Enriquece Ambiental Suricata

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ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL DE Suricata suricatta EM CATIVEIRO NO BOSQUE

DOS JEQUITIBS, CAMPINAS, SP.



Marcela Moretto; Eliana Ferraz Santos; Luiza Ishikawa-Ferreira
PUC-Campinas, Bosque dos Jequitibs Campinas, SP
e-mail: [email protected]



INTRODUO


A espcie Suricata suricatta pertence Ordem Carnivora da Famlia Herpestidae. um
animal originrio do continente africano e vivem em grupos (FUEHRER, 2003).
De acordo com Van Staaden (1994), os suricatas so animais diurnos e s so ativos
quando o sol est presente e com tempo nublado ou chuvoso eles raramente saem de suas tocas. Da
mesma forma, durante o meio-dia, se a temperatura est muito quente, eles voltam ao seu refgio
para se resfriarem.
Os animais de vida livre aprendem por experincia que eles podem controlar certos
aspectos em seu ambiente, atravs de comportamentos estimulados por certas situaes
(CARLSTEAD, 1996). Assim, eles tm sempre oportunidades de tomar decises, ao procurar seu
prprio alimento, evitar predadores, procurar parceiros e interagir com um ambiente dinmico
(FUNDAO PARQUE..., 2008), sendo capazes de controlar os estmulos recorrentes, atravs de
ajustes comportamentais (e.g., aproximar-se, explorar, atacar, evitar, esconder-se, etc)
(CARLSTEAD, 1996),
No entanto, o comportamento de animais em cativeiro muitas vezes difere com o da
natureza.
No cativeiro, os animais tm certas limitaes em sua capacidade de alterar estmulos
externos aos quais eles possam eventualmente ser expostos (CARLSTEAD, 1996). Por causa dos
cuidados necessrios para a manuteno desses animais em cativeiro, o ambiente torna-se
previsvel, o que contribui para que eles demonstrem-se entediados, ou com comportamentos
estereotipados (FUNDAO PARQUE..., 2008). Esteretipos so indicadores de baixo nvel do bem-
estar do animal, pois eles se revelam sob situaes aversivas e exaustivas, como falta de estmulo,
restries fsicas, medo e frustraes (MASON, 1991 apud CARLSTEAD, 1996). Se o animal no
consegue responder a seus estmulos de forma apropriada, ele passa por experincias de estresse,
que podem levar a depresses e a estados de letargia (CARLSTEAD, 1996).
Realizar estudos de comportamento em animais em cativeiro possibilita verificar
comportamentos anormais ou estereotipados, alm de conhecer melhor as necessidades desses
animais.
O trabalho teve como objetivo analisar, atravs de observaes e registros
comportamentais dos suricatas frente a estmulos oferecidos, com base nos princpios do
enriquecimento ambiental.

MATERIAL E MTODOS

2.1. rea de estudo

O estudo foi realizado no recinto dos suricatas do zoolgico do Bosque dos Jequitibs.
(Figura 1). Esse parque est localizado na regio central de Campinas, SP (22 55 S, 47 03 W) e
uma das principais reas de lazer de entrada franca da cidade, recebendo aproximadamente um
milho de pessoas por ano, vindas de vrias regies do estado de So Paulo e de estados vizinhos
(SANTOS, 2005).

Figura 1. Aerofotogramtrica do Bosque dos Jequitibs, Campinas SP.
Fonte: Embrapa Monitoramento por Satlite - EMBRAPA/CNPM

2.2. Recinto

O recinto dos suricatas ocupa uma rea total de 180 m,de terra batida com pedras e
vegetao arbustiva, composta de pequenas palmeiras. Em um dos lados do recinto h um
tanque de pequena profundidade (espelho dgua) com gua corrente e renovvel. H um cambeador
para confinamento e manejo dos animais, e um fosso seco que determina um afastamento em
relao ao pblico. No centro do recinto h uma toca, que tambm serve de sombreamento artificial e
abrigo, alm de troncos e das prprias paredes de cimento que delimitam o recinto. (figura 2).


