Historia de Oliveira - L. Gonzaga Da Fonseca
Historia de Oliveira - L. Gonzaga Da Fonseca
Historia de Oliveira - L. Gonzaga Da Fonseca
Gonzaga da Fonseca
HISTRIA
DE
OLIVEIRA
1961
EDIO-CENTENRIO
Rosana
Em memria de
meu pai
Joo Antnio da Fonseca
fazendeiro que consumiu
sua vida no pioneirismo rural do Oeste mineiro.
minha me
Maria Genoveva da Fonseca
que sempre acompanhou
meus esforos, principalmente os da confeco dste
livro, e que, at morte,
sempre desejou conhecer
Oliveira.
quem me
chamou para Oliveira e a
me foi o amigo de todas as
horas: padre Jos Ferreira
de Carvalho.
Honradamente
o AUTOR.
Notcia Histrica
Estatsticas
Aspectos Pitorescos
Folclore
Biografias
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Este Livro
No nos conformvamos a que continuasse indefinidamente indita uma obra de to alta significao cultural.
Concludos em 1942, aps rdua pesquisa iniciada
em 1938, os originais deste livro foram, ento,
pacientemente datilografados e encadernados pelo autor
que, decepcionado, os trazia na gaveta, espera de quem os
publicasse.
Doze anos depois, por motivos de ordem cultural,
educativa e sentimental, levvamos a termo uma campanha
contra esse esquecimento e essa injustia. Por que, afinal,
no se editavam os originais da histria de nossa terra?
Atravs da imprensa, particularmente dos jornais A
Lanterna e Gazeta de Minas, vnhamos concitando autoridades e povo de Oliveira a que promovessem a publicao
do livro do professor Gonzaga da Fonseca.
Tnhamos presentes, ento, aquelas palavras do historiador Nlson de Sena: Desde a escola primria, convm ensinar juventude mineira a se interessar pelos negcios de seu canto, de seu burgo, da sua aldeia ou cidade;
da, do perfeito conhecimento do seu municpio, que o
pequeno cidado ir evoluindo o prprio esprito e a inteligncia, para melhor conhecer e amar a Ptria Grande que
o Brasil.
Coroados de xito os nossos esforos, conseguimos
pelo menos isto: que os poderes municipais, na administrao Jos Silveira, em 4 de setembro de 1954, merc da lei
municipal 325, de 8 de fevereiro do mesmo ano,
adquirissem do autor os direitos editoriais por trinta mil
cruzeiros, com a obrigao de, no prazo de cinco anos,
promoverem a publicao da obra. Entregues Prefeitura,
sob essa condi-
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VERSOS A OLIVEIRA
Belmiro Braga
Bendigo as ditosas plagas,
Bero de honrados mineiros.
Terra dos Castros, dos Chagas,
Dos Lobatos, dos Ribeiros.
A estes nas meias tintas
Da saudade o meu afeto:
Quatro famlias distintas.
Quatro esteios de um s teto.
Costas Pereira, Diniz.
Bernardes, Mouras, Andrades.
Pinheiros, Olmpio, Assis,
Mendes, Leites, mil saudades!
Tendo os olhos rasos dgua.
Com pesar lastimo aqui:
Se foi para sofrer mgoa,
Para que vos conheci?
Foram-me as horas benditas
Em vossa terra feliz:
das moas bonitas,
Terra dos homens gentis!
E agora penso tambm:
Abenoada a canseira
De todo aquele que vem
Buscando a vossa Oliveira!
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CAPTULO I
PR-HISTRIA DO OESTE
Primrdios Primitivos habitantes O primeiro
homem branco A "Picada de Gois" e os primeiros
caminhos O destino econmico das picadas e a
debandada para o Oeste.
PRIMRDIOS
Oliveira filha duma encruzilhada.
O que equivale a dizer que ela filha da sua prpria
geografia: um entroncamento de caminhos provocou, pelo
romrcio e pelo cultivo do solo. o aparecimento do lugar.
uma das poucas cidades mineiras, cuja fundao
no se liga presena do ouro ou de gemas preciosas.
Situada no Oeste mineiro, na zona do Campo ou
Serra Acima, ocupa sua rea territorial a acidentada regio
entre as primeiras vertentes do rio Grande, ao Sul. e as do
So Francisco, ao Norte.
Pela sua situao geogrfica, tornou-se, sobretudo
no ciclo do ouro, a travessia obrigatria de quantos
demandavam as ricas regies goianas, para onde os feitos
de sertanistas como Castanho Taques, Anhanguera e Fris
canalizaram logo um verdadeiro oceano de gente vida de
riquezas.
Antes, porm, de traarmos as primeiras tentativas
de colonizao do municpio, cumpre-nos dizer algo da sua
pr-histria.
Nesta, procuraremos saber quais os seus primitivos
habitantes indgenas, qual o primeiro homem branco a pisar
o seu solo, como se abriram os primeiros caminhos do
Oeste, qual foi o destino civilizador desses caminhos at
atingirmos a histria oliveirense propriamente dita, que
comea com os primeiros colonizadores desta regio.
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PRIMITIVOS HABITANTES
Segundo diversos historiadores e etnlogos, o Sul e
o Oeste mineiros eram primitivamente habitados pelos
Tapajs e pelos Carijs, antes que o bandeirantismo ou
outro fenmeno qualquer os deslocassem da.
Dizem at que os Carijs eram os ndios mais belos:
feies menos rudes, olhos claros, muita vez azuis e nimo
dcil.
L para o Sul, aqum e alm Mantiqueira, ficavam
os Teremembs.
Todas as naes indgenas viviam da caa, da pesca,
de frutas e razes silvestres. Da, serem determinadas regies muito disputadas, vivendo as tribos em contnuas
guerras e inter-escaramuas. Fenmeno agravado com as
"entradas", a cuja apario uma tribo tangia a outra e o
bugre, quando no reagia a golpes de tacape, ou aderia
nova raa, ou fugia para o desconhecido.
Na luta pela conquista do solo, os Teremembs
dividiram-se em duas hordas. A horda vencida ficou l pelo
Sul mesmo, espalhando-se do outro lado da Mantiqueira.
Ao passo que a horda vencedora marchou sobre o Norte,
ocupando quase todo o territrio mineiro, principalmente os
vales do rio Grande e do rio das Mortes, assumindo pretensiosamente o enftico nome de "Ca-TU-AU" (gente boa).
Por ser gutural o u indgena, catu-au se transformou em
catagu, cujo plural pode ser com ou sem s, visto desconhecerem os indgenas sse sinal de pluralizao.
Implicitamente, encontramos Oliveira includa na
regio dada por Diogo de Vasconcelos como territrio
muito povoado pelos Catagus. Diz le:
"Quando Flix Jaques, fundando Taubat, uniu-se
aos Teremembs (vencidos), e com estes transps a
Mantiqueira em guerra aos Catu-au, foram stes repelidos
para os sertes do Pium-1 e do Tamandu".
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Etimologia indgena desses vocbulos: Camacho cam, seios, e chu, coisa aguda.
Lambari alterao de alambari que, por sua vez, se apresenta como arberi ou arber-e "baratinha, peixinho". H alhures outros homnimos desse topnimo. Maracan
marac, diabo feroz, e n, semelhante. Dizem outros que marac significava
"instrumento que ruge". Assim, Maracan tudo aquilo que "semelhante cousa que
ruge". Aluso talvez s primitivas enchentes desse riacho oliveirense, que possui
homnimos por todo o Brasil. Maependi vem de mbae-pindi, "cousa aberta ou limpa";
aluso a um campo ou clareira na mata, espcie de picada, facilitando passagem.
Maependi forma muito mais consentnea com sua origem; a mais encontradia em
antigos documentos e roteiros. Existem homnimos alhures.
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Revista do Arquivo Pblico Mineiro, ano IX, fases. III e IV, pgs. 875-879.
"Requerimento dos moradores de S. Domingos do Arax, etc. em 1815"
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Rio, calcado na primitiva, mas graciosa engenharia do Caminho Novo, aberto por Garcias Rodrigues Pais e Domingos Rodrigues da Fonseca. Pais espirituais dos nossos engenheiros, eses dois bravos galgaram aquele sinistro desfiladeiro de Joo Aires, passando pela Barra do Pira, EntreRios e depois, Minas adentro, Juiz de Fora, Tiradentes, So
Joo del-Rei, Barbacena, etc.
Em ponto controvertido, esses dois galhos se fundiam num. E esse continuava, ora mais inclinado para o
oeste, ora para o norte, atravs de Bom Sucesso, Passa
Tempo, So Joo Batista, Matinha, Oliveira, Lambari,
Formiga, Bambu, Arax, Paracatu e da a Gois sem
deixar de servir, por desvios diversos, a muitas localidades
ficadas para trs, como Brumado, Pium- e Candeias.
Era como um gigantesco Y emborcado, estendido
obliquamente oeste afora. Seus cornos se dirigiam para o
sul, chifrando Rio e So Paulo. O p, esse se projetava
serto adentro, em direo do interior goiano, cortando o
vrtice superior do tringulo mineiro.
Esse caminho assumia, aqui e ali, nomes diferentes,
de acordo com as vrias regies por ele atravessadas e de
acordo com os atalhos e desvios em que se multipartia.
Caminho do Rio Preto, na travessia do rio do mesmo nome.
Estrada Real, em quase toda a sua extenso canalizadora de
boiadas. Salineira, em todo o percurso frequentado pelas
tropas e cargueiros de sal, vindos da Corte, O sal custava
ento rios de ouro. Quanto mais se afundava para o serto,
mais caro ficava.
Escoadouro de quatro provncias, um dos seus atalhos,
como vimos, atravessa o Campo Grande da Picada de Gois
(Oliveira), perfilado nessa velha e tortuosa rua da
Misericrdia, cuja assombrosa extenso vai das fraldas do
Diamante ao seu cruzamento com a ferrovia, alm do bairro
Joo Pessoa. Eis porque, apesar das terraplenagens feitas no
seu leito, a rua da Misericrdia continua profunda no seu
velho sulco pisado pelas geraes de duzentos e muitos
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Destarte, Fris guiou a Paracatu levas e levas de homens. O ouro parecia inexaurvel. Europeus voaram tambm
para l. Outros crregos invejaram o "crrego rico" e pegaram
a minar ouro tambm.
A debandada para o Oeste foi ficando cada vez mais
alucinante, atravs da picada que j se afundava sob milhes
de passadas que iam, e sob milhes de ouro que vinham.
Novos destinos se costuravam, de pouso em pouso, gerando
agrupamentos novos, entre os quais Oliveira.
Os mineradores do "crrego rico" compraram escravos
e mais escravos. Iam busc-los no Rio, boca dos naviosnegreiros. E a Picada de Gois os levou, coitados, e Oliveira
ainda em germe comea a v-los passarem a p,
encambulhados uns aos outros pelo pescoo, por meio de
trelhas e correntes, numa dolorosa ciranda tangida pelo
rebenque dos comboeiros. Presos, arrastados, retalhados,
salmorados, esvados de dor, cansao, fome e sede comeam os negros a fugir e a se aquilombar pelos socaves do
interior, em grupos organizados que lhes garantiam, pelo
homicdio e pelo saque, a subsistncia e a vingana.
Paracatu crescia como uma alvorada, entre vinhos e
mercadorias mandadas vir da Europa. As festas de igreja
despendiam somas mirabolantes. Havia at concertos musicais
e teatros. E os prprios negros, quando das suas folganas,
esparziam ouro em p no pixaim das suas danarinas.
Esgotadas, porm, as minas, acabado o ouro e empobrecidos os crregos-ricos, Paracatu parou. E ter-se-ia
sumido, se no fosse a picada.
Aquele povaru que para l fra, voou mais para
diante. Chegara a vez de Gois. A sombra de Anhanguera, o
homem do estratagema, parecia rondar por l ainda, depois de
haver revelado ao mundo as minas prdigas donde os ndios
tiravam ingnuamente lminas e fragmentos luzentes para
enfeitar suas namoradas. O ouro em p andava de mo em
mo, feito moeda. Era proibido. Mas era a moeda da poca; e
ia de mo em mo, graas ao contra-
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que seus habitantes se achavam pelas roas e fazendas, ocupados em lavrar a terra e criar seus rebanhos. E
mais do que seus colegas em exploraes cientficas como
Cunha Matos, Dr. Pohl e o baro de Eschwege , SaintHilaire se deteve e pode surpreender na gnese desta terra a
importncia do fator estradas e o labor fecundo dos lavradores e criadores.
Tendo em suas vizinhanas localidades descobertas
muito antes por bandeirantes clebres, e achando-se colocada a meio caminho das regies riqussimas que alucinaram
geraes , Oliveira pertence ao pequeno nmero das que
no devem sua fundao presena do ouro; deve-a
unicamente s vantagens da sua posio. Com efeito, diversas estradas importantes passam por este ponto: a que
vai de Barbacena a Vila de Formiga, a do distrito do Rio
Grande cidade de Pitangui, do Rio de Janeiro e So Joo
del-Rei a Gois (Picada de Gois), de vila da Campanha a
Formiga etc.12
E naquele "etc" final, Saint-Hilaire queria resumir
essa infinidade de atalhos, desvios, veredas e ramificaes
da estrada real, as quais, ligando povoados a povoados, fazendas a fazendas, muito contriburam no destino desta
cidade.
Prova de que outras picadas clebres tangiam ou
mesmo cortavam o territrio oliveirense est no fato de Antnio Dias, fundador de Ouro Preto, ter descoberto a serra
do Itatiaiuu, antes de rumar para o Tripu; e no da fundao bandeirantista da vizinha cidade de Bonfim, bem como na circunstncia sintomtica de Passa Tempo, outrora
distrito de Oliveira, e de mais antiga fundao do que esta,
ter um nome cuja razo toponiminal parece seguir a mesma
ordem de Passa Dez, Passa Vinte, Passa Trinta e Passa
Quatro.
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CAPTULO II
COLONIZAO DO MUNICPIO
Conquista do Campo Grande Sesmaria da Forquilha
Sesmarias do Campo Grande da Picada de Gois.
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No h dvida que essa invaso negra fora provocada por aquele escandaloso transitar pela picada, descrito em
pginas atrs, e que pegou a dar na vista demais. Gois era
uma Cana. Voltavam ricos os que tinham ido pobres.
Iam e vinham mares de aventureiros. Passavam
boiadas e tropas. Seguiam comboios de escravos.
Cargueiros intrminos, carregados de mercadorias,
bugigangas, miangas, tapearias e... sal.
Diante disso, negros foragidos de senzalas e de comboios em marcha, unidos a prfugos da justia e mesmo a
remanescentes dos extintos catagus, foram se homiziando
em certos pontos dessa estrada. Essas quadrilhas perigosas,
sucursais dos quilombolas do rio das Mortes, assaltavam
transeuntes e os deixavam mortos no fundo dos boqueires
e perambeiras, depois de lhes pilhar o que conduziam.
Roubavam tudo. Boiadas. Tropas. Dinheiro. Cargueiros de mercadorias vindas da Corte. E at os prprios
comboios de escravos, matando os comboeiros e libertando
os negros trelados. E, com isso, era mais uma scia de bandidos a engrossar a quadrilha.
Em terras oliveirenses acoitava-se grande parte
dessa nao de caiambolas organizados nas matas do rio
Grande e rio das Mortes, de que j falamos. E do combate a
essa praga que vai surgir a colonizao do territrio.
Mestres de campo, sesmarias e colonizadores.
Para rechaar esses negros aquilombados, os sucessivos
governadores de Minas, alm de organizar tropas de combate,
iam retalhando em sesmarias o Campo Grande, concedendo-as
aos abridores de caminhos e aos conquistadores do serto. O
Conde de Bobadela e seu irmo Jos Antnio Freire de
Andrade foram os que mais sesmarias concederam no Campo
Grande e na Picada de Gois, secundando isso com as
companhias de mestres de campo expedidas para ajudarem os
concessionrios das sesmarias a limpar das matas e caminhos
os terrveis salteadores.
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22 Sobre as sesmarias acima, cf. no Arq. Pblico Mineiro cdices 106, 134 e
140, sg. Japo chama-se hoje Carmpolis de Minas, ex-distrito de Oliveira.
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No foi fcil essa conquista. Houve combate encarniado com os quilombolas e luta com a natureza agreste da
regio. Mas para tal empresa, mobilizaram esses afoitos
senhores os seus inmeros escravos.
E valia a pena tal conquista. Aquela mata-virgem,
aquelas guas leves e saborosas, aquele clima doce e
ameno, aquelas terras gordas de humus e fertilidade, e,
acima de tudo, aquele fervilhante caminho de Gois tudo
atraa.
Justamente ali perto havia uma encruzilhada de caminhos, muito propcia ao intercmbio econmico. E cada
vez mais se intensificava o vai-vem para Gois.
Dentro dsse peloto de proprietrios, citemos os seguintes:
Jos Fernandes, Joo Cardoso, Custdio de Torres
Lima, o capito Antnio Pinto de Sousa, o sesmeiro Pedro
Gomes Barroso, o capito Manuel Martins Arruda, seu
parente Manuel Martins Gomes, Incio Afonso Bragana e
Andr Ribeiro da Silva com seus dois filhos: o capito
Serafim Ribeiro de Castro e o carpinteiro Antnio Ribeiro
da Silva, irmos somente por parte do pai.
Deste ltimo surgiu o ramo Ribeiro de Oliveira e
Silva, anos depois, com a vinda da famlia Oliveira, aqui
introduzida por um estalajadeiro aparecido ao acaso, como
veremos. Isto, quando o arraial comea a apontar entre
ranchos e morros.
Do capito Serafim, vm os Ribeiro de Castro.
De Manuel Martins Arruda, a famlia Martins que, a
princpio, encheu todo o lado oeste da cidade, legando seu
nome ao vizinho povoado dos Martins.
Do capito Antnio Pinto, os Pintos e seu povoado.
De Incio Afonso Bragana, os Afonso Bragana e
Afonso Rodrigues, de Carmo da Mata.
E a temos os mais antigos ramos genealgicos do
municpio.
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Antnio da Costa Pereira e sua mulher D. Francisca de Paula das Chagas deram a
Oliveira a ilustre educadora Manuelita da Costa Chagas (Tia Lilita).
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Jos Antnio Freire de Andrade, irmo do seu ilustre antecessor no governo da
Capitania, o general Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela.
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da Picada de Goayazes. Ficaria confrontando com os demais proprietrios j estabelecidos nas proximidades.
Prometia varrer da regio os quilombolas e criminosos que a infestavam. Fundaria, com seus scios, fazendas
de criao e culturas. Povoaria as terras com a maior rapidez possvel e chamaria todos religio de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Entre os deveres impostos aos sesmeiros, nas
doaes de terras, figurava o encargo de pagarem dellas
Dzimos como quaesquer Seculares e a condiam, de nellas
nam sucederem, Rellegeoens por titullo algum.
A doao foi logo concedida, em vista das intenes
do requerente e por se tratar de verdadeiro serto (Certam)
que no figurava nos mapas como terras aurferas.
A 26 de maio de 1753, Freire de Andrade, usando
das atribuies que lhe conferiam as reais ordens de Sua
Majestade o rei de Portugal, assinava, em Vila-Rica de
Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, a seguinte carta de
sesmaria:
"Carta de Sismaria de Ignacio Affonso Bragana.
"Jos Antonio Freire de Andrade, do Conselho de Sua
Magestade, Tenente Coronel da Cavalaria com o Governo
desta Capitania de Minas Gerais:
"Fao saber aos que esta minha Carta de Sismaria
virem que tendo respeito a me representar por sua petissam
Ignacio Affonso Bragana, morador no Brumado26, Freguesia das Congonhas do Campo, que elle se acha com fabrica
de Escravos e Gados de criassam, e como estava falto de
terras e pastos acommodados para arrumaam da dita fabrica, lhe fora percizo com bastante trabalho hir apossear
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so Bragana, o capito Antnio Pinto de Sousa e seus companheiros. Grandes eram os prejuzos e despesas que isto lhes
acarretava. Apelaram para os santos, fazendo promessas. A
mulher de Incio Afonso Bragana, inquieta com a demora do
marido e seus scios, apegou-se tanto a Nossa Senhora que, a
16 de julho do ano seguinte, era demarcada a sesmaria. Sendo
esse o dia de Nossa Senhora do Carmo, construiu-se ali uma
ermida sob sua invocao, dando, assim, origem ao nome do
lugar que, por muito tempo, foi Ermida da Mata da Senhora
do Carmo contrado depois em Mata do Carmo e
finalmente transposto em Carmo da Mata.
Com o fito de medir e demarcar a sesmaria, chegava
aqui, a 11 de julho de 1754, uma grande comitiva de cavaleiros vindos de So Jos del-Rei, atravs da Picada de Gois.
Eram os sesmeiros e seus empregados, seguidos de dois louvados, o escrivo e o dr. Intendente da Real Fazenda e Juiz
Executor de sesmarias. Este impertigado intendente ficou
hospedado "em casas de morada e sesmaria" de Manuel
Martins Gomes, no Campo Grande da Picada de Gois. Da
no se deu ao trabalho de sair atravs daquelas paragens
exquesitas e sujeitas a Quilombolas e mais prevercios que
costumam suceder em Certoens semelhantes.
No dia seguinte, guisa de quem pe os ces no mato
e fica no caminho, expediu os demarcadores e medidores,
acrescentando o seu solenssimo cumpra-se carta do
governador:
Cumpra-se e se proceda a mediam e demarcaam.
Picada de Goayazes, de Julho doze de mil settecentos
e cincoenta e quatro.
Monteiro.
E os louvados e sesmeiros partiram para as matas, para
medirem e demarcarem as terras do Boa-Vista, tomando por
pio (Piam), isto , centro de partida das medies, a
paragem chamada a posse da Forquilha, onde, em verdadeira forma de forquilha, fazem barra dois crregos
hum maior, outro mais pequeno.
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Bela Cruz ou Vera Cruz, diz uma nota margem dos originais transcritos num
processo arquivado no cartrio j referido. Verte, ao sul, para a Forquilha e sua sesmaria
e, ao norte, verte para So Bento do Tamandu
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Rodrigues ou Roiz.
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CAPTULO III
Ascenso Gradativa
Oliveira e sua razo toponmica Oliveira, filha duma paixo? O
povoado da Oliveira Capela e arraial Curato e freguesia Vila e
Municpio Primeira vereatura municipal Primeiros quadros
municipais Cadeia, forca e cemitrio Cidade Comarca.
Organizao Judiciria Juzes de direito da Comarca Os
governadores de Oliveira O atual prefeito municipal Primeira
gerao de homens pblicos do Municpio.
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da velha praa que ia, nesse tempo, at l em baixo no Maracan e que, ainda hoje, beira da antiga estrada de tropeiros, conserva o nome tradicional.
Assim plantado margem do caminho que levava a
Gois e com sua frente voltada para a estrada que seguia
para Pitangui, foi esse o primeiro templo catlico
construdo em Oliveira, numa remota poca em que as
primeiras manifestaes religiosas da aldeia se realizavam
ao p de cruzeiros erguidos sobre as colinas. Construo
frgil e improvisada, a durao dessa capelinha foi
relativamente efmera. J em 1844, o dr. Hermgenes
Francisco de Aguilar Pantoja, juiz municipal e de rfos
dos termos reunidos de So Joo e So Jos del-Rei, juiz de
direito interino da comarca e provedor geral das suas
capelas e rendas, nomeava provedor e zelador para a Capela
da Senhora Me dos Homens, j ento em "estado
decadente", diz a proviso aqui passada. E em 1855, um dos
procuradores dessa capela pagava a Jos Gomes Pereira a
quantia de 45$720, por um novo retelhamento e reparos
diversos feitos na mesma capela, cujo estado ruinoso
inspirava j srios cuidados.30
Hoje, talvez no restem pessoas idosas que dem notcia da sua existncia. Poucos a viram j em estado decrpito,
prximo a ruir-se. Ultimamente, restavam-lhe os alicerces que
a Prefeitura Municipal mandou destruir de vez, em 1923, para
aproveitar suas pedras na construo da capela da Santa Casa.
Fora o nome da praa em que existiu, o que hoje resta
da extinta capelinha a imagem de Nossa Me dos Homens,
que continua venerada pelo povo num dos altares da matriz.
ignorada a data da fundao da capela Me dos
Homens. Mas podemos presumir uns 185 anos, baseando-nos
nas datas dos primeiros documentos referentes regio e aos
quais reportamos em captulos anteriores.
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Vid. livro referente a recibos e despesas das capelas antigas de Oliveira, no arquivo
do Cartrio do 1. Oficio desta Comarca.
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Eis o texto integral: Quase oliva speciosa in campis, et quasi platanus exaltata
sum juxta aquam in plateis. Qual oliveira especiosa nos campos, e qual pltano sou
exaltada junto da gua nas praas. (O cinzelador da frase no granito claudicou um pouco
na ortografia latina, escrevendo especiosa, em vez de speciosa).
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Sobre capelas de N. S. de Oliveira em Minas, ver Instituies de igrejas no Bispado
de Mariana (1945, SPHAN, pgs. 211-212) do cnego R. Trindade. A Invocao no
exclusiva do lugar. Ela existe em Portugal e na Espanha.
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que foi atraindo para aqui os primeiros proprietrios de terras, como vimos, e os primeiros donos de estalagens.
O nome Oliveira comea a estender-se a toda a localidade, justamente na transio entre o ciclo do ouro e o
ciclo agrcola ou poca do aparecimento das grandes herdades dentro do atual permetro da cidade.
O nome , por conseguinte, anterior a plantios.
E, mesmo que fosse oriundo das ditas rvores de
oliva, o nome deveria ser ento Oliveiras, e no Oliveira.
Ora, nenhum documento antigo referente ao lugar
traz na data vila das Oliveiras, nem cidade das Oliveiras. Mas sempre: vila da Oliveira.
Variante desta ltima verso aquele chavo retrico com que quase todo orador, discursando em Oliveira,
chama-a de terra da paz, invocando enfaticamente a velha
cena bblica da pomba que regressou Arca trazendo no
bico um ramo de oliveira, como mensagem pacifista do
irado Jeov...
Sugestionado talvez por este lugar-comum, o povo
chegou at a criar outra verso ainda mais retrica. Tropeiros, partindo de Gois onde tinham sido bem sucedidos
nos negcios, desavieram-se na viagem, numa disputa que
quase raiou em derramamento de sangue. S conseguiram
chegar a um acordo mtuo, portas adentro de Oliveira, numa estalagem outrora existente no bairro dos Cabrais. E,
como smbolo da nova aliana que aqui firmaram, trocaram
entre si um ramo de oliveira: o que teria dado origem ao
nome sugestivo desta terra.
Esta verso, realmente sugestiva, poderia ser verdadeira, se tambm o fosse a segunda, isto , a que fala das
rvores de oliva.
Para encurtar, citemos afinal a verso que nos parece ser a menos infundada. No resta dvida que um
tanto romanesca, muito ao agrado do povo e, talvez por
isso, a mais insistente na tradio local.
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O mais jovem sentiu-se tocado pela generosa renncia daquele gesto nobre. E respondeu:
No. Tu que deves casar-te com ela. s mais
velho, mais poderoso e tens, pela idade, mais direito do que
eu. Ela tua. Da minha parte, j sei que rumo deverei
tomar.
