Este documento discute a aplicação de grupos operativos no Centro de Atenção Psicossocial de Maringá para treinar estudantes e ajudar usuários. Os grupos utilizaram atividades práticas e materiais criativos para promover interação social e desenvolvimento pessoal, melhorando as relações e autoestima dos participantes.
Este documento discute a aplicação de grupos operativos no Centro de Atenção Psicossocial de Maringá para treinar estudantes e ajudar usuários. Os grupos utilizaram atividades práticas e materiais criativos para promover interação social e desenvolvimento pessoal, melhorando as relações e autoestima dos participantes.
Título original
Um Olhar Psicodinamico Para Os Portadores de Sofrimento Psiquico Severo
Este documento discute a aplicação de grupos operativos no Centro de Atenção Psicossocial de Maringá para treinar estudantes e ajudar usuários. Os grupos utilizaram atividades práticas e materiais criativos para promover interação social e desenvolvimento pessoal, melhorando as relações e autoestima dos participantes.
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UM OLHAR PSICODINMICO PARA OS PORTADORES DE
SOFRIMENTO PSQUICO SEVERO.
DORLI TEREZINHA DE MELLO 2 ; JOVANI ANTONIO SECCHI;LORENA SERCONEK BOCCATO; LUCIANA MARIN VERGINASSI; MARIA GORETI MANCHINI DA COSTA; NVEA GISELE PANIZZA TULLER; SANDRA DIAMANTE 3 .
RESUMO:. Este estgio em sade mental tem a finalidade de possibilitar o treinamento e capacitao de alunos em processo de formao, facilitar a aplicao dos conhecimentos tericos adquiridos e utilizar sua capacidade de manejo dos recursos tcnicos em grupos operativos, criados por Pichon-Rivire a partir de 1958, embasados nos conhecimentos da psicanlise aplicados em grupos. O trabalho foi realizado junto aos usurios atendidos no Centro de Ateno Psicossocial de Maring (CAPS II Cano), centrado na tarefa de desenvolver interao e aprendizagem entre os usurios deste CAPS. Participaram aproximadamente 40 usurios do CAPS II Cano, no perodo maro a outubro de 2008, permitindo a identificao de indicadores importantes para esta discusso. O primeiro indicador diz respeito tarefa grupal prioritria para a construo de um esquema conceitual referente e operativo grupal, de carter dialtico, que proporcionou uma adaptao ativa realidade que favorea a emergncia das potencialidades de todo ser humano porque concebe que a cura no est no isolamento, mas sim, na interao social. O segundo diz respeito a mudanas nas relaes cotidianas e nos vnculos que pem em jogo os modelos internos estereotipados. Como resultados, observou- se o resgate da dignidade do ser humano portador de sofrimento psquico severo que evidenciaram seu poder e potencial interno, bem como a possibilidade real e concreta do desenvolvimento de abordagens grupais centradas nas relaes interpessoais e no somente no indivduo doente.
Palavras-chave: Grupos operativos; sade mental; servios substitutivos.
1INTRODUO
A formao profissional em psicologia, em todas as suas reas de atuao, exige o contato do aluno com situaes reais nas quais ele deve aprimorar o manejo dos procedimentos de interveno, de forma que, ao final da sua graduao, seja capaz de utilizar os diferentes recursos tericos e metodolgicos da psicologia para intervir em diferentes contextos e situaes. A formao do psiclogo, segundo PAPARELLI (2007), esteve muito aqum das necessidades sociais de nossas populaes, deflagrando, nos meios sociais, a indefinio da verdadeira utilidade da profisso e transformando o psiclogo em um profissional que, muitas vezes, tomado como prescindvel.
