Análise de Efeitos de Teste Hidrostático em Vaso de Pressão
Análise de Efeitos de Teste Hidrostático em Vaso de Pressão
Análise de Efeitos de Teste Hidrostático em Vaso de Pressão
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA MECÂNICA
Dissertação submetida à
___________________________________________________________________________
Prof. Edison da Rosa, Dr. Eng., Orientador
___________________________________________________________________________
Prof. Júlio César Passos, Dr., Coordenador do Curso
Banca examinadora:
ii
“A força da alma não basta sem o conhecimento da verdade”
René Descartes
iii
À memória de meu pai, que sempre me incentivou a pensar e a estudar; a minha mãe (Tieta) e
minha irmã (Silvana) por serem grandes mulheres e me darem grandes exemplos de vida; a
minha esposa (Angélica) pelo sempre carinho, entendimento e compreensão; aos meus filhos
Pedro e Gabriel, também “participantes” desta minha empreitada...
iv
Agradecimentos
Agradecimentos também a Pedro Feres Filho (PASA), que após muitos anos de conversas e
trocas de experiências sobre testes hidrostáticos, sem saber me inspirou na escolha do tema, e
a Guilherme Donato e Ediberto Tinoco (Petrobrás/Cenpes), também colaboradores indiretos
com envio de textos e troca de informações.
Devo agradecimentos ainda à COOINSP, empresa parceira, através de Hamilton Santos Filho,
e a Fernando Neves, Geraldo Barreto e Jorge Mascarenhas, pela compreensão e apoio dado
durante meu afastamento parcial do trabalho nestes tempos de dissertação.
Ao meu orientador, Prof. Edison da Rosa, devo agradecimentos especiais, pois através de suas
aulas me “fisgou” para desenvolver o tema da Mecânica da Fratura e foi um grande
incentivador do trabalho. Seu empenho, sua capacidade, bom humor, simplicidade no ofício
do ensino, e atenção dedicada ao meu trabalho durante as minhas “visitas” a Santa Catarina
por certo foram responsáveis pelos resultados. Ao corpo docente do mestrado da UFSC e a
Júlio Passos, nosso coordenador, que também muito me incentivou neste trabalho, o meu
agradecimento.
v
Resumo
Objetiva-se analisar a propagação subcrítica e crítica de descontinuidades durante a execução
de testes hidrostáticos em vasos de pressão. Considera-se principalmente o teste hidrostático
periódico, originado de requisitos legais, e pressões de teste da ordem de 1,5 vezes a pressão
máxima admissível. Duas situações distintas foram consideradas, para permitir uma maior
abrangência de análise: a primeira, representada por um vaso de pressão fabricado em aço
carbono, não sujeito a mecanismos de danos durante a sua vida operacional, e contendo um
defeito de fabricação do tipo falta de fusão em um bocal; a segunda é representada por uma
coluna de processo fabricada em aço inoxidável austenítico, que foi submetida a corrosão-
sob-tensão sob isolamento, e apresentou trincas ramificadas na superfície metálica. A análise
se desenvolveu pela verificação da estabilidade e cálculo dos parâmetros relacionados à
integral J. Para tanto, utilizou-se de documentos como a BS-7910 e API 579, além de
formulações para cálculo de J. As tensões foram calculadas pelo método dos elementos
finitos, resultando na linearização das mesmas na seção de interesse. Também foi avaliada a
propagação por fadiga e corrosão-sob-tensão combinadas, e também pelo critério “leak before
break”. Verificou-se que no caso do vaso de aço carbono não houve qualquer propagação,
enquanto que no caso da coluna de aço inoxidável houve propagações para as maiores
profundidades de trincas, durante o teste hidrostático. As conclusões resultantes deste trabalho
estão relacionadas a haver ou não alguma alteração durante o teste hidrostático periódico em
relação ao teste hidrostático original, realizado após a fabricação. O fluxograma desenvolvido
caracteriza os aspectos determinantes de uma possível propagação, devendo ser utilizado
previamente à realização de um teste hidrostático periódico.
vi
Abstract
The objective of this dissertation is to evaluate the possibility of sub critical and critical crack
growth during the execution of hydrostatic tests in pressure vessels. It is mainly considered
the execution of recurrent hydrostatic tests, due to legal requirements, and test pressure of
about 1,5 times the maximum allowable working pressure. Two different cases were
considered to allow a wider scope of analysis: first, a carbon steel pressure vessel, that was
not subjected to damage mechanisms during its operational life, and containing a lack of
fusion defect in a nozzle weld; the second case consists of a stainless steel process column
that had been subjected to stress corrosion cracking underneath the thermal insulation,
resulting in branched cracking in a wide surface. The analysis was developed by the
verification of the stability of defects in both cases, and the use of J integral. It was used
documents like BS-7910, API-579 and other formulations necessary for J calculations. The
stresses were determined by the use of finite element method, resulting in stress linearization
on the section of interest. It was also evaluated fatigue and stress corrosion cracking
propagation and leak before break criteria. It resulted that in the case of the carbon steel vessel
there was no propagation, while in the case of the stainless steel column there were
propagation for the deepest cracks during the hydrostatic test. The resultant conclusions are
related to the existence or not of alteration on conditions of the recurrent test compared to the
original one, executed after fabrication of pressure vessels. The developed flow chart
highlights the determinant aspects for the occurrence of propagation during recurrent
hydrostatic tests, and shall be used prior to executing it.
Key words: 1. Hydrostatic test 2. Sub critical crack growth 3. Fracture Mechanics 4. Pressure
Vessels
vii
LISTA DE FIGURAS
viii
Figura 4.9 - Modelo de placa com trinca de comprimento infinito..........................................60
Figura 4.10 – Curva FAD e pontos plotados (BS-7910) ..........................................................62
Figura 4.11 – Distribuição de tensões e linearização – CASO IV ...........................................63
Figura 4.12 – Distribuição de tensões e linearização – CASO V.............................................64
Figura 4.13 – Curva FAD e pontos plotados (API RP579) ......................................................65
Figura 4.14 – Curva FAD para os cinco casos avaliados .........................................................66
Figura 4.15 – Características das descontinuidades e geometria adotada para a análise .........69
Figura 4.16 - Curva J-R para o AISI 304 .................................................................................74
Figura 4.17 – JTOTAL X Tamanho de trinca...............................................................................75
Figura 4.18 – Crescimento das trincas após aplicação de pressão normal de TH....................76
Figura 4.19 – JTOTAL X Tamanho de trinca...............................................................................78
Figura 4.20 – Crescimento das descontinuidades após aplicação do TH com máxima pressão
..................................................................................................................................................78
Figura 4.21 – Curva FAD para duas condições de TH.............................................................80
Figura 4.22 – Propagação combinada por CST e fadiga com pressão normal de TH..............82
Figura AP2.1 – Forma geral do modelo sem trinca, composto por uma única área...............106
Figura AP2.2 – Malha gerada na região do flange e chapa de reforço da conexão, modelo sem
trinca .......................................................................................................................................106
Figura AP2.3 – Mesma posição da figura anterior, mostrando as tensões no eixo X resultantes
e deformada, modelo sem trinca.............................................................................................107
Figura AP2.4 – Seção da trinca, apresentando a distribuição de tensões no eixo X em escala
de cores, modelo sem trinca ...................................................................................................107
Figura AP2.5 – Detalhe da região da seção da trinca entre a chapa de reforço e material do
costado, modelo sem trinca ....................................................................................................108
Figura AP2.6 – Malha gerada na região do flange e chapa de reforço da conexão, modelo com
trinca .......................................................................................................................................108
Figura AP2.7 – Detalhe da malha gerada com elementos singulares em torno da ponta da
trinca .......................................................................................................................................109
Figura AP2.8 – Mesma posição da figura AP2.6, mostrando as tensões resultantes e
deformada, modelo com trinca ...............................................................................................109
Figura AP2.9 – Detalhe da região da trinca, modelo com aplicação de pressão nas faces da
trinca .......................................................................................................................................110
ix
Figura AP2.10 – Detalhe da região da trinca, modelo sem aplicação de pressão nas faces da
trinca .......................................................................................................................................110
Figura AP3.1 – Sólido de revolução apresentando trinca, gerado a partir de elementos
axissimétricos .........................................................................................................................111
x
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1 - TENSÕES ADMISSÍVEIS SEGUNDO O ASME SECÃO VIII DIV. 1 .......14
TABELA 2.2 - TENSÕES DE REFERÊNCIA, ASME SEC VIII DIV. 1, ANTERIOR À
EDIÇÃO 2000 (EM MPa)........................................................................................................15
TABELA 2.3 - TENSÕES ADMISSÍVEIS (STRESS INTENSITY) SEGUNDO A ASME
DIVISÃO 2...............................................................................................................................20
TABELA 2.4 - TENSÕES DE REFERÊNCIA, ASME SEC VIII DIV 2, EDIÇÃO 2000 (EM
MPa) .........................................................................................................................................21
TABELA 3.1 - DADOS TÉCNICOS DO VASO DE AÇO CARBONO................................46
TABELA 3.2 - DADOS TÉCNICOS DA COLUNA DE INOX .............................................48
TABELA 3.3 - RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DOS CASOS ...................................49
TABELA 4.1 - RESULTADOS DOS FATORES DE INTENSIDADE DE TENSÕES
OBTIDOS DO ANSYS 7.0 (SEM CORREÇÃO) ...................................................................55
TABELA 4.2 - RESULTADOS DOS FATORES DE INTENSIDADE DE TENSÕES
CORRIGIDOS..........................................................................................................................57
TABELA 4.3 - TENSÕES LINEARIZADAS CONSIDERADAS (MPa) ..............................59
TABELA 4.4 - VALORES DE KR E LR (BS-7910) ................................................................61
TABELA 4.5 - TENSÕES LINEARIZADAS CONSIDERADAS (MPa) ..............................63
TABELA 4.6 - VALORES DE KR E LR (API RP579) ............................................................65
TABELA 4.7 - RESULTADOS DO CÁLCULO DE JTOTAL ...................................................67
TABELA 4.8 - CÁLCULO DO CRESCIMENTO DA TRINCA POR FADIGA DURANTE
OS TH’S ...................................................................................................................................68
TABELA 4.9 - VALORES DE KI (MPa.m1/2) EM FUNÇÃO DO TAMANHO DE TRINCA
..................................................................................................................................................70
TABELA 4.10 - CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS EM FUNÇÃO DO TAMANHO DE
TRINCA ...................................................................................................................................71
TABELA 4.11 - VALORES DE Jtotal (kPa.m) CALCULADOS PARA CADA TAMANHO
DE TRINCA .............................................................................................................................73
TABELA 4.12 - TENSÕES CIRCUNFERENCIAIS DE MEMBRANA APLICADAS NA
COLUNA DURANTE O TH ...................................................................................................76
xi
TABELA 4.13 - PARÂMETROS JTOTAL (kPa.m) CALCULADOS PARA MÁXIMA
PRESSÃO DE TH ....................................................................................................................77
TABELA 5.1 - RESULTADOS OBTIDOS PARA KI CALCULADO A PARTIR DAS
TENSÕES PRIMÁRIAS (MPa.m1/2) .......................................................................................84
TABELA 5.2 - RELAÇÃO ENTRE KI RESIDUAL E KI PRIMÁRIO ..................................85
TABELA 5.3 - PROPAGAÇÃO POR FADIGA E PELO “BLUNTING” (EM MM)............87
TABELA 5.4 - TAMANHOS CRÍTICOS DE TRINCA PARA FRATURA FRÁGIL ..........87
TABELA 5.5 - TAMANHO DE TRINCA A PARTIR DO QUAL OCORRE CSCD OU
FALHA DÚTIL (EM MM) ......................................................................................................89
xii
ABREVIATURAS E TERMOS UTILIZADOS
xiii
LISTA DE SÍMBOLOS
xiv
m = constante para cálculo de fadiga
M = fator de correção para deformação
Mb = fator de incremento dos fatores de intensidade de tensões KI
Mkb = fator de incremento dos fatores de intensidade de tensões KI
Mkm = fator de incremento dos fatores de intensidade de tensões KI
Mm = fator de incremento dos fatores de intensidade de tensões KI
n' = constante para cálculo de propagação por CST
n = expoente para cálculo de Jpl
P = Carga aplicada (em N)
p = pressão interna aplicada
Pb = tensão primária devida à flexão
Pm = tensão primária de membrana
PMTA = pressão máxima de trabalho admissível
Po = carga de plastificação do ligamento, em N
Pteste = pressão de teste a uma dada temperatura
Qb = tensão secundária e residual de flexão
Qm = tensão secundária e residual de membrana
R = raio interno do cilindro
Ri = raio interno da coluna
ro = raio de plastificação
Ro = raio externo da coluna
roσ = raio da zona plastificada para estado plano de tensões
S = tensão admissível do material
Samb = tensão admissível do material na temperatura de teste
Sproj = tensão admissível do material na temperatura de projeto
Sr = tensão limite de resistência
Sy = tensão limite de escoamento
T – temperatura de TH
t = espessura do elemento
Tref = temperatura de referência
Y = fator geométrico
Yσ (p) = fatores geométricos e tensões principais
Yσ (s+r) = fatores geométricos e tensões secundárias e residuais
xv
α= constante adimensional
δ = valor do COD
∆a = incremento da trinca
∆K = variação do fator de intensidade de tensões
εo = deformação específica para tensão de escoamento, igual a Sy/E
ν = coeficiente de Poisson
ρ = fator de interação de plasticidade
σ = tensão nominal aplicada
σ0, σ1, σ2, σ3 e σ4 = fatores de ajuste para cálculo de distribuição de tensões
