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Captulo 1

Coordenadas e distncia na reta e


no plano
1. Introduo
A Geometria Analtica nos permite representar pontos da reta por
nmeros reais, pontos do plano por pares ordenados de nmeros reais e pontos
do espao por ternos ordenados de nmeros reais.
Desse modo, curvas no plano e superfcies no espao podem ser descritas
por meio de equaes, o que torna possvel tratar algebricamente muitos
problemas geomtricos e, reciprocamente, interpretar de forma geomtrica
diversas questes algbricas.
Ao longo destas notas admitiremos que o leitor conhea os principais
axiomas e resultados da Geometria Euclidiana Plana e Espacial, relativos aos
seus elementos bsicos: pontos, retas e planos. Por exemplo: por dois pontos
distintos passa uma, e somente uma reta; por trs pontos do espao no
situados na mesma reta passa um, e somente um plano; xada uma unidade
de comprimento, a cada par de pontos A e B corresponde um nmero real,
denominado distncia entre os pontos A e B ou comprimento do segmento
AB, e designado por d(A, B) ou |AB|, respectivamente, que satisfazem s
seguintes propriedades:
1
2 2.. COORDENADAS E DISTNCIA NA RETA
Sejam A, B e C pontos arbitrrios. Ento:
Teorema 1
a. para todo > 0 e para toda semirreta de origem A, existe
um nico D nesta semirreta tal que d(A, D) = .
b. d(A, B) 0.
c. d(A, B) = 0 A = B.
d. d(A, B) = d(B, A).
e. d(A, B) d(A, C) +d(C, B)(desigualdade triangular).
f. d(A, B) = d(A, C) +d(C, B) A, B e C so colineares
e C est entre A e B.
Figura 1: O ponto C est entre A e B, logo d(A, B) = d(A, C) +d(C, B).
2. Coordenadas e distncia na reta
Seja r uma reta.
Dizemos que r uma reta orientada quando sobre ela se escolheu um
sentido de percurso chamado positivo. O sentido oposto sobre a reta r
denominado negativo.
Figura 2: Escolha de um sentido de percurso na reta r.
Sejam A e B pontos na reta r. Dizemos que o ponto B est direita
do ponto A (ou que A est esquerda de B) quando o sentido de percurso
de A para B coincide com o sentido positivo escolhido na reta r.
Figura 3: B est direita de A na reta orientada r.
Um eixo E uma reta orientada na qual xado um ponto O, chamado
origem.
Figura 4: Origem O escolhida no eixo E.
J. Delgado - K. Frensel - L. Crissa Geometria Analtica e Clculo Vetorial
CAPTULO 1. COORDENADAS E DISTNCIA NA RETA E NO PLANO 3
Todo eixo E pode ser posto em correspondncia com o conjunto dos
nmeros reais R da seguinte maneira:
E R
origem O do eixo faz-se corresponder o nmero zero.
a cada ponto X de E direita de O corresponde o nmero real positivo
x = d(O, X).
a cada ponto X de E esquerda de O corresponde o nmero real negativo
x = d(O, X).
Pode-se provar, usando o teorema 1, item a, que esta correspondncia
entre E e R biunvoca.
Denio 1
O nmero real x correspondente ao ponto X chamado coordenada do
ponto X.
Figura 5: Coordenada de um ponto X do eixo E em relao origem O.
Proposio 1
Sejam X e Y dois pontos sobre o eixo E com coordenadas x e y respectiva-
mente. Ento,
d(X, Y ) = |y x| = |x y|.
Prova.
Se X = Y , no h o que provar.
Suponhamos ento que X 6= Y . Para xar as idias, vamos assumir que X
est esquerda de Y , isto , x < y. Temos trs casos a considerar:
Caso 1. X e Y esto direita da origem. Isto , 0 < x < y.
Figura 6: Caso 1: 0 < x < y.
Geometria Analtica e Clculo Vetorial GGM-IME-UFF
4 2.. COORDENADAS E DISTNCIA NA RETA
Como X est entre O e Y , d(O, X) = x e d(O, Y ) = y, temos por
d(O, Y ) = d(O, X) +d(X, Y ),
que
y = x +d(X, Y ).
Portanto,
d(X, Y ) = y x = |y x|.
Caso 2. X e Y esto esquerda da origem. Isto , x < y < 0.
Figura 7: Caso 2: x < y < 0.
Neste caso, Y est entre X e O, d(O, X) = x e d(O, Y ) = y. Logo,
d(O, X) = d(X, Y ) +d(Y, O) x = d(X, Y ) y,
ou seja,
d(X, Y ) = y x = |y x|.
Caso 3. X e Y esto em lados opostos em relao origem. Isto ,
x < 0 < y.
Figura 8: Caso 3: x < 0 < y.
Como O est entre X e Y , d(X, Y ) = d(X, O) + d(O, Y ). Alm disso,
d(X, O) = x e d(O, Y ) = y. Logo,
d(X, Y ) = x +y = y x = |y x|.
Vericando assim o desejado.