2 Discentes do Curso de Psicologia do Cesumar 3 Docente Mestre do Curso de Psicologia do Cesumar A teoria dos grupos operativos, elaborada por Pichon-Rivire, a partir de 1958, sustenta as atividades desenvolvidas nesta pesquisa. Essa teoria foi elaborada a partir dos referenciais tericos da psicanlise e da dinmica de grupos. A denominao grupos operativos foi concebida a partir da circunstncia de terem tais grupos nascidos em um ambiente de tarefa concreta. Tarefa esta que constitui a unidade ensinar-aprender, a qual tem um carter dialtico e constitui de aprendizagem mtua. Para Fernandes e Fernandes (2003), o grupo operativo caracteriza-se por um grupo pequeno de pessoas, o qual tem a finalidade de desenvolver um trabalho em comum, ou seja visando alcanar um mesmo objetivo e recebendo para isso um treinamento. Atravs desse estudo, possvel organizar os processos de pensamento, de comunicao e de ao que ocorrem na situao do grupo. De acordo com Osrio (2000), Pichon-Riviere observa que, quando se est aprendendo, embora no conscientemente, estamos abandonando formas estereotipadas de ver o mundo ou a realidade, tal qual ocorre em um processo teraputico, assim como podemos entender a dificuldade ou resistncia a curar-se como perturbaes da aprendizagem O objetivo da tarefa grupal superar e resolver situaes fixas e estereotipadas, podendo transform-las em situaes flexveis. Ainda, para o autor sobredito, os propsitos dos grupos operativos, atravs de atividades, visam mobilizao de estruturas estereotipadas, dificuldades de comunicao e de aprendizagem, devido ao acmulo de ansiedade diante de mudanas. Segundo Fernandes e Fernandes (2003), h certa dificuldade para diferenciar grupos operativos e grupos teraputicos. Porm, eles definem grupos operativos como aqueles em que a tarefa se refere aprendizagem de algo; isto , a finalidade o conhecimento, no qual o terapeuta um facilitador de processos de desenvolvimento humano. Portanto, considera-se neste estudo que desenvolvimento no se separa de processos teraputicos. De acordo com os autores citados, existem dois aspectos da tarefa: a tarefa interna e a externa. A tarefa externa refere-se ao trabalho produtivo, que inclui a aprendizagem, reflexo, tomada de deciso, etc., sendo ela ento organizadora do processo grupal. Ela envolve aspectos que constituem a razo de ser do grupo. A tarefa interna constitui-se em operaes que os membros devem realizar juntos para montar, se manter e se desenvolver como equipe. E mais, o coordenador tem como funo principal ajudar na constituio, manuteno e desenvolvimento do trabalho em equipe, promovendo o surgimento de papis diferentes (por exemplo, lderes), possibilitando a interao, comunicao, o flurem dos pensamentos e da criatividade, podendo, atravs disso, utilizando intervenes interpretativas ou no, auxiliar a realizao da tarefa interna reflexiva com o objetivo de oferecer condies de desenvolver a tarefa externa (que responsabilidade do grupo). Conforme os autores supracitados, o bom coordenador aquele que no pode ser substitudo por qualquer outro membro do grupo, pois desempenha uma funo nica. Ele pode se utilizar da metalinguagem, que a linguagem da interpretao, oferecendo, desta forma, a cada discusso livre do grupo um sentido e assim promovendo a mudana. Pichn desenvolveu os conceitos de verticalidade e horizontalidade durante as atividades e anlises de grupos. A verticalidade refere-se histria pessoal de cada integrante, histria essa que faz parte da determinao dos fenmenos no campo grupal. O segundo conceito, a horizontalidade, entendido como a dimenso grupal atual, ou seja, so os elementos que caracterizam o grupo. Zimerman (1997) aponta que o diferente papel que o indivduo assume dentro do grupo origina-se da interseco entre a verticalidade e a horizontalidade. Estes se constroem a partir da representao que cada um tem de si mesmo que responde as expectativas que os outros tm de ns. Constata-se a manifestao de vrios papis no campo grupal, destacando-se o papel do porta-voz, bode expiatrio, lder e sabotador. O porta voz aquele que expressa as ansiedades, ele o emergente que denuncia a ansiedade predominante no grupo a qual est impedindo a tarefa. O bode expiatrio aquele que expressa a ansiedade do grupo, mas, diferente do porta-voz, sua opinio no aceita. Conseqentemente, este no se identifica com a questo levantada, gerando uma segregao; pode-se dizer que ele o depositrio de todas as dificuldades do grupo e culpado de cada um de seus fracassos. O lder a aquele que ir configurar a estrutura e funo do grupo, porm deve ser observado se os integrantes da equipe esto muito dependentes do lder, correndo o risco de no agir como grupo, e somente de acordo com o lder. O sabotador aquele que conspira para a evoluo e concluso da tarefa podendo levar a segregao do grupo. O objetivo dessa pesquisa identificar e analisar algumas manifestaes presentes no grupo operativo e na populao atendida no Centro de Ateno Psicossocial de Maring (CAPS II Cano) a fim de proporcionar uma discusso que permita uma maior compreenso dos desafios encontrados pelos estagirios na execuo de sua tarefa no grupo operativo.
2 METODOLOGIA
A metodologia utilizada, no trabalho teraputico, realizado no Centro de Ateno Psicossocial de Maring (CAPS II Cano), consiste em grupos operativos. Fundamentando-se teoricamente em Pichon-Rivire, o grupo operativo caracteriza- se pela relao que seus integrantes mantm com a tarefa, por meio da qual poder haver a obteno da cura. Para a realizao deste grupo, foram utilizados alguns materiais, tais como: cola, lpis de cor, giz de cera, papel sulfite, cola colorida, tinta, cola glitter, E.V.A., cartolinas, papel craft, rgua, papel crepon, pincel, caixas de M.D.F., macarro colorido, argila, filme e sementes (feijo, soja, ervilha, girassol, canjica, milho, pipoca). Com esses materiais, o grupo elegia um tema, de forma unnime, e trabalhava em conjunto na confeco do mesmo. Em relao aos participantes, consistia aproximadamente em 40 usurios, 7 estagirios, 1 supervisora e 6 funcionrios que se faziam presentes de forma alternada. Essas atividades tinham uma durao mdia de 2 horas semanais por um perodo de 7 meses, totalizando 27 encontros no ano de 2008. Desde o incio, o grupo tinha uma composio heterognea e manteve-se aberto conforme a presena dos usurios de cada dia..