σA e σB = tensões linearizadas
σref = tensão de referência para cálculo do LR
σth = tensão de membrana primária atingida durante o TH
xvi
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO................................................................................................1
1.1 – O QUE SÃO OS TESTES HIDROSTÁTICOS (TH’S) ...............................................1
1.2 – ASPECTOS LEGAIS DO TH NO BRASIL.................................................................3
1.3 – VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS TH´S .......................................................3
1.4 – JUSTIFICATIVA PARA O TRABALHO....................................................................4
1.5 – PROPOSTA DO TRABALHO .....................................................................................5
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.........................................................................7
2.1 – TESTES HIDROSTÁTICOS ........................................................................................7
2.1.1 – TH’S NA FABRICAÇÃO E EM REPAROS ........................................................7
2.1.2 – TH’S PERIÓDICOS...............................................................................................8
2.2 – PROJETO DE VASOS DE PRESSÃO E TENSÕES ADMISSÍVEIS ......................12
2.2.1 – CÓDIGO ASME SEÇÃO VIII DIVISÃO 1 ........................................................13
2.2.2 – TENSÕES NOMINAIS DURANTE OS TH’S (DIVISÃO 1 DA SEÇÃO VIII) 15
2.2.3 – CÓDIGO ASME SEÇÃO VIII DIVISÃO 2 ........................................................18
2.2.4 – TENSÕES NOMINAIS DURANTE OS TH’S (DIVISÃO 2 DA SEÇÃO VIII,
EDIÇÃO 2000).................................................................................................................21
2.2.5 – TENSÕES DE PICO ATINGIDAS DURANTE OS TH’S .................................22
2.3 – REVISÃO DE CONCEITOS DA MECÂNICA DA FRATURA ..............................25
2.3.1 – BREVE HISTÓRICO...........................................................................................25
2.3.2 – PROPAGAÇÃO CRÍTICA OU FRATURA FRÁGIL ........................................25
2.3.3 – MÉTODO DOWLING & TOWNLEY ................................................................31
2.3.4 – PROPAGAÇÃO SUBCRÍTICA ..........................................................................32
2.3.5 – FRATURA DÚTIL ..............................................................................................33
2.3.6 – PROPAGAÇÃO POR FADIGA MECÂNICA....................................................37
2.3.7 – PROPAGAÇÃO POR CST ..................................................................................38
CAPÍTULO 3 - PROPOSTA DE TRABALHO ......................................................................42
3.1 – MOTIVAÇÃO PARA O TRABALHO ......................................................................42
3.2 – EQUIPAMENTOS SELECIONADOS.......................................................................43
3.2.1 – VASO DE PRESSÃO EM AÇO CARBONO .....................................................44
3.2.2 – COLUNA DE PROCESSO EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO ............46
3.3 – PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ...........................................................................49
3.3.1 – PROCEDIMENTO DE AVALIAÇÃO DO VASO FABRICADO EM AÇO
CARBONO.......................................................................................................................49
3.3.2 – PROCEDIMENTO DE AVALIAÇÃO DA COLUNA DE PROCESSO
FABRICADA EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO .............................................50
CAPÍTULO 4 - DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS ..................................................51
4.1 – VASO DE PRESSÃO EM AÇO CARBONO ............................................................51
4.1.1 – MODELAGEM POR ELEMENTOS FINITOS ..................................................51
4.1.2 – USO DE SOLUÇÕES ANALÍTICAS .................................................................57
4.2 – COLUNA EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO...............................................69
4.2.1 – CÁLCULO DO FATOR DE INTENSIDADE DE TENSÕES............................69
4.2.2 – MECANISMO DE FRATURA............................................................................70
4.2.3 - CÁLCULO DE JTOTAL ..........................................................................................72
4.2.4 – CÁLCULOS UTILIZANDO MÁXIMA PRESSÃO DE TH ..............................76
4.2.5 – ANÁLISE DE ESTABILIDADE PELA BS-7910...............................................79
xvii
4.2.6 – AVALIAÇÃO DA PROPAGAÇÃO POR CST E FADIGA...............................80
4.2.7 – AVALIAÇÃO PELO CRITÉRIO “LEAK BEFORE BREAK” (LBB) ..............82
CAPÍTULO 5 - DISCUSSÃO E ANÁLISE ............................................................................83
5.1 – GERAL........................................................................................................................83
5.2 – VASO DE AÇO CARBONO ......................................................................................83
5.2.1 – CÁLCULO DOS FATORES DE INTENSIDADE DE TENSÕES.....................83
5.2.2 – RESULTADOS POR DOWLING & TOWNLEY ..............................................85
5.2.3 – RESULTADOS PELA ANÁLISE DO JTOTAL .....................................................86
5.2.4 – PROPAGAÇÃO POR FADIGA ..........................................................................86
5.2.5 – CRITÉRIO “LEAK-BEFORE-BREAK” .............................................................87
5.3 – COLUNA DE AÇO INOXIDÁVEL...........................................................................88
5.3.1 - CÁLCULO DOS FATORES DE INTENSIDADE DE TENSÕES E
MECANISMO DE FRATURA........................................................................................88
5.3.2 – RESULTADOS POR DOWLING & TOWNLEY E JTOTAL ................................88
5.3.3 – PROPAGAÇÃO POR FADIGA E CST ..............................................................89
5.3.4 – CRITÉRIO “LEAK BEFORE BREAK”..............................................................89
5.4 – DISCUSSÃO FINAL ..................................................................................................90
CAPÍTULO 6 - VARIÁVEIS RELACIONADAS À PROPAGAÇÃO E FLUXOGRAMA DE
AVALIAÇÃO DE TH’S ..........................................................................................................91
6.1 – VARIÁVEIS QUE DETERMINARÃO A PROPAGAÇÃO DE
DESCONTINUIDADES EM TH’S PERIÓDICOS ............................................................91
6.2 – ALTERAÇÃO NO TAMANHO DA DESCONTINUIDADE / TRINCA .................91
6.3 – ALTERAÇÃO DAS PROPRIEDADES DO MATERIAL.........................................92
6.4 – MUDANÇA DE GEOMETRIA..................................................................................93
6.5 – FLUXOGRAMA DE ANÁLISE ................................................................................94
6.6 – SOBRE PROPÓSITOS, VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS TH’S
PERIÓDICOS.......................................................................................................................95
6.6.1 – OCORRÊNCIA DE VAZAMENTO ...................................................................95
6.6.2 – NÃO OCORRÊNCIA DE VAZAMENTO..........................................................96
CAPÍTULO 7 - CONCLUSÕES..............................................................................................97
7.1 – CONCLUSÕES – VASO DE AÇO CARBONO........................................................97
7.2 – CONCLUSÕES - COLUNA DE AÇO INOXIDÁVEL .............................................98
7.3 – CONCLUSÕES GERAIS ...........................................................................................99
7.4 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS.....................................................100
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................101
APÊNDICE 1 - FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO, VASO DE AÇO CARBONO ........105
APÊNDICE 2 - MODELOS E RESULTADOS OBTIDOS DA ANÁLISE POR
ELEMENTOS FINITOS ........................................................................................................106
APÊNDICE 3 - COMPARAÇÃO ENTRE SOLUÇÕES PELO SÓLIDO AXISSIMÉTRICO
E ANALÍTICA .......................................................................................................................111
APÊNDICE 4 - FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO – COLUNA DE AÇO INOXIDÁVEL
................................................................................................................................................113
APÊNDICE 5 - FLUXOGRAMA DE ANÁLISE DE APLICAÇÃO DE TH’S ...................114
xviii
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1
- Periodicamente, como um meio de aferir a integridade física e para atendimento
da legislação;
- Após reparos estruturais em equipamentos, quando houve aplicação de
soldagem para recomposição de partes ou sua substituição.
2
realização. Algumas poucas situações vividas ou sabidas, entretanto, permitem
extrapolar suas ocorrências a muitos outros casos e a situações potencialmente
catastróficas, que não são devidamente analisadas ou publicadas. Por este motivo,
pretende-se avaliar um dos possíveis aspectos danosos dos TH’s, especificamente o
crescimento subcrítico de descontinuidades (CSCD), de modo a orientar os usuários
quanto às boas práticas e cuidados que devem ser tomados.
Com base na experiência profissional obtida ao longo de muitos anos, e também com
base em referências encontradas [24] [26] [33], podem “a priori” ser citados como
“possíveis” vantagens e desvantagens da aplicação dos TH’s em vasos de pressão, os
seguintes aspectos:
3
A) Vantagens:
- Importante ferramenta para confirmar a ausência de vazamentos;
- Confirmação do estado de integridade e capacidade de resistir às condições
operacionais normais, no momento de sua realização;
- Alívio de tensões residuais de soldagem de modo a que a estrutura testada
funcione mais “relaxada”.
B) Desvantagens:
- Possibilidade de crescimento crítico de descontinuidade e destruição do
equipamento, seja na fabricação ou após ter sido colocado em serviço;
- Possibilidade de crescimento subcrítico de descontinuidades pela sujeição de
regiões danificadas por mecanismos de danos a solicitações mecânicas muito
superiores às operacionais normais, e com isso a redução das margens de
segurança do equipamento, sem que isto seja percebido!
- Elevada relação custo/benefício da sua aplicação, pois o TH apenas informa se
houve vazamento ou não, não sendo uma ferramenta de inspeção.
Será vista no Capítulo 2, item 2.1, uma revisão bibliográfica relacionada aos TH’s. De
acordo com as referências encontradas, percebe-se que não há uma comunhão de pontos
de vista com respeito a sua aplicação, benefícios e riscos. Será visto também, que as
definições sobre sua aplicação não podem prescindir do papel dos profissionais de
Manutenção das instalações industriais, em última instância os responsáveis pela sua
especificação e execução. É objetivo desta dissertação o entendimento das variáveis
preponderantes envolvidas num TH, abordando os aspectos relacionados ao CSCD e
crescimento crítico.
As motivações existentes para a realização deste trabalho serão mais bem detalhadas no
Capítulo 3. Entretanto, como foi visto no item anterior, a realização dos TH’s pode ser
vantajosa ou não baseada em condições e variáveis anteriormente vistas, o que será o
objeto desta dissertação. A sua prescrição como requisito legal e obrigatório coloca em
xeque os profissionais e empresas, pois a possibilidade de propagação subcrítica ou
crítica de descontinuidades durante sua execução cria certo “paradoxo”! Considerando
4
que a NR-13 visa “proteger” o trabalhador da ocorrência de acidentes em vasos de
pressão, e sendo um requisito legal e normativo, não seria prudente existir esta
obrigatoriedade. Então, justifica-se este trabalho dentro do contexto de esclarecer este
“paradoxo”. Situações em que possam vir a ocorrer propagações subcríticas ou críticas
devem ser identificadas.
5
na direção dos itens 1) ou 2) acima caracterizados para determinar os fatores que levam
ao CSCD durante um TH. Restou a alternativa 3), simulação da aplicação do TH em
equipamentos existentes que possuam descontinuidades. Foram escolhidas duas
situações distintas para análise:
1ª) Um vaso de pressão fabricado em aço carbono comum, que possui um defeito de
fabricação do tipo falta de fusão em um bocal.
2ª) Uma coluna fabricada em aço inoxidável austenítico que sofreu processo de
corrosão-sob-tensão sob o isolamento térmico, gerando trincas finas em extensa região
do costado.
No Capítulo 3 – Proposta de Trabalho serão detalhadas as duas situações, os motivos
que levaram a sua escolha e o procedimento utilizado.
6
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os TH’s definidos pelo ASME [9] são caracterizados como prova de carga que solicita
os vasos de pressão em tensões superiores às tensões estabelecidas nas condições de
projeto, sendo realizados através da aplicação de uma pressão hidrostática, geralmente
utilizando a água como fluido de pressurização. Espera-se que com a sobrevivência do
equipamento a esta pressão elevada, o mesmo esteja apto a desempenhar sua função
operacional com segurança, sob condições menos severas. Os TH’s são obrigatórios
após a conclusão da fabricação de vasos de pressão, e também em equipamentos que já
estão em serviço, pela exigência da legislação em muitos países. Serão vistas nos
subitens a seguir características que distinguem estas duas aplicações.
São sabidas duas finalidades básicas dos TH’s realizados após a fabricação de vasos de
pressão ou após reparos nos mesmos: a garantia da a ausência de vazamentos e da
integridade (resistência) global do conjunto.
Sabe-se também que operações de soldagem durante a fabricação ou reparos de
equipamentos são realizadas com graus de restrição que resultam em tensões residuais
nas proximidades dos cordões de solda, podendo atingir valores da ordem da tensão de
escoamento, conforme informam as práticas recomendadas BS-7910 [15] e API RP579
[5]. Ocorrem também descontinuidades características da soldagem que agem como
concentradores de tensões, conforme mostrado por Barsom e Rolfe [10]. Considera-se
que estas tensões concentradas, por também terem uma característica auto limitante, são
da ordem da tensão de escoamento dos materiais unidos pela soldagem, conforme citado
em artigo da NASA [24]. A aplicação do primeiro TH após a fabricação tem como
resultado o rearranjo destas tensões residuais, pela ocorrência de pequenas deformações
localizadas, levando a estrutura a um mais baixo nível de tensões residuais e, em
pequenas regiões, tensões elásticas de compressão. Esta é outra importante finalidade do
TH, o alívio geral de tensões da estrutura (vide item 2.2.5). Um equipamento testado,
estará menos susceptível a estados complexos de tensões, que muitas vezes originam
7
um estado plano de deformação, como também menos susceptível à corrosão-sob-
tensão, por estar submetido a tensões compressivas residuais em regiões específicas.
