O documento discute a ciência nazista na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos cientistas alemães colocaram seu conhecimento a serviço do regime nazista, resultando em grandes avanços científicos e tecnológicos, mas também em atrocidades como experimentos humanos em prisioneiros. O programa espacial americano posterior recrutou muitos desses cientistas, como Wernher von Braun, que ajudou a desenvolver os foguetes V2 na Alemanha.
O documento discute a ciência nazista na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos cientistas alemães colocaram seu conhecimento a serviço do regime nazista, resultando em grandes avanços científicos e tecnológicos, mas também em atrocidades como experimentos humanos em prisioneiros. O programa espacial americano posterior recrutou muitos desses cientistas, como Wernher von Braun, que ajudou a desenvolver os foguetes V2 na Alemanha.
O documento discute a ciência nazista na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos cientistas alemães colocaram seu conhecimento a serviço do regime nazista, resultando em grandes avanços científicos e tecnológicos, mas também em atrocidades como experimentos humanos em prisioneiros. O programa espacial americano posterior recrutou muitos desses cientistas, como Wernher von Braun, que ajudou a desenvolver os foguetes V2 na Alemanha.
O documento discute a ciência nazista na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Muitos cientistas alemães colocaram seu conhecimento a serviço do regime nazista, resultando em grandes avanços científicos e tecnológicos, mas também em atrocidades como experimentos humanos em prisioneiros. O programa espacial americano posterior recrutou muitos desses cientistas, como Wernher von Braun, que ajudou a desenvolver os foguetes V2 na Alemanha.
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Saiba mais sobre a cincia nazista
Os pesquisadores alemes eram os mais capacitados do planeta e muitos deles colocaram
seu conhecimento a servio do 3 Reich. H uma coleo de atrocidades - e outra de avano cientfico Texto Rodrigo Rezende | 01/04/2012 16h56 O testemunho que voc leu na pgina anterior lembra o sofrimento que milhes de pessoas enfrentaram nos campos de concentrao. Mas o relato de um dia de trabalho no projeto cientfico mais importante da Alemanha nazista: a fbrica subterrnea de msseis Mittelrwerke (Fbrica Central). L se produzia o artefato blico mais espetacular do planeta: o V2, foguete de 14 toneladas, capaz de chegar a 80 km de altitude e que causou pesados danos a Londres na 2 Guerra. O primeiro objeto a ir alm da atmosfera terrestre era a menina dos olhos de Hitler. Tanto que, assim que a "bela adormecida" - apelido da antiga fbrica do V2 - foi bombardeada pelos aliados, o Fhrer no mediu esforos para transferi-la para baixo da terra, em 1943. "No deem ateno ao custo humano", disse o responsvel pela obra, Hans Kammler. Mais de 20 mil prisioneiros morreram na fbrica - contra 7 mil baixas causadas pelo V2 na Inglaterra. A deciso de usar mo de obra escrava na construo como forma de reduzir custos foi aprovada por Wernher von Braun, criador e supervisor dos msseis V2.
