Reserva Extrativista Marinha de Itacaré: Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental Da Área Proposta e Das Comunidades Extrativistas Beneficiárias
Reserva Extrativista Marinha de Itacaré: Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental Da Área Proposta e Das Comunidades Extrativistas Beneficiárias
Reserva Extrativista Marinha de Itacaré: Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental Da Área Proposta e Das Comunidades Extrativistas Beneficiárias
2001
Reserva Extrativista Marinha de Itacaré
Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental da Área Proposta e
das Comunidades Extrativistas Beneficiárias
Editores:
Ronaldo Weigand Jr.
Rubens Lopes
Apoio:
Prefeitura Municipal de Itacaré
Asperi
Colônia Z-18
Jupará
Restaurante Senzala
Supermercado Estrela
Supermercado Itacaré
Supermercado São Miguel
Hortifruti Oliveira
Supermercado Mateus
Supermercado Pituba
Supermercado Menor Preço
Posto São Miguel
2001
1
Ficha Catalográfica:
Weigand Jr., Ronaldo; Lopes, Rubens (editores). Reserva Extrativista
Marinha de Itacaré: Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental da
Área Proposta e das Comunidades Extrativistas Beneficiárias. Itacaré:
Grupo de Trabalho pela Criação da Reserva Extrativista Marinha de
Itacaré; Ilhéus: Universidade Estadual de Santa Cruz, 2001. 142p.
1. Reserva Extrativista, 2. Diagnóstico Rural Participativo, 3.
Comunidades Pesqueiras, I. Título
Reserva Extrativista Marinha de Itacaré
Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental da Área Proposta e
das Comunidades Extrativistas Beneficiárias
Índice
Glossário................................................................................................................................ iii
Prefácio.................................................................................................................................iv
1. Introdução..................................................................................................................... 1
2. Área Proposta para a Reserva Extrativista Marinha de Itacaré ............................... 3
3. Métodos......................................................................................................................... 5
4. Itacaré ........................................................................................................................... 7
5. Comunidades ............................................................................................................... 7
6. Recursos Naturais ........................................................................................................ 22
7. Utilização dos Recursos Marinhos .............................................................................. 34
8. Rios e Estuários............................................................................................................. 48
9. Potencial para Aquacultura ...................................................................................... 65
10. Potencial ecoturístico ............................................................................................. 68
11. Organizações de importância para a comunidade pesqueira......................... 71
12. Conflitos e Direitos Tradicionais .............................................................................. 81
13. Históricos Participativos ........................................................................................... 89
14. Conclusões e Diretrizes para o Plano de Desenvolvimento da Reserva
Extrativista Marinha de Itacaré ......................................................................................... 92
Referências Bibliográficas ............................................................................................... 102
Anexo 1: Reservas Extrativistas Terrestres no Brasil. ........................................................ 107
Anexo 2: Calendário Geral de Atividades Desenvolvidas ........................................... 108
Anexo 3: Atividades de DRP Desenvolvidas em Cada Comunidade ........................ 110
Anexo 4: Amostragens realizadas no estuário do Rio de Contas................................ 118
Anexo 5: Lista de organismos do zooplâncton encontrados em Abrolhos, típicos da
Corrente do Brasil, possivelmente comuns na plataforma continental de Itacaré. . 120
Anexo 6: Resultados das amostragens de plâncton no estuário do Rio de Contas . 122
Anexo 7: Lista de espécies fitobênticas identificadas em Itacaré .............................. 127
Anexo 8: Fotos e lista das espécies de peixes coletadas em Itacaré ........................ 128
Anexo 9: Espécies do Rio de Contas citadas pela comunidade do Porto de Trás. .. 135
ii
Anexo 10: Lista parcial das espécies de zoobentos coletadas dentro da área
proposta para a RESEX – Itacaré (nomenclatura e classificação segundo Brusca &
Brusca, 1996) .................................................................................................................... 136
Anexo 11: Nomes comuns de espécies da fauna conhecidas no ecossistema do Rio
de Contas próximo a Taboquinhas. ............................................................................... 140
Anexo 12: Dados biológicos adicionais sobre crustáceos decápodos da região de
Taboquinhas, Itacaré....................................................................................................... 141
iii
Glossário
Asperi: Associação dos Pescadores e Marisqueiras de Itacaré, entidade com 24
barcos B-18 financiados pelo Banco do Nordeste, e uma infra-estrutura para
conservação do pescado, incluindo câmara frigorífica e fábrica de gelo.
Barco B-18: embarcação menor que o "guincho" (ver abaixo), equipada com motor
diesel B-18, ou semelhante, que pode ser usada para a pesca de camarão, de rede,
espinhel ou linha. Muitas vezes, é usada também para transporte de turistas.
CNPT/Ibama: Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações
Tradicionais, do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - Ibama. Responsável pela criação e gestão das reserva extrativistas.
Colônia Z-18: Entidade responsável pela organização e cadastramento dos
pescadores e marisqueiras de Itacaré e região.
Diagnóstico Rural Participativo – DRP: método para envolver comunidades no
diagnóstivo de seus problemas, identificação e planejamento de soluções, e na
implementação das ações planejadas, visando o empoderamento comunitário.
Empoderamento: aumento do poder de uma pessoa ou grupo, que pode ser em
relação a outras pessoas e outros grupos, em relação aos seus próprios objetivos, em
relação à sua participação nos processos decisórios, etc.
Grupo de Trabalho pela Criação da Reserva Extrativista Marinha de Itacaré - GT:
grupo formado por pescadores e marisqueiras de Itacaré, que vem trabalhando
voluntariamente desde 1999 na educação e organização da comunidade para a
criação da Resex Marinha de Itacaré.
Guinchos: embarcação para a pesca industrial de camarão, equipada com
tongones e guinchos para arrasto e levantamento da rede.
Normas da Reserva (Plano de Utilização): conjunto de normas e regras que guiam o
comportamento dos extrativistas, seus direitos e deveres, e as penalidades aos
infratores. Propostas pela comunidade, as Normas devem ser aprovadas pelo
Ibama, e tornam-se parte do contrato de concessão do direito real de uso, firmando
o compromisso da comunidade com o uso sustentável dos recursos naturais.
Plano de Desenvolvimento: O conjunto dos objetivos e estratégias de
desenvolvimento da comunidade extrativista, que deve guiar e organizar as ações
de implantação da resex.
Plano de Utilização: o mesmo que Normas da Reserva.
Resexs: reservas extrativistas, isto é, áreas pertencentes ao Estado, destinadas ao
desenvolvimento sustentável de populações que vivem principalmente da extração
sustentável de recursos do ambiente natural.
iv
Prefácio
Muitas são as histórias de como tudo começou. Esta é apenas uma das versões.
Houve o caso dos botos que morreram na praia, que motivou a criação da
entidade Boto Negro, e também sua movimentação para a criação de uma área
protegida, uma APA marinha. Depois, houve também um problema com os
guinchos, e a motivação de algumas pessoas para a criação de uma reserva
extrativista (Resex) marinha. Grem, dono de pousada em Itacaré, conhecia em
Arraial do Cabo, onde uma resex marinha já existia, o funcionário do Ibama Fábio
Fabian e o chamou para um encontro em Itacaré. A partir desse encontro, surgiu o
primeiro movimento pela criação da Reserva, liderado por Grem e Professor
Raimundo, na época, presidente da Associação dos Pescadores e Marisqueiras de
Itacaré - Asperi. Um abaixo-assinado solicitando a Reserva foi encaminhado ao
Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais -
CNPT/Ibama, mas um requisito básico era a organização da comunidade. Em
março de 1999, Professor Raimundo convidou Ronaldo Weigand Jr., consultor em
desenvolvimento comunitário participativo, para desenvolver um trabalho nesse
sentido na comunidade. Ronaldo conseguiu apoio da ONG de Cooperação
Internacional Terra Nuova, da ONG Jupará, e do CNPT/Ibama. A Asperi e a Colônia
conseguiram apoio de pousadas, da Prefeitura Municipal de Itacaré, do Programa
de Educação Ambiental da APA de Itacaré/Serra Grande.
Em agosto de 1999, o trabalho de organização comunitária começou, com dois
cursos, ministrados por Ronaldo, um em métodos participativos, para técnicos locais,
e outro em liderança e organização comunitária, para pescadores e marisqueiras.
Os cursos resultaram na formação do Grupo Resex, formado por pessoas da
comunidade pesqueira, e um grupo de "assessores", formado pelos "técnicos", que
logo se desarticulou, sendo que alguns dos seus membros (Cláudio Lôpo e Angélica)
foram escolhidos pelo Grupo Resex para acompanhar o seu trabalho.
Esse movimento também passou a receber a orientação de Luiz Souto e Mera, da
ONG Jupará, e do próprio CNPT/Ibama (Rafael Pinzón e Alexandre Cordeiro), em
três visitas a Itacaré. Várias pessoas do Grupo Resex também visitaram a Resex de
Arraial do Cabo, e puderam ver de perto uma resex funcionando. A viagem a
Arraial do Cabo recebeu apoio da comunidade e do comércio de Itacaré, e do
Jupará, entre outros. Em fevereiro, criou-se então o Grupo de Trabalho pela Criação
da Reserva Extrativista Marinha de Itacaré, formado por pescadores, marisqueiras e
pelos assessores que já acompanhavam o Grupo Resex.
Também em fevereiro de 2000, Ronaldo contatou o Núcleo de Oceanografia da
UESC e propôs o seu envolvimento no diagnóstico participativo e laudo biológico da
Resex. A proposta foi recebida com entusiasmo pelos professores e pesquisadores
da UESC que aos poucos foram se envolvendo com a Reserva e sua proposta
participativa.
A tarefa principal do Grupo de Trabalho na época era educar a comunidade
pesqueira a respeito da Resex e também aplicar os questionários que deveriam ter
v
1. Introdução
A base principal de sustentação das comunidades pesqueiras da costa da Bahia é
a pesca de peixes, camarões, lagostas, caranguejos e outras espécies marinhas.
Pescadores e marisqueiras obtém esses recursos nos manguezais, baías e em mar
aberto, ambientes que têm diferentes graus de conservação de acordo com a
região. A atividade pesqueira é de
grande importância para a Bahia,
empregando cerca de 40 mil pescadores
e mais de nove mil embarcações (MMA,
1998). Apesar disso, poucos são os
estudos do potencial pesqueiro do
Estado, principalmente para o litoral sul.
A pesca realizada em Itacaré, assim
como em todo o litoral da Bahia, é
essencialmente artesanal. A Figura 1
mostra os territórios tradicionais de pesca
artesanal do sul da Bahia, segundo
Cordell (1989).
Segundo os dados do MMA (1998), a
produção de pescado marítimo e
estuarino no Estado da Bahia, no ano de
1998, atingiu cerca de 41 mil toneladas.
De acordo com a mesma fonte do MMA,
a arte de pesca mais utilizada, isto é,
responsável pela maior parte da captura
de peixes, é a linha. A pesca do
camarão, realizada com redes de arrasto,
também apresenta grande importância.
Não existem dados de captura por Figura 1: Territórios pesqueiros do sul da
espécie, mas por categoria, isto é, Bahia (Fonte: Cordell 1989)
espécies diferentes agrupadas pelo
mesmo nome popular. As categorias de
peixes mais capturadas são os cações, xaréus, badejos, cavalas, bonitos e arraias.
As espécies costeiras mais valorizadas são as capturadas com linha, em substratos
de cascalho ou próximas de afloramentos rochosos, tais como badejos, robalos,
ciobas, dentões e vermelhos.
Na maior parte, os recursos pesqueiros da Bahia já se encontram degradados
devido à superexploração e ao uso de práticas nocivas, como a pesca com
explosivos. Diversas áreas de manguezais, berçários de grande parte das espécies
marinhas, encontram-se ameaçados de ocupação e degradação. Em mar aberto,
a pesca industrial tem sido especialmente nociva, com barcos de pesca de
camarão equipados com guinchos e tongones destruindo o fundo do mar com suas
redes de arrasto. A cada ano, esse processo tem destruído, mundialmente, uma
2
3. Métodos
O trabalho de diagnóstico foi baseado no Diagnóstico Rural Participativo – DRP, um
método para envolver comunidades no diagnóstivo de seus problemas,
identificação e planejamento de soluções, e na implementação das ações
planejadas, visando o empoderamento comunitário. O DRP é definido por Robert
Chambers (1994) como uma "família crescente de abordagens e métodos para
capacitar pessoas locais (rurais e urbanas) para expressar, fortalecer, compartilhar, e
analisar seu conhecimento de vida e condições locais, a planejar e a agir". O
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método vem sendo aplicado mundialmente, com ótimos resultados e, por isso, tem
sido recomendado por diversas agências de desenvolvimento. O objetivo final do
DRP é empoderar as comunidades na gestão do seu desenvolvimento.
Foram realizadas reuniões de DRP e visitas nas seguintes comunidades:
Comunidades urbanas:
Porto de Trás
Banca do Peixe
Forte
Passagem/ Marimbondo
Comunidades rurais:
Piracanga
Itacarezinho
Campo Seco
Comunidades ribeirinhas próximas a Itacaré
Comunidade urbana/rural:
Taboquinhas (inclui sub-comunidades urbanas e rurais no distrito de
Taboquinhas).
O calendário das atividades realizadas encontra-se no Anexo 2. Em todas as
comunidades, foram promovidos mapas participativos dos recursos naturais e
dinâmicas de grupo. Em boa parte, também foram promovidos os seguintes
exercícios de DRP: diagrama institucional, pirâmide social, histórico dos recursos
naturais e mapa participativo da comunidade. As atividades realizadas em cada
comunidade estão detalhadas no Anexo 3.