Em situações onde não haja plastificação significativa por conta das propriedades dos
materiais, poderá haver uma fratura instável caso haja um defeito maior que o
admissível para as condições de teste [24]. É, inclusive, possível calcular o tamanho de
defeito residual num equipamento que sobreviveu à aplicação do TH, a partir de sua
tenacidade à fratura e geometria. Torna-se importante nesta situação especificar o
tamanho máximo de defeito admissível de maneira a não se vir a danificar um vaso de
pressão durante seu TH inicial. Isto pode ser feito com um adequado controle da
qualidade e execução de reparos nos casos onde os defeitos ultrapassarem o valor limite.
Dois casos de ocorrência de fratura frágil durante o TH inicial relatados por Hayes [26],
foram devidos à baixa temperatura do fluido de teste, resultando na destruição dos
equipamentos antes mesma de ser concluída a fabricação. Isto chama a atenção para um
importante aspecto relacionado ao TH: o econômico.
Resumindo, um equipamento projetado e fabricado de acordo com o ASME, e que
sofreu um TH após sua fabricação ou reparo com soldagem, terá maior garantia de
integridade durante sua vida útil e estará “imunizado” contra determinados tipos de
danos relacionados a estados de tensões. Entretanto, efeitos indesejáveis podem resultar
do TH inicial, como por exemplo, a fratura frágil.
8
Devido à dificuldade em obter garantias de integridade em estruturas testadas
hidrostaticamente ao longo do tempo, e à possibilidade de crescimento subcrítico de
descontinuidades durante o TH, alternativas de inspeção têm sido propostas em
substituição da pressurização, a exemplo do trabalho elaborado por Yasinko et alii [40]
para justificar o uso da técnica de “pig” ultrassônico. Em outra situação semelhante, um
vagão de trem rompeu contendo 30.000 galões de ácido sulfúrico imediatamente após
sua manutenção e inspeção, quando foi testado hidrostaticamente. Isto foi publicado
pelo National Transportation Safety Board [31], e foi analisado por comissão designada
pelo governo federal americano. Uma das conclusões chegadas foi que o TH não é
eficiente para identificar determinados tipos de danos, e que outros ensaios devem ser
utilizados. Em recente trabalho publicado no Brasil [13], Borges reconhece a
importância de se analisar a aplicação de um TH periódico, tendo em vista a
possibilidade de propagação de descontinuidades desde que haja a atuação de
mecanismos de danos. Ao mesmo tempo, reconhece que na ausência destes
mecanismos, o TH será uma mera repetição do primeiro feito após a fabricação.
A sobrevivência a um TH caracterizará um tamanho de defeito crítico que será função
da tenacidade do material na condição de teste (KIC), geometria do componente onde se
encontra a descontinuidade e tensão resultante da aplicação da pressão. Em condições
de serviço normais os tamanhos críticos aceitáveis serão superiores aos calculados para
a condição de TH gerando um “conforto” operacional temporário, pois as
descontinuidades remanescentes poderão vir a propagar por mecanismos de fadiga, CST
ou fluência, que são dependentes do tempo (e das demais características específicas
envolvidas) vindo a se aproximarem do tamanho crítico estabelecido na condição de
TH. TH’s realizados em equipamentos que operem em temperaturas inferiores às
temperaturas em que foram testados (temperatura ambiente, por exemplo) poderão
resultar em pouca informação se não houver uma avaliação da tenacidade do material
em ambas condições. No caso contrário, situação em que os TH’s poderão estar sendo
realizados em condições muito mais severas que a operacional (temperaturas muito
baixas), é mais freqüente verificarem-se falhas catastróficas. Outro fato relevante é a
possibilidade de que transientes térmicos e de pressão podem solicitar um equipamento
em condições superiores à do TH. Um terceiro caso de falha por ocorrência de fratura
frágil relatado por Hayes [26], foi verificado durante um TH periódico em um tubulão
de uma caldeira. A exemplo dos dois casos relatados anteriormente, a fratura frágil foi
9
devida à associação da pressurização com água a baixa temperatura e a ocorrência de
um carregamento súbito não previsto.
Segundo Njo [33], o principal argumento contra a prática de TH’s periódicos é a
possibilidade de CSCD, quando uma descontinuidade de grandes proporções estiver
presente e o equipamento sendo testado no patamar superior de tenacidade, pois
certamente voltaria a operar em pior situação do que antes. Em materiais dúteis, torna-
se possível a propagação subcrítica de descontinuidades durante o TH, devido a um
envelhecimento (“strain ageing”) localizado, com a deterioração da integridade do
equipamento sem que sejam deixadas “pistas”. Cowan e Picker [16] concluem que os
TH’s iniciais executados após a fabricação trazem grandes benefícios ao equipamento,
enquanto que os TH’s periódicos podem elevar os riscos de falha desnecessariamente
caso as propriedades dos materiais sejam desconhecidas.
Já Formby [23] sugere que a utilização dos TH’s se dá com maior certeza do que
qualquer outra técnica para a garantia da ausência de defeitos de um determinado
tamanho crítico. Um TH aplicado em equipamento sujeito a danos por fadiga pode dar
uma garantia da quantidade de ciclos operacionais que o mesmo poderá vir a ser sujeito
sem apresentar falhas, partindo (no sentido inverso) de um tamanho máximo de
descontinuidade possivelmente existente. A determinação deste “prazo” de que não
haverá falhas terá maior garantia para materiais de menor tenacidade, e vice-versa, já
que o mecanismo de propagação esperado durante o TH é por fratura frágil. O TH,
segundo Formby, é uma forma indireta de avaliar a vida em fadiga. Por fim, considera
que diversos casos de falhas catastróficas têm sido presenciados em TH’s,
diferentemente de falhas em serviço. Isto poderia caracterizar os efeitos positivos do
TH! Ainda segundo Formby, tanto o TH quanto o uso de ensaios-não-destrutivos são
ferramentas complementares na garantia da integridade do equipamento. Enquanto os
ensaios-não-destrutivos são mais confiáveis quando os tamanhos críticos são grandes, o
TH são mais confiáveis quando os tamanhos críticos de descontinuidades são menores.
Nichols, em trabalho anterior [32], havia evidenciado que os TH’s são instrumentos
para retardar a propagação por fadiga.
Ainda no estudo conduzido por Njo e citado anteriormente [33], foram relacionados
países da Europa que operam centrais nucleares, e que não têm um objetivo definido
com o uso do TH periódicos. Alguns países adotam os TH’s como teste de
estanqueidade, outros, explicitamente como um teste de integridade. Neste estudo, ficou
10
evidenciado que estes países não consideram aspectos relacionados a mecânica da
fratura. Muitos deles adotam pressões de teste ligeiramente acima da pressão
operacional. Alguns outros, adotam pressões de teste baseadas na pressão de projeto. O
estudo também considera que há risco de crescimento subcrítico de descontinuidades e a
redução das margens de segurança dos equipamentos com a realização do TH, caso as
propriedades e estado de tensões no componente assim permitam.
Chell e Haigh [16] consideram que o TH é a única técnica que pode permitir dar a
garantia de que não existirão trincas que possam afetar a integridade de equipamentos
antigos e submetidos a danos, por haverem limitações no emprego dos ensaios-não-
destrutivos. Pequenas deformações ocorridas pelo escoamento localizado podem levar a
um envelhecimento por deformação (“strain ageing”), que ocorre a temperaturas
ambientes ou ligeiramente elevadas em aços de baixo carbono. Este envelhecimento
resulta em aumento de propriedades mecânicas e perda de tenacidade e dutilidade. Os
cuidados para com este tipo de envelhecimento são óbvios, pois as condições existentes
no TH realizado após a fabricação não se repetirão após o seu uso, e uma
descontinuidade poderá tornar-se crítica com a queda localizada da tenacidade. O uso de
pré-tensionamento a quente (“warm prestressing - WPS”), que é a aplicação inicial de
tensão de teste em temperatura acima da temperatura na condição de serviço, permite
um ganho de tenacidade nesta última condição. Entretanto, o WPS só deve ser aplicado
sob certas condições:
1) O mecanismo de trincamento em serviço deve ser por clivagem (material
operando no patamar inferior de tenacidade).
2) Houve um aumento das propriedades mecânicas como o limite de resistência por
envelhecimento.
3) Não deve haver crescimento subcrítico da descontinuidade após a aplicação do
WPS.
O WPS tem por objetivo melhorar (aliviar) adequadamente a distribuição de tensões em
regiões de descontinuidades em condições de maiores tenacidade e dutilidade, para os
casos em que equipamentos irão operar em região de clivagem. A aplicação do WPS
permite um provável arredondamento de ponta de descontinuidades, o que não seria
possível em condições normais de teste ou de operação. Ainda de acordo com Chell
[17], o WPS trará evidentes benefícios em situações que acarretem apenas pequenas
áreas com escoamento e deformações localizadas. O crescimento subcrítico de
11
descontinuidades não afetará o benefício do WPS se estiver restrito a pequenas
propagações dentro do campo da zona compressiva de escoamento na ponta da trinca.
Caso o crescimento subcrítico leve a uma propagação superior a este campo de
escoamento, é possível ocorrer uma fratura em serviço após o WPS.
Ensaios de emissão acústica têm sido utilizados durante a pressurização [25] [28] como
uma ferramenta para identificar a propagação de descontinuidades durante a execução
de um TH, muitos realizados a pressões inferiores às definidas pelo código de projeto.
Moreton e Moffat [30] analisaram o efeito dos testes de pressão em tampos de vasos de
pressão que haviam sido submetidos a testes de “shakedown”. Concluíram que
deformações incrementais cíclicas que foram observadas durante a operação, não mais
ocorreram após a aplicação de um teste de pressão. Isto significa dizer que em situações
em que haja crescimento incremental pela aplicação das condições operacionais, o TH
trará o benefício de impedir estas deformações.
Tendo em vista as referências consultadas nesta revisão, pode ser concluído que:
12
pressão, a BS-5500 (British Standard), A.D. Merkblatter (norma alemã), etc. O código
do ASME para caldeiras e vasos de pressão [9] é subdividido em seções e divisões, que
abordam o projeto, fabricação, materiais, recomendações operacionais, ensaios e
controle da qualidade e testes, sendo o código mais utilizado no Brasil. Tendo em vista
que os equipamentos objeto de estudo nesta dissertação foram projetados pela Divisão I
da Seção VIII do ASME Boiler and Pressure Vessel Code, a abrangência será restrita a
este código. Os itens a seguir permitirão uma revisão sobre aspectos fundamentais do
projeto de vasos de pressão.
13
admissíveis (que são uma função da temperatura) terão introduzidas nelas fatores de
segurança relacionados às tensões de escoamento e ruptura do material. A Tabela 2.1
permite visualizar os valores das tensões admissíveis em função das tensões de
escoamento e ruptura dos materiais [9]:
2/3 Sy 2/3 Sy
Onde:
A depender do critério de projeto adotado, a falha pode se dar por ruptura dútil, início
de escoamento ou plastificação generalizada, dentre outras formas [19]. Para cada uma
dessas formas haverá um fator de segurança, que pode ser facilmente calculado pelo
inverso dos fatores aplicados sobre as tensões de limite de resistência e escoamento
respectivamente. Os valores de tensão admissível foram incrementados a partir da
edição de 2000, significando uma redução dos fatores de segurança relacionados à
tensão de ruptura de 4 para 3,5. O valor do fator de segurança relacionado ao
escoamento não sofreu alteração com a nova edição do ASME. Os materiais que serão
estudados nesta dissertação possuem as seguintes tensões como referência (Tabela 2.2):
14
TABELA 2.2 - TENSÕES DE REFERÊNCIA, ASME SEC VIII DIV. 1, ANTERIOR
À EDIÇÃO 2000 (EM MPa)
A aplicação dos TH’s se dá com referência nos valores de pressão de projeto ou PMTA.
Antes da edição de 2000, os TH’s eram aplicados por determinação do código ASME
com 1,5 vezes a PMTA, aplicando fator de correção para a temperatura de teste, como a
seguir:
15
S amb
Pteste = 1,5 PMTA( ) (2.1)
S proj
onde,
Pteste = pressão de teste a uma dada temperatura
PMTA = pressão máxima de trabalho admissível
Samb = tensão admissível do material na temperatura de teste
Sproj = tensão admissível do material na temperatura de projeto
Observação: a partir da edição do ano 2000, o valor passou a 1,3 vezes a PMTA, com a
mesma correção para a temperatura de teste.
O cálculo da PMTA se dará, para a tensão primária de membrana, pela fórmula a seguir.
SFt
PMTA = (2.2)
R + 0, 6t
onde,
PMTA = pressão máxima de trabalho admissível, referente à tensão primária de
membrana
S = tensão admissível do material
F = eficiência de junta
t = espessura real
R = raio interno do cilindro (caso a geometria seja cilíndrica)
Esta relação nos garante que ao ser aplicada uma pressão igual à PMTA no
equipamento, a tensão de membrana resultante atingirá exatamente a tensão admissível,
e vice versa. O que acontecerá então quando for aplicada uma pressão de TH? Que nível
de tensão será atingido na membrana do equipamento?
A aplicação de fatores de 1,5 (ou 1,3 para equipamentos projetados pela edição 2000)
sobre as estruturas projetadas para operar nas tensões admissíveis poderá resultar em
duas situações distintas:
16
1a) Quando a tensão admissível (a exemplo do aço carbono A-285 GrC e A-106 GrB)
for uma função da tensão de limite de resistência mínima, a tensão de membrana
resultante ficará abaixo da tensão de escoamento.
