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Teologia
Contempornea
Movimentos que deram Origem Teologia
Contempornea
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Teologia Contempornea

Movimentos que deram Origem Teologia Contempornea

Renascena luterana. Quando Lutero foi descoberto, descobriu-se tambm o sentido
que o mesmo tinha a respeito de Deus. Isso despertou um novo olhar no reformador. Foi a
partir de Lutero que comea brotar todos os movimentos.
Realismo bblico. Esse movimento surgiu em reao escola ritschiniana. Assim
como Lutero, esse realismo bblico adequava-se melhor natureza humana.
Crtica radical. Esta crtica histrica minava os pressupostos de toda a teologia liberal
e de Harnack. Essa crtica histrica comeou no Antigo Testamento e no Novo Testamento
com uma radicalidade mais profunda.
Falando um pouco de Rudolf, Bultmann, ele procurou combinar a pesquisa histrica
com certa tentativa de sistematizao. Chamava-a de demitologizao. Segundo ele a
mensagem bblica devia se libertar da linguagem mitolgica.
O mtodo da histria das religies. Como principal crtica do ponto de vista da histria
das religies temos Hermann Gunkel. Esse movimento se encarregou de ser um mtodo de
anlise dos contedos dos escritos bblicos. Procura descobrir at que ponto o antigo
Testamento e o Novo dependiam do simbolismo de outras religies.
Ernst Troeltsch. Homem de grande viso histrica, preocupava-se com o sentido da
religio no contexto do esprito humano ou da estrutura mental humana. Criticou o livro de
Harnack o que cristianismo -, e se ops idia de que o protestantismo acabara com o
mundo medieval. A sua filosofia da histria baseia-se em uma atitude negativa diante do que
chama de historicismo.
Socialismo religioso. Esse movimento a tentativa de superao das limitaes do
esforo de Troeltsch de ir alm do historicismo. Aqui Deus se relaciona com o universo, onde
este inclui a natureza, a histria e a responsabilidade. Nesse movimento o amor de Deus
estava no mundo. Possua uma idia de teonomia, ou seja, o alvo desse movimento socialista
religioso era o estado tenomo da sociedade.
Karl Barth. Apesar de ter vindo desse movimento socialista religioso, ele no se uniu
ao mesmo. Via neste o abuso do socialismo religioso pelo nacionalismo religioso,
identificando a mensagem crist com determinada idia poltica ou social. Barth acabou com
a tentativa de qualquer relacionamento entre a teologia e o movimento trabalhista
revolucionrio na Alemanha. Contudo, contribui para a salvao do protestantismo da
devastao e das matanas do nazismo neocoletivista e pago.
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Para Bart, Deus no objeto do nosso conhecimento ou ao. Em sua primeira fase de
sua carreira, ele identificava a revelao com a mensagem crist, e negava o carter
revelatrio de tudo que no fosse mensagem.
Bart no se distanciou apenas do socialismo religioso, mas tambm, por algum tempo,
do lado poltico do poder de Hitler. Aceitava-o. Mas, logo aps, Bart se tornou o lder da
resistncia intraeclesistica ao nacional-socialismo. Finalmente, reconheceu o que havia
negado, que o movimento encabeado por Hitler era quase-religioso e apresentava srio
ataque contra o cristianismo.
Bart se tornou neutro concernente, causa de Cristo ser identificada com a causa do
Ocidente. Em razo, recebeu muitas crticas.
Existencialismo. Tem percebido elementos no homem em contraste com a filosofia da
conscincia voltada para as decises conscientes do homem e para sua vontade. A descoberta
do inconsciente humano foi importantssima para a teologia. Esse existencialismo juntou-se
anlise freudiana do inconsciente. Consegui mudar os tipos moralistas e idealistas. Trouxe
para o centro do pensamento teolgico a questo da condio humana.
Apesar de afirmaes pessimistas quanto a teologia do sculo passado, possvel v-la
como o incio de um novo despertar, de uma renovao, a partir de causas determinantes para
esse alvorecer. Segundo os historiadores, o surgimento das filosofias agnsticos e atestas, que
obrigavam a teologia a buscar bases filosficas mais seguras; a consolidao da estrutura da
Igreja e da autoridade, do papado atravs do Conclio Vaticano I: os pontficos na cooperao
com o progresso teolgico; a restaurao tomista, que diminui o telogo catlico de uma base
filosfica; o retorno s fontes bblicas e patrsticas, que infundiram na teologia um novo vigor;
o incremento da atividade missionria, que fez surgir o ramo teolgico de missiologia; e o
desenvolvimento de questes sociais, que dos quais surgem novos problemas teolgicos, a
teologia, mais tambm, trazer algumas caractersticas como: atitude polmica em relao
cultura profana, a conformidade ao magistrio eclesistico, a estrutura tomista e seus
fundamentos patrsticos.
Essa teologia do sculo XIX no produziu um discurso polmico com os cristos e sim
com os expoentes da cultura profana.
Diante de tais reaes podemos perceber o avano da teologia do sculo XX.
O retorno aos pobres uma das mais importantes caractersticas da teologia desse
sculo, os seus motivos estavam em uma dimenso filosfica. Encontra-se na razo ltima de
avaliao do seu pensamento como fonte essencial da teologia crist.
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Outro elemento que contribui para renovao a teologia contempornea foi o estudo da
Sagrada Escritura. Esse estudo tornou-se importante, quando os erros exegticos bblicos
estavam ameaando os prprios fundamentos do cristianismo.
O terceiro elemento foi o movimento litrgico.
Todos essas movimentos (renascimento tomista, bblico e patrstico e litrgico)
penetraram profundamente na teologia contempornea, elevando-a ao renascimento.
Os primeiros momentos da nova teologia se deu aps a Segunda Guerra Mundial.
Durante algum tempo esses novos telogos foram vistos com simpatia, mas logo comeou
os conflitos com os telogos tradicionais a partir do artigo de Danielou, acusando-o de
desvalorizar a teologia sistemtica, e da se prosseguiu.
Fundamentalismo. Corrente teolgica que, apesar de lanar suas razes no sculo XVI,
na Reforma Protestante, foi marcante no incio do sculo XX, em especial a Amrica do
Norte. O Fundamentalismo se propunha defensor da ortodoxia crist, contra as ameaas e
subverses do liberalismo ou modernismo.
O termo fundamentalismo foi usado pela primeira vez pelo Dr. C. C. Laws, editor do
peridico batista Watchman- Examiner, e continha implicaes para os que assim
denominavam-se, como os que firmam-se no que mais fundamental na f crist, ou seja,
aquele mnimo de convices sem as quais ningum poderia admitir-se cristo.
Durante os vinte primeiros anos do sculo XX, os fundamentalistas encontravam-se
em plena atividade entre maior a parte das denominaes protestantes. Encontravam-se na
ofensiva e esforavam-se para afastar os liberais dos postos de liderana eclesistica. Nem
sempre os fundamentalistas foram vitoriosos e, durante a dcada de 30 foram eles que
sentiram-se pressionados a sarem das igrejas e dos seminrios. Apesar do arrefecimento da
disputa entre os liberais e fundamentalistas, e quando se pensava que o fundamentalismo
havia falecido, eis que ele ressurge com o advento da II Guerra Mundial, e em toda dcada de
40, o despertamento da erudio em crculos fundamentalistas fez surgir uma teologia
conservadora.
Uma das grandes figuras desse ressurgimento foi o Dr. Professor de Apologtica do
Seminrio Teolgico de Fuller, E. J . Carnell. Em seus livros, ele empreendia uma defesa
filosfica do Cristianismo Conservador.
Dentro do movimento fundamentalista sempre houve telogos com a disposio de
defender a ortodoxia com o que melhor tivessem em erudio. Manifestavam-se eles
suspeitosos de ataques feitos contra a cincia ou contra o criticismo bblico, estando sempre
na defesa do cristianismo ortodoxo.
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Na sua defesa, qualquer fundamentalista entendia que o primeiro ponto nevrlgico era
a doutrina transmitida pela tradio protestante (Luterana), a doutrina que proclamava ser a
Bblia a nica autoridade infalvel, palavra literal e inerrante do Deus vivo, revelao nica
dEle ao homem. Alguns fundamentalistas fanticos acreditam que a Verso do Rei Tiago
infalvel, e no aceitam qualquer reviso.
O ponto vital no fundamentalismo a preocupao expressa para com os interesses da
salvao humana. Os fundamentelistas crem na doutrina da vinda Pr-milenial de Cristo, e
a revelao divina da segurana de salvao aos que depositam a sua f no Senhor.
Os fundamentalistas, diferente do pensamento iluminista que declara a bondade inata
do homem, acreditam na depravao total do ser humano. Toda a bondade que existe na
natureza humana maculada pelo pecado, e nenhuma dimenso da vida est livre de seus
efeitos. Originalmente o homem foi criado perfeito, mas aps a sua queda, o pecado entrou na
raa humana e corrompeu o homem no mais ntimo do seu ser. O pecado no uma fraqueza
ou ignorncia inerente, mas a rebelio positiva contra as leis de Deus. Mas o Filho Unignito
de Deus, J esus Cristo fez-se expiao pelo pecado na cruz do Calvrio, quando derramou seu
prprio Sangue, redimindo, assim, o homem do poder da morte espiritual, resgatando os
pecados da humanidade, derrotando os poderes das trevas e satisfazendo as exigncias da
J ustia de Deus para o perdo dos pecados.
Existe uma tendncia que considera o fundamentalismo como um movimento que
relega as faculdades da razo. Alguns elementos justificam essa tendncia, como por
exemplo, no posicionamento radicalmente contrrio a teoria da evoluo dos seres.
O fundamentalismo visto didaticamente como:
Metodologia Filosfica: que tem a Bblia como ponto de partida e autoridade final
para analisar e julgar todas as coisas e questes do universo;
Metodologia Teolgica: que deriva diretamente da Bblia todo conhecimento sobre
Deus, f, prtica e vida crist, onde tudo estabelecido e normatizado por Ela.
a) Cr na possibilidade de uma Teologia Sistemtica e Dogmtica criada unicamente
pelo estudo sistemtico da Bblia, cujo arcabouo doutrinrio chamamos de S
Doutrina;
b) No cr na honestidade e veracidade do termo fazer teologia, como algo
resultante das abstraes e idias que algum tem fora do estudo puro e simples da
Bblia, especialmente quando esse estudo distorce, acrescenta ou contraria o seu
ensino;
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c) Acredita sim, que toda verdade a Verdade de Deus, que qualquer cincia que
chegue a uma concluso e/ou comprovao verdadeira, no h de contrariar a
Bblia e pode simplesmente ajudar a melhor compreender a revelao bblica,
porm nunca suplant-la ou substitu-la;
Metodologia Apologtica: Crer que a s doutrina, o ensino puramente derivado da
Bblia o mesmo para todas as culturas e pocas da histria da humanidade, de
fato a f que uma vez por todas entregue aos santos; O fundamentalismo enche-
se de zelo por defender e militar por essa f, mesmo que lhe custe a prpria vida.
Metodologia Eclesistica: Que separa-se eclesiasticamente e dependendo do caso
at fraternalmente, de qualquer indivduo, igreja instituio e movimento que se
afastem da s doutrina ou que promovam qualquer tipo de negativa da f bblica.
Metodologia Evangelstica: Crer que apenas o Evangelho de Cristo, composto de
tudo o que Ele ensinou pessoalmente ou atravs dos escritores do Novo
Testamento suficiente para levar uma alma perdida a uma verdadeira converso
espiritual e conseqente salvao. o mtodo teocntrico.
Aps esse breve comentrio, bom que, em teologia, se faa distino entre
fundamentalismo e conservadorismo(evangelicalismo). Apesar do fundamentalismo ter
surgido primeiro e, apesar das muitas afinidades de pensamento com o conservadorismo, os
ltimos mostram-se bastante apercebidos dos erros do ponto de vista fundamentalista em
relao a cincia e outros desenvolvimentos modernos. Portanto bom conhecer melhor o
conservadorismo(melhor conhecido como evangelicalismo).
Evangelicalismo. O evangelicalismo pode ser definido como: Movimento do
cristianismo moderno que transcende as fronteiras denominacionais e confessionais,
enfatizando a conformidade com as doutrinas bsicas da f e um alcance missionrio de
compaixo e urgncia. Quem se identifica com esse movimento um evanglico conservador
(ou evangelical) que cr no evangelho do J esus Cristo e o proclama.1
O sculo XIX considerado como a era evanglica. Muitos so os movimentos de
reavivamento que surgem na Amrica do Norte e que so a marca registrada da religio
evanglica com as campanhas de Charles Finney e D. L. Moody, bem como o trabalho dos
batistas, metodistas e presbiterianos, a paisagem religiosa da nao foi alterada. Nesse
perodo, o evangelicalismo atinge o nvel popular e fundamental dos norte-americanos
brancos, enquanto que os negros, quer livres ou escravos, congregavam-se em igrejas
separadas mas que, tambm mantinham uma f evanglica profunda e pessoal.
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O pensamento que permeia a mente dos norte-americanos at os dias atuais, de que
eles so o povo escolhido de Deus fruto desse evangelicalismo que se desenvolve e
contribui diretamente para a formao dos valores dessa sociedade.
O evangelicalismo torna-se a religio civil dos norte-americanos. Os lderes polticos
desse perodo, expressavam publicamente suas convices evanglicas e abafavam elementos
no protestantes e estrangeiros que no estivessem de acordo com a crena da nao. A
proposta de se eliminar os males morais e sociais d margem para a tentativa de se criar uma
repblica de retido, onde se levantavam campanhas para a abolio da escravatura e a favor
dos direitos femininos.
O esprito evangelical faz com que as naes do Atlntico Norte se engajem na obra
missionria que visa levar o evangelho aos quatro cantos da terra. No demorou muito para
que os movimentos de reavivamento comeassem a surgir em pases asiticos, africanos e
latino-americanos.
O incio do sculo XX fica marcado como um perodo em que o evangelicalismo fica
eclipsado pela nova maneira de se encarar a realidade. O darwinismo se dissemina fazendo
brotar, nos coraes, um sentimento de individualismo que arranca a raiz principal da
solicitude social.
A com fiana na infalibilidade das Escrituras posta em cheque, graas ao niilismo de
Nietzsche, a psicologia de Freud, ao socialismo marxista dentre outros pensamentos que nesse
perodo surgem como uma avalanche de novas idias.
Com as catstrofes sociais que foram trazidas pela primeira guerra Mundial, os
homens se decepcionaram com o conceito ps-milenista que divulgava a introduo do reino
de Deus imediatamente depois da vitria sobre o domnio dos males sociais na nao onde se
cumpriria a grande misso de se levar o evangelho a todas as criaturas da terra. Nesse perodo,
as pessoas comeam a se desinteressar pelo cristianismo. Os defensores da f partem para um
fundamentalismo estreito que tem como misso, se opor ao liberalismo teolgico e ao
evangelho social da Gr-Betanha e Amrica do Norte.
Com o fim da Segunda Grande Guerra, houve uma reviravolta no quadro religioso de
pases europeus e norte-americanos. As campanhas missionrias no estrangeiro, os ministrios
radiofnicos, a literatura bblica e o ministrio evangelstico do jovem Billy Graham causaram
uma repercusso mundial. Graham, nos primeiros anos de ministrio, comea a integrar a
organizao evangelstica Mocidade para Cristo, e a que se identifica com o movimento
que passa a ser intitulado como neo-evangelicalismo. Essa uma forma nova de ser
evanglico, mais tolerante com as diferenas denominacionais, sem com isso deixar os
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alicerces da f evanglica. A proposta era de um ecumenismo restrito, que abrangesse todos
os evanglicos, mas que respeitasse as divergncias eclesisticas. O neo-evangelicalismo
rejeitava o legalismo e o moralismo excessivo e revelava interesse sobre a dimenso social do
evangelho. Essa forma de encarar a realidade das coisas fez com que os neo-evanglicos
travassem um duro confronto com os fundamentalistas radicais. Para Ockenga, os
fundamentalistas adotavam uma atitude incorreta quando suspeitavam daqueles que no
defendiam todas as suas doutrinas e prticas; tinham uma estratgia errada quando almejavam
uma igreja totalmente pura nos nveis local e denominacional; e obtinham resultados
inadequados pois no conseguiram reverter a mar do liberalismo, nem atingir os problemas
sociais daquele tempo com sua teologia.
Embora hajam diferenas na forma de pensar, os telogos neo-evanglicos
compreendem e aceitam as inmeras semelhanas com o pensamento que era defendido por
seus antepassados fundamentalistas. O que os distinguia, basicamente, era a maior ateno
que os evangelicalistas davam as questes cientficas e a outros desenvolvimentos modernos .
Os evanglicos conservadores defendem uma f racional. Nomes com o de E. J .
Carnell, figuram como grandes pensadores do movimento evangelical. O telogo supra-citado
detentor de um considervel conhecimento em filosofia, cincia e teologia advinda de fontes
no conservadoras. Carnell apresenta-se contrrio a todo esforo que pretenda deixar a
religio afastada das reflexes cientficas e filosficas.
Ainda hoje, pode-se perceber a influncia do evangelicalismo nas denominaes
protestantes, principalmente pela preocupao em defender a s doutrina bblica contra as
diversas correntes teolgicas que tm surgido no presente sculo.

Bibliografia
GONZLEZ, L. J usto. A Era Inconcluso. Editora Vida Nova; Edio 1996. So Paulo
SP.
MONDIM, Batista. Os Grandes Telogos do Sculo Vinte. Edies Paulinas. So Paulo.
1979.

Introduo Teologia Na Amrica Latina No Sculo XX

O Cristianismo transplantado da Europa e Amrica do Norte criou razes no Novo
Mundo do hemisfrio sul, a Amrica Latina, de tal forma que impossvel pensar na
sociedade das Amricas Espanhola e Portuguesa sem considerar a influncia de cinco sculos
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da presena Catlica e do Protestantismo, em suas vrias matrizes, principalmente a partir do
sculo XIX. Segundo o telogo Otto Maduro a teologia no simplesmente produzido no
seio de uma sociedade determinada. No. A teologia produzida no seio de uma Igreja
situada em uma sociedade. Sendo assim, buscaremos refletir a condio atual dos povos
latino-americanos perguntando pelo lugar que a produo teolgica ocupou no delineamento
do mundo latino-americano.

A Teologia Catlica

A Igreja Catlica Apostlica Romana recebe o sculo XX com o modelo tridentino de
Igreja, considerada como sociedade hierrquica perfeita, tendo no clero a expresso
institucional que alcana suas ltimas conseqncias na centralizao do poder papal.
Todavia, o potencial conservador no seio do Catolicismo to presente que j nos anos 20 h
manifestaes de aprovao do retorno do modelo de Cristandade, uma formulao
eclesistica de identificao com a Igreja Medieval, tanto que na maior Igreja da Amrica
Latina viriam a surgir grupos defendendo que o Brasil se tornasse uma nova cristandade.
As primeiras dcadas do sculo XX testemunharam da campanha em prol do retorno do
padroado, revitalizando a posio hegemnica do Catolicismo rompida desde os processos de
contestao colonizao nos diversos paises da Amrica Latina. No Brasil, o discurso oficial
do clero catlico pode ser representado pela seguinte expresso popular: Todo bom brasileiro
bom catlico, e todo bom catlico bom brasileiro.
Houve uma campanha pelo estabelecimento da nova cristandade negando-se outras
expresses religiosas a exemplo do Espiritismo e Protestantismo. Estes dois ltimos j
experimentavam grande avano em paises como Argentina, Uruguai, Colmbia e Brasil,
sendo assim, representavam a contestao Igreja que durante sculos foi a tradutora dos
anseios religiosos dos povos Latino americanos.
Marcante, tambm o contexto da Primeira Guerra Mundial, quando profundas
mudanas so provocadas no seio do catolicismo, principalmente no pontificado de Pio XII
(1922-1939) com o estabelecimento de concordatas que ressaltavam vrios aspectos da Rerum
Novarum de Leo XIII, tal como o respeito ao matrimnio e a rejeio de mtodos
contraceptivos. Pio XI ficou conhecido como o papa da ao catlica, o qual procurou
valorizar o laicato, despertando-o para a tomada de posio frente ao conflito mundial
estabelecido. Pio XI condenou o livre capitalismo e o socialismo estreito que caminhavam
para bipolizar a Europa no que tange as questes de cunho scio poltico.
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Dois movimentos marcaram o revigoramento do catolicismo no sculo XX: a sociedade
bblica catlica, num esforo por promover a compreenso da Bblia. E ainda, o movimento
litrgico que procurou revalorizar elementos da Igreja Antiga com destaque para o canto
gregoriano e o aspecto comunitrio da missa. Mais tarde estes, pois empreendimentos seriam
reforados pelo Concilio Vaticano II.
Entre a crise de 1929 com a quebra da bolsa de Nova Iorque e o anuncio da convocao
do Concilio Vaticano II aconteceu um grande amadurecimento do Cristianismo na Amrica
Latina, com as tomadas de posies polticas e o reconhecimento do papel militante esperado
pelos lideres eclesisticos. Os paises perifricos viviam sob a presso dos centros
desenvolvidos, e isto cedeu espao para a emergncia de nacionalismos onde o populismo
configurava-se em marca descartvel e o comunismo era alvo de contundentes rejeies.
Os anos de 1930 a 1959 foram os anos de criao das vrias organizaes nacionais e
continentais com os maiores esforos direcionados valorizao do laicato em aes
seculares sob a superviso da hierarquia. A ao catlica promoveu congressos eucarsticos,
encontros episcopais de nvel nacional e latino americano, organismos como a J uventude
Operria Catlica (J OC), J uventude Universitria Catlica (J UC), J uventude Estudantil
Catlica (J EC), J uventude Agrria Catlica (J AC).
A reflexo teolgica promoveu uma renovao intelectual com a publicao de obras
com carter social e poltico. Revistas floresceram perguntado pela ao pastoral, catequtica
e espiritualidade. Destacamos a Revista Eclesistica Brasileira (Petrpolis), Teologia e Vida
(Santiago), Stronata (Buenos Aires).
De 25 de julho a 4 de agosto de 1955, reuniu-se no Rio de J aneiro a I Conferencia do
Episcopado Latino Americano, quando foi fundado o Conselho Episcopal Latino Americano
(CELAM). Este foi um perodo de crise em toda a Amrica Latina face estagnao dos
programas de industrializao e desenvolvimento social que haviam nos anos 30 suscitando
nova esperana s populaes carentes.
O subdesenvolvimento que fruto do desenvolvimento das potencias estrangeiras
causou um caos social na Amrica Latina dos anos 60, quando 20 a 25% de crianas com
menos de 5 anos morriam por desnutrio, 40 % de crianas nascidas nestes paises morriam
de enfermidades curveis, os ndices de desemprego e misria superavam todas as previses,
criando-se ento, uma atmosfera propicia luta pela libertao da dependncia economia
estrangeira, sendo Cuba o maior exemplo de esperana para a Revoluo necessria na
Amrica Latina.
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Os milhes de latinos americanos que aguardavam por uma nova viso do Cristianismo
obtiveram como resposta da conferncia do CELAM em Medelln, no ano de 1968 a opo de
cristos, sacerdotes, religiosos e leigos por compreender a salvao em termos da libertao
de tudo que impede o desenvolvimento do homem, explorando-o e submetendo-o s injustias
que andam na contra mo do estabelecimento do Reino de Deus entre os homens.
Centenas de movimentos cristos, declaraes pblicas e atividades de cristos ligados
conscientizao e mobilizao das massas apareceram. Surgia a Revista Cristianismo e
Revoluo na Argentina. Foi criada a pastoral dos bispos do Terceiro Mundo, congregando
setores progressistas da hierarquia comprometidos com a Teologia da Libertao.
Seguindo o caminho de Camilo Torres, o bispo Antonio Fragoso desafia publicamente o
regime de torturas dos governos militares brasileiros. No Uruguai, o padre Zaffarone ingressa
na clandestinidade aps a publicao de Sacerdcio e Revoluo na Amrica Latina. No
Panam, o padre Perez Herrera conclama os cristos luta contra o imperialismo. Na
Colmbia, German Guzman continua o trabalho de Camilo. Na Bolvia, oitenta sacerdotes
organizam-se para pedir uma revoluo nos seio da Igreja e ainda, vale destacar, o manifesto
dos trezentos e cinqenta sacerdotes brasileiros que chamam o povo conscincia e mudana
revolucionria, e que conseguem reunir quase mil assinaturas de sacerdotes comprometidos
com a Revoluo na Amrica Latina.
A Teologia da Libertao rene telogos como Gustavo Gutierrez, J uan Luis Segundo,
Segundo Galilea, Henrique Dussel, J os Oscar Beozzo, Leonardo Boff, Ral Vidales,
Ronaldo Munoz, Severino Croatto, Riolando Azzi, Clodovis Boff, J oo Batista Libanio, J on
Sobrino, Carlos Mesters, J os Comblin, J orge Piscley, Gilberto Gorgulho, Ana Flora
Anderson e Milton Schwantes. Estes nomes comprometeram-se com o processo de libertao
dos pobres na Amrica Latina atravs da reflexo e construo de uma Igreja revolucionria
no seu tempo.
Essa perspectiva secular quer associar a salvao ao processo histrico de libertao,
abrindo-se para temas relacionados realidade social e ao poltica. portanto, uma ruptura
com a teologia europia e norte-americana, produzida em paises desenvolvidos e
reducionistas no entendimento da doutrina da salvao, j que postulam-na fora da histria e
depois da morte.
O problema teolgico levantado pelos telogos latino americanos a relao existente
entre libertao real, pela qual, o continente aguardava ansiosamente, o conceito bblico-
teolgico de salvao. Procuram redescobrir o carter histrico e materialista da f bblica, o
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qual no combina com o pensamento antolgico grego e hegeliano de carter idealista, e que
servia para articular a teologia crist desde o tempo dos telogos gregos.
A Teologia da Libertao toma o evento da vitria hebria sobre os exploradores
egpcios como modelo de compromisso e esperana pela interveno divina na histria,
promovendo libertao e a realizao da justia como condio indispensvel ao
desenvolvimento do homem novo no Reino de Deus. Este Reino rene pobres,
marginalizados e explorados, ainda na terra. Condena as injustias das estruturas econmicas
e scio-polticas como pecado social contrrio f no Deus de Israel.
A extenso destes novos ventos trazidos pela luta de cristos latino-americanos alcanou
a esfera poltica prtica na oposio aos regimes ditatoriais que casavam direitos polticos,
torturavam opositores, negavam direitos constitucionais e impediam o pleno funcionamento
de partidos polticos. Esses governos submeteram-se a uma politica desenvolvimentista de
rendio frente ao capital financeiro internacional.
A ao da Igreja Catlica Romana identificava-se nos anos 60 e 70 cada vez mais com
os setores populares da Igreja, e isto mesmo era uma conseqncia das propostas retiradas do
Conclio Vaticano II. A maior novidade foi o surgimento das CEBs (Comunidades Eclesiais
de Base) dando um perfil mais participativo vida da Igreja e possibilitando o resgate do
trabalho leigo to esquecido pelas hierarquias catlicas.
Paralelamente o Conclio Vaticano II comentou um crescente dilogo da Igreja Catlica
com cristos de outras denominaes. Isto aconteceu de forma prtica no trabalho em reas de
conceitos indgenas, rurais e religiosos. Na reflexo teolgica, a abertura para o movimento
ecumnico foi uma conseqncia de outras tentativas inauguradas por setores do
Protestantismo, a exemplo da Assemblia que deu origem ao Conselho Mundial de Igrejas em
1948.
Organizaes ecumnicas avanaram no dilogo entre igrejas crists, tal como o
CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Crists) e o CIMI (Conselho Indigenista Missionrio),
reunindo cristos catlicos e protestantes de Igrejas fixadas em solo brasileiro. Recentemente,
este dilogo tem sido estabelecido em relao aos cultos afros de presena significativa e
plural na Amrica Latina, trazendo tona questes que passam pela discusso de gnero,
etnia, cultura e tolerncia religiosa.
Mesmo com toda a efervescncia teolgica progressista, a Igreja Catlica teve nos seus
quadros, clericais setores ultra-conservadores de direita, os quais defendiam a manuteno do
modelo eclesistico que vigorou at o sculo XIX na Amrica Latina ou seja, de cooperao
entre Igreja e Estado e permanncia de uma Teologia sumamente europia. Muitos dentre
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estes sacerdotes aliaram-se a regimes populistas e ditatoriais, defendendo a propriedade
privada e opondo-se aos movimentos sociais de carter contestatrio ao Status quo social e
ideolgico.
Os conflitos no interior da Igreja foram freqentes, no havendo como desconsiderar o
clamor por renovao e atualizao da palavra da Igreja. Os conflitos sociais chamavam a
Igreja Catlica participao no processo histrico latino-americano. O crescimento
explosivo de Seitas Orientais Espritas e de grupos Pentecostais ou Neopetencostais,
confrontavam a Igreja com a sua deficincia na ao pastoral e litrgica.
O Catolicismo Romano ocupou um lugar fundamental para a formao scio-cultural da
Amrica Latina, tanto que os grupos protestantes missionrios mantiveram-se numa postura
anti-catlica radical no sculo XIX, e no sculo XX fazia perdurar esta distncia frente ao
Catolicismo, utilizando-se do argumento de que o atraso da Amrica devia-se ao Catolicismo,
com sua dificuldade de absolver os valores da modernidade e inserir-se na nova Ordem
Mundial em gestao.
Os pases da Amrica Latina formaram-se em meio a uma confusa relao entre Igreja
e Estado, portanto foi sempre garantindo Igreja Catlica o espao hegemnico de guardi
das almas no Novo Mundo. Por ser a maior e mais tradicional expresso de religiosidade a
Igreja Catlica foi alvo de duras crticas por parte de grupos religiosos que instalando-se nos
pases latino-americanos; tinham como proslitos os muitos catlicos, dentre os quais estava
uma parcela de seguidores nominais vulnerveis ao de grupos com uma ao mais
agressiva e direcionada vida das pessoas.
A teologia catlica, ainda no popularizada o quanto se fazia necessrio, perdia espao
na segunda metade do sculo XXI para denominaes evanglicas. Estas denominaes
alcanaram as massas valendo-se de poderosos meios de comunicao como a televiso, o
rdio e o jornal. Seus pastores afinavam-se cada vez mais com os suspiros do povo humilde
e explorado, oferecendo em suas reunies cura, exorcismal e prosperidade.
A fora neopentecostal influenciava denominaes protestantes histricas e a Igreja
Catlica, que diante da evaso de fiis encontrava-se preparada para aderir nos anos 70
Renovao Carismtica Catlica, oriunda de reunies avivalistas em acampamentos jovens
dos catlicos norte-americanos, e que adentraria rapidamente em inmeras dioceses catlicas
do 3 Mundo.
Por ora, difcil fazer uma avaliao mais aprofundada da repercusso carismtica no
seio do Catolicismo, no entanto, este movimento tem feito perdurar posturas conservadoras,
ao tempo em que tem trazido fiis para suas reunies onde h tudo o que se espera de um
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culto evanglico neopentecostal. Padres-cantores animam auditrios vidos por curas e
manifestaes extticas; redes de televiso e rdio so ocupadas diariamente por eventos e
massas de jovens que redescobrem a razo de se declararem catlicos.
certo que este movimento tem recebido criticas de setores progressista da Igreja, os
quais alegam a pobreza teolgica existente na formao dos clrigos e na conduo do
rebanho, de forma que o final do sculo XX tem testemunhado uma ascenso do Movimento
de Renovao Carismtica Catlica, diferentemente das alas progressistas que aps o trmino
da guerra-fria e a crise de modelos socialistas no planeta tem amargado declnio no interesse
por sua abordagem frente Bblia e f crist.

A Teologia Protestante

No Brasil, o Protestantismo nos seus primrdios era visto como uma religio de
estrangeiros e brasileiros marginalizados. Perseguido pelo Catolicismo, apoiou a causa
republicana e a separao entre Igreja e Estado, porque tais iniciativas diminuam o poder do
catolicismo. A sua conscincia poltica limitava-se a isso, devido pertencer tanto na origem
como nas convices e financiamento ao capitalismo liberal, que era visto como uma viso
secularizada da f crist. Ousou depois falar em justia social e comeou-se a elaborar uma
Teologia a partir desse pobre e injustiado, do qual se constitui a igreja na Amrica Latina.
A histria da Igreja na Amrica Latina composta de trs perodos distintos: comea
com a chegada dos espanhis e portugueses ao nosso continente, trazendo consigo um
cristianismo Ibrico. O segundo perodo determinado pelo capitalismo industrial, e o
terceiro perodo j em meados do sculo XX, traz consigo mudanas na rea poltico-
ideolgica. Foi o perodo em que evidenciou-se dentre outras coisas o Liberalismo,
Positivismo, Cientificismo, a expanso protestante e a dependncia econmica . O sculo XX
vivenciou as duas grandes guerras cujo objetivo era determinar a hegemonia do capitalismo
mundial.
Para a Amrica Latina era o tempo do populismo e das burguesias nacionais, tempo em
que o protestantismo passa a considerar o continente como sendo pago, iniciando a sua
penetrao com o evangelismo de misses. Aconteceram trs congressos fundamentais nessa
iniciativa: o congresso do Panam (1916) , Montevidu (1925), e Havana (1929).
Foi o perodo do projeto desenvolvimentista Aliana para o progresso (1955 a 1965)
no qual o protestantismo esteve nitidamente a servio do capitalismo que o financiava, nasce a
Teologia da Libertao, fazendo uma opo pelos pobres e apostando numa proposta da igreja
20
inserida no contexto do socialismo. Teologia esta que surgiu a partir dos anseios e dos gritos
de liberdade do continente. Em 1945, poca da II guerra mundial, governos com a
complacncia da igreja extraditaram judeus na Amrica Latina. Entre 1930 e 1945 a igreja
passa a adotar um discurso populista; no Brasil um lder protestante adota o slogan todo
luterano nazista. Chamava-se a ateno para o perigo que representava para o futuro das
naes Latino Americanas, os protestantes, espritas e comunistas, enquanto os protestantes
afirmavam que a responsabilidade do subdesenvolvimento do continente devia-se a forte
presena do catolicismo.
Por volta de 1954, com a queda dos regimes populistas na Amrica Latina, o discurso
populista foi abandonado tambm pelas igrejas crists. O perodo de 1930 a 1959, foi
dedicado a organizao nacional e continental, sendo que foram os protestantes iniciadores
dessa organizao criando: confederaes evanglicas, congressos de escola dominical,
encontros de presidentes de igrejas a nvel regional. Mesmo inferiorizados numericamente, os
protestantes usaram a mesma estratgia dos catlicos ; criaram ligas de crianas, de jovens,
senhoras e homens, tendo cada uma suas prprias publicaes. Promoveram encontros de
agricultores, comerciantes e operrios, alem dos encontros de massa protestantes.
A dcada de 1950, foi marcada pela preocupao social por catlicos e protestantes
referente ao perigo comunista presente no meio operrio. Foram criadas tambm associaes
de seminrios Teolgicos e associaes de estudantes de Teologia.
O Continente Latino Americano viveu um perodo de turbulncias entre 1959 a 1985.
No nosso pas, a partir de primeiro de abril de 1964, passamos a viver um perodo de opresso
com o regime militar. Sucederam-se golpes militares em praticamente toda a Amrica Latina:
Bolvia (1971 ), Uruguai (1973), Chile (1973), Peru (1975), e Argentina (1976). Toda a
misria do continente foi exposta, e nesses anos conturbados a Teologia teve que buscar de
forma muito sria e responsvel, subsdios para que o povo Cristo tivesse a sua dor
amenizada, e no perdesse as esperanas no reino de Deus.
Destacou-se como grande pensador teolgico nessa poca Richard Shaull, que
percebendo as tendncias revolucionrias na Amrica Latina publicou em 1966 o seu livro:
as transformaes profundas luz de uma Teologia Evanglica. Ao lado dele podemos citar
como autnticos representantes da Teologia da Libertao no mbito evanglico nomes como:
Emlio Castro, J lio de Santa Ana, J os Miguez Bonino e Rubem Alves. O perodo
compreendido entre 1970 e 1975, foi aquele no qual a Teologia da Libertao se expandiu
livremente. Foram realizados vrios congressos, sendo que o primeiro deles ocorreu em El
Salvador no perodo de 8 a 15 de julho de 1972. Vrias publicaes ocorreram tambm como:
21
a F em busca de eficcia de Bonino, e a Theology human hope de Rubem Alves, que
ostentou esse ttulo devido a editora no concordar com o ttulo original Teologia da
Libertao.
Houve uma grande influencia do desenvolvimento poltico da Amrica Latina com a
Teologia da Libertao, o que levou os Telogos latino-americanos a publicarem obras como:
Teologia a partir do cativeiro de Boff, e a Fora histrica dos pobres de Gutierrez. As obras
emergentes nesse perodo, apresentavam a Libertao como uma luta paciente e persistente do
povo latino americano, que se encontrava vivendo em um contexto onde predominava a
opresso e a perseguio, e longe de tornar-se um entrave, esse clima de opresso e
perseguio determinados pelo Estado de Segurana Nacional existente na Amrica Latina,
fez com que a Teologia da Libertao ganhasse fora, se espalhasse e proliferasse no
movimento popular das comunidades eclesiais de base, principalmente no Brasil bem como
no Mxico, El Salvador, Peru Chile e Bolvia. Nessa reflexo sobre a prxis dos pobres,
engajaram-se tambm a Revista Eclesistica Brasileira e a revista pginas do Peru.
Ocorreram tambm muitas distribuies de folhetos, cpias de conferncias e os
cnticos contriburam bastante na divulgao da Teologia da Libertao, j que os seus
Telogos no dispunham de grandes bibliotecas, e fora-lhes negado o acesso a ctedras
teolgicas.

Pentecostalismo

Na segunda metade do sculo XX, o Protestantismo Latino Americano passou por
profundas mudanas, onde destacamos o grande crescimento do Pentecostalismo
permanecendo porem inalterado o nmero de cristos.
Em 1986 na Argentina, Honduras, Nicargua, Bolvia, Repblica Dominicana e Guiana
Francesa, o ndice de protestantes era de 5 a 10%. No Brasil, El Salvador, Haiti, Panam e
Suriname era esse ndice de 10% a 20% da populao. Em Belize, Chile, Guatemala, Guiana e
Porto Rico 20% a 30%. Na regio Andina, Paraguai, Uruguai, em Cuba e no Mxico,
inferiores a 5%. E a maioria absoluta era de Pentecostais.
Por volta de 1910 o Protestantismo tinha se implantado no continente Latino
Americano. A sua dependncia econmica particularmente advindas das sociedades
missionrias Norte Americanas, fez com que a sua presena estivesse relacionada tambm
presena do capital Norte Americano. Por esse motivo, aps a crise econmica mundial de
1929, os regimes nacionalistas e populistas viam o Protestantismo diretamente relacionado ao
22
Imperialismo Norte Americano. Na realidade, esses posicionamentos direcionavam-se ao
Liberalismo, porque historicamente o Protestantismo esteve ligado na Amrica Latina ao
Liberalismo e Maonaria, e onde houve uma reao mais forte ao Liberalismo de igual
modo se atacou o Protestantismo, a exemplo da Colmbia e Mxico. Nesse perodo que
surge a nova tendncia religiosa, o Pentecostalismo, considerado pelo Chile e pelo Brasil
como fanatismo doentio ou cerimnia de ndios. Vista como uma religio popular,
menosprezada pelas elites e pelo Protestantismo liberal, surge como uma religio
independente antagnica poltica Protestante.
Aos poucos foi crescendo e foi ignorada at 1960, quando o Protestantismo histrico
descobriu-se minoritrio em relao ao novo movimento, apresentava-se como um
movimento efervescente popular e de tradio oral, dedicado s massas. A partir de 1960,
houve ento uma acelerada mutao no campo religioso Latino Americano, que apresentou
em algumas regies um catolicismo antes hegemnico e agora representado por menos da
metade da populao. Os pastores passaram de uma funo liberal democrtica ao papel de
dono da fazenda. Passaram a ser administradores religiosos, autoritrios e antidemocrticos,
assumindo uma postura adequada lgica das mentalidades religiosas populares. O
Pentecostalismo passou a fazer o papel pertencente ao Catolicismo no passado, tornando-se na
realidade em um Catolicismo popular de substituio. Criou-se um mundo popular habitado
por demnios, espritos, revelaes e curas divinas, que passou a prevalecer na histria
religiosa do sculo XX.
No Pentecostalismo, o povo humilde e simples identificou-se, reconhecendo que sua
religio fra relegada a segundo plano pela romanizao Catlica e pelo Protestantismo
histrico. Reconhece-se isso como uma aculturao que instalou-se na Amrica Latina, como
uma continuidade do universo cultural do seu povo simples. Dentro desse cadinho de
movimentos religiosos e sincrticos Latino Americanos, podemos observar o crescente
caciquismo religioso correspondente ao tempo dos coronis. Assim, Martin N. Dreher
assevera que O cristianismo assimila e se deixa assimilar no contexto Latino Americano, por
uma cultura religiosa e poltica autoritria que se desenvolve de acordo com a lgica da
negociao corporativa.
O Pentecostalismo veio quebrar o esquema ou a idia de que s era permitido a
letrados e doutores ensinar e curar. Hoje, esse movimento se constitui na grande exploso
religiosa do pas, est ligado a um modelo poltico social que engloba um povo que vive na
periferia fsica, social e espiritual do nosso pas, e assume uma funo social ao tempo em que
ameniza o sofrimento de um povo oprimido, trazendo um discurso de resignao,
23
compensando a misria ,os conflitos sociais e a opresso, com a promessa de salvao. Traz
tambm um discurso de revolta e resistncia, ao negar o mundo com seu sistema opressivo, e
ao afirmar que o mesmo do diabo e a sociedade dominada pelo diabo deve ser substituda
por um sistema mais humano, realmente comunitrio e compensatrio.
A primeira igreja Pentecostal a surgir no Brasil a Congregao Crist do Brasil em
So Paulo em maro de 1910. Em 1930 j contava com 30.800 membros, em 1962 com
600.000, dos quais 264.000 eram batizados. Possua 777 prdios prprios e 993 alugados,
concentrava-se em So Paulo e Paran.
Em novembro de 1910 chegaram em Belm do Par os Batistas Daniel Berg e Gunnar
Vingren, e segundo eles vieram para trazer o Esprito Santo para a igreja Batista. Esses dois
irmos se filiaram Igreja Batista de Belm, e em 12-06-1912 foram excludos, por pregarem
o Batismo do Esprito Santo ou Glossolalia, criando ento a Assemblia de Deus. Em 1930,
havia Assemblia de Deus em todos os Estados da Federao, e j contavam com 14.000
membros. At 1964, apresentando uma taxa de crescimento de 15% ao ano chegou a um total
de 950.000 adeptos tornando-se a maior igreja Protestante da Amrica Latina. Em 1965 os
grupos Pentecostais cismticos j somavam um total de 30, dos quais o maior era a igreja
Pentecostal O Brasil Para Cristo, fundada por Manoel de Melo, ex pregador da Assemblia de
Deus e colaborador da Cruzada Nacional de Evangelizao. Esse grupo tambm conhecido
como Igreja do Evangelho Quadrangular, de origem Norte Americana. Teve tambm um
grande crescimento, e em 1963 contava com 500.000 adeptos e possua um templo em So
Paulo com capacidade para acomodar 25.000 pessoas.
Essa expanso Pentecostal aconteceu sem auxilio externo, seja de ordem financeira ou
pessoal. Os crentes de denominaes Protestantes tradicionais, acolheram de bom grado os
Pentecostais que traziam consigo um Evangelho cuja doutrina era simples e descomplicada,
diferente do Cristianismo racional dos missionrios Protestantes, nem sempre compreendido e
aceito pelos membros mais simples. As doutrinas confessionais eram muito complexas para
eles. O Pentecostalismo, ao contrrio, viabilizava uma prtica crist mais espontnea, uma
revelao direta, calor e vibrao em suas reunies. Aliado a isso, abria a possibilidade a cada
crente de tornar-se pastor, ensinar e curar.
Atribue-se a esses fatores o seu crescimento que em 1930 representavam 10% do
Protestantismo. Em 1950, 2/3 e em 1965- 68,5% de 244.800 passaram a 2.239.000 adeptos.
Um outro fator a considerar que a industrializao, a alterao da estrutura agrria e a
migrao interna contriburam para o aumento populacional da periferia, gerando o pblico
ideal ao Pentecostalismo, que direcionava a sua mensagem aos marginalizados da sociedade,
24
que viviam em insegurana social e lhes oferecia a salvao. Isso acontecia porque os
Pentecostais no eram especialistas teolgicos e eram autnomos, no dependendo como os
Protestantes tradicionais e os Catlicos de ingerncia exterior. O Pentecostalismo era o povo
pregando para o povo, a doutrina era simples e descomplicada, era apresentada uma promessa
de cura divina para um povo onde havia carncia de tratamento. De 1960 a 1970 os
Pentecostais cresceram 101% e o restante do Protestantismo 44%.

Neopentecostalismo

Dentre os diversos grupos neopentecostais destaca-se ao lado da igreja Deus Amor, a
Igreja Universal do Reino do Deus, que tem a caracterstica de ser uma igreja episcopal, uma
igreja de necessidades, uma igreja de mercado, uma igreja supermercado.
A diferena que o pentecostalismo se caracteriza por uma estrutura congregacional
desde o seu ponto visto eclesiolgico, a IURD se encontra estruturada em seu fundador, o
Bispo Edir Macedo que por fora do estatuto detm a direo autocrtica e vitalcia da igreja.
Torna-se uma igreja de necessidades a partir do momento que busca interpretar e
responder as necessidades do individuo que podem ser religiosos emocionais e sociais. Tendo
os seus templos abertos durante todo o dia, nos seus cultos so permitidos exteriorizar todo o
tipo de emoes nas oraes cantos e gestos. O que d as pessoas um sentimento de dignidade
e respeito em detrimento de uma vida de opresso e mal tratos, uma vida dura de se viver e
alm do mais, muitas vezes so ajudados atravs de curas, exorcismos e motivao para
abandonar as drogas e outros vcios.
Torna-se uma igreja de mercado j a partir da sua localizao geogrfica. Fica
construda em locais estratgicos por onde passam muitas pessoas. Utiliza-se muito da mdia
para anunciar os seus produtos, uma igreja diferente onde a comunho profunda
experienciada nas outras igrejas substituda pelo encontro breve como acontece nos
SHOPPING CENTERS que possuem uma clientela flutuante e mvel estimulada pela
televiso, a comparecer de forma festiva com muita msica e diverso visando o aumento do
comrcio.
semelhante ao supermercado tambm no sistema econmico quando oferece um
produto apetitoso por um preo adaptvel ao momento econmico, usando-se a filosofia
mercantil de sempre vender mais. Prega-se ento a doutrina do dzimo, mas apesar disso a
relao membro-igreja no deve se caracterizar apenas pelo cumprimento formal do dizimista
25
ao dizimar mas sim, deve vim acompanhado por ofertas voluntrias por amor, cujo valor
fixado segundo a vontade de cada um.
atravs desse proceder que o fiel ter uma vida em abundancia, paz, sade, xito
econmico e prosperidade. Na teologia da IURD no cabe aquilo que fundamental para o
cristianismo: A Graa.
Mesmo identificando-se em sua teologia com alguns elementos do pentecostalismo
como: Batismo pelo Esprito Santo, glossolalia, santificao e cura divina e, de certo modo,
exagerando no exorcismo, a IURD, tem os seus pontos divergentes do pentencostalismo no
que se refere a importncia que se d ao significado da obra de J esus com o seu slogan J esus
Cristo o Senhor afirma que em nome de J esus e mediante o poder do Esprito Santo que
os demnios so expulsos, da a relao de J esus com o homem ser de libertador e libertado e
no de redentor e redimido. A libertao a que se refere no a pesada carga de culpas do
pecado e sim dos males espirituais, dos demnios que provocam sofrimento, no enaltecem a
graa salvadora de J esus, que perde o seu significado.
Outra divergncia vem implcita em um outro slogam Pare de Sofrer, entrando em
choque com os ensinos do protestantismo e pentecostalismo onde se apresenta o sofrimento
de J esus como tendo conseqncias na vida do cristo e por conta disso se prepara o cristo
para encarar o sofrimento em tempos de provao.
No neopentecostalismo com o seu supermercado pentencostal nada mais de graa,
pois a graa de Deus inexiste. Ser o fim da sola gratia?


Bibliografia
DREHER, Martin Norberto. A Igreja Latino-americana no Contexto Mundial. So
Leopoldo. Sinodal. 1993. (Coleo: Histria da Igreja, vol.4).
DUSSEL, Enrique. Histria da Igreja Latino-americana. So Paulo. Paulus 1989.
Trad.Eugnia Flvian.
HOORNAET, Eduardo. Histria da Igreja na Amrica Latina e no Caribe: 1945 1995: O
Debate Metodolgico. 1995. (Coleo: Cehila). Trad. Ephroim Alves.


26

TELOGOS DA AMRICA LATINA

GEORGE V. PIXLEY

Biobibliografia

Nasceu em Chicago, nos Estados Unidos da Amrica. Viveu a infncia e a juventude
na Nicargua, Amrica Central. Hoje, reside em Mangua, Nicargua. pastor da Igreja
Batista. Doutorou-se em Estudos Bblicos pela Faculdade de Teologia da Universidade de
Chicago. A partir do ano de 1963 a 1975 foi professor de Antigo Testamento no Seminrio
Evanglico de Porto Rico. Atualmente professor da mesma cadeira no Seminrio Batista e
professor de Histria de Israel no Instituto Teolgico de Estudos Superiores, na cidade do
Mxico. Durante sua peregrinao, publicou diversas obras e algumas foram traduzidas para o
dialeto portugus. pastor da Igreja Batista em Nicargua. um conceituado biblista da
Amrica Central.
Mesmo natural dos Estados Unidos, dedicou a sua vida ao ensino da Palavra de Deus
no contexto latino-americano.
autor de vrios livros, entre os quais esto: A Histria de Israel a partir dos pobres
(1989); O Reino de Dios (1977); xodo una lectura evanglica y popular (1983); La
resurreccin de J esus, el Cristo una interpretacin desde la lucha por la vida (1999);
Escreveu tambm inmeros artigos para revistas de educao teolgica, dentre elas a
Ribla Revista de Interpretao Bblica Latino-Americana. No momento, Pixley faz parte do
Conselho de Redao dessa revista. Pixley, tambm redator da revista Nicaragense de
Teologia: XILOTL.

Pensamento Teolgico

Pixley procura fazer uma leitura dos textos bblicos a partir dos pobres e oprimidos. E
para isso, pontua duas chaves hermenuticas para interpretar o texto bblico. Pois ele diz que
os documentos deixados por qualquer histria sempre existem interesses que ocultam o
sentido dos acontecimentos. Nestas circunstncias a busca do sentido toma, s vezes,
caractersticas detetivescas.1

1
Jorge PIXLEY. A Histria de Israel a partir dos pobres, p. 9
27

A sua primeira chave de leitura teolgica o xodo. Afirma que a sada da escravido
de Israel do Egito no uma mera histria. na verdade, o evento originrio do povo de
Israel,2 significando que Israel contava sua histria a partir do xodo.
Portanto, a sada de Israel do Egito vai legitimar num fato revelador. Israel passa a
conhecer a Deus como J av, o Deus que os libertou da escravido (...). [Pois] todo Deus que
no fosse um salvador dos pobres no era o Deus verdadeiro de Israel.3
Pixley conclui dizendo que um Deus que legitima a opresso dos camponeses, por
mais solene que se apresente seu culto, no o Deus verdadeiro. Pois o Deus verdadeiro
unicamente aquele que ouve o clamor dos oprimidos e os liberta de sua opresso.4
A ltima chave hermenutica que Pixley pontua a sociologia. O prprio Israel
reconhece que fora libertado pelo poder de J av. Por isso se torna extremamente importante a
conscincia de Israel ser um povo pobre e oprimido que, junto com J av, luta por sua vida5
e conseqentemente por sua sobrevivncia e libertao.
Para caracterizar os oprimidos nas comunidades da Palestina antiga preciso
conhecer a dinmica que sustentava estas sociedades.6 Deparamos com uma relao sinttica
do tipo de sociedade que prevaleceu durante o perodo do antigo Oriente, especificamente no
Egito.
No xodo so apresentadas trs caractersticas da sociedade: o rei, os servos do rei e o
povo.
O povo era a massa camponesa que somava a grande maioria da populao. Vivia em
pequenas aldeias. As aldeias eram as unidades produtivas da sociedade. Cada aldeia tinha a
sua obrigao de produzir o suficiente para as suas prprias necessidades. Era governada
internamente pelos conselhos de ancios, os chefes de famlia.7
O rei do Egito era o proprietrio de todas as terras, de todos os animais e de todas as
pessoas do pas. A quinta parte da produo de cada aldeia pertencia ao rei.
Os servos do rei eram os empregados da coroa. Que em troca de seus servios recebiam
provises do tesouro real.
Portanto, de algum modo todos eram subordinados/escravos ao poderio do rei. O rei
ocupava um lugar nico na sociedade. Da, Pixley conclui que

2
Idem.
3
Idem, p. 10
4
Idem.
5
Idem.
6
Idem, p. 11
7
Idem.
28

A experincia dos sditos era de que seu rei era um deus mortal. Porm esta limitao, a sua
mortalidade, revelava a fragilidade de sua posio divina e exigia um aparelho religioso que
celebrasse a grandeza da nao, e dentro dela o lugar nico e indispensvel do rei-deus. O
aparelho religioso dentro de uma sociedade asitica ou tributria est diretamente vinculado
pessoa do rei. Assim como rei o general do exrcito, tambm o Sumo Sacerdote que
ordena e controla toda atividade religiosa. Necessita de profetas e telogos para elaborar uma
teologia que justifique seu domnio absoluto.8
Portanto, as chaves hermenuticas apresentadas acima, sero extremamente
importantes para se ler toda a Bblia.


EDUARDO HOORNAERT

Biobibliografia

Nasceu na histrica cidade de Bruges, na Blgica (Europa), em 1930. Estudou
Filosofia e Histria Antiga na Universidade de Lovaina e Teologia em Bruges. Trabalhou dois
anos na frica como professor. Vive no Brasil desde 1958. Lecionou Histria da Igreja
durante mais de trinta anos em diversos Institutos Teolgicos do Nordeste, em J oo Pessoa,
Recife e Fortaleza. Professor visitante no mestrado de Histria na Universidade Federal da
Bahia e atualmente continua estudando a histria das origens crists. membro fundador da
Comisso de Estudos da Histria da Igreja na Amrica Latina (CEHILA). Atualmente reside
em Salvador, na Bahia.
Suas principais obras so: O cristianismo moreno no Brasil (1991); tica e filosofia da
libertao; Formao do catolicismo brasileiro: 1550-1800 (1991); Histria da Igreja na
Amaznia; Histria da Igreja na Amrica Latina e no Caribe; Histria da Igreja no Brasil (co-
autoria com Riolando Azzi); Ensaios de interpretao a partir do povo: primeira poca; A
memria do povo cristo uma histria da Igreja nos trs primeiros sculos; Os anjos de
Canudos; Os cristos da terceira gerao (1997); Voz do Padre Ccero e outras memrias,
colhidas junto a Maria da Conceio Lopes Campina (1985); Hermas no topo do mundo
(2002); Verdadeira e falsa religio no Nordeste (1972); Crnica das casas de caridade fundada
pelo Pe. Ibiapina (1981); O movimento de J esus (1991); As comunidades; O modelo latino; A

8
Idem, p. 12
29

grande marcha da humanidade; Protagonistas e testemunhas da conquista (co-autoria com
Paulo Tonucci); Padre Ibiapina e a Igreja dos pobres.