EUA, 15 de julho de 1969. Em uma entrevista sobre o lanamento da nave Apollo 11, um reprter pergunta a um dos responsveis pelo projeto: "Voc pode garantir que o foguete no vai cair em Londres?" Irritado com a ironia, o cientista abandona o evento. Haviam se passado 26 anos desde os msseis de Nordhausen lanados sobre Londres. Ele trabalhava para os americanos desde 1945 (chegou Nasa em 1960). Mas o fantasma do V2 ainda assombrava Von Braun. Conhea alguns dos principais cientistas nazistas
1) Nome - Wernher von Braun (1912-1977)
5) Nome - Karl Brandt (1904-1948) Ocupao - Engenheiro
O que fez - Criou os msseis V2. No fim da guerra, foi para os EUA e trabalhou na Nasa
Oocupao - Mdico
O que fez - Lder do programa de eutansia e mdico pessoal de Hitler 2) Nome - Hans Gnther (1891-1968)
Ocupao - Professor universitrio
O que fez - Escreveu Higiene Racial do Povo Alemo, usado pelos nazistas para justificar ideias racistas 6) Nome - Werner Heisenberg (1901-1976)
Ocupao - Fsico
O que fez - Chefe do projeto nuclear alemo 3) Nome - Josef Mengele (1911-1979)
Ocupao - Mdico
O que fez - Usava prisioneiros para estudar hereditariedade e cometia toda sorte de atrocidades 7) Nome - Hubertus Strughold (1898-1986)
Ocupao - Mdico
O que fez - Criou a medicina espacial 4) Nome - Sigmund Rascher (1909-1945)
Ocupao - Mdico
O que fazia - Usou prisioneiros como cobaias em estudos sobre baixa presso 8) Nome - Otto Hahn (1879-1968)
Ocupao - Fsico
O que fazia - Descobriu a fisso nuclear
A ida de Von Braun para a Nasa est longe de ser um caso isolado na dispora de crebros que ocorreu na Alemanha ps-guerra. Os cientistas de Hitler se transformaram em artigo de primeira no mercado cientfico-militar internacional. Herdeiros de um tempo em que a Alemanha era a meca da cincia mundial - mais da metade dos prmios Nobel em cincia e medicina at 1921 eram alemes -, conheciam os segredos por trs das maravilhas tecnolgicas nazistas: motor a jato, mssil teleguiado, submarinos, transmisso de tev, armas qumicas, foguetes. Inglaterra, Frana, EUA e URSS se lanaram em uma corrida pelo maior nmero de cientistas alemes ainda antes do fim da guerra. Colocar as mos nesse conhecimento traria vantagens polticas e econmicas para qualquer pas.
Os americanos montaram o projeto Alsos para buscar reatores nucleares dentro da Alemanha em 1943. Ian Fleming, criador de James Bond e membro da Inteligncia Naval britnica, tomou parte na T Force - seu grupo foi o primeiro a chegar fbrica dos V2. Mas como isso tudo comeou? Como o ideal de superioridade da raa ariana se transformou em objeto - e objetivo - da cincia alem? De que forma a guerra contribuiu para o avano tecnolgico? Para responder a essas perguntas, necessrio voltar no tempo.
"Os guardas nos tocam a uma velocidade infernal, gritando e despejando golpes sobre ns, ameaando-nos com execuo, os demnios! O barulho vara o crebro e rasga os nervos. O ritmo demente dura 15 horas. Chegando ao dormitrio, ns nem sequer tentamos os catres. Bbados de exausto, desabamos nas pedras, no cho. Atrs, os guardas nos empurram. Os de trs passam por cima dos camaradas. Logo, mais de mil homens desesperados, no limite da existncia e dilacerados pela sede, jazem ali espera do sono que jamais vem. Pois os gritos dos guardas, o barulho das mquinas, as exploses e o clangor do sino da locomotiva nos alcanam mesmo assim."
Jean Michel, lder da Resistncia Francesa preso pelos nazistas, trabalhador escravo em 1943 na fbrica subterrnea de foguetes V2
Ideologia e cincia
1932 - Um professor apelidado de Rassen-Gnther (Gnther-Raa) estreia na cadeira de antropologia da Universidade de Jena, na Alemanha. Ele explica as ideias do colega Alfred Pltz: "Os avanos da medicina encorajam a sobrevivncia de cepas humanas degeneradas. Isso atrapalha o desenvolvimento natural das pessoas mais capazes e impede a supremacia do povo nrdico". Na sala, um aluno ouve o professor com ateno. Em suas mos, o livro que deu origem ao apelido de Gnther: Rassenkunde des Deutschen Volkes (Higiene Racial do Povo Alemo). Nome do aluno: Adolf Hitler.
A doutrina da higiene racial nasceu da eugenia, cincia que prega a seleo gentica em seres humanos. Mas o bero do ideal de pureza racial no foi a Alemanha. O primeiro Congresso Internacional de Eugenia aconteceu em 1912 na Inglaterra e contou com a presenca de gente da estirpe do ex-primeiro ministro britnico Winston Churchill, o inventor Alexander Graham Bell e o filho de Charles Darwin, Leonard Darwin. A nova cincia se espalhou rapidamente para os EUA, onde mais de 100 mil pessoas foram esterilizadas, no perodo de 1907 a 1960, com base nela. Naquela poca, a eugenia no era vista como uma maluquice, mas como uma cincia respeitvel, praticada internacionalmente. Nas mos do futuro Fhrer, transformou-se em arma poltica.
