Lopes, Marcel 2014
Lopes, Marcel 2014
Lopes, Marcel 2014
54
lticos foram identificados pelos arquelogos Oldemar Blasi e Miguel Gaissler, do
Museu Paranaense.
No entanto, somente no ano de 1987, com visita da arqueloga Margarida
Davina Andreatta do Museu Paulista da Universidade de So Paulo, que formulou um
parecer tcnico a respeito dos bens arquitetnicos e arqueolgicos do municpio, o stio
Santa Marina ganha notoriedade (ANDREATTA, 1988). Com isso, esse stio passa
ento a ser pesquisado em momentos distintos
7
, divididos em trs etapas: no ano de
1990, sob o comando de Oldemar Blasi e Miguel Gaissler; em 1999 pelos arquelogos
Erika Robrahn-Gonzlez; e entre o final de 2009 e o incio de 2010, sob tutela da
Zanettini Arqueologia.
Nesse mesmo perodo, com a expanso dos loteamentos imobilirios no
municpio, outros vestgios foram identificados. Durante a realizao do
empreendimento Condomnio Villa DItlia na Estrada Municipal do Pedregulho s/n,
foi localizado o stio Pedregulho. As etapas de campo ficaram sob a responsabilidade da
arqueloga Maria Cristina M. Scatamachia, realizadas em 1998. Neste stio, foram
identificadas manchas escuras de solo antropognico (terra preta) e resgatados 7.626
fragmentos de cermica e 46 artefatos lticos lascados. A cermica foi caracterizada da
seguinte forma: tcnica de manufatura acordelada, decoraes plstica (ungulada e
corrugada) e pintada com padro decorativo composto de linhas retas horizontais e
verticais e de linhas curvas, realizadas com pigmento vermelho sobre branco associados
ao preto (QUEIROZ, 2013).
Em 1990 foi identificado o stio Rio Comprido I, localizado no Loteamento
Mirante do Vale, na Estrada Municipal do Rio Comprido, n. 5001. As atividades de
campo foram realizadas entre 1998 e 1999, pelo arqueolgico Plcido Cali e os
resultados foram publicados no livro Stio Arqueolgico Rio Comprido I e seu Contexto
no Vale do Paraba (1999). Segundo Cali, o stio est assentado em relevo ondulado e
sobre um plat em sua rea central e est localizado prximo de trs nascentes e cursos
dgua (crregos Guatinga e Comprido). O material arqueolgico identificado
constitudo por 174 fragmentos, sendo 151 pr-coloniais (simples, corrugado, inciso e
pintado) e as demais so histricos (tradio neobrasileira e faianas).
7
Todos procedimentos adotados e resultados obtidos esto detalhados no captulo 3 desta dissertao.
55
Em 1998, durante a construo do Residencial Villa Branca, localizado na
estrada velha RJ-SP, foram identificados fragmentos de cermica na superfcie do
terreno pelo arquelogo Wagner Bornal, membro da Fundao Cultural de Jacarehy. As
etapas de pesquisa no stio Villa Branca foram realizadas pela empresa
Zanettini/Documento em trs etapas: a primeira em 1998, na poro sul do loteamento,
resultando na coleta de mais de 20 mil peas, entre fragmentos de cermica e artefatos
lticos, alm de 5 reas com concentrao de solo antropognico; a segunda fase foi
executada no ano de 2001 na poro ao norte do stio, revelando apenas 52 fragmentos
de cermica e 1 artefato ltico; e a terceira em 2011, durante o licenciamento de um
terreno prximo ao stio Villa Branca (ZANETTINI ARQUEOLOGIA, 2011a), outras
312 peas foram identificadas e associadas ao stio em apreo.
No incio do ano 2000, junto represa Santa Branca, prximo ao Rio Paraba,
foram identificados fragmentos de cermica em superfcie, posteriormente
caracterizados como pertencentes ao stio Light. As pesquisas de campo foram
realizadas pela equipe de arqueologia da Fundao Cultural de Jacarehy (Cludia
Moreira Queiroz e Wagner Gomes Bornal) (CALI, 1999, p.9). O conjunto artefatual
resgatado representado por mais de 20 mil fragmentos de cermica e por volta de 2
mil artefatos lticos, alm de reas com solo antropognico e cinco pontos delimitados
por grandes pedras, indicando locais de possveis sepultamentos (QUEIROZ, 2013). Na
Figura 8, so apresentadas algumas das vasilhas cermicas identificadas neste stio, as
quais esto sob custdia da Fundao Cultural de Jacarehy.
Figura 8. Alguns exemplares de vasilhas cermicas identificadas no stio Light (Jacare SP)
56
Municpio de Ubatuba
O municpio de Ubatuba conta com dois importantes stios arqueolgicos: stio
Itagu e stio Mar Virado.
O stio Itagu foi identificado no incio da dcada de 1970, porm escavado
entre os anos 1975 e 1976, pelos arquelogos Caio Del Rio Garcia e Dorah Pinto
Ucha, do ento Instituto de Pr-histria da Universidade de So Paulo (UCHA et al.
1984).
Neste stio, alm de material ltico, cermico, restos de fogueiras, buracos de
estacas e restos de um sepultamento, foram identificados tambm contas de vidro e um
pequeno disco de cobre, indicando o contato com europeus (Ibidem, p.51).
Com relao ao stio Mar Virado, est situado em um complexo costeiro na ilha
homnima. Foi pesquisado intensamente desde o incio da dcada de 1980 pela equipe
dos pesquisadores Ucha e Garcia (UCHA, 2009). Apresenta vestgios associados a
grupos caadores-coletores e tupiguarani (cermicas), alm de elementos que constatam
a presena marcante do caiara. Ademais, as atividades de campo identificaram
grande quantidade de conchas (que constituem a composio de um sambaqui), alm de
material ltico, material sseo (sepultamentos), cermico, etc.
A Tabela 2 organiza e sintetiza os dados provenientes de achados fortuitos e/ou
stios arqueolgicos identificados em municpios que conformam o Vale do Paraba
Paulista.
Tabela 2. Vestgios arqueolgicos identificados na regio de estudo.
Municpio
Tipo/descrio
Ano de identificao
Fonte
APARECIDA
Vasilha cermica com
vestgios esqueletais.
1908
CAMARGO & CAMARGO,
1990
Vasilha cermica com
vestgios esqueletais.
1928
Vasilha cermica. 1935
Vasilhas cermicas (de cor
clara).
1940
Vasilha cermica oval e
base afunilada.
1952
Vasilha cermica com
outras menores em seu
interior (pintadas de
vermelho e branco; e outra
semelhante a um cone).
1952
57
Vasilha cermica com
tampa, em seu interior
outra pea menor (do tipo
alguidar) pintada de
vermelho.
1953
Cachimbo com feies
humanas, reas com terra
preta e vasilha cermica.
1960
Machadinho em forma de
ncora.
1960
Vasilha cermica,
fragmentos de cermica e
fusos.
1964
Fragmentos de cermica
1969
MARANCA, 1969
SO JOS DOS CAMPOS
Vasilhas cermicas e
artefatos lticos (pontas de
flecha e machados
polidos).
1936
TIBIRI, 1936
Vasilhas cermicas (com
vestgios esqueletais) e
artefatos lticos
1946
CROPANI & NETO, 1946
apud CALI, 1999
Fragmentos de cermica
1969
MARANCA, 1969
Vasilhas cermicas (com
vestgios esqueletais).
1980
CALI, 1999
Vasilhas cermicas (com
superfcie decorada).
1991
JORNAL
VALEPARAIBANO, 1991
apud CALDARELLI, 2003
Vasilha cermica (com
vestgios esqueletais)
2004
MEDEIROS, 2004
Artefatos lticos lascados
(pontas de flechas)
2001/2002
CALDARELLI, 2001/2002
Stios arqueolgicos
Colinas, Carcar e Pica-
pau Amarelo
2008
A LASCA, 2012
GUARATINGUET
Fragmentos de cermica
1969
MARANCA, 1969
ROSEIRA
Fragmentos de cermica
1969
MARANCA, 1969
PARAIBUNA
Stio arqueolgico Ribeiro 2009 MORAIS et al. 2009
Stio arqueolgico 2013 UOL NOTCIAS, 2013
CAAPAVA
Stio arqueolgico
Artefatos lticos e
cermicos
1990 CALDARELLI, 2007
Stios arqueolgicos -
Artefatos lticos e
cermicos
2004 CALDARELLI, 2007
CANAS
Stio Arqueolgico -
Artefatos lticos e
cermicos
2002
BORNAL & QUEIROZ,
2002, 2004
JACARE
Stio Santa Marina -
Artefatos lticos e
cermicos
1970
ANDREATTA, 1988; BLASI
& GAISSLER, 1991;
ROBRAHN-GONZLEZ,
1999; ZANETTINI
ARQUEOLOGIA, 2010
Stio Pedregulho -
Artefatos lticos e
cermicos
1998
SCATAMACHIA, 1998 apud
QUEIROZ, 2011
Stio Rio Comprido I -
Artefatos lticos e
cermicos
1999
CALI, 1999
Stio Villa Branca -
Artefatos lticos e
cermicos
1998
ZANETTINI/DOCUMENTO,
1998; ZANETTINI
ARQUEOLOGIA, 2010
Stio Light - Artefatos
lticos e cermicos
2000
CALI, 1999
58
UBATUBA
Stio Itagu 1984 UCHA et al. 1984
Stio Mar Virado 2009 UCHA, 2009
Na Figura 9, visualiza-se o mapa do vale do Paraba Paulista indicando os
municpios onde esto localizados os achados fortuitos e/ou stios arqueolgicos.
Figura 9. Mapa com a localizao dos municpios do vale do Paraba Paulista onde esto inseridos os
achados fortuitos e/ou stios arqueolgicos.
Neste levantamento, at o momento apenas nove municpios apresentam
vestgios arqueolgicos, sendo que na maioria das cidades, como o caso de Aparecida,
foram encontrados apenas achados fortuitos ou realizadas coletas seletivas. Essa
caracterstica pode estar relacionada principalmente s formas diferenciadas (no que diz
respeito s polticas pblicas) que os municpios trataram (e ainda tratam) a preservao
do patrimnio arqueolgico
8
.
8
Ver discusso sobre as polticas pblicas no que concerne o Patrimnio Arqueolgico Paulista em
Wichers (2012).
6. Guaratinguet
5. Aparecida
3. Caapava
2. So Jose dos Campos
1. Jacare
4. Roseira
7. Canas
1
2
3
4
5
6
7
9
8
8. Paraibuna
9. Ubatuba
59
O municpio de Jacare
9
por exemplo, com base na Lei 3924/61, realizou um
Termo de Ajustamento de Conduta que estabeleceu normas para o salvamento de stios
arqueolgicos pelos empreendedores imobilirios responsveis por cada loteamento.
Com isso, foram criadas reas de interesse arqueolgico, as quais necessitariam de
levantamentos sistemticos a serem realizados por profissionais habilitados e contrato
pelos empreendedores sob a fiscalizao da Fundao Cultural de Jacarey.
Alm das polticas pblicas que impulsionaram a obrigatoriedade do salvamento
e da preservao do patrimnio arqueolgico, houve um processo de institucionalizao
da arqueologia dentro de museus e centros de pesquisa cientfica (BARRETO, 1999-
2000, p.33), que se iniciou por volta da dcada de 1960, principalmente com a criao
do Instituto de Pr-Histria e com a renovao da rea de arqueologia do Museu
Paulista (WICHERS, 2012, p.132-133).
De qualquer modo, independentemente da forma pelo qual os vestgios foram
identificados no Vale do Paraba Paulista, eles apresentam caractersticas fsicas que
permitem associ-los, de acordo com a bibliografia, aos grupos que as produziram
(NOELLI, 1993; SOARES, 1997), como veremos a seguir.
2.2. Dos cacos e pedras s populaes: interpretando os vestgios arqueolgicos
Nas linhas anteriores, apresentamos de forma descritiva o patrimnio
arqueolgico identificado em nove municpios que fazem parte do Vale do Paraba
Paulista. Todas as referncias foram expostas de forma ipsis litteris, ou seja, no nos
preocupamos naquele momento em interpretar os vestgios evidenciados ou associ-los
s populaes que os produziram, mas apenas apresent-los da mesma forma que foram
referenciados nos textos selecionados. Assim, evitamos, a princpio, buscar nos
vestgios (cermico e ltico) caractersticas de fsseis guias para o reconhecimento das
tradies e fases arqueolgicas existentes. No entanto, ainda que to criticada (DIAS,
1994, 1995; MORAIS, 2005; ARAJO, 2007), a classificao tipolgica e descritiva e,
consequentemente, a associao e simples nomeao de um patrimnio arqueolgico a
uma fase ou tradio, ainda se faz presente na arqueologia brasileira.
9
Segundo levantamento realizado por Wichers (2012), a Fundao Cultural de Jacarey a instituio que
mais forneceu endossos para pesquisa no Estado de So Paulo.
60
Dessa forma, a tradio arqueolgica vista aqui como um ponto de partida para
que possamos, em um segundo momento, associar os vestgios aos grupos culturais.
Cabe, ento, salientar que estes vestgios no consistem de comportamentos humanos,
mas so resultados dos procedimentos e produtos destes comportamentos
(RODRIGUES & AFONSO, 2002, p.156) e de suas transformaes (HODDER, 1994).
Contudo, tambm no estamos advogando o abandono da utilizao da tradio
arqueolgica, mas sim sua insero em uma problemtica maior (MORAES, 2007,
p.16). Consequentemente, partimos das caractersticas gerais da cultura material dos
grupos que habitaram a regio do Vale do Paraba Paulista, para, em seguida,
estabelecermos uma associao entre tradio arqueolgica e famlia lingustica
(NOELLI, 1996, p.8), cientes das dificuldades desta correlao (SCHIAVETTO, 2003;
SOARES, 2005).
2.2.1. As tradies arqueolgicas no Vale do Paraba Paulista: caracterizando os
vestgios e os stios arqueolgicos
A partir do quadro arqueolgico apresentado anteriormente, no Vale do Paraba
Paulista h indcios da ocupao de grupos caadores/coletores, associados tradio
arqueolgica Umbu, grupos horticultores/agricultores e ceramistas relacionados s
tradies Aratu e Itarar-Taquara (falantes de lnguas do Tronco Macro-J) e
Tupiguarani (falantes de lnguas do Tronco Tupi).
No caso dos vestgios associados ocupao por grupos caadores/coletores,
estes foram encontrados no municpio de So Jos dos Campos (TIBIRI,1936), junto
antiga Chcara Boa Vista (pontas de flecha) e tambm nos stios arqueolgicos Pica-
pau Amarelo e Carcar (A LASCA, 2012), sendo que, neste ltimo, a datao realizada
pelo mtodo AMS (Beta Analytic Incorporation) revelou uma data que situa o stio
entre 9.740 a 10.180 BP ou 7.790 a 8.230 a. C. (Ibidem, p.30).
Com relao s ocupaes mais recentes, esto associadas s tradies Itarar-
Taquara, Aratu e Tupiguarani. Para estas tradies, a seguir, apresentamos uma breve
sntese das particularidades principais de cada uma e, em seguida, as associamos aos
vestgios encontrados no Vale do Paraba Paulista.
61
A tradio Itarar-Taquara
10
foi caracterizada por conter vasilhames pequenos e
finos com formas cnicas e cilndricas, geralmente sem decorao e apresentando cores
variando entre marrom escuro, cinza e preta (CHMYZ, 1976), presena de casas
subterrneas (depresses doliniformes escavadas com intuito de fornecer abrigo)
(MILLER, 1967), dentre outros aspectos. Teramos apenas o stio Carcar (em So Jos
dos Campos) passvel de ser associado a esta tradio arqueolgica (A LASCA, 2012).
Cabe lembrar que no municpio de Guararema, vizinho do Vale do Paraba Paulista, foi
localizado em 2004 o stio Topo do Guararema (SCIENTIA CONSULTORIA, 2004), o
qual apresentou elementos que poderiam ser associados tradio Itarar-Taquara.
A tradio Aratu
11
caracterizada pela presena de cermica pouco decorada,
geralmente com incises prximas borda ou com banho vermelho, pastas compostas
por antiplstico mineral, vasilhas piriformes, geminadas e com bordas onduladas
(PROUS, 1991, p.347), dentre outras particularidades. Assim sendo, de acordo com os
dados apresentados anteriormente, teramos para a regio em estudo, vestgios Aratu
nos municpios de Aparecida (achados fortuitos), Jacare (stio Light), Caapava (stio
Caapava I) e Paraibuna (stio Ribeiro e sitio sem nome). Cabe destacar que, no caso
do stio Caapava I, as dataes absolutas inserem o stio entre os sculos XI e XV (870
40 e 590 50 BP), perodo no qual situam deslocamentos, precisamente no contexto
da diversificao cultural e presses populacionais exercidas por outros grupos
indgenas, antes da conquista europeia (GOMES, 2003, p.224).
No caso da tradio Tupiguarani
12
, que nos interessa aqui em particular, dentre
as demais tradies arqueolgicas existentes, talvez tenha sido aquela mais pesquisada
10
Para o detalhamento desta tradio, dentre os inmeros autores que abordam o tema, consultar Miller
(1967; 1971), Schmitz (1998), Robrahn-Gonzlez (1999) e, principalmente, Arajo (2007), que faz um
apanhado das discusses enfatizando os dados provenientes do Estado de So Paulo. Cabe dizer tambm
que esta tradio est associada as atuais populaes Kaingang que, atualmente, vem sendo foco de
inmeras pesquisas, em diferentes reas do saber, como os trabalhos de Silva (2001), Rodrigues (2007),
Corteletti, (2012), Navarro (2012) e Souza (2012).
11
Segundo levantamento realizado pela Zanettini Arqueologia (2009), a tradio Aratu est presente no
Estado da Bahia (FERNANDES, 2003), no Esprito Santo (PEROTA, 1971), em Tocantins (OLIVEIRA,
2005; MORALES, 2005), em Gois (WST, 1983, 1990; ROBRAHN-GONZLEZ, 1996; 2001;
VIANA, 1996; PONTIN, 2005; ZANETTINI ARQUEOLOGIA, 2011b), em So Paulo (MARANCA et
al. 1994; ALVES & CALLEFFO, 1996; CALDARELLI, 2003; ALVES, 2003, 2004; AFONSO &
MORAES, 2005/2006; ZANETTINI ARQUEOLOGIA, 2008).
12
Esta tradio tem sido associada aos falantes da famlia lingustica Tupi-guarani, do Tronco Tupi, para
isso, estabeleceu-se o termo Tupiguarani escrito em uma s palavra, considerando j ter sido o termo
consagrado pela bibliografia (SCATAMACCHIA, 1981, p.36).
62
nas ltimas dcadas. Desde os anos de 1960
13
(SUSNIK, 1957; CHMYZ, 1976;
MEGGERS & EVANS, 1973; HECKENBERGER et al. 1998; BROCHADO, 1984,
1989, 1991; NOELLI, 1993, 1996; SILVA, 2000 dentre outros) aos dias atuais
(JCOME, 2006; MORAES, 2007; ALMEIDA, 2008; CRUZ, 2008; MILHEIRA,
2008; OLIVEIRA, 2008; SOUZA, 2008; CORRA 2009, no prelo; BUARQUE, 2009;
CORRA-DA-SILVA, 2010; STUCHI, 2010; GARCIA, 2012 etc.), os stios Tupi tem
sido foco de trabalhos de forma ininterrupta por todo o territrio brasileiro.
Diante disso, no nos cabe aqui, discutir todos os processos que envolvem a
caracterizao desta tradio arqueolgica, j que contamos com inmeros trabalhos
snteses e detalhados a respeito destas populaes
14
. Portanto, apresentamos a seguir
uma breve composio de dados que definem a tradio.
A tradio Tupiguarani caracterizada pela presena de cermica policrmica
(vermelho ou preto sobre engobo branco e/ou vermelho), com acabamento corrugado e
escovado, alm dos enterramentos secundrios em urnas, os machados de pedra polida e
a presena de tembets (CHMYZ, 1976, p.146). Por dcadas, de acordo com a
classificao pronapiana das tradies, os stios arqueolgicos Tupiguarani que
porventura apresentassem particularidades parcialmente distintas da matriz cultural
Tupi, eram divididos em fases, as quais neste caso chegaram a ultrapassar mais 70 fases
(BROCHADO, 1984). A partir disso, entende-se fase como qualquer complexo
cermico, ltico, padro de habitao, etc., relacionado no tempo e no espao, em um ou
mais stios (CHMYZ, 1976, p.131).
No entanto, somente na dcada de 1980
15
, com a publicao de sua tese (1984)
que Brochado (1984) sugere a diviso da tradio em duas subdivises: a Tupinamb
(relacionado aos Tupinamb do litoral) e a Guarani (associada aos Guarani do Sul),
13
Refiro-me ao perodo em que houve a introduo da abordagem difusionista no Brasil trazida por
Meggers e Evans, assim como o estabelecimento e criao do PRONAPA. Segundo Noelli (2008, p.22-
23), esse momento foi antecedido por outras trs fases de pesquisas existentes, com foco na expanso
Tupi. So elas: percepo da unidade lingustica dos povos Tupi, descoberta por Martius ([1839] 1867),
delineada por Von Den Steinen (1886) e sistematizada por Rivet ([1924] 1952) e Loukotka (1935, 1939,
1950) (...) Erland Nordeskjold (1924, 1939) e, principalmente, Alfred Mtraux (1928) (...) introduziram a
teoria do difusionismo e do histricos-culturalismo para explicar as semelhanas entre os povos Tupi (...)
Ayron Rodrigues (1958, 1964, 1984-85), que demonstrou as relaes genticas entre as lnguas da famlia
Tupi-guarani e das demais famlias Tupi, que so aperfeioadas at o presente (MOORE & STORTO,
2002).
14
Para exemplificarmos uma destas snteses, a partir de 2008 foram publicados trs volumes da coleo
Os Ceramistas Tupiguarani (Vol. 1, 2 e 3), organizada pelos arquelogos Prous & Lima (2008, 2010a,
2010b) e que trazem inmeros artigos atualizando as questes Tupi em diferentes regies do pas.
15
Antes disso, a tradio Tupiguarani era dividida em trs subtradies, a pintada, a corrugada e a
ungulada (SIMES, 1972).
63
sendo que a primeira apresentava uma maior diversidade de motivos pintados e maior
nmero de vasilhas abertas, e a segunda, vasilhas mais profundas e globulares e o
predomnio de acabamentos plsticos. Anos depois, o mesmo autor define que o termo
Subtradio Tupinamb deveria ser usado somente para grupos falantes do
Tupinamb, em contraposio aos demais Tupi (ou no Tupinamb) (NOELLI, 1996,
p.24).
Destaque-se que essas mudanas esto baseadas em seu modelo interpretativo,
que consiste na distribuio geogrfica e histrica dos falantes Tupi. Este modelo foi
caracterizado pela relao entre as lnguas do tronco Tupi e a reclassificao e estudo de
relacionamentos das lnguas deste tronco, a distribuio geogrfica histrica dos
falantes Tupi, da tradio tupiguarani e na distribuio geogrfica e temporal das
dataes da cermica desta tradio (BROCHADO, 1989, p.65-66). Com isso, se
distanciou da postura adotada pelos idealizadores do PRONAPA na medida em que
no restringiu seus horizontes a uma anlise dos dados arqueolgicos propositalmente
dissociados dos contextos culturais (NOELLI, 2008, p.23).
Nos ltimos anos, as pesquisas arqueolgicas sobre as populaes Tupi tem
ganhado aspectos regionais, mas no em um sentido de analisar o material sem
comparaes com outras localidades. Regional no sentido de buscar caractersticas
especficas de cada ocorrncia que possam caracterizar cada rea dentro do quadro
nacional (CORRA & SAMIA, 2006, p.412)
Nessa perspectiva, destacam-se os trabalhos realizados por Morais (1999-2000)
no Vale do Paranapanema, por Ribeiro et al. (2009) na costa sul do Estado do Esprito
Santo, no nordeste
16
(AFONSO & MORAIS, 2006; MORAES, 2007) e norte
(ZANETTINI ARQUEOLOGIA, 2008) do Estado de So Paulo; no Estado do Rio de
Janeiro (BUARQUE, 2009) e no Mato Grosso do Sul (KASHIMOTO, 2003;
KASHIMOTO & MARTINS, 2008), correlacionando os dados etnogrficos, histricos,
os padres de assentamento e a cultura material que mantm as particularidades
regionais (MORAES, 2007).
16
Na pesquisa de Moraes (2007), os stios arqueolgicos trabalhados foram classificados como
pertencentes aos grupos Tupi do interior, j que no foi possvel associ-los Subtradio Guarani ou
Tupinamb. De acordo com Moraes (Ibidem, p.265), apesar dos stios estudados remeterem Subtradio
Tupinamb, no vivel essa relao, pois os Tupinambs ocupavam densamente a costa e no a regio
em apreo. Assim, a autora define que a variabilidade formal evidenciada mostra que estamos lidando
com ocupaes diversificadas daquelas do litoral, mas que pertencem, indubitavelmente, mesma matriz
cultural Tupi.
64
Assim, podemos identificar, a partir da cultura material, populaes Tupi no
Vale do Paraba Paulista nos municpios de Jacare (com os stios arqueolgicos Santa
Marina, Villa Branca e Rio Comprido I), Aparecida (achados fortuitos), So Jos dos
Campos (achados fortuitos), Guaratinguet (achados fortuitos), Roseira (achados
fortuitos), Canas (stio Caninhas) e Ubatuba (stio Itagu e Mar Virado).
A Tabela 3 classifica os vestgios identificados nos municpios do Vale do
Paraba Paulista de acordo com as tradies arqueolgicas.
Tabela 3. Tradies arqueolgicas associadas aos artefatos fortuitos e stios identificados nos municpios
do Vale do Paraba Paulista.
