O Samba Canção

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Centro de Artes
Conservatrio de Msica
Bacharelado em Composio Musical

Trabalho para a disciplina de Histria da Msica Brasileira II

A HEGEMONIA DO SAMBA-CANO NA MSICA BRASILEIRA


Resumo do cap. 4.3 do livro Uma histria da Msica Popular Brasileira,
de Jairo Severiano

Roberto Porto
Rogrio Rodrigues

Pelotas, agosto de 2014.

Este trabalho tem como finalidade apresentar, de forma resumida, um gnero


musical muito popular no Brasil chamado de samba-cano. Nossa pretenso tentar
contextualizar, descrever e entender seu papel na histria da msica brasileira, tendo
como base o capitulo 4.3 do livro Uma histria da msica popular brasileira (2008) de
Jairo Severiano, alm de informaes relevantes pinadas de outros materiais
relacionados.
O samba-cano uma importante variante do samba carioca que surgiu ainda
na dcada de 1920. O gnero, que ainda revisitado hoje em dia, teve seu apogeu no
fim dos anos 1940. Na dcada de 1950, o samba-cano se desdobrou em algumas
vertentes, sendo as mais importantes a bossa nova e a msica brega.
Neste gnero hbrido, o samba tocado com um andamento bem mais lento,
guiado por uma melodia romntica e pelas letras sentimentais. Tambm conhecido
como o samba de meio de ano por ser feito fora do ciclo carnavalesco e
pejorativamente classificado como msica de dor de cotovelo por apresentar, por
vezes, letras demasiadamente dramticas. importante ressaltar que apenas em 1929 o
termo samba-cano aparece na imprensa brasileira e apesar do sucesso de algumas
destas primeiras composies como Linda Flor, de Henrique Vogeler, Cansei, de
Sinh e Na batucada da vida, de Ary Barroso e Luis Peixoto, o samba-cano
demorou aproximadamente 20 anos para assumir a hegemonia da msica romntica
feita no Brasil.
A ascenso do samba-cano aconteceu em um perodo conturbado da histria
do Brasil, que passava pela ditadura de Getlio Vargas, e do mundo que viveu os
horrores da segunda guerra mundial (1939-1945) e do holocausto. possvel associar o
pessimismo das letras com o sentimento geral em relao a guerra, conforme afirma
Andr Diniz (2006):
O ps-guerra foi marcado por um clima depressivo nas artes; em todo o
mundo, predominava um sentimento de melancolia e luto pela perda abrupta
de milhes de vidas. Nesse contexto, o samba ganha uma roupagem de
samba-cano, com letras que falam de desamores e infortnios. (P. 146)

O samba-cano tambm se desenvolveu em paralelo com importantes


tecnologias da industria fonogrfica, com a chegada da comunicao de massa e a
popularizao do disco. Esses fatores garantiram o amplo alcance do samba-cano e de
seus interpretes e compositores. necessrio apontar que nesta poca o Brasil recebeu

uma grande quantidade de produtos culturais norte-americanos (reflexo da poltica de


boa vizinhana americana em tempos de guerra) e latinos, nas reas da msica e do
cinema em especial, produtos estes que tiveram grande influncia no que veio a se
tornar o samba-cano e toda a msica comercial brasileira a partir deste perodo.
Os principais ritmos e estilos que mesclaram-se ao samba para dar origem ao
que se conhece por samba-cano hoje foram o bolero, a guarnia, o tango e as canes
romnticas do jazz americano. Nas letras, o gnero foi influenciado por propostas
poticas europeias ligadas a filosofia existencialista (Diniz, 2006, P.148) e por um
vocabulrio rebuscado e melodramtico. Muitas vezes, nos arranjos, buscava-se por
sonoridades e efeitos orquestrais tidos como sofisticados. Alguns autores utilizam o
termo semi-erudito para classificar essas aspiraes e pretenses do samba-cano.
As diferentes influncias sofridas pelo samba-cano o dividiram em duas
grandes vertente: o samba-cano tradicional e o moderno. O primeiro deles tinha
como principal inspirao os modelos consagrados na Era de Ouro e seguiam a escola
de compositores veteranos como Lupcnio Rodrigues e Herivelto Martins, mas que foi
ficando cada vez mais melodramtico e acabou por perder o interesse da classe mdia e
do ouvinte instrudo por conta de sua esttica do excesso. O samba-cano
sofisticado, ou moderno, inspirou-se bem mais na msica norte-americana, em
especial no jazz, e seus fenmenos pop como o cantor Frank Sinatra. Esta mistura de
um samba mais lento com a harmonia do Cool Jazz era tido como uma msica de maior
sofisticao e bom gosto agradando uma parcela mais abonada da sociedade carioca e
brasileira. Quanto mais se diferenciavam, se aprofundando em suas prprias
caractersticas, mais prximos ficava a vertente tradicional do que viria ser a msica
brega e a jovem guarda e a vertente moderna do que se tornaria a bossa nova. Sobre
esta transio, o msico e escritor Luiz Tatit (2008) afirma:
A bossa nova constituiu, assim, uma triagem de ordem esttica, cujo gesto
fundamental de eliminao dos excessos passou a ser constantemente
reconvocado pelos agentes musicais toda vez que se faz necessrio sanar
alguma exorbitncia no mundo da cano. (P.101)