O nazismo j tinha na cincia sua justificativa ideolgica. E usou-a de novo com objetivo militar. Diante da restrio produo de armamentos imposta pelo Tratado de Versalhes, aps a 1 Guerra, o Exrcito alemo concluiu que s existia uma sada: se no possvel vencer pela quantidade de armas, o jeito investir na qualidade. Quando a opinio dos militares caiu nos ouvidos de Hitler, a vida dos cientistas alemes mudou: o Fhrer meteu o bedelho na cincia. Que preparo tinha Hitler para lidar com cientistas? Nenhum. Mas isso no era problema. "Hitler achava que tinha respostas para assuntos como munio, aeronaves, cincias naturais, engenharia. Era quem menos queria ouvir os especialistas. No havia nada que voc pudesse dizer a ele", diz o historiador Michael Kater, autor de Doctors Under Hitler (Mdicos sob Hitler) e mais 7 livros sobre o nazismo.
Quanto mais conhecemos os mentores e o iderio por trs do projeto cientfico nazista, mais difcil entender como ele originou uma das principais revolues cientfico-tecnolgicas da Histria. Segundo um dos historiadores mais respeitados no assunto, isso se deve a uma viso simplista: "Existe o mito de que a poltica capaz de contaminar o desenvolvimento da cincia. Mas, na realidade, o fascismo pode ser um estmulo para a cincia de qualidade", afirma Robert Proctor, pesquisador da Universidade Stanford. Para Proctor, algumas das descobertas mais significativas do perodo foram feitas no apesar dos objetivos raciais e militares dos nazistas, mas por causa deles. "Os nazistas tinham objetivos malignos, mas no eram idiotas. Alguns desses objetivos, como a poltica racial, foram a fonte de grande parte da cincia de ponta." Entender o desenvolvimento da cincia nazista j um desafio difcil, mas pode piorar. Como no caso dos mdicos, que ao se formar juram viver para curar pessoas e se dedicaram a pesquisas srdidas com seres humanos.
"Hitler achava que tinha respostas para assuntos como munio, aeronaves, cincias naturais, engenharia. Ele era quem menos queria ouvir os especialistas."
Michael Kater, historiador
Mdicos e monstros
Trancafiados em enfermarias e laboratrios nazistas, seres vivos passavam por atrocidades inimaginveis. Taxados de Lebensunwertes Leben (vidas indignas de serem vividas), eles eram mantidos em gua gelada, obrigados a ingerir gs mostarda, usados como "viveiros" de bactrias, fuzilados com balas envenenadas, queimados com bombas incendirias, amputados sem necessidade e torturados em cmaras de baixa presso. Diante de tanto horror, inevitvel a pergunta: por que mdicos fizeram isso?
A resposta est na situao em que se encontrava a medicina quando Hitler chegou a poder. Em 1933, os mdicos formavam a profisso com maior filiao ao partido nazista: 44,8% deles tinham carteirinha. Os advogados, em segundo lugar, no chegavam a 25% de adeso. Alm do peso poltico do nazismo, outra situao ajudou a estimular a xenofobia entre os mdicos: "Os judeus estavam super-representados na medicina. Em Viena, eles formavam 80% da categoria", afirma Kater. Esses fatores catapultaram o fanatismo nazista, agravando ainda mais o racismo. E despertaram o interesse em defenestrar a "mfia judia" em busca de vantagens pessoais. O judeu inferior, que roubava o emprego dos arianos superiores, agora deveria ser exterminado feito um rato.
Com a demisso em massa de judeus e a demanda de profissionais para purificar a raa, no faltou mais trabalho para os mdicos. Em 1939, eles examinaram 250 mil pacientes psiquitricos e condenaram 75 mil eutansia. Quando o programa de extermnio de doentes foi desaprovado publicamente em 1941, eles continuaram o trabalho. Em segredo, mataram mais 100 mil de fome. O know-how adquirido foi usado no projeto Soluo Final, cujo objetivo mximo era o extermnio de 11 milhes de judeus em campos de concentrao. Ali, cientistas nazistas ponderaram: "Judeus so ratos. E ratos so cobaias. Logo, judeus so cobaias". possvel que um raciocnio simples como esse explique a conduta de muitos dos 350 mdicos envolvidos em experincias que usaram humanos.
