dia, estabelece o compromisso entre a con-
fico (expresso em gramas de gasóleo por uni- vel por hectare, verificou-se uma diminuição servação do pneu e a aderência do mesmo,
dade de energia produzida, expressa em sistemática deste parâmetro na situação de sem comprometer o consumo de combus-
kWh), o que se consegue com elevados graus ensaio sem lastro líquido nas rodas, com es- tível por hectare. Esta é a forma de libertar
de utilização da potência máxima e em re- pecial impacto nas condições de solo mobi- o agricultor da preocupação do ajustamento
gimes da ordem dos 70% do regime de po- lizado, onde a redução chegou a atingir 11%. da pressão de enchimento dos pneus, aten-
Pode, por isso, pôr-se dendo às utilizações bastante diversas a que
Consumo específico (g/kWh)
em causa a necessidade o tractor está sujeito, e sabendo também
deste lastro adicional que, na larga maioria das horas de trabalho,
em condições habituais o mesmo se encontrará em situações de
110 de utilização dos trac- transporte em pavimento rígido.
tores agrícolas em mo-
100
bilização do solo para 4.4. A regulação da abertura dos
instalação de culturas corpos da grade e a adaptação
de sequeiro no Alentejo. da velocidade de trabalho
Momento em percentagem do momento no regime nominal

90
O argumento apresen- A questão energética encontra-se reflectida
Potência em percentagem da potência nominal

tado pelos agricultores no consumo de combustível por hectare. O


80
pode não servir tendo combustível é fornecido ao motor para pro-
em conta as possibilida- duzir como resultado final a mobilização do
70 des de regulação que solo. Nesta transformação, o efeito preten-
permitem actualmente dido, de fragmentação do solo, se for reali-
60 os assentos do condutor zado com maior eficiência, reflecte-se num
e a tendência para estas menor consumo de combustível por unidade
50 possibilidades não serem de área trabalhada. Os resultados mostraram
exploradas. uma importante diminuição do consumo de
combustível por hectare nas situações de
40
4.3. A pressão de en- menor abertura dos corpos da grade e maior
chimento dos pneus velocidade de trabalho. Tal facto deve-se à
30
Verificou-se que o con- maior eficiência com que a alfaia actua no
sumo de combustível solo nesta opção, o que reforça o interesse
50 60 70 80 90 100 por hectare registou acrés- em adequar a regulação da abertura dos cor-
Regime em percentagem do regime nominal cimos da ordem dos 10 pos da grade e da velocidade de avanço em
Figura 3 – Curvas de desempenho do tractor Massey-Ferguson 3060 [5] a 15% na situação de cada situação concreta de trabalho, procu-
pressão mais elevada rando optimizar o desempenho do tractor.

56 INGENIUM | Março/Abril 2007


DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

600 no conjunto de ensaios recomendada a cada modelo de grade que


575 Regime nominal realizados, foi de 270 g/ produzem, facultando, desta forma, ao agri-
550 Y=289,8 + 1166,3e(-x/15,97)
525 R2=0,98 kWh); cultor a informação de que precisa para a
500 No regime nominal, uti- sua tomada de decisão, no que respeita à se-
475
450
80% do regime nominal
Y=266,4 + 884,5e
lizado em operações exi-
(-x/12,4)
lecção do conjunto tractor-alfaia adequado
R =0,97 2
gentes em potência ou quando à sua exploração. O dimensionamento deste
Ce (g/kWh)

425
400
se pretenda optimizar a ca- par tractor-alfaia tem implicações importan-
375
350 pacidade de trabalho, com tes na produtividade e na eficiência do tra-
325 menor eficiência em ter- balho.
300
275
mos de consumo de com- Os resultados obtidos conduziram ao esta-
250 bustível (que, no conjunto belecimento de um modelo de previsão da
225
200
de ensaios realizados, foi tracção na barra a partir da massa da grade
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 de cerca de 300 g/kWh). de discos (Equação 6):
Pot% Potência-nominal
4.6. Rendimento total
Figura 4 – Consumo específico de tractores Massey-Ferguson, em função do grau de utilização de tracção T = 7,3965*m + 7541,6 (Eq. 5)
da potência nominal, em dois regimes do motor: regime nominal e 80% do regime nominal [5]
A medição dos parâmetros
tracção na barra (T), velo- Onde: T - tracção na barra (N); m - massa
4.5. Comportamento dos tractores cidade real de avanço (vr) e consumo horá- da grade (kg).
em ensaios à tomada de força: rio (Ch) nos ensaios de campo com tracto-
rendimento do motor res e grades de discos em diferentes condi- Este modelo pode ser utilizado na previsão
Ensaios num freio dinamométrico de vários ções de trabalho, permitiu o cálculo do ren- ao dimensionamento tractor-grade de dis-
modelos de tractores Massey-Ferguson da dimento total de tracção (ηtt) através da cos, para condições normais de instalação de
série 3000, de 59 a 81 kW de potência má- aplicação da equação 5. Os resultados obti- culturas de sequeiro no Alentejo, em solos
xima, comprovaram as indicações resultantes dos em solos de textura média para instala- de textura média. Nestas condições é suge-
dos ensaios realizados na estação de testes ção de culturas de sequeiro no Alentejo, re- rida uma relação potência do tractor/largura
alemã DLG, referidos no quadro 1. Assim, velaram um valor médio de 70% em solo da grade de discos de 37,5 a 50 CV /m de
ficou demonstrado que o consumo específico não mobilizado ou em solo gradado e de 60% largura.
do motor (Ce) é um parâmetro previsível e em solo lavrado ou lavrado e gradado [5]. São ainda indicadores de dimensionamento
relativamente pouco variável em determina- Foram admitidos, para o efeito, os valores a capacidade de trabalho e consumo por hec-
das condições de trabalho, nomeadamente médios de consumo específico já referidos tare, os quais desempenharão um papel im-
para o mesmo regime de funcionamento do consoante o grau de utilização do regime do portante no apoio à tomada de decisão do
motor, dentro de intervalos de utilização da motor (270 g/kWh, a 80% do regime nomi- agricultor, não só como referências na esco-
potência acima de 60% (quadro 2; figura 4), nal e 300g/kWh, ao regime nominal) e uma lha do par largura da alfaia-potência do trac-
como é habitual em trabalhos de tracção. É, massa específica média do gasóleo de 840 tor, mas também na gestão correcta do con-
por isso, possível prever o valor desta variável g/L. junto em trabalho, permitindo ao operador
em dois regimes típicos de utilização em ope- aproveitar as possibilidades que os modernos
rações de mobilização do solo: (Eq. 5) equipamentos oferecem, por forma a opti-
mizarem estes dois parâmetros (figura 5).
QUADRO 2 – Consumo específico (g/kWh)
de diferentes condições de trabalho de tractores Onde: ηtt - rendimento total de tracção, cor- As situações de incorrecto dimensionamento
Massey-Ferguson da série 3000 obtido em ensaios respondente ao produto do rendimento me- resultarão em reduzidas capacidades de tra-
à tomada de força [5]
cânico da transmissão pelo rendimento de balho e consumos de combustível por hec-
Grau de utilização da potência nominal tracção (decimal); Ce - consumo específico tare agravados. O limite, no caso de alfaias
60% 90%
do motor (g/kWh); ρg -massa específica pequenas para o tractor, será imposto pela
Grau de utilização
do regime nominal
80% 100% 80% 100% do gasóleo (g/L); T - tracção na barra (kN); velocidade de trabalho, a qual deve garantir
Consumo específico (g/kWh)
υr - velocidade de trabalho (km/h); Ch - con- a segurança e o conforto do operador e a
[260- [300- [260- [280-
Intervalo de variação sumo horário de combustível (L/h); 3,6 - qualidade do trabalho. No caso de alfaias
-280] -330] -290] -302]
no conjunto dos tractores - factor de conversão de unidades. grandes, em que o limite é imposto pela ca-
pacidade de tracção do tractor, a patinagem
Num regime de cerca de 80% do regime 4.7. Das solicitações de tracção das rodas motoras funciona como um fusí-
nominal, utilizado em operações que não ao dimensionamento do tractor vel indicador. Todas estas informações, ve-
exigem toda a potência do tractor e em que O estabelecimento de um modelo de di- locidade, patinagem, capacidade de trabalho
se procura optimizar o consumo de combus- mensionamento tractor-alfaia, baseado na e consumo de combustível, estão disponí-
tível sem comprometer a capacidade de tra- medição do esforço de tracção solicitado em veis ao operador nos sistemas de informação
balho, com a obtenção de um consumo es- condições reais de trabalho, permite aos fa- que equipam muitos dos modernos tracto-
pecífico mínimo e relativamente estável (que, bricantes uma indicação fiável da potência res agrícolas. É preciso sensibilizar os agri-

58 INGENIUM | Março/Abril 2007


AGRONÓMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

A relação geral entre o Cha e ℑ depende do


Ct Cha rendimento global da transformação da ener-
Tracção (ha/h) (L/ha)
gia fornecida ao motor em trabalho realizado
pela alfaia. O rendimento global máximo,
correspondente ao consumo mínimo por
Potência Largura
hectare, pode ser utilizado como referência
na barra da alfaia na avaliação do dimensionamento do con-
junto tractor-alfaia. Este rendimento global
Potência
máximo corresponderá à concretização si-
no motor Largura
da alfaia
multânea do mínimo consumo específico do
motor (Ce), do máximo rendimento mecâ-
Figura 5 – A largura de trabalho da alfaia no estabelecimento da dimensão do tractor (à esquerda) nico da transmissão entre o motor e as rodas
e na avaliação de indicadores de dimensionamento (à direita) (ηm) e do máximo rendimento de tracção

cultores e formar os operadores para que largura de trabalho (ℑ) prende-


ambos possam utilizar os referidos sistemas -se com a possibilidade de Cha Regime nominal
Cha = 1,435 x ℑ – 0,5939
como ferramentas imprescindíveis à tomada comparar diferentes sistemas (L/ha)

de decisão. de mobilização do solo com


80% Regime nominal
diferentes exigências de trac- Cha = 1,2097 x ℑ – 0,2474
5. Interesse prático do estabelecimento de ção, correspondendo, por isso, 10
uma relação entre o esforço de tracção a custos energéticos diferen- 9

e o consumo de combustível por hectare ciados, traduzidos em termos Linha de referência


8
de consumo de combustível 7
A condução correcta do conjunto tractor-al- por hectare. É de esperar que
faia em mobilização do solo permite mini- sistemas de preparação do
mizar o consumo de combustível por hec- solo para instalação de cultu- 6

tare, reduzindo a pequenos intervalos a va- ras baseados na realização de


riação dos principais parâmetros que o de- lavoura, exigente em esforço
terminam e permitindo o estabelecimento de tracção, tenham associa- 0 (kN/m)
de uma relação aproximadamente linear com dos elevados consumos de 0 6 7 8 9 10

a tracção na barra por metro de largura de combustível por unidade de


trabalho da alfaia, para cada regime de fun- área trabalhada, relativamente
cionamento do motor e em cada condição à preparação do solo assente
de solo. em mobilizações superficiais Figura 6
O valor prático inerente à comprovação desta ou em relação a mobilizações Diferentes itinerários de preparação do solo para a sementeira:
desde a lavoura tradicional, passando pelas técnicas de mobilização
relação entre o consumo de combustível por de conservação de solo (fi- reduzida até à sementeira directa.
hectare (Cha) e a tracção por unidade de gura 6).
DOSSIER COMUNICAÇÕES AGRONÓMICA

Figura 7 – Previsão do consumo útil por hectare a partir da tracção na barra por unidade de largura de trabalho da alfaia:
enquadramento na linha de referência correspondente ao máximo rendimento global [5]

dos pneus em interacção com o solo (ηt). riáveis Cha e ℑ, obtidos para diferentes con- global máximo), relativamente às situações
Relativamente ao primeiro, os ensaios de dições de utilização de tractores agrícolas, de solo não mobilizado, como resultado da
tractores na estação de testes alemã DLG, em mobilização de solos de textura média, previsível quebra do rendimento de tracção
cujos resultados são publicados regularmente em sequeiro. nessas condições.
na revista “profi International”, permitem A figura 7 enquadra, com a linha de referên-
estimar, para um grau de utilização da po- cia correspondente ao rendimento global 1 Universidade de Évora, Departamento

tência máxima do motor de cerca de 80%, máximo, as relações entre Cha e ℑ, estabe- de Engenharia Rural; E-mail: [email protected]
um Ce mínimo de cerca de 230 g/kWh [5]. lecidas a partir dos resultados de ensaios de 2 INETI, Laboratório de Medidas Eléctricas

No que se refere ao rendimento total de campo realizados em solo não mobilizado. 3 UTAD, Departamento de Fitotecnia

tracção (ηtt = ηm × ηt), a ASAE Standards Pode comprovar-se a maior aproximação ao e de Engenharia Rural
[6] indica, para tractores de quatro rodas rendimento global máximo, ou seja, à linha
motoras e em solo não mobilizado, um valor de referência, da situação de ensaio com um REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
máximo de cerca de 72%. O rendimento regime de funcionamento do motor de 80%
[1] BOWERS, C. G. JR. (1985) - Southeastern Tillage Energy
global máximo esperado para operações de do regime nominal, relativamente às situa- Data and Recommended Reporting. Transactions of the
mobilização do solo, resultante destas con- ções de ensaio ao regime nominal. ASAE; Vol. 28(3), 731-737.
[2] BOWERS, C. G. JR (1989) - Tillage Draft and Energy
dições optimizadas, conduz ao valor de re- QUADRO 3 – Coeficientes a e b da equação Measurements for Twelve Southeastern Soil Series. Tran-
ferência de consumo por hectare. Qualquer linear (Cha = a + b . ), obtidos a partir sactions of the ASAE; Vol. 32(5), 1492-1502.
dos resultados dos ensaios de campo realizados [5] [3] RIETHMULLER, G. P. (1989) - Draft Requirements of
conjunto tractor-alfaia em operação condu- Tillage Equipment in the Western Australian Whestbelt.
zirá a valores superiores de Cha e, quanto Grau de utilização da potência Agricultural Engineering Australia, Vol. 18, N.os 1 e 2,
nominal do motor 17-22.
mais se afastar este valor do valor de refe- 100% 80% [4] BILLOT, JEAN-FRANÇOIS (1999) - Masse volumique du
rência, mais inadequado será o par tractor- Coeficientes da equação a b a b
carburant. Ensaios de tractores agrícolas no Cemagref,
documento não publicado.
-alfaia ou mais incorrectas serão as regula- Solo não mobilizado -0,5939 1,4350 -0,2474 1,2097 [5] SERRANO, JOÃO M. (2002) - Contribuição para a opti-
ções efectuadas. mização do sistema dinâmico tractor-alfaia em mobili-
Solo gradado 0,2942 1,3822 -0,0782 1,2446 zação do solo. Tese de Doutoramento, Serviços de Re-
Optimizadas as regulações ao nível do re- prografia e Publicações da Universidade de Évora,
Solo lavrado ou
gime do motor e da relação de transmissão lavrado e gradado
1,8454 1,7871 1,4103 1,1854 234.
[6] ASAE STANDARDS, 47th Edition (2000) - ASAE D497.4
da caixa de velocidades, do lastro e da pres- MAR99 - Agricultural Machinery Management Data. St.
são de enchimento dos pneus e dos ajusta- Idêntico diagrama poderá ser elaborado para Joseph, Mich. ASAE, 350-357.
[7] ZHENGPING, WU; KJELGAARD, W. L.; PERSSON, S. P.
mentos ao nível da alfaia, foi possível esta- as condições de solo mobilizado (gradado ou E. (1986) - Machine Width for Time and Fuel Efficiency.
belecer equações de referência para condi- lavrado), aplicando os respectivos coeficien- Transactions of the ASAE; Vol. 29 (6): November-De-
cember, 1508-1513.
ções de trabalho típicas no Alentejo. tes a e b do quadro 3. Será possível também [8] ASAE STANDARDS, 42th Edition (1995) - ASAE D497.2
O quadro 3 apresenta os coeficientes a e b comprovar nestas situações um maior afas- MAR94 - Agricultural Machinery Management Data. St.
Joseph, Mich. ASAE, 335-341.
da equação linear de regressão entre as va- tamento da linha de referência (rendimento

60 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Etar de Vale Faro


J. Matos e Silva *

1. Introdução Para o efeito todos os órgãos constituintes tiches”, sem olhar a modas, apesar de nos
da ETAR foram encerrados numa “caixa” de transportar para uma inevitável referência geo-
A Estação de Tratamento de Águas Residu- betão armado, em cuja cobertura se locali- gráfica pelas cores utilizadas nos alçados.
ais (ETAR) de Vale Faro, localizada no con- zam diversos espaços lúdicos, como campos Estas são o branco dos rebocos pintados e o
celho de Albufeira, integra-se num plano de de ténis, etc.. Por sua vez, os efluentes tra- amarelo, tão típico do sul do País, e da bacia
modernização das instalações de tratamento tados são lançados numa lagoa que constitui Mediterrânea em geral, presente nas faixas
que esta autarquia vem implementando. uma aprazível zona de recreio com uma fauna pintadas que fazem contraste com o branco.
A ETAR em causa, associada à ETAR de em que predominam as aves aquáticas.
Ferreiras e à Estação Elevatória da Balaia, in- Esta fauna serve de controlo indirecto sobre 3. Solução Final
sere-se na modernização da zona Nascente a qualidade do tratamento processado na
de Albufeira. ETAR, pois uma alteração no estado de saúde A solução adoptada de modo a permitir que
No local existia uma ETAR a céu aberto, dos animais será reveladora de insuficiências a nova ETAR cumprisse os objectivos pre-
situação que, progressivamente, foi sendo no funcionamento da ETAR. tendidos atrás descritos, foi considerar que
incompatível com o desenvolvimento urba- A lagoa tem um descarregador de superfície todos os seus órgãos constituintes fossem
nístico da zona, nomeadamente com a cons- que conduz as descargas para uma linha de encerrados numa “caixa” de betão armado,
trução, na sua envolvente e proximidade água localizada na sua proximidade. com cerca de 10.000m2 de área em planta
imediata, de apartamentos turísticos e uni- É, portanto, uma solução com particulares e e 10,0m de altura (Ver Fig. 2).
dades hoteleiras. invulgares preocupações ambientais, como se
Pretendeu-se, então, que a nova ETAR dei- pode verificar analisando as Figuras 1 e 2.
xasse de constituir um impacte altamente
negativo no local e, pelo contrário, servisse 2. Solução Arquitectónica
de área de lazer do aglomerado urbano em
que se iria inserir. Em termos arquitectónicos, foi tida como
preocupação fundamental a dignificação de
um equipamento que, normalmente, é des-
Figura 1 prezado e visto como um mal necessário, Figura 2
Solução Arquitectónica
como um equipamento de carácter indus-
trial, peça disforme no tecido urbano ou rural Só a portaria e o edifício administrativo ficam
e arquitectonicamente desinteressante, como visíveis fora da “caixa” de betão armado que
é vulgar ouvir comentar este tipo de equi- envolve os restantes órgãos da ETAR.
pamentos. A ETAR de Vale Faro tem como principais
Assim sendo, optou-se por uma linguagem órgãos:
arquitectónica longe do estereótipo da ar- O edifício do pré-tratamento; os tanques de
quitectura industrial, sem no entanto esque- arejamento; as câmaras de desfosfatação; o
cer as necessidades funcionais corresponden- edifício dos sopradores e transformação; o
tes a cada um dos compartimentos da ETAR, decantador secundário; o espessador de lamas;
bem como das interligações necessárias entre o edifício de desidratação de lamas; o edifí-
eles. cio de desodorização e reagentes; os filtros
Desta forma, procurou-se jogar com os con- de areia; o depósito de água de lavagem; o
trastes de materiais e dos vãos para criar um depósito de água tratada; o edifício adminis-
certo ritmo. trativo.
Este jogo de cheios e vazios, de avanços e
recuos, confere um dinamismo pró- 4. Solução Estrutural
prio, o que não o impede de
se mostrar bem ancorado 4.1. Fundações
no terreno, transmitindo De acordo com os resultados da prospecção
uma ideia de solidez. geotécnica realizada, no local ocorre a se-
A imagem procura ser aquela que se guinte litologia (Ver Fig. 3):
esperaria de uma arquitectura feita no nos 3,0m superiores, um aterro arenoso
tempo actual, sem maneirismos ou “pas- (SPT de 3 a 5 pancadas);

Março/Abril 2007 | INGENIUM 61


DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

Figura 3
A cobertura é formada por lajes dispostas
em painéis com as dimensões de 7,5m ×
13,5m e constituídas por elementos de betão
pré-fabricados que servem de cofragem a
uma lâmina de compressão betonada “in
situ”. Essas lajes são suportadas por vigas
pré-fabricadas de betão pré-esforçado.
A cobertura apoia-se, perifericamente, nos
muros de suporte de terras (Ver Fig. 4) e,
interiormente, mediante a interposição de
cachorros, nos pilares incorporados, generi-
camente, nas paredes dos tanques que cons-
tituem a parte mais significativa dos órgãos
da ETAR (Ver Fig. 5).
O dimensionamento desses pilares, com
cerca de 10,0m de altura desde a cota da
laje de fundo dos órgãos até à cobertura, foi
efectuado atendendo a que, na direcção do
nos 3,0m subjacentes, um aterro hetero- suas fundações e superiormente na laje de plano das paredes dos tanques, a sua altura
géneo, silto-argiloso, orgânico, de cor negra cobertura da “caixa”, foram ainda dimensio- útil é menor e, portanto, são mais rígidos se-
(SPT de 2 a 3 pancadas); nados, em fase provisória, como consolas gundo essa direcção do que na direcção or-
inferiormente, com uma pujança mínima verticais enquanto a cobertura não estava togonal em que a sua altura útil é próxima
de 4,0m, ocorrem areias finas silto-argilo- executada e havia necessidade de realizar dos 10,0m.
sas (SPT de 11 a 19 pancadas). um terrapleno no tardoz com altura que per- As vigas pré-fabricadas da cobertura são pré-
Como a maior parte dos órgãos são tanques mitisse materializar uma plataforma de su- -esforçadas por pré-tensão por aderência,
e os pilares que suportam a cobertura estão, porte para as gruas que movimentavam os têm secção transversal em forma de “I” e
maioritariamente, inseridos nas paredes dos elementos pré-fabricados da cobertura. apoiam-se nos cachorros do topo dos pilares
tanques, houve que distinguir, em termos Para atenuar os efeitos da fendilhação nas mediante a interposição de aparelhos de
de fundações, duas situações diferentes: paredes e nas lajes de fundo dos tanques, apoio de neoprene (Ver Fig. 6).
a das paredes dos tanques, com cargas sob a acção dos impulsos dos efluentes, con- As referidas vigas suportam painéis de lajes
transmitidas às fundações de cerca de 250,0 siderou-se a armadura a trabalhar a tensões alveoladas pré-fabricadas por pré-tensão por
kN/m (que incluem as reacções dos pila- baixas, o que, na prática, correspondeu a uti- aderência (Ver Fig. 7). Adoptaram-se pai-
res que suportam a cobertura); lizar o aço A400 a trabalhar às tensões habi- néis de 0,25m de espessura solidarizados,
a das lajes de fundo dos tanques, com uma tuais do A235. superiormente, por uma lâmina suplemen-
carga máxima transmitida ao terreno da A solução estrutural da cobertura da “caixa” tar de betão armado com 0,05m de espes-
ordem de 65,0 kN/m2. que envolve os órgãos foi parcialmente ba- sura (lâmina de compressão), perfazendo,
Face às acções referidas e à litologia encon- seada na pré-fabricação, de modo a reduzir assim, uma espessura total de 0,30m. Sobre
trada, considerou-se como solução mais ade- o seu tempo de execução em obra. o banzo superior das vigas “I” e na sua lar-
quada do ponto de vista técnico-económico,
o recurso ao tratamento do terreno com co-
lunas de brita de diâmetro da ordem de
0,60m/0,70m e com um comprimento de
cerca de 5,0m.
As colunas de brita, sob as lajes de fundo
dos órgãos, foram dispostas segundo uma
malha de cerca de 2,50m × 2,50m e, sob
as paredes dos mesmos órgãos, numa qua-
drícula de cerca de 1,30m × 1,30m.
Tal solução permitiu adoptar uma tensão de
contacto admissível da ordem de 0,20 MPa.

4.2. Superestrutura
Os muros de suporte de terras envolventes
que, em fase definitiva, funcionarão como
lajes verticais apoiadas, inferiormente nas Figura 4

62 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Figura 5
No dimensionamento da cobertura e dos
seus apoios utilizou-se um modelo de cál-
culo tridimensional.

5. Conclusões

Os aspectos que tornam singular a ETAR


em causa são:
a sua concepção ecológica, em “caixa” fe-
chada;
a grande dimensão, em planta, do conjunto
dos seus órgãos;
a grande altura dos pilares de suporte da
cobertura e dos muros de suporte perifé-
ricos;
a concepção estrutural da cobertura, com

gura, a lâmina de compressão atinge uma al-


tura de 0,30m, constituindo bandas maciças
de rigidificação da cobertura.
A solução adoptada permitiu evitar o recurso
a cofragens e escoramentos a grande altura,
contribuindo decisivamente para o encurta-
mento do prazo de execução da obra.
Por razões de estanqueidade da cobertura
não se consideraram, nesta, quaisquer jun-
tas de dilatação, o que obrigou a dedicar es-
pecial atenção às acções de origem térmica.
Também o fenómeno da retracção do betão
foi particularmente atendido, tendo-se adop- Figura 7
tado as seguintes disposições construtivas na
betonagem da lâmina de compressão: betonagem dos painéis secundários após o emprego de vigas de betão armado e pré-
utilização de betões pouco fluidos, com estar concluída a betonagem dos painéis esforçado suportando painéis de lajes alveo-
uma baixa relação água/cimento; primários, com um intervalo mínimo de ladas, dispensando, assim, o recurso a co-
adopção de um esquema de betonagem 30 dias entre a betonagem do painel pri- fragens e escoramentos a grande altura.
por painéis alternados de forma aproxima- mário e do primeiro painel secundário a
damente quadrada (painéis primários com ele adjacente; 6. Ficha Técnica
cerca de 25,0 × 25,0 m2 e painéis secun- manutenção, em permanência, de uma to-
dários com cerca de 4 m de largura). alha de água sobre os painéis, logo após a sua Dono de Obra:
Aquando da betonagem, as armaduras dos betonagem, durante pelo menos 15 dias; Câmara Municipal de Albufeira
painéis primários adjacentes não estavam adopção, no betão, de aditivos plastifican- Projectistas:
ligadas; tes adequados. Coordenação Geral: Eng.º Luis Leite Pinto
– Gibb-Law
Engenharia de Processo: Pridesa, S.A.
Fundações e Estrutura: Eng.º José Matos e
Silva, Eng.º Alberto Raposo – Gapres, S.A.
Fiscalização: Proman, S.A.
Empreiteiro: Consórcio BPC/Pridesa/
/Hidralgar

* Engenheiro Civil, Especialista em Geotecnia


e Estruturas, Membro Conselheiro
Figura 6
da Ordem dos Engenheiros

Março/Abril 2007 | INGENIUM 63


DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

A Gestão da Qualidade das Redes Rodoviárias


O Estado da Arte e os Desenvolvimentos Futuros
Adelino Ferreira 1, Luís Picado-Santos 2

Resumo dá especial relevo à gestão das infra-estru- desta política de investimento na rede rodo-
turas rodoviárias. Através da Junta Autó- viária nacional verificam-se duas tendências:
Nesta comunicação é descrito o estado da noma das Estradas (JAE), cuja actividade se as infra-estruturas rodoviárias existentes e a
arte em relação às várias componentes dos encontra actualmente enquadrada pela Es- necessitar de trabalhos de conservação têm
Sistemas de Gestão da Qualidade de Pavi- tradas de Portugal, Entidade Pública Empre- vindo a aumentar; a necessidade de novas
mentos Rodoviários. São também descritos sarial (EP), foi iniciado, em 1990, o desen- infra-estruturas rodoviárias começa a dimi-
os necessários desenvolvimentos futuros volvimento de um Sistema de Gestão de nuir, devido às necessidades mais prementes
nesta área que foram evidenciados nos mais Pavimentos (SGP ou PMS, iniciais de Pa- terem sido já atendidas. Associado a estas
recentes encontros científicos internacionais. vement Management System). Em 2003, a tendências ainda se verifica outro fenómeno:
Por fim, é efectuada uma análise crítica sobre EP decidiu desenvolver um novo SGP para os utentes da rede rodoviária são cada vez
esses desenvolvimentos propostos para o fu- a rede rodoviária sob sua administração. O mais exigentes relativamente à segurança e
turo. sistema tem estado a ser desenvolvido por conforto que as estradas por onde circulam
elementos da administração e também dos proporcionam. Estas tendências e este fenó-
1. Introdução Departamentos de Engenharia Civil da Uni- meno já ocorreram anteriormente em outros
versidade de Coimbra e da Universidade países, tendo resultado numa transferência
A Comissão Europeia publicou, em 2001, o Técnica de Lisboa [2]. A BRISA também de meios financeiros da construção para a
Livro Branco sobre a Política Europeia de tem actualmente em curso o desenvolvi- conservação das infra-estruturas rodoviárias,
Transportes [1] onde refere que os condu- mento e implementação do seu Sistema de algo que começa agora a acontecer em Por-
tores europeus esperam medidas mais ade- Gestão de Pavimentos [3]. tugal. De qualquer forma, mesmo em países
quadas no domínio da segurança rodoviária, Em Agosto de 1999, a Câmara Municipal de que começaram mais cedo, verifica-se que
nomeadamente a melhoria da qualidade das Lisboa e o Departamento de Engenharia Civil os orçamentos disponíveis para a conserva-
estradas. Os transportes, não só são essen- da Universidade de Coimbra assinaram um ção das infra-estruturas rodoviárias quase
ciais à competitividade da nossa economia, protocolo na área da gestão da conservação nunca são suficientes para atender a todas as
como às nossas trocas comerciais, económi- dos pavimentos para o desenvolvimento de necessidades, pelo que os organismos rodo-
cas e culturais. Este sector económico repre- um SGP para o município de Lisboa [4]. viários procuram optimizar a relação capital
senta cerca de 1 milhão de milhões de euros, Este protocolo deu sequência a estudos efec- investido/qualidade do serviço oferecido. Para
ou seja, mais de 10% do produto interno tuados a nível municipal [5], verificando-se tal, como se fez notar, é necessário desenvol-
bruto da União Europeia, e emprega 10 mi- actualmente uma necessidade crescente em ver e implementar eficazes Sistemas de Ges-
lhões de pessoas [1]. Os transportes contri- desenvolver ferramentas de gestão para as tão de Infra-estruturas Rodoviárias. Será tam-
buem igualmente para aproximar os cida- infra-estruturas rodoviárias municipais. bém necessário aumentar os meios financei-
dãos europeus e, enquanto objecto de uma Os incidentes ocorridos durante todo o In- ros para a conservação das infra-estruturas
política comum, constituem um dos funda- verno de 2001 na rede rodoviária portuguesa rodoviárias e dispor de meios humanos es-
mentos do projecto europeu. Esta mobili- em geral, dos quais o mais conhecido é o aci- pecializados no assunto.
dade é assegurada em grande parte pelas dente ocorrido em 4 de Março de 2001 na
infra-estruturas rodoviárias, sendo estas ex- ponte de Entre-os-Rios sobre o rio Douro, 2. Gestão da Qualidade
tremamente importantes para a sustentabi- vieram reforçar a ideia de que é fundamen- de Redes Rodoviárias
lidade social e económica da Europa. Deste tal organizar bem a conservação das infra-
modo, as infra-estruturas rodoviárias reque- -estruturas rodoviárias, nomeadamente im- Os trechos duma rede rodoviária apresentam
rem uma eficiente gestão da sua conserva- plementando Sistemas de Gestão da Con- um ciclo da vida, compreendendo duas fases:
ção com a utilização das tecnologias mais servação eficazes. De facto, Portugal, desde uma primeira fase que termina com a cons-
avançadas do momento. há praticamente duas décadas, tem sido su- trução de um determinado trecho rodoviá-
Também em Portugal, a rede nacional de cessivamente dotado de novas infra-estrutu- rio; uma segunda fase que corresponde à sua
estradas, infra-estrutura de elevado valor pa- ras rodoviárias. O capital investido tem inci- conservação durante um determinado perío-
trimonial, permite a movimentação de pes- dido fundamentalmente na construção de do de vida. A primeira fase compreende um
soas e mercadorias, actividade essencial para novas infra-estruturas rodoviárias, relegando certo número de etapas necessárias à sua re-
o desenvolvimento equilibrado do nosso país. para segundo plano a conservação do patri- alização, nomeadamente o Planeamento, o
A administração rodoviária nacional também mónio rodoviário existente. Em resultado Projecto e a Construção. A segunda fase cor-

64 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

CATÁLOGO
estado superficial dos pa- dida em que passaram a fornecer indicações
OBSERVAÇÃO
DOS PAVIMENTOS DE PATOLOGIAS
vimentos, garantindo, concretas sobre as acções de conservação a
SGP deste modo, uma maior aplicar aos pavimentos [6].
BASE DE DADOS RODOVIÁRIA homogeneidade dos dados Actualmente, são numerosas as instituições
observados. O Catálogo com responsabilidades de gestão de redes
SISTEMA DE AVALIAÇÃO ACÇÕES DE serve também como do- rodoviárias, a nível nacional, regional ou local,
DA QUALIDADE CURTO PRAZO
cumento essencial na for- que planeiam as acções de conservação uti-
mação de técnicos para lizando SGP. Um dos SGP mais divulgados
MODELOS DE SISTEMA DE APOIO
executarem a observação internacionalmente é o denominado SGP
MODELOS DE CUSTOS
COMPORTAMENTO À DECISÃO

dos pavimentos. do DOT (Department Of Transportation)


PLANO DE CONSEVAÇÃO
RELATÓRIO ORÇAMENTAL
Na observação dos pavi- do Arizona, criado no início dos anos 80 e
RELATÓRIO DE QUALIDADE
mentos, um dos equipa- progressivamente melhorado desde então.
mentos mais utilizados é Este SGP, que utiliza modelos probabilísti-
o VIZIROAD [7]. Este cos de previsão do comportamento dos pa-
EXECUÇÃO DAS ACÇÕES
DE CONSERVAÇÃO

equipamento é um sis- vimentos, serviu de referência para o desen-


Figura 1 – Ciclo de gestão da qualidade de redes rodoviárias
tema assistido por com- volvimento de sistemas de outros Estados
putador destinado à re- Americanos como o Kansas, o Connecticut,
colha, por um operador, o Oklahoma e o Alaska, e de países como a
responde a um processo cíclico, ciclo de ges- de informação perceptível visualmente (Fi- Finlândia, a Hungria, a França e Portugal.
tão da qualidade dos pavimentos, o qual en- guras 2 e 3). Outros SGP utilizam modelos determinís-
globa, entre outras tarefas, a observação dos ticos de previsão do comportamento dos pa-
pavimentos tendo como referência um catá- vimentos, como é o caso do sistema HDM-
logo de patologias, a utilização de um SGP -4 do Banco Mundial [8, 9] e do sistema do
que permite definir um programa de conser- DOT do Nevada [10, 11].
vação, um relatório orçamental e um relató- Um SGP pode definir-se como um conjunto
rio de qualidade, e a execução das acções de de ferramentas que ajudam o gestor da rede
conservação em cada um dos trechos rodo- rodoviária a determinar as estratégias mais
viários. Neste artigo faz-se referência, prin- económicas que permitam manter os pavi-
cipalmente, à segunda fase do ciclo de vida mentos em condições de utilização. Os SGP
dos trechos rodoviários (Figura 1). têm como objectivo a obtenção, através da
aplicação de processos estruturados e siste-
2.1. Observação dos Pavimentos matizados, do maior benefício possível da
Figura 2 – Equipamento VIZIROAD
A observação dos pavimentos tendo como distribuição dos recursos do sector rodoviá-
referência o Catálogo de Patologias, tem rio, a dois níveis:
como objectivo recolher periodicamente um 1. Nível da rede;
conjunto de dados relativos à qualidade dos 2. Nível de projecto.
pavimentos. Para isso, é necessário definir o
equipamento adequado para a observação A gestão de pavimentos ao nível da rede tem
de cada patologia dos pavimentos, além da como objectivo definir uma política de con-
respectiva metodologia de observação. Pos- servação para toda a rede rodoviária. Para o
teriormente, os dados resultantes da obser- desenvolvimento de um sistema de gestão
vação dos pavimentos, bem como outras in- ao nível da rede será necessário obter infor-
formações, nomeadamente a identificação e mação do conjunto da rede rodoviária. A
referenciação dos trechos rodoviários, são gestão de pavimentos ao nível de projecto
transferidos para a Base de Dados Rodoviá- Figura 3 – Pormenor das teclas do VIZIROAD baseia-se na tomada de decisões de carácter
ria (Figura 1), os quais permitirão efectuar técnico que resultam em acções a realizar
a avaliação da qualidade dos pavimentos com 2.2. Sistemas de Gestão de Pavimentos em trechos específicos da rede rodoviária.
o objectivo de determinar as acções de con- Os primeiros SGP surgiram logo nos anos A gestão a este nível implica um estudo in-
servação a aplicar a cada trecho rodoviário. 60, suportados por computadores de gran- dividual de cada trecho rodoviário, sendo
No Catálogo de Patologias dos Pavimentos des dimensões, para armazenar dados e cal- necessário recolher informação detalhada
ilustram-se os diferentes tipos de patologias cular indicadores sobre produtividade da sobre o trecho considerado.
observáveis nos pavimentos, considerados mão-de-obra, necessidade de materiais, cus- Um SGP é genericamente constituído pelas
mais representativos para a avaliação da sua tos de manutenção, etc.. A partir dos anos seguintes componentes principais (Figura 1):
qualidade. Com este documento pretende- 70, os SGP começaram a tornar-se instru- Base de Dados Rodoviária; Sistema de Ava-
se reduzir a subjectividade na observação do mentos de apoio directo à decisão, na me- liação da Qualidade dos Pavimentos; e Sistema

Março/Abril 2007 | INGENIUM 65


DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

de Avaliação de Estratégias de Conservação, futuro dos pavimentos (tráfego e condições Não é simples definir a ponderação a atri-
também designado mais genericamente por climáticas). buir a cada parâmetro;
Sistema de Apoio à Decisão. Para poderem A acumulação de informação na BDR, de- Um índice global não fornece informação
funcionar, estas componentes necessitam de vido às sucessivas campanhas de auscultação detalhada sobre as causas do estado dos
ferramentas complementares como os Mo- dos pavimentos, permite o desenvolvimento pavimentos.
delos de Previsão do Comportamento dos de modelos de previsão do comportamento
Pavimentos e o Modelo de Custos, onde são dos pavimentos e o melhoramento destes, A análise paramétrica consiste na definição
definidos os custos das intervenções de con- sempre que existe mais informação relevante de valores ou intervalos de valores para cada
servação, bem como outros que podem afec- para a actualização dos modelos. um dos parâmetros medidos ou observados,
tar a avaliação das estratégias de conservação, em função das consequências previsíveis para
como é o caso dos custos para os utentes de- 2.2.2. Sistema de Avaliação da Qualidade os utentes ou para o pavimento. Este tipo
vido à utilização das infra-estruturas rodo- dos Pavimentos de análise tem como inconveniente o facto
viárias. A avaliação da qualidade estrutural e funcio- de ser muito desagregada, embora permita
nal dos pavimentos é uma componente muito uma definição mais correcta do tipo de in-
2.2.1. Base de Dados Rodoviária importante dos SGP, principalmente para a tervenção a realizar nos pavimentos, através
Uma Base de Dados Rodoviária (BDR) pode definição de prioridades na realização dos da utilização das causas específicas que ori-
ser definida como sendo um conjunto de in- trabalhos de conservação e para o desenvol- ginam cada estado do pavimento.
formação estruturada, integrada e coerente, vimento de modelos de previsão do com- Na análise mista combinam-se os diferentes
satisfazendo requisitos de segurança e de portamento dos pavimentos. Um sistema de valores ou os diferentes intervalos de valo-
confidencialidade, armazenada em meios in- avaliação da qualidade (SAQ) dos pavimen- res dos diversos parâmetros de estado adop-
formáticos que possibilitam o acesso por tos permite, a partir da informação armaze- tados, definindo-se um índice de qualidade
parte de utilizadores com diferentes pers- nada e manipulada pela BDR, avaliar o es- para cada pavimento através da utilização de
pectivas. A BDR é uma das componentes tado dos pavimentos da rede rodoviária. A matrizes de múltiplas entradas. Esta última
mais importantes dos SGP, sendo constituí- avaliação da qualidade dos pavimentos ro- análise pretende eliminar os inconvenientes
da, fundamentalmente, pelos seguintes gru- doviários baseia-se em três tipos diferentes da análise global e manter, tanto quanto pos-
pos de dados: identificação e referenciação; de análise dos parâmetros de estado: análise sível, as vantagens da análise global e da aná-
classificação dos trechos rodoviários; geome- global, análise paramétrica e análise mista. lise paramétrica.
tria da rede; história da vida dos pavimen- Na análise global, os parâmetros de estado Os aspectos mais importantes no processo
tos; avaliação da qualidade dos pavimentos; são agregados de modo a encontrar uma nota de avaliação da qualidade dos pavimentos são
caracterização do tráfego; caracterização das global representativa do estado dos pavimen- a escolha dos parâmetros de estado e a defi-
condições climáticas; acções de conservação tos. As vantagens da análise global podem nição dos correspondentes intervalos de va-
e os correspondentes custos unitários; res- ser sintetizadas nos seguintes pontos: lores. Neste processo é fundamental a exis-
trições orçamentais; e obras de construção Facilita a classificação dos pavimentos atra- tência de informação fiável e o conhecimento
e conservação que se vão realizando na rede vés de uma única nota atribuída a cada tre- e experiência dos técnicos para avaliar a con-
(Figura 4). cho de pavimento; tribuição dos diferentes parâmetros para o
Permite uma represen- estado dos pavimentos. Os parâmetros de
tação gráfica clara e efi- estado utilizados nos SGP mais completos a
ciente do estado dos pa- nível de redes nacionais são os seguintes: o
vimentos da rede rodo- fendilhamento isolado ou ramificado; a pele
viária, muito útil para os de crocodilo; as covas; as peladas; as rodei-
agentes de decisão; ras; a capacidade estrutural dos pavimentos;
Permite facilmente rela- a irregularidade longitudinal; e a aderência.
cionar a qualidade dos pa- A definição de uma metodologia de avalia-
vimentos com a avaliação ção da qualidade dos pavimentos deve ser:
efectuada pelos utentes Objectiva e fiável: deve fornecer informa-
através da sua sensibilidade ção sobre o estado global da rede rodoviá-
Figura 4 – Exemplo de uma BDR ao conforto e segurança; ria, deve utilizar critérios racionais e deve
Simplifica o desenvolvi- permitir a comparação dos vários trechos
A BDR constitui o núcleo base de qualquer mento de modelos de previsão do compor- rodoviários;
SGP, permitindo armazenar, tratar, actua- tamento dos pavimentos. Dinâmica: deve permitir a actualização a
lizar e disponibilizar informação sobre a rede Podem referir-se os seguintes inconvenien- partir de modelos de previsão do compor-
rodoviária. Esta informação permite uma tes: tamento dos pavimentos e deve permitir
correcta caracterização da rede rodoviária A mesma nota global pode representar rea- determinar a vida residual do pavimento;
relativamente à sua actual qualidade e aos lidades diferentes, porque os parâmetros Simples e amigável: deve permitir um diá-
factores que influenciam o comportamento podem compensar-se entre si; logo simples e objectivo com o utilizador;

66 INGENIUM | Março/Abril 2007


DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

estes modelos são usa- racterísticas variam ao longo do tempo, ter-


dos para prever o es- se-ia que as quantificar ao longo dos anos,
tado futuro dos pavi- o que é uma tarefa complicada em alguns
mentos da rede e, assim, casos.
avaliar as necessidades Posteriormente ao ensaio AASHTO [13]
de intervenção nos tre- muita investigação foi realizada para melho-
chos da rede ao longo rar as metodologias de modelação do com-
dos vários anos que portamento dos pavimentos ao longo do
constituem o período tempo. Actualmente, estes modelos podem
de planeamento. Ao ní- ser desenvolvidos utilizando as seguintes téc-
vel de projecto, estes nicas: análise de regressão; metodologia Baye-
modelos são usados para siana; processo de Markov homogéneo; pro-
a tomada de decisões cesso de Markov não homogéneo; e processo
de carácter técnico que semi-Markoviano. A análise de regressão per-
resultam em acções a mite desenvolver modelos determinísticos,
realizar em trechos es- enquanto que o processo de Markov homo-
Figura 5 – Avaliação da qualidade dos pavimentos pecíficos da rede. géneo, o processo de Markov não homogé-
Relativamente às va- neo e o processo semi-Markoviano permi-
riáveis envolvidas, estes tem desenvolver modelos probabilísticos. A
Não muito dispendiosa: deve ter custos modelos podem ser classificados em mode- metodologia Bayesiana tanto pode ser utili-
aceitáveis para a entidade gestora da rede los relativos e modelos absolutos. Os mode- zada no desenvolvimento de modelos deter-
rodoviária. los relativos são aqueles que permitem pre- minísticos como probabilísticos, juntamente
ver o estado futuro dos pavimentos com base com uma das restantes técnicas.
Na Figura 5 apresenta-se a rede rodoviária em parâmetros de estado (degradações, ir- A regressão é uma técnica estatística usada
de Coimbra, onde os trechos foram avalia- regularidade longitudinal, aderência, defle- para relacionar os vários parâmetros inter-
dos através de um índice global de qualidade, xão, etc.) medidos ao longo dos anos em que venientes nos modelos de comportamento
na legenda da figura identificado por PSI, os pavimentos se encontram em serviço. dos pavimentos. Obtém-se a equação da
que são as iniciais de Present Serviceability Normalmente, estes modelos têm apenas curva através da minimização das diferenças
Index, que basicamente significa índice das uma variável independente: o tempo (anos entre os pontos observados e os correspon-
condições de serviço que o trecho rodoviá- de serviço) ou o tráfego (número acumulado dentes pontos na curva a determinar. A Fi-
rio apresenta actualmente. de eixos padrão). Nos modelos absolutos são gura 6 representa um modelo de previsão
utilizadas várias variáveis independentes que do comportamento dos pavimentos desen-
2.2.3. Modelos de Previsão do Comporta- pretendem explicar o processo de degrada- volvido com base na análise de regressão.
mento dos Pavimentos ção dos pavimentos (es-
Um Modelo de Previsão do Comportamento pessura das camadas, Conservação corrente
dos pavimentos é uma representação mate- módulos de deforma-
ÍNDICE DE QUALIDADE

mática, que pode ser utilizada para a previ- bilidade, coeficientes Conservação
são do comportamento futuro dos pavimen- de Poisson, caracterís-
tos, a partir do estado actual desses pavimen- ticas das misturas, clima,
tos, dos factores de degradação e dos efeitos tráfego, etc.). Reabilitação
resultantes das acções de conservação. A escolha entre o de- TEMPO
Estes modelos são genericamente classifica- senvolvimento e im-
Figura 6 – Representação determinística da aplicação de acções de conservação
dos em modelos probabilísticos e modelos plementação de mode-
determinísticos [12]. Esta classificação é ba- los relativos ou absolu-
seada nos princípios de explicação do fenó- tos depende, principalmente, do objectivo A metodologia Bayesiana permite combinar,
meno da degradação dos pavimentos como que se pretende atingir com a utilização dos por análise estatística, dados objectivos (dados
de carácter probabilístico ou determinístico. modelos e da existência ou não de informa- observados nos pavimentos) e informação
Os modelos determinísticos podem ser sub- ção sobre as variáveis independentes. Nos subjectiva (conhecimento de peritos rodo-
divididos em modelos empíricos, modelos modelos absolutos existe uma maior quan- viários) para o desenvolvimento de modelos
mecanicistas (baseados nos modelos físicos) tidade de variáveis envolvidas, sendo o seu de previsão do comportamento dos pavi-
e modelos empírico-mecanicistas. conhecimento mais problemático para as es- mentos [14]. Inicialmente, é fornecido aos
Estes modelos, em termos do âmbito de apli- tradas já construídas. Nas estradas em que peritos um conjunto de dados com o objec-
cação, podem classificar-se em modelos de houve um acompanhamento do processo tivo de homogeneizar os conhecimentos (fo-
aplicação ao nível da rede e modelos de apli- desde o início, pode ter-se informação sobre tografias que representam a situação corres-
cação ao nível de projecto. Ao nível da rede, estas variáveis, mas como algumas destas ca- pondente a cada valor de cada um dos pa-

68 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

râmetros de estado; histogramas que mostram a distribuição das va- QUADRO 1


Modelos de previsão do comportamento dos pavimentos
riáveis do modelo; o intervalo de variação de cada parâmetro de es-
SGP ou ESTUDO NÍVEL MODELO TÉCNICA
tado, etc.). Numa segunda fase, os peritos rodoviários são confron-
HDM-4 Determinístico:
tados com um conjunto de perguntas cujas respostas serão função Banco Mundial
Rede e Projecto
Empírico-mecanicista Relativo
Regressão
dos seus conhecimentos (por exemplo: estimativa do valor do pa- UKPMS
Rede Nacional Determinístico Regressão
râmetro fendilhamento na escala de 0 a 10 em função da idade do Reino Unido
BELMAN Rede Nacional
pavimento, do tráfego e da percentagem de betume da camada de Dinamarca e Municipal
Determinístico Regressão
desgaste). Numa terceira fase, são analisados os dados em conjunto WSPMS Rede Estatal Determinístico:
Regressão
para a determinação do modelo. Washington, EUA e Projecto Empírico-mecanicista Relativo
O Processo de Markov homogéneo permite definir probabilidades de Suécia Rede
Determinístico:
Regressão
Relativo
transição de estado dos pavimentos [15]. Na Figura 7, Pijk é a proba- Rede Nacional Determinístico:
RoSyPMS Regressão
bilidade de transição do estado i para o estado j devido à aplicação da e Municipal Empírico-mecanicista Relativo
acção de conservação k. Pijk é também a proporção de pavimentos que NevadaPMS
Rede Estatal
Determinístico:
Regressão
EUA Empírico-mecanicista Relativo
se encontram no estado i e que transitam para o estado j no ano se-
EP
guinte devido à aplicação da acção de conservação k. Portugal
Rede Nacional Determinístico Regressão

Determinístico:
Estudo C-SHRP Regressão +
t=2 Projecto Empírico-mecanicista
t=0 t=1 Canadá Met. Bayesiana
Relativo/Absoluto
P11k
P12k SouthDakotaPMS Determinístico: Regressão +
Rede Estatal
P13k EUA Empírico-mecanicista Relativo Met. Bayesiana
P14k P41k ArizonaPMS Markov
Rede Estatal Probabilístico
P42k EUA homogéneo
P43k
OklahomaPMS Markov
P44k Rede Estatal Probabilístico
EUA homogéneo
KansasPMS Markov
Figura 7 – Representação probabilística da aplicação de acções de conservação Rede Estatal Probabilístico
EUA homogéneo
AlaskaPMS Markov
Rede Estatal Probabilístico
EUA homogéneo
No processo de Markov não homogéneo considera-se que as proba- MicroPAVER
Rede Estatal Probabilístico
Markov
EUA homogéneo
bilidades de transição variam de ano para ano, o que está mais de
HIPS Markov
acordo com a realidade, já que o tráfego (volume, taxa de cresci- Finlândia
Rede Nacional Probabilístico
homogéneo
mento, percentagem de veículos pesados, etc.) e as condições am- GiRR Markov
Rede Nacional Probabilístico
bientais (temperatura, precipitação, etc.) variam ao longo dos anos. França homogéneo
HPMS Markov
Sendo assim, o processo de degradação dos pavimentos é definido Hungria
Rede Nacional Probabilístico
homogéneo
por uma sequência de matrizes de probabilidades de transição. SIGPAV Markov homogéneo
Rede Municipal Probabilístico ou Determinístico
O processo semi-Markoviano é uma variante do processo de Ma- Portugal ou Regressão
rkov homogéneo em que se consideram igualmente as probabilida- Estudo Manitoba
Projecto Probabilístico Semi-Markov
Canadá
des de transição entre os diferentes estados do pavimento, mas no Estudo Ontário Markov
Rede Nacional Probabilístico
qual o tempo não é fixo. Um pavimento que se encontra no estado Canadá não homogéneo
i transita para o estado j num determinado tempo que é variável e Estudo Belgrado
Rede Nacional Probabilístico
Markov
Jugoslávia não homogéneo
segue uma distribuição probabilística.
No Quadro 1 apresentam-se os diferentes tipos de modelos de pre- QUADRO 2
Níveis de aplicação dos modelos
visão do comportamento dos pavimentos que são utilizados na ges-
tão da conservação de pavimentos rodoviários [6]. Os modelos pro- MODELO DE COMPORTAMENTO
NÍVEL DE GESTÃO

babilísticos baseados no processo de Markov homogéneo são utili- REDE NACIONAL REDE MUNICIPAL PROJECTO
Absoluto Muito utilizado
zados em alguns SGP americanos e europeus. A metodologia Baye-
siana é utilizada juntamente com a análise de regressão no SGP do Determinístico Relativo - estrutural Utilizado Utilizado Pouco utilizado

South Dakota e aparece também no estudo C-SHRP. O processo Relativo - funcional Utilizado Utilizado

de Markov não homogéneo apenas foi utilizado no Estudo Ontário Metodologia Bayesiana Utilizado Pouco utilizado

e no Estudo Belgrado. Os restantes SGP utilizam modelos deter- Markov homogéneo Utilizado Utilizado
Probabilístico
minísticos de previsão do comportamento dos pavimentos. Markov não homogéneo Pouco utilizado Pouco utilizado
No Quadro 2 são indicados os níveis de aplicação dos vários tipos de Semi-Markoviano Pouco utilizado Pouco utilizado
modelos de previsão do comportamento dos pavimentos. Os mode-
los determinísticos absolutos, que utilizam variáveis independentes ao longo dos anos em que os pavimentos se encontram em serviço,
relacionadas com as características mecânicas das camadas dos pavi- tais como o estado superficial, a irregularidade, etc., são bastante uti-
mentos, são muito utilizados na gestão de pavimentos ao nível de lizados na gestão de pavimentos ao nível da rede, podendo ser tam-
projecto, sendo menos utilizados na gestão ao nível da rede. Os mo- bém utilizados ao nível de projecto no caso de incluírem parâmetros
delos determinísticos relativos, que utilizam parâmetros observados estruturais, como por exemplo a deflexão.