3 DISCUSSO DOS RESULTADOS
Observamos que, no incio das atividades, no havia uma integrao entre os participantes j acostumados com uma produo anterior individualizada; mesmo desenvolvendo uma tarefa grupal, os resultados permaneciam desarticulados . Os primeiros encontros tiveram objetivo de estabelecer um vnculo entre o grupo, ou seja, na interao entre os estagirios e os pacientes, para que houvesse a constituio de um grupo operativo. Diante disto, os primeiros encontros foram trabalhados na forma de dinmicas de grupos por meio da qual a percepo da vinculao grupal foi obtida gradativamente atravs da intensidade da participao, do interesse em pensar coletivamente e da freqncia. Os pacientes passaram a se organizar com a chegada dos estagirios e demonstraram interesse pelos materiais e pelas atividades. Percebemos que a relao entre eles foi se modificando, passando de uma viso individualizada para uma viso coletiva. O grupo operativo foi estabelecido. Observamos que pacientes bastante regredidos no incio e que desenvolviam as atividades com certas limitaes passaram a interagir socialmente e integraram os contedos trabalhados com as datas comemorativas, aspectos culturais, jogos, artesanatos, entre outros. No compartilhar das experincias vivenciadas no transcorrer das atividades, percebemos que cada integrante agregou conhecimento num processo dialtico de ensinar e aprender. Da mesma forma que ocorreram vinculaes, entre usurios e estagirios, houve tambm desenvolvimento de vnculos com os funcionrios que comearam a participar, a princpio, como integrantes do grupo e no como equipe tcnica do local. A legitimao do estgio foi percebida quando os funcionrios inseriram as nossas atividades no planejamento semanal da instituio, como parte do projeto teraputico do servio substitutivo, bem como, nos incluram na programao da instituio, a ponto de participarmos de atividades externas como pescaria, festas comemorativas e semana da luta antimanicomial. Em relao aos estagirios, percebemos que o grupo operativo uma alternativa vivel de trabalho psicoteraputico, na qual a interao entre os usurios se deu em conjunto, atingindo o propsito de que a operatividade grupal promove o desenvolvimento humano. Da mesma forma, ampliamos a nossa viso, pois passamos a ter um conhecimento maior sobre a clnica ampliada vivel para o trabalho em sade coletiva. Podemos perceber que a funo do terapeuta no grupo compartilhada, fato que se d pelas projees e relaes transferenciais cruzadas e os casos especficos vo para os terapeutas de acordo com as identificaes de cada paciente. A presena de um estagirio do sexo masculino favoreceu a identificao com as figuras objetais. Constatamos que a continncia do grupo produziu o sentimento de segurana nos usurios e manteve a parte regredida de cada um criativa, em operatividade. Tambm, presenciamos uma grande cumplicidade e aceitao entre eles e um forte sentimento de pertena. Outro resultado foi a capacidade que os pacientes desenvolveram de lidar com a ansiedade e com a frustrao. Nosso desligamento do grupo, deu-se em um processo, iniciado com um ms de antecedncia. Comeamos o trabalho de desligamento com contedos de incio, meio e fim. Houve uma confeco de presentes personalizados, visando presentear outro integrante por sorteio no dia da confraternizao. Notamos que o encerramento do grupo trouxe indicadores das mudanas pretendidas nos objetivos do estgio.
4 CONSIDERAES FINAIS
A pesquisa permitiu perceber que os grupos operativos so ferramentas de incorporao do saber, caracterizada pela didtica horizontal que torna o individuo um agente ativo e responsvel pela mudana de hbitos, alm de serem instrumentos de acolhimento, vnculo, integralidade, com responsabilidade e trabalho em equipe. A nfase maior foi dada na interao social entre os usurios e estagirios, isso fez com que fosse resgatado o sentido humano de cada um, dando-se mais valor a parte saudvel e as potencialidades de cada um. Ou seja, o foco no foi a doena dos usurios, mas sim a parte saudvel. Desse modo, a teoria dos grupos operativos encaixa-se perfeitamente na nova viso de sade mental, pois reconhece a potencialidade de todo ser humano e concebe a cura no est no isolamento, mas sim, na interao social.
REFERNCIAS
FERNANDES, J; Svartaman, J. e Fernandes, B. S. (orgs). Grupos e configurao vinculares. Porto Alegre: Artmed, 2003.
PAPARELLI, R.B.; MARTINS, M.C.F.N. Psiclogos em formao: vivncias e demandas em planto psicolgico. Psicologia Cincia e Profisso. V.27 n.1 Braslia, Maro 2007.
Pichon-Rivire, E. O processo grupal. 3 ed. So Paulo: Martins Fontes; 1982.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos bsicos das grupoterapias. 2 ed, Porto Alegre; Artmed, 1997.
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