Um desses mdicos teve atitudes que nem a fria lgica nazista justifica: jogou prisioneiros em caldeires ferventes, injetou tinta em olhos de crianas, uniu gmeos cirurgicamente e dissecou anes vivos. Que explicao voc daria para os atos do mdico conhecido como o "anjo da morte" de Auschwitz, Josef Mengele. "Louco, doente, demnio" so respostas que vm mente quase por instinto. Reagir emotivamente repugnncia moral uma atitude humana. Mas amaldioar o homem que extrapolou os limites da criatividade mrbida, especialmente em experimentos com gmeos, no nos traz mais compreenso sobre o assunto. Para entender a mente de Mengele, o historiador Robert Lifton fez estudos biogrficos minuciosos e realizou entrevistas com ex-mdicos nazistas. Eu no acho que a psicologia de Mengele esteja alm da nossa compreenso, diz Lifton. Mas ele um caso extremo e necessrio se esforar ao mximo para isso.
O uso de cobaias humanas podia no ter justificativa tica, mas tinha razo prtica: ajudar o Exrcito alemo. Pilotos e soldados passavam por situaes-limite, como exposio a mudanas bruscas de presso, imerso em gua gelada, queimaduras e infeces. Estudar essas condies implicava aumentar a chance de sobrevivncia dos militares. Mas como fazer isso? Se o limite das experincias era a morte, os prisioneiros nos campos de concentrao forneciam material farto como nunca antes e, claro, depois, como cadveres. Os experimentos eram cruis, mas alguns produziam resultados significativos. Um exemplo: a melhor tcnica atual de aquecimento em casos de hipotermia baseada em dados obtidos nessas experincias.
Resultados como os das pesquisas de hipotermia contestam a viso de que os experimentos nazistas no passavam de pseudocincia. Segundo um estudo da Sociedade Max Planck que durou 6 anos e custou US$ 5 milhes, pode haver valor cientfico at nas atrocidades de Mengele. Segundo a lder do estudo, Susanne Heim, os experimentos dele, no contexto cientfico da poca, "no eram totalmente implausveis". Obsesses, como as que Mengele tinha com gmeos em seus estudos, podem ter impulsionado at a busca por conhecimento cientfico de vanguarda. Um exemplo o pioneirismo dos nazistas na produo de estudos sobre a relao entre o hbito de fumar e o cncer de pulmo. Segundo o historiador Robert Proctor, isso ocorreu por uma caracterstica nazista conhecida como "paranoia homeoptica": a fixao por pureza e o temor de conviver com "toxinas presentes na comida e no ar".
incontestvel que os experimentos com humanos foram antiticos. Mas, dos 350 mdicos envolvidos nessas experincias, poucos foram julgados. Entre os 23 rus do tribunal especial para mdicos em Nuremberg, incluindo Karl Brandt, lder do programa de eutansia e clnico pessoal de Hitler, 7 foram absolvidos, 7 condenados morte e o restante foi para a priso. Mengele no estava entre eles. Livre, teria passado seus ltimos dias no Brasil. Mas o destino de muitos cientistas nazistas capturados foi bem diferente do banco dos rus: laboratrios de instituies cientficas dos pases aliados.
A hora da pilhagem
"Se os americanos tm mesmo a bomba de urnio, vocs so todos cientistas de segunda categoria!", afirmou o fsico Otto Hahn a seus colegas de cativeiro semanas antes da exploso em Hiroshima. O descobridor do princpio por trs do funcionamento da bomba atmica e mais 9 cientistas de elite alemes estavam presos em um lugar nada convencional: uma casa de tijolos vermelhos em estilo georgiano na periferia de Godmanchester. Farm Hall, perto de Cambridge, no leste da Inglaterra, era o endereo em que o governo britnico mantinha o maior tesouro intelectual que conquistou no fim da guerra: a nata da fsica quntica alem. A ideia era convenc-los a trabalhar para o pas. Mas, se dependesse do lder do projeto nuclear alemo, Werner Heisenberg, no seria tarefa fcil. "Ns vamos recusar os 50 mil rublos (oferecidos pela URSS) porque estamos satisfeitos e agradecidos em permanecer do lado dos ingleses?" Mal sabia ele que, em comparao com um lugar para onde os soviticos mandavam nazistas, Farm Hall era um paraso.