Dito e feito. Ao alvorecer do dia seguinte, o jovem
Oliveira j tinha desaparecido. Uma caravana a caminho do
Oeste, e ei-lo enfim no rancho, margem da Picada de
Gois, atiando o foguinho na tripea, c nestas paragens
remotas, sombra do Diamante. Que lhe restava agora
fazer? Seguir para Gois ou ficar ali no lugarejo nascente?
Agradando-se talvez do panorama, dos seus ares e
das suas guas ou mesmo a convite dos sesmeiros que
eram tambm de Brumado e cujo interesse era povoar
depressa estas terras , o moo resolveu ficar. Domiciliouse ali ao p da serra verdejante, frente s colinas
arredondadas, propcias meditao.
Foi-lhe entregue a direo de um dos pousos
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locais. Tendo-o adaptado melhor s necessidades dos que
passavam, tornou-se em breve o pouso favorito de quantos,
indo ou vindo, por a transitavam.
E, assim, foi ficando conhecido e procurado o rancho do Oliveira, o primeiro hotel desta cidade de hotis.
Toca a mula ruana, menino! Devemos pernoitar
hoje no rancho do Oliveira.
E os viajores iam passando, e o rancho ia crescendo
com a famlia do novo estalajadeiro. Sim; o jovem Oliveira
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Na Revista do Arq. Pbl. Mineiro (ano XIX, pg. 425), v-se um capito Manuel
Lopes de Oliveira recebendo do governador Jos Antnio Freire de Andrade, a 20 de
maro de 1752, uma sesmaria de "trs lguas de terra na paragem do Campo Grande
na Picada, em que tinha sido estrada para Goyaz (sic)"... Infelizmente, no se encontram
a, nem alhures, esclarecimentos que possam identificar sse sesmeiro com o seu
homnimo da verso acima. Baldadas foram tdas as pesquisas nesse sentido.
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truo pequena, sem torre, beira da estrada, como a capelinha da Senhora Me dos Homens, l mais adiante, na
encruzilhada de Pitangui. A antiga estrada de Pitangui est
hoje perfilada na rua da Preguia (atual Padre Francisco
Barreto) e na rua Dr. Ccero Ribeiro, cujo primeiro nome
foi rua da Mata.
Velhos tropeiros, passando por aqui, naqueles remotos tempos, costumavam comentar jocosamente o fenmeno
curioso de serem as igrejas de Oliveira construdas beira
da estrada.
Como as duas fontes, estas duas igrejas tm uma importncia enorme nos comeos do arraial. Ambas, com a
frente voltada para a estrada, ali ficaram, anos e anos,
abenoando a alma erradia dos viajores e aventureiros, caadores de homens e caadores de ouro, num perpassar
constante, ora comboiando extensas filas de cativos, ora
tangendo tropas e rebanhos
Prximo fonte dos Passos, na margem oposta do
Maracan, existia tambm uma estalagem, guisa da outra
j referida. Ficava na sada para Barbacena e So Joo.
o pouso mais afamado nas crnicas locais. Supese ter sido o que pertencera primitiva famlia Oliveira,
de que j falamos.
Nenhum vestgio resta mais hoje, por meio do qual
possamos identificar o ponto da sua antiga localizao.
Mesmo entre os mais velhos, ningum h que ao menos d
notcia sequer dos esteios dessa estalagem.
Mas fato seguro que seu ponto era uma das margens da rua dos Cabrais. A que comeou a cidade.
Ora, no trecho intermedirio que vai de uma fonte
outra, ou de uma outra estalagem, eleva-se a colinamestra em que se assenta a cidade, a qual j se vai derramando pelas ladeiras e alcanando as demais colinas de em
torno, galgando-as at o cimo.
Como j ficou dito, todas estas terras pertenciam, a
princpio, a quase um s dono. Depois, as moradias torna-
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Pelo augmento que tem tido a cultura, Povoao e comrcio da nova conquista do
campo grande, e picada de Goyaez, e pela grande distancia em que fica da Villa de Sam
Joz etc., tenho determinado criar huma villa no Arayal de Sam Bento do Tamando, por
ser o maes considervel daquele Territrio Palavras do Visconde de Barbacena em
1789.
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Esse edital, j citado atrs, que comea com a expresso Arayal de Nosa Senhora do
Oliveira e termina com a de Arayal de Nosa Senhora da Oliveira. No pudemos
averiguar se foi apenas um engano da grafia original ou da posterior impresso
tipogrfica.
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Revista do Arq. Pbl. Mineiro, ano II, fase. I, 98 e 99.
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Ancestral da famlia Martins que deu origem ao vizinho povoado dos Martins.
Vid. Combate de 1769 contra os negros.
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Um dos Cabrais que legaram seu nome a um bairro da cidade.
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Cf. povoado dos Flix, oriundo da famlia Flix.
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Cf. povoado dos Fradiques, idem da famlia Fradique.
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suburbios do dito Arayal, Joaquim, Ribeiro de Moraes morador na aplicaam da dita capela, Francisco Antonio de
Moraes Castro morador nos Suburbios do dito Arayal, Antonio Ribeiro de Moraes Castro morador na dita aplicaam,
Frandisco Antonio Leitam morador na dita aplicaam, Manoel Fernandes Martins43 morador na dita aplicao, Florncio Dias morador neste Arayal, todos homens brancos aos
quaes o dito Ministro declarou por ordem que tinha do
Illustrisimo e Execelentisimo Governador e capitam General
desta Capitania hia criar em Vila o Arayal de So Bento do
Tamando, e para a deviso do termo que lhe havia asi- nar
os mandou a convocar por Edital que no dia de hontem se
havia publicado neste Arayal para declararem qual lhes era
maes util se ficarem no termo pertencente a Vila de Sam Joz,
ou ao que se asinalara nova Vila, declarando as
circunstancias, e motivos dos seos votos e declaraes; e
pelos abaixo asinados foi dito em rezo de ficarem maes
vezinhos a cabesa da comarca, e em rezao dos particulares
da Igreja lhe ficarem maes perto por ser a capela deste dito
Arayal felial da fregueta da Vila de Sam Joz, como tambm
em rezo de se habelitarem para os cazamentos por asestir na
cabea da comarca o Reverendo Doutor Vigrio da Vara,
alm de outras Licenas do seu proprio Parocho, como
tambm por que desta aplicaam se valem os Povos dos
viveres que vem ultramares, alem das suas consultas que
podem aconteser no foro ecleziastico, e Secular, por haverem
homens de probridade, e graduados nas Vilas de Sam Joz, e
Sam Joo, adonde fiquem sem duvidas as suas dependencias;
outro sim maes destrebuio dos afeitos que prosedem das
suas Lavouras, sendo que a mayor parte vo para a Vila Rica,
sendo pelo contrario sem a demarcaam do termo da nova
Vila de Sam Bento do Tamando se in- cluhir o territorio da
aplicaam desta dita Capela tudo lhe ficar ao devero,
motivos por que lhe he muito conveniente ficar a deviza do
termo da nova Vila do Tamando, com o
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Japo........................ 747
So Joo Batista....... 487
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"Voyage aux sources du Rio S. Francisco et dans la province de Goyaz", I, 135 a 138.
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1819. O ento curato de Oliveira j tinha sua missa dominical obrigatria. Regia o
pequeno rebanho o Padre Francisco de Paula Barreto.
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Esteatita o nome cientifico dessa pedra.
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"Arquidiocese de Mariana" do cnego Raimundo Trin dade, vol. I, pgs. 418 e 419.
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falar do vigrio Barreto, homem de f e dinamismo que ensinou Oliveira a adquirir personalidade.
Estava criada a parquia de Oliveira. Iria comear a
maior movimento na localidade, despertado pelas festividades religiosas. Encontro de famlias do campo com famlias do arraial. Mais unificao na sociedade. Mais intercmbio psicolgico e comercial. Comea a o fenmeno dos
compadres e fazendeiros negociando gado, capadaria e terras, no adro da igreja, ou mesmo durante a missa. Era esta a
ocasio em que as famlias rurais vinham fazer no comrcio
o sortimento para a semana.
A criao da freguesia era, pois, no s uma emancipao espiritual, mas uma alvorada nova na vida econmica do lugar, ao qual ficavam desde j filiados os curatos
de Cludio e Carmo da Mata.
As festas religiosas comeam a mobilizar tudo: a
populao local, as populaes rurais, o comrcio, o
trnsito, as estalagens. J se canaliza para a novel freguesia
uma nova agitao. Comeam a as tradicionais festas dos
Passos e de Nossa Senhora do Rosrio.
Surge o Reinado. Organiza-se a Irmandade africana
de Nossa Senhora do Rosrio. Constri-se a sua igreja, em
frente matriz no meio da rua larga, no ponto onde hoje se
ergue a matriz nova.
Aquela capelinha, a princpio sem torre, voltada para o
largo da matriz, vai desempenhar tambm o seu papel saliente
na histria local. Quanto movimento e quanto dinheiro no
canalizou ela para Oliveira, durante aqueles dias cheios e
trepidantes do Reinado, em festejos fartos, formigantes,
repetidos ano a ano, cada vez mais animados e prdigos!
Dois grandes cruzeiros de madeira erguem-se no meio
da rua larga, de permeio s duas igrejas que se defrontam
como num desafio beato.
Os festejos dos Passos erguem ento a sua igreja e
ainda hoje pompeiam na tradicional e comovente semana
santa oliveirense.
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Surpreende-se um pouco daquela fisionomia provinciana da antiga freguesia de Oliveira, atravs duma palestra
que em 1940 o autor destas pginas travou com um negro
velho, cujos cento e alguns anos j descambavam ento
para a caduquice. Jos Srgio, morador num dos recantos
de Oliveira (rua do Sapo), um negro espigado, um pouco
recurvo pelos janeiros, conservando, porm, firmes a voz,
os dentes e a cor de puro bano. O cabelo e a barba j
parecem dois flocos de neve suspensos no vcuo.
Quantos anos tem o senhor?
Na noite do natal passado, interei cem anos e um
dia.
Cem anos e um dia a mesma resposta que Jos
Srgio vem dando h muitos anos. Sincronizando com
largos gestos e faiscar de olhos o pitoresco da sua
linguagem, ele ora dilata a fisionomia, ora a contrai, para
evocar do passado as sombras fantsticas da sua conversa:
A Picada de Guaiais? Ora! eu me lembro
muito dela. Vinha desse mundo de Rio de Janeiro e Barbacena. Entrava a no Romualdinho51. Pegava a rua da
Misericrdia. Saa no Engenho de Serra e tocava por a
afora, varando Trs Crregos, Lambari, Baependi, Tamandu, Formiga, e sumindo pra Guaiais. Eu conheo tudo isso
por a afora. Viajei muito com tropeiros, boiadeiros,
comboeiros. Em lombo de burro. Em carros-de-bois. Dormindo no mato. Passando at fome e sede.
Nesse tempo, Oliveira era um tiquinho de casas.
Eram duas ruas s: a rua de baixo e a rua de cima. Me
parece que a de cima se chamava rua do Carmo. Era muito
larga e comprida. Comeava l em riba na matriz e vinha
rasgando a ladeira dos Passos, para os lados dos Cabrais,
at no Romualdinho. O mais tudo era beco: beco que subia;
beco que descia costurando as duas ruas uma na outra.
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Frades capuchinhos vulgarmente conhecidos por Bar- bneos, e a quem deve Oliveira
a construo do seu cemitrio em 1855.
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praa Quinze de Novembro, praa Manuelita Chagas, interior das igrejas e capelas Reminiscncias disto so os algarismos romanos que se veem no assoalho da matriz
velha.
De tal modo que, onde a gerao de hoje transita,
despreocupadamente, por entre jardins, luzes e fascinao
das garotas bonitas, dormem, sob os paraleleppedos, no
fundo da terra, os despojos de muitas geraes de
oliveirenses
a populao invisvel da cidade. Populao maior,
pacfica, anestesiada para sempre pelo sono de que s se
acorda ao som das trombetas do juzo mas que, como a
gerao de hoje, tambm sonhou, amou, pelejou, ansiou
e sofreu
VILA E MUNICPIO
A 8 de junho de 1840, Oliveira realizava solenemente
a sua posse de vila. A esta categoria tinha sido elevada, no ano
anterior, pela lei provincial 134, de 16 de maro de 1839,
simultaneamente com cinco outras colegas: Caldas, Bonfim,
Santa Brbara, Presdio (Rio Branco) e Formiga. Esta ltima
j tinha sido colega sua em 1832, quando da criao da
freguesia.
Realizada a posse solene com a ereo pblica do pelourinho simblico53, ao som dos sinos das igrejas locais e ao
clarinar das trombetas da Guarda Nacional a novel edilidade
apressou-se logo em oficiar ao governo nos seguintes termos:
Officio de Felicitao que esta Camara derigiu ao
Exmo. Presidente da Provncia Bernardo Jacinto da Veiga
significando o acto de sua posse.
limo. e Exmo. Snr. Prezidente da Provincia de Minas
Geraes.
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Esse pelourinho parece ter sido um antigo relgio de sol que existiu, por muito tempo,
no meio do velho largo da Matriz. Consistia numa coluna de pedra, na qual o sol marcava
as horas do dia num quadrante prprio indicao da maior ou menor inclinao da
sombra.
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A Camara Municipal da Vila de Oliveira passa a participar a V. Exa., que no dia oito do corrente teve lugar o acto
de sua posse e inaugurao desta Villa. A Camara Municipal
aproveita esta ocazio para significar a V. Exa. que no seo
Municpio promover quanto lhe for possivel a observncia
da Constituio e Leis em vigor, e a sustentao das
Auctoridades legalmente constituidas, intimamente convencida, que s assim poderemos attingir a um porvir cada vez
mais rizonho e que s assim podero prosperar a Agricultura,
a Industria e Comercio, unicas fontes da ventura Nacional. A
Camara Municipal se congratula com V. Exa. pela sua recta
administrao no Governo da Provincia.
Deos Guarde a V. Exa. como a Provincia ha mister.
Caza da Camara Municipal, em sesso ordinaria, 16
de junho de 1840.
Prezidente:Francisco de Paula Barreto.
Vereadores: Thomaz de Abreu Monteiro, Manoel Fernandes Airo, Candido de Faria Lobato, Jos Ferreira Cardozo.
Secretrio: Modesto Luis Caldeira.
Resposta do presidente da Provncia:
Cmara Municipal da Villa da Oliveira.
O Prezidente da Provincia respondendo ao officio,
que na data de 16 do corrente lhe dirigiro os Snres.
Prezidente, mais Vereadores da Camara Municipal da Villa
da Oliveira, participando haverem sido empossados no dia do
referido Mz, tem a declarar-lhes que persuadido da exatido
de princpios, que declaro ter em vistas para promoverem a
felicidade de seo Municpio, espera, que seguindo uma tal
vereda prestaro relevantes servios aos mesmos.
Por esta occazio o Prezidente da Provincia agradece
aos Snres. Prezidente e mais Vereadores as expresses de
louvor, que lhe dirigem pela sua administrao, lisongeando-se sumamente de que seus actos, que s tem por fim a boa
execuo das Leis, e a prosperidade da mesma Provincia,
prosperidade, que no pode obter-se sem a mantena
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da ordem, e decidido afferro Monarchia Constitucional representativa, mereo as sympathias dos Snres. Prezidente e
mais Vereadores, que igualmente se mostro possudos
destes princpios.
Ouro Preto Palacio do Governo em 25 de Junho de
1840.
Bernardo Jacintho da Veiga54.
PRIMEIRA CMARA MUNICIPAL
Antigamente, as eleies eram feitas por mesas paroquiais, dentro das igrejas. Muitas vezes, mesmo em Oliveira, o recinto sagrado, por ocasio de eleies, virou ring
de srios pugilatos.
A primeira Cmara oliveirense ou a primeira cmara
municipal foi eleita em 1839 dentro das igrejas, pelas mesas
paroquiais de Oliveira, Passa Tempo, Santo Antnio do
Amparo e So Joo Batista, primeiros distritos que entram
para compor a nova Municipalidade da Vila da
Oliveira.55
Enviadas as urnas e as atas dessas eleies para Tiradentes, a foi feita a apurao a 24 de abril de 1840, ficando eleita a seguinte cmara:
Presidente: Padre Francisco de Paula Barreto.
Secretrio: Padre Modesto Lus Caldeira.
Vice-Presidente: Jos Ferreira Cardoso.
Vereadores: Silvrio Jos Bernardes, Antnio Jos
de Castro, Mariano Ribeiro da Silva, Manuel Fernandes
Airo, Toms de Abreu Monteiro.
Suplentes mais de setenta cidados, cujos nomes
esto inclusos, adiante, na galeria da primeira gerao de
homens pblicos de Oliveira.
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Ata de 8-7-840. ste cemitrio foi a princpio numa praa da cidade (praa Manuelita
Chagas), transferindo-se em 1855 para a colina oposta, onde se encontra hoje.
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Venncio Carrilho de Castro que, em requerimento, dirigido municipalidade, pede providencias sobre immensos
Formigueiros dentro da localidade (sesso de 27-101840). Em julho do ano seguinte, vem secundar esse grito
um requerimento de Antnio Ferreira de Carvalho,
exigindo providncias imediatas por parte da Cmara para
extino de imensos Formigueiros que existem na Villa
(24-7-1841). E, anualmente, veremos, de ento em diante, a
cmara arrendar um fole populao pela quantia de 20$
(vinte mil ris) anuais, para soprar fumaa txica no bojo
dos imensos formigueiros.
Na sesso de 28-10-1840, lido o ofcio do governo
provincial declarando criada em Oliveira uma escola feminina
de primeiras letras. A escola masculina j vinha funcionando
desde 1830. Urgia apenas por o professor no olho da rua, por
causa do seu mau procedimento, abusando da boa f das
auctoridades e do Publico, que amargamente lhe fazem acres
censuras. A cmara, depois de muitas discusses em torno
do assunto, requereu mesmo do Padre Visitador das Escolas a
retirada da vtima, cujo nome Joo Alves de Almeida
Frana, professor de primeiras letras.
Na sesso de 5-12-1840, ltima presidida pelo padre
Barreto, vemos chegar ao conhecimento da cmara ter dirigido
o governo provincial um ofcio ao Ministro do Imprio,
exigindo para Oliveira uma administrao do correio. dado
o despacho em maro do ano seguinte, sendo ento criada em
Oliveira a sua agncia postal, tendo por primeiro agente
Columbano Francisco de Assis.
Eleita a 7 de setembro de 1840, a cmara efetiva para
o quatrinio 1841-1845 foi empossada a 7 de janeiro de 41.
A extinta e herica cmara interina, presidida pelo
padre Barreto, deixou nos cofres da cmara as primeiras
rendas municipais, na quantia de 510$150, referentes a apenas
um semestre de trabalho. J era muito. As rendas anuais dos
primeiros anos, como se v nas primeiras cmaras
subsequentes, costumam acusar muito menos, chegando a ser
arrematadas por 480$000!
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5 O curato do Cludio.
6 O curato da Mata do Carmo (depois, Carmo da
Mata).
Um ano depois, era desanexado o distrito de Passa
Tempo que, entretanto, seria a de novo reintegrado dentro
de um ano apenas.
Quando da posse da primeira cmara efetiva (legislatura Castro, 1841-45), a 7 de janeiro de 1841, o municpio
j constava de oito distritos:
Vila de Oliveira Mata do Carmo (Carmo da Mata)
Japo Cludio Canaverde Perdes So Joo
Batista Santo Antnio do Amparo.
No incio do quatrinio seguinte (1845, legislatura
Carvalho), j figurava novamente no quadro municipal,
desde trs anos atrs, o distrito de Passa Tempo.
Ao iniciar-se, por exemplo, o 5 quatrinio (1857,
legislatura Pereira Matos), j o municpio contava com o
invejvel quadro de doze distritos, perodo ureo da sua hegemonia municipal:
Vila de Oliveira (sede) Perdes Cludio Mata
do Carmo Bom Sucesso Canaverde Japo So Francisco de Paula Passa Tempo So Joo Batista Santana
do Jacar Santo Antnio do Amparo.
Era uma brilhante dzia de distritos, dos quais muitos so hoje florescentes cidades e outras tantas sedes de
prsperos municpios mineiros.
Vrios e frequentes tm sido os retalhamentos feitos
na comuna oliveirense desde que adquiriu a sua autonomia
municipal. Caso tpico , como vimos, o do distrito de Passa Tempo. So Francisco de Paula, por exemplo, um dos
seus atuais distritos (S. Francisco de Oliveira, atualmente),
apenas lhe era anexado em 1846, era-lhe tirado outra vez
dois anos depois, em 1848. Uns, por constiturem sedes de
novos municpios; outros, para integrarem quadros
municipais de outras comunas; todos os mais foram se
destacando do qua-
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Um dos maiores desmembramentos se deu entre 1870 e 1872, quando Campo Belo se
props subir a municpio aambarcando So Francisco e Santana do Jacar, havendo logo
igual pretenso por parte de Bom Sucesso que ameaava chamar a si Santo Antnio do
Amparo. Oliveira ficou alarmada e via nisto o fim da hegemonia do municpio outrora
to florescente antes da desmembrao das importantes freguesias de Perdes, Canaverde
e Bom Sucesso, e prevendo ficar aniquilado se forem tirados os Distritos de So
Francisco de Paula, Sant'Anna do Jacar e Santo Antnio do Amparo. (C/. ofcio da
cmara ao governo a 22-2-871).
58
O dr. Oiticica, entre diversos outros anacronismos das suas "Notas sobre o municpio
da Oliveira", enganou-se quando disse que o primeiro juiz municipal de Oliveira foi o
padre dr. Joo Honrio de Magalhes Gomes.
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Vide canalizao da gua potvel.
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onde hoje branqueja o cemitrio. At 1855, data da construo deste, ainda se via ali, em p, a trave do velho patbulo que tanto terror infundiu na populao.
O povo era obrigado a assistir s execues. E estas,
raras sempre, terminaram antes de ser extinta no pas a pena
de morte61.
Tinham um aspecto de grave e terrvel solenidade.
Depois que recebia, pela ltima vez, os sacramentos da confisso e comunho, o ru era levado processionalmente, da
igreja forca, ao som de dobres a finados, de litanias e misereres entoados por confrarias e irmandades revestidas dos
seus respectivos hbitos e distintivos. Sempre era
concedido um pouco de prazer aos ltimos momentos do
condenado: davam-lhe po e vinho como alimento, at
chegar a hora fatal.
Dizem que o ltimo enforcamento a que Oliveira assistiu, foi o de uma moa. Era uma jovem escrava, cuja
sinh estava prestes a dar-lhe alforria por se ver j muito
velha e prxima do fim. Um dia, vendo-se na iminncia de
ser castigada pela sinh que lhe havia imposto uma tarefa
acima das suas foras, resolveu liquidar a velha, antes
mesmo que esta fizesse descarregar-lhe por cima toda a sua
clera. Matou-a a machadadas durante o sono. E, carregando ocultamente o cadver, atirou-o ao fundo dum esbarrancado distante. O desaparecimento da velha senhora
pos em polvorosa parentes, vizinhos e criadagem.
Encontrado afinal o cadver, j dilacerado pelos
urubus, as suspeitas caram sobre a mulatinha que, presa e
submetida a rigoroso interrogatrio, acabou confessando
tudo.
Condenada morte, passou a noite inteirinha cantando alto na sua priso ali no largo da Matriz, espera da
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Dr. Leite e Oiticica, op. cit., pg. 36. Como se v, tudo ali tem uma histria: at o
porto de ferro, fruto duma lua-de-mel malograda
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8) Dr. Joo Pereira da Silva Continentino (18911909). Retirou-se em 1909, nomeado desembargador.
9) Dr. Lvio de Oliveira, juiz interino, de outubro a
novembro de 1909, cabendo-lhe lavrar o termo de congratulao pela promoo do dr. Continentino e externar o
pesar geral pela sada do ilustre magistrado.
10) Dr. Francisco Cleto Toscano Barreto (190918). Data de 30-11-918 a sua ltima audincia, encerrando
uma judicatura brilhante de nove anos. Sua retirada foi motivada pela sua promoo comarca de Uberaba, donde
saiu mais tarde para mais altos e merecidos postos.
11) Dr. Ladislau de Miranda Costa (1919-1931).
Data de 16-1-1919 a sua primeira audincia e de 12-101931 a ltima. Durante a sua operosa judicatura, houve um
interregno de um ms e pouco em que foi juiz interino o dr.
Alfredo Paraso.
12) Dr. Jos Stiro da Costa e Silva (1931-1935).
Data de 12-11-1931 a sua primeira audincia e de julho de
35 a ltima.
13) Dr. Sebastio Ewerton Curado Fleury (19351945).
14) Dr. Jos Domingos de Assis Rocha (1945).
15) Dr. Silvio Cerqueira Pereira (1945-1949).
16) Dr. Alberto de Oliveira Andrade (1949 a 10954).
17) Dr. Henrique de Paula Ricardo (1954), (1 Juiz
de Direito) e Dr. Conde Paula Santos (2 Juiz de Direito).
OS GOVERNADORES DE OLIVEIRA
Na impossibilidade de reconstituir, uma por uma,
todas as cmaras antigas com seus vereadores, vice-presidentes e secretrios aqui recompomos, aps rduas pesquisas, a luminosa srie dos vares que, suscessivamente,
atravs de mais de um sculo, vieram regendo os destinos
do municpio, imprimindo-lhe cada um o vinco da sua personalidade.
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PERODO DE TRANSIO
Em vista da insatisfao reinante no pas com o regime discricionrio que se prolongava indefinidamente, foi
obrigado o governo a baixar o decreto-lei de 28 de fevereiro
de 1945, ato adicional Constituio de 10 de novembro de
1937, marcando eleies para a formao do Congresso Nacional. Oliveira entra tambm nessa fase de restaurao
democrtica, que vai de 1945 a 1947, com a eleio, nesse
ltimo ano, do prefeito Athos Cambraia Campos. A 12 de
abril de 1945, nomeado prefeito o snr. Armando Pinheiro
Chagas, que administra o municpio at 21 de novembro do
mesmo ano, passando o executivo para o dr. Slvio Cerqueira Pereira, juiz de direito da comarca, o qual vai at 5
de dezembro seguinte. Assume, novamente, o executivo, o
snr. Armando Pinheiro Chagas, at 1946, quando o entrega
ao dr. Romeu Ribeiro de Castro. Deste, a Prefeitura passa
s mos do dr. Edmundo Augusto Lins, em maro de 1947,
seguindo-se-lhe o dr. Jos Ferreira Leite, nomeado a 25 de
maro do mesmo ano, tomando posse trs dias aps.
Nomeado a 10 de outubro de 1947, o dr. Evaristo Nogueira
de S Filho entrega o executivo ao prefeito eleito constitucionalmente, snr. Athos Cambraia Campos, a 1 de janeiro
de 1948. Caracteriza-se esse perodo de transio, como em
todos os municpios, pela falta de continuidade administrativa.
CMARA MUNICIPAL (1947-1950)
Reposto o pas na vida constitucional, foram eleitos
e empossados a 8 de dezembro de 1947 os seguintes vereadores Cmara Municipal de Oliveira: dr. Jos Ferreira
Leite (presidente), dr. Accio Ribeiro de Oliveira e Silva
(secretrio), Eli Cambraia de Azevedo, Emlio Haddad,
Franklin Lopes do Amaral, Jos Teodoro da Silveira, Joo
Machado da Silva Vargas, Joo Augusto Reis Pinto, dr.