Municpio Tradio arqueolgica
Aparecida Aratu e Tupiguarani
So Jos dos Campos Itarar Taquara
Guaratinguet Tupiguarani
Paraibuna Aratu
Roseira Tupiguarani
Caapava Aratu
Canas Tupiguarani
Ubatuba Tupiguarani
Jacare Tupiguarani e Aratu
Com os vestgios arqueolgicos encontrados no Vale do Paraba Paulista e,
consequentemente, a associao entre as tradies existentes, podemos notar a
diversidade de grupos que viveram na regio. Ao mesmo tempo, classifica-los em
tradies, homogeneizar estas populaes. Dessa forma, o passo seguinte, cruzar
estes dados com as fontes existentes da histria indgena para que possamos, ao mesmo
tempo, ter outros elementos comparativos para nos aproximarmos das populaes que
ocuparam a regio e, por extenso, do lugar onde est localizado o stio Santa Marina.
65
2.3. As populaes indgenas do Vale do Paraba Paulista e rea de entorno nas
narrativas dos sculos XVI ao XVIII
Durante os sculos iniciais da colonizao europeia, criaram-se estratgias
diversas de domnio do territrio americano. Tais formas de dominao abarcaram a
princpio as pores litorneas, por conseguinte, reas desconhecidas do serto.
Nestes lugares, para que o processo de domnio se estabelecesse com xito, era
preciso conhecer as populaes ou referenci-las de alguma forma. Com isso, era
necessrio, a partir das caractersticas fsicas ou lingusticas, determinar as condies
favorveis ou no ao processo de colonizao. Assim, inmeros etnnimos foram
criados, contemplando agrupaes humanas que apresentavam as seguintes
caractersticas:
Convivncia total (de homens, mulheres e crianas), formando uma
comunidade econmica e de domiclio; por traos persistentes
distintos de outros grupos coetneos, que se submetem cada um
de sua parte a condies de mesmo tipo; denominada por um
nome comum e exclusivo
*
(UNTERMANN, 1992, p.19).
A princpio, as populaes indgenas foram inseridas, principalmente por
similaridades lingusticas, em grupos culturais maiores, mesmo apresentando os
aspectos de unicidade propostos por Untermann (1992). Assim, pelas bordas, os
europeus encontraram reas ocupadas por sociedades que compartilhavam certas
caractersticas bsicas, comuns chamada cultura tupi-guarani (MONTEIRO, 1994,
p.19).
A aparente tentativa de homogeneizao das populaes Tupi esbarrou, segundo
Monteiro (1994), em dois problemas fundamentais: estas sociedades permaneciam
radicalmente segmentadas, e porque havia, em outras pores do territrio, grupos no-
Tupi, representadas por famlias lingusticas distintas (Ibidem, p.19), denominadas
Tapuia.
*
Convivencia total (de hombres, mujeres y nios), formando una comunidad econmica y de domicilio;
por rasgos persistentes distinguidos de otros grupos coetneos, que se someten cada una por su parte
a condiciones del mismo tipo; denominada por un nombre comn y exclusivo (UNTERMANN,
1992, p.19).
66
Apesar desta problemtica, nas pores litorneas do atual Estado de So Paulo,
as populaes indgenas foram organizadas de forma esquemtica e genrica
(SCATAMACCHIA, 2008, p.117) em trs grandes e principais grupos: os Tupinamb
(localizados na poro ao norte de So Sebastio), os Tupiniquim (inseridos na zona
entre So Sebastio e Canania) e os Carijs (dispostos na rea ao sul de Canania)
(PETRONE, 1995; ANTONIL, 2007).
Em contrapartida, os no-Tupi foram chamados de Tapuias, ou seja, grupos em
oposio aos prprios Tupi (MANO, 2006, p.220). Para este termo, cabe salientar que, a
princpio, foi utilizado por Gndavo em referncia a um grupo indgena que vivia
prximo ao Rio Maranho (PUNTONI, 2002) e que, por ventura, era tambm atribudo
a um grupo conhecido como Aymor. Depois, essa designao passou a ser usada em
um esquema classificatrio das populaes a partir do perfil fsico/biolgico e pela
questo lingustica (povos de lnguas travadas).
De qualquer forma, os Tapuias eram povos J (bravios e aliados dos franceses)
e contrrios ao sistema que a Coroa Portuguesa queria implantar (MENDONA,
2009, p.35). Assim, nunca existiu uma nao Tapuia referenciada por uma realidade
etnogrfica, baseou-se ento, na construo do imaginrio destas populaes (MANO,
2006, p.310).
Na regio do atual Estado de So Paulo, a questo Tupi/Tapuia foi amplamente
debatida desde o sculo XIX na historiografia, envolvendo indefinies com relao
identidade dos grupos Guaian. No sculo XX, a discusso se assentou entre Von
Ihering, Teodoro Sampaio e Capistrano de Abreu, que acreditavam que os Guaian
eram J. Por outro lado, Afonso de Freitas e Plnio Ayrosa corroboravam e insistiam em
uma filiao Tupi (PREZIA, 2000).
De acordo com Monteiro (2001, p.180-181), estava em jogo neste caso o mito da
origem da sociedade paulista. Pela documentao, os Guaian seriam nada mais que os
remotos ancestrais dos modernos Kaingang portanto Tapuias, uma raa indgena
desprezada pela cincia moderna e pelos defensores do progresso. Criava-se ento um
empecilho na construo da identidade histrica paulista, que no gostaria de estar
associada imagem de ndios tidos como inimigos, selvagens, brbaros, cruis e de
lngua embaraada (MANO, 2006).
67
Alm dos Campos de Piratininga, os Guaian tambm ocuparam pores do
Vale do Paraba Paulista, sobre as serras do Mar e da Mantiqueira (PREZIA, 2008,
p.219-221). Mas no caso das demais populaes que ocuparam a regio do Vale, do
litoral ao serto, muitas delas foram referenciadas, principalmente, durante os processos
transitrios de pessoas e mercadorias entre os atuais Estados de So Paulo, Minas
Gerais e Rio de Janeiro (via Parati) e o litoral (ELLIS, 1945; MENDONA, 2009), por
inmeras vias de ligao
17
terrestre e fluvial. Dessa forma, os caminhos do Vale
levavam muitas vezes inmeras expedies que tinham como objetivo adentrar ao
serto, pois muitos acreditavam em enriquecer rapidamente (...) e expandir suas posses
de escravos (Ibidem, p.42) ao conquistar e explorar novas regies.
Estimulados pela Coroa Portuguesa, inmeros bandeirantes, sertanistas e
aventureiros partiram rumo ao desconhecido, pelos caminhos e vias que, na maioria
das vezes, foram criadas pelas populaes indgenas locais
18
. Dentre as inmeras
expedies de entrada bandeirista, destaca-se a realizada por Andr de Leo, no ano de
1601, organizada por Dom Francisco de Sousa (stimo governador da Colnia). Esta
expedio percorreu boa parte do Vale do Paraba Paulista, passando pelos atuais
municpios de Jacare, So Jos dos Campos, Taubat, Pindamonhangaba e
Guaratinguet (Ibidem, p.42). Toda a viagem durou cerca de nove meses e foi descrita
por Orville A. Derby (1899). Ao passar pela poro do Vale do Paraba Paulista, Derby
diz que no encontramos homem algum, apenas aqui e alli aldeias em runas [tribos
nmades] (apud MENDONA, 2009, p.45).
Se na viagem de Andr de Leo apenas aldeias abandonadas so descritas e
detalhadas pelo bandeirante, cinco anos antes, a viagem de Knivet em busca por
escravos indgenas
19
descreve o contato com ndios Puri na margem esquerda do Rio
Paraba do Sul, Tamoios no Vale e Wianasses na Ilha de So Sebastio, alm dos
17
De acordo com Alves (2001, p.11), Antonil relata em 1711 que o primeiro caminho, dos paulistas,
segue da cidade de So Paulo para as Minas no prazo de pelo menos dois meses, porque no marcham
de sol a sol, mas at o meio dia, e quando muito at uma ou duas horas da tarde, assim para se
arrancharem, como para terem tempo de descansar e de buscar alguma caa ou peixe, aonde o h, mel de
pau e outro qualquer mantimento. O segundo caminho, partindo do Rio de Janeiro em direo s Minas,
percorrido em menos de trinta dias.
18
Vide o Caminho Velho ou Caminho do Ouro e a Calada do Lorena, trecho pavimentado do antigo
Caminho do Mar em fins do sculo XVIII, localizada no municpio de Cubato no Parque Estadual da
Serra do Mar, utilizada como via de circulao entre litoral e o planalto (ZANETTINI, 1998).
19
De acordo com Mendona (2009, p.58-59) as narrativas de Knivet mostram que havia um comrcio de
escravos indgenas entre os portugueses e os caciques das tribos existentes, mais precisamente, os
Wianasses ou Guaians.
68
Goitac, Maromimi, Temimin, Tupiniquim (SAMPAIO, 1915 apud MENDONA,
2009, p.58). A Figura 10 apresenta a distribuio dos diferentes grupos indgenas
identificados por Knivet.
Figura 10. Disperso dos grupos indgenas pelo Vale do Paraba Paulista segundo Knivet (1594 e 1597)
(Adaptado a partir de MENDONA, 2009).
Assim, de acordo com Knivet, na regio do Vale do Paraba Paulista foi
registrada a presena de ndios Goitac, Maromimi, Puri, Temimin, Tupiniquim e
Wianasse (Guaian). Alm da narrativa de Knivet, h outras referncias dos mesmos e
de outros grupos indgenas na regio. Algumas podem ser consultadas no livro O
indgena do Vale do Paraba, de Pereira dos Reis, o qual fez um levantamento
extensivo do homem primitivo no Vale do Paraba, detalhado a seguir.
Segundo Reis (1979), um dos primeiros registros na regio foi feito por Diogo
de Garcia (1527), que presenciou ndios Tupinamb no litoral fluminense, Tupi de So
Vicente (em So Vicente) e Carijs. Anos depois, o Padre Manuel da Nbrega (1549)
registrou Guayanase e Carij em So Vicente e os Gaimur (Aimor) no Norte do atual
Estado de Esprito Santo, alm dos Tupiniquim em Porto Seguro e dos Tupinamb na
Baa (atual Estado do Rio de Janeiro).
69
J o alemo Hans Staden (1557), em sua experincia junto aos Tupinamb, no
s descreveu a localizao deste grupo (a 28 milhas da costa), como tambm identificou
os Guaian na Bahia de Todos os Santos (RJ), os Goitac no baixo Paraba do Sul e os
Tupiniquim (ou Tupi de So Vicente) a 80 lguas pelo serto e ao longo do mar umas
40 lguas.
Da mesma forma, no somente Andr Thevet (1557) relatou a presena de ndios
Temimin (Gato) na baa de Guanabara (RJ), como tambm o Padre Jos de Anchieta
(1567) confirmou a comparncia dos Temimin na margem esquerda do baixo Paraba
do Sul, no litoral do Esprito Santo e na Baa de Guanabara (RJ). No mesmo perodo de
Thevet, Jean de Lry (1578) identifica os Uetaka (Goitac) no baixo Paraba do Sul e no
rio Maca (RJ).
Gabriel Soares (1587) tambm se referiu aos Goitac do litoral do Esprito Santo
e foz do Paraba do Sul, aos Tamoios que ocuparam uma regio entre o cabo de So
Tom e Angra dos Reis, alm dos Guaian que estavam pela costa da Angra dos Reis
at o rio de Canania.
Estes dados contidos na publicao de Reis (1979) demonstram a diversidade
dos grupos indgenas que habitaram o Vale do Paraba Paulista e rea de entorno. Da
mesma forma, outros pesquisadores corroboram com pluralidade destas populaes,
como o caso da pesquisa realizada por Curt Nimuendaju, que resultou na publicao
no Mapa Etnohistrico. Este mapa tornou-se imprescindvel para a localizao dos
grupos indgenas atuais e extintos, alm das sedes histricas (aldeias existentes e/ou
abandonadas) (NIMUENDAJU, 1987, p.37).
Na Figura 11, selecionamos parte do Mapa elaborado por Nimuendaju sobre a
rea do Vale do Paraba Paulista, onde possvel verificar uma variedade de grupos
falantes de lnguas Tupi-guarani (Tamoio, Tupinamb, Tupiniquim, Guarani) e de
famlias do Tronco J (Puri e Coroado).
70
Figura 11. Grupos indgenas identificados na regio do Vale do Paraba Paulista e rea de entorno
segundo Curt Nimuendaju (1987).
A Tabela 4 sintetiza os dados referentes aos grupos indgenas identificados na
regio do vale do Paraba Paulista e rea de entorno.
Tabela 4. Grupos indgenas identificados na regio do Vale do Paraba Paulista e rea de entorno.
Grupo indgena Localizao Fonte
Aimor
Esprito Santo.
DIOGO DE GARCIA (1527, apud
REIS, 1979; NBREGA (1529 apud
REIS, 1979).
Carij ou Guarani
So Vicente; Canania.
DIOGO DE GARCIA (1527, apud
REIS, 1979; NBREGA (1529 apud
REIS, 1979); HANS STADEN
[1557] (1990); SOARES (1587 apud
REIS, 1979); NIMUENDAJU (1987).
Coroado ou Korop
Baixo Paraba do Sul.
NIMUENDAJU (1987).
Goitac
Baixo Paraba do Sul e rio Maca
(RJ); litoral do Esprito Santo at a
foz do Paraba do Sul.
KNIVET (1594-1597 apud
SAMPAIO, 1915); HANS STADEN
[1557] (1990); LRY (1578 apud
REIS, 1979); SOARES (1587 apud
REIS, 1979).
Guaian
Ilha de So Sebastio; So Vicente;
Baa de Todos os Santos.
KNIVET (1594-1597 apud
SAMPAIO, 1915); NBREGA (1529
apud REIS, 1979); HANS STADEN
[1557] (1990); SOARES (1587 apud
REIS, 1979).
Maromimi
Margem esquerda do Rio Paraba do
Sul.
KNIVET (1594-1597 apud
SAMPAIO, 1915).
Puri
Margem esquerda do Rio Paraba do
Sul.
KNIVET (ANO); SAMPAIO (1915)
71
Tamoio e Tupinamb
Litoral Fluminense; Baa de Todos os
Santos; 28 milhas de costa e 60
milhas de profundidade; cabo de So
Tom at Angra dos Reis; Angra dos
Reis at o rio de Canania.
KNIVET (1594-1597 apud
SAMPAIO, 1915); DIOGO DE
GARCIA (1527, apud REIS, 1979;
NBREGA (1529 apud REIS, 1979);
HANS STADEN [1557] (1990);
SOARES (1587 apud REIS, 1979).
KNIVET (1594-1597 apud
SAMPAIO, 1915); NIMUENDAJU
(1987).
Temimin
Baa da Guanabara (entre o Rio
Macacu e a Lagoa de Maric); litoral
do Esprito Santo; margem esquerda
do Baixo Paraba do Sul.
KNIVET (1594-1597 apud
SAMPAIO, 1915); THEVET (1557
apud REIS, 1979); ANCHIETA
(1867 apud REIS, 1979).
Tupiniquim ou Tupi de
So Vicente
Porto Seguro; terras que se estendem
pelo serto adentro, cerca de 80
lguas e ao longo do mar umas 40
lguas.
KNIVET (1594-1597 apud
SAMPAIO, 1915); DIOGO DE
GARCIA (1527, apud REIS, 1979;
NBREGA (1529 apud REIS, 1979);
HANS STADEN [1557] (1990);
ANCHIETA (1867 apud REIS,
1979); NIMUENDAJU (1987).
Desta forma, a partir das fontes apresentadas no Vale do Paraba e rea ao
entorno, teramos fixados no local populaes formadas pelos ndios Goitac
20
,
Maromimi, Puri, Tamoio ou Tupinamb, Temimin e Tupiniquim ou Tupi de So
Vicente, alm, claro, de povos volantes, como os Guaianazes que, fugidos da vila de
So Paulo, percorrem todo o Vale do Paraba Paulista (ANCHIETA apud
MENDONA, 2009).
Cabe ressaltar que o movimento Guaian e sua futura fixao na regio foi
importante, pois os aldeamentos indgenas
21
acarretaram, posteriormente, na fundao
dos municpios de So Jos dos Campos (Aldeia do Rio Comprido)
22
e de Taubat
(Aldeia do Itaboat) (FELIX, 1944). Para complementar, o municpio de Queluz,
localizado no Vale do Paraba Paulista tambm teve sua fundao a partir de um
aldeamento, mas, neste caso, de ndios Puri, no ano de 1800 (MENDONA, 2009).
Concluindo, os etnnimos descritos acima apontam para diversidade das
populaes que ocuparam a regio. No entanto, deve-se saber que parte destas
denominaes, muitas vezes, no era mais que uma alcunha ou denominao
20
Com relao aos grupos Goitac, provvel que os mesmos no habitaram o Vale do Paraba Paulista,
uma vez que a nica referncia a esta populao foi feita por Knivet (1594-1597 apud SAMPAIO, 1901)
durante sua passagem pela regio no final do sculo XVI, momento no qual houve inmeras confuses na formulao
e denominao de etnnimos aos grupos indgenas locais.
21
Aldeamento no sentido de uma forma pioneira de organizao e utilizao do espao, decorrente do
processo de colonizao europeia, consistindo assim, em um espao destinado civilizao e
doutrinao a partir da religio catlica (PETRONE, 1995).
22
O aprofundamento desta discusso pode ser visto nos livros So Jos dos Campos e sua Histria, de
Ag Junior (1979) e So Jos dos Campos de Aldeia a Cidade, organizado por Maria Aparecida Papali
(2010).
72
pejorativa atribuda por outra etnia neste sentido, o nome era exgeno na maioria das
vezes, e no endgeno (CARVALHINHOS, 2009, p.113), como veremos adiante.
2.3.1. Nomeando pessoas: etnnimos no Vale do Paraba Paulista
O ato de nomear pessoas (MANO, 2006) nos sculos iniciais da colonizao
estava, antes de tudo, enraizada na ideia de uma representao europeia
23
pr-
estabelecida, a qual estimulava que europeus procurassem instaurar diante de um quadro
desconhecido a confirmao do quanto j sabiam, rejeitando, em um primeiro
momento, a possibilidade de reconhecer o outro (AGNOLIN, 2005, p.66). Logo,
classificar os povos a partir de etnnimos era condio fundamental da dominao
colonial. Estabelecia-se assim um processo de etnificao (BOCCARA, 1999) ou
tribalizao (MONTEIRO, 2001), ambos conceitos relacionados ao processo de
classificao dos povos subordinados em categorias naturalizadas e estanques.
Essa caracterstica abriu margem para que se instaurasse uma narrativa
constituda a partir de formaes imaginrias, de cunho simblico, metafrico, bestial
24
,
de grande eficincia retrica nas formaes ideolgicas (FONSECA, 2011, p.16). Os
europeus construram, ento, a imagem dos ndios sombra de sua prpria cultura
(MOREAU, 2003, p.25).
De acordo com Viveiros de Castro, esse processo tem uma caracterstica de
congelamento e isolamento das etnias, permeando um fenmeno socilogo e cognitivo
ps-colombiano, sendo que a atribuio de etnnimos era fruto de uma incompreenso
total da dinmica tnica e poltica do socius amerndio, incompreenso essa
fundamentada num conceito substantivista e nacional territorialista, longe da natureza
23
De acordo com Fonseca (2011, p.16), a prpria recorrncia a modelos ideais, mticos e imaginrios do
passado identificava um sentimento de nostlgico desconforto frente falncia e decadncia a que
haviam chegado, no declnio da Idade Mdia e princpios dos tempos modernos, os ideais
verdadeiramente fundadores da integridade civilizacional europeia.
24
Uma boa referncia deste aspecto est contida no livro Bestirio e discurso do gnero no
descobrimento da Amrica e na colonizao do Brasil, de Pedro Carlos Louzada Fonseca. Segundo o
autor (2001, p.1), dentre os temas tratados no livro, est tambm a significativa influncia disseminadora
de imagens, figuraes e ideias cultivadas pelo imaginrio medieval, que primeiramente originados nos
Physiologi gregos e latinos e nos seus derivados livros bestirios podem ser rastreadas como influncias
motivacionais do tema da bestializao e da sua ordem poltica e ideolgica, que configuraram a
composio dos relatos e das iconografias referentes ao descobrimento da Amrica e ao Brasil dos
primeiros tempos coloniais.
73
relativa e relacional das categorias tnicas, polticas e sociais indgenas (1993 apud
MONTEIRO, 2001, p.31).
Alm dos processos que envolveram diferentes formas de nomear o outro, a
criao de etnnimos esteve relacionada a momentos distintos que envolveram
fenmenos de extino (de certas formaes tnicas) e da persistncia e inveno de
etnias (WHITEHEAD, 1993), alm da prpria autodenominao (PREZIA, 2008).
Estes processos evidentemente ocorreram tambm durante todo o perodo que
antecedeu a chegada do colonizador. Para Untermann (1992, p.20), a atribuio de um
etnnimo est relacionada a trs possibilidades:
1) No momento em que um agrupamento adota a conscincia de
sua unidade e de sua delimitao frente a outros grupos, de se
supor que o agrupamento se denomina a si mesmo por um nome
que o faz sentir e proclamar sua individualidade como
inconfundvel; 2) No momento em que um grupo tal se d conta da
existncia de outras unidade coexistentes na vizinhana, se impe a
si mesmo a obrigao de dar um nome a estes grupos vizinhos;
3)Na interao progressiva de vrios agrupamentos que vivem em
qualquer tipo de contato entre si, no est excludo que um
repertrio de nomes ganhe tanto prestgio que os grupos aceitem
um nome deste repertrio sem respeito procedncia do mesmo:
por conseguinte, possvel que se denominem a si mesmos
mediante um etnnimo que haja sido criado por seus vizinhos ou
por outros membros do continuum tnico ao qual pertencem
*
.
Assim, de acordo com Untermann, os etnnimos esto relacionados aos
diferentes processos de autodenominao (1) (a partir da conscincia de unidade dos
grupos), de denominao (2) (diante da existncia do outro vizinho) e consentimento e
aceitao (do nome criado por seu vizinho) (3). Para o contexto dos ndios do Brasil,
tomemos como exemplo os termos Guarani e Tobajara (Tabajara).
*
1) En el momento en que una agrupacin adopta la consciencia de su unidad y de su delimitacin frente
a otros grupos, es de suponer que la agrupacin se denomina a s misma por un nombre que la hace sentir
y proclamar su individualidad inconfundible; 2)En el momento en que un grupo tal se da cuenta de la
existencia de otras unidades coexistentes en la vecindad, se impone a s mismo la obligacin de dar un
nombre a estas agrupaciones vecinas;3)En la interaccin progresiva de varias agrupaciones que viven en
cualquier tipo de contacto entre s, no est excluido que un repertorio de nombres gane tanto prestigio que
los grupos acepten un nombre de este repertorio sin respeto a la procedencia del mismo: por consecuencia
es posible que se denominen a s mismos mediante un etnnimo que haya sido creado por sus vecinos o
por otros miembros del continuum tnico al cual pertenecen (UNTERMANN, 1992, p.20).
74
De acordo com Prezia, entre os Guarani, sempre houve a preocupao de se
autodenominar, sobretudo visando diferenciar-se do outro, que muitas vezes era
considerado inimigo (Ibidem, p.152). Para os Guarani, por exemplo, de acordo com
Nimuendaju (1987 apud PREZIA, 2000),
s quem fala exatamente o mesmo dialeto considerado (...) como
membro da tribo. A menor diferena de sotaque em relao ao
dialeto da horda motivo de escrnio e caracteriza a pessoa como
estrangeira. Quando se fala em outro dialeto, frequente os ndios
se recusarem a entender, embora pudessem faz-lo. Cada horda
reivindica apenas para si o nome da nao toda, (...) quando
querem contrapor-se a outras hordas, e quase nunca se consegue
que eles revelem a um estranho o apelido da sua horda, por mais
solcitos que sejam em divulgar as alcunhas das demais.
Com relao ao termo Tobajara, deriva do advrbio de lugar toway ou toba,
significa aquele que est em face (MONTEIRO, 2001, p.45-46). Para Sampaio (1987
[1901], p.331), a combinao toba+yara refere-se ao indivduo fronteiro, aquele que
est em frente, o vizinho em face ou, em alguns casos, definidos apenas como inimigos
(STADEN, 1988). Neste caso, o etnnimo Tobajara tornou-se tanto uma referncia aos
grupos opostos (PREZIA, 2000, p.160) como a determinados conjuntos de populaes
Tupi (CORRA et al. 2011).
Assim, estes exemplos nos remetem aos dizeres de Skinner e Schwartz (1968;
1975 apud POUTIGNAT & STREIFF-FENART, 1997, p.31), ao lembrarem que os
grupos sempre formaram-se e transformaram-se sob o efeito das migraes, do
comrcio e da conquista, e as identidades de grupo eram relativas e mutantes (...),
provavelmente no eram entidades culturais isoladas, mas situavam-se em um mosaico
de grupos que manifestavam similaridades e diferenas.
Portanto, o dinamismo e as transformaes destas populaes impulsionaram a
criao etnnimos, antes e depois da chegada do colonizador europeu. No entanto,
mesmo diante da diversidade da etnnimos, h elementos comuns entre os grupos que
so compartilhados e reconhecidos entre si, como a lngua.
Neste caso, a lingustica histrica analisa e compara sistematicamente lnguas
que poderiam ter tido uma origem comum (CORRA, no prelo). Assim, um grupo de
75
lnguas ou famlias lingusticas so manifestaes diversas, alteradas no decorrer do
tempo de uma s lngua anterior (RODRIGUES, 1986 apud DIETRICH, 2010, p.9).
Para a regio em estudo e, tendo como foco as populaes Tupi, teramos dentre
das famlias lingusticas existentes as do Grupo Costa Brasileira que contm as lnguas
Tupinamb, Tupiniquim, Potiguara, Nheengatu, Cocama/cocamilla,
omgua/omawa/canga-peba (DIETRICH, 2010, p.12). Deste grupo, no Vale do Paraba
Paulista, teramos povos falando o Tupinamb (lngua da costa brasileira nos sculos
XVI a XVII, designadas de tupi depois de 1870) e o Tupiniquim ou Lngua Geral
Paulista (derivada do tupi e expandida com a ao do bandeirantes a outras regies,
vigorando entre a segunda metade do sculo XVI at a segunda metade do sculo XIX)
(RODRIGUES, 1986; DIETRICH, 2010).