Pensamento Teolgico

D para se perceber nos escritos de Hoornaert que, sendo um pesquisador incansvel e
polmico, acompanha ativamente a experincia das comunidades Eclesiais de Base e escreve
Histria a partir da tica do povo, especialmente, ndios, negros, escravos, camponeses sem
terra, operrios, mulheres e os pobres de um modo geral.
Ele escreve histria a partir da linha da libertao. Escreve histria a partir do homem.
Hoornaert diz:
Queremos partir do homem como ele realmente . Ora, o homem antes de tudo um ser
corporal, talvez demasiadamente corporal para os idealistas de sempre. A luta pela
sobrevivncia do corpo ocupa mais de 90% da histria humana, embora nem sempre os
documentos escritos reflitam fielmente esta proporo. Eis a grande verdade esquecida: a
realidade da fome e da luta pela sobrevivncia estigmatiza a histria da humanidade.9
Hoornaert vai dizer que o ser humano basicamente necessita de trs elementos
extremamente significativos para a sua sobrevivncia: o alimento, a sade e o sonho. Estes
so os motivos de Hoornaert fazer Histria a partir dessa identidade corporal do homem.
Em suma, como telogo e historiador da Igreja, Hoornaert diz que o ano de 1942 foi
Uma data fundamental e ao mesmo tempo paradoxal, no s para os pases invadidos pelo
colonialismo europeu mas para a histria do mundo cristo em geral. 1492 no foi s a data
do descobrimento, da invaso, da inveno ou do encobrimento da Amrica, foi tambm a
data em que um modelo de cristianismo se exps aos olhos do mundo, momento da exposio
universal do cristianismo ocidental.10
Portanto, o interesse maior do historiador Hoornaert tentar descobrir s respostas que
as culturas colonizadas deram proposta crist que lhes veio com a colonizao, os
encontros e desencontros, as resistncias e as criatividades, a originalidade e o carter prprio
do ser cristo em terras colonizadas.11



9
Eduardo HOORNAERT. O movimento de Jesus, p. 10
10
Idem, p. 24
11
Idem.
30
HUGO ASSMANN

Biobibliografia

Hugo Assmann nasceu em 1933, no Brasil. Estudou filosofia e sociologia em seu pas
natal e teologia em Roma. licenciado em cincias sociais e doutor em teologia. Deu curso
de teologia em vrias universidades brasileiras. Foi visitante professor na Faculdade de
Teologia da universidade de Miinter (Alemanha Ocidental), foi secretrio dos estudos de
Iglesia e Sociedade em Amrica Latina e desde 1974, est em So J os (Costa Rica), como
professor na escola de J ornalismo da universidade de Costa Rica.
Obras principais: Todo pensamento teolgico de Assmann est reunido no volume
Pensamento teologia desde la Pdascis de la libracion, Salamanca, 1973, que retoma e
desenvolve, integrandoo com outros esisais, o volume Opression Liberacion, desafia a los
Cristianos, Montevidude la liberacion de Montevidu, 1970.
Pensamento Teolgico

Com Gustavo Gutirrez, Ihugo Assmann justamente relacionado entre os fundadores da
teologia da libertao. Com efeito no ensaio teo de la liberacion, Assmann foi o primeiro a
elaborar de forma sistemtica um projeto desta nova teologia, dando-lhe um mtodo preciso
fixando-lhe tarefas especficas e suldinhando a novidade da teologia da libertao frente s
outras novas teologia (teologia da esperana, teologia poltica e teologia da revoluo).
Em teologia de la libneracion, Assmann desenvolve, antes de tudo, um exame profundo da
linguagem da libertao e d relevo s razes que justificam sua introduo na teologia. Na
sua opinio, o termo libertao implica apenas um julgamento negativo global trazido a
realidade presente e, portanto, a urgncia da mudana: nada mais que isso. Em si mesma, a
apalavra pode ter um significado tanto revolucionrio como reformista. Tudo depende da
anlise do contedo.
A J ustificao efetiva, real provm de uma nova tomada de conscincia da prpria
situao por parte dos cristos da Amrica latina. trata-se de uma experincia histrica que
tem um peso determinante, pois tocou as conscincias. Ns nos apercebemos que,
historicamente, no somos povos em via de desenvolvimento, por estarmos dominados o que
muito diferente.
Passando, depois, a determinar mais exatamente o significado do termo libertao ,
Assmann destingue trs usos deste termo: poltico, filosfico e teolgico. A palavra
31
libertao se propem trs significados: a) a libertao poltica dos povos e dos estatais
sociais oprimidos; b) libertao do homem no curso da histria; c)libertao do pecado, raiz
de todo o mal, com o anncio de uma condio de mdia que comunho de todos os homens
com o Senhor [...] contudo, precisa Assmann, se entre os vrios usos do termo se dever
privilegiar um, este o poltico, pois a raiz semntica fundamental da palavra a denncia
da dominao, a tomada de conscincia dos mecanismos de dependncia, a crtica ao
desenvolvimento, a oposio ao sistema econmico capitalista, o rompimento com a
desordem institucionalizada.
Do prprio estudo do termo libertao emerge a orientao ortoprtica e no a
ortodoxa que Assmann pretende conferir ao seu leologar: Seu objetivo no aprofundar o
sentido da Revelao bblica e da tradio crist, mas compreender, criticar e guiar a prxis
crist.
Os elementos constantes destas definies so dois: o elemento da f e o elemento da
prxis. Mas de que nada vale ser entendidas tais princpios? Esta uma questo de capital
importncia, de cuja soluo depende toda a impostao e estruturao do telogo do nosso
autor.
Em Assmann h uma tendncia em transformar a unio entre f e prxis numa sua total
identificao. exclui ele, de fato, que a f esteja em grau de fornecer elementos prprios para a
compreenso, a anlise, a verificao crtica da prxis. A f deve ser entendida como uma
reserva de verdades na qual o telogo possa inspirar-se para o estudo da prxis, mas deve
ser interpretada fundamentalmente como prxis.
Segundo Assmann, o recurso f, entendida como extraordinria manancial de
conhecimento e de critrios para entender e para justificar a prxis vo que se olhe a f
como texto sagrado ( a Bblia ), quer se olhe a f como autoridade eclesistica. Seu mundo e
sua verdade so a prpria prxis. Corta-se o caminho a todo tipo de raciocnio que represente
refgio num mundo verbalista revestido de densidade antolgica. O raciocnio sobre esta
prxis eficaz e humana s vlida se emana de dentro da ao humana, que a forma a
conscincia crtica, capaz de reviso e de projetos.
Mas a prxis j objeto de anlise e de crtica por parte das cincias qualificadas ( a
poltica, a sociologia, a economia etc.). Portanto, estas so tambm as disciplinas s quais
deve recorrer o telogo da libertao, se quer obter uma compreenso adequada prxis e se
quer dar um contributo crtico e construtivo para a mais completa libertao da humanidade.
Tudo isto fora a teologia a ser segunda palavra no s frente prxis como tambm
frente s cincias humanas. Poder-se-ia dizer que a teologia da libertao no s o segundo
32
ato frente ao primeiro ato, que a prxis, mas tambm a ultima palavra frente primeira
palavra pronunciada pelas cincias humanas. Porm, observa Assmann, esta posio da
teologia como segunda palavra ou ltima palavra pode ser perigosa e dar lugar a abusos,
porque a teologia costuma dar pouco valor s cincias humanas.
Pelo que Assmann esteve dizendo at aqui saber as relaes entre teologia e cincias
humanas, parece que a dependncia da teologia frente a estas ltimas to profunda que torna
vo qualquer contributo seu: no podendo dispor de mananciais de conhe3cimentos prprios,
a teologia no pode repetir e ratificar seno as opinies das cincias humanas. Mas Assmann
no pensa assim. ele no para de reivindicar para a teologia uma sua especificidade que,
todavia, no parece estar em grau de esclarecer a causa da sua concepo de f, que ele quer
totalmente imersa na prxis. De qualquer modo, eis como ele tenta explicar a especificidade
de teologia: um estudo crtico da prxis histrica dos homens teologia na medida em obrigar
nesta prxis a presena da f crist. Este o elemento distintivo entre a teologia e as outras
formas de raciocnio crtico sobre a realidade. A teologia pra de existir onde o interrogativo
sobre o sentido da f foi totalmente eliminado pela realidade. Nesta linha, a nota distintiva do
raciocnio teolgico consciente naquele a luz da f, luz da revelao, ainda que se pergunte
qual seja o critrio desta f e como se possa deduzi-la do conjunto das mediaes histricas
etc. Fique claro que, como isto, assinalamos apenas o elemento tpico da teologia, seu marco
distintivo no seu contedo exclusivo. Trata-se de um ponto de importncia capital.
Quanto aos argumentos que devem figurar numa teologia da libertao, Assmann
assinala os seguintes:
- O mundo como campo de conflitos, para cuja eliminao
deve ser dirigida a obra da Igreja;
- A violncia institucionalizada e o pecado;
- Libertao e salvao;
- Criao e salvao: processo de libertao;
- Presena libertadora em sentido poltico e antecipao escatolgica;
- O Cristo animador da histria;
- O significado do Cristianismo;
- As escolhas das Igrejas nos anos setenta;
Saber as relaes com outras novas teologia , Assmann indica sumariamente tanto
pontos de contrato como os pontos de divergncias.
Aps ter observado que toda ao humana tem uma dimenso poltica, Assmann explica
que tambm a f tem uma dimenso radicalmente poltica: a f a prpria ao histrica do
33
homem ( ao que descobrimos como sendo essencialmente poltica) na medida em que,
radicalizando a exigncia do seu sentido histrico, aprofunda o seu por que, o seu significado
humano a ponto de encontrar-se com o mistrio de Deus na histria e nunca fora dela.
Mas a dimenso poltica no est presente apenas na f de cada um ou na meditao do
telogo; ela acompanha sempre e necessariamente tambm a comunidade eclesial. Como est
no mundo e no apenas diante do mundo, a igreja sempre estar encarregada em determinados
contextos scio-culturais com certas estruturas polticas.
No que concerne ao projeto poltico do qual a Igreja deve ser promotora, Assmann est
plenamente de acordo com Gutirez: trata-se de um projeto dedicadamente revolucionrio,
que compreende a luta de classe, a derrubada do domnio capitalista e a instaurao do
sistema socialista.
Mas, pergunta-se justamente Assmann, a luta de classes como estratgia para libertao,
no incompatvel com a prtica do amor, que constitui a prpria essncia do cristianismo? A
resposta de Assmann a esta interrogao que o amor cristo no pode ser um amor
platnico, um amor cego, um amor leviano, desassociado da situao histrica, mas, isto sim,
deve estar mesclado com o tecido vivo da histria. Ora, na situao concreta preciso fazer
escolhas, tomar posies, lutar justamente para tornar possvel, para criar espao ao amor.
Nos pases cristos onde reina a explorao, a subervivencia, a opresso, os cristos exercero
o amor na medida em que estiverem interessados na revelao mediante uma verdadeira
identificao situacional com o estado dos exploradores. A concreta articulao e realizao
dos justos interesses das oprimidas representa a concretizao histrica do amor. Nos pases
onde reina a explorao, a subservincia, a opresso, os cristos exercero o amor na medida
uma verdadeira identificao situacional com o estado dos exploradores. A concreta
articulao e realizao dos justos interesses dos oprimidos representa a concretizao
histrica do amor. Concluindo, a teologia da libertao prope-se a dar atuao densidade
poltica da f crist e, nos pases dos explorados e dos oprimidos , isto no exige apenas a
criao de melhores condies de vida, mas tambm a luta aberta contra os poderes
constitudos, a revoluo social e poltica, e a radical mudana das estruturas.
De tudo o que foi exposto, fcil deduzir que as teses mais qualificastes da teologia de
Assmann so tachadas de marxistas e parecem justificar as acusaes de uma total rendio
ao machismo, que so freqentemente feito a Assmann.
Todavia, devemos reconhecer, honestamente, que o autor de teologia desde la prxis de
la liberacion no est por nada disposto a seguir Marx at o fim e que ele pretende
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salvaguardar aquele ponto de vista da f que considera essencial para que um raciocnio possa
qualificar-se com teologia.


JOSEPH COMBLIN

Biobibliografia

Nasceu em 1923,em Brucelas. Completou seus estudos em Louvain e Malines, onde foi
ordenado sacerdote em 1947. Aps ter sido vigrio cooperadornuma parquia de Bruxelas,
em 1958 se transferiu para a Amrica Latina, onde lecionou teologia dogmtica e pastoral em
numerosas instituies e universidades. De 1968 a 1973, foi professor da IPLA ( Quito) at o
fechamento deste instituto de pastoral latino-americana. Desde de 1970 professor na
faculdade de teologia da universidade de Louvain.
A produo teolgica de J . Comblin muito vasta e abraa diversos mbitos das
cincias teolgicas. a teologia bblica dedicou la resurrection de J esus Cristo, Ed.
Universitaires, Paris, 2 v., 1960, 1963; Theologia de la Ville, Ed. Universitsiris, Paris, 1968;
Theologie de la revolution, ed. Universitaires, Paris 1970; Theologie de la pratique
rivolutionnaire, Ed. Universitares, Paris, 1974.

Pensamento Teolgico

Na histria da teologia, Comblim acha que so dois os mtodos mais usados; a estes d
o nome de via acidente e via descendente. a via ascendente foi seguida pelos padres; a
descendente pelos os Escolsticos. A primeira foi chamada tambm de exegese espiritual; seu
fim no explicar os textos, mas reconhecer neles a via que conduz ao conhecimento de
Deus. Isto , trata-se de descobrir as leis da revelao de Deus. , pois, tarefa da teologia
acompanhar os vrios estgios de elaborao do texto sagrado e trazer a luz os significados
cada vez mais complexos que se revelam na histria do povo de Deus, para colher a palavra
definitiva.
Os Escolsticos seguem o procedimento oposto: de uma sistematizao teolgica
preliminar ao estudo da Bblia ( isto , anterior teologia ascendente), eles avanam depois
para uma investigao das sagradas Escrituras. Esta introduo d as linhas principais da
35
revelao divina numa exposio organizada. Faz-se, pois, um resumo que d a impresso
que a revelao bblica constitua um todo orgnico.
Na opinio de Comblin, nem a via ascendente nem a via descendente de per si no
suficientes. O mtodo teolgico adequado deve incluir ambas. De fato, necessrio ter um
ponto de referencia, uma doutrina provisria que sirva de orientao: ela ser, depois posta de
novo em discuro e reformuladas de modo novo aps a leitura da realidade da Prxis, dos
acontecimentos que interpelam constantimente o crente.
H outro ponto importante em que o mtodo teolgico de Comblin difere do tradicional
para aproximar-se ao moderno. Este essencialmente ascensional, indutiva, mas no flui das
Sagradas Escrituras como na teologia patrstica, mas sim do homem e do mundo; no flui dos
eventos da histria da salvao, mas das situaes concretas da histria humana. H nele uma
histria da comunicao divina, e esta comea na histria comum a todos os homens. So as
realidades da histria humana que serviam de matria para as imagens sucessivas atravs das
quais Deus quis que os homens passarem para que chegassem a conhec-lo. A subida para o
conhecimento de Deus parte, pois das realidades pags em que esto inseridas as realidades
judaicas e crists. O momento ascendente , portanto, tem sempre incio de realidade histrica
e a luz da histria da salvao tenta divisar a revelao progressiva de Deus Resulta que a
teologia no busca, em vez, colher o seu movimento, as transformaes, o princpio e o
trmino (Deus).
Em Theologia de la Pratique revolutionarie, J . Comblin elabora um tratamento
sistemtico dos problemas teolgicos inerentes Prxis revolucionria. De conformidade com
as exigncias de um tratamento sistemtico, prope ele, antes de tudo, uma definio
elementar de revelao e Prxis revolucionria. a revoluo a ao de transformao de
toda a sociedade; a passagem de um modelo de sociedade para outro. Por conseguinte, a
Prxis revolucionria aquela ao global sobre a sociedade que em pouco tempo consegue
modificar o conjunto de suas estruturas. Trata-se, como se v, de conceitos claros, ainda que
genricos. em todo caso, o autor tenta valida-los enxertando-os numa viso geral do homem.
O quadro antropolgico em que os insere o seguinte: o homem no deve ser concebido
como um ser submisso a natureza previamente definida, sempre igual a si mesma e idntica
para todos os homens e no deve tambm ser considerado como uma essncia que se
desenvolve conforme um processo orgnico de contnuo crescimento, perfeitamente regular.
Ao invs, deve-se ver no homem aquele que transforma seu ambiente natural e a sociedade e
que se ope ao que existe para que exista algo de novo, e tudo isto para permitir que o novo
ambiente lhe consinta tornar-se mais homem. Em resumo, ele busca a realizao de si mesmo
36
no na aceitao do presente, mas na sua negao e na sua superao, e tudo isto mediante
uma ao transformadora do mundo exterior .
Proposto este quadro antropolgico, a revoluo no mais uma simples possibilidade
mais ou menos espordica, mas se tornas uma realidade permanente.
A Bblia em todos os seus livros, contm um poderosos fermento revolucionrio. Alm
dos grandes eventos do Antigo Testamento ( de Abrao a Moiss, dos juizes aos profetas, aos
irmos nocabeus), este fermento est presente na vida e sobretudo na doutrina de Cristo. J esus
instaura novas revelaes com Deus e entre o homem, relaes de amor antes que de J ustia,
de bondade antes que de poderio; ele subverte a escola dos valores reconhecidos por todos. O
problema principal para uma teologia da revelao , portanto, o de esclarecer, luz dos
feitos e dos ensinamentos revolucionrios de J esus Cristo, qual deve ser a Prxis
revolucionria da Igreja e de seus membros. Comblin observa justamente que h uma
concepo crist da revoluo e que h uma revoluo crist e anticrist da revoluo, como
h uma concepo crist e anticrist do homem e da liberdade.
Mas no que consiste precisamente a contribuio crist para a revoluo? Segundo
Comblin, consiste no movimento de transformao do homem e da sociedade atravs do
homem, que foi promovida por Cristo. a contribuio crist a ao de J esus Cristo e vinte
sculos de histria do cristianismo passado, a ao dos cristos no presente (todos os
discpulos, todos os que, conscientemente ou no, sofre a influncia do apelo evanglico), e o
porvir desses cristos, suas reformas e suas transformaes.
J . Comblin demonstra claramente que o especfico da revoluo crist o amor, a
caridade. Deste amor ele pe bem luz a dimenso essencialmente social, comunitria.
Quando J esus fala de amor e caridade, se situa no contexto social. No tem em mira
simplesmente disposies do corao, no pretende apenas que seus discpulos cultivem bons
sentimentos, que sejam homens de bom corao; ele pensa em um mundo de relaes sociais.
O homem s se torna homem na aliana com os demais. Sem esta aliana ele no pode amar.
Amar viver numa rede de recprocas obrigaes. O amor e a caridade no so concebidos
por cristo como uma disposio de sabedoria individual. um dom escatolgico, concebido
por Deus aos que pertencem ao seu Reino. a fora que mantm presente este Reino. A
Caridade o vnculo de uma nova sociedade, e alm disso o fermento revolucionrio que,
aprendo no mundo, transforma.
No curso de sua erudita doutrina, Comblin compra freqentemente a Prxis
revolucionria crist com outros modelos de Prxis do mesmo gnero, especialmente com o
modelo marxista. a este ltimo ele move crticas muito graves. Comblin rejeita a idia de uma
37
racionalidade marxistas que absolutamente no existe e cuja iluso impele seus partidrios a
estimar exageradamente a realidade do marxismo. Nega a existncia de um mtodo de
anlise rigorosamente cientfica e a reaviva os erros colossais que os marxistas soviticos
cometeram em suas previses quanto Alemanha, China, ao futuro do movimento
revolucionrio cubano. Outra iluso que ele denuncia diz respeito possibilidade de que uma
sntese cientfica guie a Prxis. Por definio, as cincias so sempre incompleta, esto
sempre em desenvolvimento enquanto, se age na base atual. Por tanto, toda pretenso
marxista quanto a uma cincia da sociedade ilusria.

Bibliografia
HOORNAERT, Eduardo. O movimento de J esus. Petrpolis, RJ : Vozes, 1994 Coleo uma
histria do Cristianismo na perspectiva do pobre.
PIXLEY, J orge. A Histria de Israel a partir dos pobres [trad. Ramiro Mincato]. 2 edio.
Petrpolis, RJ : Vozes / So Leopoldo: Sinodal, 1990 Coleo Deus Conosco
____________. xodo [trad. J . Rezende Costa]. So Paulo: Paulinas, 1987 Col. Grande
Comentrio Bblico
____________. O Sbado festa e sinal. In: J ubileu. Ribla Revista de Interpretao Bblica
Latino-Americana. Petrpolis, RJ : Vozes, 1999/2 Vol. 3


ENRIQUE DUSSEL

Biobibliografia

Enrique Dussel nasceu em 1934, na Argentina, participou no incio da dcada de 40
da ao catlica. Desde 1952, na Universidade Nacional de Cuyo cursou o programa de tica,
em sete ocasies. Em 1957 foi para a Espanha, onde fez doutorado em Filosofia sobre o bem
comum (desde os pr-socrticos at Kelsen). Entre 1959 e 1961 residiu em Israel, onde
trabalhou como carpinteiro e pescador. Aps este perodo retorna Europa, primeiro para
estudar Teologia na Frana e depois, Histria na Alemanha. A partir de 1969, passa a dar
aulas de tica filosfica na Universidade de Cuyo na Argentina. Entre 1971 e 1974 publicou
mais de vinte livros e artigos. Em 1975 juntamente com sua famlia parte para o exlio no
Mxico, onde reside at hoje. um dos fundadores e ativo membro, sendo o presidente do
38
CEHILA (Comisso de Estudos de Histria da Igreja na Amrica Latina). Autor de vasta obra
bibliogrfica um dos principais nomes da Filosofia da Libertao.
Dentre as suas obras destacamos: a srie Caminhos de Libertao Latino-
Americana, Hiptesis para una historia de la Iglesia em Amrica Latina, Introduccin
General, em Historia de la Iglesia en Amrica Latina, Toward the origin of Myth of
Modernity, Histria da Igreja Latino-americana, El humanismo helnico, El
humanismo semita, Filosofia da Libertao.

Pensamento Teolgico

Seu interesse pela filosofia poltica, foi despertado a partir do seu doutorado com
Maritain e contra Charles de Konnick. Desde a infncia descobriu a misria em que seu povo
vivia, assim foi para a Europa e Israel. Foi ai percebendo como a Amrica Latina se
encontrava fora da histria. Era ento preciso encontrar um lugar para ela na Histria
Mundial, partindo ento de sua pobreza e descobrindo assim a sua realidade oculta.
Foi com a obre La symbolique du Mal, que toma a base do seu projeto filosfico
latino-americano.
Sua obra El humanismo helnico, foi escrito em 1962, conseguindo editar em 1975,
era uma antropologia, uma ontologia e uma tica indo-europia, onde apresentava o dualismo
corpo-alma, a solido do contemplativo, a tica da ascese, o monismo do ser, essa era uma
crtica filosfica-hermenutica anti helnica. A sua segunda obra, iniciada em Israel: El
humanismo semita, adotava a anlise de uma antropologia carnal (a basar hebraica), que
unitria, uma Metafsica criacionista e uma tica poltica de compromisso com a justia.
A experincia inicial da Filosofia da Libertao consiste em descobrir o fato
opressivo da dominao, em que sujeitos se constituem senhores de outros sujeitos, no plano
mundial, isso ocorreu a partir da expanso europia em 1942, dando ento a origem a
Modernidade.
A Filosofia da Libertao tem como ponto de partida a realidade regional, ou seja, a
pobreza que cresce a cada dia em meio a populao na Amrica Latina. E visa o outro, ou seja
a libertao dos que esto s margens, dos oprimidos, dos excludos.
A Filosofia da Libertao um contra discurso, ou seja, contra a centralidade da
filosofia europia, pois uma filosofia crtica que nasce na periferia, mas a pretenso a nvel
mundial, a filosofia um patrimnio de todos os filsofos no apenas dos europeus.
39
O projeto de libertao dos oprimidos e dos excludos aberto, partindo da excluso
do Outro e indo mais alm de qualquer situao apresentada. A estruturao de alternativas
no consiste na aplicao de algum modelo ou situao ideal ou transcendental, nem tambm
na execuo autntica de um determinado mundo da vida, mas dever ser uma descoberta
responsvel, como resposta interpelao do outro, dentro de um processo de prudncia que
lento, durante o qual o filsofo deve tratar com seriedade a motivaes ticas da libertao
dos oprimidos e excludos.


GUSTAVO GUTIRREZ

Biobibliografia

Gustavo Gutirrez nasceu em Lima (Peru) em 1928. Completados os estudos
secundrios em sua cidade natal, freqentou durante cinco anos a Faculdade de Medicina da
Universidade Nacional de Lima. Depois, interrompeu os estudos de medicina e empreendeu o
currculo dos estudos filosficos e teolgicos para preparar-se ao sacerdcio. De 1951 a
1955, estudou filosofia e psicologia em Louvain; de 1955 a 1959, teologia em Lio. Em 1959,
foi ordenado sacerdote em Lima. Desde 1960 professor no departamento de teologia da
Universidade Catlica de Lima.
A obra principal Teologia de la liberacin, Lima, 1971 (traduo brasileira Teologia
da Libertao). Outras obras importantes so: Apuntes para una teologia de la liberacin, e
Prassi di liberazione e fede cristiana in La nuova frontiera della teologia in America Latina.

Pensamento Teolgico

Gustavo Gutirrez o plasmador da teologia da libertao, o formulador em
linguagem simples, expressiva sbria das intuies fundamentais desta teologia. Foi durante
os anos 60 que abraou a teologia do desenvolvimento, mas foi dos primeiros a abandon-la
quando percebeu que a teoria do desenvolvimento carente de qualquer base cientfica e que,
ao invs de contribuir para a soluo dos problemas do Terceiro Mundo, ela s agrava
ulteriormente. Percebeu ento que o caminho da libertao das populaes da Amrica Latina
das injustias, vexames, misrias que as oprimem devem necessariamente passar pela
destruio do sistema vigente, o sistema capitalista e burgus: um sistema essencialmente
40
inquo e incompatvel com a mensagem crist, pois cria uma sociedade injusta e alienada.
Para realizar a salvao crist necessita destruir a violncia institucionalizada que impera.
A razo fundamental que o termo libertao parece mais apropriado que o termo
desenvolvimento para exprimir a participao dos cristos nas lutas para construir uma
sociedade justa e fraterna, onde os homens possam viver com dignidade e ser agentes de seu
prprio destino.
A tarefa fundamental responder pergunta quanto relao entre salvao e
emancipao do homem no decorrer da Histria. A pergunta antiga. Trata-se de impostar de
modo novo o problema clssico das relaes entre f e existncia humana, entre f e realidade
terrena e, em outras formas, entre Reino de Deus e construo do mundo, de onde surge a
relao Igreja-mundo.
O ponto de partida da teologia da libertao a situao concreta, a prxis de
libertao hoje em dia atuada pelas populaes da Amrica Latina e, em especial, pela
comunidade crist latino-americana. A primeira tarefa do telogo da libertao , portanto, a
de obter um conhecimento profundo desta prxis, das sua motivaes, dos seus objetivos,
obstculos, movimentos. Alm de um conhecimento cientfico da situao histrica, na base
da mediao teolgica deve haver uma experincia vivida, uma participao pessoal sobre a
prxis histrica libertadora. Refletir sobre a f como prxis libertadora significa refletir sobre
uma verdade que se atua e no apenas que se afirma.
A teologia da libertao no procura justificar cristmente posies j tomadas, no
quer ser uma ideologia crist revolucionria. uma reflexo que parte da prxis histrica do
homem, que procura pensar a f a partir dessa prxis histrica e a partir de como se vive a f
no compromisso libertador.
Gutirrez mostra que, partir de baixo, tomar como ponto de partida a prxis
revolucionria, compreender esta prxis com o subsdio de todos os instrumentos que as
vrias cincias humanas pem disposio, no significa absolutamente desenvolver uma
ideologia crist revolucionria. Ao contrrio, a contribuio da f para a revoluo no tem
carter ideolgico. Tudo o que pertence esfera ideolgica confiado pesquisa cientfica e
prxis histrica, dado que a libertao poltica no um messianismo religioso; tem sua
autonomia e suas leis. Supe anlises sociais e opes polticas bem determinadas.
A teologia da libertao exige uma relao direta e certa com a prxis histrica. E esta
prxis uma prxis libertadora, identifica-se com os homens, raas, classes sociais que
sofrem misria e espoliao, identificao com os seus interesses e com as suas lutas. uma
insero no processo poltico revolucionrio, para viver interiormente e anunciar o amor
41
gratuito e libertador de Cristo. Amor que vai at prpria raiz de toda explorao e injustia.
Amor que permite aos homens de se reconhecerem filhos do Pai e irmos entre si. preciso
compreender que no haver um verdadeiro salto qualitativo para outra perspectiva teolgica
seno quando os marginalizados e os explorados foram cada dia mais os artfices de sua
libertao, quando sua voz se fizer ouvir diretamente e sem mediaes.
A teologia de Gutirrez vai esbarrar num inevitvel e fecundo dilogo com o
marxismo e, sob este estmulo se orienta para um raciocnio sobre o significado da
transformao do mundo e sobre a ao do homem na histria.
Para desenvolver um raciocnio teolgico com referncia a transformao do mundo
necessrio ver a relao entre a salvao e o processo histrico da libertao do homem, e ai
Gutirrez diz que os dois elementos, humano e divino, salvfico e secular, eclesial e mundano
se compenetram intimamente, mesmo sem identificar-se, pois h uma s histria, inaugurada
na criao, incio do empreendimento humano e da histria salvfica de J av. No h duas
histrias, ou seja, uma sagrada e outra profana ou secular. A nica histria na qual Deus age
a histria dos homens; nesta histria que encontramos Deus. S h uma histria realizada
em Cristo.
Ento a graa libertadora de Deus consiste na ddiva da comunho com o Senhor e
com os prprios irmos; salvar-se significa atingir a plenitude do amor, entrar no circuito de
caridade que une as pessoas na Trindade, ou seja amar como Deus ama.
Entrar na comunho com o Senhor significa sermos postos em condio de vencer o
pecado e todas as suas conseqncias, mediante uma prxis de amor e de justia que cria um
novo homem e uma sociedade mais fraterna.
Para Gutirrez sobre a relao entre as duas dimenses que a presena da salvao s
pode resultar tambm numa elevao da esfera humana em todos os seus aspectos, inclusive o
social e poltico. E, como a salvao consiste essencialmente na libertao, deve-se concluir
que ela atua sobre o plano humano realizando a libertao da subservincia poltica.
Entre teologia poltica e teologia da revoluo no existe relao de identidade, mas de
implicao, pois a redeno inclui tambm libertao poltica. Libertao poltica, libertao
do homem ao longo da histria, libertao do pecado e entrar em comunho com Deus se
condicionam mutuamente, mas no se confundem, no se situa uma sem a outra, mas so
distintas. Em outras palavras, sem acontecimentos histricos libertadores no h crescimento
do Reino, mas o processo de libertao no ter vencido as prprias razes da opresso, da
explorao do homem por parte do homem, seno com o advento do Reino que um dom.
42
A atuao da ao salvfica de que o cristianismo portador, s possvel sacudindo
os poderes polticos vigentes e fundando uma nova ordem. No basta tentar reformar o
sistema interiormente, pois que o sistema em si mesmo inumano e opressivo; deve-se ento
desenraiz-lo das bases e substitu-lo por outro de tipo socialista. A Igreja deve ser o sinal
visvel da presena do Senhor no anseio pela libertao e na luta por uma sociedade mais
humana e mais justa. S assim a Igreja ser crvel, e eficaz a mensagem de amor de que
portadora.
Na situao de opresso em que vivem atualmente as populaes latino-americanas, a
revoluo a nica estratgia eficaz para conseguir a libertao, e Gutirrez tambm de
opinio que a nica ttica revolucionria adequada a marxista da luta de classes.
A prxis de libertao faz com que o telogo compreenda que um amor que no passa
por uma luta de classe e que no se alinha do lado dos oprimidos contra os opressores, um
amor ineficiente e ilusrio. A prxis de libertao lhe faz tambm ver que somente uma ao
eficaz pode transformar a situao de opresso, a especulao, a cultura e a teologia sozinhas
no bastam.
Para Gutirrez a Escritura no fala apenas de uma libertao interior, espiritual, como
muitos telogos ensinaram no passado, mas tambm de uma libertao dos males externos,
materiais, tanto individuais como sociais. Por isso o cristo para ser fiel intrprete e executor
da Palavra de Deus, deve empenhar-se tambm na esfera social e poltica, mas no somente
com gestos caridosos e filantrpicos para com os semelhantes, mas com aes de contestao,
transformao, aperfeioamento face s estruturas.
Ento ele afirma que toda a comunidade eclesial deve carregar a responsabilidade do
melhoramento das condies sociais e polticas da humanidade.
Os elementos seguintes tornam apropriao da parte de Gutirrez, e todos so
componentes do marxismo:
O materialismo histrico, ele s critica o dialtico; a revoluo como necessidade
inelutvel no continente latino-americano, nesse caso o objetivo uma mudana radical de
estruturas; a questo da luta de classes, especialmente quando discute a teoria da
dependncia, que deve ser universal; a questo da emancipao do ser humano de todo tipo de
servido, a pessoa humana como agente do seu prprio destino e da sua prpria histria; e a
questo do ser humano novo.


JOS MIGUEZ BONINO
43

Biobibliografia

J os Miguez Bonino nasce em 1924, em Santa F, Argentina. Aps os estudos em
Rosrio, prosseguiu na Faculdade Evanglica de Teologia de Buenos Aires e no Union
Theological Seminary em Nova York. Foi ordenado presbtero na Igreja Metodista da
Argentina em 1948 e exerceu cargos pastorais na Bolvia e na Argentina. Desde 1954
professor da Faculdade Evanglica de Teologia, onde tem a cadeira de Teologia e de tica;
foi reitor da mesma universidade de 1960 a 1969. Foi observador da Igreja Metodista no
Conclio Vaticano II e membro de vrios organismos do Conselho Ecumnico das Igrejas
(CEI). Ele um telogo metodista argentino, sendo considerado uma das personalidades mais
vivas da atual teologia sul-americana. Foi um dos telogos da libertao que mais trabalhou a
questo do marxismo e sua relao com a teologia latino-americana.
Suas principais obras so: Conclio abierto; Integracin humana y unidade cristiana;
Ama y haz lo que quieres; Doing Theology in a Revolutionary Situation; Christians and
Marxists; F em busca de eficcia.

Pensamento Teolgico

A diviso mais simples que ele faz do marxismo quando apresenta como passvel de
ser apropriado ou como um dogma ou um mtodo.
No seu livro F em Busca de Eficcia, descreve o que poderamos chamar de origens
histricas do seu modo de fazer teologia. Ele descreve uma nova anlise scio-poltico-
econmica do continente latino-americano, essas anlises conduzem a uma nova leitura da
histria da Amrica Latina, a partir dos dados levantados nas anlises.
A nova anlise do continente, reforada por uma nova leitura da histria do mesmo,
leva ento a uma nova militncia poltica, uma nova prxis, um novo compromisso com a
libertao do continente da sua opresso, detectada nas anlises e na releitura da histria.
Quando os envolvidos so cristos, ele os leva a repensar tambm toda a sua f a partir
dos marcos mencionados e dos compromissos histricos especficos assumidos no processo.
Surge ento uma reflexo sobre a libertao na perspectiva da f crist. Quando so telogos
estes passam a produzir uma reflexo teolgica em torno da questo.
44
Miguez se apropria dos resultados da corrente que chama de nova sociologia latino-
americana e que mais adiante define como a sociologia da dependncia em suas diversas
formulaes.
O marxismo uma grandeza constituda por vrios elementos que, de uma forma ou
outra, no so separveis facilmente. E so todos esses aspectos do marxismo que ele admite
serem indispensveis para uma mudana revolucionria. No entender de Miguez o que o
marxismo tem de significao permanente e indispensvel para um movimento revolucionrio
so quatro elementos inter-relacionados:
A compreenso da histria como em ltima anlise dependente da organizao pelo
homem do processo pelo qual este produz os bens para satisfazer as suas necessidades; o
reconhecimento de que homem no o indivduo isolado, mas uma unidade comunal como
uma formao social concreta, com suas estruturas, seus relacionamentos e sua
autocompreenso; o fato da luta de classes e do papel revolucionrio do proletariado; a noo
de prxis: um conhecimento verdadeiro s pode ser adquirido iniciando pelas aes concretas
do homem; que a teoria tem sentido unicamente na medida em que leva a um curso de ao
que se comprove significativo; e que a ao se torna ela prpria o teste da teoria.
Em resumo, Miguez escolhe o marxismo como a ideologia que soube melhor do que
qualquer outra revelar as constantes ou as leis para guiar a nossa prxis histrica.
Ele rejeita a clssica distino dos dois planos, ou seja, ao histrica e a expectativa
escatolgica, que ele julga dualstica; mas repele tambm a soluo monstica daqueles que
reduzem a expectativa escatolgica a uma simples fora, uma motivao para a ao histrica,
por comportar isso a dissoluo do cristianismo.
O que levou Miguez a fazer a escolha marxista foram duas circunstncias histricas
bem determinadas: as condies de vida inumanas que prevalecem no continente latino-
americano e a constatao do fracasso de diversas solues e tentativas reformistas para a
eliminao das condies inumanas e viu que a nica estratgia eficaz a proposta e praticada
pelo marxismo.
O cristo pode ser marxista se do marxismo s aceitar os elementos relativos anlise
scio-poltica e estratgia da libertao. Mas se acolhe os postulados metafsicos do
marxismo histrico e dialtico, ento ele deixa de ser cristo.
Existe dois extremos que Miguez sempre segura firmemente nas mos sem jamais
deix-los escapar: a f em J esus Cristo Senhor e Salvador e o compromisso histrico cristo.

45
Bibliografia
Epistm. Ano 02. Vol. 02. N 01. STBNe, 2000.
MUELLER, Enio R. Teologia da Libertao e Marxismo: Uma relao em busca de
explicao. So Leopoldo: Sinodal, 1996.
MONDIM, Batista. Os telogos da libertao. [Trad. Hugo Toschi].- So Paulo: Ed.
Paulinas, 1980.
ENRIQUE, Dussel. Filosofia da Libertao: Crtica ideologia da excluso. [Trad. Georges
I. Maissiat]. So Paulo: Paulus, 1995. (Coleo pesquisa & projeto).
GUTIRREZ, Gustavo. Teologia da Libertao. [Trad. J orge Soares].- Petrpolis: Editora
Vozes, 1975.


LEONARDO BOFF

Biobibliografia

Leonardo Boff nasceu em Concrdia, Santa Catarina em 14 de dezembro de 1938,
descendente de italianos, filho de um professor primrio e tendo como me uma mulher
dinmica, apesar de iletrada. Como sacerdote franciscano, Boff cursou Filosofia e Teologia na
cidade de Curitiba, Petrpolis e Munique, onde especializou-se nos estudos teolgicos pela
Universidade de Ludwig Maximilian.
No final da dcada de 50 e incio de 60 sua Cristologia revelava-se moderada,
conforme a linha teolgica de sua formao, tanto que sua tese sobre a natureza sacramental
da Igreja Catlica Romana no mundo moderno foi bem recebida pela ala conservadora da
Igreja Catlica, da qual destacamos J oseph Ratzinger.
Nos anos 70, j com o ttulo de doutor, passou a lecionar no Instituto de Filosofia e
Teologia, em Petrpolis, onde ocupou a cadeira de Teologia Sistemtica e impressionou por
sua diligncia e capacidade intelectual. Ao lado do magistrio teolgico, Boff foi redator da
REVISTA ECLESISTICA BRASILEIRA e da REVISTA CONCILIUM, coordenou o setor
de publicaes teolgicas da Editora Vozes e participou de vrias comisses teolgicas
formadas na Igreja Catlica Romana do Brasil e da Amrica Latina.
Com a publicao do clssico J esus Cristo Libertador em 1972, Boff foi convocado
pelo Santo Ofcio para prestar esclarecimentos acerca da Teologia da Libertao presente
naquela obra, processo este que culminou em 1984 na publicao de Igreja, Carisma e
46
Poder, onde elaborada uma crtica contra a hierarquia e estrutura catlicas. Dentre outras, o
Vaticano atravs da Sagrada Congregao Para a Doutrina da F acusou Boff de propagar
uma Cristologia heterodoxa, e uma eclesiologia deturpada por princpio protestantes.
Com a publicao de E a Igreja se Fez Povo e A Trindade, a Sociedade e a
Libertao, Boff foi excomungado do sacerdcio catlico oficial, todavia continuou a
desenvolver sua Teologia da Libertao publicando-o em grande parte de quase 70
publicaes suas e divulgando-a em encontros nos diversos continentes.
Mesmo tendo tornado-se uma celebridade, jamais deixou de militar as Comunidades
Eclesiais de Base e com o ensino, tanto que passou a lecionar Filosofia, tica e Ecologia na
Universidade Estadual do Rio de J aneiro. Continua publicando obras recordes de vendagem,
nas quais expe-se com a Sua Criao. Recentemente publicou pela Editora Sextante Tempo
de Transcendncia e Espiritualidade.
Algumas outras obras publicadas por Boff so Teologia do Cativeiro e da
Libertao, Eclesiognese; A vida religiosa e a Igreja no processo de libertao; A F
na Periferia do Mundo; O Caminho da Igreja com os Oprimidos. E a Igreja se Fez Povo;
Como Fazer Teologia da Libertao; Os Sacramentos da Vida e da Vida dos
Sacramentos; O Destino do Homem e do Mundo; Paixo de Cristo, paixo do Mundo;
A Ressurreio de Cristo e a nossa Ressurreio na Morte; Vida Para Alm da Morte.

Pensamento Teolgico

A Amrica Latina herdou como parte do processo de colonizao a que foi submetida
a imposio da viso de mundo europia, inclusive na formao da Cristandade americana
liderada pelo clero europeu, e conseqentemente, alinhada ortodoxia catlica vida por
reproduzir aqui, em terras americanas, seus sistemas, seus dogmas, suas respostas. Com o
Protestantismo no era diferente, pois, a formao primeza do pensamento protestante
brasileiro est inextrincavelmente ligada teologia trazida pelos missionrios europeus e
norte-americanos, sendo que estes foram em maior nmero, e a partir do sculo XIX.
Contudo, os povos cristos da Amrica Latina sempre colocaram problemas concretos
da sua diria frente a f crist, problemas que careciam de respostas, e respostas que no
poderiam mais ser conformadas s perguntas de outrora, contempladas nas respostas
elaboradas por telogos europeus e norte-americanos que sequer conheceram o povo latino-
americano com suas lutas e questionamentos. A Teologia da Libertao , pois, uma tentativa
47
de resposta s condies miserveis e aos governos opressores impostos a muitos pases
latino-americanos.
no calor dos regimes totalitrios, das represses militares e avano do capitalismo
selvagem que a palavra libertao passa a ser usada com grande freqncia a partir de 1965,
querendo ser uma resposta concreta da Teologia ao clamor terceiro-mundista. Em 1968 a
Conferncia Geral Episcopal dos bispos catlicos romanos (CELAM) em Medeln, Colmbia
passou a refletir com maior interesse acerca da palavra libertao, dando origem a inmeras
publicaes. Um novo modo de se fazer teologia estava nascendo.
A obra do peruano Gustavo Gutirrez Teologia de la Liberation foi a primeira
publicao comprometida com esta nascente corrente teolgica, a qual tambm alcanou a
comunidade protestante latino-americana. A Teologia da Libertao passou a representar a
afirmao da natureza contextual da Teologia, ou seja, sua preocupao se faz presente,
pronta para refletir o seu mundo e protestar contra as injustias e pecados que esto em
desacordo com os valores do Reino de Deus.
Leonardo Boff, o nosso telogo em voga, afirmou que a excelncia do mtodo
utilizado pela Teologia da Libertao est em que a discusso surge sempre ... no de uma
encclica, de uma pgina da Bblia, de um credo qualquer da tradio, mas a partir dos
desafios da realidade quais so as questes que os pobres levantam, que o Brasil suscita
hoje... Ento a Teologia da Libertao se articula com quem j est dando uma caminhada, e
tenta pensar a partir da prtica (Revista Caros Amigos, Ano 1, n 03; 1997; pp.31).
Dentre os telogos catlicos que optaram pela Teologia da Libertao, destacamos
aqui o Frei Franciscano Leonardo Boff, precursor da Teologia da Libertao que recebeu
variadas influncias de telogos modernos, tanto da ala catlica quanto da ala protestante, o
que se pode encontrar nos seus escritos permeados de citaes de Hams Kng, Karl Rahner,
Marl Schnackenburg e Teilhard de Chardin. Cita tambm conceitos prprios do
existencialismo de Barth e Tillich, bem como faz referncias s obras de Bultmann,
Mottmann, Pannenbrug e Harnack.
Boff afirma que a Bblia testemunho humano Revelao de Deus, o que sua
atualidade verdadeira para o homem imerso no mistrio divino da f. A partir desta
mensagem qe se torna atual Boff indica que a f crtica sria e a f tranqila, leviana
(CONN: 1984, pp.90) querendo despertar o homem que busca a vontade de Deus com a
necessidade de construo do Reino de Deus aqui e agora, jamais o transportando para um
plano metafsico ou passando nossa responsabilidade de transformao do mundo a outrem.
48
A Bblia entendida como meio para nos abrir os olhos realidade que estamos
vivenciado, tendo como finalidade transform-la. um livro que indica a nossa postura neste
mundo, sem necessariamente ocupar-se com a salvao das almas que crem, at porque Boff
universalista, crendo que todos sero salvos por Deus. Esta uma ntida influncia neo-
ortodoxa da teologia protestante moderna.
Na obra que analisaremos ainda neste trabalho, Boff sistematiza sua cristologia crtica
cristalizando trs elementos essenciais para a compreenso da pessoa de J esus, quais sejam:
extraordinrio bom senso, fantasia criadora e originalidade. J esus aquele que doou-se
completamente ao homem para libert-lo, e para isso enfrentou at mesmo a morte. A
ressurreio significa a vitria final de J esus e o religamento completo entre Criador e criao,
sem qualquer interferncia do pecado.
Como parte do Reino inaugurado por J esus, as relaes entre os homens devem ser
fraternas, amorosas e sem egosmo, pois, J esus venceu todos os inimigos que separavam os
irmos. Onde existe bondade, verdade e amor, existe Cristianismo, e o homem que pratica
estas virtudes de certa forma divinizado, pois, passa a experimentar em larga escala a
realidade de Deus.
J esus optou pelos pobres e oprimidos, servindo-os com solidariedade e adentrando na
histrica dos oprimidos para libert-los de todo o mal, por isso, os seus seguidores devem
identificar-se com a mensagem libertadora que visa o estabelecimento do Reino de J ustia e
sem pecados por toda a eternidade. Este reflexo da Graa de Deus que transforma a
condio miservel e alienada dos homens, dando-lhes entrada no novo cu e nova Terra
planejados por Deus.
O mtodo utilizado por Boff e outros telogos da Libertao adota o mtodo dialtico
do marxismo e bebe na sua anlise da luta de classes para investigar a sociedade opulenta e
excludente da Amrica Latina. Todavia no podemos querer encontrar o mtodo que perpassa
toda a vasta obra de mais de 70 publicaes bibliogrficas deste importante telogo brasileiro,
hoje lido em inmeros pases do Globo Terrestre. Alm da temtica aqui destacada, Leonardo
Boff tem ampliado sua reflexo filosfico-teolgica para outros temas recorrentes do nosso
tempo, como o caso da questo ecolgico e da mstica ps-moderno.
Em Cristo, o Reino de utpico se faz tpico; de profecia se faz realizao; de
promessa, cumprimento. a pequena diferena que vige entre teoria e prtica... (Leonardo
e Clodovis Boff).
Na obra de Leonardo Boff ns podemos nos encontrar como criao que somos, mas
tambm como cristos, e mais especificamente, como latino-americanos. A Igreja de Cristo
49
deve falar da vida e ser compreendida em sua mensagem, pois, o Mestre J esus falava da vida
e assim provocava mudana e perplexidade nos seus ouvintes. Uma teologia que no se
prope a ser instrumento de reflexo acerca da nossa realidade estar fadada a dar respostas
pela quais ningum se interessa, porque no parte dos questionamentos daqueles que vivem a
dor do dia-a-dia.
Em Boff podemos encontrar uma proposta radical de insero da Igreja Crist no
mundo atual, provocando rupturas e denunciando as estruturas desumanizadoras que querem
submeter os filhos de Deus ao pecado, injustia, egosmo e morte, de uma vez por todas
vencidos na cruz. uma mensagem que parte de baixo, do contexto em que vivemos para
ento elaborar-se como proposta de reflexo teolgica.
No exerccio da misso proftica nem mesmo a Igreja instituio escapa de uma
crtica sria e exortativa, na medida em que as mazelas e apatia do clero, das hierarquias e
conclios so denunciados. Boff chega a afirmar que a Igreja de Cristo vive de tudo aquilo que
Cristo rejeitou, pois, no raras vezes a Igreja institucionalizada tem andado de mos dadas
com os poderes opressores, calada diante do pecado e imvel frente aos problemas congnitos
do nosso tempo. Esta postura nos anima a rejeitarmos a vida fcil e estabilizada das estruturas
eclesisticas em prol do compromisso rduo, porm, recompensados de aliar-se queles que
vivem para concretizar a realidade do Reino de Deus ainda aqui na Terra.
Na Teologia de Boff encontramos uma mensagem emancipatria, to cara e necessria
do terceiro-mundo. Esta a nossa parquia! Sendo assim precisamos estar afinados com a
mensagem evanglica que visa dar po aos famintos, gua aos sedentos, agasalho aos que
vivem ao frio da misria, palavra e ao aos excludos do mundo presente, pois, nisto se
constitui a misso integral da Igreja e o nosso compromisso ltimo de estabelecimento do
Reino inaugurado e pregado por J esus.
Boff expe com clareza e profundidade a identificao e opo de Deus pelos pobres e
marginalizados, tanto que Cristo J esus foi o meio encontrado por Deus para nos aproximar
Dele. Espero que este ensino atual torne-se tnica da nossa mensagem e vivncia, que jamais
sirvamos para criar aparelhos distanciadores de Deus em relao ao homem, mas que em
obedincia e amor a Deus lutemos pela manifestao clara de um Evangelho reconciliador dos
homens para com o Deus Libertador.

Bibliografia
MONDIN, Batista. Os telogos da Libertao. So Paulo, SP: Paulinas, 1980.
BEOZZO, J os Oscar. Curso de Vero ano II. So Paulo. Paulina, CESEP. 1988. 218p.
50
BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador: ensaio de cristologia crtica para o nosso tempo.
Petrpolis. Vozes. 1986. 240p.
______________. Igreja: Carisma e Poder. Petrpolis. Vozes. 1981.
BOFF, Clodovis. Teologia P-no-Cho. 2 edio. Petrpolis. Vozes. 1984. 230p.
CONN, Harvie. Teologia da Libertao. 1 edio. So Paulo. Mundo Cristo. 1984. 172p.
Coleo Pensadores Cristos. Volume 7.
ENCICLOPDIA HISTRICO-TEOLGICA DA IGREJ A CRIST. Editor Walter A.
Elwell. Vida Nova. Volume 1. 1990. So Paulo.
REVISTA CAROS AMIGOS, ANO 1, NMERO 3, J UNHO DE 1997. Editora Casa
Amarela. So Paulo.
REVISTA SIMPSIO, VOLUME 6, ANO XVIII, DEZEMBRO DE 1985, n 30. ASTE.
Resenhas Bibliogrfica: Do Lugar do Pobre, L. Boff; Teologia da Libertao, D.
Guimares.
REVISTA SIMPSIO, ANO V, NMERO 09, DEZEMBRO DE 1972. ASTE. Resenha
Bibliogrfica: J esus Cristo Libertador.






HELDER CMARA

Biobibliografia

CMARA, Helder, nasceu em Fortaleza, Cear A 7 de fevereiro de 1909, de uma
famlia de professores, sentiu desde pequeno a vocao para o sacerdcio e entrou no
seminrio de sua cidade natal, .foi ordenado sacerdote em 1931; Foi consagrado bispo em
1952 e designado como auxiliar no Rio, onde se ocupou imediatamente dos problemas da
misria, adquirindo assim uma nova conscincia da sociedade brasileira. Fundou o
movimento Ao, J ustia e paz para uma mudana das estruturas sociais mediante uma
presso moral, no-violenta e libertadora. Participou ativamente no conclio Vaticano II. Aps
foi enviado diocese de Recife, Pernambuco.Cmara, Helder, foi bispo catlico brasileiro, da
Arquidiocese de Olinda e Recife, no estado de Pernambuco, estudou no Seminrio
Arquidiocesano do estado do Cear, formando-se em 1931.
51
Em 1936, no Rio de J aneiro, assumiu a direo do servio de Medidas e Programas do
Instituto de Pesquisas, da Secretaria de Educao e Cultura da prefeitura, ento Distrito
Federal. Participou do movimento integralista at a dcada de 1940. Entre 1946 e 1962, atuou
na Ao Catlica Brasileira, como assistente nacional.
Em 1952 foi nomeado auxiliar do cardeal-arcebispo da cidade de So Sebastio do Rio de
J aneiro e sagrado bispo auxiliar. Participou como membro do conselho Federal de Educao,
entre 1952 e 1964, do Supremo Conselho de Imigrao e do Conselho Diretor da Conferencia
Espanhol Latino-Americana (CELAM). Nesse mesmo perodo criou a Conferencia Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) e foi o seu primeiro secretrio.
Para resolver os problemas da pobreza e das favelas no Rio de J aneiro, criou a
Cruzada So Sebastio para dar moradia aos favelados. Em 1959, fundou o Banco da
Providncia, que se realiza anualmente, para angariar recursos destinados a minorar a situao
classes menos favorecidas. Participou ativamente do Conclio Ecumnico do Vaticano II,
entre 1962e1964. Chefiou a Secretaria nacional de Ao Social da CNBB. Desde 1964
assumiu o Arcebispo de Olinda e Recife e segue a Encclica populorum progressio de 1979,
do Papa Paulo VI. Participa da vida poltica brasileira, preocupado, especialmente, com a
pobreza e a situao de misria existente no nordeste no Brasil. Dom Helder Cmara, uma
personalidade mais significativas no campo internacional pelo seu constante empenho na
promoo econmica, social e espiritual dos pases do Terceiro Mundo.
Heldet Cmara no escreveu obras sistemticas, mas deu em todos os continentes
muitssimas conferncias, que foram coletadas em vrios volumes. Entre estes salientamos os
seguintes: spirale di violenza, Massimo, Milo, 1970; Fame e sete di pace com guistizia, id.,
1970; Violenza dei pacifice, id., 1974.

Pensamento Teolgico

Dom Cmara no um telogo de profisso, mas pastor apaixonado que est, dia e
noite a servio do povo; um mstico que desperta todos os dias ao alvorecer para rezar. Por
estes motivos, Dom Helder Cmara merece, sem dvida, ser includo no grupo daqueles que
mais contriburam para a formao de uma conscincia histrica e poltica entre os cristo da
Amrica Latina. mas ele ostenta tambm ttulos teolgicos para ser includo entre os
principais expoentes da teologia da libertao. Realmente, alguns temas especficos desta
teologia, como a estratgia da violncia etc., so os que ele gosta de tratar mais amide nas
suas conferncias
52
Para Cmara o ponto de partida do raciocnio teolgico a situao scio-poltica do
continentesul-americano, uma situao de misria, fome, ignorncia, injustia, opresso,
violncia institucionalizada. Ele est profundamente convencido de que a f crist situao
. quem cr na libertao de Cristo est empenhado em torn-la atual tambm no plano social,
poltico e econmico e deve, portanto, combater contra tudo o que estorva a sua realizao. O
verdadeiro cristianismo rejeita todo a idia de que alguns nasam pobres, outros nasam ricos,
e os pobres tenham o direito de aceitar a pobreza como a vontade de Deus; enquanto, ao
invs, a verdade que as injustias humanas so um problema nosso que deve ser resolvido
entre os homens, cnscios de que Deus no admite opresses e oprimidos, mas nos quer a
todos em nvel humano, em infra-humanizados pela misria nem desumanizados pela
riqueza. O capitalismo, na opinio de Cmara, um sistema intrinsecamente desumano,
pois coloca o capital acima do homem e faz do lucro o seu supremo objetivo.
Alm disso, ele acha que o capitalismo verdadeiramente perverso. Em si mesmo, o
socialismo um sistema profundamente humano. O socialismo autntico supe a socializao
do ter, do saber e do poder. No entanto, por mais que possa parecer incrvel, na teoria, o
socialismo mais humano e est mais perto do evangelho.