2a) Quando a tensão admissível (a exemplo do aço inoxidável A-240 TP304L) for uma
função da tensão de escoamento mínima, a tensão de membrana resultante durante o TH
será muito próxima (ou igual) à tensão de escoamento, pois
2
σ th = 1,5 S y = S y (2.3)
3
onde,
σth = tensão de membrana atingida durante o TH
Sy = tensão mínima de escoamento.
Entretanto, na grande maioria dos casos existem folgas quando é projetado um
equipamento pelo ASME, devido a:
- Adição de uma sobrespessura para corrosão, que não faz parte da espessura
requerida; quando a pressão de TH for estabelecida em função da pressão de
projeto, poderá haver uma folga significativa;
- Os limites de escoamento especificados pelas normas de fabricação são valores
mínimos, sabendo-se que, na prática, os aços utilizados terão tensões de
escoamento maiores que as especificadas;
- Utilização de fator de eficiência de junta menor que 1,0, para compensar a
inspeção parcial em cordões de solda, eleva a espessura requerida sem elevar a
PMTA; metais de solda terão uma análise à parte, já que possuem propriedades
mecânicas distintas às dos materiais base;
- Aquisição de chapas dentro de espessuras comerciais geralmente conferem à
construção uma sobrespessura adicional à espessura requerida.
Por fim, apesar das possíveis folgas existentes, foi visto que o projeto por esta Divisão,
baseado em regras, permite a aproximação e localizadamente a suplantação da tensão de
escoamento, seja pelo somatório da tensão de membrana mais flexão, seja pelas
condições impostas pelo TH.
17
2.2.3 – Código ASME Seção VIII Divisão 2
18
parede fina duas das tensões normais são positivas e a terceira tem módulo muito
pequeno em relação às demais, sendo a tensão normal máxima - circunferencial - igual
a duas vezes a tensão cisalhante máxima), a Divisão 2 utiliza-se diretamente do critério
de Tresca, que é baseado na tensão cisalhante máxima independentemente do estado de
tensões encontrado. O critério de Tresca é mais preciso e adequado para a verificação de
escoamento ou fadiga em metais dúteis e sob solicitações mais complexas [8]. O termo
tensão admissível (“allowable stress”) foi substituído por “stress intensity”, que é
equivalente a duas vezes a máxima tensão cisalhante permitida (aplicação do critério de
Tresca). Os tipos de carregamentos considerados para o projeto por esta divisão são:
- pressão interna ou externa, incluindo a coluna de líquido;
- peso do equipamento nas situações de operação normal e de teste;
- cargas impostas, como peso de outros equipamentos, de isolamento térmico, de
“linings”, e de tubulações;
- cargas de vento, neve e terremotos;
- cargas impactantes, incluindo rápida flutuação de pressões;
- cargas induzidas por variação de temperatura, como por deformações
diferenciais e expansões ou contrações nas regiões de suportação e apoios a
tubulações.
Por este critério de projeto adotado, os seguintes requisitos deverão ser atendidos:
a) a tensão de membrana primária, gerada por cargas mecânicas,
excluindo descontinuidades e concentrações de tensão, não
poderá ultrapassar ao valor admissível (“stress intensity”);
b) a tensão de membrana localizada não poderá ultrapassar a 1,5
vezes o valor admissível (“stress intensity”);
c) tensões primárias de membrana mais primária de flexão
(excluindo tensões secundárias e de pico), devido a
carregamentos de pressão ou mecânico, não poderão ultrapassar
a 1,5 vezes o valor admissível (“stress intensity”);
d) tensões primárias de membrana mais primárias de flexão,
somadas às tensões secundárias, não poderão ultrapassar a 3
vezes o valor admissível (“stress intensity”);
19
e) tensões de pico, somatório das condições anteriormente
descritas mais o efeito de descontinuidades, deverão ser
avaliadas conforme a análise de fadiga, contida no apêndice 5
do ASME – Projeto Baseado em Análise de Fadiga.
Assim, os valores de tensão calculados para cada um dos casos descritos são
comparados com os valores admissíveis denominados de “stress intensity”, que são
fornecidos nas tabelas de propriedades dos materiais, Seção II, parte D. Os valores de
“stress intensity” são calculados conforme a Tabela 2.3:
2/3 Sy 2/3 Sy
Onde:
Considerando os materiais utilizados nas duas situações que serão analisadas, tem-se as
seguintes tensões admissíveis (Tabela 2.4):
20
TABELA 2.4 - TENSÕES DE REFERÊNCIA, ASME SEC VIII DIV 2, EDIÇÃO 2000
(EM MPa)
2.2.4 – Tensões Nominais Durante os TH’s (Divisão 2 da Seção VIII, Edição 2000)
2
σ th = 1, 25 S y = 0,83S y (2.4)
3
onde,
σth = tensão de membrana primária atingida durante o TH
Sy = tensão de escoamento
21
Adicionalmente, os limites máximos de tensão permitidos pela Divisão 2 durante os
TH’s são:
a) tensão de membrana (Pm) que atinja 90% da Sy na temperatura de
projeto;
b) tensão de membrana (Pm) mais de flexão (Pb) que atinjam:
- Pm + Pb ≤ 1,35 Sy, para Pm ≤0,67 Sy, ou
- Pm + Pb ≤ 2,35 Sy – 1,50 Pm, para 0,67 < Pm ≤ 0,90 Sy;
22
intensidade que a carga elástica que levou até o início do escoamento quando for
aliviada a tensão resultante do TH, como pode ser visto na Figura 2.1:
σ
B C
Sy
A
ε
D
Observa-se que a tensão residual no ponto D, que representa a região que escoou e
descarregou elasticamente, é de compressão. Se for aplicada uma nova tensão a uma
pressão inferior à pressão de TH, esta região será submetida unicamente a um
carregamento elástico (D =>E), conforme Figura 2.2:
σ
B C
Sy
E
A
ε
D
23
Caso seja submetido a uma mesma pressão de TH, a tensão resultante será a mesma
atingida durante o primeiro teste, e o ponto E irá coincidir com o ponto C. Caso a
pressão TH aplicada fosse superior à primeira, haveria uma nova plastificação, e um
aumento da descarga elástica conforme percurso DFGH na Figura 2.3:
σ
Sy B CF G
E
2Sy
A
ε
D H
-Sy
O valor do descarregamento elástico não poderá ser superior a 2Sy, por considerar-se
que o escoamento sob compressão limitará a elevação da tensão de compressão em um
material elastoplástico ideal. Esta propriedade que os materiais elastoplásticos exibem
de escoar e aumentar seu regime elástico é também chamada de “shakedown”
(assentamento), e é responsável pela redução das tensões residuais e manutenção de
campo de tensões compressivas nas regiões que sofreram a ação de concentradores de
tensões.
Concluindo, o TH em vasos de pressão projetados pelo ASME Seção VIII Divisões 1 e
2, levará a estrutura a tensões de membrana muito próximas às tensões de escoamento,
enquanto que, devido a tensões de flexão e a fatores de concentração de tensões haverá
escoamento localizado. Estas regiões ficarão sujeitas a tensões residuais de compressão
após o descarregamento, em valores superiores a –Sy (tensão de escoamento à
compressão). Enquanto o equipamento não for solicitado a pressões maiores, estas
regiões continuarão submetidas a um regime elástico mais amplo que o das regiões que
não apresentaram escoamento. A alteração desta condição só se dará caso o
equipamento venha a ser submetido a uma solicitação maior que a do TH, ou venha a
ser submetido a mecanismos de danos.
24
2.3 – REVISÃO DE CONCEITOS DA MECÂNICA DA FRATURA
Propagação crítica ou fratura frágil é aquela que é caracterizada por rápida propagação,
levando ao rompimento e separação de seções de um componente ou equipamento, com
baixa liberação de energia e sem que haja deformação plástica apreciável. As
superfícies de fratura são brilhantes, sem estricção, planas (normalmente na direção
perpendicular da máxima tensão normal). Dá-se pela ocorrência de baixa tenacidade do
material, por estados planos de deformação ou devido a condições transientes como, por
exemplo, choques térmicos. Microscopicamente em aços ferríticos, uma fratura frágil
25
apresenta relevos e arestas que caracterizam o fenômeno da clivagem, com orientação
radial que aponta para a direção de ocorrência da fratura [6].
Vasos de pressão possuem descontinuidades que são inerentes aos materiais ou
introduzidas durante sua fabricação, como foi visto em trabalho da NASA [24]. Assim,
é possível ocorrer durante o TH inicial uma fratura frágil caso existam descontinuidades
de tamanhos superiores a um tamanho crítico (acrit) [24] [26].
A possibilidade de propagação crítica em um TH periódico pode ser verificada caso
haja alguma alteração na combinação dos fatores descritos quando comparados ao TH
inicial. Por exemplo, o aumento de dimensão de uma descontinuidade por algum
mecanismo de dano (fadiga ou CST), a utilização de um fluido de teste muito frio, ou
então, uma queda de tenacidade devida a envelhecimento metalúrgico, pode levar à
propagação crítica de descontinuidade num teste periódico. A informação que pode ser
obtida após a sobrevivência a um TH é o tamanho de descontinuidade remanescente no
equipamento (se em EPD), já que o mesmo não sofreu de fratura instável.
Outra informação relevante que pode ser tirada de um equipamento e relacionada à
fratura frágil é a verificação da condição de “ocorrência de vazamento antes da fratura
frágil” (ou, no inglês, “leak before break”). Este conceito é largamente utilizado na área
nuclear [35] que é sujeita a padrões de segurança bastante restritivos, devendo este
critério ser observado durante a fase de projeto e especificação de materiais, permitindo
garantir que se houver o crescimento de uma descontinuidade no material por qualquer
mecanismo de dano, haverá um vazamento de produto antes que possa haver uma
fratura frágil. Isto significa, em outras palavras, que o tamanho crítico (acrit) de uma
descontinuidade é maior que a espessura do equipamento, e por este motivo nunca será
atingido, pois a ocorrência de um vazamento antes da ruptura deflagrará imediatamente
o processo de seu desligamento (do equipamento). Este critério de projeto, se de um
lado não impede a ocorrência de um vazamento de produto, de outro lado garante que se
houver um vazamento ele será pequeno e não haverá propagação crítica que pode levar
a uma explosão ou grave acidente, podendo ser identificado a tempo e com
conseqüências de pequeno porte. Equipamentos ou tubulações de alta criticidade e
armazenando ou conduzindo produtos perigosos ou a elevadas pressões e temperaturas
devem ser projetados para esta condição, conforme sugerido por Takahashi [38].
A propagação crítica ou frágil se dá sem que haja deformação plástica significativa,
sendo uma característica do estado plano de deformação (EPD). Utiliza-se para esta
26
condição a MFEL (Mecânica da Fratura Elástica Linear), que pode ser traduzida pela
equação
K I = Yσ π a (2.5)
onde
KI = fator de intensidade de tensões (modo I)
Y = fator geométrico
σ = tensão nominal aplicada
a = dimensão característica da trinca
Pela MFEL, haverá propagação instável de uma trinca no momento que o valor de KI,
calculado pela equação acima descrita superar o valor da tenacidade do material Kmat
(crítico), obtido a partir de ensaios de tenacidade. Então, a condição de falha durante o
TH será definida por
K mat ≤ Y σ TH π a (2.6)
onde
σTH = tensão aplicada durante o TH
Kmat = tenacidade à fratura para a temperatura de TH.
Partindo-se da equação acima descrita, pode-se facilmente estabelecer uma relação entre
o tamanho de trinca e a tensão aplicada, resultando no gráfico apresentado na Figura
2.4:
27
Variação da Tensão Aplicada X Tamanho de
Trinca
160
140
120
Tensão (MPa)
KI1
100
KI2
80
KI4>KI3>KI2>KI1 KI3
60
40 KI4
20
0
0 5 10 15 20 25 30
a (mm)
28
B) Através de correlações entre KIC e resultados de ensaio Charpy,
nos patamares superior, inferior ou na região de transição dútil / frágil,
determinadas por diversas entidades de pesquisa [34].
C) Através de relações de KIC com outras medidas de tenacidade à
fratura, como J, COD (ASTM E-1820).
D) Valores médios “default” obtidos no API RP579.
29
t, a, (t-a), h ≥ 2,5 (K/Sy)2 ?
Sim Não
E. plano de E. plano de tensão
deformação
a, (t-a), h ≥ 8roσ
MFEL
Sim Não
MFEL P<80% valor plástico?
Sim Não
K: (a+roσ ) J ou COD
Zona plastificada h
roσ
a t
onde,
t = espessura do elemento
a = metade do comprimento da trinca
h = distância da ponta da trinca até a borda, perpendicularmente ao plano da trinca
K = fator de intensidade de tensões
Sy = tensão de escoamento
roσ = raio da zona plastificada para estado plano de tensões
30
2.3.3 – Método Dowling & Townley
1,2
1
Fratura
Inaceitável
0,8 Frágil
Região de Corte para aços Corte para aços
transição carbono inoxidáveis austeníticos
KR
0,6 FAD
0,4
Fratura
Dútil
0,2
Aceitável
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2
LR
Pontos com coordenadas (KR,LR) plotados abaixo da curva estarão aceitos dentro do
critério de avaliação da BS-7910 e API RP579. Se forem plotados acima da curva, a
31
condição será considerada inaceitável. A Fig. 2.6 também mostra as regiões que estão
relacionadas aos tipos de mecanismos de propagação de trincas (frágil, dútil e região de
transição).
