Historia Do Cimento No Brasil

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SNIC 50 ANOS

O Cimento no Brasil

A palavra CIMENTO originada do latim CAEMENTU, que na antiga Roma designava uma
espcie de pedra natural de rochedos no esquadrejada (quebrada). O produto o componente
bsico do concreto, que hoje o segundo mat erial mais utilizado pelo homem, ficando somente
atrs do elemento gua. A histria da sua evoluo comea antes do sculo XVIII, mas se
concretiza em meados de 1780, quando cientistas e pesquisadores europeus se empenharam em
descobrir a frmula perfeita para se obter o ainda pouco desenvolvido cimento hidrulico. A
necessidade de se encontrar ligantes que pudessem servir de matria-prima para argamassas de
revestimento externo fez com que, no perodo entre 1780 e 1829, o cimento obtivesse algumas
frmulas e denominaes diferentes como, cimento romano e cimento britnico. Foi em meados
de 1830 que o ingls Joseph Aspdin patenteou o processo de fabricao de um ligante que
resultava da mistura, calcinada em propores certas e definidas, de calcrio e argila, conhecido
mundialmente at hoje. O resultado foi um p que, por apresentar cor e caractersticas
semelhantes a uma pedra abundante na Ilha de Portland, foi denominado cimento portland. A
partir da, seu uso e sua comercializao cresceram de forma gradativa em todo o mundo.
Ainda em 1855, na Frana, Joseph Louis Lambot apresentou indita e oficialmente, na
Exposio Universal de Paris, o cimento armado. O mais curioso que o artefato em cimento era
um barco. O cimento armado foi denominado assim at a dcada de 20, quando passou a ser
chamado de concreto armado.
O desenvolvimento do Brasil no fim do sculo XIX j exigia a implantao de uma indstria
nacional de cimento. A remodelao da cidade do Rio de Janeiro e, posteriormente, a Primeira
Guerra Mundial abriram um grande mercado adicional para o produto. Nesta poca, o pas
importava 40 mil toneladas de cimento da Europa. As tarifas de importao da poca, 30%,
tambm foram um forte estmulo para que os empreendedores brasileiros pudessem concretizar
seus sonhos de instalar esta indstria no Brasil. Em 1888, o Eng. Louis Felipe Alves da Nbrega e
o Comendador Antnio Prost Rodovalho comearam os trabalhos de prospeco no Nordeste e
em So Paulo, respectivamente. O Eng. Louis Nbrega visou a utilizao dos calcrios expostos
nos arredores da capital do Estado do Paraba. J o Comendador Rodovalho, idealizou o
aproveitamento das reservas calcrias de grandes pedreiras situadas nas vizinhanas de
Sorocaba.
O primeiro a produzir cimento no Brasil, portanto, foi o engenheiro Louis Nbrega, por um
curto perodo de 3 meses, no ano de 1892. A Usina Rodovalho funcionou at 1904, produzindo o
cimento Santo Antonio. Retornou atividade em 1907, lanando no mercado os produtos com as
marcas Lage, Torqus e Meia Lua, tendo sido definitivamente extinta em 1918.
Uma terceira iniciativa pioneira de implantao de fabrica de cimento no Brasil ocorreu no
Esprito Santo, em 1912, atravs de um fracassado programa estatal de industrializao pelo
Governo do Estado. A fbrica - Cimento Monte Lbano - , em sua fase primitiva, nunca chegou a
funcionar regularmente tendo sido paralisada em 1924, quando foi arrendada e remodelada,
operando com grandes paralisaes temporrias at encerrar definitivamente suas atividades em
1958.