Observao 1
Se X estiver direita de Y a demonstrao feita de maneira similar.
Sejam X e Y pontos de coordenadas x e y, e M o ponto mdio do
segmento XY de coordenada m. Ento, m =
x + y
2
.
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CAPTULO 1. COORDENADAS E DISTNCIA NA RETA E NO PLANO 5
Figura 9: Sendo M o ponto mdio do segmento XY , temos d(M, X) = d(M, Y ).
De fato, suponhamos que X est esquerda de Y . Como o ponto mdio M
est entre X e Y , temos x < m < y. Logo,
d(M, X) = d(M, Y ) |x m| = |y m|
mx = y m
2m = x +y
m =
x + y
2
.
3. Coordenadas no Plano
Figura 10: Sistema de eixos ortogonais OXY no plano .
Designamos por R
2
o con-
junto formado pelos pares or-
denados (x, y), onde x e y so
nmeros reais. O nmero x
chama-se primeira coorde-
nada e o nmero y chama-
se segunda coordenada do
par ordenado (x, y).
Um sistema de eixos or-
togonais OXY num plano
um par de eixos OX e OY ,
tomados em , que so per-
pendiculares e tm a mesma origem O.
O eixoOX chamado eixo horizontal e o eixoOY , eixo vertical.
Um plano munido de um sistema de eixos ortogonais pe-se, de maneira
natural, em correspondncia biunvoca com o conjunto R
2
:
R
2
Geometria Analtica e Clculo Vetorial GGM-IME-UFF
6 3.. COORDENADAS NO PLANO
De fato, dado um ponto P , tomamos as retas r e s tais que:
Figura 11: Determinando as coordenadas do ponto P
r keixoOY e P r,
s keixoOX e P s.
Se o ponto X de interse-
o da reta r com o eixoOX
tem coordenada x no eixoOX
e se o ponto Y de interseo da
reta s com o eixoOY tem coor-
denada y no eixoOY , associa-
se ao ponto P o par ordenado
(x, y) R
2
.
Reciprocamente:
Dado o par ordenado (x, y) R
2
temos que, se:
X o ponto do eixoOX de coordenada x;
Y o ponto do eixoOY de coordenada y;
r a reta paralela ao eixoOY que passa por X;
s a reta paralela ao eixoOX que passa por Y , ento {P} = r s.
Os nmeros x e y chamam-se coordenadas cartesianas do ponto P
relativamente ao sistema de eixos ortogonais xado.
A coordenada x a abscissa de P e y a ordenada de P.
Observao 2
No eixoOX, os pontos tm coordenadas (x, 0).
No eixoOY , os pontos tm coordenadas (0, y).
Observao 3
Os eixos ortogonais decompem o plano em quatro regies chamadas qua-
drantes:
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CAPTULO 1. COORDENADAS E DISTNCIA NA RETA E NO PLANO 7
Figura 12: Quadrantes e eixos ortogonais no plano.
1
o
Quadrante = {(x, y) | x > 0 e y > 0}
2
o
Quadrante = {(x, y) | x < 0 e y > 0}
3
o
Quadrante = {(x, y) | x < 0 e y < 0}
4
o
Quadrante = {(x, y) | x > 0 e y < 0}
Cada ponto do plano pertence a um
dos eixos ortogonais ou a um dos qua-
drantes.
4. Distncia entre dois pontos no plano
Figura 13: Distncia entre dois pontos no plano.
Seja um plano munido
de um sistema de eixos ortogo-
nais OXY e sejam P
1
= (x
1
, y
1
)
e P
2
= (x
2
, y
2
) dois pontos do
plano .
Seja Q = (x
1
, y
2
). Como,
d(P
1
, Q) = |y
2
y
1
| ,
d(P
2
, Q) = |x
2
x
1
| ,
temos, pelo teorema de Pitgo-
ras,
d(P
1
, P
2
)
2
= d(P
1
, Q)
2
+d(P
2
, Q)
2
d(P
1
, P
2
)
2
= |x
2
x
1
|
2
+ |y
2
y
1
|
2
d(P
1
, P
2
) =
p
(x
2
x
1
)
2
+ (y
2
y
1
)
2
Exemplo 1
Calcule a distncia do ponto A = (1, 2) ao ponto B = (2, 3).
Geometria Analtica e Clculo Vetorial GGM-IME-UFF
8 4.. DISTNCIA ENTRE DOIS PONTOS NO PLANO
Soluo.
Temos:
d(A, B) =
p
(2 (1))
2
+ (3 2)
2
=