Para cooptar cientistas alemes, a URSS acenava com a possibilidade de eles trabalharem na Alemanha Oriental. Os que aceitaram se deram mal: era uma pegadinha de Stalin. Muitos dos que negaram receberam uma proposta ainda mais persuasiva: no ser fuzilado imediatamente. Forados a viver por 6 anos em Gorodmila - uma ilha cercada de arame farpado a meio caminho entre Moscou e Leningrado (hoje So Petersburgo) -, os cientistas moraram em cabanas no meio da floresta e fizeram cincia apenas com um material de ponta: o lpis. A cobia dos aliados por crebros alemes era justificada: alm dos foguetes V2, eles desenvolveram a fsica nuclear, o motor a jato e at a transmisso de TV. A bomba atmica nazista tinha tudo para dar certo, mas esbarrou em alguns problemas: a falta de interesse de Hitler - que privilegiava o V2 - e um erro de clculo: Heisenberg acreditava que seriam necessrios 2 toneladas de urnio 235 para faz-la. Os alemes foram os primeiros a realizar um voo a jato, mas a pesquisa aeronutica era to cara que minou os recursos para produo de caas e bombardeiros padronizados. Para ter ideia do quo longe foi a tecnologia nazista, se um extraterrestre um dia for capaz de captar um sinal de TV, ver a primeira imagem transmitida na Terra: o discurso de Hitler nas olimpadas de Berlim, em 1936. Todo esse potencial cientfico-tecnolgico certamente no passou despercebido pelos EUA.
"Se os americanos tm mesmo a bomba de urnio, vocs so todos cientistas de segunda categoria!" ]
Otto Hahn, descobridor da fisso nuclear
Ir Lua com os nazistas
Os EUA contrataram o maior superstar da cincia nazista como CEO de seu programa espacial. E Von Braun, o inventor dos foguetes V2, escolheu a dedo 120 pesquisadores especializados em msseis teleguiados para trabalhar em Fort Bliss, no Texas. A equipe logo recebeu um upgrade: mais 380 cientistas alemes e uma nova base, em Huntsville, Alabama. Huntsville era to cheia de nazistas que recebeu o apelido de Peenemnde do Sul, aluso cidade alem onde estava a "bela adormecida" de Hitler, a antiga fbrica dos V2, de que falamos no comeo do texto.
A pilhagem desenfreada de ideias e crebros alemes ficou muito mais acirrada depois de 1945, mas no foi a que ela comeou. Para entender a fuga de cientistas da Alemanha, necessrio analisar o que o nazismo produziu na cincia. Apesar dos efeitos malficos do nazismo no meio cientfico, a afirmao corrente de que Hitler destruiu a cincia alem bem difcil de sustentar. S a dimenso do interesse suscitado pelo conhecimento produzido no perodo j indica que houve significativa produo de qualidade. Caso contrrio, um relatrio de 600 pginas feito pelo Departamento de Justia americano a respeito da migrao nazista para os EUA - que veio a pblico apenas em 2010 - no chegaria seguinte concluso: "A Amrica, que se orgulha de ser um porto seguro para os perseguidos, tornou-se, em alguma medida, porto seguro para os perseguidores". Entre os perseguidores que os EUA acolheram estava Hubertus Strughold.
"A Amrica, que se orgulha de ser um porto seguro para perseguidos, tornou-se, em alguma medida, porto seguro tambm para os perseguidores."
