O documento discute conceitos estéticos como beleza, feio e gosto. Apresenta diferentes perspectivas filosóficas sobre esses temas ao longo da história, desde Platão até visões fenomenológicas modernas. Argumenta que a beleza não é puramente subjetiva ou objetiva, e que o gosto pode ser educado por meio da experiência estética com obras de arte.
O documento discute conceitos estéticos como beleza, feio e gosto. Apresenta diferentes perspectivas filosóficas sobre esses temas ao longo da história, desde Platão até visões fenomenológicas modernas. Argumenta que a beleza não é puramente subjetiva ou objetiva, e que o gosto pode ser educado por meio da experiência estética com obras de arte.
O documento discute conceitos estéticos como beleza, feio e gosto. Apresenta diferentes perspectivas filosóficas sobre esses temas ao longo da história, desde Platão até visões fenomenológicas modernas. Argumenta que a beleza não é puramente subjetiva ou objetiva, e que o gosto pode ser educado por meio da experiência estética com obras de arte.
O documento discute conceitos estéticos como beleza, feio e gosto. Apresenta diferentes perspectivas filosóficas sobre esses temas ao longo da história, desde Platão até visões fenomenológicas modernas. Argumenta que a beleza não é puramente subjetiva ou objetiva, e que o gosto pode ser educado por meio da experiência estética com obras de arte.
Administrao - Turma 2012 Filosofia e tica, Professor Fernando Campos
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ESTTICA A esttica um ramo da filosofia que se ocupa das questes tradicionalmente ligadas arte, como o belo, o feio, o gosto, os estilos e as teorias da criao e da percepo artsticas. Do ponto de vista estritamente filosfico, a esttica estuda racionalmente o belo e o sentimento que este desperta nos homens. Dessa forma, surge o uso corrente, comum, de esttica como sinnimo de beleza. esse o sentido dos vrios institutos de esttica: institutos de beleza que podem abranger do salo de cabeleireiro academia de ginstica. A palavra esttica vem do grego aisthesis e significa "faculdade de sentir", "compreenso pelos sentidos", "percepo totalizante". Assim, retomando o que foi exposto no captulo anterior, a obra de arte, sendo, em primeiro lugar, individual, concreta e sensvel, oferece-se aos nossos sentidos; em segundo lugar, sendo uma interpretao simblica do mundo, sendo uma atribuio de sentido ao real e uma forma de organizao que transforma o vivido em objeto de conhecimento, proporciona a compreenso pelos sentidos; ao se dirigir, enquanto conhecimento intuitivo, nossa imaginao e ao sentimento (no razo lgica), toma-se em objeto esttico por excelncia.
O belo Vejamos, agora, as questes relativas beleza e feiura. Ser que podemos definir claramente o que a beleza, ou ser que esse um conceito relativo, que vai depender da poca, do pas, da pessoa, enfim? Em outros termos, a beleza um valor objetivo, que
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pertence ao objeto e pode ser medido, ou subjetivo, que pertence ao sujeito e que, portanto, poder mudar de indivduo para indivduo? As respostas a essas perguntas variaram durante o decorrer da histria. De um lado, dentro de uma tradio iniciada com Plato (sc. IV a.C), na Grcia, h os filsofos que defendem a existncia do "belo em si", de uma essncia ideal, objetiva, independente das obras individuais, para as quais serve de modelo e de critrio de julgamento. Existiria, ento, um ideal universal de beleza que seria o padro a ser seguido. As qualidades que tornam um objeto belo esto no prprio objeto e independem do sujeito que as percebe. Levando essa ideia a suas ltimas consequncias, poderamos estabelecer regras para o fazer artstico, com base nesse ideal. E exatamente isso que vo fazer as academias de arte, principalmente na Frana, onde so fundadas a partir do sculo XVII. Defendendo o outro lado, temos os filsofos empiristas, como David Hume (sc. XVIII), que relativizam a beleza, reduzindo-a ao gosto de cada um. Aquilo que depende do gosto e da opinio pessoal no pode ser discutido racionalmente, donde o ditado: "Gosto no se discute". O belo, dentro dessa perspectiva, no est mais no objeto, mas nas condies de recepo do sujeito. Kant, ainda no sculo XVIII, tentando resolver esse impasse entre objetividade e subjetividade, afirma que o belo "aquilo que agrada universalmente, ainda que no se possa justific-lo intelectualmente". Para ele, o objeto belo uma ocasio de prazer, cuja causa reside no sujeito. O princpio do juzo esttico, portanto, o sentimento do sujeito e no o conceito do objeto. Apesar de esse juzo ser subjetivo, ele no se reduz