SAMUEL DA SILVA GOTAY

Biobibliografia

Gotay, embora seja um telogo relativamente obscuro em comparao aos outros,
Gotay deve ser levado em conta num estudo sobre a questo do marxismo na TDL por ter
escrito de forma relativamente extensa sobre o tema. A obra em principalmente o faz a sua
tese doutoral, publicada em 1981. Nela, procura passar em revista todo o desenvolvimento da
TDL at aquele ponto.
Com relao ao tema TDL, o trabalho de Gotay importante, por um lado, porque de
modo explcito e duma forma razoavelmente sistemtica das relaes e TDL, e, por outro, por
sua liberdade em explicitar seus prprios pressupostos tericos dentro de uma moldura
claramente marxista.
O marxismo permeia de forma to ntida suas exploraes em cada campo, que uma
avaliao que lhe faa completa justia teria que ir perseguindo e interpretando lentamente o
seu trabalho como um todo. Como isto no possvel aqui, tenta-se encontrar naquelas partes
53
em que ele lida explicitamente com a questo do estatuto terico e do modo de apropriao
do marxismo pela TDL. Gotay trata especialmente das relaes entre teologia e marxismo, F
e Ideologia.
Gotay conceitua ideologia, em parte ao menos, em relao com a cincia. Cincia
para ele, sempre citando Arce, a teoria que convalida objetivamente, conformando melhor, a
ideologia. Como para ele s a ideologia proletria pode ser considerada verdadeira.( p81)
Essa ideologia, segundo Gotay, tem duas dimenses. A primeira constituda pelo projeto
histrico socialista em que governam, de um lado a crtica cientfica das relaes de produo
e as foras produtivas, e, de outro, um projeto histrico econmico, social e poltico que
constitui a teoria estratgica a ser verificada historicamente. A Segunda dimenso
constituda por uma reflexo filosfica e epistemolgica, oposta a viso idealista do mundo,
que se compe tambm de dois elementos. Um afirma as mudanas dialticas na matria
como o fundamento dos processos naturais e histricos.





ELZA TAMEZ

Biobibliografia

TAMEZ, Elsa, nasceu no Mxico, atualmente ela mora em San J os, na Costa Rica.
Doutora em teologia pela Universidade de Lausanne (Sua). professora no Seminrio
Bblico Latino-americano. Autor de vrios livros e artigos sobre temas bblicos e sobre a
mulher. me de dois filhos.
Obras - Obra Un Nuevo Acercamiento al Cantar de los Cantares / tese apresentada
naUniversidade Nacional ( Costa Rica), 1985, indita
TAMEZ, Elza. Para uma leitura ldica do Cnticos dos Cnticos. IN. Religio e
Erotismo- Quando o Verbo se fez carne. Petrpolis / So Leopoldo, Editora Vozes / Sinodal,
2001 n 38-2001/1. Tamez faz parte do Conselho de Redao da RIBLA- Revista de
Interpretao Bblica Latina-americana

54
Pensamento Teolgico

O pano de fundo no seu pensamento teolgico a justificao somente pela f. A
justificao pela f vem sendo entendida , no fundo, como perdo dos pecados ao pecador ou
libertao da culpa (pelo sangue de Cristo derramado na cruz) , reconciliao com Deus ou
estar em paz com Deus.


RUBEM ALVES

Biobibliografia

Mineiro de Boa Esperana, Rubem Alves (1933) estudou no Seminrio Presbiteriano de
Campinas (SP), foi pastor em Lavras (MG), morou nos Estados Unidos de 65 a 68 onde fez
mestrado em Teologia e doutorado em Filosofia (Princeton). Professor da Unicamp, estudou
msica e poeta. Afirma que gosta dos telogos clssicos, especialmente Lutero e Agostinho,
pois os telogos hodiernos, diz Rubem, no contribuem muito para o seu pensamento. Afirma
gostar mais dos livros que escreveu para crianas, da porque assumiu a psicanalista por
profisso. Enquanto estudante nos Estadus Unidos foi discpulo de Rarvey Cox, de quem
recebeu muitos elogios por seu destaque como pensador, e apesar de influncias de Cox,
Chardin, Moltmann, Metz e Lemmann comportou-se sempre como um telogo marginal.
Obras- Publicou, como tese, A Teologia da Esperana Humana, e mais, Variaes
Sobre a Vida e a Morte, O que Religio, Filosofia da Cincia, Sobre o tempo e a Eternidade,
Pai nosso, Lies de Feitiaria, Gandhi, Suspiro dos Oprimidos, Enigma da Religio,
Protestantismo e Represso, Transparncia da Eternidade, O Retorno e Terno, O Quarto do
Mistrio, Navegando, Concerto para o corpo e a alma, E Ai?, A Menina e o Passaro
Encantado, O Gato que gostava de cenouras, Entre a Cincia e a Sapincia- dilema da
educao, Creio na Ressurreio do Corpo, etc.

Pensamento Teolgico

Rubem Alves um dos precursores da teologia da libertao. Em seus escritos
primeiros sobre a teologia da libertao comeou denunciando a situao de opresso em que
se debatiam as populaes pobres e fazendo emergir a instncia de um novo homem.
55
Tambm, examinado e criticando as tentativas de satisfazer as expectativas do novo homem
feitas por vrios messianismos humanisticos especialmente marxistas e, evidenciando os erros
e as lacunas das novas teologias, cuja culpa mais grave, na sua opinio, a de espozar as
ideologias seculares, limitando-se a traduzi-las em linguagem crist.
Em seu pensamento teolgico, Teologia no apenas objeto de racionalizao e
conceituao, da porque ele escolheu a teopotica como linguagem teolgica. Seu caminho
considerado original de pressupostos especficos, ele acredita que teologia antes de ser objeto
acadmico, ela faz parte do cotidiano e est intrinsecamente entrelaada na teia simblica
construindo relaes que nos formam. Tais relaes so perceptveis por meio dos smbolos
que do sustento vida. Os temas teolgicos residem nos corpos das pessoas: Tudo feito
pelo corpo, e a partir do corpo. O corpo uma grande razo. A teologia uma funo natural.
A religio deve ser entendida dentro da relao com o imaginrio humano, com os desejos
mais profundos, como forma de estabelecer dignidade da vida humana, defender o amor,
procurar novas formas de poder: Teia de smbolos, redes formada pelos desejos, confisso
daquilo que se espera, da saudade. A igreja e a tradio no podem estabelecer padro
segundo o seu mundo conceitual para a experincia religiosa.

Bibliografia
MAGALHES, Antnio. Deus no Espelho das Palavras. So Paulo, SP: Paulinas, 2000
ALVES, Rubem. Lies de Feitiaria. So Paulo, SP: Loyola. 2000
_____________. Variaes sobre a vida e a morte. So Paulo, SP: Paulinas, 1985.
MONDIN, Batista. Os telogos da Libertao. So Paulo, SP: Paulinas, 1980.


JUAN L. SEGUNDO

Biobibliografia

J uan L. Segundo nasceu em Montevidu em 1925. Cursou a Faculdade jesuta de
teologia de St. Albert em Lovaina obtendo a licenciatura em teologia em 1956, e a faculdade
de Letras da Universidade em Paris onde obteve o grau de Docteu s Lettres em 1963.
Telogo da Libertao especializado em pesquisa da sociologia da religio.
Principais obras: Berdiaeff, une reflexion chretienne sur la personne Aubier, Paris,
1963; Teologia para el laico adulto, em cinco volumes; La cristiandad una utopia?, 1963; La
56
liberacion dela teologia, 1975; O homem de hoje diante de J esus de Nazar, 1972; Teologia
da libertao: uma advertncia Igreja, 1975; Teologia y ciencias sociales, 1973.

Pensamento Teolgico

Segundo considerado um dos telogos mais preparados e representativos da
Teologia da Libertao. Sua teologia tenta apresentar de forma atualizada as verdades do
cristianismo. O pensamento dele parti de dois pressuposto: 1. O mundo onde vive o homem
contemporneo fala uma linguagem profundamente diversa daquela do mundo tradicional. 2.
Tambm os crentes esto envolvidos numa situao de crise muito sria.
Como conseqncia destes dois pressuposto, o objetivo teolgico de Segundo torna-se
dplice: a) exprimir a f numa linguagem compreensvel pelo homem moderno; b) aplicar as
verdades de f aos problemas sentidos e vividos pelo homem moderno. Assim, obtm ele uma
atualizao substancial que no diz respeito s a forma , mas tambm aos contedos da
mensagem, pois estes so registrados conforme os problemas, os anseios, as expectativas, as
perspectivas do homem do nosso tempo.
Segundo usa o evolucionismo de Teilhard de Chardin e o personalismo de Berdiaeff
como instrumentos hermenuticos para atualizar o kerygma evanglico; do primeiro, ele se
serve na exposio dos mistrios da graa, do pecado e da redeno; enquanto utiliza o
segundo na elaborao de um novo conceito de Deus e dos sacramentos.
J uan no condena a metafsica como um procedimento da mentalidade pr-cientfica,
definitivamente superado com o advento da cincia, como fizera Marx, Comte e outros
filsofos e telogos. At um certo ponto, ele julga legtima a validade da hermenutica do
mundo, porqu este mundo no tem um fundamento em si mesmo nem pelo que concerne sua
dimenso fsica nem pelo que diz respeito sua dimenso histrica. O que ele no aceita
adotar linguagem metafsica para exprimir a imagem de Deus. Assim Deus se torna uma
realidade infinita, eterna, inacessvel, feliz. Estudioso da filosofia personalista de N.
Berdiaeff, Segundo adota as categorias desta filosofia para propor uma nova imagem de Deus,
assim apresenta um Deus-Sociedade. Deus no uma pessoa, mas uma sociedade. tambm
Deus se revela no seu agir, isso significa que Deus se nos manifesta, sua pessoa na histria da
salvao.
Em sua obra, liberacion dela teologia, ele tenta renovar a prpria teologia, ele o
primeiro a escrever uma obra to vasta e sistemtica sobre o tema da libertao da teologia.
Ele considera que a teologia deve ser completamente livre. Assim cria uma teoria dos
57
contedos da revelao que lhe consente manter firme os seus pensamentos. Ele tenta
estabelecer a tarefa essencial do telogo que a de ver Deus, imagem de nossa f ligado ao
nosso cotidiano, a nossa histria e suas mudanas. Assim estabelece a forma mais radical de
demitizao da sagrada escritura; o N.T. tido como ideologia.

Bibliografia
MONDIN, Batista. Os Telogos da Libertao. So Paulo, SP: Paulinas, 1980.











TEOLOGIA AFRICANA

Uma Cristologia Africana

A teologia negra sul-africana se voltou para o J esus histrico dos evangelhos
sinticos (Mateus, Marcos e Lucas) como outras teologias da libertao ,
descobrindo nele o libertador dos oprimidos.
J unto com essa imagem de J esus Libertador, porm, incorpora influncias do
Movimento de Conscincia Negra, que convida negros e negras a acolher a beleza de
sua raa.
fundamental, para isso, fazer valer a prpria histria e tradio. Foi-se o
tempo da histria contada por conquistadores holandeses e ingleses sobre "negros
pagos". Agora a vez da histria dos mrtires negros que lutaram pela justia. No
uma histria de excluso ou submisso, mas de incluso e libertao.
Essa teologia defende que J esus passou a vida restituindo aos oprimidos e
oprimidas a histria e as tradies que lhes estavam sendo negadas.
Curados, os leprosos podem agora apresentar aos sacerdotes as oferendas
prescritas. Os aleijados podem guardar o sbado. Os cegos, os coxos e as crianas
podem acompanhar J esus ao templo. As prostitutas podem reclamar sua entrada no
Reino de Deus. Os cobradores de impostos podem ser chamados "filhos de Abrao".
58

A todos eles e elas, doentes e pecadores, todos os excludos, J esus restitui sua
histria e suas tradies.
12
So conhecidos os efeitos devastadores do colonialismo sobre costumes e prticas
africanas.
No campo religioso, segundo o lder cristo sul-africano Desmond Tutu bispo
anglicano e Prmio Nobel da Paz , existe uma esquizofrenia na alma africana, entre a cultura
tradicional do continente e o cristianismo ocidental.
A cultura ocidental chegou junto com o Evangelho. Com freqncia, por exemplo,
msica, ritmos e danas africanos foram substitudos por cnticos ocidentais acompanhados
por um rgo importado. Face herana perversa do colonialismo, tanto no campo cultural
quanto no poltico, no de se estranhar que os telogos africanos, quando se esforam em ler
o Evangelho nos diferentes contextos locais, caminhem em duas direes. Uns do prioridade
s questes polticas (telogos da libertao), enquanto outros consideram prioritrias as
questes ligadas cultura africana (telogos da inculturao).
At pouco tempo atrs, a maioria dos telogos da libertao provinha da frica do Sul.
Ali, a teologia negra relacionava a mensagem libertadora do Evangelho com as situaes de
opresso provocadas pelo apartheid. Para esses telogos, J esus um libertador.
Sem dvida, porm, para a maior parte da frica ao sul do Saara, a forma dominante
a teologia da inculturao. A meta integrar o cristianismo na vida e na cultura dos povos
africanos. Os principais representantes dessa teologia definem J esus como o Irmo mais
Velho, o Antepassado, o Chefe ou Aquele que cura. So imagens familiares cultura africana.
J .R.L./P.P-L.
Outra figura-chave da vida tribal africana a pessoa encarregada de
restabelecer a plenitude e a salvao. o nganga, o curandeiro-mdico tradicional.
Um telogo congols explica que o curandeiro a pessoa mais poderosa e complexa
da sociedade. De fato, a palavra "nganga" pode ser traduzida por sacerdote, qumico,
mago, profeta e vidente.
Qualquer nome que se use, o importante na cura africana seu carter
holstico, isto , leva-se em conta a totalidade da pessoa, matria e esprito. Busca-se
tanto detectar as provveis causas espirituais quanto sociais do sofrimento fsico ou
das tenses na comunidade.
Uma vez diagnosticada a doena, o nganga receita remdios que vo desde
sacrifcios at danas pelo restabelecimento das relaes sociais.
Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas esto cheios de histrias que
mostram J esus curando. So trs as semelhanas entre J esus como Aquele que cura e o
nganga africano:
Em primeiro lugar, J esus reconhece a ligao entre corpo e esprito. J unto com
a cura fsica, ele perdoa a culpa: "Os teus pecados esto perdoados" (Mc 2,5). E elogia
a f dos doentes: "A tua f te curou" (Mc 10,52).
Em segundo lugar, J esus coloca a doena no contexto da reintegrao social.
Os portadores de lepra hoje conhecida como hansenase tm que avisar os
sacerdotes (Mc 1,44; Lc 17,14). O possudo pelo demnio, de Gerasa, tem que voltar
para casa e para junto de seus amigos (Mc 5,19). A sogra de Pedro tem que voltar a
cuidar da casa depois de curada (Mc 1,31). At mesmo as palavras "vo em paz"
contm o sentido da totalidade social e do restabelecimento da sade (Mc 5,34).

12
Trechos de matria publicada pelo boletim "Dei Verbum", da Federao Bblica Catlica (N 42,
1/97).

59
Finalmente, os mtodos de cura de J esus se aproximam aos dos nganga
africanos. Ele aplica saliva ou mistura de saliva e barro sobre o corpo do enfermo (Mc
8,23), cospe nos dedos e toca a lngua do surdo-mudo (Mc 7,33), faz sinais e geme
(Mc 7,34).

O POVO NEGRO E A BBLIA: CAMINHOS DE APROXIMAO
Heitor FRISOTTI

O que quer dizer interpretar como negro?
Em primeiro lugar, acho que significa do lugar onde o negro se encontra hoje. Um
lugar social, um lugar cultural e um lugar de f. Uma leitura negra da Bblia est
principalmente preocupada em dar uma resposta s situaes conflitivas de hoje que atravess
am a vida da maioria da populao negra.
Isso obriga, naturalmente, a uma mudana de lugar, a um tomar partido, a sair da
prpria casa para se encontrar na casa dos outros. uma verdadeira converso para um outro
olhar. Muito mais para brancos do que para negros, para homens do que para mulh eres, para
sacerdotes, religiosos/as e pastores/as do que para leigos, para remediados do que para pobres,
para os que participam de alguma forma de poder do que para despossudos. Mas tarefa que
no exclui ningum, porque na situao de dominao em qu e vivemos tambm um negro
deve continuamente tornar-se negro, uma mulher tornar-se mulher, um pobre optar pelos
pobres, e um branco... tornar-se gente (o que s possvel na medida em que deixa o poder e
se identifica com os ltimos). Vamos tentar descre ver esses lugares que nos esperam.

O LUGAR DA DOR: a tica de quem sofre pelo racismo.
No saberia caracterizar com uma palavra melhor do que dor a situao que rene
todo tipo de humilhao sofrida pelo povo negro: econmica, poltica, afetiva, psicolgica,
racial...
a humilhao pela discriminao racial (dimenso econmica do racismo) que se
manifesta principalmente no mundo do acesso ao trabalho. O racismo tem sua base
econmica prpria: um negro pobre preterido ao branco pobre quando, em i gualdade de
condies, procura trabalho ou deve ser promovido, e o principal alvo dos salrios mais
baixos, da represso s reivindicaes sindicais, ou nas demisses. A mulher negra sofre mais
do que o homem negro ou a mulher no-negra esta discrimina o.
discriminao econmica, que favorece a manuteno na situao de pobreza,
somam-se outras discriminaes sociais: no acesso aos lugares reservados aos brancos, na
opo de moradia, no acesso a estudos melhores, na possibilidade de uma relao afetiv a
duradoura, nos cargos de poder, at na religio.
a humilhao pelo preconceito racial (dimenso ideolgica do racismo) ou pela
violncia identidade pessoal. Construiu-se no Brasil, como adaptao do racismo cientfico
de origem europia, a ideologia e a poltica do branqueamento .
Ideologicamente, o branqueamento a associao do negro a tudo o que ruim e feio
e, por outro lado, a associao do branco a tudo o que bom e bonito. Assim o cabelo do/a
negro/a ruim, a cor da pele uma sina, a beleza (segundo o padro branco) impossvel
para o homem e a mulher negra. Mas a caracterizao tambm moral: o negro suspeito, o
branco confivel; o negro suja, o branco que erra coisa normal; a religio do negro
inferior ou demonaca, a do branco superior e divina.
Politicamente, o branqueamento se caracterizou por uma legislao favorvel
imigrao de europeus; oferta de condies econmicas, de educao e de trabalho melhores
para os europeus e seus descendentes, e ao mesmo tempo, por uma ausncia de aten es para
com a populao negra. Em 1911, o diretor do Museu Nacional, J oo Batista de Lacerda, que
60
representava o Brasil no 1 Congresso Universal de Raas, em Londres, apresentava a poltica
brasileira afirmando que "j que se viram filhos de mestios apr esentarem, na terceira
gerao, todos os caracteres fsicos da raa branca, (...) lgico esperar que, no curso de mais
um sculo, os mestios tenham desaparecido do Brasil"; isso iria coincidir com "a extino
paralela da raa negra em nosso meio " pois, desde a Abolio, os negros tinham ficado
"expostos a toda espcie de agentes de destruio e sem recursos suficienciais para se
manter".1
Variao ideolgica do branqueamento foi a ideologia da mestiagem ou
miscigenao, que promoveu a imagem do mestio ou mulata, associada descrio do pas
como uma verdadeira democracia racial, de relaes cordiais entre as raas. Segundo esse
modo de pensar, o mestio reuniria o melhor do branco e do negro (e do ndio), e favorecido
na ascenso social, sendo o mais apto para viver no Brasil. Num pas em que as raas so
diludas e h uma notvel variao de cores, num pas que prestigia o mestio, e ste no
poder ser "o cmplice do branco contra o preto" e tampouco "o cmplice do negro contra o
branco", afirmava o socilogo Gilberto Freyre,2 esperando aliviar assim as tenses scio-
raciais.
Na realidade, o mestio vive uma crise de identidade, pois no nem um, nem outro:
no mais negro, no chega a ser branco, no sabe que sangue de ndio tem. um ser sem
identificao de origem e, por isso, sem histria, pois dificilmente pode ident ificar-se com
um dos grupos tnicos que fizeram esse pas. Pode identificar-se com alguns personagens
histricos, mas raramente com comunidades: vive solitrio.
Na sociedade, a elite dominante branca que determina quando ele parecido com o
branco - e tem livre acesso - e quando parecido com um negro - e discriminado. Assim, a
mesma pessoa, branca na Bahia e negra no Rio Grande do Sul, branca demais para
trabalhar na limpeza das ruas e negra demais para ser gerente de banco. Quem decide sobre
sua 'boa aparncia' (uma forma sutil para discriminar, pois uma mulher ou homem negro
nunca tero 'boa aparncia', mesmo que sejam mais bonitos do que muitos homens e mulheres
brancas) o branco patro.
O resultado desse processo de branqueamento a identidade negra negada e uma
ideologia introjetada difcil de erradicar: as crianas negras acham que nasceram na famlia
errada ou com a pele errada; os adolescentes a juventude negra se acham mais feio s e no
gostam do seu corpo; os trabalhadores no tm como competir com aqueles que nasceram
para vencer. Nos livros de escola e nos meios de comunicao o passado do negro para
esconder ou, quando lembrado, para mostrar que era escravo; a famlia d o negro no
existe; o trabalho do negro o pior; o futuro do negro o crime ou a pobreza; a mulher negra
fica na cozinha e a mulata esbanja sensualidade: contudo, ser desejada, mas nunca amada.
a humilhao, comum a muitos pobres, pela situao de opresso e excluso, que
acaba se tornando uma verdadeira segregao ou apartheid social (dimenso scio-poltica):
mesmo que no existam leis a respeito, fcil identificar casa e bairro de negro, escola de
negro, trabalho de negro, doena e mdico de negro, supermercado de negro, praia de negro,
carro de negro, etc.
No s isso, pois a excluso atinge os direitos humanos, sociais e civis. A polcia e os
tribunais tratam de maneira diferente brancos, mestios e negros, mulheres brancas e
mulheres negras, crianas brancas e crianas negras. O mundo da poltica reser va lugares
diferentes aos brancos e aos negros. E, apesar de estar continuamente se organizando, em
associaes de moradores, clubes, movimentos, times de futebol, blocos de Carnaval,
comunidades e terreiros, o negro considerado a-social e sem direitos.
Tudo isso vivido por cada pessoa negra com profunda dor, que vem de longe, que
atinge irmos e pessoas conhecidas, que parece aguardar na prxima esquina. E mostra um
61
mundo diferente daquele que propagandado na sociedade ou ensinado nas escolas. Ma s o
mundo real que se mostra com toda a sua dramaticidade a quem sofre.
Quem domina, quem se reserva o exerccio do poder, tem outra imagem: um salrio
baixo, que faz a famlia de um trabalhador passar fome, uma necessidade da produo ou da
estabilizao da economia; um negro que reivindica direitos iguais ou especfico s promove o
racismo ou no tem pacincia histrica; uma mulher se prostitui porque gosta; uma criana
negra na rua sempre um menor, que no quer trabalhar (infrator) ou que um coitadinho que
precisa da assistncia dos brancos (carente); um poli cial que mata um negro correndo
preserva a segurana da sociedade; as violncias do poder na histria - e a omisso das Igrejas
- foram devidas 'conscincia possvel' daquele tempo que impedia enxergar melhor. a
viso de quem fere. Outros se desculpam dizendo que foi sem querer, que no tm culpa. Mas
a ferida existe, que a facada tenha sido voluntria ou no.
A dor torna-se, ento, um dos princpios hermenuticos fundamentais ao ponto de
podermos afirmar que quem no sofre, no entende. A dor vivida o primeiro passo para
entender as prticas e as falas que legitimam o poder e a violncia, e as nece ssidades e os
sonhos de quem est jogado no cho (cf. Lc 10,25-37). No h outra maneira de se aproximar
da verdade numa sociedade atravessada por conflitos.
Pilatos estava impossibilitado de saber qual era a verdade sobre J esus e sobre o povo,
pois encarnava e defendia a dominao e o poder institucionalizados (J o 18,38). Moiss
estava impossibilitado de conhecer o Deus da vida enquanto residia no palcio de Fara; teve
que sair do saber dominante e encontrar-se no deserto, desamparado do poder, da religio e da
cultura oficial do Egito, para que uma sara ardendo pudesse lhe revelar a dor e a fora de
Deus (Ex 3). J esus teve que se encontrar diante do sof rimento de uma mulher siro-fencia
(Mc 7,24-30), vtima de maldio - pois excluda da bno de Deus por ser estrangeira,
'idlatra' e mulher -, para poder anunciar a Boa Notcia de um Deus que se aproxima dos
ltimos e discriminados superando barreiras.
A identificao com os excludos da sociedade tal que J esus acaba assumindo em sua
carne a condio de maldito, ao morrer na cruz e fora da Cidade Santa (Gl 3,13). a nova
verdade, a dos 'vencidos', que enfrenta a do poder constitudo; o novo cami nho, o da
solidariedade, que contrasta com as prticas da excluso, prprias de quem detm o poder; a
oferta da vida, diante dos poderes de morte. O que faz dessa opo "o caminho, a verdade e a
vida" para todos (J o 14,6).
Acredito que partilhar a dor dos ltimos e excludos o caminho para se aproximar da
verdade que se faz justia. Encerrada nesta dor est a melhor radiografia da sociedade, mas
tambm a possibilidade de superao das discriminaes e injustias, pois, na convivncia, na
solidariedade, no compromisso pela mesma luta encontra-se a possibilidade de achar outra
resposta s questes postas pelas cincias: como entender a alteridade, como partilhar de outra
cultura, como perceber a revelao de outra religi o.

O LUGAR DO SER NEGRO ou o lugar da identidade-comunho.
Identidade negra no s o que o branco diz e reserva para o povo negro na nossa
sociedade. O negro se reconhece enquanto tal tambm a partir de outras relaes, de outras
vivncias, de outras realidades e no s pelo racismo que o atinge e pelas imagens que a elite
branca projeta sobre sua vida.
Muitas destas relaes e vivncias esto na famlia: nas pessoas amadas, que muitas
vezes vo alm das fronteiras de sangue ou de parentesco; na organizao do tempo e dos
servios; na maneira de celebrar e fazer festa; no modo de socorrer quem precisa de ajuda ou
de cuidar de um doente; nas referncias plurais de autoridade; na maneira de preparar,
distribuir e consumir a comida; no contar, cantar e danar as histrias; nas pessoas lembradas
que j se foram; nas solidariedades e tambm no modo de orga nizar o lazer, de receber e
62
fazer carinhos, de pentear o cabelo, de afagar no peito ou ninar no colo e, naturalmente, na
maneira de rezar e falar de Deus.
Nos terreiros, famlias amplas ao redor de um parentesco espiritual, descobrimos que
identidade um processo, mais do que algo que se tem. Ela se constitui ao longo do tempo
como um caminho de identificao em que, ao sangue e raa, acrescentam-se o utros
elementos que fazem das pessoas comunho.
Identidade, ento, se (re)constitui a partir das relaes de famlia - repetimos, no
restritas linhagem de sangue, mas amplas, ao redor de quem acolheu, de quem ensinou, de
quem curou, de quem amou, de quem castigou ou ajudou, etc.; saber c orrer no tempo para
reconhecer-se na vivncia dos antepassados, os mortos que souberam fazer de sua vida uma
contnua doao, um ensinamento a recolher e praticar, uma memria que vive nos filhos; e
tambm se constitui pelo sonho em comum pa ra se manter vivo, recuperar foras e nimo,
lutar para defender os irmos e transformar as vitrias em direitos reconhecidos e
comunidades organizadas.3
Resumindo, identidade se faz respondendo s perguntas: de onde eu venho? com quem
estou? para onde vou? Nas comunidades religiosas de candombl, isso se transforma em
respeito e cultivo pelos antepassados e ancestrais, dos quais vem a Tradio e a voca o, eles
que esto origem da famlia-comunidade e dos servios para preserv-la e faz-la crescer e
afirmar; respeito e cultivo da comunidade, feita de tudo o que vive e existe: no s pessoas,
mas tambm animais, plantas e toda a natureza, pois todo s er fala de Deus, nos ensina coisas
da vida, para a comunidade e, por isso, tem que ser preservado, alimentado e promovido;
respeito e cultivo tambm pelos filhos e toda pessoa que chega porta de casa: so o futuro a
zelar e trazem tambm vida (e confl itos, e problemas, e dores, mas tambm alegrias,
esperanas, ajuda, riquezas espirituais e materiais). Tudo isso, a memria, a comunho, o
viver bem, so Ax, fora viva de Deus.
Identidade identificao e por isso luta. Dito assim esquematicamente, pode
parecer pouco lgico, mas ao pensar que identificao criar laos de solidariedade e afetos,
comunho de interesses e sonhos, fazer uma s carne com as pessoas amadas , entende-se
melhor porque luta: pois, se luta para defender quem se ama e o que se ama, muito mais do
que por uma idia ou uma motivao moral.
Por isso, a dimenso afetiva ergue-se tambm como possibilidade hermenutica: ela
supera barreiras e permite entender com a dor e os sonhos dos outros. Inclusive faz do destino
dos outros o prprio destino. Estamos lembrando neste momento algumas reali dades que
poderamos considerar smbolos do que afirmamos: as madres de la Plaza de Mayo argentinas
que desafiaram a ditadura, procura de uma resposta sobre seus filhos desaparecidos e
vtimas dos militares.4 Em 1992, ainda desafiavam o poder d emocrtico, opondo-se a receber
uma indenizao para os ex-presos polticos no perodo entre 1972 e 1983, pois a nica
compensao que queriam era a punio dos responsveis pelos crimes.5
Como elas, as vivas dos mrtires da terra no Maranho, e em todo o Brasil, exigem
justia. Vinte e cinco delas, vestidas de luto e tendo na cabea tiras de pano com os nomes dos
maridos mortos, fizeram disso motivo para desafiar autoridades e pedir ju stia tambm a J oo
Paulo II, durante sua visita ao Brasil em 1991.6 "A gente no pode enterrar marido e filho e se
enterrar tambm", declarou naquele dia Maria das Graas Machado, uma das lderes do
movimento; a ela fez eco Terezinha Rodrguez: "O que pedimos justia. Queremos que
acabe a impunidade dos assassinos, executores e mandantes, a maioria dos quais bem
conhecida".7
Seu grito de dor incomoda, assim como incomodam as mes de Acari, na Baixada
Fluminense, que lutam contra os esquadres da morte, que matam suas crianas, e chegam a
se tornar vtimas, como seus filhos e filhas, dos mesmos assassinos. o caso de Edmi a da
Silva Eusbio e Sheila da Conceio, assassinadas em 15 de janeiro de 1993, aps denunciar
63
que policiais eram responsveis pelo desaparecimento das crianas. "Eu no aceito que digam
que no tem soluo - dizia Edmia. Vou continuar cobrando, nem que eu saia daqui agora e
eles me matem ali".8
Para muitos, e para a sociedade, estes filhos e esposos esto mortos e no h nada a
fazer: so lutas inteis. Para estas mulheres, a dor ainda est no ventre e s acabar quando
esta sociedade mudar e trilhar caminhos de justia, para evitar que outro s morram. Elas esto
com a verdade e o saber que liberta.

O LUGAR DA F DO POVO NEGRO, f plural e prpria, diferente e forte.
O terceiro lugar a f, entendida como f de comunidades e f na histria. preciso
voltar-se ecumenicamente para essa fonte de vida: olhar para comunidades de f - familiares
ou amplas, catlicas ou protestantes, populares e devocionais, ao redor de pe ssoas
carismticas ou organizadas em irmandades, terreiros e aldeias, CEBs ou grupos - que possam
nos lembrar o que viver a f em comunho e no sozinhos, como Deus marca sua presena
na comunidade e como esta presena celebrada, de modos diferentes, mas que sempre
alimento para viver e viver melhor, agradecendo e pedindo fora, se protegendo e sendo
jogados para fazer coisas novas.
No s no hoje, mas no tempo tambm. Cada uma dessas comunidades tem sua
histria de f, sabe narrar e celebrar como Deus se manifestou na sua histria e na histria dos
homens, tem suas 'pedras' assentadas (usando a imagem bblica de J s 24,26s) para l embrar
como Deus interveio, como foi saudado e celebrado, como os lugares por onde passamos se
tornaram lugares santos e dignos de respeito. Sobretudo, como as pessoas se tornaram dignas
de respeito, porque amadas e salvas por Deus. Nossos pais nos lembra m disso, nossos irmos
e irms nos lembram disso, nossas humilhaes e sonhos nos fazem desejar isso para ns e
para muitos e muitas.
uma histria de salvao brasileira, que tem que ser resgatada porque foi, e continua
sendo, palavra de Deus. Por ela, chegamos tambm histria dos outros, histria dos grupos
oprimidos e discriminados em Israel, histria de J esus e nos reconhecemos nelas como num
espelho. por isso que falamos, talvez escandalizando alguns, que a Bblia a terceira
palavra de Deus: ela vem aps a primeira palavra, que presena de Deus em nossa vida, e a
segunda palavra, que a presena de Deus em n ossa comunidade de f e na histria dessa
comunidade. Sob pena de, em lugar de ser espelho, a Bblia tornar-se cenrio artificial: ao sair
do teatro, o mundo outro e esta palavra vazia, quando no violenta.
Convidamos, pois a mudar de lugar e tomar partido. o caminho da solidariedade,
condio necessria de leitura, interpretao e transformao da Bblia (e da vida de todos
ns). Solidariedade que se apia na partilha da dor, na partilha da identidade e dos caminhos,
na partilha da f. Pois, solidariedade no sinnimo de compromisso em algumas lutas ou em
alguns momentos, mas de vivncia de comunho. Solidariedade o caminhar juntos,
carregando o peso dos outros, partilhando das dores e tambm das f estas, da viso do mundo,
inclusive da leitura de f de outra comunidade de f. Quem a vive, no idealiza o outro, mas
carrega tambm seus limites, compreende seu pecado, pois a queda do outro vivida como a
prpria queda.
Solidariedade no , ento, uma atitude guerreiro-intervencionista, mas uma
comunho na afetividade e na dor, para sempre. como gravidez: carregar e ser carregado.
Neste sentido, tambm alimentar-se juntos, um(a) dando sua carne e seu sangue como
alimento para o outro. No foi por acaso que o Senhor falou em 'comer da sua carne e do seu
sangue', em fazer-se alimento para a vida dos irmos (cf. J o 6,35-58). Por isso, comunho de
destino que sabe respeitar as identidades distintas. Assim como "qu em ama nasceu de Deus e
conhece a Deus" (1J o 4,7), s quem ama os mais pobres de um povo pode nascer de novo,
64
com eles, pode conhec-lo de dentro e entender a alteridade dos grupos oprimidos - em sua
etnia, raa, sexo e religio - como manifestao de Deu s.
fundamental, pois, viver em comunidade esta 'solidariedade tnica' junto aos
oprimidos e aos ltimos da sociedade para fazer uma leitura tnico-racial da Bblia: trata-se de
"estar solidrio com essas etnias na busca da sua identidade. (...) sentir como experimentam
Deus na sua condio de marginalizados e como, atravs de seus smbolos, cultos e
manifestaes religiosas, denunciam as injustias e opresses existentes e anunciam a justia
de Deus".9
A leitura negra da Bblia se mostra como:
uma leitura comunitria. Se a experincia fundamental de resgate da identidade
negra a famlia ampla, a comunidade organizada, ento o caminho melhor o de uma leitura
feita em comum e de uma produo feita em comum. A prtica ociden tal privilegia o texto
escrito e produzido individualmente. Acredito que uma leitura negra possa oferecer produes
comunitrias (mais do que coletivas) em que a experincia do grupo tenha mais peso do que o
telogo que assina o artigo, em que o destaque vai mais para a comunidade do que para uma
pessoa, e tambm produes mais tpicas da tradio oral: contos, cantos, danas, histrias
simblicas, poesias, dramatizaes, celebraes, etc. At na hora de ler ou proclamar trechos
bblicos poderia se dar ma is destaque a um texto narrado, dramatizado ou cantado, do que a
um texto escrito e lido.10
uma leitura feita a partir da prpria histria. medida em que se rel e se resgata a
prpria histria - histria de dor e solidariedades, de presena e revelao de Deus -,
possvel se abrir a outras histrias que aos poucos se torn am tambm prprias. Conhecer a
histria das pessoas e de uma comunidade o passo melhor para entender o que ela est
celebrando e o que est por trs do que est sendo anunciado ou vivido. uma experincia
que muitos de ns tm feito nas comunidades cri sts e tambm no encontro com
comunidades-terreiro. Desse modo, tambm conhecer histrias contadas na Bblia abre a
possibilidade de que se tornem prprias, mesmo que diferentes ou pertencentes a um povo que
celebrava Deus de outros jeito.
uma leitura feita com outro olhar e a partir das prprias razes culturais,
comunitrias e de f. nesse momento que se percebe que, mais do que temas, outra
maneira de se aproximar, de ler, de perguntar, de viver, de se relacionar c om a f das
comunidades bblicas. A leitura negra no vai poder evitar a referncia contnua palavra dos
antepassados, revivida como comunho no tempo e vocao; tradio oral como momento
de memria e de educao comunitria e simblica; ao resgate d a relao com a natureza,
manifestao de Deus que vive, que cria continuamente e tem poder de vida e morte; me
que mantm a identidade e a diferena da vida no ventre, que torna-se alimento, ou vida que
nasce do ventre, que passa pela dor, que preci sa de cuidados; partilha dos dons e das
oferendas, vida que se troca, ao alimentar-se uns aos outros, ao sacrifcio como doao; e
tambm festa que celebra a vida reafirmada no meio de tanta dor, o canto e a dana que
acompanham nascimento e morte, paz e guerra, seca e abundncia, doena e cura, amor e
solido.
O telogo anglicano J ohn Mbiti, do Qunia, tem afirmado, entre outros telogos e
biblistas africanos, que na frica a Bblia um livro vivido pela comunidade evivo atravs da
comunidade e para a comunidade, cujo fundamento e objetivo Deus: "A frica vive na
Bblia e a Bblia viva na frica".11 Essa experincia tambm a dos cristos negros nas
Amricas. Para ser mais corretos, deveramos dizer que o j, mas ainda no. Estamos a
caminho para que se torne sempre mais exper incia de comunho na dor, nos afetos, no
tempo, com tudo o que vive, e comunho tambm de f, para que a Bblia deixe de ser palavra
violenta para os outros e seja gua viva para muitos e muitas.
65
Quero tambm trazer aqui algumas afirmaes de Slvia Regina, anotadas no
Seminrio de setembro de 1993, que acho mais iluminadoras daquilo que eu acabei
gaguejando: "quero ligar mulher, negritude, Igreja e sociedade, e ler a Bblia a partir dos meus
i rmos e minhas irms". "No se trata de trabalhar textos avulsos, mas de um jeito de ler toda
a Bblia: no podemos reduzir o negro a pedacinhos de Bblia. Entrar na histria do povo
negro no trabalhar um tema a mais: Aliana, um pacto, uma experinc ia religiosa".
"Quem capaz de suar conosco quando celebramos, capaz de se aproximar da experincia
de Deus que fazemos; quem sofre conosco a dor da discriminao, capaz de entender o
nosso pranto e o nosso grito". "Conhecer tem a ver com intimidade, o que falta aos
investigadores e leitores de livro. Conhecer saber que no conhecemos, saber estar diante
do mistrio, silenciar".
E tambm: "algumas pessoas so chamadas a aprofundar-se no conhecimento: isso
significa partilhar de tudo, da vida, do destino, das dores e risos do nosso povo; para muitos
de ns, negros e negras, isso voltar para casa, re-adquirir a herana, re -fazer-se, re-
constituir-se: guardamos a saudade de uma experincia de Deus diferente". "A vida do povo
negro terra santa... h que tirar as sandlias!". "Possivelmente, o grande mistrio vivido pelo
povo negro, o segredo de sua hermenutica bblica, fo i ter descoberto que esta mesma Bblia
no a palavra de Deus, mas uma Palavra de Deus; este mesmo Deus nos dirigiu outra
Palavra, nos falou e nos fala pelos Orixs, pela tradio de nossos Antepassados"; "negar
meus antepassados trair-me; neg ar a Bblia trair-me: so minhas heranas".12

Notas:
1 . Apud Thomas SKIDMORE, Preto no Branco, Rio de J aneiro, Paz e Terra, 1976, p. 81-83
(grifos meus).
2 . Gilberto FREYRE, Sobrados e Mucambos, t. II, (1936), 6 ed., Rio de J aneiro, J os
Olympio, 1981, p. 650.
3 . Na frica comum falar nessa comunho ampla com todos os seres vivos: comunho
vertical, com os antepassados, e horizontal, com a famlia, as pessoas em geral e a natureza.
Cf. Vincent MULAGO, Elements fondamentaux de la religion africaine. In: CERA, Religions
africaines et christianisme. Colloque International de Kinshasa, 9-14 janvier 1978,
Kinshasa/Limete (Zaire), 1979, p. 43-63; em portugus: Gabriel Molehe SETILOANE,
Teologia africana. Uma introduo, So Bernardo do Campo, EDITEO, 1992, p. 23-36;
Andr LUKAMBA, Nova etapa missionria em frica. Redescobrir para repropor, So Paulo,
Loyola, 1992, p. 45-67. Veja tambm: Franziska C. REHBEIN, Candombl e salvao. A
salvao na religio nag luz da teologia crist, So Paulo, Loyola, 1985, p. 40-53.
4 . Cf. Mes de desaparecidos. In: Sem Fronteiras, n 185, dez. 1990, p. 25s.
5 . Cf. Indenizao para ex-presos polticos. In: Sem Fronteiras, n 203, out. 1992, p. 31. Aps
a ditadura, os familiares dos desaparecidos continuavam registrando seus filhos no censo
argentino. "Mesmo que no estejam conosco, no os consideraremos nunca mortos. Por isso
os registramos como pertencentes s nossas famlias" declarou Hebe de Bonafini, presidente
das Mes da Praa de Maio (Continuam vivos. In: Sem Fronteiras, n 196, jan-fev. 1992, p.
35). Cf. tambm Mary E. HUNT, Mortos mas ainda desa parecidos. As mes da Praa de
Maio transformam a Argentina. In: Concilium 247, 1993/3, p. 96-105.
6 . Cf. Tarcsio PRAND, Vivas vo luta. In: Sem Fronteiras, n 197, maro 1992, p. 14. Na
ocasio, declararam imprensa tambm sua decepo por "ver as onas perto do Papa e ns
longe - segundo denunciou Ardenora Mendes da Silva -. L estava o che fo da UDR de
Bacabal e outros companheiros... E ns, tocadas para longe pela segurana" (ibid.).
7 . Ibid., p. 13.
66
8 . Ktia MEDEIROS e Elza Maria GHELLER, As mes de Acari, datilografado distribudo
pelo "Projeto Sofia: Mulher, Teologia e Cidadania" do Instituto de Estudos da Religio
(ISER), Rio de J aneiro, abr. 1993, p. 5.
9 . Maria C. de FREITAS, Profetismo na Nova Evangelizao. In: AA. VV., Dimenso
Proftica da Vida Religiosa na Nova Evangelizao, Rio de J aneiro, CRB, 1990, p. 64s.
10 . Alm de ser experincia e constatao de muitas comunidades crists, essa tambm uma
das observaes do telogo queniano J ohn MBITI: " Bblia dever-se-ia conceder a liberdade
de circular oralmente, assim como aconteceu nos estgios iniciais do seu desenvolvimento. A
Igreja deveria facilitar e aproveitar a tradio oral nessas maneiras: incentivando a leitura
pblica da Bblia, insistindo mais em narrar os fatos bblicos, facilitando a memorizao de
trechos e versculos, utilizando mais textos bblicos e cnticos e hinos neles inspirados,
dramatizando sagradas representaes de inspirao bblica e, naturalmente, aprofundando em
nvel cientfico a confrontao entre a tradio oral na Bblia e a literatura oral africana" (cf.
La Bibbia nella c ultura africana. In: Rosino GIBELLINI (ed.), Percorsi di teologia africana,
Brescia, Queriniana, 1994, p. 47).
11 . La Bibbia nella cultura africana, p. 60.
12 . Algumas dessas frases esto no texto que citamos anteriormente; outras fazem parte de
minhas anotaes na hora da exposio.













TELOGOS DA FRICA

Arcebispo Desmond Tutu

Biobibligrafia

Desmond Msilo Tutu nasceu no dia 7 de outubro de 1931, em Klesksdorp na Provncia
Noroeste (North West Provinde), antes chamada de West Transvoal, na frica do Sul. Seu pai
era professor, e Tutu foi educado na joannesburg Bantu High School (Escola Bantu de
J ohannesburgo). Aps concluir sua educao secundria, Tutu foi para a Pretoria Bantu
Normal College onde obteve a formao de professor em 1953.m 1954 ele graduou-se pela
University q South frica com o grau de Bacharel em Artes (correspondente a Bacharel em
Letras e Artes). Correspondente a Bacharel em Letras e Artes no sistema de educao
67
brasileiro. No ano seguinte (1955) Tutu casou-se com Leah Nomaliso, com quem teve quatro
filhos.
Por trs anos ele trabalhou como professor do ensino mdio na localidade de
Krungersdorp, em seguida iniciou seus estudos teolgicos na St.Peters Theological College,
tornando-se dicono em 1960, servindo na localidade Benoni, e sacerdote em 1961, quando
foi ordenado.
A famlia Tutu viveu na Inglaterra nos anos de 1962 a 1966. Durante esse perodo
Tutu trabalhou como cura e graduou-se Bacharel em Divindade e Mestre em Teologia. Entre
1967 e 1972 ele ensinou no Federal Theological Seminary no Cabo e na University of
Botswana, Lesotho e Swaziland, antes de retornar Inglaterra onde permaneceu por trs anos
como diretor assistente de um Instituto Teolgico em Londres; Em 1975, Tutu esteve mais
uma vez na Inglaterra, quando trabalhou pra o Conselho Mundial de Igrejas (World Council
of Chuirches). No mesmo ano ele foi iniciado para a posio na Igreja Anglicana da frica do
Sul nos anos de 1975 e 1976. Ainda em 1976, Tutu foi consagrado Bispo de Lesotho, onde
permaneceu at 1978, ano no qual passou a ocupar a funo de Secretrio Geral do Conselho
de Igrejas da frica do Sul.
Em 1979, Desmond Tutu recebeu o ttulo de Doutor Honores causa em Direito da
Universidade de Harvard, EUA. Tutu tambm recebeu o ttulo de Doutor Honoris causa de
vrias universidades proeminentes dos Estados Unidos da Amrica, Gr-bretanha e
Alemanha.
Em 1980, Desmond Tutu teve seu passaporte confiscado pelo governo sul-africano em
represlia a sua convocao de um boicote internacional ao carvo mineral produzido naquele
pas. Em 1984, ele foi contemplado com o prmio Nobel da Paz, em reconhecimento a sua
companhia no violenta to limitar o comrcio e investimentos internacionais na frica do Sul.
Com os recursos do Prmio da Paz tentou estabelecer a Bolsa Sub-Africana de Refugiados,
permitindo que estudantes pobres pudessem dar segmento a seus estudos.
Desmond Tutu tornou-se Bispo de J ohannesburgo no ano de 1985, e logo no ano
(1988) seguinte foi nomeado Arcebispo da Cidade do Cabo e chefe da Igreja Anglicana no
Sul da frica (Igrejas de Confisso Anglicana na frica do Sul e outros pases localizados na
regio sul do continente africano).
O africano Desmond Tutu publicou vrios trabalhos, dos quais infelizmente no
conseguimos referncias em lngua portuguesa. Entre seus trabalhos publicanos podemos citar
68

os seguintes Crying in the Wilderness (Clamando no Deserto); Hope and Suffering
(Esperana e Sofrimento), que se trata de uma coletnea de sermes e discursos seus; e The
Raimbow People of God (O Povo Arco-res de Deus), o qual inclui material biogrfico e
notas narrativas escritas por J ohn Allen.
Tutu aposentou-se aps o exerccio por dez anos (1986 a 1996) na posio de
Arcebispo e tornou-se presidente da Comisso da Verdade e Reconciliao que trabalha para
a revelao traumtica das injustias e segredos do regime do apartheid a frica do Sul.
Aps sua aposentadoria, Tutu ocupou uma posio de professor visitante na Candler School
of Theology na Universidade Emory nos Estados Unidos da Amrica.

Pensamento Teolgico

Desmond Tutu desenvolveu um pensamento teolgico que toma o corpo de uma
teologia libertadora. Em seus sermes, discursos e declaraes, Tutu demonstra sua
preocupao com os caminhos tomados pela sociedade Sul-Africana, marcada por injustias.
Por esta razo Tutu formula seu objetivo como uma sociedade democrtica e justa, sem
divisos raciais. Ele coloca a Igreja deve ser uma Igreja em movimento, um instrumento na
mo de Deus, proclamando a Boa Nova, ensinando os novos convertidos, ... instrumentos de
paz e reconciliao e justia nas mos de Deus. Somos (Igreja) o instrumento e para curar
feridas, para construir a comunidade e alimentar os famintos. Somos uma comunidade cltica
cheia de Esprito, que sabe que podemos fazer o trabalho de Deus somente por seus caminhos
e Seus meios, e deste modo temos uma espiritualidade engajada que pe as coisas mais
importantes em primeiro lugar. (Arcebispo Desmond Tutu, snodo 1992).
Em sua teologia, Tutu percebe a comunidade crist com parceria de Deus, seus agentes
na transformao do dio, hostilidades, cimes, fome, pobreza, injustia, opresso, alienao,
solido, rivalidade, competio, ganncia, doena, daquilo que torna o mundo feio e seus
opostos glorioso. A Igreja agente de Deus na consturo do Reino onde havero riso e
jubilo, cuidado e partilha, justia, paz e reconciliao, e compaixo. So esses suas posio
em relao teologia e sua viso da comunidade crist e seu papel no mundo que o levaram a
tomar parte ativa, com campo poltico em seu pas. Sua atuao no processo que levou ao fim
do regime do Apartheid na frica do Sul deve uma dimenso proftica ao proclamar o Reino

As tradues dos ttulos so, possivelmente, diferentes dos encontrados em alguma publicao em lngua
portuguesa. So tradues livres nossas.
69
de Deus e sua justia e ao denunciar a injustia do sistema de dominao e opresso imposto
pelos Boers sobre o povo negro sul-africano.
Suas contribuies como lder religioso foram essenciais para a formao de uma
conscincia negra de resistncia no-violenta injustia do Apartheid.
Em seus escritos, sermes e discursos, Tutu tambm aborda temas profundamente
polmicos e assume posies de vanguarda em relao ordenao feminina ao ministrio e
presena homossexual na Igreja crist. Segundo Tutu, a opresso corta como uma faca de
dois gumes. Por trs de nossas barreiras seguras de retido, ns nos privamos dos ricos dons
que gays e lsbicas tm para contribuir todo o corpo de Cristo.


TEOLOGIA ASITICA


Uma Breve Histria das Colonizaes em Solo Asitico.

Vrias naes europias, desde o fim do sculo XV comearam seu processo de
colonizao do resto do mundo. Como sabemos, as duas naes desencadeadoras do processo
de expanso colonizadora e missionria foram Portugal e Espanha. J em meados do sculo
XVI, os dois pases mencionados foram perdendo sua hegemonia sobre os mares, sendo que a
sua expanso colonial se deteve. Entraram ento no cenrio das colonizaes, alm da
Inglaterra, pases como Frana, Holanda e Dinamarca. Sendo assim, principalmente durante
os sculos XVII e XVIII, houve uma afirmao colonizadora dessas potncias em diversas
regies do globo. Uma nota importante seria a de que o processo de globalizao comeara,
desde a Era dos Descobrimentos liderada pelos pases ibricos a quinhentos anos atrs.
Portanto, poderamos admitir que j houve outros tipos de globalizao.
As antigas civilizaes do oriente, durante sculos, sempre chamavam a ateno dos
europeus. Isto porque, em vrios livros medievos, existiam aluses acerca de monstros
marinhos e estranhos costumes que diziam existir por aqueles mares e plagas orientais. Marco
Plo e tantos outros navegadores em suas viagens, diziam ter tido contato com cortes de
imensas riquezas na China e na ndia. Por volta do sculo XVI, os portugueses mantiveram
um contato comercial permanente com o oriente, o que abriu as portas deste continente para a
Europa. Com a concorrncia comercial, logo muitos pases europeus tiveram a necessidade de
firmar colnias, embora o seu objetivo no fosse o de realizar ali conquistas entre o povo
70
asitico. Mas a necessidade de conseguir ou manter concesses ou vantagens comerciais
levaram algumas potncias europias a intervirem militarmente, estabelecendo o regime de
domnio colonial. Nessa marcha de conquista e explorao militar, poltica e econmica,
caminharam tambm os missionrios muitas vezes lado a lado com os exploradores ou
tambm separados deles (no podemos generalizar, apesar de serem poucos os que no
estavam do lado do poder). Por volta do sculo XIX muitas regies da sia, conheciam uma
espcie de mensagem superficial acerca do Cristo.
A ndia (correspondente hoje a territrios como a ndia propriamente dita, Paquisto,
Bangladesh e Sri-Lanka) foi o primeiro territrio a sofrer grande impacto colonial e
missionrio. Segundo tradies antigas, j existira ali desde muito tempo, uma igreja crist
que afirmavam ter sido fundada pelo apstolo Tom. Em meados do sculo XVI, catlicos
procuraram forar a converso da gerao dos antigos cristos de So Tom a conseqncia
disso foi que alguns indianos se tornaram catlicos e outros deram continuidade as suas
antigas tradies de f. Este pequeno grupo, mais tarde alcanado pelo cristianismo anglicano,
se separou da antiga igreja de So Tom e formaram a igreja de Mar Thoma, que era
protestante em suas doutrinas, ao mesmo tempo em que guardavam a sua liturgia e costumes
tradicionais. Hoje, a Igreja de Mar Thoma bem forte no sul da ndia, onde conhecida pelo
seu aspecto evangelstico.
Os catlicos que chegaram no sculo XVI, sob a bandeira portuguesa, em 1833
romperam, por ordem do governo portugus, com Roma, sendo que esta imediatamente para
no ficar para trs mandou um grande contingente de missionrios, o que causou grandes
conflitos com os catlicos portugueses, pois todos eles acusavam-se mutuamente de hereges e
cismticos. Por esta causa, houve um grande declnio no avano do catolicismo na ndia.
Principalmente no sculo XIX. Enquanto durava o cisma entre catlicos e catlicos, os
protestantes comearam a se instaurar em solo indiano. Mas sua inteno no era a de
propagar o evangelho, pois estes protestantes achavam que haveria um grande choque
(conflitos e motins) entre o Cristo pregado e as tradies religiosas daquele continente, o que
acarretaria em prejuzo para os seus comrcios. Este lamentvel fato se deu porque era o
comercio que havia embalado alguns protestantes para estarem em solo hindu. Entretanto, no
sculo XVIII, com o advento do pietismo na Europa, o forte ardor missionrio desse
movimento embalou vrios evangelistas para a pregao do evangelho aos hindus.
Dinamarqueses, alemes e britnicos deram sua parcela de contribuio para o movimento
missionrio na ndia. Uma das grades referncias missionrias em solo hindu o missionrio
William Carey que apelidado de fundador das misses modernas.
71
O impacto colonizador tambm se fez sentir no sudeste da sia. Onde no centro
existia o famoso reino de Sio. A leste de Sio, os franceses colonizaram a regio que hoje
conhecida como Vietn, Laos e Camboja, enquanto que a Birmnia, a oeste, ficou sob a
administrao britnica da ndia. Vale ressaltar que na zona colonizada pelos franceses foram
os missionrios que provocaram o avano do colonialismo.
Em si tratando de sia, no podemos deixar de fazer referncia ao cristianismo na
China, apesar de que muito difcil discorrer sobre o cristianismo desta regio. Tal
dificuldade se d, porque o cristianismo na China, ora desapareceu sem deixar rastros, ora
reapareceu; o que nos parece uma histria um tanto que nebulosa para se rastrear. Sabe-se que
os primeiros a levar o cristianismo para os chineses foram os nestorianos, mas sabemos
tambm que seus vestgios desapareceram no sculo IX. Os franciscanos tambm estiveram
entre os chineses, em misses, mas devido a perseguies e a falta de estrutura dos primeiros
a misso no pode ir muito longe. A nica semente que no malogrou foi a de Mateus Ricci e
seus correligionrios que atuaram em Pequim, conseguindo assim, estender a bandeira
missionria catlica entre os chineses. importante fazer aluso ao missionrio protestante J .
Hudson Taylor que evangelizou o interior da China, sem introduzir no pas as divises que
existiam entre os protestantes no ocidente.
Feita esta breve introduo histrica - colonial/missionria asitica, gostaramos de
tratar no prximo bloco sobre o contexto scio-poltico-econmico-cultural asitico e sua
respectiva relao com as religies locais e estrangeiras, numa perspectiva
contemporaneizada.