2.3. Observao

Em um trabalho anterior, os animais foram observados por um perodo total de 80 horas
durante os meses de abril e maio de 2008, para a confeco de um etograma que serviu de base
para a aplicao dos enriquecimentos ambientais.
Foram analisados os comportamentos de 3 suricatas machos irmos, de
aproximadamente 3 anos de idade: Athos, Porthos e Aramis., nos perodos da manh ou da tarde de
junho a setembro de 2008. Em cada dia de observao foram anotadas as condies climticas
(temperaturas mnima e mxima, umidade relativa mnima do ar e precipitao), segundo dados
coletados do site da Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorolgicas e Climticas aplicadas
Agricultura) da Unicamp.
Os animais foram observados na presena do pblico que visita o bosque diariamente
(exceto nas segundas feiras, dia da semana que o local fechado para o pblico).
Para cada atividade de enriquecimento, foi feita observao individual dos animais, como
representado esquematicamente no Quadro 1. Para cada dia, foram realizadas 10 sesses de
observao, nas quais foram anotados os comportamentos realizados pelos indivduos.



2.4 Enriquecimentos realizados

Os enriquecimentos aplicados e suas descries foram os seguintes:

2.4.1 Cascas de rvores

Foram coletadas algumas cascas de rvores dos mais variados tamanhos e formas,
soltas no cho da prpria mata do Bosque. As cascas foram dispersas pelo recinto dos suricatas,
dispostas no cho para que eles pudessem interagir com elas. (Figura 3).

Figura 3 Cascas de rvores dispersas no recinto.

2.4.2 Bolinhas de brinquedo

Foram introduzidas 3 bolinhas macias de borracha no recinto, compradas em Pet shop.

2.4.3 Cheiros

Para esse enriquecimento foram utilizados quatro potes de plstico diferentes. Em cada
um deles foram feitos orifcios com o auxlio de uma haste de ferro quente. A seguir, em cada um
deles foram colocados um dos 4 produtos naturais que produzissem essncias: folhas frescas de
manjerico e de hortel, noz moscada e cravo-da-ndia. Os potes foram fechados e dispersos pelo
recinto. (Figura 4)

Figura 4. Pote com folhas frescas de hortel.

2.4.4 Bandejas de terra com minhocas e folhas secas

Trs bandejas cheias de terra e com minhocas vivas e enterradas foram dispostas em
diferentes pontos do recinto. A seguir, sobre cada uma das bandejas foram jogadas folhas secas, de
forma a fazer grandes montes que cobrissem totalmente as mesmas (Figura 5).


Figura 5. Aramis, entre as folhas secas.

2.4.5 Tubos de PVC

Foram introduzidos 3 grandes tubos de PVC, de diferentes comprimentos, no recinto.
(Figura 6).


Figura 6. Aramis e Athos, interagindo com os tubos de PVC.


2.4.6 Varal de potes

Em uma grande vara de bambu foram amarrados, com fibras de sisal, potes e tampas de
recipientes de plstico, de vrias formas e cores. O bambu foi introduzido no recinto, deixando os
potes suspensos, de forma que os suricatas pudessem alcan-los (Figura 7).


Figura 7. Potes suspensos no varal de bambu.


RESULTADOS E DISCUSSO

Enriquecimento piloto

Foi realizado um enriquecimento ambiental piloto, no incio do ms de junho de 2008. O
enriquecimento foi do tipo fsico e consistiu na introduo de vrios troncos de madeiras, cortados de
rvores cadas no interior da mata do prprio bosque. (Figura 8)


Figura 8. Foto do recinto aps a aplicao do enriquecimento piloto. As setas
vermelhas indicam os troncos inseridos no recinto.


Os animais interagiram intensamente com o enriquecimento fsico, logo aps a introduo
dos troncos, que foram muito farejados. Os suricatas apresentaram comportamentos de
forrageamento (alguns troncos apresentavam larvas e insetos em seu interior); de brincadeira, de
marcao, agonstico e at de sentinela.
Durante a introduo dos troncos no recinto, tambm foi levada a bandeja com a comida
pelos tratadores. Os animais no apresentaram interesse pela comida de incio (ao contrrio do
costume), demonstrando estarem atrados somente pela novidade gerada pelo enriquecimento
piloto.