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Relativamente aos modelos probabilístico, ciados por entidades externas, tal como acon- tes que se verificam em todos os anos; os
verifica-se que estes são apenas utilizados na tece em alguns países em vias de desenvol- custos para os utentes já originam que a qua-
gestão de pavimentos ao nível da rede. Des- vimento. lidade dos pavimentos seja elevada no fim
tes, os modelos desenvolvidos com base no Os custos para os utentes decorrem da cir- do período de planeamento.
processo de Markov homogéneo são os mais culação dos veículos nas estradas e são de-
utilizados. A metodologia Bayesiana também pendentes do tráfego e do estado dos pavi- 2.2.5. Sistema de Apoio à Decisão
é bastante utilizada no desenvolvimento de mentos. Estes custos podem ser agrupados O Sistema de Avaliação de Estratégias de
modelos probabilísticos quando associada ao em seis grupos distintos: custos de operação Conservação, também designado mais gene-
processo de Markov homogéneo. dos veículos; custos do tempo de viagem dos ricamente por Sistema de Apoio à Decisão
No relatório final da acção COST 324 [16] veículos motorizados; custos dos acidentes; (SAD), permite definir um programa de
está implícita a recomendação de modelos custos dos impactos ambientais; e outros cus- conservação, um relatório orçamental e um
determinísticos, sendo sugeridas as seguin- tos. Os custos de operação dos veículos in- relatório da evolução do estado dos pavimen-
tes recomendações para o desenvolvimento cluem os custos das seguintes componentes: tos. O programa de conservação deve con-
de modelos de previsão do comportamento combustível; pneus; peças; óleos e lubrifican- ter informação sobre que trechos rodoviá-
dos pavimentos: tes; horas de mão-de-obra; desvalorização do rios devem ser conservados, que tipo de
A informação deve ser recolhida periodi- veículo; juros de empréstimos; e gestão do acção de conservação deve ser aplicada a
camente e detalhada quanto necessária (os veículo. No desenvolvimento do SGP do cada trecho e quando deve ser executada,
modelos devem ser utilizáveis tanto ao DOT do Nevada [11] chegaram à conclusão de modo a garantir que a rede rodoviária fica
nível da rede como ao nível de projecto); que a consideração dos custos para os uten- acima de determinados níveis mínimos de
A informação deve ser medida em secções tes implicava um esforço financeiro muito qualidade em cada ano do período de pla-
representativas de toda a rede rodoviária, elevado, sobretudo devido à enorme quanti- neamento. O relatório orçamental deve con-
tendo em consideração o tipo de rede (rede dade de informação que é necessária para ter informação sobre o orçamento anual ne-
principal, rede secundária, etc.). As sec- obter um modelo que represente bem aque- cessário para executar o programa de con-
ções monitorizadas deverão ser represen- les custos. Por este motivo, numa primeira servação. O relatório da evolução do estado
tativas dos diferentes tipos de pavimentos fase, decidiram não os incluir na análise dos dos pavimentos deve conter informação sobre
e deverão representar os pavimentos com custos no ciclo de vida dos pavimentos. o estado previsível dos pavimentos em cada
diferentes idades; O valor residual dos pavimentos no fim do ano do período de planeamento se for exe-
Deverão ser desenvolvidos modelos dife- período de planeamento pode ser conside- cutado o programa de conservação.
rentes para diferentes tipos de redes ro- rado como o valor financeiro da vida útil es- Esta componente dos SGP utiliza a infor-
doviárias; perada que resta ao pavimento antes de ser mação sobre os pavimentos armazenada na
Os modelos deverão ser desenvolvidos se- necessário aplicar uma nova acção de reabi- BDR, nomeadamente informação sobre a
paradamente para os sete parâmetros re- litação. geometria e qualidade dos pavimentos e in-
presentativos do estado do pavimento (ir- Na publicação Save your country’s roads [17] formação sobre os custos da execução das
regularidade longitudinal, fendilhamento é dada ênfase à importância da conservação acções de conservação, e utiliza também mo-
superficial, fendilhamento estrutural, de- da rede rodoviária através da seguinte frase: delos de previsão do comportamento dos
flexão, estado superficial e aderência) e “for every dollar not invested in road main- pavimentos de modo a definir programas de
para os três diferentes tipos de camadas tenance, road users waste three dollars on conservação, a curto, médio ou longo prazo,
estruturais que um pavimento pode con- extra transport costs, and roads must still be tendo como objectivo a minimização dos
ter (betuminosas, rígidas e granulares); repaired”. Isto significa que são os utentes custos na presença de restrições de quali-
Os modelos deverão ser melhorados à me- que pagam a falta de investimento na qua- dade dos pavimentos. Um outro objectivo
dida que se dispõe de mais informação lidade da rede. pode ser a maximização da qualidade de toda
sobre os pavimentos; A consideração dos custos para os utentes, a rede rodoviária na presença de restrições
Os modelos de previsão do comportamento por terem uma enorme contribuição no valor orçamentais.
dos pavimentos que forem desenvolvidos dos custos totais, origina um maior investi- O SGP desenvolvido para o DOT do Ari-
deverão ser utilizados para melhorar os pro- mento em conservação de modo a manter zona [18] foi o primeiro sistema deste tipo
cedimentos de projecto de pavimentos. os pavimentos num nível elevado de quali- que efectua a programação das actividades
dade, nível, este, diferente de trecho para de conservação através de um sistema de
2.2.4. Modelo de Custos trecho em função dos seus atributos. optimização, denominado NOS (Network
O Modelo de Custos deve considerar os cus- Em relação ao valor residual dos pavimen- Optimization System). Este sistema de op-
tos de conservação, os custos para os uten- tos, verifica-se que tem pouca influência na timização permite analisar a sensibilidade da
tes da rede rodoviária e o valor residual dos determinação das intervenções de conserva- evolução do estado dos pavimentos com a
pavimentos no fim do período de planea- ção. Isto acontece pelas seguintes razões: o adopção de diferentes estratégias de conser-
mento. Pode ainda considerar os custos ini- valor residual dos pavimentos, numa análise vação, através da utilização de modelos de
ciais de construção no caso de se pretender a preços correntes, tem pouco significado previsão do comportamento dos pavimen-
avaliar novos projectos de construção finan- em comparação com os custos para os uten- tos. Permite, também, definir programas de

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conservação a médio e longo prazo, consti- então é necessário efectuar a ordenação dos necessitam de intervenção depois do último
tuindo uma ferramenta de apoio à gestão di- projectos. Esta ordenação pode ser efectuada ano do período de planeamento.
nâmica e plurianual da conservação dos pa- por critérios técnicos (por exemplo, em fun- A partir daqui o procedimento é idêntico ao
vimentos da rede rodoviária. Devido ao ca- ção das degradações ou do tráfego), por cri- efectuado para a programação a um ano. Para
rácter inovador deste sistema, Golabi e os térios económicos (por exemplo, através da os trechos rodoviários que necessitam de in-
seus colaboradores ficaram em primeiro lugar relação benefício/custo ou do valor actuali- tervenção no ano 1, o passo seguinte é de-
no Edelman Award Competition of the Ins- zado líquido), por critérios administrativos (a terminar a acção de conservação a aplicar em
titute of Management Sciences, pelo artigo administração, face a determinadas políticas cada um deles. Como normalmente o custo
publicado em 1982. Muitos dos SGP im- de conservação, dá prioridade a alguns pro- de todas as intervenções excede o orçamento
plementados posteriormente nos EUA e na jectos) ou por critérios mistos (Figura 8). disponível, então é necessário efectuar a or-
Europa foram desenvolvidos com denação dos projectos através de
base neste. um determinado critério. Sabendo
Valor de qualidade
Nos SGP, a optimização é utilizada de cada trecho rodoviário as acções de conservação a aplicar a
para seleccionar a melhor estratégia cada um destes trechos rodoviários,
ÍNDICE DE QUALIDADE

de conservação para cada um dos Grupo 2 - trechos que não necessitam de intervenção imediata já se pode saber o ano da próxima
trechos rodoviários, tendo em con- intervenção através da utilização dos
sideração determinados critérios e modelos de previsão do comporta-
tendo como objectivo minimizar cus- Nível tem de ser reabilitado
mento dos pavimentos.
tos ou maximizar benefícios. Se- Grupo 1 - trechos que necessitam de intervenção imediata Na programação plurianual por nível
gundo Golabi [18], durante o pri- ANO 0
de intervenção variável (Figura 10),
meiro ano de utilização do sistema o ano em que as acções de conser-
Figura 8 – Programação a um ano por níveis mínimos de qualidade
NOS no Estado do Arizona foram vação são executadas não é definido
poupados 14 milhões de dólares. com base apenas em níveis mínimos
Em termos de programação das actividades A programação plurianual da conservação de qualidade. Esta metodologia de progra-
de conservação, existem três metodologias dos pavimentos consiste na determinação do mação da conservação define em simultâneo
diferentes [6]: tipo de intervenção e o momento em que o tipo de intervenção para cada trecho rodo-
1. Metodologia de programação a um ano esta deve ser executada para cada um dos viário e o momento da sua execução, tendo
por níveis mínimos de qualidade; trechos rodoviários. Portanto, é necessário em consideração um determinado objectivo
2. Metodologia de programação plurianual determinar quais os trechos rodoviários que e respeitando determinadas restrições de
por níveis mínimos de qualidade; vão ser sujeitos a intervenções no ano se- qualidade. Esse objectivo pode ser, por exem-
3. Metodologia de programação plurianual guinte e nos restantes anos do período de plo, a minimização dos custos ou a maximi-
por nível de intervenção variável. planeamento. Neste tipo de programação da zação do desempenho da rede rodoviária ou,
Na primeira metodologia de programação conservação dos pavimentos já é necessário então, a maximização da relação benefício/
da conservação, os pavimentos, depois de considerar modelos de previsão do compor- custo. Este tipo de metodologia de progra-
avaliados em termos de qualidade estrutu- tamento dos pavimentos. mação da conservação tem em consideração
ral e funcional, são separados em dois gru- Na programação plurianual por níveis míni- que, normalmente, é economicamente des-
pos: os que necessitam de intervenção ime- mos de qualidade (Figura 9), os trechos ro- vantajoso deixar degradar os pavimentos até
diata; e os que só necessitam de intervenção doviários são separados em vários grupos: os ao seu limite mínimo de qualidade para de-
no futuro. A Figura 8 pretende representar que necessitam de intervenção no ano 1; os pois ser reabilitado. Por exemplo, a conser-
a separação do conjunto dos trechos rodo- que necessitam de intervenção no ano 2; os vação corrente permite retardar a degrada-
viários nestes dois grupos através da utiliza- que necessitam de intervenção no ano 3;...; ção dos pavimentos prolongando a sua vida
ção de um nível mínimo de qualidade. Na- os que necessitam de intervenção no último útil antes de ser reabilitado. Outras acções
turalmente, podem ser utilizados vários ní- ano do período de planeamento; e os que de conservação permitem diminuir a taxa de
veis de qualidade tendo em degradação dos pavimentos
consideração as diferentes prolongando o tempo em que
Período de planeamento
acções de conservação. estes se mantêm em estados
Depois de definir quais os tre- aceitáveis de qualidade.
ÍNDICE DE QUALIDADE

Trecho 1

chos rodoviários que necessi- Trecho 2 A programação plurianual por


tam de uma intervenção ur- nível de intervenção variável
gente, o passo seguinte é de- pode ser efectuada separada-
terminar a acção de conser- Nível tem de ser reabilitado
mente para cada trecho ro-
vação a aplicar em cada um doviário. No entanto, a es-
deles. Como, em geral, o custo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
tratégia óptima de conserva-
ANOS
de todas as intervenções ex- ção para cada trecho rodoviá-
Figura 9 – Programação plurianual por níveis mínimos de qualidade
cede o orçamento disponível, rio determinada deste modo

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CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Planeamento da continuidade num pro-


Período de planeamento jecto de desenvolvimento de um SGP em
Estratégias de conservação relação à tecnologia e às pessoas interve-
ÍNDICE DE QUALIDADE

Trecho 1
Figura 10 nientes.
Programação
plurianual por Relativamente à formação e informação em
nível de gestão da conservação de pavimentos, já se
intervenção
Nível tem de ser reabilitado variável está numa fase intermédia. Em Portugal,
existem cursos de Mestrado e Pós-gradua-
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 ção a funcionar há vários anos que abordam
ANOS estes assuntos. A utilização da Internet tam-
bém é bastante importante, não só para pos-
pode não optimizar a utilização dos fundos temas de investigação relativamente à ges- sibilitar uma formação complementar e ac-
públicos em termos globais. Sempre que seja tão da qualidade das redes rodoviárias: tualizada dos técnicos rodoviários como, por
possível, é essencial considerar o conjunto Melhor formação e informação em gestão esta via, fazer com que os decisores enten-
de todos os trechos rodoviários e todos os da conservação de pavimentos; dam a necessidade de apoiarem a conserva-
anos do período de planeamento. Revisão e melhoramento dos actuais ção das redes rodoviárias e, consequente-
A metodologia de programação das activi- SGP; mente, disponibilizarem os respectivos meios
dades de conservação mais eficaz é a progra- Melhorar a confiança na informação reco- financeiros.
mação plurianual por nível de intervenção lhida sobre os pavimentos; Em relação à revisão e melhoramento dos
variável associada a modelos de optimização Maior utilização de contratos de conserva- actuais SGP, em Portugal isto está a ser feito,
determinísticos que considerem como variá- ção baseados em indicadores de desempe- especialmente no que respeita ao SGP da
vel de decisão a aplicação ou não de deter- nho estabelecidos entre as administrações administração rodoviária nacional.
minada acção de conservação a cada trecho rodoviárias e empresas privadas (Parcerias Relativamente à confiança na informação re-
rodoviário. Em Portugal, o SGP da adminis- Público-Privadas); colhida sobre os pavimentos para utilização
tração rodoviária nacional [19] e alguns SGP Desenvolvimento de modelos de custos nos SGP, considera-se que os organismos
municipais [5, 20, 21] estão a ser desenvol- para os utentes; rodoviários devem evoluir para a utilização
vidos com base numa metodologia idêntica Melhoramento dos modelos de previsão de sistemas de aquisição automática de dados.
de programação das actividades de conser- do comportamento dos pavimentos para Sendo assim, será sempre necessário proce-
vação. Na Figura 11 apresenta-se um exem- cada parâmetro de estado, com a separa- der à certificação desses equipamentos e à
plo de intervenções de conservação reco- ção dos efeitos do tráfego, dos factores cli- sua calibração na fase de recolha de dados.
mendadas por um SAD, para serem execu- máticos e da interacção entre tráfego e No que respeita à privatização da conserva-
tadas no primeiro ano do período de plane- factores climáticos; ção de determinados trechos ou partes de
amento em parte da rede rodoviária de Lis- Utilização de modelos de optimização nos redes rodoviárias, verifica-se que teve os seus
boa. Este exemplo serve exclusivamente SGP que permitam definir o momento primeiros desenvolvimentos no Canadá, na
como ilustração, tendo sido preparado com certo de aplicação de cada acção de con- Austrália e na Nova Zelândia. Esta privati-
dados fictícios. servação nos trechos rodoviários; zação da conservação implica a adaptação de
Desenvolvimento de uma me- SGP ao sector privado, tendo em conside-
todologia de análise de custos a ração que este é gerido, fundamentalmente,
muito longo prazo, com períodos pela necessidade de obtenção de lucro, en-
de planeamento superiores a se- quanto que o sector público se rege por prin-
tenta e cinco anos; cípios de prestação de um bom serviço aos
Diminuição da distância entre utentes, que estes pagam directa ou indirec-
os SGP ao nível da rede e os SGP tamente. Nas Parcerias Público-Privadas para
ao nível de projecto, fazendo com efeitos de contratos de conservação basea-
que as soluções provenientes de dos em indicadores de desempenho, uma
um e do outro sejam compatíveis das componentes mais importantes é a de-
e coerentes; finição dos valores dos parâmetros de estado
Figura 11 – Intervenções de conservação para o primeiro ano
Integração de todos os sistemas que os trechos rodoviários terão que respei-
de gestão das várias infra-estrutu- tar ao longo dos anos, reforçando-se assim a
ras rodoviárias, nomeadamente os importância do desenvolvimento deste
3. Desenvolvimentos Futuros pavimentos, as pontes, os túneis, os dispo- tema.
sitivos de drenagem, a sinalização horizontal Relativamente à necessidade do desenvolvi-
Nos congressos mais importantes sobre esta e vertical, etc., de modo a constituir um Sis- mento de modelos de custos para os uten-
temática a nível mundial [22, 23, 24, 25, tema de Gestão Integrada dos Activos Ro- tes, também há muito por fazer. A impor-
26, 27, 28, 29] foram definidos os futuros doviários; tância da inclusão dos custos para os utentes

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DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

já foi genericamente reconhecida. No en- de melhor controlo de qualidade da cons- que os pavimentos representam a maioria
tanto, a sua inclusão na análise dos custos no trução, etc.. Um estudo efectuado pela dos custos das infra-estruturas rodoviárias e
ciclo de vida dos pavimentos ainda não tem FHWA [31] concluiu que a utilização da porque o conhecimento sobre este tipo de
o consenso das administrações rodoviárias. tecnologia Superpave, como forma racional sistemas está numa fase mais avançada. Pos-
Algumas argumentam que estes custos não de estabelecer a mistura betuminosa mais teriormente, deverá passar-se para o desen-
são retirados dos seus orçamentos, logo não adequada para uma determinada camada de volvimento dos sistemas de gestão das res-
devem ser incluídos na análise dos custos no um pavimento, pode aumentar a vida útil tantes infra-estruturas e a sua integração num
ciclo de vida dos pavimentos. Outras, pelo de uma camada de betão betuminoso em sistema de gestão mais global.
contrário, argumentam que os contribuintes 25%. O termo “pavimentos perpétuos” tem A experiência tem demonstrado que o pla-
pagam todos os custos inerentes ao trans- sido recentemente utilizado pela Asphalt Pa- neamento dos projectos de desenvolvimento
porte rodoviário, logo todos os custos devem vement Alliance para descrever pavimentos de SGP não é simples, tanto em relação à
ser incluídos. O que se verifica é que os cus- que permanecem ao longo do tempo com tecnologia como às pessoas envolvidas. O
tos para os utentes são enormes para trechos suficiente qualidade estrutural, necessitando planeamento de um projecto deve ter em
rodoviários com elevados volumes de trá- apenas de conservação periódica da camada consideração numerosos factores, nomeada-
fego, contribuindo maioritariamente para o de desgaste [32]. mente os seguintes: o apoio ao mais alto nível
valor dos custos totais no ciclo de vida dos Em relação à necessidade de diminuir a dis- dentro da administração rodoviária; a pro-
pavimentos, o que faz com que tenham muita tância entre os SGP ao nível da rede e os dução de documentação sobre o SGP, das
influência na definição das intervenções de SGP ao nível de projecto, o principal pro- actividades em curso e das lições apreendi-
conservação. Esta é uma das razões pelas blema está relacionado com o detalhe que é das; a periódica revisão e melhoramento do
quais muitas administrações rodoviárias não necessário para a maioria dos métodos de SGP; os investimentos necessários ao longo
consideram os custos para os utentes. dimensionamento de pavimentos. A utiliza- das fases do projecto; o desenvolvimento de
Em relação à necessidade de utilizar mode- ção de um detalhe elevado na gestão ao nível um programa que preveja contingências,
los de optimização, pode dizer-se que a maio- da rede torna-se proibitiva em termos de como por exemplo a saída de elementos fun-
ria dos actuais SGP já os utilizam. Em Fer- custos. Como tentativa de resolução deste damentais para a continuidade do projecto;
reira [6] são propostos vários modelos de problema pode ser referido um novo mé- os planos de formação dos utilizadores do
optimização inovadores, tanto probabilísti- todo de dimensionamento de pavimentos sistema, etc..
cos como determinísticos. que está a ser desenvolvido no âmbito do Os restantes problemas dos actuais SGP
Relativamente à análise dos custos no ciclo programa National Cooperative Highway ainda continuam sem resposta. A nível mun-
de vida dos pavimentos, verifica-se que o Research Program [33], que tanto pode ser dial, existem ainda dificuldades em relação
período de planeamento nunca ultrapassa os utilizado na gestão de pavimentos ao nível ao desenvolvimento de modelos de previsão
trinta e cinco anos [30]. Os argumentos para de projecto como ao nível da rede. O actual do comportamento dos pavimentos para
não se considerarem períodos de planea- método de dimensionamento da AASHTO cada parâmetro de estado, com a separação
mento mais longos são os seguintes: utili- [34] também pode ser utilizado na gestão dos efeitos do tráfego, dos factores climáti-
zando a análise de custos a preços correntes, ao nível da rede, tal como acontece nalguns cos e da interacção entre tráfego e factores
os custos ou benefícios para além deste pe- SGP portugueses [19, 20, 21]. climáticos. Estes modelos são fundamentais
ríodo são insignificantes; os erros de previ- Relativamente ao desenvolvimento de um para a análise dos custos no ciclo de vida dos
são, especialmente do tráfego, são muito sig- Sistema de Gestão Integrada dos Activos pavimentos. A maior dificuldade no desen-
nificativos. Haas [23] argumenta que devem Rodoviários que contemple todos os siste- volvimento destes modelos consiste na cap-
existir duas análises de custos: uma para um mas de gestão das várias infra-estruturas ro- tação das contribuições relativas dos vários
período de planeamento de médio prazo, doviárias, nomeadamente os pavimentos, as factores e suas interacções, mantendo os
sempre inferior a quarenta anos; e outra para pontes, os túneis, os dispositivos de drena- erros de previsão dentro de intervalos acei-
um período de planeamento de longo prazo, gem, as guardas de segurança, a sinalização táveis.
sempre superior a setenta e cinco anos, que horizontal e vertical, o equipamento de vi-
tenha em conta os seguintes aspectos: a dis- gilância, entre outros, ainda quase nada está 4. Considerações Finais
ponibilidade futura de recursos para a con- verdadeiramente implementado. Este será
servação; o número de vezes que os mate- um objectivo difícil de concretizar já que a Uma administração rodoviária, ao optar pela
riais podem ser reciclados; os impactos am- integração dos vários sistemas de gestão im- implementação de um SGP como ferra-
bientais produzidos pelos produtos não re- plica estabelecer a comunicação entre vários menta de apoio à gestão da qualidade da
cicláveis, etc.. Esta segunda análise também intervenientes. No caso das câmaras muni- rede, antes de adquirir um sistema “chave
pretende ter em consideração a exigência cipais, em Portugal, a experiência tem de- na mão” deve estudar a possibilidade de de-
crescente por parte dos utentes e das admi- monstrado grandes dificuldades de coorde- senvolver o seu próprio sistema. A experi-
nistrações rodoviárias para se conseguirem nação entre as várias divisões que efectuam ência mostra que geralmente há insucesso
pavimentos com uma vida útil mais longa. a gestão dos vários tipos de infra-estruturas quando se tenta impor a utilização de um
Isto pode ser conseguido através da utiliza- municipais. Considera-se que o SGP deve determinado SGP que foi desenvolvido para
ção de novas tecnologias, de novos materiais, ser o primeiro sistema a desenvolver, por- outra realidade. Além disso, terá que haver

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DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

uma adaptação à estrutura político/adminis- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


trativa e técnica, e ao tipo de gestão já exis-
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European Communities, European Commission, Luxembourg.
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uma base de dados de custos para os uten-
pp. 1-6, Budapest, Hungary.
tes, de modo a permitir o desenvolvimento [4] Picado-Santos, L., Ferreira, A., Antunes, A., Carvalheira, C., Santos, B., Bicho, M. H., Quadrado, I., Silvestre, S. (2004),
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Para finalizar, pode afirmar-se que existe um [5] Ferreira, A. (1998), “SIGPAV - Sistema de Gestão da Conservação da Rede Rodoviária com recurso à Tecnologia dos
conjunto alargado de problemas associados Sistemas de Informação Geográfica”, Ingenium, II Série, N.º 28, pág. 64-68.
à gestão da qualidade das redes rodoviárias [6] Ferreira, A. (2001), “Optimização da Conservação de Pavimentos de Redes Rodoviárias”, dissertação submetida à
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra para a obtenção do grau de Doutor em Engenharia
que precisam de ser melhorados, o que im- Civil, especialidade de Ordenamento do Território e Transportes, Coimbra.
plica mais investigação com maior efectivi- [7] R&L (1999), “VIZIROAD: Manuel d’Utilisateur, version 3-32B”, R. & L. Route et Laboratoire, Illfurth, France.
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[10] Sebaaly, P. E., Hand, A., Epps, J. e Bosch, C. (1996), “Nevada’s Approach to Pavement Management”, Transportation
Research Record, Vol. 1524, 109-117.
Os autores agradecem à Fundação para a Ci- [11] Sebaaly, P., Venukanthen, S., Siddharthan, R., Hand, A. and Epps, J. (1999), Development of Pavement Network Op-
ência e Tecnologia o apoio financeiro a este timization System, Nevada Department of Transportation, USA.
trabalho através do Projecto POCTI/ [12] Ferreira, A., Picado-Santos, L. e Antunes, A. (1999), “Pavement Performance Modelling: State of the Art”, Procee-
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76 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Monitorização Contínua de Obras de Engenharia Civil


O caso das escoras metálicas da Estação do Terreiro do Paço
Luís Calado 1, Jorge Miguel Proença 2 e António Rosa Saraiva 3

Introdução só da interacção com as restantes escoras, e as deformações instaladas e, numa situa-


como também devido à evolução da escava- ção limite, poderão conduzir ao colapso do
A estação do Metropolitano de Lisboa loca- ção e variação do nível freático. A estação tubo. A monitorização permite ainda a to-
lizada no Terreiro do Paço e que pertence ao possui, em planta, 18 alinhamentos de esco- mada de decisões sobre a evolução do pro-
prolongamento da Linha Azul – Baixa – Chiado ras e, em corte, 5 níveis de colocação. Cada cesso construtivo e do nível de pré-esforço
– Sta. Apolónia, possui um processo cons- alinhamento de escoras é constituído por dois das escoras, bem como a quantificação do
trutivo inovador e uma monitorização contí- tubos metálicos (nascente e poente) geral- esforço que será necessário aplicar para a sua
nua do mesmo. A estação apresenta como mente interligados por travessas, perfazendo remoção no final da construção da estação
dimensões gerais as seguintes: 141.0 m de um total de 180 tubos (Fig. 1). (Fig. 2).
comprimento, 28.0 m de largura e 24.0 m A estabilização final da contenção periférica
de profundidade. A cota do limpo da laje de de terras é assegurada pela betonagem de
soleira da estação encontra-se a cerca de 21.0 lajes de piso que funcionam como diafrag-
m abaixo do nível médio das águas do rio mas. Após a execução de cada uma das lajes
Tejo. Em termos gerais, o processo constru- de piso é iniciada a remoção progressiva das
tivo consiste na execução de uma cortina de escoras metálicas.
estacas secantes com 1.50 m de diâmetro, A monitorização contínua dos tubos tem,
afastadas de 1.75 m ao eixo entre estacas se- entre outros, o objectivo de quantificar os
cundárias em betão armado, as quais defi- esforços (axial e de flexão) instalados no sis-
nem o contorno da estação. Após a execução tema de escoramento durante o processo
destas, é iniciada a escavação no interior da construtivo, bem como avaliar a segurança
cortina de contenção da estação com a beto- estrutural do mesmo. O sistema de moni-
nagem simultânea de uma parede periférica. torização desenvolvido permite também qua-

Figura 2 – Escoras constituídas por dois tubos metálicos


localizadas em cada alinhamento e em cada nível

As entidades directamente envolvidas nesta


empreitada são: Dono de obra – Metropo-
litano de Lisboa; Empreiteiro geral – Metro-
paço, A.C.E., constituído pelas empresas
Teixeira Duarte S.A., Mota e Companhia
S.A. e Opca; Projectista – Cenor – Projec-
tos de Engenharia Lda.; Fiscalização – Fer-
consult; Monitorização das escoras metálicas
– ICIST / Instituto Superior Técnico.
Figura 1 – Vista geral da obra da Estação do Metropolitano no Terreiro do Paço
Concepção do sistema
Para fazer face ao impulso do terreno e à lificar o estado de tensão instalado (com- de monitorização
pressão hidrostática, já que a estação se en- pressão uniaxial ou flexão desviada com-
contra a pouco metros do rio Tejo, foi pre- posta), assim como determinar as compo- O sistema de monitorização das escoras me-
vista a colocação interna de escoras metáli- nentes de deformação e de tensões normais tálicas desenvolvido pelo ICIST / Instituto
cas pré-esforçadas. Estas escoras são pré-com- existentes. A determinação do tipo de es- Superior Técnico para a estação do Metro-
primidas em duas etapas (50% e 100% do forço que se encontra instalado nos tubos é politano de Lisboa no Terreiro do Paço con-
pré-esforço definido no projecto), aquando de extrema importância, já que permite siste em extensómetros eléctricos de resis-
da sua instalação, sofrendo variações signifi- quantificar eventuais efeitos de segunda tência ligados a unidades de amplificação,
cativas do esforço axial em consequência não ordem. Estes efeitos amplificam as tensões condicionamento e multiplexagem de sinal.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 77


DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

Estas unidades dispõem de fonte de alimen- a ser lido, à medida que estes vão sendo co- (por exemplo, extensões, tensões normais,
tação, estão ligadas em paralelo e são con- locados, bem como a variação da frequência esforço axial, momento flector, valores
troladas por duas unidades de aquisição de de aquisição de dados. máximos, mínimos e médios, etc.).
dados, uma das quais é redundante, através
de uma rede de comunicações RS-485. O Como características gerais da aplicação de Como indicadores gerais do sistema de mo-
sistema de controlo e de aquisição de dados software desenvolvido referem-se as seguin- nitorização das escoras metálicas indicam-se
encontra-se ligado à Internet possibilitando tes: os seguintes (não estão considerados elemen-
quer a consulta de dados, quer a gestão do Configuração do sistema em função das tos sobresselentes):
sistema por via remota. O acesso à Internet características dos extensómetros eléctri- Extensómetros – 540 unidades activas (3
e a comunicação entre os dois controladores cos e das características geométricas e me- por cada tubo);
são assegurados por um equipamento hub / cânicas dos tubos metálicos; Cablagem entre os extensómetros e as uni-
router. Calibração automática dos extensómetros dades de aquisição de dados – 7000 m de
Em cada tubo existem três extensómetros e determinação do zero com a possibili- cabo;
eléctricos de resistência, cujas leituras per- dade de definir o offset, caso o extensóme- Capacidade de leitura – sistema modular
mitem definir o campo de deformação axial tro em causa já esteja sob deformação; de 18 unidades (uma por cada alinhamento)
na secção instrumentada (Fig. 3). Gestão da frequência de leitura e de re- de amplificação, condicionamento e mul-
Ligação a unidade gisto na base de dados; tiplexagem de sinal com capacidade total
de aquisição de sinal
Visualização geral do estado de funciona- de 576 canais;
mento do sistema de monitorização das Controladores – 2 unidades localizadas na
escoras metálicas, através de um código obra e ligadas em rede, acrescida de uma
de cores pré-definidas e de valores numé- unidade redundante localizada no ICIST.
Escora Escora 1
6 4 3
poente nascente

5 2
ricos associados às variáveis es-
colhidas;
Extensómetro
Detecção de extensómetros
avariados e desactivação auto-
mática depois de um período
definido;
Detecção e transmissão de aler-
tas quando existem variáveis
cujos valores não podem ser de-
terminados devido a avaria dos
extensómetros; Figura 4 – Unidade de amplificação, condicionamento e multiplexagem
de sinal existente para cada alinhamento de escoras
Detecção e transmissão de aler-
tas e de alarmes quando deter-
minados valores predefinidos são ultrapas- Resultados obtidos com
Figura 3 – Extensómetros colocados nos tubos metálicos
sados; o sistema de monitorização
Detecção automática de problemas de co-
Após a determinação do campo de deforma- municação (por exemplo cabo cortado); Os resultados obtidos com o sistema de mo-
ções, e admitindo que o material é homogé- Emissão automática de relatórios com pe- nitorização contínua do escoramento possibi-
neo, isótropo e apresenta comportamento riodicidade definida; litaram constatar, entre outros, a influência
elástico linear, é possível quantificar o campo Visualização gráfica dos dados adquiridos nos esforços e deformações de diversos parâ-
de tensões longitudinais na secção onde estão
localizados os três extensómetros. A deter-
minação do esforço axial e dos momentos
flectores é obtida através da integração do
campo de tensões na secção transversal do
tubo.
O programa de gestão e de aquisição de
dados foi desenvolvido utilizando a lingua-
gem LabVIEW (marca registada da Natio-
nal Instruments) e permite, além da visua-
lização numérica e gráfica de diversas variá- Figura 5

veis (extensão, tensão normal, esforço axial, Influência da variação


momento flector, entre outras), a incremen- do nível freático
e andamento das marés
tação gradual do número de extensómetros no esforço axial da escora

78 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

metros, tais como: nível freático e efeito das


marés, variações diárias de temperatura, pro-
gressão da escavação em profundidade e in-
fluência da aplicação do pré-esforço do esco-
ramento. A influência do nível freático e o
efeito das marés pode ser observado no grá-
fico relativo à escora do segundo nível no ali-
nhamento três. Verifica-se que a variação do
esforço axial é do tipo sinusoidal, com dois
ciclos diários, apresentando um deles valor de
máximo de compressão maior do que o outro.
Tal facto está directamente relacionado com
a variação diária da temperatura, acção que
apresenta uma variação do tipo sinusoidal,
com um único ciclo diário (Fig. 5).
A influência da progressão em profundidade
da escavação é notória no gráfico relativo às
escoras do 4.º nível dos alinhamentos 6 e 9.
Verifica-se que a progressão da escavação faz
aumentar o esforço axial da escora que lhe
está próxima, enquanto que o esforço axial
de outra mais afastada é pouco influenciado
por esta actividade. Continua a verificar-se
também a influência do ciclo das marés, já
Figura 7
que a estação se encontra a poucos metros Influência do pré-esforço
do rio Tejo (Fig. 6). no esforço axial da escora

Figura 6

Influência da variação
da profundidade
de escavação no cavação, nível freático, variações de tempe-
esforço axial da escora
ratura, e decidir quais as melhores estratégias
a seguir associadas à exploração, manuten-
ção, reparação e reforço de estruturas. A mo-
nitorização das estruturas contribuirá certa-
mente para a segurança estrutural e para o
aumento da qualidade das estruturas.

Agradecimentos

O desenvolvimento do sistema de monito-


A influência do pré-esforço pode ser verificada Comentários finais rização contínua do escoramento metálico
comparando o esforço axial entre duas esco- contou com o contributo das diversas enti-
ras contíguas, neste caso as escoras dos alinha- A aplicação da monitorização contínua de dades envolvidas na empreitada, sendo de
mentos 7 e 8. Da análise do gráfico, verifica- obras de engenharia civil de elevada comple- salientar a colaboração da Eng.ª Elsa Rosado
se que a escora do alinhamento 8 aumenta xidade, tal como a apresentada neste artigo, da Cruz, responsável pela subempreitada do
bruscamente de esforço axial (devido ao pré- é uma das metodologias possíveis que os pro- escoramento metálico, e do Eng.º Pedro
-esforço aplicado), enquanto que a escora que jectistas, construtores e donos de obra pos- Alves, responsável pela programação e inte-
lhe está adjacente, alinhamento 7, diminui o suem para conhecer o real comportamento gração do equipamento.
esforço axial no mesmo instante (Fig. 7). da estrutura, quer durante a fase construtiva,
Com base nos exemplos apresentados é pos- quer durante a fase de exploração. Os siste- 1 Engenheiro Civil, Professor Associado

sível verificar que o sistema de monitorização mas de monitorização contínua possibilitam, Agregado do IST, [email protected]
desenvolvido consegue captar, com suficiente entre outros, avaliar a segurança estrutural 2 Professor Auxiliar do IST,

precisão, as variações do esforço axial das es- através da quantificação das deformações e [email protected]
coras, tendo em atenção as causas exteriores dos esforços, saber a influência de diversos 3 Engenheiro Civil, Director Geral do

que conduzem à alteração do mesmo. parâmetros, tais como profundidade de es- Metropaço A.C.E., [email protected]

Março/Abril 2007 | INGENIUM 79


DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

Interessa, assim, compreender a origem do


Concepção sísmica colapso da estação Dakai, quando na gene-
ralidade dos casos observados as estruturas

de estruturas subterrâneas subterrâneas evidenciam reduzida vulnera-


bilidade sísmica.
Iwatate et al. (2000), com base em estudos

de grande porte em numéricos e em ensaios de modelo reduzido


em mesa sísmica, apresenta o campo de dis-
torções imposto pelo solo durante o sismo

solos brandos como principal factor para o colapso das es-


tações. Acrescente-se que a falta de ductili-
dade de alguns elementos, nomeadamente
Mário Lopes 1, Rui Gomes 2 e António Brito 3 dos pilares centrais, despoletou o colapso
generalizado das estações.

1. Introdução que este tipo de estruturas também é vul- 3. Análise da vulnerabilidade


nerável às acções sísmicas. Durante o sismo sísmica de estruturas subterrâneas
No presente trabalho analisa-se o compor- de Hyogoken-Nanbu, em 1995, que atingiu
tamento de estruturas subterrâneas de betão a cidade de Kobe, Japão, 6 de um total de A deformação de estruturas subterrâneas é
armado de grande porte em solos brandos 21 estações do metropolitano foram severa- fortemente condicionada pela resposta sís-
solicitadas por acções sísmicas. Discutem-se mente danificadas (Iwatate et al., 2000). mica do maciço encaixante, dado que as for-
critérios de concepção e projecto tendo em Como exemplo, apresenta-se o caso da es- ças de inércia desenvolvidas no maciço são
vista garantir a resistência deste tipo de es- tação Dakai que colapsou por rotura dos pi- largamente dominantes face às forças de
truturas a sismos intensos. Conclui-se que a lares centrais (ver Figura 1), tendo como inércia desenvolvidas na estrutura. Neste
aplicação da metodologia regulamentar (RSA, consequência a rotura da laje que neles se contexto, pode afirmar-se que a vulnerabi-
1983 e REBAP, 1983) de análise dos efei- apoiava. Este colapso deu origem a assenta- lidade de estruturas subterrâneas embebidas
tos das acções sísmicas pode conduzir a es- mentos à superfície da ordem de 2,0 m (ver em maciços competentes é menor do que
truturas caras e inseguras. Figura 2). em maciços brandos, por serem expectáveis
As situações analisadas neste trabalho inci- níveis moderados de deformação, mesmo
dem sobre o movimento vibratório do ma- sob solicitações sísmicas intensas.
ciço induzido pela propagação de ondas sís- Admita-se agora que a estrutura está embe-
micas. Outro tipo de situações, tais como bida num solo brando, cuja resposta sob so-
atravessamento de falhas activas ou colapso licitações sísmicas moderadas a intensas se
generalizado do maciço em que se insere a caracteriza por atingir níveis elevados de de-
estrutura, necessitam de outro tipo aborda-
gem.

2. Ensinamentos de sismos do passado


Figura 1
A análise de danos provocados por sismos
Colapso dos pilares centrais da estação
passados mostra que as estruturas subterrâ- de metropolitano Dakai, Kobe, Japão
neas apresentam, em geral, menor vulnera-
bilidade à acção sísmica do que as estruturas
que se desenvolvem preferencialmente acima
da superfície (Gomes, 1999, Hashash et al.,
2000, Gomes et al., 2002). Esta constata-
ção, genericamente aceite pela comunidade
técnico-científica, contribuiu para a pouca
atenção que tem sido dada ao estudo do
comportamento sísmico de estruturas sub-
terrâneas. Assim, tem sido prática corrente
ignorar a acção sísmica no projecto deste
tipo de estruturas, mesmo em regiões de
média e alta sismicidade.
No entanto, a realidade recente demonstra

80 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

área de influência de elementos estruturais capacidade resistente. Na prática, a primeira


com elevada rigidez no seu plano. Considere- opção consiste em proceder ao melhoramento
se o que se passou na estação Dakai, cuja ou reforço do solo na zona envolvente da es-
configuração em planta se assemelha a um trutura de forma a reduzir para níveis acei-
rectângulo com 120 m de comprimento por táveis o campo de deformações imposto.
17 m de largura, na zona estreita, e 26 m de Eventualmente, a zona a tratar pode ter di-
largura, na zona larga (Yoshida et al., 1997). mensões superiores à zona de implantação
As paredes exteriores da estrutura subterrâ- da própria estrutura. Em zonas urbanas, esta
nea são pouco deformáveis no seu plano, opção pode ser fortemente condicionada por
portanto sem capacidade de acomodar des- factores económicos, técnicos e sociais, po-
locamentos significativos. Ora, os dados dis- dendo conduzir a soluções bastante dispen-
poníveis revelam que o colapso não ocorre diosas ou inviáveis.
devido à rotura das paredes exteriores. Quer A segunda opção é viável nos casos em que
isto dizer que a elevada rigidez estrutural na é possível garantir o efeito de confinamento
direcção longitudinal contraria o campo de simétrico da estrutura pelo solo antes, du-
deformações do solo nessa direcção na vizi- rante e após o evento sísmico.
nhança da estrutura, podendo mesmo ocor- Mesmo optimizando a capacidade de defor-
rer um escoamento tridimensional do solo mação de uma estrutura, esta é naturalmente
Figura 2 – Assentamento à superfície sobre a estação na vizinhança destas zonas. limitada, pelo que não é de excluir o caso
de metropolitano Dakai, Kobe, Japão O colapso dos pilares centrais na estação em que o campo de deslocamentos imposto
Dakai ocorreu preponderantemente segundo supera a capacidade de deformação da es-
formação. Como o solo tende a impor à es- a menor dimensão da estrutura em planta trutura. Neste cenário, é necessário combi-
trutura o seu campo de deslocamentos, a (Iwatate et al., 2000), em particular em zonas nar as duas opções acima citadas, isto é, pro-
vulnerabilidade da estrutura aumenta face à afastadas das extremidades, onde os efeitos ceder ao tratamento do solo e maximizar a
situação anterior. tridimensionais são mais ténues e este tipo capacidade de deformação da estrutura.
A resposta de estruturas subterrâneas sob so- de estruturas tende a ser mais flexível do que Note-se que como os deslocamentos impos-
licitação sísmica é condicionada pela sua forma na direcção longitudinal. Quer isto dizer que tos externamente dão origem a curvaturas
e dimensão, que, por seu turno, varia em fun- o campo de deformações imposto pelo solo nos elementos estruturais, quanto maiores
ção da utilização. O presente trabalho foca deu origem a deformações significativas na forem as dimensões da secção transversal
as estruturas de grande porte, por exemplo estrutura, conduzindo ao seu colapso. destes elementos mais elevadas serão as res-
estações do metropolitano e grandes cavida- Se a estrutura for muito flexível, não con- pectivas extensões nos materiais estruturais.
des para infra-estruturas sociais, armazena- traria significativamente o campo de deslo- Em alinhamentos flexíveis este efeito será,
mento de produtos e produção eléctrica. camentos do solo envolvente, pelo que fica em geral, superior ao da redução do deslo-
Este tipo de estruturas, em geral, tem forma sujeita a um campo de deslocamentos se- camento imposto pelo solo devido à maior
rectangular em planta com relação entre o melhante ao do solo. rigidez associada a maiores dimensões da
maior e o menor desenvolvimento com valor Nos casos em que os alinhamentos não são secção transversal dos elementos estruturais.
reduzido (tome-se 10 como valor limite de considerados rígidos mas apresentam rigidez Portanto, a utilização de contrafortes ou ou-
referência). suficiente para reduzir de forma não despre- tros elementos de elevada rigidez deve ser
Neste género de estruturas podem existir zável o campo de deslocamentos horizontais evitada. Além do mais, os elementos mais
dois tipos de secções transversais verticais do solo, a situação é qualitativamente seme- rígidos estão sujeitos a esforços transversos
da estrutura global com comportamento dis- lhante à anterior, no sentido em que a es- mais elevados, o que os torna mais vulnerá-
tinto. Neste trabalho, designam-se por ali- trutura continua a ter de resistir a desloca- veis face à acção sísmica, pois a sua ductili-
nhamentos rígidos as secções transversais da mentos impostos externamente. dade é mais afectada pela história de carre-
estrutura global em que o comportamento gamento.
é condicionado pela proximidade de elemen- 4. Concepção sísmica de estruturas Recomenda-se a utilização de materiais de
tos estruturais com elevada rigidez no plano subterrâneas de grande porte elevada resistência para, simultaneamente,
da secção em análise (por exemplo, paredes em solos brandos permitir a redução das dimensões dos ele-
de contenção no plano em que se desenvol- mentos estruturais no plano dos alinhamen-
vem), pelo que opõem resistência significa- A concepção sísmica de estruturas subter- tos flexíveis e assegurar a capacidade resis-
tiva ao movimento imposto pelo solo e so- râneas deverá seguir as seguintes orientações tente às cargas permanentes.
frem deslocamentos muito reduzidos. gerais: (i) controlar o campo de deformações Sob acção de sismos intensos, a resposta da
Designam-se por alinhamentos flexíveis, por que se desenvolve no solo, por via do trata- estrutura poderá decorrer em regime fisica-
oposição aos alinhamentos rígidos definidos mento do solo e/ou (ii) projectar a estrutura mente não linear, pelo que é importante li-
no parágrafo anterior, às secções transversais com capacidade para suportar os desloca- mitar os esforços axiais nos elementos que
da estrutura global que se localizam fora da mentos impostos sem perda significativa de plastificam. De forma a minorar o nível de

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DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

esforço axial nos elementos resistentes ver- turas subterrâneas de grande porte em solos de cedência é nula. O mesmo se passa, qua-
ticais, favorecendo assim a sua ductilidade, brandos. Tal deve-se ao facto da resposta litativamente, ao nível de uma estrutura sub-
recomenda-se, por exemplo, a minimização sísmica de estruturas subterrâneas depender terrânea à qual é imposto um campo de des-
da espessura do terreno de recobrimento do efeito de interacção solo-estrutura. Na locamentos horizontais, dado que não ne-
sobre a estrutura. Ressalvam-se situações em realidade, uma estrutura subterrânea tem os cessita de resistir a nenhuma força externa
que a aplicação desta recomendação possa seus deslocamentos horizontais impostos e aplicada, mas apenas às forças que a própria
contribuir para aumentar de forma signifi- simultaneamente limitados pelo solo confi- estrutura gera no seu interior.
cativa as deformações impostas à estrutura nante, pelo que não tem de resistir a forças A metodologia definida na regulamentação
devido à sua inserção em solos de piores ca- horizontais; pelo contrário, os edifícios e pon- aplicável a edifícios e pontes (RSA, 1983 e
racterísticas. tes têm necessariamente de resistir a forças REBAP, 1983) consiste, no essencial, no cál-
Outro aspecto relevante prende-se com a de inércia horizontais acima do solo, despre- culo de esforços em regime elástico gerados
influência dos elementos não estruturais e zando-se, em geral, as restrições externas aos pela aplicação de forças ou deslocamentos,
elementos estruturais secundários, como é seus deslocamentos horizontais (por exem- sendo estes minorados pelo coeficiente de
o caso de escadas ou de pequenos pilares plo edifícios adjacentes). comportamento para ter em conta a ducti-
com influência localizada. No projecto de lidade e a capacidade de dissipação de ener-
edifícios, é prática corrente não considerar 5. Análise e dimensionamento gia. Como em regime elástico estes esforços
explicitamente estes elementos na modela- sísmico de estruturas subterrâneas estão em equilíbrio com forças externas apli-
ção numérica, uma vez que constituem uma em solos brandos cadas e/ou forças de inércia, que na estru-
fonte de resistência adicional. No caso de tura subterrânea não existem ou podem ser
uma estrutura subterrânea sujeita a desloca- Para a generalidade das estruturas subterrâ- transmitidas ao solo envolvente, a metodo-
mentos impostos, esta hipótese não é con- neas accionadas pelo sismo, a inércia do ma- logia regulamentar não deve ser aplicada ao
servativa, porque esses elementos podem ciço envolvente é bastante superior à inércia dimensionamento sísmico de estruturas sub-
restringir as deformações dos elementos es- da estrutura, pelo que a resposta das estru- terrâneas. Aliás, o facto de a estrutura não
truturais principais. Nestas condições, o vão turas subterrâneas, em particular a associada ter de resistir a forças aplicadas exteriores
livre do elemento sofre uma redução mas a deslocamentos horizontais, é dominada ou a forças de inércia, é matematicamente
continua a ter de suportar o mesmo deslo- pela resposta sísmica do maciço e pela sua equivalente a considerar o coeficiente de
camento imposto. Esta situação tem como interacção com a estrutura. comportamento com valor infinito. Analise-
consequência o aumento das curvaturas im- É assim importante caracterizar a rigidez e -se o que se passa numa dada secção de um
postas ao elemento e pode mesmo conduzir a capacidade de dissipação de energia do elemento em duas situações distintas:
ao seu colapso. solo. Como a massa de solo é muito supe- i) se ao elemento forem aplicados momen-
Nas estruturas de edifícios, a necessidade de rior à da estrutura, a contribuição desta para tos flectores, o nível de tensões é tanto
aumentar a rigidez e a capacidade resistente a dissipação de energia é pouco relevante. menor quanto maior for a quantidade de
das estruturas devido ao aumento da altura Assim, a propriedade da estrutura que inte- armadura de flexão; em consequência,
dos edifícios e à evolução da regulamenta- ressa caracterizar com mais rigor é a sua ri- também as extensões e a curvatura serão
ção levou à adopção, cada vez mais genera- gidez, que pode influenciar significativamente menores;
lizada, de estruturas mistas pórtico-parede, o campo de deslocamentos na vizinhança da ii) se ao elemento forem impostas deforma-
em substituição da tradicional estrutura por- estrutura. ções, as curvaturas também são impostas;
ticada. Note-se que a inclusão de paredes É de realçar que a imposição de um campo em consequência, quanto maior a quan-
resistentes e caixas de escada são, em geral, de deslocamentos a uma estrutura, fora do tidade de armadura de flexão, maior será
desnecessárias para assegurar a resistência domínio elástico linear, não é equivalente à o momento instalado, ou seja, o momento
dos edifícios a cargas verticais, mas podem aplicação de forças. Para tornar mais clara actuante; relativamente aos esforços trans-
ser essenciais para controlar os seus deslo- esta ideia, estabeleça-se a analogia com o que versos, como estes correspondem à deri-
camentos horizontais. se passa num ensaio de tracção uniaxial de vada do diagrama de momentos flectores,
Este problema não se coloca nestes termos uma barra de aço macio. Na fase elástica, a o aumento da armadura de flexão tam-
nos alinhamentos flexíveis de estruturas sub- cada aumento de deformação corresponde bém tem como consequência o aumento
terrâneas, uma vez que o deslocamento ho- um aumento directamente proporcional da do nível de esforço transverso actuante
rizontal é essencialmente imposto por via força aplicada. Quando o patamar de cedên- no elemento.
externa (solo). Assim, as paredes e caixas de cia é alcançado, o comprimento da barra Naturalmente, a armadura de flexão deve
escada, que tanto beneficiam o comporta- cresce sem que seja necessário aumentar a ser dimensionada tendo em conta, por exem-
mento sísmico dos edifícios, são nocivos para força de tracção nas extremidades, ou seja, plo, as combinações de acções em que não
o comportamento sísmico de estruturas sub- a força necessária para impor um dado des- entra a acção sísmica e a necessidade de ga-
terrâneas num alinhamento flexível. locamento depende da lei constitutiva do rantir a ductilidade dos elementos.
Face ao exposto, conclui-se que nem todos material. Por exemplo, se o ensaio começar Em síntese, a aplicação da metodologia cor-
os critérios de concepção sísmica utilizados no ponto de cedência, a força a aplicar à es- rente de cálculo a obras subterrâneas deste
em edifícios e pontes são válidos para estru- trutura para a deformar ao longo do patamar tipo pode ter duas consequências:

82 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

i) conduzir a uma estrutura provavelmente 6. Conclusões e recomendações reduzir o nível de esforço axial nos ele-
mais onerosa, pois consiste no dimensio- mentos estruturais, por exemplo minimi-
namento para resistir a esforços inexis- A observação de danos devidos a sismos do zando a espessura da camada de recobri-
tentes; passado mostra que as estruturas subterrâ- mento de solo sobre a estrutura.
ii) pode funcionar contra a segurança nos neas são pouco afectadas pelos sismos. No
alinhamentos flexíveis, pois além de au- entanto, as estruturas subterrâneas em solos 1 Professor Auxiliar, IST/UTL,

mentar desnecessariamente os esforços brandos podem ser vulneráveis aos sismos. e-mail: [email protected]
actuantes, a utilização de coeficientes de Concluiu-se que a aplicação da metodologia 2 Equip. Prof. Adjunto, ESTBarreiro/IPS,

comportamento baixos, de acordo com de cálculo de edifícios e pontes preconizada e-mail: [email protected]
o recomendado pelo REBAP (1983) para quer na regulamentação nacional, quer na 3 Equip. Prof. Adjunto, ESTBarreiro/IPS,

estruturas importantes, pode induzir a maioria dos regulamentos estrangeiros, ba- e-mail: [email protected]
ideia de que a exigência de ductilidade é seada no dimensionamento para esforços
reduzida, não sendo necessário dimensio- elásticos minorados pelo coeficiente de com- BIBLIOGRAFIA
nar e pormenorizar a estrutura para lhe portamento ou equivalente, pode colocar
conferir um comportamento dúctil. Na em causa a segurança e a economia de es- • Gomes, R.C., 1999. Comportamento de Estruturas Sub-
terrâneas Submetidas a Acções Sísmicas. Dissertação
realidade, como o deslocamento é im- truturas subterrâneas de grande porte em para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Es-
posto, a exigência de ductilidade é, em solos brandos. truturas, IST, Lisboa.
• Gomes, R.C., Oliveira, C.S., Gomes Correia, A., 2002.
grande parte, uma imposição externa, que Desempenho e concepção de estruturas subterrâneas
não pode ser contrariada dimensionando As principais recomendações para a concep- submetidas a acções sísmicas: uma revisão. Revista
Geotecnia, n.º 94, Março.
a estrutura com valores baixos do coefi- ção sísmica de estruturas subterrâneas de • Hashash, Y.M.A., Hook, J.J., Schmidt, B., 2000. Seismic
ciente de comportamento. grande porte em solos brandos são as seguin- design and analysis of underground structures. A state-
-of-the-art Report Sponsored by the International Tun-
Estes aspectos de comportamento também tes: nelling Association, Working Group Ner 2, Draft Copy.
caracterizam o desempenho sob a acção sís- nos alinhamentos flexíveis, conceber os • Iwatate, T., Kobayashi, Y., Kusu, H., Rin, K., 2000. Inves-
tigation and shaking table tests of subway structures of
mica de outros tipos de estruturas ou ele- elementos estruturais com capacidade de the Hyogoken-Nanbu earthquake. 12th Word Conference
mentos, por exemplo estacas de fundações deformação sem perda significativa de re- Earthquake Engineering, paper 1043, New Zeleand.
• REBAP, 1983. Regulamento de Estruturas de Betão Ar-
de edifícios ou pontes em solos brandos. sistência, ou seja, elementos flexíveis e mado e Pré-Esforçado, Imprensa Nacional – Casa da
Neste caso, a transmissão ao solo das forças dúcteis; Moeda, Lisboa.
• RSA, 1983. Regulamento de Segurança e Acções para
de inércia geradas na superstrutura pode es- utilizar materiais estruturais com elevada Estruturas de Edifícios e Pontes, Imprensa Nacional –
tudar-se pelas metodologias correntes, mas resistência; Casa da Moeda, Lisboa.
• Yoshida, N., Nakamura, S., Suetomi, I., Esaki, J., 1997.
os princípios anteriormente referidos apli- evitar restrições à deformação dos elemen- Validation of analytical procedure on Dakai Subway Sta-
cam-se ao estudo dos efeitos das deforma- tos estruturais principais por parte de ele- tion damaged during 1995 Hyogoken-Nanbu earthquake.
Seismic Behaviour of Ground and Geotechnical Structu-
ções impostas às estacas devido à deforma- mentos estruturais secundários e/ou ele- res, Sêco e Pinto (ed.), Balkema.
ção do próprio solo. mentos não estruturais;
DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

vigas de betão armado com rotura por fle-


Nova Abordagem xão, bem como para aumentar a capacidade
de carga de elementos de pilar com rotura

no Reforço de Estruturas por flexão.


Com o objectivo de aumentar a eficácia do
reforço ao corte com CFRP, De Lorenzis et

com Materiais Compósitos al.[3], utilizaram varões de CFRP inseridos


em ranhuras efectuadas nas faces verticais
de vigas de betão armado, tendo-se verifi-
cado que esta técnica de reforço permitiu
Joaquim Barros, José Sena-Cruz, Salvador Dias, Débora Ferreira e Adriano Fortes * um aumento significativo da capacidade de
carga das vigas. Adoptando-se procedimen-
tos de reforço semelhantes mas, em vez de
Resumo reforçar utilizando-se uma técnica designada varões, utilizando faixas de laminado de
correntemente por colagem externa. Estu- CFRP inseridas em finos rasgos, foi efectua-
Neste trabalho apresentam-se os resultados dos efectuados revelam que, geralmente, da uma campanha de ensaios de forma a ava-
mais significativos da investigação experi- esta técnica não permite mobilizar a resis- liar a eficácia desta técnica no reforço ao
mental realizada para avaliar o desempenho tência máxima dos FRP, dado ocorrer o seu corte de vigas de betão armado.
de uma técnica de reforço baseada na fixa- descolamento precoce. Além disto, os refor- A justificação do bom desempenho da téc-
ção de laminados de CFRP em ranhuras ços aplicados ficam expostos directamente nica de reforço baseada na inserção de lami-
efectuadas no betão de recobrimento de ele- à acção do fogo, às condições ambientais e nados de CFRP no betão de recobrimento
mentos estruturais. Com esta técnica foram a actos de vandalismo. passa pela compreensão dos mecanismos de
reforçados e ensaiados elementos de pilar e
TABELA 1 – Programa experimental
de viga de betão armado com rotura por fle-
xão, e vigas de betão armado com rotura por Grupo de ensaio Elementos com rutura de flexão
Elementos com Ensaios de arranque
rutura por corte em flexão
corte. De modo a caracterizar a ligação betão-
Tipo de elemento Pilares de betão armado Vigas de betão armado Vigas de betão
-adesivo-CFRP, procedeu-se à realização de
Tipo de ensaio Ensaios cíclicos Ensaios monotónicos
ensaios de aderência.
Carga axial de compressão constante
Topologia
e carregamento cíclico horizontal Quatro pontos de carga
do carregamento
1. Introdução de amplitude crescente
Comparação do
Comportamento
desempenho das
Objectivos Avaliar a influência da percentagem da armadura longitudinal sl (1) da ligação betão-
A utilização de polímeros reforçados com técnicas de reforço
-adesivo-CFRP
ao corte com CFRP
fibras (FRP) na reparação e reforço estrutu-
Variáveis do programa Percentagem de Percentagem de Técnica de Comprimento
ral tem aumentado continuamente nos últi- experimental armadura longitudinal armadura longitudinal reforço ao corte de aderência
mos anos. Para tal, não é alheio o facto de, (1) sl = Relação entre a área da secção transversal dos varões da armadura longitudinal (As) e a área da secção transversal de betão (Ac).

em comparação com materiais tradicionais,


os FRP serem mais leves, de mais fácil e rá- Na tentativa de evitar estes inconvenientes, transferência de forças do CFRP para o betão
pida aplicação, mais resistentes à agressivi- tem sido desenvolvida uma técnica baseada envolvente. Com vista à caracterização da
dade do meio ambiente e possuírem maior na inserção de laminados de CFRP no betão ligação betão-adesivo-CFRP, efectuaram-se
resistência à tracção[1,2]. de recobrimento das peças a reforçar. Neste ensaios de aderência. A influência do com-
Os compósitos de FRP têm sido comum- trabalho, esta técnica é aplicada com o ob- primento de aderência no comportamento
mente aplicados nas faces dos elementos a jectivo de duplicar a capacidade de carga de da ligação foi estudada.

Betão de recobrimento Betão de Laminados de CFRP inseridos em ranhuras


C e fixos ao betão por adesivo epoxi
20 20 Estribo recobrimento Adesivo
Adesivo
20

Varões epoxi A
50 50 50 50

epoxi de aço
Plano de
170-180
200

carga Betão
≅5

Ranhura Armaduras
confinado longitudinais
≅15

15 A
20

Ranhura
200
≅5 50 900 50
Faixas de CFRP Varões de aço
Unidades: mm
laminado de CFRP (≅1.5×10) Laminado longitudinais Laminados de CFRP
≅15 (ranhura)
≅10 (largura
de CFRP na face de inseridos em ranhuras
Faixas de compressão do CFRP)
laminado de CFRP Unidades: mm
e fixos ao betão por epoxi
A
100 Varões de aço Adesivo
longitudinais epoxi
150

B na face de tracção

150
Figura 1 – Técnica de reforço aplicada em: Laminado
Unidades: mm
Secção A-A de CFRP
(a) pilares com rotura por flexão; (b) vigas com rotura por flexão; (c) vigas com rotura por corte

84 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

2. Programa Experimental TABELA 2 – Propriedades do betão e do aço

e Técnica de Reforço Betão Aço


Grupo de ensaio Tipo de elemento fcm1 fctm,fl1 φs fsy fsu
[MPa] [MPa] [mm] [MPa] [MPa]
A Tabela 1 resume o programa experimen- 6 352 533
tal realizado, indicando os seus principais Pilares de betão armado 16.7 (28) 2.6 (28) 10 323 457
objectivos. Essencialmente, foram efectua- Elementos com rutura por flexão 12 365 519
dos três grupos de ensaios: um grupo de ele- 6 – 750
Vigas de betão armado 46.1 (90) –
mentos de pilar e de vigas de betão armado 8 – 500
com rotura por flexão, um grupo de vigas de 62 540 694
betão armado com rotura por corte e um Elementos com rotura por corte Vigas de betão armado 56.2 (105) – 63 618 691
grupo que engloba ensaios de aderência. Os 10 464 581
dois primeiros grupos tiveram como objec- Ensaios de arranque em flexão Vigas de betão 34.9 5.9 – – –
tivo principal avaliar a eficácia da técnica de (1) Os valores entre parentesis curvos representam a idade, em dias, quando os provetes foram ensaiados; (2) Armadura transversal; (3) Armadura longitudinal.

reforço em elementos com rotura por flexão TABELA 3 – Propriedades dos constituintes dos sistemas de CFRP
e em elementos com rotura por corte, en- Sistema de CFRP Principais propriedades
quanto que o terceiro teve como finalidade Tipo
Material Resistência Módulo de Extensão Espessura
à tracção [MPa] Elastecidade [GPa] última (%) (mm)
caracterizar a ligação betão-adesivo-CFRP. Tipo Designação
Primário MBrace Primário 12 0.7 3.0 –
A técnica de reforço que se propõe neste
Manta curada
trabalho baseia-se nos seguintes procedimen- “in situ” (1)
Resina MBrace Saturante 54 3 2.5 –

tos (ver Figura 1): Manta S&P C–Sheet 530 3.000 390 0.8 0.167

Rasgos de 4 a 5 mm de largura e 12 a 15 Adesivo MBrace Adesivo 16–22 5 – –


mm de profundidade são executados na Laminado (i) 1.741 153 1.1
S&P laminates
face dos elementos a reforçar; Pré-fabricado (2) Laminado
CKF 150/2000
(ii) 2.740 158 1.7 9.6
Os rasgos são limpos com a aplicação de (iii) 2.286 166 1.3
ar comprimido; (1) De acordo com o fabricante; (2) Reseultados experimentais. (i) Aplicado nos pilares com rotura por flexão; (ii) Aplicado nas vigas de betão armado com rotura
por flexão e nas vigas de betão dos ensaios de arranque por flexão; (iii) Aplicado nas vigas de betão armado com rotura por corte.
Os CFRP são limpos com acetona;
Adesivo epoxi é produzido segundo as re- minado utilizadas tinham secção transversal Actuador de
comendações do fabricante; de 9.6 mm de largura por 1.45 mm de es- compressão Unidades: mm

Os rasgos são preenchidos com o adesivo; pessura. Os valores obtidos em ensaios de


200 200

Célula de Célula de
Adesivo é aplicado nas faces dos CFRP; tracção uniaxial efectuados em provetes de carga C1 carga C2

Os CFRP são introduzidos nos rasgos re- laminado, segundo a ISO 527-5, estão indi- LVDT1

tirando-se o adesivo em excesso. cados na Tabela 3, onde também se incluem


1000

(200x200)

1000
Actuador Pilar
O período de cura do adesivo foi de, pelo os valores do módulo de Young e da resis- tracção/compressão

menos, cinco dias. tência à tracção do adesivo epoxi utilizado,


200

obtidos em ensaios segundo a ISO 527-3.


300

Sapata

3. Propriedades dos Materiais


1000

600

4. Reforço à Flexão de Pilares


Na Tabela 2 apresentam-se os resultados dos Bloco de fundação
ensaios efectuados para caracterizar os be- 4.1. Série de ensaios 200 200 1200 200 200
tões e os aços utilizados. A resistência média Figura 3 – Sistema de ensaio
à compressão do betão, fcm, foi obtida por
Direcção da aplicação da carga

intermédio da realização de ensaios de com- Secção A-A


Para avaliar a eficácia da técnica de reforço
pressão uniaxial realizados em cilindros. A proposta, em elementos submetidos a com-
resistência média à tracção em flexão, fctm, pressão axial constante e carga horizontal cícli-
Laminados de CFRP são
introduzidos em ranhuras
e fixos com adesivo epoxi
fl, foi obtida por intermédio de ensaios de ca (Figura 2), as séries de pilares de betão ar-
1000
100-150

flexão efectuados segundo as recomenda- Substituição do betão de mado indicadas na Tabela 4 foram ensaiadas.
Pilar

recobrimento por argamassa epoxi

ções da RILEM[4]. Oríficios com 100 mm de


profundidade preenchidos TABELA 4 – Designações atribuídas aos elementos de pilar
Para caracterizar as armaduras utilizadas por argamassa epoxi

Séries
300

Armadura
foram efectuados ensaios de tracção uniaxial ≅3
0 longitudinal SR 1 PR 2 CR 3
segundo a EN 10002-1, sendo cada valor Sap
ata
P10a_SR P10a_PR P10a_CR
Unidades: mm 4φ10
apresentado à média de três ensaios. 800 (Asl = 314 mm2) P10b_SR P10b_PR P10b_CR
De acordo com o fabricante, os constituin- 400
4φ12 P12a_SR P12a_PR P12a_CR
tes do sistema de manta de CFRP utilizados (Asl = 452 mm2) P12b_SR P12b_PR P12b_CR
no reforço ao corte das vigas têm as proprie- Figura 2 – Técnica de reforço aplicada nos pilares
(Secção A-A na Figura 1a) (1) Não reforçado; (2) Reforçado antes de ser ensaiado; (3) Elementos de
dades indicadas na Tabela 3. As faixas de la- pilar da série SR que foram reforçados após terem sido ensaiados.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 85


DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

A série SR é composta por pilares não refor- TABELA 6 – Forças máximas obtidas nos pilares das séries pada não varia significativa-
SR (não forçados) e CR (reforçados após terem sido prevismente ensaiados)
çados, a série PR é constituída por pilares que mente, mas o aumento da
Tipo de força Séries P10a_ P10b_ P12a_ P12b_
foram reforçados antes de serem ensaiados e capacidade de carga é con-
SR [kN] 16.67 (86) 21.78 (85) 26.35 (85) 29.31 (85)
a série CR é composta pelos pilares ensaiados siderável, tal como pode ser
Tracção CR [kN] 37.96 (146) 41.38 (130) 34.11 (150) 45.54 (154)
da série SR, reforçados posteriormente e en- também constatado na Fi-
Aumento[%] 127.70 89.99 29.45 55.37
saiados novamente[5]. gura 6, onde se representa
SR [kN] -19.76 (86) -24.07 (85) -30.52 (85) -32.27 (85)
Na Figura 3 ilustra-se o sistema de ensaio uma envolvente típica do
Compressão CR [kN] -34.11 (146) -43.1 (130) -37.03 (150) -41.58 (154)
utilizado. O provete era constituído pelo carregamento cíclico.
pilar, ligado monoliticamente a uma sapata Aumento[%] 72.62 79.06 21.33 28.85 Na maior parte dos pilares
Nota: Os valores entre parêntesis curvos representam a idade do pilar, em dias, à data do ensaio.
que, por sua vez, era fixada a um bloco de reforçados, valores de ex-
fundação por intermédio de quatro varões (foram necessárias duas betonagens para tensão próximos da extensão última do CFRP
de aço. O pilar era submetido a uma carga moldar cada provete) e a desalinhamentos (≅1.1%) foram registados em vários CFRP,
vertical constante de 150 kN que introdu- das armaduras de aço. Tomando por base
zia no pilar uma tensão de 3.75 MPa. As for- de comparação os resultados obtidos na série
40
ças instaladas eram registadas por células de de pilares não reforçados (série SR), cons- 10434

30
carga, enquanto os deslocamentos eram lidos tata-se que o reforço proporcionou um au-
20
por transdutores de deslocamentos (LVDT’s), mento significativo da capacidade de carga
10
dispostos de acordo com o esquema da Fi- dos pilares. Como a percentagem de CFRP

Força (kN)
Compressão TracÁ„o
0
gura 4. Para avaliar as extensões nos CFRP, foi mantida constante em toda a campanha -12000 -9000 -6000 -3000 0 3000 6000 9000 12000
-10
nestes foram colados extensómetros nos lo- de ensaios, o aumento da capacidade de carga
-20
cais indicados na Figura 4. O carregamento foi maior nos pilares com menor percenta-
-30
era constituído por oito ciclos de desloca- gem de armadura convencional. O aumento
-40
mentos desde ±2.5 mm até ±20.0 mm, em de capacidade de carga nos pilares da série
-50
incrementos de ±2.5 mm, à velocidade de PR e da série CR foi similar. Extensão ( µm/m)

deformação de 150 m/s. Figura 7 – Relação entre a força e a extensão no


50
extensómetro Ext. 6 (ver Figura 4) no pilar P10a_CR
Lado D 40
Lado C
Lado A

Unidades: mm
30
50 == 50
Lado B
50 == 50 tendo alguns rompido junto à fenda de ro-
20
LVDT1
(±25mm)
tura do pilar. A título de exemplo, na Figura
10
7 apresenta-se a relação entre a força hori-
Força (kN)

LVDT2
140

Actuador (±25mm) 0
horizontal
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 zontal e a extensão no extensómetro Ext6
160

LVDT3 -10
(±25mm)
Ext. 3
Ext. 6
(ver Figura 4), no pilar P10a_CR. Nos res-
80 120 160

LVDT4 -20
Ext. 2
(±12.5mm)
Ext. 5 tantes pilares, foram registadas relações si-
120 120

( ±12.5mm)

(±12.5mm)

LVDT5 -30
LVDT7

P10a_SR
LVDT6

milares nos extensómetros localizados na


Ext. 1 (±12.5mm) Ext. 4
P10a_PR
-40
Sapata 20 Sapata 20 Sapata zona de rotura do pilar.
(Lado A) (Lado C)
(Lado B) Figura 5 – Resposta força-deslocamento (no LVDT1)
para o pilar P10a
Figura 4 – Localização dos transdutores de deslocamento (LVDT’s) 5. Reforço à Flexão de Vigas
e dos extensómetros (Ext.)
50

40 5.1. Série de ensaios


4.2. Resultados 30

20 Na Figura 8 apresentam-se os dados neces-


As forças máximas de compressão e de trac- 10 sários à caracterização dos modelos das sé-
Força (kN)

ção obtidas nos ensaios estão indicadas nas 0 ries de vigas ensaiadas. A área da secção
-25 -20 -15 -10 -5 0 5 10 15 20 25
Tabelas 5 e 6. As diferenças registadas nas -10
transversal dos CFRP (Af) aplicados em cada
forças máximas em pilares das mesmas sé- -20
série foi determinada por forma a duplicar
ries devem-se, fundamentalmente, à varia- -30
P10b_SR a carga de rotura das correspondentes vigas
-40
ção na resistência do betão destes pilares P10b_CR de referência[6]. A percentagem de estribos
-50
utilizada foi a necessária para assegurar ro-
TABELA 5 – Forças máximas obtidas nas séries PR Figura 6 – Envolvente força-deslocamento (no LVDT1)
(reforçados antes de serem ensaiados) de todos os carregamentos cíclicos no pilar P10b tura por flexão. Na Figura 8, As é a área da
Série PR secção transversal dos varões de aço dispos-
Tipo
de força P10a_PR P10b_PR P12a_PR P12b_PR Na Figura 5 apresenta-se a relação típica tos na face inferior da viga.
(111) (113) (110) (115)
entre a força horizontal e o deslocamento As deformações das vigas foram medidas por
Tracção [kN] 37.14 40.63 44.13 39.81
no LVDT1 (ver Figura 3). Como a presente LVDT’s e as extensões longitudinais nos
Compressão [kN] -38.54 -37.96 -43.66 -36.64
técnica de reforço não introduz confinamento CFRP foram registadas por três extensóme-
Nota: Os valores entre parêntesis curvos representam a idade do pilar
à data do ensaio. relevante no betão do pilar, a energia dissi- tros colados ao CFRP.