Dessa forma, os elementos no arqueolgicos que consistem nos dados advindos
das fontes da histria e da lingustica, na poro que envolve o territrio do Vale do
Paraba Paulista, apontam para existncia de dois grupos com pequenas diferenas
culturais e lingusticas
25
. Estaramos diante de populaes conhecidas como Tupinamb
(ou Tamoio) e Tupiniquim (ou Tupis de So Vicente), falantes das lnguas Tupinamb e
Tupiniquim, respectivamente.
Como vimos, a formao destes grupos est relacionada a um processo de
constante transformao. De modo que os Tupinamb e Tupiniquim no representam
um conjunto intemporal e imutveis de traos culturais (que envolvem crenas,
valores, smbolos, ritos, regras de conduta, lngua, cdigo de polidez, prticas de
vesturio ou culinrias etc.) transmitidos da mesma forma de gerao para gerao na
histria do grupo; ela provoca aes e reaes entre este grupo e os outros em uma
organizao social que no cessa de evoluir (LAPIERRE, 1997, p.14).
Desse modo, dentre os traos culturais que se perpetuam e permitem o
entendimento dos processos de transformaes e permanncias, alm dos mtodos
comparativos da lingustica, que permite rastrear as mudanas ocorridas em uma lngua
e estabelecer cronologia para tais mudanas (CORRA, no prelo), a cultura material
tambm possibilita essa leitura.
25
Gabriel Soares (1971 [1587], 332-333 apud MONTEIRO, 2001, p.21-22) faz a seguinte observao
sobre a relao entre os Tupinamb e Tupiniquim: pelo nome to semelhante destas duas castas de
gentio se parece bem claro que antigamente foi esta gente toda uma, como dizem os ndios antigos desta
nao [Tupinamb]. O motivo da diviso que tm-se por to contrrios uns dos outros que se comem
aos bocados, e no cansam de se matarem em guerras, que continuamente tm.
76
A cultura material, segundo Silva (2000, p.10), possui uma importncia
fundamental na transmisso e preservao de conhecimentos e na orientao das
pessoas em seu ambiente natural e social (...) Ao mesmo tempo, veculo a partir do
qual os grupos sociais constroem sua alteridade e expressam mensagens sobre o seu
modo de pensar e viver.
Dessa forma, diante do quadro apresentado, onde se encontram inmeras
populaes indgenas relacionadas ao tronco lingustico Tupi, habitaram, mais
precisamente, os falantes das lnguas Tupinamb e Tupiniquim, o estudo da cultura
material se faz imprescindvel, j que estes grupos apresentam uma relao estreita com
a organizao social, j que ambas tm a mesma matriz cultural (SOARES, 1997).
Portanto, os captulos seguintes que envolvem o estudo do stio Santa Marina
(processos formativos, anlises intra-stio, mobilidade, sistema de assentamento, dentre
outros) e a anlise (cadeira operatria, simbolismo, continuidade e mudana,
organizao social, etc.) dos materiais arqueolgicos identificados permitem
caracterizarmos as particularidades evidenciadas, inserindo-as em um contexto mais
amplo, contribuindo assim para o entendimento e caracterizao das populaes Tupi
que ocuparam o Vale do Paraba Paulista.
CAPTULO 3
A partir del momento en que se conoce
el contexto de un objeto, ste ya no es
completamente mudo. Su contexto nos
ofrece las chaves de su significado
*
.
Ian Hodder (1994)
*
A partir do momento em que se conhece o contexto de um objeto, este j no completamente mudo.
Seu contexto nos oferece as chaves de seu significado.
78
3. ESCAVANDO O VALE: HISTRICO DA PESQUISA ARQUEOLGICA NO
STIO SANTA MARINA
O stio arqueolgico Santa Marina foi identificado no incio da dcada de 1970,
durante a instalao de unidades industriais e de conjuntos habitacionais nas
proximidades do bairro Cidade Salvador, em Jacare - SP. Distribudo por uma rea com
mais de 450.000 m, o stio est inserido em diferentes propriedades particulares
1
que, ao
longo do tempo, foram sendo licenciadas
2
do ponto de vista ambiental e,
consequentemente, arqueolgico.
Este processo ocorreu nos anos de 1991, 1999 e 2009/2010, resultando em trs
etapas de pesquisa realizadas no mbito da Arqueologia Preventiva. Durante esses
momentos, os trabalhos foram sendo influenciadas por novas perspectivas tericas e
metodolgicas que surgiam, ampliando cada vez mais as possibilidades de se interpretar
e escavar um stio arqueolgico.
Paralelamente, o avano do capital estimulou a arqueologia a buscar solues
inovadoras para atender as demandas exigidas pelo mercado, como a troca do
pincel e da p pelo maquinrio pesado, atravs da Escavao Mecnica (VAN HORN et
al. 1986). Diante disso, e, independentemente dos mtodos e tcnicas utilizadas, as
intervenes realizadas durante os mais de 30 anos de pesquisa arqueolgica no stio
Santa Marina permitiram que este praticamente fosse todo pesquisado do ponto de vista
cientfico.
Estas atividades permitiram identificar artefatos arqueolgicos constitudos por
fragmentos de cermica, artefatos lticos, manchas de terra preta (solo antropognico),
marcas de esteio, estrutura de sepultamento, fogueiras etc., resultantes da acumulao
1
At o ano 1998, o stio Santa Marina estava inserido em trs propriedades particulares: Loteamento
Jardim Santa Marina; Companhia de Vidros Santa Marina (Cebrace) e J.B. Reinolds LATASA/Pirelli.
2
Este processo amparado por trs instrumentos legais: a Resoluo Conama n 001/86, que est
relacionada avaliao do impacto ambiental que engloba o patrimnio cultural e, consequentemente, as
evidncias arqueolgicas; Portaria 07/88, que normatiza e legaliza as aes de intervenes e resgate do
patrimnio arqueolgico nacional e Portaria 230/02, que estabelece as aes dos processos de
licenciamento ambiental, que inclui a licena prvia, licena de instalao e licena de operao
(WICHERS, 2012, p.133).
79
de prticas de indivduos, resultados de suas atividades rotineiras e repetitivas
*
(SHENNAN, 1993).
Notamos tambm que os vestgios evidenciados apresentam aspectos singulares
cultura Tupi, ou seja, elementos que se referem a prticas de sociedades onde a
reproduo a ordem social e o comportamento segue uma tradio (SOARES, 1997,
p.24), neste caso, a tradio arqueolgica tupiguarani.
A partir dos elementos supracitados, este captulo tem como objetivo: descrever
o histrico da identificao do stio Santa Marina; detalhar todas as intervenes
realizadas no stio durante as trs etapas da pesquisa arqueolgica; exibir os resultados
das intervenes arqueolgicas e, por fim; discutir os mtodos e tcnicas utilizadas
durante as etapas de campo desenvolvidas no stio em questo.
3.1. Descobrindo o stio: histrico da pesquisa arqueolgica no stio Santa Marina
Os vestgios arqueolgicos pretritos procedentes de atividades dirias que
caracterizam a existncia humana em um determinado local (RENFREW & BAHN,
1993), neste caso, no stio Santa Marina, foram identificados durante a realizao da
terraplanagem para abertura de uma rua nas proximidades do bairro Cidade Salvador,
por volta do incio da dcada de 1970.
Por quase duas dcadas o stio permaneceu no ostracismo cientfico e relegado
aos olhares curiosos e instigados da populao local. Foi somente no ano de 1987 que,
durante a realizao de um levantamento dos bens culturais
3
do municpio de Jacare, os
artefatos arqueolgicos foram reconhecidos como resqucios verdadeiros de uma
ocupao indgena. O reconhecimento foi feito pela ento arqueloga Margarida
Davina Andreatta, da Universidade de So Paulo. De acordo com Andreatta (1988), o
levantamento dos bens culturais no municpio permitiu, dentre outras coisas, constatar
que os artefatos identificados nas proximidades do bairro Cidade Salvador
caracterizariam por si s um grande stio arqueolgico denominado Santa Marina, em
referncia antiga fbrica de vidros homnima, instalada nas proximidades.
*
accumulation of the practices of individuals, the results of their routinized and repetitive activities
(SHENNAN, 1993).
3
Este levantamento foi feito a pedido do ento diretor do Museu Antropolgico do Vale do Paraba (Sr.
Adelmir Morato de Lima) e da diretora da Secretaria de Educao, Cultura e Turismo de Jacare (Sra.
Ins Tereza de Azevedo) (ANDREATTA, 1988).
80
Alm desta constatao, durante a vistoria no stio, Andreatta coletou alguns
fragmentos que, possivelmente, foram encaminhados ao Museu Paulista. Diante das
observaes realizadas pela pesquisadora, em um Relatrio apresentado junto
Fundao Jacarey e Secretaria da Cultura, seguiu-se a orientao quanto necessidade
de preservao do stio para posterior pesquisa sistemtica, como um testemunho pr-
histrico da cidade de Jacare (Ibidem, p.6).
Trs anos depois, em 1991, a convite da Fundao Cultural de Jacarey e, em
decorrncia da instalao de unidades industriais (Companhia Brasileira de Cristais
CEBRACE e Pirelli do Brasil) e conjuntos residenciais, os arquelogos do Museu
Paranaense, Oldemar Blasi e Miguel Gaissler, foram contratados para realizarem os
trabalhos de pesquisa de forma sistemtica no stio em apreo. Para tanto, os
pesquisadores partiram de trs objetivos:
(1) Dar destinao coerente aos vestgios, de inegvel interesse
arqueolgico, ali ocorrentes; (2) Contribuir para o melhor
entendimento dos acontecimentos sucedidos durante a pr-histria
e (3) Motivar as demais comunidades do Vale, no sentido da
identificao e proteo de vestgios arqueolgicos, que, com certa
regularidade, vm ocorrendo no vale paraibano (BLASI &
GAISSLER, 1991, p.2).
No decorrer da dcada de 1990, durante a implantao do loteamento Jardim
Santa Marina nas proximidades do terreno anos antes trabalhado por Blasi e Gaissler,
novos vestgios arqueolgicos foram encontrados em decorrncia da construo de
casas no local, causando destruio parcial do acervo arqueolgico. Diante disso, foi
criado um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta que previa o
salvamento do patrimnio arqueolgico ainda em risco de perecimento irreversvel, para
a definitiva liberao da rea aos adquirentes dos terrenos loteados que ainda no
haviam sofrido intervenes (ROBRAHN-GONZLEZ & ZANETTINI, 1999).
Anos depois, em decorrncia da instalao de um novo condomnio empresarial
no local do stio, novas intervenes foram realizadas, caracterizando a etapa terceira da
pesquisa arqueolgica no stio Santa Marina. A pesquisa ficou a cargo da empresa
Zanettini Arqueologia, tendo como responsveis pela coordenao do projeto os
81
arquelogos Paulo Eduardo Zanettini e Camila Azevedo de Moraes Wichers
(ZANETTINI ARQUEOLOGIA, 2010a).
Nesta etapa, parte da pesquisa se concentrou sobre as pores j trabalhadas no
ano de 1991, por Blasi e Gaissler. Isso ocorreu devido ausncia de informaes
detalhadas dos locais exatos das intervenes realizadas e por no termos acesso aos
dirios de campo, levantamentos topogrficos, croquis, perfis estratigrficos, etc., que
permitissem a aferio dos setores que sofreram interveno. Desse modo, como
veremos adiante, algumas das intervenes realizadas na etapa trs se sobrepuseram
quelas executadas na primeira etapa de campo.
A seguir, so detalhadas todas as atividades realizadas nas trs etapas da
pesquisa arqueolgica no stio Santa Marina.
3.2. Descrio das intervenes arqueolgicas realizadas no stio Santa Marina
O stio Santa Marina est inserido em grande plat com topo aplainado
distribudo por uma rea que compreende cerca de 450.000 m, delimitado em 1.500m
no sentido N-S e 300 m em L-O. A Figura 12 apresenta a estimativa mxima da
delimitao obtida do stio.
Figura 12. Delimitao aproximada do stio Santa Marina (Fonte da imagem: Google, 2013).
82
Por meio de diferentes objetivos e mtodos, cada poro do stio foi sendo
escavada ao longo de mais 30 anos de pesquisa. Na Figura 13 possvel visualizar as
pores trabalhadas no stio dividido por etapas. Nota-se que algumas das intervenes
realizadas na etapa 3 se sobrepuseram s executadas na etapa 1.
Figura 13. Croqui esquemtico das reas trabalhadas durante as trs etapas da pesquisa arqueolgica
(Fonte da imagem: Google, 2013).
3.2.1. Etapa 1. Intervenes arqueolgicas e resultados obtidos
Na etapa 1 da pesquisa foram selecionados 7 setores (ver Prancha 4) que
corresponderiam a reas com concentraes de material cermico dispersos em
superfcie. A partir da delimitao prvia de cada setor, as reas foram escavadas
seguindo mtodos variados de interveno, como veremos a seguir.
De acordo com Blasi e Gaissler (1991) o primeiro setor a ser escavado foi
avaliado com o intuito de esclarecer at que ponto os agentes perturbadores haviam
interferido no stio e ao mesmo tempo averiguar qual a profundidade da camada
arqueolgica e sua extenso. Para isso, foram realizadas trs quadras de escavao
(QA, QB e QC) de 4 m no sentido L-O do stio, equidistante 4 metros umas das outras,
sendo que a QC coincidiu sobre um talude com um 1 metro de altura por 3 metros de
largura, resultante dos trabalhos de remoo do solo para abertura de uma rua.
83
De acordo com os pesquisadores, o trabalho do maquinrio para remoo da
terra no perturbou o depsito arqueolgico subjacente, situado entre 10 a 15 cm de
profundidade (Ibidem). A escavao dessas quadras foi realizada em nveis artificiais
de 10 cm at atingir o solo estril, na profundidade de 40 cm; todo sedimento retirado
foi peneirado.
O setor II primeiramente foi prospectado atravs de uma trincheira de 1 metro de
largura por 20 metros de comprimento no sentido N-S. Em seguida, foi aberta outra
trincheira com a mesma metragem no sentido L-O, entrecruzando-se na poro central
da anterior. As trincheiras tambm foram escavadas em nveis artificiais a cada 10 cm,
evidenciando a concentrao do material arqueolgico entre 10 e 15 cm de
profundidade. Segundo Blasi e Gaissler, constatou-se, com este procedimento, que
esses indcios ocorriam em toda a rea escavada (...), achou-se por bem ampliar em
todas as direes os cortes precedentes, mas agora atravs de quadras de 4 m, as quais
terminaram por ensejar uma rea de depsitos arqueolgicos de 400 m (Ibidem, p.13).
Para os demais setores, os pesquisadores no detalham minuciosamente todos os
procedimentos realizados, no entanto, tomamos como referncia um dos croquis
esquemticos presente no Relatrio desta etapa de pesquisa: no setor III foram abertas 2
quadras de 4 m e 5 poos testes de 2 m, no setor IV outras duas quadras de 4 m cada
uma, incidentes sobre o ptio da CEBRACE; no setor V foram abertos 6 poos testes
com 2 m de dimenso e, neste setor, os vestgios foram encontrados quando se
processou a limpeza e preparo do solo, atravs de trator com arado de disco, para
ajardinamento da rea (Ibidem, p.15); no setor VI tambm foram abertos outros 13
poos testes com 2 m; com relao ao setor VII, no h referncia das intervenes
realizadas em subsuperfcie, mas apenas o relato (no corpo do texto do Relatrio) da
coleta de vestgios presentes na superfcie do terreno correspondente ao Ptio da Fbrica
da Pirelli.
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Source: Esri, DigitalGlobe, GeoEye, i-cubed, USDA, USGS, AEX,
Getmapping, Aerogrid, IGN, IGP, swisstopo, and the GIS User
Community
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PRANCHA 10 - 1, 2 e 3 ETAPA: INTERVENES REALIZADAS
NO STIO MARINA - JACARE/SP
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Mancha 3
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Unidade Escavao
Raspagem Mecnica Negativa
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Supresso Mecnica Integral
Concentrao 1 - com solo antropognico
Concentrao 2 - sem solo antropognico
Negativa
Positiva
Trincheiras
Bloco Testemunho
Solo Antropognico
GCS SIRGAS 2000
Fonte: BLASI & GAISSLER,1991/
ROBRAHN-GONZLEZ & ZANETTINI, 1999/
ZANETTINI, 2010a/ZANETTINI, 2010b
Org: Marcel Lopes e Danielle Samia
dez.2013
0 0,07 0,14 0,21 0,28 0,035
km
1:3.000
E
104
3.3. Por entre os mtodos e tcnicas utilizadas no stio Santa Marina: aplicaes e
resultados.
Nas linhas anteriores, detalhamos todas as intervenes ocorridas no stio Santa
Marina, realizadas durante as trs etapas das atividades de campo. Notamos que em
cada etapa as orientaes tericas e prticas atenderam a demandas diferenciadas de
acordo com o posicionamento ideolgico de cada pesquisador. Pader (1982 apud
RIBEIRO, 2007) coloca que as pr-concepes (ideolgicas) so bsicas tanto na
escolha do que se considera que vale a pena escavar, quanto na forma como os dados
empricos sero interpretados.
Na primeira etapa, realizada no incio da dcada de 1990, as intervenes
realizadas por Blasi e Gaissler apontam para a influncia de uma perspectiva marcada
pelo Histrico-culturalismo ou pelos mtodos pronapianos, que influenciaram a
pesquisa arqueolgica no Brasil por um longo perodo de tempo.
Com relao aos mtodos e tcnicas pronapianos, estes esto detalhados no
Guia para prospeco arqueolgica no Brasil, publicado no ano de 1965, por Clifford
Evans e Betty Meggers. Este guia apresenta instrues de como deveriam ser
preenchidos os catlogos de campo e laboratrio; coletadas as informaes sobre os
stios; feitos os croquis de localizao; coletas de amostras (...) os equipamentos de
campo e as tcnicas, o tempo de durao de prospeco, a quantidade de stios e cortes
(...) (ALVES, 1991, p.28).
Com isso, a metodologia empregada objetivava, principalmente, a coleta de
dados que possibilitasse a compreenso da cronologia de uma ocupao (por meio dos
traos culturais). Da mesma forma, propiciaria a reconstruo do tipo geral ou nvel de
desenvolvimento de culturas sucessivas numa sequncia local, o que mostraria se a
mudana foi na direo da complexidade crescente ou decrescente, ou se foi mantido
um equilbrio (MEGGERS & EVANS, 1965). Para tanto seria necessrio realizar a
coleta de no mnimo 100 fragmentos por nvel escavado e de cortes estratigrficos
medindo 1,5 x 1,5 m (escavados em nveis artificiais de 10 cm at atingir 75 cm de
profundidades), podendo ser ampliados de acordo com as necessidades de cada stio
(Ibidem).
Na rea do stio Santa Marina, as intervenes realizadas (coleta de superfcie,
quadras e poos testes) tinham como objetivo a coleta dos materiais evidenciados,
105
primeiramente em superfcie e, em seguida, em subsuperfcie. Nota-se que no houve o
uso de mtodos que privilegiassem ou que permitissem a compreenso do stio como
um todo, mas sim a simples coleta do material arqueolgico evidenciado. Assim,
nessa primeira etapa, no foi possvel caracterizar o contexto horizontal dos vestgios e
seus aspectos espaciais.
Da mesma forma, foram realizadas no stio trincheiras e a escavao de uma
rea com 400 m por meio da tcnica de decapagem. No caso do uso das trincheiras, tais
permitem, de acordo com Pallestrini & Perasso (1984, p.23), observar a diferenciao
sedimentolgica de um stio, as alteraes da cor do solo e eventualmente o encontro de
estruturas dispersas que podem levar a uma ampliao do campo ou restrio das
dimenses das prprias trincheiras
*
. Com relao tcnica de decapagem, evidenciam
um solo arqueolgico de maneira o mais completa possvel
**
(Ibidem, p.31). Com o
uso desta possvel identificar estruturas diversas, como aquelas relacionadas
alimentao, combusto (fogueiras) ou funerrias. No entanto, os resultados finais
apresentados por Blasi e Gaissler (1991) no evidenciaram qualquer identificao destas
estruturas ou, at mesmo, da descrio detalhada dos resultados alcanados com o uso
deste tipo de escavao.
Nas etapas posteriores, nota-se que as intervenes aplicadas sofreram fortes
influncias da escola processual (ver REDMAN, 1974; CHARTKOFF, 1978;
ZEIDLER, 1995), que se constituram de mtodos de amostragens definidas
estatisticamente e anlise multivariada dos dados.
Na etapa dois, por exemplo, as intervenes foram realizadas em toda a poro
destinada pesquisa arqueolgica atravs da implantao de uma malha regular de
sondagens, permitindo aferir os limites das manchas de terra preta em extenso e
profundidade naquela parte do stio. Alm disso, outros mtodos foram utilizados nesta
etapa, como foi o caso do uso do Ground Penetring Radar (GPR). Este mtodo
emprega ondas eletromagnticas de alta frequncia na leitura detalhada do subsolo em
profundidades reduzidas, com intuito de orientar a campanha de escavao
arqueolgica, tornando os resultados muito satisfatrios (ver WYNN, 1986;
VAUGHAN, 1986; GANDOLFO, 1998; RODRIGUES, 2010).
*
observar la diferenciacin sedimentolgica de um stio, las alteraciones de color del suelo y
eventualmente el encuentro de estructuras dispersas que puedan llevar a una ampliacin del campo o
restriccin de las dimensiones de las proprias trincheras. (PALLESTRINI & PERASSO, 1984, p.23).
**
evidencia um suelo arqueolgico de la manera ms completa posible (Ibidem, p.31).
106
O uso do GPR permitiu no somente identificar e localizar o pacote
arqueolgico (entre os 10 e 30 cm de profundidade), como tambm apontar para o alto
ndice de alteraes que os vestgios arqueolgicos sofreram nessa poro do stio
(Quadra 44) (ROBRAHN-GONZLEZ & ZANETTINI, 1999, p.40), diante das aes
ps-deposicionais.
Da mesma forma, na terceira etapa da pesquisa utilizou-se um mtodo de
pesquisa sistemtica, objetivando estabelecer o desenho amostral por meio de quadras
de raspagem e tradagens, sempre atravs do quadriculamento sistemtico com
espaamento regular. Concomitantemente, com intuito de delimitar o stio em um
tempo reduzido, localizar estruturas enterradas e expor superfcies amplas
(CALDARELLI, 2001, p.33), optou-se pelo uso do maquinrio pesado em algumas
pores diversas do stio (conforme detalhado anteriormente na Prancha 6).
Com o uso do maquinrio pesado, foi possvel identificar, alm de centenas de
fragmentos de cermica e artefatos lticos, parte da mancha de terra preta localizada na
poro mais ao norte do stio, denominada anteriormente de Mancha 18. Nesta rea, as
atividades realizadas por meio do uso de ferramental mais leve (enxadas, cavadeiras,
etc.) no permitiu identificar vestgios arqueolgicos em maiores profundidades, uma
vez que ali havia uma camada superficial e compacta de brita granulada, tornando essa
poro do stio quase que impenetrvel pela ao destes tipos de utenslios.
Diante disso, o uso do maquinrio pesado se tornou a nica alternativa vivel
para escavao daquela poro do stio. Cabe salientar que o uso deste tipo de
metodologia j vem sendo utilizada desde a dcada de 1950 nos Estados Unidos,
principalmente nos trabalhos que envolvem a Cultural Resource Management,
permitindo otimizar a relao tempo vs custo
5
.
Tradicionalmente, o maquinrio pesado utilizado para escavar, trincheiras
exploratrias e escavadeiras, e moto niveladoras para remover a sobrecarga ou at
mesmo reduzir a parte superior dos depsitos a fim de expor aspectos mltiplos
*
(VAN
HORN et al. 1986). Sendo assim, criou-se a dvida e desconfiana (NEUMANN &
SANFORD, 2010) na utilizao do maquinrio pesado em atividades que, teoricamente,
requereriam a utilizao de ferramentas mais leves e precisas. Estabeleceu-se ento o
5
De acordo com Caldarelli (2001, p. 33), na Arqueologia Preventiva, uma das opes de estreitamento
entre o tempo (necessidade de imprimir rapidez aos servios, sem perda de informaes significativas
para a produo de conhecimentos sobre o stio) e custo (necessidade de diminuir as despesas que
acarretam uma pesquisa arqueolgica) tem sido a utilizao do maquinrio pesado.
*
to dig exploratory trenches and bulldozers and road graders to remove overburden or even to reduce the
tops of deposits in order to expose multiple features (VAN HORN et al. 1986).
107
paradoxo entre aquilo que preserva (escavao manual/leve) e aquilo que destri
(escavao mecnica/pesada) (ver discusso em LUCAS, 2001).
No entanto, trabalhos atuais demonstram que o uso do maquinrio tem sido
essencial para a realizao da pesquisa arqueolgica. Este mtodo utilizado
principalmente em stios urbanos, onde h construes cobertas por prdios mais
recentes ou depsitos de aterro (SOUZA, 2013, p.141). Nas zonas rurais o maquinrio
tambm utilizado, principalmente na remoo rpida das camadas superficiais dos
stios e abertura de trincheiras (PETCH, 1960 apud SOUZA, 2013). Tem-se a
otimizao do tempo gasto com a escavao, uma vez que o trabalho realizado pela
mquina muito mais eficiente
6
.
No Brasil, da mesma forma, este tipo de mtodo vem sendo utilizado e
defendido em trabalhos realizados no mbito da Arqueologia Preventiva como aqueles
desenvolvidos pela Zanettini Arqueologia (2009, 2010a, 2010b, 2011), por Lavina
(1999), Caldarelli (2001) e Gaspar (2011).
Entretanto, evidente que o trabalho desenvolvido por um maquinrio
inapropriado e por um operador sem experincia pode causar a compactao do solo
e, posteriormente, dificultar a escavao manual (SPENNEMANN, 1989 apud SOUZA,
2013). Neste caso, tem-se a necessidade de estabelecer a escolha de um maquinrio que
melhor se adapte ao uso pretendido. Caldarelli (2001) traz a relao das mquinas que
melhor do resultado, de acordo com os objetivos anteriormente propostos: uso de trado
mecnicos ou hidrulicos para realizao de tradagens; retroescavadeiras de p estreita
(D4) para localizar estruturas enterradas e definir as dimenses de um stio;
motoniveladoras (Patrol) usadas para decapagem e exposio de superfcies amplas, etc.