32
Crescimento de Trinca no Tempo
Ruptura
70 instantânea
60
acrit
50
Região de crescimento
40
subcrítico
∆a
Curva de Crescimento
30
20
10
0
0 5 10 15
Tempo
33
representa uma curva característica de J-R (curva de resistência à aplicação de um
carregamento):
9000
8000
7000
6000
J-R (in.psi)
5000
4000
3000
2000
1000
0
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08
∆a (in)
K I 2 (1 −ν ) 2
J el = (2.8)
E
para um EPD, ou
KI 2
J el = (2.9)
E
34
O valor de Jpl é obtido através de soluções e cálculos que relacionam tensão de
escoamento, carregamento e geometria. Quando o valor de Jtotal ultrapassa a um valor
crítico JIC, que é uma propriedade do material (determinada por ensaio do ASTM E1820
e representa a tenacidade do material no início da propagação de uma trinca), poderá
haver propagação instável da trinca, caso não seja verificada ao mesmo tempo a
propagação estável. Caso JIC não seja ultrapassado, será verificado o “blunting”, que é o
arredondamento da ponta da trinca com uma pequena propagação. A Figura 2.9
representa o resultado do ensaio de integral J versus o incremento no tamanho da trinca,
por crescimento subcrítico ou “blunting”:
Jtotal
JIc
“Blunting” CSCD
Figura 2.9 – Gráfico de teste de integral J, caracterizando o “blunting” ou o CSCD
35
R - curva de R (J/m2)
resistência
Falha do
Curvas de componente
solicitação
σ3 σ2
σ1
onde σ3 > σ2 > σ1 são valores de tensões aplicadas. Os valores de R (curva de resistência)
são obtidos através de ensaios pelo ASTM E561, enquanto os valores da curva de
solicitação são obtidos através da relação
(Y 2σ 2π a)
G= (2.10)
E
sendo G a taxa de liberação de energia elástica mais plástica. Para cada valor de tensão,
haverá um valor de G diretamente relacionado a um tamanho de trinca. Por este motivo,
as curvas de solicitação são lineares. Assim, como mostrado na figura 2.10, valores
muito baixos de tensão (σ1) provocarão nenhum ou pequeno incremento no tamanho da
trinca (∆a), pois estarão interceptando a curva de resistência no trecho vertical. Uma
tensão maior poderá interceptar a curva de resistência no trecho inclinado,
caracterizando um aumento de trinca ∆a1, por crescimento subcrítico. Para um valor
maior de tensão (σ3, por exemplo), a curva de solicitação não mais interceptará a curva
de resistência, caracterizando a condição de instabilidade da trinca. O momento exato de
falha, caracterizado pela intersecção das duas curvas está representado pelo ponto
vermelho, ocorrendo a uma tensão entre σ3 e σ2.
36
2.3.6 – Propagação por Fadiga Mecânica
KIC,
fratura
final
da/dN
log ∆K
A equação de Paris é uma das mais utilizadas nos cálculos de fadiga, e representa a
propagação na Fase 2:
37
da
= A(∆K ) m (2.11)
dN
onde
A análise de fadiga mecânica para vasos de pressão pode ser conduzida através da
Divisão 2 da Seção VIII do ASME, no apêndice 5 (mandatório). São aspectos relevantes
nesta análise:
1) Números de ciclos de carga completos;
2) Número de ciclos de carga parciais;
3) Número de ciclos térmicos, em mesmo material, e
4) Número de ciclos térmicos caso haja união de materiais com coeficientes de
expansão térmica distintos.
Estes valores levantados determinarão se a análise deverá ou não ser conduzida. Outros
aspectos como concentradores de tensões, existência de soldas de filete, etc. também
deverão ser avaliados.
A interação do mecanismo de fadiga mecânica com a realização do TH´s em
equipamentos já foi investigada por alguns autores conforme visto no item 2.1.
38
CST é um fenômeno que gera falhas “retardadas”, isto é, a falha do componente não
ocorre no início do processo. Três fases distintas do mecanismo de CST podem ser
citadas [7]:
1) Nucleação e estágio 1 de propagação, período em que o material perde a
passivação e aparecem os primeiros entalhes em escala microscópica. Está mais
associada aos fenômenos eletroquímicos que mecânicos. As tensões, neste
estágio, agem no sentido de facilitar a ruptura de filmes protetores.
2) Propagação em velocidade constante, sob condições de carga e eletroquímicas.
A velocidade de propagação pode ser facilmente medida por equações que
relacionam crescimento da trinca a tenacidade. É estabelecido o conceito do
KICST, valor de intensidade de tensões a partir do qual dar-se-á a propagação
subcrítica da trinca de CST.
3) Estágio final, caracterizado pelo aumento da velocidade de propagação pela
aproximação do KI do valor crítico.
As características de cada um destes estágios podem ser representadas pela figura 2.12:
Tempo
Tempo para
para fratura
fratura
t2
t1
Tempo para
nucleação de
trinca
39
processo e propagação subcrítica das trincas. Neste intervalo, quanto maior a tensão
aplicada, menor o tempo para a fratura final. Já para tensões maiores que a tensão de
fratura, haverá ruptura instantânea sem que haja o desenvolvimento da CST. Entre a
tensão limite e a tensão de fratura ocorrerá a propagação subcrítica, pelo crescimento do
KI a partir do KICST. Enquanto o KI não superar o KIC, haverá crescimento subcrítico,
conforme visto na Figura 2.13:
Log da/dt
KICST KIC
KI
40
da velocidade de propagação das trincas, também em aços ferríticos. Aços inoxidáveis
austeníticos geralmente são resistentes ao trincamento pelo hidrogênio, nas condições
de recozido ou levemente trabalhado a frio. Entretanto, são bastante afetados pelo
hidrogênio quando possuem baixo limite de resistência. O AISI 304L é grandemente
afetado pelo hidrogênio, apresentando grande perda de dutilidade [7].
41
CAPÍTULO 3 - PROPOSTA DE TRABALHO
Existe uma razoável quantidade de trabalhos que abordam o tema “teste hidrostático”,
tratando-se de uma prática disseminada no mundo. Os aspectos relacionados à
propagação de descontinuidades durante sua execução são geralmente os focos da
questão, pois se de um lado se requer que o mesmo traga algum benefício, de outro não
é esperado que haja prejuízos. Avaliada nesta dissertação a ocorrência de propagação
subcrítica de descontinuidades pela aplicação de TH em equipamentos projetados e
fabricados pelo ASME – Boiler and Pressure Vessel Code [9], pela aplicação de pressão
de 1,5 X PMTA nos dois casos selecionados. Também foram avaliadas as condições
em que poderia ocorrer propagação crítica. A obrigatoriedade da realização de TH’s
periódicos, especialmente no Brasil pela existência de requisito legal [14], torna este
trabalho interessante e também obrigatório, para que haja esclarecimento a grande
número de profissionais que lidam com vasos de pressão e tem se perguntado se os
TH’s realizados de acordo com a NR-13 estão trazendo benefícios ou malefícios.
Possíveis vantagens e desvantagens foram relacionadas no Capítulo 1, item 1.3, porém,
cabe ressaltar que a realização de TH’s ainda exige que os equipamentos sejam retirados
de serviço, o que por si gera um grande ônus aos seus proprietários. Períodos de paradas
para manutenção em grandes empresas de petróleo ou petroquímicas são
demasiadamente curtos para a realização de tantos TH’s, além de todos os outros
trabalhos prescritos.
42
atraso no cumprimento da lei. Entretanto, este aspecto seria irrelevante se fossem
garantidos os benefícios de sua realização.
Já vimos que a existência de mecanismos de danos (corrosão, fadiga, fluência, etc.) que
venham a deteriorar parcialmente o equipamento pode alterar as respostas esperadas
pelos TH’s, pela modificação das condições originalmente verificadas ao término da
fabricação. A identificação destes mecanismos de danos é parte fundamental no
processo decisório de como conduzir um TH, e será considerada em detalhe no final
deste trabalho.
Resumindo, a maior motivação está em levantar os fatores preponderantes e variáveis
determinantes envolvidas na execução dos TH’s, permitindo uma análise mais criteriosa
sobre se poderá haver ou não algum tipo de propagação de descontinuidade.
Dois diferentes casos foram selecionados para a análise nesta dissertação. A escolha foi
motivada pela necessidade de gerar distinções que permitissem atingirmos os resultados
almejados e aumentar a abrangência da análise. É sabido que a variação do nível de
tensões, de tamanhos de trincas, de tenacidade à fratura e a existência de mecanismos de
danos (que acabam por alterar estes outros fatores já citados) tem uma estreita relação
com os objetivos que almejamos. Procurou-se selecionar os equipamentos dentro desta
perspectiva e considerando situações características no ambiente industrial. Existem
equipamentos que sofrem de mecanismos de danos de forma significativa e bem
característica, sendo bastante afetados no tempo. Outros, entretanto, apesar de instalados
em unidades industriais não sofrem de mecanismos de danos significativos, ou então
são apenas levemente afetados pelos mesmos. Neste último grupo, a existência de
trincas está relacionada a descontinuidades geradas durante o processo de fabricação.
Materiais de uso em vasos de pressão também são uma variável que deve ser
considerada. Aços carbono e inoxidáveis são bastante utilizados e possuem distinções
que interessa avaliar. Por conta destes fatores, foi analisada a aplicação do TH nos dois
equipamentos caracterizados nos itens a seguir.
43
3.2.1 – Vaso de Pressão em Aço Carbono
360 mm
38 mm
31,75 mm
12,7 mm
44
Descontinuidade
considerada
Espessura
do bocal
Figura 3.2 – Vista da conexão pelo lado interno, mostrando a descontinuidade do tipo
falta de fusão
Será considerado que não houve qualquer tipo de interação desta descontinuidade com o
meio, pois o mesmo é inerte e não houve qualquer processo corrosivo durante seu
serviço e também que este equipamento foi fabricado em conformidade com o código
de construção ASME Seção VIII, Divisão 1, sendo testado hidrostaticamente ao término
da fabricação com 1,5 vezes a pressão de projeto, não tendo sido testado posteriormente.
A trinca / falta de fusão possui uma profundidade igual a 19 mm. Os dados técnicos
relativos a este equipamento estão relacionados na Tabela 3.1:
45
TABELA 3.1 - DADOS TÉCNICOS DO VASO DE AÇO CARBONO
DADOS VALORES
Pressão de projeto 34,1 kg/cm2
Pressão de operação 31,0 kg/cm2
Pressão de teste hidrostático 51,2 kg/cm2
Temperatura de projeto 115 oC
Temperatura de operação 100 oC
Radiografia Total
Eficiência de junta 1,0
Sobrespessura para corrosão 0
Material do costado A-285 GrC
Material da conexão A-106 GrB
Isolamento Sim
Tempo de serviço 12 anos
Em trabalho anterior conduzido por Silva [36], foi estudada a propagação de uma
descontinuidade semelhante à que foi avaliada aqui. Concluiu-se que as tensões
aplicadas na direção radial são de baixa grandeza, e por este motivo não é esperada a
propagação por efeito das mesmas. Como este equipamento opera em temperaturas
relativamente baixas (abaixo de 149ºC) também não é esperado ocorrer qualquer tipo de
envelhecimento metalúrgico do tipo “strain ageing” [5] com redução de tenacidade do
material.
46
verifica-se entre 70 e 105o C [11]. Não se avaliou a influência do TH sobre o
equipamento que já deveria estar apresentando o mecanismo de CST na oportunidade.
Suspeita-se que o TH realizado no equipamento após o reparo do costado possa ter
gerado a propagação de danos, acelerando o término de sua vida útil. A Figura 3.3
mostra as características da região afetada pela CST no equipamento:
Área afetada
-
pela CST,
profundidade
desconhecida
6
Soldas
mm
circunferenciais
2.576
m
Solda 2.100 mm
longitudinal
Largura = 2000 mm
47
TABELA 3.2 - DADOS TÉCNICOS DA COLUNA DE INOX
DADOS VALORES
Pressão de projeto 2,1 kg/cm2
Pressão de operação 0,3 kg/cm2
Pressão de teste hidrostático 3,2 kg/cm2
Temperatura de projeto 135oC
Temperatura de operação 120oC
Radiografia Parcial
Eficiência de juntas 0,85
Sobrespessura para corrosão 0 mm
Altura total 24.450 m
Material do costado A-240 TP 304L
Altura das virolas 2.576 mm
Isolamento 40 mm
Tempo de serviço 25 anos
Figura 3.4 – Foto mostrando região da coluna afetada por CST, vendo-se as marcas de
trincas superficiais ramificadas
48
3.3 – PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
Foram vistas as principais características das duas situações escolhidas, que podem ser
resumidas na Tabela 3.3:
49
avaliação deste caso foi conduzida dentro da seqüência descrita no fluxograma contido
no Apêndice 1.
50
CAPÍTULO 4 - DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS
Utilizou-se o software ANSYS 7.0, tomando-se como ponto de partida para esta
modelagem os elementos axissimétricos 2-D, do tipo PLANE2, ao invés de utilização
de modelagem de sólido (3-D). Os motivos para esta escolha foram:
A) Considerou-se que, por aproximação, o estado de tensões em uma superfície
cilíndrica é bi-axial, já que as tensões radiais são muito inferiores às outras duas.
B) Maior facilidade de conduzir a modelagem em 2-D com elementos axissimétricos,
sendo gastas menos horas de programação, cálculo e análise.