9 + 25 =

34.

Exemplo 2
Determine para quais valores de m R os pontos P = (m, 1) e Q = (2m, m)
tm distncia igual a 1.
Soluo.
Temos:
d(P, Q) =
p
(2mm)
2
+ (m1)
2
=

2m
2
+ 2m+ 1 = 1
2m
2
+ 2m+ 1 = 1
m(m+ 1) = 0
m = 0 ou m = 1.

Exemplo 3
Determine os pontos P pertencentes ao eixo-OX tais que d(P, A) = 5, onde
A = (1, 3).
Soluo.
O ponto P da forma (x, 0) para algum x R. Logo,
d(A, P) =
p
(x 1)
2
+ (0 3)
2
= 5
(x 1)
2
+ 9 = 25 (x 1)
2
= 16
x 1 = 4 x = 5 ou x = 3
P = (5, 0) ou P = (3, 0).

Denio 2
Dados um ponto A num plano e o nmero r > 0, o crculo C de centro
A e raio r > 0 o conjunto dos pontos do plano situados distncia r do
ponto A, ou seja:
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CAPTULO 1. COORDENADAS E DISTNCIA NA RETA E NO PLANO 9
C = {P | d(P, A) = r}.
Seja OXY um sistema de eixos ortogonais no plano e sejam a e b as
coordenadas do centro A neste sistema de eixos. Ento,
P = (x, y) C d(P, A) = r d(P, A)
2
= r
2

(x a)
2
+ (y b)
2
= r
2
Assim, associamos ao cr-
culo C uma equao que re-
laciona a abscissa com a or-
denada de cada um de seus
pontos. Uma vez obtida
a equao, as propriedades
geomtricas do crculo po-
dem ser deduzidas por m-
todos algbricos.
Figura 14: Crculo de centro A = (a, b) e raio r > 0.
Exemplo 4
Determine o centro e o raio do crculo dado pela equao:
(a) C : x
2
+ y
2
4x + 6y = 0.
(b) C : x
2
+ y
2
+ 3x 5y + 1 = 0.
Soluo.
(a) Completando os quadrados, obtemos:
x
2
4x + y
2
+ 6y = 0
(x
2
4x+4) + (y
2
+ 6y+9) = 0+4+9
(x 2)
2
+ (y + 3)
2
= 13.
Portanto, o crculo C tem centro no ponto A = (2, 3) e raio r =

13.
Geometria Analtica e Clculo Vetorial GGM-IME-UFF
10 4.. DISTNCIA ENTRE DOIS PONTOS NO PLANO
(b) Completando os quadrados, obtemos:
x
2
+ 3x +y
2
5y = 1

x
2
+ 3x+
9
4

y
2
5y+
25
4

= 1+
9
4
+
25
4

x +
3
2

2
+

y
5
2

2
=
30
4
.
Assim, C o crculo de centro no ponto A =

3
2
,
5
2

e raio

30
2
.

Exemplo 5
Seja OXY um sistema de eixos ortogonais e considere os pontos P
1
= (x
1
, y
1
)
e P
2
= (x
2
, y
2
). Ento, M =

x
1
+ x
2
2
,
y
1
+ y
2
2

o ponto mdio do
segmento P
1
P
2
.
Soluo.
Figura 15: M o ponto mdio do segmento P
1
P
2
.
De fato, considerando os pontos
Q
1
= (x
M
, y
1
) e Q
2
= (x
M
, y
2
), te-
mos que os tringulos 4P
1
MQ
1
e
4P
2
MQ
2
so congruentes (AAL),
onde M = (x
M
, y
M
).
Logo,
d(P
1
, Q
1
) = d(P
2
, Q
2
)
= |x
M
x
1
| = |x
2
x
M
|
= x
M
o ponto mdio entre
x
1
e x
2
= x
M
=
x
1
+ x
2
2
.
d(Q
1
, M) = d(Q
2
, M) = |y
M
y
1
| = |y
2
y
M
|
= y
M
o ponto mdio entre y
1
e y
2
= y
M
=
y
1
+ y
2
2
.
Assim, as coordenadas do ponto mdio M do segmento P
1
P
2
so os
valores mdios das respectivas coordenadas dos pontos P
1
e P
2
.