O Desenvolvimento da Produo

O ano de 1926 se constituiu num verdadeiro marco para a indstria do cimento no Brasil.
Naquele momento, graas viso empreendedora e ao pioneirismo de empresrios de diversas
partes do Pas, o setor conseguiu enfrentar a concorrncia do produto importado e mostrar
populao brasileira que fabricava produtos de qualidade e dignos de confiana.
Esta diviso histrica fica clara quando analisamos os nmeros da poca. At 1926, o
Brasil importava de pases como Estados Unidos, Inglaterra, Frana, Alemanha, Dinamarca,
Blgica e Argentina cerca de 97% do cimento que consumia. O produto chegava ao mercado
brasileiro onerado por despesas de frete, acondicionamento e direitos alfandegrios. Naquela
poca, a importao chegava marca de 400 mil toneladas anuais, enquanto que a produo local
no passava de 13 mil toneladas por ano.
A indstria nacional, que j existia desde o final do sculo 19, encontrava grandes
dificuldades para competir com o produto importado. A
primeira delas era o seu alto custo de produo. Alm disso, havia uma campanha de
desmoralizao do produto brasileiro, orquestrada pelos importadores de cimento.
Pouco antes de 1926, j comeara a ficar claro que um pas do tamanho e da importnc ia
do Brasil no poderia continuar a depender de importaes de um produto como o cimento,
principalmente se fossem consideradas suas abundantes reservas minerais. Em conjunto com uma
srie de fatores econmicos e polticos, o amadurecimento dessa idia estimulou o ressurgimento
da indstria do cimento no Brasil, agora numa retomada definitiva e com todas as condies de
competir com o produto importado. Comeava, ento, uma nova era para o setor.
Um smbolo dessa fase a inaugurao, em 1926, da Companhia Brasileira de Cimento
Portland, em Perus, a 23 quilmetros da cidade de So Paulo. A instalao da nova fbrica
representou o incio do processo de crescimento da produo brasileira de cimento, que saltou
imediatamente de 13.000 toneladas em 1926 para 54.000 em 1927, 88.000 em 1928 e 96.000 em
1929. O cimento Perus havia conquistado o mercado e superado todas as desconfianas dos
consumidores.
A partir da, a indstria brasileira do cimento iniciou um consistente processo de
consolidao e crescimento. Depois de sete anos de hegemonia da Companhia Perus, a
Companhia Nacional de Cimento Portland, subsidiria da norte americana Lone Star, entrou no
mercado cimenteiro. Adquiriu uma jazida calcria recm descoberta em Itabora, no Estado do Rio
de Janeiro, e em seguida inaugurou sua fbrica no municpio de So Gonalo, lanando o hoje
tradicional cimento Mau. O resultado que, j em 1933, a produo nacional comeava a
ultrapassar as importaes.

Fonte:
- A Indstria do Cimento no Brasil - Aspectos de seus Custos e Desenvolvimento
CONSULTEC - 1967