Dia 1: Enriquecimento com cascas de rvore

Todos os indivduos apresentaram alta taxa de comportamento de locomoo (Figuras 9,
10 e 11). Isso indica que os animais estavam em alto grau de atividade, locomovendo-se quase que
constantemente. Porthos, alm de ter exibido significativamente o ato de andar (assim como os
demais), tambm mostrou bastante o ato de trotar (Figura 11), o que pode indicar uma inquietao
maior por parte desse indivduo. Athos foi o que apresentou mais ocorrncias de farejar entre os
trs (Figura 9). Pode-se deduzir, assim, que ele apresentou mais comportamentos exploratrios.
J, Porthos, em relao aos demais, teve mais registros do comportamento de observar
ao redor e da postura de sentinela (Figura 11). Com isso, entende-se que ele esteve mais alerta,
vigiando o grupo.
Os trs indivduos apresentaram muitas ocorrncias de forrageamento (Figuras 9, 10 e
11), sendo que Porthos teve um nmero maior de registros desse comportamento (Figura 11).
Tanto para Athos como para Aramis, o comportamento relacionado com enriquecimento
mais freqente foi o de farejar (Figuras 9 e 10), explicitando uma maior tendncia de explorao do
ambiente para esses dois animais. O enriquecimento realizado nesse dia permitiu dois tipos de
comportamento para os trs: forrageamento e explorao por farejamento. Pelo fato de ter sido usado
material de ambiente de mata natural (cascas de rvores coletadas do cho do Bosque), havia
presena de vrias larvas e insetos, o que estimulou o comportamento de forragear dos suricatas.
Nota-se claramente que houve declnio da interao com o enriquecimento ao longo do
tempo, sugerindo que os enriquecimentos representam um estmulo aos animais, mas que depois de
um perodo, eles perdem a caracterstica da novidade (Figura 12).

Figura 9. Freqncia absoluta dos comportamentos de Athos para o Dia 1.


Figura 10. Freqncia absoluta dos comportamentos de Aramis para o Dia 1.

Figura 11. Freqncia absoluta dos comportamentos de Porthos para o Dia 1.


Figura 12. Freqncia absoluta dos totais dos comportamentos com enriquecimento
ambiental de todos os indivduos, ao longo do tempo para o Dia 1.


Dia 2: Enriquecimento com bolinhas de brinquedo

Tambm nesse dia, todos os indivduos apresentaram grande taxa de comportamentos de
deslocamento (Figuras 13, 14 e 15), mostrando grande atividade locomotora.
Todos tiveram como comportamento mais freqente o de observao ao redor (Figuras
13, 14 e 15); e Aramis, dos trs, foi o que teve mais ocorrncias da postura de sentinela (Figura 14),
fato pelo qual se pode deduzir que, apesar de todos os indivduos do grupo estar alerta ao ambiente
ao redor, foi ele o que mais assumiu o dever da guarda.
Athos teve a maior ocorrncia de comportamento de farejar (Figura 13) demonstrando,
talvez, tendncia mais exploratria que os demais, embora tenham tambm apresentado ocorrncias
relativamente altas desse comportamento (Figuras 14 e 15).
Em relao ao enriquecimento, houve dois tipos de comportamento: de brincadeira e de
farejar, todos associados postura em p. Athos foi o que mais interagiu, de maneira geral. Sua
maior freqncia foi para farejar (Figura 13). Em comparao com os demais, tambm, foi ele quem
mais teve registros de brincadeira com as bolinhas (Figura 13). Houve muito pouca interao de
Porthos, que foi registrado farejando o enriquecimento apenas uma vez (Figura 15).
De maneira geral, no houve muita interao com esse tipo de enriquecimento, quee
despertou o interesse dos animais no incio e, assim como no enriquecimento anterior, o total de
interaes foi decaindo (Figura 16). interessante ressaltar que esse enriquecimento foi realizado no
perodo da manh, no qual h momentos em que o recinto recebe bastante luz solar e os suricatas
ficam repousando no sol; o que talvez justifique a pouca atividade relacionada ao enriquecimento.



Figura 13. Freqncia absoluta dos comportamentos de Athos para o Dia 2.

Figura 14. Freqncia absoluta dos comportamentos de Aramis para o Dia 2.

Figura 15. Freqncia absoluta dos comportamentos de Porthos para o Dia 2.


Figura 16. Freqncia absoluta dos totais dos comportamentos com enriquecimento
ambiental de todos os indivduos, ao longo do tempo para o Dia 2.