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CAPTULO 1. COORDENADAS E DISTNCIA NA RETA E NO PLANO 11
Exemplo 6
Dados dois pontos A e B do plano , seja R o conjunto dos pontos equidis-
tantes de A e B, ou seja:
R = {P | d(P, A) = d(P, B)}.
Mostre algebricamente que R a mediatriz do segmento AB, isto , R
a reta perpendicular ao segmento AB que passa pelo ponto mdio M de
AB.
Soluo.
Para isso, escolhemos um sistema de eixos ortogonais OXY de modo que
o eixoOX seja a reta que passa pelos pontos A e B, com origem no ponto
mdio M do segmento AB e orientada de modo que A esteja esquerda de
B (gura 17).
Neste sistema de eixos, A e B tm coordenadas (x
0
, 0) e (x
0
, 0), respecti-
vamente, para algum nmero real x
0
> 0. Ento,
P = (x, y) R d(P, A) = d(P, B) d(P, A)
2
= d(P, B)
2
(x (x
0
))
2
+ (y 0)
2
= (x x
0
)
2
+ (y 0)
2
(x +x
0
))
2
+y
2
= (x x
0
)
2
+y
2
x
2
+ 2xx
0
+x
2
0
+y
2
= x
2
2xx
0
+x
2
0
+y
2
2xx
0
= 2xx
0
4xx
0
= 0 x = 0 P eixo OY .
Figura 16: Mediatriz e ponto mdio de AB. Figura 17: Escolha do sistema de eixos ortogonais
OXY .
Portanto, R = {(x, y) R
2
| x = 0} = eixo OY , que geometricamente
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12 4.. DISTNCIA ENTRE DOIS PONTOS NO PLANO
a reta perpendicular ao segmento AB que passa pelo ponto mdio M deste
segmento, como queramos provar.

Exemplo 7
Dado o ponto P = (x, y), considere os pontos P
0
= (y, x) e P
00
= (y, x).
Mostre que os pontos P
0
e P
00
so obtidos a partir do ponto P por uma
rotao de 90
o
do segmento OP em torno da origem.
Convencionamos dizer que a rotao de 90
o
que leva o ponto P = (x, y)
ao ponto P
0
= (y, x) tem sentido positivo, e que a rotao de 90
o
que
leva o ponto P ao ponto P
00
tem sentido negativo.
Soluo.
Figura 18: Posio dos pontos P e P
0
no plano.
Como
(
d(P, O)
2
= (x 0)
2
+ (y 0)
2
= x
2
+ y
2
d(P
0
, O)
2
= (y 0)
2
+ (x 0)
2
= y
2
+ x
2
,
temos que o tringulo 4POP
0
issceles.
Alm disso,
d(P, P
0
)
2
= (y x)
2
+ (y x)
2
= y
2
+ 2xy + x
2
+ x
2
2xy + y
2
=d(P, P
0
)
2
= 2(x
2
+ y
2
) =d(P, P
0
)
2
= d(P, O)
2
+ d(P
0
, O)
2
.
Logo, pela lei dos cossenos, o tringulo 4POP
0
retngulo em O.
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CAPTULO 1. COORDENADAS E DISTNCIA NA RETA E NO PLANO 13
Isso signica que o ponto P
0
obtido a partir do ponto P por uma rotao
de 90
o
do segmento OP em torno da origem.
Figura 19: P rotacionado de 90
o
at coincidir com P
0
.
Consideremos agora o ponto P
00
= (y, x). De maneira anloga, podemos
provar que P
00
obtido a partir do ponto P por uma rotao de 90
o
do
segmento OP em torno da origem.
Figura 20: P rotacionado de 90
o
at coincidir com P
00
.

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14 4.. DISTNCIA ENTRE DOIS PONTOS NO PLANO
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