O Cimento e a Industrializao do Pas

O advento da Segunda Guerra Mundial foi um marco para a indstria nacional de cimento,
que havia se consolidado no Brasil pouco antes do conflito. Com as naturais dificuldades de
importao, as empresas brasileiras floresceram e registraram um acelerado ritmo de crescimento
da produo. A quantidade de cimento fabricado no Brasil passou de 697 mil toneladas em 1939
para 810 mil toneladas em 1944.
Aps a guerra, devido a investimentos estrangeiros e estatais, o Brasil entrou em um
acelerado processo de desenvolvimento industrial e de sua infra-estrutura, cujos maiores smbolos
so a inaugurao da Companhia Siderrgica Nacional (CSN), em 1946, a construo da Rodovia
President e Dutra, em 1951, e a instalao da indstria automobilstica, em meados da dcada de
50. Essa etapa mudou definitivamente a face do Pas, que deixou de ser uma nao
eminentemente rural e agrria para ser, tambm, uma sociedade urbana e industrial.
Como no podia deixar de ser, a indstria do cimento foi um dos protagonistas desse
processo. Com a crescente urbanizao do Pas, a demanda pelo produto cresceu de forma
exponencial, superando inclusive a capacidade nacional de produo, apesar dos grandes
investimentos feitos no perodo. Os dados so realmente impressionantes: o consumo per capita
de cimento saltou de 12,9 kg/ano em 1935, para 22,3 kg/ano no fim da guerra e para nada menos
do que 67,7 kg/ano em 1962.
Os investimentos realizados pela indstria do cimento no perodo imediatamente posterior
ao conflito mundial foram significativos. Entre 1945 e 1955, o setor inaugurou 16 novas fbricas,
vrias delas situadas fora do eixo Rio de Janeiro-So Paulo, incluindo Estados como Mato Grosso
do Sul, Paraba, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul.
O ano de 1945, por exemplo, foi marcado pelo incio da produo do cimento Zebu, feito
pela Companhia Paraba de Cimento Portland, em uma unidade instalada nos arredores de Joo
Pessoa. No ano seguinte, a Cimento Ita inaugurou sua segunda fbrica, na cidade mineira de
Contagem.
Em 1947, foi a vez do Rio Grande do Sul ganhar sua primeira unidade de fabricao de
cimento, inaugurada no municpio de So Leopoldo pela Companhia Cimento Brasileira. Ainda no
final da dcada de 40, o interior do estado do Rio de Janeiro voltou a se destacar no cenrio da
indstria cimenteira, com a instalao de uma fbrica da Companhia Cimento Portland Paraso, no
municpio de Campos, voltada para o abastecimento do interior fluminense, do sudoeste mineiro e
da prpria cidade do Rio de Janeiro.
Ainda assim, at 1955, o Brasil precisou importar quantidades crescentes de cimento para
fazer frente ao aumento da demanda interna. Entre 1945 e 1953, o volume de cimento importado
cresceu de 258 para 997 mil toneladas, apesar de a produo nacional ter atingido o patamar de 2
milhes de toneladas/ano.
A partir de 1956, no entanto, os investimentos realizados no Brasil puderam suprir a
demanda interna, com uma produo da ordem de 3,2 milhes de toneladas. Desde ento, o Pas
se tornou auto-suficiente e a importao de cimento estrangeiro deixou de ser relevante.

Fontes:
A Indstria do Cimento no Brasil - Aspectos de seus custos e desenvolvimento
Estudo Consultec - 1967

Turbulncia e Crescimento nos Anos 60

Com o atingimento da auto-suficincia no final dos anos 50, a indstria nacional de cimento
iniciou um importante movimento para proteger o seu mercado e restringir as importaes do
produto. A iniciativa do setor estava plenamente de acordo com a poltica econmica naquele
momento, fortemente marcada pela teoria da substituio de importaes como motor para o
desenvolvimento industrial dos pases latino-americanos.
Ao mesmo tempo, as indstrias nacionais procuravam se tornar cada vez mais eficientes,
com foco na reduo dos custos de transporte do produto, questo resolvida, em parte, com a
maior utilizao de navios do Lloyd Brasileiro. O perodo foi marcado ainda pelo aprofundamento
do processo de interiorizao da indstria, com a inaugurao de fbricas em Gois e no Par,
levando a indstria cimenteira ao Norte do Pas.
Os anos 60 no foram, no entanto, um perodo fcil para a economia brasileira e,
conseqentemente, para a indstria do cimento. Na primeira metade da dcada, a instabilidade
poltica, provocada pela renncia do presidente Jnio Quadros, pelas dificuldades do presidente
Joo Goulart e finalmente pelo golpe militar, no ajudou o ambiente econmico e resultou numa
queda abrupta do ritmo de crescimento e no aumento exponencial da inflao, que alcanou quase
100% ao ano em 1964.
Em 1963 e 1964, a ociosidade das empresas de cimento era de 17%. Alm disso,
nenhuma nova unidade foi inaugurada entre 1963 e 1966. O retorno aos investimentos s ocorreu
em 1967, com a abertura da Companhia de Cimento Portland de Sergipe, em Aracaju.
O cenrio mudou dramaticamente a partir de 1968. Naquele ano, a economia retomou o
rumo do crescimento, marcado por um incremento do PIB da ordem de 11%. Como conseqncia
do fenmeno e da falta de investiment o nos anos anteriores, a indstria do cimento no conseguiu
suprir a demanda interna, o que obrigou o Pas a voltar a importar o produto. Resultado: um
aumento de 368% nas importaes e uma queda de 52% nas exportaes em relao aos
volumes registrados em 1967.
A retomada do crescimento e o anncio da realizao de grandes obras pblicas em todo o
Pas animaram a indstria. Somente no perodo 68/69, trs novas fbricas foram inauguradas: a
Companhia Cearense de Cimento Portland, em Sobral; a Cimento Santa Rita, em Cubato, So
Paulo; e a Matsulfur, em Montes Claros, Minas Gerais.
O incio de grandes obras de infra-estrutura marcou o fim dos anos 60 e representou um
grande estmulo para o setor cimenteiro. Em 1969, o SNIC fechou questo com o governo,
convencendo as autoridades de que a indstria nacional teria todas as condies de fornecer o
cimento necessrio para a construo da ponte Rio-Niteri, uma obra de engenharia que at hoje,
mais de 30 anos depois, orgulha o Brasil.
A dcada de 60 termina com uma tima notcia: o anncio, por parte do SNIC, de um
ambicioso plano de investimentos da ordem de US$ 550 milhes para os prximos anos. O
objetivo era elevar a capacidade da indstria cimenteira para 20 milhes de toneladas/ano a partir
de 1975.