Dia 3: Enriquecimento com cheiros

Todos os indivduos estiveram bastante ativos durante os perodos de observao, como
pode ser observado pelas altas freqncias de comportamento de locomoo (Figuras 17, 18 e 19).
Porthos e Aramis tiveram grandes freqncias absolutas de observao ao redor e da
postura de sentinela (Figuras 18 e 19). Com isso, deduz-se que ambos estiveram mais alerta e
assumiram o dever de guarda do grupo em mais ocasies. Para Athos, houve predominncia do
comportamento de explorao atravs do ato de farejar (Figura 17). Porm, ele tambm teve alta taxa
de observao do ambiente (Figura 17), assim como os outros indivduos. Athos exibiu grandes
ocorrncias do comportamento de rosnar (Figura 17).
Levando em considerao que um comportamento agonstico direcionado a outro indivduo faz com
que ele recue, em todas as ocasies observadas, esse fato indica que Athos exerceu uma posio
de dominncia sobre os outros indivduos. Todos tiveram nmeros de ocorrncias de forrageamento
semelhantes (Figuras 17,18 e 19). Esse comportamento bastante freqente nesses animais.
Athos e Aramis tiveram muitos registros de tomar sol (Figuras 17 e 18) e Porthos teve
esse valor reduzido metade (Figura 19), embora tambm tenha sido relativamente alto para esse
tipo de comportamento. Esses animais costumam tomar sol agrupados. Athos e Aramis tiveram
ocorrncias da postura deitado (Figuras 17 e 18), as quais esto relacionadas ao ato de tomar sol.
J, Porthos, apesar de ter apresentado esse comportamento, no tem nenhum registro dessa
postura. Isso ocorre porque, em todas as ocasies observadas, enquanto os outros indivduos
tomavam sol deitados, Porthos tambm o fazia, porm na posio de sentinela, vigiando o grupo.
Athos e Aramis tm registros de observao de outros animais (Figuras 17 e 18). Esse
comportamento foi realizado no momento em que um gavio pousou em um galho de rvore acima
do recinto. Isso gerou certa inquietao por parte dos trs indivduos, que estiveram bastante alertas,
com suas caudas eretas, vocalizando e observado a ave. O que um comportamento natural, pois
um dos seus possveis predadores.
Os principais predadores dos suricatas so aves e mamferos carnvoros, como falces,
guias e chacais (FUEHRER, 2003).
O enriquecimento com os cheiros provocou nos animais comportamentos de brincadeira e
de explorao (farejando). Para Athos e Aramis, o comportamento com interao de maior freqncia
foi o de brincadeira (Figuras 17 e 18). Para Porthos, que, em relao aos demais, teve menos
registros de interao com o enriquecimento, o de maior freqncia foi o de farejar (Figura 19).
Durante os primeiros 15 minutos a partir da introduo do enriquecimento no recinto, a
interao foi bastante alta. Depois, ela caiu abruptamente e manteve-se mais ou menos instvel at o
fim das observaes (Figura 20). O declnio das respostas aos estmulos ao longo do tempo tambm
foi observadoem um estudo sobre a influncia do enriquecimento olfativo para Felis nigripes em
cativeiro (WELLS; EGLI, 2004).


Figura 17. Freqncia absoluta dos comportamentos de Athos para o Dia 3.


Figura 18. Freqncia absoluta dos comportamentos de Aramis para o Dia 3.



Figura 19. Freqncia absoluta dos comportamentos de Porthos para o Dia 3.


Figura 20. Freqncia absoluta dos totais dos comportamentos com enriquecimento
ambiental de todos os indivduos, ao longo do tempo para o Dia 3.