No caso do stio Santa Marina, foi utilizada para decapagem da camada
superficial (entre 3 a 5 cm de profundidade) uma P Carregadeira Case (Modelo
W20E). Seu uso permitiu a supresso tanto da vegetao superficial como tambm da
camada de brita granulada presente nos nveis iniciais do solo, localizada sobre a
Mancha 18.
6
De acordo com Spennemann (1989 apud SOUZA, 2013), para escavar uma rea medindo 70 x 25 x 0,30
m manualmente, levar-se-ia cerca de duas semanas; ao contrrio disso, o maquinrio realizou a limpeza
superficial de uma ampla rea em cinco horas (desde que no haja artefatos ntegros ou inteiros, estruturas
ou outros complicadores).
108
A Figura 33 apresenta o esquema do perfil estratigrfico, por meio do qual se
podem obter dados sobre uma tipologia progressiva por nveis cronolgicos sucessivos,
fauna e flora reunidos da mesma maneira, podendo, de uma forma mais precisa, obter-se
uma reunio de dados razoveis
*
(PALLESTRINI & PERASSO, 1984, p13).
Figura 33. Esquema do perfil estratigrfico da rea escavada pelo maquinrio (ZANETTINI
ARQUEOLOGIA, 2010a).
Na Figura 33 possvel visualizar as camadas que compem a estratigrafia de
uma das pores do stio. A primeira representada por uma camada de brita granulada
(0-5 cm); a segunda composta por sedimento marrom arenoso-argiloso; a terceira
apresenta uma colorao escura com a presena de material orgnico (partculas de
carvo) e fragmentos de cermica e artefatos lticos; as demais camadas tambm
apresentam caractersticas da camada II, no entanto, ocorre a rarefao dos vestgios
arqueolgicos.
Concluindo, nota-se que muitos foram os mtodos e tcnicas utilizados na
escavao do stio arqueolgico Santa Marina. A juno de todas essas intervenes
*
se pueden obtener datos sobre una tipologia progressiva por nveles cronolgicos sucessivos, fauna y
flora recolectados de la misma manera, pudiendo de una forma ms precisa obtenerse una recoleccin de
datos razonables (PALLESTRINI & PERASSO, 1984, p13).
109
permitiu que praticamente toda a rea onde o stio est localizado fosse trabalhada do
ponto de vista cientfico.
Todas as intervenes propiciaram tambm a identificao de inmeros artefatos
arqueolgicos, provenientes do acmulo das atividades e das prticas dirias que
envolvem a elaborao de utenslios utilizados em processos que compreendem o
cozinhar, o comer, o dormir, etc. (ASSIS, 1996), evidenciando padres de descarte,
reas de atividades especficas, organizao e uso do espao, escolhas culturais, etc.
CAPTULO 4
(...) on each piece of fired clay
are our window into the life of
those who made and used these
vessels
*
(SKIBO, 1999)
*
em cada pea de barro queimado esto nossa janela pela vida daqueles que fabricaram e usaram tais
vasos.
111
4. ENTRE CACOS E PEDRAS: ANLISE DO CONJUNTO ARTEFATUAL CERMICO
E LTICO DO STIO SANTA MARINA
A cultura material dos grupos Tupi, composta preponderantemente por vasilhas
cermicas e artefatos lticos
1
, est relacionada diretamente s atividades cotidianas destas
populaes, tais como: elaborar utenslios, cozinhar, comer, dormir, etc. (ASSIS, 1996, p.7).
O processo de transformao (modo de fazer algo ou alguma coisa) da matria-prima em
ferramentas teis para realizao destas atividades transmitido de gerao a gerao,
imbudo de padres rigorosos reproduzidos ao longo do tempo.
Neste captulo, apresentamos os resultados das anlises empreendidas no conjunto
artefatual ltico e cermico composto por mais de 20 mil peas. A partir destas anlises,
buscamos compreender os processos que envolveram a produo, o uso e o descarte destes
artefatos no contexto arqueolgico do stio Santa Marina.
4.1. Conjunto artefatual cermico
Para realizao da anlise do material cermico, tomamos como referncia no
somente os manuais estrangeiros e clssicos existentes como Shepard (1956), Rye (1981),
Rice (1987), Sinopoli (1991), Orton et al., (1997) etc., mas tambm aqueles produzidos no
Brasil, por meio das pesquisas realizadas por Lima (1986), Robrahn-Gonzlez (1989, 1996),
Wst (1990), La Salvia & Brochado (1989), Brochado et al. (1990), Brochado & Monticelli
(1994), Assis (1996), etc. Da mesma forma, buscamos dialogar com os trabalhos atuais
(dissertaes e teses) que trazem novos aspectos interpretativos sobre a cermica e o ltico
relacionados temtica Tupi, como o caso das pesquisas realizadas por Moraes (2007),
Oliveira (2007), Corra (2008), dentre outros.
Diante disso, por meio dos referenciais tericos e metodolgicos desenvolvidos pelos
autores supracitados, buscamos investigar as caractersticas principais do material cermico
por meio de unidades bsicas de anlise, composta pelos atributos (observveis, mensurveis
e repetitivos) que possibilitam a leitura das tcnicas (preparao, produo e queima), do
processo sequencial e da tradio tecnolgica (RYE, 1981, p.4).
1
Nesse caso, nos referimos ao material identificado no contexto arqueolgico, uma vez que, no contexto
sistmico, outros artefatos compunham a cultural material destes grupos, como, por exemplo, aqueles
produzidos em ossos, madeira etc. (SCHIFFER, 1972), no entanto, estes materiais orgnicos se decompem
facilmente em solos com a acidez elevada.
112
Caracterizao e segregao das unidades de anlise
O acervo cermico composto por 21.838 peas sendo que, deste montante, 4.034
peas no foram analisadas, pois so formadas por micro-cermica, ou seja, peas que
medem no mximo 2 cm de comprimento, o que corresponde a 18,47% do total.
Ademais, compem o acervo 91 resduos produtivos (bolotas de argila),
representando apenas 0,42% do total. Estes resduos foram analisados de forma qualitativa,
isto , observamos apenas a presena/ausncia de antiplsticos e alteraes (marcas de
fuligem, digitais, etc.) nas superfcies.
O restante do acervo, que corresponde a 81,53%, foi analisado de forma quantitativa,
qual seja, passaram por uma anlise apurada envolvendo 12 atributos, constitudos por
diferentes tipos que so construdos e avaliados usando tcnicas estatsticas na anlise de
duas ou mais variveis
*
(SINOPOLI, 1991, p.55).
A seguir, apresentamos os atributos e as variveis observadas em cada fragmento
cermico, lembrando que no so somente os atributos individuais trazem informaes,
mas sim, a maneira como se relacionam ou se combinam no produto final, compondo um
artefato inteiro e nico, o vasilhame cermico (ROBRAHN, 1989, p.58).
Lista de atributos e variveis analisadas:
1) Categoria das peas diagnsticas
1) Bojo
2) Borda
3) Base
Borda
Base
Bojo
4) Calibrador
5) Fuso
*
construted and evaluated using statistical techniques in the analysis of two or more variables (SINOPOLI,
1991, p.55).
113
2) Tipo de antiplstico (leitura feita com auxlio de lupa binocular com aumento de 20x
1) Mineral constitudo por partculas de quartzo e mica
2) Caco modo e mineral - constitudo por partculas de quartzo e mica
3) Mineral constitudo por partculas de quartzo, mica e hematita
3) Espessura do antiplstico (medido com auxlio de paqumetro)
1) Entre zero e 1mm
2) Entre 1 e 3mm
3) Entre 3 e 5mm
4) Maior que 5mm
4) Frequncia do antiplstico (de acordo com Orton et al. 1987)
1) Pasta Fina
2) Pasta Mdia
3) Pasta Grossa
5) Tcnica construtiva (leitura feita a partir da fratura das peas)
1) Acordelada
2) Modelada
3) Acordelada e modelada
6) Acabamento de superfcie interna
1) Alisado
2) Banho
3) Polimento
4) Engobo
5) Pintado
114
7) Acabamento de superfcie externa
1) Alisado
2) Banho
3) Polimento
4) Engobo
5) Pintado
6) Plstico
8) Tipo de queima
1) Queima oxidante
2) Queima redutora
9) Espessura da pea (medida com auxlio de paqumetro)
10) Morfologia da borda
1) Tipo de borda
2) Inclinao da borda
3) Dimetro da borda
4) Tipo de lbio
5) Espessura do lbio
11) Aspectos morfolgicos da base
1) Tipo de base
2) Dimetro da base
12) Forma da vasilha (ver Prancha 16)
Resduos produtivos: anlise qualitativa
As trs etapas de escavao resultaram na coleta de 91 resduos, distribudos por
todas as reas do stio, porm concentrados principalmente no setor II (escavado na etapa I),
representando 54,90% do total das peas. As dimenses destes resduos variaram bastante
(ver Tabela 11), sendo a mdia de comprimento 55 mm por 33,93 mm de largura.
115
Tabela 11. Detalhamento dos resduos produtivos.
Etapa Provenincia Quantidade Dimenses (Mx. e Mn.)
1
Setor I 1 33x40 mm
Setor I 2 32x60 mm
Setor I 1 45x55 mm
Setor I 1 31x40 mm
Setor II 1 30x50 mm
Setor II 1 30x44 mm
Setor II 1 70x85 mm
Setor II 1 57x87 mm
Setor II 1 40x115 mm
Setor II 4 42x112 mm
Setor II 1 30x45 mm
Setor II 9 23x45 mm
Setor II 2 100x150 mm
Setor II 1 32x40 mm
Setor II 1 60x100 mm
2
Quadra 45 L26 1 25x45 mm
Quadra 44 L23 1 40x50 mm
Quadra 46 L6 7 50x60 mm
3
Quadra de raspagem 91-3 1 20x24 mm
Quadra de raspagem 92-3 1 32x37 mm
Quadra de raspagem 92-10 1 23x24 mm
Quadra de raspagem 92-50 1 22x35 mm
Quadra de raspagem 92-51 1 35x42 mm
Trincheira 1 1 22x24 mm
Trincheira 2 2 19x43 mm
Trincheira 3 4 23x35 mm
Trincheira 61 1 35x42 mm
UE44-2 4 22x35 mm
UE91-3 5 12x56 mm
UE91-4 7 25x34 mm
UE92-7 1 34x42 mm
UE92-41 24 18x64 mm
Nesta anlise, observamos na composio da argila (pasta), a presena/ausncia de
antiplsticos, alm de vermos se nas superfcies dos resduos haviam evidncias de marcas,
resultantes dos processos de manuseio para confeco das vasilhas.
De maneira geral, preponderam resduos com pastas compostas basicamente por
partculas minerais arredondadas (quartzo e mica), com espessuras variando entre 0,1 e 2,0
116
mm, em baixa frequncia. Essas caractersticas indicam que tais partculas de minerais j
existiam na composio da argila, ou seja, no foram aplicados de forma intencional (LIMA,
1986).
Sobre a superfcie de alguns dos resduos, notamos marcas de fuligens, impresses
digitais e negativos de folhas. Tambm observamos que a maior parte destes resduos
apresentava-se muito bem queimada, sem ncleos escuros e oxidados, como detalha a Figura
34.
Figura34. Resduo produtivo identificado na poro sul do stio
Conforme a Figura 34 nota-se marcas impressas e ncleo oxidado; Panachuk &
Carvalho (2010, p.83) afirmam que estas caractersticas podem estar relacionadas aos
processos de teste de desempenho das argilas na etapa de queima, mtodo costumeiramente
utilizado entre os ceramistas Kadiueu e Urubu-kaapor (RIBEIRO, 1952).
Categoria das peas analisadas
O primeiro atributo analisado corresponde aos diferentes tipos de peas identificadas
no stio, podendo se referir tanto aos fragmentos que compem uma vasilha cermica (ver
Tabela 12) quanto a outros artefatos, como o fuso.
117
Tabela 12. Categoria das peas analisadas
Categoria das peas Porcentagem
Bojo 74,46%
Borda 21,55%
Base 2,50%
Calibrador 1,34%
Fuso 0,05%
Os fragmentos de bojo predominam no acervo cermico, representando mais de 70%
do total. Nesta categoria, inserimos os bojos com os diferentes tipos de acabamento (alisado,
pintado, com perfurao, etc.), os quais sero detalhados adiante. No caso das demais peas,
as bordas representam 21,55% e as bases 2,50%. Com relao aos demais tipos, contamos
com 26 calibradores (ver Figura 35) e um fuso.
Os calibradores so importantes indicativos de atividades de reuso e manuteno de
artefatos. De acordo com Prous (1991, p. 400), os calibradores pertencem famlia dos
polidores manuais, constitudos de pequenos blocos com sulco profundo e reto, dentro do
qual eram esfregadas varas. (...) So tambm chamados de afiadores, ou pedras com
canaletas, podendo haver um ou vrios sulcos na mesma pea. Para Schmitz (1990), suas
funes principais so dar acabamento final em artefatos produzidos por polimento,
alisamento ou ainda aplicados em artefatos de outras matrias-primas como madeira e osso.
Interessante notarmos que a maior parte dos calibradores est concentrada na poro norte
do stio, identificados durante a terceira etapa da pesquisa de campo.
Figura 35. Calibradores identificados na poro norte do stio. Em detalhe, as setas vermelhas indicam os
sulcos deixados durante o polimento de um artefato cilndrico.
118
Tambm foi identificado no stio, em sua poro sul, um fragmento de fuso. Este
artefato apresenta a superfcie alisada e borda arredondada, espesso na poro central (ver
Figura 36), e est diretamente associado ao aparelho de fiao (CHMYZ, 2010).
Figura 36. Fragmento de fuso. a) superfcie externa alisada; b) na poro fragmentada da pea, possvel
observar perfurao na parte central da mesma, destinada fixao da vareta utilizada para tecer fios de
algodo.
Caractersticas do antiplstico (tipo, tamanho e frequncia).
O estudo do antiplstico permite compreender os processos de escolha que envolvem
a confeco de uma vasilha cermica. Ele se inicia com a seleo da argila, sendo que,
segundo La Salvia & Brochado (1989, p.11), o arteso () a seleciona de forma que se
molde s suas necessidades, que se adapte ao seu desejo de ceramista, sem maiores
alteraes. Para tanto, a argila traz caractersticas que podem facilitar ou dificultar o
manuseio e, consequentemente, o uso na confeco de um artefato cermico. Um desses
aspectos corresponde plasticidade da argila, que a torna macia e malevel ao invs de
rgida e inflexvel, ou seja, ponto ideal para o manuseio e confeco da cermica (RICE,
1987).
Este processo est permeado de alteraes fsicas e qumica que ocorrem durante a
secagem (e encolhimento decorrente da desidratao, ver detalhamento em RICE, 1987,
pp.61-79) e queima da vasilha, podendo ocasionar o surgimento de rachaduras e fraturas
(BICHO, 2012). Portanto, em alguns casos, para que isso no ocorra, necessrio alterar as
caractersticas originais da argila
2
. Uma das formas reduzir a plasticidade (tornando-a
nonplastic, ver SINOPOLI, 1999) atravs, por exemplo, da adio de partculas de minerais
(quartzo, feldspato, hematita, etc.), caco-modo ou chamote (fragmentos de cermica modos
2
Uma das formas de mudana corresponde limpeza de impurezas contidas na argila, como partculas de
minerais e matrias orgnicos (SINOPOLI, 1991, P.16).
119
acrescentados argila em granulaes variveis, segundo LA SALVIA & BROCHADO,
1989) ou material orgnico (ausentes em nosso estudo). De acordo com Faccio (1992,
p.134), isso possibilita neutralizar a plasticidade da argila, dar condies para boa secagem
e queima, aumentar ou diminuir a resistncia do choque trmico ou mecnico, diminuir ou
aumentar a porosidade ou permeabilidade.
A seguir, detalhamos os tipos, as espessuras e a frequncia dos antiplsticos
identificados no material cermico.
- Tipo de antiplstico
3
Na anlise da pasta das peas, observamos trs tipos de composio: tipo 1
partculas de minerais (quartzo e mica); tipo 2 partculas de minerais (quartzo e mica) e
caco-modo e; tipo 3 partculas de minerais (quartzo, mica e hematita), ver Figura 37.
56,88%
41,26%
1,86%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Tipo de Antiplstico
Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3
Figura 37. Grfico com os tipos de antiplsticos identificados.
Nota-se que, alm do predomnio das partculas de minerais em todas as peas
analisadas, h tambm a presena do caco-modo em 41,26% do material, indicando a
adio intencional deste antiplstico. Tal caracterstica recorrente no material associado
3
Para este tipo de anlise nos utilizamos de uma lupa binocular com aumento de 20x; entretanto, para o estudo
mais apurado da constituio das pastas seria necessrio o uso da microscopia ptica. De acordo com Pereira
(2004, p.250), este procedimento permite a obteno de dados amplos relativos mineralogia, forma dos
gros e microestrutura (modo de interrelao dos diversos gros da amostra).
120
aos grupos Tupi (LIMA, 1986), o que, possivelmente, corresponderia a um marcador
cultural (BROCHADO, 1984)
4
.
- Espessura do antiplstico
Com relao ao tamanho dos antiplsticos, observamos partculas com dimenses
que vo de 0,1 mm at 5 mm. Dentre as pastas analisadas, predominam partculas com at 1
mm de espessura, em mais de 56,31%, como ilustra o grfico abaixo.
56,31%
34,15%
8,00%
1,54%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Espessura do Antiplstico
0 - 1mm 1 a 3mm 3 a 5mm > 5mm
Figura 38. Grfico com a espessura dos antiplsticos identificados.
- Frequncia do antiplstico
No caso da frequncia do antiplstico, tomamos como referncia as variveis
apresentadas por Orton et al (1997), que possibilitaram caracterizar pastas finas, mdias e
grossas. Nesta anlise, observamos o predomnio de pastas finas, em mais de 56,88% das
peas; seguidos de pastas mdias (com 41,26%) e grossas (com 1,86%), conforme detalha o
Figura 39.
4
Em alguns estudos, nota-se que a adio do antiplstico est diretamente relacionada aos grupos que as
produzem, como marcadores de identidades, caso dos grupos falantes das lnguas do tronco Macro-J,
associados tradio arqueolgica Uru (WST, 1990), no Brasil, e dos grupos nmades do sudoeste do
Cazaquisto (CHANG, 2006).
121
56,88%
41,26%
1,86%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Frequncia do Antiplstico
Pasta Fina Pasta Mdia Pasta Grossa
Figura 39. Grfico ilustrando os tipos de pastas identificadas.
Com relao s pastas grossas, observamos que correspondem a uma pequena poro
de peas localizadas no setor II (referente etapa 1 da pesquisa de campo), e que
concentram grande quantidade de antiplsticos minerais, principalmente quartzo, conforme
apresentando na Figura 40.
Figura 40. Tipo de pastas diferenciadas.
122
Tcnicas de construo (manufatura, tratamento e queima)
As tcnicas de construo possibilitam que o arteso () planeje e execute aes que
envolvem a transformao da argila em vasilha, por meio da manufatura (construo da
vasilha), dos procedimentos que envolvem o tratamento das superfcies (do alisamento ao
acabamento decorativo) e da queima, detalhadas a seguir.
- Tcnica de manufatura
A tcnica de manufatura est relacionada s aes exercidas para fabricao de uma
vasilha cermica. Para o contexto estudado, identificamos duas formas de confeco: o
modelado (onde se utiliza uma poro de argila e a partir dela, com os dedos, modela-se a
pea pretendida) e acordelado (uso de cordis de argila que, sobrepostos, do forma
pretendida) (LA SALVIA & BROCHADO, 1989, p.11).
Dentre estas duas tcnicas, observamos que mais de 90% das peas foram
confeccionadas por meio da juno de roletes (acordelada), caracterstica frequente na
produo de vasilhas cermicas indgenas (ver exemplos em LIMA, 1986). A identificao
desta tcnica pode ser observada pela fratura das vasilhas nas junes (ver Figura 41) e nas
ondulaes dos bojos (ROBRAHN, 1989, p.67). No caso do uso do modelado, este foi
utilizado na produo de vasilhas menores e na confeco do fuso.
Figura 41.a c). Fragmentos de cermica que evidenciam o uso da tcnica acordelada, em detalhe na imagem
b) fratura que evidencia o rolete com entalhes, feitos, possivelmente, para melhor juno dos roletes.
123
- Acabamento de superfcie interna e externa
O acabamento de superfcie diz respeito ao tratamento aplicado sobre as superfcies
interna e externa das vasilhas cermicas. Tais tratamentos tm uma finalidade, tm uma
razo de ser, no so aleatrios, criados exclusivamente pela vontade prpria do arteso.
Como o uso das vasilhas, eles tm uma finalidade (LA SALVIA & BROCHADO, 1989,
p.25). Essa finalidade pode ser de cunho prtico (no qual se busca construir e dar forma a
um recipiente cermico) ou de cunho artstico (no qual se busca dar a um recipiente
cermico uma melhor aparncia). Assim, esse momento, segundo La Salvia e Brochado
(1989), composto pelos processos preparatrios, de acabamento e decorativo (nessa
sequncia), como ilustra a Figura 40.
Processo Preparatrio: terminativo ou
preparatrio para aplicao de outro
elemento qualquer.
Processo de Acabamento: terminativo
ou preparatrio para decorao.
Processo decorativo: aplicao
definitiva pintado ou plstico.
Figura 42. Fluxograma do processo preparatrio de produo cermica (baseado em LA SALVIA &
BROCHADO, 1989).
- Acabamento de superfcie interna
Como apresentado na Figura 40, na superfcie interna observamos o resultado de
processos preparatrios, terminativos e decorativos, que podem ser definidos como: alisado,
banho, polimento, engobo e pintura, detalhados na Tabela 13.
Tabela 13. Tipo de acabamento de superfcie interna.
Tipo de Acabamento Porcentagem representativa
no acervo
Alisado 63,27%
Banho 0,46%
Polimento 0,15%
Engobo 33,67%
Pintado 2,45%
124
Conforme demonstra a tabela acima, preponderam as peas com acabamento alisado
(com 63,27%), procedimento que, basicamente, elimina a rugosidade causada pelo processo
de confeco da vasilha. O alisamento feito com o recipiente ainda mido com auxlio de
instrumento ou mesmo com as mos.
Em menores propores (0,46% das peas), identificamos vestgios de banho
(avermelhado), que corresponde a um revestimento superficial, delgado, proveniente de um
caldo ou nata de argila em suspenso na gua, aplicado superfcie cermica antes da
queima (LA SALVIA & BROCHADO, 1989, p.18). Quanto a peas com polimento (ou
lustro), identificamo-las em apenas 0,15% do total do acervo.
As peas com engobo e pintura representam 33,67% e 2,44%, respectivamente.
Neste caso, as caractersticas dos tipos de engobo e pintura sero apresentadas em seguida,
juntamente com os dados provenientes das superfcies externas.
- Acabamento de superfcie externa
Como apresentado anteriormente, os acabamentos de superfcie externa podem ser
caracterizados como: alisado, banho, polimento, engobo, pintura e, nesse caso, acabamento
plstico, conforme indica a Tabela 14.
Tabela 14. Tipo de acabamento de superfcie externa.
Tipo de Acabamento Porcentagem
Alisado 64,71%
Banho 0,76%
Polimento 0,30%
Engobo 15,20%
Pintado 2,75%
Plstico 16,28%
Quanto aos acabamentos plsticos, sua formao resultante da modificao
tridimensional da superfcie da parede da vasilha com a argila ainda moldvel e anterior
queima (LA SALVIA & BROCHADO, 1989, p.35).
A seguir, detalharemos as caractersticas dos acabamentos pintados e plsticos.
125
- Acabamento Pintado
A tcnica decorativa, de acordo com Scamatacchia & Marois (1987), a maneira
como uma ao se exerce sobre um instrumento (um objeto fsico, as mos, os dedos) para
alterar a superfcie de um objeto cermico, com o fim de criar efeitos visuais de acordo com
o padro mental estabelecido.
Para anlise do acabamento pintado, relacionado aos grupos Tupi, tomamos como
referncia inmeros trabalhos que abordam essa temtica, como La Salvia & Brochado
(1989), Tocchetto (1996), Prous (2004, 2007), Moraes (2007), Oliveira (2007), Prous (2004;
2010a), dentre outros. Cabe salientar que esses trabalhos buscam basicamente caracterizar os
padres decorativos das pinturas existentes e no, com raras excees (TOCHETTO, 1996;
PROUS, 2010a), interpretarem os motivos decorativos. Dessa forma, este trabalho tambm
apresenta apenas os tipos de composies ou motivos decorativos identificados no stio.
Basicamente, a pintura Tupi est diretamente associada s categorias de
funcionalidade das vasilhas cermicas (MONTERO et al. 2008), logo, as vasilhas com
formas e funes diferenciadas apresentam frmulas decorativas distintas (PROUS, 2010a).
Desse modo,
nas peas abertas, em que os desenhos so feitos, em sua grande
maioria, na parte interna, eles so delimitados por trs regies, como
elementos marcadamente diferenciados pelo corpo, pela borda e pelo
lbio, sendo o motivo principal, naturalmente, desenvolvido no corpo
da pea (BUARQUE, 2010b, p.18).
A partir disto, h um atributo destinado anlise das bandas vermelhas (que
organizam os campos decorativos e delimitam os pontos de inflexo das vasilhas (PROUS,
2004)) e outro atributo para a classificao dos grafismos presentes no Campo Central
(externo e interno) e para as Zonas. Cabe lembrar que o Campo Central est localizado nos
fundos das tigelas abertas e ombros das vasilhas de contorno complexo fechadas,
caracterizados por uma grande variabilidade, sobretudo nas tigelas abertas; e a Zona, onde
os grafismos esto presentes nas bordas das tigelas abertas, sobretudos nas bordas carenadas
(OLIVEIRA, 2007) (ver Figura 43).
126
Figura 43. Fragmento de vasilha aberta com a identificao da Zona, Banda e Campo Central.