Paralelamente ao DRP nas comunidades, uma equipe de pesquisadores do Núcleo
de Estudos Oceanográficos (NEO) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC),
além de participar de reuniões de diagnóstico participativo em comunidades
representativas do uso dos recursos naturais da área da futura Reserva Extrativista
Marinha de Itacaré, desenvolveu procedimentos de campo para a coleta e
identificação de material biológico. As comunidades pesqueiras da Banca, do Forte
e do Porto de Trás foram envolvidas na coleta de espécimes de peixes e outros
organismos para identificação. A equipe da UESC também acompanhou
desembarques de peixes nessas comunidades. Os espécimes de grande porte
(devido ao seu maior valor econômico) foram apenas fotografados, e os de
pequeno porte foram doados pela comunidade para identificação em laboratório.
Além disso, os pesquisadores da UESC fizeram visitas de campo e coletas em
Piracanga, no estuário do Rio de Contas, nos costões rochosos e corais entre o Farol
e a Praia da Ribeira, na Praia de São José e no trecho do Rio de Contas a montante
de Taboquinhas (do Pé da Pancada à Cachoeira do Fumo). Apesar dessas coletas
não terem representatividade estatística, elas forneceram uma lista inicial das
espécies ocorrentes na área. O envolvimento da comunidade possibilitou a larga
abrangência do levantamento em termos de área, além do conhecimento popular
7
4. Itacaré
O município de Itacaré está localizado no litoral sul da Bahia, sendo a sede a 70 km
ao norte de Ilhéus, e tem uma área de 730 km 2. De acordo com os dados
preliminares do Censo 2000, o município tem 18.105 habitantes, sendo 7.942
moradores da zona urbana, e 10.163 da zona rural. Há 60 estabelecimentos de
ensino fundamental, com 4.144 matrículas, e somente um estabelecimento de
ensino médio. Há também somente um hospital.
O clima úmido fez Itacaré e sua região propícios para a lavoura de cacau, sendo
que Itacaré já foi um importante porto exportador. Contudo, nos anos 90, a doença
vassoura-de-bruxa destruiu as roças de cacau, deixando boa parte da população
desempregada. A economia do município passou então a basear-se na pesca e no
turismo que, com o asfaltamento da BA-001, estrada que liga Itacaré a Ilhéus,
recebeu um novo impulso. O projeto turístico de Itacaré tem forte ênfase no
chamado "ecoturismo", sendo que a própria Área de Proteção Ambiental Itacaré/
Serra Grande, criada em 1993, tem um forte direcionamento para conservar as
paisagens de que o turismo depende.
A implementação da APA enfrentou muita resistência por parte da população
local. De um lado, veio a impedir parcialmente a atividade de madeireiros na
região, e a disputar poder com os canais estabelecidos de decisão. Por outro, a
APA colocou também limites às ações de pequenos produtores e da população
carente, cujo uso da natureza sempre foi uma forma de vencer a sua situação de
pobreza. A forma como a APA foi criada e implementada recebe muitas críticas da
população local, que faz acusações de autoritarismo, hipocrisia e falta de
participação. Com a Reserva Extrativista, um dos desafios foi vencer a desconfiança
da população local e desenvolver um trabalho reconhecidamente participativo.
5. Comunidades
Como foi dito acima, o diagnóstico participativo envolveu atividades e visitas em
nove comunidades pesqueiras do Município de Itacaré (incluindo uma na divisa
com Maraú). Entretanto, a divisão da população pesqueira de Itacaré como um
todo nessas nove comunidades foi realizada pelo Grupo de Trabalho pela Criação
da Reserva Extrativista Marinha de Itacaré, em função das afinidades e da
identidade percebidas entre as pessoas de diversos locais e da conveniência dessa
divisão para a realização do diagnóstico participativo e para o trabalho de
organização comunitária. Por exemplo, Marimbondo e Passagem são dois bairros de
Itacaré, e foram tratados como sendo uma só comunidade. O próprio bairro do
Marimbondo pode ser subdividio em Marimbondo, Nova Brasília, e outros. Isto é, a
divisão em comunidades aqui descrita reflete uma decisão do Grupo de Trabalho,
de acordo com sua vivência em Itacaré e com as possibidades de tempo e recursos
8
está sendo feita sobre onde a água escoa de um lado do Bairro para a Baixa da
Gia. A falta de saneamento básico no bairro representa um grande perigo à saúde
pública, especialmente para as crianças, que adoecem em contato com o esgoto.
Quanto ao abastecimento de água, todas as casas do Porto de Trás estão de
alguma forma conectadas à rede pública de água. Algumas estão com o
abastecimento cortado por falta de pagamento, outras têm ligações irregulares na
rede pública.
O Bairro recebe energia elétrica e tem iluminação pública na rua principal. As casas
da Baixa da Gia não estão diretamente ligadas à rede elétrica, mas se utilizam de
ligações a casas de parentes e outros na rua de cima. Falta iluminação pública na
Baixa da Gia e na Rua da Jamaica, onde há postes mas não há lâmpadas.
O Bairro não possui telefones públicos. Para telefonar, os habitantes têm que ir a
outros bairros e não podem receber chamadas. O telefone já foi pedido várias vezes
à TeleBahia (hoje Telemar), mas a empresa teria alegado que os custos são muito
elevados.
Quanto a habitação, as casas da rua principal (R. 16 de Dezembro) do Bairro são na
maioria construídas parede a parede, coladas, sem qualquer espaço separando-as.
Houve dois registros de falta de moradia. A Baixa da Gia é uma área nova de
ocupação e há pessoas no bairro que esperam poder ter um lote lá, com "ajuda do
Prefeito". Na Baixa da Gia e outras áreas novas do bairro se concentram as casas de
madeira, algumas vezes mais precárias. As casas de alvenaria se concentram nas
partes mais antigas (R. 16 de Dezembro).
Somente a rua principal do Porto de Trás é calçada. As outras não são propriamente
ruas, mas sim caminhos precários, cheios de valas onde corre esgoto e sem
condição de trafegabilidade (Figuras 2 e 3).
A coleta de lixo no Porto de Trás é feita duas vezes por dia. Mesmo assim, às vezes o
lixo é jogado por moradores no porto, onde se acumula também lixo trazido pelo rio.
Recentemente, porém, um grupo de moradores do Bairro fez a coleta do lixo
espalhado nas margens do rio.
O Bairro tem uma área comunitária, onde são feitas reuniões, e onde há uma
televisão para uso da comunidade. Segundo "Bob Marley", presidente da
Associação dos Moradores do Porto de Trás (AMPT), 80% dos moradores do Bairro
são associados à entidade, que tem cerca de 80 sócios, embora apenas alguns
paguem a taxa de R$ 2,00 mensais. Essa estimativa é provavelmente um pouco
exagerada, pois é fácil de encontrar moradores não associados. A Associação,
entre outras funções, mantém e administra também as canoas utilizadas pelos
moradores nas pescarias e mariscagem, que só podem ser usadas por pessoas
quites com as mensalidades.
Agentes de saúde visitam o bairro, pesando e medindo as crianças, distribuindo soro,
e dando orientações. Haviam opiniões discordantes a respeito da atuação dos
agentes de saúde. Aparentemente, as avaliações dos agentes de saúde que
caracterizam as crianças como subnutridas incomodam a comunidade, pois não há
muitos meios de solução para o problema dadas as condições de vida locais.
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Alguns moradores apontaram que os agentes de saúde não visitam a Baixa da Gia
com a mesma regularidade da rua principal do Bairro.
Não há igrejas ou locais de culto no Bairro. Há católicos, evangélicos e um bom
número de pessoas praticantes do Candomblé.
pescadoras e marisqueiras (um trabalho específico deve ser realizado para detalhar
a situação das mulheres da Banca e outras comunidades).
Quanto a religião, da mesma forma que no Porto de Trás, há católicos, evangélicos
e adeptos do Candomblé.
5.1.3 - Forte
A comunidade do Forte é complexa como a da Banca, pois os pescadores de lá
também moram em diferentes bairros da cidade e muitas das mulheres também
desenvolvem atividades diversificadas não relacionadas à pesca. Mas há uma série
de diferenças.
No Forte, boa parte dos pescadores não são
de Itacaré, mas vieram de municípios e
comunidades vizinhos, como Barra de
Carvalhos, Barra de Serinhaém e Valença, e
se estabeleceram em Itacaré há alguns
anos. Mas há também um bom número de
visitantes temporários, que vêm para Itacaré
na estação da lagosta, ou quando dá
camarão, e pescam em barcos pequenos,
como os pescadores locais. Há também os
pescadores empregados nos guinchos, Figura 4: Vista do porto na comunidade
muitos de Ilhéus. Uma estimativa mínima do do Forte, mostrando guinchos (à
número de pescadores do Forte (locais, isto esquerda) e barcos B-18 (à esquerda).
é, moradores de Itacaré) pode ser dada
multiplicando-se o número de barcos da Asperi (24) por uma tripulação de três
pessoas, o que dá 72. Somando-se a isso, considerando-se as pessoas que pescam a
partir das margens do rio no Forte, as pessoas associadas à pesca (comercialização
e beneficiamento), ao turismo, e pescadores independentes, podemos concluir que
cerca de 120 famílias estão ligadas ou fazem parte dessa comunidade.
Como apontado acima, uma organização muito presente é a Asperi (ver seção
específica, adiante) que representa 34 sócios, 24 deles com barcos financiados pelo
Banco do Nordeste com aval da Associação. Através da Asperi, eles fazem a
comercialização conjunta do pescado, apesar de no Forte estarem presentes
atravessadores, como Joel, Gordo, Val e Geraldo (este último, dono de guinchos;
nenhum deles é nativo de Itacaré). Um limite da Asperi é que determinou um
número máximo de 50 sócios. No momento, com 34 sócios, há 16 vagas, o que é
insuficiente para atender a todos.
Como muitos pescadores do Forte não são nativos, essa comunidade não domina o
conhecimento sobre o mar de Itacaré da mesma forma que os pescadores da
Banca, mas é especialista na pesca de arrasto e na lama onde o camarão ocorre.
13
saneamento. Essa história, segundo alguns que estavam descrentes, é antiga. Outros
se mostraram mais esperançosos.
A coleta de lixo é diária, mas os participantes se queixaram que, quando cai lixo dos
sacos na hora de carregar a carreta, os garis não recolhem. Os varredores de rua
varrem o lixo na Passagem, mas a coleta desse lixo varrido não tem sido feita.
Um dos problemas de saúde apontados foi a dengue, que já foi mais incidente mas
que continua a atingir alguns moradores. O pessoal da Sáude vem trabalhando nos
bairros, o que tem diminuído o problema.
Para os participantes da Passagem, as escolas são longe do bairro, que tem muitas
crianças e também precisa de uma creche.
As drogas são um problema que preocupa as mães que participaram das reuniões.
Segundo elas, depois da escola, muitos jovens ficam desocupados, levando-os ao
risco de se envolver com drogas. As mães sugeriram que se faça um trabalho com
os jovens, para resolver o problema.
Somente a rua principal da Passagem tem calçamento. No Marimbondo, há um
maior número de ruas calçadas. Na Passagem também falta iluminação pública.
Apesar disso, todas as ruas têm rede de energia elétrica. Na Passagem só tem um
telefone público, mas vândalos andaram quebrando-o. Mais um telefone deveria ser
instalado, mas em um lugar protegido dos vândalos.
A infra-estrutura de lazer na comunidade inclui um Campo de Futebol e uma área
de voley, e os forrós e serestas no Domingos do Boi.
Os solos de Piracanga
são muito fracos para a
agricultura, arenosos,
sem capacidade de
reter água, e descritos
como "quentes" pela
comunidade. Ainda
assim, algumas culturas
parecem se dar bem,
como maracujá, coco
e melancia.
A população de
Piracanga é formada
por cerca de 38
pessoas, doze homens,
nove mulheres, sete
meninos, e dez meninas
(não temos dados
sobre a população de
Caubi).
Em Piracanga, dois
problemas importantes
são saúde e
educação. As fontes
de água,
principalmente nas ilhas
próximas ao estuário,
são salobas e/ou
contaminadas. Assim,
verminoses são
comuns. Além das
transmitidos pela água,
também são comum os Figura 5: Mapa
"bichos-de-pé" e os participativo da região
"bichos-de-porco". de Piracanga
Como a agricultura (elaborado pelos
não é muito produtiva, homens da comunidade
a alimentação nem em outubro de 2000)
sempre é farta. Além
disso, falta um trabalho de saúde preventiva. Não há postos de saúde nem agentes
de saúde visitando a comunidade. Para assistência à saúde, a comunidade acaba
procurando Itacaré.
Na área de educação, a maior parte dos moradores de Piracanga é analfabeta ou
lê e escreve muito pouco. A quase totalidade das crianças está sem escola, pois
não há escola local, e o estudo precisa ser em Itacaré ou Caubi, o que é difícil pela
distância. Como Piracanga está na divisa dos municípios de Itacaré e Maraú, é
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5.2.2 - Itacarezinho
A comunidade pesqueira de Itacarezinho está localizada na costa sul do município,
próxima à praia de mesmo nome. É remanescente de uma comunidade tradicional
e está assentada na área há gerações. As pessoas mais velhas da comunidade já
nasceram no local. A grande maioria da comunidade é tradicional do local,
herdeiros e parentes, o que é apontado por moradores locais e se observa pela lista
de presença das reuniões comunitárias, onde a maioria dos sobrenomes se repetem.
Há coqueiros, plantados pelos moradores, com mais de 45 anos de idade. Existe um
forte conflito pela posse das terras com pessoas de fora que as "adquiriram", o que
tem prejudicado em muito a vida e a liberdade da população local (ver adiante na
seção sobre "conflitos e direitos tradicionais"). As casas são localizadas relativamente
próximas umas às outras, vizinhas ou distantes alguns minutos de caminhada (ver
Figura 7).