Dia 4: Enriquecimento com bandejas de terra com minhocas e folhas secas

Todos os indivduos apresentaram intensa atividade locomotora (Figuras 21, 22 e 23).
Athos e Aramis tiveram muitos registros do ato de farejar (Figuras 21 e 22), podendo ser afirmado
que eles apresentaram alta atividade exploratria. Ambos exibiram alta freqncia do comportamento
de observao (Figuras 22 e 23). Porm, foi Porthos o que mais exerceu o dever de vigia do grupo,
considerando que ele teve mais ocorrncias da postura de sentinela (Figura 23). Nesse dia, tambm
houve grande nmero de ocorrncias de observao de pblico, para Aramis e Porthos (Figuras 22 e
23). Isso ocorreu porque, em um momento, havia um grupo muito grande de crianas observando o
recinto, o que deve ter despertado a curiosidade dos suricatas. H uma ocorrncia de latido de
advertncia para Athos (Figura 21); quando isso aconteceu, os trs rapidamente correram para
dentro das tocas, com as caudas eretas, em estado de alerta.
Mais uma vez, Athos apresentou a maior quantidade de registros de rosnados, inclusive
relacionados ao enriquecimento (Figura 21). Esse fato pode indicar, novamente, a dominncia desse
indivduo em relao aos outros. Quanto ao enriquecimento, todos os indivduos tiveram o
forrageamento como o comportamento mais freqente (Figuras 21, 22 e 23). Athos teve a maior
freqncia absoluta (Figura 15).
Houve alto grau de interao desde o momento em que o enriquecimento foi introduzido
at o final (Figura 24). Tambm, foi o enriquecimento que resultou em maior variedade de
comportamentos (Figuras 21, 22 e 23). O enriquecimento foi essencialmente do tipo alimentar. As
minhocas escondidas e enterradas nas bandejas representavam um tipo de alimento incomum aos
animais, o que fez com que eles se interessassem mais em forragear. O aumento do grau de
atividade em enriquecimentos alimentares tambm foi observado em um estudo com lmures (Lemur
catta) em cativeiro (DISHMAN et al., 2008). Foi um enriquecimento que tambm estimulou a
capacidade exploratria dos suricatas, pois o alimento estava escondido. Pode-se assumir, portanto,
que foi tambm um enriquecimento do tipo sensorial (olfativo, no caso).



Figura 21. Freqncia absoluta dos comportamentos de Athos para o Dia 4.


Figura 22. Freqncia absoluta dos comportamentos de Aramis para o Dia 4.



Figura 23. Freqncia absoluta dos comportamentos de Porthos para o Dia 4.


Figura 24. Freqncia absoluta dos totais dos comportamentos com enriquecimento
ambiental de todos os indivduos, ao longo do tempo para o Dia 4.



Dia 5: Enriquecimento com tubos de PVC

Os 3 animais apresentaram alta freqncia de atividade locomotora (Figuras 25, 26 e 27),
embora ela tenha sido significativamente menor para Porthos (Figura 27). Talvez isso possa ser
explicado pelo fato deste indivduo ter ficado bastante na postura de sentinela, vigiando o grupo,
portanto, estava parado. (Figura 27).
Apesar disso, Aramis foi o que mais assumiu o dever de guarda, visto que, alm de sua
alta freqncia da postura de sentinela, ele tambm tem o maior nmero de ocorrncias de
observao ao redor (Figura 26). Athos teve as maiores ocorrncias de farejando e de forrageando
(sem interao com enriquecimento) (Figura 25).
Quanto ao enriquecimento, este resultou em uma grande variedade de comportamentos
por parte de todos os animais. O mais freqente foi o de farejar (Figuras 25, 26 e 27), demonstrando
que os suricatas ficaram bastante curiosos com os tubos. Nota-se tambm que houve grande nmero
de ocorrncias de forrageamento (Figuras 25, 26 e 27), embora no tenha havido introduo de
qualquer item alimentar dentro dos tubos. Nesse caso, talvez seja possvel admitir que o
forrageamento tenha sido exploratrio ou de brincadeira, ao invs de um comportamento de
alimentao.
Os suricatas apresentaram ocorrncias relativamente altas de comportamento de
marcao, em relao ao enriquecimento (Figuras 25, 26 e 27). A introduo de um objeto estranho
ao recinto deve estimular esse comportamento nesses animais, que iro marc-los com seus cheiros,
j que esto em seu territrio (MORAN; SORENSEN, 1986).
Os 3 exibiram comportamento agonstico; alm dos rosnados, tambm foram observados
mostrando os dentes (Figuras 25, 26 e 27), ao observada unicamente nesse enriquecimento. Em
todas as ocasies que eles foram registrados mostrando os dentes, eles estavam dentro dos tubos,
com a cabea para fora em uma das extremidades e esse comportamento no era necessariamente
direcionado a outro indivduo. Outro ato exploratrio observado foi o de morder (Figuras 25, 26 e 27).
Todos os animais foram observados mordendo uma das extremidades de algum
dos tubos. Nas ocasies que eles foram registrados andando (Figuras 25, 26 e 27), eles estavam
caminhando por dentro dos tubos. Algumas vezes isso ocorria repetidas vezes, sugerindo que talvez
eles estivessem realizando alguma brincadeira. Em algumas ocorrncias da postura deitado
(Figuras 25, 26 e 27), eles tambm estavam no interior dos tubos, deitados com a regio ventral
virada para cima e forrageando a parte superior do tubo. Isso pode ser entendido como um
comportamento exploratrio, ou mesmo de brincadeira.
O enriquecimento foi bem explorado e os animais interagiram com ele praticamente ao
longo de todo o tempo de observao, decaindo significativamente ao final desse perodo (Figura 28).
O uso de tubos como enriquecimento baseado na manipulao desses objetos pelos animais foi
proposto por Fry e Dobbs (2006) para primatas, ungulados e roedores.