86 INGENIUM | Março/Abril 2007


DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

A B C
1600 SÉRIE S1 SÉRIE S2 Laminados de CFRP
500 500 500 V1 V1R1 V2 V2R2
2Ø8 2Ø8 2Ø8 2Ø8
P/2 P/2

178

170

173

177

≅ 12

≅ 12
≅ 12
50 50 35 30 35 25 25 25 25
2Ø8 2Ø6 3Ø6
2Ø6 1CFRP 3Ø6 2 CFRP
100

≅ 1 ≅ 10 ≅ 1
Af /As = 25.2 Af /As = 33.6
SÉRIE S3 SÉRIE S4 CFRP
V3 V3R2 V4 V4R3 adesivo epoxi
50 50 1400 (CFRP) 50 50 2Ø8 2ÿ8 2Ø8 2Ø8

21
7 estribos Ø6 6 estribos Ø3 7 estribos Ø6 1Ø8
≅4

175

175

175

180
1Ø8 unidades: mm
2Ø6 3Ø8
10 100 100 100 100 100 100 80 80 80 100 100 100 100 100 100 10 2Ø6 2 CFRP 3Ø8 3 CFRP
35 35 35 35 unidades: mm Af /As = 26.7 Af /As = 28.3
unidades: mm

Figura 8 – Séries de vigas com rotura por flexão: (a) tipo de carregamento e distribuição das armaduras; (b) secções transversais; (c) pormenor do reforço.

5.2. Resultados de referência foi praticamente alcançado. A As séries de vigas testadas (ver Figura 11)
carga correspondente ao início da cedência eram compostas por uma viga de referência
Os diagramas de carga vs deslocamento a das armaduras de aço, Fsy, aumentou de 32% sem qualquer tipo de reforço ao corte (VB10);
meio vão estão representados na Figura 9, e a 47%. O deslocamento correspondente a Fsy uma viga com estribos em varão de aço φ6
os principais resultados estão incluídos na Ta- também aumentou. O aumento na carga de afastados de 150 mm nos vãos de corte (VBE-
bela 7. Verifica-se que o objectivo de dupli- início da fendilhação, Fcr, foi bastante signifi- -15); uma viga com faixas de duas camadas
car a carga última das correspondentes vigas cativo. A carga de serviço, Fserv (carga para a de manta de CFRP S&P C-Sheet 530 C5-30

100
TABELA 7 – Principais resultados registados nas séries de vigas reforçadas à flexão
90
Início da fendilhação A
Cedência da armadura
80 Deslizamento do CFRP
Fcr Fcr (VR)1 Fserv Fserv (VR) Fsy Fsy (VR) Fmax Fmax (VR) ƒ,max
Séries Viga
70 V1R1 [kN] Fcr (V) [kN] Fserv (V) [kN] Fsy (V) [kN] Fmax (V) [%]
V1
Força (kN)

60
50
V1 8.5 18.6 24.5 28.2 –
S1 1.26 1.22 1.32 1.78
40
V1R1 10.7 22.7 32.31 50.32 1.55
30
20 V2 8.1 21.7 37.5 41.0 –
10 S2 1.52 1.45 1.39 1.91
0 V2R2 12.3 31.4 52.28 78.5 1.28
0 5 10 15 20 25 30
V3 7.9 23.8 40.0 41.3 –
Deslocamento a meio vão (mm) S3 1.51 1.38 1.36 1.98
100 V3R2 11.9 32.8 54.52 81.9 1.28
90
Fendilhação B
80
Cedência da armadura V4 8.1 32.3 46.9 48.5 –
Deslizamento do CFRP
70 V2R2
S4 1.74 1.25 1.47 1.96
V2 V4R3 14.1 40.4 69.11 97.9 1.06
Força (kN)

60
50 (1) VR – Viga Reforçada; V – Viga de referência; (2) O ensaio foi cancelado quando a carga era de 50.3 kN e a flecha era superior a 25 mm.
40
30
20
flecha de L/400=3.75 mm, em que (propriedades na Tabela 1), em forma de U,
10 L é o vão da viga), também aumen- de 25 mm de largura e afastadas 80 mm no
0
0 5 10 15 20 25 30 tou, tendo sido de 45% o máximo vão de corte (VBM-8); uma viga com CFRP
Deslocamento a meio vão (mm)
incremento. inseridos em ranhuras verticais efectuadas no
100
90
Fendilhação
Cedência da armadura
C As relações entre a carga aplicada betão de recobrimento das faces verticais da
e as extensões registadas nos ex- viga, afastados de 100 mm (VBCV-10); e
80 Deslizamento do CFRP
70 V3R2
V3
tensómetros estão representadas uma viga com CFRP inclinados a 45 (VBCI-
Força (kN)

60
50
40 na Figura 10. Os valores máximos -15). A quantidade de reforço ao corte foi de-
30
20 de extensão, incluídos na Tabela terminada segundo o ACI Committee 440[1],
7 (εf,max), variaram de 62% a 91% de forma a que todas as vigas reforçadas (in-
10
0
0 5 10 15 20 25 30
da extensão última do CFRP (εf,u clusive a VBE-15) tivessem idêntica resistên-
Deslocamento a meio vão (mm)
100
= 1.7%). cia e rompessem por corte.
Fendilhação D
90 Cedência da armadura
80 Deslizamento do CFRP
70 V4R3
V4
6. Reforço ao Corte de Vigas 6.2. Resultados
Força (kN)

60
50
40
30
6.1. Série de ensaios Na Figura 12 apresenta-se a relação entre a
20 carga e o deslocamento a meio vão registada
10
0 Três tipos de técnicas de reforço nas vigas ensaiadas. Os principais resultados
0 5 10 15 20 25 30

Deslocamento a meio vão (mm)


com CFRP foram utilizados para estão indicados na Tabela 8. Quando com-
Figura 9 – Diagramas carga vs deslocamento a meio vão.
avaliar a mais eficaz no reforço ao paradas com a viga de referência (VB10), as
Séries: (a) S1, (b) S2, (c) S3 e (d) S4 corte de vigas de betão armado[7]. vigas reforçadas com CFRP atingiram uma

88 INGENIUM | Março/Abril 2007


CIVIL
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Carga (kN)
TABELA 8 – Principais resultados obtidos nas séries de vigas reforçadas ao corte
0 20 40 60 80 100 Sistema de reforço Fmax Fmax Fmax p p p
0 Vigas
ao corte [kN] Fmax,VB10 Fmax,VBE-15 [mm] p,VB10 p,VBE-15
2 V1R1
4 VB10 – 74.02 1.00 0.61 1.92 1.00 0.25
Extensões (x10 -3 )

6
8
VBE-15 Estribos em varão de aço 120.64 1.63 1.00 7.57 3.94 1.00
Ext.1 Ext.2 Ext.3
10
Ext. 1 VBM-8 Faixas de manta de CFRP 111.14 1.50 0.92 4.18 2.18 0.55
12 Ext. 3
14 Início da fendilhação VBCV-10 CFRP Verticais 131.22 1.77 1.09 6.37 3.32 0.84
16
Cedência da armadura A
VBCI-15 CFRP inclinados 120.44 1.63 1.00 4.21 2.19 0.56
Carga (kN)
0 20 40 60 80 100
0
2 V2R2
4
carga máxima (Fmax) 50% a 77% comportamento da ligação, com adesivo,
Extensões (x10 -3 )

6
8
Ext.1 Ext .2 Ext.3

Ext.1
mais elevada. O maior e o menor entre CFRP e betão, foram efectuados en-
10
12
Ext.2
Ext.3 aumento foram registados na viga saios de arranque em flexão, tendo-se utili-
Início da fendilhação
14 Cedência da armadura
Deslizamento do CFRP B
reforçada com CFRP dispostos zado três comprimentos de aderência[8].
16
verticalmente (VBCV-10) e na A Figura 13 representa o provete, o carre-
0 20 40
Carga (kN)
60 80 100
viga reforçada com faixas de manta gamento e os instrumentos utilizados na me-
0
2 V3R2
de CFRP (VBM-8), respectiva- dição de deslocamentos, forças e extensões.
4 mente. Quando comparada com No bloco B o laminado era fixo ao betão num
Extensões (x10 -3 )

a viga armada com estribos de aço comprimento total de 325 mm, enquanto
6
Ext .1 Ext .2 Ext.3
8
Ext.1
10 Ext.2
Ext.3
(VBE-15), a viga reforçada com no bloco A o laminado era apenas fixo no
12
14
Início da fendilhação
Cedência da armadura CFRP verticais teve uma carga má- comprimento de aderência (La).
Deslizamento do CFRP C
16
xima 9% superior. Considerando A influência do comprimento de aderência
Carga (kN) como indicador de ductilidade o na relação entre a força de arrancamento e
0 20 40 60 80 100
0 deslocamento registado sob a carga o deslizamento (deslocamento no LVDT2),
2 V4R3
4
máxima (δp), verificou-se que, F-sl, está representada na Figura 14. A influ-
Extensões (x10 -3 )

6
Ext.1 Ext.2 Ext.3
quando comparada com a flecha ência do comprimento de aderência na re-
8
10
Ext. 1
Ext.2 da viga de referência (δp,VB10), a lação entre a tensão média de corte e o des-
Ext.3
12 Início da fendilhação
14 Cedência da armadura
16
Deslizamento do CFRP D F/2 F/2 Adesivo Epoxi LS-CFRP

Figura 10 – Diagramas carga vs extensão nos laminados. 150 Vista


30

3.3
15
Vista interior lateral
Séries: (a) V1R1; (b) V2R2; (c) V3R2 e (d) V4R3 Bloco A Bloco B 180

Rótula Metálica Extensómetro LS-CFRP


135

P P
unidades: mm 2∅6
15

LVDT 2
LVDT 1
LC1 LC2
VB10 150 L1 La L1 325 50 50
(Comprimento (Comprimento
4∅10 aderido) aderido)
5 900 5 150 75 300 50 300 75
Secção transversal
P P P P Figura 13 – Provete do ensaio de arranque em flexão

VBE-15 VBM-8

150 150 300 150 150 60 80 80 80 300 80 80 80 60


flecha para a carga máxima das lizamento (deslocamento no LVDT2), τ-sl,
P P P P
vigas VBE-15, VBCV-10, VBCI- está representada na Figura 15. Nas Figuras
15 e VBM-8 foi 294%, 232%, 119% 14 e 15, cada curva é a resposta média re-
VBCV-10 VBCI-15
e 118% superior, respectivamente. gistada em três provetes.
100 100 100 300 100 100 100 150 80 300 80 150
Assim, δp,VBCV-10 é 84% de δp,VBE- A Tabela 9 inclui os valores médios das prin-
Figura 11 – Série de vigas com rotura por corte
-15, revelando que a técnica de re- cipais propriedades avaliadas com base nos
forço adoptada não é somente efi- resultados obtidos nos ensaios efectuados.
140 VBCV-10 caz em termos de aumentar a capacidade Nesta Tabela, Fmax é a força máxima no la-
120 VBE-15
máxima de carga, como também em asse- minado, τmax é a tensão máxima de corte,
100
VBCI-15 gurar maior capacidade deformacional às Gf é a energia dissipada no ensaio, represen-
Carga Total (kN)

80
VB10
VBM-8
vigas reforçadas. tada pela área sob a curva tensão de corte vs
60

40
deslizamento até um deslizamento de 5 mm.
20 7. Caracterização da Ligação Por sua vez, εf,max é a extensão máxima re-
0 Betão-Adesivo-CFRP gistada no extensómetro colado ao CFRP,
0 2 4 6 8 10 12 14
Deslocamento Central (mm) Sf,u é a sua extensão de rotura (≈1.7%), e
Figura 12 – Relação carga total vs deslocamento Com o objectivo de avaliar a influência do σl,max é o deslizamento correspondente à
central para as vigas com rotura por corte comprimento de aderência do CFRP no força máxima aplicada no ensaio.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 89


DOSSIER COMUNICAÇÕES CIVIL

30

fcm35_La40
24 fcm35_La60
fcm35_La80
Força no laminado (kN)

18

12

6
A energia de fractura tem uma tendência em boa parte, do controlo de qualidade as-
para diminuir com o comprimento de ade- segurado, quer nos procedimentos de re-
0 rência do laminado, devido, fundamental- forço, quer nos materiais aplicados. É fun-
0 1 2 3 4 5
Deslizamento (mm) mente, à diminuição da tensão máxima de damental que o aplicador tenha conheci-
Figura 14 – Influência do comprimento de aderência (La) corte com este comprimento. Contudo, mento das boas práticas de execução da téc-
na relação força de arrancamento vs deslizamento
esta diminuição parece tender para uma nica e que sejam efectuados ensaios para ga-
assimptota, dado o atrito betão-adesivo- rantir que os valores das propriedades dos
20
CFRP garantir um nível de resistência re- materiais aplicados satisfaçam os requisitos
fcm35_La40
16 fcm35_La60 sidual elevado. considerados no projecto.
Tensã o média de corte (MPa)

fcm35_La80

12 8. Conclusões 9. Agradecimentos

8 No presente trabalho foi utilizada uma nova Os autores agradecem às empresas que gen-
técnica de reforço para aumentar a capaci- tilmente forneceram os materiais usados na
4
dade de carga de elementos de pilar e de campanha experimental: S&P, Bettor MBT
viga com rotura por flexão, e de viga com Portugal, Secil, Nordesfer, Ferseque, Casais,
0
0 1 2 3 4 5 rotura por corte. Esta técnica baseia-se na Solusel, VSL e Unibetão (Braga). Ao CE-
Deslizamento (mm)
inserção de faixas de laminados de CFRP MACON, agradece-se a colaboração pres-
Figura 15 – Influência do comprimento de aderência (La)
na relação tensão média de corte vs deslizamento em ranhuras efectuadas no betão de reco- tada nos ensaios de caracterização dos lami-
brimento dos elementos a reforçar. Os CFRP nados de CFRP e do adesivo. O primeiro
são fixos ao betão por intermédio de adesivo autor agradece à bolsa SPRH/BSAB/291/2002-
epoxi. A ligação betão-adesivo-CFRP foi es- -Pocti da FCT e FSE.
Da análise das Figuras 14 a 15 e dos resultados tudada em termos de avaliar a influência do
incluídos na Tabela 9, constata-se que [8]: comprimento de aderência do CFRP nos * DEC, Universidade do Minho
Aumentando ao comprimento de aderên- principais parâmetros que permitem carac-
cia do CFRP, a força na faixa de laminado terizar esta ligação.
aumenta; Dos resultados obtidos verificou-se que a téc- REFERÊNCIAS
Aumentando ao comprimento de aderên- nica proposta é mais eficaz que as baseadas 1. ACI Committee 440, “Guide for the design and cons-
cia, aumenta o deslizamento na fase pré- na colagem externa de CFRP, dado que a truction of externally bonded FRP systems for streng-
thening concrete structures”, ACI, 2002.
-pico, dado que existe maior volume de precocidade da descolagem do CFRP é re- 2. CEB-FIB, “Externally bonded FRP reinforcement for RC
adesivo, sendo este um material com ele- tardada, sendo mesmo evitada em muitos structures. International Federation for Structural Con-
crete”, 2001.
vada deformabilidade não linear. Assim, casos, resultando níveis de deformação mais 3. De Lorenzis L, Nanni A, La Tegola A, “Flexural and shear
quanto maior La, maior foi o deslizamento elevados nos CFRP e aumentos mais signifi- strengthening of reinforced concrete structures with
near surface mounted FRP rods”, 3th Conference on
no pico; cativos na capacidade de carga dos elemen- Advanced Composite Materials in Bridges and Structu-
O τmax diminui com o aumento do com- tos reforçados. Nos elementos de viga, além res, Canada, 2000, pp. 521-528.
4. RILEM Draft Recommendation 50-FMC, “Determination
primento de aderência do laminado. A ten- do aumento da capacidade de carga, também of the fracture energy of mortar and concrete by means
são máxima de corte é significativamente se registou um aumento significativo da sua of three-point bending tests on notched beams”, Ma-
terials and Structures, 1985.
superior à registada em outras configura- capacidade deformacional no momento da 5. Ferreira DRSM. “Pilares de Betão Armado Reforçados
ções de ensaio de arranque; sua rotura, indicador da eficácia da presente com Laminados de Fibras de Carbono”. Tese de Mes-
trado, Universidade do Minho, 2000.
técnica em termos de ductilidade. 6. Fortes AS, Barros JAO, Padaratz IJ, “Vigas de betão ar-
TABELA 9 – Valores das principais grandezas Os ensaios de arranque em flexão revelaram mado reforçadas com laminados de CFRP inseridos no
betão de recobrimento”, Relatório 02-DEC/E-13, Uni-
avaliadas nos ensaios de arranque em flexão que as tensões médias de corte alcançadas versidade do Minho, 2002.
Grandeza La40 La60 La80 são significativamente superiores às regista- 7. Barros, JAO, Dias, SJE “Shear strengthening of reinfor-
ced concrete beams with laminate strips of CFRP”, In-
Fmax [kN] 15 22.8 22.4 das com técnicas baseadas na colagem exte- ternational Conference Composites in Constructions -
τmax [MPa] 17.5 17.7 13.0 rior. Verificou-se que a força de arranque au- - CCC2003, 2003, Italy, pp. 289-294.
8. Sena-Cruz JM, Barros JAO, “Bond behavior of carbon
Gf [MPaxmm] 48.3 43.9 38.4 mentou com o comprimento de aderência. laminate strips into concrete by pullout-bending tests.
εf,max / εf,u 42.1 64 62.1 O desempenho do sistema de reforço pro- Bond in Concrete - from the research to standards”, In-
ternational Symposium, 2002, Hungry, pp. 614-621.
Sl,max [mm] 0.3 0.5 0.7 posto neste trabalho depende, no entanto,

90 INGENIUM | Março/Abril 2007


ELECTROTÉCNICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Resumo

Com base na análise de características de


Motores Eléctricos
funcionamento de motores de indução de
“rendimento melhorado” (EFF2 e EFF1),
de Rendimento Melhorado
obtidas por determinação das suas evoluções
médias em função da potência nominal e do
número de pólos magnéticos do motor,
Uma boa aposta!
põem-se em evidência as vantagens da sua Carlos Araújo Sá *
adopção face aos tradicionais motores de
rendimento “normal” (EFF3). análise crítica das suas reais sição entre os respectivos
vantagens técnico-econó- rendimentos.
Introdução micas, particularmente numa O acordo estabeleceu ainda
óptica do utilizador. que, no quinquénio 1998-
Desde sempre que os técnicos procuram en- É o que se pretende fazer -2003, as vendas europeias
contrar soluções que, sem perda ou até me- no presente trabalho, to- de motores EFF3 deveriam
lhoria de qualidade, garantam um menor mando por base uma amos- ser reduzidas a metade,
consumo de energia. tra de motores de indução para posterior evolução para
Tal preocupação, que naturalmente abrange trifásicos comercialmente uma oferta exclusiva de
o sector da energia eléctrica, tem vindo a disponíveis, oriundos de motores EFF2 (actuais mo-
Figura 2
tornar-se cada vez mais prioritária, seja pela vários fabricantes com ins- Repartição de consumos de electricidade
tores de rendimento “me-
escassez de recursos primários (problema talações fabris sedeadas no em Portugal Continental em 2001 [1] lhorado” e, futuramente,
antigo), seja pela crescente consciencializa- espaço europeu, como parte ditos de rendimento “nor-
ção ecológica. de um estudo mais vasto que o autor tem mal”) e EFF1 (futuros motores de “alto”
É neste contexto que deve ser inserida a vindo a levar a cabo na Faculdade de Enge- rendimento).
constante procura de novas fontes energéti- nharia da Universidade do Porto. Correspondendo a transição entre as classes
cas, se possível mais “lim- estabelecidas a significativas reduções das per-
pas” e seguras, a par da con- 50
Motores de Rendimento das verificadas em regime nominal – -20% e
tinuada evolução de espe- 40
Melhorado -40%, respectivamente para motores EFF2 e
cificações de projecto e de EFF1 – a aplicação prática do acordo CE/
procedimentos de fabrico 30
Os chamados motores de CEMEP tem, apesar de tudo, superado as ex-
(TWh)

de equipamentos consumi- 20
rendimento melhorado pectativas mais optimistas, como o compro-
dores de energia eléctrica, (MRM) são motores de in- vam (ver Fig. 3) os resultados publicitados
nomeadamente tratando- 10 dução trifásicos surgidos na pelo último Relatório de Acompanhamento
-se de motores. sequência do mencionado disponível: no final de 2002 e para motores
0
Portugal também não foge 1995 1997 1999 2001 acordo CE/CEMEP, esta- de 4 pólos, a penetração de novos motores
1994 1996 1998 2000
a esta regra, já que a sua belecido em 1998 [2]. EFF3 foi reduzida a 12% (era de mais de 2/3
Figura 1 – Evolução (1994-2001) do consumo
dependência energética é de energia eléctrica em Portugal Continental [1] Em traços gerais, tal acordo em 1998!) e a de novos motores EFF1 já as-
grande e o seu consumo em estipula que os menciona- cendia a 4,1% (era de 2,1% em 1998).
termos de energia eléctrica tem vindo a cres- dos motores, para aplicações gerais de baixa
cer de forma continuada (ver Fig. 1), evi- tensão, 50 ou 60Hz, com potências nomi- Análise Comparativa
denciando um peso relativo importante de nais compreendidas entre 1,1 e 90kW, com
sectores que recorrem largamente ao em- 2 e 4 pólos magnéticos, deverão ser classifi- Pese embora o facto de estarmos firmemente
prego de motores eléctricos (ver Fig. 2) que, cados de acordo com os valores declarados convencidos que a transição preconizada é já
de uma forma predominante, são do tipo de para os respectivos rendi- imparável e que, daqui a al-
indução trifásicos. mentos nominais. guns anos, ninguém se lem-
1998
De tudo isto resulta que o recente apareci- Para o efeito, foram cria- EFF 3 2002 brará dos “velhos” motores
mento no mercado dos chamados motores das três classes de rendi- EFF3 – aliás, tal como acon-
1998
de rendimento melhorado – fruto de um mento – EFF1, EFF2 e EFF 2 2002
teceu há 3 décadas atrás
acordo específico, celebrado pela Comissão EFF3, por ordem decres- com os transformadores eléc-
1998
Europeia com o CEMEP (Comité Europeu cente de eficiência e em EFF 1
2002
tricos de “perdas normais”,
de Fabricantes de Máquinas Eléctricas e de que a última classe foi atri- 4 Pólos
de “perdas reduzidas” e de
equipamentos e sistemas de Electrónica de buída aos motores então 25% 50% 75% “perdas extra-reduzidas” –
Potência) – e da sua crescente implantação, predominantes – e estipu- Figura 3 – Evolução de quotas num momento como este,
no mercado europeu (1998-2002)
põem na ordem do dia a necessidade de uma ladas as fronteiras de tran- em que se perfilam decisões

Março/Abril 2007 | INGENIUM 91


DOSSIER COMUNICAÇÕES ELECTROTÉCNICA

sobre qual o tipo de motores em que vale a económico de um novo investimento. Mas, Claro que, do exposto, se pode concluir que
pena investir, faz todo o sentido comparar as por outro lado, também permitirá verificar outras características há cujo interesse com-
principais características de funcionamento até que ponto já hoje se consegue suplantar, parativo se tornaria interessante para o res-
dos motores oferecidos em cada uma das clas- em termos industriais, os requisitos mínimos pectivo utilizador do motor, mas não se pode
ses de rendimento disponibilizadas. estabelecidos há cinco anos atrás. É, pois, esquecer que se limitou esta análise a mo-
uma característica fundamental na compa- tores standard, vulgarmente escolhidos por
(A) Escolha da Amostra ração realizada. catálogo técnico-comercial, onde, infeliz mas
Pretendendo-se comparar as principais ca- Relativamente ao segundo item – caracte- compreensivelmente, escasseiam informa-
racterísticas de funcionamento de motores rísticas mecânicas – e estando fixados os va- ções técnicas mais detalhadas.
EFF1, EFF2 e EFF3, tornou-se necessário lores nominais para a potência dos motores,
eleger uma amostra significativa de cada um fácil é concluir que a comparação deve inci- (C) Resultados Obtidos
daqueles tipos de motores e, a partir dela, dir sobre: Elegendo os motores de 4 pólos, para 400V
estabelecer valores médios credíveis. a velocidade nominal (ou - 50Hz (dado serem os de
Estando disponível a base de dados EuroDEEM o seu correspondente valor utilização mais vulgar na in-
Figura 4 – (%) / P(kW)
2000 e o correspondente Catálogo de Moto- relativo de deslizamento) 100
dústria portuguesa), a com-
res [3], desenvolvida sob os auspícios da Di- – fixa os limites de varia- paração dos respectivos ren-
recção Geral de Energia da Comissão Euro- ção da velocidade do 90
dimentos nominais, toma-
peia, cedo se verificou a sua desactualização motor na sua zona nor- 80
EFF1
EFF2
dos como valores médios
num período de grande evolução e a não abran- mal de funcionamento, EFF3
dos declarados para cada
gência de dados técnicos necessários a poste- desde o vazio à plena 70
0 20 40 60 80
classe e, dentro destas, para
100

riores estudos comparativos mais detalhados. carga; cada escalão da respectiva


Figura 5 – s (%) / P(kW)
Daí o ter-se privilegiado a recolha directa de o binário máximo – fixa 12 potência nominal, é a indi-
características técnicas provenientes de dife- a capacidade de sobre- 9
EFF1
EFF2
cada na Fig. 4.
rentes fabricantes de motores eléctricos, assim carga mecânica do motor, Como seria de esperar, os
EFF3

se constituindo uma base de dados parcelar assim indiciando a esta- acréscimos de rendimento
julgada suficientemente relevante. bilidade do seu funcio- são mais sensíveis nas bai-
3

Neste contexto, foram analisadas e tratadas namento; 0


0 20 40 60 80 xas potências nominais – até
100

as características de funcionamento de mais o binário de arranque Figura 6 – Kc / P(kW)


11kW em que chegam a
de uma centena de motores de indução tri- directo – ajuda a avaliar 4,0 atingir [5 – 10] pontos per-
fásicos, provenientes de nove fabricantes se- a capacidade de acelera- centuais (EFF1 vs EFF3) e
deados no espaço comunitário europeu (in- ção do accionamento pro- [2 – 3] pontos percentuais
3,0

cluindo os dois que actualmente se encontram movido e a tirar conclu- 2,0


EFF1
(EFF2 vs EFF3) – mas tam-
sedeados em Portugal). Tais motores, com 2 sões sobre estratégias bém significativos nas altas
EFF2
EFF3

e 4 pólos, cobrem todos os escalões normali- aconselháveis para o seu 1,0


0 20 40 60 80 potências nominais – res-
100

zados de potência nominal, naturalmente den- desejado controlo. Figura 7 – KT / P(kW)


pectivamente, cerca de 1 e
tro dos limites fixados no acordo CE/CEMEP Finalmente, dentro do ter- 4,0 de [2 – 3] pontos percen-
– como se disse, entre 1,1 e 90kW. ceiro item – características tuais para motores com mais
EFF1
EFF2
3,0 EFF3

eléctricas – assumem par- de 37kW.


(B) Características Comparadas ticular interesse compara- 2,0 Ao nível do deslizamento
Tratando-se de motores eléctricos e numa tivo: nominal declarado para cada
óptica do seu utilizador, não surpreende que o factor de potência no- classe de motores (ver Fig.
1,0
0 20 40 60 80 100

o lote de características de funcionamento minal – para além de Figura 8 – cos / P(kW) 5), verifica-se uma clara di-
escolhidas para comparação deva incluir: condicionar o valor no- 1,0
minuição do respectivo valor
o rendimento nominal; minal da corrente absor- 0,9
à medida que se transita
características mecânicas, nomeadamente vida pelo motor, eviden- entre classes de eficiência
em termos de binário desenvolvido e de cia a maior ou menor ne- 0,8
crescente, diminuição esta
EFF1/2

velocidade de rotação; cessidade de futura com- 0,7


EFF3
naturalmente mais sensível
características eléctricas, particularmente pensação da energia re- 0 20 40 60 80
nos motores de menor po-
100

ao nível da corrente absorvida e correspon- activa requerida pelo Figura 9 – KI / P(kW) tência nominal, em que
dente factor de potência. mesmo; quase se chega a atingir uma
10

Relativamente ao primeiro item – rendimento a corrente de arranque 8 redução para metade – re-
nominal – que, não é demais lembrar, serviu directo – condiciona o alce-se, a este propósito,
de impulso à evolução imposta a este tipo dimensionamento da ins- 6
EFF1
EFF2
que o deslizamento nomi-
de motores, ele estará sempre na base de talação eléctrica de ali- nal dos motores assíncro-
EFF3

4
0 20 40 60 80 100
qualquer análise de viabilidade/benefício mentação do motor. nos mede o desvio relativo

92 INGENIUM | Março/Abril 2007 Figura 1 – Evolução (1994-2001) do consumo


de energia eléctrica em Portugal Continental [1]
ELECTROTÉCNICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

da velocidade do seu rotor para a chamada aquecimentos nominais mais reduzidos, mento deste tipo de motores são dema-
velocidade de sincronismo, sendo esta pra- sem empobrecimento da classe de isola- siado “permissivas”, nem sempre facili-
ticamente verificada em vazio e que, nos mento utilizada, tando a comparação de soluções alterna-
motores considerados, vale 1500rev/min. mais se reforçam as vantagens do empre- tivas. Adicionalmente, certas divergências
Já no respeitante ao binário máximo desen- go dos referidos motores de “alto rendi- entre o estipulado nas normas CEI 60034
volvido pelo motor (ver Fig. 6, em que foi mento”. e 61972 – na actualidade, ambas passíveis
expresso pela razão Kc = TM/Tn), verifica- Claro que, a este propósito e em contrapo- de aplicação a estes motores – e, até, as-
se um crescimento deste valor em motores sição com as afirmações anteriores, é sem- pectos polémicos relacionados com pro-
de potência pequena e média (até 45kW), o pre possível argumentar que um motor EFF1 cedimentos de ensaio prescritos nas mes-
que já não acontece em motores maiores. terá necessariamente um preço de aquisição mas, podem aumentar a dificuldade de
Ainda no respeitante às características mecâ- superior ao seu equivalente EFF2 (actual- quem tem a missão de decidir entre alter-
nicas, a evolução do binário de arranque di- mente +20%, presumindo-se a sua futura nativas colocadas à sua disposição;
recto capaz de ser desenvolvido pelo motor atenuação). utilização racional: em última análise, é
(ver Fig. 7, em que foi expresso pelo factor Sendo verdadeira tal afirmação, não é demais sempre de ter presente que o consumo
KT = Ta/Tn) evidencia e amplifica as tendên- recordar que o custo de aquisição de um energético de qualquer equipamento eléc-
cias já verificadas para o valor do binário má- motor de indução trifásico constitui apenas trico depende, em boa medida, do regime
ximo: para motores pequenos (até 18,5kW), uma pequena parcela do custo total associado de cargas a que o mesmo irá ser sujeito ao
o valor relativo do binário de arranque directo a toda a vida útil do mesmo (incluindo gas- longo da sua vida útil, pelo que de pouco
cresce para motores pertencentes à classe de tos de exploração), sendo as diferenças amor- servirá usar um MRM se as demais carac-
maior eficiência, acontecendo o contrário em tizáveis mais ou menos rapidamente. terísticas técnicas do mesmo não estive-
motores de maior potência nominal. É o que se exemplifica no Quadro 1, em que rem bem adaptadas à função que o mesmo
No capítulo das características eléctricas dos se consideraram dois motores para 400V- irá desempenhar;
motores estudados, e no respeitante ao res- -50Hz, 4 pólos, actualmente comercializa- cuidados de manutenção: tendo o fabri-
pectivo factor de potência nominal (ver Fig. dos em Portugal, tendo-se assumido um cante feito um esforço no sentido da di-
8), é também evidente a evolução favorável custo efectivo de aquisição da energia eléc- minuição das perdas totais verificadas no
sofrida em motores de classe de eficiência mais trica igual a 0,0671€/kWh e, por questões motor, com certeza procurou optimizar o
elevada, mas agora com dois aspectos relevan- de simplicidade, um funcionamento perma- projecto e os procedimentos de fabrico
tes: maior acréscimo em motores de potência nente em regime nominal, ao longo de 8h/ dos seus diversos componentes, incluindo
elevada e prática coincidência entre motores dia, 22dias/mês e 11meses/ano. os mais sujeitos a cuidados de manuten-
pertencentes às classes EFF2 e EFF1. Da análise do Quadro 1, rapidamente se per- ção periódica (rolamentos) e correctiva
Finalmente, e no que respeita à corrente de cebe a actual popularidade da opção por mo- (enrolamento estatórico; ventilador). Daí
arranque directo (ver Fig. 9, em o factor KI tores EFF2 e o relativo atraso na penetração o cuidado a ter para que eventuais inter-
= Ia/In foi utilizado para o efeito), torna-se dos EFF1 (que, como afirmado, se espera venções no motor, ao longo da sua vida
evidente a semelhança de valores (KI = [5 venha a desaparecer num futuro próximo). útil, sejam realizadas por forma a não ori-
– 8]) e de tendências de evolução (crescente ginar uma desnecessária degradação das
QUADRO 1 – Custos (aquisição e exploração)
com a potência nominal do motor) corres- características de rendimento do mesmo.
pondentes a motores das classes EFF2 e EFF3, Classe EFF1 EFF2
4 kW Preço (€) 220,00 186,00
e a prática independência, face à respectiva Agradecimentos
(%) 88,6 87,1
potência nominal, em motores da classe EFF1
Consumo (kW) 4,51 4,59
– para estes, KI = [7,0 – 7,5] torna-se um O autor agradece a todos os fabricantes de
Custo (€/ano) 586,48 596,58
valor empírico de referência. motores eléctricos e aos seus representantes
90 kW Preço (€) 4.021,00 3.296,00
em Portugal, sem cuja disponibilidade teria
(%) 95,3 94,2
Conclusões sido difícil realizar este estudo.
Consumo (kW) 94,4 95,5
Custo (€/ano) 12.268,10 12.411,36
Do exposto nas secções anteriores, tornam- * Eng.º Electrotécnico
-se evidentes as vantagens técnicas dos mo- Para terminar esta análise, convém ainda re- Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
tores de rendimento melhorado, em particu- ferir os seguintes aspectos complementares: Tel.: 22 508 16 64 – Fax: 22 508 14 43
lar dos motores de “alto rendimento” (EFF1). interpretação de valores declarados: no res- E-mail: [email protected]
Se a elas adicionarmos outros dados relevan- peitante a motores standard, os valores
tes, nem sempre explícitos nos catálogos dos declarados pelos fabricantes nos seus ca-
respectivos fabricantes, como sejam: tálogos admitem certas tolerâncias e pre-
curvas de rendimento mais favoráveis, por sumem a observância de Normas de En- REFERÊNCIAS
deslocação do regime de rendimento má- saio. Ora, acontece que, por um lado e em [1] http://www.dge.pt
ximo para menores valores da fracção de nosso entender, as tolerâncias admitidas [2] http://www.cemep.org
[3] http://iamest.jrc.it/projects/eem/eurodeem.htm
carga; na declaração do valor nominal do rendi-

Março/Abril 2007 | INGENIUM 93


DOSSIER COMUNICAÇÕES ELECTROTÉCNICA

teiro, que apresenta um carácter puramente


Sistemas Dinâmicos local.
Presentemente não existe uma interpreta-

de Ordem Fraccionária ção geométrica simples e única para uma


DF. Todavia, a tarefa simplifica-se se nos li-
mitarmos a funções simples como, por exem-
plo, a função sinusoidal, onde se tem
1 J. A. Tenreiro Machado e 2 Alexandra M. S. F. Galhano * Dα{sen(ωt)} = ωα sen(ωt + απ/2). Se for
associado um vector à função seno, então
Resumo de relevo no prosseguimento da teoria. Entre um integral e uma derivada correspondem
outros resultados, Holmgren considerou, a rodar esse vector de, respectivamente,
Este artigo apresenta um resumo do estado pela primeira vez, a derivação e a integração +π/2 e –π/2. O caso não-inteiro de Dα é
da arte sobre a generalização do cálculo in- fraccionárias como operações inversas e ge- então aquele que leva a uma rotação de απ/2
tegral e diferencial para valores não inteiros neralizou a expressão de dα(u v)/dxα. No (Fig. 1).
e valores complexos. A teoria do cálculo tocante a Letnikov, este desenvolveu a DF
fraccionário é analisada no contexto da mo- como limite da expressão lim Dαh f / hα,
delização e análise de sistemas dinâmicos demonstrou que as expressões propostas por D1
sendo apontadas as perspectivas de aplica- Liouville e Riemann estavam de acordo com
ção e desenvolvimento. esta definição e generalizou a teoria do CF
para valores complexos. Mais próximo dos D1/2
1. Evolução histórica nossos dias, são de referir numerosas contri-
buições, tais como as de Hadamard (1892),
A generalização do conceito de derivada Weyl (1917) e Marchaud (1927), que têm I0=D0
dαf(x)/dxα para valores não inteiros de α vindo a ampliar o âmbito desta teoria.
remonta ao início do desenvolvimento do I1 I1/2
cálculo diferencial [1-4]. Na correspondên- 2. Aspectos matemáticos fundamentais
Figura 1 − Interpretação geométrica de I e D ,
cia de Leibniz com Bernoulli e, posterior- das derivadas e integrais fraccionários com α não-inteiro, para a função seno
mente, com L’Hôpital (1695) e Wallis (1697),
encontram-se alguns apontamentos relativa- Ao longo dos anos, têm sido apresentadas
mente à derivada de ordem α = 1/2. No varias expressões para definição dos DFs. A 3. Aplicação das derivadas
entanto, deveu-se a Euler (1738) o primeiro definição mais simples corresponde à gene- e integrais fraccionários
passo, quando este analisou o cálculo de de- ralização das propriedades das transforma-
rivadas fraccionárias para a função potência. das de Fourier Λ{} e de Laplace Φ{} para A aplicação do CF aos vários campos da ci-
No seguimento deste resultado, Laplace valores não inteiros, resultando: ência é, ainda, relativamente restrita devido
(1812), Lacroix (1820) e Fourier (1822) su- à lenta difusão desta teoria. No entanto, é
geriram também algumas ideias relativas ao de referir a sua aplicação em vários domí-
cálculo fraccionário (CF). (1) nios da física e da engenharia [5-10].
O verdadeiro início da teoria relativa ao cál- A fim de interpretar os conceitos associados
culo de derivadas fraccionárias (DFs) deu-se onde jω e s são, respectivamente, os opera- a uma DF, vamos analisar, no domínio das
com os trabalhos de Abel e Liouville. Abel dores de Fourier e Laplace. Foram propos- frequências, o circuito proposto por Ousta-
(1823) investigou certas expressões fora do tas várias outras definições que apresentam loup [6] e que se encontra representado na
contexto do cálculo de DFs, mas os resulta- vantagens e inconvenientes quando confron- figura 2a). Este circuito é o análogo eléctrico
dos foram de importância considerável para tadas com uma eventual aplicação. A título do sistema de “interface” fluído-dique poroso
o desenvolvimento da teoria. Por seu lado, de exemplo, referira-se a definição de Grün- onde as correntes, resistências e condensado-
Liouville (1822-1837) estudou, explicita- wald-Letnikov que corresponde à generali- res eléctricos representam, respectivamente,
mente, várias questões, nomeadamente a zação para valores não-inteiros da expressão os caudais, as resistências e as capacidades hi-
definição e o cálculo de DFs para valores clássica do limite de um quociente de dife- dráulicas representados na figura 2b).
complexos de α, a sua aplicação a certos renciais: (2)
tipos de equações diferenciais lineares ordi- Sabe-se que:
nárias, o efeito de uma mudança de variável (3)
no cálculo de DFs e a definição de uma DF
como o limite do quociente Dαh f / hα onde Esta expressão mostra que no caso fraccio- Aplicando a transformada de Laplace obtém-
Dαh f é uma diferença de ordem fraccioná- nário existe uma “memória” associada à DF, -se:
ria. Riemann (1947), Holmgren (1865-1867) que captura uma infinidade de pontos de (4)
e Letnikov (1868) também tiveram papéis amostragem, em contraste com o caso in-

94 INGENIUM | Março/Abril 2007


ELECTROTÉCNICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Fluído A
poroso, verificam-se propriedades dinâmicas
Dique
importantes que, na última década, motiva-
poroso ram um interesse na sua aplicação em vários
REFERÊNCIAS
domínios da engenharia.
Ar [1] Keith B. Oldham and Jerome Spanier, The Fractional
Calculus: Theory and Application of Differentiation and
4. Conclusões Integration to Arbitrary Order, Academic Press,
1974.
[2] Katsuyuki Nishimoto, Fractional Calculus (Volume IV):
A teoria dos CF encontra-se ainda pouco di- Integrations and Differentiations of Arbitrary Order,
Descartes Press, Japan, 1991.
Canal Alvéolo vulgada mas apresenta fortes potencialidades
[3] Stefan G. Samko, Anatoly A. Kilbas, Oleg I. Marichev,
I de aplicação em várias áreas científicas. No Fractional Integrals and Derivatives: Theory and Appli-
cations, Gordon and Breach Science Publishers,
B campo dos sistemas dinâmicos, foi já desen-
I0 I1 In 1993.
volvido algum trabalho e os resultados con- [4] Kenneth S. Miller and Bertram Ross, An Introduction
to the Fractional Calculus and Fractional Differential
seguidos revelam numerosas possibilidades
Equations, John Wiley and Sons, 1993.
V R R/ε R/εn de aplicação. Nesta perspectiva, encontra-se [5] Ronald L. Bagley and Peter J. Torvik, Fractional Cal-
culus-A Different Approach to the Analysis of Visco-
C C/η C/ηn em curso investigação relativa à aplicação do
elastically Damped Structures, AIAA Journal, vol. 21,
CF nas ferramentas de análise, simulação e no. 5, pp. 741-748, May 1983.
[6] A. Oustaloup, La Commande CRONE: Commande Ro-
controlo.
buste d’Ordre Non Entier, Hermes, 1991.
Figura 2 [7] J. A. Tenreiro Machado, Analysis and Design of Frac-
a) Sistema de “interface” fluído-dique poroso 1 Professor Coordenador com Agregação tional-Order Digital Control Systems, Journal Systems
b) Circuito eléctrico análogo com uma Analysis-Modelling-Simulation, vol. 27, pp. 107-122,
associação recursiva de resistências e condensadores E-mail: [email protected] 1997.
2 Professora Coordenadora [8] I. Podlubny, Fractional Diferential Equations, Acade-
mic Press, San Diego, 1999.
E-mail: [email protected] [9] Svante Westerlund, Dead matter has memory! Causal
Consulting, Kalmar, Sweden, 2002.
* Departamento de Engenharia Electrotécnica,
[10] Alain Le Méhauté, Fractal Geometries: Theory and Ap-
O diagrama de Bode de Y(jω) está repre- Instituto Superior de Engenharia do Porto plications, Penton Press, 1991.
sentado na figura 3, onde ωi e ω’i designam, Tel.: 22 834 0500 – Fax: 22 832 11 59
respectivamente, as frequências dos pólos e
zeros. Verificam-se facilmente as relações:

(5)

20 log10 |Y(jω)|
log η log ε

Δdb 20 α db/dec
20 db/dec

1 εη log ω
ω1= ω2=
RC RC
η εη2
ω1 = ω2=
RC RC

Figura 3 − Diagrama de Bode de amplitude de Y(jω)

A partir do diagrama de Bode de amplitu-


des conclui-se que o declive médio não-in-
teiro α vem dado pela expressão:

(6)

Os fenómenos associados a este tipo de sis-


temas ainda não se encontram totalmente
compreendidos. Todavia, tal como no caso
inicial do sistema de “interface” fluído-dique
DOSSIER COMUNICAÇÕES GEOGRÁFICA

Geocodificação de Moradas
para Integração dos Dados do
Negócio com Dados Geográficos
David Cunha, Ricardo Araújo, Gabriel Pestana e Miguel Mira da Silva

Resumo quando analisada sobre uma base cartográ-


fica do que quando analisada na forma de
A informação mantida pelas organizações tabelas porque a informação é representada
tem uma forte componente geográfica, o que graficamente sobre um mapa.
tem suscitado um interesse crescente em No entanto, a dificuldade maior no uso dos
explorar essa componente no apoio à deci- mapas para visualização da informação está
são. No entanto, as soluções existentes estão no baixo desempenho para representação de
muito focadas no processamento operacio- informação histórica. A abordagem típica ao
nal e, na sua maioria, armazenam os dados problema é separar os dados geográficos
do negócio e geográficos em separado. O (mapas) dos dados do negócio, usando uma
fraco desempenho e a dificuldade de cruzar aplicação específica para armazenar e pro-
dados do negócio com dados geográficos faz cessar os dados geográficos, sendo os restan-
com que não sejam soluções adequadas a tes dados armazenados numa base de dados exemplo um polígono tem uma fronteira fe-
sistemas de suporte à decisão. relacional. Desta forma, os dados do negó- chada [OGC03]. A validação desta regra é
Neste artigo apresentamos uma proposta e cio e os dados geográficos encontram-se se- um processo complexo e não suportado por
respectiva implementação para melhorar a parados, o que afecta o desempenho e difi- uma base de dados relacional.
qualidade dos dados geográficos mais corren- culta o cruzamento entre os dados, para além A solução tradicional para o armazenamento
tes numa organização (moradas) que depois do Modelo Relacional puro não ser adequado de dados geográficos sempre foi utilizar fi-
são carregados e integrados numa Data Wa- ao armazenamento de dados geográficos de- cheiros proprietários sem dados do negócio
rehouse estendida ao domínio geográfico. vido à complexidade dos mesmos [ORA02, e, desta forma, os dados geográficos eram
IBM98]. guardados em ficheiros e os dados do negó-
1. Introdução A solução passa por armazenar os dados num cio eram guardados num SGBD. Nesta so-
repositório único, eliminando simultanea- lução não havia ligação entre os dados geo-
A componente geográfica pode ser usada para mente o problema dos dados do negócio se- gráficos e os dados do negócio. Para suportar
fazer análises espaciais como, por exemplo, rem analisados sobre realidades geográficas essa ligação foi adicionado um campo chave
monitorar os hábitos de compra dos clientes distintas. Esta situação é crítica porque, quando que, embora seja um progresso, é pouco ade-
por zonas e perfis sócio-económicos, saber o analisamos os dados, a dimensão tempo não quado para suporte à decisão devido ao fra-
volume de vendas por zonas e perfil de clien- pode ser o único elemento considerado. A co desempenho e à complexidade de inte-
tes ao longo do tempo, determinar a área de realidade geográfica aquando da ocorrência gração.
abrangência de cada estabelecimento ou au- dos factos também tem de ser considerada, Para eliminar esta separação e beneficiar das
xiliar na identificação da melhor localização isto porque os espaços também evoluem e a funcionalidades existentes na área das bases
para a construção/abertura de um novo es- geográfica de hoje pode não ser igual à que de dados relacionais, a componente geográ-
tabelecimento, com base no perfil geodemo- existia antes. fica passou a ser armazenada na base de dados
grádico da população [ESRI00]. utilizando um campo do tipo BLOB (Binary
Para além disto, visualizar a representação 2. Problema Large Object) [IBM98].
da informação num mapa permite que o de- Qualquer processamento que envolva dados
cisor obtenha informação de um modo mais Não só por questões de desempenho, mas geográficos (como proximidade, contiguidade
natural, designadamente informação de re- principalmente porque não suportam ope- ou inclusão) ou verificação da consistência
lacionamento entre diferentes entidades e rações típicas desde dados (distância, inter- dos dados (por exemplo, um polígono com
analisar a evolução dos resultados (e.g., cam- secção, etc.), as bases de dados relacionais uma fronteira fechada) é realizado por um
panha de marketing) para uma determinada não são adequadas para armazenar este tipo Servidor de Aplicações Geográficas (Spatial
zona ou produto ao longo do tempo. A aná- de informação. Para além disso, os dados geo- Database Engine ou SDE) [SDE02] exterior
lise deste tipo de informação é mais fácil gráficos têm uma semântica acrescida, por à base de dados. Este SDE recebe os pedi-

96 INGENIUM | Março/Abril 2007


GEOGRÁFICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

dos dos utilizadores, executa as instruções [Pes03a, Pes03b, Pes03c] para integrar coe- dade podemos analisar a eficácia das inicia-
SQL para obter os dados do negócio, inter- rentemente a componente espacial com as tivas publicitárias para no futuro dirigir me-
preta os campos BLOB que armazenam os ferramentas analíticas de suporte à decisão. lhor novas iniciativas [TIW01].
dados geográficos, realiza o processamento Esta arquitectura é introduzida de seguida.
necessário e envia o resultado ao utilizador. Com as especificações OpenGIS [OGC03] 4. Proposta
Esta segunda solução, apesar de constituir e com o surgimento no mercado de bases
uma evolução em relação à anterior, apre- de dados estendidas ao domínio espacial (sis- Este artigo propõe um processo de extrac-
senta ainda algumas desvantagens: temas de terceira geração), as funções de ção, transformação e carregamento (ETL)
os dados do tipo BLOB são armazenados emulador de dados geográficos executadas dos dados geográficos para a GeoDW. A
como uma sequência de binários usando for- pelos sistemas de segunda geração, que usa- parte mais importante deste processo é a
matos proprietários, ou seja, a base de dados vam um SDE – Spatial Data Engine – para geocodificação em que os dados do negócio
não consegue interpretar estes dados; gestão dos BLOBs, deixam de ser necessá- são referenciados geograficamente de forma
a consistência dos dados geográficos não rias. Os dados geográficos já não são um ele- a serem integrados com o resto da informa-
pode ser garantida pelo SGBD; mento estranho à base de dados, possibili- ção geográfica.
não é eficiente porque mesmo que se pre- tando assim o uso de dimensões geográficas A maioria dos dados do negócio que podem
tenda apenas uma parte do BLOB (mapa), na GeoDW. Desta forma, a componente ser considerados geográficos está na forma
a base de dados retorna o BLOB na sua geográfica passa a estar dentro do esquema de moradas. A geocodificação das moradas
totalidade para ser processado. multidimensional da Data Warehouse, ou é feita recorrendo aos campos que compõem
Resumindo, não existe ainda no mercado seja, os dados do negócio passam a estar in- a morada e está dividida em dois passos: a
nenhuma solução satisfatória para apoio à tegrados com os dados geográficos no mesmo uniformização da morada e a associação com
decisão utilizando simultaneamente dados registo. um elemento geográfico (e.g., ponto, polígono)
do negócio e dados geográficos. Além disso, a dimensão geográfica constitui que a represente num mapa.
um elemento integrador de diferentes tipos A uniformização da morada consiste, por sua
3. GeoDW de informação porque todos usam a mesma vez, em vários passos:
cartografia (sistema de coordenadas, escala dividir a morada em vários campos – por
Esta dificuldade de integração dos dados do e projecção) e podem, por isso, ser sobre- exemplo, tipo do arruamento, nome do
negócio com os dados geográficos dificulta postos em camadas. Por exemplo, a infor- arruamento, localidade;
a integração da componente geográfica com mação sobre as vendas e sobre o marketing normalizar os campos de acordo com
as ferramentas analíticas de suporte à deci- pode ser cruzada num mapa através da di- os dados de referência fornecidos pelos
são. Para solucionar este problema foi pro- mensão geográfica. Cruzando a localização CTT – que incluem todas as moradas de
posta uma nova arquitectura chamada GeoDW dos clientes com as localizações de publici- Portugal;

Março/Abril 2007 | INGENIUM 97


DOSSIER COMUNICAÇÕES GEOGRÁFICA

completar ou corrigir os campos da mo- CTT visto que a partir do nome do arrua- paração de moradas por aproximação (Ap-
rada que estejam incompletos ou errados mento e do código postal facilmente se obtém proximate String Matching) para rectificar
– por exemplo, código postal com apenas o elemento geográfico correspondente. erros ortográficos e fazer a substituição de
quatro dígitos. abreviaturas na morada (por exemplo, R. e
O processo genérico de uniformização de 5. Implementação Av.), que dificultam a uniformização das mo-
uma morada passa por pesquisar o nome do radas. Também devia ser considerado o nú-
arruamento nos dados de referência. Como Para validar esta proposta de geocodificação, mero de porta.
estes dados de referência dizem respeito a foi implementado um protótipo que depois Na GeoDW são registadas não só as altera-
Portugal inteiro é necessário limitar o uni- foi testado com dados reais. A uniformização ções dos valores dos dados do negócio, como
verso de pesquisa. de moradas foi limitada às duas primeiras ite- qualquer alteração dos valores dos dados ge-
Por isso, o processo divide-se em várias ite- rações, ou seja, apenas o código postal foi ográficos. Uma alteração geométrica resul-
rações sequenciais, em que cada iteração uti- usado para limitar o universo de pesquisa. tante, por exemplo, de uma operação de
liza um universo de pesquisa maior que o Dos testes que realizámos, concluímos que junção ou divisão origina um novo registo na
anterior, como passamos a descrever: o sucesso da uniformização depende forte- dimensão respectiva, com indicação dos ele-
1. universo de pesquisa limitado aos dados mente da qualidade das moradas de entrada. mentos filhos no caso da junção ou do ele-
de referência com o mesmo código pos- mento pai no caso da divi-
TABELA 1 – Resultados da uniformização
tal – nesta iteração entram as moradas que são. Assim sendo, os dados
possuam código postal com sete dígitos; Moradas uniformizadas 932 47 % do negócio georeferencia-
2. universo de pesquisa limitado aos dados Moradas com várias possibilidades 550 28 % dos estão também relacio-
de referência com apenas quatro dígitos Moradas para as quais os dados de referência estão incompletos 85 4% nados com a geometria dos
Moradas não uniformizadas 377 19 %
do código postal – nesta iteração entram dados geográficos aquando
Moradas não uniformizadas cujo código postal não existe 36 2%
as moradas que não tenham sido unifor- da sua georeferenciação.
TOTAL 1.980 100 %
mizadas na primeira iteração e as mora- Para além de poderem ser
das com código postal de quatro dígitos; Para testar o protótipo foram utilizadas 1980 analisados no tempo, serão sempre cruzados
3. universo de pesquisa limitado aos dados moradas reais das maiores empresas portu- com os tipos de dados geográficos que exis-
de referência do mesmo concelho/distrito guesas. Destas moradas, 1077 tinham código tiam na altura, o que permite usar esses dados
– nesta iteração entram as moradas que postal completo e todas as outras tinham com diferentes tipos de mapas para moni-
não tenham sido uniformizadas nas itera- apenas os primeiros quatro dígitos. Na Ta- torar a actividade do negócio segundo dife-
ções anteriores e que tenham zona/fre- bela 1 encontram-se os resultados do pro- rentes perspectivas ao longo do espaço e do
guesia/concelho ou distrito. cesso de uniformização para estas moradas tempo.
Para algumas moradas podem ser encontra- de teste.
das várias possibilidades de uniformização. Para 377 das moradas de entrada o processo
Por exemplo, a segunda iteração pode en- de uniformização não encontrou nenhuma
contrar várias possibilidades para a mesma possibilidade. Neste caso, os principais mo-
rua com códigos postais distintos. Essas pos- tivos foram moradas com erros ortográficos,
sibilidades são cruzadas com dados referen- com abreviaturas ou com códigos postais in-
REFERÊNCIAS
tes à freguesia, conselho e distrito e proces- correctos. Para 36 das moradas não foi pos-
sados automaticamente. Os dados que não sível a uniformização pelo facto do código • [ESRI00] ArcView Network Analyst. ESRI White Paper,
2000 - http://www.esri.com
têm informação suficiente são guardados postal não existir nos dados de referência. • [IBM98] Judith R. Davis, IBM’s DB2 Spatial Extender:
para que o utilizador possa seleccionar a lo- Para os testes efectuados apenas foram uti- Managing Geo-Spatial Information within the DBMS, 1998
- http://www.software.ibm.com/data/pubs/papers
calização correcta ou, manualmente, corrigir lizados os dados geográficos de Lisboa. Por • [OGC03] Open GIS Consortium, OpenGIS Specifications,
o endereço, estas moradas não entram nas isso, das 932 moradas uniformizadas, 265 2003. - http://www.opengis.org/ogcSpecs.htm
• [ORA02] racle Spatial 9.2 User’s Guide and Reference.
iterações seguintes do processo, visto que são de Lisboa mas só 236 foram geocodifi- - http://otn.oracle.com/products/spatial/spatial_doc_index.
apenas uma das possibilidades é a correcta. cadas porque os dados geográficos do mapa html
• [Pes03a] Gabriel Pestana. Analytical Tools to Customer
Existem também códigos postais para os de referência não continham todos os arrua- Relationship Management Integrating Geographic Data
quais os dados de referência apenas têm in- mentos de Lisboa. Optimization. ICEIS Doctoral Consortium, 2003.
• [Pes03b] Gabriel Pestana e M. Mira da Silva. A New Ar-
formação sobre o distrito e concelho, ou seja, chitecture for Integrated OLAP/GIS Analysis based on a
não possuem toda a informação sobre o ar- 6. Conclusão Geographical Data Warehouse. Proc. of the IADIS Inter-
national Conference e-Society, 2003.
ruamento. As moradas com estes códigos • [Pes03c] Gabriel Pestana e M. Mira da Silva. Gestão da
postais simplesmente não podem ser unifor- Neste artigo apresentámos uma proposta e Relação com o Cliente utilizando Dados e Funcionalida-
des Geográficas. Publicado na Ingenium (Revista da
mizadas. respectiva implementação para um processo Ordem dos Engenheiros). 2.ª Série, N.º 74. Março
A associação de uma morada uniformizada de geocodificação de moradas que é funda- 2003.
• [SDE02] Understanding ArcSDE - GIS by ESRI, 2002. -
com um elemento geográfico que a repre- mental para a construção da GeoDW. http://www.esri.com
sente num mapa é directa usando, por exem- No futuro seria interessante uniformizar as • [TIW01] Amrit Tiwana. The Essential Guide to Knowledge
Management, Prentice Hall, 2001.
plo, os dados geográficos fornecidos pelos moradas por geocodificar, efectuando a com-

98 INGENIUM | Março/Abril 2007


DOSSIER COMUNICAÇÕES METALÚRGICA
E DE MATERIAIS

sorção de plasticisador e distribuição granu-


Evolução morfológica de compostos lométrica (analisador Laser Malvern 1300
Ec), tendo-se obtido os resultados apresen-
de PVC rígido numa extrusora tados na Tabela 1.
A morfologia dos grãos foi estudada por mi-
contra-rotativa e num reómetro de binário croscopia electrónica de varrimento (SEM)
e análise de imagem. Os grãos da resina de
R. P. Marques 1 e J. A. Covas 2
PVC têm uma distribuição granulométrica
Sumário à de diversos termoplásticos. Este conceito compreendida entre 275 m a 58 m, com
é importante, uma vez que está inequivoca- uma forma e superfície irregular e pouco lisa
Monitorizou-se a evolução morfológica de mente demonstrada a relação entre grau de (Figura 1).
compostos de PVC rígido usados no fabrico gelificação e o desempenho mecânico de
de perfis quando processados numa extru- produtos em PVC [3].
sora de duplos-fusos contra-rotativos e num Os reómetros de binário (vulgarmente co-
reómetro de binário (ou torsão). Para o efeito, nhecidos por Brabender ou Haake, fabrican-
recolheram-se amostras de material fundido tes destes equipamentos) são muito utiliza-
em diferentes localizações ao longo do cilin- dos pela indústria com o objectivo de prever
dro da extrusora, em regime estacionário de o comportamento de um determinado com-
operação, evitando a extracção dos parafu- posto durante o processamento, usando uma
sos e a inevitável alteração do grau de geli- pequena amostra de material e um procedi-
ficação. No caso do reómetro de binário, re- mento relativamente simples e expedito. A Figura 1 – Grãos de resina de PVC
tiveram-se amostras com diferentes tempos topografia de uma curva de variação do bi- observados por SEM (ampliação 100×)

de residência no interior do aparelho. O me- nário no tempo permite estimar um con-


canismo de gelificação associado a cada equi- junto de parâmetros (nomeadamente, biná- Adoptou-se uma composição industrial des-
pamento é distinto, questionando a correla- rios e tempos de fusão, de equilíbrio e de tinada ao fabrico de perfis rígidos para apli-
ção de resultados que é frequentemente rea- degradação) que têm sido relacionados com cações na indústria de construção civil, es-
lizada em muitos laboratórios. diversos aspectos da processabilidade do ma- tabilizada a estanho, definida na Tabela 2 em
terial [4]. Este tipo de análise tem sido muito termos de “partes por cem de resina”, phr.
Palavras-chave: Extrusão de PVC, desen- útil no controlo de matérias-primas e no de-
TABELA 2 – Formulação de PVC adoptada
volvimento morfológico, senvolvimento de formulações.
reómetro de binário. Neste trabalho pretende-se estudar a evolu- Variável phr
PVC 100,0
ção morfológica e estrutural de resinas de
Carbonato de cálcio 5,0
1. Introdução PVC num reómetro de binário e numa ex-
Estabilizador térmico à base de estanho 1,5
trusora duplo-fuso contra-rotativa, por forma
Lubrificante externo 0,6
As resinas de poli(cloreto de vinilo), PVC, a identificar o mecanismo de fusão associado
Cera de polietileno 0,2
obtidas por polimerização em suspensão, ca- a cada tipo de equipamento. Estereato de cálcio 0,6
racterizam-se por possuírem uma estrutura Ajudante de processamento 7,0
hierárquica de partículas muito complexa e 2. Procedimento experimental Pigmentos 3,0
um grau de cristalinidade reduzido [1]. Du-
rante o processamento, o ambiente termo- 2.1 Materiais Os componentes sólidos (considerando 25 kg
mecânico gerado pela geometria do equipa- Seleccionou-se uma resina comercial de PVC de resina de PVC por mistura) foram incor-
mento e pelas condições operatórias altera de suspensão de valor K 68 (VICIR S 1000S porados simultaneamente num misturador
essa estrutura inicial. A identidade dos grãos, da CIRES), usada em extrusão rígida de tu- de alta velocidade Thyssen Henschel KM
das partículas primárias e dos domínios é bagem e perfis. O polímero foi caracterizado 120, contendo câmaras de mistura intensiva
progressivamente perdida, as zonas ordena- de acordo com os métodos ASTM/ISO em e de arrefecimento ligadas entre si por uma
das são parcialmente destruídas e, durante termos do valor K, densidade aparente, ab- válvula pneumática (Figura 2). Quando a mis-
o arrefecimento, formam-se novas zonas or- tura atingiu a temperatura de 70ºC, em vir-
denadas com menor grau de perfeição [2,3]. TABELA 1 – Características da resina comercial de PVC tude da dissipação de energia mecânica pro-
Costuma utilizar-se o termo gelificação para Propriedades Unidade Valor
duzida pela rotação das pás a 2200 rpm, esta
referir esta evolução morfológica. Por outro Valor K – 68 foi reduzida para 1800 rpm enquanto se adi-
lado, o grau de gelificação procura traduzir Densidade aparente g/cm3 0,55 cionava lentamente o estabilizador líquido. A
a evolução do processo, ou seja, quanto se Distribuição granulométrica velocidade mais elevada foi retomada até se
progrediu na conversão da estrutura parti- D > 250 m % 6,9 medir a temperatura de 115ºC. Com a aber-
cular inicial numa outra de entrelaçamentos D < 63 m % 2,3 tura da válvula e por acção da força centrí-
moleculares e alguma cristalinidade, similar Absorção de DOP % 19,3 fuga, o composto passou para a câmara de

