Regiane Glashan REFLEXÃO PSICOFARMACOLOGIA - IPPIA (Instituto de Psicanálise e Psicoterapia Da Criança e Adolescente)
Regiane Glashan REFLEXÃO PSICOFARMACOLOGIA - IPPIA (Instituto de Psicanálise e Psicoterapia Da Criança e Adolescente)
Regiane Glashan REFLEXÃO PSICOFARMACOLOGIA - IPPIA (Instituto de Psicanálise e Psicoterapia Da Criança e Adolescente)
Alguns psiquiatras tentaram integrar as teorias mente-corpo, com destaque para Adolf
Meyer, pioneiro do modelo biopsicossocial, que defendia o estudo e seguimento do
paciente como um todo, mas sem muito sucesso (Meyer, 1917).
Na década de 50, surgiram os primeiros medicamentos psicotrópicos e nas décadas
seguintes, ao mesmo tempo em que as drogas entravam na prática ambulatorial, elas
polarizavam a psiquiatria, a biologia e a psicologia. Com o avanço da metodologia
diagnóstica e das pesquisas científicas, tanto a medicina como as áreas que dão suporte a
ela (enfermagem, psicologia, biomedicina e outras) passaram a investir em pesquisas e em
desenvolvimento de fármacos com menos efeitos colaterais, tornando acessível a
medicação bem como a comparação entre os diversos medicamentos existentes para tratar
uma mesma patologia (Lipowski, 1986).
Não obstante, outras formas de análises quantitativas foram necessárias para
corroborar os efeitos medicamentosos não só sobre os sintomas mas também sobre a
qualidade de vida dos doentes e seus familiares. Assim nasceram os índices de qualidade de
vida e seus dados paramétricos, suportados também pela indústria farmacêutica. Foi neste
momento que a psicanálise começou a perder sua credibilidade científica – comprobatória
ou mais precisamente não se podia mensurar quantitativamente uma resposta positiva ao
tratamento proposto (psicanalítico). A psicanálise não conseguia provar o quanto ela havia
curado, melhorado ou retardado um determinado sintoma, ficando a quem das terapias
cognitivas (Lipowski, 1986; Kandel, 1999).
Por muito tempo, psicanalistas mais ortodoxos entendiam as neuroses como
exclusivamente de origem psicológica, considerando que fármacos poderiam atrapalhar no
sentido de anular os sintomas paliativamente e desta maneira dificultando o processo de
cura. Na visão destes profissionais, a medicação agiria a favor do laboratório (favorecendo
a remissão dos sintomas) e da resistência. Neste mesmo contexto “idealizado”, os próprios
especialistas em farmacoterapia passaram a afirmar que o processo terapêutico era
desnecessário ou mesmo danoso, pois mantinha os pacientes dentro de sua situação de
conflito (Brockman, 1990).
Alguns pesquisadores preocupados com uma visão menos cartesiana do paciente e
portanto mais humanistas, propuseram o uso adjuvante de medidas psicoterápicas
associadas ao uso de medicações. Estas medicações deveriam ser indicadas com critério e
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perseverança. Posteriormente eles observaram que as medicações eram úteis no alívio dos
sintomas a curto-prazo, permitindo que o paciente se tornasse mais acessível à exploração
psicoterápica (Karasu, 1982, Hoffman, 1990).
Hoffman (1990) afirma que a utilização da medicação atuaria principalmente nos
sintomas e nas desordens afetivas, e teriam seu efeito potencializado na vigência de
psicoterapia, uma vez que ela teria uma influência íntima nas relações interpessoais e no
ajustamento social.
Nesta mesma linha de pensamento, Marcus (1990) salienta que a combinação
terapêutica (droga + terapia) em pacientes com transtorno de personalidade e depressão,
pois a terapia combinada favorece a melhora substancial dos sintomas evolutivos da
patologia e a psicoterapia propicia a restituição das funções egóicas, bem como, a regulação
e a modulação do afeto.
Donovan e Roose (1995) realizaram um estudo para avaliar “quantos pacientes
tomavam medicação durante o tratamento psicanalítico”. Para tanto enviaram um
questionário a todos os analistas Didatas (Columbia – EUA) e observaram que cerca de
60% dos terapeutas tinham pacientes em uso de droga psicotrópica nos últimos cinco anos,
o que correspondia a um total de 20% do total de pacientes tratados. Os autores notaram
ainda que seus colegas afirmaram que além de ocorrer uma melhora terapêutica nos doentes
tratados, eles apresentaram também um efeito positivo no processo analítico.
A literatura mostra que a utilização de técnica combinada (droga + terapia) não é
particular de um país ou centro de tratamento, Guirnón e cols. (1998) mostrou que
psiquiatras suíços também recomendam o tratamento combinado (92%) e os
psicoterapêutas de outras áreas também (96%) como os psicólogos, enfermeiros, assistentes
sociais, filósofos e outros com formação psicanalítica (Noronha e cols., 2004).
Um aspecto bastante importante a ser levado em conta na prescrição
medicamentosa, são os aspectos psicodinâmicos do paciente, ou seja, o que a prescrição de
uma droga pode representar para ele – para um paciente deprimido a indicação de um
fármaco pode resultar em sentimentos de auto-incapacitância, reforço de tendências
masoquistas, resignação, solidão e isolamento, tendo em vista que o medicamento poderia
substituir o relacionamento humano (médico-paciente ou paciente-terapêuta) (Noronha e
cols.2004).
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Referencias Bibliográficas
KANDEL ER. Biology and the future of psychoanalysis: a new intellectual framework
for psychiatry revisited. Am J Psychiatry, 156:505-24, 1999.
HOFFMAN JS. Integrating biologic and psychologic treatment: the need for a
unitary model. Psychiatr Clin North Am , 13(2):369-72, 1990.
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for psychiatry revisited. Am J Psychiatry 1999;156:505-24.
HAMILTON NG, Sacks LH, Hamilton CA. Object relations theory and
pharmacopsychotherapy of anxiety disorders. Am J Psychother, 48(3):380-91, 1994.
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Instituto de Psiquiatria e
Psicoterapia
da Infância e da Adolescência
Regiane Q. Glashan
2008