17
As mulheres
trabalham como
donas-de-casa, outras
"na enxada"
(agricultura). Além
disso, as mulheres
também pescam e
mariscam, assumindo
sem preconceito a
identidade de
marisqueiras. Essas
últimas atividades são
feitas só para o
consumo. As famílias
Figura 7: Mapa
também produzem
participativo da
coco e óleo de coco comunidade de
(um aspecto Itacarezinho.
interessante é que a
posse dos coqueiros não é definida pela posse da terra onde cada coqueiro está
localizado, mas sim por quem plantou o coqueiro, isto é, uma pessoa pode ter um
coqueiro nas terras de outra).
O desenvolvimento turístico tem causado problemas e oportu-nidades para a
comunidade de Itacarezinho. De um lado, a valorização das terras em função do
turismo tem causado cobiça por pessoas de fora e conflitos pela posse da terra (ver
adiante na seção sobre "conflitos e direitos tradicionais"). Por outro, há algumas
pessoas empregadas no novo Txai Resort (Fazenda Boa Sorte). A comunidade
também poderia se beneficiar em outras iniciativas ligadas ao turismo, já que está
bem próxima a uma das praias mais bonitas de Itacaré.
Os solos de Itacarezinho são muito arenosos e a topografia é bastante ondulada,
tornando a agricultura difícil. A dificuldade de produzir alimentos no local faz com
que, quando as famílias não têm alimentos, as crianças sejam alimentadas com
uma massa de farinha e água. As mulheres preferem fazer compras em Ilhéus, por
ser mais barato que Itacaré. Os "meninos" ajudam em casa e trabalham na roça. Os
homens pescam e trabalham na roça. Homens e mulheres fabricam óleo de coco.
Na comunidade, a população é composta por cerca de nove famílias (11 homens,
nove mulheres, 20 meninos e quatro meninas). Há também, não incluídas nessa
conta, outras famílias que moram mais distante do mar, mas que também utilizam os
recursos marinhos para subsistência.
Existe uma escola "muito boa", segundo a comunidade, que vai até o Telecurso
segundo grau. "É a melhor que tem em Itacaré". A escola tem três salas, vídeo,
geladeira e merenda, e atende crianças desta e de outras comunidades. Está
localizada a quinze minutos da comunidade, a pé.
A comunidade não conta com assistência à saúde no local, não tendo posto nem
agentes de saúde visitando. Em caso de doenças, precisam ir a Itacaré ou Ilhéus.
18
Como foi dito acima, a pesca em Taboquinhas cresceu em importância com a crise
do cacau, sendo uma alternativa para uma ampla parcela da população
desempregada. Os pescadores trabalham todos os dias, “de segunda a segunda”,
conforme a necessidade. No entanto, param por alguns dias quando não há peixes
ou quando fica impossível pescar (na época de enchente, por exemplo). Alguns
pescadores trabalham também na agricultura, recebendo R$ 5,00 pelo dia de
trabalho na lavoura. As culturas principais são a banana, o cacau e a mandioca. Os
proprietários das roças localizadas às margens do rio não interferem na passagem
dos pescadores, contanto que não prejudiquem a sua lavoura.
A comunidade do Pé da Pancada é a mais próxima do núcleo urbano de
Taboquinhas. Os moradores vivem em casas bem próximas umas das outras,
colocadas ao longo da "pedestra" (uma trilha histórica, por onde o transporte de
mercadorias e produtos tem sido feito há mais de cem anos). É no pé da Pancada
que desembarcam os praticantes do rafting, sendo que a agência Ativa comprou
um terreno no local. Recentemente, uma grande movimentação de terra foi feita
pela Ativa na área de preservação permanente do rio, chegando até a beira
d'água. A Ativa emprega vários moradores vizinhos. Além da Ativa, há um novo bar
no local.
A comunidade da Rua de Palha tem escola, igreja católica e evangélica, televisão
comunitária, barzinho, praça arborizada, funcionários responsáveis pela limpeza da
rua e da igreja e uma casa de farinha. A casa de farinha produz a farinha de
mandioca semanalmente para consumo próprio e venda, sendo que a lata de
farinha custa R$ 5,00. Ela conta com todos os equipamentos para a produção:
moedor, amassador, torrador e peneira. "Seu Rocho" é o administrador da Rua de
Palha e tem participado nas reuniões da Reserva. A "pedestra", com seu
calçamento de pedras, é uma das atrações turísticas potenciais da comunidade.
Um trecho novo, calçado no mesmo estilo, dá acesso a uma praia do Rio de
Contas.
Já os povoados de Porto das Farinhas e "Os Acaris", segundo os participantes, não
recebem nenhum benefício por parte da administração pública.
6. Recursos Naturais
6.1 - Aspectos da Geologia do Litoral de Itacaré
O litoral de Itacaré é caracterizado pelo estreitamento da planície costeira com
afloramentos do embasamento cristalino atingindo diretamente a costa, formando
costões rochosos. A presença da desembocadura do rio de Contas contribui com a
sedimentação costeira na região. A praia da Concha é exemplo dessa
contribuição, com sedimentos de origem fluvial e retrabalhados por processos
marinhos (ondas e correntes), distribuídos na praia de acordo com a hidrodinâmica.
Os sedimentos de granulometria grossa estão dispostos junto à zona de
arrebentação, onde a energia das ondas se concentra nessa praia, os sedimentos
finos se depositam na antepraia, região submersa adjacente à praia, onde a
energia é menor.
23
3Uma braça equivale à distância de uma mão à outra, com os braços abertos, e varia de
pessoa para pessoa, de cerca de 1,6 m a 1,8 m.
24
9 - 12 metros
20-25 metros 35 braças
Usos Redes: Pesca de canoa, Verão: pesca Semelhante a Arrasto de Espinhel Anzol Espi-
- Tapagem barco e mergulho de linha laminha guincho Linha de nhel
- Espera Inverno: pesca Arrasto só por Rede no fundo
- Arrasto de rede guinchos inverno
- Tainheira Ano todo:
- Tarrafa arrasto por
Marisqueira pequenos
Mergulho barcos e
Canoa (caniço) guinchos
Passeio turístico
Espécies Robalo Peixes diversos Camarão Semelhante a Camarão Tubarão Vermelho Meca
Carapicu Siri Peixes diversos laminha Peixe e peixes Badejo Baiacu
Siri Lagosta Siri diversos Cioba mole
Aratu Goia Lagosta
Caranguejo Tartaruga
Carapeba Lagosta
Problemas Desmatamento Banana boat Sobre-pesca Muitos barcos de Muito Sobre- Diminuição
Mangue arenoso Jet ski Arrasto arrasto e guincho guincho pesca do pescado
Bancos de areia Pesca
Pesca de lanchas com rede
Lixo lagostei-
Esgoto ra
Oportunidades Passeio turístico Semelhantes ao Mergulho de
Preservação mangue observação
Passarela
Figura 10: Perfil participativo do fundo do mar de Itacaré (elaborado pelo Grupo de
Trabalho da Resex).
vórtice de Vitória (Gaeta et al., 1999). Nesse cenário, ocorre uma injeção de altas
concentrações de nutrientes (incluindo nitrato e silicato) na base da zona eufótica
ou mesmo próximo à superfície, quando ocorrem ressurgências mais intensas
(Valentin et al., 1987), estimulando a produção primária nova e o desenvolvimento
de espécies do microfitoplâncton (Teixeira e Tundisi, 1981; Aidar et al., 1993). O
zooplâncton, nesta situação, é caracterizado por espécies de ressurgência
associadas com espécies costeiras (Valentin, 1989). Em Abrolhos e nos estudos
realizados pela UESC até o momento, no litoral de Ilhéus, estas espécies de águas
frias não foram encontradas.
Uma listagem das espécies e grupos do mesozooplâncton associados a Água
Tropical e à água costeira, registrados em Abrolhos por Lopes & Dutz (1996), é
apresentada no Anexo 5. Esta listagem serve como referência para a região de
Itacaré, pois as mesmas espécies ocorrem em todos os setores sob o domínio da
Água Tropical da Corrente do Brasil (Björnberg, 1981). Esta suposição é confirmada
pelos resultados do levantamento do plâncton no estuário do Rio de Contas (Anexo
6). As espécies de fitoplâncton e zooplâncton observadas são típicas de regiões
estuarinas e costeiras de áreas tropicais do Atlântico Sudoeste.
6.4.2 - Algas
Além das algas microscópicas do fitoplâncton, as macroalgas, aliadas a um
pequeno grupo de angiospermas (plantas vasculares) marinhas, constituem outros
grupos importantes de produtores primários que sustentam a vida nos oceanos. As
macroalgas bênticas apresentam diferentes dimensões e hábitos de vida,
ocorrendo, por exemplo, em costões rochosos, recifes de corais e manguezais,
ambientes comuns em Itacaré.
A flora bêntica, também conhecida como fitobentos, é mais amplamente
representada pelas comunidades de macroalgas, conhecidas popularmente pelos
pescadores como “limo”. A diversidade das comunidades macroalgais está
diretamente relacionada com a diversidade de organismos marinhos. A ocorrência
destas aumenta a estabilidade dos ecossistemas bênticos, na medida em que um
maior número de espécies funcionalmente equivalentes, com diferentes
capacidades de tolerância a fatores ambientais, pode melhor resistir a alterações
do meio marinho, inclusive aquelas causadas por atividades antrópicas (Chapin III et
al., 1997). As algas calcárias são elementos importantes na formação e manutenção
dos recifes de coral, podendo desempenhar um importante papel no ciclo global
do carbono, com consequências sobre o clima do planeta (Oliveira, 1996).
No que tange ao aspecto econômico, as algas marinhas são utilizadas como
alimento para o homem e animais, e fornecem produtos imprescindíveis para a vida
do homem moderno, com valores que ultrapassam alguns bilhões de dólares por
ano. Por exemplo, o comércio de "nori" (gênero Porphyra) foi responsável pela
movimentação de 1,8 bilhões de dólares/ano no começo da década passada
(Oliveira, 1997).
Durante o último Workshop “Avaliação e ações prioritárias para as zonas costeira e
marinha”, realizado de 24 a 29 de outubro de 1999 em Porto Seguro, a região ao sul
da Bahia foi designada como prioritária para estudos de levantamento da flora
34
7.1 - Peixes,
produção de pescado em Itacaré pesqueiros e artes
de pesca
produção (ton)
80
60
40
A pesca em Itacaré é uma das
20 atividades econômicas de maior
0 importância social, pois beneficia
J F M A M J J A S O N D uma ampla parcela da população
mês de baixa renda. Apesar do recente
desenvolvimento turístico do
Figura 12 – Produção de Município, a sua inclusão social, isto
pescado em Itacaré, por é, a participação direta da
mês, no ano de 1998 população nativa de baixa renda
(MMA, 1999). na economia do turismo, ainda é
restrita. A pesca tem maior importância pois proporciona proteína para as dietas de
muitas famílias envolvidas na atividade, e também renda durante os meses de baixa
estação do turismo. Apesar de a maior quantidade de peixes ser pescada
justamente nos meses de verão (Figura 12), na época do turismo, nos meses de
inverno a safra da lagosta é economicamente importante. Na comunidade de
Taboquinhas, onde o desenvolvimento turístico ainda é muito inicial, a pesca tem
sido uma das principais alternativas ao cacau, depois que a doença da "vassoura-
de-bruxa" arrasou com a economia cacaueira da região.
Entretanto, o município de Itacaré, com uma captura de 230 toneladas, representa
apenas 0,6% do total da pesca na Bahia, apesar da opinião dos nativos de que o
mar de Itacaré é um dos mais produtivos do Estado. Para os pescadores locais, a
participação pequena de Itacaré na produção estadual é explicada pela
competição com barcos de fora, que pescam em Itacaré mas desembarcam em
outros portos, como Valença e Ilhéus. A Reserva Extrativista Marinha de Itacaré
deverá fazer com que o produto pescado em Itacaré realmente circule no
Município, o que representará maior benefício para as famílias pesqueiras e para o
36
ariacó
outros
arraia
badejo
bagre
xaréu
bonito
vermelho
robalo
mero
guaiuba
cação
dourado
dentão
cavala
De acordo com o MMA (1999), a arte de pesca responsável pela maior parte da
captura de peixes é a linha. A pesca do camarão, realizada com redes de arrasto,
também apresenta grande importância. Não existem dados de captura por
espécie, mas por categoria, isto é, espécies diferentes agrupadas pelo mesmo
nome popular. A importância relativa, em quantidade (kg), das espécies nas
capturas do ano de 1998 encontra-se representada na Figura 13.
De acordo com o MMA (1999), as categorias de peixes mais capturadas são os
cações, xaréu, badejo, cavala, bonito e arraias. As espécies costeiras mais
valorizadas são as capturadas com linha, em substratos de cascalho ou próximas de
afloramentos rochosos, tais como badejos, robalos, cioba, dentão e vermelho. Todas
estas espécies podem atingir grande tamanho na área em questão, o que é um
indicativo do potencial pesqueiro da região. Espécies de pequeno tamanho ou
indivíduos jovens das espécies de importância comercial são utilizadas pelos
ribeirinhos como fonte de alimento.
Através da amostragem de desembarques feita pela equipe da UESC com
colaboração da comunidade, no mês de fevereiro, foram identificadas 51 espécies
(ver lista de espécies e fotos no Anexo 8). Naturalmente, esse número está
37
que a pesca com compressor é permitida, a não ser nos casos de espécies em
época de defeso, ou de indivíduos ovados. Mesmo assim, nem mesmo esses casos
foram verificados. A pesca de compressor tem atingido principalmente os Canapus,
ou Meros, de grande tamanho, que já se encontram em extinção em boa parte da
costa brasileira.