100 INGENIUM | Março/Abril 2007


METALÚRGICA DOSSIER COMUNICAÇÕES
E DE MATERIAIS

arrefecimento, onde permaneceu até que a bém construído a partir de blocos individu- estudo, os ensaios consistiram em medir a
sua temperatura média baixasse para 30ºC, ais, que podem eventualmente possuir aber- evolução do binário do motor (proporcional
sendo então recolhido em sacos. O procedi- turas laterais adequadas para desvolatilização à viscosidade do fluido [4]) ao longo do tempo
mento seguido tem consequências em termos ou alimentação secundária. A configuração e foram efectuados em condições de opera-
da qualidade de mistura, da distribuição gra- geométrica seleccionada (esquematizada na ção semelhantes às da extrusão, ou seja, man-
nulométrica final e da facilidade de escoa- Figura 3) foi seleccionada após a realização tendo a temperatura da câmara a 200ºC, a
mento do composto em pó. de um conjunto de experiências prelimina- velocidade dos rotores a 30 rpm e utilizando
res, nas quais se procurou promover a fusão uma amostra com 75g por forma a encher o
rápida do material, assegurar boa selagem volume disponível da câmara.
para uma desvolatilização adequada e a pro- A Figura 5 representa os resultados obtidos.
dução de um extrudido com boa qualidade De acordo com trabalhos anteriores [7,8], o
(isto é, sem degradação visual aparente e pro- pico 0, designado de carga, corresponde à
porcionando a obtenção de um perfil com compressão e densificação inicial dos grãos,
boa estabilidade dimensional). A Figura 3 dando origem a um valor elevado do binário.
mostra também a localização de um conjunto A temperatura da amostra vai aumentando
de dispositivos de recolha rápida (tipicamente devido ao aquecimento por condução através
em 1-3 segundos) de amostras do interior da das paredes da câmara de mistura e à contri-
extrusora, desenvolvidos na Universidade do buição da dissipação resultante do atrito entre
Minho [5]. Tornou-se assim possível obter os grãos e entre os grãos e as paredes do equi-
amostras representativas de material (1 a 2 pamento. Verifica-se, então, uma diminuição
gramas, consoante a dimensão do dispositivo) do binário devido à deformação dos grãos a
em localizações específicas ao longo do com- uma temperatura superior à sua temperatura
Figura 2 – Misturador de alta velocidade
Thyssen Henschel KM 120 primento do parafuso, durante a operação da de transição vitrea. Nesta fase, a estrutura
extrusora em regime estacionário. Evitou-se, granular inicial é parcialmente destruída em
2.2 Extrusão deste modo, o procedimento de recolha adop- partículas primárias e seus aglomerados, ofe-
O composto em pó foi processado directa- tado em estudos prévios do mesmo tipo, que recendo uma menor resistência aos rotores
mente (isto é, sem que fosse efectuada uma consiste na interrupção da extrusão e na ex- (ponto a). A partir deste ponto começa a
operação intermédia de granulação, que in- tracção dos parafusos, operação que dura vá- fusão do material, o que provoca um aumento
duziria uma história térmica mais complexa rios minutos e provoca inevitavelmente alte- do binário até ao ponto c; a partir da qual a
ao material) numa extrusora modular de du- rações na morfologia do material [6]. viscosidade do polímero começa a diminuir
plos fusos contra-rotativos Leistritz LSM O composto foi extrudido à taxa de 7 kg/h, devido ao aumento da temperatura e ao maior
36/25D, com fusos de diâmetro 36mm e re- com os parafusos rodando a 25 rpm e usando grau de homogeneização do material.
lação comprimento/diâmetro, L/D de 25. um perfil de temperaturas variando entre Nos pontos d e e a viscosidade e a tempe-
Cada parafuso é constituído por uma vara 180 e 195ºC no cilindro e 205ºC na cabeça ratura aproximam-se dos seus valores de
sextavada sobre a qual são montados suces- de extrusão. A extrusora foi acoplada a uma equilíbrio, sendo possível, na maioria dos
sivamente elementos de fuso com geome- cabeça de extrusão com uma fieira tendo casos, determinar o binário de equilíbrio. A
trias que podem variar entre si no que res- uma secção transversal em forma de T. Re- partir do ponto f, o material começa a de-
peita ao número de entradas, inclinação da colheram-se amostras de polímero em seis gradar-se, verificando-se um aumento da vis-
rosca, espessura do filete, etc., ou ainda ele- válvulas, correspondendo a zonas do parafuso cosidade devido à formação de recticulações,
mentos de mistura, também com geometrias onde o material se encontrava pressurizado, podendo distinguir-se um novo máximo da
diferentes, que determinam a intensidade e que foram imediatamente imersas em azoto curva denominado de pico de degradação
o tipo de acção envolvida. O cilindro é tam- líquido (77K) para arrefecimento rápido. (ponto g). Esta etapa não encontra equiva-
lência na extrusão de PVC em condições
2.3 Reometria de binário normais de operação.
O comportamento do composto em
pó foi estudado num reómetro de bi-
nário Haake Rheometer System 40,
acoplado a uma câmara de mistura
Rheomix 600, representada na Figura
4. Dois rotores giram em direcções
opostas e a velocidades diferentes den-
tro de uma câmara em forma de oito,
que é mantida a temperatura contro-
lada por meio de dispositivos de aque- Figura 4 – Câmara de mistura
Figura 3 – Configuração do parafuso e localização dos dispositivos de recolha
cimento e arrefecimento. No presente do reómetro de binário (Haake)

Março/Abril 2007 | INGENIUM 101


DOSSIER COMUNICAÇÕES METALÚRGICA
E DE MATERIAIS

As localizações de a – g da Figura 5 indicam processamento: i) os grãos quebram rapida-


também os tempos ao fim dos quais se reco- mente por acção das tensões aplicadas, origi-
lheram amostras para subsequente caracteri- nando o escoamento de um fluido supermo-
zação morfológica e que, em princípio, deve- lecular em que as unidades elementares são
riam corresponder a etapas com evolução as partículas primárias. Estas partículas são
morfológica importante. Não sendo possível posteriormente quebradas em entidades mais
obter amostras durante a realização do ensaio pequenas, ou acabarão por fundir, por acção
(até porque a diminuição progressiva do vo- conjugada de calor e pressões locais [2]; ii) a
lume da amostra na câmara afectaria decerto pressão e o calor provocam a compactação Figura 7 – Distribuição dos aditivos
no fundido para L/D=21.0 (2300×)
o seu comportamento reológico), foi neces- progressiva dos grãos e a fusão gradual da sua
sário proceder a um conjunto de ensaios que morfologia interna; eventualmente, as tensões compatíveis com o desenvolvimento de um
foram interrompidos ao fim dos tempos a – g locais induzem o alongamento dos grãos, que mecanismo do tipo CDFE. Nas amostras re-
indicados na figura, sendo as amostras rapi- acabam por quebrar, mas gerando agora um colhidas para L/D superiores já não foi pos-
damente mergulhadas em azoto líquido. fluido com poucas unidades supermolecula- sível identificar qualquer estrutura particu-
res (esta sequência costuma ser designada por lar. Por exemplo, na Figura 7 ilustra-se a dis-
3.500
CDFE - Compactação-Densificação-Fusão- tribuição dos aditivos no fundido na zona de
Binario (mg)

2.800 -Extensão) [9]. A possibilidade de determi- bombagem (L/D=21.0), imediatamente


nados níveis de tensão originarem a ocorrên- antes da fieira. As partículas não fundidas
2.100 d

cia simultânea de ambos os mecanismos em foram identificadas por raio X, como partí-
c
e f
0 b

1.400 a fases diferentes do processamento foi também culas de CaCO3.


aventada [9]. A Figura 8 mostra a sequência de amostras
700

Tempo (s)
A Figura 6 mostra a morfologia do composto recolhidas do reómetro de binário e referen-
0
0 300 600 900 1.200 1.500 em diversas localizações ao longo da extru- tes às localizações a – g da curva da Figura 5.
Figura 5 – Evolução do binário sora. Em L/D=8.1 (ver também a Figura 3) A seguir ao pico de carga, o material inicia a
ao longo do tempo e indicação dos instantes os grãos encontram-se compactados, mas sua fusão com uma rápida destruição da es-
em que foram recolhidas amostras
com uma morfologia idêntica à do dry-blend trutura granular inicial (figura 8A), resultando
inicial (ver Figura 1). O processo de fusão estruturas granulares significativamente mais
2.4 Caracterização morfológica ocorre rapidamente, como demonstram as pequenas. Uma mesma amostra pode con-
Para efeitos de caracterização morfológica, duas imagens seguintes. Em L/D=8.9 alguns ter grãos inteiros, outros parcialmente des-
as amostras recolhidas da extrusora e do reó- grãos mantêm as suas fronteiras iniciais, en- truídos e agregados de partículas num estado
metro de binário, foram imediatamente imer- quanto que outros parecem estar fundidos. inicial de fusão. No ponto b (figura 8B) ve-
sas em nitrogénio líquido de modo a pode- O maior nível de compactação intergranular rifica-se uma maior compactação devido à
rem ser fracturadas. As superfícies fractura- é evidente. Em L/D=9.8 as fronteiras dos quebra dos grãos de PVC em entidades gra-
das foram pulverizadas com ouro e exami- grãos originais são ainda perceptíveis, mas a nulares mais pequenas (partículas primárias
nadas nos microscópios electrónicos de var- sua porosidade interna foi eliminada e a sua e agregados), em resultado das tensões de
rimento Cambrigde Steroscan 360 e Jeol estrutura interna fundida. A densificação do corte elevadas. No ponto c, a totalidade da
JSM-6301F. material é elevada e alguns grãos têm com- amostra está fundida (figura 8C), não sendo
primentos superiores a 500 m em resultado possível identificar qualquer estrutura granu-
3. Resultados e discussão do seu alongamento. Estas observações são lar. Nas amostras recolhidas nos pontos se-

Discutiu-se amplamente na literatura a evo- L/D = 8.1 L/D = 8.9 L/D = 9.8
lução morfológica dos compostos de PVC,
em pó ou granulares, durante a extrusão, com
o objectivo de identificar os mecanismos e a
evolução do processo de gelificação (ver, por
exemplo, [9]). O estudo da influência das ca-
racterísticas iniciais do polímero nesse pro-
cesso tem merecido muito menos atenção L/D = 17.8 L/D = 19.4 L/D = 21.0

[6,10], apesar das implicações práticas de


eventuais conclusões na optimização de resi-
nas de PVC. De qualquer forma, o processo
de gelificação de compostos de PVC parece
seguir essencialmente uma de duas rotas prin-
cipais, que estarão essencialmente ligadas ao
Figura 6 – Evolução da morfologia do composto ao longo da extrusora (100×)
nível de tensões geradas durante a rotina de

102 INGENIUM | Março/Abril 2007


METALÚRGICA DOSSIER COMUNICAÇÕES
E DE MATERIAIS

guintes não foi possível identificar qualquer


estrutura particular. Esta sequência é clara-
mente distinta da verificada na extrusora
duplo-fuso. Neste caso, há rotura de estru- A
turas granulares noutras de menores dimen-
sões (Figura 9), que acabam por fundir por B
acção conjugada de calor e pressões locais.
A Figura 10 esquematiza os mecanismos de
gelificação observados para o mesmo com-
posto de PVC na extrusora de duplo fuso e
Figura 10 – Mecanismo de fusão do PVC: (A) Reómetro de torsão; (B) Extrusora contra-rotativa
no reómetro de binário. Embora ambos os
A B C
mesmo composto de PVC processado num
reómetro de binário (vulgarmente utilizado
na indústria para o estudo da processabili-
dade de compostos) e numa extrusora de
duplo fuso contra-rotativa (equipamento-
-padrão no processamento de compostos em
pó) são distintos. Desta forma, a extrapola-
D E F ção directa dos resultados laboratoriais para
o comportamento durante a produção deve
revestir-se da maior cautela. Embora se tenha
acumulado uma quantidade substancial de
informação empírica (mas relevante) atra-
vés da utilização da reometria de binário, su-
gere-se que seja também considerada a uti-
G lização de extrusoras laboratoriais instrumen-
em termos de gelificação) de resinas de PVC tadas, onde as leituras de pressão e de biná-
[10], mostraram que diferentes resinas co- rio, eventualmente complementadas com a
merciais de PVC usadas na extrusão rígida, recolha de amostras em tempo real, deve-
sujeitas às mesmas condições de operação rão fornecer informação fundamental.
de temperaturas e tensão de corte podem
ter mecanismos de fusão distintos. De igual 1 CIRES, S.A., Apartado 20,

Figura 8 – Variação da estrutura do composto modo, verifica-se que a mesma resina, de- Samouqueiro-Avanca, 3864-752 Estarreja
ao longo do ensaio no reómetro de torsão (100×) pendendo das condições de processamento, 2 Departamento de Engenharia de Polímeros,
poderá ter mecanismos de fusão distintos. Universidade do Minho, 4800 Guimarães
Consequentemente, não é fácil extrapolar
conclusões sobre o comportamento de um
REFERÊNCIAS
composto estudado num reómetro de biná-
[1] P. H. Geil, “Morphology – Characterisation Termino-
rio acerca da processabilidade numa extru- logy” J. Macromol. Sci. - Phys. B14 (1), pp. 171,
sora. Tal conclusão não retira interesse prá- 1977.
[2] M. Gilbert, “Fusion of PVC compounds”, Plastics and
tico à utilização do reómetro, que pode ser Rubber International, vol. 10, No. 3, pp. 16-19, 1985.
usado para efeitos de controlo de qualidade, [3] J. A. Covas, “Qualidade de Produtos em PVC”, Ed.
CIRES, Estarreja, 1990.
no estudo de aditivos, ou na comparação de [4] R. Rao, K. Ramamurthy, “Rheological measurements
compostos. De facto, informações relevan- of rigid PVC by Brabender plasticorder”, Popular Plas-
Figura 9 – Partículas primárias na amostra tics, Part XXII, No. 10, pp.15, 1977.
do ponto b, confirmada por espectro de raio X
tes sobre teores de lubrificação e estabiliza- [5] J. A. Covas, Patente Portuguesa 101941, 1999.
ção podem ser obtidas nestes equipamentos [6] F. R. Kulas and N. P. Thorshaug, “PVC Powder Extru-
sion. Melting Properties and Particle Morphology”,
processos possam conduzir a morfologias si- em estudos comparativos de compostos de Journal of Applied Polymer Science, vol. 23, pp. 1781-
milares para graus de gelificação suficiente- PVC com vista ao desenvolvimento de novas 1794, 1979.
[7] E. B. Rabinovitch, James W. Summers, “Poly (Vinyl
mente elevados (como os produzidos pelas formulações. Chloride) Processing Morphology”, Journal of Vinyl
condições operatórias seleccionadas neste Technology, vol. 2, No. 3, pp. 165, 1980.
[8] G. Schram, “Measuring the fusion rate of rigid PVC
trabalho), para graus de gelificação intermé- 4. Conclusões dry blend”, International Plastic. Engineering., vol. 2,
dios as diferenças poderão ser significativas, 1965.
[9] M. W. Allsopp, “Mechanism of Gelation of Rigid PVC
como Allsopp [9] já havia sublinhado. Neste trabalho, desenvolveram-se metodo- during Processing”, Herts, UK,1982.
Estudos laboratoriais prévios sobre a evolu- logias experimentais que permitiram obser- [10] R. P. Marques, J. A. Covas, Third ESAFORM Confe-
rence on Material Forming, Stuttgart, Esaform, 2000.
ção morfológica e estrutural (caracterizada var que os mecanismos de gelificação de um

Março/Abril 2007 | INGENIUM 103


DOSSIER COMUNICAÇÕES METALÚRGICA
E DE MATERIAIS

Estratégia de I&D
e de Formação na Área
de Tecnologia da Cortiça
Luís Gil *

1. Introdução Mais especificamente, em relação ao sector total do país), sendo o volume de negócios
da cortiça, são em seguida enunciados alguns da cortiça de cerca de 1350 milhões €;
Os produtos florestais representam no nosso dados de referência (Novembro 2002, APCOR Em 2000, a exportação de produtos de
país um negócio com enorme interesse a Associação Portuguesa de Cortiça) que cortiça foi de 915 milhões € (32,8% do
nível da exportação (cerca de 2,8 mil mi- permitirão avaliar a relevância da área re- total dos produtos florestais, representando
lhões € em 2002), nomeadamente a nível ferida: estes cerca de 10-11% do total das expor-
de produtos com bastante valor acrescen- A indústria da cortiça é geralmente dividida tações portuguesas), sendo o balanço co-
tado, com um balanço comercial altamente em 4 ramos de actividade: preparador, trans- mercial do sector da cortiça positivo em
positivo. São um dos clusters de maior inte- formador, granulador e aglomerador; cerca de 785 milhões €;
resse a desenvolver e apoiar futuramente no O número de fábricas existentes a nível Os produtos de cortiça fazem com que
nosso país. Tal como referido por Porter, nacional é de cerca de 1100: 1020 de ro- este sector seja um dos mais importantes
depois de identificados estes clusters, há que lhas e outros produtos de cortiça natural, em termos de quota de exportação mun-
concentrar recursos onde sejam mais neces- 50 de preparadores, 30 de granuladores e dial, com valores superiores a 50%.
sários. A actividade económica associada aos aglomeradores; apenas cerca de 2% tem
produtos florestais tenderá a crescer a nível mais do que 100 trabalhadores; Um dos preceitos base a considerar na rela-
nacional, o que facilmente se conclui da PAC O número de trabalhadores na indústria ção I&D/Apoio Tecnológico-Economia é que
e do desincentivo à produção agrícola no corticeira é de cerca de 15.000 (25% do estas actividades devem ter um “volume”
nosso país em várias áreas, e ainda do facto volume de emprego do sector florestal); relacionado com a sua importância no PIB
da Europa ser deficitária neste domínio. A Ao nível do comércio, o destino da produ- de cada país, havendo, naturalmente, um re-
nível nacional, refira-se que Portugal é o ção é de cerca de 90% para os mercados forço em áreas consideradas estratégicas e
maior produtor (730.000 ha, 32% da área externos, sendo que os principais sectores de futuro. Nada disto se passa em Portugal
mundial a que corresponde mais de 50% da consumidores são o vinícola, a construção na área florestal, nomeadamente na subárea
cortiça produzida mundialmente) e trans- civil, a indústria automóvel, o calçado e a das tecnologias de transformação dos pro-
formador mundial de cortiça, com valores pesca; dutos florestais, e mais ainda na área da cor-
de exportação próximos dos mil milhões de Os principais produtos exportados são: ro- tiça. O próprio relatório Porter aponta como
euros/ano, representando o sector cerca de lhas – 68%, aglomerados e outros – 32%; um dos principais problemas do sector da
3% do PIB e empregando mais de 20.000 O sobreiro representa cerca de 21% da cortiça a reduzida I&D e a urgência da reso-
pessoas directamente. área florestal nacional (e 7% da superfície lução desta desvantagem.

104 INGENIUM | Março/Abril 2007


METALÚRGICA DOSSIER COMUNICAÇÕES
E DE MATERIAIS

2. Levantamento da situação com as entidades relacionadas com a I&D e Os financiamentos não são, muitas vezes,
o ensino/formação que, de algum modo, re- adequados aos estudos a desenvolver, no-
Nos últimos anos, investiu-se fortemente em alizaram trabalho na área da Tecnologia da meadamente a nível da duração temporal;
infra-estruturas diversas de apoio à indústria, Cortiça. Embora exista bastante trabalho de inves-
tendo-se criado, a nível dos produtos flores- Para esse levantamento, foram usadas, como tigação e mesmo áreas de ensino dedicados
tais, os Centros Tecnológicos da Madeira e base de pesquisa, duas páginas na Internet: ao estudo do sobreiro, pragas, vegetação,
da Cortiça. Investiu-se em edifícios e equi- www.guiadoestudante.pt e www.terravista. reprodução etc., o mesmo não se passa no
pamento, mas o mesmo já não se passou a pt/Nazare/1573. A primeira surge regular- domínio da Tecnologia da Cortiça.
nível humano (gastou-se dinheiro mas, quer mente impressa como anexo de algumas edi-
a nível da contratação de quadros, quer eco- ções do semanário “Expresso”, estando rela- 3. Análise da área de Tecnologia
nómico, os planos não foram cumpridos), o cionada com estabelecimentos de ensino, e da Cortiça
que conduziu aos graves problemas actuais a segunda assenta numa base de dados ela-
desses mesmos Centros Tecnológicos e ao borada por um Técnico da Direcção Geral Os sectores de actividade relacionados com
seu esvaziamento, o que já actualmente se das Florestas, constituindo uma lista de en- a cortiça, desde a produção e a transforma-
sente com grande intensidade. Estes Centros tidades portuguesas que desenvolvem traba- ção até à utilização final dos produtos, têm
têm-se mantido sobretudo devido a sucessi- lhos de investigação sobre o sector da cortiça. um grande interesse no contexto nacional e,
vas injecções de dinheiro, mas continuam Paralelamente, foram também pesquisadas face à sua especificidade e à necessidade e
com uma missão um tanto indefinida, esten- individualmente as páginas electrónicas das quase obrigação de Portugal liderar as ope-
dendo as suas actividades, por necessidade instituições relacionadas cujo contacto foi rações neste campo, é fundamental que a
de sobrevivência, a domínios diferentes dos possível obter. investigação e o desenvolvimento tecnoló-
definidos nos seus estatutos. Para além da pesquisa on-line, foi também gico associados à inovação sejam as forças
Por outro lado, outras entidades que apoia- efectuado um contacto com todas as enti- evolutivas do sector.
vam o sector florestal, nomeadamente rela- dades e respectivos departamentos que pu- A falta de informação escrita não se verifica
cionadas com a transformação industrial e dessem, de algum modo, estar relacionados do mesmo modo em todos os domínios do
do controlo de produtos, também se encon- com o tema (112 contactos), inquirindo sector corticeiro, sendo escassa a informação
tram “estranguladas” a vários níveis. Quanto sobre projectos de I&D e formação diversa, no domínio técnico e tecnológico. A escassez
às universidades que se dedicam a estes as- tendo sido obtidas 24 respostas. observada decorre do facto de alguma da evo-
pectos, continuam a denotar alguma falta de Deste levantamento foi possível concluir o lução ter sido baseada frequentemente em
ligação às realidades do tecido económico, seguinte: factores empíricos, enquanto os novos aper-
aspecto apontado e reconhecido por muitos Não existe nenhum curso superior nem feiçoamentos estão muitas vezes cingidos ao
(por exemplo, pelo próprio Governo, como mestrado específicos na área; segredo industrial. Grande parte da informa-
é referido no seu Programa de Acção para Não existe nenhum ramo de um curso, ção técnica e científica, quer nacional quer
Preservar e Desenvolver o Sector Florestal), cadeira específica ou de opção nesta área, estrangeira, foi sendo centrada e divulgada
quer na área da investigação quer na área da embora algumas áreas da Tecnologia da desde os anos 30 através dos Boletins da Junta
formação. Cortiça sejam abordadas em algumas (pou- Nacional da Cortiça e, posteriormente, do
Para além disso, não há uma boa ligação entre cas) disciplinas; Instituto dos Produtos Florestais, com carác-
todas estas instituições e, muitas vezes, essas Existe um Mestrado em Engenharia dos ter quase exclusivo. Este tratamento e divul-
ligações passam, sobretudo, pelas ligações Materiais Lenho-Celulósicos (ISA) e al- gação de informação específica, do maior in-
pessoais dos técnicos e não por uma ligação guns poucos doutoramentos (ex. IST) que, teresse, terminou em 1988, com a extinção
e coordenação institucional das actividades. de algum modo, estão relacionados com deste último Instituto.
Num país pequeno como o nosso e de re- este tema; No campo científico, a cortiça começou a ser
cursos limitados, será adequado concentrar Existe um Centro de Formação específico estudada no século XVII, relativamente à sua
meios e não dispersá-los. para o sector (CINCORK) mas não mi- estrutura celular, tendo sido iniciada no século
Está assim, deste modo, a criar-se um “vazio” nistra formação superior; seguinte a investigação relativa à sua consti-
que é importante preencher, reforçando a Foram desenvolvidos alguns trabalhos liga- tuição química. Os trabalhos publicados desde
intervenção em sectores da maior importân- dos à Tecnologia da Cortiça em Laborató- então acompanharam, logicamente, os avan-
cia para a economia nacional, “absorvendo” rios do Estado, Universidades e Centros de ços analíticos laboratoriais. Na época da 2.ª
os “esvaziamentos” de várias instituições e Investigação, mas sem uma acção coorde- Guerra Mundial, houve, como é sabido, es-
promovendo outras áreas de apoio de que o nadora e, por vezes, relacionados com inte- cassez de determinadas matérias-primas e a
tecido empresarial neste domínio carece. resses de carreira dos executantes e não com necessidade de novos materiais e novas apli-
Feita esta primeira abordagem genérica, foi as prioridades e necessidades do sector; cações, pelo que se intensificou o estudo de
concretizado um levantamento do estado da Há, por vezes, sobreposição de trabalhos produtos alternativos. Esta actividade tam-
arte relacionado com a I&D e a formação no e continuam a existir lacunas de conheci- bém se reflectiu na cortiça com o surgimento
domínio da Tecnologia da Cortiça. mento devido à falta de coordenação da de um maior volume de informação. A partir
Este levantamento passou por um contacto I&D; de 1950, começaram também a surgir, com

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E DE MATERIAIS

maior relevância, alguns trabalhos de investi- ordenação e a optimização de recursos ne- se dedicam à investigação e desenvolvimento
gadores portugueses, cuja frequência aumen- cessárias, impulsionarem a investigação orien- (I&D) e ao apoio técnico à indústria e à pro-
tou na década de 80. Estes trabalhos de au- tada para novas aplicações, para o melhora- dução. São também indicadas as instituições
tores portugueses são, entre outros, relacio- mento da qualidade das matérias-primas, dos que se encontram relacionadas com as ou-
nados com o comportamento físico e mecâ- produtos e das suas aplicações e, também, tras actividades científicas e tecnológicas
nico da cortiça e dos seus derivados e, ainda, para a promoção de métodos e processos de (OAC&T) no domínio da cortiça, incluindo
relativos ao desenvolvimento de novos aglo- fabrico, no sentido da optimização e da re- divulgação, a normalização, o controlo de
merados e ao aproveitamento de resíduos da dução dos custos e dos impactos ambientais qualidade e a informação técnica e cientí-
indústria corticeira. Surgiram também alguns e da sua relação com o aumento da compe- fica, entre outros, actividades estas relacio-
trabalhos ligados à qualidade e defeitos da titividade. Embora já existam algumas res- náveis com a I&D. Note-se que esta lista,
cortiça e a aspectos ambientais da sua trans- postas para os problemas mais prementes do não sendo exaustiva, dá uma ideia do pano-
formação. Nos últimos anos, verificou-se um sector, tem-se tropeçado continuamente no rama do que se pode chamar o Sistema Cien-
aumento do número de artigos de autores passo da transferência de tecnologia. tífico e Tecnológico Nacional associado à
portugueses em publicações periódicas estran- Depois destas considerações, e analisando cortiça. Assim, as designações das institui-
geiras, nomeadamente nas áreas ligadas aos os trabalhos publicados, pode concluir-se ções mais relacionadas com a I&D e as
materiais e aos produtos florestais. que a investigação realizada em Portugal no OAC&T, no domínio da cortiça, existentes
A Junta Nacional de Investigação Científica domínio da cortiça é efectuada maioritaria- actualmente1 no nosso país são as que cons-
e Tecnológica estudou o “índice de propen- mente em instituições públicas. tam no Quadro 1.
são a inovar” de vários sectores industriais Sintetizando, é em seguida elaborada uma
nacionais, o que permitiu verificar que, para lista das instituições que, de algum modo, 4. Carências em I&D na área
o sector “Madeira e Cortiça”, correspondia de Tecnologia da Cortiça
uma propensão para a inovação das mais bai- QUADRO 1
xas. Estes aspectos estão, aliás, relacionados Entremos agora na detecção das lacunas em
Associação Central da Agricultura Portuguesa
com uma análise global da indústria nacio- I&D e nas previsões das necessidades futu-
Associações dos Industriais e Exportadores de Cortiça
nal, em que se verificou que a maioria das Associação Portuguesa de Cortiça ras do sector no domínio da Tecnologia da
inovações nas empresas portuguesas foram Associação dos Produtores Florestais da Região Cortiça.
introduzidas através da aquisição de equipa- de Ponte de Sôr Relativamente à constituição química da cor-
Associação dos Produtores Florestais da Região
mentos, sendo a estratégia de inovação da de Évora
tiça, há ainda aspectos por estudar, quer no
indústria nacional fundamentalmente pas- Associação para a Valorização da Cortiça que diz respeito ao isolamento e identificação
siva ou adaptativa. Centro de Formação Profissional da Indústria de novos componentes, nomeadamente dos
Nas décadas de 40 e 50, as poucas patentes de Cortiça grupos menos estudados (por exemplo, poli-
Centro Tecnológico da Cortiça
surgidas relacionadas com a cortiça têm a ver, fenóis), quer, posteriormente, no respeitante
Direcção-Geral das Florestas
sobretudo, com a obtenção de produtos quí- a estudos da aplicação destes componentes,
Direcção-Geral da Indústria
micos da cortiça e com a maquinaria ou pro- Direcção-Geral da Qualidade do Ambiente nomeadamente aplicações de maior valor
cessos para a sua transformação. Nos últimos Escola Superior Agrária de Beja acrescentado, em variados domínios. Parale-
anos, além dos novos processos, têm tam- Escola Superior Agrária de Castelo Branco lamente, poderão ainda completar-se os es-
bém surgido patentes no domínio dos novos Estação Agronómica Nacional tudos sobre a reactividade química e a activi-
materiais à base de cortiça, referentes a novas Estação Florestal Nacional dade biológica dos compostos obtidos a partir
Faculdade de Ciências de Lisboa
aplicações. Saliente-se que a grande maioria da cortiça e/ou dos resíduos da sua transfor-
Faculdade de Farmácia
destas patentes são de origem estrangeira. mação (pó de cortiça, condensados do vapor
Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica
Num trabalho de levantamento de patentes Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge de cozimento do aglomerado expandido de
existentes relacionadas com as rolhas de cor- Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia cortiça, águas de cozedura), no seguimento
tiça natural, aglomerados, tecnologias de pro- Industrial de alguns estudos já efectuados. Estes estu-
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas
cessamento e aplicações específicas, até 2001, dos para novas aplicações deverão ter como
Instituto Português da Qualidade
verificou-se que a primeira patente referen- objectivo prioritário, para além do alto valor
Instituto da Qualidade Alimentar
ciada data de 1911 (embora exista conheci- Instituto Superior de Agronomia
acrescentado, o desenvolvimento de um pro-
mento de algumas patentes nesta área da Instituto Superior Técnico cesso integrado que permita a utilização de
segunda metade do século XIX) e que o nú- Instituto da Vinha e do Vinho todas as fracções de constituintes, valorizando
mero total de patentes era de 577. Laboratório Nacional de Engenharia Civil o papel da cortiça como matéria-prima de
Verificou-se também que o esforço da inves- Sociedade de Ciências Florestais base. Ainda relacionado com a constituição
Universidade do Algarve
tigação, nomeadamente a tecnológica, foi ini- química da cortiça, mas derivando já para o
Universidade de Aveiro
cialmente realizado essencialmente nos paí- comportamento físico-mecânico e as carac-
Universidade de Évora
ses importadores da cortiça e dos seus deri- Universidade Nova de Lisboa
terísticas da cortiça, seria interessante relacio-
vados. Cabe agora aos países produtores, e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro nar a sua composição química com a “quali-
de certo modo estão a fazê-lo, mas sem a co- dade” do material, permitindo quantificar este

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DOSSIER COMUNICAÇÕES METALÚRGICA
E DE MATERIAIS

parâmetro, o que até ao momento tem sido dologias de avaliação precoce da qualidade Por outro lado, deverá proceder-se à imple-
realizado de modo subjectivo, recorrendo-se da cortiça. Alguns estudos foram iniciados e mentação da investigação sobre novos mate-
habitualmente a avaliações comparativas. deverão ser sistematizados no que respeita riais à base de cortiça e sobre novas aplica-
Outros campos ainda não totalmente explo- às relações entre a estrutura do entrecasco, ções para os já existentes e, nomeadamente,
rados são a topoquímica das paredes celula- por análise da costa, com a qualidade da cor- proceder-se à transferência de tecnologias
res (localização dos diversos componentes tiça. Neste caso, serão necessários progra- resultantes de trabalhos já concluídos para o
químicos na parede celular), a constituição mas de financiamento plurianuais alargados meio industrial, concretizando a inovação no
do gás celular e o consequente relaciona- ao tempo de formação e extracção da cor- sector.
mento com o comportamento da cortiça tiça. Os produtos utilizados no fabrico dos aglo-
como material. Está ainda por determinar o Dados os custos e a especialização da mão- merados compostos, colas, ignífugos, coran-
papel desempenhado pelos componentes de-obra para a extracção da cortiça da ár- tes, vernizes etc., deveriam também ser es-
químicos da cortiça nas ligações intergranu- vore, os estudos relativos à automatização tudados de modo a serem obtidas formula-
lares do aglomerado negro de cortiça e ainda deste processo deverão ser aprofundados, ções específicas para os produtos de cortiça,
o tipo e funcionamento dos plasmodesmos quer por optimização de alguns processos já mas que lhes permitissem um comportamento
(poros intercelulares) e a sua relação com as idealizados, quer por introdução de novas competitivo com produtos sucedâneos, estu-
características isolantes e de compressão-re- tecnologias adequadas, ligando nomeada- dos, esses, que envolveriam empresas quími-
cuperação da cortiça. mente as áreas de mecânica, materiais e elec- cas, corticeiras e centros de investigação. Neste
No campo industrial, seria conveniente con- trónica. campo, teriam particular importância produ-
tinuar os estudos tendentes à caracterização Para regulamentação das transacções comer- tos de protecção que evitassem a descolora-
e aproveitamento dos resíduos originados, ciais e diminuição do tempo de imobilização ção da cortiça por acção da luz solar, um as-
incluindo a evolução para processos que di- da cortiça (menores encargos financeiros e pecto em que os derivados de cortiça têm
minuíssem a geração desses produtos. Estes menor probabilidade de infestações), seria dificuldade em competir.
estudos envolveriam a quantificação parce- do maior interesse conhecer os valores mé- Outra área com muita importância no campo
lar dos principais resíduos e dos seus dife- dios dos teores de humidade para os vários da inovação e com uma relação directa com
rentes tipos, o aumento de escala de proces- tipos de cortiça, sob diferentes condições a qualidade dos produtos e com outros as-
sos de aproveitamento já desenvolvidos e a ambientais de temperatura e humidade. O pectos técnicos e económicos da produção,
optimização dos processos industriais exis- traçado das curvas da humidade de equilí- é o da maquinaria. O fornecimento de equi-
tentes, sendo necessário um levantamento brio higroscópico da cortiça (já efectuado pamentos à indústria foi pouco autonomi-
das necessidades e mercado para os diversos teoricamente) e métodos de classificação da zado porque a dimensão, capacidade de in-
produtos que é possível obter. cortiça com base em sistemas optoelectró- vestimento e a semelhança com alguns seg-
Relacionado com os aspectos ecológicos, é nicos de avaliação, permitiriam, assim, uma mentos da transformação da madeira torna-
necessário proceder à caracterização ambien- maior confiança entre o comprador e o ven- ram sempre mais económica a adaptação de
tal da indústria da cortiça, nomeadamente dedor e um melhor conhecimento das con- equipamento de outras indústrias, nomea-
após introdução de novas tecnologias de dições da matéria-prima para adequação dos damente desta última. Por outro lado, as ac-
transformação e tratamento de resíduos que parâmetros da sua posterior transformação. tividades preparadoras e rolheiras possuem
têm vindo a ser introduzidos no sector, atra- Este estudo teria um enorme interesse eco- ainda, em parte, equipamento obsoleto, que
vés da avaliação dos indicadores ambientais nómico e tecnológico. põe em causa a qualidade dos produtos. Uma
e da sua optimização, para avaliar o desem- No campo específico do sector rolheiro, de- vez que no nosso país existem empresas com
penho ambiental dos diversos actores. Estes verão ser continuados os estudos relativos à capacidade para desenvolver e executar esse
aspectos visarão também o enquadramento sua produção industrial e aplicação, respec- equipamento – se não haverá que a encon-
das empresas dentro dos parâmetros am- tivamente os estudos relativos aos tratamen- trar no exterior –, deveria ser fomentado o
bientais recomendados pela legislação vi- tos e lavações e os estudos incluídos no campo desenvolvimento da fabricação de maquina-
gente, através do controlo da poluição ge- dos “gostos”, nomeadamente tratamentos ria com características próprias e especifica-
rada, da prevenção e da redução e/ou elimi- para a sua redução/eliminação. Haverá ainda mente adaptadas à produção corticeira. De-
nação de resíduos e, ainda, da gestão opti- espaço para o estudo e desenvolvimento de verá também ser continuada a criação de
mizada de recursos. Um dos aspectos a es- novos métodos de “cozedura” da cortiça, que dispositivos de ensaios, tendentes a liderar
tudar será, nomeadamente, o tratamento e utilizem menos água (ou a excluam) e se re- um domínio que nos cabe pela inerência da
reciclagem das águas de cozedura e das so- flictam em menos desenvolvimento fúngico, distribuição geográfica da produção e da
luções de lavação das rolhas, através de mé- ou métodos de estabilização após cozimento transformação da cortiça. Neste caso, esta-
todos não onerosos e adaptáveis a pequenas que evitem este desenvolvimento fúngico e/ rão incluídas as adaptações de novas tecno-
produções e descentralizados. ou o encurtamento da estabilização. logias às operações de transformação e, como
Pensa-se que o aprofundamento das corre- Um campo ainda por explorar é o compor- referido, a mecanização das operações de
lações entre as características da morfologia tamento mecânico da cortiça e seus deriva- extracção da cortiça, tendo já sido iniciados
externa dos órgãos da planta com grande an- dos a temperaturas muito diferentes da am- alguns estudos nesse sentido. Estão disponí-
tecedência, permitirá a elaboração de meto- biente. veis no mercado equipamentos de elevado

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METALÚRGICA DOSSIER COMUNICAÇÕES
E DE MATERIAIS

conteúdo tecnológico que, com algum es- A forma de abordar estes problemas é com- lhor supervisão e distribuição de trabalho.
forço técnico e financeiro, poderão conduzir plexa, pois há uma dispersão dos grupos de Também num estudo (AGRO.GES, 1997)
a uma revolução dos sistemas produtivos do trabalho que existem nas diferentes áreas, encomendado por associações de produtores
sector corticeiro. As palavras-chave nesta muitas vezes sem o conhecimento mútuo, e industriais de cortiça se chegou à conclu-
matéria são os sistemas de produção flexível pelo menos aprofundado, dos respectivos são de que deveria ser criado um instituto
e a produção integrada por computador. trabalhos, o que, por vezes, não permite uma que procedesse à coordenação, regulação e
Estes sistemas permitirão a necessária flexi- fertilização cruzada adequada. Seria, por isso, divulgação dos aspectos de I&D específicos
bilidade produtiva que, associada ao esforço conveniente que existisse uma instituição do sector, para além de outras atribuições.
dos aperfeiçoamentos mecânicos de alta pre- que centralizasse, organizasse e gerisse as di- Actualmente, parece ser também uma estra-
cisão e a uma baixa manutenção, permitirão ferentes actividades, procedendo ao plane- tégia corrente aproveitar instituições já exis-
um avanço produtivo. amento e distribuição do trabalho pelas di- tentes, pelo que deveria ser encontrada uma
Um campo muito importante de investiga- versas entidades, com competência nos di- instituição existente em cujo âmbito este tipo
ção é o estudo comparativo da cortiça com ferentes domínios. de acções se pudesse integrar.
sucedâneos, no sentido de realçar os pontos A investigação cabe aos sectores público e A audição do Conselho Consultivo da SU-
fortes da cortiça e os pontos fracos dos res- privado, e sobretudo a indústria (salvo algu- BERAV (Associação para a Valorização da
tantes produtos e de seleccionar as aplica- mas excepções) não se deve continuar a mar- Cortiça), em Abril de 2002, permitiu defi-
ções mais adequadas para cada caso. ginalizar relativamente a este esforço, de- nir a proposta da Direcção sobre Investiga-
Os aspectos de I&D relativos à interface entre vendo, sim, partilhar a responsabilidade do ção e Desenvolvimento e Formação Profis-
os produtos corticeiros e as indústrias afins desenvolvimento do sector, apostando na sional. Foi defendida pelos conselheiros uma
(p.e. vinícola) são também muito necessários, interiorização da capacidade da ciência e da abordagem do sector não em termos de fi-
podendo ser apontados campos de estudo no tecnologia nas empresas. No entanto, cabe leira, mas de cadeia de valor, bem como a
domínio de novos tipos de rolhas associados ao Estado um papel crítico e fundamental acentuação do carácter multifuncional aos
a novos sistemas de engarrafamento, sistemas neste domínio, através do financiamento do montados.
de embalagem optimizadas e outros. crescimento das actividades de I&D e do es- Assim, tendo em conta estes princípios, deve
Também no domínio das OAC&T há um tímulo ao investimento privado neste campo, haver o especial cuidado de considerar uma
enorme campo de trabalho a desenvolver, nomeadamente através da criação de meca- “nova” área de investigação, cujas priorida-
nomeadamente na área da designada inves- nismos de financiamento adequados. Este des devem ser as seguintes:
tigação pré-normativa, uma vez que muitos deve também incentivar a participação por- fiscalidade;
dos valores de referência, por vezes aponta- tuguesa em projectos comunitários, a exe- concorrência;
dos pelos especialistas, foram baseados em cução de programas específicos e a promo- parcerias internacionais (conhecimento dos
ensaios realizados ao longo dos anos, muitas ção de acções para o aumento da difusão da mercados);
vezes referentes apenas a um tipo de pro- informação, com o objectivo de anular as ca- produtos ambientais;
dução e recorrendo a diferentes métodos e rências estruturais, e alcançar a maturidade produtos tecnológicos;
com critérios de amostragem inadequados, tecnológica, tendo em vista a utilização das inovação de produtos.
havendo, portanto, a necessidade de conhe- tecnologias mais adequadas e a obtenção de No seguimento deste trabalho, realizou-se
cer com maior exactidão o comportamento produtos competitivos. também um Workshop intitulado “Montado
médio dos produtos derivados da cortiça, Tal como já se referiu, o melhor funciona- de sobro e cortiça: Prioridades de investiga-
com base em métodos normalizados de âm- mento dos aspectos relacionados com a I&D ção e desenvolvimento”, em Fevereiro de
bito alargado. e as OAC&T, no domínio da cortiça, seria o 2003, em que foram definidas, por peritos
da centralização das suas funções numa ins- convidados do sector, linhas mestras de in-
5. Escalonamento das acções tituição adequada, já existente ou a criar, o vestigação em várias áreas, entre as quais a
de I&D a desenvolver que permitiria resolver de forma harmoniosa, área de Tecnologia da Cortiça.
mas com uma visão de conjunto, rápida e Nesta perspectiva e tendo em atenção todas
Abordadas que foram as principais carências flexível, os problemas surgidos e as necessi- as considerações anteriores, mais especifica-
de I&D no sector corticeiro na área da tec- dades sentidas. Este trabalho poderia, em mente, merecem destaque alguns dos aspec-
nologia da cortiça, deixando referenciadas parte, ser realizado nesta instituição e, para tos relacionados com a Tecnologia da Cor-
as linhas mestras desta problemática, há que além disso, seriam externamente procuradas tiça, cujos estudos é necessário iniciar:
proceder ao escalonamento do ataque des- as competências mais adequadas para a re- Estudo do tempo de estabilização da cor-
tes problemas. Este terá sobretudo a ver com solução e desenvolvimento das actividades tiça crua e da possibilidade de o reduzir,
o planeamento necessário, relacionado com técnicas a executar. Para além de um quadro com vista à redução dos custos de imobi-
factores temporais devidos à legislação ou a técnico próprio, uma instituição destas de- lização do capital;
directivas ou a outras imposições de mer- veria possuir um grupo (conselho) de cola- Caracterização do ciclo de vida do produto
cado, e não propriamente com o nível de boradores externos e/ou internos, com um “rolha de cortiça natural” – sustentabili-
importância dos assuntos baseado noutros conhecimento conjunto do Sistema Cientí- dade ecológica, com vista não só ao au-
critérios. fico e Tecnológico ligado à cortiça, para me- mento da sua credibilidade como vedante

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DOSSIER COMUNICAÇÕES METALÚRGICA
E DE MATERIAIS

natural, como à consideração da problemá- Estudos comparativos entre produtos de bém, face às prioridades estabelecidas, desa-
tica das alterações climáticas na sua relação cortiça e outros produtos concorrentes, fiar valências existentes em diferentes enti-
com os sumidouros de carbono. Este es- nomeadamente nos domínios em que pre- dades para a execução de certos projectos.
tudo poderá ser alargado a outros produ- sumivelmente haverá vantagens competi- Outra possibilidade seria a criação de um
tos de cortiça; tivas; programa específico de financiamento para
Influência das matérias subsidiárias nas ro- Estudos relativos à reciclagem/reutilização a I&D na área da cortiça, através de fundos
lhas e no ambiente, para fundamentar as de produtos de cortiça no final do ciclo de gerados por uma taxa sobre as transacções
exigências do Código Internacional das utilização, reforçando o carácter ecológico de cortiça.
Práticas Rolheiras (CIPR); deste material. Por outro lado, tendo em conta a forma como
Estudo da contribuição da rolha de cortiça Devem merecer particular atenção as acções funcionam as entidades decisoras relativa-
na valorização do vinho, com vista à sus- de difusão de resultados dos projectos já mente aos apoios à I&D, é desejável que as
tentação do seu valor em confronto com concluídos ou que venham a ser concluídos, diferentes instituições interessadas em can-
os produtos alternativos; bem como as acções de demonstração e de didatar-se a tais apoios procedam a uma pré-
Caracterização da evolução da humidade sensibilização dos agentes económicos. via concertação entre si, por forma a que as
da cortiça após tiradia; Com vista à formação profissional, foi refe- candidaturas sejam apresentadas para deci-
Concepção de um equipamento de corte rido o interesse da polivalência onde se des- são já devidamente integradas, e organizadas
e extracção de cortiça na árvore como res- taca a formação à distância. em termos de cobrirem as diferentes áreas
posta às carências de mão-de-obra espe- Como forma de potenciar todo o enorme em que é necessário colmatar desconheci-
cializada; trabalho a desenvolver nesta área e a quali- mento e evitar sobreposições temáticas.
Estudo da avaliação precoce da qualidade ficar os principais intervenientes, quer ao Deveria também proceder-se à criação de
da cortiça na árvore, permitindo uma me- nível da I&D quer em termos da formação, uma instalação-piloto (inexistente) com todas
lhor gestão e comercialização da cortiça; deveriam ser despoletadas acções para a cria- as operações unitárias de transformação da
Desenvolvimento de tratamentos preven- ção de uma especialização profissional nesta cortiça, para estudos e aumento de escala
tivos em relação à formação de compostos área restrita ou numa área um pouco mais de resultados laboratoriais.
que dão origem a gostos e odores nocivos alargada, de modo a haver uma descrimina-
e de tratamentos para a redução/elimina- ção positiva dos “especialistas”, indo ao en- 6.2. Relativas ao programa de formação
ção dos que foram formados, com impor- contro de necessidades e anseios do sector. Realização de contactos com o Ministério da
tantíssimas vantagens concorrenciais téc- Os futuros especialistas serão, sem dúvida, Ciência e do Ensino Superior e com vários
nicas e económicas; das pessoas mais qualificadas para liderar e estabelecimentos de ensino superior para o
Desenvolvimento de novos métodos de levar a cabo os programas de investigação e estabelecimento de cursos superiores, e/ou
embalagem e transporte de rolhas com ga- de formação propostos. ramos de cursos superiores, e/ou especiali-
rantia para a sua estabilidade química, bac- zações, e/ou mestrados, tendo em atenção
teriológica e dimensional; 6. Ideias a desenvolver as necessidades dos sectores da transforma-
Desenvolvimento de novos métodos de ção e da produção.
ensaio para produtos de cortiça, nomea- 6.1. Relativas ao programa de investigação Avaliação, junto do tecido empresarial cor-
damente métodos indirectos para maior Dada a especificidade e a relevância nacional, ticeiro, das necessidades de formação senti-
facilidade de controlo fabril e novos mé- os projectos de I&D relativos à cortiça devem das e colaboração com os Centros de Forma-
todos de amostragem específicos; ser alvo de uma majoração (a definir quer a ção específicos na execução dos mesmos.
Desenvolvimento de equipamentos para nível de financiamento, quer a nível de ava- Definição e enquadramento de linhas de dou-
a escolha/selecção automática da cortiça, liação) na avaliação no âmbito dos vários pro- toramento na área da Tecnologia da Cortiça,
nomeadamente após cozedura, para uma gramas ou haver uma reserva do financiamento enquadradas nas prioridades de conhecimento
melhor harmonização na comercialização específico para o sector da cortiça. definidas e com orientação adequada.
e posterior processamento da cortiça; A entidade coordenadora para além de defi- Criação/utilização da instalação-piloto ante-
Desenvolvimento de novos equipamentos nir as prioridades de I&D para o sector, re- riormente referida para formação, quer a
específicos para a indústria corticeira, no- ceberia e analisaria (“filtraria”) os projectos nível mais básico quer a nível superior.
meadamente associados a novos produtos de I&D apresentados, verificando a sua con- Criação de cursos de formação especializada,
também a desenvolver (por exemplo, novas sonância com as prioridades estabelecidas e quer para pessoas com total desconhecimento
técnicas de acabamentos de rolhas); dando um parecer, que seria tomado em con- do sector corticeiro (área tecnológica), quer
Desenvolvimento de novos materiais à base sideração (valorizado) na posterior avaliação para técnicos da área, tendo em vista a sua
de cortiça, nomeadamente de alto valor científica e económica de cada programa. actualização e qualificação, nomeadamente
acrescentado, conducentes a aplicações Para isso, esta entidade deveria ser dotada de através de novas técnicas de ensino à distân-
inovadoras; uma estrutura mínima de secretariado e sub- cia, eliminando a deslocação de pessoas da
Estudos interlaboratoriais relativos a mé- contratar um conjunto de peritos para a ava- sua actividade profissional, podendo ser efec-
todos de ensaio e de caracterização de pro- liação dos projectos e restante trabalho de tuados em horários laborais ou pós-laborais,
dutos de cortiça; suporte técnico. Esta entidade poderá tam- com formadores disseminados.

110 INGENIUM | Março/Abril 2007


METALÚRGICA DOSSIER COMUNICAÇÕES
E DE MATERIAIS

Dado que não existe formação superior neste um maior valor acrescentado e diversifica- QUADRO 2
domínio, será conveniente que o programa ção dos mesmos, para métodos de produção
A – Estudo do ciclo de vida (LCA)
de doutoramento inclua uma parte escolar inovadores e ecológicos e para uma maior e de produtos de cortiça (10%)
de formação, para apoio ao desenvolvimento melhor divulgação do conhecimento e trans- A.1 – LCA das rolhas de cortiça natural
A.2 – LCA das rolhas de aglomerado e técnicas
da tese, à semelhança de alguns programas ferência de tecnologia. A.3 – LCA do aglomerado expandido de cortiça
de doutoramento existentes em Universida- A.4 – LCA dos aglomerados compostos de cortiça
des portuguesas na área da gestão. 7.4. Prioridades B – Aspectos da relação cortiça-vinho (20%)
No sentido de optimizar os meios financei- B.1 – Influência da cortiça na valorização do vinho
engarrafado
7. Plano para Programa de I&D ros, humanos e de equipamento disponível, B.2 – Tratamentos preventivos em relação à formação
relacionado com a Tecnologia da Cortiça foram identificadas prioridades, definidas de compostos que conferem gostos e odores ao
vinho
com base em linhas orientadoras estabeleci- B.3 – Tratamentos para a redução/eliminação de
7.1. Designação das quer na área da produção, quer da trans- compostos que conferem gostos e odores ao
vinho
Programa TECOR – I&D em Tecnologia da formação quer, ainda, da I&D, que são or- B.4 – Estudo das condições de estanqueidade
Cortiça ganizadas e divididas nos seguintes grupos:
C – Análise e melhoria da qualidade
I – Ciclo de vida dos produtos da cortiça (15%)
7.2. Introdução corticeiros C.1 – Estudos relacionados com a cozedura e
estabilização após cozedura
Este Programa está idealizado para uma du- II – Relação cortiça-vinho C.2 – Evolução da humidade da cortiça após tiradia
ração global de quatro anos, à semelhança III – Qualidade da cortiça C.3 – Avaliação precoce da qualidade da cortiça na
árvore
dos Programas de I&D comunitários. IV – Equipamentos específicos C.4 – Relação da composição química com a
A dotação orçamental será estudada e defi- V – Reciclagem de produtos corticeiros qualidade
C.5 – Sistemas de análise qualitativa da cortiça
nida em função das verbas geradas pela taxa VI – Métodos de ensaio
referida atrás e o Programa será regulamen- VII – Novos produtos com base D – Desenvolvimento de novos equipamentos
úteis para o sector corticeiro (15%)
tado por Portaria em D.R., podendo, como em cortiça D.1 – Equipamento de corte e extracção de cortiça na
exemplo, optar-se por uma regulamentação, VIII – Divulgação e transferência árvore
D.2 – Novos métodos de embalagem e transporte de
por exemplo, semelhante à definida para a de tecnologia rolhas
Acção 8.1 do Programa AGRO. IX – Outros aspectos técnicos D.3 – Equipamento para a escolha/selecção de cortiça
D.4 – Novos equipamentos associados a novos
Como avaliadores das candidaturas e avalia- produtos
dores do andamento do Programa serão se- D.5 – Novos equipamentos e métodos para tratamento
de resíduos
leccionados peritos independentes de re-
nome, nas áreas envolvidas, preferencial- E – Reciclagem/reaproveitamento
de produtos/resíduos (10%)
mente com uma Especialização Profissional E.1 – Reciclagem de rolhas usadas
na área. E.2 – Reciclagem de aglomerado expandido
E.3 – Reciclagem de aglomerado composto
Prevê-se que o Programa esteja aberto em E.4 – Estudo de aplicações industriais para os
contínuo relativamente à recepção de can- resíduos corticeiros
didaturas, havendo duas sessões anuais de F – Desenvolvimento de novos métodos
avaliação. de ensaio (5%)
F.1 – Métodos de ensaios indirectos e expeditos
F.2 – Novos métodos de caracterização de produtos de
7.3. Objectivos cortiça
F.3 – Estudos pré e pró-normativos
O Programa de Investigação em Tecnologia
da Cortiça tem como principal objectivo a G – Desenvolvimento de novos produtos
derivados de cortiça (15%)
produção de conhecimento de âmbito téc- G.1 – Aglomerados de cortiça com novos aglutinantes
nico, tecnológico e científico relacionado G.2 – Aglomerados de cortiça com novos produtos de
acabamento
com o conhecimento do material cortiça, G.3 – Compósitos de cortiça com outros materiais
com o seu comportamento, com a sua trans- G.4 – Obtenção de produtos químicos com interesse
G.5 – Novos métodos de fabrico
formação e ainda com a aplicação dos seus
produtos. H – Aspectos relacionados com a divulgação
e a transferência de tecnologia (5%)
Como objectivos secundários, este Programa H.1 – Aumento de escala e demonstração de
de Investigação pretende que o conheci- resultados de I&D anteriores
H.2 – Desenvolvimento de bases de dados com
mento produzido seja útil para o sector cor- interesse
ticeiro e que vá ao encontro das necessida- H.3 – Desenvolvimento de uma subernet
des e lacunas do saber existente na arte. I – Outras actividades técnicas (5%)
Outros objectivos estão relacionados com o I.1 – Ensaios interlaboratoriais
I.2 – Estudos comparativos de produtos de cortiça
facto de se pretender que este Programa de com produtos concorrentes
Investigação contribua para uma melhor qua- I.3 – Estudos relativos à interface produtos de cortiça/
indústrias e/ou aplicações afins
lidade da cortiça e dos seus produtos, para

Março/Abril 2007 | INGENIUM 111


DOSSIER COMUNICAÇÕES METALÚRGICA
E DE MATERIAIS

7.5 Actividades ção da mesma e em produtos de qualidade de financiamento para cada uma destas.
Com base nas prioridades atrás estabeleci- acrescida, que poderão também ser obtidos A meio do período de execução serão colec-
das, são em seguida definidas as actividades com os novos equipamentos desenvolvidos tados dados e será formado um painel de
de investigação específicas cujas áreas de de- que optimizarão os processos de produção, peritos com experiência nas áreas de tecno-
senvolvimento se relacionam com os objec- transformação e comercialização. logia da cortiça, gestão de ciência e tecnolo-
tivos e os resultados esperados da aplicação Podem também prever-se novos produtos, gia, gestão de programas e de projectos e
deste Programa. Os projectos de I&D a de- quer obtidos através de novos equipamen- outras consideradas adequadas, que analisa-
senvolver no âmbito do Programa TECOR tos, quer por utilização de novos métodos e rão a execução do Programa e poderão re-
terão que coincidir a nível de trabalho e ob- produtos auxiliares quer, ainda, novos ma- dimensionar a sua estrutura e/ou a distribui-
jectivos com as actividades definidas, de modo teriais compósitos de interessante valor acres- ção dos meios financeiros, de modo a opti-
a corresponder aos interesses do sector para centado, com novas características e alar- mizar a sua execução e a garantir os objec-
o qual o Programa foi estabelecido. gando o espectro de aplicações. tivos e os resultados previstos.
Deste modo, as actividades e respectivas Como resultados do programa deverão tam-
sub-actividades e a dotação orçamental (em bém estar estabelecidos novos métodos de 8. Programa de formação pós graduada
% do total do Programa) seriam conforme ensaio e haver um maior apoio ao trabalho
se apresenta no Quadro 2. normativo, assim como uma maior transfe- 8.1. Mestrado
rência de tecnologia para o sector produtivo a) Designação: Curso de Mestrado em Tec-
7.6. Resultados previstos e uma maior divulgação devida à criação de nologia da Cortiça
O Programa TECOR visa dotar o sector cor- bases de dados e redes de informação e coo- b) Duração do Curso: A parte escolar do
ticeiro nacional, e por transferência de tec- peração específicas. curso consistiria de três períodos, sendo
nologia também o sector corticeiro interna- A súmula destes resultados contribuirá defi- dois com a duração aproximada de 4 meses
cional, com resultados de I&D que permi- nitivamente para um avanço do sector corti- cada e um terceiro de cerca de 1 mês para
tam resolver a maioria dos problemas tecno- ceiro nacional e para concretizar e fortalecer a execução de uma monografia, seguindo-
lógicos do sector, a antecipação de outros e a liderança deste sector a nível mundial, per- -se um trabalho de investigação com a
uma maior defesa dos seus produtos através mitindo que o sector não só reaja a proble- duração máxima de 1 ano, que conduzirá
de um melhor conhecimento dos mesmos. mas referenciados pelos utilizadores, mas à elaboração de uma dissertação.
No final da aplicação do Programa é espe- também apresente novas soluções inovadoras c) Local de Ensino: A maior parte do ensino
rado que sejam conhecidos os LCA’s (Life e exploradoras de novos conceitos nas indús- referente à parte escolar será ministrada
Cycle Assessment – Análise do Ciclo de trias e aplicações a jusante. numa instituição de I&D ao abrigo de um
Vida) pelo menos dos principais produtos
corticeiros para uma melhor avaliação com- 7.7 Medidas de acompanhamento
QUADRO 3
parativa com produtos concorrentes, aspecto Um Programa desta dimensão tem que ser
em que também serão importantes os resul- acompanhado na sua execução para redefi- Bloco I – Introdução ao sector da cortiça
1. Bibliografia e fontes de informação
tados dos estudos de reciclagem, e que o re- nição de orientações e/ou de volumes de fi- 2. Aspectos históricos
lacionamento cortiça-vinho seja optimizado nanciamento por áreas. 3. Produção florestal
4. Exploração do sobreiral
através da resolução de alguns problemas e Considera-se, assim, que será adequado que 5. Organização da produção industrial
aquisição de conhecimentos que valorizem a unidade de gestão do Programa estabeleça
Bloco II – Transformação industrial da cortiça
essa relação. uma equipa responsável pelo levantamento 1. Preparação de cortiça
Relativamente à qualidade da cortiça, é espe- periódico das candidaturas apresentadas e 2. Produção de rolhas e discos de cortiça natural
3. Produção de rolhas de aglomerado e mistas
rado que os resultados do Programa se reflic- dos projectos aprovados, por actividade e 4. Produção de aglomerado composto de cortiça
tam numa melhor e mais precisa quantifica- subactividade, assim como dos montantes 5. Produção de aglomerado expandido de cortiça
6. Outros produtos de cortiça
7. Resíduos e efluentes da transformação da cortiça

Bloco III – Morfologia e química da cortiça


1. Características macroscópicas da cortiça
2. Características microscópicas da cortiça
3. Composição química da cortiça

Bloco IV – Utilização e aplicação de produtos de cortiça


1. Características dos produtos de cortiça
2. Aplicações na vedação de bebidas
3. Aplicações na construção civil
4. Aplicações específicas noutros domínios

Bloco V – Actividades de apoio ao sector corticeiro


1. Patentes relacionadas com a cortiça
2. Normalização no sector corticeiro
3. Terminologia e legislação relacionada com o sector
corticeiro
4. Sistema Científico e Tecnológico ligado à cortiça
5. Qualidade no sector corticeiro

112 INGENIUM | Março/Abril 2007


protocolo com uma Universidade ou numa Universidade
adequada.
d) Corpo Docente: O corpo docente será constituído por
técnicos superiores e investigadores de diversas entida-
des do Sistema Científico e Tecnológico e de empresas,
assim como por professores de várias áreas específicas
provenientes de diferentes estabelecimentos do ensino
superior. Será dada preferência a docentes com a espe-
cialização profissional referida anteriormente.
e) Plano de Estudos: A parte escolar será dividida em Blocos
Temáticos, cada um constituído por várias disciplinas, cujo
programa é também resumido, de acordo com o Quadro
2. No final de cada Bloco serão efectuadas provas escritas
de avaliação.