Departamento de Justia dos EUA, sobre a migrao de crebros nazistas
De ratos e homens
Trabalhando para a Nasa, Hubertus Strughold ganhou a fama de "pai da medicina espacial" e escreveu livros a respeito do tema. Em um deles, explica o que acontece a uma tripulao em uma cabine despressurizada a 15 mil m de altitude: "A menos que tivessem a proteo adicional de trajes pressurizados, eles precisariam recorrer a pequenas reservas de oxignio do sangue e dos tecidos. Elas durariam cerca de 15 segundos. Depois disso, eles perderiam a conscincia e capacidade de se salvarem". Ao ler esse texto cientfico, objetivo, no d para ter ideia de como Strughold pode ter chegado ao tempo de 15 segundos. Para isso, preciso conhecer seu antigo assistente, Sigmund Rascher, responsvel pelos experimentos no campo de concentrao de Dachau: "Sou, sem dvida, o nico que conhece por completo a fisiologia humana, porque fao experincias em homens, e no em ratos". E, sobretudo, o relato do prisioneiro Anton Pacholegg, assistente de Rascher nos experimentos na cmara de baixa presso: "Vi um prisioneiro suportar o vcuo at que os pulmes rebentaram. Certas experincias provocaram tal presso na cabea dos pacientes que eles enlouqueceram, arrancando os cabelos no esforo para aliviar o tormento. Esses casos de vcuo absoluto terminavam geralmente com a morte do paciente." Strughold acusado de destruir os dados obtidos por Rascher para evitar ser condenado por crimes contra a humanidade. Nunca demonstrou arrependimento por seu envolvimento em Dachau.
A cincia nazista produziu atos to desumanos que tendemos a colocar todos os cientistas alemes na mesma "cesta de mas podres". "Ns preferimos nos focar nas imagens em preto e branco de nazistas fanticos marchando porque isso permite que nos distanciemos deles", afirma Robert Proctor. Mas acontece que generalizar um julgamento - em relao a pessoas ou a dados cientficos - usar o mesmo raciocnio simplificador que levou os nazistas a cometerem tantas atrocidades. um modo de se aproximar da atitude do ex-ministro da Defesa alemo Franz-Josef Strauss em 1957, ao julgar o fsico Otto Hahn, que acabara de assinar um manifesto pacifista: "Velho imbecil. No consegue dormir nem conter as lgrimas quando pensa em Hiroshima".
"Sou, sem dvida, o nico que conhece por completo a fisiologia humana, porque fao experincias em homens, e no em ratos."
Sigmund Rascher, mdico responsvel por experincias sobre vcuo no campo de concentrao de Dachau
Como agiam os cientistas que no eram nazistas?
A ascenso do nazismo separou os cientistas em 3 grupos: os que deixaram a Alemanha, os que ficaram, mas buscaram manter valores ticos - e um formado por gente que colaborou com o regime, porm tentou vender outra imagem ao fim da guerra. O efeito mais devastador do nazismo foi na fsica: 25% dos fsicos de elite deixaram o pas logo que Hitler chegou ao poder. O impacto foi ainda pior na fsica terica: 50% de evaso. Tudo isso porque o Fhrer tinha desprezo pela cincia terica, que associava aos judeus. Com isso, o bero da mecnica quntica e da relatividade foi desmantelado. A proporo de citaes alems em revistas internacionais de fsica despencou de 30%, em 1913, para 16%, em 1938. O maior estmulo para o xodo de crebros alemes veio da perseguio aos judeus. Desde 1933, a Alemanha perdeu de 2 mil a 3 mil cientistas (24 deles ganhadores do Nobel), a maior parte vtima do processo de arianizao do servio pblico, logo no comeo do governo nazista. O silncio diante das demisses - e a voracidade para ocupar as vagas - so vergonhas da cincia alem. O fsico Max Planck, que d nome ao instituto, foi um dos que resolveram ficar. Pai da fsica quntica, ele procurou Hitler no comeo do governo para interceder por cientistas judeus. Ouviu do Fhrer uma frase que entrou para a Histria: "Se a cincia no pode passar sem judeus, teremos de nos haver sem cincia". Entre os colaboradores, o mais famoso o fsico nuclear Werner Heisenberg, chefe do projeto de pesquisa atmica alem. Finda a guerra, ele vendeu a ideia de que fora o responsvel por atrasar deliberadamente a criao da bomba de urnio alem. Quando as gravaes de Farm Hall foram reveladas, nos anos 1990, surgiu outra faceta de Heisenberg: a incompetncia. Ele simplesmente no foi capaz de fazer a bomba. "Muitos cientistas que colaboraram com o regime se definiam como cientistas puros, sem distoro ideolgica", diz a historiadora Margit Szllsi-Janze, da Universidade de Munique. "Isso o que realmente preocupa."
Saiba mais
Livro
Os Cientistas de Hitler, John Cornwell, Imago, 2003, R$ 75