39
7.1.1 - Embarcações
As embarcações mais utilizadas para a pesca no mar pelos pescadores da Banca
do Peixe e do Forte são os barcos equipados com motor diesel tipo B-18, ou similar.
Muitos pescadores da Banca do Peixe também utilizam canoas, para a pesca na foz
do Rio de Contas. As jangadas ainda são utilizadas pelas comunidades de
Itacarezinho, Jeribucaçu e Piracanga. Os guinchos são utilizados por apenas um
dono de embarcação, com três embarcações, sendo os demais de fora,
especialmente de Ilhéus.
41
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Artes
Linha de
Mero, Vermelho, Badejo, Guaiuba, Dourado, Cavala,
fundo Ariacó, Guaricema, Cioba, Dentão, Albacora (atum), Bonito,
Olho-de-boi, Aratubaia, Cavala, Marlim, Xaréu, Sororoca,
Beijupirá, Guaraiuba, Peroá, Boca- Beijupirá, Dorminhoco,
negra, Olho-mole, Peixe-pena, Pescada, Arraia,
Arraia, Caramuru, Caranha, Xaréu, Caramuru, Dentão,
Guaçari, Bicuara, Sassupemba, Caranha, Guaçari,
Quatinga, Xixarro, Piranema, Gorá, Corongo, Pescada-goiva
Mero-batata, M.-piraroba, M.-
cherne, Garopa, Jabu
Espinhel
Cioba, Canapu, Badejo,
Tubarões:
Arraia, Caramuru,
- Tintureira
Dentão, Caranha
- Panã
(martelo)
- Galha-preta
- Sucurupóia
- Lixa
- Cação cavala
- Baiacu
- De areia
- Aniquim
- Gualha
branca
- Raposa
Nylon seco Nylon mole Nylon seco
Rede de
Bagre, Curvina, Pampo, Lagosta, Goiá, Siri, Linguado, Cioba, Ariacó, Barbeiro, Bagres,
espera Xaréu, Robalo, Camurim- Curvina, Tapa, Camarão, Tartaruga, Piraboca, Sargo ou
açu (cambriaçu), Peixe- Parucocô, Arraia, Xaréu, Sororoca, Guaçari. Pirambu, Guaraiuba,
elétrico, Sororoca, Cavala, Beijupirá
Peixe-galo, Aracanguira, Outros organismos: Argaço (algas), buzios,
Bonito, Guaricema, estrelas-do-mar
Drominhoco, Pescada,
Pescada-branca, Boca- Lixo: Lata, pneu, placa, plástico, madeira
torta, Cangurupi,
Caximbau, Agulhão,
Budião
Na costa No rio Na costa
Calão de
Barbudo, Boca-torta, Carapeba, Robalo, Cambriaçu, Bicudo, Siri, Lula,
arrasto Bagres, Roncador, Xaréu, Caçari, Arraia, Mirucaia, Cangauá, Tainha, Lagosta,
Pescada, Baiacu, Barbudo, Sardinha, Carapicu, Caratinga, Drominhoco,
Samucanga, Sametária, Carapitanga, Peixe-sabão, Cavalo-marinho Guaricema,
Bicuda, Chatinha, Pampo, Cavala
Sardinha
Preço do
peixe para o
pescador
Primeira 4,00 4,00 4,00 5,00 3,50 3,50 3,50 3,00 3,00 3,50 4,00 4,00
Segunda 2,50 2,50 2,50 2,50 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,50 2,50
Terceira 1,50 1,50 1,50 1,50 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,50 1,50
Quantida-
de de peixe
Primeira
Cavala, Dourado, Badejo, Olho-de-boi, Vermelho, Pampo, Cavala,
Robalo, Beijupirá, Cioba Sororoca
Pescada-branca
Segunda
Dourado Ariocó, curvina, guaiuba Guaricema,
Albacora
Terceira
Lagosta
Defeso
Camarão
Renda do Lagosta Peixe de passagem
Pescador
Semana Santa
Renda com 12/10 1/11 15/11
Turismo
Seguro defeso
A Asperi tem uma fábrica de gelo, e produz o suficiente para os barcos de Itacaré.
No entanto, os participantes da Banca do Peixe gostariam de garantir o processo da
fabricação de gelo com mais uma máquina, na possibilidade de uma vir a quebrar.
Quando o peixe chega, a conservação se dá na câmara frigorífica da Asperi ou nos
freezers dos atravessadores. Artesanalmente, alguns pescadores às vezes salgam e
secam o pescado para o consumo.
7.2.2 - Camarão
A pesca de camarões e lagostas ainda é muito importante na região de Itacaré. Os
camarões encontram-se agrupados em quatro tipos:
Sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri), com menor valor comercial. Bastante
abundante durante todo o período de águas calmas.
Branco (Litopenaeus schimitti), conhecido por "pistola", de alto valor comercial;
Rosa (Farfantepenaeus cf. notialis e Farfantepenaeus cf. subtilis), comuns em
fundos lamosos na plataforma adjacente.
Rosa-pintado ou rosa grande (também conhecido por pistola) (também (F.
brasiliensis), maior valor comercial. Obtido em fundos duros, próximos à costa, no
período de águas mais revoltas.
Todos os tipos são explorados por frotas de arrasto. Sua distribuição envolve a faixa
de mar até a profundidade de 45 metros para o sete-barbas e o rosa, e além desta
para o branco e o rosa-pintado.
Os pescadores da comunidade do Forte são os que mais praticam a pesca de
camarão. A quantidade de camarão disponível varia conforme o dia, e a maior
abundância pode estar em qualquer parte da costa. Há variação de produção
conforme o ano e a época do ano. As épocas mais produtivas são logo depois do
defeso, em junho (o defeso mudou recentemente, passando a terminar em 5 de
45
maio). No verão, durante o dia, o camarão só está disponível nas áreas onde a
água é turva, como ao longo da costa, em frente à praia que vai do Pontal a
Piracanga, e na costa sul. Um dos locais recentemente descobertos pelos
pescadores de camarão é o "Corotó", uma bacia de lama em frente à foz do Rio
Piracanga, cercada de corais.
A pesca de arrasto é praticada ao longo de toda a costa de Itacaré, por barcos
locais e de fora, pequenos (tipo motor B-18) e guinchos. Os barcos pequenos estão
mais restritos a arrastar perto da costa, enquanto os guinchos vão atrás do camarão
onde estiver, lama ou cascalho, perto ou longe da costa. Os guinchos são
apontados como os maiores degradadores dos recursos naturais marinhos. Um
problema apontado foi o arrasto próximo à costa e em frente a Piracanga, tanto
por barcos pequenos como guinchos, locais como de fora. Em Piracanga, os
moradores apontaram que guinchos pequenos estão passando pelo "Corotó", bem
próximo à praia. Os pescadores do Forte e alguns da Banca afirmam que o Corotó é
um dos poucos lugares onde é possível pescar camarão durante o dia no verão.
Outros reconhecem que a área só vem sendo explorada para esse tipo de pesca
há poucos anos, e pensam que a prática,ali, é predatória.
7.2.4 - Lagosta
A espécie de lagosta mais comum é a Panulirus argus. De acordo com os
participantes, a lagosta é um recurso migratório, que vem de fora (longe da costa)
para a terra, do sul para o norte, e é bastante pescada na lama. A pesca da
lagosta em Itacaré é feita normalmente com redes de espera, de fundo. Em
Itacarezinho, os pescadores locais mergulham (têm equipamento) e pegam com as
mãos, protegidas por luvas, as lagostas escondidas no coral. Mesmo assim, muitas
vezes se ferem nos espinhos da lagosta. Os pescadores da cidade pescam a lagosta
migratória utilizando redes de espera. De março a abril, o conserto e confecção de
redes para a pesca da lagosta envolve um bom número de pessoas.
A lagosta teve seu período de maior captura no início dos anos 90, quando os
pescadores locais descobriram como pescá-las e o mercado que existe para o
produto. Muito dinheiro resultava da pesca da lagosta, o que causou uma
47
7.2.5 - Moluscos
Nos arrastos ao largo (plataforma continental) foram obtidos juvenis de lula
(Lolliguncula brevis). Essa espécie é pouco explorada localmente, mas poderia vir a
tornar-se um recurso interessante para as comunidades locais, se estudos
demonstrarem potencial para extração. Os polvos (Octopus vulgaris) são coletados
(com fisga ou arpão) nas lajes e nos recifes de corais. Apresentam um bom valor de
mercado e são bastante procurados pelos pescadores.
8. Rios e Estuários
Estuários são ambientes nos quais os rios deságuam no mar, e onde a mistura entre a
água doce e a água do mar constitui o processo físico dominante. A física da
mistura estuarina é complexa e é afetada pela estrutura geológica, pela topografia,
pelo fluxo de água de origem continental, e por diversos outros fatores hidrológicos
como as forças gravitacionais, de marés, ou forças de circulação causadas por
ventos dominantes.
São dois os estuários principais a serem incluídos na Reserva Extrativista Marinha de
Itacaré: o do Rio Piracanga e o do Rio de Contas. Entretanto, há uma série de
riachos e ribeirões que deságuam no mar e que formam estuários com manguezais
e restingas. Apesar de Itacaré não ter manguezais extensos, essas poucas áreas são
importantes para manter a produtividade no mar, e garantir o sustento de uma
ampla parcela da população, grande parte mulheres, que extraem caranguejos e
outros mariscos.
49
00” W. De acordo com Rocha Filho (1976) é a maior bacia do polígono da Região
Cacaueira, com uma superfície total de 56.550 km2 e 476 km de extensão. Rocha
Filho (1976) ainda apresenta informações sobre a análise química, perfil longitudinal
e declividades médias, características pluviométricas e o potencial energético desta
bacia.
No passado, o Rio de Contas foi um importante meio de integração regional na
Bahia, escoando produtos (como diamantes e, mais tarde, cacau) até a foz do Rio
em Itacaré, de onde eram exportados. No trecho dentro da área da futura Reserva
Extrativista Marinha de Itacaré, o Rio de Contas é navegável entre Itacaré e
Taboquinhas, maso assoreamento tem feito a navegação mais difícil. De
Taboquinhas até o Porto das Farinhas, dentro da área proposta para a Reserva, o
Rio de Contas tem um trecho de corredeiras e cachoeiras, de grande beleza cênica
e, de acordo com o proprietário da agência Ativa, é um dos melhores rios para a
prática do rafting no Brasil.
Segundo informações obtidas da comunidade do Porto de Trás, o limite interno da
zona de mistura do sistema estuarino do Rio de Contas (região onde pode-se
detectar um incremento na presença de sais dissolvidos nas águas do rio) está
localizado na região da Volta do Poço. Ainda, segundo a comunidade de
pescadores, é comum detectar uma inversão no sentido das correntes de fundo
(quando comparado com as correntes de superfície). Relatam que, em certos
momentos, sob condições de maré vazante, as correntes de fundo continuam a
orientar-se rio adentro, enquanto as correntes superficiais já se orientam rio abaixo.
Isso ocorre principalmente onde a profundidade do rio atinge valores superiores a
seis metros e, particularmente próximo à foz. A maré apresenta valores extremos de
altura em torno de três metros. Os resultados apresentados no Anexo 4 mostram a
variabilidade espacial na distribuição da temperatura da água e da salinidade, em
diferentes locais do estuário, para o mês de janeiro, comprovando uma série de
informações obtidas através do diagnóstico participativo.
O estuário do Rio de Contas tem grande perturbação pois é nele que está
localizada a cidade de Itacaré. Ali são despejados, sem tratamento, os esgotos de
cidade. Na praia da Coroa, essa situação é mais evidente, com o mau cheiro
resultante do esgoto em vários pontos da praia bastante forte na maré baixa. O
esgoto deságua diretamente na praia, através da rede de coleta de águas pluviais,
e também é trazido pelo riacho que recebe o esgoto dos riachos que passam pelos
bairros da Pituba, Alagados, Centro, e até perto da Rodoviária. É também nessa
praia que os pescadores da Banca e de outras comunidades trabalham
(embarcam, desembarcam, reformam barcos, fazem e reformam redes) e se
divertem (jogo de futebol - o "baba" - no fim da tarde, conversas sobre pescarias e
outros assuntos, jogo de cartas, além da fresca da noite, junto à rampa perto da
Banca). Um projeto de reurbanização da orla de Itacaré, a ser implementado pela
Conder, começa a preocupar algumas lideranças de pescadores, pois está sendo
feito sem a sua participação e estará alterando justamente esses espaços de
convivência informal da comunidade pesqueira. Se privilegiar o turismo, o projeto
poderá retirar dos pescadores os seus espaços tradicionais. Portanto, o projeto deve
passar pela discussão e avaliação da comunidade pesqueira.
51
Linha
Molinete
56
O rio varia muito de nível, sem grande previsibilidade de acordo com as estações.
As enchentes ocorrem tanto no verão como no inverno, causando um aumento de
cerca de seis metros na profundidade do rio, e uma grande expansão lateral,
atingindo terraços marginais. Durante as enchentes, a pescaria torna-se difícil,
porque a água fica muito suja. Segundo os pescadores e pescadoras locais, isto
acontece devido à força com que as águas são liberadas pelas duas barragens,
construídas há aproximadamente 60 anos. Sempre aconteceram enchentes, mas
elas tinham força para remover a sujeira de uma forma que não atrapalhava a
pescaria. Ao contrário, a pescaria logo após as enchentes costumava ser muito
boa. A última grande enchente ocorreu em 1964.
Na área inundável do rio, existe uma vegetação arbórea nativa de pequeno porte,
com caules retorcidos, que parece estar bem conservada. Essa vegetação inclui
ingauí, ingá, alecrim, angelim, bambu, dendê e cajá.