Efignio Salgado dos Santos, Joo J. Pinheiro Chagas e
Jos Ribeiro de Andrade. Em 1 de maro de 1949, com a
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CAPTULO IV
O MUNICPIO NO SEU ESTADO ATUAL
Geografia Hidrografia Subsolo Flora Fauna Distritos.
GEOGRAFIA DO MUNICPIO
O municpio de Oliveira, na regio sudoeste de
Minas Gerais, acha-se colocado entre os municpios de
Cludio, Passa Tempo, Santo Antnio do Amparo, Bom
Sucesso, Campo Belo, Carmo da Mata, Candeias e
Carmpolis de Minas.
uma regio atravessada por inmeras estradas de
grande importncia na vitalidade econmica do Estado e do
Pas. Seu ndice demogrfico acusa cerca do 20 habitantes
por quilmetro quadrado.
Territrio muito acidentado, como quase todo o
oeste mineiro, situa-se todo na zona do Campo ou Serra
Acima, com uma temperatura mdia de 18,6.
Seu clima, em geral, doce, temperado e saudvel.
Ocupa o municpio grande parte do elevado plat divisrio entre as vertentes iniciais de duas grandes bacias: a
sanfranciscana e a platina. Para a primeira, a captao das
guas feita principalmente pelo rio Boa-Vista. Para a
segunda, pelo Jacar e rio Grande.
No h, entretanto, montanhas abismais nem picos
pontiagudos. E, sim, uma sucessividade de morros rotundos, serras e vales, que vo descaindo em degraus
contnuos, proporo que se dirigem para as margens do
rio So Francisco. Por outro lado, menor o declive em
direo do rio Grande; o que, alis, se nota na lentido dos
afluentes deste em territrio oliveirense.
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No s por ser parte da zona ao Campo, como tambm por causa da ao contnua do machado e do fogo, j
se vo rarefazendo as matas que, pela sua primitiva abundncia, chegaram a dar a um dos seus antigos distritos o
pitoresco nome de Ermida do Carmo da Mata, hoje municpio. A maior extenso de campos com vegetao rasteira, dando aos morros um aspecto de nudez escanhoada,
mxime quando esbatidos nas tardes enfumaadas de
agosto.
Nos flancos desses morros curioso notar-se o fenmeno das boorocas, ou esbarrancados71. So boqueires
rubros e hiantes, rasgando-se em certas encostas, exceto nas
em que fica a cidade, onde, alis, j existiram como
profundas chagas, ora na ladeira dos Passos, ora na rua dos
Fialhos72, hoje inexistentes graas s realizaes
urbansticas das antigas edilidades. Esses boqueires, diz o
jornalista diamantinense citado, so barrocas profundas,
enormes, avanando no moledo das colinas como cunhas
vermelhas. O autor destas pginas, subindo um dia, em
1941, ao alto do morro das Pedras, pde contar da 46
boorocas espalhadas pelas encostas circunvizinhas,
prejudicando as pastagens, chegando mesmo a alcanar at
leito de estradas. Tomam formas caprichosas e ameaadoras.
Perto da cidade, a trs quilmetros fica o impressionante
Morro Vermelho, verdadeiro canyon dilacerando a serra em
direo do Diamante.
To pavorosa a sua viso de perto, que Porfrio Camelo viu a, alarmado, uma grave ameaa para o prprio
morro do Diamante que, continuando o trabalho da eroso
que se nota, intenso, nos seus taludes ou contrafortes, em curto
espao de tempo, relativamente, ter deixado de existir (sic!).
Afora o tom terrorista desse vaticnio feito h mais de
meio sculo, no h dvida que o fenmeno constitui
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2. Quedas dguas e seu potencial Apesar da lentido dos seus rios, o municpio possui diversas quedas
dgua nos rios Jacar, Curral e outros, arroladas num
potencial hidrulico de 5.800 H.P., aproximadamente
tocando a cada queda uma mdia de 100 a 2.000 H.P.
Integralmente aproveitado, o potencial hidrulico do
municpio daria para industrializar, de sobra, toda a sua rea
territorial. Desse potencial, acham-se aproveitados pela
Prefeitura 660 HP. na cachoeira Grande do rio Jacar e a
soma global em cavalos-fora das duas dezenas e pouco de
geradores particulares instalados pelas fazendas do municpio (estatstica de 1940).
3. Lagoas Romo e Flha Larga so as principais. A da Matinha, dantes to citada em monografias sobre
o municpio, est hoje extinta por completo, debaixo dum
areal imenso trazido pelas cheias do Jacar. Este tem sido o
destino de muita lagoa e aude do municpio: a extinta
lagoa da Tapera, o aude dos Fialhos e a vasta represa de D.
Romualda h muito que desapareceram. E to completamente, que ningum conseguiria hoje identificar o lugar exato em que cada uma existiu.
Flha Larga. Fica ao norte da cidade, da qual dista
uns trs ou quatro quilmetros. Situada margem da ferrovia, da janela do trem a gente a pode ver qual enorme
gota de alumnio espalhada l em baixo, ao p dos morros
empinados. o nascedouro do Boa-Vista. Tem de extenso
uns 1.800 metros (em 1942) e uma profundidade bem respeitvel. Pela sua superfcie sempre plcida e translcida,
barquejam, noite e dia, pescadores que a costumam colher
timos resultados. A origem do nome Flha Larga permanece incerta, talvez venha do nome de uma conhecida
madeira encontradia nas matas do municpio, talvez lhe
tenha vindo do seu prprio formato com recortes de uma
grande folha. De tempos para c, essa lagoa tem diminudo
consideravelmente, tendendo a desaparecer.
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donde sai essa padronagem de cores berrantes, to empregadas nas afamadas colchas de l e algodo, mais conhecidas na gria por colchas de dado, de larga reputao
em todo o Estado de Minas.
Para fins industriais, so extradas da flora
oliveirense toneladas de cascas. As cascas de cortia, por
exemplo, atingem por vezes a uma espessura tal que
produzem timas rolhas, alm de serem muito empregadas
na confeco de cmaras frigorficas.
Para a qumica industrial, a fim de fornecer tanino
indstria curtidora, est saindo de Oliveira (1942), para os
mercados do Rio, uma mdia anual de 75.000 arrobas de
cascas de barbatimo.
A flora medicinal de Oliveira oferece uma rica fonte
de medicamentos. A se encontram congonha de bugre,
suma branca, suma roxa, jurubeba, caroba, taiui, velame,
capim mercrio etc. Quase podemos imputar a essa fonte
medicinal a grande legio de raizeiros e charlates que at
h pouco infestava o municpio.
E, como apndice flora oliveirense, convm relembrar que, em 1819, o naturalista francs Saint-Hilaire descobria nas imediaes da cidade, para os lados do
Camacho, uma planta extica que ele confessou no haver
encontrado antes, em toda a sua viagem desde o Rio. Em
novembro de 1889, o tcnico-agrcola dr. Vaz Pinto, que
no escondia sua admirao pelas culturas de videiras e
trigo espalhadas ento pelo municpio, descobria, nas
adjacncias da lagoa da Folha Larga, uma das variedades da
vinha brasileira pertencente ao grupo Cissus, j descrita por
Martius, e encontrada na zona onde sua existncia fora
determinada por Foex e Viala.
Fauna O esporte venatrio ainda pode encontrar,
pelas capoeiras do municpio e pelos seus rios e lagoas, uma
infinidade de representantes da riqussima fauna brasileira:
jacar, capivara, queixada (Folha Larga e rio Jacar), paca,
cotia, veado, coelho, macaco, tatu, pre, lobo do campo,
codorna, perdiz, nhambu, juriti, trocal, trara,
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ainda eram at h pouco propriedade da Brasilianisch Bugache J. Huntugellechasft (Alemanha). Desde ento, o povo
batizou o local de serra dos Alemes.
O distrito de Morro do Ferro tambm dotado de
boa indstria pastoril e pode gloriar-se de se achar ligado
por estradas a diversos centros de progresso: Oliveira, So
Joo del-Rei, Rio etc.
pena que o arraial venha sendo assediado pela
praga das boorocas, fenmeno, alis, nascido da prpria
constituio geolgica do seu terreno e do contnuo trabalho da eroso. Cabe ao homem sustar esse mal com os
meios naturais do reflorestamento, desvio das guas
pluviais, aterros etc.
MORRO DO FERRO NA ATUALIDADE
O distrito de Morro do Ferro, atualmente, experimenta uma fase de grande progresso. Para isso, tem recebido a sua populao o apoio dos chefes do Executivo oliveirense, como se ver mais adiante.
Dotado de servio de iluminao pblica, abastecimento de gua e outros servios essenciais, Morro do Ferro
possui tambm inmeros melhoramentos introduzidos graas
ao esforo de seus filhos.
Na parte recreativa, conta com um clube de futebol, o
Aliana F.C., que possui campo prprio, o Estdio Paulo
Pinheiro Chagas, construdo com o auxlio do governo estadual. Possui, ainda, duas bandas de msica: a Lira Batistana e a Lira Santa Ceclia, que so regidas pelos maestros
Paulo Pereira Barros e Ildio Vieira de Andrade, respectivamente .
No setor religioso, h em Morro do Ferro a Matriz, um
belo templo erigido sob a proteo de So Joo Batista; a
Capela de Nossa Senhora do Rosrio, em construo; e a
Capela de Nossa Senhora de Lourdes, havendo, tambm,
capelas nos povoados de Tombadouro, Engenho, Jacar e
Ouro Fino. Em atividade, diversas associaes religiosas.
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No perodo de governo do dr. Djalma Pinheiro Chagas, foram feitos reparos em vias pblicas e estradas. O seu
substituto, sr. Sebastio Aguiar, construiu um prdio para
escola no povoado do Engenho; iniciou a construo de
uma escola no povoado de Ouro Fino e construiu um trecho
de estrada ligando Tombadouro a Oliveira.
O atual prefeito, sr. Francisco Cambraia deu prosseguimento s obras iniciadas por seu antecessor; terminou
as obras do coreto; concluiu a construo da escola de Ouro
Fino e procedeu a servios de encascalhamento de ruas, de
melhoria no abastecimento de gua e reparos na ponte sobre
o rio Jacar.
3. Carmpolis de Minas, ex-Japo de Oliveira
Fica a 39 quilmetros da sede o ex-distrito de Oliveira.
Desde 1841, figurou no quadro municipal oliveirense. Seu
pitoresco casario, entremeado de construes elegantes e
suntuosas, espraia-se por sobre uma colina arrendondada.
Quando, no fundo da nossa histria colonial, comeou a nascer o Japo, nem ao menos havia ainda a histrica
picada de que nasceria Oliveira.
Em comeos de 1700, sendo rei de Portugal D.
Pedro II, filho de D. Joo IV, e estando o governo do vicereinado do Brasil entregue a D. Rodrigo da Costa a quem
sucedeu at 1710 D. Lus Csar de Menezes, houve aquela
febre de imigrao portuguesa para os Campos Gerais dos
Cataguases, futura capitania de Minas em 1720.
A caa ao ouro e s gemas preciosas, aliada ao interesse de Portugal vido de riquezas para garantir seus negcios internacionais era o que justificava aquela imigrao crescente.
Entre os imigrantes portugueses vindos para Minas
em 1703, quatro colonos de prol, talvez polticos exilados
da velha Lusitnia, vieram parar nas terras em que hoje
floresce Carmpolis de Minas. Eram eles os quatro irmos:
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CAPTULO V
O URBANISMO EM OLIVEIRA,
SEUS ASPECTOS E SEUS HERIS
Data de janeiro de 1842 uma das maiores modificaes urbansticas em Oliveira. Das duas primitivas ruas que
constituam o velho arraial, a rua de cima, que era muito
larga, teve a sua faixa central toda dividida em lotes, aparecendo ento os quarteires centrais, entre as seguintes
ruas que citamos com seus nomes atuais: Dr. Carlos Chagas, Dr. Jos Ribeiro, Dr. Coelho de Moura, Duque de Caxias e outras. Nesses quarteires que outrora eram rua,
esto hoje o "Oliveira Clube", a Prefeitura, o correio, a
distribuidora, a catedral, etc.
A municipalidade fez concesso dos lotes, mediante
donativos em dinheiro para a construo da casa da cmara:
na esquina do largo, por exemplo, o sargento-mor Felisberto Ribeiro da Silva ganhou terreno para seu sobrado,
com a condio de dar 50% para as obras do pao
municipal.
Ficou reservado o espao necessrio para o largo do
Rosrio, cuja igreja j existia desde muito. Para a foi transferido um chafariz que ficava no meio da rua larga. Perto
dele, pde construir seu sobrado o tenente-coronel Antnio
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ilustrssima cmara municipal, pedem-se providncias para o gado solto na rua durante a noite, e que mimoseia os ouvidos dos infelizes, menos do fiscal que parece
ser surdo e cego. a.) Uma vtima.
2. Becos e largos. Afora meia dzia de ruas enladeiradas e buraquentas, tudo o mais era beco. E cada qual
com o nome mais incrvel, nascido em geral da imaginao
da garotada. Havia, por exemplo, o Beco do Pio, porque
nele ficava a casa do tenente Pio Ribeiro da Silva. O Beco
da S Mestra, porque a morava o maior pesadelo da
crianada: a mestra rgia e sua terribilssima palmatria.
Abaixo desse beco, no local hoje ocupado pelo cinema,
havia uma cova larga e funda, cheia de jo bravo, antigo
amassador de barro para adobos: a crianada arranjou-lhe
logo o prosaico nome de Buraco de S Cota, porque ali
perto residia alguma D. Cota. Aquela ladeira ngreme que
por muitos anos se chamou Ladeira dos Frades e que hoje
pompeia na belssima rua Dr. Alexandrino Chagas, era outrora um beco sujo e esconso a que recorriam noite os
necessitados (?), donde lhe resultou o nome de (com
licena!) Beco da Merda. Outro beco era o Beco da
Mangueira, hoje avenida Amrico Leite.
Quanto atual praa Manuelita Chagas, chamavase outrora praa do Cruzeiro, nome que vinha do grande
cruzeiro plantado no seu centro e hoje transferido para o
topo da colina, final da avenida Valdemar Fernal. Era uma
praa abaulada. Um capinzal imenso retalhado de trilhas,
uma para cada casa. Medrava a um imenso bambual. Era o
ponto escolhido para se armarem circos de cavalinhos. O
primeiro circo que entrou em Oliveira e a se armou foi a
Companhia de Equitadores do Circo Olmpico, dirigido
por Alexandre Luarde78. Aqui chegou em maio de 1842 e a
cmara municipal, com certo constrangimento,
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resolveu permitir o funcionamento dos espetculos, cobrando-lhe 3$ por noite, para os cofres da cmara (sic).
Dizem ter existido nessa praa, em tempos muito remotos, um pequeno cemitrio. A esse ponto vinha desaguar,
numa grande caixa de areia, o antigo rego dgua aberto em
1842 para abastecer a populao. Parte dessa gua movia
monjolos e moinhos assentados a oeste da praa, local em
que se formou logo um grande charco arruinando toda
aquela parte at o recanto dos Fialhos. Nesse recanto,
rasgava-se um imenso boqueiro (booroca), onde a crendice popular localizava aparies noturnas de almas do outro mundo. Outro boqueiro semelhante abria-se tambm na
ladeira dos Passos, para cujo desaparecimento muito se
bateu na cmara Venncio Carrilho em 1843.
Os
culpados
pelo
aparecimento
desses
esbarrancados eram os antigos valos que retalhavam o
terreno sobre que nasceu a cidade. Agrupamento de
fazendas a princpio, a localidade recorria ao valo para
tapume de cada propriedade. Tapume depois substitudo
pelos grossos muros de taipa, feitos de barro e capim,
vulgarmente chamados muros de braa. Restam deles,
ainda hoje, trechos grandes, dando aos quintais um aspecto
pitoresco e evocativo.
3. Arquitetura. As casas antigamente eram baixas e
longas, tais como as viu Saint-Hilaire em 1819. Datam de
1835 os primeiros sobrados construdos no lugar. Das velhas
casas longas e baixas ainda existem algumas na rua Coelho de
Moura e na prpria praa Quinze, infelizmente deformadas
por fachadas modernas, cobrindo o seu velho aspecto
colonial: portas arrendondadas e grossas paredes de pedra.
Estabelecendo-se aqui, l por 1860, o portugus Jos
Fernandes do Couto (Z Carapina) que era exmio construtor,
iniciou aqui um tipo especial de arquitetura genuinamente
colonial. Os mais abastados do lugar, mobilizando suas
finanas e seus escravos, confiaram-lhe a construo dos seus
solares. Desses bons tempos que nos vieram os casares de
sacada e andar duplo, com a frente sombreada
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O antigo teatro era um vasto barraco outrora existente na atual praa Pinto Machado.
O novo foi terminado em 1923. Mais recentemente, foi demolido e construdo um novo
prdio em seu lugar.
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ou imprimisse qualquer modificao nesses anis, sem licena do respectivo fiscal. E seria multado em 20$ quem
arrombasse a gua ou quem a deixasse correndo sem necessidade. O proprietrio da fazenda do Diamante, onde o rego
tinha sua origem, ficaria obrigado a zelar pela conservao
e limpeza do aude e pela higiene da gua dentro dos
limites do seu quintal, sob pena de perder o uso da mesma
linfa.
Em janeiro de 1842, a cmara mandava transferir
para o largo do Rosrio um chafariz j desde muito existente em outro local. Em julho de 1845, entre a municipalidade e o cidado Silvrio Fontoura Garcia era celebrado o
contrato de zelar este pelo rego, mediante honorrios anuais
de 100$, no deixando faltar gua vila, no a deixando
impurificar-se nem ser ardilosamente tirada do rego (sic),
ficando ainda com a obrigao de colocar aparelhos pelo rego
onde fossem necessrios tudo isso, sob pena de ainda perder
os cem mangos, se a coisa no ficasse a contento do povo.
Em 1852, o mesmo contrato era celebrado com o major
Joaquim Dias Bicalho pela quantia de 180$ por ano.
At 1882, a cmara j havia vendido 68 anis dgua,
sob o imposto de 10$ (dez cruzeiros).
Mas logo a linfa comeou a se impurificar. Alm das
impurezas recebidas atravs do rego, ela passava primeiro por
uma fazenda, de modo a chegar cidade j em condies de
quase nenhuma potabilidade. Comeou ento a ser servida s
em usos domsticos: lavagem de roupa, rega de hortas,
sementeiras e chiqueiro de porcos. E os prprios porcos, soltos
pelas ruas, costumavam sempre fazer a fineza de se
enlamear na prpria gua pblica
Apesar de tudo, era j um grande melhoramento. E a
ele continuava ligado, no s o nome de Antnio Moreira
Belo, mas sobretudo o de Venncio Carrilho. Aquele seu gesto
resoluto em favor da coletividade teve aplauso geral. Em
recompensa, a cmara municipal concedeu ao bravo heroi do
urbanismo oliveirense e sua famlia, um anel dgua
concesso que foi respeitada at quase s
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Imediatamente, Coelho de Moura lanou as instrues e penalidades referentes distribuio de encanamentos pelas moradias82.
Cada pena dgua custaria 36$ por ano, e s se instalaria mediante pagamento adiantado e feito semestralmente. Ningum poderia mais fazer como se fazia com o
antigo rego: prolongar at sua casa o encanamento do vizinho ao lado. Quem deixasse aberta alguma torneira, como
outrora acontecia com buracos do cocho, pagaria 15$ de
multa. E, para zelar pela higiene da canalizao e executar
quaisquer encanamentos aprovados, ficaria criado o cargo
de guarda-fiscal da gua potvel.
As primeiras instalaes da canalizao ainda no
eram de todo perfeitas. Nada, neste mundo, nasce perfeito.
Nos primeiros meses, os canos entraram a rebentar e a
vazar em verdadeiros repuxos pelas ruas. A gua, alm de
no atingir muitas casas, invadia as ruas, ocasionando poas
e lamaais em que os carros-de-bois se atalovam,
misturando num s atoladio lama, lixo e as pedras do
velho calamento.
Graas prpria administrao Coelho de Moura e a
todas as administraes que lhe sucederam, chegou a gua
potvel de Oliveira a uma quase perfeio, faltando-lhe
talvez somente os meios qumicos e fsicos hoje geralmente
empregados para filtragem em grande escala.
3. Estatstica (1942) Oliveira possui trs grandes
reservatrios de gua potvel, instalados segundo os mais
modernos ditames de higiene: um fica no Alto de So Sebastio e os outros, no Alto do Cruzeiro. Abastecem toda a
populao, tendo em reserva, continuamente renovados,
770.000 litros dgua, cujos mananciais se acham fora do
alcance pblico, em terras florestais sem moradores, sob
fiscalizao de um guarda permanente, cercadas de tapumes,
com entrada proibida e constituindo propriedade exclusiva da
municipalidade.
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Ao anoitecer de 4 de fevererio de 1908, era inaugurada em Oliveira a iluminao eltrica, graas ao ento presidente da cmara, cel. Joo Alves de Oliveira. Acontecimento inesquecvel nos fastos oliveirenses, essa
inaugurao foi assinalada por estrondosas festas que esto
assim descritas em o n 1.049, de 9-2-1908, da Gazeta de
Minas:
Comearam as festas pela entrega dos servios pela
casa contratante a conhecida Companhia Brasileira de
Eletricidade Siemens-Schuckwerke cmara municipal, para
cujo fim chegou no dia 1 a esta cidade o dr. Alexandre
Buchen, diretor da companhia, principiando o ato pela Usina,
para onde se dirigiram, no dia 2, em numerosa cavalgada,
este cavalheiro, o sr. cel. presidente da cmara, o dr.
Henrique Betex, diretor dos trabalhos, imprensa, representada pelo nosso colega dr. Pinto Machado e Jos Cordeiro, diretor da secretaria da cmara, seus auxiliares e
convidados.
A chegada Usina, pelas 3 horas da tarde, foi saudada com uma salva de bombas de dinamite e de foguetes, sendo
todos ali gentilmente recebidos pelo dr. Henrique Erismann,
engenheiro auxiliar.
Depois de um leve descanso, dirigiram-se os srs. drs.
A. Buchen e H. Betex ao canal e comearam a levantar a
comporta, por meio de uma roda adaptada a um eixo vertical,
que vai ter comporta. Dentro em pouco a gua corria veloz
da cachoeira para o canal, donde saa pelos tubos condutores
para a turbina. Dali passaram todos os presentes para a
Usina, porta da qual o dr. A. Buchen, descobrindo-se, no
que foi imitado pelos demais, convidou o sr. cel. presidente e
agente executivo a acompanh-lo at junto das mquinas, que
ambos puseram em movimento, surgindo logo a luz bela,
brilhante, ofuscante, apesar de serem ainda quatro horas de
uma tarde clara.
Naquele momento, todos os presentes romperam em
vivas estrepitosos casa Siemens e cmara municipal ali
personificada no seu incansvel presidente, sendo trocados
muitos e efusivos cumprimentos.
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A nova poltica do governo, posta em prtica nos ltimos 15 anos, aps a redemocratizao do Brasil, veio permitir um surto de desenvolvimento no setor da energia
eltrica.
Oliveira e centenas de outros municpios muito se beneficiaram dessa orientao administrativa.
O governo mineiro, tendo criado a CEMIG (Centrais
Eltricas de Minas Gerais), companhia de economia mista,
possibilitou aos municpios a soluo do grave problema.
Oliveira, graas viso administrativa de seus homens pblicos, que contaram com o substancial apoio financeiro de
seus fazendeiros, comerciantes e industriais, tambm se tornou
um dos municpios beneficiados com os servios de fora e
luz da CEMIG, vindo a energia da Usina de Cajuru. Assim, no
dia 22 de outubro de 1960, com grande euforia da populao,
a luz da CEMIG chegava aos lares oliveirenses. Era uma nova
fase que se iniciava para o municpio, que poder daqui por
diante atrair indstrias para a sua rea, principalmente se
considerarmos a excelncia de seu clima, a abundncia de
gua, os baixos nveis de salrios e muitos outros fatores
capazes de influir no sentido da industrializao de nossa
terra.
Em fins de 1960, era o seguinte o quadro relativo
energia eltrica no municpio: potncia da usina: 660 HP; na
cidade: motor diesel de 355 HP; transformadores instalados:
na rede distribuidora: 17; particulares: 23; ligaes
domiciliares (luz): residncias: 1.512; comerciais: 199; rurais:
12; industriais: 33; iluminao pblica, lmpadas: 594; n de
wats: 50.000.
O consumo de energia no municpio, de 130.000
KWH, tinha o valor de Cr$ 173.723,20 mensais.
ADMINISTRAO DJALMA PINHEIRO CHAGAS
(1921-1924)
Na presidncia da cmara municipal, um dos primeiros
atos do dr. Djalma Pinheiro Chagas foi promover o pagamento
da dvida municipal flutuante, superior ento a 300 contos,
afora a dvida consolidada que era de 500 con-
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abnegao e altrusmo dos que, como Joaquim Laranjo e dr. Ccero Ribeiro de Castro Filho, levaram socorros
aos epidmicos e lutaram para debelar o flagelo.
Cabe registrar nesse captulo um grande heroi oliveirense que se entregou, corpo e alma, a uma insana e
audaciosa luta contra uma epidemia de varola que assolou
alguns distritos do municpio: dr. Jos Ribeiro da Silva,
cujo nome figura hoje numa das praas da cidade.
1. Altitude e clima. Colocada a 962 metros acima
do nvel do mar87, a cidade goza de clima seco, temperado e
salubre. o ar das elevaes. Contm 75% de umidade.
Mais ou menos como o de Belo Horizonte. Verdadeiro clima-sanatrio. Por isso, desde muito, a cidade
procurada como estncia de repouso e convalescena, como
provam as crnicas locais, onde temos desde a visita de um
D. Macedo Costa, at a instalao aqui do antigo e afamado
Sanatrio Oliveirense, cujo conceito se espalhou pelo Pas
durante o final do sculo passado e comeo do atual. Um
cronista da imprensa local, falando de Oliveira em 1888,
chegou a por o clima daqui como mulo do de Campos do
Jordo, em So Paulo (Gazeta de Minas de 1888).
2. Temperatura. Temperatura mdia anual de
18,6.
3. Valores metereolgicos extremos e mnimos.
A maior mxima observada foi a de 8 de janeiro de 1930,
que atingiu 34,3 sombra.
A menor mnima foi de 18 de julho de 1926 1,5
sombra. Durante dezessete anos de observaes
metereolgicas na cidade88, tem-se notado que as mnimas
tendem a subir at alm de 3 graus e que as mximas
tendem a descer abaixo de 30 graus. Fato que vem
demonstrar cada vez menos amplitude ou menor oscilao
climatrica mais estabilidade e mediania.
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O degelo durou dois dias, e, felizmente, s foram vtimas: a vegetao e alguns animais.
6. Mdias pluviomtricas (1941) Afirma o encarregado tcnico das observaes metereolgicas locais,
haver nas mdias pluviomtricas aqui observadas uma tendncia para menos: a evaporao e precipitao esto decaindo, talvez por causa do gradativo desaparecimento das
matas do municpio. Se esse desaparecimento continuar
assim e no forem tomadas enrgicas providncias em prol
do reflorestamento municipal, pode-se vaticinar para os cerrades de Oliveira, em futuro no mui remoto, um outro
Saara adusto e desrtico como o da frica
A esto as boorocas e a sava para ajudar E a
est tambm o fenmeno de lagoas que desaparecem e de
riachos que minguam
Oliveira precisa olhar melhor para esses sintomas
alarmantes!