C) Considerando a análise como 2-D, foi possível encontrar soluções analíticas
publicadas com geometrias semelhantes à do modelo criado, permitindo comparações
entre os métodos numérico e analítico.
51
geometria da trinca, partindo da definição de “keypoints”, linhas, áreas, etc. (ver Figura
4.1 e Apêndice 2).
Trinca com a = 19 mm
52
Ponta da
trinca
4.1.1.2 – Resultados
53
Seção da trinca
Figura 4.3 - Mapeamento das tensões no eixo X, modelo sem trinca, e seção da trinca
sujeita à análise
Deste modelo sem trinca, foi também obtida a distribuição de tensões e sua linearização,
que serão utilizadas no procedimento de cálculo analítico. A Figura 4.4 apresenta a
distribuição das tensões obtida na seção de propagação da trinca (modelo sem trinca):
σ (MPa)
t (mm)
54
Do modelo com a trinca foram obtidos os valores dos fatores de intensidade de tensões
KI e KII (modos I e II), sem considerar qualquer fator de correção ou as tensões
residuais de soldagem, porém com e sem a aplicação da mesma pressão de TH nas faces
da trinca, conforme mostrado na Tabela 4.1:
KI 8,2 5,7
As figuras 4.5 e 4.6 do modelo com trinca a seguir mostram a visão geral e os detalhes
da região concentração de tensões na ponta da trinca, na direção X:
55
Figura 4.6 – Detalhe do mapeamento das tensões no eixo X, ponta da trinca
Observações:
1) No cálculo de KI e KII não foram consideradas as tensões residuais de soldagem,
tendo sido esta tarefa realizada analiticamente, dentro dos procedimentos
utilizados.
2) A análise efetuada foi linear.
3) Não foram utilizadas as rotinas de programação para o cálculo do Jtotal = Jel+Jpl.
O cálculo do parâmetro Jtotal foi feito utilizando-se de soluções analíticas,
posteriormente detalhadas.
56
valores de KI e KII calculados através do ANSYS, resultando nos seguintes valores
finais da Tabela 4.2:
KI 8,0 5,6
Com os resultados obtidos pela análise por elementos finitos foi possível partir para a
determinação dos parâmetros necessários para a caracterização ou não da propagação
subcrítica e da estabilidade da descontinuidade. Isto foi realizado através dos
procedimentos contidos na BS-7910:1999, “Guide on methods for assessing the
acceptability of flaws in metallic structures” [15], no API RP579 2000, “Fitness-for-
Service” [5] e conforme Anderson [1], o que será visto em detalhes nos itens a seguir.
57
3ª) Tensão total, somatório das anteriores mais as tensões de pico na superfície externa
do conjunto, correspondente a 108,14 MPa.
Pelo procedimento da BS-7910, adotou-se uma linearização de tensões conforme a
Figura 4.7:
σB
σA
a
0
t
Então, para a distribuição de tensões mostrada na Figura 4.4, a seguinte linearização foi
obtida, como mostra a Figura 4.8:
120
100
80
Tensões linearizadas
60
40
20
0 Tensões reais
0 10 20 30 40 50 60 70
-20
-60
-80
Espessura da seção
-100
-120
58
As tensões de membrana Pm e flexão Pb foram calculadas conforme a seguir:
(σ A + σ B )
Pm = (4.1)
2
e
(σ A − σ B)
Pb = (4.2)
2
Com este procedimento foram obtidos dois pares de tensões Pm e Pb, o primeiro
resultado da linearização das tensões em toda a seção (I), o segundo, resultado da
linearização na seção onde a trinca está presente (III). Esta última é uma alternativa
menos conservativa, porém resulta em maior grau de precisão, pois representará com
maior aproximação o campo de tensões na ponta da trinca. Foi ainda contemplada uma
terceira alternativa (II), que considerou as mesmas tensões de (I), mas não considerou os
mesmos fatores de concentração de tensões, já que a trinca se encontra bastante afastada
da superfície submetida às tensões de pico. As tensões linearizadas consideradas para os
três casos descritos foram (Tabela 4.3):
Pm 12,5 9,2
Pb -7,5 -2,7
Tendo em vista o modelamento em 2-D pelo ANSYS, foi adotado como modelo
equivalente uma placa com trinca de comprimento infinito, conforme ilustrado a seguir:
59
W
a
B
Para esta geometria, foram utilizadas as soluções para cálculo de KI e σref conforme as
equações a seguir:
K IC = [Y σ ( p ) + Y σ ( s + r )] π a (4.3)
onde,
KIC = tenacidade à fratura (modo I, crítica) para estado plano de deformação
Yσ (p) = (fatores geométricos e tensões principais)
Yσ (s+r) = (fatores geométricos e tensões secundárias e residuais)
Pb + Pb 2 + 9 Pm 2 (1 − a ") 2
σ ref = (4.4)
3(1 − a ")
sendo
σref = tensão de referência para cálculo do KI
a” = a/t (conforme definidos na Fig. 4.9)
Os fatores Yσ (p) e Yσ (s+r) foram calculados considerando as formulações a seguir:
(Yσp)=M fw [ktm Mkm Mm Pm+ktb Mkb Mb (Pb+(km-1)Pm)], e
(Yσs)=Mm Qm + Mb Qb, sendo
M e fw – fatores de correção para deformação e largura finita, considerados iguais a 1;
Mm, Mb, Mkm, Mkb – fatores de incremento dos fatores de intensidade de tensões KI,
calculados pelas formulações do procedimento;
ktm – fator de concentração de tensões de membrana;
60
ktb – fator de concentração de tensões de flexão;
km – fator de incremento devido ao desalinhamento, considerado igual a 1;
Qm – tensão secundária e residual de membrana, e
Qb – tensão secundária e residual de flexão.
A tensão residual de soldagem (Qm) foi considerada uniforme, na direção das tensões
de membrana, igual à tensão de escoamento do material A106 GrB, equivalente a 241
MPa. A tenacidade à fratura foi calculada a partir de curva de referência adotada pelo
API [5]. Esta curva de patamar inferior (“lower bound”) de tenacidade é calculada pela
seguinte equação:
onde
Utilizando esta relação, obtido o valor de tenacidade à fratura KIC igual a 136 MPa.m1/2.
Com este valor e com KI, Sy e σref já obtidos, calculados os parâmetros KR e LR (Tabela
4.4):
CASO KR LR
BS I 0,88 0,04
BS II 0,81 0,04
A curva FAD (critério Dowling & Townley) contendo os pontos acima tabelados, pode
ser vista a seguir, na Figura 4.10:
61
CURVA FAD - BS-7910 E API RP579
1,2
0,8
FAD
BS I
KR
0,6
BS II
BS III
0,4
0,2
0
0 0,5 1 1,5
LR
Verifica-se que todos os três casos estão plotados abaixo da curva FAD, na zona de
propagação frágil, significando que não haverá propagação instável. É importante
ressaltar que como se trata de uma avaliação de propagação e não de uma análise de
integridade, não foram utilizados fatores de segurança parciais, conforme recomendado
pela BS-7910.
62
TABELA 4.5 - TENSÕES LINEARIZADAS CONSIDERADAS (MPa)
Pm 12,5 9,2
Pb -7,5 -2,7
a a a a
K I = [G0σ 0 + G1σ 1 ( ) + G2σ 2 ( ) 2 + G3σ 3 ( )3 + G4σ 4 ( ) 4 ] π a (4.6)
t t t t
onde
G0, G1, G2, G3 e G4 são termos fornecidos para a geometria em função de a/t, e σ0, σ1,
120
100
Tensões Linearizadas
80
60
40
Distribuição de Tensões
σ (MPa)
20
0
-20 0 Polinômio (Distribuição
10 20 30 40 50 60 70 de Tensões)
-40
Tamanho da Trinca
-60
-80 Espessura da seção
-100 4 3 2
y = 0,00009x - 0,01356x + 0,70960x - 14,21139x +
-120 92,58905
t (mm)
63
Para o Caso V, em que se considerou a distribuição de tensões na seção da trinca, a
função polinomial de ajuste de quarta ordem ficou reduzida a uma função de segunda
ordem, como segue na Figura 4.12:
9
8
7
6 Distribuição de Tensões
σ (MPa)
5
4 Polinômio (Distribuição
3 Tamanho da trinca
de Tensões)
Espessura da seção
2
1
y = -6E-17x2 - 0,1493x + 15,001
0
0 20 40 60 80
t (mm)
onde a"=a/t.
A tensão residual de soldagem foi considerada uniforme, na direção das tensões de
membrana, igual à tensão de escoamento do material A106 GrB, equivalente a 241
MPa. Finalmente, utilizando as relações acima e o valor de KIC igual a 136 MPa.m1/2,
foram obtidos os parâmetros KR e LR, como segue na Tabela 4.6:
64
TABELA 4.6 - VALORES DE KR E LR (API RP579)
CASO KR LR
IV 0,73 0,08
V 0,57 0,07
1,2
0,8 FAD
KR
0,6 API IV
0,4 API V
0,2
0
0 0,5 1 1,5
LR
Finalmente, agrupando os cinco casos analisados (BS e API), obtém-se (Figura 4.14):
65
CURVA FAD - BS-7910 E API RP579
1,2
0,8 FAD
BS I
BS II
KR
0,6
BS III
API IV
0,4 API V
0,2
0
0 0,5 1 1,5
LR
A parcela elástica do Jtotal pode ser facilmente obtida a partir do cálculo de KI (em EPT)
por relação já apresentada no Capítulo 2, item 2.3.5. Para o cálculo da parcela plástica
foi utilizado um modelo de placa 2-D com trinca lateral e momento fletor, solução
publicada por Anderson [1], tabela 12.16 (Compilação de Soluções de K, J, Adequação
e Cargas Limite). Esta geometria possui a seguinte formulação para o Jpl:
ba P
J pl = αε 0 S y h1 ( ) n +1 (4.8)
W P0
onde
Α= constante adimensional, considerada igual a 1
εo=deformação específica para a tensão de escoamento, igual a Sy/E
Sy= tensão de escoamento, MPa
h1= fator adimensional, função de a, W, n, λ)
P= carga aplicada, N
66
Po= carga de plastificação no ligamento, N
n = expoente, igual a 1/0,334
O valor obtido para Jpl foi igual a 1,85 kJ/m2, que somado aos valores de Jel para cada
um dos cinco valores de KI calculados (Casos BS I, BS II, BS III, API IV e API V),
resulta em (Tabela 4.7):
Jel (kPa.m) 64 43 43 47 28
Jpl (kPa.m) 2 2 2 2 2
Jtotal (kPa.m) 66 45 45 49 30
(*) O valor de JIC foi obtido para o material A106 GrB, na tabela F5 do Apêndice F, do
API RP579.
Nas três condições avaliadas pela BS-7910 e nas duas avaliadas pelo API RP579, os
valores de Jtotal não superam a JIC, caracterizando-se a não propagação subcrítica, isto é,
ocorre apenas o “blunting” (arredondamento) da ponta da trinca, com uma pequena
propagação ∆a equivalente ao resultado da relação (Jtotal/2*σy), que corresponde a δ/2,
ou metade do valor do COD (“crack opening displacement”) [20].
A análise de propagação por fadiga mecânica devida aos carregamentos oriundos dos
TH’s pode ser verificada pela lei de Paris [BS],
da
= A(∆K ) m (4.9)
dN
67
sendo
da/dN = taxa de crescimento para cada ciclo de pressão,
A e m = constantes que dependem dos materiais, meio e freqüência do carregamento,
∆K = variação do fator de intensidade de tensões devido ao carregamento do TH.
Pela geometria da descontinuidade do bocal e pelos modelos 2-D adotados, não foi
possível analisar o critério de LBB pela BS-7910 ou pelo API RP579. Entretanto,
observando os diagramas FAD, é fácil verificar que haverá ruptura antes que possa
haver um vazamento. Este tema será tratado em maior detalhe no Capítulo 5.
68
4.2 – COLUNA EM AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO
O estudo da coluna de aço inoxidável foi inteiramente conduzido pelo uso de soluções
analíticas publicadas pelo API RP579 [5] e por Anderson [1]. É apresentado no
Apêndice 4 um fluxograma detalhado desta análise.
a
a t
Ro
Ri
Ri
Ro
t
69
de fratura, para uma trinca superficial externa, de comprimento infinito, em superfície
cilíndrica, reproduzida a seguir:
pRi 2 a a a a
KI = [2G0 + 2G1 ( ) + 3G2 ( ) 2 + 4G3 ( )3 + 5G4 ( ) 4 ] π a (4.10)
R0 − Ri
2 2
Ri Ri Ri Ri
onde
p = pressão interna aplicada (no caso, a pressão de TH)
Ri = raio interno da coluna
Ro = raio externo da coluna
a = profundidade considerada para a trinca (em valores progressivos, a cada 0,25 mm)
Go, G1, G2, G3, G4 = fatores de forma, calculados por interpolação da tabela C.9,
função de Ri/t e a/t. Como resultado, os valores calculados de KI em função das
profundidades de trincas foram (Tabela 4.9):
a (mm) 2,75 3,0 3,25 3,50 3,75 4,0 4,25 4,50 4,75
KI 13,42 16,07 18,87 21,81 28,65 38,45 48,77 59,59 70,88
70
KI 2
2,5( ) (4.11)
Sy
1 KI 2
r0 = ( )( ) (4.12)
2π S y
a (mm) 2,75 3,0 3,25 3,50 3,75 4,0 4,25 4,50 4,75
critério J ou δ J ou δ J ou δ J ou δ J ou δ J ou δ J ou δ J ou δ J ou δ
onde,
MFEL – mecânica da fratura elástica linear, em EPT;
a+ro – mecânica da fratura elástica linear, substituindo o valor de a originalmente
utilizado por a+ro;
J (integral) ou δ (COD) – avaliação por critério elastoplástico.