Nas curvas do rio, observa-se a formação de praias com acúmulo de areia fina e
cascalho. As rochas encontradas parecem ser do tipo cristalina, em alguns trechos
com metamorfização semelhante à que encontramos em Itacaré. Nesse trecho do
rio de Contas, peixes de água salgada (robalo, tainha e carapeba) se misturam
com peixes de água doce (tambaqui, pacu, piranha, acari, piau e carpa).
O local mais usado para jogar tarrafa é o Pé da Pancada. A área da prainha é
usada para lazer e turismo. Ali, a comunidade faz churrasco, passa o dia, namora,
etc.
O Anexo 11, apresenta nomes comuns de espécies da fauna conhecidas no
ecossistema.
Na coleta realizada em Taboquinhas, encontraram-se quatro espécies de
crustáceos decápodos: 1) o pitu (Macrobrachium carcinus), e 2) o ca1ambau (M.
acanthurus), camarões carídeos pertencentes à família Palaemonidae, 3) a curuca
(Atya scabra), um também carídeo, pertencente à família Atyidae, e, ainda, (4) o siri
(Callinectes sapidus), pertencente à família Portunidae. Os pescadores reconhecem
três diferentes siris na região de Taboquinhas, o siri-nema, o siri-de-ponta e o siri-
cearense, porém coletou-se apenas C. sapidus. A ocorrência, no rio de Contas e
seus tributários, de espécies previamente registradas para o estado da Bahia, como
M. olfersii, M. nattereri, M. brasiliense e M. jelskii, bem como de caranguejos
dulcícolas do gênero Trichodactylus, não pode ser descartada, dado o caráter
pontual da amostragem. Todas as espécies coletadas apresentam importância
econômica, sendo também utilizadas para fins de subsistência por parte da
comunidade local. Parte do ciclo de vida das espécies coletadas é dependente de
águas salobras e/ou salgadas. O Anexo 12 apresenta dados adicionais sobre a
biologia das espécies de crustáceos coletadas junto a Taboquinhas.
de curuca é vendido por R$ 5,00/kg. O filé de pitu, por R$ 12,00/ kg. Os pescadores
deixaram de comer pitu, pois o preço de comercialização é muito alto.
influência da maré vai até a antiga barragem e entra também pelo riacho Maria
Rita, afluente do jeribucaçu.
Um problema apontado pelos moradores de Campo Seco é a pesca de mergulho
com fisga. O pequeno volume e a largura estreita do rio torna a pescaria de tarrafa
na entrada do estuário também perigosa para a conservação dos recursos. Os
moradores não mostraram uma preocupação especial com isso.
Não foram levantadas mais informações sobre os riachos da região de Jeribucaçu.
9.1 - Peixes
Os robalos (espécies da família Centropomidae) são considerados de primeira linha
devido à qualidade de sua carne, e com potencial e grande interesse pela
comunidade de pescadores para o cultivo. Exemplos são os robalos Centropomus
undecimalis (camurim), C. parallelus (robalo de barriga mole, ou branco), e C. spp.,
que ocorrem na região. Centropomus undecimalis é a maior espécie da família
podendo atingir até 1,3 m de comprimento e pesar 25 kg. Apresenta reprodução do
meio do verão ao final do outono, época em que costumam subir rios e lagoas
costeiras para desovar (Suzuki, 1986). Centropomus parallelus possui um tamanho
menor que a anterior, atingindo no máximo 60 cm de comprimento e três quilos,
sendo mais comum e abundante em águas doces.
De uma maneira geral, os centropomídeos apresentam potencial para aquacultura,
pois aceitam o cativeiro, são resistentes ao manejo e às variações da qualidade de
água (Tucker, 1987; Brugger e Freitas, 1993). Porém, trabalhos mais conclusivos até o
presente momento ainda não foram desenvolvidos com as espécies acima citadas,
apesar do seu grande interesse (Cerqueira, 1995; Benetti, 1993; Barbuio, 1999), e
ainda pouco se conhece em relação a aspectos biológicos desses peixes.
Tentativas de crescimento de C. parallelus em tanques-rede na região de Angra dos
Reis (RJ) obtiveram resultados satisfatórios onde os animais atingiram tamanho
comercial (160g) com 40 % de sobrevivência (Brugger e Freitas, 1993). Acredita-se
que o Nordeste seja uma região altamente favorável à criação de robalos.
Algumas espécies da família Lutjanidae, denominadas de vermelho (cioba, dentão
e vermelho - Lutjanus spp.) também apresentam grande potencial para cultivo. São
espécies muito apreciadas pela qualidade de sua carne, ocorrendo com maior
freqüência no Nordeste do Brasil e, mais raramente, no Sudeste e Sul (Menezes e
Figueiredo, 1980; Godoy, 1987). Espécies desta família tem sido estudadas visando
seu aproveitamento na piscultura (Menezes e Figueiredo, 1980; Gaspar e Cervigón,
1987). Em testes preliminares foram observadas a adaptação de juvenis de algumas
espécies desta família a tanques-rede e à alimentação artificial, e crescimento
satisfatório na região de Barra dos Carvalhos, BA (Tsuzuki, comunicação pessoal).
9.2 - Moluscos
Ostras (Crassostrea rhizophorae e Ostrea equestris) foram encontradas em pequena
quantidade e em áreas restritas. Em certas áreas foram observadas a ocorrência de
valvas abertas, ou seja, indivíduos adultos mortos fixados em raízes de mangue
(Rhizophora mangle).
66
9.3 - Crustáceos
Na região de Itacaré os camarões, como o camarão-branco Litopenaeus schimitti,
o camarão-rosa Farfantepenaeus brasiliensis e F. subtilis (confirmar), são abundantes.
Todos são explorados por frotas de arrasto, em sedimento lamoso. Todas essas
espécies apresentam potencial para cultivo, porém, o desenvolvimento de
tecnologia para produção de pós-larvas em laboratório, e crescimento destes
organismos em cativeiro são necessários. A introdução de outras espécies como
Litopenaeus vanammei, atualmente a espécie de maior produção no estado da
Bahia, poderia ser testada uma vez que se determinassem condições propícias para
instalação de tanques-rede ou cercados na região.
O cultivo de camarão em gaiolas, técnica desenvolvida recentemente no Brasil,
tem atraído bastante atenção de pequenos investidores em cultivos, que contam
muitas vezes com a parceria de pescadores artesanais. Alguns trabalhos referentes
a transferência e adaptação da tecnologia de cultivo de camarões marinhos em
gaiolas flutuantes aos pescadores artesanais têm mostrado resultados positivos
(Accioly, comunicação pessoal; Lemos, comunicação pessoal; IFREMER,1995).
9.5 - Algas
Os gêneros com potencial para cultivo e extração de alginatos e carrageninas são
Hypnea, Ulva, Porphyra entre outras. O cultivo em condições naturais requer espaço
em baías protegidas, com elevada carga de nutrientes.
Açude Município Capacidade máxima (m3) Volume em 31/12/00 (m3) Volume em 31/12/00 (%)
natureza e a melhoria de vida das populações locais. Mas a relação entre o setor
turístico e a comunidade está longe de ser harmônica. Pelo contrário, os direitos
tradicionais têm sido sistematicamente desrespeitados (ver na seção sobre Conflitos
e Direitos Tradicionais). Além disso, boa parte da comunidade pesqueira vê o setor
turístico como um grupo aproveitadores, interessados em dinheiro, e não no bem-
estar de todos, apesar do envolvimento de pessoas do setor turístico em questões
coletivas, como o movimento ecológico. Como apontado adiante neste relatório,
isso reflete as perdas que a comunidade pesqueira vem sofrendo, mas também
reflete a dificuldade de os benefícios do turismo chegarem aos mais carentes.
Apesar disso, pescadores inovadores têm começado a aproveitar o movimento
turístico. Com a expansão do turismo em Itacaré, os pescadores têm aprendido a
explorar essa nova economia, levando os turistas em barcos e canoas de turismo.
No verão, são vários os barcos pesqueiros que transportam turistas em passeios, com
ou sem licença na Capitania dos Portos.
As cachoeiras são um atrativo importante para esses passeios. Um dos destinos mais
populares é a Cachoeira do Cleandro. As canoas muitas vezes levam os turistas em
passeios pelo manguezal até a cachoeira, ao custo de R$10,00 por pessoa.
Cleandro tem explorado a cachoeira em sua propriedade, através da cobrança de
ingressos. A área é equipada com bar, cestos de lixo e placas de orientação.
Porém, o proprietário também cercou uma área de mangue, proibe o acesso de
canoas pelo ribeirão, e desmatou a área próxima ao riacho, em área de
preservação permanente e de marinha. Em termos ecoturísticos, a exploração dessa
cachoeira pelo proprietário, apresenta várias contradições. Ainda assim, o
proprietário faz a manutenção da limpeza da área e a proximidade da cidade faz
dessa cachoeira a mais atrativa. Porém, a sua privatização pelo proprietário
também causa insegurança aos que levam passeios, pois temem que Cleandro crie
regras de acesso exclusivo à cachoeira.
Além da cachoeira do Cleandro, um pouco mais distante rio acima, há também a
cachoeira da Pancada Grande (a dois quilômetros do Rio de Contas), e algumas
cachoeiras menos exploradas, no Rio João Rodrigues (nas terras de Joselito), com
cerca de quatro metros de altura e a dois quilômetros do Rio de Contas.
Os passeios pelo manguezal tem boa popularidade. Falta, porém, aos pescadores e
canoeiros independentes, uma articulação entre si para poderem competir com as
agências de "ecoturismo", que transferem pouco do que arrecadam ao guia
turístico.
A praia de Piracanga tem um potencial turístico importante por ser um lugar deserto
e uma das poucas praias extensas o suficiente para permitir caminhadas. Entretanto,
ao cruzar o Rio de Contas, o turista encontra uma grande quantidade de lixo.
Agências de turismo também têm utilizado a praia como via de rodagem para
passeios "ecoturísticos" de carro até as praias ao norte de Itacaré. Esse tráfego de
veículos parece ser prejudicial às tartarugas marinhas e reduz a tranquilidade do
turista na praia, um de seus maiores atrativos. Mais uma vez, o "ecoturismo" em
Itacaré aproveita-se da natureza, sem ser realmente a favor da natureza. A muitos
dos que exploram o ecoturismo, parece faltar compromisso com a comunidade e
70
com a própria natureza que lhes serve de pretexto para conquistar o mercado
turístico. A população pesqueira local percebe e é crítica desse problema.
A falta de respeito à natureza e às populações locais também é presente no próprio
turista, e convém estabelecer um programa educativo para o visitante de Itacaré,
se possível em parceria com ações mais amplas de educação do turista da
natureza. Como muitas vezes o turista vem de lugares distantes, pode ser difícil obter
uma mudança de comportamento nos poucos dias em que passa em Itacaré,
sendo necessárias ações educativas nos locais de origem no Brasil e nas agências
no exterior.
Em Piracanga, o potencial turístico é grande, sendo o manguezal um dos atrativos
principais. Passeios de jangada ou canoa no manguezal, aulas práticas para os
turistas no manejo dessas embarcações, observação da fauna local e outras
iniciativas podem dar à população local uma nova alternativa de renda. A restinga
entre Piracanga e a cidade de Itacaré apresenta inúmeros frutos comestíveis.
Através da visitação controlada com guias nativos, esses frutos dariam uma
experiência fascinante ao turista.
Em Taboquinhas, o turismo está começando com a Agência Ativa, que promove o
rafting no Rio de Contas. Mas a localidade, que será passagem da nova estrada
asfaltada que ligará Itacaré com a capital, tem também várias cachoeiras, e a
trilha dos pescadores, pela beira do rio, é uma aventura bem atrativa, com inúmeras
cachoeiras, corredeiras, praias e oportunidades para banho de rio. Há um trecho de
canhões e gargantas, em que é possível ao turista mergulhar no rio de rochas com
mais de sete metros de altura, como a pedra da Adrenalina. Também há uma
estrada centenária (para pedestres e animais), calçada de pedras, por onde
passavam as mulas para o transporte de mercadorias, cacau e, em tempos mais
antigos, pedras preciosas (dizem que o nome "Rio de Contas" teve origem com o
transporte dessas pedras). Na beira do rio, também há ruínas de casarões
centenários, sedes de fazendas e senzalas, atrativos hoje em degradação. No Pé da
Pancada, a ruína da casa sede de uma das fazendas mais antigas tem uma
plantação de cacau dentro da sala, e o que sobrou de uma senzala. A proprietária
cobra pela visitação e fotos, mas tem pouca orientação e capacidade de
investimentos para fazer um uso turístico de qualidade, que também preserve as
características do local.
Junto à cidade de Itacaré e à costa, o turismo é bastante explorado pelas barracas
de praia, pousadas, e resorts. Mas as atividades dos pescadores ainda não são
parte do roteiro. O calão, por exemplo, uma das modalidades de pesca mais
tradicionais, tem forte atrativo turístico, e poderia ser aproveitado para passeios,
principalmente se for associado com outras atividades. Este também é o caso de
várias modalidades de pesca. A pesca de tubarão, por exemplo, já está sendo
explorada de forma informal para fins turísticos. Um problema é a legalização dos
papéis do barco, para que possam pescar e levar turistas ao mesmo tempo. Devem
ser estudadas formas de legalização da documentação e garantia da segurança
dos turistas nessas atividades.