7. Estaes do ano. Chuvosa, de outubro a maro.
Seca, de abril a setembro.
Graas s condies atuais do urbanismo aqui realizado, a cidade, em ambas as estaes, no sabe o que seja
lama, no sabe o que seja p. Por ano, h uma mdia de 114
dias claros e radiosos. Um dos mais belos prenncios da
primavera em Oliveira a magnfica florao dos seus ips,
que os h vrios e maravilhosos nas campinas adjacentes e
dentro da cidade, como os do jardim de cima e esse ip
fronteiro matriz, na praa Quinze (1942).
O maior nmero de dias de seca, dias consecutivos
sem cair sequer uma gota de chuva, foi de 128 dias, observados em 1935.
8. Situao astral. Oliveira est situada a:
20 41' 47" de latitude sul
44 49' 58" de longitude oeste (pelo meridiano de
Greenwich).
Pelo meridiano do Rio de Janeiro, fica a cidade a 2
6' de longitude oeste.
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CAPTULO VI
VIAS DE COMUNICAO
ESTRADA DE FERRO
Oliveira servida pela ferrovia Stio-Paraopeba
(Rede Mineira de Viao), bitola de 76 centmetros.
Dentro da cidade, atravs da qual percorre 3.500
metros, tem a estrada duas estaes: Oliveira e Joo Pessoa.
1. Estaes. A de Oliveira, inaugurada a 14-41889, acha-se a 962 metros de altitude e numa posio
quilomtrica de 270.925 metros, a partir de Stio.
O prdio antigo tinha 50 metros de gare dupla, situada como se achava entre os desvios da linha. Era uma
construo antiga, em forma de chal, sem torre.
O prdio atual, construdo em 1930, foi iniciado
pelo engenheiro dr. Janot Pacheco, autor da planta, sendo
concludo pelo dr. Jos Bretas Bhering. A planta no foi,
porm, executada in-totum. Ficou faltando uma torre: a do
lado oeste. Era para ser muito alta, dotada de grande relgio
luminoso com mostradores diversos, um para cada lado.
Apesar disto, o prdio saiu uma slida obra de arquitetura,
ao fundo da aprazvel praa Manuelita Chagas, tendo uma
gare de 80 metros de comprido e uma torre em que funcionam os escritrios da 12 Residncia, compreendendo trs
seces: 34, 35 e 36. A magnfica residncia do engenheiro
local tambm construo do dr. Janot Pacheco.
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Franklin de Castro, por Laurindo Nogueira, Jos das Chagas Sobrinho e o jornalista Antnio Fernal.
Cada qual vibrou a sua picaretada. E tudo com tanta
poesia. Eram ferramentas enfeitadas, vindas em carroas
embandeiradas junto a um infalvel quinto de vinho oferecido aos trabalhadores. Hinos, fogos, vivas, ao desabar da
pirmide final. Todo mundo discursou. Percorrendo a p
um quilmetro pelo leito afora, povo e autoridades voltaram
depois, entre aclamaes, msicas e foguetes, estabelecendo-se logo uma passeata atravs das ruas da cidade.
E vieram outra vez os discursos. Laurindo Nogueira,
rbula e jornalista badalante, perorou saudando a liberdade,
em frente residncia do engenheiro da estrada, que, gentilmente, ofereceu aos presentes um profuso copo dgua (sic).
J estava sendo assentada, a duas lguas, a grande
ponte de ferro sobre o rio Jacar. A 2 de junho era colocada a
cumieira da estao. Outro foguetrio. Outra discurseira. E,
outra vez, a clssica passeata pelas ruas, ao som de vivas e
dobrados marciais, proporo que em cada sacada iam
assomando os demstenes da hora. Oliveira nunca soube
festejar grandes acontecimentos sem estes quatro temperos:
foguetes de cauda, passeata pelas suas ruas, banda de msica e
discursos nas sacadas.
Logo a 8 do mesmo ms, entrava, cidade adentro,
silvando alvissareira a primeira locomotiva.
A praa do Cruzeiro estava apinhada. A estao, toda
embandeirada e fremente de povo. Apesar de segunda-feira
brava, as garotas da terra ali se comprimiam, numa ansiedade
nica, ostentando toaletes chiques e estudando os melhores
sorrisos e os melhores ademanes, para receber os engenheiros
bonitos que viriam no trem. Quantas vezes as moas
casadoiras no ouviram aqui, das suas vovs, este aviso
prudente e consolador:
Espera, menina; a vem a estrada com os engenheiros!
Tem a palavra o reprter que assistiu pessoalmente
festa:
190
90
191
fadou a Providncia com fertilidade de solo, clima excelente, ndole pacfica e trabalhadora de seus habitantes. E
para conseguir tudo isso, tem Oliveira agora uma varinha
mgica a Estrada de Ferro Oeste de Minas". (Ibid.)
Foi com essa galhardia que a ala nobre de Oliveira
recebeu a primeira locomotiva. Como a teria recebido a ala
dos simples e ignorados? Que lhe teria acontecido quando o
comboio entrou de sopeto, silvando e retinindo?
Foi uma debandada em regra, diz Jos Demtrio91. Os
menos corajosos foram abrigar-se no bambual ento existente
ali na praa, onde hoje se desfruta de soberbo jardim e, de l,
espreitavam o bicho que vomitava fumo e fogo.
A arraia mida, vinda da roa para assistir a to
memorvel acontecimento, estourou pela encosta abaixo, at
l no Maracan o que conta seu Lelco.
Alm do grande impulso imprimido ento no comrcio
local e na lavoura, a estrada trouxe, para o lugar, as
residncias das turmas de trabalhadores. Em geral, estes eram
portugueses e italianos. Entre os forateiros e a rapaziada do
lugar, comearam ento a travar-se brigas e conflitos, pondo
em sobressalto o delegado e seus bate-paus, e no deixando
mais enferrujar-se as chaves da enxovia local. As brigas de
portugueses no largo sacudiram, por muito tempo, a pacatez
local, durante os meses em que se rasgava a estrada mais para
diante.
A 17 de setembro (1888), chefiada pelo dr. Hermilo
Alves, passava por aqui uma luzida comitiva de engenheiros, a
fim de fazer o reconhecimento das paragens por onde deveriam passar os prolongamentos da estrada at Pitangui,
Itapecerica e Alto So Francisco.
A 5 de fevereiro de 1889, entre festas e discursos, Oliveira em peso formigava de novo na praa do Cruzeiro, para
ver a comisso de tcnicos bater a primeira estaca desses
prolongamentos. Dias depois, j as obras atingiam a garganta
da Folha-Larga.
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Obra citada.
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CAPTULO VII
203
Ribeiro da Silva e Tenente Francisco de Faria Lobato, nomes estes que so o symbolo da caridade e religio.
Esta Camara em vista dos precedentes de V.S. est
certa que acceitando este religioso Cargo, envidar com
aquelles prestveis Cidados, todos os esforos para assim
chegarmos ao nosso desejado fim, e sermos lembrados
elouvados pelos que soffrem.
A Comisso Central desta Cidade fica encarregada
de obter um estatuto ou compromisso para a nossa Pia
instituio, e receber das Comisses defora os donativos
ou communicaes que tenho de faser.
Deos Guarde V.S.
Pao da Camara Municipal em Sesso Ordinaria de
17 de Julho de 186294.
Em 1875, no dia de ano novo, reuniu-se no corpo da
matriz um bravo pugilo de 46 pessoas, chefiadas pelo vigrio Jos Teodoro Brasileiro. Instalou-se nesse dia a Irmandade da Santa Casa de Misericrdia de Oliveira, nomeandose uma mesa provisria que tinha por presidente o vigrio
Jos Teodoro e por membros Marcelino Rodrigues Tito,
major Jos Antnio Teixeira, major Teodoro Ribeiro de
Oliveira e Silva e Jos Henriques de Melo. Foram lidos e
aprovados os estatutos da Irmandade. Eleitos os mesrios,
aparecem como provedor o dr. Miguel Augusto do
Nascimento Feitosa, como vice-provedor o capito Jos
Pedro Ferreira de Paiva, como escrivo o cel. Antnio da
Costa Pereira, como tesoureiro o tenente-coronel Jos
Ferreira de Carvalho, como procurador o capito Carlos
Ribeiro da Silva Castro e como mordomos o capito Carlos
Jos Bernardes, dr. Fernando Leite Ribeiro de Faria,
Mariano Ribeiro da Silva, Misael Ribeiro da Silva Castro,
Jos Henriques de Melo, Joaquim Dias Bicalho.
Esse foi o bravo batalho da Misericrdia, onde se
salientou o dr. Feitosa, juiz de direito.
94
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205
veu finalmente que a cerimnia do assentamento da primeira pedra tivesse lugar no dia trs de maio prximo futuro,
dando-se para isso as precisas providncias, em ordem a ser
celebrado o ato com a maior solenidade possvel, autorizando o irmo Tesoureiro a despender o que fosse preciso para
tal fim.95
Efetivamente, a 3 de maio de 1876, foi ali lanada a
pedra inaugural da Santa Casa. Povo em penca enchendo a
velha praa do Cruzeiro, onde, em altar improvisado,
sombra do antigo bambual a existente, o vigrio Teodoro
celebrou missa campal, procedendo, em seguida, bno
da primeira pedra. Houve aclamaes e vivas; houve fogos
e bandeirolas, decorrendo a solenidade ao som de belas e
festivas peas de msicas executadas pelo coro regido pelo
Irmo Marcos dos Passos Pereira (sic), exmio maestro
que, por muitos anos, andou musicando a alma do povo
oliveirense.
Infelizmente, porm, a construo da Santa Casa na
aprazvel praa do Cruzeiro no foi alm da pedra inaugural. Outra, e menos salubre, iria ser a localizao do
almejado estabelecimento.
A 21-6-1896, era novamente dirigido outro apelo a
todo o municpio, em prol de donativos para a Santa Casa,
como se fez em 1862, sendo ento organizadas comisses nos
distritos do Japo, Cludio, Passa Tempo, Carmo da Mata,
So Francisco de Paula e Santana do Jacar. Era mais uma
tentativa em rumo do capital que ainda estava longe de se
completar.
A 4-12-1898, alm de 60$ que eram aprovados como
vencimentos mensais para um administrador incumbido de
orientar os trabalhos da Santa Casa, organizava-se uma
brilhante comisso para angariar donativos, composta das
mais distintas damas da sociedade oliveirense de ento. A
figuravam uma D. Maria Pulucena das Chagas Lobato, uma
Elvira Xavier das Chagas, uma D. Amanda de Campos Con95
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96
Os mesmos que assinaram o histrico que se acha incluso na ata: cel. Francisco
Fernandes, Comendador Francisco de Faria Lobato, dr. Joo Pereira Continentino, dr.
Cndido de Faria Lobato, dr. Jos Joaquim Gomes, padre Jos Teodoro Brasileiro, dr.
Adelino Pinto Machado, dr. Ribeiro da Silva, dr. F. Coelho de Moura, Olmpio Chagas
Leite, J. Olmpio de Castro, Venncio Jos Benfica, Jos Vieira da Silva, Mariano Ribeiro
da Silva, Acrsio Diniz, Salatiel de Faria Lobato, Joo Estanislau, lvaro Ribeiro, Ablio
Ribeiro de Castro, Jos G. Ribeiro da Silva, Paulo Roiz Rocha (descendente do seu
homnimo j referido).
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bancrias locais tm uma mobilizao financeira muito intensa, tendente a aumentar numa mdia de 7 a 10% ao ano.
Em 1940, por exemplo, esse movimento atingiu a elevada
soma global de 20 mil contos de ris em depsito por 7 mil
contos em capital colocado.
Tal movimento no se tem limitado a uma vitalidade
local apenas, nem se tem restringido ao mbito municipal.
Ao contrrio, tem se irradiado alm das fronteiras do
municpio, num verdadeiro controle sobre Bom Sucesso,
Passa Tempo, Cludio, Itaguara, Bonfim, Itapecerica,
Carmo da Mata, Divinpolis e outros centros do Oeste.
Outras rendas. Enfileiramos aqui apenas as principais, isto , algumas de carter oficial ou industrial, no
ano de 1940:
Cr$
Coletoria Estadual
1.421:451200
Coletoria Federal
399.344$300
Prefeitura Municipal (mdia anual) ..
Arrecadao em 1960:
510:000$000
Coletoria Estadual
28.000.000,00
Coletoria Federal
10.000.000,00
Prefeitura Municipal
7.605.814,30
AGRICULTURA E PECURIA
Desde que aqui aportaram os primeiros colonizadores, a agricultura e a pecuria foram as suas preocupaes
mximas. Tambm, que outra preocupao poderia haver,
se se no tratava de terras minerais?
A derribada das antigas matas e o plantio do solo
introduziram aqui a agricultura. As velhas fazendas de
curral frente e invernadas em torno deram incio
pecuria.
E uma e outra que constituram a razo de ser da
comuna oliveirense. Portanto, historiar agricultura e pecuria em Oliveira historiar Oliveira mesma. Caf e gado
so, e tm sido, os seus dois esteios.
214
J em 1831, nas primeiras matrculas da Guarda Nacional local, a maioria de matriculados constituda de
agricultores e criadores.
Logo que se inaugurou na sede a primeira cmara
municipal, um dos seus primeiros atos foi espalhar, entre os
fazendeiros, exemplares sobre a cultura do ch e logo
depois incrementar o comrcio do gado.
1. Agricultura. O primeiro passo tcnico para a
lavoura oliveirense se ensaiou em setembro de 1889, quando caiu o velho sistema adotado pelo brao servil. A agricultura sofrera o colapso de 88. A convite dos agricultores
locais, aqui veio o dr. Antnio Vaz Pinto Coelho da Cunha,
inspetor geral da imigrao em Minas e concessionrio do
projeto de lei provincial 3.647 que autorizava a fundao de
cinco estabelecimentos agrcolas em Minas, tendo deliberado dizia a Gazeta ser o nosso municpio a sede de
um desses estabelecimentos.
Fez-se ento, na cidade, uma espcie de Semana
Agrcola, com a presena de grandes proprietrios. E o dr.
Vaz Pinto realizou uma srie de conferncias sobre
imigrao agrcola e novos processos tcnicos para a
lavoura, datando da a entrada de diversos estrangeiros em
Oliveira.
Grande foi o entusiasmo que as conferncias despertaram na populao. Principalmente entre os grandes da
poca: cel. Teodoro Ribeiro, comendador Francisco Lobato,
cap. Carlos Ribeiro de Castro e outros.
Surgiu ento o sonho dum estabelecimento agrcola
em Oliveira, aproveitando-se a chance do projeto-lei. Depois esse sonho cresceu. E quiseram mais do que um simples estabelecimento agrcola: quiseram uma universidade!
E a morreu o sonho como a r da fbula, deixando Oliveira
embalada na malograda esperana de ser ainda um centro
universitrio.
Mais tarde, em 1892, com o mesmo intento de aqui
fundar um estabelecimento de tcnica agrcola, veio a Oli-
215
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Alm desses fenmenos, havia ainda as grandes culturas de videira, jorrando por aqui, torrencialmente, o saboroso vinho Bicalho, de saudosa memria. So tambm de
saudosa memria os trigais do municpio. Sim, Oliveira j
plantou muito trigo. E quem o introduziu foi o alagoano, dr.
Francisco Leite e Oiticica, espalhando entre os fazendeiros
as primeiras sementes vindas dos Estados Unidos.
Mas tudo passou, como tambm vai passando
aquela recente febre do algodo, pela qual muito doutor de
mo lisa largou a cidade para ir plantar algodoal na roa
Apesar de tudo, o municpio continua a produzir
muito algodo, bem como milho, arroz, feijo, cana, acar,
batata, mamona, frutas e os velhos produtos: rapadura e
aguardente.
Em 1941, as culturas agrcolas atingiam um total de
2.123 alqueires, dentro de 1.616 quilmetros quadrados.
E subiram de muito em valorizao as terras cultivveis do municpio, depois que, na administrao Djalma Pinheiro Chagas, foi feito o saneamento rural pelo Posto de
Higiene e a Fundao Rockefeller.
O agricultor oliveirense est se sintonizando com a
tcnica. As lavouras j se enchem de mquinas agrcolas.
Cada fazenda tem, alm de sua rodovia e do seu automvel
ou caminho, uma usina particular que lhe fornece energia
e luz necessrias no s sua indstria agrcola e pastoril,
como ao conforto da casa residencial, que hoje um verdadeiro palcio no meio do mato, sem a rusticidade da antiga
casa grande e suas senzalas. Para acompanhar a evoluo
da nova tcnica agro-pecuria, cada proprietrio assina jornais e revistas sobre o assunto e acompanha pelo seu rdio,
no morno remanso da sua fazenda, nas tardes buclicas, os
programas do fazendeiro em que as emissoras brasileiras
so hoje felizmente fecundas.
O caf. A cafeicultura no municpio obedece, na
sua evoluo, a trs fases:
217
218
Essa abastana trazida pelo caf ensejava, s famlias locais, frequentes passeios corte, Amrica do Norte
e Europa, sendo fenmeno at banal ouvir-se aqui, naquela poca, uma senhorita dizer:
Conheo Londres, Paris e Nova York.
Reminiscncia desses bons tempos so os velhos casares de ar senhorial e as antigas fotografias de damas
trajando ricos vestidos feitos na Frana, chapu, luvas finas
e braceletes de ouro e diamantes
Na sua terceira fase, a cafeicultura oliveirense no
pode escapar aos fenmenos da baixa geral que atingiu o
caf brasileiro. A fogueira de caf acesa pelo governo devorou muitas toneladas sadas de Oliveira
Morreram os velhos cafezais da fase anterior. Mas
outros a esto, verdes e promissores.
Em 1941, o municpio possuia, em rea cultivada
em caf, 761 alqueires, atingindo um total de 2.561.500
cafeeiros registrados na Coletoria Estadual, no falando do
que ficava oficialmente silenciado98.
A safra de 1939-40 foi de 95.000 arrobas.
A apanha do caf. Entre os sistemas adotados no
municpio, o mais generalizado o primitivo sistema do
talho. Cada apanhador toma uma ou duas fileiras de cafeeiros (um ou dois talhes). Limpa-lhes o cho por baixo
da ramagem. Alm de bem varrido, o cho s vezes forrado com sacos de aniagem. A cai, numa verdadeira chuva,
o caf que deitado abaixo por meio do derriamento, acumulando-se em grossas camadas. O apanhador costuma
adotar tambm, preso cintura, um balaio onde vai deitando o fruto derriado por ambas as mos. Levado para o
depsito, o caf apanhado medido em alqueires, recebendo o apanhador o seu salrio que varia de 1$200 a
3$000
98
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A imprensa local de 1888-1892 registrava um fenmeno constante. A cidade estava se tornando uma verdadeira feira de gado. Trs a cinco boiadas grandes entravam
aqui por semana, vindas j das pastagens do municpio, j
das dos municpios circunjacentes. De Oliveira, seguiam
para os matadouros de Santa Cruz, Stio e Benfica. Durante
1891, por exemplo, Oliveira sozinha exportou, para esses
mercados, mais de 30.000 reses, j estando consagrada,
Oeste afora, a sua fama de zona produtora de gado99.
Zona pastoril, tranquila e submissa da sua natureza assim a definia Rui Barbosa em 1916.
A exportao de gado por via frrea iniciou-se para
Oliveira a 6 de fevereiro de 1889, com a sada do primeiro
comboio de reses exportadas ento numa manada de 120
cabeas. Esse dia deve ficar para sempre registrado nos
anais pecurios do lugar.
Na impossibilidade de darmos aqui uma estatstica
exata da situao pecuria do municpio, limitamo-nos a
nomear os nomes de alguns dos seus maiores criadores, em
1942:
Joo Martiniano dos Santos, Newton Ferreira Leite,
Moacir Ferreira Leite, Rodolfo Ferreira Pacheco e filhos,
Francisco Cambraia de Campos, Salatiel Vaz de Oliveira e
filhos, Antenor Ferreira Leite, Augusto Machado da
Silveira, Teodsio Machado da Silveira, Francisco
Machado Sobrinho, Jos Diniz Linhares, Euclides Ribeiro
de Oliveira e Silva, Jos Ribeiro de Oliveira e Silva Jnior,
Jos Maria Ribeiro de Castro, Ambrosina Ribeiro de
Oliveira, famlia Ramiz Junqueira, famlia cel. Mandassaia
e outros cujos nomes nos escapam presentemente.
Entre bovinos, equinos, asininos, muares, suinos, ovinos, caprinos e galinceos h um clculo global de 1941,
alis imperfeito, que atinge 190.000 cabeas.
O gado bovino do municpio, em cujos rebanhos figuram reprodutores de raa valorizados em centenas de con99
221
222
exportando 80.000 por ano, sob a direo do tcnico especialista em cerveja Osvaldo Parucher. Havia a cerveja dupla, a $460 ris a garrafa; a preta, pelo mesmo preo; e a
extra, a $600 ris.
E a cervejaria do dr. Fromm? Chamava-se Fbrica
do Oeste, da firma Ribeiro & Fromm, produzindo licores,
gua gasosa e cervejas de 350 a 800 ris a garrafa, inclusive
a afamada Boch-Bier.
Alm dessa fbrica, outra ainda apareceu com o
nome de Distilaria Central Oliveirense, instalada por Jos
Pacheco Miranda. Ficava na rua da Misericrdia.
E a fbrica de mveis do Mirandinha? Ficava ali na
rua Direita e, graas a esse carioca de alma leve e mos de
artista que era seu Mirandinha, a fbrica produzia mveis
do mais fino lavor, de que hoje restam alguns na cidade, em
estilo atualmente raro.
Teve tambm Oliveira fbricas de macarro, meias,
um grande curtume, destacando-se uma notvel fbrica de
chapus de lebre e palhinha, outrora localizada ali ao sop
do morro de So Sebastio. O local ficou se chamando, por
muito tempo, Beco da Fbrica. Os fabricantes eram portugueses e franceses e seus produtos, segundo a prpria imprensa local de 1887, rivalizavam com os mais finos produtos de procedncia estrangeira.
Essa hegemonia industrial em Oliveira pode ser localizada l por 1889, justamente quando a indstria aqui era
tida como nula. J nesse tempo, para foment-la ainda mais,
pensava-se em fundar na cidade uma grande casa bancria,
por meio do congraamento de capitalistas locais.
Mas tudo se acabou. Nada mais resta hoje desse passado industrial, numa terra que teve a glria de ser o bero
de um dos maiores industriais da poca Raul Leite,
nome que avassalou o continente100.
100
Dr. Raul Leite (n. 12-8-86, m. 23-1-39). Nasceu em Passa Tempo, ex-distrito de
Oliveira. Formou-se em medicina no Rio, em 1912, depois de j graduado em farmcia. E
morreu na
223
Apesar de tudo, porm, Oliveira ainda tem a seguinte atividade industrial (estatstica de 1942):
1 fbrica de balas, com uma produo mdia de
25.000 quilos por ano; 3 padarias; 2 tipografias; 5 fbricas
de manteiga no distrito da cidade; 1 fbrica de queijos (na
fazenda do Segredo); 1 selaria e algumas sapatarias
pequenas; 1 grande fbrica de sapatos; 2 fbricas de sabo;
1 grande empresa de beneficiamento de arroz e caf; 1
curtume pequeno; 1 fbrica de aguardente (Dias Bicalho);
1 fbrica de Queijos (Mrio Andrade), alm de muitas
outras do mesmo produto; 1 grande fbrica de tecidos; 1
torrefao de caf.
A grande fbrica de sapatos acima referida a Sapataria Progresso dos Irmos Barcelos, cuja produo mdia anual era de 15.000 pares de calados (em 1942).
E, quanto grande fbrica de tecidos, tracemos-lhe
o histrico e organizao.
Cia. Txtil de Oliveira Industrial S/A. Foi fundada por Jos do Nascimento Teixeira em 11 de maio de
1912, sob a firma Nascimento Teixeira & Cia.. Desta firma, registrada em 22-5-1912, faziam parte os scios
Antnio
_______________________
Bahia, vitimado por uma crise cardaca. Sentindo-se vocacionado, desde
mo, a um ramo industrial conexo carreira mdica, iniciou, como
comerciante de laticnios (vendedor de leite, a princpio), a moderna
indstria de leite higienizado, congraando, no magno problema da
questo alimentar do povo, os podres municipais do Rio e a classe
mdica. Depois de anos de labor diuturno, com dezesseis horas de trabalho
por dia, contratando tcnicos, difundindo idias pela imprensa, conseguiu
realizar a maior organizao qumico-biolgica da Amrica do Sul: os
atuais "Laboratrios Raul Leite", fundados em 19-11-1921. Essa
organizao, graas ao seu fundador, dlfundiu-se pelo pas e atravessou
suas fronteiras, estabelecendo filiais em Portugal, frica Oriental
Portugusa, ndia Portuguesa, Argentina, Paraguai, Peru, Bolvia,
Colmbia, Venezuela, Cuba etc. Raul Leite, o maior industrial nascido no
oeste mineiro, uma glria de Oliveira, porque o do Brasil.
(Resenha Mdica) r e v i s t a , R i o , a n o V I , n . 1 ) .
224
101
Afirma Jos Demtrio Coelho, no seu livro j citado, que em 1906 ali instalou uma
indstria de beneficiar arroz e caf o cel. Manoel Antnio Xavier, at ento alto
comerciante de armarinhos e fazendas na cidade. O cel. Xavier dotou o seu engenho de
modernas mquinas. Passou-os depois ao Irmos Mitre, que cederam parte do prdio a
Francisco Robortela para instalao de uma fbrica de laticnios. Um enorme incndio
consumiu tudo, de um dia para outro. Por muito tempo ali s restaram as paredes em p.
O ento presidente da Cmara, cel. Joo Alves de Oliveira, concedeu firma Nascimento,
Teixeira & Cia. Iseno de impostos municipais, gua, luz e cem cavalos-fra gratuitos
pelo espao de 25 anos, demonstrando, com sse gesto, o seu grande desejo de
industrializar a cidade.
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Falecido em 1960.
228
sidade de contribuir para obras de embelezamento, recreao e de utilidade pblica. Assim que surgiram, nesse ano,
as idias que se concretizaram na construo da sede prpria do Oliveira Clube; a sede prpria do Banco do Brasil; a
torre de repetio de televiso; a Companhia Telefnica; e
muitos outros empreendimentos.
No setor industrial, a conhecida Fbrica Nestl
construiu um grande depsito para leite e refrigerao do
produto adquirido em fazendas e stios do Municpio. Tratase de uma construo de cerca de 20 milhes de cruzeiros,
localizada na rua dos Cabrais, em terreno doado pela Prefeitura, onde outrora havia uma britadora do Municpio. Foi
mais um melhoramento incorporado vida da cidade.
COMRCIO
A princpio, em carros de bois. Cinco dias de viagem
at So Joo del-Rei. Quando no em carros de bois, era em
tropas de cargueiros, como no primitivo sistema da Picada de
Gois, velho escoadouro do comrcio local.