Contexto: Scio-Poltico- Econmico -Cultural Asitico, e Religio.

No a inteno nossa, a de fazer uma explanao aprofundada do que seja o contexto
asitico em toda a sua plenitude, pois o contexto asitico por demais variado e rico, no que
diz respeito a sua economia, poltica, cultura, sociedade e religio. Faremos sim, alguns
recortes sobre uma sia descolonizada que tenta reafirmar os seus valores, sob a tenso do
capitalismo moderno que, por suas vez, tenta subverter-los e destru-los para a implantao
completa de suas ideologias mercadolgicas.
No existe uma sia, mas muitas. Isto se d pela variedade dos contextos asiticos. A
sia um grande e rico complexo de lnguas, religies, culturas e formas scio-polticas. As
grandes religies brotaram em solo asitico. Como exemplo, temos na sia ocidental, o grupo
72
das grandes religies monotestas como o judasmo, o cristianismo e o islamismo. J na sia
meridional temos os grupos das religies que so voltadas para a mstica introspectiva como o
hinduismo, o budismo, o jainismo e o zoroastrismo. Na sia oriental temos as religies da
mstica da ao: o confucionismo, o taosmo, o xintosmo, etc. Um dado importante de ser
enfocado o de que: a sia como bero do cristianismo se mostra como o continente menos
cristo, pois o cristianismo representa apenas 2% da populao. Depois de sculos de misso,
o cristianismo continua a ser ali uma religio estranha. Por isso, est havendo hoje na sia a
urgncia de se comear um processo de descolonizao da Igreja crist. A pergunta da vez :
Porque na sia esta havendo a necessidade de uma radicalizao de tais propores? Talvez a
descristianizao asitica esteja ligada intimamente ao processo de descolonizao dos
valores ocidentais estranhos quela cultura. o que vamos tratar a seguir.
Aps a era dos descobrimentos liderada pelos pases ibricos h quinhentos anos
atrs, (onde at certo ponto, podemos admitir algumas formas de globalizao) estamos a
viver uma nova fase de globalizao que se iniciou naquele perodo. Pois se no fosse por
uma determinada forma de globalizao colonial iniciada a quinhentos anos atrs, ento como
o Isl, o Budismo, o Cristianismo, ou ainda o Hinduismo, poderiam ter chegado s regies
bem distantes do seu solo de origens. O colonialismo europeu conseguiu substituir essa
globalizao com novos mtodos de produo e estruturao das sociedades. J unto com as
empresas colonizadoras a ao missionria participou ativamente na vertente cultural e
social da reestruturao das sociedades colonizadas.
Dessa forma, quase todas as estruturas eclesisticas implantadas no Oriente,
continuam a ser comandadas e mantidas pelo Ocidente, sendo assim, nenhumas delas esto
desvinculadas dos interesses econmicos e polticos do capitalismo moderno.

Aps a libertao das colnias orientais na segunda metade deste sculo, foi criada
uma nova forma de estrutura eclesistica teolgica-poltica, que camufla por detrs do
discurso teolgico, fins polticos. E atravs do dilogo aberto com as outras religies, que
so inseridas idias de reconhecimento das igrejas locais para um posterior reconhecimento
da autonomia das antigas misses no Terceiro Mundo descolonizado. interessante notar que
idias como essas de dilogo com outras religies no foram nem de longe difundidas na
poca das colonizaes. Houve casos de adaptao estratgica como a de Matteo Ricci na
China e a de Roberto de Nobili na ndia. A estratgia dialogante foi adaptada no caso do
imperador Akbar, no Sul da ndia, na China e no J apo. A sobrevivncia comercial e poltica
dos portugueses dependiam das boas relaes com os poderes dominantes dessas regies, ou
73

como no caso de Madurai no sul da ndia, foi apoiada uma seco marginalizada da sociedade
local, os Paravas, mas com ateno sua potencialidade de servirem de apoio estratgico para
o controle do Golfo de Manar e do comercio portugus no Golfo de Bengala e mar de
China
13
. Geralmente, grupos religiosos e polticos constitudos entre os nativos das colnias
ou ex-colnias, servem muitas vezes, apenas para apoiar os interesses das grandes potncias
europias ou americanas, que se utilizam desses pequenos grupos como meios para alcanar
os seus fins, ou melhor, seus objetivos poltico-econmicos.
Partindo de todos os pressupostos discorridos at aqui, as elites nacionais no-crists
da sia, desconfiam que os elementos cristos de qualquer ao missionria que queira
adentrar em seu solo ou que j estejam l (cristos nativos), tragam escondidos em suas malas
novos modelos de mercado e economia ocidental que tm tentado subverter os seus
prprios mercados e economias estabelecidas. Sendo assim, qualquer nova presena
missionria dever assumir a misso de Cristo, buscando meios para reforar, e no
enfraquecer as foras anti-sistmicas na sociedade internacional. Caso contrrio, e como tem
acontecido com mais freqncia, a ao missionria instrumentalizada pelas foras de
globalizao para destruir as foras resistentes, particularmente nas sociedades do Terceiro
Mundo
14
.
Observamos na sia ps-colonial um crescente empobrecimento das populaes
como resultado das polticas de desenvolvimento e emprstimos das agncias do capitalismo
financeiro. A promoo do consumerismo para as elites privilegiadas do Terceiro Mundo e
uma destruio sistemtica do ambiente e de biodiversidade vai reduzindo cada vez mais a
qualidade de vida das grandes maiorias asiticas. Essa situao alarmante tem tido reaes
populares violentas contra as foras de opresso capitalista. Alguns grupos de cristos,
inspirados pela leitura libertadora da Bblia, tm se empenhado a lutarem contra o sistema
capitalista de valores. Vale ressaltar que muito desses cristos de posio anti-sistmicas, no
fazem parte das grandes estruturas oficiais das igrejas, que teme pela segurana de seus
interesses institucionais, na sua grande maioria, ou melhor, minoria esses grupos anti-
sistmicos de cristos esto a margem do clero institucional oficializado.
Qualquer discurso imbudo de elementos do sistema arquiquetnico ocidental (que
regula e coordena atravs dos pressupostos da democracia e dos direitos humanos) aplicados

13
SOUZA, Teotnio R. De Colonialismo Globalizao: Nova Ao Missionria ou Nova Estratgia? p. 1
14
SOUZA, Teotnio R. De Colonialismo Globalizao: Nova Ao Missionria ou Nova Estratgia? p. 3

74
nova presena missionria, corre o risco de continuar a ignorar a matriz cultural asitica e a
perpetuar os erros do passado colonial e do neocolonialismo em curso.

Formas de se Fazer Teologia na sia

As igrejas crists asiticas, por muitas vezes, se contentaram com as respostas prontas
e acabadas fornecidas pela teologia ou pelas confisses ocidentais. Mas, hoje este quadro est
mudando e a sia est passando por um processo de uma autntica e viva teologia que foi
amadurecendo paulatinamente, a partir de um olhar crtico e responsvel dos vrios contextos
asiticos feitos pelos seus telogos. Charles Forman constatava, como concluso do livro O
Cristianismo no mundo no-ocidental (Christian in they nom-western world - 1967): O
cristianismo rompeu de uma vez por todas com a idia de que ele se apia sobre base
ocidental e agora j afirmou sua identidade oriental. (...) O cristianismo no-ocidental chegou
maioridade (A Teologia do Sculo XX, pg. 475).







TELOGOS ASITICOS

Paul Younggi Cho

O Dr. Paul Young, coreano, convertido do budismo quando jovem, pastor da
Igreja central do evangelho pleno h mais de 30 anos. Antes de entrar para o pastorado, o Dr.
Cho fez alguns cursos como: medicina e direito. Seus livros publicados em portugus,
incluem: a quarta Dimenso, solues para os problemas da vida, muito mais do que nmeros,
grupo familiares e crescimento da Igreja.

Pensamento Teolgico:
Toda a Coria influenciada pelo pensamento do Dr. Cho. O Pas conhecido como
um pas cristo, graas ao trabalho do pastor Paul Young Cho.
75
Um dos questionamentos que o Dr. Cho sempre est se propondo a responder o
entendimento do termo evanglico. Entende o termo como sendo uma posio bsica quanto a
teologia e quanto ao estilo de vida.
Sua definio de Deus : Creio em um Deus trino e uno, Pai, Filho e Esprito Santo.
Cr na Bblia como sendo com seu texto original, inspirada, Palavra de Deus, autoridade final
e infalvel de f e metodologia. Como cristo evanglico tambm cr que se deve viver uma
vida moralmente reta que manifesta o fruto do Esprito Santo. Cr na realidade do novo
nascimento que produz mudana do estilo de vida e gera um desejo autntico de ver outras
almas salvas do pecado. Embora haja no presente algumas divergncias entre os evanglicos
quanto manifestao dos dons do Esprito Santo, cr que, como cristo comprometidos com
a causa, devemos esforar-nos por manter a unidade do Esprito Santo no vnculo da paz.
Sua teologia sempre gira em torno do crescimento de igreja que afeta a congregao
leal. Usando sempre como exemplo o crescimento explosivo de sua comunidade, a este
respeito escreve: Durante muito tempo tenho orado pedindo a Deus a capacidade de falar
com autoridade sobre crescimento da Igreja. Lembro-me de, h alguns anos, fazer a seguinte
orao: Senhor, minha igreja possui apenas 50.000 membros. Quem me dar ouvidos quando
falar de crescimento da igreja? Ento, quando Deus me deu 100.000 membros, senti-me como
se ainda no pudesse falar sobre o assunto com um verdadeiro senso de autoridade. Paul
Younggi Cho em 1883 atinge o marco de em uma s congregao funcionar com 200.000
pessoas.

ALBERT MOLAN

Albert Molan nasceu na frica do Sul, em 1934. Aos 20 anos ingressou na ordem
Dominicana. Em 1983 foi eleito mestre geral dos dominicanos, imediatamente, porm,
apresentou sua renncia, aceita depois que ele deixou claro seu compromisso prioritrio com
a luta por uma frica do Sul livre, justa, sem discriminao entre brancos e negros.
Atualmente membro da comisso justia e paz, professor de teologia e assistente nacional
dos estudantes catlicos, na frica do sul.
Albert Molan autor do livro J esus Antes do Cristianismo. Por lutar por uma frica
do Sul justa e por querer ver seu povo liberto, Albert Nolan tem sido perseguido pela polcia
da frica do Sul e tem que viver na clandestinidade.


76
Watchaman Nee

Liderou um movimento evanglico sem nome, que comeou com apenas trs membros
em 1922, passando para mais de 70.000 membros em 1949. foi preso pelos comunistas em
1952, junto com 2.000 outros lderes do movimento, um forte comunista admitiu que os
membros de todas as denominaes evanglicas tradicionais.
Escreveu suas ltimas orientaes aos seus liderados que esto reunidas em seu livro
A vida crist normal publicado no Brasil pela editora fiel.
A vida normal da Igreja Crist, Editora Fiel, 1938. O ministrio de Orao da Igreja,
vida 1979. Famlia Crist normal, Fiel 1974.


ORLANDO P. CARVAJAL

Entre as contribuies mais notveis para uma teologia da inculturao e da
contextualizao da f crist na sia, temos a figura do telogo filipino Orlando P.
Carvajal. Carvajal entende a teologia como uma compreenso da nossa f em Deus e suas
repercusses em nossa atual experincia de vida (Evangelho Emergente, cap. IX, pg. 129).
Isto significa dizer, que a teologia est condicionada ao contexto em que ela est inserida,
pois, segundo Carvajal O fator determinante varivel [da teologia] a condio histrica de
nossa vida material, no contexto do qual formulamos os nossos problemas teolgicos.
Condies materiais e histricas diferentes so azo a cosmovises diferentes, que se tornam o
arcabouo da reflexo teolgica, e determina assim, de modo significativo, o mtodo e o
contedo dessa reflexo (Evangelho Emergente, pg. 131). Seria ento, a teologia crist,
apenas um aspecto de uma anterior e mais fundamental cosmoviso, material e historicamente
determinada. De acordo com Carvajal a teologia crist ao invs, portanto, de determinar a
nossa viso, determinada por ela. Nossas cosmovises materialmente baseadas que
determinam a nossa teologia (O Evangelho Emergente, pg. 131). Esta seria a resposta de
Carvajal para o problema das variadas cosmovises em relao f crist. Segundo ele,
divergimos em nossa cosmoviso porque trabalhamos sob condies materiais/histricas
diferentes. o que est na raiz dos nossos modos radicalmente contratantes de integrar a f
em Deus em nossa realidade social. Muitas vezes, os valores do cristianismo que me servem
muito bem em minha cultura, podem no ser to vlidos para outros povos de outras culturas.
No existe, portanto, um conjunto uniforme de categorias crists que sirva para todos em
77
todos os contextos. Querer fazer dos meus valores cristos, padro universal de f e prtica
para outros, transformar a teologia (que deve ser interpretada a partir da realidade em que
estamos inseridos) em teoideologia o que seria uma desvirtualizao do que seja fazer
teologia.
A teologia de Carvajal serve de desmascaramento, a certos tipos de fazer teolgico,
que vem sobrecarregados de ideologias opressoras que, por suas vez, aprisionam e impem
os seus modos produtivos, com os pressupostos da democracia e dos direitos humanos,
transformando em neocolnias o que outrora eram colnias militarmente governadas e
exploradas. Por isso, a urgncia da sia crist de hoje, a urgncia de uma descolonizao do
pensamento e valores ocidentais, tendo como conseqncia, como j est havendo, o nascer
de uma teologia que corresponda s necessidades e valores do prprio povo asitico em seus
contextos especficos.


DURAISAMY SIMON AMALORPAVADASS

Outro telogo levou a srio questo teolgica da inculturao e contextualizao da
teologia asitica foi o jesuta indiano Duraisamy Simon Amalorpavadass (1932 1990).
Depois de estudos em Paris, cujo fruto so A ndia ao Encontro do Senhor (1964) e Destino
da Igreja na ndia de Hoje (1976), Amalorpavadass, como diretor do Centro Nacional Bblico-
Catequtico-Litrgico de Banglore, foi um dos telogos catlicos mais representativos e
influentes da ndia contempornea. Em sua obra Evangelho e Cultura, Evangelizao e
Inculturao (1978), ele desenvolve as linhas de uma verdadeira teologia da inculturao.
Segundo ele, ao delinear a relao entre evangelho e cultura, devemos evitar dois
perigos: o primeiro seria o de opor o Evangelho cultura, o que provocaria uma sensao de
estranheza da prpria cultura e da prpria histria; o segundo seria o de efetuar um perigoso
sincretismo, ocultando o Evangelho por trs da cultura. Para ele, Evangelho e cultura so
distintos, mas devem entrar em uma relao dinmica entre si. Na ndia, o processo de
inculturao significa aprender com as grandes religies. Se a evangelizao um movimento
voltado para o exterior, a inculturao um movimento voltado em direo ao interior,
mediante o qual os elementos culturais e religiosos que se encontram fora da Igreja so
integrados na comunho catlica. A inculturao teorizada por Amalorpavadass no se
desenvolve somente no plano litrgico e missiolgico, mas deve realizar-se tambm no plano
teolgico. Ora, o jesuta indiano deu uma notvel contribuio no plano litrgico e
78

missiolgico, mas no campo teolgico no foi alm da justificao da necessidade de uma
inculturao.
Convm notar que a inculturao de que fala Amalorpavadass est atenta tambm
realidade social, tornando a evangelizao, num instrumento para o desenvolvimento e
libertao social da cultura. Segundo ele, Se quisermos falar de um novo enfoque teolgico e
de uma nova viso da Igreja da ndia, temos que compreender a realidade da ndia e dentro
dessa realidade interpretar o papel e a funo da igreja
15
.
a ndia o bero de grandes religies que so antigas, vivas e contam numerosos
seguidores. (...) A ndia se acha num processo de libertao e desenvolvimento, ansiando por
caldear esta vasta populao numa ao bem integrada e criar uma sociedade justa e humana.
(...) Conseqentemente, ao falarmos de uma nova teologia precisamos fazer um inventrio do
universo indiano em termos de antigas tradies religiosas e do empenho moderno pelo
desenvolvimento.
16
Em Amalorpavadass, vemos que tanto o mbito da asiaticidade (inculturao e
contextualizao da teologia da sia) quanto o mbito da Terceira Mundialidade (libertao
social, ou seja, justia para o povo) andam de mos dadas. Apesar do segundo aspecto no ser
to agudo nele, quanto o primeiro.


KOSUKE KOYAMA

O telogo japons Kosuke Koyama autor de uma Teologia entre os bfalos (1974),
fruto de sua misso e ensinamento na Tailndia rural, e de Monte
Fuji e Monte Sinai (1985), onde ele insiste na necessidade de um dilogo criativo entre
espiritualidade asitica (simbolizada no Monte Fuji) e espiritualidade bblica (representada
pelo Monte Sinai) vrias vezes chamou a ateno da teologia da contextualizao para as
mudanas por que est passando o contexto asitico.
Segundo Koyama, na sia, uma teologia da contextualizao deve perguntar-se: Qual
deveria ser a relao entre tecnologia e a nossa aproximao do sagrado? Pode-se por
criativamente a tecnologia a servio de quem vive da graa da busca de Deus? (A Teologia
do Sculo XX, pg 479). A pergunta de Koyama surge do seguinte fato: o que o Ocidente
precisou de trs sculos ou mais para atravessar, desde a Revoluo Industrial at a era do

15
Torres, Srgio e outros. O Evangelho Emergente, ed., Paulinas, S. Paulo 1982, pg. 172.
16
Ibid., pg, 173
79
computador, dos modernos estados democrticos legislao do bem-estar social, est
cumprindo em trs dcadas ou menos para as naes asiticas. Mas vale ressaltar que os
novos desenvolvimentos buscados pelas naes asiticas no foram desenvolvidos de suas
prprias civilizaes antigas, mas foram transportados de outras terras. Significa isto que o
conflito de culturas mais agudo do que foi no Ocidente durante os ltimos dois ou trs
sculos. A forma parlamentar de governo francamente nova para os asiticos. A cincia
moderna no um produto nativo de solo asitico. No admira, pois que a nova forma de
governo, como tambm o desenvolvimento cientifico e tecnolgico tenham, em muitos casos,
esbarrados em obstculos. Deve-se ento, de acordo com esse contexto, fazer uma teologia
que interprete a realidade concreta e espiritual do povo asitico, traando um equilbrio entre
cincia, espiritualidade e sociedade.


CHOANG-SENG SONG

O telogo presbiteriano chins de Taiwan, Choang-Seng Song, descreveu a
teologia crist em fase de formao na sia como teologia do terceiro-olho. O terceiro olho
o olho asitico da tradio budista, o olho do corao que transcende a razo e sabe olhar em
direo do mistrio: O Zem. Song percebe que a teologia crist na sia sofreu uma
escravido ocidental, da qual deve ser libertada, pois, para ele, s assim pode nascer uma
teologia no seio da sia. Uma teologia desprovida da natureza ocidental. Song tambm
defensor de uma teologia ecumnica na sia que envolva as mais variadas histrias, culturas e
religies, pois para ele, esse deve ser o sujeito do compromisso teolgico asitico.

Enfim, existem outros nomes importantes na teologia do contexto asitico que fizeram
ou fazem uma leitura teolgica responsvel das suas devidas, realidades, como o do telogo
catlico filipino Carlos Abesamis; do telogo cingals Alovsius Pieris; de Shoki Coe, telogo
chins de Taiwan; do telogo protestante filipino Emrito P. Nacpil e tantos outros que no
podemos discorrer nesta pesquisa mas que vale conferir.

A teologia asitica ainda tem sido enfocada de forma muito tmida por nossos telogos
ocidentais. Este fato se d, pelo pouco material que chega nas mos dos estudantes de teologia
e interessados. Vrios compndios de histria da igreja, ou de teologia protestante
contempornea tm sido editados, onde a aluso teologia asitica quando feita, se mostra
80
bem escassa no seu contedo. Se muito conseguimos so recortes do que poderia ser uma
teologia feita por asiticos. Se bem que em muitas partes da sia a teologia mais
pragmtica, isto , mais litrgica do que sistemtica. Mas este fato no pode se tornar uma
desculpa para falta de interesse, visvel no nosso meio teolgico que s agora comea a
despertar para esta dimenso da teologia.

A teologia asitica que na sua maioria de contextos se mostra como uma teologia de
terceiro mundo, assim como sua proposta de descolonizao de todos os caracteres
imprimidos pelos pases colonizadores, tem muito a contribuir e a ensinar para os pases
ocidentais que sofrem tambm, embora em contextos diferentes, dos mesmos fatores como o
da terceira mundialidade e o da contextualizao teolgica dos valores intrnsecos de cada
cultura. Tanto a teologia oriental pode enriquecer a nossa teologia marcada muitas vezes pelo
individualismo e racionalismo, como tambm podemos dar nossa contribuio aos nossos
irmos asiticos numa reciprocidade saudvel de idias e ideais.

Bibliografia

TORRES, Srgio e outros. O Evangelho Emergente, edies Paulinas, traduo de
Alexandre Mancintyre, So Paulo SP, 1982.
LAWRENCE, Carl. A Igreja na China, ed. Vida, traduo de J oo Barbosa Batista,
1987.
GONZALEZ, J usto L. A Era dos Novos Horizontes, vol. IX, traduo: Adiel Almeida
de Oliveira, Edies Vida Nova, So Paulo SP, 1991.
ROCINI, Gibelino. A Teologia do Sculo XX, Editora Paulus.
GONZALEZ, J usto L. A Era Inconclusa, vol. X, traduo: Adiel Almeida de
Oliveira, Edies Vida Nova, So Paulo SP, 1991.
SOUZA, Teotnio R. de. De Colonialismo Globalizao: Nova Ao Missionria, ou
Nova Estratgia? Ensaios.
Teologia Europia

As agitaes sociopolticas, meado do sculo XX, foram sentidas intensamente na
Europa bero da grande parte da filosofia e teologia otimista do sculo XIX.
O continente europeu sonhava que sob sua liderana, a humanidade despertaria para
uma Nova Era. Achava que suas investidas coloniais era uma iniciativa altrusta visando ao
bem do mundo. Nesta iluso o protestantismo se envolveu mais do que o catolicismo, pois
este catolicismo reagiria ao mundo moderno com uma atitude de condenao
indiscriminada, enquanto o liberalismo protestante havia capitulado ante a nova era. Com o
estouro das duas guerras e seus desdobramentos que vieram desmentir os sonhos do sculo
81
XIX, o liberalismo protestante sofreu um grande abalo. O secularismo e o ceticismo na Frana
tornaram-se comuns durante o sculo XIX, em parte, por causa da reao do catolicismo ao
mundo moderno, j no sculo XX em razo do fracasso do liberalismo. No meado desse
sculo XX a Europa setentrional j no era mais o reduto protestante.
Com o romper da guerra mundial, 1914, os lderes cristos, pelo menos muitos deles,
tinham conscincia da tenso na Europa; em conseqncia, procuravam as relaes
internacionais das Igrejas para evitar a guerra; essa tentativa no teve sucesso, logo alguns
desses cristos preferiram fazer da Igreja um instrumento de reconciliao do que ser levados
por impulsos nacionalistas.
O liberalismo nesse momento nada podia fazer, portanto, o protestantismo foi o que se
preocupou em fazer uma teologia que respondesse a esses acontecimentos.
A teologia mais significativa para as respostas aos desafios da poca foi o de Karl
Barth.
Enquanto se desenvolvia a teologia de Barth, na Alemanha Hitler e o nazismo
assediam ao poder. Em 1933, o Vaticano e o terceiro Reich assinaram uma concordata. O
protestantismo liberal nada podia fazer frente a esse desafio. Surgiu inclusive o partido dos
cristos alemes. Esse grupo apoiava as mediadas de Hitler; em conseqncia de tais
atitudes alguns lderes cristos reuniram-se em oposio s medidas hitlinianas em nome do
evangelho (snodo do testemunho).
Todos se recusaram apoiar Hitler foram presos. Outros, como os partores foram
recrutados pelo exrcito para a batalha.
Bonhoeffer foi o que mais teve problemas em oposio a Hitler.
Aps a guerra vamos ter imensas territrios europeus submissas ao domnio sovitico.
Mesmo a doutrina marxista tendo o cristianismo como inimigo, outros tinham a f
religiosa como uma questo do passado, ou seja, logo desapareceria. Na antiga
Checoslovquia e na Hungria, manteve-se o apoio s Igrejas. J na ex-Alemanha Oriental, os
cristos foram submissos limitaes civis, no podiam exercer posies significativas nos
estados.
Em outros lugares da Europa ocorriam um dilogo intenso entre marxistas e cristos.
Desse dilogo temos Bloch, filsofo marxista que d uma certa contribuio em sua
reinterpretao das doutrinas bblicas considerando ter elas valor positivo. Para ele esse valor
encontra-se na mensagem da esperana. Tanto esta quanto outras idias de revisionistas,
trouxeram contribuies significativas para a teologia protestante no sculo XX. Nessa
dimenso da esperana vamos ter Moltmann, entendendo essa esperana no como
82
individualista, mas como a esperana de uma nova ordem. Assim a teologia da esperana,
leva os fiis a se unirem s lutas que apontam para o futuro de Deus: contra a pobreza e a
opresso.
Apesar do secularismo ter se estalado fortemente em muitas regies europias, o
protestantismo no se tornou inerte. Apesar de ter se reduzido, permaneceu ativo na
sociedade.


TELOGOS EUROPEUS

EDWARD SHILLEBEECKX

Na historia, o sculo XX, fra aquele perodo frtil no qual, mentes brilhantes
puderam repensar, de modo aprofundado, o homem e o seu mundo. No campo da teologia, o
desenvolvimento do pensamento teve em Schillebeeckx, um expoente.
Schillebeeckx, sacerdote catlico atuante, produziu seu pensamento teolgico a partir
da necessidade visvel de tornar relevante ao homem moderno, a mensagem do cristianismo.

Biobibliografia

Edward Schillebeeckx nasceu em Anvers (Blgica), em 12 de novembro de 1914.
Depois de concluir seus estudos humansticos no colgio dos padres jesutas de Tournhout,
em 1934, ingressou na Ordem Dominicana. Estudou filosofia e teologia em Gand e Louvain,
sob direo do filosofo dominicano D de Petter, que muito o influenciou, introduziu-o no
estudo de Tomaz de Aquino. Em 1941, foi ordenado sacerdote. Aps a Segunda Guerra,
retornou seus estudos de teologia em Le Saulchoir, Frana. Em 1951, conseguiu o doutorado
em teologia em Le Saulchoir e em 1954, obtm, em Roma o titulo de Magister em teologia e
dois anos depois nomeado professor de dogmtica no Instituto Superior de Cincias
Religiosas da Universidade de Louvain. Em 1957, obtm a ctedra de dogmtica e historia da
teologia na Universidade Catlica de Nijmegen na Holanda. Em 1956, tambm, obtm a
ctedra de antropologia crist na Faculdade de Medicina da mesma cidade. Em 1965,
juntamente com Karl Rahner, fundou a revista internacional de teologia Concilium. Tornou-
se um dos mais renomados conferencistas desde o inicio do Concilio Vaticano II.
83

Schillebeeckx produziu inmeras obras. Em portugus, entre muitas outras,
destacamos as seguintes: Cristo Sacramento do encontro com Deus; Deus e o Homem;
Historia humana: Revelao de Deus; Igreja e Humanidade; Jesus e o fracasso na vida
humana; Maria me da redeno; O Matrimonio. Realidade terrestre e mistrio da salvao;
O Mundo e a Igreja; Por uma Igreja mais humana; Revelao e Teologia.

Contexto do Desenvolvimento de sua Teologia

Schillebeeckx possuidor de uma percepo aguada da realidade do homem
moderno; entende que este, dotado, agora de um espirito secularizado, em suas prprias
palavras destaca: hoje, mais do que no passado, o homem d-se conta do seu lugar no
mundo, e sente-se plenamente autnomo nesse domnio. Por isso, com freqncia a religio se
lhe afigura uma hiptese desleal e intil...17. Percebe-se aqui que Schillebeeckx est
nitidamente preocupado com o secularismo dominante na mentalidade do homem do sculo
XX. No menos grave a necessidade de tornar a mensagem crist relevante a este homem
ateu. Nisto, o telogo-sacerdote, enxerga a necessidade de que a Igreja, como comunidade de
f, reflita sobre seu modo de viver a f, vez que, este mesmo modo de vida em f, contribuiu
na formao da mentalidade secularista e ateia do homem hodierno. ... no foram os prprios
crentes que provocaram o atesmo? Certamente, no foi pela sua f, foi pela sua desajeitada
maneira de viver a f: foram suas deformadas representaes de Deus que principalmente
contriburam para o sucesso do atesmo. Conclui.18 Neste ponto Schillebeeckx, faz um
elogio consistente a Robson, expoente da teologia secular.
Em perodo posterior, o padre-telogo holands assume para si, cada vez mais, uma
aproximao com a Teologia da Esperana, formulada pelo alemo J gen Moltmann. Neste
contexto, Schilebeeckx, enfatiza o papel dos sacramentos na comunicao eficaz da
mensagem crist. Sacramento aqui deve ser entendido como: o Dom divino da salvao na e
com a forma exteriormente captvel, constatvel que concretiza este Dom: um Dom de
salvao na visibilidade histrica.

Pensamento Teolgico


17
Schillebeeckx, Deus e o homem, pag 9
18
Idem, pag 14
84

Podemos afirmar que os seguintes pontos centrais norteiam a teologia do sacerdote-
telogo, holands, Schillebeeckx :
Nova expresso Revelao Crist.
Interpretao da Revelao. por meio de categorias existncias e mentalidade
moderna.
Reao ao processo de secularizao do cristianismo.
A teologia sacramental e a secularizao formam o eixo de sua reflexo teolgica.
Utiliza a Filosofia Tomista para interpretar a Revelao.
1. Deus : terceiro transcendente presente em todos os nossos encontros com o prximo
neste mundo Schillebeeckx aproxima-se do conceito secularista de Deus, tomado por
Robinson19. A nossa existncia, a contingncia da nossa existncia pessoal com os
outros neste mundo, a fonte do nosso conhecimento de Deus, porque aquele carter
ek-sttico no seno o jorrar do mistrio de Deus na nossa existncia. Portanto, a
afirmao da existncia de Deus inseparvel da afirmao da nossa presena ek-
sttica aos outros neste mundo... Assim... deve afirmar que, como fundamento
absoluto do ser, Deus o Terceiro transcendente em todas as nossas experincias
humana, e principalmente nas nossas relaes inter-humanas.20
Nestes termos, acima, identificamos o modo especial com que Schillebeeckx concebe
Deus. O conceito de fundamento do ser, parece ser tomado de emprstimo da
teologia de correlao de Paul Tillich. Isto no entanto, no ofusca o mrito do Telogo
holands,
2. A Igreja e refletida em Schillebeeckx de modo singular. Em sua obra: por uma Igreja
mais humana, ele trata com sensibilidade sacerdotal da problemtica que envolve a
compreenso do papel das comunidades crists catlicas na atualidade. Comea
fazendo uma analise teolgica e sociolgica, na historia, do papel da Ekklesia.
3. Em tempos recentes, Schillebeeckx concebeu uma entrevista que, foi publicada em
forma de livro; onde expe, sucintamente, sobre assuntos antes no abordados em
suas obras. Estes so alguns dos destaques:
Trindade o mesmo Deus: Deus no AT, Deus em J esus Cristo, Deus no
Espirito Santo; porem, so modos de existncia de Deus na historia... Dizendo que
Deus trs pessoas, temo cair num espcie de triteismo: trs deuses, trs pessoas,
como uma espcie de famlia. No digo explicitamente trs pessoas porque

19
John A T Robinson:Honest to God 1963
20
Schillebeeckx, Deus e o Homem, pag. 183
85

ambguo... Falar de trs pessoas pode por em perigo a Trindade como tal... Em
verdade no compreendo a especulao sobre a Trindade. Respeito as especulaes
de Tomaz de Aquino, por exemplo, porem no me dizem nada a minha
espiritualidade... Deus Trindade isto dogma! Porem, no e trs pessoas. Seria
triteismo. No escrevi sobre este tema porque tenho medo... Os grandes tratados de
Agostinho, Boaventura e Tomaz de Aquino, e, mais recente de Rahner, de
Schoonenberg so, afinal de contas, tratados que pecam de imodstia com relao
ao mistrio da Trindade. Sou, portanto muito modesto, quase agnstico com
relao a uma teologia trinitria21.
A moral crista No existe uma tica crist... quando se busca unidos uma
soluo, por exemplo, para o aborto a eutansia, se alegam argumentos e, ao final,
se chega a um consenso; isto para a sua vida teologal... por isso estou contra de
certas posturas ticas da Igreja oficial, que se faz passar por crist, porem que, de
fato, no o so, porque pertencem a uma filosofia determinada. Pensemos no
exasperado fixismo respeito a sexualidade e ao matrimonio... No h revelao
com respeito a tica; esta e um processo humano.. no Deus quem diz isto
eticamente permitido ou proibido. o homem quem, com suas reflexes e suas
experincias, deve decidi-lo e estabelece-lo. No existe, pois, uma tica crist...
Para o cristo, nem a revelao nem a f impem normas ticas, mas que que delas
possam vir inspiraes e orientaes22.




PIERRE TEILHARD DE CHARDIN

Pierre Teilhard de Chardin figura entre os telogos mais importantes telogos do
sculo XX. Considerado apologista23, contribuiu, significantemente, com a construo do
pensamento teolgico vigente na atualidade. Sua preocupao em tornar viva e atual a
mensagem do Evangelho, qualifica-o como um grande missionrios moderno.
Teilhard de Chardin desafia o telogo a raciocinar em termos cientficos, sem contudo,
perder-se nos labirintos da falsa premissa cientifica, que reivindica ser a nica via absoluta do
conhecimento e da verdade. Suas experincias de vida alternavam-se entre estudos cientficos

21
Schillebeeckx, um telogo feliz, pag 84-87
22
Idem, pag 108
86

especializados e experincias religiosas msticas. S isto bastaria para merecer da parte do
estudante atento, um cuidadoso exame de suas obras na busca, em profundidade, do dialogo
necessrio entre F e Cincia. Nisto Chardin singular. Sendo um paleontlogo de renome,
ele remonta as categorias cientifica a consegue descobrir campos frteis na cincia onde
possvel germinar numa mesma arvore, verdades da f e verdades cientficas.

Biobibliografia

Pierre-Marie-J oseph Teilhard de Chardin, nasceu em Sarcenar, Frana, em 01 de maio
de 1881, sendo o quarto dentre os onze filhos que teve seu pai Emmanuel Teilhard de Chardin
com sua me Berthe-Adle de Dompierre dHornoy. Sobrinho-neto de Voltaire por parte de
me; logo cedo interessou-se pela Geologia, influenciado pelo gosto paterno que colecionava
pedras.
Realizou seus estudos ginasiais e licenciais em um colgio de padres jesutas. Cursou
Teologia em Hastings, Inglaterra, de onde partiu para realizar significativas excurses
geolgicas, no Egito. Em 1897, bacharelou-se em Filosofia; em 1898, bacharelou-se em
matemtica. Em 1899, ingressou-se em um noviciado da Companhia de J esus. Foi ordenado
sacerdote em 14 de agosto de 1911. Em 1912 comea seu estagio no Museu Nacional de
Historia Natural, em Paris. Em 1913 realizou excurses cientificas com Abb Breuil e
Obermeier e G Boussac.
Interrompeu seus estudos acadmicos em 1914 com a ecloso da 1 Guerra mundial,
onde prestou servios em destacamento de sade. Esta experincia militar exerceu uma
notvel influencia na maturao intelectual e espiritual de Teilhard. Um homem que tomou
parte da vida inumana, ou sub-humana, de milhares de seus semelhantes, que foi tocado de
to perto por suas mortes, no mais poder se ocupar do homem fssil sem pensar no homem
de seu tempo e naquele do amanha. No ser mais um colecionador de ossos, mas um
apaixonado pela humanidade e um devoto da matria matriz da humanidade. concluiu.
Em 1922, laureou-se em cincias naturais na Sorborne, reintegrando-se, deste modo,
na vida acadmica. A partir da produz as seguintes obras nos anos seguintes:
1916 A vida csmica e Trs contos como Benson
1917 O meio mstico
1918 A grande Monada , Meu universo , O Padre e A F que Opera

23
Mondin, Batista, Os grandes Telogos do Sculo XX, pag. 49
87
1919 Nota para servir evangelizao dos novos tempos.
1919 A potncia espiritual da matria
1920 Nota sobre o progresso
1921 Cincia e Cristo
1923 A missa sobre o mundo
1925 O meio Divino.
1929 O sentido humano
1937 O fenmeno Espiritual
1942 O Cristo Evolutor
1946 Reflexes sobre a ressonncia espiritual da bomba atmica
1947 Salto humano da Evoluo
1948 Publicao do Fenmeno humano e Meio Divino
1949 Uma Nova Questo de Galileu
1950 O Fenmeno Cristo
1951 O Problema maior para a Antropologia
1952 O que o mundo espera da Igreja de Deus
1953 O Deus da Evoluo
1955 Barreira da morte e Pesquisa, Trabalho, Adorao
Na maioria estas obras de Teilhard, trata-se da divulgao de suas duas principais. O
Fenmeno humano e O Meio Divino.

Contexto do Desenvolvimento de sua Teologia

Envolvido num mundo em que a cincia era completamente adversa a Religio e a F,
Teilhard de Chardin, formula seu pensamento tomando a via oposta da escola Barthiana.
Enquanto Karl Barth proclama a clara separao entre F e Cincia, Chardin denuncia a
invalidade de tal caminho, julgando inoquo e propem fazer ver ao mundo cientifico que no
h nenhuma incompatibilidade entre a religio crist e cincia moderna, mas sim uma
maravilhosa correspondncia, porque o cristianismo vem de encontro as mais intimas
exigncias da cincia.

Pensamento Teolgico

A Conjugao Cincia-Religio
88

... Aps quase dois sculos de lutas apaixonadas, nem a Cincia nem a F
conseguiram apoucar-se uma outra; mas muito pelo contrario, torna-se evidente que no
poderiam desenvolver-se normalmente uma sem a outra: e isto pela simples razo de que uma
mesma vida as anima a ambas... O homem s continuar a trabalhar e a investigar se por tal
mantiver um gosto apaixonado. Ora este gosto est inteiramente pendente da convico,
estritamente indemostrvel para a Ciencia, de que o Universo tem um sentido e de que pode,
ou at de que deve chegar, se formos fieis, a qualquer irreversvel perfeio. F no
progresso.24
Com tais constataes, Chardin denuncia a inutilidade do divorcio entre Cincia e
Religio acusando que uma nica causa motiva a ambas - a Vida. E que elas partem de um
pressuposto comum.

A Cosmologia de Teilhard
Chardin no ignora que sua tentativa harmonizadora, tambm foram proposta por
Clemente de Alexandria e Tomas de Aquino em pocas remotas. Mas, agora, ele est
convencido de que a proposta de numa viso de mundo nica que venha abarcar tanto F
quanto Razo, tem que superar a fracassada teoria tomista que afirmava ser o Espirito
justaposto matria tornando-se assim numa cosmologia anticientfica.
Para construir uma viso csmica abrangente, Teilhard vale-se de alguns axiomas
fundamentais. O primeiro o axioma referente a Evoluo. Para ele, o desenvolvimento um
movimento cuja orbita, ultrapassa a Qumica, a Fsica, a Sociologia, a Matemtica e a Histria
das Religies. A Evoluo uma condio geral todas as teorias, todas as hipteses, todos
os sistemas. A Evoluo a maior descoberta do sculo passado e de todos os tempos. Para
Chardin a evoluo no est em conflito com o cristianismo; ao contrario um argumento
muito forte a seu favor, porque a evoluo deve passar atravs do cristianismo. Tambm, no
est em conflito com o criacionismo, porque este no comporta uma certa configurao do
mundo material, mas apenas a sua dependncia de Deus.


MARTIN KAHLER

Biobibliografia


24
Teilhard de Chardin, O Fenmeno Humano pagina 313
89
Telogo protestante alemo, nasceu em Knigsberg, na Prussia Oriental, filho de
pastor luterano. Estudou teologia nas Universidades de Heidelberg, Tbingen e Halle. Toda
sua carreira acadmica como professor de Teologia Sistemtica foi desenvolvida na
Universidade de Halle.
Sua principal obra teolgica, um volume sobre dogmtica chamado A cincia do
ensino cristo de 1883, tinha a doutrina da justificao como seu tema bsico. Suas prelees
sobre teologia protestante Historia da dogmtica protestante do Sculo XIX formaram uma
publicao pstuma, 1962. Porem sua obra de maior envergadura foi O suposto J esus
histrico e o Cristo bblico com fundamento na historia, - 1892.

Contexto do Desenvolvimento de sua Teologia

O sculo XIX considerado na historia do pensamento humano, como a era das
luzes. Foi assim, em todas as reas do conhecimento. A teologia, podemos assim dizer, pode
ser divida em antes do iluminismo e depois do iluminismo. Nesta era, se realizou as grandes
descobertas, na aplicao de mtodos cientficos no campo da religio. O cristianismo sofreu
neste perodo as mais graves criticas que nenhuma outra religio, em outra poca sofrera.
Teve seus dogmas analisados racionalmente, sua literatura sagrada, dissecada,
cientificamente.
A questo bsica que prevaleceu naquele perodo era: o problema do J esus Histrico. ,
exatamente dentre dessa discusso que se insere o pensamento de Martin Kahler.



Pensamento Teolgico

Martin Kahler criticou violentamente o pressuposto fundamental de alguns eruditos
liberais, de que o J esus histrico foi o J esus real. Sua obra: O chamado J esus Histrico e o
Cristo Bblico Histrico, contem o seu argumento essencial. Para ele, o que histrico
refere-se quilo que podemos aprender atravs dos mtodos seguidos pelos historiadores, os
quais sempre podem ser defeituosos, ou, pelo menos, parcialmente erroneos. Por outro lado,
uma pessoa ou acontecimento seria histrico por causa do poder e dos efeitos produzidos
sobre os homens e sobre o futuro deles. Dadas as alternativas entre o chamado J esus histrico,
e o Cristo histrico, Kahler preferia este ultimo. O Cristo histrico o Cristo Real. Para ele a
90
busca pelo J esus histrico no passaria de uma ruela sem sada, como tantas outras questes
histricas. Chegara ao extremo de declarar que essa inquirio pode at mesmo obscurecer a
nossa compreenso sobro o Cristo vivo. Ele cria que J esus era diferente de nos quanto
espcie, e que todos os metodos que podem ser usados para revel-lo tem sido e continuaro
sendo fracos. O cristo histrico transpareceria muito bem no NT sem precisar das armadilhas
da historicidade.
No pensamento de Khler, no h separao entre o Cristo do Kerygma e a figura
histrica de J esus, nem era a base e o contedo do Kerygma cristo primitivo. Pelo contrario,
J esus era a base e o contedo do Kerygma e, portanto, o objetivo da f. As opinies de Khler
anteciparam as de J Weiss, Schweitzer e Bultmann.


ALBRECHT RITSCHL

Biobibliografia

Seu perodo de existncia aconteceu no sculo XIX, entre 1822 1889. Nasceu em
Berlim, Alemanha. Filho de pregador, e veio a tornar-se bispo. Foi um importante telogo
alemo. Estudou teologia em Bonn e em Halle. Tornou-se professor particular em Bonn, onde
ensinou muitos anos. Foi professor de teologia tambm em Gottingen. A princpio foi
influenciado por Hegel, mas acabou rompendo com ele. Depois foi influenciado por Kant e
por Schleiermacher, e alguns o considera como um neokantianao. Sua influncia foi grande na
teologia protestante liberal alem e nglo-americana.
Os pensamentos como: a f foi influenciado por Lutero; o primato razo prtica em
relao f religiosa por Kant; o homem como cidado de dois mundos tambm por Kant; a
nfase histrica e social por Hegel; e o tesmo por Lolze.

Pensamento Teolgico

J esus Cristo o fundador do reino de Deus. O reino e a redeno so os dois
grandes eixos da f crist. Com a exceo nica de Schleiermacher, ningum tem exercido
maior influncia sobre a teologia atual do que Ritschl. Em sua cristologia ele parte da obra de
Cristo, e no de sua Pessoa, enfatizando muito mais a primeira do que a Segunda. A obra de
Cristo que teria determinado a dignidade de sua Pessoa. Cristo seria mero homem,
91
entretanto, face obra por Ele realizada e ao servio por Ele prestado, atribumo-lhe com
justia o predicado de Deidade. Aquele que realiza a obra de Deus pode ser apropriadamente
descrito em termos de Deus. Cristo, ao revelar Deus em sua graa, verdade e poder remidor,
para o homem tem o valor de Deus,tendo assim o direito de receber honras divinas. Ritschl
no fala sobre a preexistncia, a encarnao e o nascimento virginal de Cristo.
Ritschl repelia a autoridade das tradies dogmticas quanto s crenas
religiosas, aos costumes sociais e s prticas ticas, e pensava que a comunidade religiosa
deve formar uma unidade s.
Ele ressaltava a importncia dos julgamentos de valor, como fonte do
conhecimento religioso. Ele criou um pragmatismo quase religioso, com base na f-
conhecimento, alicerado sobre julgamento de valores. Ritschl foi uma das figuras principais
da axiologia (teoria do valor), qual deu um lugar importante na teologia e na filosofia.
Para ele, a experincia religiosa mais fundamental para o homem bom do que
a doutrina. Essa experincia promovida segundo moldes empricos. Ele frisava mais os
aspectos histrico, tico e social da experincia crist, diminuindo a importncia do aspecto
mstico.
Suas idias tm sido uma das foras por detrs do desenvolvimento do
evangelho social. Ele enfatizava essa expresso da vida religiosa, suspeitando muito das
fantasias e do subjetivismo do misticismo.
Para ele, a teologia no deveria alicerar-se sobre a metafsica, mas sobre as
experincias religiosas positivas. Em seus primeiros escritos, seus preconceitos contra a
metafsica aparecem to fortes que ele parece ser virtualmente um positivista. Entretanto, ele
no abandonou o tesmo, posto que fundamentava-o sobre os julgamentos de valores.
Ele distinguia claramente entre a razo e a f, dando preferncia e salientando a
f. Essa f repousaria sobre as experincias autnomas. Importantes aspectos de4ssa f seriam
o sentimento de impotncia e a dependncia a Deus. Ele pensava que a filosofia por demais
remota e superficial para interpretar e orientar na experincia religiosa. No entanto, ele
mesmo foi fortemente influenciado por certos filsofos.
A f religiosa autnoma, estando segura aos ataques das sincias, as quais
tambm seriam autnomas em seus respectivos campos.
Ele pensava que o universalismo possvel, embora isso no fosse
dogmaticamente ensinado por ele.

Desenvolvimento do seu Pensamento Teolgico
92

Uma teologia liberal, at certo ponto nova e original, surgiu em fins do sculo XIX e
nos primeiros anos de nosso sculo, tendo como propugnadores Albrecht Ritschl e seus
seguidores.
Ritschl fora influenciado tanto por Kant como por Schleiermacher. Localizava a
essncia da religio no no sentido de dependncia absoluta mas nas idias especficas da
comunho religiosa, que se referem modificao da vontade e promoo da salvao ou
bem-aventurana humana. Ritschl no aceitava a revelao no sentido real do termo.
Revelao, em sua opinio, o mesmo que religio positiva. A religio crist tem seu ponto
de referncia na congregao crist e na pessoa de J esus. A nica tarefa da teologia, segundo
ele, a de desenvolver a comunho do homem com Deus como esta se expressa no
cristianismo histrico.
Ele pretendia lanar um fundamento slido de erudio para a teologia, e procurava
garantir sua posio contra os ataques da cincia natural materialista. Assim fazendo, recorria
religio positiva e a considerava foto histrico. A dogmtica era empregada para descrever
historicamente a f.
Em oposio aos que dizem ocupar-se o cristianismo s com a salvao obtida atravs
de J esus Cristo, Ritschl enfatizava que temos de lidar com duas idias bsicas dominantes: O
cristianismo pode ser comparado a uma elipse que controlada por dois focos. Segundo ele, o
cristianismo ocupa-se tanto com o alvo tico comum, o reino de Deus, como com a salvao
do indivduo.
A funo da religio especialmente a de promover e trazer existncia o reino de
Deus o destino do homem concebido em categorias ticas.
Ele define salvao como justificao ou perdo dos pecados, restaura a liberdade
tica criada pelo pecado. Com isso, o homem reconhece, no seu interior, a vontade de Deus e
deste modo se predispe a fazer o bem. Pode-se que o elemento religioso subordinado ao
tico, embora ambos estejam includos como os dois focos no que Ritschl denomina a religio
crist.
As doutrinas tradicionais foram podadas consideravelmente ou reinterpretada para
harmoniz-las com as idias bsicas ticas ou espirituais, que segundo ele continham o
significado essencial da salvao. Ele no concebia o pecado como corrupo universal
perante Deus; o considerava desvios isolados do bem, que resultam de conhecimento
insuficiente do bem comum, que simutaneamente o bem tico. Atravs da nova relao com
Deus que se torna acessvel ao homem pela f em Cristo e sua salvao.
93
Cristo pode ser chamado Deus s em sentido figurado: sua divindade existe na
unidade de sua vontade com Deus, na perfeita comunho com Deus que manifestou em
obedincia ao chamado de Deus. O sofrimento e a morte de Cristo so simplesmente a prova
final e decisiva dessa obedincia. Segundo Ritschl Deus amor, ponto final; ira, vingana ou
juzo so alheios a sua natureza. Punio e disciplina s so empregadas para educar o
homem.
A tarefa da teologia, tal como Ritschl a via, consiste em harmonizar o cristianismo
tradicional com a conscientizao do mundo do homem contemporneo. A religio no se
destina a explicar o mundo, ou a fazer pronunciamentos tericos, metafsicos; pode apenas
prazer juzos de valor. O alvo uma filosofia crist, que satisfaa plenamente a exigncia de
uma religio moral e espiritual perfeita.


HANS KNG

Biobibliografia

Telogo catlico suo, nascido em Sursee em 1928, na Sua, recebeu variada
educao na Itlia, Holanda e Espanha. Foi ordenado em 1955, servindo como proco, para
em 1960 ser nomeado professor de Teologia em Tubingem. Entre os telogos do sculo XX
que mais empenharam no campo ecumnico, deve-se mencionar Hans Kng: seu itinerrio
um exemplo da ampliao da Teologia Ecumnica em teologia das religies.
A trajetria da Teologia ecumnica de Kng comea com a obra A justificao (1957),
na qual se confrontava a perspectiva barthiana, entendida como a formulao mais expressiva
do protestantismo, da doutrina da justificao com a doutrina catlica de Trento.
Na vasta sntese A Igreja (1967), Kng pretende remontar fonte original do Novo
Testamento, estudado porm no segundo estreitas exigncias catlicas conciliadoras, mas
com mtodo histrico-crtico, diferenciado, de acordo com os resultados da moderno exegese.
Em Uma pergunta (1970), Kng levantava a questo: um magistrio eclesistico
infalvel se justifica? Ou ainda: a infabilidade da igreja est ligada a proposies infalveis?
Ensaio conclusivo do livro Falvel? Um balano (1973) a igreja poder cristalizar-se,
porque encontra fundamento na mensagem originria de J esus.
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Kng explica com obras eclesiolgicas, numa revisitao e reviso crtica ecumnica
dos temas clssicos de teologia sistemtica, tais como a cristologia em Ser cristos (1978), a
questo a respeito de Deus em Deus existe? ( 1978), e a escatologia em Vida eterna? (1982).
Ele passa da teologia ecumnica crist a uma teologia ecumnica global. Nesta sua
nova fase de reflexo, em que ele introduz o ecmeno eclesial como parte integrante de
ecmeno mundial, desenvolveu tambm uma reflexo epstemolgica, na qual procurou
definir o que uma teologia ecumnica, que se abre ao dilogo com as religies, introduzindo
em teologia a teoria dos paradigmas.
Apresenta em Teologia a caminho (1987), o conceito de paradigma como modelo
interpretativo ou modelo de compreenso possibilita uma nova leitura da histria da teologia.
Projeto para um ethos (tica) mundial (1990) teologia ecumnica da paz: No pode
haver convivncia humana sem um ethos mundial das naes; no pode haver paz entre as
naes sem a paz entre as religies; no pode haver paz entre as religies sem o dilogo entre
essas mesmas religies. Ou seja: A teologia no pode deixar de estar a servio da
humanidade; mas uma teologia a servio da humanidade deve pr-se a servio do
entendimento e da colaborao entre as religies, favorecendo e praticando o dilogo inter-
religioso tendo em vista a fundao de um ethos mundial.

Desenvolvimento do seu Pensamento Teolgico

Ecumenismo AD INTRA (entre os cristos):
Com a obra A J ustificao Estabelece um dilogo entre as formulaes do
Conclio de Trento e o pensamento de Karl Barth no tocante a justificao, igualando-
os em contedo, e diferenciando-os apenas na linguagem e fontes;
Critica os pontos basilares da Teologia catlica-romana, com vistas a uma
flexibilidade que proporcione uma estrutura ecumnica: afirmando a perda do carisma
em detrimento da rigidez absolutista da estrutura eclesistica, relativizando o primado
petrino, sua existncia, continuidade, romanidade e autoridade de poder, relativizando
o dogma da infalibilidade do ministrio eclesistico, da prpria estrutura e de todo o
magistrio;
Atravs de um mtodo ecumnico pautado nas mais recentes pesquisas exegticas,
quer voltar s tradies originrias do N. T., assumindo como imprescindvel para o
Cristanismo e para o cristo em si, as premissas de catlico e evanglico.

95
Ecumenismo AD EXTRA (global entre as religies)
Na dcada de 80, a partir do dilogo com especialistas de outras religies, seu
ecumenismo passa do dilogo interconfessional-cristo, para o dilogo inter-religioso-
global;
Aplica a teoria epistemolgica dos paradigmas de Thomas Kuhn Teologia at
desenbocar no novo paradigma contemporneo de um ecumenismo-crtico, que
dialoga sem negar as prprias tradies;
Oferece como alternativas questo da verdade trs propostas ineficazes, mas
verificveis hoje, que so fortaleza, harmonia e abrao
Prope que a paz no mundo seja uma tarefa das religies, que por meio do dilogo
proporcionaro a construo de uma tica mundial, j que apenas essa tica
resolver a questo da paz, no alcanada pela filosofia, nem pela cincia.