Ainda, a trilha do telégrafo, que ligava Itacaré a Ilhéus, além de outras trilhas
tradicionais que têm sido fechadas pelos empreendimentos "ecoturísticos", como o
71
Nordeste Ibama
Ilhéus Pousadeiros
BNB
O Banco do Nordeste é um PMI
pescadores. Na comunidade
pesqueira de Itacaré, o Banco
CRA
do Nordeste financiou 24
barcos para os pescadores da
Asperi (comunidade do
Forte). Entretanto, poucos Figura 19: Diagrama institucional elaborado pela
pescadores estão em dia com comunidade da Banca do Peixe.
72
Mais preocupante foi a colocação de que alguns associados não pagam em dia,
esperando que na próxima eleição os candidatos vão comprar seus votos com
quitação da dívida. Essa prática, se confirmada, além de desestimular o pescador a
permanecer em dia, levaria a distorções graves no processo eleitoral da Colônia,
com aqueles que têm mais dinheiro tendo maior chance de ganhar a eleição.
Representaria também uma forma de corrupção nociva a qualquer processo
democrático. Entre os pescadores, pergunta-se, primeiro, se o dinheiro das
mensalidades atrasadas realmente entra nos cofres da Colônia, e segundo, como os
candidatos que se utilizam dessa prática recuperam o dinheiro investido na eleição.
A Colônia já promoveu vários cursos para os pescadores:
- Da Capitania dos Portos, para licenciamento dos pescadores e seus
barcos;
- Do Ministério da Agricultura, para recadastrar os pescadores;
- Da BahiaPesca, sobre motores, matemática, carta náutica e groseira;
- Com a Asperi, sobre Liderança Comunitária e a Reserva Extrativista de
Itacaré.
Para alguns, falta ainda a capacitação do pescador nos cuidados com o peixe
depois de pescado, até entregá-lo ao comprador. Esse curso já foi dado na Asperi,
mas um dos participantes disse que o convite não foi feito aos pescadores da
Colônia. Um outro curso sugerido foi para os camelôs/ atravessadores, de como lidar
com a comunidade.
11.2.2 - Asperi
A Asperi - Associação dos Pescadores e Marisqueiras de Itacaré tem hoje 34 sócios.
Foi fundada em 1995 a partir de um trabalho de organização promovido pelo
Professor Raimundo, e pescadores interessados. No final, a maior parte dos
pescadores que foram financiados tinham origem em outros municípios, apesar de
já estarem vivendo em Itacaré. Isso deu à Asperi uma identidade diferente e criou
uma certa rivalidade com pescadores nativos. O financiamento do Banco do
Nordeste para 24 barcos foi uma das grandes motivações de formação da
Associação. A Associação tem também assistência do Governo do Estado, através
da BahiaPesca. Hoje, a Asperi tem um patrimônio maior que a Colônia Z-18, mas
não tem o mesmo valor de representatividade política, na opinião dos pescadores
da Banca. Além dos barcos, a Asperi tem uma fábrica de gelo e câmara frigorífica,
e um escritório equipado com computadores e máquina copiadora. Através da
comercialização do pescado, a Asperi mantém suas próprias despesas e
funcionários.
Como muitas entidades, há problemas de participação: falta união e participação
ativa dos sócios, que se comportam de forma individualista e não contribuem para
a Asperi. Um dos indicativos é que os associados estão vendendo para fora da
Asperi, em outros locais, ou não estão contribuindo com a taxa devida à Asperi (10%
do pescado para aqueles que não entregam à Asperi). Alguns, depois de terem
conseguido os barcos pararam de participar. Um outro caso que ilustra os
problemas de participação é que, ao tentar punir alguns associados que não
77
De fato, o Ibama pode ser um importante aliado. Em 2000, uma equipe do Ibama
ajudou em fiscalizações promovidas por pessoas ligadas ao Grupo de Trabalho,
contra pessoas de fora que estavam levando guaiamuns e contra guinchos que
estavam pescando no defeso do camarão. Em 2001, recentemente, uma diligência
do Ibama fez um ótimo trabalho de quatro dias, a mando do Ministério Público
Federal, de Ilhéus, com recursos do CNPT/Ibama de Brasília. Essa missão, em que os
fiscais do Ibama tiveram uma atuação exemplar, deu bastante apoio à proposta da
Resex em Itacaré.
O Sr. Cláudio Magalhães, também em Itacarezinho, cobra aos campistas pelo uso
da área de marinha no verão. Não se sabe se esses proprietários pagam
aforamento ou taxa de ocupação pela área da União.
Ainda em Itacarezinho, uma área de marinha importante é a do Porto de Jangadas,
que foi fechada com cerca e teve sua vegetação e topografia alteradas pela
fazenda de Durval Lélis. O aterro construído interrompeu o curso de um riacho que
desaguava no Porto de Jangadas. O local era utilizado para a construção e abrigo
das embarcações.
Nas praias urbanas de Itacaré, a área de marinha também encontra-se com uma
série de problemas. A praia da Concha está completamente ocupada por barracas
de praia, com fossas muito próximas à agua. Há um camping na área de marinha, e
não se sabe se pagam aforamento ou taxa de ocupação. A praia da Tiririca é a
mais perturbada por construções e pousadas. Várias pousadas foram construídas
em área de marinha, irregularmente, nessa praia.
As áreas de marinha nos estuários têm grande importância para os estrativistas, pois
é nelas que coletam guaiamuns, caranguejos e outros mariscos. Em boa parte, essas
áreas foram fechadas pelos proprietários e foram desmatadas para plantios de
coco e cacau, entre outras culturas, principalmente no Rio de Contas. Esse
desmatamento é ilegal, pois foi feito em área de preservação permanente. Além
das áreas de marinha no estuário do Rio de Contas, as áreas de marinha nos
pequenos riachos ao longo da costa também têm sido fechadas aos extrativistas,
como é o caso do mangue e do apicum na Prainha e na praia de São José. O
fechamento dessas áreas é feito através de ameaças e cães ferozes. Para garantir a
subsistência dos extrativistas de Itacaré, é necessário verificar a situação de cada
uma dessas áreas, reabrindo o acesso dos extrativistas às áreas da União. Alguns
proprietários e ocupantes das áreas de marinha dizem ter documentação, e muitos
alegam que, ao fechar as áreas aos extrativistas, estão ajudando a preservar a
natureza. "Eu sou ecologista", é uma declaração freqüente daqueles que estão
privatizando as áreas da União. Entretanto, como o desmatamento dessas áreas
demonstra, sua preocupação ambientalista é, no mínimo, contraditória.
Estrada do Telégrafo (também conhecida como "Pedestra") que vinha de Ilhéus até
Maraú.
Entretanto, a Trilha do Telégrafo foi fechada em vários pontos, ferindo os costumes
tradicionais e aumentando os custos de transporte. Da comunidade, em direção a
Itacarezinho, a trilha é aberta a pedestres mas fechada para animais, o que dificulta
práticas comerciais de moradores de Campo Seco, que não podem circular com
seus produtos. No sentido oposto, de Campo Seco para Itacaré, a trilha está
fechada na propriedade de Arnô Bovilliard de St. Symphoqlen (um francês), e em
dois pontos na Fazenda São José (Vilas de São José/ Itacaré Ecoresort), onde foi até
mesmo aterrada.
A Estrada do Telégrafo sempre foi um caminho público, mantido pelo Poder Público.
Por exemplo, a Prefeitura contratava a limpeza da trilha. Além disso, a trilha é
histórica. Até hoje se encontram postes de ferro da linha de telégrafo, ou pelo
menos a sua base, ao longo do caminho. É o caminho mais curto de Itacaré para as
praias do sul e, embora só permita a passagem a pé ou de animal, é também uma
excelente atração potencial para o ecoturismo, para pessoas adeptas de
caminhadas, ou treking. Infelizmente, os próprios empresários do setor turístico estão
impossibilitando a passagem nessa trilha, colocando seus interesses acima dos da
coletividade.
A Estrada do Telégrafo deixou vestígios históricos até mesmo nas cidades de Itacaré
e Ilhéus: os pontos de partida e chegada, tanto em Itacaré como em Ilhéus, têm o
nome de "Rua da Linha", em referência à linha telegráfica. Em Itacarezinho, o local
por onde passa a trilha também tinha o nome de Rua da Linha, quando havia mais
famílias e Itacarezinho era um povoado.
O fechamento da Estrada do Telégrafo causa prejuízos à população local porque
aumenta a distância das comunidades pesqueiras rurais (Itacarezinho e Campo
Seco) a Itacaré. Isso impossibilita ou dificulta o uso de animais para o transporte de
carga e pessoas, e torna as pessoas dependentes na estrada e no ônibus.
Para as praias, sempre houveram trilhas utilizadas pelos pescadores da comunidade
de Campo Seco para chegar aos pesqueiros. Esses caminhos atravessam
propriedades particulares e existem há gerações. Há alguns anos, essa situação
começou a mudar. Com o crescimento turístico de Itacaré, as terras na costa
passsaram a ser adquiridas por pessoas de fora, muitas vezes estrangeiros, que
começaram a fechar os caminhos e trilhas tradicionais. O proprietário Arnô, por
exemplo, fechou a trilha do Telégrafo com uma cerca. A comunidade abriu uma
passagem na cerca ao lado, que acabou sendo aceita pelo proprietário (como
indica a porteira improvisada no local pelos seus funcionários), mas o proprietário
continua tentando restringir a passagem daqueles por quem não tem simpatia. O Sr.
Silva, administrador da propriedade (Fazenda Sto. Antônio) do falecido Sr. Gilles
Bovilliard de St. Symphoqlen (irmão do Sr. Arnô) fechou a estrada para a praia de
Pauva com um "cancelão" e cadeado. A própria cancela teve sua parte superior
84
cercada por arame farpado, para que a comunidade nem mesmo possa pulá-la e
utilizar sua trilha tradicional para chegar ao pesqueiro5.
Um outro conflito relatado pela comunidade foi com o Sr. Albert, também
proprietário, que também fechou a estrada para a praia de Arruda e Pauva, que
passa em sua propriedade. De acordo com a história da comunidade, Albert já
ameaçou com revólver um dos moradores na frente da filha deste, que ao tentar
escapar acabou se machucando no arame farpado. Ele ainda deu queixa duas
vezes na delegacia sobre moradores da comunidade. Ironicamente, o Sr. Albert,
que não permite a passagem por dentro de sua propriedade, para chegar lá, passa
pelas propriedades de vários dos moradores tradicionais. A única pessoa que tem a
chave do cadeado e autorização para passar é o chileno Álvaro, proprietário das
terras junto à praia.
Entretanto, segundo a comunidade, as disputas não se restringem aos estrangeiros.
Em Jeribucaçu, o Sr. João (gerente) não quer que as jangadas sejam guardadas na
beira do rio, e tem ameaçado soltar as jangadas na corrente. Segundo os
moradores do Campo Seco, o Sr. João não quer que ninguém pesque na beira do
rio, "na minha porta". De acordo com o relato da comunidade, o Sr. João já
ameaçou com escopeta calibre 12 jovens da comunidade e, por seu próprio
discuido, acabou sendo atingido no pé pela própria arma. Na praia da Engenhoca,
moradores do Campo Seco denunciaram que João atira para o ar para intimidar
pescadores e banhistas, quando se juntam em grandes números. O Sr. Luciano é o
proprietário da área da Engenhoca, e das duas margens do Jeribucaçu (suspeitam
que a margem norte tenha sido comprada com "testa de ferro"). Recentemente
houve uma transação de terras na região, alterando os proprietários. Não sabemos
como ficou a configuração final.
Na seção a seguir, descrevemos a questão das terras em Itacarezinho, onde
também há problemas com os caminhos traducionais.
5 Uma disputa particular que ilustra o caráter de Silva e Arnô é que o Sr. Romildo "Chapéu
Branco" tinha uma novilha e um garrote nas terras de Gilles quando este morreu. Ao tentar
recuperar seus animais, o Sr. Silva se recusou, e chegou a ameaçar Chapéu Branco de
morte. Chapéu Branco deu parte na polícia na tentativa de reaver seus bens, conforme
certidão passada pelo escrivão de Polícia da 7a. Coordenadoria de Polícia em Itacaré. Os
Srs. Silva e Arnô acabaram abatendo a novilha e vendendo o garrote, conforme ofício 15/00
da procuradora Flávia Cerqueira Sampaio ao delegado Eduardo Lemos Barcelos. Chapéu
Branco apresentou três testemunhas mas o delegado não as ouviu. O Sr. Arnô acabou
"inventando", segundo Chapéu Branco, que este o ameaçou de morte, e deu parte deste à
polícia. O delegado também não garantiu a integridade dos bens de Chapéu Branco.
Apesar da ordem dada pelo delegado para que Arnô e Silva não vendessem os animais, e
deles terem vendido, nada foi feito para remediar a questão. Chapéu Branco está
esperando pelo resultado da Justiça. Por atitudes como essa, Arnô já sofreu sanções pela
comunidade, por exemplo, como no dia em que as pessoas se reuniram, impediram a sua
passagem pela estrada e quiseram atear fogo no seu carro.
85
Extrativista Marinha de Itacaré. Essas ilhas são áreas pertencentes à União ("terrenos
de marinha").
Segundo informações dadas por um morador local que acompanhou a
negociação de ilhas entre Dona Lili (antiga "proprietária"), do povoado de Caubi, e
Adroaldo, foram somente duas as ilhas "vendidas". Entretanto, Joselito, de Ubatã,
que esteve presente no local, disse que tinha "comprado" todas as ilhas de
Piracanga de Adroaldo, que teria feito um documento (recibo de compra e venda)
incluindo todas as ilhas (cinco hectares). Trata-se de um documento de compra e
venda, que não especifica quais foram as ilhas adquiridas, e que não tem qualquer
validade em áreas de marinha. Joselito disse também ter "vendido" as ilhas de
Piracanga ao vereador Vivi e a Luís da Balsa.