No Campo Central, geralmente, os grafismos so feitos sobre o engobo branco ou
vermelho
5
(ver Tabela 15) que ressalta por contraste os desenhos feitos com linhas
vermelhas ou preta e marrom escuro; os elementos chamados de reforo (pontos ao longo
das linhas) so sempre de cor escura e os motivos geralmente so repetitivos e articulam-se
de forma aberta, sem que haja preocupao em deixar os motivos completos nas margens
(PROUS, 2000, p.36). A Tabela 15 apresenta as cores e as superfcies.
Tabela 15. Frequncia da cor do engobo por superfcie.
Engobo Cor e superfcie Porcentagem
Interno vermelho 3,50%
Externo vermelho 23,55%
Interno e externo vermelho 2,95%
Interno branco 12,58%
Externo branco 7,75%
Interno e externo branco 2,45%
Interno vermelho e externo branco 1,24%
Interno branco e externo vermelho 45,98%
No conjunto artefatual cermico analisado, identificamos engobo nas cores branca e
vermelha. Preponderam as peas com engobo branco (45,98%) principalmente nas
superfcies internas e externas, que correspondem a vasilhas abertas e rasas, como veremos
adiante.
As bandas vermelhas no completas, de maneira geral, preponderam no conjunto
analisado, devido s condies de preservao da pintura. As bandas mdias representam
28,75% do total de peas, conforme detalha a Tabela 16.
5
Com relao aos tipos de cores observadas, cabe salientar que elas variam de acordo com o grau de
conservao da pea, tornando-se menos vivas logo depois da retirada do solo, quando a superfcie vai
secando e patinando-se progressivamente ao longo da exposio ao intemperismo (PROUS, 2010a).
127
Tabela 16. Espessura das bandas.
Nesta anlise, observamos que no h um padro para aplicao da banda nos
pontos especficos, pois ora aplicada sobre a pintura do Campo ou na Zona (ver Figura
44), ora ela aplicada anteriormente execuo das linhas que formam os motivos
decorativos (ver Figura 45).
Figura 44. Banda vermelha realizada sobre pintura.
Figura 45. Pintura realizada sobre banda vermelha.
Tipo de Banda Porcentagem
No completas 66,25%
Finas (0 a 10 mm) 3,25%
Mdias (10 a 20mm) 28,75%
Grossas (> de 20 mm) 1,75%
128
Da mesma forma, identificamos uma variao na quantidade de linhas que formam
as bandas. Em algumas peas, notamos a presena de duas bandas entre as inflexes da
vasilha, como possvel verificar na Figura 46.
Figura 46. Fragmento de borda com duas bandas.
Em outra pea, identificamos que a banda interna foi substituda por uma srie de
linhas vermelhas finas horizontais paralelas (Figura 47). Essa caracterstica, segundo Prous
(2010a), tambm foi encontrada no Rio Grande do Norte, em Sergipe e Pernambuco.
Figura 47. Fragmento de borda com trs bandas.
Ademais, em outra pea, no identificamos a presena da banda, costumeiramente
encontrada na superfcie interna prximo do lbio da borda, como ilustra a Figura 46. Neste
caso, sua ausncia est relacionada falta de ponto de inflexo ou quebra da morfologia
desta vasilha, caracterstica tambm aventada por Oliveira (2007, p.50).
129
Figura 48. Fragmento de borda com ausncia de banda.
Com relao aos grafismos da Zona nas vasilhas, observamos o predomnio de linhas
retas (verticais e horizontais que ora se cruzam) e oblquas. A cor vermelha (com 55,68%)
a mais utilizada, seguida pela preta (com 40,52%) e, em apenas poucas peas, h a utilizao
das duas cores no mesmo motivo (em apenas 3,80%).
As Figuras 49 e 50 ilustram todos os motivos identificados nas Zonas das vasilhas,
tanto na superfcie interna quanto na externa.
Figura 49. Traos identificados nas zonas superfcies internas.
Figura 50. Traos identificados nas zonas superfcies externas.
Alm da identificao dos motivos decorativos, foi possvel visualizar gestos dos
artesos (s), seus movimentos e o domnio do espao. Destacamos dois elementos gestuais
outrora estudados por Prous (2004): o delineamento dos traos compridos que so
geralmente feitos vrias vezes, dependendo das vasilhas - observam-se junes precisas ou
imprecisas, rpidas e nervosas (na Figura 51 possvel visualizar linhas imprecisas e
nervosas) -; presena de pontos que preenchem certas superfcies ou fitas que podem ser
ou no equidistantes, formar nuvens irregulares - quando preenchem uma superfcie,
130
podem alinhar-se paralelamente s linhas das fitas ou formar uma textura densa (ver Figura
52) (Ibidem, p.46).
Figura 51. Linhas imprecisas ou nervosas.
Figura 52. Pontos formando nuvens de preenchimento.
Com relao aos padres decorativos, as pinturas do Campo Central compem-se,
basicamente, de linhas retas e curvas (pretas e vermelhas), em alguns casos, com
preenchimento por traos ou pontos que reforam o motivo decorativo. Na Prancha 11,
apresentamos um quadro que detalha os motivos decorativos identificados no stio, tanto os
localizados na superfcie externa das vasilhas fechadas quanto aqueles presentes no fundo
das vasilhas abertas.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas verticais, horizontais e
curvas.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas verticais e horizontais e
curvas.
Tipo de vasilha: camuci
Superfcie da pintura: externa
Composio da pintura: associao de linhas verticais e horizontais e
curvas.
Tipo de vasilha: camuci
Superfcie da pintura: externa
Composio da pintura: associao de linhas verticais, horizontais e
curvas.
Tipo de vasilha: camuci
Superfcie da pintura: externa
Composio da pintura: associao de linhas verticais e horizontais e
curvas.
Tipo de vasilha: nhaempiggoya
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao livre de linhas retas e curvas.
Tipo de vasilha: nhaempiggoya
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao livre de linhas retas e curvas.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas curvas.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas horizontais e verticais.
Tipo de vasilha: nhaempiggoya
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas retas e curvas.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas curvas com pontos
pretos reforando o motivo.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas horizontais e curvas
com preenchimento de pontos pretos.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas verticais e curvas.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao livre de linhas retas e curvas.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas oblquas.
Tipo de vasilha: nhaen
Superfcie da pintura: interna
Composio da pintura: associao de linhas curvas.
Para formulao desde quadro de referncia nos utilizados da proposta de terminologia para descrio e classificao da cermica arqueolgicas dos grupos pertencentes famlia lingustica
tupi-guarani elaborada por Scatamacchia (2004).
PRANCHA 11 MOTIVOS DECORATIVOS
132
- Acabamento Plstico
Os acabamentos plsticos so resultados da modificao tridimensional da
superfcie da parede de uma vasilha com a argila ainda moldvel e anterior queima (LA
SALVIA & BROCHADO, 1989, p.35). Estes acabamentos formam uma expresso
decorativa, ou seja, um elemento unitrio que compe uma decorao; no entanto, elas
nunca so reproduzidas de forma anloga. Por outro lado, possvel buscarmos uma
relao igualitria de tal sorte que intensidades iguais em tcnicas diferentes sejam
conceituadas com o mesmo valor (Ibidem). Diante da diversidade dos motivos decorativos
identificados, adotamos para eles uma classificao genrica, que compreendeu os diferentes
tipos identificados a partir dos modos de fazer, ou seja, compreendemos, a princpio, a
cadeia operatria utilizada para confeco destes acabamentos para que, em seguida,
pudssemos classific-los por tipo e suas respectivas expresses decorativas.
Para classificar os tipos identificados, seguimos os pressupostos elaborados por La
Salvia & Brochado, detalhados no livro Cermica Guarani, de 1989. Da mesma forma, para
outros 2 tipos (entalhado e pseudo-ungulado
6
), ausentes nesta publicao, nos baseamos nos
trabalhos de Wst (1983), Jcome et al. (2010) e Sallum (2011).
Por meio dos trabalhos supracitados identificamos 12 tipos (e em alguns casos
subtipos ou variaes), que podem ser vistos nas Pranchas 12 a 15.
6
Com relao ao ungulado, Jcome et al (2010a) indicam que em poucos casos analisados em Minas Gerais a
decorao ungulada teria sido feita com a unha, tendo sido utilizado algum outro tipo de instrumento.
Chegaram a esta concluso observando a profundidade, largura e curvatura das incises, alm da ausncia
absoluta de indcio da polpa do dedo. Esse tipo de ungulado foi denominado pseudo-ungulado,
terminologia que adotamos neste trabalho. Desse modo, os ungulados esto classificados em ungulados e
pseudo-ungulados.
1.1 Corrugado Clssico
1.6. Corrugado Simples
1.3. Corrugado Telhado
1.4. Corrugado Perpendicular
1.5. Corrugado Imbricado
1.2. Corrugado Grosseiro
2. Digitado Simples
Tem como expresso decorativa
o DEPRESSO - a impresso
da polpa do dedo calcada
verticalmente sobre a superfcie
cermica.
2. Digitado:
Tem como expresso decorativa a
DOBRA - a ao lateral do dedo sobre
a superfcie cermica, pressionando uma
parte da argila, por arraste, e formando
uma crista de forma semilunar como
resultado do acmulo da argila arrastada.
1. Corrugado:
3. Roletado Clssico
Tem como expresso decorativa
o ROLETE - um cordel de
argila utilizado na produo das
vasilhas e no apresentando
outra atividade produtiva sobre o
mesmo.
3. Roletado:
PRANCHA 12 TIPOS DE ACABAMENTO PLSTICO
Tem como expresso
decorativa a UNGULAO
- a ao frontal da unha,
na forma de um arco, com
sentido e formato de quem
aplica.
4. Ungulado:
4.1. Ungulado Clssico 4.3. Ungulado Longitudinal 4.2. Ungulado Tangente
Tem como expresso decorativa o
CORDAME - o resultado da ao de
dois dedos em forma de pina, em
sentido contnuo e sucessivo sobre a
superfcie cermica.
5. Serrungulado:
5.1 Serrungulado Unilateral 5.2. Serrungulado Reverso
6. Nodulado:
Tem como expresso decorativa o NDULO
- uma poro de argila repuxada ou
aplicada na superfcie cermica, de forma
cnica ou tronco-cnica.
6.1 Nodulado Repuxado
PRANCHA 13 TIPOS DE ACABAMENTO PLSTICO
7. Ponteado:
Tem como expresso decorativa o
PONTO - a ao de uminstrumento de
seo variada, aplicada pelo arteso, de
forma impressa sobre a superfcie
cermica.
7.1 Ponteado Clssico 7.2 Duplamente Ponteado
8. Estocado:
Tem como expresso decorativa o
PONTO - a ao de uminstrumento de
seo variada, aplicada pelo arteso, de
forma impressa sobre a superfcie
cermica.
8.1 Estocado Longitudinal
8.2 Estocado Disperso
9. Escovado:
Tem como expresso decorativa o
PONTO - a ao de um instrumento
de seo variada, aplicada pelo arteso,
de forma impressa sobre a superfcie
cermica.
9.1 Perpendicular
PRANCHA 14 TIPOS DE ACABAMENTO PLSTICO
10. Inciso:
Tem como expresso decorativa o CORTE
a ao de um instrumento de ponta aguda, ou
no, que risca mais ou menos profundamente
a superfcie cermica, por presso ou arraste.
10.1 Em barra intercruzado
12. Pseudo-Ungulado (Jcome et al, 2010):
Tem como expresso decorativa o CORTE a ao
de um instrumento de ponta aguda, ou no, que risca
mais ou menos profundamente a superfcie cermica,
por presso ou arraste.
12.1 Pseudo-Ungulado
11. Repuxado:
Tem como expresso decorativa o CORTE
elaborado da seguinte maneira: ao de dois dedos em
forma de alicate que pressionam a superfcie da
cermica, produzindo a elevao de uma poro de
pasta ladeada pelas marcas da polpa dos dedos em sua
base, em alguns casos, aps esse processo a superfcie
mais proeminente alisada com um artefato plano.
11. Repuxado Alisado
Tem como expresso decorativa o CORTE
a ao de um instrumento de ponta
plana que marca mais ou menos
profundamente a superfcie cermica, por
presso.
13. Entalhado:
PRANCHA 15 TIPOS DE ACABAMENTO PLSTICO
137
O acabamento predominante foi o simples, ou seja, um nico tipo de instrumento e
uma mesma tcnica numa mesma direo. Em poucos exemplares, notamos acabamentos
duplos, em que houve duas aes distintas produzidas por um instrumento, ou por vrios, em
reas distintas da vasilha - nesse caso, vasilhas com a decorao corrugada no corpo da pea
com decorao ungulada ou estocada sobre o lbio da borda da vasilha.
A Tabela 17 detalha os tipos, as variaes, a intensidade e o acabamento
identificados no stio.
Tabela 17. Classificao dos acabamentos plsticos.
Tipo Variao Intensidade Acabamento
1. Corrugado Clssico, Simples, Telhado,
Perpendicular, Imbricado e Grosseiro
Alta Simples
2. Digitado No Baixa Simples
3. Roletado Clssico Baixa Simples
4. Ungulado Clssico, Tangente e Em barra
Longitudinal
Mdia Simples e Duplo
5. Serrungulado Reverso e Unilateral Baixa Simples
6. Nodulado Repuxado Baixa Simples
7. Ponteado Clssico e Duplamente ponteado Mdia Simples
8. Estocado Disperso e Em barra longitudinal e
labial
Baixa Simples
9. Escovado Perpendicular Baixa Simples
10. Inciso Em barra intercruzado Baixa Simples
11. Pseudo-ungulado No Mdia Simples e duplo
12. Repuxado Alisado Mdia Simples
13. Entalhado No Baixa Simples
Os acabamentos de 1 a 6 foram realizadas sem auxlio de um instrumento, ou seja,
somente com as mos, dedos e unhas, ao contrrio das demais (7 a 13), que necessitaram da
utilizao de algum artefato para sua confeco.
Cabe destacar que o tipo 12, intitulado Repuxado, foi criado por ns, uma vez que o
mesmo no foi identificado na bibliografia especializada. Para isso, seguimos os mesmos
pressupostos de La Salvia & Brochado (1989), baseados na cadeia produtiva do acabamento,
feitos da seguinte maneira: ao de dois dedos em forma de alicate que pressionam a
superfcie da cermica bem umedecida, produzindo a elevao de uma poro de pasta
138
ladeada pelas marcas da polpa dos dedos em sua base. Na maioria dos casos, aps esse
processo a superfcie mais proeminente alisada com um artefato plano.
Figura 53. Acabamento plstico repuxado, realizado da seguinte maneira: ao de dois dedos em forma de
alicate pressionando a superfcie da pea para juno dos roletes, deixando uma rebarba (seta vermelha), a qual
alisada com um instrumento plano (seta amarela).
A Tabela 18 apresenta as porcentagens dos tipos de acabamento identificados no
stio, onde se observa o predomnio de peas corrugadas, com 88,81% do total.
Tabela 18. Representatividade dos acabamentos plsticos.
Decorao Plstica Tipo Porcentagem
Tipo 1 - Corrugado 88,81%
Tipo 2 Digitado 0,53%
Tipo 3 Roletado 0,40%
Tipo 4 Ungulado 3,06%
Tipo 5 Serrungulado 0,13%
Tipo 6 Nodulado 0,27%
Tipo 7 Ponteado 0,93%
Tipo 8 - Estocado 0,27%
Tipo 9 Escovado 1,60%
Tipo 10 Inciso 0,53%
Tipo 11 Pseudo-ungulado 0,13%
Tipo 12 Repuxado 2,00%
Tipo 13 Entalhado 1,34%
Como detalhado na Tabela 18, o tipo corrugado predominante no conjunto
cermico analisado. Este tipo apresentou seis variaes: clssico, grosseiro, telhado,
perpendicular, imbricado e simples (ver imagens na Prancha 12).
139
O corrugado, segundo Schmitz (2010a, p.10), uma
tcnica de produo que se transforma em decorao, e certamente se
origina de uma funo: a parede enrugada, em contato com o fogo
aberto, expe ao das chamas uma superfcie maior que uma parede
lisa, porque cada uma das rugosidades capta mais um pouco de calor
para aquecer o contedo do recipiente.
Neste caso, os padres decorativos, tanto os pintados como os plsticos, esto
diretamente relacionados s distintas categorias funcionais dos vasilhames (MONTERO et
al. 2008). No exemplo dado anteriormente, os corrugados esto sempre relacionados a
vasilhas que vo ao fogo, neste caso, as panelas. Voltaremos a essa questo adiante.
- Tipo de queima
De acordo com Bicho (2012, p.449), o objetivo da queima transformar a argila em
cermica, o que corresponde a uma alterao fundamental das suas propriedades fsicas,
nomeadamente o aumento da impermeabilidade, factor decisivo na conservao de
alimentos.
O processo de queima pode ser feito em fogueiras ao ar livre, em fornos de fogueira
coberta, em fornos em cova ou estruturas de queima (CANOTILHO, 1999). No contexto
indgena, utiliza-se basicamente a queima em cu aberto, o que geralmente ocasiona
problemas frequentes como fracturas, marcas de fumo e cozeduras
imprprias. Estes problemas ocorrem porque as argilas no foram
suficientemente cozidas, ou por inexistncia de temperaturas altas, ou
porque foram submetidas a um tempo de cozedura insuficiente, ou
ainda por terem sofrido demasiado calor, queimando-se. (BICHO, 2012,
p.449).
A anlise do tipo de queima feita por meio da leitura da fratura das peas, onde
possvel observar a presena/ausncia de ncleos e colorao da pastas. Assim, permitem
visualizar queimas redutoras (quando se tem a entrada livre de oxignio) e oxidantes
(quando se limita a entra de oxignio). As queimas redutoras deixam nas peas uma seco
transversal completa e superfcie variando do laranja-tijolo ao marrom e as tornam
homogneas, de textura compacta e firme, sem fissuras ou bolas de ar; as queimas oxidantes
140
apresentam seco transversal com ncleo no meio da fratura e com a cor variando entre o
cinza e preto, tambm exibem finas rachaduras, so mais permeveis, menos duras e
resistentes (ROBRAHN, 1989, p.65).
No conjunto cermico estudado, predominam peas com ncleos escuros e bolhas,
representando 85% do total. Neste caso, provvel que as vasilhas cermicas tenham sido
cozidas em atmosfera oxidante, ou seja, fogueiras abertas.
Aspectos morfolgicos
A anlise das bordas e bases teve como intuito acessar o produto final, compondo
um artefato inteiro e nico, o vasilhame cermico (ROBHAN, 1989, p.58). Para descrio
das formas, analisamos as seguintes variveis: espessura das peas, tipo de borda, inclinao
da borda, dimetro da borda, tipo de lbio e o tipo e dimetro da base.
- Espessura das peas
A espessura das peas est relacionada diretamente ao tipo (tamanho e dimetro) e
funo (inteno de uso) de uma vasilha (RICE, 1987). No acervo estudado, preponderam
peas medindo entre 13 e 14 mm de espessura (ver Grfico 4). Neste caso, vasilhas com
paredes mais finas, de acordo com Schiffer & Skibo (1992), aumentariam a eficincia de
aquecimento e, consequentemente, do cozimento de alimentos. Da mesma forma, peas
menos espessas quebrariam com maior facilidade, se comparadas com aquelas mais
espessas e, consequentemente, mais resistentes a pancadas.
141
1,25
2,75
4,25
4,89
14,53
21,24
20,24
13,58
5,81
3,46
1,75
1,25 1,25 1,25 1,25 1,25
0
5
10
15
20
25
Espessura das peas (%)
3 e 4 mm 5 e 6 mm 7 e 8 mm 9 e 10 mm
11 e 12 mm 13 e 14 mm 15 e 16 mm 17 e 18 mm
19 e 20 mm 21 e 22 mm 23 e 24 mm 25 e 26 mm
27 e 28 mm 29 e 31 mm 32 e 34 mm 35 e 38 mm
Figura 54. Grfico detalhando a espessura das peas.
- Tipo, inclinao e dimetro da borda
Foram identificados no conjunto de bordas cinco tipos, caracterizados como: diretas,
extrovertidas, introvertidas, carenadas e cambadas (baseado em CHMYZ, 1976 e
ROBRAHN, 1989). Observamos o predomnio de bordas diretas, seguida das carenadas e
introvertidas, conforme detalha a Tabela 19.
Tabela 19. Tipo de borda e inclinao.
Morfologia da borda/inclinao Porcentagem
Direta vertical 1,19%
Direta inclinada externamente 8,63%
Direta inclinada internamente 3,57%
Direta sem inclinao 45,23%
Extrovertida sem inclinao 3,57%
Extrovertida inclinada externamente 1,79%
Introvertida sem inclinao 3,57%
Introvertida inclinada internamente 4,47%
Carenada sem inclinao 14,88%
Carenada inclinada externamente 6,25%
Carenada inclinada internamente 0,60%
Carenada inclinada normal 2,98%
Cambada 3,27%
142
Com relao s bordas sem inclinao, correspondem aquelas peas que no
permitiram o desenho do perfil, e medidas do dimetro e sua projeo, o que representa
quase 70% do total. O restante das peas permitiu essas aferies, que compuseram
diferentes formas, apresentadas adiante.
No que concerne ao dimetro das bordas, distribumos as peas em cinco categorias
(definidas por MORAES, 2007), que corresponderiam a vasilhas: em miniatura (menores
que 12 cm); pequenas (12 a 16 cm); mdias (18 a 26 cm); grandes (28 a 38 cm) e extra
grandes (maiores que 40 cm).
Dentre as bordas que permitiram a medida do dimetro, preponderam aquelas que
apresentam dimetro variando entre 12 e 16 cm (vasilhas pequenas) seguido daquelas com
18 a 26 cm (vasilhas mdias), conforme detalha a Tabela 20.
Tabela 20. Tipo de borda e inclinao.
Dimetro das bordas Porcentagem
<12 cm 1,84%
Entre 12 cm e 16 cm 56,46%
Entre 18 cm e 28 cm 40,96%
Entre 30 cm e 30 cm 0,37%
>38 cm 0,37%
- Tipo do lbio
Predominam lbios arredondados em mais de 90% das peas, seguido pelos planos
(4,5%), apontados (2,5%) e biselados (1,2%).
- Tipo e dimetro da base
A base corresponde ao ponto de contato de uma vasilha com a superfcie (LA
SALVIA & BROCHADO, 1989), que d sustentao a esta (CHMYZ, 1976). No conjunto
analisado, preponderam as bases convexas, seguido das plano-cncavas e planas.
Com relao aos dimetros, devido ao alto ndice de fragmentao das peas, apenas
poucos fragmentos permitiram aferir seu dimetro. A maior parte destas apresenta dimetros
variando entre 10 e 30 cm.
143
- Do caco ao pote: projetando as formas
Por meio dos dados provenientes da anlise de 186 bordas (ngulo de inclinao e
dimetro) e base, alm dos desenhos dos perfis, foi possvel realizar as reconstituies
grficas
7
(com auxlio do programa AutoCad) de uma pequena parcela de vasilhas presentes
nos stio.
A partir destas reconstituies, nos utilizamos de referenciais bibliogrficos para
relacionar as formas identificadas no stio com aquelas associadas aos Guarani (LA
SALVIA & BROCHADO, 1989; BROCHADO et al. 1990; BROCHADO &
MONTICELLI, 1994; NOELLI, 1999-2000) e Tupinamb
8
(BROCHADO 1984, 1991;
ASSIS, 1995; CORRA, 2009).
A Tabela 21 resume os tipos e funes de vasilhas encontradas nestes contextos,
sendo que a forma da vasilha camuciajura est relacionada apenas aos Tupinamb
(CORRA, 2009) e o termo aet apenas aos Guarani.
Tabela 21. Vasilhas referentes s subtradies Guarani e Tupinamb.
Classe das Vasilhas
Tupinamb Guarani
Tipo Funo
Nhaempepo Yapep Panela Processamento de alimentos e uso
secundrio como urna funerria
- aet Panela,
caarola
Processamento de alimentos por
fervura sobre o fogo
Nhaen aemb Prato Servio de alimentos
Caguaba Cambuch
Caguba
Tigela ou copo Servio e consumo de lquidos
Camuci Cambuch Jarra, talha ou
cntaro
Processamento de bebidas
fermentadas, armazenamento de
lquidos e uso secundrio como urna
funerria
Nhaempiggoya aemb-guau Tigela Servio de alimentos
Nhaempuna amopy Prato Assadores e torradores
Camuciajura - Jarro ou talha Acondicionamento de bebidas
fermentadas
7
De acordo com Brochado & Monticelli (1994, 209), as reconstituies grficas servem apenas para indicar
algumas possibilidades de forma e dimenses de cada categoria. (...) Isto no indica que, a partir de um
fragmento da sua borda, possamos conhecer a forma exata que a vasilha teria tido. O que, porm, no
prejudicaria nossa classificao, uma vez que nossa preocupao com a reconstituio da funcionalidade das
vasilhas.
8
Neste caso, entende-se subtradio Guarani e subtradio Tupinamb (ver BROCHADO, 1984).
144
Sumariamente, estas vasilhas foram associadas por meio do estudo morfolgico
quilo que se produzia e o que se consumia (ver os trabalhos de BROCHADO, 1997;
SCHMITZ & GAZZANEO, 1991). Assim, por meio das caractersticas tecnofuncionais e da
elaborao de classes morfolgicas (panela, tigela, jarro e prato ou assador), as vasilhas
foram associadas s populaes Guarani ou Tupinamb. Cabe dizer que, como apresentado
na Tabela 21, a maior parte das vasilhas apresenta correspondentes em termos de morfologia
e funcionalidade (NOELLI, 1999-2000).
No entanto, h caractersticas particulares para cada grupo, assinaladas pela
localizao geogrfica e pelos aspectos das vasilhas, ou seja, a distribuio da cermica
arqueolgica coincide com as reas de disperso dos grupos indgenas (BROCHADO,
1980). Assim, a cermica tupinamb apresentaria uma maior diversidade de motivos
pintados e maior nmero de vasilhas abertas e rasas, associadas ao consumo da mandioca
amarga e sua transformao em farinha e beiju; a cermica guarani composta por
vasilhas mais profundas e globulares, havendo o predomnio de acabamentos plsticos,
relacionadas ao consumo da mandioca doce, gros, legumes e milho e seu preparo como
cozido (NOELLI, 1996; SCHMITZ, 2010).