Verifica-se que quanto menores são o tamanho da trinca e fatores de intensidade, mais
próximos de um EPD, pois a zona plastificada é pequena. À medida que a trinca
aumenta, caminha-se em direção ao EPT em virtude do aumento da zona plastificada,
quando comparada com a espessura e ligamento (t-a). A utilização da MFEL fica então
restrita à comparação direta dos valores de KI com a tenacidade à fratura do material,
71
Kmat. Este valor, que não está diretamente disponível, pode ser estimado através de
dados existentes em literatura. O API RP579 [5], apêndice F, estima que um valor
bastante adequado para o Kmat do aço inoxidável austenítico deve ser 220 MPa.m1/2, que
praticamente independe da temperatura, pois esses aços não mostram uma transição
dútil/frágil. Outros dados de literatura [27], [29] e [39], apontam para valores de
tenacidade à fratura do material nesta mesma faixa. Verifica-se, então, que tanto os
cinco primeiros valores de trinca analisados quanto os demais possuem valores de KI
inferiores ao Kmat, ou seja, não haverá propagação crítica em nenhum desses casos.
Fazendo-se a correção proposta pelo procedimento para o tamanho de trinca igual a 1,75
mm, somando-se o valor correspondente do raio de plastificação, é calculado um novo
valor de KI igual a 8,03 MPa.m1/2, ainda muito inferior ao Kmat.
Para os demais pontos com valores de a a partir de 2 mm, será utilizado o critério
baseado no mecanismo elastoplástico, pela avaliação da integral J ou pelo δ (COD).
Será visto no item 4.2.5 a aplicação do critério Dowling e Townley, que contempla a
análise de estabilidade das trincas também considerando o critério elastoplástico.
Para determinar a possibilidade do crescimento subcrítico das trincas, terão que ser
calculados os valores da integral J, para a geometria existente e para cada tamanho de
trinca considerado. Como visto no Capítulo 2, o Jtotal é subdividido em duas parcelas,
uma elástica ea outra plástica. A parcela elástica pode ser calculada diretamente a partir
do KI, pelas relações já vistas. O cálculo da parcela plástica do Jtotal foi realizado através
da solução encontrada na Tabela 12.13, Capítulo 12 da referência [1] - Anderson
(Compilação de Soluções de K, J, Adequação e Cargas Limite). Para esta configuração,
tem-se:
a P
J pl = αε 0 S y [(t − a) ]h1 ( ) n +1 (4.13)
t P0
onde
α = constante igual a 1
εo = deformação específica para tensão de escoamento, igual a Sy/E
72
Sy = tensão de escoamento, em MPa
t = espessura do costado, mm
t-a = ligamento, em mm
a = tamanho da trinca, em mm
h1 = fator de forma, função de a/b e n (por interpolação na tabela 12.13)
P = Carga aplicada (em N)
Po = carga de plastificação do ligamento, em N
n = expoente de encruamento, igual a 3,45 [37]
Os valores de Jtotal, calculados foram (Tabela 4.11):
a (mm) 0,25 0,50 0,75 1,0 1,25 1,50 1,75 2,0 2,25 2,50
Jel 0,02 0,04 0,06 0,09 0,12 0,18 0,34 0,34 0,45 0,63
Jpl 0,01 0,01 0,02 0,02 0,04 0,05 0,09 0,16 0,29 0,53
Jtotal 0,03 0,05 0,08 0,11 0,16 0,23 0,43 0,50 0,74 1,16
Jel/Jpl
2,00 4,00 3,40 3,00 3,00 3,60 3,80 2,13 1,60 1,20
a (mm) 2,75 3,0 3,25 3,50 3,75 4,0 4,25 4,50 4,75
Jel 0,95 1,36 1,88 2,50 4,32 7,78 12,52 18,69 26,45
Jpl 1,10 1,90 5,30 13,0 37,3 106,2 364,6 1614,5 7506,7
Jtotal 2,02 3,26 7,13 15,5 41,6 114,0 377,1 1633,2 7533,2
Jel/Jpl 0,86 0,72 0,36 0,19 0,12 0,07 0,03 0,01 0,00
73
9000
8000
7000
6000
5000
J-R
4000
3000
2000
1000
0
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08
∆a (in)
J = C (∆a) n (4.14)
sendo
J = valor em in-psi
C = 32.758
∆a = incremento da trinca (in)
n = expoente de encruamento,
e permitirá o cálculo dos incrementos ∆a, que são os valores do CSCD. Ainda de acordo
com o API RP579, o JIC para este material é igual a 6.500 in-psi, equivalente a 1138
kPa.m. O gráfico da Figura 4.17 resume os resultados obtidos e a comparação com o
valor de JIC.
74
Jtotal X Tamanho de Trinca
Coluna de Inox
8000
7000
6000
J (kPa.m)
5000
Jtotal
4000
JIC
3000
2000
1000
0
0 1 2 3 4 5
a (mm)
75
Crescimento de Trinca Durante o TH
Coluna Inox Pressão Normal
50
CSCD
40
“blunting
∆a (mm)
30
20
10
0
0 1 2 a (mm) 3 4 5
76
caracterizar a partir de que tamanho de trinca haveria a propagação subcrítica na
condição limite do código.
Dentro do mesmo procedimento já descrito no item anterior, foram calculados os fatores
KI, determinados os critérios de fratura e os valores de Jel, Jpl e Jtotal para os diversos
tamanhos de trinca, resultando na Tabela 4.13:
a (mm) 0,25 0,50 0,75 1,0 1,25 1,50 1,75 2,0 2,25 2,50
Jel 0,12 0,26 0,42 0,61 0,84 1,25 1,76 2,39 3,16 4,43
Jpl 0,38 0,47 0,66 0,90 1,35 2,05 3,44 5,89 10,91 20,08
Jtotal 0,50 0,73 1,08 1,51 2,19 3,30 5,2 8,28 14,07 24,51
Jel/Jpl 0,32 0,55 0,64 0,67 0,62 0,61 0,51 0,41 0,29 0,22
a (mm) 2,75 3,0 3,25 3,50 3,75 4,0 4,25 4,50 4,75
Jel 6,70 9,61 13,26 17,71 30,54 55,02 88,52 132,16 186,99
Jpl 40,3 71,4 197,5 489,3 1402 3995 13714 60735 282393
Jtotal 47,02 81,01 210,8 507,0 1432 4050 13802 60867 282579
Jel/Jpl 0,17 0,13 0,07 0,04 0,02 0,01 0,01 0,00 0,00
Nesta condição limítrofe do projeto, para JIC = 1138 kPa.m, a propagação subcrítica
ocorre a partir de uma trinca com tamanho entre 3,50 e 3,75 mm. Neste estudo, haveria
propagação subcrítica com a = 3,75 mm, ou seja, 62,5% da espessura nominal. O
gráfico da Figura 4.19 resume os resultados obtidos e a comparação com JIC.
77
Jtotal X Tamanho de Trinca
Coluna de Inox Máxima Pressão
16000
14000
12000
J (kPa.m)
10000
Jtotal
8000
JIC
6000
4000
2000
0
0 1 2 3 4 5
a (mm)
160
CSCD
140
120
“blunting”
∆a (mm)
100
80
60
40
20
0
0 1 2 3 4 5
a (mm)
78
4.2.5 – Análise de Estabilidade pela BS-7910
Efetuada a análise da estabilidade pelo nível 2A, utilizando a curva FAD (“Failure
Assessment Diagram”), método de Dowling e Townley [19]. Por este método, serão
calculados os parâmetros KR e LR. KR representa o quociente entre o fator de
intensidade de tensões corrigido pelo fator de interação de plasticidade, pela tenacidade
à fratura do material, enquanto que LR representa o quociente entre a tensão de
referência pela tensão de escoamento, conforme a seguir descrito:
KI
KR = +ρ (4.15)
K mat
σ ref
LR = (4.16)
SY
sendo
KI = fator de intensidade de tensões, corrigido onde aplicável
ρ = fator de interação de plasticidade, nesta análise igual a 0 (zero),
Kmat = tenacidade à fratura do material, considerada 220 MPa.m1/2,
Sy = tensão de escoamento, igual a 172,4 MPa, e
2 Pb
σ ref = 1, 2MsPm + (4.17)
3(1 − a ") 2
sendo
1
Ms = , (4.18)
a
(1 − ( ))
t
79
Pb = tensão primária devida à flexão, considerada igual a 0 (zero), e
a" = a/t.
1,2
1
Inaceitável
0,8
Corte para aços
inoxidáveis austeníticos FAD
KR
0,2
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 2,2 2,4
LR
A avaliação da propagação por fadiga durante a execução dos TH’s estará associada à
propagação por CST, ao “blunting” da trinca, ao CSCD e à propagação por rasgamento.
80
Isto ocorre porque entre os períodos de aplicação dos TH’s, haverá propagação por CST
e as trincas anteriormente existentes após aplicação do último TH terão crescido. As
equações de crescimento de trincas por fadiga seguirão a lei de Paris, conforme
mostrado no item 4.1.2.4. Por estar sujeito a um meio corrosivo e para razão entre
mínima e máxima tensões igual a zero, os valores dos parâmetros A e m serão
respectivamente (estágio A) 3X10-13 e 1,30. Para a condição em que o KI encontrado
atingir 70,88 MPa.m1/2 (maior valor de KI), a propagação por fadiga será igual a
4,1X10-8 mm para seis ciclos de pressurização, valor que podemos considerar
desprezível. De outro lado, a ocorrência de CST para os aços inoxidáveis, depende
diretamente do fator de intensidade de tensões, KI, como segue:
da
= C ' K n' (4.19)
dN
onde
da/dN é a taxa de crescimento das trincas, C’ e n’ são constantes relacionadas ao
material, meio e demais condições de teste, e K o fator de intensidade de tensões. O
meio corrosivo em contato com o aço inoxidável, responsável pelo desenvolvimento da
CST em nosso problema não é conhecido. Entretanto, para efeito de análise da interação
entre CST e fadiga pelo TH, simularemos uma situação aproximada, para um fator de
intensidade de tensões 27 MPa.m1/2. Para este valor de KI, a velocidade de propagação é
1,4 x 10-9 mm/s, num meio contendo cloretos [40]. Supondo seis anos entre TH’s, o
crescimento por CST durante este período é de 0,26 mm. Partindo de uma trinca com
3,5 mm de profundidade (e KI próximo do valor de 27 MPa.m1/2) e considerando a
propagação por CST ao longo das campanhas operacionais, teremos durante os TH’s
periódicos propagações por “blunting”, CSCD e, ao final do terceiro ciclo, a ruptura,
com a seguinte curva de crescimento da descontinuidade (Figura 4.22):
81
Propagação Combinada entre CST e CSCD
Início a=3,5 mm / Término - ruptura
30,00
ruptura
“blunting” CSCD
20,00
a (mm)
10,00
3,5 mm 4,25 mm
0,00
0 5 10 anos 15 20
Figura 4.22 – Propagação combinada por CST e fadiga com pressão normal de TH
82
CAPÍTULO 5 - DISCUSSÃO E ANÁLISE
5.1 – GERAL
Para a geometria de bocal com uma trinca circunferencial (Fig.3.1), foram obtidos
resultados do cálculo dos fatores de intensidade de tensões, foram feitas verificações de
estabilidade, cálculos de Jtotal e verificação de crescimento subcrítico, e verificação da
propagação por fadiga. Serão discutidos os resultados obtidos e comparadas as
diferentes situações e as metodologias utilizadas.
83
3) Pelo método dos elementos finitos.
O cálculo pelo método dos elementos finitos utilizando o ANSYS 7.0, considerou a
análise linear e elástica, e as solicitações foram aplicadas à geometria em forma de
pressão sobre as superfícies, inclusive nas faces da trinca, para reproduzir a situação
real. Nomeada esta análise como ANSYS VI. Para efeito de comparação, também foi
realizada análise sem a aplicação da pressão nas faces da trinca, isto porque o modelo de
placa 2-D utilizado não considera este carregamento na trinca. Esta análise foi nomeada
de ANSYS VII. O aparecimento de fator de intensidade de tensões KII (modo II de
fratura, cizalhante) como resultado do comando KCALC do ANSYS, reflete a distinção
entre os modelos analíticos e as análises por elementos finitos, e finalmente a aplicação
de carregamento nas bordas da trinca, o que não é previsto no modelo 2-D. Não foi
considerada a tensão residual de soldagem na modelagem pelo ANSYS, portanto os
valores calculados representam apenas a parcela relacionada às tensões primárias. A
tabela a seguir permite a comparação entre os valores obtidos pelos diferentes métodos
de cálculo de KI, parcela relacionada às tensões primárias (Tabela 5.1):
Obs: o resultado ANSYS VI foi obtido com a aplicação da pressão de TH nas faces da
trinca, enquanto que no ANSYS VII não houve a aplicação desta pressão.
84
TABELA 5.2 - RELAÇÃO ENTRE KI RESIDUAL E KI PRIMÁRIO
A curva apresentada na Figura 4.14 para as cinco análises realizadas evidencia que não
haverá falha durante a aplicação do TH, pois todos os pontos plotados estão abaixo da
curva FAD. Este comportamento era esperado, já que este equipamento existe e foi
testado após sua fabricação e não falhou, não havendo qualquer alteração posterior nas
condições de TH, como:
1) Alteração na tenacidade à fratura do material, fruto de interação com o meio ou de
operação em elevadas temperaturas.