Os apontamentos de Saint-Hilaire e as matrculas da
Guarda Nacional vm revelando, em 1819, em 1831, o grau de
desenvolvimento em que j estava o comrcio local. Lojas de
fazenda e mercearias bem sortidas, tavernas, farmcia,
hospedarias isto em 1819, observado por Saint-Hilaire.
J em 1831, o lugar contava com 32 negociantes, entre
os quais encontramos Venncio Carrilho de Castro, capito
Bartolomeu Ferreira da Silva, Francisco Joaquim de Andrade,
Manuel Jos da Silveira, tenente Paulo Roiz Rocha, alferes
Antnio Ferreira de Carvalho e outros.
Depois vieram Joaquim Bicalho, seu Salgado, Romualdinho Silveira, Jos Antnio Teixeira etc.
Lotes de tropas que forneciam a esses comerciantes.
Os cometas vinham de So Joo del-Rei, ou ento diretamente do Rio, trazendo as ltimas novidades da corte ou de
alm-mar.
E c do interior vinham em carros de bois cobertos de
couro: panelas de barro, toucinho, barris de aguardente,
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Nem todos os sros so catlicos. Formam uma religio parte os drusos que, todavia, no fazem sectarismo,
no ostentam culto nem promovem hostilidade aos demais
credos.
Ao contrrio. Respeitam as crenas alheias e esto
sempre prontos a abrir sua bolsa pelas obras religiosas do
credo oliveirense o credo catlico. Exemplo disto foi a
recente organizao do patrimnio da Diocese de Oliveira,
para o qual os drusos foram dos primeiros a concorrer com
avultadas quantias.
Seita destacada do mulumanismo, a crena dos
drusos nasceu ao p do Lbano, na Sria, no tempo do califado fatimita.
Quem a introduziu em Oliveira foi a famlia Mtar,
ali por 1901, mais ou menos. Atualmente, so as seguintes
as famlias drusas da colnia sria local: Mtar, Assreuy,
Jurdi e Souki.
Os drusos tm o seu ministro que denominado
Alimem ou Cheik. uma espcie de cura, mas sem distintivo ou idumentria que o distingam dos outros. Vive como
os demais drusos: casado e entregue aos seus negcios.
Compete-lhe realizar batizados, casamentos, encomendaes, de acordo com o ritual druso, sem receber remunerao alguma.
Os drusos so muito unidos. A famlia -lhes sagrada. Obedecem aos mesmos preceitos do Alcoro, com
pequenas modificaes. O divrcio lhes mais rigoroso e
tendem muito pela monogamia indissolvel.
J possuram em Oliveira imprensa prpria: o jornal
Al-Hislah (O Reformador). Possuram tambm sociedade
prpria de carter filantrpico, registrada no tabelio com o
nome de Liga Beneficente Drusa.
O cemitrio druso. Situado junto ao grande cemitrio de So Miguel, a oeste da cidade, foi a construdo
em 1928, pelos adeptos da religio drusa.
235
A iniciativa partiu da prpria famlia drusa, certamente para evitar futuros atritos com outros credos. Gesto
inteligente!
O terreno foi comprado do sr. Tibrcio Marques de
Carvalho.
O primeiro sepultamento feito nesse cemitrio foi o
de uma criana drusa de dois meses de idade, de nome
Fose.
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CAPTULO VIII
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238
239
e Pinto Machado, completam, com Olmpio de Castro, Laurindo Nogueira e Ferreira de Carvalho, o grupo dos estimuladores. Com eles, vo aparecendo os primeiros clubes dramticos, tendo frente Acrsio Diniz, Randolfo Chagas e
outros.
To larga vai se tornando ento a irradiao cultural
desse bloco atravs da Gazeta de Oliveira que esta, merc
da sua grande circulao pelo Estado, passa, em 1899, a
denominar-se Gazeta de Minas, como a dizer-se mais do
seu Estado do que da sua cidade.
Outras tipografias e jornais comeam a surgir, como
se pode ver no captulo referente imprensa.
J o padre Jos Teodoro est vergado ao peso dos
janeiros e seus pupilos, no esquecendo o vigrio velho,
enxameiam-se de sonhos: abolio, repblica, estrada de
ferro, gua potvel e at uma universidade para Oliveira!
3. Est iniciado o ciclo oliveirense propriamente dito.
Os intelectuais do lugar j tm por guias um Cleto Toscano,
um Coelho de Moura, um Jos das Chagas Andrade Sobrinho,
um Xavier, um Artur Diniz, um Olmpio Leite e outros. So
verdadeiros torneios oratrios e musicais os bailes e festas de
inaugurao de melhoramentos municipais como a estao, a
canalizao da gua e a iluminao eltrica. Surgem os clubes
dramticos, intervalados de companhias lricas que aparecem
na cidade gargarejando rigoletos e elegias, ainda pouco
apreciados pelo povo que se acostumara com os dramalhes
semi-pr-histricos.
Surgem os clubes literrios, entre os quais esse memorvel Elite Clube Oliveirense, com a sua rica biblioteca
Vigrio Teodoro e as suas palestras culturais feitas por
literatos vindos de fora como Belmiro Braga, Ablio Barreto,
Mrio de Lima e outros, como se pode ver no captulo dos
visitantes ilustres.
Produtos desse terceiro ciclo so os expoentes de cultura, representados pelo fillogo Jos Oiticica; pelos educadores Pinheiro Campos e Manuelita da Costa Chagas; pelos
irmos Djalma e Carlos Pinheiro Chagas; e, sobretudo, pelo
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A atual Diretoria constituda dos seguintes membros: Presidente dr. Hlio de Castro Costa; 1 Vice-presidente dr. Efignio Salgado dos Santos; 2 Vice-presidente dr. Olavo Monteiro Costa; 1 Tesoureiro Jos
Lobato; 2 Tesoureiro Joo Haddad; 1 Secretrio
Helvcio Silveira; 2 Secretrio Joo Martiniano Duarte;
1 Orador dr. Jos Maria Lobato; 2 Orador Prof. Paulo
Paulino de Carvalho. A Comisso de Sindicncia e Contas
integrada pelos srs. Evaldo Silveira, Dario Afonso, Levi
Lacerda, Mrio Andrade e Teodoro Ribeiro da Silva.
Sede prpria. A mais importante realizao do
Oliveira Clube a construo de sua sede prpria, no centro
da cidade. O empreendimento s foi possvel depois de uma
nova elaborao dos estatutos da entidade, qual se seguiu
uma campanha para arrecadao de fundos destinados
construo do prdio. Foram subscritas 800 aes no valor
de Cr$ 5.000,00 cada uma, perfazendo o total de .............Cr$
4.000.000,00. Atravs do Banco Minas Gerais, o Oliveira
Clube conseguiu um financeiamento de dois milhes de cruzeiros, em condies excepcionais, iniciando as obras imediatamente. A nova construo, que vem quebrar o tradicionalismo da arquitetura colonial, predominante na cidade, um
belo edifcio, moderno e imponente, em linhas arquitetnicas
avanadas. A planta foi elaborada pelo engenheiro, dr. Ildeu
Aguiar, da firma Romeu de Paoli, de Belo Horizonte.
Constitudo de dois pavimentos, o prdio ter, na parte trrea,
lojas comerciais, uma galeria de circulao e, nos fundos, uma
rea destinada a uma churrascaria ou restaurante .
A parte superior compreende um salo de festas, com
a rea de 380 metros quadrados, dependncias sociais com
toilete para senhoras, secretaria, biblioteca, salo de jogos,
alm de cozinha e bar.
As obras esto oradas em 8 milhes de cruzeiros.
A Diretoria do Oliveira Clube pretende, ainda, construir a sede campestre junto da estrada Ferno Dias, campos
de vlei e basquete e outros melhoramentos.
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Pregadores clebres: padre Jlio Maria; cnego Nunan; cnego dr. Benedito Marinho, da arquidiocese do Rio,
em janeiro de 1924 e 30, com uma srie de pregaes concorridssimas no plpito oliveirense; padre dr. Henrique Magalhes, em 1929, num novenrio de pregaes; missionrios
redentoristas; o orador-sacro padre Solindo Jos da Cunha,
com pregaes, em janeiro de 1931; o pregador e cientista
padre dr. Joo Gualberto do Amaral, com palestras cientficas,
em agosto de 31; o pregador padre Jos Maria Fernandes, em
dezembro de 31; os escritores e conferencistas padre lvaro
Negromonte e Humberto Rhoden, em 1939, com palestras
culturais e doutrinrias.
Poetas e literatos: Severiano de Resende, em 1889; o
poeta satrico padre Correia de Almeida, em abril de 89; o
mavioso bardo Belmiro Braga, em 1910, Corgozinho Filho,
Ablio Barreto e Carlos Gis, em 1911, Mrio de Lima em
1912 e Floriano de Lemos em 1913 todos esses a convite do
Elite Clube Oliveirense; Cornlio Pires, Monteiro Lobato,
Gustavo Barroso e Francisco Campos, nos anos mais recentes.
Homens pblicos: o presidente Antnio Gonalves
Ferreira, os deputados Aureliano Mouro e Cesrio Alvim, o
cnsul dinamarqus Emlio Nielsen todos ao ensejo da
inaugurao da antiga estao ferroviria em abril de 1889;
Carvalho de Brito e Estvo Pinto, em 1909; Delfim Moreira e
Raul Soares, em 1912; Antnio Carlos, em 1930; dr. Cristiano
Machado, em 1934; Francisco Campos, em 1940; Ovdio de
Abreu, em 1941; Osvaldo Aranha, em 1940.
Acrescentem-se a essa lista os nomes de Epitcio Pessoa e Mrio Matos: ambos se casaram dentro da famlia
oliveirense.
D. Macedo Costa. O estilista da Questo Religiosa, orador destemido e companheiro heroico de D. Vital
na questo epscopo-manica, esteve em Oliveira em 1888,
acompanhado do cnego Nunan, vigrio de So Joo del-Rei.
No clima da cidade, vinha D. Macedo buscar melhoras
para a sua sade combalida. Aqui chegou a 8 de maio. A
ponta dos trilhos ainda vinha a pela ponte do Jacar, a
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Eurico Trindade.
Sobre Carlos Chagas, vid. escritos de Eurico Vilela, Samuel Libnio, Emille
Marchoux, Gregrio Araoz Alfaro, Sousa Pinto, Hlio Lobo, Veiga Lima, Renato Clark
Bacelar, e tambm as Gazetas de Minas de 1912 e 1922, e a Enciclopdia Internacional de
Jackson, vol. IV, pg. 2.427.
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Na Europa, realizou conferncias em Paris, Estrasburgo, Carlsbad, Hamburgo, Berlim, Londres, Bruxelas,
Roma, Sevilha, Madrid e Lisboa. E, nas festas
comemorativas do centenrio de Pasteur, como em toda a
Europa, Carlos Chagas se apresentou ento com a dupla
investidura de vice-presidente do Comit de Higiene da
Liga das Naes e chefe da Misso Brasileira ento enviada
a Paris.
Em Londres, ao ser apresentado ao grande malarilogo coronel James, este, pasmo e ainda incrdulo pela
surpresa, custou a acreditar achar-se mesmo diante do seu
great Chagas.
Em Bruxelas, o rei Alberto lhe ofereceu um banquete
no palcio real de Laeken, com a presena de personalidades
notveis, inclusive o jovem prncipe que mais tarde seria
Leopoldo III, cujo comparecimento ento era anti-protocolar:
preciso que cedo aprenda ele a conhecer os
grandes sbios! desculpava-se galantemente o saudoso monarca belga, de cujas mos Carlos Chagas recebeu ento a
comenda da Ordem da Coroa da Blgica.
Em Hamburgo, foi-lhe conferido o prmio Kmel,
medalha de ouro.
Em Madrid, desejoso de conhec-lo, o rei espanhol
recebeu-o em audincia especial e, em homenagem aos seus
trabalhos, agraciou-o com as comendas da Ordem de Afonso
XIII e da Ordem de Isabel a Catlica.
Em 1925, a Sorbone de Paris, atravs da sua Faculdade de Medicina, conferia a Carlos Chagas o ttulo de Doctor
honoris causa, a maior homenagem a que se pode aspirar no
mundo cientfico. E o embaixador brasileiro, telegrafando ao
nosso ministro das Relaes Exteriores, resumia assim a
grande apoteose: Compareci Sorbone, cerimnia verdadeira
glorificao Carlos Chagas.
Ainda representou Chagas sua ptria no estrangeiro
em 1933 e 34, como delegado VII Conferncia Pan-Americana, de Montevidu. E ainda foi nomeado pelo governo para
diversas delegaes dentro e fora do pas, bem como
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Exerceu, tambm, as funes de Secretrio do Interior e Justia do Estado de Minas Gerais, cumulativamente
com as de Chefe de Polcia; em 1958, passou a Diretor da
Carteira de Redescontos do Banco do Brasil, tendo ocupado
sse cargo at julho de 1959, quando foi nomeado Presidente
do Banco do Brasil. Exerceu essas funes at novembro de
1960, poca em que foi eleito Diretor Executivo do Fundo
Monetrio Internacional. Durante os anos de 1959 e 1960,
esteve no cargo de Ministro da Fazenda por duas vezes.
J exerceu o jornalismo, como redator da Folha de
Minas e foi Presidente do Sindicato das Indstrias Hidro e
Termo-eltricas no Estado de Minas Gerais, cumprindo seu
mandato at fevereiro de 1959.
Cumpre ressaltar a participao do dr. Maurcio
Chagas Bicalho em favor de Oliveira, sua terra natal. Assim
que, no exerccio da Presidncia do Banco do Brasil, criou
uma agncia do estabelecimento em Oliveira, autorizando
logo a construo de sede prpria, j em andamento e que
constituir um valioso presente ao urbanismo local. No setor
de energia eltrica, propiciou condies para que a CEMIG
aqui instalasse seus servios, tendo colaborado com as
autoridades municipais na soluo de problemas de luz e
fora, sendo justo ressaltar tambm a participao dos
oliveirenses, drs. Edmundo Bicalho Filho e Blair Chagas
Bicalho, aos quais homenageamos nesta nota, embora a sua
modstia preferisse o contrrio. A histria, porm, se faz com
fatos e estes no podem ser negados, na atual realidade
oliveirense, para a qual muito contriburam os irmos Maurcio, Edmundo e Blair Chagas Bicalho. Estamos, alm disso,
cumprindo um dever de fiis intrpretes da gratido do povo
de Oliveira para com aqueles seus ilustres filhos.
DEPUTADO PAULO PINHEIRO CHAGAS
Paulo Pinheiro Chagas, escritor e poltico, nasceu em
Oliveira a 1 de setembro de 1.906, filho de Francisco Pinheiro Chagas e D. Maria Eulina de Carvalho Chagas. Fez os
estudos primrios no Grupo Escolar Francisco Fernan-
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CAPTULO IX
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Oc num demore no, hein? Eu tambm t querendo! dizia baixinho um aluno, quando o outro passava,
vitorioso, carregando o pau.
Houve aqui uma professora antiga que, em vez de
pau, adotava uma pedra preta que ficava em cima da sua
mesa. Batizou-a de signum (sinal); mas os alunos que nada
capiscavam de latim, diziam sinho. S se ia l fora levando na mo o tal sinho. Aquela pedra escura no parava
sobre a mesa da mestra, durante a aula. Vivia saltando de
mo em mo. s vezes, mal apontava na porta, era arrebatada por outro que saa triunfantemente, ora para um beco
esconso e sujo, ora para o prprio quintal de S Mestra ou
ali para o Buraco da S Cota onde havia sempre muito
jo maduro.
Isso do tempo da escola paga pelo povo. Depois
surgiu a escola imperial, em que a professora ganhava do
imperador e, por isso, se chamava Mestra-Rgia: foi
mestra-rgia aqui, por muitos anos, D. Ana Izabel, av do
comedigrafo e jornalista Jos Olmpio de Castro.
Qual, porm, teria sido a primeira escola primria
do lugar e seu primeiro professor? Matriculado na Guarda
Nacional, encontramos lecionando aqui, em 1832, o mestre
Incio Gonalves de Barros, professor de primeiras letras
do arraial de Oliveira. No h notcia de outro antes dele.
Sua escola funcionava na sacristia da matriz, iniciativa do
vigrio Francisco de Paula Barreto.
Essa escola, paroquial a princpio, passou depois a
ser paga pelos poderes oficiais. Em 1841, vamos encontrar
regendo-a o prof. Joo Alves de Almeida Frana. Seu procedimento e hipocrisia atraem a revolta da vereao municipal que, a bem da juventude oliveirense, requereu do
Padre Visitador das Escolas, a deposio e retirada do pedagogo sem escrpulos e a nomeao de outro111.
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quais um mdico, um padre, um farmacutico e sse dinmico Joo Alves de Oliveira que foi aqui um grande presidente da cmara.
Mestre Joaquim Alves encaneceu aqui no
magistrio. Pelos bancos da sua escola passou muito
deputado, muito senador, muito educador, inclusive seu
batalho de filhos. Sua escola ficava ali na descida para os
Passos, esquina da rua Duque de Caxias com Sete de
Setembro, num casaro que foi sede do Lactrio e
Dispensrio So Vicente.
As aulas funcionavam no poro, com as janelas tapadas de pano grosso para impedir que os meninos enxergassem a rua. No canto da sala, ficava o pote, onde cada
menino enfiava seu caneco, quando queria gua. No centro,
dependurada de um prego no esteio, ficava a terrvel palmatria de jacarand roxo.
O curso era de trs anos, compreendendo leitura, escrita e contas. Para exercitar os alunos na leitura de manuscritos garranchentos, mestre Joaquim Alves mandava
vir do cartrio as velhas escrituras de letra arrevezada. Isto
era para quem j tivesse passado pelos trs livros de leitura
de Ablio Csar Borges, baro de Macabas.
Ai de quem engasgasse na leitura ou na tabuada! A
frula de jacarand roxo descia l do prego, impiedosamente, sobre as mos da meninada, deixando-as em fogo
At aqui, escola masculina. Quando teria comeado o
ensino para as meninas? A requerimento da primeira vereao
municipal, o governo da Provncia, em 1841, criou na vila a
primeira escola feminina de primeiras letras. Data da a
emancipao intelectual desse sexo que, mais tarde, nos daria
uma Tia Lilita.
Em 1881, as escolas primrias oficiais, do municpio,
j oram em doze; e a sua matrcula global, em 571 alunos.
Ao lado dessas escolas oficiais, continuavam existindo, como
hoje, diversas escolas particulares. Nas fazendas, por exemplo,
incrementava-se a instruo para escravos, incluindo
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nobre da cmara municipal, onde todas as cadeiras primrias da cidade se congraavam, sob a presidncia do governador da cidade.
Em 1891, por exemplo, encontramos o cel. Joo Alves
presidindo aos exames das cadeiras locais, masculinas e femininas, com a assistncia de todo o Colgio Nossa Senhora
da Piedade. Os exames revestiram-se de grande solenidade,
comeando e terminando com um hino de Castilho. As crianas ofereceram s mestras braadas de flores; e as mestras,
por sua vez, premiaram as alunas mais adiantadas com
exemplares do clebre livrinho de De Amicis, Corao, todo
ornado de fitas em cujas pontas balanava esta sugestiva
quadrinha de Bellegarde:
"Ou seja nobre ou plebeia,
mulher podem caber
Ou as rosas da beleza
Ou os louros do saber".
2. Ensino secundrio. Data de 1847 a primeira
tentativa de se difundir em Oliveira o ensino secundrio. A 2
de janeiro daquele ano, vemos a municipalidade apoiar e
subvencionar a fundao de um colgio na vila, iniciativa dos
professores Ludovico Gramtico e dr. H. R. Genettes. Em
reconhecimento cmara, o colgio ps-lhe disposio duas
matrculas gratuitas para meninos pobres.
Em 1881, a cidade j dispunha dum bom estabelecimento secundrio denominado Ginsio Oliveirense, fundado
por uma sociedade annima com o capital de 10:000$000, em
aes de 200$ cada uma. Sua matrcula remontava ento a 23
alunos internos. No confundir este ginsio com outro do
mesmo nome, mais recente.
O primeiro estabelecimento secundrio para meninas
foi aqui fundado em 86 por D. Maria Cndida Pinto Coelho:
era o Colgio Nossa Senhora da Piedade. Simultaneamente
Lus da Cunha Pinto Coelho fundava na cidade o Externato ou
Colgio So Lus, para meninos. Em 91, o tenente Pinto
Coelho, sua senhora e sua sobrinha Joaninha Pinto, retira-
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ele produziu, em letra, em msica ou em pintura, est repassado dum acentuado sabor de angstia, melancolia, ironia compassiva e bastante ceticismo.
Pinheiro Campos amou a natureza: e versejou-a.
Amou a beleza: e cantou-a. Amou o esplendor das cores e
das formas: e pintou-as. Amou a magia dos sons: e comps
valsas ternas e lquidas.
Por tudo isso, Deus quis ser tambm poeta para com
ele, tirando-o no Dia da rvore, justamente ao meio-dia
dessa data buclica em que, Brasil afora, subiam dos
educandrios as vozes das crianas celebrando a rvore e as
campinas verdes. No era atoa que ele, por uma espcie de
predestinao buclica, se chamava Pinheiro Campos
ESCOLA NORMAL NOSSA SENHORA DE OLIVEIRA
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drios locais por ele fundados. Mas e a pobre da diretora? J velha, doente, exausta, tendo consumido no ensino
toda a sua mocidade e tendo feito pelo colgio os maiores
sacrifcios, inclusive sacrifcios financeiros que s Deus
sabe Tia Lilita viu-se na contingncia de se retirar da
direo do seu educandrio e fech-lo de vez. Os mdicos
lhe decretavam descanso absoluto: havia mais de trinta anos
que se dedicava exclusivamente educao da juventude e
ao socorro dos seus pobres.
Consternao geral da cidade. Surge, ento, providencial, a dedicao feminina personificada em D. Maria
Olvia Ferreira Leite (D. Maricota), progenitora do ilustre
brasileiro dr. Raul Leite.
Feita, sob sugesto sua, uma reunio das mais
distintas damas oliveirenses na antiga igreja do Rosrio, sob
a presidncia do padre Carvalho, ficou assente doar-se o estabelecimento ao patrimnio da Santa Casa local, aps
adquiri-lo mediante capital (50:000$000), organizado por
subscrio pblica. As senhoras percorreriam com listas a
cidade e o municpio.
Mas fracassaram as listas e nada de dinheiro! Por
mais de uma vez, surgem ento os protestantes oferecendo
Tia Lilita vantajosa compra, procurando apossar-se do
educandrio para centro de difuso do seu credo, j que
baldados tinham sido os demais meios empregados para infiltr-lo em Oliveira. Qual foi a atitude da nobre educadora?
Em hiptese alguma, jamais trairei a minha conscincia, a qual no vendo por dinheiro nenhum deste mundo.
Prefiro perder tudo e fechar o Colgio, a entreg-lo aos
protestantes.
Essa resposta categrica, dada ao proco que era o
confidente das suas torturas e sacrifcios, foi a senha duma
nova tentativa para salvar o Colgio que se achava a ponto de
soobrar qual velha nau prestes a adernar. Aparece, de novo,
D. Maricota Leite sugerindo a feliz ideia de um Livro de Ouro
em que cada um subscrevesse uma quantia. E tal foi o seu
esforo, dentro e fora do municpio, para preencher
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HOMOGENEIDADE CONFESSIONAL
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os mais remotos antepassados oliveirenses. Entre essas tradies, contam-se a semana santa oliveirense, a festa da
Padroeira a 15 de agosto, o Natal, as misses, o ms de
Maria festas de que falaremos adiante. O Reinado foi a
nica festividade religiosa que se extinguiu, durante algum
tempo, por determinao diocesana. Hoje (1961) a Festa do
Congo uma das atraes da cidade todos os anos.
Manifestao do sentimento religioso do oliveirense
tambm a frequncia com que so aqui batizados, com
nomes de santos, os diversos estabelecimentos locais: Colgio Nossa Senhora de Oliveira, Casa So Vicente, Casa So
Pedro, Bazar Santa Teresinha, Casa Santo Antnio etc.
Outra feio religiosa da terra: na cidade nunca vicejou imprensa ateia ou anticrist. Nem mesmo a imprensa
dita neutra e imparcial deixou de sair a campo, fosse para
defender a f oliveirense, fosse para difundi-la ainda mais.
o caso, por exemplo, da Gazeta de Oliveira, o mais velho
e austero jornal do lugar (denominada depois Gazeta de
Minas).
Uma das tradies mais suaves a que conservam
alguns pais, no gosto de vestir de anjos e virgens suas crianas para seguirem as procisses ou coroarem Nossa Senhora nas rezas do ms de Maria.
Perdura ainda pelas famlias o costume de fazer novenas da Santa Visitadora, que consistem na trasladao
processional de uma imagem da Virgem, a qual se detm em
cada casa durante nove dias. Em cada lar ela recebida entre
cnticos, sendo entronizada num altarzinho florido e estrelado
de luzes, no mais nobre recinto da casa.
Quantas vezes, passando pelas ruas paralelepipedadas e cheias de borborinho profano, no se ouve noite,
derramando-se de uma janela iluminada ou de uma das
sacadas senhoriais, o sussurro discreto dum tero rezado em
famlia ou duma novena cochichada aos ps duma imagem.
Adiante, s vezes no importa! fervem mooilas e
rapazelhos num baile, entre os guinchos e os chocalhos
dalgum jaz ou dalgum chro vindo do morro
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At hoje, quem se propuser a traar a histria religiosa deste torro abenoado, nada mais tem que registrar
seno acontecimentos catlicos. Comecemos, pois, pelo ensino religioso.
Ensino religioso. Muito antes de os poderes oficiais cuidarem do ensino religioso nas escolas, j Oliveira o
introduzira portas adentro das suas aulas, ciosa de plasmar a
criana integral, para a terra e para a eternidade. Com
pequenas excees, os senhores eram benignos para os seus
escravos e, nas fazendas, mandavam ministrar-lhes
catecismo. Hoje, cada grupo escolar tem aqui a sua hora de
religio. E, atravs da cidade, aos domingos, marcham
rumo das igrejas, ao som dos sinos, crianas e professoras
da Doutrina Crist, para as aulas de Catecismo. Criada para
fins exclusivamente educativos, a Doutrina Crist, como
associao, foi aqui fundada em 1932.
***
TEMPLOS OLIVEIRENSES
Templos antigos. Capela da Senhora Me dos
Homens (extinta). Matriz velha, ainda em bom estado.
Igreja do Rosrio (demolida). Igreja dos Passos, ainda em
bom estado. Ermida de So Sebastio, idem.
Templos novos. Capela da Santa Casa. Capela da
Escola Normal. Matriz nova ou Catedral.
As duas primeiras esto ligadas histria da Santa
Casa e do Colgio Nossa Senhora de Oliveira.
Capela da Senhora Me dos Homens. Hoje
extinto, foi o primeiro templo que se construiu em Oliveira.
Ficava l em baixo, junto ao cruzamento dos dois primeiros
caminhos: o do rio Grande a Pitangui, perfilado na rua dr.
Ccero, antiga rua da Mata; e a Picada de Gois, perfilada
hoje na rua da Misericrdia, antiga rua das Palmeiras.