Por meio dos dados arqueolgicos, lingusticos, histricos e da etnohistria,
apresentados nos captulos precedentes e, aliados s caractersticas gerais do material
cermico, optamos pelo uso das definies micas Tupinamb para as vasilhas estudadas,
nomeadas como: caguaba, nhaenpiggoya, nhaempepo, camuciajura, nhaen e camuci e
aet, sendo que para esta ltima utilizaremos a denominao em Guarani, j que no foi
identificado seu nome para os Tupinamb.
A partir disto, separamos as vasilhas por classe (recipientes com a mesma funo) e
organizamos por categorias (mesma classe mas que se diferenciam pela posio e o perfil da
borda) (BROCHADO et al. 1990). A partir desta organizao e, baseado em extensa
bibliografia (principalmente, os estudos de BROCHADO 1984, 1991; LA SALVIA &
BROCHADO, 1989; BROCHADO et al. 1990; BROCHADO & MONTICELLI, 1994;
NOELLI, 1999-2000; ASSIS, 1995; CORRA, 2009, dentre outros), foi possvel organizar
trs classe distintas (ver Prancha 16):
145
- Classe 1 (nhaen, nhaempiggoya e caguaba): composta pela presena de pratos,
tigelas ou taas utilizadas para o servio e consumo de alimentos (individuais e/ou
coletivos);
- Classe 2 (nhaempepo, aet e camuciajura): composta pela presena de panelas,
caarolas ou caldeires utilizados para preparao de alimentos por cozimento, fervura ou
fermentao uso secundrio: urna funerria;
- Classe 3: (camuci): composta pela presena de talhas ou jarros utilizadas para o
armazenamento de lquidos.
Saliente-se que a definio proposta nestas classes no tomada de maneira rgida,
pois possvel que se encontre variabilidade em termos de funo, uma vez que vasilhas
projetadas para um determinado fim podiam ser utilizadas para outro (NOELLI, 1999-
2000, p. 255).
PRANCHA 16 PROJEO DE FORMAS
147
A classe 1 representa 46,23% do total de peas identificadas. Nesta classe,
preponderam as nhaen com 29,59% (com trs variaes), seguido das caguaba com 10,18%
(com seis variaes) e, em menor nmero, as nhaenpiggoya com 6,46%. Cabe destacar que a
nhaen foi a nica vasilha inteira identificada dentro da urna funerria
9
.
A classe 2 soma 50,54% do total das peas. A nhaempepo apresenta 38,71% de peas
(com quatro variaes), a camuciajura com 9,14% e a aet com 2,69%.
A classe 3 contempla apenas 3,23% das peas, que correspondem apenas s vasilhas
camuci. Uma destas foi utilizada como urna funerria (ver Figura 55), identificada na poro
sul do stio.
Figura 55. Urna funerria identificada na poro sul do stio (durante a etapa 2 da escavao). A figura da esquerda
apresenta a pea in loco, juntamente com outra vasilha (nhaen) disposta dentre da urna; na figura da direita, possvel
visualiza-la em exposio na Fundao Cultural de Jacare, municpio de Jacare.
A reconstituio das vasilhas identificadas no stio possibilitou que pudssemos
melhor caracterizar os usos destes artefatos no contexto apresentado.
Como detalhado anteriormente, preponderam as vasilhas utilizadas para o
processamento de alimentos (Classe 2), ou seja, aquelas que permitiriam a transformao de
ingredientes em alimentos, sobre fogo ou no. Estas vasilhas (Classe 1) representaram
50,54% do total de peas identificadas. De acordo com Mayor (1994), a maior
representatividade pode ser explicada pelo fato de que as vasilhas utilizadas no
processamento de alimentos tm um ciclo de vida menor e, em consequncia, precisam ser
constantemente repostas.
Em menor proporo, aparecem as vasilhas utilizadas para o servio e consumo de
alimentos (individuais e/ou coletivos), com 46,23% do total de peas reconstitudas. Estas
9
Identificada durante a realizao da etapa 2 de campo, a urna estava a 30 cm de profundidade e no
apresentou material sseo em seu interior (ROBRAHN-GONZLEZ & ZANETTINI, 1999, p.83).
148
vasilhas, por apresentarem espessuras mais finas e por estarem em constante manuseio,
quebrariam com maior frequncia (DEBOER & LATHRAP, 1979; MILLS, 1989) e, em
consequncia, eram substitudas em maior nmero.
No caso das vasilhas utilizadas para o armazenamento de lquidos, que representam
apenas 3,23% do total das peas, estas teriam vida til maior, uma vez que seriam menos
transportadas, diminuindo o impacto e a possibilidade de quebra, assim como reduziria o
ndice de reposio (MAYOR, 1994).
H outros elementos que podem influenciar na expectativa de vida de cada vasilha,
alm do uso frequente. Kramer (1985, p.89) aponta que a durabilidade de cada vasilha
variava conforme o artigo, tamanho, frequncia de uso e localizao; e a presena de
crianas ou animais domsticos, que tornava possvel derrubar vasilhas e causar fraturas
*
.
Alm das vasilhas que fazem parte das classes especficas, temos 3 formas que se
diferenciam das demais. Duas delas nos chamam muito ateno, principalmente por no
serem frequentes nos stios associados a grupos Tupi.
Com a primeira forma foram identificados 2 fragmentos que correspondem a
pequenas tigelas ovais rasas divididas ao meio, formando uma espcie de repartio interna.
Uma das peas apresenta acabamento ungulado e alguns poucos traos de pintura vermelha
em sua poro interna (ver Figura 56); quanto ao outro fragmento, no lbio nota-se o uso do
acabamento entalhado (ver Figura 57).
Figura 56. Fragmento de possvel vasilha geminada. A seta vermelha indica a presena de acabamento ungulado e a
amarela, vestgios de pintura em seu interior.
*
varied with ware, size, use frequency and location, and the presence of children or domestic animals likely
to topple pots and cause breakage. (KRAMER, 1985, p.89)
149
Figura 57. Fragmento de possvel vasilha geminada com acabamento entalhado no lbio.
Ainda com relao a essas vasilhas, no to comum a presena deste tipo de
recipiente, uma vez que as vasilhas geminadas esto sempre associadas aos grupos
ceramistas da tradio Aratu (PROUS, 1991). Em contextos Tupi, peas com essa
caracterstica foram encontradas em Araripina, Estado de Pernambuco (ALBUQUERQUE,
2008), no litoral do Estado de Esprito Santo (nos municpios de Pima e Anchieta)
(RIBEIRO et al. 2009) e, provavelmente, no litoral de Santa Catarina
10
(SCATAMACCHIA,
1990).
Com relao aos demais recipientes supracitados, h peas que formaram duas
pequenas vasilhas miniatura com um apndice e acabamento ungulado (ver Figura 58) e
uma outra que se assemelha a um pequeno prato com acabamento pintado (ver Figura 59).
Figura 58. Vasilha em miniatura com apndice.
10
Na tese de doutorado de Scatamacchia, na pgina 186, h uma prancha no qual a autora organiza algumas
formas provenientes de trabalhos Piazza (1965), Schmitz (1959) e Rohr (1969, 1976) no litoral de Santa
Catarina, onde h uma pequena vasilha que se assemelha a uma forma geminada.
150
Figura 59. Fragmento e perfil de possvel prato.
Estas vasilhas representam uma pequena porcentagem no total de vasilhas
identificadas no stio. Desse modo, estas peas poderiam ter um uso ritualstico, serem
pouco produzidas e utilizadas. Segundo Silva (2000), a jae, vasilha utilizada neste contexto,
era manipulada apenas durante o ritual e sempre guardada sobre jiraus no interior das casas.
Concluindo, a anlise realizada no material cermico permitiu identificarmos os
padres da produo destes artefatos (technological choice), que recorrem desde a escolha
das matrias-primas aos usos e funes dos recipientes no contexto estudado. Estes padres
ou traos comuns se repetiram entre os grupos Tupi, que partilharam de uma mesma lngua e
cultura; neste caso provavelmente, a tupinamb. Essas caractersticas persistiram ao longo
dos deslocamentos, mas se modificaram em funo das diferentes orientaes geogrficas
que os grupos seguiram (SCATAMACCHIA, 1990).
Isso permitiu que tivssemos contextos culturais semelhantes, a presena de
caractersticas particulares, como as detalhadas nos acabamentos de superfcie (pintada e
plstica) e na morfologia dos recipientes. No entanto, as modificaes seguem critrios
especficos para cada grupo, como fatores sociais e conhecimento especial de
representaes, todos os quais infundiram substncia com suas lgicas prprias
*
(MABIAS,
1993).
Para exemplificarmos, a presena das vasilhas com reparties, que se assemelham
aos recipientes geminados associados cermica Aratu, podem ser entendidos no como
processos de inveno, mas sim, de emprstimo, ou seja, por meio da adaptao ou
destituio de um recurso tcnico existente (LEMONNIER, 1993). No caso da inveno
*
social factors and representations, special knowledge, all of which infuse matter with their own logic
(MABIAS, 1993).
151
tcnica que (...) sempre baseada principalmente na reorganizao de elementos j
presentes na cultural (material) local
**
(Ibidem, p.21-22), pode se fazer presente com a
identificao do acabamento plstico chamado por ns de repuxado.
Ressalte-se que os conceitos de inveno e emprstimo devem ser empregados com
cuidado, uma vez que so prticas tecnolgicas influenciadas por fenmenos mais amplos,
variados e complexos (van der LEEUW, 1989). Entretanto, estes exemplos apenas nos
apontam a presena da variabilidade que ocorre mesmo em contextos que seguem padres e
regras tecnolgicas reproduzidos em longa durao (NOELLI, 1999-2000; 2008).
4.2. Conjunto artefatual ltico
O material ltico do stio Santa Marina composto por 205 artefatos que, ao serem
comparados (quantitativamente) com o material cermico, representa aproximadamente 1%
de todo acervo resgatado.
Na maior parte dos contextos de stios associados a grupos horticultores/agricultores
e cermicas, os artefatos lticos sempre representam a menor poro do acervo resgatado.
Essa caracterstica, em alguns casos, faz com que os artefatos lticos no recebem um
tratamento analtico de maneira sistemtica e minuciosa (NOELLI & DIAS, 1994).
Entretanto, apesar de diminuto, os artefatos lticos so de suma importncia em contextos
Tupi (ver, por exemplo, DIAS JR, 1963, 1969, 1974; DIAS JR et al. 1975; BELTRO,
1970/1971, 1978; PALESTRINI & CHIARA, 1980; VILHENA-VIALOU, 1980; FACCIO,
1998; MORAIS, 1979; CORRA, 2011; PROUS et al. 2010; DIAS, 2012), uma vez que
esto associados a uma variedade de atividades artesanais, produtivas, extrativas e
construtivas (DIAS, 2012, p.147).
Assim, busca-se por meio da anlise do material ltico entender parte do sistema
tecnolgico envolvido em sua produo, que corresponde a tcnicas desenvolvidas por uma
sociedade, por meio da interrelao de matria, gestos, energia, objetos e conhecimento.
Tais procedimentos envolvem ainda as tcnicas ou conjunto de tcnicas elaboradas por esta
sociedade, alm da interrelao com outros sistemas culturais (LEMONNIER, 1993).
Neste contexto, a produo de um artefato ltico est relacionado a uma cadeia de
procedimentos que envolvem a aquisio de matria-prima (por meio da coleta, extrao ou
importao), a reduo inicial ou preparao de ncleos (que contempla o uso imediato da
**
is always based mainly on the reorganization of elements already presente in the local (material) culture
(LEMONNIER, 1993, p.21-22).
152
matria-prima ou como base para produo de outros instrumentos), a modificao primria
(artefatos transformados em pr-formas ou em instrumentos simples) e/ou secundria
(artefatos retocados), o uso, a reciclagem e abandono deste artefato (DIAS & HOELTZ,
1997, pp.24-26).
Dessa maneira, para que possamos compreender sumariamente os processos
detalhados acima, observamos no material analisado o tipo de matria-prima utilizada como
base, os procedimentos tcnicos usados no processo de produo e, quando possvel,
colhemos informaes sobre os potenciais usos destes artefatos.
- Matria-prima
De acordo com Dias & Hoeltz (1997, p.28), o tipo de matria-prima disponvel
influencia a escolha dos procedimentos tecnolgicos posteriormente empregados. A variao
deste indicador depende das caractersticas da indstria a ser analisada e a disponibilidade da
matria-prima da regio. No stio foram identificados artefatos constitudos das seguintes
matrias-primas: slex, quartzo leitoso, quartzito, arenito (frivel e frrico), gnaisse e quartzo
policristalino. Na Tabela 22, possvel visualizar a porcentagem das matrias-primas
presentes no stio.
Tabela 22. Tipo de matria-prima identificada no stio.
Matria-prima Porcentagem
Slex 14,55%
Quartzo leitoso 3,64%
Quartzito 9,09%
Arenito frivel 41,82%
Arenito frrico 3,64%
Gnaisse 12,73%
Quartzo policristalino 14,55%
No Vale do Paraba Paulista, conforme apresentado no captulo 1 desta dissertao,
num raio de 10 km do stio Santa Marina, com exceo do slex, todas as matrias-primas
identificadas esto presentes na regio, ou seja, h oferta litolgica disponvel e suficiente
(BOCANEGRA, 1997).
O slex uma rocha sedimentar silicatada, presente em depsitos arenosos ricos em
cascalho, que geralmente so transportados em longas distncias pelos rios (CORRA,
153
2009). O fato desta matria-prima no estar presente no levantamento das rochas e minerais
apresentados no captulo 1 pode estar relacionado a dois pontos: devido sua formao
hidrotermal em cavidades de rochas baslticas (FILHO, 1999), muitas vezes, o slex, mesmo
que presente nos locais de uso, no perceptvel em levantamentos geolgicas devido
escala; sendo ausente na regio, essa matria-prima pode ter sido coletada e transportada de
outros locais.
Aps a identificao da matria-prima, as peas foram organizadas pelo tipo de
tecnologia utilizada para sua transformao em artefato. Esse processo permeado pela
execuo sistemtica de gestos mecnicos que alcanam sua
realidade tima mediante a apropriao conceitual em discurso
social regulamentado, reproduzido por meio de canais sociais de
aprendizagem, a fim de responder eficazmente a diferentes presses
eco-culturais e assegurar, desse modo, a continuidade do sistema
como fim nico da evoluo cultural
*
(BOCANEGRA, 1997, p.147).
Identificamos no stio artefatos lascados, polidos e brutos. Esta separao permitiu
organizamos os artefatos por meio de sua morfologia final, que envolve, como mencionado
anteriormente, o produto de uma cadeia de gestos, nos quais implicam decises
determinados e transmitidos culturalmente (DIAS, 1994, p.87).
- Artefatos lascados
O conjunto de artefatos lascados representa 22,22% do total de peas, constitudo por
lascas e fragmentos de lascas em slex e quartzo.
Em quase todas as peas, notamos o uso do lascamento unipolar (modificao
primria), realizado da seguinte maneira:
O arteso ou experimentador segura um bloco de matria-prima na mo
esquerda (a no ser se seja canhoto) e um batedor (tambm chamado
percutor) na mo direta. Escolhendo uma superfcie adequada (plano de
percusso), bate nestas para retirar uma lasca do bloco. (...) O ngulo
*
ejecucin sistemtica de gestos mecnicos que alcanzan su realidad ptima mediante la apropiacin
conceptual en discurso social reglamentado, reproducido por medio de canales sociales de aprendizaje, con el
fin de responder eficazmente a las diferentes presiones eco-culturales y asegurar, de este modo, la continuidad
del sistema como fin ltimo de la evolucin cultural
*
(BOCANEGRA, 1997, p.147).
154
entre o plano de percusso e a parte externa do bloco a ser lascado seja
igual ou inferior a 90 graus. (PROUS, 1991, P.65-66).
Em apenas duas peas observamos marcas de uso (ver Figura 60).
Figura 60. Lascas em slex com marcas de uso.
As lascas de gume cortante, de acordo com Dias (2012, p.148), teriam multifunes,
como instrumento para cortar e furar (por presso, percusso e toro) e para raspar,
aplainar e tornear artefatos produzidos em madeira ou outras matrias primas perecveis.
Nesta categoria, h tambm a presena de um nico ncleo. O ncleo (bloco de matria-
prima) preparado para que dele se possa tirar, uma ou uma srie de lascas. Um ncleo
debitado (ou mostrando uma ou duas cicatrizes) aquele do qual j se retirou uma ou vrias
lascas, que deixaram na superfcie, a ou as cicatrizes, resultantes da debitagem (LAMING-
EMPERAIRE, 1967, p.35), conforme aponta a Figura 61, abaixo.
Figura 61. Ncleo em slex, a seta vermelha indica as cicatrizes resultantes do processo de retiradas de lascas.
Ademais, notamos que na maior parte das peas no foi possvel identificar o crtex,
conforme detalha a Tabela 23.
155
Tabela 23. Tipo de crtex.
Crtex Porcentagem
>50% 26,19
<50% 28,57
Ausente 42,86
Total 2,38
Neste caso, a ausncia de peas com crtex pode indicar que a matria-prima sofreu
reduo imediatamente no local de aquisio ao ser transportada para o stio (DIAS &
HOELTZ, 1997). Assim, provvel que as primeiras etapas da cadeia operatria estavam
sendo realizadas fora da aldeia, nas reas de coleta de matrias-primas ou em reas de
atividades especializadas.
- Artefatos polidos
Os artefatos polidos representam 8,89% das peas resgatadas. Estes artefatos so
resultantes do polimento obtido ao esfregar uma rocha que se pretende polir sobre um
polidor fixo, em alguns casos, com auxlio de abrasivos (areia rica em silcio) e de
frequentes lavagens com gua (PROUS, 1991), possibilitando a regularizao das
superfcies destes artefatos por meio do atrito (SOUZA, 2008).
Neste stio, basicamente, os artefatos polidos so caracterizados por lminas de
machado, s quais esto associadas atividades de cultivo e manejo agroflorestal, uma vez
que so os principais artefatos usados no abate de rvores (DIAS, 2012). De acordo com
Prous (1991, p.78), so caracterizados por uma parte ativa, o gume, polido e biconvexo;
uma zona neutra, que atua por sua massa; enfim, uma zona de preenso.
Foram encontrados trs artefatos sem rocha bsica, sem crtex, apresentando em sua
parte prxima (extremidade oposta ao gume) marcas de utilizao com arredondamento,
assim como em uma de suas faces indicando outros usos da lmina. O bordo ativo tambm
apresenta desgaste e os flancos possuem um leve picoteamento (SOUZA, 2008).
156
Figura 62. Lminas de machado identificadas no stio.
- Artefatos brutos
Os artefatos brutos so preponderantes no acervo resgatado, totalizando 57,78% do
total. Estes artefatos so caracterizados por no terem sofrido atividades de preparo para
serem utilizados, mas apresentam marcas deixadas pelo seu uso, de forma involuntria
(PROUS, 2004; DIAS & HOELTZ, 1997).
De acordo com as atividades pelas quais estes artefatos foram submetidos, podem ser
classificados como ativos e passivos, sendo que os primeiros foram utilizados para a
aplicao ou ampliao da fora humana e os segundos so aqueles que apenas serviriam de
suporte para a aplicao de golpes ou presses (MOURA & PROUS, 1989; PROUS, 1986;
1991). Nesta categoria, podemos incluir os percutores unipolares, polidores manuais
(calibradores) e os aguadores ou afiadores.
- Percutores
Os percutores unipolares so constitudos de seixos em quartzo policristalino, com
desgaste (macerado difuso) nos cantos e nas reas perifricas (ver conjunto de Figura 63),
utilizados para lascamento unipolar.
157
Figuras 63. Tipos de percutores identificados.
- Polidores
Os polidores manuais so pequenos fragmentos, eventualmente seixos, esfregados
na superfcie de objetos a serem acabados ou afiados (PROUS, 1991, p.64). Observamos
nos artefatos analisados trs formas de utilizao:
- Polidores planos:
a) placa:
- uso de um dos lados da placa com desgaste cncavo.
Figura 64. Provvel polidor ativo, podendo ter sido utilizado para afiar gume de machado.
158
Figura 65. Artefato bruto com modificao no intencional provvel uso final, como polidor.
b) plaqueta:
- uso de uma ou duas faces da plaqueta gerando um polimento pela utilizao.
Figuras 66. Plaquetas com marcas de polimento.
No caso dos artefatos com bordos arredondados, poderiam ter utilidades muito
pontuais. No estudo realizado por Corra (2011) sobre a cadeia operatria de produo de
tembets em amazonita no sul do estado do Cear, as peas com bordos arredondados eram
utilizadas como ferramentas ativas. Nesse estudo, estas peas, constitudas por placas de
arenito, eram usadas como se fossem uma serra (ou lima circular) em movimentos de ir e
vir, desbastando as cinturas dos paralelogramas, destinadas a transformao em haste
prensil e de adorno (CORRA, 2011, p.230).
c) calibradores:
- uso formando uma ou mais canaletas.
159
Figuras 67. Calibradores em arenito identificados no stio.
Os calibradores so constitudos de pequenos blocos com um sulco profundo e reto,
dentro do qual eram esfregadas varas. O atrito obtido desgastava e regularizava seu formato
(...) So tambm chamados de afiadores, ou pedras com canaletas, podendo haver um ou
vrios sulcos na mesma pea (PROUS, 1991, p.65).
A anlise do material ltico demonstrou, portanto, que estamos diante de uma
produo tipicamente expediente ou informal (BINFORD, 1979, 1980, 1984;
ANDREFSKY, 1994). O material lascado (lascas simples e sem retoques), por exemplo, foi
produzido e utilizado com fins imediatos. J as lminas de machado demandariam maior
tempo para serem produzidas (devido a suas formas complexas e pr-concebidas
mentalmente), tendo uma vida til maior, pois passariam por procedimentos tcnicos de
reciclagem quando necessrio (SCHIFFER, 1972).
Neste captulo, buscamos entender os processos que envolveram a produo, o uso e
o descarte dos vestgios identificados no stio Santa Marina, a partir da anlise sistemtica
do conjunto artefatual cermico e ltico. Esse processo envolveu escolhas que so
influenciadas por um conjunto de conhecimentos (ou padres mentais rigorosos) pr-
estabelecidos que so transmitidos de gerao a gerao (NOELLI, 2008, p.37). Vimos,
alm disso, que estes processos envolvem mltiplas possibilidades de escolhas que, muitas
vezes, tornam os padres menos rgidos e passveis de alteraes ou inovaes
(LEMONNIER, 1993).
CAPTULO 5
A organizao social de uma sociedade,
em um momento dado, definida como o
conjunto de atividades, de aes e de
relaes humanas, de carter adaptativo
ou integrativo, ordenadas em uma
configurao social de vida.
Florestan Fernandes (1963)
161
5. OCUPANDO O VALE: A ORGANIZAO DO ESPAO TUPI NO VALE DO
PARABA PAULISTA
Nos captulos anteriores, por meio das fontes consultadas, constatamos que a
regio do Vale do Paraba Paulista abrigou uma populao altamente diversificada,
composta tanto por grupos indgenas pertencentes ao tronco lingustico Tupi quanto ao
tronco Macro-J.
Em nosso estudo de caso, a anlise dos vestgios identificados no stio
arqueolgico Santa Marina permitiu caracteriz-lo como resultado de uma ocupao
Tupi, mais precisamente, por grupos falantes das lnguas Tupinamb (Tupi antigo ou da
Costa/Litoral) ou Tupiniquim (Tupi de So Vicente ou Tupi do Campo).
Estas populaes, ao sarem da Amaznia, durante um longo perodo de tempo
percorrem centenas de quilmetros at adentrarem ao Vale do Paraba Paulista. Por l
estenderam domnios pela paisagem de forma contnua por meio de redes de aldeias que
se comunicavam e se interrelacionavam (NOELLI, 2004). Desse modo, no contexto
arqueolgico, no h depsitos arqueolgicos ilhados, sequer na periferia externa dos
territrios
*
Tupi (Ibidem, p.24).
Sendo assim, busca-se neste captulo, a partir da disposio espacial do stio
arqueolgico Santa Marina e de sua relao com os stios Villa Branca, Pedregulho e
Rio Comprido
1
, aliado configurao da paisagem Valeparaibana, caracterizar e
apresentar as possveis redes regionais existentes e a estrutura poltica e social de
alianas, sustentadas por intercmbios permanentes no Vale do Paraba Paulista.
Para isso, num primeiro momento apresentamos os processos que envolveram a
origem e disperso Tupi, enfatizando o estabelecimento destes grupos no Vale do
Paraba Paulista; em seguida, exibimos a configurao espacial (inter-stio) do stio
Santa Marina; logo aps detalhamos os aspectos scio-polticos que categorizam a
organizao dos espaos Tupi (teii, tekoh e guar) e; por fim, aplicamos os modelos
destas categorias nos stios arqueolgicos e, consequentemente, na paisagem
valeparaibana.
*
no hay yacimientos arqueolgicos aislados, ni siquiera en la periferia externa de los territrios
(NOELLI, 2004, p.24).
1
As caractersticas gerais destes stios foram detalhadas no segundo captulo.
162
5.1. Origem e disperso dos grupos Tupi e a ocupao do Vale do Paraba Paulista.
Segundo os estudos da lingustica histrica, o Proto-Tupi
2
teria se originado por
volta de 5.000 mil anos atrs (RODRIGUES, 1984). A descrio deste processo, que
ainda envolve a disperso
3
destas populaes pela Amrica do Sul (Brasil, Bolvia,
Argentina, Uruguai e Paraguai), relatada na arqueologia brasileira a partir de dois
modelos principais e coexistentes, baseados principalmente na distribuio da cermica
e nas informaes histricas sobre a localizao geogrfica dos povos de lngua Tupi.
O primeiro modelo pressupe o surgimento destes grupos na divisa entre o
Brasil e a Bolvia, a leste do rio Madeira (MEGGERS & EVANS, 1972, 1973, 1979); o
segundo, na Amaznia Central, partindo da confluncia dos rios Amazonas e Madeira
(LATHRAP, 1970; BROCHADO & LATHRAP, 1980; BROCHADO, 1984, 1989;
NOELLI, 1993, 1996).