2) Alterações na geometria do bocal devido a processos de corrosão. Estas alterações
geométricas poderiam levar ao incremento ou alteração na distribuição de tensões.
3) Aumento da descontinuidade, já que não há qualquer mecanismo de dano que
promova isto.
85
Em resumo, como não houve quaisquer alterações nestas variáveis (tenacidade à fratura,
geometria e tamanho da descontinuidade), será verificada a estabilidade do bocal
durante o próximo TH periódico.
A análise da propagação por fadiga durante os TH’s de acordo com os critérios da BS-
7910 revelou que os incrementos são pouco significativos mesmo após a sexta
pressurização (consideramos toda a vida do equipamento, ou quase quarenta anos de
86
serviço) situando-se abaixo de 0,9% do tamanho original. Entretanto, as propagações
por “blunting” nas pressurizações são bastante superiores quando comparadas à
propagação por fadiga (Tabela 5.3):
Vimos que os cinco casos situam-se muito próximos à borda da curva FAD, na região
propícia à fratura frágil (proximidade do eixo KR). Substituindo progressivamente os
valores de a (tamanho de trinca) de modo a tornar o KR próximo de 1, identificamos os
valores limítrofes a partir dos quais haveria propagação instantânea, conforme a seguir
(Tabela 5.4):
acrítico (mm) 26 38 38 22 24
% nominal 37 54 54 31 34
Assim, para uma seção com 70,25 mm de largura, caso fossem atingidos valores entre
31 e 54% da espessura da seção total haveria fratura frágil, antes de haver qualquer tipo
de vazamento.
87
5.3 – COLUNA DE AÇO INOXIDÁVEL
Como não houve informações relativas à profundidade das trincas geradas por CST,
feita uma avaliação de tamanhos progressivos a cada de 0,25 mm, até 80% da espessura
nominal. Também foram analisadas duas situações distintas no que tange às cargas
aplicadas: a primeira, pressão de TH definida em função da pressão de projeto, a
segunda, pressão máxima de TH definida em função da PMTA. Em seguida serão
avaliados os resultados obtidos.
Por este critério, foi obtida a curva FAD para as duas condições de TH (Fig.4.21). Pode
ser verificado que os pontos que representam os valores progressivos de trincas estão
dispostos na região de falha dútil. Isto, em parte, devido à elevada tenacidade à fratura
do aço inoxidável austenítico, que resulta em valores de KR extremamente baixos, mas
também devido a considerar tamanhos de trinca até 80% da espessura nominal, o que
eleva os valores de LR. Também como seria esperado, com a máxima pressão de TH
foram obtidos valores de CSCD e de rasgamento dútil superiores aos obtidos na
condição de TH normal, conforme Tabela 5.5:
88
TABELA 5.5 - TAMANHO DE TRINCA A PARTIR DO QUAL OCORRE CSCD OU
FALHA DÚTIL (EM MM)
Verificado que os valores calculados para falha dútil são inferiores aos valores a partir
dos quais ocorre o CSCD, contrariando o que seria esperado. Entretanto, como as
propriedades do material representadas pelos valores de JIC, Sy e Kmat foram obtidas a
partir de fontes distintas, e não a partir de ensaios do material utilizado na fabricação da
coluna, podemos explicar haver desvios como este.
Os maiores tamanhos de trinca nos dois casos analisados que ainda situam-se dentro da
curva FAD são iguais a 4,0 e 2,5,mm respectivamente para pressão normal e máxima
pressão de TH. Por este motivo, e já que a frente da trinca é retangular, conforme o
modelo adotado (Figura 4.15) haverá ruptura por falha dútil antes de haver qualquer
vazamento.
89
5.4 – DISCUSSÃO FINAL
90
CAPÍTULO 6 - VARIÁVEIS RELACIONADAS À PROPAGAÇÃO E
FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO DE TH’S
Estas variáveis são os fatores que determinarão a alteração das condições verificadas
durante o TH inicial do equipamento, realizado ao término de sua fabricação. A
premissa de que a sobrevivência ao TH inicial, como caracterizado por artigo da NASA
[24], determina o ponto de partida desta análise. O fato de ter sobrevivido ao TH inicial
significa que não havia na ocasião defeito de tamanho maior que o crítico, para o nível
de solicitação mecânica, geometria e para a tenacidade à fratura do material, e que
houve acomodação de tensões e outros benefícios (“shakedown”, escoamentos
localizados). Com base nos trabalhos feitos até aqui, foram levantados para os diferentes
mecanismos de propagação o que são consideradas as variáveis determinantes, como
segue:
91
tamanho crítico. Caso existam e não se propaguem, serão postas em serviço junto com o
equipamento. A partir deste momento, algumas situações poderão vir a ocorrer:
A) A descontinuidade não sofre qualquer interação com o meio ou condições
operacionais do equipamento, ficando inerte (sem crescimento). Neste caso, um
TH periódico será uma repetição do TH inicial, sem chance de haver propagação
de qualquer natureza (desde que demais variáveis não sejam alteradas).
B) A descontinuidade cresce devido à interação com o meio ou com as variáveis
operacionais. Isto pode gerar três efeitos distintos num TH periódico: primeiro,
se a descontinuidade superar o valor crítico, haverá uma fratura frágil; se não
superar o tamanho crítico, poderá haver apenas um novo “blunting” com uma
pequena propagação, ou o CSCD.
C) Outra situação é o aparecimento de uma descontinuidade devido à interação do
equipamento com o meio, ou devido às variáveis de processo. Isto pode ser
exemplificado pelo aparecimento de uma trinca de fadiga ou de CST, como no
caso da coluna de inox. Como não existiam durante a realização do TH inicial,
três efeitos distintos poderão ocorrer: propagação frágil (se for maior que o
tamanho crítico para as condições de TH periódico), apenas o “blunting’ ou o
CSCD.
92
B) Material reage com o meio ou sofre de degradação térmica. Como resultados,
podem cair a tenacidade à fratura, limite de resistência e tensão de escoamento.
Devido a estes efeitos, podem ocorrer fratura frágil, “blunting” ou CSCD, na
presença de descontinuidades preexistentes e antes inertes. Para
descontinuidades de grande magnitude, a queda do limite de escoamento pode
resultar na falha dútil.
C) Temperatura de TH periódico é inferior à temperatura do TH inicial. Apesar do
material não ter sido alterado, a menor temperatura de TH resultará em menor
tenacidade à fratura e haverá possibilidade de fratura frágil na presença de
descontinuidades preexistentes e antes inertes.
93
6.5 – FLUXOGRAMA DE ANÁLISE
94
6.6 – SOBRE PROPÓSITOS, VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS TH’S
PERIÓDICOS
95
haveria a fratura frágil ou rompimento dútil antes de ocorrer o vazamento. Uma
geometria de trinca mais favorável, a elíptica, por exemplo, favoreceria mais à
conformidade com o LBB. Então, em alguns casos haveria a chance de interceptar o
dano durante o TH de modo subcrítico, em outros seria através de propagação crítica.
Apesar de não pretender-se esgotar este assunto, fica claro que a realização de um o
balanço entre vantagens e desvantagens parece ser necessária a cada situação de TH. No
próximo capítulo, serão relacionados alguns tópicos para trabalhos futuros, visando dar
continuidade ao assunto.
96
CAPÍTULO 7 - CONCLUSÕES
97
em torno da propagação frágil. Enquanto no primeiro estudo a fratura frágil poderia
ocorrer a partir de uma trinca com 31% da espessura da seção, no caso da coluna de
inox foi atingida 71% da seção sem que se aproximasse da fratura frágil.
H) A propagação por fadiga mecânica pelas pressurizações em TH’s periódicos,
independentemente de outros mecanismos de propagação foi considerada de efeito
desprezível. O efeito do “blunting” foi mais pronunciado que o efeito da fadiga.
I) Geometrias e modelos de trincas com frente retangular são inadequadas para a
condição de LBB. Nestes casos haverá ruptura por qualquer mecanismo (frágil ou dútil)
antes que possa haver vazamento.
J) A utilização do software de elementos finitos ANSYS, permitiu a análise da
geometria do bocal, de difícil solução analítica, através de modelos simples. Entretanto,
a opção de não modelar o sólido certamente prejudicou a precisão dos cálculos.
K) Defeitos de fabricação podem não propagar durante a realização do TH inicial ou
periódico.
98
D) Todas as análises confirmaram um EPT, pelo procedimento do Dowling [20]. Isto se
deu devido às baixas espessuras de costado e dos ligamentos, que aliviaram a
triaxialidade de tensões (EPD).
E) A propagação por fadiga mecânica também se mostrou inferior à propagação pelo
“blunting” ou pelo CSCD.
F) Da mesma forma que para o vaso de aço carbono, a verificação do critério LBB
esbarrou no modelo e característica de frente de trinca retangular. Neste caso, haveria
fratura antes que houvesse vazamento, mas pelo mecanismo falha dútil.
99
F) Seguramente não seria vantajoso esperar haver uma falha catastrófica num TH
periódico em um vaso de pressão. Isto poderia gerar grandes prejuízos materiais e
eventualmente pessoais. O crescimento subcrítico durante um TH sem que se saiba da
sua ocorrência também pode ser considerado como nocivo, pois haverá um
encurtamento da vida residual e das margens de segurança, sem que se possa avaliar
suas conseqüências.
G) O conhecimento da condição real do equipamento através de boas práticas de
inspeção é uma das principais fontes de garantia da integridade dos mesmos. A revisão
bibliográfica alertou para a utilização de técnicas de inspeção para a identificação de
danos ou mesmo a substituição do ensaio periódico tradicional (referências [25], [28],
[31], [33] e [40]). O ideal é que a aplicação do TH ocorra após uma avaliação sobre
potenciais mecanismos de danos e condição física do equipamento, conforme foi
mostrado no fluxograma do item 6.5.
100
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[40] Yasinko, E. A., Vieth, P. H., Dick, D. D., Pierantoni, T. D., Nidd, P. G., Platte
Inspection Program Supports Alternative to Hydrostatic Testing, Oil & Gas Journal,
Vol. 99, ISS. 13, pag. 54-59, 2001
104
APÊNDICE 1 - FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO, VASO DE AÇO CARBONO
Modelagem
por
Elementos
Finitos
Determinação da
Distribuição de
Tensões na Seção da
Trinca
Análise da
Estabilidade da
Descontinuidade
pela BS-7910
Análise da
Estabilidade da
Descontinuidade
pelo API RP579
Cálculo de Jtotal e
Análise de
Propagação
Subcrítica
Propagação por
Fadiga
Verificação do
Critério “Leak
Before Break”
105
APÊNDICE 2 - MODELOS E RESULTADOS OBTIDOS DA ANÁLISE POR
ELEMENTOS FINITOS
Figura AP2.1 – Forma geral do modelo sem trinca, composto por uma única área
106
Figura AP2.3 – Mesma posição da figura anterior, mostrando as tensões no eixo X
resultantes e deformada, modelo sem trinca
107
Figura AP2.5 – Detalhe da região da seção da trinca entre a chapa de reforço e material
do costado, modelo sem trinca
108
Figura AP2.7 – Detalhe da malha gerada com elementos singulares em torno da ponta
da trinca
109
Figura AP2.9 – Detalhe da região da trinca, modelo com aplicação de pressão nas faces
da trinca
Figura AP2.10 – Detalhe da região da trinca, modelo sem aplicação de pressão nas faces
da trinca
110
APÊNDICE 3 - COMPARAÇÃO ENTRE SOLUÇÕES PELO SÓLIDO
AXISSIMÉTRICO E ANALÍTICA
Eixo com as
seguintes
dimensões e
propriedades:
r = 50 mm
a = 10 mm
KI = 33 MPa.m1/2
σadm = 142,8 MPa
Esta geometria sujeita a uma tensão longitudinal igual à tensão admissível de 142,8
MPa, possui solução analítica obtida do BS-7910 [15], conforme a seguir:
111
K I = ( M mσ m + M bσ b ) π a (AP3.1)
onde
KI = fator de intensidade de tensões, em MPa.m1/2
σm = tensão de membrana, em MPa
σb = tensão de flexão, igual a zero,
e fatores geométricos:
30,88
FC = = 0,9785 (AP3.4)
(31, 71 + 31, 41)
2
Este fator de correção deve ser aplicado sobre o valor de KI calculado para o bocal,
utilizando a mesma metodologia de modelagem por elementos finitos (item 4.1.1.2).
112
APÊNDICE 4 - FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO – COLUNA DE AÇO
INOXIDÁVEL
Cálculo de KI
pelo API RP579
(pressão normal
e máxima
pressão de TH)
Determinação de
Mecanismo de
Fratura
Cálculo de Jtotal e
Análise de
Propagação
Subcrítica
Análise da
Estabilidade da
Descontinuidade
pelo BS-7910
Verificação do
Critério “Leak
Before Break”
113
APÊNDICE 5 - FLUXOGRAMA DE ANÁLISE DE APLICAÇÃO DE TH’S
Pode ocorrer:
Realizado Não - fratura frágil,
TH inicial? - “blunting”, ou
- CSCD
Sim
Descontinuidades
“estabilizadas”
Sim
Alteração das
condições Temperatura
originais,
pode haver
Não fluido de TH
maior que a
propagação! do inicial?
Sim
114
1
Cálculo da
estabilidade para
condição de TH
Reduzir
pressão,
Confirmada a
Não elevar
estabilidade? temperatura,
ou outras
alternativas
Sim
TH TH
tradicional alternativo
é seguro! é seguro!
115