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individualidade de um nico sujeito, uma vez que todos os homens tm as mesmas condies subjetivas da faculdade de julgar. algo que pertence condio humana, isto , porque sou humano, tenho as mesmas condies subjetivas de fazer um juzo esttico que meu vizinho ou o crtico de arte. O que o crtico de arte tem a mais o seu conhecimento de histria e a sensibilidade educada. Assim, o belo uma qualidade que atribumos aos objetos para exprimir um certo estado da nossa subjetividade, no havendo, portanto, uma ideia de belo nem regras para produzi-lo. Existem objetos belos que se tornam modelos exemplares e inimitveis. Hegel, no sculo seguinte, introduz o conceito de histria. A beleza muda de face e de aspecto atravs dos tempos. E essa mudana (chamada devir), que se reflete na arte, depende mais da cultura e da viso de mundo presentes em determinada poca do que de uma exigncia interna do belo. Hoje em dia, numa viso fenomenolgica, consideramos o belo como uma qualidade de certos objetos singulares que nos so dados percepo. Beleza , tambm, a imanncia total de um sentido ao sensvel, ou seja, a existncia de um sentido absolutamente inseparvel do sensvel. O objeto belo porque realiza o seu destino, autntico, verdadeiramente segundo o seu modo de ser, isto , um objeto singular, sensvel, que carrega um significado que s pode ser percebido na experincia esttica. No existe mais a ideia de um nico valor esttico a partir do qual julgamos todas as obras. Cada objeto singular estabelece seu prprio tipo de beleza.
O feio O problema do feio est contido nas colocaes que so feitas sobre o belo. Por princpio, o feio no pode ser objeto da arte. No entanto,
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podemos distinguir, de imediato, dois modos de representao do feio: a representao do assunto "feio" e a forma de representao feia. No primeiro caso, embora o assunto "feio" tenha sido expulso do territrio artstico durante sculos (pelo menos desde a Antiguidade grega at a poca medieval), no sculo XIX ele reabilitado. No momento em que a arte rompe com a ideia de ser "cpia do real" e passa a ser considerada criao autnoma que tem por funo revelar as possibilidades do real, ela passa a ser avaliada de acordo com a autenticidade da sua proposta e com sua capacidade de falar ao sentimento. O problema do belo e do feio deslocado do assunto para o modo de representao. E s haver obras feias se forem malfeitas, isto , se no corresponderem plenamente sua proposta. Em outras palavras, quando houver uma obra feia, nesse ltimo sentido, no haver uma obra de arte.
O gosto A questo do gosto no pode ser encarada como uma preferncia arbitrria e imperiosa da nossa subjetividade. Quando o gosto assim entendido, nosso julgamento esttico decide o que preferimos em funo do que somos. E no h margem para melhoria, aprendizado, educao da sensibilidade, para crescimento, enfim. Isso porque esse tipo de subjetividade refere-se mais a si mesma do que ao mundo dentro do qual ela se forma. Se quisermos educar o nosso gosto frente a um objeto esttico, a subjetividade precisa estar mais interessada em conhecer do que em preferir. Para isso, ela deve entregar-se s particularidades de cada objeto. Nesse sentido, ter gosto ter capacidade de julgamento sem preconceitos. deixar que cada uma das obras v formando o nosso gosto,
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modificando-o. Se ns nos limitarmos quelas obras, sejam elas msica, cinema, programas de televiso, quadros, esculturas, edifcios, que j conhecemos e sabemos que gostamos, jamais nosso gosto ser ampliado. a prpria presena da obra de arte que forma o gosto: torna-nos disponveis, faz-nos deixar de lado as particularidades da subjetividade para chegarmos ao universal. Mikel Dufrenne, filsofo francs contemporneo, explica esse processo de forma muito feliz, e por isso vamos cit-lo. Diz que a obra de arte "convida a subjetividade a se constituir como olhar puro, livre abertura para o objeto, e o contedo particular a se pr a servio da compreenso em lugar de ofusc-la fazendo prevalecer as suas inclinaes. medida que o sujeito exerce a aptido de se abrir, desenvolve a aptido de compreender, de penetrar no mundo aberto pela obra. Gosto , finalmente, comunicao com a obra para alm de todo saber e de toda tcnica. O poder de fazer justia ao objeto esttico a via da universalidade do julgamento do gosto". Assim, a educao do gosto se d dentro da experincia esttica, que a experincia da presena tanto do objeto esttico como do sujeito que o percebe. Ela se d no momento em que, em vez de impor os meus padres obra, deixo que essa mesma obra se mostre a partir de suas regras internas, de sua configurao nica. Em outras palavras, no momento em que entro no mundo da obra, jogo o seu jogo de acordo com suas regras e vou deixando aparecer alguns de seus muitos sentidos. Isso no quer dizer que v ser sempre fcil. Precisamos comear com obras que nos estejam mais prximas, no sentido de serem mais fceis de aceitar. E dar um passo de cada vez. O importante no parar no meio do caminho, pois o universo da arte muito rico e muito enriquecedor.