Essa ameaça resultou na mobilização da comunidade e em uma representação ao
Ministério Público Federal, que ordenou ao Ibama/Ilhéus que investigasse o conflito,
e também as infrações ambientais presentes na área, como o desmatamento de
uma área de mangue pelo Sr. Humberto Hugo. Como resultado, o Sr. Humberto
Hugo foi autuado e multado em R$1.500,00. Os planos de Vivi e Luís, até o momento,
não foram colocados adiante. Apesar de essas ações terem tido bons resultados,
um líder da comunidade passou a sentir-se ameaçado, pois um homem estranho
passou a rondar a comunidade e todos acreditavam ser ele um pistoleiro.
O conflito descrito acima não foi a primeira vez em que a comunidade de
Piracanga se sentiu ameaçada por supostos proprietários. No final de 2000, a
comunidade começou a sofrer pressão por parte dos senhores Hector Eduardo
Bonder (um argentino) e Leila Küntgen, proprietários de um terreno em frente ao
mar, junto ao Rio Piracanga, do lado de Maraú. Os referidos proprietários vinham
ameaçando retirar três famílias que ocupam ilhas do Rio Piracanga. Eles alegavam
possuir título sobre uma área incluindo as ilhas ocupadas por essas três famílias, que,
como foi dito acima, são terrenos de marinha (na verdade sua documentação era
frágil, e consiste em uma série de documentos de transferência possessória). Eles
também alegavam possuir contatos políticos, que deveriam facilitar essa violência
contra a comunidade de Piracanga.
Em conversa de João Batista com Hector Eduardo, este acusou-o de estar sendo
corretor de áreas da União (o que não é verdade6) e disse que o Sr. Augusto dos
Santos deverá sair da ilha que ocupa "nem quem sabe no chumbo". Isso mostra o
grau de intranquilidade que estavam vivendo. Esses moradores, porém, têm sido
defensores da área. João Batista A. Viana, por exemplo, costuma recolher o lixo das
praias e defende as tartarugas marinhas e seus ninhos. O Sr. Augusto dos Santos,
outro posseiro na área, e ameaçado de expulsão, está replantando o mangue junto
ao seu rancho de pesca.
13.1 - Itacaré
De acordo com o histórico elaborado pelos membros do Grupo de Trabalho e outros
pescadores e marisqueiras (Figura 16), a quantidade de guinchos atuando na costa
de Itacaré tem aumentado muito desde 1980. A pesca predatória, que inclui os
guinchos, também tem aumentado, embora o uso de bombas, que era feito na
década de 80, tenha desaparecido. O uso de compressor para pesca subaquática,
uma ameaça mais séria ao pescado, na opinião dos participantes, surgiu em 1990.
Uma outra prática considerada predatória é a rede de espera, que espanta os
cardumes e pega os peixes de passagem. O aumento do número de guinchos em
2000 explica a representação do aumento da pesca predatória neste ano.
Em consequência, os peixes têm diminuído em quantidade e tamanho. De 80-85,
havia muito peixe. Em 85, as redes de arrasto começaram a afetar os peixes. Em 90,
os guinchos fizeram seus efeitos serem sentidos, juntamente com a pesca de
compressor.
O camarão teve sua maior queda em 90-95, devido a fatores climáticos, aumento
forte do número de guinchos e o desrespeito ao defeso por parte de alguns
pescadores. As tartarugas têm diminuído ano a ano, apesar de ainda estarem
presentes na praia da Engenhoca, Itacarezinho e Piracanga. As lagostas tiveram sua
maior pesca no período de 90-95, quando eram pescadas com rede e deram boa
renda aos pescadores. Depois, sua abundância foi diminuindo, provavelmente
devido à sobrepesca por pescadores locais e de fora.
90
Guinchos Asperi Pesca Peixe Camarão Tartaruga Lagosta Caranguejo Pitu Estrada Turista Calão Dinheiro
predatória asfalto
80 2 Bomba 20 40 30 Sem 50 5 2 (mais 2 Cacau 80
Guincho exploraç veranistas) Pesca 20
Rede arrasto ão Turismo 3
3 (chan-
chan)
85 4 Bomba 15 38 25 Pesca 40 4 4 2 Cacau 80
Guincho no Pesca 25
R.ede guincho Turismo 4
arrasto
6
90 8 Guincho 10 30 15 50 30 4 10 4 Cacau 65
Arrasto Pesca 80
Compressor Turismo
Rede de 10
espera
10
95 16 96 - Guincho 4 15 8 30 15 3 98 - 20 5 Cacau 10
Fund. Arrasto Inaugur. Pesca 50
98 - Compressor (2 de Turismo
Financ. Rede de ilhéus) 25
espera
18
2000 20 Crescime Guincho 2 3 1 10 5 1 Aumento 50 3 Cacau 1
nto Arrasto de (turismo) Pesca 20
Compressor automó- Turismo
Rede de veis 50
espera
25
13.2 - Taboquinhas
Os participantes de Taboquinhas elaboraram o histórico participativo dos recursos
naturais próximos à sua comunidade. Primeiro, o grupo identificou alguns elementos
que interferem na vida da comunidade pesqueira de Taboquinhas: peixe, pitu,
curuca, pesca com bomba, canoa, pesca de mergulho, pesca com tarrafa, rede
de arrasto, vegetação e vassoura de bruxa. Em seguida, escolheram algumas datas,
usando marcos históricos importantes nos últimos 40 anos, além de uma previsão
para o futuro: 1960, 1970, 1985, 1994, 2001 e 2010. A seguir encontra-se um resumo
das relações que os participantes traçaram a partir de cada elemento:
Peixes: a constatação de que a quantidade de pescado diminui ao longo do
tempo foi uma unanimidade no grupo, sendo enumerados diversos fatores que
contribuíram para isso: o aumento do número de pescadores, em grande parte
devido ao declínio do cacau, o desrespeito à época de desova e ao tamanho
adequado das espécies para a pesca. A tendência futura, se nada for feito, é
diminuir ainda mais.
Pitus: a quantidade de pitu também diminuiu bastante em relação ao número de
pescadores, fazendo o preço subir muito. No entanto, o lucro com a venda do pitu
fica concentrado nas mãos de atravessadores, que compram por R$ 12,00 e
revendem em Ilhéus por R$ 18,00, e nas mãos dos donos de restaurante, que
vendem um ou dois pitus pelo preço de um quilo. O pitu vai se criando nas
barragens, até a liberação da água duas vezes por ano. A tendência futura, se
nada for feito, é diminuir ainda mais.
Curucas: a quantidade de curuca também diminuiu, mas ela ainda serve como um
“socorro na hora da precisão”. O quilo de curuca custa R$ 5,00 e é consumida pelas
classes intermediárias (bancários, pescadores, etc.). Os participantes lembraram
épocas em que a curuca “sumiu”, mas não sabem ao certo as razões disso. A
tendência futura, se nada for feito, é diminuir ainda mais.
Barcos: o número de barcos diminuiu ao longo do tempo, pois o nível médio das
águas do Rio de Contas diminuiu e aumentaram os banco de areia, tornando-o de
difícil navegação. Isto ocorreu devido à construção de duas barragens e à retirada
da mata nas margens do rio. Além disso, no passado não havia estrada, então o rio
era o principal meio de transporte de passageiros e produtos. Até 1985, o transporte
era feito de canoa de Ubaitaba até o Banco, do Banco até o Pé da Pancada de
burro e a pé, por uma trilha calçada, chegando finalmente a taboquinhas
Taboquinhas. De Taboquinhas a Itacaré, o transporte era feito de barco. A
tendência futura, se nada for feito, é diminuir ainda mais a trafegabilidade e o
número de barcos.
Pesca com bombas: o uso de bombas para a pesca no rio foi diminuindo com o
tempo e não existe mais hoje em dia. Não se prevê essa prática para o futuro.
92
Canoas: o número de canoas diminuiu muito, pois não há mais, nas redondezas, o
tipo de madeira adequada para sua construção. Só próximo à estrada de Maraú é
possível encontrá-la, mas o Ibama proíbe sua extração. Além disso, canoas feitas de
outros materiais, como alumínio são muito caras para os pescadores de
Taboquinhas. A diminuição da importância do transporte pelo rio também explica a
diminuição no número de canoas. A tendência futura, se nada for feito, é diminuir
ainda mais.
Pesca de mergulho: inicialmente só pescavam peixes grandes através desse
método, o que não acontece mais hoje, devido à luta pela sobrevivência.
Aumentou muito nos último tempos, o que deve continuar.
Pesca com tarrafa: a pesca com tarrafa aumentou muito, sendo que as malhas são
cada vez mais finas para aumentar a quantidade de pescado, o que foi
condenado como uma prática predatória. Essa prática vai, provavelmente,
continuar nos mesmos níveis no futuro, ou aumentar.
Rede de arrasto: essa prática diminuiu muito ultimamente pois, segundo eles, há
maneiras mais fáceis de conseguir o pescado.
Mata: diminuiu devido à retirada de madeira para construção de canoas e
queimadas para plantio e criação de animais. As queimadas foram bastante
criticadas pois impedem o crescimento da madeira nova. A tendência futura, se
nada for feito, é diminuir ainda mais.
Vassoura de bruxa: surgiu mais ou menos em 1990 e acabou com toda a produção
de cacau. Alguns agricultores estão fazendo a enxertia do cacaueiro, mas agora a
vassoura de bruxa está aparecendo também na enxertia, quando não é bem feita
(?). As pessoas mais pobres, que trabalhavam nas roças de cacau perderam seus
postos e tiveram que se tornar pescadores. A tendência futura, com os novos clones
resistentes ou tolerantes à doença, é diminuir o problema.
Pescadores: o aumento populacional em si fez com que aumentasse o número de
pescadores, o que foi acentuado com o declínio da cultura do cacau, tornando a
pesca a única alternativa de sobrevivência para a maioria da população. Além dos
adultos, os jovens e crianças passaram a pescar para complementar a renda
familiar. O número de pescadores vai provavelmente se manter alto no futuro
próximo.
14.1.1 - Objetivos
Recuperar e usar de forma sustentável os recursos naturais da área da futura
Reserva Extrativista Marinha de Itacaré, aumentando a abundância de peixes,
lagostas, camarões e outros recursos, e protegendo a natureza e a base das
atividades econômicas da população extrativista de Itacaré.
14.1.2 - Estratégias
a) Obter do CNPT/Ibama a criação da Reserva Extrativista Marinha de Itacaré;
b) Organizar a comunidade em uma associação para gerir a Reserva, com
representantes de cada comunidade, e grande participação comunitária;
c) Educar e conscientizar extrativistas (pescadores, pescadoras e marisqueiras) e
visitantes a respeito da conservação da natureza, formas não predatórias de
utilizar os recursos e cuidados que devem ser tomados com o lixo e outros
problemas;
d) Buscar alternativas para as práticas predatórias, como novas atividades e fontes
de renda;
e) Cadastrar os pescadores e orientá-los para que recebam o seguro-defeso e
possam, assim, respeitar as épocas em que a pesca de algumas espécies é
proibida;
f) Promover a fiscalização ambiental, através de fiscais colaboradores e em
parceria com o Ibama e outros órgãos, fiscalizando tanto as pessoas
cadastradas na Reserva como as pessoas de fora, para que as Normas da
Reserva (plano de utilização) sejam respeitadas.
g) Definir o tamanho mínimo das espécies e a época correta dos defesos para a
situação específica de Itacaré;
h) Seguro-defeso para os extrativistas de caranguejos, guaiamuns e pitus.
i) Cobrar o tratamento dos esgotos de Itacaré e Taboquinhas;
94
14.2.1 - Objetivos
a) Melhoria da renda e das condições de vida dos extrativistas de Itacaré, com
especial atenção à renda das mulheres, das populações rurais e dos pescadores
sem embarcação.
14.2.2 - Estratégias
a) Conservação, para aumentar a quantidade de peixes, camarões e mariscos.
b) Turismo para o pequeno: organização comunitária para o favorecimento da
população de baixa renda, e das comunidades pesqueiras, nas iniciativas
ligadas ao desenvolvimento turístico de Itacaré.
c) Alternativas de pescaria para a época do defeso. Na zona rural, construção de
tanques para a criação de peixes e camarões.
d) Na zona rural, material de pescaria, jangadas, energia elétrica e transporte para
a produção.
e) Manejo dos recursos vegetais para que funcionem como alternativa de renda
para homens e mulheres.
f) Preservar a natureza e respeitar as Normas da Reserva.
g) Organização comunitária, com formação de associações, e de uma
cooperativa para a comercialização do pescado, agência de ecoturismo e de
mergulho.
h) Aumentar o número de extrativistas que se beneficiam do seguro-defeso.
f) Turismo e ecoturismo.
14.3.1 - Objetivos
a) Estimular o máximo de participação da comunidade, respeitando o ritmo de
cada um, favorecendo a união entre os extrativistas e integrando as
comunidades pesqueiras de Itacaré.
b) Permitir que os pescadores e marisqueiras controlem o poder na Reserva, e
tenham mais influência na sociedade em geral.
c) Fortalecer as mulheres, estimulando sua participação e envolvimento na
organização comunitária.
d) Envolver todos os extrativistas na implementação das Normas da Reserva, para
que sejam obedecidas e aplicadas.
e) Promover a educação ambiental.
14.3.2 - Estratégias
As seguintes estratégias foram sugeridas pelos representantes das comunidades:
a) Estabelecer uma organização através de representantes, que possam levar as
informações da Associação para as comunidades e, no caminho inverso,
possam representá-las junto à Associação. Os representantes serão eleitos por
suas próprias comunidades.