Resumo sobre Controle de sua Obra: Veracidade

Enfrentando uma situao da Igreja catlica que, no raro se caracteriza pela
perplexidade, resignao e revolta, o autor foi convidado a pronunciar na TV sua uma
palestra no programa "Wort zum Sonntag".
Somente hoje ao meio dia recebi o convite de pronunciar uma palestra no programa
"Wort zum Sonntag", em carter excepcional. As manchetes da grande imprensa foram
tomadas pelo noticirio sobre a luta cruel do povo tcheco-eslovaco pela liberdade. Ao lado
desse noticirio, a encclica do papa Paulo VI sobre o controle da natalidade representa outro
fato a empolgar a opinio pblica mundial: no possvel silenciar em um momento assim, e
ser ela o assunto do nosso programa.
No possvel dizer muita coisa em cinco minutos. Certamente no se pode pesar os
prs e os contras. Nem mesmo se conseguiria estudar a situao. Os debates j havidos
esclareceram alguma coisa:
1. A encclica representa uma autntica, ou seja, oficial tomada de posio do papa,
aps longa reflexo, Seria iluso pensar que ela ser retirada ou corrigida dentro de um lapso
de tempo muito breve.
2. Trata-se de uma deciso falvel, como tambm se admite em Roma.
3. Com espanto de Roma, a encclica encontrou uma recusa geral na opinio pblica
fora da Igreja catlica e criou na Igreja catlica a mais sria crise dos ltimos decnios.
Muitos na Igreja, incluindo-se bispos, telogos, vigrios, homens e mulheres, sacodem a
96
cabea, sem saber o que dizer, duvidam, e esto perplexos. Alguns resistem publicamente. O
papa viu-se obrigado a sair em campo em defesa da sua encclica logo aps a sua publicao.
Em alguns pases as conferncias episcopais renem-se procurando uma sada.
Nesta hora difcil para a Igreja catlica, quando tambm contamos com a compreenso
e a ajuda dos cristos evanglicos, tentarei apresentar uma palavra orientadora: Que fazer?
Poder a Igreja sair do impasse?
Primeiramente: h de ir adiante; ho de sair do impasse a Igreja catlica, sua
renovao, a aproximao ecumnica! No nos enganemos! No percamos a esperana!
Venceremos esta crise, como o fizemos com outras muitas, e, se no me engano, at sairemos
ganhando! O argumento decisivo do papa foi que se sentia comprometido com a doutrina
oficial e considerada definitiva, dos seus antecessores e do episcopado da primeira metade do
sculo. Isso conduzir a Igreja a um re-exame crtico dos seus conceitos sobre: autoridade,
magistrio, formulaes da doutrina, dogma e, sobretudo, infalibilidade. A partir da Escritura,
no deveria a infalibilidade eclesistica ser considerada no tanto em determinadas
proposies e doutrinas, mas muito mais na convico da f de que a Igreja, conservada pelo
Esprito de Deus, incessantemente renovada, apesar de todos os erros, atravs de todos os
erros de papas, bispos, telogos, vigrios, homens e mulheres? Tais e semelhantes perguntas
ho de ser feitas por ns, juntamente com os cristos evanglicos, pelos quais, devido s
contradies doutrinais no prprio campo, as mesmas questes sero formuladas, embora sob
um outro ponto de vista. O que muito contribuir para a nossa mtua aproximao. Portanto,
h de ir adiante.
E, que que devemos fazer? Trs pontos resumem a minha resposta:
1. Tomaremos a srio e respeitaremos a deciso de conscincia do papa.
2. Pesaremos e debateremos honestamente os seus argumentos. No recalcaremos
nossas dvidas, mas exp-las-emos, a fim de alcanar clareza para ns mesmos e para
a Igreja. E no nos condenaremos mutuamente, mas procuraremos compreender-nos.
3. Aqueles que, aps sria e madura reflexo consigo, com o cnjuge e diante de Deus,
chegarem concluso de que, no interesse de guardar o amor mtuo, de consolidar e
tornar feliz seu matrimnio, devem agir de modo diverso do indicado pela encclica:
esto obrigados a seguir a prpria conscincia, conforme o ensinam os papas e a
doutrina tradicional. Portanto, no se acusaro de pecado, quando tiverem agido
conforme os ditames da prpria conscincia, continuando tranqilos a participar da
vida e dos sacramentos da Igreja. E seguramente podero contar com a compreenso
dos seus pastores.
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Em resumo: depender de cada um arrancar da crise a Igreja, tornando-a novamente
emancipada e mais responsvel. E exatamente isto que h de ajudar, no Somente a ns,
mas a todas as igrejas.



HEINRICH EMIL BRUNNER.

Biobibliografia

Nasceu em 23 de dezembro de 1899 em Winterthur, na Sua e morreu em 1966. Foi
um telogo protestante suo, sendo que sua formao acadmica foi em Berlim e Zurique. De
1926 foi professor tambm em Zurique, at sua morte. Transcorreu grande parte de sua
existncia na ptria, mas tambm viveu no exterior: na Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos
e J apo.
Realizou seus estudos liceais em Zurique, formando-se em 1908. Depois dedicou-se
aos estudos teolgicos, primeiro em Zurique, depois em Berlim e Nova York e finalmente
retornou a Zurique, onde obteve o doutorado em teologia em 1913.
Em parceria com Barth, fundou o movimento da Teologia Dialtica logo depois da
Primeira Guerra Mundial. O movimento se dissolveu na dcada de trinta, quando Barth aderiu
ao mtodo da analogia da f e Tillich ao mtodo da cprrelao.
Suas obras foram: The Symbolical in Religious Knowledge; The Mystic and The
Word; The Fhilosophy of Religion of Evangelical Theology; The Mediator; The Divine
Imperative; Man in Revolt; Chritianity and Civilization.


Pensamento Teolgico

Brunner ocupava posio a meio caminho entre o protestantismo liberal e a neo-
ortodoxia (e a teologia da crise) de Barth. Asseverava que apesar do homem no poder prover
sua prpria salvao, possui determinados poderes naturais para corresponder a Deus, estando
na obrigao de utilizar os mesmos. Em outras palavras, o livre-arbtrio uma realidade.
A razo no pode solucionar todos os problemas humanos, motivo pelo qual
inevitavelmente surgem contradies na filosofia e na teologia. Isso, porm, meramente
98
mostra que a revelao encerra mistrios que, por enquanto, no cedem diante do nosso
conhecimento. Uma teologia sem contradies seria uma teologia falsa, porquanto teria a
presuno de resolver os grandes mistrios.
A tecnologia e a poltica tendem a despersonalizar o homem. A revelao crist visa s
pessoas, provendo uma chave que abre a verdadeira natureza do homem e de sua comunidade.
Brunner eliminava de sua discusso todos os tpicos que, para ele, no dissessem
respeito imediato inquirio espiritual do indivduo, como o nascimento virginal e a maioria
dos relatos de milagres do Novo Testamento. Mais tarde, ele simplifica a ortodoxia, em prol
da espiritualidade prtica.
Ele se opunha ao intelectualismo teolgico, e punha a pessoa de Cristo no centro da
teologia.
Dentro do campo da tica, ele combinava a crtica de Kant com o realismo da Bblia e
do luteranismo moderno. Mostrava-se sempre interessado pelo aspecto prtico da tica. Em
seu livro, Homem em Revolta, ele via o homem como um ser estranhamente pessoal.
Empregava as categorias e discernimentos de Kierkegaard, bem como o personalismo de
Ebner e Buber, filsofos que enfatizavam a relao com Deus, expressa pela forma eu-tu. O
homem um pecador, responsvel diante de Deus, mas revoltado contra Deus, mediante seu
pecado. Porm, o homem pode agir favoravelmente, e ento o Esprito faz dele uma nova
criatura. A vontade de Deus opera atravs das ordenanas da criao, como a famlia, o
trabalho, a Igreja, o estado e a cultura geral. O dilogo com todos os nveis da sociedade
ajuda-nos a definir como a vontade de Deus opera atravs dessas institues.

Desenvolvimento de sua Teologia

Brunner no se encaixava no liberalismo protestante e tambm no se encaixava
totalmente na neo-ortodoxia e teologia da crise, ficando assim num estgio transitrio entre
as duas correntes. Defendia que, o livre arbtrio uma verdade soteriolgica, porm no o
homem que prov a si prprio a salvao, ou seja, a salvao dada por Deus, mas o homem
possui caractersticas naturais para corresponder a Deus, isso em nvel soteriolgico. Ele,
assim como Barth, rejeitou o misticismo cristo, porm afirmava que a razo no pode
solucionar todos os problemas da vida, idia que vai(bate) de encontro a muitos filsofos
racionalistas. Afirmava tambm que, h no mundo muitos mistrios e que a teologia no tm
o poder de resolver todas as questes, por isso ela possui tantas contradies e seria presuno
dela querer resolver esses mistrios. Abordou algo importante para a sociologia ao dizer que a
99
poltica e a tecnologia podem despersonalizar o homem, e nesse ponto que entra a teologia,
pregando que a revelao crist visa o homem. Brunner afirmava que, a revelao no
proposicional, ou seja, a bblia simplesmente o registro da revelao de Deus aos homens e
no foi ditado por Deus no processo de escriturao. Brunner era um homem que no discutia
tpicos que diziam respeito a milagres ou nascimento virginal, mas seu conceito de
espiritualidade era mais em nvel de prxis e no de experincias msticas. Sua teologia era
formada tendo Cristo como centro de qualquer idia, assim sendo ops-se ao intelectualismo
teolgico. A tica era um assunto a ser vivido no cotidiano, ou seja, combinava a crtica de
Kant com o realismo do luteranismo. Apoiou idias de filsofos como Ebner e Buber que
enfatizavam a relao entre o homem e Deus. Apesar de defender o livre arbtrio
indiretamente , dizia que o homem pecador e sempre se revoltar contra Deus, porm se o
homem reagir a essa revolta, ele ter o auxlio do Esprito Santo que o tornar uma nova
criatura. Um dos pontos mais interessante de sua teologia que ele ensinava que vontade
de Deus se manifesta atravs da famlia, do trabalho, da igreja, da cultura, do estado..., sendo
assim o relacionamento com a sociedade nos ajuda a identificar como a vontade de Deus
opera.


RUDOLF KARL BULTMANN

Biobibliografia

Nasceu no dia 20 de agosto de 1884, em Wiefelstede, prximo a Oldenburg na
Alemanha. Filho de pastor e neto de avs, materno e paterno luteranos. Em 1903 iniciou seus
estudos teolgicos em Tubigen, seguidos de Berlin e Marburg, onde em 1910, doutorou-se,
defendendo uma tese acerca da retorcia paulina. Era exegeta, telogo bblico protestante,
historiador e filosofo. Foi influenciado pelo filosofo alemo Martin Heidegger, que professava
o existencialismo, e pela teologia de Karl Barth. Lecionou NT em Marburgo, Alemanha de
1921 a 1951, quando se aposentou. Todos os seus escritos levam a marca de um estudioso
consciente, atento, agudo, profundo e genial, dotado de uma bagagem critica, filosfica
incomum. Foi considerado como o mais prestigioso dos telogos contemporneos, chegando a
ser classificado como um dos mais importantes telogos do sculo XX. bem perceptvel sua
marca sobre os telogos da morte de Deus. A sua influencia foi bem mais notria aps o
ano de sua aposentadoria em 1951. Bultmann foi o pioneiro em estudar os evangelhos
100
valendo-se da critica da forma que buscava descobrir pronunciamentos e fatos da Igreja
primitiva, subjacentes forma do texto dos evangelhos. Veio a falecer no dia 30 de julho de
1976, em Marburgo.
Sua poca de formao teolgica se deu no perodo anterior primeira guerra mundial,
ainda no clima de otimismo quanto ao futuro da humanidade, caracterstico do sculo XIX. A
influencia dominante era da chamada teologia liberal, com parte componente antropolgico, e
da pesquisa da historia das relgios. A partir de meados da dcada de 20 do sculo XX,
Bultmann assumiu uma concepo teolgica prxima de Karl Barth, Friedrich Gogarten e
Emil Brunen, iniciadores da teologia dialtica, caminho aberto pelo comentrio de Barth
Epistola aos Romanos, de 1919, que rompera com o enfoque Antropocentrico, caracterstico
da poca anterior, reflexo criteriosa em termos da Palavra de Deus e Revelao.

Pensamento Teolgico

Um dos telogos mais influentes do sculo XX, Rudolf Bultmann (1884-1976) se
destacou com seus escritos histricos e interpretativos sobre o Novo Testamento. Ele foi,
durante muitos anos, catedrtico da Universidade de Marburg, na Alemanha.
Segundo Bultmann, a tarefa da teologia a de descobrir um "conceptualismo", cujos
termos pudessem aproximar a mensagem do Novo Testamento a cosmoviso moderna. Em
correspondncia pessoal, ele sempre afirmou sua inteno proclamar uma mensagem
contextualizada, ele se referiu certa vez a uma senhora que retornou Igreja, depois de muito
tempo afastada, por causa da leitura de um de seus livros.
Apoiando-se num esquema interpretativo existencialista, bastante influenciado pr
Martin Heidegger, seu colega na Universidade de Marburg, Bultmann passou sua vida lendo o
Novo Testamento, como se fosse um documento heideggeriano, e se valendo de mtodos
histrico-crticos para eliminar do texto os elementos resistentes ao sistema filosfico
existencialista.
Bultmann fez uma palestra em 1941 numa conferncia para pastores, que
posteriormente foi publicada, "O Novo Testamento e a Mitologia". A tese de Bultmann: a
humanidade contempornea, que se acostumou com os avanos da cincia, no pode aceitar o
conceito mitolgico do mundo expresso nos escritos bblicos.
De acordo com Bultmann, "a concepo do universo do Novo Testamento mtica. O
universo considerado como dividido em trs andares. No meio se encontra a terra, sobre ela
o cu, abaixo dela o mundo inferior. O cu a morada de Deus e das figuras celestes, os
101
anjos; o mundo inferior o inferno, lugar de tormento. Mas tambm a terra no o s o lugar
do acontecer natural e cotidiano, da previdncia e do trabalho, que conta com ordem e lei;
tambm cenrio do atuar de poderes sobrenaturais, de Deus e de seus anjos, de Sat e de seus
demnios. Os poderes sobrenaturais interferem nos acontecimentos naturais e no pensar,
querer e agir do ser humano; milagres no so nada raros. Sat pode lhe incutir pensamentos
malignos. Mas Deus pode dirigir seu pensar e querer, pode f-lo ter vises celestiais, f-lo
ouvir a sua palavra exportadora e consolidara, pode presentear-lhe a fora sobrenatural de seu
esprito.
A histria no percorre seu caminho constante e estabelecido pr suas prprias leis,
mas obtm seu movimento e direo dos poderes sobrenaturais. Este en encontra-se sob o
poder de Sat, do pecado e da morte (que precisamente so considerados "poderes").
Rapidamente ela se encaminha para seu fim, mais explicitamente um fim prximo, que
ocorrer numa catstrofe csmica. So eminentes as "dores de parto" do tempo final, a vinda
do juiz celestial, a ressurreio dos mortos, o julgamento para a salvao e perdio.
A concepo mtica do universo corresponde a exposio do acontecimento salvfico,
que constitui o contedo verdadeiro da proclamao neotestamentria. A proclamao
emprega linguagem mitolgica: eis que chegado agora o tempo final; "vindo a plenitude do
tempo", Deus enviou seu filho. Este um ser divino preexistente, aparece na terra como um ser
humano, sua morte na cruz, a qual ele sofre como um pecador, propicia expiao para os
pecados dos seres humanos. Sua ressurreio o comeo da catstrofe csmica, atravs da
qual ser aniquilada a morte, trazida ao mundo pr Ado: os poderes demonacos universais
perderam seu poder. O ressurrecto foi elevado ao cu, direita de Deus; ele foi transformado
em "senhor" e "rei". Retornar sobre as nuvens do cu, a fim de consumar sua obra de
salvao; ento ocorrer a ressurreio dos mortos e o juzo; ento tero sido aniquilados o
pecado, a morte e todo o sofrimento. Tudo isto acontecer em breve; Paulo de opinio que
ainda h de experimentar pessoalmente este evento.
Quem pertence a comunidade de Cristo, est ligado ao seu Senhor, atravs do batismo
e da ceia do Senhor, e pode estar seguro de sua ressurreio para a salvao, se no se
comportar indignadamente. Os crentes j possuem o "penhor", a saber, o Esprito, que age
neles e testifica sua filiao de Deus e garante sua ressurreio.
A estes temas acima mencionados, que apresentam um formulao ortodoxa e
evanglica, Bultmann responde dizendo que "tudo isto linguagem mitolgica... Em se
tratando de linguagem mitolgica, ela inverossmil para o ser humano hoje". Ele se prope
102
para a teologia a tarefa de desmitologizar a proclamao crist, descobrindo a verdade que
est inserida na concepo mtica do universo do Novo Testamento.
A preocupao de Bultmann no era a eliminao dos mitos, pelo contrrio, ele
procurou uma reinterpretao da linguagem mitolgica da Bblia. " bem possvel que numa
concepo mtica passado do universo possam ser descobertas de novo verdades que foram
perdidas numa poca de iluminismo". "O sentido do mito no o de proporcionar uma
concepo objetiva do universo. Ao contrrio, nele se expressa como o ser humano se
compreende em seu mundo. O mito no pretende ser interpretado cosmologicamente, mas
antropologicamente melhor; de um modo existencialista".
O alvo de Bultmann ao interpretar os mitos bblicos era ressaltar a natureza da f.
Nesta nfase f, manteve-se firme nas tradies de Paulo e de Lutero.
Bultmann cr que o Novo Testamento contm a Kerigma salvadora de Cristo. A
desmitologizao concite em desnudar o mito do Novo Testamento e descobrir a Kerigma
original.
Parte importante da interpretao de Bultmann o seu modo de entender a histria. Ao
contrrio do idioma portugus, a lngua alem fornecia a Bultmann duas palavras
correspondentes a "histria". A primeira, Historie, usada em relao aos fatos da histria. A
segunda, Geschichte, o termo que subentende o significado ou relevncia de um evento na
histria. Com o uso destas duas palavras, possvel diferenciar entre o significado do evento e
um fato real.
Sendo assim, ponderai-se dizer que J esus morreu na Historie, mas sua real ressurreio
se deu na Geschichte. Ou seja, ele no nega a existncia do J esus histrico, como fez a antiga
teologia liberal alem, mas nega a realidade dos eventos sobrenaturais que o envolveram.
A erudio de Bultmann tende a transformar o pensamento cristo em um mero
comentrio a cosmoviso moderna. Toda a mensagem do Novo Testamento tem de ser
repensada em categorias existenciais. E nisto o evangelho perde o seu valor e sua fora, e
passa a ser mais uma boa filosofia de vida.
Segundo Gilbert Durand, "as idias de Bultmann so tpicas do crculo em que
mergulha todo pensamento que busca um sentido enquanto se satisfaz em dar voltas lineares,
prisioneiro da temporalidade histrica; em que a tradio passada remete existncia presente
e vice versa, indefinidamente".
O conceito do Deus objetivo e pessoal apresentado na Bblia se rende ao pensamento
moderno. Em Bultmann, Deus no mais se relaciona objetivamente com o homem, pois o
conhecimento de Deus est perdido em meio aos mitos descritos no Novo Testamento.
103
A diferenciao entre Historie e Geschichte, retira a ao de Deus na histria. Cristo
o Senhor, diria Bultmann, mas no o Senhor de nossa histria e sim de uma histria
existencial e subjetiva. Assim define George E. Ladd; "a realidade histrica deve ser
compreendida em termos de uma imutvel casualidade histrica. Se Deus compreendido
como tendo a possibilidade de agir na histria, a ao deve estar sempre oculta nos eventos
histricos, sendo evidentes apenas aos olhos da f".
Embora a mensagem do cristianismo seja, sem dvida alguma, existencial e
contempornea no sentido mais verdico, e exija a resposta subjetiva da f. A f que ele requer
a f numa realidade objetiva.
Quando o cristianismo privado de sua objetividade, cujo fundamento a interveno
livre e sobrenatural de Deus na histria, essa religio se torna uma idia vaga, uma abstrao,
um idealismo sem razes, e nunca ser o vibrante cristianismo bblico.
Bultmann eliminava de sua teologia, pelo processo de demitizao pois achava que
muitos dos relatos neotestamentarios so frutos da imaginao do homem ou de elementos
mitolgicos presentes na cultura; questes como o nascimento virginal de Cristo, os milagres
do Novo Testamento, a ressurreio e a ascenso de Cristo, a existncia de demnios, anjos,
as intervenes divinas e a expiao do pecado atravs do sangue de Cristo. Ele dizia que a
Bblia fora escrita em linguagem mitolgica, que obseleta para os nossos dias. O telogo
moderno tem enato a tarefa de demitizar a bblia despindo-a de seus trajes lendrios,
mitolgicos e tentando descobrir as verdades existenciais que se encontram nos textos.
Eticamente ele se declarava um existencialista. Para ele a existncia humana pede e
pode ser considerada parte da f. O homem torna-se escravo daquilo que deveria dominar. O
imperativo de toda tica o amor. A verdadeira vida de f baseia-se sobre realidades
invisveis, intangveis. Ele explica que o homem pode ser dominado por questes carnais, isso
gera uma angustia que oprime o homem e o torna escravo, de forma totalmente
existencialista. Apesar dessas idias existencialistas, bultmann afirma que Deus falou ao
mundo atravs de cristo e continua falando at hoje. A f tambm em certo sentido foi
defendida por esse telogo ao dizer que ela liberta os indivduos do passado, trazendo
liberdade para viver um bom futuro.
Bultmann redefiniu as idias primitivas de pecado como existncia inautntica e
salvao como existncia autentica.
A Bblia essencialmente uma obra de mentalidade mtica, faz-se necessrio uma
reinterpretao das figuras de linguagem nela contida, de modo que haja compreenso para a
mente cientifica do sueco XX. Como Comte, considerava a religio um resultado da
104
mentalidade ingnua, imatura da humanidade antiga, a qual, ignorando a verdadeira causa,
pensou toda uma serie de sobrenaturais: acima de ns, um cu povoado por uma hierarquia de
anjos, sob o domnio direto de Deus; abaixo de ns, um inferno repleto de espritos malignos.
J esus um homem, Cristo virtualmente o Deus encontro pessoal. Para Bultmann,
tanto o tmulo vazio como o nascimento divinal so mera lendas. Segundo ele o J esus
histrico exceo do evento da cruz, irrelevante para a f, que se apega palavra
proclamada acerca da ao salvifica de Deus em Cristo. Ou seja: o queriam a respeito do
Cristo da f pressupe necessariamente o fato de J esus Ter vivido e morrido na cruz, mas o
desdobramento dos detalhes da vida de J esus lhe irrelevante.
Para Bultmann, nenhuma analise filosfica do mundo resultar em conhecimento de
Deus. A revelao no pode ser descoberta por inteiro, deve ser contemplada com os olhos da
f. Deus no nenhum objeto que possa ser apreciado pelo pensamento humano, e ns no
podemos falar de Deus em termos objetivos. A vida humana limitada como criatura, no
tempo e na capacidade e cada ser humano responsvel pelo que . Alguns telogos
consideravam as duvidas lentadas pela critica da forma como meios de inutilizao da f
crist. Na concepo de Bultmann, a verdadeira historia impe ao historiador que procure
travar uma forma de dialogo com a historia, que ele esteja considerando, a historia dever ser
revivida para o historiador. A f crist no limita J esus a um mero acontecimento da historia.
Apara que o homem possa existir de fato deve compreender a sua prpria existncia. A
liberdade humana reside na faculdade exclusiva do homem em escolher o que intente ser.
Bultmann, diferentemente de outros telogos, nunca participou direta e ativamente em
questes polticas. Totalmente dedicado a pesquisa teolgica, considerou o trabalho cientifico
livre e manteve seu lugar adequado em face das tendncias reacionrias.
No entender de Bultmann, a mensagem neotestamentaria jamais pode ser apreendida
de forma definitiva, pois, enquanto elaborao conceptual, sempre uma exposio teolgica.
Bibliografia
BULTMANN, Rudolf, Demitologizao: Coletnea de Ensaios, Traduo de Walter
Altmann e Lus Marcos Sander, So Leopoldo: Sinodal, 1999.
________________, Crer e Compreender: Ensaios selecionados, edio revista e ampliada /
traduo de Walter Schlupp, Walter Altmann e Nrlio Schncider, So Leopoldo: Sinodal,
2001.
MONDIN, Batista, Os grandes telogos do sculo XX, Volume 2, 2 edio, traduzido por
J os Fernandes, So Paulo: Paulinas, 1979.
105
______________, Quem Deus?: Elementos de Teologia e Filosofia, traduo de J os
Maria de Almeida, So Paulo: Paulus, 1997.
HAGGLUND, Bengt, Histria da Teologia, traduo de Mrio L. Rehfeldt & Gladis Knak
Rehfeldt, 6 edio, Porto Alegre: Concrdia, 1999.
HORDERN, William E., Teologia Protestante ao alcance de todos, traduo de Roque
Monteiro de Andrade, 3 edio, Rio de J aneiro: J UERP, 1986.
CHAMPLIN, Russell Normam, Enciclopdia de Bblia Teologia e Filosofia, Volume 1, So
Paulo: Candeia, 1995.
TILLICH, Paul, Perspectivas da Teologia Protestante nos Sculos XIX e XX, traduo de
J aci Maraschin, 2 edio, So Paulo: ASTE, 1999.
GIBELLINI, Rosino, A Teologia do Sculo XX, So Paulo: LOYOLA, 1998.



KARL BARTH

Biobibliografia

Nasceu em 1886, em Basel, na Sua. Era um telogo reformado, tambm pastor. Em
1911 pastoreou em Safenwyl. Em 1921 foi professor de teologia reformada em Goettingen,
em 1925 em Muenster-in-Westphalia e em 1930 em Bonn. Em 1935 os nazistas o exilaram, e
ento ele foi professor em Basel at 1968, ano de seu falecimento. Foi aluno de Harnack, e foi
influenciado pelo neokantianismo e por Kierkegaard e tambm pelo socialismo de Ragaz e
Kutter. Quando a teologia liberal estava no auge, ele se rebelou contra seus professores e em
1919 escreveu seu comentrio sobre o livro de Romanos, onde praticamente comeou a surgir
uma nova ortodoxia. Teve influncia do reformador Calvino, principalmente por volta de
1925. Enfatizava a teologia bblica, porm com concluses racionais. Era um homem de
carter forte e de propsitos e entrou em conflito contra a igreja do estado nazista. Muitos
acham que Karl Barth era liberal, mas na realidade ele no gostava do liberalismo religioso e
at se manifestava contra. Ele tinha o desejo de retornar a teologia bblia e aos princpios
reformados. Rejeitava o misticismo cristo, e dizia que os liberais falharam, sendo a soluo
para o mundo o retorno aos antigos princpios religiosos. Barth foi treinado no liberalismo
alemo, talvez isso fez ele desapontar com o nazismo.
106
Numa palestra em 31 de janeiro de 1931, Barth afirmou profeticamente em "A
necessidade da igreja evanglica", pois a igreja evanglica uma igreja sob a cruz, e afirmou
ser insalubre uma teologia que parece estar, na verdade, com vergonha do evangelho,
disfarando-o com enfeites, dando por ele desculpas e explicaes, e assimilando as
categorias contemporneas da filosofia e das cincias humanas, um caminho que Barth mais
tarde, perto do Snodo de referncia deste resumo, acusaria ter sido parcialmente responsvel
por Ter levado a igreja alem ao seu apoio s polticas de guerra do governo Nazista de Hitler.
Barth tinha certeza de que devamos temer apenas a Deus e no o homem, por isso foi
verdadeiro em suas declaraes contra o partido nazista, sabia que a igreja estava vendida
para satans e o "lobista" era o Hitler. J unto com Bonhoeffer, Barth sabia que prestaria conta
apenas a Deus e no aos homens. A nica coisa que o Nazismo poderia fazer era mat-los.
Barth chegou a usar at o texto do Vaticano II com sua antropologia de valorizao do
homem para que o povo alemo no aceitassem tanto o Hitler como o salvador.
Barth pregava que a revelao de Deus era de Cima para Baixo e no de Baixo para
Cima, ou seja, provm da Graa de Deus. Ele deixou claro que a Graa de Deus no vinha
pelas obras de Deus e nem pela dos homens. Com isso, o duelo contra o Nazismo ficou forte,
pois o Reich era a implantao do Reino de Deus na terra, as obras do partido nacional-
socialista e a nova igreja nazista era a prpria manifestao de Deus.
Talvez, o principal motivo para que Barth escrevesse seu livro a "Carta aos Romanos"
era, no apenas por aparentemente ter sido feito antes dos evangelhos, mas, para provar que
no poderamos levar o captulo 13 do livro de Romanos ao p da letra... O intelecto humano
suficiente para entender Deus como um todo (desespero existencial e f num Deus diferente
dos homens). Se trouxermos Deus ao reducionismo - desmembramos de sua complexidade
para entend-lo numa simplicidade A, Deus no Deus, objeto da cincia e vira objeto
analisado.

Barth sem dvida o telogo de maior influncia do sculo XX. O Papa Pio XII disse
que Barth o maior telogo depois de Toms de Aquino. Sendo admirado por protestantes,
por catlicos e por intelectuais no cristos, j foi denominado de o Alberto Einstein da
Teologia. Mas tambm criticado tanto por fundamentalistas como por modernistas.

Pensamento Teolgico

107
Enfatizou a transcendncia de Deus e a realidade do pecado, como tambm a soberania
de Deus, a graa e a revelao. Reconhecia que as escrituras tm imperfeies, mas que a
bblia a fonte da revelao de Deus como tambm veculo.
Ele foi um grande expoente da teologia da crise, pregando que a Palavra de Deus o
registro da revelao do Transcendente. Sua teologia propriamente dita interessante, pois ele
achava que as idias humanas sobre Deus eram meras especulaes. A verdade se manifesta
pela graa e no pela razo como era defendido por muitos na poca. Dizia que a religio tm
tendncias idlatras, ou seja, revelao era diferente de religio. As experincias msticas
devem ser apoiadas nas escrituras e na tradio crist. O ponto de partida da teologia de Barth
era Deus e no o homem, sendo assim aceitava a cristologia clssica e o dogma da trindade,
ou seja, suas anlises teolgicas partia de cima, da trindade, da revelao, da graa, e no das
necessidades do homem. Suas principais obras foram: Epistle to the Romans,1919; Word of
God and Word of Man, 1928; Anselm, 1931; Church Dogmatics, 4 volumes, 1923-1935;
Credo,1935; Dogmatics in Outiline,1947; Evangelical Theology, an Introduction,1962.

Esboo dos Principais Pontos da Teologia de Barth:
A Transcendncia de Deus:
a) Barth combate a teologia da iminncia.
b) Deus o Totaliter aliter, o Totalmente Outro.
c) Deus soberano, livre e surpreendente.

A Inabilidade total do Homem:
a) H um abismo entre Deus e o Homem.
b) No h caminho do Homem para Deus, mas s de Deus para o Homem.
c) O homem homem e no um gato.
d) Barth contra a Analogia Entis da teologia catlica, contra a Teologia Natural,
contra o Ponto de Contacto defendido por Bruner, contra a bondade da
natureza humana ensinada pelo liberalismo, contra o moralismo dos pietistas.

A Revelao de Deus:
a) O Deus das maiores alturas o Deus das maiores profundezas. Ele desce.
b) Deus o no do nosso sim e o sim do nosso no.
c) A Revelao Deus agindo e mostrando o que Ele .
d) A Religio desaparece onde h Revelao, porque a religio esforo humano.
108

A Centralidade de J esus Cristo:
a) A Revelao de Deus J esus Cristo.
b) Deus J esus Cristo.
c) A trindade :
Deus Revelador O Pai.
Deus Revelao O Filho.
Deus Revelado O Esprito Santo.

A Bblia a Palavra de Deus:
a) A Bblia um livro Documento humano.
b) Como documento humano pode ser estudado cientificamente pela Crtica.
c) Mas atravs desse livro que Deus fala.
d) O documento bblico uma oportunidade para Deus falar.
e) O evento da manifestao de Deus acontece atravs da Bblia.
f) J esus Superior Bblia.

A Importncia da Igreja:
a) A Igreja o locus da manifestao do Esprito Santo.
b) Pelo Esprito a igreja se reconhece pecadora. O Esprito renova a igreja.
c) A igreja continua a obra redentora de Cristo.
d) Fora da igreja no h salvao.

Diferena Qualitativa entre o tempo e a eternidade:
a) A Revelao qualitativamente diferente da Razo.
b) O Cristianismo no Religio.
c) A vida eterna no vida sem fim, mas vida com Deus.
d) A Ressurreio do Corpo qualitativamente diversa da imortalidade da Alma.
e) A Eternidade invade o Tempo, julgando-o. a Crise.

Barth fez uma reformulao das principais doutrinas da teologia reformada:

A Soberania e a Liberdade de Deus:
a) Nada pode limitar Deus. Ele imprevisvel e surpreendente.
109
b) Deus nunca objeto de conhecimento, mas sempre Sujeito.

Sola Fide:
a) Ter f render-se, capitular, sujeitar-se a Deus.
b) Ter f no aceitar um conjunto de dogmas.
c) F a afirmao de que no podemos decidir por ns mesmos, e deixarmos que
Deus decida por ns.
d) A J ustificao pela f pode se tornar justificao pelas obras se confiarmos em nossa
f humana.

Supremacia da Palavra de Deus:
a) A Palavra de Deus sobrepuja a Bblia.
b) Deus ainda fala hoje pela Bblia e pela Pregao da Igreja.

Sacerdcio Universal dos Crentes:
a) Todos os crentes so pecadores salvos para testemunhar.
b) No deve haver distino entre clero e laicato.
c) O Instituicionalismo um grande pecado da igreja









FRIEDERICH GOGARTEN

Biobibliografia

Friederich Gogarten, famoso telogo evanglico alemo, viveu de 1887 1967, formou-
se na Universidade de Iena. Foi discpulo de Barth, vindo mais tarde a divergir do mestre.
Friedrich Gogarten, aderiu por volta do final do vero de 1933 ao movimento religioso
da Igreja evanglica dos Cristos Alemes, fundado na Turngia em 1927 para promover o
cristianismo popular, mas no tardou em abandon-lo com um documento de protesto de 14
110
de novembro do mesmo ano, logo aps o discurso pronunciado no dia anterior, em Berlim,
pelo lder dos Cristos Alems, Dr. Reinhold Krauser, que propunha desjudaizar o
cristianismo, eliminando o Antigo Testamento, a moral judaica e a teologia do rabino Paulo .
Gogarten foi acusado de ter sido o terico dos Cristos Alems, mas tal acusao
infundada: sua adeso coerente com os princpios formulados em numerosos escritos do
perodo dialtico (teologia de Barthiana), que o levava a soldar teologia e poltica e a
privilegiar o tema autoridade durou no mximo trs meses e foi prontamente retirada assim
que ficou claro que o movimento, em nome do nacional-socialismo alemo, estava
abandonando o fundamento bblico em que se baseia a igreja.

Pensamento Teolgico

Golgarten deu grande contribuio no campo da epistemologia. Concordou com
Brunner na idia de haver revelao de Deus fora da Bblia.
Gogarten conhecido como o telogo da secularizao. O processo de secularizao da
poca moderna no se poderia negar que contribuiu positivamente para superar uma viso
sacral do mundo e da natureza que por tanto tempo prevaleceu na mentalidade do homem de
pocas passadas. Fr. Gogarten, ao menos em parte, tinha razo de chamar a ateno para o
aspecto positivo da secularizao, distinguindo-o claramente de seus aspectos negativos que
culminaram no secularismo moderno.
A obra de Friedrich Gogarten constitui uma das reinterpretaes mais desafiantes da
modernidade no marco do pensamento protestante. Essa reinterpretao descortina intuies
relevantes tambm para a filosofia da religio, como fica demonstrado pelo trabalho, entre
outros, de pensadores italianos recentes como Giorgio Penzo e mesmo Gianni Vattimo. O
eixo da anlise gogartiana da modernidade o conceito de secularizao. Conforme Gogarten,
entre a secularizao originria, intnseca f crist, e o que ele denomina de secularismo,
encontram-se simultaneamente a fatalidade e a esperana da modernidade. A abordagem
gogartiana da secularizao tem como base uma apreciao emptica e afirmativa da
historicidade pertinente ao discurso moderno sobre si mesmo e a religio, sem deixar de
buscar sua origens essenciais, como descoberta da mundaneidade do mundo, no cristianismo.
Assim, no se trata em primeiro lugar da mensurao de fatos sociolgicos, mas de uma
investigao interpretativa-hermenutica da secularizao contendo matizes teolgicos e
desdobramentos ontolgicos peculiares.

111

MARIE-DOMINIQUE CHENU

Biobibliografia

Nasceu em Soisy-sur-Seine, nas proximidades de Paris, aos 7 de janeiro de 1895.
Concluda a escola elementar, ingressou no seminrio. Depois de alguns anos, sentiu-se
chamado vida religiosa e tornou-se dominicano. Seu ingresso na Ordem dos Pregadores
ocorre em 1913.
O noviciado, obviamente, contribuiu para reforar ainda mais essa concepo de vida
contemplativa como vida de separao do mundo. Mas o jovem Chenu no tardou a perceber
a falta de atualidade de tal concepo. Concludo o noviciado, confidenciou-nos ele mesmo,
...quando tive o mesmo sentimento de uma misso a cumprir pelo mundo. Assim, hoje
compreendo melhor essa interao da vida contemplativa, que me protegeu do tumulto e da
disperso, com a presena no mundo, sem a qual o telogo no poderia realizar sua misso.
Se, em algumas circunstncias de minha vida, mantive-me firme e suportei certas coisas, no
o fiz tanto devido minha perfeio pessoal quanto pela aspirao, o desejo de realizar essa
misso por aqueles que estavam espera dos seus benefcios. Esse testemunho suficiente
para entendermos a progressiva mudana de postura de Chenu em relao ao mundo e
especialmente ao homem.
Concludo o noviciado, depois de uma breve estadia em sua ptria, Chenu foi enviado a
Roma, ao Colgio Anglico, para realizar seus estudos filosficos e teolgicos. L teve por
mestre o clebre Garrigou-Lagrange, que o introduziu no estudo aprofundado de so Toms
de Aquino.
Concluiu seus estudos teolgicos em 1920, obtendo o doutorado em teologia. No
mesmo ano, foi nomeado professor da faculdade de teologia de Le Saulchoir (nas
proximidades de Paris). Em 1932 foi nomeado reitor do convento, vindo porm a abandonar o
cargo de reitor e professor em 1942, aps ser condenado pela Igreja, por causa da sua obra
Une cole de thologie (1937). Ademais, Chenu teve tambm que deixar Le Saulchoir e
tomar o caminho do exlio. Ficou por muitos anos forado inatividade. Iniciou a sua
reabilitao a partir de 1953, porm esta nunca foi completa. Por isso podemos constatar que
de 1940 a 1950, encontramos pouqussimas publicaes e assim mesmo todas de modestas
dimenses.

112
Pensamento Teolgico

Naqueles anos, estava em curso por toda parte, mas especialmente na Frana, na Itlia e
na Alemanha, uma grande retomada dos estudos sobre a Idade Mdia. Um dos centros
propulsores desse despertar era exatamente o convento em que Chenu ensinava. Em Le
Saulchoir estavam na poca alguns dos melhores medievalistas e tomistas daquele tempo:
Gardeil, Hris, Mandonnet, Roland-Gosselin. Com eles, Chenu empreendeu a renovao do
estudo de so Toms e dos demais mestres do pensamento medieval. Chenu tornou-se uma
grande celebridade graas aos seus estudos sobre a histria da teologia medieval.
Mas o interesse de Chenu no estava voltado apenas para o passado. Sua vocao, como
j vimos, levava-o a se ocupar dos problemas atuais da humanidade. Inclusive seus estudos
histricos eram colocados a servio dessa causa, pois forneciam-lhe preciosos ensinamentos
de como a teologia deve enfrentar as tarefas que lhe so impostas pela situao presente.
No campo da teologia sistemtica Chenu ocupa um lugar na primeira fileira entre os
telogos do sculo vinte, por seus estudos sobre a natureza da teologia e, sobretudo, pela
elaborao de uma teologia das realidades terrestres. Ele considerado um dos telogos mais
comprometidos de nossa poca. Sua vocao a de interpretar os acontecimentos e problemas
do nosso sculo luz do Evangelho. Um dia chegou a declarar: O acontecimento o meu
local de trabalho. E acrencentou que aquilo que mais o apaixona a histria da salvao na
histria humana.
Sinais dos tempos uma das categorias s quais Chenu deu cidadania em teologia.
Atento na observao dos sinais do nosso tempo, ele esteve presente em todos os grandes
acontecimentos que caracterizaram os ltimos quarenta anos: da J OC guerra de libertao,
do movimento missionrio renovao litrgica, das primeiras tentativas de socializao ao
aparecimento dos novos povos na ribalta da histria, dos padres operrios ao movimento
ecumnico, dos problemas sacerdotais aos estudos bblicos, da nova teologia ao Conclio
Vaticano II. Do exame de alguns sinais do nosso tempo (comunismo, socializao, trabalho,
etc.) que saiu a parte mais conspcua de sua empresa teolgica: a teologia das realidades
terrestres.
M.-D. Chenu no um telogo sistemtico: ele no construiu nenhum sistema.
Entretanto, tambm ele deve sua grandeza como telogo descoberta de um modo de leitura
particularmente eficaz e clarificador. O seu no um modo filosfico (como o de Teilhard de
Chardin, Guardini, Rahner, Tillich), mas sim teolgico: o mistrio da encarnao. Tudo
113
aquilo que Chenu produziu, trabalhos, estudos, reflexes tanto tericas quanto prticas, tudo
desenvolveu em torno deste eixo: a encarnao.
Na construo de Chenu, a parte mais importante e original a teologia do trabalho.
Chenu inspira-se em uma viso crist que apresenta muitas afinidades com a de Teilharde de
Chardin. Isso pode ser notado sobretudo nas doutrinas da evoluo, da socializao e da
espiritualidade do trabalho.
Procuremos sintetizar o pensamento do nosso telogo sobre esses pontos to
importantes, no s para o conhecimento do seu pensamento, mas tambm para uma melhor
compreenso da verdadeira natureza da teologia.
1- A teologia funda-se na f Chenu afirma decididamente que a cincia
teolgica no pode nascer e se construir a no ser no mbito da f. A teologia um
conhecimento fundado em um testemunho: eu creio na palavra de Deus e essa palavra
que constitui o objeto da teologia. Portanto, fora da f, no sentido mais sobrenatural do
termo, a teologia no tem consistncia; literalmente se despedaa.
2- A teologia no se resolve na f Chenu defende que a f um fator essencial
da teologia, mas no a teologia. Esta no pode prescindir da f, mas no se identifica
com ela. A f o primeiro acolhimento da palavra de Deus; mas o crente no pode ficar
em uma aceitao passiva, cega, de tal comunicao. A teologia corresponde a esse
esforo de penetrao do lado percebido pela f. Portanto, a f se desenvolve
espontaneamente na teologia. F e teologia, porm, permanecem duas coisas distintas,
como so distintos o dado revelado e a construo teolgica.
3- Relaes entre dado revelado e construo teolgica Chenu admite a estreita
dependncia da teologia f. Em tal concepo, h um lao vital entre dado revelado e
construo teolgica, pelo qual a razo teolgica no encontra apetite e no tem direito
ao seu exerccio, a no ser na medida em que, luz da f, entra melhor: entra
incessantemente, na posse religiosa do dado revelado, da palavra de Deus.
4- Algumas caractersticas da teologia Chenu concebe algumas caractersticas
da teologia. Ela deve ser bblica, histrica, cientfica e, ademais, afetiva (volitivo, um ato
de vontade), litrgica (na orao, na adorao, na devoo se nasce e vive a teologia),
mstica (atmosfera sacral e sacra do mistrio. Digenes: o telogo um mistagogo).
5- Pluralismo teolgico Chenu sustenta a legitimidade e mesmo a necessidade
do pluralismo, devido diferena insupervel que existe entre o dado revelado e a
construo especulativa, mas tambm justifica o privilgio dado pela Igreja teologia de
114
so Toms, afirmando que com efeito, alguns sistemas traduzem o dado revelado melhor
do que outros.

A produo cientfica de M.-D. Chenu compreende quase quatrocentos escritos, entre os
quais doze livros, sem contar as resenhas literrias.
Esse notvel complexo literrio pode ser facilmente dividido em duas partes: uma
abrange os escritos de carter histrico, e a outra os de carter especulativo. Ao primeiro
grupo pertencem as obras: Introduction ltude de saint Thomas dAquin; La tholgie
comme science ao XIIIe sicle; La thologie au XIIe sicle.
Ao grupode carter teortico pertencem as obras que asseguraram a Chenu uma posio
de proeminncia entre os telogos do nosso sculo. Nesse grupo, as obras mais significativas
so: Pour une thologie du travail; La parole de Dieu, em dois volumes intitulados
respectivamente La foi dans Iintelligence, o primeiro, Levangille dans le temps, o
segundo.
Tambm pertencem ao segundo grupo (de carter teortico) as seguintes obras: La
Thologie est-elle une science?; Peuple de Dieu dans le monde.
Um primeiro olahr aos escritos de Chenu pode dar a impresso de haver um certo
dualismo em sua obra: parece que de um lado est o historiador, de outro o telogo, mas na
realidade h um s e idntico Chenu; nele, o historiador da Idade Mdia e o telogo moderno
constituem uma s coisa. Foi o historiador que ensinou ao telogo, a distinguir nas coisas,
aquilo que perene daquilo que mutvel, e que tornou sensvel aos sinais dos tempos.
Somente um profundo conhecedor da histria da Igreja, da humanidade e da teologia, poderia
delinear as solues que ele elaborou para os difceis problemas da natureza e das tarefas da
teologia, das misso da Igreja no momento presente, do valor da matria, das realidades
terrestres, do trabalho, da socializao e de outros aspectos tpicos do nosso tempo.
JURGEN MOLTMANN

Biobibliografia

Nasceu em 18 de abril de 1926 em Hamburgo. Com 17 anos foi convocado pelo
exrcito alemo. Iniciou seus estudos teolgicos no campo de concentrao na Inglaterra,
onde foi prisioneiro, indo para Gttingen ficando ali at 1952 onde concluiu o seu curso. De
1953 a 1958 foi Pastor e professor em Bremen,; o qual foi chamado de professor da ctedra
de Teologia Sistemtica da Universidade de Bonn. Desde 1957 professor de Teologia
115
Sistemtica na Universidade de Tbingen e em 1967-1968 na Due University (Estados
Unidos). casado e tem quatro filhos. Pertence a paternidade de dois movimentos teolgicos:
a teologia da esperana e a teologia da cruz. Sensvel s exigncias culturais de nossa poca, e
sempre obediente antes de mais nada s exigncias da Palavra; sua preocupao foi de sempre
fazer a mensagem de Cristo passar primeiro pela faixa das expectativas utpicas e depois das
exigncias crticas e contestadoras do homem contemporneo.
Sua produo teolgica muito vasta, citarei aqui apenas algumas das mais importantes:
Protestantismo e Esperana; Teologia da Esperana; O Deus Crucificado; Trindade e Reino
de Deus; O Caminho de Jesus Cristo; Deus na Criao; Quem Jesus Cristo para ns hoje?

Pensamento Teolgico

Cristologia
O eixo central da reflexo teolgica de Moltmann constitudo pela figura de Cristo.
Nos primeiros dois ensaios de sua trilogia prope uma leitura geral da mensagem crist a
partir dos dois ministrios principais da vida de Cristo, a crucifixo e a ressurreio ; o
segundo depois que se deu conta das interpretaes aberrantes a que ele dera lugar, passou a
analisar mais a teologia da cruz ao invs da esperana. Sendo ela parte de todo o nosso
sofrimento, dos nossos desprazeres e das nossas frustraes. Sendo isso o que o levou
teologia da cruz que por sua vez o levou a teologia da trindade.
Moltmann interpreta a figura de Cristo em termos escatolgicos. Enquanto a Igreja
antiga realizou grave distoro em relao figura de Cristo e sua mensagem quando as
interpretou luz da filosofia grega; na opinio de Moltmann, somente um quadro
escatolgico, o que condiz com a esperana corresponde justamente histria de Cristo e
sua mensagem. Portanto enquanto a cristologia tradicional est voltada para o passado, a
cristologia de Moltmann est orientada para o futuro; ela fala de J esus e do seu futuro.
Sem renunciar perspectiva escatolgica, Moltmann efetua uma importante integrao,
que enriquece a sua cristologia, dando grande relevo, alm do ministrio da ressurreio,
tambm ao mistrio da cruz. Porque a ressurreio no diz respeito a um homem qualquer,
mas sim quele homem que morreu na cruz, J esus de Nazar. Ele morreu por ns, par nos
tornar, mortos afim de que sejamos partcipes de sua nova vida de ressurreio e do seu futuro
de vida eterna. Sua ressurreio contm o significado de uma morte na cruz por ns, porque
o Ressuscitado outro no que o Crucificado. Nesse ponto Moltmann ressalta um aspecto
muito importante pois assim como a cruz e a ressurreio no podem ser separados na pessoa
116
de Cristo, da mesma forma elas no podem ser dissociadas em nossa vida. Para ressuscitar
com Cristo, devemos participar de sua paixo e de sua crucifixo.

Eclesiologia
Em sua obra mais sistemtica Moltmann estuda a Igreja em sua natureza, suas funes,
seus ministrios e suas relaes com o mundo e com Reino de Deus. Sendo este ensaio
articulado em sete partes. Na primeira, define a natureza e as funes da eclesiologia, a qual
deve ser entrelaada de quatro dimenses: cristologia, missionria, ecumnica e poltica. E a
partir da Moltman expe os objetivos a que se prope esse ensaio, afirmando que quer
promover uma comunidade eclesial do povo no povo, uma comunidade de f, esperana e
fraternidade que se torna fermento de vida para todo o mundo. Enquanto a eclesiologia do
passado, segundo Moltmann, foi elaborada luz da tradio, dentro de um horizonte estreito,
ele se prope a elaborar uma eclesiologia luz da vocao da igreja, que uma vocao
universal. Quer apresentar uma igreja aberta a todos.
Quanto a difcil questo das relaes entre Igreja e Reino de Deus ele prope uma
soluo, Sua tese que A Igreja, na fora do Esprito, a antecipao do reino de Deus na
histria. Com sua misso e ressurreio, J esus trouxe o reino de Deus para a histria. Como
realidade histrica, a Igreja possui um passado, um presente e um futuro. Esclarecendo suas
relaes com o Reino de Deus, Moltmann lanou luz sobre o momento futuro da Igreja. Ao
passado da Igreja pertence antes de mais nada a histria de Cristo, que e o fundador da Igreja
pertencendo tambm a histria da Trindade. J o presente da igreja pertence a histria do
Esprito divino, com sua presena vivificante nos meios de salvao e nos ministrios.
Estudando o fundamento da Igreja na pessoa de Cristo, Moltmann desenvolve em sntese toda
a cristologia gerada por Cristo, a Igreja a continuao de sua presena no mundo, como o
seu fundador ela uma realidade proftica rgia sacerdotal, estaurolgica, eleutrica,
doxolgica, pneumtica, escatolgica.
Moltmann situa a origem da Igreja na cruz, vive sob o signo da cruz e se solidariza com
aqueles que vivem sombra da cruz. Da Origem estaurolgica da Igreja, ele deriva claras
relaes da Igreja Especialmente com o mundo poltico e econmico. Aqui Ela tender a
dessacralizar o poder poltico e democratiz-lo. e difundir um novo tipo de relaes,
marcadas pela liberdade na solidariedade. Baseando na dimenso escatolgica de J esus Cristo,
Moltmann mostra que a Igreja deve ser entendida como prolongamento e continuao de
Cristo, e tambm como antecipao da pessoa escatolgica de Cristo. Igreja consiste na
117
misso da esperana no mundo, para que o mundo se converta ao futuro de Deus e com tal
converso se torne livre.
Quanto ao delicado problema da funo soteriolgica das religies no-crists, o
discurso de Moltmann que essas relaes da Igreja com essas religies, devem manter um
dilogo, sem nada sacrificar daquilo que as outras religies e culturas tm de bom, verdadeiro
e belo.
Moltmann v os sacramentos: a Palavra de Deus, o batismo, a Ceia e a orao, no
movimento e na presena do Esprito Santo. Tambm se dedica ao estudo dos ministrios e
das funes da Igreja, bem como elabora num texto peneumatolgico; depois forado a
reconhecer a necessidade de pregadores, presbteros e diconos sendo que a comunidade
que designa para o exerccio dessas funes, porm o poder carismtica vem de Cristo por
meio do Espirito Santo, da comunidade. E assim Moltman considera essenciais para a
comunidade quatro mandamentos ou ministrios: O de anunciar o Evangelho; de batizar e
celebrar a ceia do Senhor; de presidir as assemblias comunitrias; de exercer uma atividade
diaconal. O Kerygma, a Koinonia e a diakonia.
Moltman estuda as quatro caractersticas essenciais da Igreja que una, santa, catlica,
e apostlica, em relao a J esus Cristo e mediante a fora do Esprito Santo. E aps esse
estudo faz uma anlise das caractersticas da Igreja em que alm de proposies de f, e
proposies da esperana, elas tambm so proposies de ao; as quais induzem a igreja a
agir de maneira unificadora, santificante, evangelizadora, pela libertao do mundo. A
unidade em primeiro lugar a unidade de Cristo que age sobre seus membros em todos os
tempos e em todos os lugares. A santidade a santidade daquele Cristo que age sobre os
pecadores. Moltmann usa a mesma argumentao em relao a catolicidade e
apostolicidade. A Igreja santa na medida em que a comunidade dos ltimos tempos. O
apostolado da Igreja e os apstolos tambm esto indissoluvelmente ligados ao incio da era
messinica.
Moltmann resolve o problema da localizao da Igreja afirmando justamente que a
verdadeira Igreja est l onde Cristo est presente; pois Cristo quem unifica, santifica e
envia a Igreja e quem a constitui sacramento de reconciliao para todos. O objetivo que
Moltmann prope em A Igreja na Fora do Esprito no s de atualizar a eclesiologia,
elaborando-a em termos escatolgicos, e tambm o de renovar a prpria Igreja. Sobre o
aspecto de estarmos caminhando para uma comunidade mundial, com estruturas polticas
democrticas e supranacionais, Moltmann prope que se transforme a Igreja de clerical,
ministerial e institucional em Igreja carismtica. Mas Moltmann no chega proposta de uma
118
renovao da Igreja em sentido carismticos por razes de fidelidade ortodoxia protestante.
Moltmann defende a tese de que todos os membros da igreja so iguais porque todos esto de
posse dos dons do Esprito Santo, e que o componente ministerial to essencial quanto o
carismtico, porque o primeiro a condio necessria e essencial para o exerccio do
segundo. Portanto a pretenso de dissociar a Igreja carismtica da Igreja Ministerial, alm de
antinmica e anti-histrica, tambm uma pretenso utpica.


YVES CONGAR

Biobibliografia

Nasceu em 13 de abril de 1904 em Sedan, nas Ardenas. Desde pequeno sentira a
vocao sacerdotal e esta dominicana. Durante seus cursos filosficos aprofundou no
pensamento Aquiniense. Em 1925 deixou o seminrio e fez-se dominicano. Aps retomou os
estudos e teve novos professores dentre os quais se destaca Chenu, Paulo Couturie, uns eram
tomistas, outros aderiam ao ecumenismo. Yves Congar foi ordenado sacerdote em 25 de julho
de 1930. Sua vocao pessoal est no estudo da teologia principalmente a eclesiologia e o
ecumenismo. E nesse desejo defendeu uma tese. Foi professor, e em 1937 fundou a clebre
coleo de eclesiologia e ecumenismo Unam Sanctam, foi prisioneiro durante cinco anos
pelos alemes devido os seus princpio anti - nazistas. depois da libertao, Congar conheceu
os anos mais fecundos de sua vida e a partir dali escreveu algumas obras, diante da renovao
geral da Igreja, o qual no foi bem recebido pelos telogos tradicionais devidos as afirmaes
acerca desses no mesmo. Portanto como aconteceu com Lubac e chenu, Yves Congar foi
tambm envolvido na condenao da nova teologia e por esse motivo esta obra, foi
impedida de publicar certos assuntos nela contido. Em 1956, a convite do bispo Strasburf faz
uma intensa atividade pastoral: retiros, conferncias pregaes, mas s se reabilita
completamente no Conclio Vaticano II. Depois foi nomeado pelo papa J oo XXIII como
consultor da comisso preparatria e depois perito oficial da comisso teolgica. E Em 1964,
foi nomeado como mestre de teologia tradicional. Para alguns ele era um mestre, para outros
uma voz proftica, mas para todos um modelo sublime de sacerdote catlico.
O Fruto do seu trabalho foi to longo e a sua produo imensa, superando milhares de
escritos. Sendo um deles traduzido em portugus: Situao e Tarefas Atuais da Teologia.
1969, Editora Paulinas. Cristos desunidos, 1937; 3 volume da coleo seria Catolicismo,
119
1938; O mistrio do Templo, 1958. Pode-se definir a Igreja? 1961; Santa Igreja 1963;
Esboos do mistrio da Igreja, 1941; A eclesiologia em devir 1940; A teologia da Igreja
segundo Paulo, 1942.Um povo messinico 1975; Pontos Fundamentais para uma teologia do
Laicato 1953;Ministrios e comunho eclesial 1971; Contribuies catlicas para o
Ecumenismo 1964. Diversidade e comunho 1982.