8.2. Doutoramento
Um programa de Doutoramento deve pretender proporcio-
nar aos doutorandos uma compreensão profunda dos pro-
blemas da área de Doutoramento, neste caso Tecnologia da
Cortiça, e uma formação sólida em métodos e técnicas de
investigação aplicados a essa área.
Os estudantes de Doutoramento terão como desafio um
percurso de trabalho intelectual, onde transitarão de um es-
tádio de aquisição de conhecimentos para um estádio em
que vão contribuir para a criação de conhecimento, exigindo-
se um comprometimento pessoal profundo.
Um plano de Doutoramento é um plano de estudos supe-
riores onde os alunos devem revelar capacidades para estu-
dar e realizar trabalho de investigação de forma independente,
com rigor, através de sistematização e integração de conhe-
cimentos e posterior comunicação de forma adequada.
O plano de Doutoramento, que decorrerá com o prazo má-
ximo de conclusão de 5 anos, seria composto por 4 partes,
a saber:
I – Parte escolar
II – Apresentação de seminários
III – Elaboração e defesa do projecto de tese
IV – Redacção e defesa da tese

Será, assim, definida uma Comissão Coordenadora do Pro-


grama de Doutoramento em Tecnologia da Cortiça, consti-
tuída por professores universitários, e no âmbito de uma Uni-
versidade com actividade adequada.
A parte escolar do curso consistirá de dois períodos, com a
duração aproximada de 4 meses cada. Esta parte visa asse-
gurar uma aquisição de conhecimentos sólida e progressiva
e corresponderá exactamente à parte escolar definida para
o Mestrado.
As disciplinas cobrem matérias, técnicas e métodos varia-
dos, proporcionado o conhecimento de conceitos e meto-
dologias para a realização de trabalho científico, havendo
formação de carácter mais teórico e outro de carácter mais
prático.
Anualmente, em datas a definir, os doutorandos deverão
obrigatoriamente efectuar uma apresentação oral para um
DOSSIER COMUNICAÇÕES METALÚRGICA
E DE MATERIAIS

público convidado, acerca do estado corrente e permitirá um melhor aproveitamento do 7. Normalização no sector corticeiro /
do seu trabalho de investigação. tempo e das disponibilidades de formandos 1 × 2,5 h on-line
O projecto de dissertação é a base do traba- e formadores, podendo alargar o universo 8. Patentes e Sistema Científico e Tec-
lho de investigação dos doutorandos e da sua dos primeiros e facilitar a participação dos nológico relacionados com a cortiça /
definição depende a versão final da tese. Este mais experientes (porventura mais ocupa- 1 × 2,5 h on-line
projecto deverá ser dividido nas seguintes dos) no segundo caso. 9. Qualidade (ISO; CIPR) /
partes: Neste tipo de e-learning, a formação fun- 1 × 2,5 h on-line
1. Descrição clara e pormenorizada do pro- ciona como se fosse numa sala de formação 10. Pesquisa bibliográfica e de patentes /
blema/tema que se vai investigar e da sua virtual, com todas as funcionalidades de uma 5 h presencial
importância; sala real, onde se entra e sai, se pode falar, 11. Seminário sobre tema à escolha / 5 h
2. Revisão da literatura com relevância para trocar opiniões, ver aplicações, projecções,
a análise do problema/tema e desenvol- exemplos, ficando as sessões gravadas, po- 9. Conclusão
vimento do trabalho de investigação; dendo os formandos voltar a assistir poste-
3. Definição dos objectivos e plano de tra- riormente ao que lhes interessar. Foi delineado um plano estratégico relativo
balho e da metodologia a seguir; Como características do programa de for- à investigação e formação na área de Tecno-
4. Antevisão dos resultados esperados e da mação (à distância) especializada teremos: logia da Cortiça que, a ser implementado,
sua aplicação; Formação multimédia on-line com requi- permitiria ir ao encontro de necessidades sen-
Este projecto será apresentado depois do sitos de hardware mínimos para este tipo tidas pelos vários intervenientes no sector e
final da parte escolar e aprovação da mesma. de uso; preencher as lacunas de conhecimento, de
A avaliação do projecto incidirá sobre o texto Sessões on-line com uma carga diária de modo a permitir que a fileira corticeira na-
do mesmo e do desempenho do doutorando 2,5 h, correspondente a módulos comple- cional lute com as mesmas armas que secto-
durante a sua defesa. tos; res concorrentes e dê um passo decisivo na
Todo o trabalho de preparação e de investi- Horário com padrão laboral ou pós-labo- direcção da sua maturidade e afirmação.
gação deve estar consubstanciado na tese. ral;
Esta deve ser redigida segundo normas es- Formandos têm que possuir apenas conhe-
tabelecidas pela Universidade responsável cimentos relacionados com as competên- 1 À data de elaboração do artigo.

por este doutoramento e com base no pro- cias básicas de utilização da Internet;
jecto apresentado, com um aprofundamento Ao longo do curso haverá sessões presen- * INETI
esperado para um trabalho deste teor. ciais para encontro, esclarecimento e tra-
balho conjunto;
BIBLIOGRAFIA
8.3. Formação especializada No final haverá um seminário;
Os programas de formação temáticos, para Avaliação individual com base num teste, • AGRO.GES, 1997, “O montado de sobro e a cortiça (es-
tratégia para a sua defesa e desenvolvimento)”, Relató-
terem sucesso, têm que ter formadores que apreciação de casos de estudo e participa- rio Final, Cascais.
sejam tecnicamente e pedagogicamente ade- ção individual. • Azevedo, R.; Imaginário, L., 1991, “Formação profissio-
nal no quadro das evoluções previsíveis da indústria da
quados e dinamizadores da formação mas, pa- cortiça”, Seminário Internacional sobre a Cortiça,
ralelamente, têm que ser organizados de modo Estrutura do curso Porto.
• Cobra, J.C., 1994, “A indústria da cortiça face aos de-
relacionado com os temas e os destinatários. Como exemplo de um primeiro curso mais safios da competitividade no presente e no futuro”, II
Idealizando a formação à distância sobretudo generalista que posteriormente teria cursos Jornadas Técnicas Hispano-Lusas del Corcho, S. Vicente
de Alcântara.
para formandos que se encontram em labo- sequenciais mais específicos, podemos ter: • Gil, L., 1993, “Química da Cortiça – Ponto da Situação”,
ração, esta, de acordo com a experiência de Designação: Formação para Quadros Médios Química, N.º 50, p. 20-24.
• Gil, L, 1995, “Investigação, desenvolvimento tecnológico
instituições que trabalham há algum tempo e Superiores da Indústria Corticeira e inovação no sector corticeiro”, Ingenium, Ano IX, N.º
neste tipo de formação, deverá ser dividida Programa: 82, p. 45-56.
• Gil, L., 1998, “Cortiça: Produção Tecnologia e Aplica-
em pequenos módulos e deverá ser certifi- 1. Produção industrial: tipos e ção”, Ed. INETI, Lisboa.
cada por uma entidade competente. organização / 1 × 2,5 h on-line • “Inovação-Indústria Portuguesa”, Observatório do M.I.E.,
1992.
A formação à distância on-line permitirá que, 2. Novas tecnologias de transformação • Michael Porter, 1994, “Construir as vantagens competi-
quer os formandos, quer os formadores, es- da cortiça / 2 × 2,5 h on-line tivas de Portugal”, Ed. Fórum para a Competitividade,
Lisboa.
tejam em qualquer lugar desde que com 3. Processos de tratamento de resíduos • P. Cortiço, L. Gil, “Pesquisa de patentes na área da cor-
acesso a um computador e ligação à Inter- e efluentes da indústria corticeira / tiça (Período 1996-1998)”, Rev. Florestal, Vol. XI, n.º 2,
1998, p. 51-53.
net. As novas tecnologias permitem que a 2 × 2,5 h on-line
formação seja ministrada com a voz do for- 4. Morfologia da cortiça / www.efn.com.pt; www.esa.ipcb.pt;
www.guiadoestudante.pt; www.ibet.pt; www.ifea.pt;
mador em tempo real, passando no monitor 2 × 2,5 h on-line www.inia.min-agricultura.pt; www.isa.utl.pt;
o texto/figuras de apoio, podendo os for- 5. Constituição química da cortiça / www.ist.utl.pt; www.ipb.pt; www.itqb.unl.pt;
www.terravista.pt/Nazare/1573;
mandos intervir em qualquer fase e intera- 1 × 2,5 h on-line www.uc.pt; www.uevora.pt; www.utad.pt;
gir quer com o formador, quer com os co- 6. Ensaios físico-químicos de cortiça www.ualg.pt; www.uc.pt; www.ul.pt;
www.unl.pt; www.utl.pt.
legas. Este tipo de tecnologia será muito útil e derivados / 5 h presencial

114 INGENIUM | Março/Abril 2007


METALÚRGICA DOSSIER COMUNICAÇÕES
E DE MATERIAIS

omo se viu na 1.ª parte deste artigo1, as

C relações quantitativas que procuram tra-


duzir o comportamento dos materiais
relativamente à existência de fendas foram
A Mecânica da Fractura
(2.ª parte do artigo publicado na edição n.º 51 da “Ingenium” - Setembro de 2000)
inicialmente estudadas por A. Griffith em
l920, com base no conceito de que a sepa- Armando Assis de Sousa e Brito *
ração do material é causada pela rotura das
ligações atómicas devido a altas tensões lo-
cais, e que, se um sólido é fracturado, novas rio de Farnborough, no Reino Unido2. Os alternância da pressurização e despressuri-
superfícies são criadas nesse material de aviões “Comet” continuaram a operar… Em zação! Verificou-se que o problema da fa-
modo termodinamicamente irreversível. Abril desse ano, deu-se uma nova tragédia diga foi agravado pela concentração de ten-
Aquele cientista fez notar então que quando quando outro “Comet”, operando entre Lon- são associada aos furos de rebites existentes
uma fenda é produzida num componente dres e Cairo, tendo levantado voo, por sinal perto do contorno das janelas da fuselagem
submetido a tensões elásticas, um balanço também de Roma, explodiu sobre o mar, (fig.1).
se estabelece entre a diminuição de energia dificultando mais uma vez a recuperação dos
potencial, resultante da relaxação da energia destroço que pudessem comprovar defeitos
elástica armazenada e do trabalho do movi- da aeronave. Retomou-se, então, a pesquisa
mento das forças exteriores, e o incremento dos destroços do segundo desastre, que pa-
da energia de superfície resultante da cria- reciam mais fáceis de recuperar do que os
ção das novas superfícies da fenda. Deste desse último acidente. A cauda da aeronave
modo, uma fenda pré-existente crescerá se foi recuperada e estudos que se seguiram le-
o sistema fornecer a energia de superfície varam à conclusão de que a explosão tinha
necessária. sido produzida na cabine de passageiros, não
Como também atrás se frisou, os trabalhos tendo, no entanto, determinado quais as suas
pioneiros de Griffith foram incompreensi- causas.
velmente ignorados durante quase três dé- Isso só pôde ser averiguado quando se efec- Figura 1 – Janela do avião COMET
cadas, não obstante os desastres devidos a tuaram ensaios pressurizando e despressuri- onde terá ocorrido a fissura
fractura não cessassem de ocorrer. zando, num tanque com água, uma cabine
Na década de 50 do século passado, três avi- de avião desse modelo, simulando uma ope- Estas tragédias, bem como as fracturas ocor-
ões a jacto de passageiros britânicos “Comet” ração real do sucessivo efeito de pressuriza- ridas nos navios “Liberty” e “T-2” (fig. 2),
caíram após sofrerem fractura, do que re- ção da cabine em voo e despressurização em durante e imediatamente a seguir à 2.ª Grande
sultou considerável número de mortes. O terra. Após um determinado número de al- Guerra (pormenorizadamente descritos na
primeiro desastre deu-se quando o avião le- ternâncias desse efeito, verificou-se o apare- 1.ª parte deste artigo), e outros desastres
vantava do aeroporto de Calcutá, na Índia, cimento de uma fissura a partir do canto de que se foram verificando, despoletaram então
em Maio de 1953. Sendo o avião conside- uma das janelas, que cres-
rado de alta tecnologia, e não se tendo con- ceu rapidamente, provo-
seguido averiguar as causas efectivas do de- cando o rompimento da
sastre, este foi atribuído a condições atmos- estrutura da aeronave. Pro-
féricas ou erro do piloto, ilibando o avião do curando, então, entre os
facto e mantendo-se outros aviões do mesmo destroços dos aviões sinis-
tipo em serviço. Oito meses depois, em Ja- trados, comprovou-se ter
neiro de 1954, um outro “Comet” que havia sido em local idêntico que
partido de Roma com destino a Londres ex- se produziram as fracturas
plodiu quando voava a alta altitude, espa- causadoras das tragédias.
lhando os destroços numa larga área do Me- Frise-se que no projecto
Figura 2 – Um dos navios Liberty,
diterrâneo, perto da ilha de Elba. Foi impos- do avião havia sido prevista após fractura frágil ocorrida subitamente durante a permanência no porto
sível recuperar grande parte desses destro- a pressurização da cabine
ços, pelo que, mais uma vez, não se conse- e imposto um elevado coeficiente de segu- um acentuado interesse pelo fenómeno da
guiu obter resultados que pudessem atribuir rança. Mas a pressurização só foi considerada fractura, intensificado pelo concomitante
o desastre à concepção do avião. A condu- como uma carga estática, não tendo sido pre- progresso tecnológico que entretanto se pro-
ção do inquérito foi atribuída ao Laborató- visto o problema de fadiga3 resultante da cessava em vastas áreas.

1 A primeira parte deste artigo foi publicada na edição de Setembro de 2000 desta Revista. Razões diversas, inclusivamente editoriais, impediram uma maior aproximação entre essa parte e a que
agora se apresenta.
2 Como referido anteriormente, foi nesse Laboratório, o Royal Aircraft Establishment, no Reino Unido, que trabalhou Griffith, realizando os seus trabalhos pioneiros sobre a fractura.
3 Adiante será definido o significado do conceito de fadiga.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 115


DOSSIER COMUNICAÇÕES METALÚRGICA
E DE MATERIAIS

Entre 1948 e 1966, graças aos esforços de mico, microestrutural ou macroscópico, de- afectam o seu comportamento, favorecendo
Irwin, Orowan e outros investigadores, pu- pendendo da escala da observação. Num ex- a fractura:
deram ser estabelecidos os princípios bási- tremo encontra-se a abordagem atómica onde estado triaxial de tensão, que pode ser
cos da Mecânica da Fractura (M. F.), mas só os fenómenos de interesse tomam lugar no criado por uma fissura ou outra condição
na década de sessenta foi esta importante material dentro de distâncias da ordem de geométrica.
área da ciência aplicada extensivamente à 10–9 m, e o seu estudo baseia-se nos concei- baixa temperatura, inferior à designada
industria aeronáutica, que usa materiais de tos da mecânica quântica. No outro extremo, temperatura de transição dúctil-frágil, e
alto desempenho e grande criticalidade, es- encontra-se a abordagem da mecânica dos cargas de impacto, correspondendo a altas
tendendo-se sucessivamente a outros cam- meios contínuos, considerando o comporta- taxas de deformação.
pos, como construção naval, centrais nuclea- mento do material a distâncias iguais ou su- Um conceito importante da M.F. é a tena-
res, reservatórios de pressão, pipe-lines, es- periores a 10–4 m. cidade ao entalhe, definido como a capaci-
truturas off-shore, etc.. A complexa natureza do fenómeno da frac- dade do material em absorver energia (em
Diversos casos importantes de colapsos de- tura não tem permitido um tratamento uni- geral quando carregado dinamicamente), em
vido a fractura foram, apesar dos aspectos ficado, pelo que diferentes teorias foram for- presença de uma fissura ou entalhe. Essa
trágicos, servindo como decisivas etapas na muladas para cada uma das abordagens. Con- propriedade deve ser medida por ensaios es-
compreensão dos mecanismos da fractura, sequentemente, um dos objectivos básicos tabelecidos pela M.F. (de que adiante se fará
e levando ao desenvolvimento de procedi- da Mecânica da Fractura deverá ser o esta- referência) ou pelo ensaio Charpy com pro-
mentos de projecto, construção e utilização belecimento de relações entre elas. vete entalhado, designado na literatura anglo-
que pudessem minimizar esses riscos. A abordagem da mecânica dos meios contí- -saxónica por Charpy V-notch test (referido
Em l948, George R. Irwin, trabalhando no nuos, que interessa sobretudo à Engenharia na 1.ª parte deste artigo), ou outros ensaios
U. S. Naval Research Laboratory, em Wa- Mecânica, é a que será referida neste artigo. afins. O incremento da tenacidade ao enta-
shington, sugeriu que o critério de fractura Ela considera naturalmente o material con- lhe com a temperatura conduz à abordagem
de Griffith para os materiais idealmente frá- tínuo e homogéneo e assume a existência, do projecto para aços estruturais com base
geis poderia ser modificado e aplicado igual- no seu seio, de defeitos largamente superio- no conceito de temperatura de transição.
mente aos materiais dúcteis, isto é, os que res às dimensões das suas características mi- Nessa abordagem, determinado nível de te-
exibem deformação plástica antes da rotura4. croestruturais. nacidade ao entalhe é seleccionado como
Uma modificação similar foi proposta por Uma grande variedade de defeitos poderá representando o adequado valor de tenaci-
E. Orowan, sensivelmente pela mesma al- ser encontrada num determinado compo- dade para uma estrutura particular. Um dos
tura. Essa alteração reconhecia que a resis- nente ou estrutura. Considerando o conceito níveis frequentemente usados, a partir de
tência de um material à fractura compreen- de defeito em sentido lato, ele abrange im- ensaios Charpy com provete entalhado, é o
dia a soma da energia elástica de superfície perfeições do material, defeitos introduzi- estabelecido aquando das fracturas de navios
e do trabalho de deformação plástica que dos por deficiências de projecto, defeitos “Liberty”, referido na primeira parte deste
acompanha a extensão da fissura. Irwin mos- gerados pela fabricação da peça e pelas con- artigo. De notar que determinados materiais,
trou ainda que o campo de tensões existente dições mecânicas e ambientais de serviço. como por exemplo ligas de alumínio, de ti-
na vizinhança da extremidade de uma fenda Os defeitos inerentes ao material incluem, tânio e muitos aços de elevada resistência,
obedecia a uma determinada distribuição, por sua vez, grande diversidade de casos, não exibem esse comportamento com tem-
função da posição do ponto em questão, ex- desde porosidade e inclusões a fendas origi- peratura de transição5.
presso em coordenadas polares. Uma nova nadas por tratamentos térmicos, incluindo Uma vez a fenda desenvolvida, a relativa se-
filosofia de projecto é então introduzida pela também certos aspectos de morfologia mi- veridade da concentração de tensão pode ser
Mecânica da Fractura, em contraposição aos croestrutural, como bandeamento de orien- reduzida, impedindo ou dificultando o seu
critérios tradicionais, uma vez que na prá- tação desfavorável devido a laminagem, exis- prosseguimento, por travadores de fenda
tica não são admissíveis materiais, compo- tência de uma segunda fase mais frágil, limi- (crack arresters), por exemplo fazendo um
nentes e estruturas sem defeitos. A M. F. é tes de grão, certas microestruturas de reve- furo centrado na extremidade dessa fenda,
baseada na análise de tensões a partir do co- nido, etc.. Esses defeitos são descontinuida- o que corresponde a passar o raio de curva-
nhecimento da tenacidade do material, da des do material que, sob determinadas con- tura natural da sua extremidade para as di-
tensão nominal e da dimensão da fissura para dições, se podem propagar até à rotura do mensões do furo6.
cada caso de um componente estrutural. componente. Para estudar o problema do crescimento de
O fenómeno da fractura pode ser abordado Para um dado material, três importantes si- uma fenda, de uma lacuna ou de outro de-
a partir de diferentes pontos de vista: ató- tuações (não necessariamente simultâneas) feito pré-existente, a análise de tensões é

4 A fractura pode ser classificada sob o ponto de vista macroscópico em fractura frágil e fractura dúctil. A primeira corresponde a baixa energia, produz-se com pouca ou nenhuma deformação plástica
e sob alta velocidade. A fractura dúctil ocorre após uma deformação plástica mais ou menos extensa, estando associada a altas taxas de dissipação de energia e baixa velocidade de propagação.
5 Alguns metais, como o alumínio, o cobre e o níquel, têm uma estrutura cristalina cúbica de faces centradas e são dúcteis a qualquer temperatura. O ferro abaixo de ~700º C tem uma estrutura
cúbica de corpo centrado e apresenta a curva de transição frágil dúctil. Acima daquela temperatura, a estrutura é cfc (austenite). Determinados teores de crómio e níquel podem alargar o domínio
austenítico até baixas temperaturas tornando o aço dúctil.
6 Esse procedimento foi proposto em l9l5 por William Jordan para travar o crescimento da fenda do “Sino da Liberdade”, famoso símbolo da independência dos E. U., existente em Filadélfia, que
apresentava então uma fractura com tendência a propagar-se. Na altura desconheciam-se esses conceitos, e não tendo sido concretizado o procedimento proposto, permitiu-se que a fenda
progredisse e duplicasse de comprimento, atingindo praticamente toda a altura do sino.

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complementada pela predição do local onde são diferentes, submetidas a tensões diferen- ou provete, atingindo para determinada es-
a fenda poderá ocorrer. Diversos critérios tes, comportar-se-ão de forma idêntica se a pessura um valor mínimo, correspondente
têm sido formulados, cada um envolvendo elas estiver associado o mesmo valor do K. a um estado plano de deformação, perma-
um parâmetro relacionado com a perda de O valor crítico do factor K é propriedade de necendo constante a partir daí. Esse valor é
continuidade do material, e estabelecendo cada material e denomina-se Tenacidade à que é tomado como Kc (factor de intensi-
um valor crítico que quantifique a resistên- Fractura, Kc, que exprime assim a capaci- dade de tensão crítica) do material em causa.
cia do material à fractura. dade do material em resistir à fractura em Consequentemente é necessário definir para
A Mecânica da Fractura Linear Elástica presença de fendas, ou seja o valor de K a cada caso a espessura limite que origina o
(MFLE), desenvolvida por Irwin, é baseada partir do qual uma fissura presente no ma- estado plano de deformação. As normas
num método analítico que relaciona a dis- terial se propaga de forma instável (fig. 3). ASTM impõem B ≥ 2.5 (KIC/σy)2. Mas re-
tribuição e o valor do campo de tensões na pare-se que, como nessa expressão figura o
vizinhança da ponta da fenda com a tensão próprio factor KIC, a sua determinação ex-
nominal aplicada ao componente estrutural, perimental obriga por vezes a uma sequên-
as características geométricas da fenda e as cia cíclica de ensaios para estabelecer o valor
propriedades do material. mínimo da espessura, B, para que as zonas
O projecto com base na Mecânica da Frac- que sofrem deformação plástica possam ser
tura necessita, portanto, do conhecimento desprezadas, ou seja, para que a rotura se
da dimensão crítica do defeito e do parâme- Figura 3 – Comparação de conceitos processe em condições quase-elásticas.
de Factor de Intensidade de Tensão (K) e
tro que possa caracterizar a capacidade do Tenacidade à Fractura (Kc). O primeiro traduz Verifica-se, porém, casos de materiais apli-
defeito a propagar-se. Esse parâmetro deve, o “esforço da fractura” e o segundo representa cados em grandes estruturas, como pontes,
a “resistência” do material à fractura.
por sua vez, poder relacionar os resultados Esta dá-se conseguinte K > Kc navios, reservatórios de pressão, etc., terem
obtidos em ensaios laboratoriais com o de- espessuras de interesse insuficientes para
sempenho efectivo da estrutura, de modo a Os valores de Kc podem ser determinados manterem um estado plano de extensão sob
que o comportamento de uma estrutura com por ensaios, seguindo normas estabelecidas. cargas e temperaturas impostas pelo serviço.
fendas possa ser prevista por ensaios labora- Para os materiais mais correntes estão devi- Nestes casos, a análise linear-elástica usada
toriais. Esse parâmetro denomina-se Factor damente tabelados em função da tempera- para calcular o parâmetro K é invalidado pelo
de Intensidade da Tensão – K, função da di- tura de ensaio, pois, em princípio, a tenaci- comportamento elasto-plástico e consequente
mensão da fenda (a), das condições de car- dade aumenta com a temperatura. formação de zonas de plastificação relativa-
regamento (σ - tensão remota) e da geome- Considerando então um componente de um mente extensa na ponta da fenda, tornando
tria componente e da fenda e seu posiciona- determinado material, caracterizado pelo seu necessária a utilização de conceitos mais ade-
mento (materializadas num parâmetro adi- valor de tenacidade, Kc, a sua segurança é quados.
mensional Y). Será então K = Y σ (π a)1/2. determinada quantitativamente, em termos Surge, então, uma nova abordagem de aná-
A determinação do parâmetro K pode ser de fractura, a partir de um dos dois crité- lise, constituindo a Mecânica da Fractura
feito por via analítica, numérica ou experi- rios: Elasto-Plástica (MFEP), que definiu para essas
mental7. assumindo-se a existência de uma fenda condições parâmetros apropriados, dos quais
O parâmetro K deve ser afectado de índices de determinada dimensão a, calcula-se a os mais importantes são os seguintes:
I, II ou III, correspondentes aos três modos tensão critica σc que o órgão poderá su- deslocamento da abertura da ponta da
básicos de deformação de um corpo fissu- portar σc =K c / Y (π a)0.5; fenda (mais vulgarizada pela denominação
rado. O modo I – modo de abertura – é ca- considerando o órgão sujeito a determi- anglo-saxónica crack-tip opening displace-
racterizado pelo afastamento das duas su- nada carga e consequente tensão s, deter- ment (CTOD), proposto em l961 por A.
perfícies da fenda por aplicação de um car- mina-se a dimensão crítica, ac que uma A. Wells e desenvolvido na mesma altura
regamento perpendicular à direcção de pro- fenda poderá atingir, vindo ac = K c 2 / por D.S. Dugdale. Trata-se da medida da
pagação da mesma, e é o mais importante e π2(Ys). deformação que antecede imediatamente
mais comum; no modo II – modo de escor- O factor de intensidade de tensão é aplicá- à fractura na ponta de uma fissura sob con-
regamento – e no modo III – modo de rasga- vel nos casos de extensão estável da fissura dição de comportamento inelástico. Adian-
mento – as superfícies da fenda deslizam uma e o desenvolvimento da MFLE tem permi- te se define com maior precisão este con-
sobre a outra mediante forças de corte ac- tido um crescente conhecimento do fenó- ceito;
tuantes no plano da fenda, diferindo porém meno do crescimento sub-crítico da fissura integral J, proposto em l968 por Rice. Con-
os casos por o deslizamento das superfícies e da fractura instável final. siste no integral, independente do per-
ser, respectivamente, na direcção perpendi- Um aspecto importante que se deve frisar é curso, que fornece uma medida média do
cular e paralela à frente da fenda. o efeito da espessura do componente no valor campo de tensão e extensão elasto-plás-
Da definição de factor de intensidade de ten- da tenacidade. Esta grandeza decresce com tico na ponta da fenda. (Na realidade, este
são, K, conclui-se que duas fendas de dimen- o aumento de espessura, B, do componente parâmetro deve ser aplicado a materiais

7 O símbolo K foi estabelecido em homenagem a J. Kies, colaborador de Irwin e activo participante no desenvolvimento deste conceito.

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com comportamento elástico não linear, safe life se tornasse mais crítica e que au- cargas; iii) sistemas de travamento de fen-
podendo simular então, com os cuidados mentasse o efeito detrimental dos defei- das (crack stoppers) quando possível; iv) téc-
devidos, situações em que ocorra plastifi- tos, anteriormente considerados como de nicas de previsão de crescimento sub-crítico
cação); importância menor. Este procedimento de fendas e de inspecção periódica.
curva de R, método para a caracterização implica então que uma determinada vida Grande número de projectos é englobado
da resistência à fractura de materiais du- deve ser prevista e que antes do final desse numa conjugação das duas filosofias básicas:
rante um incremento estável da fenda. período a estrutura deva ser reparada ou safe-life e fail-safe.
A descrição mais pormenorizada desses mé- mesmo retirada; Os conceitos actuais da M.F. permitem es-
todos não cabe evidentemente dentro do fail-safe (desenvolvida a partir de 1960)9 tabelecer inequivocamente que os defeitos
contexto deste artigo. O leitor interessado - impõe, em contrapartida, que a estru- mais graves, que podem dar origem ao co-
pode encontrar abundante desenvolvimento tura, embora tendo sofrido determinada lapso de componentes e estruturas, são os
desse tema, e de outros abordados no pre- extensão de dano durante o tempo de ser- defeitos planos pela sua decisiva contribui-
sente artigo na literatura citada no fim8. viço, deva possuir uma resistência residual ção para o decremento da resistência mecâ-
Fazem-se aqui unicamente mais algumas re- que garanta a capacidade de suportar sa- nica. É o caso, por exemplo, de fissuras em
ferências ao parâmetro CTOD, que é o mais tisfatoriamente as cargas previstas no pro- materiais, de um modo geral, ou as falhas
abrangente e de mais simples e económica jecto até que o dano seja detectado e ac- de fusão em soldaduras. Os defeitos volú-
obtenção. ções correctivas apropriadas sejam toma- micos, como porosidades, parecem compor-
Uma tensão aplicada a um componente que das. Prevê, por conseguinte, a inevitabili- tar um risco muito menor. A M. F. põe tam-
contém uma fissura tende a alargar a fenda, dade de ocorrência e presença de fissuras bém em evidência que a dimensão de um
por afastamento das suas faces, de uma ex- e impõe a realização de inspecções a inter- defeito em profundidade é significativamente
tensão δ, numa direcção normal ao seu plano. valos determinados, embora os limites do mais importante que o seu comprimento, e
A partir de determinado valor dessa exten- risco máximo não sejam explicitamente que os defeitos localizados à superfície ou
são, a fenda rompe-se novamente e avança. definidos. É aplicada, por exemplo, em com ela comunicando são mais graves que
Esse é o valor crítico δc, a determinar. O en- toda a estrutura primária dos aviões, de os defeitos embebidos.
saio respectivo é, portanto, baseado na de- modo a que a ruína de um componente A detecção de defeitos deve ser interpretada
terminação da extensão crítica da fractura a não implique a falha catastrófica de toda (e sancionada) em termos da adequação do
partir de um registo carga versus desloca- essa estrutura. componente inspeccionado à sua utilização,
mento, que não requer qualquer análise de damage tolerant design (projecto tolerante ou seja à fiabilidade do componente nas con-
tensões. Com algumas restrições impostas ao dano) – (aprofundamento da anterior, dições de serviço para que foi concebido e
por normas (por exemplo as ASTM), o mé- a partir de 1975) –, assumindo igualmente fabricado. O critério de actuação não pode
todo de ensaio CTOD é o mais aplicado para a inevitabilidade das fendas de fadiga. Aplica perder de vista o fim a que se destinam os
toda a região de temperatura de transição os métodos da Mecânica da Fractura no componentes examinados e os diferentes
que é a de maior interesse para a maioria sentido de prever o número de ciclos ad- graus (níveis) de solicitações em condições
dos aços estruturais. Dentro de determina- missíveis, os intervalos de inspecção im- normais de serviço, introduzindo-se, assim,
das regiões de validade estão estabelecidas postos, a taxa de crescimento do dano e o a noção de adequação à utilização.
correlações entre os parâmetros da MFLE e valor da correspondente resistência resi- A Mecânica da Fractura pode fornecer o “back-
da MFEP. dual. Destes conceitos resulta o estabele- ground” e as ferramentas para tomada de de-
Por outro lado, têm sido propostas e desen- cimento de códigos que devem presidir ao cisão para a correcta escolha de alternativas
volvidas filosofias de projecto e análise, em projecto de novas estruturas, nomeada- nas diferentes actividades de projecto, fabrico,
termos do reconhecimento das reais (em mente aeronaves, e a certificação das que montagem e controle de qualidade.
oposição a ideais), condições de produção e já estão em serviço. Um conceito similar No projecto de engenharia podem-se esco-
serviço dos materiais e estruturas. São elas: é o designado fit for purpose. lher materiais ou optar por detalhes de con-
safe life (vulgarizada entre 1950 e 1960) A resistência residual é determinada a par- cepção que sejam relativamente tolerantes
- geralmente compreendida como havendo tir do máximo dano que a estrutura suporta em relação à presença de fenda, ou mesmo
uma extrema improbabilidade de uma antes que se produza a rotura catastrófica. prever determinadas redundâncias, de modo
falha catastrófica dentro do período de Os princípios que devem ser seguidos para a que a fractura de um componente não im-
vida prevista pelo projecto e garantida por a concepção segundo as duas últimas filoso- plique falha catastrófica da máquina ou da
ensaios de fadiga realizados quer sobre os fias são os seguintes: i) utilização de mate- estrutura.
componentes, quer sobre a própria estru- riais de alta tenacidade (permitindo grandes Inspecções periódicas são sempre necessárias,
tura. Materiais avançados com valores ele- fendas visíveis antes da fractura instável, evitando, assim, que uma fenda existente
vados de resistência convencional deram baixa taxa de crescimento, alta resistência possa propagar até uma dimensão crítica,
origem a que a validação do conceito de residual) ii) redundância nos “percursos” das antes que seja detectada e convenientemente

8 Ver, por exemplo, Hertzberg, Barson ou Broeck citados na bibliografia.


9 Desenvolvida por Pellini.

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reparada. Os procedimentos de inspecção e tura tem duas vertentes de actuação signifi- fabrico de componentes em aço, porque há
detecção incluem-se na denominada Inspec- cantes: possibilidade de trajectórias contínuas para
ção Não Destrutiva (IND), que engloba di- a primeira considera a inevitabilidade da a propagação das fissuras, aliada ao facto de
versos métodos: inspecção visual, líquidos presença de defeitos na estrutura e baseia certos defeitos de soldadura serem graves
penetrantes, magnetoscopia, ultra-sons, ra- a determinação da tensão de fractura em pontos de nucleação de fissuras. Em peças
diação, etc.. Cada um desses métodos tem termos das propriedades do material, quan- rebitadas, as eventuais fissuras podem, em
vantagens e limitações, não havendo assim tificada pela tenacidade e o tamanho pre- geral, ser detidas nessas junções. No entanto,
um método universal. A escolha do método visto da fenda; esta vertente está mais li- a soldadura como processo tecnológico de
mais adequado depende da situação especí- gada à engenharia de projecto; construção metálica tem indubitáveis vanta-
fica e dos meios disponíveis. a segunda envolve a melhoria da tenaci- gens técnicas e económicas.
A reparação de uma estrutura atingida por dade do material por manipulação micro- Do que foi relatado verifica-se que é só na
dano requer o conhecimento de determina- estrutural e/ou o desenvolvimento de novos segunda metade do século XX que a Mecâ-
dos parâmetros, como sejam: dimensão e materiais com propriedades acrescidas e, nica da Fractura começa verdadeiramente
morfologia do dano e a sua taxa de cresci- naturalmente, está mais relacionada com a ter expressão, firmando-se como um do-
mento até ao valor crítico, a resistência re- a engenharia de materiais. mínio de conhecimento fundamental, em
sidual e o tempo de vida remanescente. A Normalmente, dentro de determinada classe face do crescente desenvolvimento de es-
reparação envolve a substituição do compo- de materiais, a melhoria da tenacidade está truturas fixas e móveis que, quer pela sua
nente, a sua alteração, o reforço, etc.. associada à maior ductilidade e consequen- dimensão e elevados custos, quer pelas ex-
Uma vez produzida a fractura deve-se evi- temente a uma diminuição da resistência es- tremas condições de trabalho, quer ainda
dentemente estudar as suas causas no sen- tática, e vice-versa, o que constitui um difí- pela gravidade de risco que podem apresen-
tido de se tentar impedir a sua repetição em cil dilema. Há, consequentemente, que es- tar, merecem particular atenção. A fiabili-
circunstâncias idênticas. Este estudo com- tabelecer um compromisso, geralmente tra- dade e a durabilidade passam, naturalmente,
preende determinados procedimentos, que duzido pela escolha do material com maior a ter importância decisiva no projecto dos
começam pelo conhecimento do historial do tenacidade para uma tensão de cedência de- equipamentos e das estruturas e na respec-
componente, sua fabricação e condições de sejada. O custo é geralmente um factor tam- tiva selecção de materiais.
serviço, nomeadamente no momento de bém interveniente no compromisso. Em ter- Paralelamente ao desenvolvimento da Me-
fractura. mos industriais, um refinamento microes- cânica da Fractura, intensificou-se o estudo
Um instrumento de indiscutível importân- trutural conduz geralmente a resultados sa- de outras áreas correlacionadas ou interliga-
cia para o estudo da fractura é a interpreta- tisfatórios. das, como a Fadiga, a Fluência, a Corrosão
ção da morfologia da superfície fracturada, Existem critérios de fractura que são stan- sob Tensão, a Fadiga com Corrosão, a Fa-
o que constitui a Análise Fractografia. Ini- dardizações em relação às quais o compor- diga-Fluência, etc..
ciada com a observação visual e a microsco- tamento à fractura de uma estrutura deve O fenómeno que posteriormente se deno-
pia óptica, a compreensão dos mecanismos ser apreciado. Em termos gerais, esses cri- minou por Fadiga foi detectado em meados
da fractura atingiu grande desenvolvimento térios podem ser correlacionados com três do século XIX, quando o alemão August
com o advento da microscopia electrónica. níveis diferentes de comportamento, nome- Wohler (1819-1914), engenheiro de cami-
Efectivamente, através da observação dessa adamente linear elástico (estado plano de nhos-de-ferro, estudou o comportamento
superfície por microscopia electrónica de var- extensão), elástico-plástico ou totalmente de eixos de carruagens, submetidos a esfor-
rimento, MEV – que permite elevadíssimas plástico. Este último caso seria o teorica- ços alternados. O interesse de Wohler por
ampliações, da ordem de dezenas de milha- mente desejável, mas tornava-se economi- esse estudo foi despertado pelas fracturas
res de vezes, e grande profundidade de campo camente irrealizável. súbitas ocorridas em eixos de equipamento
– poder-se-á inferir quanto ao tipo e meca- Os factores envolvidos na definição de um ferroviário após determinados períodos de
nismos de fractura, a origem da mesma, a critério de fractura compreendem: serviço.
direcção de propagação, etc.. conhecimento das condições de serviço da Entre 1850 e 1875, Wohler realizou exaus-
Complementarmente, com o auxílio da mi- estrutura (carga aplicada, velocidade dessa tivos ensaios, em veios à escala natural e em
croscopia óptica observa-se lateralmente o aplicação, temperatura, etc.); provetes, no sentido de determinar o nú-
perfil da fenda, procurando analisar as mi- o nível desejado de desempenho (estado mero de reversões da carga que o material
croestruturas percorridas pela mesma, de- plano de tensão, regime elasto-plástico); poderia suportar a cada nível de tensão, antes
tectando possíveis zonas frágeis, o que tem as consequências de uma eventual falha de se fracturar. Reproduzindo os resultados
importância crucial em vários casos, nome- (danos pessoais e materiais, e sua gravi- obtidos sob a forma de um gráfico tensão -
adamente nas ZAT (zonas afectadas pela dade). número de ciclos (curvas S-N), verificou que
temperatura) em cordões de soldadura, bem A fractura frágil tornou-se um fenómeno o número de reversões10 aumentava com o
como em zonas de plastificação. particularmente importante com a introdu- abaixamento da tensão aplicada e que, para
O projecto com base na resistência à frac- ção da soldadura como principal técnica de o ferro e o aço, havia um nível de tensão al-

10 Um ciclo compreende naturalmente duas reversões.

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ternada abaixo do qual não ocorria fractura, tensão, tensão máxima, frequência e cons- o artigo em que Paris expunha essa relação
qualquer que fosse o número de ciclos, es- tância ou variabilidade da tensão), os ineren- foi, de início, prontamente rejeitado por três
tabelecendo, assim, o conceito de tensão li- tes às propriedades metalúrgicas e geomé- importantes revistas científicas, cujos refrees
mite de fadiga. (Mais tarde verificou-se que tricas do componente, e os devidos às con- simultaneamente consideraram que seria im-
metais não ferrosos, como o alumínio, não dições ambientais. possível que um parâmetro elástico (K – fac-
apresentavam esse patamar nas suas curvas Nos cem anos que se seguiram aos trabalhos tor de intensidade de tensão, atrás referido)
S-N, ou seja, a tensão é sempre decrescente de Wohler, diversos investigadores deram pudesse intervir nos efeitos das taxas de cres-
para o aumento do número de ciclos Para valiosos contributos para o desenvolvimento cimento de fenda. Mas é certo que, hoje, a
estes casos, define-se então uma tensão li- dessa área: Gerber (l874), Bauschinger (l885), Lei de Paris é de importância fundamental
mite convencional, da ordem de 108 ci- Goodman (l899), Ewing e Humprey (l903), no cálculo de vida de componentes sujeitos
clos). Jenkin (1923), Moore e Kommers, Basquin, a fadiga. A simplicidade dessa expressão per-
A Fadiga é, portanto, o processo de ruína (1901), Soderberg (l930), etc.. Durante as mite a estima da vida útil de um compo-
progressiva de materiais causada por apli- décadas de trinta e quarenta do séc. XX, a nente sujeito à fadiga, integrando a equação
cação de ciclos repetidos de tensão ou defor- investigação no campo da fadiga foi predo- anteriormente apresentada, entre as dimen-
mação do que resulta falha prematura dos minantemente devotada ao estabelecimento sões inicial ai e final af da fissura. Outros in-
mesmos. Um ciclo de fadiga é determinado dos efeitos dos factores, atrás citados, que vestigadores, como Forman, propuseram fór-
fundamentalmente por dois parâmetros de influenciam a vida de fadiga. mulas mais elaboradas, com a mesma fina-
tensão – a amplitude e a tensão média. Até à Segunda Grande Guerra, a maior parte lidade, mas a lei de Paris, precisamente pela
Quase todos os tipos de estruturas estão su- dos resultados experimentais dizia respeito sua simplicidade, continua sendo a mais vul-
jeitas a este modo de ruína. O processo de a fadiga com alto número de ciclos, pouca garizada.
Fadiga inicia-se geralmente (embora não atenção sendo prestada ao estudo da fadiga No caso de aplicação sequencial de vários
sempre) na superfície do metal, num ponto para a gama de baixo número de ciclos. Foi, regimes de amplitudes de tensão, o dano
de concentração de tensão pré-existente. porém, constatado que a certo tipo de equi- total resultante é postulado como sendo a
Uma pequena fenda aparece então e este pamentos (como reservatórios de pressão, soma dos danos incrementais produzidos por
estágio inicial denomina-se nucleação. Se os fuselagens pressionadas, mecanismos de trem cada nível de tensão. Embora este conceito
ciclos de carga alternada continuam, a fenda de aterragem, flaps controladores, mísseis, pareça simples, muitas dificuldades têm sur-
propaga-se com maior ou menor velocidade, equipamento de lançamento de naves espa- gido na sua aplicação. A primeira teoria de
dependendo do material e da carga (não só ciais, etc.), submetidos a esforços muito ele- acumulação de dano foi proposta por Palm-
o valor da carga máxima, como a amplitude vados, somente uma vida relativamente curta gren, em 1924, e mais tarde desenvolvida
da alternância). O número de ciclos até à era exigida. Consequentemente, o interesse por Miner, em 1945. A hipótese de Palm-
fractura compreende, assim, os ciclos reque- por esse tipo de fadiga (fadiga oligocíclica) gren-Miner considera que a fracção de dano
ridos para a iniciação da fissura (Ni) e os re- aumentou visivelmente. Introduziu-se, então, produzido por cada nível de tensão é linear-
queridos para a sua propagação até uma di- uma abordagem da fadiga através da relação mente proporcional à relação entre o número
mensão crítica que origina a fractura instável ε – N (extensão vs. número de ciclos), mais de ciclos verificado ni e o número total de
(Np), ou seja, Nt = Ni + Np. adequada ao estudo desse caso. ciclos possíveis até à rotura nesse regime, Ni,
Em virtude de, na fase inicial, as fendas de Coffin e Manson estabeleceram, nos anos ou seja di = ni / Ni. O dano total devido à
fadiga serem muito pequenas e situarem-se cinquenta, as relações quantitativas entre a aplicação de vários regimes será então D =
por vezes em zonas da estrutura ou do com- extensão plástica e a vida de fadiga, comple- Σ(ni / Ni). A rotura ocorrerá se esse soma-
ponente de difícil acesso, pode haver ex- mentando o que no início do século Basquin tório for D ≥ 1. O facto desta regra negli-
trema dificuldade na sua detecção. Não ha- havia formulado para a extensão elástica. genciar a sequência da aplicação das cargas
vendo uma inspecção cuidada, a fenda pro- Morrow e outros investigadores modifica- cíclicas tem sido um dos seus pontos con-
paga-se e, uma vez atingida a dimensão crí- ram essas expressões entrando em conta com troversos. Mas a sua simplicidade leva-a a
tica, a fractura torna-se instantânea, rom- a tensão média, o que é realmente impor- uma aplicação generalizada.
pendo completamente o componente. tante. Recentemente, o processo de fadiga tem
Uma observação da superfície de fractura Significantes contribuições foram feitas na sido sujeito a profunda investigação, no as-
detecta, então, duas zonas de aspectos dis- década seguinte: Irwin e diversos outros in- pecto microestrutural, à luz da moderna te-
tintos: vestigadores foram os pioneiros na aplicação oria das deslocações.
zona de progressão lenta da fenda por fa- da Mecânica da Fractura à Fadiga. Paris, em A Fluência é outro importante modo de ruína
diga, brilhante, com aspecto peculiar, apre- 1963, quantificou a relação que permite cal- dos materiais quando sujeitos a cargas apli-
sentando em geral estrias de fadiga, e cular a velocidade de propagação das fendas cadas durante longo período de tempo e, so-
zona de fractura final instantânea , que de fadiga em função de K (determinado bretudo, a temperaturas elevadas. Resulta,
apresenta uma textura baça e granulada. pelos valores máximo e mínimo da tensão) portanto, da interacção desses três factores
Diversos parâmetros afectam o comporta- e de duas constantes, C e m, específicas do (ε = f (σ,T,t)). Por conseguinte, a fluência
mento à fadiga de componentes estruturais. material considerado, obtendo a expressão é comum em motores aeronáuticos, tuba-
Os relacionados com a tensão (amplitude da da/dN = C Km (Lei de Paris). Refira-se que gens de caldeiras e permutadores de calor,

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centrais térmicas e nucleares e outros órgãos cos, caldeiras e reservatórios de pressão, pipe- custos financeiros astronómicos, dos quais
trabalhando a alta temperatura. Os primei- -lines, pontes de vãos inimagináveis, com- uma certa percentagem poderia ser redu-
ros estudos de fluência devem-se a E. N. boios de alta velocidade, arranha-céus cada zida. Estudos efectuados nos Estados Uni-
Andrade, no início do século passado, que vez mais merecendo esse nome, barragens dos e, posteriormente, na Europa Comuni-
apresentou o comportamento de materiais hidroeléctricas ciclópicas, etc., são exemplos tária levaram à conclusão de que os efeitos
sujeitos a carga constante ao longo do tempo, de estruturas modernas cujo projecto e ser- económicos da fractura (incluindo os meios
definindo a curva ε– t. viço não podem deixar de atender aos prin- de prevenção), num país medianamente in-
Da conjugação de esforços cíclicos com a cípios da M. F. dustrializado, ascendiam anualmente a 4%
alta temperatura resulta a interacção fadiga- As interacções entre os avanços tecnológicos do seu produto nacional bruto! Não obstante
fluência, fundamental em casos como pás no domínio dos materiais e dos métodos de nunca ser possível, obviamente, uma total
de turbina e outros órgãos sujeitos a condi- os ensaiar e caracterizar, e o seu relaciona- anulação desses custos, importantes redu-
ções similares. mento com as causas imediatas e remotas ções serão desejáveis e possíveis, mediante
O desenvolvimento progressivo de sistemas dos desastres que foram ocorrendo, consti- uma actuação sobre o projecto, a selecção
mecânicos trabalhando a altas temperaturas tuem importantes fontes de investigação e de materiais, a fabricação e a utilização dos
tem incentivado o estudo aprofundado desse desenvolvimento a decorrer actualmente e, equipamentos, a introdução de códigos e
tipo de ruína., e a criação de ligas metálicas decerto, continuando também no futuro. standardizações, a qualificação de projectis-
(superligas de níquel e de cobalto, metais Muitos dos trabalhos de investigação desen- tas e operadores, a implementação de meios
refractários) e materiais cerâmicos resisten- volvidos na segunda metade do séc. XX eficazes de inspecção e controle, a rápida
tes a este fenómeno. foram possíveis pela introdução de sofistica- transferência de tecnologia da investigação
Por outro lado, a conjugação da corrosão com dos sistemas e métodos de ensaio, bem como para a indústria, etc..
a tensão aplicada (corrosão sob tensão), ou pela introdução da informática na resolução Não obstante todos os progressos consegui-
com a fadiga (fadiga com corrosão) repre- dos problemas de engenharia. dos, infelizmente ainda se vêm registando,
sentam também formas de ruína que podem A sequência de desastres em diversos tipos nos nossos dias, graves catástrofes devido à
levar a uma dimensão crítica do defeito e, de estruturas demonstrou que a inevitável ocorrência de fractura e de outros modos de
consequentemente, à fractura instável. Ou- presença de fissuras, de várias origens, e a ruína. Citam-se alguns exemplos de catás-
tras formas de degradação dos materiais por sua propagação é responsável pela deterio- trofes ocorridas em diversos tipos de estru-
efeitos químicos são ainda possíveis, não ca- ração e consequente perda de fiabilidade turas, já depois do estabelecimento da
bendo, no entanto, no âmbito forçosamente dessas estruturas. Um enorme esforço tem M.F.:
restrito deste artigo. sido desenvolvido pela Ciência e pela Tec- Em Julho se 1962 ocorreu um desastre
nologia no sentido de minimizar os efeitos em ponte metálica que se tornou fundamen-
Conclusão catastróficos que podem resultar desses fe- tal para o desenvolvimento da Mecânica da
nómenos. Fractura. Tratou-se da Kings Bridge, uma
Referiu-se, ao longo desta 2.ª parte do his- Os custos devidos à ruína dos materiais e es- ponte com 700 metros de comprimento em
torial da Mecânica da Fractura, o estabele- truturas tomam diversos aspectos, de maior Melbourne, Austrália. A temperatura atmos-
cimento desta área fundamental da Enge- ou menor gravidade: férica era de cerca de 4,5º C. Uma secção
nharia, descrevendo os conceitos básicos que perda de vidas humanas e outros danos da ponte fracturou, originando o desnivela-
a presidem. Foram referidas também outras pessoais; mento de cerca de meio metro de um troço
formas correlacionadas de ruína de materiais impacto ecológico; da ponte. O exame das quatro vigas princi-
e estruturas. A Mecânica da Fractura cons- paragem de produção; pais que fracturaram revelou que elas já te-
titui a área da Engenharia que melhor avalia perda de produtos; riam fendas antes da montagem. Deficiên-
quantitativamente os factores que influen- custos de reposição dos equipamentos; cias no projecto, na selecção do aço, nos pro-
ciam o grau de segurança e consequente con- danos em equipamentos vizinhos; cedimentos de soldadura e nas inspecções
fiança de uma estrutura. É, por conseguinte, litígios, problemas jurídicos, indemniza- foram dados como as causas do desastre.
uma disciplina fundamental da Engenharia ções; Em Dezembro de 1967, o colapso da ponte
Mecânica e, aliás, de toda a Engenharia. perda de imagem comercial, de confiança, de Point Pleasant, sobre o Rio Ohio, na Vir-
O estudo e a aplicação da Mecânica da Frac- de contratos futuros. gínia Ocidental, E.U.A., ocorrida subita-
tura tornou-se, portanto, de importância A resolução dos problemas jurídicos levan- mente, causou a perda de 46 vidas. Diver-
crucial, uma vez que a presença de fendas, tados frequentemente após a ocorrência de sos estudos foram iniciados imediatamente
e imperfeições que devam ser tratadas como casos de ruína é, na maioria das vezes, com- pretendendo determinar as causas da tragé-
tal, ocorrem sempre nos materiais. plexa, arrastando-se por longo tempo. A aná- dia, que naturalmente despertou grande an-
Naves espaciais, aviões de capacidade cada lise de falha tem aqui importância decisiva, siedade quanto à segurança de outras estru-
vez maior e voando a velocidades crescen- integrando-se na denominada Engenharia Fo- turas similares construídas na mesma época,
tes, turbinas de altas temperaturas, super- rense. com projectos e aços estruturais idênticos.
petroleiros, gigantescas plataformas off-shore, Todos esses problemas levantados pelos casos A singularidade desse desastre, sob diversos
centrais nucleares, complexos petro-quími- de falha e ruína em equipamentos implicam aspectos, desencadeou numerosas investiga-

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METALÚRGICA DOSSIER COMUNICAÇÕES
E DE MATERIAIS

ções. O colapso foi atribuído à fractura frá- tunadamente, o avião conseguiu aterrar, em- hoje perduram, nomeadamente sobre a vida
gil, por clivagem, de um dos olhais no ex- bora como um “descapotável” (fig. 4). Os e saúde das populações afectadas pelas ra-
tremo de um tirante. passageiros levavam o cinto apertado, não diações.
Em Dezembro de I969, um órgão estru- sendo por isso sugados pela descompressão, Em 1994, o ferry “Estónia” naufragou no
tural chave da asa de um caça-bombardeiro o que não sucedeu com uma assistente de Mar do Norte, devido a fractura, matando
F-111 fracturou, causando a perda do apa- bordo que desapareceu. A rotura foi devida cerca de um milhar de passageiros.
relho e dos seus dois tripulantes. O exame à ligação de pequenas fissuras emanadas de Vários exemplos ocorreram nas últimas dé-
da secção fracturada revelou que uma con- uma sucessão de furos de rebites alinhados, cadas em “rocket motor cases” de mísseis
siderável fenda, possivelmente introduzida fenómeno que tem sido um importante me- Polaris, em turbinas a vapor e em rotores de
durante os procedimentos de tratamento tér- canismo de dano em estruturas aeronáuticas geradores, o que tem conduzido a extensivos
mico, não foi detectada nas sucessivas fases (conhecido como multiple site damage). Este estudos da fractura frágil por parte de fabri-
de fabricação e montagem do componente. acidente levantou, igualmente, problemas cantes e utilizadores desses equipamentos.
O aspecto escurecido do defeito de forma quanto à integridade e durabilidade de es- Diversos desastres têm sido assinalados ul-
elíptica presente na superfície de fractura, truturas aeronáuticas. timamente com navios petroleiros, do que
levou à convicção de se estar em presença resulta sempre alarmantes catástrofes eco-
de corrosão. A fenda pré-existente estava, lógicas, com elevados prejuízos materiais e
por sua vez, rodeada de uma estreita faixa graves problemas ambientais devido à polui-
brilhante que, evidentemente, correspondia ção de áreas costeiras e zonas de fauna ma-
à progressão da fenda por fadiga durante as rítima. Exemplos recentes foram os casos
escassas 109 horas de serviço do componente. do “Esso Valdez”, no Alaska, e do navio tan-
Este acidente implementou novas directrizes que de casco simples “Prestige”, nas águas
no design de futuras aeronaves. da Galiza, que ameaçou pôr em risco a costa
Em 27 de Março 1980, a plataforma off- portuguesa.
Figura 4 – Avião 737 após o acidente
-shore norueguesa denominada “Alexander
Kielland”, uma gigantesca estrutura de dez * Instituto Superior Técnico – (IST) – Lisboa
mil toneladas de aço soldado, situada no Mar Em19 de Julho de 1989, um avião DC-10
do Norte, com somente três anos e meio de da United Airlines despenhou-se em Sioux
serviço, ruiu catastroficamente, sob condi- City, U.S.A.. A falha foi devida a uma fenda
ções atmosféricas e marítimas manifesta- de fadiga num dos motores, de que resultou
BIBLIOGRAFIA
mente menos severas do que as que as que a desintegração de um disco de turbina e a
tinham sido consideradas no seu projecto. perda do sistema hidráulico. A aeronave ainda • Barson, J.M. e Rolfe, S.T., Fracture and Fatigue Control
in Structures, 2.ª ed. Prentice Hall, U.S., 1987.
Em pouco mais de vinte minutos perderam- manobrou com um motor, mas despenhou- • Broeck, D., The Practical Use of Fracture Mechanics, 4.ª
se 123 vidas, havendo unicamente 89 sobre- -se, matando 112 dos 296 passageiros. ed. Kluwer Pubs., Dordrech, 1988.
• Byrne, J., Success Through Integrity, University of Ports-
viventes. A investigação que se seguiu à tra- Muitos desastres aeronáuticos ocorrem a mouth, U.K., 1994.
gédia revelou uma fissura de fadiga numa partir de defeitos não detectados oportuna- • Collins, J.A., Failure of Materials in Mechanical Design,
Jonh Willey, U.S., 1981.
das soldaduras de ligação de um elemento mente, de propagação de fendas sub-críti- • Dowling, N.E., Mechanical Behaviour of Materials, Pren-
tubular de suporte de um dos braços não re- cas, por fadiga ou por corrosão sob tensão. tice Hall, U.S., 1993.
• Faria, L. O., Economic Effects of Fracture in Europe – Final
dundante da estrutura. A fissura apresentava Os desastres aeronáuticos têm merecido, Report, Com. of the European Communities, 1991
várias dezenas de centímetros de extensão. naturalmente, redobrada atenção, não só por • Gordon, J.E., The Science of Structures and Materials,
Scientific American Lib., U.S., 1988.
Concluiu-se que o tubo de suporte estava causa das pesadas perdas humanas e mate- • Ewalds, H.L. e Wanhill, R.J., Fracture Mechanics, Edwards
parcialmente separado do braço em cerca riais que geralmente envolvem mas, tam- Arnold Pubs, U.S., 1984.
• François, D., Pineau, A., Zaoui, A., Comportement Mé-
de três quartos da sua circunferência, e, o bém, pelos impactos emocionais produzidos canique des Matériaux, Ed. Hermes, Paris, 1995.
que é mais grave, essa falha já tinha sido pro- pelos seus relatos nos meios de comunica- • François, D e Joly, L. La Rupture des Métaux, Masson
Éditeurs, Paris, 1972.
duzida muito tempo antes, pois a superfície ção, dado que as viagens de avião estão a tor- • Hertzberg, R. W., Deformation and Fracture Mechanics in
de fractura apresentava vestígios de tinta! nar-se cada vez mais comuns na vida dos ci- Engineering Materials, 3.ª ed. John Wiley, N.Y., 1989.
• Krajcinovic, D., Damage Mechanics, Elsevier, U. S.,
Também se detectaram deficiências no pro- dadãos. 1996.
jecto e no material. Graves acidentes têm ocorrido em cen- • Lancaster, J., Engineering Catastrophes, 2.ª ed., Abing-
ton Pubs. U.K., 1997.
Um dos mais famosos incidentes com ae- trais nucleares e complexos químicos. Des- • Liebowitz, H. ed., Fracture, an Advanced Treatise (7 vol.)
ronaves foi o do Boing 737 da companhia tacam-se o da Central Nuclear de Three Academic Press, U.S., 1972.
• Murr, L.E., Material and Component Failure, Failure Analy-
Aloha Airlines, em Abril de l988, quando Mile Island na Pensilvânia, em 1979, e a trá- sis and Litigation, Marcel Dekker Inc., U.S., 1986.
voava a cerca de 8000 metros de altitude, gica explosão da Central de Chernobyl, perto • Petroski, H., To Engineer is Human, Vintage Book, U.S.,
1992.
entre duas ilhas havaianas. O avião tinha já de Kiev, na Ucrânia, ao tempo integrada na • Sousa e Brito, A., No Centenário do Ensaio Charpy, “Ci-
realizado milhares de voos durante os seus ex-União Soviética (1986). Este último de- ência e Tecnologia dos Materiais”, Revista S.P.M., n.º 4,
2001.
19 anos de serviço. Produziu-se um enorme sastre teve efeitos devastadores que ultra- • Wierzbecki, T., e Jones, N., Structural Failures, Ed Willes,
rombo na parte superior da fuselagem. Afor- passaram os limites daquele país e que ainda U.S., 1989.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 123


DOSSIER COMUNICAÇÕES METALÚRGICA
E DE MATERIAIS

Estimativa da Corrosão T = A log(PHCl) + B Eq. (2)

em Chaminés Metálicas Na figura 1, representa-se o ajustamento ob-


tido para %HCl = 2%. Neste caso particu-
lar, a correlação obtida foi:

por Ácido Clorídrico T = 22,718 log(PHCl) + 390,5 Eq. (3)

Sendo o coeficiente de correlação


João Fernando Pereira Gomes * R2 = 0,9933.