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Atravs dele, descobrimos o que o mundo pode ser e, tambm, o que ns podemos ser e conhecer. Vale a pena. Concluindo tudo isso que acabamos de discutir: os conceitos de beleza e feiura, os problemas do gosto e a recepo esttica constituem o territrio desse ramo da filosofia denominado esttica.
Gosto se discute Como se v, estamos no domnio da subjetividade pura. O crtico declara sua preferncia, e, se por uma questo de compostura jornalstica, evita o uso da primeira pessoa (esse "eu" to intrometido no papel impresso), passa por inflexvel e dono da verdade. O bom senso recomendaria a seguinte concluso; gosto no se discute... a deciso mais complicada. Nesse ponto, a ideia de que "gosto no se discute" me parece fundamentalmente errada. Gostos se discutem sim, e diariamente. Mais do que se discutem: em cada perodo histrico, h gostos em luta, vitrias, derrotas, revanches. Uma iluso de nosso tempo um tempo de tolerncia esttica, de permissividade nos valores culturais, de represso totalitria ao julgamento crtico pensar que o gosto seja uma questo individual, quase fisiolgica, e que ningum tem de dar palpite sobre a preferncia alheia.
bom, ruim Desconfio que esse problema tenha uma dimenso mais ampla do que supe a nossa v irritao. Com a cultura de massas, parece ter-se estabelecido um estado de anomia no Julgamento esttico: no h mais um pblico uniforme, que compartilha das mesmas referncias culturais. No
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h, numa poca em que, artisticamente, tudo ficou "alm do bom e do ruim", muita legitimao do julgamento, e, v l a palavra, para a pedagogia crtica. Ao mesmo tempo, como no Brasil o consumo de cultura restrito, a deslegitimao do julgamento esttico, do isto bom, isto ruim, no se acompanhou de uma deselitizao geral, de uma complacncia com a cultura de massas, que parece haver, por exemplo, no jornalismo cultural norte-americano. Os crticos enfrentam, assim, uma situao ambgua: diferenas de estilo pessoal parte, terminam ofendendo exatamente aquela parcela dos leitores a quem, teoricamente, deveriam persuadir, convencer, "ilustrar". Pelo menos, para isso que deveria servir a crtica; em desespero de causa, agredimos.
Questo de provar H sadas para essa situao? Vejo, pelo menos, duas perspectivas possveis. A primeira mais uma convico pessoal. No acredito que o gosto seja uma questo puramente subjetiva, que s depende das inclinaes irremovveis de cada pessoa. Ao contrrio, a experincia cotidiana mostra que muitas vezes mudamos de opinio sobre um filme ou uma msica de que gostvamos, e que uma conversa com quem acha coisas diferentes do que ns geralmente modifica, ainda que no admitamos isso de imediato, as impresses que tnhamos de incio. O gosto se forma e se educa no dilogo e no confronto, por mais cego e brutal que este parea a princpio, e no na esfera ntima de nossas reaes pessoais; estas, por sua vez, s se fortalecem, ganham intensidade e conscincia, se desafiadas na adversidade. No h como "provar" que A fez um filme melhor que B. Mas h como chamar a ateno para o que h de ruim no filme de B; no o caso
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de pichar simplesmente, mas de dar exemplos. No comeo do filme de Lawrence Olivier, um dos guardas pronuncia a clebre frase: "H algo de podre no reino da Dinamarca". Imediatamente, sua cmera de Lawrence Olivier vagueia pelo cenrio, desce escadas, como que procura desse "algo de podre": vai adiante, hesita, desvia-se, at enfocar, melodramtica, o leito conjugal do rei e da rainha. Nesse intencionalismo do diretor, nessa vontade de circunscrever o drama shakespeariano a uma interpretao psicanaltica, nessa explicitude de meios, nessa histeria significativista, s posso ver um caso de mau gosto. E no me resta seno apelar ao leitor: no de mau gosto essa cena? No , afinal, pretensioso, bombstico, vulgar, tolo? E no fim, um pouco desse modo que "gostos se discutem".