Pensamento Teolgico

Congar serviu-se constantemente da filosofia tomista para construir a sua teologia. Para
a cristologia e a teologia trinitria, para a teologia dos sacramentos e da Igreja; para a teologia
da graa; para a teologia moral; bem como para resolver as questes e os problemas do
ecumenismo, as estruturas da Igreja, o laicato, o episcopado, o valor da cultura, o significado
da historia, e afim de resolv-los ele interroga a Revelao e para responder serve-se da
linguagem de So Toms.
Segundo Congar, a situao atual exige uma profunda renovao da teologia. No que
diz respeito a conscincia da mudana das relaes entre igreja e mundo. Pois no passado, a
teologia propunha teses elaboradas, as quais no levavam absolutamente em conta as
realidades humanas nem os fatos concretos da histria e da experincia; Porm Congar
concentrou todos os seus esforos nos pontos fundamentais tais como: a teologia da moral, a
teologia das realidades terrestres, a teologia da histria, a teologia do laicato, a teologia da
revelao e a teologia ecumnica, afim de atualizar a teologia. A reviso da tica exige que
sejam melhor consideradas, na linha de uma antropologia do ser cristo. O ttulo de homem
cristo o produto da interiorizao e da personalizao da moral evanglica. A renovao da
teologia no que diz respeito temtica, e tambm metodologia. A metodologia deve mudar
tambm por parte da Igreja. Portanto preciso desenvolver na teologia a teologia do Verbo
encarnado, dos sacramentos, da escatologia e tambm do mistrio das trs pessoa.
Eclesiologia Para Yves Congar a eclesiologia constitui o problema nmero um.
Ocupando assim o centro de suas preocupaes teolgicas, e atravs de sua colaborao bem
como a de Lubac e outros, d-se incio a renovao eclesiolgica. Os quais procuraram
compreender o mistrio da igreja partindo do seu aspecto sacramental, do seu aspecto de
realidade tendrica, humano-divina, do corpo de Cristo. E procurando esclarec-lo aborda
vrios pontos de vista tais como: a Igreja vista como extenso da vida divina; como
participao na ao mediadora e salvfica de Cristo; como sociedade com determinadas
estruturas.
120
A sua investigao tem como ponto de partida, a distino entre instituio e comunidade
sendo a primeira a estrutura dada por Cristo e permanece inalterada, santa, sem mistura de
pecado; e a comunidade contrrio desta. Congar desenvolveu duas teorias eclesiolgicas,
propiciou progressos eclesiologia: na definio das notas da Igreja e na definio das
posies e das tarefas dos membros da Igreja, especialmente dos leigos. Dai procurou
determinar mais precisamente o sentido dessas quatro propriedades afim de chegar a uma
compreenso mais profunda da natureza da Igreja Sendo:
Santidade- o lugar da presena de Deus neste mundo, o seu templo;
Unidade- Deus a razo ltima da unidade da Igreja. Porque h um s Deus que h
uma s Igreja, una pela prpria unidade de Deus, fora da qual ela no existe. Congar conclui
trs coisas que se existem e se incluem em um Deus, um Cristo, uma f, um batismo, uma
Igreja institucional e societria. Catolicidade- Congar lhe d um sentido, qualitativo e define
como universalidade dinmica da unidade. Apostolicidade assegura a identidade do
ministrio atual da Igreja com aquele dos apstolos, consequentemente, com aquele de Cristo.
A Igreja portanto um organismo de graa, que daquilo que o Senhor fez por nossa
Salvao, a qual consiste de doutrina, tradio, nos sacramentos, sacerdcio hierrquico,
formando o contedo e a matria da apostolicidade.

A Igreja, Sagrada Escritura e Tradio O estudo da Igreja levaram Congar a examinar
as relaes da Igreja com as Escrituras e a tradio. ele colocou sobre novas bases a questo
das relaes. Ele acolhe o princpio protestante do primado da Escritura. Assim, a Igreja e a
tradio aparecem submetidas Escritura. Depois aceita tambm o princpio protestante da
sola Escritura, as quais contm todas as verdades necessrias salvao. Ora, o carter
soberano da Escritura no a impede de comportar tambm a Igreja e a tradio. A Escritura
no pode prescindir da Igreja, porque sozinha ela no manifestar inteiramente o seu sentido.
E to pouco da tradio; sozinha, a Escritura no constitui a palavra e a comunicao.

A Teologia do Laicato um exame completo da Igreja exige que se estude, de sua
natureza geral, a natureza e as funes de suas partes em particular. E quer elaborar uma
teologia sistemtica completa, eis o porque de ter tratado do papado, do episcopado e do
sacerdcio. A primeira tarefa da teologia do laicato dar uma definio adequada do leigo.
Estes no vivem exclusivamente para as realidades sobrenaturais; tem competncia limitada
no que ser refere propriamente eclesiais da vida em Cristo. A funo dos tais, necessria
misso da Igreja e ao programa da economia da graa.
121
Congar tambm trata do tema das realidades terrestres tais como: o mundo da cultura,
da cincia, da arte, da poltica e da tcnica. E prope concepo tradicional, mostrar que
mesmo havendo necessidade de homens eu se dediquem completamente ao servio de Deus,
deve ir a ele atravs das coisas do mundo e da histria. baseado nessa nova concepo das
realidades terrestres que Congar edifica a sua teologia do laicato.

O Ecumenismo Alm dos problemas eclesiolgicos referentes a natureza e s
estruturas da Igreja, h outros que se referem a sua histria que o problema da diviso da
Igreja. A qual comeou com a separao da Igreja do Oriente, depois com a separao das
Igrejas do Norte; e a partir da questo: Como reconstruir a unidade da Igreja? que o
ecumenismo se prope a responder, pretendendo resolver a questo da unio das igrejas
mediante o dilogo. Foi atravs dos seus escritos e mltiplas iniciativas que Congar contribuiu
determinantemente para fazer a Igreja Catlica mudar de atitude e induzi-la a ingressar no
movimento ecumnico. Foi fazendo ver as repercusses negativas que as divises tiveram
sobre o desenvolvimento da mesma na qual desenvolveu ao longo de linhas que a afastaram
sempre mais das outras igrejas, empobreceram-na e a expuseram a novas acusaes. Segundo
Congar o objetivo do ecumenismo fazer coincidir a unidade visvel com a unidade invisvel.
Como meios concretos para o restabelecimento da unidade visvel da Igreja, Congar
recomenda os seguinte: superao dos preconceitos que uns tenham contra outros, retorno s
Fontes e a uma vida profundamente crist, integrao Igreja catlica dos valores espirituais
presentes nas outras igrejas reforma , dilogo.



HENRI DE LUBAC

Biobibliografia

Nasceu em Cambrai, na Frana, em 20 de fevereiro de 1896. Foi ordenado sacerdote em
1927. Em 1929, foi lhe confiado ensino de historia das religies na faculdade teolgica de
Lyon-Fourvire bem como aos estudos. Ao qual dedicou De 1929 at a Segunda guerra
mundial. Em 1937, publicou sua primeira obra importante, Catholicisme. J untamente com o
padre Danilou, fundou e dirigiu Sources Chrtiennes. Tornou-se colaborador da coleo
Thologie em 19423 Durante o perodo de Resistncia, soube manter-se fiel s suas tarefas
122
de sacerdote e telogo, prodigalizou-se pelos seus compatriotas, sem distino de raa,
religio ou partido. Em 1946, publicou Surnaturel uma obra controvertida que ao mesmo
tempo lhe trouxe fama e grandes desprazeres por parte dos maiores telogos catlicos da
poca. Era um tomista. Com a condenao da nova teologia, perdeu a ctedra e se retirou
para Terra Santa. Porm continuou com suas investigaes e a publicao de suas obras,
retornando ao ensino quando J oo XXIII manifestou-lhe sinais de estima e amizade.
Participou ativamente dos trabalhos do Conclio Vaticano II, como consultor da comisso
teolgica para a preparao do conclio e depois como perito oficial. membro do Institut de
France, atravs da Acadmie des sciences morales et politiques.
Sua bibliografia recente registra vinte e quatro livros e mais de cem artigos. Sendo a sua
produo literria menor do que as de Congar e Rahner. A encclica Humani Generis 1950;
Corpus Mysticum 1944; Histria e esprito 1950; Pico della Mirandola 1970; O drama do
humanismo ateu 1944; Uma de suas obras traduzidas em portugus: A Igreja na Crise
Atual,1972. Editora Paulinas. A Essncia do Catolicismo 1924; ; O fundamento das Misses
1946; O pensamento religioso do padre Teilhard Chardim 1962; Asdpectos do Budismo
(I,1951;II,1956); Budismo e Ocidente 1952; Sobrenatural 1946; Agostinismo e teologia
moderna 1965; O mistrio do sobrenatural 1965. Algumas obras referem-se eclesiologia:
Outras tratam do problema do atesmo ou ento a questo das religies no-crists: Cinco
obras referem-se a Teilhar Chardin. Por fim, h tambm duas coletneas de pensamentos
maneira dos Penses de Pascal:. Seus temas preferidos so: relaes entre natural e
sobrenatural, a Igreja, a tradio, o humanismo cristo e as religies orientais, sendo assim
dedicou diversas monografias a cada um desses temas e proferiu-os nos ttulos de suas obras.


Pensamento Teolgico

O Mtodo Teolgico Histrico
O mtodo de de Lubac radicalmente diverso do mtodo tradicional, sendo o mtodo
teolgico histrico. Segundo ele cada vez que se recorre a procedimentos abstratos, no se
conclui nada de concreto. Ele censura o uso do mtodo especulativo por acarretar
conseqncias desastrosas para a teologia. Segundo de Lubac o modo adequado para entender
o mistrio proceder historicamente, porque na realidade histrica que se concretizam as
realidades divinas, eclesiais e espirituais.
123
J com relao a Bblia, ele no interroga como um documento sobre o passado, mas
perscruta as Escrituras para nelas descobrir o pensamento e os desafios de Deus sobre ele.
Assumiu o pesado encargo de reabilitar e reconduzir corrente viva da teologia
contempornea a doutrina patrstica e escolstica sobre o fim sobrenatural do homem. De
Lubac obviamente, sustenta que as concluses que ele quer chegar com tal mtodo, mas sim
no sentido de que ele pode nos colocar em contato com a realidade viva da Revelao mais
facilmente do que o mtodo especulativo.

O Objeto da Teologia: o Mistrio
O objeto da teologia, reside nos mistrios revelados por Deus. Somente a Relao
crist permitir interpretar corretamente seus sinais e a ele mesmo. Com a Revelao
sobrevir uma ordem superior de verdade que vem agregar-se s verdades descobertas da
razo natural; as caractersticas paradoxais do mistrio: por um lado, est em conformidade
com as exigncias das profundezas ontolgicas do homem; por outro, encontra-se
absolutamente alm de qualquer pretenso.
De Lubac observa que os diversos protestantismo eram mais das vezes religies de
anttese: autoridade ou liberdade? A nica resposta adequada consiste ento em recorrer
prpria idia de mistrio. Entretanto, o mistrio permanece sempre mistrio; como de Lubac
gosta de dizer, permanece sempre um paradoxo. O que paradoxo? O paradoxo
exatamente a busca ou espera da sntese. O paradoxo em toda parte, est na realidade antes de
estar no pensamento. Cada verdade melhor reconhecida, abrindo uma nova possibilidade ao
paradoxo. Quanto mais a vida se eleva, se enriquece, se interioriza, tanto mais o paradoxo
ganha terreno. A vida mstica, ento, o seu triunfo. O mbito onde o paradoxo reina
incontestvel dos mistrios.

O Ministrio do Sobrenatural
Quando de Lubac escreveu Surnaturel, deu assim uma primeira contribuio ao
debate sobre a essncia do sobrenatural. apresentando algumas notas histricas que poderiam
facilitar seu entendimento e sua soluo. A tese de Lubac que so Toms ensina a presena
no homem de um desejo natural pela viso beatfica. A obteno da ordem sobrenatural
permanece sempre um Dom gratuito de Deus. Em Agostinho e teologia moderna. O padre de
Lubac procura provar a validade de sua concepo do sobrenatural com uma documentao
histrica impressionante e com argumentos teolgicos de notvel peso. Portanto de Lubac
estuda nos terrenos histrico e teolgico se a natureza humana enquanto tal comporta um
124
desejo da viso de Deus, ou no e, se uma natureza fechada ou aberta. A partir da no se
contentou em provar a sustentabilidade da concepo unitria do sobrenatural, mas tambm
indicou os seus limites e perigos.
A doutrina dos dois planos. Serviu para salvaguardar, a liberdade de Deus e a
gratuidade do sobrenatural; e procurar garantir, o carter misterioso de nossa destinao e,
exprimir o carter heterogneo e incomensurvel da religio em relao moral., afirma de
Lubac que Essa teoria levava, por vezes, a fazer do sobrenatural um simples acidente, que se
pode compreender algo superficial. Enquanto que a doutrina da unidade da ordem
sobrenatural ele ressalta razes desfavorveis, tais como: a de o risco de no salvaguardar
suficientemente nem a gratuidade da graa nem a liberdade de Deus. E as razes favorveis
ele coloca a razo histrica.
A seu favor, porm, h tambm importantes razes de ordem teolgica. A primeira
que a doutrina da unidade evita colocar o apelo ao sobrenatural e a oferta da graa em ordem
cronolgica e a Segunda que a concepo unitria barra caminho a todo dualismo
propriamente dito, rejeitando a idia de uma beatitude natural fechada e esttica; O que de
Lubac na concepo unitria conclui que o sobrenatural, longe de ser um desenvolvimento
lgico espontneo do natural, um Dom divino que exige a morte da tendncia do natural a
fechar-se em si mesmo. E somente atravs da revelao que o homem toma conscincia do
desejo da viso beatfica e s mediante uma converso propiciada pela graa divina que ele
o segue.
De Lubac examina a tese desenvolvida por Feuerbach, Comte e Nietzsche e
compreende que o atesmo impele a humanidade para longe de Deus, e a obriga assim a
entrar nos caminhos de uma dupla escravido, social e espiritual; e chega a uma concluso,
que o humanismo no pode adquirir valor efetivo fora de Deus, porque s ele pode dar-lhe
dignidade e valor autntico. O humanismo cristo dever ser um humanismo convertido pois o
verdadeiro humanismo torna-se hipocrisia e contrafao da dignidade individual. O
humanismo autntico exige o cristianismo e o cristianismo implica um verdadeiro
humanismo.
O humanismo ateu foi incapaz de resolver o problema do homem, e da histria, o
cristianismo ao Contrario das religies orientais e pags, d valor histrico aos seus prprios
fundamentos. Enquanto na concepo oriental e pag o desenrolar dos tempos no passa de
um devir sem substncia , no cristianismo, ao contrrio, a durao algo muito real. No uma
disperso estril, mas uma densidade ontolgica e uma fecundidade. H uma gnese. Uma
criao mantida e continuada. Pois a raa humana inteira sustentada pelas mos de Deus, o
125
verbo e o Esprito, os quais nunca abandonaram completamente, encaminha-se em direo ao
seu Pai. A vontade divina, que tudo guia, a conduz infalivelmente ao porto.

Eclesiologia
De Lubac se aplica e d uma contribuio vlida ao aprofundamento atualmente ao
mistrio da Igreja centro de sua reflexo teolgica, mas tambm o centro dos seus afetos. A
primeira que aos erros do passado, recentemente se acrescentaram outros erros, razo pela
qual aparece que a igreja funda-se em princpios humanos. A Segunda o movimento
ecumnico, cujo objetivo restabelecer a unidade da Igreja. do mistrio da Igreja; onde
atravs de suas obras ele ilustra sobretudo os aspectos social, histrico, tendrico, mstico e
sacramental da Igreja, que o corpo de Cristo aquela sociedade fortemente hierarquizada e
disciplinada, sendo ela o sacramento de Cristo. E sua funo sacramental abrange o homem se
estende a todo o universo, espiritualizado pelo homem e o homem consagrado pela Igreja; ela
no rejeita nada do que existe de bom no homem e nas coisas.
O mistrio da Devido a esse vivo amor, enquanto outros telogos tratam deste ou
daquele aspecto da Igreja de modo perspcuo, Lubac tratou de maneira singular da sua
maternidade. Contra protestos, as crticas, das religies que surgiram contra a Igreja, Lubac
repetiu para ela as mesmas expresses de amor que far descobrir nela, com muita veracidade,
as foras escondidas, as atividades silenciosas, que lhe do uma perptua juventude; acontece
agora de ela ser abandonada e escarnecida por aqueles que tanto receberam dela, bem como
por aqueles que ela continua a nutrir tornados cegos em relao a esses dons.

A Exegese
Depois do sobrenatural e da Igreja, o terceiro problema teolgico ao qual de Lubac
prestou maior ateno foi a exegese da Sagrada Escritura. Em que a teologia essencialmente
exegese do texto sacro. O que de Lubac quer provar que essa identificao no foi fortuita,
mas necessria, porque exegese e teologia so a mesma coisa. A exegese teologia prpria e
verdadeira. Dado que a exegese se identifica com a teologia, a renovao desta exige a
renovao daquela. Isso o que de Lubac quer provar com seus estudos de exegese. Ele
sustenta que o esplendor da grande teologia medieval teve trs causas: a exegese, a mstica e a
escolstica. A decadncia da teologia foi conseqncia da decadncia da exegese, da mstica e
da escolstica. Por isso, a teologia s poder readquirir seu antigo prestgio com a renovao
daquelas trs matizes. De Lubac serve-se da histria desenvolve uma tese notvel ao tratar da
126
exegese medieval ,e que nada mais do que um corolrio de sua concepo do sobrenatural,
relativa subordinao da letra e da filosofia teologia na Idade Mdia.

Bibliografia
MONDIM, Batista 1926, os grandes telogos do sculo XX, So Paulo, Edies Paulinas
1979.
GIBELINE, Rosino. Teologia do sculo XX, Edies Loyola.
REALE, Anti Seri. Coleo Histria da Filosofia. (v.3).



Teologia Contempornea na Europa

As agitaes sociopolticas, meado do sculo XX, foram sentidas intensamente na
Europa bero da grande parte da filosofia e teologia otimista do sculo XIX.
O continente europeu sonhava que sob sua liderana, a humanidade despertaria para
uma Nova Era. Achava que suas investidas coloniais era uma iniciativa altrusta visando ao
bem do mundo. Nesta iluso o protestantismo se envolveu mais do que o catolicismo, pois
este catolicismo reagiria ao mundo moderno com uma atitude de condenao
indiscriminada, enquanto o liberalismo protestante havia capitulado ante a nova era. Com o
estouro das duas guerras e seus desdobramentos que vieram desmentir os sonhos do sculo
XIX, o liberalismo protestante sofreu um grande abalo. O secularismo e o ceticismo na Frana
tornaram-se comuns durante o sculo XIX, em parte, por causa da reao do catolicismo ao
mundo moderno, j no sculo XX em razo do fracasso do liberalismo. No meado desse
sculo XX a Europa setentrional j no era mais o reduto protestante.
Com o romper da guerra mundial, 1914, os lderes cristos, pelo menos muitos deles,
tinham conscincia da tenso na Europa; em conseqncia, procuravam as relaes
internacionais das Igrejas para evitar a guerra; essa tentativa no teve sucesso, logo alguns
desses cristos preferiram fazer da Igreja um instrumento de reconciliao do que ser levados
por impulsos nacionalistas.
O liberalismo nesse momento nada podia fazer, portanto, o protestantismo foi o que se
preocupou em fazer uma teologia que respondesse a esses acontecimentos.
A teologia mais significativa para as respostas aos desafios da poca foi o de Karl
Barth.
127
Enquanto se desenvolvia a teologia de Barth, na Alemanha Hitler e o nazismo
assediam ao poder. Em 1933, o Vaticano e o terceiro Reich assinaram uma concordata. O
protestantismo liberal nada podia fazer frente a esse desafio. Surgiu inclusive o partido dos
cristos alemes. Esse grupo apoiava as mediadas de Hitler; em conseqncia de tais
atitudes alguns lderes cristos reuniram-se em oposio s medidas hitlinianas em nome do
evangelho (snodo do testemunho).
Todos se recusaram apoiar Hitler foram presos. Outros, como os partores foram
recrutados pelo exrcito para a batalha.
Bonhoeffer foi o que mais teve problemas em oposio a Hitler.
Aps a guerra vamos ter imensas territrios europeus submissas ao domnio sovitico.
Mesmo a doutrina marxista tendo o cristianismo como inimigo, outros tinham a f
religiosa como uma questo do passado, ou seja, logo desapareceria. Na antiga
Checoslovquia e na Hungria, manteve-se o apoio s Igrejas. J na ex-Alemanha Oriental, os
cristos foram submissos limitaes civis, no podiam exercer posies significativas nos
estados.
Em outros lugares da Europa ocorriam um dilogo intenso entre marxistas e cristos.
Desse dilogo temos Bloch, filsofo marxista que d uma certa contribuio em sua
reinterpretao das doutrinas bblicas considerando ter elas valor positivo. Para ele esse valor
encontra-se na mensagem da esperana. Tanto esta quanto outras idias de revisionistas,
trouxeram contribuies significativas para a teologia protestante no sculo XX. Nessa
dimenso da esperana vamos ter Moltmann, entendendo essa esperana no como
individualista, mas como a esperana de uma nova ordem. Assim a teologia da esperana,
leva os fiis a se unirem s lutas que apontam para o futuro de Deus: contra a pobreza e a
opresso.
Apesar do secularismo ter se estalado fortemente em muitas regies europias, o
protestantismo no se tornou inerte. Apesar de ter se reduzido, permaneceu ativo na
sociedade.

Histria da Teologia Contempornea na Europa, um Esboo

Pretende-se com abordar ritmos e desenvolvimentos da teologia europia
contempornea, destacando sua formao a partir da Ortodoxia, do Pietismo e da Ilustrao.
Percorrendo o sculo longo (XIX), notar-se- como se oRganiza entre a revoluo e a
restaurao. E sobre as correntes e discursos da teologia deste sculo, o acento recai sobre
128

Liberalismo Teolgico ou Protestantismo cultural. Por ltimo, sobre a teologia do sculo XX,
nos seus movimentos e caminhos, destacamos a relao entre Igreja e teologia desde a I
Guerra Mundial s expresses em seu curso.

I. Ritmos e Desenvolvimentos da Teologia Europia: Ortodoxia, Pietismo e Ilustrao;
Num primeiro momento, pretende-se relacionar as elaboraes teolgicas ortodoxos,
pietistas e ilustrados com as demandas da Modernidade.
Pietismo e Ilustrao so as duas faces de uma mesma moeda, cunhada para um novo
perodo da histria do cristianismo no Ocidente, a Modernidade, constitudas de numerosos
indicadores religiosos, polticos, sociais e intelectuais, sinalizando um novo esprito25.
Os pietistas surgiram no sculo XVII e explodiram como movimento no sculo XIX.
Acentuava-se a individualizao e acelerava-se a internacionalizao da vida religiosa,
desenvolvendo novas formas de piedade pessoal e de vida em sociedade e provocando
mudanas na teologia e na Igreja.
De carter transconfessional, lutava por uma teologia experiencial contra a teologia
cognitiva da ortodoxia. Preocupava-se com o homem interior e sua santificao. A doutrina
fora reformada, era preciso continuar a Reforma e reforma a vida. Da decorrem uma tica
individualista e subjetiva da qual dependia a renovao da sociedade e um carter separatista,
com o conceito de Igreja como associao de regenerados e renovas que formariam a
eclesiologia eclesiae.
Com o tempo, porm, torna-se-ia clara a relao entre o pietismo e as razes do
Racionalismo. E para Dreher, lutando contra o que designava de deturpao do verdadeiro
cristianismo, o pietismo foi o maior dos preparadores da modernidade. (p.122)
O telogo alemo Schleiermacher, denominado de pai do protestantismo Liberal,
baseou sua teologia no sentimento de dependncia absoluta, acento herdado do Pietismo.26
Deve-se observar que o mundo catlico-romano viveu a influncia deste sentimento
pietista com o culto ao Sagrado Corao de J esus de grande expresso na Amrica Latina
Analisando o desenvolvimento da Teologia Protestante desde a Reforma, Paul Tillich
27 examinou as vrias correntes e discursos considerando a Ortodoxia como grande teologia
ou escolstica protestante. Refere-se assim maneira como a Reforma estabeleceu-se
enquanto forma eclesistica de vida e pensamento, depois que o movimento dinmico dos

25
DREHER, Martin. A Igreja latino-americana no contexto atual.So Leopoldo, Sinodal, 1999.
26
DREHER, Martin. A Igreja latino-americana no contexto atual, p.122.
27
TILLICH, Paul. Histria do Pensamento Cristo. So Paulo, ASTE, 2000, p. 272.
129
reformadores terminou. E a sistematizao e a consolidao das idias desenvolvidas em
contraste com a Contra Reforma.
Os desenvolvimentos posteriores tais como a teologia liberal ou a teologia do
evangelho social, partiram dos fundamentos da ortodoxia ou para combat-la ou na inteno
de restaur-la.
A Ilustrao funcionou como eco e acentuao de muitas nfases pietistas: orientao
para o futuro, cristianismo no dogmtico, centralidade da experincia, leitura histrica da
Bblia.
Na economia, o desenvolvimento das cidades incentivava a reflexo pragmtica e
racional. A experincia prtica era acentuada possibilitava o avano da cincia e de tecnologia
frente a natureza. As conseqncias polticas e sociais eram imediatas. Em um clima de
liberdade crescente, o homem autnomo frente ao sobrenatural, caminhava livre orientado
pela razo.
A Filosofia deixava de ser serva da Teologia para fundamentar-se autonomamente
sobre o empirismo e os princpios racionais. Da Holanda escoava o som do autoconhecimento
na forma do cogito ergo sum de Ren Descartes. Da Inglaterra aparecia novos modelos de
relacionamento entre Deus e liberdade moral com o desmo. E no dilogo entre razo e
revelao, a Bblia era submetida crtica histrica, o mistrio e o milagre do cristianismo
eram contrastados com a rigidez da argumentao empirista. As verdades metafsicas e
teolgicas eram expostas ao teste da experincia. Da Frana, a luta por direitos humanos e
liberdade de opinio eclodia da inimizade entre religio e ilustrao. Voltaire rivalizava com
os novos pensadores e afirmava: Se Deus no existisse, seria necessrio invent-lo. O
racionalismo imprimia um estado de otimismo no progresso e na educao em direo ao
mundo perfeito.
Na Alemanha, Pietismo e Ilustrao surgiram simultaneamente e a relao entre
revelao e razo no est prenhe de tenses e de oposies como no restante da Europa. Os
ataques do Pietismo, a Ortodoxia prepararam o caminho par as sugestes prticas de reforma
que seriam feitas pelas Ilustraes. O Cristianismo chegaria do limiar da tica e da moralidade
os princpios bsicos da Reforma, Cristo, f, graa e Escritura tinham o seu fim.
A Teologia Catlico-Romana pouco se abriu Ilustrao que era considerada como
destruio do Cristianismo e da Religio. A Igreja de Roma experimentou retrocessos na
influncia poltica e teolgica, no auge da crise provocada pela ilustrao. Todavia, no seio do
povo, a piedade tradicional continuava presente.

130

II. O Sculo longo, revoluo e restaurao

A designao sculo longo uma conveno tanto na Histria quanto na Teologia
para o sculo XIX. 28 Inicia-se com a Revoluo Francesa em 1789 e com a publicao de
Sobre a RELIGIO: discursos dirigidos a seus cultos depreciadores de Friedrich D.
Schleiermacher. Concluiu-se com a Primeira Guerra Mundial, em 1914 e a obra publicada por
Karl Barth, Comentrio aos Romanos de 1919. Estas duas datas assinalam acontecimentos
decisivos para a cultura Ocidental e so acompanhadas na da Igreja e da Teologia pelas obras
destes telogos protestantes.
Na da Teologia, o sculo XIX formado por uma srie de movimentos teolgicos
decisivos, apologticos e reacionrios. A Revoluo Francesa e a Revoluo Industrial
acompanharam a Ilustrao na funo de elaborar perguntas e desafios Revelao bblica.
As questes sociais oriundas das revolues problematizaram a importncia da Igreja para a
sociedade e a cultura.
Enquanto o catolicismo trancava todas as portas e janelas aos ataques da Modernidade,
o mundo protestante preocupava-se com a essncia do cristianismo e desenvolvia uma
teologia apologtica.
Todo o sculo XIX est entre revoluo e restaurao. As conseqncias violentas da
Revoluo Francesa levaram reaes contrrias que no pretendia exterminar a Igreja, mas,
adequ-la razo do Estado.
Uma nova leitura da histria foi legada s geraes posteriores com o advento do
historicismo que via os fatos a partir do seu desenvolvimento histrico. A Igreja passou a ser
entendida como fenmeno cultural e no mais como mediadora da revelao.

III. A Teologia do Sculo XIX, Correntes e Discursos

1. Liberalismo ou Protestantismo Cultural.
Principalmente na Alemanha, ao longo do sc XIX, variantes da Ortadoxia, Pietismo e
Ilustrao competiram com uma nova corrente que se convencionou chamar de liberalismo
(ou Protestantismo Cultural).
A figura teolgica dominante foi Scheleimacher. Descendia de Telogos reformadores
e calvinistas e foi influenciado pelo pietismo do conde Zinzendorf. Apologista, procurou

28
DREHER, Martin. A Igreja latino-americana no contexto atual, p.138.
131

(defender) apresentar a verdade do Evangelho de modo compreensvel aos seus
contemporneos. Ao invs de Acentuar a liberdade, falou acerca da dependncia humana.
A voz isolada de Shceermacher encontrou ego nas vozes do que se chama de
Reavivamento. Movimento religioso trasconfessional, pluriforme e multifacelado.
Impulsionados pelo pietismo e rivilizadando contra a Ilustrao concretizavam-se reaes a
mudanas na vida eclesial e da sociedade, afirmando-se contra o liberalismo teolgico. Na
Inglaterra, o reavivamento alcanou seu auge no metodismo.
Para entender as correntes teolgicas do Protestantismo do sculo XIX ainda se torna
essencial lembrar da influncia do sistema filsofo Hegeliano.
W. Friedrich Hegel, destaca-se no Idealismo alemo pela elaborao de um sistema de
pensamento a partir do qual poderia compreender toda a histria e realidade. A vida passava a
ser vista como um processo dialtico. Tudo o que real racional e tudo que racional real.
O conhecimento do todo seria alcanado pela parte numa evoluo at o cumprimento. A
verdade o todo.29 Uma tese levaria a uma anttese eu culminaria na sntese.
Para os telogos, o desafio seria aplicar este sistema ao problema da tradicia e da
superao do abismo existente entre razo e revelao. A relao entre f e histria tornava-se
dificultada com os resultados das pesquisas cientficas empricas.
A Teologia Liberal tem suas razes na Ilustrao. No sculo XIX, porm, ela centrou-
se na temtica de f e histria. Como garantir a continuidade do Cristianismo frente diante da
afirmao das bases racionalistas e empiristas da modernidade? Deus no poderia ser
estudado pelo microscpio ou observado pelo telescpio. Os estudos histricos formaram as
bases nas quais os telogos liberais concentraram-se para responder a perguntas e desafios dos
seus contemporneos e da vida de seu tempo.
Com os estudos histrico-crticos da figura de J esus e do Novo Testamento, a f crist
foi reduzida mensagem do Cristo sobre o reino de um Deus do amor. J esus era um fantico
religioso que esperava pelo fim iminente do humano, esta viso do estudo historicistas da
Bblia levou destruio da Teologia Liberal.
Abbrecht Ritschl, Adolg von Harnack e Ernest Troeltsch so precursors do movimento
liberal na teologia do sculo XIX. Sob a influncia de Kant e Scheiermacher, compreendia-se
o cristianismo como um fato histrico mediado pela experincia pessoal do crer. O histrico
mediado pela experincia pessoal do crer. O Novo Testamento da testemunho a respeito da

29
DREHER, Martin. A Igreja latino-americana no contexto atual. p. 151.
132

revelao que J esus fez do Reino de Deus, como sendo o alvo tico de todo o gnero humano.
J esus o arqutipo da humanidade reconciliada com o Reino de Deus.30
A redeno pessoal e a formao de comunidade no Reino de Deus so conseqncia
da transformao e do retorno da vontade humana vontade de Deus. Temas clssicos da
dogmtica como pecado, juzo, ira de Deus, trindade e cristologia, expresses dos credos e
confisses so cascas que encobrem o cerne do Evangelho.
O liberal cria e defendia um cristianismo no dogmtico; um Deus sem ira, um homem
sem pecado e um Cristo sem Cruz. O esforo pela recuperao do pensamento da Igreja
Antiga acompanhava uma proposta maior de se viver a religio de J esus, o Reino do Amor de
Deus em oposio religio sobre J esus que doutrinria e apresenta um ser preexistente que
expia vicariamente o pecado. O cerne do cristianismo est envolto em lixo metafsico,31 A
casca helenista trs do dogma cristo.
A inteno era apresentar a essncia do cristianismo como resposta as demandas do
pensamento moderno. E a mensagem crist seria plausvel se reduzisse a f paternidade de
Deus, fraternidade do gnero humano e o valor infinito da alma humana. Tudo isso num
otimismo confiante progresso.
Na relao entre cristianismo e cultura, revelao e histria, liberdade pessoal e
condicionamento historicizava-se tudo e qualquer pensamento, tudo o que existia persistia em
condies histricas. A Teologia teria que repensar e reiniciar sua reflexo.

IV. A Teologia do Sculo XX: movimentos e caminhos32.

Enquanto o sculo XIX assistiu ao rompimento definitivo entre o secular e o sagrado,
o Estado e a Igreja, instaurava-se um quadro de excluso do negro, do ndio, da mulher, do
operrio, em direo aos quais a teologia produzida a partir da Segunda Guerra Mundial
deveria caminhar.

1. Igreja e Teologia desde a Primeira Grande Guerra.

30
DREHER, Martin. A Igreja latino-americana no contexto atual. p. 153.
31
Id., ibid., p. 154.
32
GONZLEZ, L. Justo. A Era Inconcluso. Editora Vida Nova; Edio 1996. So Paulo,
SP/MONDIM, Batista. Os Grandes Telogos do Sculo Vinte. Edies Paulinas. So Paulo. 1979.

133
A primeira das Grandes Guerras Mundiais afetou globalmente a vida europia. Diante
do caos instaurado, o otimismo da Teologia liberal era inaceitvel para o jovem gerao de
telogos.
As novas possibilidades na teologia tiveram preldio na obra de Rudolf Otto A idia
do Sagrado que apresentava uma nova compreenso de Deus, no mais como extenso da
humanidade, mas, como o totalmente outro. A partir deste incio, a teologia da Reforma,
comeava a ser relida.
Enquanto isso, a Igreja, ainda envolvida por uma ideologia que ligava o trono ao altar,
dividia-se entre a defesa do nacionalismo e o combate mortal ao mesmo.

2. Sociedade e Teologia no entre-guerras
Renascena luterana. Quando Lutero foi descoberto, descobriu-se tambm o sentido
que o mesmo tinha a respeito de Deus. Isso despertou um novo olhar no reformador. Foi a
partir de Lutero que comea brotar todos os movimentos.
Realismo bblico. Esse movimento surgiu em reao escola ritschiniana. Assim
como Lutero, esse realismo bblico adequava-se melhor natureza humana.
Crtica radical. Esta crtica histrica minava os pressupostos de toda a teologia liberal
e de Harnack. Essa crtica histrica comeou no Antigo Testamento e no Novo Testamento
com uma radicalidade mais profunda.
Falando um pouco de Rudolf, Bultmann, ele procurou combinar a pesquisa histrica
com certa tentativa de sistematizao. Chamava-a de demitologizao. Segundo ele a
mensagem bblica devia se libertar da linguagem mitolgica.
O mtodo da histria das religies. Como principal crtica do ponto de vista da histria
das religies temos Hermann Gunkel. Esse movimento se encarregou de ser um mtodo de
anlise dos contedos dos escritos bblicos. Procura descobrir at que ponto o antigo
Testamento e o Novo dependiam do simbolismo de outras religies.
Ernst Troeltsch. Homem de grande viso histrica, preocupava-se com o sentido da
religio no contexto do esprito humano ou da estrutura mental humana. Criticou o livro de
Harnack o que cristianismo -, e se ops idia de que o protestantismo acabara com o
mundo medieval. A sua filosofia da histria baseia-se em uma atitude negativa diante do que
chama de historicismo.
Socialismo religioso. Esse movimento a tentativa de superao das limitaes do
esforo de Troeltsch de ir alm do historicismo. Aqui Deus se relaciona com o universo, onde
este inclui a natureza, a histria e a responsabilidade. Nesse movimento o amor de Deus
134
estava no mundo. Possua uma idia de teonomia, ou seja, o alvo desse movimento socialista
religioso era o estado tenomo da sociedade.
Karl Barth. Apesar de ter vindo desse movimento socialista religioso, ele no se uniu
ao mesmo. Via neste o abuso do socialismo religioso pelo nacionalismo religioso,
identificando a mensagem crist com determinada idia poltica ou social. Barth acabou com
a tentativa de qualquer relacionamento entre a teologia e o movimento trabalhista
revolucionrio na Alemanha. Contudo, contribui para a salvao do protestantismo da
devastao e das matanas do nazismo neocoletivista e pago.
Para Bart, Deus no objeto do nosso conhecimento ou ao. Em sua primeira fase de
sua carreira, ele identificava a revelao com a mensagem crist, e negava o carter
revelatrio de tudo que no fosse mensagem.
Bart no se distanciou apenas do socialismo religioso, mas tambm, por algum tempo,
do lado poltico do poder de Hitler. Aceitava-o. Mas, logo aps, Bart se tornou o lder da
resistncia intraeclesistica ao nacional-socialismo. Finalmente, reconheceu o que havia
negado, que o movimento encabeado por Hitler era quase-religioso e apresentava srio
ataque contra o cristianismo.
Bart se tornou neutro concernente, causa de Cristo ser identificada com a causa do
Ocidente. Em razo, recebeu muitas crticas.
Existencialismo. Tem percebido elementos no homem em contraste com a filosofia da
conscincia voltada para as decises conscientes do homem e para sua vontade. A descoberta
do inconsciente humano foi importantssima para a teologia. Esse existencialismo juntou-se
anlise freudiana do inconsciente. Consegui mudar os tipos moralistas e idealistas. Trouxe
para o centro do pensamento teolgico a questo da condio humana.

3. Reaes no Protestantismo
As agitaes sociopolticas, meado do sculo XX, foram sentidas intensamente na
Europa bero da grande parte da filosofia e teologia otimista do sculo XIX.
O continente europeu sonhava que sob sua liderana, a humanidade despertaria para
uma Nova Era. Achava que suas investidas coloniais era uma iniciativa altrusta visando ao
bem do mundo. Nesta iluso o protestantismo se envolveu mais do que o catolicismo, pois
este catolicismo reagiria ao mundo moderno com uma atitude de condenao
indiscriminada, enquanto o liberalismo protestante havia capitulado ante a nova era. Com o
estouro das duas guerras e seus desdobramentos que vieram desmentir os sonhos do sculo
XIX, o liberalismo protestante sofreu um grande abalo. O secularismo e o ceticismo na Frana
135
tornaram-se comuns durante o sculo XIX, em parte, por causa da reao do catolicismo ao
mundo moderno, j no sculo XX em razo do fracasso do liberalismo. No meado desse
sculo XX a Europa setentrional j no era mais o reduto protestante.
Com o romper da guerra mundial, 1914, os lderes cristos, pelo menos muitos deles,
tinham conscincia da tenso na Europa; em conseqncia, procuravam as relaes
internacionais das Igrejas para evitar a guerra; essa tentativa no teve sucesso, logo alguns
desses cristos preferiram fazer da Igreja um instrumento de reconciliao do que ser levados
por impulsos nacionalistas.
O liberalismo nesse momento nada podia fazer, portanto, o protestantismo foi o que se
preocupou em fazer uma teologia que respondesse a esses acontecimentos.
A teologia mais significativa para as respostas aos desafios da poca foi o de Karl
Barth.
Enquanto se desenvolvia a teologia de Barth, na Alemanha Hitler e o nazismo
assediam ao poder. Em 1933, o Vaticano e o terceiro Reich assinaram uma concordata. O
protestantismo liberal nada podia fazer frente a esse desafio. Surgiu inclusive o partido dos
cristos alemes. Esse grupo apoiava as mediadas de Hitler; em conseqncia de tais
atitudes alguns lderes cristos reuniram-se em oposio s medidas hitlinianas em nome do
evangelho (snodo do testemunho).
Todos se recusaram apoiar Hitler foram presos. Outros, como os partores foram
recrutados pelo exrcito para a batalha.
Bonhoeffer foi o que mais teve problemas em oposio a Hitler.
Aps a guerra vamos ter imensas territrios europeus submissas ao domnio sovitico.
Mesmo a doutrina marxista tendo o cristianismo como inimigo, outros tinham a f
religiosa como uma questo do passado, ou seja, logo desapareceria. Na antiga
Checoslovquia e na Hungria, manteve-se o apoio s Igrejas. J na ex-Alemanha Oriental, os
cristos foram submissos limitaes civis, no podiam exercer posies significativas nos
estados.
Em outros lugares da Europa ocorriam um dilogo intenso entre marxistas e cristos.
Desse dilogo temos Bloch, filsofo marxista que d uma certa contribuio em sua
reinterpretao das doutrinas bblicas considerando ter elas valor positivo. Para ele esse valor
encontra-se na mensagem da esperana. Tanto esta quanto outras idias de revisionistas,
trouxeram contribuies significativas para a teologia protestante no sculo XX. Nessa
dimenso da esperana vamos ter Moltmann, entendendo essa esperana no como
individualista, mas como a esperana de uma nova ordem. Assim a teologia da esperana,
136
leva os fiis a se unirem s lutas que apontam para o futuro de Deus: contra a pobreza e a
opresso.
Apesar do secularismo ter se estalado fortemente em muitas regies europias, o
protestantismo no se tornou inerte. Apesar de ter se reduzido, permaneceu ativo na
sociedade.

4. Reaes no Catolicismo
Apesar de afirmaes pessimistas quanto a teologia do sculo passado, possvel v-la
como o incio de um novo despertar, de uma renovao, a partir de causas determinantes para
esse alvorecer. Segundo os historiadores, o surgimento das filosofias agnsticos e atestas, que
obrigavam a teologia a buscar bases filosficas mais seguras; a consolidao da estrutura da
Igreja e da autoridade, do papado atravs do Conclio Vaticano I: os pontficos na cooperao
com o progresso teolgico; a restaurao tomista, que diminui o telogo catlico de uma base
filosfica; o retorno s fontes bblicas e patrsticas, que infundiram na teologia um novo vigor;
o incremento da atividade missionria, que fez surgir o ramo teolgico de missiologia; e o
desenvolvimento de questes sociais, que dos quais surgem novos problemas teolgicos, a
teologia, mais tambm, trazer algumas caractersticas como: atitude polmica em relao
cultura profana, a conformidade ao magistrio eclesistico, a estrutura tomista e seus
fundamentos patrsticos.
Essa teologia do sculo XIX no produziu um discurso polmico com os cristos e sim
com os expoentes da cultura profana.
Diante de tais reaes podemos perceber o avano da teologia do sculo XX.
O retorno aos pobres uma das mais importantes caractersticas da teologia desse
sculo, os seus motivos estavam em uma dimenso filosfica. Encontra-se na razo ltima de
avaliao do seu pensamento como fonte essencial da teologia crist.
Outro elemento que contribui para renovao a teologia contempornea foi o estudo da
Sagrada Escritura. Esse estudo tornou-se importante, quando os erros exegticos bblicos
estavam ameaando os prprios fundamentos do cristianismo.
O terceiro elemento foi o movimento litrgico.
Todos essas movimentos (renascimento tomista, bblico e patrstico e litrgico)
penetraram profundamente na teologia contempornea, elevando-a ao renascimento.
Os primeiros momentos da nova teologia se deu aps a Segunda Guerra Mundial.
Durante algum tempo esses novos telogos foram vistos com simpatia, mas logo comeou
137

os conflitos com os telogos tradicionais a partir do artigo de Danielou, acusando-o de
desvalorizar a teologia sistemtica, e da se prosseguiu.

V. Movimentos e Caminhos da Teologia na Europa do Sculo XX.

No percurso da teologia da Europa no sculo XX, Rosino Gibellini33 apresenta trs
movimentos numa possvel reconstruo de seus caminhos.
O primeiro se afirma com a teologia Dialtica relacionada diretamente com a teologia
da palavra de Barth, encontrando correspondncia formal com o tema da Palavra.
O segundo movimento, caracterizado como reviravolta antropolgica na teologia,
exprime-se com a teologia existencial de Bultmann, hermenutica de Fuchs e de Ebeling, da
cultura de Tillich e transcendental de Rahner. Tem-se assim incio a uma maneira de fazer
teologia atenta historicidade do sujeito, s perguntas existenciais, estrutura apririca do
esprito-no-mundo, ao ouvinte da palavra.
Nos anos 60, no debate em torno do cristianismo-modernidade e secularizao, aberto
por Bonhoeffer e Gogarten vai surgindo um terceiro movimento, que leva a teologia a assumir
uma conscincia poltica. Isto se d com as teologias da esperana, poltica e libertao (em
suas primeiras formas).


BONHOEFFER, DIETRICH

Biobibliografia

Um tema bsico da teologia de Bonhoeffer era como manter a f num mundo sem
religio. Engajado contra o nazismo, combateu Hitler com palavras e aes. Dietrich
Bonhoeffer nasceu em Breslau, Prssia (depois Wroclaw, na Polnia), a 04 de fevereiro de
1906. Educado em Tubigem e Berlim, tornou-se pastor luterano e trabalhou em Barcelona e
Nova York. Em 1931, assumiu a ctedra de Teologia Sistemtica na Universidade de Berlim.
Quando Hitler subiu ao poder em 1933, Bonhoeffer estava em Londres e decidiu lutar
contra o nazismo. Em 1935 foi chamado assumir a direo de um seminrio clandestino em
Finkenwald, na Pomernia. O problema central de sua teologia era como ser cristo num

33
GIBELLINI, 521-22
138
mundo secularizado e ateu. Propunha como ma das solues a interpretao no religiosa dos
conceitos bblicos, o que sugeria possibilidade de haver cristos arreligiosos.
Retomando o pensamento de Karl Barth, de quem se considerava discpulo dizia que
os valores sempre relacionados com o evangelho eram agora entendidos como puramente
profanos. Para ele, os cristos deveriam reconhecer que o mundo passara da adolescncia para
maturidade, e que, em vez de se insistirem retorno as bases religiosas do passado, dever-se-ia
tentar uma nova interpretao do historia intelectual do ocidente, a partir do sculo XIII.
Bonhoeffer introduziu elementos importantes para o movimento teolgico da morte
de Deus, desenvolvido sobretudo nos Estados Unidos. Como Deus foi imposto pelo
cristianismo s artes, poltica e cultura em geral, a festa comprometida e mimada na
medida em que o mundo se transforma e se torna autnomo. Entretanto, ao aprovar a
secularizao e o afastamento de Deus por motivos teolgicos, Bonhoeffer condenava a idia
da religio como salva-vidas. Entre outras obras, escreveu Sanctorom Communio, Eine
Dogmatisch, Untrsuchung Zur, Soziologie De Kirche (1930; a Comunho dos Santos; Um
estudo dogmtico sobre a sociologia da igreja; Akt Und Sein (1931; Ato e Ser); e
Geminsames Leben (1939; Vida Comunitria). Em Ethik (1949; tica) que ficou incompleta,
refletiu sobre o niilismo). O telogo via no nazismo a conduo dos valores humanos para a
morte e julgava que aos cristos caberia ocuparem-se desses valores, no para conden-los,
mas para salv-los. Convencido de que sua oposio ao nazismo deveria expressar-se em
outros termos, participou de atentado contra Hitler em 1943, ano em que foi preso. Dois anos
depois, em 09 de abril de 1945, foi enforcado num campo de concentrao em Flossemberg,
15 dias antes da morte de Hitler.

Pensamento Teolgico

Bonhoeffer um barthiano sensvel s perguntas levantadas pela teologia liberal, que
Bultman nunca cessou de fazer, e, Destarte, o homem chave para tratar com a situao
teolgica atual. O que o mundo que atingiu a maioridade? O que significa a interpretao
no religiosa? O que se deve entender por positivismo da revelao?, mas at hoje no se sabe
ao certo o que o prprio Bonhoeffer quis dizer com isso, e alguns telogos perguntavam se
aquele jovem tinha um ponto de vista sistemtico. Ele concordava com Barth que Deus se
revela somente atravs de J esus Cristo. Nada poderia ser mais explicito do que a resposta a
pergunta: Quem Deus?
139
No em primeiro lugar ma crena abstrata em Deus na sua onipotncia etc. a
experincia de que uma transformao da totalidade da vida humana dada no fato de que
J esus est presente apenas em prol doutras pessoas. Bonhoeffer tambm concorda com Barth
no sentido de que a auto revelao de Deus deve controlar nosso entendimento da ontologia e
da epistemologia. Enfatiza Deus no conforme Ele em Si, mas conforme entra livremente
em relacionamento com o homem. Na revelao, trata de ma questo de liberdade de Deus no
lado dele que fica longe de ns. Seus escritos mostram que ele empurra esta doutrina
material da Encarnao numa direo cada vez mais concreta com paixo e rigor criadores.
Esta a chave para a totalidade do mtodo para totalidade do mtodo de Bonhoeffer,
inclusive a interpretao no religiosa dos conceitos bblicos que finalmente fez: Deus Deus
que se tornou homem, o homem J esus Cristo, e somente com isso que podemos nos
preocupar como homens. Com relao a igreja, ela somente quando existe em prol de
outros, aos necessitados. A igreja deve participar dos problemas seculares da vida humana.
Outro conceito de Bonhoeffer aquele do cristianismo sem religio, essa sua atitude ante
religiosa, num entanto, existe simultaneamente com sua prpria disciplina profundamente
devotado a leitura da Escritura e de oraes, seu amor a liturgia, especialmente aos hinos.
Para ele uma vida no mundanismo era ainda outro dos conceitos controvertidos que coloca em
justaposio, uma vida num mundanismo genuno possvel somente mediante a
proclamao de Cristo crucificado. Uma dessas idias que o mundo em nosso sculo XX,
chegou a maioridade; entende-se que o mundo est filosoficamente e teologicamente maduro
e adulto, e o homem tornou-se autnomo, no necessita da graa e verdade divina. Todo
cientista certamente deve colocar diante de si o alvo de tornar a hiptese de Deus suprflua no
seu campo. O mundo que atingiu a maioridade, Bonhoeffer chega a reconhecer um mundo
sem Deus, revela niilista, um mundo sem dolos, no adora a nada e desposado de religio.


KARL RAHNER

Biobibliografia

Alemo da Floresta Negra, discpulo de Heidegger em Friburgo, inicia sua carreira
acadmica na faculdade de Teologia de Innsbruck em 1937, onde lecionou, com exceo do
longo parntese da guerra e do imediato ps-guerra, at ser chamado para universidade de
Mnchen. Nos primeiros anos de ensino, a faculdade Innsbruck est empenhada na
140
elaborao do projeto de uma teologia querigmtica que estivesse a servio da pregao e da
pastoral, formalmente distinta da teologia cientifica.
Em 1939, ele publica Esprito no Mundo, sua tese para o doutorado em filosofia sobre
A Metafsica do Conhecimento Finito em Santo Toms de Aquino que a universidade de
Friburgo recusara em 1936. Ele desejava escrever um trabalho teortico ao passo que o
orientador da tese, queria dele um trabalho histrico. Na verdade o que ele visava era
principalmente era isso: deixar de lado em grande parte o que se chama neo escolastica para
voltar ao prprio santo Toms, aproximando-se justamente dos problemas formulados a
filosofia do nosso tempo. Durante a guerra, publica-se, em 1941 o livro Ouvintes da
Palavra. Nelas o telogo alemo desenvolve as linhas de uma filosofia da religio numa
perspectiva teolgica como antropologia teologial fundamental.
Ouvintes da palavra continua o discurso iniciado por Espirito no Mundo. O homem
o ouvinte possvel revelao histrica de Deus, onde homem e histria se concebem
mutuamente.
Em 1954 Rahner rene principais artigos e ensaios que havia escrito e publicado e
dado inicio a srie de seus escritos teolgicos, que mesmo em sua variedade e
descontinuidade representam ma verdadeira biblioteca teolgica, em trinta anos (1954-1984).
Em 1959, rene os escritos teolgicos de Teologia Pratica no volume Misso e Graa que
uma contribuio a respeito do debate sobre secularizao intitulado Significado Teolgico
da Posio do Cristo num Mundo Moderno. Ele relata tambm a minoria de cristos em
cada nao e que tal situao deve ser assumida como imperativo histrico de salvao e
enfrentada como ma renovao dos mtodos de prxis eclesial.
Em 1964, tenta formular ma sntese de seu itinerrio teolgico onde se transforma no
curso de introduo ao conceito de cristianismo que se tornar o curso fundamental sobre a f.
Entre os cursos ministrados na cidade de Bvara, ele retoma a teologia dogmtica na
cidade de Mnter, que conclui carreira acadmica. Vale ressaltar a cristologia pelo mtodo
indisciplinar, no qual a sistemtica confrontada com a perspectiva exegtica.

Pensamento Teolgico

Mtodo Antropolgico Transcendental
Rahner distingui trs elementos caractersticos:
141
a) Vivemos numa sociedade secular e pluralista na qual os enunciados da f perderam
sua obviedade e na qual o pluralismo das convices e das mudividncias prprio
de uma sociedade aberta torna-se mais difcil transmitir a vida crist.
b) O pluralismo precisa registrar um aumento dos conhecimentos em todos os
campos do saber que torna particularmente difcil fazer sntese embora o telogo
sistemtico deva tentar a sntese a propsito das questes ultimas e fundamentais
da teologia.
c) A essas dificuldades do anuncio cristo e do fazer teologia deve se acrescentar uma
espcie de endurecimento e incrustao dos conceitos teolgicos, que
permanecendo imutveis ao longo dos sculos no correspondem mais a situaes
completamente mudadas da vida e da cultura do homem moderno. Ele est
profundamente persuadido da insuficincia do mtodo escolstico praticado na
tradicional teologia de escola.
Do mtodo escolstico, que procede do alto das formulaes e opera por doutrinao,
deve-se pensar o mtodo antropolgico, que vem de baixo e realiza ma correspondncia entre
vida e verdade, experincia e conceito. Essa abordagem antropolgica deve partir da
experincia pessoal do homem e se interrogue a maneira como a verdade crist pode
corresponder a ela. um mtodo objetivo e no comporta em ma reduo subjetiva da f.
Mas o mtodo antropolgico tem uma orientao prpria que tem o nome de antropolgico
transcendental.
Ele explica que o mundo da experincia humana, a posteriori, que adquirido, e
categorial, refletido, tematizado e passvel de diferentes classificaes. Tambm se mostra sub
entendido por ma priori, no adquirido, mas sempre dado de maneira refletida e atemtica que
o nico a tornar passvel a realidade categorial, ou seja, o conhecimento a ao e as demais
experincias humanas. a condio da possibilidade do conhecimento da ao da experincia
categorial que o transcendental diz respeito, pois na experincia humana a posteriori e
categorial; a condio da possibilidade de tais experincias a dimenso a priori e
transcendental, ela constituda pela estrutura do espirito finito no mundo. Na verdade, a
transcendentalidade no a transcendncia, mas a estrutura apriorica, que no adquirida,
mas sempre dada com a existncia humana. Essa transcendentalidade a estrutura do esprito
humano.
Se a transcendncia a mesma realidade objetiva de Deus, a transcendentalidade a
estrutura e como condio da possibilidade da experincia em sua variedade categorial, a
estrutura apriorica do esprito humano, abertura radical para o mistrio, orientao dinmica
142
para o infinito, horizonte de compreenso dentro do qual se inscrevem as varias experincias
originria que acompanha todas as outras.
A filosofia transcendental moderna em seu enfoque do problema gnosiologico, mas
ao mesmo tempo recupera a via metafsica da filosofia clssica. A originalidade de seu
pensamento no consiste na elaborao da filosofia transcendental, e sim em ter introduzido
em teologia o mtodo antropolgico transcendental.