Supe-se que sua construo data de 1775 mais ou
menos, pouco depois de ser fundada no Caraa a Irmandade
da Senhora Me dos Homens, pelo Irmo Loureno. Velhos
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o jovem Eurico dos Santos, hoje alto funcionrio em Belo Horizonte, datilografou
pacientemente em 1961 os originais da Histria de Oliveira
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Cf. anais da cmara municipal. Arquivo da Prefeitura.
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Era uma pequena capela, em estilo colonial, a princpio em forma de chal, com a frente voltada para a matriz.
Mais tarde, mudaram a sua frente para o lado oposto,
acrescentando-lhe uma torre semi-gtica com um parapeito,
em franco desacordo com as velhas linhas coloniais do
templo.
Construda, num passado remotssimo, em meio
rua Larga, essa igrejinha exgua teve um passado glorioso e
um papel importante no progresso local.
Edificou-a a Irmandade do Rosrio, primeiro sodalcio religioso criado no lugar. Compunha-se a irmandade
s de africanos. Por ser um dos maiores centros escravagistas do Oeste, Oliveira possuiu uma poderosa Irmandade
do Rosrio. Basta dizer que j em 1826, s dentro do
arraial, sobre uma populao de 2.079 habitantes, 877 eram
africanos, isto , quase 50% da mesma populao.
Assinalavam o domnio absoluto dessa corporao
de negros os dias trepidantes e festivos do extinto
Reinado, de que h notcia mais adiante.
Durante esses dias, o centro de convergncia de toda
a populao local ou rural, de todo o comrcio e de todas as
atividades oliveirenses, era a exgua capela do Rosrio, cujo
perfil ficou para sempre estereotipado na retina saudosa dos
negros que reinaram na antiga festa de Nossa Senhora do
Rosrio.
IGREJA DOS PASSOS. um templo modesto
nas suas propores. Pouco interesse desperta primeira
vista. Construdo em forma de chal, acrescentaram-lhe
mais tarde a torre. E nesta puseram o sino, que antigamente
ficava num torreo ao lado.
Acha-se situado beira duma via pblica, ao lado
duma fonte antiga, numa baixada, margem do mrmuro
Maracan, o que pouco comum em questo de localizao
de templos antigos, quase sempre postos no alto dos morros
e quase nunca beira da estrada.
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A construo dessa capela, como a do Rosrio, anterior a 1840, ano em que ela j aparece batizando com o
nome Passos a fonte ali ao lado120.
O critrio que determinou o aparecimento dessa
igreja foi a tradicional festa dos Passos ou Semana Santa, a
que nos reportaremos mais adiante.
A se guarda uma impressionante imagem do Senhor
dos Passos. do tamanho natural dum homem, na atitude
angustiosa dum condenado opresso sob o peso brutal duma
cruz enorme, longa tnica roxa a descer-lhe dos ombros at
os ps, o cabelo em desalinho, a fronte porejando sangue e
os olhos congestionados de angstia e sofrimento: essa
imagem um evangelho em forma humana!
Igual e talvez mais empolgante a sensao que nos
assalta diante de outra imagem, companheria desta nas solenidades da Semana Santa. a imagem da Senhora das
Dores. Do tamanho natural duma dama, tnica talar, vu
azulado descaindo pelos ombros at aos calcanhares, o cabelo solto em flocos graciosos sobre os ombros, uma
aurola suspensa sobre a fronte, as mos crispadas na altura
do colo, o semblante repassado duma dor infinita e
lancinante e, no peito, atravessando o corao de me, lado
a lado, uma cruel, uma transfingente espada.
No se compreenderia Oliveira sem a sua Semana
Santa. No se compreenderia a sua Semana Santa sem estas
duas imagens que tanto falam ao corao.
ERMIDA DE SO SEBASTIO. Parece um
cromo vivo suspenso no alto do morro. Ergue-se no alto de
So Sebastio, a leste da cidade, e sabe poetizar as tardes
oliveirenses, entornando no ar o som lmpido do seu sino
que pode ser ouvido do Diamante aos Martins.
o templo dos humildes. Alis, nasceu da exaltao
religiosa dum humilde. Ligou-se para sempre sua
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ASSOCIAES RELIGIOSAS
Existem em Oliveira as seguintes associaes
religiosas: 1 Irmandade do Santssimo Sacramento,
fundada em 1848 e reorganizada em 1910. 2 Sociedade de
So Vicente de Paulo, fundada em 1892. 3 Pia Unio das
Filhas de Maria, fundada em 1922. 4 Apostolado da
Orao, fundado em 1923. 5 Obra das Vocaes
Sacerdotais, fundada em 1927. 6 Congregao Mariana,
fundada em 1929. 7 Doutrina Crist, fundada em 1932. 8
Ao Catlica, fundada em 1938.
Fora estas, mais antigas, ainda existem outras: 9
Confraria Nossa Senhora das Dores. 10 Associao de
Santa Zita. 11 Confraria Nossa Senhora Aparecida. 12
Associao de So Jos.
Fez poca, nos fastos religiosos e sociais de
Oliveira, a extinta Unio de Moos Catlicos que teve
imprensa prpria e vigorosa, com Nereu do Nascimento
Teixeira e o poeta A. Nri de Abreu frente do jornal A
Unio.
Embora no tivesse carter de associao religiosa,
mas de verdadeiro partido catlico num dos perodos mais
agitados da poltica nacional, teve aqui atuao marcante a
Liga Eleitoral Catlica.
Das associaes acima nomeadas, cumpre focalizar as
duas mais antigas: a Irmandade do Santssimo e Sociedade
Vicentina.
IRMANDADE DO SANTSSIMO SACRAMENTO
Foi criada em 1848 pelo vigrio Pedro Meireles de
Barros em torno do qual se reuniram os primeiros
componentes dessa associao: Cndido de Faria Lobato,
comendador Mariano Ribeiro da Silva, Bartolomeu Ferreira
dos Santos, Janurio Ribeiro da Silva, Jos Ferreira de
Carvalho, Floriano Ribeiro da Silva, Joaquim Jos de
Andrade, dr. Joo das Chagas Andrade, Jos Machado de
Santana, Joo Ribeiro da Silva e Venncio Carrilho de Castro.
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Sob os auspcios dessa pliade de oliveirenses ilustres, elite social daquele tempo, ficou fundada em Oliveira a
Irmandade do Santssimo, cuja primeira mesa administrativa tomou posse a 26-XII-1850, assim constituda: Presidente vigrio Pedro Meireles de Barros; Provedor
irmo Cndido de Faria Lobato; Escrivo Antnio da
Costa Pereira; Tesoureiro Modesto Jos Pereira Matos;
Procurador Jos Antnio Teixeira.
Coube a esta irmandade a concluso da matriz
velha. O seu papel na histria religiosa local foi muito
saliente, por contar sempre no seu seio com os mais ilustres
filhos de Oliveira e por ter sido muito rico o seu antigo
patrimnio em dinheiro e em terras, incluindo os seus
mausolus no cemitrio.
Eis alguns tpicos curiosos da sua histria:
Em 1855, encontramos a irmandade elevando a 25$
por ano o ordenado do sacristo da matriz, que desde 1851
vinha percebendo 12$ anuais, pelo trabalho da Almpada e
mais seu ordenado.
Tendo a irmandade acometido o trmino das obras
da matriz, comeou logo a angariar esmolas para isso. E,
para ajudar as esmolas, o provedor da mesa, em 1851, era
autorizado a por em hasta pblica a venda de diversas casas
pertencentes ao Santssimo, todas dentro da cidade, recolhendo-se ao cofre da irmandade o produto da venda.
Quanto s esmolas, era obrigado a sair tirando-as pelas ruas
qualquer irmo, por mais nobre ou gr-fino que fosse.
Bastava ser escolhido pela mesa. Quem, por respeito
humano ou preguia, deixasse de esmolar para o
Santssimo, ficava multado. A multa consistia em
determinadas libras de cera, pagas em dinheiro ou em cera
mesmo.
O primeiro a ser multado pela falta foi o vigrio
Meireles, seguindo-se o capito Antnio Pereira cuja multa
orou em oito libras de cera, ou sejam 9$600 em dinheiro, o
que era de fato dinheiro naquele tempo!
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ferncia Me dos Homens, criada em 1911, em cuja presidncia mourejou at morrer o abnegado vicentino Joaquim
Laranjo, seu fundador.
Eleva-se a mais de cem o nmero de famlias
socorridas atualmente pela Sociedade Vicentina, qual se
subordina um Dispensrio e Lactrio aqui fundado em
1937, com o fito de socorrer a maternidade desvalida e as
crianas indigentes. frente dessa instituio benemrita,
at morte, esteve o sr. Joaquim Laranjo que foi de uma
emocionante teimosia em socorrer o pobre. Digno
continuador do saudoso dr. Ccero Ribeiro de Castro.
Para se avaliar quo dura e escabrosa tem sido a
misso dos vicentinos em Oliveira, basta lembrar que h
aqui crianas to famintas que chegam a catar, no depsito
de lixo, restos de po para comer; e que, apesar de ainda
no estar de todo debelado o mal hanseniano, foi a Sociedade Vicentina quem retirou das ruas os antigos bandos de
mendigos, entre os quais, em 1918, figuravam 22
morfticos inscritos na assistncia. Para evitar seu contato
com as famlias na cidade, os pobres recebiam sua porta,
pelas mos dos vicentinos, o socorro necessrio angariado
entre os contribuintes. Muitas famlias entraram como
contribuintes, ficando ento suas casas marcadas na porta
da rua por uma plaquinha branca com as iniciais vicentinas
SSVP, senha que foi por muito tempo respeitada pelos
mendigos.
Ajudados por uma subveno de 5.000$ do governo
federal, os vicentinos oliveirenses inauguraram a 28-9-1941
a Maternidade e o Asilo para os necessitados.
Como homenagem humilde, aqui ficam registrados
alguns nomes dos maiores vicentinos de Oliveira:
Afonso Negreiros Lobato, capito Antnio da Costa
Pereira, dr. Coelho de Moura, Jos Olmpio de Castro, capito
Alfredo de Castro, dr. Cleto Toscano, dr. Ccero Ribeiro de
Castro, Joaquim Laranjo, Nereu do Nascimento e os vigrios
padre Jos Teodoro Brasileiro, padre Joaquim Lopes Cansado
e padre Jos Ferreira de Carvalho. (Dados de 1943).
326
SEMANA SANTA
to velha como o lugar a comemorao aqui da
Samana Santa. O modo, porm, como comemorada at
hoje vem das pompas, msicas e particularidades introduzidas pelo culto sacerdote sanjoanense padre Jos Teodoro
Brasileiro, desde 1860. De tal modo que so mais ou menos
idnticas as semanas-santas de So Joo del-Rei e Oliveira.
Basta dizer que numa e noutra predominam, acima do canto
gregoriano, as lindas msicas sacras dos compositores sanjoanenses Pe. Jos Maria Xavier, maestro Joo da Mata e
maestro Martiniano Ribeiro Bastos.
A Semana Santa oliveirense obedece a uma liturgia
quase regional. Nisto, alis, que est o seu sabor peculiar
e o seu encanto prprio. Oliveira sempre procurou mant-la
tal qual ela veio das antigas geraes locais. Para se
constatar isso, basta abrir as Gazetas de Oliveira de 1887
em diante, para ver como decorriam ento as suas pausadas
solenidades. Em nada diferem das de hoje.
Leiamos, por exemplo, a descrio da de 1892, realizada nos dias verde-claros de abril. O setenrio das Dores
como prlogo. Os ramos e sua procisso verde. A procisso
do triunfo. O depsito de Passos noite. A prociso de Dores.
A missa de Pressantificados na sexta-feira da Paixo. A
procisso do enterro, com uma afluncia de 4.000 pessoas.
Quase em todas encontramos o mestre Balduno ou
esse formidvel Roque Silveira com seus violinos mgicos
soluando atrs do Senhor Morto.
Particularidades:
Vamos ao beijo? dizem as pequenas convidando a
gente para beijar os passinhos depois da procisso do
Encontro. Passinhos so capelinhas construdas em certos
pontos das ruas por onde costuma passar a procisso do
Encontro. Representam as estaes da via-sacra. Tantos
passinhos, tantas paradas da procisso.
Outra particularidade o costume geral de todos se
apresentarem com roupa nova no domingo de ramos. Quem
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quiser pode dar ento uma batida nos alfaiates e costureiros locais: esto cheios
Outras particularidades: a figura da Madalena, representada sempre pela moa mais bonita da cidade, escolhida a dedo entre as melhores famlias do lugar. Sua
toalete, sempre muito rica: vestido de cauda, diadema,
luvas, jias etc. Tem havido aqui enxovais de Madalena
orados em contos de ris Ao seu lado, marcha nas
procisses o evangelista So Joo escrevendo o seu
Apocalipse. sempre um adolescente vestido a carter.
Abrao com seu cutelo ameaante, Isaac com seu feixinho
de lenha, os apstolos vestidos de tnica (quase sempre
autoridades locais) todas so personagens que figuram
ativamente nesses atos. Mas h duas figuras que sempre
impressionaram muito a garotada: so a figura da Morte e a
figura do Centurio romano. A primeira, um espectro de
caveira e foice, fazendo gestos ameaadores sobre a
multido. E o segundo, um militar romano que, hasta em
punho, esporas, capacete emplumado e armadura
rebrilhante, fica rondando o Senhor Morto exposto no
esquife, momentos antes de sair a procisso. Andando de
um lado para outro, pausada e arrogantemente, sua presena
concentra a ateno geral. Dizem que quem serve de
centurio num ano, no sobrevive ao ano seguinte.
Todo mundo quer v-lo e a pequenada se comprime,
curiosa, por entre o povo, esgueirando-se por baixo das pernas
dos homens que enchem a capela mor. E, assim, um a um, vo
se postando a uma distncia razovel, comentando baixinho:
Quem ser?
o Buta.
No, bobo; o Buta j morreu. o Antnio Cavalo.
mesmo!
Chi! Eu que no queria vestir de Centurio. Se ele
morrer agora brucutu no inferno! Deus me livre.123
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O REINADO
Ouamos uma testemunha do Reinado oliveirense,
em 1887. Trata-se dum artigo escrito pelo mestre Venncio
e publicado pela imprensa local sob o ttulo A festa do
Rosrio, em Oliveira:
Tantos anos j se tm passado, durante os quais se
celebra a festa de Nossa Senhora do Rosrio, no Brasil,
que, precisar a poca em que comeou esta devoo, seria
dificlimo.
O certo que ela sempre foi outrora solenizada por
quase toda a parte do Imprio, e hoje ainda o por muitos
lugares, onde h irmandades, especialmente por uma composta de africanos e seus descendentes, como uma existente
na cidade da Oliveira, que predomina como que por
encanto e por um direito hereditrio os festejos daqueles
dias.
Muitos dias de vspera, ou, melhor, dous ou trs dias
antes, a festa anunciada pelo som de caixas e tambores,
cujos ecos repercutem aos ouvidos dos que moram nas vizinhanas dos lugares onde fazem seus ensaios.
Na noite do dia antecedente ao do primeiro dia de
festa, precedidos levantamento de mastro e novena, costuma
sair uma figura esquesita de boi, que comporta uma pessoa124
dentro, e percorre as ruas da cidade, acompanhada por uma
multido de gente, na maior parte meninos, os quais fazem a
sua corte. Ainda, ao amanhecer do dia seguinte, um daqueles
que para este fim designado, tomando aos ombros possantes
uma enorme caixa e empunhando com mos vigorosas
grossas batutas, percorre de novo todas as ruas da povoao
rufando-a a todo rufar
Amanhecido o dia ansiosamente esperado, vem chegando, das fazendas circunvizinhas para a cidade, uns antes e
outros depois, moambiques e crioulos, em grandes grupos
que se chamam ternos, quais habitantes da Tebaida, condu-
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Viriato Correia
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Sobre este perodo, vid. pgs. 623 e 624 da Revista do Arq. Pbl. Mineiro, ano VIII,
vol. 1 e II.
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te a parquia o padre Joaquim Camilo de Brito que, matriculado aos 17 anos no colgio de Congonhas do Campo em
1829, foi dos primeiros sacerdotes a formados.
A 24 de junho de 1839, tomou posse solene, como
primeiro vigrio colado da freguesia, o ilustrado cnego
Pedro Meireles de Barros127. Seu vicariato, no agitado
junho de 1842, interrompido pela sua participao na
clebre Revoluo daquele ano. Como um dos chefes
revolucionrios locais, ajudou a encabear a sublevao dos
rebeldes da cidade. Derrotadas as foras oliveirenses no
combate do Caju, de que h melhor notcia em outro local,
e diante da represlia legal com que o governo ameaava os
chefes revolucionrios, cnego Meireles fugiu. E foragido
permaneceu at agosto de 1845.
Durante esse perodo (1842-45), a parquia ficou
entregue a outro sacerdote, como o afirma, numa das
sesses da cmara em 1845, o prprio padre Francisco de
Paula Barreto, ento vereador. Parece que esse outro
sacerdote foi o padre Joo Pedro Pinto, em licena
paroquial no lugar.
Termina em 1851 o paroquiato do cnego Meireles
que, alm de vereador, foi quem concluiu a construo da
velha matriz e fundou a Irmandade do Santssimo. De julho
a outubro de 1851, a parquia esteve interinamente entregue ao padre Manuel Jacinto Castor, por se achar ento na
Assemblia Provincial o vigrio Pedro Meireles.
Alm desse substituto, figura tambm, nos batistrios da igreja, em abril de 1851, o nome do padre Antnio
Pereira de Pdua como vigrio interino, at que o padre
Jos Teodoro Brasileiro iniciou o seu paroquiato em 1860,
o qual s terminou com o seu sentidssimo falecimento em
1909.
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Leme. A, durante onze meses, ficou como coadjutor do vigrio padre Hermenegildo Vilaa. Depois, encarregado da
parquia de Divinpolis durante apenas trs meses, foi
chamado para acompanhar D. Silvrio em visitas pastorais
durante oito meses.
Vindo para Oliveira em 1921, confiou-lhe a parquia o
ento vigrio padre Joaquim Cansado, que entrava em licena.
Pr-proco em 1924, nomeado vigrio em 25, padre Carvalho
logo se sintonizou com a pulsao vital desta terra. Entre as
primeiras realizaes aqui introduzidas pelo seu fecundo
dinamismo, figura o Ginsio So Geraldo, que fundou em
sociedade com o dr. Ccero R. de Castro Filho. Ajudou a
reorganizar o Colgio Nossa Senhora de Oliveira e foi um dos
fundadores do Ginsio Mineiro, em cuja criao foi o
escudeiro-mor do seu velho mestre, prof. Pinheiro Campos.
Alm de inmeros reparos que deu matriz velha, como praraios e refundio do sino grande (1931), iniciou em 1929 a
construo da nova matriz, demolindo no local a antiga igreja
do Rosrio. Entre as associaes por ele fundadas, figuram a
Congregao Mariana, uma das primeiras do interior; a Unio
de Moos Catlicos, que teve imprensa prpria e biblioteca; a
Pia Unio da Escola Normal; a Associao da Doutrina Crist;
a Obra das Vocaes Sacerdotais; o desdobramento de trs
conferncias vicentinas e os diversos setores da Ao
Catlica.
Houve no seu paroquiato duas interrupes. A primeira foi a sua permuta com o ento vigrio de Itana, o
orador sacro padre Jos Augusto Ribeiro Bastos, que regeu
esta parquia de julho de 1937 a janeiro de 1938, ocasio em
que padre Carvalho, terminada a permuta, voltou a assumir o
seu vicariato aqui. A segunda foi quando, por ordem do seu
prelado, partiu em misso de propaganda em prol de O
Dirio, em dezembro de 1939. Desta data at maio de 1940,
regeu a parquia o vigrio provisionado monsenhor Romeu
Borges que se retirou por motivo de sade, sendo de novo
chamado ao seu velho posto o padre Carvalho, a quem ento
ia caber uma grande tarefa: organizar as primeiras
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PADRE BARRETO
Embora seja hoje cnego Jos de Oliveira Barreto,
preferimos continuar chamando-o de padre Barreto. uma
das mais operosas figuras do clero oliveirense, com um
grande cabedal de bons servios coletividade, quer nos
assuntos espirituais, quer na administrao, como auxiliar
do sr. Bispo Diocesano, quer ainda no magistrio. Nasceu o
padre Jos de Oliveira Barreto em So Joo del Rei, em 1
de novembro de 1888, filho de Francisco Jos de Oliveira
Barreto e d. Rita Cndida das Mercs Barreto. Foi ordenado
em Mariana, em 1928. Desde 1942 vem cooperando na cidade de Oliveira. professor de latim no Colgio Estadual
Prof. Pinheiro Campos. Exerceu as funes de Capelo
da Santa Casa de Misericrdia durante 19 anos.
PADRES OLIVEIRENSES
Padre Jos Gonalves A. Chaves, morto em 1899.
Padre Antnio Pereira de Pdua.
Padre Jos Alves de Oliveira, morto e sepultado em
Oliveira, em 1919, filho do mestre Joaquim Alves e irmo
do grande oliveirense Joo Alves de Oliveira.
Padre Jos de Queiroz, filho do sr. Antnio de
Queiroz.
Padre Francisco Maria da Costa, filho de Jos Gonalves da Costa.
Padre Vicente Assuno, nascido em Carmo da
Mata, quando esta localidade era distrito de Oliveira.
Um prelado e uma missionria. filho do municpio o talentoso bispo de Uberaba, D. Alexandre Gonalves do Amaral, formado no seminrio de Belo Horizonte, do qual foi reitor. D. Alexandre nasceu em Carmo da
Mata, em 1906, ento distrito de Oliveira. natural de
Oliveira e filha do capito Henrique Ribeiro de Castro essa
brava jovem de nome Jeanete, hoje religiosa missionria na
ilha de Madagscar.
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Outros padres oliveirenses, ordenados mais recentemente: pe. Nereu Castro Teixeira, que fez um curso especializado na Frana; pe. Geraldo Servo, Salesiano, e pe.
Paulo Moreira da Cruz.
PADRE ANANIAS, UM ESPRITO CURIOSO
Vamos biografar aqui um santo e um sbio, e expor
a sua teoria psicodinmica aplicada ao bem-estar humano.
Sua vida poderia servir de ilustrao a uma leitura til que
se intitulasse Constri tu mesmo a tua sade e a tua felicidade!
Infenso s trombetas da glria e da fama, vive em
Oliveira um velhinho tranquilo e afvel: chama-se padre
Ananias de Paula Vieira. Nascido a 10-10-1869 no
municpio de Luz (antigo Aterrado), educou-se a princpio
em Porto-Real, estudando em famlia as primeiras letras.
Seu curso de humanidades foi feito no afamado Colgio do
Caraa, sob a direo do clebre padre Lus Boa-Vida,
poliglota, msico, artista e mecnico, a quem se deve a
construo do gigantesco e harmonioso rgo do santurio
da Senhora Me dos Homens. Estudou teologia em
Mariana, onde se ordenou sacerdote em 1897, na primeira
turma de padres ordenados por D. Silvrio que acabava de
subir como bispo ao slio da s marianense.
Anmico e raqutico, foi com srias apreenses que
iniciou o seu ministrio como coadjutor da parquia de
Pium-, onde, por precariedade de sade, teve de renunciar
coadjutoria, dedicando-se ao magistrio num externato
por ele fundado na mesma cidade.
A viveu 15 anos, dividindo o seu tempo e sua sade
exgua entre o magistrio e o ministrio sacerdotal, auxiliando
o vigrio. Nas horas vagas, praticava o jornalismo.
Em 1912, a convite do ento vigrio de Oliveira
padre Joaquim Lopes Cansado transferiu-se para esta cidade,
onde continua at hoje. Aqui, atuou por muito tempo nas
colunas da imprensa local, numa colaborao que
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hoje se acha esparsa e em que se destacam produes poticas de fina sensibilidade e beleza.
Alm dos inmeros servios que tem prestado parquia de Oliveira, coadjuvando o vigrio, padre Ananias
hoje capelo da Escola Normal, o conceituado Colgio de
Nossa Senhora de Oliveira.
Poliglota, educador, jornalista, poeta, padre Ananias
foi sempre um estudioso. Estudou o italiano, para ler e saborear Dante Alighieri no original, retendo de memria
muitos dos lapidares versos da Divina Comdia.
Mas de todos os seus estudos, o que mais o tem fascinado o estudo da medicina e da psicologia aplicada. H
mais de vinte anos que vem vasculhando as obras dos mais
afamados cientistas destes dois ramos do saber. Encontrando melhor campo de observao e experincia nas enfermarias da Santa Casa de Oliveira, dedicou-se to
profundamente ao estudo e s experincias diretas dessas
duas cincias, que chegou a criar um sistema prprio de
teraputica e psicodinamismo experimental, por meio da
transmisso de ondas psico-eltricas.
A sua teraputica se divide em teraputica diettica
e teraputica sugestiva. Na primeira, aplicado o seu sistema higinico-alimentar intitulado Trade biolgica que
aqui transcrevemos ipsis verbis:
Trade biolgica
Ar. Respirar profundamente (pelo nariz), umas trs
vezes de manh, ao meio dia e noite. O oxignio
requerido j e j, em abundncia reaes intra-celulares,
combusto de toxinas, etc.
gua. Uns cinco ou seis copos por dia, comeando
por um bem cedo, ao menos uma hora antes da primeira
refeio. Leva nutrio aos tecidos e elimina detritos, micrbios, etc.
Alimento. Simples. Frutas, verduras, milho (fub
de moinho), leite, etc. Refeies hora certa. Mastigar
muito, insalivar mesmo os alimentos lquidos. No co-
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Jos Medeiros Leite, batizado na matriz, hoje catedral de Mossor, de Santa Luzia, foi o primognito de uma
famlia de trs irmos, monsenhor Leo Medeiros Leite e
Maria Medeiros Leite, esta falecida em tenra idade. Foi
batizado pelo padre Joo Urbano de Oliveira. Segundo obra
do deputado federal Jos Augusto de Medeiros, dom Jos,
por parte de me, descende de antiqussima famlia porgusa que se liga tradicional famlia de Guimares e que
teve como alto representante o papa So Dmaso.
Jos Medeiros Leite frequentou o curso primrio no
grupo escolar 30 de Setembro, onde teve como professor
o doutor Eliseu Viana, depois de lies particulares com
dona Lulu (Maria das Mercs Rocha). Sempre com timas
notas, primeiro aluno da turma, passou para o Colgio Diocesano Santa Luzia, ainda em Mossor, onde iniciou o
curso de humanidades. A fundou a Escola Noturna
Francisco Isdio, para operrios, com seu irmo, e a
pequena revista literria Farol, com um grupo de colegas.
Na ocasio, a convite do coronel Bento Praxedes, colaborou
no Jornal do Comrcio. Sentindo a sua vocao
sacerdotal, o padre Pedro Paulino Duarte o escolheu para
coroinha da matriz, de que se desincumbiu a contento.
A 18 de abril de 1917, matriculou-se no Seminrio
da Imaculada Conceio, de Joo Pessoa, no qual concluiu
o curso secundrio. Ali ocupou o cargo de ecnomo e de
membro da Academia Literria So Lus Gonzaga.