Arte de elite, arte popular, arte de massa At aqui vimos discutindo caractersticas e exemplos do que chamamos arte de elite, ou arte da cultura erudita. O termo elite aqui, portanto, est sendo usado no sentido sociolgico e designa uma minoria social dominante em termos culturais, em virtude do conhecimento e do domnio de vrios cdigos no campo das artes. Arte de elite: caractersticas Resumindo o que j vimos, podemos dizer que essa arte , em geral, conservada em museus e nas grandes colees particulares. Tem valor esttico indiscutvel, isto , sustenta a apreciao esttica de um pblico com sensibilidade treinada, exigindo conhecimentos especficos sobre arte e sobre linguagens artsticas. A arte de elite caracteriza-se por: implicar um esforo para captar o significado da existncia humana;
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exigir do pblico uma mudana no modo de ver o mundo; envolver o desenvolvimento da linguagem artstica; envolver a expresso pessoal do artista. Este no , entretanto, o nico tipo de arte que existe. Todos ns j ouvimos falar e tivemos contato tanto com a arte popular, ou folclrica, quanto com a arte de massa veiculada pelos meios de comunicao de massa. O que sero elas e como se distinguem da arte de elite?
Arte popular ou folclore
Caractersticas da arte popular Segundo Arnold Hauser, terico e historiador da arte, a arte popular ou folclrica compreende a produo potica, musical, plstica, teatral e de dana de um setor da populao que no intelectualizada, nem urbana, nem industrial. Caracteriza-se por: ser annima, isto , a forma de sua apresentao fruto de inmeras colaboraes ao longo do tempo, sem que haja um nico autor; traduzir a viso de mundo e os sentimentos coletivos do grupo no qual tem sua origem, ou seja, o contedo da experincia expressa na arte folclrica comum a toda uma coletividade; desenvolver-se dentro de convenes fixas; ter como pblico o prprio grupo que a criou e que, em geral, composto pelos habitantes rurais e de pequenos vilarejos; no ser inspirada nem influenciada por modas.
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Alguns antroplogos e socilogos vm discutindo essas caractersticas da arte popular com o objetivo de alargar o uso do conceito, adequando-o realidade das sociedades modernas. Assim, podemos tambm encontrar arte popular, hoje, nas cidades grandes, industrializadas, para onde migraram os habitantes rurais, inclusive de outras regies do pas, ou, ainda, de outros pases, como o caso das colnias italiana, japonesa e alem no Brasil. Encontramo-la, ainda, em algumas manifestaes urbanas como a dana de salo, que preserva ritmos e danas populares de vrias regies, ou em peas do vesturio e nos adereos. O trao distintivo que realmente caracteriza uma produo artstica como sendo folclrica o fato de ela ser produzida pelo grupo, estar enraizada na vivncia desse grupo e, por essa razo, ter esse mesmo grupo como pblico. O adjetivo "popular", portanto, usado porque o "povo" a origem e o fim da produo. Nesse sentido, a produo folclrica no um espetculo, uma curiosidade para ser consumida pelos turistas de outras regies. Ela a expresso mais genuna de um grupo de pessoas, a representao simblica de seu modo de vida, de suas razes, de suas crenas e aspiraes. atravs dela que o grupo encontra o reflexo de sua identidade cultural. Por essa razo, quando se busca a identidade de uma nao, seu folclore valorizado. No entanto, no momento em que ele retirado da poca e do lugar em que se originou, e das mos dos atores que o vinham recriando tradicionalmente, ele perde sua razo de ser, perde a ligao existencial tanto com os apresentadores quanto com o pblico e toma-se mero espetculo que pode ser visto e esquecido; em uma palavra, consumido. Como exemplo, podemos citar o Carnaval, em especial o do Rio
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de Janeiro, que deixou de ser a manifestao de alegria, s vezes crtica, de blocos de folies, para se transformar na "passarela do samba", na qual desfilam e ganham publicidade artistas de TV, cantores, modelos, membros da "alta sociedade".