O Cimento na Dcada do Milagre Brasileiro

A dcada de 70 foi um perodo de grande crescimento para a indstria do cimento. Como
conseqncia dos investimentos governamentais em obras de infra-estrutura, caracterstica que
marcou o ciclo militar no Brasil, o setor recebeu um considervel estmulo para aumentar sua
capacidade de produo e inaugurar novas unidades em todas as regies do Pas.
O ano de 1970, por exemplo, foi marcado pelo incio da construo da rodovia
Transamaznica, smbolo mximo de um perodo em que o Pas investiu fortemente em sua
integrao e estruturao de uma rede viria de abrangncia realmente nacional. Do lado da
indstria, a resposta foi o comeo da produo no municpio de Cantagalo, no Rio de Janeiro,
regio que se transformou em um dos maiores plos cimenteiros do Brasil, devido ao seu calcrio
abundante e de boa qualidade.
Os investimentos em infra-estrutura no pararam por a. No ano seguinte, o governo
anunciava um ambicioso plano de construo de 4 mil quilmetros de estradas por ano, um projeto
de grande importncia para a indstria cimenteira. O setor tambm se beneficiou diretamente da
construo da Ponte Rio-Niteri: o SNIC conseguiu que o governo abrisse concorrncia entre as
empresas nacionais para o fornecimento das 200 mil toneladas de cimento necessrias para a
obra, derrotando aqueles que defendiam a importao do produto.
As obras pblicas monumentais e o forte ritmo de crescimento da economia que chegou a
um recorde de 14% em 1973, tendo alcanado o nvel de dois dgitos em vrios anos daquela
dcada, animaram a indstria a investir. Em 72, foram inauguradas trs novas fbricas: a da
Itapetinga, em Mossor, Rio Grande do Norte; a da Gacho, em Pinheiro Machado, Rio Grande do
Sul; e a da Tocantins, em Sobradinho, Distrito Federal.
No ano seguinte, mais seis unidades: a da Itapicuru, em Cod, Maranho; a da Salvador,
na cidade de Salvador; a da Cau, em Mesquita, Minas Gerais; a da Serrana, em Jacupiranga,
So Paulo; a da Ita do Paran, na cidade de Rio Branco; e a da Pirineus, em Corumb de Gois.
A reduo do ritmo de crescimento geral no perodo 74/75, como conseqncia da primeira
crise do petrleo, no diminuiu o entusiasmo do setor cimenteiro, que continuou a inaugurar
unidades, aumentando sua capacidade de produo. Em 1974, entrou em operao uma fbrica
da Camargo Corra, em Apia, So Paulo; no ano seguinte, foi a vez das unidades da Ciminas, em
Pedro Leopoldo, Minas Gerais, e da Votorantim, em Cantagalo.
Naquele momento, o SNIC conseguiu tambm uma importante vitria para a indstria, ao
obter do Conselho Interministerial de Preos (CIP) a incluso do item investimentos na frmula de
clculo dos reajustes de preo do cimento. Vale lembrar que, naquela poca, qualquer aumento de
preo precisava ser previamente aprovado pelo CIP.
A segunda metade da dcada foi marcada pela construo das monumentais hidreltricas
de Itaipu e Tucuru, indicando a continuidade de um perodo de prosperidade para o setor
cimenteiro. Com isso, duas novas fbricas, as da Soeicom e da Tupi, em Minas Gerais foram
inauguradas em 1976. Nos anos seguintes, mais sete outras unidades: a da Ibacip, em Barbalha,
Cear; a da Cisafra, em Campo Formoso, Bahia; a da Votorantim, em Volta Redonda, Rio de
Janeiro; a da Itabira, em Capo Bonito, So Paulo; a da Santa Rita, em Salto de Pirapora, So
Paulo; a da Ciplan, em Sobradinho; e a da Brennand, em So Miguel dos Campos, Alagoas.
Uma nova crise do petrleo impediu, no entanto, que a economia brasileira encerrasse a dcada
com chave de ouro. Como conseqncia do aumento do preo daquele produto, em relao ao
qual o Brasil era fortemente dependente de importaes, o governo foi obrigado a racionar seu
consumo, ameaando diretamente o suprimento do setor. Era o prenncio de uma dcada mais
difcil para a indstria do cimento.