Tendo dom Antnio dos Santos Cabral fundado o
Seminrio de So Pedro, em Natal, Jos Medeiros Leite foi o
primeiro aluno nele matriculado, ali fazendo todo o curso de
filosofia e o primeiro ano de teologia. Foi a que dom Antnio
instituiu o curso obrigatrio de sociologia, pela primeira vez
no pas, atendendo ao apelo da Santa S, o que vem explicar o
posterior interesse e gosto de dom Jos pelos problemas
sociais, sobretudo do homem rural. Nessa ocasio ocupou o
cargo de secretrio do bispado e revisor da Revista
Eclesistica, da diocese de Natal, em vista de sua prtica
jornalstica na vida estudantil.
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ricrdia, Maternidade, Lactrio, Asilo de rfos, Vila Vicentina, Escola de Enfermagem So Bento e escola noturna
para operrias e domsticas. Promoveu a fundao do
noviciado das Irms Batistinas, que ali tiveram sua primeira
casa no Brasil. Quando se preparava para realizar outros
grandes empreendimentos, foi escolhido bispo da diocese de
Oliveira. A sua sagrao se deu a 28 de outubro de 1945, festa
de Cristo Rei, na matriz de So Jos, tendo sido sagrante dom
Antnio dos Santos Cabral e assistentes, dom Alexandre
Gonalves do Amaral e dom Joo Batista Portocarrero, este
ento bispo de Mossor. Dom Jos tem as suas armas
representadas por uma cruz cor de ouro sobre o campo azul do
escudo; no centro da cruz se v o sol, em vermelho.
Encimando os braos da cruz h duas flores de liz, smbolo
das armas da famlia Medeiros. Ao p da Cruz se vem dois
ramos de oliveira e mais abaixo uma faixa com a inscrio
LUX ET VIDA (Luz e Vida).
Logo aps a sua sagrao, dom Jos viajou para o Rio
Grande do Norte, em visita famlia, tendo-se empossado na
diocese de Oliveira a 8 de dezembro do mesmo ano. A
recepo foi uma verdadeira apoteose. No s as autoridades e
povo acorreram para aclamar o seu primeiro pastor, como
delegaes de todas as cidades da diocese. Pela lei de 28 de
maio de 1949, assinada pelo prefeito Athos Cambraia de
Campos, foi dom Jos Medeiros Leite declarado cidado
oliveirense.
ESCOLA DE INICIAO AGRCOLA. Bispo
preocupado com os problemas sociais, sentindo as
dificuldades da vasta zona do oeste mineiro sob a sua
jurisdio, tudo tem feito para melhorar as condies do
homem rural, organizando certames educativos, e,
ultimamente, criando a Escola de Iniciao Agrcola Santo
Isidoro, no municpio de Carmo da Mata. De acordo com o
projeto apresentado na Cmara de Deputados pelo
representante mineiro Gabriel de Resende Passos, aprovado e
remetido ao Senado Federal, onde sua constitucionalidade foi
defendida pelo saudoso senador Fernando de Melo Viana, as
Fazendas das
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MONSENHOR LEO MEDEIROS LEITE. Monsenhor Leo Medeiros Leite, vigrio de Oliveira e cura da
Catedral, reitor do Colgio Estadual Prof. Pinheiro Capos, nasceu em Mossor, Rio Grande do Norte, a 2 de fevereiro de 1900. Fez seus estudos primrios em sua terra
natal e os cursos de teologia e filosofia em Belo Horizonte,
para onde veio com dom Cabral. Sua primeira comunho se
deu a 27-11-907; a tonsura, a 1-11-1921; ordens menores, a
8-12-1923; sub-diaconato, a 28-3-1925; a ordenao sacerdotal, a 31 de maio de 1925, na catedral da Boa Viagem.
Entre outros cargos, foi professor do Seminrio; secretrio
do arcebispado; capelo do orfanato Santo Antnio; diretor
de O Horizonte; vigrio da Floresta, em Belo Horizonte,
por vrios anos; diretor da Hora do Angelus da Rdio
Inconfidncia. Em 1935 foi agraciado pela Santa S com o
ttulo de Monsenhor Camareiro. Jornalista. Professor. Conferencista . o Cura da Catedral e o diretor da Santa Cruz
Publicidade Ltda.
OLIVEIRA CATLICA
(hino)
Colocada no cimo dos montes.
Oliveira, a cidade - ascenso.
Ergue a Cristo os seus horizontes,
Seu esprito e seu corao.
Estribilho:
Oliveira, oliva especiosa,
Cujo aroma a Virgem Maria:
Pe Jesus na tua alma de rosa
E em teus filhos Jesus irradia.
Manda aos ares a voz dos teus sinos.
Teus jardins abre s luzes dos cus.
Chama do Alto os carismas divinos
Aos teus lares, Betnias de Deus!
Letra: G. da Fonseca
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CAPTULO XI
FATOS, CURIOSIDADES, ANEDOTAS E LENDAS
(Contribuio ao folclore do Oeste)
Os quilombolas da Cruz das Almas A Cruz do Encontro Enterros de outrora O primeiro casamento civil em Oliveira
Carnaval de ontem e de hoje O primeiro automvel Antonomsias da cidade Outras curiosidades Vultos curiosos Do anedotrio oliveirense O fantasma branco O cavaleiro invisvel e
outros duentes A lenda da Lagoa A lenda do cruzeiro A lenda
das boorocas A lenda dos rastros misteriosos
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bando da Cruz das Almas, seus chefes e os seus espiesmores residentes na cidade. Destes, uns fugiram logo e
outros se defenderam habilmente.
De Ouro Preto, ento capital de Minas, foi
requisitado um troo de tropas pelas autoridades locais,
figurando entre essas autoridades o major Jos Teixeira.
Chegada a fora, Vigilato se prontificou a gui-la
mata do Quilombo. A, porm, nada mais foi encontrado.
Toda a quadrilha desaparecera, no deixando vestgio. Dos
seus cmplices na cidade j lhes tinha ido aviso.
De fato, restam hoje, no alto da serra, apenas os restos da cruz morturia de Jos dos Reis, em frente mata
sinistra e no longe da Cruz do Encontro no morro fronteiro, reminiscncia de outro fato, diferente na espcie e
posterior no tempo.
A CRUZ DO ENCONTRO
No longe da cruz de Jos dos Reis, no alto do Quilombo, fica o local denominado Cruz do Encontro. Esse
nome vem duma cruz plantada a h muito tempo, para
rememorar no local um encontro entre o povo de So Francisco e o povo de Oliveira.
Isto data do tempo da fumaa. O tempo da fumaa e
esse encontro so fatos da histria oliveirense, e a esta
perfumam com o incenso das coisas antigas. Demos a
palavra ao velho crioulo Jos Srgio129 e ouamos-lhe a
exagerada e pitoresca evocao de tudo isso, inclusive
desse tempo enfumaado e esfumado nas distncias das
eras:
A gente no diferenava o dia da noite. Ah, seo
moo! Teve uma seca braba e depois baixou uma nuvem
escura. Uma fumaa preta por riba das serras e das casas.
Tapou o cu, tapou o sol, tapou tudo. No se enxergava
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So palavras da imprensa local, daqueles dias. Diversos jornais entraram em demorada e calorosa polmica.
Uns pr, outros contra. O caso do padre incendiou todo o
Oeste. Um vigrio duma das freguesias do municpio
chegou a devolver bruscamente o jornal daqui em sinal de
protesto. Estavam judiando demais com a vtima! E
estranho que uma sociedade adiantada como a de Oliveira
em 1891, e que pouco antes sentia, emocionada, na arte
dramtica de Brando, a luta psicolgica entre o padre o
homem naquele velho drama Deus e Natureza tenha sido
to rigorosa com a atitude de um cidado que, sacerdote
embora, preferia casar-se legal e pacificamente, do que
entregar-se mancebia ou a fornicaes ocultas.
Para dar uma certa satisfao cidade
escandalizada, D. Silvrio, seguido da sua comitiva ento
composta de 16 padres (entre eles: padre Cansado, cnego
Nunan, padre Galdino Diniz e padre Jos Alexandre de
Mendona), foi at casa dos recm-casados. Achavam-se
os dois provisoriamente na residncia do dr. Fromm, ali no
Engenho de Serra.
Quando, na sala, o padre Amorim compareceu
presena de D. Silvrio, foi to grande a sua emoo que
caiu de joelhos, entre soluos, aos ps do grande bispo,
dizendo-se perdido para sempre. Reanimando-o a voltar ao
antigo caminho, D. Silvrio props-lhe anulao do
casamento. Mas o padre no concordou, porque o que
estava feito no estava por fazer; errada ou certa, sua vida
continuaria seguindo o corao cujas razes so s vezes
superiores prpria razo.
A jovem esposa repeliu terminantemente a sugesto do
bispo, inclusive cinco contos de ris que lhe oferecia para ela
ir viver honestamente nalgum recanto. Recusou, dizendo que
estava bem casadinha e muito satisfeita. D. Silvrio voltou ao
slio marianense. Oliveira voltou a rezar e usar gua benta. E
o padre e sua jovem consorte rumaram para a sua lua-de-mel
em So Paulo, onde, fixando residncia, ele se formou em
direito. Homem culto e dinmi-
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co, o (ex-padre) dr. Lus Antnio dos Santos Amorim conseguiu fortuna e chegou a possuir arranha-cus na capital
bandeirante, educando todos os seus filhos.
Dizem que, apesar de tudo, morreu como um
mstico, sobre um grabato miservel, coberto de cilcios,
numa dolorosa penitncia que se imps voluntariamente.
O CARNAVAL DE ONTEM E DE HOJE
O carnaval em Oliveira era antigamente
comemorado somente com o tradicional entrudo. E, s
vezes, mui escassamente, se via um mascarado sem esprito
a vagar pelas ruas, sempre acompanhado de uma leva de
malandros, como ainda hoje acontece.
No entrudo, era um gosto ver-se a batalha travada
entre os combatentes de ambos os sexos, limes de cera em
punho. No aceso da batalha costumava haver correrias
pelas ruas, gritinhos aflitos e histricos, portas batidas com
estrpido e sentenas de punies para outra oportunidade,
como revanche
Cousa gozada era quando se conduzia um paciente
para um banho em regra! As vezes era um frajola todo
impecvel na sua fatiota limpa e passada a ferro L sabiam os poos dgua e os velhos cochos da praa Quinze o
estado em que o almofadinha voltava para casa
E quando a batalha se feria dentro de casa?
Ficavam as ceras multicores agarradas por toda a parte,
nas paredes, no portais e portas, nos mveis e at no teto.
O gosto da petizada era quando o limo atingia o
alvo e no se quebrava.
Quase toda casa comercial expunha taboleiros de
limes para vender. E esses tomavam formas as mais variadas e bizarras. Uns eram moldados em forma de toco,
outros em forma de garrafinha de leo de rcino, outros em
forma de laranjas, limas, papo de galinha etc. E eram verdes, vermelhos, brancos e at cor de terra, de tanto se
aproveitar a cera servida.
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Op.cit.
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Bons tempos!
Sim; bons tempos, em cujo fundo l ficaram para
sempre os grandes bailes em famlia, com mesa farta e
toaletes ricas; as valsas danubianas ao piano, nos grandes
sales coloridos; ou as boas sanfonas e violas nos caterets
das fazendas tranquilas
O PRIMEIRO AUTOMVEL
Data de fins de 1914 a entrada dos primeiros automveis em Oliveira. Chegaram de trem, por causa da falta
de autovias para a cidade. Eram dois carros usados, de fabricao alem, aqui trazidos por um carioca de sobrenome
Bredas. Um desses carros foi logo vendido ao sr. Lindolfo
Ribeiro, depois que o Quinho (Antnio Ferreira de Carvalho) trouxera do Rio, em 1915, um Mercedes-Benz que
aqui fez poca no corso carnavalesco.
Quinho e seu Lindolfo so, pois, os introdutores
do automvel em Oliveira, num tempo em que a gasolina
custava 12$ a caixa e os carros usados, trs, quatro contos.
Ouamos Jos Demtrio:
Corria a nova por toda a parte e os carros eram esperados com uma ansiedade atroz.
Um dia, afinal, ouviu-se um matraquear desconhecido
e o fon-fon caracterstico. Era o automvel do sr. Lindolfo.
Buzinando em cada esquina, apareceu o carro na
praa Quinze. O motor, porm, deu o primeiro, o segundo
espirro e moita! Um enguio. Desce o chofer, levanta a
tampa do motor, examina tudo minuciosamente: carburador,
distribuio etc., mas no consegue por o carro em
funcionamento.
O proprietrio, que no quer voltar a p, insiste; nova
inspeco do chofer, mas sem resultado.
Felizmente, havia j muita gente em torno do carrinho
teimoso.
Vamos empurr-lo, que pega! opina algum.
E l se foi o carro rua afora, empurrado pela multido, levando o chofer firme no volante e, refestelado sua
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direita, o proprietrio, solene, fumando a sua comprida piteira: foi uma viagem triunfal!
Vendo que o motor afinal no pegava mesmo, chamaram o Tot do Z Joaquim que, com duas juntas de bois,
arrastou o carro garage, com o proprietrio firme na
boleia.
Dias depois, est o carro novamente reparado e em
condies de fazer nova demonstrao automobilstica. O
chofer acelera o motor e verifica que no h falha. Pode
sair.
Sobe o proprietrio boleia e o chofer ruma novamente para a praa Quinze e dali para a Estao, deixando
atrs o povo embasbacado com o estupendo invento e comendo a fumaceira de gasolina que ia ficando para trs.
Mas de repente outro espirro no motor!
Novo enguio. Nova inspeo. E que remdio!
novo apelo aos bois do Tot do Z do Joaquim.
Mais uma vez, desce rua abaixo, seguido da
meninada, puxado por uma pacata junta de bois, o
automvel do sr. Lindolfo, com o chofer firme na direo e
o proprietrio, todo sorridente na boleia, gozando daquela
esplndida viagem de automvel
ANTONOMSIAS DA CIDADE
Devido sua geografia privilegiada, colocada no
cruzamento de caminhos importantes, Oliveira recebeu o
nome de Princesa do Oeste. Diversas so, no oeste
mineiro, as cidades que se arrogam esse ttulo; por isso,
Oliveira no o reivindicou para si com exclusividade.
Por causa da sua topografia e da abundncia de arvoredo, verdadeiros tufos verdejantes nas suas ruas, praas
e quarteires Oliveira, desde muito tempo, chamada A
cidade-verdura.
Depois que sua arquitetura alteou-se no ar senhorial
e nobre dos seus sobrados de sacada, deram-lhe o nome de
cidade dos palacetes.
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Guia-Lopes, foi o guieiro de tropas para o Paraguai, rompendo com segurana as longas paragens, suas conhecidas
velhas. Promoveu muitos melhoramentos locais.
Sempre que ia Bahia ou a Pernambuco, trazia, para
capangas seus, os bravos caboclos do Norte, de catadura
austera e musculatura rija.
Tanta personalidade teve no seu tempo, que seu
nome se iluminou dum halo de lenda, ficando ligado ao
caso dos quilombolas da Cruz das Almas e at ao
aparecimento da lagoa da Folha Larga, como veremos
adiante.
Cheios de dores cruciantes foram os seus ltimos
dias, suportando-os, contudo, na sua costumeira
impassibilidade. A 14 de agosto de 1888, morria esse
viajante intrpido, esse globe-trotter de fibra, caador
destemido e desbravador de hordas e florestas.
Descansa hoje no cemitrio fronteiro, para cuja construo, em 1855, prestou relevantes servios. A beira da sua
morada final, teve seu grande elogio na palavra eloquente de
um dos maiores juzes de direito que tm passado pelo frum
oliveirense: dr. Felisberto Soares de Gouveia Horta.
Dr. Fromm. Era um mdico sbio e sabido, e se
chamava dr. Ludolfo Fromm. Era alemo e viera dos hospitais
de sangue da guerra franco-prussiana. Introduziu em Oliveira
a indstria da cerveja. Morou e morreu octogenrio no bairro
do Engenho de Serra ao qual legou seu nome e onde deixou
uma srie de construes tpicas. Homem bastante excntrico,
muito ilustrado e quase poliglota, vivia na panelinha
maledicente por ele organizada para tosar na casaca alheia,
sempre recostado na sua bengalinha de ip, expandindo para
diante o porte avantajado e a barriga proeminente. Deixou
viva e sem filhos uma oliveirense.
Maestro Joo da Mata. Joo Francisco da Mata era
pobre, preto e plebeu, percorrendo os trs ppp que Jos do
Patrocnio atribua a si mesmo. Mas era um gnio esse
esmolambado Joo da Mata que percorria as ruas de Oliveira,
bebendo a sua cachacinha e esparzindo flux as suas
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At 1942.
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Quiproqu. Esta se deu tambm com o padre Cocozza (a quem Deus haja!). O bom do padre era muito
obeso e possua uma respeitvel barriga de rotundidade impressionante.
Certa vez, uma mendiga que dele acabava de
receber esmola, fitando-lhe a pana compadecidamente,
saiu-se com esse agradecimento:
Nossa Senhora do Parto que lhe d boa hora!
Vamos agora s supersties e lendas.
O FANTASMA BRANCO
Antigamente, alta noite, um fantasma branco costumava aparecer pela cidade ainda sem iluminao eltrica.
Ele descia do largo da Matriz para a capela da Senhora Me
dos Homens. Vez em vez, variava o seu trajeto.
Uma ocasio, conta Jos Srgio, eu voltava da fazenda da Mandassaia. Era dez horas da noite. No eu chegar
ali na ponte dos Frades, um vulto branco relampeou na
minha frente. Era uma mocinha bonita que acabava de sair
daquele sobrado da esquina.
A mocinha foi andando devagarinho na minha frente
e eu atrs, apertando o passo com m inteno:
Espera, menina, que ns vamos juntos
Nada. A mocinha no falava, no se mexia, no corria. Ia no seu vagar. E nada de eu pegar o bonde com ela.
Adiante, do lado de baixo da rua, ficava um jatob
antiquera; um mundo de rvore! Dava sombra para quatro
litros de milho plantado. Do lado de riba, a igreja da Me
dos Homens.
Ao passar pelo jatob, peguei a desconfiar daquilo.
A, em frente igrejinha, o vulto sumiu. Olhei; a igreja
estava aberta e toda iluminada. Entrei para ver. Nada de
moa l dentro. Ningum!
Meus cabelos se arrepiaram. E voei pela rua abaixo.
Quando dei f, eu estava em casa; at hoje no sei como
corri nem como saltei o Maracan.
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dante foi num groto fundo, por onde passava uma estrada
particular da fazenda de seu Vigilato, ali na cabeceira
dum poo dgua.
Um dia, vinham por essa estrada uns padres
missionrios, muito barbados, em rumo de Oliveira. Seu
Vigilato, cabra maludo e arrastador, cercou os padres nesse
groto fundo, gritando que a estrada no era pblica e que
eles podiam virar nos tornozelos. Acudiram logo os
capangas de seu Vigilato e um deles sujigou um frade
pela barba e sapecou nele umas chibatadas. No foi nada
no! Os frades juraram que ningum mais havia de passar
ali.
Dito e feito. Ningum mais passou, porque a estrada
sumiu numa lagoa grande que tomou conta do groto todo e
tem o nome de Folha-Larga. Era um pocinho; hoje, um
mar dgua. Da fazenda de seu Vigilato, ficaram s os alicerces que ainda hoje esto l na cabeceira.
Quem vai perto e olha, ainda v o sinal do caminho
antigo que chega, entra na lagoa e aparece do outro lado.
No me chame de Jos Srgio, se isso for maromba de
negro caduco!.
A LENDA DO CRUZEIRO
Antigamente, no largo da Matriz, erguia-se enorme
cruzeiro, cuja construo o velho Jos Srgio traduziu na
seguinte lenda:
Depois das santas misses, padre Barbo disse
que ia deixar uma lembrana pro povo de Oliveira. Havia
de ser um cruzeiro bem grande no centro do arraial.
Escolheu um pau de blsamo na mata do Macuco, a quatro
lguas do comrcio, em terras do major Valrio.
Para o senhor fazer uma idia do tamanho desse blsamo, basta dizer que ele, tombado no cho, tinha uma
grossura maior do que a altura dum homem. Todo mundo
esconjurava o pau. O transporte, que campanha! O padre
no
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CAPTULO XII
PARTICIPAO DE OLIVEIRA NOS
ACONTECIMENTOS
NACIONAIS
Clula viva dum organismo enorme Oliveira e a abdicao de D.
Pedro I A Guarda Nacional de Oliveira Oliveira e a coroao de
D. Pedro II Oliveira na Guerra de 1842 Oliveira e a Guerra do
Paraguai Oliveira e a Abolio da Escravido Oliveira e a
Repblica Oliveira e a Revoluo de 1930 Oliveira e o momento
nacional Concluso.
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Feij, num dos perodos mais difceis e calamitosos da histria brasileira logo se organizaram de municpio em
municpio. Em cada distrito, parquia ou curato, haveria
guardas nacionais formadas por companhia, companhias,
batalhes e legies.
Competia-lhes defender a constituio, a liberdade,
a independncia e a integridade do Imprio.
Nos curatos ficariam subordinadas ao juiz de paz
que a gozava das funes de um presidente na sua
provncia ou do prprio ministro da justia na Corte.
As praas eram escolhidas entre pessoas do lugar,
formando uma espcie de linha de tiro mais gr-fina,
constituda de oficialato superior e inferior.
Fardamento, soldo das praas, armamento tudo
por conta do governo.
Pertencer Guarda Nacional no s era uma honra,
como isentava do recrutamento para o exrcito ou para a
armada. O servio dividia-se em servio ordinrio e em
quadro da reserva, figurando neste os profissionais liberais,
acadmicos, eclesisticos e maiores de 60 anos.
A 27 de dezembro de 1831, quatro meses e pouco
depois de criada no Rio, a Guarda Nacional era tambm
estabelecida no ento curato de Oliveira.
Naquela data, o vigrio Francisco de Paula Barreto,
juiz de paz do curato, reunia, sob sua presidncia, no
consistrio da capela de Nossa Senhora de Oliveira (sic), os
seguintes cidados: capito Serafim Ribeiro de Castro,
capito Custdio Jos Machado, que eram os eleitores
nicos do curato, e mais o padre Jos Francisco Lopes,
tenente Silvrio Jos Bernardes, tenente Jernimo da Costa
Guimares e capito Joaquim Ferreira135.
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Livro de matrcula geral das guardas nacionais do distrito de Oliveira (1831), pg. 1.
Arquivo da Prefeitura.
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Saint-Hilaire, num de seus livros, conta com muita graa como, em 1822, encontrou,
perto de Barbacena, uma comitiva oliveirense, na qual figurava tambm um cirurgio
com ares de importncia que pareciam dizer Senhores, respeitem-me!. Vendo-se
procurado para consultas diversas, observou o terapeuta que um moo, que acompanhava
Sant-Hilaire, sofria duma determinada erupo cutnea. O honrado cirurgio, sempre
exibindo os seus ttulos, apressou-se em medicar o moo, esfregando-lhe na pele uma
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duense e escutou, na cmara, o ltimo dos oradores reacionrios, na voz tonitruante do vereador Chagas
E eis a, leitor, como Oliveira entrou para a Histria
em 1842, perdendo para sua vizinha Itapecerica, espera de
um novo encontro em 1930
Para uma poca como a de hoje, aquela jornada do
Caju, onde ficaram estendidos alguns oliveirenses e alguns
cavalos, tem um sabor pitoresco e um ar liliputiano, apesar
das cores dantescas com que o descrevem os velhos documentos daquele tempo143.
Quanto ao velho heri e patriota Narciso, acabou,
coitado, esquecido da senhora Legalidade que ele to galhardamente defendera; pois morreu ingloriamente em
Campo Belo, em extrema pobreza e abandono
OLIVEIRA E A GUERRA DO PARAGUAI
Na Guerra do Paraguai, oliveirenses tomaram parte
ativa nas campanhas. Nas fronteiras de Mato Grosso e nos
campos paraguaios ficaram dormindo para sempre muitos
filhos de Oliveira, mortos na defesa da Ptria. Quantos
deles no tomaram parte no prprio episdio histrico da
Retirada da Laguna!
verdade que houve casos tambm de covardia durante o recrutamento aqui. Os ricos forneciam escravos para
no ver partirem os filhos. E os moos pobres s tinham
que espirrar para a guerra ou bancar poltres, fugindo e
escondendo-se. Havia os que se apresentavam espontneamente. Mas havia tambm as que eram pegos a lao para
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A derradeira matrcula de escravos acusava em novembro de 1887 um total de 4.017 cativos, dos quais 2.231
eram homens e 1.786 eram mulheres.
E j nas vsperas da abolio, esse nmero se
achava reduzido a 3.811, merc das alforrias, falecimentos
ou libertaes a ttulo particular.
Mas, mesmo assim, eram 3.811 pares de braos que
iriam deixar a lavoura, quando soasse a hora da liberdade.
Seria um grande colapso na vida agrcola do municpio. Os fazendeiros, entretanto, continuavam aguardando os
acontecimentos, confiantes em que o governo viesse logo
em socorro da lavoura, por meio de crditos especiais e por
meio duma nova e racional imigrao.
Um dos mais empatacados fazendeiros daqui, o
cel. Teodoro Ribeiro de Oliveira e Silva, foi um dia alvo
dum comentrio da imprensa abolicionista do Rio (1887).
Diziam que ele estava promovendo aqui um movimento
abolicionista municipal, comeando por alforriar em massa
os seus duzentos escravos e logo depois marcando, na
cidade, uma reunio de grados, em que seria
predeterminado ano e dia para libertar todos os escravos do
municpio. Pela imprensa local145, o cel. Teodoro Ribeiro
revidava com um desmentido, dizendo no ter ainda
libertado os seus duzentos escravos que eram 70, crendo,
porm, que a libertao do elemento servil no viria causar
por aqui nenhum abalo, uma vez que tal se resolvesse por
estadistas que pusessem acima de tudo o crdito do
Estado (sic). E terminava com um dito da poca: ao
caoante de mau gosto direi simplesmente: outro ofcio!.
Num ambiente de expectativa e serenidade, a campanha abolicionista ganhava terreno por aqui.
O comrcio de escravos que antes fora to intenso
atravs de Oliveira, onde viveram grandes comboeiros, veio
145
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decrescendo paulatinamente, proporo que se ia processando na histria a marcha abolicionista por meio de leis.
Lei de 1831 e de 1850, contra o trfico negreiro. Lei de
1871, libertando o ventre. Lei de 1885, libertando os
sexagenrios. Estava faltando apenas a libertao completa
que viria pela lei urea de 13 de maio de 1888.
Prevendo essa lei, o jovem oliveirense Lafaiete Chagas, ento acadmico em So Paulo, dizia, em vibrante artigo atravs da imprensa local146:
tarde, povo do municpio de Oliveira; levantaivos, que j est alto o sol da redeno.
No convm dormitar muito; isto prejudicial ao
corpo e ao esprito.
Afastai vossas vistas dessa esfera acanhada em que
tendes vivido; conduzi-as para os novos horizontes abertos
pelos ilustres paladinos da sagrada causa abolicionista.
Se tendes o temor de, dispondo de vossa
propriedade escrava, ficar sem braos para a manuteno
da vossa lavoura, ponde-o de parte.
Ele infundado; seno, vejamos".
E continuava dizendo que So Paulo, Rio de Janeiro
e outras provncias estavam gloriosamente se libertando;
mas que os escravizados, em geral, aps a liberdade,
permaneciam pacificamente nas lavouras de seus exsenhores, trabalhando como dantes, mediante salrio
racional.