difcil a tarefa de apontar os grandes nomes do samba-cano, no que se


refere a composio e interpretao, visto que desde os grandes sambistas da Era de
Ouro, como Noel Rosa (ltimo desejo, de 1938 e Pra que mentir, de 1937), Cartola
(As rosas no falam, de 1976) e Nelson Cavaquinho (A flor e o espinho, de 1957),
mestres do samba cvico como Ary Barroso (Na batucada da vida, de 1936), grandes

nomes da bossa nova, como Tom Jobim (Se todos fossem iguais a voc, de 1957 e
Tereza da praia, de 1954) e artistas que atuaram em diferentes vertentes da cano,
como Dorival Caymmi (Marina, de 1947) tem grandes msicas neste gnero. Como
forma de condensar um nmero maior de artistas de maneira mais prtica, apresentamos
a tabela abaixo com nomes que no poderiam deixar de ser mencionados. Para uma
consulta mais completa recomendamos o livro A cano no tempo: 85 anos de msica
brasileira, vol.1 de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, onde um grande nmeros
de

msicas

brasileiras

so

catalogados

cronolgicamente

com

uma

breve

contextualizao.

Compositor(es)

Msica

Ano

Interprete(es)

Henrique Vogeler e

Linda Flor (Yay)

1929

Aracy Cortes

Sinh

Cansei

1929

Mario Reis

Ary Barroso e

No rancho Fundo

1931

Elisa Coelho

Copacabana

1946

Dick Farney

Marina

1947

Dorival Caymmi, Nelson

Luiz Peixoto

Lamartine Babo
Joo de Barros e
Alberto Ribeiro
Dorival Caymmi

Gonalves, Dick Farney


Jos Maria de Abreu e

Ser ou no ser

1948

Dick Farney

Na batucada da vida

1936

Carmem Miranda,

Alberto Ribeiro
Ary Barroso e Luiz
Peixoto

Dircinha Batista, Elis


Regina, Tom Jobim.

Lupcnio Rodrigues

Nervos de ao

1947

Francisco Alves,
Paulinho da viola, Elza
Soares

Antonio Maria e

Ningum me ama

1952

Fernando Lobo
Tom Jobim

Nora Ney, Nat King


Cole, Lucio Alves

Por causa de voc

1957

Maysa, Dolores Duran,


Frank Sinatra

Tom Jobim e Vinicius

Se todos fossem

de Moraes

iguais a voc

1957

Tom Jobim, Maysa, Gal


Costa, Milton
Nascimento, Baden
Powell

Nelson Cavaquinho

A flor e o espinho

1957

Elizeth Cardoso, Nelson


Cavaquinho, Maria
Bethnia

Jayme Redondo

Saudade

1929

Dalva de Oliveira

Referncias Bibliogrficas:
DINIZ, Andr. Almanaque do samba: A histria do samba, o que ouvir, o que ler, onde
curtir. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
SEVERIANO, Jairo, MELLO, Zuza Homem de. A cano no tempo: 85 anos de msica
brasileira, vol.1: 1901-1957. So Paulo: Editora 34, 1997.
SEVERIANO, Jairo. Uma histria da msica popular brasileira: das origens
modernidade. So Paulo: Editora 34, 2008.
TATIT, Luiz. O sculo da cano. Cotia: Ateli Editorial, 2004.

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