A Indstria do Cimento na Dcada Perdida

A prosperidade experimentada pelas indstrias de cimento na dcada de 70 deixou
saudade nos anos seguintes. As dificuldades da dcada de 80 foram enormes para a economia
brasileira e, como no poderia ser diferente, o setor cimenteiro tambm foi afetado. As diversas
crises enfrentadas pela economia mundial levaram o setor a registrar uma queda brusca na
demanda pelo produto.
A queda na demanda foi conseqncia direta da forte recesso da economia, da
instabilidade dos mercados internacionais e da complexa situao poltica do Pas. Durante os
anos 80, o Brasil experimentou crises nunca antes vistas. A inflao alcanou a casa dos trs
dgitos e no parou por a: em 1989, ano da eleio de Fernando Collor para a Presidncia da
Repblica, o IGP-DI chegou a 1.782,90%.
A recesso mundial e a conseqente queda dos investimentos resultou num perodo de
pouca atividade para a construo civil. Durante a dcada perdida, as empresas de cimento
chegaram a operar com capacidade ociosa de 55%, com demanda de apenas 20 milhes de
toneladas/ano, quando a capacidade instalada total era de 45 milhes de toneladas/ano.
Ainda assim, a dcada foi marcada pela continuidade dos investimentos do setor e pela
importante consolidao de Cantagalo, no Rio de Janeiro, como um dos grandes plos cimenteiros
do Brasil. J em 1981 a Cimento Mau S.A inaugurava uma fbrica na regio, com capacidade
instalada de 700 mil toneladas/ano.
Em 1983, um susto para o setor: foi registrada a maior queda no consumo de cimento da
histria da indstria brasileira, 18,1%. Mesmo com este cenrio negativo, pode-se destacar a
inaugurao da fbrica da CIMESA, do Grupo Votorantim, em Laranjeiras, Sergipe, com
capacidade para 550 mil toneladas/ano.
A indstria sofreu com mais quedas na demanda pelo produto. Em 1984 a reduo no
consumo foi de 7,11%, como resultado do quarto ano sucessivo de recesso no Pas. A notcia no
perodo foi a concluso da unidade de moagem do Grupo Paraso no municpio de Serra, no
Esprito Santo, projeto executado para aproveitar a escria de alto-forno da Companhia Siderrgica
de Tubaro.
No plano poltico, a dcada de 80 ficou marcada pelo movimento das Diretas J, e pela
inesperada morte de Tancredo Neves, primeiro Presidente civil eleito aps o fim do regime militar.
Com a posse do Vice-Presidente Jos Sarney em 1985, a situao parecia que iria mudar.
A edio do Plano Cruzado, em 1986, trouxe uma forte recuperao do setor da construo civil,
estimulado principalmente pela utilizao das aplicaes financeiras, que antes s visavam
manuteno do seu valor real e liquidez. O aumento nas vendas de cimento foi de 22,2%, o que
transformou o Brasil no 7 maior produtor mundial.
Destaque para a inaugurao da primeira fbrica de cimento do Amazonas, a segunda da
regio Norte. Foi a CAIMA, atual Itautinga, do Grupo Joo Santos, em Manaus.
No perodo 87/88, a produo de cimento manteve-se estvel em 25 milhes de toneladas
por ano. O fim do congelamento de preos e da euforia consumista impediu novas altas no
consumo de cimento. No perodo foi registrada a abertura da Cimento Poty da Paraba , do Grupo
Votorantim, com fbrica no municpio de Caapor/PB.
A dcada terminou praticamente da mesma forma como comeou: com um cenrio
pessimista e a economia brasileira perto da bancarrota. Ficava a esperana de que o Presidente
eleito fosse capaz de segurar a crise econmica e acabar com a hiperinflao.