Resumo líquido-vapor para o sistema ácido clorídrico-


Este trabalho descreve um método simples -água.
de estimar a possibilidade da ocorrência de Os dados de equilíbrio para esse sistema
corrosão em chaminés metálicas devido à foram medidos por diversos autores e foram
condensação de ácido clorídrico, baseado na compilados por Perry [2], de forma tabular,
determinação do teor de HCl e na tempe- mostrando a variação da pressão parcial de
ratura dos gases. ácido clorídrico, como função da tempera-
tura, para diversas percentagens de HCl em
Figura 1 – Representação gráfica da equação 3
Palavras-chave: Efluentes gasosos. soluções aquosas de HCl. Estes dados expe-
Corrosão em chaminés. rimentais tabelados permitiram que fossem
deduzidas equações de correlação com a se- Obtiveram-se correlações análogas para ou-
1. Apresentação do Problema guinte fórmula geral: tros teores de HCl e os coeficientes de cor-
relação relativos à equação geral do tipo (2)
Num outro artigo [1], o autor analisou a pos- log PHCl = A – (B / T) Eq. (1) apresentam-se na tabela 1.
sibilidade da ocorrência de corrosão em cha- Pode verificar-se que as correlações obtidas
minés metálicas devido à condensação de em que PHCl é a pressão parcial de HCl, ex- representam bons ajustamentos dos dados
ácido sulfúrico a partir dos efluentes gasosos pressa em mmHg, e T é a correspondente experimentais, em que os coeficientes de
emitidos por sistemas tradicionais de com- temperatura do gás em K. Contudo, Perry correlação R2 são de cerca de 0,99, apenas
bustão, como sejam as caldeiras e os gera- [2] refere que a precisão destas correlações com um de cerca de 0,98. Isto indica que
dores de vapor e águas quentes. Contudo, varia entre 15 e 30% entre 0 e 100 °C para se obtiveram correlações aceitáveis com uma
em outros sistemas de combustão, como os soluções contendo 2% em HCl. precisão entre 2 e 5%.
incineradores de resíduos urbanos e perigo- Para soluções contendo mais do que 30% em
TABELA 1 – Coeficientes de correlação
sos, podem formar-se, nos respectivos efluen- HCl, a precisão é de cerca de 5% para a gama obtidos para as equações do tipo (2)
tes gasosos, outras espécies ácidas, como o de temperaturas mais baixa e de cerca de
%HCl A B R2
ácido clorídrico. Esta última espécie pode, 15% para as temperaturas mais elevadas. 2 22,718 390,65 0,9933
em determinadas circunstâncias, levar, igual- Nestas condições, Perry [2] recomenda que 4 23,163 377,34 0,9910
mente, à corrosão de superfícies metálicas se utilizem os dados tabelados em vez des- 6 24,634 370,47 0,9911
caso se dê a condensação nas mesmas, o que sas correlações assim desenvolvidas, já que 8 25,315 363,64 0,9877
10 26,540 357,24 0,9911
fará perigar a integridade mecânica dessas a precisão será sempre superior.
12 27,575 350,11 0,9914
mesmas superfícies. Note-se que os dados tabelados não incluem, 14 28,530 342,33 0,9912
Assim como para o ácido sulfúrico, este pro- numa única correlação, as 3 variáveis envol- 16 29,491 333,96 0,9912
blema poderá ser minimizado se a tempera- vidas nos fenómenos do equilíbrio, e que são 18 30,726 324,97 0,9910
tura dos efluentes gasosos for mantida acima PHCl, a temperatura do gás T e ainda o teor 20 31,957 315,42 0,9910
22 33,079 305,01 0,9911
do ponto de orvalho desses mesmos gases. em HCl, uma vez que PHCl foi medida para
24 34,544 293,61 0,9910
Por estas razões, torna-se extremamente im- várias temperaturas e também para vários
26 36,099 281,40 0,9912
portante poder determinar essa temperatura teores de HCl. 28 37,893 267,49 0,9912
por forma a garantir uma operação adequada Em vez de se desenvolver uma correlação a 30 38,999 253,54 0,9922
dos equipamentos. 3 parâmetros, que iria certamente resultar 32 40,034 238,96 0,9932
num decréscimo de precisão, optou-se por 34 39,985 225,89 0,9954
36 40,532 211,92 0,9965
2. Considerações Teóricas desenvolver correlações numéricas dos dados
38 42,333 195,51 0,9976
tabelados da temperatura do gás como fun- 40 43,913 179,38 0,9976
Naturalmente, que a base teórica deste ção de PHCl, para cada teor de HCl, cuja fór- 42 45,316 163,82 0,9992
problema está relacionada com o equilíbrio mula geral é: 44 46,145 148,06 0,9999

124 INGENIUM | Março/Abril 2007


METALÚRGICA DOSSIER COMUNICAÇÕES
E DE MATERIAIS

3. Determinações Experimentais a) teor em HCl: 4) calcular T utilizando a equação do tipo (2)


% HCl = CHCl × 1,268 x 10–6 × 100 previamente seleccionada.
A estimativa do ponto de orvalho segundo Eq. (4)
uma equação do tipo (2) requer a determi- A temperatura do ponto de orvalho assim
nação da pressão parcial de HCl e também b) pressão parcial de HCl: estimada pode, agora, ser comparada com a
o teor em HCl no efluente gasoso. PHCl = (%HCl/100) Pg × 760 temperatura do gás medida, tg, no interior
Ao realizar análises de verificação de confor- Eq. (5) da chaminé.
midade com os respectivos limites de emis- Agora, a avaliação da probabilidade da ocor-
são, há que determinar as emissões de HCl, em que: rência de corrosão pode ser efectuada sim-
no caso dos incineradores. Para efectuar essas plesmente [1] tendo em consideração que,
determinações utiliza-se, correntemente, o CHCl = concentração de HCl, se a temperatura do gás, tg, for mantida
método US EPA [3], que é um método de expressa em mg/m3 acima do ponto de orvalho, não deverá haver
referência. Trata-se de um método extractivo %HCl = percentagem molar de HCl corrosão.
isocinético que considera também a determi- Pg = pressão do gás, expressa em atm Contudo, quando se efectua esta análise,
nação dos parâmetros de escoamento, como 1,268 = densidade do HCl deve ter-se em consideração que este mo-
sejam a temperatura, pressão, velocidade, delo foi desenvolvido para estimar o ponto
peso molecular médio e humidade do gás se- 4. Estimativa do Ponto de Orvalho de orvalho do vapor de ácido clorídrico su-
gundo os métodos US EPA 2, 3 e 4 [3]. pondo que o ácido clorídrico é a única espé-
No que diz respeito à determinação de HCl, A partir dos valores obtidos pelas equações cie ácida que pode condensar a partir do
colhe-se uma amostra isocineticamente de (4) e (5), pode agora determinar-se a tem- efluente gasoso, o que é razoável admitir para
acordo com o método US EPA 26 [3], após peratura do ponto de orvalho dos gases, se- o caso de incineradores.
o que se determina o teor em ácido, labora- guindo este procedimento: Se estiverem presentes outras espécies áci-
torialmente, por titulação. Utilizando os dados 1) calcular %HCl utilizando a equação (4); das, tais como ácido sulfúrico, o ponto de
medidos pelos métodos anteriormente indi- 2) calcular PHCl utilizando a equação (5); orvalho do ácido clorídrico irá, certamente,
cados, podem calcular-se os seguintes parâ- 3) escolher a equação do tipo (2) que esteja ser afectado.
metros necessários para resolver uma equa- mais próxima de %HCl determinado an- Para situações deste tipo, o ponto de orva-
ção do tipo (2), como segue: teriormente; lho de cada espécie ácida pode ser estimado
pelo método aqui descrito para o ácido clo-
rídrico, e pelo método descrito em [1] para
o ácido sulfúrico.
Nestas condições, o melhor modo de ope-
rar a instalação será manter a temperatura
dos gases acima do mais elevado dos pontos
de orvalho ácidos determinados.

[1] Intitulado “Avaliação Expedita da Possibilidade de


Ocorrência de Corrosão em Chaminés Metálicas”,
publicado mais adiante neste edição da “Ingenium”,
no espaço reservado aos artigos à data avaliados
pelo Colégio de Química.

* Centro de Tecnologias Ambientais,


ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade,
TagusPark, Porto Salvo, 2780 – Oeiras, Portugal
E-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS

1. Gomes, J.F.P., “Avaliação da Possibilidade de Ocorrên-


cia de Corrosão em Chaminés Metálicas Provocada
por Efluentes Gasosos Ácidos”, Corrosão e Protecção
de Materiais, 21(4), 15/17 (2002).
2. Chemical Engineers’ Handbook, Perry, R.H. and Green,
D. Eds., 7th Edition, McGraw-Hill.
3. EPA Stationary Source Sampling Methods, Rules and
Regulations, Federal Register August 18, 1977.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 125


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

Técnicas de Descontaminação de Solos:


uma revisão
* Teresa Castelo-Grande 1, P.A. Augusto 2 e Domingos Barbosa 3

Resumo este possui uma capacidade de assimilação contrados no solo são: hidrocarbonetos po-
infinita. A contaminação do solo é um grave licíclicos aromáticos (PAHs) [6-13], bifenis
A problemática da descontaminação de solos problema ambiental, pois afecta não só o policlorados (PCBs) [2, 10-12, 14], pestici-
tem vindo a assumir uma importância cres- solo, mas também os lençóis freáticos, a água das e herbicidas [10, 12, 14-15], e metais
cente, sendo um factor essencial para a sus- subterrânea, o ar e todas as formas de vida, pesados. Os agrotóxicos (p.ex., insecticidas
tentabilidade dos recursos naturais e da vida podendo ainda estar na origem de diversos e pesticidas), muito utilizados para comba-
no nosso planeta. Neste trabalho é feita uma problemas de saúde [1]. A degradação do ter certos microrganismos e pragas, em es-
revisão das principais técnicas que têm sido solo pode ter origem em diferentes fontes, pecial na agricultura, levantam um problema
propostas para a descontaminação de solos entre as quais as actividades de produção, especial de contaminação devido à sua lenta
dando ênfase a algumas técnicas emergen- tais como a indústria transformadora e a agri- degradação e tendência à acumulação em
tes, em particular à extracção supercrítica. cultura, com o uso abusivo de fertilizantes, organismos vivos. A acção desta última classe
pesticidas e herbicidas, e a rega com água de contaminantes assume particular impor-
Palavras-chave: Técnicas de Descontamina- contaminada. Não devemos esquecer que, tância devido ao seu tempo de retenção no
ção de Solos, Pesticidas, Águas Subterrâneas, para além de uma elevada dinâmica e com- solo ser por vezes muito elevado [16] e por
Atrazina, Extracção Supercrítica. plexidade, o solo dispõe de vida no seu seio, serem potenciais fontes de poluição dos aquí-
e que embora a sua degradação por erosão feros [17-18], devido a possuírem um ele-
1. Introdução e fenómenos de poluição seja relativamente vado potencial de drenagem, uma degrada-
fácil e rápida, a sua reabilitação é mais com- ção lenta por hidrólise, uma baixa pressão
Em países como a Holanda, França, Suécia plexa e morosa. de vapor, uma baixa a moderada solubili-
e Estados Unidos da América (E.U.A.) tem- A actual legislação portuguesa classifica os dade em água, e uma moderada adsorção
se verificado um grande desenvolvimento, solos em função da actividade para que vão pela matéria orgânica e argila existente no
quer a nível da investigação, quer a nível da ser usados [3], não estabelecendo limites solo [19].
aplicação industrial, das tecnologias de re- para a sua contaminação. Esta variabilidade
mediação de solos. Em Portugal, existe tam- na legislação torna difícil a uniformização de 3. Técnicas de Descontaminação de Solos
bém um caso recente de um processo de critérios e de esforços para a resolução deste
descontaminação de solos em larga escala, grave problema ambiental. Das legislações Se a preocupação com a contaminação do
que ocorreu na área onde se realizou a Ex- existentes, a legislação holandesa é das mais solo é recente, ainda mais recente será a in-
posição Universal de Lisboa de 1998 (Expo’98). rigorosas, baseando-se na perspectiva da vestigação nesta área e o desenvolvimento
Nesta área existia uma refinaria de petróleo, multi-utilização de solos, o que obriga a um de novas tecnologias de remediação. O es-
um parque de armazenamento, uma fábrica controlo mais apertado. A perspectiva das tudo da descontaminação de uma determi-
de ácido sulfúrico, uma unidade de cracking legislações inglesa e canadiana é totalmente nada área requer uma identificação (inven-
térmico e um aterro, tendo-se realizado a distinta de todas as outras, distinguindo zonas tário), bem como um diagnóstico da evolu-
remediação e reconversão do local em 1994, de utilização para urbanização, em que o ção e tratamento da referida área. Os mé-
com vista à realização da Expo’98 (R.E.A, controlo é mais rigoroso, e zonas não resi- todos de descontaminação existentes podem
1999). Este acontecimento mostra que Por- denciais, em que a legislação é mais permis- ser divididos usando diferentes critérios,
tugal já despertou, embora um pouco tar- siva. É cada vez mais urgente que se adopte sendo um destes critérios baseado no local
diamente, para a necessidade da desconta- em Portugal legislação específica para a con- de aplicação do tratamento, o que permite
minação de solos. taminação de solos. a classificação dos processos de descontami-
O solo deve ser considerado um recurso na- nação em:
tural “não renovável”, uma vez que o tempo 2. Principais Fontes de Contaminação Descontaminação “in-situ” (i.e., realizada
estimado para originar 1 cm de solo selva- no local);
gem é entre 200 e 400 anos [1]. Na reali- Um solo diz-se contaminado quando con- Descontaminação “ex-situ” (i.e., realizada
dade, embora o solo seja um suporte impor- tém substâncias em quantidade ou concen- fora do local).
tante para todo o ecossistema [2], o homem, tração que podem produzir efeitos nefastos,
quer por ignorância, quer por razões econó- directa ou indirectamente, no homem ou no O tratamento de solos de forma a recuperar
micas, continua a lançar matéria orgânica e ambiente [4]. a área contaminada, como alternativa aos
inorgânica para o solo com a ideia de que Os contaminantes mais frequentemente en- aterros sanitários, tem vindo a tornar-se cada

126 INGENIUM | Março/Abril 2007


QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

vez mais importante, principalmente devido para remover o contaminante. As barreiras técnicas são utilizadas para o tratamento de
aos elevados custos inerentes a esta última reactivas (BR), como se pode ver pela Figura hidrocarbonetos de peso molecular elevado,
solução. 2, usam na sua constituição material que in- que não são facilmente volatilizados.
Todos estes processos requerem a extracção terage com os contaminantes convertendo- Bio-ventilação é uma técnica in-situ recente
do solo contaminado, que pode ser tratado os em compostos não-tóxicos ou espécies e inovadora, baseada no estímulo da degra-
no local (i.e., com uma técnica in-situ) ou com baixa mobilidade [21-22]. dação aeróbia de compostos absorvidos na
numa unidade de tratamento (i.e., com uma Um material bastante usado é o ferro me- zona insaturada (ou zona de infiltração) atra-
técnica ex-situ), sendo só posteriormente tálico (Fe(0)) – que é utilizado para provo- vés do fornecimento de ar, e se necessário
colocado novamente no local original ou car a desalogenação de alguns iões. nutrientes, a microrganismos indígenas [25].
usado para outros fins. A actividade microbiana é incrementada pela
As técnicas de remediação de solos podem incorporação de ar (recorrendo a furos de
também ser divididas tomando em conside- injecção ou extracção) e adição de nutrien-
ração a acção usada na remediação; sendo tes na zona insaturada (ver Figura 3).
então classificadas em: biológicas, físico-quí- Atenuação Natural, também denominada
micas, térmicas e técnicas especiais, que, tais por bio-reabilitação, é uma alternativa pas-
como a técnica de electro-cinética, não se siva à reabilitação, que reside num processo
enquadram nas classes anteriores. Uma so- natural de degradação aeróbica e anaeróbica
lução temporária para o problema de conta- de contaminantes orgânicos que surgem no
minação de um solo será confinar ou isolar solo e nas águas subterrâneas, resultando na
a área através do uso de barreiras passivas redução efectiva da quantidade de contami-
Figura 2 – Esquema de funcionamento
ou reactivas [20]. de uma barreira permeável reactiva [57]. nantes (ver Figura 4). Esta é uma das diver-
sas hipóteses de tratamento in-situ, mas que
nem sempre é permitida, por exemplo nos
3.2. Técnicas Biológicas E.U.A. a legislação vigente não permite a
As técnicas biológicas baseiam-se no princí- aplicação desta técnica. Esta tecnologia é um
pio da bio-remediação [23], em que se re- processo algo controverso, sendo conside-
corre à utilização de microrganismos para a rado por muitos como a solução “de nada
remoção dos contaminantes do solo e para fazer”. Esta técnica, para além de necessitar
o tratamento de lamas e águas subterrâneas. de uma monitorização constante, possui uma
Alguns exemplos das técnicas biológicas mais cinética muito lenta, podendo não se atingir
utilizadas são apresentados em seguida. os valores pretendidos no tempo estimado
A Técnica Agrária, também conhecida como para a degradação [20, 23-24]. Esta moni-
“Land Farming”, é uma técnica aplicada à torização é uma das grandes desvantagens
remediação de solos contaminados com com- desta técnica porque a torna bastante dis-
postos orgânicos, que são eliminados por bio- pendiosa, restringindo a sua aplicação. Esta
degradação. Esta tecnologia envolve normal- tecnologia, tal como todas as de remediação
mente a dispersão do solo de modo a formar de solos, deve ser avaliada quanto ao seu po-
Figura 1 – Esquema de uma barreira de confinação superfícies de pequena espessura onde se tencial baseado nos riscos associados, carac-
e respectivo corte transversal [57].
promove a estimulação da actividade micro- terização do local e potencial para atingir os
biana através da adição de nutrientes, mine- fins desejados.
3.1. Barreiras Reactivas e Passivas rais ou mistura de ambos. Se a profundidade Bio-reabilitação in-situ é uma técnica basea-
As barreiras passivas previnem a migração dos da contaminação for inferior a 90 cm, é pos- da na remoção de água do subsolo a mon-
poluentes para as águas subterrâneas não per- sível estimular a actividade biológica sem es- tante do local contaminado por bombagem
mitindo igualmente a passagem da água limpa cavação de solo, sendo por este motivo uma até à superfície da área contaminada, onde
para a zona contaminada (ver Figura 1). Estas técnica que pode ser usada in- ou ex-situ. lhe é adicionado oxigénio e nutrientes. Esta
barreiras, normalmente verticais, são cons- As Eiras Biológicas (“Biopiles”) são utiliza- corrente é posteriormente reintegrada a ju-
truídas por escavação de uma trincheira que das com o mesmo propósito da técnica agrá- sante do local contaminado [20]. Este pro-
é preenchida com um material adequado, tal ria, diferindo no modo de promover o areja- cesso cria boas condições de crescimento
como uma mistura de solo/bentonite ou ci- mento, que nas eiras biológicas é efectuado dos microrganismos, resultando na degrada-
mento/bentonite, e têm um coeficiente hi- por tubos ligados a um compressor que in- ção rápida dos contaminantes.
dráulico muito baixo, inferior a 10–7 cm, po- jectam ar na parte inferior da eira, enquanto Fito-remediação é uma técnica biológica bas-
dendo ser colocadas a montante, com o ob- que nas técnicas agrárias o arejamento é feito tante promissora, sendo uma técnica in-situ
jectivo de evitar que a água limpa aflua para por um tractor que revolve o solo [20, 24]. limpa que tem por base o uso de algumas
o local contaminado, ou a jusante, com o ob- A espessura da camada de solo espalhado nas espécies de plantas com a capacidade de de-
jectivo de utilizar a própria água subterrânea técnicas agrárias é menor que nas eiras. Estas gradar directamente os poluentes orgânicos,

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DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

podendo ser aplicada como método de con- turada do solo, em que se aplica uma fonte mos de cloro, flúor, bromo e iodo) de mo-
tenção, destruição ou extracção de vários de vácuo à matriz a tratar, criando um gra- léculas orgânicas halogenadas, convertendo
tipos de contaminantes [26-29]. O seu custo diente de pressão que originará o movimento compostos tóxicos em substâncias com menor
é 20 a 50% inferior ao dos processos quími- do ar presente nos poços de extracção [20, toxicidade que são por vezes solúveis em
cos, físicos e térmicos in-situ. As principais 30-31], como é mostrado na Figura 5. Da água, facilitando assim a sua separação do
desvantagens desta técnica são a sua carac- aplicação deste processo resulta uma cor- solo [3]. Foram identificados vários agentes
terística sazonal e a possibilidade de provo- rente gasosa que precisa de ser tratada antes que podem ser usados na desalogenação de
car a bio-acumulação em animais. de ser lançada para a atmosfera [32-33]. Esta compostos como os PCBs, dioxinas e fura-
Compostagem é um processo biológico em técnica poderá apresentar algumas seme- nos, entre os quais se encontram os hidró-
que os contaminantes orgânicos são biode- lhanças com a bio-ventilação, mas enquanto xidos de sódio e potássio e o polietilenogli-
gradados e convertidos em subprodutos que esta última promove a remoção por biode- col [20, 40-41]. Os compostos halogenados
são inócuos e estáveis, recorrendo à activi- gradação e a volatilização é minimizada podem ser igualmente tratados num reactor
dade de microrganismos (sob condições ae- (usando correntes na extracção inferiores às aquecido usando bicarbonato de sódio como
róbias e anaeróbicas). O solo é escavado e da ventilação), o que ocorre na ventilação é agente de desalogenação.
misturado com agentes dispersantes e aditi- exactamente o inverso, pelo que esta técnica Extracção por Solventes é um processo em
vos orgânicos, tais como aparas de madeira tem-se demonstrado efectiva na redução da que não ocorre a destruição dos contami-
ou resíduos vegetais. A eficiência máxima de concentração de COVs e COSVs. nantes mas apenas a sua separação do solo,
degradação é obtida mantendo a mistura em Lavagem de Solo (“Soil Flushing”) é uma téc- podendo, por isso, ser considerada como
condições constantes de concentração de nica que pode ser aplicada in-situ [34-35], uma técnica de pré-tratamento, tal como a
oxigénio, pH e temperatura. Este processo e que consiste na extracção de contaminan- técnica de lavagem de solo, que usa água
pode ser aplicado em solos ou sedimentos tes do solo por dissolução, suspensão em so- como solvente [42-43]. O sucesso desta téc-
com compostos orgânicos que sejam biode- luções aquosas ou através da reacção química nica depende da escolha do solvente, a qual
gradáveis. Os custos associados a este trata- com o líquido que passa através das cama- deve ter em consideração o tipo de poluente
mento variam conforme o volume de solo e das de solo contaminadas (ver Figura 6). O que se pretende extrair [3, 20] e a toxici-
tipo de contaminantes a serem tratados. fluído é aplicado por meio de furos de injec- dade do solvente.
ção, galerias para promover a infiltração ou
pulverizadores colocados à superfície, sendo
os contaminantes arrastados pela água, a qual
é posteriormente bombeada até a superfí-
cie, recorrendo-se a poços de extracção, e
sujeita a tratamento [3, 20, 36]. A lavagem
do solo pode também ser realizada ex-situ,
Figura 3 – Esquema geral da técnica de bio-ventilação compreendendo neste caso as seguintes eta-
combinada com sistema de extracção de vapores [57].
pas: escavação, fragmentação, separação gra-
Figura 5 – Esquema da técnica de ventilação
nulométrica, lavagem das diferentes fracções de solos contaminados (SVE) [57].
e decisão sobre o destino a dar aos resíduos
finais. Esta técnica permite a remoção de Solidificação/Estabilização consiste na mis-
compostos orgânicos, inorgânicos, metais e tura de materiais (p.ex.: cimento, argamassa)
substâncias radioactivas, podendo a sua efi- com sólidos, semi-sólidos e lamas para imo-
ciência ser aumentada recorrendo ao uso de bilização dos contaminantes. A solidificação
aditivos (p.ex: Cu(NO3)2, Cd(NO3)2 ou produz blocos com uma grande estabilidade
Pb(NO3)2). A lama resultante deste pro- e integridade física, através da adição de
cesso pode ser disposta num aterro ou, de- agentes estabilizadores (p.ex., cinzas e escó-
pendendo do contaminante, ser submetida rias das fornalhas), de modo a limitarem a
Figura 4 – Esquema geral da técnica
de atenuação natural [57]. a um tratamento específico, como por exem-
plo: extracção por solventes, solidificação ou
vitrificação. Esta técnica é muitas vezes con-
3.3. Técnicas Físico-Químicas siderada como um pré-tratamento [37] para
Ventilação do Solo (“SVE”) é uma das técni- redução da quantidade de material (solo con-
cas físico-químicas mais utilizadas, sendo a taminado) a ser processada por outras tec-
sua principal área de aplicação no tratamento nologias de descontaminação.
de compostos orgânicos voláteis (COVs), A Decloração, também designada por desa-
compostos orgânicos semi-voláteis (COSVs), logenação, é uma técnica química [38-39]
compostos inorgânicos, bifenis policlorados que tem por base, tal como o nome indica, Figura 6 – Esquema simplificado da técnica in-situ
de lavagem de solo [57].
(PCBs) e dioxinas existentes na zona insa- a perda dos átomos de halogéneo (i.e., áto-

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QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

mobilidade e solubilidade dos constituintes contaminantes orgânicos a temperatura ele- técnicos envolvidos. À medida que a zona vi-
dos resíduos. Existem algumas variantes desta vada e na presença de oxigénio suficiente trificada vai crescendo, vai incorporando os
técnica, como sejam: solidificação com base para converter os contaminantes em dióxido contaminantes inorgânicos. Os componentes
de cimento (adição directa do cimento ao de carbono (CO2) e água (H2O), promo- orgânicos migram até à zona de vitrificação
solo), solidificação com base de silicato (em vendo assim a sua destruição [48]. No pro- onde são queimados na presença de oxigénio,
que material como cinzas é adicionado ao jecto de incineradores é necessário ter bem o que requer a existência de uma área de tra-
cimento e aos agentes estabilizadores para presentes os três T´s: temperatura, turbu- tamento para os gases antes de estes serem
serem posteriormente misturados com o lência e tempo de residência. A correcta libertados para a atmosfera. A vitrificação ex-
solo), e micro-encapsulamento [3, 20]. Os combinação destes parâmetros poderá sig- -situ baseia-se num tratamento similar, com
processos baseados no uso de cimento e si- nificar um ganho de eficiência até aos 95%. a diferença de que o solo é escavado e intro-
licato têm tido mais sucesso no tratamento A temperatura depende do tipo de conta- duzido num sistema de vitrificação que fun-
de resíduos perigosos que os baseados em minantes, a turbulência influencia o grau de ciona de modo idêntico ao processo descrito
termoplásticos e polímeros orgânicos. No oxigenação da mistura e o tempo de resi- [20], estando esta técnica ainda numa fase
tratamento in-situ, os agentes estabilizado- dência deve permitir a combustão completa de desenvolvimento à escala piloto.
res são inseridos no solo através de máqui- [48]. O processo de incineração produz, con-
nas injectoras. tudo, três tipos de resíduos: os sólidos que 3.5. Técnicas Especiais
resultam da incineração, os gases de com- Electro-cinética é uma técnica in-situ que se
3.4. Técnicas Térmicas bustão e, quando há tratamento de gases áci- baseia no movimento dos contaminantes no
Dessorção Térmica é um método bastante dos, a água do sistema de lavagem. Um dos solo, o qual é induzido por meio de uma cor-
usado para remover compostos orgânicos vo- principais problemas desta técnica é que me- rente eléctrica de baixa voltagem, da ordem
láteis (COVs) e semi-voláteis (COSVs) de tais como o arsénio, mercúrio e cádmio não dos mA/cm2, que é criada por dois eléctro-
sedimentos contaminados [3, 44-46] que são destruídos pela combustão, pelo que os dos colocados no solo (ver Figura 8). Esta
são previamente escavados. O solo é aque- metais mais pesados estarão presentes nas técnica é bastante efectiva na remoção de
cido a temperaturas suficientemente eleva- cinzas e os restantes (p.ex., o arsénio e o cád- metais pesados e compostos orgânicos pola-
das para proceder à dessorção de compostos mio) serão volatilizados e libertados nos gases res de solos de baixa permeabilidade, lamas
orgânicos do solo e à sua respectiva volatili- de combustão dando origem a novos proble- ou sedimentos marinhos [49-50]. Quando
zação. Os hidrocarbonetos volatilizados são mas ambientais. a corrente eléctrica é aplicada, o primeiro
tratados numa segunda câmara, que pode Vitrificação é um processo que converte o fenómeno que ocorre é a electrólise da água,
ser uma câmara de oxidação catalítica, um solo contaminado num produto em estado tornando a solução junto do ânodo ácida.
condensador, ou uma unidade de adsorção, vítreo e, portanto, estável. Esta técnica pode Esta “frente ácida” do ânodo desloca-se até
antes de serem lançados para a atmosfera. ser aplicada in-situ ou ex-situ (ver Figura 7). ao cátodo por migração, levando à dessorção
Após o tratamento térmico o solo é arrefe- A vitrificação in-situ consiste na inserção de dos contaminantes do solo. Os eléctrodos
cido e humidificado para controlo da emis- eléctrodos de grafite no solo a tratar, criando- usados devem ser de material inerte, como
são de poeiras e, se necessário, estabilizado, se uma corrente eléctrica de intensidade ele- sejam a grafite ou a platina. Os contaminan-
para ser posteriormente deposto em aterros vada cujo calor libertado provoca a fusão da tes que chegam ao eléctrodo podem ser re-
ou reutilizado. Embora este método não seja matriz do solo. Esta técnica exige um elevado movidos por precipitação/co-precipitação,
dos mais usados na remoção de compostos grau de treino e conhecimentos por parte dos bombagem próxima do eléctrodo ou com-
inorgânicos, pode, contudo, ser aplicado à plexação com iões de permuta iónica. A pos-
remoção de metais voláteis com sistemas a A sibilidade de precipitação de espécies, como
operar a temperaturas mais elevadas [47]. sejam os metais pesados, próximo do cátodo,
O tratamento consiste em aquecer a matriz tem sido um dos principais impedimentos
do solo a uma temperatura suficientemente à utilização deste processo. Contudo, estu-
elevada (300-550ºC) para provocar a des- dos recentes têm vindo a melhorar este pro-
sorção da água e dos contaminantes do solo cesso, tentando ultrapassar o problema da
e a sua vaporização. precipitação de espécies junto do cátodo.
Incineração é um dos métodos mais efecti- B Técnica do plasma é uma técnica que tem
vos no tratamento de solos, sedimentos, vindo a ser explorada em vários sectores,
compostos orgânicos halogenados, compos- entre os quais a descontaminação de solos.
tos orgânicos não halogenados, pesticidas, Esta tecnologia tem-se revelado mais efi-
PCBs e dioxinas/furanos, existindo várias ciente sob o ponto de vista energético que
unidades a operar à escala industrial. Co- as tecnologias térmicas mais convencionais
mercialmente existem dois tipos principais: [51]. Na técnica de plasma, um gás é aque-
os recuperativos e os regenerativos, conforme cido a temperaturas extremas (da ordem
o tipo de recuperação de energia adoptado. Figura 7 – Técnica de vitrificação: dos 100.000ºC) para criar o plasma. Quando
Este processo consiste na combustão dos a) Aplicada ex-situ; b) Aplicada in-situ [57]. o solo contaminado é colocado próximo do

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DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

A
furanos, podem surgir neste passo, levando superficial nula, o que os torna particular-
à necessidade de um segundo tratamento. mente adequados para extracção em matri-
Esta tecnologia pode ser usada para tratar zes sólidas, como é o caso dos solos. O dió-
misturas de resíduos, lamas e sólidos, não xido de carbono (CO2) é dos fluidos mais
sendo recomendada quando os contaminan- utilizados em extracção supercrítica, não só
tes são sais, pois estes dificilmente ficam devido à sua baixa temperatura crítica (304,2
imobilizados no estado vítreo. K) e pressão crítica (7,39 MPa), que são fá-
ceis de obter tecnologicamente, mas também
B 4. Extracção Supercrítica porque o CO2 não é tóxico nem inflamável,
está facilmente disponível e a baixo custo.
Uma das técnicas emergentes para a descon- A extracção com o CO2 tem tido resultados
taminação de solos é a extracção supercrítica promissores quando aplicada à remoção de
(ESC). Nesta técnica usa-se como solvente vários tipos de contaminantes de solos, in-
um fluído supercrítico, que é como se de- cluindo os mais persistentes e difíceis de tra-
signa qualquer substância a uma temperatura tar, tais como: hidrocarbonetos, pesticidas,
Figura 8 – Técnica de electro-cinética:
a) Esquema do movimento dos contaminantes; e pressão acima do seu ponto crítico [52]. fenóis, etc.. A aplicação desta técnica à re-
b) Esquema geral em que são apresentados
Os fluidos supercríticos são solventes parti- mediação de solos não afecta a estrutura des-
os fenómenos que ocorrem neste processo [57].
cularmente bons devido a possuírem uma ca- tes, nem altera, de forma significativa, a sua
plasma, dá-se o seu aquecimento até tem- pacidade de dissolução próxima da dos líqui- composição em nutrientes e outros consti-
peraturas muito elevadas, existindo nestas dos, e terem uma viscosidade e um coefi- tuintes [53, 54, 55]. Este processo tem ainda
condições ausência de moléculas de oxigé- ciente de difusão com valores típicos dos a vantagem de ser menos dispendioso a nível
nio. Nestas condições, os compostos orgâni- gases, o que melhora as suas características energético que alguns dos métodos térmicos
cos são degradados e os compostos inorgâ- de transferência de massa relativamente às alternativos.
nicos (p.ex., metais e radicais reactivos) so- dos solventes comuns, tais como a água e os Como os fluidos supercríticos mais utilizados
frem um processo de vitrificação. Produtos compostos orgânicos. Uma outra caracterís- são gases nas condições normais de pressão e
da combustão incompleta, como dioxinas e tica destes fluidos é possuírem uma tensão temperatura, a corrente com os contaminan-

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QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

solventes orgânicos, na [58]. Independentemente do tipo de técnica


indústria química e para escolhida para a remediação do solo, o pri-
a remediação de solos, meiro passo será a selecção e caracterização
oferece uma vantagem do local a descontaminar e identificação do
ambiental enorme e uma tipo de contaminação. Em seguida, será a de-
contribuição importante cisão da escolha de uma técnica in-situ ou ex-
para reduzir os níveis -situ. A opção do tratamento a realizar é, in-
Figura 9 – Esquema geral de um sistema de extracção supercrítica acompanhado
da representação esquemática das interacções existentes entre o fluido supercrítico
de poluição. felizmente, muitas vezes condicionada pelos
e o contaminante [adaptado de (Bretti, 2000)]. Estudos preliminares custos associados, pela sua repercussão na
realizados no nosso la- opinião pública e enquadramento nas opções
tes extraídos pode ser alimentada a uma uni- boratório para a extracção de atrazina (um políticas vigentes. Recentemente tem-se ve-
dade em que, por redução da pressão de ope- herbicida usado em larga escala a nível mun- rificado o aparecimento de novas técnicas,
ração, os contaminantes são precipitados e o dial) de matrizes sólidas arenosas, permitiu mais “amigas do ambiente”, como é o caso
CO2, livre de contaminantes, é recuperado e obter valores de extracção da ordem dos 96 da extracção supercrítica, que se têm reve-
reciclado (ver Figura 9). Os contaminantes a 99%, o que mostra o potencial desta técnica lado particularmente promissoras.
extraídos por esta técnica não apresentam re- quando aplicada ao tratamento de solos con- Apesar da recuperação do contaminante ser
síduos de solvente, contrariamente ao que taminados. Mais detalhes sobre este estudo bastante importante do ponto de vista ana-
acontece na extracção com solventes orgâni- e a instalação utilizada podem ser encontra- lítico, é a sua concentração residual final no
cos. A grande desvantagem deste processo é dos noutros trabalhos dos autores [56, 57]. solo que ditará a aplicabilidade de uma de-
o seu elevado custo inicial, devido a tratar-se terminada técnica de descontaminação.
de uma técnica que opera a pressões eleva- 5. Conclusões
das (da ordem dos 200-350 bar). Contudo, * Departamento de Engenharia Química,
para processos em que as quantidades pro- Em estudos de remediação de solos deve ter- Faculdade de Engenharia
cessadas são elevadas, como na descontami- se sempre presente que o solo é um sistema da Universidade do Porto, CBQF, Pólo FEUP
nação de solos, a ESC pode tornar-se econo- dinâmico complexo, e que o sucesso da sua Rua Dr. Roberto Frias – 4200-465 Porto – Portugal
micamente competitiva [12, 56, 57, 58]. descontaminação depende não só da escolha Tel.: 22 508 16 60 – Fax: 22 508 14 49
O uso de “solventes amigos” do ambiente, da técnica, mas também da caracterização do 1 [email protected],; 2 [email protected],

tais como o dióxido de carbono, em vez de solo e do tipo de contaminantes presentes 3 [email protected]

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Março/Abril 2007 | INGENIUM 131


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

excessivas com dióxido de carbono atmos-


férico ou de origem biótica em ambientes
aquáticos contíguos, causa uma despasivação
geral da armadura. Efectivamente, o dióxido
de carbono atmosférico ao penetrar no betão,
através da sua estrutura porosa, reage com
os hidróxidos presentes no betão provocando
um abaixamento generalizado do valor de
pH, ou seja, aumentando a acidez do mesmo.
Em tais situações, o ferro perde a passivação
que prevalece a valores de pH situados no
intervalo 9-13, ficando sujeito ao ataque pelo
oxigénio e outros oxidantes dissolvidos no
meio. Não possuindo as propriedades de bar-
reira do filme de passivação, entretanto des-
truído, os produtos dessa corrosão não con-
seguem proteger o metal subjacente, muito

Apresentação de um Sistema pelo contrário, podem mesmo servir de meio


de absorção e manutenção da humidade junto

de Monitorização da Degradação de ao metal.


Os fenómenos de corrosão das armaduras,

Estruturas de Betão Armado – MonIcorr atrás referidos, só são visíveis a olho nu em


estágios suficientemente avançados do pro-
cesso, quando a armadura está bastante ata-
P. S. D. Brito 1, L. F. T. Rodrigues 2 e M. P. T. Cunha 3 cada, e em que a formação de produtos de
corrosão de volume relativamente elevado
Palavras-chave: corrosão, inspecção, moni- encontra um ambiente químico que, sendo originam o aparecimento de fissuras e de es-
torização, betão, betão armado. favorável aos fenómenos de passivação do corrências ferruginosas à superfície do betão.
ferro, confere-lhe uma elevada resistência à A detecção de problemas de corrosão nesta
Resumo oxidação. Todavia, tal resistência tende a di- fase pode revelar-se demasiado tardia para
minuir drasticamente quando o meio apre- a implementação de medidas de controlo
O presente trabalho pretende fazer uma senta teores relativamente elevados de clo- que permitam a reversão do processo e re-
abordagem geral das principais técnicas de retos, sulfatos ou carbonatos, provenientes, cuperação da estrutura. Daí que seja neces-
inspecção de estruturas de betão armado no em particular, de meios circundantes marí- sária a utilização de técnicas de inspecção e
que diz respeito à sua degradação química e timos, industriais, urbanos, solos ou águas. monitorização que permitam detectar estes
electroquímica. São também referidas as Nesses casos, o aço passa à situação de cor- fenómenos tão cedo quanto possível.
vantagens da monitorização da degradação rosão activa com degradação progressiva da As técnicas de inspecção que se podem em-
das estruturas de betão armado com auxílio estrutura de betão. pregar dividem-se em dois grandes grupos:
de sondas electroquímicas embebidas de O mecanismo da degradação causada pelos os métodos destrutivos e os métodos não-des-
forma permanente no interior do betão. Por cloretos e sulfatos, ataque salino, difere do trutivos. Em qualquer deles é necessário ter
último, apresenta-se um sistema de moni- da corrosão pelo dióxido de carbono (CO2), um acesso directo à estrutura, o que nem
torização integrado, o MonIcorr, que per- a carbonatação. Os iões cloreto (Cl–) e sul- sempre é possível: basta pensar em estrutu-
mite ir ao encontro do desiderato de uma fato (SO42–) que chegam ao interior do betão ras enterradas, túneis e viadutos, onde a aces-
monitorização permanente, cómoda e útil através de processos de difusão ou capilari- sibilidade é, frequentemente, muito reduzida
para a prevenção de riscos e na planificação dade originam ataques localizados no ferro ou bastante onerosa ou penalizadora para a
de trabalhos de reparação. da armadura que se encontra num estado de operacionalidade da mesma, como nos casos
passivação. Este fenómeno localizado, desig- em que se tem que instalar andaimes e ou-
A degradação e a inspecção nado por corrosão por picadas, conduz, nor- tros meios que impedem o normal tráfego
malmente, a degradações rápidas das estru- em vias, pontes e túneis, por exemplo. Os
A degradação de estruturas de betão armado turas e pode, inclusivamente, em estruturas métodos destrutivos envolvem a extracção
é um problema com elevados impactos eco- sujeitas a tensões, caso de vigas pré e pós-es- de amostras para posteriores ensaios físico-
nómicos e ambientais. Uma das principais forçadas, propiciar o aparecimento de frac- químicos e mecânicos em laboratório, tais
causas da degradação das referidas estrutu- turas que se podem desenvolver de uma como, determinação do teor de cloretos ou
ras é a corrosão do aço das suas armaduras. forma rápida. O fenómeno da carbonatação, sulfatos ou o grau de carbonatação ou, ainda,
Como se sabe, o aço no interior do betão associado principalmente a contaminações a remoção da camada de recobrimento para

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QUÍMICA
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revelar as armaduras e possibilitar a observa- -destrutiva, requer uma ligação electrónica cos, também podem acontecer diferentes
ção e a avaliação directa da corrosão, etc.. à armadura, o que, em muitos casos, implica processos anódicos, facto que pode condu-
A mapeação dos potenciais das armaduras, a abertura de um orifício no betão. São vá- zir a avaliações erróneas sobre o estado de
método electroquímico, é exemplo de um rios os eléctrodos de referência que podem activação ou passivação da armadura. Desta
método de inspecção não-destrutivo por ex- ser utilizados neste tipo de medição, sendo forma, torna-se efectivamente necessário
celência. Sendo a corrosão das armaduras mais frequente a utilização dos eléctrodos confrontar tais medições com outras técni-
um fenómeno electroquímico, a utilização de referência de cobre/sulfato de cobre, de cas de inspecção.
de métodos desta natureza é preferível, já manganês/óxido de manganês e de prata/
que permite avaliações mais rigorosas de cloreto de prata. O valor da diferença de po- Condutividade iónica do betão
todas as fases do processo corrosivo, em par- tencial da célula formada pela armadura e o A condutividade iónica pode ser útil para se
ticular da sua fase inicial, para além de pos- eléctrodo de referência utilizado deverão ser avaliar o nível de contaminação iónica de uma
sibilitar a correlação das medidas efectuadas determinados com o auxílio de um voltíme- estrutura de betão, nomeadamente a conta-
com o mecanismo da degradação. Além da tro com uma impedância de entrada muito minação por iões cloreto, se se souber ser esta
mapeação de potenciais, destacam-se o mé- elevada (> 10 M ), para que, durante a me- a causa do fenómeno, como caso de estrutu-
todo da resistência à polarização linear (mais dição, a corrente eléctrica que flúi entre os ras implantadas em ambientes marinhos. Por
conhecida pela sigla LPR na literatura anglo- dois terminais seja mínima e, desse modo, outro lado, as medidas de condutividade per-
-saxónica), que permite obter uma veloci- seja mínima a interferência externa no sis- mitem comparar a porosidade de betões de
dade instantânea de corrosão, o método do tema. O potencial de corrosão de qualquer diferentes composições ou aplicados com o
ruído electroquímico (EN, na nomenclatura material metálico é o resultado da conjuga- recurso a técnicas ou em betonagens diferen-
anglo-saxónica), espectroscopia de impedân- ção das cinéticas (velocidade e mecanismo) tes, uma vez que, evidentemente, a conduti-
cia electroquímica (mais conhecida por EIS), de, pelo menos, dois processos: a oxidação vidade do betão aumenta com o aumento da
a medição de correntes galvânicas (GC), do metal que se está a corroer (nas zonas porosidade do mesmo. A condutividade ió-
etc.. Um outro conjunto de técnicas não- ditas anódicas) e a redução (que se dá à su- nica de um betão poroso depende, em pri-
-destrutivas disponíveis para a inspecção de perfície do metal em regiões catódicas) de meiro lugar, da mobilidade e da concentração
estruturas de betão armado envolvem me- uma espécie química presente no ambiente de iões “livres”, transportadores de corrente,
dições da condutividade iónica do betão, circundante do material, normalmente o oxi- no interior do mesmo. A mobilidade mede a
com recurso às técnicas dos 2 ou dos 4 eléc- génio molecular. Porém, dependente do am- velocidade linear a que os iões se movimen-
trodos, emissões acústicas, radiometria com biente, pode haver mais que uma espécie tam no seio de uma solução aquosa e é uma
ondas RADAR ou micro-ondas que permi- química a reduzir-se à custa da oxidação do característica intrínseca do ião, dependendo
tem a detecção de fissuras e alterações su- metal. O valor do potencial permite avaliar essencialmente do seu tamanho, carga e tam-
perficiais do betão relacionadas com fenó- se o ferro se encontra num estado de corro- bém temperatura, que influencia não só a
menos de corrosão. são activa, passivado ou protegido por acção energia cinética do próprio ião, bem como a
Todavia, as técnicas electroquímicas mais de um outro processo de oxidação (“protec- viscosidade do próprio meio. No que respeita
frequentemente utilizadas na inspecção de ção catódica”). É geralmente aceite que para a concentração iónica “livre”, esta dependente,
estruturas de betão armado, e que em con- valores de potencial de corrosão acima de evidentemente, do teor de humidade no in-
junto fornecem uma imagem mais fiável do 100 m (relativo ao eléctrodo normal de terior dos poros, do grau de contaminação
o grau de degradação da mesma, são: hidrogénio) a armadura está numa situação externa e da solubilidade dos diferentes sais
mapeação do potencial de corrosão da ar- de passividade1, ou seja, o produto da cor- que ali se podem formar. Assim, condutivi-
madura; rosão é um oxohidróxido que confere pro- dades elevadas implicam a existência de con-
mapeação da condutividade iónica do be- priedades de barreira. centrações iónicas elevadas e, como tal, meios
tão; potencialmente mais agressivos
determinação do diâmetro das armaduras; em termos de corrosão.
determinação das velocidades de corrosão A condutividade iónica de um
das armaduras determinadas com auxílio betão é, normalmente, determi-
da técnica da resistência à polarização. nada com base em duas técnicas:
a dos 2 eléctrodos e a dos 4 eléc-
Potencial de corrosão da armadura trodos (ver figura 2). Na técnica
A determinação do potencial da armadura dos 2 eléctrodos, a resistividade
é encontrada medindo a força electromotriz do betão (a condutividade é o in-
da célula galvânica formada entre a arma- verso da resistividade) é determi-
Figura 1 – Esquema da montagem
dura, que funciona como o eléctrodo de tra- para a determinação do potencial de corrosão nada com base na razão entre o
balho e um eléctrodo exterior de referência, valor de uma tensão alternada,
funcionando o próprio betão armado como Todavia, assim como se referiu a possibili- aplicada entre dois eléctrodos iguais, encos-
a solução electrolítica da pilha (ver figura 1). dade de no processo corrosivo acontecerem, tados à superfície do betão, e a respectiva res-
Esta técnica apesar de ser considerada não- simultaneamente, vários processos catódi- posta em termos da intensidade de corrente

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alternada. O cálculo entra, também, em linha auxílio de uma “cabeça” de prova que é des- as zonas anódicas e catódicas durante a cor-
de conta com o parâmetro da célula, que é locada ao longo da superfície do betão. A rosão) através de:
função da separação entre os eléctrodos e a magnitude das correntes parasitas depende
área geométrica comum. A técnica dos 4 eléc- da camada de recobrimento do betão, do di- (3)
trodos, ou de Wenner, utiliza 4 eléctrodos âmetro do varão da armadura e da orienta-
igualmente espaçados de uma distância a (ver ção deste em relação à cabeça de prova. Ge-
figura 2)2. A resistência à passagem da cor- ralmente determina-se, em primeiro lugar, onde A é a área local da armadura que está
rente entre os dois eléctrodos centrais é de- a orientação do troço da armadura e, depois, a ser inspeccionada, βa e βc são os chama-
terminada através da medição da queda de com a cabeça de prova numa posição longi- dos parâmetros de Tafel para os processos
tensão (V) entre os mesmos dois eléctrodos tudinal em relação à armadura, determina- anódico e catódico, respectivamente. O co-
quando é aplicado um campo contínuo entre -se a espessura da camada de recobrimento eficiente βaβc/2,3/(βa+βc) varia entre 26 mV,
os dois eléctrodos mais externos, fazendo cir- e o diâmetro do varão3. para armaduras claramente activas, e 52 mV,
cular entre eles uma corrente contínua de in- para armaduras passivas4.
tensidade I. A resistividade do betão (ρ) é Resistência à polarização Na prática, a determinação da Rpol faz-se va-
dada pela seguinte expressão: Do ponto de vista da engenharia de corro- riando o potencial da armadura entre –10 e
são, os aspectos cinéticos são de grande im- +10 mV do potencial de corrosão e regis-
(1) portância, já que só com base na sua consi- tando a intensidade da corrente eléctrica que
deração se pode obter uma velocidade de flúi entre a armadura e um eléctrodo de au-
Diâmetro das armaduras corrosão instantânea do processo. Experi- xiliar colocado à superfície do betão. Para
A evolução das dimensões (diâmetro) das mentalmente, a cinética do processo corro- além deste eléctrodo que serve para impor
armaduras ao longo do tempo é uma infor- sivo só pode ser acedida através de técnicas à armadura o potencial desejado, é necessá-
mação muito útil para a análise da corrosão perturbativas em que o sistema constituído rio possuir um dispositivo que permita impor
de estruturas de betão armado, pois permite pelo metal sob corrosão e o meio corrosivo um potencial muito constante e preciso, o
determinar se está a acontecer um fenómeno é temporariamente deslocado da situação es- potenciostato, um eléctrodo de referência,
de corrosão uniforme causado, por exem- tacionária, caracterizada pelo potencial eléc- robusto e estável, também à superfície do
plo, por um processo de despassivação. Tais trico de corrosão e por um fluxo global de betão, em relação ao qual o potencial da ar-
medições podem ser efectuadas com recurso cargas nulo. Para o efeito, o sistema é “pola- madura (eléctrodo de trabalho) vai ser lido
a aparelhos portáteis do tipo “covermeters”, risado”, impondo externamente, através de (ver figura 3).
baseados em campos magnéticos indutivos, uma fonte de alimentação contínua, um fluxo Como se pode inferir da equação (3), a apli-
ondas radar, etc.. de corrente eléctrica. Das várias técnicas elec- cação deste método implica o conhecimento
troquímicas que permitem o es- rigoroso da área do troço da armadura do
tudo cinético da corrosão, o mé- qual se está a determinar a resistência de po-
todo da Resistência à Polarização larização. Tal conhecimento não é fácil de
Linear (LPR) é dos mais aplica- ser alcançado experimentalmente, já que
dos devido à rapidez e comodi- implicaria o conhecimento da orientação das
dade com que se podem deter- linhas do campo eléctrico aplicado, ou seja,
minar as velocidades de corrosão, da área exacta por elas abrangida. Uma das
à elevada reprodutibilidade, à fa- formas de minimizar os erros da estimativa
cilidade de interpretação dos dados dessa área, que é sempre necessário fazer, é
adquiridos e, sobretudo, à porta- utilizar dois eléctrodos auxiliares concêntri-
Figura 2 – Esquema experimental da determinação
da condutividade do betão pelo método dos 4 eléctrodos bilidade, i.e., à possibilidade de cos, um em forma de anel (“anel de guarda”)
aplicação in situ. e outro central em forma de disco. Quando
A maioria dos dispositivos comerciais utili- A resistência à polarização (Rpol) de um sis- polarizados em simultâneo, este arranjo per-
zados para a detecção de armaduras para de- tema corrosivo é definida como o declive da mite limitar o espalhamento das linhas de
terminação da camada de recobrimento e curva de polarização (Potencial eléctrico da campo, restringindo-as às do campo do eléc-
do diâmetro das armaduras baseiam-se na armadura ou metal (E) em função da inten- trodo central, podendo-se, desse modo, apro-
magnetização instantânea através de um pulso sidade da corrente de polarização (IE)) ao ximar a área da armadura abrangida à da de-
que induz uma “corrente parasita” (eddy potencial de corrosão da armadura (Ecorr), finida por este eléctrodo.
current, na literatura anglo saxónica) no pró- ou seja: Uma outra técnica de medição da resistên-
prio aço. Uma vez interrompido o pulso cia à polarização linear, hoje em dia também
magnético, a corrente eléctrica tende a de- (2) muito utilizada para determinação da velo-
saparecer, desenvolvendo, ela mesma, um cidade de corrosão das armaduras de estru-
outro campo magnético, como que um eco A resistência à polarização está relacionada turas de betão armado, no terreno, é desig-
do pulso inicial. A intensidade desse campo com a velocidade de corrosão, icorr (a den- nada pela técnica do pulso galvânico5. Nesta
magnético induzido pode ser medido com sidade da corrente de corrosão que flúi entre técnica, um breve (inferior a 10 s) pulso de

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QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

às leituras externas de potencial relaciona-


dos com a elevada resistência do betão de
recobrimento. Os eléctrodos de referência
mais utilizados têm sido os de titânio com
mistura de óxidos metálicos, de manganês/
óxidos de manganês, de prata/cloreto de
prata e ainda os de grafite que funcionam
como pseudo-referências. Apesar das medi-
das do potencial da armadura fornecerem
uma boa indicação do seu estado de corro-
são, uma avaliação baseada apenas nesta in-
formação pode mostrar-se muito limitada
em determinadas situações já que o valor do
potencial medido pode ser influenciado por
outros fenómenos electroquímicos à super-
fície do metal que não os relacionados com
a degradação deste.
Um segundo grupo de sistemas de monito-
corrente (5 a 400 A) é imposto à armadura informação de natureza similar à que se rização envolve medidas de correntes galvâ-
de forma galvanostática (corrente constante) obtém com as técnicas de inspecção abor- nicas de corrosão. Os sistemas são constituí-
com auxílio de um eléctrodo auxiliar posi- dadas anteriormente. A utilização deste con- dos por eléctrodos cilíndricos do mesmo
cionado, juntamente com um eléctrodo de ceito de inspecção permanente apresenta material da armadura, colocados na camada
referência, à superfície do betão. Esta cor- várias vantagens. Uma das principais vanta- de recobrimento da estrutura, ligados perio-
rente de baixa intensidade resulta na altera- gens é a utilização de sensores que estão den- dicamente a um eléctrodo de material mais
ção do potencial da armadura que é regis- tro da própria estrutura de betão armado, nobre. Entre os dois eléctrodos gera-se uma
tado em função do tempo de polarização. A sentindo o efeito do próprio meio interno e corrente galvânica, cuja intensidade permite
de todas as suas alterações tem- correlacionar o estado de activação/corrosão
porais. Por outro lado, na maioria dos eléctrodos de aço. O facto de serem co-
das grandes estruturas há zonas locados na camada de recobrimento, per-
de difícil acesso, inviabilizando a mite detectar avanços de frentes de pene-
sua regular inspecção com auxí- tração de agentes agressores. Diferentes sis-
lio de sistemas tradicionais de temas têm vindo a ser desenvolvidos, va-
monitorização. Com o uso de sen- riando, essencialmente, na configuração dos
sores embebidos permanente- eléctrodos. A principal desvantagem deste
mente, essas zonas poderão ser tipo de sistemas está no facto de, sempre
continuamente inspeccionadas. que se ligam os dois metais diferentes, estar-
Figura 3 – Esquema experimental da determinação da velocidade
de corrosão pelo método da Resistência à Polarização Linear
Por fim, é de referir que, em ter- -se a induzir, entre eles, uma corrente de
mos económicos, o conceito de corrosão galvânica que, por sua vez, induz
partir do gráfico obtido, pode ser determi- monitorização e inspecção permanentes per- corrosão do metal menos nobre. Este pro-
nada a resistência à polarização linear, Rp, mite ao gestor de manutenção de uma es- cesso difere, certamente, do processo natu-
bem como outros parâmetros electroquími- trutura perspectivar atempadamente, numa ral de corrosão do aço no betão, sendo que,
cos importantes5,6. Uma vez determinada a fase embrionária do processo degradativo, a prazo, o estado de corrosão das sondas não
resistência à polarização linear, a velocidade em que ainda não é manifesta a corrosão das corresponde, de todo, ao estado real das ar-
de corrosão é obtida empregando-se a equa- estruturas, medidas correctivas de combate maduras que pretendem mimetizar.
ção de Stern-Geary (equação 3). a custos significativamente mais baixos. Um terceiro grupo de sistemas envolve a
Diferentes tipos de sistemas de monitoriza- instalação permanente de sondas para per-
A monitorização permanente ção da corrosão de estruturas de betão ar- mitir medidas electroquímicas como as re-
do fenómeno degradativo mado têm vindo a ser utilizados tendo como feridas anteriormente, com destaque para
base a instalação permanente de sondas den- as medidas de LPR, com auxílio de dois ou
A monitorização do fenómeno degradativo tro do betão6. Uma primeira classe de siste- três eléctrodos, embebidos na estrutura de
envolve a utilização de sensores incorpora- mas desenvolvidos e aplicados em obra com- betão.
dos dentro da estrutura de betão que conti- preende sistemas que permitem a leitura do Tendências recentes7,8 apontam para siste-
nuamente dão informação sobre o seu es- potencial de corrosão do aço da armadura. mas que integram várias medidas num único
tado em termos de corrosão. Os sensores Os eléctrodos são montados junto à arma- dispositivo para possibilitar uma avaliação da
deverão permitir recolher um conjunto de dura, evitando-se, assim, os erros inerentes corrosão das armaduras e da corrosividade

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DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

do betão de forma mais rápida e tão pró- obra tomar, com uma maior antecedência, as nitorizadas quanto aos problemas de corrosão
xima da realidade quanto possível. O sistema medidas correctivas exigidas. A existência de com auxílio de sistemas MonIcorr, apresen-
de monitorização MonIcorr9 (ver figura 4) um contacto eléctrico directo da armadura tados anteriormente. Neste pequeno trabalho
é um desses sistemas que têm por objectivo com o exterior do betão, permite não só co- de apresentação do sistema destacam-se as
avaliar, de uma forma integrada, o grau de nhecer a situação corrosiva efectiva da pró- seguintes: Hidrolyft 2000 (doca de reparação
degradação de uma estrutura de betão ar- pria armadura junto ao local onde se encon- de navios da LISNAVE, S.A., em Mitrena),
mado. Os sistemas são instalados na camada tra o sistema, mas também realizar mapeação a Estação Elevatória dos Alamos (integrante
de recobrimento e ligados electricamente à de potencial (potential survey, na literatura do complexo da Barragem do Alqueva), o
armadura, ainda na fase de construção ou de anglo-saxónica) com auxílio de um eléctrodo Porto Marítimo de Alcântara (Administração
reparação. de referência exterior, obviando o trabalho do Porto de Lisboa e Liscont S.A.), a Ponte
da Arrábida no Porto e o Viaduto Duarte Pa-
checo em Lisboa (sob administração do Ins-
tituto de Estradas de Portugal) e o Estádio
Municipal de Braga (integrado no Campeo-
nato Europeu de Futebol, Euro 2004).