100
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106
29 Reunião do 30 Banca do Peixe 31 Banca do Peixe 1 Banca do Peixe 2 Sistematizar Banca 3 Itacarezinho 4 Itacarezinho
Grupo de Trabalho; Trabalho de campo do Peixe Equipe UESC: Sylvia,
da UESC: praias Monica, Gecely,
Pela manhã:
Lucio, Cíntia
Trabalho de campo Rubens, Sylvia, desembarques –
da UESC Periodo da Gecely, Erminda, ASPERI e Colonia
tarde: Rio de Lucio, Luis, Julio, Equipe UESC:
Contas Monica Gecely, Monica
Rubens, Sylvia, Luis,
Monica, Erminda.
Clara, Ananda,
Renato
5 Reunião Grupo de 6 Banca do Peixe 7 Banca do Peixe 8 Sistematização 9 Sistematização 10 Taboquinhas 11 Taboquinhas
Trabalho
Trabalho de campo
FEVEREIRO
da UESC:
praias/manguezal
Rubens, Sylvia,
Gecely, Erminda,
Lucio, Monica,
Ananda, Clara
109
Grupo de Trabalho reunião geral reunião geral reunião geral reunião geral Diagnóstico Diagnóstico
Dia 23/1/2001
Durante a introdução das atividades do dia aos participantes, a dinâmica "para
quem é a carta?" foi realizada para deixar os participantes mais atentos para a
discussão e, ao mesmo tempo, obter informações sobre a composição do grupo.
Após uma breve revisão do dia anterior, dividiu-se os participantes em dois grupos,
um grupo de mulheres e outro de homens, tendo como objetivo comum a
confecção do mapa do Rio das Contas, envolvendo todos os recursos naturais e
artes de pesca. Professores do Núcleo de Oceanografia da UESC acompanharam o
desenvolvimento do trabalho nos dois grupos.
Dia 24/1/2001
Inicialmente, foi apresentado o Grupo de Trabalho pela Criação da Resex Marinha
de Itacaré, e os membros do grupo discorreram sobre a importância e os passos da
Resex, do grupo, do CNPT e do laudo biológico. Em seguida, os professores da UESC
explicaram a importância da interação do conhecimento científico e local,
resultando num trabalho mais completo.
Na sequência, os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos, com
a finalidade de aprimorar as discussões sobre os recursos naturais no mapeamento
111
realizado no dia anterior. Cada grupo ficou com um dos mapas feitos no dia
anterior, sendo que as mulheres explicaram o mapa elaborado em seu grupo e os
homens explicaram o mapa elaborado no seu. Finalizou-se o trabalho com a
apresentação das discussões dos dois grupos.
Ao final da reunião, foi explicada a importância do amor e do perdão para que o
trabalho e a cooperação em uma comunidade dêem certo. Um facilitador sugeriu
que os participantes rezassem o "Pai Nosso", por ser uma oração forte. Depois da
oração, uma pessoa presente sugeriu que se rezasse também uma "Ave Maria". Em
seguida, foi promovida uma dinâmica, o "círculo embaralhado", em que os
participantes, após formarem uma roda, soltaram as mãos, caminharam entre si,
pararam em qualquer lugar, e deram-se as mãos no lugar onde estavam para as
mesmas pessoas da roda original. Em seguida, tiveram como tarefa voltar à posição
original em roda.
Dia 25/1/2001
Realizou-se uma breve introdução do Grupo de Trabalho sobre o diagnóstico e
dividiu-se ao acaso os participantes para realizar o diagrama institucional (quem-é-
quem?) e a "pirâmide social". Ao final apresentou-se os trabalhos do dia e escolheu-
se os representantes do bairro na reunião geral.
É importante ressaltar que durante todos os dias no Porto de Trás as crianças tiveram
atividades paralelas coordenadas por voluntários do projeto Comunidades e
Florestas da APA de Itacaré (principalmente Diego e Valéria).
Banca do Peixe
Dia 29/01/2001 - Primeira reunião do diagnóstico
Inicialmente, foi feita a abertura dos trabalhos por Leônidas. Depois os objetivos do
trabalho foram apresentados por Ronaldo, o laudo biológico pela profa. Silvia
(UESC), e o Grupo de Trabalho por Catu.
A primeira atividade desenvolvida foi a dinâmica da "teia ecológica". Com um
barbante, os participantes são ligados uns aos outros, sendo que cada um
representa um componente do sistema ecológico e social. Após todos estarem
ligados, o desafio dos participantes foi colocar uma caneta em uma garrafa,
usando apenas os barbantes para segurá-la. Foi discutido que sem equilíbrio no
sistema, não seria possível cumprir a tarefa. Mostrou-se ainda que uma ação em um
elemento da teia causava alterações em todos os outros.
Em seguida, os participantes passaram à confecção de um mapa dos recursos
naturais, partindo de um mapa anteriormente elaborado pelos pescadores da
Banca. Um dos participantes descreveu o mapa ainda incompleto da área que
possivelmente contemplará os limites da reserva. Os participantes então
completaram o mapa e discutiram a situação dos recursos naturais e as
modalidades de pesca. Durante todo o trabalho, houve uma boa discussão sobre
as possíveis normas da Resex.
112
Comunidade do Forte
Dia 13/2/01 – Primeiro dia de reunião
O trabalho iniciou-se com uma breve apresentação dos facilitadores e do grupo de
trabalho. Em seguida, explicou-se o que é a Resex Marinha, para que ela serve; e os
facilitadores procuraram esclarecer as muitas dúvidas que surgiram. Para ajudar a
responder essas dúvidas, Catu utilizou o exemplo de Arraial do Cabo, onde a
prefeitura não dava apoio à Resex, mas a justiça quase sempre tinha uma postura
favorável. Um facilitador explicou também todo o processo de trabalho que
aconteceria na comunidade. Após esse contato inicial, foi realizada a dinâmica da
teia ecológica e desafio da caneta. O desafio da caneta foi cumprido após cinco
tentativas. Na sequência, os participantes fizeram o mapa dos recursos naturais da
área da Resex.
comprará 20 barcos B-18. Isso deu margem a uma discussão sobre a necessidade
de incluir, entre as regras da resex, um limite para o número de barcos de cada
proprietário.
Em seguida, os facilitadores propuseram a construção da pirâmide social, que foi
organizada, por escolha dos participantes, primordialmente com base no poder
econômico e depois pelo poder político de cada elemento.
Os facilitadores explicaram a metodologia para a continuação do trabalho,
enfatizando a necessidade de voluntários para serem representantes da
comunidade nas reuniões gerais. Alguns participantes se ofereceram. Os
facilitadores também reforçaram o convite para as reuniões do grupo de trabalho e
deram informações sobre o andamento, no Ibama, das portarias relativas aos
guinchos e à pesca de mergulho. Além disso, consultaram o grupo sobre a
possibilidade de escrever um artigo sobre os trabalhos para a criação da resex para
ser publicado no próximo jornal da APA. Todos concordaram, pois acreditam que é
importante manter a comunidade informada sobre resultados do diagnóstico feito
até o momento.
Os participantes demonstraram ansiedade em relação ao tempo restante até a
criação da reserva, perguntando se ela ocorrerá ainda esse ano. Os facilitadores
responderam que não podem garantir, pois isso depende da organização da
comunidade e também da agilidade de alguns órgãos, como o Ibama.
Para finalizar a reunião, foi feita a dinâmica dos “números em fila”, buscando uma
valorização da comunicação para que os esforços coletivos obtenham resultado.
Itacarezinho
Dia 3/2/01 – Preparativos para a reunião
Os preparativos para a reunião consistiram no adiantamento do almoço que seria
oferecido e em vários contatos com a comunidade local, feitos de casa em casa e
na praia, após o jogo de futebol dos pescadores. Durante os contatos, algumas
informações já foram levantadas.
tiveram uma introdução do que é e para que serve a Reserva Extrativista Marinha.
Ao final desta introdução, os grupos se uniram e iniciaram a confecção do mapa
fisico da área e de seus recursos naturais. Concomitantemente, fez-se um mapa da
localização dos donos e moradores locais.
Por volta das 12h30 foi servido o almoço. A retomada dos trabalhos à tarde
aconteceu com a dinâmica da "teia ecológica", e da "teia e caneta". Uma coisa
peculiar da comunidade foi a facilidade com que o grupo, na dinâmica "teia e
caneta", colocou uma caneta dentro de um coco, acertando logo na primeira
tentativa. Essa facilidade para superar o desafio da teia e caneta indica um espírito
de cooperação e união no local.
Em seguida, os mapas foram finalizados e apresentados. Houve boa discussão sobre
os recursos, o modo de usá-los, quais as normas importantes para a reabilitação e
conservação dos recursos marinhos, e principalmente sobre a posse das terras. O
encerramento dos trabalhos aconteceu com a dinâmica do "círculo embaralhado".
Campo Seco
Dia 17/2/01
No dia 17/2/01, uma equipe de três facilitadores fez a visita ao Campo Seco. Pela
manhã, foram feitas entrevistas individuais com algumas pessoas que apareceram
no local da reunião e foi feita uma observação da trilha do telégrafo. À tarde, foi
realizada a reunião, que se iniciou com a dinâmica da "teia ecológica" . Em
seguida, os participantes elaboraram um mapa da comunidade. Durante a
discussão sobre o mapa, os facilitadores deram informações sobre resexs,
explicaram a forma como estão sendo feitos os trabalhos para criação da reserva e
convidaram as pessoas a participarem do grupo de trabalho. No final, foi feita a
dinâmica do círculo embaralhado.
12,1 m
11 Medidas tomadas
-14 16’ 34.8” -39 00’ 52.8” em ambos os lados
de uma frente de
12 3,1 m
maré vazante.
Acantharia S. hispida(*)
Foraminifera S. minima(*)
Siphonophora S. serratodentata(*)
Bassia bassensis(ª) Appendicularia
Muggiea kochi(+) Oikopleura dioica(*)
Diphes bojani(*) O. longicauda(*)
Agalma elegans(ª) O. rufescens(*)
Hydromedusae (n. id.) Fritillaria spp(*)
Acoela Thaliacea
Nematoda Thalia democratica(*)
Pteropoda Doliolum nationalis(*)
Creseis acicula(*) Meroplâncton (larvas)
Limacina spp(*) Polychaeta
Decapoda Bivalvia
Lucifer faxoni(*) Gastropoda
Amphipoda Cirripedia
Isopoda (Epicaridea) Decapoda
Ostracoda Bryozoa
Conchoecia spA(*) Echinodermata
Cladocera Fish eggs and larvae
Evadne tergestina(*) (ª) espécies da Corrente do Brasil (AT)
(*) espécies encontradas tanto na AT
Cumacea
como em águas costeiras
Chaetognatha
(+) espécies costeiras
Sagitta enflata(*)
S. friderici(*)
122
Hidrosera triquetra - - - x
Leptocylindrus danicus - - - x
Lithodesmium undulatum - - - x
Meuniera membranacea (= Stauroneis - - - x
membranacea)
Microcystis aeruginosus x x - -
Nitzschia spp - - x x
Odontella mobiliensis - x - x
Oscillatoria cf agardii x x x -
Oscillatoria sp1 x x x -
Oscillatoria sp2 x x - -
Pleurosigma angulatum - - - x
Pleurosira laevis (= Biddulphia laevis) x x x x
Proboscia alata - - - x
Protoperidinium conicum - - x -
Rhizosolenia setigera - - x x
Rhizosolenia styliformis - x x x
Surirella striatula - x - -
Surirella cf. tenera - - x -
Synedra ulna - - x -
Thalassionema nitzschioides - - - x
Thalassiosira eccentrica - - x x
Triceratium alternans - - - x
Trigonium formosum - - - x
Espécie não identificada 1 x x - -
Espécie não identificada 2 x x - -
Total de taxa identificados 9 18 13 24
Período Reprodutivo
Devido à grande extensão latitudinal do território brasileiro e a consequente variedade
climática, espécies de ampla distribuição, como é o caso das que aqui estão sendo
abordadas, podem igualmente apresentar variações em sua biologia reprodutiva.
A existência de um período reprodutivo longo, com alguns meses onde a desova é intensa
(picos), é comum nos camarões do gênero Macrobrachium. Em geral, os picos reprodutivos
coincidem com os meses de maior precipitação pluviométrica, que segundo Maier (1978) é
a variável climática mais importante nos trópicos. De fato, alguns estudos, realizados com M.
acanthurus, como os de Carvalho et al. (1979), na Ilha de Itaparica, Bahia, e Valenti et al.
(1986), no Vale do Ribeira, São Paulo, demonstraram que a reprodução se dá ao longo de
todo ano, com picos nos períodos de maior precipitação, entre agosto e novembro e em
dezembro e janeiro, respectivamente
De acordo com os pescadores locais, ocorre desova do pitu (M. carcinus) ao longo de todo
ano, porém ocorrem duas desovas maiores, em novembro e março, período de enchentes
no rio de Contas, o que corrobora com os fatos acima mencionados. Segundo eles, o
número de ovadas cai no mês de fevereiro. No Vale do Ribeira, esta espécie tem período
reprodutivo que vai de outubro a maio, com pico em fevereiro e março, que são os meses
mais chuvosos na região estudada (Valenti et al., 1986).
Existem poucos dados sobre a biologia reprodutiva da curuca. No rio Guaecá, estado de
São Paulo, a espécie reproduz-se ao longo de todo o ano, com dois picos reprodutivos no
verão (Galvão e Bueno, 1998).
Segundo Hartnoll (1985), C. sapidus tem somente um instar maduro, isto é, a muda da
puberdade (quando o animal atinge a maturidade sexual morfológica) é também a muda
terminal (a última da vida da fêmea), tendo um longo período de desova com múltiplas
posturas. Em geral a reprodução se dá ao longo de todo ano, ocorrendo meses onde a
desova é mais intensa.