E avisava. O gabinete de ento iria apresentar um
projeto de abolio imediata. Entre suas bases, confeccionadas pelo conselheiro A. Prado, figurava uma que determinava ficar extinta a escravido no Pas, trs meses depois da
publicao da lei. E acrescentava o jovem articulista:
Ora, considerai, meus ilustres conterrneos, que
esses trs meses sero para vs um perodo de verdadeira
de146
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Gazeta de Oliveira.
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A gente no deve esperar que o governo venha libertar o escravo que custou nosso dinheiro.
Cena bonita como esta se desenrolou tambm no dia
12 de maio, justamente s vsperas do almejado dia 13. Ali,
numa pitoresca alameda de bambus da chcara148 do
tenente Faria Lobato (futuro comendador Chichi), era servido um gape de recepo ao grande prelado brasileiro que
ento visitava Oliveira: D. Macedo Costa. Convidados, em
nmero de sessenta. Brindes, sarau de arte ao piano, e finalmente uma cena bem humana e bem digna de um pincel:
num dos intervalos das msicas, o tenente Lobato e o dr.
Cndido de Faria Lobato apresentam ao bispo quatro
escravos, dizendo que j no era mais um ato de filantropia
que praticavam, mas um dever de conscincia, dando liberdade queles cativos; essa liberdade queriam fosse dada por
intermdio da palavra episcopal do ilustre prelado.
E, enquanto se repetiam cenas assim, moos oliveirenses, que estudavam nas academias do Rio e So Paulo,
enviavam, por carta ou pela imprensa, seus apelos abolicionistas ao povo do municpio de Oliveira. Republicanos locais, vendo no movimento o ltimo degrau para a
Repblica, faziam coro com os Patrocnios e os Nabucos.
Dado, porm, o carter eminentemente agrcola da
vida municipal, grande era a prudncia mantida pela maioria, mormente pela Gazeta de Oliveira e pelos altos fazendeiros .
Jornalistas bonsucessenses comearam ento a acusar de escravocratas os jornalistas oliveirenses: o pessoal da
Gazeta. Os de c, revidavam, mas sempre com certo comedimento.
De outra parte, havia, certo, os fazendeiros aferrados demais sua propriedade servil que sempre fra tratada
por eles como coisa. Desses, alguns eram cruis. H,
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Nas entrelinhas deste trecho esto inclusas duas cousas que, naqueles dias,
avassalavam o esprito do olivelrense: 1) as consequncias que a lei 13 de maio trouxera
para a lavoura e a pecuria; 2) o boato crescente de que, proclamando tal lei, a Princesa
Regente o fizera menos por amor ao Pas do que por amor ao seu marido, o Conde de
Orleans. Pois este, segundo propalavam, sabendo-se antipatizado pelo povo e vendo seu
sogro, o Imperador, quase agonizante na Europa, pensava em subir ao trono brasileiro,
inaugurando, com o nome de Gasto I, a dinastia dos Orleans. (Cf. Gazeta de Oliveira,
artigo de Lafaiete Chagas, a 24-6-1888).
417
O nico programa do Estandarte esclarecer, educar na medida de suas foras o povo nas ideias
republicanas, apontar-lhe as vantagens e garantias que tal
sistema de governo oferece ao cidado, e o grau de
moralidade a que pode atingir o povo que governado pelo
sistema federativo.
Oliveira j tinha personalidade poltica. Estava formado o seu bloco republicano, a sua imprensa republicana,
o seu ego republicano. Com razo? sem razo? Fique a
resposta a cargo dos psteros. Prossigamos:
Alm dos Ribeiros da Silva e dos Castros que se tornaram aqui porta-vozes do republicanismo, entravam tambm para o novo credo membros ilustres da famlia Lobato,
como o dr. Joo das Chagas Lobato, um dos mais fortes
baluartes do partido republicano (sic), segundo a Gazeta
de Oliveira.
O bloco republicano oliveirense vivia em perfeita
sintonia com os chefes republicanos do Rio e So Paulo.
Por ter sido vtima dum atentado anti-republicano (30-121888) o grande jornal carioca, O Pas, que era o plpito
de Silva Jardim o Clube Republicano Oliveirense se rene
e vota um protesto telegrfico contra os fatos acontecidos
no Rio. Discursam com vibrao os drs. Carlos de Castro e
Joo Lobato. Este ltimo, no fim da sesso, levanta uma
ideia generosa e humanitria: criar em Oliveira escolas para
os pobres e ex-escravos.
Embora imparcial e reservada, a Gazeta de Oliveira
aplaude a moo de solidariedade para com O Pas e a
ideia das escolas para os pobres.
Em nome de Silva Jardim, o republicano Saldanha
Marinho telegrafa aos oliveirenses, agradecendo e elogiando ambos os gestos.
Como em todas as lutas polticas do Pas, a cidade
estava dividida. Alm dos republicanos exaltados, havia os
monarquistas ferrenhos. E, entre as duas correntes, ba-
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ralizao. Queremos a secularizao dos cemitrios. Queremos, enfim, o casamento civil e o divrcio (sic!). At o
divrcio!
Lafaiete Chagas152, que se limitava s normas da democracia crist, vinha sempre a campo, enviando de So
Paulo artigos entusiastas, cartas e notcias do que por l
realizava o movimento.
Outros articulistas locais iam tambm engrossando
as colunas republicanas. Um, por exemplo, em derramada
anlise entre a derrocada dos grandes proprietrios e sua
debandada rumo do republicanismo por causa da Abolio,
conclua: Os lavradores hoje s tm um partido a tomar:
o da repblica. Away! Como dizem os ingleses; coragem!
que a conquista das liberdades apenas agora comea.
Pelas rodas e sales corriam tambm anedotas republicanas, ajudando pelo humorismo o lado educativo do
movimento. Uma folha do Oeste noticiava, por exemplo, ter
nascido numa fazenda mineira um boi que, em vez de chifres, trazia sobre a cabea uma protuberncia muito semelhante a um barrete frgio: Um boi republicano! exclamavam os criadores locais. E estrugiam risadas.
E esta:
Um tabaru estacou diante duma Venus de Milo,
sobre a qual estudantes goianos haviam posto um barrete
frgio:
Que santa de carapua ser esta, compadre?
Homem, isto deve ser alguma Nossa Senhora da
Agricultura. Deve ser, deve: tem falta de braos
Mas, de repente, murcham nos rostos o humorismo
e a exaltao republicana. Volta da Europa o Imperador.
Depois de subscrever 500 francos para a esttua de Balzac
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No! os oliveirenses no aceitaro to ruim presente e tero a coragem cvica precisa para devolver ao corruptor os diplomas da corrupo. Assim falava um republicano local assinando-se a moralidade (Ib.).
Simultneamente, no Rio, entre pomposas solenidades, presentes todas as classes sociais, clero e elementos do
episcopado, famlia imperial e os prncipes da Baviera, era
entregue Imperatriz uma simblica coroa de ouro com
vinte estrelas, outra igualmente expressiva ao Imperador,
bem como Sua Alteza Imperial a condecorao da Rosa
de Ouro, feita por mons. Spolverini e D. Macedo Costa.
Este ltimo leu uma mensagem congratulatria, em nome
de todo o episcopado brasileiro. Houve desfile e
continncia dos fuzileiros navais e grande era a massa
popular ali presente. Tais notcias pululavam na prpria
imprensa oliveirense, dando a impresso de que ia fracassar
o republicanismo. E, apesar dos republicanos daqui,
apareceram tambm na cidade os condecorados. Em nome
do Imperador, era condecorado com a comenda da Ordem
da Rosa o tenente Francisco de Faria Lobato e l vinham,
pelas mesmas colunas republicanas, merecidos elogios e
parabns ao Comendador Lobato157. Para essa cerimnia,
abalaram-se at esta longnqua Oliveira sua eminncia o
Internncio Apostlico mons. Spolverini, representante do
grande Leo XIII, e, pela segunda vez, D. Macedo Costa,
conde de Belm e bispo do Par. Era uma honra insigne!
Em julho de 1889, era aqui atacada em artigo assinado
por um republicano genuno, a candidatura do Comendador
Carlos Justiniano das Chagas que, condecorado pelo
monarquismo, aparecia entretanto na chapa do Partido Republicano.
Para injetar coragem nos republicanos locais, o clube
trazia, de quando em quando, um tribuno para pregar a nova
ideologia na cidade. Assim que em maro aqui veio
157
Gazeta de 11-11-1888.
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Vid. Administrao Djalma P. Pinheiro Chagas, pg. 170. A ambos esses captulos,
serviram de fontes os anais da antiga cmara e as informaes orais do biografado.
162
Denominada Coluna do Sul.
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Convidado pela Fundao Rockefeller para se especializar em Anatomia Patolgica quando clinicava em Belo
Horizonte, seguiu para os Estados Unidos, em companhia
de sua esposa. Foi a assistente do grande Mac Callum, durante dois anos. De regresso ao Brasil, conquistou por concurso a cadeira de Anatomia Patolgica da Faculdade de
Medicina de Belo Horizonte, tendo como sua preparadora a
prpria esposa.
Durante o seu magistrio nessa ctedra, foi convidado como patologista para fazer parte duma comisso de
cientistas brasileiros enviados Argentina, onde fez vrias
conferncias. Na Amrica do Norte, mais do que no Brasil,
ele era tido como um grande patologista e teve a honra de
reger uma das ctedras da Universidade de Baltimore. Ainda quando professor em Belo Horizonte, foi enviado pelo
governo, frente duma comisso de cientistas, em viagem
Europa, onde aproveitou o ensejo para se aperfeioar ainda
mais, na Alemanha, como assistente do grande antomopatologista Aschoff. Nessa ocasio, representou o Brasil
num congresso pecurio em Haia.
Regressando ao Brasil, conquistou por concurso o
lugar de antomo-patologista do Posto Veterinrio e
Agrcola do Ministrio da Agricultura em Belo Horizonte, e
foi delegado de Minas em um Congresso Mdico
Brasileiro.
A convite do governo Antnio Carlos, coube-lhe ento
a Prefeitura e Superintendncia dos servios termais de Poos
de Caldas. Para realizar a completa remodelao dessa
estncia hidro-mineral e torn-la uma obra digna do Estado,
fez nova e curta viagem Europa, a fim de estudar in-loco os
mais famosos estabelecimentos termais e estncias minerais.
Contratou dois tcnicos: o mdico dr. Scho- ber e o
engenheiro dr. Mauer.
Realizada sob sua orientao exclusiva, a obra do dr.
Carleto em Poos de Caldas foi to ampla e rdua que, por
vezes, teve de contrariar nela o prprio governo mineiro e seu
irmo dr. Djalma, ento Secretrio da Agricultura. A
433
Carlos Pinheiro Chagas devemos todo o progresso que atingimos em Poos de Caldas164.
Em 1929, sendo indicado pelo Partido Republicano
Mineiro a uma cadeira no Congresso Federal pelo seu
Estado, aceitou e foi eleito. Tormentosa, porm, foi aquela
eleio, resultando ser usurpada a cadeira Afrnio de Melo
Franco. No dia em que foi reconhecido, dr. Carleto ps a
sua prpria cadeira disposio do colega usurpado, num
gesto que reafirmava o valor do varo sacrificado e um
protesto contra tal atitude do governo.
Quando foi assassinado o presidente paraibano Joo
Pessoa, Minas incumbiu o dr. Carleto de ser o seu intrprete
nos funerais do grande brasileiro. Jamais o pas h de se
esquecer do discurso que ento proferiu Carlos Pinheiro
Chagas: uma das mais notveis peas da nossa literatura,
pgina digna de figurar em todas as nossas antologias.
ATUAO REVOLUCIONRIA. Deflagrado o
movimento de outubro, em cujos preparativos tivera com
seu irmo o mais saliente papel e a maior harmonia de
pontos de vista, dr. Carleto Pinheiro Chagas, incorporandose s foras revolucionrias, rumou para uma das frentes.
Em verdadeira marcha sobre o Oeste, foi mobilizando os
destacamentos de toda a regio ocidental de Minas e
arregimentando as suas populaes civis. Data de ento
uma curiosa revanche histrica: a tomada de Itapecerica,
mas sem a sangueira do Campo do Caju em 1842
Toda a atuao revolucionria do dr. Carleto est
naquela sua entrevista de 4 de novembro de 1930165,
narrao que, pela sua fidelidade e singeleza, constitui um
depoimento para a histria. Ei-la:
"Achava-me ausente de Belo Horizonte, cheguei
capital dia 3 de outubro e naquele mesmo dia, pelas 16
horas, partia a fim de preparar a Revoluo na regio do
oeste de
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165
434
Minas. Desincumbi-me da misso que me competia, preparando e prevenindo. E, desempenhada essa misso,
acompanhei as tropas sob o comando do coronel Lus
Fonseca em sua marcha sobre Trs Coraes. Na cidade
de Lavras, ajudei essa tropa com o que pude, facilitandolhe o prosseguimento da sua jornada para o sul.
Vencido o 4 R.D.C., de Trs Coraes, segui a
fora do coronel Lus Fonseca em sua gloriosa misso no
sul do Estado.
Em Trs Coraes, assisti tomada do quartel do 4
Regimento de Cavalaria, j, portanto, na fase final daquele
brilhante feito de armas.
Do sul do Estado regressei ao oeste mineiro, ainda
a servio da nossa causa. Tomadas todas as providncias
que me pareceram indispensveis, voltei a Belo Horizonte,
onde cheguei s 20 horas.
Tendo chegado noite, apresentei-me imediatamente ao Estado Maior das Foras em Operaes. Recebi,
nessa ocasio, a incumbncia de ir parlamentar com o
comandante do 6 Batalho de Caadores, aquartelado em
Ipameri, no estado de Gois. E, no dia seguinte ao da
minha chegada, pelas 10 horas da manh, deixava
novamente Belo Horizonte para desincumbir-me da misso
que me era confiada.
Como vem, desde o primeiro dia da Revoluo,
tenho estado a servio da nossa grande causa, qual
devotei toda a minha energia, na qual absorvi todo o meu
esprito.
No foi dos mais felizes o resultado da minha misso
perante o comandante do 6 B.C., de Ipameri.
Procurei aproximar-me do comandante. No o consegui, todavia, porque me foi negada a audincia para um
entendimento direto, se bem que discreto.
Longe de desanimar, contudo, permaneci na cidade de
Araguari, sondando, por todos os meios ao meu alcance, o
esprito que animava a oficialidade superior e inferior, bem
como os soldados do 6 B.C.
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Surpreendido por essas informaes e com esse movimento militar, fui passar a noite com a nossa fora. As onze
horas da noite telegrafei ao coronel Pirineus, cientifificando-o da minha surpresa, perante um tal movimento da
sua parte. Como resposta, recebi ento um telegrama em que
o comandante me dizia que ficava aguardando ordem minha
para integrar Gois ao movimento libertador, cooperando,
para esse objetivo, com a fora sob o seu comando.
Perante essa resposta, que dissipava apreenses, dei
imediatamente ao coronel Pirineus, em nome do Estado
Maior Revolucionrio de Minas, a ordem indicada na sua
resposta. E o comandante comunicou-me que a cumpriria com
prazer.
Voltei descansado cidade de Araguari.
Na manh do dia 25, ainda no pude esclarecer as
minhas dvidas com relao disposies da Junta Governativa do Rio de Janeiro. Quis, ento, mostrar ao coronel
Pirineus a nova situao existente e verificar se, j agora, ele
poderia manifestar oficialmente a sua e a adeso da sua tropa
ao movimento libertador.
Na resposta que me deu, no objetivou a pergunta que
eu lhe fizera, dizendo-me simplesmente que recebera ordens
de repor a situao governamental de Gois e que nada
impediria o seu Batalho de o fazer.
Tive, simultaneamente, notcias de que as foras do
coronel Quintino Vargas, o grande legionrio de Paracatu,
corriam, numa avanada heroica, sobre a capital do Estado
de Gois. Fora, tambm, seguramente informado de que as
foras caiadistas, num efetivo de 450 homens, bem armados e
municiados, estavam concentradas na Capital.
Telegrafei, sem perda de tempo, ao coronel Quintino
Vargas para que me esperasse em Vianpolis, onde ainda se
encontrava com o seu Estado Maior. E parti imediatamente
para lpameri, a encontrar-me com o coronel Pirineus.
Desde a primeira pequenina localidade do Estado de
Gois at a chegada cidade de lpameri, verifiquei a vibrao formidvel do povo goiano pela emancipao da sua
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terra e pela regenerao dos costumes polticos. Entre palmas e flores, era eu recebido como o Messias da liberdade.
Em Ipameri, essa manifestao culminou de grandiosidade
e entusiasmo.
Conferenciei ainda uma vez com o coronel Pirineus
e lhe perguntei se estava disposto a ir, com o 6 B.C., colocar-me na presidncia de Gois.
O comandante do 6 B.C. respondeu-me que a fora
sob o seu comando j estava pronta para seguir e que ele
me garantiria em todos os meus atos.
Partimos, nessa mesma noite, destinados a
Vianpolis e l chegamos na madrugada de 26 de outubro.
Ali se encontrava, com seu Estado Maior, o coronel
Quintino Vargas aguardando a minha chegada.
Postos em contacto o coronel Pirineus e o coronel
Quintino, combinaram os dois chefes as medidas militares
para a ocupao da capital goiana.
Logo depois, fizemo-nos de marcha, acompanhados
do 6 B.C., uma vez que a Legio Quintino Vargas j se
achava nas proximidades da capital de Gois. Percorremos
as 56 lguas que separam Vianpolis da Capital, com
facilidade, chegando a Gois s 7 horas da noite.
Os 350 homens da coluna do coronel Quintino
Vargas aguardavam, j quase na entrada da cidade, ordens
do chefe para marchar.
De passagem, devo salientar a audcia e a coragem
desse mineiro que, em 8 dias, trouxe a sua gente de Paracatu at capital goiana.
Logo aps a minha chegada, s 8 horas da noite do
dia 26, tendo recebido uma vibrante manifestao popular,
dirigi-me para o palcio do governo, acompanhado do coronel Quintino Vargas e do coronel Pirineus, sendo
emocionante o entusiasmo do povo goiano.
As foras caiadistas existentes haviam se dispersado
ante a notcia da nossa aproximao. E tambm haviam
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L. Gonzaga da Fonseca
FIM
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APNDICE
COLABORADORES IMEDIATOS
HOMENAGEM DO AUTOR
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NOTA FINAL
Prescrito em 1959 o contrato quinquenal de 4 de
setembro de 1954, pelo qual estavam cedidos Prefeitura
Municipal de Oliveira os direitos autorais deste livro, retornaram
esses direitos posse exclusiva do seu autor, de cujo
assentimento ou do de seus herdeiros voltam a depender assim
quaisquer novos acrscimos ou reduo no texto como qualquer
edio futura desta obra.
Da parte do Cedente, cumpridas foram as clusulas todas
de sua obrigao contratual, inclusive quanto espera como
quanto atualizao do presente texto feita pela pessoa indicada,
com ratificao expressa do autor.
Da parte da Adquirente, porm, apesar dos seus bons
propsitos iniciais, houve descumprimento da clusula mais
importante, j por falta de verba, j por injunes de ordem
poltica, decorrentes da natural disputa partidria e consequente
transferncia de mandatos, entre 1954 e 1959.
Destas premissas, procedeu ipso facto a prescrio do
referido contrato e, salvo melhor juizo, a sua resciso automtica.
Esta a opinio pessoal do autor que, para resguardo dos
fundamentos jurdicos do caso e a bem da integridade semntica
do presente texto, julga oportuno acrescentar mais o seguinte:
a) de Janeiro a Julho de 1959 (166), a Adquirente foi pblica e
sobejamente notificada da sua obrigao contratual e do
escoamento do prazo bilateralmente aceito;
166
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BIBLIOGRAFIA
Notas sobre o municpio da Oliveira, organizadas a
pedido da cmara do mesmo municpio e por esta mandadas
publicar, pelo bacharel Francisco de Paula Leite e Oiticica
(advogado, natural da provncia das Alagoas). 1882.
Oliveira (ligeira notcia sobre o municpio, seu
desenvolvivimento e riqueza) 1921. lbum de exposio
pecuria.
Carta de sesmaria da Forquilha e auto de medio e
demarcao da mesma 1753 e 1754. Arquivo do cartrio do
1. ofcio do tabelio Nereu do Nascimento Teixeira e Arq. Pbl.
Mineiro, seco colonial, coleo 8.0., cdice 108.
Anurio histrico-corogrfico de Minas Gerais,
publicao fundada e dirigida pelo dr. Nelson de Sena 1909.
Outras obras do mesmo autor.
Efemrides Mineiras, (quatro volumes), coligidas,
ordenadas e redigidas por Jos Pedro Xavier da Veiga 1897.
O ouro de Cuiab, romance de Paulo Setbal 1933.
Terra de Ouro, de Godofredo Viana.
Municpio de Bom Sucesso, de Otvio Leal Pacheco
1922.
Histria de Minas Gerais, de Lcio Jos dos Santos
1926.
Histria do Brasil, de Rocha Pombo.
Minas Gerais na grandeza do Brasil, de Raimundo
Pereira Brasil 1936.
Histria Antiga das Minas Gerais, de Diogo de
Vasconcelos, 2a. edio 1904.
Pertransivit benefaciendo, homenagem da imprensa
oliveirense memria honrada do benemrito cel. Francisco
Fernandes de Andrade e Silva 1912.
Enciclopdia e Dicionrio Internacional, dos editores
Jackson.
Carlos Chagas, do doutorando Renato Clark Bacelar
1938. E vrias outras monografias sobre o grande cientista.
Voyage aux sources du Rio S. Francisco et dans la
province de Goyaz (dois tomos), de Auguste de Saint-Hilaire.
Outras obras do mesmo autor.
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NDICE BIOGRFICO
Pgs.
Alfredo Paraso - Nota ............................................... 109
Ananias de Paula Vieira, padre.................................... 342
Antnio Jos de Castro ............................................... 121
Antnio Pinheiro Campos ........................................... 176
Carlos Chagas, cientista .............................................. 258
Carlos Pinheiro Chagas (Carleto) ............................... 432
Djalma Pinheiro Chagas ............................................. 428
Eugnio Maria de Gnova, capuchinho .................... 105
Francisco Cambraia Campos ..................................... 116
Francisco Coelho de Moura (dr. Chiquinho) ............. 113
Francisco das Chagas Andrade .................................. 120
Francisco Fernandes de A. e Silva .............................. 300
Francisco de Paula Barreto, padre ............................... 119
Gazeta de Minas........................................................... 242
Geraldo Ribeiro de Barros ........................................... 448
Honrio Silveira Neto................................................... 446
Joo da Mata ................................................................. 371
Joaquim Ferreira Carneiro ............................................ 122
Joaquim Laranjo ............................................................ 269
Jos Ferreira de Carvalho, padre ................................... 338
Jos Medeiros Leite, bispo diocesano ........................... 348
Jos Oiticica, fillogo Nota ...................................... 281
Jos de Oliveira Barreto, cnego ................................... 341
Jos Silveira ................................................................... 176
Jos Teodoro Brasileiro, padre ....................................... 337
Leo Medeiros Leite, monsenhor ................................... 353
Lus Ant. Santos Amorim, secularizado ........................ 361
Manuelita da Costa Chagas (Tia-Lilita) ........................ 296
Maurcio Chagas Bicalho ............................................... 265
Nlson Ferreira Leite ...................................................... 264
Paulo Pinheiro Chagas .................................................. 267
Paulo Roiz Rocha ............................................................ 120
Raul Leite - Nota ............................................................. 223
Venncio Carrilho de Castro ........................................... 122
Vigllato Jos Bernardes ...................................................370
Biografia deste livro
capa, 1 orelha
Biografia do autor
capa, 2 orelha
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Em branco
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NDICE GERAL
CAPTULO I
PR-HISTRIA DO OESTE MINEIRO
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Estrada de ferro e estao Rodovias, distncias e rodoviria Correio Telgrafo e radiotelegrafia Telefone
................................................................................187 a 202
CAPTULO VII
ASPECTOS SANITRIOS E ECONMICOS
Santa Casa Posto de higiene Hospital neuro-psiquitrico Finanas; bancos; rendas Agricultura e
pecuria Cafeicultura Indstria Comrcio Srios e
libaneses................................................................ 203 a 236
CAPTULO VIII
CULTURA E INTERCMBIO CULTURAL
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Comps e imprimiu:
Editora Bernardo lvares S/A
Rua Cludio Manuel, 638 Fone 4-6429
BELO HORIZONTE
Digitalizao:
Daniel Sampaio Teixeira
Historiador
Rua Antnio Queiroz, 226
Bairro Accio Ribeiro Oliveira/MG
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Anexo fotogrfico
(com localizao nas pginas do livro)
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A Praa Dr. Jos Ribeiro da Silva, vista sob dois ngulos. Ao alto, direita, o prdio do
Banco de Crdito Real, primeiro a instalar-se na cidade, em 1922. No outro ngulo,
aparecem direita o edifcio da Prefeitura Municipal e, ao fundo, a Escola Normal Nossa
Senhora de Oliveira, fundada em 1900, por Tia Lilita e hoje sob a direo das Madres
Escolpias.
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O prdio dos Armazns Brasil de Oliveira S/A., estabelecimento fundado pelo Sr.
Aristteles M. Ribeiro de Barros, que aparece na foto ao lado sua filha, Ambrosina
Ribeiro de Barros, vendo-se tambm os diretores Joo Alfredo Alvim e Jos Silveira.
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JORNALISMO OLIVEIRENSE
Aqui vemos a mquina impressora da Gazeta de Minas, jornal fundado em 1887 por
Antnio Fernal e que vem desde aquela poca registrando os acontecimentos locais com
absoluta iseno e fidelidade.
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O Esporte Clube Fabril, que antes se chamou 1 de Maio F. C., foi o mais valoroso e
aguerrido adversrio do Social F. C. nos gramados oliveirenses. Na foto, vemos a sua
equipe mais representativa, aparecendo, de p, da esquerda para a direita: Zeca, Joo
Dionsio, Ben, de Amaro, Olegrio, Ivo, Adolfo e Belmiro; agachados, na mesma
ordem: Paulo Correira, Vav e Dorvelino.
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A igreja-matriz de Oliveira, cuja construo deve ter sido iniciada em 1785, mais ou
menos, uma das relquias da cidade. Teve participao fundamental nos destinos de
nossa terra, pois era no seu interior que se reuniam os homens do lugar para decidir
questes importantes da comunidade que nascia. Por ordem de D. Jos Medeiros Leite, o
templo foi recentemente restaurado, inclusive na pintura do seu teto, que aqui
reproduzimos em clich.
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A antiga igrejinha do Rosrio, demolida para em seu lugar ser levantada a matriz-nova,
cujas obras se iniciaram em 1929. Construda antes de 1840, teve a igreja do Rosrio
participao das mais ativas na vida da cidade.
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Padre Jos Teodoro Brasileiro, um dos homens que mais realizaram pelo
desenvolvimento espiritual e material da cidade.
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O antigo jardim da Praa 15 de Novembro visto sob outro ngulo. esquerda, aparece
um dos casares antigos da cidade, h pouco demolido para em seu lugar ser construdo
moderno e importante edifcio da agncia do Banco do Brasil.
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