Conclusão

Constata-se que as obras em betão armado,


apesar de até há bem pouco tempo se pen-
sar que seriam “eternas”, são estruturas que
se degradam a velocidades maiores ou me-
nores, dependendo, sobretudo, do ambiente
químico em que estão inseridas. Tal degra-
dação exige, cada vez mais, que os donos das
Figura 4 – Fotografia do sistema MonIcorr9 onde se podem ver os eléctrodos de aço macio de aço inox,
bem como o troço de varão que permite a ligação à armadura e a saída da cablagem protegida por tubo de plástico obras possuam informação útil sobre o es-
tado da obra, para que possam tomar medi-
Dada a disposição escalonada dos sensores de necessário de estabelecimento do contacto das atempadas de correcção ou de repara-
corrosividade na camada de recobrimento da eléctrico com armadura e do teste de conti- ção, ambientalmente racionais, a custos re-
estrutura, os sistemas permitem conhecer, a nuidade, imprescindíveis em trabalhos desta lativamente baixos, mantendo os níveis de
cada instante, a profundidade de penetração natureza. O sistema MonIcorr possibilita ainda riscos de utilização das estruturas igualmente
da frente de ataque, por exemplo de cloretos a determinação da velocidade de corrosão do baixos. A informação necessária só pode ser
ou de carbonatação, permitindo ao dono da material da armadura a diferentes profundi- conseguida através de inspecções periódicas
dades da camada de revestimento, através da ou através da incorporação, na própria es-
aplicação da técnica da resistência à polariza- truturas e de forma permanente, de siste-
ção linear (LPR) e da corrente galvânica, bem mas de monitorização permanentes.
como a determinação da condutividade do
betão envolvente à armadura. Embora o sis- 1 Engenheiro Químico, Escola Superior

tema possibilite a leitura da informação ad- de Tecnologia e Gestão de Portalegre


quirida, de forma não automática, através de Apartado 148, 7300-901 Portalegre, Portugal
caixas de leitura e terminais adequados, a sua 2 Icorr – Investigação e Consultoria

interface amigável (tipo Windows) e o sis- em Corrosão, Lda. – www.icorr.pt


tema de aquisição e de transmissão de dados
que lhe está associado permite a recepção,
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de decisão. p. 515 (1978).
5. www.ndt-titans.com/titans/tfrolund/papers/eurocorr2001_
paper.pdf, acedida em 15/06/2003.
Casos práticos 6. www.ndt.net/article/wcndt00/papers/idn642/idn642.
htm.
7. www.khdesign.co.uk, acedida em 15/06/2003.
São já várias as obras que, 8. www.vatechnologies.com.
9. Patente MonIcorr, n.º 102269 (2001).
em Portugal, estão a ser mo-

136 INGENIUM | Março/Abril 2007


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

produção. Comparando o modelo com a


Optimização da hidrogenação produção real, constatou-se um desvio de
18 t/dia na produção de propileno, cerca de
de MAPD no Steam Cracker 5% da capacidade demonstrada.

da Borealis Polímeros, Lda. Troubleshooting

André Vilelas 1 e José Braga 2 A hidrogenação da corrente C3 para a remo-


ção de metilacetileno e propadieno (MAPD)
Introdução O gás de cracking (ou bruto) é arrefecido e é feita em 3 reactores catalíticos adiabáticos
purificado no fraccionador primário (3) e de fase gasosa em série. O termo tail-end
O Complexo Petroquímico de Sines, Borea- torre de arrefecimento com água (5). Calor indica que o hidrogénio é alimentado ao re-
lis Polímeros, Lda., possui 6 fábricas. São é recuperado pela recirculação de óleo, ge- actor numa corrente separada, ao contrário
elas o Steam Cracker, o Butadieno, o MTBE, rando vapor de diluição (4) e por um ciclo do que acontece na hidrogenação de C2. O
o Polietileno de Alta e Baixa Densidade e a de água (5) promovendo calor a re-ebulido- catalisador é de paládio (0,03%) e crómio
Central Térmica, que produz vapor para os res e geradores de vapor. O gás bruto da (0,03%), suportados em alumina.
diferentes consumidores. torre de arrefecimento é comprimido (6) As principais reacções neste sistema são:
No Steam Cracker são produzidos etileno e num compressor de 5 andares e seco em ad- Hidrogenação de Metilacetileno a Propileno:
propileno polymer grade por cracking tér- sorvedores a gás e líquido (8). O CO2 e H2S CH3–C≡CH + H2 → CH3–CH≡CH2
mico (pirólise) de variados hidrocarbonetos, são removidos num sistema de lavagem cáus- Hidrogenação de Propadieno a Propileno:
como etano, propano, butano e nafta num tica localizado entre os 4.º e 5.º andares de CH2=C≡CH2 + H2 → CH3–CH=CH2
processo licenciado pela Linde AG. Os ren- compressão. Hidrogenação de Propileno a Propano:
dimentos de cracking destas duas olefinas O gás comprimido é arrefecido (9) e alimen- CH3–CH=CH2 + H2 → CH3–CH2–CH3
rondam os 30-35% e 15-20%, respectiva- tado à secção de separação: desetanisadora
mente. Co-produtos são uma corrente C4 front-end (10), hidrogenação C2 front-end Esta última deve minimizar-se, optimizando
rica em butadieno, uma gasolina C6-C8 rica (11), cold box (12), desmetanisadora (13) a reacção, com vista a maximizar a produ-
em aromáticos e fuelóleo (ver Figura 1). e o fraccionador bomba de calor a baixa pres- ção de propileno, produto mais valioso que
são etileno/etano, que o propano.
está integrado com Junto a estas também têm lugar outras reac-
o ciclo de refrigera- ções de oligomerização que conduzem à apa-
ção de etileno. rição de hexenos e, inclusivamente, none-
A corrente C3 do nos, embora em reduzida escala, assim como
fundo da desetani- isomerização de espécies mais insaturadas.
sadora (10) é des- Estas reacções secundárias são responsáveis
propanisada (15), hi- pela formação de green-oil, pela perda de
drogenada tail-end selectividade, aumento de perda de carga e
(16) para remoção até desactivação dos leitos catalíticos.
de metilacetileno e São reacções exotérmicas, cujo controlo de
propadieno e frac- temperatura é feito por arrefecimento inter-
Figura 1 – Diagrama processual de Steam Cracking Linde cionada para recu- reactores. Termodinamicamente, as duas
peração de propileno primeiras reacções químicas são bastante
O feedstock e correntes de reciclo são pré- polymer grade. Componentes C4 são sepa- equivalentes pois o HR é muito semelhante.
-aquecidas e craqueadas na presença de vapor rados dos mais pesados na desbutanisadora Cineticamente, a hidrogenação de metilace-
de diluição em fornalhas de pirólise alta- (18) recuperando uma corrente C4 e uma tileno é muito mais rápida, daí que seja a
mente selectivas (1). As fornalhas são opti- C5. Esta, juntamente com os hidrocarbone- concentração de propadieno a jusante a va-
mizadas no tempo de residência (0,3-0,5 s), tos condensados da secção quente, formam riável a controlar.
perfis de temperatura e pressão para o fee- uma gasolina rica em aromáticos. Com base na exotermicidade das reacções
dstock actual e a flexibilidade requerida, foram calculados os diferenciais de tempe-
conseguindo-se assim os rendimentos mais Descrição do Problema ratura necessários para as concentrações de
elevados em olefinas. MAPD à entrada dos reactores. Foi usado o
O efluente das fornalhas é arrefecido em O processo de Steam Cracking da Borealis método do excesso de T, cuja definição se
permutadores de transferência em linha (2), Polímeros está modelado com um software baseia em que o excesso de temperatura
gerando vapor de alta pressão, que acciona da AspenTech – Aspen PIMS (Process In- comparada com a teórica se dá devido a reac-
a turbina do compressor de gás bruto, e por dustry Modeling System), cujo objectivo é o ções secundárias.
quench directo com óleo. planeamento e a optimização económica da Quando se descobriram perdas de propileno

138 INGENIUM | Março/Abril 2007


QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

elevadas e se começou a investigar e optimi- Optimização Para o controlador APC dos reactores de
zar este sistema, o principal problema que MAPD a variável manipulada é a razão entre
se encontrou foi sobre-hidrogenação indu- Depois de detectados os problemas na ope- o caudal da corrente C3 e o caudal total de
zida por: ração dos reactores, foi necessário optimizar hidrogénio aos reactores (C3/H2 ratio), en-
Elevado caudal de H2 aos reactores e melhorar as condições operatórias, tendo quanto a temperatura do hidrogénio, ou seja,
Elevado diferencial de temperatura e, por para isso sido desenvolvido e implementado a sua pureza, é uma variável feed-forward
vezes, perfil não adequado um controlador APC (Advanced Process (distúrbio) que não pode ser controlada pelo
Tempo de residência e consequente velo- Control), utilizando como ferramenta o soft- controlador.
cidade espacial inadequados ware da AspenTech DMCPlus. A concentração de propadieno à saída dos
Baixa selectividade do catalisador O DMC (Dynamic Matrix Control) é uma reactores é a variável controlada.
Um elevado caudal de hidrogénio e a hidro- técnica de controlo que é caracterizada pelos Seguidamente, apresentam-se os modelos
genação excessiva de propileno a propano seguintes pontos: dinâmicos lineares (Figura 3), que relacio-
baixa a selectividade do catalisador para a 1. Multivariável nam as duas variáveis independentes, uma
reacção de MAPD, obrigando, assim, a mais 2. Modelo Predictivo manipulada (C3/H2 ratio) e outra feed-forward
elevadas temperaturas de entrada, bem como 3. Limites (temperatura do hidrogénio), com a variável
T elevados para os três reactores. 4. Optimização dependente ou controlada (concentração de
Actualmente, podemos ver que o perfil de 5. Rigor propadieno).
temperaturas é descendente e que ainda A estratégia de controlo APC para os reacto- É possível concluir que, para um aumento
existe conversão de MAPD no último leito, res de MAPD é como consta na Figura 2. de uma unidade na razão C3/H2, a concen-
o que não acontecia no passado, minimi-
zando assim a perda de propileno sendo a
Figura 2
diferença entre o T ideal e o real, nos 3 lei- Esquemático do sistema de hidrogenação de MAPD
tos, inferior a 5ºC (ver Gráfico 1).
O perfil de temperaturas é difícil de opti-
mizar, pois as válvulas de hidrogénio são de
controlo manual. É necessário um perma-
nente trabalho conjunto entre a sala de con-
trolo e a operação no exterior.
A disposição dos leitos catalíticos entre re-
generações é também crucial, pois nem sem-
pre o que está mais activo é o que se encon-
tra em primeiro lugar, obrigando assim a
perfis de temperaturas não adequados no
sistema.
Outro factor importante é a concentração de Os passos para desenvolver e implementar tração de propadieno aumenta 350 vpm e
componentes olefínicos C4 na corrente C3 este controlador APC foram os seguintes: com um atraso de 14 minutos, ou seja, au-
de alimentação aos reactores. Estes influen- mentando o caudal de C3, e mantendo o
ciam de forma significativa a razão C3/H2, 1. Identificação do Modelo caudal de hidrogénio, a conversão de propa-
diminuindo-a, baixando a selectividade e a Utilizou-se o DMCPlus Model, ferramenta dieno em propileno será menor. O atraso na
actividade catalítica do primeiro leito. Ape- de modelação gráfica, para criar os modelos resposta deve-se ao facto do analisador de
sar de em quantidades ínfimas, em contacto dinâmicos lineares entre as variáveis indepen- propadieno não estar situado à saída dos reac-
com o hidrogénio, estes reagem entre si exo- dentes e dependentes. Este software utiliza tores (para evitar contaminação da amostra
termicamente, sendo responsáveis pela for- os dados processuais reais para identificar os com olígomeros). Este encontra-se no topo
mação de green-oil e consequente aumento modelos, sendo para isso necessário efectuar da coluna de lavagem de olígomeros.
da perda de carga nos leitos. testes no processo durante algum período de A pureza do hidrogénio (cerca de 80%) tam-
tempo e colectar todos bém tem um grande impacto na extensão
os dados. O método das reacções de hidrogenação, sendo, por
mais utilizado durante isso, necessário utilizar a temperatura como
estes testes é o FIR (Fi- uma variável feed-forward.
nite Impulse Response),
que permite identificar 2. Configuração do controlador
a resposta das variáveis Neste passo é utilizado o DMCPlus Build que
controladas a variações permite utilizar os modelos dinâmicos valida-
Gráfico 1 – Perfis adiabáticos de temperatura e conversão em degrau nas variáveis dos para configurar o controlador. São utiliza-
de MAPD entre Junho de 2003 e Julho de 2004
manipuladas: dos diferentes parâmetros de configuração.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 139


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

É importante reparar que


durante vários dias a concen-
tração de propadieno é zero,
pois a razão de C3/H2 é cons-
tante, controlada manual-
mente. Neste caso é fácil
concluir que existe sobre-hi-
drogenação, com as conse-
quentes perdas de propileno Gráfico 4 – Selectividade e decréscimo da produção
de propano, por hidrogenação de propileno
para propano.
A selectividade em propi-
leno do catalisador era de facto de ser desnecessário operar no limite
cerca de 45%. de modo a respeitar a especificação, sem
Figura 3 – Modelos dinâmicos lineares No gráfico 3 é possível ob- sobre-hidrogenação. O tempo de resposta e
servar a concentração de pro- robustez do controlador permitem uma acção
3. Simulação do controlador padieno à saída dos reactores e a razão de imediata na procura de novo estado estacio-
A configuração do controlador é testada atra- C3/H2 em Julho de 2004, quando o contro- nário, em caso de perturbação. A selectivi-
vés do DMCPlus Simulate, permitindo simu- lador APC já se encontrava em serviço e co- dade aumentou significativamente e o pro-
lar o controlador desenvolvido em diferentes missionado. pileno hidrogenado baixou cerca de 650%.
situações processuais e, assim, optimizar os A concentração de propadieno é estável em É feito regularmente um seguimento da se-
parâmetros previamente configurados. torno do set-point definido pelo controlador lectividade e o ajuste dos diferenciais de
(250 vpm), enquanto a razão de C3/H2 varia temperaturas nos reactores, pois a compo-
de modo a manter a variável controlável no sição de alimentação ao sistema é um parâ-
valor desejado. Nesta situação não existe metro que se altera com a modificação de
sobre-hidrogenação que foi confirmado atra- feedstocks na fábrica, influenciando direc-
vés de análises laboratoriais efectuadas à tamente a exotermicidade da reacção. Esta
composição do gás, à entrada e saída dos re- inovação, resultado de um trabalho de equipa,
actores. permite actualmente uma melhor operação
A selectividade em propileno do catalisador e compreensão deste sistema reaccional.
Gráfico 2 – Concentração de propadieno e razão passou para cerca de 90%. Foram recuperadas cerca de 15 t/dia de pro-
de C3/H2 em Julho de 2003, sem controlador
O aumento da selectividade tem uma reper- pileno, o que implica um valor acrescentado
cussão imediata na produção de propileno para a Borealis de aproximadamente 1,3 M€
e, sendo o preço deste cerca de 25% supe- por ano.
rior ao preço de propano, a vertente econó-
mica torna-se ainda mais significativa. 1 Engenheiro de Processo, Steam Cracker

O comportamento não é, de todo, linear. A [email protected]


optimização permitiu aumentar a selectivi-
dade para o dobro, de 45 para 90%. Conse- 2 Engenheiro de Controlo Avançado, Steam Cracker

Gráfico 3 – Concentração de propadieno e razão quência dessa alteração é a quantidade de [email protected]


de C3/H2 em Julho de 2004, com controlador APC propano formada por reacção de hidrogena-
ção que diminui cerca de 650%, como se
4. Instalação e implementação on-line pode verificar no Gráfico 4. BIBLIOGRAFIA

do controlador • Cabanes, A.L., Cano, G.V., Gomes, J.C.F., Analisis Ter-


A instalação é efectuada através de um in- Considerações finais modinâmico de la hidrogenacion de la fraccion C3 de
“Steam-Cracking”, Ingenieria Química, Maio 1990.
terface de comunicação entre o sistema DCS • Selective hydrogenation of Methylacetylene + Propa-
e o software DMC. Foi desenvolvido e implementado, com su- diene in Steam Cracked C3 cut, Institute Français du Pé-
trole.
cesso, um controlador avançado que permite • Smith, J.M., Chemical Engineering Kinetics, 3rd Edition,
Resultados optimizar estes reactores de hidrogenação, McGraw-Hill International Editions.
• Westerterp, K.R., Swaaij, W.P.M., Beenackers, A.A.C.M.,
minimizando a reacção de hidrogenação de Chemical Reactor Design and Operation, John Wiley &
Seguidamente é apresentado um gráfico propileno a propano. A concentração de pro- Sons.
• Seborg, D.E., Edgar, T.F., Mellichamp, D.A., Process Dy-
(Gráfico 2) que permite visualizar o com- padieno à saída dos reactores é controlada namics and Control, John Wiley & Sons.
portamento da concentração de propadieno pela manipulação da razão C3/H2, que ajusta • Training Manual, Introduction to Multivariable Predictive
Control with DMCPlus, AspenTech, 2002.
à saída dos reactores em Julho de 2003, a alimentação de hidrogénio total ao sistema, • Mohundro, E.L., Overview on C2 and C3 Selective Hydro-
quando não existia qualquer tipo de optimi- mantendo assim o valor de processo em torno genation in Ethylene Plants, 15th Ethylene Producers
Conference, Abril 2003.
zação. do set-point. A grande vantagem reside no

140 INGENIUM | Março/Abril 2007


QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

A Extracção Supercrítica
Nutricêuticos

A utilização de chá para fins medicinais re-


monta da China há milhares de anos, deven-
do-se a sua difusão na Europa aos navegado-
res portugueses. O grande impulsionador da
e os Antioxidantes Naturais
utilização de infusões com fins terapêuticos
M. A. Ribeiro 1, M. M. Esquível, M.G. Bernardo Gil *
foi o português Garcia da Horta, com a pu-
blicação em Goa, em 1563, do primeiro es-
tudo sistemático sobre plantas medicinais da tros, denominados de nutricêuticos devido mentos. A oxidação lipídica não só produz
Índia. à sua função alimentar e simultaneamente sabores e aromas desagradáveis, como dimi-
O que já era do domínio popular, agora tem farmacológica. nui a qualidade nutricional e a segurança dos
nova comprovação, desta vez científica. Os alimentos devido à formação de produtos
chás fazem bem à saúde. A afirmação vem Óleos essenciais secundários.
de um estudo publicado na revista European Para ultrapassar este problema, usam-se an-
Journal of Clinical Nutrition. Durante seis Nos últimos anos, tem-se verificado uma tioxidantes sintéticos. Compostos fenólicos
dias, voluntários consumiram o equivalente a procura crescente de aditivos naturais, em sintéticos, tais como BHA (butilhidroxiani-
3 chávenas/dia de chá preto ou verde. Várias particular no reino vegetal, para aplicação sol), BHT (butilhidroxitolueno) e TBHT
amostras de sangue foram retiradas enquanto nas indústrias alimentar, cosmética e farma- (terbutilhidroxiquinona), têm sido larga-
durou a experiência para verificar a presença cêutica. Entre estes, encontram-se os óleos mente utilizados como antioxidantes na in-
de antioxidantes. Os resultados mostraram essenciais e as oleoresinas, utilizados como dústria alimentar. Contudo, a toxicidade
que a quantidade de antioxidantes cresceu. ingredientes de aromatizantes e de antioxi- destes produtos tem sido alvo de estudos ao
Segundo os autores, isso deve-se, muito pro- dantes, com o objectivo de substituir ou re- longo dos anos. A legislação, cada vez mais
vavelmente, a fitoquímicos presentes no chá duzir a quantidade de compostos de síntese apertada em relação aos níveis permitidos,
na forma de flavonóides (1). utilizados. conduziu à pesquisa de novos antioxidantes,
Os flavonóides estão largamente difundidos Os óleos essenciais são misturas complexas mais seguros, com grande actividade antio-
na natureza e fazem parte da constituição de compostos orgânicos, hidrocarbonetos xidante e extraídos de fontes naturais.
da grande maioria das plantas. Estes com- terpénicos, derivados oxigenados dos hidro- Os métodos de determinação da actividade
postos exercem vários efeitos fisiológicos no carbonetos, compostos aromáticos com es- antioxidante baseiam-se na medição do es-
corpo humano e são conhecidos como an- trutura do anel benzénico e compostos com tado de oxidação de óleos ou gorduras. O
tioxidantes. Têm várias funções, entre as enxofre ou azoto. A composição dos óleos método ideal seria aquele que decorresse
quais destacamos a actividade anti-inflama- essenciais difere de espécie para espécie, po- sob condições ambientais, no entanto, tal
tória, anti-histamínica e antiviral (2). dendo mesmo diferir dentro da mesma es- método seria moroso e a sua reprodutibili-
Estudos efectuados nos EUA e em França pécie, dependendo das condições edafo-cli- dade seria comprometida, pois existem
indicam que os flavonóides podem deter a matéricas em que se desenvolvem. variáveis difíceis de controlar durante
reprodução de vírus. Parece ser eles que ade- um armazenamento longo.
rem à capa externa protectora dos vírus e Antioxidantes O método Rancimat, introdu-
danificam o seu ADN (3). zido pela Metrohm Instru-
Para além dos chás, os flavonóides podem O controle da oxidação nos produtos natu- ments para medir a ac-
ser encontrados numa vasta gama de alimen- rais e na alimentação processada é um dos tividade antioxidante
tos, tais como maçãs, brócolos, cebolas, vi- grandes problemas da preservação dos ali-
nhos, citrinos e produtos de soja, entre ou-

Março/Abril 2007 | INGENIUM 141


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

de compostos sintéticos e naturais, está lar- Estes fluidos apresentam


gamente difundido. É simples e de fácil uti- propriedades físicas entre
lização, medindo-se as variações de condu- o líquido e o gás, tornando-
tividade causadas pela formação de ácidos -os bons solventes de ex-
gordos livres quando os óleos ou gorduras tracção. Possuem densida-
são oxidados a altas temperaturas e em con- des semelhantes às dos lí-
tacto com o ar. quidos, viscosidades próxi-
A actividade antioxidante é traduzida pelo mas das dos gases e difusi-
factor de protecção (FP). Considera-se que vidades intermédias. Os
existe actividade antioxidante quando FP é elevados coeficientes de di-
maior que 1. fusão e as baixas viscosida-
des permitem uma boa pe- Figura 2 – Factores de Protecção (FP) para diferentes extractos
Métodos de Extracção netração na matriz, atin-
gindo facilmente o material a extrair. A alta de alta pressão a um fluxo constante. As con-
Existem vários métodos para a extracção de volatilidade facilita a remoção do solvente dições óptimas de extracção e de fracciona-
óleos essenciais e oleoresinas das plantas. sem deixar resíduo no extracto. mento são obtidas por análise da evolução
Hidrodestilação de Clevenger – A planta per- Alguns dos solventes mais usados na extrac- da composição dos constituintes do produto
manece imersa em água. O vapor libertado ção supercrítica são o dióxido de carbono, o final com as condições de extracção.
pelo aquecimento da mistura à temperatura óxido nitroso, o etileno, o tolueno, a água, o Na destilação, o material é sujeito a tempe-
de ebulição arrasta os compostos voláteis, n-hexano e o propano. De entre estes, o mais raturas de 100ºC, sendo favorecidas as reac-
seguindo-se a sua condensação por arrefeci- usado é o dióxido de carbono, devido a ser ções de hidrólise, o que pode levar à decom-
mento. estável e inerte, ter selectividade ajustável, posição dos constituintes termolábeis.
Destilação por Arrastamento/Injecção de não provocar degradação térmica dos extrac- Na extracção com solventes orgânicos, temos
Vapor – A planta é colocada numa câmara. tos devido à temperatura crítica ser baixa, uma baixa selectividade, os níveis residuais
O vapor gerado pelo aquecimento da água não deixar resíduos de solvente, ser inofen- de solvente nos extractos são regulamenta-
atravessa o leito de material botânico, arras- sivo quando devidamente utilizado, possuir dos por normas nacionais e internacionais e
tando os compostos voláteis presentes que, actividade bacteriostática, ocorrer natural- os extractos obtidos são bastante viscosos.
depois de condensados, são separados por mente nas águas minerais e ser um produto Na extracção supercrítica trabalha-se a tem-
decantação. da biodegradação. É um solvente reconhe- peraturas moderadas, usa-se fluidos não tó-
Extracção com Solventes Orgânicos – É usada cido pela FDA (Food and Drug Administra- xicos e baratos, o que faz deste processo um
principalmente em indústrias de perfumaria tion). Os parâmetros críticos são Pc =7,38 método muito atractivo e competitivo a nível
e cosmética. Neste método, os componen- MPa, Tc=31,1 ºC e ρ=470 kg/m3. industrial.
tes menos polares presentes nas plantas, as Em condições de pressão muito superior à
oleoresinas, são extraídas conjuntamente sua pressão crítica extrai, além dos aromas Resultados de Estudos
com os óleos essenciais. O solvente é remo- e das ceras cuticulares localizadas na epi- com Plantas Aromáticas
vido da solução por destilação fraccionada. derme das plantas, as oleoresinas, obrigando
Extracção Supercrítica (ESC) – É um método a um fraccionamento do extracto para iso- A segurelha, Satureja hortensis L., é uma erva
de separação baseado no poder de dissolu- lar o seu óleo essencial. anual da família das Labiatae. É oriunda do
ção dos fluidos supercríticos, que é contro- Neste processo de extracção, a matéria-prima Sul da Europa e das regiões do Mediterrâ-
lado unicamente com pequenas variações de é carregada no extractor e o solvente é ali- neo. O teor do seu óleo essencial representa
pressão e temperatura. mentado continuamente com uma bomba um valor inferior a 1% e tem como consti-
tuinte maioritário o carvacrol (25%-45%).
Obtiveram-se extractos de segurelha por
destilação de arrastamento de vapor, por
destilação de Clevenger e por extracção su-
percrítica.
A composição do óleo essencial, geralmente
analisado por cromatografia gasosa e/ou cro-
matografia gasosa associada à espectrometria
de massa(GC-MS), permitiu a comparação
dos dois métodos de destilação, não apre-
sentando os resultados alteração significativa,
como indicado na figura 1.
Figura 1 – Percentagem do óleo essencial da segurelha obtido por Em relação à actividade antioxidante, veri-
arrastamento vapor (AV) ao fim de 1h e 2h e por destilação de Clevenger fica-se que o óleo essencial e o resíduo só-

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QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

lido da destilação não apresentam activi- São necessárias três etapas de separação
dade antioxidante, bem como os extrac- dos produtos de extracção, separando-se
tos obtidos nas três recolhas da extracção os ácidos gordos e os seus esteres metí-
supercrítica, para diferentes condições de licos, as ceras e os óleos essenciais.
pressão e temperatura (figura 2). Examinando a figura 4, verifica-se que,
Os extractos obtidos a partir dos resíduos para a menta, a melhor curva, que repre-
da extracção apresentam factores de pro- senta os valores de FP em função da con-
tecção próximos do Herbor, um antioxi- centração de extracto antioxidante, foi
dante comercial obtido a partir do ale- obtida para a condição P=18 MPa, T=323
crim. Verifica-se também um aumento K e t=1 h.
da actividade antioxidante com o tempo Observa-se um aumento do FP com o
de extracção (4). aumento da concentração de antioxidante.
Figura 3 – Percentagem de compostos fenólicos
Nas condições utilizadas, 12MPa e 313K, nos extractos dos resíduos da extracção supercrítica Os extractos da extracção supercrítica,
o dióxido de carbono extrai preferencial- e no extracto obtido a partir da planta. Pressão, para estas condições, apresentam uma
MPa/Temperatura, K/tempo de extracção, H
mente os compostos mais voláteis e as cor escura e uma textura muito consis-
ceras cuticulares, conduzindo assim à con- tente, o que significa que lípidos, ceras e
centração, no resíduo, dos componentes res- peso molecular mais elevado, componentes pigmentos corados foram extraídos, tendo
ponsáveis pela actividade antioxidante. estes que dificultam grandemente a extrac- como resultado um resíduo supercrítico mais
A cidreira, Melissa officinalis L., é uma erva ção dos antioxidantes. limpo e, consequentemente, uma extracção
com uma longa tradição e uma grande va- Os estudos com a erva-cidreira indicam, mais de antioxidantes mais rápida, eficiente e sim-
riedade de usos. Muitos dos seus ples (6).
efeitos terapêuticos estão associados
ao seu óleo essencial, que é rico em Considerações Finais
aldeídos e alcoóis terpénicos.
O preço do óleo essencial da cidreira A extracção supercrítica é uma tec-
é excessivamente alto, devido, es- nologia limpa para a extracção de
sencialmente, ao seu baixo teor nas componentes para as indústrias ali-
folhas da planta (cerca de 0,1%). mentar, cosmética e farmacêutica.
Os compostos na cidreira que mos- Os resíduos sólidos da extracção su-
tram actividade antioxidante, ácido percrítica não são desperdícios mas,
cafeico e rosmarínico, têm uma ac- sim, matéria-prima de valor acres-
tividade antioxidante comparável ao centado para a extracção de antio-
BHA. Figura 4 – FP versus concentração do extracto xidantes naturais.
dos resíduos sólidos da extracção supercrítica para diferentes condições
O trabalho realizado com esta planta de extracção Pressão, MPa/ Temperatura, K/ tempo de extracção,
tem como principal objectivo o apro- h. Condições de recolha: (Pressão, MPa; Temperatura, K). * Centro de Engenharia
veitamento dos resíduos da extrac- Biológica e Química, DEQ, IST
ção supercrítica que vão ser usados como ma- uma vez, que a extracção supercrítica pode 1 [email protected]

téria-prima na extracção de antioxidantes. ser um meio efectivo de concentrar os an-


Tal como na segurelha, extraíram-se os an- tioxidantes na matriz sólida.
tioxidantes a partir dos resíduos da extracção A menta tem propriedades antiespasmódi-
e determinaram-se os compostos fenólicos cas e carminativas. O seu óleo essencial é
por espectrofotometria. Estas determinações uma importante matéria-prima para a indús-
são expressas em % de ácido rosmarínico por tria dos aromas, licores e cosméticos. Uma
este ser um dos principais compostos fenóli- das suas grandes aplicações é nas pastas de BIBLIOGRAFIA
cos da erva-cidreira. dentes e pastilhas elásticas.
1. www.energia.com.br
A concentração em ácido rosmarínico de- As folhas da menta contêm, na sua estru- 2. www.pcnaturalmarkets.com
pende largamente da pressão, temperatura tura, celulose, óleo essencial, lípidos e pro- 3. www.nutricao.blogspot.com
4. M.M.Esquível, M.A.Ribeiro, M.G.Bernardo Gil, Super-
e tempo de extracção e a sua concentração teínas. Os componentes extractáveis são, so- critical Extraction of Savory Oil, Study of Antioxidant Ac-
varia entre 10% e 80%, tal como se pode bretudo, óleos essenciais e alguns lípidos. tivity and Extract Characterization, J. of Supercritical
Fluids, 129-138, 1999.
observar na figura 3 (5). A extracção de an- Submeteram-se as folhas e flores de menta 5. M.A. Ribeiro, M.G. Bernardo Gil, M.M.Esquível, Melissa
tioxidantes a partir dos resíduos da extrac- à extracção supercrítica. O óleo essencial officinalis, L.: Study of Antioxidant Activity in Supercri-
tical Residues, J. of Supercritical Fluids, 51-60, 2001.
ção supercrítica é mais fácil e rápida do que com os lípidos associados são dissolvidos no 6. M.A. Ribeiro, M.M. Martins, M.M. Esquível, M.G. Ber-
usando como matéria-prima a planta tal e fluido supercrítico e difundidos para a su- nardo-Gil, Extraccion de la Menta com CO2 Supercri-
tico. Influencia de las condiciones de Extraccion en la
qual, já que na extracção supercrítica se ex- perfície externa, sendo transportados pelo Actividad Antioxidante de los Residuos, Información
traíram os lípidos e outros compostos de solvente. Tecnológica, 185-190, 2002.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 143


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

tragem, porque uma alteração dos congéne-


Emissão de Micropoluentes Orgânicos res tem de ser evitada.
A formação de dioxinas e furanos, bem como
(Dioxinas, Dibenzofuranos, outros compostos tóxicos, é resultado de
combustões incompletas de matéria orgânica
PAHs e PCBs) no Fabrico de Aço As dioxinas/furanos são sempre subprodutos
indesejáveis, que nunca se produzem para
em Forno de Arco Eléctrico utilização corrente. Isto acontece quando a
temperatura se situa entre 200ºC e 600ºC.
No entanto, se existir ar suficiente, a tem-
Figueira, S. L; Gomes, J. F. P. *
peratura for superior a 950ºC e o tempo de
residência suficientemente longo, toda a ma-
Resumo os furanos têm uma ligação com o oxigénio téria orgânica será destruída no forno de arco
e uma ligação directa entre os átomos de eléctrico. Este é o princípio concluído atra-
O objectivo deste trabalho é o estudo dos carbono. Ambos os grupos têm 8 posições vés dos incineradores de resíduos hospitala-
mecanismos de formação e destruição de para ligar com átomos de hidrogénio ou cloro res e urbanos.
compostos orgânicos de elevada toxicidade, (ou com os outros halogéneos). Para ter a A formação das dioxinas/furanos exige, em
tais como dioxinas, dibenzofuranos, PAHs possibilidade de identificação dessas 8 posi- geral, a presença dos compostos orgânicos
e PCBs, no processo de fabrico de aço por ções específicas, elas são marcadas com os como fenol, clorobenzenos, PCBs, do cloro,
arco eléctrico. Este estudo visa relacionar o números de 1 a 8. A toxicidade depende: dum catalisador (por exemplo cobre) e uma
nível das emissões destes compostos com por um lado, do número dos átomos de cloro temperatura de reacção entre 200 a 600ºC
variáveis operacionais que sejam considera- substituindo o hidrogénio (número 1 a 8) e, [3,4].
das como críticas, no sentido de possibilitar por outro lado, da posição dos átomos do Como as dioxinas/furanos indicam efeitos
a redução dessas mesmas emissões através cloro na molécula (posições 1 a 8). tóxicos já em teores muito baixos, são ne-
de um adequado controlo do processo. A dioxina mais tóxica e mais perigosa é a cessários apenas teores consideravelmente
2,3,7,8, - tetraclorodibenzo -p- dioxina baixos dos produtos base para produzir al-
Introdução (2,3,7,8-TCDD). A estrutura tem 4 átomos gumas quantidades dessas substâncias. É bem
de cloro nas posições 2,3,7 e 8. Nas exten- conhecido que vestígios de composições or-
O termo “dioxinas” ou dibenzo-para-dioxi- sas investigações verificou-se que a toxici- gânicas (às vezes condicionadas para proces-
nas policloradas refere-se a um grupo de 75 dade das outras dioxinas/furanos também sos de pirólise), do cloro e do cobre, estão
composições químicas e o termo “furanos” se podem provar, principalmente com os dispersas em muitos produtos, nas muitas
dibenzo-para-furanos policlorados de 135 congéneres com cloro nas posições 2,3,7 e espécies dos resíduos e também no ambiente
composições, na maioria de elevada toxici- 8. Por isso, é necessário medir todos os con- em geral. Neste contexto, é compreensível
dade [1]. géneres da tabela 1. Mas como a toxicidade que até os incêndios florestais produzam dio-
dos congéneres específicos é diferente (re- xinas/furanos em teores baixos. Por outro
lação de 1 a 1000), existe um sistema de va- lado, encontram-se também teores mais ele-
lorização internacional [2]. vados em processos químicos caracterizados
Devido à toxicidade, a quantidade dos con- pelos teores elevados dos produtos base.
géneres verificada no processo de análise la- Os PCBs, ao contrário das dioxinas, foram
boratorial é multiplicada com o factor cor- produzidos intencionalmente dadas as suas
respondente à tabela 1 (I-TEF – Internatio- propriedades físico-químicas que lhes confe-
nal Toxic Equivalent Factor).
TABELA 1 – Índice de Toxicidade para os diferentes congéneres
Com o resultado da multiplica- de Dioxinas/Furanos (I-TEF, International Toxic Equivalent Factor)
ção soma-se uma quantidade, que
representa a toxicidade de todos DIOXINAS FURANOS
Congéneres I-TEF Congéneres I-TEF
os congéneres determinados em
2, 3, 7, 8 - TCDD 1 2, 3, 7, 8 - TCDF 0,1
relação ao 2,3,7,8, - tetracloro-
2, 3, 4, 7, 8 - PeCDF 0,5
dibenzo - p – dioxina (I-TEQ
1, 2, 3, 7, 8 - TeCDD 0,5 1, 2, 3, 7, 8 - PeCDF 0,05
– International Toxic Equivalent
Figura 1 – Estrutura das dioxinas/furanos 1, 2, 3, 4, 7, 8 - HeCDD 0,1 1, 2, 3, 4, 7, 8 - HeCDF 0,1
Value). 1, 2, 3, 7, 8, 9 - HxCDD 0,1 1, 2, 3, 7, 8, 9 - HxCDF 0,1
A grande diferença na toxicidade 1, 2, 3, 6, 7, 8 - HxCDD 0,1 1, 2, 3, 6, 7, 8 - HxCDF 0,1
A relação entre a estrutura e a toxicidade entre os grupos dioxinas/furanos 2, 3, 4, 6, 7, 8 - HxCDF 0,1
dessas substâncias explica-se na figura 1. No exige métodos específicos para a 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 - HpCDD 0,01 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 - HpCDF 0,01
caso das dioxinas, dois anéis de benzenos análise laboratorial. Importantes 1, 2, 3, 4, 7, 8, 9 - HpCDF 0,01
estão ligados com dois átomos de oxigénio, são também os aspectos da amos- OCDD 0,001 OCDF 0,001

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rem um vasto leque de aplicações. Por serem durante um processo cíclico. Foram igual- Na figura 2 ilustra-se o princípio do método
praticamente incombustíveis, com baixa pres- mente registadas as composições das sucatas da sonda arrefecida que é parte da norma
são de vapor à temperatura ambiente, baixa e aditivos utilizadas no processo, de forma a técnica da União Europeia, EN 1948 [2].
volatilidade e solubilidade, boa estabilidade estabelecer as respectivas correlações. Uma parte das emissões gasosas (partículas
térmica, estáveis quimicamente e resistentes Um desenvolvimento experimental impor- e gases) é aspirada através de uma sonda de
às bases e ácidos, têm sido utilizados como tante consistiu no desenvolvimento de técni- vidro por uma bomba. Depois, as partículas
fluido dieléctrico em transformadores e con- cas isocinéticas para amostragem e análise de e os gases passam para um recipiente onde
densadores, em adesivos, óleos de corte, lu- PAHs e PCBs, tendo sido utilizados padrões o condensado e as partículas são recolhidos.
brificantes hidráulicos, tintas etc.. marcados em 13C com 1,2,3,7,8-PeCDF, O sistema de recolha é constituído por um
Entre as principais fontes de emissão de mi- 1,2,3,7,8,9-HxCDF, 1,2,3,4,7,8,9-HpCDF. conjunto de frascos colectores (borbulhado-
cropoluentes destacam-se os processos me- As determinações analíticas foram efectuadas res), que recolhe os condensados e as partí-
talúrgicos e siderúrgicos. Desde há vários em equipamento HRGC/HRMS, VG-Au- culas, pela espuma de poliuretano, um adsor-
anos, que os responsáveis da indústria, os toSpec, utilizando colunas capilares DB 5. vente especial com prova de eficiência para
cientistas e as autoridades procuram meios No que diz respeito aos PAHs, foram quan- a separação de substâncias orgânicas, inter-
apropriados para minimizar os impactos am- tificados 16 congéneres definidos de acordo calado com um filtro de partículas.
bientais de dioxinas/furanos. com as indicações da EPA, utilizando extrac- Em seguida, une-se o filtro de alta eficiência
O estudo da composição da sucata na ciné- tos deuterados entre D8 e D14. Em termos e duas placas do adsorvente em espuma de
tica da formação dos PCDF/PCDF foi le- de PCBs, foram determinados os isómeros poliuretano. Conectado a este equipamento
vado a cabo numa unidade de produção de 28, 52, 101, 138, 153, 180 e homólogo total, encontra-se a torre de sílica, a bomba de gás
aço por FAE (forno de arco eléctrico) para sendo utilizados padrões internos marcados e o contador de gás que regista a quantidade
estudar os efeitos do tipo de sucata, em par- igualmente com 13C. de gás aspirado. Adiciona-se ao frasco de
ticular o uso de sucata industrial do ramo Para os volumes de amostragem utilizados condensados os padrões de amostragem antes
automóvel, que contém grandes quantida- obtiveram-se limites de detecção de 5 pg/ da amostragem. O fluxo do gás é ajustado
des de plásticos. Destaca-se ainda o estudo m3 para as dioxinas e dibenzofuranos e 0,01 para condições isocinéticas no bocal da sonda
feito também à influência dos metais, no- g/m3 para os PAHs e PCBs. de amostragem. Com um volume de amos-
meadamente metais pesados na cinética de tragem de cerca de10 m3 pode-se atingir o
formação de PCDD/PCDF. Procedimentos limite de detecção de 1 a 5 pg I-TEQ/m3.
de amostragem e análise Outros métodos de amostragem encontram-
Metodologia utilizada se na norma técnica da União Europeia, EN
a) Dioxinas e Furanos 1948, parte 1 [2] e do US-EPA Reference
Os objectivos em causa têm vindo a ser atin- O princípio da amostragem das emissões at- Modified Method 23, PCDD & PCDF.
gidos pela realização de campanhas de amos- mosféricas (por exemplo nas chaminés) é As amostras são analisadas de acordo com a
tragem e análise de compostos orgânicos nas determinado pelo facto das dioxinas/fura- EN 1948, partes 2 e 3. As determinações
chaminés de despoeiramento dos efluentes nos em geral serem enriquecidas por partí- quantitativas de PCDD/PCDF são feitas de
gasosos de um forno nacional de produção culas finas, exigindo métodos que são qua- acordo com o método de diluição isotópica
de aço por arco eléctrico. Nestas campanhas lificados para a amostragem das partículas recorrendo aos seguintes padrões internos:
são efectuadas, igualmente, medições de ou- (medições representativas, amostragem iso-
tros poluentes com influência no processo, cinética), equipados com um adsorvente adi- 2, 3, 7, 8 Tetra-CDD 2, 3, 4, 7, 8 Penta-CDF
tais como as partículas totais em suspensão, cional para recolher as dioxinas/furanos em 1, 2, 3, 7, 8 Penta-CDD 1, 2, 3, 4, 7, 8 Hexa-CDF
assim como dos respectivos parâmetros de forma de gás. 1, 2, 3, 6, 7, 8 Hexa-CDD 1, 2, 3, 6, 7, 8 Hexa-CDF
escoamento. Como téc- 1, 2, 3, 4, 7, 8 Hexa-CDD 2, 3, 4, 6, 7, 8 Hexa-CDF
nica de amostragem tomou- 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 Hepta-CDD 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 Hepta-CDF
se como base o método 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 Octa-CDD 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 Octa-CDF
descrito na norma euro- 2, 3, 7, 8 Tetra-CDD
peia EN 1948, tendo,
contudo, sido realizadas Os compostos são extraídos dos condensa-
várias adaptações e me- dos, da espuma e do filtro, com solventes
lhoramentos no sentido apropriados. O procedimento de remoção
de tornar este método de interferentes da amostra é conseguido
de amostragem mais con- através de sistemas de multicolunas croma-
sentâneo com o objec- tográficas. As determinações analíticas foram
tivo das medições, ou efectuadas em equipamento HRGC/HRMS,
seja, o esclarecimento do VG-AutoSpec utilizando colunas capilares
mecanismo de geração e DB5. São determinados os seguintes congé-
Figura 2 – Amostragem de Dioxinas/furanos: método da sonda arrefecida
emissão de compostos neres:

Março/Abril 2007 | INGENIUM 145


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2, 3, 7, 8 Tetra-CDD 2, 3, 4, 7, 8 Penta-CDF nhecida adicionada às amostras, antes da ex- Fenantreno D10


1, 2, 3, 7, 8 Penta-CDD 1, 2, 3, 4, 7, 8 Hexa-CDF tracção (método do padrão interno). A van- Pireno D10
1, 2, 3, 6, 7, 8 Hexa-CDD 1, 2, 3, 6, 7, 8 Hexa-CDF tagem do método do padrão interno é que Benzo(k)fluoranteno D12
1, 2, 3, 4, 7, 8 Hexa-CDD 1, 2, 3, 7, 8, 9 Hexa-CDF prováveis perdas de PCDD/PCDF durante Benzo(a)pireno D12
1, 2, 3, 7, 8, 9 Hexa-CDD 2, 3, 4, 6, 7, 8 Hexa-CDF o processo de purificação e limpeza durante Dibenz(ah)antraceno D14
1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 Hepta-CDD 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8 Hepta-CDF o processo da purificação são compensadas Benzo(ghi)perileno D12
1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 Octa-CDD 1, 2, 3, 4, 7, 8, 9 Hepta-CDF usando este método. As substâncias padrão
2, 3, 7, 8 Tetra-CDF 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 Octa-CDF têm exactamente a mesma estrutura química Com a mesma amostra são determinados os
1, 2, 3, 7, 8 Penta-CDF das dioxinas/furanos, mas os átomos de car- PCB 28, 52, 101, 138, 153 e 180, bem como
bono são compostos dos isótopos C-13, de os homólogos totais. Para a quantificação são
A parte de determinação das concentrações modo que a molécula tem uma massa dife- adicionados à amostra os seguintes padrões
no laboratório exige também equipamento rente. A distinção entre a amostra das dioxi- internos:
adequado. O processo das análises laborato- nas/furanos e os da substância padrão é rea- 2,4,4’-Tri-PCB (PCB-28) 13C-UL

riais tem de dominar as dificuldades seguin- lizada recorrendo-se com o espectrómetro 2,2’,5,5’-Tetra-PCB (PCB-52) 13C-UL

tes [6,7]: de massa. 2,2’,4,5,5’-Penta-PCB (PCB-101) 13C-UL

as dioxinas/furanos encontram-se nas amos- 2,2’,3,4,4’,5’-Hexa-PCB (PCB-138) 13C-UL

tras em quantidades muito baixas, na ordem b) PAHs e PCBs 2,2’,4,4’,5,5’-Hexa-PCB (PCB-153) 13C-UL

13C-UL
dos pg (picogramas = 10–12 g) ou dos fg A metodologia de amostragem para os PAHs 2,2’,3,4,4’,5,5’-Hepta-PCB (PCB-180)

(fentogramas = 10–15 g); e PCBs é baseada na EN 1948 – Método da


em geral, as dioxinas/furanos são acompa- sonda arrefecida. Sendo, no entanto, uma Após a adição, as amostras são extraídas com
nhadas dos compostos orgânicos de carac- amostragem bastante mais curta, cerca de solventes adequados a análises vestigiais (e.x.
terísticas químicas semelhantes, sendo es- uma hora. São determinados os seguintes nanograde). O procedimento posterior é o
sencial o procedimento de clean up, de PAHs de acordo com a EPA: mesmo efectuado para os PAHs: remoção
modo a remover possíveis interferentes; Naftaleno Benzo(a)antraceno, de interferentes num sistema de multicolu-
para cada um dos 2,3,7,8-congéneres, que Acenaflaleno Criseno, nas cromatográficas e posterior análise por
em parte contribui para o cálculo da toxi- Acenaflaleno Benzo(b)fluoranthen, HRGC/MS.
cidade (International Toxic Equivalent Fluoreno Benzo(k)fluoranteno,
Factor, ver tabela 1), é imprescindível a Fenantreno Benzo(a)pireno, c) Metais pesados
determinação e quantificação exacta. Antraceno Indeno(1,2,3)-cd-pireno, Para os metais pesados como cobre, chumbo,
Fluoranteno Benzo(ghi)perileno, cádmio, níquel, arsénio, ferro, zinco e ou-
Estas condições exigem um procedimento Pireno Dibenzo(ah)antraceno tros, a metodologia é baseada na EPA 5, EPA
definido, que é determinado nas normas téc- 12 e EPA 60. A amostragem é isocinética
nicas especificando as medições das dioxi- Recorrendo à amostragem isocinética, atra- como para as dioxinas/furanos, PAHs e PCBs,
nas/ furanos na Europa (EN 1948, partes 2 vés do trem de amostragem adequado, são mas a sonda não é arrefecida, neste caso a
e 3) e nos EUA (US-EPA Reference Me- recolhidas amostras representativas. As par- sonda é mantida a uma temperatura supe-
thod 613). Os procedimentos incluem os tículas são recolhidas num filtro e a fase ga- rior à temperatura ambiente, não ocorrendo
seguintes processos: sosa é colhida por condensação através de a condensação dos efluentes gasosos, em par-
extracção da amostra com um solvente or- um adsorvente. Após a recolha da amostra ticular da água [5,6].
gânico para permitir a concentração das representativa, o trem de amostragem é des- O gás passa na sonda e as partículas e me-
dioxinas/ furanos no extracto; contaminado por passagem de água e ace- tais são recolhidos num filtro de quarto, pos-
purificação do extracto para separação de tona, recolhendo-se juntamente com os fil- teriormente o gás é recolhido em quatro bor-
substâncias indesejadas (clean-up), recor- tros e adsorventes, sendo posteriormente bulhadores que são mergulhados num banho
rendo a colunas cromatográficas adequa- extraídos com um solvente orgânico por ex- de gelo para promover a condensação e pos-
das; tracção de soxleht. O extracto final é con- sibilitar a recolha dos gases. A análise labo-
concentração das dioxinas/furanos para centrado por rota vapor. ratorial é efectuada por ICP após a digestão
evaporação do solvente; É necessário a limpeza para remoção de in- ácida com ácido nítrico, clorídrico e final-
determinação e quantificação para cada terferentes do extracto final antes da análise mente perclórico da solução recolhida e dos
um dos 2,3,7,8-congéneres com um equi- cromatográfica por HRGC/MS com colu- filtros.
pamento, sendo este composto de um es- nas capilares DB-5. A quantificação é con-
pectrómetro de massa acoplado a um cro- seguida através da adição de padrões inter- Apresentação de resultados e discussão
matógrafo a gás, ambos os equipamentos nos e externos.
de alta resolução. São adicionados aos extractos os seguintes De modo a relacionar a composição da su-
padrões internos deuterados: cata com as emissões de micropoluentes me-
A quantificação é baseada na adição de subs- Naftaleno D8 diram-se os teores de Dioxinas/Furanos em
tâncias padrão, numa quantidade bem co- Acenaftaleno D10 sucata contendo maioritariamente 4 tipos

146 INGENIUM | Março/Abril 2007


QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

de sucatas: sucata contendo óleos perfuran- os compostos que não


tes, sucata contendo PVCs (proveniente da aparecem nas emissões
indústria automóvel), sucata sem cloro mas gasosas são, de facto, os
com adição de cloreto de cálcio, CaCl2 e su- compostos com 5 e 6
cata “sem cloro”. As amostragens tiveram anéis que se encontram
uma duração de 6 horas (volume amostrado agregados às partículas
de 10 Nm3), usando os procedimentos des- e que são capturadas
critos anteriormente. As condições de amos- pelos filtros de mangas,
tragem (temperatura, pressão e fluxo) não não sendo, deste modo,
revelaram variações significativas. Para estas emitidos.
variantes de sucata foram efectuadas medi- No entanto, em algumas
ções de efluentes gasosos antes e depois da Figura 4 – Perfil característico dos 16 compostos de PAHs medições estes mesmos
unidade de despoeiramento, tendo os resul- compostos aparecem em
tados obtidos sido concordantes com os pres- Os valores encontrados não são homogéneos, quantidades ínfimas. A razão prende-se com
supostos teóricos de que sucata com elevada existindo dispersão de resultados quer para o facto de, como referido anteriormente,
contaminação de compostos clorados au- os congéneres individuais, quer para o total estes compostos se encontrarem agregados
menta significativamente a quantidade de de dioxinas/furanos. No entanto, observando às partículas que ficam retidas no filtro de
dioxinas totais encontradas. Os resultados a figura 3, verifica-se a exis-
obtidos são sempre superiores para as me- tência de um perfil bas- TABELA 2 – Propriedades físico-químicas dos PAHs
dições efectuadas antes da unidade de des- tante coerente, indepen-
N.º de Mr. (aprox.) Pontos de Pontos de Fórmula
poeiramento relativamente às efectuadas dente do fluxo e da capa- PAHs
anéis g/mol fusão ºC ebulição ºC química
após essa mesma unidade. Nas variações de cidade do próprio forno. Naftaleno 2 128 80.6 218 C10H8
sucata por tipo, os valores mais elevados Os resultados das medi- Acenaftaleno 3 152 94 265 C12H8
foram registados para a sucata com PVC, ções de PAHs, apresenta- Fenantreno 3 178 99.5 340 C14H10

seguindo-se a sucata com óleos de perfura- dos na figura 4, revelam Fluoreno 3 166 116 295 C13H10

ção (aproximadamente 20 vezes inferiores um perfil característico de Acenafteno 3 154 95 279 C12H10

ao da sucata com PVC), sendo os valores emissões de PAHs. Por Antraceno 3 178 217 370 C14H10
Fluoranteno 4 202 110.8 375 C16H10
encontrados para os restantes bastante apro- análise do gráfico da figura
Pireno 4 202 156 404 C16H10
ximados. 4 destacam-se o Naftaleno,
Criseno 4 228 255 448 C18H12
Após este estudo, foram realizadas medições Acenaftaleno, Fenantreno,
Benzo(a)antraceno 4 228 159.8 437.6 C18H12
com a composição de sucata típica nesta in- Fluoreno como compos-
Benzo(a)pireno 5 252 176 495 C20H12
dústria, tendo sido pesquisado os teores de tos maioritários, encon- Dibenzo(a,h)antraceno 5 278 266 524 C22H14
dioxinas/furanos, PAHs e PCBs e metais pe- trando-se outras espécies Benzo[k]fluoranteno 5 252 215.7 480 C20H12
sados. Das medições realizadas efectuou-se como Fluoranteno, Pireno, Benzo[b]fluoranteno 5 252 167 357 C20H12
um gráfico que permite concluir a existên- Acenafteno e Criseno em Indeno(1,2,3)-cd-pireno 6 276 162.5 536 C22H12
cia de dioxinas e furanos, destacando-se o quantidades mais baixas. Benzo(g,h,i)perileno 6 276 278 500 C22H12
2,3,4,7,8 – pentaCDF como o composto Dos compostos pesquisa-
maioritário detectado no conjunto das me- dos não foram detectados o Benzo(a)pireno, mangas (do sistema de despoeiramento).
dições realizadas. A figura 3 revela a presença Indeno(1,2,3)-cd-pireno, Benzo(ghi)perileno, Contudo, existe sempre uma pequeníssima
dos 17 congéneres pesquisados e que se en- Dibenzo(a,h)antraceno. Fazendo um zoom fracção que é emitida e capturada pelos fil-
contram presentes em todas as medições do gráfico, a partir do Antraceno revela-se um tros do trem de amostragem, sendo poste-
efectuadas. perfil característico também para estes com- riormente quantificada aquando das análises,
postos. Novamente, o uma vez que se analisa quer a solução, quer
conjunto das várias me- as partículas capturadas. Os resultados das
dições efectuadas revela medições de PCBs revelam um decréscimo
um perfil coerente e es- na concentração à medida que aumenta o
tável. No entanto, estes n.º de cloros, conforme ilustrado na figura
resultados são idênticos 5. Os compostos maioritários são os que pos-
entre as várias amostra- suem menor n.º de cloros.
gens, independentemente Tendo em conta as propriedades físico-quí-
da concentração obtida, micas dos compostos, estes resultados são
culminando num perfil coerentes. Ponto de ebulição e de fusão au-
típico de emissões de mentam com o n.º de cloros, da mesma forma
PAHs. Analisando a ta- que a massa molecular, a pressão de vapor e
Figura 3 – Perfil característico (fingerprint) dos 17 congéneres de dioxinas/furanos bela 2, confirma-se que a taxa de evaporação a 25ºC diminuem à

Março/Abril 2007 | INGENIUM 147


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

Constata-se que as poeiras re- fil característico (“fingerprint”) das emissões


colhidas pelos filtros contêm de compostos orgânicos para as dioxinas/di-
carbono, cloro (na forma de sais) benzofuranos, PAHs e PCBs. De facto, ape-
e metais em quantidades vesti- sar da variabilidade registada em campanhas
giais. Constata-se também a pre- de amostragem sucessivas, é possível verifi-
sença de metais pesados ao longo car a ocorrência de um perfil regular das
deste estudo, proporcionando- emissões destes compostos que se considera
-se as condições para que ocor- ser uma informação básica para esclareci-
ram a formação de PCDD/PCDF mento dos mecanismos de formação/des-
através da síntese de De Novo. truição, assim como da influência das con-
No entanto, os valores encon- dições operacionais e, consequentemente,
Figura 5 – Perfil característico obtido para os PCBs
trados de PAHs e PCBs reve- para poder delinear estratégias de redução
lam potenciais percursores de dos respectivos níveis de emissão. De facto,
medida que aumenta o n.º de cloros, e a nível dioxinas. Considerando o facto dos PAHs se para sucatas não contaminadas, onde, à par-
de emissões denota-se uma diminuição da distribuírem entre a fase gasosa e de partí- tida, não existem percursores, os dados pa-
concentração. culas, é importante para o esclarecimento do recem indicar para a possibilidade da ocor-
Em relação aos metais pesados, destacam- mecanismo de formação de PCDD/PCDF rência de reacções heterogéneas na superfí-
-se o zinco, Zn, e o chumbo, Pb, como com- a futura análise das poeiras capturadas pelos cie das partículas a temperaturas superiores
postos maioritários, seguindo-se o crómio, filtros de mangas do sistema de despoei- a 300°C. Contudo, uma vez que a tempera-
cobre e o níquel. ramento relativamente a estes compostos. tura no forno é superior a 1500°C, deverá
Assim, consideram- ocorrer, posteriormente, a destruição de al-
TABELA 3 – Propriedades físico-químicas dos PCBs [7]
se possíveis dois me- gumas das espécies formadas. Parece esta-
PCBs
N.º de átomos Massa Ponto de Ponto de Pressão de vapor Taxa de evaporação a canismos de forma- rem reunidas as condições básicas para a
de cloro molecular ebulição ºC(a) fusão ºC (Pa) a 25ºC 25ºC (g/m2h)
PCB 28 3 256 28 – 87 337 0.054 0.017
ção de PCDDs/PCDFs ocorrência da síntese De Novo (sem percur-
PCB 52 4 290 47 – 180 360 0.012 4.2×10 –3 no forno de arco eléc- sores orgânicos), mecanismo, esse, que po-
PCB 101 5 324 76.5 – 124 381 2.6×10–3 1.0×10–3 trico: derá ser amplificado a temperaturas supe-
PCB 138 6 358 77 – 150 400 5.8×10–4 2.5×10–4 Reacções heterogé- riores a 250°C e pela ocorrência de espécies
PCB 153 6 358 77 – 150 400 5.8×10–4 2.5×10–4 neas de determinados metálicas que actuem como catalisadores.
PCB 180 7 391 122.4 – 149 417 1.3×10–4 6.2×10–5 precursores orgânicos
(a) Intervalo de temperaturas para isómeros com o mesmo n.º de átomos de cloro. (ex.: clorofenois, PCBs, Agradecimentos
clorobenzenos) na su- Trabalho efectuado ao abrigo do Contrato
perfície das partículas a tempe- 7210-PR-200 – Projecto ECSC P4201.
raturas superiores a 300ºC. Estes
percursores entram no processo * Centro de Tecnologias Ambientais,
através das impurezas da sucata, Instituto de Soldadura e Qualidade, Tagus Park,
tais como tintas, óleos perfu- Apartado 012, 2780-994 Oeiras
rantes e plásticos. Elevadas emis- E-mail: [email protected]
sões de PCDD e PCDF foram
encontrados quando se realiza-
ram medições com sucata con- BIBLIOGRAFIA

taminada com PVC. [1] Bordado, J.C.M., Ferreira, H.M.S., Gomes, J.F.P., “Dio-
Figura 6 – Resultados das medições de metais pesados A síntese De Novo sem pre- xinas e dibenzofuranos no meio Ambiente”, Química,
72, 15/19 (1999).
cursores orgânicos. Formação [2] European Standard: CEN/ EN 1948, September 1996,
através de carbono, oxigénio e - Stationary source emissions - Determination of the
mass concentration of PCDD/PCDFs Part 1: Sam-
Conclusões cloreto de metais a temperaturas de 250ºC. pling.
Neste caso, os cloretos de metal actuam [3] European Standard: CEN/ EN 1948, September 1996,
- Stationary source emissions - Determination of the
Estudos anteriores referem que a quantidade como catalisadores. OS PCDD/PCDF são mass concentration of PCDD/ PCDFs Part 2: Extrac-
de dioxinas está directamente relacionada líquidos extremamente viscosos a tempera- tion and clean-up.
[4] European Standard: CEN/ EN 1948, September 1996,
com: a velocidade de arrefecimento dos gases turas inferiores a 300ºC e podem facilmente - Stationary source emissions Determination of the
de saída, especialmente à volta de 300ºC; a ser adsorvidos na superfície das partículas. mass concentration of PCDD/ PCDFs Part 3: Identifi-
cation and quantification.
quantidade de poeiras; os metais vestigiais, Os estudos efectuados permitiram, até agora, [5] Gomes, J.F.P., “Poluição Atmosférica – Um Manual
especialmente o cobre que é um bom cata- tirar conclusões importantes sobre a influ- Universitário”, Ed. Publindústria, Porto, 2001.
[6] Gomes, J.F.P., “Qualidade do Ar”, Livro texto, Edições
lizador nas reacções de formação de dioxi- ência das variáveis operacionais sobre as emis- Técnicas ISQ, Lisboa, 1993.
nas; e o carbono e cloro encontrado nas po- sões dos compostos orgânicos atrás mencio- [7] Erickson, Mitchell D. – “Analytical Chemistry of PCBs”,
Lewis Publishers 1997, 2nd edition.
eiras e a presença de oxigénio. nados. Foi ainda possível determinar o per-

148 INGENIUM | Março/Abril 2007


QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

1. Introdução
Como Melhorar o Desempenho
Nesta comunicação, as células de combus-
tível com alimentação directa de metanol de uma Célula de Combustível
(“direct methanol fuel cell”, DMFC) são
apresentadas como alternativa às células de
combustível com membrana de permuta
com Alimentação Directa de Metanol
protónica (”polymer electrolyte membrane
Vasco Silva 1, Luis M. Madeira 1, Adélio Mendes 1* e Suzana P. Nunes 2
fuel cell”, PEMFC) convencionais que uti-
lizam hidrogénio como combustível. Para
aquela tecnologia são apresentados os prin- nentes inorgânicos como o óxido de zircó- distribuição de energia (perdas de energia
cípios e características de funcionamento, nio, ZrO2, e o fosfato de zircónio, Zr(HPO4)2. eléctrica, acidentes com radiações electro-
vantagens e desvantagens e aplicações pos- H2O. Resultados recentemente obtidos pelo magnéticas, localização e custos de centrais
síveis. É também realizada uma análise crí- grupo de investigação apontam no sentido eléctricas) são aspectos que a nível global
tica dos requisitos associados às membranas de se virem a obter membranas muito pro- estão a preocupar cada vez mais a humani-
de permuta protónica com vista à sua apli- missoras, porventura em alguns aspectos mais dade [1]. Deste modo, a tecnologia das cé-
cação em sistemas DMFC. Por fim, como eficientes do que as que são actualmente co- lulas de combustível, proposta pela primeira
alternativa às membranas actualmente uti- mercializadas. vez por William Grove em 1839 [2], é mo-
lizadas nos sistemas DMFC disponíveis no tivo de atenção crescente pela sua elevada
mercado (Nafion ), são apresentadas mem- O aumento da poluição (bem como a legis- eficiência e menor emissão de poluentes.
branas modificadas a partir do polímero lação cada vez mais exigente), com níveis Numa célula de combustível, a energia quí-
poli(éter éter cetona) sulfunado. São suge- crescentes de CO2, CO, NOx, etc, as limi- mica de um combustível e de um oxidante
ridos meios para melhorar as propriedades tações das reservas de combustíveis fósseis é convertida directamente em energia eléc-
do polímero por incorporação de compo- e a ausência de regulamentação no sector da trica (não há a dependência do ciclo de Car-
not), através de um processo que envolve
essencialmente um sistema eléctrodos/elec-
trólito [1].
Actualmente, existem já alguns tipos de cé-
lulas de combustível próximos da comercia-
lização [3]. As aplicações possíveis para as
células de combustível vão desde as centrais
industriais e domésticas de produção de elec-
tricidade/calor com potências de MW e kW,
respectivamente, até às aplicações portáteis
com potências de W (telemóveis, computa-
dores portáteis, etc.) [2]. A nível de aplica-
ção nos transportes motorizados, a tecnolo-
gia das células de combustível tem-se reve-
lado como uma possível alternativa aos mo-
tores de combustão interna, não só devido
às suas elevadas eficiências e ausência da
emissão de poluentes gasosos (por exemplo
compostos sulfurados e óxidos de azoto),
como também à sua simplicidade e ausên-
cia de partes móveis na conversão da ener-
gia química em eléctrica [2]. Prevê-se que
durante a presente década se inicie a produ-
ção e comercialização em série dos primei-
ros veículos motorizados propulsados a cé-
lulas de combustível [3].
Apesar do hidrogénio ser o melhor combus-
tível para as células de combustível em ter-
mos de conversão de energia (química em
eléctrica), a sua produção, armazenamento
e distribuição apresenta diversos problemas.