No tocante ao processo de disperso destas populaes, o modelo de Meggers e
Evans (MEGGERS et al. 1988) estabelece a migrao Tupi-guarani no sentido norte-
sul, at alcanarem o Paraguai, onde se dividem, sendo que os primeiros vo para o sul
pelo rio Paraguai at a bacia do Paran/Uruguai, enquanto os segundos seguem a leste,
pelo rio Paranapanema at atingirem o litoral, onde avanam para o norte e nordeste do
pas (ver Figura 68).
2
O Proto-Tupi uma lngua ancestral que deu origens 10 famlias lingusticas (Tupi-Guarani, Awet,
Maw, Munduruk, Jurna, Arikm, Tupar, Ramarma, Mond e Purubor) (CORRA-DA-SILVA,
2010). Destas, a nica que se dispersou continentalmente foi a Tupi-Guarani.
3
Com relao ao processo de disperso dos grupos Tupi, a partir dos conceitos de Migrao e Expanso,
ver discusso entre Noelli (1996), Viveiros de Castro (1996) e Urban (1996).
163
Figura 68. Modelo de disperso Tupi de acordo com Meggers e Evans (mapa modificado a partir de
MEGGERS et al. 1988).
Para Lathrap e Brochado, a expanso Tupi-Guarani teria seguido rotas diferentes
entre os Tupinamb e os Guarani. Os Tupinamb teriam avanado no sentido leste do
territrio brasileiro, at alcanarem a foz do rio Amazonas, depois no sentido sul pelo
litoral; os Guarani subiram o rio Madeira a oeste e desceram rumo ao sul do rio da Prata
(ver Figura 69).
164
Figura 69. Em lils, centro de origem da cermica Tupi. A rea hachurada lils possui antecedentes
relacionados cermica Tupi; em azul, rea com informao arqueolgica e histrica da ocupao
Tupinamb; e em vermelho, a ocupao Guarani (mapa retirado de MELLO & KNEIP, 2006, p.5).
Nas ltimas dcadas, inmeras pesquisas vm sendo realizadas sobre a questo
da origem/disperso dos Tupi (SCATAMACCHIA, 1990; HECKENBERGER et al.
1998; CORRA & SAMIA, 2006; CORRA, 2009; no prelo; MILLER, 2009; dentre
outros), permitindo a retificao ou readequao dos dois modelos propostos
(CORRA, no prelo).
Nesse mbito, destacam-se os estudos da lingustica histrica (RODRIGUES,
1958, 1964, 2000; 2010; URBAN, 1992; MELLO & KNEIP, 2006; CORRA-DA-
SILVA, 2010; DIETRICH, 2010), pois permitem analisar e comparar sistematicamente
lnguas que poderiam ter tido uma origem comum (CORRA, no prelo) alteradas no
decorrer do tempo de uma s lngua anterior (RODRIGUES, 1986). Dentre estes
estudos, destacamos o trabalho realizado por Mello & Kneip (2006), onde os autores
propem algumas modificaes nos modelos vigentes, principalmente ao introduzir a
165
ideia dos movimentos de fluxo e refluxo
4
no processo de disperso (CORRA-DA-
SILVA, 2010) (ver Figura 70).
Figura 70. Em roxo, centro de origem do tronco Tupi; a seta amarela, mostra o deslocamento dos falantes
que originaram famlia Tupi-guarani; em verde-escuro, centro de origem da famlia Tupi-Guarani; a seta
verde-claro, mostra a volta de um ramo da famlia Tupi-Guarani para rea proto-Tupi; em azul, expanso
Tupinamb; em vermelho, expanso Guarani (mapa retirado de MELLO & KNEIP, 2006, p.5).
As proposies de Mello & Kneip (2006) de forma geral corroboram com as
ideias de Lathrap e Brochado quanto aos processos de disperso Guarani pela bacia do
Paraguai/Paran e dos Tupinamb pelo litoral no sentido norte-sul. Sendo assim, parece-
nos mais plausvel e completo (NOELLI, 1996) o modelo proposto por Brochado
(1984) quanto os processos de disperso Tupinamb pelo litoral Atlntico (sentido
norte/sul).
4
De acordo com Mello & Kneip (2006, p.8), alguns subconjuntos de lnguas Tupi-Guarani teriam
voltado rea de disperso dos proto-Tupi. Colocar a rea de disperso Tupi-Guarani em regio diferente
da de origem dos proto-Tupi pressupe um movimento de fluxo e refluxo de alguns grupos Tupi. Teria
acontecido um movimento Tupi-Guarani para o leste amaznico e depois um movimento de volta das
lnguas que atualmente se encontram em Rondnia.
166
5.1.1. Chegando ao Vale: os Tupi no vale do Paraba Paulista
De acordo com o modelo proposto por Brochado (1984) a disperso Tupinamb
se estabeleceu a partir de uma lgica de colonizao dos espaos atravs dos principais
cursos fluviais. Este movimento sempre foi motivado por causas especficas e centrado
em ambientes florestais (DIAS, 2003, p.167). neste processo, ao longo do tempo, que
os Tupinamb chegam ao Vale do Paraba, provavelmente subindo o rio Paraba do Sul,
onde se espalham por toda regio, do campo floresta, do litoral ao serto.
Na Figura 71 apresentamos a disperso e ocupao do Vale do Paraba de acordo
com o modelo proposto por Brochado (1984).
Tupiniquim
Tupinamb - Tamoio
Figura 73. Localizao dos Tupinamb (e Tamoio) e Tupiniquim pelo vale do Paraba Paulista.
De forma geral, Tupinamb e Tupiniquim predominaram na regio do Vale do
Paraba, onde estabeleceram uma relao conflituosa baseada no dio imemorial
(MONTEIRO, 2001). Os Tupiniquim (aliado dos portugueses) so referenciados junto a
So Vicente e em alguns aldeamentos paulistas como os de So Miguel, Nossa Senhora
dos Pinheiros e Itaquaquecetuba (PETRONE, 1995).
De acordo com Prezia (2010) o termo Tupiniquim (Tupinakim/Tupinikim) est
praticamente ausente nas fontes primrias dos sculos XVI e XVII. Ainda segundo o
autor, este etnnimo encontrado entre os cronistas que conviveram com os
Tupinamb, tanto no Rio de Janeiro, quanto na regio de Ubatuba/Angra dos Reis
(Ibidem, p.156).
Para Teodoro Sampaio, o termo Tupiniquim corresponderia ao colateral do
Tupi ou tio afim. Knivet (1947), por sua vez, traduz o vocbulo guarani aqui/qu
como cosa floxa, tierna. Prezia (2008, p.161) aponta que este etnnimo poderia ter
um significado pejorativo, o de tupi frouxo.
Na poro de ocupao Tupiniquim a documentao dos sculos XVI e XVII
apresenta um nmero maior de referncias ao etnnimo Tupi. Prezia (2000) afirma que
o etnnimo seria uma autodenominao, pois estas populaes provavelmente estariam
170
se referindo a si como a raiz, a origem. Seria talvez uma forma de se contraporem a
seus vizinhos e inimigos, os Tamuya/Tamoio, cujo nome significa av (Ibidem,
p.162).
Atualmente, o vocbulo tupi passou a designar o tronco lingustico e os falantes
desta lngua (RODRIGUES, 1986). Para Prezia (2000, p.163), o etnnimo Tupi deve
ser utilizado para os moradores do planalto e de So Vicente, e Tupiniquim para os
moradores do Vale do Paraba, Esprito Santo, Ilhus e Porto Seguro. Nesse sentido,
tanto Tupiniquim quanto Tupi, de acordo com Rodrigues (2000), tiveram contato maior
com os grupos do Ramo II da famlia Tupi-Guarani, mais precisamente, com os falantes
do Guarani. Para o autor,
os ltimos a chegarem no alto Tiet, os do grupo que havia
mantido maior contacto com o II, teriam a partir da transposto a
Serra do Mar e descido para o litoral paulista, onde os encontraram
os portugueses no sculo XVI, que os ficaram conhecendo sob o
nome Tup, usado pelo Pe. Anchieta e outros que na poca
estiveram em So Vicente e em Piratininga; pelo alemo Hans
Staden foram chamado de Tupinikn (TuppinIkin) (...) Embora a
lngua dos Tupinamb e a dos Tup sejam muito prximas, a dos
ltimos compartilha com o II certas caractersticas que no se
encontram no Tupinamb (RODRIGUES, 2010, p.1601).
No caso dos Tupinamb ou Tamoios, h uma farta documentao
8
que aponta
para sua presena pela regio e, segundo Buarque (1999, p.310), no perodo da chegada
do colonizador, esse grupo reinava absoluto em quase toda a extenso, presente desde
o Cabo So Tom at Angra dos Reis, passando pelo Vale do Rio Paraba do Sul, uma
das vias de penetrao por ele utilizada.
A identificao de alguns relatos precisos da localizao de algumas regies
de domnio Tupinamb permitiu que alguns stios arqueolgicos fossem associados
diretamente a tais ocupaes. Para citarmos alguns exemplos: stio Aldeamento
Tupinamb de Morro Grande, no municpio de Araruama, Rio de Janeiro (BUARQUE,
1999) e stio Itagu, em Ubatuba, litoral de So Paulo (UCHA et al. 1984).
8
Esta bibliografia corresponde principalmente s crnicas e outros documentos dos sculos XVI e XVII,
como aqueles escritos por Anthony Knivet, Hans Staden, Gabriel Soares de Sousa Manuel da Nbrega,
Jos de Anchieta entre outros.
171
luz dos pontos apresentados, o Vale do Paraba foi ocupado
predominantemente pelas populaes Tupinamb e, em sua periferia, pelos Tupiniquim.
Cabe salientar que, neste ponto, tais definies no so rgidas, uma vez que
Tupinamb e Tupiniquim representam, assim como os Guarani (DIAS, 2012, p.126),
diversas populaes com variaes dialticas na prpria lngua Tupinamb. O mais
apropriado talvez seja pensar em um conjunto multicomunitrio formado por redes de
aldeias onde no h um limite palpvel e nem definitivo. Para Fausto (2008, p.384), um
dia poder-se-ia estar de um lado, no dia seguinte do outro inimigos (e cunhados) eram
justamente tobojara; os do outro lado.
Para Susnik (1994, p.5), por exemplo, os territrios tribais no eram estticos,
j que sempre havia mobilidade migratria e a presso expansiva de grupos tnicos
belicosos, existindo zonas com grande potencial ecocultural e tambm zonas de simples
refgio
*
. Essas caractersticas esto diretamente relacionadas aos padres de
assentamento destas populaes, que corresponde relao entre organizao social e
padro residencial (DIAS, 2003), como veremos a seguir.
5.2. Organizao espacial do stio Santa Marina: apontamentos preliminares
A anlise do conjunto artefatual cermico e ltico proveniente do stio
arqueolgico Santa Marina permitiu identificarmos parte da cultura material produzida,
utilizada e descartada pelos indivduos que habitaram este local.
Esta materialidade, ou melhor, o que sobrou dela no contexto arqueolgico
(SCHIFFER, 1972), composta por inmeras vasilhas cermicas, artefatos lticos, alm
de outros elementos que possibilitam compreender as dinmicas do uso espacial no
contexto de uma variedade de componentes sociais (gnero, grupos, grupos domsticos
por idade e grupos de conversa), ambos em nvel local e regional
**
(SILVA, 2008,
p.257).
*
los territorios tribales no eran estticos ya que siempre haba movilidad migratoria y la presin
expansiva de grupos tnicos belicosos, existiendo (...) zonas con gran potencial eco-cultural y tambin
zonas de simples refugio. (SUSNIK, 1994, p.5).
**
dynamics of spatial use in the context of a variety of social components (gender, groups, domestic
groups of age and talks groups) both at the local and regional level (SILVA, 2008, p.257).
172
Para entendermos essa dinmica, necessrio distribuir espacialmente os
artefatos presentes no stio, de acordo com sua localizao, permitindo, assim,
identificar padres de distribuio espacial (HODDER & ORTON, 1976; ORTON,
1982). Da mesma maneira, possibilita interpretar a organizao social no espao
(HODDER, 1989) e identificar locais de atividades especficas (activity loci).
Cabe ressaltar que os trabalhos de campo realizados no stio em questo no
visaram a uma amostragem da totalidade da disperso dos vestgios. No entanto, as
escavaes pontuais, principalmente sobre as manchas de terra preta, e a identificao
de estruturas (enterramento e combusto) e outros artefatos (resduos produtivos,
calibradores etc.) permitem fazermos uma leitura, mesmo que parcial, da composio
espacial do stio, assim como a inferncia mais acurada do sistema cultural, a partir
destes resqucios (TRIGGER, 2004, p.350).
5.2.1. As manchas de terra preta na configurao espacial do stio Santa Marina
As machas de terra preta ou solo antropognico dizem respeito a reas de
habitao e seu respectivo cinturo envoltrio, correspondentes a uma nica ocupao,
contrariando os ditames dos pronapianos, que postulavam para cada ncleo de solo
antropognico o estatuto de um stio-habitao (MORAIS, 1999-2000, p.207).
No contexto amaznico, os solos antrpicos so conhecidos como Terra Preta
do ndio (TPI), concentram alto teor orgnico (SMITH, 1980; WOODS, 2003) e so
considerados a papel chave na estruturao do nosso entendimento do passado e
presente da Amaznia
*
(ERICKSON, 2004, p.457). Entretanto, no h consenso claro
e definitivo entre os arquelogos quanto a identificao e correspondncia espacial e
temporal dos solos antrpicos. A certeza que se tem que esto sempre associados
com atividades humanas em stios e paisagens
**
(Ibidem, p.460). Sabe-se tambm que
a terra preta est quase sempre associada a artefatos compostos por fragmentos de
cermica, material ltico, ossos, carves, etc., interpretada na maioria das vezes, como
fundos de habitao (KENT, 1987) ou resqucios das prprias habitaes.
*
key role in the structuring of our under standing of past and present in Amazonia (ERICKSON,
2004, p.457).
**
associated with human activities on sites and landscapes (Ibidem, p.460).
173
De acordo com Prous (1991, 378-379) as manchas de terra preta se apresentam
sem ordem, em razo de reocupaes sucessivas que mascaram a disposio original,
formando figuras geomtricas semicirculares, elpticas ou retangulares. Erickson
(2003), em seus estudos realizados no contexto amaznico, demonstra, por meio de
inmeros exemplos, como os processos formativos naturais (intemperismo, eroso,
sedimentao e a ao de agentes biolgicos como fungos, bactrias e insetos) e
culturais (atividades de produo, uso e descarte dos itens materiais e que resultam
numa determinada configurao do registro arqueolgico) atuam na formao dos solos
antrpicos. Estes processos, denominados por Schiffer (1972, 1975) de C-transform e
N-transform, alteram tambm a disposio, as dimenses e integridade fsica das
manchas de terra preta.
Essencialmente, a formao destas manchas est relacionada provavelmente ao
descarte de artefatos fora do local de uso, nas adjacncias das reas de atividades
(refugo secundrio), ao contrrio do material descartado em seu local de uso (refugo
primrio) (SCHIFFER, 1972). Neste caso, os refugos secundrios podem ser de
natureza discreta (que esto prximos das unidades residenciais ou das reas de
atividade) ou concentrados em reas especficas do assentamento, o que resulta na
limpeza peridica e transporte dos vestgios advindos de diferentes reas de atividades
(SCHIFFER, 1987; DEBOER & LAPHRAP, 1979 apud GOMES, 2008, p.74).
No stio Santa Marina h duas reas que indicariam locais de atividades
especficas: a primeira, localizada ao norte do stio, sobre uma das manchas de terra
preta onde se concentram a maior parte dos polidores manuais (calibradores)
identificados; na poro sul, acumulam-se a maioria dos resduos produtivos (bolotas de
argila) (ver Figura 74). Neste caso, estas atividades estariam relacionadas ao refugo
real, se consideramos que foram descartados no mesmo local de uso. Entretanto, no
sabemos se de fato estes artefatos tenham sido abandonados in situ ou se dispostos nas
adjacncias das reas de atividades, constituindo um refugo secundrio. Junto aos
polidores manuais e aos resduos produtivos, identificamos grandes bolses de cermica
diminutas
9
. Neste caso, sabe-se que a diminuio do tamanho dos artefatos pode
evidenciar atividades de limpeza e depsito secundrio, ou ainda a fragmentao por
9
Cabe lembrar que cerca de 20% do total de peas presentes no stio apresentam dimenses inferiores a 2
cm.
174
pisoteamento em solos de habitao ou reas de circulao (DEBOER & LATHRAP,
1970; SILVA, 2000 apud GOMES, 2008, p.74).
Ainda com relao aos refugos, h os refugos de fato, que correspondem aos
instrumentos deixados em uma rea de atividade caracterizada pela presena de
artefatos grandes e/ou inteiros, geralmente em pouca quantidade, em relao aos demais
refugos (SCHIFFER, 1972; 1983). No caso do stio Santa Marina, a presena de 3
estruturas de combusto
10
e uma urna funerria corresponderia aos refugos de fato por
no terem sido descartados, mas abandonados em seus locais de uso.
A Figura 74 indica a localizao dos resduos produtivos, das estruturas de
combusto (fogueiras), da estrutura funerria (urna) e os polidores manuais
(calibradores).
1
Mancha de terra preta
Concentrao
de resduos
produtivos
Concentrao de
polidores manuais -
calibradores
Estrutura de
fogueiras e
urna funerria
Figuras 74. Croqui esquemtico dos locais de maior concentrao de resduos produtivos (seta vermelha) e polidores
manuais (seta azul). A seta verde indica o local de identificao de uma urna funerria e trs estruturas de combusto
(fogueiras).
10
De acordo com Robrahn-Gonzlez & Zanettini (1999, p.79-81) estas estruturas corresponderiam a reas
com concentrao de carvo e terra preta, por vezes rodeadas por pedras com aproximadamente 50 cm de
dimetro.
175
As manchas de terra preta adquirem um papel importante para o processo de
compreenso da formao do registro arqueolgico do stio, uma vez que podem estar
associadas a trs modelos de constituio:
1) modelo de sambaquis baseado em atividades antrpicas no
intencionais relacionadas a residncias permanentes e
acumulao de refugos domsticos; 2) modelo agrcola baseado
em atividades antropognicas intencionais relacionadas a
agricultura semi-permanente, implicando em limpeza e queima de
vegetao; 3) modelo de construtores de montes, baseado em
atividades antropognicas intencionais relacionadas
transformao de solos para campos e morros sobrelevados
*
(KNMPF et al. 2003 apud ERICKSON, 2004, p.477).
Ressaltamos que, apesar de os modelos de Erickson terem sido formulados a
partir de estudos do contexto amaznico, algumas prticas que resultam na formao da
terra preta tambm esto presentes em contextos de grupos Tupi. Dentre os Asurini, por
exemplo, Silva (2000, p,59) identificou que
a dinmica do descarte ocorre em consonncia com os processos de
limpeza das reas de atividade. Com certa periodicidade, as reas
de cozinha e de descanso so varridas e uma grande e variada
quantidade de materiais depositada nas reas de descarte (p.ex.
cacos de cermica, restos de alimentos, objetos de cestaria,
materiais industrializados etc.). Essa concentrao de materiais nas
reas perifricas da aldeia pode ser feita de forma intensiva,
resultando em verdadeiros montculos de lixo ou, ento, de forma
extensiva, fazendo com que os vestgios fiquem espalhados no
solo, como resultado da ao de animais ou dos prprios Asurini.
Algumas vezes, possvel observar a presena de vegetao
cobrindo as aglomeraes de lixo (...) Os Asurini tambm
costumam incinerar periodicamente os materiais depositados nas
reas de descarte, o que tambm resulta em acmulo de cinzas
nesses locais. Cabe salientar que com o constante acmulo de
materiais orgnicos e o frequente uso do fogo nas reas de descarte,
estas passam a apresentar um solo de colorao escura que se
distingue do solo muito compactado e de cor amarelada que se
*
1) midden model based on unintentional anthropic activities related to permanent settlements and
the accumulation of domestic refuse; 2) agricultural model based on intentional anthropogenic
activities related to semi-permanent agriculture involving clearing and burning of vegetation; 3) mound
builder model based on intentional anthropogenic activities related to transformation of soils for raised
field sand mounds (KNMPF et al 2003 apud ERICKSON, 2004, p.477).
176
observa nos demais espaos da aldeia, especialmente naqueles em
que so realizadas as atividades cerimoniais e pblicas.
Nesse sentido, provvel que as manchas de terra preta estivessem, de fato,
relacionadas s habitaes presentes na aldeia. Para o contexto Tupi, h inmeros
trabalhos onde os ncleos de solo antrpico so presentes (como aqueles desenvolvidos
por PALLESTRINI, 1975, 1984; PALLESTRINI & MORAIS, 1983/1984, MORAIS,
1999-2000; MORAES, 2007, entre outros) e interpretados dessa maneira.
Dentre os trabalhos que apresentaram uma configurao espacial composta por
inmeras manchas de terra preta, destaca-se o relativo ao stio Aldeia Queimada Nova,
localizado na cidade de So Raimundo Nonato, Estado do Piau.
Densamente escavado por Meggers e Maranca na dcada de 1970, este stio
apresentou diversas manchas que se agrupam ao redor de uma praa central, aliadas a
algumas concentraes de materiais. De acordo com Prous (1991, p.379), estas
concentraes formam crculos de trs a quatro metros de dimetro, isolados no meio do
crculo formado pelas grandes manchas ovais; em suas imediaes, aparecem
concentraes de material ltico, caracterizando unidades distintas e distribudas no
espao (ver Figura 75).
Em outra hiptese, provvel a existncia de uma diviso maior da aldeia em
duas metades (ocidental e oriental), onde morariam famlias exogmicas matrilocais,
uma vez que os padres de decorao da cermica so, s vezes, privativos de uma
maloca ou de uma metade (Ibidem, p.387). De acordo com Prous (1991, p.387), as
mulheres que tradicionalmente cuidam da decorao da cermica na vertente atlntica
da Amrica meridional. Portanto, a ausncia de difuso de um padro de uma casa para
outra indicaria a permanncia das mulheres, mesmo depois de casadas, na casa dos
pais.
177
Figura 75. Planta da Aldeia da Queimada Nova (Modificado a partir de MARTIN, 1999).
Com relao ao stio Santa Marina, a disposio das manchas identificadas
11
,
formam duas reas com pequenos espaos vazios: a primeira, ao norte, composta pelas
manchas de nmero 13 ao 18; a segunda, ao sul, formado pelas manchas 1, 3-9,
conforme ilustra a Figura 76.
1
2
6
4
5
7
18
17
16
15
14
13
12
11
10
9
8
Mancha de terra preta
3
Figura 76. Planta do stio Santa Marina distribuio das manchas de terra preta.
11
Cabe lembrar que as manchas, a princpio, foram identificadas por meio de fotos areas, as quais so
interpretadas a partir de dados observados na superfcie do terreno. Trata-se de reconhecer marcas no
solo ou alteraes feitas na paisagem, deixadas por ocupaes humanas pretritas (ROBRAHN-
GONZLEZ & ZANETTINI, 1999).
178
Essa morfologia muito semelhante a uma das aldeias Arawet descritas por
Viveiros de Castro (1986). De acordo com o autor, essa aldeia
se constitui como uma constelao de ptios (comuns), ou grupos
de ptios, maiores, que so a unidade padro da sociabilidade
cotidiana. Estas sees ou blocos residenciais parecem ter como
modelo, ou forma tendencial, em termos do ciclo de
desenvolvimento do grupo domstico, a famlia extensa uxorilocal.
Mas os arranjos efetivos so muito variados; as fronteiras de cada
seo so fluidas, e o grau de incluso de diferentes casas em um
mesmo hik ou conjunto de ptios contguos depende do contexto e
do ponto de vista de quem classifica. H algumas casas que no
dividem (ou somam) seu ptio com outras; e h famlias extensas,
que agem unitariamente, em outras situaes, dispersas pela aldeia
(Ibidem, p.278).
Para exemplificarmos, a Figura 77 ilustra a morfologia da aldeia descrita por
Viveiros de Castro (1986). Nesta aldeia, o autor faz as seguintes observaes:
concentrao das casas 7-10 em torno de um mesmo ptio, e assim tambm para o
grupo 14, 16-20. As casas de 1 a 6 apresentavam-se desorientados ou autnomas,
como a 15, 11-12, e 13. O espao central entre as casas 1, 2, 4, 11 e 15 era o ptio do
xamanismo do cauim doce (Ibidem, p.281).
Figura 77. Planta da Aldeia Arawet, 1982 (modificado a partir de VIVEIROS DE CASTRO, 1986).
179
Alm destes elementos apresentados, na extremidade da mancha 18 foram
identificadas trs marcas de negativos de esteios, medindo 20 cm de dimetro e 120 cm
de profundidade. Eles se mantm alinhados de forma paralela, sendo que dois esto
mais prximos, distantes 3 metros entre si e o terceiro 9 metros em relao aos dois
primeiros (ZANETTINI ARQUEOLOGIA, 2010a). Tais esteios, ou suas marcas, so
raras de serem encontrados (PROUS, 1991). Poderiam ser utilizados tanto para
sustentao para as habitaes como tambm para as redes, sendo que os espaos de
trs metros marcariam a distncia entre duas famlias nucleares vizinhas (Ibidem,
p.382).
De acordo com Assis (1996), o problema em compreender a relao que se
estabelece entre as manchas de terra preta e as reas habitacionais est em relacionar
estaticamente a morfologia das manchas com as casas, uma vez que estas no
correspondem planta baixa das casas descritas historicamente. necessrio, portanto,
ao correlacionar esses dados, levar em considerao uma srie de eventos, desde o
abandono e destruio das casas at a configurao atual do stio arqueolgico que
afetariam a conformao desta planta baixa e modificariam os contornos originais.