Bibliografia
MONDIM, Batista 1926, os grandes telogos do sculo XX, So Paulo, Edies Paulinas
1979.
DIETRICH, Bonhoeffer. Biografia e Contexto.
GIBELINE, Rosino. Teologia do sculo XX, Edies Loyola.
GUNDRY, Stanley. Uma anlise dos pensamentos de alguns dos principais telogos do
mundo hodierno, Editora Mundo Cristo, traduo de Gordon Chown. Teologia
Contempornea.





GARRIGOU-LAGRANGE

Biobibliografia

A New Catholic Encyclopedia, monumental enciclopdia catlica norte-americana
sada recentemente, reserva um amplo espao figura e obra Garrigou-Lagrange, ao passo
que nem sequer leva em conta telogos da estatura de Rahner, von Balthasar, Congar,
Danilou, Guardini, Chenu, de Lubac. O fato poder parecer surpreendente para a maior parte
dos leitores, que talvez nem mesmo recordem o nome de Garrigou. E, no entanto, por quase
meio sculo, ele dominou a cena teologia catlica como nenhum outro autor. At pouco antes
Conclio Vaticano II, dizer Garrigou era o mesmo que dizer teologia catlica. Ele era o mestre
indiscutvel. sabido que seu parecer teve um peso determinante na condenao da nova
teologia.
143
Isso explica porque a New Catholic Encyclopedia dedicou-lhe trs colunas, como
tambm basta para justificar sua incluso na srie dos grandes telogos do sculo XX.
Ademais a razo pela qual o apresentamos em primeiro lugar aqui, que seu
pensamento a expresso tpica daquela teologia escolstica tradicional, que predominou na
Igreja catlica durante grande parte da poca contempornea, e da qual necessrio partir
para poder entender os mais recentes desenvolvimentos da teologia.
A produo literria de Garrigou tem a medida da vastido. Da acurada bibliografia de
B. Zorcolo constam nada menos de 772 escritos, dos quais cerca de quinhentos artigos e trinta
livros. Os livros podem ser divididos em trs grupos: filosficos, teolgicos e ascticos.
Obras filosficas. Le sens commun, la philosophie de ltre et les formules
dogmatiques (Beauchesne, Paris, 1909); Dieu, son existence et sa nature (Beauchesne, Paris,
1914); Le ralisme du principe de finalit (Descle de Brouwer, Paris, 1932); Le sens du
mystre et le clair-obscur intellectuel (Descle de Brouwer, Paris, 1934); La synthse
thomiste (Descle de Brouwer, Paris, 1946).
Nesse grupo, distinguem-se as duas primeiras obras, a primeira ainda mais que a
segunda. Entre os escritos de Garrigou, Le sens commun ocupa, se me permitido o paralelo,
o mesmo lugar ocupado pelo Discurso sobre o mtodo entre os escritos de Descartes, o Breve
tratado de Deus, do homem e de sua beatitude entre os de Spinoza ou o Tratado sobre os
princpios do conhecimento humano entre os de Berkeley. sua obra juvenil, na qual se
respira o frescor da inspirao, sente-se o entusiasmo da intuio e da grande viso que
aparece em sua mente como um lampejo. Nas obras posteriores, mais maduras, j se notar o
cansao de uma viso que se tornou habitual, desaparecendo o verniz original.
Obras teolgicas. Le sauveur et son amour pour nous (Du Cerf, J uvisy, 1933); La
prdestination des saints et la grce. Doctrine dc S. Thomas com pare aux autres systmes
thologiques (Descle de Brouwer, Paris, 1936); La synthse thomiste (Descle de Brouxver,
Paris, 1946); De Revelatione per Ecclesiam cal holicam proposita (Ferrari-Gabala, Roma-
Paris, 1918); De Deo Uno. Comrnentarium in primam partem S. Tomae (Descle de Brouwer,
Paris, 1938); De Deo trino et creatore (Marietti-Descle, Turim-Paris, 1943); De Christo
Salvatore (Marietti-Descle, Turim-Paris, 1945); De gratia (Berrutti, Turim, 1946); De
virtutibus theologicis (Berrutti, Turim, 1948); De beatitudine et de actibus humanis (Berrutti,
Turim, 1951).
Afora as trs obras em francs e o De Revelatone, todas as outras so comentrios
Summa Theologiae de so Toms. A que possui maior originalidade o De Revelatione.
144
Obras ascticas. Perfection chrtienne selon St. Thomas et St. Jean de la Croix
(Ed. de La Vie Spirituelle, Saint-Maximim, 1923); Lamour de Dieu ei la Croix de Jsus (Du
Cerf, J uvisy, 1929); La providence ei la confiance en Dieu: /idelit et abandon (Descle de
Brouwer, Paris, 1932); Les trois conversions et les trois voies (Du Cerf, J uvisy, 1933); Les
trois ges de la vie intrieure (Du Cerf, Paris, 1938); Leternelle vie et la prol ondeur de
ldme (Descle de Brouwer, Paris, 1950); De sancti/icatione sacerdotis secundum nostri tem
poris exigentias (Angelicum, Roma, 1946); De unione sacerdotis cum Christo sacerdote ei
victima (Marietti, Turim-Roma, 1948).
Neste grupo, a primeira a obra fundamental. As outras apenas desenvolvem e aperfeioam,
ou ento simplificam e divulgam, a doutrina espiritual que Garrigou j formulara claramente
em Perfection chrtienne et contemplation.


OSCAR CULLMANN

Oscar Cullmann uma das figuras mais eminentes do protestantismo atual. Grande
estudioso da Sagrada Escritura e dos problemas da histria da Igreja primitiva e apaixonado
pela causa ecumnica, ele ocupa um lugar de primeirssimo plano entre os telogos
contemporneos por sua contribuio constituio de uma nova forma de teologia: a
teologia bblica.
Esse novo tipo de teologia j tivera um mestre excepcional em Rudolf Bultmann, que
edificou o seu sistema sobre dois princpios: a) excluso da histria da essncia da Revelao;
b) interpretao da Revelao atravs de uma filosofia (no seu caso, o existencialismo).
Em polmica com o telogo de Marburg, Cullmann desenvolveu uma teologia bblica
que exatamente o oposto da teologia bultmanniana; com efeito, coloca em sua base
justamente a negao dos dois princpios cardeais da filosofia de Bultmann, ou seja: a) exclui
a filosofia da interpretao da Revelao; b) inclui a histria na essncia da mensagem do
Novo Testamento.
Devido incluso da histria entre os elementos essenciais da Revelao, Cullmann
denominou justamente o seu sistema de teologia da histria da salvao, no se contentando
de cham-lo simplesmente teologia bblica.

Biobibliografia

145
Oscar Cullmann nasceu em Strasbourg em 25 de fevereiro de 1902. Sua cidade natal
encontrava-se ento sob o domnio alemo h trs dcadas, mas continuava mantendo o seu
carter francs. A famlia Cullmann vivia na Alscia setentrional, que metade protestante e
metade catlica. Os pais de Oscar pertenciam religio luterana e foi nela que educaram o
filho.
Cullmann recebeu sua primeira educao escolar em Strasbourg. Com apenas
dezesseis anos de idade, leu os clebres Discursos sobre a Religio de Schleiermacher,
assimilando as doutrinas do liberalismo teolgico, que na poca ainda continuava dominando
a cena.
Durante seus estudos teolgicos, permaneceu sob a influncia da teologia liberal at
ler a obra-prima de Albert Schweitzer, A Busca do Jesus Histrico. A leitura dessa obra,
confessa Cullmann, abriu-me os olhos, fazendo-me ver que o estudo histrico-exegtico da
Bblia foi trado no s pela Ortodoxia, mas tambm, ainda mais gravemente, em poca
recente, pelas correntes filosficas em voga. Por isso, recebi o surgimento da Formgeschichte
como uma libertao. Os estudiosos anteriores haviam tentado fazer distines entre
elementos essenciais e no-essenciais, genunos e esprios, recorrendo amide a critrios
deduzidos de diversas filosofias. Ora, a arbitrariedade dessas tentativas foi colocada em
evidncia e a investigao foi endereada para as leis das formas (Formgesetzen) e para os
motivos da f (Glaubensmotiven) que esto por trs da tradio
Obtido o bacharelado em teologia, em 1924 torna-se instrutor de grego e latim na
cole de Batignolles, em Paris. Ao mesmo tempo, prossegue seus estudos teolgicos, em
parte na Sorbonne, com Goguel, Lods e Guignebert, e em parte na cole des Hautes-
tudes, com Loisy. Aquele ano passado naquele centro de estudos to altamente
estimulante foi o mais fecundo de todo o meu perodo de preparao.
Em 1926, retornou a Strasbourg para assumir a direo dos estudos no seminrio
teolgico daquela cidade, o clebre Thomasstift. Durante esse perodo, comeou suas
pesquisas sobre as cartas pseudoclementinas; seus estudos se concluram em 1930, com a
publicao de um ensaio bastante importante. No mesmo ano, foi nomeado professor de Novo
Testamento no Thomasstift.
Em 1938, devido reputao que obtivera como estudioso do Novo Testamento e da
histria da Igreja primitiva, foi convidado a suceder E. Vischer na Universidade de Basilia.
Apesar de seu apego cidade natal, Cullmann aceitou o convite, considerando a importncia
da ctedra que lhe era oferecida e as vantagens culturais que a cidade de Basilia lhe oferecia.
146
Mais tarde, assumiu trs postos acadmicos tambm em Paris: em 1949, a ctedra de
Histria da Igreja Primitiva na cole des Hautes-tudes; em 1950, a ctedra de Novo
Testamento na Facult Libre de Thologie Protestant; por fim, em 1953, a ctedra de
Cristianismo Primitivo da Faculdade de Filosofia da Sorbonne. Em seguida, leciona tambm
no Seminrio Valdese, de Roma. Tanto em Paris como em Roma, trava contato com
muitos estudiosos catlicos, com os quais empreendeu um fecundo dilogo ecumnico. Sua
atividade ecumnica chegou ao pice durante o Conclio Vaticano II, do qual participou na
qualidade de observador. Sua contribuio ao Conclio foi das mais apreciadas. Tanto J oo
XXIII como Paulo VI expressaram-lhe seu vivo reconhecimento. De sua parte, Cullmann
dedicou o seu ltimo livro, O Mistrio da Redeno na Histria, ao Secretariado para a
Unidade dos Cristos, em sinal de gratido pelo Convite para participar, na qualidade de
hspede e observador, do Conclio Vaticano II, e como contribuio ao dilogo entre os
cristos das vrias confisses, na f e na esperana de que mesmo aquilo que nos divide
contribua para o prosseguimento da histria da salvao, 'ondulante' e cheia de desvios.
Desde 1941, Oscar Cullmann diretor do Theologisches Aligemeine de Basilia,
onde anualmente so hospedados 25 estudantes de teologia provenientes do exterior. Exerce
suas funes com o maior agrado e dedicao. Cullmann considerado um excelente
formador de mentes teolgicas, sabendo dirigir as jovens mentes dos seus estudantes para
aqueles campos para os quais so mais dotadas.
A estima, o respeito e o afeto de que goza Cullmann junto aos seus colegas so
evidenciados pela publicao de um Freundesgabe, organizado por W. C. van Unnik,
intitulado Neotestamentica et Patristica, que rene 29 ensaios de tema patrstico e
neotestamentrio compilados por estudiosos catlicos e protestantes da Europa e dos Estados
Unidos. O livro foi oferecido a Cullmann por motivo do seu sexagsimo aniversrio.
A primeira publicao de Oscar Cullmann foi um artigo de 1925 intitulado Les
Rcentes tudes sur la Formation de la Tradition vanglique (na Revue dHistoire et de
Philosophie Religieuse, 1925, pp. 459-477; 564-579). A esse ensaio, com o qual penetrava
imediatamente em seu terreno preferido, seguiu-se um crescente nmero de artigos,
monografias e livros sobre os mais variados temas de teologia neotestamentria, histria, da
Igreja primitiva e liturgia.
Os escritos que deram a Cullmann sua celebridade inicial pertencem ao campo
litrgico. Entre eles, os mais dignos de nota so: La Signification de la Sainte Cne dans le
Christianisme Primitif (na Revue dhistoire et de Philosophie Religieuse, 1936, pp. 1-22);
Urchristentum und Gottesdienst (Zwingli, Zurique, 1944); Die Tauflebre des Neuen
147
Testaments, Erwachsenen und Kindertaufe (A doutrina do Batismo no Novo Testamento
Batismo das Crianas e dos Adultos, Zwingli, Zurique, 1948).
Ao campo dos estudos sobre a histria da Igreja primitiva pertencem, entre outros: sua
tese de doutorado, Le Problme Littraire ei Historique du Roman Pseudo-Clmentin (Alcan,
Paris, 1930), que, como diz o subttulo, precipuamente um estudo sobre relaes entre
gnosticismo e cristianismo judaico; e o famosssimo Petrus Jnger, Apostei, Martyrer
(Zwingli, Zurique, 1952).
Ao campo da teologia neotestamentria pertencem quatro grandes obras-primas: Les
Premires Con/essions de Foi Chrtiennes (P.U.F., Paris, 1943); Christus und die Zeit
(Evangelischer Verlag, Zurique, 1946; Die Christologie des Neuen Testaments (Mohr,
Tbingen, 1957); Heil ais Geschichte. Heilsgeschichtliche Exislenz im Neuen Testament
(idem, 1965). Os ltimos trs livros formam uma trilogia que tem por tema a essncia do
cristianismo. J o primeiro representa uma confirmao da tese da trilogia, atravs da
investigao das primeiras confisses crists.
Em Les premirs Con/essions de Foi Chrtiennes, Cullmann estabelece que o primeiro
Credo da Igreja era exclusivamente cristolgico e que nele Cristo era representado como
centro da histria, tanto em relao ao passado (Criao) como em relao ao futuro (Fim do
Mundo).
O tema de Christus und die Zeit a busca do elemento central da mensagem crist. O
resultado de seu estudo que o elemento central J esus Cristo: nele est centrada e
recapitulada toda a obra soteriolgica. Irradiando-se desse centro, a luz ilumina o tempo
anterior criao e a prpria criao, remontando assim a um passado ainda mais remoto. A
histria completa da salvao, que constitui o desgnio de Deus, est virtualmente contida
nesse nico evento: todo o passado dessa histria da salvao tende a essa interveno, dele se
origina todo o presente e ele representa na sua realizao universal e permanente todo o futuro
da redeno.
Em Die Christologie des Neuen Testaments, Cullmann examina os principais ttulos
dados a J esus no Novo Testamento. E insiste na importncia cristolgica dos ttulos de
Profeta e Sumo Sacerdote. Examinando os ttulos de Servo de Deus e Filho do
Homem aborda tambm o problema da autoconscincia de Cristo. Atravs dos ttulos de
Messias e Filho do Homem, ilustra a obra futura de Cristo; atravs dos ttulos de
Senhor e Salvador, ilustra sua obra presente; atravs dos ttulos de Logos e Filho de
Deus, esclarece a sua preexistncia. Vez por outra, localiza as fontes gregas dos nomes e
examina criticamente cada texto bblico em que o ttulo aparece.
148
Em Heil ais Geschichte, sua ateno volta-se do centro, ou seja, de Cristo, para toda a
histria da salvao, para provar, contra Bultmann, que toda ela faz parte do ncleo essencial
da mensagem crist e no de modo algum um elemento de superestrutura mstica, como
sustenta o telogo de Marburg. Cuilmann insiste em que a existncia crist e a histria da
salvao (Heilsgeschichte) so inseparveis.
O chamado f e a nova autocompreenso sobrevm porque ocorreram fatos
histricos completamente fora do homem e estranhos a ele. A f nada mais do que a
disposio a deixar que minha existncia seja julgada e plasmada por tais fatos: testemunho
para a histria da salvao. Tanto para a Igreja como para o mundo, a histria da salvao
permanece como a norma. Heil als Geschichte tem cerca de 350 pginas e passa em revista
toda a discusso recente sobre os temas da escatologia, da apocalptica, do mito e da histria.
Contm ademais captulos sobre os Evangelhos, a Igreja primitiva, So Paulo e So J oo. A
parte conclusiva, intitulada Mirada Histria dos Dogmas e Sistemtica: a Histria da
Salvao e a poca Ps-bblica, estuda as implicaes teolgicas e sistemticas da doutrina
da histria da salvao.
s relaes de J esus com os ambientes polticos e religiosos de sua poca so
dedicados os ensaios: Jesus und die Revolutionren Seiner Zeit, de 1970 (trad. bras.: Jesus e
os Revolucionrios de seu Tempo, Vozes, Petrpolis, 1972) e Der Johannische Kreis, de
1975.
Nos dados biogrficos, j falamos da ao desenvolvida por Cullmann no campo
ecumnico. Mais ou menos diretamente, contribuiu com todos os seus escritos para a causa da
unio dos cristos. Entretanto, no opsculo Katholiken und Protestanten. Em Vorschlag zur
Verwirklichung Christlicher Solidaritt (Reinhardt, Basilia, 1968), props-se especialmente
uma finalidade especificamente ecumnica. Nessas pginas, pede o encontro entre os cristos
no terreno da caridade e os convida a restabelecerem a coleta para os pobres que existia na
Igreja primitiva, uma coleta a ser feita indistintamente entre catlicos e protestantes e para ser
utilizada tanto em benefcio de uns como de outros.


W. PANNENBERG
a prioridade pertence f, mas o primado esperana

A ao da esperana crist sobre o mundo histrico em sentido contestatrio
concepo que tambm pode ser encontrada em Wolfhardt Pannenberg (nascido em Sttin em
149
1928, professor de teologia em Munique). Nos Fundamentos da cristologia (1964), embora
centrando sua ateno no estudo do Cristo histrico como fundamento da f crist,
Pannenberg j sustentava que a cristologia no se encerra no passado, mas se abre para o
futuro.
Escreve ele: preciso ser claro sobre o que est em jogo quando discutimos sobre a
verdade da espera apocalptica de juzo futuro e da ressurreio dos mortos: encontramo-nos
diante dos fundamentos da f crist. Sem o horizonte da espera apocalptica, no
conseguiremos compreender por que J esus deveria ser a revelao final de Deus, por que
Deus se teria manifestado nele e s nele. (...) Se esse horizonte desaparece, reduz-se a base da
f, a cristologia torna-se mitologia e deixa de haver qualquer continuidade com J esus e o
testemunho dos apstolos.
Como se pode bem ver, portanto, a cristologia de Pannenberg pe desde o incio a
esperana como o seu fulcro. E esse fato aparece em toda a sua explicitude no seu ensaio
intitulado O Deus da esperana (1967). Afirma Pannenberg que o deus do tesmo tradicional
um ser ao lado dos outros seres e que, por isso, a crtica filosfica, de Nietzsche a Sartre,
ataca a finitude e o antropomorfismo do Deus dos filsofos. Entretanto, essa crtica no ataca
em nada o conceito bblico de Deus, isto , o Deus das promessas, que leva a novo futuro na
histria, Deus do Reino futuro que cunhou a experincia do mundo e a situao humana.
Substancialmente, para Pannenberg, se o regnuin venturum for biblicamente
caracterizado como reino de Deus, ento teremos esse primado ontolgico do futuro do reino
sobre todo o real presente e tambm sobre o presente psquico. Com efeito, biblicamente o ser
de Deus e o ser do reino so idnticos, porque o ser de Deus o seu poder.
Deus, portanto, a potncia do futuro. E, seja como for, no mais concebvel um
absoluto em forma de realidade presente, pelo fato de que tudo o que existe j e, em
princpio, pode ser superado. Estamos, pois, s voltas com um Deus e com um futuro como
o seu modo de ser constitutivo; por isso, no podemos voltar concepo do tesmo
tradicional, do Deus afastado da histria humana, posto que no se podem isolar as
manifestaes de Deus do prprio Deus. Escreve Pannenberg: O Deus da Bblia Deus
somente enquanto se revela como Deus: ele no seria Deus do universo se no fosse senhor
do universo. Ora, para a expectativa de Israel e do Novo Testamento, essa senhoria coisa do
futuro (...). E, como potncia do futuro, o Deus da Bblia e ser superior a todo discurso
sobre ele, j tendo superado todo conceito de Deus.
O importante, continua Pannenberg, que a potncia do futuro tem precisamente a
caracterstica de libertar o homem dos laos do presente para o seu futuro e para a sua
150
liberdade. Somente a potncia do futuro pode ser objeto da esperana e da f. Porque o futuro
produz as foras aptas a super-lo. Em substncia, na opinio de Pannenberg, a f diz
respeito ao futuro. E, em sua essncia, o futuro confiana: a confiana volta-se
essencialmente para o futuro, sendo justificada ou frustrada pelo futuro. Mas no se tem
confiana cegamente e sim com base em algo de tangvel no qual consideramos poder confiar.
A verdadeira f no cega credulidade. Os profetas puderam conclamar Israel a ter confiana
nas promessas de J av porque Israel j havia experimentado, durante longa histria, que podia
confiar nesse seu Deus. E o cristo empenha a sua confiana, a sua vida e o seu futuro pelo
fato de que Deus se revelou na sorte de J esus.
Desse modo, o cristo toma-se partcipe da glria de Deus somente se deixar atrs de
si o que j e o que encontra como condio do seu mundo, no atravs da fuga do mundo, e
sim atravs da mudana ativa do mundo, que expresso do amor divino, do poder do seu
futuro sobre o presente, atravs da sua mudana para a glria de Deus.



TEOLOGIA NORTE AMERICANA

Teologia em grego, significa Discurso sobre Deus.
Discorrer sobre Deus, como claramente atesta a histria do pensamento humano, uma
atividade conatural ao homem. Este, em todo o tempo e lugar, procurou explorar a realidade4
divina e definir a relao do prprio ser com o de Deus.
Porm, o discurso sobre Deus conquistou uma expresso nova mais rica e profunda no
cristianismo. Aqui a Teologia j no parte como no pensamento grego e nas outras culturas
pags, de proposies elaboradas pela inteligncia humana, mas de verdades recebidas da
revelao divina. Por isso, no cristianismo, a Teologia, mais do que um discurso sobre Deus,
torna-se um discurso sobre a Palavra de Deus. O seu objetivo compreender e aprofundar o
sentido de tal palavra, valendo-se dos instrumentos de auto compreenso de que o homem
dispe. Mas, dado que tais instrumentos mudam de uma poca para outra e de um continente
para outro, segue-se logicamente a formao de uma grande variedade de discurso sobre
Deus, isto , de Teologias.
Um dos mais surpreendentes fenmenos dos ltimos anos o interesse sempre mais
vivo que os leigos vm demonstrando pelas questes religiosas e teolgicas, no apenas da
prpria igreja, mas tambm de todas as igrejas. E religies, indistintamente. Hoje, no s os
151
sacerdotes e telogos de profisso, mas tambm os literatos, os jornalistas, os universitrios,
os operrios e as donas-de-casa tratam de assuntos com Deus, Cristo, a eucaristia, o
sacerdcio, o celibato-eclesistico, o ecumenismo e as condies de salvao dos no cristos.
Tais assuntos so tratados e discutidos, muitas vezes animadamente, no apenas nas igrejas e
nos seminrios mas tambm nos sales, nos trens e nas praas, diversas so causas que se
situam na origem desse singular fenmeno.
No sculo XX, a teologia esta atravessando um momento propcio em todas as igrejas
crists. A Teologia Norte Americana, possui vrias correntes teolgicas, como por exemplo:
O Fundamentalismo, Teolgica Emprica, teolgica da esperana, Teologia Ortodoxa,
Teologia Liberal, Teologia da Morte de Deus. Essas so algumas vertentes de destaque, na
Teologia Norte Americana.
A necessidade, de um conceito claro de fundamentalismo urgente como se constata
nos ltimos anos. O termo, fundamentalismo vem sendo prodigamente empregado em
situaes variadssimas, tanto no campo religioso como no poltico. Fundamentalismo
aparece. s vezes, como sinnimo de conservadorismo, sectarismo e fanatismo, como
movimento ou corrente amarrados a modelos culturais e religiosos do passado, fechados aos
valores do mundo moderno e at mesmo s cincias. Tanto se fala fundamentalismo que esse
termo j est infeccionado. Em geral, carrega uma carga negativa e conotao pejorativa.
Fundamentalista seria o fantico, o sectrio, o intolerante, o conservador, o autoritrio, o
totalitrio, e sempre so os outros. Por causa disso at os clssicos representantes desse
movimento no protestantismo de hoje preferem o ttulo de envanglico-conservador, ao de
fundamentalista. H. King e J . Moltmann, discorrendo sobre o termo, afirmam que
originariamente, fundamentalismo designava determinada corrente do protestantismo
americano que se opunha a qualquer adaptao moderna e liberada, igreja inovando os
fundamentos bblicos da f crist: fundamentos da f interpretados de maneira bem
arbritrio. Mas, admitem que, analogamente, ... encontram-se sintomas e desdobramentos
fundamentalistas. Tambm no mbito do catolicismo e da ortodoxa oriental e que o termo ...
foi aplicado tambm a correntes reacionrias no islamismo e no judasmo.
H quem prefira falar em famlias fundamentalistas daquilo que at hoje foi afirmado
sobre o fundamentalismo, muito o relaciona com o processo da modernidade, sobretudo como
uma reao religiosa a todo e qualquer tipo de modernizao. Entretanto, afirmar que o
fundamentalismo surgiu na estira da modernidade e muito pouco. Quase tudo o que existe
atualmente no mundo cultural e social foi gerado na modernidade, ou produzido por ela
diretamente ou gerado indiretamente, talvez como reao a ela.
152
Sendo um movimento globalizante, a modernidade contagia a sociedade inteira, as
formas de vida social, as mentalidades e o campo rigorosamente religioso.
O fundamentalismo vem associado tambm com a Era da Ps-modernidade.
Nostalgia Religiosa da poca ps-moderna ser oferecida uma soluo que, para alguns pode
ser chamada de polifundamentalismo.
Buscando uma experincia religiosa vivida intensa, o polifundamentalista, aberto e
disponvel a todas as opes, identifica a seriedade com a brincadeira. Assustado com as
conseqncias da modernidade, o homem ps-moderno procura a unidade com a natureza,
tentando curar as feridas que a modernidade causou ao corpo e a alma do mundo,
perseguindo uma nova totalidade, dando um salto livre em direo a outras culturas e novas
pocas. Moltmann, entende que os fundamentalistas no reagem s crises do mundo
moderno, mas s crises que o mundo moderno provoca em sua comunidade de f e em suas
convices bsicas.
Seu grande inimigo o liberalismo/ pluralismo diante da moderna subjetividade do
homem e das liberdades individuais, os fundamentalistas colocam na autoridade divina a
segurana de sua f alm disso, no suportando a secularizao do estado, da educao e das
cincias, buscam restabelecer o estado confessional homogneo. E se resgatar as
identidades tradicionais.
A identidade fundamentalista uma identidade ameaada, amedrontada, cheia de
incertezas e por isso, uma identidade que reage agressivamente, identidade definida pela
delimitao ou negao de inimigos reais ou supostos, atesta Moltmann.
Alguns autores preconizam que o fundamentalismo negao da modernidade s na
retrica. Outros afirmam que o fundamentalismo diferente do tradicionalismo, o
fundamentalismo um fenmeno moderno pois rejeitam alguns aspectos da cosmoviso
moderna, como o pluralismo, o cosmopolitismo, a racionalidade, o progressismo e o
secularismo, mas beneficiam e se apropriam dos instrumentos tcnicos modernos.
Portanto, o fundamentalismo entende-se comumente, o movimento ultraconservador e
autoritrio, surgido em certos meios protestantes, que em reao ao modernismo teolgico e
religioso prega como fundamentos inabalveis da f verdades tradicionais de sua confisso. A
designao fundamentalismo, deriva da preocupao em manter como absolutos os
fundamentos doutrinais confessionais, aos quais se agarram inteiramente, excluindo toda
interpretao crtica do texto. Esse movimento irrompeu nos EUA, no incio deste sculo.
O liberalismo teolgico tem levado os homens a pensarem sobre as questes religiosas
em termos diferentes do que quando se pensa nelas atravs de textos de prova bblicos. Esse
153
modo de pensar j vinha sendo experimentado na teologia, quanto as suas possibilidades, em
outras palavras, foi demonstrado que h certos aspectos da Teologia que ultrapassam e at
contradizem a Teologia Bblica, visto que a busca pela autoridade no cessa com a Bblia.
Dentro desse contexto, a Teologia Emprica foi capaz de surgir em cena, no comeo do sculo
XX, a base do pensamento teolgico liberal e emprico, encontra-se a crena de que a
revelao embora seja uma maneira possvel de se tomar conhecimento das coisas, em si
mesma imperfeita, por ser incompleta e que nossas maneiras de tomar conhecimento das
coisas precisam ser completas, porquanto a prpria verdade complexa. Para extrair a
verdade de toda essa complexidade precisa de experimentao, de exame e de um longo
processo de separao entre o bem e o mal. E, quanto a muitos pontos, chegar a certas
concluses tentativas e temos de dar prosseguimento s nossas experimentaes. Portanto, a
Teologia tranforma-se em uma outra cincia, ao invs de ser a rainha dogmtica, perfeita,
inquestionvel das cincias.
Os telogos empricos estavam ocupados em uma nobre inquirio, apesar dos erros que
porventura tenham feito. Estavam tentando responder s perguntas feitas pelo atesmo e pelo
humanismo. Empregavam mtodos histricos crticos e sistemtico construtivos e mostravam-
se essencialmente apologticos. A tarefa deles consistia em interpretar o cristianismo de tal
modo que viesse a tornar-se inteligvel e eficaz em uma poca cientfica-industrial. Todas as
tentativas nesse sentido, sem importar o bem nelas embutido, terminaram em exageros e
pontos dbeis em primeiro lugar, no h como submeter uma pessoa extraordinria e poderosa
como J esus Cristo a teste de laboratrio. Ele est acima da cincia porque existem poderes
espirituais que zombam da infalibilidade do nosso conhecimento cientfico.
Um dos principais centros de teologia emprica foi a Diviwity School da Universidade
de Chicago, nos Estados Unidos da Amrica do Norte, encabeada por Shailer Matthews, ele
formou-se no Colby College e no Wewtow Theological Institute e Deu Prosseguimentos de
histria e de economia poltica na Alemanha. Foram vrias as escolas empricas nos EUA,
esse movimento influenciou a maneira de pensar de muitos estudiosos que no aceitavam
plenamente os pontos que ele defendia geralmente. Esse o uso que emerge de novos
movimentos e maneiras de pensar. Alguns pensadores, assim influenciados, penderam para
idias neo-ortodoxas Reinhol e R. Richard Niebulfr, atacaram as bases da Teologia emprica,
enfatizando a f pura como a base do pensamento e da ao religiosa.
A Teologia da esperana tem sido articulada nos Estados Unidos por dois telogos
luteranos: Carl Braatem e Robert J ensow, cujas obras muita coisa tem feito para popularizar o
novo movimento. A teologia da esperana, com sua chamada eventual por uma tica ativista,
154
talvez provasse finalmente ser mais bem sucedida na disposio mental utilitariana. A
teologia americana do pensamento refletido na Europa onde foi engendada. A traduo de
muitos dos escritos Alemes para o ingls ainda no est completa de modo que o impacto
total sobre a Teologia dos Estados Unidos ainda h de ser sentido.
Sua base filosfica-Teolgica talvez se revele por demais etrea. Mas sua chamada
ao talvez venha a ser ouvida.
Diferentemente de outros movimentos teolgicos que podem ser analisados e divididos
nas categorias tradicionais da Teologia exegtica, dogmtica e histrica, a Teologia da
esperana abrange mais do que geralmente se reconhece como sendo Teologia, falando a rigor
sua orientao secular permite que seja combinada com qualquer nmero de matrias,
inclusive a poltica e a biologia no corao da Teologia da esperana, h uma instabilidade
filosfica bsica que no semente procura, como tambm requer, a satisfao futura num
nmero indefinido de combinaes futuras. O futuro sem definio uma das suas marcas
registradas. Por exemplo, a Teologia da Esperana j se expressou em termos polticos como
sendo a Teologia da Revoluo. Realmente no h aspecto da vida secular que seria excludo
do seu plano nos impactos.
Escatolgicos do Antigo e Novo Testamentos, e procura torn-los aplicveis ao modo
da igreja entender a si mesma e sua misso ao mundo. Porque entender a realidade a partir da
perspectiva da escatologia, o movimento tambm chamado Teologia futurista, com seu
poderoso avano para o futuro na sua busca da realidade, v-se como reao imediata ao
subjetivismo melanclico e pessoal da Neo-ortodoxia. Que dominada a Alemanha desde que
Karl Barth chegou a uma posio de destaque nos dias aps a primeira guerra mundial, e que
paulatinamente se apoderou dos Estados Unidos. A Teologia no to estreita que se limite a
um relacionamento eu-tu. Para o mundo religioso, a Teologia da Esperana a recusa do
pblico a aceitar como definitiva o veredito dos telogos de Deus-esta-morto da dcada de 60.
A Qualidade irrevogvel naquele veredito, declarado de modo to positivo e dogmtico, era
simplesmente inaceitvel para os telogos que ainda se viam desempenhando um papel na
igreja e no mundo. Os telogos futuristas deixaram para trs o sepulcro cavado para Deus e
fecharam seus ouvidos a ewdecha funrea. O crepe preto foi guardado numa gaveta. No
que os telogos da esperana desconhecessem as evidncias dos enterradores de Deus, nem
que negassem que uma era secular realmente chegara, mas esperavam que pudessem utilizar
as evidncias negativas para produzir resultados mais esperanosos e positivos. O humanismo
dos telogos de Deus-est-morto veio a ser a sementeira em que a Teologia da Esperana
deitaria razes.
155
O sculo vinte foi a grande exploso na Teologia Amrica, que fez teologias, das mais
diversas interpretaes. O surgimento da Teologia Radical se deus durante a metade do
sculo XX, teve como causa principal a tomada de consciencia por parte dos estudiosos do
fato de que os instrumentos hermenuticos de que se tinham valido os telogos dos sculos
anteriores, e os catlicos descobriram um instrumento hermenutico apropriado.
No Neotomismo ao passo que os protestantes o encontraram no existencialismo,
grandes telogos catlicos optaram pela hermenutica neotomismo enquanto os grandes
expoentes telogos protestantes encontraram no existencialismo, e durante algum tempo essas
interpretaes pareceram corresponder s exigncias do homem hodierno, precisamente
porque lhe propunham a mensagem crist por meio das categorias de que ele normalmente se
servia na compreenso de si mesmo e do mundo.
Mas apartir dos anos cinqenta tanto o neotomismo como o existencialismo comearam
a acusar uma grave crise j nem um nem outro correspondiam a situao social, a viso das
coisas, experincia de si e da realidade que o homem do nosso tempo estava fazendo assim
novos sistemas filosficos, como o neopositivismo, o marxismo, esotrico, o estruturalismo,
suplantavam rapidamente os sistemas que tinham estado no auge durante a primeira metade
do sculo.
A mudana de clima cultural imps aos telogos um novo e comprometedor arabasto de
renovao. Realizaram-no excogitando novas interpretaes da mensagem crist valendo-se
de uma ou de outra das citadas filosofias mais recentes, e vrias foram as idias e tentativas
ousadas nesse sentido, uma delas foi feita pelos telogos da morte de Deus. Teve lugar nos
EUA nos anos sessenta com a expresso, Teologia da morte de Deus. Costuma-se designar
um movimento de pensamento que se desenvolveu nos Estados Unidos, e que teve larga
ressonncia e considervel influxo. Tambm na Europa, durante os anos sessenta outras
expresses empregadas para denominar o mesmo movimento so, teologia radical, teologia
secular, atesmo cristo, neo-arawismo, teologia sem Deus, cristianismo no religioso. No h
dvida que entre tantos, agora numerveis movimentos teolgicos do nosso sculo o que
despertou maior sensao nos EUA e atingiu mais velozmente altos ndices de notoriedade foi
a teologia da morte de Deus.
Embora o movimento tenha tido uma origem repentina e aparentemente por acaso, mas
em conseqncia de causas bem determinadas, algumas das quais provm do campo
filosfico, outras do campo teolgico. Do campo filosfico, o que mais contribuiu para o
desenvolvimento da teologia da morde de Deus foi o positivismo lgico, uma filosofia da
156
linguagem que teve larga aceitao nos pases anglo-saxos durante os anos cinqenta e
sessenta.
No campo teolgico, a teologia da morte de Deus foi preparada por algumas doutrinas dos
maiores telogos protestantes do nosso tempo, Barth, Bultmann, Tillch, e Bowhoeffer..
A teologia radical tambm teve Harvey, americano brilhante, mas irrequieto,
fortemente sensvel aos sinais do nosso tempo, o qual considerava a teologia no como um
saber absoluto dogmtico, que se pode definir de uma vez para sempre, mas como um saber
contnuo movimento, quanto deve constantemente apartar a palavra de Deus s situaes.
Cambiantes da cultura humana em um de seus livros Cox defende a tese que a
civilizao urbana e a religio tradicional declinaram ao mesmo tempo. O homem
contemporneo o habitante da tecnpole para quem a cidade o mundo e o mundo a cidade,
e no que a religio a metafsica esto a desaparecer para sempre.
A secularizao a ruptura de todos os mitos sobrenaturais e smbolos sagrados
representa a desfatalizao da histria; a descoberta pelo homem de que foi deixado com o
mundo nas mo, e de que no pode mais culpar a fortuna ou as frias pelo que faz. A
secularizao ocorre quando o homem desvia a sua ateno dos mundo do alm e a volta para
este mundo e este tempo. Segundo Cox, a secularizao no tem por efeito a morte de Deus
mas antes a purificao da nossa f. Por isso telogo no deve combater, mas antes favorec-
la, para ele o telogo deve falar de Deus de maneira secular e encontrar uma interpretao no
religiosa dos conceitos bblicos.
Mas de todos os telogos americanos no poderia deixar de falar de Dr. Martin Luther King.
Pastor batista, prmio Nobel da Paz, um dos principais lderes do movimento americano pelos
diretos civis e defensor da resistncia no violenta contra a opresso racial.
Lutou por um tratamento igualitrio e fraterno para todos os brancos e negros. Ensinou
a teologia do amor teologia da solidariedade nos EUA. Como no mundo, deixando para
todos os telogos o exemplo de um comprometido com Deus e que nunca podemos deixar de
sonhar.

Bibliografia:

1. KING, Hans, Contra o Fundamentalismo Romano. Catolicismo Hodierno/ In Concilum,
241 (l992)- 149-160
2. (IBLD)
157
3. MOLTMANN, J urgen, fundamentalismo e Modernidade. In Concilium, 141 (1992/3)
141-148
4. Id. 145
5. Id. 146
6. Campliw, 490 Teologia e filosofia
7. H, Cox a Cidade do Homem, Paz e Terra . Rio, 1968, p 12.
8. Ib,dem p.14


TELOGOS NORTE-AMERICANOS

GABRIEL VAHANIAN
158


Biobibliografia

Gabriel Vahanian professor da Siracuse University (N.Y) sempre protestou contra
aqueles que quiseram fazer dele um telogo da morte de Deus. E, contudo, contribuiu
notavelmente para a publicidade e para a difuso do movimento da Teologia Radical
com o livro A Morte de Deus e por esse motivo os estudiosos tm razo em associa-lo aos
ateus cristos. Contudo, preciso reconhecer que ele no , de modo nenhum um
defensor dessa teologia, sendo antes um crtico severo. Em seu livro descrevia um
fenmeno cultural que a civilizao do sculo passado estava vivendo, o eclipse de Deus.
Isto devido ao processo de imanentizao do mundo moderno e cultura que deste
nasceu. a noo de Deus que est morta; para que readquira significado preciso uma
revoluo cultural que restitua a Deus o primado que a Sagrada Escritura lhe atribui.
Contra quem tenta transformar o fenmeno cultural da morte de Deus num princpio
dogmtico, ele declara: A morte de Deus tem sentido e constitui um acontecimento
libertador s se for considerada como um fenmeno cultural. Mas afirmar que um fato
histrico, melhor dizendo, um fenmeno cultural, como tal, isto , em si mesmo e por si
mesmo, exija de modo total e exclusivo a minha existncia total, equivale a transforma-
lo num novo absoluto, um dolo... No vejo como, transformando um acontecimento
cultural num artigo de f, nos colocar numa atitude que seja diversa, um pouco sequer,
do antigo creio porque absurdo.34
Contra o dogma fundamental dos telogos da morte de Deus, segundo os quais para
salvar o cristianismo preciso renunciar a Deus, Vahanian defende que no pode haver
autntica f crist se no em quem cr no Deus da Sagrada Escritura. Portanto, a sua
tese no que Deus esteja morto, mas sim a cultura crist: de h sculos a cultura
afastou-se do cristianismo e tornaram-se vs todas as tentativas de liga-la a ele. Por isso,
hoje, encontramo-nos, numa era ps-crist. Tal situao, porm, fazendo sua uma tese
capital de Karl Barth, no tem nada de dramtico ou de censurvel, porque a f
essencialmente estranha cultura, mais, -lhe naturalmente contrria.
Na sua obra No Ters Outro Deus (1966) esclarece que no prprio ttulo retifica as
ambigidades do ttulo de 1961, A Morte de Deus. Ao contrrio, assumia o fenmeno cultural
da morte de Deus, aceitando-o como artigo de f; isto porque a tarefa da teologia no

34
MONDIN, Battista. As Teologias do Nosso Tempo. 47 p.
159

declarar a morte de Deus, mas ela tem uma funo iconoclasta contra as infinitas e
freqentes idolatrias que se escondem sob o nome de Deus e por trs do rtulo cristo.

HARVEY G. COX

Biobibliografia

Harvey G. Cox nasceu em Boston, em 1929, foi um jovem telogo brilhante, mas
irrequieto, fortemente sensvel aos sinais culturais do nosso tempo, o qual considera a teologia
no como um saber absoluto dogmtico, que se pode definir de uma s vez para sempre, mas
como um saber em contnuo movimento, enquanto deve constantemente adaptar a Palavra de
Deus s situaes cambiantes da cultura humana. Em virtude de tal conceito da teologia
fcil compreender como Cox em menos de um decnio pde tornar-se promotor de quatro
orientaes teolgicas tendo muito pouco de comum: teologia radical, teologia da esperana,
teologia cmica (ldica) e teologia popular.
Ele prope o retorno da discusso sobre a secularizao, atravs de um intenso debate
com o seu livro A Cidade Secular (1965), em que o mundo tornou-se no apenas tarefa, mas
tambm responsabilidade do homem. Isto porque o homem tornou-se cosmopolita.
A Teologia da morte de Deus, em Cox, est representada pelos livros A Cidade do
Homem e O Cristo como Rebelde. Cox defende neles a tese de que a civilizao urbana e a
religio tradicional declinaram ao mesmo tempo; o homem contemporneo o habitante da
tecnpole, para quem a cidade o mundo e o mundo a cidade, e no que a religio e a
metafsica esto a desaparecer para sempre. O homem moderno est essencialmente
secularizado; um homem livre do controle religioso e metafsico sobre a sua mente e sobre
a sua linguagem, mas no um homem ateu.35
Com efeito, a secularizao, segundo Cox, tornando o homem mais adulto, mais
consciente de suas capacidades, do seu papel neste mundo, no o afastou de Deus, mas f-lo
compreender melhor quais so suas relaes com ele. A secularizao a ruptura de todos os
mitos sobrenaturais e smbolos sagrados, representa a desfatalizao da histria, a
descoberta pelo homem de que foi deixado com o mundo nas mos, e de que no pode mais
culpar a fortuna ou as frias pelo que faz. A secularizao ocorre quando o homem desvia a

35
MONDIN, Battista. As Teologias do Nosso Tempo. 48 p
160

sua ateno dos mundos do alm e a volta para este mundo e este mundo (saeculum =esta era
presente).
Segundo Cox, a secularizao no tem por efeito a morte de Deus, mas antes a
purificao da nossa f. Por isso o telogo no a deve combater, mas antes favorece-la. Deve
aprender a falar de Deus de maneira secular e encontrar uma interpretao no religiosa dos
conceitos bblicos. De nada valer o apego s nossas verses religiosas e metafsicas do
cristianismo, na v esperana de que um dia a religio ou a metafsica reconquistem, uma vez
mais, a sua centralidade. Antes, se tornaro at mais perifricas, o que significa que podemos,
agora, nos libertar e nos envolver no novo mundo da cidade secular.36
A teologia da Cidade do Homem tem como primeiro objetivo a busca de um novo
conceito de Deus. Cox, inspirado na Escritura, no concebe Deus como ser absoluto, imvel,
perfeitssimo, como verdade perene e imutvel, como bondade suprema e infinita, mas como
pessoa viva, como verdade que se realiza, como bondade que se comunica. O Deus da Bblia
no o Deus abstrato e sem nome, mas o Deus com quem se pode contar, que no mortifica
as possibilidades humanas, mas que refora e anima a sua criatividade e a sua capacidade de
dar ordem ao mundo.
O segundo objetivo da teologia de A Cidade do Homem fornecer critrios de ao ao
cristo que esteja no mundo. Tambm estes critrios lhe so fornecidos pela Escritura. Esta
lhe ensina a no se acomodar ao viver tranqilo, na resignao supina s situaes cmodas
ou ento de opresso. O Deus da Bblia um Deus revolucionrio que quer do seu povo
gestos revolucionrios. Isto explica porque que o cristo se apresenta como um rebelde: o
homem chegado maioridade, que no se deixa determinar pelo mundo, antes assume a
responsabilidade de governa-lo, consciente de que isto a misso que Deus espera dele. A
teologia da cidade secular deve despertar no homem este sentido perdido da responsabilidade.
Nesta mesma obra, Cox declara que passado o tempo de apresentar a mensagem
crist em categorias metafsicas ou em categorias existenciais e personalistas. Em vez da
metafsica clssica e do existencialismo moderno, para interpretar a mensagem crist sugere a
linguagem poltica, porque na sociedade secular a poltica que d unidade e significado a
vida e ao pensamento humanos.
Sendo um dos mais coloridos telogos contemporneos, lanou-se a um modo
totalmente diferente de falar teologicamente, a Teologia Popular. Em A Festa dos Folies
trabalhou de modo apaixonado a fantasia, o sentimento e as manifestaes culturais como o

36
Idem, 49 p.
161

simbolismo, a festa, o jogo, a dana que, numa sociedade secularizada, tomada pela cincia e
tecnologia, ou no encontram reconhecimento ou so completamente sufocadas. Dar vazo a
semelhantes manifestaes implica dar sentido a religio, porque esta se exprime naquelas.
Mas foi apenas em A Seduo do Esprito que ele tratou desse tema com relao a religio,
fazendo uma anlise das principais manifestaes religiosas da sociedade moderna. Ele
intenciona com isso mostrar a importncia capital reservada religio na cultura de qualquer
sociedade, defender a religio autntica, que para ele a religio popular, narrao coletiva de
um povo inteiro, no s a religio da gente comum, mas todos e quaisquer rituais e liturgias
espontneas, atacar e desmascarar as formas religiosas inautnticas e opressivas da sociedade.
Importa-se com este tema, porque nota que a religio retomada em toda parte. Da
astrologia ao Zen, do misticismo aos curandeirismos pentecostais, das danas estticas s
salmodias, estamos a assistir um vasto renascimento de energia espiritual, mesmo que este
renascimento, a mais das vezes, suceda fora das igrejas institucionais.37 Ele a define como
um entrelaado de memoriais e mitos, esperanas e imagens, ritos e hbitos que levam a vida
inteira de uma pessoa ou de um grupo a ser um todo significante... D coerncia a vida,
fornece um substrato de significados, confere unidade aos acontecimentos humanos e orientas
as pessoas no plano da deciso.38 Nesta obra ele registra a converso da secularizao para a
religio, mais precisamente do cristianismo secular para a religio popular. Cox tinha
abraado o cristianismo secular durante a ltima fase de seus estudos acadmicos na
universidade de Havard, sendo o seu mais famoso representante.
Ele tambm foi o primeiro autor importante a apoiar a teologia da esperana nos
Estados Unidos numa srie de ensaios reunidos no volume Que a Serpente no decida por
ns. Mas a sua adeso foi de pouca durao, pois apenas dois anos mais tarde lanou-se a uma
nova aventura teolgica, apresentando uma interpretao da mensagem crist em forma
ldica.

PAUL M. VAN BUREN

Biobibliografia

Paul M. van Buren, nascido em Norfolk, Virgnia, (1924 - ), foi aluno de Barth na
Basilia, atualmente bispo e professor em filosofia na Temple University (Filadlfia), um

37
Idem, 180 p.
38
Id., 181 p.
162

telogo episcopaliano. Em O Significado Secular do Evangelho, realiza uma reduo do
discurso teolgico ao discurso cristolgico, para depois descrever a confisso cristolgica em
termos puramente histricos e ticos. Foi o primeiro a defender em forma teolgica a doutrina
da morte de Deus. Partindo dos cnones do positivismo lgico, segundo o qual, podem ter
significado cognoscitivo s as proposies de carter experimental, verificveis, em ltima
anlise, pelos sentidos, Ele conclui que termos como Deus, sobrenatural, encarnao,
ressurreio e conseqentemente todas as proposies em que eles figuram, carecem de
significado: no sabemos o que Deus, e no conseguimos compreender de que modo
empregada a palavra Deus39. Portanto, se se quiser salvar a mensagem crist, preciso
expurgar o evangelho de tudo o que se refere a Deus e ao outro mundo. O cristianismo no
considera Deus mas J esus Cristo e, naturalmente, no J esus Cristo enquanto Deus mas
enquanto homem, enquanto encarna uma forma de vida de sacrifcio, de amor para com o
prximo, de liberdade do dio e das paixes. Querendo precisar o sentido do seu pensamento
teolgico, van Buren exprimiu-se assim: Procuro levantar uma questo importantssima: se o
cristianismo ou no fundamentalmente relativo a Deus ou relativo ao homem. E procuro
provar que fundamentalmente relativo ao homem, que a sua mensagem relativa a Deus
uma maneira antiga de dizer o que o cristianismo quer dizer do homem, da vida e da histria
humana... E, se compreendo bem a natureza e o desenvolvimento do cristianismo, parece-me
justo defender que considera sobretudo uma certa forma de vida: modelos de existncia
humana, normas de atitudes humanas e de conduta moral40.
Abandona a teologia secular voltando para a transcendncia radial, a qual interpela o
homem e exige dele uma resposta. Destarte uma teologia que seja ao mesmo tempo poltica
poder ser uma teologia hoje.

WILLIAM HAMILTON

Biobibliografia

William Hamilton (1924 - ), docente em Theological Seminary de Colgate-Rochester
(N.Y.), mais do que uma teologia elaborou uma tica para os cristos sem Deus. No ensaio A
Nova Essncia do Cristianismo, Hamilton sonda com muito tato os problemas que ameaam a
nossa f em Deus, sobretudo o problema da dor, que na sua opinio constitui o maior

39
Id., 50 p.
40
Idem, 51 p.
163

obstculo aceitao da imagem tradicional de Deus. Afirma, repetindo quase letra uma
famosa sentena de Dietrich Bonhoeffer: visto terem sido os cristos a mancharem-se com os
horrendos crimes de Auschwitz e Bauchenwald, quando a sua obra foi terminada, o seu Deus
tornou-se impossvel41.
A teologia de Hamilton nasce, portanto, como uma espcie de fragmentos teolgicos,
empenhada em consolar o homem no sofrimento e em apresentar uma tica do cristianismo
ateu. Trata-se, porm, de uma reflexo que no suscita angstia, porque leva o homem a
descobrir o seu lugar no mundo sem Deus, oferecendo-lhe a possibilidade de uma tica
caritativa, de uma perspectiva otimista, que tende a transfigurar as vicissitudes humanas,
como o sexo e a morte, porque v nelas a possibilidade de realizar uma troca recproca de
fraternidade e de amor entre os homens. uma tica fundada na imitao de Cristo: perdido
Deus, fica-nos a figura de J esus, assumida tambm por Hamilton, como por van Buren, como
exemplo e smbolo de solidariedade humana.
Segundo Hamilton, se a teologia reconhece a morte de Deus, a f transforma-se em
amor e a teologia em tica da responsabilidade que se orienta para figura de J esus, que indica
um lugar onde ficar. O atesmo cristo se distingue do atesmo filosfico pelo fato de se
apoiar na tradio crist, principalmente por considerar paradigmtica a exemplaridade de
J esus por sua plenitude de humanidade.
Hamilton fez algumas consideraes a respeito da Cruz. Ele entende que o mistrio da
cruz est hoje mais denso que nunca, penetrando profundamente todo o aspecto da f e da
prxis crist, a respeito disso tortura-nos o acmulo de dores e sofrimentos que pesa sobre a
humanidade atual. O que pode induzir-nos a pensar que Deus se retirou do mundo e dos seus
sofrimentos e isto leva-nos a acusa-lo ou de indiferena ou de crueldade. Mas em outro
sentido, ele experimentado como um peso e uma ferida de que desejaramos ser livres. Para
muitos de ns, que nos chamamos cristos, por isso, acreditar no tempo da morte de Deus
significa que ele est presente quando no o queremos, ao passo que pelo contrario no esta
presente quando o queremos42.


THOMAS ALTIZER
Biobibliografia

41
Id.
42
Idem, 155 p.
164

Thomas Altizer nasceu em 1927 e professor na Emory University (Atlanta), a quem
se devem as exposies de O Evangelho de Atesmo Cristo (1966) e Descida ao Inferno
(1970).
o terico mais decidido, poder-se-ia at dizer fantico, da teologia da morte de Deus.
Desta comps uma smula que leva o ttulo O Evangelho do Atesmo Cristo, ttulo
decididamente bastante eloqente. Como fundamento da sua teologia sem Deus, Altizer no
pe motivaes lingsticas como van Buren e nem ticas como Hamilton, mas um tipo de
argumentao dialtica: a necessidade do desaparecimento de Deus para que o homem possa
atingir a perfeita maturidade, possa assumir todas as responsabilidades, possa tornar-se
efetivamente rei do universo. Para tornar possvel tudo isso, para deixar espao ao homem,
para lhe conceder a maior autonomia, segundo Altizer, Deus teria decidido aniquilar-se, e ter-
se-ia de fato aniquilado mediante a paixo e morte de J esus na cruz. Por este motivo o atesmo
no teria se tornado s legtimo, mas constituiria a prpria essncia do cristianismo.
De tais premissas ele tira duas concluses. Primeira: os ateus do sculo passado e do
nosso so os representantes mais qualificados da f crist autntica. Segunda: s o claro
reconhecimento da morte real de Deus torna possvel o dilogo com o homem moderno: Se
h uma porta de entrada para o sculo XX, esta a passagem atravs da morte de Deus, do
colapso de todo significado ou realidade posta para alm da imanncia radical do homem
moderno recentemente descoberta, que faz desaparecer at a memria ou a sombra da
transcendncia43.
Quanto aplicao do principio da cruz s questes relativas a Deus, aponta que ali
ele no s se humilhou, mas aniquilou-se completamente. Morreu efetivamente por ns,
morreu como Deus para criar espao nossa liberdade para nos permitir tornamo-nos
autnomos e perfeitamente adultos.44
Para Altizer o termo o verbo se fez carne a tarefa que a teologia radical assume e
por isso precisa ser interpretada dialeticamente, neste caso significa que o Deus transcendente
desceu carne do processo do mundo e morreu como transcendncia vazia e isolada. Com
isso, a transcendncia se inverte em imanncia; o verbo se exprime, completamente, na
realidade do mundo e da histria. A figura histrica de Cristo um evento que perenemente
acontece num processo histrico, mas nesse caso a f no Cristo torna-se f num movimento
progressivo do verbo na histria.