Figura 25. Freqncia absoluta dos comportamentos de Athos para o Dia 5.


Figura 26. Freqncia absoluta dos comportamentos de Aramis para o Dia 5.


Figura 27. Freqncia absoluta dos comportamentos de Porthos para o Dia 5.


Figura 28. Freqncia absoluta dos totais dos comportamentos com enriquecimento
ambiental de todos os indivduos, ao longo do tempo para o Dia 5.


Dia 6: Enriquecimento com varal de potes

Athos apresentou freqncias de comportamento bem menores que os outros indivduos
(Figura 29). Nesse dia, ele estava doente e posteriormente, foi a bito por toxoplasmose. Durante as
observaes, ele realizou comportamento de repouso (cochilando), quase no se alimentou e, em
geral, apresentou pouqussima atividade. As ocorrncias dos outros indivduos tambm apresentam
valores mais baixos em relao aos outros dias, porque o perodo de observao teve que ser
interrompido precocemente. Aramis apresentou mais ocorrncias de observao ao redor e de
sentinela do que Porthos (Figuras 30 e 31), sugerindo que Aramis assumiu o dever de guarda mais
vezes. Ele tambm teve maior freqncia no comportamento de farejar (Figura 30), evidenciando
maior tendncia de explorao por parte desse indivduo. No entanto, Porthos teve mais registros de
forrageamento (Figura 31), indicando que essa foi sua atividade predominante.
As posturas de sentinela relacionadas ao enriquecimento (Figuras 30 e 31) no esto
relacionadas a comportamento de vigia e sim posio que os animais fizeram (erguidos, apoiados
nas patas traseiras) para alcanar os potes suspensos no varal e assim, farej-los ou brincar com
eles, manipulando-os com as patas dianteiras. Aramis foi o que mais interagiu com o enriquecimento,
sendo que seu comportamento mais freqente foi o de brincadeira (Figura 30).
De maneira geral houve pouca interao (Figura 32). Isso pode estar relacionado com a
pouca atividade de Athos que, na maioria dos enriquecimentos anteriores, foi o que mais interagiu e o
que mais tinha tendncias exploratrias. Outra perspectiva de que, estando doente e pouco ativo na
condio de possvel lder, Athos talvez tenha desestimulado uma maior atividade por parte do resto
do grupo.


Figura 29. Freqncia absoluta dos comportamentos de Athos para o Dia 6.

Figura 30. Freqncia absoluta dos comportamentos de Aramis para o Dia 6.



Figura 31. Freqncia absoluta dos comportamentos de Porthos para o Dia 6.


Figura 32. Freqncia absoluta dos totais dos comportamentos com enriquecimento
ambiental de todos os indivduos, ao longo do tempo para o Dia 6.

Os zoolgicos no podem obter suficiente sucesso em suas metas de ccnservao e
educao meramente garantindo a sobrevivncia de seus espcimes. Tambm devem ser feitos
esforos para preservar a diversidade de comportamentos entre os animais cativos
(THOMPSON,1996).
importante realizar o acompanhamento e o estudo de comportamento em espcies
cativas, pois possibilita verificar os comportamentos anormais ou estereotipados, e a necessidade ou
no da realizao dos enriquecimentos ambientais apropriados que podero gerar mais estmulos,
visando o bem-estar dos mesmos.

CONCLUSES

Os suricatas so animais bastante dinmicos e seguem os padres de comportamento
social em cativeiro e um dos indivduos tem o papel de sentinela.
Frente aos estmulos oferecidos pelos enriquecimentos ambientais os indivduos da
espcie Suricata suricatta apresentaram comportamentos de explorao, de alimentao
(forrageamento), de interao social, entre outros, demonstrando que as atividades de
enriquecimento ambiental possibilitaram o aumento do grau de atividades naturais espcie.
A prtica de diferentes enriquecimentos, de acordo com suas propostas, aumenta e
estimula os animais na interao com o ambiente proporcionado no recinto, de forma a evitar
possveis condies de estresse e comportamentos estereotipados.





REFERNCIAS

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