O trabalho do artista e o do arteso A partir das diferenas estabelecidas entre arte de elite e arte popular, fica mais fcil entender as diferenas entre o trabalho do artista e o trabalho do arteso. Se pensarmos na produo artesanal de uma regio ou de um grupo social ou tnico, como o artesanato indgena, a cestaria produzida no litoral paulista, a cermica de Gois ou da Bahia, veremos que em toda essa produo est presente a repetio de padres tradicionais. O cesto tranado segundo uma determinada tcnica, adequada fibra utilizada, e deve ser confeccionado em determinada forma e tamanho, com a decorao tpica da regio. Dessa primeira caracterstica decorre uma outra: como o arteso repete padres, ele sabe exatamente qual tipo de produto ter ao final de seu trabalho. Sabe qual ser sua aparncia e seu tamanho, sabe a quantidade de material a usar, as ferramentas de que vai precisar e as tcnicas que empregar em cada estdio da produo. O trabalho do artista, ao contrrio, envolve a criao, a descoberta de uma nova combinao de elementos. Assim, quando comea seu processo de criao, ele no sabe ao certo a que resultado final chegar. Pode precisar de outros materiais alm daquele com que comeou a trabalhar, pode precisar de ferramentas novas, e pode ter de inventar ou inovar as tcnicas.
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O meio artstico (pintura, cinema, escultura, msica, dana etc.) e o material que o artista escolhe so condies do pensar artstico, so partes constitutivas da sua expresso, expresso essa que vai surgindo medida que ele vai trabalhando. O projeto do artista condiciona o meio e o material que, por sua vez, condicionam as tcnicas e o estilo. Tudo isso reunido forma a linguagem da obra, sua marca inconfundvel, seu significado sensvel. O artista, portanto, ao contrrio do arteso, embarca em uma viagem em aberto. O porto de desembarque s revelar o seu nome quando a obra tiver sido completada. Nesse sentido, podemos dizer que o artista cria, enquanto o arteso confecciona. Para o arteso basta o conhecimento tcnico apurado. O artista, alm desse, precisa ser capaz de intuir as formas organizadoras do mundo e da natureza humana para poder express-las. Ao colocar essas diferenas entre arte e artesanato, entretanto, no estamos querendo desmerecer nem o trabalho do arteso nem o produto desse trabalho. O bom arteso tem grande conhecimento do material com que trabalha e das tcnicas que emprega. Alm disso, ao repetir os padres tradicionais o modo tradicional de confeccionar um certo tipo de objeto que tiveram sua origem e sua razo de ser numa determinada cultura, ele est sendo uma das foras de conservao dessa cultura. H, entretanto, principalmente nos centros urbanos, uma outra produo, geralmente de baixa qualidade tcnica, que tambm chamada de artesanato e produz peas para o consumo turstico ou de pessoas que no tm nenhum conhecimento da cultura local e tomam por tpico ou artstico aquilo que simplesmente ruim e malfeito. Alm da falta de
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qualidade tcnica e artstica, falta, tambm, a relao com a cultura, o que leva a uma viso estereotipada e mecanizada de um fazer que estava ligado ao modo de vida do verdadeiro arteso.
Arte de massa A arte de massa constituda por aqueles produtos da indstria cultural que se destinam sociedade de consumo e que visam responder ao "gosto mdio" da populao de um pas ou, em termos de multinacionais da produo, do mundo. A arte de massa caracteriza-se por: ser produzida por um grupo de profissionais que pertence a uma classe social diferente do pblico; ser dirigida pela demanda, passando, portanto, por modismos; ser feita para um pblico semiculto e passivo; o "povo", nesse caso, s o alvo da produo, no sua origem; visar o divertimento como meio de passar o tempo. A cultura de massa e, como parte dela, a arte de massa pressupe a existncia da indstria cultural, de um lado, produzindo artigos em srie para serem consumidos pelo pblico; e, do outro, a "massa", um nmero indeterminado de pessoas (quanto mais, melhor), despidas de suas caractersticas individuais, de classe, tnicas, de regio, at mesmo de pas, que so tratadas como um todo razoavelmente homogneo, para o qual esta produo direcionada. Assim, essa produo visa atender ao chamado "gosto mdio" e, por isso, tambm ter de deixar de lado as caractersticas especficas de classe, de regio, de gosto, para assumir uma certa homogeneidade que no causar "indigesto" a ningum. A frmula encontrada a da "pasteurizao", que tira o que uma obra de arte tem de expressivo, de
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diferente, de novo, de especfico, para oferecer uma verso plida e incua, um arremedo de arte, que parece, mas no .
Alcântara, Ana - Espaços Da Lisboa Operária - Trabalho, Habitação, Associativismo e Intervenção Operária Na Cidade Na Última Década Do Século XIX (2019)