Anos 90 e 2000: Altos e Baixos da Economia

A dcada de 90 foi marcada por dois fatos importantes para a indstria cimenteira: a
liberao dos preos do produto, depois de dcadas de controle governamental, e o processo de
reestruturao do setor, marcado pelo investimento multinacional. Outra caracterstica importante
do perodo foram os vai-e-vens econmicos, que tiveram forte impacto sobre o desempenho da
indstria e do prprio mercado.
A ltima dcada do sculo XX iniciou-se com a esperana da populao depositada na
eleio do primeiro presidente civil aps o perodo da ditadura militar. Entretanto, o ano de 1990
reproduziu o fraco desempenho da dcada anterior: caos total no cenrio econmico, com o PIB
registrando queda de 4% no perodo. Em maro daquele ano, o recmempossado Fernando Collor
de Mello determinou o bloqueio de todos os ativos financeiros da populao, como forma de
impedir o avano da inflao. No perodo do congelamento, a defasagem do preo do cimento
chegou a 45%. O retrato desta situao foi uma nova queda na produo (-0,28%).
No ano seguinte, o cenrio mudou completamente. Apesar da inflao ainda elevada, o
setor registrou um importante recorde: a produo subiu 6,35%, atingindo o patamar de 27 milhes
de toneladas. A outra boa notcia de 1991 foi adeciso do governo de acabar com o controle de
preos sobre o cimento, exercido desde 1968 pelo Conselho Interministerial de Preos (CIP). A
mudana atendeu a um importante pleito do setor, que, por meio do SNIC, conseguiu mostrar s
autoridades o anacronismo daquele controle. Um dado importante: ao contrrio do que se
imaginou inicialmente, com a liberao, os preos do cimento caram, como conseqncia do
acirramento da competio entre as empresas do setor. Destaque ainda para a inaugurao da
fbrica do grupo Votorantim em Nobres, Mato Grosso.
Entre 92 e 93, o conturbado cenrio poltico com o impeachment do presidente Collor
impediu que o setor mostrasse qualquer tipo de recuperao. O consumo caiu 12,16% em 1992,
subindo apenas 3,4% em 1993. O destaque do perodo foi a criao do Cementsur - Industria del
Cemento del Mercosur - que trabalhava no desenvolvimento de atividades nas diversas reas de
interesse do setor. Em 1993, outros fatos importantes foram a construo da fbrica da Camargo
Correa em Bodoquena, Mato Grosso do Sul, e a instalao da unidade de moagem da Matsulfur,
em Brumado, Bahia.
Com a criao do real em 1994 pelo ento ministro da Fazenda, Fernando Henrique
Cardoso, a indstria do cimento nacional comea imediatamente a sentir os efeitos da
estabilizao da economia e do aumento do poder aquisitivo da populao. O reflexo foi imediato.
A tranqilidade trazida pelo Plano Real impulsionou o mercado e, em 1995, o setor ultrapassou as
28 milhes de toneladas produzidas. O consumo cresceu vertiginosamente, registrando altas
consecutivas de 0,87%, 12% e 23% nos anos de 1994, 1995 e 1996. Isso se refletiu na
inaugurao de uma nova fbrica do grupo Joo Santos, em Itaguassu, Sergipe.
A estabilizao da economia e o grande potencial do mercado brasileiro provocaram um
forte movimento de investimentos no set or cimenteiro naquele perodo. Grupos familiares
acabaram sendo adquiridos por players de maior porte, e o Pas voltou a receber recursos de
investidores estrangeiros. Em 1996, o grupo suo Holcim - que j controlava a Ciminas, em Pedro
Leopoldo (MG), e a Ipanema, em So Paulo - comprou o Grupo Paraso, com fbricas no Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Esprito Santo.
Em 1997, foi a vez do grupo portugus Cimpor desembarcar no Brasil, comprando a
Companhia Cimento So Francisco (Cisafra), e as trs unidades de produo de cimento da
Bunge International Ltd. Ainda em 1997, outro fato de grande importncia foi a compra da Cimento
Cau pelo grupo Camargo Correa, anexando a seu parque cimenteiro duas unidades de produo:
Pedro Leopoldo (MG) e Santana do Paraso (MG). Posteriormente, a Cimpor adquiriu as unidades
de produo do grupo Brennand (Cesarina, em Gois; Atol, em Alagoas; e Cimepar, na Paraba) e
a unidade de moagem de Brumado (BA), pertencente ao grupo Lafarge.
A Lafarge tambm investiu bastante no Brasil na dcada de 90. Em 1992, o grupo, maior
produtor mundial de cimento, adquiriu o controle da Ponte Alta, de Uberaba (MG). Quatro anos
depois, foi a vez da compra das fbricas da Matsulfur (Montes Claros, em Minas Gerais, e
Brumado, na Bahia) e, em 1998, da Maring, situada em Itapeva (SP).
No perodo de 1996 a 1999 o consumo e a produo de cimento subiram at alcanar o
recorde histrico de 40,2 milhes de toneladas produzidas e consumidas. Em 1997, o consumo
aparente de cimento portland foi de 38,4 milhes de toneladas. E em 1998 a produo total de
cimento foi de 39,9 milhes de toneladas enquanto o consumo aparente total foi de 40,1 milhes.
Nesse mesmo perodo, a fbrica Ribeiro Grande passou ao controle da CP Cimento, controladora
do grupo Tupi.
A partir de 1999 os resultados do setor comearam a fraquejar diante dos percalos
econmicos. As seguidas crises econmicas no mundo e o trmino da paridade cambial fizeram
com que o real se desvalorizasse rapidamente frente ao dlar, atingindo em cheio o consumo. Em
1999 o consumo de cimento chegou ao patamar recorde de 40 milhes, caindo em 2001 para 38,4
milhes para em seguida registrar a marca de 37,9 milhes em 2002. No ano de 2003, a queda foi
mais significativa e o consumo totalizou 33,8 milhes de toneladas.

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