Nesse ponto, os trabalhos etnoarqueolgicos, desenvolvidos por Moi (2003;
2007) com os ndios Xerente no Estado de Tocantins, demonstram o constante
movimento de expanso e contrao das aldeias, gerando uma variabilidade
considervel no mbito dos tamanhos dos assentamentos habitacionais. De acordo com
a autora, a disposio das unidades habitacionais est em lenta e contnua
movimentao, o que acaba por gerar mudanas considerveis no registro arqueolgico
que incorpora esses movimentos, misturando as evidncias materiais de tempos
diferenciados. Dessa forma, o resultado final uma rea maior do que aquela
apresentada no cotidiano com um aumento ou diminuio de reas e populaes
mascarando os padres de organizao espacial e de utilizao interna dos
assentamentos.
Essas caractersticas, aliadas a situaes imprevistas, como a destruio
acidental de parte da casa, poderiam levar a solues emergenciais, em alguns casos, as
novas casas poderiam ser feitas com o reaproveitamento das estruturas arquitetnicas
bsicas, como o uso dos esteios. Neste caso, as plantas retangulares, como ocorrem no
180
caso dos Tupinamb, teriam contornos mais arredondados no registro arqueolgico aps
passarem pelos inmeros processos deposicionais existentes (ASSIS, 1996, p.56).
Voltando ao stio Santa Marina, nota-se que algumas das manchas esto bem
prximas e outras se sobrepem parcialmente (manchas 16 e 17, por exemplo), esse
ponto importante para refletirmos sobre a concomitncia temporal das manchas na
aldeia. Para isso, utilizamos 2 dois mtodos de dataes: radiocarbnicas (C14) e
termoluminescncia (TL).
Foram realizadas 12 dataes no total, sendo 2 por meio da C14 (Beta Analytic
Radiocarbon Dating Laboratory) e 10 pela TL (Datao, Comrcio & Prestao de
Servios LTDA). Os resultados so apresentados nas Tabelas 24 e 25 e ilustrados na
Figura 78 (barra cronolgica).
Tabela 24. Detalhamento das dataes em C14.
Cdigo
LVD
Localizao Material Idade
convencional
Idade
calibrada
118822 Quadra 45, lote
03
Carvo 490 +- 50 BP cal AD
1400 a 1475
118823 Quadra 46, lote
06
Carvo 490 +- 50 BP cal AD
1400 a 1475
Tabela 25. Detalhamento das dataes em TL.
Nmero
da amostra
Localizao Profundidade Material Dose anual
(uGy/ano)
Dose
acumula
da (Gy)
Idade
Calibrada
2468 UE927-7 10 20cm Cermica 5.400 500 3,8 700 100
2469 UE92-41 20 30cm Cermica 4.700 350 2,92 600 80
2470 UE91-4 50 60 cm Cermica 3.200 350 2,67 830 130
2471 UE92-41 90 100 cm Cermica 3.300 450 3,02 900 170
CA00 Setor II 0 20 cm Cermica 3.750 615 1,53 410 85
CA01 Setor II 0 20 cm Cermica 3.570 470 2,63 740 135
CA02 Setor II 0 20 cm Cermica 3.060 140 2,10 690 65
CA03 Setor III 0 20 cm Cermica 3.035 315 2,08 685 100
CA04 Quadra 42
Lote 14
0 20 cm Cermica 3.200 730 2,24 700 150
CA05 Setor V 0 20 cm Cermica 3.130 315 1,90 610 90
181
900 950 1000 1050 1100 1150 1200 1250 1300 1350 1400 1450 1500 1550 1600
C14
C14
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
Dataes stio Santa Marina
Figura 78. Quadro de dataes do stio Santa Marina.
De acordo com os resultados das dataes, teramos um perodo de ocupao
que se inicia no sculo X e vai at o sculo XVII, ou seja, quase sete sculos de
ocupao. Entretanto, como demonstra a barra cronolgica, das 12 datas, 9 delas
compreendem um perodo que se inicia no sculo XIV, perdurando at os primrdios do
sculo XVI.
Na Figura 79, dividimos o stio em duas pores: a primeira contempla as
manchas 10 a 18, as quais formam um pequeno semicrculo, de onde advieram 6
amostras para datao; a segunda abrange as manchas 1 a 9, formando da mesma forma
outro semicrculo, de onde tambm foram coletadas 6 amostras.
Para cada poro, as datas com idades prximas foram condensadas. Assim,
teramos na poro A, datas que vo do incio do sculo X ao final do sculo XV. Na
poro B, as datas vo do incio da primeira metade do sculo XII a segunda metade do
XVII, conforme ilustra da Figura 79.
182
1137
1475
1527
1687
1162
1462
1227
1492
940
1310
1210
1490
1500
1000
1100
1200
1300
1400
1475
1400
1600
A
.
D
.
N
Datas: 1137 1687
Sculo XII ao XVII
Datas: 940 1492
Sculo X ao XV
A
B
Figura 79. Quadro de dataes do stio Santa Marina distribudas espacialmente.
De maneira geral, podemos avaliar que as datas, ao serem distribudas pela
extenso do stio, nos mostram uma similaridade temporal da ocupao desta aldeia. Os
nuances cronolgicos, para mais (1527 1687) e para menos (949 1310), podem estar
relacionados a um palimpsesto, que corresponde, a um processo de sucessivas
ocupaes (e sobrepostas) de um mesmo lugar (BINFORD, 1981).
5.3. Perspectivas para um modelo de organizao social do espao Tupinamb
As sociedades Tupi possuam uma srie de espaos construdos que mantinham
um modo de ser (MELI, 1981). Esses espaos compreenderiam alm da aldeia,
abrigos de roa, de caa, pesca, porto das canoas etc., compondo um territrio de
domnio (ASSIS, 1996).
183
Para compreenso desta organizao, Noelli (1993), baseado em Tesoro de La
Lengua Guarani, escrito por Montoya entre 1612 e 1617, prope um modelo que busca
dar subsdios histricos e arqueolgicos para interpretao de aspectos espaciais das
estruturas do assentamento Guarani e sobre as estratgias de captao de recursos para a
subsistncia e elaborao da cultura material (DIAS, 2003, p.168). Com o mesmo
objetivo, Assis (1996, p.7) prope um modelo para interpretar a forma de como os
Tupinamb organizavam seu espao de vida, a partir da deteco dos espaos de
atividades cotidianas.
Por meio destas propostas (tanto para os Guarani quanto para os Tupinamb),
buscamos interpretar, a partir da disposio dos stios arqueolgicos associados a
ocupaes Tupinamb na paisagem (Santa Marina, Villa Branca, Rio Comprido e
Pedregulho), a organizao social do espao na rea de estudo, conforme ilustra a
Figura 80.
Stio Villa Branca
Stio Pedregulho
Stio Rio Comprido
Stio Santa Marina
0 3000 6000 9000
Municpio de Jacare
Figura 80. Croqui esquemtico dos stios Tupinamb localizados na rea de estudo.
184
Neste ponto, a insero dos demais stios (Villa Branca, Pedregulho e Rio
Comprido) discusso permite avanarmos no entendimento de como estas populaes
se organizavam no espao, uma vez que os stios arqueolgicos raramente se encontram
isolados (NOELLI, 2004), pois fazem parte de uma estrutura poltica e social de
alianas. Todavia, entendemos que estas proposies so genricas, uma vez que,
para avanarmos nestas questes, seria necessria a anlise minuciosa e aprofundada
dos stios supracitados, assim como um quadro de dataes mais apurado destas
ocupaes para estabelecermos comparaes mais precisas.
5.3.1. Breve definio dos conceitos Teii, Tekoh e Guar
O teii corresponde representao concreta da macrofamlia ou linhagem, sendo
designada de teii oga a casa onde viviam e amund o local onde se encontrava a rea da
aldeia central.
As famlias que compunham um teii eram formadas em mdia por 6 pessoas,
onde a poligamia era, aparentemente restrita a uma posio de prestgio no mbito da
aldeia. Uma teii oga poderia abrigar at 60 famlias nucleares, podendo as aldeias de
grande porte possuir at 6 teii oga, sendo habitada por, aproximadamente, 2000
pessoas (DIAS, p.170).
Os teii formavam um tekoh, ou tecoaba para os Tupinamb, composto por um
jogo de espaos distintos, formado pela aldeia, pelas roas (cog) e pela vegetao
circundante (caa). Nesta estrutura,
as roas (cog) iniciavam-se fora do permetro da aldeia,
localizando-se a diferentes distncias, de acordo com sua
antiguidade. Alm das roas, inicia-se o espao das matas,
genericamente denominadas caa, no qual situam-se as reas de
pesca, coleta e caa e as jazidas litolgicas e de argila. Neste
tambm esto outras reas de manejo que podem refletir antigas
ocupaes ou a preparao para futuros assentamentos, levando a
crer que o raio de ao do ambiente humanizado estendia-se por
muitos quilmetros a partir da sede do tekoh (NOELLI, 1993,
p.266).
185
Os tekoh mantinham-se atravs de uma rede de parentesco entre povoados e
grupos familiares. De acordo com (Meli, 1986, p.195) o tekoh significa e produz ao
mesmo tempo relaes econmicas, relaes sociais e organizao poltico-religiosa,
essenciais para a vida
*
. Esta estrutura sustentava o modo de ser Tupi, chamado de
ande Reko
12
. A unio de diferentes tekoh formava um guar. De acordo com Meli
(1987, p.84), o guar constitua a conscincia da unidade e identidade scio-cultural-
regional, reforada e estabelecida pela unio de aes e a solidariedade de condutas.
Para Dias (2012, pp.130-131) o guar assegurava o direito do usufruto da terra
para o uso exclusivo de seus habitantes, representado pela prtica da roa e pela
independncia das reas de pesca e caa. A manuteno destes territrios era feita a
partir das alianas entre vrias aldeias por meio dos laos de parentesco e reciprocidade.
Nesse contexto, de acordo com Fernandes (1963, pp.77-78),
havia um certo esprit de corps ou uma conscincia social comum
aos membros de um grupo local, individualizando-o.
Simbolicamente esta individualizao dos grupos locais ocorria
pela atribuio de um nome. Assim, cada grupo local era designado
por um nome prprio. Este nome no era associado a acidentes do
ambiente geogrfico. Por isso conservava-se, apesar das constantes
migraes dos grupos locais, de uma rea para outra.
Para Fernandes, essas unidades amplas eram designadas de tribos pelos
autores quinhentistas e seiscentistas. A exemplo disso, Soares (1997), a partir das fontes
jesuticas, constatou a existncia de cinco guar Guarani no Rio Grande do Sul no
perodo de contato com o europeu.
A seguir, por meio dos dados apresentados, buscamos compreender a
organizao social do espao Tupinamb na poro onde se encontram os stios
arqueolgicos em estudo.
*
significa y produce al mismo tempo relaciones econmicas, relaciones sociales y organizacin poltico
religiosa esenciales para la vida (MELI, 1986, p.195).
12
De acordo com Meli (1981, p.8), ande Reko tem um significado amplo, nuestro modo de ser,
(Guarani) e est relacionado ao estado de vida, condio, aos costumes, lei, ao hbito etc. Este modo
de ser estaria relacionado essencialmente a maneira que os grupos indgenas vivam em seu espao
geogrfico.
186
5.4. Classificao dos espaos Tupinamb: uma proposta interpretativa para a rea de
estudo.
Em nosso estudo de caso, pudemos caracterizar o stio arqueolgico Santa
Marina como proveniente da ocupao Tupinamb (lngua e cultura). Desse modo, para
o entendimento da unidade espacial, nos utilizaremos basicamente do modelo proposto
por Assis (1996), uma vez que esta autora compe sua dissertao baseada em estudos
especficos sobre os Tupinamb. No entanto, ns no nos restringimos apenas a esse
estudo, pois h pontos importantes para o entendimento da organizao social Tupi que
esto ausentes neste trabalho, como o conceito de guar.
Para Assis (1996, pp. 36-37), a organizao do espao Tupinamb consistia em
dois aspectos principais:
primeiro enfocando o conjunto de assentamentos, sua localizao
no territrio de domnio e as vias de ligao entre estes
assentamentos, procurando, desta forma, evidenciar como estes
diferentes contextos so integrados e formadores de uma unidade
de ocupao desta sociedade. No segundo aspecto o enfoque
detalhou as caractersticas espaciais de cada assentamento. Em
cada assentamento se evidenciou a(s) rea(s) de atividade presente;
por exemplo, no assentamento de habitao a aldeia a casa e a
praa constitussem-se em duas reas de atividade distinta. As reas
de atividade presentes nos assentamentos podem possuir locais
especficos onde se desenvolve um determinado tipo de tarefa, que
muitas vezes configura-se como uma etapa de certa atividade.
Tomando a casa como exemplo de rea de atividade da aldeia, esta
possui locais de atividades especializadas, como os locais para
dormir e descansar ou aqueles para preparar alimentos (a cozinha).
Assim, o espao Tupinamb seria composto tanto pelas estruturas menores
(micro) quanto pelas maiores (macro). Interessa-nos o conjunto total, denominado de
macro unidade espacial, ou tecoaba (tekoh), uma vez que possuamos apenas dados
concretos das reas de atividades realizadas na aldeia.
Como descrito anteriormente, o tecoaba formava um conjunto de sistema de
habitao que englobava diferentes reas de atividade dentro de um territrio de
domnio. As reas de atividade compunham as micro unidades, estabelecidas
187
principalmente, na aldeia (rea residencial) e nos acampamentos (de roa, de caa e de
pesca) (Ibidem, p.39).
Para instalao de uma aldeia e dos demais assentamentos que formavam o
tecoaba, buscavam-se locais com diversidade de micro ambientes ou ecozonas
composta de plantas e animais especficos que possibilitava a obteno de produtos
variados (POSEY, 1987, pp.17-18).
A partir destas caractersticas, inserimos discusso o Santa Marina e os demais
stios arqueolgicos localizadas na rea de estudo. A Figura 81 apresenta os stios
distribudos no espao, a distncia entre cada assentamento, a altitude e o rio e crrego
mais prximo.
Stio Villa Branca
Stio Pedregulho
Stio Rio Comprido
Stio Santa Marina
Crrego Guatinga
617 m
618 m
652 m
650 m
Altitude
Distncia entre os stios
Figura 81. Croqui esquemtico dos stios arqueolgicos distribudos na macro unidade espacial.
De maneira geral, os stios esto implantados na paisagem em pores onde as
altitudes se assemelham (entre 617 e 650 metros do nvel do mar); prximos ao rio
Comprido e do crrego Guatinga, mas afastados aproximadamente 5 km do rio Paraba
do Sul (maior rio navegvel). A distncia entre os stios variou entre 486 m (Villa
Branca e Pedregulho) e 4.600 m (Santa Marina e Rio Comprido).
188
So caractersticas importantes, pois a maneira como as populaes se
distribuem na paisagem tem um potencial informativo muito grande. (...) O tipo de
distribuio de aldeias leva a questionar de imediato por que elas esto onde esto, que
variveis esto envolvidas na escolha da ocupao (SCATAMACCHIA, 1987/88/89).
A seguir, aplicamos os modelos da organizao social do espao Tupinamb no
contexto dos stios arqueolgicos localizados na rea de estudo.
5.4.1. Caracterizao da organizao do espao Tupinamb a partir dos stios
arqueolgicos localizados na rea de estudo.
Primeiramente, como j mencionado, as proposies so parciais, uma vez que
no possumos dados pormenorizados dos stios Villa Branca, Pedregulho e Rio
Comprido. Alm disso, seria necessrio promover uma pesquisa sistemtica na rea de
estudo com o objetivo de mapear as possveis reas de atividades especficas (rea de
roa, abrigo de caa e pesca, andaime de caa e para flechar peixe, etc.). Entretanto,
diante da extensa bibliografia sobre as questes tratadas at o momento, parece-nos
oportuno e plausvel estabelecermos hipteses interpretativas que podero ser
comprovadas ou refutadas atravs de futuras escavaes na regio. Por fim, partimos da
hiptese que os stios esto distribudos na paisagem de forma sincrnica, ou seja,
relacionados temporalmente. Para isso, nos baseamos nas dataes existentes para os
stios Santa Marina e Villa Branca (conforme ilustra a Figura 82), as quais indicam para
tal possibilidade.
189
900 950 1000 1050 1100 1150 1200 1250 1300 1350 1400 1450 1500 1550 1600
C14
C14
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
TL
C14
Dataes Santa Marina e Villa Branca
Stio Santa Marina
Stio Villa Branca
Figura 82. Dataes (A.D.) dos stios arqueolgicos Santa Marina e Villa Branca.
Como mencionado anteriormente, os teii correspondem aos ncleos familiares
que poderiam abrigar at 60 famlias. Em cada teii existia o homem de maior prestgio
poltico e/ou religioso (SOARES, 1997). Na maioria dos casos, os lderes mantinham
relaes de parentesco ou alianas guerreiras. No entanto, esta relao no constitua
uma unidade poltica ou territorial contnua mas, antes, uma composio sujeita a
frequentes e, do ponto de vista europeu, inesperadas mudanas (MONTEIRO, 2008
p.25).
De acordo com Ladeira (2008, p.54), na primeira fase colonial as aldeias eram
designadas pelos europeus pelo nome dos seus lderes, em virtude do interesse em
especificar as casas de famlias e respectivos chefes que deviam servios aos espanhis,
por amizade e parentesco.
Para Soares (1997, p.127), o reconhecimento da aldeia atravs do nome da
liderana um sinal de prestgio que poderia ter influncia nos convites e nas alianas
em sentido mais amplo, em nvel de conjunto de aldeias ou teko.
Em nosso estudo de caso, provvel que o stio Santa Marina abrigasse mais de
um lder (chefe local, o tuvich), uma vez que, como apresentado anteriormente, as
manchas de terra preta (interpretadas como vestgios das antigas habitaes indgenas
(teii oga) e coexistindo temporalmente) indicariam a presena de 18 teii agrupados.
190
Esta forma de agrupamento pode ser descrito como ae amnd hec- colocar
sua casa, ou povoado, perto de outro, seja para estreitar os vnculos de reciprocidade,
seja pelos objetivos em comuns (Ibidem, p.126).
A composio de teii formava uma aldeia (amund), sede do tecoaba. No
entanto, neste territrio de domnio ainda estavam presentes as micro unidades (reas de
atividades), como ilustra a Figura 83.
Figura 83. Croqui esquemtico de uma aldeia Tupinamb (adaptado a partir de ASSIS, 1996).
191
A figura 83 apresenta a disposio da organizao espacial Tupinamb. Esta
estrutura est diretamente relacionada a outras aldeias, uma vez que manifestava-se
socialmente como uma rede de parentesco entre povoados e grupos familiares
autnomos, que permite o intercmbio social e econmico (SOARES, 1997, p.128).
De acordo com Ladeira (2008, p.161), o territrio de domnio
no tem seu sentido restrito s condies de um espao fsico. H
uma inter-relao entre aspectos sociais, espirituais e ambientais.
Todavia, atualmente se observa que o fator mais definitivo a
composio social do(s) grupo(s) familiar e a fora espiritual de
seu dirigente. Mesmo situadas em lugares onde as condies
ambientais so muito precrias, a aldeia pode ser considerada um
tekoa, em razo da sua coeso social, do comportamento em
relao ao mundo dos brancos e do empenho em seguir os
princpios ticos e religiosos definidos no teko.
A Prancha 17 apresenta um croqui esquemtico das aldeias presentes na rea de
estudo que formariam quatro tecoaba. Nota-se que, devido proximidade entre as
aldeias e o grau de reciprocidade do conjunto multi-comunitrio pertencente a um
mesmo guar (DIAS, 2003, p.170) havia a sobreposio das reas de ao entre as
distintas aldeias.
Noelli (1993, p.252), a partir de dados etnohistricos e arqueolgicos estimou
que a rea de captao de recursos de um tecoaba ao longo do ciclo anual atingia at 50
km, a partir da sede aldeia.
Stio Villa Branca
Stio Pedregulho
Stio Rio Comprido
Stio Santa Marina
Crrego Guatinga
Organizao espacial de uma aldeia Tupinamb
PRANCHA 17 MODELO DA
ORGANIZAO ESPACIAL TUPINAMB
NAREADE ESTUDO.
Croqui esquemtico da distribuio dos stios associados aos grupos Tupi localizados no municpio de Jacare. Estes
stios representariam aldeias agrupadas por laos de parentesco e reciprocidade formando um tecoaba.
193
Por fim, os tecoaba resultantes de alianas e laos de parentesco e reciprocidade
formam guar. Neste, era assegurado o pleno direito do usufruto da terra para o uso
exclusivo de seus habitantes, representando pela prtica da roa e pela independncia
das reas de pesca e caa (DIAS, 2012, p.130). O guar era composto por at 40
tecoaba sob a liderana de uma pessoa de grande prestgio poltico e espiritual que
dominava extensos trechos das bacias hidrogrficas (Ibidem, p.130).
No entanto, devido ao nmero reduzido de pesquisas sistemticas na regio e,
consequentemente, de trabalhos de investigao que reconhea que os diferente stios
so expresso de diferenas funcionais dentro de uma unidade de sistema cultural e no,
necessariamente, diferenas entre sistemas (ASSIS, 1996, p.117), ainda dificultoso
estabelecermos uma delimitao segura da rea de domnio do guar onde esto
localizados os stios arqueolgicos apontados nesta pesquisa.
194
CONSIDERAES FINAIS
Esta dissertao buscou, primeiramente, contribuir para composio de um
amplo quadro da ocupao indgena pr-colonial no vale do Paraba Paulista.
Adentramos o Vale, recuperando e organizando os esparsos dados arqueolgicos
dispersos pela regio e resgatando nas fontes da histria e da lingustica disponveis os
elementos fundamentais para um entendimento mais amplo e apurado dos grupos Tupi.
Para compreenso dessa regio, nos debruamos sobre a paisagem
valeparaibana (captulo 1), tendo sido fundamental para que pudssemos definir as
estratgias de investigao das populaes locais, pois
compreender as maneiras pelas quais os grupos pr-histricos
ocuparam e modificaram a paisagem em funo de suas prticas
econmico-produtivas, sociais e culturais, da mesma forma
entendendo como as pessoas foram influenciadas, motivadas e
restringidas por ela, em um processo de compreenso das
diferentes sociedades humanas em seus ambientes, que ultrapassam
o possibilismo ou o determinismo ambiental, apresentando uma
viso de estudos que associem natureza e cultura em suas
totalidades (FAGUNDES & PIUZANA, 2010, p.211).
Seguindo, a partir da leitura das fontes citadas (no captulo 2), observamos que
as populaes Tupi e J, a partir de suas diferentes identidades tnicas, compuseram na
regio um mosaico cultural. As relaes entre estas populaes se estabeleceram de
maneira dinmica, ora atravs de conflitos, ora por meio de conciliaes.
Nesse sentido, para exemplificarmos, a presena de uma vasilha dividida ao
meio, como detalhada no captulo 4, remete-nos s possveis relaes existentes entre
grupos distintos (Tupi e J), uma vez que formas como estas so muito semelhantes em
contexto de stios associados denominada tradio arqueolgica Aratu.
Com isso, esse elemento, alm da proximidade espacial e temporal entre stios
Tupi e J, nos traz pontos importantes para discutirmos sobre a presena ou no de
fronteiras culturais (ROBRAHN-GONZLEZ, 2000, 2003). Nesse sentido, essa
disposio deve ser vista com ressalvas, uma vez que
195
os limites entre um grupo tnico e os outros no so mais rgidas
nem fixas, mas fludo, mudando de acordo com interesses,
necessidades e circunstncias sociais, polticas, econmicas, o que
dificultava ainda mais seu reconhecimento quando os atores no
esto mais presentes (LIMA, 2008, p.173).
Talvez a melhor definio para essas relaes tenha sido postulada por Pratt
(1999, p. 27) quando se refere ao espao de encontros coloniais. Esse processo foi
chamado de zona de contato pela autora, ou seja, espaos sociais onde culturas
dspares se encontram, se chocam, se entrelaam uma com a outra, frequentemente em
relaes extremamente assimtricas de dominao e subordinao.
Diante da baixa quantidade de trabalhos acadmicos com contextos pr-coloniais
na regio do stio arqueolgico Santa Marina, seu estudo (apresentado no captulo 3)
torna-o de suma importncia para compreender as ocupaes indgenas no Vale do
Paraba Paulista. Entretanto, vemos a necessidade da continuidade das pesquisas na
regio, principalmente pelo fato de haver inmeros stios j escavados no mbito da
arqueologia preventiva, como caso dos stios Rio Comprido, Villa Branca e
Pedregulho, aguardando ansiosamente pelo aprofundamento dos estudos.
Tal investigao ser extremamente til para que possamos testar as hipteses
aladas ao longo desta dissertao, notadamente no que concerne organizao do
espao Tupinamb (captulo 5), composta por unidades integrativas vinculadas entre si
por relaes necessria de coexistncia e independncia, chamada tehok (NOELLI,
1993) ou tecoaba (ASSIS, 1996).
Cabe salientar que, ao associarmos o stio Santa Marina a uma ocupao
tipicamente Tupinamb, estamos cientes das problemticas em relacionar lngua e
cultura material (SCHIAVETTO, 2003; SOARES, 2005). Ainda sim, julgamos vivel
esta possibilidade, j que h na regio de estudo documentos etno-histricos, associao
de objetos europeus com stios contendo cermica tupiguarani (stio Itagu, por
exemplo), alm de inmeras dataes dos sculos iniciais da colonizao europeia.
Por fim, salientarmos que, ao utilizar o termo Tupinamb, nos deparamos com a
composio de vrios grupos tnicos e no s uma etnia. Sendo assim, no so fixas,
196
mas compostas do resultado de constantes negociaes e reformulaes (BOCCARA,
2001), pois
a construo da identidade tnica ento um processo dinmico,
que sofre transformaes ao longo do tempo. Estas podem ser
coletivamente motivadas, impostas por alguma, ou algumas, razes
externas ou internas ao grupo, porm sempre inequivocamente
realizadas como um trabalho simblico dele, em sua cultura e com
sua cultura
*
(BRANDO, 1986, p. 110).
* construccin de la identidad tnica es entonces un proceso dinmico, que sufre transformaciones a lo
largo del tiempo. Estas pueden ser colectivamente motivadas, impuestas por alguna o algunas razones
externas o internas al grupo, pero siempre inequvocamente realizadas como un trabajo simblico de l,
en su cultura y con su cultura (BRANDO, 1986, p. 110).
197
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