Março/Abril 2007 | INGENIUM 149


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

Embora mais difícil de converter, o metanol do ânodo (Pt/Ru), o metanol e a água são um total de 7,5kg. Para efeitos comparati-
surge cada vez mais como um combustível convertidos em dióxido de carbono, protões vos, um sistema de pilhas ácido-cobre con-
alternativo, principalmente para aplicações e electrões, sendo os protões transportados vencional pesaria 100kg para produzir a mesma
portáveis, sendo mais fácil de armazenar e para o cátodo através da membrana de per- quantidade de energia.
de distribuir (pois é líquido à temperatura muta protónica (proton exchange membrane, Entre outras, a empresa Fujitsu encontra-se
ambiente) [4]. Para além disso, o metanol PEM). Por sua vez, os electrões são trans- também a desenvolver um sistema de pro-
pode ser obtido facilmente, é biodegradável portados através de um circuito eléctrico dução de electricidade para computadores
e tem uma elevada densidade de energia externo, no qual podem ser utilizados para portáteis com base na tecnologia DMFC [8].
(3800 kcal/dm3) comparado com o hidro- produzir trabalho. Na camada catalítica do O protótipo do sistema em desenvolvimento
génio a 360atm (658kcal/dm3). O metanol cátodo (Pt), o oxigénio (do ar) é reduzido a é capaz de produzir 15W com 300mL de
tanto pode ser utilizado para produzir hidro- água na presença dos protões e os electrões solução de metanol. A autonomia do sistema
génio indirectamente, usando um reforma- produzido no ânodo. para utilização em computadores portáteis
dor a montante da PEMFC convencional, pode chegar às 10 horas.
como ser directamente utilizado sob a forma
de solução aquosa diluída (tipicamente 2,5% 2. Membrana de permuta
em massa) numa DMFC. A utilização de protónica
uma solução aquosa diluída de metanol di-
minui também consideravelmente os riscos A membrana de permuta
de toxicidade. O uso de reformador aliado protónica é o coração da
ao armazenamento de hidrogénio implica DMFC [5]. A membrana
Figura 1
um projecto e modo de funcionamento do Representação esquemática do funcionamento
deve combinar uma boa con-
dispositivo mais complexo, mais volumoso de uma célula de combustível com alimentação directa de metanol dutividade protónica com
e pesado, bem como maiores custos de in- um bom isolamento aos elec-
vestimento e operação [5]. Assim, estes fac- Ao aplicar a equação de Nernst para calcu- trões e ser impermeável a todos os reagen-
tores levaram muitos investigadores a con- lar o potencial termodinâmico de circuito tes e produtos presentes na DMFC (ex-
cluírem que a DMFC, operando a tempe- aberto da DMFC obtém-se um valor na cluindo o H+). Deve também apresentar
raturas baixas e intermédias (até 130ºC), é ordem dos 1,21V, dependendo da tempe- uma elevada estabilidade química e térmica,
uma tecnologia muito favorável para aplica- ratura, concentração dos reagentes/produtos resistindo a condições altamente oxidantes,
ções portáteis e móveis que requerem bai- e modo de operação (alimentação líquida ou a temperaturas até 150ºC. Actualmente, a
xos níveis energéticos (gama dos W) [4]. gasosa no ânodo) [1]. No entanto, os valo- membrana fluorada da DuPont, Nafion (Fig.
A DMFC é constituída por dois eléctrodos, res experimentais obtidos para a DMFC são 2), tem sido usualmente utilizada nas DMFC.
um positivo e outro negativo, designados por consideravelmente inferiores em relação aos A Nafion tem uma cadeia principal fluo-
cátodo e ânodo, respectivamente [3]. Os ca- teóricos, cerca de 0,7V, devido essencial- rada semelhante ao politetrafluoretileno
talisadores normalmente utilizados no ânodo mente aos seguintes factores limitantes: i) (PTFE, Teflon®), que é resistente e inerte
e cátodo são Platina/Ruténio (~2mg/cm2) cinética de electrocatálise do metanol no em ambientes redutores ou oxidantes [5],
e Platina (~0.1mg/cm2), respectivamente. ânodo e ii) utilização de membranas de per- e cadeias laterais com grupos sulfónicos
Como electrólito, a DMFC utiliza uma mem- muta protónica com elevada permeabilidade (–SO3– H+). A condutividade protónica é
brana de permuta protónica (electrólito po- ao metanol. assegurada pelos grupos sulfónicos e a es-
limérico ácido) que isola electricamente o Mesmo apresentando ainda um baixo nível tabilidade pela cadeia principal fluorada
ânodo do cátodo e permite o transporte dos de desenvolvimento (tecnologia relativamente (–CF2–). Como se pode verificar, este tipo
protões produzidos de um para o outro lado recente), a DMFC tem grande potencial de de membranas combina o carácter hidrófobo
da membrana [5]. As reacções que ocorrem aplicação para dispositivos portáteis, forne- da cadeia fluorada com o carácter hidrófilo
no ânodo e no cátodo, respectivamente, são cendo electricidade durante períodos de dos grupos funcionais sulfónicos [9]. Na pre-
as seguintes: tempo muito mais alargados, comparativa- sença da água, os domínios hidrófilos agre-
(1) mente com as baterias convencionais, a tele- gam-se formando nano-canais (nano-separa-
móveis, computadores portáteis e outros ção) e, devido a este facto, a membrana Na-
equipamentos electrónicos (câmaras de vídeo, fion apresenta uma permeabilidade apre-
(2) agendas electrónicas, televisores portáteis, ciável aos compostos químicos presentes na
leitores de DVD, etc.) [6]. Recentemente, DMFC (CH3OH, H2O, O2, N2 e CO2)
Por sua vez, a reacção global é: a empresa Smart Fuel Cell iniciou a comer- [9]. A permeação de metanol do ânodo para
(3) cialização do equipamento portátil designado o cátodo é prejudicial para o desempenho
por SFC A25, utilizando um sistema de pi- da DMFC, podendo reduzir em cerca de
lhas DMFC [7]. Com pouco mais de 550mL 35% a sua eficiência total [10]. A oxidação
O princípio de funcionamento da DMFC é de solução aquosa de metanol, o sistema é do metanol no cátodo (catalisador de pla-
ilustrado na figura 1. Na camada catalítica capaz de produzir 600Wh por dia, pesando tina) cria um potencial misto e envenena o

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QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

catalisador, reduzindo severamente o poten- verso se verifica para a condutividade protó- de maneira a melhorar a compatibilidade
cial da célula. Além disso, a permeação ex- nica. Devido ao carácter menos hidrofóbico entre as fases inorgânica e orgânica e esfoliar
cessiva de água do ânodo para o cátodo alaga da cadeia principal com anéis aromáticos (ver o fosfato, respectivamente. Por intermédio
a estrutura porosa do eléctrodo no cátodo, Fig. 2), no polímero sPEEC não se verifica a do método de raios-x a baixo ângulo (com
diminuindo a área de catalisador disponível formação de domínios hidrófilos (nano-ca- radiação sincrotron), foi possível verificar que
para a reacção e aumentando os efeitos de nais) [9]. Por isso, a permeabilidade desta as partículas inorgânicas de ZrO2 e Zr(HPO4)2.
polarização da concentração. Além do pro- membrana aos compostos presentes na DMFC H2O dispersas na matriz polímerica sPEEC
blema da permeação do metanol, as mem- é consideravelmente menor do que para a apresentam dimensões menores do que 13Å
branas fluoradas apresentam também um Nafion , embora também se verifique uma e entre 6.3–165Å, respectivamente [17]. É
custo elevado (~4–8 €/g), o qual contribui menor estabilidade térmica e condutividade de notar que o fosfato de zircónio é conhe-
significativamente para o preço da célula de protónica. cido pela sua condutividade protónica e,
combustível [5]. De forma a melhorar e optimizar as proprie- sendo assim, a sua utilização na preparação
dades das membranas sPEEC com vista à de membranas compósitas deverá melhorar
sua aplicação numa DMFC, pode proceder- a sua condutividade.
se à modificação do polímero com a incor- As membranas foram depois caracterizadas
poração de compostos inorgânicos como o por espectroscopia de impedância (para es-
óxido de zircónio, ZrO2, e o fosfato de zir- timar a condutividade protónica), sorção lí-
NAFION® cónio, Zr(HPO4)2.H2O [15]. Geralmente, quida (medida da sorção de água na mem-
a incorporação de uma fase cerâmica na ma- brana), pervaporação (estimativa da perme-
triz polimérica permite a preparação de mem- abilidade da membrana ao metanol e água)
branas compósitas estáveis, robustas e com e permeabilidade a gases (estimativa da per-
elevada durabilidade. No caso particular das meabilidade ao O2, CO2 e N2).
sPEEC DMFC, estes factores têm uma elevada re- Igualmente, as membranas em questão foram
levância porque permitem a operação a tem- testadas num sistema DMFC com área igual
Figura 2
Estrutura molecular dos polímeros Nafion e sPEEC
peraturas superiores que, por sua vez, me- a 25cm2, a temperaturas até 130ºC. A ca-
lhora a cinética de oxidação do metanol e racterização dos sistemas eléctrodos/mem-
diminui o envenenamento do catalisador. brana (“membrane electrode assembly”,
De forma a melhorar o desempenho e bai- Da mesma forma, a incorporação de mate- MEA) foi realizada medindo as curvas de
xar o custo associado às DMFC, têm sido rial inorgânico permite também a redução polarização (voltagem em função da densi-
desenvolvidos novos materiais, mais baratos, da permeabilidade dos reagentes/produtos dade de corrente), densidade de corrente
que apresentam boa estabilidade térmica e presentes na DMFC [16]. para voltagem constante (35mV) e voltagem
química, boa condutividade protónica e baixa de circuito aberto. Relativamente aos dois
permeabilidade ao metanol. Actualmente, 3. Investigação & Desenvolvimento últimos parâmetros estudados, também se
estão a ser investigados diversos polímeros mediu a impedância para ângulo de fase nulo
não fluorados (poliimidas, polibenzimidazole, No âmbito de um projecto de investigação (equivalente à resistência óhmica) e a con-
polisulfonas, poliarilcetonas) [11]. Entre estes, desenvolvido no instituto de investigação centração de CO2 no cátodo (estimativa da
as membranas preparadas com base no polí- alemão GKSS, em colaboração com o LEPAE permeação de metanol através da MEA).
mero sulfonado poli(éter éter cetona) (sPEEC) (FEUP-DEQ), o polímero poli(éter éter ce- Resultados obtidos no sistema DMFC per-
têm-se revelado como muito promissoras tona) foi sulfunado com vista à sua aplicação mitiram verificar que a membrana sPEEC,
para aplicações em células de combustível na DMFC. A formação in-situ de partículas para temperaturas inferiores a 90ºC e de-
[12-14], pois apresentam uma boa estabili- cerâmicas de ZrO2 no seio do polímero pendendo do grau de sulfunação, pode apre-
dade mecânica/térmica e condutividade pro- sPEEC foi realizada por intermédio da hi- sentar desempenhos semelhantes ou mesmo
tónica apreciável, dependendo do grau de drólise do tetrapropilato de zircónio, com a superiores aos da Nafion . Membranas com
sulfunação. O polímero PEEC é considera- adição de acetilacetona para prevenir a pre- grau de sulfunação elevado são, porém, par-
velmente mais barato do que o Nafion cipitação do alcóxido. Por sua vez, a incor- cialmente solúveis nas condições de opera-
(~0,05–0,10 €/g) e pode ser funcionalizado poração de fosfato de zircónio foi feita por ção experimentadas.
com ácido sulfúrico, sendo o grau de sulfu- intermédio de uma dispersão preparada pre- Em relação à incorporação in situ de óxido
nação controlado pelo tempo e temperatura viamente, tendo o fosfato sido obtido a par- de zircónio na matriz sPEEC, via hidrólise
de reacção. O grau de sulfunação pode ser tir do tratamento de uma dispersão do res- do tetrapropilato de zircónio, os resultados
utilizado para controlar o balanço entre os pectivo óxido com ácido fosfórico. A disper- obtidos evidenciam que as propriedades das
carácteres hidrofílico/hidrofóbico do polí- são de ZrO2 foi obtida a partir do tratamento membranas híbridas melhoram consideravel-
mero, actuando directamente na condutivi- de uma solução aquosa de ZrClO2 com uma mente em termos de estabilidade térmica/
dade protónica e na estabilidade deste. A es- solução de amónia. Depois de obtida a dis- química e permeabilidade aos compostos
tabilidade tende a diminuir com o aumento persão de fosfato de zircónio, esta foi tra- presentes na DMFC [18,19]. Embora tendo
do grau de sulfunação, enquanto que o in- tada com polibenzimidazole e propilamina o efeito adverso de diminuir a condutividade

Março/Abril 2007 | INGENIUM 151


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

protónica do polímero, a diminuição da per- de ser uma tecnologia relativamente recente, consequentemente, o aumento da tempera-
meabilidade ao metanol aumenta a eficiência os sistemas DMFC ainda apresentam um tura de operação da DMFC (logo, maior ve-
da DMFC até um certo nível de incorpora- elevado potencial de desenvolvimento, prin- locidade de reacção).
ção de ZrO2. A modificação das membranas cipalmente a nível da membrana de permuta
sPEEC com óxido de zircónio resultou tam- protónica e cinética de oxidação do metanol 5. Agradecimentos
bém num meio prático de alterar as proprie- (factores limitantes). A membrana usual-
dades do polímero a nível de sorção de água, mente utilizada nos sistemas DMFC é a Na- O trabalho do Vasco Silva é subsidiado pela
condutividade protónica e permeabilidade ao fion , apresentando, esta, um elevado custo Fundação para a Ciência e a Tecnologia (bolsa
metanol. associado e uma elevada permeabilidade ao de doutoramento SFRH/BD/6818/2001).
Por sua vez, a modificação com fosfato de metanol (menor desempenho e eficiência). Vasco Silva agradece à FCT e ao GKSS pelos
zircónio tratado previamente com propila- Em comparação com as membranas conven- apoios financeiros disponibilizados para a sua
mina e polibenzimidazole permitiu a síntese cionais, as membranas preparadas a partir estadia no GKSS Forschungszentrum GmbH.
de membranas compósitas com elevada es- do polímero sPEEC têm um elevado poten- O presente trabalho foi parcialmente supor-
tabilidade e baixa permeabilidade ao meta- cial para aplicação em sistemas DMFC de- tado pelos projectos FCT/FEDER: POCTI/
nol [20]. Devido à condutividade protónica vido ao seu preço reduzido e melhores pro- EQU/38075/2001 e POCTI/EQU/45225/
associada ao fosfato de zircónio, as membra- priedades a nível de permeação dos compos- 2002.
nas compósitas sintetizadas apresentaram tos presentes na célula de combustível. O
melhor relação entre estabilidade/conduti- trabalho de investigação desenvolvido no âm-
vidade. A aplicação destas membranas per- bito da colaboração LEPAE/GKSS mostrou
mitiu a obtenção de bons desempenhos em que a modificação inorgânica do polímero 1 LEPAE, Departamento de Engenharia Química,

sistemas DMFC, principalmente para tem- sPEEC com óxido de zircónio e fosfato de Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;
peraturas entre 100 e 130ºC, evidenciando zircónio diminui a permeabilidade das mem- Rua Dr. Roberto Frias, 4200-465, Porto, Portugal
as membranas uma boa estabilidade térmica branas ao metanol, permitindo a obtenção
e baixa permeabilidade ao metanol. A ope- de melhores desempenhos e eficiências na 2 GKSS Forchungszentrum,

ração para estas temperaturas melhorou a DMFC. Para além disso, a modificação inor- Max-Planck Str., 21502 Geesthacht, Alemanha
cinética de oxidação do metanol no ânodo, gânica permite também a melhoria da esta- * Tel.: 22 508 16 95, Fax: 22 508 14 49,
sendo este factor um dos limitantes no de- bilidade térmica/química do polímero e, e-mail: [email protected]
sempenho da DMFC.
BIBLIOGRAFIA

4. Conclusões [1] K. Kordesch and G. Simader, “Fuel cells and their ap- site membranes for polyether ether ketone and hete-
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hidrogénio para aplicações portáteis. A uti- 5 (2002) 97. properties effects, Journal of Power Sources” (sub-
[12] T. Kobayashi, M. Rikukawa, K. Sanui, N. Ogata, “Pro- mitted), (2004).
lização de metanol como combustível per- ton-conducting polymers derived from poly(ether- [20] V. Silva, B. Ruffman, R. Reissner, A. Mendes, L.M.
mite a resolução dos problemas associados etherketone) and poly(4-phenoxybenzoyl-1,4-pheni- Madeira, S.P. Nunes, “Characterization and applica-
lene)”, Solid State Ionics 106 (1998) 219. tion of composite membranes in DMFC Catalysis
ao armazenamento, transporte e produção [13] S. M. J. Zaidi, S. D. Mikailenko, G. P. Robertson, M. Today” (to be submitted), (2004).
do hidrogénio. No entanto, devido ao facto D. Guiver, S. Kaliaguine, “Proton conducting compo-

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DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

a seguinte correlação empírica para calcular


Avaliação Expedita da Possibilidade o ponto de orvalho do vapor de ácido sulfú-
rico:
de Ocorrência de Corrosão t = 255 + 27,6 log p SO3 +
+ 18,7 log p H2O (5)
em Chaminés Metálicas sendo as pressões parciais expressas em at-
mosferas e o ponto de orvalho em ºC.
João Fernando Pereira Gomes * Pierce [3] verificou que esta equação não
descrevia o fenómeno a temperaturas eleva-
das e Verhoff e Bouchero [4] propuseram
1. Introdução azoto como inerte no processo de combus- outra equação:
tão e tomando A como o número de moles 1/t = 0,002276 – 0,00002943 ln p H2O –
Para melhorar a eficiência térmica dos equi- de oxigénio necessários para a combustão – 0,0000858 ln p SO3 + 0,0000062
pamentos de combustão é necessário arrefe- estequiométrica, o equilíbrio químico escre- (ln p H2O) (ln p SO3) (6)
cer os respectivos efluentes gasosos até uma ve-se como segue: sendo as pressões parciais expressas em mm
temperatura de escape suficientemente baixa, Cc Hh Nn Oo Ss + AO2 = cCO2 + Hg e o ponto de orvalho em K.
por forma a recuperar a maior quantidade + (h/2) H2O + (n/2) N2 + sSO2 (1) Estes autores referiram-se às limitações da
de calor possível. Contudo, esta temperatura Em que: equação (6): os pontos de orvalho previstos
não deverá ser tão baixa que provoque a con- A = C + (h/4) + s – (0/2) na gama 120-140 ºC apresentam um desvio
densação dos compostos de enxofre conti- Como se utiliza, geralmente, ar para com- positivo de cerca de 4ºC. Na gama das bai-
dos nos gases sobre a forma de ácido sulfú- bustão, para cada mole de oxigénio do ar, xas temperaturas, os pontos de orvalho pre-
rico, que é um gás de elevada corrosividade existem 3,76 moles de azoto. Além disso, vistos são inferiores aos reais, o que foi con-
e que, a ser libertado, irá contribuir forte- para a geração eficiente de energia utiliza-se firmado pelos trabalhos experimentais de
mente para a acidificação da atmosfera, assim sempre um excesso de ar A’, em que: A’ = Lisle e Sensenbauch [5].
como das chaminés e condutas de exaustão, = (1 + fracção de excesso) A. Okkes [6] propôs uma nova correlação para
em particular, metálicas, ao dar-se o contacto Nestas condições, a equação de combustão evitar as discrepâncias da anterior, baseada,
entre os gases quentes e a atmosfera exterior (1) converte-se em: contudo, na correlação de Haase e Bargmam
aquando da exaustão. Cc Hh Nn Oo Ss + A’O2 + 3,76A’ N2 = devido à sua simplicidade. Os trabalhos de
Nestas condições, deverá haver um equilí- = cCO2 + (h/2) H2O + (3,76A’ + Pierce [3] e Muller [1] mostram que não
brio entre a temperatura de exaustão dos + n/2)N2 + sSO2 + (A’–A)O2 (2) existe uma relação linear entre o ponto de
gases por forma a não existirem condições Para obter a composição de efluente gasoso, orvalho e o logaritmo da pressão parcial do
propícias à condensação dos gases em con- as equações anteriores deverão ser ajustadas trióxido de enxofre. Contudo, chega-se a esta
tacto com uma chaminé metálica, ou seja, de modo a contabilizarem as relações de relação introduzindo a relação de equilíbrio
os equipamentos de combustão deverão ser equilíbrio entre as espécies O2, SO2 e SO3. entre o trióxido de enxofre e o vapor de água
operados em condições tais que os gases As pressões parciais destas espécies encon- e ajustando os dados experimentais utilizando
sejam emitidos para o exterior a tempera- tram-se relacionadas pela constante de equi- um método proposto por Totman [7]:
turas superiores às do ponto de condensação líbrio Kp que é definida como: t = 203,25 + 27,6 log p H2O +
dos gases ácidos. Kp = pSO3 / (pSO2) (pSO2)0,5 (3) + 10,83 log p SO3 + 1,06 (ln p SO3 +
Segundo Muller [1], Kp pode ser calculada + 8)2,19 (7)
2. Estimativa do Ponto de Orvalho pela seguinte expressão: sendo as pressões parciais expressas em atm
de Gases Ácidos ln Kp = (12,12/T*) (1 – 0,942T* + 0,0702T*2 e o ponto de orvalho em ºC.
– 0,0108T* ln 1000T* – 0,0031/T*) (4) Okkes traduziu também esta relação sob a
O equilíbrio líquido-vapor do ácido sulfúrico em que: forma gráfica, conforme se apresenta na fi-
tem vindo a ser estudado por diversos auto- T* = temperatura (K)/1000 gura 1, podendo determinar-se o ponto de
res [1], [2], o que veio a resultar no estabe- As temperaturas baixas favorecem a forma- orvalho como função do teor de enxofre no
lecimento de correlações que permitem pre- ção de SO3, mas Muller indicou que esta combustível, da percentagem de ar em ex-
ver o ponto de orvalho dos gases ácidos como reacção não ocorre a temperaturas inferio- cesso e da razão C/H na composição do com-
função das pressões parciais do trióxido de res a 1000 ºC devido à elevada energia de bustível.
enxofre e do vapor de água, dado ser o equi- activação necessária. Considera-se o seguinte exemplo para ilus-
líbrio químico entre estes especiais que leva Assim, considera-se que o teor de SO3 nos trar o funcionamento do gráfico: tome-se
à formação do vapor de ácido sulfúrico. efluentes gasosos é regulado pelas condições um fuelóleo industrial que tem uma razão
Um combustível pode ser representado, ge- de equilíbrio a 1000 ºC. típica C/H na sua composição elementar de
nericamente, pela fórmula Cc Hh Nn Oo Ss. Partindo das considerações teóricas de Mul- 2,4, e um teor de enxofre de 1,2%. Se se
Considerando como desprezável a formação ler, mas recorrendo a determinações expe- utilizar um excesso de ar de 25%, entra-se
de óxido de azoto, ou seja, considerando o rimentais, Haase e Bargmam [2] obtiveram com o valor de teor de enxofre no eixo das

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QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

abcissas e une-se este ponto, na vertical à mmH2O irá resultar num erro de 0,4ºC no
razão C/H. Achado este ponto A, une-se ao valor previsto para o ponto de orvalho.
excesso de ar correspondente progredindo c) Considera-se que a composição de com-
na horizontal, obtendo-se o ponto B. Une- bustível era traduzida por uma relação C/H
-se novamente o ponto B à razão C/H na baseada na sua composição elementar. Para
parte superior do gráfico e acha-se assim o os combustíveis gasosos, considera-se a fór-
ponto C. A partir deste, lê-se a temperatura mula para parafinas CnH2n+2. Se estiverem
do ponto de orvalho como 147ºC. presentes olefinas, o valor do ponto de or-
Efectuando a estimativa analiticamente, e valho não será alterado significativamente se
partindo da composição elementar típica do o seu teor molar for inferior a 50%.
fuelóleo, obtém-se a composição molar do Para os fuelóleos, consideram-se a fórmula
efluente gasoso, como se indica na tabela 1, geral CnH2n devido ao seu elevado peso mo-
pelas equações (2), (3) e (4). lecular.
Introduzindo os respectivos valores de con-
centração das pressões parciais das espécies 4. Determinação Expedita com Recurso
H2O e SO3 na equação (7), obtém-se um à Caracterização de Efluentes Gasosos
ponto de orvalho calculado de 145,9ºC.
TABELA 1 – Composição molar de efluente gasoso da A caracterização de efluentes gasosos que é
combustão de fuelóleo com 25% de excesso de ar feita geralmente para verificação da confor-
Composto Função molar midade com a legislação aplicável (Portaria
CO2 0,1053 n.º 286/93) inclui, para os efluentes resul-
H2O 0,1053 tantes da operação de sistemas de combus-
N2 0,7483 tão, a determinação do teor de dióxido de
O2 0,0399 enxofre, partículas totais em suspensão, óxido
SO2 0,0012 de azoto e parâmetros de escoamento dos
SO3 39 × 10–6 gases [8], encontrando-se bem definidos os
métodos de amostragem e doseamento la-
3. Limitações boratorial para estes poluentes [9]. Recen- peratura calculada como o ponto de orvalho
temente, foram conduzidos estudos e vali- dos gases ácidos e a temperatura mínima a
Quando se efectuar a previsão da tempera- dado um método de determinação do trió- que é possível operar o equipamento de com-
tura do ponto de orvalho dos gases ácidos xido de enxofre por via húmida, que se en- bustão para evitar a condensação dos vapo-
por qualquer um destes métodos, devem contra testado e validado [10]. res de ácido sulfúrico.
ter-se em conta as seguintes limitações que Assim, através da caracterização dos efluen-
resultam de simplificações efectuadas para tes gasosos, é possível determinar o teor em * Eng.º Químico (IST),
deduzir as equações atrás referenciadas: trióxido de enxofre, e determina-se por ro- PhD Engenharia Química (IST)
a) Considera-se o equilíbrio dióxido/trióxido tina o teor em humidade do gás, que é um Prof. Auxiliar Universidade Lusófona,
de enxofre como estável a 1000ºC, o que parâmetro que permite calcular a massa mo- Regente da Cadeira de Poluição do Ar;
pode não ser válido em todos os casos. Quando lecular do gás, o que constitui um dos prin- Responsável do Centro de Tecnologias Ambientais
o fuelóleo contém metais, estes podem ori- cipais parâmetros de escoamento, juntamente do ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade,
ginar uma temperatura mais baixa de ponto com a temperatura do gás. Tagus Park, Apartado 119-2781 Oeiras Codex
de equilíbrio, dado que estes podem actuar Com base nestes valores, é agora possível
como catalizadores em relação às reacções calcular a temperatura do ponto de orvalho
BIBLIOGRAFIA
de oxidação. A redução da temperatura de dos gases ácidos pela equação (7). A tempe-
equilíbrio em cerca de 25ºC vai provocar ratura assim obtida por cálculo permite ava- [1] Muller, H., Energietechnick, 33, 415 (1983).
[2] Haase, R., Bargmam, H.W., Konosion,
um aumento do ponto de orvalho em cerca liar da possibilidade de corrosão da tubagem 15, 47 (1981).
de 1,5ºC. metálica tendo-se que: [3] Pierce, R.R., Chemical Engineering, 11 April,
125 (1977).
b) Considera-se que a pressão de operação i) para t > temperatura dos gases, não ha- [4] Verhoff, F.M., Banchero, J.T., Chemical Engineering
do processo de combustão é a atmosférica. verá riscos particulares de corrosão Progress, 70, 71 (1974).
[5] Lisle, E.S., Sensenbauch, J.D., Combustion, 36,
Normalmente, a pressão atmosférica na câ- ii) para t ≤ temperatura dos gases, haverá 16 (1965).
mara de combustão é ligeiramente diferente fortes riscos de corrosão [6] Okkes, A.G., Hydrocarbon Processing, 53, July
(1987).
da atmosférica: esta pressão pode ser infe- [7] Totman, R.S., Chemical Engineering, 63, 24 Dec.
rior no caso de uma fornalha de tiragem na- Naturalmente que devem ser tidas em conta (1984).
[8] Gomes, J.F.P., Ingenium, 71, 39 (1993).
tural, ou mais elevada no caso de uma cal- as limitações do método de cálculo referi- [9] Gomes, J.F.P., Tecnologia e Qualidade, 3, 32 (1991).
deira de recuperação de calor de uma uni- dos em 3 e, assim, recomenda-se que seja [10] Gomes, J.F.P., Tese de Doutoramento,
Instituto Superior Técnico, Lisboa, (1999).
dade de cogeração. Um desvio de 200 mantida uma margem adequada entre a tem-

Março/Abril 2007 | INGENIUM 155


DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

mais frequente [Neppel e col., 1988]. No-


meadamente, a maioria dos produtores de
fraldas incorporam-lhes poliacrilato de sódio,
(CH2=CHCOONa) [Glass e col., 1990],
obtido da neutralização (ainda que parcial)
e posterior polimerização do ácido acrílico,
CH2=CHCOOH. Nesta aplicação, a utili-
zação de superabsorvente tem o duplo ob-
jectivo de diminuir a espessura da camada e
aumentar o poder de absorção.
Outro potencial domínio de aplicação é na
agricultura e floresta, podendo-se conseguir
resultados tais como:
Melhoramento das condições ecológicas
em áreas desertificadas ou em vias de
desertificação, podendo mesmo o super-
absorvente ser o suporte da vida nestas

Polímeros Superabsorventes zonas;


Recuperação de solos por florestação;
Atenuação do impacto da seca;

Potencialidades e aplicações Incremento da retenção da água à super-


fície em solos aráveis, proporcionando me-
lhores condições de germinação às cultu-
Fátima Rosa, João M. Bordado, Miguel Casquilho * ras.
No campo da medicina, as aplicações dos
superabsorventes têm também apresentado
Resumo quantidades de água ou soluções aquosas, desenvolvimento notável, registando-se entre
como adiante se verá em detalhe. outras finalidades [Anon., 1985]:
O desenvolvimento de compostos macro- O conhecimento público dos primeiros re- Aplicação em lentes de contacto flexí-
moleculares capazes de absorver grandes vo- sultados aplicáveis dos polímeros superabsor- veis;
lumes de água ou de soluções aquosas é uma ventes remonta, segundo alguns autores [Bran- “Veículo” de libertação controlada de me-
das áreas recentes na investigação da quí- non-Peppas e col., 1990], ao início da dé- dicamentos (“slow release”).
mica dos polímeros. cada de 1970-80. Trabalhos determinantes Uma outra aplicação de muito interesse é a
Os polímeros deste tipo, designados habitual- neste domínio são atribuídos à investigação utilização no processo de separação [Grim-
mente por superabsorventes, têm despertado de Fanta e col. no Northern Laboratory (do shaw e col., 1988; Freitas e col., 1987] de
grande interesse nos últimos anos, numa pers- US Department of Agriculture) [Yamaguchi soluções diluídas de materiais orgânicos ou
pectiva de aproveitamento da sua elevada e col., 1987]. No início da década de 80, biológicos, como por exemplo para remover
absorção, dirigida a diversas aplicações tec- observava-se já um esforço crescente na pes- a água do soro do queijo [Cussler e col.,
nológicas. Esta capacidade de retenção tem quisa de aplicações possíveis destes mate- 1984]. Aplicam-se, também, em filtros de
sido utilizada, por exemplo, em produtos de riais, em novas tecnologias. combustíveis para remover a água como con-
uso higiénico, como as fraldas para bebés. Os superabsorventes têm sido habitualmente taminante.
Entre as mais recentes e prometedoras áreas produzidos pela polimerização de ácido acrí- Pode-se, pois, afirmar que, dada a importân-
de aplicação, encontra-se também o melho- lico, ésteres acrílicos, acrilamida e outros mo- cia potencial dos superabsorventes, há um
ramento de solos para utilização florestal ou nómeros insaturados [Chen e col., 1985]. Os claro interesse em continuar a investigação
agrícola, utilizando-se os superabsorventes, produtos assim obtidos podem reter, por alo- nesta área.
neste âmbito, para melhorar a capacidade de jamento entre moléculas, cerca de 100 a 1000
retenção de água pelo solo ou para recupe- g de água por grama de polímero inicialmente Aspectos gerais; classificação
rar zonas desertificadas. Também no campo seco [Ganapathy e col., 1989], estando a
da medicina se preconizam algumas aplica- maior ou menor capacidade de retenção con- A palavra “polímero” (termo técnico de ori-
ções com potencial interesse. dicionada por diversos factores estruturais. gem grega) indica, como se sabe, a presença
Os superabsorventes apresentam um vasto de muitas (poli-) partes (meros) constituti-
Introdução potencial de aplicação, encontrando-se mui- vas. No âmbito da Química, este termo
tas das aplicações ainda no início do seu de- aponta para a combinação de um número
Os polímeros superabsorventes são mate- senvolvimento. Presentemente, a absorção não especificado de unidades, os “monóme-
riais hidrofílicos capazes de absorver grandes de fluidos fisiológicos constitui a aplicação ros”, que se repetem na estrutura molecular

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QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

do polímero deles derivado, sendo então, polimerização [Allcock e col., 1981; Stevens, parte da solução fertilizante aí existente, que
neste contexto, designados simplesmente 1990]. Só daí em diante as aplicações práti- é retida em partículas de consistência gela-
por “meros”. O termo “polímero” é, pois, cas dos polímeros absorventes começaram a tinosa. À volta destas, as raízes podem cres-
utilizado para descrever substâncias de massa ter alguma importância. No início dos anos cer, extraindo, progressivamente, os elemen-
molecular tipicamente elevada. 70, e tendo a água como fluido, o trabalho tos fertilizantes assim retidos na zona super-
Este tipo especial de polímeros, que podem de Fanta e outros investigadores para o Nor- ficial do solo, precisamente onde têm maior
absorver quantidades consideráveis de flui- thern Laboratory (US Department of Agri- eficácia. Esta característica pode revelar-se
dos, tem vindo a ser designado por polímeros culture) revelou as extraordinárias potencia- decisiva (i) na cultura de plantas em vivei-
superabsorventes ou, mais simplesmente, su- lidades absorventes dos mencionados super- ros e nos períodos de pós-transplantação,
perabsorventes. O efeito de absorção resulta absorventes [Yamaguchi e col., 1987]. (ii) em espécies florestais, (iii) em espécies
do alojamento de moléculas relativamente agrícolas e (iv) em jardinagem [Masuda,
pequenas entre as moléculas do polímero, Principais aplicações 1983]. Na Figura 1 [(a) a (d)], apresenta-
que, assim, se afastam umas das outras. -se em forma esquemática o funcionamento
Por depender do contexto e da aplicação, o Nos últimos anos, várias aplicações de polí- do sistema em várias das suas fases.
critério de classificação em polímeros de meros superabsorventes têm-se revelado de Ao absorverem e armazenarem a água, os
baixo e alto peso molecular é mal definido. particular interesse. Uma parte significativa polímeros constituem reservas que permiti-
Concretamente, os polímeros de “muito do actual mercado tem sido relacionada com rão o crescimento sustentado das plantas,
baixo” peso molecular, isto é, com relativa- produtos de cuidados higiénicos, perspecti-
mente poucos meros, são habitualmente de- vando-se a utilização numa gama variada de
signados por oligómeros. outras aplicações, adiante detalhadas, tais A As partículas
de superabsorvente
A caracterização completa dos superabsor- como: agricultura em geral e medicina (cui- são dispersas no solo
ventes no que respeita à sua capacidade e ve- dados médicos). ao nível a que vão
ser incorporadas
locidade de absorção torna-se difícil. Por um as sementes.
lado, para um mesmo superabsorvente, a ca- (i) Aplicações na agricultura
pacidade de retenção de diversos fluidos é Sendo a água indispensável à vida na Terra, B
muito variável. Por outro lado, no que res- um dos mais graves problemas com que a
peita à velocidade de absorção, que depende agricultura se tem confrontado é a sua es- O superabsorvente
retém parte da água
de muitos factores, não existe um método cassez – em vários continentes –, que difi- das chuvas ou da rega.
único estabelecido para a sua determinação. culta o desenvolvimento e a sobrevivência
Uma definição qualitativa dum superabsor- das plantas, com a consequente diminuição
vente classifica-o como: um material que ab- da produção agrícola. Um outro problema
sorve espontaneamente quantidades de flui- que ultimamente tem adquirido crescente C
O superabsorvente
dos significativamente maiores do que podem importância é a contaminação dos solos e cede gradualmente
absorver os feltros de fibras ou outros ma- águas subterrâneas, resultante da lexiviação à planta a água retida,
re-hidratando-se
teriais convencionalmente absorventes [Chen de fertilizantes, fitofármacos e respectivos eventualmente
e col., 1985]. Os superabsorventes hidrofí- produtos de biodegradação (correntemente cada vez que ocorre
pluviosidade ou rega.
licos, quando imersos num excesso de água, designados por metabolitos).
expandem até ao seu volume de equilíbrio, Os polímeros superabsorventes, devido à sua
absorvendo água, mas não se dissolvem. Em grande capacidade de absorção de água, D Esgotada a água
geral, apresentam estabilidade mecânica, po- podem revelar-se muito úteis em casos como disponível, as partículas,
que entretanto
dendo resistir a repetidos ciclos de absorção- os citados, melhorando a capacidade de re- “encolheram”, retomam
-dessorção. tenção da água e nutrientes nos solos, assim a forma original
e deixam cavidades
se conseguindo uma mais adequada gestão que contribuem para
Os primeiros superabsorventes dos recursos hídricos disponíveis. De facto, um melhor arejamento
do solo.
além das perdas devidas à evaporação super-
Uma das propriedades que atraiu a atenção ficial, podem assumir especial relevância as
E
dos investigadores foi a interessante capaci- perdas por infiltração até camadas profun-
dade de alguns dos polímeros para absorve- das, tanto mais graves quanto mais ligeira ou O processo
é reversível perante
rem quantidades razoáveis de líquidos. Assim, arenosa for a textura do solo. Ambos os casos novo fornecimentos
durante o período de 1939-60, sintetizaram- resultam numa maior dificuldade por parte de água; as partículas
voltam a reter parte
-se vários polímeros absorventes, a par do das plantas no acesso à água que lhes é ne- da água infiltrada.
desenvolvimento que já se vinha registando cessária.
na química dos polímeros nos finais da dé- No que respeita à contaminação do solo, no-
cada de 1940, graças ao recurso a novos mo- meadamente por fertilizantes, os superab- Figura 1 – Fases do funcionamento do superabsorvente
nómeros e à descoberta de novas técnicas de sorventes, misturados com a terra, absorvem (representação esquemática)

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DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

pois o grau de humidade do solo torna-se cretas, podem citar-se a libertação da pros- indica, no entanto, que as aplicações destes
mais estável e as substâncias nutritivas vão taglandina E2 para indução do parto, forne- polímeros crescerão rapidamente no futuro
ter em geral um melhor aproveitamento. cimento de níveis adequados de morfina em próximo, porquanto não só apontam para a
As soluções dos nutrientes permanecerão analgesia pós-operatória e de insulina a dia- resolução de diversos problemas técnicos,
durante maiores períodos de tempo nas zonas béticos [Anon., 1985]. como também, concretamente, contribuem
do solo onde podem ser absorvidas pelas O poli(metacrilato de 2-hidroxietilo) (Figu- para a protecção do ambiente e uma melhor
plantas, verificando-se, em conclusão, que ra 2), polímero resultante do monómero gestão da água.
as plantas são alimentadas de forma mais CH2=C(CH3)COOCH2CH2OH, é um dos
eficiente. superabsorventes de interesse. Utiliza-se no Agradecimentos
É também de referir que a aplicação de su- revestimento de materiais cirúrgicos, tais como
perabsorventes atenua as variações da tem- cateteres, “by-passes”, cânulas, membranas A investigação subjacente a este estudo efec-
peratura do solo no ciclo diário em regiões de rins artificiais [Bruck, 1976], nomeada- tuou-se no Centro de Processos Químicos do
de clima extremo [Azzam, 1981], efeito que mente na forma de implantes, sendo utilizado Instituto Superior Técnico (Universidade Téc-
é plausível dado o alto calor específico da em quase todos os ramos da cirurgia. nica de Lisboa). Os autores pertencem ao De-
água. partamento de Engenharia Química (IST).
Pode, portanto, dizer-se que o interesse fun-
damental do uso de superabsorventes em
agricultura se centra na melhor gestão da água, * Departamento de Engenharia Química,
com a consequente redução de custos de ir- Instituto Superior Técnico
rigação e aumento de produtividade. Esta Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa – Portugal
acção pode revelar-se mesmo indispensável Tel.: 21 841 70 00 – Fax: 21 849 92 42
ao processo produtivo em situações onde a
escassez de água seja o factor limitante.

(ii) Aplicações na medicina


No âmbito da química dos polímeros, em
geral, e dos superabsorventes, em particular,
Figura 3 – Estrutura do poli(metacrilato de glicerilo)
é actualmente bastante activa a investigação REFERÊNCIAS
dirigida a materiais compatíveis com utiliza- • Allcock, H. R., F. W. Lampe, 1981, “Contemporary Poly-
ções em medicina – sendo-lhes por vezes Para a fabricação de lentes de contacto fle- mer Chemistry”, Prentice-Hall, Inc., New Jersey.
• Anonymous, 1985, “Drug delivery systems”, Chemistry
atribuída a designação de biomateriais [Rings- xíveis, pode mencionar-se a utilização de and Industry, 7, 6–9.
dorf, 1975], ainda que impropriamente. poli(metacrilato de glicerilo) (Figura 3), ou • Anonymous, 1992, “Covering the complexities of African
market”, Pests & Diseases, Brighton Crop Protection
É corrente a aplicação de polímeros supera- seja, poli[metacrilato de (1,2,3-tri- -hidro- Conference, special supplement, Nov..
bsorventes como suporte para medicamen- xipropilo)], devido à sua transparência em • Azzam, Reda, 1981, “RAPG for reclaiming and amelio-
rating soils and soilless substrates of hydroponic sys-
tos a serem difundidos de forma progressiva, relação à radiação visível e estabilidade de tems”. Egyptian Pat. N.º 311.
efeito este que se consegue por controlo da forma. • Bruck, Stephen D., 1976, “Polymeric materials in the
physiological environment”, Pure & Appl. Chem., 46,
difusão através do agregado de moléculas de 221–226.
polímero. Como aplicações comerciais con- Conclusão • Chen, Chyi-Cheng, Jayson C. Vassalo, Pronoy K. Chat-
terjee, 1985, “Synthetic and Natural Polymers”, Text. Sci.
Technol., 7 (absorbency), 197–216.
Desde há muito que as propriedades dos po- • Cussler, E. L., M. R. Stokar, J. E. Varberg, 1984, “Gels
as size selective extraction solvents”, AIChE Journal, 30,
límeros em geral têm sido aproveitadas. O 578–582.
caso específico dos superabsorventes tam- • Freitas, R. F. S., E. L. Cussler, 1987, “Temperature sen-
sitive gels as extraction solvents”, Chem. Eng. Sci., 42,
bém não é excepção, e desde o seu apareci- 97–103.
mento se tem procurado extrair vantagens • Glass, J. E., G. Swift, 1990, “Agricultural and Synthetic
Polymers. Biodegradability and Utilization”, Ed. Ameri-
das suas características únicas. can Chemical Society, Washington, DC, Chap. I, 2–4.
A propriedade típica dos polímeros superab- • Grimshaw, P. E., A. J. Grodzinsky, M. L. Yarmush, D. M.
Yarmush, 1988, Chem. Eng. Sci., 44, 827–840.
sorventes, isto é, poderem absorver água e • Masuda, F., 1983, “Super absorbent polymers – charac-
“inchar” em grau significativo sem se dissol- teristics and trends in development of applications”, Che-
mical Economy & Engineering Review, 15, 19-22, Nov..
verem, tem encontrado aplicações no campo • Ringsdorf, Helmut, 1975, “Structure and properties of
da higiene, medicina e, mais recentemente, pharmacologically active polymers”, J. Polymer Sci.:
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no âmbito da agricultura e da floresta. • Stevens, Malcolm P., 1990, “Polymer Chemistry: an in-
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• Yamaguchi, M., H. Watamoto, M. Sakamoto, 1987, “Super-
tação controlada de água para utilização na absorbent polymers from starch-polyacrilonitrile graft co-
Figura 2 agricultura não tem sido mais rápido mera- polymers by acid hydrolysis before saponification”, Car-
Estrutura do poli(metacrilato de 2-hidroxietilo) bohydrate Polymers, 7, 71–82.
mente por razões de ordem económica. Tudo

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QUÍMICA
DOSSIER COMUNICAÇÕES

Resumo
Processo Integrado de Filtração
Aplicou-se um processo integrado de filtra-
ção e secagem, num filtro prensa com mem-
branas, desenvolvido nos Laboratórios do
e Secagem de Efluentes Industriais
Centro de Processos Químicos da Univer-
sidade Técnica de Lisboa, a dois casos estu- * El Said I. El-Shafey 1, Paulo F.M.M. Correia 2, Jorge M.R. de Carvalho 3
dados.
No caso das suspensões das ETAR’s de cur-
tumes, conseguiu-se, após uma lixiviação siderados os filtros mais eficientes na redu- 2. Descrição do equipamento
ácida, seguida do processo integrado, obter ção da humidade dos bolos de filtração.
bolos de filtração descontaminados com teo- De uma maneira geral, em ETAR’s munici- Os estudos apresentados foram realizados
res de humidade da ordem de 20%, que po- pais ou industriais, os teores de humidade numa unidade piloto constituída por um fil-
derão ser utilizados na agricultura (directa- que se obtêm nas lamas produzidas são de tro prensa com membranas actuadas por
mente ou após compostagem), na produção 50 a 70%, quando se utilizam filtros prensa. água quente e com secagem do bolo através
de energia ou como matéria-prima para o O destino destas lamas em Portugal é o de um sistema de vácuo produzido por uma
fabrico de novos produtos, como é o caso aterro. Contudo, os custos de transporte e bomba de anel líquido (Fig. 1). Esta adap-
dos produtos cerâmicos. Os metais pesados colocação em aterro são proporcionais à to- tação ao filtro prensa convencional converte-
existentes no filtrado e nas águas de lavagem nelagem das lamas brutas, pelo que, se o teor o de um filtro de volume de câmara de fil-
(nomeadamente crómio, ferro e zinco) foram de humidade num bolo de filtração for re- tração fixo num filtro de “volume variável”
precipitados com carbonato de sódio, ob- duzido em 50%, os custos, atrás referidos, pelo uso de uma placa de filtração designada
tendo-se uma corrente líquida descontami- baixam para cerca de metade. por placa de diafragma ou de membrana
nada e um resíduo sólido concentrado em Nesta comunicação demonstra-se que um (Fig. 2). Este tipo de placa tem uma super-
metais pesados com cerca de 20% de humi- processo desenvolvido nos Laboratórios do fície flexível, que, quando selada nas suas
dade e de tonelagem bastante inferior à das Centro de Processos Químicos da Univer- extremidades, forma um diafragma que pode
lamas actualmente depositadas no aterro de sidade Técnica de Lisboa, à escala piloto, ser inchado para comprimir mecanicamente
Alcanena. pode resolver sérios problemas ambientais o bolo de filtração e permitir a remoção de
No caso do resíduo sólido resultante do pro- nas indústrias que produzem efluentes con- líquido adicional nele contido.
cesso de produção da cerveja, nomeadamen- taminados e, simultaneamente, contribuir O filtro é alimentado pelo orifício central
te da malteria, designado na gíria por “dre- para um programa de gestão de resíduos mais (orifício 1 da Fig. 2), que também serve para
che”, o processo desenvolvido permitiu obter eficaz. A tecnologia usa um processo de se- alimentação da água de lavagem e para a
um resíduo sólido estabilizado com cerca de paração sólido-líquido, recorrendo a um fil-
15% de humidade e de valor nutricional ele- tro prensa com membranas, em que se uti-
vado. liza água quente para dilatar as membranas
e em que os bolos de filtração são secos atra-
1. Introdução vés de um sistema de vácuo.
Apresentam-se dois casos estudados da apli-
A filtração é uma operação unitária sólido- cação do processo a efluentes e resíduos in-
-líquido em que se efectua a separação das dustriais: as suspensões das ETAR’s de curtu-
partículas sólidas de uma suspensão, recor- mes e o resíduo sólido resultante do processo
rendo ao escoamento através de uma bar- de produção da cerveja, nomeadamente da
Figura 1 – Vista geral da unidade
reira porosa, designada por meio filtrante. malteria, designado na gíria por “dreche”. integrada de filtração e secagem
Esta barreira é permeável à fase líquida – o
filtrado – e vai retendo a fase sólida, que se
acumula progressivamente sobre o meio fil-
trante e vai constituir o bolo de filtração.
Esta operação unitária é uma operação clás-
sica da Indústria Química, tendo tido tam-
bém larga aplicação a nível do tratamento
de efluentes industriais e domésticos.
Para levar a cabo esta operação unitária, são
utilizados vários tipos de filtros, entre os
quais se destacam os filtros prensa, pela sua
construção e manutenção simples e econó-
Figura 2 – Detalhe de uma placa de membrana
mica e pela sua flexibilidade[1], sendo con-

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saída do líquido resultante da sopragem do TABELA 1 – Etapas do processo Na Fig. 4, apresenta-se um diagrama esque-
integrado de filtração e secagem
orifício central (“Core-blow”). O orifício 2 mático do processo de tratamento. Realizou-
Duração
(Fig.2) serve para a entrada do ar de sopra- Etapa
típica (min.) -se uma lixiviação ácida, para libertação do
gem e para as saídas do filtrado e da água de 1. Fecho do filtro prensa com membranas 2 gás sulfídrico e solubilização do crómio e do
lavagem. Os orifícios 3, 4 e 5 (Fig. 2) ser- 2. Contracção das membranas 1 ferro presentes[3], seguida do processo in-
3. Pré-camada de terra de diatomáceas 10
vem apenas para as saídas referidas. Uma tegrado de filtração e secagem, anteriormente
4. Enchimento de filtro prensa 1–2
vez as placas unidas e o filtro fechado, o con- 5. Filtração 40 – 60 referido.
junto de orifícios, na mesma posição, forma 6. Sopragem do orifício central (“Core-blow”) 2 O efluente gasoso, contendo gás sulfídrico,
uma ligação às tubagens de entrada e saída 7. Compressão dos bolos pelas membranas 15 foi enviado para a unidade de dessulfuração,
do filtro prensa com membranas. Os orifí- 8. Sopragem por ar comprimido 5 constituída por três torres sequenciais de la-
9. Secagem sob vácuo e compressão simultânea
cios 1 a 5 (Fig. 2) servem também para a das membranas sobre os bolos aquecidos
15 – 60 vagem de gases, sendo lavado na primeira
saída do vapor de água, proveniente do bolo 10. Paragem do vácuo e obtenção da pressão
1 com solução aquosa de NaOH, na segunda
atmosférica
de filtração, na etapa de secagem sob vácuo. 11. Abertura do filtro 1 com hipoclorito de sódio e na terceira com
A secagem é realizada por circulação de água 12. Descarga dos bolos de filtragem e limpeza 3 solução diluída de ácido sulfúrico. O efluente
quente a 65ºC através das placas de mem- aquoso, rico em sulfatos, será enviado à ali-
brana do filtro (Fig. 3), a uma pressão de até 3. Casos estudados mentação da ETAR.
6 bar e por aplicação simultânea de vácuo
nas câmaras onde se formam os bolos de fil- 3.1. Suspensão de ETAR’s de curtumes
tração, levando a uma redução do ponto de Partiu-se da suspensão proveniente da ETAR
ebulição da água para 45ºC[2]. Podem-se de Alcanena, após os tratamentos primário
atingir diferentes níveis de secagem do bolo, e secundário. Devido à origem das águas re-
variando a duração desta etapa. siduais ser maioritariamente proveniente de
O ciclo do processo integrado consiste nas indústria de curtumes com curtimenta com
etapas de filtração, sopragem dos bolos, lim- crómio, a lama resultante, de elevado teor
peza da tubagem de alimentação da suspen- de humidade (50-60%, após estabilização),
Figura 5 – Resultados das análises químicas à fase
são por ar comprimido, lavagem dos bolos é considerada um resíduo perigoso, devido sólida, nas várias etapas do processo
(para garantir que a totalidade da sua humi- à presença de sulfuretos e metais pesados.
dade é água), actuação das membranas para Na Tabela 2, apresenta-se uma análise típica
comprimir os bolos e seu aquecimento atra- à suspensão resultante do espessamento das Na Fig. 5, apresentam-se os resultados das
vés da água quente que as actua, aplicação lamas dos decantadores primário e secundá- análises à fase sólida da suspensão, relativa-
de vácuo ao sistema (para evaporação da rio da ETAR de Alcanena, após digestão da mente aos principais poluentes presentes,
água), abertura, descarga dos bolos de filtra- amostra. ao longo do processo. Verifica-se que a lixi-
ção e limpeza do sistema. Na Tabela 1, apre- viação dos sólidos da suspensão (onde está
TABELA 2 – Análise à suspensão da ETAR de Alcanena
sentam-se valores típicos de duração de cada concentrada a poluição) a pH=0,7 permitiu
etapa. Parâmetro Valor a transferência da maior parte dos poluen-
Cr (ppm) 600
tes para a fase aquosa, que constitui o fil-
Fe (ppm) 950
Zn (ppm) 20
trado da etapa de filtração subsequente.
Sulfuretos (ppm) 160 Estes resultados são confirmados pelas aná-
pH 6,5 lises às fases aquosas provenientes das várias
%Sólidos 5 – 8% etapas do processo, apresentadas na Fig. 6.

Figura 4

Figura 3 – Pormenor do filtro prensa Diagrama esquemático do processo


com membranas aberto mostrando a entrada e saída de tratamento proposto para a ETAR de curtumes
da água de compressão em cada placa, de acordo
com a Figura 2.

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Com as lavagens sequenciais e subsequentes sentam-se resultados típicos obtidos, assim celulose (9%), lípidos (9%) e cinza (4%)[8].
do bolo de filtração com ácido sulfúrico e como os valores limites de emissão (VLE), É vendida como subproduto para a alimen-
água, houve um ligeiro decréscimo adicional de acordo com o anexo XVIII do Decreto- tação animal, devido ao seu elevado conte-
das concentrações dos elementos poluentes -Lei n.º 236/98. údo proteico. Contudo, constitui um resí-
dos bolos de filtração, mas a maior parte da duo orgânico difícil de preservar em condi-
TABELA 3 – Resultados do ensaio de precipitação
transferência para a fase aquosa ocorreu du- do filtrado com carbonato de sódio 1 M
ções ambientes, devido ao seu elevado teor
rante a etapa de filtração. de humidade (75-80%)[9] e à presença de
Fase liquída
Parâmetro Inicial
após pricipitação
VLE 2-4% de mosto residual[10], altamente fer-
Cr (ppm) 589 1,4 2,0 mentável, pela presença de açúcares. Depois
Fe (ppm) 937 0,8 2,0 de algumas horas de exposição ao ar, inicia-
Zn (ppm) 19,2 0,4 0,5
se um processo fermentativo no seio da “dre-
pH 0,7 9,0 6,0 – 9,0
che”, o qual causa perda de matéria seca e
modificações no produto que podem tornar
A lama obtida, com 20% de humidade média, perigoso o seu uso na alimentação animal.
poderá ser colocada em aterro, conseguindo- A preservação e a consequente comerciali-
Figura 6 – Resultados das análises químicas à fase se ganhos substanciais em termos da tone- zação da “dreche” seriam significativamente
líquida, ao longo das várias etapas do processo
lagem de lamas perigosas a depositar. Alter- melhoradas se o material fosse seco. Da sua
nativamente poderá ser sujeita a processos secagem, resultaria também uma redução
Na Fig. 7, apresenta-se a redução do teor de de recuperação selectiva do Cr(III) e do do volume de produto, com consequentes
humidade ao longo do processo. É de notar Fe(III) presentes, com vista à obtenção de economias nos custos de transporte e arma-
a redução de uma fracção significativa da hu- soluções concentradas de Cr(III) para reu- zenamento.
midade, antes da aplicação da etapa de se- tilização na curtimenta e de Fe(III) para uso
cagem por vácuo. como coagulante na ETAR de Alcanena, no-
No final do processo, pode-se considerar os meadamente extracção líquido-líquido[4,5]
bolos de filtração descontaminados, com um ou permuta iónica[6].
teor de humidade de cerca de 20%, como
um resíduo não perigoso, o qual poderá ser
utilizado na agricultura (directamente ou
após compostagem), na produção de ener-
Figura 9 – Humidade média dos bolos de filtração
gia ou como matéria-prima para o fabrico de no final de cada etapa do processo integrado de filtração
novos produtos, como é o caso de produtos e secagem da “dreche”
cerâmicos, evitando, deste modo, a sua iner-
tização e colocação em aterro de resíduos TABELA 4
perigosos, com elevados custos económicos Resultados das análises químicas ao bolo de filtração
sem revestimento por coadjuvante de filtração
e ambientais. Na Fig. 8, apresenta-se o as-
pecto de um bolo de filtração descontami- Parâmetro Valor (%)
Matéria seca (MS) 89,9
nado obtido.
Cinza (na MS) 3,9
Proteína Bruta (na MS) 26,7
Figura 8 – Aspecto de um bolo de filtração
Gordura Bruta (na MS) 8,9
descontaminado, obtido no processo integrado
de filtração e secagem Lenhina em detergente ácido (ADL) (na MS) 5,3
Fibra em detergente ácido (ADF) (na MS) 16,0
Fibra em detergente neutro (NDF) 56,9
Do processo descrito resulta uma redução
do volume de lamas perigosas produzido, a
separação dos poluentes presentes e a ob- Da aplicação do processo integrado de fil-
tenção de um resíduo sólido que poderá tra- tração e secagem, anteriormente exposto,
Figura 7 – Representação gráfica da humidade zer um valor acrescentado para o processo. obtiveram-se bolos de filtração com uma hu-
dos bolos de filtração no final de cada etapa midade da ordem de 15%, para bolos com
do processo integrado de filtração e secagem
3.2. “Dreche” da indústria cervejeira uma espessura média de 7×10–3 m (cf. Fig.
No nosso País, a indústria cervejeira produz 9). A humidade dos bolos de filtração pro-
Conforme apresentado na Fig. 4, os efluen- cerca de 95×106 kg de “dreche” por ano[7]. duzidos é reduzida adicionalmente quando
tes líquidos obtidos das etapas de filtração e A “dreche” é um resíduo sólido granular cas- armazenados em condições ambientes e ex-
sopragem dos bolos são sujeitos a precipita- tanho amarelado que resulta da separação postos ao ar atmosférico com uma humidade
ção com carbonato de sódio, ficando a quase do mosto, durante o processo de fabricação relativa média inferior a 30%, alcançando
totalidade do Cr e Fe presentes concentrada da cerveja, constituído por proteínas (31% um valor de equilíbrio de 10,1% em menos
no precipitado obtido. Na Tabela 3, apre- do peso seco), glícidos (31%), lenhina (16%), de dois dias[7]. Não foi observada qualquer

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DOSSIER COMUNICAÇÕES QUÍMICA

actividade bacteriana no bolo de filtração, e nas águas de lavagem (nomeadamente cró- 5. Agradecimentos
armazenado nestas condições, durante o pe- mio, ferro e zinco) foram precipitados com
ríodo de 1 ano[11]. carbonato de sódio, obtendo-se uma corrente Os autores desejam expressar os seus agra-
Logo, os níveis de secagem alcançados per- líquida descontaminada e um resíduo sólido decimentos ao Sr. Joaquim Gomes (Lusá-
mitem armazenar os bolos de filtração em concentrado em metais pesados com cerca gua), responsável pela ETAR de Alcanena,
condições ambientes, o que facilita a sua co- de 20% de humidade e de tonelagem bas- pelo fornecimento das amostras da suspen-
mercialização e seu uso na alimentação ani- tante inferior à das lamas actualmente depo- são estudadas; ao CTIC (Centro Tecnoló-
mal, nomeadamente na indústria de rações, sitadas no aterro de Alcanena. gico das Indústrias do Couro), por informa-
sem quaisquer constrangimentos temporais. O recurso ao processo integrado de filtração ções facultadas, ao Eng.º Francisco Ferreira
Na Fig. 10, apresenta-se o aspecto de um e secagem em filtro prensa com membranas do Amaral, director da Sociedade Central
bolo de filtração estabilizado. Os resultados permitiu também estabelecer um processo de Cervejas, pelo fornecimento das amos-
da sua análise são apresentados na Tabela 4. alternativo eficiente para secar a “dreche” tras de “dreche” e pelas informações pres-
Verifica-se que os bolos de filtração obtidos da indústria cervejeira num ciclo de opera- tadas; e à Prof. Luísa Falcão e Cunha, da
podem constituir um suplemento proteico ção, conseguindo-se uma diminuição do vo- Secção de Produção Animal do Instituto Su-
interessante para alimentação animal ou hu- lume de resíduos a tratar. Atingiu-se um perior de Agronomia, pela realização das aná-
mana. nível de secagem suficientemente elevado lises bioquímicas do bolo de filtração da “dre-
O filtrado obtido do tratamento pode ser para minimizar a degradação microbiana em che”. Dois dos autores (E.I. El-Shafey e
recirculado ao processo industrial de produ- condições de armazenamento, o que permite P.F.M.M. Correia) desejam agradecer à FCT
ção de cerveja. a comercialização da “dreche” estabilizada o apoio financeiro para a realização do tra-
para a alimentação animal e/ou para outros balho apresentado.
usos, sem quaisquer constrangimentos tem-
porais.
A tecnologia estudada apresenta vantagens 1 E-mail: [email protected],

económicas, não só no facto de se efectuar 2 E-mail: [email protected],

a filtração e secagem numa única etapa, mas 1 E-mail: [email protected]

também a nível de redução dos custos ener-


géticos, uma vez que o teor de humidade do * Centro de Processos Químicos
bolo de filtração, quando se inicia a etapa de da Universidade Técnica de Lisboa,
secagem, é muito inferior ao de outras tec- Instituto Superior Técnico,
nologias existentes. Além disso, o processo Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa
proposto possibilita a reutilização das cor-
Figura 10 – Aspecto de um bolo de filtração obtido no rentes líquidas, permitindo assim uma me-
processo integrado de filtração e secagem da “dreche”
lhor gestão de água.

4. Conclusões

Foi aplicado um processo integrado de fil-


tração e secagem em filtro prensa com mem-
branas a dois casos reais: as suspensões das
ETAR’s de curtumes e o resíduo sólido do
processo de produção da cerveja, nomeada- REFERÊNCIAS
mente da malteria, designado na gíria por [1] Gomide, R., “Filtração”. In: Operações unitárias – 3.º [7] El-Shafey, E. I.; Gameiro, M.L.F.; Correia, P.F.M.; Car-
“dreche”. volume: separações mecânicas, R. Gomide, São Paulo, valho, J.M.R., “Dewatering of brewer’s spent grain
1980, pp. 79-149. using a membrane filter press: a pilot plant study”,
No caso das suspensões das ETAR’s de cur- [2] Owners manual, Serial #JV0044 US Filter, Holland, Sep. Sci. Technol. (in press).
tumes, conseguiu-se obter bolos de filtração USA, 2000. [8] Prentice, N.; Refsguard, J.M., “Enzymatic hydrolysis
[3] Garcia, G.; Pereira, F.; Conceição, S.; Carvalho, J.M.R.; of brewer’s spent grain”, J. Am. Soc. Brew. Chem.
descontaminados com teores de humidade Correia, M.J.N. “Removal of chromium from tannery 36 (1978) 196-200.
da ordem de 20%, que poderão ser utilizados sludges”, 8th International Chemical Engineering Con- [9] Santos, M.; Jimenez, J. J.; Bartolome, B.; Gomez-or-
ference - CHEMPOR’01, Aveiro, 2001, pp. 1559- doves, C.; del Nozal, M. J., “Variability of brewer´s
na agricultura (directamente ou após com- -1566. spent grain within a brewery”, Food Chem. 80(1)
postagem), na produção de energia ou como [4] Pandey, B.D.; Cote, G.; Bauer, D., “Extraction of chro- (2003) 17-21.
mium (III) from spent tanning baths”, Hydrometallurgy [10] Valverde, P., “Bagazo y su futuro”, Cerveza y Malta
matéria-prima para o fabrico de novos pro- 40 (1996) 343-357. 122 (1994) 7-26.
dutos, como é o caso dos produtos cerâmi- [5] Ismael, M.R.C. “Remoção de Ferro por Extracção Lí- [11] El-Shafey, E.I.; Correia, P.F.M.M.; Carvalho, J.M.R.,“Secagem
quido-Líquido”, Tese de doutoramento em Engenha- da dreche da indústria cervejeira usando um filtro
cos, evitando, deste modo, a sua inertização ria Química, Instituto Superior Técnico, Universidade prensa com membranas”. In: 8.ª Conferência Nacio-
e colocação em aterro de resíduos perigosos, Técnica de Lisboa, 2000. nal de Ambiente, Lisboa (aceite para apresentação
[6] Rengaraj, S.; Yeon, K.-H.; Moon, S.-H., “Removal of oral).
com elevados custos económicos e ambien- chromium from water and wastewater by ion exchange
tais. Os metais pesados existentes no filtrado resins”, J. Hazard. Mat. B87 (2001) 273-287.

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