43
Id., 52 p.
44
Id., 156 p.
165




REINHOLD NIEBUHR

Biobibliografia

Reinhold Niebuhr nasceu em Wright City, Missouri (E.U.A), no dia 21 de J unho de
1892. Seu pai se chamava Gustav Niebuhr, que era um emigrante alemo que exercia as
funes de pastor numa parquia de conterrneos seus. Seu pai bem como a comunidade de
imigrados em que cresceu, o fez assimilar as tradies e a cultura da Alemanha. O fato de que
o pai era pastor da Igreja Luterana, o qualificou na sua futura vocao teolgica. Por
influncia do pai Niebuhr encaminhou-se para a vida pastoral. Realizou seus estudos no
Elmhurst College e no Eden Theological Seminary, que eram instituies pertencentes
Igreja Luterana. Depois de ter se diplomado, foi fazer seus estudos universitrios em Yale,
que era uma universidade de Divindades.
Em Yale, Niebuhr foi influenciado pelo telogo norte-americano Macintosh que lhe
escancarou o mundo do saber filosfico e teolgico. Com dez anos de estudos, conseguiu o
ttulo de Masters Degree em filosofia. Depois disso, interrompeu os estudos por razes
econmicas e porque a Epistemologia o aborrecia.
Em 1915 ordenado ministro do evangelho numa igreja Luterana. Tornando-se pastor
de uma igreja de Detroit, onde trabalhou ininterruptamente at 1928. Foi principalmente a
experincia pastoral a grande importncia para a formao do pensamento de Niebuhr.
Segundo suas palavras, o ministrio pastoral o desenvolveu mais do que qualquer livro que
tenha lido.
Vivenciou uma perturbadora experincia em Detroit, durante seus treze anos de vida
pastoral, quando essa cidade teve uma exploso demogrfica passando de meio milho para
um milho e meio de habitantes. Essa violenta exploso demogrfica foi causada por uma
expanso industrial, tendo por conseqncia todas as injustias sociais que uma
industrializao sem critrios comporta: salrios de fome, falta de moradias, ausncias das
166

mais elementares condies higinicas, analfabetismo, dio, vinganas, criminalidade,
banditismo, etc. 1


Diante desse quadro, os seus deveres paroquiais colocaram-no diariamente em contato
e Niebuhr percebeu que o ingnuo idealismo em que a f crist se dissolvera era irrelevante
nas crises da vida pessoal bem como nas complexas questes sociais de uma cidade industrial.
Os sofrimentos e incmodos em que viviam os operrios de sua parquia forneceram a
Niebuhr a inspirao para as suas primeiras obras. Em 1927, iniciou suas atividades de
escritor com um livro entitulado A Civilizao Necessita de Religio? Suas obras iniciais,
eram inspiradas nos reformadores, em Santo Agostinho, em So Paulo, no Evangelho e no
Antigo Testamento, e mostrava a grave contradio existente entre os princpios do
liberalismo e as doutrinas da Sagrada Escritura, tornando-se o sustentculo mais decidido do
realismo bblico contra a simplista f no progresso que tomara conta de todos, Igreja e
Universidade, governo e indstrias.
Em 1928, Reinhold Nibuhr nomeado Associate Professor de Filosofia da religio no
Union Theological Seminary de Nova York. O ensino o forou a estudar. Ento, dirigiu
suas investigaes para as fontes do cristianismo. As fontes eram Lutero, Calvino, Barth e
Brunner, mas principalmente, So Paulo e Santo Agostinho. Com eles, queria respostas que
viesse libertar finalmente da noo de que f crist fosse de algum modo idntica ao idealismo
moral do sculo passado.
Da ctedra, Niebuhr lutou contra os santurios seculares das tradies do
protestantismo liberal norte-americano. Ensinava, pregava e escrevia que o homem e a
sociedade moderna esto profundamente enfermos; porque a tendncia para o mal est
inscrita na prpria natureza do homem.
Durante muito tempo, Niebuhr foi tratado comoKierkegaard, sendo acusado de
iconoclasta e subversivo. Porm, quando a teologia dialtica comeou a fazer ouvir seus ecos
nos Estados Unidos, ele comeou a encontrar admiradores e seguidores, foi conquistando
prestgio sempre maior, ao ponto de ser considerado o maior telogo produzido pelo Novo
Continente.
Em 1928, Niebuhr seguiu um curso ministrado por Brunner no Union Theological
Seminary sobre a teologia da crise. Em 1933 convidou Paul Tillich a deixar a Alemanha e se

1
Battista Mondin Os grandes Telogos doSculo XX p. 91
167
instalar no Union Theological Seminary, e durante vrios anos foi um dos mais assduos
acompanhantes de Tillich, sendo um dos mais hbeis divulgadores de suas doutrinas junto ao
pblico norte-americano; mas no totalmente, ao ponto de fazer mudanas ou at mesmo
refutar escritos de Brunner e Tillich.
Desenvolveu um tipo de teologia dialtica nova e original, transplantando seus
conceitos do discurso teolgico para o discurso da filosofia da cultura e da crtica social e
animando-os com seu esprito proftico. Desse modo, ele esclareceu tanto a essncia do
mundo atual como a da f crist. Com Niebuhr, a teologia irrompeu no mundo; saiu do
perodo de quarentena e literatos, filsofos, socilogos, historiadores e at mesmo homens
polticos comeam a prestar-lhe ateno. Com ele a teologia tornou-se novamente uma das
foras espirituais a serem levadas em conta.
Bastante ativo tambm no plano poltico, ingressou no Partido Socialista Norte-
americano, do qual saiu em 1940 para ingressar nas fileiras dos liberais. Em 1960, deixou o
ensino no Union Theological Seminary. Mas continuou escrevendo e pronunciando
conferncias, at poucas semanas antes de sua morte, que ocorreu em 1o de J unho de 1971.
Escreveu uma vasta produo teolgica mas emergem trs obras maiores: Moral Man
and Immoral Society aborda o problema da licitude da revoluo. Segundo ele, o que
condenvel sempre e em toda parte a vontade m e no a violncia.
Em The Nature and Destiny of Man e em Faith and History, confronta as concepes
clssicas e modernas da natureza e do destino do homem e da histria com a concepo
bblica.
Alm dessas trs obras fundamentais, temos: Does Civilization Need Religion? Leaves
fron the Notebook of a Tamed Cynic; The Contributions of Religion to Social Work; Na the
Christian Interpretation of Christian Ethics; Beyond Tragedy: Essays on the Christian
Iterpretation of History; Christianily and Power Politics, idem; Reclections on the End of an
Era; Discerning the Signs of the Times: Sermons for Today and Tomorrow; The Irony of
American History; Christian Realism and Political Problems; The Self and the Dramas of
History; Structure of Nations and Empires: The Children of Light and the Children of
Darkness: Pious and Secular America.

Pensamento Teolgico

Tornou-se conhecido por seu pensamento original no campo da tica, da apologtica e
por sua participao em atividades pblicas. So trs as principais caractersticas que
168
contribuem para um melhor entendimento do seu pensamento: seu carter assistemtico, o
existencialismo e o equilbrio.
Niebuhr afirmava no ser nem pretender ser telogo, por no ser um especialista em
delicadas questes de teologia pura. Partindo da Palavra de Deus como fonte de luz e
inspirao, ele visa compreender o acontecimento pessoal do indivduo e o acontecimento
global da humanidade, mas sem se preocupar em construir uma dogmtica em que os
princpios essenciais da f sejam dispostos em ordem lgica e coerente.
O existencialismo uma marca que Niebuhr te em comum com todos os telogos
dialticos. S que nele ainda mais justificada, em virtude do sentido histrico de sua
reflexo teolgica.
A forma do seu pensamento deriva de sua vontade de colocar a f em contato com a
vida, com a existncia e com tudo aquilo que a vida e a existncia do homem desenvolveram:
psicologia, sociologia, histria, poltica, cincia, etc.
A outra caracterstica, o equilbrio um esforo constante para manter-se numa
posio intermediaria entre todos os extremismos, entre o marxismo e o liberalismo em
poltica, entre o naturalismo e o idealismo em filosofia, entre o fundamentalismo e o
racionalismo em teologia.
Niebuhr se define como um apologista. Ele vai dizer que a sua vocao dirigiu seu
interesse para a defesa e a justificao da f crist numa era secular, especialmente entre os
depreciadores intelectuais do cristianismo.
Segundo Niebuhr, todas as tentativas para salvar a religio suavizando a
irracionalidade do seu dogma fundamental, o da interveno de Deus na Histria, so
ineficazes. 1
A verdadeira apologtica procura mostrar a validade do cristianismo sem sacrificar
nada do paradoxo cristo. No esconde o paradoxo cristo nem o reduz a proposies
abstratas, mas sim vive cotidianamente este paradoxo. E exatamente atravs da prtica da f,
por meio da expresso visvel do encontro com Deus que ela procura tornar crvel o
cristianismo. As conseqncias criativas de tal encontro, a humanidade e a caridade do
verdadeiro arrependimento, a ausncia de orgulho e de pretenses deve ser as provas de que
ouve um encontro com o nico Deus verdadeiro e no com um dolo da nossa fantasia,
inventado para sustentar alguns de nossos interesses e to pouco com o vasto oceano do tudo
e do nada, que condena a nossa individualidade e particularidade num juzo em que toda a
nossa vida tambm aniquilada. 2
169
A segunda propriedade da verdadeira apologtica a especfica da apologtica
teortica, que consiste em validar a viso crist diante de qualquer outra viso. Segundo
Niebuhr, s h um caminho possvel de efetuar a validao: Na medida em que possvel
provar que as explicaes que se colocam como alternativas ela no conseguem explicar
todos os aspectos da existncia humana e em que os pressupostos basilares da f crist,
mesmo transcendendo a razo, permitem dar uma explicao da vida e da histria em que
podem ser compreendidos todos os fato e antinmias da histria. 3
A terceira caracterstica da autntica apologtica a conscincia crtica, que submete
a viso crist a um constante exame, para identificar os erros que esto misturados a ela. 4
A quarta caracterstica a incorporao daquilo que h de verdadeiro nas outras
vises verdade suprema do evangelho. 5
Para Niebuhr, so trs os maiores perigos aos quais est exposto o apologista:
obscurantismo, idolatria e legalismo. A f crist sofre as conseqncias do esforo
obscurantista no sentido de preservar as suas verdades na poca da cincia darwiana,
desafiando as evidncias incontestveis adotadas por cientistas honrados e honestos. O
apologista est tambm exposto ao perigo da idolatria. Ele pode ser tentado ao utilizar o seu
conhecimento da verdade para reclamar uma aliana especial com Deus contra os inimigos da
igreja. o legalismo o terceiro perigo. Em princpio, o cristianismo mais uma religio do
esprito do que da lei: firmes na liberdade de que Cristo nos fez livres. Mas os formalismos
exercivos de que se revestiu o cristianismo histrico esto em flagrantes contrastes com amor,
alegria e a paz que caracterizam uma converso genuna e no suportam um confronto com a
liberdade dos melhores idealistas seculares. Com isso Niebuhr quer dizer uma apologtica
crist genuna deve estar pronta a levar o juzo de Deus, com o mesmo rigor tanto ao edifcio
da f como ao mundo secular e pago.
No contexto da antropologia crist e da teologia da histria, introduziu com habilidade
os dogmas do cristianismo: Deus, Cristo, pecado, graa, Revelao, Igreja, Sacramentos.
Tratando do homem, trata tambm do pecado, a dura verdade que a teologia liberal esquecera;
trata da graa, que o remdio do pecado.
Outra caracterstica importante, que o homem compreendido primeiramente a
partir do ngulo de Deus, ao invs do ngulo da unicidade, de suas faculdades racionais ou de
suas relaes com a natureza: ele concedido como imagem de Deus.
170

A terceira caracterstica da viso crist do homem que ele pecador. O homem um
pecador. O seu pecado definido como uma rebelio contra Deus. O pecado consiste no uso
errado da liberdade e na destruio que da deriva.45
Niebuhr referia-se a Deus como o inteiramente outro; frisava o pecado original e
trgica posio do ser humano por perceber o ideal da perfeio.
O homem livre e responsvel, embora afetado por um elemento demonaco que
arruina a tudo. Assim sendo o conflito interno e externo de um homem vai alm de um
simples processo histrico.
Falava sobre J esus como a chave do mistrio da existncia humana, o smbolo de um
poder e de amor constante.
Na poltica, evitava as teorias utpicas, mas promovia uma espcie de realismo liberal,
capaz de reconhecer as irracionalidades do homem a fim de dar-lhes uma nova direo
racional. As mudanas institucionais so essenciais e mais importantes que as transformaes
do corao humano.
O liberalismo religioso era demasiadamente ingnuo, no tocante ao verdadeiro estado
tico do homem.
Via na Bblia uma dramtica apresentao da verdade e no uma apresentao
metafsica.


BILLY GRAHAM

Biobibliografia

Cerca de 50 milhes de pessoas j assistiam as reunies em que Billy Graham
pessoalmente. Incontveis milhes ouviram-no ou viram-no atravs do rdio, televiso ou
filmes. Aproximadamente um milho vieram frente durante as campanhas de Billy
Graham. Ele o confidente de estadistas e governantes e suas opinies so citadas em todo o
mundo. Seus atos, motivos e conquistas tm sido debatidos, atacados e defendidos como os de
poucos lderes religiosos contemporneos.
Na infncia de Billy Graham, a derrota de 1865 e a poca da Reconstruo, de que
apenas os mais idosos se lembravam, prevaleciam no sul dos Estados Unidos. Havia muita

45
- Idem p. 100
5 ibid p. 100
171
pobreza, e alastrava-se o ressentimento surgido da idia de que os antigos Estados
Confederados inda sofriam discriminao e punio por parte do norte, que no sabia perdoar.
A instruo primaria de Billy Graham foi quase to pobre quanto a de Abraham
Lincoln. Uma das principais razes foi o baixo nvel do ensino em geral. Na Escola Ginasial
Sharon, bem no interior do pas, dois ou mais trs professores nunca tinham freqentado
Universidade. Mesmo que o ensino fosse melhor, ele pouco teria aproveitado, pois com a
idade de dez ou doze anos j julgava ter o conhecimento e o bom senso suficientes para um
futuro fazendeiro, atitude esta que foi levemente encorajada pelo pai, mas firmemente
combatida pela me.
A nica caracterstica notvel da vida intelectual de Billy, nos primeiros anos, foi um
excepcional amor leitura de livros de Histria. Quando completou quatorze anos j havia
lido cerca de cem.
Depois, que Billy tinha mais ou menos quinze anos, uma sucesso de acontecimento o
levou diretamente mais profunda experincia de sua meninice.
Em 1933, a Sra. Graham comeou a participar de um grupo de estudos da Bblia,
devido insistncia de sua irm, Lil Barker, e ento aprendeu que o Senhor entrou e vive
dentro de nossos coraes. Eu nunca havia conhecido essa verdade antes. Seu marido
permaneceu indiferente. Suas energias eram absorvidas pelo stio, especialmente desde que
havia perdido todas as economias numa recente onda de falncias bancrias.
Trs semanas depois que a Sra. Graham comeou a participar da classe bblica, Frank
Graham fraturou a cabea, atingido por um pedao de madeira que voou da cerra mecnica.
Os cirurgies achavam que ele morreria. A Sra. Graham, depois de chamar os seus amigos
cristos para orar, subiu ao seu quarto e, diz ela: Literalmente me agarrei ao Senhor.
Levantei-me com a certeza de que Deus ouvira a minha orao. Tanto ela como o marido
chegaram concluso de que atravs do acidente de Frank, e seu completo restabelecimento,
o Senhor realmente falou conosco, e que deviam encontrar mais tempo mais tempo para o
estudo da Bblia e para a orao.
A batalha interior continuou: no banco escolar, jogando basquetebol no ginsio,
ordenhando no estbulo. Nada revelou aos pais (ns suspeitvamos, e estvamos confiando e
orando), mas conversou com um primo, Crook Stafford, que o encorajou a ir frente,
embora ele mesmo no o tivesse feito at ento. Na noite seguinte, Billy mudou de lugar
outra vez, e assentou-se nos primeiros bancos. O sorriso de Ham parecia ser-lhe diretamente
dirigido; Billy, erradamente, estava certo de que Ham sabia algo a seu respeito e que suas
172
citaes eram especialmente para ele: Mas Deus prova o seu prprio amor para conosco,
pelo fato de ter Cristo morrido por ns,sendo ns ainda pecadores.
Ham fez o apelo. Billy ouvio o couro cantando Tal qual estou verso por verso,
enquanto pessoas se foram reunindo ao redor do plpito. Billy permaneceu sentado, a
conscincia lutando contra a vontade. O coro comeou: Quase induzido a crer em J esus.
Billy no pode resistir mais e foi frente.
No se tratava apenas de um ato mecnico de ir a frente, no estilo de uma campanha
de avivamento sulista. Era Cristo. Eu estava plenamente consciente dele.
Um homem baixo, de cabelos e olhos negros, aproximou-se do jovem, Billy o
conhecia e gostava dele: J . D. Prevatt, um ingls, dono de uma alfaiataria. Eles conversaram e
oraram juntos. Billy experimentou um profundo sentimento de paz e alegria, enquanto ao
seu redor muitos estavam em lgrimas; ele preocupou-se um pouco com isso, por no sentir
tanta emoo. Seu pai, todavia, como McMakin bem recorda, atravessou o recinto para
abra-lo fortemente, e agradecer a Deus pela sua deciso.
Naquela noite, Billy Graham subiu as escadas de casa, passou junto ao velho relgio
da famlia, que marcava ruidosamente as horas, noite e dia, e trocou-se no escuro, porque
Melvin j estava dormindo. A lua ia alta no firmamento, e Billy olhou demoradamente as
terras de seu pai, depois deitou-se, permanecendo acordado por horas, sem sentir emoo
alguma, passando em revista, no contexto do seu mundo de adolescente, quais deveriam ser as
atitudes de um indivduo que pertencesse a Cristo. Caiu no sono, contente e em paz, com uma
pequena dvida: Ser que isto vai durar muito?
Nos que se seguiram, era mais evidente para o prprio Billy Graham do que para
qualquer outra pessoa, que algo tremendo havia acontecido em seu intimo.O diretor da sua
escola, Connor Hutchinson, notou-o, bem como sua me: Billy tornou-se mais pensativo,
muito amvel, mais quieto... Nas menores coisas, essa mudana era muito clara. Billy sentia
no mais profundo do seu ser que uma comunho que dificilmente podia ser compreedida
pelos outros, e que nem ele mesmo sabia formular, pois estava alm dos sentidos, havia
comeado com algum to real como as pessoas de carne e osso ao seu redor, e por isso
estava cnscio de novos interesses, novos padres. O mundo inteiro parecia diferente e ele
no teve duvidas de que era a isto que a Bblia chamava o novo nascimento.
Em princpios de 1936, J immie J ohnson, jovem evangelista do Alabama, de boa
aparncia, olhos brilhantes e voz forte, levou o jovem Blly Graham, que agora tinha 17 anos,
para um culto na cadeia de Monroe, a uma distancia de 50 quilmetros de Charlote. No meio
da pregao, J ohnson disse, de repente, num impulso: Eis aqui um rapaz que poder dizer o
173
que a gente sente quando se converte.Um Billy surpreso e horrorizado, comeou gaguejando
e, de acordo com as suas memrias , o que consegui dizer foram s trs ou quatro frases.
J ohnson recorda de maneira diferente: Todos ns ficamos surpreendidos pela sua humildade
em falar. Ele fez um bom trabalho naquela priso.
Nem remotamente, J immie J ohnson considerou Billy como um candidato fama ,
mas, simplesmente um jovem alto, desajeitado, imprevisvel, embora tivesse muita
personalidade. Era uma pessoa muito simptica.
De vez em quando, Billy testificava, juntamente com outros membros do seu Clube
Bblico, quando realizava cultos improvisados nas caladas. Na memria de Grady, contudo,
ele era apenas confuso. Ficava ali, em p, amarfanhando o palet, nervosamente.Para mim,
no passava de algum terrivelmente acanhado e tmido.
Um contemporneo seu na escola, cuja religio, segundo a sua prpria definio,
nominal, jamais esqueceu como Billy tinha sentimentos to maravilhosos intensos a respeito
de tudo, que desejava reparti-los com todos ns. O treinados de beisebol, Clinton Eudy, que
agora advogado na cidade de Salisbury, em Carolina do Norte, recorda Billy em seus
ltimos anos de escola, como uma interessante, contraditria e inspiradora mistura de santo e
demnio, predominando o se lado santo.
Depois de 1934, Billy Graham dedicou-se aos estudos, mas precisaria trabalhar muito
para ganhar o tempo que perder , e na Escola Sharon no conseguiram ensinar-lhe a
importante disciplina de estudar com diligncia. Ele preferia estudar sozinho, o que mais lhe
interessasse. Antes de formar-se, j havia lido no comeo ao fim O DECLNIO E A QUEDA
DO IMPRIO ROMANO, de Gibbon, bem como os primeiros trabalhos acerca da civilizao
americana, escritos por Charles e Mary Beard. Ele ainda no tinha idia de qual a carreira a
seguir, exceto a deciso de no sr lavrador. Desejava entrar na Universidade de Carolina do
Norte. Sua me, no entanto, sentia tal admirao por J immie J hnson, que escolheu a sua
escola, a Faculdade Bob J ones, em Cleveland, no Tennessee, por ser instituio de slidos
princpios cristos.
Dentro das suas dificuldades de sade retornou para Charlotte: Billy, disse J ones,
se voc sair e for desperdiar a sua vida em um pequeno instituto bblico de roa, o que pode
acontecer que ningum jamais ouvir falar de voc. No mximo, poder chegar a ser um
pobre pregador batista, no interior.
Nos primeiros meses de 1938, quando Graham completou uma no em Temple Terrace,
e tinha dezenove anos de idade, continuava sendo ainda um indisciplinado. Eu ainda no
tinha um propsito , mas estava interessado na Bblia; tinha-me convertido, desejava conhecer
174
a Bblia. Porm era ainda descuidado, irresponsvel.Para empregar uma frase que ele mesmo
usava muito naquela poca: Eu no valia muita coisa.
Trs fatos importante fizeram dele um homem de propsito inabalvel e de intensa
convico.
Dois cristo a quem Billy Graham admirava, e de quem muito aprendera, foram
acusados de srias falhas morais, e ele ficou profundamente abalado. Aprendeu que um
homem podia falar piedosamente, ajudar aos outros, e, apesar disso, ser ele mesmo um
rprobo. Graham decidiu que jamais em sua vida iria permitir algo que ofendesse o nome de
Cristo. Chegou, tambm, concluso de que tal coisa poderia acontecer, a menos que tomasse
sua vocao a srio. Os escndalos fizeram-me olhar para Deus, invs de olhar para o
homem. Compreendi que qualquer homem pode ter ps de barro. Paulo disse: No
confiemos na carne. Isto foi uma lio precoce que me ajudou tremendamente atravs dos
anos.
O evangelista Billy Graham: o qual, quase meio sculo, tem pregado com base na
Bblia para ouvintes ao redor do globo. Na realidade, ele um evangelista itinerante, no
sentido que tem buscado almas ao redor do mundo. Viajando de avio, trem e navio ele tem
dirigido cruzadas por todo os Estados Unidos da Amrica e na maioria das capitais europias,
na Amrica do Sul e na frica do Sul, bem como no Extremo Oriente. Mais de dois milhes
de pessoas tem aceitado o seu convite de aceitar publicamente a J esus Cristo como seu Senhor
e Salvador.
O grande fracassode Billy Graham em sua vida de acordo com uma entrevista por
ele cedida revista Time, por ocasio de seu septuagsimo quinto aniversrio em 1993, foi de
natureza intelectual. Ele sentia que no tinha devotado tempo e energia suficiente ao estudo
acadmico de teologia e das Escrituras, mesmo quando teve oportunidade para faz-lo. Em
lugar disso, reconhecendo a sua prpria falta de intelecto, e, de fato, falta de apetite quanto
teologia, ele resolveu fazer da Bblia o seu texto, apegando-se ao mesmo.
A pregao de Billy Graham tem sido a exposio da Bblia inteira, do comeo ao fim,
do Gnesis ao Apocalipse. Ele fez uma certa variedade de referncia tpicas, ao longo do
caminho , dzias delas em qualquer de seus sermes. Se o grande Dwight L. Moody pde
inserir quatorze histrias ilustrativas em um s sermo, assim tambm Billy Graham pde
ilustra os seus sermes com um redemoinho de muitas crnicas anedotas e ttulos. Mas parte
de cada referncia transitria, que tinha apenas a finalidade de ilustrar algum ponto que ele
estava salientando, a sua pregao continua tendo por centro J esus, o verbo da Palavra de
Deus , a Bblia.
175
No-atravancado, e, na verdade, sem estar tolhido, por alguma agenda social ou
teolgica, que pode estar na moda um dia, mas ultrapassada j no dia seguinte, a pregao
dele sempre teve uma certa pureza de tom. Ela leva os seus ouvinte at o passado distante, at
os dias dos apstolos, onde eles tem a impresso de estarem ouvindo a algum evangelista
norte-americano contemporneo, com um senso de urgncia na voz,mas, sim,a Paulo,Pedro
ou Timteo, falando com um entusiasmo irresistvel acerca do homem chamado J esus.
Obtemos a mesma impresso quando lemos o livro de Billy Graham. Isso no quer
dizer que Billy Graham seja como ler os evangelhos. Mas a mesma coisa que dizer que esta
coletnea de extratos das obras publicadas de Graham, o cristo fiel, contm os pensamentos
do evangelista sobre os mesmos tpicos escolhidos pelos autores dos quatros evangelhos e das
epstolas do Novo Testamento.
Billy Graham freqentou o Bob J ones College, o Florida Bible Institute, e,
finalmente, o Wheaton College, no stado de Illinois. Foi ali que conheceu a Ruth Bell, filha de
missionrias que tinha trabalhado na China. Ela mesma desejava fazer grandes coisas em
favor do Senhor, como converter o Tibete; em lugar disso, ela aceitou a proposta de noivado
do jovem, com elevadas esperanas, e acabou por casar-se com ele.

Pensamento Teolgico

Est voltado em torno das cruzadas evangelstica aonde em suas mensagens Billy
Graham discute e responde algumas das perguntas bsicas em relao terceira pessoa da
Trindade sobre a qual muito se fala hoje em dia, s vezes sem o conhecimento adequado:
Quem o Esprito santo? O que ele faz? De onde ele veio? O que ele est fazendo mundo
hoje em dia? O que blasfemar contra o Esprito Santo? Como ele se comunica com sua
criatura? Porque ele veio ao mundo? O que o batismo do Esprito?
Alm de tudo isso Billy Graham afirma que o Esprito Santo est ativo em nosso
mundo. Ele no uma influncia longnqua nem uma fora misteriosa. No h nada que Deus
seja e o Esprito no! Apesar de no podermos compreende-lo completamente, ainda
podemos experimentar. Sua realidade e seu poder cada dia.
Observamos que a Teologia de Billy Graham da nfase O Esprito Santo, aonde ele
conta uma histria: Uma velha lenda indgena conta de um ndio que desceu das montanhas e
pela primeira vez viu o oceano. Maravilhado com o que via, ele pediu um balde. Depois
entrou pouco mar a dentro e encheu o balde. Quando lhe perguntaram o que estava fazendo
176
ele respondeu: L nas montanhas meu povo nunca viu as Grande guas. Vou levar este balde
cheio para eles, para que possam ver com que elas se parecem.
Billy Graham fala sobre este assunto tenta escrever um livro sobre um assunto to
vasto como o Esprito Santo como tentar pr o oceano em um balde. O assunto no tem
limites e as nossas mentes so to limitadas.
Billy Graham expressa a sua preocupao em visualizar o que a Bblia tem a dizer
sobre o Esprito Santo. A Bblia- inspirada pelo Esprito Santo nossa nica fonte de
informao digna de confiana , e toda nalise bem fundamentada da pessoa e da obra do
Esprito Santo tem de ser baseada biblicamente. Entendi, como nunca antes, que h algumas
coisas que nunca compreederemos totalmente, e que alguns assuntos permitem interpretao
diferentes por cristo sinceros. Em reas onde h diferenas honestas entre cristos eu tentei
no se dogmtico.
O ponto Teolgico crist de Blilly Graham no nada mais nada menos do que uma
tentativa por mudar-se o pensamento dos homens d modo que se convertam a Cristo J esus.
Billy Graham o evangelista cristo mais renomado em todo mundo, tendo proclamado o
evangelho de Cristo a muitos milhes de pessoas. autor de diversos livros sobre a vida crist
e as doutrinas bblicas. O cristianismo doutrina que se prope a ser vivida.

Bibliografia:
GRAHAM, Billy. O Cristo Fiel. Ed. Proclamao. SP.
______________. Biografia Autorizada. Ed. Betnia.
______________. O Esprito Santo. Ed. Vida Nova. 1988.



MARTIN LUTHER KING JR.

A histria est repleta de casos de violaes dos direitos humanos. Contra tais
injustias, lutaram homens e mulheres que, em comum, tiveram a disposio de combater
destemidamente a desigualdade. Martin Luther King J r. era uma dessas pessoas. A exemplo
do pai da independncia da ndia, Mahatma Gandhi, Luther King tornou-se defensor da
filosofia da no-violncia e liderou, a partir de 1955, uma campanha pacfica pela justia para
o povo negro americano. A idia era derrubar os preconceitos que a abolio da escravatura
conseguida por Abraham Lincoln em 1863, durante a Guerra Civil Americana, no havia sido
177
capaz de destruir. A liberdade obtida pela nova Constituio no livrou os negros da
discriminao, especialmente nos estados do sul dos EUA, onde a diviso racial era amparada
pela lei. Naquela poca, nenhum negro podia freqentar um restaurante reservado a brancos
ou sentar em lugares reservados a eles.
Aps a Guerra Civil americana, a situao piorou. Todas as terras eram de propriedade
dos brancos e, na prtica, embora livre, a populao negra manteve-se pobre e perseguida.
Seis dcadas depois, nascia Martin Luther King J r. (15 de janeiro de 1929, em Atlanta, no
estado da Gergia, cidade do extremo sul dos EUA). O pai era pastor da Igreja Batista
Ebenezer. Por isso, Luther King J r. passou a infncia memorizando versculos da Bblia e
cantando gospels para a congregao. E, como toda criana negra, cresceu marcado pelo
preconceito racial. Antes dos treze anos de idade, tentou o suicdio duas vezes, tomado pelos
fantasmas de sua condio de negro em uma sociedade que no admite tal fato. A primeira
tentativa deu-se quando sua av, J annie Williams, sofreu um acidente que fez com que
perdesse a conscincia. J ulgando-a morta, Martin saltou da janela do primeiro andar sob os
olhares atnitos da famlia. Quando, em1941, sua av realmente morreu, Martin tornou a
saltar do primeiro andar, e mais uma vez no sofreu mais do que pequenos arranhes.
Em 1935, Martin entrou na escola pblica, passando, passando, em seguida para uma
instituio privada, a Escola Experimental da Universidade de Atlanta, freqentando depois a
Escola Secundria Booker T. Washington.
A esta altura, a famlia King muda-se para uma rua bem mais rica, ocupando uma bela
casa. Martin j ento um pastor influente, ocupando importantes cargos junto a todos os
conselhos de direo dos mais variados movimentos em favor dos negros da Atlanta, o que
provocava o recebimento de cartas annimas e constantes telefonemas injuriando-o e
ameaando-o de morte. Este clima de ameaas serviu para despertar em Martin a real
conscincia do mundo em que vivia, levando-o a meditar sobre as terrveis contradies
sociais que geravam tanto dio, tanta violncia, tanta desumanidade.
Em setembro de 1944, Martin entra para o Morehouse College. Optando pela
sociologia, mostrou ser um timo estudante. Em junho de 1948, recebe o seu diploma,
deixando assim o campus universitrio, onde foram plantadas as sementes intelectuais no
esprito sensvel e emotivo do jovem futuro lder que viria a se projetar no mundo inteiro.
178
No outono de 1948, Martin Luther King J r. Sai de Atlanta e dirige-se para a cidade de
Chester, Pensilvnia, ingressando na Faculdade de Teologia Crozer.
Martin j se encontrava plenamente consciente da explosiva situao mundial,
semeada de conflitos sociais de toda espcie, que permaneceram latentes at o trmino da
Segunda Grande Guerra Mundial.
Em junho de 1951 recebe o seu diploma de Teologia. Quase que imediatamente,
inscreve-se no curso de Filosofia da Universidade de Boston, para onde segue no outono
seguinte. nesse perodo que conhece Coretta Scott, a bela e inteligente moa que viria a ser
a sua esposa, a companheira nos dias luminosos e tambm nos trgicos. O casamento se
realizou a 18 de junho de 1953. em setembro de 1954, Martin torna-se pastor da Igreja
Batista da Avenida Dexter,em Montgomery, Alabama, dando incio sua cruzada pelos
direitos civis.
Na primavera de 1955, Martin recebeu seu diploma de doutor em Filosofia. Nessa
poca, entre todos os aspectos do segregacionismo em Montgomery, o mais degradante era o
regulamento da Companhia de nibus da Cidade de Montgomery.
No dia 1 de dezembro de 1955, a sr Rosa Parks, uma costureira negra de quarenta e
dois anos, fatigada por um dia de trabalho, entrou num nibus super lotado para voltar para
casa. Assentou-se num lugar vago, na sesso reservada aos negros. Quando o nibus lotou, o
motorista ordenou aos negros que se levantassem para que os brancos pudessem sentar-se, e a
sr Parks, mais por cansao que por esprito revolucionrio, negou-se a ceder seu lugar. Foi
imediatamente presa e levada para o Palcio da J ustia. Rosa foi libertada sob fiana por E. D.
Nixon, homem que sempre se dedicou luta pelos direito civis; e foi ele quem, cheio de tantas
injustias, entrou em contato com todas as associaes e movimentos dos negros. A idia do
Conselho Poltico Feminino de realizar um dia de boicote aos nibus logo comeou a
germinar e foi to bem aceita que durou trezentos e oitenta e dois dias.
No dia seguinte, 2 de setembro, Martin foi chamado por Nixon, para uma assemblia
com mais quarenta representantes de todas as sesses negras da cidade, onde foi decidido por
unanimidade o boicote, que teria lugar no dia 5 de dezembro. O movimento foi um sucesso
total, tendo 99% de eficincia, e estendendo-se at meados de janeiro de 1956, quando a
polcia resolveu prender Martin Luther King J r., alegando excesso de velocidade. Com sua
priso, mais unidos ainda ficaram os negros.
179
No dia 30 de janeiro de 1956, Martin proferia um discurso em uma das reunies ,
quando lhe deram a notcia de um ataque a bomba em sua residncia. Uma multido de negros
enfurecidos formou-se em frente casa de Martin, querendo fazer justia com as prprias
mos aos que to injustamente o perseguiam. Martin, usando sempre da sua poltica de no-
violncia, pediu que depusessem as armas e voltassem para as sua casas, usando para
encerrar: Devemos responder ao dio com amor.
A 20 de dezembro de 1956, chegou a Montgomery a ordem da Suprema Corte,
declarando ilegal a segregao nos nibus. Era o fim do boicote que durara mais de um ano, e
uma grande vitria para Martin Luther King J r., que nessa ocasio tornou-se mundialmente
famoso.
Posteriormente sua campanha pela integrao racial, Martin foi mundialmente
reconhecido com a consagrao do Prmio Nobel da Paz, que lhe foi concedido em 1964, cujo
valor, cerca de cinqenta mil dlares ele destinou aos movimentos em prol dos direitos civis.
Ao receber o prmio em Oslo, perante numerosa assemblia, King afirmou que o
recebia em nome de milhes de negros americanos que lutam para dar fim longa noite de
injustias raciais.
Nos Estados Unidos sua ao foi reconhecida pelo presidente J ohn F. Kennedy que
antes de ter um destino semelhante ao seu, deu extraordinrio impulso legislao destinada a
pr fim a maior chaga interna dos Estados Unidos, como j foi qualificada a discriminao
racial que vigorava e ainda vigora, especialmente nos Estados do Sul.
No incio de 1965, na luta pelos direitos reais dos votos dos negros no Estado do
Alabama, Martin foi preso pela dcima vez. Mas sua campanha de no-violncia conseguiu
impor-se, apesar de terem sido detidos na ocasio, juntamente com seu lder, cerca de trs mil
negros.
Em 4 de abril de 1967, o pastor Martin Luther King J r. levantou-se na igreja de
Riverside, em Nova York e proferiu a mais violenta investida contra a ao dos Estados
Unidos no Vietname, concitando os negros americanos a se recusarem no servio militar por
motivos de conscincia. Com essa atitude ele atraiu para si grandes crticas, pois estava
levantando dvidas sobre a lealdade do negro sua ptria, mas de qualquer maneira estava
dentro de sua poltica de no-violncia, fosse qual fosse a sua situao.
180
Suas campanhas fizeram com que fosse constantemente ameaado de morte.
Telefonemas e cartas prometiam-lhe o pior. King conservava certa resignao a respeito,
pronunciando em 1962 frases que seriam profticas se consideradas luz do seu trgico
desaparecimento: Podem crucificar-me. Posso mesmo morrer. Mas mesmo que isso me
acontea quero que digam: ele morreu para libertar os homens.
Em um de seus discursos mais famosos, I Have a Dream(Eu tive um sonho), Martin
declarou: Nunca estarei satisfeito at que a segregao racial desaparea da Amrica. Eu
sonhei que algum dia sobre as colinas da Gergia os filhos de escravos e os filhos de velhos
senhores estaro prontos para sentarem-se mesa da fraternidade. Eu sonhei que o estado do
Mississpe, hoje dominado pela injustia e pela opresso tornar-se- algum dia um osis de
liberdade e justia. Eu sonhei que meus bisnetos vivero em uma nao em que no sero
julgados pela cor da pele mas por seu carter.
Orador apaixonado e persuasivo, considerado por muitos como o melhor dos Estados
Unidos, Luther King tornou-se capa da Revista Times, de 3 de agosto de 1964, recebendo o
ttulo de Homem do Ano, em 1963.
Martin Luther King J r., o guerreiro pacfico, revelou ao povo seu poder latente; o
protesto no-violento de massas, firmemente disciplinado, capacitou-o a avanar contra seus
opressores num combate eficiente e sem derramamento de sangue. Ele revelou nao quem
era o oprimido e quem era o opressor.
Ele foi, sem dvida, um dos lderes negros preeminentes da Histria. No entanto, foi
igualmente um lder para milhares de brancos que com ele aprenderam que, apoiando a
libertao dos negros, eles se engrandeciam.
No lanamento de seu livro A Caminho da Liberdade, sofreu um atentado durante
uma sesso de autgrafos. Uma mulher branca, de meia-idade, com passagens em vrios
hospitais psiquitricos, cravou um abridor de cartas em seu peito. Levado s pressas para o
hospital, King sofreu uma cirurgia extremamente delicada e sobreviveu.
Os atentados a bomba, as execues de negros e outros atos de violncia continuaram,
mas a histria tomou um rumo sem volta. No dia 2 de julho de 1964, o presidente americano
Lyndon J ohnson assinou o Ato dos Direitos Civis e foi televiso. "Aqueles que antes eram
iguais perante Deus sero agora iguais nas sees eleitorais, nas salas de aula, nas fbricas e
181
nos hotis, nos restaurantes, cinemas e outros lugares que prestem servios ao pblico", disse
J ohnson.
No dia 3 de abril, na vspera do protesto, ele proferiu seu ltimo discurso, proftico
"I see the promise land" ("Eu vejo a terra prometida") na Igreja Ebenezer, Atlanta,da qual
era pastor:
Freqentemente eu penso naquilo que o denominador comum e derradeiro da vida:
nessa alguma coisa que costumamos chamar de morte. Freqentemente penso em minha
prpria morte e em meu funeral, mas no em sentido angustiante. Freqentemente pergunto a
mim mesmo o que gostaria que fosse dito ento e deixo aqui com vocs, esta manh, a
resposta...
...Se vocs estiverem ao meu lado, quando eu encontrar o meu dia, lembrem-se que
no quero um longo funeral. E se conseguirem algum para fazer o discurso fnebre, digam-
lhe para no falar muito. Digam-lhe para no mencionar que tenho um Prmio Nobel da Paz:
isso no importante. Digam-lhe para no mencionar que eu tenho trezentos ou quatrocentos
prmios: isto no importante!
...Eu gostaria que algum mencionasse aquele dia em Martin Luther King tentou dar a
vida em servio dos outros.
...Eu gostaria que algum mencionasse o dia em que Martin Luther King tentou amar
algum.
...Quero que digam que eu tentei ser direito e caminhar ao lado do prximo. (...)
...Todas as outras coisas triviais no tm importncia. No quero deixar atrs nenhum
dinheiro.
...Eu s quero deixar atrs uma vida de dedicao!
... isto tudo que tenho a dizer:
...Se eu puder ajudar algum a chegar adiante
...Se eu puder animar algum com uma cano
...Se eu puder mostrar a algum o caminho certo
182
...Se eu puder cumprir meu dever cristo
...Se eu puder levar a salvao para algum
...Se eu puder divulgar a mensagem que o Senhor deixou
...ento, minha vida no ter sido em vo.
No dia 4 de abril de 1968, noite, King estava no terrao do hotel, quando foi atingido
no pescoo por um tiro disparado do telhado de um prdio vizinho. Gravemente ferido e
levado s pressas para o hospital, Martin Luther King, aos 39 anos, morreu uma hora depois.
Seu funeral, realizado no dia 8 de abril, foi acompanhado por sua mulher e seus quatro filhos,
e assistido pela TV por 120 milhes de americanos. Sobre a sepultura, gravadas na lpide de
mrmore, as palavras de uma velha cano de escravos: "Free at last, free at last/Thank God
Almighty/Im free at last" ("Finalmente livre, finalmente livre/Obrigado Deus Todo-
Poderoso/Finalmente sou livre).

Bibliografia:
Vidas Notveis, editora Globo, vol. V
Consultas feitas internet:
ichtus.com.br
estudosbblicos.com.br
sive.com.br
consuladoamericano-rio.org.br
uol.com.br/bibliaworldnet
libreopinion.com.br
neoanarquia.hpg.ig
orgulhoblack.hpg.ig
rainhadapaz.org
183
solaescriptura-tt.org
unicamp.com.br
ultimato.com.br.
students.si.fct.unl.pt
PAUL TILLICH

Biobibliografia

Paul J ohannes Tillich nasceu a 20 de Agosto de 1886 em Starzeddel, um pequeno
povoado da Alemanha setentrional, filho de pais protestantes; o pai alis, era pastor da Igreja
Luterana. Realizou seus primeiros estudos at sua formao educacional na Alemanha, em
Schenfliess Neumark, para onde o pai se transferira, nomeado que fora superintendente
diocesano; e com doze anos de idade, no Gymnsium da vizinha cidade de Knigbberg. Em
1900 sua famlia transferiu-se para Berlim.
Em Berlim, Tillich concluiu seus estudos liceais e iniciou os universitrios, que
tiveram prosseguimentos em tbungen para a laurea em filosofia e em Halle para a laurea em
teologia. Estudou os filsofos alems; se interessou por Schelling, que despertou seu interesse
por sua fundao em que a filosofia crist era contraste com a filosofia humanista da essncia
de Hegel.
Concluiu os seus estudos universitrios em 1912. Entretanto, nem as freqentes
transferncias nem os estudos tinham at ento contribudo para modificar os ideais
religiosos, polticos e culturais profundamente conservadores de Tillich.
Sempre confessou pertencer Igreja Luterana, por nascimento, educao, experincia
religiosa e reflexo teolgica, mas as diferentes formas de luteranismo nunca o deixou
vontade. Sua teologia era de estilo transconfessional e isso dificultou a muitos luteranos
contemporneos a o reconhecerem como membro da famlia. Lia os grandes homens e
grandes idias do passado, com os pais da Igreja Antiga, gregos e latinos, com os escolsticos
e msticos da Idade Mdia, com os humanistas da renascena e com os reformadores
protestantes, e com os telogos liberais e seus crticos neo-ortodoxos.1
Alistou-se como capelo militar; dedicou-se cura de almas at o desenvolvimento da
segunda guerra. O encontro com as classes sociais baixas, a qual tinha o primeiro contato, o
fez refletir sobre a sua explorao por parte de autoridades que at ento ele tinha
184

reverenciado, a aristocracia fundiria, o exrcito, a Igreja e o Estado.2 O ataque noturno em
1915, e durante toda a noite Tillich andou entre filas de gente que morria; diante desse
acontecimento, sua filosofia clssica ruiu aos pedaos. Esse imprevisto encontro transformou-
o completamente. No s pela experincia do socialismo religioso, mas, principalmente, pela
maturao em sua mente de idias, princpios e doutrinas originais, ou seja, sua futura
construo teolgica.46
Mesmo educado na Alemanha, a maior parte de sua vida profissional passou no
Estados Unidos da Amrica, no Seminrio Teolgico Unio, em Harvard e na Universidade
de Chicago. Tudo comeou em 1933 quando o norte-americano, famoso telogo, Richar
Niebuhr achava-se na Alemanha, convidou Tillich a ir co ele para os Estados Unidos. Aceitou
o convite, e no mesmo ano, em Novembro emigrou com sua famlia para os Estados Unidos.
Com o apoio de Niebuhr, logo encontrou um lugar entre os professores do Seminrio
Teolgico de Nova York. Sua entrada para esse seminrio foi de extrema importncia para
Tilich, pois facilitou sua insero no novo mundo, tendo a possibilidade de conhecer o
ambiente cultural e scio norte-americano e descobrir novas perspectivas para o seu
pensamento.
Ele no mudou o seu pensamento, mas o adaptou s novas circunstncias. Pregou a
necessidade de se ocupar da cultura e do proletariado, nos Estados Unidos percebeu que l era
necessrio protestar contra a confuso muito fcil entre o divino e o humano. Tillich retomou
a sua obra de renovao da mensagem crist, dando grande importncia a parte apologtica, e
que apesar do bem-estar, o norte-americano vivencia o estado de alienao, desespero, crise e
malogro, evidenciado pelo homem moderno.
Tillich foi um dos principais representantes do existencialismo religioso. Ao lado de
Karl Barth e Schleiermacher, um dos principais telogos do sculo XX. No tentou
construir uma teologia sistemtica ou racionalmente dedutiva, e mesmo vendo o campo
teolgico atravs de olhos filosficos, ele foi claro quando falou sobre cada questo teolgica.
Assim, seu mtodo de correlao era o abordado, procurava unir questes humanas,
correlacionando-as com respostas divinas propostas. Tambm sua linguagem era teolgica
simblica.
A carreira de Tillich teve incio no perodo que a teologia liberal perdia terreno,
chegou at a ser reavivamento do liberalismo. Se voltava para a questo do futuro da teologia.
No via nenhum futuro numa teologia exclusivamente neo-ortodoxa nem voltava para a

1- Paul Tillich Perspectivas da Teologia Protestante dos sculosXIX e XX p. 19
2- Os Grandes Telogos do sculo XX Battista Mondin VII P. 67
185
morte de deus. Achava que a teologia precisava enfrentar novos desafios. Dizia que os
telogos precisavam derrubar duas barreiras que se opem histria das religies: a
excusivista ortodoxa e a secularizada com todas as suas rejeies.
Depois da segunda guerra, o pensamento de Tillich cresceu tanto, que fez dele o
telogo mais admirado e influente dos Estados Unidos. Em 1955 a Universidade de Harvard
ofereceu-lhe um lugar entre os estudiosos que trabalham nas fronteiras da cincia. Depois de
vinte anos de ensino no Union Seminary, assumiu a ctedra mais ambicionada dos estados
Unidos. Deixando de ensinar em Harvard por limite de idade, ensinou pela ltima vez alguns
meses em Chicago. Em 23 de Setembro de 1962, recebeu o prmio da Paz das mos do
presidente da Associao dos Editores Alemes.
Morreu em 22 de outubro de 1965 em Chicago, deixando sua mulher, Hannah, uma
filha, Erduthe Farris, e um filho, Ren Stephen.

A produo literria de Tillich de mais de quatrocentos escritos, dividida em dois
grupos: alemo e norte-americano. As obras mais importantes do perodo alemo so: Die
Regise Lage der Gegenwart e Das Dmonische.
Ein Beitrag Zur Sinndeutung der Geschichte. So dois escritos significativos. O
primeiro uma anlise da crise espiritual que golpeou a sociedade no primeiro ps-guerra.
Tillich prope o restabelecimento dum ideal no qual o elemento humano seja constantemente
moderado pelo elemento religioso. A isso ele d o nome de realismo confiante. O segundo
um ensaio sobre filosofia da histria, em que trata essencialmente do problema do mal.
J na produo do perodo norte-americano, de forma muita fecunda, ele abarca dois
gneros de escritos: alguns dirigidos aos especialistas, outros ao grande pblico.
Ao grande pblico destinou as seguintes obras: The Protestant Era; The Shaking of the
Foudations; The Courage Te Be (Traduo brasileira: A Coragem do Ser, paz e Terra); The
New Being;Biblical Religion and The Search for Ultimate Reality; Dynamics of Faith;
Morality and Beyond; Christianity and the Encounter of world Religions; The Eternal Now;
My Search for Absolutes.
Nesses escritos Tillich procurou, com uma linguagem simples e imediata, tornar sua
mensagem religiosa compreensvel mesmo para o pblico profano, aquele pblico que
habitualmente se considera por fora das questes teolgicas. Dentre essas obras, as que
tiveram maior sucesso e exerceram maior influncia, foram The Shaking of Foundations e
The New Being. Serviram de inspirao para o bispo Robinson, escrevendo o clebre livro
Honest To God; e os telogos da morte de Deus para as suas doutrinas.
186

Em Love, Power and J ustice, Tillich opera uma terceira transmitizao: esta tem por
objetivo o Esprito Santo. no poder do Amor se resolvem todas as expresses humanas do
amor: libido, eros, philia e agape.
Elaborou o monumental Systematic Theology, obra que custou-lhe quarenta anos de
esforos. O primeiro volume foi publicado em 1951, dividido em duas partes, tratando
respectivamente da razo e da Revelao e do Ser e Deus. O segundo em 1957, trata da
existncia e de Cristo. o terceiro e ltimo em 1963, tambm dividido em duas partes, estuda a
vida e o Esprito e a histria e o Reino de Deus; todas publicadas pela Universidade of
Chicago Press.
Para alguns especialistas em assuntos teolgicos foram elaborados os dois livros
publicados postumamente: Perspectivas on 19 th and 20 th Century Protestant Theology e A
History of Christian Thougth. Falam as lies de Histria que Tillich ministrou durante vrios
anos no Union Theological Seminary e na Harvard University.

Pensamento Teolgico

Tillich defendeu o conceito de Logos dos primeiros pais gregos integrando essa
doutrina em seu sistema teolgico, e isso o tornou o telogo apologtico, a doutrina do Logos
era o princpio universal da auto-manifestao divina; a presena do Logos era alm das
fronteiras da Igreja. essa compreenso possibilita aos adeptos de outras religies e culturas
uma parcial participao na verdade, amor pela beleza e sensibilidade moral. Com isso Tillich
conseguiu situar-se na fronteira entre teologia e filosofia, Igreja e sociedade, religio e
cultura, porque o Logos que se fizera carne era o mesmo Logos agindo universalmente na
estrutura da existncia humana.3
Achava que o homem moderno era incapaz de entender a justificao. Por causa disso
substituiu o imaginrio legal relacionado com as cortes de justias por novas expresses
tomadas situao psicanaltica em que47 o terapeuta aceita o paciente como ele . Logo a
justificao pela graa por meio a f interpretada como a aceitao apesar de sermos
inaceitveis. J ustificao o paradoxo que diz ao pecador que ele se tornou justo, que sendo
indigno, se tornou digno, que no era santo, mas agora se tornou santo; tudo isso como graa
de Deus que no se baseia em nenhuma conquista humana, mas apenas na graa divina, que
aceita o homem como ele .

3 Idem 1 p. 23
187
Percebeu que nos Estados Unidos a pregao protestante tendia a tornar a graa de
Deus para com o homem dependente da disposio moral dos indivduos, de sua devoo
religiosa e da crena correta. Entendeu que a frmula justificao pela f havia sido
conservada, mas a f se transformava numa obra exigida do homem a ser realizada por um ato
consciente de deciso pessoal. Ento sugeriu que ao invs de dizer justificao pela f, se
dissesse justificao por meio da f. A justificao mediada pela graa de Deus. O que
Tillich passou a escrever (Dinmica da F) foi para corrigir as deformaes do conceito de f,
pois esta se distorce quando concebida intelectualmente, moralmente e emocionalmente.
Tillich define que a f um estado do ser tomado pela preocupao suprema, queria sugerir
que a f envolve tanto as profundezas como a totalidade do ser, no sendo, pois mera funo
da faculdade particular da mente.
A teologia conservadora correlaciona-se praticamente a nada, exceto aquilo que ela
considera revelao divina. necessrio correlacionar a teologia cincia, poltica, tica,
esttica, sociologia, antropologia, etc. A teologia sistemtica precisa ser contrabalanada
pela teologia apologtica.
Precisamos usar smbolos. O smbolo pode ser mais poderoso do que as declaraes
diretas. As declaraes, embora santificadas por serem entendidas como inspiradas, podem
ser apenas dbeis esforos humanos para dizer algo significativo. Os smbolos so palavras ou
grupos de palavras que apontam para a realidade, mas nunca so perfeitos, nunca so
completos, nunca finais.
O que se chama de vida e de morte pode ser correlacionado ao Ser e ao Nada
platnicos. A queda no pecado, segundo os existencialistas, chamada de ansiedade e
individualizao. A f coragem de existir. A redeno, um novo ser.
Deus o Grande ltimo e o Grande Mistrio na direo do qual sempre nos devemos
esforar, embora nunca o atinjamos de qualquer maneira definitiva. Deus s Conquista
Eterna. Ao falarmos acerca de Deus, somos forados a usar palavras. Por isso mesmo que O
chamamos de Senhor, Pai. Porm, todas as nossas palavras e expresses so meros
smbolos daquilo que sentimos no tocante ao Mistrio Tremendo.
A medida que avana o nosso conhecimento, os smbolos acabam morrendo, nossos
conceitos de Deus vo sendo continuamente revisados.
O princpio protestante protesta contra o mau hbito dos homens que identificam a
divindade com qualquer criao humana, sem importar se tal criao acha-se nos escritos
bblicos ou na teologia da Igreja.
188
A f o estado de quem se empenha extremamente. Esse estado comum a todos os
homens. Mas a f crist s pertence a quem escolheu J esus Cristo como motivo do seu
empenho supremo. A f essencialmente dom de Deus. A f a resposta de Deus questo
existencial. Enquanto esta questo no colocada, Deus no responde. A pergunta condio,
no causa de resposta. A resposta absolutamente gratuita, porm s dada a quem a
procurou e est em condio de apreci-la. Logo, a resposta divina constitui a Revelao.
A revelao concedida por Deus a todos os homens de f. So dois os elementos
constitutivos da teologia: a mensagem revelada e a reflexo filosfica.

Bibliografia:

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HORDERN, William E. Teologia Protestante ao Alcance de Todos. [Traduo de Roque
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MCCLENDON, J ames William. Teologos Destacados del Siglo XX: Creencias Distintivas y
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GIBELLINI, Rosino. A Teologia do Sculo XX. So Paulo: Edies Loyola, 1998.
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Principais Telogos do Mundo Hodierno. [Traduo de Gordon Chown]. So Paulo:
Editora Mundo Cristo, 1983. 116 141pp. (Coleo Pensadores Cristos 6).
REALE, Giovanni & ANTISERI, Dario. Histria da Filosofia: Do Romantismo at nossos
Dias. 3 ed. Vol III. So Paulo: Editora Paulus, 1991.741 765pp.